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Estou curioso como uma agência de publicidade tentaria tornar famoso um queijo se o
producente cismasse com o nome “pasta vacal postleitosa”. Este é o charme dos nomes na
matemática; por este motivo pode-se suspeitar que vale a regra matemático, lobo da
matemática.
O nome não é atraente, mas a teoria é bela. É também obrigatória para um grande número
de estudantes – e a vida deles seria mais fácil se eles gostassem sinceramente da disciplina
chamada Análise Matemática, conhecida também sob o codinome de Cálculo Diferencial
e Integral.
Por via de dúvidas vou lembrar que para Arquimedes “parábola” significava justamente
parábola (no plano fixe uma reta e um ponto fora dela; chame de parábola o conjunto de
pontos do plano equidistantes desses dois objetos) e não um tal de “gráfico de uma equação
quadrática”. Esta expressão não faria sentido para ele (uma conexão entre entes
geométricos e as suas descrições algébricas ia surgir 1900 anos mais tarde) e continua não
fazendo sentido hoje em dia, mesmo sendo usada e abusada pelos educadores que não
gostam de seus alunos. Um momento de reflexão basta para resolver se ouvindo a pergunta
“quem era Newton?” seria tratada como sensata resposta: “aquele que teve o nome escrito
com as letras i-s-a-a-c”.
Terminando a escola de segundo grau o aluno está farto de ver as parábolas que cruzam os
eixos de coordenadas, mas o encontro de duas parábolas pode ser mais agradável ao seu
olho:
Se o sistema de coordenadas for escolhido assim que as curvas do primeiro esboço são
descritas pelas equações
y = x2 e x = y2
então não deve ser difícil inventar a descrição para curvas do segundo esboço. Além disso,
o conhecimento de propriedades elementares da parábola (aquelas que descobre-se
dobrando uma folha para desenhos técnicos – ou papel-manteiga) permitirá achar os
ângulos dos encontros das curvas.
Mas o cálculo da área da figura por meios elementares seria um desafio excessivamente
difícil. Esta tarefa pede o uso do Cálculo Integral. Logo vem uma surpesa agradável que
neste quadrado
todos os três campos têm a mesma área.
Dois lugares: (-1,0) e (0,-1) são bastante óbvios. Mas os dois outros envolvem o número
(divisão áurea!) e o seu inverso; um encontro agradável. E ainda o comprimento do
intervalo que fica no eixo da simetria é a raiz quadrada de 10, uma boa aproximação (com
erro abaixo de 1%) do outro número famoso ligado com totalmente diferente figura, do
número .
É fácil conferir que esses quatro pontos ficam em uma circunferência que sobreescreve a
folha. A equação da circunferência é
x2 + y2 = 3/4
está inscrita na folha (toca-a em pontos de suas quatro bordas). A distância desta
circunferência até o “ponto final” da folha é
– o número que pode ser substituido pelo número racional 5-3 com erro abaixo de 10-5 .
É um número tão pequeno que para enxergar nitidamente o afastamento das curvas
precisaríamos de um esboço do tamanho de toalha de mesa. Um outro jeito é de adotar uma
visão artística para destacar o importante e negligenciar resto. É a minha sorte que um
amigo meu é tanto matemático quanto artista e com facilidade visualiza as idéias com leves
distorções gráficas. Eis como Jurek Kocik resolveu este problema (e o agradeço por isso,
pois não saberia achar uma solução tão simples):
Em soma, temos recebido muitos resultados bonitos sem investir pesadamente em cálculos
– mas nenhum caminho fácil leva à descoberta que a folha mede 11/3. Este resultado, sim,
segue de uma aplicação simples do Cálculo Integral.
A divisão justa
Sabendo que Diabostan desenvolve Puf-Puf (as armas de destruição em massa) os
dirigentes de Angelândia com o auxílio de Jawohlândia afastaram os perigos conquistando
o inteiro Diabostan. Surgiu o problema de divisão justa e honesta do país do inimigo ao
longo de linha de alguma latitude. A Jawohlândia que arcou com 20% de custos da guerra
deveria receber 20% da área do país, ao sul da linha daquela latitude. Eis o mapa do
Diabostan:
Por causa das linhas curvas das fronteiras a solução exige mesmo o uso de Cálculo Integral.
Mas se 90 anos atrás as fronteiras do Diabostan fossem traçadas somente com as linhas
retas, o problema de hoje teria uma solução no nível de geometria da escola de segundo
grau.
Quatro figuras
Um exercício fácil: prove que quatro figuras (contidas entre pares de curvas) têm a mesma
área.
Um tal de “senso comum” ajudará encontrar um bom argumento, mas não servirá sequer
um pouco para descobrir que a área é 4/3. Mais uma vez, esta tarefa exige uma simples
aplicação da poderosa ferramenta de Cálculo Integral.
y1 = x3 y1 = x3 - x
y2 = x2 + x - 1 y2 = x2 - 1
y1 = x3 - x2 y1 = x3 - x2 - x + 1
y2 = x - 1 y2 = 0
cos4x + sen4x =
= (cos2x + sen2x)2 - 2(cos2x)(sen2x) =
= 1 - (1/2)[2(cos x)(sen x)]2 =
= 4/4 - 1/4(2cos22x) =
= 3/4 - 1/4[2(cos22x) - 1] =
= 1/4(3 - cos 4x) .
x = g-1(y) = 1/y .
Falando em termos gerais, vale a pena investir uma única vez em reflexão como y=f(x) fica
modificada em composição com a função linear para ter proveito deste investimento pelo
resto da vida.
É suficiente considerar quatro modificações, usando os números reais b (há casos separados
para b>0 e para b<0) e a (quebrando isso em três casos: a=-1, 0<a<1, 1<a); elas levam de
y=f(x) até
• (x-->x+b) y=f(x+b)
• (y-->y+b) y+b=f(x)
• (x-->ax) y=f(ax)
• (y-->ay) ay=f(x)
Ache o ângulo que a reta tangente a y=ax2 em ponto (p,ap2) forma com eixo x.
Havia tempos que os alunos da escola de segundo grau conheciam o teorema seguinte:
tome a reta tangente em ponto (p,ap2), a subtangente da parábola (o intervalo de 0 até o
ponto de contato da tangente com o eixo x) mede p/2. É preciso usar a mediatriz do
intervalo que une o foco com um ponto da diretriz, conduzir deste ponto uma perpendicular
até a mediatriz (o ponto de encontro fica na parábola) e notar que a mediatriz divide o
triângulo (azul) em dois triângulos retângulos congruentes:
Depois pegamos o valor da função inversa da função tangente para (ap2)/(p/2)= 2ap e
estranhamos: para que usar aqui as derivadas?
Sim, o teorema de Pitágoras: sen2x + cos2x = 1 é muito mais antigo do cálculo integral.