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REVISTA DA GRADUAÇÃO DA ESCOLA DE BELAS ARTES - UFRJ

Artigo

Lygia Clark e o Não-Objeto: interatividade e


forma artística
Amanda Bueno Villar Inocencio Costa

Este artigo tem por objetivo analisar sociologicamente a produção artística de Lygia Clark
(1920-1988), de modo a compreender o processo de desenvolvimento da forma artística e sua
interatividade com o público, sendo o Não-Objeto a formulação inicial de destaque dessa interação.
Buscamos analisar a forma clarkiana integrando-a ao mundo artístico do qual constituía,
considerando o caráter de produção de arte coletiva. Investigamos a circulação de obras, abarcando
os alcances da forma clarkiana, assim como o modo de interação com o espaço, do bidimensional
ao tridimensional, e seus agentes, conformando novas maneiras de relação com o público e seus
espaços expositivos.

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Em charge bem-humorada concebida para a di- casa de Lygia Clark, como o próprio Gullar narra:
vulgação da II Exposição de Arte Neoconcreta,
realizada no Ministério da Educação em 1960 no Esse texto nasce depois de uma visita à
Rio de Janeiro , o Neoconcretismo incorpora ao
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casa de Lygia Clark. Ela tinha feito um
movimento o conceito do Não-Objeto, ressaltan- objeto que não sabia como definir, e con-
do a característica de interação do público com vidou alguns amigos para jantar a fim
a obra de arte. Na charge, as artes plásticas são de mostrá-lo. Estávamos lá Mário Pedro-
representadas pelos “Bichos” de Lygia Clark, e a sa, Amilcar de Castro e eu, entre outros.
poesia pela obra de Ferreira Gullar. Como charge O objeto que ela tinha feito era formado
promocional da II Exposição, o convite é também por uma série de tábuas de madeira cru-
direcionado à reflexão da nova proposição de for- zadas umas sobre as outras, assim como
ma artística. O jogo colocado na charge: “Eu não se constroem fogueiras nas festas de São
disse que isso não era um objeto, eu disse que João. Umas tábuas eram cinzentas, outras
isso era um não-objeto” transporta a produção de um verde escuro e mate, como a cor de
neoconcreta para um movimento que requer por abacate. Foi um pouco depois do Manifes-
uma característica única e própria, em que o Não to Neoconcreto. Durante a reunião, ela nos
-Objeto assume sua própria identidade dentro do confessou que não sabia o que era aquilo,
plano artístico. nem como defini-lo. Ninguém conhece essa
obra, talvez por ela não ter dado continui-
Através do humor também é notável na charge dade ao trabalho. (...) O fato é que olha-
a distinção entre “é proibido tocar nos objetos” mos aquela peça e começamos a discuti-la.
e “é favor mexer nos não objetos”, evidenciando “É um relevo”, disse Mário Pedrosa. “Não,
o caráter interativo do público com a forma ar- não é um relevo”, respondi. “Um relevo
tística proposta pelo Neoconcretismo. A ruptura pressupõe um plano ou uma superfície de
proposta por essa forma de arte não age unica- fundo sobre a qual ressalta alguma coisa
mente no movimento construtivo, mas também em relevo, e esse objeto não tem nenhuma
na esfera da arte em exposição no museu, rom- superfície de fundo.” “é verdade, você tem
pendo com convenções tradicionais ao propor razão”, disse Mário, sem definir o objeto.
a manipulação dos (não) objetos artísticos. Por Nesse momento, chegou a empregada di-
meio de uma charge, o Neoconcretismo identi- zendo que o jantar estava servido, e todos
fica na forma do Não-Objeto o meio pelo qual é foram comer. Só eu fiquei lá, observando
possível a transgressão da relação de exposição aquilo e tentando compreendê-lo. Todas as
da obra de arte e sua interação com o público, evidências indicavam que já não era nem
provocando o tensionamento com a maneira ex- pintura nem escultura. Mas sim, era um
positiva tradicional e, especialmente do museu objeto, ou uma coisa que ocupada espaço
moderno, já que é o espaço que o movimento como fazem os objetos. No entanto, ele não
constrói (Sant’Anna, 2003). tinha nenhuma utilidade prática, uma
função, como a cadeira ou a mesa. Imedia-
Lançado pouco tempo após o Manifesto Neocon- tamente fui até a mesa e disse: “Acabo de
creto, a Teoria do Não Objeto é também redigida descobrir o nome desse objeto.” “E qual é”,
por Ferreira Gullar em 1959, após um jantar na
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perguntaram. “É um não objeto”, respondi,

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e alguns começaram a rir. (GULLAR apud coletivamente, compondo uma rede de relações
JIMÉNEZ, 2013, p.87 a 89, grifo nosso). com outros diversos personagens do mundo da
arte, como o crítico, e de maneira coletiva parti-
A história narrada por Gullar nos traz um ele- cipam da formulação de questões e proposições a
mento relevante para aprofundar a teoria do Não partir de experiências coletivas e do meio o qual
-Objeto: é uma conceituação realizada por um pertencem. Desse modo, a Teoria do Não Obje-
único personagem do movimento, porém produ- to se conforma através de um conjunto de ações,
zida no coletivo. O Não-Objeto é formulado a par- abarcando diversos elementos coletivos e indivi-
tir do desenvolvimento investigativo dos artistas duais para sua elaboração.
individualmente, mas que corroboram sintoma-
ticamente em composições coletivas. A experiên- A partir da Teoria do Não-Objeto, a arte produ-
cia Neoconcreta aqui é evidenciada como notável zida por esse conjunto de artistas, assim como
ao abrir caminhos de investigação e pesquisa no outros, é colocada em questão, dispondo-se ao
campo artístico, permitindo formulações e pro- confronto com a nova classificação de forma
gressos através do coletivo. artística. Quando demonstrado a falta de “utili-
dade prática”, o objeto artístico atinge um novo
Las obras de arte, desde este punto de vis- momento de categorização e pertinência na sua
ta, no son los productos de individuos, de produção. Em parágrafo de abertura da Teoria do
“artistas” que possen un don raro y espe- Não-Objeto a definição é precisa:
cial. Son más bien productos colectivos
de todas las personas que cooperan por A expressão não-objeto não pretende de-
medio de las convenciones característi- signar um objeto negativo ou qualquer
cas de un mundo de arte para concretar coisa que seja o oposto dos objetos mate-
esos trabajos. Los artistas son un sub- riais como propriedades exatamente con-
grupo de los participantes del mundo, trárias desses objetos. O não-objeto não é
que, de comúm acuerdo, tienem un don es- um antiobjeto mas um objeto especial em
pecial y hacen, por lo tanto, un aporte ex- que se pretende realizada a síntese de ex-
traodinario e indispensable al trabajo y lo periências sensoriais e mentais: um corpo
converten en arte. (BECKER, 2008, p.54- transparente ao conhecimento fenome-
55, grifo nosso). nológico, integralmente perceptível, que
se dá à percepção sem deixar resto. Uma
Com a formulação de Howard Becker, pensamos pura aparência. (GULLAR, 2007, p.90, gri-
aqui na produção artística realizada por um cole- fo nosso).
tivo considerando tanto os elementos necessários
para a produção da arte (no caso pintura, escul- Se anteriormente poderíamos pensar em pos-
turas e poesia), como tintas, telas, gráficas, entre síveis não-objetos já presentes nas vanguardas
tantos outros, e também na formulação de ideias modernistas europeias, como no Dadaísmo, a Te-
coletivas, produzidas a partir da inserção num oria do Não-Objeto deixa claro sua especificidade
contexto social e artístico. Assim, o Movimento classificatória: a relação fenomenológica que des-
Neoconcreto é elaborado aqui como um conjun- brava as potenciais significações, ou seja, é atra-
to de artistas que produzem individualmente e vés da experiência sensorial que o objeto artístico

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atribui significado, ao mesmo passo em que ga- Assim, conforme a perspectiva de Gullar, o mo-
nha significado, como um movimento de dupla vimento Neoconcreto força os limites da arte
troca, intrinsecamente dependente da interação. moderna até então produzida, através do cons-
trutivismo, e rompe com essas margens através
Também presente no Manifesto Neoconcreto , da sua proposta radical de criação e interação,
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a liberdade de criação do artista é exaltada pelo mobilizando elementos como a utilidade prática
movimento: “É assim que, na pintura como na da arte e sua intervenção social, a relação com o
poesia, na prosa como na escultura e na gravura, espaço de exposição, e especialmente a interação
a arte neoconcreta reafirma a independência da com o público, corroborando numa elaboração
criação artística em face do conhecimento prático própria e coletiva de sua classificação artística ao
(moral, política, indústria etc).” (GULLAR apud conceituar o Não-Objeto.
AMARAL, 1977, p.84). Após a defesa da liberdade
de criação, o Neoconcretismo também ressalta a Tais elementos mobilizados pelo movimento
interação do público, tendo como elemento me- Neoconcreto também são encontrados inter-
diador da criação e da interação a forma artística. namente na produção artística de Lygia Clark,
Na Teoria do Não Objeto a forma é radicalizada, apresentam-se como parte constitutiva do de-
necessitando da elaboração de uma nova defini- senvolvimento dos debates do movimento cons-
ção ou classificação. trutivo brasileiro e das concepções da arte mo-
derna em que estava inserida.
Romper a moldura e eliminar a base não
são, de fato, questões de natureza mera- A trajetória de Lygia Clark: anos de formação
mente técnica ou física: trata-se de um es- e inserção no meio artístico
forço do artista para libertar-se do quadro
convencional da cultura, para reencontrar Nascida no ano de 1920 em Belo Horizonte (MG),
aquele “deserto” de que nos fala Malêvit- Lygia inicia seus estudos artístico em 1947 na ci-
ch, onde a obra aparece pela primeira vez dade do Rio de Janeiro com Roberto Burle Marx
livre de qualquer significação que não seja e Zélia Salgado, dois relevantes nomes da arqui-
seu próprio aparecimento. (...) Os artistas tetura e urbanismo e das artes plásticas moder-
dessa tendência [tachistas e informais] nas. Em 1950, viaja à Paris por um ano para dar
(...) Partem da suposição de que o que está continuidade aos estudos, com a orientação de
dentro de uma moldura é um quadro, uma Arpad Szènes, Dobrinsky e Fernand Léger, ob-
obra de arte. É certo que, com isso, tam- tendo contato com a produção artística moderna
bém denunciam o fim dessa convenção, europeia com enfoque na abstração geométrica.
mas sem anunciar o caminho futuro. Esse
caminho pode estar na criação desses Durante a primeira metade dos anos 1950, o
objetos especiais (não-objetos) que re- Cubismo mostra-se a principal influência da ar-
alizam fora de toda convenção artística tista através da investigação intensa de linhas e
e que reafirmam a arte como formula- cores, presentes em obras como Escadas (1951),
ção primeira do mundo. (GULLAR, 2007, Composição (1951), Composição (1952), Compo-
p.94, grifo nosso). sição (1953), participando de exposições coleti-
vas como Primeira Exposição Nacional de Arte

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Abstrata em 1952 e a 2º Bienal Internacional de por mim em quadros e as linhas funcionais


São Paulo em 1953. A artista tem sua estreia indi- arquitetônicas. (CLARK, 1997, p.72)
vidual em Paris na Galerie de L’Institute Endos-
plastique em 1952, obtendo, em seguida, seu pri- A Descoberta da linha orgânica na investigação
meiro prêmio no III Salão de Naturezas Mortas da artista inaugura um processo de questiona-
em 1953, mesmo ano em que também obtém o mentos que serão aprofundados em suas obras
Prêmio da Prefeitura Municipal de Petrópolis na seguintes. Relacionando sua formação com Ro-
Exposição Nacional de Arte Abstrata, referente à berto Burle Marx, tido como o seu grande mestre
produção dessas obras do período de 1951 a 1953. (CLARK, 1997, p.351), Lygia demonstra intensa
preocupação com o elemento do espaço, neste
Neste momento da produção clarkiana, a abstra- momento focado no plano bidimensional, explo-
ção geométrica é estudada e praticada no plano rando as relações “orgânicas” entre os compo-
da tela, ganhando o primeiro questionamento nentes da tela e o seu redor.
em relação a essa forma em 1954, com a obra
Descoberta da linha orgânica. Ao longo da investigação da forma artística e
do questionamento da obra de arte e sua rela-
Com essa obra, a artista dá início a uma série de ção com o espaço, Lygia Clark mantém viva sua
debates acerca de elementos presentes na com- influência arquitetônica, elaborando em 1960
posição do quadro como a cor, a moldura, e em Construa você mesmo seu espaço de viver, estru-
especial a linha. Percebe-se que a mudança esté- tura móvel de madeira e acrílico que propõe ins-
tica proposta na passagem de uma obra a outra tigar a relação do espaço e seu habitante:
cria um jogo específico entre os elementos utili-
zados no plano. Em conferência realizada na Es- É ao meu ver o que de mais revolucionário
cola Nacional de Arquitetura em Belo Horizonte vai se apresentar amanhã, quando novas
no ano de 1957, Lygia debate a transformação de técnicas e materiais maleáveis forem dis-
sua estética, baseada em sua investigação artís- poníveis para o artista e o arquiteto pla-
tica: nejar a futura habitação do homem. Será
ele o artista, totalmente integrado nessa
O artista poderá pesquisar também a fun- coletividade. Ele participará também dessa
ção das linhas que chamei de “orgânicas”, procura, em que o homem de amanhã tal-
linhas funcionais de portas, ementas de vez possa suprir sua insatisfação interior
materiais, de tecidos, etc., para modular tendo possibilidade de ter uma habitação
a superfície. Essa é precisamente a minha própria, completamente dinâmica e mutá-
experiência pessoal, dentre inúmeras ou- vel em função de gostos e caprichos e tam-
tras já feitas por outros artistas no mes- bém da própria funcionabilidade. (CLARK,
mo sentido. Vou explicar como uso estas 1997, p.73)
linhas nos meus trabalhos expostos. O
problema plástico é simplesmente a “valo- A preocupação de Lygia com o espaço é pouco
rização ou desvalorização dessa linha”. Foi relevada em análises de sua trajetória. A ruptura
me baseando nessa observação que encon- de quadros para esculturas também reserva sur-
trei a relação entre esta linha pesquisada presas como Construa você mesmo seu espaço de

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viver no plano da maquete, que guarda em si o ção do ambiente como um todo, transformando
elemento da mobilidade, que se torna central ao também a relação da tela com o público, já que
longo da trajetória clarkiana. O espaço, seja ex- não conta mais com as delimitações postas ante-
positivo ou não, é considerado por Lygia como a riormente pela moldura.
habitação de diferentes formas, artísticas ou hu-
manas, aguçando o pensamento da artista acer- Com essa técnica e forma, Lygia prossegue com
ca da conformação do espaço de acordo com sua sua produção em meados da década de 1950 com
utilidade, sem a fixação de qualquer pressuposto a série Superfícies Moduladas (1955 – 1956), Pla-
ou projeto inalterável. nos em superfície Moduladas (1957 – 1958), e Es-
paço Modulado (1957 – 1959), desenvolvendo um
Com o olhar voltado para a investigação do “or- caminho interno à sua investigação da linha na
gânico” na forma artística, Lygia realiza logo em composição da tela.
seguida a Descoberta da linha orgânica, em 1954,
a série Quebra da Moldura, cristalizando uma A partir dessa última série, comecei a pesquisar
nova maneira de questionamento da forma bidi- uma “linha espaço” com outras características:
mensional e o espaço em que está inserida. Com é uma linha sulcada, mais larga do que a antiga
a técnica mista de tela e madeira, Lygia parece “linha espaço” e pintada de um branco brilhante
esbarrar no limite da obra nela mesma, fazendo que aparece nos limites externos da superfície,
com que a própria tela já tenha sua moldura, dis- confinando diretamente com o espaço exterior.
pensando assim tal convenção para exposição em (...) À medida que fui observando as variações
museus e galerias. dessa mesma linha, em função dessa última fase
(“linha luz”), comecei a suprimir a diagonal e
A função da moldura consiste na simboli- passei a compor simplesmente com horizontais
zação e no reforçamento da dupla função e verticais, pois uma tensão oblíqua surge, au-
do limite da obra de arte. A moldura ex- tomaticamente, quando a linha externa penetra
clui da obra de arte todo o meio ambiente em espaços inteiros da superfície, que é sempre
e, também, o expectador, e ajuda, assim, a preta. Linhas absolutamente iguais, horizontais e
colocar a obra de arte numa distância ne- verticais, produzem entre si uma tensão oblíqua
cessária, para possibilitar o seu consumo distorcendo um quadro: o espaço então se reve-
estético. (SIMMEL, 1998, p.1-2.) la ali como um momento do espaço circundante.
(CLARK, 1997, p.102)
Com a “quebra da moldura” Lygia parece subver-
ter o que Simmel demonstra ser a separação da Com essa produção Lygia continua expondo
obra de arte do ambiente em que está inserida, conjuntamente com o Grupo Frente e ganhando
criando assim continuidade entre a obra de arte destaque em outras exposições relevantes, par-
e o espaço em que se encontra, desmantelando ticipando da II Exposição do Grupo Frente em
a hierarquia posta na relação arte e ambiente, 1955, III Bienal Internacional de São Paulo em
marcada pela moldura, promovendo sua inser- 1955, Artiste Brésiliens: Presentée par Le Musée
ção orgânica no espaço bidimensional. Neste d’Art Moderne de Rio de Janeiro ar le Musée d’Art
contexto, a “linha orgânica” não se restringe ape- Moderne de São Paulo em 1955, III Exposição do
nas ao espaço da tela, e se expande na configura- Grupo Frente em 1956, I Exposição de Arte Con-

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creta em 1956, III Exposição do Grupo Frente em Belo Horizonte, Lígia Clark (“meu nome
1956, IV Bienal Internacional de São Paulo em de guerra”) casou-se aos 18 anos. Conva-
1957 (ganhando o Prêmio de aquisição), e da I lescendo de uma depressão nervosa após
Exposição Nacional de Arte Concreta em 1957. o nascimento de seu terceiro filho resolveu
estudar arte viajando para Paris onde tra-
Já no final da década de 1950, a forma clarkiana balhou com o pintor Fernand Léger. Dois
assume um novo limite no plano bidimensional, anos após exibiu suas “semi-abstrações”,
dessa vez não apenas contestando os limites da mais disse: “Não estava boa. Eu ainda não
linha no espaço, mas também se desdobrando era concreta”. Voltando ao Brasil foi pre-
entre os planos bidimensional e tridimensio- miada na Bienal de São Paulo divorciou-
nal, com as obras Contra Relevo (1959) e Casulo se (“eu me desenvolvia interiormente e ele
(1959). Propondo novamente o questionamento exteriormente”), fez um tratamento pisco
da forma no espaço, Lygia agrega às superfícies -analítico, pintou escadas, janelas e portas
“dobras”, aderindo profundidade à medida que em listras coloridas. “Trabalhei e lutei”, diz
uma superfície salta de outra. Tal movimento ela. “Repentinamente eu descobri a linha
configura não apenas uma nova relação da obra do espaço”. Abandonou as cores – e cha-
com o espaço em que está presente, mas também mou o resultado neoconcreto. “Nasci no-
no modo com que o público se relaciona com a vamente. Foi um parto difícil. Foi mesmo
obra, pois ao propor profundidade ao plano tam- agoniante”. (MEIRA, 1959)
bém atribui movimento observador
Este fragmento faz parte de uma tradução publi-
Do Casulo ao Bicho: Neoconcretismo e cada em 1959, ano do lançamento do Manifesto
Não-Objeto Neoconcreto e da I Exposição Neoconcreta, cujo
original pertence à revista Time, de Nova York.
O ano de 1959 é marcante na produção artística Numa apresentação panorâmica dos personagens
de Lygia Clark, tanto internamente referente a do Neoconcretismo, Lygia ganha destaque ao ser
uma ruptura com o plano bidimensional, quanto considerada “o papa do neoconcretismo”, contan-
contextualmente por estar inserida no Movimen- do com uma especial descrição de sua vida pesso-
to Neoconcreto e por sua presença na concepção al, raramente encontrada em outras publicações.
da Teoria do Não Objeto, que seria lançado no
ano seguinte. Com as séries Superfície Modu- A matéria internacional sobre o Movimento Ne-
lada, Planos em Superfície Modulados e, Espa- oconcreto e a visibilidade de Lygia demonstram
ço Modulado, a artista conquista seu espaço de dois elementos centrais do contexto: O destaque
prestígio no Neoconcretismo, ganhando desta- do Neoconcretismo ao conseguir projeção interna-
que em exposições e críticas especializadas sobre cional - nota-se que a matéria é do mesmo ano do
o movimento. lançamento do manifesto! – inserindo o Neocon-
cretismo no movimento artístico moderno com
O papa do neoconcretismo é a esbelta Lí- grande alcance, e o protagonismo de Lygia como
gia Pimentel Clark Lins (5 pés e duas po- artista do movimento, inserindo-a efetivamente
legadas), com 38 anos. Educada em um no cenário Neoconcreto e, ao mesmo tempo, lhe
colégio católico, filha de um advogado de conferindo projeção individual.

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Após a obra Casulo (1959), Lygia promove uma Na busca por uma expressão viva e orgânica, Ly-
intensa ruptura na sua forma artística, que não gia adere o espaço tridimensional de uma manei-
afetará apenas sua produção individual, mas ra única, provocando uma nova e radical relação
também de maneira coletiva na medida em que entre a obra de arte e o público através da série
se insere no Neoconcretismo e na arte moderna Bichos (1960), reposicionando seus ideais dentro
brasileira. Consideramos aqui essa obra como do Neoconcretismo.
um momento limite da experiência clarkiana no
plano bidimensional, ao passo em que abandona Na arte neoconcreta, há outra espécie de
esse plano e inicia novas investigações com for- revalorização do gesto expressivo. É que o
ma tridimensional. Em texto intitulado A morte gesto não é o gesto do artista quando cria,
do plano5, Lygia reflete sobre sua experiência e mas sim é o próprio diálogo da obra com
transição do plano bidimensional para o tridi- o espectador. (...) O espectador já não se
mensional: projeta e se identificada na obra. Ele vive a
obra, e vivendo a natureza dela, ele vive ele
O quadro adquiria uma significação má- próprio, dentro dele. Somos novos primiti-
gica quando o artista o considerava como vos de uma era e recomeçamos a reviver o
um portador de uma visão total do univer- ritual, o gesto expressivo, mas já dentro de
so. Mas o plano está morto. A concepção um conceito totalmente diferentes de todas
filosófica que o homem projetava sobre ele as outras épocas. (CLARK, 1997, p.122).6
não mais o satisfaz, assim como a ideia
de um Deus exterior ao homem. Ao tomar Compostos por chapas de metal e dobradiças, os
consciência de que se tratava de uma poé- Bichos concretizam o projeto clarkiano de uma
tica de si mesmo projetada para o exterior, obra viva e orgânica, que faça parte do espaço, e
ele compreendeu ao mesmo tempo a ne- que seja passível de criar o diálogo com o espec-
cessidade de reintegrar essa poética como tador através da sua manipulação. Sem utilidade
parte indivisível de sua própria pessoa. Foi ou significado, os Bichos necessitam da interação
também essa introjeção que fez explodir o do “espectador” para aderirem algum signifi-
retângulo do quadrado. Esse retângulo em cado, sendo este próprio de cada pessoa que o
pedaços, nós o engolimos, nós o absorve- manipula. Nessa relação, o público deixa de ser
mos. Anteriormente, quando o artista se espectador, passando a integrar-se à obra como
situava diante do retângulo, projetava-se um agente constitutivo do fazer artístico, pois é
sobre ele e nessa projeção carregava de apenas com a interação que a obra atinge seu es-
transcendência a superfície. Demolir o tado final de significação. Através dessa relação
plano como suporte da expressão é tomar dependente entre obra e público que encontra-
consciência da unidade como um todo vivo mos o Não-Objeto.
e orgânico. Nós somos um todo e agora
chegou o momento de reunir todos os frag- O Bicho tem um circuito próprio de movi-
mentos do caleidoscópio em que a ideia do mentos que reage aos estímulos do sujeito.
homem foi quebrada, reduzia a pedaços. Ele não se compõe de formas independen-
(CLARK, 1997, p.117, grifo nosso) tes e estáticas que possam ser manipu-

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ladas à vontade e indefinidamente, como ano seguinte Lygia recebe o Prêmio de Escultura
num jogo. Ao contrário: suas partes se Nacional na VI Bienal Internacional de São Paulo,
relacionam funcionalmente, como as de realizada no MAM, com a série Bichos, conquis-
um verdadeiro organismo, e o movimen- tando grande prestígio no meio artístico nacio-
to dessa parte é interdependente. Nessa nal. Já na edição seguinte (1963), a artista expõe
relação entre você e o Bicho há dois tipos na VII Bienal em sala especial.
de movimento. O primeiro, feito por você,
é puramente exterior. O segundo, do Bicho, Indivíduo, Corpo e Arte: o público como autor
é produzido pela dinâmica de sua própria da obra
expressividade. O primeiro movimento
(que você faz) nada tem a ver com o Bicho, Os tensionamentos promovidos pelas alterações
pois não pertence a ele. Em compensação, da forma clarkiana na relação entre a obra de
a conjugação de seu gesto com a resposta arte e o público levaram a artista a aprofundar
imediata do Bicho cria uma nova relação cada vez mais essas categorias e a forma artís-
e isso só é possível graças aos movimentos tica. Após a concepção dos Bichos, Lygia dá con-
que ele sabe fazer: é a vida própria do Bi- tinuidade às suas reflexões acerca do papel do
cho. (CLARK, 1997, p.121, grifo nosso) público enquanto agente artístico, inserindo-o
progressivamente na centralidade do fazer artís-
Nesse processo, a tríade composta por artista, tico. Quando em 1953 a artista propõe a obra Ca-
obra e público7 se encontra também numa nova minhando, podemos perceber uma nova fase na
relação, ao passo que o artista não mais é o úni- sua produção, em que as “proposições” ganham
co que concebe a obra e seu significado, dividin- o espaço da “obra”, e o “público” deixa de exis-
do com o público a coautoria. Já o público não tir, passando a ser considerado como o “partici-
se comporta mais como espectador, tornando-se pante”, levando ao limite a correlação necessária
parte do processo constitutivo da obra, cujo sig- entre o indivíduo e a proposição para o aconteci-
nificado e existência enquanto arte só são possí- mento da arte.
veis através da interação desse agente. E por fim,
a obra não se caracteriza mais como um objeto a Caminhando é o nome que dei à minha últi-
ser apreciado, mas uma forma mediadora entre ma proposição. A partir daí, atribuo uma
a proposição do artista e o significado criado por importância absoluta ao ato imanente re-
cada agente interativo. Cada vez que o Bicho é alizado pelo participante. O Caminhando
manipulado por alguém sua significação criada e tem todas as possibilidades ligadas à ação
é própria àquela relação. em si: ele permite a escolha, o imprevisível,
a transformação de uma virtualidade em
A produção dos Bichos ganha continuidade até os um empreendimento concreto. (...) À rela-
anos 1964, participando de exposições nacionais ção dualista entre o homem e o Bicho, que
e internacionais, obtendo destaque em algumas caracterizava as experiências precedentes,
delas, como na Galeria Bonino no Rio de Janeiro, sucede um novo tipo de fusão. Em sendo a
em seu ano de inauguração (1960), apresentando obra o ato de fazer a própria obra, você
um grande número de Bichos, e no mesmo ano e ela tornam-se totalmente indissociáveis.
expõe na II Exposição Neoconcreta no MEC. No (CLARK, 1997, p.151, grifo nosso)

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Com esse reposicionamento, o participante é o tinuamente metamorfoseado pela ação.


protagonista do ato artístico, e nele é instigado Sujeito-objeto se identificam essencial-
a construir seu próprio caminho, seja ele qual mente no ato. (CLARK, 1997, p.164-165,
for, e lhe atribuir significação própria. Através grifo nosso).
dessa proposta de experiência, a obra apenas
existe quando há o participante, não havendo Com esse jogo entre espaço e tempo, a forma
qualquer resquício artístico antes ou após o ato. clarkiana propõe, não só ao participante, mas
Desconstrói-se assim o objeto artístico até então também ao meio artístico da época, uma intera-
formulado pela arte moderna, presente na traje- tividade com a arte de uma nova ordem, em que
tória de Lygia até os Bichos, na medida em que a significação atribuída através da manipulação
o artista não mais produz o objeto artístico para seja condicionada a temporalidades e espaciali-
ser contemplado, passando a ser o propositor da dades variáveis, dentro e fora do próprio objeto
experiência que será concretizada pelo público e, artístico, adicionando ainda mais o caráter sin-
assim, se configura uma nova concepção de arte, gular do tempo no fazer artístico.
voltada para uma temporalidade e espacialidade
específicas. Durante o período de 1963 e 1965, Lygia Clark
expõe individualmente na Alexander Gallery de
Entre os anos 1963 e 1964, Lygia produz Obra Nova York (1963), no MAM carioca (1963) com a
mole (1964), O Dentro de o Fora (1964), O Antes série Bichos e Construa você mesmo seu espaço a
é o Depois (1964) e, Abrigo Poético (1964) e a sé- viver. Na Europa, participa da exposição coletiva
rie Trepantes (1965), últimas esculturas realiza- no Musée d’Arrais em Paris (1964) e expõe no
das pela artista, como um último desdobramento 2nd Pilot Show of Kinetic Art em Londres (1964).
dos Bichos. Em 1965, a artista ganha sua primeira exposição
individual de grande porte na Europa, na Signals
Outro sonho: no interior, que é o exterior, Gallery em Londres, se posiciona no cenário in-
uma janela e eu. Através dessa janela, de- ternacional, inserindo-se numa importante rede
sejo passar para fora, que para mim é o de sociabilidade, envolvendo relevantes artistas e
dentro. Quando acordo, a janela do quarto renomados críticos de arte8.
é a do sonho, o dentro que eu procurava
é o espaço de fora. Desse sonho nasceu o Estabelecida a relação entre o participante e o ato
Bicho que chamei de O dentro é o fora. É artístico, Lygia dá início a proposições que apro-
uma estrutura de aço inoxidável, elásti- fundam a interação da arte com o corpo, convi-
ca e deformável. No meio dessa estrutura dando o participante a uma nova experimenta-
existe um vazio. Quando a manipulamos, ção sensorial. Com as obras elaboradas em 1966
esse vazio interior dá à estrutura aspectos Pedra e ar, Livro sensorial, Ping-pong, Desenhe
completamente novos. Considero O dentro com o dedo, Água e conchas, Respire comigo, Di-
de o fora o resultado das minhas pesquisas álogo de mãos, a artista propõe nessa fase uma
sobre o Bicho (imediatamente antes de O experiência inovadora para o público, sintetizan-
dentro é o fora, fiz um Bicho sem dobradi- do sua trajetória de pesquisa e desenvolvimento
ças que chamei de O antes é o depois). (...) artístico numa nova fase “radical”:
Agora o espaço pertence ao tempo con-

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Eu permaneci muito tempo nesse pesadelo nica num segundo plano, priorizando as relações
e subitamente, quase que por casualida- que a forma possa propor entre o indivíduo e
de, novas possibilidades me apareceram: seu corpo. Com essa nova forma, Lygia mantém
“Quase que por casualidade”, como em cada elementos presentes ao longo da sua trajetória
etapa do meu trabalho, mas tal casualida- artística como a interatividade, sensorialidade,
de não é se não aparente: os Bichos moles construção do espaço, entre outros, transfor-
representam uma longa germinação de tais mando-os através de uma forma composta pela
ideias em mim. Eu denominei essa fase do pluralidade de objetos, buscando criar uma nova
meu trabalho, a mais variada de todas, de forma artística que possa aprofundar as relações
Nostalgia do corpo. Eu compreendi que entre objeto, indivíduo(s) e corpo(s).
uma das propriedades de Caminhando es-
tava então sendo radicalizada: a proposição Se em Nostalgia do corpo o participante é convi-
(pois a palavra “obra” denota passividade dado à investigação de sua própria corporalidade,
do resultado de um trabalho anterior, e por- em 1967 Lygia elabora proposições a fim de esta-
tanto já não era conveniente) nos faz tomar belecer investigações duais com a série A casa é
consciência de nosso próprio corpo. Eu o corpo. Com as Mascarás sensoriais, Luvas sen-
reuni um grande número de materiais sem soriais, Diálogo de Óculos e a série Roupa-corpo
nenhum valor que, quando eu os tocava, a -roupa (O eu e o tu, Cesariana), a forma clarkiana
redescoberta tátil provocava um trauma es- usufrui de diversos materiais para compor os ob-
timulante. (CLARK, 1997, p.188, grifo nosso).jetos, como tecidos, espelhos, espumas, plásticos,
entre outros, estimulando diversas sensações
Nesse projeto que envolve a arte como meio para através de texturas e composições visuais (ou a
conscientizar-se sobre o corpo, o participante é falta desta). Com a série Roupa-corpo-roupa os
instigado a interagir com materiais e formas das participantes vestem macacões e interagem um
mais diversas. Através da manipulação de sacos com o outro, descobrindo aberturas e acesso ao
plásticos com água, conchas, pedras, entre ou- forro da vestimenta, composto por texturas dife-
tros, o público descobre uma nova maneira de se rentes que criam sensações próprias.
relacionar com objetos do cotidiano, propostos
numa forma diferenciada. Através dessas proposições, o objeto e o corpo do
participante se tornam um só, e o ato artístico é
Com esse movimento, Lygia rompe com o Neo- transformando na investigação e (re)descoberta
concretismo e com o construtivismo como um de sensações entre duas pessoas. Deste modo, o
todo, dando início a uma maneira própria de corpo é reposicionado enquanto mediador.
composição de objetos e formas voltadas intrin-
secamente para criar o diálogo entre o corpo e a Penso também que minhas tentativas ar-
sensorialidade do participante. A forma clarkia- quiteturais, nascidas ao mesmo tempo que
na passa, portanto, pelo abandono da técnica o Caminhando queriam ser uma ligação
construtiva, ou seja, do abstracionismo, geome- com o mundo coletivo. Tratava-se de criar
tria, entre outros elementos presentes na arte um espaço-tempo novo, concreto – não
concreta, elaborando sua forma artística a partir apenas para mim, mas também para os
da dissolução da técnica, ou seja, deixando a téc- outros. (CLARK, 1997, p.152)

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A sensorialidade do espectador é provocada de prios corpos através das sensações táteis


maneira que contemple sensações não apenas operadas nos objetos exteriores a elas. Na
individuais, mas também coletivas. Experiências seguinte fase, que eu já comentei no prin-
como o nascimento e a morte são pilares para cípio deste artigo, as pessoas se tornam o
o desenvolvimento das proposições clarkianas, suporte da “obra” e o objeto se incorpora:
direcionando o participante a ter sensações indi- ele desaparece. Por oposição às experiên-
viduais que remetem a experiências comuns ao cias precedentes, eu denominei essa fase
coletivo. de O corpo é a casa, na qual as pessoas se
convertiam na estrutura vivente de uma
Nesse sentido, Lygia desenvolve A casa é o corpo. arquitetura celular, na malha de um tecido
Penetração, ovulação, germinação, expulsão, em infinito, e o que resta do objeto (elásticos,
1968, instalação que instiga o participante a per- folhas de plásticos, sacos de jutas e redes)
correr um trajeto que propicia a vivência espe- já está completamente vazio de significado
cialmente tátil, já que é forrada com tecido negro e sem possibilidades de recobrar vida se-
que dificulta a passagem de luz. Na fase Penetra- não através do suporte humano. (CLARK,
ção, o piso é forrado com tecidos, simulando um Lygia. 1997, p.222-223)
chão fluido e móvel, provocando a sensação de
“falta de chão”. Em seguida, Ovulação imita a es- Lygia apresenta A casa é o corpo no MAM carioca
trutura anterior, com o acréscimo de balões de ar em 1968 e, no mesmo ano, também a expõe na
coloridos, que dificultam a mobilidade do parti- 34º Bienal de Veneza em sala especial, que con-
cipante, envolvendo os balões ao corpo à medida tém a retrospectiva dedicada aos dez anos de sua
que se transita. Na fase Germinação o ambiente é produção. Em dezembro do mesmo ano, inaugu-
iluminado e composto por tecidos transparentes, ra exposição individual na Galerie M. E. Thelen
contendo no centro uma grande bolsa em forma- de Essen, na Alemanha.
to de gota. Por fim, na fase Expulsão, o ambiente
volta a ser escuro, composto por fios pendura- Ainda em 1968, Lygia produz Mascara Abismo
dos de espessuras diferentes, imitando “pelos” (1968), que no ano seguinte são incorporadas à
do teto até o chão, e bolas de plástico espalhadas proposição Casal (1968):
pelo chão. Ao sair da última cabine, o participan-
te se depara com um espelho deformador bem Uma cabine de plástico transparente, susten-
iluminado. “É o final do labirinto destinado, nas tada por estrutura metálica, que ata ao corpo
palavras de Lygia Clark à experiência tátil, fan- de um participante masculino através de um
tasmática e simbólica da interioridade do corpo.” jogo de correias. Esta cabine também se une
(CLARK, 1997, p.229). ao participante através da Máscara abismo
(externa) que ele mesmo está usando, e que
Nesta fase sensorial de minhas pesquisas, está presa à armação metálica. A cabine se
mesmo que o próprio objeto não tenha sig- converte em uma espécie de prolongação da
nificado senão quando da intervenção do máscara. Outro participante (mulher) entra
participante, continua sendo uma conexão no interior da cabine, usando outra Máscara
indispensável entre a sensação e os partici- abismo (interna) também presa à estrutura
pantes. As pessoas reencontram seus pró- metálica. (CLARK, 1997, p.240)

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Em seguida, Lygia realiza a proposição individu- importância essencial – é através dela que
al Camisa-de-força (1969), envolvendo a cabeça as células são construídas, por exemplo
e os braços do participante, estimulando a liber- abrindo os braços, criando com as pernas
dade ao tentar se movimentar e desenrolar das afastadas túneis por onde as pessoas po-
redes de nylon. dem passar. (CLARK, Lygia. 1997, p.247,
grifo nosso)
Após a fase de concepção de objetos relacionais,
Lygia abandona a forma o objeto como meio de Com a proposta de momentos de experiências
criar relações entre os participantes, aprofun- coletivas, Lygia abdica do objeto e do espaço ar-
dando a centralidade do corpo do participante tístico, como o museu ou a galeria, e transfere
como forma mediadora principal. Mudando-se o ato para qualquer ambiente, colocando apenas
para Paris em 1968, onde permanecerá até mea- o participante e seu corpo como elementos ne-
dos de 1976, a artista desenvolve um grande vo- cessários para a criação da proposição coletiva.
lume de proposições com a fase O homem, estru- Neste momento termos como obra, objeto artís-
tura viva de uma arquitetura biológica e celular.tico, público e exposição perdem o sentido, dando
Neste movimento, há a inversão da proposição espaço para o participante ou paciente, e o ritual,
anterior, em que A casa é o corpo, passando para encontrando o ápice das relações orgânicas de-
O corpo é a casa. senvolvidas pela artista desde os Bichos ao passo
em que são criadas e desenvolvidas pelo próprio
Na fase sensorial do meu trabalho, que participante e seu corpo.
chamei de nostalgia do corpo, o objeto
era ainda um meio indispensável entre a As proposições são a série Arquiteturas biológi-
sensação e o participante. O homem re- cas (1968-1969), Estruturas vivas (1969), Baba
encontrava seu próprio corpo através de antropofágica (1973), Viagem (1973), Canibalis-
sensações táteis operadas sobre os objetos mo (1973), Relaxação (1974-1975), Cabeça coleti-
exteriores a ele-mesmo. Mais tarde incor- va (1975). Este conjunto de proposições é desen-
porei o objeto fazendo-o desaparecer. De volvida pela artista a partir de 1972 na Sorbonne,
agora em diante é o homem que assume em Paris, num curso que ministrou sobre comu-
sua própria eroticidade. Ele mesmo é o nicação gestual. O curso consistia em realizar ex-
objeto de sua própria sensação. (...) É periências com grupos de até sessenta pessoas ao
somente na medida em que toma um sen- longo de três horas, duas vezes na semana.
tido para os outros que ela também toma
um para si mesma. Eu chego a ser o ou- Sorbonne: hoje foi impressionante o grupo
tro – que me traz seus significados. É a que fez a Baba. Linhas de várias cores que
soma de todos os significados que lhe dá saem da boca de cada um para se transfor-
seu sentido global. Na medida em que mais marem, em seguida, num monte de baba
pessoas participam, ela toma um sentido coletiva. Depois, na cara do Camurati, e
coletivo tribal. Ela pode se desenvolver todo o mundo se ligou à baba através da li-
não importa onde, nos parques, nas ruas, nha fazendo um grupo todo envolvido pela
na casa de vocês. Nada de local a priori. mesma. Impressionante a experiência que
(...) A expressão corporal tem aqui uma Camurati fez com uma garota: enrolou-a

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toda em papel passando a linha/baba para ainda uma projeção e hoje já não se trata
costurá-la. Depois levantou-a, fez com que de projeção, mas do contrário, de introver-
ela andasse, no fim de uma meia hora ele são. (CLARK, 1997, p.264)
abriu o lugar do seu nariz, depois um olho,
em seguida fez com a mão o espaço inte- Durante o período que vai de 1969 até 1973, Ly-
rior para olhar seu olho. Eu vi, era impres- gia continua a participar de exposições coletivas
sionante! A moça disse depois que ela se com suas obras neoconcretas, como na XII Bie-
sentiu muito bem, segura mas meio dro- nal Internacional de São Paulo (1973) com a série
gada. Outros fizeram o seu próprio fantas- Trepantes, mas sua produção da época não adere
ma na massa e o destruíram em seguida. imediatamente aos espaços sacramentados do
(CLARK, 1997, p.297) meio artístico, afastando-se paulatinamente do
circuito artístico contemporâneo ao seu, contan-
Com essas proposições, Lygia confirma uma do com o espaço da Sorbonne e, em geral, sua
ruptura com a produção artística, passando a própria casa, para realizar suas proposições.
considerar progressivamente o tratamento de
patologias e problemas psicológicos. Nos primei- Ontem estava péssima, me sentindo ultra
ros anos da década de 1970, juntamente com a desagregada. Fui ver Aspazia no hospital
produção dessas proposições, Lygia revisita trau- e ela me falou que meu trabalho é revolu-
mas e problemáticas pessoais, trazendo à tona ção cultural. Depois, eu e Camargo saímos
seus próprios questionamentos corporais e psí- para comer no Domus e uma hora chorei
quicos para sua produção. Aliado a essa visita a de angustia. Camargo começou a colocar
seu próprio interior, a artista inicia seus estudos dúvidas e mais dúvidas no meu trabalho e
sozinha na área da psicologia e psicanálise, como aí tive uma reação positiva, defendendo-o
por exemplo em 1971 ao se dedicar aos estudos com toda a minha lucidez - antes o Camar-
da Ante-Psiquiatria e da obra de Robert Laing, go tinha dito não sei o que e antes de come-
psiquiatra britânico e, no ano seguinte, em 1972, çar a chorar eu disse, quase aos gritos: -
se torna paciente de Pierre Fedida, relevante psi- “O que eu quero é deixar de fazer arte!”
canalista francês, finalizando em 1974 as sessões. (CLARK, 1997, p.281, grifo nosso).

O artista está interessado em trabalhar Os questionamentos sobre seu trabalho relatado


com psicanalistas, dando seu material li- no excerto demonstram os confrontos de Lygia
gado diretamente ao corpo para regredir com o meio artístico, afastando-se deste definiti-
pacientes e fazê-los tomar consciência do vamente em 1976 ao retornar para o Rio de Janei-
próprio corpo. Material esse colhido de ro e dar início à série Objetos Relacionais, voltan-
dentro do próprio artista, que viveu sua do-se exclusivamente para a prática terapêutica.
própria regressão e crescimento através Essa nova abordagem deixa para trás as sessões
de sua elaboração, tendo o que Laing cha- de experiências coletivas, passando a realizar
ma de acidentes psicóticos. (...) O curioso sessões individuais, voltadas para cada pessoa a
é que se expressar através da arte foi até fim de tratar cada caso de modo específico.
hoje um meio de recuperação para os do-
entes mentais. Mas aí, o expressar-se era As sessões terapêuticas são realizadas em seu

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próprio apartamento, em Copacabana, atenden- A partir de 1981, a técnica e o processo terapêuti-


do a uma seleção criteriosa de clientes9, tomando co são transmitidos para Lula Vanderlei, artista e
nota10 de cada caso e dos progressos realizados ao psicoterapeuta, e Gina Ferreira, psicóloga, a fim
longo do tratamento. Essa terapia foi nomeada de garantir a continuidade do trabalho, já que
de Estrutura do Self, contando com os objetos: Lygia diminuía aos poucos o atendimento, encer-
almofadas leves, almofadas leves-pesadas, almo- rando os atendimentos parcialmente em 1984.
fadas pesadas, grande colchão, cobertor, objetos
feitos com meias calças, objeto de semente, obje- Durante esse período dedicado à terapia, Lygia
to de pedra e ar envolto por uma rede, pedrinha, mantém relações com espaços artísticos apenas
respire comigo, saco plástico cheio de água, saco expondo obras de sua fase neoconcreta. De cer-
plástico cheio de ar, saco plástico cheio de areia, to modo, a participação de Lygia em exposições
conchas e tubo. construtivas faz com que se mantenha viva sua
fase artística consolidada, ou seja, a qual perten-
Ao longo das sessões, o cliente ficava seminu e cia a um movimento de arte moderna. Por outro
deitava-se no colchão (formado de plástico e bo- lado, a relação de Lygia com os espaços expositi-
linhas de poliestireno) e recebia estímulos rea- vos são pautados em amostras que ignoram sua
lizados por Lygia com os Objetos relacionais, produção mais atual, expondo majoritariamente
variando a ordem de acordo com a experiência, obras neoconcretas, ou de maneira retrospectiva
reações e necessidades demonstradas pelo clien- ou coletiva. Nestes moldes, em 1977 participa da
te. As sensações táteis eram variáveis conforme o importante exposição Projeto construtivo brasi-
objeto utilizado, variando texturas, pesos e tem- leiro na arte 1950-1962, passando por São Pau-
peraturas, e controlados pela própria Lygia en- lo e Rio de Janeiro, revisitando os movimentos
quanto terapeuta11. construtivos nacionais, assim como em 1984 exi-
be coletivamente na exposição Neoconcretismo
O “objeto relacional” não tem especificida- 1959-1961 no Rio de Janeiro.
de em si. Como seu próprio nome indica é
na relação estabelecida com a fantasia do Em 1986, é realizado o IX Salão de Artes Plásticas
sujeito que ele se define. O mesmo obje- do Rio de Janeiro, contando com exposição con-
to pode expressar significados diferentes junta de Hélio Oiticica e Lygia Clark em espaço
para diferentes sujeitos ou para um mesmo especial no Paço Imperial. Essa exposição marca
sujeito em diferentes momentos. Ele é alvo a última grande reunião de obras da artista em
de carga afectiva agressiva e passional do vida, contendo toda a sua trajetória artística, do
sujeito, na medida em que o sujeito lhe em- neoconcretismo até sua fase sensorial, disponi-
presta significado, perdendo a condição do bilizando todas as obras manipuláveis e experi-
simples objeto para, impregnado, ser vivi- mentais ao público. Após a exposição, Lygia entra
do como parte viva do sujeito. A sensação em crise, voltando a fazer análise em 1988, quan-
corpórea propiciada pelo objeto é o ponto do decide encerrar seu trabalho terapêutico. No
de partida para a produção fantasmática. dia 26 de abril do mesmo ano, Lygia morre em
(CLARK, 1997, p.319) sua casa em decorrência de um infarto.

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Amanda Bueno Villar Inocencio Costa é bacha- história do movimento, compreendendo ao mes-
rel em Sociologia pela Universidade Estadual de mo tempo sua parcialidade e seus interesses.
Campinas (UNICAMP), atualmente mestranda do 4 O Manifesto Neoconcreto é formulado a partir
Programa De Pós-Graduação em Sociologia pela de críticas elaboradas a partir do movimento con-
mesma universidade, possui como interesses de creto paulista, lançado em março de 1959 acom-
pesquisa a relação entre artista, obra e público, panhando a primeira exposição de Arte Neocon-
circulação de obras e consagração de artistas, creta no Museu de Arte Moderna carioca.
conformação dos circuitos artísticos e a relação 5 Texto presente no Livro-obra (1983), reprodu-
entre centro e periferia. zido em CLARK; 1997.
6 CLARK, Lygia. Do Ritual (1960), reproduzido
em CLARK; 1997.
Notas
7 Antônio Candido propõe como metodologia
analítica a tríade conjunto de produtores, con-
1 “Como construir um Não-Objeto”. Fortuna/Ate-
junto de receptores e um mecanismo transmissor
lier de Arte. Jornal do Brasil, 03/12/1960. – Tiri-
(Candido; 2009). Adequamos aqui ao contexto
nha presente no acervo do Museu de Arte Moder-
das artes plásticas, e analisamos a tríade artis-
na do Rio de Janeiro, consultado entre 16 e 25 de
ta, obra e público, na medida em que a obra seja
agosto de 2015.
essencialmente o elemento passível de criar a re-
2 O Movimento Neoconcreto tem como marco a
lação entre o artista e o público.
publicação do Manifesto Neoconcreto, publicado
8 Lygia Clark conhece o crítico francês Guy Brett
originalmente em 23 de março de 1959 no Suple-
em sua passagem por Paris em 1964 através do
mento Dominical do Jornal do Brasil e tem como
artista Sérgio Camargo. Guy Brett acompanha
signatários Amílcar de Castro, Ferreira Gullar,
então a trajetória pessoal e artística de Lygia,
Franz Weissmann, Lygia Clark, Lygia Pape, Rey-
tornando-se um relevante crítico de arte e estu-
naldo Jardim e Theon Spanúdis. O manifesto é
dioso da obra de sua obra. Brett lança em 1968
estruturado em disputa com o Movimento Con-
o livro Kinetic Art, contendo estudo dedicado à
cretista Paulista, e propõe, sobretudo, que a arte
obra clarkiana.
abstrata tome um novo rumo, que seja menos
9 Em projeto realizado por Suely Rolnik em par-
objetiva e que o artista tenha mais liberdade de
ceria com o Sesc, são entrevistados diversos per-
criação, não se restringindo a princípios e normas
sonagens que fizeram parte da vida e da traje-
rígidas como no movimento paulista.
tória de Lygia Clark, entre eles, Caetano Veloso,
3 Durante a produção dos textos “Manifesto Ne-
Jards Macalé, Paulo Venâncio Filho, entre outros.
oconcreto” e “Teoria do Não-Objeto”, Ferreira
Nesses depoimentos, são relevados os motivos
Gullar está no início de sua carreira como poe-
pelos quais Lygia os aceitou enquanto pacientes.
ta e principalmente como crítico, sendo assim,
Rolnik, Suely. Arquivo para uma obra-aconteci-
um ator interessado no movimento Neoconcreto.
mento. São Paulo: Sesc, 2011.
Além de integrante do concretismo como poeta,
10 Em depoimentos concedidos à Suely Rolnik,
Gullar alça como crítico seu espaço no meio artís-
pacientes relatam os registros que Lygia fazia
tico brasileiro, posicionando-se centralmente no
das sessões realizadas com eles. Alguns desses
discurso e na produção crítica do movimento. A
registros estão resguardados no projeto O mundo
voz de Gullar aparece frequentemente neste texto
de Lygia Clark, no Rio de Janeiro, aos quais tive
por se tratar do personagem narrador central da

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acesso durante o período de pesquisa (agosto de São Paulo: Cosac Naify, 2013.
2015), porém não autorizado à cópia ou repro-
dução. MILLIET, Maria Alice. Lygia Clark: Obra-Trajeto.
São Paulo, Edusp, 1992.
11 Em texto publicado em 1980 e reproduzido no
catálogo formulado pela Fundació Antoni Tàpies RIVIERA, Tania. O avesso do imaginário: Arte
(CLARK, 1997, p.319-326), Lygia relata o passo contemporânea e psicanálise. São Paulo: Cosac
a passo de seu método terapêutico, como era o Naify, 2014.
desenrolar de cada sessão, sequencial, e a mani-
ROLNIK, Suely. Arquivo para uma obra-
pulação dos objetos relacionais no processo tera- acontecimento. São Paulo: Sesc, 2011.
pêutico.
SANT’ANNA, Sabrina Marques Parracho.
Construindo a memória do futuro: uma análise
Referências Bibliográficas da fundação do Museu de Arte Moderna do Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011.
AMARAL, Aracy, org. Arte construtiva no Brasil.
Coleção Adolpho Leirner. São Paulo: Companhia _______________________________. “Pecados
Melhoramentos: DBA Artes Gráficas, 1998. de Heresia”: Trajetória do Concretismo Carioca.
Tese (Doutorado em Sociologia), Rio de Janeiro:
____________. Arte para que?: a preocupação UFRJ, IFCS, 2003.
social na arte brasileira, 1930 – 1970. São Paulo:
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CANDIDO, Antonio. “Introdução” in: Formação Referências Primárias


da literatura brasileira: momentos decisivos
1750-1880. 12ª Ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre
“Como construir um Não-Objeto”. Fortuna/
azul; São Paulo: FAPESP, 2009.
Atelier de Arte. Jornal do Brasil, 03/12/1960.
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GULLAR, Ferreira. Experiência Neoconcreta:


momento-limite da arte. São Paulo: Cosac Naify,
2007.

JIMÉNEZ, Ariel. Conversa com Ferreira Gullar.

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