Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
LINHAS DE TRANSMISSÃO
∗
Centro Politécnico - DELT-TC-UFPR
Caixa Postal - 19011
CEP 81531-980 - Curitiba PR
" ! #
T0 A Um método bastante utilizado é o método simplificado para
fs = . cosh −1 (1) a elaboração de curvas de ampacidade (descrito a seguir),
p 2. Tp0
o qual é aceitável para a maioria das aplicações práticas
(Labegalini et al., 1992).
onde:
Um cabo atinge a temperatura em regime permanente quando
T0 : tração com direção tangente à curva [kgf]; houver equilíbrio entre o calor ganho e o calor perdido pelo
f: flecha pela equação da catenária [m]; cabo. O cabo ganha calor principalmente por efeito Joule e
p: peso unitário do condutor [kgf/m]; pela radiação solar.
A: vão [m].
O ganho de calor por efeito Joule é consequência da circula-
Para cada estrutura é feito o cálculo dos esforços longitudi- ção de corrente pelo condutor:
nais, verticais e transversais, de acordo com as características
dos cabos.
Portanto, conclui-se como parâmetros importantes dos cabos qj : ganho de calor por efeito Joule [W/km];
na determinação dos esforços nas estruturas o seu peso pró- I: corrente que circula pelo condutor [A];
prio, sua tração de ruptura e o seu diâmetro. r: resistência do condutor à temperatura de equilíbrio
[Ω/km].
3 RECAPACITAÇÃO DE LINHAS DE No cálculo do ganho de calor por radiação solar, é conside-
TRANSMISSÃO rado o valor médio indicativo em climas temperados:
Desta forma a equação do equilíbrio é: • Tipo ACAR: são semelhantes aos cabos ACSR, porém
os fios centrais são de alumínio liga 6201, que ofere-
cem maior ampacidade, porém menor carga de ruptura
e menor peso que o cabo CAA de mesmo diâmetro.
qj + qs = qr + qc (6)
• Tipo AAAC: todos os fios são em alumínio liga 6201,
Substituindo (2) em (6) obtém-se o valor da ampacidade: permitindo uma boa relação carga de ruptura/peso uni-
tário, obtendo-se menores flechas que o cabo CAA de
mesmo diâmetro.
r
(qr + qc − qs ) .103 • Tipo ACSS: são cabos projetados para operar continua-
I= (7) mente em elevadas temperaturas, podendo chegar a 200
r ◦
C sem que ocorra perda nas características mecânicas.
É formado por fios de aço centrais com camadas de alu-
onde: mínio liga 1350 sobrepostas. Devido às características
da liga, o aço suporta praticamente toda a resistência
I: ampacidade [A].
mecânica. Tem flechas menores que os cabos CAA e,
O valor de ampacidade representa o valor máximo de cor- portanto apresenta vantagens na recapacitação de linhas
rente que deverá circular pelo cabo condutor para que ele de transmissão e em projetos de linhas que operem em
atinja a temperatura para a qual foi projetado, mantendo as- altas temperaturas. No entanto, o aumento da ampaci-
sim os valores de flecha calculados. dade provoca um aumento nas perdas por aquecimento.
• Lançamento de mais um subcondutor por fase ou ex- onde wi são pesos a serem usados para dar mais relevância a
pansão do feixe de cabos condutores - estes métodos uma função.
exigem que a linha opere com feixe de cabos ou que as
A função multiobjetivo (F 0) a ser minimizada para se esco-
estruturas e arranjos de cadeias de isoladores da linha
lher o cabo mais adequado para a recapacitação é:
de transmissão permitam a utilização de feixes;
• Mudança na tensão operativa da linha - neste caso, além
da linha de transmissão, há a necessidade de uma deta- F O[f1 , f2 , f3 , f4, , f5 , f6 ] (11)
lhada análise nas subestações envolvidas e a reação no
sistema interligado.
onde:
Como a substituição dos cabos condutores é uma prática f1 : maximização de altura cabo-solo;
muito usual de recapacitação por proporcionar um aumento f2 : maximização da ampacidade;
significativo na ampacidade da linha, essa foi a escolhida f3 : maximização da possibilidade de expansão em
nesse artigo. função da ampacidade excedente;
f4 : minimização de custo;
f5 : minimização de perdas;
4 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE OTI- f6 : minimização de acréscimo de esforços nas
MIZAÇÃO estruturas.
Existem várias tecnologias de cabos disponíveis para serem Esses critérios são tratados adequadamente no sentido de
utilizados em um projeto de recapacitação. Mas, atualmente, torná-las adimensionais (devido às diferentes unidades de
desviocaboatual T0 A
f1 = (14) f= . cosh −1 (16)
desviocabonovo p 2 ∗ (C1 )
O valor da altura cabo-solo serve de parâmetro de compara- 4.3 Maximização de Possibilidade de ex-
ção entre os cabos. pansão
Para a determinação da altura cabo solo soma-se o valor da O objetivo desta função é mensurar qual a sobra de corrente
flecha ao valor da altura de fixação do cabo na estrutura an- e consequentemente, qual a temperatura limite de operação
terior (ha ), considerando a altitude e subtrai-se o valor da da linha de transmissão em função da altura cabo solo.
altitude do ponto de violação (hviolao ):
A fim de normalizar esse valor e transformá-lo em uma
função de minimização, f3 é dada pela relação da ampaci-
dade do cabo atual pela ampacidade calculada considerando
hcabosolo = (fcrtico + ha ) − hviolao (17) a nova temperatura de projeto.
onde: r
(qr + qc − qs ) .103
fnova : novo valor de flecha calculado para a nova I= (25)
r
altura cabo solo;
xviolao : distância da estrutura anterior até o ponto onde
a altura cabo solo é menor (ponto crítico); onde:
xvrtice : distância da estrutura anterior até o vértice da qs : do ganho de calor por radiação solar
catenária; (qs = 204.d);
T0nova : novo valor de tração que será calculado para a d: diâmetro nominal do cabo [m];
nova flecha; qc : perda de calor do cabo;
C1novo : divisão da nova tração pelo peso próprio do qr : perda de calor por irradiação;
cabo. C1novo = T0nova
p . r: resistência do condutor à temperatura de
equilíbrio.
Passo c: Cálculo do novo valor de temperatura de
projeto O valor da temperatura de projeto influencia no cálculo de
qc e qr que são determinados da seguinte forma (Labegalini
De posse do novo valor da tração, calcula-se a nova tem- et al., 1992):
peratura de projeto com a seguinte equação (Labegalini
et al., 1992):
qcnova = 945, 6. (tprojnova − t0 ) .10−4 .
h i
0,52
. 0, 32 + 0, 43.(45946, 8.d.V ) (26)
e.s.p2 .A
3 2
T0nova + T0nova ∗ 2 +
onde:
24.T01
e.s.p2 .A2 qcnova : perda de calor do cabo;
e.s.α. (tprojnova − t1 ) − T01 ] − =0 (24) V: velocidade do vento;
24
tprojnova : nova temperatura de projeto calculada;
t0 : temperatura do meio ambiente [◦ C];
d: diâmetro nominal do cabo [m].
onde: e
onde:
onde:
qrnova : perda de calor por irradiação. [W/m];
n: número de cabos da linha de transmissão
ε: emissividade - para cabos de alumínio é
(circuito simples são 3 e circuito duplo são
recomendado ǫ ≈ 0, 5;
6);
d: diâmetro nominal do cabo [m];
L: comprimento total de cabo por fase;
Tprojnova : temperatura absoluta de projeto nova (273 +
p: peso unitário do cabo.
tprojnova ) [K];
T0 : temperatura absoluta do ambiente (273 + t0 ). O cálculo do comprimento dos cabos pode ser feito pela
equação da catenária (Labegalini et al., 1992):
Desta forma, calcula-se a nova ampacidade pela equa-
ção (28), já que o valor de qs permanece o mesmo (qs =
204.d) e a resistência é um dado do cabo. v !
u 2
u
2
T0 A
L = h + 4.
t .senh2 (32)
r p 2. Tp0
(qrnova + qcnova − qs ) .103
Inova = (28)
r
onde:
O cálculo do custo de implantação de novas estruturas não Após concluído o cálculo do custo para cada cabo, utiliza-se
será considerado, pois esta possibilidade foi descartada ao se o valor máximo, que será usado como customx , e compara-
desconsiderar os cabos cuja altura cabo solo não atinjam o se com os outros valores encontrados conforme equação (29).
valor da altura mínima. A função de minimização do custo
de instalação f4 é calculada dividindo-se o custo do cabo que 4.5 Minimização de perda
está sendo analisado pelo maior custo dos cabos considera-
dos multiplicado por 1,2. O fator de multiplicação é utilizado Em Nascimento et al. (2009), é mostrado um modelo deter-
para eliminar a possibilidade de um valor maior que 1 em f4 . minístico para a determinação das perdas em função do valor
determinístico da temperatura e da corrente definida no pro-
jeto da linha de transmissão.
custocabo
f4 = (29)
customx .1, 2
2
PJ = nf .Rcond .(FC .I) (33)
onde:
custocabo : custo do cabo que está sendo analisado; onde:
customx : custo do cabo mais caro.
PJ : perda determinística por efeito Joule;
O custo do cabo é calculado multiplicando-se o peso do cabo nf : número de fases;
(pesototal) em kg pelo preço do cabo (preço) em R$/kg con- Rcond : resistência do condutor em Ω/km;
forme equação a seguir: FC : fator de carga;
I: corrente elétrica nominal.
ou seja,
perdaproj
f5 = (34)
perdamaxproj
Fv = am .fv (37)
onde:
perdaproj : perda calculada pela corrente na onde:
temperatura de projeto;
perdamaxproj : máxima perda calculada pela corrente na fv : força resultante da pressão de vento;
temperatura de projeto. am : vão médio na estrutura.
onde: 1, 293
16000 + 64.t − ALT
ρ= (41)
Fvcabo : força que o cabo que está sendo simulado 1 + 0, 00367.t 16000 + 64.t + ALT
provoca nos pontos de suspensão;
Fvmx : maior valor de força provocada nos pontos
onde:
de suspensão dentre os cabos simulados;
Tcabo : tração do cabo que está sendo simulado; t: temperatura coincidente, em ◦ C;
Tmax : maior valor de tração encontrado entre os ALT : altitude média da implantação da linha,
cabos simulados. em m.
A fim de se escolher a melhor solução do conjunto Pareto- • o caso 1 não prioriza nenhum critério de otimização;
Ótimo, passa-se a seguir, a uma análise da função objetivo
• o caso 2 prioriza a minimização do custo;
• o caso 3 prioriza a minimização das perdas; A soma dos atributos considerando apenas a função de mi-
nimização f4 , que se refere ao custo, é 8 (valor máximo)
• o caso 4 prioriza a maximização da ampacidade exce- apenas no cabo 3, ou seja, no critério custo o cabo FLINT é
dente. uma solução não dominada e portanto a melhor solução.
Caso 1: Simulação sem Priorizar Nenhum Critério Considerando os valores de FO, percebe-se que o cabo 3
(740,8 - FLINT) também é a melhor soluação. Este cabo
A Tabela 7 apresenta os valores de FO e o somatório dos possui todos os parâmetros para determinação dos esforços
atributos para cada critério de otimização. menores ou iguais ao cabo 636, portanto pode ser aplicado.
A soma dos atributos considerando apenas as funções de mi- Considerando os valores de FO, percebe-se que desta vez o
nimização f5 e f6 que se referem respectivamente à perda e cabo 16 (636TW - OSWEGO) passa a ser a solução ótima.
ao aumento dos esforços é 16 (valor máximo) para os cabos Este cabo possui todos os parâmetros para determinação dos
3, 9, 14 e 16 constituindo-se um conjunto Pareto-ótimo. esforços próximos do cabo 636, portanto pode ser aplicado.
Considerando os valores de FO, percebe-se que cabo 16 O problema de otimização envolvido foi resolvido pelo Mé-
(636TW - OSWEGO) é a melhor solução. Este cabo possui todo do Critério Global Ponderado, que se mostrou eficaz
todos os parâmetros para determinação dos esforços próxi- para estabelecer comparação entre os diversos parâmetros e
mos do cabo 636. objetivos. Ele permitiu que, através de uma função obje-
tivo composta pelas várias funções de otimização, se faça
Analisando-se os resultados, pode-se concluir que a escolha uma comparação simultânea das possibilidades, ganhando-
do cabo restringiu-se a dois tipos (3 e 16). Fazendo uma com- se qualidade na análise.
paração específica entre as novas temperaturas aproximadas
de operação dos esses dois cabos (Tabela 11), percebe-se que No entanto, uma dificuldade encontrada foi que não existe
o cabo OSWEGO (tipo 16) constitui uma solução mais cara uma solução totalmente não dominada ou totalmente domi-
porém produz uma considerável folga para novas recapacita- nada. Devido à quantidade de parâmetros de comparação e
ções. à quantidade de cabos, todas as alternativas tem algumas so-
luções não dominadas. A solução encontrada foi então a de
estabelecer um peso para soluções dominadas e outro para
Tabela 11: Comparação das novas temperaturas de opera- soluções não dominadas a fim de definir uma linha de corte
ção. e diminuir o campo de comparação.
Parâmetro Cabo 3 - 740,8 Cabo 16 - Os resultados obtidos foram satisfatórios e se mostraram coe-
Relativo FLINT 636TW rentes ratificando a metodologia como uma ferramenta eficaz
OSWEGO no balizamento de novos projetos de recapacitação.
Máxima 95◦ C 130◦ C Essa metodologia permite a análise de todos os cabos pos-
temperatura síveis de serem utilizados em um projeto de recapacitação
aproximada de (e não apenas alguns selecionados pela experiência do pro-
operação jetista), sistematiza a obtenção da solução possibilitando a
avaliação não só de aspectos tipicamente utilizados (ampaci-
dade, altura cabo-solo, custos, perdas e esforços) mas, agrega
A escolha propriamente dita entre os dois melhores cabos também o aspecto relacionado a sobrevida de linhas, ou seja,
para cada linha tem a ver com a política da empresa em se
vislumbra uma solução que admita a utilização do cabo por Labegalini, P. R., Labegalini, J. A., Fuchs, R. D. and Al-
mais tempo. meida, M. T. (1992). Projetos Mecânicos das Linhas
Aéreas de Transmissão, 2a. edn, Edgard Blücher.
REFERÊNCIAS Nascimento, C. A. M., Guimarães, M. F., Motta, I. L. M. and
Filho, E. B. G. (2009). A experiência da CEMIG no uso
ABNT (1985). NBR 5422/1985. projeto de linhas aéreas
de condutores especiais nas fases de viabilidade, pro-
de transmissão de energia elétrica., Technical report,
jeto e construção de linhas aéreas de transmissão., Se-
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Ja-
minário Nacional de Produção e Transmissão de Ener-
neiro.
gia Elétrica, Recife, PE.
Coello, C. (1999). An updated survey of evolutionary mul- Oliveira, C. M. F. (2000). Recapacitação de linhas de trans-
tiobjective optimization techniques: state of the art and missão, Master’s thesis, Pontifícia Universidade Cató-
future trends, Proceedings of the 1999 Congress on lica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Evolutionary Computation, 1999. CEC 99., Vol. 1.
Stephan, J. C. S. and Costa, F. C. (2008). Recapacitação
Dutra, J. F., Lago, F. F. and Cesar, E. L. (2005). Recapacita- e cálculo da capacidade de carga de torres metálicas de
ção de lt’s 230 kv com novos cabos termorresistentes, linhas de transmissão, 3o. Congresso Latino Americano
XVII Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Construção Metálica, São Paulo, SP.
de Energia Elétrica, Curitiba, PR.
Wiedmer, R. S., Souza JR, O. H., Silva, V. and Hoffmann,
Hoffmann, J. N. and Fonseca, H. E. (2003). Custo de estrutu- J. N. (2007). Recapacitação de linhas de transmissão
ras metálicas em projetos de linhas de transmissão, em 138 kv utilizando cabo de alumínio liga 6201, XIX Se-
função do cabo condutor, temperatura de projeto e per- minário Nacional de Produção e Transmissão de Ener-
fil do terreno, XVII Seminário Nacional de Produção e gia Elétrica, Rio de Janeiro, RJ.
Transmissão de Energia Elétrica, Uberlândia, MG.