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Rubens Amaral • Nélia Cursino

DOLORES DO EVANGELHO
Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Santos - 2018
1ª reimpressão

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© 2006 by Rubens Azevedo do Amaral e Nélia Cursino da Silva, cedidos a
VIP – Vila Ponte Nova Instituição Promocional.
É permitida a reprodução parcial desta publicação, desde que citada a fonte.

Créditos

Autores Rubens Azevedo do Amaral


Nélia Cursino da Silva
Revisão Maria Aparecida Esteves Martins
Capa/Diagramação Nildo Xavier de Souza
Fotos Acervo pessoal (Irmã Dolores)

Os direitos e a renda dessa edição são reservados à


VIP – Vila Ponte Nova Instituição Promocional.
Rua Rio de Janeiro, 319, São Vicente/SP,
CEP 11347-000 - Tel.: (13) 35664407.
CNPJ: 00034304/0001-70 - Inscrição Estadual: Isento

Dados Internacionais de Catalogação


Sistema de Bibliotecas da Universidade Católica de Santos - SIBIU

A485d Amaral, Rubens Azevedo do


Dolores do evangelho: caminhos de santidade da guerreira da paz / Rubens
Azevedo do Amaral, Nélia Cursino da Silva – Santos : [s.n.], 2006.
184p. : il. ; 21 cm.

I. Amaral, Rubens Azevedo do. II. Silva, Nélia Cursino da. 1. Dolores do
evangelho: caminhos de santidade da guerreira da paz.

1ª Reimpressão 2018. Tiragem: 500 exemplares CDU 92

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Agradecimentos

A Deus “Sumo Bem”, que me permitiu conhecer e


conviver com alguém como a Irmã Maria Dolores; e pela admiração e
respeito que sinto por ela, acalentar o sonho de editar um livro sobre a
sua vida e seu trabalho de dedicação amorosa e total aos mais pobres,
aos mais sofridos desta terra.
Ao Dr. Rubens Amaral, que aceitou o convite e a
tarefa fundamental, de juntos coletar, confirmar e organizar as infor-
mações, para elaborarmos a idéia matriz deste livro que hoje se torna
uma realidade.
À professora Maria Helena de Almeida Lambert,
amiga da Irmã Maria Dolores e colaboradora incansável em todos os pro-
jetos e serviços dedicados à comunidade, e que prontamente nos auxiliou
a realizar esta etapa tão difícil do trabalho gráfico e edição deste livro.
A Nildo Xavier de Souza, da Coordenadoria de
Serviços Gráficos da UniSantos, que se empenhou e colocou muita de-
dicação e entusiasmo neste trabalho.
À Vanda Lourdes, em especial, pois sem a sua ajuda
não teria acesso a tantas informações.
À Carolina, irmã de Maria Dolores, que desde que
soube desta idéia incentivou para que se concretizasse, afirmando achar
muito importante a elaboração deste livro, para que fique registrado
não só no Brasil como em outros países inclusive em sua terra natal
o quanto esta mulher hoje no auge dos seus 80 anos continua firme e
forte em lutar por justiça e pela dignidade humana, para que nunca caia
em esquecimento.
A todas as pessoas que direta e indiretamente colabo-
raram, mesmo aquelas cujas palavras ou nome não constam neste livro,
mas que fazem parte da vida, da luta e da caminhada da Irmã Ma-
ria Dolores, sintam-se presentes nestas páginas escritas a muitas mãos,
construídas em mutirão.
Nélia Cursino

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Maria Dolores Muñiz Junquera
(Lolina)

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Nossa Senhora de Covadonga

Sinto uma mistura agridoce de


angústia por não poder ajudar
a todos e de alegria por ter
aliviado alguma dor.

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Nossa Senhora da Esperança

Buscar a Deus e seus


ensinamentos em todos os
momentos e, acima de tudo,
identificar os santos.

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Índice
Prefácio..........................................................................................13
Introdução.....................................................................................15
Currículo de Vida..........................................................................19
Cronologia.....................................................................................25
Cursos Concluídos........................................................................29
Títulos Recebidos..........................................................................31
Capítulo 1
Dolores da Esperança.................................................................35
Capítulo 2
Dolores da Fortaleza...................................................................43
Capítulo 3
Dolores do Povo / Dolores Cidadã Brasileira /
Dolores do Mundo.....................................................................53
Capítulo 4
Dolores Referência.....................................................................61
Capítulo 5
Dolores da Verdade....................................................................65
Capítulo 6
Dolores do Louvor a Deus.........................................................69
Capítulo 7
Dolores da Luta..........................................................................73
Capítulo 8
Dolores das Virtudes..................................................................77
Capítulo 9
Dolores Sal e Luz.......................................................................81
Capítulo 10
Dolores do Bem.........................................................................85
Capítulo 11
Dolores dos Desamparados........................................................89

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Capítulo 12
Dolores Guerreira da Paz...........................................................93
Capítulo 13
Dolores da Fé.............................................................................97
Capítulo 14
Dolores da Indignação Cristã................................................... 103
Capítulo 15
Dolores Operária...................................................................... 109
Capítulo 16
Dolores do Amor...................................................................... 113
Capítulo 17
Dolores Santa........................................................................... 119
Capítulo 18
Dolores Videira........................................................................ 125
Capítulo 19
Dolores Profeta......................................................................... 129
Capítulo 20
Dolores Empreendedora.......................................................... 135
Capítulo 21
Dolores Professora.................................................................... 139
Capítulo 22
Dolores Líder........................................................................... 143
Capítulo 23
Dolores Mãe de Misericórdia................................................... 149
Capítulo 24
Fatos, fotos e realizações.............................................................. 157
Entrevista.................................................................................. 175
Trecho de palestra sobre a Campanha da Fraternidade............ 177
Letras de músicas..................................................................... 179
Capítulo Final
Dolores da Sabedoria................................................................ 181

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Prefácio

Q
ue alegria maior pode existir para uma comunidade do que
testemunhar quem lhe dá todos os dias um pouco de sua
vida?
Essa é a realidade de Irmã Maria Dolores Muñiz Junquera, Irmã
Dolores ou simplesmente Irmãzita, desde sua opção de vida no traba-
lho com as comunidades excluídas de Vila Jóquei Clube, Vila Zilda e
Vila Ponte Nova na Baixada Paulista.
É difícil imaginar tanta vitalidade e força naquele corpo frágil e
franzino. Apaixonada pelo projeto de Cristo, realiza-o a cada passo que
dá, na caminhada segura pelas ruelas suspensas de tábuas precárias, que
levam às casas sobre o mangue do Quarentenário, área continental de
São Vicente.
Quanto mais necessitada a pessoa, maior paixão desperta em Irmã
Dolores. A idéia inspirada de Nélia, que colheu os testemunhos de
quem teve o privilégio de conviver com Irmã Dolores, e o trabalho
exaustivo de Rubinho, organizando-os e associando-os às passagens bí-
blicas, deram a essa obra muito mais que uma narrativa de vida, trans-
formando-a numa peça de verdadeira evangelização dos dias atuais.
Sintam a força transformadora que Dolores gerou em cada testemu-
nho. Percebam a enorme capacidade de inspirar o amor, a conciliação,
a boa convivência e de promover a urgência solidária, no atendimento
imediato aos que necessitam de sua presença.
Observem a doçura e a paz que vêm de suas palavras e o imenso
carinho pelas crianças, seus pequeninos prediletos. E, acima de tudo,
comprovem que estar ao lado de Irmã Dolores é ter a certeza de poder
desfrutar na terra as delícias do convívio dos anjos do céu.

Luiz E. S. Cavalieri
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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Introdução

C
erto dia, ao término de nosso atendimento ambulatorial no
Quarentenário, Nélia me perguntou se eu não gostaria de
escrever um livro sobre a Irmã Dolores.
Referia ela que tinha tido essa idéia há tempos e que já estava de
posse de alguns testemunhos escritos por pessoas que conheciam o tra-
balho de Ir. Dolores os quais gostaria de reunir em um documento para
publicar.
Minha resposta foi absolutamente automática: “Quero sim.” Não
pensei sequer um momento para responder e aceitar.
Não se tratava de um simples convite para escrever um livro, até
porque, conforme a Nélia já tinha referido, muito já havia sido feito no
recolhimento dos testemunhos; tratava-se de uma bênção de Deus, e
como poderia eu recusar uma bênção divina?
A Nélia nem poderia imaginar que, para mim, ela estava se com-
portando como uma enviada de Deus, um anjo a me convidar a muito
mais do que escrever sobre a Irmã Dolores, estava me convidando a
me manter em oração enquanto perdurasse nosso desafio de organizar
e escrever o livro, porque assim seria e foi, quando nos dispusemos a
discorrer sobre a vida de uma “Santa”.
Escrever sobre a Irmã Dolores é caminhar sobre os ensinamentos
evangélicos.
Senti-me abençoado. Nunca perderia essa oportunidade.
A Nélia, num maravilhoso trabalho de fôlego, recolheu um bom
número de testemunhos de pessoas que conviveram e conheceram o
trabalho desenvolvido pela Ir. Dolores, amigos e amigas, além de arti-
gos, fotos e fatos publicados na mídia, e os guardou.

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Dolores do Evangelho

Ela precisava da ajuda de alguém para, junto com ela, desenvolver


um trabalho literário que, absolutamente protegido e iluminado pelo
Espírito Santo, poderia ser concluído.
Enquanto Nélia conversava comigo me contando sobre o seu esfor-
ço para juntar todo o material, eu já estava traçando a estratégia literária
para nosso livro.
Se ela já tinha os testemunhos, nós poderíamos, à luz do Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo, tentar travar uma dialética comparativa
entre as palavras de Salvação contidas na Bíblia e a prática cristã e guer-
reira da vida da Irmã Dolores, relatada nos testemunhos.
Não poderia ser de outra forma, mãos à obra.
Trata-se, portanto, de um livro escrito por muitas pessoas, amigos e
admiradores, verdadeiras preces testemunhais do trabalho de Ir. Dolo-
res nesta sua caminhada de santidade na terra dos homens.
Esperamos, com a proteção e com a inspiração do Espírito Santo,
contribuir na divulgação do maravilhoso serviço de justiça social que a
Dolores do Evangelho se dispõe a executar, com muito amor a Deus e
ao próximo, muita coragem e inusitadas fé e esperança, criando e me-
lhorando as condições de vida dos pobres e injustiçados.
Irmã Dolores é apaixonada pelos pobres porque é no pobre que ela
observa a mais forte manifestação da presença de Deus entre os homens
e na sua vida pessoal. É através do convívio com eles que ela caminha
para Deus.
Seu trabalho é apaixonante exatamente porque é realizado com o
verdadeiro Amor que Jesus ensinou aos homens, o Amor serviço, o
Amor partilha, o Amor fraterno, O Amor entrega, o Amor tudo.
Mais do que ninguém, Ir. Dolores sabe que Jesus é o Caminho, a
Verdade e a Vida e, na mais autêntica caminhada de Fé, através deste
Caminho e desta Verdade, ela vai gerando sempre mais Vida aos pobres
e oprimidos nas comunidades mais excluídas.
Antes de terminar preciso agradecer.
A Deus.
À Irmã Dolores, pela sua existência, o exemplo mais concreto e
contemporâneo da presença de Jesus entre os homens.

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

À Nélia Cursino, idealizadora e também autora deste livro, o meu


especial agradecimento. Valorosa mulher, pedra angular deste trabalho,
sem a qual não conseguiríamos completar esta obra.
A todos que se dispuseram a testemunhar sobre a vida de Irmã
Dolores e seus trabalhos, dispondo-se a compartilhar conosco na com-
posição da parte mais importante deste livro.
Ao querido irmão Frei Guilherme, uma das maiores inteligências
cristãs católicas, o melhor professor que conheci dos ensinamentos de
Jesus, fonte inspiradora de renovação cristã e graça.
A meus pais, que desde cedo me conduziram sabiamente pelos ca-
minhos do cristianismo católico.
À minha mulher e filhos, amados cúmplices de um caminhar.
E, sem absolutamente nenhuma pretensão literária, com muita hu-
mildade, num trabalho muito mais de organização, ousamos, Nélia e
eu, apresentar a vocês nosso esforço, intitulado: Dolores do Evangelho
– Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz.

Rubens Amaral

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Currículo de Vida

I
rmã Maria Dolores Muñiz Junquera é espanhola, nascida em Gi-
jón (Astúrias), um importante porto e um dos maiores do litoral
cantábrico. A cidade possui uma extensa praia. Em volta de típicos
bairros de pescadores, destaca-se a Colegiata do século XV e o Palácio
de Revillagigedo do século XVIII. Nasceu em 26/02/1926 no seio de
uma família numerosa, onde recebeu aos seis anos de idade o chamado
de sua vida religiosa. Quando ainda tinha cinco anos, sua professo-
ra perguntou-lhe o que queria ser quando crescesse. Ela respondeu:
“VOU SER FREIRA”. A professora retrucou duvidando: “Quero ver
se você vai dizer a mesma coisa quando tiver 20 anos”. Estudou em sua
cidade natal, Gijón, em Oviedo e na Faculdade de Medicina, em Ma-
dri. Fez votos religiosos também em Madri, onde trabalhou com jovens
operárias. Foi mestra de noviças em Ciudad Real. Trabalhou em vários
locais da Europa (França e Inglaterra); em Reims como encarregada do
atendimento e orientação a operários imigrantes portugueses e espa-
nhóis. Foi superiora em Londres, onde também desenvolveu atividades
semelhantes, pois, ao final da guerra, os países do Sul da Europa foram
os grandes provedores de mão-de-obra para os países devastados pelo
conflito. Era uma época de grandes migrações e difícil era intermediar
os contratos que não se faziam, explorando a mão-de-obra barata dos
paisses mais pobres da Europa. Após vivenciar essa experiência, Irmã
Maria Dolores transferiu-se para o Brasil em 1967, como religiosa da
Congregação Maria Imaculada. Pediu licença a Roma para trabalhar na
dependência direta do Sr. Bispo Diocesano com a finalidade de dedi-
car-se integralmente ao trabalho nas periferias.
Em Santos, ela participou da Congregação Maria Imaculada onde
era conhecida como Madre Covadonga, nome que ela adotou em ho-
menagem a Nossa Senhora de Covadonga, padroeira de sua terra.

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Dolores do Evangelho

Trabalhava com empregadas domésticas. Era um trabalho importante,


mas o que ela queria mesmo era viver no meio dos pobres. Em 1970, com
apoio do Bispo Diocesano Dom David Picão, pediu licença para trabalhar
fora da Congregação a fim de poder dedicar-se aos mais pobres, indo mo-
rar em um humilde barraco na Vila Jóquei em São Vicente-SP. Formou a
comunidade local, organizou vários serviços, como atendimento às mães,
ambulatório, classes para as crianças e foi a primeira professora do MO-
BRAL (Movimento de Alfabetização). Criou as Legionárias da JIP-Jóquei
Instituição Promocional, onde organizou vários cursos profissionalizantes
que existem até hoje, dando oportunidade de emprego a centenas de jo-
vens.Ficou lá até o dia em que o Bispo nomeou dois padres italianos recém
chegados ao Brasil, para cuidarem do trabalho de evangelização no local, já
que a população havia aumentado consideravelmente.
Nessa época, estava surgindo um núcleo habitacional destinado à
transferência de famílias que moravam em um morro que estava de-
sabando, oferecendo riscos de vida aos seus moradores. O lugar, no
município de Guarujá-SP, foi batizado de Vila Zilda em homenagem à
esposa do governador daquela época (Laudo Natel). Em 1979, foi para
Vila Zilda Natel. Sua casa era também bastante pobre. Quando chovia,
ficava com aproximadamente 25cm de água. Uma das primeiras lutas
foi a organização da população para adquirir a posse da terra, instalou
inúmeros equipamentos de atendimento como Posto de Saúde, escola
infantil e Alfabetização de Adultos.Com a participação da população
local e de integrantes do movimento de Cursilhos de Cristandade que
sempre a seguiram, foi construído um Centro Comunitário e erguida
uma Igreja com apartamento destinado a um futuro pároco.
Dava assistência a várias favelas que surgiram no local.Uma delas
vale a pena ser citada: a Vila da Noite, que recebeu esse nome pois seus
moradores invadiram o local e construíram seus barracos durante a noi-
te, para evitar possíveis ações de impedimento.
Como a população cresceu muito em toda região, o Bispo também
designou um padre para o local e que foi o primeiro morador do apar-
tamento construído na Igreja. E, novamente, Irmã Maria Dolores foi
em busca de outros ares.
Em 1989 foi para Área Continental de São Vicente – SP e colaborou
nos diversos bairros; inicialmente em Humaitá, onde havia um terreno
reservado para edificação de uma Igreja e de um Centro Comunitário.

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Faltava só o dinheiro para construí-los Ela, contando com seus colabo-


radores, juntou todos os documentos necessários e mandou um pedido
para Adveniat na Alemanha.
Em 1991 foi para o Bairro de Samaritá onde foi morar nos fundos
da Capela Santa Terezinha. Os mosquitos pólvora existentes na região
eram terríveis. Mas ela começou a exercer seu trabalho social e apostóli-
co em todas as vilas existentes na região. No mesmo ano em que foi para
o Bairro de Samaritá, houve a invasão de um terreno de propriedade do
Ministério da Agricultura no local conhecido como Quarentenário, an-
tiga área ocupada apenas pelo gado antes de ser abatido no matadouro e
também contaminada por lixo químico (Hexaclorobenzeno).
Irmã Maria Dolores não teve dúvida, partiu para lá, não se esquecen-
do de “reservar” também uns espaços para suas construções. Foi morar
lá, ajudando na ocupação e organização. Os barracos eram erguidos por
meio de mutirão, em menos de 24 horas. E a população foi crescendo.
Contando com a colaboração de Frei Guilherme Sônego da Paróquia
do Embaré, em Santos, as missas eram rezadas ao ar livre. Construiu
a Capela N. Sra. Esperança, com apoio da Adveniat da Alemanha e da
Universidade Católica de Santos – UniSantos. Construiu o Posto de
Saúde, Centro Comunitário, contando também com a colaboração da
ONG espanhola “Manos Unidas”. A distância entre Samaritá e o Qua-
rentenário era bastante grande e ela fazia diariamente todo o trajeto a pé.
A comunidade da Igreja do Embaré construiu para ela uma casa ao lado
da Capela. Com o auxílio da ONG Manos Unidas, construiu a Escola
Profissionalizante “Irmã Maria Dolores” com oficinas de Informática,
Manutenção de Microcomputadores, Costura Industrial, Panificação,
Confeitaria, Elétrica Básica e Instalador, Assistente Administrativo, Ar-
tesanato, Corte e Costura, Cabeleireiro e Inglês.Organizou a Biblioteca
Comunitária VIP, que conta com 3800 títulos cadastrados.
A escola infantil teve seu início com aulas na Igreja e no Centro
Comunitário, depois foram construídas duas salas anexas ao Centro
Comunitário. Com a ampliação do número de salas em parceria com a
Prefeitura, tornou-se então EMEI “Nossa Senhora da Esperança” com
300 crianças. Em 1996, com ajuda dos frades e de paroquianos da Igre-
ja Santo Antonio do Embaré de Santos, Irmã Maria Dolores construiu
a EMEF “Raul Rocha do Amaral”, onde estudam 1500 alunos.

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Dolores do Evangelho

Fundou também a Associação de Mulheres N. Sra. da Esperança,


que luta pelos direitos da Mulher, da Criança e Adolescente.
Construiu o Centro de Parto Normal “Dr. David Capistrano Fi-
lho”, onde desde 2003, recebe gestantes para terem o parto de forma
humanizada.
Irmã Maria Dolores, conhecida pela sua dedicação aos pobres e
injustiçados, recebeu o título de: “Mulher do Ano” (pela Câmara de Ve-
readores de Santos); “Cidadã Vicentina” (pela Câmara de Vereadores de
São Vicente); e o prêmio “Santo Dias de Diretos Humanos 2000” (pela
Assembléia Legislativa de São Paulo). Em 2004, foi homenageada pelo
Dia Internacional da Mulher (Assembléia Legislativa de São Paulo).
É uma figura extraordinária, corinthiana roxa. No ano de 2002 por
ocasião da Copa do Mundo de Futebol, ela estava na Europa, onde viu
algumas pessoas balançando uma bandeira corinthiana. Eles ficaram
admirados por encontrar uma espanhola torcendo para o Corinthians.
Um disse para o outro: “Tá vendo só. Tem torcida do Corinthians no
mundo inteiro.” E ficaram ainda muito mais admirados quando ela
falou: Então vamos cantar o hino do Corinthians e começou: “Salve
o Corinthians, o Campeão dos Campeões, Eternamente.....”. E todos
cantaram juntos, entusiasmados com aquela surpresa.
Irmã Maria Dolores, dotada de uma grande força espiritual, apesar
de sua aparência frágil; sua vida é de um exemplo de luta incansável
pela PAZ e conquista dos Diretos dos Oprimidos.
É reconhecida por seu trabalho comunitário local e regional, que
chega à amplitude nacional por sua participação em fóruns nacionais,
palestras, cursos, na luta pela Paz, Diretos Humanos das mulheres, di-
minuição da pobreza, manutenção do meio ambiente, contra violência
e discriminação, pela educação e saúde.
Inúmeras pessoas são beneficiadas em cada comunidade por onde
ela passa. Atualmente só no bairro do Quarentenário são mais de
20.000 pessoas, além de muitas outras nas diversas comunidades onde
é chamada a dar palestras e cursos.
Em todas as comunidades onde atuou, Irmã Maria Dolores cons-
truiu equipamentos que permanecerão atendendo a população por mui-
tas gerações (Escola, Posto de Saúde, Creches, Associações etc...) e tam-
bém formando grupos de atuação social e conscientização da necessidade

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

de cada indivíduo exercer sua cidadania plena, cumprindo seus deveres,


mas também exigindo seus direitos, com visão crítica da sociedade.
As dificuldades sãos muitas: falta de verba, perigos como assalto,
ameaça de morte, incompreensões, perda da saúde, problemas culturais
e grande preocupação e tristeza, por não entender como no Brasil, onde
há tanta terra e muito fértil, o povo passa tanta privação, não tem o que
comer, onde morar e trabalhar.
Ela é a nossa “Guerreira da Paz”.
É uma “profetisa dos tempos modernos”.
É “defensora incansável dos direitos dos pobres e injustiçados”.
“Amante da nação brasileira e de seu povo, dando a vida na luta e
na conquista por justiça, trabalho, pão e paz para todos nós.”
“Mulher de garra que não foge à luta, pela vida e pela paz.”

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Cronologia

• Nasce em 26/02/1926, em Gijón, no reino de Astúrias ao norte


da Espanha, filha de Eugenio Muñiz Olloqui e Carolina Junquera
Prendes, Maria Dolores Muñiz Junquera.
• Batizada na Paróquia São Lourenço e crismada na Paróquia de São
José.
• Em 1o de julho de 1948, entra de postulante.
• Em 27 de maio de 1956, em Madri, faz os votos perpétuos.
• Na década de 50 foi para Inglaterra e França. De Londres veio para o
Brasil.
• Trabalhou em São Paulo, depois foi trabalhar na periferia da Baixa-
da Santista.
• Em 1970 chegou ao Jóquei Clube, seu trabalho estendia-se pelos
diques das Caixetas e Sambaiatuba. Para formar uma comunidade,
a primeira coisa que construiu foi a capela São José Operário.
• Em 1971 montou a primeira pré-escola de São Vicente.
• Em 24 de junho de 1976, foi construído o ambulatório médico e
dentário.
• Em 15 de agosto de 1977, formou a 1a turma de Legionárias e tudo
isso no terreno da Igreja.
• Em 24 de maio de 1979, inauguração do prédio - Jóquei Clube
Instituição Promocional (Escola Profissionalizante – JIP).
• Em 1979, chegou à Vila Zilda.
• Em 02 de fevereiro de 1987, construiu a Igreja Jesus Nazareno (Vila
Zilda).
• Em 1989 foi para a área continental de São Vicente, que compre-
ende os bairros de Samaritá, Parque das Bandeiras, Gleba I, Gleba
II, Parque Continental, Jardim Rio Branco e Humaitá, onde foi

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Dolores do Evangelho

morar no início ajudando a construir a Igreja Beato José de Anchie-


ta e com a ajuda de Advenit, o centro comunitário, deixando esta
obra bastante adiantada quando se afastou. Implantou a Pastoral da
Criança entre outros trabalhos. Foi para a Capela Santa Terezinha
em Samaritá e continuou seus trabalhos.
• Em 1991, foi para o Quarentenário/Vila Ponte Nova.
• Em dezembro de 1993, construiu a Igreja Nossa Senhora da Esperança.
• Em 26 de janeiro de 1994, construiu o posto de saúde.
• Em 26 de julho de 1996, construiu a EMEF Raul Rocha do Amaral.
• Em 05 de abril de 1997, construiu a Vila Ponte Nova Instituição
Promocional – VIP – (Escola Profissionalizante).
• Em 1º de janeiro de 2000, construiu a Capela São Francisco e
Santa Clara.
• Em 18 de outubro de 2000, construiu o Salão Oficina Costura
Industrial.
• Em 11 de fevereiro de 2001, construiu a Capela Nossa Senhora
de Lourdes.
• Em 20 de janeiro de 2002, construiu o Centro de Parto Normal
“Dr. David Capistrano Filho”.
• Em 26 de janeiro de 2002, construiu a Biblioteca Comunitária
VIP.
• Em 26 de outubro de 2003, construiu EMEI “Nossa Senhora da
Esperança”.
• Em 1o de janeiro de 2004, construiu a Capela N. Sra. da Paz.

Uma família de oito irmãos:


1o Maria Electra
2o Orfelina
3o Amanda
4o Eugenio
5o Amália
6o Maria Dolores
7o Carolina
8o Alfredo

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Perfil:
Nome: Maria Dolores Muñiz Junquera
Data Nascimento: 26/02/1926
Signo: Peixes
Profissão: Professora e religiosa
Religião: Católica
Família: Lembrança
Qualidade: Amor pelos pobres
Defeito: Explosiva
Ídolo: Jesus Cristo
Livro: Bíblia Sagrada
Música: Clássica
Time do coração: Sport Club Corínthians Paulista

Um sonho:
Ver um dia a nossa sociedade como o reino de Deus. Frater-
na, igualitária, onde não haja essa exclusão que existe na so-
ciedade. Não haja marginalizados e o povo tenha realmente
comida, casa, saúde e educação.

Um pesadelo:
Tenho angústia de ver como vive o povo, em palafitas, nas
ruas.

Dolores por Dolores:


O espírito de Deus está sobre mim. Ele me envia aos po-
bres.

Mensagem:
Que amemos uns aos outros, porque realmente todos somos
filhos de Deus e portanto, irmãos, sem distinção de raça e
condição social.

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Cursos Concluídos

• Real Instituto de Enseñanza Média Jovellinos de Gijón


Expedido este livro de Calificacion scolar en 30 de mayo de 1940.

• Instituto Nacional de Enseñanza Média


Gijón, 14 desiembro de 1946.

• S. E. el Jefe del estado Español


Titulo de maestra de primera Enseñanza.
En Madri, 02 de octubre de 1948.

• Ministério de Educação e Cultura


Fundação Movimento Brasileiro de Alfabetização Mobral.
Colaborou ministrando o curso de alfabetização.
São Vicente, SP - 10/10/1971 a 15/01/1973.

• Secretaria do Trabalho e Administração


Certificado.
Orientação Trabalhista.
06/10/1972.

• Centro Latino Americano de Parapsicologia (CLAP) SP - Brasil


Curso de Difusão Universitária Noções de Parapsicologia.
De 29 de janeiro a 21 de fevereiro de 1973.

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Dolores do Evangelho

• Certificado SENAC
Centro de Formação Profissional.
Curso Relações Interpessoais no Trabalho.
Santos, 14 de fevereiro de 1977.

• Certificate of Appreciation
Programa “Mulheres Ajudando Mulheres” 1979.

• Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção


Título de Bacharel em Teologia.
Em 27/04/1984 - São Paulo.

• Universidade Católica de Santos - UniSantos


Certificado de Cristologia para Leigos.
18/04/1994

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Títulos Recebidos
A Mesa e a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa de São Paulo conferem o
4O PRÊMIO SANTO DIAS DE DIREITOS HUMANOS

A luta por justiça e os direitos humanos


“Achei importantíssimo que uma Casa como essa,
que uma Casa de Leis se preocupe tanto com os
Direitos Humanos. Muitas vezes é a própria Lei
que falta com os Direitos Humanos. Então, uma
Casa de Leis que foi capaz de formar uma comis-
são de Direitos Humanos através de iniciativa do
deputado Renato Simões, merece realmente todos
os elogios. Se em uma Casa de Leis não se lutar pelos Direitos Humanos, teríamos
que falar que esta Casa nunca poderia chamar-se Casa de Leis, sendo antes de tudo
a Casa da hipocrisia, da falsidade e de todos os apelidos que poderíamos dar.
É muito importante que a comissão de familiares de mortos e desaparecidos
políticos também esteja premiada nessa noite. Um povo que esquece seu passa-
do, não tem futuro. E os ditadores e opressores sabem muito bem disso, tanto
que sempre procuram apagar a história. E um povo sem história é incapaz de se
organizar. No cristianismo se diz que os mártires são a semente de novos cristãos.
Pois bem, os desaparecidos políticos no período da Ditadura Militar, são nossos
mártires da liberdade e da democracia. A morte deles não foi em vão.
É muito importante que nossos jovens saibam que nas nossas escolas não
ensinam a verdadeira história do Brasil. O que se ensina é a história dos vence-
dores, que afirma que os que tombaram lutando contra a opressão eram ban-
didos, subversivos e revolucionários. É por isso que precisamos sempre dizer
que eles foram grandes patriotas, defensores da liberdade e da democracia e da
justiça para todos. Nossos jovens precisam ser sementes de mudança e cons-
trutores de uma sociedade justa, fraterna e igualitária. Sobretudo, os jovens
precisam saber que houve no Brasil uma Ditadura.
Muitas vezes, o povo, angustiado pela falta de trabalho, pela falta de mo-
radia, diz: “Acho que era melhor o tempo da Ditadura, porque, pelo menos,
havia trabalho”. Mais do que nunca, os jovens aqui presentes, que nasceram
depois da Ditadura, devem gravar no coração o que escutaram aqui hoje, para
não deixar a luta retroceder.
Esse século, o último do milênio, devia ser o século dos Direitos Humanos.”

Discurso da Irmã Dolores durante a entrega do Prêmio.

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Dolores do Evangelho

CIDADÃ-VICENTINA
Concedido pela Comissão Municipal de São Vicente - C.M.S.V
02/06/2000

Rotary Club de São Vicente - SÓCIA HONORÁRIA


17/02/2005

Dia de Astúrias, “LOS ASTURIANOS” más destacados de 2005


12/09/2005

DIA INTERNACIONAL
DA MULHER
08/03/2004

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Diploma “MULHER-CIDADÃ CARLOTA PEREIRA DE QUEIROZ”

A Câmara dos Deputados homenageia a diretora executiva da Vila Ponte


Nova Instituição Promocional – VIP, de São Vicente, Ir. Dolores, onde
recebera o Diploma “Mulher-Cidadã Carlota Pereira de Queiroz”,
outorgado anualmente pelo Legislativo Federal.
Brasília, 09/03/2006

50 ANOS DE VIDA RELIGIOSA


27/05/2006

Frei Guilherme,
Maria Ines e
Luiz Cavalieri

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Capítulo 1
Dolores da Esperança

“Feliz o homem que pôs sua esperança no Senhor,


e não segue os idólatras nem os apóstatas”.
Salmo 39
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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores da Esperança

I
rmã Maria Dolores Muñiz Junquera. Por que não chamá-la de Irmã
Maria Dolores da Esperança? Há mais ou menos três anos venho
guardando todo tipo de matéria que sai em jornais e depoimentos
de amigos e pessoas que trabalharam e trabalham com ela, sempre com
o pensamento em que alguém pudesse escrever um livro.
Sei que ainda teria que pesquisar muito, porque ainda há muita
coisa a ser dita sobre essa mulher que no decorrer dos anos se tornou
tão pequenina em estatura e uma grande mulher como ser humano.
Amada por muitos e até odiada por outros, lutadora sempre do lado
dos mais fracos e oprimidos, que não se deixa intimidar, e está sempre
na luta em busca de algo novo que possa ser feito em benefício dos mais
pobres.
Aqueles que a não conhecem, vão ter a oportunidade de conhecê-la
e saber um pouco de sua história. E para aqueles que já a conhecem,
fica aqui registrada a caminhada dessa mulher, exemplo de FORÇA,
CORAGEM, ESPERANÇA e FÉ.

Nélia Cursino da Silva


Paz e Bem!
13/05/2003

A Irmã Esperança

Há pessoas que têm um jeito especial de viver e seus exemplos ilu-


minam a existência dos que com eles convivem. A irmã Maria Dolores
é, com certeza, uma destas pessoas. Foi no início dos anos noventa, em
São Vicente, que conhecemos Irmã Dolores.

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Dolores do Evangelho

Ao longo destes anos, aprendemos a ver a Irmã como uma semeado-


ra de esperança e uma autêntica educadora popular, no sentido de que
tudo que pensa e faz é para servir ao povo. Para nós, ela é uma cidadã
do mundo, uma religiosa militante que conhece o seu tempo e conse-
gue ver dignidade e beleza na rebeldia humana. É uma pessoa de muita
grandeza e coragem, como o foi Frederico Ozanam, no século XIX.
A coragem e audácia da Irmã Dolores nos faz lembrar de Paulo Eva-
risto Arns, Pedro Casaldáliga e Tomás Balduino, entre outros religiosos
que vivem e lutam neste país. Estas pessoas caminharam firmes em
tempo difíceis, ao longo da segunda metade do século XX, um mundo
carente de grandes transformações sociais.
Se lembrarmos a vida de cada um de nós nos anos sessenta, quando
estavam sendo implantados os “novos” planos da contra-insurgência
e da “segurança nacional”, que resultaram nos golpes de estado e na
instalação da ditadura militar em diversos países da América Latina,
compreenderemos melhor por que pessoas como Dolores, Paulo, Pedro
e Tomás proclamam que o lugar certo da sua Igreja é junto aos pobres
e demais injustiçados.
Os lutadores por justiça e liberdade estiveram presentes nas ruas e
nos cárceres da ditadura, no exílio, no combate à tortura e ao esquadrão
da morte, na organização da resistência, das Comunidades Eclesiais de
base e das Pastorais, nos estudos da Teologia da Libertação, na conquis-
ta da anistia e na redemocratização do país. Durante esta caminhada
perdemos muitos e muitos resistiram e sobreviveram. Hoje, estão aí
lutando contra a Alca e pela soberania nacional.
Nestes últimos dez anos, acompanhamos o fazer e viver da Irmã
Dolores e das pessoas que com ela dão vida coletiva à comunidade de
Vila Ponte Nova, em São Vicente.
Tivemos a sorte de testemunhar diversos momentos da vida destas
pessoas. Aqui, queremos lembrar alguns deles, como o da construção da
Capela de Nossa Senhora da Esperança, que “quase foi Nossa Senhora
das Dores”, da celebração do “Dia do Índio” na capela “Beato José de
Anchieta”, em Humaitá, quando os meninos católicos da comunidade
lembraram Frei Bartolomeu de Lãs Casas e o papel histórico da sua
Igreja face ao genocídio dos povos indígenas (na madrugada do dia
seguinte assassinaram Galdino de Jesus Pataxó, em Brasília), do carinho
da Irmã Dolores com as pessoas pobres do Acaraú que participavam de
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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

um curso sobre manejo de solo, ministrado por professores da UNESP,


por solicitação e empenho da Irmã.
Não poderíamos deixar de lembrar um outro momento, o do dis-
curso da Irmã Maria Dolores após receber o Prêmio Santo Dias de
Direitos Humanos, concedido pela Assembléia Legislativa do Estado
de São Paulo. Foi um discurso histórico, cheio de ternura, emoção e
firmeza política. Naquele ato solene, nenhum deputado teve o brilho e
a coragem da nossa Irmã.
Por fim, queremos lembrar a criação, os êxitos e a beleza da Escola
Profissionalizante. Lá está a liderança, o zelo e o enorme carinho da
Irmã, o trabalho e o prazer de tantas pessoas em servir ao povo. “O
nome da Paz, hoje, é Educação”, disse-nos a Irmã durante um encontro
de educadores.
O bonito na Irmã Maria Dolores é o saber viver intensamente e
de forma coerente tudo que pensa e acredita. Isto faz dela uma pessoa
muito especial e uma semeadora de esperança.

J. M. Gusmão Pinto
Amigo.
Novembro/2002.

Um Sol de Esperança

Ao falarmos de Irmã Maria Dolores, temos que olhar toda a reali-


dade de pobreza e exclusão que vive a nossa nação e descobrir um sol de
esperança que brilha no meio de tanta miséria. Assim é a Irmã Dolores,
uma pessoa que sempre esteve com os mais pobres e marginalizados de
nossas comunidades.
Motivada pelo seguimento radical a Jesus Cristo presente nos po-
bres, sempre buscou o bem-estar social daqueles que são os preferidos
do seu Senhor: os marginalizados.
Desde que a conheço há mais de vinte cinco anos, sempre esteve
envolvida em questões sociais e humanas, onde existe a desesperança,
lá surge um sol a brilhar com sua pequenez de mulher e sua grandeza

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Dolores do Evangelho

de anunciadora de Jesus Cristo. Assim todos que se encontram com


ela, têm a sensação de encontrar-se com a esperança, pois está sempre
aberta a acolher e conversar.
Passados os anos, a capacidade de continuar servindo os mais po-
bres continua a mesma, o vigor e a força que brotam de seu coração são
algo que nos impressiona e cativa a todos que estão ao seu redor. Seus
momentos de oração, unidos à dor e ao sofrimento do povo, são ilu-
minados e lhe dão a força que vem do alto para superar as dificuldades
do seu cotidiano.

Pe. Valdeci João dos Santos


Santos, 12/03/2003.

TEXTO BÍBLICO - ROMANOS: 5,1-5

O motivo da nossa esperança


Assim, justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por meio
de nosso Senhor Jesus Cristo. Por meio dele e através da fé, nós temos
acesso à graça, na qual nos mantemos e nos gloriamos, na esperança da
glória de Deus. E não só isso. Nós nos gloriamos também nas tribula-
ções, sabendo que a tribulação produz a perseverança, a perseverança
produz a fidelidade comprovada, e a fidelidade comprovada produz a
esperança. E a esperança não engana, pois o amor de Deus foi derrama-
do em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

COMENTÁRIO: Dolores da Esperança, assim Nélia a


quer chamar, a Nélia Cursino, que é a principal respon-
sável pela produção deste livro. Obstinada, trabalhadora
e amiga. Uma das fiéis seguidoras da Irmã Dolores, pôde
testemunhar com muita propriedade os árduos caminhos
percorridos por esta mulher de Força, Coragem, Esperan-
ça e Fé como ela mesmo referiu no seu testemunho.
Virtudes praticadas pela Dolores da Esperança, da Forte
e Corajosa Esperança, que consegue perceber com pro-
fundidade a dimensão de sua passagem por esta terra dos

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

homens onde, como se pode inferir do texto bíblico, pre-


cisamos transformar, trocar, substituir os voláteis valores
humanos pelos reais e eternos valores do evangelho na
esperança definitiva do encontro com Deus.
É a Dolores da Esperança, que sabe captar e interpretar
com muita facilidade o evangelho de Marcos, num cami-
nhar de transformação em prol de relações humanas cada
vez mais justas e dígnas.

COMENTÁRIO: Gusmão Pinto traz, no seu rico teste-


munho, palavras de admiração e reconhecimento do tra-
balho executado pela Dolores da Esperança, como ele a
chama. Esperança renovadora e impulsionadora das ações
dessa criatura abençoada, corajosa e iluminada que, mes-
mo frente às tribulações, persevera no serviço aos pobres e
marginalizados, numa fidelidade absoluta aos ensinamen-
tos evangélicos.

COMENTÁRIO: Padre Valdeci também se refere à Do-


lores da Esperança demonstrando a grandeza do espírito
cristão dessa mulher a se colocar sempre como “sol de
esperança que brilha no meio de tanta miséria”.



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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Capítulo 2
Dolores da Fortaleza

“Eu vos amo, Senhor, minha força!


O Senhor é o meu rochedo, minha fortaleza e meu libertador.
Meu Deus é a minha rocha, onde encontro o meu refúgio,
meu escudo, força de minha salvação e minha cidadela”.
Salmo 17

“Só ele é meu rochedo, minha salvação,


minha fortaleza: jamais vacilarei”.
Salmo 61

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores da Fortaleza

Dolores, frágil caniço de Deus

D
olores, irmã Dolores: assim a conheci em 1980 quando co-
meçamos juntos a aprender teologia no bairro do Ipiranga,
em São Paulo.
Os estudantes da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assun-
ção sabiam que esta mulher vinha da Espanha. E sabiam que trabalhava
com o povo da Baixada Santista. Isto era um pouco do seu itinerário
vital, mas dentro dela havia toda uma história de vida já dedicada aos
pobres e à Igreja de Cristo.
Nós éramos principiantes na arte de pensar a fé, acompanhados
por esta mulher religiosa, que tinha compromissos sérios assumidos há
muitos anos na Europa.
Dolores é um nome que suscita preocupação, pois quem o carrega
vive compartilhando dores de outros e de outras. O peso é grande.
Como criança para amenizar, quiçá o peso, chamam-na de Lolina.
Para contrabalançar, é preciso um sorriso largo. Esta é a nossa Dolo-
res. Carrega dores, mas não se olvida de sorrir e de cantar as alegrias
do viver.

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Dolores do Evangelho

O mar é o horizonte dos asturianos

Nasce em Gijón, no reino de Astúrias ao norte da Espanha, há


quase oitenta anos. Filha de Eugenio e Carolina. Batizada na Paróquia
de São Lourenço e crismada na de São José.
Ela entra de postulante no dia 01 de julho de 1948 e faz os votos
perpétuos em 27 de maio de 1956, em Madrid. Lolina saiu das Astú-
rias, mas seu jeito de ser asturiana, nunca a abandonou.
Os asturianos são um povo nobre e autônomo, que possuem ninfas
de água doce a protegê-los. Ninfas chamadas na língua local de “xanas”,
de pequena estatura, extraordinária beleza e uma larga cabeleira rúbia.
A estatura de nossa irmã Dolores condiz com os seres encantados de sua
infância. Sua beleza também; faltou-lhe somente a larga melena. Um
detalhe secundário para o que sua proteção espiritual realiza em favor
dos moradores da área continental de São Vicente-SP. E realiza sempre
com eles e não para eles menos ainda em seu lugar. Nisto ela é filha
legítima de Paulo Freire, o educador da autonomia e dos sujeitos autô-
nomos. Como sua terra autônoma de Astúrias em terras de Espanha.
Os asturianos festejam com vigor o “martes de antroxu”, a terça
de carnaval de um jeito próprio, mas mui similar à alegria brasileira.
A sintonia com nosso povo e com as diferentes culturas regionais se dá
com facilidade e docilidade. Dolores fala com mineiros, nordestinos,
paranaenses e com o povo caiçara com jeitinho alegre e ladino. De
frente e com respeito. Como o é o povo do norte da Espanha.
Dolores vem de um povo aberto e sem fronteiras, pois o seu norte
é o mar cantábrico. A oeste estão os portugueses, a leste os franceses,
ao sul todos os demais povos e culturas da Espanha. Quem tem o mar
por horizonte não se prende às coisas pequeninas ou mesquinhas. Em
espanhol dizemos: nada de tonterias. Dolores assumiu o mundo como
horizonte. Sua tarefa é tornar o Evangelho algo vivo e cotidiano. Sem
mitos nem mentiras. Linguagem direta e horizontes largos. Afinal é ela
filha de um marinheiro. Assim são as gentes do mar. Gestos largos e ge-
nerosos. E amizades profundas como mar. E famílias grandes e sempre
mais vastas. Sua mãe teve oito filhos e Dolores hoje tem centenas.

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Uma Covadonga no mangue caiçara

Dolores assumiu, sobretudo, o sul do planeta como expressão de


sua catolicidade. Chega ao Brasil em outubro de 1967. E se torna aos
poucos a Irmã Maria Dolores. Companheira dos diques, andarilha de
pontes e palafitas sobre os mangues santistas e na periferia pobre do
Guarujá, em uma de suas amadas comunidades: Vila Zilda. Visitei com
ela famílias descendo e subindo morros e me impressionava que do
outro lado do túnel houvesse tanta riqueza e do lado de cá tanta pobre-
za. Era claro que estávamos em dois mundos separados, não mais pelo
oceano Atlântico, mas pela divisão de classes e poder deste nosso país
injusto e desigual. Esta foi a terra e o povo que a asturiana encontrou.
E logo amou! E muito.
Ela veio da Espanha como mestra de junioristas como madre Co-
vadonga de Vicenta Maria, seu nome de religiosa na Congregação. Ela
assumira o nome da Virgem padroeira de sua terra asturiana e o da
corajosa madre fundadora.
Nossa Senhora de Covadonga é o título da Virgem das batalhas. Em
Cangas de Onis, o rei Pelayo venceu as tropas dos árabes em uma estraté-
gia que levou em conta a defesa da terra, o conhecimento do terreno e a
proteção da Virgem. Lutaram dentro de uma caverna e dela saíram vito-
riosos. De dentro do penhasco surgiu a resistência de um povo dominado
e a organização popular dos asturianos a retomar sua história. Excetuado
o aspecto da briga religiosa com os islâmicos, a arguta inteligência do rei,
a organização do povo e a fidelidade dos simples conformam um bom
tripé que explica a vida desta religiosa, sempre engajada nas lutas das
mulheres, na organização política e cidadã do povo e na resistência inte-
ligente dos pobres. Recebemos no Brasil uma Covadonga digna das lutas
e das batalhas. Tornou-se ela Covadonga das lutas, Dolores dos sonhos,
Covadonga das passeatas, Dolores dos atos públicos, Covadonga das ma-
nifestações, Dolores das festas de libertação.
Esta Covadonga, que viveu em Londres e na Espanha, será uma irmã
imersa nas vielas e nas casas para organizar, animar e congregar o povo.
Como o Rei Pelayo pelejando na Espanha moura. Esse gesto de imersão
da irmã espanhola no meio do povo brasileiro é tão valioso quanto o de
brasileiros em sua própria pátria. Essa inculturação e esse amor são sacra-
mentos profundos e generosos. Dignos dessa Maria asturiana.

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Dolores do Evangelho

Uma nova Maria

Na Bíblia sagrada existem oito mulheres com este nome. A mais


famosa do Antigo Testamento é Maria, a irmã de Moisés e de Aarão,
que canta a derrota do faraó. Maria é também a irmã de Lázaro, o ami-
go querido de Jesus. Há a Maria de Magdala. Temos a Maria, a mãe de
Tiago. Conhecemos Maria, a mulher de Cleofas. Ouvimos falar de Ma-
ria, a mãe de João e Marcos. Enfim, conhecemos Maria, aquela citada
por Paulo, mulher louvada na comunidade de Roma como modelo de
grande trabalhadora (Rm 16,6). Sem dúvida, para todos nós, cristãos,
a derradeira e sempre singular Maria, a querida e Santa Mãe de Deus,
a Virgem de Nazaré.
E o que esta Maria de Gijón, das Astúrias, da Gruta de Covadonga,
nossa Maria Dolores, tem em comum com tantas outras personagens
femininas do cânon da Escritura?
Os estudiosos tradicionais disseram que Maria quer dizer: mar
amargo. Outros diziam que Maria quer dizer: aquela que ilumina o
mar. Como uma pequena gota do mar que nos faz ver Deus.
Outros ainda diziam que Maria vem de antiga palavra que quer
dizer “senhora”. Senhora como aquela que tem opinião e vontades fir-
mes. Senhora como mulher feliz, firme e corajosa. Senhora de seus atos
e senhora diante daqueles que querem submetê-la a normas e precon-
ceitos.
Há, ultimamente, aqueles estudiosos que dizem que a palavra vem
da língua egípcia e quer dizer aquela que é plena e cheia de formosura.
E do jeito de falar oriental: a mulher bela. Maria é a excelsa.
Todas as mulheres que têm por nome Maria refletem as gotas de
Deus que iluminam o mar de amarguras de nosso viver. Todas as Marias
assumem o senhorio gentil e audaz das mulheres vencendo dominações
impostas pelo machismo. Cada Maria é manifestação da beleza e da
exaltação da feminilidade feita serviço, alegria e corresponsabilidade.
Nossa Maria Dolores mostra que é de fato a verdadeira mãe dos
pobres. Muitos assim a vêem e muitos assim a chamam. Sem títulos
honoríficos nem de nobreza. Hoje por mais de quinze anos ela é mãe
dos filhos da Vila Ponte Nova e Quarentenário, ontem mãe daqueles

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

amados filhos e filhas de Samaritá ou do Jardim Rio Branco. Anteon-


tem daqueles que viviam no Jóquei Clube ou na Vila Zilda.
Veio como missionária das Filhas de Maria Imaculada e continua
fiel à mãe de Jesus no mundo das Comunidades de Base e das lutas
populares. Fiel ao povo, como o foram os poetas e artistas de sua terra
natal: Pepín de Pría e Evaristo Valle.

A libertação é uma parceria coletiva

Veio como religiosa e se tornou uma estudiosa de teologia nas sen-


das de Leonardo Boff, Benedito Ferraro, Carlos Mesters, Maria Clara
Bingemer e tantos outros homens e mulheres da libertação.
Sua presença pessoal mudou a qualidade de vida do povo da Vila
Ponte Nova. Na área da saúde, da educação, das crianças e jovens, da
profissionalização e do parto humanizado. Sua disponibilidade nos ale-
gra. Lembro que desde cedo seu fusca azul era o ônibus do povo. Sua
casa, o albergue dos empobrecidos e sua palavra, profecia temida dos
poderosos e dos políticos da injustiça. Ela ensina e aprende. Ela critica
e ouve.
Amiga verdadeira de padres, bispos, vereadores, vereadoras, depu-
tadas e deputados, reitoras, médicas e professores. Trata-os com genti-
leza mas fala o que pensa e diz em que acredita. Amiga de mulheres e
homens que crêem na vida e nos direitos humanos. Sem restrições de
nenhum credo ou partido senão a do compromisso com a verdade e
com a justiça social.
Nunca se fechou às parcerias proveitosas e éticas. Com a organiza-
ção Manos Unidas, da Espanha. Com a Secretária de Saúde de Santos.
E, particularmente, com a Universidade Católica de Santos estabeleceu
verdadeira aliança de vida: acadêmica e transformadora. A elite pensan-
te da Academia de braços dados com o povo das periferias. Riqueza aca-
dêmica e riqueza cultural intercambiadas. E uma mão santa a abençoar
este casamento: Ir. Maria Dolores Muñiz Junquera. Verdadeira diaconi-
sa desta Igreja ecumênica e engajada na teologia da esperança.

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Dolores do Evangelho

Vinte e cinco anos de amizade

Dolores nos ensina a lição do engajamento. Agora anda às voltas


com a implantação de um restaurante popular.
Maria Dolores nos convoca para retiros, palestras, aulas, conferên-
cias, apoio para bibliotecas, passeios às margens dos rios e mangues,
visitas para paróquias, escolas, almoços e cafés, sempre comunitários e
plenos de partilha, leituras de livros, artigos, consultas políticas e teoló-
gicas, e nós nunca podemos dizer-lhe um não. Não porque ela o exija,
mas porque nosso coração pede e fica feliz de dizer sim.
Há nela uma luz e um cintilar divinos que nos deixam conectados
há vinte e cinco anos. Celebro com ela as bodas de ouro de uma fecun-
da amizade. Estar com esta mulher transparente é uma das graças que
mais prezo em minha vida.
Dolores é uma destas pessoas que fazem diferença em meu existir,
na vida dos meus pais, Fernando e Carmen, no de minha esposa Maria
e agora no viver de meus filhos, Ana Clara, Gabriel e Daniel.
Como se diz na Espanha: Enhorabuena la conoci. Em boa hora a
conheci, em vinte cinco anos melhor a compreendi.
Sinto cada vez mais que conformamos uma família frágil no uni-
verso. A família daqueles que crêem nas utopias. A família dos que se
curvam para servir e amar. Daquelas que têm o mar como horizonte
e as estrelas como guias. Daquelas que têm sonhos a cada anoitecer e
lutas ao amanhecer. Daquelas que vivem em favor da vida e da huma-
nidade.
Depois desta caminhada comum e apesar de vê-la tão pequenina
e encurvada sobre o peso da vida, quero oferecer a ela e aos amigos as
doces palavras de francês Blaise Pascal:
“O humano nada mais é que um caniço, o mais frágil da natureza;
mas é um caniço pensante. Não é preciso que todo o universo se arme
para destruí-lo. Um sopro, uma gota d´água são suficientes para matá-
lo. Mas quando o universo o destruísse, este ser humano seria ainda
mais nobre do que aquele que o matasse porque ele sabe que ele é um
ser mortal e mesmo com a supremacia do universo sobre o humano, o
universo não o sabe.”

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores é este caniço pensante, frágil e vergado. Caniço que pensa


e age. Caniço que se verga com as dores das pessoas pobres para nunca
ser arrogante com elas e consigo. Se verga para manifestar a grandeza
de Deus. Se verga para servir a todos. Se verga para melhor saber quem
ela própria é. Se verga para levantar os caídos. Se verga para ficar pró-
xima dos de baixo. Se verga para misturar-se às gotas do mar e forjar
uma onda de mudanças. E pescar gente para tempos novos. Tempos de
sujeitos autônomos. Como a nossa Irmã Dolores.

Prof. Fernando Altemeyer Jr


20/11/2005

TEXTO BÍBLICO - EVANGELHO DE MATEUS: 4, 18-22

Seguir Jesus é comprometer-se


Jesus andava à beira do mar da Galiléia, quando viu dois irmãos:Si-
mão, também chamado de Pedro, e seu irmão André. Estavam jogando
a rede no mar, pois eram pescadores. Jesus disse para eles: “Sigam-me, e
eu farei de vocês pescadores de homens”. Eles deixaram imediatamente
as redes, e seguiram a Jesus. Indo mais adiante, Jesus viu outros dois
irmãos: Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca com seu
pai Zebedeu, consertando as redes. E Jesus os chamou. Eles deixaram
imediatamente a barca e o pai, e seguiram a Jesus.

COMENTÁRIO: Frágil caniço de Deus é como se refere


o grande amigo, admirador e seguidor Prof. Fernando Al-
temeyer Jr. Seu testemunho é um livro, suas palavras são
ricas e penetrantes de tanta verdade.
Dolores da Fortaleza, fraca na aparência como um frágil
caniço; quando de Deus, forte como um tronco a não
se vergar nem com as maiores tempestades de injustiça e
desamor. Podemos observar que Dolores da Fortaleza não
é somente pescadora de homens como o foi, por exem-
plo, com Prof. Altemeyer, comigo mesmo e tantos outros,
mas, e, principalmente, ensina a pescar como referido no
testemunho. “Filha legítima de Paulo Freire, o educador
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Dolores do Evangelho

da autonomia e dos sujeitos autônomos. Como sua terra


autônoma de Astúrias em terras de Espanha”, Dolores da
Fortaleza ensina e estimula os pobres a serem autônomos
na desigualdade, a encontrar peixe em mares onde eles
nunca apareceram, num contínuo acreditar da “Pescadora
da Justiça”.



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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Capítulo 3
Dolores do Povo
Dolores Cidadã Brasileira
Dolores Cidadã do Mundo

“Restaurai-nos, ó Deus dos exércitos;


mostrai-nos serena a vossa face e
seremos salvos”
Salmo 79

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores do Povo
Dolores Cidadã Brasileira
Dolores Cidadã do Mundo

A
Irmã Dolores chegou ao bairro de Vila Zilda no ano de 1978,
trazida pelo Padre José Maria, vinda da comunidade do Jóquei
Clube, em São Vicente.
Sua primeira missão foi visitar as famílias, indo de casa em casa,
convidando as pessoas para participarem da formação da comunidade.
No terreno onde hoje existe a Igreja, havia um barraco simples que
estava à venda, o qual se tornou a casa da Irmã Dolores.
Os primeiros trabalhos começaram com reuniões nas casas do bair-
ro rezando o terço, Círculos Bíblicos (reunião com estudo da Bíblia) e
preparação de catequistas.
No início a catequese foi dada no colégio do bairro, por não ha-
ver local apropriado. No mesmo terreno em que a irmã morava, foi
construído um galpão em regime de mutirão, no qual foi realizada a
primeira celebração na época de Natal. Mais tarde, esse galpão se tor-
nou a primeira capela Jesus Nazareno N. Sra. Aparecida onde todos os
trabalhadores se concentravam. A partir daí, com muito esforço, união
e dedicação, foi construído um salão comunitário ao lado da capela.
As condições do bairro eram precárias e devido ao fato de ocorrer
um surto de esquistossomose, a comunidade se uniu ainda mais na
luta por melhores condições de vida, como saneamento básico, água
encanada em todas as casas, luz, pavimentação das ruas e legalização
dos terrenos.
A evangelização crescia e outras comunidades se foram formando
nos bairros vizinhos como Santa Clara, Morro do Engenho, Vila Edna,
Cachoeira e Morrinhos.

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Dolores do Evangelho

Também em regime de mutirão, foram construídas as capelas dos


bairros Santa Clara e Morro do Engenho.
Entre as conquistas da comunidade, destacou-se a construção de
um Posto Médico no Bairro da Vila Zilda, com atendimento médico e
odontológico, onde membros da comunidade atuavam como voluntá-
rios para um melhor atendimento da comunidade.
Com ajuda das comunidades, da Diocese e doações como da Igre-
ja da Alemanha, foi construída a Igreja “Jesus Nazareno”, a qual foi
inaugurada em 02/02/1987. Esta data marcou de forma muito forte
as nossas comunidades, pois, se por um lado nos deixou felizes e orgu-
lhosos por termos nossa Igreja pronta, por outro lado nos deixou tristes
porque marcou a despedida e saída da Irmã Maria Dolores das nossas
comunidades. Ela foi enviada a outra cidade para recomeçar sua missão
de evangelizar e formar outras comunidades.
Porém, ficou em nossas mentes a imagem de uma religiosa simples,
humilde, bondosa, dedicada a sempre ajudar os mais necessitados, sem-
pre movida pela força da Fé no Evangelho de Jesus Cristo.
Nosso desejo é que Deus a ilumine sempre nos seus caminhos, que
a mantenha sempre firme e forte na sua tão abençoada vocação de levar
aos mais humildes e necessitados a palavra de Deus e o Evangelho de
Jesus Cristo.

Comunidade Vila Zilda


13/09/2002

“Vamos que hoje o povo espera


novos ventos de liberdade”

A luta contra o franquismo na Espanha teve em Dolores Ibarruri


uma mulher de coragem, uma heroína. Na guerra civil, na década de
30, quando as tropas reacionárias avançaram contra os revolucionários,
a guerreira Dolores, La Passionária, usou a expressão “non pasarán”
como emulação para todos que acreditavam na vitória da liberdade,
igualdade entre os seres humanos.

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

A coragem e o exemplo de Dolores não acabaram na Espanha da


década de 30. Ao contrário, abriram novos e corajosos caminhos e nos
deram a nossa Dolores. Uma outra espanhola. Uma outra guerreira.
Em outras paragens, em outras terras. Aqui. No Brasil. Em São Paulo.
Na Baixada Santista. Sorte nossa.
Nossa Dolores, guerreira espanhola, percorreu outros países antes de
chegar às terras tupiniquins, carregando no coração a disposição, a vonta-
de, a garra, mas também muita ternura, Dolores, Irmã, Irmã Dolores.
Irmã Dolores, a nossa, fixou-se na parte continental de São Vicente
na Baixada Santista, desenvolvendo um trabalho social muito impor-
tante com os moradores do Quarentenário, bairro humilde de gente
trabalhadora que tem na luta de Irmã Dolores o incentivo, a orientação
para lutar por direitos de cidadania.
Mas Irmã Dolores é cidadã do mundo. Se trabalhadores estão em
luta, Irmã Dolores estará presente. Seu compromisso é com uma socie-
dade fraterna, justa e igualitária. E ela já disse: “Não passarão quem nos
explore, quem nos traz miséria, quem suga o sangue do povo”.
Coração corajoso que não fraqueja, mas que se emociona e emociona.
Irmã Dolores, quem está na luta te ama. Nós te amamos!

Uriel Villas Boas


Presidente do Sindicato dos Siderúrgicos e
Metalúrgicos da Baixada Santista.
29/11/2002

Brasileira de coração

Por volta de 1967, aporta, aqui no Brasil, uma jovem senhora, vin-
da da Europa, Espanha, onde nasceu, mais precisamente.
Vinha trazendo seus sonhos e suas inquietações dentro de um cora-
ção tão grande, que nem mesmo ela imaginava caber tanta gente.
Veio para romper barreiras em uma sociedade desigual. Veio prote-
ger o mais fraco, veio ensinar-lhe a ser um forte e a enfrentar essa guerra
da injustiça social, que a muitos aqui da terra era coisa natural.

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Dolores do Evangelho

Essa jovem senhora, ou senhorita, não tinha tempo a perder, e saiu


a campo sem perder de vista sua principal missão. Veio assim encontrar
aqui na nossa Baixada um campo fértil para semear a bondade que
transborda em seu coração.
Essa senhorinha, Maria, de físico franzino mas, com muita força
interior ouvia nosso Pai lá em cima, enquanto seguia aqui em baixo os
exemplos do nosso Cristo Senhor.
Hoje, quase quarenta anos passados, essa senhorita de quem quase
não ouvimos sua voz deixou uma trilha, um caminho de milhares de
quilômetros humildemente percorridos, de ensinamentos e exemplos a
todos nós. Essa senhora, senhorita, saiu às ruas, percorreu nossos man-
gues, morros, vilas e povoados carentes.
Saiu no encalço das injustiças que provocavam a fome que, con-
trariando a própria palavra, alimenta a ignorância que condena o ser
humano a não ser respeitado como gente.
E essa senhora, nossa Irmã, nunca se abateu com as dificuldades
que por ventura enfrentava, pelo contrário, para vencer cada dificulda-
de essa nossa Irmã, com muita fé e vontade, mais ainda se preparava. E
foi vencendo todas as batalhas, essa nossa Irmã.
E em suas pregações, vai derrubando mitos, superando preconcei-
tos. Vai defendendo suas teses em universidades, favelas, com Bispos,
Ministros, Governantes ou Prefeitos.
Hoje temos aqui essa Senhora, senhorita, nossa Irmã, nos dando
uma belíssima lição, com seus oitenta anos de vida, pronta, sempre
disposta a continuar sua luta para garantir os direitos dos socialmente
excluídos, e para isso disposta a vencer toda e qualquer barreira.
Irmã, é por isto que com muito orgulho proponho aos aqui pre-
sentes, que com uma salva de palmas a declaremos nesta data de
26/02/2006, nossa compatriota. A partir de hoje, para nós, a Senhora
passa a ser uma Cidadã Brasileira.

Armando Ferreira dos Santos


São Vicente, 26/02/2006

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

TEXTO BÍBLICO – FILIPENSES: CAP. 2, V. 1-11

Portanto, se há um conforto em Cristo, uma consolação no amor,


se existe uma comunhão de espírito, se existe ternura e compaixão,
completem a minha alegria, tenham uma só aspiração, um só amor,
uma só alma e um só pensamento. Não façam nada por competição e
por desejo de receber elogios, mas por humildade cada um consideran-
do os outros superiores a si mesmo. Que cada um procure não o pró-
prio interesse, mas o interesse dos outros. Tenham em vocês os mesmos
sentimentos que havia em Jesus Cristo:
Ele tinha condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com
Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de
servo e tornando-se semelhante aos homens.
Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si
mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz!
Por isso, Deus o exaltou grandemente, e lhe deu o NOME que está
acima de qualquer outro nome; para que, ao nome de Jesus, se dobre
todo joelho no céu, na terra e sob a terra;
E toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de
Deus Pai.

COMENTÁRIO: Dolores que transforma, Dolores que


deixa saudades, Dolores que deixa sua marca nos cora-
ções da Comunidade de Vila Zilda e de todos que podem
participar de seu marcante convívio. Dores de um povo
que precisa da Dolores do Povo a saber interpretar suas ne-
cessidades, encontrar soluções sob a inspiração do Espíri-
to Santo, na comunicação da palavra de Deus através do
serviço.

COMENTÁRIO: Armando comenta sobre a Dolores Ci-


dadã Brasileira, que nunca se deixa abater, sempre no en-
calço da justiça e do amor. Dolores Cidadã Brasileira, que,
acima de tudo, ama o ser humano e o quer enxergar como
imagem e semelhança de Deus.

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Dolores do Evangelho

Comentário: Uriel, um batalhador da cidadania, en-


contra na Dolores Cidadã do Mundo a força do exemplo
para continuar sua luta na busca dos direitos humanos.
A dignidade da Dolores Cidadã do Mundo, a mais digna
representante do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
entre nós. A ousadia de sua coragem de não ter medo de
nada, de acreditar que nunca está sem seu Deus a tornam
a melhor graça e o melhor presente de Deus para nossa
comunidade. Salve a Dolores Cidadã do Mundo.

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Capítulo 4
Dolores Referência

“O Senhor é meu pastor, nada me faltará.


Restaura as forças de minha alma.
Pelos caminhos retos ele me leva,
por amor de seu nome.”
Salmo 22

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores Referência

Irmã Dolores (Lolina). Irmã de todos os pobres.

E
la é assim inquieta, de olhar vivo como quem procura a raiz
do mal, da fome e da tristeza. Sempre à procura da dor alheia.
É o sofrimento que se aproxima dela. A riqueza de Deus na sua
alma e a pobreza que a invade e que a torna compassiva, misericordiosa,
Irmã dos empobrecidos.
Sempre vivendo atrás da vida a ser repartida. Por amor, a Cristo
presente nela e nos outros. Esta asturiana é assim: desconcertante, frá-
gil, forte.
Quase nada e quase tudo, é assim desde que a conheci na residência
Maria Imaculada em Santos. Deus quis que sempre caminhássemos
unidos não importando a distância; claro que a distância o espírito vai
cavando.
Loli “Machaconamente” pisando no Terreno dos Pobres.
Eu, nadando, sem muita esperança, no mar dos que mais possuem,
sempre solidário com ela.
Porque é impossível não ter a Irmã Dolores como referência no traba-
lho pela causa do reino.O resto é só Santidade que escandaliza os acomo-
dados e ensina os que ainda acalentam sonhar por um mundo melhor.

Pe. Javier Mateu Arana e Amigo


Santos, 18/03/2003

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Dolores do Evangelho

TEXTO BÍBLICO - EVANGELHO DE SÃO LUCAS: 11,9-10

Portanto eu lhes digo: peçam e lhes será dado! Procurem e encon-


trarão. Batam e abrirão a porta para vocês. Pois todo aquele que pede
recebe, quem procura acha e a quem bate a porta será aberta!

COMENTÁRIO: Padre Javier, o carismático, autêntico e


às vezes polêmico cristão, grande amigo e irmão da Dolo-
res Referência, refere com muita propriedade e competên-
cia a capacidade que esta mulher tem de colocar em seu
coração, com muito amor, a miséria dos outros e, com
muita inquietude buscar alternativas para minimizar o
sofrimento dos mais necessitados. É a Dolores Referência,
que sabe rezar e pedir ao Pai porque tem incrustada em
seu coração a filiação divina que lhe possibilita receber
a herança dos reais e fiéis filhos de Deus, qual não seria
a sua capacidade de estar em absoluta sintonia com as
necessidades de seu povo. Dolores Referência de justiça,
exemplos e ensinamentos.

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Capítulo 5
Dolores da Verdade

“Tenho sempre diante dos olhos vossa bondade,


e caminho na vossa verdade. ”
Salmo 25

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores da Verdade

No Pasarán, Irmã Dolores

E
nquanto houver pessoas como tu, Irmã Dolores, haverá mais do
que esperança, certeza de que um novo mundo é possível.
Perdoa-me o uso da segunda pessoa. É que quero falar-te como
se faz às pessoas a quem queremos muito. Conheço-te por não mais
do que cinco anos, mas parece que convivo contigo desde o começo
do mundo. Sabes por quê? Porque pertences a uma categoria de seres
humanos em que se sabe, bate o olho e se lhes vê a alma por inteiro. O
único desejo pessoal que se percebe em ti é o de te sentires prazerosa
com o sonho da felicidade de todos. Impossível não confiar completa-
mente em ti.
Durante campanha que o levou a prefeito, Davi Capistrano, tam-
bém especial, deu-me um livro -“Nenhum homem é estrangeiro”- em
que o autor, Joseph North, lembra que Tolstoi dizia que o “objetivo da
vida é a união da espécie humana”. Não apenas concordas com isso, mas
acreditas. Porque crer é agir. E como ages! A justiça social embala teus
sonhos à noite, te acorda cedinho, te dá as mãos para levantares e fica
o dia todo de braço dado contigo. Não há descanso nem feriado para o
amor de vocês. Vejo o paradoxo de teu corpo pequeno vestindo perfeita-
mente tua alma gigante. O que a torna imensa, executando desde tarefas
as mais imperceptíveis até ações políticas da maior dimensão, pois tens
convicção de que só estas podem transformar a realidade dura em que
vive a maioria de nosso povo. Tens clareza de que o Brasil e o mundo
dispõem de potencial para propiciar, sustentadamente, boa qualidade
de vida para todos e que a imensa pobreza existente é devida exclusi-
vamente à desigualdade social, causada por uma elite, tão pequena em

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Dolores do Evangelho

quantidade quanto enorme em poder, que tenta desmentir Tolstoi, sabe-


dora que o sofrimento do povo exige certa pressa, embora sem atropelos,
não te permites emaranhar por grandes teorizações. Mas teu conceito
cristão “para que todos tenham Vida” te deixa nítido que para combater
a desigualdade é indispensável igualar as capacidades das pessoas – fun-
damentalmente, em saúde, educação e renda básica. Sabes que só assim
cada ser humano poderá escolher adequadamente seu projeto de Vida e
executá-lo. É neste sentido que planejas, iluminas e realizas com deter-
minação e sucesso tuas ações. Em havendo pessoas como tu, aquela elite
acabará por render-se, ou ao peso de sua própria consciência, ou à força
dos injustiçados, iluminados pelo desejo de união. Os daquela elite que
permanecem surdos no pasarán.

José Pascal Vaz


Santos, outubro/2002

TEXTO BÍBLICO - EVANGELHO DE SÃO LUCAS: 6, 43-45

Os atos revelam a pessoa- “Não existe árvore boa que dê frutos


ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons; porque toda árvore é co-
nhecida pelos seus frutos”.
Não se escolhem figos de espinheiros, nem se apanham uvas de
plantas espinhosas.
O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração,
mas o homem mau tira do seu mal coisas más, porque a boca fala da-
quilo de que o coração está cheio.

COMENTÁRIO: Pascal testemunha sobre a Dolores sem-


pre autêntica, genuína, verdadeira, a Dolores da Verdade.
Como é bom ouvirmos um testemunho como este a reve-
lar que conhecemos a Irmã Dolores desde sempre, aquela
Dolores que está dentro de cada um de nós, nas virtudes
dolorianas cristãs de verdade, de amor, de justiça, de cari-
dade, enfim das verdades que fazem parte do mais profun-
do de nosso ser e que precisam, muitas vezes, de protóti-
pos e exemplos para irmos buscar as Dolores das Verdades
para transformação do mundo em que vivemos.

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Capítulo 6

Dolores do Louvor a Deus

“De todo o coração eu vos louvarei, ó Senhor, meu Deus,


e glorificarei o vosso nome eternamente”.
Salmo 85

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores do Louvor a Deus

Irmã Dolores

L
ouvo e agradeço a Deus pela presença dessa edificante criatura,
nesta Diocese de Santos.
Integrada na Congregação das Religiosas de Maria Imaculada,
iniciou as primeiras experiências, dedicando-se às pessoas mais pobres e
carentes na periferia de São Vicente, com o apoio do Padre Júlio Lopes
Llarena.
Dos contatos periódicos havidos com essa população, Irmã Dolo-
res, percebendo que era necessária uma presença mais diuturna junto
aos seus pobres, com a devida licença de suas Superioras e a permissão
do Bispo Diocesano, Maria Dolores foi morar muito pobremente em
um pequeno quarto, partindo, assim, para uma nova etapa em sua vida
apostólica.
Muitas obras de evangelização e de promoção humana aí estão,
testemunhando o grande zelo que a impulsiona em sua incansável exis-
tência. – Deus a Guarde!

Dom David Picão


Bispo Emérito de Santos.
Setembro/2002.

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Dolores do Evangelho

TEXTO BÍBLICO – ROMANOS: 8, 28-30

O Projeto de Deus: Sabendo que todas as coisas concorrem para


o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o
projeto dele. Aqueles que Deus antecipadamente conheceu, também
os predestinou a serem conforme a imagem do seu Filho, para que este
seja o primogênito entre muitos irmãos. Aqueles que Deus predesti-
nou, também os chamou, e aos que chamou, também os tornou justos.
E aos que tornou justos, também os glorificou.

COMENTÁRIO: Dom David Picão testemunha o reco-


nhecimento da Igreja Católica Apostólica Romana no
trabalho e no serviço da Dolores do Louvor a Deus. Do-
lores que faz parte do Projeto de Deus para os homens.
Dolores do Louvor a Deus, ou seja, desde sempre destinada
por Deus a ser sua apóstola na mensagem e no trabalho
evangélico promotor de justiça e de paz junto aos menos
favorecidos.

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Capítulo 7
Dolores da Luta

“O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei?


O Senhor é o protetor de minha vida, de quem terei medo?”
Salmo 26

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores da Luta

Irmã Maria Dolores “Uma Lutadora do Povo”

L
utadora do Povo, com uma admirável Fé em Deus, testemunho
vivo dos valores de Cristo e de uma Igreja Libertadora.
Lutadora do Povo, que enxerga Deus em cada pessoa, cuida
de cada pessoa, da forma que Deus desejaria, considerando verdadeira-
mente que Deus não tem outras mãos senão as pessoas e que devemos
usá-las para construção de um mundo melhor.
Lutadora do Povo, que vai traçando seu caminho ao caminhar, lu-
tando a cada passo em favor da Justiça, Igualdade e Fraternidade.
Lutadora do Povo, que faz Política, cuidando dos outros sem medo,
buscando o Bem Comum, lutando pela transformação da Sociedade e
assumindo as causas que produzem Vida para o Povo.
Lutadora do Povo, incansável, que não desanima, compromisso
com o pobre e indignação contra qualquer exclusão de nossa sociedade,
tão injusta e sem ética.
Lutadora do Povo, construtora da Paz, que clama e protesta contra
qualquer tipo de injustiça, em favor da Vida em abundância.
Lutadora do Povo, mulher simples, coerente, que sempre entregou
e sempre entregará sua Vida a serviço do Povo, buscando conquistar a
sua Utopia de construir o Reino de Deus aqui.

Evaldo e Stela Aragão Farqui


20/02/2003

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Dolores do Evangelho

TEXTO BÍBLICO -1O CORINTIOS: 1-9

Quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servidores, através dos quais


vocês foram levados à fé; cada um deles agiu conforme os dons que o
Senhor lhe concedeu. Eu plantei, Apolo regou, mas era Deus que fazia
crescer. Assim, aquele que planta não é nada, e aquele que rega também
é ele quem faz crescer. Aquele que planta e aquele que rega são iguais;
e cada um vai receber o seu próprio salário, segundo a medida do seu
trabalho. Nós trabalhamos juntos na obra de Deus, mas o campo e a
construção de Deus são vocês.

COMENTÁRIO: Evaldo e Stela, amigos e admiradores da


Dolores da Luta, referem em seu testemunho a “guerrei-
ra de Cristo” na sua incansável e diária guerra contra as
injustiças, contra o desamor, sempre se dispondo como
“ferramenta” nas mãos do Senhor na construção do reino
de Deus entre os homens.

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Capítulo 8
Dolores das Virtudes

“Os caminhos de Deus são perfeitos,


a palavra do Senhor é pura.
Ele é o escudo de todos os que
nele se refugiam.”
Salmo 17

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores das Virtudes

C
onheci Imã Maria Dolores em 1979 num Cursilho de
Cristandade. Sua figura me impressionou desde o primeiro
momento que começou a falar. Dela emana um magnetismo
que nos atrai fortemente mas não só pelo conteúdo do que fala, mas
pela enorme força de seu testemunho de vida cristã, que logo se percebe
vivo e coerente, revestido de uma profunda espiritualidade, apesar da
crueza da realidade social que nos coloca para refletir e meditar.
Desde esse cursilho, nunca me distanciei dela, procurando engajar-
me nas lutas por ela travadas que me proporcionaram um amadureci-
mento da fé e da consciência política.
Considero-a hoje, muito mais que uma amiga, uma irmã mais ve-
lha, em que procuro me espelhar e beber de sua sabedoria e fortaleza.
Dou Graças a Deus todos os dias de poder contá-la como a amiga que
sempre está pronta a nos ouvir e auxiliar nas diferentes necessidades
que tenhamos.
Sua vida é exemplo do Evangelho vivido no dia-a-dia. Tive a feli-
cidade de acompanhar seu trabalho de formação da comunidade, hoje
bairro da Vila Zilda, em Guarujá. Com a liderança e garra de seu traba-
lho, aquela comunidade conquistou a posse da terra, Igreja, luz, escola
e posto de saúde. Em todas as lutas políticas, sempre colocava a parte
religiosa. Não partíamos para nenhuma concentração, passeata, ou au-
diência com o prefeito ou vereadores, sem antes passarmos pela capela,
oferecendo nosso serviço à causa do Reino. Formou várias comunida-
des que até hoje estão firmes e prosseguem os seus trabalhos.
É uma incansável batalhadora das CEB’s dentro da Igreja.
É muito difícil falar de Maria Dolores, porque ela reúne mil qua-
lidades dentro da sua enorme simplicidade. Teóloga formada, com

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Dolores do Evangelho

pós-graduação em Mariologia, poderia, se quisesse, estar lecionando


em alguma Faculdade de Teologia, como aliás foi convidada.
Entretanto, fiel a sua vocação, largou tudo para servir com sua vida
os mais pobres. E o faz plenamente.
Enfim, só convivendo, podemos perceber e sentir toda a grandeza
da riqueza interior dessa MULHER, que alia uma fragilidade física a
uma gigantesca fortaleza moral e espiritual.
Que Deus a proteja sempre.

Maria Helena de Almeida Lambert


Reitora da Universidade Católica de Santos,
amiga, Presidente da ONG VIP.

TEXTO BÍBLICO - 1O CORINTIOS: 13, 3, 13.

Acima de tudo o amor


Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda
que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada disso
me adiantaria.
Agora portanto permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o
amor. A maior delas, porém, é o amor.

COMENTÁRIO: No testemunho de Maria Helena, per-


cebe-se nitidamente a grande amizade e admiração desta
pela Dolores das Virtudes. Dolores que “reúne mil quali-
dades dentro da sua enorme simplicidade”. Dolores da
Fé, da Esperança e do Amor, porém sua maior virtude é
o Amor.

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Capítulo 9

Dolores Sal e Luz

“Felizes aqueles cuja vida é pura, e seguem a lei do Senhor.”


Salmo 118

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores Sal e Luz

Luz da manhã

H
á 16 anos conheço a querida Irmã Maria Dolores. Falar dela e
viver com ela tem sido uma experiência maravilhosa. Através
do seu testemunho de vida e doação aos mais necessitados,
nossa fé se fortalece; e com isso nos ensina que todos temos uma missão
e não devemos desanimar.
Obrigado Irmã Maria Dolores, por sua perseverança de anunciar
Jesus ontem, hoje e sempre. A senhora é um exemplo do Deus vivo no
meio de nós.
Esta passagem bíblica retrata a vida e seu testemunho:
“Assim brilhe a vossa luz diante dos homens para que eles vejam as
vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está no céu”. (Mateus
5.16)
Que Nossa Senhora da Esperança esteja ao seu lado, cobrindo-a
com seu manto sagrado.
“Deus a abençoe”.

Sônia e filhos - Mauro, Raphael e Nathalia


Maio/2002

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Dolores do Evangelho

TEXTO BÍBLICO - EVANGELHO DE SÃO MATEUS: 5,13,14

A força do testemunho
Vocês são o sal da terra. Ora, se o sal perder o gosto, com que pode-
remos salgá-lo? Não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e
ser pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não pode ficar es-
condida uma cidade construída sobre o monte. Ninguém acende uma
lâmpada para colocá-la debaixo de uma vasilha, e sim para colocá-la no
candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão em casa.

COMENTÁRIO: No sensível testemunho de Sônia e fi-


lhos, podemos observar a Dolores Sal e Luz a iluminar
nossos caminhos com seu exemplo, e muito mais, a nos
fazer enxergar, diante de toda a escuridão e insipidez que
permeiam as relações humanas, a grande missão que Je-
sus nos deixou de sermos efetivamente sal da terra e luz
do mundo, brilhando e dando sabor a tudo que fazemos,
melhorando o mundo em que vivemos.

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Capítulo 10
Dolores do Bem

“Espera no Senhor e faze o bem;


habitarás a terra em plena segurança.
Põe tuas delícias no Senhor,
e os desejos do teu coração ele atenderá.”
Salmo 36

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores do Bem

É
com muita satisfação que faço uso desta escrita para falar de
alguém especial como Irmã Dolores, uma pessoa voltada para
o bem. É fácil falar bem de alguém tão especial, é gratificante
para mim a oportunidade que me foi dada por um amigo de poder falar
de Irmã Dolores, por ter acompanhado de perto algumas de suas ações,
em especial a ajuda que prestou às pessoas carentes da área do Acarau,
de São Vicente, levando sua palavra amiga, sua fé e sua ajuda.
Eu me sinto abençoada pelo fato de tê-la conhecido e poder contar
com sua amizade.
Que Deus permita que mais pessoas como Irmã Dolores venham
surgir na vida de pessoas necessitadas.

Elivanete Rosa
Auxiliar de Odontologia do PS-Humaitá

TEXTO BÍBLICO - EVANGELHO DE SÃO MARCOS, CAP. 9, V. 30-37

Quem é o maior? - Partindo daí, Jesus e seus discípulos atravessa-


ram a Galiléia.
Jesus não queria que ninguém soubesse onde ele estava, porque
estava ensinando seus discípulos. E dizia-lhes: “O Filho do Homem
vai ser entregue na mão dos homens, e eles o matarão. Mas, quando
estiver morto, depois de três dias ele ressuscitará”. Mas os discípulos
não compreendiam o que Jesus estava dizendo, e tinham medo de fazer
perguntas.
Quando chegaram à cidade de Carfanaum e estavam em casa, Jesus
perguntou aos discípulos: “Sobre o que vocês discutiram no caminho?”

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Dolores do Evangelho

Os discípulos ficaram calados, pois no caminho tinham discutido sobre


qual deles era o maior. Então Jesus se sentou, chamou os Doze e disse:
“Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que
serve a todos”. Depois Jesus pegou uma criança e colocou-a no meio
deles. Abraçou a criança e disse: “Quem receber em meu nome uma
destas crianças, estará recebendo a mim. E quem me receber, não estará
recebendo a mim, mas aquele que me enviou”.

COMENTÁRIO: Elivanete chama nossa atenção em seu


testemunho para a Dolores do Bem, uma mulher que na
sua simplicidade e autenticidade representa a Paz e o Bem.
Fazer o que é certo, o que é bom, o que agrada a Deus,
missão da Dolores do Bem.

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Capítulo 11
Dolores dos Desamparados

“Ainda que eu atravesse o vale escuro,


nada temerei, pois estais comigo.
Vosso bordão e vosso báculo são o meu amparo.”
Salmo 22

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores dos Desamparados

Ir. Maria Dolores: Mãe dos Desamparados

C
onheci Irmã Dolores, em 1993 quando, pelas funções do
cargo que acabara de assumir, como Diretor do Pronto
Socorro Humaitá, tive acesso aos verdadeiros problemas que
iria enfrentar a partir daquele instante.
Aprendi com Irmã Dolores que, diferente do que imaginava, até
aquele momento, estes “Problemas De Saúde”, na sua grande maioria,
são decorrentes de uma situação social, extremamente desamparada,
carente de pessoas que assim como a Irmã Dolores, preocupem-se mais
com a população e suas dificuldades diárias, que compreendem que
“Os Doentes” necessitam de algo mais profundo que simplesmente ad-
ministrar drogas, ligá-los a aparelhos ou acomodá-los em leitos para
que o nosso ego de Doutores seja satisfeito com o que deveria ser consi-
derado apenas uma simples obrigação, para o qual somos pagos.
Trabalhei inúmeras vezes em ações da Pastoral da Igreja na compa-
nhia da Irmã Dolores, e tenho isto como melhor escola que poderia fre-
qüentar pois, a proximidade com a Irmã Dolores e privilégio de parti-
cipar de seus projetos é um contínuo aprendizado; aonde os professores
são extremamente raros, e quando conseguimos realizar algo, por me-
nor que possa parecer são de extrema importância para a comunidade.

Francisco Geraldo Sampaio Feitosa


Cirurgião Dentista, Responsável Técnico do Pronto-Socorro Humaitá.

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Dolores do Evangelho

TEXTO BÍBLICO - 1O TIMÓTEO: 2, 1-4

Deus quer salvar a todos


Antes de tudo, recomendo que façam pedidos, orações, súplicas e
ações de graças em favor de todos os homens, pelos reis e por todos os
que tem autoridade, a fim de que levemos uma vida calma e serena,
com toda a piedade e dignidade.Isso é bom e agradável diante de Deus
nosso Salvador. Ele quer que todos os homens sejam salvos e cheguem
ao conhecimento da verdade.

COMENTÁRIO: Francisco comenta sobre sua experi-


ência com a Dolores dos Desamparados, como a intitula,
na possibilidade de, fruto de seu convívio com ela, ter
reconhecido verdades que estavam escondidas abaixo do
conhecimento profissional clássico e acadêmico, onde as
tremendas cortinas de fumaça distorcem aquilo que ve-
mos e que somente com pessoas como a Dolores dos De-
samparados, sensível apóstola de Cristo e embaixadora
dos pobres e oprimidos, podemos descortinar e enxergar
o que está por detrás de tanta miséria e injustiça social.

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Capítulo 12
Dolores Guerreira da Paz

“Anunciei a justiça na grande assembléia,


não cerrei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis.
Não escondi vossa justiça no coração,
mas proclamei alto vossa fidelidade e vossa salvação.
Não ocultei vossa bondade, nem vossa fidelidade à
grande assembléia.”
Salmo 39

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores Guerreira da Paz

D
esde 1987 a Área Continental de São Vicente recebeu a
“Graça de Deus” de poder contar com a presença e o trabalho
da Irmã Dolores.
Iniciou sua caminhada entre nós em Humaitá, indo depois para
Samaritá e finalmente para o Quarentenário, ano de 1991. Todos os
nossos bairros foram e continuam sendo beneficiados no âmbito so-
cial, comunitário e pastoral pela sua fé, coragem e dedicação aos mais
pobres.
Naquele corpo pequeno reside um coração cheio de amor, que su-
pera todas as dificuldades: “porque servir a Deus na pessoa dos mais
sofridos está acima de tudo”.
Muitas vezes é incompreendida pelos que a rodeiam, mas nunca
desanima, porque tem Cristo como Caminho, Verdade e Vida.
Sonha diariamente com o sonho de Deus:
“Um mundo fraterno e justo para todos”.
E age reunindo pessoas das mais diferentes classes, pensamentos,
partidos e religiões com um mesmo objetivo: dar vida digna a cada um
dos irmãos excluídos”.
É uma mestra incomparável:
Sempre aprendemos muito com suas palavras e seu testemunho de
amor e solidariedade.
É profetiza do nosso tempo:
Anunciando o Reino de Deus, denunciando e lutando contra as
injustiças.
Alguns de seus pensamentos:
“Em cada palafita de Mangue deveria haver uma lâmpada de Sacrá-
rio, pois lá se encontra o verdadeiro Cristo sofredor”.

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Dolores do Evangelho

“O novo nome da Paz é Educação, pois só através do conhecimento


a pessoa se liberta da opressão”.
A paz é fruto da justiça, só quando houver partilha dos bens, con-
quistaremos a paz.”
É uma mulher inteligente, carinhosa, perseverante, firme nos seus
propósitos, dessas pessoas que sentimos muito orgulho de conhecer e
conviver.
Vive uma espiritualidade encarnada na vida, junto com o povo:
sentindo suas angústias; reunindo e organizando-o para buscar alter-
nativas; celebrando também as alegrias; tem como objetivo diário a
transformação da sociedade.
Respeitada por todos e amada pelos pequenos e oprimidos, ela é a
nossa: Grande Guerreira da Paz.

Cleuza Maria Coelho da Silva


Humaitá, Quarentenário, Jd. Rio Negro, Vila Ponte Nova.
Novembro/2002.

TEXTO BÍBLICO - INTRODUÇÃO DA 2A CARTA AOS


TESSALONICENSES

A atitude de quem espera a vinda gloriosa de Cristo não é acomodar-se


ou cruzar os braços, como se não houvesse mais nada que fazer neste mun-
do, senão olhar para o alto à espera que tudo caia de repente do céu.

COMENTÁRIO: Cleuza, uma fiel escudeira da Dolores


Guerreira da Paz, traz para nós um testemunho também
de guerreira que é. Cúmplice dos caminhos percorridos
pela Dolores Guerreira da Paz, tem autoridade para, com
muita autenticidade, expressar seu carinho, sua admira-
ção e respeito por esta mulher que, por amar tanto a PAZ,
pode e deve ser alcunhada como a Dolores Guerreira da
Paz.

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Capítulo 13
Dolores da Fé

“Os que confiam no Senhor são como o monte de


Sião, eternamente firme.”
Salmo 124

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores da Fé

E
screver sobre a Irmã Maria Dolores é uma alegria e uma emoção.
É falar de uma pessoa muito especial, muito querida, de alguém
que está no nosso coração. Com sua aparência frágil, pequena,
cabelos brancos e olhos muito azuis, ninguém, à primeira vista, pode
imaginar a sua extraordinária resistência física, a sua palavra forte e
seu poder de determinação. Merecedora do “Prêmio Santo Dias”, da
Assembléia Legislativa de São Paulo, por onde passa, deixa a sua marca
e seu exemplo, é admirada por todos que a conhecem e sabem de seu
extraordinário trabalho; mulher forte e determinada, com sua “garra” e
coragem tem conseguido melhorias incríveis para as comunidades.
Dotada de extrema sensibilidade, acompanha-nos a todos, tanto
nos momentos de alegria como nos de sofrimento. Conosco ri e chora;
é amiga de sempre.
Nós a conhecemos há mais de trinta anos, logo depois que ela
chegou ao Brasil; trabalhávamos no Movimento de Cursilho de Cris-
tandade e ela era a superiora na ordem religiosa “Maria Imaculada”.
Quando íamos preparar o salão para os encerramentos dos Cursilhos,
lá estava ela carregando cadeiras, ajudando-nos em tudo o que podia.
Apaixonada pela causa dos “sem voz e sem vez”, desligou-se de sua
congregação, para viver integralmente junto a essas comunidades, para
viver totalmente dedicada aos mais carentes e excluídos. Foi, então, que
a nossa convivência se tornou muito próxima, criando sólidos laços de
amizade. Maria Dolores foi morar em São Vicente, onde criou a JIP
– Jóckey Instituição Promocional – entidade que preparou centenas de
jovens legionárias. Morava em uma simples palafita, como muitos dos
habitantes do bairro. Participava da reunião da Escola de Dirigentes do
Movimento de Cursilhos de Cristandade e dos três dias de Cursilho,
e a todos impressionava pelo testemunho, pela autenticidade e coerên-
cia de vida. Aos domingos, íamos, muitas vezes, ajudá-la, levando-a de

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Dolores do Evangelho

carro de uma capela para outra, a fim de facilitar-lhe o cumprimento


do horário das celebrações que fazia. Eram oportunidades felizes para
conversar e lições de vida.
Em 1975, na Espanha, Maria Dolores foi encontrar-nos no aero-
porto de Barajas, demonstrando ser aquela companheira incrível a nos
mostrar, com entusiasmo e muita alegria, um pouco de seu país: Madri,
Mùrcia, onde residia sua irmã também religiosa -Maria Eugênia- hoje
falecida, que também fez de tudo para nos recepcionar, levando-nos ao
Museu de Salcillo, à Catedral com sua torre de 95 metros que nós su-
bimos todos, com esforço e Maria Dolores sempre à frente. Alugamos
um carro e fomos a Granada. Foi uma viagem inesquecível. Maria Do-
lores muito culta, inteligente, a nos explicar os detalhes e a questionar
o que ainda não conhecia. Como aproveitamos Allhambra, Generalife,
a Igreja de Sant’Anna, a Capela Real, a Catedral, a Cartuja de la Assun-
cíon de Nuestra Señora! Em 1977, conhecemos Gijón, a cidade natal
de Maria Dolores e a sua família: irmãs, irmãos e sua mãe-Carolina-,
uma senhora encantadora, de pequena estatura, muito ágil e inteligente
como Maria Dolores; deram-nos uma recepção comovente, como se
fôssemos de sua família. Lá aprendemos que Maria Dolores é, para os
seus, a querida Lolina.
Relatamos tudo isso para mostrar esse lado hospitaleiro, cordial,
alegre, amigo e companheiro de Maria Dolores e de seus familiares.
Temos acompanhado, sempre, a sua caminhada na Baixada Santis-
ta; no Guarujá, onde ajudou na transferência de famílias que viviam em
áreas de risco nos morros, para os núcleos hoje conhecidos Vila Zilda
Natel, Vila Edna. De volta a São Vicente, na Região Continental, em
Humaitá e na Vila Ponte Nova/Quarentenário, sua luta incansável em
favor dos menos favorecidos; os benefícios que tem introduzido têm
sido inúmeros:Igreja Nossa Senhora da Esperança, Centro Comuni-
tário, educação infantil, Escola de Ensino Fundamental, Escola Pro-
fissionalizante, Biblioteca, Casa de Parto Normal etc. Quer sempre o
melhor para eles, tanto em relação à fé, política, educação, saúde e lazer.
Inteligente como poucas pessoas, acompanha o progresso, se atualiza
para colocar o que realmente possa ajudar a comunidade. Hoje conti-
nuamos a seu lado trabalhando junto à VIP – Vila Ponte Nova Insti-
tuição Promocional- e também por meio do Núcleo de Extensão Co-
munitária da Universidade Católica de Santos, atuando, desde 1995,

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

com supervisores e estagiários na comunidade onde ela está. Isso para


nós continua sendo uma alegria, oportunidade de mais aprendizado
com essa figura incansável que é Maria Dolores e, acima de tudo, um
privilégio de contar com sua amizade para conosco e nossa família.
Maria Dolores é um presente que Deus nos deu, dando-lhe a liber-
dade de trocar a sua terra natal pela nossa para viver e trabalhar.

Carmen Lydia Dias Carvalho Lima


Outubro/2002

TEXTO BÍBLICO – TIAGO: 2,14-17

A fé se manifesta em atos concretos


Meus irmãos, se alguém diz que tem fé, mas não tem obras, que
adianta isso? Por acaso a fé poderá salva-lo? Por exemplo: um irmão ou
irmã não tem o que vestir e lhes falta o pão de cada dia. Então alguém
de vocês diz para eles: “Vão em paz, se aqueçam e comam bastante”; no
entanto, não lhes dá o necessário para o corpo. Que adianta isso? Assim
também é a fé: sem as obras, ela está completamente morta.

COMENTÁRIO: Carmen Lydia também refere uma gran-


de amizade e admiração pela Dolores da Fé. Relata em seu
rico testemunho um grande número de obras realizadas
pela Dolores da Fé. Assim podemos, mais uma vez, presen-
ciar a mais maravilhosa prática do Evangelho, numa Fé
repleta de obras, numa Fé que constrói, que realiza, que
dignifica, numa Fé viva e pulsante no mais gratificante
exemplo de trabalho e serviço da Dolores da Fé.

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Capítulo 14
Dolores da Indignação Cristã

“Minha voz lança um grande brado ao Senhor,


em alta voz imploro ao Senhor.
Ponho diante dele minha inquietação,
eu lhe exponho toda a minha angústia.”
Salmo 141

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores da Indignação Cristã

O Testemunho de Uma Vida

F
alar da Irmã Maria Dolores Muñiz Junquera, ou simplesmente
Irmã Dolores, como carinhosamente a chamamos, é, ao mesmo
tempo, muito fácil e extremamente difícil.
Esta ambigüidade pode ser explicada. É fácil falar de quem, pela
força de sua fé, é capaz de dedicar toda sua vida ao serviço dos irmãos,
sem qualquer tipo de discriminação.
É falar de quem consegue tornar o amor pelo mundo e pelas pesso-
as algo tão palpável e visível, que se converte em forças transformadoras
da realidade, por mais que esta realidade possa parecer impossível de
ser transformada.
Todavia, falar de irmã Dolores é, também, extremamente difícil,
pois seu testemunho de vida compromete todos os que possivelmente
não teriam qualquer dificuldade em louvar seu trabalho, mas não se
sentiriam tão confortáveis se tivessem que imitá-la para merecer sua
amizade.
Entretanto, o amor verdadeiro deve ser, julgo eu, como o amor da
Irmã Dolores pelos seus irmãos, que é absolutamente gratuito. Não
exige trocas. Não obriga à reciprocidade nas ações. O mesmo carinho e
dedicação que a aproximam dos excluídos, no meio dos quais eu sem-
pre a encontrei, durante os mais de trinta anos que nos conhecemos,
ela os oferece àqueles que, embora não possam pelas carências dos que
sofrem a exclusão dos mais elementares direitos humanos, a procuram
em busca de uma palavra de consolo e fortalecimento.

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Dolores do Evangelho

É a palavra de luta ou de convencimento. Se alguma violência exis-


te, não está em sua palavra, mas nas situações que o trabalho da Irmã
Dolores denuncia. Sua figura é mansa, sua fragilidade física é um sím-
bolo de uma moral que contagia. Por isso, não raro, tal trabalho inco-
moda os poderosos e os acomodados.
Aqueles que lamentam a Irmã Dolores. Ela não ama os pobres por-
que são pobres.
Ela não ama a pobreza. Ela ama os pobres, eles são seres humanos
nos quais sua fé reconhece a dignidade de pessoas. Com todo o vigor
dessa constatação, porque são, enfim, filhos de Deus.
É para as situações de exclusão social que a Irmã Dolores dirige o
seu trabalho, com a indignação cristã que é a sua marca pessoal. Não
para lamentá-las, mas para transformá-las. Porque são situações de es-
cândalo.
Aprendi a admirar a Irmã Dolores, não porque o seu trabalho me
encanta. Ali´ss, gostaria muito que ela não tivesse de fazê-lo, pois isso
significaria que eu vivo num mundo mais justo e mais fraterno. Apren-
di a admirar a Irmã Dolores porque ela ajudou a forjar o meu caráter.
Porque ela teve influência decisiva na escolha da perspectiva pela qual
eu passei a ver o mundo que me rodeia. Porque ela, pelo seu exemplo,
me indicou o meu lugar social. Porque ela me ajudou a ver o mundo
verdadeiro, tal qual ele aconteceu no dia-a- dia, e não o mundo que
disfarça as diferenças reais sob o falso manto das aparências.
Irmã Dolores não necessita de elogios, nem meus, nem de qualquer
outro. Ela precisa, isto sim, de quem entenda o seu testemunho de vida
e possa multiplicar seu generoso esforço, para que um dia, não muito
longínqüo, sejam necessários menos heroínas e heróis, e as desigualda-
des de todas as naturezas façam parte de uma história já ultrapassada.

Fernando Jorge R. Soares


Advogado e amigo.

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

TEXTO BÍBLICO - 1A CARTA DE SÃO JOÃO: 1, 1-4, DEUS É


JUSTO; CAP. 2, 29

A comunhão que gera a vida


Aquilo que existia desde o princípio, o que ouvíamos, o que vimos
com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos apalpa-
ram: falamos da Palavra, que é a Vida.
Porque a Vida se manifestou, nós a vimos, dela damos testemu-
nhos, e lhes anunciamos a Vida Eterna. Ela estava voltada para o Pai e
se manifestou a nós.
Isso que vimos e ouvimos, nós agora o anunciamos a vocês, para
que vocês estejam em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com
o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.
Vocês sabem que Jesus é justo; reconheçam, pois, que todo aquele
que pratica a justiça nasceu de Deus.

COMENTÁRIO: Fernando testemunha a influência da


Dolores da Indignação Cristã, marca de uma mulher to-
talmente centrada em objetivos da promoção humana.
Comenta a influência da Dolores da Indignação Cristã em
sua vida e que o ajudou a se equilibrar, escolher seu cami-
nho, valorizar o que tem valor, amar a Deus e ao próximo
e se indignar com a injustiça e com a miséria. A Dolores
da Indignação Cristã está em perfeita comunhão com os
reais valores do Evangelho e não tem medo de enfrentar
os escândalos da existência humana, a desafiar nossa so-
ciedade, na busca de melhores condições de vida para os
mais fracos e oprimidos.

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Capítulo 15
Dolores Operária

“Este é o dia que o Senhor fez:


seja para nós dia de alegria e felicidade.
Senhor, dai-nos a salvação;
Dai-nos a prosperidade, ó Senhor!”.
Salmo 117

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores Operária

M
aria Dolores Muñiz Junquera. Este é o nome de uma ex-
traordinária mulher. Todos os adjetivos que possamos dar
a ela com certeza, ainda não chegam a descrever tudo o
que representa esta linda criatura e tudo o que neste lugar que era tão
esquecido de tudo e de todos.
Iremos por parte. Quando aqui chegou, não lembro exato o ano
e mês, porém lembro-me do trabalho iniciado pela Irmã Dolores. Na
Paróquia Aparecida, juntamente com o querido Pe. Julio Lopez Larena,
começou a formar as comunidades, sendo a primeira delas São José
Operário, no bairro Jóquei Clube trazendo-nos ensino religioso, alfa-
betização de adultos, cursos profissionalizantes (cursos principalmente
para as mulheres, para gerar renda às famílias) além da catequese de
crianças e adultos, formação de equipes de casais, etc.
Todas essas atividades funcionavam na então Capela, que se tornou
pequenina diante da dimensão do trabalho realizado pela Irmã, tendo
que, pouco tempo depois, expandir-se principalmente os cursos ofere-
cidos.
As crianças de 4 a 6 anos passaram a freqüentar a pré-escola, que até
então não existia no bairro, começando pelas crianças de 6 anos. Mais
tarde, conseguiu trazer professores para a 1a e 2a séries, para crianças
maiores até dez anos que não estavam ainda alfabetizadas e que não
haviam ido à escola. A JIP (Jóquei Instituição Promocional) surgiu da
parceria da Irmã com as pessoas voluntárias.
Nessa época, junto ao prefeito o Cel. Machado e mais tarde o pre-
feito Jonas Rodrigues, conseguiu abrir um posto médico, o saudoso
“postinho” que funcionava dentro da capela, com tratamento odon-
tológico e clínica geral. Mesmo assim, ela achava que era pouco, cons-
truiu-se então o “prédio” da JIP Nossa Guerra Missionária, chegou a
transcender o papel evangelizador, procurando politizar as pessoas. Foi
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Dolores do Evangelho

assim que nasceu o PT(Partido dos Trabalhadores) através de reuniões


com lideranças como Plínio de Arruda Sampaio, Benedita da Silva e
vereadores progressistas da época.
Muitas coisas foram realizadas por esta religiosa tão pequenina que,
parece tão frágil mas no fundo é uma grande gigante Mulher chamada
Maria Dolores Muñiz Junquera, ou simplesmente a nossa “Madre Do-
lores de São Vicente”.

Maria José Rodrigues - Comunidade Jóquei Clube


Outubro/2002

TEXTO BÍBLICO - 2A CARTA DE SÃO JOÃO: 1, 4-6

Centro da vida cristã


Fiquei muito alegre por ter encontrado alguns filhos seus que vivem
na verdade, segundo o mandamento que recebemos do Pai. E agora eu
lhe peço, Senhora, não como estivesse escrevendo para você um novo
mandamento, mas o mesmo que temos desde o princípio; amemo-nos
uns aos outros. O amor consiste nisto: em viver conforme os manda-
mentos dele. E o primeiro mandamento, como aprenderam desde o
princípio, é que vocês vivam no amor.

COMENTÁRIO: Dolores Operária sempre com uma força


física e espiritual impressionantes. Muitos dizem que sua
aparência física não condiz com sua capacidade de traba-
lho. Fica bem claro que as forças de Deus não se mani-
festam nos homens segundo nossos critérios de avaliação,
principalmente de parâmetros físicos. A Dolores Operária
é movida pelo Amor e neste Amor Verdadeiro encontra
as necessárias e suficientes forças para ir construindo os
caminhos de justiça e paz.

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Capítulo 16
Dolores do Amor

“Guardai-me, ó Deus,
porque é em vós que procuro refúgio.
Digo a Deus: ‘Sois meu Senhor,
Fora de vós não há felicidade para mim’.
Quão admirável tornou Deus o meu afeto
para com os santos que estão na terra.”
Salmo 15

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores do Amor

N
ão tenho bem certeza de quando a vi pela primeira vez. Acho
que foi numa reunião sobre planejamento familiar, em que
muito se falou sobre o Método Billings, nome dado ao casal
de obstetras que o idealizou. Chamou-me atenção aquela figura tão pe-
quena e frágil que brincava de uma forma séria com o médico dizendo
que seus ensinamentos sobre o método, em sua comunidade, haviam
gerado um grande número de “Billinzinhos”.
Mal podíamos imaginar que pouco tempo depois iríamos ter um
convívio tão próximo e maravilhosamente enriquecedor para nós.
Foi no Quarentenário, Vila Ponte Nova, área continental de São
Vicente, que tivemos real idéia da sua capacidade de amar ao próximo,
na sua verdadeira dimensão, isto é, como ser santo e pecador, mas aci-
ma de tudo nosso irmão, filho muito amado de Deus. Nunca vi tanta
dedicação ao próximo. Observar Irmã Dolores ao lado de seu povo sofrido,
excluído, faminto e necessitado, é ter certeza da forma perfeita de se viver o
Evangelho de Jesus Cristo em toda sua plenitude.
Na minha cabeça, o projeto que ela liderava para transformar aque-
la área de invasão num bairro era absolutamente impossível. Assentar
cinco mil famílias numa área linda, mas inóspita e poluída, trazia-me
enorme dúvidas. Ao que Irmã Dolores respondia: “Menino, esse povo
de Deus está exausto de sua longa peregrinação. Esta pode não ser a
terra prometida mas é a terra”.
Lançamento da pedra fundamental do Grupo Escolar Raul Rocha
do Amaral, marcado por muita agitação e ameaças por parte dos que
se opunham ao projeto, levou-nos a sugerir a Irmã Dolores que pedisse
respaldo policial. E mais uma vez mostrou toda sua sabedoria, mobi-
lizando grande número de crianças do bairro que, em passeata, empu-
nhando cartazes, saudavam a criação daquela escola que seria construída
para eles, desarmando de forma pacífica e amorosa qualquer pretensão
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Dolores do Evangelho

contrária. Irmã Dolores é incansável e, assim sendo, não deixa ninguém


que está a seu lado descansar. Pensar que tarefa cumprida seja trabalho
realizado, jamais! No encerramento de cada retiro que fazíamos com os
jovens ou com a Pastoral Familiar, saboreando o gostinho prazeroso do
final do encontro, era inevitável sua colocação:
“Menino, está tudo bem, mas vamos conversar sobre os próximos
projetos!”. Irmã Dolores é uma apaixonada por tudo que faz. A come-
çar pelo seu Corinthians, clube de seu coração, o que mostra sua sin-
tonia com as coisas do alto: “a voz do povo é a voz de Deus”. Tem uma
capacidade e um senso de solidariedade admirável. Isabel e João, casal
de nosso Grupo de Estudos, sofreram seríssima ameaça de agressão, só
não consumada por ação divina. Ao saber, imediatamente avisou aos
demais membros do grupo: “Amanhã iremos visitá-los, rezaremos uma
missa para eles, para que se sintam fortes com nossa solidariedade”.
Não quis saber se era meio de semana ou se moravam há mais de
cento e cinqüenta quilômetros de Santos. O que importava naquele
momento era o sofrimento dos irmãos e a necessidade de se estar ao seu
lado. Tudo o mais podia e deveria esperar.
Irmã Dolores vive uma humildade de pés no chão. Sabe perfeita-
mente o seu valor, e o coloca sempre a serviço do próximo. Foi difícil
convencê-la a aceitar a homenagem da Câmara Municipal de Santos,
como a Mulher do Ano. Entendendo que seria uma ótima oportuni-
dade usar a tribuna em defesa de seu povo, excluído, proferiu durante
aproximadamente vinte minutos, sem dúvida nenhuma, o mais belo
e mais aplaudido discurso que aquela casa já ouviu. Um poema aos
irmãos necessitados. Uma forte chamada ao compromisso que cada um
de nós deve ter nessa cruzada de solidariedade. É uma honra imensa
poder falar um pouco desta extraordinária pessoa humana.
Assim como é um privilégio que nos enche de muita responsabilidade
poder conviver e aprender cada gesto e palavra desta verdadeira Santa.
Irmã Dolores é sem dúvida a expressão mais perfeita do Amor de
Deus pelo homem.

Maria Inês Amaral Cavalieri e Luiz Eduardo Soares Cavalieri


Filha do saudoso Raul Rocha do Amaral.
Fevereiro/2003

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

TEXTO BÍBLICO - EVANGELHO DE SÃO JOÃO: 3, 1-8

A fé o nascimento para a vida nova


Entre os fariseus havia um homem chamado Nicodemos. Era um
judeu importante. Ele foi encontrar-se de noite com Jesus, e disse:
“Rabi, sabendo que tu és um Mestre vindo da parte de Deus, realmen-
te, ninguém pode realizar os sinais que tu fazes, se Deus não está com
ele”. Jesus respondeu: Eu garanto a você: se alguém não nasce do alto,
não poderá ver o reino de Deus”.
Nicodemos disse: “Como é que um homem pode nascer de novo,
se já é velho? Poderá entrar outra vez no ventre de sua mãe e nascer?”.
Jesus respondeu: “Eu garanto a você: ninguém pode entrar no Reino
de Deus, se não nascer da água e do Espírito.Quem nasce da carne é
carne quem nasce do Espírito é espírito. Não se espante se eu digo que é
preciso vocês nascerem do alto. O vento sopra onde quer que você ouve
o barulho, mas não sabe de onde ele vem, nem para onde vai. Acontece
a mesma coisa com quem nasceu do Espírito”.

COMENTÁRIO: Maria Inês e Luiz, meus queridos e


amados irmãos, se referem a uma Dolores do Amor que
bem conhecem e que muito os ajudou na caminhada da
Fé. Comentam sobre a enorme capacidade de produzir
amor desta Dolores do Amor, uma mulher absolutamente
sintonizada com as coisas do alto, com as coisas de Deus.
Uma Dolores do Amor que, indignada com a desgraça dos
homens, não se contamina com a injustiça e a usa como
mola propulsora de mais amor, numa vida de intenso e
profundo contato com Deus.

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Capítulo 17
Dolores Santa

“Bendize, ó minha alma, o Senhor,


e tudo que existe em mim bendiga
o seu santo nome.”
Salmo 102

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores Santa

I
rmã Maria Dolores. O que falar de uma santa? Bastaria isso,
Dolores é uma santa.
Mas, em benefício das pessoas que não tiveram ou têm o privi-
légio de com ela conviver, lanço algumas palavras, mais de recordação e
emoção do que vindas de minha razão.
Recordo-me de ter uns vinte e poucos anos e vir com ela para a Vila
Jockey em São Vicente, nas tardes de domingo. Reuníamo-nos com
alguns moradores, gente humilde de comunidade periférica. Conversá-
vamos, cantávamos, aprendíamos muito mais que ensinávamos.
Recordo-me de ter a irmãzinha ido para o Guarujá, Vila Zilda, lá
fazendo o bem, o bairro melhorado, várias benfeitorias conseguidas,
buscou outro rincão, mais pobre. Voltou a São Vicente, agora na área
continental.
Recordo-me da primeira missa em um terreno de areia, no meio da
favela. Um cruzeiro de madeira despontava do areal, marcando o lugar
que havia sido destinado para a construção da Igreja. Frei Guilherme
celebrava, no máximo vinte pessoas assistiam à celebração, o sol estava
ainda quente em nossas cabeças, embora fossem 17 horas. Irmã Dolo-
res já chamava cada pessoa pelo nome. Iniciava a sementeira. Vi as pa-
redes sendo erguidas. Vi o telhado ser doado pela Unisantos. Vi alguns
ajudando nos blocos e no piso. Vi a consagração a Nossa Senhora da
Esperança. Já havia mais de duas centenas de fiéis, então.
Com a Igreja, veio o dinheiro para a creche, logo construída. A
seguir, um sonho realizado, um posto de saúde equipado e que a pre-
feitura passou a gerir. Mais um pouco, a casa da Irmã, que sonhava em
morar ao lado de seu povo. Um pouco mais, e uma escola construí-
da integralmente com dinheiro dos paroquianos do Embaré. Sugeri o

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Dolores do Evangelho

nome que ela levou, Raul Rocha do Amaral, grande companheiro das
lutas naquele rincão esquecido.
A escola profissionalizante, levando conhecimento para o meio da fa-
vela. Em um não tão distante dia lo de maio, entre as paredes com menos
de um metro de altura, falei aos trabalhadores. Que atrevimento aquele.
Sonhos. Sonhos realizados, um a um, pela perseverança dessa magní-
fica mulher. Sonhos de um povo mais feliz, com um mínimo de dignida-
de, com um mínimo de possibilidade de ter educação, trabalho e saúde,
se não fosse pelas realizações que Dolores fez, mais do que qualquer
executivo Municipal ou Estadual, pelo povo do Quarentenário, da Vila
Ponte Nova.
Mas a obra mais importante não foi a erguida com cimento e tijolos.
Não é aquela bonita de se ver, porque caiada de pouco. A mais
importante é aquela que é erguida com sorrisos, com lágrimas, com
orações, com carinho e com proteção, com o doar-se diuturnamente. É
a obra espiritual, é o que de bom foi feito com as almas, sem descurar
do corpo e de suas necessidades mínimas. Para quem consegue enxer-
gar, é monumental! São milhões de pessoas que se tornam melhores
pelo só fato de Irmã Dolores existir. São milhares de pessoas que volta-
ram a encontrar seu caminho, que voltaram a erguer suas cabeças, que
não deixaram seus lares, que se sentiram amparadas, que não passaram
fome, que se agasalharam, que foram visitadas quando doentes...São
algumas que puderam ser úteis dentro de suas áreas de atuação, e que se
gratificaram por apenas poder colaborar, ainda que de forma íntima.
Dar um passeio no Quarentenário, na Vila Ponte Nova, no Jardim
Rio Negro, em companhia de Dolores, é encontrar um pouco dessa
obra espiritual.
É um privilégio, na medida em que se vê Deus plantar suas semen-
tes de amor, por meio de sua santa. E, como dito no início, bastaria
dizer isso: Dolores é uma santa.
E feliz o povo pelo qual ela intercede, quer perante Deus, quer
perante os homens.
Carlos Fonseca Monnerat
Juiz de Direito e amigo.
Outubro/2002.

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

TEXTO BÍBLICO - EVANGELHO DE SÃO LUCAS: CAP. 1, V. 46-56

O Cântico de Maria
Então Maria disse: “Minha alma proclama a grandeza do Senhor,
meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para
a humilhação de sua serva.
Doravante todas as gerações me felicitarão, porque o Todo-podero-
so realizou grandes obras em meu favor:
Seu nome é santo, e sua misericórdia chega aos que o temem, de
geração em geração.
Ele realiza proezas com seus braços: dispersa os soberbos de cora-
ção, derruba do trono os poderosos.
E eleva os humildes; aos famintos enche de bens, e despede os ricos
de mãos vazias.
Socorre Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, -con-
forme prometera aos nossos pais- em favor de Abraão, e de sua descen-
dência, para sempre.”
Maria ficou três meses com Isabel; e depois voltou para casa.

COMENTÁRIO: Monnerat chama nossa atenção para a


Dolores Santa. Tem ele, a meu ver, toda razão em assim
chamá-la. Dolores Santa escolheu trabalhar com almas,
trabalhar com as pessoas. Monnerat chama nossa aten-
ção mais uma vez para que possamos entender que as
grandes obras da Dolores Santa não são representadas por
construções ediculares, mas pela construção do Homem,
tendo somente um único objetivo, qual seja, construir o
verdadeiro caminho de retorno para Deus. Salve a Santa
Dolores Santa.

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Capítulo 18
Dolores Videira

“Até na velhice eles darão frutos,


continuarão cheios de seiva e verdejantes,
para anunciarem quão justo é o Senhor,
meu rochedo, e como não há nele injustiça.”
Salmo 91

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores Videira

M
adre Tereza de Calcutá costumava promover reuniões, com
o objetivo de arrancar fundos para suas obras. Tais encon-
tros foram atraindo cada vez maior número de pessoas, que
fascinadas pelo carisma da religiosa, passaram a fazer verdadeira pere-
grinação ao local. Um dia, ao ver a pequena multidão que a guardava,
Madre Tereza afirmou: “Se vocês vêm aqui procurando espiritualidade
ou alguma coisa parecida, perdem seu tempo. Estou aqui apenas para
pedir dinheiro para os meus pobres. Os verdadeiros mestres espirituais
não estão aqui. Neste exato momento, eles estão lá fora, cuidando de
seus filhos, dirigindo ônibus, trabalhando nas ruas”.
Sempre que me recordo dessa história, não posso deixar de associá-
la à figura de Irmã Dolores, talvez porque, como ninguém, ela me tenha
feito entender o real e profundo significado do que vem a ser o respeito
ao espírito do ser humano. Sob a aparente imagem da fragilidade física,
fui, ao longo de nossa prolongada convivência, descobrindo uma mu-
lher cuja coragem e dedicação aos menos favorecidos despertavam em
todos que dela se aproximavam um tipo de força que só pode emanar
de alguém que, consciente da missão a que está predestinada, coloca
seus idéias sempre acima de quaisquer interesses ou obstáculos.
Falar sobre a obra de Irmã Dolores exigiria, de todos que a conhe-
cem profundamente, incontáveis adjetivos e advérbios que, por mais
numerosos e preciosos que fossem, nunca seriam capazes de oferecer
uma pálida imagem do retrato de cores fortes e poderosas que caracteri-
zam a vida dessa mulher, dedicada à defesa da dignidade e da cidadania
do ser humano.

Telma de Souza é Deputada Federal


Ex-Prefeita de Santos e amiga.

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Dolores do Evangelho

TEXTO BÍBLICO - EVANGELHO DE SÃO JOÃO 15,1-7.

A Comunidade cristã não é uma instituição, mas uma participação


na vida de Jesus. Unido a Jesus, cada membro é chamado a testemu-
nhá-lo colocando a comunidade em contínua expansão e crescimento.
Quem está unido a Jesus produz: “Eu sou a verdadeira videira, e
meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, o Pai cor-
ta. Os ramos que dão fruto, ele os poda para que dêem mais frutos ain-
da. Vocês já estão limpos, por causa da palavra que eu lhes falei. Fiquem
unidos a mim, e eu ficarei unidos a vocês. O ramo que não fica unido à
videira não pode dar fruto. Vocês também não poderão dar fruto se não
ficarem unidos a mim. Se vocês permanecerem em mim, e eu Nele, as-
sim darão muitos frutos, porque sem mim vocês não podem fazer nada,
quem não fica unido a mim será jogado fora como um ramo, e secará.
Esses ramos são ajuntados, jogados no fogo e queimados”.

COMENTÁRIO: No testemunho de Telma, experiente


política sintonizada com os graves problemas das comu-
nidades mais pobres, pode-se observar o grande respeito
pela Dolores Videira, uma mulher que se dispõe a ser ca-
minho, a nutrir com esperança e amor as populações mais
carentes. É a Dolores Videira extremamente produtiva na
geração de frutos de dignidade, de justiça e de amor por
todos os lugares onde passa e vive.

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Capítulo 19
Dolores Profeta

Cantai ao Senhor um cântico novo.


Cantai ao Senhor, terra inteira.
Cantai ao Senhor e bendizei o seu nome.
Anunciai cada dia a salvação que ele nos trouxe.”
Salmo 95

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores Profeta

C
heguei a Santos no início de 1981. Conheci várias pessoas en-
gajadas em pastorais diversas. Entre estas pessoas conheci uma
especial e extraordinária que presidia as “Comunidades Ecle-
siais de Base”: Irmã Dolores. Comunidades são grupos heterogêneos
e primários compostos de famílias que se unem e vivem em relações
normais, afetivas e interpessoais, com o objetivo específico que para nós
cristãos é o eclesial. Chamam-se de base porque não são constituídas
de cima pelas autoridades, mas nascem dentro da realidade concreta
do povo. Sabendo disto, a Irmã me procurou se haveria a possibilidade
da gente trabalhar com ela na Vila Zilda (Guarujá) nas comunidades.
Aceitei de bom grado pois veio ao encontro daquilo que eu almejava.
Quando a Irmã foi transferida da Vila Zilda para Humaitá (São Vicen-
te), continuamos a trabalhar juntos, formando sempre novas comuni-
dades que nem sempre eram fáceis de se construir.
A Irmã, contudo, perseverante, conseguia estabelecê-las. Como o
bairro do Humaitá se tornou Paróquia, ela se estabeleceu em Samaritá
(São Vicente) com as mesmas intenções de sempre. De Samaritá passa-
mos para Ponte Nova e Quarentenário. Hoje ainda estamos lá. A Irmã
em todos esses lugares mencionados sempre fez sua moradia no meio
do povo, vivendo com eles e como eles, o que eu não consegui. Deste
modo, ela foi encontrando soluções para a moradia; conquistando ter-
renos, material de construção e os mutirões; para a falta de atendimen-
to médico, a construção do Posto de Saúde- Casa de Parto e a farmácia;
para a falta de Educação, construiu a Escola Raul Rocha do Amaral, Es-
cola Profissionalizante e a Biblioteca; para as crianças, as creches onde
ficam orientadas pelas pedagogas e psicólogas, dando liberdade às mães
trabalharem sem preocupação com seus filhos menores.
Para o povo no setor religioso, construiu capelas onde o povo tem
a Celebração da Palavra de Deus e a Eucaristia, além de acompanhar as

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Dolores do Evangelho

pastorais da Família, dos Jovens, da Catequese da 1ª Eucaristia. Para os


adultos, o Sacramento da Crisma e do Matrimônio, e a preparação da
liturgia das várias celebrações.
A Irmã, como religiosa que é, tem duas qualidades muito impor-
tantes, primeiramente é Profeta Anunciadora da boa nova do Reino de
Deus que é a Justiça, direito de toda pessoa de ser feliz e realizada em
sua vocação e profissão, e de nunca perder sua dignidade. Denuncia-
dora do sistema neo-liberal que escraviza, explora e oprime a pessoa
humana em todos os sentidos sócioeconômico, cultural e até religioso.
Outra qualidade; é apaixonada por Jesus Cristo, modelo de toda e qual-
quer pessoa, porque “Ele é o Homem” ; procura com tudo saber como
Jesus agiria, para segui-lo sem reserva.
Ele é o termômetro de sua vida. Paixão pelo povo em geral, mais
precisamente os pobres, os oprimidos, os excluídos, os injustiçados,
os desempregados, enfim todos os marginalizados; ela sempre foi uma
deles.
Louvado seja Deus pelas maravilhas que ele opera pela Irmã Dolo-
res- Bendito o Povo de Deus que conta com ela com justiça e testemu-
nho de fé e de amor.
Ação de Graças pela presença significativa e amorosa de todo um
mistério humano e gratuito.
Enfim nossos agradecimentos por tudo de bom e eficaz que ela
faz por este sofrido povo de Deus que a ama tanto. “ Fez-se serva para
conquistar os servos, fez-se fraca para ter os fracos.”

Frei Guilherme Sônego


Fevereiro/2003.

TEXTO BÍBLICO - EVANGELHO DE SÃO MARCOS, CAP. 4, V. 1-9

Jesus terá êxito na sua missão - Jesus começou a ensinar de novo


às margens do mar da Galiléia. Uma multidão se reuniu em volta
dele. Por isso, Jesus entrou numa barca e sentou-se. A barca estava no
mar, enquanto a multidão estava junto ao mar, na praia. Jesus ensina-
va-lhes muitas coisas com parábolas. No seu ensinamento, dizia para

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

eles: “Escutem. Um homem saiu para semear. Enquanto semeava,


uma parte caiu à beira do caminho; os passarinhos foram e comeram
tudo. Outra parte caiu em terra ; brotou logo, porque a terra era
profunda. Porém, quando saiu o sol, os brotos se queimaram e seca-
ram, porque não tinham raiz. Outra parte caiu no meio dos espinhos.
Os espinhos cresceram, a sufocaram, ela não deu fruto. Outra parte
caiu em terra boa e deu fruto, brotando e crescendo: rendeu trinta,
sessenta e até cem por um”. E Jesus dizia: “Quem tem ouvidos para
ouvir, ouça!”

COMENTÁRIO: Grande Frei Guilherme fala da Dolores


Profeta, de uma mulher que, como ninguém, é Anuncia-
dora da Boa Nova do reino de Deus que é a Justiça e que
para tal não mede esforços. Como diz Frei Guilherme, é a
Dolores Profeta e Apaixonada por Jesus Cristo, fonte inspi-
radora e propulsora de seu trabalho entre os homens.

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Capítulo 20
Dolores Empreendedora

“Todos os caminhos do Senhor são graça e fidelidade,


para aqueles que guardam sua aliança e seus preceitos.”
Salmo 24

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores Empreendedora

C
onhecemos Irmã Dolores já faz algum tempo. Fomos apresenta-
dos a ela por amigos nossos. Foi no Quarentenário, esse bairro
que tem inúmeras necessidades, onde fomos trabalhar aos sába-
dos, revezando com outros casais e montamos um bazar da pechincha.
O nosso bazar foi um sucesso. Era muito gratificante poder oferecer
roupas, objetos e tudo mais que nos era oferecido por muitos colabo-
radores. Os moradores do local faziam fila para aguardar a abertura do
nosso bazar.
Irmã Dolores sempre estava presente incentivando-nos com seu jei-
to alegre e muito querida pela comunidade. Nossa meta era construir
uma sala de aula. Conseguimos, hoje esta sala transformou-se em uma
escola de educação infantil em parceria com a prefeitura. É muito inte-
ressante, pois, se você pergunta a uma criança como se chama a escola,
eles respondem “Escola da Madre”. Achamos que essa foi mais uma
conquista incansável da Irmã Dolores.
Depois de algum tempo, voltei a trabalhar com ela num projeto
“Brincar e Aprender”. São crianças de 4 a 7 anos que vão, depois do
período escolar fazer diversas atividades com pessoas que estão ali, para
orientá-las. É um trabalho muito interessante, pois, na medida em que
eu posso ajudá-las, fico satisfeita por estar colaborando. A proposta é
que as crianças depois da escola não fiquem na rua.
Irmã Dolores é uma mulher empreendedora,dinâmica e valente.
Seus projetos sempre caminham ao lado dos mais necessitados. Tudo o
que ela propõe ser executado, mesmo que dê muito trabalho, ela con-
segue realizar. Temos muito prazer e alegria de fazer parte do universo
da Irmã Dolores.
Luiz Carlos Delbue e Maristela Lopes Delbue
Novembro/2004.

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Dolores do Evangelho

TEXTO BÍBLICO - ATO DOS APÓSTOLOS: 2, 42-47

Primeiro retrato da Comunidade


Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na co-
munhão fraterna, no partir do pão e nas orações. Em todos eles havia
temor, por causa dos numerosos prodígios e sinais que os apóstolos rea-
lizavam. Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em co-
mum todas as coisas; vendiam em comum todas as coisas; vendiam suas
propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme
a necessidade de cada um. Diariamente, todos juntos freqüentavam o
Templo e nas casas partiam o pão, tomando alimento com alegria e
simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram estimados por todo
o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outras pesso-
as que iam aceitando a salvação.

COMENTÁRIO: Luiz e Maristela reconhecem uma Do-


lores Empreendedora. Uma mulher que faz as coisas acon-
tecerem. Que tem a capacidade de reunir as pessoas em
torno de objetivos comuns. Uma Dolores Empreendedora
cuja empresa se estabelece não onde existem mais recur-
sos, mas exatamente onde estes faltam. Dolores Empreen-
dedora, a empresária de Deus dedicada à construção do
reino de Deus entre os homens.

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Capítulo 21
Dolores Professora

“Sou vosso servo: ensinai-me a sabedoria,


para que conheça vossas prescrições.”
Salmo 118

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores Professora

Ir. Maria Dolores. “O Dinamismo da Fé e do Amor”

N
a verdade nós nem sempre lembramos, mas toda a nossa his-
tória sempre é guiada por Deus. Porém, mesmo quando não
percebendo essa presença, ele vem ao nosso encontro através
das pessoas. Em minha vida percebi essa presença de divindade em ju-
nho de 1995, quando, por motivo do meu casamento com Claudiana,
hoje minha esposa, conheci e falei pela primeira vez com Ir. Maria Do-
lores. Até essa fase de minha vida, eu não era uma pessoa observadora
a ponto de perceber que existem pessoas cuja vida só tem sentido se
estiverem transmitindo algo de bom para alguém, especialmente para
as pessoas mais necessitadas.
Passaram alguns meses e no dia 09 de dezembro de 1995, Clau-
diana e eu nos casamos na Igreja Nossa Senhora da Esperança. Algum
tempo depois, fiquei desempregado. Desejando conversar com a Irmã
Dolores, me vendo na situação em que me encontrava, tive a oportuni-
dade dessa conversa com ela. E num domingo, após a missa, perguntei
se poderia levar para a Igreja os classificados do jornal que usava na
tentativa de conseguir um novo emprego e partilhar com outras pessoas
que se encontravam na mesma situação. Ela não só aceitou, como tam-
bém nos convidou a participar da comunidade, foi o convite mais belo que
alguém poderia receber e aceitamos.
No início da nossa participação na comunidade, já percebíamos
que esta comunidade era diferente. Sempre rezávamos o terço, fazíamos
novenas e procissões, mas uma diferença que ficava bem claro: Fé e
Vida estavam juntas.

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Dolores do Evangelho

Em uma reflexão bíblica em que Cristo fala: “Eu ouvi o clamor do


meu povo”, a Ir. Dolores nos deixa claro que o clamor é oração e ação. E
em várias reflexões descobrimos e aprendemos o que Deus quer de nós.
E hoje o que mais nos fortalece são seus exemplos de quando diz
e nos mostra que todos devemos ter vida e vida em abundância. E se
ficarmos quietos diante das injustiças, corremos o risco dos cobradores
de impostos e das prostitutas nos precederem no reino de Deus.
Irmã Dolores é como uma mãe, sempre nos aconselha, nos corrige
e nos ensina que não pode falar de Deus quem não escuta o clamor de
quem sofre, e que é em nossas obras que mostraremos nossa fé.
O capítulo 62 do livro do profeta Isaías nos revela a verdadeira se-
melhança entre a fé e a vida, de Ir. Dolores. Por causa do povo sofredor
não ficarei em silêncio, por causa de um sistema opressor não ficarei
quieta, não me acomodarei enquanto a justiça não surgir para todos,
como a aurora, e enquanto a salvação não brilhar como a luz do sol.

José Pereira Andrade e Claudiana Souza Andrade


Pastoral Familiar.

TEXTO BÍBLICO - EVANGELHO DE JOÃO: 8,31-32

De vocês guardarem a minha palavra, vocês de fato serão meus


discípulos; conhecerão a verdade. E a verdade libertará vocês.

COMENTÁRIO: Dolores Professora aparece na vida de


José e Claudiana aconselhando, orientando e, muito
mais, formando verdadeiros cidadãos a entender o mun-
do em que vivem e a se relacionarem com um Deus Vivo
e Verdadeiro que está pronto a atender os clamores de seu
povo. Uma Dolores Professora que ensina a oração da ação
e que, como aprenderam José e Claudiana, Oração, Fé e
Vida caminham juntas.

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Capítulo 22
Dolores Líder

“Amo ao Senhor, porque ele ouviu a voz de minha súplica,


porque inclinou para mim os seus ouvidos no dia que o invoquei.”
Salmo 114

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores Líder

N
a estrada da vida de nossa família, um acontecimento de sig-
nificativa importância mudou o rumo de nossa caminhada,
fazendo-nos crescer apostólica e espiritualmente.
Aconteceu no início de 1970, logo após o término da minha parti-
cipação em um Cursilho de Cristandade.
Coloquei-me na Diocese, à disposição para o serviço social-religio-
so. Tive a honrosa oportunidade e a imensa alegria de ser convidada
a colaborar na realização de um projeto de Irmã Dolores. A religiosa,
mulher vinda da Espanha, jovem, repleta do ideal de servir ao próximo,
visando à promoção humana, sutilmente penetrava nos locais mais ca-
rentes da periferia de São Vicente e na área continental, evangelizando
através da palavra, da ação, perseverança e dinamismo.
Dona de uma liderança, ao mesmo tempo segura e terna, própria
dos grandes líderes empreendedores, Irmã Dolores fazia-se figura de
destaque naquelas comunidades pobres, necessitadas principalmente
de uma voz que com elas clamasse junto às autoridades pelos benefícios
a que tinham direito como cidadãos.
Residindo em um casebre de madeira, próximo às palafitas após solici-
tar para isso licença episcopal e arriscando-se, assim como os demais mora-
dores do local, a toda espécie de contaminação e insegurança social, Irmã
Dolores dava cumprimento aos seus projetos de promoção humana.
Iniciamos o trabalho agindo ao redor de uma pequenina capela co-
nhecida como Capela de São José Operário, atraindo as moradoras para
cursos de bordado, tricô e alfabetização aproveitando a oportunidade
para evangelizar as adolescentes de 14 a 16 anos, preparadas através de
um curso “Legionárias”, para exercerem funções no comércio de São
Vicente em agosto 1977. Atualmente temos a 58a turma na JIP.

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Dolores do Evangelho

Lado a lado, trabalhando com Irmã Dolores, contando ainda com


o interesse de meu marido e com ajuda de alguns amigos, vivi a grata
experiência do servir. Confesso ter preenchido vazios existenciais e con-
quistado suave paz espiritual. Nosso campo de ação era a comunidade da
Vila Jóquei. Trabalhávamos na JIP - Jóquei Instituição Promocional.
Ingressei como voluntária, dirigida por Irmã Dolores. Na JIP per-
maneço até hoje, servindo no cargo de Vice-Presidente. Minha diri-
gente, contudo, precisava de mais espaços para sua obra,tão grandiosa
quanto ela e ao mesmo tempo em que nos dirigia, também implantava
novas capelas, novos cursos, conquistava novos participantes expandin-
do o ideal evangélico e formando novas comunidades. Assim fundou
a Capela Nossa Senhora de Nazaré, Dom Bosco, Nossa Senhora das
Dores, Espírito Santo.
O ambulatório médico e dentário, sonho de Irmã Dolores, foi con-
cretizado em 24 de julho de 1976 através de uma doação recebida por
ela. O atendimento era realizado por profissionais voluntários e contava
com a parceria da Prefeitura de São Vicente, na pessoa do então Prefei-
to Koyu Iha oferecendo grandes benefícios ao povo de Deus que residia
naquelas áreas.
Por intermédio de Irmã Dolores, a JIP recebeu em 24/03/1979, atra-
vés da Secretaria da Promoção Social, verba para a construção da sede em
cujas salas já se formaram quase mil jovens para o trabalho profissional
que enseja um futuro mais promissor e um presente menos sofrido.
Por muito tempo, minha família, meus companheiros e eu, nós que
com Irmã Dolores caminhamos, aguardávamos uma oportunidade de
agradecimento por tudo o que ela nos ensinou em termos de Serviço
Social humanitário e cristão que nos faz mais próximos de Deus, e ati-
namos em como e quando fazê-lo, sentindo o coração endividado.
E agora, quando nos é oferecido um espaço, uma página a ser pu-
blicada, testemunhando sobre o trabalho desta religiosa, mulher forte
do evangelho, confessamos: falta-nos a palavra, mas estaremos sempre
curvando diante de tanta grandeza! Gratos para sempre, Maria Anto-
nieta Nunes Limaverde e Família.

Maria Antonieta Limaverde e família.


Outubro/2005

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

TEXTO BÍBLICO - ATO DOS APÓSTOLOS, CAP. 18, V. 24-28

A Comunidade instrui um Líder - chegou a Éfeso um judeu cha-


mado Apolo, natural de Alexandria. Era homem eloqüente, instruído
nas Escrituras. Fora instruído no Caminho do Senhor e, com muito en-
tusiasmo, falava e ensinava com exatidão a respeito de Jesus, embora só
conhecesse o batismo de João. Ele começou, então, a falar com muita
convicção na sinagoga. Ao escutá-lo, Priscila e Áquila o tomaram consi-
go e, com mais precisão, lhe expuseram o Caminho de Deus. Como ele
estava querendo passar pela Acaia, os irmãos o apoiaram e escreveram
aos discípulos que o acolhessem bem. Graças à iniciativa divina, a pre-
sença de Apolo foi muito útil aos fiéis.
De fato, ele rebatia vigorosamente aos judeus em público, demons-
trando pelas Escrituras que Jesus é o Messias.

COMENTÁRIO: Maria Antonieta em seu depoimento


pontua uma das grandes virtudes da Ir. Dolores, qual seja,
a liderança. Dolores Líder pelos princípios, pelos valores,
pelo trabalho, por saber interpretar as necessidades das
comunidades e propor soluções justas e eficazes. Dolo-
res Líder pelo amor, pela compaixão e pela misericórdia.
Uma mulher que conquistou uma autoridade, não pelo
poder, mas sim pela moral. Uma Dolores Líder, liderança
terna, afetuosa, competente e inquieta a procurar sempre
diminuir o sofrimento de seus liderados.

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Capítulo 23
Dolores Mãe de Misericórdia

“Ele conduziu seu povo através do deserto


porque sua misericórdia é eterna.”
Salmo 135

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores Mãe de Misericórdia

Coração de Mãe

E
la é uma “mãezona” para milhares de pessoas que vivem em
situação de extrema pobreza na Área Continental de São Vi-
cente.
Mas não é daquelas que só sabem passar a mão na cabeça dos filhos.
Irmã Maria Dolores Junquera tenta dar o peixe, mas, principalmente,
ensina a pescar.
Vocação, amor ao semelhante, obrigação de ajudar o próximo são
muitos os sentimentos que movem esta mulher, diminuta em tamanho,
perto de completar oito décadas de vida, com uma lucidez, capacidade
de raciocínio e consciência de cidadania impressionantes, e que não
pára de sonhar.
Após anos atuando na Vila Ponte Nova, bairro paupérrimo da pe-
riferia de São Vicente, ela sente que sua missão ali já está se encerran-
do e é hora de tomar novo rumo, ir em busca de comunidades ainda
mais excluídas: “Venho pensando, aqui já conta uma infra-estrutura
que bairros mais antigos não possuem. A população aprendeu a se or-
ganizar e acho que pode caminhar com as próprias pernas. Talvez para
o segundo semestre eu vá para outro bairro, em São Vicente mesmo,
mais necessitado”, confidencia.
As melhorias experimentadas pela população da Vila Ponte Nova
nos últimos anos são resultados da presença de Irmã Dolores, no lugar
onde, por sinal tem residência. Partiu dela a iniciativa de construir,
com a ajuda da Igreja Católica, o Posto de Saúde (a Prefeitura depois

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Dolores do Evangelho

equipou e forneceu os funcionários), a escola de 1a a 4a séries de ensino


fundamental, a Igreja, uma obra fundamental que transformou a vida
de muitas pessoas, a Escola Profissionalizante VIP, levantada com a aju-
da de uma ONG.
Esta semana, começa a funcionar no bairro o mais novo empreen-
dimento de Irmã Dolores, a Casa de Parto, que acabará com o calvário
de muitas gestantes na hora de dar à luz. “Hoje elas precisam ir de
transporte coletivo para o Hospital São José e se não chegarem no horá-
rio, são obrigadas a voltar. Às vezes nem dinheiro para condução têm. A
casa fará apenas partos normais.” A religiosa conseguiu os recursos para
a obra no Ministério de Saúde, por orientação do ex-prefeito de Santos,
Dr. Davi Capistrano Filho, já falecido.

Vocação

“Sinto uma mistura agridoce de angústia por não poder ajudar a


todos, e de alegria por ter aliviado alguma dor”, disse certa vez Irmã
Dolores ao tentar explicar o que sente em seu trabalho para a Assem-
bléia Legislativa de São Paulo, no ano 2000, com o prêmio Santo Dias
de Diretos Humanos.
Nascida em 26 de fevereiro de 1926 em Gijón, região marítima das
Astúrias, na Espanha, Maria Dolores teve que driblar a resistência do
pai, um marinheiro, e aguardar até 18 anos para ingressar na Ordem
Maria Imaculada. A mãe era dona de casa, e de seus oito irmãos, quatro
são vivos e moram na Espanha.
O ideal de servir aos mais pobres aflorou ainda criança. “Minha
vocação sempre foi a de entregar a vida a Deus.” Mas na Espanha,
quando se pensava em pobre, a lembrança que tinha era da África. Não
se cogitava a América Latina”.
Na década de 50 seguiu para a Inglaterra e França, países que tenta-
vam se reconstruir após a Segunda Guerra Mundial. Atendeu as comu-
nidades de imigrantes espanhóis e portugueses e confessa uma grande
decepção com os ideais apregoados pelos franceses: “Na terra que se diz
da liberdade, fraternidade, igualdade, presenciei muita exploração de
imigrantes, eles sofriam muito”.

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Na Inglaterra, só lhes restava o trabalho doméstico.


De Londres veio para o Brasil, onde chegou em 1967, trabalhou
um tempo em São Paulo e foi requisitada para atuar na periferia da
Baixada Santista. Uma tarefa condizente com seu espírito desbravador
de sertões, como ela própria define.
Andou pelos diques das Caixetas, Picarro (em São Vicente), percor-
reu os aglomerados de palafitas nos mangues da região. “Foram tem-
pos muitos difíceis, nunca tinha visto tanta miséria, eu me envolvia na
angústia das pessoas, até que entendi que isso de nada adiantava, eu
teria que lutar.” Junto com outras duas religiosas que não agüentaram
a dura missão e retornaram para a Espanha, Irmã Dolores trabalhou na
periferia do Guarujá.
Na Vila Zilda incentivou o povo a se organizar e exigir seus direitos
para o loteamento da área.
Viveu nove anos no Jóquei Clube, seguindo depois para a periferia
de São Vicente, a princípio no Jardim Samaritá, Jardim Rio Branco,
Humaitá.
Foi quando começou a invasão do quarentenário. Havia a suspeita
de que a cava de lixo químico da Rhodia tinha contaminado o lençol
freático e os moradores tomavam água de poço. Era preciso orientá-los.
Na época, o Quarentenário era um mato só; a Irmã Dolores vinha sozi-
nha de Samaritá, onde morava, caminhando pela linha do trem.

Escola Profissionalizante

Com assistência técnica do Senai, a Escola Profissionalizante VIP


oferece cursos profissionalizantes para jovens e adultos. São cursos de
panificação e confeitaria, costura industrial, elétrica, eletrônica básica
e num segundo estágio instalação industrial e comercial, informática,
inglês, espanhol, assistente administrativo, artesanato. A escola acaba
de montar curso de cabeleireiro, que vinha sendo muito requisitado, e
uma biblioteca aberta à comunidade.
Na escola funciona a padaria com produção diária de 1.200 pãe-
zinhos (médias), mais pão doce, pão de leite, cará e broa. A produção
é vendida a R$ 0,11 a unidade aos “botecos” do bairro, que revendem

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Dolores do Evangelho

para a população a R$ 0,12, um preço bem inferior ao cobrado em ou-


tros lugares. “É pão de primeira qualidade, não tem produto químico”,
garante a religiosa. Já as alunas do curso de costura se organizam em
pequenas cooperativas para atender encomendas de empresas.
A VIP se matém com a ajuda de poucos sócios e da Universidade
Católica de Santos(UniSantos). Os professores recebem salário e são
registrados. “Estamos pleiteando junto à Brasília para transformar a
entidade sem fins lucrativos, desonerando-a dos encargos patronais”,
conta a Irmã.

Dificuldade de trabalho

Há uma preocupação em montar cursos para trabalho autônomo


devido à dificuldade de ingresso no mercado formal. “O desemprego
em São Vicente está uma calamidade e, além disso, a condução aqui é
caríssima: R$ 2,60. Ninguém quer empregar um morador da área con-
tinental. Até as mulheres empregadas domésticas, e que em sua grande
maioria sustentavam as casa, são prejudicadas. Acho que porque a classe
média também empobreceu”, pondera a religiosa.
Apesar dos avanços, os perigos que cercam os moradores do Jardim
Rio Branco continuam, constata Irmã Dolores. “Os jovens permane-
cem sem opção de trabalho e expostos aos apelos da televisão para con-
sumo.”

Arma contra a violência

Irmã Dolores declara com convicção: a violência no Brasil somen-


te será combatida com a Educação. “Compete a cada um colocar sua
capacidade de trabalho a serviço desta mudança”. Por isso, a aula de
Cidadania faz parte da Escola VIP. “O povo não conhece seus direitos
e deveres. Fica agradecido com aquilo que é fruto do suor de seu tra-
balho.” Nas aulas os alunos são orientados sobre as leis trabalhistas,
entre outras informações necessárias para exercer sua cidadania. A

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

escola também promove debates e palestras sobre diversos temas, para


formação ética e social dos profissionais.
Irmã Dolores confessa que está esperançosa com o Governo Lula. “É
a primeira vez que um trabalhador chega à presidência. Ele é um homem
muito sensível, que vivenciou todas as etapas da pobreza absoluta, mas
não devemos esperar milagres. O povo deve caminhar por si mesmo.”

Mirian Ribeiro - Jornal da Orla.


Maio/2003

TEXTO BÍBLICO – 1A CARTA AOS CORÍNTIOS, 9, 15-16

Tornar disponível e solidário


Contudo, não tirei vantagem dos meus direitos. E agora não es-
tou escrevendo para reclamar coisa alguma. Antes morrer que... Não.
Ninguém me tirará esse título de glória. Anunciar o Evangelho não é
título de glória para mim; pelo contrário, é uma necessidade que me é
imposta. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho.

COMENTÁRIO: Dolores Mãe de Misericórdia, que melhor


alcunha poderíamos tirar do texto da jornalista Mirian
que, com especial competência, disserta sobre o trabalho
e as qualidades desta mulher completa, a quem todos nós
queremos chamar de Dolores Mãe de Misericórdia. Porque
ama, Dolores Mãe de Misericórdia, porque chora, Dolores
Mãe de Misericórdia, porque educa, Dolores Mãe de Mi-
sericórdia. Uma Dolores Mãe de Misericórdia que educa
ensinando os caminhos evangélicos no exemplo de uma
vida cristã que somente pode ser vivida por pessoas que
escolhem caminhos de santidade.

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Capítulo 24
Fotos, Fatos e Realizações

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Texto escrito por Carolina Muñiz / 2002.

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Dolores do Evangelho

Fotos enviadas por sua irmã Carolina, da Espanha, desde


a primeira
160comunhão, época de escola e noviciado.

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Mama
Lolina

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Dolores do Evangelho
Jóquei Clube - São Vicente

Construção do Prédio da JIP

Inauguração do Prédio da JIP em 24 de março de


1979. Irmã Dolores, Pe. Julio e Prefeito Koiu Iha.
São Vicente.

Inauguração do Ambulatório da JIP,


com o Prefeito Koiu Iha, Pe Júlio, Irmã
Dolores e amigos da JIP.

Primeira Turma de Legionárias.


JIP em agosto de 1976.

Batizado e confraternização no bairro do


Jóquei Clube em São Vicente.
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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz
Vila Zilda - Guarujá

Início de seus trabalhos no Brasil,


na Vila Zilda.

Procissão na ca
pe la da Vila Zilda

1a Comunhão

Missa com Bispo


D. David Picão
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VilaDolores
Zilda - Guarujá
do Evangelho

1o de maio de 1985

Início do
Centro Comunitário

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Vila Ponte Nova Quarentenário - S.V.
Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Festa na Comunidade Nossa Senhora


da Esperança, com a presença do
Bispo Dom David Picão.

a
Sala de Costur
Inauguração da do C ônsul
a presença
Industrial, com tth ie re , da
dré Lu
da Holanda, An
ra da V IP, Maria Helena
Direto aria
G ui lherme, Irmã M
Lambert, Frei
idados.
Dolores e conv

Ir. Dolores na portaria da


Cosipa, em Cubatão, 2002.

Passeio da Pastoral Familiar


Comunidade N. Sra. da Esperança
Ir. Dolores e Maria Helena Lambert Acampamento Rapozinha - Jacareí.

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Vila Ponte Nova
Dolores Quarentenário
do Evangelho - S.V.

Início da Comunid
ade do Humaitá

Início do Bairro do Quarentenário

lara
cisco e Santa C
Capela São Fran

Comunidade se organizando para mandar


roupas, alimentos e água para Indonésia
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Vila Ponte Nova
Caminhos Quarentenário
de Santidade da Guerreira da Paz - S.V.

Retiro da CEB’s

Amigos da Comunidade

Em sua casa, com Frei Longares e Cleuza

Comemorando
seu aniversário
Loli, Ir. Dolores, Mausé
Troncoso, Pedro e Carmen
Lydia.
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Vila Ponte Nova Quarentenário - S.V.

Posto de Saúde

Igreja e E.M.E.I.
“N. Sra da
Esperança”

Centro Comunitário
“N. Sra da Esperança”

E.M.E.F. “Raul Rocha do Amaral”

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Vila Ponte Nova Quarentenário - S.V.

Escola Profissionalizante Ir. Maria Dolores


Nélia Cursino e Ir. Dolores na
Biblioteca Comunitária VIP

Turma de Crismandos

Ir. Dolores,
Pe. Javier e
Carolina na
Espanha

Visita a
Espanha

Aniversário de 80 anos - 26/02/2006

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Entrevista

Irmã Maria Dolores Muñiz Junquera


Entrevista ao Jornal Presença Diocesana em 12/06/2002

Presença Diocesana – Para a senhora, o que é ser Missionária?


Irmã Dolores – É levar a “Boa notícia” do amor, da fraternidade, da
justiça, da vida plena, aos pobres, aos excluídos, aos marginalizados, ir
junto com esse povo, construindo o Reino de Deus.

PD – Por que a senhora veio trabalhar no Brasil?


ID – Sempre quis trabalhar com os mais pobres, desde menina sonhava
com a África, com a Índia, a China...mas Deus que escreve nossa histó-
ria, fez com que a Congregação me enviasse ao Brasil.

PD – Como foi o início do trabalho? Como começou o trabalho com


os mais pobres de São Vicente?
ID – Aos poucos meses de minha chegada, destinada na Casa e Santos,
o Sr. Bispo D. David Picão pediu às comunidades religiosas, mandar
alguma Irmã a visitar uma das partes mais pobres de São Vicente na
época, com a finalidade de preparar o povo para o estabelecimento no
local de uma Paróquia, “Nsa. Sra Aparecida” cujo primeiro Pároco foi
o Pe. Júlio Lopes Liarena. Fui uma das que realizaríamos esse trabalho.
Em contato com aquele povo, que vivia na maior miséria, compreendi
que era aquele o lugar onde Deus me queria. Assim comecei o trabalho
evangelizador na Vila Jóquei, Dique das Caixetas, Dique do Sambaia-
tuba, etc. E depois de enfrentar novamente diversas rupturas, fiquei a
morar com aquele povo por quem já me havia apaixonado.

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Dolores do Evangelho

PD – O trabalho missionário está diretamente ligado à defesa dos


Direitos Humanos?
ID – Creio, é inseparável. O trabalho de um missionário(a) que quer
anunciar que Jesus veio para os pobres para dar saúde aos doentes, vista
aos cegos, libertar os cativos...é impossível não estar fortemente ligado
aos Direitos Humanos.

PD – O que lhe anima a continuar nessa missão tão árdua?


ID – Minha paixão pelos pobres, senti profundamente em cada um
deles a presença viva de Deus. Um dia de frio intenso, em que visitava
num mangue os pobres, vendo os rostos das crianças roxeados pelo frio,
tinha vontade de sair gritando o sentimento que oprimia meu cora-
ção: “Venham cristãos, venham depressa, o Jesus vivo e verdadeiro está
aqui, morando nestas palafitas e esse Jesus, treme de frio.

PD – Com tantas dificuldades que a Igreja do Brasil enfrenta, inclu-


sive no que diz respeito à falta de missionários para atender tantas
regiões carentes, é correto estimular o envio de missionários para fora
do País?
ID – Para Deus, não há países nem fronteiras, aquele a quem Deus
chame para deixar pai, mãe, irmãos, Pátria...responda rápido, vá sem
demora, lá é seu lugar.

PD – Qual a maior virtude de um missionário?


ID – Amor, paixão por Jesus Cristo, amá-lo em cada pobre, em cada
doente, em cada miserável...e despoja-se de tudo por amor.

PD – Como estimular os cristãos de todas as idades a aderirem à causa


missionária?
ID – Pelo nosso testemunho, quando saibamos dar até a vida pelo ir-
mão, eles se sentirão impulsionados a dar também alguma coisa.

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Trecho de palestra sobre a


Campanha da Fraternidade

“Temos de aprender a viver juntos como irmãos,


ou pereceremos juntos como loucos.”
(Martin Luther King)

P
arece estarmos voltando aos tempos dos grandes castelos rode-
ados e defendidos por muralhas, torres e fossos...por gigantes-
cos soldados revestidos por brilhantes armaduras, com espadas
e lanças.
Hoje, nossos irmãos classe A vivem em grandes mansões, em luxu-
osos conjuntos habitacionais, defendidos por muros, grades, portões,
sofisticados sistemas de alarme, vigias, porteiros e zeladores...
De quem se defendem? Onde está o perigo? Quem são os grandes
inimigos?... Acaso reunidos em grandes fortalezas preparados para o
ataque?
Não!!!
O inimigo está nas ruas, sem teto, sem um pedaço de chão, res-
guardado embaixo de uma marquise, deitado nas calçadas de nossas
ruas ou escondido em um porão, em uma favela, em alguma palafita
do mangue.
Quais são suas armas de combate?
A miséria, a fome, o desemprego, as crianças desnutridas, morren-
do antes do tempo, a infância prostituída, o álcool e a droga...
Qual seu alimento?
Os lixões da cidade, ou os lixos menores dos clubes e grandes mo-
radias, o que cai das mesas ou é jogado fora, resto das comilanças, dos
banquetes suntuosos dos ricos.

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Dolores do Evangelho

Seu distintivo?
A falta de dignidade arrancada, deixada em pedaços em cada neces-
sidade premente, em cada direito desrespeitado, em cada porta fechada,
em cada empurrão para a margem da sociedade.
A violência que tanto tememos e procuramos com tanto afinco nos
defender, a morte matada, o seqüestro, o assalto...
Se cultiva e cresce em cada noite passada ao relento, em cada es-
tômago vazio dia após dia, no choro da criança pela fome e pelo frio,
na saúde maltratada, no ancião sem amparo, na falta de trabalho e na
humilhação...
Numa palavra “A violência é gerada pela falta de dignidade, pela
exclusão social”.
Se queremos de nossa parte mudar esta sociedade injusta e cruel, se
queremos paz em nossos lares, em nossas cidades, se queremos fraterni-
dade entre todos os seres humanos, de mãos dadas abracemos a bandeira
da Campanha da Fraternidade: “Dignidade humana e paz, novo milê-
nio sem exclusões”.
A Paz é o fruto da justiça: ou vivemos juntos como irmãos, ou pe-
receremos juntos como loucos.

Irmã Maria Dolores/2001

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Letras de músicas

Homenagem à Irmã Maria Dolores


(Sr. Antonio)

Tu mensageira da paz
Tornas os homens iguais
E nos fazes reviver.
Tu nos mostraste o caminho
Tiraste os espinhos e nos fizeste entender

Refrão:
Tu vens conosco e nos ensinas a amar e
ajudar o nosso irmão que suplica um pedaço de pão.

Tu conduziste o teu povo


Rumo a um mundo novo
De amor e esperança
Tu acolheste os velhinhos
Com amor e carinho, abraçastes
As crianças.
Tu és o sol que aparece
No horizonte e aquece toda terra e seus seres.
Tu és água da fonte
Vem do alto do monte
Enviada por Deus.

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Dolores do Evangelho

Homenagem à Irmã Maria Dolores


(Francisco)

Oitenta anos se passaram e você com o mesmo ardor


serve a Deus só porque o Evangelho
de Jesus a ensinou a servir a Deus no irmão por amor.
Felicidade irradia em você
Se a caridade está sempre a fazer
a qualquer hora frio, inverno ou calor
seu coração é uma fonte de amor.

Refrão:
É lutadora, brava., forte e aguerrida!
Se for preciso morre pra que haja vida
É um modelo para muitos seguir
E aprender que viver é servir.
Quanta alegria tê-la aqui entre nós
Porque de Deus é também porta-voz
Que a mãe de Cristo, que é nossa mãe, também
Ilumine e proteja os seus passos, Amém!
O seu passado jámais morrerá é uma glória
O seu presente ficará para a história
Por onde anda deixa a marca do bem
Como lembranças no coração de alguém.
Parabéns, Parabéns o pai quis
Vê-la feliz no bem que faz
Parabéns,
Parabéns para você, que Deus lhe dê amor e paz!!!

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Capítulo Final
Dolores da Sabedoria

“Amai a justiça, vós que governais a terra,


Tende para com o Senhor sentimentos perfeitos,
e procurai-o na simplicidade do coração”...

“Sim, a sabedoria é um espírito que ama os homens”...


Livro da Sabedoria

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Caminhos de Santidade da Guerreira da Paz

Dolores da Sabedoria

I
rmã Dolores, com certeza, poderia ser chamada de Arquiteta do
Povo, pois sua maior obra é a construção do homem. Todas suas
obras edificam o ser humano, constroem justiça, dignificam a exis-
tência da população mais pobre.
Irmã Dolores tem uma paixão e um amor incontidos pelas pessoas.
Ama profundamente o ser humano.
Alimenta-se de seu convívio.
Vive pela sua força.
Irmã Dolores conseguiu, já aqui na terra, saborear as delícias do céu.
Tem uma enorme capacidade de amar porque conhece a verdade. A
verdade verdadeira, aquela da justiça divina, da retidão, da sabedoria.
Não se contamina para sucumbir; se contagia para crescer, para
mudar, para renovar, num contínuo caminhar pela paz junto do seu
amado povo pobre.
Uma Dolores Sábia.
Uma Dolores que manifesta Deus, que expressa Deus, que, bem-
aventurada no amor, demonstra qualidades e virtudes maravilhosas.
Construtora da paz, do bem, da justiça e do amor.
A vida da Irmã Dolores é um salmo de louvor a Deus, cantada e
praticada nas letras do Evangelho.
Querido Deus, muito obrigado pela existência da Irmã Dolores
entre nós. Um exemplo, um modelo de caminho para o Senhor.
Uma Dolores que, guerreira da paz, caminha para a santidade.

Rubens Amaral

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Ir. Dolores,
Rubens Amaral e
Frei Guilherme Sônego

Esta frase de São Francisco de Assis falando aos seus seguidores me lembra
muito a Irmã Dolores: “Pregai o Evangelho em todas as ocasiões, mas só
usem palavras quando for necessário”.
Trata-se da Liderança Servidora que Cristo já falava há mais de 2000 anos,
Liderança pela autoridade e pelos valores.
Rubens Amaral

Embora nossa vida seja curta, é eterna


a memória de uma vida bem empregada.
Vamos dar um novo nome à não violência:
EDUCAÇÃO.

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