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Sumário
1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
2 A Álgebra dos Números Complexos . . . . . . . 3
3 Representação Geométrica . . . . . . . . . . . . . 9
4 A Raiz Quadrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
5 Forma Polar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
6 Extração de Raízes n-ésimas . . . . . . . . . . . . 29
7 Raízes da Unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
8 Breve História dos Números . . . . . . . . . . . . 41
1
Seção 1 Introdução 1
1 Introdução
√ √
α=5+ −15 e β = 5 − −15,
para o problema de determinar dois números cuja soma vale 10 e cujo produto
vale 40.
De fato, os números procurados são as raízes da equação do segundo grau
x2 − 10x + 40 = 0,
que produz as soluções acima, quando resolvida pela fórmula resolvente das
equações do segundo grau.
Mas, na época em que vivia Cardan, só se conheciam os números reais
e, portanto, as raízes quadradas de números negativos eram consideradas
inexistentes, logo essas soluções eram tidas como absurdas. Naqueles tem-
pos, a situação era ainda mais dramática, pois os matemáticos tinham até
diculdade em operar com os números negativos.
O que é notável, é que se operarmos formalmente com essas raízes, como
se tivessem as propriedades aritméticas da adição e da multiplicação dos
números reais e convencionarmos que
√
( −15)2 = −15,
α + β = 10 e α · β = 40.
x2 − 10x + 26 = 0,
√ √
cujas raízes são 5 + −1 e 5 − −1. Novamente, se adicionarmos e
multiplicarmos esse números, obtemos os números 10 e 26.
2 Os Números Complexos Cap. 1
Portanto, não parece ser uma simples coincidência que se consiga dessa
forma resolver as equações que não têm soluções reais, a custo de introduzir
√
novos números que são da forma
√ a + b −1, onde a e b são números reais
e −1 é um símbolo sujeito à seguinte regra operatória:
√
( −1)2 = −1.
A ideia de tratar esses novos entes como números sem as áspas foi de
Rafael Bombelli (1726-1772), outro matemático renascentista italiano como o
seu contemporâneo Cardan. Motivado pelo trabalho de Cardan e pelo esforço
desse em compreender o caso irredutível da equação cúbica (cf. Capítulo 5),
Bombelli começou a estudar esses números por volta de 1550, estabelecendo
as seguintes regras operatórias:
√ √ √ √
( −1)( −1) = −1, (− −1)( −1) = 1,
√ √ √ √
(− −1)(− −1) = −1, −1( −1) = − −1,
√ √ √
(a + b −1) + (c + d −1) = (a + c) + (b + d) −1,
√ √ √
(a + b −1) · (c + d −1) = (ac − bd) + (ad + bc) −1.
√ √
q q
3 3
2+ −121 + 2 − −121.
Por outro lado, uma vericação direta mostra que 4 é raiz da equação. Por-
tanto,
√ √
q q
3 3
2 + 11 −1 + 2 − 11 −1 = 4.
Por mais que tentasse, Cardan não conseguia evitar nas suas fórmulas o
uso dos radicais quadráticos de números negativos para expressar soluções
reais de algumas equações do terceiro grau como esta. Portanto, tinha que
passar por soluções absurdas para expressar soluções verdadeiras.
Seção 2 A Álgebra dos Números Complexos 3
Vejamos, neste exemplo, a proposta de Bombelli para lidar com tal situ-
ação:
√ √ √ √
2+ −1)3 = 23 + 3 · 22 −1 + 3 · 2( −1)2 + ( −1)3
√ √
= 8 + 12 −1 − 6 − −1
√
= 2 + 11 −1,
√ √ √ √
2− −1)3 = 23 − 3 · 22 −1 + 3 · 2(− −1)2 + (− −1)3
√ √
= 8 − 12 −1 − 6 + −1
√
= 2 − 11 −1.
Portanto,
√ √ √ √
q q
3 3
2 + 11 −1 + 2 − 11 −1 = (2 + −1) + (2 − −1) = 4.
√
O tratamento formal dos números da forma a + b −1, dado por Bom-
belli, não satisfazia minimamente os matemáticos da época, que os olhavam
com muita desconança, admitindo-os apenas como artifício de cálculo, sem
uma existência efetiva, tendo o próprio Cardan como feroz oponente. Os ma-
temáticos da época, pela inuência da cultura helenística predominante na
área, relutavam em aceitar entidades matemáticas que não tivessem algum
signicado geométrico. Esse signicado geométrico foi delineado no nal do
Século 18, início do Século 19. Retornaremos a esse assunto na Seção 3.
a = Re(z) e b = Im(z).
a + bi = a 0 + b 0 i ⇐⇒ a = a 0 e b = b 0 .
z + 0 = z e z · 1 = z, para todo z ∈ C.
o que nos fornece o seguinte sistema de duas equações lineares nas incógnitas
a0 e b 0:
aa 0 − bb 0 = 1
ab 0 + ba 0 = 0,
que resolvido (faça os cálculos) fornece a seguinte solução:
a b
a0 = e b0 = − ,
a2 + b2 a2 + b2
? : K × K −→ K
(a, b) 7−→ a ? b .
Em um anel, denimos
a − b = a + (−b),
e chamamos esta nova operação de subtração.
∀ a, b ∈ A, a · b = 0 =⇒ a = 0 ou b = 0,
é chamado de domínio de integridade. Equivalentemente, A é um domínio
de integridade se, e somente se,
Problemas
1+i i 5 + 2i
d) + ; e) ; f) (2 + i)(5 + 3i)(1 − 4i).
i 1−i 5 − 2i
2.6 Calcule os inversos dos seguintes números complexos, colocando-os na
sua forma normal:
1+i 2 + i 3 + 2i
a) i; b) ; c) + .
1−i 1−i 1+i
2.7 Resolva as equações
1+i
a) = z + i; b) (1 + 2i)(iz − 3) = 2 − i.
1−i
2.8 Determine os números reais a e b para que a propriedade abaixo se
verique.
a) (a − 2) · b + (b2 − 1)i = i;
b) (a2 − 4) + (a − 2)(b2 − 1)i seja um número complexo não real;
a) Un (C) 6= ∅;
b) Se α e β ∈ Un (C), então α · β ∈ Un (C);
c) Se α ∈ Un (C), então α−1 ∈ Un (C);
d) Se α ∈ Un (C), então α` ∈ Un (C), para todo ` ∈ Z.
2.13 Mostre que os elementos 0, 1, o simétrico a 0 de um elemento a e o
0
inverso b de um elemento não nulo b, que aparecem na denição de corpo
são únicos.
3 Representação Geométrica
1
Essai sur une manière de representer les quantités imaginaire dans les constructions
géométriques
10 Os Números Complexos Cap. 1
a + bi = a 0 + b 0 i ⇐⇒ (a, b) = (a 0 , b 0 ),
(a, b) + (a 0 , b 0 ) = (a + a 0 , b + b 0 ),
(a, b) · (a 0 , b 0 ) = (aa 0 − bb 0 , ab 0 + ba 0 ).
Figura 3: z = a + bi e z = a − bi.
√
Figura 4: z = a + bi e |z| = a2 + b2 .
Seção 3 Representação Geométrica 13
q √ p
a ≤ |a| = |a|2 = a2 ≤ a2 + b2 = |z|.
|z · w|2 = (z · w) · (z · w) = (z · w) · (z · w)
= (z · z) · (w · w) = |z|2 · |w|2 = (|z| · |w|)2 .
|z + w| ≤ |z| + |w|,
com igualdade valendo se, e somente se, um dos números é múltiplo escalar
u = z · w = z · w = z · w.
Logo,
Logo,
Exemplo 1. Dados dois inteiros m e n que são somas de dois quadrados (de
números naturais), o seu produto também é uma soma de dois quadrados.
O leitor certamente irá encontrar alguma diculdade ao tentar provar esta
armação, usando apenas aritmética elementar. Vejamos como, com o uso
dos números complexos, podemos resolver facilmente esta questão.
Logo,
mn = |z|2 |w|2 = |zw|2 = |(a + bi)(c + di)|2
= |ac − bd + (ad + bc)i|2
= (ac − bd)2 + (ad + bc)2 .
Em particular, podemos escrever
Problemas
a) z = 2 + i; b) z = −3 + 4i; c) z = 4 − 3i.
3.2 Demonstre as propriedades (i), (ii), (iv), (vi) e (vii) da conjugação.
z
3.4 Mostre que, se z∈C e z 6= 0, então z−1 = .
|z|2
3.5 Determine o inverso de z, se
a) z = 1 − 2i; b) z = 3 + 4i; c) z = −1 + i.
3.6 Seja S1 = { z ∈ C ; |z| = 1 } e sejam z e w números complexos. Verique
que
a) Se z ∈ S1 , então z−1 = z ∈ S1 ;
b) Se z, w ∈ S1 então z · w ∈ S1 .
3.7 Seja ϕ : C −→ C a função denida por ϕ(a + bi) = a − bi. Mostre que
a) {z ∈ C ; | z | = r}; b) {z ∈ C ; | z | ≤ r};
c) {z ∈ C ; | z | > r}; d) {z ∈ C ; | z − α | = r};
e) {z ∈ C ; | z − α | < r}; f) {z ∈ C ; | z − α | ≥ r}.
3.12 Represente no plano os números complexos que satisfazem cada uma
das desigualdade abaixo:
a) | z − i | ≤ 1; b) | z − 3 + 4i | < 3; c) | z − 1 − i | = 1.
3.13 Demonstre a identidade do paralelogramo:
4 A Raiz Quadrada
a + bi = (c + di)2 = c2 − d2 + 2cdi.
Pela igualdade acima, de números complexos, temos que
18 Os Números Complexos Cap. 1
a = c2 − d2 a2 = (c2 − d2 )2
⇒
b = 2cd b2 = 4c2 d2
⇒ a2 + b2 = c4 + d4 + 2c2 d2 = (c2 + d2 )2 .
√
Portanto, c2 + d2 = a2 + b2 . Como também c2 − d2 = a, somando e
subtraindo essas equações, obtemos, respectivamente,
√ √
a2 + b 2 + a a2 + b2 − a
c2 = e d2 = .
2 2
Logo,
r√ r√
a2 + b2 + a a2 + b2 − a
| c |= e | d |= . (1)
2 2
Como b 6= 0 e b = 2cd, devemos escolher os números reais c e d, com a
propriedade (1), de modo que o sinal do seu produto seja o mesmo sinal de
b. Assim, quando b > 0, tomamos c > 0 e d > 0, ou c < 0 e d < 0; quando
b < 0, tomamos c > 0 e d < 0, ou c < 0 e d > 0. Dessa maneira temos
exatamente dois números complexos δ e −δ cujo quadrado é α = a + bi.
√ √
Denotamos um deles por α o outro por − α.
2
Uma observação importante a ser feita, e que evitará que caiamos em
paradoxos, é que, ao contrário do caso real, não há nenhuma escolha padrão
√
para denotar uma das raízes quadradas de α pelo símbolo α. Isto poderá
ser feito caso a caso, explicitando qual das duas raízes quadradas de α está
√
sendo denotada por α.
√ √
Exemplo 1. Vamos resolver a equação x2 = 3 − i. Nesse caso, a= 3 e
b = −1. Temos a2 + b2 = 4 e, pelas equações (1),
r√ √ p √ p √ √
4+ 3 2+ 3 2 2+ 6
| c |= = √ = ,
2 2 2
r√ √ p √ p √ √
4− 3 2− 3 2 2− 6
| d |= = √ = .
2 2 2
Como b < 0, as soluções da equação são
p √ √ p √ √ p √ √ p √ √
2 2+ 6 2 2− 6 2 2+ 6 2 2− 6
− i e − + i.
2 2 2 2
Seção 4 A Raiz Quadrada 19
r√ r√
2+1 2−1
| c |= , e | d |= .
2 2
r√ r√ r√ r√
2+1 2−1 2+1 2−1
+i e − −i .
2 2 2 2
α 2 α2 − 4β
x+ − =0
2 4
é equivalente a
√
α ∆
x+ =± .
2 2
p p
−α + α2 − 4β −α − α2 − 4β
x1 = e x2 = ,
2 2
2
p
onde α2 − 4β é uma das raízes da equação x2 = α2 − 4β.
r√ r √
32 + 4 4 2+4 p √
| c |= = = 2 2 + 2,
2 2
r√ r √
32 − 4 4 2−4 p √
| d |= = = 2 2 − 2.
2 2
As soluções da equação proposta são, portanto,
√ √
−2i + ∆ −2i − ∆
x1 = e x2 = ,
2 2
√ p √ p √
onde ∆ = 2 2 + 2 + i 2 2 − 2.
Problemas
5 Forma Polar
√
Figura 6: Argumento θ de z = a + bi 6= 0 e r= a2 + b 2 .
Como
√ √
r5 = |z5 | =
p
22 + (−2)2 = 8 = 2 2 ,
temos que
√ √
2 √1 √1 √2 2
cos(θ5 ) = √
2 2
= 2
= 2
· 2
= 2
√ √
−2 −1 −1 √2 2
sen(θ5 ) = √
2 2
= √
2
= √
2
· 2
=− 2 .
7π
Logo, θ5 = arg(z5 ) = 4 .
Como
q √ √
r6 = |z6 | = (−1)2 + (− 3)2 = 4 = 2 ,
temos que
√ √
−1
cos(θ6 ) = 2 = − 12 e sen(θ6 ) = − 3
2 =− 3
2 .
4π
Logo, θ6 = arg(z6 ) = 3 .
√
z5 = 2 − 2i = 2 2 cos 7π 7π
4 + i sen 4 ,
√
3i = 2 cos 4π 4π
z6 = −1 − 3 + i sen 3 .
Demonstração De fato,
= rr 0 cos(θ + θ 0 ) + i sen(θ + θ 0 ) .
argumentos θ 0
e θ .
z r (cos θ + i sen θ)
=
z0 r 0 (cos θ 0 + i sen θ 0 )
r
= (cos θ + i sen θ) (cos θ 0 − i sen θ 0 )
r0
r
= (cos θ + i sen θ) (cos(−θ 0 ) + i sen(−θ 0 ))
r0
r
= (cos(θ − θ 0 ) + i sen(θ − θ 0 )) .
r0
Exemplo 3. Vamos determinar na forma polar o produto
√ √ z · z 0, sendo
z = −5 + 5 3i e z 0 = 2 3 − 2i.
Temos q √ √ √
r = (−5)2 + (5 3)2 = 25 + 25 · 3 = 100 = 10 e
q √ √ √
r0 = (2 3)2 + (−2)2 = 4 · 3 + 4 = 16 = 4 .
Portanto, rr 0 = 40 .
Note que z e z0 estão no segundo e quarto quadrantes, respectivamente.
Além disso,
√ √
−5 1 5 3 3 2π
cos θ = 10 = − 2 e sen θ =
10 = 2 , nos dá θ = arg(z) = 3 ;
√ √
cos θ 0 = 2 4 3 = 23 e sen θ 0 = −1 0 0 11π
2 , nos dá θ = arg(z ) = 6 .
Assim,
θ + θ0 = 2π
3 + 11π
6 = 15π
6 = 2π + π
2.
Logo,
z · z 0 = 40 cos(2π + π
+ i sen 2π + π2 ) = 40 cos π2 + i sen π2 .
2
Para visualizar os argumentos, faça a representação dos números com-
plexos z, z 0 e z · z0 no plano.
Proposição 5.2 2
(Fórmula de De Moivre ). Dado um número complexo não
nulo na forma polar z = r(cos θ + i sen θ), então, para cada número inteiro
n, tem-se que
zn = rn (cos(nθ) + i sen(nθ)).
2
Em homenagem ao matemático francês Abraham De Moivre (1667-1754), autor dessa
fórmula, além de probabilista e atuário.
26 Os Números Complexos Cap. 1
arg(z) = θ = 5π 5π 5π
6 . Logo, z = 2 cos 6 + i sen 6 e
5π 5π
8 8 = 256 cos 40π 40π
z = 2 cos 8 · 6 + i sen 8 · 6 6 + i sen 6 .
Vamos determinar arg(z8 ), isto é, θ ∈ [0, 2π) com θ congruente a 40π
6 .
40π 20π 18π+2π 2π
Escrevemos
6 = 3= 3 = 6π + 3 (6π corresponde a 3 voltas no
8 2π
círculo unitário). Logo, o argumento de z é
3 e
z8 = 256 cos 3 + i sen 2π
2π
3 .
3π
√
2 cos 3π 3π
nos dizem que arg(z) = θ = 4 . Logo, z= 4 + i sen 4 e, por-
tanto,
√ 3π 3π
z6 = ( 2)6 cos 6 · = 8 cos 18π 18π
4 + i sen 6 · 4 4 + i sen 4 .
6 18π
Vamos determinar arg(z ), isto é, θ ∈ [0, 2π) com θ congruente a
4 .
18π 9π 8π+π π
Escrevemos
4 = 2 = 2 = 4π + 2 (4π corresponde a 2 voltas no círculo
unitário).
π
Portanto, θ= 2 é o argumento de z6 e
Essa fórmula foi descoberta por Euler, que constatou a sua validade compa-
rando as séries de Taylor do seno, do cosseno e da exponencial:
θ θ3 θ5
sen θ = 1! − 3! + 5! − ··· ,
θ2 θ4
cos θ = 1 − 2! + 4! − ··· ,
Em particular,
eiπ + 1 = 0.
28 Os Números Complexos Cap. 1
0 0
(reiθ )(r 0 eiθ ) = (r · r 0 )ei(θ+θ ) ,
e a fórmula de De Moivre como:
(reiθ )n = rn einθ .
Problemas
a) z = 3 − 3i ; b) z = 5i ; c) z = −7 ;
√ √
d) z = 2 + 2i ; e) z = 3 − i; f ) z = 2 3 − 2i ;
1
g) z = h) z = 5 ; i) z = −2i .
1+i ;
zw + wz
cos θ = .
2|z| |w|
Seção 6 Extração de Raízes n-ésimas 29
√
(2 3 + 2i)3 = 43 cos π2 + i sen π2 = 64i ,
√
(−2 3 + 2i)3 = 43 cos 5π 5π
2 + i sen 2
= 4 cos 2π + 2 + i sen 2π + π2
3 π
√
ρn = r ρ= n
r, ρ ∈ R , ρ > 0
⇐⇒ θ+2πλ
nφ = θ + 2πλ, λ ∈ Z φ= n , λ ∈ Z.
√
n
θ + 2πλ θ + 2πλ
zλ = r cos + i sen , onde λ ∈ Z.
n n
θ+2πµ
zλ = zµ ⇐⇒ θ+2πλ
n − n = 2π`, para algum `∈Z
2πµ
⇐⇒ 2πλ
n − n = 2π`, para algum `∈Z
µ
⇐⇒ λ
n − n = `, para algum `∈Z
⇐⇒ λ ≡ µ mod n.
√
n θ+2πk
zk = r(cos φk + i sen φk ) , φk = n , k = 0, 1, . . . , n − 1.
θ + 2πk π 2πk
φk = = + , k = 0, 1, 2.
3 2 3
Assim, as raízes cúbicas z0 , z1 ez2 de z são obtidas como segue:
π
⇒ z0 = 3 cos π2 + i sen π
φ0 = 2 = 3i; 2
√ √
6 ⇒ z1 = 3 cos 6 + i sen 6 = 3 − 2 − i 2 = − 2 − 2 i;
φ1 = 7π 7π 7π 3 1 3 3 3
√ 3√3 3
φ2 = 11π ⇒ 11π 11π 3 1
6 z2 = 3 cos 6 + i sen 6 = 3 2 − i 2 = 2 − 2 i.
√ √
|z| = π
2 cos π4 + i sen π4
Como 2 e arg(z) = 4 , temos que z= . Pela
proposição anterior, as raízes complexas quadradas de z são
√ π
+2πk
π
+2πk
zk = 4 2 cos 4 2 + i sen 4 2
√
2 cos π8 + πk + i sen π8 + πk , onde k = 0, 1.
4
=
√
4
2 cos π8 + i sen π8 e z1 = −z0 . Comparando com o resultado
Logo, z0 =
obtido no Exemplo 2 da Seção 4, obtemos que
√ q √2+1 q√
4
2 cos π8 + i sen π8 = 2 + i 2−1
2 .
√
4 π
q√
2+1
√
4 π
q√
2−1
2 cos 8 = 2 e 2 sen 8 = 2 ,
que é equivalente a
√ √ √ √
π 2+ 2 π 2− 2
cos 8 = 2 e sen 8 = 2 .
2π · k π·k √
4
φk = = , k = 0, 1, 2, 3 ; ρ= 16 = 2 .
4 2
Então,
φ0 = 0 ⇒ z0 = 2(cos 0 + i sen 0) = 2 ,
φ1 = π
2 ⇒ z1 = 2(cos π2 + i sen π2 ) = 2i ,
φ2 = π ⇒ z2 = 2(cos π + i sen π) = −2 ,
φ3 = 3π
2 ⇒ z3 = 2(cos 3π 3π
2 + i sen 2 ) = −2i .
Veja na Figura 9 a representação geométrica das raízes complexas quartas
√
4
de 16 no círculo de raio 2= 16 centrado na origem e das raízes complexas
quartas de 1 no círculo de raio 1.
Seção 6 Extração de Raízes n-ésimas 33
Problemas
π π
6.1 Seja z = cos 15 + i sen 15 . Determine as raízes complexas quartas de
z20 .
6.2 Determine as raízes complexas n-ésimas de z:
√
a) n = 2, z = 1 − 3i; b) n = 4, z = 3;
c)n = 3, z = −16 + 16i; d) n = 6, z = −1.
p3
√
6.3 Calcule 7 + i 13 .
αk + α−k
6.4 Seja α = cos θ + i sen θ. Mostre que cos kθ = e sen kθ =
2
αk − α−k
, para todo n ∈ N.
2i
6.5 Represente as seguintes funções trigonométricas como soma de funções
trigonométricas de ângulos múltiplos de θ:
3
a) sen θ;
4
b) sen θ; c) cos5 θ; d) cos6 θ.
Sugestão Use o Problema anterior.
√
6.6 Determine as raízes quadradas de z= 3 + i, usando a forma polar,
π
compare com o resultado obtido no Problema 4.1 item (a) e determine cos 12
π
e sen 12 .
√ √ √ √
2+ 2 2− 2
6.7 Sabendo que cos π8 + i sen π8 = 2 + 2 i, determine as suas
raízes quadradas pelos métodos da Seção 4 e dessa seção, compare-as e calcule
π π
cos 16 e sen 16 .
34 Os Números Complexos Cap. 1
onde,
(−1) n−2
2 n cos θ senn−1 θ, se n é par ;
b= n−1
(−1) 2 senn θ, se n é ímpar.
Sugestão Calcule (cos θ+i sen θ)n , usando a fórmula do binômio de Newton
e compare com o resultado obtido pela forma polar.
7 Raízes da Unidade
unidade.
2πk
θ = arg(1) = 0, φk = n , onde k = 0, 1, . . . , n − 1,
e as raízes complexas n-ésimas da unidade são os pontos
2πk 2πk
zk = cos + i sen , k = 0, 1, . . . , n − 1,
n n
que dividem o círculo em n partes iguais, sendo z0 = 1. Portanto, as raízes
n-ésimas da unidade são vértices de um polígono regular de n lados inscrito
no círculo de centro na origem e raio 1 em C, tendo um dos vértices no ponto
1. Esta interpretação geométrica das raízes n-ésimas da unidade é devida a
Euler.
são 1, − 2 + 2 i, − 12 − 23 i .
1 3
Figura 10: Raízes complexas cúbicas de 1. Figura 11: Raízes complexas sextas de 1.
Denotando ξ = z1 = cos 2π 2π
n + i sen n , temos que
2π 2π
Figura 12: ξ = ei 3 e as raízes cúbicas de 1. Figura 13: ξ = ei 4 e as raízes quartas de 1.
36 Os Números Complexos Cap. 1
2π 2π
Figura 14: ξ = ei 6 e as raízes sextas de 1 Figura 15: ξ = ei 8 e as raízes oitavas de 1.
Vimos que cada número complexo não nulo z tem n raízes n-ésimas.
Conhecendo uma das suas raízes n-ésimas, podemos determinar todas as
outras raízes n-ésimas, multiplicando-a pelas raízes n-ésimas da unidade.
n-ésima de z e ξ = cos 2π 2π
n + i sen n . Então, as raízes n-ésimas de z são
r
w · ξ , r = 0, . . . , n − 1.
ξm = ξnq+r = (ξn )q · ξr = 1q · ξr = ξr ,
Seção 7 Raízes da Unidade 37
Un (C) = {αm ; m ∈ Z} .
(ii) mdc(λ, n) = 1;
(iii) n = min s ∈ Z ; s ≥ 1 e (ξλ )s = 1 .
q q
ξλ = ξds = ξ(ds)q = ξ(dq)s = (ξn )s = 1.
S = (ξλ )m ; m ∈ Z} = {ξλ , (ξλ )2 , . . . , (ξλ )q−1 , (ξλ )q = 1
38 Os Números Complexos Cap. 1
(ii) ⇒ (iii) :
Suponhamos que
mdc(λ, n) = 1.
Consideremos o conjunto S = s ∈ Z ; s > 0 e (ξλ )s = 1 . Como (ξλ )n =
(ξn )λ = 1λ = 1, então n ∈ S, logo S 6= ∅. Pelo Princípio da Boa Ordenação,
S tem menor elemento, digamos s0 .
Vamos mostrar que s0 = n.
λ s
Temos que s0 > 0 e (ξ ) 0 = 1, pois s0 ∈ S. Pela divisão euclidiana de s0
por n, existem inteiros q e r tais que s0 = nq + r, com 0 ≤ r < n. Portanto,
λ λ 2
1, ξ , (ξ ) , . . . , (ξλ )n−1 = Un (C),
(ii) o inverso de uma raiz n-ésima da unidade é uma raiz n-ésima da uni-
dade;
(iii) toda potência inteira de uma raiz n-ésima da unidade é uma raiz n-
ésima da unidade.
é uma raiz n-ésima da unidade. Portanto, ζ`1 = (ζ`2 )−1 ∈ Um (C) ∩ Un (C) =
{1}, pois mdc(m, n) = 1 (cf. Corolário 2). Logo, ζ`1 = 1 e (ζ2 )` = 1. Pela
divisão euclidiana de ` por m e por n, existem, respectivamente, inteiros q,r
0 0
e q , r , tais que
1 = ζ`1 = ζmq+r
1 = (ζm q r r r
1 ) · ζ1 = 1 · ζ1 = ζ1 , e
0 +r 0 0 0 0 0
1 = (ζ2 )` = (ζ2 )nq = (ζn2 )q · (ζ2 )r = 1 · (ζ2 )r = (ζ2 )r .
Comor<m e r
0
< n, pelo item (iii) da Proposição 7.2, concluímos que
r=0 e r
0
= 0. Portanto, ` é múltiplo, simultaneamente, de m e de n, logo
é múltiplo do mmc(m, n) = mn. 2
Como consequência da proposição acima temos uma nova demonstração
da propriedade multiplicativa da função de Euler:
Problemas
n, se k ≡ 0 mod n
b) 1k + ξk + (ξ2 )k + · · · + (ξn−1 )k =
0, se k 6≡ 0 mod n.
7.6 Seja p um número natural primo. Mostre que toda raiz p-ésima da
unidade diferente de 1 é uma raiz primitiva p-ésima da unidade.
b) ζn = −1.
7.9 Demonstre o Corolário 1 da Proposição 7.4.
181
2
Livro: Polinômios e Equações Algébricas
Autores: Abramo Hefez
Maria Lúcia Torres Villela
Sumário
1 Geometria Analítica em C . . . . . . . . . . . . . 44
2 Transformações Elementares em C . . . . . . . . 48
3 Transformações de Möbius . . . . . . . . . . . . . 55
5 A Esfera de Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . 65
43
44 A Geometria do Plano Complexo Cap. 2
1 Geometria Analítica em C
As retas e os círculos são, indubitavelmente, as guras geométricas pla-
nas mais simples. Apesar dessa simplicidade, grande parte da Geometria
Euclidiana é dedicada ao seu estudo, revelando uma riqueza de resultados
e de aplicações. Com a introdução por Descartes da Geometria de Coorde-
nadas no plano R2 , a chamada Geometria Analítica, o estudo dos objetos
geométricos foi em grande medida enriquecido com a incorporação dos méto-
dos algébricos que transformam guras em equações. Este método, aplicado
mais geralmente a qualquer Rn , com n ≥ 2, permitiu o estudo efetivo de
objetos bem mais gerais do que apenas retas, cônicas, planos e quádricas,
originando dois ramos muito ativos da Matemática contemporânea: a Geo-
metria Algébrica e a Geometria Diferencial.
Nesta seção, veremos como se comportam as equações de retas e círculos,
quando o plano R2 é enriquecido com a estrutura complexa, dando origem
ao plano complexo C.
Recorde que as equações das retas e dos círculos, nas coordenadas x e y
do plano R2 , são, respectivamente, dadas por
bx + cy + d = 0, onde b 6= 0 ou c 6= 0, e (1)
2 2 2 2
a(x + y ) + bx + cy + d = 0, onde a 6= 0 e b + c − 4ad > 0. (2)
z+z z−z iz − iz
x = Re(z) = , y = Im(z) = = . (4)
2 2i 2
Desse modo, uma equação com coecientes reais nas variáveis x e y pode
ser reescrita, no plano complexo C, como uma equação em z e z com coe-
cientes complexos.
Portanto, fazendo a substituição de x e y por suas expressões em (4) na
Equação (3), obtemos a equação equivalente
(b − ic) (b + ic)
azz + z+ z + d = 0, com b2 + c2 − 4ad > 0.
2 2
Esta equação, por sua vez, pode ser reescrita na seguinte forma:
|B|2 − AD
p
B+B B−B
− , , R= . (6)
2A 2iA |A|
46 A Geometria do Plano Complexo Cap. 2
(a + bi)z + (a − bi)z + D = 0.
(a + bi)1 + (a − bi)1 + D = 0 ⇐⇒ 2a + D = 0.
y − w100 x − w10
det = 0.
w200 − w100 w20 − w10
Problemas
a) é paralela a v = v 0 + v 00 i 6= 0;
b) é perpendicular a v = v 0 + v 00 i 6= 0.
1.2 Determine a equação da reta em C tendo a propriedade:
z+i
a) |1 − z| = |3 + z|; b) = 1.
z−i
1.4 Dados w1 , w2 ∈ C, com w1 6= w2 , ache o lugar geométrico dos pontos
z∈C tais que |z − w1 | = |z − w2 |.
1.5 Dados os pontos w1 , w2 ∈ C, com w1 6= w2 , e um número real positivo
a, identique o lugar geométrico dos pontos z∈C tais que
|z − w1 | + |z − w2 | = a.
(x − w 0 )2 (y − w 00 )2
± = 1.
a2 b2
2 Transformações Elementares em C
As funções complexas de variável complexa, também chamadas de tran-
formações do plano complexo, são de grande importância, tanto teórica,
quanto nas aplicações. Diversos problemas práticos da Física e da Enge-
nharia envolvem estudar o comportamento de certos fenômenos em alguma
região do plano que devem satisfazer condições especiais na fronteira dessa
região. Esses problemas têm importância fundamental no estudo, por exem-
plo, de escoamento de uido bidimensional, potencial elétrico, temperatura
ao longo de uma parede, escoamento de uido ao redor de um cilindro, etc.
A resolução de tais problemas passa por sua redução a regiões mais simples,
onde o fenômeno se traduz de modo natural. Tal redução envolve determinar
certas funções de variável complexa que permitem transformar regiões e ao
mesmo tempo traduzir os fenômenos físicos nas novas regiões obtidas.
Só para xarmos o conceito, uma função complexa de variável complexa
é uma função f : S → C, onde S é um subconjunto de C.
No estudo das funções de variável complexa, como não temos o recurso
de traçar o seu gráco, a exemplo das funções reais de variável real, outras
técnicas são utilizadas, tais como descrever a imagem de certos subconjuntos
do plano complexo. Portanto, as imagens de curvas ou de regiões do plano
complexo nos darão informações sobre as propriedades da função.
Nesta seção, estudaremos cinco transformações com propriedades geo-
métricas importantes: as translações, as homotetias (multiplicação por um
número real r > 0), as rotações, a multiplicação por um número complexo
α 6= 0 e a inversão.
Exemplo 1. As translações.
Sejaβ ∈ C, xo. Denimos a translação por β como sendo a transfor-
mação Tβ (z) = z + β.
O domínio de Tβ é claramente C. Note que para cada número complexo
w, existe um único número complexo z tal que w = Tβ (z) = z + β, a saber,
z = w − β. Portanto, Tβ é uma bijeção de C, cuja inversa é T−β .
Escrevendo z = x + yi, β = a + bi e Tβ (z) = u + vi, pela igualdade de
números complexos, temos que:
u + vi = z + β = (x + a) + (y + b)i ⇐⇒ u = x + a e v = y + b.
1
Figura 2: As homotetias H2 (z) = 2z e H 1 (z) = 2
z.
2
Hα = Hr ◦ Rθ = Rθ ◦ Hr .
Exemplo 5. A inversão.
1
Vamos agora estudar a transformação J(z) = , chamada de inversão.
z
O domínio de J é C\{0} e é claro que J é uma bijeção de C\{0} em C\{0},
cuja inversa é a própria transformação J.
Seção 2 Transformações Elementares em C 51
Note que,
1
|J(z)| = → ∞, quando |z| → 0.
|z|
Exemplo 6. A conjugação.
A tranformação C denida pela expressão C(z) = z é chamada de conju-
gação.
É claro que C é uma bijeção de C emC, cuja inversa é a própria C.
Geometricamente, C transforma cada ponto z na sua reexão com respeito
ao eixo real.
z 1
I(z) = = eiθ ,
|z|2 |z|
que leva z no número complexo com mesmo argumento e com módulo igual
a 1/|z|. Portanto, I(z) está situado na reta que passa pela origem e por z
(veja a gura a seguir).
z
Figura 4: Inversão em relação ao círculo unitário: z e I(z) = |z|2
.
52 A Geometria do Plano Complexo Cap. 2
1 z z
J(z) = = = 2 = I(z),
z z·z |z|
z
Figura 5: z, I(z) = |z|2
e J(z) = I(z).
A|z|2 + B z + B z + D = 0. (1)
z z 1
A+B +B + D 2 = 0.
z·z z·z |z|
Seção 2 Transformações Elementares em C 53
1 1 1
Efetuando as substituições = w, =w e = |w|2 , obtemos
z z |z|2
A 0 |w|2 + B 0 w + B 0 w + D 0 = 0, (2)
|B|2 − AD = |B 0 |2 − A 0 D 0 .
(i) Se A e D são não nulos, a Equação (1) representa um círculo que não
passa pela origem e sua imagem por J também é um círculo que não passa
pela origem, de mesma natureza: real, degenerado, ou imaginário;
A 6= 0, D = 0
(ii) Se e B=6 0, a Equação (1) representa um círculo C pela
origem O e a imagem por J de C\{O} é uma reta que não passa pela origem.
|z − c| = c ⇐⇒ |z − c|2 = c2
⇐⇒ c2 = (z − c)(z − c) = |z|2 − cz − cz + c2
⇐⇒ |z|2 − cz − cz = 0.
1
Aplicando a transformação J, temos w = J(z) = e fazendo w = u + vi
z
obtemos
1
1 − cw − cw = 0 ⇐⇒ c(w + w) = 1 ⇐⇒ c(2u) = 1 ⇐⇒ u = .
2c
A imagem por J dos pontos de C diferentes de O = (0, 0) é a reta vertical
1
u= 2c .
54 A Geometria do Plano Complexo Cap. 2
1
Figura 6: C\{O} no plano xy. Figura 7: reta u= 2c
no plano uv.
2 2
1 1
Figura 8: reta y=c no plano xy. Figura 9: u2 + v + 2c
= 2c
no plano uv.
Seção 3 Transformações de Möbius 55
Problemas
3 Transformações de Möbius
Apresentaremos, nesta seção, uma classe especial de funções complexas
de variável complexa, as chamadas transformações de Möbius, que têm mui-
tas propriedades geométricas e são estudadas até hoje de vários pontos de
vista como, por exemplo, investigando a sua rica dinâmica ou as suas notáveis
propriedades algébricas e aritméticas.
az + b
f(z) = , a, b, c, d ∈ C e ad − bc 6= 0.
cz + d
Observemos inicialmente que as seguintes transformações estudadas na
seção anterior são transformações de Möbius:
az + b a b
f(z) = = αz + β, onde α= 6= 0 e β= . (1)
d d d
az + b
A transformação de Möbius f(z) = , com ad − bc 6= 0 e c 6= 0,
cz + d
será agora uma transformação denida em C^ , pondo
d
f − = ∞.
c
Seção 3 Transformações de Möbius 57
a
Como podemos denir f(∞)? O ponto w= c , que não era imagem de
nenhum ponto de C por f, será considerado como f(∞); ou seja,
a
f(∞) = .
c
Dessa maneira, f passa a ser uma bijeção de ^
C em ^.
C
No caso em que c = 0, temos que f é da forma f(z) = αz + β, com
α 6= 0, que é uma bijeção de C em C. Portanto, denindo f(∞) = ∞, temos
também, neste caso, que f é uma bijeção de ^
C em ^.
C
Podemos justicar estas denições de modo bem natural com o processo
de limite, como segue.
Se c 6= 0,
az + b a + bz a
f(z) = = → , quando |z| → ∞.
cz + d c + dz c
Se c = 0, neste caso, α 6= 0 e
az + b
f(z) = , com ad − bc 6= 0,
cz + d
onde
f(∞) = a
f − dc = ∞,
c e se c 6= 0
f(∞) = ∞, se c = 0.
Olhando com atenção a Equação (1), obtida no início dessa seção, vemos
que:
a b
No caso c = 0, quando f(z) = αz + β, onde α= d e β= d , temos que
f = Tβ ◦ Hα .
a b a bc−ad
cz + c c (z + dc ) − a
c · d
c + b
c a 2
f(z) = d
= d
= + c d. (2)
z+ c z+ c
c z+ c
f = Tβ ◦ Hα ◦ J ◦ Tγ .
No caso c = 0, pela equação (1), f pode ser escrita na forma f(z) = αz+β,
com α 6= 0.
Para cada w ∈ C, escrevendo w = αz + β, temos w − β = αz, logo
z = α−1 (w − β). Portanto, a inversa de f é a transformação de Möbius
1 β
f−1 (z) = z − , f−1 (∞) = ∞ .
α α
az + b d
No caso c 6= 0, escrevemos w = , para z 6= − , e podemos resolver
c
cz + d
a igualdade obtendo z como função de w :
−dw + b a
z= , para w 6= .
cw − a c
Seção 3 Transformações de Möbius 59
−dz + b a d
f−1 (z) = , f−1 =∞ e f−1 (∞) = − .
cz − a c c
As transformações de Möbius possuem uma propriedade geométrica no-
tável que apresentaremos a seguir.
A|z|2 + B z + B z + D = 0, A, D ∈ R. (3)
Problemas
az + b a 0z + b 0
3.1 Sejam f(z) = e g(z) = transformações de Möbius.
cz + d c 0z + d 0
a) Mostre que f = g se, e somente se, existe um número complexo não nulo
λ, tal que a 0 = λa, b 0 = λb, c 0 = λc e d 0 = λd.
b) Mostre que f◦g é uma transformação de Möbius.
z−a
f(z) = eiθ ; θ∈R e a ∈ C, com |a| < 1.
1−az
Mostre que f transforma o círculo |z| = 1 nele mesmo e leva o ponto a em 0.
3.3 Mostre que a transformação de Möbius
z+1
f(z) = i
z−1
60 A Geometria do Plano Complexo Cap. 2
Mostre que
Um elemento ^
z0 ∈ C é chamado um ponto xo da transformação de
Möbius f se, e somente se, f(z0 ) = z0 .
f(z) = az+b
De fato, seja
cz+d uma transformação de Möbius tal que c 6= 0.
Então, f(∞) = 6= ∞, logo ∞ não é ponto xo de f. Portanto, se f é uma
a
c
transformação de Möbius e f(∞) = ∞, então c = 0 e f é a composição de
uma translação e uma homotetia.
az + b
= z.
cz + d
Caso c = 0: Pelo Exemplo 3, sabemos que ∞ é ponto xo de f. Qualquer
outro ponto xo deve satisfazer a equação (a − d)z = −b, que em C:
a) tem innitas soluções quando a=d e b = 0; ou seja quando f = Id;
b) não tem solução quando a=d e b 6= 0;
b
c) tem a única solução z= d−a , quando a 6= d .
Com isto, ca provada a proposição neste caso.
Caso c 6= 0: Como f(∞) = a
∞ não é ponto xo de f. Portanto,
c , temos que
c = ∞, temos
d
os pontos xos de f estão necessariamente em C. Como f −
d
que z = − não é ponto xo e, portanto, os pontos xos de f devem satisfazer
c
a equação az + b = (cz + d)z, ou seja a equação
cz2 + (d − a)z − b = 0,
que tem uma ou duas raízes em C. Fica assim provada a proposição também
neste caso. 2
o que implica que a transformação de Möbius g−1 ◦ f tem três pontos xos.
Pelo Corolário 1, temos g
−1 ◦ f = Id e, portanto, f = g. 2
Portanto, dadas duas ternas de pontos distintos z1 , z2 , z3 e w1 , w2 , w3 ,
se existir uma transformação de Möbius f tal que f(zi ) = wi , i = 1, 2, 3, ela
é única. O problema agora reside em saber se tal transformação de Möbius
existe.
(z2 − z3 )(z − z1 )
g(z) = , (1)
(z2 − z1 )(z − z3 )
(z2 − z3 )(z4 − z1 )
[z1 , z2 , z3 , z4 ] = g(z4 ) = ,
(z2 − z1 )(z4 − z3 )
com a interpretação da fração dada após o Exemplo 4, quando algum dos zi
é igual a ∞.
A razão cruzada é um invariante para as transformações de Möbius, ou
seja, vale o seguinte resultado:
para todo ^
z∈C diferente de z1 , z2 , z3 .
A equação (2) fornece o método prático para a determinação explícita de
f(z).
64 A Geometria do Plano Complexo Cap. 2
w − w1 z − z1
= .
w − w3 z2 − z1
Substitituindo pelos valores dados, obtemos
Seção 5 A Esfera de Riemann 65
Problemas
z−1 1 iz − i −1 + i
a) f(z) = ; b) f(z) = ; c) f(z) = ; d) f(z) = .
z+1 z z+i z+2
4.4 Prove as armações feitas no Exemplo 4.
a) − 1, 0, e 1 em − 1, i e 1; b) 1, i, e −1 em i, −1 e 1;
c) 0, 1, e ∞ em − 1, ∞ e 0; d) 0, 1, e ∞ em 1, −1 e i;
e) 0, 1, e ∞ em − 1, ∞ e 1; f) 0, −i, e 1 em − 1, ∞ e 0.
5 A Esfera de Riemann
O modelo geométrico para o plano complexo completado ^
C que obte-
remos, esclarecerá várias das convenções que fomos fazendo ao longo do
caminho.
Vamos estabelecer a seguir uma bijeção entre a esfera unitária menos um
ponto e o plano complexo C.
66 A Geometria do Plano Complexo Cap. 2
av + bv i.
Para determinarmos a expressão de P , devemos escrever a equação da
reta ` que passa por N e v ∈ S \{N} e calcular o ponto de interseção de `
2
com o plano π.
Para escrevermos uma equação paramétrica de `, precisamos de um vetor
gerador e de um ponto de `. Como vetor gerador, tomamos o vetor v − N e
como ponto de `, tomamos o ponto N. Suponhamos que v = (x, y, z). Temos
que Q ∈ ` se, e somente se,
Q = N + t(v − N)
= (0, 0, 1) + t(x, y, z − 1)
= (tx, ty, 1 + t(z − 1)), onde t ∈ R.
Seção 5 A Esfera de Riemann 67
Logo,
Portanto,
x y
P(v) = P(x, y, z) = + i,
1−z 1−z
para todo v = (x, y, z) ∈ S2 \{N}.
Podemos, agora, enunciar uma primeira propriedade da projeção estere-
ográca P.
x2 y2
|w|2 + 1 = 2
+ +1
(1 − z) (1 − z)2
x2 + y2 + (1 − 2z + z2 )
=
(1 − z)2
2 − 2z 2
= = .
(1 − z)2 1−z
2 2 |w|2 − 1
Logo, 1−z = . Isto nos dá z = 1− = e, com
|w|2 +1 |w|2
+1 |w|2 + 1
2w 0
as igualdades de (1), obtemos x = w 0 (1 − z) = 00
e y = w (1 − z) =
|w|2 + 1
68 A Geometria do Plano Complexo Cap. 2
2w 00
. Portanto,
|w|2 + 1
2w 0 2w 00 |w|2 − 1
P −1
(w) = , , , onde w = w 0 + w 00 i. (2)
|w|2 + 1 |w|2 + 1 |w|2 + 1
2
Note que, quando v se aproxima de N = (0, 0, 1), temos que z → 1 e
|w| = |P(v)| → ∞. Então, é natural denir P(N) = ∞, estendendo P a toda
2 2
a esfera S e obtendo uma bijeção P : S −→ C ^.
2 ^ permite, então, identicar C
A função P : S −→ C ^ com a esfera unitária.
O plano complexo completado, C ^ , é também conhecido como a esfera de
Riemann.
Mostraremos, a seguir, que a projeção estereográca P tem uma propri-
edade geométrica notável: transforma um círculo em S2 que não passa por
N em um círculo em C e transforma um círculo em S2 que passa por N em
uma reta em C unida com {∞}; e reciprocamente.
Um círculo em S2 é a interseção de S2 com um plano de R3 que corta S2
e não lhe é tangente. A primeira pergunta é como caracterizar tais planos?
Sabe-se da Geometria Analítica que a distância de um plano Π de equação
ax + by + cz + d = 0, onde n = (a, b, c) 6= (0, 0, 0), à origem O de R3 é dada
pela fórmula:
|d|
d(O, Π) = √ .
a2 + b2 + c2
Portanto, Π corta a esfera S2 se, e somente se, d(O, Π) ≤ 1, sendo-lhe
tangente se, e somente se, d(O, Π) = 1.
Vejamos, agora, como a projeção estereográca vai projetar os pontos do
plano Π com equação ax + by + cz + d = 0 em ^.
C
Usando a fórmula da função inversa da projeção estereográca obtida em
(2), segue-se que o ponto w = w 0 + w 00 i, projeção de (x, y, z) ∈ Π, no plano
deve satisfazer à equação
2w 0 2w 00 |w|2 − 1
a + b + c + d = 0.
|w|2 + 1 |w|2 + 1 |w|2 + 1
Escrevendo esta equação nas coordenadas w e w, obtemos
w+w iw − iw |w|2 − 1
a +b +c + d = 0.
|w| + 1
2 |w| + 1
2 |w|2 + 1
Daí obtemos a equação
A|w|2 + B w + B w + D = 0, (3)
Seção 5 A Esfera de Riemann 69
onde
A = c + d, B = a − bi, D = d − c.
Portanto, a Equação (3) é a equação de um círculo generalizado em C^. Ana-
lisaremos, a seguir, a natureza deste círculo em função de a, b, c e d.
(i) O círculo é uma reta se, e somente se, A = c + d = 0. Isto é claramente
equivalente à condição do plano ax + by + cz + d = 0 passar pelo polo norte
N = (0, 0, 1).
(ii) O círculo é um circulo real se, e somente se, |B|2 −AD = a2 +b2 +c2 −d2 >
0. Esta última condição é equivalente à condição d(O, Π) < 1. Ou seja que
o plano Π intersecta a esfera S2 , sem tangenciá-la.
Problemas
181
3
Livro: Polinômios e Equações Algébricas
Autores: Abramo Hefez
Maria Lúcia Torres Villela
Sumário
1 Subanéis de C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
2 Polinômios com Coecientes em Anéis . . . . . . 74
3 Polinômios em Várias Indeterminadas . . . . . . 83
4 Corpo de Frações de F[x] . . . . . . . . . . . . . . 84
5 Divisão Euclidiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
6 Algoritmo de Briot-Runi . . . . . . . . . . . . . 91
71
72 Propriedades Básicas dos Polinômios Cap. 3
1 Subanéis de C
O que há em comum nos conjuntos numéricos Z, Q, R e C?
Esses conjuntos, munidos com as operações de adição e de multiplicação
de números complexos, possuem a estrutura de anel que introduzimos na
Seção 1, do Capítulo 1.
Dizemos que um elemento não nulo a de um anel A é invertível ou que
0
possui inverso se, e somente se, existe a ∈ A, tal que a · a
0 = 1. Nesse caso,
chamamos a de inverso de a e o denotamos por a .
0 −1
√ √ √
−a − b 2 = (−a) + (−b) 2 ∈ Z[ 2],
pois −a, −b ∈ Z.
√
Portanto, Z[ 2] é um anel com as operações de R.
(i) 0 ∈ B;
(ii) 1 ∈ B;
(iii) se a, b ∈ B, então a + b ∈ B;
(iv) se a, b ∈ B, então a · b ∈ B;
(v) se a ∈ B, −a ∈ B.
então
√ √
Exemplo 3. Temos Z ⊂ Z[ 2] ⊂ R ⊂ C. Além disso, Z é subanel de Z[ 2]
√
e Z[ 2] é subanel de R, sendo todos subanéis de C.
Problemas
b) Mostre que os únicos elementos que têm inverso em Z[i] são 1, −1, i e −i.
1.2 Mostre que se A é um subanel de C e se α ∈ C é tal que α2 ∈ A, então
A[α] = {a + bα;√ a, b ∈ A } é um subanel de C, contendo A como subanel.
Observe que Z[ 2] e Z[i] são exemplos dessa situação.
√ √
1.3 Mostre que 1 + 2 tem inverso em Z[ 2]. Conclua que para todo n ∈ Z,
√ √
(1 + 2)n tem inverso em Z[ 2].
√
1.4 Mostre que o conjunto {a + b 2; a, b ∈ Z } não é um subanel de C; mas
4
√ √
{a + b 4 2; a, b ∈ Z[ 2] } é um subanel de C.
√ √ √
1.5 Mostre que o conjunto {a + b 2 + c 4 + d 8; a, b, c, d ∈ Z } é um
4 4 4
√
4
subanel de C. Mostre que este é o menor subanel de C que contém 2.
1.6 Mostre que todo subcorpo de C contém Q como subcorpo.
√
1.7 Seja K = {a + b 2 ; a, b ∈ Q}.
a) Mostre que K é um anel com as operações de adição e multiplicação de
√
números reais. Mostre que Z[ 2] é um subanel de K.
b) Mostre que
√ K é um corpo. Mostre que K é o menor subcorpo de C que
contém 2.
1.8 Seja L = {a + bi ; a, b ∈ Q}.
a) Mostre que L é um anel com as operações de adição e multiplicação de
números complexos. Mostre que Z[i] é um subanel de L.
b) Mostre que L é um corpo. Mostre que L é o menor subcorpo de C que
contém i.
0x n+1 + 0x n+2 m
+ · · · + 0x , para todo número natural m > n. Portanto,
quando comparamos dois polinômios f(x), g(x) ∈ A[x], é possível assumir
que os termos de ambos têm as mesmas potências de x.
1 2 n
Dizemos que os polinômios f(x) = a0 + a1 x + a2 x + · · · + an x e g(x) =
b0 + b1 x1 + b2 x2 + · · · + bn xn em A[x] são polinômios iguais se, e somente
se, aj = bj , para 0 ≤ j ≤ n. Nesse caso, escrevemos f(x) = g(x).
No Exemplo 2, os coecientes dos termos constantes dos polinômios
h(x) = −x + 3x2 − 3x4 e t(x) = 2 − x + 3x2 − 3x4 são diferentes; logo
h(x) 6= t(x).
2x2 − 6x − 1
(+) − 3x3 + 5x2 − 3x + 2
− 3x3 + 7x2 − 9x + 1
Logo, g(x) + h(x) = −3x3 + 7x2 − 9x + 1.
X
n X
m
Dados os polinômios f(x) = aj xj e g(x) = bj xj em A[x], deni-
j=0 j=0
mos a multiplicação desses polinômios como segue:
X
n+m
f(x) · g(x) = cj xj ,
j=0
onde
c0 = a0 · b0
c1 = a0 · b1 + a1 · b0
c2 = a0 · b2 + a1 · b1 + a2 · b0
.
.
.
X
cj = a0 · bj + a1 · bj−1 + · · · + aj · b0 = aλ · bµ
λ+µ=j
.
.
.
cn+m = an · bm .
Comutatividade da multiplicação:
X
n+m X
f(x) · g(x) = aλ · bµ xj
j=0 j=λ+µ
X X
n+m
= bµ · aλ xj
j=0 j=λ+µ
= g(x) · f(x),
pois em A temos aλ · bµ = bµ · aλ , para quaisquer λ e µ.
Distributividade: Podemos supor ` = m, após reescrever g(x) e h(x) com as
mesmas potências de x
X
n X
m
(1) j j
f(x) · (g(x) + h(x)) = aj x · (bj + cj )x
j=0 j=0
(2) X
n+m X
= aλ · (bµ + cµ ) xj
j=0 j=λ+µ
(3) X X
n+m
= aλ · bµ + aλ · cµ ) xj
j=0 j=λ+µ
(4) X X
n+m X X
n+m
= aλ · bµ xj + a λ · cµ x j
j=0 j=λ+µ j=0 j=λ+µ
(5)
= f(x) · g(x) + f(x) · h(x),
3x3 − 3x2 + 4x + 5
2x2 − 6x − 1
(+) − 3x3 + 5x2 − 3x + 2
0x3 + 4x2 − 5x + 6
80 Propriedades Básicas dos Polinômios Cap. 3
− 2x3 + 0x2 − x + 2 L1
(×) 2x2 + 2x + 3 L2
− 6x3 + 0x2 − 3x + 6 L3
− 4x4 + 0x3 − 2x2 + 4x L4
(+) −4x5 + 0x4 − 2x3 + 4x2 L5
−4x5 − 4x4 − 8x3 + 2x2 + x + 6 L6
(1) a+c=0
(2) d + ac + b = 0
(3) ad + bc = 0
(4) bd = 4.
b e d,
De (4), obtemos que são seis as possiblidades para os valores de
a saber,b = 1 e d = 4, ou b = 2 e d = 2, ou b = 4 e d = 1, ou b = −1 e
d = −4, ou b = −2 e d = −2, ou b = −4 e d = −1.
2
De (1) temos que a = −c. Substituindo em (2), obtemos que d + b = c .
Assim, a única possibilidade é b = 2 e d = 2 e, nesse caso, c = 2 ou
82 Propriedades Básicas dos Polinômios Cap. 3
Problemas
A[x1 , x2 ] = A[x1 ] [x2 ].
Procedendo indutivamente, denimos o anel de polinômios em n inde-
terminadas
A[x1 , x2 , . . . , xn ] = A[x1 , x2 , . . . , xn−1 ] [xn ].
O polinômio em n indeterminadas f(x1 , . . . , xn ) ∈ A[x1 , . . . , xn ] pode ser
escrito como
X
f(x1 , . . . , xn ) = aj1 ,...,jn xj11 · · · xjnn ,
0 ≤ j1 ≤ s1
.
.
.
0 ≤ jn ≤ sn
Problemas
a
Q= ; a, b ∈ Z e b 6= 0 ,
b
a a0
onde = 0 se, e somente se, a · b 0 = b · a 0.
b b
Seção 4 Corpo de Frações de F[x] 85
a
Cada elemento ∈ Q fração
é chamado de e a e b são chamados,
b
respectivamente, de numerador e denominador.
As operações de adição e multiplicação em Q são denidas por:
a c a·d+b·c a c a·c
+ = e · = ,
b d b·d b d b·d
onde as operações de adição e multiplicação no numerador e denominador
das frações são as operações dos inteiros.
A soma e o produto independem da representação da fração, isto é, se
a a0 c c0
= 0 e = 0 , então
b b d d
a·d+b·c a0 · d0 + b0 · c0 a·c a0 · c0
= e = 0 0,
b·d b0 · d0 b·d b ·d
pois os produtos cruzados, em cada uma das frações, coincidem.
Se f(x), g(x), h(x) ∈ F[x], f(x) 6= 0 e f(x) · g(x) = f(x) · h(x), então
g(x) = h(x).
Com efeito, se f(x) · g(x) = f(x) · h(x) e f(x) 6= 0, então
0 = f(x) · g(x) − f(x) · h(x) = f(x) g(x) − h(x) ,
então
Com essas operações, F(x) é um corpo que contém F[x] como subanel.
F[x] pode ser identicado com as frações de F(x) de denominador 1. Na
verdade, F(x) é o menor corpo contendo F[x] como um subanel, isto é, se L
é um corpo contendo F[x] como um subanel, então F(x) ⊂ L.
Problemas
5 Divisão Euclidiana
Vamos introduzir os conceitos de divisibilidade em A[x] e mostrar que
é possível fazer de modo único uma divisão com resto controlado em A[x],
sempre que o divisor tem coeciente líder invertível em A.
Seção 5 Divisão Euclidiana 87
Sejamf(x) e g(x) em A[x]. Quando existe h(x) ∈ A[x] tal que f(x) =
g(x) · h(x) dizemos que f(x) é múltiplo de g(x). Nesse caso, se g(x) 6= 0
dizemos que g(x) divide f(x).
Demonstração Como g(x) divide f(x) e ambos são não nulos, então existe
h(x) ∈ A[x]\{0} tal que f(x) = g(x)h(x). Pela propriedade multiplicativa do
grau, temos
gr(f(x)) = gr(g(x)h(x))
= gr(g(x)) + gr(h(x)) ≥ gr(g(x)).
2
(3)
f(x) = q1 (x)g(x) + r1 (x) = q2 (x)g(x) + r2 (x), onde
(4)
gr( g(x) ) ≤ gr(r2 (x) − r1 (x)) < gr(g(x)),
|{z}
divisor
Problemas
6 Algoritmo de Briot-Runi
f(x) = a0 + a1 x + · · · + an xn ∈ A[x], onde A é um anel, e seja β ∈ A.
Seja
Denimos a avaliação de f(x) em β como sendo
f(β) = a0 + a1 β + · · · + an βn ∈ A.
0 = f(β) = q(β)(β − β) + r = r,
mostrando que x − β divide f(x).
Reciprocamente, suponhamos que x−β divida f(x). Então, existe q(x) ∈
A[x] tal que f(x) = q(x)(x − β). Portanto,
+(r − βq0 ),
comparando com os coecientes de f(x), obtemos:
qn−1 = an
qn−1 = an
qn−2 − βqn−1 = an−1
qn−2 = an−1 + βqn−1
qn−3 − βqn−2 = an−2
qn−3 = an−2 + βqn−2
. .
.
. ⇒ .
.
q1 − βq2 = a2
q1 = a2 + βq2
q − βq1 = a1
q = a1 + βq1
0
0
r − βq0 = a0 r = a0 + βq0
β an an−1 ··· a2 a1 a0
an = qn−1
β an an−1 ··· a2 a1 a0
an = qn−1 qn−2
β an an−1 ··· a2 a1 a0
an = qn−1 qn−2 ··· q1 q0 r
β an an−1 ··· a2 a1 a0
an = qn−1 qn−2 ··· q1 q0 |r
−3 1 −2 0 3
1 −5 15 | −42
O algoritmo pode ser usado para fazer divisões sucessivas de f(x) por
x − β, quando β é uma raiz de f(x). Vejamos um exemplo.
94 Propriedades Básicas dos Polinômios Cap. 3
1
2 4 0 5 −7 2
4 2 6 −4 |0
1 1 3 2
2 é raiz de f(x) e f(x) = x − 2 q(x), onde q(x) = 4x +2x +6x−4.
Logo,
1 1
Será que
2 é raiz de q(x)? Fazemos a divisão de q(x) por x − 2 na
1
mesma tabela, acrescentando β =
2 na linha dos coecientes do quociente.
Aplicamos o procedimento em q(x), obtendo
1
2 4 0 5 −7 2
1
2 4 2 6 −4 |0
4 4 8 |0
1 1 1 2
(4x2 +4x+8) e f(x) = x − (4x2 +
Logo,
2 é raiz de q(x), q(x) = x − 2 2
4x + 8).
1
Será que
2 é raiz de q2 (x) = 4x2 + 4x + 8? Aplicamos mais uma vez o
1
procedimento, acrescentando
2 na linha dos coecientes de q2 (x), obtendo
1
2 4 0 5 −7 2
1
2 4 2 6 −4 |0
1
2 4 4 8 |0
4 6 | 11
1
Logo, x− 2 não divide q2 (x). Portanto,
2
f(x) = x − 12 (4x2 + 4x + 8).
2 3
Temos então que x − 12 divide f(x), mas x − 12 não divide f(x).
.
.
.
(n) qn−1 (x) = (x − β)qn (x) + rn−1 , com gr(qn (x)) = 0 e rn−1 ∈ A.
β an an−1 ··· a2 a1 a0
β coecientes de q1 (x) | r0
β coecientes de q2 (x) | r1
. .
. .
. .
β coecientes de qn−1 (x) | rn−2
coecientes de qn (x) | rn−1
rn = a n
−1 2 3 −1 1 0 −4
−1 2 1 −2 3 −3 | −1
−1 2 −1 −1 4 | −7
−1 2 −3 2 |2
−1 2 −5 |7
2 | −7
2
Logo, f(x) = −1 − 7(x + 1) + 2(x + 1)2 + 7(x + 1)3 − 7(x + 1)4 + 2(x + 1)5 .
Problemas
1
6.1 Mostre que
2 e − 12 são raízes de
1
f(x) = 16x5 − 24x4 + 8x3 + 4x2 − 3x + 2 ∈ Q[x]
e determine as suas multiplicidades.
181
4
Livro: Polinômios e Equações Algébricas
Autores: Abramo Hefez
Maria Lúcia Torres Villela
Sumário
1 Polinômios e Suas Raízes . . . . . . . . . . . . . . 99
2 Fatoração de Polinômios sobre os Reais . . . . . 102
3 Polinômios Primos e a Fatoração Única . . . . . 108
4 MDC e MMC de Polinômios . . . . . . . . . . . 113
5 Polinômios com Coecientes Inteiros . . . . . . . 117
98
Seção 1 Polinômios e Suas Raízes 99
xn−1 + xn−2 + · · · + x + 1.
100 Fatoração de Polinômios Cap. 4
P
Então p(x) = nj=1 pj (x) é o único polinômio de grau menor do que n tal
que p(aj ) = bj , j = 1, . . . , n.
De fato, o polinômio p(x) tem grau menor do que n e é tal que p(aj ) = bj ,
pois
0, se j 6= k
pj (ak ) =
bj , se j = k.
Para provar a unicidade, suponha que q(x) seja um polinômio que sa-
tisfaz as mesmas condições de p(x). Segue-se que p(x) − q(x) se anula em
a1 , . . . , an . Como esse polinômio tem grau menor do que n e tem n raízes,
ele é nulo, acarretanto que q(x) = p(x).
Todo polinômio não constante com coecientes complexos tem uma raiz
complexa.
Este resultado tem uma história interessante e dada a posição central
que ocupava na Álgebra, no passado, foi batizado de Teorema Fundamental
da Álgebra. Contaremos a história deste teorema e o demonstraremos no
Capítulo 5.
Dizemos que um corpo K é algebricamente fechado quando todo polinô-
mio não constante com coecientes em K tem uma raiz em K. Portanto, o
Teorema Fundamental da Álgebra nos diz que C é algebricamente fechado.
Uma propriedade importante dos corpos algebricamente fechados é dada
no resultado a seguir.
Problemas
π 2π (n − 1)π n
sen · sen · · · sen = n−1 .
n n n 2
1.3 Determine o polinômio de menor grau que tem raízes 0, 1 + i e 1−i e
toma valores 2 e −2 em −1 e 1, respectivamente.
f(x) = an (xn + (an )−1 an−1 xn−1 + · · · + (an )−1 a1 x + (an )−1 a0 ).
| {z }
p(x)
Portanto, f(x) é irredutível se, e somente se, o polinômio mônico p(x) é
irredutível.
Assim, para determinar todos os polinômios irredutíveis de F[x] só preci-
samos conhecer os polinômios irredutíveis mônicos.
f(x) = an xn + · · · + a1 x + a0 ,
onde aj é o conjugado de aj , j = 0, . . . , n.
Proposição 2.1. Sejam f(x), g(x), h(x) ∈ C[x]. A conjugação tem as se-
guintes propriedades:
(i) se f(x) = g(x) + h(x), então f(x) = g(x) + h(x);
(ii) se f(x) = g(x) · h(x), então f(x) = g(x) · h(x);
(iii) f(x) = f(x) se, e somente se, f(x) ∈ R[x];
(iv) se β ∈ C, então f(β) = f(β).
X
s X
n X
m
j j
Escrevamos f(x) = aj x , g(x) = bj x e h(x) = cj xj .
j=0 j=0 j=0
(ii) Suponhamos que
X= g(x) · h(x). Da denição de multiplicação
f(x) de
X X
aj = bλ cµ = bλ cµ , para j = 0, . . . , s,
λ+µ=j λ+µ=j
X
n
j X
n X
n
f(β) = aj β = aj βj = aj βj = f(β).
j=0 j=0 j=0
2
(x − β)(x − β) = x2 − (β + β)x + ββ
= x2 − 2Re(β)x+ | β |2 ∈ R[x],
√ √
φ0 = π
4 ⇒ z0 = cos π4 + i sen π4 = 22√+ 22√i
φ1 = 3π
4 ⇒ z1 = cos 3π4 + i sen 4
3π
= − √22 + √22 i
φ2 = 5π
4 ⇒ z2 = cos 5π4 + i sen 4
5π
=− 2
− 2i
√ 2 √ 2
φ3 = 7π
4 ⇒ z3 = cos 7π4 + i sen 4
7π
= 22 − 22 i,
então
a) x4 + 5x2 + 6; b) x4 + 6x2 + 9; c) x4 + x2 + 1.
2.8 Seja f(x) = x5 − 5x4 + 7x3 − 2x2 + 4x − 8.
a) Dê as fatorações de f(x) em produto de polinômios mônicos irredutíveis
em R[x] e em C[x], usando o Problema 6.5, Capítulo 3;
a) x6 − 16; b) x6 + 16; c) x8 − 1; d) x8 + 1.
2.11 f(x) = x6 −4x5 +15x4 −24x3 +39x2 −20x+25. Sabendo que 1+2i
Seja
é uma raiz múltipla de f(x), determine a sua multiplicidade, as outras raízes
complexas de f(x) e dê a decomposição de f(x) em produto de potências de
polinômios mônicos irredutíveis em R[x].
e
I(d(x)) = { c(x)d(x) ; c(x) ∈ F[x] }.
Note que a segunda denição é um caso particular da primeira, pois
I(d(x)) = I(d(x), 0). Note também que h(x) ∈ I(f(x), g(x)) se, e somente se,
ah(x) ∈ I(f(x), g(x)), para todo a ∈ F \ {0} (cf. Problema 3.1).
Lema 3.2. Sejam f(x), g(x) ∈ F[x], onde F é um corpo, com pelo menos
um deles não nulo. Então, existe um polinômio d(x) ∈ I(f(x), g(x)), tal que
I(f(x), g(x)) = I(d(x)).
Demonstração Considere o subconjunto dos números naturais:
Como h(x) ∈ I(f(x), g(x)), existem polinômios a(x), b(x) em F[x], tais que
h(x) = a(x)f(x) + b(x)g(x). Substituindo a expressão (1) em (2), obtemos
que
r(x) = a(x)f(x) + b(x)g(x) − q(x)(a0 (x)f(x) + b0 (x)g(x))
= (a(x) − q(x)a0 (x))f(x) + (b(x) − q(x)b0 (x))g(x).
r(x) ∈ I(f(x), g(x)). Pela escolha de d(x), como sendo um elemento
Logo,
de menor grau em I(f(x), g(x)), temos que r(x) = 0. Logo, de (2), temos que
h(x) = q(x)d(x) ∈ I(d(x)) e, consequentemente, I(f(x), g(x)) ⊂ I(d(x)). 2
Façamos a seguir algumas observações importantes.
a) Observe que o elemento d(x) tal que I(f(x), g(x)) = I(d(x)) é qualquer
elemento de I(f(x), g(x)) de menor grau possível. Dentre esses, existe um
único polinômio mônico (cf. Problema 3.1)
c) Como d(x) ∈ I(f(x), g(x)), então existem a0 (x), b0 (x) ∈ F[x] tais que
d(x) = a0 (x)f(x) + b0 (x)g(x).
d) Se um polinômio h(x) divide ambos os polinômios f(x) e g(x), então h(x)
divide a0 (x)f(x) + b0 (x)g(x) = d(x).
Proposição 3.1. Seja f(x) ∈ F[x]\F, onde F é um corpo. Temos que f(x) é
primo se, e somente se, f(x) é irredutível.
Demonstração (⇒) Já foi demonstrado no Lema 3.1.
(⇐) Seja f(x) ∈ F[x]\F irredutível. Sejam g(x) e h(x) em F[x] tais que f(x)
divide g(x)h(x) e f(x) não divide g(x). Vamos mostrar que f(x) divide h(x).
Consideremos o conjunto I(f(x), g(x)). Pelo Lema 3.2, existe um polinô-
mio d(x) 6= 0 em F[x], tal que I(d(x)) = I(f(x), g(x)). Como d(x) divide
Seção 3 Polinômios Primos e a Fatoração Única 111
f(x) e este polinômio é irredutível, temos que existe a em F \ {0} tal que
d(x) = a ou d(x) = af(x). Esta última possibilidade não pode ocorrer, pois
d(x) divide g(x), mas por hipótese f(x) não divide g(x). logo, d(x) = a.
Portanto, a = d(x) = a0 (x)f(x) + b0 (x)g(x), para alguns a0 (x), b0 (x) ∈
F[x]. Multiplicando esta igualdade por h(x)a−1 , obtemos
h(x) = a0 (x)f(x)h(x)a−1 + b0 (x)g(x)h(x)a−1 .
Como f(x) divide cada parcela à direita, então f(x) divide a sua soma que é
h(x). 2
Portanto, podemos supor que f(x) seja redutível. Então, existem g(x) e
h(x) em F[x] não constantes tais que
f(x) = g(x)h(x),
com 1 ≤ gr(g(x)), gr(h(x)) < n = gr(f(x)). Por hipótese de indução, g(x) =
bp1 (x) · · · pr (x), com p1 (x), . . . , pr (x) mônicos e irredutíveis e b ∈ F\{0}.
h(x) = cpr+1 (x) · · · pr+` (x), pr+1 (x), . . . , pr+` (x) mônicos e irredutíveis e
c ∈ F\{0}.
Logo,
Problemas
Seção 4 MDC e MMC de Polinômios 113
c) h(x) ∈ I(f(x), g(x)) se, e somente se, ah(x) ∈ I(f(x), g(x)), para todo
a ∈ F\{0};
d) Se f(x), g(x) não são ambos nulos, existe um único polinômio mônico
d(x) ∈ F[x] tal que I(f(x), g(x)) = I(d(x)).
3.2 Sejam F um corpo e f1 (x), . . . , fs (x), p(x) ∈ F[x], com p(x) irredutível.
a) Mostre que se p(x) divide f1 (x) · · · fs (x), então existe j = 1, . . . , s tal que
p(x) fj (x).
divide
b) Mostre que se f1 (x), . . . , fs (x) são irredutíveis e p(x) divide f1 (x) · · · fs (x),
então existem j = 1, . . . , s e aj 6= 0 em F tais que p(x) = aj fj (x).
Sejam f(x), g(x) ∈ F[x], não ambos nulos, onde F é um corpo. Um ele-
mento d(x) em F[x] é chamado um máximo divisor comum de f(x) e g(x) se
possuir as seguintes propriedades:
(i) d(x) é divisor comum de f(x) e de g(x), isto é, d(x) divide cada um desses
polinômios;
114 Fatoração de Polinômios Cap. 4
(ii) se h(x) ∈ F[x] é um divisor comum de f(x) e g(x), então h(x) divide d(x).
(i) m(x) é um múltiplo comum de f(x) e g(x), isto é, m(x) é múltiplo de f(x)
e de g(x);
(ii) se h(x) ∈ F[x] é um múltiplo comum de f(x) e g(x), então h(x) é múltiplo
de m(x).
Armamos que para quaisquer f(x), g(x) ∈ F[x], existe um mínimo múl-
tiplo comum.
Observamos, primeiramente, que o conjunto dos múltiplos comuns do
produto f(x)g(x) é um múltiplo comum de f(x) e de g(x), logo é múltiplo de
um mmc. Também temos f1 (x) · · · ft (x) = 0 se, e somente se, fj (x) = 0, para
algum j = 1, . . . , t. Portanto, o mínimo múltiplo comum é 0 se, e somente
se, fj (x) = 0, para algum j = 1, . . . , t.
Consideremos agora todos os polinômios não nulos. Segue do Teorema
3.1 que existe um mínimo múltiplo comum em F[x].
Em geral, m(x) é um mmc de f1 (x), . . . , ft (x) se, e somente se, am(x)
é um mmc de f1 (x), . . . , ft (x), para todo a em F\{0}. Portanto, se todos os
polinômios são não nulos, existe um único mínimo múltiplo comum mônico,
denotado por mmc f1 (x), . . . , ft (x) .
`j = min{rj , sj } e kj = max{rj , sj }.
Então,
√ 2 2 √
Exemplo 1. Sejam
√ f(x) = 2(x − 1)3 (x − 2) (x + 1)2 e g(x) = 3(x +
2)(x − 1)2 (x − 2)3 (x2 + 1) em R[x].
Os polinômios mônicos irredutíveis que ocorrem nas fatorações de
√ f(x)
ou de g(x) são 2, x2 + 1, assim
x + 2, x − 1, x −
√
f(x) = 2(x + 2)0 (x − 1)3 (x − 2)2 (x2 + 1)2
√ √
g(x) = 3(x + 2)(x − 1)2 (x − 2)3 (x2 + 1) e
√
mdc(f(x), g(x)) = (x + 2)0 (x − √
1)2 (x − 2)2 (x2 + 1)
= (x − 1)2 (x − 2)2 (x2 + 1),
√
mmc(f(x), g(x)) = (x + 2)(x − 1)3 (x − 2)3 (x2 + 1)2 .
Os polinômios
ditos primos entre si, ou coprimos, se,
f1 (x), . . . , ft (x) são
e somente se, mdc f1 (x), . . . , ft (x) = 1.
Quaisquer polinômios distintos mônicos irredutíveis em F[x] são primos
entre si.
116 Fatoração de Polinômios Cap. 4
Problemas
b) Mostre que se f(x) e g(x) são ambos nulos, não existe nenhum polinômio
d(x) satisfazendos as propriedades (i) e (ii) da denição de mdc.
a) f(x) = x2 − 2x − 1 e g(x) = 2x − 3.
b) f(x) = x3 −1 e g(x) = x3 + 1.
c) f(x) = x9 − 1 e g(x) = x6 − 1
4.3 Sejam f(x) = x3 e g(x) = (1 − x)2 em Q[x].
a) Mostre que mdc(f(x), g(x)) = 1.
b) Determine a(x), b(x) ∈ Q[x], tais que a(x)f(x) + b(x)g(x) = 1, usando o
método dos coecientes a determinar.
4.4 Sejam F um corpo e f1 (x), . . . , ft (x) ∈ F[x], nem todos nulos. Seja
I = {a1 (x)f1 (x) + · · · + at (x)ft (x) ; a1 (x), . . . , at (x) ∈ F[x]}. Mostre que:
a) Existe d(x) ∈ F[x], d(x) 6= 0, tal que I = I(d(x)).
b) Existem a1 (x), ..., at (x) ∈ F[x] tais que d(x) = a1 (x)f1 (x) + · · · +
at (x)ft (x).
c) d(x) divide f1 (x), ..., d(x) divide ft (x).
d) d(x) é um máximo divisor comum de f1 (x), ..., ft (x).
Seção 5 Polinômios com Coecientes Inteiros 117
r r rn−1 rn
0=f = a0 + a1 · + · · · + an−1 n−1 + an n .
s s s s
Multiplicando essa igualdade por sn , obtemos:
Como s|0 e s | b,
s | an · rn , mas mdc(r, s) = 1, logo s | an .
então
Analogamente, denindo a = a1 · r · s
n−1 + · · · + a n−1 · s + a · rn
n−1 · r n
temos 0 = a0 · s + a. Como r | 0 e r | a, então r | a0 · s , mas mdc(r, s) = 1,
n n
logo r | a0 . 2
118 Fatoração de Polinômios Cap. 4
f(x) = x − 13 (3x 2
1
2 + 3x + 3)
= 3 x − 3 (x + x + 1),
1
Exemplo 6. Seja f(x) = 2 − 53 x + 32 x3 + x4 ∈ Q[x]. O mínimo múltiplo
comum dos denominadores dos seus coecientes não nulos, escritos como
frações irredutíveis, émmc(2, 5, 3, 1) = 30. Multiplicando f(x) por 30 temos
que 30f(x) = 15 − 18x + 20x3 + 30x4 ∈ Z[x] e cont(30f(x)) = 1, isto é,
1
f1 (x) = 30f(x) é primitivo e f(x) = 30 f1 (x).
Em geral, se f(x) ∈ Q[x] é um polinômio mônico e m é o mínimo múltiplo
comum dos denominadores dos seus coecientes não nulos, escritos como
frações irredutíveis, então f1 (x) = mf(x) ∈ Z[x], com f1 (x) primitivo. (Veja
Problema 5.7)
Lema 5.1. Seja f(x) ∈ Q[x] um polinômio não nulo. Então, existem a ∈
Q\{0} e f1 (x) ∈ Z[x] primitivo, tais que f(x) = af1 (x) e, a menos de sinal,
a e f1 (x) são únicos.
Demonstração m o mínimo múltiplo comum dos denominadores dos
Seja
coecientes não nulos de f(x). Então, mf(x) ∈ Z[x]\{0}. Seja d = cont(mf(x)).
Portanto, mf(x) = df1 (x), com f1 (x) primitivo e
1 1 d
f(x) = (mf(x)) = df1 (x) = f1 (x).
m m m
Sejam a1 , a2 , b1 , b2 ∈ Z\{0} e f1 (x), f2 (x) primitivos tais que
a1 a2
f(x) = f1 (x) = f2 (x). (1)
b1 b2
Então, b2 a1 f1 (x) = b1 a2 f2 (x). Portanto,
(i) a + c = 0,
(ii) ac + b + d = 0,
(iii) ad + bc = 0,
(iv) bd = 1.
Segue de (iv) que b = d = 1 ou b = d = −1. Substituindo (i) em (ii),
2 2 2
temos que c = b + d. Logo, c = 2 ou c = −2, uma contradição com o fato
4
de c ∈ Z. Portanto, f(x) = x + 1 é irredutível em Z[x], logo é irredutível em
Q[x].
Vamos mostrar que em Z[x] vale a fatoração única em fatores irredutíveis
em Z[x], a menos de sinal, isto é, a menos de multiplicação por ±1, que será
induzida pela fatoração única em Q[x]. Vamos relacionar a fatoração de um
polinômio não constante com coecientes inteiros em irredutíveis mônicos
em Q[x], que mostramos a existência na Seção 3, com a sua fatoração num
produto de polinômios primitivos e irredutíveis em Z[x].
122 Fatoração de Polinômios Cap. 4
b
f(x) = q1 (x) · · · qr (x).
c
Seja mj o mínimo múltiplo comum dos denominadores dos coecientes
não nulos de qj (x), para cada j = 1, . . . , r. Então, pj (x) = mj qj (x) ∈ Z[x] é
um polinômio primitivo (veja Problema 5.2) e irredutível e
(cm1 · · · mr ) cont(f(x)) =| b | .
p | b0 e p - c0 , ou p - b0 e p | c0 .
Suponhamos, sem perda de generalidade, que p | b0 e p - c0 .
Como an = br · cs e p - an , então p - br . Seja ` o menor natural
1 ≤ ` ≤ r tal que p - b` . Então, p | b0 , . . . , p | b`−1 e
a` = b0 c` + · · · + b`−1 c1 + b` c0 .
| {z } |{z}
p divide p não divide
Logo, p - a` e, por hipótese, ` = n = gr(f(x)) > r, uma contradição. 2
(x + 1)p − 1
f(x + 1) =
(x + 1)− 1
xp + p1 xp−1 + · · · + p
x2 + p
p−2 p−1 x
=
x
p p p
= xp−1 + xp−2 + · · · +
1 p−2 x+ p−1 .
p p
Como p divide 1 ≤ j ≤ p − 1, e p−1
j , para = p, podemos aplicar o
critério de Eisenstein ao polinômio f(x + 1) com o primo p. Assim, f(x + 1)
é irredutível em Q[x], e pelo Problema 3.3, f(x) é irredutível em Q[x].
Observemos que
(x + 1)p(p−j) = ((x + 1)p )p−j = (xp + 1 + pxg(x))p−j = (xp + 1)p−j + pxgj (x),
onde xgj (x) é um polinômio de grau menor do que p(p − j), sem termo
constante. Assim,
Seção 5 Polinômios com Coecientes Inteiros 125
p−3 p−3
(x + 1)p(p−3) =
p(p−3) p
0
x + ··· + p−4
x + 1 + pxg3 (x)
. .
. .
. .
1
(x + 1)p =
p
0
x + 1 + pxgp−1 (x)
temos que
p−1 p−2 p
1 + 0 = 1 ;
.
.
.
p−1 p−2 1 p
p−2 + p−3 + ··· + 0 = p−2 .
Sendo todos os números nos segundos membros das igualdade acima múl-
tiplos de p, f(x + 1) = xp(p−1) + p + pxh(x), onde xh(x) é um
temos que
polinômio de grau menor do que p(p − 1), sem termo constante. Portanto,
em vista do critério de Eisenstein, o polinômio f(x + 1) é irredutível, logo o
polinômio f(x) é irredutível em Q[x].
Problemas
5.8 Mostre que se f1 (x), . . . , fs (x) em Z[x] são polinômios primitivos, então
f1 (x) · · · fs (x) é primitivo.
181
5
Livro: Polinômios e Equações Algébricas
Autores: Abramo Hefez
Maria Lúcia Torres Villela
Sumário
1 Equação do Segundo Grau . . . . . . . . . . . . . 129
2 Equação do Terceiro Grau . . . . . . . . . . . . . 130
3 Equação do Quarto Grau . . . . . . . . . . . . . . 136
4 Relações Entre Coecientes e Raízes . . . . . . . 137
5 Teorema Fundamental da Álgebra . . . . . . . . 142
128
1. EQUAÇÃO DO SEGUNDO GRAU 129
b2 b2
2 b
a x +2 x+ 2 +c− =
2a 4a 4a
b 2 b2
a x+ +c−
2a 4a
Portanto, α é raiz da equação se, e somente se,
2
b2
b
a α+ +c− = 0,
2a 4a
130 Equações Algébricas Cap. 5
1. ∆>0 se, e somente se, a equação tem duas raízes reais distintas.
2. ∆=0 se, e somente se, a equação tem duas raízes reais iguais.
3. ∆<0 se, e somente se, a equação tem duas raízes complexas distintas
conjugadas.
Problemas
(y + d)3 + a2 (y + d)2 + a1 (y + d) + a0 =
a2
Pondo d=− , na expressão acima, temos que
3
x3 + a2 x2 + a1 x + a0 = y3 + py + q,
onde
a2 a2 2 2a2 3 a1 a2
x=y− , p = a1 − e q= − + a0 . (2)
3 3 27 3
Portanto, para achar as raízes da equação (1), basta achar as raízes da
equação
y3 + py + q = 0,
a2
com p e q como em (2) e delas subtrair .
3
Exemplo 1. Vamos eliminar o termo do segundo grau do polinômio p(x) =
x3 − 6x2 + x − 1.
Fazendo a substituição x = y + 2, o polinômio se transforma em y3 −
11y − 15.
y3 + py + q = 0. (3)
u3 + v3 = −q
u·v = − p3
nos fornece uma solução (u, v) de (4) e, portanto, uma solução da forma
y=u+v de (3).
132 Equações Algébricas Cap. 5
p3
z2 + qz − = 0. (5)
27
q
q2 p3 q2 p3
Fixando uma das raízes quadradas de
4 + 27 e denotando-a por 4 + 27 ,
temos que as raízes de (5) são
r r
q q2 p3 q q2 p3
z1 = − + + e z2 = − − +
2 4 27 2 4 27
√ √
u1 = 3 z1 , v1 = 3 z2 ;
√ √
u2 = w 3 z1 , v2 = w2 3 z2 ;
√ √
u3 = w2 3 z1 , v3 = w 3 z2 .
r q r q
q2 p3 q2 p3
− q2 − q2 −
3 3
y2 = u2 + v2 = w + 4 + 27 + w2 4 + 27 ,
r q r q
q2 p3 q2 p3
− q2 − q2 −
3 3
y3 = u3 + v3 = w2 + 4 + 27 +w 4 + 27 .
p
3
√ p
3
√
x1 = 2 + −121 + 2 − −121
p
3
√ p
3
√
x2 = w 2+ −121 + w2 2 − −121
p
3
√ p
3
√
x3 = w2 2 + −121 + w 2 − −121
q √ q √
3 1 3 3 1 3
x1 = 2 + 2 i + 2 − 2 i,
q √ q √
3 1 3 3 1 3
x2 = w 2 + 2 i + w2 2 − 2 i,
q √ q √
3 1 3 3 1 3
x3 = w2 2 + 2 i+w 2 − 2 i.
Observe que
s √
3 1 3 p π π
+ i = 3 ζ, onde ζ = cos + i sen ,
2 2 3 3
A equação tem portanto uma raiz real e duas raízes complexas (conju-
gadas). Por inspeção vê-se que 3 é raiz da equação, daí extraímos a seguinte
igualdade curiosa:
√ √
q q
3 3
3 = 9 + 4 5 + 9 − 4 5.
Exemplo 5. Resolvamos a equação x3 + 6x2 + 21x + 14 = 0.
Para eliminar o termo do segundo grau, efetuamos a substituição x =
y − 2, obtendo a equação y3 + 9y − 12 = 0, cujas raízes são:
p
3
√ p3
√
y1 = 6 + 63 + 6 − 63,
p
3
√ p
3
√
y2 = w 6 + 63 + w2 6 − 63,
p
3
√ p
3
√
y3 = w 2 6 + 63 + w 6 − 63.
x1 = y1 − 2, x2 = y2 − 2 e x3 = y3 − 2.
Problemas
a3 x3 + a2 x2 + a1 x + a0 = a3 (x − x1 )(x − x2 )(x − x3 ),
onde x1 , x2 e x3 são as raízes do polinômio do lado esquerdo da igualdade.
Usando o método dos coecientes a determinar, mostre que
a) x1 + x2 + x3 = − aa32
a1
b) x1 · x2 + x1 · x3 + x2 · x3 = a3
c) x1 · x2 · x3 = − aa03
136 Equações algébricas Cap. 5
x4 + a3 x3 + a2 x2 + a1 x + a0 = 0. (1)
Escolhendo y como sendo uma das raízes da equação (4), a equação (3)
nos fornece
2
1
2
x + a3 x + y = (αx + β)2 , (5)
2
com α e β convenientes. Esta equação se resolve mediante a resolução das
duas seguintes equações do segundo grau:
2 1 2 1
x + a3 x + y = (αx + β) e x + a3 x + y = −(αx + β).
2 2
Seção 4 Relações Entre Coecientes e Raízes 137
1 2 3 2
2 2 9
x −x− = x + 3x + = x + .
2 4 2
Obtemos assim as seguintes equações do segundo grau:
2 1 3 2 1 3
x −x− =x+ e x −x− =− x+ ,
2 2 2 2
cujas raízes são as raízes da equação proposta. Assim, a nossa equação tem
as raízes:
√ √
1+ 3, 1 − 3, i e − i.
Problemas
Y
n
(x − xj ) = (x − x1 )(x − x2 ) · · · (x − xn ) ∈ K[x, x1 , x2 , . . . , xn ].
j=1
X
s1 (x1 , . . . , xn ) = xj = x1 + · · · + xn
j
X
s2 (x1 , . . . , xn ) = xj1 xj2 = x1 x2 + x1 x3 + · · · + xn−1 xn
j1 <j2
X
s3 (x1 , . . . , xn ) = xj1 xj2 xj3 =
j1 <j2 <j3
x1 x2 x3 + x1 x2 x4 + · · · + xn−2 xn−1 xn
.
.
.
X
sn−1 (x1 , . . . , xn ) = xj1 xj2 · · · xjn−1 =
j1 <j2 <···<jn−1
x1 x2 · · · xn−1 + · · · + x2 x3 · · · xn
sn (x1 , . . . , xn ) = x1 x2 · · · xn
Pede-se ao leitor vericar as seguintes relações:
(x
− x1 )(x − x2 ) · · · (x − xn )(x − xn+1 ) =
xn − s1 (x1 , . . . , xn )xn−1 + · · · + (−1)n sn (x1 , . . . , xn ) (x − xn+1 ) =
Este exemplo nos mostra que não será este o método que nos conduzirá à
resolução das equações. Entretanto, se tivermos alguma informação adicional
sobre as raízes de uma equação, é possível chegar às soluções. Vejamos alguns
exemplos.
x1 2 + x2 2 + x3 2 + x4 2 + x5 2 =
= (x1 + x2 +x3 + x4 + x5 )2 − 2(x1 x2 + · · · + x4 x5 )
= 12 − 2 · 23 = 1 − 43 = − 31 .
Seção 4 Relações Entre Coecientes e Raízes 141
1 1 1 1 x2 x3 x4 + x1 x3 x4 + x1 x2 x4 + x1 x2 x3 7/2
+ + + = = =7
x1 x2 x3 x4 x1 x2 x3 x4 1/2
Problemas
4.3 Sabendo-se que a equação 2x4 − 15x3 + ax2 − 30x + 8 = 0 possui raízes
em progressão geométrica, determine o valor de a e resolva a equação.
4.4 Qual a relação que deve existir entre p, q e r para que as raízes da
equação x
3 + px2 + qx + r = 0
a) estejam em progressão aritmética?
4.6 Ache o valor de m para que a soma dos quadrados das raízes da equação
3x5 − mx3 + 2x2 + x − 1 = 0 seja igual a 1.
Uma outra prova foi dada em 1772 pelo matemático francês Joseph-
Louis Lagrange (1736-1813), supondo a existência das raízes de uma equação
com coecientes reais em algum corpo, para depois mostrar que essas raízes
eram necessariamente complexas (cf. [3], Volume 2). Essa demonstração
é a mais algébrica de todas, onde o único resultado de análise admitido
é que um polinômio real de grau ímpar possui pelo menos uma raiz real
(isto é consequência do Teorema do Valor Intermediário, também provado
quase um século após por Weierstrass). A prova de Lagrange foi contestada
por Gauss, por não aceitar que se recorresse a nenhum corpo estranho aos
complexos para garantir a existência das raízes de uma equação algébrica com
coecientes reais. A existência de um corpo onde um determinado polinômio
tem sempre raízes foi construído por Kronecker em 1887, completando, assim,
a prova de Lagrange.
|p(z0 )| ≤ |p(z)|, ∀z ∈ C.
z ∈ C,
an−1
|p(z)| = |z|n 1 + z + ··· + a0
zn
|an−1 | |a0 |
≥ |z|n 1 − |z| − ··· − |z|n ,
o que mostra que
lim |p(z)| = +∞.
|z|→+∞
Assim, existe R > 0 tal que |p(z)| > |p(0)| para todo z com |z| > R. Se
D = {z ∈ C; |z| ≤ R}, pelo Teorema de Weierstrass (cf. [6], Corolário 3,
página 19), temos que existe z0 ∈ D, tal que |p(z0 )| ≤ |p(z)| para todos
z ∈ D. Como |p(z0 )| ≤ |p(0)|, temos que |p(z0 )| ≤ |p(z)|, para todo z ∈ C. 2
Lema 5.2. Seja p(x) ∈ C[x] \ C. Se z0 ∈ C é tal que p(z0 ) 6= 0, então existe
z1 ∈ C tal que |p(z1 )| < |p(z0 )|.
Demonstração Também aqui basta provar o resultado para polinômios
mônicos. Seja p(x) = xn + an−1 xn−1 + · · · + a1 x + a0 e sejam z0 e h números
complexos tais que p(z0 ) 6= 0 e h a ser determinado de modo que |p(z0 +h)| <
|p(z0 )|.
Com o auxílio do binômio de Newton, podemos escrever
polinômio.
bhm
Podemos escolher o argumento de h de modo λ= p(z0 ) tenha argumento
igual a π (lembre que p(z0 ) 6= 0). Portanto, λ é um número real negativo.
Podemos garantir que a desigualdade −1 ≤ λ ≤ 0 se mantém para |h| su-
cientemente pequeno. Tomamos ainda |h| sucientemente pequeno para que
|hm+1 r(h)| < |bhm |. Pela desigualdade triangular e pelo Problema 3.9(d) do
Capítulo 1, para todo h ∈ C, nas condições acima, temos que
Portanto, existe z1 = z0 + h, com h como acima, tal que |p(z1 )| < |p(z0 )|.
2
Prova do Teorema Fundamental da Álgebra Sejap(x) ∈ C[x] \ C.
Pelo Lema 5.1, temos que existe z0 ∈ C tal que |p(z0 )| ≤ |p(z)|, para todo
z ∈ C. Vamos mostrar que p(z0 ) = 0. De fato, de p(z0 ) 6= 0, então, pelo
Lema 5.2, existiria z1 ∈ C tal que |p(z1 )| < |p(z0 )|, o que é um absurdo. 2
Bibliograa
[1] C. S. Fernandes, A. Hefez - Introdução à Álgebra Linear. Coleção PROF-
MAT, SBM, 2012.
181
6
Livro: Polinômios e Equações Algébricas
Autores: Abramo Hefez
Maria Lúcia Torres Villela
Sumário
1 O Legado dos Gregos . . . . . . . . . . . . . . . . 147
146
Seção 1 O legado dos gregos 147
Há duas possibilidades:
a) O ponto P pertence a r,
2) Dados uma reta r e um ponto P fora de r, traçar por P uma reta paralela
à reta r.
Por P trace a perpendicular r 0 a r. Em seguida, trace a perpendicular a
r por P. Esta é a reta paralela a r por P (faça a gura).
0
Por uma das extremidades do segmento, por exemplo A, trace uma reta
qualquer que não contenha o segmento. Sobre esta reta, a partir de A, mar-
que com o compasso n segmentos iguais de comprimento qualquer. Ligue a
extremidade, mais afastada de A, do último desses segmentos ao ponto B
com uma reta r. Pelas extremidades de cada um dos segmentos acima, trace
paralelas à reta r. Os pontos de interseção dessas retas com o segmento AB
o dividem em n partes iguais.
Seção 1 O legado dos gregos 149
Figura 5: Ângulos θ1 e θ2 .
Figura 6: θ1 + θ2 = A\
1 O1 P e θ1 − θ2 = A\
1 O1 Q.
convenção: o ângulo [
AOB é aquele determinado pela rotação do segmento
OA, em torno de O no sentido anti-horário, de modo que a semirreta de
extremo O determinada por A coincida com a semirreta de extremo O de-
a
Figura 11: O quociente
b
e o produto a · b.
√
Figura 12: Construção de a.
R x
= ,
x R−x
o que
√ nos dá a equação x2 + Rx − R2 = 0, cuja única solução positiva é
2 ( 5 − 1). Essa medida pode ser obtida a partir do raio R e da unidade de
R
Por outro lado, por mais que os geômetras tentassem construir com régua
e compasso o heptágono (polígono de 7 lados) e o eneágono (polígono de 9
lados), eles nunca conseguiram. Começou então a pairar a suspeita de que
tais construções não seriam possíveis. Mas como provar tal impossibilidade?
Uma coisa, é provar que uma determinada gura é construtível, exibindo
a construção; outra coisa, é mostrar que nenhuma construção poderá levar
à obtenção de uma dada gura. Foi preciso aguardar que a Álgebra e a
Análise se desenvolvessem o suciente para que tais questões pudessem ser
respondidas, cabendo à genialidade de Gauss apontar o caminho.
Seja dada uma coleção de pontos S do plano, com pelo menos dois pontos.
Em S são destacados dois pontos, cujo comprimento do segmento de reta
por eles determinado representa a unidade de medida. Construímos outros
pontos a partir dos pontos de S, utilizando apenas uma régua não graduada e
um compasso, através da realização das seguintes construções fundamentais:
(III) traçar um círculo com centro num ponto de S e raio igual à medida de
um segmento determinado por dois pontos de S.
Problemas
1.1 Seja S uma coleção de pontos do plano com pelo menos dois pontos.
Em cada item, descreva uma sequência de construções fundamentais que
mostrem que a armação é verdadeira.
z1 ± z2 = a1 ± a2 + b1 ± b2 i
158 Construções com régua e compasso Cap. 6
Então,
e
z1 |z1 |
= cos(θ1 − θ2 + i sen(θ1 − θ2 ) .
z2 |z2 |
|z1 |
Sabemos fazer as construções, respectivamente, de |z1 | · |z2 |, θ1 + θ2 , e
|z2 |
θ1 − θ2 .
Se z = |z|(cos θ + i sen θ) é construtível, então
√
θ θ
z = |z|
p
cos + i sen ,
2 2
x2 + bx + c = 0.
√ √
−b + b2 − 4c −b − b2 − 4c
x1 = e x2 = ,
2 2
e, pelo que vimos acima, são construtíveis com régua e compasso.
√ √
a+ b i, onde a e b são números racionais positivos, também são cons-
trutíveis com régua e compasso a partir de 0 e 1.
Portanto, a construtibilidade de um polígono regular de n lados inscrito
em um círculo de raio R (a partir de 0 e 1) se reduz ao problema da cons-
trutibilidade de uma raiz n-ésima primitiva ζ qualquer da unidade, já que
dada uma tal raiz, uma sua potência, que é construtível a partir de ζ, nos
2π 2π
dá a raiz cos n + i sen n , primeiro vértice após o vértice 1 do polígono de n
lados inscrito no círculo centrado em 0 e de raio 1 (veja Problema 1.4, onde
se justica poder tomar R = 1).
x2 + x + 1 = 0,
e, portanto, construtíveis.
x4 + x3 + x2 + x + 1 = 0,
2kπ
+ i sen 2kπ
complexos cos
que são os números
5 5 , k = 1, 2, 3, 4.
Nos propomos de calcular algebricamente essas raízes. Apesar de po-
der resolver a equação pelo método de Ferrari, a resolveremos por métodos
elementares, por ser de um tipo muito especial.
Note que
Rec(x4 + x3 + x2 + x + 1) = x4 + x3 + x2 + x + 1.
y2 + y − 1 = 0,
1 1
x+ = y1 , x+ = y2 .
x x
Isto nos dá as seguintes raízes:
√ p √ √ p √
−1 + 5 10 + 2 5 −1 + 5 10 + 2 5
+i , −i ,
4 4 4 4
√ p √ √ p √
−1 − 5 10 − 2 5 −1 − 5 10 − 2 5
+i , −i .
4 4 4 4
Portanto, todas construtíveis com régua e compasso.
A soma das raízes n-ésimas primitivas da unidade é igual a −1, pois esse
número é o simétrico do coeciente de x15 em p17 (x). Logo
y1 + y2 = −1. (4)
Por outro lado, por inspeção vemos que o produto y1 y2 é igual a quatro
vezes a soma dos i , para i = 1, . . . , 16. Logo
y2 + y − 4 = 0,
√
que são os números (−1 ± 17)/2. Agrupando na expressão (3) de y1 as
parcelas que são números complexos conjugados, temos
2
x − y1 x − 1 = 0,
enquanto que x3 > x4 e esses são raízes da equação
x2 − y2 x − 1 = 0.
Assim, podemos concluir que
√ p √
−1 + 17 34 − 2 17
x1 = + ,
4 4
√ p √
−1 + 17 34 − 2 17
x2 = − ,
4 4
√ p √
−1 − 17 34 + 2 17
x3 = + ,
4 4
√ p √
−1 − 17 34 + 2 17
x4 = − .
4 4
Formemos agora os números
z1 = + 16 = 2 cos α,
z2 − x1 z + x3 = 0.
Portanto, z1 = 2 cos α é construtível com régua e compasso a partir de x1
e x3 , que por sua vez, pelas suas expressões acima, são construtíveis com
régua e compasso a partir de 0 e 1. Logo, cos α é construtível com régua
e compasso a partir de 0 e 1, provando que o polígono regular de 17 lados
inscrito no círculo de raio 1 é construtível com régua e compasso.
Seção 2 Primeira algebrização do problema 163
Comentários
A construtibilidade com régua e compasso do polígono regular de 17
lados sequer foi cogitada pelos gregos antigos. Foi em 1796 que, aos dezenove
anos, Gauss mostrou, com o desenvolvimento acima, que um polígono regular
de 17 lados é construtível com régua e compasso. Esse feito fez com que,
para felicidade da humanidade, Gauss se decidisse a abraçar a carreira de
matemático.
No seu Disquisitiones Arithmeticae de 1821 (cf. [2]), Gauss mostra que
se um número primo p é tal que p − 1 é uma potência de 2, então o polígono
p lados é construtível com régua e compasso, generalizando o caso
regular de
p = 17. p com esta propriedade são os chamados primos
Os números primos
de Fermat; e os únicos primos de Fermat conhecidos são p = 3, 5, 17, 257 e
65.537. Não se sabe sequer se o número de primos de Fermat é nito ou
innito.
Este teorema de Gauss, que não demonstraremos aqui, foi provado por
ele estudando detalhadamente a equação da divisão do círculo
xp−1 + xp−2 + · · · + x + 1 = 0,
nos moldes do caso p = 17, como feito acima. Hoje, meio da Teoria de Galois
é possível dar uma prova muito mais conceitual, com muito menos cálculos
do que a prova original de Gauss.
Gauss enunciou mas não provou explicitamente a recíproca desse resul-
tado, que demonstraremos na Seção 4. Isso foi feito rigorosamente pela
primeira vez em 1837 por um matemático francês pouco conhecido chamado
Pierre Laurent Wantzel, introduzindo para isto uma nova técnica.
O resultado de Gauss, em vista da Proposição 2.1, se generaliza, nos
dizendo que é construtível todo polígono regular de n lados, quando n é o
produto de uma potência de 2 e de primos de Fermat distintos. Portanto,
como conhecemos poucos primos de Fermat, ainda são relativamente poucos
os polígonos que sabemos serem construtíveis.
Wantzel, através de sua técnica, provou que também vale a recíproca
do resultado generalizado de Gauss, cando assim estabelecido o resultado
denitivo sobre a construtibilidade de polígonos regulares:
Problemas
i) z é construtível a partir de S;
ii) Re(z) e Im(z) são construtíveis a partir de S;
iii) z̄ é construtível a partir de S;
2
vi) z é construtível a partir de S;
√
v) z é construtível a partir de S.
√ p √
−1 + 5 10 + 2 5
cos(72o ) = , o
sen(72 ) = .
4 4
Seção 3 Extensões do corpos 165
3 Extensões de Corpos
Para poder prosseguir com o nosso projeto de algebrização do proble-
ma da construtibilidade com régua e compasso das guras geométricas, que
citamos anteriormente, será necessário desenvolver um pouco mais a álgebra
dos polinômios.
Quando temos dois corpos F e K tais que F ⊂ K e as operações de adição e
multiplicação em K se restringem às correspondentes operações em F, diremos
que F é um subcorpo de K, ou que K é uma extensão de F. Em tal caso,
escrevemos K | F, ou ainda,
F
Exemplos de extensões de corpos são os seguintes:
R | Q, C | Q, C | R, F(x) | F,
1) (a + b)α = aα + bα,
2) a(α + β) = aα + aβ,
3) a(bα) = (ab)α,
4) 1α = α.
Portanto, temos que K é um espaço vetorial sobre o corpo F. Esta estru-
tura será fundamental para o nosso estudo.
√ √
Exemplo 6. O menor subcorpo de
√ R contendo Q ∪ { 2} é Q( 2) = {a +
b 2 ; a, b ∈ Q}.
√
Exemplo 7. O menor subcorpo de C contendo Q ∪√ { i} é Q(i) = {a +
bi ; a, b ∈ Q} e o menor subcorpo de C contendo R ∪ { i} é R(i) = C.
O fato de denirmos um objeto, não signica que ele exista. Mas pela
própria denição, se F(α) existir, ele é único. De fato, se F(α) 0 for outra
adjunção de α a F, então por denição de adjunção, temos
p(α)
M= ; p(x), q(x) ∈ F[x] e q(α) 6= 0 .
q(α)
(ii) se q(x) ∈ F[x] é tal que q(α) = 0, então p(x) divide q(x);
(iii) p(x) é irredutível.
168 Construções com régua e compasso Cap. 6
1 = a(x)g(x) + b(x)p(x).
1 f(α)
Logo, = a(α) e β= = a(α)f(α).
g(α) g(α)
Pela divisão euclidiana de a(x)f(x) por p(x), existem q(x), r(x) em F[x]
tais que
a(x)f(x) = p(x)q(x) + r(x),
onde r(x) = 0 ou 0 ≤ gr(r(x)) < gr(p(x)) = n.
Avaliando a igualdade acima em α, obtemos
X
n X
n X
m
!
β= bj βj = akj αk βj
j=1 j=1 k=1
X
n X
m
!
= akj αk βj
j=1 k=1
Xn Xm
= akj (αk βj ),
j=1 k=1
p(α1 , α2 )
F(α1 , α2 ) = ; p, q ∈ F[x1 , x2 ] e q(α1 , α2 ) 6= 0
q(α1 , α2 )
é um corpo que contém F(α1 ) e α2 e tal que todo subcorpo L de K que contém
F(α1 ) e α2 deve necessariamente conter F(α1 , α2 ), o que nos mostra que
(F(α1 ))(α2 ) = F(α1 , α2 )
p(α1 , α2 )
= ; p, q ∈ F[x1 , x2 ] e q(α1 , α2 ) 6= 0 .
q(α1 , α2 )
Podemos recursivamente construir a partir de F(α1 , . . . , αn−1 ) o corpo
p(α1 , . . . , αn )
= ; p, q ∈ F[x1 , . . . , xn ] e q(α1 , . . . , αn ) 6= 0 .
q(α1 , . . . , αn )
Seção 3 Extensões do corpos 171
√ √
Exemplo 10. A extensão
√
4
Q( √ 2, 2) | √Q pode ser vista como √ uma itera-
ção das extensões Q( 2) | Q( 2) e Q( 2) | Q. Como [Q( 2) : Q] = 4 e
4 4
√ √ √
[Q( 2) : Q] = 2, segue da Proposição 3.3 que [Q( 4 2) : Q( 2)] = 2.
√ √ √ √
Exemplo 11. Mostraremos que Q( 2+ 3) = Q( 2, 3) e determinaremos
√ √
o polinômio mínimo de
√ √ 2 + 3 sobre Q.
√ √ √ √
Como
√ √ 2 e 3 estão no corpo Q( 2,
√ √ √ 3)
√ , então 2 + √3 está
√ em
Q(√2, √ 3). Logo, Q( 2, 3) ⊃ Q ∪ { 2 + 3} e assim Q( 2, 3) ⊃
Q( 2 + 3), o menor subcorpo √ √ de R com √ essa √ propriedade. √ √
Para mostrar que Q( 2,
√ √ 3) ⊂ Q( 2
√ + 3)
√ , basta mostrar que 2, 3
estão em Q( 2 + 3) , visto que Q ⊂ Q( 2 + 3) .
√ √ √ √ 2
√
Seja α = 2 + 3 . Então, 3 = α − 2 e 3 = α − 2 2α + 2, logo
√ 2 √ √ 2
2 = α2α−1 ∈ Q(α) e 3 = α − 2 = α − α2α−1 ∈ Q(α).
√ √ √ √
Com isto, concluímos que Q( 2 + 3) = Q( 2, 3).
Qual é o polinômio mínimo de α sobre Q?
√ 2 4 2
Elevando ao quadrado a igualdade 2 2α = α − 1, obtemos α − 10α +
1 = 0. Com isso, só concluímos que α é algébrico sobre Q e que p(x), o
4 2
polinômio mínimo de α sobre Q, divide x − 10x + 1. Assim, [Q(α) : Q] ≤ 4.
√ √
Vamos determinar [Q(α) : Q], usando que Q(α) = Q( 2,
√ √ √ √ 3)√.
Temos que [Q( 2) : Q] = 2. Como Q( 2, 3) = Q( 2)( 3), basta
√ √ √
determinar [Q( 2)( 3) : Q( 2)] = n e usar a multiplicatividade do grau,
isto é,
√ √ √ √ √ √
[Q( 2)( 3) : Q] = [Q( 2)( 3) : Q( 2)][Q( 2) : Q],
ilustrada no diagrama:
√ √ √ √
Q( 2, 3) = Q( 2)( 3)
n
@ √
@
2n Q( 2)
2
Q
√ √
2 − 3 ∈ Q( 2)[x], então n ≤ 2.
Como 3 x√
é raiz de
√ √
√Vamos mostrar que
√ 3 ∈
6 √Q( 2) . Suponhamos, por absurdo, que
√ 3∈
Q( 2). Então 3 = a + bq 2, com a, b ∈ Q, pois {1, 2} é uma base de
√
Q( 2) | Q. Se a = 0, então 32 = b ∈ Q, é uma contradição. Se b = 0, então
√
3 = a ∈ Q, também
√ é uma contradição. Podemos supor que a 6= 0 e b 6= 0
√ 2 −2b2
2 2
e 3 = a + 2ab 2 + 2b . Assim, 2 = 3−a2ab ∈ Q, o que também é uma
172 Construções com régua e compasso Cap. 6
√ √ √ √ √
contradição. Logo,3 6∈ Q( 2). Então, n = [Q( √ 2)(√ 3) : Q( 2)] > 1.
Como n ≤ 2 concluímos que n = 2. Assim, [Q( 2 + 3) : Q] = 2n = 4,
gr(p(x)) = 4 e p(x) = x4 −10x2 +1 e concluímos que x4 −10x2 +1 é irredutível
em Q[x].
Uma extensão K|F é algébrica se, e somente se, todo α∈K é algébrico
sobre F.
Problemas
g) α = cos 2π 2π
5 + i sen 5 , F = Q.
az + bz̄ + c = 0
a 0 z + b 0 z̄ + c 0 = 0
onde a, b, c, a 0 , b 0 , c 0 ∈ Kj−1 . Este sistema tem uma única solução, que
calculada pela regra de Cramer, está claramente em Kj−1 , bem como a sua
conjugada. Portanto, se zj é esta solução, temos que [Kj : Kj−1 ] = 1.
Vejamos, agora, a interseção de dois círculos com centros e raios em Kj−1 .
Os pontos de interseção são soluções de um sistema
zz̄ + dz + ez̄ + f = 0
zz̄ + d 0 z + e 0 z̄ + f 0 = 0
onde d, e, f, d 0 , e 0 , f 0 ∈ Kj−1 . Subtraindo uma equação da outra, obtemos um
sistema
zz̄ + dz + ez̄ + f = 0
(1)
az + bz̄ + c = 0
com a, b, c, d, e, f ∈ Kj−1 , que é a interseção de um círculo com uma reta
ambas com coecientes em Kj−1 .
Portanto, substituindo z ou z̄ da segunda equação na primeira em (1),
vemos que se zj é um ponto de interseção de dois círculos ou de um círculo
e de uma reta, com coecientes em Kj−1 , então tanto zj quanto z̄j são raízes
de uma equação do segundo grau com coecientes em Kj−1 . Isto mostra que
[Kj−1 (zj ) : Kj−1 ] ≤ 2 e que [Kj−1 (z̄j ) : Kj−1 ] ≤ 2. Como Kj = Kj−1 (zj , z̄j ),
temos a seguinte torre de extensões:
176 Construções com régua e compasso Cap. 6
Kj−1
xp−1 + xp−2 + · · · + x + 1.
2
xp − 1
= xp(p−1) + xp(p−2) + · · · + x2p + xp + 1,
xp − 1
178 Construções com régua e compasso Cap. 6
que sabemos ser irredutível em Q[x] (cf. Exemplo 13, Seção 5, Capítulo 4).
Logo o grau de ζ sobre Q é igual a p(p − 1), que não é uma potência de 2.2
3
cos(θ) + i sen(θ) = cos θ3 + i sen θ3 =
θ θ θ θ θ θ
cos3 + 3i cos2 sen2
3 3 sen 3 − 3 cos 3 3 − i sen 3 .
θ θ θ
cos(θ) = cos3 1 − cos2
3 − 3 cos 3 3 =
θ θ
4 cos3
3 − 3 cos 3 .
Note que já sabíamos, por outras vias, que o ângulo de 60o não é trissec-
tável com régua e compasso. De fato, a trissecção deste ângulo é equivalente
à construção do eneágono (cf. Problema 1.3), que sabemos não ser constru-
tível com régua e compasso. Portanto, o nosso critério não nos dá nada de
novo neste caso. O próximo exemplo nos fornecerá novos ângulos que não
podem ser trissectados.
Por outro lado, notemos que mdc(s, t) = mdc(s, 4r3 ). Sendo mdc(s, r) =
1, temos que mdc(s, t) é 1, 2 ou 4. Isto implica que β3 é primo com t, logo
β3 divide q, o que é um absurdo.
Em particular, ângulos θ cujos cossenos são da forma 1/β, onde β>2
é primo, nos fornecem innitos exemplos de ângulos não trissectáveis com
régua e compasso.
Problemas
4.4 Em cada caso, abaixo, determine se pode ou não ser trissectado o ângulo
θ tal que
1 9
a) cos θ = 4 b) cos θ = − 16 c) cos θ = − 32
π
4.6 Mostre que é possível trissectar um ângulo de
5 radianos. Pode o ângulo
π
de
7 ser trissectado?
4.7 Pode-se construir com régua e compasso as raízes de:
a) x96 − 1 = 0 ? b) x6 + x3 − 1 = 0 ?
Bibliograa
[1] C. S. Fernandes, A. Hefez - Introdução à Álgebra Linear. Coleção PROF-
MAT, SBM, 2012.
181