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INSTITUTO POLITÉCNICO MAKHETELE

ENSINO MÉDIO TÉCNICO PROFISSIONAL


CV3 EM AGROPECUÁRIA
CAIA

Operar e Realizar Manutenção


Básica nos Sistemas de Rega e
Drenagem

Manual do Formando

João Conde Jossefa


Caia, 2023
FICHA TÉCNICA

AUTOR

João Conde Jossefa

_______________________________
(Engenheiro Agrónomo)
Joaoconde4@autlook.com ou joaoconde3@gmail.com

REVISÃO GRÁFICA

Instituto Politécnico Makhetele-Caia; 1ª Edição, 2023

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APROVAÇÃO

Orácio Pedro Chaúque (Director Geral)

_________________________________________
(Engenheiro Agrónomo)
Istitutomakhetele2016@gmail.com
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 6
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-1 .......................................................... 7
DEMONSTRAR COMPREENSÃO SOBRE A RELAÇÃO SOLO-ÁGUA-PLANTA-
ATMOSFERA ............................................................................................... 7
1.1. MOVIMENTO DA ÁGUA NO SOLO-PLANTA-ATMOSFERA ..................... 8
1.1.1. Transpiração ..................................................................................... 8
1.1.2. Evaporação e Evapotranspiração ....................................................... 9
1.1.3. Infiltração da água no solo ............................................................... 10
1.1.4. Capacidade de infiltração ................................................................ 10
1.1.5. Percolação ou drenagem profunda ................................................... 11
1.1.6. Escoamento superficial .................................................................... 11
1.2. DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NO SOLO ............................................. 12
1.2.1. Retenção da água no solo ................................................................ 12
1.2.2. Factores que influenciam na retenção de água no solo ..................... 14
1.2.3. Água facilmente disponível .............................................................. 15
1.3. QUALIDADE DA ÁGUA PARA AS CULTURAS ...................................... 18
1.3.1. Impurezas físicas ............................................................................. 18
1.3.2. Salinidade de água .......................................................................... 18
1.3.3. Sodicidade de água .......................................................................... 19
1.3.4. Toxicidade ....................................................................................... 19
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO ............................................................ 20
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-2 ........................................................ 21
DEMONSTRAR COMPREENSÃO SOBRE AS NECESSIDADES DE ÁGUA DAS
CULTURAS................................................................................................ 21
2.1. EVAPOTRANSPIRAÇÃO ...................................................................... 22
2.1.1. Evapotranspiração de referência ...................................................... 22
2.1.2. Evapotranspiração da cultura .......................................................... 22
2.1.3. Coeficiente da cultura ...................................................................... 23
2.1.4. Fases de desenvolvimento da cultura ............................................... 24
2.1.5. Curva de coeficiente da cultura ....................................................... 25
2.2. NECESSIDADES DE ÁGUA DAS CULTURAS ...................................... 25
2.2.1. Quantificação da evapotranspiração da Cultura ............................... 25

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2.2.2. Métodos directos ............................................................................. 26
2.2.2.1. Método de Lisímetros .................................................................... 26
2.2.2.2. Método do balanço de água no solo ............................................... 28
2.2.3. Métodos indirectos ou empíricos ...................................................... 28
2.2.3.1. Evapotranspiração do tanque “Classe A” ....................................... 29
2.2.3.2. Método de Blaney-Criddle modificado ........................................... 31
2.2.3.3. Método de Penman-Monteith-FAO ................................................ 34
2.2.4. Necessidades líquidas de água de rega ............................................. 35
2.2.6. Salinização do solo em relação à água de rega ................................. 35
2.2.6.1. Necessidade de água para a lavagem de sais ................................. 36
2.2.7. Dotação ou necessidade brutas de água de rega .............................. 36
2.2.8. Intervalo de rega .............................................................................. 37
2.3. FACTORES QUE AFECTAM O DESENVOLVIMENTO DAS CULTURAS
IRRIGADAS ............................................................................................... 37
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO ............................................................ 40
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-3 ........................................................ 41
DEMONSTRAR COMPREENSÃO SOBRE MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO E
DRENAGEM .............................................................................................. 41
3.1. MÉTODOS E SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO…………………………………….42
3.1.1. Método de irrigação por gravidade ou superfície ............................... 43
3.1.1.1. Sistema de irrigação por sulcos .................................................... 43
3.1.1.2. Sistema de irrigação por inundação .............................................. 45
3.1.1.3. Sistema de irrigação em faixas ...................................................... 47
3.1.1.4. Vantagens e desvantagens de irrigação por superfície ................... 47
3.1.2. Método de irrigação por aspersão ..................................................... 48
3.1.2.1. Sistemas de irrigação por aspersão convencionais ........................ 48
3.1.2.2. Sistemas de irrigação por aspersão mecanizada ............................ 49
3.1.2.3. Componentes de um sistema de irrigação por aspersão................. 50
3.1.2.4. Vantagens e desvantagens dos sistemas de irrigação por aspersão 53
3.1.3. Método de irrigação localizada ......................................................... 54
3.1.3.1. Sistema de irrigação por gotejamento ou gota-à-gota..................... 54
3.1.3.2. Sistema de irrigação por microaspersão ........................................ 55
3.1.3.3. Sistema de irrigação por borbulhamento ....................................... 56

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3.1.3.4. Sistema de irrigação por exsudação .............................................. 57
3.1.4. Componentes do método de irrigação localizada............................... 57
3.1.5. Vantagens e desvantagens do sistema de irrigação localizada .......... 59
3.1.4. Método de Irrigação de subsuperfície ............................................... 60
3.1.4.1. Sistema de subsuperfície por gotejamento subterrâneo ................. 60
3.1.4.2. Sistema de subsuperfície por elevação do lençol freático ............... 61
3.1.4.3. Sistemas de subirrigação em ambiente protegido .......................... 63
3.1.5. Vantagens e desvantagens do método de Irrigação de subsuperfície . 66
3.1.5. Factores a ter em conta na escolha do método de rega ..................... 67
3.2. SISTEMAS DE DRENAGEM ................................................................ 67
3.2.1. Importância da drenagem agrícola ................................................... 67
3.2.2. Tipos de sistemas de drenagem ....................................................... 67
3.2.2.1. Drenagem superficial .................................................................... 67
3.2.2.2. Drenagem subterrânea ou profunda ............................................. 69
3.2.3. Tipos de drenos ............................................................................... 69
3.2.3.1. Drenos abertos ............................................................................. 69
3.2.3.2. Drenos fechados ........................................................................... 69
3.2.4. Factores a ter em conta na escolha do método de drenagem ............ 70
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO ............................................................ 71
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-4 ........................................................ 72
OPERAR COM SEGURANÇA UM SISTEMA DE REGA DE ACORDO COM
INSTRUÇÕES PRÉ-ESTABELECIDAS ........................................................ 72
4.1. FERRAMENTAS E INSTRUMENTOS DE TRABALHO DE IRRIGAÇÃO .. 73
4.2. MANUTENÇÃO BÁSICA DOS EQUIPAMENTOS DE REGA ................... 74
4.2.1. Objectivos e Importância da Manutenção ......................................... 74
4.2.2. Tipos de manutenção ...................................................................... 75
4.2.2.1. Manutenção Preventiva................................................................. 75
4.2.2.2. Manutenção Correctiva ................................................................. 75
4.3. EFEITO DA IRRIGAÇÃO EM RELAÇÃO À PRODUÇÃO OBTIDA ........... 76
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO ............................................................ 77
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 78

5
INTRODUÇÃO
A irrigação é uma técnica usada na agricultura para manter a água sempre
disponível no solo em quantidades e momentos certos para satisfazer as
necessidades da cultura de modo a aumentar o seu potencial produtivo.
O principal objectivo da irrigação é suprir as necessidades de água das
plantas, no qual se desenvolve a agricultura. Irrigação é imprescindível nas
áreas das regiões onde a chuva é escassa ou insuficiente para o bom
desenvolvimento da cultura.
Dependendo das condições climáticas da região, a irrigação pode ser total
(quando toda água necessária para a cultura é suprida somente através da
irrigação) ou suplementar (quando a produção agrícola é possível com base na
precipitação, sendo a irrigação apenas para aumentar a produção).
A irrigação deverá funcionar em harmonia com a drenagem para garantir uma
condição óptima de humidade do solo e permitir deste modo a obtenção de
um rendimento satisfatório nas circunstâncias especificas da região.
A irrigação traz como vantagens: maior produção por unidade de área e a
chuva deixa de ser um factor limitantes de produção. Como desvantagens
temos o risco de inundação dos campos, risco de salinização dos solos (quando
a água for de má qualidade), lixiviação de nutrientes do solo, aumento de
doenças ligadas a água e os canais de rega e drenagem limitam o trabalho
mecanizado assim como ocupam espaços que poderia ser destinado a cultura.
A prática da irrigação requer conhecimentos essenciais para sua implantação
e condução. Identificar qual o sistema de irrigação a ser utilizada numa
determinada área para uma determinada cultura é a primeira etapa, porém,
o correcto dimensionamento do sistema e o maneio da irrigação são etapas
indispensáveis para bons resultados.
A técnica de irrigação não deve ser considerada isoladamente, mas sim como
parte de um conjunto de actividades que visam maximizar a produção
agrícola.
As características do sistema de irrigação, quantidade de água fornecida a
cultura e a taxa de infiltração de água do solo são de fundamental importância
para a prática da irrigação. Esse e outros assuntos serão abordados no
presente módulo, cujo objectivo é proporcionar conhecimentos suficientes
para que o formando possa actuar na área da irrigação e drenagem sem
dificuldades.

6
1
RESULTADO DE APRENDIZAGEM
Demonstrar compreensão
sobre a relação solo-água-
planta-atmosfera
Demonstrar compreensão sobre a relação solo-água-planta-atmosfera
Neste resultado de aprendizagem, os formandos terão oportunidade de aprender
sobre:
a) Movimento da água no solo-planta-atmosfera
✓ Transpiração
✓ Evaporação
✓ Infiltração
✓ Percolação (drenagem profunda)
✓ Escoamento superficial (Run off)
b) Disponibilidade da água no solo
✓ Retenção de água no solo
✓ Factores que influenciam na retenção de água no solo (solos e
presença de matéria orgânica)
✓ Fracção de água facilmente utilizável pelas plantas
c) Qualidade da água para as culturas
✓ Impurezas físicas
✓ Salinidade e Sodicidade
✓ Toxicidade (Cl- Na+ e B)

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1.1. MOVIMENTO DA ÁGUA NO SOLO-PLANTA-ATMOSFERA
O conhecimento do movimento da água no solo, na zona explorada pelas raízes
é fundamental para uma boa gestão da irrigação, pois permite avaliar todos
os fluxos de água que abastecem e esvaziam a zona das raízes e, assim,
optimizar os gastos de água pelas culturas.
A transferência de água para a atmosfera, no estado de vapor, quer pela
evaporação de superfícies líquidas, quer pela evaporação de superfícies
húmidas ou pela transpiração vegetal, constitui importante componente do
ciclo hidrológico.
1.1.1. Transpiração
A transpiração é um processo consumidor de energia, que modera a
temperatura da folha sujeita a radiação solar ou outras fontes de energia. Uma
planta, em crescimento activo, absorve a água armazenada do solo e a
transporta, na fase líquida, até as folhas.
Neste ponto, se os estômatos estiverem abertos, o movimento de água
processa-se na fase de vapor dependendo, principalmente, do estado físico da
atmosfera local, isto é, dos processos turbulentos da mistura do ar
circundante ao redor do dossel foliar da planta.
Se a superfície do solo estiver totalmente coberta por vegetação, apenas uma
pequena parte da água alcança a atmosfera pela evaporação directa da água
do solo, ou da água depositada directamente nas folhas pela chuva, pela
irrigação por aspersão ou pelo orvalho.
Depois que os diversos materiais em solução terem sido transportados para o
seu destino, no interior da planta, a água simplesmente evapora através dos
estômatos (minúsculos poros das folhas) e cutículas.
Este processo, em que as plantas perdem água para a atmosfera circundante,
é conhecido como transpiração (T) e exerce papel muito importante no controlo
térmico das plantas.
Estudos também tem mostrado que a produção de uma cultura é
directamente proporcional à sua taxa de transpiração. Como um factor
importante no balanço de energia, a transpiração representa uma medida
significativa do rendimento da cultura.
Para realizar o processo de transpiração, as plantas transportam a água do
solo e a lançam na atmosfera. Neste processo, a água é utilizada como meio
de transporte de sais minerais da solução do solo para o tecido da planta,
onde é utilizada na fotossíntese. Os carbohidratos são translocados, em
solução, e armazenados em diversos órgãos, tais como: sementes, raízes ou
tubérculos.

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1.1.2. Evaporação e Evapotranspiração
O termo evaporação designa a perda ou transferência de água para a
atmosfera sob a forma de vapor que se verifica em um solo húmido sem
vegetação, nos oceanos, lagos, rios e outras superfícies de água. De maneira
geral, o termo evapotranspiração é utilizado para expressar a a perda ou
transferência de vapor de água que se processa para a atmosfera proveniente
de superfícies vegetadas. Fundamentalmente, a evapotranspiração é
proveniente de duas contribuições:
✓ A evaporação da humidade existente no substrato (solo ou água);
✓ A transpiração resultante das actividades biológicas dos vegetais.
Em superfícies de água livre, tal como ocorre nos rios, lagos e oceanos, a
evaporação sofre influência das propriedades físicas da água. Em se tratando
de solo húmido, sem vegetação, as propriedades físicas do solo condicionam
a evaporação. Dentre estas propriedades destacam-se a coloração do solo, que
interfere no coeficiente de reflexão e, em decorrência, no balanço de energia,
e a rugosidade, que interfere na turbulência das camadas de vento que se
deslocam próximo à superfície.
Quando a superfície-fonte é vegetada, os factores intervenientes no processo
de evapotranspiração aumentam, uma vez que diversos fatcores passam a
interferir neste. Dentre estes factores destacam-se:
✓ A fase de desenvolvimento da cultura;
✓ Índice de área foliar;
✓ As condições fitossanitárias;
✓ As condições de humidade do solo.
Informações da quantidade de água evaporada e ou evapotranspirada são
necessárias em diversos estudos hidrológicos e para adequado planeamento e
maneio. O conhecimento da evapotranspiração é essencial para estimar a
quantidade de água requerida para irrigação.
O conhecimento do consumo de água nas diversas etapas de desenvolvimento
das plantas cultivadas permite que a administração da irrigação seja feita de
forma mais racional, de acordo com a real exigência da cultura.
Esse conhecimento também tem a sua importância na agricultura não
irrigada, pois permite o planeamento de épocas de sementeira em função da
disponibilidade hídrica média da região considerada, permitindo maior
eficiência no aproveitamento das precipitações (chuvas).
Normalmente, uma boa condução da rega procura maximizar os consumos de
água pelas plantas, ou seja, igualar a evapotranspiração aos seus valores
potenciais e minimizar as perdas de água, nomeadamente por escoamento
superficial ou por percolação ou drenagem profunda.

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1.1.3. Infiltração da água no solo
A infiltração é o processo pelo qual a água penetra no solo através da sua
superfície. A infiltração de água no solo pode ser influenciada por diversos
factores, sendo os de maior destaque os seguintes:
a) A condição da superfície do solo
Solos com maior cobertura vegetal e matéria orgânica apresentam maior
porosidade, o que facilita e aumenta a taxa de infiltração de água. Além disso,
a cobertura vegetal reduz a intensidade do impacto das gotas de água sobre a
superfície do solo, pois, as gotas antes de atingir a superfície do solo são
interceptadas pela vegetação caindo lentamente, favorecendo assim a
infiltração. Solos com baixo teor de matéria orgânica e sem a cobertura
vegetal, tendem a ser mais compactos e com menor porosidade, fazendo com
que o impacto das gotas de água seja na maior intensidade, reduzindo deste
modo a infiltração, aumentando o escoamento superficial e risco desses solos
sofrerem a erosão.
b) Tipo do solo
As diferentes classes texturais fazem com que haja maior ou menor infiltração
de água no solo. por exemplo, em solos arenosos, devido a presença de
macroporos, há maior possibilidade de água infiltrar em relação aos solos
argilosos, por apresentarem microporos.
c) Maneio ou preparação do solo
Está relacionado com as técnicas de mobilização do solo (lavoura convencional
e lavoura reduzida). A maior frequência de maquinarias no campo de produção
agrícola permitida pela agricultura convencional, aumenta os riscos de
compactação dos solos pelas actividades preparo do solo, carregamento,
colheita e tratos culturais, reduzindo assim, a infiltração de água no solo. No
entanto, as técnicas de lavoura reduzida, por evitar a maior perturbação do
solo e permitir maior cobertura vegetal e matéria orgânica, favorecem a
infiltração de água no solo.
d) Estado inicial de humidade do solo
Se um solo por exemplo apresentar elevado teor de humidade, a infiltração
praticamente será nula e, em relação a um solo seco, a infiltração será maior.
1.1.4. Capacidade de infiltração
A capacidade de infiltração, ou simplesmente a infiltrabilidade, é a quantidade
máxima de água que um solo em determinadas condições pode absorver. A
infiltrabilidade varia com o decorrer da chuva ou irrigação. À medida que a
chuva ou irrigação continua, a capacidade de infiltração do solo passa a
decrescer a ponto de não haver mais infiltração, mas sim, o escoamento
superficial.

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A capacidade de infiltração de água é calculada por:
∆𝒉
I= onde:
∆𝒕
✓ I – Capacidade de infiltração (mm/h)
✓ ∆h – Variação da lâmina de água (mm)
✓ ∆t – Variação do tempo (h)
1.1.5. Percolação ou drenagem profunda
Após a passagem da água pela superfície do solo, ou seja, cessada a
infiltração, o movimento da água dentro do perfil do solo é chamado de
percolação. A percolação de água no solo pode ser:
✓ Profunda: Quando o movimento da água é para as zonas ou camadas
mais profundas do solo;
✓ Lateral: Quando a água dentro do perfil do solo se movimenta pelas
laterais.
A percolação depende de factores como:
✓ A humidade inicial do solo;
✓ Capacidade de retenção de água do solo (tipo do solo);
✓ Profundidade do sistema radicular da cultura.
1.1.6. Escoamento superficial
Também designada de Run off, é o movimento da água de um ponto para outro
pela superfície do solo. O escoamento superficial pode ser influenciado pelos
seguintes factores:
✓ Intensidade da precipitação: A intensidade da chuva reduz a
infiltração e aumenta o escoamento superficial;
✓ Duração da precipitação: Chuva prolongada deixa solos saturados,
anula a infiltração e aumenta o escoamento superficial;
✓ Caraterísticas do solo: Solos compactos e com menor porosidade (no
geral, os argilosos ou pesados), diminuem a infiltração e aumenta o
escoamento superficial;
✓ Declividade do terreno: Inclinação do terreno aumenta o escoamento
superficial;
✓ Cobertura vegetal: Cobertura vegetal reduz a intensidade do impacto
das gotas de água sobre a superfície do solo, pois, as gotas antes de
atingir a superfície do solo são interceptadas pela vegetação caindo
lentamente e assim favorecendo a infiltração e redução do escoamento
superficial.

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1.2. DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NO SOLO
A água do solo tem a importância na dissolução dos nutrientes que
posteriormente são assimilados pelas plantas, regula as temperaturas do solo
e facilita as actividades microbianas na decomposição da matéria orgânica.
A água é necessária para cada ser vivo e, influencia, de maneira directa ou
indirecta nos fenômenos e mecanismos que ocorrem nos solos. O
intemperismo, os processos de formação, actividade biológica, crescimento de
plantas, assim como, poluição do lençol freático recebem impacto directo do
regime hídrico dos solos.
A água chega no solo através da chuva, infiltra, preenche a capacidade de
armazenamento no solo, é conduzida pelo solo para camadas mais profundas
e alimenta o lençol freático e aquíferos. A fracção que não penetra no solo,
escoa alimentando directamente lagos, rios e oceano.
A fração armazenada é em parte disponível para as plantas, sendo absorvida
e transpirada ao mesmo tempo e evapora directamente do solo para a
atmosfera.
1.2.1. Retenção da água no solo
A água na forma líquida apresenta uma série de propriedades de fundamental
importância em seu comportamento no solo. Se considerarmos o sistema
poroso do solo como um sistema capilar e com determinada área superficial
entenderemos que a água é retida no solo devido aos dois mecanismos:
a) Capilaridade: A força capilar explica a ascensão da água em vasos ou no
campo, de baixo para cima contra a gravidade e lateralmente quando a
água é adicionada num ponto e aumenta à medida que o tamanho de poro
diminui.
b) Adsorção: À medida que o solo seca, diminui o volume de água retido até
que a lâmina de água fica restrita a superfície das partículas, retida por
efeito eletrostático ou por adesão. Nestes dois processos de retenção, o
maior volume de água e o mais disponível é retido por efeito capilar e o
volume menor no solo é retido por adsroção. A textura e a estrutura do solo
que definem a área superficial e a arquitetura do sistema poroso, são os
principais factores associados ao armazenamento e disponibilidade da
água nos solos.
c) Força osmótica: No solo as concentrações de sais tendem a se igualar por
difusão, sendo a diferença de energia devido a forças osmóticas,
predominantes no domínio solo-raiz, influindo pouco no movimento e
retenção da água.

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d) Força gravitacional: Na gravidade a energia potencial toma conotação de
energia de posição dentro do campo gravitacional, importante na definição
do movimento de água e deve ser computado para equacionamento de fluxo
de água no solo.
e) As forças originadas pela matriz do solo: Através dos fenômenos de
adsorção e capilaridade, são as responsáveis pelo potencial matricial,
antigamente chamado de potencial capilar. O total de energia por unidade
de volume de água é definido como
sendo o potencial total expresso em
termos de pressão (kPa, bar, cm de
coluna de Hg ou água). O potencial
total em solos não saturados é o
potencial matricial, responsável
pela retenção de água contra a
acção da gravidade e por isso ter
sinal negativo e chamado de tensão Figura 1: Modelo conceitual de uma
da água no solo (figura-1). curva de retenção de água no solo
Um solo saturado apresenta toda sua porosidade cheia de água, que após
drenado em condições naturais, os macroporos são drenados e os microporos
ficam preenchidos com água.
Neste estado o movimento descendente é pequeno e tradicionalmente
considera-se que o solo apresenta a sua máxima capacidade de
armazenamento de água contra a gravidade e considera-se a humidade deste
estado como sendo a capacidade de campo (CC).
O potencial matricial da
água no solo encontra-se na
faixa de -10 a -33 kPa,
dependendo da textura e
estruturação do solo. Ao
contrário, a humidade onde
as plantas murcham
permanentemente é
chamada de ponto de
murcha permanente (PMP) e
apresenta potencial matricial Figura 2: Disponibilidade de água em função
em torno de –1500 kPa. da textura do solo
A diferença de humidade entre a CC e PMP nos indica a faixa de água
disponível de um solo, que pode ser dada em termos percentuais ou em
lâmina de água. Esta última é uma excelente indicadora da habilidade de um
solo reter água a ser utilizada pelas plantas.

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A textura, matéria orgânica e a agregação são os principais factores que
afectam a disponibilidade de água para as plantas. Num solo, no qual o PMP
tenha sido atingido, ainda contém certa percentagem de humidade, a qual não
pode ser utilizada pelas plantas, por estar fortemente retida pelas partículas
do solo.
1.2.2. Factores que influenciam na retenção de água no solo
A retenção de água no solo é afetada fundamentalmente pelos seguintes
factores:
a) Textura do solo
É a proporção relativa às classes de tamanho de partículas de um solo.
Referem-se especialmente às proporções de argila, limo e areia na fracção da
terra fina (fracção de partículas com diâmetro menor que 2mm). Quanto a
textura, os solos classificam-se em quatro (4) principais classes que são:
✓ Solos arenosos: Aqueles com mais de 70% de areia e geralmente o
tamanho de suas partículas varia de 2 a 0,05mm. Ao tacto apresenta
sensação áspera e não é pegajosa nem plástica quando humedecida. Há
maior porosidade (macroporos), maior aeração e menor capacidade de
reter água e nutrientes;
✓ Solos argilosos: Apresentam a fracção de argila entre 35 a 60% e, o
tamanho de suas partículas são menores que 0,002mm. Ao tacto é
plástica e pegajosa quando humedecida. Promove a saturação do solo
devido à baixa capacidade de infiltração de água, há presença de
microporos, menor aeração e maior capacidade de reter água e
nutrientes;
✓ Solos siltosos (limosos): Possuem menos de 35% de argila e mais de
15% de areia e que não sejam de textura arenosa, sendo o tamanho de
suas partículas variando de 0,05 a 0,002mm. Apresenta a sensação de
sedosidade ao tacto quando humedecida e tem capacidade de retenção
de água e nutriente média;
✓ Solos de textura média ou franca: Possuem menos de 35% de argila e
mais de 15% de areia, que não sejam de textura argilosa nem arenosa.
O tamanho de suas partículas é menor que 2mm. Apresenta capacidade
de retenção de água e nutriente média.
b) Estrutura do solo
A estrutura do solo é a combinação entre as partículas unitárias do solo
(agregados) e a porosidade do mesmo, ou seja, a estrutura do solo é definida
pelo arranjo das partículas em agregados.

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A estruturação do solo é promovida principalmente pela argila e matéria
orgânica do solo. Quanto mais estruturado o solo, maior é o volume total dos
poros que ele possui e maior capacidade de armazenamento de água.
c) Característica das argilas
Como têm suas propriedades diferentes, consequentemente possuem
capacidades de retenção diferenciadas. Argilas montmoriloníticas,
vermiculíticas e ilíticas têm excelente capacidade de retenção. Já com as
cauliníticas e as gibsíticas acontece o contrário;
d) Matéria orgânica coloidal
O aumento da cobertura do solo, da actividade microbiana, da matéria
orgânica e a menor exposição da matéria orgânica à decomposição pelos
microrganismos, aumentam a estabilidade estrutural do solo, a qual tem uma
relação directa com a habilidade de um solo resistir a erosão. A adição
continuada de esterco a solos com baixa capacidade de retenção é uma prática
comum para reverter essa condição.
e) O Húmus
O húmus é de fundamental importância para a estrutura do solo, ao funcionar
como agente cimentante na formação de agregados, principalmente agregados
argilo-húmicos, que são os mais estáveis. O húmus tem também, uma grande
capacidade de reter água, a qual será fornecida às plantas, sendo igualmente
importante para a vida da fauna e flora do solo.
1.2.3. Água facilmente disponível
A água disponível e facilmente disponível no solo, são calculadas pelas
seguintes equações:
CC−PMP CC−PMP
𝐴𝐷 = ∗ 𝑑𝑠 ∗ 𝑧 ∗ 𝐴𝐹𝐷 = ∗ 𝑑𝑠 ∗ 𝑧 ∗ 𝑓 Onde:
100 100
AD= Água disponível (mm)
AFD= Água facilmente disponível (mm)
CC= Capacidade do campo (%)
PMP = Ponto de murcha permanente (%)
ds = Densidade do solo (g/cm3)
Z = Profundidade do sistema radicular da cultura (mm)
f = Factor de disponibilidade hídrica
Para a estimativa do f foram consideradas as características do solo, da
cultura e das condições climáticas. Algumas culturas, como a maioria das
hortaliças, necessitam constantemente de solos relativamente húmidos para
que não haja déficit hídrico. Outras culturas como o algodão e o sorgo, podem
utilizar muito mais a água do solo antes que a evapotranspiração de referência
(ETo) seja inferior à evapotranspiração máxima (ETm).

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Por esta razão, as culturas foram agrupadas de acordo com as suas
especificidades fisiológicas e a sua ETm. A margem de tolerância de f é estreita
para as culturas que têm a parte colhida carnosa ou fresca (frutas, hortaliças
e forragens) e é mais ampla naquela cuja parte colhida é seca (cereais para
grãos, algodão e oleaginosas). O valor de f pode variar com o período vegetativo
e geralmente é maior na fase de maturação devido à baixa evapotranspiração.
Tabela 1: Grupos de culturas de acordo com a influência da redução de água
do solo, na redução da ETm.
Grupo Culturas
1 Cebola, Pimenta, Batata
2 Banana Repolho, Uva, Ervilha, Tomate
Alfafa, Feijão, Cítricas, Amendoim, Abacaxi, Girassol, Melancia,
3
Trigo
Algodão, Milho, Azeitona, Açafrão, Sorgo, Soja, Beterraba, Cana-de-
4
açúcar, Fumo

Tabela 2: Valores de f para diferentes grupos de cultura e valores de


evapotranspiração máxima diária
ETm (mm/dia)
Grupo
2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 0,50 0,425 0,35 0,30 0,25 0,225 0,20 0,20 0,175
2 0,675 0,575 0,475 0,40 0,35 0,325 0,275 0,25 0,225
3 0,80 0,70 0,60 0,50 0,45 0,425 0,375 0,35 0,30
4 0,875 0,80 0,70 0,60 0,55 0,50 0,45 0,425 0,40

Por exemplo:
Consideremos a cultura do feijão (grupo 3) desenvolvendo para uma certa
época do ano uma evapotranspiração potencial máxima de 5.0 mm/dia. Para
um solo com uma CC de 32%, PM de 20% e ds de 1.25, a água facilmente
disponível para a cultura com uma profundidade efetiva do sistema radicular
de 30 cm (300 mm) e factor f = 0,5 (grupo 3 e ETm de 5,0 mm/dia).
Este valor (f = 0,5) indica que o feijão consumindo esta ETm só consegue
retirar 50% do total de água no solo, sem o perigo de entrar em estresse
hídrico, este é o ponto crítico. Assim, sempre que for consumido 50% da água
disponível a irrigação terá que ser efetuada. Caso isso não ocorra, fatalmente
a cultura começará a ficar com restrição de água. Em termos de lâmina de
água teremos:
CC − PMP
𝐴𝐹𝐷 = ∗ ds ∗ Z ∗ f
100
32−20
𝐴𝐹𝐷 = ∗ 1,25 ∗ 300 ∗ 0,5
100

𝐴𝐹𝐷 = 22,5 mm

16
O conteúdo de água pode ser avaliado utilizando-se equipamentos electrônicos
que fornecem directamente a humidade volumétrica que o solo apresenta em
determinado momento. Os equipamentos mais eficientes para a medida do
conteúdo de água no solo são os TDR (Time Domain Reflectometry) (Figura-19).

Figura 3: Equipamento TDR (a) e sondas instaladas no perfil do solo (b).


Valores médios, máximos e mínimos do teor de água do solo correspondente
à capacidade de campo (CC) e ponto de murcha permanente (PMP), por classe
textural podem ser consultados com base na tabela-8 adiante.
Tabela 3: Valores médios, máximos e mínimos do teor de água do solo
correspondente à capacidade de campo (CC) e ponto de murcha permanente
(PMP), por classe textural.

Teor de água (cm3/cm3)


Classe textural CC PMP
Média Máximo Mínimo Média Máximo Mínimo
Argilosa 0,368 0,417 0,320 0,268 0,316 0,219
Argilo-Arenosa 0,256 0,347 0,166 0,170 0,260 0,079
Argilo-Limosa 0,443 0,490 0,397 0,290 0,336 0,244
Arenosa 0,127 0,179 0,075 0,021 0,073 0,001
Areno-Franca 0,236 0,290 0,181 0,055 0,110 0,001
Franca 0,269 0,310 0,227 0,128 0,169 0,086
Franco-Argilosa 0,314 0,362 0,266 0,219 0,267 0,172
Franco-Argilo-Arenosa 0,279 0,323 0,234 0,187 0,231 0,142
Franco-Argilo-Limosa 0,392 0,458 0,326 0,218 0,284 0,152
Franco-Arenosa 0,278 0,331 0,226 0,104 0,156 0,051
Franco-Limosa 0,313 0,376 0,250 0,142 0,205 0,078

17
1.3. QUALIDADE DA ÁGUA PARA AS CULTURAS
Os aspectos fundamentais a considerar no uso de água de irrigação são
aqueles que afecam principalmente a conservação do solo, o rendimento e a
qualidade das colheitas, que muitas vezes são influenciados pela qualidade de
água utilizada na irrigação. A qualidade de água usada para irrigação nas
culturas é definida em função dos critérios físicos (impurezas) e químicos
(salinidade, sodicidade e toxicidade).
1.3.1. Impurezas físicas
São partículas que a água leva em suspensão e que obstruem ou fecham os
emissores (gotejadores, microaspersores, etc) u as próprias tubulações. essas
partículas podem ser:
✓ De origem inorgânica: Areia, silte, argila, restos de plásticos, etc;
✓ De origem orgânica: Algas, microrganismos com seus ovos, etc.
1.3.2. Salinidade de água
A salinidade é o resultado de acumulação de sais na dissolução do solo,
aumentando o potencial osmótico, o que impede e dificulta a absorção de água
pelas plantas e ainda origina alterações na absorção não selectiva de
nutrientes. O principal agente causador da salinidade do solo é a qualidade
da água utilizada na irrigação, agravando-se quando o maneio da irrigação
com águas salinas é utilizado inadequadamente. A condutividade eléctrica
(CE), devido a facilidade de sua determinação, é o parâmetro considerado para
determinar a sua potencialidade de salinizar um solo.
A condutividade elétrica da água de irrigação (CEai) basicamente considera a
quantidade total de sais presentes na água, sem especificá-los, e é expressa
em micromhos por centímetro (µmhos/cm), milimhos por centímetro
(mmhos/cm) ou pela unidade no Sistema Internacional (SI) deciSiemens por
metro (dS/m) ou microSiemens por centímetro (µS/cm).
a) Classificação da salinidade de água de rega
✓ Salinidade baixa: < 0,7 dS/m;
✓ Salinidade moderada: 0,71 a 3,0 dS/m;
✓ Salinidade Severa: > 3,0 dS/m.
Tabela 6: Fontes de água e suas respectivas condutividades eléctricas a 25 ºC
Fonte CE a 25ºC
Água de chuva 0,15 dS/m
Água dos rios 0,2 – 0,4 dS/m
Água do Mar Mediterrâneo 63 dS/m
Água do Oceano Atlântico 55 dS/m
Água do Oceano Pacífico 51 dS/m
Água do Oceano Índico 54 dS/m

18
Quanto maior for o conteúdo salino de uma solução, maior ser a sua
condutividade eléctrica da mesma.
1.3.3. Sodicidade de água
A sodicidade representa a quantidade de sódio (Na+) na água. Seu uso como
parâmetro de qualidade de água é devido a seu efeito sobre a permeabilidade
do solo, e sobre a nutrição e toxicidade das plantas. A percentagem de sódio
tocável foi o parâmetro utilizado nas primeiras classificações de qualidade de
água, que se limitava a estabelecer a relação entre os catiões de sódio frente
ao total de catiões do meio ou solução, sendo definido pela equação:
𝑺𝑻
𝐏𝐒𝐓 = ∗ 𝟏𝟎𝟎%
𝑪𝑻𝑪𝒑
Onde:
✓ PST = Percentagem de sódio trocável (%)
✓ ST = Sódio trocável (cmolc/dm3)
✓ CTCp = Capacidade toca catiónica potencial (cmolc/dm3)
1.3.4. Toxicidade
A toxicidade é um problema interno que se produz quando determinados iões
absorvidos principalmente pelas raízes, acumulam-se nas folhas mediante a
transpiração, chegando a alcançar concentrações nocivas.
Certos elementos, inclusive em baixas concentrações, têm efeitos tóxicos para
os vegetais, sendo principalmente os iões de cloro (Cl-), sódio (Na+) e boro (B),
os que podem causar toxicidade entre aqueles normalmente encontrados nas
águas de irrigação.
Os iões de Cloro fazem com que os cultivos fiquem afectados com grande
frequência de clorose foliar acentuadas nas partes mais iluminadas, que
podem degenerar em necrose das bordas das folhas. O limite de tolerância
para águas de irrigação é de 0,5g/L e, dependendo do tipo do solo e da cultura,
pode-se tolerar valores até 7 ou 8 g/L de iões de cloro.
A toxicidade de Sódio manifesta-se na planta em forma de queimaduras nas
folhas. Estima-se que concentrações de sódio na água de irrigação superiores
a 8,7 ou 13,0 meq/L, podem das lugar a esses sintomas.
O Boro é um elemento essencial para as plantas, porém, quantidades
relativamente pequenas se convertem em tóxicos. Considera-se que 0,5mg/L
na água de irrigação já pode causar problemas, não sendo aconselhável
utilizar águas que superem 2,5mg/L. Os sintomas aparecem primeiro nas
folhas mais velhas e os bordos vão amarelecendo, manchando ou secando os
tecidos das folhas.

19
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO
1. Indique os 3 principais tipos de textura do solo.
2. Explique os seguintes processos da relação solo-planta-água:
a) Transpiração das plantas;
b) Evaporação da água.
c) Infiltração da água no solo;
d) Absorção radicular;
e) Percolação da água;
f) Escoamento superficial da água.
3. Quais são os principais processos do movimento de água no solo?
4. Quais são os principais parâmetros de uma curva de retenção de água no
solo?
5. Define:
a) Solo Saturado;
b) Capacidade de Campo;
c) Ponto de emurchecimento permanente.
6. De que forma a textura do solo afecta a quantidade de água retida no solo?
7. Como define a quantidade de água disponível no solo, e como se calcula a
quantidade de água disponível no solo.
8. Num solo Franco Arenoso, a curva de retenção de água indicou a CC= 14%
e um PMP =6%. A densidade aparente do solo (da) é de 1,5 g/cm3.
a) Calcula a quantidade de água disponível nesse solo em mm/m
b) Calcule a quantidade de água facilmente disponivl (AFD) para a cultura
da batata, com uma profundidade efectiva do sistema radicular de 0,5
e sabendo que o factor de remoção de água do solo é igual a 0.35
9. Define salinidade da água
a) De que forma a salinidade da água pode afectar a produção agrícola?
b) Como se pode medir a salinidade da água?
c) Define condutibilidade eléctrica da água.

20
2
RESULTADO DE APRENDIZAGEM
Demonstrar compreensão
sobre as necessidades de água
das culturas
Demonstrar compreensão sobre as necessidades de água das culturas
Neste resultado de aprendizagem, os formandos terão oportunidade de aprender
sobre:
a) Evapotranspiração
✓ Evapotranspiração de referência e da cultura
✓ Coeficiente do cultivo (Kc)
✓ Fases de desenvolvimento da cultura
✓ Curva de Kc
b) Necessidades de água das culturas
✓ Métodos para determinação da ETc (Directos e indirectos)
✓ Eficiência de aplicação de água no campo
✓ Dotação e intervalo de rega
c) Factores que afectam o desenvolvimento das culturas irrigadas
✓ Efeito do défice ou excesso de água
✓ Fertilidade do solo
✓ Manutenção do sistema de irrigação

21
2.1. EVAPOTRANSPIRAÇÃO
A evaporação e a transpiração de água por parte dos solos e das plantas, no
seu conjunto, designam-se por evapotranspiração. A taxa de
evapotranspiração representa, assim, a quantidade de água que se perde para
a atmosfera num determinado período de tempo. Expressa-se normalmente
em milímetros por hora, por dia ou mês (mm/h, mm/dia ou mm/mês).
Os principais parâmetros do clima que afectam a evapotranspiração são a
radiação solar, a temperatura e humidade do ar e a velocidade do vento.
Temperaturas elevadas, baixa humidade do ar, radiação solar elevada e vento
forte aumentam a evapotranspiração.
As características das plantas, como a sua resistência à transpiração, altura,
índice de área foliar (área das folhas por unidade de área de solo) e
profundidade das raízes, determinam o valor da evapotranspiração. A
densidade de plantas numa determinada área influencia o grau de cobertura
do solo (sombreamento) e logo a diminuição da evaporação e o aumento da
transpiração.
A quantidade de água evapotranspirada depende da planta, do solo e do clima.
O factor clima predomina sobre os demais. A evapotranspiração varia de
cultura para cultura como também nos diferentes estádios de
desenvolvimento delas.
2.1.1. Evapotranspiração de referência
A evapotranspiração de referência (ETo) é genericamente definida como a
evapotranspiração de uma cultura referência, com altura uniforme, cobrindo
completamente o solo, livre de infestantes e doenças e sem limitações de água.
Como cultura de referência normalmente é utilizada a grama ou a alfafa com
crescimento activo e uniforme, sem deficiência hídrica e com altura entre 8 e
15 cm.
2.1.2. Evapotranspiração da cultura
A evapotranspiração da cultura (ETc) é o processo dinâmico da água que
ocorre no sistema solo-planta-atmosfera, a partir do momento em que a água
é aplicada natural (através da chuva) e artificialmente (através da irrigação)
sobre um cultivo agrícola. A ETc, em cada estágio da cultura é obtida
indirectamente multiplicando-se a ETo por um coeficiente da cultura (Kc), que
incorpora as características e exigências de água da cultura, conforme a
equação seguinte:
ETc = ETo x Kc Onde:
Etc - Evapotranspiração da cultura (mm/dia);
Kc - Coeficiente da cultura;
ETo - Evapotranspiração de referência (mm/dia).

22
2.1.3. Coeficiente da cultura
O Coeficiente da cultura (Kc) é a razão entre a ETc e a Eto e relaciona a ETo
com a evaporação do solo, o qual também exprime o efeito das características
da cultura sobre a sua necessidade de água, ou seja:
𝐄𝐓𝐜
Kc = Onde:
𝐄𝐓𝐨
✓ Kc – Coeficiente da cultura
✓ ETc - Evapotranspiração da cultura (mm/dia);
✓ ETo - Evapotranspiração de referência (mm/dia).
Os valores de Kc variam de acordo com a cultura, a fase de desenvolvimento
e as condições climáticas, sendo apresentados em tabelas como a de FAO
(1998a) citado por Savva e Frenquen (2002).
Tabela 7: Valores de Kc e alturas médias de plantas para cultivos sob
condição padrão (culturas com um bom maneio cultural, não estressadas,
com HRmín ≈ 45% e U2 ≈ 2m/s).
Cultura Kcini Kcmed Kcfinal Altura da planta (m)
Amendoim 0.50 1.15 0.60 0.40
Alface 0.70 1.00 0.95 0.30
Arroz 1.05 1.20 0.75 1.00
Batata 0.50 1.15 0.75 0.60
Batata-doce 0.50 1.15 0.65 0.40
Berinjela 0.60 1.05 0.90 0.70
Cebola seca 0.70 1.05 0.75 0.40
Cebola verde 0.70 1.00 1.00 0.30
Cenoura 0.70 1.05 0.95 0.30
Crucíferas 0.70 1.05 0.95 0.40
Feijão verde 0.50 1.05 0.90 0.40
Feijão seco 0.40 1.15 0.30 0.40
Melão 0.50 1.05 0.75 0.40
Milho 0.70 1.15 1.05 1.50
Pepino 0.50 1.00 0.75 0.40
Tomate 0.60 1.15 0.80 0.60
Fonte: FAO (1998a), citado por Savva e Frenquen, (2002).
Os coeficientes da cultura integram os efeitos tanto da transpiração quanto
da evaporação no tempo ao longo do ciclo. Os efeitos da integração no tempo
representam uma frequência média de humedecimento para cultura padrão,
sob condições típicas de desenvolvimento numa área irrigada. No período
específico da sementeira ou do plantio e durante a fase seguinte de
crescimento vegetativo, a frequência de chuva ou irrigação é um parâmetro
que influencia muito o Kc na fase inicial.

23
O tipo de preparo de solo pode interferir no coeficiente da cultura, visto que a
palha (restos culturais provenientes da cultura antecessora num sistema de
plantio directo) mantida sobre o solo pode reduzir a evaporação na fase inicial
do ciclo da cultura e também diminuir o valor do Kcini para um patamar de
até 50%.
A demanda evaporativa da atmosfera, ou seja, a intensidade da ETo, pode
afectar significativamente o Kcini. Demanda mais elevada fará com que o solo
seque mais rápido entre eventos de aplicação de água e o valor do Kcini será
menor num determinado período.
2.1.4. Fases de desenvolvimento da cultura
Para a estimativa de valores de Kc, o ciclo das culturas anuais é dividido em
quatro fases fenológicas, e a duração de cada fase depende principalmente da
variedade e das condições climáticas do local de produção. As quatro fases
fenológicas de desenvolvimento das culturas anuais, são descritas da seguinte
maneira:
✓ Fase inicial: Corresponde ao início do crescimento da cultura, quando
a superfície do solo não está completamente coberta pela cultura
(cobertura do solo <10 %);
✓ Fase de desenvolvimento vegetativo: Corresponde de 10 a 80 % de
cobertura do solo;
✓ Fase de florescimento ou reprodutivo: Corresponde ao início da
cobertura plena do solo (início do florescimento) até o início da
maturação, que é indicada pela descoloração ou queda das folhas;
✓ Fase de maturação: Corresponde ao início da descoloração (ou queda)
das folhas até a plena maturação ou ponto de colheita.
Tabela 8: Faixas de duração total do ciclo (em dias) e duração de cada uma
das quatro fases (em percentagem do total) de algumas culturas de ciclo curto,
segundo dados obtidos e adaptados de algumas regiões do mundo.

Fonte: Doorenbos e Pruitt, (1977) citado por Albuquerque (2010).

24
2.1.5. Curva de coeficiente da cultura
A curva dos coeficientes culturais caracteriza tipicamente o desenvolvimento
de uma cultura anual, desde a sementeira ou plantação até à colheita, sendo
que as mudanças na forma da curva acompanham o desenvolvimento e a
senescência da cultura. Naturalmente, são necessárias algumas adaptações
quando se trata de
culturas perenes.
Graficamente, as
diferentes fases de
desenvolvimento da
cultura e os
respectivos valores de
Kc são apresentados Figura 4: Representação gráfica da curva de Kc em
da seguinte maneira: função ciclo da cultura

2.2. NECESSIDADES DE ÁGUA DAS CULTURAS


As necessidades de água das culturas correspondem às necessidades hídricas
(evapotranspiração) descontando a precipitação que pode ocorrer no período
de tempo considerado. As necessidades de água da cultura podem, ainda,
incluir consumos adicionais de água para satisfazer necessidades de lavagem
de sais do perfil do solo, falta de eficiência no transporte da água e falta de
uniformidade na sua aplicação.
A quantificação da água necessária a ser aplicada às plantas, ou seja, àquele
referente à evapotranspiração pelo sistema solo-planta é o factor primordial
para o planeamento, dimensionamento e maneios adequados de uma área
agrícola irrigada.
A necessidade de água de uma cultura corresponde à procura
evapotranspirativa dessa cultura em determinado ambiente e recebendo
tractos culturais determinados.
De modo geral, a água necessária a uma determinada cultura é equivalente à
evapotranspiração (evaporação de água do solo + transpiração das plantas) de
uma cultura livre de doenças e se desenvolvendo em um local em condições
óptimas de solo e clima.
A condição óptima de solo consiste em nível de fertilidade e humidade
suficientes para a cultura alcançar a sua produção potencial no meio
considerado. Daí, a necessidade hídrica de uma cultura é baseada em sua Etc
em função da ETo e é expressa, normalmente, em mm/dia.
2.2.1. Quantificação da evapotranspiração da Cultura
Existem vários métodos para a estimativa da evapotranspiração, os quais
dividem se basicamente em dois grupos: o dos métodos directos e o dos
indirectos ou empíricos.

25
2.2.2. Métodos directos
Caracterizam-se pela determinação da evapotranspiração directamente na
área, onde se destacam os diferentes tipos de lisímetros, ou mesmo pelo
método do balanço de água no solo.
2.2.2.1. Método de Lisímetros
Os Lisímetros são tanques enterrados, contendo uma amostra representativa
do solo e da vegetação que se deseja estudar, e devem representar com
bastante fidelidade as condições reais de campo. As plantas dentro do
lisímetro têm que ser similares às que as rodeiam em todos os aspectos
agronômicos, o que inclui: variedade, estádio de desenvolvimento, condições
fitossanitárias, adubação, etc.
Esses equipamentos permitem a determinação da evapotranspiração pela
diferença, para um dado período de tempo, entre a água fornecida e a água
percolada. A sua estrutura básica é composta por um tanque de alvenaria que
possui no fundo um dreno que possibilita o escoamento da água percolada
que é recolhida por um recipiente.

Figura 5: Esquema de um lisímetro de drenagem ou de percolação.


Antes de se colocar o solo no tanque, há necessidade de alguns procedimentos
importantes para que ele funcione adequadamente. As paredes devem receber
o tratamento de um impermeabilizante para evitar fuga de água pelas laterais
do tanque. Na parte inferior é necessária a instalação de um filtro, com uma
espessura de 10 a 15 cm, que é feito com materiais de diferentes
granulometrias.
Comumente, utiliza-se camadas superpostas de britas, cascalho fino, areia
grossa e areia fina. Para se evitar aprisionamento do ar no fundo do tanque,
deve-se instalar um tubo de pequeno diâmetro, junto à parede lateral, do
fundo até a parte superior do tanque. Depois de preparado, o lisímetro deverá
ser preenchido com solo. Na escavação, o solo deverá ser separado segundo
seus horizontes para que seja transferido para o lisímetro obedecendo à ordem
do seu perfil natural.

26
É recomendável que os níveis do solo no interior do lisímetro e fora dele sejam
iguais. Em geral, recomenda-se aguardar aproximadamente um ano para se
trabalhar efectivamente com o lisímetro para acomodamento do solo em seu
interior.
Na operação, adiciona-se água com um volume suficiente que permita
drenagem. Quando cessar a drenagem, pode-se garantir que o teor de
humidade do solo no interior do tanque encontra-se na sua capacidade
máxima de retenção. Após um certo intervalo de tempo, adiciona-se água no
tanque, também com um volume que permita drenagem. Encerrado o
processo de drenagem, contabiliza-se o volume aplicado e o volume percolado;
a diferença representa o volume que foi necessário para reconduzir o solo à
sua capacidade máxima de retenção.
Como a evapotranspiração é normalmente expressa em milímetros por dia,
basta dividir o volume retido pela área superficial do tanque, obtendo-se a
lâmina equivalente. Dividindo a lâmina equivalente ao volume retido pelo
tempo entre medições, tem-se a evapotranspiração média no período
considerado para a cultura pesquisada. Matematicamente, pode-se
representar a evapotranspiração, utilizando-se um lisímetro de percolação,
pela seguinte:
Va − Vp
+P
A
ETc = em que:
T
ETc = Evapotranspiração média da cultura (mm/dia);
Va = volume de água aplicado (L)
Vp = volume de água percolado (L);
A = Área do tanque (m2);
T = Intervalo entre medições (dias); e
P = Precipitação ocorrida no período considerado (mm).
Atenção:
1mm = 1L/m2
1m3 = 1000L
Por exemplo
Com o objectivo de determinar a evapotranspiração para uma cultura de milho
por meio de um lisímetro de percolação, foram levantados os seguintes dados:
✓ Volume de água aplicado (Va): 0,10 m3 = 100L;
✓ Volume de água percolado (Vp): 0,05 m3 = 50L;
✓ Área do lisímetro (A): 1,2 m2;
✓ Intervalo entre medições (T): 7 dias; e
✓ Precipitação no período considerado: não houve.
Va − Vp 0,1 − 0,05
+P +0
1,2
ETc =
A
 ETc =  ETc = 5,95 mm/dia
T 7

27
2.2.2.2. Método do balanço de água no solo
O balanço de água no solo expressa as quantidades de entrada e saída de
água no solo e é representada pela seguinte equação:
ET = P + I - D ± ∆W em que:
✓ P - Precipitação ocorrida;
✓ I - Rega aplicada;
✓ ET - Evapotranspiração da cultura;
✓ ΔW - Variação do armazenamento de água no solo;
✓ D - Água perdida por percolação ou drenagem profunda.
Em muitos casos, o balanço de água é determinado no período entre duas
drenagens, neste sentido, a ΔW torna-se desprezível e a equação do balanço
de água passa a ser seguinte:
ET = P + I - D
Sendo a ∆W, determinada pela seguinte equação:
∆W = P + I + Ge – ETc – Ro - Dp em que:
✓ Ge = Ascenção capilar;
✓ Ro = Escoamento superficial;
✓ Dp = Percolação ou drenagem profunda.
A parte útil da precipitação é designada de precipitação efectiva (Peff) e é
definida como a fracção da precipitação que é armazenada na zona radicular
e usada pelo sistema solo-planta para evapotranspiração. A Peff pode ser
calculada com base nas seguintes equações:
a) Percentagem fixa da precipitação
Peff = a x Ptot; a= (0,7 a 0,9)
b) Método da FAO
Peff = 0,6 x Ptot - 10; se a Ptot < 70 mm
Peff = 0,8 x Ptot - 24; se a Ptot > 70 mm
c) Método da USDA-SCS
125−0,2Ptot
Peff = Ptot ( ); se a Ptot < 250 mm
125
Peff = 125 + 0,1Ptot; se a Ptot > 250 mm
No entanto:
∆W = Peff + I + Ge – ETc – Dpi onde: Dpi = Percolação do excesso de água.
2.2.3. Métodos indirectos ou empíricos
São caracterizados pelo uso de equações empíricas ou modelos matemáticos,
que se utilizam de dados meteoroclimático-fisiológicos para a sua aplicação
(Thornthwaite, Thornthwaite-Camargo, Camargo, Hargreaves e Samani,
Tanque Classe A, Priestley-Taylor, Penman-Monteith-FAO, etc.).

28
Estes, por se tratar de uma estimativa, têm inúmeros problemas de precisão,
principalmente quando aplicados em condições climáticas diferentes das
quais foram elaborados.
A ETo, por métodos indirectos pode ser estimada em condições de pesquisa
com base em séries históricas da região de no mínimo 5 anos são suficientes
para estimar a ETo em condições de pesquisas tanto para programas de
irrigação. A precisão da estimativa da ETo usando métodos indirectos depende
muito da natureza dos dados climáticos disponíveis e da precisão do método
seleccionado para estimar a evapotranspiração. Quanto maior for a
disponibilidade de dados, também deverá ser maior a precisão na estimativa
de ETo.
2.2.3.1. Evapotranspiração do tanque “Classe A”
Para a estimativa da evapotranspiração de uma certa cultura, o modelo de
evapotranspiração do tanque mais utilizado em todo o mundo e adotado pela
FAO, é o “Classe A”. Essa estimativa é feita por meio de dois passos:
✓ Primeiro é a estimativa da evapotranspiração de referência;
✓ Segundo, é a estimativa da evapotranspiração da cultura de interesse.
ETo = Ev x Kt em que:
✓ ETo = Evapotranspiração da cultura de referência (mm/dia);
✓ Ev = Evaporação medida no tanque “Classe A” (mm/dia) e;
✓ Kt = Coeficiente do tanque (adimensional).
Para se determinar a evaporação ocorrida no tanque, utiliza-se um micrômetro
de gancho e as leituras são feitas em um poço tranquilizador instalado em seu
interior, que tem por finalidade evitar perturbações na superfície líquida,
principalmente pequenas ondas formadas por ventos e, dessa forma,
possibilitar a estabilidade do nível da água quando da realização das leituras.
Cuidado especial deve ser tomado com a localização do poço tranquilizador
dentro do tanque.
Para isso, é comum marcar com tinta no fundo do tanque a posição que deve
ser mantido o poço tranquilizador, o qual deve ser nivelado para evitar erros
de leituras.

Figuras 6: Tanque de evapotranspiração “Classe A”.

29
A seleção do coeficiente do tanque depende basicamente das características
climáticas da região e do meio no qual está instalado. O Kt é dependente das
condições de humidade relativa (UR, em %), velocidade do vento (U, em
km/dia) e do comprimento da bordadura (L, em m), nas quais o tanque está
instalado. Para determiná-lo, podemos utilizar a Tabela-9, ou por meio da
equação seguinte:
Kt = 0,482 + 0,024 × LN (L) − 0,000376 ×U + 0,0045 ×UR
Esse método de estimativa de ETo é bastante utilizado no maneio da irrigação,
sendo recomendado pela FAO, pois é de fácil determinação e de relativo baixo
custo. Sua utilização, no entanto, apresenta algumas limitações, entre elas:
✓ Para a obtenção dos valores de Kt são necessários dados de velocidade
do vento na altura do tanque;
✓ A leitura do nível da água é dificultada quando a aquisição dos dados
não é automatizada;
✓ O tanque deve estar protegido quanto ao acesso de animais na área;
✓ O local de instalação em área irrigadas é problemático (dentro ou fora);
✓ Normalmente o método apresenta superestimativas de ETo em
comparação a outros métodos e medidas.
Tabela 9: Valores dos coeficientes do tanque “Classe A” (Kt)

30
Importante!
Para áreas extensas de solo nu, reduzir os valores de Kt em 20% em condições
de alta temperatura e vento forte, e de 5 a 10% em condições de temperatura,
vento e umidade moderados. R (m) representa a menor distância do centro do
tanque ao limite da bordadura (grama ou solo nu).
Para a operação adequada do tanque é necessário que o nível de água em seu
interior oscile entre 5 e 7,5 cm da borda. Quando o nível da água estiver
próximo de 7,5 cm da borda, o tanque deverá ser reabastecido após a leitura,
elevando o nível aos 5 cm.
Por exemplo:
Determine a evapotranspiração para a cultura de milho utilizando os dados
de evapotranspiração do tanque “Classe A”, de acordo com os dados: Período
de medição: 7 dias; Evaporação registrada pelo tanque no período (Ev): 51,5 mm;
Velocidade média do vento no período: (2,5 m/s); Humidade relativa média do ar:
65%; Tanque circundado por grama com r = 100 m; Coeficiente de cultura (Kc) para
o milho = 0,85 e; De acordo com a Tabela-9, o valor de Kt é 0,75.
Resolução
ETo = Ev x Kt = 51,5 x 0,75 = 38,625 mm em 7 dias
Valor médio de ETo é igual a 5,52 mm/dia.
ETc = ETo x Kc = 5,52 x 0,85 = 4,7 mm/dia
2.2.3.2. Método de Blaney-Criddle modificado
A equação original de Blaney-Criddle é relativamente antiga (1950) e uma das
mais empregadas para a estimativa da evapotranspiração para regiões de
clima semi-árido.
Com o objectivo de melhor definir os efeitos do clima sobre a
evapotranspiração, o boletim no 24 da FAO, em 1977, apresentou modificações
substanciais no método original visando aprimorar a estimativa da
evapotranspiração com determinações a partir de um grande número de
medições em climas distintos, como também considerar o efeito da humidade
do ar, insolação e velocidade do vento. Dessa forma, Frevert et al. (1983),
apresentaram a última modificação da equação modificada pela FAO e a sua
forma geral é apresentada como segue:

ETo = c[p(0.46Tméd + 8,13)] Onde:


✓ Eto = Evapotranspiração de referência (mm/mês).
✓ t = Temperatura média mensal (oC).
✓ p = Percentagem de brilho solar mensal em relação a iluminação anual,
varia com a latitude do local.
✓ c = Factor de correção.

31
Condições ideais para utilização do método:
✓ Só deve ser utilizado quando se tem os valores das temperaturas
medidas;
✓ Deve se restringir a períodos não inferiores a um (1) mês;
✓ Se não houver possibilidades de se comprovar as condições de umidade
relativa do ar média das mínimas, insolação e ventos, as determinações
de eto são de pouca confiança;
✓ Não deve ser aplicado em regiões equatoriais em que as temperaturas
se mantêm relativamente constantes e com grande variação dos outros
parâmetros climáticos envolvidos;
✓ Também não deve ser utilizado em regiões de grande altitude devido à
temperatura mínima diária ser muito baixa, além de ser bastante altos
os níveis de radiação diurna
Esta equação foi desenvolvida para o cálculo da ETo mensal, por isso, não
deve ser usada para o cálculo da ETo diária, pois neste caso seria imprecisa.
Para calcular a Evapotranspiração de referência (ETo) para todo o ciclo da
cultura, soma-se os valores de ETo mensal dos meses que compõem o ciclo.
Tabela 11: Percentagem mensal de horas de luz solar em relação ao total
anual (p), para diferentes latitudes.

32
Tabela 12: Factor de correção “c” para a equação de Blaney-Criddle
modificada pela FAO

Tabela 13: Duração máxima de insolação diária média (N), em diferentes


meses e latitudes.

33
Exemplo
Estimar a evapotranspiração de referência (ETo) utilizando o método de
Blaney-Criddle modificado, para um local com as seguintes características:
✓ Latitude: 23º 37’ S; longitude: 43º 35’ WG; altitude: 19 m;
✓ Mês: Janeiro;
✓ Temperatura média do mês: 26,3º C;
✓ Humidade relativa do ar média das mínimas: 47,5%;
✓ Número de horas reais de insolação (N): 9,35;
✓ Velocidade média mensal do vento no mês (U2): 2,67 m/s.
Resolução
✓ Da Tabela 11, para o mês de Janeiro e latitude de 23º 37’S, p = 0,31,
Número máximo possível de horas de insolação (N), (Tabela 13) = 13,5
e Factor de correção (tabela 12), c=1,06
ETo = c[p(0.46Tméd + 8,13)]
ETo = 1,06 [0,31(0,46 x 26,3 + 8,13)]
ETo = 6,6 mm/dia
ETo =204,7 mm/mês
2.2.3.3. Método de Penman-Monteith-FAO
Para padronização dos procedimentos de cálculo da evapotranspiração da
cultura de referência, baseando-se na equação de Penman-Monteith, a FAO
propôs a seguinte notação, que passou a ser conhecida como equação de
Penman-Monteith-FAO. Este tem sido método actualmente considerado como
padrão parametrizado pela FAO.
900
0.408 Δ (Rn−G)+ yT+273U2 (es−ea )
ETo= Onde:
Δ+ γ (1+0.34U2)
✓ ETo – evapotranspiração de referência (mm/dia);
✓ Rn - Saldo de radiação à superfície (MJ/m/s);
✓ G - Fluxo de calor no solo (MJ/m/s);
✓ T - Temperatura média do ar (0C);
✓ ƴ - Constante psicrométrica (kPa/ºC);
✓ U2 - Velocidade do vento a 2 m de altura (m/s);
✓ es - Pressão de vapor de saturação (kPa);
✓ ea - Pressão de vapor real (kPa);
✓ (es – ea) - Déficit de pressão de vapor (kPa);
✓ Δ - Declividade da curva de pressão de vapor (kPa/ºC);
✓ 900 - Factor de transformação de unidades.

34
O cálculo manual de ETo, pela equação de Panman-Monteith-FAO, envolve
um procedimento longo e tedioso, e o risco de cometer erros aritméticos é
bastante elevado, no entanto, programas computacionais são desenvolvidos
para acelerar os cálculos e torna-los menos entediante para executar. Um
desses programas é o CROPWAT, desenvolvido pela FAO.
O modelo CROPWAT usa dados meteorológicos mensais de temperatura,
humidade relativa, velocidade de vento, precipitação, insolação para o cálculo
da ETo. Através da introdução dos dados da cultura (estágios de crescimento,
coeficientes da cultura, profundidade da zona radicular, e o factor de depleção
de humidade do solo permitido), o programa calcula as necessidades de água
das culturas em cada década (dez dias).
2.2.4. Necessidades líquidas de água de rega
Se ∆W = 0, Dpi = 0 E Ge = 0, a equação do balanço da água no solo pode ser
rescrita:
Peff + NAR – ETc =0  NAR = ETc – Peff onde:
NAR = Necessidades líquidas de água de rega
Por exemplo
Calcule as necessidades líquidas de água de rega para o mês de Setembro
usando o método da FAO para a precipitação efectiva, sendo dado a ETo = 161
mm, Kc = 1.1, Ptot = 108 mm.
Resolução
ETc = ETo x Kc = 161 mm x 1,1 = 177,1 mm
Peff = 0,8 x Ptot – 24 = 0,8 x 108 mm - 24 = 62,4 mm
NAR = ETc – Peff = 177,1 mm – 62,4 mm = 114,7 mm
2.2.5. Eficiência de rega
Refere-se a redução máxima possível das perdas de água que ocorrem a nível
da planta, do campo e dos canais de rega. A eficiência de irrigação varia em
função método ou sistema de irrigação, sendo:
✓ Para métodos de irrigação por superfície: 40 a 60%;
✓ Para métodos de irrigação por aspersão: até 85%;
✓ Para métodos de irrigação localizados: até 95%.
2.2.6. Salinização do solo em relação à água de rega
A acumulação de sais na zona radicular é considerada salinização do solo. a
água de rega, mesmo de boa qualidade, é tida como fonte de sais solúveis no
solo. Os sais contidos na água de rega ficam no solo quando a água é absorvida
pelas plantas ou evapora. como resultado disso, existe uma acumulação
gradual dos sais ano-após-ano.

35
Sais em excesso no solo afectam negativamente o desenvolvimento das
culturas, dentre outros efeitos, reduzem a capacidade de a cultura absorver
água e nutrientes do solo. Para evitar a salinização, os sais adicionados ao
solo devem ser lavados da zona radicular pela água de percolação para as
camadas mais profundas do perfil do solo.
Como foi explicado nas aulas anteriores, o conteúdo de sais no solo é
comumente expresso pela condutividade eléctrica (CE) por causa da forte
relação entre a concentração de sais e a CE.
2.2.6.1. Necessidade de água para a lavagem de sais
é a quantidade mínima de água de rega que deverá percolar para baixo da
zona radicular para manter a salinidade do solo a um dado nível. o nível de
salinidade do solo deve ser aquele que não vai provocar a redução inaceitável
no rendimento da cultura em consideração, no entanto:
CEi
LR = onde:
5 x CEe−CEi
✓ CEi – Condutividade eléctrica de água de rega (dS/m)
✓ CEe – Condutividade eléctrica do estrato do solo (dS/m)
✓ LR - Necessidade de água para a lavagem de sais (mm)
Necessidade de água para a lavagem de sais depende:
✓ Da disponibilidade de água;
✓ Da taxa de acumulação de sais;
✓ Do tipo da cultura (tolerante ou não).
No caso de um sistema de rega com maior frequência de irrigação (irrigação
por gotejamento e microaspersão) usa-se a seguinte equação para o cálculo
das necessidades de água para a lavagem de sais.
CEi
LR = onde:
2 x CEemax
CEemax - Condutividade eléctrica do estrato do solo máxima tolerada pela
cultura (dS/m).
2.2.7. Dotação ou necessidade brutas de água de rega
A dotação ou necessidades brutas e líquidas de água de rega, permitem
calcular a quantidade de água que deverá ser fornecida à cultura para o seu
próprio crescimento e melhor desenvolvimento. No entanto, ao dimensionar
um sistema de rega é necessário ter em conta as seguintes questões:
✓ Qual é a quantidade de água necessária pra a lavagem de sais?
✓ Quais as perdas a tomar em conta no transporte de água através dos
canais abastecedores e as perdas no solo a nível do campo?

36
✓ Quanta água é necessária para a reposição da humidade inicial no solo
ou para o estabelecimento de uma camada inicial de água?
A dotação ou necessidades brutas são maiores que as necessidades líquidas.
Considerando a eficiência de irrigação, dependendo do método, a dotação é
dada por:
NAR NAR AFD AFD
Ig =  Ig = ou Ig =  Ig =
Ea (1−LR)∗Ea Ea (1−LR)∗Ea
Onde:
✓ Ig = Dotação ou necessidades brutas de água de rega (mm/dia);
✓ NAR= Necessidades líquidas de água de rega (mm/dia);
✓ AFD= Água facilmente disponível (mm)
✓ Ea= Eficiência de aplicação;
✓ LR - Necessidade de água para a lavagem de sais (mm
Estas equações são usadas em função da disponibilidade de dados existentes.
Quando os dados disponíveis são referentes as variáveis meteorológicas
(precipitação, temperaturas, ETc, ETo, etc), a dotação é calculada com base
na NAR, mas, quando os dados disponíveis são referentes a condição do
campo (CC, PMP, profundidade radicular, densidade, textura do solo etc.), a
dotação é calculada com base na AFD. A condição dos solos (se são ou não
salinos), poderá também ditar a necessidade de lavagem de sais.
2.2.8. Intervalo de rega
O intervalo de rega, corresponde ao tempo que separa duas irrigações
consecutivas e pode ser calculado da seguinte maneira:
Ig
TR =
ETc
O intervalo de rega é expresso em dias. Ao se determinar o TR, arredonda-se
sempre por défice os valores para um número inteiro.
2.3. FACTORES QUE AFECTAM O DESENVOLVIMENTO DAS CULTURAS
IRRIGADAS
A baixa disponibilidade de água no solo limita a absorção de água pelas
plantas. Como consequência, as plantas entram em stress hídrico e fecham
os estomas para evitar a perda de água por transpiração. Este fecho dos
estomas tem retarda o crescimento e pode conduzir, em condições de stress
hídrico prolongado e severo, ao emurchecimento e morte das plantas.
Outros factores como sejam o elevado teor de sais no solo, baixa fertilidade
dos solos (pobres em nutrientes), presença de horizontes (camadas)
impermeáveis no solo, ausência de controlo de infestantes, pragas e doenças
e uma má gestão do solo limitam o crescimento e desenvolvimento das plantas
reduzindo assim a evapotranspiração.

37
EXERCÍCIOS
O senhor Chaúque preparou 7,5 ha para a produção de feijão, fez estudo do
solo e constatou que há necessidade de lavagem de sais do mesmo, porém, ele
está com dificuldades de determinar dotação total (m3) total de água para
irrigar o seu campo.
Dados do solo,
Dados da estação meteorológica Dados da cultura
água
Mês ETo (mm/dia) P (mm/mês) Fase Duração Kc
Out 4,78 60 I 10 0,5 CEi = 0,8 dS/m
Nov 5,04 90 II 20 CEe = 1,5 dS/m
II 30 1,0 Ea = 80%
Dez 4,60 85
IV 15 0,9
Para resolver problemas como do Sr. Chaúque, o primeiro passo é determinar
os valores de Kc para dada década. Uma década corresponde a dez (10) dias.
∆y 𝑦𝑓− 𝑦𝑖
Y = ax + b, sendo que; a = 
∆x 𝑥𝑓− 𝑥𝑖
Para este exercício, teremos:
∆𝑦1 𝑦𝑓− 𝑦𝑖 1−0,5
a1= = = = 0,025  Y1 = 0,025X +b
∆𝑥1 𝑥𝑓− 𝑥𝑖 30−10
Achados os valores de Kc para cada extremo da década, calcula-se a média
aritmética entre os dois extremos, sendo assim, teremos:
Década (dias) 0-10 10-20 20-30 40 50 60
Kc 0,5 0,67 0,92 1,0 1,0 1,0

∆𝑦2 𝑦𝑓− 𝑦𝑖 0,9−1


a2=
∆𝑥2
= 𝑥𝑓− 𝑥𝑖
= 75−60
= -0,0067  Y2 = -0,0067X +b

Década (dias) 60-70 70-75


Kc 0,97 0,91
Graficamente, através da curva de Kc, é representado da seguinte maneira:

38
A partir da curva de Kc, o passo a seguir é determinar a ETc, Peff (mensal e
média diária), In, Ig, conforme a tabela seguinte:
Mês Outubro Novembro Dezembro
Década I II III I II III I II
ETo(mm/dia) 4,78 5,04 4,6
ETo(mm/dec) 47,8 47,8 52,58 50,4 50,4 50,4 46,0 18,4
Kc 0,5 0,67 0,92 1,0 1,0 1,0 0,97 0,91
ETc(mm/dec) 23,9 32,03 48,37 50,4 50,4 50,4 44,62 16,74
P(mm/mês) 16,0 101,0 139,0
Peff (mm/mês) -0,4 56,8 87,2
Peff (mm/dec) -0,13 -0,13 -0,14 18,9 18,9 18,9 29,1 11,64
NAR (mm) 24,0 32,2 48,51 31,5 31,5 31,5 15,52 5,1
Ig (mm) 21,7 33,4 55,4 49,1 49,1 49,1 42,9 15,6

Pelo software CROPWAT:

Curva de Kc

Determinação das necessidades de água de rega (NAR=Irr. Req.)

39
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO

1. Define evapotranspiração de uma cultra.

2. Explique a relação entre entre a evapotranspiração de referência (ETo),


Evapotranspiração potencial da cultura (ETP).

3. Calcular ETo pelo método Blaney-Cridle para Alto Molocué, mês de Agosto,
sabendo que: Latitude: 15º 38´S, Altitude: 563m e o Temperatura média
no mês de Agosto =20ºC

4. Dados os seguintes valores de duração dos estágios do ciclo de


desenvolvimento da cultura x e os respectivos valores de Kc Inicial, Kc
médio e Kc final, constrói a curva do Kc dessa cultura.

5. Calcule a Evapotranspiração potencial da cultura do milho, 150 dias,


cultivada de Novembro a Março. Consultar a tabela com dados de ETo e
Kc.

7. Sabendo que: Área (A)=3ha; CC = 14%; PMP =6%; Densidade aparente =


1,5 g/cm3; f=0,35; profundidade radicular=0,5; Ea = 0,80; ETp nesse período
= 5,0mm/dia. Calcular:
a) Dotação de rega
b) Intervalo de rega para a cultura da batata no seu estágio de meia
estação
6. O senhor Machava preparou 4,5 ha para a produção de milho, porém, ele
está com dificuldades de determinar dotação total (m3) total de água para
irrigar o seu campo e pede para que o ajude, tendo em conta os seguintes
dados:

Dados da estação meteorológica Dados da cultura Irrigação


ETo P
Mês Fase Duração Kc
(mm/dia) (mm/mês)
Março 3,78 61 I 10 0,5 Ea = 85%
Abril 4,04 77 II 20
II 30 1,0
Maio 3,60 55
IV 15 0,9

40
3
RESULTADO DE APRENDIZAGEM
Demonstrar compreensão
sobre métodos de irrigação e
drenagem
Demonstrar compreensão sobre métodos de irrigação e drenagem
Neste resultado de aprendizagem, os formandos terão oportunidade de aprender
sobre:
a) Métodos de rega mais comuns em Moçambique
✓ Rega por gravidade (sulcos, bacias, faixas);
✓ Rega por aspersão (fixa, semi-fixa, desmontável, móvel e motorizada);
✓ Rega localizada (gota-a-gota, microaspersão);
✓ Rega sub-superficial;
✓ Factores a ter em conta na escolha do método de rega
b) Métodos de drenagem mais comuns em Moçambique
✓ Drenagem superficial (valas de drenagem);
✓ Drenagem subterrânea (tubos perfurados);
✓ Factores a ter em conta na escolha do método de drenagem.

41
3.1. MÉTODOS E SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO
A utilização da irrigação nas culturas deve basear-se na viabilidade técnica e
econômica do projecto de irrigação bem como nos benefícios sociais advindos
com sua aplicação. Não existe, como regra geral, um sistema de irrigação mais
adequado do que outro, uma vez que cada sistema apresenta características
próprias, com custos variáveis, vantagens e desvantagens, adequando-se
diferentemente às condições locais e da cultura.
Sistemas de irrigação é um conjunto de técnicas que visa distribuir água às
plantas cultivadas em quantidades adequadas para promover um
desenvolvimento vegetal adequado, com um mínimo de consumo de água.
Basicamente, um projecto de irrigação é composto por dois sistemas:
✓ Sistema de irrigação;
✓ Sistema de drenagem, quando necessário.
O sistema de irrigação é o conjunto de equipamentos, acessórios, formas de
operação e maneio, e que de forma organizada, foram projectados para irrigar
as culturas. O Sistema de irrigação é composto essencialmente pelos seguintes
subsistemas:
a) Subsistema de captação: A captação de água pode ser feita de duas
maneiras:
✓ Captação por bombeamento: quando a fonte de água se encontra em
cota inferior a área a ser irrigada (rios, nascentes, reservatórios, poços,
etc);
✓ Captação pode ser por gravidade: Quando a cota do nível da água se
encontra acima do terreno a ser irrigado. Essa tomada é muito comum
em reservatórios ou tanques de elevação.
b) Subsistema de condução: Compreende o conjunto de estruturas
hidráulicas responsável pela condução e distribuição da água em toda a
área a ser irrigada.
c) Subsistema de aplicação: Compreende a forma pela qual a água é
aplicada no solo e é dependente dos diferentes métodos de aplicação, uma
vez que cada método tem sua especificidade de aplicação.
Sistema de drenagem, por sua vez, é o responsável pela eliminação dos
excessos inevitáveis de água de irrigação e precipitação. Os métodos de
irrigação por aspersão e localizados, salvo em situações especiais, dispensam
o sistema de drenagem, devido às altas eficiências de aplicação que possuem,
pois permitem maiores condições para incorporar ao solo a quantidade de
água necessária, com pouca perda, desde que o maneio se processe de
maneira eficiente.

42
O método de irrigação pode ser definido como sendo a forma pela qual a água
é aplicada no solo, visando proporcionar a humidade adequada ao
desenvolvimento normal das plantas nele cultivado, a fim de suprir a falta ou
a má distribuição das chuvas. Os métodos de irrigação são divididos em
quatro (4) grupos:
✓ Método de irrigação por gravidade ou superfície;
✓ Método de irrigação por aspersão;
✓ Método de irrigação localizada;
✓ Método de irrigação por subirrigação ou subsuperfície.
3.1.1. Método de irrigação por gravidade ou superfície
O método de irrigação por gravidade compreende os sistemas de irrigação nos
quais a condução da água do sistema de distribuição é feita por gravidade e
directamente sobre a superfície do solo até qualquer ponto de infiltração,
dentro da parcela a ser irrigada. Dentre vários sistemas de irrigação por
gravidade destacam-se:
✓ A irrigação por sulcos;
✓ Por inundação;
✓ irrigação em faixas.
3.1.1.1. Sistema de irrigação por sulcos
A irrigação por sulcos consiste na aplicação de água em pequenos canais,
sulcos ou corrugações. A água aplicada nos sulcos infiltra ao longo do seu
perímetro molhado e se movimenta vertical e lateralmente, humedecendo o
perfil do solo

Figura 7: Sistema de irrigação por sulcos


Factores a ter em conta na irrigação por sulcos:
a) A forma e tamanho dos sulcos
A forma geométrica do sulco é importante, principalmente quanto à
capacidade da seção transversal em conduzir água na quantidade suficiente
e a distribuir uniformemente. A forma mais comum é em V com profundidade
de 15 a 20 cm e largura superior de 25 a 30 cm;

43
b) Infiltração da água
A textura do solo e a maneira como a água é aplicada, exercem muita
influência no perfil de infiltração;
c) Espaçamento entre sulcos
O espaçamento a ser adotado entre os sulcos vai depender de algumas
características, tais como o tipo de solo, tratos culturais e espaçamento
adequado para a cultura. O espaçamento entre sulcos em um solo argiloso
poderá ser maior que no arenoso.
Quanto aos tratos culturais mecanizados, é importante que os espaçamentos
entre sulcos sejam compatíveis com as máquinas que serão utilizadas para
que não ocorra destruição deles.
Com referência ao espaçamento da cultura, tanto quanto possível, pode-se
proceder à ligeiras modificações para que os dois outros fatores (tipo de solo e
tratos culturais) se ajustem melhor.
d) Declividade e vazão
A declividade a ser adotada deverá ser aquela que não cause erosão aos sulcos
quando eles estão em operação. A declividade óptima oscila entre 0,5 e 2,0%
e é definida no momento da execução do projecto de sistematização do terreno
onde será implantado o projeto de irrigação por sulcos.
A determinação da vazão máxima não erosiva a ser aplicada aos sulcos,
rigorosamente deve ser feita por meio de ensaio no campo. Quando não houver
condições de se proceder aos ensaios, pode-se estimar empiricamente essa
vazão por meio da Equação seguinte:
C
Qmax = a em que:
S
✓ Qmax = Vazão máxima não erosiva (L/s);
✓ S = declividade dos sulcos (%);
✓ C e a = Coeficientes empíricos que dependem do tipo de solo.
Tabela 10: Valores dos coeficientes C e a, em função da textura do solo
Textura C a
Muito fina 0,892 0,937
Fina 0,988 0,550
Media 0,613 0,733
Grossa 0,644 0,704
Muito grossa 0,665 0,548
Na prática, normalmente são utilizadas duas vazões durante a irrigação por
sulcos, sendo uma inicial, que é máxima não erosiva, e uma final, que eqüivale
à 50% da inicial. Esse procedimento é fundamental para que as perdas por
percolação e por escoamento superficial, inerentes a esse sistema de irrigação,
se situem em limites aceitáveis.

44
e) Comprimento dos sulcos
O comprimento dos sulcos é dependente dos seguintes factores: Geometria da
área, Tipo de solo, Declividade do sulco e Vazão aplicada aos sulcos. No geral,
os sulcos são abastecidos por meio de sifões, que são tubos curvos de plástico
comum ou de polietileno, que derivam água do canal abastecedor para os
sulcos.

Figura 8: Abastecimento de água nos sulcos por meio de sifões.


3.1.1.2. Sistema de irrigação por inundação
A irrigação por inundação, como o próprio nome diz, consiste na aplicação de
água em uma cultura de forma a alagar a área de cultivo, exigindo a sua
adequação em bacias ou tabuleiros. De maneira geral, esse método é
empregado na irrigação da cultura do arroz. O método caracteriza-se na
manutenção de uma lâmina de água sobre a superfície do solo.

Figura 9: Sistema de irrigação por inundação


A área a ser irrigada é dividida em subáreas denominadas tabuleiros ou
bacias, que são separados por diques, cuja finalidade é a retenção da água
sobre a superfície do solo. As bacias ou tabuleiros recebem uma lâmina de
água, que fica retida no seu interior e disponível para infiltração. Os solos
mais indicados para este tipo de irrigação são os de textura argilosa, devido a
sua alta capacidade de armazenar água.
O tabuleiro ou bacia de inundação é construído a partir de uma área nivelada
em todas as direções, onde são levantados nos seus limites diques (paralelos
ou em nível), de forma a armazenar a água no seu interior, criando uma área
inundada, e impedindo que ocorram perdas por escoamento superficial.

45
A irrigação por inundação é o método mais recomendado para proporcionar a
lixiviação de solos afetados por sais, não sendo necessário dimensionar a
aplicação de lâminas adicionais para ocorrer escoamento superficial ou
drenagem, como em outros sistemas de irrigação.
Entretanto, é preciso incluir no projecto do sistema estruturas de drenagem
ou colecta da área em função principalmente das chuvas ou de um possível
erro no manejo da lâmina de irrigação.
Os principais factores que podem afectar a uniformidade da irrigação por
inundação são:
a) Vazão de projecto
A vazão deve ser suficiente para encher rapidamente os tabuleiros,
proporcionando boa uniformidade na lâmina de irrigação, evitando uma
diferença significativa nas lâminas de água infiltrada no inicio e no final do
tabuleiro.
b) Tamanho e forma dos tabuleiros
O tamanho e forma dos diques que irão formar os tabuleiros dependem da
altura da lâmina de água que será mantida dentro dos tabuleiros, textura do
solo, do seu assentamento e do tipo e intensidade do trafego sobre os diques.
A área do tabuleiro deve ser projetada em função do valor da vazão, da
declividade do terreno e capacidade de infiltração do solo.
Quanto mais impermeável for o subsolo, maiores poderão ser os tabuleiros. O
tamanho dos tabuleiros pode variar de 1 m2 para hortaliças e pomares, até
áreas maiores que 5 ha, usados na irrigação de arroz e outros tipos de cereais
plantados em solos planos e argilosos.
c) Sistematização ou nivelamento da área
A área a ser irrigada deve ser sistematizada (nivelada) procurando compensar
a movimentação de terra nos cortes e aterros e evitando-se a exposição do
subsolo infértil. Recomenda-se a utilização desse tipo de irrigação para
terrenos planos ou levemente declivosos com declividades entre 0,1 a 2%.
Áreas com declividades abaixo deste limite podem tornar a drenagem longa e
difícil, e áreas com declividades acima, pode determinar tabuleiros com
dimensões pequenas que podem prejudicar os trabalhos culturais.
Os diques podem ser classificados como permanentes ou temporários:
✓ Temporários: Construídos para durar somente uma safra ou ciclo da
cultura e usados para culturas de ciclo curto, não precisam apresentar
acabamento final;
✓ Permanentes: São mais largos e mais bem-acabados, usados em
pastagens, arroz, etc.

46
3.1.1.3. Sistema de irrigação em faixas
A aplicação de água é feita através de faixas. Esse sistema se adapta às
culturas cultivadas com pequeno espaçamento entre plantas (arroz, trigo,
pastagens).

Figura 10: Sistema de irrigação em faixas


Os principais factores a ter em conta na irrigação em faixas são:
a) Declividade: A declividade da faixa está diretamente relacionada com o
tipo de solo e a velocidade de escoamento da água. As mesmas
considerações realizadas sobre a irrigação por sulcos valem para a irrigação
por faixas.
b) Comprimento da faixa: O comprimento da faixa deve ser inversamente
proporcional à capacidade de infiltração do solo. Quanto menor a
capacidade de infiltração maior deve ser o comprimento. O comprimento
da faixa varia entre 50 e 400 m.
3.1.1.4. Vantagens e desvantagens de irrigação por superfície
As principais vantagens da irrigação por superfície são:
✓ Permite um menor custo unitário e uma boa simplicidade operacional;
✓ Não há a necessidade de equipamentos de alta tecnologia, pois, o
sistema funciona bem com equipamentos simples;
✓ Não sofrem efeitos do vento;
✓ Menor consumo de energia;
✓ Permite a utilização de água com sólidos em suspensão.
As principais desvantagens da irrigação por superfície são:
✓ Em áreas com declividades acentuadas e preciso a sistematização ou
regularização do terreno, tornando-se mais trabalhoso;
✓ Seu dimensionamento e complexo, pois requer ensaios de campo e
avaliações permanentes;
✓ O método apresenta uma baixa eficiência de distribuição de água
durante a aplicação.

47
3.1.2. Método de irrigação por aspersão
Consiste na aplicação de água na superfície do solo a semelhança de uma
chuva devido ao fracionamento de um jato de água em gotas menores lançado
no ar atmosférico sob pressão por meio de pequenos orifícios ou bocais
chamados aspersores. Os principais sistemas por aspersão são os do tipo
convencional e mecanizados (pivô central, autopropelido e deslocamento
linear).
3.1.2.1. Sistemas de irrigação por aspersão convencionais
A aspersão convencional consiste na aplicação de água através de aspersores
conectados as linhas laterais (tubulação que conduz a água até o aspersor)
que por sua vez recebe água da linha de derivação (tubulação que conduz a
água até as linhas laterais). Os sistemas de irrigação por aspersão
convencionais podem ser apresentados em diferentes tipos:
a) Sistemas convencionais portáteis ou móveis
São aqueles constituídos de tubulações portáteis montadas na superfície do
terreno, permitindo que todas as linhas e componentes deslocam-se em
diversas posições na área irrigada. Existe uma desvantagem no que diz
respeito ao custo operacional, pois é maior devido a quantidade de mão de
obra requerida no deslocamento das tubulações.
b) Sistemas convencionais semi-portáteis ou semi-móveis
São aqueles em que apenas as linhas laterais se deslocam nas diferentes
posições da área irrigada. As linhas principais e secundarias podem ser
enterradas ou ficar sobre a superfície do terreno. Tem a vantagem de menor
investimento de capital, contudo, exigem mais mão-de-obra no maneio e
operação.

Figura 11: Sistema convencionais portáteis.


c) Sistemas convencionais fixos permanentes
São aqueles em que as linhas principais, secundarias e laterais são enterradas
e sufi cientes para cobrir toda a área. Esse sistema e muito utilizado em áreas
de tamanho pequeno, pois apresenta alto custo de aquisição inicial por
unidade de área, justificando-se o seu uso apenas para irrigação de áreas com
culturas de elevado valor económico e mão-de-obra escassa ou cara.

48
Figura 12: Sistema convencionais fixos ou permanentes.
3.1.2.2. Sistemas de irrigação por aspersão mecanizada
Os sistemas de irrigação por aspersão mecanizada além do movimento de
rotação deslocam-se ao longo do terreno, efetuando a irrigação. Esses
sistemas possuem um mecanismo de propulsão que permite a sua
movimentação enquanto aplica água no terreno. Actualmente, existem
diversos tipos de sistemas mecanizados, sendo os principais tipos de sistemas:
a) Sistema autopropelido
O autopropelido é um aspersor do tipo canhão, montado sobre um carrinho
de rodas. É rebocado por um tractor, a uma determinada distância, e depois
recolhido por meio de um carretel enrolador acionado por um mecanismo
hidráulico. Ele irriga uma faixa de terra longa e estreita. Seu deslocamento se
dá através da movimentação hidráulica de um carretel.

Figura 13: Sistema autopropelido


b) Sistema lateral rolante
Outro sistema com movimento linear e com movimentação mecânica é a
lateral rolante, onde a tubulação de distribuição (linhas laterais) opera com o
eixo de rodas metálicas com diâmetros variando de 1,20 a 2,40m. A
movimentação da linha, quando a irrigação está desligada, é realizada por um
carro propulsor posicionado no centro ou na lateral da linha que desloca todo
o equipamento por meio de engrenagens e corrente acionadas por um motor
a combustão interna, geralmente a gasolina com menos de 10 CV.

49
Figura 14: Sistema lateral rolante
c) Sistema de irrigação por pivô central
É um sistema que possui movimentação circular, constituído em geral de uma
linha com vários aspersores, com tubos de aço conectados entre si, montados
em torres doptadas de rodas. Um pequeno motor eléctrico, colocado em cada
torre, permite o acionamento independente dessas.

Figura 15: Sistema de irrigação por pivô central


A água vem de um ponto de captação através de uma adutora enterrada, que
abastece a tubulação suspensa. A velocidade de deslocamento de cada torre e
do avanço da linha de distribuição é determinada pela velocidade da torre
externa que é regulada por uma central de controlo (caixa) que fica junto a
base do pivô. O deslocamento do pivô inicia-se na última torre, que propaga
uma reação em cadeia, a começar da penúltima torre até a primeira.
3.1.2.3. Componentes de um sistema de irrigação por aspersão
Um sistema de irrigação por aspersão geralmente é constituído de
componentes importantes para o fornecimento de água (aspersores,
acessórios, tubulações e conjunto motobomba).
a) Aspersores
São as peças principais do sistema, tem o objectivo de distribuir a água no
terreno na forma de chuva. Na maioria dos sistemas de irrigação por aspersão
são utilizados os aspersores rotativos. Estes aspersores podem ser de giro
completo (360o) ou do tipo sectorial.

50
Figura 16: Aspersor de giro completo (a), do tipo sectorial (b), de um bocal (c)
e de dois bocais (d).
Os aspersores disponíveis no mercado se classificam em quatro grupos,
segundo a pressão de serviço:
✓ Aspersores de pressão de serviço muito baixa: São aqueles que
possuem faixa de pressão variando entre 4 e 10 mca. Possuem pequeno
raio de alcance e são em geral estacionários (ex: aspersores de jardim).
✓ Aspersores de pressão de serviço baixa: São aqueles que possuem
faixa de pressão entre 10 e 20 mca. Possuem raio de alcance de 6 a 12
m e são em geral rotativos (ex: aspersores de subcopa de pomar).
✓ Aspersores de pressão de serviço média: São aqueles que possuem
faixa de pressão entre 20 e 40 mca. Possuem raio de alcance entre 12 e
36 m. Esse tipo e o mais utilizado pelo facto de se adaptarem a um
número maior de solos e culturas. Estes aspersores possuem um ou
dois bocais.
✓ Aspersores de pressão de serviço alta: Estes aspersores são
conhecidos como gigantes ou canhões hidráulicos. Possuem faixa de
pressão entre 40 e 80 mca e longo alcance (30 e 80 m), são usados
principalmente na irrigação de cana-de-açúcar e pastagens.
b) Tubulações
As tubulações têm uma importância fundamental, pois através delas e que a
água é conduzida até os aspersores. Podem ser confeccionados de diferentes
matérias, podendo ser de alumínio, aço zincado ou galvanizado ou PVC rígido,
com comprimento padrão de 6 metros e diâmetro variando entre 2” a 8”.

Figura 17: Tubulações e acessórios

51
c) Acessórios
Os acessórios mais comuns são o acoplamento rápido aspersor, o adaptador
fémea, o adaptador macho, o cap macho, a curva 45°, a curva 90o, a derivação
de rosca, a derivação de saída fémea, o registro esfera soldável, o registro
esfera roscável, a curva de derivação, a junta borracha vedação, entre outros.

Figura 18: Principais tipos de acessórios

52
d) Conjunto Motobomba
O conjunto motobomba tem a finalidade de captar a água na fonte e conduzi-
la pelas tubulações até os aspersores. As mais utilizadas nos projectos de
irrigação são as do tipo centrifuga.

Figura 19: Conjunto Motobomba


3.1.2.4. Vantagens e desvantagens dos sistemas de irrigação por aspersão
Os sistemas de irrigação por aspersão têm as seguintes vantagens:
✓ Não necessita o nivelamento do solo, ou seja, adapta-se muito bem em
terrenos com declividades;
✓ Permite um bom controlo da lâmina de água a ser aplicada;
✓ Possibilita a automatização, podendo o produtor obter economia de
mão-de-obra;
✓ Possibilita a economia de água (maior eficiência), desde que seja bem
dimensionado o sistema;
✓ Permite o uso da quimigação (a aplicação de produtos e tratamentos
fitossanitários via água de irrigação);
✓ Reduzidas perdas de água por evaporação ou percolação profunda, isso
devido a condução de égua ser feita por tubo fechado;
✓ Permite que a tubulação seja enterrada, tendo assim uma maior área
disponível para a cultura;
✓ Permite que a irrigação seja feita durante o período noturno, evitando
assim o horário de pico de utilização de energia eléctrica.
Quanto as desvantagens, o sistema de irrigação por aspersão, pode
apresentar:
✓ Elevados custos iniciais de operação e manutenção;
✓ O vento afecta a uniformidade de distribuição de água dos aspersores;
✓ Pelo facto de molhar as folhas das plantas, favorece o desenvolvimento
de algumas doenças;
✓ Os constantes impactos das gotas de água no solo podem provocar
compactação e erosão do solo;
✓ A frequência do contacto das gotas de água no período da floração e
frutificação em algumas culturas poderá causar prejuízos a fixação de

53
botões florais ou mesmo de frutos novos, interferindo assim na
produtividade;
✓ É muito trabalhosa a actividade de transporte das tubulações portáteis
e acessórios dos sistemas convencionais.
3.1.3. Método de irrigação localizada
No método de irrigação localizada a água é, em geral, aplicada em apenas uma
fracção do solo próximo ao sistema radicular das plantas. Este método baseia-
se principalmente no princípio da distribuição localizada da água, ou seja, ao
invés de se irrigar toda área como os outros métodos de irrigação, a água é
aplicada somente próxima a região radicular das plantas, permitindo um
melhor aproveitamento de água. Os principais sistemas de irrigação localizada
são o gotejamento, a microaspersão e o gotejamento subsuperficial.
3.1.3.1. Sistema de irrigação por gotejamento ou gota-à-gota
A irrigação por gotejamento caracteriza-se por aplicar pequenos volumes de
água, na forma de gotas, com alta frequência (reduzido intervalo entre
irrigações ou turno de rega), nas áreas localizadas na zona radicular das
plantas, molhando uma fração da superfície do solo, reduzindo as perdas e
apresentando maiores valores de eficiência de aplicação quando comparada
aos sistemas de aspersão e superfície.
Essa forma de aplicação de água determina uma distribuição de água no solo,
abaixo do ponto de aplicação, na forma de um bulbo molhado onde somente
uma pequena área saturada fica exposta na superfície do solo. Quanto à forma
de conecção, os gotejadores são classificados em três tipos básicos: inserção
externa (online), inserção interna (integrated) ou inserção interligada (inline).
a) Gotejadores de inserção externa
Os gotejadores são instalados na
parte externa da tubulação da linha
lateral de irrigação. Esse tipo de
acoplamento permite definir o
espaçamento entre emissores no
momento da instalação, que pode ser
feito em distâncias iguais ou com os
gotejadores agrupados, dependendo
das características da cultura ou tipo Figura 20: Gotejadores de inserção
de distribuição espacial desejada. externa
b) Gotejadores de inserção interna
Os emissores são instalados e integrados na parte interna da tubulação
durante o processo de fabricação e espaçados em distâncias prédeterminadas
A sua posição no interior do tubo dificulta a sua troca, no caso de
entupimento, necessitando o corte da tubulação.

54
Existe no mercado uma diversidade enorme de diâmetros de tubos,
espessuras de parede, espaçamento e tipos de emissores internos para
atender diferentes demandas, desde pequenas áreas para agricultura familiar
até grandes áreas de frutíferas.
Os gotejadores instalados
internamente e
autocompensados produzem
maior perda de pressão do que os
gotejadores internos
convencionais e, embora,
garantam melhor uniformidade
na distribuição de água, podem
aumentar o custo de aquisição e Figura 21: Gotejadores de inserção
o custo do bombeamento. interna
c) Gotejadores de inserção interligada
E emissor é instalado durante o
processo de fabricação entre dois
trechos de tubos em uma lateral de
irrigação, e também espaçados em
distâncias pré-determinadas (Figura
153). A troca desses emissores é mais
difícil e demanda mais mão de obra,
sendo que atualmente houve uma
diminuição na produção desse tipo de
emissores, pela baixa aceitação dos Figura 22: Gotejadores de inserção
produtores. interligada

3.1.3.2. Sistema de irrigação por microaspersão


Esse sistema caracteriza-se pela aplicação da água e de produtos químicos,
numa fração do volume de solo explorado pelas raízes das plantas, de forma
circular ou em faixa contínua, realizada por microaspersores, que são
aspersores de pequenas dimensões. Nesses sistemas, as pressões variam
geralmente de 100 a 300 kPa, e as vazões de 30 a 200 L/h. Na irrigação por
microaspersão, os emissores operam em pequenos jatos que são lançados ao
ar, percorrendo uma pequena distância antes de atingir o solo.
A seleção do emissor mais adequado para um projecto de irrigação deve levar
em consideração alguns factores que determinam a sua adequação para as
condições apresentadas pela propriedade, dentre eles é possível citar: Cultura
a ser irrigada e demanda de água no seu ciclo, tipo de solo, disponibilidade de
água (quantidade e qualidade), relevo da propriedade e condições de vento.

55
Nesse sistema de irrigação, as dimensões do bulbo molhado dependem, quase
que exclusivamente, do alcance do jato, do perfil de distribuição da
intensidade de aplicação ao longo do raio do emissor, e do volume de água
aplicado pela irrigação. Portanto, o padrão de humedecimento do solo é
determinado pelo modelo de microaspersor utilizado. Os emissores utilizados
na microaspersão podem ser classificados em:
a) Microaspersor rotativo ou somente microaspersor
Quando o emissor possui um sistema
rotativo de dispersão do jato (parte
móvel), chamado de bailarina, que
auxilia a distribuição do jato na área
de aplicação. O movimento dos
microaspersores é produzido
principalmente pelo mecanismo de
reação causado pela passagem da
água no corpo da bailarina. Figura 23: Microaspersor rotativo
b) Microaspersor estacionário ou spray ou microspray
Este emissor não possui parte móvel
para dispersão do jato, apresentando
placa defletora (lisa ou ranhurada)
responsável pelo espalhamento do
jato na forma definida pelo tipo de
placa utilizada. Os sprays não
possuem movimento de rotação, mas
funcionam de forma similar aos
rotativos. Apresentam a vantagem de
permitir o uso em áreas com relevo Figura 24: Microspray ou
irregular. microaspersor estacionário.

3.1.3.3. Sistema de irrigação por borbulhamento


Na irrigação por borbulhamento (bubbler ou xerigation) a água é aplicada
localizadamente na superfície do solo na forma de uma fonte borbulhante, a
partir de um emissor, na forma de guarda-chuva, ou escoando por um tubo
de pequeno diâmetro em torno de 1 a 10 mm.
Os emissores borbulhantes assemelham-se aos emissores de pequeno orifício
usados em gotejamento, mas com maiores vazões. Nesses sistemas
geralmente a intensidade de aplicação é superior à velocidade de infiltração
do solo, requerendo a construção de pequenas bacias ou coroamento no pé da
planta para armazenar e controlar a distribuição de água no solo.

56
Figura 25: Irrigação por borbulhamento
3.1.3.4. Sistema de irrigação por exsudação
A irrigação por exsudação é um sistema de irrigação localizada que utiliza uma
tubulação porosa para exsudar ou transpirar a água pelos seus poros, sendo
distribuída de forma linear ao longo de seu comprimento e na totalidade da
superfície do solo em contacto com ela. A água exsudada produz uma faixa
humedecida de solo que é contínua ao longo das linhas de irrigação.

Figura 26: Irrigação por exsudação.


3.1.4. Componentes do método de irrigação localizada
Os principais componentes de um sistema de irrigação localizada são: Cabeça
de controlo, emissores, linhas laterais, ramais, sistemas de filtragem,
automação, válvulas de segurança, fertirrigação e bombeamento. Alguns
desses componentes foram descritos anteriormente, no sistema de irrigação
por aspersão.
a) Cabeçal de controlo
É o local onde encontramos um conjunto de elementos que permitem no
sistema de irrigação a filtragem da água, medição, controlo de pressão e
aplicação de fertilizantes. Como a uniformidade de distribuição de água das
linhas laterais depende da pressão de entrada nessas tubulações e da
qualidade de água utilizada, os sistemas de irrigação localizada requerem a
existência de uma unidade central de controlo e tratamento da água.
Dessa forma, é preciso que a linha de recalque passe pelo cabeçal de controlo,
definido como uma estrutura composta por acessórios e dispositivos que vão

57
viabilizar o controlo da irrigação, a melhoria na qualidade da água (filtragem),
o uso da quimigação ou fertirrigação, e a regulagem e balanceamento da
pressão e vazão a ser distribuída dos sectores irrigados.
O cabeçal situa-se após a motobomba, ou seja, no início da linha principal,
sendo constituído das seguintes partes:
✓ Medidores de vazão;
✓ Filtros de areia e tela ou disco;
✓ Injetor de fertilizantes;
✓ Válvula de controlo de pressão;
✓ Registros e manômetros.

Figura 27: Cabeçal de controlo


b) Emissores
Os emissores utilizados neste tipo de sistema podem ser gotejadores ou
microaspersores, como foi apresentado no destaque anterior. Os gotejadores
podem ser do tipo on line (em linha), que compreendem os gotejadores que são
acoplados a tubulação de polietileno após perfuração da mesma.
Os gotejadores in line são emissores que já vem inseridos na tubulação de
polietileno. Já os microaspersores são emissores que, como o próprio nome
indica, funcionam como aspersores de porte reduzido, ou seja, são miniaturas
de aspersores.
c) Sistemas de filtragem
Na irrigação localizada é fundamental a utilização de filtros antes que a água
entre nas linhas dos emissores para evitar entupimentos e consequentemente,
a má uniformidade na distribuição da água ao longo da linha lateral.
No mercado existem diferentes tipos de filtros. Vejamos alguns deles:

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✓ Filtros de tela: A tela pode ser de tela (plástico ou inox). Os tamanhos
vão desde pequenos filtros plásticos de ¾ polegadas até filtros metálicos
automáticos de grande porte. A limpeza dos filtros pode ser manual ou
automática. Essa prática é de fundamental importância, pois, garante
a eficiência do mesmo. Toda vez que a diferença entre a pressão de
entrada e a pressão de saída superar um valor predeterminado, será o
momento de limpeza.
✓ Filtros de disco: São constituídos de discos empilhados nos quais a
água e forcada a passar entre eles.
✓ Filtros de areia: São filtros em que a água passa por uma camada de
areia que retém a sujeira. Esses filtros são geralmente instalados antes
do cabecal de controlo, antes dos filtros de tela e disco, pois a sua
principal função é uma pré-filtragem. Lembramos que para um maior
sucesso na filtragem os filtros devem ser usados em conjunto.

Figura 28: Filtros de tela (a), Filtros de disco (b) e Filtros de areia (c).
3.1.5. Vantagens e desvantagens do sistema de irrigação localizada
O sistema de irrigação localizada, tem como vantagens seguintes:
✓ Permite economia de água, pois irriga apenas a área ao redor da planta;
✓ Permite a realização dos tratos culturais, até mesmo o movimento de
maquinas e implementos sem retirar o sistema;
✓ Permite a aplicação de produtos químicos (fertilizantes, inseticidas,
fungicidas) via água de irrigação;
✓ Diminui a incidência de doenças nas plantas pelo facto de não molhar
a parte aérea;
✓ Não precisa de conjunto de motobombas de alta potência, pois o sistema
opera em baixas pressões e vazões;
✓ Curtos períodos de operação, reduz a energia elétrica e permite a
automação;

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✓ Limita o desenvolvimento e a disseminação de ervas daninhas, pelo
facto de molhar apenas uma parcela do solo.
Quanto as desvantagens do sistema de irrigação localizada, destacam-se as
seguintes:
✓ Um elevado custo inicial quando comparado a outros sistemas;
✓ É um sistema que necessita constantemente de manutenção devido a
problemas de entupimento nos emissores;
✓ O sistema radicular da planta pode apresentar limitação no crescimento
devido ao facto das raízes tenderem a se desenvolver somente na região
do bulbo molhado, próximo ao emissor, ao longo de cada linha lateral.
3.1.4. Método de Irrigação de subsuperfície
A irrigação de subsuperfície também chamada de irrigação subterrânea
caracteriza-se pela aplicação da água directamente ou abaixo do sistema
radicular das culturas. O processo de capilaridade ou de ascensão capilar da
água nos solos ou substratos, responsável pela sua elevação contra a acção
da gravidade é o princípio básico de operação desse método, que pode ser
tanto aplicado em condições de campo como de cultivos protegidos (estufas).
Quando o cultivo é feito em campo, essa aplicação dever ser realizada no
volume de solo abaixo da superfície do solo, controlando artificialmente o
bulbo molhado ou zona de saturação e mantendo-o a uma profundidade ideal
para que a água suba até as raízes da cultura por capilaridade.
O emprego da irrigação de subsuperfície em cultivos realizados em estufas ou
ambientes protegidos, também chamada de subirrigação requer o controlo da
irrigação de forma a colocar as raízes ou o meio crescimento (substrato) em
contacto directo com a solução nutritiva.
Os principais sistemas de irrigação subsuperfície são: Sistema de
subsuperfície por gotejamento subterrâneo, Sistema de subsuperfície por
elevação do lençol freático e Sistemas de subirrigação em ambiente protegido.
3.1.4.1. Sistema de subsuperfície por gotejamento subterrâneo
Na irrigação por gotejamento subterrâneo, a água é aplicada por emissores
que estão enterrados e localizados diretamente ou abaixo da zona radicular.
Nesse tipo de sistema de irrigação, a água é aplicada com maior frequência
que nos outros métodos, buscando repor diariamente a água perdida por
evapotranspiração. O movimento e a redistribuição de água no perfil do solo
ocorrem basicamente pelo diferencial do potencial total, onde os componentes
mais significativos são o potencial matricial ou capilar, que tem a mesma
magnitude em todas as direções do perfil do solo e o potencial gravitacional,
que direcionada a água para baixo.

60
O princípio da irrigação de subsuperfície é que, mediante a aplicação
frequente de pequenos volumes de água, o potencial matricial, que é maior
quanto mais seco estiver o solo, prevaleça sobre o gravitacional, fazendo
assim, que a água se movimente mais no sentido horizontal, criando um bulbo
molhado ou volume humedecido com dimensões suficientes para atingir a
zona radicular da cultura.

Figura 29: Sistema de subsuperfície por gotejamento subterrâneo


A profundidade de instalação das tubulações pode variar de 15 a 60 cm,
dependendo da cultura e do solo. Plantas com sistema radicular raso (menos
profundo), como hortaliças, podem requerer uma profundidade menor que 10
cm.
Solos mais arenosos possuem baixa ascensão capilar, resultando em bulbos
desuniformes e com pouca expansão horizontal e no sentido da superfície do
solo. Esse comportamento pode dificultar o processo de germinação das
culturas, necessitando profundidades de instalação mais rasas e com
espaçamentos menores, podendo necessitar, às vezes, da complementação da
irrigação por aspersão nessa fase do ciclo. Em solos mais argilosos, a água
ascende com maior facilidade e se distribui melhor horizontalmente,
permitindo que as linhas sejam instaladas mais profundamente e espaçadas.
Essa instalação mais profunda ajuda a prevenir o ataque de roedores e
aumenta os benefícios das técnicas de plantio.
Para se atingir um teor de água uniforme ao longo de toda área irrigada pelas
linhas enterradas é necessário que a profundidade de instalação dos
gotejadores seja constante, com a saída de água do gotejador voltada
preferencialmente para a parte de cima da tubulação.
3.1.4.2. Sistema de subsuperfície por elevação do lençol freático
Nesse sistema, o nível do lençol freático da área de cultivo é controlado a uma
profundidade abaixo da zona radicular das culturas, permitindo que a água
ascenda para as raízes por capilaridade. Essa técnica de irrigação é viável em
áreas de produção agrícola com um lençol freático alto, devido geralmente à
presença de uma camada impermeável rasa.

61
Figura 30: Sistema de subsuperfície por elevação do lençol freático
A operação desses sistemas acontece de duas formas distintas:
a) Nos períodos de seca ou com baixa precipitação: Quando não há água
disponível nos canais, é necessário bombear água para dentro do canal de
controlo, que irá escoar por gravidade até encontrar a comporta de saída. A
água armazenada nesse canal irá infiltrar no perfil do solo, elevando o nível
do lençol freático da área de cultivo. A manutenção do nível da água no canal
de drenagem pela ação das comportas determina a elevação da água por
capilaridade até uma profundidade considerada ideal para a cultura, evitando
a saturação do sistema radicular.
b) Durante os períodos de maiores precipitações: Este sistema funciona
como um sistema de drenagem, retirando o excesso de água do campo por
meio de canais, com saída para um sistema drenagem principal ou canal
aberto. A utilização de uma comporta na saída do canal de drenagem permite
regular a vazão de drenagem, possibilitando que o sistema funcione como um
sistema de drenagem controlado, mantendo o nível freático a profundidade
desejada.
A operação desse sistema ao longo do ciclo da cultura oscila normalmente
entre a drenagem controlada e a subirrigação, em função do regime
pluviométrico da região. Dessa forma, o sistema exige um monitoramento
intensivo para o seu funcionamento eficaz. Como o nível freático deve ser
estabelecido e mantido em uma baixa profundidade, recomenda-se a
utilização do sistema de subirrigação em terras relativamente planas,
geralmente em planícies e vales aluviais, associados a sistemas de drenagem.
A propriedade agrícola necessita ter alta disponibilidade de água e o perfil do
solo deve contar com a presença de camadas uniformes de solo impermeável
ou de lençóis freáticos permanentemente rasos.
A água aplicada a altas intensidades pelas linhas de gotejamento enterradas
se infiltra rapidamente atingindo e elevando o lençol freático um pouco acima
do limite inferior da zona radicular da cultura. Esse tipo de aplicação gera um
lençol freático temporariamente elevado que drena lentamente com o tempo.

62
O sistema de aplicação de água por gotejamento na subirrigação apresenta
algumas vantagens no controle do lençol freático como, a maior uniformidade
de distribuição de água e requerimentos reduzidos de água para irrigação. A
uniformidade é maior porque a água é distribuída por tubulações laterais com
vazões controladas pela operação hidráulica do sistema. Adicionalmente,
existe uma redução na demanda de água devido a sua aplicação localizada
diretamente nos canteiros, sendo uma parte da água fornecida pelo lençol
freático e também pela redução do escoamento superficial.
Esse sistema de irrigação subsuperficial é indicado no cultivo de plantas de
elevado valor econômico, que requer elevada umidade no solo, assim como,
para algumas espécies hortícolas e frutíferas. Os estudos recentes com esse
método também têm enfatizado a irrigação de culturas anuais, como milho,
algodão e culturas perenes como café e citros.
Apesar de esse sistema ser empregado nos Estados Unidos com certo sucesso,
principalmente na cultura da batata no estado da Florida, o seu emprego no
Brasil é praticamente desconhecido. Entretanto, a sua aplicação poderia ser
realizada em áreas adequadas com relevo plano e que possuem lençol freático
elevado ou próximo da superfície do solo.
Nesse tipo de sistema de irrigação, o agricultor precisa tomar as seguintes
decisões importantes com relação ao seu maneio adequado:
✓ O momento de actuar no sistema de controlo para elevar ou baixar o
nível da água;
✓ A definição da profundidade que deve ser mantido o nível freático na
área de cultivo e, consequentemente, como regular o sistema de controlo
da saída de água do sistema;
✓ Momento de aplicar água no sistema para que não falte água para a
cultura.
Essas decisões são diferentes para cada local e também para cada cultura
explorada. As variações no tipo de solo, da capacidade de retenção de água do
solo, profundidade do sistema radicular, profundidade dos drenos, da
profundidade e do tipo da estrutura de controlo, vão definir a quantidade de
água a ser aplicada e a que será drenada pelo sistema.
3.1.4.3. Sistemas de subirrigação em ambiente protegido
A subirrigação é o sistema de irrigação subsuperficial que aplica água na base
dos recipientes de cultivo, sejam eles vasos, bandejas ou tubetes,
humedecendo o substrato pela acção da capilaridade. Esse fenômeno
proporciona a ascensão da água e dos nutrientes dissolvidos na solução
nutritiva da base para o topo do recipiente.

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O cultivo em ambientes protegido pode ser dividido em três categorias:
Cultivos em substratos, solos e em solução nutritiva (hidropônicos).
a) Cultivos em substratos
Os cultivos realizados em substrato se caracterizam por requerer a utilização
de recipientes como: vasos, bandejas, sacolas plásticas, tubetes que podem
ser dispostas em mesas ou sobre o solo com algum tipo de manta
impermeabilizante e na produção de diferentes mudas, como: laranja, café,
eucalipto, etc.
No cultivo em vasos ou recipientes são utilizados tradicionalmente gotejadores
com múltiplas saídas conectados ao recipiente por tubos capilares. As
pressões de serviço requeridas por estes sistemas vão de 0,5 a 2 kgf/cm2,
determinando um baixo requerimento de potência de bombeamento.
Uma das opções mais utilizadas na irrigação de vasos e recipientes é o uso do
microtubo capilar, conhecido popularmente por espaguete, inserido
directamente na tubulação sem o uso de gotejadores. O diâmetro interno dos
tubos de espaguete é pequeno, variando de 0,5 a 1,5 mm, o que oferece uma
área restrita de fluxo para o controlo de vazão.

Figura 31: Exemplos de cultivos em substratos.


b) Cultivos em solos
Outro tipo de cultivo em ambiente protegido é aquele realizado em solos,
preferencialmente em canteiros, como hortaliças de pequeno porte (pepino,
tomate, pimenta, berinjela, etc.
As tubulações de gotejamento podem instaladas sobre o solo ou enterradas a
uma profundidade que não deve ultrapassar a 10 cm em solos arenosos, em
função do movimento capilar limitado destes solos. Da mesma forma, o
espaçamento entre emissores não deve ultrapassar 20 cm nestes solos.
Em solos argilosos, onde a movimentação lateral da água não é limitante, um
espaçamento maior poderá ser utilizado. O espaçamento entre emissores pode
variar de 10 a 60 cm, devendo haver sempre a preocupação de se ter o melhor
espaçamento para proporcionar uma distribuição uniforme de água ao longo
da linha de irrigação e que a vazão não seja excessiva e não cause escoamento
superficial, lixiviação de nutrientes e a falta de aeração no solo.

64
Figura 32: Exemplos de cultivo em solos.
c) Cultivo em solução nutritiva ou sistemas hidropônicos
No cultivo em solução nutritiva, também conhecida como hidroponia, as
plantas se desenvolvem em meio aquoso que contém todos os nutrientes
essenciais ao crescimento da cultura explorada. Nesses sistemas, o
fornecimento da solução nutritiva pode ser realizado de forma contínua ou
intermitente, permitindo ou não o reaproveitamento da solução nutritiva com
a sua recirculação.
Procurando atender a esta diversidade de cultivos, os tipos de sistemas de
irrigação utilizados em ambientes protegidos podem variar muito,
principalmente no que diz respeito ao sistema de distribuição de água, pressão
de operação, eficiência de aplicação, possibilidade de automação e
fertirrigação, requerimentos de manutenção e outras características. Nesse
tipo de sistema, uma ponta do tubo é inserida na tubulação ou linha de
irrigação e a outra é colocada dentro do recipiente ou vaso, fixada sobre o
substrato com o auxílio de um pequeno peso ou de uma estaca de plástico ou
madeira.
O agricultor deve cortar o tubo capilar no tamanho ou comprimento que
permita o gotejamento. Esse procedimento pode determinar, muitas vezes, que
comprimento seja escolhido de forma incorrecta, ocorrendo um excesso ou
falta de água na irrigação. Estes sistemas são projectados para aplicar água e
produtos químicos directamente sobre o substrato, eliminando assim a
irrigação sobre áreas não produtivas e aumentando a eficiência aplicação.

Figura 33: Exemplos de cultivo em solução nutritiva.

65
Para o funcionamento adequado desses sistemas, é preciso ter um controlo
rigoroso da qualidade da solução nutritiva garantindo que ela mantém as
características durante a sua circulação pelo sistema. Dessa forma,
periodicamente deve ser feito um monitoramento de pH e de concentração de
nutrientes pela condutividade eléctrica da solução, para que as plantas se
desenvolvam sem limitações nutricionais e sob as melhores condições
possíveis.
c) Sistema de Aeroponia
Esse sistema aplica a solução nutritiva por meio de nebulizadores ou sprays,
criando uma névoa fina em uma câmera de crescimento onde as raízes estão
suspensas. As aplicações da solução são feitas frequentemente em intervalos
curtos de tempo para manter as raízes sempre húmidas. A solução é
bombeada controladamente a partir de um tanque, sendo que o volume da
solução não utilizado retorna ao tanque para ser recirculada.

Figura 34: Esquema de um sistema de aeroponia.


3.1.5. Vantagens e desvantagens do método de Irrigação de subsuperfície
Dentre as principais vantagens podem-se citar:
✓ Alta eficiência de aplicação de água, com a redução das perdas de água
e nutrientes, devido a aplicações directas na zona radicular;
✓ Baixos requerimentos de pressão e de potência;
✓ Potencial para ser automatizado;
✓ Facilita a mecanização da cultura e o controlo de plantas infestantes.
Dentre as desvantagens podem-se citar:
✓ Custo inicial é elevado;
✓ É susceptível a entupimento de emissores por intrusão de raízes,
✓ Pode sofrer danos por roedores;
✓ Necessita maior controlo da irrigação como uso de hidrômetros, válvulas
de drenagem e antivácuo;
✓ Uso criterioso do sistema de filtragem, no caso de gotejamento;
✓ Pode apresentar requerimentos complexos de manutenção.

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3.1.5. Factores a ter em conta na escolha do método de rega
✓ Água: Vazão da fonte, Frequência da disponibilidade, Custo e
Qualidade;
✓ Solos: Textura, Salinidade e Profundidade;
✓ Cultura: Hábitos de crescimento, Característica da parte comercial e
Especificidade quanto a doenças;
✓ Topografia: Declividade do terreno;
✓ Condições do clima: Vento, radiação solar, temperatura;
✓ Mecanização e tratos culturais;
✓ Mão-de-obra;
✓ Aspectos económicos;
✓ Desejo do proprietário.
3.2. SISTEMAS DE DRENAGEM
A drenagem agrícola pode ser definida como sendo um processo de remoção
do excesso de água dos solos aplicado pela irrigação ou proveniente das
chuvas, de modo que o solo tenha condições de aeração, estruturação e
resistência.
3.2.1. Importância da drenagem agrícola
A drenagem agrícola traz uma série de benefícios para o produtor. A seguir
são apresentados alguns benefícios dos sistemas de drenagem:
✓ Pode-se utilizar em áreas inundadas, tornando-as produtivas.
✓ Melhora as condições físicas e químicas do solo como, por exemplo: a
aeração, actividade microbiana, fixação de nitrogénio e fosforo, aumento
da profundidade efectiva do sistema radicular.
✓ Pode-se controlar o nível de salinidade através da lixiviação dos sais que
se encontram na faixa do solo utilizado pelo sistema radicular da planta.
✓ Fornece condições ao desenvolvimento das plantas não adaptadas com
a técnica para o rebaixamento do lençol freático.
3.2.2. Tipos de sistemas de drenagem
3.2.2.1. Drenagem superficial
Visa a remoção do excesso de água da superfície do solo ou piso construído.
É utilizado na retirada das águas das chuvas e na recuperação de zonas
alagadas.
A drenagem superficial é necessária em áreas planas (i<2%), com solo com
baixa capacidade de infiltração, com camadas impermeáveis logo abaixo da
superfície e em áreas íngremes (>2%) visando o controlo de erosão através da
retirada da água das chuvas.

67
A drenagem superficial pode ser dividida em três tipos:
a) Sistema superficial natural
Mais conhecido como esgotamento das várzeas, consiste em ligar as
depressões da área por meio de drenos rasos.
b) Sistema superficial interceptor
Também conhecido como drenagem em terraços ou drenagem transversal à
principal declividade do terreno. Sistema que adapta-se a áreas de solos pouco
permeáveis e cuja principal fonte de água é o fluxo do lençol freático
proveniente das encostas.
Consiste em interceptar, por meio de canais, o fluxo de água do lençol freático
e o escoamento das águas das chuvas dos terrenos periféricos em relação às
áreas baixas. É um sistema preventivo que minimiza a capacidade dos drenos
necessários nas áreas baixas.

Figura 35: Drenagem natural Figura 36: Drenagem interceptor


c) Sistema superficial em camalhões
Este sistema é utilizado em áreas húmidas com pouca declividade e com solo
pouco permeável. Consiste na construção de camalhões largos e em
sequência, de modo que na intersecção dos camalhões exista uma depressão,
a qual funcionará como dreno. Altura no centro dos camalhões pode variar
entre 15 a 50 cm, o comprimento pode atingir até 300 m e a sua largura de
10 a 30 m.

Figura 37: Drenagem em camalhões.

68
3.2.2.2. Drenagem subterrânea ou profunda
Visa a remoção do excesso de água do solo até uma profundidade
determinada. O objectivo é de propiciar, em áreas agrícolas, melhores
condições para o desenvolvimento das raízes das plantas cultivadas.

Lençol freático
antes de drenagem

Lençol freático
após a drenagem
Figura 38: Drenagem subterrânea ou profunda.
3.2.3. Tipos de drenos
A drenagem agrícola emprega basicamente dois tipos de drenos: abertos e
fechados (tubulares).
3.2.3.1. Drenos abertos
Os drenos abertos são canais
construídos no formato trapezoidal,
cujas duas laterais possuem
inclinação com objetivo exclusivo de
evitar o desmoronamento. Possuem a
capacidade de receber e conduzir a
água. As duas grandes limitações
desse tipo de dreno são os custos com
sua manutenção e realizações de
actividades relacionadas a cultura
como, por exemplo, colheita
mecanizada, trânsito de tractores e
máquinas etc. Figura 39: Dreno aberto
3.2.3.2. Drenos fechados
Os drenos fechados (tubulares ou corrugados) são formados por tubos rígidos
e flexíveis com superfície corrugada para drenagem enterrada. Os drenos
possuem a mesma função dos abertos.
O uso de tubos gera vantagens para a drenagem subterrânea, pois, possibilita
melhor aproveitamento da área útil, não gera perdas de área que ocorrem com
uso das valas abertas, não apresenta restrições as passagens de máquinas
agrícolas e aos tratos culturais na cultura instalada, requer menor número de
manutenções, com isso o custo e reduzido quando se compara com os canais
abertos.

69
Figura 40: Esquema da disposição dos tubos corrugados
O filtro é o material que se coloca em torno do dreno tubular e tem as funções
de melhorar a permeabilidade ao redor do dreno e dificultar a entrada de
partículas do solo.
3.2.4. Factores a ter em conta na escolha do método de drenagem
✓ Solos: Textura, Salinidade e Profundidade;
✓ Cultura: Hábitos de crescimento, Característica da parte comercial
✓ Topografia: Declividade do terreno;
✓ Mecanização e tratos culturais;
✓ Mão-de-obra;
✓ Aspectos económicos.

70
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO
1. O método de irrigação por gravidade compreende os sistemas de
irrigação nos quais a condução da água do sistema de distribuição é
feita por gravidade e directamente sobre a superfície do solo.
a) Mencione os sistemas de irrigação por superfície.
b) Em que consiste a irrigação por sulcos.
c) Descreva os principais factores a ter em conta na irrigação por sulco
d) Em que consiste a irrigação por inundação e dê exemplo de culturas
mais recomendadas para este sistema.
e) Explique as vantagens e desvantagens da irrigação por gravidade.
2. A irrigação por aspersão consiste na aplicação de água na superfície
do solo a semelhança de uma chuva.
a) Explique dando exemplos, em quantas partes se dividem os sistemas de
irrigação por aspersão.
b) Mencione os componentes de um sistema de irrigação por aspersão.
c) Explique as vantagens e desvantagens dos sistemas de irrigação por
aspersão.
3. No método de irrigação localizada a água é, em geral, aplicada em
apenas uma fracção do solo próximo ao sistema radicular das plantas.
a) Descreva os sistemas de irrigação localizada.
b) Classifique os gotejadores quanto à forma de conecção.
c) Classifique os emissores utilizados na microaspersão.
d) Em que consistem os sistemas de irrigação por exsudação?
e) Explique a importância dos sistemas de filtragem.
f) Fale das vantagens e desvantagens do sistema de irrigação localizada.
4. A irrigação de subsuperfície também chamada de irrigação subterrânea
caracteriza-se pela aplicação da água directamente ou abaixo do
sistema radicular das culturas.
a) Mencione os sistemas de irrigação por subsuperfície.
b) Diferencie os sistemas hidropônicos da aeroponia.
c) Cite as vantagens e desvantagens do método de Irrigação de
subsuperfície.
5. A drenagem agrícola pode ser definida como sendo um processo de
remoção do excesso de água dos solos aplicado pela irrigação ou
proveniente das chuvas, de modo que o solo tenha condições de
aeração, estruturação e resistência.
a) Explique a importância dos sistemas de drenagem.
b) Descreva os tipos de sistemas de drenagem.
c) O que são drenos e quais os tipos de drenos que você aprendeu?
6. Mencione os factores a ter em conta na escolha do método de rega e de
drenagem.

71
4
RESULTADO DE APRENDIZAGEM
Operar com segurança um
sistema de rega de acordo com
instruções pré-estabelecidas
Operar com segurança um sistema de rega de acordo com instruções pré-estabelecidas
Neste resultado de aprendizagem, os formandos terão oportunidade de
aprender sobre:
a) Ferramentas e instrumentos de trabalho de irrigação
✓ Sifões, Regadores, Baldes e Mangueiras, enxadas, catanas e pás.
b) Manutenção básica dos equipamentos de rega
✓ Manutenção preventiva;
✓ Manutenção correctiva.
c) Efeito da irrigação em relação à produção obtida
✓ Observações sobre rendimento, qualidade, tamanho dos frutos e/ou
grãos.

72
4.1. FERRAMENTAS E INSTRUMENTOS DE TRABALHO DE IRRIGAÇÃO
O trabalho de rega pode ser levado a cabo com ajuda de certas ferramentas
e/ou instrumentos de irrigação a saber: Pás, Catanas, Enxadas, Mangueiras,
Sifões, regadores manuais, baldes, entre outros.
A Pá, Catana e Enxada são comumente usados nas actividades de abertura
e/ou limpeza dos canais de drenagem.
Os regadores, baldes e mangueiras podem providenciar uma técnica de
irrigação simples e acessível que é entendida e largamente aplicada pelos
agricultores de pequena escala na produção de hortícolas. A tecnologia não
requer grandes investimentos, mas requer trabalho intensivo e somente
permite a irrigação de uma pequena área/horta.
A irrigação através de um regador, balde ou mangueira providencia um meio
simples de incrementar culturas de regadio para muitos agricultores de
pequena escala.

Figura 41: Instrumentos de irrigação de pequena escala


Os sifões são tubos curvos de plástico comum ou de polietileno, que derivam
água do canal abastecedor para os sulcos. A água dentro do canal deve ser
elevada até uma altura suficiente para criar uma carga hidráulica acima do
bocal de entrada do sifão que determinará a sua vazão.
Como os tubos sifões precisam trabalhar completamente cheios de água, eles
devem ser escorvados para que possam operar. Isto é feito submergindo o tubo
na água, deixando-o encher completamente e cobrindo uma das saídas com a
mão e então, abaixando o mesmo vagarosamente no lado do canal, sem deixar
que a ponta que está submergida saia da água.
Para se instalar os sifões adequadamente, é necessário determinar qual será
a carga hidráulica (H) necessária para que seja aplicada a vazão determinada
quando da determinação do tempo de avanço e do comprimento dos sulcos. A
carga hidráulica é directamente proporcional a vazão do sifão, isto é; quanto
maior for a carga hidráulica do sifão até um certo ponto, maior será a vazão
do sifão em litros por segundo, e assim vice-versa.

73
Figura 42: Aplicação dos sifões na irrigação por sulco
4.2. MANUTENÇÃO BÁSICA DOS EQUIPAMENTOS DE REGA
A manutenção é o conjunto de ações e recursos aplicados aos equipamentos
de forma a mantê-los nas condições ideais de desempenho e de projeto,
visando garantir o maior alcance das suas funções dentro dos parâmetros de
disponibilidade, prazos, vida útil, qualidade e custos.
Existem assim muitas acções técnicas de manutenção dos equipamentos que
visam contrariar ou adiar os processos de degradação e repor os adequados
níveis de operacionalidade, tais como inspeções programadas, reparações,
apertos, substituições de peças, mudanças de óleo, calibrações, pinturas e
limpezas, entre muitas outras.
4.2.1. Objectivos e Importância da Manutenção
Actualmente, a manutenção desempenha um papel relevante na conservação
dos recursos existentes e redução do desperdício.
No geral, são os objectivos da manutenção:
✓ Manter os equipamentos num estado de funcionamento seguro e
eficiente;
✓ Reduzir ao mínimo os custos totais;
✓ Diminuir o número de paragens de forma a minimizar os prejuízos;
✓ Aumentar o desempenho energético de cada equipamento;
✓ Aumentar a vida útil dos equipamentos, mantendo a qualidade do
serviço dentro dos padrões de qualidade e eficiência definidos.

74
Desta forma, a manutenção garante elevados níveis de satisfação dos serviços,
focando-se em manter ou repor a operacionalidade, nas melhores condições
de qualidade, dos equipamentos em todo o seu ciclo de vida. A longevidade da
vida útil dos equipamentos é influenciada significativamente pela qualidade
da manutenção.
4.2.2. Tipos de manutenção
4.2.2.1. Manutenção Preventiva
A manutenção preventiva é o conjunto de actividades planeadas e realizadas
em intervalos predeterminados, cuja acção corresponde a procedimentos e
normas prescritas pelo fabricante e meio ambiente onde estes estão
integrados, de forma assegurar o prolongamento da vida útil e diminuir a
probabilidade de falha ou a degradação do equipamento.
A finalidade da manutenção preventiva é evitar quebras e paragens
desnecessárias no processo, diminuir o desgaste natural e prolongar a vida
útil do equipamento, com maior produtividade e qualidade. A manutenção
preventiva sistemática ocorre quando as operações são executadas a
intervalos regulares de tempo de calendário ou noutra unidade conveniente
(horas, dias, semanas, meses), preparada e programada antes da data
provável do aparecimento de uma falha.
As actividades de manutenção preventiva, incluem:
✓ Limpezas, desinfeções e conservação de equipamentos;
✓ Ensaios operacionais;
✓ Reapertos;
✓ Verificações/afinações/calibrações;
✓ Lubrificações;
✓ Inspeções/revisões;
✓ Medições;
✓ Substituição de peças ou órgãos.
4.2.2.2. Manutenção Correctiva
A manutenção corretiva é o conjunto de acções que resultam da ocorrência de
falhas súbitas e imprevisíveis, dando origem a actividades não previstas no
plano de manutenção preventiva, e que visam a reparação ou substituição,
restaurando o equipamento ao estado no qual ele desempenha a sua função
especificada.
Inclui-se neste conceito as actividades de manutenção destinadas a efetuar
modificações ou alterações periódicas ou por objectivo corrigir o desempenho
do equipamento, promover o seu ajustamento a novas condições de
funcionamento ou melhorar as suas características operacionais,
respondendo às condições nominais.

75
4.3. EFEITO DA IRRIGAÇÃO EM RELAÇÃO À PRODUÇÃO OBTIDA
Vários são os benefícios gerados quando os agricultores passam a utilizar a
técnica da irrigação no sistema produtivo, os quais determinam a importância
da sua adopção na agricultura.
Quando se utilizam as técnicas de irrigação para suprir as demandas ou
necessidades hídricas das plantas, mesmo que falte chuva, o risco de quebra
de rendimento é minimizado, com maior garantia de produção.
A técnica de irrigação apresenta melhoria de qualidade no produto final. É o
caso, principalmente, de frutas e legumes, cujas qualidades desejáveis para o
consumo, como tamanho e teor de açúcar, podem ser conduzidas pela
irrigação.

No caso do tomate consumido in natura, por exemplo, a aplicação correcta de


água pela irrigação é capaz de controlar o aparecimento de rachaduras e
proporcionar um aumento do tamanho do fruto.

76
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO

1. O trabalho de rega pode ser levado a cabo com ajuda de certas


ferramentas e/ou instrumentos de irrigação.
a) Mencione-os.
b) Explique a utilidade da Pá, Catana e Enxada nos trabalhos de rega.
c) O que são sifões?
d) O que é necessário para que o sifão seja instalado adequadamente?

2. A manutenção é o conjunto de ações e recursos aplicados aos


equipamentos de forma a mantê-los nas condições ideais de
desempenho.
a) Diga qual é o Objectivos da Manutenção dos equipamentos de rega?
b) Explique a Importância da Manutenção dos equipamentos de rega
c) Diferencie manutenção preventiva da correctiva.

3. Vários são os benefícios gerados quando os agricultores passam a


utilizar a técnica da irrigação no sistema produtivo
a) De forma resumida, explique o efeito da irrigação em relação à produção
obtida.

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BIBLIOGRAFIA
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