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CATEGORIAS DA NARRATIVA

1. Ação O tempo cronológico refere-se às marcas da passagem


do tempo, obedecendo às regras da sua contagem ou
A ação é o desenrolar de acontecimentos que se relacionam entre si e se
cronometria, e pode ser considerado o tempo físico, real.
encaminham ou não para um desenlace.
Corresponde à sucessão cronológica de eventos suscetíveis de
A ordenação ou estrutura de uma narrativa caracteriza-se por uma
serem datados.
situação inicial (introdução), um desenvolvimento
O tempo histórico engloba o enquadramento histórico dos
(acontecimentos) e um desenlace (desfecho ou conclusão), que não existe em
acontecimentos, ou seja, revela-se nas indicações
certas narrativas modernas.
cronológicas que inserem a ação numa determinada época
Quando existe desenlace, isto é, a resolução de todas as
histórica.
dúvidas, expetativas, conflitos ou anseios acumulados, diz-se
O tempo psicológico refere-se ao tempo vivenciado
que se trata de uma ação fechada. Quando não existe
subjetivamente, ou seja, opõe-se muitas vezes ao tempo
desenlace, ou seja, se a narrativa deixar ao leitor a
cronológico, que tem a ver com os dados objetivos. O tempo
possibilidade de imaginar a continuação da história, diz-se que
psicológico revela-se nas impressões que as personagens manifestam
se trata de uma ação aberta.
relativamente ao desenrolar temporal, bem como nos dados
Um momento da ação ou sequência é uma unidade
provenientes da memória ou da imaginação, e pode indicar
narrativa, isto é, um bloco semântico (de sentido)
também as mudanças operadas pela passagem do tempo e
reconhecido intuitivamente pelo leitor.
as experiências vividas.
Os momentos da ação ou sequências podem seguir a
ordem cronológica dos acontecimentos  encadeamento  ou
não. Por vezes, são integrados, no tempo em que a ação 3. Espaço
decorre, factos anteriores (analepse ou flash-back) ou
posteriores (prolepse). O espaço é o lugar ou lugares onde decorre a ação.
Distinguem-se três tipos de espaço, que nem sempre se
2. Tempo encontram em todas as narrativas: o espaço físico, o espaço
psicológico e o espaço social. A multiplicidade dos espaços
O tempo corresponde à sucessão dos momentos, de ocorre apenas nas narrativas de maior extensão e
acordo com a sua contagem (minutos, horas, dias. semanas, complexidade, como a epopeia e o romance.
meses, anos, séculos, etc.). O espaço físico é o conjunto dos componentes físicos
Distinguem-se três espécies de tempo: o tempo que servem de cenário ao desenrolar da ação e à
cronológico, o tempo histórico e o tempo psicológico. movimentação das personagens. Assim, o espaço físico

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integra os cenários geográficos (espaço físico exterior) e os


cenários interiores, como as dependências de uma casa, a
sua decoração, os objetos, etc. (espaço físico interior). O
espaço físico pode constituir apenas o cenário da ação ou
ter também uma função importante na revelação do caráter
e do comportamento das personagens. Neste caso, convém
considerar a variedade dos aspetos do espaço: se abrange
ou não uma grande extensão, se identifica geograficamente
determinada região, se é um espaço natural ou construído
pelo homem, rural ou urbano, no país ou no estrangeiro.
O espaço psicológico é a vivência do espaço físico
pelas personagens ou o lugar do pensamento e da emoção
das personagens. Assim, por exemplo, locais evocados pela
memória correspondem ao espaço psicológico. Por outro
lado, em relação ao mesmo espaço, a personagem pode
experimentar diferentes sentimentos, conforme o seu
estado de espírito ou condições exteriores, como as
condições atmosféricas.
O espaço social consiste nas relações sociais,
económicas, políticas e culturais entre as personagens.
Constitui-se através das personagens figurantes e das
personagens-tipo, correspondendo à descrição de um
determinado ambiente que ilustra, por exemplo, vícios e
deformações de uma sociedade, servindo então para
expressar uma intencionalidade crítica.
A descrição é o modo de representação das três
espécies de espaço.
4. Narrador A identificação de uma personagem corresponde à atribuição de um nome. A
caraterização das personagens revela-se através de um conjunto de atributos,
O narrador é um ser ficcional, não devendo ser confundido com o autor real traços, caraterísticas físicas e psicológicas — retrato físico e retrato psicológico
que o cria. O narrador tem a função de enunciar e organizar o discurso; é ele que — moral.
nos transmite o mundo inventado ou recriado numa narrativa. Quando as caraterísticas físicas e psicológicas das personagens são
Distinguem-se diferentes tipos de narrador, tendo em conta a sua presença apresentadas pelo narrador, pelas outras personagens ou pela própria personagem,
ou ausência no universo da narrativa, a adoção de determinado ponto de vista e o fala-se de caraterização direta; quando as caraterísticas psicológicas ou morais
grau de conhecimento que demonstra ter da história que conta. podem ser deduzidas a partir das atitudes, do comportamento, das emoções, da
Relativamente à presença, o narrador classifica-se como participante ou maneira de falar das personagens, fala-se de caraterização indireta.
não participante. O narrador participante é aquele que se integra no mundo Relativamente à construção da personagem, ela poderá ser construída sem
narrado, estando presente na ação de dois modos possíveis: autodiegético (narra na profundidade ou ainda revelar um comportamento inalterável ao longo da ação —
primeira pessoa, participa como personagem, podendo ser também o protagonista) personagem plana; ou poderá possuir complexidade bastante para revelar uma
ou homodiegético (narra na primeira pessoa, mas não interfere na ação, limita-se a personalidade vincada — personagem modelada (revela o seu caráter
acompanhá-la). O narrador não participante ou heterodiegético exprime-se na gradualmente e de forma imprevisível).
terceira pessoa e está ausente do universo narrativo.
Em relação ao ponto de vista adotado, o narrador classifica-se como
objetivo ou subjetivo. Se o narrador revela imparcialidade, ou seja, se não assume 6. Modos de apresentação do discurso
posição face aos acontecimentos, é objetivo. Se o narrador é parcial, ou seja, se
afirma ou sugere o seu ponto de vista, é subjetivo. O texto narrativo pode apresentar várias modalidades de discurso.
O narrador carateriza-se também em função do conhecimento da história:
ele pode fingir que sabe apenas o que presencia, enquanto personagem ou O discurso do narrador, mais próximo da ficção narrada, apresenta-se sob
observador (focalização externa), assumir o ponto de vista de uma personagem as formas de:
(focalização interna) ou ainda manifestar um total conhecimento da ação e das • narração — relato de acontecimentos e de conflitos, situados no tempo e
personagens, ou seja, revelar que sabe mais que as personagens (omnisciente). encadeados de forma dinâmica, originando a ação (verbos de movimento e formas
verbais do pretérito — perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito);
• descrição — informações sobre as personagens, os objetos, o tempo e os
5. Personagem lugares, que interrompem a dinâmica da ação e vão desenhando os cenários (verbos
copulativos ou de ligação e formas verbais do pretérito imperfeito).
A personagem é um ser ficcional em torno do qual gira a ação do texto O discurso das personagens, mais distante do narrador, apresenta-se sob as
narrativo. formas de:
As personagens definem-se em função do seu relevo ou intervenção na ação: • diálogo — interação verbal ou conversa entre duas ou mais personagens
• personagens principais ou protagonistas — as que assumem o papel (discurso direto com registos de língua variados);
mais importante; • monólogo — conversa da personagem consigo mesma, discurso mental
• personagens secundárias — as que têm uma intervenção menor; não pronunciado ou pronunciado, mas sem ouvinte (discurso direto com frases
• figurantes — as que não têm qualquer interferência na ação. simples e reduzidas, muitas vezes com suspensões).

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