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O TEOREMA DE CAYLEY-HAMILTON E AS MATRIZES INVERSAS

Jessé Geraldo de Resende*

Resumo: Este artigo tem por finalidade apresentar uma maneira diferente de se
obter a matriz inversa através do Teorema de Cayley-Hamilton.

Palavras-chave: Matriz Inversa, Teorema de Cayley-Hamilton.

Abstract: This article aims to present a different way to obtain the inverse matrix by
Cayley-Hamilton theorem.

Keywords: Inverse Matrix, Cayley-Hamilton Theorem.

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1. INTRODUÇÃO

Há vários métodos para se encontrar a matriz inversa de uma matriz quadrada


𝐴. Um método muito utilizado para se obter a inversa é o algoritmo da eliminação
Gaussiana, que nos permite obter o inverso de uma matriz ou indicar que esta não
possui uma inversa.
Iremos propor aqui, pois, outro método para obtenção da matriz inversa: a
utilização do Teorema de Cayley-Hamilton. Este teorema é um dos mais importantes
da Álgebra Linear. Trata-se de um método que , além de fornecer a matriz inversa,
pode ser utilizado pelo professor do ensino médio para verificação da aprendizagem
das operações algébricas com matrizes e cálculo de determinantes.
Neste texto trabalharemos com matrizes no corpo dos números reais. Sempre
que tratarmos de uma matriz 𝐴, consideraremos como uma matriz quadrada de
ordem 𝑛.

2. POLINÔMIOS CARACTERÍSTICOS

Para iniciarmos, vamos utilizar a definição de Lipschutz (1994, p. 399) para o


polinômio característico de uma matriz adaptada para o corpo dos números reais.
Considere um polinômio 𝑝(𝑡) sobre o corpo ℝ,
𝑝 𝑡 = 𝑎𝑛 𝑡 𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑡 𝑛−1 + ⋯ + 𝑎1 𝑡 + 𝑎0
Se 𝐴 é uma matriz quadrada sobre ℝ, então definimos
𝑝 𝐴 = 𝑎𝑛 𝐴𝑛 + 𝑎𝑛 −1 𝐴𝑛 −1 + ⋯ + 𝑎1 𝐴 + 𝑎0 𝐼 onde em que 𝐼 é a matriz identidade de
ordem 𝑛. Em particular, dizemos que 𝐴 é uma raiz ou um zero do polinômio 𝑝 𝑡 se
𝑝 𝐴 = 0.

3. TEOREMA DE CAYLEY-HAMILTON

Consideremos uma matriz quadrada de ordem 𝑛:


𝑎11 ⋯ 𝑎1𝑛
𝐴= ⋮ ⋱ ⋮
𝑎1𝑛 ⋯ 𝑎𝑛𝑛

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A matriz 𝐴 − 𝑡𝐼, em que 𝐼 é a matriz identidade de ordem 𝑛 e 𝑡 uma
indeterminada, é chamada matriz característica de 𝐴:
𝑎11 − 𝑡 ⋯ 𝑎1𝑛
𝐴 − 𝑡𝐼 = ⋮ ⋱ ⋮
𝑎1𝑛 ⋯ 𝑎𝑛𝑛 − 𝑡
O determinante de 𝐴 − 𝑡𝐼 será representado por
𝑝 𝑡 = 𝐴 − 𝑡𝐼 ,
que é um polinômio em 𝑡, um polinômio característico de 𝐴. Dizemos que 𝐴 − 𝑡𝐼 =
0 é a equação característica de 𝐴.
Vamos agora enunciar e provar o Teorema de Cayley-Hamilton reproduzindo a
demonstração dada por Lipschutz (1994, p. 432):
Teorema: Toda matriz é um zero do seu polinômio característico.
Demonstração: Seja 𝐴 uma matriz arbitrária e 𝑝 𝑡 seu polinômio
característico:
𝑝 𝑡 = 𝐴 − 𝑡𝐼 = 𝑡 𝑛 + 𝑎𝑛 −1 𝑡 𝑛−1 + ⋯ + 𝑎1 𝑡 + 𝑎0
Denotemos por 𝐴𝑑𝑗 𝐴 − 𝑡𝐼 a adjunta clássica da matriz 𝐴 − 𝑡𝐼. Os elementos
de 𝐴𝑑𝑗 𝐴 − 𝑡𝐼 são cofatores da matriz 𝐴 − 𝑡𝐼 e, então, são polinômios em 𝑡 de grau
não superior a 𝑛 − 1. Assim
𝐴𝑑𝑗 𝐴 − 𝑡𝐼 = 𝐵𝑛−1 𝑡 𝑛−1 + ⋯ + 𝐵1 𝑡 + 𝐵0
em que os 𝐵𝑖 são matrizes quadradas 𝑛 − 1 × 𝑛 − 1, que são independentes de 𝑡.
Pela propriedade fundamental da adjunta clássica temos:
𝐴 − 𝑡𝐼 𝐴𝑑𝑗 𝐴 − 𝑡𝐼 = 𝐴 − 𝑡𝐼 𝐼
ou
𝐴 − 𝑡𝐼 𝐵𝑛−1 𝑡 𝑛−1 + ⋯ + 𝐵1 𝑡 + 𝐵0 = 𝑡 𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑡 𝑛−1 + ⋯ + 𝑎1 𝑡 + 𝑎0 𝐼
Removendo os parênteses e igualando os coeficientes das potências
correspondentes de 𝑡,
−𝐵𝑛−1 = 𝐼
𝐴𝐵𝑛−1 − 𝐵𝑛−2 = 𝑎𝑛−1 𝐼
𝐴𝐵𝑛−2 − 𝐵𝑛−3 = 𝑎𝑛−2 𝐼

𝐴𝐵1 − 𝐵0 = 𝑎1 𝐼
𝐴𝐵0 = 𝑎0 𝐼
Multiplicando as equações matriciais por 𝐴𝑛 , 𝐴𝑛 −1 , … , 𝐴 e 𝐼, respectivamente,
−𝐴𝑛 𝐵𝑛−1 = 𝐴𝑛
3
𝐴𝑛 𝐵𝑛−1 − 𝐴𝑛−1 𝐵𝑛−2 = 𝑎𝑛 −1 𝐴𝑛 −1
𝐴𝑛−1 𝐵𝑛−2 − 𝐴𝑛 −2 𝐵𝑛−3 = 𝑎𝑛−2 𝐴𝑛 −2

𝐴2 𝐵1 − 𝐴𝐵0 = 𝑎1 𝐴
𝐴𝐵0 = 𝑎0 𝐼
Somando as equações matriciais acima temos:
0 = 𝐴𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝐴𝑛 −1 + ⋯ + 𝑎1 𝐴 + 𝑎0 𝐼
Em outras palavras, 𝑝 𝐴 = 0. Assim, 𝐴 é um zero do seu polinômio característico.

4. COMO OBTER A MATRIZ INVERSA USANDO O TEOREMA DE CAYLEY-


HAMILTON?

Em primeiro lugar, vamos lembrar que a matriz inversa de uma matriz 𝐴,


quando existente, tem a seguinte propriedade:
𝐴 ∙ 𝐴−1 = 𝐴−1 ∙ 𝐴 = 𝐼
Seja 𝑝 𝑡 o polinômio característico de 𝐴 , em que
𝑝 𝑡 = 𝑡 𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑡 𝑛−1 + ⋯ + 𝑎1 𝑡 + 𝑎0
Como sabemos que a própria matriz 𝐴 é raiz de seu polinômio característico temos:
𝑝 𝐴 = 𝐴𝑛 + 𝑎𝑛 −1 𝐴𝑛 −1 + ⋯ + 𝑎1 𝐴 + 𝑎0 𝐼 = 0
Em seguida, vamos mostrar como podemos utilizar o teorema de Cayley-Hamilton
para chegarmos a uma expressão que nos fornecerá a matriz inversa. Vamos,
primeiramente, multiplicar a equação do polinômio característico por 𝐴−1 (inversa de
𝐴), como segue:
𝐴−1 𝐴𝑛 + 𝑎𝑛 −1 𝐴−1 𝐴𝑛 −1 + ⋯ + 𝑎1 𝐴−1 𝐴 + 𝑎0 𝐴−1 𝐼 = 0 ∙ 𝐴−1
𝐴−1 𝐴𝐴𝑛−1 + 𝑎𝑛 −1 𝐴−1 𝐴𝐴𝑛−2 + ⋯ + 𝑎1 𝐴−1 𝐴 + 𝑎0 𝐴−1 𝐼 = 0 ∙ 𝐴−1
𝐴𝑛 −1 + 𝑎𝑛 −1 𝐴𝑛 −2 + ⋯ + 𝑎1 𝐼 + 𝑎0 𝐴−1 = 0
−𝑎0 𝐴−1 = 𝐴𝑛 −1 + 𝑎𝑛 −1 𝐴𝑛 −2 + ⋯ + 𝑎1 𝐼
1 𝑛 −1 𝑎𝑛−1 𝑛 −2 𝑎1
𝐴−1 = − 𝐴 − 𝐴 − ⋯− 𝐼
𝑎0 𝑎0 𝑎0
Dessa forma, podemos expressar a matriz inversa através de uma sequência de
operações simples com a matriz A.

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5. O ALGORITMO E SUA INTERAÇÃO COM AS OPERAÇÕES ALGÉBRICAS E
COM MATRIZES E DETERMINANTES

A aplicação do Teorema de Cayley-Hamilton para a obtenção da matriz inversa


exige que se tenha o domínio de todas as propriedades das operações com matrizes
e suas propriedades. Senão, vejamos que o primeiro passo é encontrarmos o
polinômio característico e, para isso, é necessário conhecermos as regras para obter
o determinante. A partir do momento em que temos o polinômio característico,
fazemos uso do teorema e, em seguida, aplicamos a propriedade das matrizes
inversas. A expressão que nos fornece a matriz inversa exige que se domine mais
uma série de propriedades das operações algébricas das matrizes, como o produto,
a soma e a multiplicação por escalar.
Para ilustrar isso, vamos resolver um exercício para exemplificarmos como o
método pode ser usado pelo professor do ensino médio no processo de avaliação do
desempenho do aluno após o estudo de matrizes e determinantes.
1 3 0
Consideremos a matriz 𝐴 = −1 1 −1 . Vamos encontrar sua inversa utilizando o
3 0 1
Teorema de Cayley-Hamilton.
Primeiro, vamos encontrar seu polinômio característico:
1−𝑡 3 0
3
𝑝 𝑡 = 𝐴 − 𝑡𝐼 = −1 1−𝑡 −1 = 1 − 𝑡 −9+3 1−𝑡
3 0 1−𝑡
= −𝑡 3 + 3𝑡 2 − 3𝑡 + 1 − 9 + 3 − 3𝑡
𝑝 𝑡 = −𝑡 3 + 3𝑡 2 − 6𝑡 − 5
Uma vez encontrado o polinômio característico, vamos para o segundo passo, que é
utilizar o resultado do Teorema de Cayley-Hamilton:
𝑝 𝐴 = −𝐴3 + 3𝐴2 − 6𝐴 − 5𝐼 = 0
Multiplicando o resultado pela matriz inversa de 𝐴, temos:
−𝐴−1 𝐴3 + 3𝐴−1 𝐴2 − 6𝐴−1 𝐴 − 5𝐴−1 𝐼 = 0 ∙ 𝐴−1
−𝐴2 + 3𝐴 − 6𝐼 − 5𝐴−1 = 0
5𝐴−1 = −𝐴2 + 3𝐴 − 6𝐼
1 3 6
𝐴−1 = − 𝐴2 + 𝐴 − 𝐼
5 5 5

5
Tendo a expressão da matriz inversa em função de 𝐴,aplicamos as operações
algébricas com matrizes, como segue:
1 3 0 1 3 0 −2 6 −3
𝐴2 = −1 1 −1 ∙ −1 1 −1 = −5 −2 −2
3 0 1 3 0 1 6 9 1

1 −2 6 −3 3 1 3 0 6
𝐴−1 = − −5 −2 −2 + −1 1 −1 − 𝐼
5 5 5
6 9 1 3 0 1
Finalmente, obteremos a inversa procurada:
1 3 3

5 5 5
2 1 1
𝐴−1 = − −
5 5 5
3 9 4
− −
5 5 5

6. Conclusão

Aqui procuramos mostrar um algoritmo que, além de fornecer a matriz inversa,


também serve como forma de verificação da aprendizagem dos tópicos relacionados
às matrizes e determinantes. Vale ressaltar que, utilizando o algoritmo, podemos
encontrar a inversa de qualquer matriz quadrada. A dificuldade de se achar a inversa
por esse método reside no cálculo do polinômio característico. Para o professor de
ensino médio, essa dificuldade não será grande, já que nesse nível as matrizes que
mais figuram são de ordem 3, no máximo, estudada nos exercícios de fixação ou
mesmo em vestibulares.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LIPSCHUTZ, Seymor. Álgebra Linear: teoria e problemas (Coleção Schaum). São


Paulo: Pearson Makron Books, 1994.

MATEMÁTICA ESSENCIAL. Disponível em:


http://www.mat.uel.br/matessencial/superior/alinear/cay-ham.htm. Acesso em: 20 de
novembro de 2013.

IEZZI, Gelson et al. Fundamentos de Matemática Elementar. vol. 4. São Paulo:


Atual, 1997.

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