Você está na página 1de 18

JG CAMARÕES

Gilberto Andrade Lima

Cultivo de Camarão Litopenaeus Vannamei


Folheto Informativo com Base nas Experiências Práticas no Cultivo do Camarão
Litopenaeus Vannamei na Fazenda JG Camarões

Jaguaruana
01 de Julho de 2023
SOBRE O AUTOR

Especialista em Redes Estruturadas de Computadores (FOCUS 2022) e Graduado


em Telemática pela Faculdade Integrada do Ceará (2008). Técnico em Mecatrônica
pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (2006) e em Eletrônica pelo
Centro Educacional Professor Estevão Pinto (2011). Coordena atividades de
produção na JG Camarões desde maio de 2016, uma empresa que atua no cultivo
de camarões marinhos. Tem vários outros cursos de média e curta duração na área
de automação, mas atualmente tem se dedicado a aprender as diversas técnicas
para o cultivo de camarão. Portanto, vem participando de diversas palestras e cursos
na área da carcinicultura, como também atuando diretamente em campo. E por isso
resolveu sintetizar os conhecimentos adquiridos até então, para que possa ser
utilizado como base para aqueles que querem empreender nesta área tão complexa
que é a carcinicultura. Este não é um trabalho técnico/científico, mas sim um simples
documento prático para nortear os leigos que tem interesse no cultivo de camarões,
além do mais, o próprio autor não tem formação técnica na área e tão somente
experiência de campo e alguns cursos de curta duração. Estou aberto a críticas e
sugestões! http://lattes.cnpq.br/3497314735861472
Sumário
Introdução ................................................................................................................... 4

1- Berçário Secundário ou Raceway ......................................................................... 5

1.1- CAPTAÇÃO DE ÁGUA .................................................................................. 5

1.2- AERAÇÃO ..................................................................................................... 5

1.3- PARÂMETROS IDEAIS ................................................................................. 6

1.4- FERTILIZAÇÃO.............................................................................................. 6

1.5- CONTROLES BIOQUÍMICOS DA ÁGUA ....................................................... 7

1.6- MANEJO ALIMENTAR ................................................................................... 8

1.7- TABELA DE ALIMENTAÇÃO PARA RACEWAYS ......................................... 9

1.8- CLARIFICADORES ...................................................................................... 11

1.9- TRANSFERÊNCIA DOS JUVENIS .............................................................. 11

2- Viveiros de Engorda ........................................................................................... 12

2.1- DESINFECÇÃO DOS VIVEIROS E APETRECHOS .................................... 12

2.2- FERTILIZAÇÃO/BOKASHI ........................................................................... 13

2.3- POVOAMENTO ........................................................................................... 14

2.4- ARRAÇOAMENTO....................................................................................... 14

2.5- QUALIDADE DA ÁGUA ............................................................................... 16

2.6- DESPESCA.................................................................................................. 16

2.7- CONSERVAÇÃO ......................................................................................... 16

2.8- ALGUNS PRODUTOS E SUAS FINALIDADES ........................................... 17

2.9- PROTOCOLO BÁSICO EMPREGADO NA FAZENDA ................................ 17

3- Bibliografia .......................................................................................................... 19
4

Introdução

Nesse folheto vamos discorrer sobre a técnica comum empregada em


viveiros de engorda escavados e berçários secundários para o cultivo do camarão
vannamei. No início de minha atividade como produtor de camarões, me deparei
com dificuldades para encontrar materiais mais simples e objetivos que pudessem
me nortear no processo produtivo, às consultorias com técnicos e engenheiros se
tornavam quase inviáveis devido ao nível inicial de projeto instalado. Com o passar
do tempo fui aprendendo basicamente como produzir e resolvi sintetizar esses
conhecimentos adquiridos neste trabalho. Acredito que as mesmas dificuldades para
quem quer começar ou já começou na carcinicultura ainda existem e é nesse texto
que pretendo disseminar alguns conhecimentos, bem como, servir de base para
uma consulta particular. Espero ter ajudado boa leitura!
5

1- Berçário Secundário ou Raceway

1.1- CAPTAÇÃO DE ÁGUA

O bom processo de captação de água começa com a filtragem, mas caso


não disponha de filtros de areia combinados com bolsas bags de malha 150 ou 250
micras, recomenda-se a utilização somente de bolsas bags com malha de 30 ou
50 micras colocados na saída da tubulação, no bombeamento da água para os
tanques. A micragem das telas devem ser ajustadas a vazão das bombas, não deve
haver transbordamento. Como as águas oriundas de poços possuem alto teor de
ferro, amônia, gás sulfídrico, gás carbônico etc, recomenda-se fazer um
tratamento primário dessa água, em um reservatório a parte, para posterior
bombeamento. É interessante também que seja feita uma desinfecção, utilizando
cloro na proporção de 100g para cada 22 mil litros de água, ao mesmo tempo o
cloro também combate o ferro (capa rosa) presente na água. Após a aplicação
espera-se agir por um período de 48 horas. Caso necessário o cloro residual deve
ser neutralizado empregando-se tiossulfato de sódio na proporção de 2,85g do
produto para cada grama de cloro ativo. No tanque de tratamento deve haver uma
aeração na água, durante 48 horas ou até a eliminação total destes compostos, ela
ajuda a combater o ferro presente na água, o cloro residual e a amônia, portanto
uma ferramenta importantíssima. O abastecimento dos tanques deve começar pelo
menos 7 dias antes do povoamento, período necessário para preparação da água! É
imprescindível a utilização de um kit para medir a quantidade de cloro residual ainda
presente no tanque de tratamento, bem como outros parâmetros comentados mais
adiante.

1.2- AERAÇÃO

Para aerar tanques raceway, recomenda-se o uso de mangueiras porosas


de alta eficiência (aero tubos) ou aeradores de palhetas ou os dois combinados. As
mangueiras porosas são ligadas a sopradores de ar (de 2 a 10 HP) através de
difusores (tubulações). Os aero tubos tem que possuir furos bem pequenos para que
as bolhas de O2 geradas sejam incorporadas a água. O ideal é que o teor de
oxigênio dissolvido na água deva estar acima de 5 mg/L, no mínimo 4 mg/L.
6

1.3- PARÂMETROS IDEAIS

A temperatura deve estar entre 30 e 32°C, controlados através de


estufas, quando possível. Temperaturas acima de 34°C, risco grande de doenças
por vibrios como a NIM e acima de 37°C mortalidade total. O oxigênio, entre 5 e
10mg/l, controlados com um bom sistema de aeração. O nível de O 2 em
temperaturas altas são menos presentes, ou seja, maior atenção se faz necessário.
Venturis são boas opções para areação auxiliar, a cada uma parte de água
temos 1/3 de O2. O potencial hidrogeniônico (pH), entre 7,5 e 8,2, controlados
com um bom equilíbrio bioquímico da água e evitar variações maiores que 0,5 em
24h. Como trabalhamos com água doce, salinidade inferior 0,5 ppm, não temos
preocupação com o controle do sal na água. E com relação à amônia, nitrito e
nitrato; obedecer aos parâmetros listados: amônia total menor que 0,5mg/l, nitrito
inferior a 0,1mg/l (maior do que 1mg/l alarme para mortalidade geral), nitratos
entre 2 e 10mg/l.
O nitrito é o principal vilão no berçário, perigosíssimo, se vacila o camarão
morre (sobrevivência zero)! Portanto, tem que ser medido diariamente! O cloreto de
potássio tem um bom potencial para controle de nitritos. Ou ainda, pode ser
controlado através do melaço (fonte de carbono) indiretamente por controle da
amônia.

1.4- FERTILIZAÇÃO

Em regra geral, os fertilizantes químicos mais utilizados são: o nitrato


de cálcio ou nitrato de sódio como fonte de nitrogênio (é um catalisador para a
geração de algas, boas e ruins), o superfosfato simples ou superfosfatotriplo
como fonte de fósforo, o silicato de sódio como fonte de sílica (fonte para
geração de diatomáceas, algas boas, tem a cor marrom). Recomenda-se que
os fertilizantes sejam incorporados na água buscando concentrações máximas
de 1mg/l de nitrogênio, 0,3mg/l de fósforo, 2mg/l de sílica. Obedecendo a
proporção mencionada acima, temos para viveiros de 1 hectare: 10kg de nitrato de
cálcio, 3kg de superfosfatotriplo, 20kg de silicato de sódio; e para berçários de 400
m³: 400g de nitrato de cálcio, 120g de superfosfatotriplo, 800g de silicato de sódio.
Para limpeza de algas verdes, os recursos disponíveis são o cloro, o hidróxido
7

de cálcio (cal hidratada), cal virgem (óxido de cálcio), o peróxido ou uma boa
renovação de água (uns 30 cm). Com exceção do peróxido (água oxigenada) e
cloro, os outros tem pH elevado! Manter os parâmetros como alcalinidade e dureza
bem aquilibrados evita o aparecimento de algas verdes (cianobactérias) e pH alto.

1.5- CONTROLES BIOQUÍMICOS DA ÁGUA

O carbono orgânico é uma forma rápida e eficiente de remoção da


amônia, principalmente se o pH estiver alto (>9). Mas cuidado o uso abusivo do
melaço, principal fonte de carbono orgânico, pode provocar um rápido fechamento
da água provocando “boom” de algas na maioria das vezes ruins, efeito rebote!
Dependendo da quantidade a adição de melaço deve ser fracionada em 2 ou 3x/dia,
tendo em vista que o melaço diminui rapidamente o oxigênio dissolvido na água.
Uma regra empregada no uso do melaço para neutralizar a amônia é a
seguinte: se na minha análise o resultado foi 0,25mg/l de concentração de amônia
total lida na água, então você pega a concentração da amônia e multiplica por 6 e o
resultado será a concentração total de carbono para neutralizar a amônia lida, ou
seja, 0,25 x 6 = 1,5mg/l de carbono, mas como o melaço só possui em média 40%
de carbono então a concentração total de melaço será 2,5 x 1,5 = 3,75mg/l de
melaço para neutralizar a amônia total lida! Considerando um viveiro de 1 hectare,
para correção seria necessário 37,5kg de melaço (regra 1:6). Se for um berçário de
400m³, seria somente 1,5kg de melaço. Com base nessas informações e alguns
cálculos proporcionais vocês são capazes de dimensionar as quantidades para
outros tanques e concentrações.
A alcalinidade deve estar acima de 100mg/l, para isso precisamos fazer
um processo chamado calagem. Alcalinidade é devida principalmente aos
carbonatos e bicarbonatos, e secundariamente aos silicatos, fosfatos etc,
presentes na água. O uso do bicarbonato de sódio, cloreto de potássio e
calcário dolomítico (mais em conta) se apresenta como a melhor opção para
correção da alcalinidade em berçários secundários e viveiros, uma vez que não
compromete a estabilidade do pH. Além do mais, estudos comprovam que
alcalinidade alta regula a amônia e nitrito presentes na água, diminui o aparecimento
de cianofíceas (algas verdes) e facilita o processo de muda dos camarões, ou seja,
8

influencia no crescimento. A queda da alcalinidade nos viveiros esta ligada ao


processo de nitrificação (controle de nitritos), portanto, ao observar tal fenômeno
repor a alcalinidade.
A dureza é uma relação/concentração entre o cálcio e magnésio e hoje
deve estar acima de 100mg/l. O gesso agrícola é o principal produto empregado
para elevar a taxa de dureza na água. Uma dureza alta tem diversos benefícios,
aumenta a imunidade do camarão (melhora a saúde do camarão e alivia as
câimbras musculares dos mesmos), regula o pH (dureza e pH são inversamente
proporcionais) e não esquecer que a alcalinidade e dureza devem esta em
equilibrio, com a dureza levemente mais alta.
Usar sempre probióticos para combater os vibrios (bactérias nocivas ao
camarão) e materia orgânica nos tanques.
O correto controle dos parâmetros acima listados, esta diretamente ligado
a qualidade da água, que tem haver com o equilíbrio de elementos como: cálcio,
potássio, magnésio, sódio, cloretos e sulfatos.

1.6- MANEJO ALIMENTAR

Os ajustes de oferta alimentar deverão ser feitos, conforme a necessidade


observada com vistas ao estado nutricional das PL‟s e a checagem de sobras de
ração nas bandejas. Como forma de controle, em cada tanque será colocada
bandejas alimentares, onde será ofertado em cada uma delas 2% do total da
ração diária, para observações.
Alimentação fracionada 24 horas por dia, de 2 em 2 horas, até 12 rações
por dia e no mínimo de 3 em 3 horas se for em altíssima densidade (acima de
200/m²), caso contrario, densidades abaixo de 100/m² faz 3 rações e abaixo de
50/m² faz só 2 rações. Fazer o monitoramento de sobras, evitar flutuações de
oxigênio e desenvolver tabelas específicas, objetivando uma curva de crescimento.
Nesses sistemas de alta densidade e com baixa renovação de água, pode
ser necessário, suplementar 10% de bicarbonato de sódio ou cloreto de potássio
para cada 1kg de ração ofertada, tendo em vista que o processo de nitrificação
(bactérias nitrificantes) consume esse parâmetro importante para controle/redução
dos nitritos.
9

O tempo de cultivo no berçário primário pode variar de 10 a 15 dias, no


berçário secundário 20 a 30 dias e no viveiro de engorda de 35 a 40 dias, caso
método trifásico ou bifásico. Nossa previsão aqui na fazenda é que o tempo total
de cultivo não extrapole os 100 dias!

1.7- TABELA DE ALIMENTAÇÃO PARA RACEWAYS

CONSIDERANDO 250.000 PL's – Alimentadas a cada 2h (12 vezes/dia)


Taxa
Tip Dose Dose Quantida
Númer Peso Aliment
o Dia Taman Biomas Sobrevivên s s (g) de de
o de mg/Lar ar da
de s ho (g) sa (kg) cia (%) diária Cada PL's para
larvas va Biomas
PL s (g) 2h dar 1g
sa (%)
250.00
1 0,002 0,5 0 100 0,72 180 15 36 500
247.50
2 0,003 0,7425 0 99 0,84 208 17 28 333,3
247.50
3 0,0045 1,11375 0 99 1,035 256 21 23 222,2
245.00
4 0,005 1,225 0 98 1,05 257 21 21 200
245.00
5 0,0061 1,4945 0 98 1,22 299 25 20 163,9
242.50
6 0,0076 1,843 0 97 1,52 369 31 20 131,6
242.50
7 0,0092 2,231 0 97 1,84 446 37 20 108,7
240.00
8 0,0107 2,568 0 96 2,14 514 43 20 93,5
240.00
9 0,0123 2,952 0 96 2,46 590 49 20 81,3
237.50
10 0,0138 3,2775 0 95 2,76 656 55 20 72,5
237.50
11 0,0154 3,6575 0 95 3,08 732 61 20 64,9
235.00
12 0,0169 3,9715 0 94 3,211 755 63 19 59,2
235.00
13 0,0185 4,3475 0 94 3,515 826 69 19 54,1
232.50
14 0,02 4,65 0 93 3,8 884 74 19 50
232.50
15 0,0216 5,022 0 93 4,104 954 80 19 46,3
230.00
16 0,0231 5,313 0 92 4,389 1009 84 19 43,3
230.00
17 0,0247 5,681 0 92 4,693 1079 90 19 40,5
227.50
18 0,0262 5,9605 0 91 4,716 1073 89 18 38,2
227.50
19 0,0278 6,3245 0 91 5,004 1138 95 18 36,0
225.00
20 0,0293 6,5925 0 90 4,981 1121 93 17 34,1
225.00
21 0,0308 6,93 0 90 5,236 1178 98 17 32,5
10

222.50
22 0,0324 7,209 0 89 5,508 1226 102 17 30,9
222.50
23 0,034 7,565 0 89 5,78 1286 107 17 29,4
220.00
24 0,0355 7,81 0 88 6,035 1328 111 17 28,2
220.00
25 0,0371 8,162 0 88 6,307 1388 116 17 27,0
217.50
26 0,0386 8,3955 0 87 6,562 1427 119 17 25,9
217.50
27 0,04 8,7 0 87 6,8 1479 123 17 25
215.00
28 0,05 10,75 0 86 8,5 1828 152 17 20
215.00
29 0,06 12,9 0 86 10,2 2193 183 17 16,7
212.50
30 0,07 14,875 0 85 11,2 2380 198 16 14,3
212.50
31 0,08 17 0 85 12,8 2720 227 16 12,5
212.50
32 0,09 19,125 0 85 13,5 2869 239 15 11,1
212.50
33 0,1 21,25 0 85 15 3188 266 15 10
212.50
34 0,2 42,5 0 85 26 5525 460 13 5
212.50
35 0,3 63,75 0 85 36 7650 638 12 3,3
212.50 1020
36 0,4 85 0 85 48 0 850 12 2,5
212.50 1168
37 0,5 106,25 0 85 55 8 974 11 2
212.50 1402
38 0,6 127,5 0 85 66 5 1169 11 1,7
212.50 1636
39 0,7 148,75 0 85 77 3 1364 11 1,4
212.50 1870
40 0,8 170 0 85 88 0 1558 11 1,3
212.50 1912
41 0,9 191,25 0 85 90 5 1594 10 1,1
212.50 2125
42 1 212,5 0 85 100 0 1771 10 1
212.50 2390
43 1,25 265,625 0 85 112,5 6 1992 9 -
212.50 2868
44 1,5 318,75 0 85 135 8 2391 9 -
212.50 2975
45 1,75 371,875 0 85 140 0 2479 8 -
212.50 3400
46 2 425 0 85 160 0 2833 8 -
212.50 3346
47 2,25 478,125 0 85 157,5 9 2789 7 -
212.50 3718
48 2,5 531,25 0 85 175 8 3099 7 -
212.50 3506
49 2,75 584,375 0 85 165 3 2922 6 -
212.50 3825
50 3 637,5 0 85 180 0 3188 6 -
11

1.8- CLARIFICADORES

É um método relativamente simples que permite diminuir a concentração


de sólidos na água, para posterior aproveitamento da mesma, utilizando a
recirculação. Ou seja, a água que é drenada do tanque berçário ao invés de ser
descartada, ela passa por um sistema de filtragem para ser reutilizada em viveiros
ou no próprio berçário. Funciona da seguinte forma: a água drenada é inserida na
caixa de sedimentação (caixa d‟água de 1000L), pela parte superior, entrando por
um tubo central que leva até a parte inferior da caixa, de forma a reduzir o
turbilhonamento. Em seguida a água permanece por um determinado período no
fundo da caixa e gradativamente é conduzida até a parte superior novamente,
passando por camadas de material filtrante. Ao longo desse processo os sólidos em
suspensão serão decantados e acumulados no fundo da caixa e a água saíra mais
limpa pelo ponto de retorno localizado na parte superior da caixa.

1.9- TRANSFERÊNCIA DOS JUVENIS

As transferências são fatores de estresse, portanto, deverão ocorrer


preferencialmente entre 4h e 6h da manhã ou de forma que possa evitar o sol
quente, atenuando o estresse dos camarões. O transporte poderá ser a seco, em
monoblocos forrados com espuma umedecida e a contagem gravimétrica. É
importante mensurar as variáveis de qualidade da água do tanque de destino 2h
antes do povoamento. Havendo diferença significativa iniciar aclimatação no próprio
berçário utilizando água do tanque de destino, caso possível. No transporte a seco,
deve-se colocar em torno de 2kg de biomassa de camarão para cada balde ou
coletor. No caso do transporte em caixas, a densidade nas unidades não deve
exceder 200PL‟s/l ou no máximo 7kg de biomassa a cada 1000 litros. Ou seja,
caso sua PL esteja com 1g você só poderá transportar 7000 PL‟s numa caixa de
1000 litros. As PL‟s devem ser alimentadas durante a permanência nas unidades de
transporte, mantendo-se uma oferta de 100g de alimento a cada 30 minutos para
cada 1 milhão de PL‟s ou juvenis. Para animais acima de PL30, recomenda-se o
método gravimétrico para contagens precisas. Um bioensaio prévio é uma boa
estratégia para que se possa visualizar possíveis problemas de qualidade do
ambiente.
12

2- Viveiros de Engorda

2.1- DESINFECÇÃO DOS VIVEIROS E APETRECHOS

Partindo do viveiro seco, „até rachar o solo‟. Faz-se um leve gradeamento,


se necessário, para homogeneizar o solo e então começar a encher os viveiros. O
gradeamento basta ser feito a cada 3 despesca, como já disse, e se for necessário!
Quando for encher os viveiros, deve existir uma torre de peneiras (torre de quebra)
na saída de água dos poços, caso não tenha elementos filtrantes, para diminuir a
concentração de substâncias nocivas para o camarão, como excesso de minério de
ferro, por exemplo.
Ás vezes é bom fazer uma análise do solo, antes do procedimento
descrito no parágrafo anterior. Para isso, coleta-se 20 amostras em vinte pontos
diferentes e equidistantes na profundidade de 10 cm, coloca as amostras para secar
e peneira 50 gramas de cada, depois envia para o laboratório para uma análise mais
detalhada ou se tiver o interesse só de saber o pH, pega as amostras peneiradas,
mistura bem e retira 50 gramas e adiciona a 50 ml de água destilada, depois pode
fazer a leitura do PH do solo.
Para desinfecção da comporta e os demais apetrechos (redes, telas,
tabuas, remos, caiaques, aeradores etc.), banhar com cloro, da seguinte forma:
os apetrechos maiores (comportas, caiaques, remos, aeradores etc.), borrifar
cloro na proporção de 2 gramas de cloro para cada 10 litros de água, e deixa
secar naturalmente. As miudezas (redes, tabuas etc.), preparar uma caixa
d’água de 1000 litros, fazer a mistura na mesma proporção do item anterior, e
mergulha esses apetrechos, deixando agir por 1 hora, depois tira e deixa secar
ao sol.
Voltando aos viveiros, depois de revirado o solo (se for o caso!) e dos
materiais esterilizados, prepará-lo para começa a encher. Quando o viveiro estiver à
meia altura, com uns 60 cm na comporta ou todo o fundo preenchido, parar as
bombas e aplicar cloro na proporção de 20kg (diluido) por hectare, isso deve ser feito
de preferência no final da tarde, depois das 16 horas. Toda aplicação com cloro
deve ser de preferência no final do dia! Deixa agir por 48 horas, depois de passado
esse período, liga os aeradores o máximo de tempo possível para ajudar e garantir
que o cloro será todo dissipado e não venha a complicar no povoamento. Depois
pode voltar a ligar as bombas para completar o viveiro que será corrigido e fertilizado
para posterior povoamento.
13

É bom também que quando o viveiro estiver no ponto de povoamento, ou


logo após a desinfecção inicial, colher a água e enviar para análise, retornando com
o devido laudo e correção de possíveis irregularidades. Aplicar os produtos de
correção antes do povoamento, de preferência!
Para estabilizar o pH (variação >1) usar calcário dolomítico (uns
200kg/ha), até reagir com a água e é bom para o camarão, serve até para misturar
com a ração (no máximo 1kg), quando o mesmo já estiver com mais de 3g.

2.2- FERTILIZAÇÃO/BOKASHI

É um composto orgânico produzido através de uma mistura de materiais


como farelos de arroz, trigo, melaço e outros resíduos. Essa mistura permite a rápida
obtenção de um composto para adubar, ou seja, criar alimento natural para os
camarões e peixes. Há vários tipos e métodos de aplicação de bokashi, cada
fazenda se adéqua a um conformo o solo e a água, aqui temos alguns exemplos:

1.
20kg de melaço;
30kg de puim de arroz;
30kg de farelo fino de trigo;
100 gramas de fermento biológico;
20kg de silicato;
Água suficiente para mistura (uns 100 litros);
Depois de 24 horas adiciona probiótico conforme orientação.
Espera 48 horas e vôleia no viveiro.

2.
20kg de melaço;
5kg de ração fina (T1);
30kg de puim de arroz;
30kg de farelo grosso de milho;
14

Água;
Depois de 24 horas adiciona pro biótico;
Espera 48 horas e vôleia no viveiro.

3.
75kg de nitrato de cálcio;
25kg de silicato;
5 litros de pentóxido de fósforo;
Água.

4.
60kg de puim de arroz;
20kg de melaço;
500g de fermento.

5.
No primeiro dia, 75kg de nitrato de cálcio, voleado separadamente, depois;
No segundo dia, 60kg de puim de arroz + 20kg de melaço + probiótico + 100 litros de
água, mistura tudo, espera 1 hora e aplica.
Fora o melaço inicial (20kg), tem produtores que adicionam diariamente 2kg de
melaço até o fim do cultivo.

Existem outros tipos! A proporção acima são exemplos para uma área de 1 hectare!

2.3- POVOAMENTO

Trabalhando com a macha branca em sistema aberto e com povoamento


direto a quantidade segura estocada de PL’s por viveiro é de aproximadamente
10/m³ e no máximo 20/m³.

2.4- ARRAÇOAMENTO

A oferta de ração vai depender da densidade de cultivo, no nosso caso


que trabalhamos com até 20cam/m³ vamos dividir a oferta de ração em 2 vezes por
dia (Manhã e Tarde).
A quantidade percentual básica de ração ofertada para PL’s e camarões
15

segue abaixo:
até PL33 (1 grama), alimentar com 10% da biomassa;
de 1 a 3 gramas, alimentar com 7% da biomassa;
de 3 a 5 gramas, alimentar com 5% da biomassa;
de 5 a 9 gramas, alimentar com 3% da biomassa;
de 9 a 20 gramas, alimentar com 3% da biomassa;
acima de 20 gramas, alimentar de 2% a menos da biomassa.

Veja também, tabela detalhada de peso x taxa alimentar, do camarão:

PESO (g) TAXA ALIMEN. (%)


2 8,00
3 6,00
4 5,50
5 5,00
6 4,00
7 3,60
8 3,30
9 3,00
10 2,80
11 2,70
12 2,60
13 2,50
14 2,40
15 2,30
16 2,20
17 2,10
18 2,00
19 1,90
20 1,80

Observação: tirar uma alimentação quando, tempo frio, dia de chuva,


processo de muda, alguma enfermidade.
16

2.5- QUALIDADE DA ÁGUA

Os parâmetros ideais da carcinicultura seguem abaixo:

Temperatura ideal 32°C (faixa de 30 a 33°C);


PH ideal 7,8 (faixa de 7,5 a 8,2), variações até 0,5/24h (evitar >1 parte);
Transparência ideal 35 cm (faixa de 30 a 40 cm);
Oxigênio dissolvido ideal 7mg/l (faixa de 4 a 10mg/l);
Alcalinidade ideal, maior que 100mg/l (faixa de 100 a 200mg/l);
Dureza ideal 140mg/l e maior que a alcalinidade (faixa de 100 a 200mg/l);
Nitrato ideal 2mg/l (faixa de 2 a 10mg/l);
Nitrito ideal menor que 0,1mg/l e inferior a 1mg/l;
Amônia total inferior a 0,5mg/l;
Silicatos ideais maior que 1mg/l;

2.6- DESPESCA

No uso do metabissulfito, recomenda-se utilizar só 2%, pois se trata de


um produto prejudicial à saúde. Por exemplo, para cada 1000 litros de água
adicionar 20kg de metabissulfito.

2.7- CONSERVAÇÃO

O congelamento inibe a multiplicação dos micro-organismos que causam


a deterioração, entretanto, os esporos bacterianos podem permanecer viáveis e
germinar se ocorrerem variações significativas na temperatura, abaixo segue o
tempo de armazenagem relativo à temperatura.

A -12°C, pode ser armazenado até 4 meses;


a -18°C, pode ser armazenado até 6 meses;

a -30°C, pode ser armazenado até 12 meses.

O armazenamento em gelo deve ser de ótima qualidade na proporção


adequada de 0,5kg de gelo para cada 1kg de pescado. Sendo sempre a primeira e a
última camada de gelo, intercaladas com o pescado a resfriar. Nesse caso
armazenar no máximo por 3 dias!
17

2.8- ALGUNS PRODUTOS E SUAS FINALIDADES

Bicarbonato de Sódio: empregado para elevar os valores de alcalinidade, tem


efeito sanitizante e auxilia na ação do cloro, também reduz a dureza da água. É
uma solução tampão que atenua a variação dos valores de pH.
Cloreto de potássio: serve para derrubar o nitrito da água, aumentar a alcalinidade
e também trabalha o crescimento do camarão.
Calcário dolomítico: estabiliza o pH, combate cianofíceas e eleva a alcalinidade,
melhor custo benefício.
Gesso Agrícola: aumenta a dureza da água e ajuda a regular os valores de pH.
Melaço: reduz o pH, fertiliza a água, catalisa reações quimica e orgânicas (bokashi), e
é usado para controlar os níveis de amônia.
Lothar: pode ser utilizado no bokashi e ofertado 10% na ração também, auxilia no
crescimento do camarão e ajuda no equilibrio químico da água.
Cuimde Arroz e Farelo de Milho: fertiliza a água, usado em bokashis.
Cal Hidratada: e l e v a a a l c a l i n i d e e d u r e z a , m a s q u a n d o
c o l o c a d o eleva muito o pH também, utilizado para desinfecção e controle
de enfermidades.

2.9- PROTOCOLO BÁSICO EMPREGADO NA FAZENDA

Secagem do viveiro ao sol por 7 dias após a despesca.

No viveiro seco aplica-se 2000kg de calcario dolomitico no solo e depois


passa a encher. Esse processo pode ser feito também após o viveiro cheio!
Correção de parâmetros: calcário dolomítico (Alcalinidade) e Gesso
Agrícola (Dureza).
No viveiro (1ha): a cada 25kg de calcário e 20kg de gesso, corrigi
(aumenta) 1mg/l de alcalinidade e dureza respectivamente.
No raceway (400m²): a cada 1kg de calcário ou 1kg de gesso, corrigi
(aumenta) 1mg/l de alcalinidade e dureza respectivamente.
Em ambos os casos o uso do melaço obedece a regra abordada nesse
trabalho e apresentada no início. O melaço deve ser utilizado com cautela para
evitar fertilizações exageradas! Para o controle de amônia e nitrito recomenda-se
deixar pelo menos um aerador ligado em cada viveiro entre 11h e 14h, como a
amônia é um gás isso ajuda a dissipá-la.
18

Para fertilização inicial: um saco (10kg) de lothar + um saco (30kg) de cuim


+ 3kg de melaço.
No viveiro: três dias antes do povoamento, começar a aplicar 200g (1ha)
de probiotico por semana, divididos em duas vezes.
Para alimentação no viveiro: ração + bactinil (5g/kg) + melaço para
agregar. Isso quando o camarão estiver pegando a ração nas bandejas!
Para manutenção da água: fazer análise semanal e realizar as correções:
dureza, alcalinidade, amônia etc. Evitar jogar produtos no viveiro na primeira semana
de povoamento e quando for volear fazer isso fracionando em varias vezes ou dias!

Obrigado a todos, espero que ajude!

3- Bibliografia

Revista ABCC Ano XVIII N° 2 Novembro de 2016 – Associação Brasileira de


Criadores de Camarão.
Apostila do Programa de Qualificação Especial para o curso de Berçários Intensivos,
Raceways e Crescimento Compensatório.
Experiência na fazenda JGCamarões.

Você também pode gostar