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PESQUISA CIENTÍFICA
Prof.ª ÉRICA DANIELLE SILVA
METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.....................................................................................................05
UNIDADE I................................................................................................................................07
CONVERSA INICIAL.................................................................................................................09
2 A CIÊNCIA ............................................................................................................................14
3 MÉTODO ..............................................................................................................................15
3.1 Método indutivo..............................................................................................................16
3.2 Método dedutivo.............................................................................................................16
3.3 Método dialético.............................................................................................................17
CONCLUSÃO............................................................................................................................43
REFERÊNCIAS..........................................................................................................................44
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O ensino superior, tal qual se consolidou historicamente, na tradição ocidental, visa atingir
três objetivos, que são obviamente articulados entre si. O primeiro objetivo é o da for-
mação de profissionais das diferentes áreas aplicadas, mediante o ensino/aprendizagem
de habilidades e competências técnicas; o segundo objetivo é o da formação do cientista
mediante a disponibilização dos métodos e conteúdos de conhecimento das diversas es-
pecialidades do conhecimento; e o terceiro objetivo é aquele referente à formação do ci-
dadão, pelo estímulo de uma tomada de consciência, por parte do estudante, do sentido
de sua existência histórica, pessoal e social (SEVERINO, 2007, p. 23).
Diante do sobredito, essa disciplina tem como objetivo fornecer os pressupostos teórico-met-
odológicos de iniciação à pesquisa do trabalho científico, bem como as normas que o regem, de
forma a permitir que você, aluno(a), desenvolva hábitos de estudo científico e sistematizado, a fim
de aumentar seu nível de aproveitamento acadêmico, durante todo o curso de graduação.
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volvimento do discurso acadêmico/científico;
A Unidade 4, “Normas da Associação Brasileira de Normas e Técnicas”, por sua vez, conforme
indicado no próprio título, apresentará as principais normas exigidas em documentos técni-
co-científicos e acadêmicos, a partir das orientações previstas na Associação Brasileira de Normas
e Técnicas (ABNT).
Esperamos, assim, que os assuntos abordados na disciplina estimule você, aluno(a), a val-
orizar os princípios da pesquisa como um meio de aprendizado durante sua vida acadêmica e
profissional, desenvolvendo um processo de profissionalização consciente e de aprimoramento
intelectual. Mas lembre-se: você não se tornará um pesquisador da noite para o dia. Tornar-se apto
para a produção científica é um processo gradativo, que nos é posto mediante muito exercício
e dificuldades. A leitura crítica, o uso sistemático de técnicas e de documentação e a tentativa
constante de relacionar teoria e prática são elementos essenciais na formação de um “espírito
científico”. Espírito este que possibilitará aprender os conhecimentos já existentes, produzir outros
conhecimentos, provocar a reflexão, o debate e o progresso da cultura e da ciência.
Bons estudos!
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UNIDADE I
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UNIDADE I
FUNDAMENTOS DA METODOLOGIA CIENTÍFICA:
CIÊNCIA, METODOLOGIA E PESQUISA CIENTÍFICA
Prof.ª Me. Érica Danielle Silva
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao finalizar esta unidade, você deverá ser capaz de discutir aspectos pertinentes à ciência e
às formas de construção do conhecimento, descrever e diferenciar os conceitos de ciência, pesqui-
sa e método, distinguir os diferentes tipos de pesquisa e apontar as técnicas e os instrumentos
utilizados para a coleta e análise de dados nas pesquisas científicas.
Plano de estudo
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CONVERSA INICIAL
Em todos os níveis de ensino, exige-se do estudante atividades de pesquisa. Entretanto, é
na faculdade que essas atividades tomam outra dimensão, em relação à sua natureza e à sua fina-
lidade. Isso porque, em sentido amplo, muito do que se denomina “pesquisa” não passa de uma
cópia de informações sobre um assunto, muitas vezes nem referenciada devidamente.
Essa primeira unidade da disciplina de Metodologia do Trabalho Científico será seu primeiro
contato com o rigor científico de que suas pesquisas deverão ser constituídas a partir de ago-
ra. Com o tempo, ou seja, com a prática da pesquisa, você amadurecerá seu espírito científico e
aprenderá a utilizar os procedimentos adequados e operacionalizar as técnicas de investigação
com êxito.
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1 TIPOS DE CONHECIMENTO HUMANO
Para discutirmos sobre conhecimento científico, é necessário diferenciá-lo de outros tipos
de conhecimento existentes. Para iniciar nosso trabalho, leia a reportagem abaixo, veiculada na
edição do dia 20/01/2009 do Jornal Nacional.
Uma índia de 12 anos mordida por uma cobra está no centro de uma polêmica no Amazonas:
de um lado, o tratamento médico convencional; do outro, as tradições indígenas.
A adolescente é da etnia tukano e vive em uma aldeia de São Gabriel da Cachoeira, no ex-
tremo norte do país. Segundo o tio da menina, João Paulo Barreto, a família foi impedida
de praticar rituais de cura no hospital.
Os médicos também não concordaram com as restrições alimentares impostas pelos índi-
os e em proibir o acesso ao local de gestantes e mulheres no período menstrual.
“Dentro da Carta Magna existe um artigo que garante esses direitos, o artigo 231, que diz
que devemos respeitar as tradições, línguas, costumes e formas de organização”, diz o tio.
O Ministério Público federal emitiu uma recomendação para que o tratamento da criança
conciliasse a medicina indígena com os métodos convencionais.
A recomendação foi atendida. O pajé passou a ter acesso à menina, desde que os rituais
não incomodassem os outros pacientes. Mas um impasse permaneceu.
Por causa da possibilidade de amputação, que não é aceita pelos tukanos, a família levou
a menina para a Casa de Apoio à Saúde Indígena, onde ela está sendo tratada por pajés e
por um cirurgião geral. O Ministério Público diz que vai continuar acompanhando o caso.
Disponível em <http://jornalnacional.globo.com/Telejornais/
JN/0,,MUL964736-10406,00-INDIA+MORDIDA+POR+COBRA+DIVIDE+MEDI-
COS+E+PAJES.html>. Acesso em: 01 out. 2012.
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Você pode notar que se mesclam, nesse exemplo, dois tipos de conhecimento: o científico
– representado pelos conhecimentos desenvolvidos pela medicina, e o indígena. Vejamos, com
mais detalhes, como se caracterizam quatro tipos de conhecimento humano, segundo a siste-
matização de Trujillo (1974):
Conhecimento popular
Apesar de não ser dotado de rigor científico, o conhecimento popular não deve ser de-
sprezado, pois é ele a fonte de inspiração para a ciência. Por exemplo, é o conhecimento científico
que vai investigar as substâncias responsáveis pelos efeitos medicinais de plantas na melhora de
sintomas, crença transmitida de geração em geração no seio familiar, de modo informal.
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Conhecimento Filosófico
Etimologicamente, a palavra “filosofia” é composta pelos termos philos, que significa amigo,
e sophia, que significa sabedoria ou capacidade de perceber o certo e o errado, de debater sobre
a verdade e a falsidade, sobre o bem e o mal.
Conhecimento Religioso
Conhecimento Científico
O conhecimento científico é real, uma vez que lida com fatos e ocorrências. Refere-se a todo
conhecimento obtido por meio de procedimentos metodológicos que possibilitam investigar a
realidade de forma organizada, por meio de aplicação de métodos que buscam responder como
e por que ocorrem os fatos e fenômenos. Em síntese, o conhecimento científico resulta de pesqui-
sa metódica e sistemática da realidade. E é sobre o conceito de ciência que dispensaremos uma
atenção especial a partir desse momento.
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LEITURA COMPLEMENTAR
A FORÇA DO CONHECIMENTO
Em todas as unidades, serão sugeridos vários títulos de livros e artigos que enriquec-
erão nossas discussões. Para iniciar, sugerimos:
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2 A CIÊNCIA
Segundo Eco (2005, p. 21), um estudo é científico quando responde a alguns requisitos. Ve-
jamos quais são.
• O estudo debruça-se sobre um objeto reconhecível e definido de tal maneira que seja
reconhecível igualmente pelos outros. O termo objeto, nesse âmbito, não possui necessaria-
mente um significado físico (coisa palpável). Quando definimos um objeto de pesquisa, significa
que definimos as condições sob as quais podemos falar, com base em certas regras que foram es-
tabelecidas por nós ou por outros pesquisadores. A raiz quadrada, por exemplo, pode ser tomada
como um objeto de estudo, apesar de nunca ninguém tê-la visto.
• O estudo deve dizer do objeto algo que ainda não foi dito ou rever sob uma óptica difer-
ente o que já se disse.
• O estudo deve ser útil aos demais. Conforme aponta Eco (2005), um trabalho é científico
se acrescentar algo à comunidade científica e for tomado como referência por pesquisadores do
mesmo tema.
Mas como poderíamos, então, definir “ciência”? De acordo com Ferrari (1974, p. 8 apud Mar-
coni e Lakatos, 2010, p. 62), “[...] a ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, di-
rigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação”.
Marconi e Lakatos (2010) explicam que a ciência possui objetivo e finalidade (preocu-
pação em distinguir as leis gerais que regem determinados eventos), função (aperfeiçoamento da
relação entre o homem e o mundo) e objeto material (aquilo que se pretende estudar, analisar,
interpretar) e formal (o foco da pesquisa, como as diversas pesquisas que têm o mesmo objeto
material).
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3 MÉTODO
As definições podem até variar de um autor para outro. Entretanto, o caráter racional é pre-
dominante quando se trata de ciência. Logo, não há ciência sem o emprego de um método.
A palavra método, em relação à ciência, refere-se à maneira que o pesquisador escolhe para
investigar um objeto, um fato ou um fenômeno. Em outras palavras, é uma série de procedimen-
tos reflexivos e técnicos adotados para atingir um objetivo proposto.
Marconi e Lakatos (2010) destacam que, com o passar do tempo, muitas modificações foram
feitas em relação aos métodos existentes. Ressaltam, sobretudo, o conceito moderno de método
(independente do tipo), que cumpre seu objetivo quando realiza as seguintes etapas:
Tais etapas podem ser assim esquematizadas (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 67):
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Fonte: Adaptada de Marconi e Lakatos (2010)
Na literatura, existem diferentes tipos de métodos. Neste momento, serão apresentados al-
guns deles.
Segundo Marconi e Lakatos (2010), o método indutivo passa por três etapas. São elas:
Exemplo: estudos feitos com uma amostra de uma população. Após análises, os resultados
são generalizados para toda a população da mesma espécie.
Dedutivo:
Todo mamífero tem um coração.
Ora, todos os cães são mamíferos.
Logo, todos os cães têm um coração.
Indutivo:
Todos os cães que foram observados tinham um coração.
Logo, todos os cães têm um coração.
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FIQUE POR DENTRO
Para saber sobre outros tipos de argumentos dedutivos e indutivos, cf. o Capítulo 4 de
Lakatos e Marconi (2010).
Salmon (1978, p. 30-31 apud Marconi e Lakatos 2010, p. 73) aponta duas características
básicas que diferenciam os argumentos dedutivos dos indutivos. São elas:
DEDUTIVOS INDUTIVOS
I. Se todas as premissas são ver- I. Se todas as premissas são
dadeiras, a conclusão DEVE verdadeiras, a conclusão é
ser verdadeira. provavelmente verdadeira,
mas não necessariamente
verdadeira.
II. Toda informação ou conteú- II. A conclusão encerra a infor-
do fatual da conclusão já es- mação que não estava, nem
tava, pelo menos implicita- implicitamente, nas premis-
mente, nas premissas. sas.
Independente dos autores que defendem o Método Dialético, Marconi e Lakatos (2010) uni-
ficam quatro leis fundamentais desse método:
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as coisas sofrem a mudança qualitativa. A quantidade transforma-se em qualidade.
Importa destacar que há outros métodos, por exemplo, aqueles específicos das ciên-
cias sociais. Destacam-se os métodos histórico, comparativo, monográfico, estatístico,
tipológico, funcionalista e o estruturalista, etnográfico e clínico. A escolha do méto-
do depende, portanto, do problema de pesquisa levantado, da teoria que sustenta a
pesquisa e dos objetivos, entre outros fatores.
A pesquisa pode ser classificada também de diversas formas, segundo critérios variados.
Se considerarmos as duas principais finalidades da pesquisa como (I) o enriquecimento teóricos
das ciências e (II) seu valor prático ou pragmático da realidade, então temos uma primeira grande
divisão da pesquisa em dois tipos: a pura e a aplicada.
Andrade (2010, p. 110-111) destaca, entretanto, que esses dois grandes blocos não são inde-
pendentes entre si. Nas palavras da autora, “[...] a pesquisa ‘pura’ pode, eventualmente, proporcio-
nar conhecimentos passíveis de aplicações práticas, enquanto a ‘aplicada’ pode resultar na desco-
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berta de princípios científicos que promovam o avanço do conhecimento em determinada área”.
a. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o
pesquisador como instrumento-chave. Isso quer dizer que um estudo qualitativo tem como
preocupação básica o mundo empírico em seu ambiente natural. No trabalho de campo, por ex-
emplo, o pesquisador é quem observa, seleciona, interpreta e registra os comentários e as infor-
mações do mundo natural. Logo, é necessário que o pesquisador tenha a capacidade para ouvir,
perspicácia para observar, disciplina para registrar o que foi observado e as declarações coletadas,
organização, paciência e capacidade de interação com o grupo de investigadores e com as pes-
soas envolvidas na pesquisa.
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produto/resultado.
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Importa destacar que as pesquisas qualitativa e quantitativa são complementares, podendo
ser utilizadas em uma mesma pesquisa. Como exemplo, vide o estudo intitulado “As consequên-
cias comportamentais da insatisfação dos clientes”, dos autores Daniel Von der Heyde Fernandes
e Cristiane Pizzuti dos Santos, disponível em <http://www.scielo.br/pdf/rac/v12nspe/a07v12ns.
pdf>. A pesquisa foi desenvolvida em três etapas. Na primeira, qualitativa, foram realizadas 16
entrevistas em profundidade, que deram origem ao instrumento de coleta de dados. Na segun-
da, a eficácia da manipulação da variável a ser controlada na pesquisa experimental – nível de
insatisfação – foi qualitativamente validada com 22 entrevistados. Finalmente, um questionário
estruturado foi aplicado a 480 estudantes de graduação. Os resultados mostram que o impacto do
nível de insatisfação nas intenções de comunicação boca-a-boca negativa e troca de empresa é
alto. Em relação à intenção de reclamação, o impacto da autoconfiança do consumidor é superior
à influência das demais variáveis. A atitude em face da reclamação exerceu papel de moderadora
entre o nível de insatisfação e a intenção de reclamação. Esses resultados fornecem implicações
acadêmicas e gerenciais para minimizar a troca de fornecedor e a comunicação negativa e au-
mentar os índices de reclamação e, portanto, as oportunidades de remediar problemas.
Severino (2007, p. 119) chama a atenção para o fato de que quando tratamos de pesqui-
sa qualitativa e quantitativa ou metodologia qualitativa e quantitativa, não se está
referindo a uma modalidade de metodologia em particular. O autor prefere denominar,
então, de abordagem quantitativa e abordagem qualitativa. Afinal, “[...] são várias met-
odologias de pesquisa que podem adotar uma abordagem qualitativa, modo de dizer
que faz referência mais a seus fundamentos epistemológicos do que propriamente a
especificidades metodológicas”.
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FIQUE POR DENTRO
Andrade (2010) destaca que pesquisas descritivas são normalmente solicitadas por empre-
sas comerciais (aceitação de novas marcas, novos produtos ou embalagens), institutos pedagógi-
cos (nível de escolaridade, por exemplo) e partidos políticos (preferências eleitorais), entre outros.
A autora salienta ainda que uma das características desse tipo de pesquisa é a técnica padronizada
da coleta de dados, frequentemente feita por meio de questionários e da observação sistemática.
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4.2.3 Pesquisa explicativa
A pesquisa explicativa é aquela em que se busca, além de registrar os fenômenos estudados,
identificar suas causas, seja por meio da aplicação do método experimental ou por meio da inter-
pretação por métodos qualitativos.
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FIQUE POR DENTRO
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LEITURA COMPLEMENTAR
4.3.5 Pesquisa-ação
A pesquisa-ação é aquela que visa, além de compreender, intervir em uma determinada
situação, com o objetivo de modificá-la. Assim, além de diagnosticar a realidade investigada, a
pesquisa-ação propõe mudanças que levem a um aprimoramento das práticas analisadas.
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LEITURA COMPLEMENTAR
A PESQUISA-AÇÃO
METODOLOGIA DA PESQUISA-AÇÃO
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parecidas com as pesquisas de campo.
Segundo Severino (2007, p. 121), “[...] o caso escolhido para a pesquisa deve ser significativo
e bem representativo, de modo a ser apto a fundamentar uma generalização para situações análo-
gas, autorizando inferências”.
LEITURA COMPLEMENTAR
Sinopse: A autora desenvolve uma criteriosa análise sobre os diferentes enfoques da-
dos ao estudo de caso, tanto no país como no exterior. Adverte, entretanto, que no
enfoque educativo, a preocupação dos pesquisadores é com a compreensão da ação
educativa.
ESTUDO DE CASO
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vos do conhecimento compartilhado com a ciência laboratorial.
5.1 Documentação
A pesquisa documental é toda forma de registro e sistematização de dados e informações
que os tornam analisáveis pelo pesquisador. Yin (2001) destaca que a documentacão é estável, já
que pode ser revisada quantas vezes forem necessárias, e exata, pois contém nomes, referências e
detalhes. Entretanto, o autor também aponta que a capacidade de recuperação dos documentos
pode ser baixa, a seleção pode ser tendenciosa e o acesso pode ser negado.
Foster (apud ROESCH, 1999) destaca algumas orientações importantes para uso de docu-
mentos em pesquisas científicas:
• Negociação do acesso aos documentos: sempre deixe claro o objetivo de sua pesquisa, já
que muitos documentos são sigilosos ou alguns deles não podem ser copiados, somente consul-
tados.
• Verifique a autenticidade do documento junto às pessoas que os produziram ou têm sua
posse.
• Tente compreender e identificar o assunto e o tema de cada documento.
5.2 Entrevistas
A entrevista é uma técnica de coleta de informações solicitadas diretamente aos sujeitos
pesquisados, numa situação de conversação efetuada face a face, de maneira metódica. Marconi
e Lakatos (2010) destacam os seis tipos de objetivos da entrevista segundo Selltiz (1965):
• Averiguação dos fatos: O pesquisador verifica se as pessoas que estão de posse de certas
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informações podem compreendê-las.
• Determinação das opiniões sobre os fatos: As pessoas pensam ou acreditam nos fatos?
• Conduta atual ou do passado: Inferência em relação à conduta que a pessoa terá no fu-
turo, a partir de seu comportamento no passado ou no presente.
Quais são as vantagens dessa técnica? E suas limitações? Vejamos o quadro a seguir, formu-
lado a partir das considerações de Marconi e Lakatos (2010):
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FIQUE POR DENTRO
Para que a técnica da entrevista seja conduzida de forma adequada, é necessário que o
pesquisador tome alguns cuidados. O pesquisador precisa ter claro o objetivo que quer alcançar.
Para tanto, deve organizar previamente um roteiro com as questões importantes. Além disso, o
entrevistador deve conhecer previamente o entrevistado e marcar com antecedência a hora e o
local, para assegurar uma recepção adequada. É fundamental garantir ao entrevistado o segredo
de suas declarações e de sua identidade.
5.4 Observação
A técnica da observação não consiste apenas em ver e ouvir, mas examinar os fatos ou
fenômenos que se deseja estudar. Marconi e Lakatos (2010) destacam que, do ponto de vista
científico, há uma série de vantagens e limitações (assim como outras técnicas). Logo, é necessário
aplicar mais de uma técnica ao mesmo tempo. Vejamos:
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A duração dos acontecimentos é variável. Se
Depende menos da introspecção ou da reflex-
dois fatos ocorrerem simultaneamente, tor-
ão.
na-se difícil a coleta de dados.
Permite a evidência de dados não constantes Vários aspectos da vida cotidiana e/ou partic-
do roteiro de entrevistas ou de questionários. ular podem não ser acessíveis ao pesquisador.
Fonte: Adaptado de Marconi e Lakatos (2010)
Ander-Egg (1978, apud Marconi e Lakatos, 2010) apresenta quatro tipos de modalidades de
observação, que variam de acordo com a circunstância. São elas:
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5.5 Questionário
O questionário é constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respon-
didas por escrito, sem a presença do entrevistador. Marconi e Lakatos (2010) destacam que, assim
como todas as técnicas de pesquisa, o questionário também tem vantagens e desvantagens:
As perguntas podem ser, em geral, abertas, em que o informante pode responder livre-
mente; fechadas ou dicotômicas, em que o informante escolhe sua resposta entre opções – sim
ou não -; ou de múltipla escolha, que são perguntas fechadas, mas que apresentam uma série de
possíveis respostas.
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REFLITA
Antes disso, porém, cabe uma observação terminológica. Empregarei aqui a pala-
vra “ciência” e seus cognatos em sentido bastante amplo. Para dispor de um termo sufi-
cientemente geral para meus propósitos, polêmicas epistemológicas à parte, chamarei
de ciência todo corpo racionalmente sistematizado e justificado de conhecimentos,
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obtido por meio do emprego metódico de observação, experimentação e raciocínio.
Essa definição ampla aplica-se às chamadas Ciências Exatas, Naturais e Humanas, bem
como às disciplinas tecnológicas e àquelas ordinariamente incluídas entre as chama-
das Humanidades. Chamarei de pesquisa científica toda investigação original que vise
a contribuir para a constituição de uma ciência e chamarei de atividade científica toda
atividade que vise diretamente à concepção e realização de pesquisas científicas, à
comunicação de seus resultados, à interação científica entre pesquisadores e à orien-
tação ou supervisão de processos de formação de pesquisadores.
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comunicaram como sendo seus resultados. Dado um relato científico, pressupõe-se
que, salvo indicação expressa em contrario, os pesquisadores expressamente identi-
ficados como seus autores apresentam tudo o que é relatado como sendo resultados
que julgam ser originais de seu próprio trabalho de pesquisa. Ações que, intenciona-
lmente ou por negligência, contrariem esse pressuposto contribuem para o estabe-
lecimento de falsas reputações e para a distribuição cientificamente injustificada de
oportunidades e recompensas. Nessa medida, minam as condições que hoje garantem
a possibilidade do trabalho coletivo eficaz de construção da ciência e constituem con-
dutas eticamente inadequadas do ponto de vista da integridade da pesquisa. Entre
elas, a que é considerada mais grave é o plágio de textos ou ideias; além do plágio, a
falsa indicação de autoria – a omissão, entre os autores de uma comunicação, do nome
de alguém que fez uma contribuição cientificamente significativa para a obtenção dos
resultados apresentados ou, inversamente, a inclusão do nome de alguém que não fez
nenhuma contribuição dessa natureza.
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ocorrências de má conduta, pode-se conjeturar que tenha havido esse crescimento,
em função da amplitude, complexidade e espalhamento crescentes do sistema de
pesquisa mundial, em função da natureza cada vez mais interativa e competitiva desse
sistema e em função das facilidades tecnológicas para a prática de ações fraudulentas,
como, por exemplo, o plágio e a manipulação de imagens.
Seja como for, ainda que o número de más condutas tenha crescido apenas pro-
porcionalmente ao crescimento do sistema de pesquisa, na medida em que os efeitos
das más condutas passaram a repercutir no trabalho de um número cada vez maior de
pesquisadores, eles passaram a repercutir, em virtude de um efeito dominó, na quali-
dade dos resultados de um número cada vez maior de pesquisas. E, o que talvez seja
o mais grave, passaram a prejudicar mais seriamente a fidedignidade pública da ciên-
cia. A ciência vive de sua credibilidade, não só porque depende cada vez mais de in-
vestimentos públicos e privados, mas principalmente porque, sem essa credibilidade,
perde sua principal razão de ser: seu potencial de fazer diferença na vida das pessoas,
por meio da ampliação do estoque de seus conhecimentos e dos meios de orientação
racional de suas ações.
O que se pode dizer com segurança é que os dados disponíveis sobre casos con-
hecidos, investigados e eventualmente punidos de má conduta científica nos últimos
trinta anos certamente não refletem a amplitude atual do problema da integridade éti-
ca da pesquisa. Por exemplo, um estudo que analisa estatisticamente vários levantam-
entos realizados entre 1987 e 2005 conclui que, dos pesquisadores consultados nesses
levantamentos, 2% confessaram já ter praticado má conduta grave e 33% confessaram
já ter praticado conduta ao menos eticamente questionável; 14% declararam já ter ob-
servado a prática de má conduta grave e 72% declararam já ter observado a prática de
conduta eticamente questionável por parte de outros pesquisadores. [1] Desde 2002,
o Journal of Cell Biology vem testando as imagens incluídas nos artigos aceitos para
serem nele publicados. Até 2006, verificou-se que 25% dos artigos aceitos continham
imagens manipuladas de modo inadequado e, no caso de 1% dos artigos aceitos, essa
manipulação afetava a credibilidade científica das conclusões [2].
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tas vezes depende de juízos que são de natureza propriamente científica e nem sempre
são triviais. Nem sempre é trivial, e frequentemente requer perícia científica, distinguir
que dados são relevantes e que dados não são relevantes para a confirmação ou não
de uma hipótese científica, quando se trata de estabelecer se um certo artigo relata
com fidelidade todos os dados relevantes para a ponderação do grau de corroboração
que propõe para suas hipóteses. Nem sempre é trivial, e frequentemente requer perí-
cia científica, determinar se as ideias expostas por um autor como suas são suficiente-
mente semelhantes a ideias de outro autor para que essa exposição seja considerada
como possível caso de plágio. Nem sempre é trivial, e frequentemente requer perícia
científica, distinguir o erro involuntário, o erro por imperícia, da má conduta intencion-
al e da má conduta negligente. E nem sempre é trivial, e frequentemente requer muita
sensibilidade científica, distinguir o que é um desvio cientificamente injustificado de
práticas científicas geralmente aceitas e o que é um desvio inovador cientificamente
valioso.
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sa, e também para implementar mecanismos de prevenção, identificação, investigação
e punição de eventuais más condutas.
No outro extremo do espectro estão países que dispõem de uma estrutura insti-
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tucional já relativamente complexa para lidar com a questão da integridade, uma es-
trutura coordenada por órgãos dotados de poder e dever legalmente atribuídos para
fazê-lo. É o caso dos Estados Unidos, e também da Noruega e Dinamarca. Nos Estados
Unidos, foi legalmente estabelecido, em 1993, que, no caso de pesquisas financiadas
com recursos federais, a competência das instituições de pesquisa para lidar com as
questões de integridade deve ser limitada pela supervisão de órgãos federais associa-
dos às agências de fomento, mas independentes delas, órgãos que respondem direta-
mente ao Congresso. Foi criado um órgão para esse fim no Departamento de Saúde,
com competência sobre as pesquisas financiadas pelos National Institutes of Health
(Office of Research Integrity – ORI); o órgão corregedor da National Science Foundation
(NSF Office of Inspector General – NSF OIG) passou a cumprir essa tarefa em relação
às pesquisas apoiadas pela NSF. Esses órgãos supervisionam e aconselham as institu-
ições de pesquisa no que diz respeito às suas atividades de promoção da integridade
da pesquisa e de prevenção e investigação de possíveis más condutas. Se julgarem
necessário, podem conduzir autonomamente investigações e sugerir punições.
(1) Cabe tratar as más condutas diferentemente, conforme seus diferentes graus
de gravidade. São consideradas más condutas graves típicas a fabricação e a falsifi-
cação de dados, informações, procedimentos e resultados, assim como o plágio. São
consideradas ordinariamente más condutas menos graves, por exemplo, a atribuição
incorreta de autoria, o chamado (talvez inadequadamente) auto-plágio, a ocultação de
potenciais conflitos de interesse, a conservação inadequada dos registros de pesqui-
sa, a omissão de dados de modo a dificultar a replicação de experimentos, a retenção
injustificada de informações de modo a dificultar que a linha de pesquisa seja desen-
volvida por outros pesquisadores. Os procedimentos de investigação previstos no
caso de denúncias de más condutas graves são rigorosos e complexos, impondo-se às
instituições de pesquisa o dever de segui-los. A obediência a esses procedimentos é
diretamente supervisionada pelos órgãos associados às agências de fomento. No caso
de más condutas menos graves, confere-se às instituições de pesquisa maior autono-
mia no tratamento de denúncias e investigações. Algumas más condutas consideradas
mais leves podem ser tratadas apenas internamente pelas instituições de pesquisa,
sob o argumento de que, tornadas públicas denúncia e investigação, a mancha na rep-
utação dos denunciados já seria pena severa demais para a pouca gravidade da má
conduta em questão.
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(2) Cabe garantir aos denunciados por más condutas científicas, no curso de pro-
cessos de investigação, o direito à presunção de inocência e à preservação de suas
reputações. Na medida do possível, esses processos devem transcorrer confidencial-
mente e o denunciado deve ser mantido a par de todas as suas etapas do processo,
com direito de resposta a todas as acusações levantadas e direito de recurso no final
do processo, em caso de veredito adverso.
(3) As punições devem ser proporcionais à gravidade das más condutas identifi-
cadas. Para estimar o grau de gravidade de uma má conduta, deve-se considerar se ela
foi intencional ou apenas fruto de negligência, se foi um caso isolado ou obedeceu a
um padrão regular de comportamento e em que medida foi prejudicial ao avanço e à
fidedignidade da ciência.
No meio do espectro, estão países onde não existem órgãos centralizados legal-
mente instituídos para regular e supervisionar as atividades das instituições de pesqui-
sa relativas à integridade da pesquisa, mas onde as agências nacionais de fomento
assumem de fato funções regulatórias. É o caso da Alemanha, Reino Unido, Canadá e
Austrália. Na Alemanha, essas funções são desempenhadas pela Deutsche Forschungs-
gemeinschat (DFG) e, no Reino Unido, Canadá e Austrália, pelos conselhos centrais das
agências nacionais de fomento. As agências publicam códigos de conduta e de pro-
cedimentos para tratar de casos de má conduta e condicionam a concessão de bolsas
e auxílios à aceitação dessas códigos, bem como à implementação de políticas de pre-
venção de más condutas.
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conhecimento e requer que haja um ombudsman em cada instituição de pesquisa
beneficiária de seus auxílios e bolsas.
Abril de 2011
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[1] Fanelli, D., “How Many Scientists Fabricate and Falsify Research? A Systematic
Review and Meta-Analysis of Survey Data”, PLoS ONE | <www.plosone.org> 11 May
2009 | Volume 4 | Issue 5 | e5738.
Suponha que você trabalhe para uma grande empresa de produtos ao consum-
idor. Um dos produtos que você representa é um molho para salada. Um concorrente
está começando um teste de comercialização envolvendo um novo sabor, o “Spicy
Ranch”. Os vendedores estão passando de loja em loja para colocá-lo nas prateleiras.
Seu chefe pede que você vá a essa loja e compre todos os frascos do novo molho. Por
que ele lhe pediria que fizesse isso? Qual seria sua reação? Considere as implicações
éticas desse comportamento.
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LEITURA COMPLEMENTAR
Sinopse: Uma revisão histórica dos principais autores e obras que refletem esta met-
odologia de pesquisa em Ciências Sociais.
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CONCLUSÃO
Nesta primeira unidade da nossa disciplina, você teve um breve contato com os tipos de
conhecimento, bem como os critérios de cientificidade que são atribuídos a uma pesquisa. Vimos
também que cada tipo de pesquisa, seja exploratória, descritiva, explicativa, qualitativa ou quan-
titativa, entre outros, apresenta características próprias, planejamento adequado e uso específico
de técnicas de coleta e análise de dados.
Tais considerações são de extrema importância para orientar o processo de pesquisa, prin-
cipalmente a problematização que norteia o processo investigatório, sobre o qual estudaremos
nas próximas unidades. Entretanto, para definirmos nossos objetivos de pesquisa, é de suma im-
portância dispensarmos atenção especial para a leitura e a escrita no meio acadêmico, cujas técni-
cas, quando utilizadas adequadamente, podem dinamizar e facilitar nosso processo de pesquisa.
É o que veremos na próxima unidade.
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REFERÊNCIAS
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. Tradução Gilson Cesar Cardoso de Souza. São Paulo: Per-
spectiva, 2005.
ESTUDO DE CASO EM PESQUISA E AVALIAÇAO EDUCACIONAL. In: Livraria Cultura. Disponível em:
<https://www.livrariacultura.com.br/p/livros/educacao/pedagogia/estudo-de-caso-em-pesqui-
sa-e-avaliacao-educacional-1139607>. Acesso/. 24 jul. 2017.
PESQUISA PARTICIPANTE - SABER PENSAR E INTERVIR. In: Livraria Cultura. Disponível em: <https://
www.livrariacultura.com.br/p/livros/metodologia-de-pesquisa/pesquisa-participante-saber-pen-
sar-e-intervir-815890>. Acesso/. 24 jul. 2017.
ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio do curso de administração: guia para pesquisas,
projetos, estágios e trabalho de conclusão de curso. São Paulo: Atlas, 1999.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23.ed. rev. E atual. São Paulo:
Cortez, 2007.
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TRUJILLO, F.A. Metodologia da Ciência. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Kennedy, 1974.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
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INSTITUIÇÃO
Mantenedora
União das Faculdades Metropolitanas de Maringá
Forma Jurídica
Instituição com fins lucrativos
Diretor Presidente
Evandro Buquera de Freitas Oliveira
Diretora Geral
Maria da Conceição Buquera de Freitas Oliveira
Diretora de Ensino
Professora Doutora Adriana dos Santos Souza Crevelin
Diretora de Pesquisa e Extensão e Pós-Graduação
Professora Doutora Juliana Orsini da Silva
Comissão Editorial
Adriana dos Santos Souza Crevelin (UNIFAMMA)
Celso Leopoldo Pagnan (UNOPAR)
Juliana Orsini da Silva (UNIFAMMA)
Patrícia Aparecida Ferreira (UFLA)
Revisão Linguística
Tatiane Caldeira dos Santos Bernardo
Normalização
Carmen Torresan