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HISTÓRIA DA MÚSICA – ANTIGUIDADE E IDADE MÉDIA.

Prof. Moacir José Dondelli Paulillo.

A Música sempre foi uma atividade importante entre os diversos povos da


Antiguidade, como chineses, egípcios, hindus, assírios e sumérios, estando ela ligada à
magia, à guerra, à mitologia, à agricultura, à morte e à vida das pessoas.

Mas, vamos partir daquela cultura que é considerada como o “berço da civilização
ocidental”: a Grécia, onde também a música fazia parte do dia a dia dos indivíduos,
seja nos cantos fúnebres, hinos nupciais, cantos de trabalho, cultos religiosos, etc.

O foco da educação grega antiga estava concentrado nos exercícios físicos, mas a
educação espiritual não poderia ser menosprezada. O filósofo grego Platão (427 – 347
a.C.), considerava a alma superior ao corpo. Por isso ele acreditava que a educação
através da música era muito importante para a formação do indivíduo bom, que por
sua vez colaboraria para o desenvolvimento da cidade ideal.

Para outro filósofo grego, Aristóteles (384 – 322 a. C.), a música representaria
sobretudo um prazer. Ele buscava critérios mais objetivos para avaliar a música. Se ela
é útil na educação do cidadão, deve-se estabelecer porque é educativa, como deve ser
ensinada, em que nível (profissional ou amador), se é suficiente escutá-la, quais modos
e ritmos são educativos ou não.

Uma das figuras centrais do período clássico grego foi Pitágoras (582 – 496 a. C.).
Segundo uma história, Pitágoras ao passar em frente a uma oficina de ferreiro, ouviu o
som de martelos de diferentes pesos que produziam sons que se combinavam. Para
pesquisar estes sons, ele teria esticado uma corda musical que produzia um som que
foi tomado como fundamental. Marcou a corda, dividindo-a em doze partes iguais,
criando um instrumento chamado mais tarde de monocórdio. Assim, Pitágoras e seus
seguidores formaram a escala diatônica de sete sons e determinaram
matematicamente as relações entre eles: o intervalo de uma oitava como sendo
referente a uma relação de 2:1, uma quinta em 3:2, uma quarta em 4:3, um tom em
9:1, etc.

O sistema musical grego, denominado “Grande Sistema Perfeito – Teleion” teria sido
elaborado por Aristóxeno de Tarento, no século IV a. C. Basicamente é uma escala em
duas oitavas descendentes, formada por quatro tetracordes que se inicia no lá3 indo
até o lá1 da nossa nomenclatura. Partindo-se os tetracordes das diferentes notas da
escala, teremos os modos ou o que os filósofos chamavam de “harmonia”.

Os gregos nomeavam as notas musicais por meio das letras do alfabeto. Quando os
sons eram escritos para instrumentos, usavam o alfabeto fenício. Depois passaram a
usar o alfabeto grego clássico para escrever a música vocal.
Os principais instrumentos musicais dos antigos gregos eram: flauta, áulos, diáulos,
trombeta (sopros); lira, cítara, harpa, tambura (cordas); címbalos, crotales e tambores
(percussão).

No ano de 146 a. C. os romanos tomam a Grécia e, apesar do declínio da cultura


helênica, eles assimilam grande parte dessa cultura, incluindo a música, adaptando-a
aos seus gostos e propósitos.

Não aconteceu nenhuma grande mudança. A música continuou sendo monódica,


modal e a rítmica seguia a métrica das palavras, como na antiga Grécia.

A música no Império Romano era uma atividade constante na vida do povo. Há relatos
da existência de grandes coros, orquestras e festivais musicais nos primeiros dois
séculos da era cristã. Porém com o passar do tempo e a crise econômica que se abateu
sobre o Império, essas grandes produções acabaram desaparecendo.

No ano de 476 d. C. ocorreu a queda do Império Romano do Ocidente ( o Império


Romano do Oriente continuou existindo até 1453, com sede em Constantinopla, atual
Istambul na Turquia). Razões econômicas, invasões bárbaras e instabilidade política
foram as principais causas do enfraquecimento do império ocidental. É o fim da
Antiguidade e o início da Idade Média.

IDADE MÉDIA.

Desde o ano de313, ainda no período imperial romano, com o Édito de Milão,
declarado pelos imperadores Constantino e Licínio, o cristianismo passou a ser
permitido entre outras religiões. Com a queda do império ocidental em 476, a igreja
cristã já havia consolidado a sua fé e sua moral, estabelecendo suas doutrinas, sua
hierarquia e sua liturgia. Conforme se expandia, tanto no oriente como no ocidente, ia
incorporando elementos musicais de várias regiões e culturas.

Porém, sendo as primeiras comunidades cristãs originárias do judaísmo e do


paganismo, podemos deduzir que o seu culto e sua música tiveram como base as
tradições judaicas, com salmos monódicos, embora não saibamos como exatamente
soavam.

Surgem os hinos que são uma influência da igreja oriental (Bizantina). Escritos do
século IV relatam que o canto dos hinos e salmos era executado por dois coros em
alternância (ANTÍFONA). Havia também a forma de RESPONSÓRIO que era um canto
executado alternadamente por um solista e coro.

A música religiosa antiga que conhecemos como cantochão tinha, portanto, uma
textura monofônica e consistia em melodias que fluíam livremente, quase sempre
dentro de uma oitava, desenvolvendo-se com suavidade , através de intervalos de um
tom. Os ritmos obedeciam as acentuações das palavras latinas. Em princípio não
possuíam acompanhamento de instrumentos.

Outra característica é o emprego das escalas modais (Modos Eclesiásticos).

Considerando somente as teclas brancas do piano, se tocarmos uma escala a partir da


nota ré até o ré oitava acima, teremos o Modo Dórico; de mi a mi teremos o Modo
Frígio; de fá a fá teremos o Modo Lídio; de sol a sol teremos o Modo Mixolídio; de lá a
lá teremos o Modo Eólio. As notas que iniciam essas escalas são chamadas de FINAIS.
São os modos Autênticos. Cada modo autêntico tem o seu correspondente Plagal.
Basta começar a escala uma quarta justa abaixo da nota final do modo autêntico, vai
até a oitava e teremos o modo plagal. Nesse caso, o prefixo “HIPO” é acrescentado ao
nome do modo. Exemplo: uma escala que vá de lá até lá, cuja nota final é ré, passa a
ser o modo Hipodórico e assim por diante.

Conforme a Igreja Católica ia se espalhando pela Europa, recebia influências culturais


dos diversos povos que iam sendo cristianizados, como já sabemos. Embora houvesse
práticas comuns, algumas diferenças resultaram em vários Ritos regionais no ocidente:

1. Rito Ambrosiano – Norte da Itália.

2. Rito Beneventino – Sul da Itália.

3. Rito Moçárabe ou Visigótico – Sul da Espanha.

4. Rito Galicano – Norte da França.

Exceto o Rito Ambrosiano, os demais desapareceram ou foram absorvidos pelo novo


canto estabelecido em Roma.

Com tantos ritos diferentes, surgiu a necessidade de uma reforma na música da Igreja ,
com o propósito de unificá-la. Essa reforma na liturgia foi iniciativa do Papa Gregório I,
que governou a Igreja de 590 até 604. Ele convocou um grupo de missionários e
cantores para difundir a nova liturgia e sua música por todas as dioceses. No campo
musical, implantou o sistema de modos descritos acima.

Porém, a reforma gregoriana não foi adotada imediatamente. Só quase duzentos anos
depois é que o chamado canto gregoriano ou cantochão foi oficializado pelo
Imperador Carlos Magno (742-814)

O repertório gregoriano foi favorecido pelo surgimento da chamada notação


neumática em meados do século IX . Passou por um longo desenvolvimento e é
vigente até hoje nas edições das partituras do canto gregoriano.

As notas eram designadas por letras do alfabeto latino ( A, B, C, D, E, F, G ) e não mais


pelas letras gregas. O monge beneditino Guido D´Arezzo (990-1050), passou a
denominar as notas através das sílabas de um hino a São João: Ut queant laxis,
REsonaris fibris, Mira gestorum, Famuli tuorum, Solve polluti, Labii reatum, Sancte
Ioanes. Mais tarde a sílaba Ut foi substituída por DO.

Estrutura Política e Social Medieval – Feudalismo.

A estrutura político-social da Idade Média que durou até meados do século XIII era o
feudalismo.

Feudo era uma porção de terra dominada por um senhor feudal ( duques, condes,
viscondes, cavaleiros, etc.) que tinha plenos poderes dentro de seus domínios. Era a
nobreza feudal.

O clero (membros da Igreja), também tinha grande poder e era responsável pela
proteção espiritual da sociedade. Não pagava impostos e arrecadava o dízimo, o que
tornou essa classe muito rica.

A terceira classe social era formada pelos camponeses (servos) e pequenos artesãos.
Os servos deviam pagar impostos aos senhores feudais e praticamente não tinham
direitos reconhecidos. Também não podiam ser donos de terras.

MÚSICA SECULAR – TROVADORISMO.

No final do século XI, passando pelos séculos XII e XIII, houve uma grande produção
musical em forma de canção produzida por poetas e músicos que no sul da França
(Provença) eram chamados de “troubadours” (trovadores) e no norte recebiam o
nome de “trouvères” (troveiros).

Podiam pertencer a qualquer estrato social, mas a sua arte era aristocrática e por isso
alcançavam alguma posição de destaque. Compunham a poesia e a música da qual
eram também os intérpretes. A influência desses artistas se expandiu por diversas
regiões da Europa.

Inspiravam-se nos conflitos sociais, nas Cruzadas, questões políticas, e principalmente


no amor. A extensão era de uma oitava e de estrutura modal. O ritmo poderia ser
livre, sem rigor de tempo ou também poderia obedecer a acentuação das sílabas
tônicas.

De acordo com o tema das obras pode-se classificar da seguinte maneira:

Chanson – canção de amor cortês com cinco a sete estrofes de oito versos.

Planctus – canção de lamento fúnebre.

Alba – canção dramática, onde os amantes devem se separar ao amanhecer.

Tenso – disputa , geralmente por amor, entre dois poetas.


Sirventes – sátira de caráter moral ou política;

Pastourelle – tema campestre, geralmente sobre a sedução de uma camponesa por


um nobre cavaleiro.

Compunham também canções com estrutura repetitiva, circular. A melodia se repetia


com mudança do texto. As mais comuns: Rondeau, Virelai, Ballade. (Formas fixas).

Grande parte das obras dos trovadores estão em coletâneas chamadas de


“cancioneiros”, fazendo parte do acervo de grandes bibliotecas francesas e italianas.

Principais trovadores: Guilherme IX da Aquitânia (1071-1127), Bernard de Ventadour


(?- 1180), condessa Beatriz de Dia (1140- 1175). Principais troveiros: Gace Brulé (1160-
1213), Thibaut de Champagne (1201-1253), Adam de la Halle (1240-1288), autor da
mais antiga música teatral – “Le jeude Robin et Marion”.

O trovadorismo, como foi dito, se espalhou pela Europa. Na Alemanha eram


conhecidos por “Minnesänger” (cantores do amor). Na Península Ibérica, grandes
senhores espanhóis e portugueses se dedicaram à arte do travadorismo como o rei
Afonso X, o sábio (Espanha 1221-1284) e em Portugal, João Soares de Paiva, autor da
cantiga de escárnio “Ora faz ost´o senhor de Navarra” composta em 1200.

Distinguiam-se dos trovadores os menestréis ou jograis que eram músicos ambulantes


que cantavam, dançavam e tocavam instrumentos variados. Ofereciam os seus
serviços aos senhores feudais em troca de comida e abrigo.

Em 1803 foi encontrado um conjunto de 254 melodias e textos escritos em latim,


provençal, e alemão antigo, na Abadia Beneditina de Beuron, Alemanha. Esse acervo
do cancioneiro medieval, em grande parte tem a autoria atribuída a monges errantes
anônimos que se desviaram da vida religiosa para percorrer a Europa em busca de
novos conhecimentos. Eram conhecidos como “goliardos”. Os textos têm caráter
festivo, satírico, moral, amoroso, erótico, com fortes críticas aos poderes constituídos
da época. Estes manuscritos são conhecidos como “Carmina Burana” (canções de
Beuron). Em 1936, o compositor alemão Carl Orff (1895-1982), musicou vinte e quatro
poemas, resultando numa cantata cênica com o mesmo nome.

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