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A PSICANÁLISE NA CLÍNICA
VOL. 1
A DOR, O INCONSCIENTE E A SEXUALIDADE
Título do Livro:
A Psicanálise na clínica vol. 1: A dor, o inconsciente e a sexualidade
Autor:
Daniel Omar Perez
Produção editorial:
Mariana Paulon, Marielly Agatha Machado, André Chacon
Designer gráfico:
Matheus Braggion
Capa:
Matheus Braggion
Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida,
transmitida ou arquivada, desde que levados em conta os direitos do autor.
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CEP 09531-190
Apresentação................................................................................................................ 5
1. A dor, o sofrimento, o mal-estar e o começo da
psicanálise....................................................................................................................... 7
Ador........................................................................................................................................... 7
O começo do doutor Freud......................................................................................... 7
A residência médica do doutor Freud............................................................................. 8
A morte do pai......................................................................................................................... 31
Segundo ensaio...................................................................................................................... 37
Terceiro ensaio........................................................................................................................ 38
5
Apresentação
Boa leitura,
Suze Piza
6
1. A dor, o sofrimento, o mal-estar e o começo da
psicanálise
A dor
A dor, o sofrimento ou o mal-estar pode ser físico ou
psíquico ou ambos ao mesmo tempo. As formas físicas de
sofrimento podem ser tratadas por terapias
medicamentosas, intervenções cirúrgicas, ortopédicas,
fisioterapias entre outras. Há também acompanhamentos
psicoterapêuticos de diferentes perspectivas teóricas e
clínicas que tentam restaurar a vida cotidiana do paciente ou
acondicioná-lo para a vida social normativizada e
moralmente aceita. Em muitos casos é possível encontrar
uma melhoria da vida diária com a diminuição ou eliminação
do sofrimento.
8
Fragmento do obituário de Charcot escrito por
Freud em Viena, no mês de agosto de 1893
9
Com Charcot, Freud deu os primeiros passos em relação
ao estudo da histeria em Paris. De volta para sua cidade,
Viena, conseguiu estabelecer um trabalho com o doutor
Breuer e um diálogo com o doutor Fliess.
10
A senhorita Elisabeth von R. tinha 24 anos de idade,
padecia de violentas dores nas suas pernas e dificuldades
para caminhar. Com ela apareceu claramente para Freud a
experiência de como a “tomada de consciência” (tornar
consciente o inconsciente) do trauma dissolvia o sintoma.
Neurastenia
11
Neurose
Angústia
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Outro elemento clínico apresentado no texto é que a
neurose de angústia pode vir acompanhada de diminuição
da libido e, consequentemente, do desejo psíquico. O afeto de
angústia é descrito fundamentalmente como a sensação de
incapacidade de lidar com um perigo externo. Assim,
segundo Freud, o paciente diante da incapacidade de lidar
com a excitação sexual do próprio corpo projeta a tensão no
mundo externo, incapaz de encontrar um objeto psíquico
onde descarregar o paciente faz sintoma de angústia
neurótica.
Problemas
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Teses
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Séries [de observações clínicas a realizar. T.]
3. Mulheres blenorrágicas.
Fatores etiológicos
16
Tradução de um fragmento do manuscrito B dos
escritos a Fliess:
A neurose de angústia se manifesta de duas formas:
como estado crônico e como ataque de angústia.
Ambos podem se combinar facilmente e o acesso
ansioso não aparece sem sintomas concomitantes.
Os paroxismos se apresentam preferentemente nas
formas combinadas com a histeria, ou seja, que
predominam no sexo feminino enquanto que os
sintomas crónicos ocorrem com preferência em
homens neurasténicos. Tais sintomas crônicos são os
seguintes: 1) ansiedade relativa ao próprio corpo
(hipocondria); 2) ansiedade relativa às suas funções
corporais (agorafobia, claustrofobia, vertigem das
alturas); 3) ansiedade relativa às suas decisões e a
memória, quer dizer, relacionadas com as
representações que têm das suas próprias funções
psíquicas (folie de doute, cavilação obsessiva, etc).
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Nos três casos encontramos um sujeito que quer dizer
uma coisa e diz outra, mas não qualquer outra. Equívocos na
escrita, na leitura ou na oralidade são conhecidos como
lapsus linguae ou também atos falhos. De um modo geral
podemos atribuir essa confusão ao cansaço ou à
desatenção. Mas se observarmos de perto o fenômeno de
substituição de palavras podemos encontrar uma relação
que não se reduz à mera aleatoriedade ou contiguidade
sonora.
21
Sigmund Freud, O chiste e sua relação com o
inconsciente. (1905)
22
Todos estes atos podem se dar de modo combinado e
ser sintomáticos. De acordo com a hipótese da psicanálise,
trata-se de eventos nos quais a determinação consciente do
discurso ou das ações é interrompida, quebrada pela
emergência do inconsciente, algo da ordem do desejo que
estava reprimido no aparelho psíquico e que sai a luz na
forma de equívoco, algo feito ou dito de modo não
intencional, não consciente.
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3. O inconsciente e os desejos realizados nos sonhos
24
Análise
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A elucidação dessa questão exige uma exibição mais
meticulosa. Para o mecanismo dos sintomas histéricos, a
identificação é um elemento de grande importância; é por
meio dela que os doentes conseguem expressar em seus
sintomas as vivências de um grande número de pessoas,
não só as próprias; eles padecem, em certo sentido, por toda
uma multidão e executam todos os papéis de um espetáculo
com seus próprios recursos pessoais. Alguns contestarão
que isso é a conhecida imitação histérica, a capacidade dos
histéricos de imitar todos os sintomas que os impressionam
em outras pessoas, uma empatia, por assim dizer,
intensificada ao ponto da reprodução. Isso, porém, designa
apenas o caminho pelo qual ocorre o processo psíquico na
imitação histérica; outra coisa é o ato psíquico que percorre
esse caminho. Ele é um pouco mais difícil do que a imitação
dos histéricos, tal como a costumamos imaginar;
corresponde a um processo de inferência inconsciente, como
mostrará um exemplo. O médico que tem uma paciente com
determinado tipo de espasmo, num quarto com outras
pacientes, não se mostra surpreso quando, certa manhã,
descobre que essa crise histérica específica está sendo
imitada pelas outras. Ele diz simplesmente: “As outras a
viram e imitaram; é uma infecção psíquica”. Sim, mas a
infecção psíquica transcorre mais ou menos da seguinte
forma. As pacientes costumam saber mais sobre as outras
do que o médico sabe sobre cada uma, e se preocupam
umas com as outras após a visita médica. Uma delas sofre
uma crise hoje; logo as outras descobrem que a causa foi
uma carta de sua família, o aparecimento de um desgosto
amoroso ou algo parecido. Isso provoca sua empatia, e
ocorre nelas a seguinte inferência, que não se torna
consciente: “Se essa causa pode provocar esse tipo de crise,
também posso ter esse tipo de crise, pois tenho os mesmos
motivos”. Se essa inferência fosse capaz de chegar à
consciência, talvez resultasse no medo de sofrer a mesma
crise; mas ela ocorre em outro terreno psíquico, terminando
assim na realização do sintoma temido. A identificação não
é, portanto, simples imitação, mas apropriação com base na
mesma pretensão etiológica; expressa um “igual a” e remete
a algo em comum que permanece no inconsciente. Na
histeria, a identificação é usada, na maioria das vezes, para
expressar um elemento sexual comum. A paciente histérica
se identifica em seus sintomas mais facilmente — ainda que
não exclusivamente — com pessoas com as quais ela teve
relações sexuais ou com aquelas que mantêm relações
sexuais com essas mesmas pessoas.
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A linguagem também leva isso em conta. Dois amantes
são “um”. Para que a identificação aconteça, basta, tanto na
fantasia histérica quanto no sonho, pensar em relações
sexuais, sem que estas precisem ser reais. Assim sendo, a
paciente segue apenas as regras dos pensamentos
histéricos quando expressa o ciúme que sente da
amiga (que ela mesma reconhece como injustificado),
colocando-se no sonho em seu lugar e identificando-se com
ela por meio da criação de um sintoma (o desejo negado).
Também se pode enunciar o processo verbalmente na
seguinte configuração: no sonho, ela toma o lugar da amiga,
porque esta toma seu lugar com seu marido, porque ela
deseja ocupar o lugar que a amiga tem na estima do seu
marido. De outro modo, mas seguindo o mesmo esquema
segundo o qual a não realização de um desejo significa a
realização de outro, dissolveu-se também a objeção à minha
teoria dos sonhos em outra paciente, a mais espirituosa
entre todas as minhas sonhadoras.
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Materiais e mecanismos do sonho
29
O sentido do sonho é estabelecido pela associação livre
do paciente em análise
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Os sonhos do pequeno Freud
Desde criança Freud costumava anotar seus sonhos em
um caderno que levou adiante durante anos. Mas o interesse
científico pelo funcionamento e sentido dos sonhos foi depois
de utilizar o método da associação livre nas pacientes
histéricas. Na noite de 24 de julho de 1895, num quarto do
hotel Bellevue, em Koblenz, perto de Viena, de propriedade da
família Ritter von Schlag, Freud sonha com uma mulher, Irma,
e uma injeção que ele aplicaria à paciente. Esse sonho ficou
registrado como o sonho da injeção de Irma.
A morte do pai
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Poderíamos dizer que o doutor Freud coloca Sherlock
Holmes e Doutor House no divã não apenas para indagar a
cena do crime, mas também para se perguntar o que estão
fazendo eles lá. A psicanálise não procura apenas dar conta
de uma estrutura de elementos que se combinam, mas
também do sujeito implicado nessa estrutura. Portanto,
temos dois registros a serem considerados aqui:
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4. A sexualidade e o corpo
(2) uma teoria sexual que permita dar conta dessa energia
do corpo e dos objetos nos quais a energia descarrega
encontrando satisfação.
Primeiro ensaio
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Fliess tinha demonstrado que o desenvolvimento
embrionário do sujeito humano mostrava a sua condição
bissexual. Freud avançou com essa ideia passando do
campo biológico para o campo psíquico. Na psique humana,
a princípio qualquer objeto pode ser o objeto da satisfação
sexual, só haverá escolha de um e renúncia de outro objeto
no desenvolvimento da constituição psicológica. Dessa
forma, o sujeito terá tendências à masculinidade e à
feminilidade que coexistem desde a infância até a idade
adulta. Assim, a escolha inconsciente de objeto de satisfação
dependerá da força daquelas tendências.
Segundo ensaio
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Aqui outra vez temos uma função biológica ligada a um
funcionamento psíquico. O terceiro caso é a zona genital. São
atividades uretrais ligadas à satisfação que provoca a
micção. Todos os casos se realizam tanto na menina quanto
no menino. Assim, Freud entende que na criança existe uma
predisposição perversa polimorfa. No início da vida a
satisfação se encontra indistintamente (do ponto de vista do
gênero socialmente estabelecido) em todas as zonas
erógenas. No desenvolvimento a criança encontrará a
unificação sexual na genitalidade.
Terceiro ensaio
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O estágio oral é fundado na necessidade de
nutrição pela boca. Assim, a sucção que o bebê
realiza para se alimentar produz uma zona de
excitação erógena. Essa excitação encontra seu
repouso na satisfação da oralidade. Desse modo,
temos uma dupla satisfação: a fome e o prazer
sexual. De acordo com Freud, a oralidade tem como
propósito a incorporação do objeto, por isso
também se denomina de fase canibal ou de pulsão
canibal. Psicanalistas como Karl Abraham e
Melanie Klein consideram que a oralidade
determina determinam, o primeiro, o caráter da
pessoa, a segunda, a relação de objeto. A
ansiedade da separação, a tolerância à frustração,
a compulsão com o consumo de bebida, comida ou
drogas podem estar relacionados com a
experiência infantil do bebê com a sucção.
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A latência é o período no qual haveria uma
detenção do desenvolvimento sexual da criança
que entra na puberdade e dessexualiza as relações
com os objetos. Há uma intensificação dos
mecanismos de repressão, a criança começa a
adquirir os valores morais da sociedade em que
habita. Sentimentos como ternura, modéstia ou
apreciações estéticas são alcançadas.
40
A identidade das/des/dos diferentes
41
5. O que é a psicanálise?
A análise
A psicanálise é uma prática clínica que inicialmente foi
inventada por Freud no final do século XIX para tratar casos
de neurose histérica e se desenvolveu até hoje, por 130 anos
em diferentes línguas e regiões do planeta. Freud propôs a
hipótese de que uma causa psíquica inconsciente
determinava o comportamento ou fazia surgir sintomas
somáticos e conversões no corpo do paciente.
As resistências
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De acordo com Freud, há resistências do
paciente quando este precisa dar conta
do desejo sexual enquanto tal. De acordo
com Lacan, há resistências do próprio
analista quando este é incapaz de levar
adiante uma análise para além de onde
levou sua própria análise. Também há
resistências na opinião pública, na
medida em que o desejo é comumente
reprimido em favor da exploração
econômica, o disciplinamento dos corpos
e a domesticação dos sentimentos. Há
resistência do mercado dos negócios
farmacológicos, do sistema sanitário, dos
detentores de discursos de autoridade e
de dogmas conservadores. A todas essas
resistências resiste a psicanálise.
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As clínicas tinham suas particularidades. Federn, na
hora do almoço, convidava o paciente a sentar à mesa e a
análise de Reich foi sem pagamento. Ele era médico
reformista e tinha um permanente compromisso político
com o socialismo. Entendia que a psicanálise articula a
clínica com o social e sua prática contribuía para a
libertação da humanidade. Publicou vários textos, dentre
eles um manual bastante popular de psicanálise. Embora
judeu, Federn tinha ideais cristãos e pretendia se converter
para o protestantismo. Ele também foi talvez o primeiro em
desenvolver os fundamentos da psicologia do ego. Entendia
que, em certos casos, os indivíduos padeciam de uma
deficiência no seu ego. Essa ideia foi sugerida por Freud em
alguns textos e desenvolvida por Anna Freud mais tarde. Os
indivíduos geram mecanismos de defesa e, alguns deles,
essas defesas não funcionam. Fugiu para os Estados Unidos
com o objetivo de evitar o extermínio que os nazistas
levaram adiante como plano sistemático na Europa e que
acabaria em poucos anos com a vida de 6 milhões de
judeus.
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Helene Deutsch (1884-1982) nasceu na Polônia,
fronteira com a Ucrânia. Fez parte do movimento político que
liderava Rosa Luxemburgo. Estudou psiquiatria com Emil
Kraepelin e acabou iniciando a formação em psicanálise
quando se transferiu para Viena, em 1912. Em 1918 se tornou
membro da Associação de Psicanálise de Viena e fez um
trecho de análise com Freud. Em 1923 muda para Berlim onde
continua sua análise com Karl Abraham. Em 1924 começa a
dirigir as atividades do Instituto de psicanálise de Viena,
fundado por Freud. Por causa da perseguição nazista contra
os judeus em 1935 Helene fugiu para Estados Unidos.
Dedicou-se especialmente ao tema da sexualidade
feminina e às diferenças anatômicas dos corpos sexuados.
Em 1949 publica um livro intitulado “Psicologia das
mulheres”, um texto referência para Simone de Beauvoir.
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6. Fragmentos de textos de Freud sobre a psicanálise
(...)
(...)
46
O que é a psicanálise?
Conteúdo da psicanálise
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Os resultados terapêuticos da psicanálise se fundam
na substituição de atos psíquicos inconscientes por outros
conscientes, e seu alcance chega até que possa se estender.
Tal substituição funciona superando resistências internas
na vida psíquica do paciente. No futuro, provavelmente, se
dará mais importância à psicanálise como ciência do
inconsciente do que como procedimento terapêutico”.
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Referências Bibliográficas
E-mail: danielomarperez1@gmail.com
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