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Fis i o l ogi a da
Re sp iração
CAPÍTULO 38
se divide progressivamente, em geral por dicotomia, podendo do epitélio bronquiolar. Os bronquíolos respiratórios também se
ocorrer trifurcação a partir da sexta geração de vias aéreas. Os diferenciam por apresentarem, espaçadamente, sacos alveolares
brônquios fonte (direito e esquerdo) são considerados como a e também por se comunicarem diretamente com os alvéolos por
primeira geração, ou subdivisão, da árvore traqueobrônquica. meio de pequenos poros em suas paredes, denominados canais
A segunda geração corresponde aos brônquios lobares, e assim de Lambert.
sucessivamente até os bronquíolos terminais ( 1 6: geração), como A partir do último ramo do bronquíolo respiratório surgem os
mostra o diagrama na Fig. 38. I . ductos alveolares, que, por sua vez, terminam em um conjunto
A remoção d e partículas poluentes, contudo, não s e faz de alvéolos, os sacos alveolares. A zona respiratória, então, é
somente nas vias aéreas superiores. A cada bifurcação do constituída pelos ductos e sacos alveolares e alvéolos. A zona de
sistema de condução há geração de turbulência, com conse transição estende-se da 1 7 : à 1 9 : geração (bronquíolos respira
qüente impactação de partículas. Também com a progressiva tórios), ao passo que a zona respiratória abrange da 20: à 23:
bifurcação do sistema de condução ocorre um aumento da área geração (Fig. 38.2).
de seção transversa total do sistema tubular, com conseqüente A unidade alvéolo-capilar é o principal sítio de trocas gasosas
diminuição da velocidade do ar conduzido. Este fato leva à a nível pulmonar, sendo composta pelo alvéolo, septo alveolar
deposição de partículas em suspensão pela simples falta de e pela rede capilar. Os alvéolos são pequenas dilatações reves
sustentação aerodinâmica. As partículas removidas do ar por tidas por uma camada de células, a maioria pavimentosas, com
esses processos caem sobre a camada de muco que recobre o um diâmetro de aproximadamente 250 j.Lm. O septo alveolar é
sistema de condução, e com o muco são removidas em direção constituído por vasos sanguíneos e fibras elásticas, colágenas e
à glote pelos batimentos ciliares das células que formam o terminações nervosas. Os septos alveolares possuem desconti
epitélio dessa região. nuidades denominadas poros de Kohn, que permitem a passagem
de ar, líquido e macrófagos entre os alvéolos. A superfície alve
olar é constituída por três tipos de células. O pneumócito tipo I
Zonas de Transição e Respiratória ou célula alveolar escamosa é a célula mais freqüente, apresenta
pouca organela citoplasmática, recobre a maior parte da super
A zona de transição se inicia no nível do bronquíolo respi fície alveolar e não consegue se regenerar, isto é, não tem poten
ratório, caracterizado pelo desaparecimento das células ciliadas cial mitótico. O pneumócito tipo II ou célula alveolar granular é
ORDEM
REGiÕES DAS
SEGMENTAÇÃO DE ZONA
VIAS AÉREAS
GERAÇÃO
BRÕNQUIO FONTE
BRÕNQU10 LOBAR
BRÕNQUIO SEGMENTAR
TRANSPORTES
BRÕNQUIO SUBSEGMENTAR
BRONQuíoLO
DUCTOS ALVEOLARES
RESPI RATORIA
SACOS ALVEOLARES
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Fig. 38.1_ Esquema simplificado das subdivisões do sistema respiratório a partir da traquéia. Desta até os sacos alveolares oconem em média 23
su dlVJsoes, ou gerações. A t�aquéia corresp?nde à �eracã� de número zero. Assim, há uma zona de transporte, que vai da traquéia até os bron
.
qUl?�OS terrrunals: Os bronqulOlos resplratonos ( 1 7. a 1 9. gerações) correspondem à zona de transição. A partir daí encontra-se a zona respi
ratona, onde efetIvamente se realIzam as trocas gasosas. (Modificada de Paes de Carvalho, A. e Fonseca-Costa, A. Circulação e Respiração.
EdItora Cultura MédIca, 3." ed., 1 979.)
ORGANIZAÇÃO MORFOFllNCIO AL DO SISTE�1f\ RESPIRATÓRIO 609
C LULA CALICIFORME
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Fig. 38.2 Representação esquemática da transição entre as vias aéreas centrais e as periféricas. Note que o epitélio que serve como o principal
mecanismo de defesa das vias aéreas superiores se estreita, tomando-se uma membrana permeável em continuidade com uma rica rede vascular.
Gradualmente a cartilagem e, finalmente, o músculo liso das vias aéreas desaparecem, tomando-se o alvéolo uma estrutura com excelente efici
ência nas trocas gasosas. MB, membrana basal.
esférica e apresenta muitos microvilos em sua superfície. Essa somado ao das vias aéreas superiores, representa o espaço morto
célula contém muitas organelas celulares com grânulos osmofí anatômico, que será estudado posteriormente.
licos (corpúsculos lamelares), que armazenam e secretam surfac A inervação do sistema respiratório é basicamente autônoma.
tante. O surfactante recobre a superfície alveolar reduzindo a Não existe inervação motora ou sensitiva para dor, quer nas
tensão superficial. O pneumócito tipo II tem a capacidade de vias aéreas, quer no parênquima pulmonar. O local onde existe
se regenerar e se transformar em pneumócito tipo I quando ele inervação sensitiva dolorosa é a pleura. Quatro são os compo
é lesado. Os macrófagos alveolares constituem uma pequena nentes do sistema nervoso autônomo: sistemas parassimpático,
percentagem de células alveolares. Eles passam livremente da simpático, não-adrenérgico não-colinérgico (NANC) inibitório
circulação para o espaço intersticial e, a seguir, passam pelos e NANC excitatório. A atividade basal parassimpática parece
espaços entre as células epiteliais e se localizam na superfície ser a responsável pelo tônus broncomotor, que é mais impor
alveolar. Os macrófagos têm função de fagocitar corpos estra tante nas vias aéreas mais centrais, sendo praticamente inexis
nhos, partículas poluentes e bactérias. tente na periferia. As respostas simpáticas são mais difusas e
Partindo da traquéia, o calibre de cada subdivisão da árvore generalizadas. Os nervos adrenérgicos inervam diretamente
respiratória é menor do que o ramo que :!le deu origem. No as glândulas mucosas, vasos sanguíneos e gânglios nervosos
entanto, a área total da seção tranSlI'" ,<.1 diminui da traquéia (2,5 das vias aéreas. O sistema NANe foi assim denominado para
2
cm2) até a quarta geração (brônquios subsegmentares, 2,0 cm ), designar um conjunto de fibras do sistema nervoso autônomo
aumentando daí até a 23: geração (alvéolos). Por outro lado, o em que os neurotransmissores da junção neuroefetora não são a
comprimento de cada subdivisão se torna menor, sendo inicial noradrenalina ou a acetilcolina. Trata-se de um conjunto hete
mente de 12 cm na traquéia e alcançando 2 mm nos bronquíolos rogêneo e numeroso de fibras nervosas, com um grande número
respiratórios (Fig. 3 8 . 3). de neurotransmissores já identificados e de função ainda não
Tendo em vista que não há trocas gasosas importantes entre o completamente estabelecida, e que está presente em todos os
sangue capilar pulmonar e o ar até ser atingida a zona respiratória órgãos estudados até o momento. O sistema NANC inibitório é
(quatro últimas subdivisões), o volume acumulado da traquéia responsável pelo relaxamento dos músculos lisos das vias aéreas,
até a 1 9." geração corresponde a cerca de 1 50 mI. Tal volume, sendo o neurotransmissor responsável por esse efeito o óxido
FISIOLOGIA
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Fig. 38.3 Área de seção transversa da árvore respiratória. Embora o calibre de cada via aérea seja menor do que o ramo que lhe deu origem, a
área total de seção transversa aumenta devido ao maior número de vias aéreas.
nítrico, apesar de durante muito tempo creditarem essa função GRIPPI MA. Pulmonary Pathophysiology. Philadelphia. J.B. Lippin
ao peptídeo vasoativo intestinal (VIP). O sistema NANe exci cott Company, 1 995.
tatório tem como mediadores a neurocinina A, substância P e LEFF AR & SCHUMACKER PT (eds.). Respiratory Physiology. Basics
o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina, que acarretam and Applications. W.B. Saunders Company, l ." ed., 1 993.
LEVITZKY MG (ed.). Pulmonary Physiology. McGraw-Hill, Inc., 6."
broncoconstrição.
ed . , 2003
.
MOVIMENTOS RESPIRATÓRIOS
Walter Araujo Zin • Patricia Rieken Macêdo Rocco • Debora Souza Faffe
Inspiração
INTRODUÇÃO
MÚSCULOS RESPIRATÓRIOS
Os músculos respiratórios são músculos esqueléticos estriados
que, quando comparados com os músculos esqueléticos da peri Fig. 39.1 Representação da anatomia funcional do diafragma. Seção
feria, apresentam as seguintes características: maior resistência frontal da parede torácica na capacidade residual funcional. Note a
à fadiga, fluxo sanguíneo elevado, maior capacidade oxidativa orientação das fibras costais diafragmáticas e sua inserção nas costelas
e densidade capilar. (zona de aposição).
612 FISIOLOGlA
tômica e desenvolvimento embriológico, que as porções costal externo e intercostal interósseo interno. Os músculos intercos
e crural diafragmáticas, na realidade, são dois músculos separa tais são inervados pelos nervos intercostais que emergem do
dos. O diafragma é inervado pelos nervos frênicos direito e es primeiro ao décimo-primeiro segmentos torácicos da medula
querdo, originados nos segmentos cervicais 3, 4 e 5 (Fig. 39.2). espinhal (Fig. 39.2).
O suprimento sanguíneo é feito pelas artérias mamária interna, A ação mecânica desses músculos, apesar de extensamente
intercostal, frênica inferior e superior, que produzem uma rede de debatida, persiste controversa. Inicialmente, acreditava-se, com
anastomoses diminuindo o risco de infarto em presença de redu base na análise da orientação de suas fibras e de seus pontos de
ção de fluxo sanguíneo. Durante a respiração basal a inspiração inserção, que o intercostal superficial externo era inspiratório, já
depende, principalmente, da contração do diafragma. Estudos que elevava a costela na qual ele estava inserido (inspiratório),
iniciais relatavam que a contração diafragmática não acanetava enquanto o intercostal interno abaixaria a costela (expiratório).
mudança em sua forma, entretanto, atualmente, acredita-se que Estudos eletromiográficos em humanos confirmam a atividade
o diafragma se torna esférico durante sua contração. Quando fásica dos músculos externos durante a inspiração e dos internos
o diafragma se contrai, o conteúdo abdominal é forçado para durante a expiração.
baixo e para a frente, aumentando, por conseguinte, o diâmetro
céfalo-caudal do tórax. Além disso, as margens das costelas são Músculos Paraesternais e Esterno
levantadas para cima e para fora, ocasionando o incremento do Triangular
diâmetro ântero-posterior e látero-Iateral torácico (Fig. 39.3). Os músculos intercostais paraesternais (intercondral) são
A força contrátil produzida pelo diafragma é representada pela músculos primários da inspiração. Estudos eletromiográfi
pressão diafragmática (Pdi), que é a diferença entre a pressão cos demonstraram que humanos normais sempre ativam seus
abdominal (Pab) e pleural (Ppl). Na respiração de repouso, o músculos paraesternais durante a respiração basal (Fig. 39.4).
nível do diafragma se move cerca de 1 cm. Entretanto, na inspi Esses músculos se originam nas margens do esterno e se in
ração e expiração forçadas, a excursão total pode ser maior que serem na porção superior das costelas. A contração desses
1 0 cm. Quando o diafragma é paralisado, ele se move para cima, músculos auxilia no levantamento do gradil costal superior.
ao invés de descender, durante a inspiração. Tal fenômeno é de Quando esses músculos estão paralisados, a inspiração ocor
nominado movimento paradoxal e decone da queda da pressão re principalmente através da expansão abdominal, já que o
intratorácica. Ademais, o diafragma apresenta importante reserva gradil costal se move paradoxalmente para dentro. Contra
funcional, sendo que a frenicotomia unilateral acaneta pequena riamente ao que ocorre com o diafragma, o comprimento
redução da capacidade ventilatória. Entretanto, a frenicotornia ótimo dos músculos paraesternais (e escalenos) ocorre mais
bilateral compromete significativamente a ventilação. próx imo da capacidade pul monar total do que da c apaci
dade residual funcional. Tal fato permite que os músculos
MÚSCULOS INTERCOSTAIS inspiratórios, trabalhando de maneira coordenada, possam
OS músculos intercostais subdividem-se, na sua porção inter gerar pressão em presença de uma ampla margem de volumes
condral ou paraesternal (será detalhado a seguir), em intercostal pulmonares.
CÉREBRO -------\-
PONTE -------\_
BULBO -------+_
GÂNGLIO JUGULAR
C1 GÂNGLIO NODOSO
2-+-"'--+-- GÂNGLIO CERVICAL SUP ERIOR
3
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12
MÚSCULOS ESCALENOS
OS músculos escalenos (anterior, médio e posterior) se ori
ginam nos processos transversos das cinco vértebras cervicais
inferiores e se inserem na porção superior da primeira e segunda
costelas. Estudos eletromiográficos mostram claramente que es
ses músculos são sempre ati vos na inspiração basal. A atividade
dos músculos escalenos começa no início da inspiração, junta
mente com o diafragma e a musculatura paraesternal, e atingem
sua atividade máxima no final da inspiração. A contração do
músculo escaleno eleva o esterno e as duas primeiras costelas,
acarretando expansão para cima e para fora do gradil costal su
perior (Fig. 39.4).
- - - - - INSPIRAÇÃO
GRADIL COSTAL
Ô
ABD MEN
EMG PARAESTERNAL
...
EMG ESCALENO - -
25
I
Fig. 39.4 Eletromiografia dos músculos intercostal paraesternal e escaleno em indivíduos normais sentados. I con-esponde à fase inspiratória.
Note a desativaç ão lenta e gradual dos músculos inspiratórios durante a expiração.
614 FISIOLOGIA
MARTIN JG & DE TROYER A. The behaviour of the abdominal mus ROUSSOS C & MACKLEM PT. The respiratory museles. N. Eng. 1.
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CAPÍTULO 40
C-
dor, o sono, o choro, a fonação, a tosse, as necessidades metabó
\
licas, bem como várias entidades mórbidas, podem modificar o
padrão ventilatório. Naturalmente, essas modificações recebem
denominações especiais:
EUPNÉIA. É a respiração normal, sem qualquer sensação PACIENTE QUIMÓGRAFO
subjetiva de desconforto.
TAQUIPNÉIA. Aumento da freqüência respiratória.
BRADIPNÉIA. Diminuição da freqüência respiratória.
HIPERPNÉIA. Aumento do volume corrente.
HIPOPNÉIA. Diminuição do volume corrente.
HIPERVENTILAÇÃO. Aumento da ventilação global .
Mais acertadamente, aumento da ventilação alveolar além das
necessidades metabólicas.
HIPOVENTILAÇÃO. Diminuição da ventilação global.
Com maior precisão, diminuição da ventilação dos alvéolos Fig. 40.1 Esquema didático de um espirógrafo simples. O indivíduo
estudado é conectado ao espirógrafo através de uma peça bucal e
aquém das necessidades metabólicas.
tem seus orifícios nasais ocluídos por uma pinça apropriada. Sua
APNÉIA. Parada dos movimentos respiratórios ao final de inspiração remove gás do sistema, resultando em um abaixamento
uma expiração basal. da campânula, que está submersa em água para isolamento do ar
APNEUSE. Interrupção dos movimentos respiratórios ao ambiente. Como resultado deste movimento, a pena inscritora se
final da inspiração. move para cima no quimógrafo. Durante a expiração o gás exalado é
DISPNÉ IA. Respiração laboriosa, sensação subj etiva de conduzido através de um recipiente contendo cal sodada (que absorve
dificuldade respiratória. o gás carbônico produzido pelo organismo) e eleva a campânula,
movendo para baixo a pena. Uma vez que o oxigênio vai sendo
removido do sistema pelo indivíduo, faz-se necessária sua repo
sição, que é medida pelo fluxômetro. A ventoinha auxilia o direcio
ESPIRÓGRAFO namento do gás no circuito espirográfico, além de contribuir para a
homogenização da mistura gasosa. (Modificada de Paes de Carvalho,
O volume corrente pode ser facilmente medido por meio de A. e Fonseca-Costa, A. Circulação e Respiração. Editora Cultura
um aparelho chamado espirógrafo, esquematizado na Fig. 40. 1 . Médica 3 ." ed. , 1 979.)
VOL W;S E CAPACIDADES PULMONARES 617
o indivíduo a ser estudado é ligado ao aparelho por meio de CAPACIDADE VITAL. É a quantidade de gás mobilizada
uma peça bucal e uma válvula, em conexão com dois tubos flexí entre uma inspiração e uma expiração máximas. Veja, na Fig.
veis: um traz o ar do interior do espirógrafo para o paciente e o 40.2, que a capacidade vital é a soma de três volumes primários:
outro retorna o gás expirado em sentido contrário. O gás expirado corrente, de reserva inspiratório e de reserva expiratório.
passa por um recipiente contendo cal sodada, que dele retira o gás CAPACIDADE INSPIRATÓ RIA. É o volume máximo
carbônico. No circuito há geralmente uma ventoinha, que ajuda a inspirado a partir do final de uma expiração espontânea. Corres
manter o sentido do fluxo no interior do aparelho. Tendo em vista ponde à soma dos volumes corrente e de reserva inspiratório.
que parte do oxigênio inspirado é consumida a cada inspiração, CAPA CIDADE RESIDUAL FUNCIONAL. É a quantidade
a mistura gasosa no interior do espirógrafo ficaria cada vez mais de gás contida nos pulmões no final de uma expiração espon
pobre em O2, A fim de evitar tal inconveniente, adiciona-se esse tânea. Corresponde à soma dos volumes de reserva expira tório
gás ao circuito, à medida que for sendo consumido. e residual.
CAPACIDADE PULMONAR TOTAL. É a quantidade de
gás contida nos pulmões ao final de uma inspiração máxima e
VOLUMES E CAPACIDADES equivale à adição dos quatro volumes primários.
PULMONARES Fisiologicamente, os volumes e capacidades pulmonares
variam em função de vários fatores, tais como: sexo, idade,
Os volumes pulmonares são convencionalmente divididos superfície corporal, atividade física, postura. Visto que tais
em quatro volumes primários e quatro capacidades. A Fig. 40.2 volumes podem ser alterados por diversas doenças, faz-se neces
ilustra esses volumes e capacidades. Note que os volumes primá sário conhecer se estão normais em um determinado indivíduo.
rios não se sobrepõem, ao passo que as capacidades são formadas Para tanto, são comparados a valores padrões médios obtidos
por dois ou mais volumes primários. em vários indivíduos do mesmo sexo, idade e altura, medidos
Esses volumes e capacidades recebem denominações em repouso.
próprias : A Fig. 40.3 apresenta um traçado real, obtido em um indivíduo
VOLUME CORRENTE. É a quantidade de ar inspirada normal. Observe que podem ser medidos: o volume corrente, a
ou expirada espontaneamente em cada ciclo respiratório. No freqüência respiratória, os volumes de reserva inspiratório e expi
repouso o volume corrente humano oscila entre 350 e 500 mI. ratório e calculados: a capacidade inspiratória, a capacidade vital
VOLUME DE RESERVA INSPIRATÓRIO. É o volume e o volume minuto. Como os gases estão contidos no pulmão a
máximo que pode ser inspirado voluntariamente a partir do final 37°C e são inspirados e expirados para e do espirógrafo, que se
de uma inspiração espontânea. encontra à temperatura ambiente, faz-se necessária uma correção.
VOLUME DE RESERVA EXPIRA TÓRIO. É o volume Se o ambiente estiver mais frio do que o organismo, os gases se
máximo que pode ser expirado voluntariamente a partir do final contrairão dentro do espirógrafo e o volume será subestimado.
de uma expiração espontânea. Por outro lado, se o meio ambiente se encontrar mais quente do
VOLUME RESIDUAL. É o volume de gás que permanece que o organismo, os gases exalados para o espirógrafo se expan
no interior dos pulmões após a expiração máxima. Assim, este dirão e, conseqüentemente, resultará uma superestimação do
volume não pode ser medido pelo espirógrafo simples descrito volume. Assim, em Fisiologia Respiratória volumes pulmonares
anteriormente. e fluxos aéreos são padronizados em relação à pressão baromé-
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Fig. 40.2 Traçado espirográfico esquematizado, mostrando os volumes e capacidades pulmonares. O espirógrafo simples não é capaz de medir
o volume residual e, conseqüentemente, as capacidades residual funcional e pulmonar total.
618 FISIOLOGIA
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Fig. 40.3 Traçado espirográfico obtido em um indivíduo normal. O teste se inicia por uma série de ciclos respiratórios basais seguidos por
uma expiração máxima e uma inspiração máxima, que se repetiram quatro vezes. Note que podem ser medidos: o volume corrente (450 mi), a
freqüência respiratória ( 1 8 incursões respiratórias por minuto), os volumes de reserva inspiratório e expiratório (2,4 litros) e calculados: a capa
cidade inspiratória (2,9 litros), a capacidade vital (5 litros) e o volume minuto (8,1 litros por minuto). (Traçado gentilmente cedido pelo Prof.
Dr. Ayres da Fonseca-Costa.)
trica ao nível do mar, temperatura corporal e saturação completa total, que englobam aquele volume, também não o serão. Todavia,
por vapor d' água (em inglês: body temperature and pressure, há métodos para detenniná-lo, como será abordado adiante.
saturated = BTPS). Por fim, ressalte-se que os dados obtidos
de um determinado indivíduo são comparados a padrões encon
trados na literatura científica, obtidos da análise de milhares de DETERMINAÇÃO DO VOLUME RESIDUAL
curvas de sujeitos nonnais.
o volume residual e, conseqüentemente, as capacidades resi
dual funcional e pulmonar total não podem ser medidos direta
MEDIDA DO CONSUMO DE OXIGÊNIO mente no registro espirográfico convencional. No entanto, há
duas técnicas diferentes para medi-los.
O espirógrafo simples também permite a medida do consumo A primeira se baseia na diluição de gases. O gás mais corri
de oxigênio (V02 ). A Fig. 40.4 mostra, no traçado inferior, um queiramente empregado é o hélio, visto que é inerte, pouco
registro de inspirações e expirações em repouso. Neste caso, o solúvel no sangue, o organismo não o produz e é de concen
cilindro de oxigênio mostrado na Fig. 40. 1 repõe no espirógrafo tração desprezível no ar ambiente. O princípio físico da medida
uma quantidade desse gás igual àquela consumida pelo paciente. é muito simples, como apresentado na Fig. 40.5. Coloca-se em
Para tanto, ajusta-se a válvula do cilindro até que o traçado fique um espirógrafo de determinado volume V I uma concentração
horizontal. Já no traçado superior da Fig. 40.4, observa-se que, a conhecida de hélio, C I ' A seguir, conecta-se o paciente ao circuito
partir do tempo O, quando a válvula do cilindro é fechada e não espirográfico ao final de uma expiração espontânea (ao nível
se admite O2 para o circuito, o traçado desloca-se para cima, pois da capacidade residual funcional) . Quando o paciente respira a
a cada ciclo respiratório uma dada quantidade de O fica retida mistura ar-hélio por alguns minutos, este gás se distribui unifor
2
no pulmão do indivíduo para ser transportada até as células, memente pelos pulmões e o espirógrafo, alcançando a concen
que utilizarão o gás na respiração celular. Não se pode esquecer tração de equilíbrio, C2. Novamente, a nível da capacidade resi
que o CO2 eliminado fica retido na cal sodada. Assim, ao fim dual funcional, o indivíduo é desconectado do circuito. Consi
de 2 minutos o traçado se deslocou 620 mI para cima; então, derando-se que não houve perda ou ganho de hélio, a quantidade
podemos calcular o V02 =620 ml/2 min 3 1 0 mI/mino Esse
= total de moléculas desse gás pennanece a mesma, e tem-se: CI X
valor já foi corrigido, considerando que o consumo de oxigênio VI = C2 X V2 , onde V2 corresponde ao volume dos pulmões na
e a produção de CO2 são padronizados para temperatura padrão capacidade residual funcional somado ao volume do espirógrafo
(O°C), pressão barométrica ao nível do mar (760 mmHg ou 1 0 1 ,3 (V I ) ' Assim, V2 - V I corresponde a essa capacidade pulmonar.
kPa) e gás seco (em inglês: standard temperature and pressure, Sendo o volume de reserva expiratório facilmente medido, e
dry = STPD). de posse do valor da capacidade residual funcional, obtém-se o
Uma vez que o volume residual não pode ser medido pelo volume residual por simples subtração. Conseqüentemente, pode
espirógrafo simples, as capacidades residual funcional e pulmonar ser calculada a capacidade pulmonar total.
VOLUMES E CAPACIDADES PULMONARES 619
VC = 450 mi
Fig. 40.4 Medida do consumo de oxigênio pelo espirógrafo simples. Enquanto no painel inferior complementa-se o volume gasoso do espirô
metro com quantidade de O2 idêntica àquela retirada pelo metabolismo, no traçado superior esse fornecimento é interrompido a partir do tempo
O. Observa-se, a partir de então, uma ascensão do traçado espirográfico progressiva e constante, representando a remoção do oxigênio da mistura
pelas trocas gasosas. Ao final de 2 minutos 620 rnJ de O2 foram consumidos, resultando em um consumo de oxigênio ('�I02) correspondente a
3 1 0 mUmin. (Traçado gentilmente cedido pelo Prof. Dr. Ayres da Fonseca-Costa.)
É importante observar que este método não é capaz de iden dil uição de gases e se baseia na compressão e descompressão do
tificar coleções gasosas no pulmão (bolha enfisematosa, por volume de gás no interior da caixa pletismográfica, onde o indi
exemplo) que não estejam em contato com a via aérea, pois neste víduo examinado fica trancado, isolado do ar ambiente. A Fig. 40.6
caso o hélio não se dilui nesses volumes. Resulta uma subesti apresenta, esquemática e simplificadamente, esse método. Inicial
mação do volume residual, da capacidade residual funcional e mente, coloca-se o indivíduo com uma pinça nasal sentado no inte
da capacidade pulmonar total. rior da caixa. A porta é fechada e solicita-se ao paciente que respire
A outra técnica para determinar o volume residual emprega um normalmente o gás do intelior do pletismógrafo através de uma
aparelho chamado pletismógrafo de corpo inteiro. Esse método peça bucal (Fig. 40.6 A). Ao final de uma expiração espontânea
apresenta um grau de dificuldade muito maior em relação à basal, as vias aéreas são ocluídas por uma válvula e o paciente
é instruído a realizar esforços inspiratórios (Fig. 40.6 B ) . Por
conseguinte, o gás contido em seus pulmões sofre descompressão,
aumentando o volume pulmonar e elevando a pressão no interior
do pletismógrafo, visto que o volume gasoso em seu interior é
comprimido pela expansão da parede torácica. Segundo a lei de
(J
Boyle, o produto de pressão por volume é constante (se mantidas
inalteradas as outras variáveis das leis dos gases) e, portanto, se
forem conhecidos a variação de pressão (LlPc) e o volume da caixa
pletismográfica (Vc), a vmiação de volume pulmonar durante a
manobra, LlV, pode ser calculada [Vc X P2 = (VC - Ll V)( PI +
) ... LlPc)]. A seguir, aplica-se a lei de Boyle ao volume gasoso no inte
rior do pulmão. Neste caso, P I X V P2 (V + Ll V), onde PI e P2
I ,
I \ =
\
I ' representam, respectivamente, as pressões nas vias aéreas antes
,
t
t
e após a manobra e V é a capacidade residual funcional. Conhe
\, _ - - .J
cendo-se o volume de reserva expiratório, o volume residual pode
ANTES DO EQUILíBRIO
ser computado por simples subtração.
C, X V, = C2 X V2 Por meio da pletismografia todos os volumes gasosos no inte
rior do pulmão podem ser medidos, inclusive aqueles sem contato
Fig. 40.5 Esquema da medida da capacidade residual funcional pelo com as vias aéreas, pois sofrem compressão e descompressão,
método da diluição do hélio. fenômenos sobre os quais se baseia a medida.
FISIOLOGIA
A B
lSP
nJ
�Pc
P1 P2
+ +
Vc
+
Vc - �V
Fig. 40.6 Esquema da medida da capacidade residual funcional pelo método da pletismografia de corpo inteiro. A, Respiração normal. B, Esforço
inspiratório contra vias aéreas ocluídas. O retângulo representa uma caixa absolutamente rígida isolada hermeticamente do ar ambiente. O indi
víduo analisado respira ar do interior do pletismógrafo. Os dois círculos com setas representam transdutores de pressão (utilizados para medida
de pressão), PI e P2 sendo as pressões nas vias aéreas e .ó.Pc a variação de pressão no interior do pletismógrafo. Vc é o volume do pletismógrafo,
V o volume pulmonar a ser medido e .ó. V a variação de volume observada durante esforço inspiratório contra vias aéreas ocluídas. (Modificada
de Comroe Jr. , J.H. Fisiologia da Respiração. Editora Guanabara Koogan, 2 . " ed., J 977.)
A B C
NORMAL OBSTRUTIVA RESTRITIVA
(f)
O
a:
I
:J
Fig. 40.7 Padrões normal (A), obstrutivo (B) e restritivo (C) de uma expiração forçada. Mensuração do volume expiratório forçado no primeiro
segundo (VEF I .o), capacidade vital forçada (CVF) e relação VEF l .clCVF.
VOLU�IES �; CAPACIDADES PUL�IONARES 62 1
\\ \\\ ,
VEf;õ=-3-;8-litro
, \�
CVF 4, litros
N.
t---.--
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I
"+
i
� I
1 s I
a r----
Fig. 40.8 Três traçados do teste da capacidade vital forçada (CVF) em um indivíduo normal. Inicialmente o indivíduo inspira até atingir a capaci
dade pulmonar total, mantém esse volume por um certo tempo e expira com força máxima. A CVF corresponde à distância vertical entre o final da
inspiração máxima e o ponto mais baixo da curva. No primeiro segundo após o início da expiração mede-se o volume de gás expirado, que corres
ponde ao volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1•O)' (Traçado gentilmente cedido pelo Prof. Dr. Ayres da Fonseca-Costa.)
A Fig. 40. 8 apresenta três curvas de capacidade vital forçada Outro parâmetro passível de ser computado com a manobra de
geradas por um indivíduo normal. O indivíduo inspira até atingir expiração forçada é ofluxo expiratório forçado entre 25 e 75%
a capacidade pulmonar total, mantém esse volume por um certo da CVF (FEF25.75%). A Fig. 40.9 mostra o cálculo do FEF25•75% .
tempo (note os platôs subseqüentes ao ténnino das inspirações) e Esse parâmetro é utilizado quando restam dúvidas diagnósticas
é instigado a soprar o mais forte e rápido que puder até serem atin após o cálculo da razão VEFujCVF.
gidos 6 segundos de expiração. O volume total da expiração é a Se registrarmos o fluxo aéreo e o volume durante uma manobra
capacidade vital forçada (CVF). Determinando-se no traçado um de expiração forçada, é possível contruirmos as curvas fluxo
segundo após o início bem marcado da expiração e nele medindo-se volume. Para tal solicita-se ao indivíduo que ele inspire até a
o volume de gás expirado, obtém-se o volume expiratório forçado capacidade pulmonar total e então expire tão rapidamente quanto
no primeiro segundo (VEF10)' Note que as três curvas apresentadas possível até o volume residual. Para completar a alça o indivíduo
praticamente se sobrepõem, apontando para a normalidade. deverá inspirar tão rapidamente quanto possível do volume resi-
�- - - \1--
A NORMAL B O BSTR UTIVO C R ESTR IT IVO
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3
4
FE F25•7S% = ª FE F25.75% = 3,7 Us
b
= 3,5 Us
Fig. 40.9 Cálculo do fluxo expiratório forçado entre 25 e 75% da capacidade vital forçada em traçados esquemáticos de pacientes normal (A),
obstrutivo (B) e restritivo (C) a partir de uma manobra de expira� ão for� ada.
622 FISIOLOGIA
8 8
6 6
FLUXO ,
(Us) 4 4 I
OBSTRUTIVO
,
2 2 ,
6 4 2 O 8 6 4 2 O
VOLUME (L) VOLUME (L)
dual até a capacidade pulmonar total. O volume é registrado na MACKLEM PT & MEAD J (eds.). Handbook ofPhysiology. The Respi
abscissa e o fluxo na ordenada. A Fig. 40. 1 0 mostra os padrões ratory System. Mechanics of Breathing. Bethesda. American Physio
das curvas fluxo-volume em indivíduos normais, pneumopatas logical Society, 1 986.
MILLER MR, HANKINSON J, BRUSASCO V, BURGOS F, CASA
obstrutivos e restritivos. Nota-se que nas pneumopatias obstru
BURl R, COATES A, CRAPO R, ENRIGHT P, VAN DER GRINTEN
tivas a expiração máxima começa e termina em volumes pulmo CPM, GUSTAFSSON P, JENSEN R, JOHNSON DC, MACINTYRE
nares anormalmente elevados, sendo os fluxos muito menores N, MCKAY R, NAVAJAS D, PEDERSEN OF, PELLEGRINO R,
do que o normal. Contrariamente, em pacientes com pneumo VIEGI G, WANGER J. Standardisation of spirometry. European
patias restritivas o volume mobilizado é menor. O fluxo aéreo Respiratory Journal, 26:3 1 9-338, 2005.
está normal em relação ao volume pulmonar, já que o calibre PAES DE CARVALHO A & FONSECA-COSTA A. Circulação e Respi
das vias aéreas encontra-se normal. ração. Rio de Janeiro. Editora Cultura Médica, 3 ." ed., 1 979.
PATTON HD, FUCHS AF, HILLE B, SCHERAM, STEINER R. (eds.).
Textbook of Physiology. Philadelphia. W.B. Saunders Company, 2 1 st
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Koogan, 2." ed. , 1 977. V, BURGOS F, CASABURl R, CRAPO R, ENRIGHT P, VAN DER
CRYSTAL RG, WEST JB, WEIBEL ER, BARNES PJ. The Lung. GRINTEN CPM, GUSTAFSSON P, HANKINSON J, JENSEN R,
Scientific Foundations. PhyJadelphia, New York. Lippincott-Raven JOHNSON D, MACINTYRE N, MCKAY R, MILLER MR, NAVAJAS
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1 99 3 . cott Williams & Wilkins, 7th ed. , 2005.
CAPÍTULO 41
o processo cíclico da respiração envolve um certo trabalho cional à força (ou pressão) aplicada até que seu limite elástico
mecânico por parte dos músculos respiratórios. Um indivíduo sej a atingido.
sadio em repouso respira sem realizar um esforço consciente, mas Os tecidos dos pulmões e do tórax são constituídos por fibras
se os músculos forem levados a aumentar o trabalho, ele imedia elásticas, cartilagens, células, glândulas, nervos, vasos sanguí
tamente toma conhecimento de sua respiração. A pressão motriz neos e linfáticos que apresentam propriedades elásticas e obede
do sistema respiratório, que em condições normais é aquela gera cem à lei de Hooke, de modo que quanto mais intensa a pressão
da pela contração muscular durante a inspiração, precisa vencer gerada pelos músculos inspiratórios, maior o volume inspira
forças elásticas e resistivas para conseguir encher os pulmões. do. Como as molas, os tecidos devem ser distendidos por meio
Em condições basais a inércia do sistema é desprezível. de uma força externa (esforço muscular) durante a inspiração.
O sistema respiratório é formado por dois componentes: o Quando essa força cessa, os tecidos retraem-se para sua posição
pulmão e a parede torácica. Como parede torácica subentendem original. Quanto maior a pressão aplicada, maior a variação de
se todas as estruturas que se movem durante o ciclo respiratório, volume durante a inspiração. Essa relação entre volume e pres
à exceção do pulmão. Como já foi visto, a parede abdominal se são depende apenas de medidas em condições estáticas, isto é,
move para fora durante a inspiração, retornando ao seu ponto de quando não há fluxo de ar na árvore traqueobrônquica, e não da
repouso ao longo da expiração. Portanto, o abdômen faz parte velocidade com que o volume é alcançado. Na Fig. 4 1 . 1 pode
da parede torácica. A decomposição do sistema respiratório em ser vista a relação entre volume pulmonar e pressão elástica do
seus componentes pulmonar e de parede é importante, v isto que sistema respiratório. A inclinação da curva volume-pressão ou
não só têm propriedades mecânicas diferentes, mas também há a relação entre a variação do volume gasoso mobilizado (LlV) e
doenças com capacidade de comprometer um ou outro, resul a pressão motriz necessária para mantê-lo insuflado é conhecida
tando em disfunção do sistema respiratório. por complacência do sistema respiratório (Crs). A pressão motriz
Os pulmões são separados da parede torácica pelo espaço é representada pela diferença entre as pressões na abertura das
pleural. De fato, cada pulmão tem acolada a si a pleura visceral, vias aéreas e no ar ambiente. Logo, Crs = Ll VlPel,rs, onde Pel,rs
que ao nível dos hilos pulmonares se reflete, recobrindo o me corresponde à pressão elástica do sistema respiratório. Quanto
diastino, o diafragma e a face interna da caixa torácica (pleura maior a Crs, mais distensível será o tecido; quanto menor, mais
parietal). Dentro dessa cavidade virtual há alguns mililitros de rígido ele será. Nota-se que a complacência do sistema respira
líquido, de modo a permitir que uma pleura deslize sobre a outra tório é constante na faixa de volumes pulmonares compreendi
durante os movimentos respiratórios. dos entre 25 e 75% da capacidade vital. Abaixo e acima dessa
faixa, a complacência tende a cair progressivamente, indicando
que o sistema respiratório deixa de se comportar como um cor
PROPRIEDADES ELÁSTICAS DO po quase perfeitamente elástico. Deve ser observado também na
Fig. 4 1 . 1 (linha C) que ao nível da capacidade residual funcio
SISTEMA RESPIRATÓRIO nal o sistema entra em equilíbrio elástico e sua pressão elástica
é igual a zero.
A elasticidade é uma propriedade da matéria que permite Há várias formas de medir a complacência do sistema res
ao corpo retornar à sua forma original após ter sido deforma piratório:
do por uma força sobre ele aplicada. Um corpo perfeitamente
elástico, como uma mola, obedecerá à lei de Hooke, isto é, a 1 - As medidas da complacência estática (Cst) devem ser realiza
variação de comprimento (ou volume) é diretamente propor- das na ausência de fluxo, sendo de difícil execução, pois a mus-
624 FISIOLOGIA
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(cmH2O)
Fig. 4 1 . 1 Relações volume versus pressões elásticas do sistema respiratório, pulmão e parede torácica. Linha A : volume mínimo, i. é, volume
de gás que permanece no pulmão quando isolado da parede torácica. Linha B: volume residual. Linha C: capacidade residual funcional. Neste
volume o sistema respiratório está em seu ponto de equilíbrio elástico, ou seja, as forças elásticas do pulmão e da parede torácica são exatamente
iguais, porém têm sentidos opostos. Linha D: a partir deste ponto a parede torácica também tende a se retrair.
culatura dos pacientes deve estar relaxada (indivíduos sedados, o cálculo da elastância do sistema respiratório apresenta vanta
paralisados ou altamente cooperativos), e devem ser realizadas gens para o uso clínico. As elastâncias do pulmão (EL) e pare
uma ou mais pausas ao longo do ciclo respiratório. de torácica (Ew) são adicionadas diretamente: Ers EL + Ew,
=
2 - Na prática clínica, por motivos de maior facilidade de reali ao passo que se somam os inversos das complacências: l ICrs
zação da medida, aferem-se as complacências dinâmicas (Cdyn). = l/CL + l /Cw .
Neste caso o indivíduo respira espontaneamente e são registra
dos o volume mobilizado e a pressão utilizada. Para o cálculo da
complacência dinâmica, tomam-se pontos nos traçados de volu Propriedades Elásticas do Pulmão
me e pressão nos quais o fluxo aéreo é nulo (finais da inspiração
e expiração) para calcular tl. V e tl.P. A complacência dinâmica A força de retração elástica dos pulmões (Pel,L) tende a tra
pode variar de um ciclo para outro, por vezes não representando zê-los para seu volume mínimo, ou seja, os pulmões tendem
a complacência real. Em indivíduos hígidos respirando espon sempre a se retrair e colabar (Fig. 4 1 . 1 ). Caso os pulmões fos
taneamente não há diferença apreciável entre as complacências sem retirados do tórax, observar-se-ia que restaria em seu inte
estática e dinâmica. rior um volume de ar mínimo (Fig. 4 1 . 1 , linha A) . Existem dois
3 - Uma simples medida da complacência do sistema respiratório fatores responsáveis pelo comportamento elástico do pulmão.
tem valor limitado, uma vez que depende do volume pulmonar Um deles é representado pelos componentes elásticos do tecido
total, isto é, pessoas com grandes volumes pulmonares terão pulmonar (fibras elásticas e colágenas, por exemplo). Acredi
maior complacência para um mesmo volume inspirado do que ta-se que o comportamento elástico do pulmão não depende do
aquelas com pequenos volumes pulmonares, mesmo que ambos simples alongamento das fibras elásticas, mas principalmente de
os pulmões sej am normais e tenham a mesma distensibilidade. seu arranjo geométrico. Todas as estruturas do pulmão (vasos,
Para contornar esse fenômeno, é determinada a complacência bronquíolos, alvéolos, etc.) encontram-se interligadas pela trama
específica (Ceff), ou complacência dividida pelo volume pulmo de tecido conj untivo pulmonar, de sorte que, quando há insufla
nar em que se faz a medida, usualmente a CRF. A complacência ção, todos esses componentes se distendem. Esse fenômeno é
específica é muito utilizada para comparar distensibilidades de ' denominado "interdependência", que contribui para manter todos
pulmões de diferentes tamanhos, como crianças e adultos. os alvéolos abertos, posto que caso alguns se fechassem, seus
vizinhos puxariam suas paredes e tenderiam a reabri-los. Além
Finalmente, cabe aqui ressaltar que, em vez de complacência, das propriedades elásticas dos tecidos pulmonares, os pulmões
é freqüentemente utilizado o termo elastância. Esta corresponde ainda apresentam um importante fator que contribui para suas
ao inverso da complacência (Ers = lICrs), ou seja, é a relação características elásticas: a tensão superficial do líquido que re
entre a variação de pressão e o volume mobilizado resultante. cobre a zona de trocas, denominado sU/factante.
MECÂNICA RESPIRATÓRIA. ESPAÇO MORTO E VENTILAÇÃO ALVEOLAR 625
Há tensão superficial em uma interface ar-líquido porque as diminui acentuadamente com a aproximação entre as suas molécu
moléculas do líquido são atraídas com maior força para o interior las, o que acontece provavelmente durante a expiração, quando
do líquido do que para dentro da fase gasosa. O resultado final é os alvéolos se tornam menores. Ademais, a tensão superficial
equivalente a uma tensão na superfície, que tenta diminuir sua cresce com o afastamento de suas moléculas, ou sej a, é grande
área. A Fig. 4 1 .2 demonstra o conceito de tensão superficial. A em alvéolos maiores. Observou-se que o surfactante pulmonar,
unidade da tensão superficial é força aplicada por unidade de agindo sinergicamente com os elementos elásticos dos tecidos,
comprimento. é suficiente para assegurar a estabilidade e prevenir o colapso
Para líquidos puros e soluções verdadeiras a grandeza dessa dos pequenos alvéolos durante a expiração. Assim, concorre para
tensão de superfície é uma constante, que depende da natureza que haja um equilíbrio estável entre alvéolos grandes e peque
química do líquido e do gás envolvido, bem como da tempera nos, podendo coexistir 300 milhões de alvéolos com a mesma
tura. Considerando-se uma esfera oca, a pressão em seu interior pressão interior.
(P) pode ser predeterminada pela lei de Laplace, onde a pres Uma outra função do surfactante pulmonar, freqüentemente
são relaciona-se com o raio (R) e com a tensão superficial (T) esquecida, é colaborar para evitar o edema intersticial. Se au
da seguinte forma: P 4TIR, onde o número 4 representa du
= mentasse muito a tensão superficial na parede dos alvéolos, eles
as interfaces ar-líquido (interna e externa) . Entretanto, quando tenderiam a se fechar, aumentando a tração sobre o interstício,
somente uma superfície encontra-se envolvida, como em u m onde se encontram os vasos. Este fato facilitaria a filtração pe
alvéolo esférico revestido de líquido n a sua face interna, o nu la diminuição da pressão intersticial e conseqüente aumento do
merador tem o número 2 em lugar de 4. Considerando-se dois diâmetro dos vasos. Dessa forma, estaria aumentada a passagem
alvéolos de diferentes tamanhos conectados através de uma via de líquido do interior dos vasos para o interstício.
aérea comum, e com tensão superficial semelhante em ambos, O surfactante pulmonar é secretado por células epiteliais al
pode-se depreender, com base na lei de Laplace, que a pressão veolares especializadas chamadas de pneumócitos granulares
nos alvéolos menores seria maior do que a dos alvéolos maiores ou tipo II. Tais células se localizam nos alvéolos, armazenam
(Fig. 4 1 .3). Conseqüentemente, os alvéolos menores se esva surfactante em corpos lamelares osmofílicos e secretam seu con
ziariam nos maiores, acarretando alvéolos colapsados e outros teúdo na luz alveolar através de um processo de exocitose, es
hiperinsuflados. Contudo, tal fato não ocorre nos pulmões nor timulada por mecanismos f3-adrenérgicos. Os fosfolipídeos são
mais, pois a tensão superficial do surfactante alveolar é consi os principais componentes do surfactante, sendo os principais
deravelmente menor do que a da solução salina que recobre as constituintes a dipalmitoilfosfatidi1colina (40%), a fosfatidi1co
mucosas pulmonares. A tensão superficial do surfactante alveolar lina monoenóica (25%) e o fosfatidilglicerol ( 1 0%). A função
Ad ição de detergente:
Atração mútua quebra a tensão superficial
em todas as direções Tensão superficial
e interrompe a atração polar
entre as moléculas de água
* • Moléculas de
detergentes
Fig. 41.2 Efeito do detergente na tensão superficial. Círculos vazios, moléculas de água. Losangos, moléculas de detergentes. Em um recipiente
como o tubo teste A, as forças intermoleculares que atuam sobre uma molécula de líquido (água) em A serão iguais em todas as direções; forças
moleculares atraem para baixo, para a esquerda, para a direita e para cima. Entretanto, a molécula de água em B, situada na superfície do líquido
em contato com o ar, não sofre atração de forças iguais em todas as direções. Será atraída por moléculas de água que se encontram justo abaixo
dela e lateralmente, havendo, no entanto, relativamente poucas moléculas de gás acima dela, de modo a exercer força de atração. Por conseguin
te, maior número de moléculas atraem-na para baixo do que para cima, e, como resultado desse desequilíbrio entre forças intermoleculares, a
superfície diminui até atingir a menor área possível. A força resultante na superfície recebe o nome de tensão superficial. Em C adiciona-se um
detergente, que apresenta uma terminação polar e outra não-polar. A terminação polar é atraída pelas moléculas de água, e a não-polar i ntelTom
pe a atração polar de outras moléculas de água, reduzindo a tensão superficial. (Modificada de Leef, A.R. & Schumacker, PT. Respiratory Phy
siology. Basics and Applications, 1993 .)
626 FISIOLOGIA
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PRESSÃO (cmHp)
dição na qual o pulmão é preenchido com ar, porém não contém de surfactante se reduz (estágio 2), diminuindo a tensão super
surfactante. Pelo que foi antes discutido, pode ser observado que ficial e, conseqüentemente, a pressão para um mesmo volume
o volume pulmonar máximo é, nesse caso, bem menor do que pulmonar. Ao término da expiração as moléculas do surfactante
o obtido em situação normal, posto que um enorme número de tornam-se mais comprimidas, saindo da superfície e formando
alvéolos se encontra colabado. uma camada bimolecular. As moléculas de superfície provavel
Estudando o ramo inspiratório da curva volume-pressão, no mente continuam viáveis, reduzindo a tensão superficial, mas as
ta-se que, após a pressão de abertura ser alcançada, o pulmão outras moléculas formam um filme de surfactante que não tem
insufla-se rapidamente, mas não de forma homogênea. Essa ex utilidade (estágio 3). No início da inspiração a água ou os íons
pansão inomogênea é caracterizada por áreas pulmonares que hidratados, ou ambos, se movem para a superfície mais rapida
estão pouco insufladas, especialmente nas bases (em um indi mente do que as moléculas de surfactante, diluindo a superfície
víduo em posição ereta), ao passo que os ápices encontram-se e aumentando a tensão superficial (estágio 4). À medida que a
mais cheios. Finalmente, a expansão máxima é alcançada e to superfície do alvéolo retorna à sua área original (estágio 5), a
dos os alvéolos insuflados. As diferentes pressões de abertura concentração do surfactante na superfície e a tensão superficial
decorrem da presença de alvéolos de vários tamanhos e, pos são restauradas.
sivelmente, de diferenças na tensão superficial das respectivas A outra hipótese baseia-se na morfologia alveolar. Utilizan
unidades alveolares. A elevação da pressão durante a insuflação do-se um microscópio eletrônico observa-se que o alvéolo não
decorre do aumento progressivo dos pequenos espaços aéreos. é uma estrutura esférica, porém apresenta várias pregas (Fig.
Cumpre ressaltar a importância das forças elásticas teci duais 4 l .7). Essas pregas tornam-se mais numerosas e profundas ao
em presença de altos volumes pulmonares, prevenindo a hiper término da expiração. Não se sabe exatamente qual é a pressão
distensão alveolar. necessária para desfazer essas pregas, mas acredita-se que, du
O ramo expiratório da curva volume-pressão pulmonar é des rante a inspiração, a pressão necessária para desfazer as pregas
locado para a esquerda em relação ao ramo inspiratório, isto é, da parede alveolar é maior do que durante a expiração, quando
para uma dada pressão o volume pulmonar é maior na expira as pregas facilmente se refazem por acolamento, contribuindo
ção do que durante a inspiração. Essa separação, como já rela para a histerese pulmonar.
tado anteriormente, é denominada histerese pulmonar, e para A perda de surfactante leva à redução da complacência pul
explicá-Ia comentaremos duas hipóteses: a) a da disposição das monar, áreas de atelectasia e alvéolos cheios de transudato. Este
moléculas de surfactante durante a insuflação e desinsuflação é o quadro patológico da Síndrome do Desconforto Respira
pulmonar e b) a morfologia do alvéolo. Na Fig. 4 l .6 observa-se tório do Recém-nato, que é particularmente passível de surgir
que no estágio 1 as moléculas estão dispostas umas ao lado das em crianças prematuras, cujo sistema de produção do surfac
outras. Com o início da expiração a distância entre as moléculas tante não se encontra ainda bem desenvolvido ou funcionante.
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PRESSÃO (cmHp)
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Fig. 41.6 Relação volume versus pressão elástica do pulmão isolado. As curvas foram obtidas a partir do volume mínimo até a insuflação máxima.
A curva 2 ocorre quando os pulmões com tensão superficial (TS) normal são insuflados com ar e a seguir desinsuflados. Lateralmente, nota-se
uma representação esquemática do fluxo de surfactante durante a inspiração e a expiração. A concentação máxima de surfactante na superfície
é obtida no estágio 2. No término da expiração o fluxo de moléculas deixa a superfície (estágio 3). No início da inspiração há um rápido movi
mento das moléculas para a superfície e incremento da tensão superficial (estágio 4). O surfactante se move de volta à superfície mais lentamente
(estágio 5), retomando à tensão superficial original (estágio 1). As setas pequenas indicam a direção do fluxo do surfactante.
FISIOLOGli\
" ,.
monares, em volumes baixos é a complacência da parede tora-
cica que diminui. .
A determinação da complacência da parede toraclCa e Impor-
tante, pois pode ser alterada por diversas afecções, por exemplo,
.
cifoescoliose acentuada, anquilose vertebral, obesidade, mamas
extremamente volumosas, distúrbios abdominais acompanhados
de elevação do diafragma, para exemplificar.
neste caso o ar é i mpulsionado sob pressão para o interior do 'cica, sendo, conseqüentemente, dependentes apenas do volume
sistema respiratório, empurrando o folheto pleural visceral de gasoso e da complacência de cada componente do sistema. Os
encontro ao parietal. gradientes de pressão gerados pelas forças elásticas são indepen
A pressão intrapleural não deve ser confundida com a pressão dentes da existência ou não de fluxo aéreo.
alveolar. Durante a inspiração espontânea a pressão alveolar é Durante a movimentação do sistema respiratório, quando
subatmosférica, ao passo que se torna supra-atmosférica na expi ocone fluxo de gás, um elemento adicional ao elástico precisa
ração. Tanto ao final da inspiração, como da expiração, quando o ser vencido pela pressão motriz: a resistência ou pressão resis
fluxo aéreo é nulo, a pressão alveolar iguala-se à pressão atmos tiva. A resistência do sistema respiratório (Rrs) pode ser cal
férica. Em condições de ventilação basal a pressão alveolar cicla culada dividindo-se Pres,rs por fluxo aéreo. Pres,rs é a pressão
entre + 2 e -2 cmH20. É o gradiente entre o meio ambiente e a resistiva do sistema respiratório, ou seja, a pressão oferecida
pressão alveolar que move o ar para dentro e para fora do siste por seus componentes resistivos. A resistência das vias aéreas e
ma respiratório. A pressão alveolar é gerada da seguinte manei a resistência à movimentação dos tecidos pulmonares e parede
ra: com a contração muscular inspiratória o sistema começa a torácica contribuem para a Rrs. Semelhantemente à compla
aumentar de volume. Todavia, há uma resistência a ser vencida cência, e pelas mesmas razões, também a resistência do sistema
(discutida adiante) para que o gás chegue até os alvéolos. Con respiratório pode ser subdividida em seus componentes pulmo
seqüentemente, a dilatação dos espaços aéreos sempre precede nar e de parede.
o aporte gasoso até o final da inspiração, rarefazendo o volume
gasoso alveolar e provocando a queda de sua pressão. Durante
a expiração o processo se inverte. Resistência Pulmonar
A resistência pulmonar pode ser desmembrada em dois sub
Pressão Esofagiana componentes: a resistência das vias aéreas e a resistência teci
dual.
A maneira mais conveniente para estimar a pressão intrapleu
ral é instruir o paciente a engolir um cateter até que sua extre RESISTÊNCIA DAS VIAS AÉREAS
midade atinja a porção inferior do esôfago torácico. O cateter A resistência das vias aéreas depende do fluxo de ar no in
possui um balonete (comprimento: 1 0 cm, circunferência: 3,2 terior dos pulmões. Posto que o ar é um fluido, os conceitos de
cm) de látex fino, preso à extremidade distal de um tubo de po mecânica dos fluidos podem ser diretamente aplicados à resis
lietileno (PE 240) com cerca de um metro de comprimento, ou tência das vias aéreas. Destarte, esta pode ser definida como a
através de um tubo de polietileno fino preenchido com solução razão entre o gradiente de pressão necessário para levar o ar do
salina ou água. A última técnica é, geralmente, empregada em ambiente até os alvéolos e o fluxo aéreo.
recém-natos. O volume de ar introduzido no balão deve ser de Se o ar flui através de um tubo, existe diferença de pressão
0,2-0,5 mI para que as alterações da pressão intratorácica sejam entre as suas duas extremidades. A diferença de pressão depen
adequadamente avaliadas. Volumes muito maiores podem oca de do valor do fluxo e de suas características aerodinâmicas. A
sionar contração esofagiana. baixos fluxos aéreos, as moléculas de ar fluem paralelamente às
A variação de pressão medida no balão é um índice aceitá paredes do tubo durante todo o trajeto, embora com diferentes
vel da variação de pressão intrapleural porque o esôfago locali velocidades. Esse fluxo é denominado fluxo laminar. À medida
za-se no tórax, entre os pulmões e a parede torácica, é um tubo que o ar entra no tubo, as moléculas próximas à parede aderem
de paredes delgadas, com baixa tonicidade, e apresenta pouca à mesma e, conseqüentemente, não se movem. A velocidade de
resistência à transmissão das variações da pressão intratorácica fluxo aumenta com o incremento da distância da parede em di
(exceto durante a deglutição e a ocorrência de ondas peristálti reção ao centro da luz do tubo. Em virtude da viscosidade ( J..L), a
cas, que são facilmente identificáveis). velocidade das camadas subseqüentes torna-se lenta e cada vez
Com o objetivo de reduzir os erros de medida, é fundamen menor à medida que se aproxima da parede. A velocidade máxi
tal conhecer os seguintes dados: 1 ) a relação volume-pressão do ma é alcançada no centro do tubo. Na região central, a velocidade
balonete para que durante as medidas de pressões esofagianas é aproximadamente uniforme, as forças viscosas são desprezí
o mesmo seja preenchido com volume gasoso adequado e, 2) veis, e a pequena força inerciaI é equihbrada pelo gradiente de
complacência e volume de ar do sistema transdutor de pressão pressão. A camada limite é a região adjacente à parede do tubo
tubo-balonete. que se estende até a região de fluxo principal (centro do tubo).
Para posicionar conetamente o balonete no interior do esô Essa camada aumenta em espessura à medida que se percone o
fago, utiliza-se o "teste da oclusão". Tal teste consiste, basica tubo desde a entrada até atingir seu centro. Conseqüentemente,
mente, na comparação entre as pressões traqueal e esofagiana quando o fluxo laminar estiver totalmente estabelecido, a es
durante esforço inspiratório de encontro às vias aéreas ocluídas pessura da camada limite é igual, ou aproximadamente igual,
ao término da expiração basal. Essas pressões não devem diferir ao raio do tubo (Fig. 4 1 .8).
entre si em mais de 5 % . Quando o fluxo é laminar, uma vez que as dimensões do
tubo permanecem inalteradas, o gradiente de pressão propul
sora (�P) para produzir determinado fluxo (V ' ) é diretamente
proporcional à viscosidade do fluido. Logo, P = Kj V ' , on
PROPRIEDADES RESISTIVAS DO
•
E��
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i--_M-
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i
I
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I ...
COMPRIMENTO DE ENTRADA (Le)
Fig. 41.8 Representação esquemática de um tubo com fluxo laminar. Evidencia-se o crescimento da camada limite até atingir o centro do tubo.
Observa-se o perfil de velocidade parabólico. O comprimento de entrada (Le) é a distância entre o ponto de entrada do tubo e o local onde se
estabelece o perfil de velocidade parabólico. (Modificada de Pedley et aI., 1986.)
de importância na determinação da resistência ao fluxo. Se o Para que se possa, de maneira aproximada, diferenciar se um
comprimento for aumentado em quatro vezes, a pressão deverá fluxo tem comportamento laminar ou turbilhonar, utiliza-se o
ser quadruplicada para manter constante o fluxo. No entanto, número de Reynolds, Re, dado por:
se o raio do tubo for reduzido à metade, ela deverá ser aumen 4r ' d
tada 1 6 vezes para que o fluxo não varie. Hagen em 1 83 9 e, Re ==
V ·
'TT ' TJ
dados sob a forma da equação que conhecemos como lei de
onde:
Hagen-Poiseuille (ou mais comumente como lei de Poiseuil d é a densidade do gás, v representa a velocidade, r corresponde
le) para fluxo laminar:
ao raio e TJ é a viscosidade do gás.
O número de Reynolds depende da geometria do tubo e das
propriedades físicas do gás e do fluxo aéreo. Quanto maior Re
mais intensas são as forças inerciais e maior será a distância ao
onde V' é o fluxo aéreo, L é o comprimento do tubo, r é seu raio longo do tubo necessária para se estabelecer o fluxo de Poiseuille.
e TJ a viscosidade do fluido. Na maior parte das vezes o fluxo mostra-se laminar quando Re
Como a resistência ao fluxo (R) é a pressão dividida pelo estiver entre O e 2.000; crítico entre 2 .000 e 4.000; transicional
fluxo, temos: no intervalo de 4.000 e 1 0.000 e turbulento quando Re superar
1 0.000 (Fig. 4 1 .9).
A árvore brônquica compõe-se de um sistema de tubos com
plicado, com seus diversos ramos, variações de calibre, e su
Outra característica do fluxo laminar é que o gás no centro perfície das paredes irregulares. Em um sistema que se ramifica
do tubo move-se duas vezes mais rápido do que a velocidade rapidamente, como o pulmão, o fluxo laminar ocorre somente
média. Esta variação de velocidade através do diâmetro do tubo nas pequenas vias aéreas, onde Re é muito pequeno. Na maior
é conhecida como "perfil de velocidade", sendo parabólico no parte da árvore brônquica o fluxo tem característica transicional,
fluxo laminar (Figs. 4 1 . 8 e 4 1 .9). podendo ocorrer turbulência na traquéia, especialmente durante
Quando o fluxo aumenta, as linhas de fluxo não mais fluem o exercício, quando as velocidades de fluxo são grandes. Nesta
concentricamente, mas se desintegram e comportam-se de ma situação deve-se utilizar a equação de Rohrer, onde a pressão é
neira desorganizada. Esse comportamento aleatório das linhas determinada pelo fluxo e pelo seu quadrado: P KJ . V' + K2 .
V'2. A constante K J está relacionada com o fluxo laminar e in
=
A. LAMI NAR
)
)
)
)
)
)
)
)
)
�P a K,
B. TURBI LHONAR
respiratório: aumenta na inspiração com o incremento do vo senta um dos fatores que determinam o raio das vias aéreas. Em
lume pulmonar e encurta durante a expiração. Todavia, a área outras palavras, como a resistência é inversamente proporcional
de seção transversa dos diversos segmentos das vias aéreas é o à quarta potência do raio, pequenas alterações deste acarretam
principal determinante da resistência. Assim que as vias aéreas grandes modificações na resistência. O segundo fator está rela
penetram em direção à periferia dos pulmões, elas se tornam cionado com a tração das pequenas vias aéreas, que ocorre em
mais numerosas e estreitas. Com base na equação de Poiseuille, presença de grandes volumes pulmonares (interdependência)
onde a resistência é inversamente proporcional ao raio à quarta (Fig. 4 1 . 1 1 ) .
potência, seria natural pensar que a maior parte da resistência COMPLACÊNCIA DAS VIAS AÉREAS. As propriedades de
estivesse nas vias aéreas mais estreitas. Entretanto, demons retração elástica do pulmão afetam o calibre dos bronquíolos e
trou-se que o local de maior resistência situa-se ao nível dos brônquios através de dois mecanismos: o primeiro, por promo
brônquios segmentares e subsegmentares, e que os bronquíolos ver tração direta das pequenas vias aéreas intrapulmonares (Fig.
mais finos contribuem relativamente pouco para a resistência 4 1 . 1 1 ) , e o segundo, por ser um dos dois determinantes da pres
total. A resistência de todas as vias aéreas situadas distalmente são intrapleural, que origina a pressão ao redor dos brônquios
à 12: ger ação (que tenham diâmetro menor que 2 mm) repre extrapulmonares, distendendo-os. A estrutura de suporte de cada
senta somente 10% do total, em decorrência do grande número segmento da via aérea também influencia a complacência.
de vias em paralelo (Fig. 4 1 . 1 0) . Assim, a pequena resistência DENSIDADE E VISCOSIDADE. A densidade e a viscosi
oferecida pelas vias aéreas periféricas deve ser considerada com dade do gás inspirado afetam a resistência oferecida ao fluxo.
cuidado na detecção precoce de doença das vias aéreas: elas A resistência aumenta durante um mergulho profundo, porque a
constituem a "zona de silêncio", e é provável a instalação de maior pressão intrapulmonar eleva a densidade do gás. Por ou
doenças graves das pequenas vias aéreas antes que as determi tro lado, esta é reduzida quando se inspira mistura de gases com
nações da resistência possam dar sinais de anormalidade. Inte baixa densidade (hélio-02). O fato de alterações na densidade,
ressante ressaltar que o volume de gás contido nas vias aéreas em vez de na viscosidade, terem tal influência sobre a resistência
nas quais ocorre a maior parte da resistência é inferior a 3 % do demonstra que o fluxo aéreo não é puramente laminar, sobre
volume de gás torácico. tudo nas vias aéreas de médio calibre, onde se situa o principal
VOLUME PULMONAR. A resistência das vias aéreas cai com local de resistência.
o aumento do volume pulmonar devido a dois fatores, ambos MUSCULATURA LISA DOS BRÔNQUIOS. A contração da
relacionados com a distensibilidade das vias aéreas periféricas. musculatura lisa dos brônquios estreita as vias aéreas e aumenta
O gradiente de pressão transmural através de suas paredes repre- a resistência. Isto pode ocorrer via reflexa, através do estímulo
632 FISIOLOGIA
�
TERMINAIS
a: SEGMENTARES •
divíduo sentado em um pletismógrafo, realizando manobras de
capacidade vital forçada. O indivíduo é instruído a realizar dife
0,02
•
• rentes esforços expiratórios, os quais são evidenciados no traça
•
• • • •• do de pressão esofagiana (pressão intrapleural). A partir desses
O 5 10 15 20 dados é possível relacionar graficamente fluxo aéreo em função
Geração das Vias Aéreas da pressão i ntrapleural para cada volume pulmonar (Fig. 4 1 . 1 2).
No indivíduo normal, em presença de volume pulmonar elevado
(superior a 80% da capacidade vital forçada), o fluxo aéreo au
menta com o incremento da pressão, sem que seja atingido um
Fig. 41.10 Resistência das vias aéreas, Note que os brônquios de tama claro limite ao fluxo. Entretanto, quando o volume pulmonar for
nho intermediário contribuem com a maior parte da resistência, sendo
menor, o fluxo inicialmente aumenta com a elevação da pressão,
o papel dos menores bastante restrito,
até atingir um valor máximo, e não mais se eleva, mesmo que
ocorram aumentos consideráveis da pressão à custa da contra
ção mais vigorosa dos músculos expiratórios. Resumidamente,
a limitação do fluxo expiratório, isto é, o surgimento do platô,
de receptores, na traquéia e grandes brônquios, por agentes irri só ocorre quando em presença de volumes pulmonares menores
tantes como o fumo. O tônus do músculo liso está sob controle do que 80% da capacidade vital.
do sistema nervoso autônomo. A estimulação simpática, assim Na parte direita da Fig. 4 1 . 1 2 nota-se, na curva fluxo-volu
como os agentes farmacológicos simpaticomiméticos (isopro me, que o pico de fluxo é alcançado precocemente (logo após o
terenol, adrenalina, noradrenalina), causam broncodilatação, início da expiração). Posteriormente, o fluxo aéreo diminui com
reduzindo a resistência. Contrariamente, a atividade parassim a redução do volume pulmonar. Durante os primeiros 20% do
pática, à semelhança da aceti1colina, causa broncoconstrição. volume expirado, o fluxo máximo depende do esforço gerado
O sistema nervoso não-adrenérgico não-colinérgico (NANe) pelo paciente. Significa que, durante os primeiros 20% do volu
inibitório é responsável pelo relaxamento dos músculos lisos me total expirado, quanto maior o esforço do indivíduo, maior é
das vias ãéreas, e o sistema NANC excitatório acarreta bron o fluxo alcançado (esforço-dependente). Uma vez eliminados os
coconstrição. A resistência das vias aéreas pode também ser primeiros 20% da capacidade vital, o fluxo durante o restante da
elevada por outros fatores que diminuam a luz da árvore tra capacidade vital independe do esforço, mas depende da retração
queobrônquica, tais como edema das mucosas e secreções abun elástica pulmonar, assim como das dimensões das vias aéreas
dantes, dentre outros. (esforço-independente) .
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O ���--�--�
-20O 20 40 60 1 00 75 50 25
P RESSÃO PLEURAL (cmHp) CAPACIDADE VITAL (%) Fig. 41.12 Curvas pressão-fluxo isovolumétricas (diagrama es
querdo). Curvas volume-fluxo (diagrama direito). Vm;ix = flu
xo expiratório máximo. CV, capacidade vital.
passiva, considere para um determinado volume pulmonar uma redução da pressão interna ao longo do tubo se acentua, de modo
pressão de retração elástica do pulmão (Pel) de + 1 0 cmH2 0 e que num determinado ponto a pressão das vias aéreas se iguala
uma pressão na cavidade pleural (Ppl) de - 8 cmH20 (Fig. 4 l . 13). à Ppl, ambas com um valor de + 25 cmH2 0: este é o ponto de
As vias aéreas estarão distendidas, pois a Ptm terá um valor po igual pressão. A vazante dele, a via aérea fica comprimida, pois
sitivo. Durante uma expiração forçada, qualquer aumento da Ppl a sua pressão interna é menor do que a externa (valor negativo
influencia igualmente a Palv, pois Palv = Ppl + Pel. Considere, de Ptm). Nessa situação, o segmento comprimido do tubo passa
a seguir, uma situação onde o volume pulmonar é o mesmo (Pel a limitar o fluxo, sendo que qualquer aumento adicional da Ppl,
+ 10 cmH20), porém o esforço expiratório mais intenso eleva embora se traduzindo por aumento da Palv, aumenta a compres
a Ppl a + 25 cmH20: com isto a Palv aumenta para + 3 5 cmH20, são dinâmica do segmento do tubo próximo do ponto de igual
=
e o fluxo expiratório também sofre incremento. Neste exemplo, pressão (aumenta a resistência do segmento comprimido), não
o fluxo aéreo é maior do que na situação anterior. Nota-se que a incrementando o fluxo aéreo. Cumpre ressaltar que o ponto de
O O
+0,25 +3
+5
-8 -8 +25
+0,5 +1 0
+15
-8 -8 +25 Contração dos
músculos
+20 i ntercostai s e
músculos
� + 25 +- acessórios da
-8 -8 +25 +25 expiração
Fig. 41.13 Representação esquemática da compressão dinâ
+1
mica das vias aéreas e o conceito de ponto de igual pressão.
À esquerda, expiração passiva. Pressão intrapleural (Ppl) é
-
igual pressão se move das grandes para as pequenas vias aéreas, TRABALHO ELÁSTICO. O trabalho elástico é aquele neces
já que, aumentando o esforço muscular, a pressão intrapleural sário para vencer as forças de retração elástica da parede torácica,
se eleva, mas como o volume pulmonar cai, a pressão de retra parênquima pulmonar e tensão superficial dos alvéolos. Ele não
ção elástica diminui. Conseqüentemente, ocorrerá a compres é dissipado sob a forma de calor, sendo todo armazenado como
vias aéreas desde os alvéolos até o ponto de igual pressão é igual lado construindo-se uma curva volume-pressão estática. À me
à pressão alveolar menos a pressão pleural, sendo esta diferença dida que o pulmão é insuflado, a curva V-P forma a hipotenusa
correspondente à pressão gerada pela retração elástica do pulmão de um triângulo, cuja área representa o trabalho elástico (Fig.
(Pel), tendo valor constante para cada volume pulmonar. Como 4 1 . 1 4). Se construirmos a curva volume-pressão de um paciente
o fluxo máximo é constante em cada volume (limite de fluxo), cuja complacência está diminuída, esta apresentar-se-á deslocada
pode-se escrever: [(Palv - Ppl)N' = PeIN' = constante = Res], para a direita, indicando pulmão endurecido (Fig. 4 1 . 1 5). Para
onde Res é a resistência do segmento das vias aéreas a montante um mesmo volume corrente, a área do triângulo está aumenta
do ponto de igual pressão. da. Isso indica que maior trabalho elástico está sendo realizado
contra o componente elástico e maior energia potencial é arma
RESISTÊNCIA TECIDUAL zenada para a expiração.
ser definido como Wres J Pres . dV. Wres pode ser calculado
A resistência teci dual é determinada pelas perdas energéticas TRABALHO RESISTIVO. O trabalho resistivo (Wres) pode
geradas pela viscosidade (i. é, atrito) pertinente à movimenta
a partir da curva volume-pressão dinâmica (Fig. 4 1 . 1 4). Note
=
///j
/J
1
Trabalho Respiratório
O trabalho pode ser definido como força X distância ou pres
/
/ 2
0
/
/
Como a expiração é usualmente passiva, durante a respiração
=
IlV IlV
Fig. 4 1 . 1 5 Curva volume-pressão. Observa-se o trabalho resistivo (Wres) aumentado no paciente obstrutivo e o elástico elevado no restritivo.
s-
periféricos OCOlTem processos inversos: o sangue capilar recebe
r
STRESS RELAXA TlON CREEP
CO2 proveniente dos tecidos e a eles cede parte do O2 que trans
porta. As trocas gasosas entre alvéolos e sangue ou entre sangue
e tecidos resultam de gradientes de pressões parc iais .
r
DEFORMAÇÃO DEFORMAÇÃO Pressão Parcial de um Gás
s--
A pressão parcial de um gás em uma mistura gasosa COlTes
ponde à pressão que ele exerceria se estivesse sozinho. Assim,
conhecendo-se a concentração de um determinado gás em uma
mistura gasosa é possível calcular sua pressão parcial:
FORÇA FORÇA
PX = FX X PT
onde: PX é a pressão parcial do gás X na mistura, FX correspon
Fig. 4 1 . 16 Elementos viscoelásticos quando deformados apresentam de à concentração do gás X na mistura (expressa como fração
redução da tensão "stress relaxation". Sob tensão constante, o corpo
-
decimal) e PT representa a pressão de todos os gases na mistu
tende a se deformar com o decorrer do tempo "creep".
-
ra. Por exemplo:
P02 0,2093 X PB = 1 59, 1 mmHg
submetidos a uma deformação constante, apresentam redução na
=
dissolvida naquele líquido e não contempla formas do gás com seja, corresponde a 705 mmHg. Essa pressão subatmosférica
binadas quimicamente a outros compostos. faz-se útil na remoção de gases de locais impróprios para eles
(exemplo: remover CO2 da cavidade abdominal após cirurgia
laparoscópica, o qual pode estar sob pressão atmosférica ou
Pressão Parcial dos Gases no supra-atmosférica).
Organismo
Considerando a composição do ar atmosférico seco (FO, =
0,0004 e FN2 0,790 1 ) e as trocas gasosas, po
Espaço Morto Anatômico
0,2093, FC02 = =
dem ser calculados (e medidos) os valores das pressões parciais ° volume de gás contido nas vias aéreas de condução (do
dos gases no organismo de um ser humano normal. A saber: nariz aos bronquíolos terminais) corresponde ao espaço morto
Na Tabela 4 1 . 1 verifica-se que a umidificação do oxigênio anatómico, porquanto, como já foi visto, não há trocas gaso
nas vias aéreas extrapulmonares faz com que a P02 na traquéia sas nesse segmento das vias aéreas. Em cada inspiração (Fig.
seja menor do que no ambiente seco. A P02 alveolar (PA02) 4 1 . 1 7), cerca de 2/3 do volume corrente alcançam os alvéolos
média de todos os alvéolos, bem como entre a inspiração e a e o 1 /3 final fica retido no espaço morto, ou seja, a compo
expiração, corresponde a 1 00 mmHg e depende do aporte deste sição do gás aí contido é muito semelhante à do ar ambiente.
gás pela ventilação e sua remoção pela perfusão dos alvéolos. Cumpre ressaltar, também, que o primeiro gás a atingir os al
A queda de cerca de 5 mmHg entre a PA02 média e a pres véolos na inspiração corresponde àquele deixado no espaço
são parcial de oxigênio arterial (Pa02) deve-se a três fatores: morto pela expiração precedente. Em outras palavras, ao final
( 1 ) contaminação do sangue do ventrículo esquerdo pelo san da expiração a composição do gás no espaço morto é similar
gue venoso das veias mínimas do coração; (2) shunt entre as à do gás alveolar.
circulações brónquicas (pressão sistêmica) e pulmonar (baixa Normalmente, o volume do espaço morto aproxima-se de
pressão); e (3) efeito shunt, quando sangue venoso atraves 1 50 mI, podendo chegar a cerca de 220 mI ao final da inspiração
sa capilares pulmonares de alvéolos não ventilados. Deve ser profunda e a 1 1 0 mi ao término da expiração forçada. Multipli
aqui lembrado que as trocas gasosas somente ocorrem a nível cando-se o volume do espaço morto pela freqüência, obtém-se
capilar, onde a barreira entre o sangue e as células dos tecidos a ventilação do espaço morto (VEM ) '
é muito delgada. A queda da Pa02 para a pressão venosa mis Tradicionalmente, realiza-se a medida do espaço morto ana
ta reflete a quantidade de oxigênio cedida pelo sangue arterial tómico por meio do método de Fowler. Esta técnica requer a
para os tecidos. análise contínua da concentração de um gás inalado e exalado e
A pressão parcial de CO2 no meio ambiente e na traquéia é a determinação simultânea do fluxo aéreo (na abertura das vias
muito baixa (0,3 mmHg). Já no nível alveolar médio, a PAC02 aéreas) e, conseqüentemente, do volume de gás mobilizado. A
se equipara à pressão parcial arterial de CO2 (PaC02), que dei Fig. 4 1 . 1 8 mostra esquematicamente a realização do teste, utili
xa a região alveolar. A diferença enu'e a PaC02 e a pressão par zando-se nitrogênio. ° indivíduo inicialmente inspira oxigênio
cial do CO2 no sangue venoso misto representa o adicional de puro, e a medida do percentual de nitrogênio no gás inspirado
pressão parcial determinado pelo CO2 transportado dos tecidos cai a zero. Durante a expiração subseqüente nota-se que, ini
D 1 50 m I de ar ambiente
�. .
1 50 mi de ar alveolar
..
:
. '' ..
'.
::
'
. '.' .
ESPAÇO MORTO
Ã
REGI O DE
- TROCAS
GASOSAS
Ã
à Ã
INSPIRAÇ O FIM DA FIM DA
INSPI RAÇ O EXPI RAÇ O
Fig. 41.17 Ventilação alveolar e espaço morto anatômico. A zona respiratória é representada pelo balão e o espaço morto anatômico, pelo tubo. A
cada ciclo respiratório o indivíduo inspira cerca de 450 mI. Na realidade, os primeiros 150 mI a atingirem a zona respiratória provêm do espaço
morto anatômico, ou seja, têm a composição aproximada do gás alveolar. Os demais 300 mI apresentam a composição do ar ambiente umedecido.
Ao final da inspiração já houve a mistura completa, com transformação da mistura inicial em gás alveolar. Enquanto isso, 1 50 mI de ar ambiente
umedecido permanecem no espaço morto. Assim, durante a expiração subseqüente os primeiros 1 50 mI de gás eliminados têm essa composição,
ao passo que os demais 300 mI representam gás alveolar. Ao final da expiração 1 5 0 mi desse tipo de gás preenchem o espaço morto.
Fluxõmetro
Volume
I nspirado
% N2 1 Ar Oxigênio-!
80 -;-.-.... ci
Medidor e Nitrogênio
60 N
2
Alveolar
40
20
o
..... Inspiração -+ ___ Expiração __
Fig. 4 1 . 1 8 Medida do espaço morto anatômico por meio do método de Fowler. O painel superior mostra um traçado esquemático do fluxo
aéreo inspirado e expirado durante o teste. Para facilidade de compreensão, foi desenhado um fluxo constante, embora na prática este perfil não
seria encontrado. No painel inferior a concentração de nitrogênio foi medida em um único ciclo respiratório após a inspiração de oxigênio a
1 00%. (Modificada de Forster II, R.E., Dubois, A.B., Briscoe, w.A. and Fisher, A.B. The Lung. Chicago. Year Book Medical Publishers, 3rd
ed. , 1 986.)
FISIOLOGIA
não participam da troca de gases. Por exemplo: uma certa região Colocando-se VA em evidência, obtém-se a equação de Bohr:
do pulmão é ventilada, mas não perfundida: o gás que chegou a
esses alvéolos não pode participar das trocas e é, funcionalmen V
. VE FEC0
= --...
-
•
2
.:..: ---=-
te, "morto". Conclui-se, então, que o espaço morto fisiológico é FAC02
A
/
VOLU M E FREQÜÊNCIA
VENTI LAÇÃO
CORRENTE RESPIRATÓRIA
� /
X
B x 32 = 8.000 mllmin
t" . .....................
Mnn n n n n n nnnn n n n
VEM 4.800 ml/min
! JLU_VJIIV_V_VJLILVIU_VJLIL\I
=
SOO mi
V. 3.200 mllmin
���� =
�A I� 30 segundos ----...1
GX
t
16 = 8.000 ml/min
. . .. .
VEM = 2.400 mVmin
!
SOO mi
L_
SOOml ml/minVe A = 5.600 ml/min. VEm C, VC 1.000 mi, f
= =
372, 1 970.
pulmonar. O O2 está sendo continuamente removido e o CO2 HYATT RE. Forced expiration ln: Handbook of Physiology. The Res
continuamente acrescentado ao gás alveolar pelo sangue da cir piratory System. Mechanics ofBreathing. Farhi, L.E. & Tenney, S.M.
culação pulmonar. Assim, o aporte de oxigênio e a remoção de (eds) Bethesda. American Physiological Society, pp. 295-3 14. 1 986.
gás carbônico são assegurados pela ventilação alveolar. INGRAM JR RH & PEDLEY TJ . Pressure-flow relationships in the
Denomina-se ventilação alveolar à porção da ventilação glo lungs. ln: Handbook of Physiology. The Respiratory System. Mecha
bal que, a cada minuto, alcança a zona respiratória. Na Fig. 4 1 . 1 9 nics ofBreathing. Macklem, P.T. & Mead, J. (eds) Bethesda. Amerícan
pode ser vista a importância do adequamento do volume cor Physiological Society, pp. 277-293. 1 986.
rente (VC) e da freqüêJ?cia respiratória (f) na determinação das LEEF AR & SCHUMACHER PT. Respiratory Physiology. Basics and
Applications. Philadelphia, W.B. Saunders Company, 1 st ed., 1 993.
ventilações alveolar (VA ) e do espaço morto (VEM )' Nos três
exemplos mostrados a ventilação global corresponde a 8 L/min
LEVITZKY MG. Pulmonary Physiology (Lange Physiology). New
York. McGraw-Hill Medical, 6th ed., 2002.
e o volume do espaço morto (VEM) é de 1 50 mI. No painel B es LUMB A. Nunn 's Applied Respiratory Physiology. Oxford, Elsevier
tá representada a condição normal. Observe que o volume cor Butterworth-Heinemann, 6th ed., 2005.
rente equivale a SOO mI e a freqüência, a 1 6 ciclos por minuto. MACKLEM PT & MEAD J (eds.). Handbook of Physiology. The Res
A ventilação do espaço morto corresponde a 1 6 cpm x 1 50 mi, piratory System. Mechanics of Breathing. Bethesda. American Phy
ou seja, 2,4 L/min, e a ventilação alveolar é igual a (SOO mI siological Society, 1 986.
1 50 mI) X 1 6 cpm, isto é, 5,6 L/min. Já no painel A existe uma
-
- 1 0 cmHp • ••
1 50 •
•
•
•
•
•
•
LU •
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BASE ÁPICE
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+10 -10 - 30 O
- 20 5 10 15 20 25
�
PRESSÃO I NTRAPLEURAL (cmHp) DISTÂNCIA AO LONGO DO PULMÃO (cm)
Fig. 42.2 Esquema demonstrando as diferenças regionais de ventilação Fig. 42.3 Relação entre perfusão e diferentes regiões ao longo do pulmão.
ao longo do pulmão. Em um indivíduo de pé ou sentado, o pulmão Observe que a perfusão diminui da base para o ápice pulmonar. (Modi
assenta sobre a pleura diafragmática devido ao seu peso, ao passo que ficada de West, J.B. Respiratory Physiology. Lippincott Williams and
pende da pleura apical. Portanto, a pressão intrapleural é menos subat Wilkins, 7th ed., 2005.)
mosférica na base (-2,5 cmHp) do que no ápice (-10 cmHp; conse
qüentemente, os alvéolos do ápice se encontram mais insuflados do que
os da base ao final da expiração e em uma região menos íngreme da
curva volume pressão do pulmão. Assumindo-se que a contração voluntários, solução salina fisiológica, na qual foi borbulhado
vs.
muscular inspiratória gere -3,5 cmHp (áP) em toda a superfície xenônio radioativo. Ao atingir o pulmão, o xenônio passa para
pleural, a variação de volume (áV) será maior na base, pois a compla os alvéolos, em decorrência de sua baixa solubilidade. A quan
cência de seus alvéolos (região íngreme da curva volume X pressão)
supera a dos alvéolos apicais. tificação da radiação é efetuada bilateralmente por duas fileiras
verticais de colimadores colocados às costas dos indivíduos (da
mesma forma como foram usados nos experimentos para estudar
a ventilação) durante uma parada respiratória voluntária. Natural
DISTRIBUIÇÃO DA PERFUSÃO mente, a grandeza da radiação é proporcional à perfusão daquela
região. A Fig. 42.3 mostra o resultado desse experimento, reali
No pulmão há dois tipos de circulação: a pulmonar e a brôn zado em indivíduos em posição ereta. Como pode ser visto, a
quica (sistêmica). A primeira tem por função principal a arteria perfusão decai quase l inearmente da base para o ápice.
lização do sangue por meio de trocas gasosas ao nível alvéolo A inomogeneidade da perfusão pulmonar pode ser explicada
capilar, ao passo que a segunda nutre as estruturas pulmonares, pelas diferenças de pressão hidrostática no interior dos vasos
com exceção dos ductos alveolares e alvéolos (banhados pela sanguíneos. Primeiramente, considere que o sistema arterial
circulação pulmonar), não participando da hematose. Normal pulmonar seja uma coluna contínua de sangue, sendo a distância
mente, o fluxo é grande na circulação pulmonar (igual ao débito entre o ápice e a base igual a 30 cm, ou seja, a diferença de pressão
cardíaco), com resistência e níveis pressóricos baixos, enquanto hidrostática será de 30 cmH20, ou 23 mmHg (l ,36 cmH20 1
na circulação brônquica a pressão é sistêmica, com resistência mmHg). Esta é uma diferença de pressão grande para um sistema
=
elevada e perfusão reduzida. de baixa pressão, como o pulmonar, e a Fig. 42.4 mostra seus
Os vasos pulmonares normais têm paredes delgadas e grande efeitos sobre a perfusão regional do pulmão.
complacência. Estando circundados pelo parênquima pulmonar, Pode haver uma região no ápice do pulmão (zona 1, Fig. 42.4)
sofrem grande influência das variações da pressão alveolar resul onde a pressão arterial pulmonar não consiga vencer a coluna
tantes dos movimentos respiratórios. As pressões sistólica, dias hidrostática e seja inferior à pressão alveolar (próxima à atmos
tólica e média na artéria pulmonar equivalem, respectivamente, a férica, como antes discutido). Neste caso os capilares são espre
25, 1 0 e i S mmHg, e a pressão média no átrio esquerdo equivale midos e não há perfusão. A zona 1 não existe em um indivíduo
a 1 0 mmHg. Pelo exposto até aqui, depreende-se que a circu normal, posto que a pressão arterial pulmonar é suficiente para
lação pulmonar pode sofrer importantes influências de pressões lançar sangue até aquela altura, mas pode ocorrer em situações
hidrostáticas e, conseqüentemente, não ser uniforme em todo patológicas, como a hemorragia grave, ou quando a pressão alveolar
o pulmão. é alta, como na ventilação artificial sob pressão positiva.
A desigualdade da perfusão pulmonar foi, de fato, compro Um pouco mais abaixo no pulmão (zona 2 , Fig. 42.4) a pressão
vada experimentalmente. Para tanto, injetou-se, na veia de arterial pulmonar já é francamente maior do que a pressão alveolar.
FISIOLOGIA
ZONA 1
PA > P, > P,
p.
�AALVEOLAR
P,
\
ARTER I A L
/
VENOSA
ARTÉRIA VEIAS
PULMONAR --..;;l1Oo' PULMONARES
ZONA 3
P' > P' > PA
Fig. 42.4 Modelo para explicar as diferenças regionais de perfusão ao longo do pulmão. Na zona 1 a pressão alveolar (PA) seria superior à pressão
arterial pulmonar (Pa), e os capilares estariam colapsados. Na zona 2 a pressão arterial pulmonar suplantaria a pressão alveolar, mas esta ainda
seria superior à pressão venosa pulmonar (PJ, resultando uma certa dificuldade ao fluxo sanguíneo. Na zona 3 tanto a pressão arterial quanto a
pressão venosa pulmonares seriam maiores do que a pressão alveolar, e a perfusão não seria dificultada. (Modificada de West, I.B. Respiratory
Physiology. Lippincott Williams and Wilkins, 7th ed., 2005.)
A pressão venosa pulmonar ainda é, entretanto, incapaz de suplantar igual à unidade no ponto onde as retas se cruzam; e superior a I
a pressão alveolar, ou seja, a porção venosa dos capilares pulmo deste ponto para cima, como mostrado pela curva da Fig. 42.5.
nares encontra-se praticamente fechada. O fluxo sanguíneo faz-se, Em resumo, a base é mais ventilada e perfundida do que o ápice,
portanto, pela diferença de pressão entre a artéria e o alvéolo. Tendo mas a relação ventilação-perfusão é maior no ápice (Fig. 42.6).
em vista que a pressão arterial vai aumentando em direção à base
pulmonar e a pressão alveolar é a mesma em todo o pulmão, a dife
rença de pressão responsável pelo fluxo aumenta progressivamente.
Além disso, há crescente recrutamento de capilares (isto é, capilares
previamente fechados se abrem) ao longo desta zona.
Na zona 3 (Fig. 42.4) a pressão venosa também já excede a pressão
0, 1 5
�
2 ;ii.
influenciadas pela postura. No indivíduo em decúbito dorsal,
Q. Q)
:J E �
0 .2
por exemplo, a coluna hidrostática de sangue é representada o §?
pela distância que vai da coluna dorsal ao esterno. Sendo essa
.« Q) »,
Ü' 'O
O
pequena, diminuirá a desigualdade de perfusão.
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> � C
(f)
DISTRIBUIÇÃO DA RElAÇÃO BASE
»,
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VENTILAÇÃO.PERFUSÃO 5 4 3 2
N Ú M E RO DA COSTELA
Fig. 42.6Resumo das diferenças regionais da ventilação (à esquerda) e da perfusão (à direita) em um indivíduo normal em decúbito dorsal.
(Modificada de Levitzky, M.G. Pulmonary Physiology (Lange Physiology). New York: McGraw-Hill Medical, 6th ed., 2002.)
O2 1 50 torr
= O2 1 50 torr
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B. A. C.
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':-=====:-:==------:-=-=�.::-/
:-:---::-:=-::-:
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l' CO 45 torr
= CO2 45 torr \o
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__ 0�2 40 torr�
C--' =
Fig. 42.7 Efeito das alterações ventilação-perfusão na P02 e PC02 de uma unidade alveolar. Descrição da figura no texto. (Modificada de West,
J.B. VentilationlBloodflow and Gas Exchange. Oxford: B lackwell, 1990.)
644 FISIOLOGIA
obstrução no fluxo sanguíneo (Fig. 42.7). Em uma unidade alve pünto C). Em resumo., quando a ventilação. üu perfusãü de uma
olar normal a relação ventilação-perfusão é em tomo de I e a unidade alveülar é alterada, sua cümpüsiçãü gasosa se aprüxima
pressão. parcial de O2 e CO2 é de 1 00 mmHg e 40 mmHg, respec daquela do. sangue venoso misto. üu, inversamente, daquela do.
tivamente (pünto A). Este resultado decürre do. equilíbrio. entre as ar inspirado..
pressões parciais desses gases no ar inspirado. e no. sangue venoso. Os püssíveis valüres assumidüs pelas pres�õe� parciais de
misto.. ° ar inspirado tem uma P02 de 1 50 mmHg e uma PC02 üxigênio e dióxido de carbono. em diferentes VA/Q püdem ser
de zero.. ° sangue venüsü misto. que entra na unidade alveülar mais bem observadüs no. diagrama 02 -C02 (Fig. 42.8). Neste
tem uma P02 de 40 mmHg e uma PC02 de 45 mmHg. A P02 gráfico. a P02 é cülocada no. eixo. das abscissas e a PC02 no. eixo.
alveülar de 1 00 mmHg é determinada por um equilíbrio entre a das ürdenadas. No. pünto normal temos a cümposição do gás
adição de O2 pela ventilação e sua remüçãü pelo fluxo. sanguíneo. normal (P02 1 00 mmHg e PC02 = 40 mmHg). ° pünto 00
A PC02 alveülar nürmal é aj ustada de müdü semelhante. Imagi representa a cümpüsiçãü do. ar inspirado. (P02 = 1 50 mmHg e
=
nemüs uma situação ünde a ventilação. sej a progressivamente PC02 O mmHg) e o. ponto. 0, a do. sangue venüsü misto. (P02
übstruída e o. fluxo. sanguíneo está i ntacto. (püntü B). Observa 40 mmHg e PC02 45 mmHg). A linha que une ° a 00 , passando
= =
se que o. O2 cairá e que o CO2 subirá. Quando. a ventilação. für pür normal, müstra as alterações na composição do gás alveolar
=
abolida pür cümpleto (relação. ventilaçãü-perfusãü igual a zero.) , e no. sangue venoso. misto. que püdem ücürrer quando. a relação.
a P02 e a PC02 do. gás alveülar e do sangue do. capilar terminal VA/Q está abaixo üu acima do nürmal. Interessante notar que esta
passam a ser as mesmas do. sangue venüsü. Contrariamente, cüm linha indica todas as cümpüsições possíveis do. gás alveülar em
o aumento. da relação ventilação perfusão, a P02 sobe e a PC02 pulmões supridüs cüm gás de cümposição 00 e sangue venoso
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CAPÍTULO 43
TRANSPORTE DE GASE S
N O ORGANISMO
Walter Araujo Zin • Patricia Rieken Macêdo Rocco • Debora Souza Falle
As trocas de gases no organismo ocorrem por meio do fluxo de A pressão parcial de um gás X no ar seco pode ser calculada
gases, do fluxo de soluções de gases e da difusão de gases através pelo simples produto de sua fração decimal pela pressão baro
dos tecidos. Para tornar mais fáci l o aprendizado da impOltância métrica local (Px = Fx X PB). Por exemplo, a pressão parcial
da difusão, é necessário antes rever algumas propriedades físicas do oxigênio ao nível do mar no ar seco é igual a: P02 = 760 X
dos gases e das soluções de gases no sangue. 0,2093 1 59, 1 mmHg. A pressão barométrica é, portanto, um
fator fundamental no cálculo da pressão parcial de um determi
=
1
conseguinte, estas dimensões são extremamente favoráveis à
difusão de gases. Além desses fatores, a velocidade de transfe
rência é diretamente proporcional a uma constante de difusão
que depende das propriedades dos tecidos e do gás. A constante
de difusão é proporcional à solubilidade de determinado gás em
um dado meio e inversamente proporcional à raiz quadrada do
peso molecular do gás. Tomando como exemplos o O2 e o CO2 ,
observa-se que o CO2 se difunde cerca de 20 vezes mais rapida
mente do que o O2 pelos tecidos, porque, embora seu peso mole
cular seja um pouco maior, o CO2 tem uma enorme solubilidade
)o
líquido que banha os alvéolos, epitélio alveolar, membrana basal ó" (A-a) �02 = O
Cl. 4 0 PV02
do epitélio, estroma alveolar, membrana basal do endotélio e
endotélio capilar. Visto que o oxigênio ainda precisa chegar à
20
0 ,75
molécula de hemoglobina no interior da hemácia, poderiam ser
o 0 ,25 0,5
Seg undo
acrescentados à barreira alvéolo-capilar o plasma, a membrana
celular da hemácia e seu estroma. Logo, modificações na forma
da hemácia podem acarretar aumento ou redução na difusão Fig. 43.2 Difusão de oxigênio através da membrana alvéolo-capilar.
do gás. Recentemente, constatou-se que aumento da concen
Py02 =Pressão venosa mista de oxigênio. PC02 Pressão capilar de
=
r
sentar-se reduzida em situações como enfisema pulmonar, onde
há redução significativa no número de alvéolos por destruição do
septo alveolar. Conseqüentemente, menor será a capacidade de
difusão. Qualquer situação patológica onde haj a espessamento
da barreira alvéolo-capilar reduz a difusão de gases. Pacientes
idosos, mulheres e indivíduos tabagistas também apresentam
menor capacidade de difusão.
1
N rn 44
OI Oxigênio
42
� ° oxigênio é transportado no sangue sob duas formas : dissol
40
vido no plasma e no fluido intracelular eritrocitário e combinado
38 +-------.--.--� quimicamente de forma reversível com a hemoglobina.
° 0,25 0,5 0,75
Segundo
OXIGÊNIO DISSOLVIDO
Quando o oxigênio se difunde dos alvéolos para o sangue,
Fig. 43.3 Difusão de gás carbônico através da membrana alvéolo-capilar. quase todo ele vai penetrar nas hemácias, onde se combina
PVC02 Pressão venosa mista de gás carbônico. PeC0 Pressão
capilar de gás carbônico. PAC02 Pressão alveolar de gás2 carbônico. à hemoglobina. Somente uma pequena porção permanece
= =
=
no plasma e no fluido intracelular eritrocitário e é transpor
Inicialmente, a pressão venosa mista de oxigênio é igual a 45 mmHg. tada para os tecidos em solução simples. Este é o denomi
Em 0,75 s, a pressão alveolar é igual à pressão capilar de gás carbônico, nado oxigênio dissolvido, também dito oxigênio em solução
sendo igual a 40 mmHg.
física. Esta forma de transporte obedece à lei de Henry, antes
descrita. Desse modo, a quantidade de oxigênio dissolvido é
diretamente proporcional à sua pressão parcial no sangue. Para
de difusão aumenta com a elevação do volume pulmonar, sendo cada mmHg de P02, há 0,003 mI de 0/100 mI de sangue (fre
máxima na capacidade pulmonar total . Entretanto, somente os qüentemente expresso como 0,003 vol%). Assim, no sangue
alvéolos que são adequadamente ventilados e perfundidos contri arterial normal (considerando-se a P02 igual a 1 00 mmHg) há
buirão para a troca gasosa. A postura também influencia a difusão somente 0,3 vol% de oxigênio dissolvido (Fig. 43.4). Quando
dos gases, sendo que indivíduos em decúbito dorsal têm maior um indivíduo hígido respira O 2 puro ao nível do mar, a P02
capacidade de difusão do que aqueles em posição sentada. Tal eleva-se para um máximo teórico de 673 mmHg, a P02 arterial
fato provavelmente decorre do aumento do fluxo sanguíneo e de excede 600 mmHg e seu O2 dissolvido se aproxima de 2 vol% .
uma distribuição mais uniforme da perfusão pulmonar quando Por outro lado, as câmaras hiperbáricas aumentam a pressão total
em decúbito dorsal. A área total da superfície alveolar pode apre- para valores muitas vezes acima da pressão atmosférica. Por
Repouso
0102 270 mUmin)
=
Sangue
venoso Sangue
misto arterializado
Conteúdo de 02 : 1 4,6 1 6,0 1 9,5 20,0 1 7,9 (vol%)
Fig. 43.5 Esquema representativo do conteúdo de oxigêlllo do sangue de regiões pulmonares com relações ventilação-perfusão fYA/Q) iguais a
e 1 0. As unidades pulmonares com alta V,.,Io. (perfusão comprometida) pouco contribuem para elevar o conteúdo de oxigênio do sangue,
0, I , 1
quando comparadas com aquelas nas quais a VjQ é igual a 1 . Em contrapartida, as regiões com baixa VA/ Q (ventilação comprometida) deprimem
o conteúdo de oxigênio do sangue. Assim, as regiões com alta V) Q não são capazes de compensar os efeitos daquelas com baixa VA/ Q . A razão
fundamental para esse comportamento é a forma da curva de dissociação da hemoglobina. (Modificada de West, lB. Ventilation/Bloodflow and
Gas Exchange, Oxford: Blackwell, 5th ed. 1 990.)
apenas discreta. Por outro lado, é desprezível o aumento de interior da hemácia, a curva de equilíbrio entre o O2 e a hemo
saturação resultante da hiperventilação em ar atmosférico, uma globina é deslocada para a direita (Fig. 43.6 D).
vez que em condições basais já é quase de 1 00% a S02' Agora A afinidade natural da hemoglobina pura pelo O2 é tão elevada
pode ser entendido por que uma região com relação ventilação que este gás teria uma passagem mais dificultada para os tecidos
perfusão acima do normal não é capaz de compensar o distúrbio sem os fatores que reforçam a liberação do 02' CO2, H+, tempe
causado por uma zona de relação ventilação-perfusão anormal ratura e ânions polifosfatos, como o 2,3-DPG. Eles favorecem
mente baixa (Fig. 43 .5): enquanto esta provoca uma saturação a liberação de oxigênio estabilizando a configuração desoxi da
deficitária e conseqüente queda do conteúdo de 02 ' aquela não molécula da hemoglobina e, assim, reduzindo sua afinidade pelo
é capaz de gerar saturação acima do normal e elevar sobrema 02' ° C02 forma grupamentos carbamina, o H+ reforça as pontes
neira o conteúdo de 02' de sal dentro da molécula da hemoglobina e o 2,3-DPG reúne
as subunidades das cadeias beta da desoxiemoglobina, modifi
FATORES QUE MODIFICAM O EQUILÍBRIO DO cando a forma da molécula de Hb, o que dificulta a ligação do
OXIGÊNIO COM A HEMOGLOBINA oxigênio ao complexo heme.
Há quatro fatores bem conhecidos que alteram a interação do
O2 com a hemoglobina: a PC02, o pH, a temperatura e o nível Hipóxia
de 2,3-difosfoglicerato. Por hipóxia entende-se a condição na qual os tecidos não
Na Fig. 43.6 C pode ser observado que o aumento da PC02 recebem ou não podem utilizar O2 em quantidade suficiente para
desloca para a direita a curva de dissociação da hemoglobina, suas necessidades metabólicas normais. Assim, um tecido hipó
reduzindo a afinidade da hemoglobina pelo 02' Da mesma for xico tem sua função alterada e pode chegar à morte.
ma, a elevação da concentração dos íons hidrogênio, ou seja, a São quatro os tipos de hipóxia: hipóxia hipóxica, hipóxia
queda do pH sanguíneo, também desloca para a direita a curva anêmica, hipóxia de estase e hipóxia histotóxica. Na Fig. 43.7
(Fig. 43 .6 B). Essa alteração na posição da curva decorre da mo há cinco curvas de dissociação da hemoglobina: uma normal e
dificação na forma da molécula de Hb, o que dificulta a ligação as restantes correspondendo a cada um dos tipos de hipóxia.
do oxigênio ao complexo heme. A esses dois fenômenos deno Na Fig. 43 .7 o sangue arterial normal tem saturação de 97%,
mina-se efeito Bohr. À medida que o pH cai e a curva se desvia P02 de 95 mmHg e conteúdo de 02 de 1 9,5 vol%. Em condições
p ara a direita, a saturação da Hb para uma dada P02 decai. Con de repouso, os tecidos extraem cerca de 5 vol% de 02 ' ficando
trariamente, o aumento do pH desvia a curva para a esquerda, e o sangue venoso com conteúdo de O2 igual a I S vol% , S02 de
a saturação de Hb para uma dada P02 aumenta, indicando uma 70% e P02 de 40 mmHg. Assim sendo, em condições normais,
maior afinidade da Hb pelo oxigênio. Variações na temperatura o gradiente arteriovenoso de P02 corresponde a 55 mmHg.
também afetam a curva de dissociação de Hb. Enquanto a queda Na hipóxia hipóxica a capacidade de oxigênio do sangue está
da temperatura redunda em desvio da curva para a esquerda, a normal, mas a P02, a S02 e o conteúdo de O2 encontram-se dimi
temperatura elevada desvia a curva para a direita (Fig. 43.6 A). nuídos. No exemplo mostrado na Fig. 43 .7, tem-se: S02 70%
° 2,3-difosfoglicerato (2,3-DPG) é u m produto intermediário e P02 40 mmHg, havendo ainda 15 vol% de O2 à disposição
=
formado durante a glicólise anaeróbia, via energética da hemá dos tecidos. Obviamente, este sangue ao chegar aos capilares
=
cia. Hipoxemia e anemia aumentam a concentração intracelular sistêmicos não apresenta um gradiente de P02 suficiente para
de 2,3-DPG. Quando a concentração de 2,3-DPG aumenta no impulsionar o O2 em quantidades adequadas até as mitocôn-
650 FISIOLOGIA
A B
1 00
80
60
40
�
�
O'"
20
EFEITO DO pH
2
O
O
.o
�
I
C§ C O
O
1 « 1 00
<>
«
a: 80
::J
PCO - 2
ti:
(f)
2 40
80 mmHg Fig. 43.6 Fatores que modificam
60 a curva de dissociação da hemo
globina. No eixo das ordenadas -
40
saturação da hemoglobina com O2
(%); no eixo das abscissas P02
-
drias, onde ele participa da gênese de energia para a célula. A conseqüente maior extração de O2 por mi de sangue, que leva
hipóxia hipóxica pode ser causada por: (a) P02 baixa no gás finalmente a uma menor oferta de 02 ' Como exemplos de causas
inspirado, como ocorre quando é inalada mistura gasosa pobre de hipóxia de estase podem ser citadas as cardiopatias, que levam
em 02' ou quando a pressão barométrica está diminuída; (b) hipo ao baixo débito cardíaco e distúrbios vasculares.
ventilação alveolar global, por depressão do centro respiratório, Na hipóxia histotóxica estão normais a capacidade de oxigê
como OCOlTe em algumas doenças ou na intoxicação por alguns nio, a S02 , a P02 e o conteúdo de O2 do sangue arterial. Como
agentes farmacológicos; (c) doenças pulmonares com compro neste caso os tecidos encontram-se comprometidos, não sendo
metimento da difusão de gases através da balTeira alvéolo-capilar capazes de metabolizar o 02' há diminuição da diferença arterio
ou distúrbio da relação ventilação-perfusão, e (d) contaminação venosa de 02 ' e o sangue venoso mostra valores elevados para
do sangue arterial com sangue venoso, como em algumas cardio S02, P02 e conteúdo de O2 (Fig. 43.7). A hipóxia histotóxica
patias congênitas ou fístula arteriovenosa pulmonar. surge tipicamente no envenenamento pelo cianeto.
Na hipóxia anêmica há diminuição da capacidade de oxigênio
do sangue. Como mostrado na Fig. 43 .7, embora a S02 e a P02 Cianose
arteriais estejam normais, o conteúdo de O2 encontra-se dimi Entende-se por cianose a coloração azulada da pele e mucosas,
nuído. Não havendo aumento da perfusão tecidual periférica, gerada pelo aumento da quantidade de hemoglobina reduzida
será maior a diferença arteriovenosa de P02 , caindo a oferta para (desoxigenada), que tem uma cor muito escura, nos capilares
os tecidos. A hipóxia anêmica é provocada pela diminuição da periféricos. A cianose depende apenas da quantidade absoluta
hemoglobina disponível para o transporte de oxigênio. Assim, de hemoglobina reduzida e não da percentagem desta em relação
tanto a anemia (onde há diminuição real da taxa de hemoglo à hemoglobina total do sangue. Assim sendo, quando a taxa de
bina no sangue) quanto o impedimento da ligação do O2 com a hemoglobina reduzida u ltrapassa 5 g%, há cianose.
hemoglobina (envenenamento pelo CO, metemoglobinemia etc.)
podem levar à hipóxia anêmica.
Na hipóxia de estase tanto a S02 como a P02 e o conteúdo Dióxido de Carbono
de O 2 arteriais encontram-se dentro da normalidade, porém a
perfusão sanguínea dos tecidos está comprometida. Em outras Uma vez que o organismo humano produz em média 200 mi
palavras, a hipóxia de estase resulta simplesmente da perma de CO2 por minuto, este gás precisa ser eliminado das células
nência mais longa das hemácias nos capilares sistêmicos, com produtoras para o exterior do organismo. A captação de CO2
TRANSPORTE D I:: GASES NO ORGAN I SMO 651
HISTüTÓXICA
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Fig. 43.7 Curva de dissociação da hemoglobina em
O K--L_����U O condição fisiológica e nos quatro diferentes tipos de
20 40 60 80 100 20 40 60 80 100 hipóxia. A, sangue arterial; V, sangue venoso. (Modi
PO, (mmHg) PO, (mmHg) ficada de Lippold, O.c.L. e Winton, FR. Fisiologia
Humana. Editora Cultura Médica, 1st ed., 1 970.)
produzido pelas células e seu transporte até o pulmão, onde é hemácia existe uma enzima catalisadora, a anidrase carbô
liberado para o gás alveolar e daí para o meio ambiente, é feito nica, que acelera a conversão de CO2 e H2 0 em H2C03 (e
pelo sangue. Naturalmente, a PC02 é maior nas células ativas vice-versa). Recentemente, o mecanismo de ação da anidrase
do que no sangue a fluir pelos capilares. Por conseguinte, ele carbônica foi elucidado. A anidrase carbônica existe sob a
difunde-se dessas células para o plasma. forma de sete i soenzimas, sendo somente duas envolvidas
O dióxido de carbono é transportado no sangue como: ( 1 ) no transporte de CO2 : a anidrase carbônica II, que se localiza
CO2 dissolvido, (2) íons bicarbonato (HC03 -) , (3) carbamino na hemácia, e a IV, que está presente nos capilares pulmo
hemoglobina e outros compostos carbamínicos e (4) quantidades nares. Não há atividade da anidrase carbônica no plasma. A
diminutas de ácido carbônico (HZC03) e íons carbonato (CO/-). anidrase carbônica é uma enzima de baixo peso molecular que
Quando se analisa o sangue para determinar seu teor total de CO2 , contém zinco. Inicialmente, há hidrólise da água e formação
estão incluídas todas essas formas moleculares. de espécies reativas de Zn-OH-, enquanto o resíduo de histi
A Fig. 43.8 apresenta, esquematicamente, todas as formas de dina próximo à reação atua removendo o íon H + , transfe
transporte do COz. Observa-se que uma pequena parte do CO2 rindo-o para as moléculas tampões adjacentes. O CO2, então,
proveniente das células dissolve-se no plasma. O coeficiente se combina com as espécies reativas de Zn-OH-, sendo que
de solubilidade para o CO2 no sangue a 37°C corresponde a o bicarbonato formado rapidamente se dissocia do átomo do
0,063 vol% por mmHg de PC02 • Ainda no plasma, uma pequena zinco.
quantidade de COz reage lentamente com a água para formar
ácido carbônico. Este ácido dissocia-se prontamente nos íons Os fenômenos precedentes produzem um acúmulo de HC03 -
HC03 - e H + , que fica neutralizado pelos sistemas tampões do no interior da hemácia. Parte do Íon bicarbonato se difunde para
plasma. No plasma, o CO2 reage também com as terminações o plasma, mantendo o equilíbrio das concentrações na hemácia
amina livres (-NH2) das proteínas plasmáticas, formando os e no plasma. Caso houvesse concomitante difusão de cátions
compostos carbamínicos. Essa rápida reação química não exige para o plasma, manter-se-ia a neutralidade elétrica no interior
catalisadores: da hemácia. Todavia, a membrana eritrocitária não é l ivremente
permeável aos cátions. Assim, a neutralidade de cargas é conse
guida à custa da passagem de ânions cloreto do plasma para o
interior da hemácia (Fig. 43.8). A esse fenômeno denomina-se
Entretanto, como pode ser visto na Fig. 43 .8, a maior parte
desvio de cloretos (ou efeito Hamburger). S imultaneamente,
do CO2 que se difunde a partir das células para o sangue penetra
moléculas de água dirigem-se para dentro da hemácia, a fim de
nas hemácias, onde ocorrem três fenômenos:
restabelecer o equilíbrio osmótico, resultando daí que as hemá
•
Parte permanece dissolvida no interior da hemácia. cias do sangue venoso apresentam um volume maior do que as
• Parte combina-se com a hemoglobina para formar a carba do sangue arterial.
mino-hemoglobina (HbC02). O íon H+ resultante é tampo Portanto, observa-se o papel fundamental da hemácia no
nado pela própria hemoglobina. transporte de CO2 no sangue. Embora o plasma transporte uma
•
A maior parte do CO2 combina-se com a água, formando ácido grande quantidade de ânions bicarbonato, estes são produzidos
carbônico, que se dissocia em H+ e HC03 - . Ao contrário da no interior da hemácia, graças à presença da enzima anidrase
re cr o química s milar q e
aã i dá no plasma, no interior da
u se carbônica.
652 FISIOLOGIA
CAPILAR SISTÊMICO
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CO2 + H20 ';:: H2C03 = HCO; + H+
Anidrase
carbônica
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CO, + HbO, - N = Hb- N + O, + H '
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Fig. 43.8 Representação esquemática de todas as formas de transporte de gás carbónico no sangue.
CURVA DE DISSOCIAÇÃO DO DIÓXIDO DE competitivo, porquanto esses gases se ligam em sítios diferentes
CARBONO na molécula da hemoglobina.
A curva de dissociação do COz total no sangue, mostrada A Fig. 43 . 1 0 mostra duas curvas de dissociação do dióxido
na Fig. 43.9, pode ser decomposta em várias curvas separadas, de carbono. A superior i lustra a situação em que o sangue apre
que representam as três principais formas de transporte desse senta uma saturação de O2 igual a zero, ao passo que a inferior
gás no sangue. cOlTesponde ao sangue oxigenado. Nota-se que em qualquer valor
A quantidade de CO2 dissolvido é uma função linear da PC02 , de PC02 , o conteúdo total de COz é maior quando o sangue se
como já discutido. Uma pequena quantidade desse gás encontra encontra reduzido. A pequena alça partindo do ponto A, passando
se sob forma de H2C03 . pelo V e retornando à origem, demonstra o processo envolvido
A quantidade transportada sob a forma de compostos carba quando o sangue deixa os pulmões (ponto A) e após passar pelos
mÍnicos (combinado com a hemoglobina e proteínas plasmáticas) capilares sistêrnicos (ponto V).
não apresenta uma relação linear com a PCOz. No caso da carba
mino-hemoglobina, tem grande importância o teor de saturação CONTEÚDOS TOTAIS DE OXIGÊNIO E DIÓXIDO
da hemoglobina com o oxigênio, como será visto mais adiante. DE CARBONO DO SANGUE
Resumidamente, quanto mais dessaturada a hemoglobina, maior Na Fig. 43 . 1 1 encontram-se p lotados os conteúdos totais de
sua capacidade de ligar-se com o COz' O2 e COz contra suas respectivas pressões parciais no sangue.
O restante da CO2 é transportado sob a forma de bicarbonato. Nota-se que mesmo o sangue arterial contém quantidades
Como pode ser visto na Fig. 43.9, esta é a mais importante forma maiores de COz do que de O2 , Assim, a afirmativa de que o
de transporte desse gás no sangue. sangue arterial é rico em O2 e pobre em CO2 não é correta. O
sangue arterial é mais rico em O2 do que o venoso, da mesma
EFEITO DO TEOR DE OXIGÊNIO DO SANGUE forma que o sangue venoso carreia mais CO2 do que o arte
SOBRE O TRANSPORTE DE DIÓXIDO DE rial.
CARBONO Da observação das duas curvas, uma conclusão muito
Como visto anteriormente, quanto maior a PC02 , menor a importante do ponto de vista fisiopatológico pode ser obtida.
afinidade da hemoglobina pelo oxigênio (efeito Bohr). Enquanto a curva de dissociação do O2 apresenta-se apenas
Reciprocamente, a dessaturação do sangue arterial no nível levemente inclinada em altos valores de POz, a do CO2 mantém
dos capilares sistêmicos facilita a captação de CO2 • Este é o efeito a sua curvatura inicial. Em outras palavras, o aumento da P02
Haldane. Cumpre lembrar aqui que não se trata de mecanismo além dos valores fisiológicos pouco acrescenta ao conteúdo
TRANSPORTE DE GASES NO ORGANIS�IO 653
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PGO, (mmHg)
10 20 30 40 50 60 70 80 90 1 00
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média corresponde a 40 mmHg.
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Z
O
u
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Textbook ofPhysiology. Philadelphia. W.B. Saunders Company, 21 st
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ed., 1989.
de compensar uma h i poventilada em termos de oxigenação
WEST JB. Respiratory Physiology. The Essentials. Baltimore. Williams
and WiJkins, 7th ed., 2005.
do sangue. Já no caso do CO2, visto que sua curva de disso WEST JB. Ventilation/Bloodflow anel Gas Exchange. Oxford. Blackwell
ciação mantém uma curvatura constante, uma região do pulmão Scientific Publications, 5th ed., 1990.
CAPÍTULO 44
-
C ONTROLE DA VENTILAÇAO
Walter Araujo Zin • Patricia Rieken Macêdo Rocco • Debora Souza Falle
Fig. 44.1 Representação esquemática da estrutura dos corpos carotídeos. Os corpos carotídeos são pequenos, altamente vascularizados e compostos
por diferentes tipos de células. As células tipo (glomus) são metabolicamente ativas e apresentam grande número de vesículas sinápticas contendo
1
neurotransmissores. ° aumento do PC02, a queda do pH ou o decaimento do P02 no sangue arterial acalTeta liberação de neurotransmissores das
células do glomus que atuarão nos terminais nervosos. A atividade gerada nesses terminais nervosos é transmitida ao centro controlador respira
tório através do nervo do seio carotídeo. As células tipo II envolvem essa estrutura.
de concentração de 0Z . Respondem, entretanto, às alterações desses receptores ascenderiam ao centro respiratório por meio
nos níveis liquóricos tanto de CO2 como de pR. Tanto o pR das menores fibras vagais do tipo A .
intra- como o extracelular podem estimular os quimiorreceptores
centrais através de diferentes proteínas. A presença de neurô
nios quimiossensíveis na proximidade de grandes vasos sugere Receptores " J"
que esses quimiorreceptores possam responder também a varia
ções de pR vascular cerebral ou a rapidas alterações de COZo Os Ainda em discussão, acredita-se que esses receptores se
quimirreceptores periféricos são menos sensíveis ao C02 do que encontrem no tecido intersticial entre os capilares pulmonares e
os centrais, embora a resposta dos primeiros seja mais rápida. ° os alvéolos, daí decorrendo a denominação "J", de j ustacapilar.
ponto em discussão é se a sensibilidade dos quimiorreceptores Acredita-se que sej am estimulados pela congestão capilar, hiper
centrais ao pR decorre diretamente das concentrações de R + tensão capilar e edema de parede alveolar. Os receptores "]"
ou indiretamente v i a reação d a água c o m o COz, produzindo seriam responsáveis pela taquipnéia durante a congestão ou o
finalmente o R+ pela dissociação do RZC03 • Esta parece ser edema pulmonar. Seus impulsos aferentes chegariam ao centro
a hipótese mais plausível, visto que tanto o R+ como o RCO) respiratório por meio de fibras vagais do tipo C.
não atravessam a barreira hematoliquórica, ao passo que o COz
o faz prontamente.
Da ação dos quimiorreceptores sabe-se que: ( 1 ) quando cai Fibras C
a P0 2 arterial há aumento da ventilação em resposta à hipóxia.
A hipóxia acarreta liberação de neurotransmissores capazes As fibras C são fibras aferentes não-mielinizadas, sensitivas,
de modificar os padrões ventilatórios; (2) A hipóxia acarreta finas e de condução lenta que estão amplamente distribuídas ao
queda nos níveis de ATP intracelular com conseqüente despo longo do epitélio das vias aéreas, vasos, gânglios e musculatura
larização e liberação de neurotransmissores capazes de modi brônquica. Essas fibras contêm neuropeptídeos sensoriais tais
ficar os padrões ventilatórios; (2) a elevação dos teores de COz como substância P e neurocinina A .
do organismo estimula a ventilação, sendo verdadeira a recí
proca; e (3) a queda do pR eleva a ventilação, ao passo que a
elevação deste a inibe. Outros Receptores
RECEPTORES DO NARIZ E VIAS AÉREAS
Receptores de Estiramento Pulmonar SUPERIORES
(Receptores de Adaptação Lenta) No nariz, faringe e laringe há receptores que respondem à
estimulação mecânica e química. Podem ser encarados como
Os receptores de adaptação lenta são terminais nervosos mieli extensão dos receptores de irritação antes descritos. Dentre as
nizados localizados na musculatura lisa das vias aéreas, desde respostas reflexas à sua estimulação podem ser citados: tosse,
a traquéia até os bronquíolos. Esses receptores informam ao espirro e broncoconstrição, além de espasmo da laringe.
centro respiratório o grau de insuflação pulmonar. À medida
que os pulmões se enchem, aumentam os disparos desses recep RECEPTORES ARTICULARES
tores, que chegam ao centro respiratório bilateralmente por meio Acredita-se que impulsos aferentes oriundos da movimen
dos nervos vagos. Este reflexo, também chamado de reflexo tação articular estimulem a ventilação durante o exercício, espe
de insuflação de Breuer-Hering, ajudaria na determinação do cialmente em seus estágios iniciais. Logo, durante um exercício,
término da i nspiração. Embora sua presença sej a indiscutível mesmo antes que o metabolismo anaeróbico acarrete a liberação
em diversas espécies de mamíferos, no homem respirando em de ácido lático e queda do pR, e esses desencadeiem uma resposta
repouso parece ter participação restrita no controle do volume advinda dos quimiorreceptores, a movimentação articular esti
corrente. Em animais de experimentação, a vagotomia bilateral mula a ventilação.
produz um dramático aumento do volume corrente acompanhado
de queda da freqüência respiratória. SISTEMA GAMA
OS músculos respiratórios, como diversos outros músculos
esqueléticos, possuem fusos musculares (em particular os
Receptores de Irritação músculos intercostais; o diafragma é pobre em fusos) que
(Receptores de Adaptação Rápida) percebem o estiramento muscular. Esta informação é utilizada
para controlar reflexamente a força de contração. Esses recep
Os receptores de adaptação rápida são terminais nervosos tores podem estar envolvidos na sensação de dispnéia, que
mielinizados que diferem dos receptores de adaptação lenta por ocorre em presença de esforços musculares excessivamente pode
se adaptarem mais rapidamente ao estímulo. Os mecanorrecep rosos para movimentar u m sistema respiratório mecanicamente
tores subepiteliais se localizam na traquéia, nos brônquios e nos comprometido.
bronquíolos. Os processos celulares dos receptores se estendem
entre as células epiteliais até atingir a camada ciliar. Aparen PRESSORRECEPTORES ARTERIAIS
temente destinam-se à detecção de pequenas deformações da Sabe-se que o aumento da pressão arterial pode provocar
superfície das vias aéreas. São estimulados por partículas inertes hipoventil ação e a hipotensão geralmente estimula a venti
e corpos estranhos, bem como por gases e vapores irritantes, além l ação. Embora essas respostas reflexas se originem nos pres
da histamina. Quando estimulados, produzem tosse ou taquipnéia sorreceptores arteriai s, suas v ias centrais ainda são desco
e broncoconstri�ão reflexa. Os imp ulsos aferentes provenientes nhecidas.
CONTROLIl DA VENTII.i\çAo 657
D Neurônios Inspiratórios
� Neurônios Expiratórios
Colículo I nferior
Medula
Fig. 44.3 Representação esquemática dos grupos respiratórios dorsal (GRD) e ventral (GRV) com suas projeções para a medula. No GRD, em
íntima interligação com o núcleo do trato solitário (NTS), originam-se os impulsos nervosos para os motoneurônios frênicos contralaterais. A
porção rostral do GRV consiste em motoneurônios cranianos que inervam os músculos acessórios da respiração ipsilaterais. Da porção caudal do
GRV originam-se os impulsos nervosos para os músculos intercostais inspiratórios e expiratórios e, provavelmente, para os motoneurônios expi
ratórios abdominais. Esses neurônios respiratórios do GRV se projetam contralateralmente, embora alguns neurônios inspiratórios se projetem
ipsilateralmente. NA, núcleo ambíguo; NRA, núcleo retroambigual; NPA, núcleo paraambigual.
fazendo parte da estrutura denominada complexo de Botzinger. núcleo facial até a medula espinhal, chamada complexo pré
O complexo de B ótzinger contém neurônios inspiratórios e Bótzinger, tem sido considerada o cerne da ritmogênese respi
expiratórios, aqueles enviando seus axônios para o NA, isto é, ratória. No entanto, estudos recentes questionam o papel exclu
para o GRV, enquanto estes emitem seus axônios em direção sivo do complexo pré-Bótzinger e adicionam redes neuronais
do GRD (NTS) . Uma região relativamente pequena próxima vizinhas, incluindo neurônios com atividade pré-inspiratória,
à terminação rostral da coluna ventrolateral que se estende do alguns com propriedades tipo marca-passo, ao modelo de ritmo-
CONTROLE DA VENTILAÇAO 659
11111111111111111 IIII.L
IIIII LI.. ....L.
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B. EXPIRATÓRIO (HOLO) F. EXPIRATÓRIO·INSPIRATÓRIO
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Fig. 44.5 Representação esquemática do controle neural do músculo liso. NA, noradrenalina; A, adrenalina; NANe, não-adrenérgico não-coli
nérgico; VIP, peptídeo vasoativo intestinal; NO, óxido nítrico; SP, substância P; PHM, peptídeo histidina-metionina; NKA, neurocinina A.
medula até formarem sinapses com os motoneurônios que fluido através do epitélio alveolar, a permeabilidade e o fluxo
inervam os músculos respirat6rios. Há evidências de que os sanguíneo da circulação brônquica e a l iberação de mediadores
tratos descendentes que se originam no córtex e controlam a partir dos mast6citos e outras células inflamat6rias. A iner
a ventilação voluntária são independentes daqueles oriundos vação e o controle autonômico das vias aéreas são extrema
do tronco cerebral e envolvidos na respiração involuntária. mente complexos. Além dos clássicos nervos adrenérgicos e
Também foi demonstrado que as vias descendentes para colinérgicos, existem mecanismos neurais, que não são adre
reflexos não-rítmicos envolvendo músculos respirat6rios, tais nérgicos nem colinérgicos (sistema não-adrenérgico não-coli
como a tosse e o soluço, são diferentes daquelas relacionadas nérgico, NANC) (Fig. 44.5), que participam do controle neural
com a ventilação rítmica. do músculo liso da via aérea.
Os impulsos nervosos descendentes são integrados com
informações reflexas locais ao nível da medula, da qual emergem
motoneurônios segmentares que inervam os músculos respira BIBLIOGRAFIA
tórios. Há também diferenças entre os vários grupamentos
musculares respirat6rios quanto aos mecanismos de ativação CHERNIACK NS & WIDDICOMBE JG (eds.). Handbook ofPhysio
de agonistas e antagonistas. Assim, a ativídade dos motoneu logy. The Respiratory System. Contrai f B reathing. Bethesda.
rônios alfa inspiratórios é inibida durante a expiração, e vice
o
RE GULAÇÃO RE SPIRATÓRIA D O
EQUILÍBRI O ÁC IDO-BASE
Walter Araujo Zin • Patricia Rieken Macêdo Rocco • Debora Souza Falle
carbônico-bicarbonato. ° dióxido de carbono combina-se com PC02 X 0,03 (note que a solubilidade do CO2 aqui está expressa
a água, formando ácido carbônico, que por sua vez se dissocia em mmol/L e, no capítulo de transporte de gases, em mililitros
em íons bicarbonato e íons hidrogênio: de CG2 por 1 00 mI de plasma). Assim:
pH = 6, 1 + log 20
pH = 6, 1 + 1 ,3
Uma vez que a concentração de ácido carbônico é propor pH 7,4
cional à concentração de dióxido de carbono dissolvido, K' pode
=
ser mudada para K e o ácido carbônico substituído pelo dióxido Deve ser ressaltado que, enquanto a relação entre a concen
de carbono. Assim, tração de bicarbonato e PC02 x 0,03 permanecer igual a 20, o
pH será de 7,4. Primordialmente, a concentração de bicarbonato
[H+ ] X [HCO} ] é determinada pelo rim, ao passo que a pressão parcial de dióxido
K de carbono é regulada pelo pulmão.
[C0 2 )
=
de Davenport (outros detalhes no Capítulo 1 2 - Regulação do Na acidose respiratória há uma elevação da PC02, que reduz
pH do Meio Interno). a relação [HC03 -]/(0,03 x PC02), fazendo assim cair o pH. Este
distúrbio pode ser representado pelo movimento do ponto A
(valores normais) para o ponto B na Fig. 45.2. Sempre que a
DIAGRAMA DE DAVENPORT PC02 se eleva, há um aumento concomitante do bicarbonato,
por causa da dissociação do ácido carbônico produzido. Este
A Fig. 45 . 1 apresenta o diagrama de Davenport. ° pH está fato se reflete na inclinação ascendente da curva de tampona
representado na abscissa, a concentração plasmática de bicarbo mento do sangue total. Apesar disso, como dito acima, a relação
nato na ordenada, e, para cada valor de pressão parcial de CO2, bicarbonato/C02 diminui. A retenção de CO2, ou hipercapnia,
há uma linha curva denominada isóbara, ou seja, no diagrama de pode resultar de hipoventilação alveolar ou de desigualdades
Davenport há uma família de isóbaras de PC02 • Note que, para da relação ventilação-perfusão. Caso persista a acidose respira
cada valor de [HC03 -] e de pH, há um único valor de PC02 • As tória, o rim entra em ação, retendo bicarbonato. Como resultado,
linhas retas oblíquas, tracej ada e contínua, representam as linhas a relação bicarbonato/C02 tende a retornar a seu valor normal.
de tamponamento do plasma e do sangue total (contendo 1 5 g% Este evento corresponde ao movimento de B para D ao longo da
de hemoglobina), respectivamente. isóbara de 60 mmHg de PC02 na Fig. 45.2. Note que, embora
° diagrama de Davenport apresenta grande utilidade para o es o pH tenda à normalidade, tanto o bicarbonato quanto a PC02
tudo do equilíbrio ácido-base, posto que permite a distinção clara continuam alterados.
dos distúrbios ditos metabólicos e respiratórios (previamente estu Na alcalose respiratória há diminuição da PC02 , o que eleva
dados no capítulo referente aos desvios do equilíbrio ácido-base). a relação bicarbonato/C02 , resultando um aumento do pH. Esta
Como os próprios nomes sugerem, o metabolismo é o responsável situação é representada pelo movimento do ponto A para o ponto
por aqueles, fazendo variar o valor do bicarbonato, ao passo que C na Fig. 45. 2 . A diminuição da PC02 pode ser causada por hi
os distúrbios respiratórios originam-se de funcionamento patoló perventilação alveolar, como ocorre em grandes altitudes ou
gico do pulmão, alterando a pressão parcial do CO2 . em alguns estados psíquicos relacionados com ansiedade. Caso
persista o distúrbio, há a compensação renal por meio do aumento
da eliminação de bicarbonato, e o pH tende a retornar à norma
lidade (trajeto C para F, na Fig. 45.2).
DIAGRAMA DE DAVENPORT Na acidose metabólica há aumento da produção de ácidos pelo
organismo, fazendo cair a relação bicarbonato/C02 e o pH. Essa
alteração corresponde, na Fig. 45 .2, ao movimento do ponto A
para o ponto G. Como exemplos, podem ser citados o acúmulo de
cetoácidos do diabetes mellitus descompensado ou de ácido lático
40
40 pco2
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::2: (mmHg)
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pH 7,7
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. pH
Fig. 45. 1 Diagrama de Davenport. O diagrama é uma representação ACIDOSE ALCALOSE
gráfica da equação de Henderson-Hasselbalch. Para cada valor de PC02
há uma isóbara. A linha oblíqua contínua representa a linha de tampo
namento do sangue com 15 g% de hemoglobina, ao passo que a linha Fig. 45.2 Principais distúrbios do equilíbrio ácido-base representados
oblíqua tracejada representa a linha de tamponamento do plasma. no diagrama de Davenport. [HC031P (mM / L), concentração plasmá
[HCOi]P (mM / L), concentração plasmática de bicarbonato. (Modi tica de bicarbonato. O segmento de reta que passa pelos pontos B A C
ficada de Paes de Carvalho, A. e Fonseca-Costa, A. Circulação e Respi corresponde à linha de tamponamento do sangue arterial. O ponto A
ração. Editora Cultura Médica, 3."ed., 1979.) representa a situarão normal (ver o texto para maiore explicarões).
s
REGULAÇÃO RESPIRATÓRlt\ DO EOUlLÍBRJO ÁCIDO-BASE 663
compensação respiratória é realizada pela redução da ventilação Como o resultado do cálculo é muito próximo daquele obser
alveolar, que tende a elevar a PC02 • ° ponto E move-se na vado na gasometria arterial, conclui-se que este é confiável e o
direção do ponto D. Uma vez mais, já que é grande a confusão, aparelho está bem calibrado.
não é correta a afirmação de que a alcalose metabólica é compen
sada por uma acidose respiratória. 2. Verificação de qual é o distúrbio ácido-base primário:
Naturalmente, com freqüência ocorrem distúrbios mistos, ou
seja, metabólicos e respiratórios concomitantemente. Por exemplo, Para essa análise é fundamental saber os valores da normali
uma pessoa portadora de enfisema pulmonar pode subitamente dade do pR (7,35-7,45), PaC02 (35-45 mmRg) e RC03 - (22-26
apresentar um quadro de diabetes mellitus descompensado. mEq/L) . ° PaC02 reflete o componente respiratório e o RC03 -,
o componente metabólico. Quando o pR se encontra abaixo de
7,35, diz-se que existe acidose; quando acima de 7 ,45, diz-se
ANÁLISE DO DISTÚRBIO DO que há alcalose. Quando observamos uma PaC02 abaixo de 35
EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE mmHg, dizemos que o desvio respiratório se encontra no lado
alcalótico; se acima de 45 mmHg, no lado acidótico. Adicio
Para diagnosticar o distúrbio do equilíbrio ácido-base no nalmente, quando observamos que o RC03 - está abaixo de 22
sangue arterial é necessário efetuar três etapas, verificando: mEq/L, dizemos que o desvio metabólico se encontra no lado
1) a validade da gasometria arterial, por meio da fórmula de acidótico; se acima de 26 mEq/L, no lado alcalótico. Para se
Renderson-Rasselbalch, 2) qual o distúrbio primário e 3) se existe determinar o distúrbio primário, é necessário observar qual o
distúrbio secundário. componente (respiratório ou metabólico) se encontra do mesmo
lado do desequilíblio ácido-base do pR (Fig. 45.3).
1. Verificação da validade da gasometria arterial utilizando a Voltando ao exemplo anterior (pR 7 25 ; PaC0 25 mmHg;
2
= , =
pH
7, 35 - 7, 45
o( )
acidose normal alcalose
PaC02
Compon nte r o
o( )
ac
o( )
componentes (respiratório e metabólico) apresentarem desvios de 40 mmHg), o pH estaria muito mais baixo, em aproximada
para o mesmo lado da alteração do pR? Nesse caso, teremos um mente 7, 1 0.
distúrbio misto, isto é, originado por um processo metabólico e Esse mesmo paciente, com choque hipovolêmico, foi entu
7,35; PaC02 = 20
respiratório (acido se ou alcalose). bado e colocado em ventilação mecânica. A nova gasometria
arterial revelou os seguintes valores: pH =
3. Verificação da existência de distúrbio secundário: mmHg; RC03 - 1 0,7 mEq/L. A análise passo a passo revela:
=
Todos os distúrbios ácido-base induzem a respostas compen 1 ) o pH esperado pela fórmula de Henderson-Hasselbalch é 7,35 .
satórias do organismo. Por exemplo, um paciente com acidose Logo a gasometria está correta;
metabólica (HC03- baixo) apresenta diminuição da PaC02 de 2) ° pH é normal, mas a PaC02 encontra-se no lado alcalótico
vido a hiperventilação. Já um paciente com acidose respiratória e o HC03 - no lado acidótico. Portanto, poderemos utilizar a
(PaC02 elevada) também apresentará elevação do HC03 -. Ou fórmula da acidose metabólica ou da alcalose respiratória.
seja, em distúrbios ácido-base simples, as mudanças do HC03- Como temos a i nformação de que o paciente apresentava
e da PaC02 são diminuições ou elevações. Essas respostas são anteriormente acidose metabólica, utilizaremos essa fór
conhecidas e podem ser previstas através de fórmulas simples mula.
(Quadro 45 . 1 ). 3) Aplicando-se a fórmula compensatória da acidose metabólica
Quando essas respostas apropriadas estão presentes, dizemos (Quadro 45 . 1 ) :
que o distúrbio ácido-base é simples. ° objetivo dessas respostas
LlPaC02 = 1 - 1 ,4 X � HC03-
compensatórias é a manutenção da homeostase do meio inter
no. Entretanto, essa resposta compensatória normal do organis LlPaC02 = 1 - 1 ,4 X (40 - 1 0,7) = 1 3 ,3 a 1 8,6
mo jamais leva o valor do pH à normalidade. Ao encontrarmos
o pH normal em uma gasometria com valores de PaC02 e/ou Logo, a PaC02 esperada será de (40 - 1 3 , 3 a 1 8,6) = 2 1 ,4 a
HC03 - alterados, necessariamente o paciente apresentará dis 26,7 mmHg
túrbio misto. Como a PaC02 está abaixo do esperado, o diagnóstico é de
-
Acidose metabólica - a diminuição do RC03 - acaneta queda da PaC02
-
LlPaCOz = 1 - 1 ,4 X LlRC03 -
Alcalose metabólica a elevação do RC03 - acan·eta aumento da PaC02
-
LlPaC02 =0,4- 0,9 x LlRC03-
Acidose respiratória aguda o aumento da PaCOz acaneta elevação do RC03-
- =
LlHC03- = 0, 1 -0,2 x LlPaC0
2
Acidose respiratória crônica o aumento da PaC02 acarreta maior aumento do RC03-
-
LlRC03 - = 0,25 - 0,55 x LlPaCO,
-
Alcalose respiratória aguda a diminuição da PaC02 acarreta queda do RC03- LlRCOJ- 0,2- 0,25 x LlPaC02
-
Alcalose respiratória crônica a diminuição da PaCOz acaneta maior diminuição do RC03- �RC03- = 0,4 - 0,5 x LlPaCOz
PaC02 = pressão parcial do gás carbônico no sangue arterial; HCO) = concentração de bicarbonato no sangue arterial. * As mudanças para mais ou para menos partem do valor normal
de PaCO, (40 mmHg) e de HCO, - (24 mEq/L), segundo Fali PJ (A stepwise approach to acid-base disorders-practical patient eva/uaeion for mewbo/ic acidosis and odler conditions. Post·
grad Med 2000; 107: 249-26) e Schliehtig R, Grogono AW e Severinghaus JW (Respiration in anesthesia pathophysiology and elinieal update - eUlTent status of aeid base quantitation
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RECULAÇÃO RESPIRATÓRIA DO EQUILíBRIO ÁCIDO-BASE 665
Como o HCO) - está dentro do esperado, há uma acidose DAVENPORT H. The ABC ofAcid Base Chemistry. Chicago. Univer
respiratória crônica simples, não ocorrendo alcalose metabólica sity of Chicago Press, 5th ed., 1969.
associada, como poderíamos supor numa análise rápida. FISHMAN AP & FISHER AB (eds.). Handbook of Physiology. The
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CAPÍTULO 46
1 00
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l 60
O OROFARíNGEA
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20 BRÔNOU ICA
ALVEOLAR
o 2 4 6 8 10
Fig. 46.1 Partículas inaladas tendem a se depositar em diferentes locais das vias aéreas, dependendo do seu tamanho. Partículas de diâmetro
maior que 5 J.Lm tendem a se depositar na nasofaringe, orofaringe, ou vias aéreas de maior diâmetro. Pequenas partículas se depositam nas vias
aéreas mais distais ou no alvéolo.
partículas de acordo com seu diâmetro. Posteriormente, essas serosas) como no epitélio das vias aéreas (células mucosas,
partículas que se depositaram nas paredes do nariz, faringe, serosas e de Clara) têm, através do seu produto de secreção, a
traquéia, brônquios ou bronquíolos são parcialmente removidas função de servir de veículo para a absorção e transporte de subs
pelos jatos explosivos de ar provocados pelo espirro e pela tosse tâncias e lise de microrganismos. O fluido que reveste as vias
e, em grande parte, removidas pelo sistema mucociliar e pela aéreas é constituído por: substâncias antioxidantes, tampões,
atividade fagocitária dos macrófagos. imunoglobulinas e enzimas capazes de interagir com micror
ganismos, como a lisozima, lactofenina e peroxidases diversas.
Quando o indivíduo está desidratado, o muco se torna menos
Sistema Mucociliar fluido, aumentando sua viscosidade, situação que dificulta o bom
funcionamento ciliar.
o muco é formado a partir das glândulas submucosas, das
células caliciformes e das células de Clara. As células calici PRINCÍPIOS DE TRANSPORTE MUCOCILIAR
formes, mais freqüentes na traquéia e nas vias aéreas de maior O epitélio ciliado, com células secretoras de permeio, reveste
diâmetro, apresentam-se dispostas na mucosa brônquica numa a traquéia até os bronquíolos. No entanto, a composição celular
ordem de 1 para 5 células ciliadas, não sendo necessário impulsos e o fenótipo de células individuais variam conforme o nível do
nervosos para a descarga de seu conteúdo. Elas o fazem mesmo trato respiratório analisado. Assim, o número de células secre
quando a inervação das vias aéreas é seccionada e quando outras toras diminui em direção aos segmentos mais periféricos do
células glandulares, sensíveis aos impulsos parassimpáticos, trato respiratório, enquanto o número de cílios por célula ciliada
são bloqueadas por doses elevadas de atropina. Um estímulo aumenta em direção às porções mais proximais. Este epitélio é
adequado para descanegá-Ias é a initação local, mecânica ou revestido em sua totalidade por um fluido; este é constituído pelo
química. As glândulas túbulo-acinosas comunicam-se com a produto de secreção das células serosas, mucosas e de Clara,
luz brônquica através de um canal que se abre entre as células pela transudação de líquido dos alvéolos e vias aéreas e por
ciliadas, sendo reguladas por impulsos vagais e sua secreção mecanismos ativos de transporte iônico e de líquido através do
diminuída pela ação da atropina. As vias bronquiolares repre epitélio. O meio fluido que reveste o epitélio é impermeável à
sentam as zonas de preferência das células de Clara, que se água; em condições fisiológicas, pode medir, nos segmentos mais
salientam das células ciliadas circunvizinhas pela aparência proximais da árvore respiratória, entre 2,0 e 5,0 micrômetros.
convexa de seu topo rodeado de muco. Esse meio fluido é o produto da secreção das células secretoras
De forma geral, as células secretoras localizadas tanto nas presentes no epitélio, com a contribuição de elementos da linfa
glândulas da submucosa dos brônquios (células mucosas e e do plasma.
668 FISIOLOGIA
- -
���:I�:�O
mucosas do epitélio e glândulas da submucosa; e camada sol,
produzida presuntivamente pela secreção das células serosas,
células de Clara, e pela transudação de líquido dos alvéolos e
vias aéreas.
A camada sol é contínua desde a traquéia até os bronquíolos,
ao contrário da camada gel, fragmentada em diversos pontos pela
ação do batimento ciliar. O controle da secreção da camada sol
��ldail)jjl
é de importância fundamental para o correto funcionamento do
transporte ciliar, de forma a manter os cílios em contato ideal
com a camada gel . Fig. 46.2 Representação esquemática do batimento ciliar nas vias aéreas.
A regulação da quantidade de fluido da camada sol depende Durante o batimento efetivo, isto é, na direção do fluxo mucociliar, o
das células epiteliais, que possuem a capacidade tanto de secretar cílio se eleva e toca na fase mais viscosa do filme que reveste as vias
como de absorver líquido, utilizando a energia celular para movi aéreas. No batimento de recuperação, também denominado de retró
mentações iônicas contra gradiente eletroquímico. As células
grado, o cílio volta pela fase sol, que apresenta menor impedância. As
epiteliais são polarizadas anatômica e funcionalmente. Possuem
setas representam os diferentes perfis de fluxo de muco, dados pela
uma membrana apical que se mantém em contato com a luz e
atenuação da transmissão da energia ciliar que ocorre em direção às
porções mais superficiais do filme fluido que reveste as vias aéreas.
uma membrana basolateral que mantém contato com o espaço
intersticial e vasos sanguíneos. As células são alinhadas, lado
a lado, e são separadas por um espaço intercelular. Próximo
ao ápice o espaço intercelular é estreitado por tight junctions. . . . . . .... . .
Esta junção restringe a difusão e determina uma difusão sele . .
.
tiva do espaço intercelular. O transporte de solutos através de
epitélios causa uma alteração na concentração iônica transepi .
�.
telial e, portanto, uma diferença na pressão osmótica através do Jf'
epitélio. Uma vez criado um gradiente osmótico, a água se movi .
mentará da solução com menor concentração para a de maior
.'
concentração de solutos. A movimentação osmótica de água se
dá aparentemente pelo espaço intercelular. Portanto, o estado
funcional dos canais iônicos específicos para o sódio (responsá
veis pela absorção de água da face luminal para o interstício) e
o cloro (responsáveis pela secreção de água para a face luminal)
desempenha papel fundamental para um perfeito acoplamento Fig. 46.3Visão lateral do batimento ciliar em suas fases de batimento
efetivo(para a direita) e de recuperação (para a esquerda).
entre o muco e o cílio. Pacientes com fibrose cística apresentam
infecções pulmonares de repetição, devido a uma deficiência
no canal de cloro, com conseqüente alteração na hidratação do
muco e falência no acoplamento mucociliar (para mais detalhes, b) Fase de Batimento de Recuperação : O cílio se dobra em
consultar o Capítulo 9, no item: CFrR, um canal para Cl -). direção à superfície celular, retornando à posição inicial do
Processos inflamatórios evoluem em geral com secreção fluida ciclo, com uma velocidade cerca de duas vezes menor do que
abundante, já que aCalTetam desestabilização das junções inter o batimento efetivo.
celulares e conseqüente aumento da permeabilidade, interferindo
Alterações na distribuição ou no volume dessas duas fases
com a regulação do volume da camada sol.
O controle da secreção de muco por parte das células mucosas acaITetam prejuízos no transporte ciliar. Um aumento no volume
continua sendo extremamente estudado. Acredita-se que estí da camada sol propicia um deslocamento entre o cílio e o muco
da camada gel, com conseqüente retal'do do transporte ciliar.
mulos colinérgicos, alfa e beta-adrenérgicos, histamina, pros
taglandinas, AMP, GMP, taquicininas e íons cálcio participem Uma diminuição da camada sol, ou aumento da camada gel,
dos processos de secreção das células mucosas do trato respi faz com que o batimento de recuperação ocolTa em um meio
ratório. de maior viscosidade, reduzindo, conseqüentemente, o trans
porte ciliar.
INTERAÇÃO MUCOCILIAR
A propulsão do fluido brônquico pelos cílios é conseguida, EFEITOS DA TOSSE NO TRANSPORTE
já que o batimento ciliar é assimétrico. O ciclo completo do MUCOCILIAR
batimento ciliar pode ser decomposto em duas fases (Figs. 46.2 É importante lembrar que o clearance do muco pode ser feito
e 46.3): através da tosse, mecanismo este que é pouco relevante em indi
víduos normais, mas fundamental em presença de acúmulo de
a) Fase de Batimento Efetivo: Nesta fase o cílio alcança a sua secreção na árvore traqueobrônquica. Como já previamente
extensão máxima, penetra a sua extremidade na camada gel e descrito, em indivíduos normais, as vias aéreas são recobertas por
executa um movimento em arco em um plano perpendicular uma fina camada de muco que depende do transporte mucociliar
à superfície da célula ciliada. para ser removida e não se desloca com o fluxo aéreo, mesmo
MECANIS�JOS DE DEmSA DAS VIAS AÉREAS 669
com tosse voluntária. Em situações patológicas caracterizadas As vias aéreas distais e os alvéolos não possuem os meca
por hipersecreção brônquica, as interações do fluxo aéreo com nismos de defesa pulmonar j á discutidos, como o clearance
o muco se tornam acentuadas, representando uma importante mucociliar. Assim, a depuração de pequenas partículas e
forma de transporte do muco. microrganismos que lograram escapar dos mecanismos de
defesa e atingiram estas partes distais do trato respiratório é
PADRÕES DE RESPOSTA DO APARELHO feita, principalmente, pelo sistema fagocitário representado
MUCOCILIAR ÀS AGRESSÕES pelo macrófago alveolar e pelo polimorfonuclear neutrófilo.
Processos irritativos da árvore respiratória, como infecções Este último não é residente dos alvéolos, mas pode ser rapida
repetidas, inalação de gases irritantes ou fumo, podem modificar mente recrutado a partir da circulação, em caso de agressão.
o perfil celular do epitélio e glândulas, alterando a composição do Já os macrófagos alveolares residem permanentemente nos
muco. As células caliciformes e de secreção mucosa aumentam alvéolos normais, constituindo as mais importantes células do
em número, incluindo a transformação de células de Clara e ponto de vista numérico, presentes no compartimento bron
serosas em caliciformes. As células serosas e ciliadas diminuem coalveolar. Seu número pode aumentar substancialmente em
em número. A quantidade de muco aumenta, ao mesmo tempo face às agressões. Estes macrófagos podem sintetizar várias
que a camada sol diminui. O muco se torna mais viscoso, e substâncias bioativas, além de apresentarem grande número de
as células submetidas a este ambiente sofrem também altera receptores em sua membrana, o que lhes permite interagir forte
ções qualitativas. A secreção passa a ser de mucopolissacarí mente com outros tipos celulares e outras moléculas, dando-lhes
deos ácidos e sulfatados, modificando as propriedades físico a capacidade de desempenhar um papel central na regulação
químicas do muco. O resultado final é retenção de muco no da resposta imune e inflamatória.
trato respiratório, dificultando a eliminação de microrganismos Apesar de todos os macrófagos presentes no organismo parti
inalados e facilitando as infecções. Além das alterações do muco, lharem de um precursor comum (o monócito circulante) e apre
há agentes que interferem primariamente na função das células sentarem funções parecidas, cada tipo possui características dife
ciliadas, lesando-as. Fumo, infecções viróticas e bacterianas, rentes. Por exemplo, os macrófagos peritoneais funcionam a uma
baixas temperaturas, hipóxia, hiperóxia, gases irritantes e alguns P02 de 1 0 torr, enquanto os macrófagos alveolares são os únicos
tipos de partículas são exemplos destas condições. Estes estí a viverem em condições aeróbicas com uma Po? de 1 00 torr.
mulos lesivos, se mantidos por longo tempo, podem causar perda Presurnivelmente, alvéolos hipoventilados, com uma Po?muito-
de componentes estruturais ciliares, diminuição do comprimento baixa, funcionarão com deficiência do número de macrófagos.
ou perda numérica de cílios e redução da freqüência dos bati Além da função fagocitária, os macrófagos alveolares parti
mentos. No seu grau máximo, o epitélio passa a ser revestido cipam do desenvolvimento da resposta imune através de intera
por outro, mais resistente, escamoso e estratificado, semelhante ções com linfócitos e da detecção e destruição de células neoplá
à pele ou ao esôfago, em várias áreas das vias aéreas. Assim, sicas presentes no pulmão.
existem várias situações que podem dificultar sobremaneira o A fagocitose dos agentes infecciosos se dá pelo envolvimento
funcionamento dos cílios: aumento das secreções (bronquite destes, e sua morte, pela liberação de radicais de oxigênio (como
crônica), modificações nas propriedades físicas do muco (infec o peróxido de hidrogênio) ou derivados halogênicos (como o
ções, desidratação), alterações estruturais das vias aéreas (bron ácido hipoclorídrico). Após ingestão de um grande número de
quiectasias), inalantes irritativos (fumo, CO, SOz, NOz, ozônio) e partículas, os macrófagos podem permanecer no espaço alveolar
certas substâncias químicas (álcool, sedativos). ° hábito crânico ou deixar o pulmão por diversas vias. Assim, alguns migram
de fumar induz não só ao entorpecimento da atividade ciliar, mas pelas vias aéreas a fim de serem transportados até a faringe pelo
também à agressão dos macrófagos alveolares; de modo que, no movimento mucociliar, enquanto outros deixam o pulmão pelo
grande fumante, os processos alérgicos ou infecciosos das vias sistema linfático ou, então, morrem permanecendo no espaço
aéreas demoram muito mais para serem revertidos do que no não alveolar, sendo retirados por outros macrófagos.
fumante. Nesta situação, o excesso de secreção ajuda também a De forma geral, quanto maior o tempo de permanência no
diminuir a velocidade do clearance mucociliar, e, se a infecção pulmão do material inalado, maior a probabilidade de lesão
estiver presente, o edema inflamatório repercute negativamente pulmonar. Os macrófagos alveolares, ao promoverem a rápida
na mucosa brônquica, tornando-a um terreno com insuficiência degradação das partículas, evitam que as mesmas escapem do
de elementos de defesa, tais como IgA, IgG, complemento e espaço intersticial, onde a limpeza é mais lenta e, portanto, os
outros, além de dificultar a distribuição local da medicação. riscos de lesão tecidual são maiores.
Existem, no entanto, situações nas quais os macrófagos
contnbuem para a lesão teci dual. A fagocitose de partícu las
Sistema Fagocitário tóxicas ou radioativas por estas células promove a concentração
deste material em pequenas regiões do pulmão, resultando em
° clearance alveolar processa-se através do macrófago alve lesão tecidual local. Este tipo de material pode causar lesão
olar pulmonar, elemento de defesa extremamente diferenciado e ou morte do macrófago através de toxicidade química ou por
que funciona como vigoroso protetor da intimidade respiratória, digestão lenta pela célula. É o caso, por exemplo, do pó de
uma vez que bloqueia as agressões dirigidas ao meio alveolar. sílica ou das fibras de asbesto, que são cristais minerais que
Sendo assim, contribui para que as trocas gasosas se processem não podem ser dissolvidos após fagocitose. A morte do macró
a contento ao permitir, juntamente com o surfactante, a manu fago causa liberação de fatores quimiotáticos que promovem
tenção dos pneumócitos do tipo I. ° líquido alveolar se continua migração de fibroblastos para a região e estimulam sua síntese
com a camada mucosa bronquiolar de modo que esta parece de colágeno. Além disso, novos macrófagos migram para esta
exercer um efeito de tração sobre aquele fluido, deslocando região ingerindo as células mortas, sendo então destruídos pelos
o no sentido central, e, desta forma, contribui também para o res �os celulares e material tóxico. A morte destes, por sua vez,
clearance alveolar, que pode variar de 24 horas a 1 00 dias. estimula a migração de mais fibroblastos e a síntese de mais
670 FISIOLOGIA
EXERCÍCIO
A resposta ao exercício depende da coordenação entre os
sistemas respiratório e cardiovascular. Durante o exercício físico
tanto o consumo de oxigênio como a produção de CO2 aumentam, Fig. 47.1 Representação esquemática da ventilação durante o exercício.
em função do incremento da atividade e demanda pelos músculos Note um aumento súbito da ventilação no início do exercício (1) e uma
esqueléticos. Para suprir essa necessidade de oxigênio e remover redução igualmente súbita ao término deste (2).
o excesso de gás carbônico ocorrem três alterações fisiológicas:
a) aumento da ventilação alveolar, b) elevação do débito cardíaco
e c) redistribuição do débito cardíaco para suprir os músculos
esqueléticos em exercício. forma, variações nas tensões dos gases sanguíneos não parecem
O indivíduo ventilando em condições basais utiliza uma ser, a princípio, o fator determinante do aumento do volume
pequena porção de sua capacidade ventilatória para suprir sua minuto. Duas observações, entretanto, devem ser mencionadas:
demanda metabólica. Entretanto, durante o exercício, pequenas (a) durante o exercício, a curva de resposta POiventilação
anormalidades na oxigenação pulmonar e/ou ou nas propriedades torna-se mais acentuada, observando-se resposta ventilatória a
mecânicas respiratórias são fatores limitantes para o exercício. pequenas flutuações da P02 arterial normal ; (b) nessas circuns
A causa ou as causas do aumento da ventilação associado ao tâncias, ocorre, ainda, um aumento na oscilação respiratória da
exercício muscular persistem controversas. Entretanto, há um PC02 arterial, o que sabidamente estimula o corpo carotídeo.
consenso em duas observações básicas. Inicialmente, mantendo Apesar dessas observações, a ação da tensão dos gases arte
se um exercício de intensidade moderada, a ventilação aumenta riais sobre os quimiorreceptores não é o fator determinante do
diretamente com o aumento da taxa metabólica. A segunda é que aumento da ventilação durante o exercício leve a moderado.
no início do exercício há um súbito aumento na ventilação, come Outros estímulos vêm sendo considerados como determinantes
çando no intervalo de 1 segundo até atingir um platô. Quando o do aumento da ventilação no exercício. A movimentação passiva
exercício cessa, essa seqüência ocorre ao contrário, isto é, uma dos membros estimula a ventilação tanto em animais aneste
diminuicão igualmente súbita ao término do exercício, gradual siados como em homens despertos. Este é um reflexo determi
mente retornando aos níveis de repouso (Fig. 47. 1 ). nado por receptores articulares ou musculares, sendo provavel
Durante exercícios intensos (anaeróbios), ocorre liberação mente o responsável pelo incremento abrupto da ventilação que
de ácido lático pela glicólise anaeróbica, com redução do pH e ocorre nos primeiros segundos. Acredita-se, também, que osci
conseqüente estímulo à hiperventilação, que pode resultar em lações na P02 e na PC02 arterial poderiam estimular os quimior
queda da PC02 arterial. Ao contrário, durante exercício aeróbico receptores periféricos, apesar de seus níveis médios se manterem
em indivíduos normais (até cerca de 3 L/min de consumo de inalterados. Outra teoria parte do pressuposto de que a PC02
02)' os valores de PC02, POz e pH se mantêm constantes. Dessa arterial é mantida constante através do estímulo dos quimior-
672 FISIOLOGIA
receptores centrais, aumentando a ventilação. Outros fatores duração (cerca de 30 min), devido à queda da PC02 arterial e
podem estar relacionados ao aumento da ventilação durante o ao declínio hipóxico da ventilação. A pobre resposta ventila
exercício, como elevação da temperatura corporal e impulsos tória causa hipoxemia arterial, resultando em vários sintomas
corticais. Mecanismos centrais também têm sido propostos, espe observados nas primeiras horas e dias em área de altitude. °
cialmente no início do exercício, fase na qual há um comando sinal mais precoce de hipóxia é a redução da visão noturna, que
central para iniciar um aumento da atividade respiratória em pode ser detectada em altitudes relativamente baixas ( 1 .200 m).
antecipação ao exercício. Experimentos em animais sugerem que A complicação mais grave da exposição à altitude é a redução
esse comando central emana de regiões do hipotálamo. Estudos da capacidade mental, culminando com perda de consciência,
recentes em humanos, utilizando técnica de imagem (PET tridi que geralmente ocorre em altitudes acima de 6.000 m. A hipóxia
mensional), identificaram regiões do córtex que também podem também acarreta vasoconstrição pulmonar, com conseqüente
participar do disparo do comando central para a hiperpnéia do aumento da pressão arterial pulmonar, bem corno incremento
exercício. Existe, ainda, evidência em humanos de que a fase I no trabalho do ventrículo direito. Durante os primeiros dias em
da resposta ventilatória possa ser em parte uma resposta "apren altitude, ofeedback negativo desfavorável é revertido pela acli
dida" ao início do exercício. No entanto, nenhuma das teorias matização.
anteriormente relatadas é capaz de explicar completamente os A aclimatização é o processo pelo qual há aumento da tole
mecanismos que determinam a adaptação da ventilação durante rância e desempenho do indivíduo em um período de dias a
o exercício. semanas. A ventilação aumenta gradativamente, reduzindo a
° Quadro 47 . 1 representa um resumo esquematizado das PC02 e aumentando a P02 arterial. A maioria dos indivíduos
respostas do sistema respiratório ao exercício moderado e se encontra completamente aclimatizada em urna semana. A
intenso. normalização do pH do líquor, por transporte de bicarbonato,
foi sugerida inicialmente como mecanismo da aclimatização.
Outros estudos demonstraram envolvimento de estimulação
GRANDES ALTITUDES dos quimiorreceptores centrais, por acidose lática intracelular
e intersticial secundárias à hipóxia, e aumento da influência
A POz decai gradativamente com o aumento da altitude. No dos quimiorreceptores periféricos durante hipóxia prolongada,
topo do Monte Evereste a P02 inspirada é de 42 rnrnHg, enquanto contribuindo, assim, para a híperventílação progressiva obser
ao nível do mar esta corresponde a cerca de 1 49 mmHg. Em vada na aclimatização.
Teresópolis, a 1 .000 m de altitude, a pressão atmosférica é de Um importante aspecto da aclimatização a grandes altitudes é
674 rnrnHg e a P02 é de cerca de 1 30 mmHg. a policitemia (aumento da concentração de eritrócitos no sangue) .
A hipóxia de grandes altitudes é um fenómeno fisiológico que Na policitemia há um aumento na concentração de hemoglobina
ocorre em indivíduos não aclimatizados a esta condição, isto é, e conseqüentemente na capacidade de transporte de oxigênio.
quando expostos a baixas P02 • A queda da POz no ar inspirado Logo, embora a P02 e a Sa02 estejam reduzidas, o conteúdo de
gera uma queda na pressão parcial arterial de oxigênio (Pa02 ). O2 se mantém normal. ° estímulo que acarreta incremento na
A redução da P02 acarreta hiperventilação por estímulo hipó produção de eritrócitos é a hipóxia, que libera eritropoietina
xico aos quimiorreceptores periféricos. No entanto, na exposição renal.
aguda à altitude, a resposta ventilatória à hipóxia é de curta Outra característica da aclimatização é o desvio da curva de
dissociação de 02 para a direita, com maior liberação de 02' Tal
fato decorre do aumento na concentração de 2-3 difosfoglicerato
em função da hipóxia.
Vale ressaltar que a adaptação à altitute se refere a altera
ções fisiológicas e genéticas que ocorrem em período de anos
Quadro 47.1 Respostas do sistema respiratório aos e gerações em habitantes de áreas de grande altitude. Existem
exercícios moderado e intenso
diferenças qualitativas e quantitativas entre aclimatização e
Exercício Exercício adaptação. Pessoas que habitam por longo tempo em locais
Variável Moderado Intenso de grande altitude apresentam redução de resposta à hipóxia,
relacionada com a magnitude da altitude e o tempo de resi
Mecânica Respiratória dência no local. Esses indivíduos também apresentam: (a)
Trabalho elástico l' l' l' maior capacidade de difusão pulmonar, secundária a adapta
Trabalho resistivo l' l' l' ções anatómicas dos pulmões, com aumento do número de alvé
Ventilação Alveolar olos e capilares, (b) hipertensão pulmonar crónica e hipertrofia
Volume corrente i i i i ventricular direita (por vasoconstrição pulmonar hipóxica),
Freqüência respiratória l' l' l'
Espaço morto anatómico (c) policitemia e (d) aumento da vascularização do coração e
l' l'
Espaço morto alveolar 1 1 1 músculos estriados.
Fluxo Sanguíneo Pulmonar A síndrome aguda de grandes altitudes (SAGA), também
Perfusão do lobo superior l' l' l' chamada de doença aguda das montanhas, acomete indivíduos
Resistência vascular pulmonar l' l' l' que ascendem rapidamente a altitudes acima de 2.500 m. A
Relação VentiJação-Perfusão i i SAGA ocorre nas primeiras 8 a 24 horas em grande altitude,
Difusão Através da Barreira l' l' l' depende da velocidade de ascensão e, principalmente, da susce
Alvéolo-capilar
tibilidade de cada pessoa. A exposição abrupta a altitudes de
cerca de 3 .000 m provoca SAGA em cerca de 30% das pessoas.
PaOz H H OU l' ou 1
PaCOz H 1
pH H 1 Dores de cabeça constituem o principal sintoma da SAGA,
podendo ainda ocorrer náuseas, vómitos, hiporexia, oligúria,
FISIOLOGIA RESPIRATÚRIA E�I A�IBIENTES ESPECIAIS 673
Quadro 47.2 Respostas fisiológicas nas grandes altitudes : imediatas, de adaptação precoce (72 h) e de adaptação tardia
(2 a 6 semanas)
Adaptação tardia
Imediata Adaptação precoce (72 h) (2 a 6 sem)
Variável
Ventilação Espontânea
Volume minuto i i i
Freqiiência respiratária Variável Variável Variável
Pa02 t t t
PaC02 t t t
pH i i OU H i OU H
Avaliação da Função Pulmonar
Capacidade vital H H H
Fluxo máximo expiratário i i i
Capacidade residual funcional H H H
Resposta ventilatária ao COz inalado H i i
Resposta ventilatária à hipáxia H H H
Resistência vascular pulmonar i i i
Transporte do Oxigênio
Hemoglobina H i i
Eritropoetina i H H
P-50 t i i
2-3 DPG H i i
Sistema Nervoso Central
Cefaléia, náuseas e vômÍfos i H H
pH do líquor i H H
Bicarbonato liquárico H t t
edema periorbital , petéquias, hemorragias na retina e insónia, musculares, diminuição da força muscular e aumento da perda
além de ataxia e redução da cognição, sintomas relacionados de íons como cálcio e fosfato.
com distúrbios no SNC devido a edema cerebral. Após 3 a 7 No interior das naves espaciais, nos compartimentos ocupados
dias, extinguem-se os sintomas na grande maioria das pessoas. A pelos astronautas, as misturas gasosas são controladas assim
SAGA pode ser prevenida programando-se viagens para grandes como a pressão no interior das cabines. Desta forma, embora não
altitudes em etapas, evitando, assim, variações bruscas de pressão haja um campo gravitacional, há um microambiente compatível
atmosférica. com o processo fisiológico da respiração.
As respostas fisiológicas às grandes altitudes podem ser:
imediatas, de adaptação precoce (72 h) e de adaptação tardia (2
a 6 semanas) (Quadro 47.2). MERGULHO
A pressão atmosférica aumenta cerca de 1 atm a cada 1 0
TOXICIDADE DO O 2 metros d e profundidade. A pressão por s i s ó é inócua enquanto
estiver sendo contrabalançada. Entretanto, se as cavidades com
° oxigênio respirado em altas concentrações pode ser tóxico gás (pulmões, ouvidos e seios da face) deixarem de se comu
e lesivo. Pacientes tratados por longos períodos (48 h) com nicar com o meio externo, a diferença de pressão pode causar
oxigênio puro apresentam edema intersticial pulmonar por alte compressão durante a descida ou hiperinsuflação durante a
rações nas células endoteliais dos capilares pulmonares. Altas subida. Exemplificando: durante a subida é importante o mergu
frações inspiradas de oxigênio também podem provocar lesão lhador expirar todo o ar para prevenir a hiperinsuflação e possível
dos pneumócitos II, responsáveis pela produção de surfac barotrauma. A densidade do gás aumenta com a profundidade,
tante pulmonar. Provavelmente, estas lesões são resultantes da elevando o trabalho respiratório e retendo CO2. Para se adaptar,
formação de radicais livres. Interessante ressaltar que, a longo o mergulhador pratica mergulho autónomo, com o equipamento
prazo, também pode ocorrer lesão dos pneumócitos I. SCUBA (selfcontained underwater breathing apparatus), sendo
este sujeito a pressão de 6 atm. É necessário também realizar
paradas para descompressão, evitando embolia gasosa. Em
VÔOS ESPACIAIS condições de altas pressões (durante o mergulho) o nitrogênio
(gás inerte, pouco solúvel, encontrado em altas pressões parciais
Os efeitos da gravidade zero sobre as condições fisiológicas no ar ambiente) passa a entrar em solução com os tecidos corpo
da respiração não são muito importantes, desde que as pessoas rais, principalmente o tecido adiposo, que tem alto coeficiente
sejam mantidas com um suprimento adequado de gás para de solubilidade para este gás. Ademais, o nitrogênio se difunde
respirar. Estudos demonstraram que astronautas (submetidos lentamente devido à sua baixa solubilidade. Conseqüentemente,
a condições de pressão zero) apresentam pequena redução da o equilíbrio entre o nitrogênio e o ambiente leva horas. Durante
volemia, do hematócrito e do débito cardíaco, atrofia das fibras a subida, o nitrogênio é lentamente removido dos tecidos. Se a
674 FISIOLOGIA
descompressão é feita de modo rápido, ocorre redução da solubi a pressão na orofaringe. ° aumento da pressão na nasofaringe
lidade, os gases podem voltar à forma gasosa e, assim, provocar é o mecanismo mais utilizado em mergulho, tanto livre quanto
a formação de bolhas capazes de gerar êmbolos, além de dores autÔnomo. A presença de obstrução do meato acústico interno,
muito intensas, principalmente articulares, por formação de sej a por secreção ou tumoração por processo inflamatório da
bolhas intra-articulares. Os tecidos adiposo e sanguíneo, sistema faringe, impede que o mergulhador equilibre as pressões, acar
nervoso central e músculo cardíaco também são os locais atin retando dor de forte i ntensidade, que o impede de prosseguir a
gidos. Em casos graves, podem ocorrer distúrbios neurológicos, descida. Porém, se acaso ele insistir ou tentar "compensar", pode
tais como surdez, prejuízo da visão e até paralisia por embolia ocorrer lesão da membrana timpânica.
gasosa (obstrução do fluxo sanguíneo por bolhas). ° mesmo mecanismo de expansão dos gases em cavidades
Normalmente, ocorre a formação de pequenas bolhas de gás, sem comunicação com o meio externo pode ocorrer em vários
que logo são absorvidas e eliminadas, desde que se sigam correta outros compartimentos do organismo, propiciando a ocorrência
mente os critérios padronizados para as paradas descompressivas. de barotraumas compressivos.
Logo, o objetivo da descompressão não é impedir a formação No mergulho em profundidade, a pessoa desce utilizando
de bolhas, mas sim evitar que estas sejam grandes o suficiente um lastro de 15 kg em uma das mãos, auxiliando-a na descida.
a ponto de poder causar embolia gasosa. Cada mergulho requer Nessa situação, não há risco de barotrauma descompressivo
planejamento inicial, prevendo-se o tempo de permanência e (barotrauma expansivo) durante a subida, que é auxiliada por um
o nível de profundidade, para se avaliar o tempo gasto com as balão contendo gás. No entanto, há risco de barotrauma durante
sucessivas paradas descompressivas. a descida (barotrauma de retração), pois, ao atingir uma grande
° tratamento do paciente com síndrome de descompressão profundidade ( 1 25 m), a pressão externa à qual a pessoa está
é a recompressão. Para tal, a vítima deve ser removida cuida sujeita supera 1 3 atm, e o volume de ar contido nos pulmões
dosamente para um local onde haja uma câmara hiperbárica, torna-se 1 / 1 3 do volume inspirado. A drástica redução no volume
dentro da qual deverá ser mantida sob alta pressão. Dessa forma pulmonar, que pode ser inferior ao volume residual normal, favo
o volume das bolhas se reduzirá, forçando-as a entrar de novo rece a instalação de barotraumas e atelectasias alveolares.
em solução, aliviando grande parte dos sintomas. A seguir, deve 2) ° nitrogênio pode causar narcose, pois embora seja conside
se promover a descompressão lenta, eliminando-se o gás que se rado um gás inerte, a uma profundidade de 50 m algumas pessoas
encontra dissolvido nos tecidos e evitando-se que outras bolhas já apresentam um estado de redução de consciência semelhante
se formem. à embriaguez, provocada, possivelmente, pela difusão do nitro
Concentrações elevadas de oxigênio são contra-indicadas, gênio em tecido adiposo e SNC. Pode-se evitar a narcose por
pois o oxigênio sob altas pressões gera toxicidade, levando a nitrogênio substituindo-o por outros gases que apresentem menor
processos convulsivos e lesões no SNC, possivelmente por solubilidade, como hélio e hidrogênio.
i nibição de diversas enzimas, como as desidrogenases que 3) ° "apagamento", descrito durante o mergulho livre,
contêm grupamentos sulfidrila. Ademais, a inalação de oxigênio consiste na perda da consciência do indivíduo debaixo d'água.
puro pode, como já relatado anteriormente, causar destruição Antes do mergulho, o indivíduo hiperventila voluntariamente,
dos pneumócitos II, alterações no surfactante pulmonar, edema o que acarreta redução da PaC02, principal fator estimulante
intersticial pulmonar, atelectasia, hemorragia alveolar, infla da respiração. Isso permite ao mergulhador permanecer mais
mação brônquica e alveolar, deposição de fibrina, espessamento tempo submerso, até que a PaC02 se eleve e haja estímulo para
e hialinização das membranas alveolares, além de edema cere respiração, ou que a P02 se torne tão baixa que estimule a respi
bral. A uma profundidade de 40 m (4 atm) uma pessoa respi ração. Ao iniciar a subida, a pessoa estará exposta a pressão
rando oxigênio puro entra em processo convulsivo em cerca atmosférica progressivamente menor, fazendo com que a P02
de 30 minutos, antecedido por náuseas, zumbido e espasmos se torne ainda mais baixa, o que acarreta perda da consciência
faciais. e, conseqüentemente, morte, se não for resgatada a tempo por
Uma forma de evitar os riscos da embolia é utilizar, para outro mergulhador.
mergulhos profundos, misturas gasosas contendo hélio e oxigênio.
° hélio tem as seguintes vantagens: (a) por apresentar metade da
solubilidade do nitrogênio, dissolve-se menos nos tecidos, (b) o AFOGAMENTO
He apresenta 1 /7 do peso molecular do nitrogênio, o que facilita a
difusão, e (c) sua menor densidade reduz o trabalho respiratório.
Afogamento é um processo que envolve a morte ou asfixia
Todavia, o hélio apresenta algumas desvantagens, como maior
pela inalação de água, que interfere com o surfactante, promo
condutividade térmica, o que acelera a perda de calor, tornando
vendo a atelectasia. No caso de a água ser do mar, pode haver,
a termorregulação um problema adicional.
ainda, a passagem de fluido do sangue para os espaços alveo
Outros problemas ocorrem durante o mergulho:
lares dos pulmões, devido às forças osmóticas. Algumas pessoas
1) As lesões da membrana timpânica decorrem da compressão não morrem afogadas por inalação de água, mas sim por grave
do gás no interior da trompa de Eustáquio. Complementarmente,
asfixia devido à oclusão reflexa das vias aéreas pela muscula
pessoas apresentam mal-estar, devido à diferença de pressão
tura laríngea.
entre o ouvido médio e a cavidade oral. Nesses casos torna-se
necessário igualar as pressões. Normalmente, a tração do meato
acústico interno realizada pela prega salpingofaríngea durante
o processo de deglutição é suficiente para permitir que as pres INTOXICAÇÃO POR MONÓXIDO
sões entrem em equilíbrio. Alguns artifícios podem ser utili DE CARBONO
zados para promover a abertura do meato acústico interno, como
mascar goma ou tentar expirar pelo nariz, contra uma obstrução A utilização de altas P02 é um método terapêutico indi
mecânica das vias aéreas superiores, aumentando desta forma cado, principalmente, em casos de intoxicação por monóxido
fISIOLOGIA RESPIRATÓRI A E�\1 Al\ IBIENTES ESPECIAIS 675
mento epitelial das vias aéreas superiores, alterando-o de cilín redução progressiva da complacência da parede torácica, do
drico simples ciliado para pavimentoso estratificado (metaplasia recolhimento elástico do pulmão e da força dos músculos respi
escamosa). ratórios.
O envelhecimento provoca redução da complacência da
parede torácica e do sistema respiratório, bem como do recolhi
RESPIRAÇÃO PERINATAL mento elástico do pulmão, resultando em aprisionamento de ar
(aumento do volume residual), aumento da capacidade residual
A respiração é o processo que envolve a oxigenação do sangue funcional e maior trabalho respiratório . A redução da compla
e a remoção do gás carbônico. Portanto, não poderíamos deixar cência de parede torácica envolve tanto a complacência do arca
de falar na circulação perinatal. O sangue, que chega ao feto antes bouço ósseo quanto do compartimento diafragma-abdômen.
do nascimento através da veia umbilical, apresenta uma P02 de Alterações na forma do tórax - secundárias a comprometi
aproximadamente 30 mmHg, atinge os pulmões com 1 9 e retorna mento ósseo, como calcificação de cartilagens costais e junções
à placenta com cerca de 1 5 -20 mmHg. Devido à proximidade condroesternai.s, doença óssea degenerativa, fraturas vertebrais,
entre os vasos maternos e os fetais e à alta afinidade da hemoglo osteoporose - modificam a mecânica da parede torácica.
bina fetal pelo oxigênio, é possível a oxigenação do sangue fetal A função dos músculos respiratórios também é afetada pelo
(hematose) . Os pulmões, neste período, estão atuando apenas envelhecimento, em conseqüência de alterações geométricas
como uma área de consumo de oxigênio e de atividade celular. do arcabouço ósseo, estado nutricional, função cardíaca, ou por
Porém, só com o nascimento e a elevação da pressão do átrio redução da massa e função dos músculos periféricos associada
esquerdo é que eles se tornarão funcionais e deixará de haver com a idade.
mistura entre o sangue arterial e o venoso. A troca gasosa permanece bem preservada, apesar da redução
O ap,!relho cardiovascular no recém-nascido apresenta-se mais da superfície de área alveolar e maior heterogeneidade da relação
desenvolvido em relação à circulação venosa, por onde previa ventilação-perfusão. A reduzida sensibilidade dos centros respi
mente chegava o sangue rico em oxigênio. Portanto, o coração ratórios à hipóxia e hipercapnia pode resultar em resposta venti
direito constitui a porção mais desenvolvida. Com o fechamento latória diminuída em caso de doença aguda, como falência
da comunicação interatrial,foramen ovale, ocorre maior demanda cardíaca, infecção ou obstrução de vias aéreas.
do trabalho a ser realizado pelas câmaras esquerdas do coração,
levando, então, à hipertrofia dessas cavidades, predominante
mente do ventrículo esquerdo. O fechamento do ductus arte BIBLIOGRAFIA
riosus, que comunicava a artéria pulmonar com a aorta, ocorre
logo em seguida ao nascimento e é mediado pela liberação de COMROE Jr JH. Fisiologia da Respiração. Rio de Janeiro. Guanabara
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é comum não ocorrer o fechamento do forame i nteratrial ou
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