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Aula 23 (última) – O dualismo joanino

No Evangelho tem varios usos de dualismo:


1. 1:4-5; 3:19; 8:12; 11:9; 12:35, 46 – Luz e escuridao
2. 8:44 - Verdade e mentira
3. 5:24; 11:25 - Vida e morte
4. 8:23 – Ciam e baixo
5. 8:35-6 – Ser escravo e livre

Dualismo cosmico
κόσμος (mundo) é usado de vários significados:
1. O mundo físico (1:9; 3:16; 17:24; 16:21)
a. O autor não vê o mundo físico em si como negativo.
b. É o objeto do amor de Deus (3:16) e o espaço no qual a luz de
verdade esclarece a escuridao de ignorancia (1:9)

2. O espaço da incredulidade, ou seja, da rejeição da verdade divina


revelada em Cristo
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a. As pessoas aqui rejeitam e resistem a Deus e ao plano de Deus


para a redenção humana. Veem um relacionamento com Deus
como desnecessário e indesejável.

b. 12:31; 16:11 (o mundo sob a influência do maligno e, portanto,


o lar daqueles que rejeitam a verdade de Deus revelada por
Jesus)

c. 9:39 – Esse mundo está sob julgamento

3. O lugar de homem, distinto do lugar de Deus e Jesus (8:23; 13:1)


a. Esses dois espaços são representados no Evangelho de João da
seguinte forma: mundo e céu, embaixo e em cima.

b. O lar de Deus não é neste mundo. O lar de Jesus está em outro


lugar. Ele veio ao mundo e ficava nele mas não é deste mundo
por natureza.

A visão do mundo do autor é o "dualismo cosmológico". Ele vê o universo


dividido em dois reinos.
1. Essa visão dualistica do universo é diferente do conceito do "universo
de três andares" encontrado em muitas outras partes do Novo
Testamento: Deus e os anjos posicionados no andar superior, Satanás
e os espíritos malignos no andar inferior, e a natureza e os seres
humanos no meio.
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2. Também difere da visão de mundo dualista de Jesus, conforme


apresentada nos Evangelhos Sinóticos: Esta era e a era por vir.

Dualismo humano
1. Os dois mundos diferentes (mundo e céu, ou mundo embaixo e em
cima) são a base conceptual para explicar os dois tipos de vida de
seres humanos: 1) viver separado de Deus e 2) viver dependente de
Deus.

2. Os seres humanos devem fazer uma escolha: viver sob o governo de


Deus ou rejeitá-lo. Nao exite uma área neutra no universo dualistico.

3. Os judeus
a. A frequencia do uso da palavra
i. Nos Evangelhos sinóticos – 5 ou 6
ii. O Evangelho de João – Mais de 70 vezes

b. O significado da palavra "judeus" no Evangelho de João


i. Judeus no sentido geral. Ou seja, as pessoas de
descendência e tradição judaica, diferentemente dos
gentios. Ex – 11:45
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ii. Os oponentes de Jesus


1. Esses judeus não entendem o que Jesus diz (8:22)
2. Perseguem-no (5:16)
3. Tentam apedrejá-lo (8:59)
4. São responsáveis por sua prisão e morte (8:12;
19:12)
5. Acima de tudo, são os que se recusam a acreditar
em Jesus (10:31-9)
6. Mais um caso de dualismo no Evangelho – Os
judeus nesse sentido vs. “Nós, ou seja, o autor e a
comunidade”

c. Por que o autor usou a palavra "judeu" semanticamente


inconsistente? Parece que em textos herdados o termo "judeu"
se refere a 3.b.i, enquanto em textos escritos pelo autor, refere-
se a 3.b.ii.

d. Por que, então, o autor usa o termo "judeus" em vez de outros


títulos, por examplos, adversários, perseguidores ou oponentes?
i. A razão se encontra no fundo histórico do Evangelho: um
dos problemas da comunidade é a rejeicao e oposicao dos
judeus das sinagogas. Às vezes os conflitos levavam à
violência. Eles eram os principais adversarios da
comunidade. Foi nesse contexto que o Evangelho foi
escrito, apresentando “judeus” como inimigos, ou seja,
3.b.ii.
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ii. No Evangelho de João, os judeus frequentemente se


referem aos "oponentes de Jesus”, àqueles que rejeitam
Cristo. Eles representam um mundo do universo
dualístico, ou seja, o mundo em oposição a Deus por
estarem em oposição ao messias que Deus enviou.

O determinismo e livre arbitrio


O autor não dá uma resposta clara à questão de se é a predestinação de Deus
ou o livre-arbítrio humano que determina o destino eterno de seres humanos.
De fato, há declarações das ambas as posições no Evangelho.

1. O determinismo
a. 6:39, 44, 65; 17:2, 6, 9, 12, etc.
b. A fé não é um produto da vontade do indivíduo. É algo que
Deus concede.

2. O livre-arbítrio humano
a. 3:18, 20-1, 6:45, etc.
b. O convite à fé pressupõe o poder de escolha de seres humanos.

3. Como tratar da coexistencia das duas posições opostas?


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a. A fé tem uma dimensão paradoxal inerente. O autor não está


tentando explicar ou harmonizar o paradoxo. Está simplesmente
colocando os dois tipos de afirmacoes teologicoas lado a lado.

b. É um desafio racional aos seres humanos. Diante dele, 1) nós


podemos estudar e pesquisar maximo que puder para chegar no
entendimento possível até as evidencias permitam.

2) Nossa opção não é pôr as verdades de Deus, que às vezes


transcendem a capacidade da razão humana, em moldura da
compreensão humana e cortar as partes que não entram na
muldura e jogar fora, ou amassr a parte que sai fora da estrutura
para dentro. Não devemos alterar ou distorcer a verdade
revelada baseado na nossa razao, mas estudar, aceitar e declarar
exatamente como ela é.

3) Já que o ser humano não poder saber todos os conhecimentos


e nem pode manter o equilibrio teológico sempre, já que os
invididuos têm experiencias e tradicoes diferentes, o
entendimento teológico de um individuo inevitavelmente se
inclina para um lado. Por isso, é importante lembrar que a
convicção teológica de uma pessoa pode estar impactada pelos
esses elementos.

O que nós podemos fazer é estar ciente da predisposição


inerente, nos precaver contra o perigo da distorcao no processo
de interpretação, e reduzir seu impacto na nossa teologização. A
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chave para o sucesso nisso é um diálogo com coracao aberto,


admitindo que meu conhecimento é parcial, procurando
aprender com a outra pessoa na conversa, desejando sair do
dialogo com um conhecimento melhor que meu anterior.

4) Devemos respeitar e considerar como irmãos em Cristo


aqueles que têm um entendimento teológico diferente de meu,
enquanto aceitam a bíblia como a única fonte de verdades e a
colocam acima de qualquer teologias criadas pelos seres
humanos.

Conclusão
Por que o autor usa dualismo no seu Evangelho?
1. A situacao da comunidade – O uso da estrutura dualistica do autor se
deve à situação da comunidade. Sua comunidade foi exilada de seu lar
espiritual, a sinagoga e o judaísmo. Privados dos vários benefícios
oferecidos pela religião judaica (proteção, laços sociais, certa
autonomia etc.), eles foram expulsos para o deserto sem proteção.
Tendo sido expulsa da sinagoga e isolada, a comunidade naturalmente
teria se concentrado em si mesma, estabelecendo sua própria
identidade comunitária e consolidando sua unidade e unicidade.
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Ao mesmo tempo, a comunidade começou a definir aqueles que


estavam fora de seu grupo como estranhos ou adversarios. Ao fazer
isso, eles teriam procurado 1) estabelecer e unificar sua identidade e
2) proteger-se de possíveis ameaças.1 O resultado desse processo teria
sido o desenvolvimento de uma visão de mundo dualista.

2. Uma estrutura de explicacao clara e facil de entender

3. O uso dessa estrutua na filosofia grega antiga (Ex. ideia e material)

O que o autor fala com o uso dessa estrutura? Dualismo é um meio usado
pelo autor para sistematizar e expressar suas ideias teológicas.
1. Tem duas forma de vida: uma vida baseada no falso entendimento de
si e uma vida baseada no verdadeiro entendimento de si. Uma leva à
salvacao enquanto outra não

2. Os dois tipos de pessoas no "dualismo humano" são "nós" (os de


dentro) e "eles" (os de fora). A comunidade joanina passou a se ver
como "nascida do alto", "a verdade" e "a luz em um mundo
tenebroso". Os forasteiros que se opunham à sua fé eram vistos como
"os de baixo", "o mundo", "as trevas" e "os judeus". As origens das
ideias dualistas da autor são tão sociológicas quanto teológicas. Para
essas comunidades de fé, os símbolos dualistas do autor os teriam

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Consulte Wayne Meeks, "The Man from Heaven in Johannine Sectarianism", in The
Interpretation of John, ed. John Ashton, 141-73.
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ajudado a dar sentido à sua confusão e ao seu sofrimento,


proporcionado conforto, e a redefinir o caminho a seguir.

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