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A percepção dos discentes do curso de Engenharia Ambiental da UFT –

Campus de Palmas sobre questões ambientais e agroecologia


The perception of Environmental Engineering Students of UFT –Palmas on
environmental issues and agroecology

SILVA, Rayele M.1; PEREIRA, Valéria de Sousa2; SILVA, Marcelo H. T.3;


NASCIMENTO, Rúbia O.4; BERALDO, Keile A.5 MENDONÇA, Rose M. G. 6
1
Universidade Federal do Tocantins, rayele.moraes@mail.uft.edu.br; 2Universidade Federal do
Tocantins, valeria.s.pereira@mail.uft.edu.br; 3Universidade Federal do Tocantins,
marcelotoscano@uft.edu.br; 4Universidade Federal do Tocantins, oliveira.rubia@mail.uft.edu.br;
5
Universidade Federal do Tocantins, keile@uft.edu.br; 6 Universidade Federal do Tocantins,
rosemary@uft.edu.br

Eixo temático: Educação Formal em Agroecologia

Resumo: Este trabalho tem o objetivo de apresentar os resultados de uma pesquisa


realizada pela equipe NEADS/UFT no Campus Universitário de Palmas com o intuito de
conhecer a percepção dos discentes do curso de Engenharia Ambiental da Universidade
Federal do Tocantins (UFT) sobre questões ambientais e agroecologia. Para tanto utilizou-
se métodos de investigação por amostragem, com abordagem qualiquantitativa. Os
resultados permitiram concluir que existe a percepção dos discentes do curso de engenharia
ambiental acerca questões ambientais ligadas a agroecologia, contudo a mesma deve ser
aprofundada abordando questões além das práticas produtivas.
Palavras-Chave: Construção de Conhecimento; Questões ambientais; Agroecologia.
Keywords: Knowledge Building; Environmental issues; Agroecology.

Introdução

Em 1981, foi promulgada a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (6938/81),


desde sua criação e regulamentação suas diretrizes passaram a ser uma exigência
para a solução dos problemas de degradação ambiental, mas, principalmente para
conservar e preservar os recursos naturais existentes.

A engenharia ambiental, como curso de graduação no Brasil, começou a sua


estruturação em 1991 no estado do Tocantins. Tendo em vista a necessidade de
mão-de-obra qualificada para tratar questões relacionadas com a proteção ambiental
e levando em consideração os ecossistemas brasileiros presentes no estado -
Cerrado, Floresta Amazônica, Pantanal e Caatinga, que o caracterizam como uma
região de ecótonos.

Desde a portaria de criação da área de conhecimento Engenharia Ambiental no


MEC em dezembro de 1994 fica claro o caráter multidisciplinar e interdisciplinar,
tornando-o capaz de elaborar estudos, projetos e obras destinadas a preservar e
restabelecer o meio ambiente a partir de modelos economicamente sustentáveis e
políticas ambientais abrangentes.

Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 - Anais do XI Congresso Brasileiro de


Agroecologia, São Cristóvão, Sergipe - v. 15, no 2, 2020.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação no. 9394/96 do Brasil (LDB), evidencia a
necessidade de se pensar na regulamentação da formação a partir de uma base
comum nacional, ampliando e aprofundando os estudos e proposições que têm sido
desenvolvidos nesse campo.

Visando encontrar lacunas de conhecimento e propor ações para ampliar as


habilidades dos alunos da Engenharia Ambiental da UFT quanto a agroecologia, os
discentes participantes do Núcleo de Estudos em Agroecologia e Desenvolvimento
Sustentável – (NEADS/UFT) no Campus Universitário de Palmas realizaram o
seguinte questionamento: “Como os discentes do curso de engenharia ambiental da
UFT percebem as questões ambientais e relação com a agroecologia? ”.

A percepção ambiental é conceituada neste trabalho como sendo "uma tomada de


consciência do ambiente pelo homem," ou seja, como se auto define, perceber o
ambiente que se está localizado, aprendendo a protegê-lo e cuidá-lo da melhor
forma (FAGGIONATO, 2019). Da percepção da crise do padrão moderno de
agricultura emergiu a discussão sobre a necessidade de promover estilos
alternativos de agricultura. Dentre um desses estilos está a agroecologia, cujos
princípios e métodos pretendem desenvolver uma agricultura que seja
ambientalmente consistente, altamente produtiva e economicamente viável
(RITTER, 2011).

Partindo desse contexto, Altieri (2012), afirma que Agroecologia é uma ciência
fundamentada segundo os princípios ecológicos voltados para um desenvolvimento
rural sustentável por meio da conservação dos recursos naturais e tecnologias
adequadas ao pequeno agricultor, proporcionando um sistema de produção
ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. O que se
encaixa no objetivo principal que é a formação de profissionais com competências e
habilidades para atuarem na área de Planejamento, Tecnologia Ambiental, Gestão e
Monitoramento do Meio Ambiente do Projeto Pedagógico do Curso de engenharia
ambiental da UFT.

De acordo com Beraldo et al. (2019) o conceito de agroecologia é frequentemente


associado apenas com a simples adoção de práticas ou tecnologias agrícolas
ambientalmente mais adequadas. Entretanto, entende-se que seu significado é
muito amplo e bem mais profundo, pode-se considerar a Agroecologia como uma
ciência que corresponde fundamentalmente a um campo de conhecimentos de
natureza multidisciplinar que agasalha as mais diversas acepções e suscita uma
infindável discussão epistemológica (MACHADO e MACHADO, 2014).

Assim, o perfil profissional do engenheiro proposto pela comissão de especialistas


de engenharia SESU/MEC o torna apto a desenvolver ações em Agroecologia. Pois
o profissional desse perfil deve ter uma sólida formação técnico-científica e
profissional geral que o capacita a absorver e desenvolver novas tecnologias,
estimulando sua atuação crítica e criativa na identificação e resolução de problemas,
considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais,

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com visão ética humanística em atendimento às demandas da
sociedade (CNE/CSE, 2001).

Metodologia

Neste trabalho utilizou-se métodos de investigação por amostragem, com


abordagem qualiquantitativa, cujo objetivo não foi descrever os indivíduos que
tenham sido contemplados na amostra, mas obter um perfil estatístico da percepção
dos mesmos sobre agroecologia (GIL,2009) que era o questionamento motivador da
pesquisa.

O estudo foi realizado com os acadêmicos do curso de Engenharia Ambiental da


Universidade Federal do Tocantins (UFT), Campus Palmas, no período de abril e
maio de 2019. O levantamento baseou-se na aplicação de um questionário com
cinco questões de múltipla escolha conforme Hoffmann (2009), executado por meio
eletrônico, em que 112 indivíduos responderam de forma voluntária. A partir das
respostas dos discentes foi possível fazer algumas observações relatadas a seguir.

Resultados

Sobre o tema a agroecologia, o que se observou foi que a maioria já ouviu falar na
universidade (60,7%). A resposta reflete que o trabalho realizado pelo NEAD’s junto
com os discentes tem elevado o público que tem acesso a essa informação. E
denota também que o tema tem sido abordado nos meios de comunicação e nas
famílias com 21,4% e 7% respectivamente. Revelando ainda que há uma parcela da
população preocupada com as questões ambientais o que torna a abordagem
atrativa nos meios de comunicação. Mas existe uma boa parcela a ser trabalhada,
pois 10,7% não ouviu falar do termo.

Quanto a agroecologia, 43,2% das respostas indicaram que é um recurso que usa a
agricultura como meios menos agressivos ao ambiente e 32,7% que é a técnica que
exclui o uso de agrotóxicos para a produção agrícola. O resultado descrito evidencia
percepção ambiental em relação as boas práticas da Agroecologia. Contudo fica
claro que há uma necessidade de difundir outros preceitos agroecológicos tais
como: uma alternativa para o desenvolvimento rural sustentável como descrito por
Altieri (2003) ou uma alternativa econômica capaz de para alcançar mercados de
produtos diferenciados com melhores preços para agricultura familiar conforme
citado por Casalinho (2003).

No questionamento “em sua Universidade já houve algum trabalho relacionado a


agroecologia” a porcentagem foi bem equilibrada em sim e talvez com 47,3% e
44,6% respectivamente, o que demonstra a presença das ações do Núcleo de
Estudos em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável – (NEADS/UFT). Contudo
o grupo tem que divulgar melhor as ações rodas de conversa, mutirões, oficinas e
visitas técnicas para elevar a percepção sobre a temática.

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A visão dos discentes em relação à pergunta de “como imaginam a agricultura do
futuro?” Foram bem dispersas sendo: 30,6% responderam que será baseada nos
princípios da agroecologia; 31,5% que será totalmente tecnificada; 25,2% que
ocorrerá extrema valorização dos produtos orgânicos e livre dos transgênicos; e por
último 12,6% de que será concentrada em grandes fazendas. Os entrevistados
indicam uma tendência do avanço dos produtos agroecológicos e orgânicos, livres
de transgênicos no futuro. Refletindo uma intenção de aprofundar nas discussões,
pesquisas e estudos do sistema agroalimentar, modos, escalas de produção,
relação entre produtores e consumidores conforme relatado por Cruz e Schneider
(2010).

Ressalta-se quando questionados se conheciam algum produtor rural agroecológico


a grande maioria (74,10%) afirma não conhecer qualquer produtor agroecológico
denotando a necessidade de maior aproximação do público entrevistado com o
agricultor. Indicando a necessidade do retorno da feira no campus e visita de às
propriedades. É importante salientar que no estado do Tocantins ainda não há
produtores certificados, somente em transição para o modelo de produção com
tecnologias sustentáveis.

Por fim, o questionamento “já consumiu algum produto agroecológico?” Revela que
59,8% afirmam que sim. Esse número é elevado, mas reforça a necessidade da
continuidade do trabalho do NEADS/UFT, principalmente na aproximação produtor
consumidor. Tais ações já foram mencionadas anteriormente e visam esclarecer e
conscientizar sobre a produção e o consumo de produtos oriundos da agricultura
familiar de forma sustentável promovendo o equilíbrio e a conservação dos recursos
naturais, e fomentando a economia local.

Conclusão

O resultado da pesquisa revelou que a temática tem sido abordada. E que mais de
50% do público entrevistado consumiu produto agroecológico e que
aproximadamente 1/3 dos entrevistados acredita no avanço de mercado dessas
práticas. A pesquisa revelou a necessidade do aprofundamento da abordagem da
Agroecologia para além das práticas produtivas, mas também considerando
aspectos sociais e econômicos com os discentes da Engenharia Ambiental da UFT.
E o grupo NEADS deve enfatizar suas ações com esses discentes destacando que
os mesmos estão em uma região de transição de biomas a porta da Amazônia e
inseridos no contexto de uma nova fronteira agrícola e que as práticas agroecologia
permitem o desenvolvimento rural sustentável com fomento da agricultura familiar.
Isso posto, por entender ser uma importante agenda não só de pesquisa, como
também de ensino e extensão, se recomenda uma maior inserção em projetos junto
à comunidade rurais produtoras de alimentos com tecnologias sustentáveis de
produção.

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Referências Bibliográficas

ALTIERI, M. Bases científicas para uma agricultura sustentável. São Paulo.


Expressão popular, 2012.

BERALDO, K. A. MENDONÇA, R.M.G.; MELO, J.A.; BRITO, S.C. D. Feira


Agroecológica na Universidade Federal do Tocantins in Meio ambiente,
sustentabilidade e agroecologia – Ponta Grossa (PR): Atena Editora, 2019. (Meio
Ambiente, Sustentabilidade e Agroecologia; v. 3).

CASALINHO, H. D. Qualidade do Solo como Indicador de Sustentabilidade em


Agroecossistemas. Tese (Doutorado em Agronomia) – Faculdade de Agronomia,
Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. 2003. 193f.

CRUZ, F. T.; SCHNEIDER, S. Qualidade dos alimentos, escalas de produção e


valorização de produtos tradicionais. Revista Brasileira de Agroecologia, Porto
Alegre/RS p 22-38, 2010.

MEC/CNE. Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Engenharia. Parecer


CNE/CES 1.362/2001 de 12/12/2001. Diário Oficial da União, 25/06/2019

FAGGIONATO S. Percepção ambiental. Disponível em:


https://ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/artigos/percepcao_ambiental.htm.
Acesso em 12 de junho de 2019

GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

HOFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-


escola à universidade. Porto Alegre: Mediação, 2009.

MACHADO, L. C. P.; MACHADO FILHO, L. C. P. Dialética da agroecologia. São


Paulo: Expressão Popular, 2014.

RITTER, Alexander. Agroecologia Desenvolvimento Sustentável e Educação


Ambiental. CAPES/IFRS– Câmpus Sertão, Sertão, 2011.

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