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O que aconteceria se você fizesse um pedido de aniversário, e ele se

realizasse como mágica?


Lizy era uma garotinha órfã e taxada de esquisita pelos seus
coleguinhas no orfanato onde viveu até os seus cinco anos de
idade, por não ter amigos e conversar sozinha, mas o que eles não
sabiam era que Lizy tinha um segredo.
Ela cresceu, e até o dia do seu aniversário de dezoito anos nada
havia mudado. Ao assoprar suas velinhas, Lizy fez um pedido
inusitado que acabou mudando sua vida.
Qual será esse pedido? Que segredo terá guardado?
Fui deixada em um orfanato ainda bebê. Instituto Santíssima
Trindade, foi o meu lar até meus cinco anos de idade. Nem sei ao certo
se foi nesta cidade de Gramado que eu nasci, mas foi nela que morei até
meus cinco anos.
Meu único amigo era o Chris, ele era a única pessoa que me
entendia e sempre estava do meu lado. Ele era tudo o que eu tinha, já
que nenhuma outra criança brincava comigo.
Sempre fui uma muito fechada, de poucos amigos, sempre
brincava sozinha, ou com Chris. Todos me achavam esquisita. Eu
nunca entendi o porquê, mas também nunca procurei saber o motivo
que levava eles a me achar esquisita. Sei que eu era de pouca conversa, e
não gostava de brincar com ninguém, porém isso não faz ninguém ser
esquisita. Bom, eu acho que não.
Hoje já tenho dezessete anos, e nada mudou, apesar de eu ser
uma ótima aluna, ainda me chamam de esquisita.
Dona Eduarda e Seu André, meus pais adotivos, apesar de me
amarem demais, eles também me acham estranha. Se bem que nunca
falaram isso para mim, porém, percebo com a maneira com que me
olham, como se eu realmente fosse esquisita. Até entendo eles, já que
desde que me adotaram, nunca fiz nenhum amigo, e sempre ficava
sozinha trancada em meu quarto, pois era o lugar que eu mais gostava
de ficar.
Depois que fui adotada, fiquei um tempo sem ver o Christian, e
isso me fez sofrer muito. Me lembro que, aos oito anos de idade, estava
em meu quarto chorando, como sempre fazia, quando pude ouvir
alguém me chamar, e quando olhei na direção daquela voz levei um
susto muito grande, porque o Chris estava ali.
Chris era um pouco mais velho que eu, tinha sua pele bem
branquinha, seu cabelo reluzia ao ouro queimado e seus olhos pareciam
ser um pedaço do céu. Eram de um azul profundo e vibrante.
Minha felicidade foi tanta que o abracei, uni minhas mãos nas
dele e fui mostrar aos meus pais adotivos que tínhamos visitas. Estava
tão eufórica que nem havia dado oportunidade para ele falar alguma
coisa, mas quando fui apresentar o Chris para a Eduarda e o André, eles
reagiram de uma forma estranha, dizendo que não havia ninguém
comigo.
Foi então que entendi, Chris, era meu amigo imaginário. Acho
que eu me sentia tão sozinha quando era pequena, que criei o Chris na
minha cabeça, e o mais estranho era que para mim, ele parecia muito
real.
Foi depois que descobri a verdade, que comecei a entender o
porquê de todos me acharem esquisita, visto que eu falava sozinha e
brincava com o nada. No entanto, ele parecia tão real para mim, que
nunca sequer imaginei que eu estava fazendo papel de louca e isso não
era legal.
Chris ficou comigo por quatro anos, e por minha culpa
desapareceu. Eu nunca me importei de ele não existir, o que importava
era que ele me fazia feliz.
Não importa se tenho que ir a um psicólogo, ou psiquiatra, pois
nada vai fazer o Chris sair da minha vida, ou da minha cabeça, já que
fazia algum tempo que eu não o via. Só me restaram lembranças.
Lembro de uma vez que escrevia em meu diário e ele ficou curioso para
ler o conteúdo.

“— Lizy o que você está escrevendo aí? Deixa eu ver, deixa. –


Perguntava o Chris tirando o diário da minha mão.
— Para Chris, estou escrevendo nossa história. – Falei indo até ele
que subiu em cima da minha cama, e quando fui atrás dele, caímos
deitados em cima do tapete que ficava no chão ao lado, e com a queda
fiquei em cima dele. Meu coração disparou na hora, e meu corpo todo se
arrepiou. Então, mais que depressa me levantei sem graça, ele também
parecia estar bastante sem jeito.”
Eu só tinha treze anos na época, e foi muito estranho a sensação
que tive, mas lembro também que minha mãe estragou o momento me
chamando, foi tão engraçado.
“— Elizabeth, estou te chamando para jantar faz tempo, que tanto
conversa aí? O que está aprontando? – Falou minha mãe gritando da porta
do meu quarto.
— To indo mãe, eu só estava no celular, conversando com minha
amiga Malu. – Falei abrindo a porta, mas a Malu que conheço nem falava
comigo, só que eu precisava dizer algo, e só veio isso na minha cabeça.
Chris ia conosco fazendo gracinhas por trás da minha mãe, me
fazendo cair na risada.
— Lizy do que você está rindo? Tem algo errado comigo é isso.? —
Ela perguntou olhando seu corpo, e passando a mão no seu cabelo.
— Não mãe, não tem nada de errado com a senhora, eu só lembrei
do que a Malu falou, e sem querer ri alto. – Respondi a ela que estava
parada na minha frente esperando uma resposta.
Mas Chris continuava fazendo gracinhas na frente da minha mãe.
E minha mãe acreditando no que falei, me puxou pela mão me levando até
a sala de jantar.”
Nossa que época boa, tenho tantas lembranças dele fazendo
gracinhas, por onde será que ele anda? Sinto tanta falta dele. Não sei
porque ele sumiu assim?!
Ainda em meu quarto, olhando para o teto, já que eu estava
deitada em minha cama, me lembrei que neste dia, depois que me
sentei para jantar, Chris aprontou novamente, então fechei os olhos e
pensei naquele momento.
“— Até que fim vocês apareceram, nossa, mas por que demoraram?
– Meu pai perguntou, ao nos ver sentar a mesa, onde a janta foi servida por
Dona Holanda, nossa cozinheira. Uma senhora muito simpática de mais
ou menos cinquenta anos.
— Então, Lizy, por que demorou? Ainda não me respondeu. É
impressão minha ou parece estar no mundo da lua, to aqui a horas te
perguntando a mesma coisa, e a única coisa que faz é revirar a comida que
está no seu prato, com o olhar vago.
— Desculpe pai, eu só estava pensando. — Comecei a comer a
comida revirada do meu prato. Faço isso desde pequena, quando estou
pensando na hora de comer
— É o que você mais gosta de fazer né, Lizy? “Pensar”. — Afirmou
minha mãe.
— É sim mãe. Pai eu demorei por que estava falando com uma
amiga no celular.
— Entendi filha, agora vamos terminar de comer, porque vamos
fazer uma seção cinema na sala, trouxe um filme que vai adorar. “Escolha
Perfeita 2". — Falou todo animado.
Neste mesmo instante, Chris tentava imitar meus pais e nisso, me
deixava não apenas confusa, como também de cabeça cheia. Queria
ignorá-lo, ao menos, perto dos meus pais para que não pensassem que sou
louca, mas já não estava suportando a falação de Chris em minha cabeça.
— Lizy por que demorou... — Tentava engrossar a voz ao imitar
meu pai. — Lizy você não respondeu... — Repetia incansavelmente. — Lizy
isso, Lizy aquilo...
— Para por favor. — Gritei, perdendo a minha postura.
— Parar com o que filha? Lizy você está tomando o remédio que a
psiquiatra te receitou?
— Sim estou, desculpe pai, só pedi para parar de trazer filmes todos
as noites, hoje eu gostaria de ir dormir mais cedo, se não se importar. —
Claro que eu queria assistir filme com os meus pais, mas Chris me fez
gritar, e isso teria que ter um motivo, e não tive outra opção.
— Tudo bem filha, podemos assistir amanhã se quiser. Mas está
tudo bem contigo?
— Está sim pai, eu só gostaria de descansar mesmo, pois essa noite
que passou não dormi direto.”
Esse dia tive que ir dormir cedo, mas nem com sono eu estava.
Meu pai é gerente do Banco Bradesco, ele ganha muito bem, por
isso temos duas empregadas e um motorista. Nossa casa não é uma
mansão, mas é bem grandinha, com; quatro quartos, uma suíte, sala,
sala de jantar, cozinha, dois banheiros, e piscina. Minha mãe e
professora de ballet, e tem sua própria escola, pois construiu a três anos
atrás. Nunca me faltou nada, mas carrego um vazio dentro de mim, por
saber que meus pais biológicos me a abandonaram na porta do
orfanato.
A únicas alegrias que eu tenho são meus pais adotivos, pois sou
tudo para eles, e eu os amo muito. Eles nunca puderam ter filhos, por
isso me adotaram. Minha outra alegria é o Chris, esse nunca sai da
minha cabeça, pois ele sempre tentava me deixar feliz naquela época.
Por que ele não volta? Eu não entendo, sua falta chega a doer.
Por isso gosto de relembrar momentos com ele, e foi o que fiz, pois
naquela noite antes de ir me deitar, minha mãe se mostrava
preocupada, pois nunca recusei assistir um filme com meus pais, e
ainda de olhos fechados me lembrei daquele momento.

“— Filha, você teve aqueles pesadelos novamente? — Perguntou,


tirando a louça da mesa junto com Dona Holanda.
— Não mãe, eu só perdi o sono. — Levantei, e fui em direção a
porta do fundo.
— Onde vai? — indagou meu pai, me vendo ir em direção a porta.
— Hoje vai ter lua cheia, eu adoro, só vou dar uma olhada e logo
vou para o meu quarto. — Falei atravessando a porta indo direto para o
jardim.
Realmente a lua estava linda, brilhante e enorme lá no céu todo
estrelado, e a brisa graças a Deus não estava tão gelada, como nas outras
noites, apenas um vento suave batia em meu rosto.
— Me desculpe, Lizy, mas às vezes acho que seu pai e sua mãe
exageram com você, eles te sufocam, sei que fazem por amor, mas você vai
fazer 14 anos e não é mais bebê.
— Chris você tem que parar com isso, fui parar até em psicólogo e
psiquiatra por sua causa. Eles não podem pensar que estou louca
novamente, se não vão acabar me internado, você tem que se controlar.
Tenta entender Chris, eles só têm a mim, por isso se preocupam demais,
isso é compreensível, eu os entendo, por que os amo. Nunca se esqueça
Chris, eles me deram um lar, me acolheram e me amaram, sou muito grata
a eles, isso tudo, essa proteção e carinho não me incomoda.
— Desculpe mais uma vez, prometo me controlar perto deles.
— Chris você ouviu? Parece que tem alguém aqui no jardim. — Falei
assustada, ouvindo barulhos das folhagens e gravetos estralando. Como se
alguém andasse pelo quintal.
— Eu estou ouvindo também, melhor você entrar.”

— Filha você já está dormindo? — Perguntou minha mãe


batendo na porta, me tirando de meus pensamentos.
— Não mãe, pode entrar.
— Só vim ver se precisa de algo, se quer que eu prepare um
lanche para você comer, pois não tocou na comida do jantar. —
Indagou ela se sentando ao meu lado na cama.
— Não mãe, não estou com fome, fica tranquila, se eu sentir
fome, eu mesmo preparo um lanche para mim.
— Ta certo filha, então vou me deitar, qualquer coisa é só
chamar. Boa noite meu anjo. — deu um beijo em minha testa, agradeci,
respondi boa noite, e saiu em seguida.
Eu não estava com sono, e não iria dormir tão já, só queria
mesmo voltar meus pensamentos nas lembranças daquele momento
com o Chris, então me deitando novamente na cama fechei os olhos e
voltei a lembrar.

“— Quero ver quem está no quintal, Chris. — Falei baixinho para


ele, e entrei no meio do jardim, cheio de árvores enormes, flores e muita
folhagem, foi então que eu vi alguém com uma capa preta de capuz na
cabeça correndo para o fundo do jardim, e pelos cabelos longos parecia
uma mulher, e ela pulou o muro do fundo.
— Vamos entrar, Lizy, não seja teimosa. — Chris me puxou para
dentro da casa. E eu fiquei muito curiosa para saber o que aquela mulher
fazia em meu jardim.
— Chris ultimamente eu tenho notado um vulto no jardim, pois
amo olhar as estrelas e a lua pela janela do meu quarto, mas hoje descobri
que esse vulto é uma mulher. Você pode até não concordar comigo, mas vou
descobrir quem é essa mulher, e o que faz toda noite no meu jardim. —
Olhei na direção em que a mulher sumiu, entrei, dei boa noite aos meus
pais e fui direto para o meu quarto, muito curiosa com o que vi.
— Acho que você não deveria fazer nada, pois não sabe com quem
está lidando, e se ela for perigosa? — Falou Chris vindo em minha direção,
ficando muito perto de mim, me fazendo arrepiar.
— Se fosse perigosa, já teria feito algo. Sei lá, sinto que ela não é
perigosa. — Falei saindo de perto dele e fui sentar na minha cama.
— Você está estranha, Lizy! Parece que está fugindo de mim. — Ele
falou sentando ao meu lado.
— Imagina, Chris. Não estou estranha, é só impressão sua. — Falei
e olhei dentro daqueles olhos cor de céu, e sem perceber, estávamos nos
aproximando um do outro. Em um primeiro momento, meus olhos se
arregalaram com a possibilidade que passou em meus pensamentos, em
seguida, eles fecharam e pude sentir seus lábios pressionados contra os
meus. O beijo havia sido perfeito, fazendo-me entender que aqueles
sentimentos confusos que eu sentia, nada mais era, do que amor. Estava
apaixonada pelo meu amigo imaginário.
Incrédula e assustada com o rumo dos meus pensamentos, me
afastei dele pedindo para que fosse embora. Não podia me apaixonar por
alguém que somente eu conseguia ver, precisava dar um basta nesses
sentimentos confusos.
Chris, sem entender minha reação desapareceu na hora, sem nem
ao menos dizer algumas coisas. Meus olhos encheram-se de lágrimas e me
senti sozinha, olhando ao meu redor para garantir que ele já não estava
mais ali e comecei a chorar.”

Que lembrança boa, mas chorei muito naquela noite, já que eu


só podia estar ficando louca. Eu só tinha 13 anos e foi meu primeiro
beijo, e não entendia o que estava acontecendo, e o pior é que eu estava
muito assustada, pois para mim, o beijo foi tão real que pude sentir o
gosto dos seus lábios. Como isso poderia não ser real? Realmente não
entendo, visto que eu senti seu gosto e seu cheiro, naquela noite.
Chris sumiu por dois dias depois daquela noite, e sofri muito
com seu sumiço. Eu não deveria ter mandado ele embora, porém estava
confusa e assustada. Eu era uma criança, e estava apaixonada, sendo
que eu nem sabia o que era isso na época.
O vulto também não apareceu mais, eu estava tão curiosa na
época para saber quem era aquela mulher, que ela não voltou mais, mas
vou continuar vigiando.
Então já vencida pelo sono, pois as lembranças foram se
apagando conforme o sono foi tomando conta de mim, eu finalmente
adormeci num sono profundo.
Acordei com alguém batendo na porta, e até cheguei a me
assustar.
— Filha, posso entrar? — Perguntou minha mãe já entrando.
— Claro mãe, entre. — Falei um pouco sonolenta.
— Não entendo o que está acontecendo, já que anda tão triste
esses dias. Suas aulas entraram de férias na semana passada, e não vejo
você sair para aproveitar. Este fim de semana é seu aniversário e você
faz dezoito anos, é uma idade tão bonita. Falei que vamos fazer uma
festa no jardim, pois é enorme, vamos colocar tendas, para os
convidados, mas não vi você convidando ninguém, e anda tão
desanimada. Hoje é terça feira o que acha de irmos comprar um
vestido, ou algo que goste para usar na festa.
— Eu agradeço pela festa, mas realmente não me sinto animada
para nada. — Deite na cama novamente e agarrei o travesseiro.
— Filha você quer conversar? O que te incomoda tanto? Se abre
comigo, isso me faria tão feliz, visto que nunca me conta o que se passa
nessa cabecinha. — Ela falou passando a mão em meu cabelo, então me
levantei e a olhei.
— Eu mesmo não entendo o que se passa comigo, às vezes fico
assim, desanimada, triste, sem vontade de nada, mas sinto isso desde
pequena. Mas mãe fique tranquila isso sempre passa, já estou
acostumada. Olha, já me sinto melhor e vou me arrumar, para sairmos,
afinal vamos comprar um vestido de festa para o meu aniversário. —
Levantei e fui até o meu guarda-roupa, pois eu não queria falar dos
meus problemas, e nem sobre eu estar apaixonada por um amigo
imaginário, isso só iria piorar as coisas e deixar ela triste, e minha mãe
não merece isso.
— Ta certo filha, mas saiba que quando quiser conversar,
sempre estarei aqui para te ouvir. Vou lá me trocar e te espero na sala.
Meu dia foi assim; almoçamos fora, compramos meu vestido,
que por sinal era muito bonito. Era um vestido vermelho, com listas
branca e azuis, bege e rosa, modelo boneca, era bem minha cara, eu
amei. Entretanto, minha mãe queria que eu comprasse um vestido
tubinho rosa, quase lilás, pois dizia que o vermelho com listra me
deixou com cara de menininha, e como vou fazer dezoito, o tubinho iria
me deixar parecendo mais adulta. No entanto, eu não gostei, então ela
aceitou calada, e comprou o listrado que era mais delicado, só para me
agradar.
Depois das compras, ela quis ir tomar sorvete. Aqui na cidade de
Canela, onde moramos, a melhor sorveteria que tem é a “Gelatti
sorvetes e lanches” e minha mãe adora essa sorveteria.
Ela estacionou o carro e descemos indo direto para lá. Sentamos
em uma mesa perto de uma parede de vidro. Dali dava para ver todo
movimento lá fora. Uma garçonete muito simpática, nos trouxe o
cardápio, e escolhemos nosso sorvete, pedi um Fondue no copo, e
minha mãe o mesmo.
Ficamos ali conversando sobre tudo, o papo fluía bem, já que eu
tentava me divertir com minha mãe, e ela fazia de tudo para me
agradar. De repente, levei um susto e sem querer dei um pulo da
cadeira, fazendo minha mãe se assustar também, pois aquela mulher
do jardim, estava escondida atrás do pilar da sorveteria, usando a
mesma roupa que não dava para ver seu rosto.
Então, no impulso me levantei para ir a trás dela, mas quando
ela percebeu que eu a vi, saiu correndo dali me fazendo gritar feito
louca, perguntando a ela por que estava nos seguindo. Minha mãe
assustada, veio até a mim, e me fez voltar para a mesa. As pessoas ao
meu redor me olhavam estranho, sem entender nada, ou talvez
pensando que eu fosse louca, me sentei contrariada e nosso pedido já
tinha chegado, mas eu estava assustada e curiosa ao mesmo tempo.
Tomei meu sorvete sem dizer uma só palavra, e minha mãe confusa
com tudo isso, preferiu também não dizer nada.
Voltamos para casa e durante o caminho todo ficamos em
silêncio. Me perguntava o que estaria se passando pela cabeça da minha
mãe, já que até aquele momento, ela não havia dito nada. Ela
estacionou o carro na garagem, e lhe ajudei com a compra, visto que
também passamos pelo supermercado antes de ir a sorveteria.
— Mãe a senhora está bem? — Perguntei entrando na cozinha
com a compra.
— Sim, estou.
— Mas então porquê desse silencio todo?
— Filha, você tem certeza que está tomando seu remédio?
— Estou mãe, pode conferir, não estou mentindo. — Falei
ajudando-a guardar a compra no armário.
— Então o que foi aquilo na sorveteria? — parou em minha
frente, esperando por uma resposta. Confesso que eu não sabia o que
dizer a ela, dado que a verdade, só iria me causar problemas.
— Mãe tem um rapaz na minha faculdade que sempre me segue,
e pensei ter visto ele na sorveteria, foi só isso e nada demais.
— Mas por que nunca me contou desse rapaz? — Perguntou ela,
voltando a guardar a compra, pois parece que acreditou no que contei.
— Nunca contei, por que quase não saio de casa, e não achei que
era um problema, visto que ele nunca me fez nenhum mal. — Não gosto
de mentir para ela, porém se ela não viu a mulher, iria pensar que estou
ficando louca, e dessa vez poderia me internar em uma clínica
psiquiátrica, e não é isso que eu quero.
— Ta certo, mas seguir as pessoas não é certo. Me conte se isso
acontecer novamente ok.
— Ok, eu contarei. Agora vou para meu quarto tomar um banho,
e guardar o vestido.
— Não filha, o vestido vou pedir para Dona Celinha passar na
água. — Pegou o mesmo da sacola, e em seguida fui para o meu quarto.
No quarto, eu peguei minha roupa e fui tomar uma ducha, mas
além de estar muito curiosa para descobrir quem é essa mulher
misteriosa, estou com o coração em pedaços, pois, estou morrendo de
saudades do Chris.
Depois do banho tomado, me joguei na cama, e as lembranças
do Chris me veio na cabeça. Adoro pensar nele! Depois que mandei ele
embora naquela noite, ele só voltou a aparecer depois de dois anos,
lembro-me como se fosse ontem.
“Eu tinha chegado da escola, ido direto tomar um banho para
jantar, quando resolvi olhar pela janela, foi então que vi o vulto
novamente, mais que depressa eu desci sem fazer nenhum barulho. Sai
pela porta da sala, mas ao chegar no jardim, alguém me pegou pela
cintura, me impedindo de ir até lá.
— Onde você pensa que vai? Já disse que ela pode ser perigosa. —
Sussurrou uma voz bem no meu ouvido, me fazendo arrepiar, e essa voz me
encheu de alegria.
— CHRIS.... Você está aqui? — Perguntei pulando em seu pescoço
de emoção, e no mesmo instante eu o beijei na boca. Ele apenas envolveu
meu corpo com seus braços, me dando um forte abraço, e me apertando
sobre seu corpo sem parar o beijo.
Chris me apertou cada vez mais, e nosso beijo parecia não ter mais
fim. Estava, finalmente, com seus lábios tocando os meus em uma fome
desenfreada. No entanto, voltamos a realidade com o barulho que vinha do
jardim, isso me fez lembrar do real motivo pelo qual estava ali e tentei me
desvencilhar de seus braços para ir atrás da mulher.
— Já falei meu anjo, pode ser perigoso ir atrás do desconhecido.
Deixa de ser teimosa e desista disso.
— Anjo? Agora sou seu anjo e não sua amiga Lizy? – passei a mão
pelo seu rosto.
— Você sempre será minha amiga, Lizy, mas agora também é meu
anjo.
— Chris, o que está acontecendo com a gente? — Perguntei me
sentando num banco de madeira que tinha ali.
— Eu também não sei, a única coisa que sei, é que só penso em você,
praticamente o tempo todo, e todo momento, nem sei explicar o quanto
penso em você. — Respondeu sentado ao meu lado.
— Eu também Chris, não tiro você da minha cabeça. Me desculpe
por ter te mandado embora, eu só fiquei assustada com o beijo, pois eu
mesma pensei que tivesse ficando louca, já que você não é real, mas para
mim você é muito real, pois posso te sentir. – Falei passando a mão em seu
rosto novamente.
— Filha o que está fazendo? Por que conversa sozinha e ainda por
cima passa sua mão no ar? — minha mãe apareceu de repente, me fazendo
dar um pulo do banco. Chris apenas ria da situação que me encontrei.
— Filha te fiz uma pergunta? — minha mãe falava se aproximando
de mim, e no mesmo momento, um vagalume passou em minha frente e
mais que de pressa eu pensei em alguma coisa para dizer a ela.
— Ah seu danadinho, você voltou, agora não me escapa. — Tentei
pegar o vagalume com a mão, e por sorte acabei pegando. — Mãe, olha que
lindo, só estava tentando pegar um vagalume, e falava com ele, para que
ele confiasse em mim, pois não iria machuca-lo, visto que eu só queria vê-lo
como é lindo de perto.
— Entendi, mas por que está aqui sozinha? — Perguntou se
sentindo mais aliviada, já que acreditou no que falei.
— Adoro esse jardim, e adoro principalmente olhar o céu à noite,
tudo me encanta, inclusive esse vagalume, a natureza é perfeita. — Soltei
o vagalume e falei adeus a ele.
— Mas é perigoso ficar aqui filha, vamos entrar que a janta vai ser
servida. Agora de uma coisa eu tenho que concordar, realmente a natureza
é perfeita. — Falou me abraçando e juntas entramos. Chris foi atrás sem
fazer nenhuma gracinha.”
Fiquei aliviada por ela ter acreditado em mim naquela noite, eu
não queria parecer uma louca novamente. E eu estava tão feliz que
nada iria estragar aquela alegria naquela época. Eu tinha dezesseis
anos, e me sentia tão apaixonada.
— Lizy querida, o jantar está pronto. — Gritou minha mãe da
porta.
— Já vou descer mãe. — Falei me levantando, e sai do quarto
indo direto para a cozinha.
Lembrar dos momentos com o Chris era a única maneira de me
sentir perto dele, por isso adorava viajar nos meus pensamentos, pois
era tudo que restou, “lembranças”, apenas lembranças, pensei
desanimada.
O jantar foi perfeito, minha mãe e meu pai falavam animados
da minha festa de aniversário. Apenas eles estavam animados, eu nem
estava ligando para isso, porém eu tinha que mudar meu jeito e tentar
parecer uma pessoa normal.
Depois do jantar, assistimos um filme como meu pai sugeriu
novamente igual a todas as noites, já que ele adora assistir filme com a
família. O filme era lindo, e eu amei. Como eu queria o Chris comigo,
mas acho que nunca mais vou vê-lo, pois já sou bem grandinha para ter
amigo imaginário. No entanto, se ele é imaginário porque faz tanta
falta? Eu não entendo, e acho que nunca vou entender.
O filme terminou e dei boa noite aos meus pais, subi para o
quarto bem desconsolada, mas não deixei eles perceberem. Me troquei e
fui para cama, e novamente lembrei de uma noite que ele assistiu um
filme comigo.
“— Nossa, Lizy, que filme hein!! Adorei. — Chris falou pegando em
minha mão me fazendo arrepiar.
— Sim, também adorei, meu pai sempre teve bom gosto para
filmes.
— Filha você falou alguma coisa? – Perguntou meu pai atrás de
mim. Nem notei que ele estava indo para seu quarto que fica ao lado do
meu.
— Desculpe pai, só pensei alto, e nem percebi que falei, mas falei a
verdade, você tem muito bom gosto para filmes.
— Que bom que gostou, filha. – Sorriu muito satisfeito.
— Seu pai Lizy, sempre gostou de filmes, quando namorávamos
íamos no cinema todas as noites. — Minha mãe falou vindo atrás dele com
uma garrafinha de água, e apagando todas as luzes da casa no corredor
que estávamos, pois tinha todos os interruptores da casa ali. Dona Celinha
e Dona Holanda já haviam ido dormir fazia tempo, já que acordavam
primeiro que todos.
— Também adoro filmes mãe, amanhã talvez eu irei ao cinema
com uma amiga se não se importar, e também vou com ela as compras,
então saio logo depois do almoço, já estou avisando agora, pois às vezes
vocês não almoçam em casa. Tudo bem mãe e pai? Posso ir, né?
— Claro filha, peça para nosso motorista te levar. Boa noite filha.
— Obrigada pai, boa noite.
— Boa noite Lizy, tenha bons sonhos. – Minha mãe beijou minha
testa, em seguida entraram em seu quarto, e eu entrei no meu.”

Ouvi um barulho que me fez voltar para a realidade, levantei da


minha cama e sem acender a luz, abri a janela, e vi novamente o vulto
parado no meio do jardim, olhando para minha janela, mas já era tarde
e eu não iria atrás sozinha, visto que Chris sempre me alertou sobre
isso, então voltei para a cama, fechei meus olhos e voltei a lembrar
daquele momento.
“— Por que mentiu que vai sair amanhã?
— Não menti Chris, nos dois vamos sair amanhã, vamos ao
cinema, e passear pela cidade. — Falei pegando minha camisola, e fui me
trocar no banheiro, pois esse espaço Chris não invade.
Depois de trocada sai do banheiro e fui me deitar. Chris me
esperava na cama, então me deitei do seu lado, dei um selinho de boa noite
e me virei para o outro lado, e acendi o abajur, já que não durmo no escuro.
Ele me abraçou, assim adormecemos. Como senti falta disso, quando
mandei ele embora aquele dia, pois desde que Chris surgiu na minha vida,
nunca passei uma noite sozinha, ele sempre dormiu comigo, isso me
tranquilizava, e me deixava feliz.
Acordei com o cheiro de café invadindo o quarto, e com o bem ti vi
cantando em minha janela, como em todas as manhãs. Me sentei na cama,
olhando para janela, onde os raios do sol entravam pelos buraquinhos.
— Bom dia Lizy, como dormiu meu anjo?
— Bem, graças a Deus, não tive nenhum pesadelo.
— Que bom, ta animada para o passeio que prometeu comigo?
— Sim Chris, estou. Vou me trocar para tomar café. — Peguei o
celular, e olhando vi que dormi muito, era quase dez horas da manhã, me
troquei, fiz minha higiene e descemos para tomar café. Meu pai e minha
mãe já foram trabalhar.
— Bom dia, dona Holanda e Celinha. — Entrei na cozinha onde
dona Holanda preparava o almoço, e Celinha dobrava a roupa que
recolheu do varal. A mesa do café ainda estava posta, e me esperando.
— Bom dia! — ambas responderam sem parar seus afazeres. Então
me sentei a mesa.
— Onde vamos primeiro Lizy? — Perguntou Chris bem curioso, já
que eu nunca tinha saído sem meus pais.
— Tomar sorvete, ou comer um crepe. O que acha? — Perguntei me
esquecendo que não estava sozinha na cozinha.
— O que Lizy? Não entendi o que está dizendo. Você quer que eu
faça, sorvete ou crepe? — Holanda questionou confusa, e Celinha não
falou nada.
— Se não for pedir muito pode ser crepe dona Holanda. — Sorri
sem graça.
— Imagina querida, eu faço sim, você quer crepe de chocolate?
— Sim, eu adoro, e agradeço. – Terminei de tomar meu café, e
pedindo licença a elas fui para o jardim, e sentei ali com o Chris no banco
de madeira.
Ficamos ali conversando, e rindo muito das gracinhas dele, às vezes
saia uns beijos, e estar ali com ele me fazia muito bem.
Logo depois do almoço, seu Chico, o motorista, nos deixou na
sorveteria, dizendo que quando eu quisesse ir embora, era só ligar.
O dia se passou muito gostoso e divertido, apesar das pessoas me
olharem estranho, pois eu tomava sorvete sozinha, ainda mais quando se
pede dois, pois sempre esqueço que Chris não é real, e acabo pagando mico
de gulosa ainda por cima.
No cinema a mesma coisa, duas pipocas tive que comer, as pessoas
cochichavam toda vez que a tapada aqui dizia sem perceber. “Duas pipocas
por favor, uma para mim e a outra para meu amigo” eles me olhavam
assustado, só então percebia o que falei.
Apesar dessas coisinhas, o passeio foi inesquecível. Chris é um
perfeito cavalheiro, ele é tudo de bom, e sabe como agradar uma garota.
Já em casa, e em meu quarto, eu e Chris lembrávamos das caras das
pessoas toda vez que eu falava, “um para mim, e outro para o meu amigo”,
eles ficavam assustados.”
Aquele passeio que fizemos, foi muito bom e divertido, jamais
vou me esquecer desses momentos que tivemos, sei que fiquei
parecendo uma louca na época, porém ele me fazia bem, por isso eu não
me importava com o que o os outros pensavam de mim, o que
importava era estar com ele, e agora já faz um bom tempo que não o
vejo. Mesmo assim continuei a lembrar daquela promessa que ele me
fez.

“— Chris foi perfeito nosso passeio, eu me diverti muito, acho que


devemos fazer isso mais vezes.
— Com certeza Lizy, foi bem divertido. Vamos repetir mais vezes
sim.
— Ah Chris prometa que nunca vai ne deixar sozinha.
— Lizy, novamente falando sozinha, já não falamos muitas vezes
que esse Chris não existe! Você já é bem grandinha para ficar imaginando
coisas, será que seu remédio não está resolvendo? — Falava minha mãe
sem parar ao entrar no quarto, sem bater.
— Maaae....porque entrou assim, sem avisar? Você nunca fez isso.
— Ouvi você conversando, até pensei que tivesse alguma amiga com
você, até ouvir a última frase, aí percebi que voltou a falar sozinha com
esse tal Chris, que não existe. — Ela respirou fundo e continuou... — Você
não me dá outra escolha, já que os remédios não estão funcionando, vou
conversar com seu pai, e vamos ter que te internar em uma clínica, para
poder te ajudar. Vou só esperar passar o fim de semana, e na próxima
semana resolvemos isso.
— Não mãe por favor, eu não sou louca, vou parar eu prometo, não
tem ninguém aqui, eu só estava falando sozinha…. Por favor me entenda.
— Falei chorando, e desesperada.
— Desculpe filha, mas é para seu bem, já que o remédio não está
fazendo efeito. Falar sozinha não é normal — Ela saiu do quarto, fechando
a porta me deixando ali em prantos de tanto chorar, e Chris de todo custo
tentava me acalmar, eu apenas agarrei meu travesseiro deitando na cama,
e chorei feito uma criança, e Chris passava sua mão em meu cabelo.”
Foi nesse dia que vi o Chris pela última vez, ele me fez carinho
no cabelo tentando me acalmar, e assim acabei adormecendo naquela
noite, e quando acordei ele não estava mais aqui. Aquele dia foi o pior
dia para mim, já que nunca mais ele apareceu. Sinto tanta falta dele! E
por ele ter sumido, minha mãe nunca mais me pegou falando sozinha,
assim não precisei ser internada. No entanto sua falta me faz sentir
sozinha, perdida, sem chão, visto que Chris era muito mais que
imaginário, era meu melhor amigo, meu porto seguro, e tudo isso
acabou.
Hoje já e sábado, meu aniversário. E confesso que tudo o que
eu mais quero é ficar nesse quarto. Não quero nenhuma festa, mas
também não quero deixar meus pais triste, então pensei em agir como
se eu estivesse feliz com isso.
“— Parabéns meu anjo, hoje é seu dia. Não fique com essa
carinha triste, pois tudo pode ser resolvido, e eu sempre estarei do seu
lado.” — Ouvi uma voz, como um sussurro em meu ouvido que me fez
levantar, e procurar por todo quarto, mas não havia ninguém aqui. Eu
devo mesmo estar ficando louca, agora estou ouvindo coisas. Acho que
só um milagre pode trazer o Chris de volta, mas eu acredito em
milagres, acho que tudo é possível.
Então, contrariada, tomei um banho bem gostoso e fiz minha
higiene. Logo em seguida desci e fui tomar café.
A casa estava movimentada, tanto a cozinheira Dona Holanda,
quanto dona Celinha estavam na cozinha preparando os quitutes para
minha festa, junto delas havia dυaѕ moças lhe ajudando. Tomei meu
café rapidinho e fui para o jardim ver como estava ficando as tendas.
Que por sinal, estavam lindas.
— Filha vamos, você tem cabelereira e manicure para ir e já está
atrasada. — Falou minha mãe pegando em minha mão, e me
arrastando para dentro do carro.
Chegamos no salão, e a Paty veio ao nosso encontro sorridente.
Essa é a minha cabelereira favorita. Só corto cabelo com ela, desde que
fui adotada.
— Lizy, você está cinco minutos atrasada, vamos lá lavar esse
cabelo. Já sabe qual penteado quer? — perguntou me levando para o
lavatório.
— Hoje e seu dia filha, você escolhe o penteado, vou indo, pois
eu vou ajudar com os preparativos, e volto para te buscar e fazer meu
cabelo. — Falou minha mãe saindo, me deixando ali com a Paty que não
parava de falar sobre os penteados que poderia fazer para essa noite.
Então falei a Paty que eu queria uma trança, e ela me olhando
apenas falou, que para minha idade, eu deveria deixar ele solto e bem
lisinho, pois iria combinar mais. Como eu não estava tão animada
assim para minha festa, eu concordei.
Depois de pronta, fiquei feliz com o resultado, também já estava
com o pé e mão feitos, pois enquanto ela secava meu cabelo, Si, a
manicure, foi fazendo minhas unhas. Logo minha mãe chegou, esperei
fazer seu cabelo, que era na altura do ombro. Depois de prontas fomos
embora, e eu estava com muita fome, pois passei quase o dia todo na
cabelereira.
Ao chegar em casa fui direto até a cozinha para que eu pudesse
procurar algo para comer. A casa estava movimentada, todos andavam
de um lado para o outro e mal notavam minha presença. Fiz um lanche
rápido e um suco, em seguida subi para meu quarto.
Fui para o quarto comendo meu lanche, e ao chegar, me deparei
com um vestido tubinho rosa sobre a minha cama.
— Uau, é esse o vestido da festa? Você vai ficar um arraso!! —
Meu pai apareceu no quarto.
Não acredito que minha mãe comprou esse vestido!
— Esse não foi o vestido que eu escolhi, quem escolheu esse foi a
mamãe e eu não sabia que ela tinha comprado. — Falei um pouco
irritada.
— Pelo visto sua mãe tem muito bom gosto, na verdade ela
sempre teve. Você vai ficar linda nesse vestido filha.
— Me de licença pai, vou falar com minha mãe. — Sai do quarto,
mas ele foi atrás.
— Mãe... onde a senhora está? Maae.... — Gritei pela casa.
— Estou aqui na cozinha. — Então fui direto para lá.
— Mãe cadê meu vestido listrado que eu escolhi?
— Desculpe, Lizy, mas seu vestido não secou, está molhado. –
Falou dona Celinha que me ouviu perguntar.
— Mas como não secou? Fez sol ontem o dia todo.
— Eu estava tão ocupada ontem com a arrumação da casa, por
causa do seu aniversário, que me esqueci de lavar, então lavei agora
pouco, pois sua mãe esqueceu de me avisar que era para seu
aniversário. — Explicou Celinha.
— Verdade filha, sorte que eu comprei aquele vestido rosa, que
também ficou lindo em você. Se não, não iria ter outro vestido para
usar.
— E por que comprou mãe?
— Por que ficou lindo em você. — Ela falou de um jeitinho tão
meigo, que resolvi usar o vestido, mesmo que não tenha nada ver
comigo.
— Tá certo mãe, obrigada por comprar, vou lá me arrumar que
já está escurecendo.
— Isso filha, vai lá. Se quiser depois te ajudo com a maquiagem.
— Falou minha mãe lavando sua mão, e pelo jeito também ia se
arrumar, pois a festa começaria as oito horas da noite.
Fui para o meu quarto, e minha mãe foi para dela. Sorte que já
tinha tomado banho, pois com o cabelo feito, não daria para tomar
outro. Meu pai também tinha ido tomar um banho, nem sei o que ele
queria comigo, pois nem deixei ele falar.
Depois de me arrumar no banheiro, fui me maquiar, fiz apenas
uma maquiagem leve, só marquei bem meu olho. Depois de pronta, e
me olhando no espelho, nunca me vi assim, tão bela, realmente me
surpreendi com o que vi, já que nunca me achei bonita.
Meu cabelo estava perfeito, e o vestido marcava bem minhas
curvas, que eu nunca imaginei que tivesse, já que sempre uso calça
jeans e camiseta larga, e a maioria dos vestidos que costumo usar são
rodados. Só agora entendi por que minha mãe comprou esse vestido,
pois realmente me deixou parecendo um mulherão, ainda mais usando
salto alto.
— Meu Deus, como está linda filha, perfeita, vejo que também já
se maquiou. Alguns convidados já estão chegando, acho que até você se
esqueceu de olhar as horas, pois você ficou muito tempo aí se
arrumando. — Minha mãe entrou em meu quarto sem avisar
novamente.
— Nossa mãe, não vi a hora passar, eu quis fazer minha
maquiagem, que bom que gostou, só vou procurar meu perfume e já
desço.
— Ta certo, vou lá receber os convidados enquanto não desce. –
E saiu fechando a porta, e logo sai também.
Chegando na festa, notei que ela estava linda e bem decorada
em branco e lilás. Tinha uma tenda branca e enorme na frente do
jardim do lado da piscina, onde o espaço parecia um campo de futebol,
de tão grande que era. Todas as mesas dos convidados eram de vidro,
com prato brancos na mesa, com guardanapos lilás, e no centro de cada
mesa um vasinho de margaridas lilás, as luzes do ambiente era uma
mistura das duas cores. A mesa do bolo era linda, no fundo tinha uma
enorme foto minha, e na mesa um bolo no formato de uma sandália de
salto alto nas duas cores. Nunca tinha visto nada igual! Os doces davam
água na boca, pois além de lindos tinha de todos os tipos. E para não
faltar, bem ao lado da mesa do bolo, um DJ animava a festa.
— Que festa linda. — Falei para mim mesma.
— Filha nem vi você descer, venha receber seus convidados. —
Meu pai se aproximou, pois, eu estava parada bem em frente à mesa do
bolo, só olhando e admirando.
— Você está linda filha, como falei, ficou um arraso. — Elogiou
meu pai.
— Ta linda mesmo!! — Falou uma voz sussurrando no meu
ouvido, mas não vi quem era. Até achei estranho.
Fui com meu pai receber os convidados, todos os parentes e
amigos dos meus pais foram à festa, minha mãe já estava recebendo
alguns conhecidos. Mas fiquei surpresa quando vi minha turma da
faculdade de letras, chegando em minha festa, por essa não esperava,
vieram todos me cumprimentar, principalmente Malu e Peter. Minha
mãe convidou todos da turma.
Amava ler e escrever, então pensei que cursar letras iria
amenizar a saudade que tinha de algumas coisas do passado, como por
exemple, do Chris.
— E aí esquisita, sua festa está linda, agradece sua mãe por me
convidar.
— Monike deixa a Lizy em paz. — Malu a repreendeu, ao seu lado
vinha Peter.
— Só quis agradecer por terem me convidado. — Monike
respondeu azeda e saiu, indo sentar em uma mesa.
— Parabéns Lizy, sua festa está linda. — Malu elogiou.
— Verdade, está linda sua festa, e agradece sua mãe por nos
convidar. — Falou Peter.
— Obrigada Malu e Peter, eu que agradeço por terem vindo.
— Imagina, sua mãe foi tão educada, que não iriamos deixar de
vir para te dar parabéns. — Malu sentou em uma mesa perto da minha.
— Vamos dançar Lizy? – Perguntou meu pai tentando me
animar.
Foi então que vi Malu e Peter indo para pista de dança e no
mesmo momento meu pai me puxou pela mão, fazendo minha cadeira
quase cair, e as pessoas que estavam ali perto me olharam estranho.
Pedi desculpa sendo arrastada para pista, então muito sem graça
comecei a dançar e meu pai dançava comigo, fiquei até com vergonha
com ele ali, é estranho dançar com meu pai. Mas logo Malu e Peter
vieram dançar com nós. Por um momento, me senti uma pessoa
normal, pois estava dançando com pessoas reais. Então tentei focar na
música e nos meus colegas que estavam dançando comigo, e dancei
muito. Meu pai percebendo que me enturmei me deixou ali com eles, e
assim fiquei mais à vontade.
A noite estava perfeita e divertida. Malu e Peter conversaram
muito comigo. Até estranhei essa aproximação deles.
— Filha “ta” na hora de cantar parabéns, vamos lá, pois estão
todos esperando você. — Minha mãe chegou de repente e pegou em
minha mão, me puxou em direção à mesa do bolo.
— Mãe não quero cantar parabéns. — E sem me esperar
terminar de falar, já estavam todos cantando parabéns.
— Agora apaga a velinha. — Falou meu pai. Curvei o corpo para
frente e segurei alguns fios de cabelos que queriam cair em meu rosto,
mas antes que pudesse assoprar ouvi alguém sussurrar:
— Faça um pedido... — era aquela voz novamente no meu
ouvido. Na mesma hora, olhei para todos os lados, mas só estava minha
família.
Não acreditava nestas coisas, mas não via mal algum em fazer
um pedido. Fechei meus olhos e quando fui assoprar a velinha. Pensei
no pedido. "Gostaria que o Chris voltasse e se tornasse real, e fosse
meu namorado".
Abri os olhos, assoprei a vela e no mesmo instante, todas as
luzes se apagaram e dois cometas cruzarem o céu, pois de onde eu
estava dava para ver. Foi então que percebi que as luzes da cidade
estava todas apagadas, e meus convidados começaram a ficar
assustados, mas como passe de mágica todas as luzes se acenderam
novamente, a música que tinha parado voltou a tocar, e todos se
acalmaram.
Só eu não entendi o que tinha acontecido, pois no exato
momento em que fiz o pedido e apaguei as velas, vi dois cometas e as
luzes de toda a cidade se apagaram e a música parou, tudo aconteceu no
mesmo instante. Olhei em meu celular para conferir as horas e tudo
aconteceu exatamente à meia noite. Nunca tinha visto nada disso e
muito menos ouvi falar sobre esse fenômeno.
— Filha o que foi isso? — Perguntou minha mãe assustada com
o que presenciou aqui.
— Bem, fica calma! Foi só um apagão, isso às vezes acontece sem
explicação. — Meu pai falou abraçando ela, tentando acalma-la.
— Foi sim, apenas um apagão. — Afirmei para ela que me
olhava. Acho que eu fui a única que vi os cometas, pois não falaram
nado sobre isso.
Olhei para a entrada da tenda e vi aquela mulher usando a
mesma roupa, olhando na minha direção. Pedi licença para os meus
pais, pois o garçom iria cortar o bolo e fui atrás da mulher, que ao
perceber que eu a vi, novamente saiu correndo, e pulou o muro do
fundo. Voltei para festa e de repente senti alguém tocar em meu braço,
e me virei na hora para ver quem era, e dei de cara com um rapaz lindo,
de olhos azuis como do Chris, mas não era ele, já que era mais alto, e
mais velho que eu.
— Oi! Gostaria de dançar comigo? Eu sou Christiano, mas pode
me chamar de Chris, você é Lizy a aniversariante. Parabéns sua festa
está linda. Vamos dançar?
— Obrigada, fico feliz que tenha gostado da festa, mas você não
me é estranho. Eu aceito dançar sim. — Então ele pegou em minha mão,
e me guiou para pista de dança.
Fiquei surpresa com seu nome Christiano, “Chris” é muita
coincidência, eu fiz um pedido, e agora me aparece alguém com o nome
parecido com o do meu amigo imaginário, e os mesmos olhos azuis.
Esse Chris era lindo também, com a barba baixinha, pele clara, e vestia
uma roupa toda preta, que destacava a cor dos seus olhos.
— Posso saber o que está pensando? — Perguntou Chris,
enquanto dançávamos uma música lenta bem agarradinhos, que fez
meu coração acelerar com seu corpo junto ao meu.
— Nada de mais, só estava tentando lembrar se já te vi por aqui,
pois não é estranho para mim. Me diz uma coisa, de onde me conhece? E
quem te convidou para minha festa? — Perguntei olhando nos seus
olhos, mas sem perceber estava olhando para sua boca, que era rosada e
linda, e quando percebi o que nós dois iríamos fazer “nos beijar” afastei
meu rosto do dele, e falei:
— Você não me respondeu o que te perguntei. De onde me
conhece? E quem te convidou? — Perguntei novamente, e com uma
sensação estranha na boca do estomago, pois quase nos beijamos.
— Lizy, te achei, estava te procurando. Posso saber quem é esse
seu amigo filha? — Minha mãe apareceu de repente, nos fazendo parar
de dançar.
— Mãe esse é meu amigo Christiano, essa é minha mãe Eduarda.
— Muito prazer dona Eduarda, mas pode me chamar de Chris. —
Quando Chris a cumprimentou dizendo seu apelido, minha mãe me
olhou na hora, como se estivesse confusa. Talvez pensou no meu amigo
imaginário, pois era muita coincidência o mesmo apelido.
— O prazer é meu, espero que esteja aproveitando a festa.
— Sim, estou sim, é uma linda festa.
— Que bom que está gostando. Filha alguns convidados estão
indo embora, vou lá me despedir deles, e digo que está ocupada com os
outros convidados. — Falou minha mãe, se despendido do Chris e foi
direto para a entrada da tenda, se despedir dos convidados.
— Lizy, eu também preciso ir, mas posso te ver amanhã?
— Claro que pode... — Ele nem me deixou terminar de falar,
colocou a mão em minha nuca e me beijou.
Meu Deus... que beijo foi esse, fiquei nas nuvens, como se aquele
lugar não tivesse ninguém, apenas nós dois. Meu corpo estava todo
arrepiado, meu coração acelerado, e minhas pernas estavam bambas,
fora o frio na barriga que me deu.
“Que beijo!”
Forte e suave ao mesmo tempo, e que parecia não ter fim, pois
eu queria mais, e mais…, mas ele se afastou me dando um selinho
dizendo que iríamos nos ver no outro dia, e sem eu conseguir dizer uma
só palavra, pois eu parecia uma estátua, não tive reação, o beijo havia
sido maravilhoso. Fiquei ali, parada, apenas o olhando partir. Quando já
estava no meio do caminho, olhou para trás e ao encontrar meus olhos,
acenou para mim. Logo em seguida, saiu pela tenda até sumir da minha
vista.
Apesar desse episódio estranho que aconteceu dos cometas. A
festa foi um sucesso, e ter dançado com esse rapaz misterioso, foi o
melhor da noite, nem sei se iria dormir direito depois daquele beijo.
Só sei que estava tudo lindo e muito gostoso. Essa festa ia ser
inesquecível para mim. Até Malu e Peter pegaram meu celular, dizendo
que me ligavam para combinar de sair, se despediram e foram embora.
Na verdade, todos foram embora, só os empregados limpavam a
bagunça que ficou. Ganhei muitos presentes, que meu pai e minha mãe
estavam levando para dentro da casa.
Estava tão cansada que nem quis abrir os presentes. Tudo que
eu queria era tomar um banho e ir dormir. Pedi licença para os meus
pais, dizendo que eu estava cansada e dei boa noite a eles. Eles
entenderam e me desejaram boa noite, e fui direto para o meu quarto.
Depois do banho tomado, fui me deitar e mais uma vez fiquei
triste, pois nem sinal do meu amigo imaginário, mas ao mesmo tempo
feliz pelo beijo maravilhoso que recebi do Christiano. Ele parece ser um
cara legal, e o melhor, é real, e acho que gosta de mim, e isso encheu
meu coração de alegria, já que eu sentia que não iria mais ficar tão
sozinha, como sempre fiquei. E pensando nos dois Chris acabei
adormecendo.
Acordei animada, e muito feliz, sim, eu me sentia feliz, alguma
coisa naquele beijo fez mudar algo dentro de mim, e eu me sentia muito
bem. Então me levantei olhando no relógio, e vi que eu tinha dormido
muito, pois já era dez horas da manhã, mas era domingo, que mal tinha
em dormir um pouco mais? Pelo menos eu descansei, já que fui dormir
mais de duas horas da madrugada.
Abri meus presentes, e ganhei muitas roupas, ursos de pelúcias
e perfumes, guardei tudo, e depois fui para o banheiro e tomei um
banho bem relaxante, sem pressa nenhuma, depois coloquei um
vestido longo e fresco, já que hoje o dia iria ser mais quente, pois o sol já
estava regalado lá no céu, e não era sempre assim. Depois de pronta
desci toda animada para tomar café, mas fui pega de surpresa, visto que
Christiano, tomava café com meus pais, e a conversa pelo visto estava
bem animada. Quando Chris me viu parada na porta da cozinha, ele
levantou da cadeira e veio ao meu encontro, se aproximando de mim
me deu um selinho na boca, e falou:
— Bom dia meu anjo, vem vamos tomar café. — Ele me puxou
pela mão me deixando confusa.
— Posso saber o que faz aqui? — Perguntei muito confusa, não
estava entendendo nada. Tinha algo de estranho acontecendo.
— Filha, fui buscar pão na padaria, e encontrei seu amigo
tomando café, e o convidei para tomar café com a gente, pois já estamos
sabendo que ele é nosso novo vizinho, mora na casa ao lado. Só não
entendo uma coisa filha, por que escondeu que tinha um namorado? E
que iria ser nosso vizinho. — Perguntou minha mãe ao me ver sentar.
— O que? Do que vocês estão falando? Vocês estão ficando
loucos? — questionei incrédula.
— Meu anjo, não precisa esconder mais, conversei com eles, e
eles aprovaram nosso namoro, não precisa ter mais medo. — Chris
falou acariciado minha mão, mas eu realmente não estava entendendo
nada, eu não tenho um namorado, nunca tive.
— Do que você está falando Christiano? – Perguntei confusa. Eu
me lembro do meu pedido, mas pedi que meu Chris voltasse e fosse
meu namorado, e não esse tal Christiano. Ele pode até ser lindo, e beijar
muito bem, mais não sei quem é ele, e sei que não é meu amigo
imaginário.
— Filha tudo bem, quando quiser falar sobre isso, você pode
ficar à vontade para falar ta. Agora entendo porque sempre falava com
o Chris, você deveria estar falando pelo celular, porém, toda vez que a
gente aparecia, você disfarçava e pensávamos que falava sozinha.
Quando quiser falar sobre isso, estaremos aqui para te ouvir. Agora
toma seu café. — Falou meu pai ao me ver sem graça, na verdade, era
confusa, achei mesmo melhor não tocar mais no assunto.
Tomei meu café em silencio, diferente deles, que conversavam
animados, e feliz em saber que sua filha tinha um namorado bacana,
pois é o que eles deveriam estar pensando a respeito desse tal Chris.
Terminamos de tomar café, meu pai e minha mãe se retiraram
dizendo que iriam para o jardim regar as flores como faziam em todas
as manhãs quando estavam em casa. Só eu e o Chris continuamos ali,
mas dona Holanda já retirava as coisas da mesa.
— Podemos conversar em outro lugar Christiano? — Perguntei
olhando para ele, que estava segurando minha mão, e olhava admirado
para elas.
— Claro meu anjo, podemos dar uma volta na cidade, ou se
quiser um lugar mais reservado, podemos ir para minha casa.
— Vamos caminhar, o que acha? — Falei me levantando.
— Por mim, tudo bem.
— Então, vou me trocar e colocar uma roupa mais confortável,
para caminhar.
— Tudo bem, te espero aqui.
Sai da cozinha e fui direto para o quarto, coloquei uma calça de
colton preta, e uma bata rosa que tinha um desenho de gato na frente,
um tênis no pé, fiz um rabo de cavalo, e desci.
— Vamos, estou pronta. — Falei ao entrar na cozinha.
— E está linda, meu anjo. — disse pegando em minha mão e
juntos saímos.
Passei no jardim para avisar meus pais que estava indo
caminhar, e eles ficaram com sorriso no rosto, pois nunca me viram
saindo de casa sem eles, ou com amigos, mas ao me afastar da casa dos
meus pais, eu soltei a mão dele na hora.
— Agora para com todo esse fingimento, e me diz quem é você?
E por que tá mentindo para os meus pais? — Falei muito irritada.
Estava puta da vida com esse rapaz. Quem ele pensava que era para
mentir assim?
— Meu anjo por que está tão irritada? você sabe que não
mentiria para ninguém. — Chris me olhou assustado com minha
reação. Ele parecia tão sincero, ou era um ator disfarçado. Não havia
outra explicação.
— Não sou seu anjo, eu não te conheço. Por que tá fazendo isso?
— Meu anjo, você está bem? Vamos sentar um pouco naquele
banco para conversar. — Ele falou me puxando pela mão, me levando
em direção a uma árvore grande, que embaixo dela tinha um banco de
madeira.
— Lizy, eu não entendo o que está acontecendo com você. – Ele
falou ao sentar comigo.
— Como assim? Você não entende. Agora fiquei mais confusa, o
que quer dizer com isso?
— Posso saber qual foi seu pedido na hora que assoprou a vela?
— Claro que não, por que eu te contaria, se não te conheço.
— Por que foi eu quem sussurrou no seu ouvido “faça um
pedido”, então acho que mereço saber qual foi. — Falou ele me olhando.
— Isso não é possível, eu não vi você perto de mim. Mas tudo
bem, pedi para que o meu amigo imaginário voltasse e se tornasse real,
e fosse meu namorado. — Porque Diabos contei isso a ele.
— Foi o que pensei, por isso estou aqui, e sou seu namorado. Eu
voltei meu anjo. Não sei como, só sei que tenho uma casa, um carro, e
moro sozinho do lado da sua casa, e fui a sua festa ontem. Acredite Lizy,
sou seu amigo imaginário.
— Não, não é, meu amigo não parece um homem feito, e sim um
moço. Ele não tinha barba, e não se vestia como você, e o cabelo ta bem
diferente do dele. Acha que eu não reconheceria meu amigo, e você é
um pouco mais alto. – Falei decepcionada com ele. Porque ele insistia
em mentir para mim? O que ele ganharia com isso?
— Lizy, você me imaginava exatamente como disse, mas na
verdade, eu sou assim. Sou eu anjo, e tenho vinte dois anos, sou um
homem agora, você me via como um garoto de dezesseis anos, mas nós
crescemos. Não sei como, mais cresci também. – Ele falou passando sua
mão em meu rosto.
— Não, você não é o meu amigo. — Falei tão triste, e num
impulso sai correndo, mais ouvi quando ele chamou por mim.
Corri sem olhar para trás, já que eu não conseguia acreditar que
meu Chris estava tão diferente do que eu imaginava. Por isso não
acreditava que fosse ele mesmo. Eu sei que fiz um pedido, e não
acreditava que pudesse ter se realizado.
— Lizy o que foi? por que está chorando? — Perguntou minha
mãe ao me ver entrar correndo pelo portão, mas nem respondi e fui
direto para o meu quarto.
Por que isso estava acontecendo comigo? Então fechei a porta
do quarto com a chave, andei de um lado para o outro chamando por
meu amigo. Chamei muitas vezes, até parecia uma louca, mas foi em
vão ele não apareceu.
— Lizy, por favor me deixe entrar, vamos conversar. — Falava o
Christiano batendo em minha porta.
— Por favor me deixa sozinha, não quero falar com ninguém.
— Mas filha o almoço está pronto, e o Chris vai almoçar conosco.
— Falou minha mãe, que pelo visto estava junto com ele.
— Mãe não estou com fome, preciso descansar, me sinto
cansada.
— Tudo bem, dona Eduarda, eu vou para casa, deixa ela
descansar um pouco, mais tarde eu volto. — Ouvi Christiano falando
com minha mãe.
— Me desculpe Chris, ela às vezes é assim.
— Não se desculpe, isso não muda o que sinto por ela. — Logo
depois não ouvi mais nada, apenas ouvia meu coração pulsar acelerado,
só de pensar naquele beijo.
Fiquei horas naquele quarto tentando entender o que estava
acontecendo, mas de repente senti um aperto na boca do estômago, eu
estava com fome, então desci, e pelo cheiro do café, já era hora do café
da tarde.
— Filha que bom que desceu, eu já estava ficando preocupada. —
Falou minha mãe ao me ver entrar na cozinha.
— Não precisa se preocupar, eu estou bem. — Falei me sentando.
— Se está bem, por que não quis almoçar conosco?
— Porque eu não estava com fome, mas agora estou pai. — Falei
pegando um pedaço de pão feito em casa, e passei geleia de uva, e comi,
pois, estava faminta.
— Por que não quis falar com o Chris? Ele saiu tão triste daqui,
disse que voltava, mas até agora nada. — Perguntou minha mãe.
— Por nada não, apenas tivemos nossa primeira briga, e eu
precisava ficar sozinha.
— Foi por que ele nos contou que estão namorando, por isso
brigaram, você não queria que ele contasse, pois queria ter nos contado.
— Mãe, esquece isso ta. Não tem nada a ver com vocês. —
Quando terminei de falar meu celular tocou, peguei ele do meu bolso, e
vi no visor que era o Peter. Atendi saindo da mesa.
— Alo
— Oi Lizy, tudo bem com você?
— Tudo sim, Peter.
— Que bom, estou te ligando para te convidar para sair, o que
acha de irmos tomar sorvete? Ou ir ao cinema, tem uma sessão agora as
quatro horas, ainda dá tempo, pois falta meia hora para começar o
filme, se eu não me engano está passado Lights Out (Quando as luzes se
apagam) mais é terror. Você gosta?
— Prefiro sorvete, não curto muito filme de terror.
— Então, você topou sair comigo!
— Sim, não tenho nada para fazer mesmo, mas a Malu vai com a
gente?
— Não, essa hora ela deve estar com o namorado. Então fico feliz
que topou, te pego aí, em vinte minutos ta. Beijos até mais. — Ele nem
me deixou responder e já desligou. Eu jurava que Malu e Peter eram
namorados, já que estão sempre juntos na faculdade. Que estranho ele
me convidar para sair. No entanto, vai ser bom para eu me distrair um
pouco.
Guardei meu celular no bolso, e fui avisar meus pais que iria sair
para tomar sorvete com um amigo, e a primeira coisa que
perguntaram, se esse amigo era o Chris, falei que não era, que era um
amigo de faculdade, e sem esperar por outra pergunta, subi correndo
para o meu quarto e fui me trocar. Vesti um jeans como sempre, e uma
bata preta de capuz de manga curta, coloquei um tênis no pé, soltei meu
cabelo que estava preso, passei um brilho labial em meus lábios, e desci.
Quando fui me despedi dos meus pais a campainha tocou.
Sei que não era com ele que eu queria estar, mas meu amigo
desapareceu sem sinal de voltar, me deixando sozinha e triste, e eu
precisava sair para esquecer ele. Pois sinceramente, não acredito que o
Christiano, seja mesmo meu Christian.
Então quando abri a porta, lá estava meu amigo Peter me
esperando encostado em seu carro.
— Oi Lizy, você está linda. — Falou me cumprimentando com
um beijinho no rosto.
— Obrigada. — agradeci sem graça entrando no carro dele, mas
ao entrar notei que o tal Chris tinha acabado de sair da sua casa, e ao me
ver entrar no carro, ficou feito estátua me olhando.
— Lizy, você tem preferência por alguma sorveteria?
— Não Peter, pode ser qualquer uma. — Falei olhando pelo o
retrovisor, vendo que esse tal Chris não saiu do lugar, enquanto eu
partia. Sei que ele não é meu Chris, porém algo nesse Christiano mexe
muito com meus sentimentos, e isso para mim, é muito estranho.
— Vou te levar em uma que costumo ir, tenho certeza que vai
gostar. — disse me tirando dos meus pensamentos, e pegando um
caminho diferente. Pelo visto a sorveteria não era no centro, então
fiquei ali observando o movimento da cidade, e pensando.
“Será que o Chris estava indo falar comigo? Pela cara que fez, estou
achando que sim, mas nem sei se quero falar com ele, se bem, que seria bom
esclarecer para ele que eu não sou boba, só não entendo o porquê inventou
essas coisas.”
— Chegamos! — Afirmou Peter ao estacionar o carro, e pelo
visto a sorveteria ficava perto da nossa faculdade, mas o lugar não
estava movimentado, como em dias de aula, mas também era domingo,
o dia mais morto da semana.
— Legal, conheço essa sorveteria, já estive aqui algumas vezes.
— Falei ao sair do carro.
— Gosto daqui por ser um lugar tranquilo de fim de semana.
— Sim, aqui é tranquilo mesmo, dá para ficar mais à vontade, e
nunca está lotado. — Falei ao me sentar em uma mesinha junto com
ele, e logo em seguida uma garçonete nos trouxe o cardápio. Eu escolhi
um Fondue no copo de frutas vermelhas, e ele de chocolate. E a
garçonete depois de anotar o pedido, saiu em seguida.
— Lizy, preciso te contar uma coisa.
— Pode falar Peter, estou te ouvindo.
— Mas não sei como começar.
— Aconteceu alguma coisa com a Malu?
— Não Lizy, não tem nada a ver com ela.
— Então fala logo.
— Lizy já faz um tempo que quero te convidar para sair, mas
você nunca se quer falou comigo na faculdade, e toda a vez que eu
tentava me aproximar, você se afastava, só criei coragem agora, por que
sua mãe me convidou para sua festa, e lá pela primeira vez nos falamos,
e eu gostei muito. Você não saia da minha cabeça, por isso precisei te
ver hoje. — Confessou pegando em minha mão.
— O que? Você está querendo dizer que é afim de mim? Foi isso
mesmo que entendi? — Falei tirando minha mão e assim que tirei nosso
pedido chegou, e eu me deliciei.
— É isso mesmo que entendeu. — Confirmou me olhando, e
saboreando seu fondue de chocolate.
— Não sei nem o que dizer, eu não esperava por isso. — Eu
realmente nunca percebi nenhuma aproximação dele na faculdade, já
que eu estava sempre lendo um livro, ou sempre saindo correndo para
ir embora. Nunca notei mesmo.
— Só me diz se tenho uma chance. — Quando ele terminou de
falar, vi aquele vulto do lado de fora da sorveteria, e num impulso e sem
pensar, apenas falei:
— Já volto Peter. — E sem deixar ele falar, me levantei e sai
correndo para fora, mas quando o vulto percebeu, saiu correndo, e eu
fui atrás.
Ela desceu uma rua, tentando fugir de mim, mas eu não iria
desistir de descobrir quem era esse vulto, pois sempre me perseguia.
Continuei correndo atrás, até que de repente um carro cercou minha
frente deixando o vulto fugir. Fiquei puta da vida com a chance que
perdi, então resolvi voltar para a sorveteria, apesar de ter corrido
muito, não estava muito longe de lá.
Cansada, e com o coração a celerado de tanto correr, fui
caminhando, mas quando cheguei em uma esquina, alguém por trás de
mim tampou minha boca com a mão me fazendo levar um susto, e
comecei a espernear.
— Calma, e não precisa gritar meu anjo. — Ouvi a voz do Chris
sussurrando em meu ouvido, e ele tirou a mão da minha boca.
— CHRIS, é você? — perguntei ao me virar para ele, mas não era
o meu Chris e sim Christiano. — O que quer aqui? E por que me
assustou? — Falei irritada. Estava puta da vida com ele, pois levei um
susto danado. Pensei que fosse um bandido.
— Desculpe, eu não tive a intenção de assustar, eu só queria
falar com você, e achei que assim iria ter sua atenção, já que está
fugindo de mim. — explicou arrependido.
— Não estou fugindo de ninguém, eu só não quero falar sobre
isso, não agora, eu já te falei. Me dá um tempo, por favor. — Falei
confusa com tudo que estava acontecendo. Nunca acreditei que
pedidos pudessem se realizar, então devia ser alguém brincando com
meus sentimentos. Só podia, não havia outra explicação para isso.
— Tudo bem, darei o tempo que precisar, só não sei se tenho
tempo para isso. Pode ser que você não consiga pegar outro vagalume,
pense nisso. — Ele falou indo embora, me tirando dos meus
pensamentos.
— O que você quis dizer com isso? Vagalumes, o que isso? —
Perguntei gritando, mas ele não respondeu, e entrou num carro linear
preto, e ligando o carro foi embora cantando pneu.
Voltei para a sorveteria, pensando no que seria esse vagalume,
deve ser alguma coisa que não estou entendendo. Será que ele ta
querendo me dizer algo? Mais o que?
— LIZY... o que aconteceu? Por que saiu correndo, e sumiu? —
Perguntou o Peter se aproximando de mim.
— Me desculpe Peter, sou meio impulsiva, faço as coisas sem
pensar, por isso todo mundo me acha estranha, mas deixa pra lá, você
não iria entender minha cabeça.
–— Nunca te achei estranha, sempre achei que esse é seu jeito de
ser. Se quiser conversar sobre o que aconteceu, pode contar comigo. —
Falou todo atencioso.
— Obrigada pelo convite, mas eu gostaria de ir para casa, não
quero falar sobre isso.
— Tudo bem, eu já paguei a conta, te levo para casa, mas
podemos sair outras vezes? Posso te ver novamente? — questionou ao
entramos no carro.
— Não sei te responder, pois eu nem sei se posso mesmo sair
com você, não tenho certeza de nada, mas podemos ser amigos.
— Tudo bem, ser amigos já é um bom começo. — disse ao
estacionar o carro na frente da minha casa, mas quando fui agradecer
lhe dando um beijo no rosto, ele segurou minha nuca e beijou minha
boca.
Tentei sair dele, mas foi em vão, ele segurava forte minha
cabeça, mesmo assim continuei tentado fugir do seu beijo que parecia
que iria me devorar, quando de repente senti ele ser puxado para fora
do carro, e no mesmo instante eu desci para ver o que estava
acontecendo.
— É para isso Lizy que você quer um tempo, para beijar outro.
— Falava o Chris segurando Peter pelo braço.
— Quem é esse cara Lizy? — Perguntou Peter assustado.
— Sou o namorado dela.
— Isso é sério Lizy, você tem namorado?
— Tanto faz, só me deixem em paz. — Falei saindo dali correndo
deixando os dois feitos bobos, mas ouvi quando o Chris botou o Peter
para correr.
Até que gostei, pois ele merecia um esfrega. E eu não tenho que
dar satisfação para nenhum dos dois, por isso entrei e fui direto para
meu quarto. Meus pais ao me verem entrar, tentaram falar comigo, mas
apenas falei que precisava tomar um banho e descansar.
Estava tão nervosa com tudo isso que aconteceu, que aquela
tristeza bateu novamente, e tudo o que fiz foi chorar. Por que coisas
estranhas sempre acontecem comigo? Essa mulher que me persegue,
esse tal de Chris, agora o Peter, e esse negócio de eu não conseguir pegar
vagalumes. O que o Chris quis dizer com isso? ‘’Pensa Lizy, pensa...você
não é burra, isso deve significar algo.’’ — Falava para mim mesma em
voz alta.
Foi então que me lembrei, uma vez tive que fingir estar pegando
vagalumes, que acabei pegando de verdade, pois estava com meu amigo
imaginário, e minha mãe não podia saber, pois poderia pensar que eu
estava ficando louca, por isso peguei um vagalume.
Ai MEU DEUS, ou minha mãe contou isso para o Christiano, ou
realmente meu pedido se realizou, e o Christiano é mesmo o meu Chris.
Só havia uma maneira de descobrir a verdade, iria perguntar
para minha mãe se ela tinha contado sobre o vagalume para ele, e se ela
realmente não tivesse contado, iria procura-lo para saber se ele sabe
mais alguma coisa que só eu e o Chris saberíamos sobre nós.
— Lizy, está tudo bem com você? Disse que ia tomar banho e
descansar um pouco, mas já escureceu e a janta ta pronta, e você não
saiu desse quarto. — Gritou minha mãe da porta do meu quarto.
Realmente não havia visto a hora passar, e nem notei que tinha
escurecido.
— Mãe estou bem sim. — Respondi abrindo a porta.
Fomos para a cozinha, sentamos a mesa, onde meu pai nos
esperava. Dona Holanda já estava colocando a janta na mesa, e eu
estava com muita fome. Comemos em silêncio, mas não aguentando a
curiosidade, minha mãe o quebrou perguntando o que tinha acontecido
no meu passeio.
— Não quero falar sobre isso, mas quero te perguntar uma
coisa. — Falei terminando de comer. Estava louca para perguntar sobre
o vagalume.
— Pode perguntar filha, o que quer saber?
— Mãe, lembra daquela noite em que a senhora me pegou
falando com os vagalumes, e achou que eu falava sozinha?
— Foi há muito tempo, mas eu me lembro sim. Por que quer
saber se eu me lembro? — Perguntou ela ajudando dona Holanda a tirar
as coisas da mesa.
— Na verdade, quero saber se contou isso para o Christiano?
— Claro que não, nem para seu pai eu contei, já que não vi
necessidade de contar, então porque eu contaria para o Chris? Se eu
conheci ele há pouco tempo.
— Já que não contou, vocês se importam de deixar o filme para
outra noite? Preciso falar com o Chris.
— Tudo bem filha, assistimos amanhã, aproveita e já convida
ele para assistir conosco, tá? — Falou meu pai indo para sala.
— Obrigada pai, por entender. — Gritei, pois ele já estava na
sala.
— Só não volta tarde para casa, mesmo que ele more do lado,
você sabe que é perigoso.
— Pode deixar mãe, não voltarei tarde. — Falei indo para meu
quarto. Fui direto para o banheiro fazer minha higiene, depois passei
um brilho labial, e desci avisando meus pais que já estava saindo.
Chegando em sua casa, mais que depressa toquei a campainha,
pois estava ansiosa para descobrir se ele era mesmo o meu amigo.
Demorou um pouco, até que a porta se abriu, e levei um susto ao notar
que Chris deveria estar no banho quando toquei a campainha, porque
abriu a porta enrolado na toalha. Fiquei de boca aberta diante de tanta
beleza.
— Desculpe te receber assim, só de toalha, é que quando tocou a
campainha eu estava saindo do chuveiro, e imaginei que fosse você,
então para que não fosse embora pensando que eu não estava em casa,
apenas me enrolei para atender a porta. Mas entre e fique à vontade, só
vou no quarto me trocar, e já volto. — Falou me mostrando a sala, e saiu
às pressas para se trocar.
Mas tinha que confessar uma coisa, se ele era mesmo meu
amigo, que homem lindo ele havia se tornado. Bom, pelo visto ele não
percebeu, mas quando abriu a porta só de toalha, a única reação que
tive, foi meu corpo se arrepiando todinho, e me deu uma tremedeira
forte nas pernas, cheguei a esconder minhas mãos para ele não
perceber. Chris estava lindo demais.
— Um doce pelos seus pensamentos. — Falou Christiano
aparecendo de repente na sala, me deixando de boca aberta, pois ele
ajeitava seu cabelo molhado com as mãos, vestia uma calça de moletom
preta, uma regata branca e chinelo nos pés. Ele estava bem à vontade, e
lindo, muito lindo mesmo, um verdadeiro deus grego.
— Não estava pensando, só estava observado sua casa, já que é
muito linda por dentro. — Sorri muito sem graça com os pensamentos
que estavam em minha cabeça.
— Me pareceu que estava pensando, pois nem me notou entrar
na sala, mas deixa “pra” lá. Você quer beber alguma coisa? Água,
refrigerante, suco. — Perguntou ele me olhando.
— Não obrigada, eu só vim para conversar com você.
— Eu imaginei que viria falar comigo, depois do que te falei, só
não esperava hoje. — Chris sentou do meu lado no sofá, e seu cheiro
delicioso amadeirado me deixou toda arrepiada.
— Você está ocupado, quer que eu volte outro dia, ou amanhã?
— Não, claro que não, podemos conversar hoje mesmo, não
estou ocupado, só estou esperando o entregador de pizza chegar, será
minha janta de hoje, já que não sei fazer muita coisa. Mas então, sobre o
que quer conversar? — indagou um pouco ansioso.
— Sobre o que você me disse hoje. Quem te contou sobre o
vagalume?
— Ninguém me contou, eu estava lá naquela noite. —
Respondeu me olhando com muita ternura.
— Eu não acredito, alguém deve ter te contado.
— Por que não? Eu nunca mentiria para você, ninguém me
contou nada, como não contou do dia que peguei seu diário, e você foi
atrás de mim e caímos no chão, você ficou muito sem graça. Como
também não me contaram do nosso primeiro beijo, você olhava pela
janela, e quando me viu aproximando se afastou de mim, e eu
percebendo me aproximei novamente e a beijei. Você ficou tão
assustada que me mandou embora, e eu fui. Voltei naquela noite do
vagalume, e tínhamos nos beijado novamente e ninguém me contou do
dia que fomos tomar sorvete e no cinema, todos pensaram que você era
louca. Ninguém me contou nada disso. Eu sou o Christian, seu amigo
imaginário, mas agora me chamo Christiano, não sei porquê. Na
verdade, não sei como me tornei real. — Quando terminei de ouvi, não
controlei meu choro, pois eu estava assustada e confusa.
Chris era uma pessoa imaginária, eu o criei. Como poderia estar
bem ali, em minha frente? Me lembrava de ele ser apenas um garoto de
dezesseis anos, não um homem feito e lindo, muito lindo. Acho que
somente isso permaneceu igual. Sua beleza.
— Lizy, você está bem? Não fique assim, eu também não
entendo o porquê estou aqui, mas estou. — Passou sua mão em meu
rosto, tentando me acalmar, mas eu já tinha parado de chorar.
— Mas como você está aqui? E essa casa, seu carro, seu trabalho.
De onde veio tudo isso? Será que não é fantasia da minha cabeça? —
Perguntei me levantado.
— Anjo, olha para mim, como você, eu também queria saber
como isso tudo é possível, a única coisa que sei, é que tenho uma vida,
me tornei real, mais não sei dizer de onde veio; a casa, o carro, meu
emprego. Assim como você, não sei de nada, mas sinto que isso não vai
durar para sempre. — Aproximar-se de mim, e levantou meu queixo
para que eu o olhasse e percebi que ele estava sendo sincero.
— Chris, por que sumiu todos esses anos? Senti sua falta. — Falei
o abraçando, que na mesma hora retribuiu com um abraço carinhoso.
Senti tanta falta desse abraço.
— Eu não sumi Lizy! Sempre estive aqui com você, pois foi você
que me criou, mas por algum motivo que eu não entendo, você não me
via. Sempre pensava em mim, mas parecia que não acreditava que eu
existia para você, então não conseguia me ver. Talvez porque queria ser
uma garota normal, então não acreditava mais em mim. Tinha medo
do que os outros iriam pensar ao seu respeito se te vissem falando
sozinha. Diferente de quando éramos mais novos, quando não se
importava com as pessoas dizendo que era esquisita. Agora que cresceu
se importa, por isso sumi da sua vida. Mas vou confessar uma coisa
anjo, senti muito sua falta, dos nossos beijos, dos momentos juntos. Eu
nunca esqueci. — Falou me fazendo sentar novamente com ele do meu
lado, e com muito carinho segurava minha mão.
— Isso é verdade Chris, me importo com o que pensam sobre
mim, por isso tentei ser uma pessoa normal. Talvez seja isso que nos
afastou, mas eu sofri muito, já que eu sentia sua falta. Na época que
éramos inseparáveis, eu não tinha mais aqueles pesadelos. Depois que
você sumiu tenho sonhado todas as noites, e sempre sonho com a
mesma coisa, e isso está me fazendo tão mal, meus pais não sabem, não
contei para eles, você é o único que confio.
— Você ainda sonha com aquelas pessoas perseguindo uma
mulher com um bebê no colo, que o bebê, você tem certeza que é você, e
a mulher sua mãe, que é assassinada brutalmente depois que você
nasceu, e quando ela te deixa, você sempre acordava chorando. Ainda
sonha a mesma coisa, ou tem algo diferente nos seus sonhos?
— Ainda sonho a mesma coisa, só que agora você aparece em
meus pesadelos, tentando sempre me dizer algo, mas sempre acordo
antes de você falar.
— Meu anjo, você já parou para pensar que talvez esses sonhos
sejam lembranças do passado, se misturando com o presente, já que eu
apareço agora neles. — Chris tirou uma mecha do meu cabelo, que
teimava em cair no meu rosto.
— Será? Nunca tinha pensado dessa maneira. Talvez seja
verdade, mesmo que eu era bebê, o subconsciente grava tudo. —
Quando terminei de falar a campainha tocou, devia ser a pizza que ele
pediu.
— Lizy também acredito nisso, no nosso subconsciente. Só um
minuto vou atender a porta. — disse se levantando, e foi até a mesma,
não demorou muito e ele voltou com a pizza nas mãos.
— Janta comigo Lizy?
— Não obrigada, eu já jantei.
— Então me faça companhia, e vamos assistir a um filme.
— Tudo bem, só vou ligar para os meus pais? Para avisar que
vou chegar tarde. — Falei pegando meu celular, e liguei para minha
mãe avisando. Ela resmungou, pois não gostou de saber que vou ficar
aqui mais um pouco, já que o Chris mora sozinho. Mas disse a ela que eu
tinha juízo, visto que me educaram muito bem, então não tinham que
se preocupar, então ela não disse mais nada a respeito, dei boa noite e
desliguei.
— Já avisou? — Perguntou Chris ao me ver entrar na cozinha.
— Sim, avisei.
— Despois eu te acompanho até sua casa. — Falou ele comendo
sua pizza.
— Eu agradeço por me acompanhar, mas me diz uma coisa, você
disse que isso tudo não vai durar para sempre, por que diz isso? —
perguntei e sentei ao lado dele na mesa.
— Não sei, eu apenas sinto que uma hora volto a ser imaginário,
e não real. — Disse enquanto comei, minutos depois levantou-se e
guardou o resto da pizza no micro-ondas.
— E será que não tem uma maneira de você se tornar real para
sempre?
— Não sei Lizy, vou dar um pulo no banheiro e já volto ta. —
disse e saiu logo em seguida, mas não demorou para que voltasse com
um filme em mãos.
— Tenho um filme novo e romântico para gente assistir “ Amor
muito além” é um filme tirado de um livro que faz muito sucesso, a
autora é Tania Giovanelli, ela tem várias histórias que viraram filmes.
Espero que não tenha assistido esse ainda.
— Não assisti não, pelo nome e pela sinopse o filme deve ser
lindo.
— Que bom! espero que você goste. — disse colocando o filme,
em seguida sentou ao meu lado, e me puxou para mais perto dele
fazendo meu coração acelerar.
Apesar de não ter mais nenhuma dúvida de que ele realmente
era meu amigo Chris que estava ali comigo, eu me sentia assustada. Por
que isso estava acontecendo comigo? Como Chris se tornou real? Havia
tantas perguntas assombrando minha cabeça, perguntas que talvez
não tivessem respostas.
— Está gostando do filme? — Perguntou notando que eu estava
distante.
— Sim, estou gostando muito. Estou bem curiosa, e ansiosa para
ela descobrir toda a verdade. Quem será esse rapaz que ela se
apaixonou? Será mesmo que alguém sofreu um acidente com ela? Esse
filme é cheio de mistério, adoro! — Mostrei meu interesse pelo filme.
— Também estou louco para descobrir, eu desconfio, mas não
vou falar enquanto não tiver certeza.
— Ah poxa, você podia me contar de quem desconfia, né?
— Aí o filme perderia a graça. — Falou prestando atenção no
filme.
Minutos depois, estávamos os dois bobos muito emocionados
com o final do filme, ele não chorou, mas eu chorei muito. Que filme
mais lindo, que final surpreendente. Valeu apena assistir.
— Nossa, que filme, hein. Eu quase chorei. E a minha
desconfiança estava errada. — Disse me olhando.
— Eu chorei muito. — Confessei, peguei meu celular e conferi as
horas. — Chris está tarde preciso ir embora.
— Eu percebi minha linda, vamos que vou te levar. — Disse
Limpando uma lágrima que teimava em escorrer pelo meu rosto e
juntos levantamos do sofá, e nossos olhares se cruzaram novamente,
sem perceber estava olhando para seus lábios, e me lembrei do beijo
que ele meu deu no meu aniversário, no mesmo momento fiquei toda
arrepiada.
E ele percebendo, me beijou, deixando-me de pernas bambas. A
vontade que eu sentia, era de me entregar por completa para ele. Então,
com muita ousadia e coragem, tirei sua camiseta, e ele tirou minha bata
me deixando só de sutiã, me deitou sobre o sofá com muito carinho, e
começou a tirar minha calça. Eu estava totalmente entregue.
“Lizy não faça isso” Ouvi uma voz de mulher que me fez
assustar e me levantar na hora, fazendo Chris cair no chão.
— O que foi Lizy? Por que está tremendo? — Perguntou notando
como eu estava.
Não respondi, apenas me troquei correndo e disse a ele que
queria ir embora. Eu estava muito assustada, além da voz senti um
sopro em meu ouvido, e a sensação me causou arrepios.
Naquele momento, tudo o que eu queria era ir para casa.
— Vou te levar, mas por favor me diga o que está acontecendo?
Por que está tremendo tanto? Parece assustada. Lizy eu nunca faria
nada que você não queira, jamais iria te magoar. — disse tentando me
acalmar, após se levantar do chão.
— Chris, você não me fez nada, só acho que não estou pronta
para isso. — Como eu não podia dizer o motivo pelo qual estava
assustada, falei que não estava pronta para o que iria acontecer com a
gente naquele momento no sofá, e eu com certeza estava pronta para
isso. Mas aquela voz me assustou, foi então que achei melhor parar. Era
uma voz de mulher, e eu pude sentir sua presença, até poderia ser um
fantasma, no entanto não acredito que eles existam.
— Tudo bem meu anjo, eu sei esperar. Vamos, vou te levar, só
vou colocar essa blusa de moletom, visto que a temperatura mudou
bastante lá fora. — Falou ele todo cuidadoso comigo.
— Obrigada. — Agradeci vestindo a blusa.
Em seguida, saímos. Eu morava duas casas depois da dele. Não
era tão longe assim, mas no caminho para casa, enquanto ele falava de
como sentiu minha falta ouvi passos e barulhos de graveto estralar no
chão. Alguém estava nos seguindo. Então parei no meio do caminho, e
Chris estranhando parou de falar, e parou ao meu lado.
— O que foi meu anjo? Por que parou? — Perguntou ele
desconfiando de algo.
Por isso me virei para ele, sem pensar em nada, eu o beijei, e ele
sem entender respondeu ao beijo, e ainda o beijando abri meus olhos, e
vi por trás do Chris aquela mulher de capuz nos seguindo, mas agora
ela se escondia atrás de uma arvore grande. Sempre espiava para ver se
ainda estávamos parados nos beijando. Me afastei dos lábios dele, e
como se eu fosse lhe beijar as bochechas, falei baixinho:
— Estamos sendo seguidos pela aquela mulher. Não olhe para
trás, e vamos continuar andando.
— Tem certeza que é ela? — Perguntou ele preocupado.
— Tudo indica que sim, pois não dá para ver direito daqui. —
Falei pegando em sua mão, e voltamos a caminhar como se nada tivesse
nos seguindo.
— Então é melhor que a pessoa não perceba que sabemos sobre
ela estar nos seguindo. Talvez seja alguém perigoso. — Falou
preocupado.
— Tenho uma ideia! — exclamei ao pegar meu celular em mãos.
— Vou ligar para seu Chico, o motorista, e dizer que o portão está
fechado, assim, quando ele acender a luz e sair para abrir o portão, essa
pessoa que nos segue vai se assustar e ir embora. — falei olhando para
ele. — Acho melhor você dormir em minha casa, não sabemos do que
essa pessoa é capaz. Melhor não arriscar. — E se for uma pessoa
perigosa, não poderia deixar que Chris se arriscasse em ir embora
sozinho.
E sem esperar por uma resposta, disquei o número do seu Chico
e assim que ele atendeu falei nervosa;
— Seu Chico, me desculpe te acordar essa hora, é que tinha
alguém nos seguindo, e achei melhor ligar para o senhor, porque ligar
para os meus pais, não daria certo, eles iriam chamar a polícia, e não vi
necessidade para isso. Por isso te liguei. — falei desesperada e pedi
também para que fosse abrir o portão, pois o mesmo estava trancado.
Logo pudemos ver seu Chico aparecer com o celular em mãos e
caminhou em nossa direção, olhei sobre os ombros do Chris para a
direção do nosso perseguidor e ele havia se escondido atrás de uma
árvore.
— Nossa, senhorita, que perigo! Entre, entre. — Disse nos
apressando a entrar. — É mais de meia-noite, e essa hora na rua é
perigoso. Não precisa se desculpar, você fez bem em me ligar, seus pais
iriam te proibir de sair, além de chamarem a polícia. — Seu Chico falou
ao nos ver passar pelo portão, em seguida trancou o mesmo com a
chave e o cadeado.
— Seu Chico, espera, eu vou embora. — Falou Chris ao perceber
que seu Chico trancou o portão.
— Rapaz, de jeito nenhum vou te deixar sair agora. A casa é
grande e você pode ficar no quarto de hospede.
— Acho melhor ir, não quero incomodar vocês a essa hora da
noite.
— Chris, por favor, fique. Você não vai incomodar ninguém e
iria me deixar mais tranquila.
— Tudo bem, eu ficarei. — Respondeu sem graça.
— Lizy, fique tranquila amanhã avisarei seus pais que vocês te
um hospede. Bom, vou para meu quarto, boa noite para vocês. — Falou
seu Chico, indo para a casa da piscina, onde ele morava com Dona
Holanda, sua esposa. Eu e o Chris entramos em minha casa, e tranquei
bem a porta da sala, e acionei o alarme da propriedade.
— Eu não precisava dormir aqui, Lizy, porque posso me cuidar, e
moro perto. — Chris falou contrariado.
— Entenda, Chris, foi melhor você ficar, se tivesse ido, eu iria
ficar muito preocupada. Vem, vou te levar para o quarto de hospede. —
Subi as escadas junto dele.
— Tudo bem, meu anjo, eu entendo você, se fosse você que
quisesse ir embora, eu também iria ficar preocupado. Meu anjo tenha
bons sonhos, e não se esqueça, eu te amo. — Falou me dando um beijo
na boca, foi um beijo rápido, mas pude sentir todo carinho que vinha
daqueles lábios macios.
Desejei o mesmo a ele, e com um selinho, fui para o meu quarto,
mas com vontade de ficar ali com ele. Só que como eu não podia, fui me
trocar, fazer minha higiene e tentar dormir. Mas antes pelo vão da
janela, vi o vulto parado em frente minha casa. Foi melhor mesmo o
Chris ter ficado. Deitei em minha cama e com muita dificuldade acabei
pegando no sono.
“— Luna pega esse bebe e foge, faz o que a mamãe falou, deixa na
porta do orfanato. — Falava uma mulher toda cheia de sangue, acho que
tinha acabado de dar à luz no chão no meio de uma mata.
— Não mamãe, não vou te deixar sozinha.
— Vai Luna, corre filha, salva você e sua irmã, a mamãe sempre vai
amar vocês duas, agora vai. — A mulher gritou para a menina que se
parecia muito comigo.
E ela assustada com os gritos dos homens se aproximando, pegou o
bebê no colo e se enfiou pela mata a fora, correndo, chorando e
amedrontada pelo grito estridente que ouviu de sua mãe. Ela teve certeza
naquele momento que sua mãe tinha sido morta.
Continuou correndo sem olhar para trás. Até avistar uma luz bem
longe dali. Desesperada e assustada continuou correndo rumo àquela luz e
quando finalmente chegou, deu de cara com a rua da cidade, que àquela
hora da noite estava deserta. Ela continuou correndo, até chegar num
grande prédio que tinha o nome de orfanato Santíssima Trindade.
Cansada de tanto correr, ela se sentou na escadaria do prédio tentando
descansar e se acalmar.
— Luma, minha princesinha, você vai ficar aqui como a mamãe
queria, mas eu prometo irmãzinha que um dia venho te buscar. — Chorou
e abraçou o bebê com muito carinho.
— Luna vamos, coloca o bebê na porta e toca a campainha, você
não pode ficar aqui muito tempo, pois corre perigo. – Falou um garoto, mas
eu não via onde ele estava, era apenas uma voz.
— Já estou indo Igor! Só não queria fazer isso, mas preciso fazer. —
Levantou-se com o bebê enrolado e protegido por um cobertor grosso,
marrom e rosa, ela colocou-o no tapete em frete a porta, junto com uma
correntinha de medalhinha de um anjinho, ou menino, não sei bem o que
era, mas parecia um menino, o mesmo que ela usava no pescoço. E tocou a
campainha, e arrasada, chorando muito se escondeu. Logo em seguida a
porta foi aperta, e uma madre apareceu procurando quem tocou a
campainha. Então ela ouviu o choro do bebê, e quando foi pega-lo, eu vi
que era a Madri Helena que me criou no orfanato.”
Abri os olhos notando que tudo não havia passado de um sonho
maluco, minha respiração estava entre cortada e me faltava o ar. Pulei
da cama passando a mãe pelos cabelos e tentando me acalmar. Aquele
sonho havia sido tão real. Corri até o banheiro e joguei água em meu
rosto. Voltei para perto da cama e me sentei na mesma, observei pela
brecha da cortina que o dia já tinha amanhecido, mas meu coração
ainda saltava no peito, estava assustada com aquele sonho.
Precisava voltar ao orfanato e descobrir se fui deixada com
alguma correntinha, e se eles ainda tinham algo de quando a madre me
achou. Então me troquei e desci para tomar café. Meus pais já tinham
ido trabalhar.
— Bom dia senhorita. — Falou Dona Holanda ao me ver sentar à
mesa.
— Bom dia. — Respondi, cortando um pedaço de bolo.
— Nosso hóspede ainda não desceu? — questionou dona
Holanda.
— Vou lá ver se ele acordou. — Falei me levantando feito um
furacão que nem vi dona Celinha chegar na cozinha, e até trombei nela,
e pedindo desculpa subi.
— Chris, você tá acordado? — Falei batendo na porta.
— Pode entrar anjo. — Respondeu abrindo a porta, me deixando
de boca aberta, pois estava novamente só de calça de moletom e sem
camisa. Que homem, “Meu Deus”!
Quando entrei, ele me pegou pela cintura me puxando para
perto dele, me beijou, me deixando nas nuvens e novamente de pernas
bambas. Me afastei rapidamente depois do beijo delicioso, mostrando
que deveríamos ir com calma, já que eu estava quase me perdendo com
aquele beijo.
— Você trabalha hoje? — Perguntei quebrando aquele clima que
ficou entre nós depois do beijo.
— Não, hoje é minha folga. Porque você está pensando em fazer
algo?
— Sim, queria aproveitar minhas férias que logo vai acabar, e
fazer uma viagem, mas eu queria que você viesse comigo. Você topa?
— Lizy, eu só preciso falar com meu amigo, pois trabalhamos
juntos, ele tem uma empresa de segurança, na verdade somos sócios. Só
não me pergunte como isso é possível, pois a dois dias atrás eu nem
existia.
— Tá certo não vou perguntar, pois não vamos ter nenhuma
resposta mesmo. — Falei olhando para ele.
— Me dá um minuto. — disse pegando o celular, e ligou para seu
amigo, mas eu ouvi quando disse que iria ter que se ausentar por alguns
dias, e logo depois desligou.
— Anjo, ele disse que posso me ausentar por apenas três dias,
tenho que estar aqui até quinta, na sexta temos que treinar uma equipe
para uma grande festa que vai ter no sábado. — Afirmou sentando-se
ao meu lado na cama.
— Obrigada Chris, eu não queria viajar sozinha.
— Mas me diz, para onde vamos? — Perguntou animado com a
ideia de viajar.
— Bom, eu tive um sonho muito estranho com o orfanato, estou
pensando em ir até lá, podemos ficar num hotel.
— Que tipo de sonho anjo? — Então contei meu sonho, e ele
prestava muita atenção, parecia bastante interessado.
— Igor? que estranho, meu amigo tem esse nome. — Chris falou
parecendo confuso.
— Seu sócio se chama Igor? — Perguntei estranhando, era muita
coincidência.
— Sim, esse é o nome dele, mas nem sei como eu o conheço.
Engraçado, eu não sei nada da minha própria vida. Normal né, já que
nunca existi antes.
— Que estranho isso, Chris! Deve ser só coincidência, visto que
essas coisas acontecem. Vou conversar com meus pais quando eles
chegarem para almoçar, não sei o que vou dizer a eles, mas acho que
vou dizer a verdade, já que mentir nunca dá certo, por que mentir é
errado, e eles me ensinaram a dizer sempre a verdade, mesmo que a
verdade possa doer.
— Você ta certa anjo, faça o que for melhor.
— Sei que estou, vou fazer o que é certo. Agora vamos descer
para tomar café.
Então descemos e tomamos um café delicioso conversando
sobre a viagem, pois ele estava bastante animado. Logo depois do café,
ele foi para sua casa dizendo que iria fazer a mala, por que queria sair
ainda hoje. Já que a cidade de Gramado onde ficava o orfanato, não era
tão longe assim, era mais ou menos uma hora e meia de viagem.
Meus pais já estavam em casa, e foram tomar um banho para
almoçar, mas não demorou muito e eles já estavam sentados à mesa.
Estava ansiosa, e ao mesmo tempo com medo da reação deles, pois
nunca viajei sem eles, mas já era adulta e podia fazer isso sem eles.
— Lizy, por que tá revirando a comida? Está muito quieta e
pensativa. Você quer nos dizer alguma coisa? — Perguntou meu pai,
notando minha ansiedade, já que sempre faço isso com a comida
quando fico ansiosa, nervosa e pensativa.
— Eu preciso dizer uma coisa, quero que confie em mim, visto
que vocês me educaram muito bem. — Então contei a eles que eu iria
viajar com o Chris, porque eu precisava visitar o orfanato que fui
deixada.
Não falei nada sobre meu sonho, mas deixei claro que eu
precisava ir. Meus pais não gostaram da ideia de viajar sozinha com o
namorado, mas também não me proibiram, me pediram para dormir
no hotel em quartos separados. Me fizeram prometer isso a eles, e eu
prometi.
Meus pais eram protetores até demais, chegava a ser exagerado.
Ainda me pediram para ligar para eles assim que chegássemos ao hotel,
me pediram para ligar todos os dias, e eu mais uma vez prometi que
ligaria, dado que só assim ficariam tranquilos.
Terminamos o almoço e eles foram trabalhar me fazendo
prometer, que eu só iria viajar depois que eles chegassem do trabalho, e
eu prometi.
Fui para meu quarto arrumar a mala, passei quase a tarde toda
fazendo isso, já que eu não queria esquecer nada, verifiquei várias vezes
para ter certeza que estava levando tudo que eu precisaria para os três
dias. E graças a Deus estava tudo certo. Depois de tudo arrumado para a
viagem, peguei meu celular para ver a hora, e já estava quase na hora
dos meus pais chegarem.
Fui então tomar um banho, pois eu já tinha ligado para o Chris
avisando do horário, e logo ele chegaria.
Já de banho tomado, coloquei um vestido tubinho de renda
preto, e vesti uma jaqueta branca com as mangas pretas, por que a
temperatura caiu um pouco, e nas pernas coloquei uma meia calça
preta com uma sandália Scarpin não muito alta, visto que não tenho o
costume de usar esse tipo de sandália. Só que mesmo eu não gostando,
minha mãe sempre comprou para mim. E hoje quero estar linda para o
Chris. Meu cabelo apenas sequei com o secador e deixei ele solto.
“Para quem só costuma usar calça e camiseta, até que eu estava
bonita”. Pensei enquanto me olhava no espelho, mas logo minha
atenção foi voltada para a conversa que vinha lá de baixo. Acho que
meus pais e o Chris haviam chegado. Peguei minha mala, minha bolsa e
desci.
Quando cheguei na sala, Chris estava perfeito de tão lindo,
vestindo uma calça jeans, com uma camisa preta de decote “V” e uma
jaqueta preta nas mãos, e ele conversava animado com meus pais.
— Estou pronta, agora podemos ir. — Falei fazendo-os notarem
minha presença aqui.
— Você está linda anjo! — Chris falou ao se levantar e veio me
abraçar.
— Obrigada, você também está lindo. — Retribui com um beijo
no rosto.
— Filha, você está mesmo muito linda, tenha uma boa viagem, e
não se esqueça do que nos prometeu, te amamos muito. — Minha mãe
falou me abraçando, e meu pai fez o mesmo. E me despedindo de todos,
peguei minha mala, e saímos indo direto para o carro. Eu me sentia feliz
por eles confiarem em mim
— Pronta para viagem? — Perguntou Chris ao entrar no carro,
depois de guardar nossa mala.
— Sim, estou. — Falei ao fechar a porta do carro.
Então Chris ligou o carro, e eu acenei para os meus pais que
estavam parados em frente ao portão, e partimos rumo a cidade de
Gramado. Quem sabe nesta cidade eu descobriria tudo sobre os meus
pais biológicos. Amava meus pais adotivos, e ninguém iria me separar
deles, mas precisava preencher esse vazio que tinha em meu coração, e
a única maneira era descobrindo de onde eu vim. Tinha quase certeza
que o orfanato me daria essa resposta.
O caminho para a cidade foi tranquilo, fomos ouvindo músicas
e conversando sobre meu sonho e a coincidência do nome, e em alguns
momentos acabei cochilando.
— Anjo, chegamos! — Acordei com a cabeça no vidro, e com
Chris passando a mão em meu rosto.
Que vergonha, só esperava não ter dormindo de boca aberta.
Tomara que não. Por que estava me preocupando com isso agora? Se
Chris sempre esteve do meu lado, e sempre dormiu comigo, a única
diferença era que agora ele era um homem lindo, e não apenas um
garoto.
— Aí me desculpe, acabei cochilando. Já estamos no hotel? —
Falei notando que estávamos com o carro estacionado em frente a um
hotel, o nome era Hotel Galo Vermelho. Era um prédio vermelho e
branco com várias sacadas, parecia ser um hotel muito chique. — Que
hotel lindo! — Admirei-me com o lugar.
— Sim, e perto do orfanato, pois passamos por ele enquanto
dormia. — Respondeu enquanto descia do carro..
— Que vacilo eu ter dormido. — Falei saindo do carro e fui
ajudar ele a pegar as malas.
— Você deveria estar cansada, não se incomode com isso, suas
férias está só começando. Já que estamos aqui vamos aproveitar cada
momento juntos. — Disse tirando a mala da minha mão, colocou no
chão e veio me abraçar, no mesmo momento fez uma selfie com seu
celular e continuou...
— Vamos registrar cada momento juntos, quero muitas fotos. —
Falou ele pegando as malas novamente, e eu peguei a minha, juntos
entramos no hotel.
— Boa noite, sejam bem-vindos ao hotel galo vermelho. Posso
ajudar? — Falou uma moça na recepção ao nos ver entrar.
— Boa noite. — Respondemos juntos, e Chris continuou...
— Queremos um quarto.
— Um não, dois.... Prometi para os meus pais Chris. — Falei
olhando para ele e sorri sem graça.
— Tudo bem anjo.
— Me desculpe, não temos dois quartos sobrando, só uma suíte,
a suíte premium para casais. Por que este fim de semana o filho do
prefeito vai se casar, e muitos dos convidados que vem de longe se
hospedaram aqui. Por isso só há um quarto disponível.
— Você quem decide, podemos procurar outro hotel. — Chris
disse todo atencioso.
— Não, tudo bem, vamos ficar aqui, já que é mais perto do
orfanato. — Falei olhando para ele, mostrando que eu confiava nele.
Sempre confiei, porque não confiaria agora.
— Nós vamos ficar com o quarto. — Disse o Chris para a moça.
Ela por sua vez, nos informou a senha do wifi, assim como o horário do
café da manhã, explicou aonde ficavam as piscinas e nos entregou o
cartão de acesso ao quarto. Agradecemos sua gentileza e simpatia, em
seguida, pegamos um elevador.
Ao entrar no quarto, ficamos surpreso com o lugar, era
realmente lindo e moderno, o quarto era branco com o fundo da parede
verde onde estava a cama que era toda branca. O banheiro tinha um
hidro enorme, todo em preto e branco. Lindo banheiro.
Colocamos nossas malas no armário, mas antes peguei uma
roupa mais à vontade, avisei o Chris que eu iria tomar banho. Ele até
perguntou se eu gostaria que ele saísse do quarto, mas eu disse a ele que
não precisava, que eu me trocava no banheiro mesmo.
— Vou pedir uma pizza para nós, o que acha? — Perguntou da
porta do banheiro.
— Legal, pede uma de frango com tomate seco, eu adoro. —
Gritei.
— Acha que não sei? Você adora tudo que vai frango. Vou pedir
então. — Do banheiro deu para ouvir ele falando com alguém no
telefone.
Não achei o Chris quando deixei o banheiro, supus que ele
tivesse ido buscar nossa pizza na recepção, já que havíamos sido
avisados de que qualquer coisa que encomendássemos fora do hotel,
teria que ser buscado lá embaixo. Me joguei na cama e comecei a
procurar por um filme na tevê, mas só tinha desenho. Talvez eu não
estivesse sabendo procurar.
Logo a porta do quarto se abriu me assustando, mas era só o
Chris chegando com a pizza.
— Sei que gosta de suco de goiaba, então eu trouxe para você. —
Falou ao entrar.
— Obrigada! eu adoro. — Então Chris colocou tudo na mesinha
que tinha do lado da cama, e fomos comer. Ele me acompanhou no suco
e para variar tiramos muitas Selfie.
Ainda bem que na hora que fui tomar banho liguei para os meus
pais, eles já estavam preocupados, mas não falei nada sobre o quarto,
ainda bem que lembrei de ligar.
Depois de comer, deitamos juntos na cama e ficamos horas nos
beijando, e outras horas conversando, fazendo carinho um no outro,
até finalmente o sono chegar, e juntos dormimos como antigamente.
Acordei com um beijo carinhoso em meu rosto, abri os olhos
enquanto espreguiçava e tive a visão mais linda do mundo. Chris sorria
e parecia feliz ao me olhar acordar. Os raios solares entravam pelos
buraquinhos da cortina, mostrando que o dia estava lindo lá fora.
Pensei estar sonhando, nunca acordei em um lugar como
aquele, muito menos acompanhada por um homem tão lindo quanto o
Chris.
— Bom dia anjo, estava esperando você acordar para tomarmos
café. — Chris murmurou me olhando de um jeito carinhoso.
— Bom dia! — sorri largo. — Que horas você acordou?
— Faz uma hora. — Arregalei os olhos assustada.
— Desculpe, dormi demais. — Resmunguei.
— Não! Ainda são oito horas, acabei acordando cedo por perder
o sono, então levantei e fui tomar um banho.
— Nossa, você realmente madrugou. — Passei minhas pernas
para fora da cama e notei que ele já estava trocado. — Vou me trocar
rapidinho, e já descemos. — Anunciei.
Encaminhei-me para o banheiro, mas assim que levantei fui
puxada pela mão e cai sentada em seu colo. Ele no mesmo instante me
beijou, me fazendo ficar sem graça, já que eu não esperava por isso, mas
ao mesmo tempo nas nuvens com o beijo gostoso que me deu.
Recompus-me e levantei do seu colo assim que ele se afastou
dos meus lábios, e sem dizer uma palavra, por que eu tremia muito e
não queria que ele percebesse, corri para o banheiro. Fiz minha higiene
matinal, e me troquei, depois de pronta, fomos tomar nosso café.
O café foi tranquilo, conversamos bastante, e o lugar era
maravilhoso. Estávamos muito felizes de estarmos juntos ali.
— Você está pronta para ir visitar o orfanato? Ou quer um
tempinho para criar coragem, afinal faz muitos anos que saiu de lá. —
Perguntou assim que terminamos de comer.
— Sim, estou pronta, podemos ir agora. — Respondi ansiosa.
Voltamos ao quarto para pegar minha bolsa, pois a tinha
deixado lá, e saímos indo direto para o carro.
No caminho para o orfanato, fui pensando como seria rever
tudo o que deixei para trás. Sai de lá quando era pequena, mas tinha
boas lembranças já que as madres sempre cuidaram muito bem de
mim.
— Chegamos. — Chris falou ao perceber que eu nem tinha
notado ele estacionar o carro, pois estava com meus pensamentos
longe.
— Estou vendo. — Respondi um pouco sem graça, e continuei.
— Chris estou com um pouco de medo. — Confessei ao descer do carro.
— Mas porque está com medo? — questionou aproximou-se e
segurou em minha mão. — Não tenha medo, estaremos juntos.
— Eu sei, só tenho medo do que eu possa descobrir sobre minha
mãe biológica. — Confessei nervosa.
— Vai dar tudo certo anjo, não tenha medo, pois o medo só
atrapalha. E não importa o que descubra, o mais importante é saber a
verdade, e é isso o que você está procurando. — disse passando a mão
em meu rosto.
Chris tinha razão, eu só precisava saber a verdade, já que foi isso
o que eu sempre quis em toda a minha vida. Descobrir o porquê fui
abandonada.
— Você tem razão, vamos em frente, eu quero saber toda
verdade, eu preciso. — Puxei ele pelas mãos. Juntos entramos no
orfanato e fomos na recepção, mas não reconheci a madre que estava
lá.
— Bom dia, eu poderia falar com a madre Elena? — Perguntei
para a madre da recepção que escrevia algo em um caderno, e nem
tinha percebido nossa presença.
— Bom dia, a paz de Jesus. — Respondeu um pouco sem graça. —
Madre Elena faleceu faz uns dois anos. — Falou um pouco triste.
— Ah, me desculpe, eu não sabia. — Meus olhos lacrimejaram
por causa da tristeza. — Meus sentimentos, ela era muito importante
para mim. Fui criada nesse orfanato até os cinco anos, depois fui
adotada.
— Sou nova aqui, mas fico feliz de saber que foi criada conosco,
e pelo visto gostava do orfanato, pois veio nos visitar.
— Sim, muito. A madre Valentina, ainda se encontra aqui?
— Sim, ela agora é a madre superior.
— Eu poderia falar com ela? — Perguntei ansiosa.
— Claro que pode, vou ligar para alguém acompanhar vocês,
pois não posso sair daqui. — Pegou o telefone, e ligou para alguém.
— Vic, por favor, venha para a recepção. — Falou ao telefone, em
seguida desligou.
Será que a Vic que ela conversou, era a Viviane da época que em
que eu era pequena? Será que ela ainda estava ali? Ninguém falava
comigo naquela época, mas Vic, Alice, Amanda e katarina dormiam
comigo no mesmo quarto.
— Prontinho é só aguardar, que a Vic vai acompanhar vocês.
Desculpe eu nem me apresentei. Sou a madre Bianca, posso saber o
nome de vocês?
— Sou Lizy, e ele é o Christiano.
— Madri Bianca, em que posso ajudar? — Perguntou uma moça
loira e alta, de pele rosada, e muito bonita, ao entrar na recepção.
— Vic que bom que não demorou, acompanha Lizy e seu
namorado até o escritório da madre superior.
— Claro que acompanho, vou levar vocês até ela. — Respondeu
nos olhando, mas aqueles olhos não eram estranhos.
Agradecemos a madre Bianca, e a seguimos pelo corredor do
orfanato, que estava muito diferente do que eu me lembrava.
— Posso te fazer uma pergunta? — Perguntou a tal Vic,
enquanto íamos para o escritório.
— Sim, claro que pode.
— Tínhamos uma ruivinha que morou aqui até os seus cinco
anos, depois foi adotada. Você se parece com ela.
— Sim, sou eu mesmo. Você é a Viviane?
— Sim, nós dormíamos no mesmo quarto. Nossa, que linda
moça você se tornou, apesar da gente quase não se falar naquela época
eu gostava de dormi no mesmo quarto que você. Fiquei tão feliz de
revê-la. O escritório da madre superior é aqui, e me procura antes de ir
embora, quero falar um pouco com você. — Mostrou a porta, e logo em
seguida saiu nos deixando ali.
Respirei fundo olhando a madeira em minha frente, eu só
precisava levantar o braço e bater, mas parecia que eu tinha perdido o
controle do mesmo. Chris notou o meu receio e bateu por mim. Em
segundos, ouvimos uma voz soar de dentro da sala pedindo para que
entrássemos, e assim fizemos. Madre Valentina já não era tão jovem
como na época em que morei no orfanato, mas estava bem conservada
e bonita.
— Sentem, por favor. Em que posso ajudar? — apoiou seus
cotovelos sobre a mesa e nos observou, em segundos, seu semblante
enrugou como se estivesse me reconhecendo. — Nossa, eu estou vendo
coisa, ou você é a nossa pequena Lizy? a ruivinha de cabelo liso que nos
deixou com cinco anos de idade.
— Sou eu mesma, madre Valentina. — Quando terminei de falar
ela se levantou toda emocionada, e foi me abraçar.
— Que saudades minha pequena, madre Elena sempre disse que
você voltaria, e ela tinha razão, aqui está você, e que linda moça se
tornou. Esse rapaz é seu namorado? — Perguntou segurando minha
mão, emocionada.
— É sim, esse é meu namorado, o Christiano. — O apresentei.
— Muito prazer rapaz, vejo que você a faz feliz, pois os olhos dela
brilham quando diz seu nome. — Disse ao cumprimentá-lo.
— É um prazer te conhecer madre.
— O prazer é meu, mas sentem vamos conversar um pouco. —
Voltou para o seu lugar atrás da mesa e continuou: — Como estava
dizendo Lizy, madre Elena sempre te esperou, ela tinha certeza que um
dia esse momento iria chegar, e chegou, mas ela ficou doente e faleceu a
dois anos atrás. Madre Elena sempre teve um carinho muito grande por
você, por isso tudo que era seu quando pequena, guardou nesta caixa
com muito amor, dizendo que um dia você voltaria para buscar. —
Levantou-se, caminhou até um armário grande e pegou uma caixa.
Aproximou-se com ela em mãos e me entregou. [...]
[...] — Tudo o que era seu Lizy, está aqui. Espero que seja isso que
veio procurar, pois ela dizia que essas coisas te dariam a resposta que
precisava. Nunca entendi o que isso significava, mas ela sabia que era
muito importante para você. Fique à vontade para abrir. — Falou
percebendo minha insegurança em abrir a caixa.
Sem esperar mais, eu abri. Quando olhei seu conteúdo meu
coração disparou, comecei a me sentir mal, tudo começou a rodar.
Acabei deixando meu corpo cair sobre a cadeira buscando por ar, por
que eu não acreditava no que eu tinha visto.
— Meu Deus, Lizy, você está branca que nem papel, vou buscar
um copo de água. — A madre disse preocupada e saiu do escritório feito
um furacão para buscar o que tinha oferecido.
— Lizy, o que tem na caixa? — Chris também estava
preocupado.
— Olha e me diz o que vê, quero ter certeza que não foi minha
imaginação me pregando uma peça. — Então Chris pegou a caixa, e
abriu.
— Vejo, hummm...é uma correntinha com uma medalhinha de
menino. — Falou tirando da caixa e colocou em cima da mesa. — Um
cobertor marrom e rosa muito grosso, e uma foto.
— Foto? Isso eu não vi. — A peguei de suas mãos.
Era uma mulher muito bonita, ruiva como eu, e de olhos verdes,
mas a foto era antiga, estava m pouco desbotada. Só que ainda assim,
eu consegui reconhece-la. Era a mulher que estava dando à luz em meu
sonho. Virei a foto e notei algumas palavras escritas, elas estavam
quase apagadas pelo tempo, mas ainda assim, consegui ler.
“Luma, minha princesinha, a mamãe sempre vai te amar, você está
em meu coração. Com amor, Crystal!”
— Chris, quem é Luma? — Questionei sem entender o que
estava escrito na foto. — Lembra do meu sonho? Tinha uma
correntinha com a medalhinha de menino, que foi deixado na porta
com o bebê, e ele estava enrolado em um cobertor igualzinho a esse.
Isso tudo só quer dizer uma coisa. Eu tenho uma irmã...e meu sonho é
real.
— Sim Lizy, você tem uma irmã. — Afirmou a madre entrando
no escritório e me entregou o copo de água. Agradeci e bebi um pouco.
— Seis anos depois que você foi adotada, sua irmã apareceu aqui
dizendo que havia vindo te buscar, mas ela era muito nova para cuidar
de você, e você já tinha uma família que te amava. Se eu me lembro
bem, o nome dela era Luna, ela conversou horas com a madre Elena, e
chorou muito quando soube que tinha sido adotada. Na verdade, ela
ficou desesperada, queria a todo custo descobrir seu endereço, mas a
madre disse a ela que era contra as normas do orfanato dizer seu
paradeiro. Lembro-me bem, que ela chorou tanto que chegou a passar
mal. Madre Elena ficou com dó e lhe arrumou um quarto para que
descansasse e tentasse se acalmar. A madre nunca contou o que elas
conversaram no quarto, dizia que tinha muitas coisas para te contar,
mas infelizmente, a madre não conseguiu esperar pelo seu retorno. [...]
[..] — Mas disse antes de falecer que sua mãe tinha sido
assassinada assim que você nasceu, e para te salvar, sua irmã te deixou
aqui. Só que ela não disse o porquê disso, nem o motivo de tua mãe ter
sido assassinada. A madre sabia, mas não deu tempo de terminar de
contar. Isso é tudo que eu sei minha pequena. Pode levar essa caixa,
pois tudo que está aí, é seu. Agora eu preciso ir para sala de reunião,
fique à vontade. Chamei a Vic para lhe mostrar o orfanato, caso queira
se lembrar dos momentos que passou aqui. — Aproximou-se e com
carinho me abraçou se despedindo de nós e saiu nos deixando ali.
— Minha mãe está morta! — Falei com lagrimas nos olhos.
— Mas você tem uma irmã que te ama muito. Então não fique
assim. — Abraçou-me.
— Você está bem, Lizy? — Vic perguntou ao entrar no escritório.
— Estou sim. — Enxuguei minhas lágrimas que teimavam em
escorrer pelo rosto.
— Então o que acha de dar uma volta pelo orfanato? Olha que
está bem diferente do que conheceu. — Disse toda animada.
— Eu agradeço, mas acho que vou deixar para amanhã, aí eu
volto e passo o dia com vocês.
— Tudo bem, vamos ficar feliz de te receber novamente. Não
querem almoçar conosco hoje? O almoço já está pronto.
— Sim, aceitamos o convite. — Respondi ao ver que Chris
também tinha aceitado, pois afirmou com a cabeça e fomos para o
refeitório que estava muito bonito e moderno.
Vic não parava de falar, contou para nós que no fim de semana
ela iria se casar com o filho do prefeito, e nos convidou para a despedida
de solteiro que iria acontecer à noite.
‘’Então o casamento é dela’’. Pensei enquanto ela falava toda
animada, Chris e eu nos servimos, e com a bandeja nas mãos fomos nos
sentar em uma mesa, Vic sentou junto, e continuou falando que
também foi adotada por uma família que morava ali perto, por isso ela
trabalhava no orfanato, mas depois que casasse iria se mudar para
Santa Catarina, pois seu noivo trabalhava lá.
O almoço foi agradável, conversamos muito com Vic e com o
resto das meninas. Das que dormiam em meu quarto só encontrei a
Alice que ainda morava lá, as outras foram adotadas.
Depois do almoço delicioso, e de rever todos que conheci na
época, me despedi, e agradeci a madre Valentina pelo carinho, e por
guardar minhas coisas. Vic nos acompanhou até o carro, nos fazendo
prometer que iriamos na despedida. Eu não estava animada para isso,
mas a insistência foi tanta que acabei prometendo que iria, ela passou o
endereço de onde iria ser a festa, nos despedimos, entramos no carro e
fomos embora para o hotel.
No caminho, resolvi ver as coisas que estava na caixa e peguei a
correntinha. E com ela em mãos, olhei cada detalhe da medalhinha, foi
aí que notei que dos dois lados tinha algo escrito. Na frente em letra
minúscula estava escrito: “Luma” e do outro lado: “Chris”.
— Isso só pode ser brincadeira! — pensei alto, muito confusa e
assustada.
— O que é brincadeira Lizy? — Questionou Chris estacionando o
carro.
— Essa medalhinha tem dois nomes gravados, na frente está
escrito Luma, e atrás Chris.
— Como assim? Me deixe ver. — Pediu ao descer do carro, e
juntos entramos no hotel indo direto para o nosso quarto.
— Você tem razão. — Falou olhando a medalhinha. — Luma é o
nome que sua mãe escolheu para você antes de morrer, e o Chris
poderia ser o meu, mas porque meu nome estaria gravado aqui se você
me criou em sua imaginação? — Perguntou Chris confuso.
— Essa é uma pergunta que não sei responder, mas Luma é meu
nome, e Crystal é o nome da minha mãe, essa foto é para mim, e isso é
tudo que tenho dela. Agora só preciso descobrir como encontrar minha
irmã. — falei pegando um roupão no armário — Chris vou tomar um
banho para relaxar. Encaminhei-me para o banheiro enquanto aquelas
perguntas rodeavam minha cabeça. Preparei a hidro e me despi sem
pressa.
— Tudo bem, eu vou me deitar um pouco. Acordei muito cedo e
meus olhos parecem que tem areia, mas antes me diz uma coisa. Nós
vamos mesmo nessa despedida de solteiro? — Gritou da porta do
banheiro.
— Não tenho vontade de ir, mas prometi que iria. — Entrei na
hidro e passei o sabão pelo o meu corpo. — Acha que devemos? — gritei
de volta.
— Claro, você precisa se divertir e sair irá te fazer bem. Precisa
esquecer um pouco tudo o que descobriu hoje.
— Você está certo, preciso mesmo me divertir um pouco. Já que
estamos aqui vamos aproveitar.
— Concordo, agora vou descansar um pouco. — Sua voz se
distanciou.
Por mais que eu quisesse esquecer tudo, não conseguia, pois
descobri muitas coisas. Minha mãe e irmã me amavam, mas por algum
motivo que eu ainda iria descobrir, tiveram que me deixar no orfanato
contra a própria vontade. Saber disso preencheu o vazio que eu sentia
no coração. Isso realmente me fez muito bem.
A hora passou que eu nem vi. Ficar naquela banheira me
relaxou, estava me sentindo melhor. Então me sequei, vesti o roupão
que o hotel fornecia, e sai do banheiro. Chris dormia na cama
profundamente, mas eu precisava acordar ele já que tínhamos uma
festa para ir, ele precisava tomar um banho para se arrumar. Então com
muito carinho o beijei e assim ele acordou. Me agarrou e me jogou na
cama subindo por cima de mim para me encher de beijos.
— Chris, você precisa tomar um banho, temos uma festa para ir,
já se esqueceu? — tentei fugir dele, mas confesso que eu estava
adorando quilo.
Quando ele conseguiu me agarrar novamente, me pegou no colo
e me colocou na cama. E mais uma vez me entreguei aquele beijo
perfeito, e gostoso. Até me esqueci aonde estava. Apenas fiquei ali
curtindo aquele momento mágico e maravilhoso, mas quando percebi o
que estava acontecendo, pois ele tirava meu roupão, fiquei com medo e
me levantei correndo, pois, aquela voz de mulher não saia da minha
cabeça. Ele não disse nada, apenas se levantou da cama e foi tomar
banho.
Não entendia do que eu tinha medo? Talvez fosse porque nunca
tive um namorado antes e isso de alguma maneira me assustava.
Então fui me trocar pensando no beijo que tinha acabado de
acontecer e do momento gostoso que estraguei. Escolhi um vestido
tubinho curto, que eu não sabia definir se era verde ou azul, mas ele era
lindo, bordado na cintura, e com detalhes em renda na barra.
O vestido tinha uma manga longa transparente, e o decote era
em “V” com as beiradas em renda. Minha mãe sempre teve muito bom
gosto para vestidos, apesar de eu nunca usar, essa seria a primeira vez.
Meu cabelo eu sequei para tirar o excesso de água, e as pontas eu
amassei com as mãos para dar um leve ondulado.
— Uau! que linda você está!! — Falou Chris ao sair do banheiro.
— Você também não está nada mal, na verdade, tá um gato. —
Me aproximei dele. Chris vestia uma calça jeans escura, quase preta, e
uma camisa social branca com um blazer cinza por cima. Ele estava
realmente muito lindo.
— Você está muito cheirosa. — Selou meus lábios.
— Ainda nem passei perfume, deve ser os sais de banho que usei
na hidro, pois fiquei horas lá. — Fui até um espelho grande que tinha do
lado da cama e comecei a me maquiar, mas eu não era boa com isso,
então apenas delineei meus olhos, e passei um batom rosa, enquanto
Chris foi terminar de se arrumar no banheiro.
— Estou pronto. — Avisou minutos depois. Abraçou-me por trás
quando se aproximou e pegou o celular para tirar uma selfie.
— Também estou pronta. — falei me virando para ele.
— E está linda demais. Vamos que a festa começa sete e meia e já
são sete e quinze. Nem sabemos aonde fica a casa da sua amiga, vamos
ter que usar o GPS. — Ele trancou a porta do quarto e fomos direto para
o carro. E com o GPS ligado partimos para a despedida de solteiro de
Vic.
— Nossa aonde fica essa festa? Estamos quase saindo da cidade
e nada ainda. — Quando Chris terminou de falar, o GPS nos avisou que
tínhamos chegado ao nosso destino. Foi então que vi muitas luzes e
pessoas entrando por um portão enorme todo branco, e com vários
coqueiros na frente. A casa era uma mansão muito grande e moderna.
Pelo visto muito alta, por que tinha várias sacadas, parecia de três
andares, muito maior que a minha casa.
— Acho que chegamos.
— Sim, e é bem longe do hotel. — Chris estacionou o carro e logo
em seguida descemos.
Juntos e de mãos dadas entramos por aquele enorme portão,
passamos por um corredor todo de mármore branco com alguns
desenhos em preto. Percebemos que as pessoas que chegaram com nós
foram por trás da casa, então os seguimos e chegamos em um lugar
lindo. A festa estava sendo em volta da piscina, a mesma estava
cheinha de bexiga branca, e no meio um palco onde estava tendo um
som ao vivo. O lugar era maravilhoso, com mesas de vidro espalhadas
por todo canto, com uma foto do casal no centro de cada mesa.
— Vocês vieram! — Gritou Vic ao se aproximar, e nos abraçou. —
Venham, vou apresentar meu noivo e alguns amigos que já chegaram.
— Vic estava animada, também, não era para menos. Estava noiva, de
casamento marcado, a festa estava linda e estava feliz. Me segurou pela
mão e me arrastou junto dela. Só que eu me sentia estranha, perdida no
meio daquelas pessoas que eu não conhecia. Tinha uma roda de pessoas
conversando e ela me apresentou um por um.
Seu noivo, Thomas. A cunhada Fany e os amigos, Tyler, Leon e
Jeke. Senão me engano, Tyler era namorado de Fany.
— O resto, são alguns amigos dos nossos pais, mas tenho amigas
que ainda não chegaram. — Notei que enquanto ela falava Jeke não
tirava os olhos de mim, me deixando até sem graça, mas Chris graças a
Deus não percebeu. — Fiquem à vontade, vou pedir ao garçom para
servir vocês. — Falou e nos deixou ali.
Então, ao me sentir desconfortável com os olhares daquele
rapaz, puxei o Chris pela mão e sentamos em uma mesa. Logo fomos
servidos, com bebidas e canapês, barquinhas de camarão, e outras
coisas que eu não conhecia.
Os convidados continuavam chegando, e um som ao vivo
tocava no palco montado no meio da piscina. Alice quando me viu,
sentou em nossa mesa, e conversou com a gente muito animada. Para
mim, tudo isso era muito estranho. As meninas que dormiam no
mesmo quarto que eu no orfanato, nunca haviam falado comigo e
agora estavam agindo como se fôssemos melhores amigas.
— Bom, queremos agradecer a todos os nossos convidados que
vieram nos prestigiar essa noite, como todos sabem essa noite está só
começando. A festa se estendera até sexta-feira, e os quartos estão
preparados para passarem esses dias aqui. — Comunicou a Vic toda
animada, junto do seu noivo que pegou o microfone da mão dela lhe
dando um beijo na boca e falou a todos.
— Todos sabem o que é uma despedida de solteiro? Bom tenho
certeza que sim. Então, como toda festa de solteiro manda, homens e
mulheres ficam separados. Vocês homens irão me acompanhar até a
minha festa que será na minha casa, e as mulheres ficaram aqui com a
Vic. A festa vai começar!! Homens me sigam. — Beijou novamente sua
noiva, e desceu do palco.
— Chris, e agora? Não quero que vá, não vou dormir aqui. – Falei
decepcionada com a festa.
— Fica tranquila, Lizy, tanto o pai da noiva, quanto do noivo vão
estar lá, não vai ter nada demais. — Falou Alice ao ver minha reação.
— Você também é meu convidado, nenhum homem ficará para
trás. — Falou o noivo ao notar que Chris não tinha saído do lugar.
— Anjo, vou com ele, mas vou com meu carro. Fica tranquila
que vamos dormir no hotel. — Me beijou, mas foi um beijo rápido por
que o noivo o puxou pelo braço.
Chris saiu carregado dali, nem pude dizer nada. Fiquei
desconsolada já que não esperava por isso, e o pior de tudo, era que eu
estava sentindo que tinha alguma coisa errada.
Apesar da falta que o Chris fazia, a festa estava gostosa.
Distribuíram fantasia para todas as mulheres. A minha por
coincidência era de bailarina, já que minha mãe era professora de balé.
Na verdade, a minha era cisne negro. Bom, parecia ser, era todinha
preta. No entanto, não estava animada para vestir. A noiva vestia a
fantasia da cinderela, e a Alice Chapeuzinho vermelho. As amigas de
Vic deram muitas atividades para ela; competição de bebidas, de dança,
ela teve até que contar histórias de terror, beijar um sapo. Não sei aonde
arrumaram um já que era de verdade.
A festava estava divertida, pois não consegui parar de rir das
coisas que aprontavam com a noiva, coisas que homens não poderiam
ver.
Só que algo estava me incomodando e eu sabia exatamente o
que era. Sentia falta de Chris e queria estar com ele. Então, acabei tendo
uma ideia. As amigas da noiva já haviam aprontado tanto com ela que
eu pensei ser uma boa ideia desafiá-la a invadir a festa dos homens.
— Agora é minha vez de lançar um desafio. — Olhei com ar de
mistério para a noiva e continuei: — Desafio a noiva, junto de suas
convidadas, a invadirem a festa dos homens, mas todas devem estar
fantasiadas e de máscaras.
— Eu adorei a ideia. — disse Alice animada.
— Eu também! — a irmã do noivo e todas as mulheres
adoraram, então fui me vestir.
Como todas as fantasias tinham máscaras, vestimos e fomos
para a festa do noivo. Eu fui no carro da noiva que já estava um
pouquinho alta de tanto beber.
Invadimos a festa no maior silêncio, e nos escondemos entre as
árvores. A casa era tão linda quanto a da Vic, todinha de vidro, não
tinha paredes nenhuma, só enormes cortinas na cor areia cobriam os
vidros. O som estava muito alto, e a festa também acontecia na piscina.
Cada amiga da Vic foram as escondidas procurar seus
namorados, maridos, e pelo visto a surpresa foi grande. A noiva já
estava aos beijos e amassos com o noivo na cadeira da piscina. Alguns
convidados do noivo estavam nadando, eu rodei toda a festa e não
encontrei o Chris em lugar nenhum. Já desanimada me sentei em uma
das mesas que tinha ali, e fiquei observado as pessoas se divertindo.
Meu desafio tinha dado certo, mas para mim não, visto que Chris não
estava aonde deveria estar.
— Ele não quis ficar, foi embora. — Avisou Jeke sentando-se o
meu lado com um copo em mãos, supus que fosse cerveja por conta do
cheiro. — Seu namorado foi embora. Ele é um cara muito estranho.
— Você sabe para onde ele foi?
— Voltou para o hotel. — disse, bebendo um gole de sua cerveja.
— Como vou embora? Minha roupa ficou na casa da Vic, não
tenho nenhum dinheiro aqui. — Falei decepcionada.
— Se você quiser posso te levar.
— Não acho uma boa ideia.
— Qual é, você precisa ir embora, e não tem como ir. Que mal eu
te faria? É apenas uma carona. — Explicou tentando ser gentil.
Entretanto, ele tinha razão, não tinha como eu ir embora, então
aceitei a carona. Não pude me despedir dos noivos, já que ainda
estavam na maior pegação.
No caminho para o hotel, notei que eu e o Chris não passamos
pelo mesmo caminho que Jeke fazia quando fomos para a festa. Ou Jeke
estava me levando para outro lugar ou pegou um caminho diferente.
— Para onde estamos indo? — Perguntei estranhando.
— Só preciso passar em um lugar. — disse e estacionou em um
posto de gasolina que estava fechado, e que do lado tinha um motel. E
no momento que vi senti um frio na barriga, fiquei com muito medo. —
Não se preocupe, só parei para conversar um pouco com você. — Falou
ao notar o medo em minha voz, já que eu tremia um pouco.
— Conversar o que se eu nem te conheço? — Falei assustada.
— Sei que não, mas fiquei encantado com sua beleza que é
diferente das garotas daqui, e isso me deixou muito atraído por você.
Fiquei louco para te beijar, mas lá não teria como, por isso te trouxe
para cá. — Aproximou-se, e sem que eu pudesse responder, ele me
beijou.
Tentei empurra-lo, virar meu rosto, mas tudo foi em vão. Não
conseguia me mover no banco do carro já que o cinto de segurança
atrapalhava bastante. Então ele tocou em meu seio por cima da roupa, e
eu entrei em desespero. Continuei tentando soltar o cinto para abrir a
porta, porém eu não conseguia e Jeke continuava a me beijar tentando
colocar sua mão por baixo da saia.
Fiquei em choque com o toque dele e desejei que ele morresse
com todo meu coração já que eu estava muito assustada. No mesmo
instante, as luzes dos postes da rua piscaram e me assustaram mais do
que já estava. No entanto, tudo o que eu queria era que ele sumisse.
Quando finalmente consegui soltar o cinto, abri a porta e fui me
afastando dele com uma certa dificuldade, pois ele tentava me segurar.
Sai do carro o mais rápido que pude e quando ele ameaçou ir atrás de
mim, sai correndo e me escondi. Foi então que percebi que Jake havia
desistido de me procurar, e tinha ido embora me deixando sozinha e
muito assustada. Em seguida, ouvi um carro parar e com muito medo
não sai de onde eu estava.
— Lizy, meu anjo, você está aqui? — Ouvi a voz do Chris
gritando por mim, sai correndo da garagem do posto onde me escondi e
fui lhe abraçar.
— Como me achou? — Perguntei chorando.
— Anjo, o que aconteceu para você estar assim? Me conta,
aquele rapaz te fez algum mal? — Perguntou nervoso. — Senta aqui um
pouco, precisa se acalmar. — Chris fez com que eu sentasse em um
banco de cimento que havia em frente ao posto, em seguida ele sentou-
se ao meu lado.
— Estou bem Chris, só um pouco assustada porque este lugar
parece abandonado. — Enxuguei as lágrimas.
— Mas o que aquele maldito te fez para você preferir ficar aqui
sozinha?
— Tentou me beijar e não aceitando o não como resposta,
tentou me beijar a força, então desci do carro e ele foi embora. — Eu não
podia contar toda a verdade a ele, sabia como reagiria.
— Aquele filho de uma boa mãe, o que ele estava pensando?
Idiota! Graças a Deus você está bem.
— Mas você não me respondeu como me achou? — Perguntei
novamente.
— Aquela festa estava chata demais, tinha homens dançando,
bebendo, nadando sozinhos e falando muita besteira. Eu não queria
ficar ali sem você, e sabia que você não estava bem sem mim. Então
resolvi ir embora. Eles até tentaram me convencer de ficar mais um
pouco, mas eu não queria ficar de jeito nenhum, já que eu tinha ficado
tempo demais. Fui embora direto para festa que você estava, mas
quando cheguei lá, fui avisado que você, junto com a noiva e os
convidados foram para a festa do noivo. Então voltei para lá e quando
ia entrando, vi você entrar em um carro, corri para o meu o mais rápido
que pude e segui vocês de longe, mas quando estava chegando aqui vi o
mesmo carro passar por mim, e notei que você não estava no nele.
Como esse posto fica em uma rua sem saída, imaginei que estivesse
aqui. Foi assim que te achei.
— Você voltou! Eu achei que tivesse ido para o hotel, por que
Jeke me disse que tinha ido embora. — Argumentei olhando em seus
olhos.
— Eu não fui embora, só fui atrás de você, mas o que estava
pensando quando entrou no carro do Jeke? — Perguntou um pouco
irritado.
— Eu queria embora da festa, já que você não estava nela, mas
não tinha como eu ir e ele se ofereceu para me levar. Fui ingênua em
pensar que ele estava sendo gentil, ele só queria me beijar. — Falei
decepcionada. De repente ouvi um barulho. — Você ouviu isso?
— Não, eu não ouvi nada.
— Meu Deus, Chris agora você ouviu? — Levantei do banco
muito assustada, pois alguma coisa fez uma lata cair. Pelo barulho só
podia ser uma lata.
— Eu ouvi sim, vamos para o carro e sair logo daqui. — Pegou
em minha mão, mas quando nos aproximamos do seu carro o vulto que
sempre aparece para mim estava parado em frente ao mesmo.
Paramos no meio do caminho assustados e o vulto se
aproximou de nós. Ele ou ela vestia um manto preto com capuz, que
cobria o resto da roupa e mal dava para ver seu rosto.
— Não tenham medo, não vim lhe fazer mal, apenas quero
conversar. — Aproximou-se de nós e pela voz era mulher.
Quando finalmente estava em nossa frente, ela tirou o capuz e
levantou o rosto. Ela era uma linda jovem de olhos verdes, pele muito
clara, e ruiva como eu.
— Meu nome Luna, sou sua irmã e já faz um tempo que estou
tentando falar com você, só que nunca te encontro sozinha, e às vezes
me falta coragem. Mas hoje te encontrei.
— Assim que ela terminou de falar ouvimos uma sirene soar ao
longe e olhamos na direção em que ela vinha. Quando voltamos nossa
atenção a mulher, ela havia desaparecido. Não tinha como isso ter
acontecido, nos distraímos por segundos apenas.
— Cadê ela Chris? — Perguntei assustada.
— Não sei. — Parecia tão assustado como eu. — Em um piscar de
olhos ela desapareceu. Melhor sairmos daqui. — Chris dirigiu-se para o
carro e eu fiz o mesmo. Entramos e ele o ligou fazendo o mesmo cantar
os pneus ao sair rápido dali.
— Agora estou entendendo, a mulher de roupa preta que
sempre vejo no jardim da minha casa, e em qualquer lugar que eu vou, é
minha irmã tentando se aproximar de mim para conversar. Mas não
entendi por que ela desapareceu e como fez isso tão rápido?
— Acho que só vamos entender quando nós a encontrar
novamente. Lizy, aquele não é o carro do Jeke? — Perguntou Chris ao
notar um acidente mais à frente, então ele diminuiu a velocidade.
— Sim, esse é o carro dele, mas lembro que no vidro traseiro
tinha um adesivo não muito grande no canto direito que dizia: “Eu
freio para animais” e tinha um desenho de patinha do lado.
— Vamos ver se esse tem o adesivo. — Chris passou pelo carro
tombado bem devagarzinho e eu consegui ver o adesivo.
Levei um susto quando vi um corpo esticado e coberto no chão,
e no mesmo instante me lembrei o que eu tinha desejado enquanto Jeke
tentava se aproveitar de mim. Desejei do fundo meu coração que ele
morresse, e agora ele estava ali no chão morto. Isso seria coincidência
ou mais um desejo realizado?
Voltamos para o hotel, eu ainda estava muito assustada com o
ocorrido. Nunca imaginei que Jeke fosse morrer, muito menos que isso
fosse acontecer alguns minutos após eu ter desejado sua morte. Isso era
estranho! Cheguei a sentir um arrepio atravessar minha espinha, uma
sensação de culpa. Só que eu sabia que não tinha nada a ver com aquilo,
Jeke tinha sido imprudente e estava dirigindo como um louco.
Mas se eu sabia de tudo isso, como ainda poderia ter aquela
sensação amarga na boca do estômago? Precisava respirar ar puro,
aquilo não tinha sido minha culpa, sabia que não. Só precisava colocar
isso em minha cabeça já que ela insistia em pensar o contrário.
— Lizy, você está diferente!! Não disse uma só palavra depois
que viu o acidente. O que está acontecendo com você? Parece assustada.
— Chris falou ao entrarmos no quarto do hotel, me tirando dos
pensamentos perturbados.
— Chris, preciso de ar. — Comuniquei. Corri até a janela do
quarto, abri o vidro e puxei o ar. — Não sei o que está acontecendo, mas
preciso te contar tudo o que aconteceu. Não fu sincera porque tive
medo da sua reação, mas agora que Jeke está morto eu vou contar. —
Respirei fundo. — Jeke não quis apenas um beijo, ele tentou se
aproveitar de mim. Com muito custo consegui sair do carro e me
esconder, fiquei escondida até ouvir sua voz.
— O que? Aquele filho de uma puta tentou se aproveitar de
você? Ele te fez alguma coisa? Você está bem? Agora entendo por que
está assustada e agindo assim. — Chris andou de um lado para o outro,
muito nervoso.
— Não estou assustada por isso, mas porque enquanto ele
tentava se aproveitar de mim, eu desejei do fundo do meu coração que
ele morresse e sumisse da minha vida. Minutos depois descobrimos que
ele sofreu um acidente e faleceu. Não sei se é coincidência, ou um desejo
realizado. Só sei que quando fiz um pedido no meu aniversário, ele
também se realizou, já que você está aqui agora. Nada parecido tinha
acontecido antes de eu completar dezoito anos. Nem sei mais o que
pensar, só sei que é muito estranho. — Fechei a janela ao me sentir mais
calma.
— Você está querendo dizer, que o que desejou aconteceu?
Talvez seja só coincidência mesmo. Não estamos em terra de magia,
onde tudo que queremos acontece com apenas um passe de mágica ou
com uma varinha de condão. Então meu anjo, não se culpe, foi apenas
coincidência. Vou tomar um banho e dormir, já é muito tarde, amanhã
quero aproveitar o dia para ir as compras com você. — Pegou uma
toalha e suas roupas no armário, em seguida dirigiu-se para o banheiro.
— Mas meu pedido de aniversário não foi coincidência. Você
não existia, e agora tem uma vida, uma casa e um trabalho. Como
explica isso? — Gritei da porta do banheiro.
— Meu anjo, tem coisas nessa vida que não tem explicação e isso
é uma delas. Nunca vamos saber a resposta. — Gritou de volta.
Sempre acreditei que tudo nessa vida tem uma explicação, por
isso fiquei inconformada com as palavras dele. Sabia que essa história
de magia era coisa de contos de fadas, mas qual outra explicação teria
para o que estava acontecendo? Chris era apenas um amigo imaginário,
agora era de carne e osso, tinha uma vida. Jeke era apenas um rapaz de
caráter ruim que faleceu após eu ter desejado sua morte.
Tirei minha fantasia, vesti um roupão e sentei na beirada da
cama pensando em tudo o que tinha acontecido. Não podia nem
acreditar que estava pensando nessas coisas, quando minha vida tinha
virado essa loucura? Magia podia não ser real, mas o mundo é tão
grande que acredito haver pessoas com dons especiais. Talvez, eu fosse
uma delas. Vou fazer uma pesquisa no google e me informai mais sobre
isso.
Escutei quando a porta do banheiro foi destrancada, mas um
barulho vindo dele me chamou a atenção e me fez correr para ver o que
tinha acontecido. Franzi o cenho ao ver Chris inconsciente no chão e...
desaparecendo. Não podia acreditar no que meus olhos viam, ele estava
ficando transparente. Chamei por seu nome tantas vezes que minha
garganta já estava começando a arranhar. Me assustei ao ver que ele
não se movia e a cada segundo que passava ele sumia ainda mais.
Tive a ideia de chacoalhar seu corpo para que acordasse, mas ao
tentar segurar seus ombros percebi que não conseguia tocá-lo. Entrei
em desespero e comecei a chorar, eu não sabia o que fazer, nem se tinha
o que fazer. Chris parecia estar partindo para sempre voltando a ser
apenas um amigo imaginário. Me sentei ao seu lado no chão, encostei
na parede fria e chorei. Chorei implorando para que ele não me
deixasse.
Então, notei que neste momento seu corpo começou a ganhar
cor de novo. Minha garganta secou, tentei entender o que estava
acontecendo e o toquei. Dessa vez eu o senti, e ao que parecia, ele
também.
— O que aconteceu? Por que estou no chão? E porque está
chorando? — Perguntou confuso.
— Pensei que você estivesse sumindo e virando imaginário
novamente. Fiquei com muito medo de te perder e nunca mais te ver. —
O ajudei a se levantar do chão, e o abracei chorando. Ele vestia apenas
sua cueca boxer preta de listras.
— Mas por que pensou isso? — Perguntou retribuindo o abraço
com muito carinho, e passou sua mão em meus cabelos, tentando me
acalmar.
— Encontrei você caído, estava transparente, a impressão que
tive é que estava sumindo, ou se tornando imaginário novamente, e
entrei em desespero. Não quero te perder. — Choraminguei.
— Vem meu anjo, senta um pouco aqui, vou pegar um copo de
água. Está muito assustada. — Me ajudou a ir até a cama, em seguida
me deu um copo com água.
— Eu não quero te perder, mas não sei o que fazer para você
continuar real. — Tomei um gole de água em seguida.
— Você não vai me perder, mas se isso aconteceu, quer dizer que
não temos muito tempo, precisamos juntos descobrir como eu posso
me tornar real para sempre. — disse sentando-se do meu lado. — Mas
agora não é um bom momento para pensar nisso, precisamos
descansar e amanhã podemos pensar em algo. — Falou todo carinhoso,
passando a mão em meu rosto.
— Você está certo, meus olhos parecem ter areia, vou passar
uma água no corpo e vamos dormir, amanhã resolvemos isso. — Me
levantei da cama e fui direto tomar o banho, enquanto ele se deitava
para dormir.
Tomei um banho rápido, fiz minha higiene, me troquei
colocando uma camisola confortável inteirinha de renda, e fui me
deitar. Chris estava tão cansado que já tinha desmaiado de sono. Me
deitei do lado dele, e ele ao perceber me abraçou por trás, mas não
acordou. E eu rolei muito naquela cama até finalmente pegar no sono,
estava preocupada demais com o Chris.
Acordei com o barulho dos passarinhos e logo em seguida meu
celular tocou. Peguei-o na mesinha do lado da cama e atendi sem olhar
no visor, mas era minha mãe toda nervosa querendo saber como eu
estava. Apenas disse a ela que estava tudo bem, e que ligava a noite.
Satisfeita com o que falei me desejou um ótimo dia dizendo que
esperava por minha ligação, me mandou um beijo e desligou.
Chris ainda dormia, e sem querer atrapalhar seu sono, me
levantei sem fazer barulho, fui fazer minha higiene no banheiro e me
troquei. E ao sair recebi um abraço bem gostoso de um Chris bem
sonolento.
— Bom dia meu anjo, conseguiu dormir? — Perguntou me
dando um selinho, em seguida foi para o banheiro. Nem me deixou
responder. Não demorou muito e ele saiu do banheiro todo perfumado,
vestindo uma bermuda jeans, uma camiseta regata branca e um
chinelo no pé. — Você não me respondeu se conseguiu dormir.
— Demorei para pegar no sono, mas quando consegui desmaiei.
— Disse ao terminar de fazer um rabo em meu cabelo.
— Que bom que conseguiu dormir. Agora acho bom a gente ir
tomar café.
— Vamos descer então. — peguei em sua mão e descemos para
tomar café.
— Fiquei pensando antes de pegar no sono. Por que minha irmã
esse tempo todo tem me vigiado? E o que ela tem para me falar? —
Perguntei ao colocar em minha bandeja, uma xicara de café, pão de
queijo e um pedaço de bolo de fubá. Chris pegou o mesmo que eu.
Fomos nos sentar em uma mesa que tinha ali perto.
— Talvez ela só queria ter certeza que foi adotada por pessoas
boas. Agora o que ela queria te falar, só vamos descobrir quando ela te
encontrar novamente. — Respondeu Chris ao sentar na mesa.
— É, talvez seja isso, mas preciso muito encontra-la novamente,
quero saber tudo sobre ela e nossa mãe. Eu já entendi que me deixaram
no orfanato para me proteger, mas me proteger de quem? Quero saber
sobre isso também. Há muitas perguntas na minha cabeça. — Tomei o
último gole de café e me levantei da mesa. — Vou buscar mais café,
você vai querer alguma coisa?
— Traz dois pães de queijo. — Respondeu me olhando.
Fui direto pegar mais café e o pão de queijo, quando ia voltando
para a mesa notei que em um pilar do lado do aparador com as
guloseimas e a máquina de café, tinha um cartaz dizendo: “Madame
Charlote, tudo sabe, tudo vê. Lê sua mão, tira a carta da sorte e conversa
com seus entes queridos que já faleceu. Ligue para vidente Madame
Charlote e agende seu horário.” Não acreditava em nada daquilo, mas
não custava tentar e ver se ela poderia me ajudar com o Chris.
Então com o celular na mão liguei para ela, já que o cartaz
fornecia o número, e agendei um horário para às duas horas da tarde.
Depois de ligar voltei para a mesa, contei ao Chris que já tínhamos um
compromisso, e contei com quem era.
— Jura que você quer ir em um lugar desse? Você sempre dizia
que esse tipo de gente só se aproveitava das pessoas ingênuas, que são
mentirosas. — Argumentou ao terminar de comer seu pão de queijo.
— Eu sei, mas minha opinião sobre esse tipo de gente não
mudou, mas também não tenho nada contra eles. Só acredito que talvez
ela possa nos ajudar, não sei como, mas acho que não custa tentar. —
Me levantei da mesa, ao terminar meu café.
— Tudo bem, se é isso que você quer, nós iremos. Agora o que
acha darmos uma volta pelo hotel. Ele é grande e tem muitas opções de
lazer para os hóspedes. — Segurou em minha mão.
O hotel era realmente muito grande, passeamos o resto da
manhã. Conhecemos as piscinas de águas quente que tinha uma
pequena cascata caindo na piscina maior. Depois fomos para quadra de
tênis, até arriscamos jogar, mas não era nossa praia, então desistimos.
Fomos em um lindo parquinho para criança, e Chris quis tirar muitas
fotos. Voltando pelo caminho que fizemos, notamos que logo depois da
quadra de tênis, tinha uma lojinha pequena, e fomos até ela. A loja era
encantadora, tinha muitas bijuterias, muitos enfeites, lembrancinhas,
maquiagem e brinquedos, tinha de tudo um pouco. Aproveitei e
comprei uma lembrancinha para os meus pais.
O tempo passou que nem percebemos e já era quase uma hora
da tarde, então fomos para o restaurante do hotel, para almoçarmos. O
almoço foi tranquilo e gostoso, mas eu não estava com muita fome,
comi muito pouco, e após a uma deliciosa sobremesa voltamos para o
quarto. Tomei um banho rápido e me arrumei. Chris também fez o
mesmo, e logo depois saímos indo direto para madame Charlote com
ajuda do GPS.
— Pela informação que estava no cartaz sobre o endereço, acho
que chegamos. — Falei mostrando para o Chris enquanto ele
estacionava.
— Então vamos entrar.
Juntos entramos naquele pequeno lugar todo colorido e com
vários desenhos estranhos na parede. Na recepção tinha uma linda
jovem loira de pele muito clara e se vestia como uma cigana, cheia de
lenços, muitas roupas e várias joias pelo corpo.
— Buenas tardes, puedo ayuder? Desculpe as vezes me esqueço
que estou no brasil. Boa tarde, posso ajudar? — Perguntou a jovem ao
nos ver entrar que pelo visto ela era espanhola.
— Sim, temos uma hora marcada com madame Charlote.
— Qual o nome foi marcado? —perguntou nos observando.
— Elizabete Evelyn.
— He encontrado, você é a próxima.
— Pago para você?
— Sí, mas pode me chamar de Jade.
Paguei a ela, e Jade toda educada nos mandou sentar e esperar a
madame Charlote nos chamar. Foi o que fizemos, nos sentamos em um
sofá grande muito chique por sinal, que por cima dele tinha um lenço
grande colorido, e o sofá mesmo era na cor palha.
Não demorou muito e madame Charlote me chamou, ao entrar
disse que Chris deveria esperar lá fora, pois, sua áurea poderia
atrapalhar a minha áurea. Isso para mim parecia coisa de louco, mas
respeitava suas crenças. E como ela pediu Chris voltou para sala de
espera e eu a segui porta a dentro. Fomos para uma sala que tinha uma
mesa redonda com uma toalha roxa, várias cartas esparramadas pela
mesma e no centro uma bola de cristal. Madame Charlote era uma
mulher de uns cinquenta anos, ruiva de pela muito branca, e muito
conservada, pois parecia ter menos. Ela se vestia como Jade, vestido e
muitos lenços e joias.
— Siente, em que posso ajudar? — mostrou aonde eu deveria
sentar, em seguida ela sentou em minha frente e ficou me olhando por
alguns segundos. — No puedo crer es que Luma? — Falou madame
Charlote em espanhol, e parecia assustada.
— O que disse? Não entendo.
— Eu perguntei se você é a Luma?
— Luma é o nome que minha mãe biológica escolheu, Lizy é o
nome que meus pais adotivos me deram. — Expliquei a ela que ainda
estava assustada, só não entendia o porquê.
— Dios mío, me encontraste. — De repente ela começou a ficar
branca e do nada desmaiou.
— JADE...CORRE! Madame Charlote desmaiou. — Gritei saindo
dali. Encontrei com Jade no corredor e Chris logo atrás.
— O que aconteceu Lizy? — perguntou Chris ao ver meu
desespero.
— Eu não sei, ela começou a ficar branca e desmaiou. — Contei a
ele.
— Ayúdame, por favor. — Gritava Jade da sala onde Madame
Charlote estava caída.
— Vou chamar a ambulância. — Falei ligando para a
emergência, logo em seguida desliguei e falei: — Pronto Jade, já chamei
a ambulância, agora é só aguardar.
— Por favor, vão embora, remarcarei a seção assim que ela
estiver boa. — Falou Jade, que se encontrava no chão com a cabeça da
madame Charlote em seu colo, ela estava desesperada.
— Tudo bem, nós vamos embora, mas por favor me dê notícias
de como ela está ok.
— Eu darei, obrigada. — Respondeu com as lágrimas descendo
pelo rosto, cortava o coração de ver. Madame Charlote deveria ser sua
mãe.
Sai de lá sem entender o que tinha acontecido. Visto que ela
parecia ter me conhecido e não esperava me encontrar. Será que ela
sabia algo sobre mim? Precisava voltar a falar com ela, mas antes teria
que esperar madame Charlote melhorar.
— Lizy, você pode me contar o que aconteceu? — Perguntou
Chris no caminho para o hotel. Eu não quis fazer mais nada, apenas
esperar Jade me ligar. A reação daquela mulher foi muito estranha,
parecia até que me conhecia. Isso não sai da minha cabeça. Precisava
descobrir se madame Charlote sabia algo sobre mim.
— Foi muito estranho, Chris, porque assim que ela sentou em
minha frente naquela mesa redonda, Charlote ficou por alguns
segundos me olhando estranho, depois começou a falar em espanhol e
eu não entendi muito bem. Então ela disse que estava me perguntando
se eu era a Luma. Apenas expliquei que Luma era o nome que minha
mãe biológica tinha me dado, e Lizy minha outra família que me deu.
Novamente falou em espanhol, mas dessa vez não foi difícil entender,
ela disse: ‘’Meu Deus, você me encontrou” no mesmo instante começou a
ficar pálida, e desmaiou. Sinceramente Chris, eu não sei como me
reconheceu e pela sua reação, ela não esperava que eu a encontrasse.
Será que ela conheceu minha mãe? — Questionei notando Chris
estacionar o carro.
— Nossa Lizy, estou sem palavras, você encontrou alguém que
com certeza deve ter conhecido seus pais biológico. Só pode ser isso, já
que a reação dela foi notada de imediato, ela nem disfarçou, pois foi
pega de surpresa. Agora entendo por que quer tanto esperar Jade te
ligar. Anjo, se você tivesse me ouvido quando me contou onde iriamos,
você não teria descoberto que Charlote sabe algo sobre você. —
Argumentou ao entramos em nosso quarto.
— Você tem razão, preciso muito falar com ela. — Me joguei
naquela cama macia, enquanto Chris ia ao banheiro.
O resto da tarde foi assim, não larguei meu celular por nenhum
segundo. Tomamos café da tarde no restaurante do hotel e voltamos
para o quarto.
Ficamos ali agarradinhos, assistindo ao um filme que na
verdade nem sabia o nome, pois minha atenção não estava no filme, e
sim em todas as perguntas que passavam em minha cabeça. Como faria
para o Chris tornar-se real? Isso parecia impossível. Quem matou
minha mãe biológica? E por qual motivo ela foi assinada? E o que
minha irmã tinha para me falar? Minha cabeça estava dando um nó
com tantas perguntas sem respostas.
— Gostou do filme? Eu achei um pouco sem graça. — Chris falou
levantando-se da cama.
— É, eu também achei. — Respondi sem graça, pois eu nem
prestei atenção no bendito filme.
— Bom, vou tomar um banho, já está quase na hora de nós
jantar. Nossa! Nem vimos a hora passar. — disse entrando no banheiro.
Aproveitei que estava sozinha e decidi ligar para o orfanato.
Queria conversar com a Vic, demorou, mas ela acabou atendendo no
terceiro toque.
“Alo”
— Boa noite, eu gostaria de falar com a Vic.
“Ela não está, não veio trabalhar hoje por que um amigo dela
morreu”
— Sinto muito, mas então você poderia me passar o celular dela,
quero muito falar com ela — Então a senhora que atendeu me passou o
número, agradeci e desliguei.
Não queria perder tempo, precisava falar com ela. Ainda com o
celular em mãos liguei para Vic que atendeu rapidinho, mas não falou
nada.
— Vic você está aí?
“Quem está falando?’’
— Sou eu Vic, a Lizy.
“Lizy, desculpe não reconheci sua voz.”
— Eu percebi, estou ligando para saber como você está? Eu vi o
acidente, eu passei por lá e tinha alguns carros de polícia e uma
ambulância.
“Agora eu estou bem, um pouco triste com o ocorrido, mas não a
como mudar o que aconteceu. Me disseram que você tinha pegado carona
com ele, mas quando recebi a notícia, disseram que Jeke estava sozinho, e
aquele lugar não era o caminho para o seu hotel. Onde você estava?”
— Não vou mentir para você, ele me levou até aquele lugar para me
beijar, eu abri a porta do carro, sai correndo e me escondi. Como Chris me
viu entrar no carro dele, nos seguiu. Jeke foi embora e me deixou naquele
posto abandonado, mas logo Chris me encontrou e quando saímos dali
para voltarmos ao hotel, no caminho vimos o acidente. Fiquei tão
assustada que não tive reação, fui direto para o hotel e nem consegui
dormir direito.
“É bem a cara dele tentar beijar alguém a força, eu fiquei aliviada
de saber que não estava com ele. Jeke sempre foi assim, além de não
respeitar ninguém, ele corria muito. Ele era o típico filhinho de papai,
sempre teve tudo o que quis, e nunca aceitou um não como resposta.
Mesmo sendo assim, eu e o Thomas gostávamos muito dele, Jeke era um
ótimo amigo. Mas fica tranquila, eu estou bem, a tristeza vai passar, tudo
passa. Obrigada por me ligar.”
— Não precisa agradecer, eu precisava saber se estava bem. E fico
feliz por estar melhor. Bom, só liguei mesmo para saber de você, e para
agradecer do convite para sua despedida de solteiro. Estava muito gostoso.
“Eu que agradeço por sua presença, agora você já tem meu número,
me ligue quando quiser.”
— Ligo sim, beijos e fica com Deus.
“Amém! Você também Lizy” — E Vic desligou.
— Com quem você estava falando? — Perguntou ao sair do
banheiro.
— Com Vic, liguei para saber como ela está e agradecer pela
festa. — Me levantei da cama e fui pegar minha roupa no armário.
— E ela está bem? — Questionou enquanto enxugava seus
cabelos com a toalha.
— Sim, ela está bem, só está um pouco triste, pois apesar de ser
como era, Jeke era um bom amigo para eles. Vou tomar um banho
agora. — Comuniquei ao Chris que terminava de ajeitar o cabelo.
Tomei um banho relaxado e tentei esquecer tudo isso, porque eu
só queria ter uma noite agradável com o Chris, já que nem sabia quanto
tempo ele ficaria assim. Depois de trocada, sai do banheiro indo direto
para o espelho do quarto. Sequei meu cabelo e fiz uma trança solta.
Chris só observava da cama onde estava.
— Você está linda, meu anjo. — levantou-se e me abraçou por
trás, dando um beijo em meu pescoço que acabou me deixando toda
arrepiada.
— Obrigada, você também está lindo. Estou pronta, agora
podemos ir. — deixei um selinho rápido em seus lábios, e pegando em
sua mão saímos do quarto.
Chegamos no restaurante e procuramos por uma mesa, O lugar
estava lotado, mas conseguimos encontrar uma no fim do restaurante,
encostada a uma janela de frente para a rua.
Nos sentamos ali e logo o garçom levou o cardápio. Como a noite
estava mais fria, eu pedi uma sopa cremosa de cenoura e batata
enquanto Chris ficou com um caldo de milho e bacon. Para beber Chris
pediu um vinho branco, só que eu nunca havia bebido vinho antes,
então decidi experimentar. Não demorou muito e o garçom levou
nossos pedidos, comemos e bebemos num papo descontraído, nem
tocamos no assunto sobre tudo o que estava acontecendo. Terminamos
e pedimos o prato principal; arroz carreteiro com frango grelhado no
bafo e para finalizar um delicioso mousse de chocolate e café.
Após o jantar, resolvemos passear pelo centro da cidade. Aquele
lugar era muito bonito. Colorido, cheio de flores pelas calçadas e
principalmente, bem iluminada. No meio do caminho, meu celular
começou a tocar, acabei levando um susto por causa disso. Não
esperava receber nenhuma ligação. O peguei em mãos e ao olhar a tela
senti uma vibração diferente no coração.
— É a Jade.
— Atende, o que você tá esperando? — Questionou ao me ver
parada olhando para o celular. Então atendi o mais rápido que pude.
— Boa noite, Jade.
“Boa noite, Lizy, estou lingando para informar. Minha mãe
Charlote sempre teve pressão alta por causa do emocional, foi por esse
motivo que desmaiou. O médico achou melhor ela passar a noite aqui no
hospital, só para controlar a pressão, mas ela já está melhor e pediu que eu
te ligasse. Ainda está no horário de visita e minha mãe quer falar com você.
Ela chamou por você várias vezes enquanto estava desacordada. Será que é
um horário ruim para você vir visita-la?”
— Claro que não, eu agradeço por me ligar, creio que em dez
minuto estarei aí.
“Gracias, e até mais.” — E Jade desligou. Graças a Deus que o
hospital não ficava muito longe, já que passamos por ele várias vezes.
— E aí, como madame Charlote está? Ela te falou? — Questionou
Chris bastante preocupado.
— Está internada no hospital. Charlote sofre de pressão alta
emocional e acho que quando me viu, sua pressão subiu e a fez
desmaiar. Mas ela quer me ver agora, pediu que eu fosse visita-la. —
Falei ainda parada na calçada olhando para o celular. Me encontrava
assustava, não sabia o que iria descobrir sobre meus pais biológicos
com madame Charlote.
— Então vamos para o hospital, não fica aí parada, VAMOS... —
Me puxou pela mão.
No caminho para o hospital eu liguei para os meus pais e minha
mãe me encheu de perguntas. Queria saber se eu estava me divertindo,
e se eu cumpri a promessa. Falei a ela que estava me divertindo muito, e
que cumpri sim o que prometi. Eu não podia contar a verdade, não
gostava de mentir, mas quando voltasse contaria toda a verdade a eles.
Minha mãe se despediu dizendo que estava feliz por eu ter ligado, me
desejou boa noite e desligou em seguida.
— Pronto, já ligou para os seus pais, agora estão mais tranquilos.
Não importa a idade que você tiver, eles sempre vão ser assim com
você, já que te amam demais. — Argumentou Chris ao estacionar o
carro em frente ao hospital.
— Eu sei, Chris, eu entendo o porquê são assim comigo. Eu sou
tudo o que eles têm. — Falei ao sair do carro, e juntos fomos até a
recepção.
— Boa noite, vim visitar madame Charlote. — Comuniquei ao
rapaz da recepção.
— Boa noite! Ela está no quarto número 3 do segundo andar,
mas como ela tem acompanhante no quarto só um de vocês poderão
subir para vê-la. — O rapaz falou me entregando um cartão de visitante.
— Pode ir anjo, eu te espero aqui.
— Obrigada, vou lá então. — Dei-lhe um selinho e vi que ele foi
sentar em uma das cadeiras de espera que tinha na recepção. Fui direto
para o quarto, mas ao chegar na porta a encontrei fechada, então bati.
— Entre. — Falou alguém do outro lado da porta e entrei. Era
Charlote deitada na cama com a voz fraca.
— Cadê a Jade? — Perguntei notando que ela estava sozinha no
quarto.
— Estou aqui. — Jade saiu do banheiro que tinha no quarto.
— Minha jovem, sente-se, tenho muita coisa para te contar. Jade.
me ajude a sentar naquela poltrona, não quero ficar deitada. — Falou
Charlote tentando se levantar.
— Não sei se é uma boa ideia mãe, melhor ficar aí mesmo. —Jade
respondeu preocupada.
— Mi Dios Jade, estoy bien, hacer lo que te pido. — Charlote
falou em espanhol e parecia irritada.
— Está bueno, no es necesario para irritar. — Jade ajudou sua
mãe a sentar-se na poltrona.
As duas conversavam em espanhol, eu entendia mais ou
menos. Me sentei no sofá de dois lugares, e esperei Jade acomodar sua
mãe na poltrona. Logo depois ela veio se sentar ao meu lado. Charlote
estava sentada numa poltrona que ficava em nossa frente.
— Lizy, você está preparada para saber tudo que sei sobre seus
pais? Como você, Jade não conhece essa história que vou contar. Estão
preparadas? — Questionou Charlote, me deixando com um frio na boca
do estômago e toda arrepiada.
Sempre esperei por esse momento, tudo o que eu queria era
saber sobre meus pais biológicos e agora descobriria a verdade sobre
eles.
— Estou pronta e ansiosa para saber sobre eles. — Respondi a
Charlote, já que ela me olhava esperando por uma resposta, Jade apenas
fez sinal com a cabeça, dizendo que estava preparada.
— Já que é assim, vou contar tudo que sei. Bom, acho que você
Lizy já ouviu falar em ciganos, não é?
— Sim, já ouvi falar, mas nunca conheci nem um.
— Bom, agora você conhece, eu e Jade somos ciganas. Cigano
nada mais é, do que um povo místico que acredita em magia e na força
da natureza. Temos um modo de vida diferente dos outros. Fazemos
festas para a lua que tem um grande significado na nossa vida, e nos
vestimos diferente por que gostamos de coisas coloridas e muitas joias
por ter um significado simbólico. Existe um mundo onde pessoas não
tem endereço fixo, documentos, conta em banco, carteira assinada,
nem história. A vida deles passam despercebidas, como se não
existissem. A única certeza é que nunca faltará preconceito e
ignorância, medo e fascínio, injustiças e alegrias ao longo de suas vidas.
Esse, é o mundo cigano.
[...] Há muitos anos atrás fomos perseguidos, e muitos foram
mortos, pois acreditavam que nós, o povo cigano, fossemos bruxos e
muitos diziam que nós éramos ladrões de crianças. Mas nunca fizemos
isso. Isso é pura lenda! Na cidade de Andaluzia onde nós morávamos na
Espanha, antes de virmos para o Brasil, duas crianças desapareceram e
nos culparam. Mas eles estavam enganados, nós não roubamos
nenhuma criança. Só que o povo da cidade não acreditou e antes que
eles fizessem algum mal conosco, nós nos preparamos para fugir do
país. Mas seu pai Felipo, junto com o pai da Jade e outros, foram
sequestrados e enquanto eles estavam sendo torturados até a morte
fugimos para o brasil, nós já estávamos com as passagens compradas e
viemos de avião. Sua mãe Crystal era minha irmã mais nova, e ela já
tinha uma filha quando fugimos da Espanha, e eu tinha a Jade. Quando
chegamos aqui, como medo de que alguém da nossa cidade tivesse nos
seguido, cada uma seguiu seu destino, já que tínhamos que nos separar,
mas não fomos para tão longe assim. Crystal comprou uma fazenda e
foi morar com sua filha. Era uma fazenda pequena, mas ela gostava de
cuidar de animais, por isso escolheu a fazenda que tem aqui na cidade
de Gramado, mas eu nunca quis saber onde fica, porque achava
perigoso saber aonde ela morava. Eu escolhi morar no centro da cidade
no meio de tudo. Então preferimos assim, ela não sabia aonde eu
morava, eu não sabia aonde ela morava, e vivemos assim por um bom
tempo.
— Você é minha tia, e Jade é minha prima? — Perguntei
emocionada. — Eu sou cigana? Mas se minha mãe veio para cá só com
minha irmã. Meu pai é daqui? — Questionei sem entender.
— Sim, você é cigana legítima como nós. Como eu te disse,
ficamos muito tempo sem nos ver, mas um dia recebi uma carta
dizendo que quando sua mãe fugiu da Espanha ela estava grávida de
você de pouco tempo, mas só descobriu alguns meses depois que já
morava aqui. Na carta dizia que sua mãe estava sendo perseguida, e que
foi morta ao dar à luz, mas que para te salvar sua irmã a deixou em um
orfanato. A carta terminava dizendo que um dia você iria me encontrar,
e me encontrou. O mais estranho dessa carta é que não tinha assinatura
e nem data, e até hoje não sei quem mandou.
[...] Sua irmã chegou a morar comigo por pouco tempo, até
mostrei a carta, mas ela apenas disse que a letra era da mãe dela, nós
duas achamos estranho, já que a carta chegou depois que sua mãe tinha
morrido. Só não entendo até hoje como Luna me encontrou. Quando ela
descobriu que o assassino da sua mãe tinha sido morto pela polícia,
Luna ficou tão feliz com a notícia que foi embora dizendo que tinha
muita coisa para resolver e nunca mais soube dela.
Fiquei emocionada, ao mesmo tempo que assustada por saber a
história da minha família. Minha origem. Eu tinha uma família, uma
prima, uma tia, uma irmã. Era como se a vida estivesse me devolvendo
a felicidade. Jade ainda não havia dito nada, estava tão assustada
quanto eu. Ouvir que seu pai havia sido assassinado não era algo fácil
de digerir.
— Por que nunca contou que meu pai morreu assim? E por que
nunca me disse nada sobre sua irmã? Minha tia. Agora descubro que
tenho uma prima. — Havia indignação em sua voz, mas podia perceber
a emoção também. — Sempre quis ter uma irmã, ou até mesmo uma
prima para conversar. — Confessou sorridente. — Sempre fomos só nós
duas, mãe. — Suspirou forte e caminhou em minha direção. — Agora
tenho você prima. Seja bem-vinda a nossa humilde família. — Falou
emocionada e me fez levantar para abraça-la.
— Jade, minha filha, me desculpe. Nunca te contei porque falar e
lembrar de tudo que passei, sempre me deixa muito triste. — Falou
Charlote com os olhos cheios de lágrimas. Fui até aonde ela estava, lhe
ajudei a se levantar e em seguida lhe dei um abraço carinhoso.
— Obrigada por me contar tudo o que sabia sobre meus pais.
Isso preencheu o vazio que eu sentia em meu coração e agora me sinto
feliz por ter vocês duas na minha vida. Uma tia e uma prima era tudo o
que eu queria, minha família. Vou deixar meu endereço e meu telefone,
quero que me ligue sempre que precisar, e por favor vão me visitar, me
fará muito feliz. — Abracei as duas novamente. — Preciso ir, senão logo
uma enfermeira vem me dar bronca, já estou há muito tempo aqui.
— Quando vai embora? — Perguntou Jade, enquanto ajudava
sua mãe a se deitar na cama.
— Volto amanhã cedo para minha cidade, mas ainda vamos nos
ver muito e também aguardo vocês lá. Bom, vou indo, mas antes de ir
embora eu ligo para saber se Charlote saiu do hospital. Boa noite e
fiquem com Deus.
Deixei o quarto com lágrimas descendo pelo meu rosto, era uma
sensação tão boa saber o que realmente havia acontecido com meus
pais, saber quem realmente eu era. Meus pais haviam morrido, mas
ainda tinha uma irmã que eu pretendia encontrar, uma tia e uma
prima. Sorri para mim mesma, essa viagem não havia sido em vão.
— Desculpe, demorei um pouco, mas já estou aqui. — Falei
entregando o cartão de visita para o rapaz que não estava com uma cara
boa, e nem me disse uma só palavra pela minha demora.
— Nossa, meu anjo você demorou. Quase dormi nesse sofá. Mas
é aí como foi? Me conta, quero saber. Porque essas lágrimas? —
Perguntou um Chris todo eufórico, mas quando viu minhas lagrimas
me abraçou. — Vamos, meu anjo, quando você quiser me contar, você
me conta, tá? Não fica assim tão triste. Eu não gosto de te ver assim. —
abriu a porta do carro como um cavalheiro para que eu entrasse.
— Estou bem Chris, só estou chorando de emoção. Estou um
pouco triste também, pois descobri que tanto minha mãe, como meu
pai biológico estão mortos. — Falei ao entrar no carro.
— Se não quiser, não precisa falar sobre isso, meu anjo. — Chris
ligou o carro e fomos direto para o hotel.
— Eu quero falar Chris, vou te contar tudo. — Então voltamos
para o hotel no maior papo.
Contei que eu era uma cigana e ele ficou surpreso. Continuei
contando sobre minha tia, minha prima e a fazenda, mas o que achei
mais difícil de contar foi a maneira como meus pais morreram, já que
para mim, foi uma injustiça. Nunca ouvi falar que ciganos são ladrões
de crianças. Que são bruxos eu já ouvi, por causa da magia que eles
podem fazer, como; adivinhações, ler a mão, e outras coisas, mas isso
não faz mal a ninguém. Chris não dizia uma só palavra, apenas me
ouvia atentamente. Continuei a falar sobre minha irmã ter morado
com minha tia. Contava minha descoberta com tanta empolgação e
tristeza ao mesmo tempo, que nem percebi que já estávamos entrando
em nosso quarto. Finalizei dizendo que precisa encontrar minha irmã e
que eu gostaria muito que minha tia Charlote e minha prima Jade
fossem me visitar.
— Nossa, Lizy! Estou começando a acreditar que você é uma
linda bruxinha. Bastou ver aquele cartaz sobre a madame Charlote para
adivinhar que descobriria algo. — Chris zombou.
— Sabe que você tem razão! Aquele cartaz me chamou a atenção,
eu tinha certeza que iria descobrir algo. Se bem, que eu fui nela para
descobrir como te tornar real e isso até agora eu não consegui. —
Caminhei em direção ao banheiro para tomar um banho, nunca gostei
do cheiro de hospitais.
— Talvez você seja a resposta que tanto procura, Lizy. Se é
cigana como disse, então tem poderes místicos e por isso seu pedido se
tornou real. — Ouvi sua voz por trás da porta.
Foi então que tudo começou a fazer sentido. Claro que as
palavras têm poder, ainda mais se você é uma cigana.
— Como não pensei nisso antes? — questionei-me perplexa. —
Posso possuir esse tipo de poder por ser cigana. Fiz você ser real e
preciso descobrir como farei para que dure para sempre. — Terminei
meu banho rápido, enxuguei meu corpo e vesti uma camisola. — Você é
um gênio, Chris. Eu nunca teria pensado nisso sozinha.
Deixei o banheiro e andei em sua direção. Tinha um sorriso
largo em meu rosto devido a felicidade que sentia. Beijei seus lábios
com suavidade e liberei passagem para que ele fosse tomar um banho.
— Que bom que te ajudei. Vou tomar um banho também. —
entrou no banheiro. — Talvez sua irmã possa te ajudar a descobrir
como me tornar real para sempre. Já que ela deve saber como funciona
os poderes dos ciganos. — Falou Chris quase gritando de dentro do
banheiro e pelo barulho de água caindo, ele já estava no banho.
— É a primeira coisa que quero fazer amanhã quando
chegarmos em casa, vou procurar minha irmã. — sequei meu cabelo e
me joguei naquela cama.
Estava quase pegando no sono quando ouvi a porta do banheiro
abrir, em seguida, ouvi a porta do armário se fechar e logo depois ouvi
um forte barulho de algo caindo no chão. Assustada dei um pulo da
cama e encontrei Chris caído de bruços no chão, com muito cuidado
tentei desvira-lo, mas como da outra vez ele estava transparente, por
isso eu não conseguia toca-lo. Entrei em desespero por não conseguir
ajuda-lo, e me bateu um medo de perde-lo que mais uma vez me fez cair
no choro.
Já fazia alguns minutos que ele estava caído e sem sinal de
acordar. Pensei em chamar a ambulância, só que ele continuava
transparente, como eu explicaria isso para os paramédicos? Então me
levantei do chão e me sentei na cama, me encostei na cabeceira, dobrei
os joelhos, debrucei a cabeça por cima deles e abraçando meus joelhos
cai no choro.
Podia ser cigana como disseram, mas nem conseguia usar os
poderes que devia ter para ajudar o Chris. Fiquei ali por alguns minutos
chorando, até que ouvi um barulho, e quando fui levantar a cabeça para
ver que barulho era esse, dei de cara com o Chris subindo em cima da
cama e se aproximando para me abraçar.
— Está tudo bem, meu anjo. Eu acordei estou aqui. Fica calma
anjo. — Chris falava tentando me acalmar.
— Chris, eu quase te perdi, e nada pude fazer para te ajudar.
Dessa vez você demorou para acordar e da próxima talvez desapareça
de vez. Eu não sei como impedir isso. Talvez o destino não quer que nós
fiquemos juntos. Você nunca existiu como poderia haver destino para
você? — Solucei.
Chris era minha vida, eu o conhecia desde muito pequena, ele
sempre foi meu amigo, meu companheiro, um irmão que nunca tive,
meu protetor, já que sempre cuidou de mim. Chris sempre foi meu
porto seguro, sem ele eu teria enlouquecido. Não conseguia imaginar
minha vida sem o Chris.
— Calma, anjo, não pense no pior, sei que nessa cabecinha está
passando mil coisas, mas pare de pensar um pouco. Amanhã é outro
dia, juntos vamos procurar sua irmã, e assim, descobrir como me
tornar real para sempre. — passou a mão em meu rosto, enquanto eu
observava aqueles lindos olhos azuis. Notei que em cima da
sobrancelha tinha um pequeno corte.
— Você machucou! — passei meu dedo sobre o corte que nem
sagrava mais.
— Não foi nada meu anjo, se você não tivesse falado, eu nem
saberia que tinha me machucado.
— Vou pegar um pano com água para limpar o sangue que
secou. — Sai da cama e corri até o banheiro.
Como não encontrei nada que pudesse limpar, peguei a toalha
de rosto e molhei a ponta. Voltei para cama, onde ele me esperava. E
com muito cuidado comecei a limpar seu machucado. De repente
nossos olhares se cruzaram e nossas bocas se aproximavam. E numa
delicadeza que nunca vi igual, elas se tocaram.
Ali, tudo o que se passava em minha cabeça era que aquele
momento poderia ser o único e último. Sentia no fundo do coração que
havia chegado a hora certa para me entregar a ele. Me entregar sem
medos ou receios. Nada de bloqueio ou desculpas. O amava como
jamais haveria de amar outro homem em minha vida, por esse mesmo
motivo tinha que ser especial. Precisava ser especial. Precisava ser dele.
Chris tinha tudo que sempre gostei em um homem; carinhoso,
atencioso, cuidadoso, e muito dedicado. O toque das nossas bocas me
deixou nas nuvens, e o beijo aconteceu de uma maneira tão suave que
fez meu corpo todo estremecer. Deixei a toalha cair no chão e Chris
colocando sua mão em minha nuca, foi me deitando lentamente na
cama enquanto o beijo ainda acontecia. E sua mão como uma pluma de
tão macia, acariciava meu corpo por baixo da camisola. De repente ele
se afastou dos meus lábios, e no meu ouvido falou:
— Você é a única que quero na minha vida. Lizy eu te amo, e
para mim não importa que eu não exista, o que importa é que você
existe para mim, e o que temos é sincero e verdadeiro. Se esse for nosso
último momento juntos, quero que seja inesquecível e único para mim.
— Disse passando sua mão em meu rosto.
— Chris, eu também te amo, mas me prometa que esse
momento não vai ser único, que vamos ficar juntos. — olhei em seus
olhos e passei a mão em seu rosto.
— Não posso prometer isso, Anjo, não sei quanto tempo vou
ficar assim. Só prometo que jamais vou te esquecer. — E ao terminar de
falar me beijou novamente, mas eu fiquei tão triste com o que ele disse
que meus olhos se encherão de lágrimas, não pude controlar para que
não escorresse pelo meu rosto, Chris apenas as limpou com o dedo e
continuou a me beijar.
O beijo foi profundo e intenso, parecia até que era o último,
tentei não pensar nisso e me entreguei ao beijo curtindo o momento,
que para mim estava sendo especial. Então, Chris se afastou dos meus
lábios e sentando na cama tirou a regata que ele vestia, ficando apenas
de boxer branca, em seguida voltou a me beijar, e dessa vez tentava
tirar minha camisola. Me deu até um frio na barriga, visto que nunca
vivi nada parecido, já que Chris foi o único homem que namorei,
mesmo assim me sentia bem com ele, então deixei ele tirar.
Ele acariciava com carinho cada detalhe do meu corpo e dava
leves mordidas me deixando toda arrepiada. A sensação era muito boa.
Depois das carícias, ele tirou minha calcinha, fazendo meu rosto
queimar de vergonha, mas não reagi, apenas deixei e curti o que estava
acontecendo. Então ele voltou a me acariciar, às vezes me beijava e em
outros momentos dava leves mordidinhas, até chegar próximo da
minha intimidade. Chris parou o que fazia, e eu só queria sentir mais,
muito mais dele.
— Anjo, você tem certeza? Eu estou louco por você e quero
muito sentir você, quero que seja minha. Só quero ter certeza que você
não vai se arrepender depois. — Disse passando sua mão em minha
barriga, me arrepiando novamente.
— Chris, você é tudo o que eu quero, jamais irei me arrepender.
Ele mal esperou que eu terminasse de falar e me tocou com toda
a delicadeza possível, parecia ter medo que eu desmontasse em suas
mãos. Chris me fez sentir uma explosão de sentimentos capaz de
aflorar sensações prazerosas. Fiquei extasiada e totalmente sem ar
quando nossos corpos se fundiram, fazendo-me sentir parte dele.
Estava exausta, nas nuvens, completamente fascinada por esse
momento especial que estávamos tendo. Nós dois estávamos entregues
ao amor que sentíamos um pelo o outro.
Quando nosso momento acabou, Chris beijou-me de forma
suave e deitou-se ao meu lado colocando seu braço por baixo da minha
cabeça. Sorri apaixonada e deite a cabeça em seu peito. Sua respiração,
assim como a minha, estava acelerada.
— Nossa, Anjo, nunca vivi nada igual, quer dizer, eu nunca
existi, como poderia viver um momento tão fantástico e especial como
esse. Não sei quanto tempo tenho, só sei que quando eu não estiver
mais aqui, sempre vou me lembrar do nosso momento junto, vou fazer
de tudo para tentar voltar, se for possível. Eu te amo demais. — Falou
Chris passando a sua mão em meu cabelo.
— Chris, nunca vivi nada igual, nunca tinha feito isso antes e
não me arrependo de ter feito com você, já que é você quem eu sempre
amei. Me promete, Chris, amanhã vamos procurar minha irmã até
encontrá-la, não vamos perder tempo. Não quero te perder.
— Tudo bem Anjo, isso eu posso prometer, e vamos encontrá-la,
dou minha palavra. — Ficamos ali agarradinhos, às vezes nos
beijávamos, em outros momentos fazíamos carinho um no outro, até o
sono chegar e a gente acabar dormindo juntinho.
Acordei com o canto dos passarinhos, e pelos raios de sol que
estava entrando pelos buraquinhos da janela, o dia deveria estar lindo
lá fora. Me virei para dar bom dia ao Chris, mas levei um susto quando
notei que ele não estava na cama. Achei que poderia estar no banheiro,
mas não ouvi nenhum barulho de água.
Me levantei e fui até ao banheiro, mas estava aberto e Chris não
estava lá. Talvez tivesse ido guardar nossa mala no carro, então
verifiquei o armário, mas malas estavam ali. Peguei o telefone e liguei
na recepção, perguntei se Chris por acaso tinha aparecido por lá, ou se
viram ele passar pela recepção, mas o rapaz disse que o Chris não
desceu.
Comecei a ficar nervosa, me vesti correndo e sai do quarto
procurando por ele. Chris não estava em nenhum lugar. Voltei para o
quarto chorando, com dificuldades fiz as malas e me sentei sobre a
cama. Tentei pensar em alguma maneira de encontra-lo para que
minhas suspeitas não fossem verdades. Peguei o celular e liguei no dele,
chamou, mas somente no terceiro toque que me dei conta de escutar o
vibratório na mesinha da cabeceira da cama. Justamente ao lado de
onde ele havia dormido.
Peguei o celular do Chris e abri. Lá estavam todas as fotos que
tiramos juntos. Desesperada, comecei a chorar, já tinha certeza que ele
havia desaparecido ou se tornado imaginário. A única chance de tê-lo
de volta era minha irmã.
Tinha que ir para casa, mas ainda não tinha carta, minhas aulas
de rua começariam em duas semanas, e a chave do carro do Chris
estava no mesmo lugar que o celular.
Ainda chorando, peguei as duas malas, guardei o celular do
Chris na minha bolsa e peguei a chave do carro. Desci e entreguei o
cartão do quarto para o rapaz da recepção.
Eu sabia dirigir, visto que meu pai sempre me deixou dirigir seu
carro, mas era muito arriscado viajar sem carta, então com o carro do
Chris fui até a casa da minha Tia, a madame Charlote, e desesperada
bati na porta.
— Lizy, meu Deus, o que aconteceu para você ficar assim? Vou
te fazer um chá. — Disse Jade ao abrir a porta, e me puxou pela mão, já
que eu estava em choque de tanto chorar, não sai do lugar, e ela me
levou até a cozinha.
— Charlote, está bem? — Perguntei chorosa.
— Sim, ela teve alta hoje cedo do hospital, está dormindo, já que
não conseguiu dormir lá de jeito nenhum, mas a pressão dela já está
normal. Você não me disse por que está tão triste e chora sem parar? —
Jade perguntou novamente me entregando o chá. Peguei a xicara com a
mão tremula.
— Fico feliz de saber que ela está melhor. Lembra do rapaz que
estava comigo ontem?
— Lembro, claro, é um rapaz muito bonito por sinal, é seu
namorado? — Questionou Jade.
— Sim é, mas o caso é que ele desapareceu sem deixar sinal, não
tenho carta para ir embora e preciso de alguém que tenha. Você tem
carta? — Perguntei ansiosa, em seguida bebi mais um gole do chá.
— Como assim ele desapareceu? — indagou preocupada. — Eu
tenho carta sim, dirijo faz tempo. — Argumentou Jade.
— É uma longa história. Será que você poderia me levar
embora? Depois te pago a passagem de ônibus. Eu não posso voltar
dirigindo, estou com o carro do meu namorado.
— Claro que posso te levar, só vou pedir para Dona Deise, a
inquilina que mora no fundo dessa casa, para cuidar da minha mãe.
Dona Deise sempre cuida muito bem da minha mãe quando preciso,
mas só te levo com uma condição, vai me contar essa história. Quero
saber porque está com o carro do seu namorado, se ele sumiu.
— Ok, pode deixar, vou te contar minha triste história na
viagem. — Terminei de tomar meu chá, e me levantei para colocar a
xícara na pia.
— Tá certo, vou lá falar com Dona Deise e já volto. — Comunicou
Jade saindo da cozinha. Fiquei ali lavando a xícara e pensando em
contar a verdade, já que ela era uma cigana iria acreditar em mim.
— Prontinho, Dona Deise vai ficar com ela. Nem vou acordar
minha mãe, vou só escrever um bilhete. — Argumentou Jade ao entrar
na cozinha.
— Ela não vai ficar chateada? — Perguntei preocupada.
— Não, eu sempre faço isso quando ela está dormindo. Vou
explicar tudinho no bilhete e ela vai entender. Agora vou lá me trocar, e
deixar o recado. — Explicou Jade saindo da cozinha novamente.
Sentei ali na mesa e esperei por ela. Não demorou muito para
que voltasse toda arrumada, com um vestido longo estampado e os
cabelos loiros estavam soltos. Jade era muito parecida com sua mãe, só
que minha tia era ruiva como eu.
— Vamos, estou pronta. Já deixei o bilhete no quarto da minha
mãe, e ela está dormindo como uma pedra. — Contou se encaminhado
para a porta da sala, e juntas saímos indo direto para o carro. Entreguei
a chave a ela e partimos.
— Já estamos na estrada, agora me conta, quero saber o que
aconteceu? — Então mesmo triste como eu estava, contei tudo a minha
prima.
— Nossa que tudo! Você tem poderes. Mas você sabe que os
poderes só acontecem com a força da natureza, né?
— Como assim? Eu não entendo. — Perguntei confusa.
— Vou te explicar. Nós ciganos temos nossos poderes, cada um
tem o seu de maneira diferente, mas ele só acontece quando você faz
com uma estrela cadente junto ou um comenta, até mesmo um vento
inesperado ou com a força da lua. Tudo isso ajuda você a realizar seus
desejos. Até mesmo para ler a mão, precisamos das fazes da lua. Isso é
muito interessante. E pelo que minha mãe contava, sua mãe tinha um
poder muito especial. Bom, ela sempre me falava dessa mulher, mas só
agora descobri que era minha tia. E pelo que contava, o da sua mãe não
precisava da força da natureza, mas vou te confessar uma coisa, eu
nunca acreditei nos poderes da minha Tia Crystal, sua mãe. Agora,
depois do que me contou, eu acredito. Ela tinha o poder de proteção. O
Chris pelo visto é seu protetor, criado por sua mãe. — Não conseguia
acreditar no que ela falava. Chris não havia sido criado por mim, mas
sim, por minha mãe para que me protegesse... ela só não esperava que
eu me apaixonasse por ele. Agora entendia o motivo da correntinha
possuir nossos nomes. Deveria ter algum significado e minha irmã
poderia ser a única capaz de dizer.
— Seu poder deve ser de fazer as coisas acontecerem, como
realizar pedidos, ou até desejar a morte de alguém. Tudo que desejar do
fundo do coração e com a força da natureza, acontecerá, mas
dependendo do desejo, não durará para sempre. Por isso o Chris sumiu.
— Explicou Jade novamente, tirando-me dos meus pensamentos.
— Você tem razão, naquela noite tinha lua cheia, por isso Jeke
morreu. — Pensei em voz alta.
— Do que está falando? E quem é Jeke? — Questionou confusa.
— Era um rapaz no qual desejei sua morte. — Respirei pesado. —
Ele tentou se aproveitar de mim, contra a minha vontade e acabei
desejando que ele morresse. Em seguida, vi um acidente de carro e era
ele quem dirigia, morreu na hora. — Não conseguia explicar o
sentimento de culpa que me dominava.
— Dios mío! Isso tudo aconteceu mesmo? — Jade não parecia
apenas assustada, também parecia estar com medo.
— Infelizmente, sim, mas eu não sabia que tinha poderes e que
isso iria acontecer. Agora que sei, nunca mais quero desejar uma coisa
dessa, nunca mais mesmo, isso é horrível. Me sinto muito mal por saber
que a culpa é minha. Se Jeke não tivesse me conhecido, ele estaria vivo
hoje. — Estava triste e arrependida por ter desejado algo assim.
Agora entendia porque me sentia diferente das outras pessoas,
só não chegava a ser um motivo para me chamarem de esquisita. Ser
diferente não é algo ruim, ninguém deveria julgar por isso. Me senti
sozinha a vida toda porque as pessoas me viam como uma aberração,
isso porque nem sabiam minha descendência e se soubessem, o
preconceito seria maior.
— Não se culpe, Lizy, você não sabia de nada disso, muito menos
que era cigana. Se bem que qualquer um no seu lugar teria desejado
isso, já que esse tal Jeke tentava se aproveitar de você. E agora que já
sabe sobre esse poder que tem, é só tomar mais cuidado no que desejar
daqui para frente — argumentou tentando me animar.
— Você tem razão, eu não sabia, por isso não posso me sentir
culpada. O que Jeke tentava fazer comigo não era certo. No entanto,
daqui pra frente terei muito cuidado — falei ao perceber que já
estávamos perto da minha casa, e continuei: — Jade vire à direita.
Minha casa fica do lado esquerdo, é a terceira casa, ela é toda branca
com detalhes em verde claro e de dois andares.
— Nossa! sua casa é enorme!! — afirmou ao avistar minha casa,
era o único sobrado da rua e em seguida ela estacionou em frente.
Percebi ao descer do carro que a porta da sala se abriu, e uma
mãe muito eufórica correu ao meu encontro e me abraçou. Jade foi
pegar as malas enquanto minha mãe me cumprimentava.
— Filha que alegria, você chegou! Pensei que viesse mais cedo,
chegou bem na hora do almoço — falou minha mãe ao me abraçar.
Quando ela notou que não era o Chris que estava comigo, me olhou
assustada. — Cadê o Chris, Lizy?
— Chris teve que ficar, por causa do seu trabalho.
— Entendo, que pena, eu e seu pai esperávamos por ele para
almoçar conosco —pegou minha mala do chão, enquanto Jade pegava a
sacola dos presentes. — Quem é essa linda jovem? — perguntou
olhando para a Jade.
Como nunca fui de mentir para os meus pais, eu iria dizer a
verdade.
— Mãe essa é minha prima Jade, filha da minha Tia Charlote,
irmã da minha mãe biológica.
— O que? Não entendi. — Arregalou os olhos surpresa. — Muito
prazer e seja bem-vinda — A cumprimentou ainda confusa, meio
perdida com a informação que dei, pelo visto ela não havia processou
direito. — Vamos entrar, o almoço vai ser servido.
— Mãe, você ouviu o que eu disse? Jade é minha prima — fui
atrás dela e fiz sinal para que Jade entrasse, ela entrou comigo.
— Claro que eu ouvi, sempre achei que esse dia iria chegar.
Agora vão lavar as mãos para almoçar, aí você me conta tudo sobre a
viagem, e como encontrou sua prima e tia. Está certo? Vou para a
cozinha e espero vocês lá — Saiu da sala onde colocou minha mala e foi
para a cozinha.
— Sua mãe parece legal — Jade comentou enquanto pegava
minha mala do chão.
— Ela é sim, Jade. Vamos para o meu quarto e deixamos as
coisas lá — subimos para o meu quarto e Jade colocou a mala em cima
da mesinha que tinha ali, logo fomos para o banheiro lavar as mãos e
em seguida descemos para almoçar.
— Jade, você poderia ficar uns dias aqui? Só para me ajudar a
procurar minha irmã — perguntei parando na porta da cozinha.
— Preciso ligar para minha mãe, quero ter certeza que ela vai
ficar bem sem mim. Aí te darei uma resposta se fico ou não.
— OK, eu agradeço se puder ficar. Agora vamos almoçar. — A
puxei pela mão e sentamos na mesa onde meus pais nos esperavam.
— Filha, que bom te ver de volta, sua mãe disse que tem muitas
novidades. Jade, sou André, o pai da Lizy, sinta-se à vontade em nossa
casa — disse ao sentarmos a mesa.
— Obrigada seu André — agradeceu e colocou o guardanapo
sobre seu colo.
— Bom, enquanto dona Holanda coloca o almoço na mesa,
vamos a novidades. Conte a nós como foi sua viagem, Lizy.
— Bom, vou começar contando o porquê resolvi viajar assim de
repente. — Meu coração estava partido pelo sumiço do Chris, e ter que
contar tudo só iria me deixar mais triste, sentia sua falta. Mesmo assim
comecei contando sobre o sonho que tive e que ele me despertou o
desejo de viajar.
— Porque não me contou desse sonho? Você sempre teve
pesadelos e sempre me contou, não entendo porque escondeu isso de
mim — perguntou minha mãe um pouco decepcionada.
— Não queria te magoar mãe, eu não tinha certeza se o que
sonhei era verdade, mas agora tenho, por isso vou te contar tudo. Posso
continuar?
— Claro, filha, continue. Sua mãe não vai mais te interromper —
falou meu pai se servindo de um delicioso salpicão de frango.
Então continuei contando a eles, que eu tinha certeza que o
orfanato iria tirar todas as minhas dúvidas em relação ao sonho, por
isso viajei para lá. Não contei a eles sobre a festa que fui e nem do
acidente em que o rapaz faleceu, não achei necessário. Contei a eles
como encontrei minha prima e tia, que eu era cigana. Também contei a
eles como meus pais biológicos morreram, que só tenho uma irmã que
sempre me vigiou e esteve sempre por perto, no entanto, por algum
motivo nunca teve coragem de falar comigo, mas agora queria
encontrá-la.
Finalizei explicando sobre o Chris, dizendo que ele recebeu uma
ligação do chefe e teve que ficar para resolver uns problemas de
trabalho. Não gostava de mentir. Só que se eles soubessem a verdade
sobre Chris ter virado imaginário, me internariam em uma clínica
psiquiátrica. Por esse motivo não contei sobre os poderes que eu tinha.
— Nossa filha, sua viagem foi bem emocionante! Mas você
parece triste. Não gostou muito que Chris teve que ficar, por isso está
assim? Imagino também que saber a maneira como seus pais
morreram mexeu muito com você. Sempre ouvi falar sobre ciganos,
mas nunca tinha visto um. Agora já sei um pouco sobre eles e achei bem
interessante. — Minha mãe tentou ser compreensiva e olhou para Jade
sorrindo. — Jade, quero deixar bem claro que você e sua mãe são muito
bem-vindas aqui, agora vocês fazem parte da família. — Ela estava feliz,
não parecia chateada. Talvez estivesse assim porque a família tinha
aumentado, e sabia que eu nunca os abandonaria
— Obrigada dona Eduarda, minha mãe vai ficar muito feliz de
saber que agora tem uma linda família — falou Jade assim que
terminou de comer.
— Dona Holanda, pode servir a sobremesa — Gritou minha mãe
ao notar que todos já tinham terminado de comer. — Você vai passar a
noite aqui, Jade?
— Se tudo estiver certo em casa, vou passar uns dias aqui. Será
que posso? — perguntou servindo-se de um bolo recheado de sorvete de
flocos que dona Holanda tinha colocado na mesa.
— Claro que pode! Vou mandar preparar o quarto de hóspede.
— Não precisa mãe, Jade vai dormir em meu quarto, tenho
muito que aprender com ela e temos muito o que conversar. Tudo bem
para a senhora?
— Claro, filha, vou pedir para Celinha colocar o colchão em seu
quarto — respondeu minha mãe terminando de comer a sobremesa.
— Filha, você falou que pretende procurar sua irmã. Como fará
isso? Você quer ajuda? Um detetive talvez. — perguntou meu pai,
interessado em me ajudar.
— Não, pai, acho que não será necessário. Eu já a vi algumas
vezes por aqui, sempre no jardim me vigiando — comentei ao terminar
de comer minha sobremesa também.
— Aquela moça de preto que está sempre no jardim é sua irmã?
— perguntou minha mãe.
— É ela mesmo.
— Nossa! Quando ela apareceu pela primeira vez você tinha dez
anos. Fiquei com medo, preocupada, na verdade. Não entendia o
motivo de ela ficar lá, parada, observando. Com o passar dos anos
percebi que ela não era um problema, já que nunca te fez algum mal.
Então ela parou de me incomodar. — Comento ao se levantar.
— Mãe, se a senhora sempre viu essa moça por que fingiu não
ter visto aquele dia na sorveteria? Já tentou falar com ela? — Perguntei
incrédula, já que naquele dia me deixou parecer louca.
— Filha, aquele dia na sorveteria não vi ninguém, vi apenas você
levantando feito louca e gritando. Você não disse o que viu, apenas
falou que era um rapaz que te seguia. Você lembra disso? Eu tentei falar
com ela algumas vezes, mas ela sempre fugia de mim.
— Lembro sim, fiquei com medo de dizer a verdade. Também
tentei falar com ela muitas vezes, porém, assim como você, ela sempre
fugiu de mim. Só que agora acho que não vai fugir mais.
— Tomara que você consiga falar com ela — falou minha mãe
ajudando Dona Holanda a tirar a mesa.
— Tomara mesmo — levantei-me da mesa e comuniquei a eles
que iria mostrar a casa para a Jade. Meu pai nos avisou que iria
descansar um pouco antes de voltar para seu trabalho.
Saímos da cozinha deixando minha mãe com dona Holanda,
mas também nos avisou que logo voltaria para o trabalho.
Meu coração estava apertado, não sabia se iria ver o Chris outra
vez e isso me deixava angustiada. Levei Jade para conhecer a casa, o
jardim e a quadra onde fazíamos eventos.
Jade parecia feliz e à vontade. Me contou das suas paqueras, e de
alguns namorados que teve. Contou do seu poder que era simples, ela só
conseguia prever o futuro e mais nada. Disse isso como se fosse pouca
coisa. No entanto, Jade achou estranho não conseguir prever o meu
futuro.
Nosso dia foi assim, conversamos bastante, tomamos café e
levei Jade para conhecer a biblioteca que tínhamos em minha casa.
Como já estava escurecendo, e logo meus pais estariam em casa, fomos
para o meu quarto. Emprestei uma roupa para ela e logo depois de falar
com sua mãe, que graças a Deus estava bem, disse que poderia ficar.
Jade foi tomar um banho enquanto eu desfazia minha mala.
Porém, quando fui guardar meu perfume que estava em minha bolsa,
vi o celular do Chris e pegando ele, me sentei na cama e comecei a olhar
nossas fotos. Deu um aperto tão grande no coração que comecei a
chorar. No mesmo instante a força da casa foi embora e me vi no escuro
em meu quarto, mas em segundos a luz voltou e levei um susto quando
vi quem estava em minha frente.
— Como fez isso? — perguntei assustada ao ver minha irmã.
— Tá falando comigo? — gritou minha prima do banheiro, mas
estava tão surpresa com minha irmã ali que nem respondi a ela.
— Desculpe eu ter te assustado, mas esse é o meu poder, apareço
e desapareço na hora que eu quiser e aonde eu quiser. Agora você não
precisa mais me procurar, estou aqui e temos muito o que conversar —
comunicou aproximando-se.
— Lizy, com quem está falando? — perguntou Jade ao sair do
banheiro e arregalou os olhos ao ver minha irmã. — Luna, Dios mío,
quanto tempo eu não a vejo, você está linda como sua irmã, vocês duas
são muito parecidas —Abraçou-a.
— Jade, que prazer encontrá-la aqui. Realmente já faz um
tempinho que não nos vemos. Fico feliz de ver que já se conheceram.
Agora Lizy, Luma, não sei como quer ser chamada, mas você sabe que
agora tem uma família e já deve saber como nossos pais morreram.
— Luna, pode me chamar de Lizy, eu já estou acostumada. Luma
é estranho para mim. Quanto a nossos pais eu já sei de tudo e conheci
nossa Tia Charlote. Como vê Jade é muito bem vida aqui. Não entendo
porque se escondeu esse tempo todo de mim. Sei que sempre esteve por
perto — falei chateada com sua atitude.
— Entendo que esteja chateada comigo, mas tenho meus
motivos para me esconder. Como eu disse, temos muito o que
conversar — explicou minha irmã.
— Vocês querem que eu saia do quarto? Não me importo de sair,
assim vão poder conversar melhor — questionou Jade ao terminar de
pentear seus cabelos.
— Não precisa, você é da família e não há nada para esconder —
respondeu minha irmã de imediato.
Ao ouvir a resposta de Luna, Jade sentou-se na cadeira em frente
a mesinha do notebook enquanto minha irmã sentava-se ao meu lado
na cama. Ainda estava com o celular de Chris em mãos, o desliguei e me
levantei para guarda-lo na mesa da cabeceira. Logo em seguida voltei a
me sentar ao lado da minha irmã sobre a cama.
— Prontinho, agora podemos conversar — comuniquei à Luna,
que apenas me observava.
— Bom, Lizy, tudo começou quando você nasceu, eu tinha dez
anos na época e nossa mãe havia acabado de ser morta. Prometi a ela
que te deixaria em segurança em um orfanato, por isso fugi com você.
Juro que essa não era minha vontade, mas não tinha outra escolha. —
Ela respirou fundo, como se falar do passado ainda doesse no peito. — A
deixei no orfanato junto de Chris, seu protetor. Nossa mãe dizia que ele
era especial e cuidaria para que você não se sentisse sozinha. Também
tenho o meu, se chama Igor, está comigo até hoje e ele sempre me alerta
do perigo.
— Igor é o nome do sócio do Chris. Isso não é coincidência? —
perguntei incrédula.
— Não, não é, Lizy, mas você vai descobrir o porquê. Posso
continuar?
— Claro que pode.
— Seis anos depois descobri que o assassino de nossa mãe havia
sido preso, então voltei ao orfanato para te buscar, mas você já tinha
sido adotada e demorou mais cinco anos para que eu descobrisse aonde
você estava. Desde então venho te observando, decidi falar com você
quando tinha quinze anos, mas Igor avisou que outros capangas do
assassino de nossa mãe haviam fugido da prisão. Eles tinham a ordem
para nos matar e começaram a me perseguir. [...]
[...] — Passei a me esconder, mas queria ter certeza que você
estava bem, por isso comecei a te vigiar de longe. Só que alguns meses
atrás descobri que esses capangas foram mortos pelo chefe deles e com
a ajuda do Igor descobri que esse chefe é cigano como nós. — Olhou-me
com atenção. — Ele é capaz de nos localizar através dos nossos poderes,
você acabou usando o seu duas vezes sem perceber e agora corre perigo.
— Por que corro perigo? — indaguei preocupada.
— Ele nunca conseguiu me achar porque sou boa em aparecer e
desaparecer, nunca fico mito tempo no mesmo lugar, mas seu poder é
diferente.
— Como sabe que usei meus poderes?
— Vi o Chris com você naquela noite no posto abandonado e ele
estava bem real. Eu estava no seu aniversário quando você fez um
pedido e esse pedido tornou Chris e Igor real. Você, Lizy, deu uma vida a
eles, os dois foram criados pela nossa mãe e isso os tornam muito
próximos. O que eu estou querendo dizer, é que: o que acontece com
um, também acontece com o outro. Por esse motivo é que os dois estão
desaparecidos. Sei que tudo o que deseja pode acontecer, mas tem
coisas que não duram para sempre por ser uma coisa que não existe,
não há como torna-lo real. Chris e Igor nunca existiram, por isso seu
pedido durou pouco tempo. Sinto muito, sei que você e Chris se amam.
— Você tá falando sério? Eu fiz os dois se tornarem real? —
indaguei triste. — Deve haver alguma maneira de fazer Chris se tornar
real para sempre. Eu sinto que tem. Por favor, Luna, me ajuda, eu
preciso do Chris, eu o amo, não sei viver sem ele. Christian é todo o meu
mundo, ele é o único que quero na minha vida. Por favor, me ajuda —
implorei com as lágrimas descendo pelo rosto.
— Eu não posso te ajudar. Sinto falta do Igor também, não da
mesma maneira que você, mas não há nada que eu possa fazer. Não
posso colocar sua vida em risco. Não sei como o Cigano não te
encontrou ainda, você teve sorte — Luna falou bastante preocupada,
mas percebi que ela me escondia algo.
— Luna, presta atenção, não ligo para o risco que vou correr,
tudo o que quero é o meu Chris de volta. Se você me ama e se preocupa
comigo como diz, tenho certeza que vai querer me ver feliz, e se me ama
mesmo vai me ajudar a trazer o Chris de volta. Somos três ciganas
contra um, juntos somos capazes de acabar com ele. Não tenho medo.
Pelo Chris eu faço qualquer coisa. Por favor, Luna, se há uma maneira
de trazê-lo de volta, eu preciso saber como. — Falei aflita e desesperada.
— Ajuda ela, Luna. Lizy, tem razão, somos três ciganas contra
um. E só o poder dela pode acabar com esse tal cigano — argumentou
Jade tentando me ajudar.
— Tudo bem, vou te ajudar. Você ainda tem a correntinha? —
perguntou ao me ver limpar as lágrimas com um lenço que peguei na
gaveta da minha cômoda.
— Tenho sim, está em meu pescoço — mostrei a ela.
— Essa correntinha é o que te liga a ele, por isso estão sempre
em sintonia e juntos, mesmo quando não estão aqui como agora. Você
sabe que precisa da força da natureza para usar seus poderes? Então
precisamos descobrir quando vai passar o próximo cometa, naquela
noite que fez o pedido dois cometas cruzaram o céu e o pedido foi feito a
meia noite. Tudo o que você precisa fazer é comprar um bolo e fazer o
mesmo pedido novamente, no mesmo horário e no mesmo instante
que os comentas cruzarem o céu, mas junto com tudo isso você terá que
quebrar a medalha, só assim, Chris será livre para se tornar real para
sempre. No entanto, antes de fazer qualquer coisa, temos que bolar um
plano para tirar o cigano de vez das nossas vidas, pois pelo que sei, é o
único que sobrou e assim viveremos sem precisar nos preocupar.
— É justo, podemos bolar um plano para acabar com esse cara
de vez, assim poderemos seguir com nossas vidas. Quanto ao cometa,
eu andei pesquisando, já que desconfiei que ele tinha algo haver com o
meu pedido e pelas pesquisas o próximo vai cruzar o céu a meia noite
da próxima segunda-feira. Então temos apenas dois dias para acabar
com esse tal cara — conferi meu bloco de notas no notebook para ter
certeza do que estava falando.
— Lizy, usa seus poderes e deseje que esse cigano seja preso, ou
morto, qualquer coisa que vier em sua mente — falou Jade me
observando, pois eu anotava tudo no meu bloco de notas.
— Preciso de uma foto dele, preciso ver e sentir que estou em
perigo, só assim conseguirei desejar do fundo do meu coração que algo
aconteça com ele, não é simplesmente desejar e puff...como passe de
mágica, não é assim que funciona — expliquei a elas.
— Eu posso conseguir isso. Se bem que na internet tem foto dele,
é só digitar cigano LG. Não sei o que significa, mas tem muitas fotos —
respondeu Luna.
— Meninas a janta está pronta — gritou minha mãe da porta do
quarto.
— Já vamos descer — gritei também.
— Bom, vou embora, foi muito bom esclarecer tudo a você, Lizy.
Agora podemos nos encontrar sem ter que me esconder — falou Luna
se levantando da cama e eu fiz o mesmo, mas ao me levantar lhe
abracei e ela retribuiu com carinho.
— Fica, janta conosco, dorme essa noite aqui. Sempre foi eu e o
Chris, seria tão bom minha prima e irmã aqui comigo. Podemos
conversar, ou assistir um filme e até mesmo planejar a quase festa para
o meu pedido ser realizado. Fica por favor — Insisti.
— Fica, Luna, vai ser legal nós três juntas no mesmo quarto —
falou Jade.
— Tudo bem, eu fico. Não tenho ninguém me esperando e já está
na hora de conhecer seus pais — Respondeu animada.
— Então vamos descer, depois eu tomo banho. Ficamos
conversando tanto tempo que até me esqueci do banho — puxei as duas
pela mão e juntas descemos para jantar.
O jantar foi perfeito. Minha mãe e meu pai adoraram conhecer
minha irmã, até convidaram ela para passar o fim de semana. Daria
para aproveitar o sábado, o domingo e nos programar para acabar com
o cigano.
Depois do jantar fomos assistir um filme com meus pais, nós
nuca tivemos visitas em casa porque eu nunca tive amigos, então eles
estavam felizes por Luna e Jade estarem conosco.
O filme terminou e resolvemos ir dormir, despedimos dos meus
pais dando boa noite e fomos para o quarto. Emprestei uma roupa para
elas dormirem, coloquei os colchões no chão e os arrumei, só que eu
estava sem sono, resolvi entrar na net e ver como era esse tal cigano e
tanto Luna quanto Jade sentaram do meu lado.
— Eu falei que tinha muitas fotos dele na net!
— E tem foto dele aqui fazendo coisas horríveis. Nossa, Luna, ele
já foi preso por matar e estuprar uma jovem de vinte anos e uma
mulher grávida, que pelo nome pode ser nossa mãe. Foi ele que matou
nossa mãe? — perguntei nervosa, me levantei da cadeira e comecei a
andar de um lado para o outro.
— Não tenho certeza, Lizy, estava fugindo com você nos braços,
não vi nada, mas se aí está dizendo que foi ele, então foi, a única coisa
que tenho certeza é que não fez sozinho. O cigano matou nossa mãe
com a ajuda dos capangas, mas esses já estão mortos.
Ao ouvir a confirmação de Luna, senti uma raiva crescer dentro
de mim, um sentimento ruim que chegava a me deixar sem ar. Queria
que alguém fizesse o mesmo com ele, que alguém o estrupasse, que o
machucasse, que ele sofresse tanto e até deixar de existir. Meus olhos
estavam vidrados naquela foto do site, meu corpo se enrijeceu e a única
coisa que me interessava era que ele pagasse muito caro pelo o que
tinha feito. Desejei isso com tanta força que a luz do meu quarto pisco,
em seguida, apagou por completo levando a iluminação da casa por
completo.
Olhamos na direção da janela e Jade foi ver se o apagão havia
sido geral.
— A cidade toda está no escuro. — Anunciou voltando até nós.
De repente, um vento forte entrou pela janela derrubando meus
perfumes, porta-retratos, até mesmo alguns livros que tinham em
minha estante e os ursos que enfeitavam minha cama foram parar no
chão.
O vento havia sido tão forte que causou um estrago em meu
quarto, ao fechar a janela notei que tinha um temporal formando lá
fora e uma chuva forte começou a cair.
Ninguém ousou dizer nada, estávamos assustadas com a
mudança repentina do clima e decidimos nos deitar. Desliguei o
notebook, corri para a minha cama e tentei abafar os estrondos dos
trovões com meu edredom. Jade e Luna haviam feito o mesmo que eu,
então dei boa noite a elas e fechei meus olhos na esperança de
conseguir dormir, mesmo que o barulho do temporal que caía lá fora
tentasse me impedir.
Acordei com o barulho da tevê, não me lembrava de tê-la
deixado ligada antes de dormir. Abri os olhos e notei que já tinha
amanhecido, mas por não ter nenhum raio solar entrando no quarto,
supus que estivesse nublado. Me sentei sobre a cama e olhei ao redor,
Jade já estava acordada. Então foi Jade que ligou a televisão.
— Bom dia, dormiu bem? — perguntou ao me ver sentada sobre
a cama.
— Demorei para dormir, mas depois que peguei no sono dormi
que nem uma pedra, desmaiei. Luna ainda está dormindo?
— Não, eu também acabei de acordar — comunicou Luna com
uma voz sonolenta sentando-se no colchão. — O que foi aquilo ontem à
noite? Fiquei tão assustada que tudo que eu queria era dormir.
— Não tenho ideia do que foi! Só sei que nos jornais da manhã
só falava sobre esse apagão e do temporal. Ninguém sabe explicar o que
houve, pelas notícias um carro Cielo hatch explodiu não muito longe
daqui e advinha quem era o dono do carro? — Contava Jade toda
eufórica.
— Não faço ideia, para de enrolar e diz logo de quem era —
falei curiosa.
— Também quero saber. — Disse Luna, prendendo seu cabelo
em um rabo de cavalo, já que ao dormir se soltou.
— O dono do carro era o cigano, o seu nome de verdade é Inácio
Gonzallez, e ninguém sabe explicar qual foi a causa da explosão, parece
que estava em movimento quando explodiu e foi na mesma hora que o
temporal começou, pelo menos é o que estão dizendo.
— Meu Deus, tudo isso aconteceu por minha culpa. Quando Jade
disse que cigano era o responsável pela morte de nossa mãe, senti tanta
raiva que desejei que ele sumisse ou até mesmo virasse pó. Logo depois
de desejar, a luz se apagou e o temporal começou. Eu causei tudo isso, e
é terrível saber que por minha culpa mais um morreu. Daqui pra frente
só quero desejar coisas boas. —Suspirei, reconhecia ser bom ele ter
sumido de nossas vidas, mas não queria que tivesse sido assim.
— Não fique triste, Lizy, agora podemos viver em paz, sem
ninguém nos perseguindo e você vai poder tornar o Chris real para
sempre. Esse era o plano lembra? Acabar com o cigano. Agora ele se foi.
— Concordo com a Luna, Lizy, agora você vai poder ter tudo o
que sempre quis, seu Chris e sem correr perigo.
— Eu sei disso, mas eu não queria que ele desaparecesse das
nossas vidas assim. Foi cruel demais — joguei-me na cama agarrando
meu travesseiro com vontade de chorar, foi horrível a forma que ele
morreu. Sei que merecia, mas não assim.
— Lizy, vocês acordaram? O café está pronto já faz uma hora.
Ouvi vocês conversando, então achei melhor avisar — gritou minha
mãe da porta do quarto.
— Já estamos descendo — gritei da cama.
Quando me levantei, Jade estava em pé com o celular na mão.
Deveria estar ligando para sua mãe, e Luna dobrava a roupa de cama
que estava em seu colchão.
— Deixa isso, Luna, e vai se trocar. Logo Celinha vem arrumar o
quarto.
— Minha mãe está bem e mandou um beijo para as duas — falou
Jade desligando o celular. Luna já tinha dobrado toda roupa de cama
dos dois colchoes e estava no banheiro se trocando.
— Sua mãe é um amor Jade!
— Ela é sim, e é uma ótima mãe. Vou lá no banheiro me trocar —
falou ao ver Luna sair do banheiro.
Luna usava o banheiro, Jade mexia em seu celular enquanto me
esperava trocar de roupa. Meu coração continuava apertado com essa
tragédia, teria que me lembrar de nunca mais desejar coisas ruins
assim. Isso não era legal, era horrível.
Meus pais já estavam no jardim cuidando das flores, enquanto
nos três estávamos nos deliciando com o café da manhã num papo
gostoso e descontraído, demos muitas risadas. Eu me sentia feliz, já que
havia descoberto ter uma irmã, e uma prima. Agora com ajuda delas
iria trazer Chris de volta, e isso era tudo que eu queria.
O dia foi perfeito, meus pais fizeram um churrasco na edícula da
piscina na hora do almoço. Passamos uma tarde gostosa e divertida; O
sol havia resolvido aparecer, então aproveitamos para nadar,
conversamos sobre tudo, e planejamos como seria o falso aniversário
na segunda. Tinha certeza que tudo iria dar certo, estava muito
animada e com muitas saudades do Chris. A tragédia foi até esquecida e
eu não estava mais tão angustiada assim. Afinal, nós iríamos poder
viver em paz. Cigano, infelizmente, só teve o que mereceu. Agora só iria
pensar em como trazer meu amor de volta.
A noite chegou e meu pai quis assistir a um filme, e nos deixou
escolher. Escolhemos “A Quinta Onda’, fizemos pipoca, chocolate
quente, brigadeiro e para finalizar café com creme.
Cada um sentou em um lugar, e eu sentei no chão bem em
frente à mesinha onde estava aquelas delícias que fizemos.
Passamos uma noite agradável, o filme era muito bom, e melhor
ainda foi assistir em ótimas companhias.
— Não estou com sono e ainda nem é dez horas, porque não
saímos um pouco? Vamos em uma balada, o que acham? — questionou
Jade ao terminar o filme.
— Não acho uma boa ideia. — falei pensativa, já que nunca
estive em uma balada e não estava tão animada para isso.
— Filha, claro que é uma boa ideia! Você é jovem, e jovens
costumar ir a esses lugares, no clube aqui perto tem balada aos sábados,
começa às dez horas. Acho que vocês deveriam ir e se divertirem. —
Argumentou minha mãe levando as coisas para a cozinha. — Lizy, você
precisa disso, quase não sai de casa, vai te fazer bem.
— Tá bom, eu vou nessa balada — Quando terminei de falar,
Jade e Luna pularam e gritaram de alegria. — Vamos nos arrumar.
— Querem que eu leve vocês? — questionou meu pai ao nos ver
subir para o quarto.
— Não, pai, não precisa. Estou com o carro do Chris. Jade pode
dirigir ele — respondi e nem entendi o que meu pai falou depois.
Entramos no quarto e fomos nos arrumar. Nessa hora agradeci a
minha mãe em pensamento, por sempre comprar vestidos, saias,
mesmo sem eu gostar, nessa noite precisava de uma roupa apropriada
para uma balada, ao invés dos meus jeans desbotados e minhas batas
largas.
Abri meu guarda-roupa e falei a elas que podia usar minhas
roupas, já que nem Jade, e nem Luna tinham roupa para sair. Elas
surtaram quando viram o tanto de roupa que eu tinha. Luna escolheu
uma saia rodada em renda preta com detalhes em branco. Por baixo da
saia colocou uma calça legging preta, uma botinha preta de cano baixo
no pé, e a parte de cima uma blusa modelo cigana, que minha mãe
trouxe em uma das suas viagens a trabalho. Era uma blusa branca,
decote ombro a ombro e um leve babado no decote, porém nunca havia
usado por ser coladinha no corpo, mas em Luna tinha ficado perfeito.
Jade escolheu um vestido rodado vermelho e preto, com o
decote em ‘’v’’ e com manga raglan curta, com elástico no punho e
levemente fofa, por baixo do vestido fez o mesmo que a Luna. Colocou
uma legging preta. Será que essa era uma mania dos ciganos? Usar
roupas sobre roupas. Não sabia se era, mas elas ficaram muito bonitas.
Eu escolhi um vestido tubinho de tricô, curto na cor azul, ele
tinha uma manga longa que abria no pulso, tinha um decote grande em
formato de ‘’U’’, era um vestido muito bonito, que destacou meus olhos
e meu cabelo, nunca o usei e pensei que nunca usaria, já que não era
meu estilo.
Depois de prontas para arrasar, descemos e nos despedimos dos
meus pais que ainda se encontravam na sala. Pude ver no olhar deles o
quanto estavam felizes de me ver saindo toda arrumada, já que era
raridade acontecer.
Chegamos no clube e tinha uma fila grande para comprar as
entradas. Senti até um desânimo, sempre detestei ficar em fila.
— Jade, fica aqui na fila. Luna vem comigo, vamos ver se tem
alguém da minha faculdade mais a frente que possa comprar as
entradas para nós — expliquei puxando Luna pelas mãos.
— Será que não é perigoso estarmos aqui no meio de toda essa
gente? Será mesmo que o cigano morreu e não corremos perigo? —
perguntou Luna preocupada.
— Luna, por que isso agora? Você viu no noticiário que ele
morreu.
— Sei lá, Lizy, vivi minha vida me escondendo e agora estou
aqui no meio de toda essa gente. Me dá um certo medo.
— Fica tranquila, Luna, estamos aqui para esquecer tudo isso e
nos divertir. Eu acredito que os noticiários não mentem, então esquece
isso, tá?
— Lizy... Lizy...
— Tem alguém te chamado, Lizy, bem ali — Quando olhei na
direção que ela apontou, vi Peter no começo da fila acenando para mim.
— Vem, vamos até ele — A puxei para o meio do povão.
— Oi, Peter, essa é minha irmã Luna. Luna esse é meu amigo de
faculdade — os apresentei.
— Vocês vão entrar? — Peter quis saber.
— Não sei, está lotado e eu ainda não comprei as entradas.
— Logo sou o próximo, eu compro para vocês.
— Eu agradeço, Peter, preciso de três entrada, minha prima está
no último lugar da fila me esperando — entreguei o dinheiro a ele. —
Vou lá chamar ela. Luna, você fica aqui me esperando, vamos entrar
todos juntos — falei saindo dali indo direto aonde Jade estava.
— Jade, vamos, meu amigo vai comprar as entradas — puxei ela
pelas mãos e fomos direto para lá.
— Lizy, estão aqui suas entradas, agora vamos entrar —
comunicou Peter me entregando os convites e juntos entramos no
clube.
— Não sabia que tinha uma irmã — falou Peter ao entrarmos no
clube.
— Também não sabia, descobri tem pouco tempo.
— Nossa, que legal! vocês são muito parecidas.
— Também achei isso.
— Vocês querem beber alguma coisa? — perguntou Peter nos
olhando.
— Quero uma Sangria — respondeu Jade
— Não sei se temos isso aqui, mas vou perguntar.
— Quero um Mojito — pediu Luna.
— Eu quero uma água. — Falei por fim, quando chegou minha
vez.
— Água? Você não veio em um lugar desse para beber água. Vou
trazer algo bem gostoso para provar — falou Peter.
— Mas eu nunca bebi.
— Sempre tem a primeira vez, tenho certeza que vai gostar —
argumentou indo pedir as bebidas.
Ficamos ali observando o lugar que tinha muitas luzes
piscando. O som era tão alto que mal dava para conversar. Sentamos
em uma mesa e esperamos nossas bebidas. Tinha muita gente
dançando no meio da pista, o lugar era agradável, muito bem decorado,
com vaso de folhagens por todo o canto, as paredes eram de vidro com
enormes cortinas verdes escuras.
— Prontinho, suas bebidas, por sorte eles tinham Sangria —
falou Peter nos entregando as bebidas. — Para você, Lizy, uma batida de
licor de morango, tenho certeza que vai gostar.
— Obrigada, Peter — agradeci a ele, Jade e Luna fizeram o
mesmo.
— Vamos dançar, não vieram para ficar nessa mesa, né? —
questionou Peter nos arrastando para pista.
Estava tocando uma música que eu gostava muito ‘’Light your
heart – Jorge Blanco’’ e sobre o efeito da bebida que eu já estava no
segundo copo, não resisti e dancei muito, estava me sentindo leve e
solta. Luna e Jade fizeram o mesmo. Percebi um certo clima entre Luna
e Peter visto que eles não paravam de conversar e dançavam juntos.
Eu já estava ‘’pra’’ lá de alta no meu terceiro copo, e por nenhum
momento parei de dançar. Dançar era muito bom, e apesar de estar um
pouco bêbeda, me sentia muito bem. Vários rapazes tentaram ficar
comigo, no entanto, eu não quis ficar com ninguém, já que o único que
eu queria não estava ali.
— Jade, Luna, vou ao banheiro, querem ir comigo?
— Eu quero, vou com você — respondeu Jade.
— Vou ficar aqui.
— Certo, Luna, logo voltamos — falei saindo dali junto com a
Jade.
— Não sei não esses dois, acho que vão acabar ficando juntos.
Eles não se largam desde a hora que entramos — falou Jade ao entrar no
banheiro.
— Também notei isso — Lavei minhas mãos e Jade fez o mesmo,
depois retocamos a maquiagem e saímos. No entanto, eu me sentia um
pouco tonta. Nunca me senti assim.
No caminho de volta para a pista, notei um rapaz que se
encaminhava para a saída do clube e quando ele virou para
cumprimentar alguém, levei um susto, pois era o Chris que estava ali,
ou era ele, ou eu estava ficando louca. Soltei da mão da Jade e corri atrás
dele, e feito uma louca atravessei a rua sem olhar para os lados. Apenas
gritava por ele, até sentir uma forte pancada no meu corpo, e cai no
chão com muita dor nas pernas.
— Lizy...Lizy... Pelo amor de Deus o que estava pensando
quando atravessou a rua desse jeito. Vou chamar a ambulância —
falava Jade desesperada, eu conseguia ouvir, mas não conseguia me
mexer, a dor era muita.
— Eu não tive culpa, ela apareceu de repente na frente do meu
carro, sorte que eu não estava correndo — falava um rapaz
desesperando. — Vamos leva-la ao hospital.
— Não toca nela, eu já chamei a ambulância — Ouvi Jade
falando nervosa, logo em seguida eu apaguei e não ouvi mais nada.
— Meu anjo, você vai ficar bem.
— Chris, é você? — acordei após ouvir a voz dele, mas a decepção
veio logo em seguida.
— Não, filha, Chris não está aqui. Que bom que acordou, vou
chamar o médico — comunicou minha mãe saindo dali. Foi então que
percebi que eu estava em um quarto de hospital.
— Que susto nos deu, Lizy. Pensei que fosse morrer pelo
impacto que foi.
— O que aconteceu comigo Jade?
— Você foi atropelada, pois saiu feito uma louca do clube
gritando pelo Chris que nem olhou para atravessar a rua.
— Eu me lembro de ter ido atrás do Chris, depois senti o
impacto, nem vi o carro bater em mim. Foi tudo tão rápido.
— Acho que você deve ter se enganado, ou visto alguém muito
parecido com o Chris.
— Pode ser, Jade, eu devo estar vendo coisas onde não tem. Jade
porque não consigo sentir minha perna esquerda? — Perguntei
tentando mexer ela.
— Deve ser por causa da anestesia, ou dos remédios, não sei ao
certo — respondeu.
— Boa tarde, Elizabete, finalmente você acordou — falou um
senhor entrando no quarto junto de minha mãe e minha irmã. — Sou o
Doutor Maurício e você foi operada porque teve uma fratura exposta na
perna esquerda. Foi sedada por dois dias, já que estava muito agitada e
poderia se machucar. Vai voltar a andar com uma certa dificuldade, no
começo vai precisar de cadeiras de rodas, depois com a fisioterapia, a
recuperação e cicatrização da sua cirurgia, poderá andar de muletas
sem forçar a perna, até finalmente voltar a ter uma vida normal. Isso
vai demorar mais ou menos cinco meses, visto que só vai começar a
fisioterapia quando tirar o gesso, enquanto estiver de gesso vai andar
apenas de cadeira de rodas, para não forçar o osso que foi quebrado.
Você entendeu? Todo cuidado é pouco, pois pode infeccionar ou inchar
sua perna, até mesmo romper o osso novamente — explicou o médico
escrevendo em uma prancheta.
— Eu entendi, mas não esperava que fosse tão sério.
— Sim, foi sério e terá que se cuidar a partir de agora. Você ficará
em observação por dois dias, para termos certeza de que a cirurgia foi
um sucesso. Espero que tenha entendido tudo, passo daqui amanhã
para saber como você está. Tenha uma boa tarde. — Falou o médico, em
seguida retirou-se do quarto.
— O médico disse que fiquei sedada dois dias, isso quer dizer
que hoje é terça feira. Eu perdi o cometa, e nem fiz o pedido. Luna não
vou poder ver o Chris nunca mais? — falei muito triste e com os olhos
cheios de lágrimas.
— Filha do que está falando? — Perguntou minha mãe, talvez
pensando que eu estivesse louca, já que eu não falava coisa com coisa
para ela.
— Lizy, não pense nisso agora, nessa vida sempre tem um jeito
para tudo, então podemos tentar fazer algo a respeito, quer dizer, eu e a
Jade já fizemos algo por você, só não sabemos ainda se deu certo.
— Alguém pode me explicar do que vocês estão falando? —
perguntou minha mãe muito confusa.
— Mãe, no momento certo a senhora irá saber de tudo, mas
agora meus olhos estão pesando e preciso descansar. — Respirei fundo
e direcionei minhas palavras para minha irmã e minha prima. —
Depois quero saber o que as senhoritas fizeram.
Logo em seguida, fechei meus olhos sentindo o cansaço me
embalar.
— Descansa, filha, quando estiver em casa conversaremos sobre
esse mistério que tem para me contar. — falou minha mãe passando as
mãos em meus cabelos.
*****
Três dias se passaram e eu já estava em casa. Jade já tinha ido
embora, porém me ligava todos os dias. Luna ficou comigo. Minha mãe
cedeu um quarto para ela ficar quantos dias quisesse. Luna estava
sempre me ajudando no que precisava, já que o médico não havia dado
um dia exato para tirar o gesso. Sabia que teria que ficar quase um mês
com aquela coisa.
Peter sempre me visitava, mas acho que ele ia mesmo por causa
da Luna. Ela não tinha dito nada sobre isso, mas já tinha percebido que
estavam juntos.
— Luna, vocês esqueceram de me contar o que fizeram. Jade foi
embora sem me contar. Estou com o coração aos pedaços, sinto tanta
falta do Chris. Por favor, me conta o que fizeram enquanto eu estava
sedada — questionei enquanto ela me ajudava a entrar na banheira
para tomar um banho sem ter que molhar o gesso, então meu gesso foi
embrulhado por um plástico muitas vezes, para não correr risco de
molhar.
— Tanta coisa aconteceu que acabamos esquecendo de te
contar. — Deu uma pausa. — Quando o médico disse que iria ficar
sedada por dois dias, por motivo de segurança. Nós resolvemos
continuar com seu plano, visto que você mesmo sedada não parava de
chamar por Chris. Então encomendamos um bolo e falei para sua mãe
que eu iria passar a noite de segunda com você. Escodemos o bolo no
armário sem ninguém ver. Jade não pode ficar, pois só uma poderia
dormir com você, então ela foi embora com sua mãe e seu pai. Esperei
dar cinco para meia noite, peguei sua correntinha que estava em seu
pescoço, e acendi a vela do bolo. Abri a janela para ver o cometa, e como
seus pensamentos estavam voltados para o Chris, já que continuava
chamando por ele. Quando finalmente deu meia noite, e o cometa
cruzou o céu, apaguei a vela, e quebrei a medalhinha enquanto você
ainda chamava por ele. No mesmo instante todas as luzes se apagaram
da cidade toda e do hospital, e um aparelho atrás de você começou a
apitar me fazendo levar um susto. Um vento muito forte entrou pelo
quarto que tive até que fechar correndo a janela. Logo que fechei,
percebi que as luzes da cidade e do hospital voltaram, e o aparelho
parou de apitar. Foi tudo muito rápido, porém tive certeza que nosso
plano deu certo. Só não entendi porque Chris não apareceu ainda.
Depois dei o bolo para os enfermeiros como presente, eles não
entenderam nada, mas aceitaram — explicou Luna pegando minha
toalha, e me ajudou a sair da banheira.
— Nossa que legal, vocês fizeram mesmo o que eu tinha em
mente! Mas porque Chris não apareceu ainda? O que deu errado? —
perguntei angustiada.
— Não faço ideia. Vem, vou te ajudar a se trocar. — Comunicou
Luna me ajudando a sentar na cadeira de rodas de roupão. — Você sabe
que pode desejar que sua perna melhore o mais rápido possível e você
não vai precisar mais passar por nada disso.
— Sei sim, mas não quero desejar mais nada, nem isso, deixe que
sare naturalmente, o único desejo que tenho no coração é que o Chris
volte. Não sei porque está demorando tanto.
— Compreendo sua decisão, talvez não seja muito bom sarar tão
rápido, todo mundo iria estranhar. Quanto ao Chris também não
entendo essa demora. Fizemos tudo certinho.
— Lizy, Luna, a janta está pronta. — Gritou minha mãe da porta
do quarto.
— Já estamos indo mãe, estou terminando de trocar de roupa.
— ‘’Tá’’, filha, esperamos vocês na cozinha.
Por causa da escada meus pais acharam melhor eu dormir no
quarto de baixo, que além de grande, tinha um enorme banheiro. Era o
quarto de visitas, Luna dormia no quarto ao lado, porém, às vezes ela
dormia comigo.
O jantar foi agradável e divertido, apesar da tristeza que sentia
no meu coração não queria deixar ninguém perceber isso. Então, agia
como se estivesse aceitando tudo o que aconteceu comigo. Minha
família o tempo todo tentava me deixar feliz e animada, faziam de tudo
para não me ver deprimida.
***
Três semanas se passaram, e nada do Chris ainda. Era meu
último dia de férias, e não tinha vontade de fazer nada. As aulas
começariam no próximo dia, mas não queria ir para a faculdade de
cadeira de rodas.
Estava deitada em minha cama, lembrando dos momentos
felizes que tive com o Chris, quando meu celular que estava debaixo do
meu travesseiro tocou. Peguei olhando no visor, era minha prima Jade.
— Oi, Jade, tudo bem com vocês aí?
— Tudo sim, Lizy, estou ligando porque tenho novidades.
— Então me conte logo, que novidades é essa para me ligar tão
cedo, já que sempre costuma me ligar a noite.
— Consegui um emprego na sua cidade, vou trabalhar numa
empresa que produz uniformes. Eu e minha mãe alugamos nossa casa,
e compramos uma perto da sua, estamos de mudança. Daqui meia hora
chegamos aí. Compramos a casa de esquina que tem na rua da sua casa,
pois quando estive aí, vi que ela estava à venda. Eu queria muito ficar
perto de vocês e minha mãe achou uma ótima ideia. Ah, outra coisa,
meu namorado está louco para te conhecer, ele trabalha nessa empresa,
foi ele que conseguiu esse emprego para mim, e está me ajudando com
a mudança.
— Jade, quantas notícias boas, que alegria saber que vão estar
pertinho de mim. Pena que sou uma inútil, já que nem vou poder ajudar
vocês com a mudança. — Suspirei forte. — Danadinha, você está
namorando, quem diria, hein. Como conheceu seu namorado?
— Lizy, não fala assim, logo você vai estar boa. Quanto ao meu
namorado, conheci logo depois que vim embora daí. Cheguei em casa e
minha campainha tocou, era um rapaz lindo procurando informação
sobre a escola que tem perto de onde eu morava. Então, começamos a
bater papo, ali mesmo na porta, trocamos número de celular, nos
falamos desde então e de vez em quando ele vinha me visitar, até ele me
pedir em namoro, e eu aceitei. O resto foi tudo se ajeitando, só não
contei antes porque não tinha certeza que daria certo esse namoro, mas
deu. Estou muito feliz, e daqui uns minutos estarei por aí.
— Vou avisar meus pais. Vocês são nossos convidados para o
almoço, ok? Espero vocês aqui.
— Agradeço e aceito seu convite para o almoço. Até mais, Lizy,
aviso assim que chegarmos. Beijos.
— Tá certo, eu aguardo. Beijos.
Fiquei tão feliz com a notícia, que comecei a gritar minha mãe,
já que eu não podia sair correndo do quarto.
Minha mãe, meu pai e Luna apareceram assustados na porta do
meu quarto, por causa da gritaria que aprontei, já que era a única
maneira de chamar atenção deles.
Então naquela alegria que eu estava, contei a eles tudo que Jade
me contou, sobre a mudança, o namorado e comuniquei que eu os
convidei para o almoço.
— Filha, que noticia maravilhosa, vou avisar dona Holanda que
teremos visita — falou minha mãe saindo do quarto.
— A notícia é muito boa, mas não precisava nos assustar com
essa gritaria que aprontou — resmungou meu pai saindo do quarto.
— Então, Jade, está namorando? — questionou Luna sentando
do meu lado na cama.
— Está sim e parece muito feliz pela animação que me contou.
— Que legal! fico tão feliz por ela. Será que posso convidar meu
namorado para esse almoço? Hoje é domingo e queria muito ele aqui
com minha família.
— Claro que pode. Quer dizer que você e Peter estão namorando
mesmo? Porque não me contou?
— Por que eu não tinha certeza do que eu queria, porém agora
tenho. Por isso estou te contando — riu sem graça.
— Fico muito feliz por vocês e desejo que dê tudo certo.
— Não faça isso, Lizy, não deseje, deixe acontecer naturalmente.
Você não disse que não iria desejar mais nada?
— Já aconteceu naturalmente, agora você merece ser feliz, já que
viveu sua vida se escondendo. Quanto a não desejar, esse não fará mal a
ninguém, e não tem como as pessoas estranhar esse acontecimento,
por isso desejei e vou ser madrinha desse casamento — quando
terminei de falar, um vento forte passou sobre nós me deixando toda
arrepiada.
— Pelo visto, desejo concebido. Obrigada minha irmã —
abraçou-me agradecendo.
— Filha, eles chegaram. — Avisou minha mãe.
— Só vou mandar uma mensagem para o Peter o convidando
para almoçar e já vamos receber as visitas. — falou Luna digitando no
seu celular.
— Não estou bem para receber as visitas. — Falei ficando triste
de repente.
— Por que não, Lizy? Estava tão feliz com a notícia que recebeu
da Jade. Sei que você anda muito triste, quase não sai desse quarto e
tenho quase certeza que está com depressão. Você precisa reagir,
fizemos de tudo para o Chris voltar, mas por algum motivo não deu
certo.
— Você tem razão, Luna, estou triste demais, talvez eu esteja
mesmo com depressão. Sinto um vazio tão grande e nem tenho vontade
de viver. Chris me faz muita falta. Diz para minha mãe e para as visitas
que não estou bem —abracei meu travesseiro.
— Tá certo, eu avisarei, mas antes de almoçar venho te ver, e se
estiver melhor vamos almoçar juntas com nossa família, ok? — falou
saindo do quarto, me deixando ali agarrada ao meu travesseiro. Não
demorou muito e a porta se abriu sem eu esperar.
— Lizy, que saudades de você, vim para te ver e você manda
me dizer que não está bem. Não quero desculpa prima, sei que está
triste, mas vai almoçar conosco — Jade entrou feito um furacão e me
arrastou até a cadeira de rodas. — Venha quero que conheça meu
namorado e tenho tanta coisa para te contar. Senti muitas saudades —
abraçou-me, e em seguida empurrou minha cadeira para fora do
quarto.
— Igor essa é minha prima, Lizy — falou Jade ao me levar para
sala, e olhei assustada para ele.
— É Igor seu nome? — perguntei confusa, pois ele tinha o
mesmo nome do amigo imaginário da Luna.
— Lizy, ele é meu amigo imaginário. Quer dizer, era, já que faz
algum tempo que não o vejo. E agora está aqui. Não sei como isso é
possível, mas esqueci de te dizer que junto com a medalhinha do Chris,
quebrei também a do Igor. — Falou minha irmã muito confusa
também.
— Vocês estão querendo dizer, que meu namorado é como o
Chris?
— Sim, ele é. Só não entendo porque ele está aqui e o Chris não —
quando terminei de falar, senti um mal-estar e uma dor muito forte no
coração, era como se eu sentisse que nunca mais iria ver o Chris.
— Do que estão falando? — perguntou minha mãe confusa, só
que eu não respondi e ninguém tocou no assunto. Luna disse que tudo
isso era saudades do Chris. Vi pelo olhar da minha mãe que não
acreditou muito no que ela disse, mas também não perguntou mais
nada.
— Por favor, me levem para o quarto — eles me olharam
assustados e não saíram do lugar. — Não precisa, eu vou sozinha — e
empurrando a roda com as mãos, sai dali e fui direto para o quarto,
deixando todos muito preocupados.
Quando cheguei no quarto e tentei sair da cadeira para me
sentar sobre a cama, a mesma andou e acabei caindo no chão. Respirei
fundo e deixei a dor que estava em meu peito sair. Chorei tentando
entender porque isso estava acontecendo comigo. Primeiro o acidente,
em seguida o surgimento de Igor, mas o Chris..., nada. Nem sinal.
Duas semanas se passaram, me sentia abalada com esse sumiço
do Chris. Não tinha vontade de sair da cama. Minha mãe levava o
almoço, a janta, o café, tudo no quarto, mas eu não tinha fome, então
fingia que comia, jogando um pouco da comida dentro de um saquinho
que deixei do lado da cama e quando eu precisava ir no banheiro jogava
fora.
Jade, minha tia Charlote e até o Igor, iam todos os dias me visitar
e sempre falavam que eu estava muito magra. E acho, sinceramente,
que deveria estar mesmo, já que não comia nada, só bebia água. Luna
estava sempre cuidando de mim, mas na maioria das vezes, eu estava
dormindo, acho que de fraqueza e tristeza.
Fazia duas semanas que as minhas aulas haviam começado,
entretanto, Peter fez questão de levar as matérias que eu estava
perdendo, mas nem sempre tinha força ou vontade de olhar a matéria.
— Lizy, pelo amor de Deus, sai dessa cama, não aguento ver seus
pais chorando por você. Eu sei que não está comendo e estou aqui para
fazer as coisas mudarem. Vamos levantar, tomar um banho, e comer
alguma coisa. Você tem que reagir — Luna estava brava, podia sentir o
timbre grave em sua voz. Me ajudou a sair da cama, me sentou na
cadeira e enrolou meu gesso com um plástico. Depois foi até o banheiro
e colocou a banheira para encher.
— Eu quero o Chris de volta, eu desejo ele aqui comigo. Eu o amo
Luna. — falei com dificuldades, eu mesma quase não consegui ouvir
minha voz.
Fiquei impressionada quando terminei de falar, pois tanto a luz
do banheiro, quanto do quarto estouraram na mesma hora, caindo no
chão em pedacinhos e um temporal se formou lá fora, já que dava para
ouvir a janela bater e os trovões que não paravam nem um momento de
fazer barulho.
Assustada comecei a gritar, pois tanto eu quanto a Luna
sentimos o chão tremer. Então ela correu até aonde eu estava e me
abraçou assustada. No entanto, como um passe de mágica, tudo passou,
o temporal foi embora e o vento parou. O chão que estava tremendo, já
não estava mais.
— O que foi isso? — perguntei assustada.
— Não faço ideia, graças a Deus que passou. Vem vou te ajudar
com o banho.
Minutos depois, Luna fez um mingau de fubá doce com leite
condensado e me fez comer tudo mesmo me dando ânsia, mas acabei
me sentindo um pouco mais forte.
Luna me levou para o Jardim e ficamos olhando a natureza que
eu amava tanto.
— Lizy, pedi para dona Holanda fazer um purê de batata com
mandioquinha salsa para o jantar, já que precisa se alimentar e o purê
vai te fazer bem. E não adianta dizer que não está com fome porque
você vai comer mesmo assim, e Peter vem cedo amanhã te buscar para
a faculdade. Você precisa reagir e eu vou te ajudar. Não quero mais te
ver naquele quarto trancada e muito menos ver seus pais chorando
pelo canto por te ver assim. Prometi para seus pais que iria te ajudar, e
como eles, não quero te ver triste — explicou Luna sentada no banco ao
lado da minha cadeira.
— Obrigada por se preocupar, tirando a tristeza que eu sinto,
estou bem. Não sei porque dessa choradeira dos meus pais?
— Preocupação às vezes nos faz chorar mesmo, e te ver tão
deprimida faz com que eles sofram. Nenhum pai quer ver seus filhos
assim.
— Eu entendo, prometo que vou tentar reagir e se ir a faculdade
vai fazer eles felizes, então eu vou.
— Filha, que bom te encontrar fora do quarto! — admirou
minha mãe ao entrar pelo portão e me ver no jardim.
— Ah, dona Eduarda, cansei de ver ela trancada naquele quarto
e forcei ela a sair. A fiz comer também, e pedi para dona Holanda fazer
um purê de batata com mandioquinha salsa para Lizy jantar. Agora vou
ficar no pé dela.
— Luna, querida, você fez muito bem, é tão triste ver Lizy
trancada naquele quarto. Obrigada por fazer ela sair de lá. Vou tomar
um banho antes que seu pai chegue do trabalho e venho para ver se a
janta está pronta — falou minha mãe em nossa frente.
— Mãe, prometo que daqui para frente vai ser diferente.
Amanhã vou a faculdade.
— Fico tão feliz de ouvir isso. — Deu um beijo em minha testa e
entrou.
— Vamos entrar, Lizy, pois o tempo mudou e acho que logo vai
chover — falou Luna me levando para dentro e assim que entramos
caiu a maior chuva.
Luna me levou para sala e ligou a televisão. Procurou a netflix e
colocou em um seriado que eu gosto muito Gilmore Girls. Ficamos ali
assistindo, porém, meus pensamentos estavam bem longe.
— Filha, a janta está pronta. Seu pai já chegou e foi tomar banho.
Vamos esperar ele na mesa. Vem Luna! — falou minha mãe
empurrando minha cadeira de rodas para a cozinha e Luna foi logo
atrás.
Sentamos a mesar e Dona Holanda foi colocando a comida sobre
a mesa. Em seguida me entregou um prato de purê de batata com
queijo. Não estava com um pingo de fome, porém não queria deixar
meus pais triste.
— Filha, que alegria te ver fora daquele quarto — falou meu pai
ao sentar à mesa.
— É pai, fui arrancada a força daquele quarto — respondi
experimentando o purê.
— Quem foi o anjo que te tirou de lá? — perguntou curioso.
— O anjo, amor, foi a Luna. — respondeu minha mãe.
— Ah, Luna querida, nós agradecemos por isso.
— Imagina seu André, não precisa agradecer. Eu como vocês,
não aguentava ver ela trancada naquele quarto.
— Não se preocupe, dou minha palavra que não vou fazer mais
isso — falei terminando de comer.
— Que bom ouvir isso — falou meu pai satisfeito com o que
ouviu.
Após o jantar decidimos assistir a um filme, claro que isso foi
ideia do meu pai, mas assim como no restante do dia, não consegui me
concentrar, meus pensamentos estavam longe. Tudo o que eu mais
desejava naquele momento, era que o Chris estivesse comigo.
O filme terminou e fomos todos dormir. Demos boa noite ao
meus pais, e Luna pegou seu colchão para dormir em meu quarto.
Como sempre, tão prestativa, Luna me ajudou a me trocar
depois de fazer minha higiene, e me ajudou logo em seguida a deitar na
cama.
Graças a Deus já estava chegando o dia de tirar aquele gesso, e
então iria poder começar a fisioterapia. Não parecia, mas um mês
acabou passando rápido e foi tudo tranquilo. Não tive infecção e a
cicatrização foi boa.
— Luna, liga a TV para mim, esqueci de pegar o controle. Você se
importa de dormi com a TV ligada? — Perguntei a ela que me entregava
o controle.
— Claro que não, você sempre gostou dormir assim. Mesmo eu
sempre me escondendo, sempre estive perto de você, principalmente
na hora de dormir.
— Agora entendi porque tenho medo de escuro. Sempre tive a
sensação de que alguém me vigiava, até que em uma noite acordei no
meio de um temporal, e notei que apenas o vidro da janela estava
fechado. Quando um raio caiu aqui perto e clareou dentro do quarto, vi
uma sombra no pé da minha cama. Levei um susto tão grande que corri
para acender a luz e no mesmo instante a sombra já não estava mais lá.
Tinha silhueta de uma mulher. Depois desse dia só durmo de TV ligada
para não ver mais nada.
— Desculpe, eu não tinha intenção de te assustar naquela noite.
Você acordou tão de repente que até eu me assustei quando vi você me
olhar. Então achei melhor ir embora. — Explicou.
— Eu só tinha treze anos e era muito medrosa, não precisa me
pedir desculpa. Hoje sei que era você.
— E eu tinha vinte três anos na época, e fui muito burra em não
pensar que eu poderia te deixar assustada. — Argumentou
decepcionada com ela mesmo.
— Esquece isso, já passou. Hoje não tenho mais medo, mas
acabei me acostumando a dormir com a TV ligada. — Sorri amorosa. —
Agora vamos dormir, já que você me intimou a voltar para faculdade.
Amanhã acordo cedo. Boa noite! – então Luna me desejou boa noite e
tentamos dormir.
A chuva ainda caía lá fora e o barulho dela me acalmava a ponto
de me relaxar, só assim para eu conseguir pegar no sono, sem pensar
em nada.
— Acorda, Lizy, você perdeu a hora, ou esqueceu de colocar o
celular para despertar? Logo o Peter deve estar chegando. Seu café já
está pronto. Vamos, vamos... acorda — falava Luna tirando minha
coberta e abrindo a janela.
— Me deixa dormir, por favor! — resmunguei puxando a coberta
novamente.
— Lizy, você vai para faculdade nem que seja arrastada — puxou
minha coberta novamente e me fez sair da cama com ajuda dela.
Luna escolheu uma roupa para mim e me ajudou a vesti-la. Fui
ao banheiro e arrumei de qualquer jeito meu cabelo em um rabo de
cavalo. Luna ficou brava ao me ver e não permitiu que eu saísse de casa
assim, então bancou a mãe protetora e fez questão de me arrumar.
Peguei meu material, junto da minha bolsa, guardei meu celular dentro
e fomos tomar café.
— Lizy, que lerdeza é essa? Parece até que está fazendo de
propósito. Come esse mingau de fubá logo — quando Luna parou de
falar na minha cabeça a campainha tocou, a fazendo surtar. — Peter
chegou e você não terminou de comer. — Reclamou indo abrir a porta.
— Bom dia, filha. Já está pronta para a faculdade?
— Bom dia, mãe, estou sim — Respondi com um certo desanimo
o terminar de comer o bendito mingau.
— Vai te fazer bem, filha, você vai ver — disse servindo-se de um
café.
— Já terminou? Peter está te esperando. Bom dia, dona Eduarda.
— Bom dia, Luna, vejo que está a todo vapor.
— É, tenho que ser assim, senão Lizy não sai do lugar. Vamos
Lizy vou te levar ao banheiro — então Luna fez o que falou, em seguida,
sai falando tchau para minha mãe.
Para não forçar meu gesso, Peter me pegou no colo, enquanto
seu Chico guardava minha cadeira de rodas fechada dentro do porta
malas. Peter me colocou no banco da frente, passei o cinto, pois era
mais uma mania que eu tinha e partimos para faculdade.
— Isso é um complô contra mim. Não estou com vontade de
estudar, e vocês me forçam a ir — resmunguei baixinho, mas em um
tom que desse para ele ouvir.
— Tenho certeza que vai te fazer bem. Você precisa se ocupar
um pouco, esquecer esse tal Chris.
— Não quero esquecer o Chris.
— Eu entendo, mas precisa se ocupar, vai te fazer bem, tenho
certeza — estacionou o carro, logo depois, tirou a cadeiras de rodas do
porta malas e me pegou no colo para me colocar na cadeira de rodas.
— Não precisa empurrar, posso ir sozinha. — Girei a roda para
andar. Peter ia logo atrás, parecia até meu segurança. Como se eu
precisasse de um.
— Lizy, meu Deus, você ainda está de gesso? — Falou Malu ao
me ver entrar na faculdade.
Notei que todos ficaram me olhando. Talvez pensando que a
esquisita voltou para a faculdade, finalmente, e pela expressão dos
rostos estavam surpresos de me ver e cochichando uns com os outros
enquanto me olhavam. Nem liguei, simplesmente ignorei. Sempre foi
assim comigo, não seria diferente.
— Sim, mas daqui alguns dias já tiro.
— Que bom, será um alivio para você.
— Você não faz ideia, Malu.
— Qual é a sua primeira aula?
— Pelas informações do Peter, é linguística. Adoro essa matéria.
— A minha também — falou Malu animada, e nem sei porque
dessa animação.
— A nossa, né, Malu? Esqueceu que fazemos o mesmo curso? —
perguntou Peter.
— Claro que não, porém eu só queria ter certeza de que Lizy teria
a mesma aula que nós.
— Tá certo, vamos entrar na sala.
Confesso que mesmo querendo, não conseguia prestar atenção
nas aulas. Era como se meu cérebro estivesse desligado. Depois do
intervalo, eu tinha duas aulas de semântica e uma de literatura
ocidental, mas não me sentia animada para isso. Ficar escutando o
professor falar sobre significado das palavras ou expressões de
contexto me parecia entediante. Sinceramente? Não estava no clima,
mas ao que tudo indicava, não tinha outra escolha.
A aula de semântica já havia começado e não estava
conseguindo me concentrar. Tinha uns pensamentos me torturando e
perturbando, eram estranhos e desejava não ficar pensando neles.
Fiquei arrepiada quando em um determinado momento pensei
em desistir do Chris e esquecê-lo. Que pensamentos insanos eram
esses? Jamais desistiria dele... ou talvez fosse melhor mesmo? Meu
coração apertou e me senti triste novamente.
Pedi licença ao professor dizendo que não estava me sentindo
bem, o que de fato, era verdade, e abandonei a sala antes que pudesse
ouvir sua resposta. Meus olhos queimavam por conta das lágrimas,
minha garganta secou conforme o nó se formava na boca do estômago.
Fui direto ao banheiro e me tranquei em uma das cabines. Chorei como
jamais imaginei chorar, todo o meu corpo doía conforme os soluços
aumentavam.
Naquele momento, havia tomado uma difícil e dolorosa decisão.
Já haviam se passado muitos dias, mesmo Igor sendo real, nada
afirmava que Chris também fosse ser, então se não iríamos ficar juntos,
precisava esquecê-lo. Porém, enquanto me engasgava com meu próprio
choro, fiz meu último desejo do fundo do coração.
— Quero que Chris se torne real e fique para sempre comigo! —
sussurrei com firmeza. Prometi a mim mesma que depois desse dia não
voltaria a desejar mais nada.
Ao final das minhas palavras, a luz do banheiro se apagou e um
vento forte passou por mim. Olhei ao meu redor assustada, esperando
que tudo voltasse ao normal igual das outras vezes. E voltou. Talvez
fosse um sinal de que meu desejo houvesse se realizado. Precisava
esperar para ver no que daria e se nada acontecesse, nunca mais iria
querer ouvir algo sobre o Chris.
Vinha desejando isso há alguns dias, mas não sabia o que estava
errado, talvez, agora desse certo, porque desejei do fundo do meu
coração. Jamais esqueceria o Chris, mas não podia viver assim, estava
me machucando e machucando as pessoas que amava. Talvez eu
pudesse conviver com a esperança de que um dia ele fosse voltar para
mim.
— Lizy, você está aqui? — Escutei uma voz, acho que era a de
Malu.
— Estou sim.
— Lizy, vi você saindo da sala, mas não pude vir atrás. Você está
bem? Porque saiu da sala daquele jeito? — questionou.
— Eu só tive um mal-estar e vim respirar ar fresco. Aproveitei
também para vir lavar o rosto — expliquei a ela.
— Nossa, mas ficou a aula toda aqui?
— Fiquei com vergonha de voltar, não queria atrapalhar a aula.
— Mas pelos seus olhos vermelhos, rosto molhado de lágrimas,
só poderia estar chorando. Porque estava chorando? —– olhou-me
preocupada.
— Malu, eu acho que estou com um pouco de depressão, pois
ando muito deprimida e chorando atoa. Depois do acidente fiquei assim
— não iria falar do Chris para ela, Malu nem ao menos o conhecia.
— Nossa, Lizy, eu entendo. Logo, você vai estar andando, aí essa
depressão vai passar. Olha, não vamos ter a última aula porque a
professora não pôde vir. Vamos tomar um café na lanchonete da
faculdade. Peter já está lá esperando por nós.
— Vamos sim.
Então saímos do banheiro e fomos até a lanchonete onde Peter
nos esperava sentado em uma mesa, e ficamos ali com ele que já estava
tomando um café.
— Você está bem? — Perguntou Peter ao me ver chegar.
— Sim, eu estou bem.
— Que bom, mas nem vou perguntar por que saiu da sala, já
imagino o motivo. — Peter sabia que eu estava com depressão por causa
do Chris. Ainda bem que não perguntou.
— Vai querer alguma coisa, Lizy? Tô indo buscar.
— Só quero um café, Malu. Obrigada.
— Ok — Malu saiu da mesa e foi direto para o balcão.
Demorou um pouco, mas finalmente ela apareceu com uma
bandeja, me entregou a caneca de café, e sentou para comer sua torta.
Estava gostoso e o papo estava bastante agradável, conversamos sobre
tudo, e isso me ajudou a esquecer um pouco dos meus problemas.
— Bom, a conta está paga, agora vamos embora, temos um
trabalho de semântica para fazer – então nos despedimos da Malu que
terminava de comer e fomos em direção a saída.
Percebi os alunos cochichando um com outro, como se algo de
estranho estivesse acontecendo. No entanto, não conseguimos ouvir do
que se tratava toda essa agitação e falação.
— O que será que aconteceu? Porque todos estão agindo
estranho.
— Não faço a menor ideia, mas com certeza alguma coisa
aconteceu, e pela movimentação que vem de fora acho que o motivo
dessa falação e alvoroço vem da saída — falou Peter caminhando ao
meu lado.
— Também notei isso. Bom, estamos indo embora, então vamos
descobrir o que está acontecendo.
Quando chegamos na saída, levamos um susto ao ver o caminho
até o portão forrado de pétalas de rosas vermelhas. Era tantas pétalas
que quando o vento assoprava as levantavam do chão e ficavam
voando pelos ares. Era realmente lindo de se ver. Parecia até que estava
chovendo pétalas de rosas. Quem seria a sortuda que iria receber uma
declaração de amor?
Os alunos passavam pelo caminho de pétalas admirados com
tanta beleza, já que até o vento resolveu colaborar com esse cenário
romântico, visto que ventava muito. Era um fim de tarde lindo, pois até
o sol ajudou aquela cena ficar perfeita. Passamos por aquele caminho
lindo, com as pétalas voando sobre nós. Parei no meio do caminho e
abri os braços, senti o vento em meu rosto e as pétalas caindo sobre
mim.
Fechei os olhos e fiquei apenas sentido, me imaginando
dançando no meio de tudo isso e a sensação foi maravilhosa. Abri meus
olhos e continuei empurrando a roda da cadeira até chegar no portão, e
ao chegar, fiquei paralisada com o que vi. Meu coração disparou, meu
corpo todo se arrepiou, senti um frio na barriga. Não estava
acreditando no que estava vendo. Chris estava lindo vestido todinho de
preto com óculos escuro, e um buquê de margaridas brancas, com copo
de leite no meio delas. Era um buquê muito lindo, Chris estava
encostado em uma Ferrari branca.
— Você conhece, Lizy? — perguntou Peter vendo Chris se
aproximar de mim.
— Claro que conheço, esse é meu namorado Chris — quando
terminei de falar, notei que Peter estava de boca aberta, ou estava
admirando o carro que era lindo, ou esse cenário romântico que ele
criou para mim.
Tudo o que eu mais queria era poder pular nos braços de Chris.
Quando ele se aproximou, eu me levantei da cadeira sem apoiar a perna
quebrada e Chris me vendo levantar, veio correndo até mim e me
abraçou. Sem pensar em nada, eu o beijei.
Todos que estavam ali começaram a assobiar e bater palmas.
Ainda me beijando ele me pegou no colo, me levou até seu carro que ao
se aproximar a porta se levantou e me colocou no banco da frente.
Fechou a porta, pegou minha cadeira de rodas colocou no porta malas, e
logo em seguida entrou no carro.
— Senti saudades, agora acho que vim para ficar. Nada nesse
mundo vai separar nós dois. Só não entendi porque tive que viajar tanto
para chegar até você. Só que agora isso não importa, já que estou aqui.
Meu anjo, sei que é muito nova para casar, mas você aceita ficar noiva
pelo menos? Assim com muita calma e amor, juntos podemos preparar
nosso casamento. Lizy, eu te amo, e quero passar o resto da minha vida
com você. Você aceita ser minha noiva? — perguntou Chris me
entregando o buque, que olhando bem tinha uma caixinha pequena no
meio das margaridas. Eu estava muda, não conseguia dizer uma só
palavra, não conseguia acreditar que era real.
Então ele pegou a caixinha do meio das flores, visto que nem
isso eu consegui fazer. Abriu a caixinha e perguntou novamente se eu
aceitava ser sua noiva.
— Tudo isso foi para mim? O caminho com pétalas de rosas, esse
buque, essa caixinha. Tudo isso é mesmo para mim? — Foi a única coisa
que consegui dizer. Só podia estar sonhando, não devia ser real. E para
verificar se era real mesmo comecei a me beliscar, e tive a certeza que
era real.
— Tudo isso é sim para você...
— Chris, esperei tanto por sua volta que não consigo acreditar
que está aqui — o interrompi.
— Estou aqui, sou real. Tudo isso é real, e quero que seja minha
noiva —passou sua mão em meu rosto.
— Chris, eu te amo, sempre te amei, é com certeza quero ser sua
noiva, sua esposa, e o que mais quiser — aproximei meu rosto dele e o
beijei. Foi um beijo rápido, mas inesquecível.
— Então a partir de hoje, estamos noivos. Agora vamos contar a
novidade para sua família. — Ligou o carro.
Não posso descrever todas as sensações que me invadiam. Meu
melhor amigo, meu companheiro, meu porto seguro e o homem que
sempre desejei para mim havia voltado para que juntos, pudéssemos
escrever a nossa história.
Um ano depois

Hoje é meu aniversário, e mais uma vez estão preparando uma


festa para mim. O tema da festa é branco e preto, e essa foi a ideia do
Chris.
Sim, eu e o Chris estamos juntos como uma rocha, cada dia que
passa eu o amo mais. Ele tem tudo que uma mulher sonha num
homem; é carinhoso, atencioso, dedicado, muito romântico, sabe
respeitar e valorizar uma mulher. Ele é um o homem perfeito.
Chris ainda mora na mesma casa perto da minha. Ele é um
empresário bem-sucedido, dono da empresa de uniformes, onde Igor e
Jade trabalham. Entretanto, nem ele e nem eu, entendemos como isso
era possível. Nunca vamos ter uma resposta para isso.
Chris só apareceu de volta porque eu desejei. O que Luna e Jade
fizeram enquanto eu estava sedada, não deu certo porque não estava
desejando, apenas falava o nome dele.
Minha tia e minha prima, ainda moram aqui perto e todos os
dias tomamos café juntas. Jade também está noiva do Igor e está muito
feliz.
Luna está gravida de seis meses. Ela e o Peter pretendem casar
no próximo ano. Luna sempre disse que seu maior sonho era ser mãe,
mas como passou a vida se escondendo, achou que isso nunca fosse ser
possível, e hoje ela e Peter estão muito felizes.
Meus pais, nunca souberam do meu dom. Minha mãe chegou a
perguntar várias vezes sobre aquilo que eu disse que contaria para ela.
Porém, não achei necessário contar.
Ainda não terminei minha faculdade, mas já combinamos que
assim que eu terminar, nos casamos e Chris adorou essa ideia. Ainda
tenho contato com o pessoal do orfanato, e sempre que dá vou visita-
los. Também estou escrevendo uma história, a nossa história que se
chama “Faça um pedido”
— Lizy, o que você está escrevendo aí? Deixa eu ver, deixa. —
Perguntou Chris tirando novamente o diário da minha mão e saiu
correndo pelo quarto. A tonta aqui correu atrás dele, até finalmente
conseguir pegar de sua mão. No mesmo instante, ele me puxou para me
beijar. Logo depois se afastou dos meus lábios.
— E aí, está pronta? Acho que os convidados estão chegando.
— Estou sim, o que achou? — perguntei dando uma voltinha
para ele ver minha roupa.
Meu vestido era longo, preto e tomara que caía justinho até na
cintura, e pra baixo era muito rodado, muito mesmo.
— UAU, você está um arraso, uma verdadeira gatinha. Tá
demais. E eu como estou? — perguntou me imitando. Ele vestia uma
calça social preta, camisa social de manga longa branca e gravata preta.
— Tá um gato, o meu gato — dei um selinho em seus lábios.
— Meu Deus, como vocês estão lindos. Vou tirar uma foto —
falou minha mãe ao entrar no quarto, e pegando o meu celular, tirou
muitas fotos de nós dois fazendo pose.
— Prontinho, estão lindos. Agora vamos descer, porque os
convidados estão chegando, e seu pai já está lá recebendo.
Chegamos na festa que por sinal já estava lotado. A festa era
decorada em preto e branco, estava tudo perfeito e lindo. Tinha
algumas mesinhas com toalhas brancas, e outras com toalhas pretas. A
tenda era preta com umas bolas enormes brancas e pretas penduras.
Dava um charme a decoração. Até o bolo e os docinhos era em preto e
branco. Estava tudo muito lindo.
Muitos convidados vieram me cumprimentar e me dar
parabéns. Notei que quase o orfanato todo estava aqui, e meus amigos
de faculdade também. Fomos para pista de dança, e junto com Tia
Charlote, Jade, Igor, Luna, Peter, Malu, Vic, Thomas e até meus pais se
juntaram para dançar e dançamos muito, muito mesmo. Nunca me
diverti tanto como nessa festa. Dependendo da música, nós não
dançávamos, nós pulávamos, estava bom demais.
— Filha, tá na hora de cantar parabéns, vem Filha — falou
minha mãe me puxando, e eu puxava o Chris.
— Mãe, não quero cantar parabéns. — Falei ao chegar na frente
do bolo, e nem me ouviram, pois já estavam cantando parabéns.
Quando chegou na hora de apagar a vela, meu pai se aproximou e falou;
— Filha ‘’faça um pedido...’’ — Quando o ouvi, olhei assustada
para o Chris que me esperava assoprar a vela. No entanto, esse pedido
nunca mais irei fazer. Pois tudo que eu sempre quis, eu já tinha como
meu noivo e minha família. Então não preciso fazer nenhum pedido.
Porque tudo em minha vida estava como sempre sonhei.
Um pedido mudou toda minha vida e isso já basta para mim.
Sobre a autora:

Meu nome é Tânia Virginia Giovanelli Tinti Bueno, nasci e cresci


em São José do Rio Pardo – SP, no dia 26/11/1973, sou filha de Maria
das Graças Giovanelli Tinti e Nelson Tinti, sou casada com Carlos
Roberto Oliveira Bueno, tenho um filho que é minha paixão e o meu
anjo Leonardo Giovanelli Tinti.
Desde pequena, sempre fui apaixonada por leitura, quem me
conhece sabe que é quase um vício para mim. Mas a paixão por escrever
minha própria história, começou quando perdi dois bebês e comecei a
entrar em depressão, porém queria que essa tristeza fosse embora e foi
aí que tive a ideia de começar a escrever minhas histórias.
Hoje posso dizer, que a escrita me tirou toda a tristeza e me
inspirei no meu filho para escrever minha primeira história. Graças a
isso, depressão não passa mais perto, hoje é só alegria. Escrever agora
faz parte da minha rotina.
Em 2016 recebi o troféu Cicília Meireles por ser uma mulher
notável em 2015 em literatura nacional. A premiação aconteceu na
cidade de Itabira no dia 21 de maio.

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