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FÍSICA - ELETRICIDADE

UNIDADE 4 - ELETROMAGNETISMO
Laura Cristina Duarte

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Introdução
O magnetismo é uma área da física que fascina muitas pessoas. Há relatos em livros históricos, que o próprio
Einstein ficou maravilhado ao brincar com uma bússola. Relatos da Grécia antiga remetem a uma pedra
misteriosa com ‘alma divina’ que tinha a propriedade de atrair certos materiais. Hoje a conhecemos como
magnetita. A primeira das grandes aplicações do magnetismo, a bússola, foi fundamental na época dos grandes
descobrimentos. Este invento pode ser datado de 1100 AC na China, até 1637 DC na Europa, dependendo da
fonte onde se retira a informação.
Assim como acontece com quase todos os fenômenos físicos, você sabe quais as diversas aplicações tecnológicas
e industriais para o magnetismo em nosso cotidiano? Em indústrias químicas, o filtro magnético separa as
impurezas ferrosas dos materiais, retendo partículas danosas; os cartões de banco utilizam uma fita magnética
para que a leitura dos nossos dados seja feita corretamente; motores utilizam propriedades dos imãs para criar
energia mecânica, posteriormente convertida em energia elétrica, por exemplo. Todo esse desenvolvimento
deriva de um entendimento profundo dos fenômenos magnéticos e do desenvolvimento de novos materiais.
Existe uma relação profunda entre magnetismo e eletricidade, na verdade, apenas no regime estático, é possível
tratá-los como fenômenos distintos. O primeiro a observar isso, foi Hans Christian Oersted, em 1819. Ao
preparar um experimento, ele percebeu que uma corrente elétrica em um fio desviava uma agulha que estava
próxima. Posteriormente, por volta de 1820, Faraday e independentemente Henry, mostraram que uma corrente
elétrica poderia ser produzida através do movimento de um imã colocado próximo ao circuito ou, variando outra
corrente que estava próxima. Assim, já era evidente que a variação do campo magnético do imã era capaz de
originar um campo elétrico. (GUIMARÃES; FONTE BOA, 2010). James Clerk Maxwell, mostrou o contrário, que
campos elétricos variáveis também produziam campos magnéticos. Assim, já estava claro que os fenômenos
elétricos e magnéticos não deveriam ser tratados independentemente, pois eram manifestações de um único
conjunto de propriedades físicas, o eletromagnetismo.

4.1 Fontes de campos magnéticos


Já foi estudado que uma carga elétrica gera em seu entorno um campo elétrico, esse campo é uma grandeza
vetorial e está relacionado com a força que uma carga de prova sofre ao ser colocada em alguma posição em que
atua esse campo. Analogamente, cargas elétricas em movimento (correntes elétricas), originam campos vetoriais
magnéticos, os quais denominamos (B). (TIPLER, 2009). Essa grandeza também é gerada por qualquer material
magnético, os chamados imãs.
Os imãs apresentam algumas propriedades, de acordo com Guimarães e Fonte Boa (2010). Clique nos itens a
seguir para conhecê-las.

Apresentam dois polos que não podem ser separados. Quando quebrado ao meio, as duas novas metades
apresentarão dois novos polos.
Quando livres para se moverem, se orientam na direção norte-sul da Terra. Em função disso, seus polos são
chamados Norte (aquele que aponta para o norte da Terra) e Sul.
Polos iguais se repelem e polos opostos se atraem.
Um imã atrai objetos feitos de materiais ferromagnéticos, como pregos, agulhas, moeda etc. Esse fenômeno,
denominado indução magnética é análogo ao fenômeno de indução elétrica.
Um imã se enfraquece se é submetido a altas temperaturas ou a choque mecânicos, pois estes fatores
desorientam seus dipolos.

Iremos discutir essas propriedades ao longo da unidade. O sentido do campo magnético (B), em qualquer local é

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Iremos discutir essas propriedades ao longo da unidade. O sentido do campo magnético (B), em qualquer local é
por convenção, o sentido que aponta o polo norte da agulha de uma bússola. A figura abaixo, mostra como é
possível traçar as linhas de campo, colocando em cada região próxima a um imã, uma bússola. Essas linhas se
assemelham as linhas de campo elétrico. Percebe-se que as linhas emergem do polo norte e penetram pelo polo
sul, formando linhas fechadas e que o campo magnético é mais intenso nas regiões com maior densidade de
linhas. (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016).

Figura 1 - Linhas de Campo Magnético nas proximidades de um imã em forma de barra. Como um imã possui
dois polos, dizemos que possui um dipolo magnético. Os polos iguais se repelem e os opostos se atraem.
Fonte: JOHN; RAYMOND, 2014. p. 141.

O material magnetita é o imã que se encontra na natureza, denominado imã natural. Existem também imãs
artificiais feitos com materiais que se imantam facilmente, o mais comum é o ferro.

4.2 Força magnética


Podemos quantificar o modulo de B em qualquer região do espaço de maneira análoga ao caso elétrico:
colocando uma carga de prova q, eletricamente carregada, em um local em que atua esse campo e medindo a
força exercida sobre ela.
Clique nos números a seguir para ver os resultados que encontramos ao realizarmos esse experimento (JOHN;
RAYMOND, 2014).

A força magnética é proporcional a carga q da partícula, ao campo magnético B e à


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velocidade v com que a partícula se move.

A força magnética sobre uma carga negativa é oposta à força sobre uma carga positiva se
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movendo no mesmo sentido.

3 A força magnética é zero se o movimento da partícula é paralelo ao vetor de campo.

4 A força magnética é sempre perpendicular ao plano formado por v e B.

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Esses comportamentos são resumidos se a expressão da força é a seguinte:
(1)
Todas as grandezas vetoriais, daqui em diante serão representadas em negrito. Utilizando a definição de produto
vetorial, podemos representar o módulo dessa força por:
(2)
em que é o ângulo formado entre os vetores v e B. Utiliza-se o módulo da carga elétrica porque a força em uma
carga negativa é oposta a força em uma carga positiva. (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). Da equação (2),
conclui-se que o valor máximo da força magnética é obtido quando B e v são perpendiculares.
Na figura abaixo, os três vetores são representados. Da equação (1), retira-se que B tem unidades no SI de
. A essa grandeza chamamos Tesla (T).

Figura 2 - Representação das grandezas relacionadas com a força elétrica. A força é sempre perpendicular ao
plano formado pelo campo magnético e a velocidade da partícula.
Fonte: HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016. p. 203.

A figura acima também representa a regra da mão direita que facilita a determinação da direção e sentido da
força. Com os quatro dedos no sentido de v e a palma da mão voltada para B, gire-os na direção de B; seu polegar
deve estar estendido e, portanto, formando um ângulo reto com estes vetores; essa é a direção da força, a direção
em que aponta o polegar.
As principais diferenças entre a força elétrica e a força magnética podem ser resumidas como nos diz Tipler
(2009):
• o vetor campo elétrico e força elétrica sempre estão na mesma direção. O vetor força magnética e campo
magnético são perpendiculares;
• a força elétrica age sobre partículas carregadas paradas ou em movimento. A força magnética só existe
se a partícula se move;
• a força elétrica age sobre uma partícula realizando trabalho, deslocando-a de um ponto a outro do
espaço. A força magnética associada a um campo magnético constante não realiza trabalho porque v e F
são perpendiculares.

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4.2.1. Campo Magnético em um fio condutor
Considerando um fio transportando uma corrente elétrica como uma coleção de cargas, é de se esperar que esse
fio na presença de um campo magnético sofra a ação de uma força. Para determinar essa força, podemos
imaginar uma situação hipotética em que um fio de comprimento L e seção A, transporta uma corrente i e está
pendurado entre os polos de um imã.
O número de cargas que atravessa o segmento é em que é o número de cargas por unidade de volume.
(JOHN; RAYMOND, 2014). A força magnética total sobre o fio é obtida através da expressão (1), no entanto, agora
temos um conjunto de cargas:

porém, a corrente elétrica pode ser escrita como , o que nos retorna:
(3)
o vetor está sempre definido na direção da corrente elétrica. Essa expressão só é válida para um segmento de
fio na presença de um campo magnético externo uniforme.
Se o fio possui formato arbitrário e estamos interessados na força magnética gerada em uma pequena porção do
fio ( ) provocada pela ação de um campo externo , tem-se:
(4)
Para encontrar a força magnética total que age entre dois pontos arbitrários a e a’ basta integrar (4) tomando
esses limites:

É necessário atenção para que as direções de e sejam dadas de maneira correta. Caso contrário, a força
obtida não é paralela a essas quantidades.

4.3 Cargas em movimento no campo magnético


Dependendo da maneira que uma carga elétrica ou, qualquer partícula carregada com massa m, atravessa um
campo magnético com velocidade v, podemos ter movimentos complicados de descrever para essa partícula. No
entanto, quando o campo magnético é uniforme e a velocidade é perpendicular ao campo, o movimento é
simples: ele é circular e uniforme (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016).

VOCÊ SABIA?
Denominamos ventos solares o fluxo de partículas carregadas provenientes do Sol que
atravessam a atmosfera terrestre. Essas partículas são principalmente prótons e elétrons e
escapam da atração gravitacional do Sol com uma velocidade de 300 a 800km/s.

A continuação do tópico veremos como é a trajetória das partículas carregadas quando entram em um campo
magnético.

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4.3.1 Trajetórias de partículas carregadas e massivas em campos
magnéticos
Para entender como se movimenta uma carga elétrica em na presença de um campo magnético uniforme, vamos
observar a figura abaixo.

Figura 3 - Partícula massiva carregada penetrando em um campo magnético constante cuja direção e sentido é
saindo da página. O movimento nesse caso é circular e uniforme.
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em FONTE BOA; GUIMARÃES, 2010. p. 184.

Quando a carga penetra no campo (Ponto P) ela sofre a ação de uma força magnética ( ), que a desvia da sua
configuração inicial. No ponto Q, a força já não tem mais a direção que possuía no ponto P porque agora ela deve
ser perpendicular a velocidade da partícula nesse ponto. Isso acontece sucessivamente de modo que o
movimento da partícula, enquanto se mover nesse campo, será circular e uniforme. Traçando todos os vetores de
força, nota-se que a força sempre aponta para o centro da trajetória, ou para o centro da circunferência.
Por essa razão, podemos utilizar a segunda lei de Newton para o movimento circular e calcular o raio (r) da
trajetória e as demais grandezas associadas a esse tipo de movimento, como a frequência e o período. (JOHN;
RAYMOND, 2014). Então teremos:

. (5)
utilizando essa equação, o período T (tempo gasto para completar uma revolução) é:
(6)
e a frequência é dada por,
. (7)
Sendo assim, a frequência angular do movimento é
(8)
O período e a frequência não dependem da velocidade da partícula. Portanto, todas as partículas com a mesma
razão carga/massa levam o mesmo tempo para completar uma revolução.

VAMOS PRATICAR?
A aurora boreal/austral é um fenômeno no qual luzes naturais cintilam na atmosfera. Isso
ocorre porque partículas massivas carregadas provenientes do Sol viajam até o nosso planeta
e ficam aprisionadas pelo campo magnético terrestre. Você seria capaz de explicar por que
esse fenômeno ocorre somente nos extremos Norte e Sul da Terra?

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As cores visíveis na aurora boreal são decorrentes da interação (colisão) das partículas carregadas
principalmente com o Nitrogênio e o Oxigênio. Essa interação faz com que as partículas entrem em um estado
mais alto de energia, ao retornarem para o estado fundamental a luz é liberada. O oxigênio origina a luz verde e
vermelha e o nitrogênio, rosa e azul.

4.3.2 Partículas carregadas e campo magnético: algumas aplicações


Seletor de Velocidade
Existem situações em que é possível ter ambas as forças, elétrica e magnética atuando em uma partícula ao
mesmo tempo. Nesse caso, a força devido aos dois campos que agem sobre a partícula é a soma vetorial de
ambas, ou seja,
(9)
chamamos essa força de força de Lorentz e podemos utilizá-la em experimentos nos quais queremos controlar as
velocidades com que as cargas se movem. Aplicando simultaneamente um campo elétrico e um campo magnético
mutuamente perpendiculares, como mostra a figura abaixo, escolhidos de modo que , o movimento da
partícula é em uma linha vertical reta pela região dos campos. (TIPLER, 2009). Com base na expressão dos
campos, teremos:
(10)
e, somente as partículas com essa velocidade são desviadas pelos campos. Se a velocidade é superior, a força
elétrica é mais forte que a magnética e a carga é desviada para a esquerda, se a velocidade é inferior, a carga é
desviada para a direita. (JOHN; RAYMOND, 2014).

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Figura 4 - Seletor de velocidade. O campo magnético entra na página e o campo elétrico é paralelo a página, da
esquerda para a direita. Portanto, ambos são perpendiculares. Se uma partícula atravessa essa região, é possível
controlar a intensidade desses campos para que seu movimento seja uma linha reta.
Fonte: JOHN; RAYMOND, 2014. p. 149.

Assim, a aplicação simultânea de uma força elétrica e uma força magnética em certas condições especiais,
restringe o movimento de partículas carregadas em sentidos e direções específicas.
Espectrômetro de massa
Um espectrômetro de massa é um dispositivo semelhante ao da figura acima, no entanto possui uma região
adicional em que existe apenas um campo magnético (B’), com a mesma magnitude que o campo inicial. Ao
saírem do seletor de velocidade e entrarem na região em que existe apenas o campo magnético, as partículas são

desviadas e começam a se mover em uma trajetória circular. Se são íons positivos a trajetória é desviada para a

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desviadas e começam a se mover em uma trajetória circular. Se são íons positivos a trajetória é desviada para a
esquerda, se são negativos, desviam para a direita. Da equação (5), é possível expressar a relação carga massa
como:
(11)
utilizando a equação (10),
(12)
Quando os campos são dispostos dessa maneira, dizemos que são cruzados, e uma das descobertas mais
relevantes na física, a descoberta do elétron, foi feita utilizando um dispositivo chamado tubo de raios catódicos,
que possui um esquema semelhante ao da figura do seletor de velocidade.

VOCÊ O CONHECE?
Joseph John Thomson (1856-1940), foi um físico britânico que em 1906 ganhou o prêmio
Nobel pela descoberta do elétron. Em suas experiências com raios catódicos em tubos de
Crookes, verificou que certas partículas eram desviadas pela ação de um campo elétrico e
também por um imã (campo magnético), o que comprovava que tais partículas eram dotadas
de carga elétrica. Além disso, tais raios movimentavam um moinho metálico no interior do
tubo, o que indicava que essas partículas também possuíam massa.

O cientista responsável pelo experimento, J. J. Thomson, em 1897, mediu a razão das partículas que havia
identificado e descobriu que eram quase 2000 vezes mais leves que o átomo mais leve conhecido, o íon
(hidrogênio sem elétron). Esse fato é considerado a descoberta do elétron.

4.4 Indução magnética


Os fenômenos físicos podem se manifestar de pelo menos duas formas: naturais (carga elétrica como fonte de
campo elétrico, massa como fonte de inércia etc) e induzidos. No decorrer da unidade iremos evidenciar como é
possível induzir campos magnéticos.

4.4.1 Fluxo magnético


Quando estudamos a Lei de Coulomb e o campo elétrico estávamos interessados em determinar a quantidade de
linhas de campo que atravessavam uma superfície de área envolta de uma determinada carga. Nesse momento, o
objetivo era determinar o fluxo de campo elétrico. Partindo de uma análise semelhante, faremos o estudo de um
fluxo magnético gerado em certa região do espaço, tendo como fonte um imã, por exemplo. Observe a figura
abaixo.

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Figura 5 - JOHN; RAYMOND, 2014. p. 184.
Fonte: Fluxo de um campo magnético através de uma superfície. O vetor é o versor normal à superfície.

Note que as linhas de campo magnético que atravessam a superfície de área orientada versorialmente a
fornecem por definição a noção de fluxo magnético:

(13)
esta quantidade é máxima quando o ângulo entre e é zero (todas as linhas de campo atravessam a área) e
mímica quando o campo magnético e o vetor normal a superfície são perpendiculares.
Uma pergunta natural é o que são fontes de campo magnético? Vimos em nossos estudos iniciais que um imã é
uma possibilidade. Porém, Oersted e posteriormente Ampère perceberam através de uma observação empírica
que um fio condutor que permitia a passagem de uma corrente elétrica alterava a orientação de bússolas
distribuídas arbitrariamente em volta desse fio, ou seja, dessa maneira a noção de que correntes elétricas
geravam campos magnéticos era evidente, assim surgia a lei de Ampère.

4.4.2 Lei de Ampère


Analogamente ao caso elétrico, é possível calcular o campo magnético total associado a uma distribuição de
corrente escrevendo o campo infinitesimal produzido por uma pequena distribuição de cargas e
posteriormente somando todas as contribuições de todos os elementos de corrente.
Nesses casos, quando a distribuição possui simetria, podemos utilizar a Lei de Ampère e calcular o campo
magnético. De acordo com essa lei,
(14)

A integral deve ser realizada em uma curva fechada e a quantidade é a corrente envolvida por essa curva,

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A integral deve ser realizada em uma curva fechada e a quantidade é a corrente envolvida por essa curva,
denominada amperiana. A quantidade é permeabilidade magnética do vácuo cujo valor é .
(HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). Para exemplificar como funciona essa lei, observe a figura abaixo.

Figura 6 - Três correntes envolvidas por uma amperiana. O sentido de integração é escolhido como anti-horário.
Fonte: HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016. p. 242.

Existem três fios percorridos por correntes elétricas perpendiculares ao plano do papel. A amperiana envolve as
correntes e mas não . O sentido anti-horário é escolhido como o sentido de integração. Dividimos a curva
em pequenos elementos de comprimento tangentes a curva e que apontam no sentido de integração. No local
, o campo magnético é . Como as correntes são perpendiculares ao plano do papel o campo magnético em ,
devido a contribuição de todas as correntes também está nesse plano, assim como o campo magnético total,
entretanto, não conhecemos a sua orientação e arbitrariamente o desenhamos fazendo um ângulo com .
(HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). Assim, a lei de Ampere, para essa configuração é escrita como:
(15)
Para realizar a integração não é necessário conhecer o sentido do campo em todos os pontos da amperiana, em
lugar disso, atribuímos um sentido para que coincida com o sentido de integração. Depois utilizamos a regra da
mão direita para identificar as contribuições positivas ou negativas para as correntes totais envolvidas pela
amperiana: ao envolver a amperiana com a mão direita, os dedos devem apontar no sentido de integração.
(JOHN; RAYMOND, 2014). Se o polegar aponta para cima a corrente é positiva se aponta para baixo, negativa.
Ao resolver a equação (15) encontramos o campo magnético. Se encontrarmos um valor positivo significa que o
sentido escolhido para está correto, se o valor é negativo, ignoramos o sinal e atribuímos ao campo o sentido
oposto. (JOHN; RAYMOND, 2014).
Observe a figura abaixo. Aplicamos a regra da mão direita para a situação da figura das três correntes envolvidas
por uma amperiana.

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Figura 7 - Aplicação da regra da mão direita e determinação do sentido das correntes.
Fonte: HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016. p. 242.

A corrente total envolvida pela amperiana é:


(16)
substituindo (16) em (15) temos:
(17)
Como não existem informações suficientes para encontrar na figura acima, vamos aplicá-la para uma situação
em que uma corrente percorre um fio retilíneo de grande comprimento.

4.4.3 Cálculo do campo em um fio longo


A figura abaixo está mostrado um fio longo, percorrido por uma corrente , que sai do plano da página. O campo
produzido pela corrente é o mesmo em todos os pontos a uma distância do fio e, portanto, tem simetria
cilíndrica. (TIPLER, 2009). Sendo assim, para facilitar a resolução, vamos envolver a corrente com uma
amperiana circular de raio , concêntrica com o fio. A integração será realizada no sentido anti-horário, por isso,
tem o sentido indicado pela figura a seguir.

Figura 8 - A geometria aplicada para encontrar o campo magnético quando um fio longo retilíneo é percorrido
por uma corrente é uma amperiana circular.
Fonte: HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016. p. 243.

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Nesse caso, tanto como são tangentes a amperiana, portanto o ângulo entre essas quantidades é 0° ou 180°.
Escolhemos a primeira opção. Aplicando à equação (17),

Como é a soma de todos os segmentos de reta da curva amperiana escolhida, o resultado final da
integração é simplesmente a circunferência. Através da regra da mão direita, vemos que o sinal da corrente é
positivo, assim, o campo magnético no exterior do fio é:

(18)
Como o resultado é positivo, vemos que o sentido correto do campo é o mesmo da figura acima. (TIPLER, 2009).
O próximo passo é encontrar no interior do fio. Para resolver o problema nesse caso, vamos envolver o interior
do fio com uma amperiana de raio , em que é o raio do fio, como mostra a figura abaixo.

Fonte: HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016. p. 243.

Aplicando a lei de Ampere, temos:

Para encontrar a corrente envolvida pela amperiana, devemos levar em consideração que ela é proporcional a
área envolvida por essa curva, assim,

portanto,

o que nos dá,


(19).
Dessa maneira, no interior do fio, o campo aumenta conforme aumentamos . O campo é zero no eixo do fio e
máximo na superfície, quando . (TIPLER, 2009).
Em suma percebemos que a variação de carga elétrica no tempo ( ) são fontes de campos magnéticos, concluídos
por Ørsted e Ampère. Entretanto, Faraday se perguntou se o contrário era válido: um campo magnético variável
no tempo pode produzir corrente elétrica?
Apresentamos na próxima seção, os conceitos desenvolvidos para responder a essa pergunta.

4.5 Lei de (Faraday-Lenz)


Um campo magnético variável pode induzir um campo elétrico que origina uma corrente elétrica. Esse fenômeno
relaciona a eletricidade e o magnetismo, evidenciando uma profunda ligação entre eles. As primeiras
observações relacionadas a esse fenômeno foram realizadas por Hans Christian Ørsted e Michael Faraday no

início do século XIX. Joseph Henry independentemente observou essa característica nos Estados Unidos. Os

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início do século XIX. Joseph Henry independentemente observou essa característica nos Estados Unidos. Os
resultados desses cientistas originaram a lei de Faraday, extremamente importante dentro do eletromagnetismo
e que explica o funcionamento de geradores, motores e outros dispositivos utilizados hoje em dia. Vejamos no
decorrer da unidade, os princípios básicos dessa lei.

4.5.1 Lei de indução de Faraday-Lenz


Com o intuito de compreender a indução magnética, observe a figura abaixo, que mostra um circuito conectado a
um amperímetro, que mede a corrente elétrica do sistema. Não existe fonte de tensão, portanto inicialmente a
corrente é zero.

Figura 9 - Corrente induzida gerada quando um imã é aproximado ou quando existe uma variação de corrente no
circuito da direita.
Fonte: HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016. p. 264.

Aproximando um imã ao circuito o amperímetro indica o aparecimento de uma corrente elétrica. Se afastarmos o
imã, a corrente cessa. Se novamente aproximamos o imã, a corrente volta a aparecer no sentido contrário. Após
realizar o experimento mais vezes, obtém-se os seguintes resultados. Clique nos números.

Se existe um movimento relativo entre o imã e o circuito existe uma corrente elétrica no
1
sistema.

2 Se o movimento é rápido, a corrente é maior.

Quando aproximamos o polo sul do imã da corrente ela tem sentido horário, quando
3
afastamos a corrente inverte o sentido.

A corrente produzida pelo movimento do imã perto do circuito é chamada de corrente induzida. O trabalho
realizado por unidade de carga para dar origem a essa corrente é denominado força eletromotriz induzida.
(GUIMARÃES; FONTE BOA, 2010). A esse processo denominamos indução.
Outro aspecto interessante é encontrado observando novamente a figura acima. As duas espiras estão próximas,
mas não se tocam. Se a chave S é fechada e uma corrente circula nessa espira, uma corrente momentânea é
registrada pelo amperímetro no circuito da esquerda. Se a chave é aberta, a corrente registrada tem sentido
oposto. Assim, existe uma corrente induzida quando a corrente no sistema a direita varia.
Observando esses dois aspectos, Faraday observou que uma corrente e uma força eletromotriz pode ser
induzida quando a quantidade de campo magnético varia, ou seja, essas quantidades estão relacionadas com a
taxa de variação do campo magnético, ou mais comumente chamado fluxo magnético.
De maneira análoga ao caso elétrico, o fluxo magnético que atravessa uma superfície de área A é:

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Através da definição de fluxo, a lei de Faraday pode ser enunciada como:
“A força eletromotriz induzida em um circuito é igual à taxa de variação com o tempo do fluxo magnético que
passa pelo circuito.”. (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016. p 266.)
(20)
O sinal negativo indica que a força eletromotriz induzida se opõe a variação do fluxo. (HALLIDAY; RESNICK;
WALKER, 2016).

VOCÊ QUER VER?


Acesse este link <https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/faradays-law>, e, através dessa
simulação, observe o experimento que mostra a Lei de Faraday na prática. Nessa simulação,
você pode aproximar um imã de um circuito e verificar como esse movimento ao produzir um
fluxo magnético variável através da bobina, provoca o aparecimento de uma corrente induzida.
Perceba em todos os casos o sentido da força eletromotriz induzida e comprove que ela é
sempre contrária a variação do fluxo que a deu origem. Aproveite!

A regra para determinar o sentido da corrente (ou da força eletromotriz induzida), foi proposta por Heinrich
Friedrich Lenz, segundo essa lei sabemos que: a corrente induzida tem sentido de tal maneira que se opõe à
variação que a produz. (TIPLER, 2009). Para entender como funciona a lei de Lenz, vamos comentá-la em um
exemplo mostrado na figura abaixo.

Figura 10 - Ao movimentar um imã próximo a uma espira induzimos uma corrente elétrica. O fluxo criado pela

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Figura 10 - Ao movimentar um imã próximo a uma espira induzimos uma corrente elétrica. O fluxo criado pela
espira devido a aproximação do imã tende a se opor a variação do fluxo do imã.
Fonte: HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016. p. 268.

Se o polo norte do imã está próximo a espira, com um campo magnético apontando para baixo, o fluxo através da
espira aumenta. Para se opor a esse fluxo, a corrente induzida na espira deve criar um campo magnético
apontando para cima, de forma a se opor ao fluxo do imã e um consequente aumento do campo magnético . De
acordo com a regra da mão direita, a corrente na espira deve ter o sentido anti-horário. (TIPLER, 2009).
Note que sempre se opõe à variação do fluxo de , mas não necessariamente e precisam ter sentidos
opostos. Por exemplo, ao afastar o imã, o fluxo de tem o mesmo sentido que antes, mas diminui. Por isso,
deve agora ter também sentido para baixo, de maneira a se opor a diminuição do fluxo originado por .

CASO
Um gerador de corrente alternada é um dispositivo que transforma trabalho em energia
elétrica. Uma representação desse dispositivo encontra-se na figura abaixo.

Figura - Gerador de corrente alternada. Uma bobina é colocada em uma região com um campo
magnético externo. Uma corrente induzida é produzida no sistema.
Fonte: JOHN; RAYMOND, 2014. p. 191.
Nessa figura, uma bobina (cilindro sobre o qual se enrolam fios condutores) é colocada em
uma região que possui um campo magnético externo e girada por agente externo (o que realiza
o trabalho de entrada). Nas usinas hidrelétricas, o trabalho pode vir da queda de água sobre as
pás de uma turbina que produz a rotação. Nas termoelétricas, o vapor obtido da queima do
carvão é direcionado contra as pás, o que faz com elas girem. Conforme a bobina gira, o fluxo
magnético que passa por ela varia com o tempo, o que produz uma força eletromotriz e
consequentemente uma corrente no circuito conectado a bobina.
Se a bobina possui N espiras de área A e gira com uma velocidade angular constante em um
eixo perpendicular ao campo magnético, o fluxo magnético que passa pela bobina é, segundo
John e Raymond (2014):

portanto, a vale:

Esse resultado mostra que o que ocorre quando ou . Isto é,


quando o campo magnético está no plano da bonina e a taxa de variação do fluxo é máxima.
Nesse ponto, o vetor velocidade associado a bobina é perpendicular ao campo. Como é

perceptível, a força eletromotriz varia senoidalmente e é chamada fonte de corrente alternada

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perceptível, a força eletromotriz varia senoidalmente e é chamada fonte de corrente alternada
(AC). Essa é a corrente que fornece as companhias de energia elétrica.

Portanto, nas correntes alternadas o fluxo de carga que atravessa o condutor varia no tempo e assim, a corrente
tem seu sentido alternado periodicamente.

VAMOS PRATICAR?
Observando e entendendo a Lei de Faraday-Lenz, quais as possíveis maneiras de combinar as
variáveis do fluxo magnético capaz de gerar uma força eletromotriz induzida? Você poderia
mencionar quais dessas combinações pode produzir o princípio de funcionamento de um
motor elétrico primitivo?

Dessa maneira, percebe-se que o fluxo magnético é uma quantidade que pode ser controlada de acordo com a
força eletromotriz que se deseja produzir.

4.5.2 Indutores e Indutância


Um indutor é um dispositivo utilizado para produzir um campo magnético com as características desejadas.
Geralmente em circuitos, o designamos com o símbolo . O indutor mais comum utilizado é um solenoide,
o qual também se denomina bobina. Em analogia com capacitores que armazenam campo elétrico entre suas
placas, um indutor confina campo magnético em seu interior.
Se por um solenoide com N espiras, atravessa uma corrente elétrica , que produz a variação do fluxo magnético
no centro desse objeto, a indutância desse dispositivo é dada por:

a unidade no SI de indutância é . Chamamos essa unidade de Henry em homenagem ao Físico Joseph


Henry, um dos que contribuíram com o desenvolvimento da lei de indução.

VOCÊ QUER LER?


O livro 100 maiores invenções da História, de Tom Philbin, descreve a vida de Michael Faraday
e o desenvolvimento do primeiro motor elétrico da humanidade. A invenção de número 56 do
referido livro, descreve o contexto social e científico da era britânica no qual Faraday estava
inserido e, como o seu interesse pelo entendimento da eletricidade e do magnetismo o
conduziram a este que hoje é um dos principais itens tecnológicos utilizados pelo homem.

Devido ao entendimento da indutância e da autoindutância, os transformadores (objetos dotados de solenoides


que geram correntes alternadas através da variação do fluxo magnético) produzidos por profissionais da
engenharia elétrica e afins são capazes de transportar energia elétrica a longas distâncias para as áreas urbanas

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que geram correntes alternadas através da variação do fluxo magnético) produzidos por profissionais da
engenharia elétrica e afins são capazes de transportar energia elétrica a longas distâncias para as áreas urbanas
e industriais.

Síntese
Para aplicar os conceitos físicos de maneira a contribuir com o desenvolvimento científico e tecnológico da
sociedade, muito estudo e muito trabalho foi realizado por um conjunto gigantesco de cientistas. Essa unidade é
apenas um resumo dos principais tópicos do magnetismo que temos conhecimento nos dias atuais. Muitas
pesquisas ainda estão sendo desenvolvidas nessa área.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• entender como é gerado um campo magnético e quais são as suas propriedades;
• conhecer a relação entre a força magnética e a força elétrica;
• relacionar, através da Lei de Ampere, a corrente que percorre um circuito com o campo magnético que
ela produz;
• utilizar a Lei de Faraday para relacionar a variação do fluxo em um circuito com a corrente induzida
nesse sistema;
• aprender com a Lei de Lenz que a corrente induzida sempre tende a se opor a variação do fluxo que a
produziu;
• compreender a relação entre a indutância de um solenóide, fluxo e a corrente que o atravessa.

Bibliografia
DUBSON, M. et al. Lei de Faraday. Simulações. Estados Unidos, Colorado: PhET Interactive Simulations.
University Of Colorado Boulder. Disponível em: <https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/faradays-law>.
Acesso em: 14/08/2019.
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LTC, 2009.
TREFIL, J. S.; HAZEN, R. M. Física Viva: Uma introdução a Física Conceitual. Rio de Janeiro: LTC, 2006.

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