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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

DIONI PADILHA

INFRAESTRUTURA DE MEDIÇÃO AVANÇADA:


CENTRO DE OPERAÇÃO DA MEDIÇÃO CELESC DISTRIBUIÇÃO

Palhoça
2014
DIONI PADILHA

INFRAESTRUTURA DE MEDIÇÃO AVANÇADA:


CENTRO DE OPERAÇÃO DA MEDIÇÃO CELESC DISTRIBUIÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso


de Graduação em Engenharia Elétrica Telemática da
Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito à
obtenção do título de Engenheiro Eletricista.

Orientador: Prof. Luiz Antônio Garbelotto, MS.

Palhoça
2014
DIONI PADILHA

INFRAESTRUTURA DE MEDIÇÃO AVANÇADA:


CENTRO DE OPERAÇÃO DA MEDIÇÃO CELESC DISTRIBUIÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado


adequado à obtenção do título de Engenheiro Eletricista
e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação
em Engenharia Elétrica Telemática da Universidade do
Sul de Santa Catarina.
Dedico este trabalho aos meus pais, João e
Vera, pela educação e determinação que me
ensinaram a ter.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a meu pai e minha mãe, por todo seu apoio e pelos mais importantes
ensinamentos. Agradeço também a Isabel Rodrigues da Silva por sua compreensão e seu
carinho nessa jornada.
Agradeço a Eduardo Dias Athayde, por sua amizade e por seu apoio fundamental
desde minha chegada a Florianópolis, sendo para mim um exemplo profissional e pessoal a
ser seguido.
Agradeço também ao professor e orientador Luiz Antônio Garbelotto e ao professor
Paulo May, ambos pela confiança em meu trabalho e pela ajuda na condução do mesmo.
Agradeço ao professor Edson Mancini, pela maneira como transmitia seu vasto
conhecimento, de modo a despertar a admiração de todos seus pares e assim sendo uma forte
influência profissional e pessoal para minha busca acadêmica.
Agradeço ainda a todos que de forma direta ou indireta contribuíram para a
realização deste trabalho.
“A criança cresceu, o sonho acabou; E eu fiquei confortavelmente entorpecido.”
(Comfortably Numb/Pink Floyd, Roger Waters)
RESUMO

Este trabalho consiste em apresentar as novas tecnologias de medição de energia elétrica


adotadas na Celesc. Para tanto, busca-se reportar a automação da medição de energia das
diferentes classes de consumidores e demonstrar qual o impacto causado nos processos
relacionados. Por fim, serão apresentados os custos e benefícios das diferentes soluções
adotadas na implantação da Infraestrutura de Medição Avançada na Celesc Distribuição.

Palavras-chave: Rede Inteligente. Automação da Rede de Distribuição. Sistemas de Medição


de Energia Elétrica. Infraestrutura de Medição Avançada.
ABSTRACT

This paper presents the new electricity metering technologies employed at Celesc. For that
purpose, it is intended to report metering automation of the different consumer classes and to
show the consequences to the related processes. Finally, the costs and benefits of different
solutions adopted in the deployment of Advanced Metering Infrastructure in Celesc
Distribuição will be presented.

Keywords: Intelligent Network. Automation of Distribution. Measurement Systems


Electricity. Advanced Metering Infrastructure.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 12

1.1 MOTIVAÇÃO ................................................................................................................. 13

1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 13

1.3 OBJETIVOS .................................................................................................................... 14

1.3.1 Objetivo Geral ............................................................................................................. 14

1.3.2 Objetivos Específicos................................................................................................... 14

1.4 LIMITAÇÕES DO TRABALHO .................................................................................... 15

1.5 METODOLOGIA DA PESQUISA ................................................................................. 15

1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................................................... 16

2 HISTÓRICO...................................................................................................................... 17

2.1 ORIGENS DA DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ....................................... 17

2.1.1 Distribuição de Energia em Corrente Contínua....................................................... 17

2.1.2 Distribuição de Energia em Corrente Alternada ..................................................... 18

2.2 HISTÓRICO DA DISTRIBUIÇÃO NO BRASIL .......................................................... 19

2.2.1 Modelos Antecessores ................................................................................................. 19

2.2.1.1 Modelo Estatal ............................................................................................................ 20

2.2.1.2 Reforma dos Anos 1990 ............................................................................................. 20

2.2.1.3 Crise de Racionamento de 2001 ................................................................................. 21

2.2.2 Novo Modelo do Setor Elétrico Brasileiro ................................................................ 21

2.2.2.1 Funcionamento da Distribuição segundo o Novo Modelo ......................................... 22

2.2.2.2 Mapa da Distribuição segundo o Novo Modelo ......................................................... 23


2.2.3 Histórico da Celesc Distribuição ................................................................................ 24

2.3 HISTÓRICO DA INFRAESTRUTURA DE MEDIÇÃO CELESC ............................... 26

2.3.1 Primeira Experiência .................................................................................................. 26

2.3.2 Implantação do SAM – Sistema De Medição Avançada ......................................... 27

2.3.3 Infraestrutura de Medição Atual ............................................................................... 28

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 29

3.1 DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ................................................................ 29

3.2 MEDIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA PARA FATURAMENTO ............................... 30

3.2.1 Estrutura Tarifária ..................................................................................................... 30

3.2.1.1 Grupo A ...................................................................................................................... 31

3.2.1.2 Grupo B....................................................................................................................... 31

3.2.1.3 Consumidor Livre ....................................................................................................... 32

3.2.2 Considerações sobre Medição para Faturamento .................................................... 32

3.3 SISTEMAS DE COLETA DE DADOS DE MEDIÇÃO ................................................ 32

3.4 GERENCIAMENTO DE DADOS DE MEDIÇÃO ........................................................ 33

4 ESTUDO DO CASO AMI CELESC DISTRIBUIÇÃO ................................................ 35

4.1 NECESSIDADE DA IMPLANTAÇÃO DA AMI .......................................................... 35

4.2 COLETA DE DADOS DE MEDIÇÃO ........................................................................... 36

4.2.1 Power Line Communication - PLC ............................................................................. 37

4.2.1.1 Modulação .................................................................................................................. 37

4.2.1.2 Interferências no Canal ............................................................................................... 38

4.2.1.3 Demodulação .............................................................................................................. 38

4.2.1.4 Considerações sobre o PLC no Brasil ......................................................................... 39

4.2.2 Telemetria .................................................................................................................... 39


4.3 SOFTWARES E SISTEMAS DE MEDIÇÃO.................................................................. 41

4.3.1 Plataforma Integrada de Medição - PIM .................................................................. 41

4.3.1.1 TWACS ...................................................................................................................... 42

4.3.1.2 Vision .......................................................................................................................... 43

4.3.1.3 STM ............................................................................................................................ 44

4.3.1.4 ION ............................................................................................................................. 44

5 TESTES E RESULTADOS .............................................................................................. 45

5.1 TAXA DE SUCESSO DE LEITURAS ........................................................................... 45

5.2 RECUPERAÇÃO DE RECEITA .................................................................................... 46

6 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 47

REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 48

APÊNDICES ........................................................................................................................... 51

APÊNDICE A – TELEMETRIA ATRAVÉS DE REDES CELULARES ........................ 52


12

1 INTRODUÇÃO

Os serviços de utilidade pública (utilities), como água, energia elétrica,


telecomunicações, entre outros, evoluem conforme a possibilidade de ganhos ou a mitigação
de perdas. Todos são guiados pela ideia de maiores lucros com menores custos, atendendo a
uma eficiência mínima, melhorada por imposição dos órgãos reguladores ou dos usuários.
Nos sistemas de distribuição de energia elétrica temos diversos fatores que são
causadores de perdas tanto para concessionárias quanto para os clientes, em que ambos
buscam a economia de energia e de dinheiro. Tal situação vem sendo foco das atenções
mundiais, provocando neste início do século XXI várias mudanças no modo de geração,
distribuição e comercialização dessa energia (HOLLANDA, 2005, p. 137).
É de consenso entre especialistas do setor elétrico que se as redes de suprimento de
energia tivessem mais inteligência, o grau de satisfação das partes envolvidas (governo,
usuários e concessionárias) seria bem maior. Redes mais inteligentes possibilitariam a tomada
de decisões em tempo real e a operação do sistema sem nenhuma, ou com pouca, interferência
humana. De maneira muito mais interativa, essas redes possibilitariam aos clientes passarem
de meros consumidores para possíveis fornecedores, com papel ativo até mesmo na escolha
de quem irá fornecer-lhes a energia consumida, ou para quem irá vender sua energia
excedente. Essa inteligência é buscada, ou idealizada, com a aplicação do conceito de Smart
Grid (rede de energia inteligente), que, por ser um conceito amplo, se dá em diversas etapas e
com diversas tecnologias, tendo como um de seus pilares a Infraestrutura de Medição
Avançada (AMI) (DUTRA, 2013, p. 207).
As evoluções da eletrônica e dos sistemas de comunicação possibilitaram o
desenvolvimento de medidores cada vez mais precisos, com potencial para comunicação com
outros softwares ou dispositivos. Porém, a disposição de uma nova tecnologia por si só não a
torna útil para grandes distribuidoras, é necessário que ela seja economicamente viável e
robusta o suficiente para justificar sua implantação em larga escala. Ainda, as concessionárias
devem levar em conta as questões relacionadas ao modelo de negócios, que, por tratarem de
grandes montantes, não são tão flexíveis como o idealizado pelas questões puramente
tecnológicas, tendo em vista que diferentes classes de consumidores (empresas de grande,
médio e pequeno porte, residências, condomínios etc.) demandam de regulação e tecnologias
próprias para cada caso (CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS, 2012).
13

1.1 MOTIVAÇÃO

A reformulação do modelo do setor elétrico brasileiro, ocorrida após a década de 90,


visando um cenário com novos atores (produtores independentes, autoprodutores,
comercializadores e consumidores livres), tornou necessárias a modernização e a automação
dos sistemas de medição de energia elétrica. Essa automação demanda uma infraestrutura
mais sofisticada e especializada do que a usada no modelo antigo, necessitando de dados
muito mais precisos e em tempo real (BÄHR, 2005, p. 72).
Considerando a experiência profissional do autor e do professor orientador na Celesc,
relacionada diretamente ao tema da presente pesquisa, observa-se uma oportunidade para
complementar os aspectos teóricos e conceituais desenvolvidos ao longo do curso de
Engenharia Elétrica, com aquilo que efetivamente é adotado.
Dessa forma, os fatores que motivaram este trabalho são a demonstração das medidas
adotadas pela Celesc para automatizar os sistemas de medição de energia elétrica, bem como
o tratamento para gerenciar essas informações, apontando os resultados obtidos e impactos
causados.

1.2 JUSTIFICATIVA

Considerando que, segundo dados da ANEEL (2013), uma parcela da energia


produzida no Brasil é rotulada como perdas no processo de distribuição, e tendo em vista que
o uso dessa energia ocorre, em sua maior parte, durante um horário restrito (horário de ponta),
torna-se comum o crescimento de iniciativas relacionadas ao desenvolvimento das tecnologias
para tratamento desses problemas.
Não obstante, justifica-se este trabalho perante as tendências de implantação de
tecnologias de redes de comunicações de dados para telemedição, corte e religamento remoto,
monitoramento de alarmes e supervisão de fornecimento de energia elétrica em tempo real em
diversas distribuidoras do país (DUTRA, 2013, p. 204).
14

Ainda, as implantações desses sistemas de medição possibilitaram a recuperação de


significativa receita para diversas distribuidoras, o que intensifica a realização de estudos
sobre esse tema (DUTRA, 2013, p. 101).

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Apresentar as novas soluções adotadas na Celesc para medição, aquisição e tratamento


dos dados obtidos das diferentes classes de consumidores.

1.3.2 Objetivos Específicos

x Gerar conhecimentos que permitam a realização de estudos de viabilidade técnica e


econômica, visando à implantação de sistemas de medição automatizados em larga
escala;

x Comentar sobre as principais normas e regulações para medição de energia elétrica no


Brasil;

x Apresentar tecnologias e conceitos utilizados nas soluções implantadas AMI Celesc;

x Identificar as limitações impostas por cada tipo de solução adotada na automação das
medições dos clientes da Celesc;

x Apresentar os benefícios e custos para implantação da AMI implantada na Celesc.


15

1.4 LIMITAÇÕES DO TRABALHO

Este trabalho está limitado a apresentar as novas tecnologias dos sistemas de medição
de energia elétrica adotados na medição dos consumidores da Celesc, apresentando os
resultados obtidos com a implantação de cerca de 13.000 pontos de medição avançada.
Correspondendo a 0,4% do total de consumidores, estes pontos são responsáveis por cerca de
46% do faturamento total.
Portanto, detalhes que desviem do tema AMI, como técnicas de comunicação, bases
de dados e/ou outros assuntos devem ser buscados em bibliografia técnica específica.

1.5 METODOLOGIA DA PESQUISA

Primeiramente será realizada revisão literária dos aspectos relacionados às origens da


distribuição de energia elétrica, distribuição de energia elétrica no Brasil e levantamento
histórico da Celesc Distribuição, com foco na infraestrutura de medição utilizada até a
implantação da AMI.
Em seguida, desenvolver-se-á o aprofundamento teórico através de documentação
normativa e bibliografia técnica sobre medição de energia para faturamento. Fundamentando
assim o processo de medição de energia, os diferentes grupos de consumo.
Concluída esta etapa, através de pesquisa de campo, será executado o levantamento da
infraestrutura de medição avançada adotada pela Celesc, identificando as novas técnicas para
aquisição e gerenciamento dos dados de medição.
Por fim, com base nos indicadores adotados pela área de medição da Celesc, será
possível a verificação dos resultados obtidos.
16

1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO

Primeiramente será elaborada a introdução ao tema, motivação, justificativa, objetivos,


limitações, metodologia e estrutura do trabalho.
Na parte seguinte será apresentado um breve histórico da distribuição de energia
elétrica, contextualizando a evolução dos sistemas de medição da Celesc, até atingir o
conceito da atual infraestrutura de medição avançada (AMI).
Serão apresentadas então as bases teóricas sobre sistemas de medição de energia
elétrica, identificando também as diferentes classes de consumo e as grandezas utilizadas para
faturamento.
Por fim, será realizada a descrição da atual AMI da Celesc, identificando as novas
tecnologias para aquisição e gerenciamento dos dados de medição, apresentando os resultados
obtidos com a nova infraestrutura. Será apresentada ainda uma breve discussão sobre o futuro,
apontando algumas condições para a implantação de uma Smart Grid na Celesc.
17

2 HISTÓRICO

2.1 ORIGENS DA DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

A distribuição de energia elétrica para faturamento tem como início uma disputa entre
George Westinghouse e Thomas Edison, que ocorreu nas duas últimas décadas do século XIX
nos Estados Unidos da América. Os dois tornaram-se adversários devido à campanha
publicitária de Edison pela utilização da corrente contínua para distribuição de eletricidade,
em contraposição à corrente alternada, defendida por Westinghouse e Nikola Tesla.

2.1.1 Distribuição de Energia em Corrente Contínua

Durante os primeiros anos de fornecimento de eletricidade, a disputa entre Thomas


Edison e Tesla estava sendo ganha pela corrente contínua, que foi determinada como padrão
nos Estados Unidos, funcionando bem com lâmpadas incandescentes e motores, responsáveis
pela maior parte do consumo diário de energia.
Tal corrente podia ser diretamente utilizada em baterias de armazenamento,
promovendo valiosos níveis de carregamento e reservas energéticas durante possíveis
interrupções do funcionamento dos geradores. Os geradores de corrente contínua podiam ser
facilmente associados em paralelo, permitindo a economia de energia através do uso de
dispositivos menores durante períodos de alto consumo elétrico.
Edison havia inventado um medidor, Figura 1, para permitir que a energia fosse
cobrada proporcionalmente ao consumo, mas o medidor funcionava apenas com corrente
contínua. Até 1882, estas eram as únicas vantagens técnicas significantes do sistema de
corrente contínua (CHENEY, 2001).
18

Figura 1 - Medidor de Energia Corrente Contínua

Fonte: GUIMARÃES (2009)

2.1.2 Distribuição de Energia em Corrente Alternada

A partir de um trabalho com campos magnéticos rotacionais, mostrado na Figura 2,


Tesla desenvolveu um sistema de geração, transmissão e uso da energia elétrica proveniente
de corrente alternada. Em parceria com George Westinghouse, comercializaram esse sistema.

Figura 2 - Patente US390721 de Tesla

Fonte: Tesla Universe (2014)


19

Anunciaram propostas para a aparelhagem das Cataratas do Niágara, a fim de gerar


eletricidade. Mesmo com a oposição da General Electric (GE) e da proposta de Edison,
Westinghouse, utilizando o sistema de corrente alternada de Tesla, recebeu o contrato da
Comissão Internacional das Cataratas do Niágara.
Edison realizou uma campanha para desestimular o uso da corrente alternada,
inclusive divulgando notícias de acidentes fatais com corrente alternada, ao matar animais
publicamente, e ao pedir votos contra o uso da corrente alternada em legislaturas estaduais.
Mas o sucesso da aparelhagem nas Cataratas do Niágara foi um ponto decisivo na aceitação
da corrente alternada.
Finalmente, a empresa GE começou a fabricar aparelhos à corrente alternada. A
centralização da geração de energia só foi possível quando ficou reconhecido que as linhas de
energia elétrica de corrente alternada podiam transportar eletricidade em grandes distâncias a
um baixo custo, devido à vantagem da variação de tensão nas vias de transmissão através de
transformadores de potência. Substituindo a corrente contínua na geração da estação central e
na distribuição de energia pela corrente alternada, estenderam enormemente a área de
cobertura e obtiveram uma melhor eficiência no sistema de distribuição de energia
(HUGHES, 1983).

2.2 HISTÓRICO DA DISTRIBUIÇÃO NO BRASIL

2.2.1 Modelos Antecessores

Os principais modelos adotados no país, que conduzem ao modelo atual, podem ser
resumidos em três marcos históricos:
20

2.2.1.1 Modelo Estatal

Do início do século XX até meados da década de 1940, a indústria de energia elétrica


era explorada majoritariamente por empresas privadas estrangeiras, destacando-se a Light
(canadense) e a Amforp (americana). Esta fase se caracteriza, institucionalmente, pela
ausência de uma legislação específica, sendo que a regulação era feita, em grande parte, por
meio de contratos celebrados entre os municípios e os empreendedores.
Com a publicação do Código das Águas e da Constituição de 1934, a União passou a
centralizar a outorga de todas as fases da indústria de energia elétrica: geração, transmissão e
distribuição. O Estado passou a ser regulador e empreendedor, quando, em 1945, foi criada a
Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) que sinalizou uma nova ordem de
dissociação entre geração e distribuição. A União assumiu a construção de grandes usinas e
do sistema de transmissão e, por sua vez, os estados, salvo algumas exceções, ficaram
responsáveis pela distribuição.
Na década de 1980 eclodiu uma grande crise no setor elétrico, motivada pela extinção
do uso de tarifas como instrumento de política monetária, a qual interrompeu o fluxo de
financiamento do setor. Esta crise foi agravada, ainda, com a ineficiência oriunda da
remuneração garantida das concessionárias. O Estado, assolado pela maior crise econômica e
fiscal da década, tornou-se incapaz de financiar a expansão da oferta (FINARDI, 2014).

2.2.1.2 Reforma dos Anos 1990

Em 1990 ocorreu então uma necessária reforma, pois o modelo de monopólio estatal
mostrou-se insustentável e ineficiente frente às novas demandas econômicas sociais. A
experiência de diversos países sugeria a necessidade de introduzir um modelo de mercado
competitivo de forma a aumentar a eficiência das empresas de energia elétrica. O processo de
reestruturação foi orientado para o aumento da participação privada com três objetivos:

x Equacionar o déficit fiscal, por meio da venda de ativos;


x Restaurar o fluxo de investimentos para um programa de investimentos;
21

x Aumentar a eficiência das empresas de energia elétrica.

Esse momento de mudanças, ficou marcado pela contratação do consórcio inglês


Coopers&Lybrand, quando foi desenhado o esboço do atual modelo (FINARDI, 2014).

2.2.1.3 Crise de Racionamento de 2001

Em abril de 2001, o nível de armazenamento dos reservatórios de água do sistema


elétrico nacional era de 32% e o risco de déficit superava 15%. Para agravar a situação, a
inadimplência no Mercado Atacadista de Energia Elétrica (MAE) era crescente e as garantias
físicas estavam superestimadas, pois as distribuidoras possuíam os contratos de compra de
energia, ou seja, não havia necessidade de expandir a oferta de energia no MAE.
Visando reduzir os efeitos da crise, foram adotadas algumas medidas:

x Interconexão com Argentina e Paraguai;


x Redução de consumo nas regiões Sudeste e Nordeste;
x Penalidades por ultrapassagem de metas de consumo;
x Cortes programados em dias de semana;
x Incentivos à autogeração e cogeração.

Essas medidas e a forte pressão externa fez com que o Brasil repensasse seu modelo,
não somente na energia, mas em outras áreas, com a implantação de Agências Reguladoras,
chegando então o novo modelo em meados de 2004 (FINARDI, 2014).

2.2.2 Novo Modelo do Setor Elétrico Brasileiro

Conforme Tolmasquim (2011), a origem do Novo Modelo do Setor Elétrico Brasileiro


pode ser compreendida sob a seguinte perspectiva histórica:
22

x Abertura do setor à iniciativa privada, em meados da década de 1990, face à


crise financeira setorial e ao contexto político-econômico mundial;
x Necessidade da reforma do setor, assim como a transição entre o modelo
estatal e aquele que o sucedeu nos anos 1990;
x As deficiências da reforma dos anos 1990, que resultaram na crise de
abastecimento no ano de 2001 e promoveram uma “contra reforma”;

2.2.2.1 Funcionamento da Distribuição segundo o Novo Modelo

O setor de distribuição é um dos mais regulados e fiscalizados do setor elétrico, além


de prestar serviço público sob contrato com o órgão regulador do setor, a Agência Nacional
de Energia Elétrica (ANEEL), a própria agência edita resoluções, portarias e outras normas
para o funcionamento adequado do setor de distribuição, sendo muito rigorosa com sua
fiscalização. Um exemplo são os Procedimentos de Distribuição (Prodist), que dispõem
disciplinas, condições, responsabilidades e penalidades relativas à conexão, planejamento da
expansão, operação e medição da energia elétrica. O Prodist, ainda, estabelece critérios e
indicadores de qualidade para consumidores e produtores, distribuidores e agentes
importadores e exportadores de energia.
Podemos sintetizar, de acordo com Tolmasquim (2011), esse cenário nos seguintes
itens:

x Profundas modificações na comercialização de energia, com a criação do


Ambiente de Contratação Regulada (ACR) e do Ambiente de Comercialização
Livre (ACL);
x Modificações institucionais, com a reorganização das competências e a criação
da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE);
x Retomada do planejamento setorial, a partir da contratação regulada por meio
de leilões e com a criação da Empresa de Pesquisa Energética (EPE);
x Retomada dos programas de universalização;
23

x Segurança jurídica e estabilidade regulatória, premissa para atrair


investimentos, reduzir riscos e expandir mercado.

2.2.2.2 Mapa da Distribuição segundo o Novo Modelo

Segundo dados da ANEEL (2013), atualmente, o Brasil possui 63 concessionárias do


serviço público de distribuição de energia elétrica, além de um conjunto de permissionárias
(cooperativas de eletrificação rural que passaram pelo processo de enquadramento como
permissionária de serviço público de distribuição de energia elétrica).
O sistema elétrico nacional conta com mais de 72 milhões de Unidades Consumidoras
- UC (termo que corresponde ao conjunto de instalações caracterizadas pelo recebimento de
energia elétrica em um só ponto de entrega, com medição individualizada e correspondente a
um único consumidor), sendo que, deste montante 85% são residenciais (ABRADEE, 2014).
Dessas concessionárias a ABRADEE aponta, conforme Figura 3, as que apresentam a
maior representatividade para o parque nacional:

Figura 3 – Concessionárias com maior representatividade

Fonte: BRASIL (2013)


24

2.2.3 Histórico da Celesc Distribuição

Até a metade dos anos 1950, as necessidades energéticas em Santa Catarina eram
supridas por pequenos e médios sistemas elétricos regionalizados, geralmente mantidos pela
iniciativa privada. Ainda na primeira década do século, por exemplo, Florianópolis e
Blumenau já dispunham, inclusive, de sistemas de iluminação pública.
A capital era abastecida pela Usina Maroim (inaugurada em 1908) e Blumenau pela
Salto Weissbach, datada de 1916. Joinville passou a ser atendida pela Usina Piraí também em
1908 e, em 1913, a Usina São Lourenço entrou em operação, beneficiando o município de
Mafra.
As novas usinas hidrelétricas construídas no estado significaram uma evolução dos
pequenos geradores, mantidos pelo espírito empreendedor dos imigrantes desde a virada do
século, e foram definitivas para a extraordinária expressão industrial que se modelava no
estado.
O modelo regionalizado, no entanto, foi tornando-se incapaz de responder ao
incremento da demanda de energia elétrica que tomava conta de Santa Catarina e do país, com
a economia impulsionada pelo surto desenvolvimentista estabelecido no governo de Juscelino
Kubitschek.
Preocupado em oferecer condições de infraestrutura adequadas aos novos
investimentos no estado, o governo catarinense decide pela criação de uma empresa para
programar uma política única e, em 9 de dezembro de 1955, por meio do Decreto Estadual nº
22, o Governador Irineu Bornhausen criou a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc).
A nova empresa foi criada com a atribuição de planejar, construir e explorar o sistema
de produção, transmissão e distribuição de energia elétrica do estado, operando diretamente,
através de subsidiárias ou empresas associadas. No dia 11 de abril de 1956, o Decreto Federal
nº 39.015 concede autorização para o funcionamento da empresa. Em 4 de agosto do mesmo
ano, sua instalação ocorre formalmente, por meio de Assembleia Geral.
A princípio, a Celesc funcionou mais como um órgão de planejamento do sistema
elétrico estadual. Depois, assumiu o papel de holding e começou a incorporar,
gradativamente, o patrimônio das antigas empresas regionais. Foi assim que a empresa
começou seu ciclo de expansão.
25

Em 1962, a Celesc já operava em 39 cidades, atendendo a mais de 87 mil


consumidores. Nessa época, a empresa já estava presente nos maiores municípios
catarinenses: Florianópolis, Joinville e Blumenau. Alcançando, em 1965, a marca de 100 mil
clientes.
No dia 27 de dezembro de 1963, a Celesc aprova, em Assembleia Geral
Extraordinária, a incorporação de todas as suas sete subsidiárias. Na década de 60, ainda
seriam incorporadas a Força e Luz São Francisco S.A. e a Concessionária Francisco Lindner.
Entre 1963 e 1967, a Celesc inaugura cinco usinas hidrelétricas: Garcia (em Angelina),
Celso Ramos (Faxinal dos Guedes), Palmeiras (Rio dos Cedros), Pery (Curitibanos) e
Governador Ivo Silveira (Campos Novos).
A consolidação técnica da Celesc e o delineamento definitivo do sistema elétrico
estadual ocorreram a partir de 1965. Mantendo investimentos relevantes na expansão dos
serviços, nessa época foram construídas e energizadas a Linha de Transmissão Tubarão –
Lages - Herval do Oeste - Xanxerê, considerada espinha dorsal do sistema elétrico de Santa
Catarina, e a linha Tronco Norte, entre as subestações Joinville, São Bento, Rio Negrinho,
Mafra e Canoinhas.
Em 1980, a Celesc atingiu a marca histórica de meio milhão de clientes. A conquista
foi comemorada no 25º aniversário de fundação com a ligação de um consumidor de baixa
renda em São José, na Grande Florianópolis. Nove anos depois, em setembro de 1989, a
empresa registrava atendimento a um milhão de clientes.
Logo no início da década, a Celesc, por meio do programa ENERCAP – Energia para
a Capital, implantou o sistema de 69kv para atendimento à Ilha de Santa Catarina, porém, de
forma a garantir o atendimento às demandas futuras, as linhas de transmissão e o cabo isolado
a óleo que conectavam o sistema da Ilha ao Continente, lançados na galeria da ponte Colombo
Salles e no aterro da Baía Sul, já foram construídos para atendimento à tensão de 138kv.
Em 1986, a Subestação Trindade (energizada em 1981), passaria a operar em 138kv,
depois de um arrojado trabalho de reisolamento da subestação. Estudos de engenharia e de
coordenação de isolamento definiram a aplicação de barramentos rígidos, com distância
reduzida e de equipamentos especiais de seccionamento.
Naquela década, paralelo aos investimentos na expansão do sistema elétrico, a Celesc
ainda promovia a incorporação de cooperativas de eletrificação rural. Nos anos 1980, foram
incorporadas as empresas Eletricidade Luz e Força de Araranguá S.A., as cooperativas de
eletrificação rural Vale do Chapecó, Vale do Itajaí e Vale do Rio do Peixe, a Cia. Docas de
Imbituba e a Força e Luz de Criciúma S.A. Na ampliação do sistema de distribuição de
26

energia, destaque para o programa ENERSUL (Empresa de Energia Elétrica de Mato Grosso
do Sul S.A), para a implantação de sistema 69kv para atendimento da região sul do estado.
Na década de 90, diversas obras aumentaram a confiabilidade do sistema e
melhoraram o padrão de atendimento aos consumidores: a construção das linhas de
transmissão entre as subestações Blumenau, Guaramirim e Jaraguá do Sul, em 138kv,
fechando o anel elétrico em Joinville; o segundo circuito para atendimento à Ilha de Santa
Catarina; o entroncamento com a Subestação Campos Novo, do sistema Eletrosul, e a
implantação do Sistema Digital de Supervisão e Controle.
Paulatinamente, a empresa foi construindo um sistema elétrico robusto, com alto nível
de eficiência e integrando energeticamente todas as regiões de sua área de concessão. Ao
mesmo tempo, também foi se estruturando o sistema de alta tensão, interligado ao Sistema
Interligado Nacional, conquistado no início dos anos 2000, conferindo segurança máxima ao
abastecimento energético do estado.
A marca de dois milhões de clientes foi alcançada em novembro de 2004. Quando a
Celesc foi criada, em 1955, esse era o número de habitantes de Santa Catarina. O estado
cresceu junto com a empresa, que começou sua história atendendo menos de 35 mil
consumidores, em 16 municípios.
Em 2009, a holding ampliou sua participação na área de transmissão de energia
elétrica adquirindo mais ações da ECTE e, nos últimos dois anos, tem atuado fortemente para
viabilizar projetos na área de geração de energia, por meio da sua subsidiária de geração
(CELESC, 2014).

2.3 HISTÓRICO DA INFRAESTRUTURA DE MEDIÇÃO AVANÇADA CELESC

2.3.1 Primeira Experiência

A primeira experiência da Celesc com sistemas de telemedição foi o Sistema de


Medição Centralizada, de fabricação Landis+Gyr, implantado em 450 unidades consumidoras
de baixa tensão, na cidade de Joinville, em 2002.
27

Onde a energia de cada unidade consumidora era medida individualmente, através de


medidores eletrônicos de energia elétrica, acondicionados dentro de caixas, denominados
concentradores secundários, instalados nos postes da rede de distribuição da Celesc. Estes
concentradores acumulam os dados de consumo de até 16 consumidores, que são
posteriormente enviadas a outro módulo, chamado concentrador principal, através de um cabo
telefônico, via interface RS 485.
O Concentrador Principal, por sua vez, funcionava como um terminal de consultas,
dispondo de um teclado simplificado e display alfanumérico, localizado num ponto central da
área onde está instalado o Sistema de Medição Centralizada, onde o cliente pode acessar os
registros do seu consumo de energia elétrica.
Por fim, um modem externo, conectado ao concentrador principal, permite o download
dos registros de consumo de todos os medidores, através de uma conexão via linha discada
(GARBELOTTO, 2009).

2.3.2 Implantação do SAM – Sistema De Medição Avançada

O projeto piloto de Sistema de Medição Avançada, na Celesc denominado Sistema


Automatizado de Medição – SAM possibilita a coleta remota e automática dos medidores de
todos os clientes e de todos os transformadores de distribuição ligados a um dos
alimentadores da Subestação Blumenau-Garcia, na cidade de Blumenau.
Permite operar remotamente e automaticamente chaves interruptoras em clientes
previamente selecionados.
Como tecnologia de comunicação entre os medidores e a subestação é utilizada a
Power Line Communication – PLC. Entre a subestação e o centro de controle deve ser
utilizado um canal de comunicação corporativo (GARBELOTTO, 2009).
O sistema trouxe também a possibilidade de corte e religamento remoto em 50
unidades, sendo essa uma das vantagens assinaladas à implantação do projeto SAM.
28

2.3.3 Infraestrutura de Medição Avançada Atual

Atualmente a Celesc conta com um Centro de Operação da Medição (COM),


unificando diversos sistemas de medição adotados da empresa.
Tem como missão, realizar a coleta de dados dos medidores remotamente,
gerenciando e disponibilizando os dados as demais áreas.
Os dados coletados servem de insumo para as áreas técnica e comercial da empresa,
como planejamento da expansão do sistema elétrico, estudos de mercado, operação,
manutenção, eficiência energética, faturamento, atendimento, perdas técnicas e não técnicas.
Conta atualmente com equipes de campo, equipe de operadores e equipe de
engenharia, todos voltados aos processos de medição automatizada e recuperação de receita.
A Figura 4 apresenta a sala de operação, onde através de um telão são monitorados os
alarmes e status dos pontos telemedidos.

Figura 4 – Centro de operação da medição

Fonte: COM Celesc Distribuição (2014)

Sobre o atual centro de operação podemos destacar os seguintes dados:

x Inaugurado em 09/08/2012;
x Investimento estimado de R$ 12.000.000,00;
x Monitoramento de aproximadamente 10.000 unidades consumidoras (COM Celesc
Distribuição, 2014).
29

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

Conforme apresentado na Figura 5, o segmento de distribuição se caracteriza como o


segmento do setor elétrico dedicado à entrega de energia elétrica para um usuário final. Como
regra geral, o sistema de distribuição pode ser considerado como o conjunto de instalações e
equipamentos elétricos que operam, geralmente, em tensões inferiores a 230kV incluindo os
sistemas de baixa tensão (ANEEL, 2014).

Figura 5 - Etapas da Distribuição de Energia

Fonte: Paulino (2012)

As redes de distribuição primária ou de média tensão emergem das Subestações (SE) de


distribuição e operam radialmente, com possibilidade de transferência de blocos de carga
entre circuitos, para o atendimento em condições de contingência, devido à manutenção
preventiva ou corretiva (KAGAN; OLIVEIRA; ROBBA, 2005).
30

3.2 MEDIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA PARA FATURAMENTO

O referencial para o setor de distribuição é a Resolução 414 de 2010, a qual elucida,


tanto para consumidores quanto para os demais agentes do setor, o que é a distribuição,
conceitos-chave e normas de funcionamento, cobrança, atendimento etc.
As distribuidoras de energia, assim como as transmissoras, não podem estabelecer
seus próprios preços, pois são reguladas pelo poder concedente, representado pela ANEEL.
Isso se deve, principalmente, ao fato das distribuidoras serem concessionárias do serviço
público de distribuição de energia, signatárias de contratos de concessão que preveem
métodos regulatórios para o estabelecimento de preços aos consumidores.
O sistema regulatório aplicado à distribuição de energia no Brasil é do tipo preço-teto
(price-cap), no qual o órgão regulador estabelece os preços máximos que podem ser aplicados
por essas empresas.
Os mecanismos de regulação das distribuidoras são basicamente a revisão tarifária,
que incide periodicamente a cada três, quatro ou cinco anos, dependendo do contrato de
concessão, e o reajuste tarifário anual, que se trata de correção monetária e compartilhamento
de ganhos de produtividade (ABRADEE, 2014).

3.2.1 Estrutura Tarifária

É o conjunto de tarifas, aplicadas ao faturamento do mercado de distribuição de


energia elétrica, que refletem a diferenciação relativa dos custos regulatórios da distribuidora
entre os subgrupos, classes e subclasses tarifárias, de acordo com as modalidades e postos
tarifários (ANEEL, 2014).
Temos três principais tipos de unidade consumidora (UC): as que são atendidas pela
distribuidora em alta tensão, formando o grupo A; as que são atendidas em baixa tensão, as
quais formam o grupo B; e o consumidor livre, o qual adquire energia elétrica no ambiente de
contratação livre, pagando à concessionária apenas o acesso da energia.
31

3.2.1.1 Grupo A

Grupo composto de unidades consumidoras com fornecimento em tensão igual ou


superior a 2,3 kV, ou atendidas a partir de sistema subterrâneo de distribuição em tensão
secundária, subdividido nos seguintes subgrupos:
a) subgrupo A1 – tensão de fornecimento igual ou superior a 230 kV;

b) subgrupo A2 – tensão de fornecimento de 88 kV a 138 kV;

c) subgrupo A3 – tensão de fornecimento de 69 kV;

d) subgrupo A3a – tensão de fornecimento de 30 kV a 44 kV;

e) subgrupo A4 – tensão de fornecimento de 2,3 kV a 25 kV;

f) subgrupo AS – tensão de fornecimento inferior a 2,3 kV, a partir de sistema


subterrâneo de distribuição.

3.2.1.2 Grupo B

Grupamento composto de unidades consumidoras com fornecimento em tensão


inferior a 2,3 kV, subdividido nos seguintes subgrupos:
a) subgrupo B1 – residencial;

b) subgrupo B2 – rural;

c) subgrupo B3 – demais classes;

d) subgrupo B4 – Iluminação Pública.


32

3.2.1.3 Consumidor Livre

Conforme descrito na Resolução 414, consumidor livre é o agente da CCEE, da


categoria de comercialização, que adquire energia elétrica no ambiente de contratação livre,
para unidades consumidoras que satisfaçam, individualmente, os requisitos dispostos nos
artigos 15 e 16 da Lei nº 9.074, de 1995.
Podemos citar como exemplos as fábricas, shoppings, indústrias que estão
enquadrados nesta categoria e, portanto, podem escolher de quem comprar energia, desde que
observados os critérios para tal atividade.

3.2.2 Considerações sobre Medição para Faturamento

A medição para faturamento trata-se de um tema em constante mudança, com vários


aspectos ainda abertos ou indefinidos, ou seja, não implantados. Os documentos normativos
passam por constantes revisões e implementações, regidas pela ANEEL. Portanto, para um
melhor entendimento sobre como se estabelecem os preços das Distribuidoras de Energia e
como se chega ao preço final da tarifa, devem ser consultadas as seções de tarifas de energia e
contas de energias, descritas na Resolução 414.

3.3 SISTEMAS DE COLETA DE DADOS DE MEDIÇÃO

A infraestrutura integrada de medição trabalha com diversos cenários de aquisição de


dados. Em muitos casos são sistemas que realizam a coleta diretamente dos medidores,
utilizando os protocolos proprietários ou ABNT. Em outros casos, a aquisição, ou parte dela,
é realizada por AMIs (Advanced Metering Infra-structure) integrados.
A plataforma, utilizada para coleta dos dados, deve suportar os principais AMIs do
mercado, além de assegurar a blindagem das regras de negócio no sistema MDM (Metering
33

Data Management), garantindo a preservação dos investimentos durante a eventual evolução


das tecnologias de telemedição.

3.4 GERENCIAMENTO DE DADOS DE MEDIÇÃO

Os dados de energia, com o surgimento da medição inteligente e da rede inteligente,


necessitam de uma solução robusta de gerenciamento de dados de medição. Embora a coleta
desses dados possa ser eficiente e automática, colocar esses dados em mãos de pessoas que
podem aproveitar seu valor, em toda a empresa, é geralmente difícil e suscetível a erros.
O objetivo é que, através de uma gestão da medição mais fácil e automática, as
diversas áreas da empresa concessionária, como também seus clientes e órgãos reguladores,
tenham acesso a informações confiáveis de medição no decorrer de todo o mês, e não somente
um valor total apresentado ao final do mês, como no modelo de coleta usado até então.
A Figura 6 apresenta uma tela do sistema de gerenciamento de dados de medição:

Figura 6 – Sistema de Gerenciamento de Dados de Medição de Energia

Fonte: Way2 (2014)


34

Para maior nível de gerência dos dados de medição, é recomendável que os processos
que tratam das bases de dados, que representam a rede de energia e seus atributos, sejam
capazes de identificar níveis de qualidade desta base (estabilidade, capacidade de
armazenamento e etc...), de modo a não comprometer funcionalidades de automação com os
demais sistemas das concessionárias (utilities).
O tratamento adequado dos dados e um bom sistema de análise podem trazer vários
benefícios operacionais como:
x Antecipação a distúrbios;
x Facilidades para participação e de conforto do consumidor;
x Otimizações dos processos de expansão e manutenção da rede;
x Recuperação de perdas.
35

4 ESTUDO DO CASO AMI CELESC DISTRIBUIÇÃO

4.1 NECESSIDADE DA IMPLANTAÇÃO DA AMI

O atual modelo de negociação de energia, tanto para os grandes consumidores, quanto


para os residenciais, demandam informações precisas e atualizadas, pois interferem na tomada
de decisão para qual plano de tarifa adotar, e isso só tornou-se dinâmico o suficiente pela
implantação das AMIs.
Na fase atual, os principais projetos de pesquisa e desenvolvimento na área de redes
inteligentes no Brasil apresentam natureza sistêmica. Isso quer dizer que além de tecnologias
e funcionalidades pontuais, são testadas, principalmente, aplicações integradas de
infraestrutura avançada de medição, automação avançada de rede de distribuição e
infraestruturas de multi aplicação de telecomunicações (HERNANDES JUNIOR et al., 2011).
Com base no exposto acima, a necessidade de se implantar a AMI Celesc torna-se
natural, frente ao desenvolvimento das outras áreas da empresa e da necessidade de melhorias,
técnicas e comerciais, impostas pela ANEEL na última década.
Cabe ainda ressaltar que o processo de implantação de um sistema complexo, e em
larga escala, não se dá de forma linear e com soluções homogêneas. As implementações
partem de projetos piloto, que objetivam identificar, com poucos pontos, possíveis
dificuldades técnicas.
Geralmente esses pontos são implantados sem custo para a concessionária, sendo do
interesse do fabricante, ou representante comercial, a aprovação dessas soluções para a fase de
implantação em escala.
As necessidades de melhorias ou implementações nem sempre são identificadas por
completo neste primeiro instante, sendo parte do processo a melhoria contínua dos sistemas
que compõe a AMI. A necessidade de novas customizações está constantemente presente,
tanto em adequações de hardware como em adequações, ou novas implementações, de
software.
36

4.2 COLETA DE DADOS DE MEDIÇÃO

Do ponto de vista de coleta de dados de medição, podemos relacionar os tipos de UC


com seus respectivos canais de acesso às medições e os softwares utilizados para coleta. A
Figura 7 demonstra como pode ser esquematizada tal relação.

Figura 7 – Visão esquematizada dos sistemas de medição

Fonte: O autor (2014)

A relação apresentada acima é integrada em uma única plataforma, a qual recebe o


nome de PIM (Plataforma Integrada de Medição). Trata-se, portanto, de um sistema MDM, o
qual está implantado na Celesc e tem o objetivo de fornecer uma ferramenta de software para
toda a infraestrutura de medição implantada.
Apresentamos, então, os principais canais de comunicação:
x PLC, utilizado para unidades consumidoras do grupo B;
x Telemetria GPRS, utilizado para unidades consumidoras do Grupo A e para unidades
consumidoras do mercado livre.
37

4.2.1 Power Line Communication - PLC

Na comunicação Power Line a informação a ser transmitida é modulada sobre a


energia elétrica, utilizando, assim, a rede elétrica existente como meio de transmissão. As
taxas típicas dos sistemas em teste são da ordem de 2 Mbps, mas já existem fabricantes
testando equipamentos com taxas de transmissão de dados até 200 Mbps (POWER LINE
COMMUNICATIONS, 2014).
A ideia de transmitir dados pela rede elétrica não é nova, tendo seus primeiros
registros por volta 1920, com as primeiras patentes da American Telephone and Telegraph
Company, utilizando redes trifásicas. Entretanto, transmitir uma grande quantidade de dados é
uma necessidade atual, que veio com a proliferação da internet e da necessidade da automação
das redes de distribuição (ECHELON, 2011).
As AMIs que dispõem de arquiteturas PLCs têm um custo relativamente alto para
implantação com velocidades, ainda, apenas razoáveis. Um dos fatores importantes para
compor este custo é a implantação da última milha (distância que separa o consumidor do
equipamento principal na concessionária de energia), pois exige equipamentos com filtros
altamente seletivos para recuperar informações e modular dados praticamente em tempo real.
Mas o custo da comunicação torna-se relativamente baixo, uma vez que utiliza uma
infraestrutura já existente.

4.2.1.1 Modulação

A fim de minimizar os efeitos das várias interferências que a rede elétrica recebe,
várias técnicas de modulação foram testadas. A técnica em que se conseguiu a maior
eficiência de transmissão foi a OFDM (Orthogonal Frequency Division Multiplexing).
38

4.2.1.2 Interferências no Canal

Na última década, vários grupos de pesquisa conseguiram desenvolver equipamentos


com tecnologia para transmitir dados com perdas e interferências menores. A chave para
resolver esta questão é a capacidade de processamento necessária, o que foi melhorado com o
avanço dos processadores DSP (Digital Signal Processor), que permitem construir filtros,
recuperar informações e modular dados praticamente em tempo real.
No entanto, interferências externas podem prejudicar a informação que, por utilizar a
rede elétrica, está sujeita a sofrer atenuações provenientes dos condutores elétricos e a receber
diversos ruídos externos, como:
• Linhas de transmissão desbalanceadas;
• Atenuação do sinal de alta frequência;
• Degradação a relação sinal ruído;
• Elementos da rede elétrica (transformadores, emendas de cabos, relógios medidores,
disjuntores etc);
• Eletrodomésticos.

4.2.1.3 Demodulação

Na recepção, filtros e processadores de sinais são utilizados para separar o que é


energia elétrica do que é informação. Temos aqui a tensão no seu nível de uso pelos
equipamentos domésticos e a informação já modulada na rede elétrica.
Os filtros instalados nos modens PLC, têm a capacidade de separar o sinal de baixa
frequência (energia elétrica) do sinal de alta frequência (dados), decodificando o sinal
recebido e fornecendo uma saída no padrão da aplicação de leitura de dados de medição
(POWER LINE COMMUNICATIONS, 2014).
39

4.2.1.4 Considerações sobre o PLC no Brasil

A tecnologia PLC tem um futuro promissor, já é usada em algumas partes do mundo,


mas ainda tem algumas barreiras a vencer. Não deve ser encarada como uma tecnologia que
vem para substituir as outras já existentes no acesso à banda larga, mas sim como mais uma
que pode agregar valor a essa tecnologia e, principalmente, como uma alternativa de baixo
custo para a aquisição de dados de medição para unidades consumidoras atendidas em baixa
tensão (grupo B) (GOMES; CARRAPATOSO, 2009).

4.2.2 Telemetria

A telemedição provê um modo de leitura dos medidores e monitoramento de alarmes,


reduzindo também as perdas da empresa. Trata-se da obtenção de grandezas do medidor em
tempo real e à distância. Isso é possível através de medidores digitais, conforme a Figura 8,
completamente eletrônicos, que são ligados aos Módulos de Comunicação Inteligentes (MCI),
mostrados na Figura 9. O MCI, por sua vez, transmite os dados lidos através de protocolo
GPRS (conforme Apêndice A) para um servidor da Celesc, onde é possível a visualização em
tempo real das informações.

Figura 8 - Medidor Eletrônico de Energia

Fonte: ZATI (2013)


40

Figura 9 - Módulo de Comunicação Inteligente - GPRS

Fonte: V2COM (2013)

Na literatura são verificadas diversas pesquisas e projetos na área de telemedição para


as distribuidoras de energia. Conforme estudo de Paulino (2006), o fator limitador para a
expansão da telemedição é o custo das tecnologias envolvidas no processo de automação da
leitura de unidades consumidoras, principalmente aquelas atendidas em baixa tensão. Fato
este que não ocorre mais com a alta e média tensão, uma vez que o alto custo da leitura
manual para estes clientes permite a substituição da leitura manual pela telemedição.
Navarro (2006) apresenta um estudo de viabilidade da utilização da rede das
operadoras de televisão a cabo, para medição remota e tarifação diferenciada de energia
elétrica, para consumidores alimentados em baixa tensão. Uma vez que a receita gerada por
esta classe de consumidores não permite a telemedição ponto-a-ponto como a verificada nos
projetos com alta e média tensão, foi proposta uma arquitetura que compartilha a
infraestrutura existente de TV a cabo para trafegar as informações elétricas pertinentes aos
consumidores.
Vieiralves (2005) apresenta um grande estudo sobre a distribuidora Manaus Energia,
no que diz respeito ao combate às perdas comerciais na empresa. Em seu estudo, o balanço
energético é tido como um dos principais meios para redução dessas perdas, as quais podem
ser reduzidas com a implantação da telemedição e de um Centro de Medição responsável por
gerenciar todas as unidades consumidoras a ele conectadas.
Martinelli, Santos e Aguillera (2006) descrevem a experiência da AES Eletropaulo
com telemedição de energia elétrica em sua planta de clientes. Sobre o ponto de vista
tecnológico, são apresentados os últimos investimentos realizados em telemedição em pontos
41

de medição de fronteira, pontos de carregamento de subestações, clientes de alta, média e


baixa tensão, além da integração com sistema legados. A implantação de telemedição e
publicação destes dados tiveram início na AES Eletropaulo, em 2003, com a instalação de
medidores eletrônicos e dispositivos de comunicação disponíveis na época, equipamentos
esses que vêm sofrendo constantes alterações tecnológicas permitindo a expansão do sistema.
Vários outros estudos, pesquisas e projetos foram realizados no país nos últimos dez
anos em relação à implantação de telemedição, geralmente com foco em dispositivos de
comunicação de dados instalados junto aos medidores de energia: telemedição de baixa tensão
exteriorizada na Ampla (SPINA & BRANCO, 2006), sistema de telemedição do grupo A
(CARDOSO, 2006), sistema de telemedição para clientes livres (PEREIRA, 2006), sistema de
telemetria para baixa tensão utilizando Bluetooth em zonas urbanas (FERLINE, 2003).

4.3 SOFTWARES E SISTEMAS DE MEDIÇÃO

4.3.1 Plataforma Integrada de Medição - PIM

A plataforma integrada de medição (PIM), é um sistema de gerenciamento de dados de


medição, onde os valores lidos das UCs são analisadas através de ferramentas para realizar
análises críticas dos dados, permitindo identificar ausências, valores anômalos, ultrapassagens
de potência ou qualquer registro que mereça atenção especial.
Permite, ainda, que problemas de campo sejam conhecidos e tratados de maneira
transparente, realizando verificações automáticas nos equipamentos, validando configurações
de parâmetros elétricos (TPs, TCs), analisando configurações de memória e a própria
integridade física do medidor, auxiliando na gestão de ativos de medição em campo.
Essa plataforma obtém seus dados de duas maneiras:
x Web services: no qual diversos sistemas, coletando seus dados através de softwares
específicos disponibilizam consultas às suas bases de dados;
x Drivers de coleta: através do protocolo padronizado pela norma ABNT 14522, é
possível a coleta de dados dos medidores eletrônicos que disponibilizam tal padrão de
comunicação.
42

Há casos de drivers de coleta que não são padronizados pela ABNT 14522, mas o
protocolo é vendido pelo fabricante. Nesses casos a PIM também realiza a coleta de dados
diretamente dos medidores, utilizando-se de um conjunto de drivers chamado Elipse,
formando uma topologia apresentada na Figura 10.

Figura 10 - Coleta utilizando conjunto de drivers

Fonte: O autor (2014)

Apresentamos a seguir os softwares integrados à PIM:

4.3.1.1 TWACS

TWACS é um sistema que utiliza a rede de distribuição própria para o envio e


recebimento de informações a partir da subestação para a unidade consumidora,
possibilitando a implementação de vários serviços, tais como: medição automatizada,
telemetria, preços diferenciados (TOU), gerenciamento de carga e composição da curva de
carga. Sua arquitetura geral é baseada no uso da rede de distribuição de energia elétrica para a
comunicação de frequência de alimentação. Não requer modificações à rede de distribuição e
não precisa de quaisquer outros transformadores de distribuição de equipamentos de
condicionamento.
Utilizada a tecnologia PLC – Power Line Communications, na qual os sinais trafegam
pelos condutores de baixa tensão desde os pontos de entrada das unidades consumidoras,
atravessam os transformadores de distribuição, sem necessidade de dispositivo de
acoplamento, continuando a se propagar pelos condutores de média tensão até chegarem à
subestação, onde são detectados no lado de baixa tensão do transformador de força.
43

Esse sistema foi pioneiro na Celesc no que se refere à medição de UCs do grupo B
através da rede de energia elétrica. Adotado em 2004, foi instalado um projeto-piloto na
cidade de Blumenau, contanto com 3.000 pontos instalados (GARBELOTTO, 2009).
A Figura 11 demonstra como a topologia do sistema TWACS está estruturada.

Figura 11 - Topologia do sistema TWACS

Fonte: Aclara (2014)

4.3.1.2 Vision

O Vision é o sistema fornecido pelo fabricante dos módulos de telemetria GPRS,


utilizados para medição UCs do grupo A e consumidores livres. Possui auto discovery, ou
seja, o partir do número interno do medidor, lido no local, é realizado a consulta a base de
dados do sistema comercial da Celesc e cadastrando de forma autônoma, indicando em qual
cliente o MCI foi instalado.
Além da capacidade de auto discovery, possui uma integração quanto ao faturamento,
disponibilizando diretamente no sistema comercial as leituras para faturamento. Possibilita
também o recolhimento dessas leituras por parte dos usuários, disponibilizando os arquivos de
memória de massa nos formatos esperados pelo sistema comercial (fk7 e pub).
É integrado a PIM através de web services, possuindo atualmente cerca de 10.000
pontos instalados.
44

4.3.1.3 STM

O sistema STM é utilizado para aquisição de dados dos medidores SAGA 1000,
utilizados na medição de consumidores livres.
Os medidores SAGA1000 possuem várias funções para a realização de medidas muito
precisas do consumo de energia elétrica. Eles são fabricados com padrões de normas como os
da ABTN NBR14519, NBR14520, NBR14522.
O sistema STM disponibiliza os dados à PIM através de consulta de banco de dados,
onde a integração permite apenas a leitura do dado, mas não possibilita a atuação da
plataforma diretamente sobre os parâmetros dos medidores.
Está em fase de encerramento o uso desse software, pois o próprio fabricante
descontinuou sua aplicação, indicando que a concessionária realizasse a aquisição dos dados
dos medidores SAGA1000 diretamente na PIM.

4.3.1.4 ION

O sistema ION é utilizado para aquisição de dados dos medidores ION86xx, utilizados
na medição de consumidores livres. Possuem várias funções para a realização de medidas
muito precisas do consumo de energia elétrica. Eles são fabricados com padrões de normas
internacionais.
Disponibiliza os dados à PIM através do acesso direto dos medidores, utilizando o
conjunto de drivers Elipse como forma de coleta, possibilitando a intervenção em alguns
parâmetros do medidor.
45

5 TESTES E RESULTADOS

Os principais indicadores de resultados utilizados pelo COM são de ordem técnica,


operacional e financeira.

5.1 TAXA DE SUCESSO DE LEITURAS

Na figura 12 apresentamos o indicador da quantidade de pontos efetivamente lidos


em relação à quantidade de pontos instalados no grupo A para cada mês, atualmente em
10.000 pontos.

Figura 12 - Taxa de Sucesso de Leituras

Taxa de Sucesso Leituras Telemedição


Grupo A
105
100
95
% Sucesso

90 % Sucesso
85
Meta
80
75 Média
70
mar/12

jan/14
jan/12

mai/12

set/12
nov/12
jan/13
mar/13
mai/13

set/13
nov/13

mar/14
mai/14
jul/12

jul/13

Fonte: COM Celesc Distribuição (2014)

Observamos que tal indicador apresenta uma alta eficiência no processo de leituras,
em comparação com outros sistemas semelhantes, implantados em outras concessionárias de
distribuição de energia elétrica.
46

5.2 RECUPERAÇÃO DE RECEITA

Na figura 13 é apresentada a recuperação de receita realizada pelo COM. Este


indicador apresenta a receita recuperada, a receita agregada e o total.
A receita recuperada expressa a quantidade calculada pelo COM que pode ser cobrado
da unidade consumidora para restituir o montante que a concessionária deixou de arrecadar,
no período em que a medição encontrava-se irregular, atendendo aos requisitos e limites
estipulados na Resolução 414 da ANEEL.
A receita agregada indica a projeção dos valores que a Celesc passará a faturar, mas
que perderia caso o problema não fosse identificado, levando em consideração o período de
12 meses após a normalização da irregularidade.

Figura 13 – Recuperação de Receita

Fonte: COM Celesc Distribuição (2014)


47

6 CONCLUSÃO

Com a realização deste trabalho foi possível apresentar as novas tecnologias de


medição adotadas na AMI Celesc Distribuição.
No primeiro capítulo abordamos a necessidade do estudo de infraestruturas de
medição bem como a metodologia, limitações e objetivos.
No segundo capítulo foi realizado um posicionamento histórico quanto à distribuição
de energia elétrica para demonstrar como os sistemas de AMI se tornaram parte fundamental
das concessionárias de energia elétrica e como ocorreu sua implantação na Celesc
Distribuição. A análise da viabilidade técnica e econômica da implantação de infraestruturas
de medição demonstra-se ainda em fase de estudos, com os primeiros esforços e seus
resultados descritos neste trabalho. Porém não aponta modos definitivos para viabilizar tal
infraestrutura em larga escala, pois no momento passamos por constantes alterações
regulatórias e das tecnologias utilizadas nas coletas de dados.
Na terceira parte apresentamos a base técnica necessária para implantação das AMIs, a
qual transita entre o universo da distribuição de energia elétrica e das telecomunicações.
Na quarta etapa, apresentamos o estudo de caso da AMI Celesc, identificando as
tecnologias utilizadas para cada grupo de unidades consumidoras, identificando as limitações
de cada tecnologia. Utilizando de técnicas diferentes para cada grupo de consumo,
observamos a limitação dos canais de comunicação devido à quantidade de informação
necessária e as quantidades de unidades consumidoras para cada grupo.
Finalmente apresentamos que as soluções adotadas apresentam uma eficiência alta,
proporcionando além da leitura de dados de medição, o monitoramento dos medidores o qual
reduz as perdas técnicas (defeitos, valores anômalos) e não técnicas (irregularidades).
As dificuldades enfrentadas nos sistemas de medição estão cada dia menores, pois
existem diversos estudos no país e no mundo para apontar soluções robustas, confiáveis e
economicamente viáveis. Atualmente existe o planejamento para investimentos da ordem de
R$70 bilhões por parte do governo federal em smart grid o que irá acelerar o processo de
modernização das AMIs das concessionárias.
48

REFERÊNCIAS

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http://www.aclaratech.com/Info/English/PublishingImages/lg_diagram_twacs.jpg>. Acesso
em 25 jun. 2014.

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543/2013: Módulo 7– Cálculo de Perdas na Distribuição. Brasília, 2013. 22 p. Disponível em:
<http://www.aneel.gov.br/arquivos/PDF/Modulo7_Revisao_3-Final.pdf>. Acesso em: 4 abr.
2014.

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA -


ABRADEE. A distribuição de energia. 2014. Disponível em:
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51

APÊNDICE
52

APÊNDICE A – TELEMETRIA ATRAVÉS DE REDES CELULARES

Nos casos em que, para a troca de dados, é aceitável uma pequena taxa de erro ou
latência entre a requisição da informação e seu recebimento, o uso da infraestrutura das redes
de telefonia celular torna-se interessante por possuir um enlace que cobre praticamente todo o
país.
Uma rede de telefonia celular é composta por diversos elementos interligados entre si
através de canais de comunicação, de forma que diferentes operadoras possam atuar em uma
mesma área ou possam fornecer seus serviços em infraestruturas compartilhadas.

Figura 2 - Rede Celular

Fonte: cISSagATTo's Tech (2014)

Figura 3 - Compartilhamento de Infraestrutura em Rede Celular

Fonte: cISSagATTo's Tech (2014)

O padrão de telefonia celular mais difundido no Brasil e no mundo é, atualmente, o


padrão GSM (Global System for Mobile Communications), que disponibiliza o serviço GPRS
(Genaral Packet Radio Service) como uma das alternativas para a transmissão de dados para
diversas aplicações, dentre elas a telemetria (PIROTTI; ZUCCOLOTTO, 2009).
53

GSM

O padrão GSM para telefonia celular começou a ser desenvolvido na Europa, no início
da década de 80. Criado com o objetivo de desenvolver um novo padrão que substituísse os
diversos padrões usados até então, sendo adotado no Brasil em 2002 (ALENCAR, 2004).
A arquitetura da rede GSM pode ser simplificada em:
x Base Transceiver Station (BTS)
BTS é uma célula dentro da estrutura geográfica da rede. A função da BTS é prover a
conexão de rádio para a estação móvel (celular), sendo composto basicamente de
rádios transmissores e receptores, processador de sinal, equipamentos de controle e
antena;
x Base Station Controller (BSC)
A BSC é a controladora das BTS’s, e sua função é alocar um canal para a duração da
chamada, monitorar as chamadas visando qualidade e potência transmitida pela BTS
ou a estação móvel, e garantir o handover para outra célula, quando requerido;
x Mobile Switching System (MSC)
A MSC é a central de comutação da rede GSM. Ela é responsável por encaminhar e
comutar as chamadas e mensagens de cada estação móvel e equipamentos da rede.
Provê a conexão entre os assinantes da rede, e conexão da rede GSM com a rede fixa
(PSTN). São o elemento central das redes GSM, recebendo todas as informações da
rede e todas as chamadas e/ou mensagens originadas;
x Serving GPRS Support Node (SGSN)
Busca a localização dos dispositivos móveis e faz o roteamento dos pacotes de
tráfegos para eles;
x Gateway GPRS Support Node (GGSN)
Provê a interconexão com outras redes como a Internet ou redes privadas.

Figura 4 - Arquitetura Básica Rede GSM

Fonte: O autor (2014)


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GPRS

O projeto de sistemas monitorados ou acionados a distância demanda conhecimento


prévio das condições e limites do enlace, sendo que o enlace GPRS, teoricamente, permite
uma taxa de transmissão de até 170kbs, no entanto, na prática essa taxa está em torno de
40kbs (BETTSTETTER, 2001).
Com a chegada tecnologia 3G, tornou-se viável o tráfego de dados em grandes
volumes. No entanto, para o caso da telemetria e outras aplicações M2M (machine-to-
machine) o GPRS ainda apresenta uma melhor relação custo benefício.
Usar a comutação de pacotes no GPRS significa que os recursos de rádio serão
utilizados apenas quando os usuários estiverem enviando ou recebendo dados. Ao invés de
dedicar um canal para um usuário por um determinado período de tempo, o recurso pode ser
compartilhado entre vários usuários. Esse uso eficiente de recursos permite aos dispositivos
compartilhar a mesma largura de banda e serem servidos de uma única célula (RAPPAPORT,
2002).

Figura 5 – Enlace GPRS

Fonte: RAPPAPORT (2002)

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