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Mariana Ferreira nº14268

Textos Sociologia da Comunicação


Lazarsfeld, P. (1944). “The election is over”

O estudo observa três fatores sociais que exerciam maior influência na intenção de
voto:
 Religião;
 Status económico;
 Residência.

No texto são destacados alguns padrões, como:


 Eleitores de zonas rurais/ católicos/ pessoas mais pobres – teriam mais
predisposição democrata;
 Eleitores de zonas urbanas/ evangélicos/ pessoas mais ricas – optariam
mais pelo candidato republicano.

Tendo em conta o voto feminino, grande parte das mulheres eram contra o direito
de voto feminino; muitas mulheres eram influenciadas pelo marido na intenção do
voto.

Conclui-se que os eleitores que ainda não tinham decidido o seu voto se
expuseram mais à propaganda ligada ao partido que predomina na intenção de voto
do grupo social a que pertencem.

Rádio e Imprensa na Campanha

Maior parte da população contactou muito pouco com conteúdo político através da
comunicação social.

As pessoas com maior predisposição para ler e ouvir os conteúdos políticos nos
média eram as pessoas com opiniões políticas mais estabelecidas.

Aqueles que teoricamente seriam mais suscetíveis a influências, eram menos


propensos a procurar os média.

 Os Republicanos preferiram os jornais Cada um tinha o meio de


comunicação que achava mais
 Os Democratas a rádio. imparcial.
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Papel dos contactos pessoais

Os eleitores que mudaram o destinatário do seu voto referiram mais


frequentemente os amigos ou membros da família

Por meio das respostas obtidas foi possível listar vários fatores que fazem os
contactos pessoais tão preponderantes:
 O contacto pessoal é mais flexível;
 O contacto pessoal é mais casual;
 Através do contacto pessoal é possível entender as reações das pessoas aos
argumentos apresentados.

A influência pessoal tem a capacidade de persuadir o voto sem ter de apelar à


compreensão dos assuntos em questão por parte do votante.

É no seguimento da preponderância da influência pessoal que surgem os líderes


de opinião (pessoas com mais disponibilidade para contactar com o tema
eleitoral).
Exemplo: os reformados, e pessoas com redes sociais mais amplas

Este conceito dá a ideia de que a palavra de alguém que conhecemos tem um


papel importante, inclusive, mais importante que a própria campanha

Voto Disponível

O estudo apurou que cerca de metade da amostra, que acabou de facto por votar,
já tinha o voto decidido antes da campanha e manteve a sua intenção. Isto é,
aqueles mais interessados na campanha, definiam a sua intenção de voto mais
cedo.
‘Cross-pressures’ – exemplo: um eleitor com uma intenção de voto contrária à
vigente entre o seu meio familiar.

Conclui-se que pessoas com maior interesse na eleição e menos ‘cross-pressures’


eram aquelas que decidiam o seu voto mais cedo, o contrário acontecia com as
menos interessadas e com mais ‘cross-pressures’.
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Conclusão
 Muito dificilmente uma campanha eleitoral consegue mudar a intenção de
voto de alguém que já está inclinado para votar num qualquer candidato.

Exemplo: Se uma pessoa gosta do candidato A e não gosta do candidato B,


dificilmente vai ver com bons olhos propaganda relativa ao candidato B e, por
oposição, irá sempre olhar com mais atenção para a propaganda do candidato A.

 Quase ninguém que esteja exposto a propaganda política é completamente


neutro e imparcial, o que afeta desde logo o julgamento que cada pessoa vai
fazer da dita propaganda.
 O próprio título do artigo é bastante sugestivo, “The election is over”
encerra a ideia geral do texto: grande parte das eleições estão decididas
mesmo antes do ato eleitoral acontecer.

Herzog, Herta (1941). “On borrowed experience. An analysis of


listening to daytime sketches”

O estudo relatou as entrevistas com várias mulheres que ouvem regularmente o


programa e que foram questionadas sobre o que esses programas significam para
elas, por que ouvem e o que fazem com o que ouvem.

Verificou-se que as histórias tinham o mesmo significado para as ouvintes, mas a


reação era diferente. Herzog destaca três tipos de reações ou gratificações
diferentes nas ouvintes.

1) Ouvir as histórias oferece uma libertação emocional


 Algumas das ouvintes gostam das histórias principalmente por estas as
ajudarem a libertar-se emocionalmente
 Ouvir as histórias fornecia as ouvintes uma liberdade emocional de diversas
formas:
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 Em primeiro lugar, as histórias davam as ouvintes uma oportunidade


de poderem chorar.
 Em segundo, forneciam emoção e excitação as ouvintes que eram
incapazes de sentir isso porque o tipo de vida que levavam não lhes
dava essa experiência.

2) Ouvir as histórias permite remodelar a sua forma de vida


 Estas gostam por lhes darem a oportunidade de preencher as suas vidas com
acontecimentos que elas próprias gostavam de ter experienciado.
 A ouvinte finge que o que acontece nas histórias, acontece com ela e sente
o que as personagens estão a experienciar.

 Aceita as histórias como substituto da realidade e utiliza-as para remodelar


a sua forma de vida, ou seja, ter outra forma de encarar as dificuldades do
quotidiano.

3) Ouvir fornece uma ideologia e conselhos para ajustar a vida


 Estas apreciam de um modo mais realista por estas lhes ajudarem a suportar
o tipo de vida que estão a viver.
 As ouvintes consideravam que o conteúdo das histórias podia vir a ser uma
forma de aconselhamento nas suas decisões e uma forma de saber lidar com
os seus problemas.
 Davam à ouvinte uma sensação de que o mundo não é tão ameaçador como
parecia ser e explicavam as coisas às ouvintes e isso fazia com que estas
entendessem melhor o que estava a acontecer ao seu redor.

Adorno, T. (2003 [1963]). “Pode o público querer

Uma das grandes problemáticas apresentadas por este texto é o facto de os mass
media não serem capazes de responder à questão: Será que Portugal pode
realmente querer algo?

Tudo indica que a humanidade perdeu a capacidade de ambicionar por 2 motivos:


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 Por serem monótonas e limitarem-se a querer o que já têm;


 Por não serem ambiciosas o suficiente para querer algo melhor.

Daí o texto fazer referência ao perigo que é ter a capacidade de escolher algo
quando no final a decisão basear-se-á em algo já imposto. Para inverter esta
situação seria necessário fortalecer o “Eu débil” – «o Eu débil é aquele que
encontra o seu maior conforto ao submeter-se» –.

O texto reporta a triste realidade de que caso esse mesmo “eu débil” procure novas
alternativas, será sempre punido com o mal-estar e com isolamento social. Porém,
essa mesma debilidade não é algo que caracteriza um indivíduo, mas algo nos
foi importo socialmente. A debilidade atingiu os foros da realidade ao ponto de
exercer uma violência perturbadora.

O texto fala ainda do facto de sermos compulsivos e, por isso mesmo, questiona-
se se o público deve, realmente, querer algo. Reforça que esta questão é igual à
verdade dos dias de hoje: «[…] não é cínica nem nos protege». Isto porque se a
vontade do povo fosse ouvida, a sua grande maioria iria desejar coisas más.
Exemplo: preocupar-se apenas consigo sem querer saber do bem-estar do outro.
No fundo, iriam alterar o mundo como conhecemos, criando uma espécie de
utopia, onde todo o mal seria “maquilhado” com as leis.

O texto faz ainda referência a Rosseau, comentando a sua frase sobre a diferença
entre vontade geral e a vontade do público. Para o autor, chegamos ao ponto em
que a vontade do público contradiz-se a si mesma.

Adorno afirma que não se pode perguntar o que o público quer, mas sim o que
própria vontade julga querer. Sendo que, a vontade do público contradiz-se
brutalmente com aquilo que a própria vontade julga querer.

A debilidade do eu é, hoje, algo que atingiu maximamente foros de realidade. Daí


a violência desconcertante que exerce.

Goffman, Erving (1999). “A ritualização da feminilidade”


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As fotografias que o autor reuniu para ilustrar o comportamento ligado ao sexo


(social) podem servir para refrescar as ideias em 3 aspetos:
 Os estilos do comportamento ligado ao sexo;
 O modo como a publicidade apresenta sobre ele uma visão oblíqua;
 As regras de produção cénica específicas da forma fotográfica.

O autor interessa-se mais pelo primeiro ponto, mas o ponto essencial para a
discussão é a conceção dos publicitários sobre a forma de representar as mulheres
com proveito.

Mesmo que os documentos aqui representados não possam ser tomados como
representativos do comportamento ligado ao sexo na realidade, nem mesmo na
publicidade. Pode-se, no entanto, emitir a seu respeito um julgamento negativo de
alguma importância, a saber, que enquanto imagens, nós não as percebemos como
qualquer coisa de excecional ou de anormal.

Na sua grande maioria, as publicidades apresentam inocentemente cenas fictícias


cujos sujeitos, os personagens, não têm nada em comum com os modelos
profissionais que posam na ocasião.

Mas a complicação vem do facto de que representar para uma publicidade implica
quase invariavelmente uma referência ao sexo.
Exemplo: personagens femininas representam mulheres e masculinas representam
homens.
Feminismo: vemos mulheres a ter atitudes “femininas” perante homens e outras
mulheres, o que nos incita fortemente a pensar que os estereótipos ligados ao sexo
repousam na ideia de um espaço com duas divisões, sendo o importante preenchê-
las por meio de pessoas diferenciadas quanto ao papel, mas não necessariamente
opostas quanto à sua identidade sexual.

Publicitário:
 A sua tarefa é a dispor favoravelmente o espectador perante o produto que
vende e o seu procedimento consiste em mostrar um exemplar deslumbrante
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de um quadro encantador, sendo a mensagem implícita que, se se comprar


um, estar-se-á no bom caminho para alcançar o outro – o que é desejado.
 Este sendo obrigado a apresentar qualquer coisa razoável e facilmente
compreensível, para o fazer, dispõe apenas de caracteres de imprensa e de
uma ou duas fotografias cujos personagens, embora mudos, parecem, de
facto, falar.

"Como poderiam, pois, as fotografias representar o mundo, mundo onde as


pessoas (movendo-se e nunca fixas numa posição) se entregam a atividades
que se desenrolam no tempo, onde o som conta quase tanto como a vista, sem
falar dos odores e do facto, onde, além do mais, nos acontece conhecer
pessoalmente os indivíduos que encontramos, aventura muito improvável
tratando-se de personagens da publicidade?" (Pág. 162)

Soluções para este problema:


 Montar uma cena em que as personagens são captadas a realizar uma ação que faz
parte de uma situação que o espectador constrói na sua cabeça.
 Realizar cenas que já são silenciosas e estáticas por si só. (como dormir, reflexão,
estar a ver uma montra, etc.)
 Dispor as personagens de uma forma em que as suas posições sejam indicativas
das suas posições sociais.
 Utilizar cenas e personagens já estereotipadas que o espectador associa a uma
determinada atividade, de modo a compreender imediatamente. Sobre este ponto,
o autor sublinha que os publicitários escolhem sempre estereótipos positivos e
aprovados por todos.
 Recorrer a celebridades que, apesar de não as conhecermos pessoalmente,
sabemos sempre algo sobre essa pessoa.

É interessante observarmos que não são apenas os publicitários que usam estes
métodos. Os governos e os organismos com fins não lucrativos também os usam
para passar a sua mensagem na imprensa ou em cartazes. Podemos dizer que é
falso que só os publicitários é que fazem publicidade.
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O publicitário tem de contar uma história com imagens de situações sociais e


traduzir situações mais obscuras de modo a serem mais facilmente interpretadas.
Para o fazer usam os mesmos procedimentos fundamentais:
 Representar intenções;
 Organizar a estrutura social;
 Idealização aprovada;
 Exteriorização do que parece uma atitude íntima.

Problemas Sociais:
Podemos observar este problema quando nos é mostrada uma personagem solitária.
Normalmente, neste caso não existia nenhuma situação social, mas apesar de estarem
sozinhos, as personagens comunicam com os espectadores, criando assim uma situação
social. A personagem, apesar de estar sozinha nunca se comporta de tal forma, como por
exemplo exibir comportamentos tabus ou pouco lisonjeiros.
A ritualização da feminilidade:

Neste texto, Goffman propõe-se a estudar o papel da mulher na publicidade e a


forma como é utilizada. Afirma que os publicitários utilizam a figura da mulher
com o objetivo de vender um produto ou um serviço, representando as mulheres
de forma idealizada.

1. Masculino/Feminino
Mulher como alguém que necessita de ser protegida e homem como alguém que
protege a mulher

2. O tato
 A mulher mostra o produto, tocando nele de forma delicada e leve, como se
tivesse medo que passasse uma corrente elétrica.
 Quando são publicidades onde a mulher toca no seu próprio corpo quer
demonstrar que o corpo feminino é algo delicado e poderoso.

3. A mulher oculta
 A mulher surge no “ecrã de participação” em segundo plano.
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 A mulher aparece atrás de um objeto ou de uma pessoa, especialmente de


homem, mostrando que este é superior a ela.

4. A mulher ausente
 Mulher sempre com a “cabeça na lua”, pois surge normalmente sozinha, de
cabeça baixa e a olhar para o infinito.
 Quando há representação masculina, a proteção que este lhe oferece,
promove o alheamento de tudo o que os rodeia numa submissão da mulher.
5. A mulher submissa
 A mulher é representada num plano inferior, deitada na cama ou no chão,
locais que são considerados os mais sujos e nos quais ela fica numa posição
mais indefesa.
 Esta aparece, ainda, com a cabeça, corpo inclinado ou com o joelho fletido,
numa atitude submissa, conciliadora e disponível.
6. Jogo de mãos
 A mulher aparece a gesticular de forma desorientada demonstrando que está
nervosa e que pretende esconder as fraquezas.
 A mulher esconde o rosto, dando a entender que está tímida e tapa a boca
ou chucha o dedo, podendo demonstrar que está com ansiedade.

7. A mulher dócil
 A mulher é infantilizada e o homem domina a situação.
 O elemento masculino aparece como professor a ensinar algo à mulher. Mas
também aparece, algumas vezes, a dar algo a provar à mulher, como o pai
dando comida à boca do bebé.

8. A mulher criança
 A mulher surge a realizar um comportamento infantil.
 Passa a ideia de que as mulheres gostam de ser tratadas como crianças.

9. A mulher brinquedo
 A mulher é uma presa e o homem o seu predador.
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 Verifica-se que os homens têm brincadeiras com as mulheres, as quais


colaboram fingindo fugir, dando falsos gritos de socorro ou temor.

10. Mulher brincalhona


 O corpo da mulher é utilizado como um instrumento para o homem brincar.

11. Felicidade de mulher


 Donas de casa – ficam felizes quando apresentam um eletrodoméstico ou
um produto de limpeza.
 O êxtase de uma mulher ao receber o presente de um homem.

Hall, S. (1996 [1980]). “Encoding/Decoding”

Críticas ao Modelo Tradicional da Comunicação

Segundo o modelo tradicional o emissor cria a mensagem e fixa o seu significado,


que vai ser transmitido diretamente e transparente ao recetor, sendo este um
processo que acontece em sentido único.

Quanto ao primeiro ponto Hall desafia os três componentes deste modelo:


 o significado não é apenas determinado pelo emissor;
 a mensagem nunca é transparente;
 a audiência não é um recetor passivo do significado da mensagem.

Alternativa ao Modelo Tradicional da Comunicação


Pensar no processo como uma estrutura complexa dominante, sustentada pela
articulação de práticas ligadas entre si, em que cada uma das quais, no entanto,
mantém a sua distinção e tem a sua própria modalidade específica. Esta segunda
abordagem, tem a vantagem acrescida de realçar de forma mais acentuada a forma
como um circuito contínuo constituído por:
Produção - Distribuição – Produção
Pode ser sustentado através de uma "passagem de formas"

Os objetos destas práticas são significados e mensagens em forma de veiculadores


de sinais organizados através da ligação de todos os componentes do discurso.
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O valor desta abordagem é que enquanto cada um dos momentos, em articulação,


é necessário para o circuito como um todo.

Codificação

Segundo o autor, os significados e as mensagens têm de ser construídos de acordo


com as regras da linguagem e códigos gerais partilhados em cada sociedade. A
distribuição das mensagens (o produto) dá-se através do discurso, mas este só tem
algum tipo de efeito se for transformado em práticas sociais.

A forma discursiva da mensagem ocupa o papel mais importante no processo


comunicativo e os momentos de codificação e descodificação são momentos
absolutamente essenciais.

Codificação: produção de mensagens num código comum aos envolvidos no


processo

Descodificação: compreensão e interpretação da mesma por parte do recetor.

O autor foca-se, ao longo do texto, no caso da televisão acabando por ser sempre
uma visão de quem os está a transmitir, ou seja, os espetadores nunca recebem o
material em bruto. Existe, portanto, um paralelismo com a atualidade. Apesar de
este texto ter sido escrito nos anos 70, sabemos que atualmente isto ainda se
verifica.
Exemplo: os jornalistas escolhem a que eventos dar ênfase, que vozes ouvir e que
citações colocar numa reportagem.

As estruturas de produção televisiva não formam um sistema fechado, uma vez


que a audiência é tanto o recetor como a fonte da mensagem, na medida em que
são as pessoas que recebem a mensagem que a produzem em práticas sociais.

Descodificação

Segundo o autor, a descodificação está dependente de o público/audiência entender


a mensagem.
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A descodificação das mensagens depende de pessoa para pessoa. Cada pessoa


decifra uma mensagem de formas diferentes. O que para uma pessoa pode ser
considerado “normal”, para outra pode ser despropositado.

Isto é afetado por vários fatores:


 experiências pelas quais passámos na nossa infância;
 o estatuto social;
 crenças religiosas;
 inclinações políticas.

Conotação e Denotação

Denotação: é a palavra na sua forma literal.

Conotação: acontece quando são atribuídos significados profundos, que vão além
do significado literal da palavra, assumindo dimensões ideológicas, que podem ser
diferentes de indivíduo para indivíduo.

As conotações dependem da cultura e do contexto das sociedades, transmitindo a


forma de pensar das comunidades.
Exemplo: na região nordeste do Brasil uma sweater simboliza alto estatuto social

Os códigos conotativos têm diferentes significados válidos, dependentes das


situações, estando por isso sujeitos a transformações. Para que as diferentes
sociedades possam impor o seu próprio significado têm de ter um certo grau de
isolamento em relação às outras para que as suas imposições prevaleçam.

Mal-Entendidos

Estes códigos estão presentes significados sociais, práticas comuns, interesses,


usos e poder inseridos no discurso.

De acordo com Hall, aquilo que não se enquadra no padrão de cultura dominante
tende a ser rejeitado antes que faça sentido - “quebrando a dominância”. Contudo,
isto é algo difícil de se fazer
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Os domínios de significados prediletos integram uma ordem social de crenças,


significados, costumes, convicções e conhecimento do quotidiano social. Desta forma, ao
utilizar códigos no dia-a-dia evita-se que haja mal-entendidos independentemente do tipo
de discurso utilizado.

Quando a adaptação dos códigos falha, significa que existem falhas nas diferenças
estruturais na relação entre quem discursa e a audiência, ou seja, quem discursa produz
um código, mas quem recebe o discurso recebe-o e interpreta-o de forma diferente e
observa-se um mal-entendido.

Em relação à televisão: o público, por vezes, desconhece os conceitos utilizados


em certos anúncios ou programas, o que pode induzir a audiência em erro.
Acontece, então, uma falha na transmissão da mensagem. independentemente da
utilização ou não de códigos, acabam sempre por existir “mal-entendidos”. A
sequência de mal-entendidos resulta num conjunto de “falhas” na descodificação
das mensagens.

Existem vários tipos de falhas, mas destacam-se quatro:


1) por ignorância do espectador dos termos utilizados;
2) por não compreender a lógica por trás da argumentação;
3) por não estar habituado à linguagem utilizada;
4) por dificuldade em descodificar termos difíceis.

No entanto, o mais frequente é o público não estar dentro do código dominante, ou


seja, não perceber aquilo que as emissoras realmente pretendiam.

3 posições de descodificação

Stuart Hall diz que existem três posições que as pessoas podem adotar para
descodificar uma mensagem:

1. Posição Hegemónica/Dominante: define uma comunicação perfeitamente


transparente, na qual a pessoa consegue descodificar a mensagem utilizando o
código dominante. Isto é, descodifica e interpreta a mensagem da maneira
pretendida pelo remetente.
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2. Posição Negociada: a mensagem é entendida, tal como na posição


Hegemónica/Dominante. A única diferença é que a pessoa não concorda com a
mensagem transmitida. Contudo, esses espectadores seguem a mensagem que
lhe foi passada.
3. Posição de Oposição: a pessoa entende o significado da mensagem, mas ao
contrário daquilo que acontece nas outras duas posições, o código de oposição
não é reproduzido e os espectadores não aceitam a codificação que lhes foi
passada. Assim, a codificação é completamente rejeitada.

McCombs, M.E. & D.L. Shaw (1972). “The agenda-setting function of


mass media”

Os media são órgãos de comunicação social, direcionados para apelarem às


massas, que estabelecem a importância que se dá a certos assuntos, dependendo da
relevância que dão a um assunto e a sua quantidade de informação veiculada.

Os jornalistas e outros associados ao jornalismo que o produzem, ao mediarem os


políticos, aplicam filtros de subjetividade quando escolhem, por exemplo, quanto
tempo de antena se dá a um certo tema, ou que assunto mediático é escolhido para
a primeira página ou capa de um jornal ou de uma news magazine.

É importante relembrar que o jornalismo não apresenta a realidade, mas sim uma
interpretação da mesma

Cada vez menos o cidadão comum tem capacidade de atender a toda a informação
a que é exposto e de entender aquela a que é. Por isso, recorrem aos media para se
informarem, nos quais a informação muitas vezes já está interpretada e percebida,
e direciona os leitores/ouvintes/espectadores sobre o que pensar em relação a algo.

Método

Este estudo visa averiguar a capacidade de agendamento dos media na campanha


das eleições presidenciais norte-americanas de 1968. Para a seleção desta amostra,
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os eleitores responderam à pergunta de tiragem «O que é que o tem preocupado


mais durante estes dias?»

Simultaneamente, foram também selecionados, à luz de um teste preliminar no


mesmo ano, os media cuja informação produzida caracterizava-se por ser a
principal fonte de informação política. As respostas dos entrevistados, as notícias
e restante conteúdo jornalístico foram codificadas em 15 categorias que
representavam as questões-chave e outros tipos de notícias.

Foram classificadas como “mais importante” as notícias que, pelo menos:

1. Na televisão, representassem uma das três notícias de abertura ou qualquer


notícia com mais de 45 segundos;
2. Nos jornais, estivessem como manchetes de primeira página ou qualquer outra
notícia sob um cabeçalho a três colunas com um terço das mesmas dedicado a
cobrir algum assunto de carácter político;
3. Nas news magazines, tivessem mais do que uma coluna ou que surgissem no
cabeçalho no início da secção noticiosa;
4. Nos editoriais, representassem o item principal do editorial ou qualquer
editorial em que um terço era dedicado a cobrir algum assunto de carácter
político.

Explicado o método, é possível entender os resultados do estudo para verificar a


existência de agendamento nos media.

Resultados:

Tabela 1
 A tabela 1 apresenta a cobertura jornalística das questões que os media
consideram importantes, da campanha e dos outros candidatos. Conclui-se
que a maior parte das notícias da campanha não foram dedicadas à
discussão das questões políticas “mais importantes”, mas sim à análise da
própria campanha.
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 Atualmente, é mais simples de perceber esta situação visto que agora as


campanhas são maioritariamente feitas de ataques por parte dos políticos e
não da discussão das questões importantes.

Tabela 2
 A tabela 2 mostra o destaque dado por cada partido às questões que eram
noticiadas pelos media. Sendo essas questões: política externa, lei e ordem,
política fiscal, segurança social e direitos civis.
 Os democratas deram maior destaque à política externa, enquanto que os
republicanos não escolheram essa abordagem concordando com o fim da
guerra.
 Os media tiveram algum impacto naquilo que consideravam ser os assuntos
principais da campanha.
 Percebe-se que os eleitores do estudo deram atenção a todas as notícias
políticas sem considerarem se estas vinham ou não de um candidato
preferido.

Tabela 3

 A tabela 3 apresenta as correlações entre as questões importantes referidas pelos


inquiridos que tinham um candidato específico com:
 a frequência de todas as questões apresentadas nos media;
 as questões orientadas para cada partido dependendo do órgão de
comunicação.
 Teríamos:
 A prova de perceção seletiva — uma forma de interpretar a informação
conforme as crenças de cada indivíduo se os leitores
lessem/ouvissem/vissem as notícias seletivamente, ou seja, se prestassem
maior atenção às questões mais e menos importantes orientadas pelo
próprio partido.
 A prova da existência da função de agendamento se os eleitores dessem
atenção a todas as notícias, sem considerarem o partido/candidato em
causa o que originaria correlações mais fortes entre o eleitor e o conteúdo
dos media.
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 Verifica-se uma concordância elevada quando comparamos aquilo que os eleitores


e os media consideravam questões importantes, no entanto não são uniformes
através dos vários media e em todos os grupos eleitorais.

Tabela 4
 A tabela 4 segue as mesmas linhas de análise que a tabela 3, contendo
apenas uma variante: todos os inquiridos são contabilizados, e não apenas
os que apresentam uma tendência política.
 Podemos então constatar que existe um elevado consenso relativamente aos
assuntos considerados significantes, mas sem nunca apresentar uma
concordância perfeita.

Tabela 5
 A tabela 5 apresenta o nível de concordância entre os media relativamente
a quais são os acontecimentos políticos importantes que ocorreram durante
as eleições de 1968.
 Os autores apresentam pelo menos dois fatores que contribuem para reduzir
o consenso entre os media:
 As diferentes características (os jornais diários têm mais espaço; a
televisão é diária, mas é regida pelo tempo restrito; as revistas
informativas são semanais e por isso não estão em cima do
acontecimento)
 A perspetiva, a maneira de ver o mundo, quer seja mais conservador
ou mais liberal, de cada órgão de comunicação e dos seus
profissionais, como referimos na introdução.
 No entanto, os autores realçam o facto de existir um consenso relativamente
aos valores notícia, principalmente no que diz respeito aos itens mais
importantes. Esse mesmo é sem dúvida influenciado pelas agências de
notícias, que divulgam a mesma informação para vários órgãos de
comunicação social.
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 É então válido afirmar que o mundo político é transmitido de forma


imperfeita e incompleta pelos media. Essa visão do mundo leva a
extremismos, promove a intolerância e contribui para a polarização da
sociedade, fenómenos a que assistimos nos dias de hoje.

Discussão
As correlações apresentadas no estudo não provam a existência de uma função de
agendamento por parte dos media, todavia mostram que existem as condições
adequadas para acontecer.

A interpretação mais plausível destes resultados é como indicadores do poder de


influência dos media, não supondo que os eleitores e os media estão apenas a
responder aos mesmos acontecimentos, sem se influenciarem mutuamente. Isto
porque poucos participam diretamente nas campanhas eleitorais ou conhecem
pessoalmente os candidatos, sendo a informação unicamente baseada na cobertura
jornalística dos media.

Os media são as fontes principais da informação política nacional, sendo para


muitos a melhor, a mais acessível, e, por vezes, a única aproximação às realidades
políticas em constante mutação.

o afeto, a educação e o interesse político não apresentaram correlações


significativas neste estudo. Isto está demonstrado na tabela 6, baseado em assuntos
que os participantes consideram mais importantes.

Conclusão

Concluindo, os autores afirmam que estudos futuros sobre o comportamento


relativo à comunicação e o estabelecimento de agenda política devem ter em conta
tanto variáveis psicológicas como sociológicas.

Torres da Silva, M. (2019), “Literacia dos media e discurso do ódio”

Desdobrando a expressão “discurso de ódio” nos seus dois elementos – discurso e


ódio – podemos atribuir-lhe significados muito específicos.
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“ódio”: aqui, é a indicação de um estado emocional ou de uma opinião que


comporta uma animosidade intensa e abusiva, sempre discriminatória, em relação
a um indivíduo ou grupo, considerado como tendo determinadas caraterísticas.

“discurso”: inclui qualquer forma de expressão que veicule ideias ou opiniões


(escrita, verbal, sonora, visual ou artística, etc.)

O discurso de ódio é considerado como tendo um caráter performativo uma vez


que efetua determinadas ações: silenciar, humilhar, intimidar, discriminar,
perseguir, ameaçar, incitar à violência, atacar, diminuir, desumanizar, degradar,
amedrontar.

As várias definições de discurso de ódio foram formuladas em resposta a


fenómenos sociais ou incidentes visivelmente discriminatórios e têm vindo a ser
adaptadas por forma a acomodar novas situações, mudanças na linguagem e no
entendimento da igualdade, ou desenvolvimentos tecnológicos.

O significado e o alcance do discurso de ódio são contestados quando existe


desacordo em relação aos seguintes elementos:
1) a caraterística que identifica um indivíduo ou grupo como alvo de discurso de
ódio;
2) o grau de importância que se dá ao conteúdo e ao tom da expressão;
3) o grau de importância conferido ao dano causado – se a expressão é considerada
como causando dano em si mesma ou se só se é considera danosa.

Para a União Europeia, o discurso de ódio constitui um limite ao direito de


liberdade de expressão, limite esse que surge da necessidade de proteger valores
democráticos e direitos humanos.
Exemplo: a dignidade da pessoa humana; a não discriminação e igualdade; a
participação na vida pública (incluindo o discurso público) ou ainda a liberdade
religiosa, de associação, entre outros.

Por outro lado, considera-se ainda a prevenção de danos passíveis de ser causados
às potenciais vítimas, como sejam danos psicológicos, perda de autoestima, medo,
depressão ou ansiedade.
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A Convenção Europeia dos Direitos do Homem estabelece que o gozo dos direitos
e liberdades reconhecidos no diploma, como a liberdade de expressão, deve ser
assegurado sem quaisquer distinções, tais como as fundadas no sexo, raça, cor,
língua, religião, opiniões políticas ou a origem nacional ou social, a pertença a uma
minoria nacional, a riqueza, o nascimento ou qualquer outra situação.

A internet é cada vez mais utilizada para disseminar ódio das mais diversas
formas e nos mais variados contextos, como por exemplo, através de
propaganda, teorias da conspiração e outros tipos de desinformação.

A literacia dos média

A literacia dos média pode ser vista como:


 essencial no fornecimento de ferramentas e recursos adequados para
desenvolver pensamento crítico por forma a questionar o rigor e o impacto
da informação que consta dos média noticiosos;
 uma importante linha de ação no combate à desinformação, levando a uma
maior resiliência social e funcionando como “resposta preventiva, em vez
de reativa, que apura a capacidade de reflexão dos indivíduos, tão necessária
num ambiente cada vez mais digital”.

Nos dias de hoje, esta literacia dos média e da informação não pode ignorar temas
como a liberdade de expressão e a privacidade, pelo que se torna premente pensar
em literacias múltiplas e complementares. Neste âmbito, o conceito de cidadania
digital inclui não apenas competências para identificar discursos de ódio, mas
também o desenvolvimento de conhecimentos técnicos e críticos para a sua
prevenção.

O combate ao discurso de ódio faz-se, nomeadamente, através:


 da contextualização rigorosa da informação;
 da visibilidade conferida a atos de discriminação;
 da consciência dos perigos da exteriorização negativa e das referências
desnecessárias a caraterísticas que possam promover a intolerância;
Mariana Ferreira nº14268

 da voz e visibilidade dadas a grupos e a comunidades marginalizadas e/ou


minoritárias;
 da formação dada aos profissionais de consciencialização do papel dos
média neste sentido e na forma como podem evitar e prevenir as condições
de emergência e disseminação do discurso de ódio.
Exemplo: não exagerar a importância nem amplificar ou reproduzir acriticamente
os discursos de quem advoga a intolerância.

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