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2ª edição
2
Sônia Nemi
Salvador, 2007
Bahia
3
Copyright 2019
Coordenação e Organização
Luanne Oliveira
Revisora
Marcia Maria
2ª edição
2021
ISBN 978-65-900218-0-9
4
AGRADECIMENTO
Sônia Nemi
6
SUMÁRIO
AGRADECIMENTO ........................................................................................... 5
PREFÁCIO ....................................................................................................... 10
APRESENTAÇÃO ............................................................................................ 18
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 23
1 A COMUNICAÇÃO ....................................................................................... 43
Padrão da comunicação ..................................................... 47
Expressão verbal e não-verbal ............................................ 56
Uma ideia geral dos jogos ................................................... 59
Os paradoxos ..................................................................... 66
Dupla mensagem ............................................................... 69
2 RELAÇÕES TRIANGULARES ..................................................................... 80
7
Apêndice I.................................................................................................. 271
8
Exercício 3 ....................................................................... 320
Exercício 4 ....................................................................... 321
Exercício 5 ....................................................................... 321
BIBLIOGRAFIA............................................................................................ 337
9
PREFÁCIO
10
mas, também, a sua fome de estímulos afetivos.
Assim, a CARÍCIA é um estímulo intencional diri-
gido de uma pessoa para outra, que ratifica para
a primeira que ela existe. Tal estímulo, que pode
ser um contato físico, uma palavra, um gesto, é
expresso através de CARÍCIAS positivas e negati-
vas, condicionais e incondicionais.
13
Eric Berne (1974:49), ao definir o jogo
como [...] um conjunto repetido de transações,
não raro enfadonhas, embora plausíveis e com
uma motivação oculta [...], enfatiza a busca do
saciar a necessidade de afeto dos seres humanos
que não conseguiram para si uma fonte prove-
dora mais saudável. Esse autor não empresta ne-
nhuma conotação negativa aos que, porventura,
são adeptos, ou até viciados, nos jogos.
17
APRESENTAÇÃO
Sônia Nemi
www.sonianemi.com
informacoes@sonianemi.com
22
INTRODUÇÃO
23
A visão sistêmica
24
ATÔMICA colocaram abaixo os conceitos básicos
da física newtoniana.
25
mostra-nos que o mundo não se decompõe em
unidades ínfimas com existência independente:
Quando penetramos na matéria, a natureza não
nos mostra quaisquer elementos básicos isola-
dos, mas apresenta-se como teia complicada de
relações entre várias partes de um todo unifi-
cado. (1995:281)
28
O SISTEMA FAMILIAR e seus SUBSISTEMAS
(casal, parental, fraternal e filial), uma vez que as
relações são circulares, não possuem começo
nem fim, ou seja, não interessa procurar quem
começou uma briga – tais eventos são decorren-
tes da inter-relação, o que pressupõe que cada
um oferece sua própria contribuição. Um outro
aspecto a ser levado em conta é a subjetividade
presente nos organismos vivos; tomando como
exemplo uma árvore, é sabido que ela acessa sua
memória mesmo que seja levada de um conti-
nente a outro, onde o clima é bem diferente.
31
demais que qualquer mudança em uma delas
provocará mudanças nas outras e, consequente-
mente, no sistema como um todo; pensando no
funcionamento da família, fica evidente que cada
membro influencia o comportamento do outro e
é influenciado por ele. Para compreender tal ca-
racterística do sistema, é importante ter em
mente a CIRCULARIDADE, conceito básico que, de
acordo com Marilene Grandesso, define os siste-
mas e como através deste, a terapia sistêmica da
família se organiza:
A interação entre os componentes de um sistema
manifesta-se como uma sequência circular, de
modo que a relação entre quaisquer de seus ele-
mentos é bilateral. Enquanto o pensamento li-
near postulava uma causalidade do tipo de uma
implicação lógica – se A, então B (A→B) –, o pen-
samento sistêmico resultou em uma bidireciona-
lidade do tipo – se A, então B e se B, então A
(A↔B). Dentro desse pressuposto de
32
causalidade circular, a ordem dos fatores não al-
tera o produto. (2000:121)
33
A EQUIFINALIDADE é uma propriedade dos
sistemas abertos que nos assegura diferentes re-
sultados, a partir da mesma origem ou um
mesmo resultado, a partir de condições iniciais
diferentes. Observo que, quando uma pessoa
teve sucesso com uma abordagem terapêutica,
tem a tendência de acreditar que somente esta
técnica poderá ajudar A, B ou C. Pensando essa
questão a partir da EQUIFINALIDADE, podemos
compreender que estas pessoas podem ser bem-
sucedidas, em seus objetivos de crescimento, se
escolherem uma outra abordagem. Como a sabe-
doria popular já sinalizava, todos os caminhos
levam a Roma.
36
que a organização de uma família está certa ou
errada. Tal organização é o modo como a família
pode funcionar cujo equilíbrio se empenha para
preservar. Se um observador compreende algum
comportamento da família como um problema
da família, não significa que este o seja; pro-
blema é aquilo que a família vivência como tal.
Somente a própria família pode avaliar se aquela
organização já não atende mais às suas necessi-
dades, para decidir mudar, ou não. Quando al-
guma perturbação ocorre em um organismo,
como Capra esclarece, este tende a regressar ao
seu estado original, e o faz, adaptando-se de vá-
rias maneiras às mudanças ambientais.
(1995:266)
41
Bateson, Maturana, entre outros, legiti-
mam a NOVA CIBERNÉTICA como modelo crucial
que provê a terapia sistêmica de uma linguagem
para que a terapia familiar possa pensar sobre si
mesma e a fim de lhe proporcionar identidade.
42
1
A COMUNICAÇÃO
43
presença de outras pessoas. Cada par relacional
também associa acordos não-verbais, velados ou
não a determinadas formas de se expressar em
palavras. No entanto, quando a relação é recém-
estabelecida, muitas vezes, cada um pensa sobre
o que está dizendo e, normalmente, escolhe as
palavras, o momento e o jeito de se comunicar.
Padrão da comunicação
49
de João, ao lhe responder. Isso não significa que
Maria concordou com João, mas que deu aten-
ção ao que João disse, importando-se com ele,
mesmo que discordando. Desse modo, Maria
admite que João existe, ou seja, João se sente
confirmado em sua existência. Para tanto, ao fa-
lar, Maria inclui um olhar ou um gesto que aco-
lhe, enfim, uma resposta que qualifica a
existência de João.
50
Quando João se sente rejeitado por Maria
fica entendido que Maria repeliu o jeito de ser de
João, ao lhe responder. Maria assim o faz
quando revida o que foi dito por ela com atitudes
e ou palavras ríspidas, com um tom de voz alto
ou grosseiro, um olhar sarcástico ou com uma
atitude agressiva. Por pior que seja tal rejeição,
ela qualifica a existência de João, ainda que o
trate mal. Desse modo, Maria admite que João
está ali e ela sente que existe, mesmo que rejei-
tada na sua forma de ser.
53
Abatida e sem ânimo, ela ficava deitada, na cama
do casal, uma boa parte do tempo, nos fins de se-
mana. Ela descreve o comportamento dele com
muito ressentimento: Ele entra no quarto como
se eu não estivesse ali. Ele nem direciona o rosto
para o lugar onde eu estou. Fica totalmente in-
diferente. Faz o que tem que fazer e sai. Eu me
sinto ainda pior. Totalmente arrasada. Foram
necessárias algumas sessões para Antônio e Fer-
nanda enxergarem que qualquer um dos dois po-
deria fazer algo diferente, para que uma
mudança pudesse acontecer. Quando finalmente
conseguiram se dar conta que os dois eram co
construtores daquelas cenas, os dois se sentiram
mais confortáveis para fazer diferente.
57
relações diferentes - Eu te amo! (1) voz terna e
olhar carinhoso, (2) voz dura e olhar raivoso, por
exemplo.
58
silencia como forma de lidar com suas emoções.
Uma certa noite, o marido vai dormir muito
tarde, preparando um relatório e temendo per-
der o horário para o trabalho, na manhã se-
guinte, coloca na mesinha de cabeceira da sua
esposa um bilhete pedindo que ela o desperte às
6:00. Ao acordar, muito descansado, ele se as-
susta ao ver que já são 10:00. Indignado, res-
munga exasperado, quando observa que, ao lado
do seu relógio, na sua mesinha de cabeceira, tem
um bilhete que diz: Acorde. Já são 6:00.
63
levantar e calçar os pés para em seguida ir ao ba-
nheiro, escovar os dentes e então lavar o rosto.
64
Em relações conturbadas, é preciso identi-
ficar primeiro o padrão, para somente então re-
solver o assunto em pauta. É o contexto, em
detrimento do conteúdo, que pode ajudar a reco-
nhecer o padrão. Em geral, é mais fácil para
quem está fora perceber o que está realmente
acontecendo. É preciso tomar distância para, do
lugar do observador, ser capaz de enxergar o en-
quadre, em vez de ficar preso ao assunto, como
faz Minuchin no caso clínico por ele descrito em
que a Sra. Smith não tinha ideia das suas contra-
dições:
A Sra. Smith se queixa de que seu marido é uma
pessoa silenciosa. Porém, constantemente, o in-
terrompe e o silencia, quando ele começa a falar.
Diz que seu marido é uma pessoa a quem respeita
e até teme. Mas suas descrições pormenorizadas
da necessidade dele de controlá-la são, clara-
mente desrespeitosas, de um homem a quem re-
almente percebe como doente e fraco. (1982.134)
65
Os paradoxos
Entre os estilos de comunicação estão os
paradoxos e, quando estes são o padrão relacio-
nal, a relação pode se tornar uma prisão muito
apertada. Isso porque o paradoxo é mais do que
uma contradição, ele é um beco sem saída que
invade a relação, afeta o comportamento e desa-
fia a coerência.
66
paradoxo designa o que é aparentemente contra-
ditório, mas que apesar de tudo tem sentido.
67
Epiménides não mente quando afirma que todos
os cretenses, incluindo Epiménides, mentem.
Em consequência:
1- Epiménides mente se e só se não mente (isto é,
diz a verdade)
2- Epiménides não mente (isto é, diz a verdade)
se e só se mente.
Dupla mensagem
69
filho Venha sentar-se em meu colo, mas o faz
com um tom que demonstra que ela quer que ele
fique longe. Por sua vez, o filho, impossibilitado
de desmascarar o duplo comando, verbal de ir e,
não-verbal de não ir, se aproxima, negando ao
dizer: Oh, que botão bonito você tem no vestido.
Ele tenta tapeá-la, fingindo que só está se apro-
ximado para observar o botão em seu vestido, ou
seja, não está obedecendo ao seu comando, ape-
sar de estar.
70
ambiguidades faz com que o receptor se sinta
eternamente confuso sem conseguir compreen-
der o que está sendo comunicado. Esse estado de
confusão, quando sistemático, passa a ser in-
consciente e vivenciado como se fosse parte inte-
grante da personalidade.
74
de comunicação vão utilizar, para formatar a re-
lação e mantê-la estável. Elkaïm (1990:21)
afirma que o preço pago pela estabilidade da re-
lação, caso existam dificuldades para mantê-la, é
desenvolver comunicações com duplo sentido.
Além de fazer a relação existir, as comunicações
e seus diversos padrões, com duplo sentido ou
não, dão à relação uma identidade.
75
Os jogos independem do conteúdo da con-
versa. O que faz de um jogo um jogo não é o as-
sunto e sim o padrão em que a conversa está
enquadrada. Como afirma Waltzlawick, quando
diz que ONDE EXISTIR UM PADRÃO EXISTE
SIGNIFICADO (1993:33), é o padrão de comunica-
ção da relação que, como um código, precisa não
apenas ser identificado, mas também decodifi-
cado para que seja possível interrompê-lo.
79
2
RELAÇÕES TRIANGULARES
80
podem emperrar a fluidez das relações e manter
um ou mais membros fora.
81
lificada, ela pode entrar em contato com tanta
ansiedade, que acaba precisando dividir isso
com mais alguém. Quando a relação triangula, os
dois membros iniciais não participam com o ter-
ceiro ao mesmo tempo. Um deles passa a intera-
gir com o terceiro, enquanto que o outro se sente
excluído. Esse movimento pode alternar, de
forma que três triângulos podem ser vivencia-
dos: A+C, B+C ou A+B, sendo A e B o casal e C a
terceira pessoa. “C” pode ser um filho, a empre-
gada, uma vizinha, um amigo ou alguém que par-
ticipa de alguma intimidade da família ou não. A
dificuldade aumenta à medida que a díade A+B
fica menos prestigiada.
83
Quando há uma disfunção dessa relação, a
triangulação se torna um padrão no qual a se-
quência de lances de cada um é previsível e, fica
entendido que a sua estrutura recorrente serve a
uma determinada função. A função inserida no
padrão organiza e facilita a comunicação e utiliza
sinais, cujos significados são facilmente entendi-
dos por cada membro da relação. A comunicação
pode ser simultaneamente verbal e não-verbal,
mas esta última pode ser muito mais poderosa.
Bowen sinaliza que as mensagens mais sutis de
triangulação são comunicadas por expressões
faciais, tons de voz, mudanças na postura cor-
poral e outros sinais não verbais (1988:10) 1
1
Tradução nossa.
84
triângulos nas relações, Bowen (1988:134-135)
considera o triângulo como a molécula básica de
um sistema emocional e a menor unidade estável
de um relacionamento. Ele explica que é a ansie-
dade que movimenta o triângulo e que, quando
esta é baixa, a relação pode ser calma e confortá-
vel. Ele também afirma que a movimentação dos
triângulos é previsível e comenta que um obser-
vador, interessado em compreender o seu funci-
onamento, consegue obter respostas para
diversas perguntas tais como: o que, como,
quando e onde, no entanto, o porquê não fica evi-
denciado. O olhar que o observador deita sobre o
sistema e em suas relações não demanda que o
motivo para cada ação seja identificado - a fun-
ção, sim, esta é importante. Da mesma forma
que os cientistas diante do novo paradigma pre-
cisaram encontrar a pergunta certa para
85
entender o que estavam a ponto de descobrir,
também diante de um sistema e de suas relações
é importante identificar qual a pergunta a ser
feita. Em se tratando de uma família, a pergunta
precisa ser: PARA QUÊ CADA MOVIMENTO
ACONTECE? Ou seja, QUAL A FUNÇÃO DA
MOVIMENTAÇÃO DO TRIÂNGULO?
87
pontos abordados nas sessões, não encontrava
no sistema familiar nada que justificasse o que
acontecia a Bela. Quase que diariamente, ela te-
lefonava para seus pais, solicitando que um deles
a fosse buscar na escola e, quando eles se recusa-
vam, insistindo que ela ficasse, ela apresentava
sintomas tais como náuseas, vômito, dores estra-
nhas e até desmaio.
90
Fica evidenciado que o elemento chave da
triangulação é o fato de um deles tomar partido
do outro. Isso faz com que “A” e “C” se aliem para
culpabilizar “B”, pelas dificuldades da relação
dele com “A”. Outro aspecto que Bowen sinaliza
também que, a aliança feita entre “A” e “C” é ba-
seada na indiferenciação. Entende-se que uma
das características de uma pessoa diferenciada é
a capacidade de se relacionar, falando de si pró-
pria e não sobre outros ou sobre coisas impesso-
ais (1988:136). DIFERENCIAÇÃO é o processo de
desenvolvimento desde a infância até a vida
adulta, que implica na separação gradativa da
mãe, do pai e da família, para tornar-se uma pes-
soa autônoma, e, naturalmente, capaz de estabe-
lecer limites nas suas relações. Como Vânia
Castilho explica em seu artigo, sobre família de
origem,
91
Uma pessoa bem diferenciada é capaz de ser ela
própria, fazer e dizer o que deseja e pensa sem
sentir-se preocupada se os outros continuarão
gostando dela ou a criticarão, sem necessidade
de adular ou criticar de forma inapropriada. É
transparente sobre si mesma, aceita as diferen-
ças dos outros sem reagir, mas ao mesmo tempo
é aberta à possibilidade de mudança e capaz de
rever as próprias posições. (1994)
92
nível. Essa ação atrai a atenção de um deles ou
dos dois, para ela, reduzindo então a tensão en-
tre eles. 2 Quando os pais são separados, isso
pode se tornar comum; um destrói a imagem do
outro, aos olhos da criança, em função das suas
mágoas e ressentimentos. Se a criança fica do
lado de um, é desleal ao outro e vice-versa. Cada
criança decide como lidar com esse tipo de ques-
tão, adoecendo ou se desligando, entre outras
possibilidades.
2
Tradução nossa.
93
Josiana não conseguia ter vida própria, uma vez
que sua vida girava em torno das necessidades
de sua mãe. Era através de Josiana que sua mãe
se relacionava com a família.
94
limites a ninguém, e, cada vez que Amélia ten-
tava envolvê-lo em alguma situação com o filho
caçula, ela se frustrava. Em vez de brigar com o
marido, Amélia se indispunha cada vez mais com
o filho e, para aliviar sua tensão, ela confidenci-
ava com a filha mais velha com quem procurava
manter uma aliança. A filha mantinha a mãe
fora, enquanto tentava fazer as vezes de pai,
junto ao seu irmão que, naturalmente, não reco-
nhecia a sua autoridade; em vez de resolver a
questão, os irmãos brigavam e brigavam cada vez
mais. Ocupados com as brigas dos filhos, Lucas
e Amélia não olhavam para as suas próprias
questões.
96
Como diz Kertész (1977:96), O SALVADOR
do triângulo dramático precisa ser necessário,
enquanto o PERSEGUIDOR precisa que o temam e
a VÍTIMA precisa que a desqualifiquem.3 Atento
às situações que contextualizam os jogos, Berne
(1974) os classificou, nomeando-os quanto aos
temas centrais, sem perder de vista que sua fun-
ção é sanar a fome de afeto. Os jogos classifica-
dos por Eric Berne (alguns dos quais serão
discutidos no apêndice), podem ser agrupados a
partir de cada vértice do triângulo.
3
Tradução nossa.
97
vocês, Agora te peguei, seu FDP, Não disse? Eu
sabia!, Bandido e Mocinho, Corner, Defeito, En-
curralar, Gritaria, Jogo de Poder de quem está
por cima, Olha o que você me fez fazer, Querida,
Se não fosse por você, Sedução, Sim, mas..., Tri-
bunal.
98
conduzam suas vidas e tomem conta delas. Os jo-
gos favoritos da VÍTIMA são: Alcoólatra, Arra-
sado, Burro, Chute-me / Bata-me, Coitadinho,
Desastrado, Devedor, Jogo de Poder de quem
está por baixo, Mártir, Mulher Fria, Perna de
Pau, Pobre de mim, Por que essas coisas só
acontecem comigo?, Tonto, Veja só como eu me
esforcei.
101
3
QUE SÃO JOGOS RELACIONAIS?
102
dentes, podem se assemelhar a jogos. No en-
tanto, se for apenas um contratempo ou um mal-
entendido na comunicação, pode ser esclarecido
com uma confrontação; os jogos, por outro lado,
por serem sistemáticos, aprisionam.
103
Lamentavelmente, os jogos substituem a
intimidade entre os membros, quer por questões
da própria relação ou da história de cada um. Ou
seja, as pessoas jogam em busca de afeto mesmo
que seja afeto negativo em vez de intimidade ver-
dadeira. A explicação de Berne para isso é que:
À medida que as pessoas se conhecem melhor,
mais e mais programação individual vai sur-
gindo, e assim os ‘incidentes’ começam a ocorrer.
Estes incidentes parecem casuais à primeira
vista, e pode ser que assim os definam as partes
envolvidas, mas um meticuloso estudo revela que
tendem a seguir padrões suscetíveis de classifica-
ção, e que sua sequência é regulada por regras
estritas, embora não escritas ou ditas (1974:21).
105
Amélia, casada com Lucas há 18 anos, con-
fessa em uma sessão de terapia de família que ela
se ressentia muito do marido porque, no pas-
sado, ela estivera deprimida durante um ano,
mas ele nunca percebera. Ela afirma que não
disse nada para ele, na ocasião, porque queria
verificar se ele prestava atenção a ela; Amélia fi-
cava cada vez mais frustrada porque não aconte-
cia nada! Ao ouvir o depoimento de Amélia,
Lucas ficou perplexo, e, depois que se situou em
relação à época, ele conseguiu compreender por-
que aquela foi uma fase em que ele se sentia tão
distanciado dela. Amélia tinha expectativas em
relação a Lucas que ele não conseguira atender.
Ele conta que muitas noites fora dormir angusti-
ado, sem saber o que poderia ter feito, que a dei-
xava tão distante. Os dois seguravam infor-
mações sobre seus sentimentos e pensamentos e
106
sofriam com isso, mas se mantiveram fiéis aos
seus padrões relacionais. Ela se sentia desconfir-
mada e ele rejeitado.
109
quando este é sentido como entediante. A rela-
ção está sem graça, a pessoa se sente esquecida
pelo outro ou, ao contrário, fica evidente que a
única coisa possível, naquele momento, é a pro-
ximidade, mas esta é ameaçadora. É o caso de
Sílvio e Maria. Eles não conseguiam associar o
jogo que jogavam a uma situação ou momento
específicos. De vez em quando, eles faziam o
mesmo jogo. Sílvio se mostrava indeciso em re-
lação a alguma coisa como, por exemplo, a qual
filme assistir, a qual restaurante ir ou mesmo
que camisa vestir para ir ao mercado. Maria se
prontificava a decidir por ele. Imediatamente
Sílvio já sabia o que fazer e nunca era o que ela
havia sugerido. A partir de então, eles ficavam
um mês sem sexo. Como sexo era para eles a
única forma de proximidade e carinho, eles se
sentiam totalmente distantes. Ao se darem conta
110
do que faziam, puderam identificar quais cren-
ças confirmavam, ao final de cada jogo. Ainda
que meio embaraçado, ele admitiu que pensava:
Não vou deixar ninguém mandar em mim, e ela:
Você vai ver o que eu vou fazer com você já que
não faz do meu jeito. Para eles, o processo tera-
pêutico pôde avançar com maior fluidez desde
então.
111
relação é distorcido, isso pode sugerir que a inti-
midade é algo temido pelos dois.
113
isca poderia ser a tal carta que Edvaldo tinha na
manga; resolvi, entretanto, deixar o possível jogo
de lado para verificar um outro aspecto que pa-
recia intrigante. Sugeri que construíssemos uma
linha do tempo, situando esses momentos difí-
ceis, que eles viviam tão repetidamente. O clima
da sessão mudou, uma vez que o foco não eram
as brigas, mas as ocasiões em que elas aconte-
ciam. Facilmente eles perceberam que todas as
brigas aconteciam em vésperas de feriados pro-
longados, ou férias, ou ainda próximos a datas
especiais para o casal.
116
são, sendo que o membro que está submetido
joga jogos de quem está por baixo.
117
O caso de Lucas e Amélia pode ilustrar o
tipo de relação casal – dominação X submissão.
Amélia era filha de uma mulher admirável pela
sua força e garra. Uma mulher que criou 9 filhos,
sozinha, uma vez que seu marido a abandonara.
Amélia sempre se ressentiu por não ter tido pai
presente.
118
Todos nós aprendemos sobre emoções, vi-
venciando-as no sistema familiar. É a família o
primeiro sistema a interferir sobre o que pensa-
mos, do que gostamos e especialmente o que é
permitido sentir. Foi isso que aconteceu com Lu-
cas e Amélia: cada um trouxe para o casamento
a forma de se sentir em relação ao mundo,
aprendida na família de origem.
121
me relaciono com você com medo do que você
possa dizer. Lucas pôde admitir que ressentia
não ter o papel de homem na relação, e passou a
assumir mais os seus desejos; ele teve coragem
de reconhecer que, mesmo dizendo sim para
Amélia, muitas vezes ele sabotava as tarefas que
ela lhe atribuía, ou seja, seu sim era na verdade,
um NÃO disfarçado.
122
construir e exercitar um novo repertório para
uma comunicação direta e mais saudável.
123
escola, no trabalho, na vida social e na vida con-
jugal.
124
4
CARACTERÍSTICAS DOS JOGOS
125
consequências. Em seu livro, Fundamentos do
Jogo de Xadrez, ela apresenta os princípios e as
regras desse jogo e descreve como iniciá-lo:
A partir do primeiro lance, cada movimento das
peças modifica a posição geral. Examinando esta
modificação, nós planejamos nossas respostas.
Este planejamento racional chama-se
ESTRATÉGIA. Para formar um bom plano de ação
devemos estudar com muita atenção os lances do
adversário, suas possíveis ameaças e onde ele
pretende atacar-nos. (1969:37)
126
próprio movimento, limita as opções deste para
que ele só jogue da maneira prevista. Dessa
forma, aquele que utilizou a variante forçada al-
cança seu próprio objetivo que é galgar uma po-
sição superior, ainda que durante o jogo, alguns
ajustes venham a ser necessários, para que situ-
ações aparentemente imprevisíveis possam ser
sanadas e a estratégia original retomada. Neste
caso, o controle é tamanho que, além de influen-
ciar o comportamento do outro, o especialista
quer determinar de que forma tal comporta-
mento irá afetar a si mesmo. Isso também acon-
tece nas relações. São as relações em que a
retroalimentação negativa busca assegurar que
tudo seja mantido como é, sem qualquer novi-
dade.
128
também tem princípios e regras que o estrutu-
ram. A obediência a tais princípios é imprescin-
dível para que os jogos se instalem na relação. Os
princípios básicos são:
(1) a alternação de turnos pressupõe que cada res-
posta estimula a resposta seguinte, ou seja, cada joga-
dor faz a sua parte garantindo a continuidade da
partida;
129
possível comparar sua estruturação e funciona-
mento. Em vez de peões e peças, o jogo relacional
utiliza dados e informações dentro da comunica-
ção (expressão verbal) ou do comportamento
(expressão não-verbal) – a inter-relação dos da-
dos possibilita a percepção das infor-mações; em
vez de tabuleiro, o jogo das relações utiliza o
campo relacional (tensionado ou entediado) e as
regras que são os contratos velados da relação.
131
Iara e Augusto também repetiam continua-
mente o mesmo jogo. Iara confessa, na primeira
sessão, que depois de 18 anos de casada, mantem
suas expectativas em relação a Augusto; a essa
altura, ela tem certeza que ele não vai atender,
no entanto, ela continua se fechando, toda vez
que ele faz diferente do que ela quer. Augusto já
sabe que, em momentos assim, se ele quiser al-
guma coisa com ela, ele vai ter que a seduzir, até
ela se abrir de novo. Ele diz que tem que fazer por
merecer para ter sexo. Nem sempre ele está a fim
de fazer isso, por esta razão, algumas vezes ele
também se fecha e fica cada um de um lado.
133
5
COMO FUNCIONAM?
135
No jogo de xadrez, os jogadores estão pas-
sando o tempo em busca do xeque-mate que é o
reconhecimento do desempenho do vencedor.
Nos jogos relacionais, além de também ocupa-
rem o tempo fazendo alguma coisa, todos os jo-
gadores estão em busca do benefício final – após
um breve silêncio, mudam de humor e confir-
mam suas crenças pessoais e familiares, e, se
sentem preenchidos, ainda que de sentimentos
negativos.
140
jogo complementar ao jogo Eu só queria ajudar.
A conversa inocente entre Marly e João ilustra
esses dois jogos. Marly conversa com seu primo
no almoço de família. João é conhecido pela sua
sempre presente intenção de ajudar. Marly con-
vida João a triangular, falando mal do seu ma-
rido:
Marly: Eu não suporto mais viver com o meu
marido!
João: Por que você não se separa?
Marly: Sim, mas meus filhos são pequenos,
eu não trabalho.
João: Você poderia começar a trabalhar e
se preparar para a separação.
Marly: Sim, mas já pensou no que meus fi-
lhos vão passar?
João: Talvez você devesse procurar uma te-
rapia de casal?
141
Daí em diante, Marly recusa qualquer su-
gestão de solução dada por João. Depois de vá-
rias tentativas, João desiste e os dois ficam em
silêncio por um tempo, até que se despedem com
uma sensação desagradável e com pensamentos
bem definidos relacionados à conversa.
144
identificar o padrão que utiliza para jogar, (2)
perceber quais são os lances que alimentam seus
jogos, e (3) descobrir quais são as regras que os
mantêm. Enquanto os jogadores não estão pron-
tos para abrir mão dos pseudo ganhos que os jo-
gos proporcionam, eles vão defender qualquer
tentativa que alguém faça para mostrar que estão
jogando.
145
6
PARA QUE JOGAR?
146
antes de retirar os jogos, pois estes podem ser a
única fonte de estímulos dos membros.
147
Na visão dele, essa é a mola propulsora dos jo-
gos: a fome de CARÍCIAS.
149
delicada com as melhores das intenções. Além
dessas, muitas são as explicações para jogos:
medo, raiva, esquecimento, pressa, cuidado ex-
cessivo, entre outras.
150
Eles começaram a relatar que tipo de coisa
fazia a relação esfriar. Cláudio conta que iniciou
um tratamento sério para saúde, uns seis meses
antes e que, por esta razão, tem uma alimentação
especial. Manter sua alimentação era algo muito
trabalhoso e ele tinha dificuldade, em função dos
seus horários. Ele não consegue dizer o que de
fato o incomoda, apenas sugere que ela deveria
tomar a frente disso e cuidar de tudo. Assim que
ela é fisgada pela insinuação dele, ela se coloca:
Eu até faço muitas coisas para ajudá-lo com sua
alimentação, mas paro de fazer, quando me
sinto cobrada, como se fosse minha obrigação
fazer. Jane completa sua fala dizendo que ela
também sentia falta de alguém que se importasse
com sua alimentação e que, para ela, não fazia
sentido ficar na cozinha sozinha, preparando
tudo.
151
Durante a sessão, eles falaram sobre suas
histórias pessoais e perceberam a interferência
do padrão da família de origem na relação deles.
Cláudio e Jane eram filhos únicos. Ele nunca fora
casado e morou com sua mãe até os 45 anos
quando foi morar com Jane, em casa dela. Sua
mãe cuidava de tudo que dizia respeito a ele. Ele,
por sua vez, tinha, de fato, essa expectativa em
relação à sua esposa. Jane, no entanto, sempre
sentira falta de ser cuidada por sua mãe. Ela in-
clusive comentou que alguns amigos próximos já
haviam sinalizado que eles percebiam alguma
coisa infantilizada em relação a ela, associada ao
alimento. Eles falavam que, em todas as festi-
nhas e reuniões que participavam, Jane mudava
de postura na hora de comer o que era servido. A
expressão dela mudava e ela parecia uma criança
faminta e ao mesmo tempo fascinada diante do
152
alimento. Naquele momento, ela se dava conta
de que havia algum sentido no que os amigos di-
ziam e que qualquer que fosse o significado da-
quele comportamento, ele interferia na sua
relação de casal.
154
Os jogos são úteis para ocupar o tempo das
pessoas e mantê-las próximas, ainda que distan-
tes, como explica Ken Ernst,
A gente faz jogos por uma infinidade de razões,
das quais a mais importante é evitar intimidade
e confirmar a falta de confiança nos outros. Ou-
tras razões são evitar responsabilidades, ser o
maior, encobrir medos e fobias e estruturar o
tempo. (1978:59)
159
7
COM QUEM JOGAR?
160
é viável para jogar o tipo de jogo que precisa. De-
pois disso, ele apenas precisa verificar nova-
mente; ele joga uma isca e quando o outro
engancha, ele é aprovado. Em geral, essa pri-
meira experiência, no que diz respeito a casais, é
vivenciada nos primeiros tempos da relação,
ainda na fase do enamoramento, quando firmam
um acordo velado a favor dos jogos e, para per-
manecerem juntos, é preciso existir sintonia na
comunicação entre os membros da relação.
Quando se trata de amigos, colegas de trabalho
ou de estudo, é, muitas vezes, a afinidade que as
pessoas têm aos jogos uns dos outros que, nor-
malmente, define de quais grupos farão parte.
162
necessidades da relação e não a pessoa culpada
por isso. Se Lucas estivesse pronto e disposto a
fazer diferente, ele impediria que coisas desse
tipo acontecessem na relação. Enquanto isso não
era possível, quanto mais apertado o cerco do
jogo, mais insuportável se tornava para Lucas fa-
lar sobre o que não entendia (o afastamento de
Amélia). O sentimento é cada vez mais descon-
fortável e é preciso uma trégua para respirar.
164
mente incomodado, poderia decidir fazer al-
guma mudança.
166
ser educados um com o outro, mesmo que o
corpo todo solte farpas.
167
8
COMO MINIMIZAR JOGOS?
170
concomitante a um mal-estar (tristeza, angústia,
confusão, raiva). Esse pensamento é parecido
com uma decisão e é baseado em uma generali-
zação. Exemplos de crenças são: Não se pode
confiar em ninguém, As pessoas são tão interes-
seiras!, Eu não tenho jeito mesmo, Ninguém faz
nada certo, entre outras.
171
(4) A cada jogo é necessário fazer o caminho
inverso para identificar quais são as regras con-
tratadas na relação e que lances mantêm o pa-
drão relacional. Esse é o momento de analisar as
etapas fazendo-se algumas perguntas: Como eu
estava me sentindo antes de tudo isso começar?
Comecei como PERSEGUIDOR, SALVADOR ou
VÍTIMA? Quais foram os lances? No final, eu es-
tava como PERSEGUIDOR, SALVADOR ou VÍTIMA?
172
talvez, pudesse admitir a sua necessidade de aju-
dar, para se sentir valorizado e importante.
173
durante todo o processo de aprendizagem de
como se livrar dos jogos.
174
marido, Etevaldo. Ele costumava reclamar da
empregada para ela, que sentia as queixas como
críticas a ela. Em geral, ela se defendia e a con-
versa virava um bate-boca. Outras vezes, ela se
calava, mas de nada adiantava, pois ele acabava
ainda mais irritado pelo silêncio dela. Após uma
sessão, ela havia compreendido que, enquanto
ela tivesse medo de ficar sem aquela empregada,
que ela gostava e com quem estava satisfeita, ela
estaria nas mãos de Etevaldo.
177
Você está jogando, afinal ninguém joga sozinho.
De nada adianta tão pouco dizer: Nós estamos
jogando. Denunciar não significa apontar para o
jogo e sim trazer à tona aquilo que o jogo pode
estar tentando esconder. É preciso ter muita ha-
bilidade e confiança no outro membro da relação
para denunciar um jogo, sem que outro jogo co-
mece (Acusação, por exemplo). A denúncia pre-
cisa ser feita de uma forma tal, que o outro se
sinta confirmado, ainda que discorde. Lúcia e
sua filha Mércia se debatiam o tempo todo. Mér-
cia, aos 23 anos, ainda totalmente dependente da
mãe, não aceitava nenhum limite. Sua mãe, por
sua vez, não conseguia sustentar os limites que
dava. Dessa forma, Mércia sabia que poderia es-
calar no seu comportamento até conseguir o que
queria. Lúcia precisou de algum tempo no seu
178
processo, para se fortalecer e aprender a susten-
tar suas decisões.
179
ficando a pessoa, fazendo-a sentir-se tratada
com indiferença. Isso significa ser capaz de estar
com a pessoa, ouvindo-a, sem mudar de assunto
ou virar o rosto. Estar presente, porém sem acei-
tar a isca. Por exemplo, João poderia, após a pri-
meira fala de Marly, ficar em silêncio, olhando
para ela, disponível para ouvi-la. Caso ela qui-
sesse se responsabilizar por saber o que ele pen-
sava ela teria que perguntar diretamente.
181
alegou favores e coisas do gênero. Lúcia deixou a
filha esbravejar sem dizer nada.
185
Os envolvidos podem então se libertar das
mágoas que os aprisionam na cena do jogo que
alimentavam todo o tempo. Libertar-se das má-
goas nada tem a ver com perdoar ou ser perdo-
ado. Até porque, mesmo que de forma sutil,
aquele que perdoa fica acima do outro da rela-
ção. Quando a questão é analisada através da vi-
são sistêmica, compreende-se que cada pessoa
envolvida contribui para o conflito, dessa forma
um não é superior ao outro. Diferente de perdoar
ou ser perdoado, para sentir-se livre das mágoas
a pessoa precisa preencher a sua necessidade de
ser ouvido e ter seus sentimentos levados em
conta.
191
Todo homem civilizado tem o hábito de jo-
gar e o faz em algum momento da vida, mesmo
que se determine a não o fazer. Hábitos podem
ser mudados, mas, além de ser um hábito, jogar
pode ser uma forma de viver. Mais que isso, jogar
pode ser uma necessidade. Apesar disso, é possí-
vel minimizar a incidência dos jogos.
194
uma vida tranquila, mas se sentiam vazios. Eles
não entendiam o que estava acontecendo e se
perguntavam se não sabiam ou não conseguiam
intimar. Eles constataram que havia afeto entre
eles, mas eles não conseguiam deixar isso vir à
tona. Fred, no passado, costumava ser cari-
nhoso, romântico e atencioso, mas se ressentia
porque Eneida era seca, fria e distante. Conver-
sando sobre o assunto, ela admitiu a sua dificul-
dade de expressar seu carinho e se deu conta de
que precisava traduzir para Fred os momentos
em que era carinhosa com ele; por exemplo,
quando ela cortava as unhas dele ou quando en-
xugava as suas costas, ela estava sendo cari-
nhosa. Eneida alegou que não aprendera a dar
carinho de forma explícita e que ela mesma se
sentia carente, desde sua família de origem. Ad-
mitiu inclusive que estava claro para ela que não
195
poderia consertar o passado para mudar seu pre-
sente, responsabilizando-se pela sua mudança. A
partir de então, o processo terapêutico do casal
pôde ser aprofundado.
198
▪ Ordem – que preenche a necessidade de segu-
rança que a hierarquia, as convenções e previsi-
bilidade sociais proporcionam e;
201
Na visão de Hellinger, o credor se sente ino-
cente e, dessa forma, está acima do outro, en-
quanto este não lhe oferece algo de volta; quem
está em débito se sente culpado, enquanto não
dá algo de volta. Para isso, é preciso que cada um
fale sobre o que pensa, sente e o que precisa di-
retamente - sem rodeios. O dar e receber carícias
(não apenas físicas) precisa estar equilibrado.
205
Observei casais que passaram a ter suas re-
lações classificadas como do tipo RECÍPROCA, de-
pois da terapia. Eles se descobriram pessoas
generosas. Essa é uma característica importante
para que uma relação seja permanente e saudá-
vel: a generosidade. Não existe espaço para jogos
onde tal virtude está presente, o que pode existir
é preenchimento. Bert Hellinger (2004b:11) des-
creve esse movimento relacional de uma ma-
neira simples e clara dizendo que quando um
membro da relação recebe alguma coisa do ou-
tro, precisa oferecer algo que deve ser um pouco
mais do que recebeu, para que o outro se esti-
mule a fazer o mesmo, e, dessa forma, a relação
se mantém em constante crescimento. Essa seria
uma maneira saudável dos membros manterem-
se preenchidos de afeto, livres de carências e dos
consequentes jogos.
206
É também preciso incluir outras pessoas na
rotina diária para que a fonte de preenchimento
não seja apenas a relação casal. Cada um dos
membros, além de apreciar um ao outro, saindo
juntos, namorando e coisas do gênero, precisa
também ter seus próprios amigos e atividades. É
preciso estruturar o tempo de modo a sentir pra-
zer, em diversas áreas da vida. Esses são os antí-
dotos contra JOGOS RELACIONAIS: aceitar e cuidar
de si mesmo, preencher suas necessidades e
manter a autoestima.
209
claramente. Também é relevante incluir que, as
pessoas que não se diferenciaram, participam re-
gularmente de jogos, e que, portanto, diferen-
ciar-se é um caminho para deixar de jogar. No
entanto, em paralelo a essa busca de autopreen-
chimento e diferenciação, recomendo aprender a
lidar com a comunicação de uma nova forma.
Porque a vertente do meu entendimento e inte-
resse pelos jogos é a comunicação, é esta que uti-
lizo como instrumento para lidar com jogos.
Primeiro, porque tenho por ela grande atração e
interesse, mais além, porque, da mesma forma
que acredito que problema é o que o cliente vi-
vencia como problema, também entendo que te-
rapêutico é o que o cliente, considera terapêu-
tico. Portanto, se eles se queixam que sua comu-
nicação está causando problemas, eles já deram
o passo mais importante para mudar sua forma
210
de se comunicar. Tenho verificado que, lidar com
os jogos que os clientes trazem para as sessões,
utilizando como ferramenta a comunicação, tem
sido muito produtivo para o avanço dos seus pro-
cessos; o meu jeito de me comunicar com eles, e,
o modo como comunico a eles a minha percep-
ção sobre eles, vai, aos poucos, contaminando a
maneira como se comunicam entre si – eles le-
vam o novo modelo vivenciado nas sessões, para
a vida. Tal impressão é reafirmada pelos depoi-
mentos da grande maioria dos meus clientes
que, ao final dos seus processos, relatam que en-
tre outros ganhos, a terapia introduziu o hábito
da conversação, com qualidade, nas suas vidas,
diminuindo a incidência dos jogos.
213
9
NOVO PADRÃO DE COMUNICAÇÃO
214
Quando uma pessoa muda o seu modo de
pensar, ou seja, quando a pessoa muda as suas
crenças e passa a enxergar a realidade de outra
maneira, a sua forma de sentir e de agir também
mudam. Se, em vez de rever o pensamento, mo-
dificar primeiro a atitude, tal mudança irá esti-
mular a reformulação das suas crenças e dos seus
sentimentos. Se, em vez disso, ela transformar os
sentimentos, também os pensamentos e as atitu-
des gradativamente mudarão.
218
eles silenciam as próprias percepções, desquali-
ficam os sentimentos e jogam as pendências re-
lacionais ‘embaixo do tapete’ para que possam
‘parecer bem’ na sala-de-estar. (Nemi,
2005:245)
219
de resolver a questão, eles admitiram estar cons-
cientes do jogo que os aprisionava.
223
Libertar-se do XADREZ RELACIONAL implica
em aprender uma nova forma de comunicação.
Mas, como fazer para aprender essa nova comu-
nicação? Inúmeros são os autores que escrevem
sobre o tema, entre eles, Satir (1988), Fritzen
(2013), Dean (1992) e Steiner (1998). Este capí-
tulo é a composição do que dizem esses autores,
além da minha observação e experiência na clí-
nica, cuidando de relacionamentos.
228
como resultado da ação de outra pessoa. A ver-
são simplificada dessa atitude é a seguinte:
‘Quando você age, eu sinto uma emoção’... Essa
afirmativa tem como objetivo dizer ao outro o
que você sentiu como consequência do comporta-
mento do outro. Ela também ajuda a evitar que
se coloque a culpa no outro ou que se ponha na
defensiva, eximindo-se de quaisquer julgamen-
tos ou acusações. (1998:89)
229
de voz é claro e bem controlado? Ouço com aten-
ção ao que os outros dizem? Interrompo o outro
quando ele está falando? Tenho medo de falar o
que penso? Tenho coragem de dizer não sei? Co-
munico meus sentimentos de maneira aberta e
franca? Falo francamente quando me sinto
pouco a vontade ou aborrecido? Deixo claro os
meus próprios limites?
231
evitar mudanças e a retroalimentação positiva
tem o objetivo de ampliar o desvio e promover
expansão.
236
sendo dito. Quando uma pessoa recebe uma in-
formação sobre seu comportamento, ela está
sendo pontuada de algo que provavelmente não
se dá conta, ou não gosta sobre si mesma, ou
seja, é o seu lado escuro, a sua sombra, a sua área
cega que está sendo exposta. É natural que a pes-
soa reaja ou se esquive, evitando contatar com
qualquer que seja o conteúdo sinalizado. Por esta
razão, ela poderá ouvir melhor quando, o que
está sendo dito, é expresso de uma forma asser-
tiva, descritivo e, acima de tudo, sem julgamen-
tos; a informação precisa ser dada através de
fatos observados e não inferidos. De nada adian-
tará falar sobre o que se percebe do outro, se isso
for dito, em termos gerais; é necessário torná-lo
específico, para que haja compreensão, de qual é
o impacto do comportamento no outro. Ele tam-
bém deve ser oportuno, ou de prefe-rência,
237
solicitado, pois, somente vale a pena ser dado,
quando o outro está disponível a recebê-lo. Uma
das formas de oferecer um estímulo desse tipo é
pedir permissão para falar, respeitando os limi-
tes e o tempo do outro. A aceitação é mais con-
tundente, quando a pessoa demonstra interesse
em saber o que o outro pensa, sobre o seu com-
portamento porque, ainda que o feedback seja
dado dentro de todos os critérios e cuidados, se
a pessoa não estiver disponível para recebê-lo,
ela poderá dar um jeito de desqualificar o que te-
nha ouvido.
244
Apesar de ser muito importante para as re-
lações que cada membro possa dar e receber in-
formações sobre como sua maneira de interagir
afeta o outro, muitas vezes é desconfortável ou-
vir o que o outro tem a dizer. É comum que a pes-
soa que ouve se desligue, justifique, retruque ou
aponte os erros do outro, como se assim se sen-
tisse liberado do que aquilo que ouviu possa
fazê-lo sentir. Receber, acolher, ouvir o que o
outro tem a dizer é uma grande demonstração de
maturidade e desejo de crescer. Para isso, antes
de tudo, é importante aceitar-se como uma pes-
soa com dificuldades, que tem o que aprender
sobre si mesma e que deseja crescer; dessa
forma, é possível ouvir atentamente, sem inter-
rupções. Ser receptivo implica em não oferecer
qualquer justificativa quanto aos comportamen-
tos referidos, e sim, acolher e analisá-los quanto
245
aos seus efeitos, na outra pessoa. É claro que a
outra pessoa também contribui para a situação
em questão, mas essa parte cabe a ela analisar.
Ao final, quem ouve pode solicitar exemplos ou
dizer com suas próprias palavras o que entendeu
do que foi dito, para se certificar se ficou claro.
Em seguida, vale a pena silenciar para refletir e
perceber o que está sentindo. Se a pessoa que
abriu seu coração para dizer o que pensa, tiver
feito como um gesto de afeto, uma demonstração
de consideração e interesse pela outra pessoa, é
muito mais fácil receber a informação.
253
esperei, como ele pediu, ele foi embora sem me
procurar? Que azar!! Eu estava precisando
tanto desse dinheiro! Desde então, Gilson ficara
calado e, toda noite, ao chegar em casa, tomava
banho, comia e ia direto para a cama. Ela achava
que ele não estava pra conversa por causa do que
ela havia feito. Por esta razão, ela se fechou para
ele e passou a falar por monossílabos, se sen-
tindo injustiçada. Na sexta-feira, por acaso, ela
ouve uma conversa entre Gilson e Jefferson, ao
telefone.
262
10
CONCLUSÃO
263
Lígia, uma mulher de 33 anos, profissional
liberal, independente, casada há nove anos, vive
com seu marido e seu filho de 8 anos em uma
casa bem estruturada. Ela ficava indignada, por-
que sentia que a mãe ainda a tratava como se ela
fosse uma adolescente. Ela não percebia, no en-
tanto, que alimentava esse tipo de comporta-
mento na sua mãe. No início do ano, sua mãe
perguntava, quase que diariamente, se ela já ha-
via matriculado seu filho na escola. Algumas ve-
zes, ela telefonava, só para aconselhar a filha,
sobre esse tema. Lígia, durante uma sessão, con-
fessa que nunca havia sido capaz de ser rebelde
com a mãe; em vez disso ela agia de maneira re-
belde passiva, ou seja, ela pirraçava a mãe, adi-
ando a matrícula do filho, até o último dia do
prazo.
264
Lígia ficou pasma, quando percebeu, atra-
vés do processo terapêutico, sua contribuição
para os jogos que compartilhava com a mãe. Ela
reconhecia os momentos desconfortáveis que as
duas vivenciavam, ocasionalmente, mas os atri-
buía à mãe. Tão logo se tornou consciente do
funcionamento dos jogos e da sua coparticipa-
ção, deu o primeiro passo para sua mudança.
268
Ter o conhecimento de como os jogos fun-
cionam é uma grande responsabilidade, porque
a pessoa fica confrontada consigo mesma, em re-
lação à sua contribuição, nas situações dramáti-
cas da sua vida – suas brigas. No entanto, nem
sempre é possível, para a própria pessoa, identi-
ficar de que modo participa de um jogo. É, mui-
tas vezes necessário, solicitar esse tipo de
feedback a alguém próximo, o que exige que a
pessoa confie em si e no outro.
269
Caso você tenha feito o levantamento das
brigas em que se envolveu nos últimos tempos,
no início da sua leitura, verifique agora, a partir
do texto, o que você pode fazer pela sua comuni-
cação e pelas suas relações.
270
Apêndice I
EXEMPLOS, COMENTÁRIOS E REFLEXÕES
271
manter esse gostinho de final de novela, quando
a intenção de minimizar os jogos é mantida.
272
relação ao comportamento humano e seus rela-
cionamentos. Fique atento ao estilo de lingua-
gem e o vocabulário utilizado, pois os comen-
tários e reflexões estão repletos de falas e obser-
vações elaboradas no molde sistêmico. Diferente
do Apêndice II, quando apenas o que o emissor
disse foi é comentado, nos exemplos aqui, a con-
tribuição de todas as partes envolvidas serão
ponderadas.
273
Nas relações saudáveis, é natural respeitar
o direito do outro de decidir por si mesmo, por-
tanto, antes de qualquer coisa, Jô teria que ter
perguntado a Pedro se ele autorizava que ela le-
vasse o seu carro ao conserto, como ele gostaria
que o assunto fosse tratado e quais limites ela te-
ria que ter. Em se tratando de um casal, Jô pode-
ria fazer coisas pelo marido como um mimo ou
como divisão de tarefas, no entanto, fazer pelo
outro, em vez de cuidar das próprias coisas, pode
ter outros significados. Da parte de Pedro, ele
precisaria refletir, se ele tem sido claro e firme o
suficiente, para impedir, antecipadamente, que
Jô interfira em suas decisões pessoais.
Reflexões:
274
para evitar intimidade, acabaram aproveitando a
oportunidade para se afastar um do outro? Sobre
o que eles não estão podendo conversar? Como é
o funcionamento de Jô? E sua autoestima? Para
que ela precisa cuidar do outro? E Pedro? De que
forma ele lida com invasão na sua vida? Será que
ele deixa seus limites claros na relação? Quais as
“vantagens” para cada um manter esse padrão?
Reflexões:
277
se ela diminuísse o seu nível de exigência? E se
essa forma tem a ver com estar no controle?
Como essa maneira de lidar com sua vida inter-
fere na sua relação com o marido? Qual o “ga-
nho” dessa forma de relação para o marido?
Como está a sexualidade do casal?
278
não-verbal, ele demonstra que é ele quem provê
a casa.
279
Às vezes em um relacionamento se desen-
volve um jogo de poder ao redor da realização do
amor. Por exemplo, se um deles quer e deseja o
outro e o outro só concede, este se coloca em uma
posição de superioridade. O parceiro que precisa
e deseja fica, com isso, em uma posição inferior e
isso destrói o amor. O amor se baseia na igual-
dade do querer e do conceder. (2004a:23)
280
funciona se cada um for capaz de admitir sua
parte.
Reflexões:
281
Veja só como eu me esforcei
282
e não pode ser atribuída ao outro. É possível que
o chefe tenha percebido o que estava aconte-
cendo e que tenha se aproveitado dela, enquanto
valia a pena; no entanto, qualquer que seja a
parte dele, não muda em nada a cota de respon-
sabilidade que ela tem sobre a questão.
Reflexões:
283
Olha o que você me fez fazer...
284
pido, dando-lhe limites. Toda situação é co-cons-
truída. Cada pessoa precisa encarar sua contri-
buição. Esse jogo também pode ser uma forma
de botar para fora ressentimentos anteriores.
Reflexões:
285
Agora briguem vocês
286
resolver essa questão convidando Antônia para
conversar com Jane junto com ela, considerando
que, Antônia deve assumir as consequências de
ter falado.
Reflexões:
287
fica crente que está abafando. Ela fica prepa-
rada para pegá-lo no flagra, e não deixar dú-
vida de que ele é desleal com ela.
Reflexões:
288
Para que será que Rita precisa de uma situ-
ação dramática quando traz esse tema à tona?
Como será que a mãe de Rita resolvia as questões
com seu pai? Como funciona a relação de Rita
com o marido, fora esse tema? Qual o padrão de
relacionamento deles? As coisas em geral são di-
tas e esclarecidas, ou guardadas por baixo do ta-
pete, para serem usadas oportunamente? Como
está o afeto entre eles? Para que Rita tem que
“ganhar” essa questão?
Defeito
Reflexões:
291
errado, aquele que joga NÃO DISSE? EU SABIA!
fica insistindo no tema, para ficar claro que ele
sabe mais e que ele ganhou.
Reflexões:
292
impede essas pessoas de reconhecerem seu pró-
prio valor? Essa pessoa consegue ter e manter
amigos? Será que os seus amigos se afastam para
evitar o constrangimento de ter que perder o
tempo todo? Quais características da sua perso-
nalidade vêm à tona, quando ela faz esse tipo de
coisa? E o outro? Para que silencia?
Chute-me / Bata-me
293
Para Carla manter esse padrão, suas cren-
ças sobre si mesma provavelmente a fazem se
sentir vazia, ela provavelmente tem baixa autoe-
stima e faz jogos para satisfazer a necessidade de
estar em contato com emoções fortes e desse
modo se sentir viva. Se esse jogo está tão pre-
sente em sua vida, ela provavelmente teve al-
guém em sua infância que a chutava e batia nela
o tempo todo; isto é, alguém que a desqualificou
e a fez sentir que ela não valia nada. Quem fez
isso com ela, jogou jogos de PERSEGUIDOR, ensi-
nando-a a desempenhar o papel de VÍTIMA. Para
Carla sair deste jogo, ela precisa se validar a si
mesma e ao seu valor e se preencher com carí-
cias. Por outro lado, o parceiro de jogo dela teria
que revisar sua atitude de PERSEGUIDOR e, se ele
estiver interessado em parar com isso, ele preci-
saria reconhecer e elogiar as qualidades de Carla.
294
Um chefe pode não estar interessado em fazer
algo assim, mas um parceiro em um relaciona-
mento íntimo que queira parar de jogar o jogo
em si (não apenas com Carla) poderia.
Reflexões:
295
Coitadinho / Pobre de mim
296
precisa se dar conta de que o joga e, então, deci-
dir parar de fazê-lo. Seus parceiros de jogo pre-
cisam parar de complementar a atitude de
Felipe, ou seja, toda vez que ele jogar uma isca,
eles devem responder naturalmente, confiando
que Felipe é capaz de lidar com qualquer pro-
blema que ele tenha.
Reflexões:
297
A mesma tecla
Reflexões:
299
verdade que ele é desastrado. Quase diaria-
mente acontece algum acidente com ele.
Reflexões:
301
pessoa não olhar para o que falta em sua vida. Se
ela tem o que “passar na cara” fica entendido que
ela se ocupa muito do outro, dessa forma, não
olha para suas dores e angústias. Por outro lado,
o outro, sendo criança, normalmente não tem o
poder de desmascarar o jogo dos pais ou se o faz,
acaba por iniciar um outro. Se o outro for um
adulto, precisará ser firme, para dar limites cla-
ros e cortar o jogo. Mas, muitas vezes, aquele
com quem Lara joga também precisa do jogo.
Para parar com isso, Lara, muito provavel-
mente, terá que fazer coisas para si mesma e bus-
car seu próprio preenchimento.
Reflexões:
302
sua relação conjugal? E seus anseios profissio-
nais? E o outro, será que pode funcionar sem
uma muleta? Será que pode abrir mão de alguém
que cuide dele ao extremo?
Encurralar
303
ficar em casa, dizendo exatamente o que ela
sabe que irrita o marido. Ela alega que se ela ti-
vesse dito que não gostaria de sair, teria que ou-
vir toda a velha conhecida reclamação de
Antônio. Por outro lado, parece que Antônio
não desiste de tentar sair com ela, mesmo sa-
bendo que ela não gosta. Como eles só conver-
sam sobre isso, na hora que o jogo está
acontecendo, não puderam verificar o que está
por trás.
Reflexões:
304
faz temê-lo? Será que ela simplesmente não con-
segue sustentar sua posição independente do
que ele pensa? Ou será que age dessa maneira
para parecer que o culpado é ele? Como está essa
relação, nas outras áreas do casamento? E Antô-
nio? O que o impede de conversar, objetiva-
mente, sobre o assunto?
Mulher Fria
305
ele voltar a lhe procurar e começar tudo de
novo.
Reflexões:
306
Será que o sexo está sendo uma arma, que os dois
usam para se manter afastados? Ou será que a
negativa dela ao sexo denuncia que ela sente
falta de outro tipo de atenção? E se ele der aten-
ção, ela vai realmente se entregar?
Querida
307
Como em todo jogo, nessa fala existe uma
necessidade de estar acima do outro; além do
mais, Neide sabe que esse tipo de alfinetada é
certeira, pois ela tem um “cala boca” – ela é a es-
posa do chefe do marido de Jane. Não há dúvida
de que é um jogo ferino. Jane sucumbe ao lugar
de precisada e fica, de fato, nas mãos de Neide,
silenciando.
Reflexões:
308
relações? Ela contaria com o apoio do marido
para dar limites a Neide?
Sedução
Reflexões:
310
ciumento e não permitia. Ao se divorciar, ela o
responsabiliza.
Reflexões:
311
será que ele realmente proibia, ou apenas ence-
nava complementando o desejo dela de não tra-
balhar, enquanto ele se sentia superior? O que
teria acontecido de pior se ela o tivesse enfren-
tado e dito a ele que ia trabalhar mesmo que ele
não quisesse ou se ele tivesse dito a ela que ela
tinha que trabalhar?
Devedor
312
Pode ser que devendo, João se assegure de
não ter dinheiro extra. Isso pode parecer um pa-
radoxo, mas jogando Devedor, ele acaba jogando
outros jogos paralelos: Bata-me, Chute-me,
Agora te peguei. Pode ser que tenha crenças de
que é impotente, incapaz e inferior que confirma
através do jogo. Parar com esse jogo implica em,
antes de olhar para as questões subjetivas ou re-
lacionais, estabelecer um plano de ação prático.
Amy Dean (1992:198) faz algumas sugestões,
considerando que o primeiro passo é criar uma
planilha que permita olhar para a realidade de
frente. De posse dessa planilha, ela orienta a re-
gistrar, durante três meses, todos os gastos. De-
pois de analisar o resultado, a pessoa deve
determinar em percentual quanto pode gastar,
com cada tópico. É também muito importante fi-
car atento aos pensamentos e sentimentos
313
contatados, durante o período em que se está
mexendo nessa questão. A partir de então, é ne-
cessário envolver as pessoas que compartilham
das despesas, especialmente o cônjuge; os filhos
somente se já tiverem mais de 18 anos. Limites
precisam ser dados a todos os envolvidos.
Reflexões:
314
APÊNDICE II
EXERCÍCIO SOBRE NOVA COMUNICAÇÃO
315
aprender a se comunicar de maneira direta e
clara, é o caminho seguro para evitar os jogos ou
cortá-los ainda no começo.
316
depois têm a ver com aqueles que falaram. O que
quer que o outro tenha dito ou feito é responsa-
bilidade do outro analisar e rever.
Exercício 1
- Quando você disse que não iria me ajudar
com meu trabalho, eu me senti rejeitado.
318
Exercício 2
319
sua intenção e o que você pensa desse seu com-
portamento.
Exercício 3
320
Exercício 4
Exercício 5
322
Exercício 6
323
outras coisas. Atualmente muitas churrascarias
oferecem outras opções. Tudo bem, para você?
Exercício 7
Exercício 8
325
colocar-se no lugar do outro, sem julgamentos,
para ter uma ideia de como o outro pode ter se
sentido. Quando você faz isso e se sensibiliza,
você é capaz de comunicar ao outro sua posição
de tal forma, que pode contribuir para que ela se
livre do próprio ressentimento.
Exercício 9
328
além de que, é necessário olhar nos olhos e dedi-
car um tempo para esse tipo de diálogo.
Exercício 11
329
Exercício 12
330
criança da escola é a melhor solução, depois de
verificar todas as possibilidades que a pessoa já
imaginou, você pode perguntar: Você já pensou
em tirar seu filho desta escola?
Exercício 13
Exercício 15
332
Comentário: A pessoa que ouve algo as-
sim, mesmo que não perceba a crítica velada,
provavelmente tem a sua autoestima minada.
Essa pode ser uma forma disfarçada de desqua-
lificar. A atitude boazinha só mascara a desqua-
lificação, mas ela pode ser ferina. A pessoa que
ouve, provavelmente, pode até se sentir impossi-
bilitada de achar ruim, uma vez que parece que o
outro só está ajudando.
333
Exercício 16
334
Exercício 17
335
Sugestão: Agora eu não concordo com você.
Talvez depois, quando minha cabeça esfriar, eu
possa lhe escutar.
336
BIBLIOGRAFIA
337
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metas e atingir seus objetivos. 2. ed., São Paulo: Best
seller, c.1992
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que o amor faz os relacionamentos darem certo. 4.
ed., São Paulo: Editora Cultrix, 2003.
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gens para grupos em geral e família, casal e indivi-
dual. In: RIBEIRO A. R. e MAGALHÃES R., Guia
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Editorial, 1997, p. 233.
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novo paradigma da ciência, Campinas: Papirus,
2002.
341