Éden que áurea luz resplende! Infindo, Vasto, Ilimitado, És agora e fostes ontem! Do presente e do passado Do sempiterno Quando e Onde, Câmara, santuário, lar, Fixo domo a perdurar, Dos atos e eras por passar!
Sopras vida a nobres mundos
Que constelam vãos profundos E as mais desertas brenhas tuas, Que a Terra seguem em sua dança; E o alvo e frio cristal das luas; E estrelas de fulgente trança; E outros mundos verdejantes; E, além da noite, os sóis distantes, Átomos de luz radiantes.
Até o teu nome é como um deus,
Céu! pois mora em templos teus Poderes em que enxerga o homem Seu feitio, qual fosse espelho. Vêm as gerações, e somem, E a ti veneram de joelho. Eles mesmos, seu panteão, Fugazes, como um rio se vão: Persiste — a tua imensidão. —
UMA VOZ MAIS REMOTA
És um átrio à Mente, apenas,
Aonde sobem ânsias terrenas Como insetos numa catacumba, Iluminados por sincelos; Mas abre um mundo o umbral da tumba, De graças que farão singelos Teus feitos, mesmo o mais sobejo, Não mais que um diurnal lampejo, Breve sombra de um ensejo!
UMA VOZ AINDA MAIS ALTA E REMOTA:
Paz! Nascido do átomo, coroas
O abismo em ódio com tais loas! Que é o Céu? E o que és e fazes, Tu, que herdas sua extensão mais mínima? Que são sóis e astros fugazes Que o pulso desse Espírito anima, Da qual és não mais que uma parte? Quinhão que a Natureza comparte Pingando em finas veias! Parte!
Que é o Céu? Um globo de orvalho,
Pela aurora a estilar do galho No olho de uma jovem flor Entre esferas impretensas: Intactas nuvens de fulgor, Dobram-se órbitas imensas, Neste orbe a sucumbir, Com outros milhões irão se unir, Vibrar, faiscar e então sumir.
(tradução de Adriano Scandolara)
THE TOWER OF FAMINE (A Torre da Fome)
Amid the desolation of a city,
Which was the cradle, and is now the grave Of an extinguished people, --- so that Pity Entre a desolação de uma cidade, Que foi berço, e agora é sepultura De um povo extinto, - e assim a Piedade Weeps o'er the shipwrecks of oblivion's wave, There stands the Tower of Famine. It is built Upon some prison-homes, whose dwellers rave Chora os naufrágios nessa onda obscura, Lá está a Torre da Fome. Construída Sobre prisões, nas quais se habita em fúria For bread and gold and blood: Pain linked to Guilt, Agitates the light flame of their hours, Until its vital oil is spent or spilt. Por pão, e ouro, e sangue: a Dor, unida À Culpa, agita a luz dos moradores, Até a chama vital ser consumida. There stands the pile, a tower amid the towers And sacred domes, each marble-ribbed roof, The brazen-gated temples, and the bowers Lá está a pilha, uma torre entre as torres E os domos sacros; todo teto ornado, Os templos brônzeos, e abrigos de flores Of solitary wealth, --- the tempest-proof Pavilions of the dark Italian air, --- Are by its presence dimmed --- they stand aloof, Ao luxo solitário, - o reforçado Pavilhão do soturno ar da Itália, - São diminuídos - ficam de lado, And are withdrawn --- so that the world is bare; As if a spectre, wrapped in shapeless terror, Amid a company of ladies fair E se retiram - e o vazio se espalha; Qual se um espectro envolto em puro medo Entre várias damas trajando gala Should glide and glow, till it became a mirror Of all their beauty, --- and their hair and hue, The life of their sweet eyes with all its error, Deslizasse e reluzisse, e em espelho De todos esses charmes se tornasse, E a vida desses olhos, com seu erro, Should be absorbed till they to marble grew. Fosse absorvida até crescer no mármore.
P.B.Shelley Ivan Justen Santana
OZYMANDIAS
Topei um viajante duma antiga aldeia
Que disse: Há duas pernas de pedra, sem corpo, De pé no deserto. Perto delas, na areia, Um rosto meio enterrado jaz, cujo torto Lábio de escárnio e de frio orgulho alardeia Que seu escultor tais paixões reconhecia, As quais ainda vivem, e ali são as marcas Que a mão tripudiava e o coração nutria. No pedestal, palavras que sempre lembrei: “Eu sou Ozymândias, monarca dos monarcas: Olhai minhas obras, ó Fortes, e tremei!” Nada mais restou: ao redor da corrosão Do colossal destroço, nuas e sem lei, As ermas areias se estendem na amplidão.