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PARNAMIRIM - RN
2024
FACULDADE IGUAÇU
PARNAMIRIM - RN
2024
O PENSAMENTO FILOSÓFICO DE SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES
PARA A DEMOCRACIA CONTEMPORANEA.
RESUMO
Introdução
Sócrates
Sócrates (469 a.C. - 399 a.C.) foi um filósofo grego antigo cujas ideias não
foram registradas por ele mesmo, mas principalmente por seus discípulos, como
Platão e Xenofonte. Sócrates é conhecido por seu método de questionamento, a
"maiêutica" (termo retirado da obstetrícia) no qual ele buscava extrair conhecimento
latente nos indivíduos por meio de perguntas e diálogo.
Acredita-se que a mãe de Sócrates era parteira. No pensamento desse
filósofo assim como sua mãe ajudava as mulheres a darem a luz aos seus bebês,
ele (Sócrates) através de suas perguntas e diálogos ajudava os homens a “darem a
luz” ao conhecimento. Utilizou sua “maiêutica” para confrontar seus
contemporâneos.
Sócrates deu uma relevante contribuição para a política de sua época. Seus
diálogos e questionamentos sobre a política acabaram por incomodar os “donos do
poder” de Atenas. Fato este que viria a culminar com a condenação do filósofo e sua
posterior morte ao ingerir cicuta ((cf. Xenofonte, Memoráveis, 1.1.1; 1.2.12-16;
Platão, Apologia, 33a-b; Diógenes Laércio, 2.40).).
Quanto ao pensamento de Sócrates em relação à democracia, é importante
notar que Sócrates viveu em Atenas, uma cidade-estado grega que era uma
democracia direta. Sócrates expressou algumas críticas à democracia em sua
época, embora sua visão não seja completamente clara devido à falta de registros
diretos de seus escritos.
O diálogo "Apologia de Sócrates" de Platão, discípulo de Sócrates, apresenta
uma defesa de Sócrates perante a acusação de corromper a juventude e de
impiedade em relação aos deuses, mostrando sua relação ambivalente com a
democracia ateniense. O “crime” de Sócrates perece ter ferido os governantes de
sua época.
Sócrates era crítico em relação à ideia de que a decisão política deveria ser
baseada na opinião da maioria, independentemente da sabedoria ou conhecimento
dos indivíduos. Ele acreditava que a democracia podia levar a decisões irracionais,
especialmente quando as massas eram influenciadas por retórica e demagogia em
vez de argumentos racionais.
Em relação à democracia dos dias atuais, é importante notar que as
sociedades modernas têm sistemas políticos e estruturas democráticas distintas da
antiga Atenas. No entanto, alguns dos desafios apontados por Sócrates em relação
à democracia, como a influência da retórica populista e a falta de ênfase na
expertise e na busca pela verdade, ainda são relevantes. Essas problemáticas
invariavelmente tendem a minar as bases que sustentam a democracia
contemporânea: a igualdade.
Nesse sentido, John Rawls diz que “[...] chega-se a igualdade democrática
por meio da combinação do principio da igualdade equitativa de oportunidades com
o principio da diferença” (RAWLS, 199, p. 79).
Dessa forma, podemos compreender que ao criticar a democracia de sua
época, Sócrates de certa forma destaca problemas que ainda estão presentes na
sociedade democrática contemporânea. A igualdade em muitos casos tem sido
desrespeitada em favor dos poderosos e se não há igualdade, atenta-se contra a
liberdade do individuo e do Estado de direito (RAWLS, 1993).
As democracias contemporâneas frequentemente enfrentam desafios
relacionados à manipulação da opinião pública, polarização política e a influência de
interesses especiais. A reflexão sobre as críticas de Sócrates à democracia pode ser
uma maneira de pensar sobre como as sociedades modernas podem abordar esses
desafios e fortalecer os princípios democráticos. Todavia, é importante adaptar
essas reflexões ao contexto atual e considerar as diferenças significativas entre as
democracias antigas e modernas para que possamos analisar com clareza a
democracia de nosso tempo.
Platão
Platão (427 a.C. - 347 a.C.), um dos discípulos mais conhecidos de Sócrates,
deixou uma influente obra filosófica que inclui reflexões sobre política e democracia
baseadas na política de sua época. Platão era bastante crítico em relação à
democracia ateniense, e suas visões estão registradas em várias de suas obras,
especialmente na "República" e nas "Leis".
Em "A República", Platão critica a democracia, considerando-a um sistema
imperfeito, caracterizado pela instabilidade e propenso a permitir a ascensão de
líderes demagógicos. Ele argumenta que a democracia pode degenerar em tirania
quando as paixões da multidão são exploradas por líderes carismáticos e
inescrupulosos. Uma prova disso são os regimes totalitários surgidos durante o
século XX de nossa era. Tais regimes incialmente tiveram como principal
característica a demagogia e o carisma.
Sendo assim, a demagogia pode degenerar em uma falsa noção de
democracia. Muito embora, isso nem sempre possa passar despercebido da
sociedade.
Já dizia Jacques Rancière que
Aristóteles
Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), outro importante filósofo grego antigo e
discípulo de Platão, abordou a política em sua obra "Política". Ao contrário de seu
mestre, Aristóteles teve uma visão mais pragmática da política e não era tão crítico
em relação à democracia quanto Platão o fora. Ele reconhecia diferentes formas de
governo e acreditava que a melhor forma de governo dependia das circunstâncias e
que a sociedade se encontrava.
Aristóteles classificou as formas de governo em três categorias principais:
monarquia (governo de um), aristocracia (governo dos melhores) e politeia ou
democracia (governo do povo). Ele reconheceu que cada forma de governo tinha
suas vantagens e desvantagens, e argumentou que a qualidade de um governo
dependia mais da virtude e do caráter de seus líderes do que da forma específica.
Aristóteles traz a discussão da ética na vida pública.
Aristóteles também alertou sobre a degeneração das formas de governo. Ele
argumentou que a monarquia poderia se transformar em tirania, a aristocracia em
oligarquia, e a democracia em demagogia. Isso reflete a preocupação de Aristóteles
de que, em cada forma de governo, se não houvesse um equilíbrio e um respeito
pelos interesses de todos, o governo poderia ser corrompido.
Quanto à democracia, Aristóteles a via como uma forma legítima de governo,
mas ele alertava sobre o perigo de uma democracia mal administrada, que poderia
se transformar em demagogia. Ele estava preocupado com a tirania da maioria,
onde as paixões da multidão poderiam ser exploradas por líderes populistas.
Esse fenômeno do populismo demagógico, carismático, ficou muito evidente
em várias regiões do mundo. A América latina vivenciou o populismo de forma
marcante. São exemplos, o Peronismo argentino e o Varguismo brasileiro.
Passado o populismo da era Vargas, entre a década de 30 a 60, o Brasil vivia
uma “democracia populista”, termo este bastante contraditório se compararmos com
a ótica aristotélica e com pensadores como Ferreira (2019) que diz que essa
“democracia populista” aponta “[...] uma dicotomia bastante simplista: por um lado,
um líder esperto, superconsciente, capaz de manipular e enganar; por outro, uma
massa sem consciência de seus interesses, iludida por discursos fáceis”
(FERREIRA, 2019, p. 358).
Ao considerar as democracias dos dias atuais, as ideias de Aristóteles
continuam relevantes. A reflexão sobre como evitar os perigos da demagogia,
garantir a justiça e promover a participação cidadã informada pode ser
enriquecedora para as democracias contemporâneas. A ênfase de Aristóteles na
virtude moral, ética, na moderação e na busca do bem comum pode ser uma fonte
de insights para lidar com os desafios políticos atuais.
Conclusão
REFERÊNCIAS
________. República. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2002. Tradução de Enrico
Corvisieri.
WEBER, MA. Max Weber’s Complete Writings on Academic and Political Vocations.
New York: Algora Publishing, 2008.