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9 786598 051150
9 786598 051150
Impresso no Brasil
Capa
Edy Lawson
Projeto gráfico de miolo
AugeBooks
Chico Montenegro
Joyce Ferreira
Revisão:
Talima Haidosliat
Apoio
Jeferson Bruno
Ferreira, Tiago
Construindo flexibilidade psicológica : o método
das narrativas funcionais / Tiago Ferreira. --
São Paulo : NDD Media, 2023.
ISBN 978-65-980511-5-0
23-166906 CDD-150
Índices para catálogo sistemático:
1. Psicologia 150
SUMÁRIO
Introdução.............................................................................................. 5
CAPÍTULO 1
Abertura e Significado......................................................................... 15
1.1. Aceitação.................................................................................... 18
CAPÍTULO 2
Presença Intencional........................................................................... 37
2.1. Self............................................................................................40
2.2. Atenção...................................................................................48
CAPÍTULO 3
Ação Significativa................................................................................ 59
3.1. Valores......................................................................................64
CAPÍTULO 4
Narrativas para uma vida significativa:
uma perspectiva da Flexibilidade Psicológica.................................. 83
CAPÍTULO 5
Narrativas Funcionais: um método para
mobilização de Flexibilidade Psicológica..........................................99
Bibliografia..........................................................................................145
E
ste livro não faria sentido há 50 anos. Embora o
sofrimento e a busca por sentido seja uma mar-
ca inexorável da experiência humana, é relativa-
mente recente o modo como nos relacionamos com o
sofrimento e como empreendemos esforços para tor-
nar a vida significativa. As clínicas psicológicas estão
repletas de pessoas que lutam contra a sua própria
dor e se enredam, de tal forma, nesta luta que perdem
qualquer perspectiva sobre como construir uma vida
com significado. Em um certo sentido, desaprende-
mos a sofrer e, com isto, desaprendemos a dar um
sentido para nossa trajetória de vida.
1 Eliane Brum, “Meu Filho, Você Não Merece Nada,” in A Menina Que-
brada (Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2013).
Tiago Ferreira
26 de julho de 2023
St. Thomas, Canadá
ABERTURA E SIGNIFICADO
A
bertura para as próprias experiências subjeti-
vas não é passividade, mas uma condição para
exercer atitudes proativas em relação à vida. No
entanto, o termo “aceitação” que compõe o título da
ACT é frequentemente confundido com uma atitude
passiva em relação à vida ou com a mera tolerância
dos sentimentos e pensamentos. Será que a ACT de-
fende que precisamos aceitar, resignadamente, o que
a vida nos oferece? Devemos aceitar os abusos de um
cônjuge violento ou os desmandos de um chefe auto-
centrado? A resposta é, obviamente, negativa. Então,
sobre o que se trata o pilar Abertura na ACT?
1.1. Aceitação
3 Amyr Klink, Cem Dias Entre Céu e Mar (São Paulo: Editora Schwarcz
LTDA, 1995).
4 Hayes, Steven (2022). The subtle art of doing what matters. Disponível
em https://stevenchayes.com/the-subtle-art-of-doing-what-matters/.
(Tradução Livre)
8 Saramago, 14.
PRESENÇA INTENCIONAL
T
odos nós temos um anseio profundo por saber
quem somos e onde estamos em nossa jornada
de vida11. Ninguém gosta de estar perdido em
relação à sua própria identidade ou ao caminho que
está trilhando. Como vimos anteriormente, o ho-
mem que buscava uma ilha desconhecida podia acal-
mar seu coração ao saber que tinha uma orientação
na vida, mesmo que esta orientação fosse algo tão
irreal quanto uma ilha que só existia em sua própria
imaginação. Não é à toa que tantas pessoas têm pro-
curado psicólogos ao se sentirem desconectados com
a sua jornada atual e com o seu próprio “eu” que se
esconde em meio ao caminho.
2.1. Self
12 Êxodo 3:11.
2.2. Atenção
Eu já perdi as contas da quantidade de vezes que
errei o caminho enquanto estava dirigindo meu car-
ro. Provavelmente, centenas de ocorrências como esta
já mostraram para minha esposa como eu, costumei-
ramente, estou com a mão no volante do carro, mas
com a mente divagando, pensando em outros mo-
mentos, às vezes passados e às vezes futuros. Eu gosta-
ria de dizer que a minha dificuldade de estar conecta-
do com o momento presente ocorre apenas enquanto
estou dirigindo, mas a verdade é bem diferente e bem
mais perturbadora.
AÇÃO SIGNIFICATIVA
“
Eu não posso ser como meu pai!”. Foi com este
grito de raiva que Marcos, um paciente de 27
anos, iniciou aquela sessão. Ele me procurou com
uma queixa e objetivos muito claros: ele se percebia
como alguém que tinha “problemas com a raiva” e
que tinha o objetivo de manter seu casamento que
estava bastante abalado. No entanto, os problemas
eram ainda maiores.
3.1. Valores
Valores estão no coração da ACT não apenas como
mais um processo, mas como a razão de ser de todos
os processos. Por que deveríamos aceitar emoções e
pensamentos difíceis? Por que deveríamos ter contato
com o momento presente? A resposta mais honesta
é: não deveríamos. A não ser que a Evitação Expe-
riencial e a atenção voltada para o futuro ou passado
Cliente: Entendo.
Cliente: Wooo.
Cliente: Wooo.
Cliente: Certo.
C
ontar histórias é tanto essencial quanto ine-
vitável. Por um lado, contamos histórias para
sabermos quem somos e qual nosso lugar no
mundo. Por outro lado, aprendemos a contar his-
tórias para sobreviver nos grupos que participamos,
começando pela nossa família. Não é sem propó-
sito que Harari19 defende que uma das principais
características da espécie Sapiens, que nos levou a
prevalecer sobre as demais espécies, colocando-nos
no topo da cadeia alimentar, é a nossa capacidade de
construir narrativas ficcionais.
4.1. Narrativas e
organização subjetiva
NARRATIVAS FUNCIONAIS:
UM MÉTODO PARA
MOBILIZAÇÃO DE
FLEXIBILIDADE PSICOLÓGICA
O
que acontece quando um paciente conta a sua
história de vida? Em primeiro lugar, ele escolhe
personagens. Ele pode falar de parentes (e.g.,
mãe, pai, tios), de amigos (e.g., da escola, do bairro,
da igreja, etc.) ou de outras pessoas relevantes (e.g.,
funcionários da casa, amigos da família, etc.), assim
como pode falar de si próprio como um personagem
principal ou secundário. Concomitantemente, o pa-
ciente constrói um enredo que versa sobre como os
personagens se relacionaram entre si, frequentemen-
te avaliando estas relações como boas ou ruins, ade-
quadas ou inadequadas, violentas ou pacíficas, bem
como alguns produtos destas relações.
25 Terapeuta.
26 Bruno.
27 Contingências são as relações entre o que o sujeito faz, pensa e sente (os
elementos da sua subjetividade) e o contexto em que ele vive.
B: Com certeza.
5.3. (Re)encontrando os
personagens hoje
B: Desde sempre.
C
om uma atenção consciente aos riscos, me cabe
te dizer que o método das Narrativas Funcionais
é uma excelente abordagem para mobilizar ob-
jetivos clínicos na ACT. No entanto, é apenas isto:
um método. Todo terapeuta precisa ter uma atenção
maior à finalidade da clínica do que as descrições de
procedimentos utilizados para este fim. Isto é verdade
para as Narrativas Funcionais e para quaisquer outros
métodos clínicos. É por conta disso que este livro se
iniciou com uma descrição abrangente do objetivo
último da ACT: Flexibilidade Psicológica. Ao passo
em que se encerra com um alerta retirado de uma
alegoria muito utilizada no ensino de ciências. Nesta
alegoria, uma pessoa andava por uma rua escura, até
que viu um único poste iluminando uma pequena
área. Nesta área, havia outra pessoa procurando algo.
Neste contexto, surgiu o seguinte diálogo:
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