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P.

B Shelley

Ode ao Céu

CORO DE ESPÍRITOS

Cúpula que as nuvens fende!


Éden que áurea luz resplende!
Infindo, Vasto, Ilimitado,
És agora e fostes ontem!
Do presente e do passado
Do sempiterno Quando e Onde,
Câmara, santuário, lar,
Fixo domo a perdurar,
Dos atos e eras por passar!

Sopras vida a nobres mundos


Que constelam vãos profundos
E as mais desertas brenhas tuas,
Que a Terra seguem em sua dança;
E o alvo e frio cristal das luas;
E estrelas de fulgente trança;
E outros mundos verdejantes;
E, além da noite, os sóis distantes,
Átomos de luz radiantes.

Até o teu nome é como um deus,


Céu! pois mora em templos teus
Poderes em que enxerga o homem
Seu feitio, qual fosse espelho.
Vêm as gerações, e somem,
E a ti veneram de joelho.
Eles mesmos, seu panteão,
Fugazes, como um rio se vão:
Persiste — a tua imensidão. —

UMA VOZ MAIS REMOTA

És um átrio à Mente, apenas,


Aonde sobem ânsias terrenas
Como insetos numa catacumba,
Iluminados por sincelos;
Mas abre um mundo o umbral da tumba,
De graças que farão singelos
Teus feitos, mesmo o mais sobejo,
Não mais que um diurnal lampejo,
Breve sombra de um ensejo!

UMA VOZ AINDA MAIS ALTA E REMOTA:

Paz! Nascido do átomo, coroas


O abismo em ódio com tais loas!
Que é o Céu? E o que és e fazes,
Tu, que herdas sua extensão mais mínima?
Que são sóis e astros fugazes
Que o pulso desse Espírito anima,
Da qual és não mais que uma parte?
Quinhão que a Natureza comparte
Pingando em finas veias! Parte!

Que é o Céu? Um globo de orvalho,


Pela aurora a estilar do galho
No olho de uma jovem flor
Entre esferas impretensas:
Intactas nuvens de fulgor,
Dobram-se órbitas imensas,
Neste orbe a sucumbir,
Com outros milhões irão se unir,
Vibrar, faiscar e então sumir.

(tradução de Adriano Scandolara)

THE TOWER OF FAMINE (A Torre da Fome)

Amid the desolation of a city,


Which was the cradle, and is now the grave
Of an extinguished people, --- so that Pity
Entre a desolação de uma cidade,
Que foi berço, e agora é sepultura
De um povo extinto, - e assim a Piedade
Weeps o'er the shipwrecks of oblivion's wave,
There stands the Tower of Famine. It is built
Upon some prison-homes, whose dwellers rave
Chora os naufrágios nessa onda obscura,
Lá está a Torre da Fome. Construída
Sobre prisões, nas quais se habita em fúria
For bread and gold and blood: Pain linked to Guilt,
Agitates the light flame of their hours,
Until its vital oil is spent or spilt.
Por pão, e ouro, e sangue: a Dor, unida
À Culpa, agita a luz dos moradores,
Até a chama vital ser consumida.
There stands the pile, a tower amid the towers
And sacred domes, each marble-ribbed roof,
The brazen-gated temples, and the bowers
Lá está a pilha, uma torre entre as torres
E os domos sacros; todo teto ornado,
Os templos brônzeos, e abrigos de flores
Of solitary wealth, --- the tempest-proof
Pavilions of the dark Italian air, ---
Are by its presence dimmed --- they stand aloof,
Ao luxo solitário, - o reforçado
Pavilhão do soturno ar da Itália, -
São diminuídos - ficam de lado,
And are withdrawn --- so that the world is bare;
As if a spectre, wrapped in shapeless terror,
Amid a company of ladies fair
E se retiram - e o vazio se espalha;
Qual se um espectro envolto em puro medo
Entre várias damas trajando gala
Should glide and glow, till it became a mirror
Of all their beauty, --- and their hair and hue,
The life of their sweet eyes with all its error,
Deslizasse e reluzisse, e em espelho
De todos esses charmes se tornasse,
E a vida desses olhos, com seu erro,
Should be absorbed till they to marble grew.
Fosse absorvida até crescer no mármore.

P.B.Shelley
Ivan Justen Santana

OZYMANDIAS

Topei um viajante duma antiga aldeia


Que disse: Há duas pernas de pedra, sem corpo,
De pé no deserto. Perto delas, na areia,
Um rosto meio enterrado jaz, cujo torto
Lábio de escárnio e de frio orgulho alardeia
Que seu escultor tais paixões reconhecia,
As quais ainda vivem, e ali são as marcas
Que a mão tripudiava e o coração nutria.
No pedestal, palavras que sempre lembrei:
“Eu sou Ozymândias, monarca dos monarcas:
Olhai minhas obras, ó Fortes, e tremei!”
Nada mais restou: ao redor da corrosão
Do colossal destroço, nuas e sem lei,
As ermas areias se estendem na amplidão.

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