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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

ESCOLA GUIGNARD

JORGE EULAMPIO MONTEIRO JUNIOR

ANTIARTE:
Análise das Manifestações Artísticas de Lygia Clark e Hélio Oiticica

Belo Horizonte
2019
JORGE EULAMPIO MONTEIRO JUNIOR

ANTIARTE:
Análise das Manifestações Artísticas de Lygia Clark e Hélio Oiticica

Artigo apresentado à professora Rachel


Cecília de Oliveira, como 3ª avaliação da
disciplina Arte na Atualidade A.

Belo Horizonte
2019
RESUMO

Com a revolução de Marcel Duchamp, surgiu o Dadaísmo, e com isso a chamada


Antiarte, que antagonizava a Arte conhecida no Ocidente até então. Os artistas
começaram a desenvolver novas percepções de arte e o Brasil também teve seus
representantes.
Dois notáveis artistas: Lygia Clark e Hélio Oiticica, tiveram suas obras reconhecidas
internacionalmente devido a excelência de suas ações que tinham como objetivo
romper as limitações entre o espectador e as obras de arte, oferecendo experimentos
sensoriais antes pouco explorados.
Esta pesquisa tem o objetivo de analisar criticamente duas obras de cada um dos
artistas citados visando entender suas objetivos, estratégias e resultados.

Palavras Chave: Antiarte, Espectador, Obra, Lygia Clark, Hélio Oiticica.


O que é arte? Não há uma resposta exata, este é o ponto de partida para
questionamentos que na verdade são as respostas, a arte é construída, e com base
em seu contexto, a mesma evolui, transforma-se, amplia-se, recria-se. São novas
formas de fazer e pensar arte, reduzindo a ideia do crítico e potencializando o ser
teórico. Tudo não é arte, mas pode ser.

O rompimento das formas tradicionais da arte e estética anteriormente consolidadas


é definido como Antiarte, pois através de novos questionamentos, surgem outros
conceitos e perspectivas de se pensar arte, ampliando e incluindo ideias sobre corpo,
espaço, tempo, movimento, tridimensionalidade, quadridimensionalidade. Começam
a abranger as sensibilidades táteis, olfativas e sonoras também. É a mudança da
produção e exposição da arte, uma quebra entre o que é aceitável ou não em um meio
antes mais restrito. A arte deixa de ser uma obra materializada e se torna uma
manifestação, podendo ser imaterial, sensitiva, representativa, exploratória. A Antiarte
foi introduzida pelos dadás. Marcel Duchamp, em 1915, afirmou: “A arte acabou, quem
faz melhor esta hélice?” (MORAIS, 1970)

No Brasil, alguns artistas e manifestações artísticas ganharam notoriedade mundo


afora, na tentativa de conseguir maior interação entre o espectador e a obra, unindo-
os em uma experiência sensorial que relaciona o corpo com a arte – o espectador
tornou-se o “artista”, e acima disso, a própria “obra” como escultura viva atrelada ao
espaço-tempo.

Imagem 01: Caminhos

Fonte: artefazparte.com
A proposição “Caminhando” (1963) da artista Lygia Clark é uma experiencia que utiliza
apenas uma tira de papel, para ser cortada pelo espectador com uma tesoura. A ação
do recorte é o principal, e quando finalizada a ação, a “obra” termina, ou seja, existem
as relações do espectador com a ação, com o tempo e havendo o trabalho imaterial
sobre a matéria. Ainda assim, o artista não deixa de existir, ele apresenta-se apenas
como idealizador da situação.

Imagem 02: Bichos

Fonte: casaoca.com.br

Outro trabalho subsequente de Clark foi a série “Bichos” (1965), que por sua vez, são
esculturas de metal geométricas com dobradiças, permitindo a maleabilidade das
peças, criando a ideia de orgânico, mas também abstrato. As formas das esculturas
estavam sobre o controle do espectador, que mais uma vez tornou-se o “artista”. A
diversidade de formas atribuídas a mesma peça que se modifica a cada intervenção
dos espectadores faz com que o conjunto das possibilidades seja uma “obra” coletiva.

Imagem 03: Uma das salas da Galeria Cosmococa em Inhotim

Fonte: gvcult.blogsfera.uol.com
A galeria “Cosmococa” idealizada por Hélio Oiticica e pelo cineasta Neville D’Almeida
em 1973, é um projeto de cinco salas com instalações contrastantes que remetem as
sensações do uso da cocaína através de pisos, sons, imagens projetadas, luzes e
outros elementos os quais o espectador tem a experiencia sensorial transmitida pelo
espaço construído e a reunião das sensações de todos os espaços juntos é o
resultado final. A “Cosmococa” se destaca por ser uma obra arquitetônica e a própria
“obra” de arte, sendo um só, fugindo da ideia de ocupação das galerias. É uma
edificação que une a produção de sensações e necessita do espectador para que
estas sejam ativadas, só assim completa a experiência, juntando o material e o
imaterial novamente.

Imagem 04: Parangolé

Fonte: longe.obviousmag.org

O “Parangolé” é definido pelo próprio artista como sua Anti-Obra (OITICICA, 1966).
Helio Oiticica desvia-se por completo da arte daquele tempo e cria, no final da década
de 60, uma capa feita a partir de bandeiras e estandartes para que os espectadores
vistam e saiam da perspectiva de público e atuem como arte em uma obra-ação-
multisensorial. A dança também faz parte, o Samba entra de forma a colocar os
participantes em ações não coreografadas, tornando-se algo único. É uma experiência
que trabalha o ápice das relações entre tempo-espaço e interação com o espectador,
tem sua materialidade, mas o espectador também é a “obra”, não somente suas
ações.
CONCLUSÃO

Lygia Clark e Hélio Oiticica se destacam por suas realizações na Antiarte, pois
conseguem realizar feitos que ajudam a romper o sistema e abrir novas perspectivas.

Clark e Oiticica se divergem em suas tentativas de alcançar a aproximação da arte


com o espectador, mas com uma afinidade, ambos utilizam elementos materiais que
provocam o público a ser a “obra”. Tais materiais existem como suportes, e ainda
exercem papel influenciador na situação. As manifestações artísticas têm um impacto
sobre a arte quando fogem das formas tradicionais com que são feitas, trazendo para
a mesma uma potência que os mais conservadores desvalorizam, vista a interação
intensa com o espectador, sendo mais acessível, sem distinções sociais.

Contudo, as tentativas de atravessar as barreiras entre o público e a arte não foram


totalmente alcançadas, pois ainda existe a valorização do idealizador e das ações. A
arte só poderá ser totalmente acessível quando não necessitar de representantes,
neste caso será valorizada apenas a ação coletiva.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MORAIS, Frederico. Contra a Arte Afluente: O Corpo é o Motor da “Obra”. Vol.1, no.
64. Rio de Janeiro: Revista de Cultura Vozes, 1970: 45- 59.

OITICICA, Hélio. Aspiro ao Grande Labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.

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