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CURSO DE ESTOMATOLOGIA PARA

CIRURGIÕES-DENTISTAS DA REDE
PÚBLICA DE ATENÇÃO À SAÚDE

Material para
Leitura
Módulo 2

exames complementares

Biópsia e Exame Histopatológico


Material para
Leitura exames complementares
1. BIÓPSIA E EXAME HISTOPATOLÓGICO
Conceitualmente, biópsia é o procedimento cirúrgico a partir do qual se remove um fragmento do
tecido de uma lesão para análise. Indica-se este procedimento em determinadas situações em que não foi
possível a obtenção do diagnóstico apenas pela avaliação clínica, sendo a biópsia necessária para o diagnóstico
definitivo e fundamental para o início do tratamento.
INDICAÇÕES:
A biópsia deve ser realizada após o minucioso exame clínico em casos onde:
1. a avaliação clínica não dá apoio para diagnóstico definitivo;
2. há suspeita de neoplasia maligna (câncer);
3. o curso clínico1 é incoerente com diagnóstico inicial;
4. lesões persistentes por mais de 2 semanas (lesões ulceradas), lesões inflamatórias que não regridam
após 10-14 dias posteriores à remoção da causa;
5. lesões que interfiram na função local;
6. lesões ósseas ou intraósseas.
CONTRA INDICAÇÕES:
1. Quando o diagnóstico definitivo pode ser obtido apenas com o exame clínico (ex: herpes, afta,
candidíase). Na afta, em particular, o exame microscópico vai mostrar um processo inflamatório
que em nada difere do que seria visto em um caso de úlcera traumática, sendo observado apenas
um processo inflamatório crônico sem nenhuma característica que permita a distinção entre essas
situações, ou seja, processo inflamatório inespecífico.
2. Em pacientes sem oportunidade ou condições de se submeter a procedimentos cirúrgicos.
3. Lesões vasculares (hemangioma2). Frente a suspeita de lesão vascular deve ser avaliada a extensão
da lesão e, caso seja realmente necessária a realização da biópsia, o profissional deve lembrar que
esses casos requerem maior cuidado devido ao risco de sangramento descontrolado.
4. Quando o diagnóstico definitivo depende de exames hematológicos. Um exemplo para esta situação
é a sífilis, cujo diagnóstico é estabelecido a partir de exames de sangue como o VDRL e FTA-ABS.

Comportamento da lesão, a forma como ela vai se modificando ao longo do tempo.


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Tumor benigno que apresenta proliferação de vasos sanguíneos e que será abordado no modulo de lesões proliferativas.
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TIPOS DE BIÓPSIA:
INCISIONAL/PARCIAL:
Caracteriza-se pela remoção de um
fragmento da lesão, o qual será submetido
ao exame histopatológico (avaliação
microscópica). Indicada em lesões múltiplas,
lesões extensas e lesões com suspeita de
neoplasia maligna. Neste último exemplo,
a opção por este tipo de procedimento se
justifica pelo fato de o paciente precisar Figura 1. Desenho esquemático demonstrando fragmento de tecido
de um tratamento subsequente, que será obtido em uma biópsia parcial. Fonte: Pippi et al. (2006)
realizado por algum profissional da área
médica, sendo importante uma avaliação da
lesão por esse profissional.

Sugere-se que a área de eleição da região a ser biopsiada e a extensão (quantidade de tecido
removido) envolvam tecido sadio da margem da lesão, permitindo a visualização da relação da lesão
com os tecidos vizinhos e evitando áreas de necrose. Em casos de lesões friáveis (lesões em que o tecido
se rompe com facilidade), deve-se tomar cuidado para não lesar o espécime e lança-se mão de sutura
na borda de tecido normal, facilitando o controle de sangramento local e melhor fechamento da área.
ORIENTAÇÕES GERAIS
Fragmento de tecido indesejável: incisão rasa, remoção muito superficial da lesão sem poder
verificar a relação com tecido vizinho sadio (neoplasias malignas invadem tecido vizinho, neoplasias
benignas não invadem).
Fragmento de tecido desejável: incisão estreita e profunda, removendo uma margem de tecido sadio.

Figura 2. Exemplos de casos em que as lesões têm indicação de biópsia incisional (parcial). A) Nota-se extensas placas brancas
entremeadas com áreas atróficas em bordo lingual. As hipóteses de diagnóstico foram de leucoeritroplasia (desordem potencialmente
maligna que será discutida nos módulos 3 e 9) x carcinoma espinocelular (lesão maligna que será abordada nos módulos 4 e 10). B)
Múltiplos nódulos com aspecto moriforme (aspecto superficial que lembra uma amora) localizados em palato, cuja hipótese foi de
lesão granulomatosa (infecciosa) x carcinoma espinocelular. Em ambos os casos a biópsia incisional foi indicada tanto pela extensão
da lesão quanto pela presença do carcinoma espinocelular no diagnóstico diferencial.

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BIÓPSIA EXCISIONAL:
Exame complementar com finalidade
de obtenção do diagnóstico onde se retira
toda a lesão para exame histopatológico.
Cabe ressaltar que o objetivo é estabelecer o
diagnóstico, mas acaba-se tratando a lesão
concomitantemente, pois ela é removida.
Indicada para lesões isoladas, pequenas, sem
suspeita de malignidade (neoplasias benignas
e lesões inflamatórias). Para lesões reacionais
(causadas por agente irritativo3 como trauma)
deve-se remover o agente causal evitando a
recidiva da lesão.
Figura 3. Desenho esquemático demonstrando fragmento de tecido
obtido em uma biópsia total. Fonte: Pippi et al. (2006)

ORIENTAÇÕES GERAIS
Biópsia indesejável: bordas laterais e/ou profundas comprometidas, deixando lesão residual.
Biópsia desejável: remoção total da lesão, bordas laterais e profundidade adequadas. Incisões
elípticas, profundidade suficiente removendo a lesão como um todo.

Figura 4. Exemplos de lesões com indicação de biópsia excisional (total). Em ambas as imagens nota-se lesão nodular, única, de limites
bem definidos, cujas hipóteses de diagnóstico são de lesões de natureza benigna, como fibroma, hiperplasia fibrosa e granuloma
piogênico, assuntos do módulo 6.

INSTRUMENTAL E MATERIAIS UTILIZADOS NA BIÓPSIA DE TECIDO MOLE:


Abaixo, listamos o material e o instrumental necessário a realização de uma biópsia simples de
uma lesão de tecidos moles. Além destes itens, é interessante utilizarmos anestésico local, de preferência
com vasoconstritor (cuidar contraindicação a vasoconstritores4 adrenérgicos – pacientes cardiopatas).

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Agente irritativo: o hábito de morder repetidamente a bochecha, um dente ou prótese fraturados que fiquem machucando bochecha,
língua ou outra parte da boca podem ser considerados fatores irritativos, ou seja, agentes que produzem lesão na boca.
4
Vasoconstritores: substâncias que atuam promovendo o fechamento dos vasos sanguíneos de forma a aumentar o efeito anestésico e
auxiliar no controle do sangramento (hemostasia). Diferentes substâncias podem ser incluídas no anestésico para obter esse efeito. A
adrenalina (epinefrina) é uma das substâncias mais utilizadas, sendo indicadas pelo nome vasoconstritor adrenérgico.

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Instrumental para biópsia
• Odontoscópio
• Pinça
• Sonda exploradora
• Seringa carpule
• Descolador (sindesmótomo) - Pode ser espátula de cera nº7
• Cabo de bisturi
• Pinça hemostática (curva e reta)
• Pinça Allis
• Pinça de Adson (com dente e sem dente) mais delicada
• Pinça Backhaus
• Porta agulha delicado (com videia)
• Tesoura Metzembaum (ponta romba)
• Tesoura (ponta fina)
• Cureta de Lucas
• Cubeta metálica

PUNÇÃO ASPIRATIVA POR AGULHA FINA (PAAF):


A PAAF é também conhecida por biópsia aspirativa e representa a obtenção de material através
de uma punção, com agulha e seringa, para aspirar o conteúdo. Método simples, rápido e seguro,
que permite a retirada de células de nódulos ou lesões em diversos órgãos e tecidos superficiais ou
profundos, através de uma agulha fina, não sendo necessária anestesia ou qualquer preparo prévio na
maioria dos casos. Em Estomatologia, é mais indicada em lesões sólidas em glândulas salivares e em
linfonodos aumentados com características neoplásicas. O material obtido pode ser líquido caso o
nódulo tenha componente cístico, ou tecido proveniente da lesão, caso o nódulo seja totalmente sólido.
A coleta do material se dá através da introdução de uma agulha fina diretamente no nódulo ou tumor
a ser examinado. O desconforto gerado é semelhante ao da introdução de uma agulha anestésica. Nos
casos de nódulos profundos, a ultrassonografia pode guiar a localização exata da lesão.
Resultados: muitas vezes norteia a conduta clínica e as decisões terapêuticas, como descartar ou
confirmar a presença de malignidade.
Indicação: lesões submucosas, subcutâneas e profundas em que o procedimento de biópsia, muitas
vezes, representa uma grande cirurgia sem diagnóstico definitivo e consequentemente sem subsídios, além
das informações clínicas e dos exames de imagem.

Embora não permita a avaliação morfológica dos tecidos, pode ser a responsável por
definições e decisões terapêuticas decisivas no prognóstico dos pacientes. Não é muito
utilizada na rotina de Estomatologia, tendo indicação bem específica.

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MÉTODOS ASSOCIADOS COM A BIÓPSIA: A
• Bisturi com lâmina 15 (“bisturi a frio”): é
o instrumento convencional (Figura 6A).
• Eletrocirurgia (bisturi elétrico): favorece a B C
remoção e é útil para se obter hemostasia.
Geralmente utilizado em lesões de palato,
onde a sutura é dificultada, deixando uma
margem cruenta e consequentemente
uma cicatrização por segunda intenção.
• Punch: dispositivo com ponta ativa com Figura 6. Diferentes recursos auxiliares que podem ser
utilizados para auxiliar a realização de biópsias: cabo de bisturi
lâmina circular que possibilita a remoção com lâmina (A), punch de biópsia, demonstrando o seu método
de um fragmento da lesão com formato de utilização (B) e pinça saca-bocado (C).
cilíndrico (Figura 6B).
• Curetagem, para lesões intraósseas.
• Saca bocado, utilizado para palato mole
e região posterior da boca com difícil
acesso (Figura 6C).
• Biópsia aspirativa por agulha fina.

BIOSSEGURANÇA EM BIÓPSIA:
Respeitar os princípios de biossegurança é fundamental. O cirurgião deve fazer uso de todos os recursos
e de todos os procedimentos que forem necessários à diminuição do risco de contaminação do campo e da
ferida cirúrgica.
Dentre eles destacamos:
• utilizar Equipamento de proteção individual (EPI): gorro, máscara, luvas estéreis, avental, propés, óculos;
• realizar antissepsia extrabucal com clorexidina 2% ou iodopovidona (PVPI), e intrabucal com
clorexidina 0,12%;
• utilizar campo cirúrgico estéril sobre a mesa operatória e sobre o paciente;
• instrumentos utilizados devem estar estéreis.

PASSOS CIRÚRGICOS:
1. Anestesia: bloqueio da inervação regional. Infiltração terminal perilesional5. Cuidar para não
infiltrar anestésico no tecido avaliado, pois esse pode distender e modificar o tecido, prejudicando
a avaliação histopatológica.
2. Estabilização dos tecidos: realizada pelo assistente com os dedos, ou através de suturas de tração
com fio grosso ou clipes de toalha. Favorece exposição da lesão, facilitando o trabalho do cirurgião.
3. Incisão: deve ser realizada com lâmina nova, com fio apropriado, através de duas incisões elípticas
em V conectando as incisões na base da lesão. Deve ser realizada paralela às fibras musculares,
minimizando lesões em nervos, artérias e veias. Secção na base da lesão com tesoura delicada de
ponta fina, removendo a peça.
Perilesional: em torno da lesão.
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4. Hemostasia: gazes estéreis e aspiradores de sucção.
5. Manipulação do tecido: deve-se coletar quantidade significativa de tecido para análise posterior,
cuidando para não danificar, romper ou dilacerar o tecido. Não usar pinças de apreensão, podendo
criar artefatos de técnica6.
6. Identificação das margens na peça removida: marcação das margens com fio de seda, utilizada em
lesões tumorais, indicando ao patologista o limite de tecido saudável.
7. Fechamento cirúrgico: divulsão7 dos tecidos da margem (insere-se a tesoura de ponta romba
paralelamente à superfície da mucosa, abrindo-a quando estiver dentro da lesão. Após, traciona-se
para a retirada, soltando as bordas da ferida cirúrgica do plano muscular subjacente, permitindo
uma sutura sem tensionamento e ação muscular). A coaptação (aproximação) dos bordos
cirúrgicos possibilita o fechamento primário da ferida elíptica, sendo possível ou não dependendo
da localização e do tamanho da ferida. Gengiva e palato duro são locais em que, normalmente, não
se coapta os bordos cirúrgicos de maneira que se tenha uma cicatrização por segunda intenção8.
8. Sutura: pode ser feita com fio de seda ou nylon com pontos individualizados.
9. Cuidados com o espécime: deve ser fixado em solução de formalina 10% tamponada. O volume
de líquido deve ser 20 vezes o tamanho da peça, que deve ficar totalmente imersa. A boca do
frasco deve ser duas vezes o maior diâmetro da peça, pois após contato com formol a peça se torna
borrachóide, tornando difícil a retirada em um frasco de boca estreita. Frasco deve ser identificado
para ser enviado ao laboratório juntamente com a ficha de solicitação de exame anatomopatológico.

Cuidado com o manuseio da peça. Pinçamento excessivo pode causar modificações


morfológicas na peça e dificultar o exame histopatológico.

Cuidado: o formol é tóxico, inflamável e nocivo. Extremamente volátil provocando irritação


dos olhos e vias respiratórias. Manipule sempre com luvas e máscara (EPI).

AVALIAÇÃO PÓS-OPERATÓRIA:
Dependem da extensão e local da ferida. Fazer bolsa de gelo externamente, para controlar dor
e edema, evitar manipulação da área são recomendações úteis. Analgésicos geralmente são prescritos
pro 2 dias e antibióticos, em casos específicos. A alimentação deve ser fria, pastosa e líquida. O paciente
deve ser orientado a evitar esforço físico e exposição solar, pois estas atividades podem favorecer
hemorragias.
Após 7 a 14 dias da realização do procedimento de biópsia, devemos proceder a remoção de
suturas, sendo esperada a observação de sinais de reparação tecidual. Além disso, devemos providenciar
a entrega do laudo histopatológico (diagnóstico final), o qual deve ser explicado para o paciente, além
de orientá-lo com relação aos passos subsequentes. Dentre os tópicos abordados, sugerimos:
• Qual é o resultado do exame e o seu significado?

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Divulsão: descolamento do tecido dos planos subjacentes, o que favorece o procedimento da sutura (“dar pontos”) e o fechamento da
ferida sem criar tensão excessiva nos tecidos vizinhos.
7
Cicatrização por segunda intenção: processo de reparo onde não se consegue aproximar as bordas da ferida, ficando um espaço que
terá que “fechar de dentro pra fora”.
8
Artefatos de técnica: são distorções provocadas no tecido que podem influenciar na análise microscópica, levando a uma interpretação
errada do material estudado.

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• Trata-se de um problema grave?
• Será necessário algum procedimento ou tratamento adicional?
• O paciente deverá retornar para consultas de revisão/acompanhamento?
• É fundamental que o profissional se mantenha calmo, não demonstrando espanto ou desalento,
independentemente do resultado observado no exame histopatológico.

CUIDADOS COM A PEÇA CIRÚRGICA:
1. Escolha um frasco com gargalo (“boca”) largo. Lembre-se que após ser fixado o material fica
mais rígido, e se o frasco tiver o gargalo pequeno será difícil de removê-lo, podendo deformar a
peça. O frasco deve conter líquido fixador e ter uma etiqueta de identificação. Providencie todo
esse material antes de iniciar a biópsia. O ideal é que o material seja colocado no frasco com
fixador logo após a sua retirada.
2. O fixador universal é o formol (solução de formalina tamponada 10%). O ideal é que o volume
do fixador no interior do frasco represente pelo menos 20 vezes o volume do material. Não deve
ser utilizado álcool, água, gasolina ou outro tipo de líquido. Os profissionais podem solicitar aos
laboratórios de anatomia patológica a solução de formol.
3. É de extrema importância a identificação do material imediatamente após a sua retirada, ainda
no centro cirúrgico ou no ambulatório. A etiqueta em torno do frasco deve conter o nome do
paciente, nome do profissional e a data do procedimento.
4. O profissional deve preencher a ficha de solicitação do exame histopatológico ou
anatomopatológico, a qual será detalhada em seguida.
5. Enviar o material devidamente preenchido e assinado para o laboratório de Anatomia
patológica/Patologia.

EXAME HISTOPATOLÓGICO
O exame histopatológico consiste em se examinar macroscopicamente e ao microscópio um
fragmento de tecido, de um órgão qualquer do paciente, removido cirurgicamente, com a finalidade
de se firmar, confirmar ou afastar uma ou mais hipóteses diagnósticas. Neste material, os termos
“exame histopatológico”, “exame anatomopatológico” e “exame microscópico” serão considerados
como sinônimos. Vale ressaltar que o exame histopatológico de tecidos removidos cirurgicamente
dos pacientes não é a única fonte de informação para se chegar ao diagnóstico, deve-se fazer a biópsia
apenas em casos indicados, não recorrendo a ela pelo simples fato de não saber o que lhe é apresentado
clinicamente.
Após o procedimento, o profissional responsável pela realização da biópsia deve preencher a ficha
de solicitação do exame histopatológico (chamada de ficha de biópsia na rotina diária), disparando o
processo para o exame histopatológico. Então, o material é encaminhado ao Laboratório de Anatomia
patológica/Patologia, onde o patologista responsável realizará a análise e elaboração do laudo, que
posteriormente é enviado ao profissional solicitante. Após recebimento do laudo, é importante
correlacionar a informação presente nele com o aspecto clínico que fora observado, para que se possa
realizar o diagnóstico definitivo, tomando posteriormente as devidas atitudes quanto ao tratamento.
Equivale dizer que, na maioria dos casos, a informação do exame histopatológico isoladamente
não diz muita coisa, sendo fundamental a comunicação eficiente entre o clínico, que realizou o
procedimento de biópsia, e o patologista, que vai analisar o material. Como essa comunicação
ocorre, em geral, de forma escrita (ficha de solicitação do exame histopatológico e laudo do exame

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histopatológico), os profissionais envolvidos devem se dedicar ao preenchimento completo destes
documentos.

Ficha de solicitação do exame histopatológico


(Figura 7):
Seu preenchimento é um passo fundamental.
Este procedimento requer calma e cuidado e deve incluir
a maior quantidade de dados possíveis. Ao contrário do
que pode parecer, não é uma etapa “menos importante”
e que pode ser deixada sob responsabilidade do pessoal
auxiliar ou de pessoas que não tenham participado da
biópsia. A produção de uma ficha bem preenchida
dará ao patologista uma descrição rica do caso e as
informações oferecidas permitirão que este profissional
faça a correlação clínico/patológica, que é essencial para
a definição do diagnóstico histopatológico. Identificação,
nome do profissional, história médica atual e pregressa,
histórico familiar, hábitos, utilização de próteses e suas
condições e a descrição do aspecto clínico da lesão são
aspectos que devem ser valorizados neste momento. Na
ficha utilizada na Faculdade de Odontologia da UFRGS
(imagem ao lado) disponibilizamos um desenho
esquemático, que busca facilitar a representação da
localização e tamanho da lesão por parte do clínico.

Figura 7. Imagem da ficha utilizada para fazer solicitação


do exame histopatológico na Faculdade de Odontologia da
UFRGS. A identificação do profissional responsável pelo
caso é essencial para que o laudo retorne ao solicitante.

MOTIVOS DE AMOSTRAS OU ENCAMINHAMENTO INADEQUADOS:


• Fixação inadequada: (a) quantidade insuficiente de formol em relação ao volume da amostra,
ou (b) utilização de fixador inadequado.
• Falta de identificação do profissional.
• Fichas com dados clínicos faltantes ou incompletos: neste caso, o laboratório não deve aceitar
o material, pois pode haver comprometimento da capacidade de estabelecer o diagnóstico
histopatológico.

PREPARO DA LÂMINA HISTOLÓGICA:


Embora o dentista não se envolva com essa etapa, é conveniente que ele conheça os passos:
1. macroscopia: momento em que há descrição do aspecto macroscópico do material recebido,
relatando sobre tamanho da lesão, superfície, consistência e cor tecidual, auxiliando no
estabelecimento do diagnóstico definitivo.
2. inclusão em parafina: blocos de parafina.
3. cortes histológicos: cortes finos.
4. coloração e montagem das lâminas.

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Após esse processamento, o patologista terá condições de realizar o exame anatomopatológico
(ou histopatológico). Para isso, será utilizado um microscópio de luz, em que será estudada a intimidade
do tecido. A partir do exame e dos dados fornecidos na ficha, o patologista emitirá um parecer. O laudo
final será enviado para o clínico solicitante que deverá entregar uma via do exame para o paciente e
registrar no prontuário do paciente, o diagnóstico histopatológico e número do exame.

Biópsia Fixação

Macroscopia

Laboratório Processamento
Inclusão
Corte Diagnóstico
Coloração
Montagem
Figura 8. Etapas do processamento dos tecidos obtidos por meio da biópsia.

Como interpretar o laudo do patologista:


Se a biópsia foi realizada corretamente, ou seja, a área de eleição para obtenção do tecido foi
devidamente definida, o material foi obtido e acondicionado da maneira apropriada e a ficha de
biópsia foi corretamente preenchida, criam-se as condições para um bom exame anatomopatológico
(histopatológico). Na maioria dos casos, quando os dados clínicos fornecidos forem suficientes, o
patologista terá condições de identificar, interpretar e descrever a lesão do ponto de vista microscópico,
chegando a um diagnóstico histopatológico. Contudo, em alguns casos, encontramos, nos laudos,
termos que têm como objetivo informar o grau de certeza daquele diagnóstico histopatológico. Abaixo,
descreveremos o significado de alguns destes termos.
• “SUGESTIVO DE”: indica que o patologista suspeita de determinada doença, mas não
exclui outras possibilidades.
• “CONSISTENTE COM”: os achados microscópicos presentes no material enviado indicam
tratar-se de determinada doença, sendo a confirmação dependente de achados clínicos que
não foram percebidos ou não foram informados pelo clínico.
• “COMPATÍVEL COM”: os dados fornecidos e o exame estão coerentes entre si, fecham
uma informação que suporta fortemente o diagnóstico, mas não se obtendo certeza absoluta.
Mais uma vez, essa situação reforça a importância da riqueza de informações preenchidas
na ficha de biópsia, de forma que clínico, que realizou a biópsia, e patologista, que recebeu o
material, não tenham frustrada a sua expectativa de fechar o diagnóstico final do caso.

CONCLUSÃO:
Para chegar ao diagnóstico definitivo, o clínico avalia a consistência do diagnóstico do patologista
com as manifestações clínicas. Então, quanto melhor a realização da biópsia e o preenchimento da
ficha, maior a probabilidade de receber um laudo conclusivo e de o diagnóstico definitivo ser alcançado
com tranquilidade. O diálogo entre o clínico/cirurgião com o patologista é extremamente válido na
condução do caso. Não podemos esquecer que, apesar da distância entre o clínico e o patologista,
o processo diagnóstico consiste em um trabalho de equipe, onde desempenhar o nosso papel com
generosidade só aumenta a probabilidade de obtermos resultados favoráveis.

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REFERÊNCIAS
COLEMAN, C. C.; NELSON, J. F. Princípios de diagnóstico bucal. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koo-
gan, 1996.
MARCUCCI, G. Fundamentos de odontologia: estomatologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan,
2005.
PIPPI, R. Technical notes about soft tissues biopsies of the oral cavity. minerva stomatol., torino, v. 55, n. 10,
p. 551-566, 2006.

Equipe Responsável
A Equipe de coordenação, suporte e acompanhamento do Curso é formada por integrantes do Núcleo de
Telessaúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS-UFRGS) e do Programa Nacional de
Telessaúde Brasil Redes.

TelessaúdeRS-UFRGS
Coordenação Geral Projeto Gráfico
Marcelo Rodrigues Gonçalves Luiz Felipe Telles

Coordenação do curso Diagramação


Vinicius Coelho Carrard Carolyne Vasques Cabral
Luiz Felipe Telles
Coordenação da Teleducação
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Ana Paula Borngräber Corrêa Luiz Felipe Telles

Conteudistas Edição, Filmagem Animação


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Marco Antonio Trevizani Martins Rafael Martins Alves
Vinicius Coelho Carrard
Vivian Petersen Wagner Divulgação
Camila Hofstetter Camini
Revisores
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Fernanda Friedrich Ana Paula Borngräber Corrêa
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Michelle Roxo Gonçalves Angélica Dias Pinheiro
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Monica Figueiredo Dawud
Ylana Elias Rodrigues
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Dúvidas e informações sobre o curso


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