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Mário Lúcio Lopes, Dinailson Corrêa Campos, Fernando Henrique

Carvalho Giometti, Bruno Sattolo, Claudemir Domingues Bernardino,


Henrique Berbert Amorim Neto, Henrique Vianna de Amorim

Broca da cana: Impacto na indústria


Prejuízos causados pela broca vão muito além do canavial

1º Edição

Piracicaba
Fermentec
2016
Broca da cana: Impacto na indústria
Prejuízos causados pela broca vão muito além do canavial

Broca da cana: Impacto na indústria


Prejuízos causados pela broca vão muito além do canavial
Mário L. Lopes, Dinailson C. Campos, Fernando H. C. Giometti, Bruno Sattolo, Claudemir D.
Bernardino, Henrique B. Amorim Neto, Henrique V. Amorim

RESUMO
As perdas causadas pela infestação da broca (Diatraea saccharalis) não estão restritas ao
canavial. Os prejuízos se estendem para a indústria onde podem ser subestimados diante das
dificuldades em relacionar os danos indiretos com os índices de infestação da cana. O
impacto da broca na indústria depende do índice de infestação que pode variar de uma safra
para outra e entre diferentes regiões. As perdas estão relacionadas com o aumento da
contaminação por microrganismos, inversão da sacarose e redução da pureza da cana,
diminuição do pH, formação de dextrana, ácidos orgânicos e compostos de cor que vão
interferir na qualidade e na recuperação do açúcar. A infestação da cana por broca também
afeta o desempenho da fermentação e o rendimento geral da destilaria. Além de reduzir o
rendimento industrial, a cana infestada por broca eleva os custos de produção,
principalmente de insumos como cal, ácido sulfúrico, antibióticos e antiespumantes. Nos
estudos de casos realizados, para cada 1% de aumento na infestação foram observadas
perdas de 7,78 Kg ATR/ton cana, assim como, perdas de 3,63 Kg açúcar/ton cana e 5,2 L
etanol/ton cana. Além disso, foram observadas reduções na eficiência industrial avaliada
pelo RTC (1,48%), no recuperado de fábrica SJM (0,5%), no rendimento geral da destilaria
(0,19 e 2,08%) e nos insumos: cal (46,2g/saco açúcar 50kg), antiespumante (0,37g/L etanol),
ácido sulfúrico (0,42g/L etanol) e antibióticos (1,81 mg/L etanol).

INTRODUÇÃO
Os índices de infestação e prejuízos causados pela broca (Diatraea saccharalis) nos canaviais
têm sido bem documentados ao longo dos últimos 50 anos (Gallo 1965, Stupiello & Moraes,
1974, Blumer 1992, Rossato Júnior et al. 2011). A broca abre galerias no colmo que favorecem
a contaminação por microrganismos, reduzem o peso da planta, causam tombamento, morte
do meristema apical (coração morto) e queda de produtividade (Stupiello 2002). A broca afeta
não somente a produtividade agrícola. Prejudica também a recuperação e a qualidade do
açúcar. Entretanto, informações a respeito do impacto da broca na indústria ainda são muito
pouco documentadas na literatura.

A infestação por broca está associada ao aumento de microrganismos contaminantes na


produção de açúcar e na fermentação alcoólica. Ao formar galerias no colmo da cana a broca
permite a contaminação por fungos que causam a podridão vermelha, assim como, a
contaminação por bactérias e leveduras que convertem os açúcares em outros compostos

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como a dextrana e álcool (Amorim et al. 2000). A dextrana tem um impacto negativo na
recuperação do açúcar e na qualidade do produto final. Uma cana com índices elevados de
infestação por broca traz para a indústria uma contaminação maior de bactérias e leveduras
que adentram o processo industrial causando prejuízos na fábrica e na destilaria. Entretanto,
um dos grandes desafios a respeito do controle da broca tem sido demonstrar o seu impacto
dentro da indústria e quantificar as perdas indiretas causadas na produção de açúcar e etanol.
Por falta de informações atualizadas muitos produtores acreditam que os danos causados pela
broca estão restritos ao campo quando na verdade se estendem para dentro da indústria.

Desta forma, pretende-se conscientizar os produtores para a necessidade de um melhor


manejo da broca da cana visando minimizar as perdas causadas por essa praga durante todo o
processo de produção do açúcar e do etanol.

OBJETIVOS
Correlacionar dados de infestação e perdas causadas pela broca na indústria (açúcar e
fermentação), abrangendo os seguintes temas:

a) Relacionar as perdas técnicas causadas pela broca e seu impacto na indústria.


b) Quantificar as perdas e correlacioná-las para cada 1% de Índice de Infestação de broca.
c) Mensurar o impacto econômico considerando os preços atuais dos produtos vendidos.

METODOLOGIA

Fonte de dados
As análises basearam-se no levantamento de informações do banco de dados da Fermentec nos
últimos 15 anos. Este banco reúne informações sobre o boletim industrial de médias semanais
de mais de 80 usinas de todo o país. Os dados são verificados e validados pela equipe de
especialistas da Fermentec. Foram consultados os relatórios de avaliação de safra e o boletim
industrial de médias semanais.

Os índices máximos de infestação por broca em diferentes regiões foram obtidos a partir das
safras 2012/13 a 2016/17. Estes resultados foram organizados em 8 regiões produtoras.

Principais parâmetros analisados


Para avaliar o impacto da broca na indústria foram realizados estudos de casos em 10 usinas e
destilarias tendo sido considerados os seguintes parâmetros:

• Rendimento em açúcar (kg/ton cana)


• Rendimento em etanol (L/ton cana)
• Recuperado Total Corrigido (%)
• Recuperado de Fábrica (SJM)
• Rendimento Geral da Destilaria (%)
• Consumo de insumos para produção de açúcar e etanol

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Análises estatísticas
O impacto causado pela broca nas indústrias foi obtido a partir das análises de correlação e
regressão das médias semanais do boletim industrial. Para as análises de correlação (r) foram
utilizados índices superiores a 0,6 e níveis de significância de 5% e 1%.

Avaliação do impacto técnico e econômico


O impacto técnico causado pela infestação por broca foi avaliado a partir de estudos de casos
sobre as perdas nos rendimentos industriais e consumo de insumos para produção de açúcar e
etanol. O índice de infestação por broca foi definido como sendo:

Índice de infestação da cana (%) = (entrenós brocados / entrenós totais) x 100

O impacto econômico foi estabelecido com base nos preços atuais (CEPEA 2016) do açúcar cristal
branco (R$ 85,85/saco 50Kg) e etanol anidro (R$ 1,73/L). Para este trabalho foram considerados
os preços referentes a cal dolomítica (R$ 247,00/ton), antibiótico a base de monensina (R$
334,00/Kg), ácido sulfúrico (R$ 500,00/ton) e antiespumante (R$ 7,35 / Kg). As conversões
tomaram por referência a moagem de 2.000.000 de toneladas de cana por safra, açúcar total
recuperável (ATR) de 133 kg/ton cana e uma produção de 156.000m3 de etanol anidro. Para as
análises de produtividade foram utilizados valores de 78 L de etanol anidro/ton cana e 80 ton
cana/ha, o que corresponde a 6.240 L etanol anidro/ha.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Evolução das infestações e perdas agrícolas


Entre 2004 e 2011, os índices médios de infestação por broca aumentaram de 2 para 4% (Figura
1). Este aumento tem sido relacionado principalmente com as mudanças na colheita da cana
(Amorim 2013). Com o avanço nas práticas de controle e uso de novos produtos, os índices de
infestação têm se mantido em torno de 3%. Apesar disso, muitas usinas trabalham com índices
bem mais elevados durante a safra. As variações entre safras e diferenças regionais nos índices
máximos de infestação por broca estão demonstradas na Tabela 1. Estes números representam
os índices mais elevados de infestação obtidos a partir de um levantamento realizado em oito
regiões produtoras de cana. Nos últimos anos, usinas em diferentes regiões têm trabalhado
com índices de infestação acima de 5% na média da safra.

Os índices de infestação por broca estão diretamente relacionados com perdas agrícolas. De
acordo com Gallo et al. (2002), para cada 1% de índice de infestação ocorreriam prejuízos de
0,77% em peso ou 0,25% em açúcar e 0,20% em álcool. Entretanto, estudos publicados mais
recentemente por Almeida (2016) e Dinardo-Miranda et al. (2013) apontam que a broca causa
perdas na produção agrícola de colmos que vão desde 1,21% a 2,90% a cada 1% de infestação.
Resultados obtidos a partir de usinas clientes Fermentec na safra 2011/12 mostram que as
perdas na produção de colmos devido a broca podem chegar a 2,85 ton/ha, o que corresponde
a 400 kg de ART/ha ou o equivalente a 230 litros de etanol/ha para cada 1% de infestação.
Estendendo-se estes números para a área total de cana-de-açúcar e utilizando-se um índice de
infestação de broca médio chega-se em perdas econômicas da ordem de bilhões de Reais a
cada ano causadas por esta praga.

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Figura 1. Índice médio de infestação da cana por broca em 8 regiões produtoras obtido a partir
de 2004 até a presente safra (setembro 2016).

Tabela 1. Índices máximos de infestação por broca observados em diferentes regiões

Regiões
Safra
R1 R2 R3 R4 R5 R6 R7 R8
2012/13 3,32 1,74 7,94 7,62 7,20 4,10 2,24 1,64
2013/14 5,79 1,68 5,05 5,19 7,84 6,02 2,53 4,37
2014/15 4,91 2,51 5,42 4,15 6,31 6,60 3,80 1,67
2015/16 3,69 9,26 3,45 3,00 3,36 5,04 2,16 2,78
2016/17* 4,61 5,94 4,70 3,80 4,95 4,55 2,88 2,10
R1= norte do Paraná e São Paulo, R2= Piracicaba-SP, R3= Ribeirão Preto-SP, R4= São José do Rio Preto-SP, R5=
Araçatuba-SP, R6=Goiás, R7= Mato Grosso do Sul, R8= Mato Grosso
* Levantamento realizado com dados obtidos até 02/09/2016

Por que os índices de infestação aumentaram? O que aconteceu neste período? Dentre os
fatores que contribuíram para o aumento da infestação por broca estão a colheita mecanizada
e o uso de variedades comerciais mais suscetíveis à broca (Amorim 2013, Dinardo-Miranda et
al. 2013). Neste período a broca ganhou espaço, adaptando-se muito bem às novas condições
no campo e medidas mais efetivas de controle tiveram de ser adotadas nos últimos anos para
deter o seu avanço. O fato é que estamos convivendo com uma praga que devasta o canavial,
reduz drasticamente a produtividade no campo e prejudica o desempenho da indústria se não
for devidamente controlada.

Além da quebra na produtividade (ton cana/ha), as perdas causadas pela broca estão
diretamente relacionadas com a redução na concentração de açúcares na cana. O estudo de
caso realizado em uma unidade industrial demonstrou que a infestação por broca variou de
1,98 a 6,56% ao longo da safra. Dentro deste intervalo, para cada 1% a mais de infestação houve
uma redução de 7,78 Kg ATR por tonelada de cana. Se considerarmos uma moagem de

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2.000.000 de toneladas de cana por safra isso significa uma perda de 15.560.000 Kg ATR para
cada 1% a mais de infestação. Tal perda representa uma área equivalente a 1.462 ha. Esta perda
de ATR tem um impacto direto no pagamento da cana aos fornecedores e não considera as
perdas indiretas que ocorrem na recuperação do açúcar e na fermentação. Mesmo em baixos
índices de infestação os danos causados pela broca podem ser intensificados pelas condições
climáticas (temperatura ambiente, umidade relativa do ar, períodos de seca), assim como, pelo
uso de variedades mais suscetíveis, danos causados em diferentes partes do colmo, ataque
conjunto de broca e de outras pragas como a cigarrinha (Ruinard 1971, Rossato Junior 2012,
Dinardo-Miranda et al. 2013). Os danos causados pela broca não se restringem apenas a
redução de tamanho e peso do entrenó brocado, do seu teor de caldo e sacarose. Também há
um efeito marcante sobre os demais entrenós do mesmo colmo. Este efeito pode variar de
acordo com a idade da planta e em relação a diferentes partes do colmo. A qualidade do caldo
dos entrenós sadios diminui além de afetar o número, desenvolvimento e o peso médio dos
mesmos (Ruinard, 1971).

Figura 1. Correlação entre o índice de infestação por broca e ATR. Para cada 1% a mais no índice
de infestação houve uma redução de 7,78 Kg de ATR da cana o que representa uma perda de
15.560.000 kg de ATR para uma moagem de 2.000.000 ton de cana. (** significativo a 1%)

O aumento do índice de infestação causa uma perda direta de produtividade no campo, assim
como na concentração de açúcares da cana. Entretanto, em muitos casos, as perdas na
indústria são difíceis de serem avaliadas pelas seguintes razões:
a) o índice de infestação não é medido corretamente,
b) os prejuízos causados se confundem com outros fatores que afetam a indústria,
c) a intensidade dos danos pode variar em decorrência das temperaturas máxima e
mínima, chuvas, teor de fibra da cana, tempo entre colheita e moagem, variedades, se é cana
planta ou soqueira e se a indústria vai produzir somente etanol ou um mix de açúcar e etanol.

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Os prejuízos causados pela broca na indústria também estão sujeitos às variações dos índices
de infestação de uma safra para outra ou mesmo entre regiões diferentes e de como a indústria
se prepara para processar uma cana com broca. O trabalho realizado em uma destilaria cliente
avaliou as diferenças entre cana sadia (sem broca) e cana com diferentes índices de infestação.
Com base no teor de álcool dos respectivos caldos foi demonstrado que a cana brocada
apresentou uma perda estimada em 3,46 kg ART/ton cana contra 0,62Kg ART/ton da cana sadia.
Esta diferença nos resultados pode ser explicada pela contaminação por microrganismos.
Houve aumento da acidez do caldo, diminuição do pH e maior concentração de etanol na cana
brocada, como demonstrado na Tabela 2.

Tabela 2. Comparação do caldo obtido de cana sadia e cana infestada por broca
Cana sadia Cana com broca
Bactérias (bastonetes/mL) 2,3 x 105 4,8 x 106
Acidez (g H2SO4/mL) 0,51 2,60
pH do caldo 5,65 3,39
Álcool (%) 0,040 0,224
ART perdido (kg/ton)* 0,62 3,46
* Em função da quantidade de álcool produzido no campo pelos microrganismos

Em relação à agrícola, os prejuízos podem ser ainda maiores se houver redução da


produtividade em tonelada de cana por hectare. Pesquisa realizada por Dinardo-Miranda et al
(2013) com 10 variedades de cana inferiu que uma diferença de 3,5% entre os índices de
intensidade de infestação entre as parcelas causou uma redução de 11,4% na produtividade
em pol/ha. Assim, cada 1% de entrenós brocados levou a uma redução de 3,3% na
produtividade (pol/ha). Se aplicarmos esta perda para uma moagem de 2.000.000 ton cana e
uma pol de 11 ton/ha, cada 1% de infestação representa uma perda de 363 kg de pol/ha ou 4,54
Kg/ton cana. É importante destacar que estes resultados não consideram as perdas indiretas
devido ao processamento da cana pela indústria.

Impacto da broca na indústria: rendimento em açúcar e etanol


Os prejuízos causados pela broca da cana não se limitam apenas ao campo. Perdas expressivas
de açúcar e álcool ocorrem na indústria devido à infestação da cana por broca. As Figuras 3 e 4
mostram dois estudos de casos que avaliaram a redução da produtividade em açúcar e etanol
por tonelada de cana. Mesmo depois da cana ter sido moída na indústria para extração do caldo,
os efeitos da broca persistem de forma indireta, devido a perda da qualidade da cana. Estas
perdas podem ser agravadas quando a broca estiver associada à podridão vermelha causada
pelos fungos Colletotrichum falcatum e Fusarium moniliforme causando inversão da sacarose
(Almeida 2016).

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Dentre os parâmetros para avaliar o impacto das infestações por broca estão os rendimentos
em açúcar e etanol por tonelada de cana. Estes rendimentos são resultantes da produtividade
agrícola e industrial. A usina pode ter bons resultados no campo, mas se a indústria não
conseguir recuperar o açúcar, perde em eficiência e a produtividade agroindustrial cai. O
rendimento, medido desta forma, representa as perdas diretas e indiretas na produção de
açúcar e etanol. A Figura 3 mostra o impacto da broca no rendimento em açúcar por tonelada
de cana em uma usina com índices de infestação que variaram entre 4 e 12,3% ao longo da
safra. Os resultados obtidos demonstram que para cada 1% no índice de infestação houve uma
redução no rendimento em açúcar de 3,63Kg/ton cana ou 290,4 Kg/ha. Isso corresponde a uma
perda equivalente de 7.260.000 Kg de açúcar (145.200 sacos de açúcar 50 Kg) para uma
moagem de 2.000.000 de toneladas de cana, o que representa um prejuízo de R$
12.465.420,00 na safra. Estas perdas causadas pela broca no campo e na indústria equivalem a
uma área de 682 ha a cada 1% de intensidade de infestação de broca.

Figura 3. Correlação entre o índice de infestação por broca e a produtividade em Kg açúcar/ton


cana. Esta produtividade é resultante do rendimento agrícola e industrial. Para cada 1% a mais
de infestação houve uma redução de 3,63 Kg de açúcar/ ton cana o que representa uma perda
de 7.260.000 Kg de açúcar para uma moagem de 2.000.000 de toneladas de cana por safra.

Por sua vez, a Figura 4 demonstra as perdas causadas pela broca na produção de etanol em
outra unidade industrial. Neste estudo de caso, os índices de infestação variaram de 2 a 6,5%.
Para cada 1% de infestação houve uma redução de produtividade de 5,2 L/ton cana ou 416
L/ha, o que representa uma perda de 10.400.000 L etanol para uma destilaria que processa
2.000.000 de toneladas na safra ou um prejuízo de R$ 17.992.600,00. Esta perda devido a broca
equivale a uma área de cana de 1.667 ha para cada 1% de intensidade de infestação de broca.
Esta redução na produtividade considera não só as perdas equivalentes em etanol (L/ton)
decorrentes da infestação no campo, mas também, as perdas na indústria. Em uma série de
pesquisas realizadas sobre as perdas causadas pela broca foi demonstrado que as infestações
por Diatraea saccharalis reduziram o Brix, o teor de sacarose, pureza da cana e aumentaram a
porcentagem de fibras e de açúcares redutores (Valsechi et al. 1976, Blumer 1992). Para uma
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infestação de 10% foi estimada uma perda de 3,09 Kg / 100 Kg de Pol. De acordo com os
resultados obtidos por Precetti e colaboradores em 1988, para cada 1% de infestação foi
estimada uma perda em etanol de 62 L/ha (Figueiredo et al. 2008). Segundo Ruinard (1971), as
perdas de rendimento devido a broca podem alcançar 1% do açúcar para cada 1% de
infestação, sem considerar perdas adicionais na indústria. Porém, tem sido demonstrado que
as perdas médias podem ser bem maiores, atingindo 3,3% da produtividade (pol/ha) a cada 1%
de infestação (Dinardo-Miranda et al. 2013).

Figura 4. Correlação entre o índice de infestação por broca e a produtividade em L etanol/ton


cana. Esta produtividade é resultante do rendimento agrícola e industrial. Para cada 1% a mais
de infestação houve uma redução de 5,2 L/ton cana o que representa uma perda de 10.400.000
L de etanol para uma destilaria que processa 2.000.000 de toneladas de cana por safra.

Além disso, os microrganismos que contaminam a fermentação e competem com as leveduras


pelos açúcares do mosto diminuem o rendimento geral da destilaria (Amorim et al. 2000).
Blumer (1992), estudando o complexo broca/podridões, verificou que a interação da broca com
microrganismos contaminantes intensifica a formação de metabólitos que prejudicam a
fermentação alcoólica. Os colmos infestados transportam para dentro da indústria os ácidos
orgânicos e compostos fenólicos que vão compor o caldo e o melaço. Estes compostos afetam
negativamente o processo fermentativo e o rendimento industrial (Stupiello 1999). Para
determinar com maior especificidade os prejuízos causados na indústria é preciso avaliar outros
indicadores tais como, o Recuperado Total Corrigido (RTC), a Recuperação de Fábrica (SJM) e o
Rendimento Geral da Destilaria (RGD).

Recuperado Total Corrigido (RTC)


O RTC é utilizado por muitas usinas para medir a eficiência do processo industrial quanto ao
percentual de recuperação do açúcar contido na cana. Ou seja, quanto a usina conseguiu
recuperar de açúcar e etanol em relação ao açúcar entrado na indústria. As variações que
ocorrem no RTC durante a safra permitem identificar e avaliar o impacto de diversos fatores
que prejudicam o desempenho na produção de açúcar e etanol, dentre eles a infestação da
cana por broca como demonstrado na Figura 5.
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Os dados obtidos a partir de uma unidade industrial mostram uma correlação negativa entre o
índice de infestação e o RTC. Para cada 1% de infestação houve uma redução de 1,48% do RTC.
Isso significa uma perda de 2.309.000 L de etanol no processamento de 2.000.000 de toneladas
de cana por safra. O prejuízo com tal perda é de R$ 3.994.570,00 e equivale a uma área de cana
de 370 ha. Na safra 2015/16 as 10 usinas com maior eficiência industrial dentre 44 unidades
avaliadas pela Fermentec apresentaram um RTC médio de 93,97%±0,32 para uma infestação
de 1,82%±0,83 contra um RTC médio de 91,39%±1,90 e uma infestação por broca de 2,81%±1,52
para as demais unidades industriais. A diferença entre os dois grupos foi de 2,58% no RTC e
0,99% no índice médio de infestação da cana por broca.

Figura 5. Correlação entre o índice de infestação por broca e o RTC. Para cada 1% de infestação
houve uma redução de 1,48% da eficiência industrial o que representa uma perda de 2.309 m3
de etanol para uma destilaria que produz 156.000 m3 de etanol por safra.

Recuperado de Fábrica (SJM)


Na produção do açúcar um dos indicadores para avaliar o rendimento da indústria é o
Recuperado de Fábrica SJM. A recuperação do açúcar depende da qualidade da cana (Amorim
et al. 2000). A cana infestada por broca aumenta a contaminação por microrganismos trazendo
prejuízos adicionais com a perda de qualidade. Dentre os principais produtos do metabolismo
bacteriano que afetam a indústria está a dextrana. O aumento das concentrações de dextrana
no caldo está diretamente relacionado com o aumento da viscosidade do caldo e dificuldade
de recuperação da sacarose. Tal efeito pode ser demonstrado pela Figura 6. A fábrica passa a
fazer mais melaço devido à redução na eficiência industrial. Para cada 100 ppm/Brix de
dextrana no caldo houve uma redução de 1,15% no recuperado de fábrica SJM. Além da
dextrana, outros fatores também afetam a recuperação do açúcar pela indústria, dentre eles a
pureza da cana, a contaminação por microrganismos, os teores de dextrana e amido, teor de
fibra e embebição.

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Por sua vez, a broca afeta a qualidade da cana. Ao formar galerias longitudinais a broca provoca
não apenas a perda em açúcar, mas também abre espaço para a contaminação por
microrganismos. Tal contaminação provoca a inversão da sacarose e redução da pureza da cana.
Devido a contaminação é possível avaliar a perda de açúcares a partir da redução da pureza da
cana, do aumento dos açúcares redutores, dextrana, pH e pelas concentrações de álcool no
caldo PCTS que não será recuperado pela indústria.

As variações nas concentrações de dextrana ao longo da safra estão relacionadas com a


infestação da cana como demonstrado pela Figura 7. Para cada 1% no índice de broca houve
um aumento na concentração de dextrana de 31 ppm/Brix. Também ficou demonstrado na
Figura 8 o efeito da broca no recuperado de fábrica SJM. Para cada 1% de broca houve uma
redução de 0,50% no SJM o que equivale a uma perda de 1.330 toneladas de açúcar (26.600
sacas de 50kg) para uma moagem de 2.000.000 de toneladas de cana por safra. O prejuízo
corresponde a R$ 2.283.610,00 para cada 1% a mais de broca na cana. O açúcar que não foi
recuperado pela fábrica seguirá para fermentação através do melaço. Se descontarmos a
recuperação na forma de etanol, então, o prejuízo será de R$ 942.760,00 para cada 1% de
broca.

Figura 6. Correlação entre dextrana e recuperado de fábrica SJM. Para cada 100ppm/Brix no
aumento de dextrana na cana houve uma redução de 1,15% no Recuperado de Fábrica SJM.

Associado à contaminação dos colmos brocados também pode ocorrer a morte dos ponteiros,
ou coração morto. Isso favorece a contaminação bacteriana, a inversão da sacarose (redução
da Pol), a formação de dextrana, a produção de ácidos orgânicos e diminuição do pH do caldo.
A cana se deteriora rapidamente, piorando ainda mais a recuperação dos açúcares pela fábrica.
Tal combinação de fatores é favorecida pela infestação por broca que indiretamente aumenta
as perdas de açúcar na indústria. Por sua vez, os caldos contaminados demandam um consumo
maior de cal para neutralização e maior tempo de clarificação (Gallo & Campos, 1991).

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Figura 7. Correlação entre o índice de infestação por broca e dextrana na cana. Para cada 1% a
mais de infestação houve um aumento de 31 ppm/Brix na dextrana da cana.

Figura 8. Correlação entre o índice de infestação por broca e a recuperação de açúcar pela
fábrica. Para cada 1% de infestação na cana houve uma redução de 0,50% no Recuperado de
Fábrica SJM o que representa uma perda de 1.330 toneladas de açúcar (26.600 sacos de açúcar
50 kg) por safra para um processamento de 2.000.000 de toneladas de cana.

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Rendimento Geral da Destilaria (RGD)
A infestação da cana por broca tem um efeito indireto no Rendimento Geral da Destilaria.
Muitas vezes este efeito pode passar despercebido ou ser ignorado por conta de outros fatores
que atuam simultaneamente na indústria. O Rendimento Geral da Destilaria depende do
rendimento da fermentação e destilação. Por sua vez, a fermentação é afetada em razão da
contaminação bacteriana que adentra a indústria através da cana brocada (Amorim et al. 2000).
As bactérias competem com as leveduras pelos açúcares do mosto, produzem ácidos orgânicos
que inibem a fermentação e causam a floculação do levedo dificultando a concentração na
centrífuga. Além disso, bactérias lácticas heterofermentativas produzem manitol a partir da
frutose (Eggleston et al. 2006). Cada molécula de manitol formada representa duas moléculas
de etanol que deixaram de ser produzidas.

Os resultados obtidos a partir de uma unidade industrial demonstram que a infestação por
broca afeta a fermentação alcoólica e o rendimento geral da destilaria (Figura 9). Para cada 1%
no índice de infestação houve uma redução de 2,08% no rendimento geral da destilaria.
Considerando uma unidade que produz 156.000 m3 de etanol por safra isso representa uma
perda de 3.244.800 L de etanol ou um prejuízo equivalente de R$ 5.613.504,00 na safra. Esta
perda corresponde a uma área de 520 ha.

A Figura 10 mostra o efeito da broca sobre o rendimento geral de outra destilaria, sendo que,
para cada 1% no índice de infestação da cana por broca houve uma redução de 0,19% no
rendimento. Para uma destilaria que processa 2.000.000 de toneladas de cana por safra e
produz 156.000 m3 de etanol isso representa uma perda de 280.800 L de etanol ou um prejuízo
de R$ 485.784,00 por safra o que equivale a uma área de 45 ha. Os dois estudos de casos
demonstram como as variações nos índices de infestação da cana por broca podem ser
diferentes de uma região para outra, assim como, as perdas e o impacto na indústria.

Além da contaminação bacteriana também há relatos de inibição da fermentação por ácidos


orgânicos e compostos fenólicos produzidos pela cana como mecanismo de defesa ao ataque
da broca (Stupiello 2002). Holupi et al. (2014) compararam o desempenho da fermentação com
mostos a base de melaço de cana com e sem infestação por broca. Apesar de não terem sido
observados efeitos negativos sobre a viabilidade e multiplicação da levedura houve uma
redução de 6% no rendimento da fermentação.

Outro aspecto importante é que a infestação por broca também aumenta o risco de
contaminação da fermentação por leveduras selvagens (Amorim 2013). Na sua maioria, estas
leveduras são excessivamente espumantes, floculam e deixam açúcar residual no vinho sem
finalizar a fermentação (Basso et al. 2008). Tais leveduras competem com as linhagens
selecionadas, introduzidas no início da safra. Em muitas situações, ocorre a substituição da
população de leveduras de alto desempenho fermentativo por leveduras selvagens
contaminantes. Como consequência há uma redução no rendimento geral da destilaria (Lopes
et al. 2015).

13
Figura 9. Correlação entre o índice de infestação por broca e o rendimento geral da destilaria.
Para cada 1% de infestação houve uma redução de 2,08% no rendimento. Para uma destilaria
autônoma com moagem de 2.000.000 de toneladas de cana e produção de 156.000 m3 de etanol,
representa uma perda de 3.245 m3 de etanol na safra.

Figura 10. Correlação entre o índice de infestação por broca e o rendimento geral da destilaria.
Para cada 1% no índice de infestação houve uma redução de 0,19% no rendimento. Para uma
destilaria com moagem de 2.000.000 de toneladas de cana por safra e produção de 156.000
m3 de etanol isso representa uma perda de 280.800 L de etanol na safra.

14
Consumo de insumos para açúcar
Ao processar uma cana infestada por broca e que apresenta caldo de baixa pureza, a indústria
acaba consumindo mais cal. Isso pode ser observado nas Figuras 11 a 13 para este estudo de
caso. A pureza da cana afeta o consumo de cal usado para correção do pH do caldo. Quanto
maior a pureza da cana, menor o consumo de cal. Para cada 1% a mais de pureza houve uma
redução de 157,54g de cal por saco de 50Kg de açúcar cristal branco (Figura 11).

Por sua vez, a pureza da cana pode ser afetada por vários fatores como a época de colheita,
maturação, impurezas vegetais, contaminação e infestação por broca, dentre outros fatores.
Neste estudo de caso foi observada uma correlação negativa (r=-0,8143) entre o índice de
infestação por broca e a pureza da cana (Figura 12). Nesta unidade industrial, para cada 1% de
infestação por broca foi observada uma redução de 0,31% na pureza da cana. Isso significa que
a cada 3,25% de infestação perde-se 1% na pureza da cana. Também foi possível demonstrar a
relação direta entre a infestação da cana por broca e o consumo de cal sendo que, para cada
1% de broca houve um aumento no consumo de 46,2 g por saco de 50kg (Figura 13). Isso
significa um custo adicional de R$ 11,41 por 1.000 sacos de açúcar para cada 1% de infestação
de broca na cana. Para uma unidade industrial com produção de 4,86 milhões de sacos de
açúcar, cada 1% de broca representa um consumo adicional de 225 ton de cal ou um gasto de
R$ 55.575,00 por safra.

Figura 11. Correlação entre a pureza da cana PCTS e consumo de cal (CaO) em g/saco de açúcar
50Kg. Para cada 1% no aumento da pureza houve uma redução de 157,5 g de CaO/saco de
açúcar.

15
Figura 12. Correlação entre o índice de infestação por broca e pureza da cana PCTS. Para cada
1% de broca houve uma redução de 0,31% da pureza da cana.

Figura 13. Correlação entre o índice de Infestação por broca e o consumo de cal (CaO). Para
cada 1% no aumento da infestação por broca houve um aumento de 46,2 g de cal / saco de açúcar
50 kg. Isso significa um consumo adicional de 225 toneladas de cal para uma usina que produz
4,86 milhões de sacos de açúcar branco por safra.

16
Além de causar perdas na recuperação do açúcar, a broca aumenta os custos de produção. Um
dos principais insumos utilizados na produção de açúcar é o cal. O processo de calagem tem
por objetivo elevar o pH e promover uma boa clarificação do caldo para facilitar a recuperação
do açúcar e reduzir as perdas por inversão. A clarificação permite remover substâncias
indesejáveis do caldo, facilita a condução das etapas subsequentes de cozimento e recuperação
do açúcar com menor formação de compostos de cor, perdas por inversão e destruição. Uma
cana de boa qualidade apresenta melhor floculação dos compostos em suspensão, rápida
decantação e um caldo mais limpo, quando comparado com o caldo obtido de uma cana de má
qualidade. Quando a cana se apresenta infestada por broca vários indicadores de qualidade
ficam prejudicados aumentando o consumo de cal para se fazer uma boa clarificação do caldo.

Consumo de insumos para produção de etanol


Dentre os principais insumos usados na fermentação estão o ácido sulfúrico, antiespumantes,
antibióticos e outros produtos para controlar a contaminação bacteriana. Estes insumos são
necessários para uma boa condução dos reciclos fermentativos, reduzir as perdas durante o
processo e obter rendimentos elevados.

Quando a indústria recebe uma cana de boa qualidade são menores os riscos de ocorrer a
substituição de leveduras selecionadas por leveduras selvagens, queda de viabilidade, baixo
rendimento fermentativo, floculação do levedo, perda de açúcares residuais no vinho e
formação de espuma em excesso. A cana infestada por broca aumenta a contaminação do caldo
por microrganismos. Parte destes contaminantes é removida durante as etapas de tratamento
do caldo, mas uma outra parte consegue sobreviver e alcançar a fermentação. Ao encontrar
condições favoráveis para multiplicação, bactérias e leveduras contaminantes competem pelo
açúcar do mosto com as cepas selecionadas que estão no processo.

Trabalho realizado pela Fermentec com diversas destilarias brasileiras demonstrou que 91%
das leveduras que contaminam as fermentações industriais trazem algum tipo de problema tais
como, floculação, espuma em excesso e sobra de açúcares no vinho sem fermentar (Lopes et
al. 2015). A Figura 14 mostra uma fermentação conduzida com a levedura selecionada PE2 sem
formação de espuma e sem floculação, comparada com duas leveduras selvagens, sendo uma
delas floculante (isolada de uma usina com índice de infestação de 4,21% na média de safra) e
a outra, produtora de espuma. O resultado obtido a partir do processo do estudo de caso
realizado em uma usina mostrou que a infestação da cana pela broca e contaminação da
fermentação por leveduras selvagens espumantes elevou o consumo de antiespumantes em
0,37g/L de etanol para cada 1% de infestação por broca (Figura 15). Isso representa um
consumo adicional de 57.720 Kg de antiespumante e um custo de R$ 424.242,00 para uma
destilaria que produz 156.000 m3 de etanol por safra.

Outro insumo muito usado pela indústria é o ácido sulfúrico. Seu consumo é afetado por vários
fatores, dentre eles a composição do mosto, a proporção de melaço, o pH de tratamento do
levedo e a concentração na centrífuga. A floculação do levedo prejudica a centrifugação e mais
vinho acaba sendo recirculado no processo. Este vinho tem um poder tamponante capaz de
aumentar o consumo de ácido sulfúrico para se alcançar o pH desejado no tratamento do
levedo.

17
A moagem de uma cana infestada por broca exige um consumo maior de cal para clarificação
do caldo. O melaço resultante deste processo vai apresentar uma concentração maior de sais
(cálcio e magnésio) o que confere um maior poder tamponante ao mosto e ao vinho. Ao ser
recirculado junto com o levedo, o vinho aumenta o consumo de ácido sulfúrico para se atingir
o pH de tratamento. Por essa razão, as infestações por broca também estão associadas ao
aumento do uso de ácido sulfúrico como demonstrado na Figura 16. Os resultados obtidos
mostraram que para cada 1% de infestação houve um incremento no consumo de ácido
sulfúrico de 0,16 g/L cuba. No caso desta unidade industrial, isso representa um adicional de
0,42g de ácido por litro de etanol produzido. Ou seja, um consumo de 65.500 kg de ácido
sulfúrico para uma destilaria que produz 156.000 m3 de etanol por safra com um custo
adicional de R$ 32.750,00 para cada 1% de infestação por broca.

O terceiro insumo avaliado foi o consumo de antibióticos. Uma vez que a infestação por broca
está associada ao aumento da contaminação por microrganismos, a indústria utiliza antibióticos
e outros produtos para controlar a população bacteriana durante as fermentações. No estudo
de caso apresentado na Figura 17, para cada 1% de infestação houve um aumento no consumo
de antibiótico de 1,81 mg/L de etanol produzido. Para uma usina que produz 156.000 m3 de
etanol por safra isso representa um consumo de 282 Kg de antibióticos ou um gasto adicional
de R$ 94.188,00.

Estes resultados demonstram como os efeitos indiretos da broca podem afetar não apenas os
rendimentos industriais, mas também os custos de produção. Muitas vezes, os problemas
causados não são facilmente percebidos ou quantificados pela indústria e podem passar a
impressão de que as perdas estão restritas ao campo. Os prejuízos causados variam de uma
usina para outra em diferentes etapas do processo. Sem um controle efetivo e permanente, a
broca traz grandes prejuízos que vão muito além do canavial. Um resumo das perdas e prejuízos
agroindustriais de duas unidades produtoras avaliadas neste trabalho está apresentado na
Tabela 3, enquanto que, um resumo das perdas e prejuízos industriais de outras oito unidades
está demonstrado na Tabela 4.

Figura 14. Fermentação conduzida com a levedura PE2 (não floculante, baixa formação de
espuma) em comparação com duas leveduras selvagens contaminantes apresentando
características de floculação e formação de espuma em excesso.

18
Figura 15. Correlação entre o índice de infestação por broca e antiespumante. Para cada 1% de
infestação houve um aumento no uso de antiespumantes de 0,37 g/L etanol. Isso representa
um consumo adicional de 57.720 Kg de antiespumante para uma destilaria que produz 156.000
m3 de etanol por safra.

Figura 16. Correlação entre o índice de infestação por broca e consumo de ácido sulfúrico no
tratamento do levedo. Para cada 1% de infestação houve um aumento de 0,16 g de ácido
sulfúrico por litro de cuba. Para as condições desta unidade industrial significa um consumo
adicional de 0,42g de ácido por litro de etanol produzido ou 65,5 toneladas de ácido sulfúrico
para uma destilaria que produz 156.000 m3 de etanol por safra.

19
Figura 17. Correlação entre o consumo de antibióticos utilizados no tratamento do levedo e
infestação da cana por broca. Para cada 1% de infestação o aumento no consumo de
antibióticos foi de 1,81 mg/L de etanol produzido. Para uma usina que produz 156.000 m3 de
etanol por safra isso representa um consumo adicional de 282 Kg de antibióticos.

Tabela 3. Impacto da infestação por broca nas perdas agroindustriais em duas usinas para uma
moagem de 2.000.000 ton de cana por safra e produtividade de 80 ton cana/ha

Impacto da
Usina ou Parâmetros broca a cada
Perdas Prejuízos por safra Prejuízos/ha
Destilaria avaliados 1% de
infestação

A Produtividade em açúcar 3,63 kg/ton 7.260.000 Kg açúcar R$ 12.465.420,00 R$ 498,62

B Produtividade em etanol 5,2 L/ton 10.400.000 L etanol R$ 17.992.600,00 R$ 719,70

20
Tabela 4. Impacto da infestação por broca nas perdas industriais em diferentes usinas para
uma moagem de 2.000.000 ton de cana por safra e produtividade de 80 ton cana/ha

Impacto da
Usina ou Parâmetros broca a cada
Perdas Prejuízos por safra Prejuízos/ha
Destilaria avaliados 1% de
infestação

C RTC 1,48% 2.309.000 L etanol R$ 3.994.570,00 R$ 159,78

D Recuperado de fábrica SJM 0,50% 1.330.000 Kg açúcar R$ 942.760,00 R$ 37,71

E Rendimento geral da destilaria 2,08% 3.244.800 L etanol R$ 5.613.504,00 R$ 224,54

F Rendimento geral da destilaria 0,19% 280.800 L etanol R$ 485.784,00 R$ 19,43

G Consumo de cal 46,2g/saco50kg 225.000 Kg cal R$ 55.575,00 R$ 2,22

H Consumo de antiespumantes 0,37g/L 57.720 Kg R$ 424.242,00 R$ 16,97

I Consumo de ácido sulfúrico 0,42 g/L 65.500 Kg ácido R$ 32.750,00 R$ 1,31

J Consumo de antibióticos 1,81 mg/L 282 kg antibióticos R$ 94.188,00 R$ 3,77

Os resultados obtidos a partir de diferentes unidades industriais mostram as variações nas


grandezas das perdas e como a infestação por broca pode afetar a produção de açúcar e etanol
de forma indireta, seja nos rendimentos industriais ou no consumo de insumos. Se
considerarmos um índice médio de infestação por broca de 3,5% os prejuízos causados podem
superar R$ 60 milhões para o rendimento agroindustrial como demonstrado na Tabela 5,
enquanto que, os prejuízos na indústria podem se aproximar de R$ 20 milhões (Tabela 6). Estes
prejuízos variam de uma usina para outra em diferentes etapas do processo de produção. As
maiores variações têm sido observadas em relação ao rendimento geral da destilaria e por essa
razão foram incluídos dois estudos de casos mostrando a magnitude desta variação. Os
resultados demonstram como os efeitos indiretos da broca impactam fortemente o rendimento
industrial, e também os custos de produção.

Tabela 5. Prejuízos agroindustriais causados pela broca considerando um índice médio de


infestação de 3,5% para uma moagem de 2.000.000 ton de cana e produtividade de 80 ton/ha

Prejuízos estimados
Usina ou Parâmetros
para uma infestação Prejuízos/ha
Destilaria avaliados
média de 3,5%

A Produtividade em açúcar R$ 43.628.970,00 R$ 1.745,16

B Produtividade em etanol R$ 62.974.100,00 R$ 2.518,96

21
Um dos maiores desafios de demonstrar o impacto da broca na indústria está em quantificar as
perdas indiretas que ficam encobertas pelas variações que ocorrem em outros fatores,
relacionados ou não com a infestação da cana. Em diversas situações as perdas indiretas
causadas pela broca avançam silenciosas, sem serem percebidas. São difíceis de serem
demonstradas a não ser através de estudos de casos e do monitoramento contínuo e rigoroso
ao longo da safra.

Tabela 6. Prejuízos industriais causados pela broca considerando um índice médio de infestação
de 3,5% para uma moagem de 2.000.000 ton de cana e produtividade de 80 ton cana/ha

Prejuízos estimados
Usina ou Parâmetros
para uma infestação Prejuízos/ha
Destilaria avaliados
média de 3,5%

C RTC R$ 13.980.995,00 R$ 559,24

D Recuperado de fábrica SJM R$ 3.299.660,00 R$ 131,99

E Rendimento geral da destilaria R$ 19.647.264,00 R$ 785,89

F Rendimento geral da destilaria R$ 1.700.244,00 R$ 68,01

G Consumo de cal R$ 194.512,50 R$ 7,78

H Consumo de antiespumantes R$ 1.484.847,00 R$ 59,39

I Consumo de ácido sulfúrico R$ 114.625,00 R$ 4,59

J Consumo de antibióticos R$ 329.658,00 R$ 13,19

CONCLUSÕES
Os índices de infestação da cana pela broca são variáveis de uma safra para outra, assim como,
entre diferentes regiões produtoras.

As infestações por broca estão associadas às perdas expressivas na indústria. Estas perdas
também são variáveis de uma unidade industrial para outra.

Na área industrial os prejuízos causados pela broca estão relacionados à redução dos
rendimentos industriais (RTC, RGD e recuperado de fábrica SJM), assim como, ao aumento no
consumo de insumos (cal, ácido sulfúrico, antiespumantes e antibióticos).

Os números reforçam que é preciso manter a broca sob controle para evitar perdas no campo
e na indústria, minimizar a deterioração da cana, a contaminação do caldo, diminuir as perdas e
reduzir custos com insumos usados na produção de açúcar e etanol.

Sem um controle efetivo a broca representa uma das principais ameaças à produtividade dos
canaviais e ao desempenho das usinas e destilarias autônomas. Por não serem tão facilmente
percebidos e quantificados, os prejuízos causados pela broca vão muito além do canavial.
22
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