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Módulo 2

Biópsia e Exame Histopatológico


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1. BIÓPSIA E EXAME HISTOPATOLÓGICO
Conceitualmente, biópsia é o procedimento cirúrgico a partir do qual se remove um fragmento do
tecido de uma lesão para análise. Indica-se este procedimento em determinadas situações em que não foi
possível a obtenção do diagnóstico apenas pela avaliação clínica, sendo a biópsia necessária para o diagnóstico
definitivo e fundamental para o início do tratamento.
INDICAÇÕES:
A biópsia deve ser realizada após o minucioso exame clínico em casos onde:
1. a avaliação clínica não dá apoio para diagnóstico definitivo;
2. há suspeita de neoplasia maligna (câncer);
3. o curso clínico1 é incoerente com diagnóstico inicial;
4. lesões persistentes por mais de 2 semanas (lesões ulceradas), lesões inflamatórias que não regridam
após 10-14 dias posteriores à remoção da causa;
5. lesões que interfiram na função local;
6. lesões ósseas ou intraósseas.
CONTRA INDICAÇÕES:
1. Quando o diagnóstico definitivo pode ser obtido apenas com o exame clínico (ex: herpes, afta,
candidíase). Na afta, em particular, o exame microscópico vai mostrar um processo inflamatório
que em nada difere do que seria visto em um caso de úlcera traumática, sendo observado apenas
um processo inflamatório crônico sem nenhuma característica que permita a distinção entre essas
situações, ou seja, processo inflamatório inespecífico.
2. Em pacientes sem oportunidade ou condições de se submeter a procedimentos cirúrgicos.
3. Lesões vasculares (hemangioma2). Frente a suspeita de lesão vascular deve ser avaliada a extensão
da lesão e, caso seja realmente necessária a realização da biópsia, o profissional deve lembrar que
esses casos requerem maior cuidado devido ao risco de sangramento descontrolado.
4. Quando o diagnóstico definitivo depende de exames hematológicos. Um exemplo para esta situação
é a sífilis, cujo diagnóstico é estabelecido a partir de exames de sangue como o VDRL e FTA-ABS.

Comportamento da lesão, a forma como ela vai se modificando ao longo do tempo.


1

Tumor benigno que apresenta proliferação de vasos sanguíneos e que será abordado no modulo de lesões proliferativas.
2
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TIPOS DE BIÓPSIA:
INCISIONAL/PARCIAL:
Caracteriza-se pela remoção de um
fragmento da lesão, o qual será submetido
ao exame histopatológico (avaliação
microscópica). Indicada em lesões múltiplas,
lesões extensas e lesões com suspeita de
neoplasia maligna. Neste último exemplo,
a opção por este tipo de procedimento se
justifica pelo fato de o paciente precisar Figura 1. Desenho esquemático demonstrando fragmento de tecido
de um tratamento subsequente, que será obtido em uma biópsia parcial. Fonte: Pippi et al. (2006)
realizado por algum profissional da área
médica, sendo importante uma avaliação da
lesão por esse profissional.

Sugere-se que a área de eleição da região a ser biopsiada e a extensão (quantidade de tecido
removido) envolvam tecido sadio da margem da lesão, permitindo a visualização da relação da lesão
com os tecidos vizinhos e evitando áreas de necrose. Em casos de lesões friáveis (lesões em que o tecido
se rompe com facilidade), deve-se tomar cuidado para não lesar o espécime e lança-se mão de sutura
na borda de tecido normal, facilitando o controle de sangramento local e melhor fechamento da área.
ORIENTAÇÕES GERAIS
Fragmento de tecido indesejável: incisão rasa, remoção muito superficial da lesão sem poder
verificar a relação com tecido vizinho sadio (neoplasias malignas invadem tecido vizinho, neoplasias
benignas não invadem).
Fragmento de tecido desejável: incisão estreita e profunda, removendo uma margem de tecido sadio.

Figura 2. Exemplos de casos em que as lesões têm indicação de biópsia incisional (parcial). A) Nota-se extensas placas brancas
entremeadas com áreas atróficas em bordo lingual. As hipóteses de diagnóstico foram de leucoeritroplasia (desordem potencialmente
maligna que será discutida nos módulos 3 e 9) x carcinoma espinocelular (lesão maligna que será abordada nos módulos 4 e 10). B)
Múltiplos nódulos com aspecto moriforme (aspecto superficial que lembra uma amora) localizados em palato, cuja hipótese foi de
lesão granulomatosa (infecciosa) x carcinoma espinocelular. Em ambos os casos a biópsia incisional foi indicada tanto pela extensão
da lesão quanto pela presença do carcinoma espinocelular no diagnóstico diferencial.
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BIÓPSIA EXCISIONAL:
Exame complementar com finalidade
de obtenção do diagnóstico onde se retira
toda a lesão para exame histopatológico.
Cabe ressaltar que o objetivo é estabelecer o
diagnóstico, mas acaba-se tratando a lesão
concomitantemente, pois ela é removida.
Indicada para lesões isoladas, pequenas, sem
suspeita de malignidade (neoplasias benignas
e lesões inflamatórias). Para lesões reacionais
(causadas por agente irritativo3 como trauma)
deve-se remover o agente causal evitando a
recidiva da lesão.
Figura 3. Desenho esquemático demonstrando fragmento de tecido
obtido em uma biópsia parcial. Fonte: Pippi et al. (2006)

ORIENTAÇÕES GERAIS
Biópsia indesejável: bordas laterais e/ou profundas comprometidas, deixando lesão residual.
Biópsia desejável: remoção total da lesão, bordas laterais e profundidade adequadas. Incisões
elípticas, profundidade suficiente removendo a lesão como um todo.

Figura 4. Exemplos de lesões com indicação de biópsia excisional (total). Em ambas as imagens nota-se lesão nodular, única, de limites
bem definidos, cujas hipóteses de diagnóstico são de lesões de natureza benigna, como fibroma, hiperplasia fibrosa e granuloma
piogênico, assuntos do módulo 6.

INSTRUMENTAL E MATERIAIS UTILIZADOS NA BIÓPSIA DE TECIDO MOLE:


Abaixo, listamos o material e o instrumental necessário a realização de uma biópsia simples de
uma lesão de tecidos moles. Além destes itens, é interessante utilizarmos anestésico local, de preferência
com vasoconstritor (cuidar contraindicação a vasoconstritores4 adrenérgicos – pacientes cardiopatas).

3
Agente irritativo: o hábito de morder repetidamente a bochecha, um dente ou prótese fraturados que fiquem machucando bochecha,
língua ou outra parte da boca podem ser considerados fatores irritativos, ou seja, agentes que produzem lesão na boca.
4
Vasoconstritores: substâncias que atuam promovendo o fechamento dos vasos sanguíneos de forma a aumentar o efeito anestésico e
auxiliar no controle do sangramento (hemostasia). Diferentes substâncias podem ser incluídas no anestésico para obter esse efeito. A
adrenalina (epinefrina) é uma das substâncias mais utilizadas, sendo indicadas pelo nome vasoconstritor adrenérgico.
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Instrumental para biópsia
• Odontoscópio
• Pinça
• Sonda exploradora
• Seringa carpule
• Descolador (sindesmótomo) - Pode ser espátula de cera nº7
• Cabo de bisturi
• Pinça hemostática (curva e reta)
• Pinça Allis
• Pinça de Adson (com dente e sem dente) mais delicada
• Pinça Backhaus
• Porta agulha delicado (com videia)
• Tesoura Metzembaum (ponta romba)
• Tesoura (ponta fina)
• Cureta de Lucas
• Cubeta metálica

PUNÇÃO ASPIRATIVA POR AGULHA FINA (PAAF):


A PAAF é também conhecida por biópsia aspirativa e representa a obtenção de material através
de uma punção, com agulha e seringa, para aspirar o conteúdo. Método simples, rápido e seguro,
que permite a retirada de células de nódulos ou lesões em diversos órgãos e tecidos superficiais ou
profundos, através de uma agulha fina, não sendo necessária anestesia ou qualquer preparo prévio na
maioria dos casos. Em Estomatologia, é mais indicada em lesões sólidas em glândulas salivares e em
linfonodos aumentados com características neoplásicas. O material obtido pode ser líquido caso o
nódulo tenha componente cístico, ou tecido proveniente da lesão, caso o nódulo seja totalmente sólido.
A coleta do material se dá através da introdução de uma agulha fina diretamente no nódulo ou tumor
a ser examinado. O desconforto gerado é semelhante ao da introdução de uma agulha anestésica. Nos
casos de nódulos profundos, a ultrassonografia pode guiar a localização exata da lesão.
Resultados: muitas vezes norteia a conduta clínica e as decisões terapêuticas, como descartar ou
confirmar a presença de malignidade.
Indicação: lesões submucosas, subcutâneas e profundas em que o procedimento de biópsia, muitas
vezes, representa uma grande cirurgia sem diagnóstico definitivo e consequentemente sem subsídios, além
das informações clínicas e dos exames de imagem.

Embora não permita a avaliação morfológica dos tecidos, pode ser a responsável por
definições e decisões terapêuticas decisivas no prognóstico dos pacientes. Não é muito
utilizada na rotina de Estomatologia, tendo indicação bem específica.
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Após esse processamento, o patologista terá condições de realizar o exame anatomopatológico
(ou histopatológico). Para isso, será utilizado um microscópio de luz, em que será estudada a intimidade
do tecido. A partir do exame e dos dados fornecidos na ficha, o patologista emitirá um parecer. O laudo
final será enviado para o clínico solicitante que deverá entregar uma via do exame para o paciente e
registrar no prontuário do paciente, o diagnóstico histopatológico e número do exame.

Figura 8. Etapas do processamento dos tecidos obtidos por meio da biópsia.

Como interpretar o laudo do patologista:


Se a biópsia foi realizada corretamente, ou seja, a área de eleição para obtenção do tecido foi
devidamente definida, o material foi obtido e acondicionado da maneira apropriada e a ficha de
biópsia foi corretamente preenchida, criam-se as condições para um bom exame anatomopatológico
(histopatológico). Na maioria dos casos, quando os dados clínicos fornecidos forem suficientes, o
patologista terá condições de identificar, interpretar e descrever a lesão do ponto de vista microscópico,
chegando a um diagnóstico histopatológico. Contudo, em alguns casos, encontramos, nos laudos,
termos que têm como objetivo informar o grau de certeza daquele diagnóstico histopatológico. Abaixo,
descreveremos o significado de alguns destes termos.
• “SUGESTIVO DE”: indica que o patologista suspeita de determinada doença, mas não
exclui outras possibilidades.
• “CONSISTENTE COM”: os achados microscópicos presentes no material enviado indicam
tratar-se de determinada doença, sendo a confirmação dependente de achados clínicos que
não foram percebidos ou não foram informados pelo clínico.
• “COMPATÍVEL COM”: os dados fornecidos e o exame estão coerentes entre si, fecham
uma informação que suporta fortemente o diagnóstico, mas não se obtendo certeza absoluta.
Mais uma vez, essa situação reforça a importância da riqueza de informações preenchidas
na ficha de biópsia, de forma que clínico, que realizou a biópsia, e patologista, que recebeu o
material, não tenham frustrada a sua expectativa de fechar o diagnóstico final do caso.

CONCLUSÃO:
Para chegar ao diagnóstico definitivo, o clínico avalia a consistência do diagnóstico do patologista
com as manifestações clínicas. Então, quanto melhor a realização da biópsia e o preenchimento da
ficha, maior a probabilidade de receber um laudo conclusivo e de o diagnóstico definitivo ser alcançado
com tranquilidade. O diálogo entre o clínico/cirurgião com o patologista é extremamente válido na
condução do caso. Não podemos esquecer que, apesar da distância entre o clínico e o patologista,
o processo diagnóstico consiste em um trabalho de equipe, onde desempenhar o nosso papel com
generosidade só aumenta a probabilidade de obtermos resultados favoráveis.
REFERÊNCIAS
COLEMAN, C. C.; NELSON, J. F. Princípios de diagnóstico bucal. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koo-
gan, 1996.
MARCUCCI, G. Fundamentos de odontologia: estomatologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan,
2005.
PIPPI, R. Technical notes about soft tissues biopsies of the oral cavity. minerva stomatol., torino, v. 55, n. 10,
p. 551-566, 2006.

Equipe Responsável
A Equipe de coordenação, suporte e acompanhamento do Curso é formada por integrantes do Núcleo de
Telessaúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS-UFRGS) e do Programa Nacional de
Telessaúde Brasil Redes.

TelessaúdeRS-UFRGS
Coordenação Geral Projeto Gráfico
Marcelo Rodrigues Gonçalves Luiz Felipe Telles

Coordenação do curso Diagramação


Vinicius Coelho Carrard Carolyne Vasques Cabral
Luiz Felipe Telles
Coordenação da Teleducação
Roberto Nunes Umpierre Ilustração
Otávio Pereira D’Avila Carolyne Vasques Cabral
Ana Paula Borngräber Corrêa Luiz Felipe Telles

Conteudistas Edição, Filmagem Animação


Manoela Domingues Martins Diego Santos Madia
Marco Antonio Trevizani Martins Rafael Martins Alves
Vinicius Coelho Carrard
Vivian Petersen Wagner Divulgação
Camila Hofstetter Camini
Revisores
Bianca Dutra Guzenski Equipe de Teleducação
Fernanda Friedrich Ana Paula Borngräber Corrêa
Otávio Pereira D’Avila Andreza de Oliveira Vasconcelos
Michelle Roxo Gonçalves Angélica Dias Pinheiro
Thiago Tomazetti Casotti Cynthia Goulart Molina Bastos
Filipe Ribeiro da Silva
Monica Figueiredo Dawud
Ylana Elias Rodrigues
Rosely de Andrade Vargas

Dúvidas e informações sobre o curso


Site: www.telessauders.ufrgs.br
E-mail: ead@telessauders.ufrgs.br
Telefone: 51 33082098

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