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BASES BIOPATOLÓGICAS
PARA CURSOS DE
CIÊNCIAS DA SAÚDE
F. Oliveira Torres
Nuno Sampaio
Luis Monteiro
2012
BASES BIOPATOLÓGICAS PARA CURSOS DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
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BASES BIOPATOLÓGICAS PARA CURSOS DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Sumário
- Energia, matéria e vida. Do "Big Ban" aos elementos químicos que construíram o
universo.
- A química da vida na Terra: do metano, azoto, amoníaco e água, que em 1,1 mil
milhões de anos de interrelações, iniciaram a vida. Os aminoácidos e os proteinódes, as
bases púricas e piramídicas e os ácidos nucleidos (RNAs). As organizações proteicas, o
DNA, a vida. Célula e fusão celular.
- O organismo humano, uma das formas de vida na Terra. O elo de ligação das formas
vivas numa evolução de 3,5 mil milhões de anos.
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Objetivos da Biopatologia
- A arquiopatologia.
- Ajustamento e homeostasia.
- Medicina preventiva
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- Doenças por bloqueios metabólicos com deficiência dos produtos finais: albinismo,
síndrome de Ehlers- Danlos, etc...
- Patologia geográfica
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CAPÍTULO I
Iniciou-se essa replicação, princípio da vida, há cerca de três mil e seiscentos milhões de
anos, quando a matéria, com origem na energia e constituída apenas por cento e poucos
elementos químicos da tabela de Mendeleev de hoje, determinou matéria de idêntica
estrutura. De então e até agora, com avanços e recuos, temos tudo aquilo que a nossa
visão alcança de diversidade morfológica fantástica, mas, sempre sendo essa
diversidade apenas o resultado dos mesmos compostos químicos, diferentemente
posicionados.
O nada era lei, há dezasseis mil milhões de anos. Energia condensada, em milésimos do
segundo expandiu-se na mais tremenda, e nunca mais igualada das explosões de
partículas energéticas que, dispersas no nada, foram dar origem, por ligações possíveis
entre essas partículas, à matéria. Existindo matéria acabou o nada, passa a haver espaço
e aparece a noção do tempo. Assim surgiu o Universo, que continua em expansão por,
nos seus limites, se continuar a dispersar a energia e a criar matéria, aumentando o
Espaço, à custa do nada.
Onze mil milhões de anos depois do Big Bang, essa tremenda explosão energética,
matéria condensada e em fusão, constituiu o chamado planeta Terra. Em sua superfície
existiam, metano, azoto, amoníaco e vestígios de água. Estes apenas quatro compostos
químicos, em mil e cem milhões de anos, deram origem aos hoje chamados elementos
da tabela de Mendeleev, após um sem número de interrelacionamentos, ocorridos, pelo
acaso da química.
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Com este intróito, muito esquemático, muito rápido e incompleto, onde a diferença
entre proteinoide e proteína, produto do acaso o primeiro, e já de um comando o
segundo (que deveria ser exposto com o surgir das chamadas bases púricas e
pirimidínicas e dos RNAs), temos então a vida, e na sua complexidade, o organismo
humano.
Somos uma associação imensa de células, descendentes desses unicelulares. Por isso as
células que nos constituem, nunca perderam as suas características básicas de adaptação
ao meio, nem as características de defesa que, por si próprias, como unicelulares
conseguiram.
A primeira das propriedades vitais do unicelular é a de poder fazer tudo quanto deseja,
sem ter de dar explicações a mais nenhuma outra célula. Associada, formando os
pluricelulares, como o organismo humano, fica amordaçada, escravizada à forma e à
função que interessa ao equilíbrio do todo orgânico, realizando apenas aquilo que tem
de realizar, para o triunfo da associação celular acontecer, ou seja, o equilíbrio do
organismo com o ambiente.
Associada, escravizada, diferenciada digamos desde já, a célula nunca esqueceu ter sido
um dia isolada e livre, e por isso leva para sempre a capacidade de adaptação, quando
estrutura os pluricelulares.
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A outra propriedade básica das expressões celulares individuais da vida, que nunca mais
se perdeu e se mantém nos pluricelulares, é a propriedade de defesa, iniciada pela
chamada fagocitose e continuada com a elaboração de produtos químicos, hoje
chamadas citocinas. Estas duas propriedades, aparentemente contraditórias, a mudança e
a adaptabilidade por um lado e o da defesa da sua personalidade individual por outro,
nunca as células as perderam, e mantêm-nas hoje nos pluricelulares, numa dinâmica
chamada de diferenciação celular, ou seja, a realização do programa, geneticamente
fixado, necessário para cada célula realizar no todo orgânico.
O que seria a anatomia e fisiologia humana, com os seus duzentos tipos celulares e os
milhões desses tipos derivados, a realizarem tudo o que cada uma pode realizar? Seria o
caos orgânico, seríamos neoplasia dos pés à cabeça e nem mesmo pés e cabeça
conseguiríamos vir a ter.
A "escravatura" da célula é regida pela diferenciação dessa mesma célula, ou seja, pela
sua sujeição à forma e à função necessária ao todo. Nunca porém a célula diferenciada
esqueceu ter sido um dia livre. Assim, sem ter perdido a sua capacidade adaptativa,
quando fatores ambientais as agridem no todo orgânico, buscam na adaptação, a sua
sobrevivência. Esta adaptação celular, este estar diferente no todo orgânico, acarreta
profundas consequências, traduzidas em doença e lesão, já que o todo pessoal e
personalizado orgânico, não aceitando diferenças, contra essas diferenças actua.
Vamos assim ter células que precisam de possuir uma grande capacidade de divisão -
células móveis ou lábeis, uma menor capacidade de divisão - células fixas ou estáveis
e células com uma quase nula capacidade de divisão - células permanentes.
Vamos ter células a produzirem por exemplo queratina, e outras, insulina, e assim
sucessivamente, por no seu genoma estar activa a sequência que conduz à proteína
queratina e frenada a da insulina, e vice-versa.
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A célula tem origem alguns milhões de anos após a origem da vida, quando a química
replicativa, fundamentalmente proteica, mas também glucídica, se rodeou de uma
fronteira lipoproteica e se isolou do ambiente. Isto levou à sua individualização, como a
possibilidade de estabelecer gradientes tensionais distintos, intra e extracelulares,
passíveis de trocas - os hoje chamados canais ou bombas, permitindo a sobrevivência e
a adaptabilidade, ao meio circundante.
São sistemas fundamentais da célula, a membrana com sua composição própria e sua
variabilidade em recetores, que vão ser a base de ligação e funcionamento celular, o
citoplasma, com uma multiplicidade de organelas como as mitocôndrias, o retículo
endoplásmico liso e rugoso, os lisossomas e toda a armação proteica do citoesqueleto. O
equilíbrio funcional destes organelos é imprescindível na formação de energia para a
vida e função celular, para a síntese proteica e para a defesa. Por fim, o núcleo, ou
aparelho nuclear, o governo celular, como o governo da sobrevivência adaptativa e da
evolução, mas também do posicionamento, divisão e função celular.
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Membrana celular
Mitocôndrias
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Lisossomas
São organelos celulares com diferentes tipos de potentes enzimas, muitas delas ativas
em meio ácido (hidrolases acídicas). São sintetizadas no retículo endoplásmico rugoso,
acumulam-se no aparelho de Golgi e são transportados sob a forma de vesículas para o
citoplasma. As vesículas envolvidas por uma cápsula própria, constituem os lisossomas
primários. Os lisossomas têm funções de ingerir e degradar produtos extracelulares
(heterofagia) e degradar organelos intracelulares (autofagia). Anormalidades na
heterofagia vão interferir com a dinâmica inflamatória (fagocitose). Anormalidades na
autofagia vão ser responsáveis pelas chamadas doenças lisossómicas, de que falaremos
no capítulo 13.
Citoesqueleto
Retículo endoplasmático
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CAPÍTULO II
A fase crítica da célula, para aquisição de informação ambiental no seu genoma, é a fase
do ciclo de divisão celular, a fase de replicação do ADN. Sendo assim, quanto mais
facilmente e mais vezes uma célula se dividir, mais fácil será a aquisição de informação
por parte da célula, enquanto em toda a célula de muito difícil divisão, rara ou nula será
a informação adquirida.
Vamos assim, na estruturação sistémica orgânica, possuir três grandes tipos de sistemas
em relação aos três grandes tipos celulares relacionados com a capacidade de divisão,
ou seja, a presença de células com grande capacidade de divisão - células móveis ou
lábeis; células com menos capacidade de divisão - células fixas ou estáveis; e células
com nula ou quase nula capacidade de divisão - células permanentes.
Sistemas de equilíbrio serão formados por células permanentes que, com muito escassa
ou nula capacidade de divisão, não captam informação, não modificam a sua
composição, não criam formas novas, mantendo constante a sua diferenciação
morfológica e funcional. O sistema ósseo e muscular são característicos sistemas de
equilíbrio.
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Esta é felizmente a mais frequente das causas de doença, ou seja, doença, capacidade
reativa para se voltar ao equilíbrio, o estado de saúde. Fazer febre e tossir são
expressões de defesa, necessárias para a efetivação dessa defesa. Nunca as anular, sem
saber primeiro porque se tem febre e se tosse.
A neoplasia maligna é uma das mais francas expressões morfogenéticas dos sistemas
adaptativos. Vai matar o seu portador, mas na sua génese porta a capacidade da criação
de novas formas adaptativas, úteis à vida das espécies.
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G2
Células móveis
ou lábeis
Células
S Mitose permanentes
G1
Células fixas
G0
ou estáveis
aveis
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Moléculas de adesão
Integrinas
A maioria das integrinas são SAMS ou seja, funcionam como recetores para proteínas
da matriz extracelular como colagénio, laminina e fibronectina. Algumas possuem
ligações específicas. Assim a α1β1 liga-se à laminina e ao colagénio, a α3β1 liga-se à
laminina, colagénio e fibronectina.
A ligação mais conhecida aos substratos faz-se pela sequência RGD (arginina, glicina,
ácido aspártico), encontrada no colagénio tipo I, laminina, fibronectina, fibronogénio e
vitronectina. Peptideos com estas sequências podem bloquear a ligação de células ás
proteínas extracelulares.
As integrinas desempenham um papel central na adesão celular e migração e a sua
função normal é fulcral na indução e diferenciação de células in vitro. Alteração na
expressão de integrinas ou sua função acontece em tumores e pode ajudar a explicar o
seu comportamento social e de diferenciação, modificado.
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Caderinas
Selectinas
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CD44
lisossomas
selectinas
mitocôndrias
integrinas
golgi
família das
citoplasma
retículo imunoglobulinas
moléculas de caderinas
adesão
CD44
citoesqueleto
actina
CÉLULA núcleo cromatina miosina
queratina
lípidos neurofilamentos
proteínas: vimentina
integrinas, caderinas,
membrana CD44 desmina
hidratos de carbono:
selectinas
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colagénio
proteínas
estruturais
fibrosas elastina
fibronectina
matriz laminina
extracelular proteínas
de adesão trombospondina
tenascina
células Glicosaminoglicanos
glicoproteínas
(selectinas, (selectinas)
integrinas, ICAMs,
VCAMs posicionamento – divisão –
crescimento – diferenciação
- morfostase
matriz extracelular
(proteínas de adesão
– sequências RGD e
selectinas
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CAPÍTULO III
Apresentamos o organismo com suas superfícies de fronteira, seus tipos celulares, sua
matriz extra celular e seus sistemas de associação. Os grandes processos de alteração do
seu equilíbrio, englobam respostas sistémicas básicas como a imunidade, a inflamação e
a reparação e respostas integradas, como sejam alterações vasculares, metabólicas,
degenerativas e tumorais.
A doença pode ser herdada quando recebida dos progenitores através do genoma, sendo
sempre uma doença do foro genético. Há porém doenças genéticas que podem ser
adquiridas como sejam as que dependem de alterações do genoma durante o
desenvolvimento embrionário. É o caso das lesões do genoma por produtos químicos
intra-útero, químicos, como o fumo do cigarro ou a célebre talidomida, ou por viroses
contraídas pela mãe, como o sarampo e a varicela, ou por radiações a que a mãe foi
submetida.
A doença adquirida é toda aquela que ao longo da vida se estabelece, sem relação com
herança.
Doença familiar é a doença prevalente numa família. Pode ser hereditária, ou pode estar
relacionada com hábitos de vida da família, que se mantém de pais para filhos.
Doença hereditária é aquela que se transmite aos descendentes por via genética.
Doença congénita é a que se manifesta ao nascer. Pode ser de causa genética herdada,
genética adquirida intra-útero, ou infeciosa, caso da tuberculose ou sífilis congénita. O
facto de se manifestar na altura do nascimento é que a define.
Sinais - São dados objectivos, colhidos pela observação, caso de um tumor cutâneo, de
uma úlcera, etc.
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O curso clínico - Pode ser rápido (agudo), menos rápido (sub-agudo) e demorado
(crónico).
Toda a doença pode ter exacerbações ou recrudescências do quadro clínico, pode ter
remissões, ou seja, desaparição da sintomatologia, continuando a doença a evoluir, e
pode apresentar intermitências, ou seja, remissões e exacerbações, como é o caso da
febre ondulante. O indivíduo é um produto do seu genoma, modelado pelo ambiente.
Este produto é a constituição individual, ou seja, o genótipo e o fenótipo - expressão
morfológica da constituição. Genótipo e fenótipo encontram-se ajustados e em
homeostasia com o ambiente, ou seja, exprimem nessa circunstância o estado de saúde.
Variações biológicas estão relacionadas com diferentes genótipos e diferentes
ambientes.
A existência de áreas geográficas com ambientes bem distintos leva a uma patologia
própria para as diferentes áreas e sempre relacionada com as características de agressão
existentes e com os equilíbrios entretanto acontecidos ao longo do tempo. Esta é a base
da chamada patologia geográfica, constatada para os vários tipos de doença com
especial realce para as neoplasias malignas.
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CAPÍTULO IV
A atrofia pode ser fisiológica como acontece no cordão umbilical, no canal arterial, nas
fendas branquiais. Pode ser uma atrofia patológica em casos de atrofia por compressão,
por desuso, por deficiência vascular, senilidade.
agenesia
aplasia
falha durante o
desenvolvimento
o hipoplasia
diminuição de
crescimento
excesso de patológica /
crescimento fisiológica
hiperplasia
metaplasia epitelial /
anormalidades
displasia mesenquimatosa
de diferenciação
anaplasia
de crescimento
Esquema 4 – Alterações no crescimento celular e bidirecionalidade adaptativa
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CAPÍTULO V
A célula será então a unidade estrutural do organismo, porta a lei orgânica da estrutura e
da função, e sobre ele se exercem os fatores do ambiente, com capacidade lesional. Nela
existem os mecanismos da capacidade adaptativa. É portanto a célula fulcro da vida, da
adaptação e da lesão. O ambiente e os seus fatores de lesão atingem a célula nos seus
subsistemas mais vulneráveis. São eles o sistema de membrana, o sistema produtor de
energia, o sistema de síntese proteica e o aparelho genético.
Sendo o oxigénio a grande fonte de energia celular via fosforilação oxidativa (ATP), a
sua falta conduz à redução e paragem de toda a dinâmica celular, não renovação
proteica por falta de síntese, não renovação de proteínas da membrana, maior
deficiência mitocondrial, ganho de entropia, entrada de água na célula, dispersão dos
elementos intracitoplasmáticos, equilíbrio entre o meio intracelular e extracelular, e logo
morte celular pelo fator de lesão. É a necrose celular ou morte por lesão.
Agentes físicos
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Radiações - Lesam as células por lesão direta das membranas celulares e pela produção
de mutações genómicas. Temos as radiações solares, os raios X e as radiações atómicas,
com alguma variabilidade na sua patogenicidade.
Radicais livres - Individualizamos os radicais livres para lhes dar um pouco de ênfase.
Radicais livres são ''radicais livres", ou seja, radicais com átomos ou grupos de átomos
que estão livres, disponíveis para se ligarem a outros compostos químicos. A fonte
principal de radicais livres provém da radiólise da água e do oxigénio. Os radicais livres
atuam lesando as células por peroxidações dos lipídeos das membranas com destruição
destas e morte celular. Esta oxidação lipídica dá origem a um pigmento amarelo
acastanhado chamado lipofuscina, típico nos órgãos na senescência e constituindo o
aspeto da atrofia castanha dos órgãos. Os radicais livres acarretam também mutações
genómicas. São os radicais livres produzidos pelas células de defesa, características da
inflamação aguda, os polinucleares neutrófilos. Estes, fagocitando agentes, formam
água oxigenada (02 H2) fonte de radicais livres, que oxidam as membranas dos agentes
bacterianos, destruindo-os. Neste mecanismo de defesa são também destruídas pelos
radicais livres, células normais.
Agentes químicos
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De entre as substâncias químicas, fatores de lesão, temos o álcool, tão ingerido pelas
populações. O álcool, metabolizado, dá lugar ao acetaldaido, grande tóxico cerebral e
respiratório.
Os prions são formas anormais de proteínas normais. A proteína prion é codificada por
um gene no cromossoma 20, e apresenta-se conservada através de várias espécies. Esta
proteína alterada é altamente eficaz na transmissão da doença a indivíduos normais, a
produzir a proteína normal. Em casos de doenças familiares, já se descobriu por análise
génica, diferentes classes de mutação no gene priónico, responsáveis pelo fenótipo
doente, sendo os tecidos destes doentes infeciosos para outros indivíduos.
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- A luta anti-tabágica.
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Hipersensibilidade
A defesa orgânica, a apresentar no cap.8, tem no sistema imune, uma das suas grandes
armas de defesa. Todavia, ou o sistema imune tem a capacidade de inviabilizar o agente
agressor, sem permitir as suas manifestações de vida e estamos imunes, intocáveis a
esse agente, ou o agente pela sua capacidade patogénica obriga o sistema imune "à
luta", daí aparecendo sintomas e sinais da doença. Vencendo o sistema imune temos o
estado de equilíbrio, ou seja, de saúde. Podemos não sentir o sistema imune trabalhar,
acontecendo sempre isso em saúde, ou podemos sentir os efeitos do sistema imune com
os seus produtos de defesa: anticorpos e citocinas, na luta com os fatores de lesão, luta
essa que vai ser causa, ela própria, de lesão.
Pode ser tipo II, quando os anticorpos se ligam ao fator estranho, o antigénio e ativam
os fatores do complemento. Estes chamam os polinucleares neutrófilos e vamos ter uma
inflamação aguda. É o que acontece em certas glomerulonefrites por anticorpos anti-
membrana basal.
Pode ser tipo III, quando por excesso de anticorpo ou de antigénio se formam
complexos antigénio-anticorpo, de um porte tal, que não fagocitados se depositam nas
paredes vasculares, onde ativam o complemento, dando inflamação aguda. Podem esses
complexos não serem filtrados pelo rim e depositam-se nos glomérulos renais,
desencadeando, pelos mesmos, glomerulonefrites.
O tipo VI (variante do tipo II) – citotoxicidade celular mediada por anticorpo (ADCC).
Imunoglobulinas envolvem o antigénio e possuindo essas imunoglobulinas recetores
para macrófagos e células Killer, o antigénio é por estas fagocitado.
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CAPÍTULO VI
Toda a célula lesada, por qualquer fator de lesão, vai apresentar alterações na sua
composição que pode chegar à irreversibilidade, ou seja, à morte celular por lesão, a
necrose.
O ponto a partir do qual toda a célula lesada é incapaz de voltar ao estado normal,
constitui o ponto de não retorno da lesão celular. Acontece por rotura da membrana
celular, por grande tumefacão celular, por rotura lisossómica e libertação dos enzimas
lisossómicas no citoplasma, por entrada de cálcio na célula. A entrada de cálcio vai
bloquear mitocôndrias e reduzir a capacidade energética, como vai ativar lipases
(enzimas) que digerem a membrana.
Acumulação de lipídeos
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fosfolípidos
triglicerídeos
+ lipoproteinas
proteina
- Ação do álcool - O álcool mobiliza os ácidos gordos dos depósitos e logo mais ácidos
gordos chegam ao fígado. Acarreta uma maior esterificação dos ácidos gordos em
triglicerideos e reduz a captação de proteínas no intestino e a sua elaboração pelo
fígado. Altera as proteínas mitocondriais, interferindo com a energia celular formando
coalescência dessas proteínas. Esta coalescência dá a imagem histológica, nas células
hepáticas do alcoólico, os chamados hialinos alcoólicos ou corpos de Mallory. No
alcoolismo a transformação gorda do fígado é difusa e total.
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Acumulação de proteínas
Acumulação de pigmentos
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Pimentel, que descreveu o pulmão dos cabeleireiros pelas lacas, o remendador de pneus
pela borracha, o de tratador de pombos pela penugem, o pulmão dos violinistas pelas
crinas soltas no deslizar das cordas, e o pulmão do sulfatador das vinhas, pelos
inúmeros sais de cobre da calda bordaleza, com fibrose (pulmão dos sulfatadores e
carcinoma bronquiolo-alveolar). As pneumoconioses dão reações inflamatórias
fibrosantes, com fibrose e hipertensão pulmonar, insuficiência cardíaca direita e morte.
As pneumoconioses acarretam aumento da incidência das neoplasias malignas e
depleção do sistema imune.
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succinil
coenzima A Ácido γ aminolevulínico
P
O
N
T piridoxal fosfato
E
S
heme uroporfirinogénio
M I e III
E
T
A porfobilinogénio coproporfirinogénio
N I e III
hemoglobina O
protoporfirinogénio
I e III
globina
4 anéis pirrólicos
Protoporfirina IX biliverdina bilirrubina
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Porfírias
Acumulação de cálcio
Calcificações anómalas
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Absorção do cálcio
- deficiência da vitamina D3
- baixa de absorção do cálcio no intestino
- retenção de fosfato (hiper-fosfatémia) e logo baixa do cálcio sérico. Isto conduz a:
- hiperactividade paratiróide com mobilização do cálcio do osso - raquitismo renal
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CAPÍTULO VII
Atingido o "ponto de não retorno" toda a célula morre. A morte celular por lesão é a
chamada necrose. Já vimos nos organismos diferenciados, no programa celular, estar a
sua morte - apoptose.
Na sífilis terciária (capítulo 10) há somatório de micro necroses por lesão vascular que
constituem as gomas siflíticas, expressão de macro enfarte.
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Entre os dois grandes tipos de necrose de coagulação e liquefação temos o quinto tipo
de necrose, que é a necrose gangrenosa.
Necrose de coagulação
propriamente dita
Necrose de coagulação
Necrose de caseificação
Necrose gangrenosa
Necrose de liquefação
propriamente dita
Necrose de liquefação
Necrose enzimática
Não se deve confundir necrose gangrenosa com gangrena. Gangrena é uma necrose
isquémica dos membros, logo é uma necrose de coagulação, ou seja, um enfarte.
A gangrena pode ser o resultado de uma isquémia de causa arterial, caso de uma
trombose da artéria femural e assim haverá falta de irrigação arterial, e logo necrose de
coagulação, apresentando-se o membro seco, fino, escuro, sonoro ao toque,
mumificado. É o que constitui a chamada gangrena seca.
A gangrena pode resultar de uma estase venosa, caso de trombose venosa do membro, e
assim haverá encharcamento do membro por edema, estagnação do sangue, o membro
volumoso e arroxeado, podendo ser local de contaminação bacteriana, dado ser o sangue
estagnado um excelente caldo de cultura. É o que constitui a gangrena húmida, que ao
contrário da seca, contaminada por agentes, poderá dar origem a uma necrose
gangrenosa.
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