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2023
1. INTRODUÇÃO
O câncer de próstata (Cap) pode ser definido, como o tumor que afeta a
próstata, uma glândula anatomicamente disposta abaixo da bexiga e que envolve a
uretra. O CaP permanece como uma constante causa de morbidade e mortalidade
em todo o mundo e é o tipo de câncer mais frequente em homens (OMS, 2020). Tal
tipo de câncer é, mundialmente, o segundo mais comum, com 1,3 milhões de casos
em 2018 e uma taxa de mortalidade anual de aproximadamente 300 000 (Andela et
al., 2021). Segundo dados colhidos da realidade, 65.840 é o número estimado de
novos casos (Instituto Nacional do Câncer, 2020) e o número de mortes se encontra
em 15.983 (Atlas de Mortalidade por Câncer – SIM, 2019).
Caso comparado a qualquer outro tipo, é considerado um câncer
predominante da terceira idade, uma vez que cerca de 75% dos casos no mundo
ocorrem a partir dos 65 anos (Instituto Nacional do Câncer, 2022). O aumento
expressivo nas taxas de incidência no Brasil pode ser justificado, por parte, pela
melhoria dos métodos diagnósticos, pelo avanço na qualidade dos sistemas de
informação do país e pelo aumento na expectativa de vida.
No caso de metástase, a radioterapia é utilizada junto com tratamento
hormonal, além de tratamentos paliativos. A escolha do tratamento mais adequado é
feita individualmente, por um médico especializado, após definir quais os riscos,
benefícios e melhores resultados para cada paciente, conforme estágio da doença e
condições clínicas do paciente. Todas as modalidades de tratamento são oferecidas,
de forma integral e gratuita, por meio do Sistema Único de Saúde – SUS.
Discutindo mais especificamente a respeito do tratamento, as células do
adenocarcinoma da próstata são, geralmente, sensíveis à testosterona, logo, cerca
de 50% dos pacientes são tratados com terapia de privação androgênica (ADT),
predominantemente, pelo uso do hormônio hipotalâmico liberador de LH (LHRH) e a
maioria dos homens é submetida à castração química com agonistas ou
antagonistas do LHRH com ou sem antiandrogênios (Andela et al., 2021).
Os benefícios da ADT em homens com câncer foram descobertos pela
primeira vez através da castração cirúrgica de pacientes que tinham CaP com
metástases esqueléticas, em 1941. Mesmo que a relação custo-benefício e a
redução imediata da testosterona da castração cirúrgica sejam as mais eficientes,
deve-se levar em consideração o profundo impacto psicológico gerado nos
pacientes. Sendo assim, a castração médica é a abordagem mais aceita nos
Estados Unidos da América e na Europa, a ADT médica pode ser feita por meio do
agonismo do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRh), antagonista go GnRh,
antiandrogênicos e inibidores da síntese de esteróides (Boland et al., 2021).
A ADT é vista como padrão para o tratamento de câncer de próstata
avançado (Boland et al., 2021). Com essa abordagem de tratamento, a produção
testicular de testosterona é suprimida, assim como a produção hipofisária de
gonadotrofinas. Essa terapia é, geralmente, administrada por muitos anos ou mesmo
por toda a vida e diversos efeitos colaterais podem ser desencadeados durante este
processo, por exemplo, doenças cardiovasculares, osteoporose, anemia,
afrontamentos, hiperlipoproteinemia, adiposidade (central), sintomas de vida sexual
perturbada, perda de tecido muscular e ginecomastia (Andela et al., 2021).
Além disso, documentou-se que podem ocorrer alterações metabólicas
envolvendo o controle glicêmico e o metabolismo lipídico, aumento do risco
trombótico, aumento do risco de infarto do miocárdio, arritmia grave e morte súbita
cardíaca em pacientes tratados com ADT (Gheorghe et al., 2021). Ainda, pode-se
somar uma possível associação entre a exposição à ADT e a disfunção cognitiva
(Jayadevappa et al., 2019). Nesse sentido, levantamentos de dados mostram que
homens que recebem terapia de privação androgênica para câncer de próstata têm
um risco aumentado de demência e/ou doença de Alzheimer em comparação com
homens que não recebem terapia de privação androgênica (Sari Motlagh et al.,
2021).
Frente a esse cenário, de incontáveis reações inesperadas e comorbidades
relacionadas a esta opção de tratamento, a preocupação é crescente e não deve ser
negligenciada (Lafontaine; Kokorovic, 2022).
Dada a crescente prevalência do CaP e o papel indispensável desempenhado
pela ADT no seu tratamento, tem sido dada cada vez mais atenção aos efeitos
cardiovasculares adversos desencadeados por essa terapia. Nas Diretrizes da
Sociedade Europeia de Cardiologia de 2022 sobre cardio-oncologia, foi dedicada,
especificamente, uma seção à vigilância da cardiotoxicidade relacionada à ADT.
Essa mesma diretriz recomendou a utilização da ferramenta de avaliação de risco da
Heart Failure Association-International Cardio-Oncology Society (HFA-ICOS) para
estratificação de risco cardiovascular de pacientes cardio-oncológicos, na qual
diversos fatores de risco cardiovascular foram designados como categorias que
refletem seu prognóstico relativo à significância para cardiotoxicidade relacionada a
uma classe específica de medicamentos anticâncer (Chan et al., 2023)
Estudos feitos pela Huang et al (2023) indicam que os novos agentes
hormonais (NHAs), tem potencial de aumentar o risco de comprometimento cognitivo
em pacientes com CaP avançado. Outrossim, outro estudo demonstra
probabilidades significativas de comprometimento neurocognitivos e neurotoxicidade
com terapia hormonal em um conjunto de dados da realidade (Briggs et al., 2023).
A provável correlação entre a exposição à ADT e a disfunção cognitiva
exprime uma preocupação crescente e um dos possíveis mecanismos por trás desta
associação é que a diminuição dos níveis de andrógenos pode aumentar os fatores
de risco para doença de Alzheimer e demência, incluindo perda de massa corporal
magra, diabetes, doenças cardiovasculares e depressão (Jayadevappa et al., 2019).
É possível que haja uma relação causal entre níveis mais baixos de testosterona e
interferência negativa da função cognitiva, podendo ser em decorrência do
comprometimento do crescimento de neurônios, regeneração axonal ou acúmulo de
proteína β-amilóide anormalmente dobrada (Jayadevappa et al., 2019).
Ainda podemos destacar que, pesquisas recentes evidenciam uma ativação
do sistema serotoninérgico no cérebro de roedores machos, primatas não humanos,
e humanos, secundária a um aumento na testosterona circulante ou livre, e esse
levantamento apoia a expectativa na qual a testosterona tem um efeito de feedback
positivo no sistema serotonérgico central. Tal cascata desencadeia uma suposição
geral sobre a associação entre os níveis reduzidos de testosterona e o
desenvolvimento de depressão nos pacientes com CaP tratados com ADT (Alwhaibi
et al., 2022).
Nesse cenário, o latente impacto negativo da ADT deve ser avaliado e
evidenciado durante o preparo para uma provável prescrição, visto que, a prevenção
do comprometimento cognitivo é um pilar do tratamento do câncer de próstata
(Huang et al., 2023).
Dessa forma, é possível perceber que todas as comorbidades, juntamente
com os seus fatores de risco precisam ser estudados, para que seus efeitos sejam
conhecidos e evitados. Ademais, o conhecimento sobre o câncer de próstata
avançado em cenários de comorbidades prévias e também daquelas
desencadeadas pela terapia de privação androgênica precisa ser mais aprofundado,
para que se saiba melhor quais são, de fato, as interferências na vida do paciente a
curto e longo prazo, e, com esses conhecimentos, reduzir o número de acometidos.
Os resultados dos estudos realizados por Jayadevappa et al., 2019 sugerem que os
médicos precisam pesar cuidadosamente os riscos e benefícios a longo prazo da
exposição à ADT em pacientes com expectativa de vida prolongada e estratificar os
pacientes com base nos riscos de comorbidades antes do início da ADT.
2. JUSTIFICATIVA
3. OBJETIVOS
4. METODOLOGIA
4.1 Desenho
4.4 Riscos
4.5 Benefícios
5. RESULTADOS ESPERADOS
3. REFERÊNCIAS
ANDELA, Cornelie D.; MATTE, Rafil; JAZET, Ingrid M.; et al. Effect of
androgen deprivation therapy on cognitive functioning in men with prostate cancer: A
systematic review. International journal of urology: official journal of the
Japanese Urological Association, v. 28, n. 8, p. 786–798, 2021. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1111/iju.14596>. Acesso em: 23 ago. 2023
CHAN, Jeffrey Shi Kai; LEE, Yan Hiu Athena; HUI, Jeremy Man Ho; et al.
Long‐term prognostic impact of cardiovascular comorbidities in patients with prostate
cancer receiving androgen deprivation therapy: A population‐based competing risk
analysis. International journal of cancer. Journal international du cancer, v. 153,
n. 4, p. 756–764, 2023. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1002/ijc.34557>. Acesso
em: 23 ago. 2023
SARI MOTLAGH, Reza; QUHAL, Fahad; MORI, Keiichiro; et al. The risk of
new onset dementia and/or Alzheimer disease among patients with prostate cancer
treated with androgen deprivation therapy: A systematic review and meta-
analysis. The journal of urology, v. 205, n. 1, p. 60–67, 2021. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1097/ju.0000000000001341>. Acesso em: 27 ago. 2023