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‫ב׳׳ה‬

COMENTANDO O ZOHAR KADOSH

V - A PARASHÁ VAIERÁ NO ZOHAR


O texto usado do Zohar foi traduzido do espanhol. O alvo deste trabalho é
trazer alguma luz de forma prática e direta sobre os textos sagrados deste que
é o livro por excelência da Cabalá, o Pensamento Místico da Torah.
Embora não seja uma transcrição na íntegra ou oficial, as fontes usadas são os
vídeos do mestre Albert Gozlan, com alguns comentários próprios e/ ou
retirados de outras fontes e livros.

Por Vlamir Dias Rebeque

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CONCEITOS SOBRE OS SEGREDOS DOS CÉUS

Esta é uma parashá extremamente rica em conceitos superiores.

O BAILE DA CRIAÇÃO

O Criador criou o mundo com uma força geradora latente e num estado de potencial não manifestado. Criou
uma força muito grande na terra, mas a deixou invernando, inerte. E foi assim até o momento em que o homem
foi criado. A partir deste momento este estado potencial foi ativado, essa força geradora se colocou em marcha
e começa a funcionar, ou seja, a terra começa a gerar, as nuvens começam a produzir chuva, as espécies na
terra começam a crescer, os animais começam a mover-se e toda a Criação começa seu "baile", pois a beleza da
Criação é como um baile. A lua, os planetas e a Terra começam a ter seus ciclos, com sementes tornando-se
plantas e proporcionando colheitas em tempos determinados majestosamente e tudo começa a bailar. Toda esta
riqueza de variedades e formas de vida estavam criadas, porém, como congeladas, inertes. Mas no momento em
que o homem foi criado, toda a criação começa a se portar como em um grande baile cósmico.

A pergunta que cabe neste momento é: por que o Eterno esperou que o homem fosse criado para que toda esta
maravilhosa criação fosse despertada? Porque esperou para manifestar essa força de vida?

Foi assim porque o homem foi criado como um recipiente ou como uma nave, de onde o piloto vai dirigir a
Criação. E esse piloto é Hakadosh Baruch Hu! O piloto não pode pilotar enquanto a nave não lhe for dada com
todos os seus controles e comandos. Ou seja, a partir do homem, o Eterno pode pilotar a Criação. Mas há um
problema: é preciso que este homem (nave), dê espaço na cabine de comando para o piloto sentar-se e assumir
o controle. A verdade é que o homem não está deixando espaço para o Criador na cabine de comando, não está
deixando que o Criador faça o seu trabalho.

Está escrito na Torah: "Não há lugar para o orgulho e para Mim (que possa ser compartilhado por ambos). Isso
quer dizer que, se a cabine do piloto estiver ocupada pelo orgulho, o Eterno não estará fazendo Seu trabalho e
pilotando a Criação. Isso quer dizer que toda a força geradora criada pelo Eterno volta a estar congelada, inerte
e o baile já não tem lugar.

O que aconteceu com Adam? Hashem o criou e começou a ativar esta força criadora de dentro de Adam. O que
fez Adam? Comeu da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Por conta disso, Hakadosh Baruch Hu o
expulsou do Gan Éden e se retirou, ou seja, esta força magnífica que traz muita sorte de bênçãos sobre esta
terra e sobre toda a Criação, se retirou de Adam.
2 ‫ב’’ה‬

Pilotar a Criação desde o homem é uma metáfora para tratar da manifestação de Sua Chéssed sobre a Criação
desde o homem. É a manifestação de Sua Bondade e Sua Misericórdia através do homem. Definitivamente o
Eterno criou a Criação para ocupar Seu posto como piloto de dentro do homem e manifestar toda a Sua
bondade sobre a Criação e fazer com que o homem e toda a Criação sejam totalmente felizes. Se esta felicidade
não está ocorrendo, quer dizer que existe uma impureza tal, que não permite que Hakadosh Baruch Hu, pilote a
Criação desde o homem. Isso é o que significa: "Fareis um Templo e habitarei no meio deles". O fato é que não
estamos Lhe fazendo um Templo.

Por isso o Zohar diz na Parashá Vayerá que, quando o homem pecou, toda esta força geradora foi retirada do
mundo e a terra foi amaldiçoada. Em Bereshit 3.17, diz: "Que a terra será maldita", o que quer dizer que desde
Adam, tornou-se necessário nos protegermos desta maldição. Por isso disse o Eterno a Adam que a terra seria
maldita por culpa de Adam. E disse ainda que quando Adam cultivasse a Terra, esta não lhe daria mais a sua
força, ou seja, frutos. E ainda produziria espinhos e abrolhos (ervas daninhas).

A geração de Noach se fez culpável diante de D'us e então toda esta força geradora que havia sido implantada na
terra desapareceu, se ocultou como estava antes da Criação do homem. Isso quer dizer que existe todo um
potencial de força abençoadora que precisamos liberar para que este mundo seja um Gan Éden. Veja! Esta força
existe! Há que ser despertada novamente como antes de Adam haver pecado.

Quando chegou Avraham e circuncidou-se, todas estas forças geradoras ocultadas, voltaram a ser manifestas. A
circuncisão reativa as forças criativas da terra. Estamos falando de uma força geradora que não está apenas na
terra, mas em todo o sistema cósmico, e um único homem foi capaz de reativá-la: Avraham Avinu. A circuncisão
de um único homem fez isso.

Aqui aprendemos que um único homem pode reparar o mundo. Apenas um é suficiente.

Quando Avraham circuncidou-se e retirou a parte da impureza que estava na carne do seu prepúcio,
imediatamente as forças geradoras se puseram em marcha novamente.

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TEXTO DO ZOHAR

Ele (Rabi Abba) disse: A humanidade entende pouco sobre o que há (o que acontece ou sobre este)
neste mundo. Pois os dias que passam, elevam-se e se colocam diante do Todo-Poderoso, ou seja,
todos os dias da existência do homem neste mundo. Pois todos esses foram criados e todos
aparecem no alto. Que eles foram criados, sabemos pelas palavras da Escritura: “Os dias foram
formados”. E quando chega a hora em que os dias (de cada pessoa) estão para partir deste mundo,
todos eles se aproximam do Rei Altíssimo, como está escrito: "E aproximavam-se os dias de Israel
quando ele estava para morrer". Mas, enquanto o homem está neste mundo, ele não considera ou
reflete sobre o que foi erguido (para diante do Eterno), e ele olha para cada dia que passa como se
ele tivesse desaparecido no nada. Quando a alma deixa este mundo, ela não sabe em que caminho
fará a jornada. Pois não é concedido a todas as almas ascender ao caminho que conduz ao reino de
esplendor onde as almas escolhidas continuam a brilhar. Porque é o caminho que o homem
percorre neste mundo que determina o caminho da alma na sua partida. Assim, se um homem é
atraído para o Santo, Bendito seja Ele, e está cheio de anseio por Ele neste mundo, sua alma ao se
afastar dele (deste mundo) é conduzida para os reinos mais elevados pelo impulso dado a ela todos
os dias neste mundo.

R. Abba continuou: Certa vez, encontrei-me em uma cidade habitada por descendentes dos "filhos
do Oriente", e eles me transmitiram um pouco da antiga Sabedoria que conheciam. Eles também
possuíam alguns de seus livros de Sabedoria e me mostraram um no qual estava escrito que, de
acordo com a meta que um homem se propõe neste mundo, ele atrai um espírito do alto para si.
3 ‫ב’’ה‬

Se ele está se esforçando para obter algum objetivo sagrado e elevado, ele atrai esse objetivo de
cima para baixo para si mesmo. Mas se o seu desejo é fazer o seu caminho para o outro lado, e dá
o seu melhor nisso, então atrai para si, aqui, do alto, a outra influência. Diziam também que tudo
depende do tipo de linguagem, ação e intenção a que o homem se acostuma, porque atrai para si,
aqui, de cima daquele lado para o qual costuma tender.

No mesmo livro encontrei também os ritos e cerimônias pertencentes ao culto das estrelas, com
as fórmulas e orientações necessárias para concentrar o pensamento sobre eles, a fim de
aproximá-los do devoto. O mesmo princípio se aplica a quem procura ligar-se ao espírito sagrado
nas alturas. Pois é por suas ações, por suas palavras e por seu fervor e devoção que ele pode atrair
aquele espírito do alto para si. Então eles disseram que se um homem segue uma determinada
direção quando ele deixa este mundo; ou seja, no outro mundo, ele estará vinculado àquilo a que
está vinculado neste mundo; se santo, santo, se impuro, impuro. Se ele busca a santidade, no alto
ele será atraído para aquele lado e será feito um servo para ajudar o Santo entre os anjos, e ele se
encontrará entre os seres santos mencionados nas palavras: "Então Eu irei, darei livre acesso
entre os que ajudam”.

Da mesma forma, se ele se inclinar para a impureza, será atraído para aquele lado e será
incorporado à sociedade impura e ligado a ela. Eles são chamados de: "Prejudiciais à humanidade",
e quando um homem deixa este mundo, eles o pegam e o jogam na Gehenna, na região onde o
julgamento é aplicado àqueles que se mancharam e mancharam seus espíritos. Depois disso, ele é
feito companheiro dos espíritos impuros e torna-se um "daninho da humanidade" como um deles.

Então eu disse a eles: Meus filhos, tudo isso é semelhante ao que aprendemos em nossa Torá, mas,
mesmo assim, vocês devem se afastar desses serviços idólatras e depois daqueles “lados”
mencionados aqui. Esteja atento para que - Deus nos livre - não se separe do culto do Santo,
porque todos esses livros desviam a humanidade. Pois os antigos filhos do Oriente possuíam mais
sabedoria que haviam herdado de Abraão, que a transmitiu aos filhos das concubinas, como está
escrito: “Mas os filhos das concubinas que Abraão tinha, Abraão deu-lhes presentes, e enquanto
ele ainda estava vivo, Ele os enviou para longe de seu filho Isaac, para o Oriente, para o país dos
filhos do Oriente”. Com o passar do tempo, eles seguiram o caminho dessa sabedoria em muitas
direções erradas. O mesmo não aconteceu com a semente de Isaque, com a parte de Jacó. Pois
está escrito: “E Abraão deu tudo o que tinha para Isaac”, e esta é a herança sagrada da fé que
Abraão propagava, e da esfera da qual Jacó saiu, da qual está escrito: "E vê aqui que o Senhor
esteve ao lado dele", e também: "E, você, Israel, meu servo ...".

Portanto, cabe ao homem seguir o Santo e se inclinar para Ele continuamente, como está escrito:
“E para Ele você se orientará”. Está escrito: “Quem subirá ao monte do Senhor?”. E a resposta é:
“Aquele que é limpo de mãos e de coração puro”, isto é, aquele que não fez figuras vãs com suas
mãos e não transportou objetos perversos com elas, nem se maculou por elas como aqueles que
deliberadamente mancham seus corpos. “E puro de coração”; isto é, aquele que afasta o coração e
o espírito do “outro lado” e os dirige ao serviço do Santo. E então ele diz: "Aquele que não levou
seu coração à falsidade ... receberá uma bênção do Senhor”, ou seja, ao deixar este mundo sua
alma sobe munida de boas obras que o habilitarão a entrar entre os santos seres celestiais,
conforme o versículo:“ Marcharei diante do Senhor na terra dos viventes", porque "não conduziu a
sua alma à mentira, receberá uma bênção do Senhor ... ".

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4 ‫ב’’ה‬

O Zohar nos diz que nesta vida devemos suspirar pela Luz Superior, ou seja, pelos Segredos dos Céus.
Precisamos desejar esta Luz, ardentemente. Isso porque ainda que não consigamos desvelar todos os segredos
durante uma vida, por haver suspirado, desejado esse Conhecimento Supremo nesta vida, depois deste mundo,
o Eterno dará este Conhecimento a esta pessoa que o desejou aqui. No Olam Habá se te dará tudo o que não
conseguiu nesta vida pelo mérito de o haver desejado.

Uma pessoa pode ser atraída pelo Espírito de Santidade ou pelo Espírito de Tumá (impureza), em função de três
coisas: sua vontade, seus atos e suas palavras. Assim, dependendo do que desejamos, do que falamos e do que
fazemos nesta vida, seremos dirigidos para o caminho de santidade ou de impureza. E se uma pessoa está
metida num caminho de impureza, depois deste mundo será levado ao mundo da impureza. Mas se está metido
em um caminho de santidade, depois deste mundo será levado a um caminho de santidade, onde todos os
Segredos dos Céus lhe serão dados, todos os que não conseguiu desvelar durante sua vida.

Depois de ter se circuncidado, D'us viu que Avraham sofria. Avraham circuncidou-se com instrumentos de
pedra e sem nenhuma anestesia. O Eterno então enviou três anjos a Avraham e sabemos que os anjos são
invisíveis aos olhos humanos e que são imateriais, não possuem matéria física, mas a Torah nos conta que se
apresentaram a Avraham três anjos materializados.

Aqui temos um segredo. É possível a um anjo vestir-se de uma vestimenta humana, assumir a forma humana.
Conta Albert Gozlan que seu mestre estava nos bosques de Tzfat, e se lhe materializou um anjo, contou-lhe um
segredo sobre coisas que ocorreriam em Israel e voltou a se desmaterializar diante de seus olhos. Ele então
correu para o ministro do interior e avisou que haveria um ato terrorista numa praia e lhe contou os detalhes,
mas não lhe deram muita atenção. Logo viram pela TV que uma embarcação chegou com terroristas, cheia de
explosivos, mas o exército israelita conseguiu correr e impedir uma grande catástrofe. Embora não lhe tenham
dado muita atenção no momento, mandaram o exército verificar e o fato foi observado como real. Portanto é
possível que um ser imaterial de outra dimensão se materialize e fale fisicamente com um ser humano.

Quando Avraham os viu, apesar de estarem vestidos de forma humana, como já possuía um dom profético
superior graças a sua circuncisão, os percebia com a forma real que possuíam nos mundos superiores. Era
capaz de vê-los além de sua vestimenta física, como de fato eram.

E Avraham então disse: "Adonai, se tenho achado graça aos Teus olhos"; e o Zohar questiona a razão desta
pergunta feita por Avraham, usando a palavra Adonai, quando viu os anjos. O Zohar explica que a palavra
Adonai representa a Shechinah. Cada vez que pronunciamos "Baruch Atah Adonai", como referência ao
tetragrama, mas visualizando ‫אדני‬, isso é a Shechinah e sabemos que a Shechinah é a Sefirá Malchut, o mundo
físico. Sabemos ainda que dentro da Sefirá Malchut está a gota de sêmen que gera a vida. Logo a Shechinah é a
gota de semen que gera. Por isso a necessidade de haver grande temor quanto a desperdiçar o semen, pois isso
afasta a Shechinah, a Presença Divina.

Avraham viu chegar a Shechinah sob a forma de três anjos. Cada um deles possuía uma cor diferente, pois
Avraham os via como eram de fato. E esses três anjos são o trono da Shechinah. Esses anjos são Michael, Gavriel
e Nuriel. Suas iniciais formam a palavra MAGUEN - escudo. Isso quer dizer que no momento em que um
homem procria e emite uma gota de semen, estes três anjos estão presentes. Os mesmos que estiveram diante
de Avraham Avinu.

A UNIÃO DO MACHO COM A FÊMEA

O macho e a fêmea é uma menção sobre Avraham e Sara. E diz o Zohar que esta união tem que estar cheia do
mistério da Fé, onde reside a Shechinah. Isto nos ensina que no ato conjugal entre Avraham e Sara estavam
presentes os três anjos mencionados anteriormente, observando que tipo de alma iria descer naquele momento
com base na qualidade da gota de semen de Avraham Avinu.
5 ‫ב’’ה‬

Hakadosh Baruch Hu amava tanto Avraham, que não lhe deixou conceber a Yitschak a quem também amava
muito, antes que tivesse circuncidado sua carne. Era necessário que Avraham subisse para um nível tão alto, a
ponto de poder conectar-se com todas as forças geradoras que estavam inertes, para poder ativá-las e desta
forma, neste momento, Avraham adquiriu um poder muito grande de ascensão espiritual e foi isso que lhe
permitiu fazer baixar a elevada alma de Yitschak. Isso quer dizer que Hakadosh Baruch Hu proclama nos céus
os acontecimento que vão ocorrer neste mundo. E como fez no caso de Avraham e Sara? Através dos três anjos
enviados a eles. Há muito o que falar sobre estes três anjos.

Avraham queria adquirir um nível elevado na escada dos níveis espirituais, onde ele é a imagem do que se
chama "mayim" - águas. Avraham representa "água" que, por sua vez, é um simbolismo de chessed -
misericórdia. E por que a água é um símbolo de bondade? Porque se alguém derramar água em recipientes com
diferentes formas, a água encherá todos eles sem discriminar este ou aquele, seja por sua forma, seja pelo
material com o qual é feito etc., assim como a chuva que, ao cair, desce tanto sobre o jardim do tsadik, quanto
sobre o jardim do rashá igualmente. Isso é chessed, um amor do qual todos se beneficiam
indiscriminadamente.

Isso é maravilhoso, pois possuímos uma alma que é a essência Divina em nós, porém, temos um corpo que é
muito egoísta. Por dentro temos uma alma que é chessed, mas por fora um corpo de não é chessed. Quando
entramos em um micvê, temos a alma por dentro, o corpo por fora e a água envolvendo-o. Assim o corpo está
envolvido por dentro e por fora com chessed, desativando a força egoísta que move o corpo. Numa situação
comum, poderia ser que o corpo com seu egoísmo vença a força da alma, mas quando usamos o micvê desta
forma, isso já não é possível. Por isso o micvê é tão importante.

Avraham, que é o reflexo da chessed, procurou com a ajuda da água, purificar o gênero humano. E como
sabemos disso? Logo após a chegada dos anjos, Avraham lavou-lhes as mãos e os pés, como fazia com todos os
que se aproximavam de sua tenda e desta forma purificava a aproximação destas pessoas. Isso porque seu
instinto era gerar cada vez mais chessed.

A ORIGEM DA ÁRVORE DA VIDA

O Zohar então explica que graças ao que fez Avraham Avinu quando veio ao mundo, o mal causado por Adam foi
reparado. E como ele fez isso? Com a Árvore da Vida. Vamos entender isso.

Adam causou grande mal, por ter comido da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. E a reparação é feita
com a Árvore da Vida. E graças a este instrumento chamado Árvore da Vida, Avraham deu a conhecer ao mundo
inteiro a fé em Hakadosh Baruch Hu. A idolatria foi combatida a partir de Avraham. Mas o que é a Árvore da
Vida? Qual é a origem da Árvore da Vida?

A Árvore da Vida é o que hoje conhecemos como o Zohar, ou seja, os Segredos dos Céus. Isso é o que quer dizer
que "Avraham com a ajuda da Árvore da Vida (os Segredos dos Céus), reparou o mal causado por Adam". E para
que viemos a este mundo? Justamente para estudar estes Segredos dos Céus. Aquele que não estuda o Zohar
não está retificando o pecado de Adam. Mas esta informação nos fará ver então que retificar o pecado de Adam
não é algo que deve ser feito por uma única pessoa, mas todos, cada um em sua área e porção.

Embora o pecado de Adam tenha sido retificado pelos atos de Avraham Avinu, quando o pecado do Bezerro de
Ouro foi cometido, o efeito foi o mesmo causado pela queda de Adam sobre o mundo. Portanto, cabe hoje a cada
pessoa estudar o Zohar e retificar o pecado cometido por Adam, que retomou sua força com o Bezerro de Ouro
sobre o mundo inteiro. Porém, pensar nisso traz um grande problema, pois entre todas as pessoas existentes no
mundo e mesmo entre o povo de Israel, são muito poucas as que de fato, fazem alguma coisa nesta direção.
Desta forma, o pecado do Bezerro de Ouro, que equivale a segunda queda do homem, não está sendo
devidamente corrigido. Assim, todo o sofrimento que o mundo recebeu de Adam até Avraham se deve a queda
de Adam. Da mesma forma, todo o sofrimento que temos vivido em nossos dias, se deve ao pecado do Bezerro
6 ‫ב’’ה‬

de Ouro. A forma de resolver esta questão é a mesma, ela não mudou, precisamos da ajuda da Árvore da Vida.
Infelizmente existem muito mais pessoas que se opõem ao estudo do Zohar, do que os que o apoiam, mesmo no
mundo judaico. Se todo o mundo estudasse os Segredos dos Céus, simplesmente todos os sofrimentos do
mundo teriam fim.

Daqui também vemos a gravidade do pecado do Bezerro de Ouro. Avraham Avinu conseguiu restaurar esta
ruptura sozinho, mas hoje, embora existam poucas pessoas que estudem, são muito mais do que Avraham
sozinho, mesmo assim, não conseguimos repetir sua façanha. O fato é que ninguém, desde Avraham conseguiu
a mesma façanha.

TRÊS CHAVES

Existe uma contradição muito séria que precisamos resolver aqui. Nas mãos de D'us existem três chaves. E
nenhum anjo, intermediário espiritual, físico ou humano, pode ativar a chave que cabe a D'us: a chave da
fertilidade e da fecundação. Apenas D'us a possui, se uma mulher não é fertil, para que se transforme em uma
mulher fértil como ocorreu com Sara, essa é uma chave que apenas D'us possui. A segunda é a chave da
ressurreição dos mortos e a terceira é a chave para fazer cair a chuva. Apenas D'us as possui. Nenhum outro
tipo de ser possui nenhuma destas três chaves, elas estão apenas nas mãos de D' us.

Precisamos então entender por que um anjo traz esta notícia a Sara, de que ela deixaria de ser infértil para ser
mãe de um filho, já que o Zohar nos diz que somente Hashem possui esta chave. Esse é um assunto que nem
mesmo como mensageiro, nenhum anjo pode interferir de nenhuma forma. Mas a Torah nos diz que um anjo é
quem traz essa notícia a Avraham e Sara. Como se explica isso então?

Existe um anjo chamado "o Anjo da Aliança", que é uma manifestação direta do próprio Hakadosh Baruch Hu. E
veja que estes três anjos se revestiram de uma vestimenta humana quando visitaram Avraham e Sara. Entre
estes três anjos estava, justamente este Anjo da Aliança, por isso Avraham o chama de "Ado-nai". Então
Hakadosh Baruch Hu teria descido a este mundo sob a forma do Anjo da Aliança para falar com Avraham e
Sara? A Torah nos ensina que o Eterno não possui corpo e nem sombra de um corpo. Avraham não estava vendo
o corpo, mas sua essência, por isso pode perceber que eram anjos e por isso usou um Nome Sagrado para
referir-se a um deles. Poderíamos então dizer que Avraham pode ver a D'us cara a cara?

Há aqui um conceito sobre o Eterno, bendito seja, que precisa ser entendido. Se perguntarmos sobre a
possibilidade de Hashem aperfeiçoar-se, a maioria das pessoas dirá que isto é impossível! Se entendemos que
D'us é perfeito, como pode se aperfeiçoar? A verdade é que através da Criação, o Eterno se torna completo e
nenhuma impossibilidade passa a existir nEle, bendito seja, já que mesmo a ideia de aperfeiçoamento, pode ser
experimentada pelo Eterno através da Criação. A ideia de limitação pode ser experimentada pelo Eterno que se
torna ilimitado, através das limitações que Ele mesmo criou para esta realidade que vivemos.

Moshê Rabeinu "viu" o Eterno pelas costas, mas Avraham Avinu O viu cara a cara, pois foi exatamente o Anjo da
Aliança que anunciou a Avraham e Sara a chegada de Yitschak. E por que o anúncio foi feito tanto para Avraham
quanto para Sara e não somente para Avraham? Porque Avraham precisava ter a certeza de que este filho viria
de Sara e de nenhuma outra mulher. Então aprendemos que é possível e aqui vemos um caso em que Hashem
baixou até este mundo. Neste caso porque Hashem é o único que possui esta chave que abre a fertilidade e a
fecundação.

O Zohar ensina que cada vez que a Torah nos diz: "vayomer", ou "vaicrá", ou "amar"; é uma referência ao anjo da
Aliança. E muitas vezes na Torah estas palavras aparecem. Então vemos que D'us mesmo manifestou-se sob a
forma do Anjo da Aliança para lidar com Moshê Rabeinu. Sabemos que existe o Anjo Chefe de todas as hostes
celestiais que é Metatron, mas também existe este que é chamado Anjo da Aliança. E é assim chamado porque
faz três Alianças. A Aliança da carne do prepúcio, a Aliança do Shabat e a Aliança da noite com o dia.
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Nasce então Yitschak e logo temos a narrativa da akeda (amarração) de Yitschak, que conhecemos como o
sacrifício de Yitschak. No momento em que isto ocorre e que Avraham está amarrando seu filho ao altar e se
prepara para sacrificá-lo, sendo impedido pelo anjo que lhe disse que não o fizesse, pois havia na verdade
entendido mau a ordem Divina, e por fim um carneiro é sacrificado em seu lugar, um cordeiro com grandes
chifres enrolados, neste momento um anjo da morte, um acusador vai até Sara e lhe diz: "seu marido foi
sacrificar o seu filho Yitschak". O impacto desta notícia levou Sara à morte.

Aqui aprendemos que existem pessoas que dão boas notícias e outras que trazem más notícias. Uma má notícia
pode matar uma pessoa. Da mesma forma, uma boa notícia pode dar vida a alguém. Que não sejamos nós como
o anjo acusador que é portador de más notícias. Precisamos ser sempre portadores de boas notícias.

O Zohar nos explica que a história de Avraham é a história da alma de Avraham e que a história de Sara é a
história do corpo de Avraham. Os filhos gerados por ele são o resultado dos pensamentos do corpo com a alma.
Quando Avraham diz que Sara já é velha, porém bela, quer dizer que seu corpo já não tinha o desejo egoísta que
todos precisamos depurar, sua alma era tão velha quanto seu corpo. Tudo é escrito como uma metáfora.
Quando está escrito que Avraham visitava a sepultura de Sara, isto quer dizer que a alma visita o local do
sepultamento de seu antigo corpo. O que pode morrer por uma má notícia é o corpo, não a alma. Isso quer
dizer que a alma não morre nunca! Na verdade tem compaixão por seu corpo pelo qual pode se manifestar por
toda a vida e por isso vem visitá-lo.

Lembre-se que mencionamos que cada um de nós deve suspirar por Hakadosh Baruch Hu, a fim de que
conheça os Segredos dos Céus. Hakadosh Baruch Hu se dá a conhecer a cada um de acordo com sua capacidade
de entender. Para uma pessoa com grande capacidade de entender o Eterno irá se revelar de forma mais sutil.
Para uma pessoa com pouca capacidade de entender, D'us vai se revelar de acordo com sua capacidade. O Zohar
sobre isso nos diz que, cada um é responsável e precisa agir para aprofundar o conhecimento de D'us, até o
limite de Sua capacidade. É preciso estudar os Segredos dos Céus até o limite máximo de sua capacidade e se
for possível ir ainda além. A revelação Divina será de acordo com a capacidade do recipiente de receber esta
revelação.

Lemos a Torah todos os anos e suas parashiot são explicadas todos os anos. A cada ano, se nos dará uma nova
porção que nos permitirá entender Hakadosh Baruch Hu cada vez mais, porque desta forma, nossa capacidade
de entender será ampliada. É como um treinamento contínuo que não deve ser interrompido.

A PORTA DO JUSTO

O Zohar nos conta que há uma porta, que é a síntese de todas as portas, e é por esta porta que se pode entender
a Essência Divina. E essa porta é chamada "A porta do Justo". Sabemos que Yossef é chamado de Justo na Torah.
Yossef é representado pelo sefirá Yessod. Yessod é o "Sod da Youd" como já vimos, ou seja; o Segredo da
Chochmah, o Segredo da Sabedoria. Yossef também representa o mundo da interpretação dos sonhos. E
existem dois tipos de sonhos, um que nos ocorre dormindo e outro que nos ocorre acordado. O sonho que nos
ocorre dormindo é involuntário, mas o sonho acordado é a meditação cabalística

"Há uma porta que é a síntese de todas as portas e por esta porta é que se conhece a Glória de Hakadosh
Baruch Hu".

Essa porta é a meditação cabalística. É por esta porta que se deve entrar para ter acesso a todas as demais
portas celestes, para que estas se abram. Desta forma aprendemos que não se pode conhecer a D'us sem a
meditação cabalística e vimos que é nosso dever aprofundar o conhecimento sobre D'us. Se não aprendermos a
meditar cabalisticamente não cumpriremos nosso dever.

Avraham Avinu era um grande cabalista e escreveu o primeiro livro sobre Cabalá conhecido na tradição judaica,
o Sefer Yetsirá, o Livro da Formação onde estão explicadas todas as letras hebraicas, sua correspondência com
os astros, com as estrelas, com os órgãos do corpo humano, com as qualidades do ser humano, com as cores,
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com as notas musicais, com os sabores e odores, com os animais e as flores e todos os vegetais, a
correspondência das letras hebraicas com tudo o que existe na Criação. Tudo o que sabemos e que ainda
viremos a saber, Avraham Avinu escreveu em um pequeno livro onde se aprende como funciona o mundo
criado.

Avraham teve uma descendência santa por ter gerado Yitschak depois de haver circuncidado a carne do seu
prepúcio. Imediatamente depois de haver gerado Yitschak, as forças do mal geraram a escuridade. O Zohar
quer nos dizer com isso que as forças da Luz e a escuridão estão sempre emparelhadas, quando algo bom surge
de um lado, algo negativo surge do outro. Não existe o Bem sem o Mal e nem o Mal sem o Bem, assim como não
existe a pergunta sem a resposta e nem uma resposta existirá sem uma pergunta. Não existe um conteúdo sem
que haja um recipiente para contê-lo. Não existe uma doação se não houver alguém para receber. Assim
também não existe um pobre se não há um rico. O pobre morreria sem o rico e o rico não teria mérito sem o
pobre. Os aspectos complementares sempre andam juntos. Da mesma forma, na eletricidade o polo positivo não
pode ser ativado sem o polo negativo.

Já que existem duas forças, as forças de doação e de recepção, sabemos que Yitschak pertence à coluna da
esquerda. Já Avraham pertence à coluna da direita. Porém, na coluna da esquerda também existe misericórdia.
Dentro de tudo existe de tudo! Dentro do macho, existe macho e fêmea e dentro da fêmea, existe fêmea a
macho. Cada um em sua proporção adequada. Assim, dentro do Bem existe Rigor e dentro do Mal também
existe Bem.

Então como a Sefirá Guevurah, que é representada por Yitschak, o filho de Avraham é Rigor, o anjo disse a Sara,
"se chamará Yitschak", que quer dizer sorriso, o antídoto para a depressão. Assim, o anjo inseriu o Bem onde
existe o Rigor. Veja que Yitschak é guevurah, mas se chama "sorriso". Foi o Anjo da Aliança quem deu este nome
ao filho de Avraham. É como Hashem lhe dizer: "Eu te coloco alegria para contrapor a tristeza". Porque a graça
adoça o rigor, a alegria adoça a depressão. Avraham representa a Sefirá Chéssed, Yitschak representa a Sefirá
Guevurah, e foi responsabilidade de Avraham trazer harmonia entre as duas.

Vamos imaginar que devido a curto-circuitos, os mundos superiores decidem que deve haver rigor contra uma
pessoa, uma família ou um povo. Vimos que o Anjo da Aliança, mesmo quando traz o rigor, também traz o
sorriso. Mas se algo muito duro foi decretado sobre uma família, onde está a doçura no meio disto? Onde está
Yitschak de Avraham? Onde está a doçura dentro do rigor?

D'us manda um pobre que é considerado como um morto, por não possuir nenhuma condição de vida, mesmo
nas questões mais simples. No momento em que se dá caridade a este pobre, ele recupera a vida! Ele agora tem
dinheiro para comer ou para achar um lugar para dormir. O sorriso, o alívio que sente este pobre, pela caridade
que alguém deu a ele, é o que adoçará o rigor que viria sobre esta pessoa e pode até mesmo desaparecer. Assim,
todas as vezes em que aparecer um pobre diante de você em sua vida, não acredite que você está fazendo algum
favor ao pobre. É justamente o contrário! É o pobre quem está fazendo um favor a você. D'us o enviou para
adoçar o rigor. E se você não tiver dinheiro para dar-lhe, converse com ele, considere-o vivo! Palavras
carinhosas poderão lhe trazer um sorriso.

Quando uma pessoa doa caridade a um pobre, lhe aparece um selo invisível em sua cabeça, na cabeça daquele
que doou a caridade. Esse selo invisível é um raio de graça que protege a pessoa que doou a caridade. Graças a
caridade e a hospitalidade, que fez Avraham com os três anjos que lhe visitaram, mereceu salvar ao seu
sobrinho Lot e a toda a sua família do decreto que veio sobre Sodoma.

Cada vez que praticamos hospitalidade em nossa casa ou em nossa sinagoga, devemos acompanhar o convidado
quando nos despedimos dele até fora do lugar, pelo menos por três passos. Muita gente por não exercer esta
hospitalidade, se prende a esta casa "fogo" (rigor). Quando acompanhamos o convidado até fora de casa por pelo
menos três passos, atraímos a Shechinah sobre nossa casa e sobre o convidado, como fez Avraham Avinu com
os anjos.
9 ‫ב’’ה‬

Sabemos que Avraham Avinu deu de comer aos três anjos. Mas anjos não são como seres humanos e não
comem. Mas o texto da Torah nos diz que comeram a comida oferecida por Avraham. À medida que os anjos
colocavam a comida em suas bocas, esta ia se consumindo e desfazendo-se. Fizeram isso para dar o mérito a
Avraham de lhes haver de fato, dado de comer. Avraham lavou-lhes as mãos e os pés. E os acompanhou até a
saída de sua tenda. Então há muito o que falar da hospitalidade e da caridade.

Nessa parashá temos muitos conceitos sobre Sodoma e Gomorra que representam o lado escuro e de Lot, sobre
o que fez para ser salvo e ainda de Avraham que representa o lado da luz.

SODOMA E GOMORRA

Quando havia um decreto, Avraham Avinu sabia de sua existência antes que isso ocorresse. Ele sabia o que iria
ocorrer com Sodoma e Gomorra de antemão. Isso porque está escrito que Hakadosh Baruch Hu nada faz antes
de avisar aos Seus profetas e servidores. Como Lot havia cuidado de Avraham, foi salvo dos rigores que vieram
sobre Sodoma e Gomorra. Daqui aprendemos que aquele que cuida de um tsadik e neste caso o tsadik era
Avraham, D'us o alivia ou cancela muitos sofrimentos que deveria passar e ainda recebe uma bênção imediata
para seus projetos. Muita gente não consegue levar a cabo seus projetos porque não cuida de um tsadik. Todos
nós deveríamos ter um tsadik, um chacham, um cabalista para nos ocuparmos dele, não deixando que nada lhe
falte. Isso é uma garantia de bênçãos para toda a vida. E foi isso que ocorreu com Lot por cuidar de Avraham.

Da mesma forma que pode haver rigor, pode haver bênçãos. Houve bênçãos para Avraham e Lot e ao mesmo
tempo maldição para Sodoma e Gomorra, ao mesmo tempo. No mesmo momento em que caiu uma chuva de
fogo, sal e enxofre, no mesmo instante foi enviada uma bênção sobre Avraham Avinu. Mas porque uma bênção e
uma maldição surgem ao mesmo tempo?

É como uma vela e um ovo debaixo da luz do sol num momento de intenso calor. O mesmo calor produzido
pelos raios de sol será responsável pelo endurecimento do ovo e do derretimento da vela. Da mesma forma, o
sol que escurece a pele de um ser humano, alveja uma roupa recém lavada. Não depende do que vem de cima,
mas da configuração do que está abaixo.

O pecado de Sodoma e Gomorra foi a total ausência de hospitalidade, a ausência total de caridade e
misericórdia. O mérito de Avraham foi alcançado pelo contrário, pois teve uma hospitalidade extrema e muita
caridade. Portanto, existe um mecanismo celeste, segundo o qual, se uma pessoa exerce a hospitalidade neste
mundo, o reflexo disto no mundo superior é que sua alma receba um visitante. E esse visitante é a Essência
Divina. Ao mesmo tempo que um visitante entra em sua casa, ao mesmo tempo entra a Essência Divina em sua
alma. Isso porque a alma é uma "casa" da Essência Divina. Estamos falando de convidados para a kedushá. Ou
seja, receber convidados para ensinar-lhes Torah.

Ao contrário, a falta de caridade e hospitalidade "expulsa" a D'us deste mundo. Esse vazio provocado pela
ocultação de D'us é ocupado pelo Mal. Então temos aqui duas forças: a força de Avraham e a força de Sodoma. A
força de Avraham foi a misericórdia, o amor que lhe deu fertilidade e descendência. A força de Sodoma foi a
iniquidade, o medo e a escuridão, que lhe renderam a destruição. De Avraham nasce Yitschak e todo o mundo
monoteísta. Se em Sodoma houvesse apenas caído fogo, seria possível reconstruir, mas se cai fogo, sal e
enxofre, já não há quem consiga plantar ali uma única semente nunca mais. Isso é esterilidade e não haverá
descendência. Ou seja, a falta de caridade gera esterilidade.

O Rigor, por sua vez, vem de uma demônia. (Lilith, este nome não deve ser pronunciado). Todos os dias esta
demônia roga a D'us que o ser humano seja destruído. Diante disso o Zohar pergunta: de onde vem tanto ódio
contra o homem criado? De onde vem um acusador que pede nossa destruição todos os dias? Esse ódio nasceu
quando os irmãos de Yossef o venderam. Aparentemente não parece existir uma ligação entre uma questão e
outra. Essa atitude dos irmãos de Yossef gerou um caos cósmico tão grande que gerou um demônio que pede
10 ‫ב’’ה‬

diariamente a destruição do gênero humano. Mas porque é assim? O que isso quer nos dizer? E isto ainda gera
todos os sofrimentos que o gênero humano vem sofrendo desde então.

Mais uma vez precisamos lembrar que não devemos ler no sentido literal mas que precisamos ver o que está
oculto nas palavras escritas. No sentido literal, o que representa Yossef? A alma. Seus irmãos neste conceito
representam os signos do Zodíaco.

Os irmãos de Yossef, representam o sistema astral e Yossef representa a alma. Vender Yossef ao Egito
representa a entrada de uma alma em um corpo. A alma ter que entrar num corpo, é causado pelo sistema
astral. Os astros empurraram a alma para que viesse a este mundo e entrasse em um corpo. O demônio é um
ser que não possui corpo, é uma inteligência maligna que possui uma inveja insuportável pelo fato do homem
possuir um corpo e por isso nos quer destruir. Isso é o que podemos chamar de inveja astral. Os astros
possuem inveja da raça humana e os querem destruir. Lembre-se que os astros geram eventos neste mundo.
Mas afinal, porque o fato de termos um corpo físico gera tanta inveja? Porque com o corpo nos foi dado o livre
arbítrio e a capacidade de crescer espiritualmente e nos permite ter prazeres dos quais os seres astrais não
podem sequer se aproximar.

E como podemos nos manter afastados desta inveja cósmica? A hospitalidade e a caridade.

*** Nota: parece controversa a afirmação acima. Perceba que tanto o sistema astral quanto as forças que
operam contra o ser humano são de certa forma chamados de "demônios". Seriam os astros demônios?
Absolutamente não, mas toda a vez que o homem se afasta da Vontade Suprema, todo o sistema da Criação que
deveria apoiar o homem se coloca contra ele. E não esqueça que o fato de o homem estar num corpo físico, ou
seja, descer do nível original, foi causado pelo erro cometido por Adam. Assim, mesmo com a queda, o "Projeto
Adam", segue sua jornada em busca do aperfeiçoamento e é isto que causa a inveja tanto do sistema astral,
quanto dos seres que entraram neste mundo pela relação de Adam e Chavah com a serpente e a demônia e
ainda pelos espíritos que são criados pelos erros diários cometidos pelo ser humano. Esse é um assunto muito
complexo e deve ser estudado com cuidado.

Yossef também é a merkava da Sefirá de Yesod. Yesod por sua vez está representada também pelos genitais e
ainda se refere aos sonhos de Yosef, a meditação. Ao atacarem Yosef, seus irmãos geraram um crime contra
Yesod, um crime contra a B'rit (contra as genitais), e um crime contra a meditação cabalística. Aqueles que
atacam Yesod de uma pessoa, se assemelham ao crime provocado pelos irmãos de Yosef. Da mesma forma,
aqueles que atacam a meditação cabalística se assemelham aos irmãos de Yossef. As pessoas que agem assim
são os que têm gerado essa demônia que instiga rigor contra o gênero humano. Observe que isso nada tem a ver
com a linha temporal, estamos falando de segredos escondidos na narrativa da história de Yossef Hatsadik

Observe que as histórias escritas na Torah não é algo preso a linha temporal, mas precisa ser entendida e
aplicada hoje, em nossos dias, como se nós mesmos fossemos os personagens ali presentes. Aquele que ataca
Yesod, ataca os sonhos e a meditação cabalística é como se tivesse vendido Yossef. O Nome Sagrado de Yessod, é
Shaday, justamente o Nome que aniquila os demônios. Aquele que ataca Yesod não permite que nos protejamos
contra os demônios, energias negativas e destrutivas. Aquele que ataca a Cabalá é responsável pela
desestabilização do mundo e pelo sofrimento do gênero humano.

Yosef foi vendido ao Egito, ou seja, a alma foi vendida ao corpo e uma vez que está num corpo se torna
vulnerável. Mas o que fez Yosef? Se tornou "dono" (senhor) do Egito. Isso quer dizer que Yossef se tornou dono
do seu corpo. Ele conseguiu este feito, recordando-se dos ensinamentos de seu pai, Yaacov. Seu pai possuía
duas "sucot", pois duas vezes o valor da palavra "sucá", é o mesmo valor da palavra Yaakov. Uma onde ele
estudava e outra onde rezava. Yosef se recordava dos ensinamentos, do comportamento e do idioma de seu pai.
Isso quer dizer que, mesmo que uma alma tenha baixado a este mundo e tenha entrado em um corpo, é capaz
de transformar-se em "faraó", ou seja, senhor do Egito (do seu corpo, dominar sua natureza humana). Temos o
poder de ser senhores deste mundo material como fez Yossef. Isso só é possível com a Torah, seu estudo e o
11 ‫ב’’ה‬

desvelar dos Segredos dos Céus. Mas pouquíssimos são aqueles que estudam profundamente a Torah e seus
segredos, por isso a humanidade vive como uma pessoa que anda por um quarto escuro e tropeça em tudo o
que está no caminho sem poder discernir o que está diante de si.

Em Yiov 28.24 está escrito: "Porque vê a terra de um extremo ao outro e considera tudo o que ocorre debaixo
dos céus. Este texto quer dizer que é um dever do homem, contemplar as obras de Hakadosh Baruch Hu,
consagrar-se dia e noite ao estudo do Sod, de modo que Hashem seja honrado neste mundo. Aquele que se
dedica a estudar o Sod está honrando Hakadosh Baruch Hu. Seguindo, o Zohar declara de forma direta: "porque
o Zohar (leia-se Segredos dos Céus) é a Árvore da Vida, para aquele que o cultiva lhe dá a vida abaixo e acima".

Então os anjos deixam Avraham e se dirigem para Sodoma. Três anjos visitaram Avraham, mas apenas dois
deles chegaram a Sodoma. A Torah não explica o que ocorreu ao terceiro. Dos três anjos, apenas um deles
dirigiu-se a Avraham, ou seja, falou com ele e este foi o Anjo da Aliança. Os demais apenas o acompanhavam.
Isso ocorreu porque o Anjo da Aliança, como já vimos, é o anjo da fertilidade, responsável por este aspecto. Mas
em Sodoma e Gomorra esse não era o assunto que deveria ser tratado. Um anjo só pode executar uma missão
de cada vez, nunca mais de uma. Uma missão já estava cumprida junto de Avraham e Sara, havia ainda duas
missões para serem realizadas em Sodoma, salvar Lot do decreto que estava determinado sobre aquelas cidades
e executar o juízo sobre elas. Por isso foram dois anjos para Sodoma, cada um com sua missão.

Quando Sodoma e Gomorra foram destruídos, Hakadosh Baruch Hu decretou que este dia seria um dia de
vingança contra os povos pagãos. Então o Zohar faz uma referência ao profeta Yeshayahu (Isaías) 13.12: "Farei do
homem algo mais precioso do que o ouro...". Esta é uma referência ao Mashiach. "... que será elevado sobre todos
os habitantes do mundo, que todos admirarão e se prostrarão diante dele". O Zohar então cita o Salmo 7.9: "Os
etíopes se prostrarão perante ele e seus inimigos beijarão a terra diante dele. Os reis de Tarsis e das ilhas lhe
oferecerão presentes, os reis da Arábia e de Sabá, lhe aportarão donativos, e todos os reis da terra lhe
admirarão e todas as nações se apegarão a ele".

Não há explicação para este texto se ele for olhado no nível literal. O que o texto quer dizer com prostrar-se ou
trazer-lhe donativos? Porque o texto diz que se submeterão a ele?

O fato de afirmar o texto que este "homem" será mais precioso do que o ouro, quer dizer que uma bênção de tal
magnitude descerá a este mundo que beneficiará a todos os habitantes do mundo. Graças a esta bênção que
será derramada sobre o mundo todas as pessoas o respeitarão, por isso está escrito que se prostrarão diante
dele.

A respeito de Israel, não existe nenhum anjo encarregado como ocorre com as demais nações. Nem mesmo há
um anjo responsável pela terra de Israel, mas o próprio Hakadosh Baruch Hu se encarrega disto, não existem
intermediários. Assim nenhum anjo pode dominar seja o povo, seja a terra de Israel. Israel é intocável pois, na
cabeça de Israel há um protetor e um dirigente que é Hakadosh Baruch Hu. A abundância que está dada ao povo
e a terra de Israel é concedida por Hakadosh Baruch Hu. Quando outros povos tentam dominar a terra de
Israel, esta simplesmente se nega a dar frutos. Por isso a terra de Israel está se transformando através do
tempo.

Sobre os demais povos, o Eterno determinou anjos, (sarim), príncipes encarregados dos demais povos e assim
também recebem seu alimento. Porém, isto ocorre por meio de um intermediário.

O Zohar então diz que aquele que é avarento com um pobre, melhor seria que não tivesse nascido. Estas
pessoas, segundo o Zohar, não possuem herança no mundo vindouro. Isto é o que ocorreu aos habitantes de
Sodoma e Gomorra. Todos ressuscitarão na ressurreição dos mortos, com exceção dos habitantes de Sodoma e
Gomorra, por não terem sido generosos com os pobres e não terem exercido hospitalidade.

O Bem e o Mal são medidos por caridade e hospitalidade. Esta parashá faz esta observação, por comparar em
suas narrativas Sodoma e Gomorra, em seu egoísmo e avareza, com Avraham Avinu em sua bondade e
12 ‫ב’’ה‬

hospitalidade. Está do lado do Bem aquele que produz alguma bondade, caridade e hospitalidade para os
pobres, está do lado Mal, aquele que age de forma contrária. Ainda aprendemos que aquele que é bom,
misericordioso e hospitaleiro, o mundo existe por causa desta pessoa (sustenta o mundo), do contrário, melhor
teria que não tivesse vindo ao mundo.

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DAAT - SEFIRÁ (OU SEMI SEFIRÁ) INVISÍVEL

Por que esta semi sefirá é chamada invisível?

Observe como se escreve em hebraico a palavra "religioso" - datí - ‫ דת‬no sentido de alguém que pratica todos os
ritos e se esforça em entender como devem ser realizados com zelo e perfeição. A diferença entre "religioso" em
hebraico e o nome desta semi sefirá está numa única letra:

dati - ‫דת‬ daat - ‫דעת‬


Daat pode ser traduzido como "sábio". Então existe uma diferença entre um religioso e um sábio, que consiste
em uma letra, como vemos acima; a letra ayin. A letra ayin, é a representação de dois olhos ligados ao nervo
óptico, observe o desenho da letra ayin. Esta letra tem o valor de 70, o mesmo valor de Sod - ‫סוד‬, segredo, numa
referência direta aos Segredos dos Céus. Mas quando a letra ayin é escrita por extenso, no hebraico temos: – ‫ע‬
‫עין‬, ayin = 70; youd = 10 e o nun = 50. Somando estas três letras temos 130, o mesmo valor da palavra Sinai - ‫סיני‬,
ou ainda sulam = escada = ‫סלם‬. Como podemos substituir palavras com o mesmo valor, então podemos dizer
que: "Moshê kibel Torah mi Sinai"- "Moshê kibel Torah mi sulam" - ou ainda - "Moshê kibel Torah mi 'ayin'
(ayin+youd+nun)". Uma vez que o ayin traz a representação de dois olhos presos ao nervo óptico, então podemos
dizer que Moshê recebeu a Torah que ele viu, no sentido de ter visto durante os quarenta dias e quarenta noites
que passou no Sinai, como funcionam os mundos espirituais. Quarenta dias vendo como funcionam os mundos
espirituais é algo que ninguém é capaz de ver. Sulam é escada em hebraico, pois a Torah é uma escada pela qual
se ascende aos mundos superiores. Lembre-se que a letra ayin em si, tem o valor de 70, o mesmo valor de Sod.

Na Torah, a palavra Sinai está escrito como vimos acima, samer, youd, nun, youd - ‫סיני‬. Normalmente não é
escrito assim, mas a presença destes dois youd, mostram o mundo de acima e o mundo de abaixo. Um youd
acima, e um youd abaixo, nos remete a letra álef, que é formada por dois youd e uma vav, inclinada - ‫א‬. Álef é
uma alusão direta a Hakadosh Baruch Hu. Então também podemos dizer que Moshê recebeu a Torah que ele viu
em D'us! E ele viu o que ninguém mais pode ver.

Portanto a letra ayin é o que falta ao "dati", ou seja, ao religioso. Isso quer dizer que um religioso que não estuda
a Torah de forma profunda a ponto de chegar aos Segredos dos Céus, não tem a capacidade de ver! Lhe faltam
os dois olhos e o nervo óptico! Já o DAATI, é o sábio. Aquele que consegue ver. Portanto esta semi sefirá
chamada DAAT, é a capacidade de ver os mundos de acima.

O Nome Sagrada ligado a Daat é ‫אהוה‬. É meditando neste Nome que nos será permitido ver os mundos
superiores. Neste Nome, muito semelhante ao ‫אהיה‬, a youd entre as he, baixa tornando-se um vav. A youd é a
boca, mas a vav é a b'rit, o sinal do pacto. Com o primeiro Nome citado acima, trazemos filhos a este mundo,
mas com o segundo trazemos anjos. Temos então duas ferramentas criadoras: as palavras e o órgão que emite a
gota de sêmen.

Usamos para a meditação o primeiro Nome citado com as seguintes vogais:

‫ֵא ְה ְו ֵה‬
13 ‫ב’’ה‬

Esse é o Nome Sagrado que nos dá o "ayin" de Daat, que nos deixa ver os mundos superiores.

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EVENTOS BONS OU MAUS?

A parashá Vaierá no Zohar segue mencionando que Lot estava em Zoach e teve medo de perecer. Por isso, Lot
se retirou da cidade de Zoach para uma montanha com suas duas filhas. A Torah nos conta que isto ocorreu
depois da destruição de Sodoma e Gomorra. Embora o Anjo encarregado de livrar Lot e sua família os tenha
advertido a ir para uma montanha, Lot pediu para ir para esta pequena cidade nos arredores de Sodoma e
Gomorra.

As duas filhas de Lot, diante de toda magnitude da destruição de Sodoma e Gomorra, creram que toda a terra
estava despovoada e daí tiveram a ideia de embebedar seu pai com vinho e procriar dele, a fim de que o mundo
seguisse sendo povoado. Deste pensamento equivocado, nasceram dois filhos provenientes de incestos, que
geraram dois povos que, mais tarde, se tornariam inimigos de Israel: Moav e Amon.

O Zohar segue dizendo que Hakadosh Baruch Hu, dirige o mundo através de acontecimentos misteriosos. Esses
acontecimentos às vezes parecem negativos e mesmo pesados e às vezes parecem muito bons e positivos.
Porém, são acontecimentos raros, pois o que ocorreu com Lot e suas filhas realmente é algo raro. Ocorre que
um mesmo evento criado, pode tomar uma dimensão feliz ou de grande desgraça, um mesmo evento. O
comportamento do ser humano é que vai determinar se este evento trará algo bom ou não.

Quando ocorre um acontecimento neste mundo, os seres humanos acreditam que este acontecimento será para
sempre. Em um momento, Hakadosh Baruch Hu, gira a "roda do destino" e este evento muda de um pólo para
outro imediatamente. Poderíamos tomar como exemplo: a abertura do Mar Vermelho. O que parecia um
caminho sem volta, uma barreira que gerou grande angústia, de repente se transforma numa solução
sobrenatural e extremamente maravilhosa. A Tora nos conta que até mesmo um cântico comemorativo foi
escrito por Moshê por conta desta tão grande manifestação Divina. O mesmo Mar Vermelho, logo depois se
tornou a destruição de todo o poderio bélico do Egito.

Sendo assim, o Eterno não cria eventos nem bons e nem maus, mas cria eventos de base, como matéria prima,
que logo tomará uma forma positiva ou negativa, dependendo de nosso comportamento. O Eterno é como um
oleiro que coloca o barro preparado sobre a roda, e mesmo que esteja girando, não dá forma ao barro. Caberá
ao ser humano dar forma a este vaso, seja a forma de uma catástrofe, seja a forma de um evento que traga
grande felicidade.

Daqui se aprende que, quando alguém diz: "seja o que D'us quiser", é uma grande estupidez! Na verdade, não é o
que D'us quiser, mas o que faremos com esta matéria prima, dependendo de nossos atos, pois foi assim que
Hakadosh Baruch Hu determinou. Assim, de um evento terrível, como o que vemos na história de Yossef, após
descer ao que parecia o fim da história e uma condenação final, do cárcere foi elevado ao cargo de vice-rei do
Egito.

O mesmo aconteceu com Avraham Avinu, ou seja, todos os reis da terra conspiraram para matá-lo, isso porque
Avraham Avinu descobriu o Eterno. Descobriu que só existe um D'us, mas todos os reis da terra, idolatravam
vários deuses. Diante da postura de Avraham se sobressaltaram, pois viram nele um revolucionário que poderia
romper tradições que eles defendiam há várias gerações e em muitas delas se baseava a autoridade destes reis,
cridos muitas vezes como representantes dos deuses. O evento é que os reis da terra se organizam para matar
Avraham Avinu, este é o evento base, ou a matéria prima, mas no momento em que Avraham circuncidou-se,
foram os reis que desejavam matá-lo que sofreram o que eles mesmos planejaram. Avraham não apenas não
morreu, mas gerou uma fonte de genealogias depois dele. Avraham sagrou-se como o pai do monoteísmo. Veja
que um evento estava planejado, mas em um momento quando o B'rit Milah foi realizada, tudo mudou por
completo. Um evento base somado a uma atitude de Avraham, fez surgir uma definição totalmente contrária ao
14 ‫ב’’ה‬

que era esperado pelos reis. Esse ato de Avraham deu "forma" para esta argila que estava ali como matéria
prima.

O mesmo ocorreu na guerra de Yom Kippur, alguns dos generais israelitas disseram entre si que aquela guerra
já estava perdida. Mas alguma coisa ocorreu, em um momento o contrário é o que se viu. Alguma coisa ocorreu
entre os homens que estavam rezando e os que estavam lutando, pois são as atitudes do homem que definem o
que será dos eventos que se formam, como matéria prima.

Lot teve relações conjugais com suas duas filhas, como já vimos. Para que conseguissem ter relações com seu
pai, as filhas de Lot o embebedaram com o mesmo vinho que embebedou Noach! De uma destas duas relações
nasceu Moav, que mais tarde daria origem a um povo que se tornou inimigo jurado do povo judeu. É justamente
de Moav que nasce Ruthe, de cuja descendência virá o próprio Mashiach. O que diremos sobre isso? A
descendência de Mashiach vem de um incesto? O primeiro filho deste incesto se chamou Moav e o segundo Ben
Ami (Amon).

Mas como explicar esta questão relacionada a Mashiach dentro de uma história tão ruim? A Luz dos mundos
superiores precisam descer dos mais altos níveis até nosso mundo, mas isso não ocorre sem que haja oposição
das forças do Mal que tudo farão para interceptar essa Luz. As forças do Mal não ficariam passivas diante da
descida de almas como o Rei Davi e Mashiach. Fariam de tudo para provocar um aborto, ou um assassinato. Veja
a história de Davi, veja o quanto Shaul desejou e fez para matar Davi. Mas numa história tão sórdida como dois
incestos praticados em meio a bebedeira? Isto é pura impureza e caos! Sobre isso, essas forças malignas não
fizeram nenhum caso, talvez considerando como algo até proveitoso para seus alvos e propósitos, já que dois
povos inimigos foram gerados daí. Mas foi desta forma que o Eterno fez a alma de Davi e a alma de Mashiach ter
sua linhagem determinada e garantida. Difícil de entender, mas trata-se de uma estratégia. O difícil de
entender é que Mashiach, mesmo quando trazido à terra, segundo explicam os cabalistas, não virá de pais
piedosos e religiosos, mas de pais comuns sem tradição ou relevância histórica, política ou religiosa. E ainda
serão estéreis, para que não sejam detectados pelas forças do Mal. É por isso que as almas mais elevadas
vieram e vem de mulheres estéreis, como ocorreu com Sara, mãe de Yitschak e com Rivika, mãe de Yaakov, e
ainda Rachel, mãe de Yossef Hatsadik, Hanna, mãe de Sh'muel e muitos mais ao longo da história. Veja ainda
que Moshê Rabeinu, surge de um homem que está no palácio do próprio Faraó e que convivia diariamente com
toda a idolatria do Egito. De dentro do palácio de Faraó surge aquele através do qual o Egito foi destruído pelo
Eterno.

SHECHINAH - IRMÃ

O Zohar então volta a falar do momento em que Avraham diz que Sara é sua irmã. Mas esta é apenas a leitura
literal. Irmã é uma metáfora para a Shechinah, a Presença Divina que sempre estava na tenda de Sara. Mesmo o
texto da Torah não diz realmente que Avraham tenha pedido a Sara que dissesse a Faraó que era sua irmã. Não
é isso que a Torah está dizendo realmente. A Torah diz: "Diga a Sabedoria, és minha irmã".

A Shechinah corresponde a Sefirá Malchut. Sabedoria em hebraico é Chochmah. Este texto é um clamor para
que Chochmah seja conectada com Malchut. Em outras palavras, estamos dizendo que a meditação fabrica a
matéria, porque Malchut é o mundo material, já a meditação é o mundo de Chochmah. E o que é físico no
homem? A gota de sêmen! Esta substância é capaz de unir os dois mundos trazendo uma alma para dentro de
um corpo, gerando um filho físico, neste mundo. Então os sábios dizem: se alguém quer criar eventos físicos,
deve meditar durante a relação sexual, no momento em que a gota de sêmen vai ser emitida. Isso é o que quer
dizer "Diz a Sabedoria: és minha irmã".

D'US SE APRESENTA PARA ÍMPIOS?

O Zohar então nos diz que D'us aparece para pessoas ímpias. Temos pelo menos três casos: Avimelech, rei dos
filisteus, Bilam e Lavan. Mas como entender isso já que o Eterno não se apresenta para pessoas impuras? Então
15 ‫ב’’ה‬

quem é este que apareceu para estas pessoas impuras e que usurpam o Nome Sagrado (‫ ?)יהוה‬Na verdade é um
anjo do lado do Rigor, que se veste com o Nome Sagrado que foi invocado de forma impura e que aparece para
estas pessoas ímpias. Todas as vezes que lemos na Torah ou em qualquer outro lugar, que Hakadosh Baruch Hu
apareceu para um ímpio, precisamos ter isto em mente, trata-se deste Anjo do lado do Rigor, vestido no Nome
Sagrado, que se apresentou a esta pessoa, pois Hakadosh Baruch Hu jamais se apresenta a uma pessoa impura.
Aquele que desejar conectar-se diretamente com o Eterno não pode ser uma pessoa impura.

A LÍNGUA MENTIROSA

O Zohar segue dizendo que a língua mentirosa não tem grande duração, mas a boca verdadeira é firme. A "boca
verdadeira" é uma referência a Avraham Avinu. Todas as palavras de Avraham tanto as primeiras quanto as
últimas eram verdade. Isso nos dá garantias de que o livro Sefer Yetsirá, escrito por Avraham Avinu é
verdadeiro e neste livro está toda a correspondência das letras hebraicas com os astros e com os órgãos do
corpo humano. Todo o livro é verdadeiro e o Zohar ratifica esta afirmação.

SHECHINAH - IRMÃ - UNIDA A SABEDORIA COM AMOR

Em Provérbios 7.4, está escrito: "Diz a Chochmah, és minha irmã". O fato de que Avraham estava desposado com
Sara, na verdade é uma referência a Shechinah que estava com Sara, por isso está escrito que Avraham estava
desposado com sua irmã. "E se uniu a Shechinah com amor". Isso quer dizer que ao unir-se em relação conjugal
com Sara, no momento em que a gota de sêmen foi emitida, se uniu a Chochmah com amor. Ou seja, Avraham
foi instruído pelos Céus, sobre a meditação adequada para aquele momento e é o que estava fazendo no
momento da emissão da gota de sêmen. E se a Torah nos diz que todas as palavras de Avraham eram
verdadeiras, então temos que em seus atos, Avraham soube conectar-se com o Eterno.

Observe que em uma B'rit Milah existem quatro passos: cortar, separar, dobrar e aspirar com a boca. E qual é a
conexão que pode haver entre a boca e a B'rit de um bebê?

A B'rit se materializa com a procriação e a palavra gera um anjo. Cada vez que falamos geramos um anjo. Se
conectarmos esse Anjo com a B'rit, materializamos o que dizemos. Esse é o segredo para que tudo o que
verbalizamos se torne físico. A B'rit gera um ser físico e a boca um ser espiritual, se unirmos os dois,
materializamos o que dizemos. É ensinado que o pensamento do Moel (aquele que executa a B'rit no bebê), é
decisivo no momento em que a B'rit é realizada, pois dependendo disso, este menino será de grande ou
pequena realização em sua vida. Se o Moel não colocar a kavaná correta não vai funcionar. E se for um grande
sábio que faz a circuncisão, tudo o que sair da boca deste menino se cumprirá.

Bará Kedibará (abracadabra), "criou como falou". Assim como falou se construiu um evento físico. É daí que sai a
expressão "abracadabra". Para isso é preciso que uma muito boa B'rit Milah tenha sido realizada. Por isso a
expressão "B'rit Milah" é composta por duas palavras; "b'rit" que quer dizer aliança e "milah" que se refere a
boca, ou seja, uma conexão entre a palavra e a b'rit. Mas aquele que age como Avraham Avinu, ou seja, "diz a
Chochmah, és minha irmã", que significa meditar durante o ato conjugal, gera a conexão com chochmah neste
momento. E por que meditar justamente neste momento?

A física quântica parece nos trazer uma resposta. Temos visto que o cérebro direito possui magnetismo, mas
sobretudo eletricidade e o coração, eletromagnetismo, mas sobretudo magnetismo e no fígado, existe gravidade
o que lhe dá peso e força material. Dos três o elemento mais forte é o magnetismo do coração que está
simbolizando a emoção. Existe alguma emoção mais forte do que o orgasmo no momento conjugal? Se alguém
dirige esta emoção para a meditação em um Nome Sagrado, essa emoção ao associar-se a forma que lhe dá o
Nome Sagrado, cria um evento.

Quando Avraham foi ao Egito, teve que unir-se à sua irmã, para não assimilar-se e ser seduzido pelos cultos
egípcios. O que a Torah nos está ensinando é que pela meditação, Avraham uniu-se a Shechinah e desta forma
não foi influenciado pelas práticas idólatras do Egito. Aquele que sabe fazer este tipo de meditação durante o
16 ‫ב’’ה‬

ato conjugal adquire tal força que nenhuma influência exterior pode tocar-lhe. Isto é a fé absoluta. Por isso
Avraham era o único monoteísta de seu tempo e não se assimilou a nenhum dos reinos que havia ao seu redor.

Aquele que se une a Chochmah, ou seja, a meditação cabalística e que a usa com a Shechinah, está protegido
das influências exteriores. E por que o Zohar usa a expressão "irmã"? Irmã é um símbolo, irmãos são
indissolúveis, impossível serem dissociados por ter o mesmo sangue, o mesmo pai e a mesma mãe. Possuem o
mesmo DNA! Isso quer dizer que, quando alguém une Chochmah com a Shechinah, está gerando entre a
meditação e a B'rit, uma relação de irmãos, indissolúvel.

DESCER AO POÇO E NÃO FICAR PRESO NELE

Há uma história que diz o seguinte: se um homem quiser descer a um poço e tem medo de que uma vez que
desça não mais consiga subir, precisa amarrar-se a uma corda, descer ao poço e quando quiser subir, basta usar
a corda. Se não fizer assim, não poderá voltar a subir.

Isso é uma metáfora para falar sobre a alma de um tsadik (como Avraham Avinu) que ao descer a um mundo
onde só existem idólatras, como fará para sair deste poço? Vai precisar de uma corda, e que corda será esta? A
meditação cabalística! Aquele que usa a meditação cabalística, nunca ficará preso no fundo do "poço". Mesmo
que precise descer ao mais profundo lugar de impureza, saberá sair deste sem problemas.

O SEGREDO DA FELICIDADE

Quando uma pessoa ama Hakadosh Baruch Hu, é correspondido com este amor. Isso ocorre sob a forma de um
círculo de proteção colocado sobre ele, para lhe guardar e cuidar em todas as suas empresas e viagens e em
tudo o que fizer. E quanto amava Avraham Avinu a Hakadosh Baruch Hu? Onde Avraham ia tinha uma única
preocupação: não se preocupava em nada com sua própria pessoa nem com seus interesses pessoais. Todos os
seus esforços eram para estar ligado a Hakadosh Baruch Hu. Disto podemos entender que Avraham era um
homem feliz, pois amava o Eterno e era cuidado por Ele, bendito seja.

Para ser feliz é preciso que o Eterno cuide de você, mas para ser cuidado por D'us é preciso amar-lhe. Mas
como alguém pode amar a D'us? Se eu puder amar a D'us da maneira como se deve amar, então serei cuidado
por Ele e serei feliz. Se estivermos bem com D'us, Ele mesmo se encarrega de nossos assuntos pessoais, mas
para isso precisamos estar bem com D'us. A grande questão então é: como posso amar a D'us de forma correta
para que Ele cuide de mim e me faça uma pessoa feliz? Segundo o Zohar, uma pessoa que não é feliz é uma
pessoa que não sabe amar a D'us. Avraham Avinu tinha tudo, justamente porque amava Hakadosh Baruch Hu.

"Veachavtá et Adonai Elohecha, bechol levavechá, uvechol nafchechá, uvechol meodecha...".

A forma correta de como se deve amar a D'us está na Torah, no texto que recitamos no K'riat Shema: "Amarás de
todo o teu coração, com toda a tua nefesh (nafishechá) uma alusão ao fígado onde está a maior concentração de
sangue e "meodecha", com o teu melhor ou com todas as tuas forças, uma referência ao cérebro. Então neste
trecho do Shema, o primeiro parágrafo, temos coração, cérebro e fígado, como sendo a forma correta de amar a
D 'us. Do que estamos tratando aqui se não da meditação cabalística? Esta é a forma como fazemos ao meditar,
trazemos o Nome Sagrado ao cérebro, e daí ao coração e então ao fígado, como temos aprendido. Essa é a forma
correta de amar a D'us, fazer passar (visualizar este movimento), os Nomes de D'us pelo nosso cérebro, e daí ao
coração e então ao fígado, voltando ao coração e ao cérebro. Isso foi o que fez Avraham Avinu e como
consequência o Eterno não o chamou de meu povo, mas de meu amigo.

O REFORÇO PARA VENCER O MAL

O Zohar ainda nos ensina que um homem não pode vencer neste mundo com sua própria força. Não há como
vencer a batalha contra o Mal e contra si mesmo com nossas próprias forças, sem a ajuda superior. Mas veja! O
Zohar nos diz que não temos forças para vencer o Mal neste mundo! Mas não diz que não podemos ir a outro
17 ‫ב’’ה‬

mundo para vencer o Mal. É para isso que serve a meditação. Saímos de nossos corpos e passamos a mundos
superiores, então podemos vencer o Mal. Logo os problemas deste mundo não são resolvidos neste mundo, mas
nos mundos superiores.

Havia um jovem chacham cabalista em uma época em que eram lançados mísseis iraquianos sobre Israel. Esse
jovem cabalista disse ao General de Israel: se soubéssemos amar a D'us, não teríamos que suportar isso. E o
general apontou para os mísseis que eram lançados naquele momento e disse ao jovem: ame a D'us agora e veja
se pode parar estes mísseis! O jovem lhe disse: eu não posso para estes mísseis, mas poderíamos ter feito que
nunca fossem lançados. O jovem disse que o evento que então viviam poderia ter sido anulado, evitado, mas
agora que estava em curso já não havia nada a fazer.

Este mundo está dominado por um demônio desde a Criação de Adam quando este foi seduzido pelo nachash (o
serpente). Esse demônio (uma energia espiritual sem corpo) não para de acusar ao homem dia e noite, para que
o homem seja destruído e então ele possa levar a alma do homem. Não estamos falando de figuras folclóricas
como em filmes de terror, mas de energias que vêm de outras dimensões e que não param de agredir ao
homem. Esse demônio só será definitivamente vencido por Mashiach. Está escrito em Zechariah 13.2: "Farei
desaparecer da face da terra, o espírito impuro". São palavras de Hakadosh Baruch Hu acerca dos dias de
Mashiach.

O pecado da queda de Adam foi corrigido pelos patriarcas, mas logo o mundo voltou a este mesmo estado com a
fabricação do bezerro de ouro, mas em que momento esta força demoníaca decide que não pode nos suportar?
Até um determinado momento este demônio podia permanecer a parte da existência do homem. Mas isto até
que o homem fez algo de tamanha gravidade, que fez com que este ser espiritual passasse a odiar o ser humano.
Este momento foi quando os irmãos de Yossef o venderam ao Egito! Existe aí uma profundidade muito além do
texto literal escrito na Torah, como vimos acima.

Yossef Hatsadik, como é chamado, é uma referência a Sefirá de Yessod (Tsadik Yessod Olam - o justo é a base do
mundo). Os filhos de Yaakov eram doze e simbolizam os signos do zodíaco, ou seja, o mundo planetário. Yossef
ainda simboliza a neshamah, ou seja a alma do homem. A história na Torah de Yossef que desce ao Egito é uma
metáfora para a alma que desce para um corpo físico. Egito (mitsrayim), vem da palavra mitsach, que significa
estreito em hebraico, ou seja, a alma é submetida ao "estreito" do corpo físico, um estreitamento de sua
amplitude, como um aprisionamento. As inteligências astrais, venderam a alma e a fizeram baixar a um corpo
físico. Desde que este dano foi feito a neshamah, este demônio começou a odiar o ser humano. O problema vem
da inveja das inteligências astrais chamadas "malachim" contra o homem. Os malachim invejam os seres
humanos. Mas por que?

Os malachim foram criados no quarto dia da Criação, já o homem no sexto dia. Segundo o Zohar, cada dia da
Criação engloba o dia anterior. Sendo assim, o homem ao ser criado no sexto dia, engloba toda a Criação que
surgiu nos dias anteriores. Isso inclui as inteligências astrais. Todos os mundos criados antes do sexto dia estão
englobados no homem. Não há nada na Criação que não esteja dentro do ser humano. Isso nos coloca acima dos
malachim. Estes malachim, porém, querem nos fazer acreditar que somos nós quem estamos abaixo deles. E
como fizeram para que creiamos desta forma? Nos levaram a um mundo onde existem demônios que nos
atrapalham o tempo todo, nos enchendo de trabalhos e fadigas, preocupações e tarefas que nos impedem de ter
tempo para estudar e meditar nos Segredos dos Céus e trabalham para que intelectualmente sejamos estreitos
para não nos darmos conta da verdade de que somos nós que estamos acima deles e não o contrário.

Esse é o segredo contido na história da venda de Yossef por seus irmãos, os malachim que venderam a
neshamah. Mas o que fez Yossef? Uma vez que foi levado ao Egito tornou-se vice-rei do Egito. Isso quer dizer
que a Neshamah é tão forte, que uma vez estando aqui, pode assenhorear-se deste mundo. Estar aqui para a
Neshamah é algo pesado e sofrível, o único dia em que este peso se desfaz é o dia de Pêssach, a saída do Egito.
Todo o rito e as kavanot que usamos no Seder de Pessach é para dar força a Neshamah e esta possa liberar-se
da prisão do corpo físico. E se o Eterno não nos ajudar, nunca sairemos desta prisão. E o Eterno nos ajuda
18 ‫ב’’ה‬

através de Moshê! Se lermos o nome de Moshê em hebraico (‫ )משה‬de trás para a frente, temos a palavra
"Hashem" (‫)השם‬. Isso quer dizer que com os Nomes Sagrados em Moach (cérebro), Lev (coração) e Kaved (fígado),
com esse Shem (nome - ‫)שם‬, Moshê ao contrário é Ha Shem, nos liberamos das forças do Egito.

Mas quando não estamos em Pêssach, como nos libertamos destas forças? Recitando os korbanot (os
sacrifícios). Esse é um mandamento que nos aconselhou Hakadosh Baruch Hu, para sair da influência deste
demônio que, como dissemos, não pára de requerer acusações contra o ser humano. Em quais dias esse
demônio faz estes requerimentos? Em todos os dias onde o rigor é mais forte, como Rosh Hashaná, e antes de
Yom Kipur, pois o dia de Yom Kipur em si, é um dia de misericórdia.

Existe uma outra ferramenta para vencer o Mal; trata-se do Shofar. O Shofar é muito útil para tal pois imita os
ruídos do fogo, da água e do ar. E porque se diz isso sobre o Shofar? Há um shofar que tocamos em Rosh
Hashaná e outro que tocamos todos os dias e a toda hora. A traquéia do corpo humano tem a forma de um
Shofar. Pela traquéia sai calor, pois o vapor que sai do interior do corpo, sai a 36 graus positivos. Segue
misturando-se a água porque mistura-se a saliva e tem ar misturado que vem dos pulmões. Da mesma forma
ocorre no momento em que sopramos o Shofar, para que seu som seja ouvido são emitidos fogo, água e ar. No
caso de nosso "Shofar diário", utilizamos palavras de kedushá, onde impulsionamos o que é bom e que fortalece
a presença Divina em nosso meio. Por isso é tão grave fazer lashon hará, pois está sendo usado um shofar para
dar força a este demônio! Este shofar natural nos foi dado para vencê-lo e não para dar-lhe força. Porém, se
devemos recitar os sacrifícios, também devemos recitar os incensos. Vamos entender então o que são os
sacrifícios e incensos.

OS SACRIFÍCIOS

A Cabalá nos ensina que o animal que era degolado no Templo, não apenas tinha o seu sangue derramado, mas
também devia ser posto sobre as brasas até que nada sobrasse além de cinzas. Aquele que ofertava deveria
mentalizar que aquele animal na verdade, era ele mesmo. Da mesma forma, temos que entender que aquele
animal somos nós, pois as mãos do que ofertava o animal eram postas sobre a cabeça do animal para que a força
animal daquela pessoa fosse transmitida ao animal. Assim como daquele animal não devia sobrar nada além das
cinzas, assim também temos que sacrificar nossas más midot até que nada sobre além das cinzas das mesmas.

OS INCENSOS

Se os incensos fossem acesos com carvão ou com madeira era inválido. Era necessário tomar as cinzas em
brasas do sacrifício feito com o animal e com isto se acendia o incenso. De outra forma não era autorizado seu
acendimento.

Isso nos ensina que, até que nossas más midot não tenham sido transformadas em cinzas, não poderemos
meditar, pois são as cinzas deste sacrifício que acenderão a meditação simbolizada aqui pela recitação dos
ketoret (incensos). Isto é o que a Torah chama de "odor agradável ao Eterno". É desta forma que se pode vencer
esta força que atrapalha a neshamah.

Isso também é o que significa o "fogo estranho" que foi utilizado por Nadav e Avihu quando morreram. Eles não
utilizaram as brasas do sacrifício para acender o incenso. Suas más midot não foram transformadas em cinzas.
E neste caso, de que má midot estamos falando? Eles entraram no Kodash Hakodashim sem estar casados. E
eles se reencarnaram em Pinchás, pois no momento em que Pinchás atravessou com sua lança a Kosbi e Zimri
que estavam em uma relação sexual indevida, logo após entraram em Pinchás as almas de Nadav e Avihu. Sendo
Pinchás filho de Cohen, não tinha autorização para matar. Os descendentes de Shimon foram para
apedrejar-lhe já que Zimri era príncipe dos filhos de Shimon, mas pararam de repente ao perceber que no
corpo de Pinchás, já não estava apenas Pinchás, mas estavam ali também Nadav e Avihu. Pinchás era casado e
desta forma, fizeram o tikun, a reparação sobre o "fogo estranho" que haviam usado antes. Desta forma a vida de
Pinchás foi salva naquele momento.
19 ‫ב’’ה‬

SOBRE AS FORÇAS DO BEM E AS FORÇAS DO MAL

Quando o acusador do mundo, o satan, observa que há um movimento de misericórdia que desce do mundo de
acima para o mundo de abaixo, imediatamente fica confuso, sua força é diminuída e desta forma se torna
impotente para fazer danos ao ser humano. O antídoto para o Mal é a Misericórdia. Uma pessoa que não tem
misericórdia, sua vida é extremamente penosa pois terá o acusador agindo com toda a força, acusando-o de
tudo o que puder perante os céus. E então se abrem as portas do rigor para estas pessoas.

Quando as portas de rigor são abertas, o Eterno sempre associa esta abertura de rigor a algo de Misericórdia
para que o rigor não seja puro e muito duro. A exceção foi Sodoma e Gomorra, a parte que lhe caberia de
Misericórdia, foi dada a Lot e sua família. Lembre-se que um dos grandes problemas de Sodoma e Gomorra era
justamente não ter Misericórdia de pessoas em estado de necessidade ou miséria.

Quando a Clemência Divina se manifesta, a Lua desaparece, fazendo também com que haja confusão sobre o
Satan e lhe retira o poder de fazer danos ao homem. Em Yom Kipur quando se faz o sacrifício do carneiro, o
mesmo Satan se transforma em um anjo defensor de Israel.

Haviam dois animais separados em Yom Kipur, um era sacrificado ao Eterno e o outro levado a Azazel, que era
lançado de um penhasco, como vemos em Vayicrá 16. Quando este rito era realizado, o anjo acusador se
transformava em anjo defensor. O que o paralisa e o deixa imóvel é o toque do Shofar.

Daí aprendemos que as forças do Mal dependem muito da irradiação da Lua, pois a Lua é um símbolo de Rigor.
Os tefilins são amarrados todos os dias com exceção de Shabatot e Chaguim, para contrapor-se aos efeitos de
Rigor que transitam através da Lua. Não adoramos os planetas nem reconhecemos qualquer força neles, mas
sabemos que através deles transitam forças, como nos ensina a Cabalá.

No Tehilim 127.3 está escrito que os filhos são uma doação de Hakadosh Baruch Hu. O Zohar nos diz que para
gozar da herança de D'us, para estar unido a D'us e nunca separar-se é preciso ter filhos. Logo as boas obras
que forem realizadas pelos filhos neste mundo, beneficiam muito o pai em outro mundo. A herança de
Hakadosh Baruch Hu, quando mencionada como "a terra", ou "a terra de Israel" é uma metáfora para falar do
Mundo Vindouro. Por isso se diz que, quando uma pessoa está realmente fazendo Aliáh, não está indo para a
terra física de Israel, mas mudando-se para o Olam Habá aqui na terra, onde ainda vive.

O Olam Habá, mau traduzido como "mundo vindouro", segundo Avraham Abulafia, grande cabalística em seu
livro Sifrei Torah, o livro dos segredos da Torah, diz: imagine uma imagem que está distorcida por parasitas,
algo como objetos que causam interferência numa antena, por exemplo. Em sua época não havia TV, mas
imagine algo embassando os olhos. Isso seria o Olam Hazé, o mundo em que vivemos agora. Logo, poder ver a
imagem nítida é justamente o Olam Habá. A capacidade da consciência de ver nitidamente o que de fato
acontece e o que de fato é real, isto é o Olam Habá. Neste mundo não vemos com clareza porque convivemos
com outras forças e com outras dimensões que não vemos e portanto, estamos como que no escuro a respeito
do que está realmente acontecendo.

Essa clarividência que nos deixa ver o mundo de acima e como funciona as outras dimensões em relação a esta
em que vivemos, isso é o Olam Habá. Estar cegos é estar no guehinom e isto nos faz sofrer grandes dores. E a
grande dor é justamente não saber o motivo desta dor. Isto causa grande sofrimento.

O Zohar diz que quando um pai é digno, as almas que faz baixar sobre seus filhos, são almas que baixam desde
Atsilute, um mundo muito elevado e a Shechinah só se une aqueles que se consagram ao estudo do Zohar
Kadosh.

O SEXTO MILÊNIO
20 ‫ב’’ה‬

Diz o Zohar: No sexto milênio que é a imagem do Vav, (cujo valor é 6), esta Vav vai ressuscitar a He que é a
Gueulá (redenção). Então a Vav subirá ao Youd e voltará a descer até a He.

Sabemos que hoje em dia no Nome de D'us ‫יהוה‬, existem três letras que estão juntas; ‫יהו‬, enquanto a última he
está separada das demais. Sabemos que no rosto do homem está este Nome Sagrado, onde a youd corresponde
aos olhos, a primeira he corresponde aos ouvidos, a vav ao nariz e a última he corresponde a boca.

Quando nascemos um anjo nos desfere um golpe logo abaixo do nariz e acima da boca, e separa esta última he
das demais letras, e desta forma esquecemos toda a Torah que aprendemos enquanto estávamos no ventre de
nossa mãe. Então podemos entender o texto acima do Zohar que diz que no sexto milênio a vav, ressuscitará a
he, o que significa que esta separação entre a vav e a he, será cancelada e voltaremos a lembrar toda a Torah
que nos foi ensinada no ventre de nossas mães. Uma vez que a he for ressuscitada então poderemos fazer
orações e meditações, pois "a vav voltará a subir até o youd". Isso quer dizer que poderemos subir através de
Zeir Anpin até Chochmah. Isso se refere a meditação, saberemos como materializar através da he final, que é
nossa boca, para o mundo físico.

D'us nos tem dado um corpo como vemos em Bereshit, para ser usado no ato conjugal através do qual podemos
plantar o Nome de D'us na terra, fazendo-lhe físico e plantando igualmente a Misericórdia na terra.

Depois de 600 anos do sexto milênio, que começou no ano 5001, diz o Zohar Kadosh, se abrirão as fontes de
Sabedoria Suprema e todos os Segredos começarão a brotar desde acima até este mundo de abaixo. Isto está
escrito no Zohar pergaminho I, cap 117a. Portanto, hoje já fazem mais de cento e setenta anos que as Portas dos
Segredos dos Céus foram abertas. E isso para todo o mundo desde o ano 5600 do calendário judaico. A Cabalá é
secreta porque o Zohar diz que desde o ano 5600 do calendário judaico se abriram as portas da Cabalá para este
mundo físico e temos a instrução de difundi-la.

Cita ainda o Zohar que o exílio de Israel durará mais que um dia, porque um dia são mil anos. Se um dia
equivale a mil anos, no Sefer Bereshit, na narrativa da Criação, quando lemos que "foi tarde e manhã, dia um";
estamos falando de mil anos. O segundo dia fala de outros mil anos e assim por diante. E quando Hakadosh
Baruch Hu pára Seu Trabalho para descansar? No Shabat. Então temos que o dia um seria o domingo, o dia dois
segunda e assim por diante. O Sétimo dia é, portanto, o Shabat, que corresponde a chegada do Shabat no sexto
dia a noite, (sexta a noite), que se localiza neste conceito no ano de 5600, justamente quando o Shabat dos
milênios citados nos dias da Criação em Bereshit se cumprem.

A Essência Divina simbolizada pela vav, apareceu a Sara e sabemos disso porque está escrito: "vav IHVH ‫ויהוה‬
visitou a Sara". E tudo está contido no mistério da vav. A letra vav vale 6, mas escrito por extenso vale 13 - ‫ואו‬,
que é o valor numérico de Echad - ‫אחד‬, o mesmo valor de Ahavah - ‫אהבה‬, que é amor em hebraico, e é ainda o
mesmo valor numérico de Biná e Netzach, que é a sefirá de Moshê Rabeinu. Diz o Zohar que é pela vav que
todos os mistérios estão revelados, portanto, o que é a vav? A Torah.

Hakadosh Baruch Hu quer que os mistérios da Torah sejam divulgados neste mundo quando chegar a época
messiânica e quer que até os meninos pequenos conheçam os mistérios da Torah. No Zohar I 118.a, está escrito:
"nesta época, (da revelação de Mashiach), os mistérios da Cabalá serão divulgados a todo o mundo sem
nenhuma discriminação.

Sara viu o filho de Hagar desdenhar de seu filho. E porque Yshmael desprezava Yitschak? Sara viu Yshmael
adorar os astros, então Sara começou a gritar, este não é filho de Avraham porque não está imitando as obras
de Avraham. E o filho de Hagar a egípcia, herdou o culto egípcio de sua mãe. Por isso Sara disse que Hagar e seu
filho deveriam ser expulsos, mas veja que não está escrito, expulsa teu filho (o filho de Avraham), mas o filho de
Hagar. Um filho de Avraham não faria culto aos astros. Por isso disse Sara que Yshmael nunca poderia
compartilhar o destino de Yitschak nem neste mundo e nem no mundo futuro.
21 ‫ב’’ה‬

Mas Yshmael é um nome que lhe foi dado por D'us. Seu nome significa "Shema El", D'us escutou. Isso porque
quando foi expulso sua mãe chorou e o menino ainda não tinha treze anos e também chorou. E os filhos
dependem espiritualmente de seu pai e mãe até os treze anos, desta forma ele não tinha culpa, a
responsabilidade era de sua mãe. Sendo assim D'us escutou o menino e não a sua mãe e salvou o menino e não a
Hagar e isso por mérito de Avraham. Hagar se beneficiou do mérito de Avraham e por isso é chamado "Shema
El".

AS ALMAS NA ERA DE MASHIACH

O Zohar então trata da situação das almas quando da chegada de Mashiach. Todas as almas que teriam que
descer a este mundo, através do processo de guilgul (transmigração de almas), e que estavam fechadas em uma
região celeste chamada GUF (corpo), já terão completado seu processo. A partir da época messiânica as almas
que descerão serão almas novas.

"Com a chegada de Mashiach haverá uma grande guerra e a partir deste momento o Mashiach atrairá para ele
todo o mundo. Numerosos povos e numerosas legiões vindas de muitos pontos do universo". Vejam com cuidado
o que está escrito aqui. O Zohar nos diz que Mashiach atrairá não somente povos, seres humanos, mas também
legiões vindas de muitos pontos do universo. Não está falando nem deste mundo e nem mesmo desta dimensão.
Isso quer dizer que Mashiach vai atrair para si até mesmo as forças espirituais que não possuem corpos em
todos estes mundos que não podemos ver, pois não estamos no Olam Habá, mas Mashiach sim os pode ver. E
estes seres serão atraídos a este mundo. Diz ainda que todos os filhos de Israel se unirão a ele. A VAV se unirá a
HE, ou seja, na meditação cabalística e na compreensão profunda da Torah se unirão para estar com os homens
neste mundo físico. Isso quer dizer que todos aprenderão a meditar e todos meditarão, todos se conectarão
com outras dimensões e se cumprirá uma profecia que está em Yeshayahu 46.20, onde se lê: "E todos os vossos
irmãos das nações do mundo, trarão um presente a Hakadosh Baruch Hu". O presente aqui mencionado é
reconhecê-lO e para que isto seja possível é preciso antes conhecer-lhE. E para que todos O conheçam é
preciso que Mashiach O apresente.

Todas as nações da terra conhecerão Hakadosh Baruch Hu e abandonarão a idolatria e passarão a dar honra a
Hakadosh Baruch Hu.

RECUPERANDO A MEMÓRIA CÓSMICA

Vimos que ao nascer um anjo golpeia entre nossa boca e nosso nariz e que neste momento esquecemos toda a
Torah que aprendemos no ventre de nossa mãe. Existe um código para que esta memória cósmica seja
recuperada:

‫זכר יה‬
Estas são as letras da expressão "recordar Youd Hei". São dois conceitos. A ideia durante o processo de
meditação é captar essa energia e difundi-la no mundo, para que todos abram os olhos ao mundo espiritual
apressando a Gueulá.

-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-

Falando ainda da redenção no final dos tempos, diz o Zohar que os filhos de Yshmael, uma alusão ao mundo
árabe, farão na época de Mashiach uma guerra conjuntamente com os outros povos do mundo ao redor de
Jerusalém. Todos os povos ao redor de Jerusalém se reunirão para tomar Jerusalém de Israel. E vemos que isto
já está ocorrendo. Alguns vão tentar com mísseis, outros através da mídia, outros através da ONU, mas todos
têm o mesmo alvo, tomar Jerusalém.
22 ‫ב’’ה‬

O que está ocorrendo na terra quer dizer que algo está ocorrendo nos céus, para que isto esteja ocorrendo aqui
na terra. Sabemos que tudo o que ocorre na terra tem sua origem nos céus, então o que está acontecendo nos
Céus?

Para cada nação existe um príncipe (sar), um guia espiritual. Todos estes sarim, (príncipes da nações), estão se
rebelando contra a Vontade de D'us, porque D'us é Ele próprio o guia espiritual de Israel, sem intermediários,
mas para as outras nações existem estes sarim. Conspirar contra D'us é conspirar contra Mashiach.

Pensaram que na época da segunda guerra mundial iriam nascer os pais de Mashiach. Acabando com a nação
de Israel, Mashiach obviamente não poderia vir ao mundo, pois este foi o caminho determinado pelo Eterno
para a sua chegada. Algo semelhante a isso ocorreu nos dias de Moshê Rabeinu, quando faraó quis acabar com
todos os meninos do povo de Israel, pois um deles, segundo previram os magos egípcios, seria o Libertador, o
Mashiach naqueles dias. Nos dias da segunda guerra mundial o mesmo ocorreu, estes sarim temerão que os
pais de Mashiach nasceriam. O Zohar nos diz que Hakadosh Baruch Hu se rirá deles! A criatura, qualquer que
seja, não pode travar o plano Divino para tomar de assalto este mundo vivendo segundo seus próprios planos,
pois este mundo não foi criado para ser usado desta forma. Depois que Hakadosh Baruch Hu tiver dominado
todos os Sarim, diz o Zohar que a "pequena vav se despertará para unir-se com as esferas superiores e renovar
almas novas", isto quer dizer que as almas velhas serão renovadas por almas novas. O Guilgul de almas velhas
terá chegado ao fim e novas almas poderão descer sobre esta terra. A descida destas almas novas, chegam para
atrair harmonia ao mundo. Terão esta missão.

Vemos que desde 1948, se restabeleceu, ou pelo menos começou a restabelecer-se o Estado de Israel, e que o
prestígio do povo judeu começa a ser restaurado, embora ainda falte muita coisa. Nenhum povo conseguiu
transformar a terra desértica de Israel em terra fértil senão o próprio povo de Israel. Vemos que o cenário no
Oriente Médio em relação a Israel vai lentamente mudando.

O Zohar então diz: "Feliz aqueles que possam presenciar em vida o setimo milênio e entrar no Shabat do
Mashiach". O Zohar nos explica que cada dia narrado no livro de Bereshit, como os dias da Criação, corresponde
a um milênio, como já vimos. No sexto dia a obra da Criação terminou e entramos no Shabat, onde "D'us
descansa de Seu Trabalho". Portanto é um Shabat de Mil anos. Para uma pessoa que guarda o Shabat, se
comparar como vivemos nos dias de semana e como vivemos no Shabat, e sabemos a diferença; nos dias
comuns lutamos pela sobrevivência, por dinheiro, por alimento etc, mas ao chegar o Shabat deixamos tudo isso
de lado e entramos em repouso de todas estas coisas.

Assim como no Shabat cessamos o sofrimento dos dias normais, no milênio do Shabat de Mashiach, deixaremos
de sofrer o que temos sofrido durante cinco mil anos, entraremos em uma época onde serão anuladas as
maldições que foram estabelecidas sobre o ser humano, como está na Torah onde se lê que o pão seria ganho
com suor e sofrimento. Isso nos mostra que a maneira como temos que trabalhar é uma maldição, pois todo o
tempo em que estamos presos no trabalho somos impedidos de estudar, meditar e rezar, e com isso somos
impedidos ainda de crescer espiritualmente.

Diz ainda o texto de Bereshit que a mulher daria à luz com dores e que teríamos inimigos e que seríamos
obrigados a lutar com eles, que haveria guerra, maldade e barbaridades. Nada disso faz parte do Plano Inicial.
Mas desta vez entraremos em Shabat que perdurará por mil anos. E o Zohar diz que feliz é aquele que estiver
vivo no momento em que este Shabat se iniciar.

O SACRIFÍCIO DE YITSCHAK

O sacrifício de Yitschak, foi uma tremenda prova para Avraham. Isso porque Avraham representa Chéssed, a
pura Clemência, ter que sacrificar seu próprio filho foi algo extremamente pesado, embora a ordem dada pelo
Eterno, segundo ensinam os sábios, não significava sacrificar Yitschak, mas levá-lo ao altar, mas Avraham
entendeu que deveria sacrificar seu filho literalmente. Isso quer dizer que Avraham teria que passar de uma
23 ‫ב’’ה‬

essência de misericórdia e clemência para uma essência de pleno rigor, o que seria totalmente contra sua
natureza. O que Hakadosh Baruch Hu estava lhe pedindo é que fosse contra sua natureza, já que Avraham era
pura chéssed. Isso ocorreu porque vieram as forças contrárias perante Hakadosh Baruch Hu, e lhE disseram:
"de todas as provas dadas a Avraham até agora e que foram por ele superadas, a décima não será superada por
ele". E qual era essa prova? Segundo nos conta o Zohar, o lado oposto desafiou Hakadosh Baruch Hu e o Eterno
lhes respondeu: "Verá que ele vai superar". E de fato, como sabemos, Avraham passou na prova. No lugar de
Yitschak um carneiro foi então sacrificado. O fato de Avraham ter passado nesta prova, fez com que fosse
considerado perfeito perante o Eterno.

Todos gostaríamos de ser perfeitos como Avraham Avinu. Mas qual foi esta prova afinal?

Hakadosh Baruch Hu disse algo a Avraham quando este descobriu o Eterno: "Você será pai de uma multidão".
Mas o único filho que lhe foi dado, ou pelo menos que era proveniente de Sara, sua mulher, agora estava sendo
pedido em sacrifício, o que nos mostra uma contradição. Foi afirmado pelo Eterno: "Em Yitschak será chamada
sua descendência". A verdade é que isso é impossível. Hakadosh Baruch Hu não se contradiz, mas foi desta
forma que Avraham entendeu. E Avraham levou seu único filho com o propósito de realmente sacrificá-lo. O
que temos aqui? Avraham Avinu havia amado a D'us, mesmo diante de uma contradição. Não existe nível de fé
maior do que amar a D'us diante de uma contradição. Nenhuma prova de amor é igual a esta. A verdadeira
prova de amor é amar diante de uma contradição. Sem nenhuma dúvida, Avraham que era um profeta, sabia
que para Yaakov vir a este mundo, teria que vir através de Yitschak e mesmo assim, não titubeou em obedecer
como havia entendido, a ordem de Hakadosh Baruch Hu.

Vemos que Hakadosh Baruch Hu chama a Avraham duas vezes seguidas no texto da Torah. O Zohar nos diz que
a primeira menção do nome de Avraham, fazia referência a um Avraham imperfeito, antes desta demonstração
no caso de Yitschak. Da segunda vez, já é o chamado para um homem que passou em todos os testes e se tornou
perfeito perante o Eterno, quando amou o Eterno além das contradições.

Aprendemos então uma importante Lei Cósmica: Hashem não criou as coisas para que sejam perfeitas logo de
início. O Eterno criou as coisas imperfeitas propositalmente, para que estas tenham a oportunidade de se
tornarem perfeitas! Assim também ocorre com o ser humano, naturalmente. Nascemos imperfeitos,
incircuncidados. Desta forma, o Eterno nos deixa trazer um filho com prepúcio ao mundo, para que tenhamos
oportunidade de circuncidá-lo e então haja um antes e outro depois da circuncisão. As duas vezes que
Hakadosh Baruch Hu chama Avraham se refere pois a isso, um homem imperfeito de antes, mas um homem
perfeito depois.

Isso é muito sério, pois o Eterno nos faz propositalmente imperfeitos para nos dar a oportunidade de nos
tornarmos perfeitos diante das provas que recebemos.Uma pessoa que nasce imperfeito e cresce até tornar-se
perfeito,é uma pessoa que chegou a um nível muito mais alto do que uma pessoa que nasceu perfeita e
permanece perfeita, pois ela nunca teve que enfrentar prova alguma e não precisou vencer as forças do mal.

Quando Avraham demonstrou esse amor perfeito e foi chamado por D'us de "Meu amigo"? Justamente quando
as forças opostas desafiaram o Eterno declarando que Avraham não poderia vencer. Isso é ser perfeito e essa
perfeição é alcançada quando o Eterno vence as forças opostas através do homem.

Aqui aprendemos algo igualmente importante. Por que existem as forças do Mal? Para que sejam vencidas. Essa
é a missão das forças do Mal: serem vencidas.

Entretanto, quando Israel está em exílio e está sofrendo, diz Hakadosh Baruch Hu que a Shechinah está também
com Israel. Como a Shechinah é Essência Divina, então quando Israel sofre, este sofrimento também é sentido
pelo Eterno. Por isso está escrito que "os gemidos de Israel chegaram até Mim".

Avraham é símbolo do sudoeste. Yitschak é símbolo do noroeste e Yakov é símbolo da união de ambos. Sodoeste
é Chéssed, clemência pura e noroeste é guevurah, puro rigor, mas Yaakov é a perfeição que sintetiza as duas
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forças. Assim como em um átomo existem Próton, Elétron e Nêutron. Sem Nêutron, temos uma bomba atômica.
Apenas pela influência de Avraham e de Yitschak o mundo não permaneceria, mas com Yaakov, permanece.

No profeta Yeshayahu (Isaías) 43.8, diz: "Este povo é verdadeiramente Meu povo, são filhos que não negam ser
filhos de seu pai e D'us foi seu Salvador". Israel foi eleito como povo por não renegar o Eterno, nem mesmo na
contradição.

É difícil saber o que se passou na mente daqueles que viveram o holocausto. Maior contradição que esta é
impossível. É uma situação para se perguntar (D'us não permita!), Chaz v'Shalom, onde está D'us? Estamos
abandonados? Mas a história mostra que se não todos, a grande e esmagadora maioria que conseguiu
sobreviver a estas duras brutalidades criminosas, saíram de lá e se preocuparam em restabelecer os ritos e as
rezas e a guarda do Shabat e das festas e etc.

É claro que poderíamos dizer aqui sobre as reais razões que geraram todo este nefasto evento profetizado em
Devarim (Deuteronômio) 28, mas o fato é que, independente disso, sabemos que aqueles que de fato se
encaixam no conceito real sobre a expressão Israel, realmente estão dentro deste mesmo amor que permeou o
coração de Avraham Avinu. Certamente aqueles que produziram tudo o que gerou este nefasto crime mundial,
entenderam que Israel deixaria de existir, pois por muito menos povos inteiros deixaram suas reais identidades
e abandonaram seus deuses para se adaptar aos novos governantes que os oprimiam. Mas isto não aconteceu
com Israel.

"Bendito seja o Nome do Santo, bendito seja Ele em toda a eternidade, amén e amén!
‫ב’’ה ‪25‬‬

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