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Módulo de Teoria de

Números.

Curso de Licenciatura em ensino de Matemática.

Ensino à Distância. 3° Ano.

Universidade Pedagógica
Departamento de Ciências Naturais e Matemática.
Direitos de autor (copyright)
Este módulo não pode ser reproduzido para fins comerciais. Caso haja necessidade de reprodução,
deverá ser mantida a referência à Universidade Pedagógica e aos seus Autores.

Universidade Pedagógica
Rua Comandante Augusto Cardoso, nº 135
Telefone: 21-320860/2
Telefone: 21 – 306720
Fax: +258 21-322113
Maputo, 2013
www.up.ac.mz

Ficha Técnica
Autor: Nelson Bonifácio Somar1

Desenho Instrucional:

Revisão Linguística:

Maquetização:

Ilustração:

1
Licenciado em ensino de Matemática com habilitações em Ensino de Fisica pela Universidade pedagógica-
Nampula, actualmente mestrando em Educação Matemática pela Universidade Rovuma-Nampula.
Agradecimentos
À COMMONWEALTH of LEARNING (COL) pela disponibilização do Template usado na produção
dos Módulos.

Ao Instituto Nacional de Educação a Distância (INED) pela orientação e apoio prestados.

Ao Magnífico Reitor, Directores de Faculdade e Chefes de Departamento pelo apoio prestado em todo
o processo.
Módulo de Teoria de Números. i

Índice

Visão geral 1
Bem-vindo ao módulo de Teoria de Numeros ................................................................ 1
Objectivos do modulo .................................................... Error! Bookmark not defined.
Quem deve estudar este módulo? ................................................................................... 2
Como está estruturado este módulo? .............................................................................. 3
Ícones de actividade ...................................................................................................... 4
Acerca dos ícones ................................................................................................................... 4
Habilidades de estudo .................................................................................................... 5
Precisa de apoio? ........................................................................................................... 5
Autoavaliação................................................................................................................ 5
Avaliação ...................................................................................................................... 5
Tempo de estudo e outras actividades ............................................................................ 6

Unidade nº 01 7
Introdução à .................................................................................................................. 7
Introdução ............................................................................................................ 7

Lição no 01 8
Fundamentos ................................................................. Error! Bookmark not defined.
Introdução ............................................................................................................ 8
Exercícios.................................................................................................................... 13
Resumo ....................................................................................................................... 13
Auto-avaliação ............................................................................................................ 14
Módulo de Teoria de Números. 1

Visão geral
Bem-vindo ao módulo de Teoria
de Números.
Estimado estudante!
Neste módulo, vai aprender sobre a Teoria de Números. Este módulo irá
permitir-lhe desenvolver as suas habilidades matemáticas na construção
algébrica dos conjuntos Númericos e suas propriedades.

O presente módulo está subdividido em 06 (seis) unidades principais,


nomeadamente:

A unidade I: aborda sobre relações, onde se pode encontrar o conceito de


relação, formas de representação duma relação, as propriedades, relações
de equivalência, o conjunto-quociente e a partição de um conjunto e
conjunto ordenado.

A unidade II: Aborda sobre a construção algébrica do conjunto dos


números naturais e suas propriedades, onde se pode encontrar os axiomas
de Peano.

A unidade III: Aborda sobre a construção algébrica do conjunto dos


números inteiros e suas propriedades, onde se pode encontar o algoritmo
de divisão de Euclides, equações diofantinas, classes residuais módulo m,
etc. esta constitui a unidade fundamental no que diz respeito a cadeira de
teoria de números.

A unidade IV: Aborda sobr a construção algébrica do conjunto dos


números racionais e suas propriedades.

A unidade V: versa essencialmente sobre a construção do conjunto dos


números reais e suas propriedades.

A unidade VI: Por ultimo esta ultima unidade, versa sobre a construção
dos números complexos e suas propriedades.
Módulo de Teoria de Números. 2

Objectivos gerais do curso


Quando terminar o estudo deste módulo, você será capaz de:

 Ter nocao sobre as relações e suas operações;

 Construir algebricamento os conjunto dos números naturais,


inteiros, racionais, reais e complexo e suas propriedades.

Quem deve estudar este módulo?


Este módulo foi concebido para estudantes inscrito do curso de
licenciatura em ensino de Matematica no regime a Distância.
Módulo de Teoria de Números. 3

Como está estruturado este


módulo?
Todos os módulos dos cursos produzidos pela Universidade Pedagógica
encontram-se estruturados da seguinte maneira:

Páginas introdutórias

Um índice completo.

Uma visão geral detalhada do módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa de
conhecer para completar o estudo. Recomendamos vivamente que leia esta secção com
atenção antes de começar o seu estudo.

Conteúdo do módulo

O módulo está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma introdução,


objectivos da unidade, conteúdo da unidade, incluindo actividades de aprendizagem,
um sumário da unidade e uma ou mais actividades para autoavaliação.

Outros recursos

Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista de recursos
adicionais para você explorar. Estes recursos podem incluir livros, documentos normativos
e regulamentos.

Tarefas de avaliação e/ou Autoavaliação

As tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de cada lição. Sempre que
necessário, dão-se folhas individuais para desenvolver as tarefas, assim como instruções
para as completar. Estes elementos encontram-se no final do módulo.

Comentários e sugestões

Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários sobre a estrutura e o
conteúdo do módulo. Os seus comentários serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar
este módulo.
Módulo de Teoria de Números. 4

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de um texto,
uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Acerca dos ícones

Neste módulo encontrará ícones que identificam as actividades, dicas,


sumários e actividades de autoavaliação.

Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir, cada


um com uma descrição do seu significado e da forma como nós
interpretámos esse significado para representar as várias actividades ao
longo deste curso / módulo.

Comprometimento/ Resistência, “Qualidade do “Aprender através


perseverança perseverança trabalho” da experiência”

(excelência/
autenticidade)
Actividade Auto-avaliação Avaliação / Exemplo /
Teste Estudo de caso

Confirmação / Horas / Vigilância / “Eu mudo ou


Correcção programação preocupação transformo a minha
vida”
Resultados Tempo Tome Nota!
Objectivos

“[Ajuda-me] deixa-
“Pronto a enfrentar “Nó da sabedoria” Apoio /
me ajudar-te” as vicissitudes da encorajamento
vida”

Leitura (fortitude /
Terminologia Dica
preparação)

Resumo
Módulo de Teoria de Números. 5

Habilidades de estudo
Este módulo foi concebido tendo-se em consideração que você vai
estudar sozinho. É por isso que, no fim de cada unidade/lição, você tem
actividades que o ajudam a verificar tudo o que nela aprendeu.

Fazem parte deste conjunto de actividades, as consultas em livros e


Internet, a análise de programas e documentos normativos do ESG, etc.,
pois eles são preciosos para você conhecer o nível da sua aprendizagem.

Desejamos-lhe muito sucesso!

Precisa de apoio?
Se você tiver dificuldades, tem o Centro de Recursos e lá irá encontrar
tutores gerais em todas as semanas e tutores de especialidade duas vezes
por semestre. Estes podem ser consultados também por e-mail ou pelo
telefone. Os endereços serão fornecidos no início de cada semestre. Não
hesite em recorrer a esse centro, pois ele foi criado para si, podendo
encontrar acervo bibliográfico e outros materiais de consulta.

Autoavaliação
Ao longo deste módulo ira encontrar varias tarefas que acompanham o
seu estudo. Tente semprea soluciona-las. Consulte a resolução para
confrontar o seu método e a solução aprsentada. O estudante deve
promover o hábito de pesquisa e a capacidade de selecção de fontes de
informação, tanto na internet como em livros.

Avaliação
o modulo de Teoria de Número terá dois testes, para alem dos trabalhos
de campo e um exame final, que sera online ou devera ser feito no Centro
de Recursos maus próximo, ou em local a ser indicado pela admnistração
do curso.
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Tempo de estudo e outras


actividades
Este módulo foi elaborado para ser estudado num semestre lectivo. Isto é,
em 125 horas de estudo.

Quanto tempo?
Módulo de Teoria de Números. 7

Unidade nº 01
Introdução ao estudo das
Relações.
Introdução.
Bem-vindo à primeira unidade I da disciplina de Teoria de Números.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Ter noção do conceito de relação Matemática; onde falaremos do


produto cartesiano e definição de relação Binária

Objectivos da unidade  Conhecer as formas de representação duma relação;

 Dominar as propriedades das relações; definir relação de


equivalência e suas classes.

 Definir o conjunto-Quociente e a partição de um conjunto;

 Falar da Relação de ordem e conjunto ordenado.


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Lição no 01
Introdução ao conceito de
Relação.
Introdução
Nesta sua primeira lição você estudará o conceito de relação Matemática.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Definir uma relação Matemática;

 Ter noção do produto cartesiano;

Objectivos da lição  Definir de uma relação Binária.


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1.1. Conceito de Relação.

No nosso dia-a-dia é frequentemente utilizarmos o conceito de relações,


por exemplo, quando Comparamos objectos (maior, menor, igual); a
relação de Pai-para-filho, Pai-mãe-filho; etc. Estas ligações entre
elementos de conjuntos são representadas usando uma estrutura chamada
relação.

As relações podem ser usadas para resolver problemas tais como:


Determinar quais pares de cidades são ligadas por linhas aéreas em uma
rede; elaboração de um modo útil de armazenar informações em bancos de
dados computacionais.

Matematicamente, o conceito de relação binária entre dois conjuntos não


vazios A e B, é dado a partir do conceito produto cartesiano de conjuntos.

Uma relação é um conjunto de pares ordenados. Por exemplo: 𝑅 =


{(1,2), (2,4), (1,0)}.

Quando a relação é entre dois conjuntos recorre-se ao conceito do produto


cartesiano.

1.1.2. Definição do Produto Cartesiano.

Sejam 𝐴, 𝐵 conjuntos não vazios.O produto cartesiano de A por B,


designado por ‘AxB’ é o conjunto de pares ordenados (𝑎, 𝑏), com 𝑎 ∈ 𝐴,
𝑏 ∈ 𝐵 : 𝐴 × 𝐵 = {(𝑎, 𝑏): 𝑎 ∈ 𝐴, 𝑏 ∈ 𝐵}.

Por exemplo 1.1.2 : Sejam dados os conjuntos 𝐴 = {1,2,3} e 𝐵 = {𝑎, 𝑏}


𝐴 × 𝐵 = {(𝑎, 𝑏): 𝑎 ∈ 𝐴, 𝑏 ∈ 𝐵}
= {(1, 𝑎), (1, 𝑏), (2, 𝑎), (2, 𝑏), (3, 𝑎), (3, 𝑏)}
(𝑏) Seja: 𝑓(𝑥) = 2𝑥 − 1, uma função, tal que A é o domínio e B é o
contradomínio: 𝐴 = 𝑑𝑜𝑚(𝑓) = ℝ; 𝐵 = 𝑐𝑑𝑜𝑚(𝑓) = ℝ.
1
𝐴𝑥𝐵 = {… (−1, −3); (0, −1), (−1, −3), ( , 0) , … . . }
2

Quando 𝐴 = 𝐵 escreve− se 𝐴 × 𝐵 = 𝐴2 e diz se produto cartesiano de 𝐴.


𝐴 = {𝑎, 𝑏} → 𝐴 × 𝐴 = {(𝑎, 𝑎 ), (𝑎, 𝑏), (b, a), (𝑏, 𝑏)}.
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1.1.3. Definição de Relação Binária.

A designação de relação binária tem a ver com os elementos envolvidos


nessa relação, nomeadamente dois elementos.
Uma relação 𝑅 de 𝐴 para 𝐵 é qualquer subconjunto de 𝐴 × 𝐵, onde A- é
um conjunto chamado conjunto de partida e B-conjunto de chegada. R é
relação de A em B se, e somente se, 𝑅 ⊆ 𝐴𝑥𝐵.

Relações designam se vulgarmente com letras maiúsculas 𝑅, 𝑇, 𝑆, …, Se


𝑎 ∈ 𝐴 se relacionar com um 𝑏 ∈ 𝐵 escrevemos: 𝑎𝑅𝑏 ou (𝑎, 𝑏) ∈ 𝑅, caso
contrário se (a, b) ∉ 𝑅, escreve-se a𝑅𝑏.

Por exemplo 1.1.3: 𝐴 = {1,2,3} e 𝐵 = {𝑎, 𝑏}. O conjunto 𝑅 =


{(1, 𝑎), (1, 𝑏), (2, 𝑏), (3, 𝑎), (3, 𝑏)} é uma relação entre ambos os
conjuntos. Assim, 1𝑅𝑏 𝑜𝑢 (1, 𝑏) ∈ 𝑅.

1.1.4. As formas de Representação de uma Relação.

Uma relação pode ser apresentada: na forma analítica, por extensão dos
seus elementos, por meio do seu gráfico, por dígrafos e na forma
matricial.

Exemplos 1.1.4

 Na forma analítica: quando é dado algum procedimento


(fórmula) para obtenção dos pares que nela pertencem. A fórmula
designa-se também expressão analítica da relação.

𝑇 = {(𝑥, 𝑦): 𝑥 ∈ ℝ, 𝑦 ∈ ℝ 𝑒 𝑦 = −𝑥 + 2}.

 Por extensão: quando se listam os pares pertencentes a essa


relação.

𝑇 = {… (0, 2), (−1, 3), (2, 0), … . } .


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 Por Gráfico Cartesiano: seja R uma relação sobre o conjunto ℝ.

o seu gráfico.
 Grafos Direccionados (Digrafos) : Seja R uma relação em um
conjunto A={a1 ,a2,...,am}. Os elementos de A são representados
por pontos ou círculos chamados “nós” ou “vértices”.

Os nós correspondentes a ai e aj são identificados como ai e aj


respectivamente.
 Se ai R aj, isto é, se (ai, aj)∈ÎR, então conecta-se os nós ai e aj
através de um arco e coloca-se uma seta no arco na direcção de ai
para aj.
 Quando todos os nós correspondentes aos pares ordenados da
relação R estiverem conectados através de arco orientados
(laços), tem-se então um grafo orientado ou dígrafo da relação
R.

Normalmente, os elementos de A, são representados por pontos num


rectângulo e indica-se cada par (a,b) da relação através de uma flecha com
“origem” em a e “extremidade” b. No caso de (a,a) estar na relação, usa-se
um “laços “ envolvendo a, conforme a seguir:

Sejam o conjunto 𝐴 = {𝑎, 𝑏, 𝑐} e a relação 𝑅=


{(𝑎, 𝑎), (𝑎, 𝑏), (𝑏, 𝑐), (𝑐, 𝑎)}

• O dígrafo de R é:
Módulo de Teoria de Números. 12

 Forma matricial: consiste na representação da relação 𝑅 definida


em dois conjuntos finitos 𝐴, 𝑒 𝐵 em forma duma matriz 𝑀 de
formato𝑚 × 𝑛, 𝑜𝑛𝑑𝑒𝑚 = #𝐴(𝑛𝑢𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎𝑠) , 𝑛=
#𝐵 (𝑛𝑢𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑙𝑢𝑛𝑎𝑠) e seus coeficientes se obtém da
seguinte maneira:
1, 𝑠𝑒 (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅
𝑚𝑥𝑦 = { (2)
0, 𝑠𝑒 (𝑥, 𝑦) ∉ 𝑅

Dados os conjuntos 𝐴 = {1,2,3}, 𝐵 = {𝑎, 𝑏} representar na forma


matricial a relação cujo dígrafo é digr (𝑅) = {(1, 𝑎), (1, 𝑏), (3, 𝑎)}

Solução: a matriz procurada tem 3 linhas e 2 colunas e de acordo com (2)


os coeficientes são:

𝑚11 = 𝑚1𝑎 = 1 , 𝑝𝑜𝑖𝑠(1, 𝑎) ∈ 𝑅

𝑚12 = 𝑚1𝑏 = 1 , 𝑝𝑜𝑖𝑠(1, 𝑏) ∈ 𝑅


𝑚21 = 𝑚2𝑎 = 0 , 𝑝𝑜𝑖𝑠(2, 𝑎) ∉ 𝑅
𝑚22 = 𝑚2𝑏 = 0 , 𝑝𝑜𝑖𝑠(2, 𝑏) ∉ 𝑅
𝑚31 = 𝑚3𝑎 = 1 , 𝑝𝑜𝑖𝑠(3, 𝑎) ∈ 𝑅
𝑚32 = 𝑚3𝑏 = 0 , 𝑝𝑜𝑖𝑠(3, 𝑏) ∉ 𝑅

1 1
A matriz procurada é 𝑀 = [0 0]
1 0

𝑏) No conjunto 𝐴 = {1,2,3,4,5} define se uma relação S da seguinte


maneira:

𝑥𝑆𝑦 ↔ 2𝑥 + 𝑦 ≤ 7 .

Assim temos 𝑆 = {(1,1), (1,2), (1,3), (1,5), (2,1), (2,2), (2,3), (3,1)}.

A matriz de 𝑆 tem 5 linhas e 5 coluna, seus coeficientes são:𝑚11 = 𝑚12 =


𝑚13 = 𝑚15 = 𝑚21 = 𝑚22 = 𝑚23 = 𝑚31 = 1. Os restos dos coeficientes
são nulos.
Módulo de Teoria de Números. 13

Exercícios
Caro estudante como forma de consolidar a lição resolve as sequintes
actividades:

1. Dê o conceito de relação.

2. Considere o conjunto 𝑆 = {1,2,3}, descreva o conjunto dos pares

Actividade ordenados 𝑆𝑥𝑆.

a) Quais seriam os elementos se tivéssemos interessados na relação


de igualdade entre elas? Ou seja, os pares ordenados cujas
componentes são iguais.

b) Se tivéssemos interessados na relação de um número ser menor


do que outro?

3. Dado o conjunto 𝐵 = {𝑎, 𝑏, 𝑐} e 𝑅=


{(𝑎, 𝑎), (𝑎, 𝑏); (𝑏, 𝑎); (𝑎, 𝑐), (𝑏, 𝑏); (𝑏, 𝑐)}. Represente o dígrafo
de R.

Resumo
Nesta lição foram tratados os conceitos de relação, produto cartesiano e a
definição da relação binária.
Módulo de Teoria de Números. 14

Auto-avaliação
Terminada a lição 1 tem em seguida uma actividade de auto-avaliação
para verificar o seu grau de assimilação do conteúdo. Caso não consiga
resolver todas as perguntas volte a ler a lição ou contacte o seu tutor.
1. Para cada uma das relações binárias R definidas a seguir em N,
decida quais entre os pares ordenados pertencem a R:
a) 𝒙𝑹𝒚 = {(𝒙, 𝒚)| 𝒙 = 𝒚 + 𝟏}. (𝟐, 𝟐); (𝟐, 𝟑); (𝟑, 𝟑); (𝟑, 𝟐).
b) 𝒙𝑹𝒚 = {(𝒙, 𝒚)| 𝒙 > 𝒚𝟐 }. Pares (𝟏, 𝟐); (𝟐, 𝟏); (𝟓, 𝟐); (𝟒, 𝟑).
2. Dados os conjuntos 𝑨 = {𝟏, 𝟐, 𝟑} 𝒆 𝑩 = {−𝟐, 𝟏}, encontre:
a) 𝑨𝒙𝑩
b) 𝑩𝟐

Solução:
1.a) (𝟑, 𝟐). b) (𝟐, 𝟏) ; (𝟓, 𝟐)

2.a) 𝑨𝒙𝑩 = {(𝟏, −𝟐); (𝟏, 𝟏); (𝟐, −𝟐); (𝟐, 𝟏); (𝟑, 𝟏); (𝟑, 𝟏)}

b) 𝑩𝟐 = 𝑩𝒙𝑩 = {(−𝟐, −𝟐); (−𝟐, 𝟏); (𝟏, −𝟐); (𝟏, 𝟏)}


Módulo de Teoria de Números. 15

Lição no 02
As propriedades das relações.
Introdução
Nesta lição estudará as propriedades das relações, onde também falaremos
das relações de equivalência e suas respectivas classes.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Conhecer as propriedades das relações num conjunto;

 Ter noção das relações de equivalências e suas respectivas


classes.
Objectivos da lição
Módulo de Teoria de Números. 16

1.2. Propriedades de Relações num Conjunto.

A seguir apresentamos algumas propriedades elementares de relações num


conjunto.

Restringimo−nos a relações num conjunto, porque se estas forem definidas em


conjuntos diferentes, dificilmente cumprirão estas propriedades.

Seja então 𝑅 uma relação num conjunto não vazio 𝐴. Diz se que 𝑅 é:

1.Reflexiva: se𝑎𝑅𝑎 ∀𝑎 ∈ 𝐴;

2.Simétrica:𝑎𝑅𝑏⇒𝑏𝑅𝑎 e se (a, b) ∈ R e se (b, a) ∉ R,

diz se assimetrica ∀𝑎, 𝑏 ∈ 𝐴;

3.Anti−Simétrica, quando 𝑎𝑅𝑏⋀𝑏𝑅𝑎⇒𝑎 = 𝑏 ∀𝑎, 𝑏 ∈ 𝐴;

4.Transitiva, quando 𝑎𝑅𝑏 ∧ 𝑏𝑅𝑐 ⇒ 𝑎𝑅𝑐 ∀𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ 𝐴;

5.Dicotómica, quando∀𝑎, 𝑏 ∈ 𝐴 tem se que: 𝑎𝑅𝑏 ∨ 𝑏𝑅𝑎 ;

6.Tricotómica, quando ∀𝑎, 𝑏 ∈ 𝐴 um dos três casos decorre: 𝑎 = 𝑏 ∨ 𝑎𝑅𝑏 ∨


𝑏𝑅𝑎.

Exemplo 1.2:

Verificar as 6 propriedades das relações sobre a relação 𝑅=


{(1,1), (1,2), (1,3), (1,5), (2,1), (2,2), (2,3), (3,1)} no domínio 𝐴 = {1,2,3,4,5}.

Solução:

Não é reflexiva, porque por exemplo os pares (3,3); (4,4) e (5,5) não aparecem na
relação. Não é transitiva, porque por exemplo o par (3,3) não aparece na relação.

Não é simétrica, porque por exemplo 1𝑅5 mas não se verifica 5𝑅1;

Não é anti−antisimetrica, porque, por exemplo, o facto de, 1𝑅2 𝑒 2𝑅1 não
implica 1 = 2; É dicotómica e tricotómica, justifique.

1.2.1. Definição da Relação de Equivalência.


Módulo de Teoria de Números. 17

Uma relação R sobre um conjunto E não vazio é chamada relação de equivalência


sobre E se, e somente se, R é Reflexiva, simétrica e transitiva. Ou seja, R deve
cumprir, respectivamente, as seguintes propriedades:

(I): Se 𝑥 ∈ 𝐸, então 𝑥𝑅𝑥


(II): Se 𝑥, 𝑦 ∈ 𝐸 𝑒 𝑥𝑅𝑦 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑦𝑅𝑥
(III): Se 𝑥, 𝑦, 𝑧 ∈ 𝐸 𝑒 𝑥𝑅𝑦 𝑒 𝑦𝑅𝑧 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑜 𝑥𝑅𝑧

Exemplo 1.2.1
Para (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑍02 𝑠𝑒𝑗𝑎 𝑑𝑒𝑓𝑖𝑛𝑖𝑑𝑎 𝑢𝑚𝑎 𝑟𝑒𝑙𝑎ção 𝑇 ∶ 𝑥𝑇𝑦 ↔ "𝑦 − 𝑥é numero par".

Vamos investigar a relação sobre reflexividade, simétria e transitividade. Ou seja


se ela é de equivalência.

Solução:

A expressão analítica da relação 𝑇 é 𝑦 − 𝑥 = 2𝑘, 𝑘 ∈ 𝑍 0.

Quando 𝑥 = 0, 𝑦 toma os valores 0,2,4,6,…,2𝑘 ou seja, os pares da relação


são: (0,0), (0,2), (2,0), (0,4), (4,0), (0,6)….,(0,2𝑘).

Quando 𝑥 = 1, 𝑦 toma os valores 1,3,5,7,…,2𝑘 + 1, o que corresponde aos pares


(1,1), (1,3), (2,0), (0,4), (4,0), (0,6)….,(0,2𝑘 + 1). Agora podemos passar a
investigação das propriedades.

a) Reflexividade: verifica se 𝑥𝑇𝑥,pois 0 é um numero par;

b) Simetria: seja 𝑥𝑇𝑦 então y−𝑥 = 2𝑘, 𝑘 ∈ 𝑍.Seguem sucessivamente que:−(𝑦 −


𝑥) = −2𝑘 ↔ 𝑥 − 𝑦 = 2(−𝑘) ↔ 𝑥 − 𝑦 = 2𝑚, 𝑚 = −𝑘.

A expressão 𝑥 − 𝑦 = 2𝑚 diz que 𝑦𝑅𝑥.Portanto a relação é simétrica.

c) Transitividade : Tenham se 𝑥𝑇𝑦, 𝑦𝑇𝑧.Vamos mostrar que 𝑥𝑇𝑧.

Pela hipótese, existem inteiros 𝑘, 𝑙 tais que y−𝑥 = 2𝑘 (1) , 𝑧 − 𝑦 =


2𝑙 (2). Fazendo 𝑦 = −2𝑙 + 𝑧 e substituindo esta relação em(1)recebemos
sucessivamente:

𝑦 − 𝑥 = −2𝑙 + 𝑧 − 𝑥 = 2𝑘 ↔ 𝑧 − 𝑥 = 2(𝑘 + 𝑙 ) ↔ 𝑥𝑇𝑧. Assim a relação é


transitiva. Como são cumpridas as três propriedades então a relação é uma relação
de equivalência.
Módulo de Teoria de Números. 18

1.2.2. Classe de Equivalência.


Seja 𝐴 ≠ ∅ um conjunto qualquer, 𝑅 uma relação de equivalência em 𝐴. O
conjunto de elementos que se relacionam com 𝑎 ∈ 𝐴 designa se "classe de
equivalência determinada por 𝑎"o subconjunto de·, [𝑎], 𝑜𝑢 𝑎̅ de A constituídos
pelos elementos x tais que xRa. Em linguagem matemática teremos:

[𝑎]𝑅 = {𝑥 ∈ 𝐴: 𝑥𝑅𝑎}

𝑎 , Designa se representante da classe.

Exemplo 1.2.2. Na relação de equivalência 𝑅=


{(𝑎, 𝑎 ), (𝑏, 𝑏), (𝑐, 𝑐), (𝑎, 𝑏), (𝑏, 𝑎)} temos:

[𝑎]𝑅 = {𝑎, 𝑏}

[𝑏]𝑅 = {𝑏, 𝑎}

[𝑐]𝑅 = {𝑐}

Relação 𝑇: 𝑦 − 𝑥 = 2𝑘, Classe de equivalência com representante 𝑎 = 0:

[0] = {𝑥 ∈ 𝑍: x𝑅0} = {0,2,4,6, . . ,2𝑝} = {2𝑝, 𝑝 ∈ 𝑍 0 } = {𝑛𝑢𝑚𝑒𝑟𝑜𝑠 𝑝𝑎𝑟𝑒𝑠}

Classe de equivalência com representante 𝑎 = 1:

[1] = {𝑥 ∈ 𝑍: x𝑅1} = {1,3,5,7, … ,2𝑞 + 1} = {2𝑞 + 1, 𝑞 ∈ 𝑍 0 }


= {𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜𝑠 𝑖𝑚𝑝𝑎𝑟𝑒𝑠}

Observando estas classes de equivalência, podemos constatar que:

Nenhuma delas é vazia, pois o representante esta lá dentro: 0 ∈ [0], 1 ∈ [1]. Cada
elemento duma classe se relaciona com os elementos da classe:

[1] = {𝑥 ∈ 𝑍: 1𝑅𝑥} = {1,3,5,7, … ,2𝑞 + 1}; 1𝑇3,3𝑇7,5𝑇7, …e mais por


exemplo:1 ∈ [3] e 3 ∈ [1]. Para representantes diferentes as classes são
disjuntas:[0] ∩ [1] = ∅

[0] ∪ [1] = 𝑍 0

Estas propriedades são resumidas no seguinte teorema.

Teorema 1.2.2. (propriedades de classes de equivalencia) : as classes de


equivalência duma relação de equivalência, num conjunto 𝐴 satisfazem as
seguintes propriedades:

1.[𝑎] ≠ ∅ ∀𝑎 ∈ 𝐴;

2. se aR b ⟹ [𝑎] = [𝑏]
Módulo de Teoria de Números. 19

3. Se 𝑎 ∈ [𝑏] ⇒ 𝑏 ∈ [𝑎] ∀𝑎, 𝑏 ∈ 𝐴;

4. Se 𝑎 ≠ 𝑏⇒[𝑎] ∩ [𝑏] = ∅ ∀𝑎, 𝑏 ∈ 𝐴;

4.
 a = 𝐴
a A
Demonstração:

1. Resulta da propriedade reflexiva;

3.É consequência da simetria;

4.Vamos demonstrar por absurdo ou indirectamente:

Seja [𝑎] ∩ [𝑏] ≠ ∅ ⇒ ∃𝑥 ∈ [𝑎] ∩ [𝑏]. 𝑥 ∈ [𝑎] 𝑒 𝑥 ∈ [𝑏] ⇒ 𝑥𝑅𝑎, 𝑥𝑅𝑏. Pela
simetria de 𝑅 tem se que 𝑎𝑅𝑥 e consequentemente 𝑎𝑅𝑏.Entao 𝑎 ∈ [𝑏]𝑒 𝑏 ∈
[𝑎]. 𝑅 é reflexivo, logo 𝑎𝑅𝑎 ou seja 𝑎 = 𝑏 o que contradiz a hipótese 𝑎 ≠ 𝑏.

Exercícios
Exercícios
Caro estudante como forma de consolidar a lição resolve as sequintes actividades:
1. Dada 𝑅 = {(𝑎, 𝑎), (𝑏, 𝑏), 𝑐, 𝑐), (𝑎, 𝑏), (𝑏, 𝑎)}
𝑠𝑜𝑏𝑟𝑒 𝐸 = {𝑎, 𝑏, 𝑐}.
a) Verifique se R é uma relação de equivalência.
Actividade b) Encontre [𝑎]; [𝑏] 𝑒 [𝑐]

Resumo
Nesta lição foram tratados os conceitos de relação de
equivalência e as respectivas classes de equivalência.
Módulo de Teoria de Números. 20

Lição n° 03
Conjunto-Quociente e Partição de um
Conjunto.
Introdução
Nesta lição você estudará o conceito de conjunto quociente e partição de um
conjunto.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Reconhecer o conjunto quociente a partir das


classes de equivalência.

 Entender o conceito de partição de um conjunto.


Objectivos da
lição
Módulo de Teoria de Números. 21

1.3.Conjunto-Quociente e Partição de um Conjunto.


Quando 𝑅 for relação de equivalência num conjunto 𝐴 ≠ ∅,o universo de todas as
𝐴
classes de equivalência designa−se conjunto quociente de𝐴 𝑝𝑜𝑟 𝑅 e denota−se 𝑅

𝐴
= {[𝑎]𝑅 : 𝑎 ∈ 𝐴}
𝑅

Exemplo 1.3. Na relação de equivalência 𝑅 = {(𝑎, 𝑎), (𝑏, 𝑏), (𝑐, 𝑐), (𝑎, 𝑏), (𝑏, 𝑎)}
temos:

[𝑎]𝑅 = {𝑎, 𝑏}

[𝑏]𝑅 = {𝑏, 𝑎}

[𝑐]𝑅 = {𝑐}
𝐴
Então = {[𝑎], [𝑏], [𝑐]} ⇒ {{𝑎, 𝑏}, {𝑐}}, o conjunto quociente.
𝑅

Sejam: 𝐴 = 𝑍 0 , a relação 𝑅: 𝑥𝑅𝑦 ↔ "𝑦 − 𝑥 é 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑝𝑎𝑟"

Como a expressão analítica da relação é 𝑦 − 𝑥 = 2𝑘,𝑘 ∈ 𝑍 0 ,é habitual esta


relação se simbolizar 𝑅 = 2𝑍 0 . O conjunto quociente de𝑍 0 𝑝𝑜𝑟 2𝑍 0 é

𝑍0
= {[𝑎]2𝑍 0 : 𝑎 ∈ 𝑍 0 } = {[0], [1]} = {𝑛𝑢𝑚𝑒𝑟𝑜𝑠 𝑝𝑎𝑟𝑒𝑠, 𝑛𝑢𝑚𝑒𝑟𝑜𝑟 𝑖𝑚𝑝𝑎𝑟𝑒𝑠}
2𝑍 0
= 𝑍0

Observação 1 : Nas classes [0]e[1]encontram se todos os inteiros, pois cada


classe com representante par está contida na classe [0]e com representante impar
está contida na classe [1] Assim podemos "construir o conjunto de números
inteiros a partir desta relação de equivalência tomando apenas os representantes 0
e 1 ".

1.3.1. Partição de um Conjunto.

Seja 𝑋 ≠ ∅ um conjunto arbitrário. Uma família 𝑋1 , 𝑋2, , 𝑋3 , … . , 𝑋𝑛 de


subconjuntos ou blocos de 𝑋. chama− se partição de 𝑋 se satisfazer as seguintes
condições :

1) 𝑋𝑖 ≠ ∅ para 𝑖 = 1 ,2, 3, … , 𝑛 ;
2) Para 𝑖 ≠ 𝑗: 𝑋𝑖 ∩ 𝑋𝑗 = ∅ (conjuntos disjuntos)
3) ∪ 𝑋𝑖 = 𝑋 Para todos 𝑖.
Módulo de Teoria de Números. 22

Exemplo 1.3. 1 : Seja 𝑋 = {𝑎, 𝑏, 𝑐}. A família 𝑋1 = {𝑎}, 𝑋2 = {𝑏}, 𝑋3 = {𝑐} de


subconjuntos de 𝑋 é uma partição, pois:
a) Cada conjunto não é vazio,
b) 𝑋1 ∩ 𝑋2 = ∅ ;𝑋2 ∩ 𝑋3 = ∅ e 𝑋1 ∩ 𝑋3 = ∅;
c) 𝑋1 ∪ 𝑋2 ∪ 𝑋3 = 𝑋.

Exercícios
Exercícios
Caro estudante como forma de consolidar a lição resolve as sequintes actividades:

1. Sejam 𝐴 = {1,2,3,4}

𝑅 = (1,1), (1,2), (2,1), (2,2), (3,4), (4,3), (3,3), (4,4).

Actividade a) Encontre a partição do conjunto A.


𝐴
Resp: = {{1,2}, {3,4}}
𝑅

Resumo
Nesta lição foram tratados os conceitos de conjunto
quociente e partição de um conjunto.
Módulo de Teoria de Números. 23

Lição n° 04
Relação de Ordem e Conjunto Ordenado.
Introdução.
Nesta lição você estudará o conceito de relação de ordem e conjunto ordenado.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Reconhecer uma relação de ordem;

 Ter noção do conjunto ordenado.

Objectivos da
lição
Módulo de Teoria de Números. 24

1.4.Relação de Ordem e Conjunto Ordenado.

Uma relação R sobre um conjunto E não vazio é chamada relação de ordem


parcial sobre E se, R é reflexiva, anti-simétrica e transitiva. Ou seja se são
cumpridas as três propriedades:

I. 𝑆𝑒 𝑥 ∈ 𝐸, 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑥𝑅𝑥;
II. 𝑆𝑒 𝑥, 𝑦 ∈ 𝐸, 𝑥𝑅𝑦 𝑒 𝑦𝑅𝑥, 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑥 = 𝑦 ;
III. 𝑆𝑒 𝑥, 𝑦, 𝑧 ∈ 𝐸, 𝑥𝑅𝑦 𝑒 𝑦𝑅𝑧, 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑥𝑅𝑧.

Quando R é uma relação de ordem parcial sobre E, para exprimir que (a, b)∈ 𝑅,
usaremos a notação a≤ 𝑏 (R), que se lê “ a precede b”. Para exprimir que (a, b)∈
𝑅 e 𝑎 ≠ 𝑏, usaremos a notação a< 𝑏 (R), que se lê “ a precede estritamente b”.

Definição 1.4.1: um conjunto parcialmente ordenado é um conjunto sobre o qual


se definiu uma certa relação de ordem parcial.

Definição 1.4.2: seja R uma relação de ordem parcial sobre E. Os elementos (a,
b)∈ 𝑅 se dizem comparáveis mediante a R se a≤ 𝑏.

Definição 1.4.3: se dois elementos quaisquer de E forem comparáveis mediante


R, então será chamada relação de ordem total sobre E. Nesse caso, o conjunto é
dito conjunto totalmente ordenado por R.

Exemplo 1.4: A relação R sobre ℕ definida por xRy se, somente se, x|y “ x divide
y” é uma relação de ordem, pois:
∀𝑥 ∈ ℕ ⇒ 𝑥|𝑥
(∀𝑥, 𝑦 ∈ ℕ ); 𝑥 |𝑦 𝑒 𝑦|𝑥 ⟹ 𝑥 = 𝑦
(∀𝑥, 𝑦, 𝑧 ∈ ℕ), 𝑥|𝑦 𝑒 𝑦|𝑧 ⟹ 𝑥|𝑧
Como se pode provar facilmente usando-se o conceito de divisor que o conjunto
N é parcialmente ordenado por essa relação. Essa ordem não ordena totalmente N
porque há elementos de N não comparáveis por divisibilidade, por exemplo, o 2 e
3, “2 não divide 3 e 3 não divide 2”.
Módulo de Teoria de Números. 25

Exercícios
Exercicios
Caro estudante como forma de consolidar a lição resolve as sequintes actividades:

1.Mostre que a relação ⊆ é uma relação de


ordem sobre o conjunto potência do conjunto
𝐵 = {1,2,3}. Diga se ela é uma relação de
Actividade
ordem total ou parcial.

Resumo
Nesta lição foram tratados os conceitos de relação de
ordem e o conjunto ordenado.
Módulo de Teoria de Números. 26

SEMINÁRIO-1
1. Dada a relação 𝑅 = {(1,1); (1,2); (2,1); (2,2); (3,3); (3,4); (4,4)}.
Verifique se a relação é reflexiva, simétrica, assimétrica, anti-simétrica
,transitiva e dicotómica.
2. Seja A={1,2,3,4} e seja a relação de equivalência R sobre A definida por
R={(1,1),(1,2),(2,1),(2,2),(3,4),(4,3),(3,3),(4,4). Determine todas as
classes de equivalência de R.
3. Sejam 𝐴 e 𝐵conjuntos finitos,𝑚 = 𝑐𝑎𝑟𝑑𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝐴,𝑛 = 𝑐𝑎𝑟𝑑𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝐵.
Quantas relações no máximo podem ser definidas de 𝐴 para 𝐵 ?
4. Uma relação R definida por uma matriz identidade de ordem 3x3, é uma
relação reflexiva ou ela é simétrica? Justifique.
5. Seja 𝐴 = {𝑎, 𝑏, 𝑐}, determine se, a relação R cuja matriz é dada abaixo é
uma relação de equivalência. Quais são as classes de equivalência?

1 0 0
𝑀𝑅 (3𝑥3) = 0 1 1
0 0 1
6. No conjunto dos primeiros quatro números naturais 𝑁4 = {1,2,3,4} define
se a relação 𝑆: = {(1,1); (1,2); (1,3); (1,4); (2,1); (3,4)}.
a) Diga como está representada a relação 𝑆;
b) Represente 𝑆 num digrafo direccionado; o digrafo é anti-simétrica ?
c) Determine a matriz de 𝑆.

7. Se {{1,2},{3},{4,5}} é uma partição do conjunto A={1,2,3,4,5}. Determine


a relação de equivalência R correspondente e represente o digrafo de R.

8.seja 𝐸 = {𝑥 ∈ ℤ | |𝑥| ≤ 3} e R a relação sobre E defenida por xRy se,


somente se 𝑥 2 + 2𝑥 = 𝑦 2 + 2𝑦.
a) Mostre que R é relação de equivalência.
b) Descreva o conjunto –Quociente .

9. Explicite a relação determinada pelo digrafo abaixo, observe se o digrafo é


reflexivo.
Módulo de Teoria de Números. 27

10. Uma relação definida num conjunto não vazio chama−se relação de ordem
parcial, quando é reflexiva, anti−simétrica e transitiva. O conjunto designa−se
conjunto parcialmente ordenado.

Demonstre que o conjunto de números naturais é parcialmente ordenado pela


relação "𝑥 ≤ 𝑦"

Fim !
Módulo de Teoria de Números. 28

Unidade II
Conjunto ℕ. Conjunto dos Números
Naturais.
Introdução.
Na unidade I aprendeste o conceito de relações binárias e estabeleceu-se algumas
propriedades. As relações de equivalência, aquelas que são reflexivas, simétricas
e transitivas, assumiram tamanha importância, pelo facto de fornecerem uma
estrutura algébrica importante, o conjunto quociente, que permite estabelecer
definições dos conjuntos numéricos.

O conjunto quociente resulta colecção de classes de equivalência duma relação de


equivalência num conjunto. Nesta unidade descreveremos o conjunto dos
números naturais 𝑁, conjunto sobre o qual construiremos algebricamente os
outros conjuntos por estudar.

Objectivos da Unidade

Nesta unidade vai perceber o processo de construção axiomática do conjunto de


números naturais; o processo de demonstração de proposições sobre naturais.
Módulo de Teoria de Números. 29

Lição n° 01
Introdução ao estudo de números
Naturais,Construção axiomática de N.
Introdução
Desde os primórdios existiram a necessidade de contagem e são exactamente os
números naturais que estão envolvidos com esta ideia de quantidade, os números
naturais tiveram suas origens nas palavras utilizadas para a contagem de objectos,
começando com o número um.

Nesta lição, você estudará a construção dos números naturais.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Construir axiomaticamente o conjunto dos


números naturais.

 Estudar o princípio de indução Matemática.


Objectivos da
lição
Módulo de Teoria de Números. 30

2.1 Introdução ao Estudo de Números Naturais, Construção


Axiomática de N.

O número natural pode ser abordado como ordinal – quando visto como elemento
da colecção 0,1,2,3,4,. ou cardinal – quando visto como quantidade de elementos
dum conjunto ,ou seja, cardinal de um conjunto.

Estas diferentes abordagens dos números naturais, ou seja, estas diferentes formas
de construção do conjunto de números naturais, condicionaram ao surgimento de
duas" escolas",as escolas formalista e lógica para fundamentá− los.

A escola formalista era representada pelos Matemáticos e Filósofos Grassman,


Dedekind, Peano e Hilbert enquanto a escola dos lógicos era defendida pelos
matemáticos Frege, Cantor e Russel.

Os Formalistas fundamentam os números naturais como ordinais, enquanto os


lógicos caracterizam−os como números cardinais.

O uso duma ou daquela fundamentação depende do objectivo a ser alcançado.


Para o nosso objectivo, que constitui a construção algébrica de conjuntos
numéricos, seguiremos a via formalista, visto que ela não acarreta vários
conceitos a aplicar nas construções algébricas que pretendemos.

Os formalistas fundamentam os números naturais através de axiomas, por isso a


construção desse conjunto é axiomática.

Seja dito de antemão, que não se trata de definirmos os diferentes tipos de


números, pois número não se define, mas sim, estamos interessados em
fundamentar os conjuntos numéricos, descrevendo o processo de sua construção e
questionando o que e como se pode fazer algo com esses números.

2.1.1.Construção axiomática do conjunto de números naturais.

O Matemático Italiano Giuseppe Peano (1858−1932),um dos defensores da


escola formalista, mostrou que o conjunto de números naturais pode ser
fundamentado através de três conceitos primitivos e cinco axiomas,para além de
outras proposições da lógica pura.

Os três conceitos são: Zero, número e sucessor.

Zero são um ente matemático, número é uma classe e sucessor uma relação.
Módulo de Teoria de Números. 31

Os cinco axiomas ,denominados Axiomas de Peano, são:

Axioma 1: Zero é número

Axioma 2: O sucessor dum número é número;

Axioma 3: Dois números não podem ter mesmo sucessor;

Axioma 4: Zero não é sucessor de nenhum número;

Axioma 5: Toda a propriedade que pertence a zero e ao sucessor dum número que
goze dessa propriedade pertence a todos os números.

Estes cinco axiomas são as proposições que caracterizam a sucessão ordinal de


números naturais . ℕ0 = {0,1,2,3,4,…….}.

Façamos alguns comentários sobre estes axiomas.

Ax1) Este axioma refere que 0 é o primeiro número natural; alguns autores que
seguem a tradição antiga, consideram 1 como primeiro número, mas nada altera o
conteúdo dos mesmos.

Assim, os postulados de Peano também podem ser apresentados do seguinte


modo:

i. postulado: 1∈ ℕ
ii. Para qualquer : n∈ ℕ, existe um único numero n* denominado
sucessor de n
iii. Para n∈ ℕ, 𝑛 ∗≠ 1
iv. Se m, n∈ ℕ e 𝑛 ∗= 𝑚 ∗ então n=m, isto é, cada numero natural tem
um só sucessor
v. Qualquer subconjunto K de ℕ (𝐾 ⊂ ℕ) tendo as propriedades (a)1 ∈
𝐾 e (b) k*∈ 𝐾 sempre 𝑘 ∈ 𝐾, então K é igual a ℕ = {1,2,3, … . . }

Obs: algumas obras usam 𝑛 ∗ em vez de 𝑠𝑢𝑐(𝑛) para indicar sucessor de n.

Os postulados 1º e 2º mostram respectivamente que:

 1 é um numero natural, cada numero natural tem um sucessor;


 O postulado 3 estabelece o 1º numero natural é 1 (um) e o 4º
postulado estabelece que números naturais distintos n e m têm
sucessores distintos 𝒏 + 𝟏 𝑒 𝒎 + 𝟏 respectivamente;
 O 5º postulado estabelece essencialmente que qualquer numero
natural pode ser atingido começando com 1 e contando os sucessores
consecutivos:
Módulo de Teoria de Números. 32

1 2 3 4
1 1* (1*)* ((1*)*)*

Desde modo ,como usualmente o fazemos, a sucessão supra simboliza se N,ou


com rigor 𝑁 0 :

𝑁 0 = {0,1,2,3, … . . . }

O sucessor de um numero entende se o numero que imediatamente lhe sucede na


ordem natural.
Assim, o sucessor de 0 é 1,o sucessor de 1 é 2,e assim sucessivamente. Assim
existe uma função, nomeiemo− la, suc, que ordena um natural 𝑛 ao seu sucessor:

Suc ∶ N0 → N;

Suc(n) = n + 1

Temos então que : Suc(0) = 0 + 1 = 1; suc(1) = 1 + 1 = 2; Suc(2) = 2 + 1 =


3; ….

Os axiomas 2,3,4 e 5 podem ser reformulados com ajuda da função sucessor da


seguinte maneira:

Ax2) Suc(n) ∈ N ∀n ∈ N;

Ax3) A expressão "Dois números não podem ter mesmo sucessor " significa
que,se Suc(n) = Suc(m)então n = m ∀n, m ∈ 𝑁,ou seja, a função Sucessor é
injectiva; Os axiomas 2 e 3 referem que cada numeronatural, excepto o
zero,possui um e único sucessor, que também é um número natural.

Podemos ainda observar que dados dois números naturais a e b tem se os


seguintes casos: a igual b ( 𝑎 = 𝑏 ) ou a é sucessor de b (a > b ) ou b é sucessor
de a (a) portanto ,os elementos de N estão dispostos de tal maneira que depois de
um primeiro elemento,os restantes elementos estão dispostos sucessivamente um
apos do outro.

Deste modo, o conjunto N é um conjunto ordenado. Estaordenação permite –nos


formular as seguintes proposições primitivas que caracterizam os números
naturais:

[𝑷𝟏]: Dados dois números naturais diferentes,um deles precede o outro este
Módulo de Teoria de Números. 33

sucede aquele;

[𝑷𝟐]: Se o natural a sucede b e este sucede c, então a sucede c ( a relação


"sucessor de "é uma relação de equivalência) ;

[𝑷𝟑]: Existe um natural, o natural zero, que precede todos os outros;

[𝑷𝟒]: Todo o natural tem um único sucessor, também natural;

[𝑷𝟓]: Todo o natural, excepto o natural zero ( que não tem antecessor) tem um e
único antecessor, também natural.

Os factos apresentados por estas propriedades primitivas de números naturais,


justificam que a sucessão 0,1,2,3,…,dos números naturais se chame também
sucessão de números ordinal de números naturais.

Ax4) Zero não é sucessor de nenhum numero natural significa que não existe
algum natural n com Suc(n) = 0,ou seja 0 ∉ Im(Suc(n)).

Ax5) Seja P(n) a propriedade referida neste axioma e 𝑋 o conjunto de validade


desta propriedade.

Se 1.0∈ 𝑋

2. 𝑛 ∈ 𝑋 ⇒ 𝑆𝑢𝑐(𝑛) ∈ 𝑋

Então𝑋 = 𝑁.

O conjunto 𝑋 é definido por compreensão pela propriedade 𝑃(𝑛) e esta


propriedade a ser verificada para o sucessor de n,ou seja, ao se verificar para
𝑃(𝑛 + 1),então o conjunto 𝑋torna se N.

Assim este axioma constitui fundamento do princípio da indução matemática


completa ou simplesmente indução matemática. Este princípio diz o seguinte:

" Se uma propriedade for valida para zero, supondo- se que sua validade para um
natural n implica validade para 𝑆𝑢𝑐 (𝑛), então essa propriedade será valida para
todo n∈ 𝑁"

Na maioria dos casos, a validade das propriedades (proposições) não se verifica a


partir do zero,ou seja não iniciam com P(0), mas sim, dum certo numero natural
𝑛0 .,ou seja, iniciam com P(𝑛0 ).

Por exemplo, a proposição 2𝑛 > 3 é válida para 𝑛 ≥ 2. Assim a verificação de


sua validade deve pelo menos iniciar em 𝑛0 = 2 .

2.1.2. Princípio da indução Matemática.


Módulo de Teoria de Números. 34

O princípio da indução matemática serve para demonstrar propriedades ou


proposições dependentes de números naturais.O facto de alguns processos de
indução iniciarem com 𝑛0 =0 e outros com um 𝑛0 ≠ 0 Faz existir duas
formulações deste princípio.

Antes de enunciarmos as duas formulações, vamos citar o axioma do "Principio


da boa ordenação de N" que será útil, entre outros, nas demonstrações desses
princípios de equivalência.

Princípio da ordenação em N: Todo o subconjunto não vazio X de números


naturais possui um elemento mínimo, i.é possui um 𝑛0 tal que 𝑛0 ≤ 𝑛 ∀𝑛 ∈ 𝑋

Para exemplificar este princípio, caro estudante construa um subconjunto


qualquer de N e verifique este princípio

Teorema 2.1.2 (Principio da indução matemática, 1a forma): sejam 𝐴=


{𝑛0 , 𝑛1 , 𝑛2 , … . , } um conjunto de números naturais, 𝑛0 < 𝑛1 < 𝑛2 < … . ., P(n)
uma proposição que depende de n ,tal que:

a) P(𝑛0 )é verdadeira;

b) 𝑚 ∈ 𝐴 e 𝑃(𝑛) é verdadeira para todos n∈ 𝐴 tal que para 𝑛 < 𝑚, então P(𝑚) é
verdadeira; Então P(n) é verdadeira para qualquer n∈ 𝑁 .

Demonstração: por redução ao absurdo.

Seja 𝐵 = {𝑙 ∈ 𝑁: 𝑃 (𝑙 ) é 𝑣𝑒𝑟𝑑𝑎𝑑𝑒𝑖𝑟𝑎}e suponhamos por absurdo que 𝐵 ≠ ∅.

Pelo princípio de boa ordenação, existe um 𝑙0 ∈ 𝐵, 𝑙0 > 𝑛0 (já que P(𝑛0 ) é


verdadeira) tal que 𝑙0 ≤ 𝑙 ∀ 𝑙 ∈ 𝐵 (i.é. 𝑙0 é um elemento mínimo de B)⇒P(n) é
verdadeira para todo n∈ 𝐴 tal que 𝑛 < 𝑙0 (a não validade desta afirmação
comprometeria a minimalidade de 𝑙0 ).

Pela hipótese b) temos que 𝑃(𝑙0 )é verdadeira, uma contradição.

Assim B= ∅ e P(n) verdadeira para todo n∈ 𝐴.

Na prática, o princípio da indução decorre conforme um dos algoritmos:

Seja P(n) a proposição por demonstrar.

a) Verifica se, se 𝑃(𝑛0 )é verdadeira para um certo 𝑛0 ∈ 𝑁;( inicio da


indução ) (1)
b) Caso 𝑃 (𝑛0 )seja verdadeira, aceita se que P(n) seja verdadeira para
qualquer n;
Módulo de Teoria de Números. 35

Da validade de 𝑃 (𝑛) demonstra se que 𝑃(𝑛 + 1) é verdadeira (por outros


raciocínios matemáticos) e dai conclui se que a proposição P(n) tautologia em N.

Este procedimento pode ser descrito simbolicamente da seguinte maneira:

a) P(𝑛0 ) (inicio da indução)

b) Hipótese (H.) :𝑃(𝑛); (significa P(n) aceita se verdadeira) (2)

Tese (T.) : 𝑃(𝑛 + 1) (significa que queremos demonstrar que 𝑃(𝑛 + 1)é
verdadeira)

Demonstração da tese e depois conclusão.

Exemplo 2.1.2: Demonstrar que 1 + 3 + 5 +….+(2𝑛 − 1) = 𝑛2 ∀ n≥ 1

Solução: designemos 𝑃(𝑛) a proposição por demonstrar, ou seja,

P(n) : 1 + 3 + 5+….+(2𝑛 − 1) = 𝑛2

a) P(1): 1= 12 ;1= 1 (v);


b) Hipótese: 𝑃(𝑛)

Tese: 𝑃(𝑛 + 1)

Demonstração

1 + 3 + 5 + ⋯ . +(2𝑛 − 1) = 𝑛2 pela hipótese

1 + 3 + 5 + ⋯ . +(2𝑛 − 1) + 2𝑛 + 1
= [1 + 3 + 5 + ⋯ . +(2𝑛 − 1)] + 2𝑛 + 1 = 𝑛2 + 2𝑛 + 1
= (𝑛 + 1)2 ■

Repare que P(n+1) é a soma de P(n) da hipótese mais um somante impar.

( Principio de indução ,2𝑎 forma): Seja 𝐴0 = 𝑁 ∪ {0}e P(n) uma proposição que
depende de 𝑛 ∈ 𝑛 ∈ 𝐴0 ,tal que:

a) P(0) é verdadeira,
b) Para cada 𝑛 ∈· 0 ·, o facto de P(n) ser verdadeira implica P(n+1)
também ser verdadeira.

Então P(n) é também verdadeira para qualquer 𝑛 ∈ 𝐴0 .

Demonstração: A demonstração é análoga à do princípio de indução,1𝑎 forma,


Módulo de Teoria de Números. 36

pondo 𝐴0 = 𝑁 ∪ {0} = 𝐴.

Como se pode constatar, o inicio da indução é P(0),o que significa que a segunda
formulação do principio de indução corresponde a indução completa

Exemplo: Demonstrar que(1 + ℎ )𝑛 ≥ 1 + 𝑛ℎ , ∀𝑛 ∈ 𝑁 0 , ℎ ∈ 𝑅\{−1}

(Desigualdade de Bernoulli)

Solução:

P(n) :(1 + ℎ )𝑛 ≥ 1 + 𝑛ℎ , ∀𝑛 ∈ 𝑁 0 , ℎ ∈ 𝑅\{−1}

P(0): (1 + ℎ )0 ≥ 1 + 0 = 1; 1 ≥ 1 (v)

Hipótese: P(n),

Tese: P(n+1)

Demonstração (temos que demonstrar que (1 + ℎ )𝑛+1 ≥ 1 + (𝑛 + 1)ℎ

(1 + ℎ )𝑛 ≥ 1 + 𝑛ℎ .Multiplicando ambos os membros da igualdade por (1 + ℎ)


e recorrendo à outros raciocínios matemáticos temos sucessivamente:

(1 + ℎ )𝑛 ≥ 1 + 𝑛ℎ |(1+h)

(1 + ℎ )𝑛 .(1+h) ≥ (1 + 𝑛ℎ ). (1 + ℎ );

(1 + ℎ )𝑛+1 ≥ 1 + ℎ + 𝑛. ℎ + 𝑛. ℎ 2 = 1 + (𝑛 + 1). ℎ + 𝑛. ℎ 2 ≥ 1 + (𝑛 + 1). ℎ;


Assim

(1 + ℎ )𝑛+1 ≥ 1 + (𝑛 + 1). ℎ

Exercícios
Módulo de Teoria de Números. 37

Exercicios
Caro estudante como forma de consolidar a lição resolve as sequintes actividades:

1.Existiram duas escolas que se notabilizaram na


fundamentação dos números naturais,indique as escolas
e seus precursores.
Actividade
2. Os axiomas de Peano são o fundamento formalista de
números naturais. Justifique a afirmação supra.

3 Mencione os três conceitos primitivos e especifique o


significado de cada um e Identifique três proposições
da lógica pura que apurou durante a leitura dos
apontamentos desta unidade

4.Explique a relação entre o princípio de boa ordenação


de N e o princípio de indução matemática.

5.Usando principio da indução matemática demonstrar


que:
1 1 1 1 1 𝑛
a) 1.2 + 2.3 + 3.4 + 4.5 + ⋯ + 𝑛.(𝑛+1) = 𝑛+1 ∀𝑛 ∈ 𝑁 0 ;

b) 2n ≥ n + 1 para todo n ≥ 0;

6.Um número natural a diz−se ser múltiplo de um outro


número natural b, se existir um natural p tal que a=b.p.

Por exemplo, 15 (=a) é múltiplo de 5 (= b), pois existe


um p, nomeadamente p=3,tal que 15=5.3. Mostre por
indução que 52𝑛 − 1 é múltiplo de 24.

Resumo
Nesta lição foram tratados os seguintes conteúdos: a
construção axiomática do conjunto dos naturais e o
princípio de indução Matemática.

Lição n° 02
Módulo de Teoria de Números. 38

Operações em N e suas propriedades.


Introdução.
Na lição passada abordamos sobre o princípio da indução Matematica. Nesta
lição você estudará as operações em N e sua s propriedades.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Operar usando os números naturais;

 Aplicar as propriedades em N.

Objectivos da
lição

2.2. Definição de Operações em N.

2.2.1. Adição:
Módulo de Teoria de Números. 39

A adição define -se pelas seguintes convenções:

(A1) 𝑛 + 1 = 𝑆𝑢𝑐(𝑛);

Exemplo: 3 + 1 = 𝑆𝑢𝑐(3) = 4

(A2) 𝑛 + 𝑆𝑢𝑐(𝑚) = 𝑆𝑢𝑐(𝑛 + 𝑚).

Exemplo : 2 + 3 = 2 + 𝑆𝑢𝑐(2) = 𝑆𝑢𝑐(2 + 2) = 𝑆𝑢𝑐(4) = 5.

Vamos demonstrar as propriedades de existência, unicidade da adição de inteiros


e estabelecer algumas propriedades operatórias. As propriedades serão
demonstradas pelo método de indução matemática.

Teorema 2.2. (existência da adição): A adição de dois números naturais é


também um número natural.

Demonstração

Vamos utilizar a indução em b. Para tal colocamos 𝑏 = 𝑛 e teremos a proposição


por demonstrar

𝑃(𝑛) ∶ 𝑎 + 𝑛 = número natural para todos números naturais.

a) P(1) 𝑎 + 1=número natural é verdadeira pela convenção (A1) da adição;


b) H.: 𝑃(𝑛)

T.: 𝑃(𝑛 + 1)

Demonstração

𝑎 + 𝑛 = número natural pela hipótese,

𝑆𝑢𝑐(𝑎 + 𝑛)=número natural pela proposição primitiva sobre naturais


[P4];

𝑎 + 𝑆𝑢𝑐(𝑛)Número natural pela convenção (A2) da adição.

⇒𝑎 + 𝑛 = numero natural ∀ 𝑛 ∈ 𝑁■

Teorema 2.2.1.( unicidade da adição ):Se adicionarmos qualquer natural


a ambos os termos duma igualdade entre naturais, obtemos ainda uma
igualdade:

H.(do teorema): a=b

T.(do teorema): 𝑎 + 𝑛 = 𝑏 + 𝑛 para todo natural

Demonstração( por indução em n)


Módulo de Teoria de Números. 40

𝑃(𝑛) ∶ 𝑎 + 𝑛 = 𝑏 + 𝑛

a) P(1) : pela hipótese H. a=b

𝑆𝑢𝑐(𝑎) = 𝑆𝑢𝑐(𝑏) pela proposição primitiva P[4].

Então 𝑎 + 1 = 𝑏 + 1 pela convenção da adição (A1)]

b) H (da indução): 𝑃(𝑛)

T. (da indução) 𝑃(𝑛 + 1)

Demonstração: 𝑎+𝑛 = 𝑏+𝑛⇒ 𝑆𝑢𝑐(𝑎 + 𝑛) = 𝑆𝑢𝑐(𝑏 + 𝑛)


(𝑃4)

⇒ 𝑎 + 𝑆𝑢𝑐(𝑛) = 𝑏 + 𝑆𝑢𝑐(𝑛) ■
((𝐴2))

Teorema 2.2.2. ( Propriedades operatórias da adição em N ): A adição


em N,para quaisquer números naturais 𝑙, 𝑚, 𝑛, goza das seguintes
propriedades.:

a) Comutativa : 𝑛 + 𝑚 = 𝑚 + 𝑛;
b) Associativa : (𝑛 + 𝑚) + 𝑙 = 𝑛 + (𝑚 + 𝑙);
c) Existência de elemento neutro :n+0=n;

Demonstração:

Vamos demonstrar por indução em l a propriedade associativa.As


propriedades a) e b) serão provadas nos exercícios. Para o propósito
remetemos primeiro o teorema de Euclides sobre relação de igualdade.

Teorema 2.2.3. (de Euclides sobre relação de igualdade):Se dois


naturais são iguais a um terceiro, então são iguais entre si:

H. : 𝑎 = 𝑐 𝑒 𝑏 = 𝑐

T. : 𝑎 = 𝑏

Demonstração:

A hipótese 𝑏 = 𝑐 → 𝑐 = 𝑏 pela transitividade da igualdade. Então

𝑎 = 𝑐 = 𝑏o que mostra 𝑎 = 𝑏 ■.

Agora podemos demonstrar a propriedade associativa da adição

Seja 𝑃(𝑙) ∶. ∶ (𝑛 + 𝑚) + 𝑙 = 𝑛 + (𝑚 + 𝑙)

a)𝑃(1) ∶ 𝑆𝑢𝑐(𝑛 + 𝑚) = (𝑛 + 𝑚) + 1

𝑆𝑢𝑐(𝑛 + 𝑚) = 𝑛 + 𝑆𝑢𝑐(𝑚).pela convenção da adição (A2)


Módulo de Teoria de Números. 41

(𝑛 + 𝑚) + 1 = 𝑛 + 𝑆𝑢𝑐(𝑚)

(𝑛 + 𝑚) + 1 = 𝑛 + (𝑚 + 1) .Assim 𝑃(1) é verdadeiro;

b)H. : 𝑃(𝑙) é verdadeiro

T.: 𝑃(𝑙 + 1)

Demonstração: (𝑛 + 𝑚) + 𝑙 = 𝑛 + (𝑚 + 𝑙) ( H.)

𝑆𝑢𝑐((𝑛 + 𝑚) + 𝑙) = 𝑆𝑢𝑐(𝑛 + (𝑛 + 𝑙)) ( P4 )

(𝑛 + 𝑚) + 𝑆𝑢𝑐(𝑙) = 𝑛 + 𝑆𝑢𝑐(𝑚 + 𝑙) ( (A2))

(𝑛 + 𝑚) + 𝑆𝑢𝑐(𝑙) = 𝑛 + (𝑚 + 𝑆𝑢𝑐(𝑙) ) ((A2)) ■

Outras propriedades da adição recomenda−se leitura das obras


indicadas e inerente a ordem em N .

Teorema 2.2.4. ( De Arquimedes): Sejam 𝑎, 𝑏 ∈ 𝑁com 𝑎 > 𝑏. Então


existe um e único natural x tal que 𝑎 = 𝑏 + 𝑥 .

Demonstração:

a) Existência de x

Como por hipótese 𝑎 > 𝑏 então temos que 𝑎 = 𝑆𝑢𝑐(𝑏) 𝑜𝑢 𝑎 >


𝑆𝑢𝑐(𝑏);

i. Se 𝑎 = 𝑆𝑢𝑐(𝑏) = 𝑏 + 1 ,então temos 𝑥 = 1 ,


ii. Se 𝑎 > 𝑆𝑢𝑐(𝑏) vamos mostrar a existência de x via indução
em 𝑎 = 𝑛

:H 𝑛 > 𝑏 implica a existência de x tal que :𝑛 = 𝑏 + 𝑥;

T.: 𝑆𝑢𝑐(𝑛) > 𝑏 implica a existência de y tal que 𝑆𝑢𝑐(𝑛) = 𝑏 + 𝑦.

Demonstração:

𝑛 = 𝑏+𝑥 ( H.)

𝑆𝑢𝑐(𝑛) = 𝑆𝑢𝑐(𝑏 + 𝑥) ( 𝑃4)

𝑆𝑢𝑐(𝑛) = 𝑏 + 𝑆𝑢𝑐(𝑥) ((𝐴2))

⇒ 𝑦 = 𝑆𝑢𝑐(𝑥) ■

b) Unicidade de x

Sejam 𝑥 𝑒 𝑥’naturais ,tais que 𝑎 = 𝑏 + 𝑥 𝑒 𝑎 = 𝑏 + 𝑥’,com 𝑎 > 𝑏.


Módulo de Teoria de Números. 42

Pelo teorema 2.5(Euclides) : 𝑏 + 𝑥 = 𝑏 + 𝑥’.

Exemplo : 17 > 4 ,por isso existe um numero natural 𝑥,tal que 17 =


4 + 𝑥, nomeadamente 𝑥 = 13

Pela lei do corte ( que será provada nos exercícios): 𝑥 = 𝑥’o que
mostra que x é único. ■

Observação : O recíproco deste teorema é válido.

2.2.2. Definição da Multiplicação em N.

Para números naturais m,n define se a multiplicação pelas seguintes


convenções:

𝑀1) 𝑛. 1 = 𝑛

𝑀2) … 𝑛. 𝑆𝑢𝑐(𝑚) = 𝑛. 𝑚 + 𝑛 .

Exemplo 2.4:

a) 5.1 = 5;
b) 4. 𝑆𝑢𝑐(3) = 4.3 + 4 = 16 .

Em analogia à adição, vamos formular e demonstrar algumas


propriedades sobre a multiplicação

Teorema 2.2.3. (Existência da multiplicação): O produto de dois


números naturais é um número natural, ou seja, para quaisquer 𝑎, 𝑏 ∈
𝑁 , o produto 𝑎. 𝑏 ∈ 𝑁.

Demonstração: indução em b sobre 𝑃(𝑏) ∶ 𝑎. 𝑏 = 𝑛𝑢𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑛𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑙

a) 𝑃(1)é verdadeira em virtude da convenção 𝑀1) da multiplicação;


b) H : 𝑃(𝑛)
c) T. : 𝑃(𝑆𝑢𝑐(𝑛))

Demonstração:𝑎. 𝑏 ∈ 𝑁

𝑎. 𝑆𝑢𝑐(𝑏) = 𝑎. 𝑏 + 𝑎 (𝑀2);

Pela hipótese e pelo teorema 2.3 conclui se que 𝑎. 𝑆𝑢𝑐(𝑏) ∈ 𝑁,o


que se queria provar.finalmente tem se que 𝑎. 𝑏 ∈ 𝑁para quaisquer
números naturais.

Teorema 2.2.4. (Unicidade da multiplicação): Se 𝑎 = 𝑏 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑎. 𝑐 = 𝑏. 𝑐.para


quaisquer naturais a,b,c .
Módulo de Teoria de Números. 43

Demonstração( indução em 𝑐 = 𝑛 𝑠𝑜𝑏𝑟𝑒 𝑃(𝑛): 𝑎. 𝑛 = 𝑏. 𝑛 )

a) 𝑃(1) ∶ 𝑖. ) 𝑎. 1 = 𝑎 (𝑀1));

ii ) 𝑎=𝑏 (H. do teorema),

iii) 𝑏. 1 = 𝑏 ( 𝑀1);

⇒ 𝑖) + 𝑖𝑖) + 𝑖𝑖𝑖) 𝑎. 1 = 𝑏. 1 (Transitividade de =)⇒P(1) é


verdadeiro

b) H.: 𝑃(𝑛)

T.: 𝑃(𝑆𝑢𝑐(𝑛))

Demonstração:

𝑎 = 𝑏 (H.do teorema);

𝑎. 𝑛 = 𝑏. 𝑛 ( H. da indução );

𝑎. 𝑛 + 𝑎 = 𝑏. 𝑛 + 𝑏 ( Unicidade da adição );

𝑎. 𝑛 + 𝑎 = 𝑎. 𝑆𝑢𝑐(𝑛) 𝑒 𝑏. 𝑛 + 𝑏 = 𝑏. 𝑆𝑢𝑐(𝑛) (𝑀2))

𝑛. 𝑆𝑢𝑐(𝑛) = 𝑛. 𝑆𝑢𝑐(𝑛) ■

Teorema 2.2.5. (Propriedades operatórias da multiplicação em N)

Para quaisquer números naturais a,b,c valem as seguintes propriedades


operatórias da multiplicação:

a) Comutativa :𝑎. 𝑏 = 𝑏. 𝑎;
b) Associativa : (𝑎. 𝑏) 𝑐 = 𝑎. (𝑏. 𝑐),
c) 1 é elemento neutro da multiplicação: 𝑎. 1 = 𝑎 ;
d) 0 é elemento absorvente da multiplicaçã :𝑎. 0 = 0nstraçãdeste

Teorema 2.2.6. (Propriedade distributiva à direita):Para quaisquer naturais 𝑎, 𝑏, 𝑛


é valida a propriedade distributiva a direita da multiplicação em relação a adição:

(𝑎 + 𝑏). 𝑛 = 𝑎. 𝑛 + 𝑏. 𝑛

Demonstração (Indução em n )

𝑃(𝑛) ∶ (𝑎 + 𝑏). 𝑛 = 𝑎. 𝑛 + 𝑏. 𝑛

𝑃(1) ∶ (𝑎 + 𝑏).1 = 𝑎 + 𝑏 pela convenção M1) da multiplicação;

𝑎. 1 + 𝑏. 1 = 𝑎 + 𝑏 também pela convenção (M1).


Módulo de Teoria de Números. 44

Pelo teorema de Euclides resulta que (𝑎 + 𝑏).1 = 𝑎. 1 + 𝑏. 1 ,o que prova

Que 𝑃(1) é verdadeira;

H.: 𝑃(𝑛)

T.:𝑃(𝑛 + 1)

Demonstração:

(𝑎 + 𝑏). 𝑛 = 𝑎. 𝑛 + 𝑏. 𝑛 (H da indução);

(𝑎 + 𝑏). 𝑛 + (𝑎 + 𝑏) = (𝑎. 𝑛 + 𝑏. 𝑛) + (𝑎 + 𝑏) (unicidade da adição )

(𝑎 + 𝑏). 𝑆𝑢𝑐(𝑛) = (𝑛𝑎 + 𝑎) + (𝑏𝑛 + 𝑏) (𝑀2)+propriedade


associativa da adição )

(𝑎 + 𝑏). 𝑆𝑢𝑐(𝑛) = 𝑎. 𝑆𝑢𝑐(𝑛) + 𝑏. 𝑆𝑢𝑐(𝑛) ■

Teorema 2.2.7. (Monotonia da multiplicação):Se 𝑎 > 𝑏 𝑒𝑛𝑡ã𝑜𝑎. 𝑐 >


𝑏. 𝑐. ∀𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ 𝑁

Demonstração: 𝑎 > 𝑏 ⇒ ∃! 𝑥 ∈ 𝑁 ∶ 𝑎 = 𝑏 + 𝑥.
𝑇𝑒𝑜𝑟𝑒𝑚𝑎 𝑑𝑒 𝐴𝑟𝑞𝑢𝑖𝑚𝑒𝑑𝑒𝑠

Multiplicando ambos os membros por c a direita e aplicando a propriedade


distributiva vem

a.c= 𝑏. 𝑐 + 𝑥. 𝑐; 𝑜𝑟𝑎𝑏. 𝑐 + 𝑥. 𝑐 > 𝑏. 𝑐 ⇒ 𝑎. 𝑐 > 𝑏. 𝑐 ■

Teorema 2.2.8. (Lei do corte da multiplicação): Se 𝑎. 𝑐 = 𝑏. 𝑐 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑎 =


𝑏 ∀𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ 𝑁.

Demonstração:

Se 𝑎, 𝑏 ∈ 𝑁 tem se , por causa da tricotomia : 𝑎 = 𝑏 ; 𝑎 > 𝑏 ; 𝑎 < 𝑏.

Por absurdo,seja𝑎 ≠ 𝑏 𝑟𝑒𝑠𝑡𝑎𝑟ã𝑜 𝑜𝑠 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 ∶; 𝑎 > 𝑏 ; 𝑎 < 𝑏..

i. 𝑎 > 𝑏 ⇒ 𝑎. 𝑐 > 𝑏. 𝑐 contrariando a hipótese;


ii. 𝑎 < 𝑏. ⇒ 𝑎. 𝑐 < 𝑏. 𝑐 contrariando outra vez a hipótese.

.Então deve ser 𝑎 = 𝑏. ■

No conjunto de números naturais existe uma operação que decorre quando um


natural a multiplica−se a si própria n vezes. Essa operação é a Potenciação.

2.3 Potenciação em N.
Módulo de Teoria de Números. 45

A potência n−éssima de a∈N, 𝑎 𝑛 , define−se recursivamente por:

[Pot1] a1 =a ;

[Pot2] aSuc(n) = an . a .

Exemplo 2.5

a) 41 = 4,
b) 34 = 3Suc(3) = 33 . 3 = 3Suc(2) . 3 = 32 . 3.3 = 3Suc(1) . 3.3 =
31 . 3.3.3 = 81.

Exercícios
Exercicios
Caro estudante como forma de consolidar a lição resolve as sequintes actividades:

1.Para demonstração das propriedades seguintes, use a


indução matemática e caso necessário, utilize uma
propriedade já demonstrada
Actividade
Mostre que: a) 𝑛 + 0 = 𝑛; b) 𝑛 + 1 = 1 + 𝑛;

2. Prove que: a) 1. 𝑎 = 𝑎. 1; b) 𝑎. 𝑏 = 𝑏. 𝑎;

3. Demonstrar as seguintes regras de potências:

a) 𝑎𝑛 . 𝑎𝑝 = 𝑎𝑛+𝑝 ∀𝑎, 𝑛, 𝑝 ∈ N;

b) 𝑎𝑛 . 𝑏𝑛 = (𝑎. 𝑏)𝑛 ∀𝑎, 𝑏, 𝑛 ∈N;

Resumo
Nesta lição foram tratados os seguintes conteúdos:
operações em N e suas propririedades.

Unidade III
Módulo de Teoria de Números. 46

Conjunto ℤ. Conjunto dos Números Inteiros.


Construção Algébrica.
Introdução.
Na unidade II aprendeste a construção axiomática do conjunto dos
números naturais e suas propriedades.

Objectivos da Unidade

Nesta unidade vai perceber o processo de construção algébrica do


conjunto de números Inteiros e suas propriedades.

Lição n° 01
Módulo de Teoria de Números. 47

Introdução ao estudo do conjunto de


números inteiros.
Introdução.
Nesta lição, estudará o processo de construção do conjunto dos números
inteiros. Aquele conjunto que é formado pela união do conjunto dos
números naturais com todos os seus opostos aditivos.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Perceber a construção algébrica do conjunto


dos números inteiros;

Objectivos da
 Efectuar operações com números inteiros;
lição

 Aplicar propriedades elementares das


operações.
 Calcular a Divisibilidade nos Inteiros.

3.1. Construção algébrica do conjunto de números inteiros.

Uma das maneiras de construir algebricamente o conjunto dos números


inteiros consiste em definir uma relação de equivalência no conjunto ℕ ×
Módulo de Teoria de Números. 48

ℕ = ℕ2 e convencionar o conjunto quociente gerado por essa relação de


equivalência por ℤ.

No conjunto 𝑁×𝑁 definamos uma relação 𝑅 , tal que:

(𝑎, 𝑏)𝑅(𝑐, 𝑑) ↔ 𝑎 + 𝑑 = 𝑏 + 𝑐

Assim, para 𝑎 = 2, 𝑏 = 3, temos os seguintes pares a se relacionarem:

(2,3)𝑅(2,3) ; (2,3)𝑅(3,4); (2,3)𝑅(14,15) … … (2,3)𝑅(100,101)

Lema 3.1: A relação 𝑅 é uma relação de equivalência.

Demonstração: vamos provar a Reflexividade (i), Simetria (ii) e


Transitiva (iii) de 𝑅:
(i) Reflexividade: para todo (𝑎, 𝑏) ∈ ℕ𝑥ℕ, (𝑎, 𝑏)𝑅(𝑎, 𝑏), pois,
𝑎+𝑏 = 𝑎+𝑏.

(ii) Simetria: se (𝑎, 𝑏), (𝑐, 𝑑) ∈ ℕ𝑥ℕ, então:

(𝑎, 𝑏)𝑅(𝑐, 𝑑) ⟺ 𝑎 + 𝑑 = 𝑏 + 𝑐 ⟺ 𝑐 + 𝑏 = 𝑑 + 𝑎

𝑐+𝑏 = 𝑑+𝑎 (Pela comutatividade da adição em N) Assim:


(𝑐, 𝑑)𝑅(𝑎, 𝑏).

(iii) Transitividade: Sejam (𝑎, 𝑏), (𝑐, 𝑑), (𝑒, 𝑓) ∈ ℕ𝑥ℕ, se (𝑎, 𝑏)𝑅(𝑐, 𝑑)
e(𝑐, 𝑑)𝑅(𝑒, 𝑓) ⟹ (𝑎, 𝑏)𝑅(𝑒, 𝑓) .

Temos:𝑎 + 𝑑 = 𝑏 + 𝑐 (1) e 𝑐 + 𝑓 = 𝑑 + 𝑒 (2). (adicionando membro a


membro de 1 e 2). Teremos: 𝑎 + 𝑑 = 𝑏 + 𝑐 𝑒 𝑐 + 𝑓 = 𝑑 + 𝑒 ⟹ 𝑎 + 𝑑 +
𝑐 + 𝑓 = 𝑏 + 𝑐 + 𝑑 + 𝑒, pela lei de corte de quantidades iguais em
membros diferentes sobre c e d
Teremos: 𝑎 + 𝑓 = 𝑏 + 𝑒 ou seja: (𝑎, 𝑏)𝑅(𝑒, 𝑓).
Provado que 𝑅 é una relação de equivalência, está garantida a existência
de classes de equivalência que fornecerão um conjunto quociente.

A classe de equivalência do representante (𝑎,𝑏) indicaremos [𝑎,𝑏] :


[𝒂, 𝒃] = {(𝒄, 𝒅) ∈ 𝑵 × 𝑵: 𝒂 + 𝒅 = 𝒃 + 𝒄}
Exemplo 3.2 Determinar a classe de equivalência do representante (5,3):

Solução : [5,3] = {(𝑐, 𝑑) ∈ 𝑁 × 𝑁: 5 + 𝑑 = 𝑐 + 3}


[5,3] = {(5,3); (3,1); (4,2); (6,4); (7,5); (12,10); … (200,109); … }
Módulo de Teoria de Números. 49

Observação 3.1
Como vimos nas propriedades de relações de equivalência, unidade I
(i) Nenhuma classe é vazia.
(ii) Os elementos da classe se relacionam entre si
: (5,3)𝑅(3,1) ; (4,2)𝑅(12,10) , … .
Esta propriedade induz igualdade de classes: [5,3] = [3,1] =
[4,2]; [12,10] = ⋯.
Dum modo geral, para um representante (𝑎,𝑏) tem-se que:
[𝑎, 𝑏] = [𝑎 + 1, 𝑏 + 1] = [𝑎 + 2, 𝑏 + 2] =. . = [𝑎 + 𝑘, 𝑏 + 𝑘] ou,caso
tenha sentido:
[𝑎, 𝑏] = [𝑎 − 1, 𝑏 − 1] = [𝑎 − 2, 𝑏 − 2] =. . = [𝑎 − 𝑘, 𝑏 − 𝑘]
Exemplo: [5,3] = [5 + 1,3 + 1] = [6,4]
[5,3] = [5,3] = [5 − 2,3 − 2] = [3,1]
[22,20] = [22 − 19,20 − 19] = [3,1] = [5,3], Portanto [22, 20] =
[5,3]
Atenção: [22,20] = [5,3] implica ((22,20), (5,3)) ∈ 𝑅.

2
Definição: conjunto Z : O conjunto quociente ℕ𝑅 chama-se conjunto de
números inteiros e simboliza-se Z:
𝟐

𝒁 ≝ = {[𝒎, 𝒏] ∶ (𝒎, 𝒏) ∈ 𝑵𝟐}
𝑹

Observação 3.2: Nesta definição, os números inteiros são abordados


como classes, o que permite uma diversidade de representações dos
mesmos, não nos é familiar e nem nos concilia com o conjunto Z
tradicional. Este último facto, trataremos mais adiante, depois de
definirmos as operações em Z.

Lição n° 02
Operações em Z e suas propriedades.
Módulo de Teoria de Números. 50

Introdução
Nesta lição, estudará sobre as operações em Z e sua propriedades.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Operar no conjunto dos números inteiros;

 Aplicar as propriedades em Z.

Objectivos da
lição

3.2. Definição de operações em Z.


As operações em Z são: soma algébrica (adição e subtracção)
multiplicação e convencionam-se pelas seguintes formas:
3.2.1.Soma algébrica.
(A) Adição: [𝑎, 𝑏] + [𝑐, 𝑑] ≝ [𝑎 + 𝑐, 𝑏 + 𝑑
Módulo de Teoria de Números. 51

(S) Subtracção: [𝑎, 𝑏] − [𝑐, 𝑑] ≝ [𝑎, 𝑏] + [𝑑, 𝑐] = [𝑎 + 𝑑, 𝑏 + 𝑐];


3.2.2. Multiplicação.
(M) [𝑎, 𝑏]. [𝑐, 𝑑] ≝ [𝑎𝑐 + 𝑏𝑑, 𝑎𝑑 + 𝑏𝑐]
Exemplo:
Adição: [3,1] + [5,9] = [3 + 5,1 + 9] = [8,10]
Subtracção:[2,7] − [11,8] = [2,7] + [8,11] = [2 + 8,7 + 11] = [10,18].
Multiplicação: [5,3]. [4,9] = [5.4 + 3.9,5.9 + 3.4] = [47,57 = [1,11]]
Uma pergunta importante, já que operamos com classes, é, se o resultado
da operação não depende da escolha da classe, ou seja, se as operações
estão correctamente definidas.
O seguinte teorema responde a essa pergunta.
Teorema 3.1:As operações em Z estão correctamente definidas, ou seja,
o resultado de cada operação não depende da classe de equivalência
escolhida:
Se [𝑎, 𝑏] = [𝑎1, 𝑏1] 𝑒 [𝑐, 𝑑] = [𝑐1, 𝑑1] então:
a) [𝑎 + 𝑐, 𝑏 + 𝑑] = [𝑎1 + 𝑐1, 𝑏1 + 𝑑1]; (Adição)
b) [𝑎 + 𝑑, 𝑏 + 𝑐] = [𝑎1 + 𝑑1, 𝑏1 + 𝑐1]; (Subtracção)
c) [𝑎𝑐 + 𝑏𝑑, 𝑎𝑑 + 𝑏𝑐] = [𝑎1. 𝑐1 + 𝑏1. 𝑑1, 𝑎1. 𝑑1 + 𝑏1. 𝑐1]

Demonstração: a) sejam [(𝑎, 𝑏)] = [(𝑎′, 𝑏′)] 𝑒 [(𝑐, 𝑑)] = [(𝑐′, 𝑑′)].
Precisamos mostrar que [(𝑎 + 𝑐, 𝑏 + 𝑑)] = [(𝑎′ + 𝑐′, 𝑏′ + 𝑑′)]. De
facto (𝑎,𝑏)𝑅(𝑎′,𝑏′) e (𝑐,𝑑)𝑅(𝑐′,𝑑′), Implica 𝑎 + 𝑏′ = 𝑏 + 𝑎′ 𝑒 𝑐 + 𝑑′ =
𝑑 + 𝑐′. Somando e associando adequadamente temos (𝑎 + 𝑐) +
(𝑏′, 𝑑′) = (𝑏 + 𝑑) + (𝑏′ + 𝑑′) = (𝑏 + 𝑑) + (𝑎′ + 𝑐′), ou seja (𝑎 +
𝑐, 𝑏 + 𝑑)𝑅(𝑎′ + 𝑐′, 𝑏′ + 𝑑′), portanto , [(𝑎 + 𝑐, 𝑏 + 𝑑)] = [(𝑎′ +
𝑐′ , 𝑏′ + 𝑑′)].
Vamos repetir as operações do exemplo 3.4 usando classes de
equivalências iguais, ou seja, trocando as classes com outras iguais.
a) [3,1] + [5,9] = [3 + 5,1 + 9] = [8,10] = [1,3];

Temos: [3,1] = [5,3] ; [5,9] = [1,5].Trocando as classes na adição


recebemos: [5,3] + [1,5] = [5 + 1,3 + 5] = [6,8] = [1,3].

b) [2,7] − [11,8] = [2,7] + [8,11] = [2 + 8,7 + 11] =


[10,18] … (= [1,9])
Módulo de Teoria de Números. 52

[2,7] = [1,6]; [11,8] = [4,1].Tocando-se as classes iguais temos:


[1,6] − [4,1] = [1,6] + [1,4] = [2,10] = [1,9] Portanto obtém se mesmo
resultado com classes iguais.
c) [5,3]. [4,9] = [5.4 + 3.9,5.9 + 3.4] = [47,57] =
[1,11].

[5,3] = [3,1]; [4,9] = [1,6]


[3,1]. [1,6] = [3.1 + 1.6,3.6 + 1.1] = [9,19] = [1,11] .Na multiplicação
trocando classes por classes iguais não altera o resultado.
A definição ora feita sobre os números inteiros apresenta, entre outras, as
seguintes dificuldades:
1ª: Os números inteiros não são apresentados na sequência habitual
− 10, −9, −8, −7, −6, −5, −4, −3, −2, −1,0, +1, +2, +3, +4, +5, +6, +7, −−;
2ª Na representação dos inteiros por classes não é reconhecível o
sinal do número;
3ª As operações da soma e multiplicação parecem não corresponderem
com as operações usuais no mesmo conjunto.
4ª Não permite identificar N em Z, o que é usual.
Estas dificuldades e eventualmente outras, serão supridas pelos resultados
que se seguem. No conjunto Z, consideramos o subconjunto 𝑁′ definido
por : 𝑁′ = { [𝑛 + 1,1]: 𝑛 ∈ 𝑁 } e nele uma função
𝑓: 𝑁→𝑁′ definida por
𝒇(𝒏) = [𝒏 + 𝟏, 𝟏].
Exemplificando:𝑓(2) = [3,1]: o numero 2 ordena-se à classe [3,1].
Para caracterizarmos esta função formulámos a seguinte
Proposição 3.2:A função 𝑓 tem as seguintes propriedades:
1ª 𝑓 é injectiva;
2ª 𝑓 é aditiva: 𝑓(𝑚 + 𝑛) = 𝑓(𝑚) + 𝑓(𝑛) ∀𝑚, 𝑛 ∈ 𝑁
3ª 𝑓 é multiplicativa: 𝑓(𝑚. 𝑛) = 𝑓(𝑚). 𝑓(𝑛) ∀𝑚, 𝑛 ∈ 𝑁

Demonstração:
1ª. 𝑓 é injectiva ,se 𝑓(𝑚) = 𝑓(𝑛) implica 𝑚 = 𝑛 ∀𝑚, 𝑛 ∈ 𝑁.
Ora 𝑓(𝑚) = 𝑓(𝑛) ↔ [𝑚 + 1,1] = [𝑛 + 1,1] ↔ (𝑚 + 1,1)𝑅(𝑛 + 1,1) ↔
𝑚 + 1 + 1 = 𝑛 + 1 + 1 ↔ 𝑚 = 𝑛 pela lei de corte.
A injectividade desta função implica que cada número natural corresponde
à uma e única classe.
Módulo de Teoria de Números. 53

𝑓(𝑚 + 𝑛) = [𝑚 + 𝑛 + 1,1] = [𝑚 + 𝑛 + 1 + 1,1 + 1]


= [𝑚 + 1,1] + [𝑛 + 1,1] = 𝑓(𝑚) + 𝑓(𝑛)
A multiplicação em N transfere-se para o conjunto z.
Estas três propriedades e tendo em conta que a função esta definida para
todos naturais, permitem estabelecer que 𝑁=𝑁′ e como 𝑁′⊂𝑍 então 𝑁⊂𝑍
Deste modo identifica-se o conjunto dos números naturais no conjunto dos
números inteiros.
A última relação permite-nos escrever abreviadamente uma expressão que
relaciona os números naturais com os números inteiros positivos :
𝒏 = [𝒏 + 𝟏, 𝟏]
Por simetria, os inteiros negativos exprimem-se pela expressão:
−𝒏 = [𝟏, 𝒏 + 𝟏]
Exemplo :
a) 3 = [3 + 1,1] = [4,1];
b) Que inteiro positivo corresponde a classe [13,7]?

Solução: [13,7] = [13 − 6,7 − 6] = [7,1] = [6 + 1,1] = 6;


c) −12 = [1,1 + 12] = [1,13]
d) Determinar o inteiro representado pela classe [25,40].

Solução: [25,40] = [25 − 24,40 − 24] = [1,16] = [1,15 + 1] =


−15.
Teorema 3.3 (propriedades das operações em Z): A adição e a
multiplicação possuem as seguintes propriedades:
1.Comutativa: a) [𝑎, 𝑏] + [𝑐, 𝑑] = [𝑐, 𝑑] + [𝑎, 𝑏]
b) [𝑎, 𝑏]. [𝑐, 𝑑] = [𝑐, 𝑑]. [𝑎, 𝑏];
2.Associativa: a) ([𝑎, 𝑏] + [𝑐, 𝑑]) + [𝑒, 𝑓] = [𝑎, 𝑏] + ([𝑐, 𝑑] + [𝑒, 𝑓]);
b) ([𝑎, 𝑏]. [𝑐, 𝑑]). [𝑒, 𝑓] = [𝑎, 𝑏]. ([𝑐, 𝑑]. [𝑒, 𝑓])
3.Distributiva a): ([𝑎, 𝑏] + [𝑐, 𝑑]). [𝑒, 𝑓] = [𝑎, 𝑏]. [𝑒, 𝑓] + [𝑐, 𝑑]. [𝑒, 𝑓];
b) [𝑎, 𝑏]. ([𝑐, 𝑑] + [𝑒, 𝑓]) = [𝑎, 𝑏]. [𝑐, 𝑑] + [𝑎, 𝑏]. [𝑒, 𝑓];.
4.a) O inteiro [1,1] = 0 é elemento neutro da adição e absorvente da
multiplicação;
b) O inteiro [2,1] = 1 é elemento neutro da multiplicação;
5. Os inteiros [𝑚,𝑛] e [𝑛,𝑚] são simétricos;
6. Qualquer inteiro tem uma das formas:[1,1] = 0 ou +𝑛 = [𝑛 + 1,1] ou
[1, 𝑛 + 1] = −𝑛
Demonstração:
Módulo de Teoria de Números. 54

1), 2) e 3) decorrem directamente das definições da Adição, da


multiplicação , desenvolvendo e comparando os membros a esquerda e a
direita .
4.a) ∀𝑚, 𝑛 ∈ 𝑍 tem se que [𝑚, 𝑛] + [1,1] = [𝑚 + 1, 𝑛 + 1] = [𝑚, 𝑛] o
que mostra que a classe [1,1] é elemento neutro da adição;
Por outro lado: [𝑚, 𝑛]. [1,1] = [𝑚. 1 + 𝑛. 1, 𝑚. 1 + 𝑛. 1] = 0 o que prova
esta classe absorver a multiplicação.
b) [2,1]. [𝑚, 𝑛] = [2𝑚 + 𝑛, 2𝑛 + 𝑚] = [𝑚 + 𝑚 + 𝑛, 𝑛 + 𝑛 + 𝑚] = [𝑚 +
𝑛, 𝑛 + 𝑛] = [𝑚, 𝑛]
5. [𝑚, 𝑛] + [𝑛, 𝑚] = [𝑚 + 𝑛, 𝑛 + 𝑚] = [𝑚, 𝑚] = 0

Exercícios
Caro estudante como forma de consolidar as lições resolve as sequintes
actividades:
Módulo de Teoria de Números. 55

1. Determine no mínimo 6 elementos da classe [2,3] , verifique


as (propriedades de classes de equivalência).

Actividade 2. Qual dos inteiros abaixo é o elemento neutro da adicao e


absorvente da multiplicação? Justifique a sua resposta.

2.1. [2,1]

2.2. [1,1]

3. Que inteiro positivo corresponde a classe [12,5]?

4. Determinar o inteiro representado pela classe [25,45].

Resumo
Nas lições anteriores foram tratados o seguinte a construção algébrica do
conjunto Z e suas propriedades.

Lição n° 03
Módulo de Teoria de Números. 56

Divisibilidade: Maximo divisor comum;


mínimo múltiplo comum.
Introdução
Nesta lição você estudará a divisibilidade nos inteiros, onde sera abordado
o máximo divisor comum e mínimo divisor comum.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Explicar o conceito da divisibilidade entre


inteiros;

 Aplicar o conceito da divisibilidade para


Objectivos da
definição do mdc e mmc
lição
 Efectuar combinação linear do mdc;

 Aplicar propriedades da divisibilidade na


solução de certas equações.

3.1. Divisibilidade.
Definição: Sejam 𝑎,𝑏 inteiros. Diz-se que 𝒂 é divisível por 𝒃,se existir um
inteiro 𝒒 tal que 𝑎 = 𝑏. 𝑞 e escreve-se 𝑏 | a :
Módulo de Teoria de Números. 57

𝑏|𝑎 ⇔ ∃𝑞 ∈ ℤ0 : 𝑎 = 𝑏. 𝑞

Quando 𝑎 não for divisível por 𝑏, escreve-se 𝑏∤𝑎


Exemplo:
a) 6(= 𝑏) é divisível por 24(=𝑎),pois existe um inteiro 𝑞,nomeadamente
𝑞=4, tal que 24 = 6. 𝑞 .
Notação: 6 | 24.
b) 3 não divide 11,em símbolo 3∤11,pois não existe algum 𝑞 ∈ 𝑍,tal que
11 = 3. 𝑞.
Observação
a) Quando 𝑎 for divisível por um 𝑏 ,diz que entre eles decorre
divisibilidade. A divisibilidade corresponde a uma divisão com resto zero
é uma operação em Z.

A relação 𝑏|𝑎 ⇔ ∃𝑞 ∈ ℤ0 : 𝑎 = 𝑏. 𝑞 Expressa uma equação linear em 𝑞 no


𝑎
domínio Z.e dela pode se tirar: 𝑞 = 𝑏.

No contexto, denominam-se:𝑎-dividendo; 𝑏−divisor; 𝑞-quociente da


divisão de 𝑎 por 𝑏.
b) Os seguintes dizeres são equivalentes:
(i) 𝑎 é divisível por 𝑏;
(ii) 𝑎 é múltiplo de 𝑏;
(iii) 𝑏 divide 𝑎 ;
(iv) 𝑏 é divisor de 𝑎 .
Proposição 3.4 (propriedades elementares da divisibilidade):∀𝑎,𝑏,𝑐∈𝑍
valem:
D1. 𝑏|0 ;
D2 ±1|𝑎;
D3 ±𝑎|𝑎;
D4 𝑏|𝑎 ⇔ 𝑏| − 𝑎 ⇔ −𝑏|𝑎 ⇔ −𝑏| − 𝑎;
D5 𝑎|𝑏 ⋀ 𝑏|𝑎 ⇒ 𝑎 = ±𝑏 ;
D6 𝑏|𝑎 ⋀ 𝑎|𝑐 ⇒ 𝑏|𝑐. ( transitividade )
D7 Se 𝑏|𝑎 ⋀𝑏|𝑐⇒para quaisquer 𝑟,𝑠 temos 𝑏|𝑟. 𝑎 + 𝑠. 𝑐 (critério “ c divide
b”)
1 1 1
Exemplo: Determinar todos inteiros positivos 𝑎,𝑏 ,tais que + =
𝑎 𝑏 4
Solução:
Módulo de Teoria de Números. 58

1 1 1 1 1 1
+ = ⟺ = − ⟺ 4𝑏 = 𝑎(𝑏 − 4) (1)
𝑎 𝑏 4 𝑎 4 𝑏
4𝑏
⟹ 𝑎 = 𝑏−4, de acordo o enunciado a,b devem ser positivos, ou seja: 𝑎 >
4𝑏
0 ; 𝑏 > 0 ⟺ 𝑏−4 > 0 ⟺ 𝑏 − 4 > 0 ⟺ 𝑏 > 4.
𝑏 − 4|4𝑏
De (1) tira-se: { pela propriedade 𝐷7 , então :
𝑏 − 4|𝑏 − 4
𝑏 − 4|4𝑏. (1) + (𝑏 − 4). (−4) ⟹ 𝑏 − 4|.
⟹ 𝑏 − 1 ∈ {1,2,4, 𝟖, 𝟏𝟔}. 𝑏 − 4 > 0 ⟹ 𝑏 − 4 pode tomar os valores 8 e
16.
4.12 48
𝑏 − 4 = 8 ⟹ 𝑏 = 12 ⟹ 𝑎 = = =6
12 − 4 8
4.20
𝑏 − 4 = 16 ⟹ 𝑏 = 20 ⟹ 𝑎 = =5
20 − 4
Provando os pares obtidos conclui-se que os inteiros positivos procurados
são : (𝑎, 𝑏) = {(6,12); (5,20)}.

3.2.Maximo Divisor Comum e Minimo Multiplo Comum.


Definição: divisor comum: sejam 𝑎 e 𝑏 dois inteiros. Se o inteiro 𝑑
dividir simultaneamente 𝑎 e 𝑏,diz-se que 𝑑 é um divisor comum de 𝑎 e 𝑏:
𝒅 Divisor comum de 𝒂 e 𝑏 ⇔ 𝑑|𝑎 ⋀ 𝑑|𝑏 .
Exemplo:
5(=𝑑) é divisor comum de 15(=𝑎) e 20(=𝑏), visto que 5|15 e 5|20 .
Para a obtenção do divisor comum, determinam –se os divisores de cada
número e em seguida se identifica o divisor comum.
Exemplo:
Divisores de 15 são :1,3,5,15 ou 𝐷15={1,3,5,15}
Divisores de 20 são :1,4,5,10,20 ou 𝐷20={1,4,5,10,20}
Vemos então que o divisor comum de 15 e 20 é 5.
Observação:
1) Divisores dum inteiro 𝑎 que sejam diferentes de 1 e 𝑎 designam-se
“divisores efectivos de 𝑎 “.Exemplo:4,5,10 são divisores efectivos de 20.
2) Como para quaisquer inteiros 𝑎 e 𝑏 tem-se que 1|𝑎 𝑒 1|𝑏, conclui-se que
existe pelo menos um divisor comum –o inteiro 1;
Assim,a determinação do divisor comum reduz-se a determinação doutro
divisor comum, que seja diferente de 1,caso seja possível. Por exemplo, o
divisor comum de 7 e 55 é 1.
Módulo de Teoria de Números. 59

Definição: máximo divisor comum: um inteiro 𝐷 chama -se máximo


divisor comum dos inteiros 𝑎 e 𝑏, se cumpre as seguintes condições:
i) 𝐷 é um divisor comum de 𝑎 e 𝑏 ,ou seja : 𝐷|𝑎 e 𝐷|𝑏
ii) Se 𝑑|𝑎 e 𝑑|𝑏 então 𝑑|𝐷
Notação: 𝐷=𝑚𝑑𝑐(𝑎,𝑏) .
Exemplo : Determinar 𝐷=𝑚𝑑𝑐(16,24)
Solução:
𝟏ª Maneira: vamos determinar divisores de 16 e 24 e depois identificar o
maior entre eles.
Divisores de 16 ∶ 1,2,4,8,16;
Divisores de 24: 1,2,3,4,6,8,12,24;
Logo: 𝐷=𝑚𝑑𝑐(16,24)=8.
𝟐ª Maneira: usando o seguinte critério:
“O 𝑚𝑑𝑐 de vários números decompostos em factores primos é igual ao
produto de factores comuns cada um com menor expoente”
As decomposições de 16 e 24 são: 16 = 24 ; 24 = 23 . 3.
O factor comum nos números decompostos é 2 e com menor expoente é
23 . Assim 𝐷 = 𝑚𝑑𝑐(16,24) = 8 .
Um outro método de determinar o 𝑚𝑑𝑐 será abordado no âmbito da
divisão com resto
Observação: quando 𝑚𝑑𝑐(𝑎, 𝑏) = 1,diz-se que a e b são primos entre si
ou co-primos.
Exemplo: 3 e 7 são primos entre si.
Definição: múltiplo comum: sejam 𝑎 e 𝑏 dois inteiros. Se o inteiro 𝑚 for
divisível simultaneamente por 𝑎 e 𝑏,diz-se que 𝑚 é um múltiplo comum
de 𝑎 e 𝑏: 𝒎 múltiplo comum de 𝒂 e 𝒃 ⇔ 𝒂|𝒎 ⋀ 𝒃|𝒎 .
 Um número é múltiplo de outro quando, ao dividirmos o
primeiro pelo segundo, o resto é zero.
Exemplo: 24(=𝑚) é múltiplo comum de 8(= 𝑎) 𝑒 24(= 𝑏), visto que
8|24 𝑒 24|24 . Para a obtenção do múltiplo comum determinam –se os
múltiplos de cada número e em seguida identifica-se o múltiplo comum.

Exemplo:
Múltiplos de 8 são : 8,16,24,32,64 ou 𝑀8 = {8,16,32,64, … }
Múltiplos de 24 são :24,48,72, ou 𝑀24 = {24,48,72, … . }
Módulo de Teoria de Números. 60

Conclui-se então que o múltiplo comum de 8 𝑒 24 é 24 .


Definição: menor múltiplo comum: um inteiro 𝑀 chama -se menor
múltiplo comum dos inteiros 𝑎 e 𝑏, se cumpre as seguintes condições: 𝑀
é múltiplo comum de 𝑎 e 𝑏 ,ou seja : 𝑎|𝑀 e 𝑏|𝑀;
i) Todo o número 𝑚 que seja múltiplo comum de 𝑎 e 𝑏 é também múltiplo
de 𝑀:
ii) Se 𝑎|𝑚 e 𝑏|𝑚 então 𝑀|𝑚 .
Notação: 𝑀=𝑚𝑚𝑐(𝑎,𝑏) .
Exemplo : Determinar 𝑀=𝑚𝑚𝑐(8,24)
Solução:
𝟏ª Maneira: vamos determinar múltiplos de 8 e 24 e depois identificar o
menor entre eles. Do exemplo vimos que 𝑀 = 𝑚𝑚𝑐(8,24) = 24 .
𝟐ª Maneira: usando o seguinte critério
“O 𝑚𝑚𝑐 de vários números decompostos em factores primos é igual ao
produto de factores comuns e não comuns, cada um com maior expoente”
As decomposições de 8 e 24 são: 8 = 23 ; 24 = 23 . 3.
O factor comum nos números decompostos é 2 e com maior expoente é
23 . O factor não comum é 3. Assim: 𝑀 = 𝑚𝑚𝑐 (8,24) = 23 . 3 = 24
𝑷𝒓𝒐𝒑𝒐𝒔𝒊çã𝒐 𝟑. 𝟓: 𝑚𝑑𝑐(𝑎, 𝑏). 𝑚𝑚𝑐(𝑎, 𝑏) = 𝑎. 𝑏 ∀𝑎, 𝑏 ∈ 𝑍
3.3. Relação entre m.m.c e o m.d.c é :
Das definições fica claro que o m.d.c (a, b) multiplicado pelo m.m.c (a, b)
é igual ao produto de a por b, isto é:
|𝒂. 𝒃|
𝒎. 𝒎. 𝒄(𝒂, 𝒃) = → |𝒂. 𝒃| = 𝒎. 𝒅. 𝒄(𝒂. 𝒃) ∗ 𝒎. 𝒎. 𝒄(𝒂, 𝒃)
𝒎. 𝒅. 𝒄(𝒂, 𝒃)

Exemplo: vamos calcular o m.d.c e o m.m.c dos números 15 e 24.


𝑎 = 15 𝑒 𝑏 = 24
𝑎 = 15 = 3 ∗ 5 𝑒 𝑏 = 24 = 23 ∗ 3
𝑂 𝑚. 𝑑. 𝑐 (𝑎, 𝑏) = (15,24) = 3.
𝑚. 𝑚. 𝑐(𝑎, 𝑏) = (15,24) = 3 ∗ 23 ∗ 5 = 120
Para comprovar a relação, vamos multiplicar o m.d.c e o m.m.c :
3 ∗ 120 = 360
Em seguida, vamos multiplicar os dois números 15 ∗ 24 = 36

Lição n° 04
Módulo de Teoria de Números. 61

Divisão com resto, algoritmo de Eulides e


Equacões Diofantinas lineares com duas
variáveis.
Introdução
Desde os primórdios existiram a necessidade de contagem e são
exactamente os números naturais que estão envolvidos com esta ideia de
quantidade, os números naturais tiveram suas origens nas palavras
utilizadas para a contagem de objectos, começando com o número um.

Nesta sua lição você estudará o conceito de relação Matemática.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Efectauar divisão com resto inteiros;

 Executar o algoritmo de Euclides sobre


divisão com resto.
Objectivos da
lição  Resolver equações diofantianas lineares pelo
algoritmo Euclidiano e teorema de Bézout;
 Resolver problemas conducentes a equações
Diofantinas.

4.1.Divisão com resto. Algoritmo de Euclides. Equações


diofantianas lineares em duas variáveis.
4.1.1. Divisão com resto
A divisão com resto é uma aplicação que ordena inteiros 𝑎 e 𝑏 à dois
inteiros 𝑞 e 𝑟 ,tais que
Módulo de Teoria de Números. 62

𝒂 = 𝒃. 𝒒 + 𝒓 , 𝒓 < 𝒃 (4.1.1)
𝑞 Chama-se quociente e 𝑟 resto ( da divisão de 𝑎 por 𝑏). Notemos que,
quando 𝑟=0, temos 𝑎 = 𝑏. 𝑞 o que equivale 𝑏|𝑎,ou seja temos divisão
exacta ou divisibilidade.
Exemplo:
a) Na divisão de 𝑎 = 267 por 𝑏 = 12 , o quociente é 𝑞=22 e resto 𝑟=3.
Assim: 267 = 12.22 + 3
Dividindo-se −312 por 23 obtêm-se quociente −13 e resto −13,assim:
−312 = 23. (−13) + (−13)
A existência da divisão com resto é garantida pelo seguinte teorema.
Teorema 4.1 : (Euclides sobre divisão com resto): Para quaisquer inteiros
não negativos, existem únicos inteiros 𝑞 e 𝑟, tais que:
𝑎 = 𝑏. 𝑞 + 𝑟 , 𝑜 ≤ 𝑟 < 𝑏
𝑞 e 𝑟 tem os mesmos significados dados na relação (4.1.1) e
denominaremos fórmula de divisão com resto.
Demonstração: consulte uma das obras indicadas.
4.2. Algoritmo de Euclides
O algoritmo de Euclides (ALE) é um procedimento que consiste na
repetição da fórmula de divisão com resto e é útil, entre outros,
 Na determinação do máximo divisor comum;
 Na resolução de equações diofantianas lineares;
 Na representação de inteiros em bases de sistemas de numeração
Vejamos então a essência deste algoritmo:
Dados sejam inteiros 𝑎, 𝑏 > 0 , 𝑎 > 𝑏; caso não, trocam -se os números.
1° Passo: Existem 𝑞0 , 𝑟1 ∈ 𝑁 ∪ {0} tais que:
𝑎 = 𝑏. 𝑞0 + 𝑟1 𝑒 0 ≤ 𝑟1 < 𝑏. 𝑆𝑒 𝑟1 ≠ 0 , segue passo a seguir
2° Passo: Existem 𝑞1, 𝑟2 ∈ 𝑁 ∪ {0} tais que:
𝑏 = 𝑟1. 𝑞1 + 𝑟2 𝑒 0 ≤ 𝑟2 < 𝑞1. 𝑆𝑒 𝑟2 ≠ 0 ,segue passo a seguir
3° Passo: Existem 𝑞3 , 𝑟3 ∈ 𝑁 ∪ {0} tais que
𝑟1 = 𝑟2. 𝑞2 + 𝑟3 𝑒 0 ≤ 𝑟3 < 𝑞2 . 𝑆𝑒 𝑟3 ≠ 0 ,Segue passo a seguir

𝑘0 Passo: Existem 𝑞𝑘−1 , 𝑟𝑘 ∈ 𝑁 ∪ {0} tais que
𝑟𝑘 − 2 = 𝑞𝑘 − 1. 𝑟𝑘 − 1 + 𝑟𝑘 𝑒 0 ≤ 𝑟𝑘 < 𝑞𝑘 − 1 .
O processo continua até que apareça um resto 0 num passo;
𝑛°-éssimo Passo : 𝑟𝑛 = 0.
Módulo de Teoria de Números. 63

Consequência 4.2: O primeiro 𝑟𝑛 tal que 𝑟𝑛+1 =0, é 𝑚𝑑𝑐(𝑎,𝑏) :


𝑟𝑛 =𝑚𝑑𝑐(𝑎,𝑏)=𝐷
Exemplo:
Efectuar o algoritmo de Euclides para 𝑎=276 e 𝑏=112. Determinar
𝑚𝑑𝑐(276,112).
Solução: vamos resolver a tarefa seguindo o enunciado do algoritmo. Na
prática efectuam-se as operações e dá-se a resposta desejada.
1° Passo: 276 = 112. 𝟐 + 𝟓𝟐 ; 𝑞0 = 2 , 𝑟1 = 52 ;
2° Passo: 112 = 52. 𝟐 + 𝟖 ; 𝑞1 = 2, 𝑟2 = 8;
3° Passo: 52 = 8. 𝟔 + 𝟒 ; 𝑞2 = 6, 𝒓𝟑 = 𝟒;
4° Passo: 8 = 4. 𝟐 + 0 ; 𝑞3 = 2, 𝒓𝟒 = 𝟎.
Pela consequência 4.2,como 𝑟4 = 0, então 𝑟4 = 4 é o máximo divisor
comum: 𝑚𝑑𝑐 (276, 112) =4 .
Teorema 4.2 (Bézout ) : Se 𝐷 = 𝑚𝑑𝑐(𝑎, 𝑏) ⇒ ∃! 𝑠, 𝑡 ∈ 𝑍: 𝐷 = 𝑎. 𝑠 + 𝑏.𝑡
O teorema afirma que o 𝑚𝑑𝑐 deixa-se combinar linearmente com os
inteiros que o formam.
Exemplo: Determinar inteiros 𝑠,𝑡 tais que 𝐷 = 276. 𝑠 + 112. 𝑡.
Solução: vamos reescrever o algoritmo de baixo para cima, iniciando com
o 𝑚𝑑𝑐,: 276 = 112.2 + 52
112 = 52.2 + 8
52 = 8.6 + 4
8 = 4.2 + 0
Vamos iniciar o processo da rescrição na penúltima desigualdade:
4 = 52 − 8.6 = 52 − (112 − 52.2) .6 = 52 + 52.12 − 6.112=
13(276 − 112.2) − 6.112 = 13.276 − 112.13.2 − 6.112
= 13.276 + 112(−32).
Temos então que: 4 = 13.276 + 112(−32),portanto 𝑟 = 13 e 𝑠 = −32.

4.3. Equações Diofantianas com duas variáveis.


Definição: Equação diofantiana linear (EDL): Uma equação
diofantiana linear nas variáveis 𝑥 e 𝑦. é uma equação do tipo
(4.3) 𝑎. 𝑥 + 𝑏. 𝑦 = 𝑐, onde 𝑎,𝑏,𝑐 ∈ ℤ0 .
Módulo de Teoria de Números. 64

Exemplo:
a) 4𝑥 + 5𝑦 = 6 (𝑎 = 4, 𝑏 = 5, 𝑐 = 6);

b) 276𝑥 − 112𝑦 = 1 (𝑎 = 276, 𝑏 = −112, 𝑐 = 1);


𝑐) − 83𝑥 + 5𝑦 = 7 (𝑎 = − 83, 𝑏 = 5, 𝑐 = 7);
Definição : solução duma equação diofantiana
O par (𝑥0, 𝑦0)∈ℤ0 ×ℤ0 Designa-se solução particular da equação
diofantiana se 𝑎. 𝑥0 + 𝑏. 𝑦0 = 𝑐 .
Exemplo: (𝑥0, 𝑦0) = (−1,2) é solução particular da equação 4𝑥 + 5𝑦 =
6,pois:
4. (−1) + 5.2 = 6.
Nota: usa-se a expressão “ solução particular”, porque uma equação
diofantiana, tratando se duma equação literal com mais de uma variável,
suas soluções são dependentes dum parâmetro, neste, caso, dum parâmetro
inteiro.
Dada uma EDL por resolver, são importantes duas questões:
1.Se existe solução para equação;
2.Como achar a solução, assumindo-se que ela existe.
A questão 1 é respondida pelo seguinte teorema.
Teorema 4.3 (condição de existência da solução duma EDL):a equação
diofantiana 𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 = 𝑐 tem solução se, e somente se 𝐷|𝑐, onde
𝐷=𝑚𝑑𝑐(𝑎,𝑏).
Demonstração: por se tratar duma proposição de equivalência, vamos
mostrar as duas direcções.
(⇒) Suponhamos que (𝑥0, 𝑦0) é solução da equação, 𝑎. 𝑥0 + 𝑏. 𝑦0 = 𝑐.
Seja 𝑚𝑑𝑐 (𝑎, 𝑏) = 𝐷. Pela definição do maior divisor comum, temos que
𝐷|𝑎 e 𝐷|𝑏 e consequentemente 𝐷 divide qualquer combinação linear de 𝑎 e
𝑏. Portanto 𝐷| 𝑎.𝑥0+𝑏.𝑦0 ou seja 𝐷|𝑐.
(⇐) Seja 𝑚𝑑𝑐(𝑎,𝑏)=𝐷.
Se 𝐷|𝑐 então 𝑐 = 𝑑. 𝑞, 𝑞 ∈ 𝑍.Pelo teorema de Bézout existem inteiros
𝑥0,𝑦0 tais que 𝑎. 𝑥0 + 𝑏. 𝑦0 = 𝐷. Multiplicando por 𝑞 ambos os
membros, recebe-se:
Teorema: (solução geral duma EDL): Se o teorema 4.3 for verificado, a
solução geral da EDL é:
𝑏
𝑏 𝑎 𝑥 = 𝑥0 + 𝐷 . 𝑘
(𝑥, 𝑦) = (𝑥0 + . 𝑘 , 𝑦0 − . 𝑘) 𝑜𝑢 { 𝑎 𝑜𝑛𝑑𝑒 (𝑥0 , 𝑦0 ) é
𝐷 𝑏
𝑦 = 𝑦0 − . 𝑘
𝑏
solução particular e 𝑘 ∈ ℤ0 .
Módulo de Teoria de Números. 65

Demonstração:
𝑏 𝑎 𝑎.𝑏
𝑎. 𝑥 + 𝑏. 𝑦 = 𝑎. (𝑥0 + 𝐷 . 𝑘) + 𝑏. (𝑦0 − 𝐷 . 𝑘) = 𝑎. 𝑥0 + 𝑏. 𝑦0 + 𝐷 𝑘 −
𝑏.𝑎
𝐷
. 𝑘 = 𝑎. 𝑥0 + 𝑏. 𝑦0 + 0 = 𝑐

Notas
1. Antes da resolução da EDL verificamos se ela possui solução pelo
teorema 3.9;
2. Cada inteiro 𝑘 gera uma solução (𝑥,𝑦) o que significa que, se uma EDL
verificar o teorema 4.3,então ela terá uma infinidade de soluções.
(𝑥,𝑦)=(𝑥(𝑘),𝑦(𝑘))
Uma vez verificada a existência da solução, deve-se encontrar a solução
particular para se obter a solução geral. Para determinarmos a solução
particular, podemos usar o método de tentativa ou o seguinte
procedimento:
1.Aplicamos o algoritmo Euclidiano sobre 𝑎 e 𝑏 e estabelecemos a
combinação linear do mdc segundo o teorema de Bézout.
2.Caso 𝑐 ≠ 1, multiplicamos ambos os membros da combinação de D para
ter 𝑐;
3.Depois da multiplicação, escrevemos a expressão numérica de 2. de
modo a obtermos a solução particular (𝑥0,𝑦0);
4.Obtida a solução particular, compomos a solução geral pela formula
(4.3). Caso seja um problema redutível à uma EDL dá-se uma resposta
conveniente ao problema.
Exemplo :
a) Resolver a EDL 32𝑥 + 9𝑦 = 7.
Solução: Neste exemplo, vamos executar as operações passo à passo.
Temos que verificar, primeiro, se a equação tem solução em Z.
𝑎 = 32 e 𝑏 = 9; 𝑚𝑑𝑐(32,9) = 1 e 1|32. Pelo teorema 4.3 a equação tem:

Solução.
Procuremos a solução particular para depois compormos a solução geral.
Procurando a solução particular (𝒙𝟎 , 𝒚𝟎 )
Módulo de Teoria de Números. 66

1) Pelo ALE sobre 𝑎 = 32 e 𝑏 = 9 temos:


32 = 9.3 + 5;
9 = 5.1 + 4;
5 = 4.1 + 1
4 = 4.1 + 0.
Vamos procurar a combinação linear do 𝑚𝑑𝑐(32,9): 1 = 5 − 4 = 5 −
(9 − 5) = 2.5 − 9 = 2(32 − 9.3) − 9 = 2.32 − 9.6 − 9 = 2.32 +
9. (−7). Assim: 1 = 32. (2) + 9. (−7) ou 32. (2) + 9. (−7) = 1
2. Multiplicação de ambos membros da combinação linear por 7 :
32. (2) + 9. (−7) = 1|.7 = 32. (2.7) + 9(−7.7) = 7
⇔ 32. (14) + 9. (−49) = 7.
3. De 2. Recebemos solução particular·= (14, −49);

4) A solução geral é: (𝑥, 𝑦) = (14 + 9𝑘, −49 − 32𝑘), 𝑘 ∈ 𝑍0 .

b) Resolver a equação a 35𝑥 − 93𝑦 = 43.


Solução: nesta equação, temos 𝑎 = 35, 𝑏 = 93 ( o sinal negativo
passamos para a variável 𝑦 ) e mdc (35,93)=1.Pelo teorema de Bézout
temos que:
35. (8) − 93. (3) = 1 (encontre esta combinação!)
Uma multiplicação ambos os membros por 43 fornece:
35. (8.43) − 93. (3.43) = 35. (344) − 93. (129) = 43.
(𝑥0, 𝑦0) = (344,129) é solução particular; a solução geral é

(𝑥, 𝑦) = (344 − 93𝑚, 129 − 35𝑚), 𝑚 ∈ 𝑍0 ;

c) Dada a equação 22. 𝑥 + 16. 𝑦 = 30 Determinar:


(i) Solução geral;
(ii) Menor solução natural.
Solução:
(i) vamos aplicar o ALE sobre 𝑎 = 22 𝑒 𝑏 = 16 para obtermos o
𝑚𝑑𝑐(22,16) e dai a combinação linear deste em relação aos coeficientes
𝑎 = 22 𝑒 𝑏 = 16.
22 = 16.1 + 6 ⇒ 6 = 22 − 16;
16 = 6.2 + 4 ⇒ 4 = 16 − 6.2;
6 = 4.1 + 2 ⇒ 2 = 6 − 4;
4 = 2.2 + 0 ⇒ 𝑚𝑑𝑐(22,16) = 2. Como 2|30,então a equação possui
soluções inteiras.
Módulo de Teoria de Números. 67

Determinemos a combinação linear


2 = 6 − 4 = (22 − 16) − (16 − 6.2) = 22 − 16 − 16 − 6. (22 − 16) =
22 − 6.22 − 2.6.16 = 22(−5) + 16(4), ou seja, combinação linear do
mdc com 22 𝑒 16 é:
22. (−5) + 16. (4) = 2 .Multiplicando-se esta expressão ambos membros
por 15 (queremos 𝑐 = 30) recebe-se:
22. (3) + 16. (−4) = 22. (3.15) + 16. (−4.15) = 30
A solução particular da equação é (𝑥0,𝑦0)=(45,−60) que nos fornece a
solução geral .
16𝑡
𝑥 = 45 +
{ 2 ⇔ { 𝑥 = 45 + 8𝑡 , 𝑡 ∈ 𝑧 0
22𝑡 𝑦 = −60 − 11𝑡
𝑦 = −60 −
2
(ii) O par (𝑥,𝑦) é menor solução natural, se satisfazer a condição:
𝑥>0 45 + 8𝑡 > 0
{ Pela solução geral obtida temos: { ⇔
𝑦>0 −60 − 11𝑡 > 0
−45
𝑡 > 8 ≈ −6
{ −60
𝑡 > 11 ≈ −5
Como entre -6 e -5 não existe algum inteiro, respondemos que a
equação não possui menor solução natural.
Alguns problemas da matemática ou doutras áreas de saber podem ser
modelados por este tipo de equações.
O esquema da resolução de tais problemas é aquele sobejamente
conhecido, em especial, a partir da solução geral, devem –se achar valores
do parâmetro que deiam sentido à resposta do problema.
Exemplo:
a) Encontrar todos os números naturais N menores ou iguais que
10.000,tais que :
O resto da divisão de 𝑁 por 37 é 9;
O resto da divisão de 𝑁 por 52 é 15.
Solução: Pelo texto existem números naturais 𝑥 e 𝑦 tais que:
𝑁 = 37. 𝑥 + 9 ,
𝑁 = 52. 𝑦 + 15
Igualando as duas expressões e aplicando transformações idênticas sobre a
igualdade obtém-se a equação 37. 𝑥 − 52. 𝑦 = 6, que possui solução, visto
que 𝑚𝑑𝑐(37,52) = 1 e 1 divide 6.
Pelo ALE sobre os coeficientes tem-se :
Módulo de Teoria de Números. 68

52 = 37.1 + 15;
37 = 15.2 + 7;
15 = 7.2 + 1;
7 = 7.1.
A combinação linear do mdc é: 37. (−7) − 52. (−5) = 1 , da qual resulta
,por multiplicação ambos membros da mesma por 6,a solução particular
(𝑥0, 𝑦0) = (−42, −30) e que por sua vez gera a solução geral
(𝑥, 𝑦) = (−42 − 52. 𝑡, −30 + 37. 𝑡) , 𝑡 ∈ 𝑧 0 .
A solução do problema deve obedecer as seguintes restrições:
𝑥≥0
(1) { (por serem números naturais).
𝑦≥0
(2) Os números procurados N devem satisfazer a condição 𝑁 ≤ 10000
Ora 𝑥,𝑦 e 𝑁 dependem do parâmetro 𝑡.Neste contexto estaremos
procurando valores do parâmetro que verificam as duas restrições.
Analisemos o que cada restrição implica na determinação dos valores do
parâmetro.
𝑥≥0 −42 − 52. 𝑡 ≥ 0
(1) { ⇔{
𝑦≥0 −30 − 37. 𝑡 ≥ 0
−52. 𝑡 ≥ 42 𝑡 ≤ −0.806
⟺{ ⇔{ ⟺ 𝑡 ≤ −1
−37. 𝑡 ≥ 30 𝑡 ≤ −0.81
Como t deve ser inteiro.

(2) 𝑁 = 37. 𝑥 + 9 = 37(−42 − 52. 𝑡) + 9 = −1545 − 1924. 𝑡.

Dai 𝑁 ≤ 10000. ⇔ −1545 − 1924. 𝑡 ≤ 10000 ⇔ −1924. 𝑡 ≤


11545 ⇔ 𝑡 ≥ −6.
As restrições nos fornecem valores do parâmetro: 𝑡 ≤ −1 𝑒 𝑡 ≥ −6,ou
seja 𝑡∈{−6,−5,−4,−3,−2,−1}..Substituindo cada 𝑡 na expressão
𝑁=−1545−1924.𝑡 obtemos:
𝑡 = −1 ⇒ 𝑁 = −1545 − 1924. (−1) = 379 ;
𝑡 = −2 ⇒ 𝑁 = −1545 − 1924. (−2) = 2303 ;
𝑡 = −3 ⇒ 𝑁 = −1545 − 1924. (−3) = 4227 ;
𝑡 = −4 ⇒ 𝑁 = −1545 − 1924. (−4) = 6151 ;
𝑡 = −5 ⇒ 𝑁 = −1545 − 1924. (−5) = 8075 ;
𝑡 = −6 ⇒ 𝑁 = −1545 − 1924. (−6) = 9999 ;
R: Os números procurados são 379, 2303, 4227, 6151, 8075, 9999.
Módulo de Teoria de Números. 69

b) Um fazendeiro deseja comprar filhotes de pato e galinha gastando um


total de 1770,00𝑚𝑡.Um filhote de pato custa 31,00𝑚𝑡 e de galinha custa
21,00𝑚𝑡.
Quantos de cada um dos dois tipos o fazendeiro poderá comprar?
Solução: Designe 𝑥 a quantidade de filhotes de pato e 𝑦 a quantidade de
filhotes de galinha.
Pelo texto e pela designação das variáveis supra, o problema modela –se
com a equação diofantiana linear 31. 𝑥 + 21. 𝑦 = 1770
Esta equação tem solução, pois o 𝑚𝑑𝑐(31,21) = 1 𝑒 1|1770.
Determinemos a solução como viemos procedendo nas outras equações.
Algoritmo Euclidiano: 31 = 21.1 + 10;
21 = 10.2 + 1;
10 = 10.1 + 0
Combinação linear do mdc (31, 21) = 1:
1 = 3.21 + 31(−2) + 21. (3)
Multiplicação de ambos membros da combinação linear por 1770:
1 = 31. (−2) + 21(3) |.1770;
1770 = 31(−3540) + 21(5310);
Solução particular: (𝑥0 , 𝑦0 ) = (−3540, 5310) ;
Solução geral: (𝑥, 𝑦) = (−3540 + 21. 𝑘, 5310 − 31. 𝑘), 𝑘 ∈ 𝑍0 .
Estamos interessados em solução positiva ou nula, pois as variáveis
representam quantidades animais, ou seja, exigimos :
𝑥≥0 −3540 + 21. 𝑘 ≥ 0
{ ⟺{
𝑦≥0 5310 − 31. 𝑘 ≥ 0
21. 𝑘 ≥ 3540 𝑘 ≥ 3540: 21 𝑘 ≥ 168,57
⟺{ ⟺{ ⟺{
31. 𝑘 ≤ 5310 𝑘 ≥ 5310: 31 𝑘 ≥ 171,29
𝑘 ≥ 169
⟺{
𝑘 ≤ 171
Pois k deve ser um número inteiro. Assim 𝑘 ∈ {169,170,171} e cada k
fornece as seguintes soluções:
𝑘 = 169 ⇒ 𝑥 = 9, 𝑦 = 71;
𝑘 = 170 ⇒ 𝑥 = 30, 𝑦 = 40;
𝑘 = 171 ⇒ 𝑥 = 51, 𝑦 = 9.
Resposta: o fazendeiro tem três alternativas de compras:
9 patos e 71 galinhas ; 30 patos e 40 galinhas ; 51patos e 9 galinhas.

Lição n° 05
Módulo de Teoria de Números. 70

Sistemas de Numeração. Numeros


primos.
Introdução
A evolução da aritmética impôs a criação de diferentes formas de representação
dos números inteiros A representação baseia-se na escolha dum número de
referencia-a base, a partir da qual se gera uma combinação linear. Os inteiros e a
base constituem o sistema de numeração.
Como exemplo de base, temos a base 10,que se designa base decimal e constitui o
sistema de numeração decimal, que é o mais usado.

Nesta sua lição você estudará sistemas de numeração e suas


representações.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Representar inteiros num sistema de


numeração;

 Aplicar o princípio de mudança de base;


Objectivos da
lição  Determinar números primos mediante
diferentes expressões e procedimentos;
 Diferenciar números perfeitos, abundantes e
deficientes.

5.1. Representação dum Inteiro num Sistema de Numeração.


Definição :
Módulo de Teoria de Números. 71

Sejam :𝑥 e 𝑑 inteiros positivos com 𝑥 > 𝑑 ; 𝑟0 , 𝑟1 , 𝑟2 , 𝑟3 ,…,𝑟𝑛−1 , 𝑟𝑛 restos


das divisões sucessivas de 𝑥 por 𝑑.
A expressão 𝑥𝑑 = 𝑟𝑛 . 𝑑𝑛 + 𝑟𝑛−1 . 𝑑𝑛−1 + 𝑟𝑛−2 . 𝑑𝑛−2 + ⋯ + 𝑟0 . 𝑑0
Denomina-se “Representação do inteiro 𝑥 no sistema base 𝑑".
Para simplificação da Representação supra usa-se frequentemente a
notação 𝑟𝑛 . 𝑟𝑛−1 . 𝑟𝑛−2 … 𝑟0 .
Os restos 𝑟𝑖 determinam-se pelo seguinte algoritmo de divisão com resto,
uma variante modificada do ALE:
Dados 𝑥 e 𝑑 o algoritmo decorre assim:
𝑥 = 𝑞. 𝑑 + 𝑟0 ;
𝑞 = 𝑞1. 𝑑 + 𝑟1 ;
𝑞1 = 𝑞2. 𝑑 + 𝑟2
⋮ ⋮ ⋮ ⋮
𝑞𝑛 − 1 = 0. 𝑑 + 𝑟𝑛
As bases mais usadas com respectivos nomes são:
𝑑 = 2 : base dual ou binária;
𝑑 = 3 : base ternária;
𝑑 = 8 : base octagesimal;
𝑑 = 10: base decimal (base, na qual são apresentados todos inteiros);
𝑑 = 16: base sexagesimal;
Observação: para uma base qualquer 𝑑 = 𝑛 pode se dizer base 𝑛.Assim
por exemplo, pode se dizer base 2,em vez de base dual e assim com outras
bases.
Exemplo:
a) Representar 57 na base 2 (base dual).
Solução: neste exemplo temos 𝑥 = 57 e a base 𝑑 = 2 Os restos 𝑟𝑖,
𝑖=0,1,…,𝑛−1 determinam-se pelo ALE modificado:
57 = 28.2 + 1; (𝑟0 = 1)
28 = 14.2 + 0; (𝑟1 = 0)
14 = 7.2 + 0 ; (𝑟2 = 0)
7 = 3.2 + 1 ; (𝑟3 = 1)
3 = 1.2 + 1; (𝑟4 = 1)
1 = 0.2 + 1; (𝑟5 = 1)
A representação procurada é : 572 = 1. 25 + 1. 24 + 1. 23 + 0. 22 +
0. 21 + 1. 20 ou na forma 572 = 111001.
Nota: na base 2 os 𝑟𝑖 tomam valores 0 ou 1
b) Representar 123 na base 3
Módulo de Teoria de Números. 72

Solução: 123 = 41.3 + 𝟎 ;


41 = 13.3 + 𝟐 ;
13 = 4.3 + 𝟏 ;
4 = 1.3 + 𝟏 ;
1 = 3.0 + 𝟏;
1233 = 11120
c) Representar 43 na base 10.
Solução: 40 = 4.10 + 3 ;
4 = 0.10 + 4 ⇒ 4310 = 43
Assim todos números inteiros são dados na base 10. Por isso, quando não
se menciona a base, assume-se que a base seja a base 10.
Dado um número num sistema de numeração podemos representa-lo
noutro sistema.
Exemplo:
a) A representação dum inteiro na base 8 é 𝑥 = 1758. Determinar o
inteiro.𝑥
Solução: trata-se da mudança da base 8 para a base 10.
𝑥 = 1758 ⟺ 1. 82 + 7. 81 + 5. 80 = 125
Resposta: esse número é 𝑥10 = 125 .

b) Se 63𝛼 = 2023, qual é a base 𝛼 ?


Solução: trata-se da troca da base 𝛼 para base 10.
: 63𝛼 = 2023 ⇔ 2. 𝛼 3 + 0. 𝛼 2 + 2. 𝛼 + 3 = 63 ⇔ 2. 𝛼 3 + 2. 𝛼 − 60
𝛼 3 + 𝛼 − 30 = 0 ⇔ (𝛼 − 3)(𝛼 2 + 3𝛼 + 10) = 0
⇔ 𝛼 − 3 = 0 ∨ 𝛼 2 + 3𝛼 + 10 = 0.
⇔ 𝛼 = 3. A equação quadrática não tem solução em 𝑅0 , pois tem
descriminante <0.
Resposta: A base é 𝛼 = 3.

c) Escrever o número 2536 na base 16.


Solução: trata-se da mudança da base 6 para a base 16.
Para o efeito usamos a seguinte regra:
Se pretendermos representar um número no sistema de base 𝛽,
conhecendo sua representação no sistema de base 𝛼,muda-se a
representação do número da base 𝛼 para a base 10 e depois desta para a
base 𝛽 .

Assim vamos mudar da base 6 para 10 e desta para 16


2536 = 2. 62 + 5. 61 + 3. 61 = 105 ⇒ 2536 = 10510
Módulo de Teoria de Números. 73

Agora vamos escrever este último número na base 16:


105 = 16.6 + 9;
6 = 16.0 + 6 ;
10510 = 6916
Resposta: 2536 =6916
5.2. Números Primos.
Nos capítulos anteriores nos debruçamos sobre divisibilidade e suas
aplicações, como na definição do mdc de inteiros. Um dos métodos
tradicionais de obtenção do mdc consistiu na determinação de divisores
dos números intervenientes e posterior identificação daquele que é maior e
comum. Decorre então, que nesse processo, o número pode ter apenas dois
divisores: o número “um”e o “próprio número”.
Definição : Número primo: um número inteiro chama-se primo, se seus
divisores forem 1 e ele próprio:
𝑍∋𝑎 primo 𝐷𝑒𝑓𝑖𝑛𝑖çã𝑜⇔ 1|𝑎 ∧ 𝑎|𝑎
Um número que não é primo, diz-se ser composto. Qualquer inteiro ou é
primo ou é composto
Exemplo:
a) 5 é primo, pois os únicos divisores de 5 são 1 e 5.
b) 16 é um número composto, pois além dos divisores 1 e 16, possui um
outro divisor, 3.
Diferentes teóricos de números estabeleceram algumas expressões que
geram alguns números primos.
Exemplo: algumas expressões que nos conduzem a números primos são :
a) 𝐹𝑛 = 22𝑛 + 1 , 𝑛 = 0,1,2,3 𝑒 4. (números primos de Fermat)
b) 𝐸𝑛 = 𝑛2 − 𝑛 + 1 , 𝑛 = 2 até 40 ( números primos de Euler).
Definição: Números primos de Mersenne: um número da forma
𝑀𝑛=2𝑛 −1 , onde n é um natural primo, chama-se número primo de
Mersenne. 𝑛 ≥ 2.
Martin Marsenne, foi um padre, teólogo e matemático francês (1588-
1648).
Exemplo:
n 2 3 5 7 11 23
𝑀𝑛 3 7 31 127 2047 ?
Módulo de Teoria de Números. 74

Teorema 5.2. ( teste de número primo) :Se o inteiro 𝑎 < 𝑛2 não for
divisível por qualquer inteiro 𝑞 < 𝑛 ,então 𝑎 é primo.
Demonstração (por absurdo)
Admitamos que 𝑎 não é primo. Então 𝑎 admite um divisor efectivo, seja
ele 𝑝 Assim teremos 𝑎 = 𝑝. 𝑞
Como, por hipótese,𝑎 não admite nenhum divisor menor que 𝑛,então
teremos
𝑝 ≥ 𝑛 e 𝑞 ≥ 𝑛 donde 𝑝. 𝑞 ≥ 𝑛2 𝑒 consequentemente 𝑎≥𝑛2,o que contradiz
a hipótese.
Exemplo : Verificar, se 17 é primo.
Solução: 17<52. pondo 𝑛 = 5,os inteiros menores que este são 𝑞 =
1,2,3,4. Como 17 não é divisível por nenhum destes 𝑞,então 17 é primo.
Este teorema é utilizado no processo de determinação de números
menores ou iguais à um inteiro 𝑎 dado.
Este processo é conhecido pelo nome de crivo de Eratóstenes (275-194
a.C) e consiste no seguinte:
1°. Escrevem-se todos inteiros desde 2 até 𝑎;
2° Eliminam-se todos os múltiplos de 2. (exceptuando 2).
Pelo teorema anterior, todos os inteiros menores do que 22=4,não
eliminados, são primos, portanto 3 é primo;
3° Eliminam-se todos os múltiplos de 3,exceptuando 3;
Pelo mesmo teorema, todos os inteiros menores do 32 =9,não eliminados,
são primos; portanto 5,7 são primos.
Assim se procede sucessivamente até chegar um inteiro não eliminado
cujo quadrado seja igual ou maior do que 𝑎. Então todos inteiros não
eliminados e menores do que 𝑎 são primos.
Um dos resultados notáveis no estudo de inteiros primos é estabelecido
pelo (teorema fundamental da aritmética): qualquer inteiro 𝑎 , diferente de
1,admite pelo menos um divisor primo.
Demonstração:
Lembremo-nos que qualquer inteira ou é primo ou é composto. Por isso
conduziremos a demonstração observando estes dois casos.
a) Se 𝑎 é primo, 𝑎 é o próprio divisor primo;
b) Se 𝑎 é composto, então admite pelo menos um divisor efectivo e se
admite mais que um, então indiquemos o menor por 𝑝.
Módulo de Teoria de Números. 75

𝑝 é necessariamente primo, pois, pelo contrario 𝑝 admitiria por


sua vez um divisor efectivo 𝑝1<𝑝, que seria também um divisor de
𝑎,o que contraria a hipótese de ser 𝑝 o menor divisor efectivo de 𝑎
Exemplo: seja 𝑎 = 12. Os divisores de 12 são 1,2,3,4,6 𝑒 12.Constata-se
então que existe um menor divisor primo, nomeadamente 2.
Definição: Número perfeito: um inteiro 𝑎 chama-se “perfeito”, se for
igual a soma de todos os seus divisores inferiores à ele.
Exemplo:
a) 6 é perfeito. Os divisores de 6 menores que 6 são:1,2,3.
e6 =1+2+3
b) 28 é perfeito, pois 28 = 1 + 2 + 4 + 7 + 14 .
(os somantes são divisores de 28 menores que 28)

Teorema: (Euclides sobre números perfeitos): 2𝑛 −1 primo


⇒2𝑛−1 (2𝑛−1) perfeito.
Este teorema exprime que cada número primo de Mersenne gera um
número perfeito.
Exemplo :
O natural 𝑛 = 3 gera o número primo de Mersenne 7 e este por sua vez
gera o número perfeito 23−1 (23 −1)=28.
Definição: Para todo numero 𝑛∈ℕ, indicamos por 𝜎(𝑛)=∑ 𝑡 𝑡 , a soma de
𝑛

todos os divisores próprios naturais de n.


Exemplo: σ(1)=1
Para 𝑛=12, teremos:
𝜎(12) = 1 + 2 + 3 + 4 + 6 + 12 = 28.

Definição: um número natural 𝑛, 𝑛 > 1, é dito deficiente se a soma dos


seus divisores próprios inferior a ele, for menor que ele.
Em Matemática, um número deficiente é um inteiro para qual 𝜎(𝑛) < 2𝑛,
onde 𝜎(𝑛) é a função divisor.
Exemplo: 𝜎(15) = 1 + 3 + 5 + 15 = 24 𝑒 2𝑛 = 30 ⟹ 𝜎(15) < 2.15.
Portanto, 15 é deficiente.
Ou seja: 1 + 3 + 5 = 9 < 15.
Observação: Caso contrário da definição anterior, o número é dito
abundante, se a soma dos seus divisores próprios excepto ele, for maior
que ele. Ou 𝜎(𝑛) > 2𝑛.
Módulo de Teoria de Números. 76

Lição n° 06
CONGRUÊNCIA NOS INTEIROS.
Introdução
Desde os primórdios existiram a necessidade de contagem e são
exactamente os números naturais que estão envolvidos com esta ideia de
quantidade, os números naturais tiveram suas origens nas palavras
utilizadas para a contagem de objectos, começando com o número um.

Nesta sua lição você estudará o conceito de relação Matemática.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Conceituar a congruência entre inteiros;


 Aplicar propriedades básicas da congruência
de inteiros;

Objectivos da  Caracterização de inteiros congruentes;

lição  Classe Residual e representante de uma classe


residual.
 Operações em ℤ𝑚 .

 Teorema de Fermat
Módulo de Teoria de Números. 77

6.1. Congruência nos Inteiros.

O conceito de congruência, bem como a notação através da qual essa


noção se tornou um dos instrumentos da teoria dos números, foi
introduzido por Karl Friedrich Gauss (1777-1855).

Para dar uma ideia da noção de congruência, consideremos a seguinte


questão: “ se hoje é sexta- feira, que dia da semana será daqui a 1520
dias? “

Para organizar o raciocínio, indiquemos por 0, o dia de hoje (sexta-feira),


por 1 o dia de amanha (sábado), e assim por diante. A partir dessa escolha,
pode se construir uma tabela:

Sexta Sábado Domingo Segunda Terça Quarta Quinta

0 1 2 3 4 5 6

7 8 9 10 11 12 13

… … … … … … …

De acordo a tabela, a questão agora se resume em saber em que coluna da


tabela se encontra o número 1520. Para isso basta observar que dois
números da sequencia 0,1,2,… estão na mesma coluna se e somente se ,
sua diferença é divisível por 7.

Suponhamos que o numero 1520 se encontra na coluna encabeçada pelo


número k (0≤ 𝑘 ≤ 6). Então:

1520 − 𝑘 = 7𝑞

Para algum inteiro positivo q. Dai teremos: 1520 = 7𝑞 + 𝑘 ; (0 ≤ 𝑘 ≤


6).

Pela unicidade do resto na divisão euclidiana, segue dessa igualdade que k


é o resto da divisão 1520 por 7. Observando que:

1520 7

217 Resto 1.
Módulo de Teoria de Números. 78

Conclui -se que esse resto é 1 e que, portanto, 1520 está na segunda
coluna. Logo, daqui a 1520 dias será um sábado.

Inteiros Congruentes
Definição: Sejam a e b inteiros quaisquer e seja m > 0 um inteiro fixo não
nulo. Dizemos que a é congruente a b modulo m se, somente se, m | a-b.
Escreve-se em notação: 𝑎 ≡ 𝑏(𝑚𝑜𝑑 𝑚).
Exemplo 3.3: se 𝑎 = 15 ; 𝑏 = 3, 𝑒 𝑚 = 4.
1. 15≡ 3 (𝑚𝑜𝑑 4), 𝑝𝑜𝑖𝑠 15 − 3 =
3.4, 𝑞𝑢𝑒𝑟 𝑑𝑖𝑧𝑒𝑟 𝑞𝑢𝑒 4 𝑑𝑖𝑣𝑖𝑑𝑒 12, 𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑗𝑎 4|12.
2. −4 ≡ 2 (𝑚𝑜𝑑 3); 𝑝𝑜𝑖𝑠 3| (−4 − 2), 𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑗𝑎 −
6 é 𝑑𝑖𝑣𝑖𝑠𝑖𝑣𝑒𝑙 𝑝𝑜𝑟 3.

 Se m | a-b, dizemos que a é incongruente a b módulo m, ou a


não é congruente a b modulo m e denota-se 𝑎 ≡
𝑏 (𝑚𝑜𝑑 𝑚).

Exemplo: −30 ≡ 4 (𝑚𝑜𝑑 5), 𝑝𝑜𝑖𝑠 5 | (−30 − 4).


Como vimos sobre a relação de equivalência no tópico passado, nesta
lição também falaremos de relação de equivalência.
Observação 3.3:
 A relação no conjunto ℤ definida por 𝑎 𝑅 𝑏 ⟺ 𝑎 ≡
𝑏 (𝑚𝑜𝑑 𝑚) é reflexiva, simétrica e transitiva, ou seja, R é
uma relação de equivalência. A relação assim definida sobre
o conjunto ℤ chama-se congruência módulo m.

3.4.Propriedades básicas da congruência de inteiros.


Seguem as propriedades básicas da congruência de inteiros:
𝐶1 ) 𝑎 ≡ 𝑎 (𝑚𝑜𝑑 𝑚 ) ( 𝑟𝑒𝑓𝑙𝑒𝑥𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 ), 𝑑𝑒 𝑓𝑎𝑐𝑡𝑜 𝑎 − 𝑎 =
0 é 𝑑𝑖𝑣𝑖𝑠𝑖𝑣𝑒𝑙 𝑝𝑜𝑟 𝑚.
𝐶2 ) 𝑠𝑒 𝑎 ≡ 𝑏 (𝑚𝑜𝑑 𝑚 ), 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑜 𝑏 ≡ 𝑎 (𝑚𝑜𝑑 𝑚 ) (𝑆𝑖𝑚𝑒𝑡𝑟𝑖𝑎)
Se a ≡ 𝑏 (𝑚𝑜𝑑 𝑚 ), 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑜 𝑚| (𝑎 − 𝑏), 𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑗𝑎 , 𝑎 − 𝑏 =
𝑚𝑞 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑎𝑙𝑔𝑢𝑚 𝑞. 𝑑𝑎𝑖 𝑏 − 𝑎 = 𝑚(−𝑞) e, portanto, 𝑚 |(𝑏 −
𝑎). 𝐷𝑒 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑏 ≡ 𝑎 (𝑚𝑜𝑑 𝑚 ).
𝐶3 ) 𝑆𝑒 𝑎 ≡ 𝑏 (𝑚𝑜𝑑 𝑚 ) 𝑒 𝑏 ≡ 𝑐 (𝑚𝑜𝑑 𝑚 ), 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑜 𝑎 ≡
𝑐 (𝑚𝑜𝑑 𝑚 ). ( 𝑇𝑟𝑎𝑛𝑠𝑖𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 )
Demonstração: Por hipótese, 𝑚|(𝑎 − 𝑏) 𝑒 𝑚 |(𝑏 − 𝑐). 𝑙𝑜𝑔𝑜, 𝑚|[(𝑎 −
𝑏) + (𝑏 − 𝑐)], 𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑗𝑎 𝑚 |(𝑎 − 𝑐). 𝐷𝑎𝑖 𝑚 | (𝑎 − 𝑐) 𝑒 , 𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎𝑛𝑡𝑜, 𝑎 ≡
𝑐 (𝑚𝑜𝑑 𝑚).
Outras propriedades importantes:
𝐶4 ) a ≡ b (mod m) e c ≡d (mod m) ⟹ a + c ≡b + d (mod m).

𝐶5 ) a ≡ b (mod m) e c ≡d (mod m) ) ac ≡ bd (mod m).


Módulo de Teoria de Números. 79

3.5.Caracterização de inteiros congruentes


Teorema 3.5.1: Dois inteiros a e b são congruentes modulo m se, e
somente se, a e b deixam o mesmo resto quando divididos por m.
Exemplo1: −31 ≡ 11 (𝑚𝑜𝑑 7); 𝑙𝑜𝑔𝑜 −
31 𝑒 11 deixam o mesmo resto quando divididos por 7.
𝑅𝑒𝑎𝑙𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒:
−31 = 7(−5) + 4 𝑒 11 = 7(1) + 4.
Neste caso: 𝑎 = −31 , 𝑏 = 11 𝑒 𝑚 = 7 e conclui-se que −31 𝑒 11 são
congruentes, pelo teorema 3.4.1.
Exemplo 2: Mostrar que 10200 − 1 é divisível por 11.
Solução: como 10≡ −1 (𝑚𝑜𝑑 11), então 10200 ≡ (−1)200 (𝑚𝑜𝑑 11),
ou seja, 10200 ≡ 1( 𝑚𝑜𝑑 11), pela definição de congruência conclui se
que 11 |10200 − 1.
3.6. Classe Residual e Representante da classe Residual.
Definição 3.6: definimos a classe residual módulo m do elemento a ∈ ℤ,
denotada por [a], como sendo o subconjunto:
[𝑎] = { 𝑥 ∈ ℤ ; 𝑥 ≡ 𝑎 (𝑚𝑜𝑑𝑚)}
O conjunto de todas as classes residuais modulo m será denotado por ℤ𝑚 ,
isto é :
ℤ𝑚 = {[0], [1], … , [𝑚 − 1]}
Exemplo: para m=2, temos:
[0] = { 𝑥 ∈ ℤ ; 𝑥 ≡ 0 (𝑚𝑜𝑑 2) = { 𝑥 ∈ ℤ ; 𝑥 é 𝑝𝑎𝑟. } e [1] = { 𝑥 ∈
ℤ ; 𝑥 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 2) = { 𝑥 ∈ ℤ ; 𝑥 é 𝑖𝑛𝑝𝑎𝑟. }.
Definição : Dado a ∈ ℤ𝑚 , um inteiro x tal que [x]=[a] será chamado um
representante de [a].
Verifica-se que para a classe residual [0] tem como representantes
[0],[2],[4],[6]…
A classe residual [1] tem como representantes [1], [3],[5]….
Observação: existe uma infinidade de representantes da classe [a] ∈ ℤ𝑚
Então : ℤ2 = {[0], [1]}.
A classe residual [a] = [0] se somente se 𝑎 for par.
A classe residual [a] = [1] se somente se 𝑎 for impar.
3.7. Operações em ℤ𝒎
Em ℤ𝑚 , definimos adição e multiplicação por :
[𝑎] + [𝑏] = [𝑎 + 𝑏]
[𝑎]. [𝑏] = [𝑎. 𝑏]
Observamos que as operações em ℤ𝑚 foram definida a partir das
operações de seus representantes. Desta forma, as operações em ℤ𝑚
gozam das seguintes propriedades:
Propriedades da adição
Módulo de Teoria de Números. 80

Dados [a], [b] e [c] ∈ ℤ𝑚


[A1] : Comutativa ( [𝑎] + [𝑏] = [𝑏] + [𝑎])
[A2]: Associativa ( [𝑎] + [𝑏]) + [𝑐] = [𝑎] + ([𝑏] + [𝑐]).
[A3]: existência de zero [0] + [𝑎] = [𝑎].
[A4]: Existência de simétrico [𝑎] + [−𝑎] = [0].
Tabuadas
Definição: um elemento [a] ∈ ℤ𝑚 é dito invertível quando existir [b] ∈
ℤ𝑚 tal que [a].[b]=[1]. Neste caso diremos que [b] é o inverso de [a].

Tabela de adição e multiplicação em ℤ3 ={ [0], [1], [2]} são


respectivamente:

. [0] [1] [2] [0] [1] [2]

[0] [0] [0] [0]

[1] [0] [1] [2]

[2] [0] [2] [1]

+
[0] [0] [1] [2]

[1] [1] [2] [0]

[2] [2] [0] [1]

Observe que todos elementos não nulos de ℤ2 são invertíveis.


3.9. Teorema de Fermat.
Se p é um numero primo e p | a, então 𝑎𝑝−1 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑝).
Se p é primo e p | a , não é necessariamente verdade que 𝑎𝑝−1 ≡
1 (𝑚𝑜𝑑 𝑝), por exemplo, fazendo p=2 e a=4, podemos notar que 2|4 e
42−1 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 2).

EXERCICIOS
Módulo de Teoria de Números. 81

1. Calcule mdc (a+b ; a-b), sabendo que a e b são inteiros


prinos entre si.

2. Mostre que o número de Marsenne 𝑴𝟖𝟑 = 283 − 1 é divisível por


167 ou 67 divide 283 − 1.

3. Se 𝑎 = 15 ; 𝑏 = 3, 𝑐 = 28, 𝑑 = 8 𝑒 𝑚 = 4, Verifique a validade das


seguintes propriedades.

3.1. a ≡ b (mod m) e c ≡d (mod m) ⟹ a + c ≡b + d (mod m).


3.2. a ≡ b (mod m) e c ≡d (mod m) ) ac ≡ bd (mod m).

4. Determine o resto da divisão de 2257 𝑝𝑜𝑟 7. (Aplique o teorema de


Fermat)

5. Dada a tabela, complete:

+ [0] [1] [2] [3]

[0]

[1] [1]

[2] [3]

[3] [2]

a) Determine os elementos invertíveis na tabela.


b) Esboce a tabela para operação da multiplicação.
Módulo de Teoria de Números. 82

Unidade IV
Conjunto ℚ. Conjunto dos Números Racionais.
Construção Algébrica.
Introdução.
Na unidade III aprendeste a construção dos números inteiros e suas
propriedades. Nesta unidade descreveremos o conjunto dos números
racionais, conjunto sobre o qual construiremos algebricamente. No
contexto do ensino básico ou médio, um número racional é apresentado
como razão entre dois inteiros, onde razão significa divisão. Aqui
definiremos razão e divisão a partir do conjunto dos inteiros e suas
propriedades já demonstradas. Utilizaremos o conceito de relação de
equivalência a partir dos inteiros, ou seja o que nos interessa é a
construção lógica formal (conceito na base de classe de equivalência) do
conjunto dos racionais, do mesmo modo que utilizamos para construção
dos inteiros a partir dos naturais.

Objectivos da Unidade

Nesta unidade vai perceber o processo de construção axiomática do


conjunto de números racionais.
Módulo de Teoria de Números. 83

Lição n° 01
Construção Algébrica de Q.
Introdução
Nesta sua lição você estudará a construção algébrica do conjunto dos
números racionais.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Construção algébrica do conjunto Q

 Operações em Q.

Objectivos da  Propriedades em Q.

lição.
Módulo de Teoria de Números. 84

4. Construção Algébrica do conjunto Q.

Consideremos o conjunto ℤ 𝑥ℤ∗ = {(𝑎, 𝑏)|𝑎 ∈ ℤ 𝑒 𝑏 ∈ ℤ∗ }.

Definição 4.1. Sejam 𝑎 ∈ ℤ 𝑒 𝑏 ∈ ℤ∗ . A relação dada por (𝑎, 𝑏)𝑅 (𝑐, 𝑑 ) ⟺


𝑎. 𝑑 = 𝑏. 𝑐

Exemplo 1 : (3,2) 𝑅 (6,4) 𝑝𝑜𝑖𝑠 3.4 = 2.6

Proposição 4.1.2. A relação definida em 4.1, é uma relação de


equivalência.

Demonstração:

1. Reflexiva: se 𝑎 ∈ ℤ 𝑒 𝑏 ∈ ℤ∗ então 𝑎. 𝑏 = 𝑏. 𝑎, portanto


(𝑎, 𝑏)𝑅(𝑎, 𝑏).
2. Simétrica: se 𝑎, 𝑐 ∈ ℤ ; 𝑏, 𝑑 ∈ ℤ∗ e (𝑎, 𝑏) 𝑅 (𝑐, 𝑑), então 𝑎. 𝑑 =
𝑏. 𝑐, ou ainda , 𝑐. 𝑏 = 𝑑. 𝑎, 𝑖𝑠𝑡𝑜 é (𝑐, 𝑑) 𝑅 (𝑎, 𝑏).
3. Transitiva: 𝑎, 𝑐, 𝑒 ∈ ℤ ; 𝑏, 𝑑, 𝑓 ∈
ℤ∗ 𝑒 (𝑎, 𝑏)𝑅 (𝑐, 𝑑)𝑒 (𝑐, 𝑑)𝑅 (𝑒, 𝑓), teremos :
𝑎. 𝑑 = 𝑏𝑐 ⟹ 𝑎. 𝑑. 𝑓 = 𝑏. 𝑐. 𝑓 (1)
𝑐. 𝑓 = 𝑑. 𝑒 ⟹ 𝑏. 𝑐. 𝑓 = 𝑏. 𝑑. 𝑒 (2)
Desta forma igualando as expressões (1) e (2) teremos: 𝑎. 𝑑. 𝑓 =
𝑏. 𝑐. 𝑓 = 𝑏. 𝑐. 𝑓 = 𝑏. 𝑑. 𝑒, Pela lei de cancelamento de quantidades
iguais em membros diferentes teremos 𝑎. 𝑑. 𝑓 = 𝑏. 𝑑. 𝑒 como d≠
0, 𝑎. 𝑓 = 𝑏. e (pela lei de cancelamento multiplicativo), que
significa, (𝑎, 𝑏) 𝑅(𝑒, 𝑓).

Definição 4.1.3. Dado (𝑎, 𝑏) ∈ ℤ 𝑥ℤ∗ , a classe de equivalência do


𝑎
representante (𝑎, 𝑏), denotamos por 𝑏
𝑜𝑢 [(𝑎, 𝑏)], Devendo-se ler “ a

classe do par (𝑎, 𝑏), ou “ a sobre r” , e simboliza-se pela seguinte relação


matemática :
𝑎
= {(𝑥, 𝑦) ∈ ℤ 𝑥ℤ∗ : (𝑎, 𝑏)𝑅 (𝑥, 𝑦)}
[(𝑎, 𝑏)] =
𝑏
Exempl: 2 : Determinar a classe de equivalência do representante [(3,2)] ?

Solução:

[(𝟑, 𝟐)] = { (𝑥, 𝑦) ∈ ℤ 𝑥ℤ∗ : (𝑥, 𝑦) 𝑅 (3,2)} = {(𝑥, 𝑦) ∈ ℤ 𝑥ℤ∗ : 2. 𝑥 =


3. 𝑦}={(3, 2); (4, 6); (6, 9); (8, 12);….(100, 150)…(2k, 3k)}.
Módulo de Teoria de Números. 85

Definição 4.1.4. Denotamos por ℚ, e denomina-se por o conjunto dos


𝑆
números racionais, o conjunto quociente 𝑅
de ℤ 𝑥ℤ∗ pela relação de

equivalência, isto é :

𝑆
ℚ= = {[(𝑎, 𝑏)]: (𝑎, 𝑏) ∈ ℤ 𝑥ℤ∗ }
𝑅
Observações:
 A definição (4.1.4) exprime que o conjunto dos números racionais
é colecção de todas as classes de equivalência dos elementos
(𝑎, 𝑏) ∈ ℤ 𝑥ℤ∗ ) da relação de equivalência em consideração.
𝑎
 Cada classe de equivalência [(𝑎, 𝑏)] = 𝑏 pode ser identificada
𝑎
como quociente ou com a fracção 𝑏 e algebricamente representa o
𝑎 𝑥
conjunto solução da equação𝑏 =𝑦 em ℤ.

 Geometricamente, as classes de equivalência representam


𝑏
equações reduzidas de rectas 𝑦 = . 𝑥 . e consequentemente ℚ é
𝑎

feixe destas rectas.

Exemplo 3: A classe de equivalência [(2,3)]


2
 É identificada pela fracção 3.

 Como [(2,3)]={ (𝑥, 𝑦) ∈ ℤ 𝑥ℤ∗ : (2,3)𝑅(𝑥, 𝑦)} = {(𝑥, 𝑦) ∈


ℤ 𝑥ℤ∗ : 2. 𝑥 = 3. 𝑦}. Representa o conjunto solução da
2 𝑥
equação 3 = 𝑦.
3
 Geometricamente representa-se por 𝑦 = 2 . 𝑥

4.1.2. Operações em ℚ.

Definem-se as operações em Q pelas seguintes igualdades:


𝑎 𝑐
Adição: sejam 𝑏 𝑒 𝑑
números racionais, isto é elementos de Q, teremos:

𝑎 𝑐 𝑎𝑑 + 𝑏𝑐 2 1 2.4 + 3.1 8 + 3 11
+ = = + = = =
𝑏 𝑑 𝑏𝑑 3 4 3.4 12 12

𝑎 𝑐 𝑎𝑑−𝑏𝑐 2 1 2.4−3.1 8−3 5


Subtracção: 𝑏
−𝑑= 𝑏𝑑
=3−4 = 3.4
= 12
= 12

𝑎 𝑐 𝑎𝑐 2 1 2.1 2 1
Multiplicação: 𝑏 . 𝑑 = 𝑏𝑑 = 3 ∗ 4 = 3.4 = 12 = 6
Módulo de Teoria de Números. 86

𝑎 𝑐 𝑎 𝑑 𝑎𝑑 2 1 2 4 8
Divisão: 𝑏 : 𝑑 = 𝑏 . 𝑐 = 𝑏𝑐
= 3:4 = 3∗ 1 = 3

Obs: Já que estamos a operar com classes, devemos questionar sobre a


independência do resultado da operação em relação à escolha do
representante, ou seja, se as operações estão ou não correctamente
definidas.
3 2 6 2
Exemplo 4: o resultado de + é igual ao resultado de + ?
2 5 4 5

Procuremos responder a esta questão:


3 2 3.5+2.2 19 6 2 6.5+4.2 38:2 19
+ = = e + = = = os resultados são
2 5 2.5 10 4 5 4.5 20:2 10

iguais.

Dum modo geral verifica-se que as operações de adição, subtracção,


multiplicação e divisão admite a lei de fechamento ou seja estas operações
estão bem definidas em ℚ.

4.1.2. Propriedades em Q.

Temos as seguintes propriedades: comutativa de adição, associativa da


adição, elemento neutro da adição, elemento simétrico ou oposto,
comutativa da multiplicação, associativa da multiplicação, elemento
neutro da multiplicação, elemento inverso ou recíproco, distributiva da
multiplicação em relação a adição.

Demonstração:

1. Comutativa da adição:

𝑎 𝑐 𝑒
Sejam 𝑟, 𝑠, 𝑡 ∈ ℚ com 𝑟 = 𝑏 , 𝑠 = 𝑑 , 𝑡 = 𝑓

𝑟+𝑠 =𝑠+𝑟?

𝑎 𝑐 𝑎𝑑 + 𝑏𝑐 𝑏𝑐 + 𝑑𝑎 𝑐 𝑎
𝑟+𝑠 = + = = = + = 𝑠+𝑟
𝑏 𝑑 𝑏𝑑 𝑑𝑏 𝑑 𝑏

Caro estudante é convidado a demonstrar as restantes propriedades.

A concepção algébrica dos números racionais é de que eles são classes.


Este facto dificulta por exemplo, identificar Z em Q e fazer conexão aos
conhecimentos elementares sobre este tipo de números.
Módulo de Teoria de Números. 87

A Identificação ou imersão de Z em Q decorre da definição de uma


aplicação:

𝑓: 𝑧 ⟶ 𝑄
𝑛 𝑛
𝑛 ∋ ℤ∗ ⟶ , 𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑗𝑎 𝑓(𝑛) = = 𝑛.
1 1

Pela definição desta aplicação, fica obvio, que ℤ ⊂ ℚ . Ainda esta função
garante uma extensão de ℤ para ℚ , por possuir as seguintes propriedades:

I. Injectiva ∶ f(n) = f(m) = n = m


II. Aditiva ∶ f(n + m) = f(n) + f(m)
III. Multiplicativa ∶ f(n. m) = f(n). f(m).

1.Injectividade :
𝑛 m
Se 𝑓(𝑛) = 𝑓(𝑚), então temos 1 = (pela definicao)
1

Pela concepção da definição de classe de equivalência


teremos (𝑛, 1) 𝑅(𝑚, 1) = 𝑛. 1 = 𝑚. 1 = 𝑛 = 𝑚
1
( 1 é 𝑒𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑛𝑒𝑢𝑡𝑟𝑜 𝑒𝑚 𝑄), fica demonstrado.

Caro estudante é convidado a demostrar as propriedades II e III.

A conexão dos conhecimentos adquiridos sobre este tipo de números


estabelece-se entendendo esses números como quociente de inteiros ou
fracções. O Matemático italiano Giuseppe Peano sugeriu em 1895 a
seguinte notação para o conjunto de números racionais:
𝑎
O termo “ racional” provem do facto de 𝑏
representar a razão ou

proporção entre dois inteiros a e b. Quando 𝑏 = 1, os racionais são da


𝑎
forma 1 = 𝑎 e constituem o conjunto de inteiros.

Da posse da construção do conjunto de números racionais, das definições


de suas operações e listagem das respectivas propriedades, vamos abordar
as seguintes matérias:

 Representação de números racionais. Justificativa: conversão


de dízimas infinitas periódicas em fracções;
 Equações Diofantina lineares com coeficientes racionais.
Justificativa: alguns problemas quotidianos são modeláveis
em EDL com coeficientes racionais.
Módulo de Teoria de Números. 88

Lição n° 03
Equações Diofantianas Lineares com
Coeficientes Racionais. (EDLr)
Introdução.
Nesta lição, você vai ter a noção de equação diofantiana linear racional;
aprender a resolver este tipo de equações como foi feito em
ℤ, agora em ℚ e a aplicar na modelação de certos problemas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Ter noção de uma EDLr.

 Resolver problemas conducentes a uma EDLr.

Objectivos da
lição.
Módulo de Teoria de Números. 89

4.2. Representação de Números Racionais.


𝑎
A fracção 𝑏
representa divisão (racional) de a por b e se a fracção for

irredutível, o resultado é um número decimal , podendo ser:


3
Uma dízima finita: Exemplo: 2 = 1.5
25
Uma dízima infinita periódica: Exemplo: = 8.33333333 … 3 =
3
8(3): 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 3;
7
b) 6 = 1.1666666 … 1.1(6): 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 6.

Dum modo geral:


i. Todo número racional, representa uma dízima finita ou uma dízima
infinita periódica e reciprocamente;
ii. Toda dízima finita ou infinita periódica representa uma fracção.
Nesta constatação, o item ii. Merece uma pequena descrição.
 Se o número for uma dízima finita, o numerador da fracção é o
número sem casas decimais e denominador é potência do tipo 10𝑡
, Onde 𝑡 é o número de algarismos depois da vírgula.
Exemplo: Representar o número 2,31 numa fracção.
Solução:
𝑥
2,31 = , o numerador é 𝑥 = 231, o numero de casas decimais depois da
𝑦
231
virgula é 𝑡 = 2, logo a potencia é 𝑏 = 102 = 100, assim 2,31 = 100.

a) Se o número for uma dízima infinita periódica, a fracção que o


representa obtêm-se por um procedimento que envolve series
geométricas e que a seguir é descrido.
Para o efeito, precisamos do conceito de série geométrica e de seu teorema
de convergência.
Seja 𝑎. 𝑞, 𝑎. 𝑞2 , 𝑎. 𝑞3 , … , 𝑎. 𝑞𝑛−1 , Uma progressão geométrica (P.G) com
razão 𝑞 ≠ 1.
Definição 4.2.1: Série Geométrica: denomina-se série geométrica a
expressão matemática:

𝑆(𝑞) = ∑ 𝑎. 𝑞𝑘 = 𝑎 + 𝑎. 𝑞 + 𝑎. 𝑞2 …
𝑘=0
Módulo de Teoria de Números. 90

𝟏 𝟏 𝟏 𝟏
Exemplo: para a P.G 𝒂𝒏 = 𝟐𝒌 = 𝟏 + 𝟐 + 𝟒 + 𝟖 + ⋯ +

Definição 4.2.2: Soma parcial de Enésima ordem: para um natural fixo


N, entende-se soma parcial de Enésima ordem a expressão:
𝑁−1

𝑆𝑁 = ∑ 𝑎. 𝑞𝑘 = 𝑎 + 𝑎. 𝑞 + 𝑎. 𝑞𝑁 + ⋯ + 𝑎. 𝑞𝑁−1
𝑘=0

1 − 𝑞𝑁
= 𝑎. , 𝑐𝑜𝑚 1 − 𝑞 ≠ 0.
1−𝑞
𝟏 𝟏 𝟏
Exemplo: Dada seja a progressão geométrica 𝒂𝒏 = 𝟐𝒌 = 𝟏 + 𝟐 + 𝟒 + ⋯ +
𝟏
𝟐𝑵−𝟏
.

Definição 4.2.3: Soma da Serie Geométrica.


1−𝑞 𝑁
O número real 𝑆 = lim 𝑆𝑁 = lim (𝑎. ), chama-se soma da serie
𝑁→∞ 𝑁→∞ 1−𝑞

geométrica. Quando S for finito diz-se que a serie é convergente, caso


contrário será divergente.
2
Exemplo: Calcular a soma da serie geométrica ∑∞
𝑘=0 .
3𝑘

Solução:
1
2 1 1−𝑞 𝑛 1− 𝑁
3
Para a P.G, 𝑎𝑛 = 3𝑘 , temos 𝑎 = 2 , 𝑞 = 3 𝑒 𝑆𝑁 = 𝑎. 1−𝑞
= 2. 1 =
1−
3

3. (1 − (3−𝑁 )).
Logo: lim 3. (1 − (3−𝑁 )) = 3. lim (1 − (3−𝑁 )) = 3.1 = 3.
𝑁→∞ 𝑁→∞

Resposta: A soma da P.G é 𝑠 = 3. (convergente).

Exercicios.
Caro estudante verifique a convergência ou a divergência das seguintes
series Geométricas abaixo:
I. ∑∞
𝑛=0 5
−𝑛
e II. ∑∞ 𝑘
𝑘=0 4 .
Módulo de Teoria de Números. 91

Lição n° 02
Representação de Dízimas Finitas e
Infinitas Periódicas em Fracções.
Introdução.
Nesta sua lição você estudará representação das dízimas finitas e infinitas
periódicas em fracções.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Representar as dízimas finitas em fracções.

 Representar as dízimas infinitas em fracções.

Objectivos da
lição.
Módulo de Teoria de Números. 92

4.3.Equações Diofantinas lineares em ℚ com duas variáveis.

São equações do tipo 𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 = 𝑐, onde os coeficientes 𝑎, 𝑏, 𝑐 são


números racionais e 𝑥, 𝑦 são incógnitas ou variáveis.

Designaremos estas equações consensualmente por Equações Diofantinas


Lineares racionais (EDLr).

Exemplo:

I. 0,3. 𝑥 + 5,7𝑦 = 56, onde 𝑎 = 0,3 ; 𝑏 = 5,7 ; 𝑐 = 56


II. 4,3𝑡 − 1,2𝑟 = 4,9, encontre os coeficientes caro estudante.

Definição 4.3.1: Solução duma EDLr:


O par de racionais (𝑥, 𝑦) chama-se solução da EDLr, se 𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 = 𝑐.
Exemplo: (500, −1000) é solucao da EDLr 0,25. 𝑥 + 0,10. 𝑦 = 25, porque
0,25. (500) + 0,10(−1000) = 25.

Tal como vimos nas equações diofantinas lineares (inteiras), aqui


distinguem-se solução particular e geral.

Um conceito novo para a resolução deste tipo de equações é o de máximo


divisor generalizado (mdcg ) e os procedimentos de resolução são os
mesmos.

Assim definiremos o conceito de máximo divisor comum generalizado,


depois de dispormos de alguns conceitos que nos conduzirão à definição
daquele.

Definição 4.3.2: Divisores em ℝ

Um número real s é divisor inteiro dum outro número real r , se existir um


inteiro a tal que:

𝒓 = 𝒂. 𝒔
2 4
Exemplo : 𝑠 = 3 é divisor inteiro de 𝑟 = 3, pois existe um inteiro a,
4 2
nomeadamente 𝑎 = 2, tal que 3 = 𝑎. 3

Observação: É óbvio que, quando s é divisor inteiro de r, então r é


múltiplo de s.
Módulo de Teoria de Números. 93

Definição 4.3.3: Máximo Divisor Comum Generalizado.

Sejam r e s dois números reais comensuráveis não nulos. Dizemos que u é


o máximo divisor comum generalizado (mdcg) entre 𝑟 𝑒 𝑠 e escrevemos:
𝑢 = 𝑚𝑑𝑐𝑔(𝑟, 𝑠), 𝑠𝑒:

 𝑢 é um divisor inteiro de comum de 𝑟 𝑒 𝑠.


 Se 𝑢′ é divisor inteiro comum de r e de s, então 𝑢′ ≤ 𝑢.

Exemplo:

3 9 1
𝑢 = 𝑚𝑑𝑐𝑔 ( , ) =
2 5 15
1 3 9
Porque 𝑢 = 15 é divisor inteiro comum de 2
𝑒 5, em virtude de existirem
1 3 1 9
inteiros 𝑠 𝑒 𝑡 tais que 15 = 𝑡. 2 ⟹ 𝑡 = 10; 15
= 𝑠. 5 ⟹ 𝑠 = 27

Em seguida apresentamos dois teoremas que nos facilitarão o cálculo do


mdcg.
Proposição 4.3.3: seja r e s dois reais comensuráveis não nulos, então
𝑟 𝑠
𝑚. 𝑑. 𝑐. 𝑔 (𝑟, 𝑠) = =
𝑠 𝑣

𝑢 𝑟
Onde 𝑣 é a forma irredutível da fracção 𝑠 .

3 7
Exemplo: achar 𝑚𝑑𝑐𝑔 ( , ).
2 4

Solução:

3 3
3 7 𝑢 2 3 4 6 3 7 𝑢 2 3
𝑟= , 𝑠= ; = = . = ⟹ 𝑚𝑑𝑐𝑔 ( , ) = = =
2 4 𝑣 7 2 7 7 2 4 𝑟 6 12
4
1
=
4
3 7 1
Resposta: 𝑚𝑑𝑐𝑔 (2 ; 4) = 4

Proposição 4.3.4: Sejam dados dois reais comensuráveis não nulos 𝑟 =


𝑎 𝑐
𝑏
; 𝑠 = 𝑑.

𝑎 𝑐 𝑚𝑑𝑐(𝑎,𝑐)
Então: 𝑚𝑑𝑐𝑔 (𝑏 ; 𝑑) = 𝑚𝑚𝑐(𝑏,𝑑)

Exemplo:
3 7 mdc(3,7) 1
mdcg ( ; ) = = .
2 4 mmc(2,4) 4
Módulo de Teoria de Números. 94

Da posse do conceito de mdcg podemos resolver equações diofantinas


racionais e problemas conducentes à este tipo de equações.

Lembremos que, como no caso de EDL em ℤ.

(i) A EDlr 𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 = 𝑐 tem solução se 𝑢 = 𝑚𝑑𝑐𝑔(𝑎, 𝑏) for


divisor inteiro de 𝑐; nesse caso a solução geral tem a estrutura
:
𝑏 𝑎 𝑏
(𝑥, 𝑦) = (𝑥0 + . 𝑘 ; 𝑦0 − . 𝑘) ou 𝑥0 + . 𝑘
𝑢 𝑢 𝑢
𝑎
𝑦0 − 𝑢 . 𝑘

Onde (𝑥0 ; 𝑦0 ) é solução particular e 𝑘 ∈ ℤ0 .

(ii) Para determinarmos a solução particular:


1º Efectuamos o algoritmo Euclidiano (ALE) sobre 𝑎 𝑒 𝑏 e estabelecemos
a combinação linear do 𝑚𝑑𝑐𝑔 segundo o teorema de Bézout.
2º Caso 𝑐 ≠ 1 , multiplicamos ambos os membros da combinação do
𝑚𝑑𝑐𝑔 para ter 𝑐 ;
3º Depois da multiplicação, escrevemos a expressão numérica de modo a
obtermos a solução particular (𝑥0 ; 𝑦0 );
4º Obtida a solução particular, compomos a solução geral pelas fórmulas
acima.

Caso a equação modele um problema, restringe-se a solução geral para


obter parâmetros que permitam fornecer uma resposta adequada ao
problema.

Exemplo:

I. Encontre a solução da equação (3,1). 𝑥 + (2,3). 𝑦 = 13

Caro estudante presta atenção na resolução passo a passo da equação:

Solução:
31 23
Os coeficientes da equação são: 𝑎 = 3,1 = 10 ; 𝑏 = 2,3 = 10.

31 23 𝑚𝑑𝑐(31,23)
Pelo teorema ou proposição 4.3.4: temos: 𝑚𝑑𝑐𝑔 (10 ; 10) = 𝑚𝑚𝑐(10,10) =
1
10
= 0,1.
Módulo de Teoria de Números. 95

1
Está claro que 10
é divisor de 13, pois existe um 𝑎 ∈ ℤ, tal que 13 =
1
𝑎. 10 ⟹ (𝑎 = 130).

Assim a equação tem solução.

O ALE, fornece os seguintes resultados:

3,1 = 1. (2,3) + 0,8 ⟹ 0,8 = 3,1 − 2,3

2,3 = 2. (0,8) + 0,7 ⟹ 2,3 − 2. (0,8) = 0,7

0,8 = 1. (0,7) + 0,1 ⟹ 0,1 = 0,8 − 0,7

0,7 = 1. (0,1) + 0

Apliquemos agora o teorema de Bézout para obtenção da solução


particular:

0,1 = 0,8 − 0,7 = (3,1 − 2,3) − (2,3 − 2[0,8]) = 3,1 − 2,3 + 2. (0,8)

= 3,1 − 2,3 − 2,3 + 2. [3,1 − 2,3] = 3,1 + 2. (3,1) − 2. (2,3) − 2. (2,3)

= 3. (3,1) − 4. (2,3)

⟹ 3,1. (3) + 2,3. (4) = 0,1. Multiplicando ambos membros da equação


por (𝑎 = 130)
1 1
Como 0,1 = 10 = 𝑚𝑑𝑐𝑔 ⟹ 13 = 𝑎. 10) obtém-se:

3,1. (390) + 2,3. (−520) = 13 ⟹ (𝑥0 ; 𝑦0 ) = (390, −520) é solução


particular.

Compondo a solução geral temos :

𝑏 2,3
𝑥0 + 𝑢 . 𝑘 ⟹ 𝑥 = 390 + 0,1 . 𝑘 ⟺ 𝑥 = 390 + 23. 𝑘

onde: 𝑘 ∈ ℤ0
𝑎 3,1
𝑦0 − 𝑢 . 𝑘 𝑦 = −520 + 0,1 . 𝑘 𝑦 = −520 + 31. 𝑘

𝑥 = 390 + 23. 𝑘

𝑦 = −520 + 31. 𝑘 a solução da equação .

As equações diofantinas lineares com coeficientes racionais, servem para


modelar problemas de diferentes áreas do saber científico, como por
exemplo:
Módulo de Teoria de Números. 96

I. Resolver o seguinte problema:

Um Numismática (coleccionador de moedas), colecciona moedas nos


valores de 0,25 𝑒 0,10 𝑐𝑒𝑛𝑡𝑎𝑣𝑜𝑠. Quantas moedas, tendo no mínimo 6
moedas de cada valor, deve coleccionar para obter 25 centavos.

Solução:

Sejam: 𝑥 − 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑚𝑜𝑒𝑑𝑎𝑠 𝑑𝑒 0,25 𝑐𝑒𝑛𝑡𝑎𝑣𝑜𝑠

𝑦 − 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑚𝑜𝑒𝑑𝑎𝑠 𝑑𝑒 0,10 𝑐𝑒𝑛𝑡𝑎𝑣𝑜𝑠.

Pelo texto podemos modelar o problema com EDLr: (0,25). 𝑥 +


(0,10). 𝑦 = 25

1 1 𝑚𝑑𝑐(1,1) 1
Temos que : 𝑚𝑑𝑐𝑔(0,25 ; 0,10) = 𝑚𝑑𝑐𝑔 (4 ; 10) = 𝑚𝑚𝑐(4,10) = 20 =

0,05 e é divisor inteiro de 25. Assim a equação tem solução:

Utilizando o ALE e o teorema de Bézout, fornece combinação linear dos


coeficientes, temos: 0,05 = 0,25(1) + 0,10. (−2) que multiplicada por
500 (porque?) resulta:

0,25. (500) + 0,10. (−100) = 25

Donde se tira a solução particular: (𝑥0 ; 𝑦0 ) = (500 ; −100) e teremos


como solução geral da equação .

(𝑥, 𝑦) = (500 + 2𝑚 ; −1000 − 5𝑚 ), 𝑚 ∈ ℤ0

Caro estudante, perceba que está solução é a solução da equação e não do


problema, pelo texto, as quantidades de cada valor da moeda, devem ser
no mínimo 6, ou seja, temos que calcular limites do valor de m tais que :

𝑥≥6 500 + 2𝑚 ≥ 6 𝑚 ≥ −247

𝑦≥6 −1000 − 5𝑚 ≥ 6 𝑚 ≤ −202

ℤ ∋ 𝑚 ∈ [−247, −202].

Substituindo-se o valor de cada m deste intervalo, verifica-se que quando


𝑚 = −202 recebe-se o que se deseja. Assim temos:

𝑥 = 500 + 2. (−202) = 96

𝑦 = −1000 − 5. (−202) = 10

Resposta do problema: o Numismática precisa de coleccionar 96 moedas


de 0,25 centavos e 10 moedas de 0,10 centavos para obter 25 centavos.
Módulo de Teoria de Números. 97

Unidade V
Conjunto ℝ. Conjunto dos Números
Reais. Construção algébrica.
Introdução.
Na unidade IV aprendeste a construção dos números racionais e suas
propriedades. Nesta unidade descreveremos o conjunto dos números reais,
conjunto sobre o qual construiremos algebricamente, a partir dos cortes de
Dedikind.

Objectivos da Unidade

Nesta unidade vai perceber o processo de construção algebrica do


conjunto de números reais.
Módulo de Teoria de Números. 98

Lição n° 01

Construção Algébrica do
Conjunto dos Números Reais.
Introdução
Nesta sua lição você estudará a construção algébrica do conjunto dos
números reais.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Construir algébricamente o conjunto R.

 Operar em R.

Objectivos da  Aplicar as propriedades em R.

lição.
Módulo de Teoria de Números. 99

5. Construção Algébrica do Conjunto dos Numeros Reais.


Quando se fala deste conjunto no contexto escolar, diz-se que nem todos
os pontos da reta correspodem a números racionais, sendo que a esses
pontos correspondem a números chamados irracionais.

Geralmente isto é introduzido exemplicando na base da diagonal do


quadrado de lado 1. Neste mesmo contexto, admite-se que a representação
decimal dos números racionais é sempre periódica e toda representação
decimal periódica representa um número racional. Sendo assim, defini-se
número irracional como sendo aqueles que possuem representação
decimal não periódica. Dessa forma, chama-se conjunto dos números reais
aquele constituído pelos racionais e irracionais.

Estas são formas nas quais os números reais são abordados na matemática
escolar, entretanto,faremos aqui uma construção rigorosa deste conjunto a
partir dos números racionais com suas propriedades, assim como foi feito
nos conjuntos anteriores.

Os números reais foram construídos de duas formas diferentes, a partir dos


racionais. Uma delas foi por Classes de Equivalência de Sequência de
Cauchy e foi dada por Cantor. A outra foi através dos Cortes de Dedekind,
esta última, que foi apresentada por Julius Wilhelm Richard Dedekind,
inspirado na Teoria das Proporções de Eudoxo. No presente módulo
abordaremos a construção dos números reais na base das classes de
Equivalencia de sequências de cauchy.

Vamos, inicialmente, defenir a sequência de números racionais, sequência


de Cauchy e seguiremos a construção dos números reais por sequências de
Cauchy na base das classes de equivalência dessa sequência. De seguida
iremos definir a o conjunto quociente.

5.1. A construção de Cantor (sequências de Cauchy).


Módulo de Teoria de Números. 100

No método de Cantor, cada número real é definido como uma classe de


equivalência de sequências de Cauchy de números racionais. Assim,
primeiramente definiremos, sequência de números racionais, sequência de
Cauchy e seguiremos a construção dos números reais por sequências de
Cauchy.
Definição 5.1. Uma sequência de números racionais (ou uma sequência
racional) é uma função x : ℕ → ℚ. Para cada 𝑛 ∈ ℕ o valor 𝑥(𝑛) ∈ ℝ
representamos por 𝑥𝑛 e chamamos termo de ordem n da sequência x.
1
Exemplo 5.1: 𝑥𝑛 = 𝑛 ; para 𝑛 ≠ 0. É uma sequência de números
1 1 1 1
racionais. Listando teremos : 𝑥𝑛 = {1, 2 , 3 , 4 , … 𝑛 … }

Definição 5.2. Seja (𝑥𝑛 ), uma sequência de números racionais. Ela se


chama uma sequência de Cauchy se, dado arbitrariamente um número
racional 𝜔 > 0, pode-se obter 𝑛0 ∈ N tal que 𝑚, 𝑛 > 𝑛0 Implicam |𝑥𝑚 −
𝑥𝑛 | < 𝜔.
Ou seja sequência racional de Cauchy é uma sequência de números
racionais (𝑥𝑛 ), tais que dado qualquer número racional positivo (𝜔 > 0),
todos os termos da sequência , a partir de um certo termo de índice 𝑛𝜔 ,
diferem entre si um número racional inferior a 𝜔.
Antes do exemplo de uma sequência de Cauchy racional precisamos de
uma propriedade dos números racionais conhecida como propriedade
arquimediana, enunciada no lema a seguir:
Lema 5.2: Dados dois números racionais positivos 𝑟 e q, existe um
número natural n tal que : 𝑛. 𝑟 > 𝑞.
Demonstração: Dados dois números racionais positivos 𝑟, 𝑞 e
considerando o facto de o conjunto dos números naturais não ser limitado
𝑞 𝑞
superiormente, então existe 𝑛 ∈ ℕ, tal que 𝑛 > ⌊𝑟 ⌋ + 1, onde ⌊𝑟 ⌋
𝑞
represente a parte inteira do numero racional 𝑟 . Portanto:
𝑞 𝑞 𝑞
𝑛 > ⌊ ⌋ + 1 ⟹ 𝑛 + 1 > ⌊ ⌋ + 1 ⟹ 𝑛 > → 𝑛. 𝑟 > 𝑞.
𝑟 𝑟 𝑟
1
Exemplo 5.2: A sequência (𝑥𝑛 ), tal que 𝑥𝑛 = é de cauchy. De facto,
𝑛

dado 0 < 𝜀 ∈ ℚ, pelo lema anterior existe um numero natural 𝑛ℇ tal que
𝑛ℰ . 𝜀 > 2, (𝑞 = 2, cota superior para o conjunto (𝑥𝑛 ≤ 𝑞)), escrever
2 1 𝜖
𝑛𝜖 . 𝜀 > 2, isto equivale a 𝑛𝜖 > 𝜀 que por sua vez equivale a 𝑛𝜖
< 2.

Portanto, para todo 𝑚, 𝑛 > 𝑛𝜖 se tem:


Módulo de Teoria de Números. 101

|𝑥𝑚 − 𝑥𝑛 | = |𝑥𝑚 + (−𝑥𝑛 )| ≤ |𝑥𝑚 | + |(−𝑥𝑛 )| = |𝑥𝑚 | + |𝑥𝑛 | Pela


desigualdade triangular dos números racionais e a propriedade do módulo
|−𝑟| = |𝑟|, onde 𝑟 ∈ ℚ. Por outro lado, como 𝑚 > 𝑛𝜖 𝑒 𝑛 > 𝑛𝜖
1 1 1 1
Equivalem a < 𝑒 < , se conclui que :
𝑚 𝑛𝜖 𝑛 𝑛𝜖

1 1 𝜖 𝜖
|𝑥𝑚 − 𝑥𝑛 | = |𝑥𝑚 + (−𝑥𝑛 )| ≤ |𝑥𝑚 | + |𝑥𝑛 | = + < + =𝜖
𝑚 𝑛 2 2
Portanto (𝑥𝑛 ) é uma sequência de Cauchy.
Definição 5.3: uma sequência (𝑥𝑛 ) de números racionais é dita ser
convergente em ℚ , se existe 𝐿 ∈ ℚ tal que , para todo 𝜔 > 0, existe 𝑛0 ∈
ℕ com a propriedade, |𝑥𝑛 − 𝐿| < 𝜔, ∀𝑛 > 𝑛0 .
O número L, defenido acima, se existir, sera chamado de limite da
sequência (𝑥𝑛 ). Neste caso, diremos que a sequencia converge para L e
indicaremos por 𝑥𝑛 → 𝐿.
Existem tantas sequências de Cauchy quantos são os números
racionais,pois, qualquer que seja o número racional r, a sequência
constante (𝑟𝑛 ) = (𝑟, 𝑟, 𝑟, . . . ) é de Cauchy. Dentre as sequências de
Cauchy, algumas são convergentes: como as sequências constantes; uma
1 2 3
como (2 , 3 , 4 , . . . ) e uma infinidade de outras mais.

Mas há também uma infinidade de sequências de Cauchy que não


convergem, como a sequência das aproximações decimais de 𝜋.
(𝑟𝑛 ) = (3, 3.1, 3.14, 3.141, 3.1415, 3.14159, . . . ).
Teorema 5.3: Se (𝑥𝑛 ) é uma sequencia convergente de números racionais
para algum número racional L, então (𝑥𝑛 ) é uma sequência de Cauchy.
Demonstração.
Temos 𝑥𝑛 → 𝐿, dado 𝜔 > 0, existe 𝑛0 ∈ ℕ tal que 𝑛 > 𝑛0 → |𝑥𝑛 − 𝐿| <
𝜔
. Então , se 𝑚, 𝑛 > 𝑛0 temos:
2
1 1
|𝑥𝑚 − 𝑥𝑛 | = |(𝑥𝑚 − 𝐿) + (𝑥𝑛 − 𝐿)| ≤ |𝑥𝑚 − 𝐿| + |𝑥𝑛 − 𝐿| = +
𝑚 𝑛
𝜔 𝜔
<
+ =𝜔
2 2
Portanto, 𝑥𝑛 é uma sequência de Cauchy.
Intuitivamente: se para valores grandes de n, os termos (xn) se aproximam
de L,então eles devem necessariamente aproximar-se uns dos outros. É
natural pensar que se os termos estão mais próximos uns dos outros então
eles devem estar próximos de algum número. Esta intuição motivou
Cauchy a usar sequências para definir os números reais.
Módulo de Teoria de Números. 102

Definiremos uma relação de equivalência no conjunto das sequências de


Cauchy.
Defenição 5.4: Seja as sequências de cauchy de números racionais 𝑥 =
(𝑥𝑛 ) e 𝑦 = (𝑦𝑛 ). No conjunto das sequências de cauchy racionais (∁𝑄 ),
Definimos a relação "~" , como : 𝑥~𝑦 ⟺ (𝑥𝑛 − 𝑦𝑛 ) → 0.
Teorema 5.4: A relação "~" defenida no conjunto das sequências de
cauchy de números racionais é uma relação de equivalência.
Demonstração:
Vamos provar que esta relação é reflexiva, simétrica e transitiva.
(a) Reflexiva: (𝑥𝑛 ) − (𝑥𝑛 ) = 0, e a sequencia cujos os termos
são 0 claramente converge para 0. Logo a sequencia se
relaciona por ela mesma (𝑥𝑛 )~(𝑥𝑛 ).
(b) Simétrica: suponhamos 𝑥~𝑦 então (𝑥𝑛 )~(𝑦𝑛 ) → 0. Mas 𝑦𝑛 −
𝑥𝑛 = −(𝑥𝑛 − 𝑦𝑛 ), e pela propriedade do módulo, |𝑦𝑛 −
𝑥𝑛 | = |𝑥𝑛 − 𝑦𝑛 |, logo, 𝑦𝑛 − 𝑥𝑛 → 0, isto é, 𝑦~𝑥.
(c) Transitiva: suponha que 𝑥~𝑦 e 𝑦~𝑧. Isto significa que 𝑥𝑛 − 𝑦𝑛 →
𝜔
0 e 𝑦𝑛 − 𝑧𝑛 → 0. Dado 𝜔 > 0, existe 𝑛1 ∈ ℕ tal |𝑥𝑛 − 𝑦𝑛 | <
2
𝜔
para todo 𝑛 > 𝑛1 . Também existe 𝑛2 ∈ ℕ tal que |𝑦𝑛 − 𝑧𝑛 | <
2

para todo 𝑛 > 𝑛2 . Seja 𝑛0 = {𝑛1 , 𝑛2 }, entao para todo 𝑛 > 𝑛0 ,


temos:
|𝑥𝑛 − 𝑧𝑛 | = |(𝑥𝑛 − 𝑦𝑛 ) + (𝑦𝑛 − 𝑧𝑛 )| ≤ |𝑥𝑛 − 𝑦𝑛 | + |𝑦𝑛 − 𝑧𝑛 |
𝜔 𝜔
< + =𝜔
2 2

Portanto, 𝑥𝑛 − 𝑧𝑛 → 0, isto é, 𝑥~𝑧.

Já que verificamos que a relação “~" é de equivalência, e sempre que


temos uma relação de equivalência obviamente temos as classes de
equivalência:
[(𝑎𝑛 )] = {(𝑥𝑛 ) ∈ ∁𝑄 / (𝑎𝑛 − 𝑥𝑛 ) → 0}

Onde [(𝑎𝑛 )] é o representante da classe da sequencia de Cauchy. E o


∁𝑄
conjunto quociente é denotado por: ~
= ℝ.
Módulo de Teoria de Números. 103

Nota que: O conjunto dos números reais R é o conjunto das classes de


equivalência [(𝑎𝑛 )] das sequências de Cauchy de números racionais. Isto
é, cada classe de equivalência é um número real.
Note que o conjunto dos números racionais Q está contido em R como
sequências constantes. Isto é, um número racional qualquer r, está
representado em R como a classe de equivalência [r] da sequência
constante (𝑟, 𝑟, 𝑟, . . . ).
É fácil perceber que nenhuma sequência 𝑟𝑛 = 𝑟, com r racional, pode
pertencer a essa classe, senão 𝑟 − 𝑟𝑛 teria de tender a zero, o que é
impossível. Essas classes que não contêm sequências do tipo 𝑟𝑛 = 𝑟 são
precisamente aquelas que corresponderão aos números irracionais a serem
criados. Já que vimos que a construção do reais a partir das sequências de
Cauchy, veremos as operações em ℝ, na base das classes de equivalência.
Veremos as operações em R , na base de classes de equivalência.
Precisamos verificar que as operações de adição e multiplicação no
conjunto de classes de equivalência estão bem definidas.
Antes demais para provarmos que as operações estão bem defenidas é o
mesmo que :
1° Provar que se estamos somando duas classes de equivalência das
sequencias de Cauchy, então a nova soma é uma sequencia de Cauchy,
isto e:
[(𝑥𝑛 )] + [(𝑦𝑛 )] = [(𝑥𝑛 + 𝑦𝑛 )] ∈ ∁𝑄
Hipótese: sejam (𝑥𝑛 ), (𝑦𝑛 ) ∈ ∁𝑄 , ou sejam (𝑥𝑛 ), (𝑦𝑛 ), o conjunto das
sequencias racionais de Cauchy.
Tese: (𝑥𝑛 + 𝑦𝑛 ) ∈ ∁𝑄
Demonstração
Como (𝑥𝑛 , 𝑦𝑛 ) ∈ ∁𝑄 , dado um 𝜔 > 0, existem ( 𝑛1 , 𝑛2 ) ∈ ℕ, tal que
𝜔
𝑚, 𝑛 > 𝑛1 ⟹ |𝑥𝑚 − 𝑥𝑛 | < 2
da maneira análoga 𝑚, 𝑛 > 𝑛2 ⟹ |𝑦𝑚 −
𝜔
𝑦𝑛 | < 2 , tomando 𝑛0 = 𝑚𝑎𝑥{𝑛1 𝑒 𝑛2 } então 𝑚, 𝑛 > 𝑛0 → |𝑥𝑚 + 𝑦𝑚 −
𝜔 𝜔
(𝑥𝑛 + 𝑦𝑛 )| = |(𝑥𝑚 − 𝑥𝑛 | + |(𝑦𝑚 + 𝑦𝑛 )| < + = 𝜔.
2 2

2° Como estamos somando conjuntos infinitos, temos que provar que


independentemente da escolha do representante o resultado não altera.
Caro estudante baseando-se no fio do pensamento da demonstração acima,
mostre o segundo ponto.
Módulo de Teoria de Números. 104

Unidade VI
Conjunto ℂ. Conjunto dos Números
Complexo. Construção algébrica.
Introdução.
Na unidade V aprendeste a construção dos números reais e suas
propriedades, a partir das classes de equivalência das sequências de
Cauchy. Nesta unidade descreveremos o conjunto dos números complexo,
conjunto sobre o qual construiremos algebricamente, a partir dos reais.

Objectivos da Unidade

Nesta unidade vai perceber o processo de construção algebrica do


conjunto de números reais.
Módulo de Teoria de Números. 105

Lição n° 01
Construção Algébrica do Conjunto
dos Números Complexos.
Introdução.
Nesta sua lição você estudará a construção algébrica do conjunto dos
números complexos (imaginários).

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Construir algébricamente o conjunto ℂ.

 Operar em ℂ.

Objectivos da  Aplicar as propriedades em ℂ.

lição.
Módulo de Teoria de Números. 106

6. Construção Algébrica do Conjunto dos Números


Complexos.

O conceito de número complexo se desenvolveu gradativamente, como


ocorreu com os demais tipos de números. Algumas equações do grau 2,
como 𝑥² + 1 = 0 não haviam solução até o século XVI, pois para os
matemáticos da época a raiz negativa não existia. Porém, não foi este o
motivo pelo qual os números complexos surgiram. Ao passar dos anos,
alguns matemáticos viram o mesmo problema para equações do 3º, onde
que se percebeu que os números reais não eram suficientes para resolver
este tipo de equação.

Em 1798 o matemático Carl Friedrich Gauss demonstrou em sua tese de


doutorado que toda equação algébrica de grau n (n > 0) e coeficientes
complexos, tem pelo menos uma raiz complexa. Esse é o chamado
Teorema Fundamental da Álgebra. Tal teorema resolveu a questão das
soluções de equações algébricas.

Em 1837, william Rowan Hamilton, publicou a definição de números


complexos como pares ordenados de números reais, sujeitos a certas
regras operatórias, formalizando assim uma estrutura algébrica rigorosa
para os números complexos, reescreveu as definições geométricas de
Gauss na forma algébrica .

O objetivo maior é reconhecer a existência de um conjunto que amplia o


dos reais e as razões para sua criação, percebendo que as operações e as
propriedades destes números baseiam-se, completam e estendem as
operações com reais.
Módulo de Teoria de Números. 107

6.1. Construção dos Complexos.

Os números complexos são ensinados no ensino médio como expressões


do tipo 𝑎 + 𝑏𝑖, onde 𝑎, 𝑏 ∈ ℝ e 𝑖a unidade imaginaria, com a propriedade
de que 𝑖 2 = −1. Dessa forma, pode-se manipular tais expressões como
expressões algébricas reais, sob a condição de que 𝑖 2 = −1. O que
faremos agora é justificar a origem desta unidade imaginaria com rigor
matemático.

No ensino médio ensinamos que dois números complexos 𝑎 + 𝑏𝑖 e 𝑐 + 𝑑𝑖,


são iguais apenas quando 𝑎 = 𝑐 𝑒 𝑏 = 𝑑, o que nos lembra a igualdade
entre os pares coordenados (𝑎, 𝑏)𝑒 (𝑐, 𝑑), teremos também que :

𝑎 + 𝑏𝑖 + 𝑐 + 𝑑𝑖 = (𝑎 + 𝑐) + (𝑏 + 𝑑)𝑖 e que (𝑎 + 𝑏𝑖). (𝑐 + 𝑑𝑖) =


(𝑎𝑐 − 𝑏𝑑) + (𝑎𝑑 + 𝑏𝑐)𝑖.

Definição 6.1.1. Consideremos o conjunto ℝ 𝑥 ℝ = ℝ2 . Se (𝑎, 𝑏), (𝑐, 𝑑) ∈


ℝ2 , Definimos a adicao e a multiplicação da seguinte forma:
(I) (𝑎, 𝑏) + (𝑐, 𝑑) = (𝑎 + 𝑐, (𝑏 + 𝑑) e
(II) (𝑎. 𝑏).(𝑐, 𝑑) = (𝑎𝑐 − 𝑏𝑑) + (𝑎𝑑 + 𝑏𝑐).

O conjunto ℝ2 , Munido dessas operações, será chamado conjunto dos


números complexos e denotado por ℂ, onde cada par ordenado é chamado
de número complexo.
6.2. Operações em ℝ𝟐

Aqui temos que entender o conceito de números complexo como o


c
Teorema 6.2: As operações em ℂ têm as seguintes propriedades :
adicao e multiplicação são comutativas,associativas e têm elemento
neutro (0,0) para adição e (1,0) para a multiplicação. Além disso,
dado (𝑎, 𝑏) ∈ ℂ, seu simétrico existe −(𝑎, 𝑏), que (−𝑎, −𝑏) e se
𝑎 −𝑏
(𝑎, 𝑏) ≠ (0,0), seu inverso existe (𝑎, 𝑏)−1 que é (𝑎2+𝑏2 , 𝑎2+𝑏2).

Finalmente a multiplicação é distributiva em relação a adição.

Demonstração:

Sejam (𝑎, 𝑏), (𝑐, 𝑑), (𝑒, 𝑓) ∈ ℂ


1. Comutatividade da adição
Módulo de Teoria de Números. 108

(𝑎, 𝑏) + (𝑐, 𝑑) = (𝑎 + 𝑐, 𝑏 + 𝑑) = (𝑐 + 𝑎, 𝑑 + 𝑏) = (𝑐, 𝑑) + (𝑎, 𝑏).

2. Associativa da Adição.

(𝑎, 𝑏) + (𝑐, 𝑑) + (𝑒, 𝑓) = (𝑎, 𝑏) + (𝑐 + 𝑒, 𝑑 + 𝑓)


= (𝑎 + (𝑐 + 𝑒), 𝑏 + (𝑑 + 𝑓)
= ((𝑎 + 𝑐) + 𝑒, (𝑏 + 𝑑) + 𝑓)
= ((𝑎 + 𝑐, 𝑏 + 𝑑)) + (𝑒, 𝑓) = ((𝑎, 𝑏) + (𝑐, 𝑑) + (𝑒, 𝑓)).

3. Elemento Neutro da adição: (0,0) ∈ ℂ

(𝑎, 𝑏) + (0,0) = (𝑎 + 0, 𝑏 + 0) = (𝑎, 𝑏)

4. Comutativa da Multiplicação

(𝑎, 𝑏). (𝑐, 𝑑) = (𝑎𝑐 − 𝑏𝑑, 𝑎𝑑 + 𝑏𝑐) = (𝑐𝑎 − 𝑑𝑏, 𝑐𝑏 + 𝑑𝑎)


= (𝑐, 𝑑). (𝑎, 𝑏)

Caro estudantes demonstre as restante propriedades em ℂ, isto a


propriedade associativa da multiplicação, elemento neutro da
multiplicação, o simétrico na adição , o inverso da multiplicação e a
propriedade distributiva da multicação em relação a adição.
6.3. Imersao de ℝ em ℂ
Assim como fizemos em todos os conjuntos anteriores, vamos imergir R
em C através de uma função injetora que preserva as operações de adição
de multiplicação, mostrando que existe uma cópia algébrica de ℝ em ℂ.
Observemos inicialmente que um número complexo arbitrário (a; b) pode
ser escrito como (𝑎; 𝑏) = (𝑎; 0) + (𝑏; 0). (0; 1).
Teorema 6.3. Seja k : R ! C, dada por 𝑘(𝑥) = (𝑥; 0). Temos que, k é
injetora e preserva as operações de adição e multiplicação, isto é,
𝑘 (𝑥 + 𝑦) = 𝑘 (𝑥) + 𝑘 (𝑦)𝑒 𝑘 (𝑥𝑦) = 𝑘 (𝑥). 𝑘(𝑦).
Demonstração.
Provemos que k é injetora. De fato, se 𝑘(𝑥) = 𝑘(𝑦), então, (𝑥; 0) =
(𝑦; 0), que significa, 𝑥 = 𝑦, logo k é injetora. Temos ainda que,
𝑘(𝑥 + 𝑦) = (𝑥 + 𝑦; 0) = (𝑥; 0) + (𝑦; 0) = 𝑘(𝑥) + 𝑘(𝑦)
𝑘 (𝑥𝑦) = (𝑥𝑦; 0) = (𝑥; 0). (𝑦; 0) = 𝑘(𝑥). 𝑘(𝑦):
Módulo de Teoria de Números. 109

Desta forma, 𝑘(𝑅) é uma cópia algébrica de R em C, o que nos permite


identificar R com k(R) e considerar R → C. Admitindo esta identificação e
adotando o símbolo i para o número complexo (0; 1), a expressão
mensionada acima, (𝑎; 𝑏) = (𝑎; 0) + (𝑏; 0). (0; 1), pode ser escrita
como a + bi, como é ensinada no Ensino Médio.
Notemos que 𝑖 2 =(1,0)2 = (-1; 0), que pode ser identificado por −1.
Temos que, os números complexos escritos da forma 𝑎 + 𝑏𝑖, com 𝑏 ≠ 0,
chamam-se números imaginários, e, se além disso, 𝑎 = 0, obtemos os
imaginários puros. Tal denominação provém do fato que os complexos
demoraram a ser aceitos como números, dessa forma, o termo imaginários
tem sentido contraposto a reais.
Diante de todas estas constru ções, o grá_co abaixo representa as imersões
próprias de ℕ em ℤ, de ℤ em ℚ, de ℚ em ℝ e de ℝ em ℂ.

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