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05/01/2021 Cumprimento do contrato precificado em moeda estrangeira | JOTA Info

ANÁLISE

O dever de cumprimento do contrato preci cado em


moeda estrangeira
A imprevisibilidade não se aplica aos contratos rmados em moeda estrangeira, mesmo em tempos de
pandemia

RUTI BENDER
DALTON CESAR CORDEIRO DE MIRANDA

02/12/2020 08:03

O Crédito:
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O ‘normal’ em 2020 exigiu, exige e – ao que nos parece – exigirá um esforço inédito da
sociedade brasileira para o enfrentamento dos efeitos da crise originária do combate a
COVID-19, cujos re exos se estendem por todas as camadas sociais e setores da
economia nacional.

E diversas frentes decisórias foram e estão exercendo papel de suma importância na


busca de soluções com objetivo de minimizar as gravosas causas decorrentes desse
exaustivo e desa ador período de crise, como exemplo: o Poder Judiciário,
esclarecendo a responsabilidade concorrente dos gestores na área de saúde; o Poder
Executivo, submetendo um programa de auxílio emergencial; e, o Poder Legislativo,
propondo, avaliando e aprovando legislações de cunho regulatório para o atendimento
dessa novel experiência disruptiva.

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Nesse sentido e para o papel desempenhado pelo Poder Legislativo ganha destaque o
Regime Jurídico Emergencial e Transitório das relações jurídicas de Direito Privado
(RJET), instituído através da Lei nº 14.010, de 10 de junho de 2020, conhecida como Lei
da Pandemia, originária do Projeto de Lei nº 1.179, de 2020 de autoria do senador
Antonio Anastasia (PSD-MG), instituidora de “normas transitórias para a regulação de
relações jurídicas de direito privado durante a pandemia do novo coronavírus, relativas
a prescrição, decadência, resilição, resolução e revisão de contratos, relações de
consumo em caso de serviço adquirido por delivery, locação de imóveis urbanos,
contratos agrários, usucapião, condomínios edilícios, sociedades, regime concorrencial,
família e sucessões”.

De destaque legislativo, citamos a relevância econômica que emerge do artigo 7º


disciplinando que “não se consideram fatos imprevisíveis, para os ns exclusivos dos
arts. 317, 478, 479 e 480 do Código Civil, o aumento da in ação, a variação cambial, a
desvalorização ou a substituição do padrão monetário”.

Importante rememorar que a construção dessa legislação contou com a participação


colaborativa do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, do ministro do
Superior Tribunal de Justiça Antonio Carlos Ferreira e do professor da Universidade de
São Paulo (USP) Otavio Luiz Rodrigues Jr., somadas opiniões de outros renomados
juristas.

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Houve também, à época, o comprometimento do


chefe-maior do Poder Judiciário em submeter o tema
ao Conselho Nacional de Justiça para que “sob a
forma de recomendação” a magistratura nacional
observasse a legislação examinada, votada e
aprovada pelo Congresso Nacional.

Tem-se assim que as relações de Direito Privado não poderão ser revistas ou resolvidas
com base em eventual aumento da in ação, variação cambial e desvalorização ou
substituição da moeda brasileira no período da pandemia do coronavírus (Covid-19),
afastando de tais relações, por disposição legal, a aplicação da teoria da imprevisão
(rebus sic stantibus).

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E não poderia ser outra a orientação legislativa senão a da manutenção do pacta sunt
servanda, em especial porque exige-se para a aplicação da teoria da imprevisão, que
além da prova da desproporção entre as prestações devidas, que o credor au ra
extrema vantagem, o que, nas relações privadas que constituem mercado organizado,
notadamente nos contratos de execução continuada com obrigações previamente
estabelecidas e preci cadas, tanto a prestação desproporcional quanto a vantagem
excessiva das partes não podem ser presumidas, notadamente durante um período de
pandemia que a todos atinge.

Neste sentido, ao comando ditado pelo artigo 7º da Lei nº 14.010, de 2020, é de se


a rmar que a disciplina normativa nela contida a propósito da desconsideração do
reclame da teoria da imprevisibilidade para os ns civilistas e, em especial, para a
variação cambial, harmoniza-se com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
(ERESP nº 1.689.225 – DJe de 29/05/2019, AgInt no AREsp N º 447091 – DJe
26/08/2016 e RESP nº 549.873 – DJe de 25/10/2004).

Então, das modalidades contratuais rmadas empregando-se, na exceção da lei, por


exemplo, moeda estrangeira como forma de pagamento ou de ajuste do preço,
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necessário
concorda observar
com essa quemais
prática. Saiba ambas as partes
em nossa contratantes
Política de Privacidade. devem, por força da lei, honrar
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suas obrigações, especialmente quando o mercado não se mostra afetado pela


desvalorização ou valorização do câmbio. Em análise ainda perfunctória, a
manifestação judicial sobre pedido de tutela em ação de revisão contratual é
exatamente neste sentido:

“(…) Pois bem. Numa análise perfunctória dos autos, própria da espécie, resta ausente o
requisito da probabilidade do direito. A uma, porque ao contrário do que por ado na
exordial, a pandemia do COVID-19 não afetou o agronegócio, sendo este o bastião da
economia brasileira, e principal causa do país não ter ido à bancarrota. (…). A quatro,
porque não evidenciada a impossibilidade da autora de entrega da commodity agrícola,
reduzir as multas e demais encargos moratórios previstos na avença, poderia servir
como estímulo para o descumprimento do pacto, o que deve ser evitado, mormente em
sede de antecipação de tutela. Ora, as cláusulas penais tem justamente o escopo de
prevenir a inadimplência, fenômeno este que, à sua versão, causou a suposta situação
a itiva retratada no libelo, que aponta a sonegação dos grãos por parte dos produtores.
Assim, o aviltamento da cláusula nesse átimo, não viria em nada a contribuir ao desate
de fundo de mérito. (…)” [1]

Note-se, por oportuno, que:

“A exposição desigual das partes contratantes aos riscos do contrato não atenta contra
o princípio da boa-fé, desde que haja, ao tempo da celebração da avença, plena
conscientização dos riscos envolvidos na operação” (ERESP º 1.689.225);

Mais ainda, de acordo com os termos constitucionais, a eleição da atividade que será
empreendida assim como o quantum a ser produzido ou comercializado resultam de
uma decisão livre dos agentes econômicos. O direito de fazê-lo lhes advém
diretamente do Texto Constitucional e descende mesmo da própria acolhida do regime
capitalista, para não se falar dos dispositivos constitucionais supramencionados.

(…)

O mercado de câmbio, por natureza, é variável. Tanto é assim que para livrar-se dos
efeitos de uma valorização inesperada do dólar, existe a opção de contratação de
operações de hedge.

(…)
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A variação do câmbio não pode ser considerada como fato imprevisível, uma vez que
representa risco inerente ao contrato rmado e deve ser arcado pelas partes
negociantes. A demandante assumiu o risco da operação e, como tal, deve arcar com
eventuais prejuízos, assim como bene ciar-se-ia com eventuais ganhos. Este é o jogo
do mercado. Caso pensasse de maneira distinta, menos ousada, poderia ela ter se
precavido contra oscilações cambiais através das chamadas operações de hedge, nas
quais teria cado assegurada a compra futura de dólares a uma certa cotação”. (RESP
nº 549.873)

O Enunciado 366 do Conselho de Justiça Federal se rma neste mesmo sentido ao


estabelecer que “o fato extraordinário e imprevisível causador de onerosidade
excessiva é aquele que não está coberto objetivamente pelos riscos próprios da
contratação”. E aqueles mais cautelosos, como acima citado, protegem-se de
variações do câmbio contratando operação de hedge, ou seja, há medidas que podem
ser tomadas para se evitar a oscilação cambial, de forma que de fato não pode ser
considerado fato imprevisível!

Portanto, não é possível para os incautos – ou para os contratantes imbuídos de má-fé


– reclamarem por revisão ou resolução de contratos que rmaram com total liberdade
e pleno conhecimento dos riscos envolvidos, especialmente aqueles preci cados em
moedas estrangeiras.

O artigo 7º da Lei nº 14.010, de 2020, para a problemática acima contextualizada


aplica-se por analogia a atuação da personagem Pórcia diante do negociado entre
Shylock e Antônio [2], quando essa impede ilegal tentativa de distrato por ambicioso
contratante.

E, concluindo, observa-se que referido dispositivo encontra-se vigente, pois, ao


contrário de outras relações jurídicas de direito privado expressamente datadas na Lei
nº 14.010, de 2020, ou seja, com um regime jurídico com prazo de vencimento em 30
de outubro de 2020, o Capítulo IV – DA RESILIÇÃO, RESOLUÇÃO E REVISÃO DOS
CONTRATOS não é atingido por tal redução temporal de vigência, valendo suas
normatizações até o período de vigência estabelecido no Decreto Legislativo nº 6/2020,
que prevê como termo nal para o período de pandemia o dia 31 de dezembro de 2020,
que pode vir a ser estendido de acordo com as circunstâncias que ainda possam existir
no nal do ano de 2020 no Brasil.

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O episódio 45 do podcast Sem Precedentes trata de dois julgamentos que irão


começar no Supremo Tribunal Federal (STF) e que interferem diretamente nas
relações da Corte com o governo Bolsonaro e o Congresso Nacional. Ouça:

Sem Precedentes, ep 45: Vacina, reeleição e injúria racial: STF e três grande…
grande…

Referências

[1] Processo nº 0809287-40.2020.8.12.0002, 8ª. Vara Civel da Comarca de


Dourados/MS

[2] SHAKESPEARE, William. ‘O mercador de Veneza’, ‘in’


http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000094.pdf, acessado em
23/10/2020

RUTI BENDER – Vice-presidente da Comissão Jurídica da ABIOVE


DALTON CESAR CORDEIRO DE MIRANDA – Gerente jurídico e tributação da Abiove (Associação Brasileira das
Indústrias de Óleos Vegetais).

Os artigos publicados pelo JOTA não re etem necessariamente a opinião do site. Os textos buscam
estimular o debate sobre temas importantes para o País, sempre prestigiando a pluralidade de ideias.
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