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Daniel Omar Perez

A PSICANÁLISE NA CLÍNICA
VOL. 1
A DOR, O INCONSCIENTE E A SEXUALIDADE

Editora Instituto Conhecimento Liberta


FICHA TÉCNICA

Título do Livro:
A Psicanálise na clínica vol. 1: A dor, o inconsciente e a sexualidade

Autor:
Daniel Omar Perez

Produção editorial:
Mariana Paulon, Marielly Agatha Machado, André Chacon

Coordenação de Design Gráfico:


Eduardo Marinho Júnior

Designer gráfico:
Matheus Braggion

Capa:
Matheus Braggion

Curadoria da coleção Saber e Sociedade:


Suze Piza
© Editora Instituto Conhecimento Liberta, São Caetano, 2022

Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida,
transmitida ou arquivada, desde que levados em conta os direitos do autor.

      


        

 
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Editoria Instituto Conhecimento Liberta

Alameda Terracota, 215, Conj. 1511

Cerâmica, São Caetano do Sul, SP

CEP 09531-190

Tel: (11) 94172- 8439


Sumário

Apresentação................................................................................................................ 5
1. A dor, o sofrimento, o mal-estar e o começo da
psicanálise....................................................................................................................... 7
Ador........................................................................................................................................... 7
O começo do doutor Freud......................................................................................... 7
A residência médica do doutor Freud............................................................................. 8

Freud e Breuer e os estudos sobre histeria....................................................... 10


A sintomatologia clínica da neurose de angústia....................................................... 17

Como se origina a angústia? A teoria freudiana do manuseio dos


escritos a Fliess.................................................................................................................. 19
2. O inconsciente nos lapsos da vida cotiana.................................. 24
3. O inconsciente e os desejos realizados nos sonhos............. 28
O que é sonho?................................................................................................................... 29
Materias e mecanismos do sonho.................................................................................... 31

Os sonhos do pequeno Freud............................................................................................. 31

A morte do pai......................................................................................................................... 31

A interpretação dos sonhos................................................................................................ 32

Indícios, rastros e sintomas....................................................................................... 34


4. A sexualidade e o corpo................................................................................. 36
Primeiro ensaio....................................................................................................................... 36

Segundo ensaio...................................................................................................................... 37

Terceiro ensaio........................................................................................................................ 38

A identidade das/des/dos diferentes.................................................................. 41


5. O que é psicanálise?.......................................................................................... 42
A análise................................................................................................................................. 42
As resistências........................................................................................................................ 42

Algumas das pessoas que contribuíram nos primeiros anos da


psicanálise............................................................................................................................ 43
Outras figuras fundacionais da psicanálise.................................................................. 45
Sumário

6. Fragmentos de textos de Freud sobre a psicanálise......... 46


Conteúdo da psicanálise............................................................................................ 47
Referências...................................................................................................................... 49
Sobre o autor.................................................................................................................. 50

5
Apresentação

A Psicanálise na Clínica faz parte da coleção Saber e


Sociedade da Editora Instituto Conhecimento Liberta. A
coleção tem por objetivo contribuir com a introdução ao
estudo das Ciências Humanas propondo reflexão de
temáticas fundamentais para compreensão do nosso tempo
e espaço.

Nos últimos anos, o Brasil sofreu um ataque sistemático


à cultura, à ciência e à educação. Acreditamos que a leitura
de livros é uma prática fundante na reconstrução de laços
coletivos perdidos, bem como na produção de conhecimento
necessária
1 para enfrentarmos os desafios que teremos pela
frente.

A escrita sempre foi uma ponte onde circulam os


assuntos humanos. Os livros, como diz Michèle Petit, “são
parentes das cabanas”, local de segurança e abrigo em
momentos de desamparo. A leitura é uma exigência vital,
uma necessidade existencial que tem a ver com construção
do sentido, das identidades e, principalmente, com a
possibilidade de darmos forma à nossa experiência.

Para contribuir com a reprodução do conhecimento do


passado e sua produção no presente, a coleção Saber e
Sociedade traz o texto Psicanálise na Clínica - Volume I: A
dor, o inconsciente e a sexualidade produzido pelo filósofo,
psicanalista, professor e pesquisador Daniel Omar Perez.

O texto oferece ao leitor e à leitora diversas definições,


teses, fragmentos de teorias e textos, possibilitando uma
introdução à psicanálise.

Boa leitura,

Suze Piza

6
1. A dor, o sofrimento, o mal-estar e o começo da
psicanálise

A dor
A dor, o sofrimento ou o mal-estar pode ser físico ou
psíquico ou ambos ao mesmo tempo. As formas físicas de
sofrimento podem ser tratadas por terapias
medicamentosas, intervenções cirúrgicas, ortopédicas,
fisioterapias entre outras. Há também acompanhamentos
psicoterapêuticos de diferentes perspectivas teóricas e
clínicas que tentam restaurar a vida cotidiana do paciente ou
acondicioná-lo para a vida social normativizada e
moralmente aceita. Em muitos casos é possível encontrar
uma melhoria da vida diária com a diminuição ou eliminação
do sofrimento.

No entanto, existem casos nos quais estas práticas de


terapias químicas, mecânicas ou conscientes não são
suficientes ou não dão conta do fenômeno em questão e o
sofrimento permanece ou retorna em outro sintoma. A
situação também não se resolve mediante uma “cura” por
meio do esforço pessoal, da fé ou da aspiração do indivíduo
ou do grupo de indivíduos que padecem do mal-estar. Não é
que a boa vontade falte no paciente, mas é que os sintomas
não são nem naturais nem produzidos por preguiça ou
apatia. Às vezes existem condutas repetitivas e involuntárias
e não determinadas apenas por um mecanismo
anátomo-fisiológico ou orgânico. Nesses casos, é preciso
abordar o sofrimento psíquico a partir do dispositivo clínico
inventado por Sigmund Freud: a psicanálise.

O começo do doutor Freud

Sigmund Freud nasceu no dia 6 de maio de 1856 na


cidade de Freiberg, (atualmente pertence à República
Tcheca). Mudou-se com a família, em 1860, para a cidade de
Viena. Em 1873 iniciou seus estudos universitários em
medicina e conseguiu seu título de doutor em 1881. Em 1882
começou seu noivado com Martha Bernays, com quem
estabeleceu uma relação matrimonial que durou até o fim da
vida. Como pesquisador em medicina publicou um artigo
sobre os testículos da enguia (1877) e outro sobre a cocaína
(1884). As necessidades da vida familiar o afastaram da
pesquisa para se dedicar à clínica. Nasceu Mathilde (1887),
sua primeira filha, depois Martin (1889), Ernst (1892), Sophie
(1893) e Anna (1895).
7
Em 1887 começou uma relação profissional e de
amizade com Wilhelm Fliess, que está registrada em cartas e
manuscritos e se estende até o início do século XX. Muitos
pesquisadores consideram essa relação a “análise” de Freud
e a fundação dos pilares da psicanálise.

A residência médica do doutor Freud

O jovem doutor Sigmund Freud (1856-1939) fez


residência com o doutor Jean-Martin Charcot (1825-1893), na
cidade de Paris, entre os anos 1885 e 1886. Observando os
casos e o funcionamento da hipnose entendeu que as causas
dos sintomas daqueles pacientes não podiam ser
subsumidas sob a causalidade natural de movimentos
mecânicos ou sob a determinação consciente de uma
atitude voluntária.

O Hospital de Salpêtrière era um lugar de reclusão para


encerrar prostitutas, pobres moradores de rua, pessoas
consideradas criminosas ou loucas. É nesse lugar que parte
da neurologia moderna foi desenvolvida. A clínica de Charcot
se demorou nos casos de histeria com sintomas como
cegueira, ausência da consciência, gestos involuntários,
movimentos musculares involuntários, delírios e
alucinações, perda da fala entre outros.

Ele descobriu que os sintomas histéricos não tinham


causa física e sim psíquica. Foi desse princípio que Freud
partiu para desenvolver a técnica da terapia psicanalítica. No
hospital de Charcot se usava hipnose e energia elétrica para
tratar histeria. Os sintomas histéricos, segundo Charcot,
estariam na ordem da sugestão. A sugestão poderia ser
reduzida ao fenômeno de alguém oferecer uma ideia e o
outro aceitar essa ideia de modo não crítico, involuntário.

Freud entendeu, inicialmente, com as experiências de


Charcot:

1) Que os sintomas da histeria eram de origem psíquica e era


preciso elaborar uma intervenção nessa ordem para a cura
do paciente;

2) Que a sugestão hipnótica era capaz de contribuir para a


dissolução do sintoma.

8
Fragmento do obituário de Charcot escrito por
Freud em Viena, no mês de agosto de 1893

“Considerando a histeria como um dos temas da


neuropatologia, [Charcot] fez a descrição
completa dos seus fenômenos, demonstrou que os
mesmos seguiam determinadas leis e normas e
ensinou a conhecer os sintomas que permitiam
diagnosticar a histeria. A ele e seus discípulos
devemos as profundas pesquisas acerca das
perturbações sobre as contraturas e as paralisias
histéricas, as perturbações das atrofias e os
transtornos de nutrição. Depois de descrever as
diferentes formas do ataque histérico,
estabeleceu-se um esquema que apresentava
quatro estádios, a estrutura típica do grande
ataque histérico e permitia referir o pequeno
ataque correntemente observado. Assim, também
foi realizado o estudo da situação e da frequência
das chamadas zonas histerógenas e sua relação
com os ataques etc. Todos estes conhecimentos
sobre o fenômeno da histeria conduziram a novas
descobertas. Assim, comprovou-se a existência da
histeria em sujeitos masculinos, especialmente em
indivíduos da classe operária, e se chegou à
conclusão de que determinados acidentes,
atribuídos antes à intoxicação por álcool ou por
chumbo, eram de natureza histérica,
apreendendo-se a incluir neste conceito afeições
até então isoladas e incompreendidas e a
circunscrever a participação da histeria naqueles
casos nos quais a neurose tinha se ligado a outras
doenças, formando complexos quadros
patológicos”.

9
Com Charcot, Freud deu os primeiros passos em relação
ao estudo da histeria em Paris. De volta para sua cidade,
Viena, conseguiu estabelecer um trabalho com o doutor
Breuer e um diálogo com o doutor Fliess.

Freud e Breuer e os estudos sobre histeria


Freud trabalhou com Josef Breuer (1842-1925), por volta
dos anos 1880-1895, em casos de histeria e publicou os
Estudos sobre a histeria (1895). Eles apresentam [1] a
senhorita Anna O.; [2] o caso da senhora Emmy von N.; [3]
Miss Lucy R.; [4] Katharina; [5] senhorita Isabel von R. e um
texto sobre Psicoterapia da histeria. O método usado nesse
período é o proposto por Breuer, denominado de “método
catártico”.

Tratava-se de um processo que permitia evocar


lembranças de situações traumáticas que estariam
vinculados à aparição dos primeiros sintomas histéricos. Na
medida em que a paciente falava sobre esses eventos
parecia se reviver intensamente aquela situação e se
evocava a emoção ligada ao evento. Com o uso da hipnose e
a sugestão era possível ajudar a paciente nessa
circunstância a reencontrar aqueles episódios traumáticos.

A senhorita Anna O. tinha 21 anos de idade, sofria por


causa de uma tosse, variações de humor, problemas na vista,
paralisia do lado direito do corpo, ausência da consciência,
alucinações, problemas na linguagem entre outros. Foi
paciente de Breuer e com ela começou a técnica da
“associação livre” na terapia.

A senhora Emmy von N. tinha 41 anos de idade, era


viúva, tinha vários sintomas psíquicos como angústia,
depressão e fobias. Foi paciente de Freud. Foi ela que advertiu
para Freud que quem falava em terapia era a paciente “Não
fale nada, não toque em mim”- disse Emmy.

Miss Lucy tinha 30 anos de idade. Tinha rinite crônica,


perda completa do olfato, sentia dois cheiros estranhos,
depressão, cansaço, perda do apetite, a cabeça pesada e
não podia fazer nenhuma atividade.

Katharina tinha 18 anos de idade, sentia-se sufocada,


angustiada e expressava medo em seu rosto, padecia de
peso nos olhos e na testa e, às vezes, não podia respirar.

10
A senhorita Elisabeth von R. tinha 24 anos de idade,
padecia de violentas dores nas suas pernas e dificuldades
para caminhar. Com ela apareceu claramente para Freud a
experiência de como a “tomada de consciência” (tornar
consciente o inconsciente) do trauma dissolvia o sintoma.

Esses cinco casos estão detalhados no livro “Estudos


sobre histeria” (1895) e mostram os procedimentos técnicos
do nascimento da psicanálise.

A sintomatologia clínica da neurose de angústia

No texto freudiano Sobre a justificação para separar a


neurastenia de um determinado complexo de sintomas
nomeados como “neuroses de angústia” de 1894-95 aparece
uma série de fenômenos que ajudam a delinear o nosso
objeto em questão.

O quadro clínico pode apresentar: excitabilidade geral,


hiperestesia auditiva; espera angustiosa, ansiedade,
tendência de visão pessimista, hipocondria, sensibilidade
moral, medo da própria consciência, escrúpulos exagerados;
aumento de batimento cardíaco, dispneia, suor, bulimia;
ataques de angústia como arritmia, taquicardia, ataques de
asma, ataques de suor, tremores, convulsões, bulimia e
vertigem, diarreias, neurastenia vasomotora, parestesia,
pavor nocturnus, insônia, problemas de locomoção, fobias
atípicas, fobias fundadas em representações obsessivas;
sensações de náuseas sobre o estômago e o intestino
provoca uma influência contrária à da neurastenia,
sensibilidade à dor.

Neurastenia

Na teoria freudiana a neurastenia é originada pela


inadequação da ação de descarga da tensão sexual;
economia insatisfatória da energia sexual; seu sintoma
nuclear ou mais frequente é a expectativa ansiosa ou a
angústia flutuante, irritabilidade, hipocondria, angústia
moral, angústia difusa e sintomas somáticos como falta de
ar.

11
Neurose

No manuscrito D, Freud descreve o mecanismo das


neuroses da seguinte maneira:

As neuroses como transtornos do equilíbrio provocados


pelo impedimento de descarga. Tentativas de compensação
de eficiência limitada. Mecanismo das distintas neuroses em
relação com sua etiologia sexual. Afetos e neuroses.

Angústia

No final do século XIX Freud entendia a angústia como a


transformação da energia sexual que não podia ser
adequadamente descarregada em um objeto. Mas também
pensou que deveria ser a reação a um perigo.

No manuscrito A, nos Extratos dos documentos


dirigidos a Fliess entre os anos 1892 e 1899 aparecem
algumas menções da neurose de angústia entendida como:

(1) esgotamento devido às formas de satisfação


inadequadas da energia libidinal;

(2) inibição na função sexual;

(3) aparecimento de afetos concomitantes a essas práticas;

(4) traumas sexuais anteriores.

No manuscrito E de 1894 encontramos as ideias de


tensão sexual e acúmulo de excitação.

Em Obsessões e fobias: seu mecanismo psíquico e sua


etiologia (1895) Freud explica que nas fobias aparece a
angústia, o medo; enquanto nas obsessões aparecem
estados emocionais como dúvida, remorso ou raiva. As
fobias são parte das neuroses de angústia. O quadro clínico
da neurose de angústia é descrito por Freud da seguinte
maneira: irritabilidade geral, acúmulo de excitação e
incapacidade de tolerar tal acúmulo. Freud também destaca
que a expectativa de angústia, a expectativa de um possível
sentimento de medo geral, sem representação ao qual se
dirigir, pode se transformar em um verdadeiro ataque de
angústia.

12
Outro elemento clínico apresentado no texto é que a
neurose de angústia pode vir acompanhada de diminuição
da libido e, consequentemente, do desejo psíquico. O afeto de
angústia é descrito fundamentalmente como a sensação de
incapacidade de lidar com um perigo externo. Assim,
segundo Freud, o paciente diante da incapacidade de lidar
com a excitação sexual do próprio corpo projeta a tensão no
mundo externo, incapaz de encontrar um objeto psíquico
onde descarregar o paciente faz sintoma de angústia
neurótica.

Daqui se deriva o encaminhamento de trabalho que


consiste em elaborar uma posição do sujeito capaz de
encontrar a possibilidade de achar um objeto de escoamento
da energia libidinal reconstituindo assim o circuito pulsional
e, ao mesmo tempo, diminuir a tensão ou excitação do corpo
que se manifesta em angústia.

Sigmund Freud, fragmento de O início


do tratamento [1913]

“O primeiro móvel da terapia é o


sofrimento do paciente, e o desejo de
cura daí resultante. A magnitude
dessa força motriz é diminuída por
várias coisas que apenas no decorrer
da análise se revelam, sobretudo o
ganho secundário da doença, mas a
força motriz mesma deve se
conservar até o fim do tratamento;
cada melhora produz uma diminuição
dela.”

Os encontros e cartas entre Freud e Wilhelm Fliess entre


1887 e 1906 compõem também as origens da psicanálise.
Wilhelm Fliess (1858-1928) era médico especialista em
otorrinolaringologia. Morava em Berlim. Freud foi desfazendo
sua amizade com Breuer e reforçando os laços com Fliess.
Seu amigo era o interlocutor que Freud precisava para ir
elaborando a etiologia da histeria, a teoria dos sonhos, a
teoria da sexualidade infantil, as ideias da bissexualidade
física e psíquica e a primeira teoria da angústia, entre outras.
13
Tradução do Manuscrito A de Sigmund Freud em
escritos a Fliess onde se colocam uma série de
problemas clínicos, suas teses, observações e fatores
etiológicos

Problemas

1. A angústia das neuroses de angústia se origina na


inibição da função sexual ou da angústia vinculada à
sua etiologia?

2. Em que medida uma pessoa saudável reage aos


traumas sexuais tardios de distinta maneira que uma
pessoa com predisposição à masturbação? A diferença
é apenas quantitativa ou também qualitativa?

3. Pode o coito reservado (preservativo) ter algum


efeito danoso?

4. Existe uma neurastenia inata, com fragilidade


sexual inata ou é adquirida sempre na idade prematura
(babás, masturbação por outra pessoa)

5. Pode ser a herança algo a mais que um fator


multiplicador?

6. Qual é a etiologia da distimia periódica?

7. Pode ser a anestesia sexual da mulher outra coisa


senão o resultado da impotência [do homem. T.]. Pode
causar por si mesma uma neurose?

14
Teses

1. Não existe nenhuma neurastenia nem neurose


análoga sem transtorno da função sexual.

2. Isto pode originar um efeito causal direto ou


predispor à ação de outros fatores, mas sempre de
maneira tal que sem sua intervenção os outros fatores
não poderiam provocar a neurastenia.

3. Em função de sua etiologia, a neurastenia do


homem é acompanhada sempre por impotência
relativa.

4. A neurastenia da mulher é a consequência direta


da neurastenia masculina, através da diminuição da
potência que esta causa no homem.

5. A distimia periódica é uma forma da neurose de


angústia, que em outros casos adota o quadro das
fobias e dos excessos ansiosos.

6. A neurose de angústia é, em certa medida, o


resultado da inibição das funções sexuais.

7. Os simples excessos e o esgotamento por trabalho


não constituem fatores etiológicos.

8. A histeria [o elemento histérico T.] nas neuroses


neurastênicas traduz a coartação dos afetos
concomitantes.

15
Séries [de observações clínicas a realizar. T.]

1. Homens e mulheres traumatizados que


permaneceram saudáveis.

2. Mulheres estéreis em cuja vida matrimonial não


interveio o trauma anticoncepcional.

3. Mulheres blenorrágicas.

4. Homens promíscuos blenorrágicos e estéreis em


consequência que tem conhecimento de sua
hipospermia.

5. Integrantes sadios de famílias com grandes taras


hereditárias.

6. Observações de países onde determinadas


anomalias sexuais têm carácter endémico.

Fatores etiológicos

1. Esgotamento por satisfação anormal.

2. Inibição da função sexual.

3. Afetos que acompanham essas práticas.

4. Traumas sexuais anteriores à idade do raciocínio.

16
Tradução de um fragmento do manuscrito B dos
escritos a Fliess:
A neurose de angústia se manifesta de duas formas:
como estado crônico e como ataque de angústia.
Ambos podem se combinar facilmente e o acesso
ansioso não aparece sem sintomas concomitantes.
Os paroxismos se apresentam preferentemente nas
formas combinadas com a histeria, ou seja, que
predominam no sexo feminino enquanto que os
sintomas crónicos ocorrem com preferência em
homens neurasténicos. Tais sintomas crônicos são os
seguintes: 1) ansiedade relativa ao próprio corpo
(hipocondria); 2) ansiedade relativa às suas funções
corporais (agorafobia, claustrofobia, vertigem das
alturas); 3) ansiedade relativa às suas decisões e a
memória, quer dizer, relacionadas com as
representações que têm das suas próprias funções
psíquicas (folie de doute, cavilação obsessiva, etc).

Como se origina a angústia? A teoria freudiana do


manuscrito E dos escritos a Fliess

Freud entende que a angústia teria sua origem em


algum fator físico da vida sexual e lista uma série de tipos: a
angústia em pessoas virgens; em pessoas com abstinência
deliberada; em abstinentes obrigados; em mulheres
submetidas ao coito interrompido; aos homens que
excedem a medida do seu desejo ou de suas forças,
obrigando-se a realizar o coito; angústia em homens
ocasionalmente abstinentes. O elemento que Freud nota é o
da “acumulação física de excitação'', ou seja, de uma
acumulação de tensão sexual física. A acumulação é devida
ao impedimento de descarga, de modo que a neurose de
angústia viria a ser, como a histeria, uma neurose por
estancamento, isso explica sua semelhança, e dado que no
acúmulo não se encontra angústia alguma, a condição real
pode se expressar melhor dizendo que a angústia surgiu
pela transformação da tensão acumulada” (Freud,
fragmento do Manuscrito E).
No manuscrito E também há uma distinção interessante que
devemos levar em consideração:

Acúmulo de tensão sexual física = neurose de angústia.


Acúmulo de tensão sexual psíquica = melancolia.
17
Consideramos a melancolia mais adiante. Mas aqui
precisamos destacar que na angústia Freud aponta para
uma impossibilidade de elaboração psíquica do acúmulo de
excitação. A angústia seria a sensação que corresponde ao
acúmulo de outro estímulo endógeno: a respiração. Freud
observa que os sintomas da angústia aparecem como
dispneia, aumento momentâneo de batimento cardíaco,
ansiedade e a combinação de todas elas. Assim, também
sublinha que dispnéia, aumento momentâneo de batimento
cardíaco são concomitantes do coito. Assim, a neurose de
angústia seria uma espécie de conversão, só que na histeria
haveria uma excitação psíquica, enquanto que na angústia
seria física.

Boa parte deste texto foi retomado em Sobre a


justificação para separar a neurastenia de um determinado
complexo de sintomas nomeados como “neuroses de
angústia” de 1894-95.

Mais tarde Freud avançou dos casos de histeria para os


casos de neurose obsessiva como no caso do homem dos
ratos e no caso do homem dos lobos. Porém, a base estava
estabelecida: um mecanismo inconsciente do psiquismo
humano reprimia um desejo e em seu lugar, no lugar da
realização do desejo reprimido, se instaura um sintoma. O
estabelecimento do sintoma produz dor, sofrimento e
mal-estar.

Sigmund Freud, Cinco Lições de psicanálise [1910]

“Se agora os senhores reunirem todos os meios que


possuímos para o desvelamento do que se acha
oculto, esquecido, reprimido na psique, o estudo dos
pensamentos do paciente evocados na associação
livre, dos seus sonhos e dos seus atos falhos e
sintomáticos; se juntarem a isso a utilização de outros
fenômenos que ocorrem durante o tratamento
psicanalítico, sobre os quais farei depois algumas
observações ao abordar a “transferência”, chegarão
comigo à conclusão de que nossa técnica já tem
eficácia bastante para realizar sua tarefa, para levar à
consciência o material psíquico patogênico e assim
eliminar o sofrimento ocasionado pela formação de
sintomas substitutivos.”
18
2. O inconsciente nos lapsos da vida cotidiana

Na vida cotidiana protagonizamos alguns equívocos ou


esquecimentos. Podem ser, por exemplo, equívocos de
leitura. Podemos estar na frente de uma mensagem de
whatsapp ou um e-mail e em vez de ler o que está escrito
lemos outra coisa, ou em vez de dizer o que lemos dizemos
outra coisa. Às vezes lemos ou dizemos algo parecido, algo
próximo do que está escrito, por exemplo, lemos a palavra
parente em vez de patente ou latente, confundimos a
palavra descrição por discrição.

Mas ocorre também de trocarmos por palavras que


nada têm de próximas na sua forma escrita ou sonoridade e
pior, existem casos em que lemos ou dizemos exatamente o
contrário do que está escrito. Também sucede de
pensarmos uma palavra e falarmos ou escrevermos outra
quando estamos nos comunicando com alguém.

Num discurso de Jair Bolsonaro, divulgado em


vídeo em maio de 2019, o então já presidente
declarava: “Quantos aqui votaram em mim, até eu
sendo o mais ruim! O menos ruim, melhor
dizendo…”.

Em 2018 o mesmo político, tentando dizer que era


vítima daquilo que combatia, declara aos
jornalistas: “São 48 milhões de pessoas que
votaram em mim. Você quer que eu me
responsabilize por elas? Eu lamento, mas quem
levou a facada fui eu" (...) "Sou vítima do que eu
prego. Lamento e gostaria que não houvesse, mas
não posso me responsabilizar".

Na época, o candidato pregava o uso de armas.


Em 11 de junho de 2019 William Bonner, no jornal
nacional da Globo, chamou Sérgio Moro de
“ex-ministro” quando ele ainda estava no cargo. O
Jornalista divulgava a notícia do julgamento do
recurso apresentado por Lula contra Moro por
atuação parcial no processo.

19
Nos três casos encontramos um sujeito que quer dizer
uma coisa e diz outra, mas não qualquer outra. Equívocos na
escrita, na leitura ou na oralidade são conhecidos como
lapsus linguae ou também atos falhos. De um modo geral
podemos atribuir essa confusão ao cansaço ou à
desatenção. Mas se observarmos de perto o fenômeno de
substituição de palavras podemos encontrar uma relação
que não se reduz à mera aleatoriedade ou contiguidade
sonora.

O “equívoco” revela outro sentido que se articula com


outros elementos, como se fosse outra cena. A outra cena se
manifesta ainda mais quando o ato falho se refere à troca de
nomes próprios. Numa live, a jornalista Fátima Bernardes
chama seu atual namorado pelo nome de seu ex-marido,
trocando o nome próprio Túlio Gadêlha por William Bonner.
Não há proximidade sonora nem gráfica. Ela tentou dar uma
explicação. Mas foi numa live, poderia ter sido numa
situação mais constrangedora. Numa cena mais íntima,
chamar a pessoa com a qual atualmente você tem uma
relação amorosa pelo nome da anterior relação pode não
ser entendido apenas como um “equívoco” e sim como o
desejo de estar com aquela pessoa ou de que a atual se
comporte como a anterior.
Podemos mencionar também o caso em que o ato
consiste no esquecimento de nomes próprios, palavras
estrangeiras ou séries de palavras. Às vezes há
esquecimentos sistemáticos do nome de uma pessoa com a
qual compartilhamos a vida cotidiana ou vemos com certa
frequência. Tudo se passa como se não conseguíssemos
reter seu nome talvez na tentativa inconsciente de negar a
pessoa ou parte dela ou alguma ação dela.

Encontramos casos de repetição de ações ou de


perda de determinados objetos. Perder as chaves
da casa ou esquecer se desligou a fornalha do
fogão são situações frequentes que, para alguns,
se tornam sistemáticas. Talvez essas situações se
associam a algum tipo de culpa que
inconscientemente revivemos em cada repetição.

Também podemos observar o tipo de caso em


que o esquecimento é de impressões e propósitos,
conhecimentos ou intenções. Esquecer o que veio a
fazer a determinado lugar. Ir a um lugar da casa
com um propósito, chegar lá e não saber para que
fomos. Ao ponto de ter que retornarmos ao ponto
de partida para, talvez, lembrar.
20
Ao contrário, pelo menos aparentemente, do
esquecimento temos os casos de lembranças
encobridoras. Lembranças infantis encobridoras,
incompletas, deslocadas. Lembranças de
situações que jamais existiram, mas que
aparecem para ocultar ou apagar a lembrança de
situações traumáticas ou difíceis de elaborar.

Outro tipo clássico que encontramos na nossa


classificação de atos falhos é o das negações ou
enganos. Costuma-se dizer que: não existe não no
inconsciente. Por exemplo, na expressão: não é
que eu seja racista (ou xenófobo etc). Também
existem situações onde alguém que afirma ser
heterossexual precisa negar insistentemente
algum tipo de comportamento que denotaria um
desejo homossexual. A negação pode estar
funcionando como a afirmação de um desejo
reprimido. Em todos esses casos, o valor do
enunciado não depende apenas da sintaxe da
frase, mas do lugar de enunciação de quem está
falando.

Assim, também encontramos as situações


atrapalhadas ou atos com final equívoco. O sujeito
que diante de uma excelente oportunidade para se
dar bem em determinada situação faz algo
desastrado, inoportuno e com isso garante o
insucesso. Às vezes são chamadas
corriqueiramente de situações ou condutas de
auto boicote. Isso pode acontecer com pessoas no
seu desempenho laboral ou de estudos, elas fazem
tudo certo por um tempo, até que na hora do
reconhecimento se atrapalham ou fracassam por
motivos aparentemente incompreensíveis.
Pessoas que no sistema prisional tem uma boa
conduta e quando estão prontas para sair em
liberdade acabam se envolvendo em situações
que impedem o retorno à sociedade.

Outro caso próximo do ato falho é o chiste. Rimos


daquilo que recalcamos ou reprimimos.

21
Sigmund Freud, O chiste e sua relação com o
inconsciente. (1905)

“Entre os vários tipos de inibição ou supressão interna


há um que merece nosso especial interesse, porque é
o mais abrangente. Dá-se-lhe o nome de ‘repressão’ e
é reconhecido por sua função de impedir que os
impulsos a ele sujeitos, e seus derivativos, tornem-se
conscientes. Os chistes tendenciosos, como veremos,
são capazes de liberar prazer mesmo de fontes que já
sofreram repressão. Se, como sugerido acima, a
superação de obstáculos externos pode ser, dessa
forma, referida à superação de inibições e repressões
internas, podemos dizer que os chistes tendenciosos
exibem a principal característica da elaboração do
chiste - a de liberar prazer pelo descarte das inibições
- mais claramente que quaisquer outros dos estágios
do desenvolvimento dos chistes. Ou fortalecem os
propósitos a que servem, transmitindo-lhes apoio
procedente dos impulsos mantidos suprimidos, ou
põem-se inteiramente a serviço dos propósitos
suprimidos”.

Finalmente, podemos citar as crenças supersticiosas


ou o autoengano (o pensamento mágico). Evitamos ter que
lidar com a castração, com as limitações, com a finitude por
meio de pensamentos mágicos como “se eu colocar arruda
na porta, então a inveja não me afeta”, assim, o objeto de
desejo aparece sem barreiras nem impedimentos. Aqueles
que somos simpatizantes de times de futebol e
acompanhamos apaixonadamente as partidas temos
algumas “simpatias” para que o resultado seja favorável. Por
exemplo, sentar na mesma cadeira ou usar a mesma
camiseta. Coisas que nada tem a ver com a habilidade dos
jogadores nem as regras do jogo, mas que acreditamos que
poderiam “influenciar” no resultado.

22
Todos estes atos podem se dar de modo combinado e
ser sintomáticos. De acordo com a hipótese da psicanálise,
trata-se de eventos nos quais a determinação consciente do
discurso ou das ações é interrompida, quebrada pela
emergência do inconsciente, algo da ordem do desejo que
estava reprimido no aparelho psíquico e que sai a luz na
forma de equívoco, algo feito ou dito de modo não
intencional, não consciente.

Os atos falhos são as manifestações do


inconsciente, do reprimido, do desejo
reprimido e por isso parte do material
fundamental da clínica psicanalítica. A
análise e interpretação dos atos falhos é o
que permite, na análise, tornar
consciente o inconsciente e (muitas
vezes) oculto ou diretamente não sabido
(conscientemente) para o próprio sujeito
em questão. Os atos falhos trazem um
saber e revelam uma verdade
inconsciente tanto para aquele que fala
quanto para aquele a quem é dirigida a
fala.

A psicopatologia da vida cotidiana é o horizonte no qual


cada um de nós está habitando e, portanto, estamos
atravessados por determinações inconscientes que
condicionam as nossas escolhas ou quebram nossos
discursos racionais e conscientes.

23
3. O inconsciente e os desejos realizados nos sonhos

O sonho é a realização do desejo


S.Freud, Interpretação dos sonhos, 1900

Fragmento de tradução de A Interpretação dos


sonhos, de 1900.

“O senhor [Freud] sempre afirma que o sonho é um


desejo realizado”, começa a falar uma paciente
jocosa. “Pois bem, quero contar-lhe um sonho cujo
conteúdo consiste justamente no fato de um desejo
não ser realizado. Como o senhor harmonizaria esse
fato com a sua teoria? O sonho é o seguinte:

“Pretendo oferecer um jantar, no entanto, nada tenho


em casa além de um pouco de salmão defumado.
Penso em fazer compras, mas me lembro de que é
uma tarde de domingo e todas as lojas estão
fechadas. Pretendo então ligar para alguns
fornecedores, mas o telefone está com defeito. Assim,
sou obrigada a desistir do meu desejo de oferecer um
jantar.”

Naturalmente, respondo eu que apenas a análise


poderá decidir sobre o sentido do sonho, mesmo
reconhecendo que, à primeira vista, ele se apresenta
como sensato e coerente e aparenta ser o oposto de
uma realização de desejos. “Qual foi o material do
qual surgiu este sonho? A senhora sabe que o estímulo
para um sonho sempre parte dos eventos do dia
anterior.”

24
Análise

O marido da paciente, um açougueiro atacadista,


honrado e laborioso, lhe explicou na véspera que estava
engordando demais e que, por esse motivo, iniciaria uma dieta.
Pretendia levantar cedo, fazer exercícios e manter uma dieta
rígida e, sobretudo, não aceitar mais nenhum convite para
jantares. — Rindo, ela conta que seu marido conhecera um
pintor em seu restaurante favorito, que insistiu em retratá-lo,
pois jamais havia encontrado uma cabeça tão expressiva.
Com seu jeito rude, o marido agradeceu, afirmando ter certeza
de que o pintor preferiria um pedaço do traseiro de uma bela
moça em vez de seu rosto inteiro. A paciente continuou dizendo
que agora estava muito apaixonada por seu marido e que
brincava muito com ele. Também lhe pediu que não a
presenteasse com caviar. — O que significa isso? Há muito
tempo, ela deseja comer toda manhã um pãozinho com caviar,
no entanto, não se permite esse gasto. Caso pedisse, é claro
que receberia o caviar imediatamente de seu marido. Porém,
preferiu pedir que não lhe desse o caviar, para poder continuar
a brincar com isso. (Essa explicação me parece pouco crível.
Por trás desse tipo de informação insatisfatória costumam se
esconder motivações não admitidas. Basta lembrar os
hipnotizados de Bernheim, que executam uma tarefa
pós-hipnótica e, quando indagados sobre suas motivações,
não respondem: “Não sei por que fiz aquilo”; antes se veem
obrigados a inventar uma justificativa insuficiente. Algo
semelhante deve estar acontecendo com o caviar da minha
paciente. Entendo assim que ela é compelida a criar um desejo
não realizado na sua vida. Seu sonho mostra também a
renúncia ao desejo como tendo ocorrido. Para que ela precisa
de um desejo não realizado?) Aquilo que lhe veio à mente até
agora não é suficiente para a interpretação do sonho.
Persevero em saber mais alguma coisa. Em seguida faz uma
breve pausa, que obedece ao tempo necessário para vencer
uma resistência. Então ela relata que ontem fez uma visita a
uma amiga da qual sente bastante ciúme, pois seu marido
sempre a elogia muito. Felizmente, essa amiga é magra e seca,
e o marido da sonhadora é amante de corpos mais
rechonchudos. Sobre o que falou essa amiga magra?
Evidentemente sobre seu desejo de ganhar algum peso. Ela
também lhe perguntou: “Quando vocês nos convidarão
novamente? Sua comida é sempre tão gostosa”.

25
A elucidação dessa questão exige uma exibição mais
meticulosa. Para o mecanismo dos sintomas histéricos, a
identificação é um elemento de grande importância; é por
meio dela que os doentes conseguem expressar em seus
sintomas as vivências de um grande número de pessoas,
não só as próprias; eles padecem, em certo sentido, por toda
uma multidão e executam todos os papéis de um espetáculo
com seus próprios recursos pessoais. Alguns contestarão
que isso é a conhecida imitação histérica, a capacidade dos
histéricos de imitar todos os sintomas que os impressionam
em outras pessoas, uma empatia, por assim dizer,
intensificada ao ponto da reprodução. Isso, porém, designa
apenas o caminho pelo qual ocorre o processo psíquico na
imitação histérica; outra coisa é o ato psíquico que percorre
esse caminho. Ele é um pouco mais difícil do que a imitação
dos histéricos, tal como a costumamos imaginar;
corresponde a um processo de inferência inconsciente, como
mostrará um exemplo. O médico que tem uma paciente com
determinado tipo de espasmo, num quarto com outras
pacientes, não se mostra surpreso quando, certa manhã,
descobre que essa crise histérica específica está sendo
imitada pelas outras. Ele diz simplesmente: “As outras a
viram e imitaram; é uma infecção psíquica”. Sim, mas a
infecção psíquica transcorre mais ou menos da seguinte
forma. As pacientes costumam saber mais sobre as outras
do que o médico sabe sobre cada uma, e se preocupam
umas com as outras após a visita médica. Uma delas sofre
uma crise hoje; logo as outras descobrem que a causa foi
uma carta de sua família, o aparecimento de um desgosto
amoroso ou algo parecido. Isso provoca sua empatia, e
ocorre nelas a seguinte inferência, que não se torna
consciente: “Se essa causa pode provocar esse tipo de crise,
também posso ter esse tipo de crise, pois tenho os mesmos
motivos”. Se essa inferência fosse capaz de chegar à
consciência, talvez resultasse no medo de sofrer a mesma
crise; mas ela ocorre em outro terreno psíquico, terminando
assim na realização do sintoma temido. A identificação não
é, portanto, simples imitação, mas apropriação com base na
mesma pretensão etiológica; expressa um “igual a” e remete
a algo em comum que permanece no inconsciente. Na
histeria, a identificação é usada, na maioria das vezes, para
expressar um elemento sexual comum. A paciente histérica
se identifica em seus sintomas mais facilmente — ainda que
não exclusivamente — com pessoas com as quais ela teve
relações sexuais ou com aquelas que mantêm relações
sexuais com essas mesmas pessoas.
26
A linguagem também leva isso em conta. Dois amantes
são “um”. Para que a identificação aconteça, basta, tanto na
fantasia histérica quanto no sonho, pensar em relações
sexuais, sem que estas precisem ser reais. Assim sendo, a
paciente segue apenas as regras dos pensamentos
histéricos quando expressa o ciúme que sente da
amiga (que ela mesma reconhece como injustificado),
colocando-se no sonho em seu lugar e identificando-se com
ela por meio da criação de um sintoma (o desejo negado).
Também se pode enunciar o processo verbalmente na
seguinte configuração: no sonho, ela toma o lugar da amiga,
porque esta toma seu lugar com seu marido, porque ela
deseja ocupar o lugar que a amiga tem na estima do seu
marido. De outro modo, mas seguindo o mesmo esquema
segundo o qual a não realização de um desejo significa a
realização de outro, dissolveu-se também a objeção à minha
teoria dos sonhos em outra paciente, a mais espirituosa
entre todas as minhas sonhadoras.

Um determinado dia, eu lhe expliquei que o sonho é


uma realização de desejos; no dia seguinte, ela me trouxe
um sonho no qual ela viaja com sua sogra para um retiro no
campo. Eu sabia que ela havia resistido muito à ideia de
passar o verão na companhia da sogra, sabia também que
ela havia conseguido fugir da temida companhia alugando
uma casa no campo muito distante da residência da sogra.

Agora, o sonho anulava essa solução desejada; não era


isso a mais absoluta contradição à minha teoria da
realização de desejos por meio do sonho? Certamente, basta
tirar a conclusão lógica desse sonho para chegar à sua
interpretação. De acordo com ele, eu estava enganado; era,
portanto, seu desejo que eu estivesse enganado, e seu sonho
realizou este desejo. Seu desejo de que eu estivesse
enganado, que se realizou no tema da estadia no campo, na
verdade se referia a um objeto diferente e mais sério. Na
mesma época e com base no material produzido pela
análise, eu havia deduzido que, em determinado período de
sua vida, havia ocorrido algo relevante para o seu
adoecimento. Ela o negava, pois nada encontrava em sua
memória. Assim sendo, compreendemos que eu estava
certo. Seu desejo de que eu estivesse enganado,
transformado no sonho em que ela viaja para o campo com
sua sogra, correspondia então ao desejo justificado de que
aquelas coisas, das quais só supúnhamos na época, não
tivessem acontecido.”
27
O que é um sonho?

Um sonho é uma atividade da psique humana organizada


segundo leis que lhe são próprias. A produção do sonho tem um
conteúdo manifesto e um conteúdo latente e por meio da
análise tenta-se cifrar seu sentido. Esse é o trabalho do sonho.

Os recursos pelos quais o trabalho do sonho permite fazer


aparecer seu sentido são: A condensação, o deslocamento, o
procedimento de representação, a elaboração secundária, a
dramatização.

A condensação: Trata-se de uma imagem do


sonho onde se condensam diferentes pessoas,
situações ou coisas por meio de diferentes
elementos de cada um.

O deslocamento: Trata-se de várias imagens do


sonho onde encontramos traços de uma mesma
pessoa ou situação substituídas por imagens
opostas ou de menor importância.

O procedimento de representação: Ou trabalho


da representação onde se transformam
pensamentos em imagens, por exemplo, substituir
frases por desenhos.

A elaboração secundária: É o trabalho onde o


sonho se apresenta como tendo um cenário mais
ou menos coerente, onde todo o conteúdo onírico
forma uma história.

A dramatização é a representação cénica do


conteúdo onírico num certo drama ou narrativa.

28
Materiais e mecanismos do sonho

Reminiscências diurnas: são restos de memória


da vida diurna. Algo ou alguém que se apresentou
durante o dia do sonho ou em um breve tempo
anterior e que aparece nas imagens oníricas.

A censura no mecanismo da repressão: A


deformação do sonho na condensação, o
deslocamento, a elaboração secundária e a
dramatização se devem à censura. Embora o
sonho, de alguma maneira, seja uma
manifestação inconsciente, não há total
desinibição e os mecanismos da repressão
também operam. Os desejos não reprimidos no
sonho podem fazer acordar o sonhador. Porém, a
função do sonho, de acordo com Freud, é continuar
dormindo. Sonhamos que vamos no banheiro a
urinar e sonhamos que urinamos. Na manhã
seguinte encontramos o colchão molhado.

Desejos infantis: Freud adverte para os desejos


eróticos que provêm da sexualidade infantil e
aparecem no drama do sonho. Freud também
indica a importância dos sonhos da morte de
pessoas queridas.

Os símbolos do sonho: De acordo com Freud, não


há uma simbologia universal que nos permita
decifrar o sentido dos sonhos. As imagens podem
ter uma conotação ou uma denotação no interior
de uma cultura ou uma tradição, mas seu sentido
não depende de uma classificação a priori e sim
das associações do paciente. O sentido do sonho
será revelado no trabalho de análise por
associação que o paciente faz na sessão. É a
palavra que sustenta o próprio paciente o que está
em jogo quando se cifra um sonho.

29
O sentido do sonho é estabelecido pela associação livre
do paciente em análise

Em um processo analítico, isto é, num tratamento


psicanalítico, a partir de uma dor, um sofrimento, um
mal-estar, a interpretação do sonho se faz na experiência de
encontro entre o analista e o analisante. Essa experiência é a
que permite que o paciente possa falar tudo aquilo que
considere que precisa ser dito e trabalhar com a associação
entre o que é falado e o que aparece associado àquilo que se
decide falar ou também com aquilo que surge no lapso, na
psicopatologia da vida cotidiana.

Interpretar um sonho, interpretar um lapso ou um


esquecimento ou um relato da fantasia ou não, é uma
operação de intervenção do analista sobre o discurso do
paciente. Mas essa operação se faz a partir do analisante.
Uma interpretação psicanalítica pode ser uma pergunta,
uma repetição de algo enunciado pelo analisante, uma
finalização da sessão, a pontuação de uma frase, uma
palavra, também pode ser um gesto que o analista faz na
sessão. Todos esses elementos e qualquer um pode fazer
parte da técnica de interpretação psicanalítica sobre o sonho
contado pelo analisante que tem como objetivo uma
mudança de posição do sujeito em relação com aquilo que
fala.

Quando o analista interpreta – fala-se em psicanálise –


ele não sabe o que diz. O saber está do lado do paciente. É ele
que elaborará sua posição a partir da interpretação. Assim
transcorre a sessão de análise. O analisante fala, conta sua
dor, associa e vai se deslocando na medida em que fala. O
analista intervém pontuando, ecoando, perguntando,
marcando algo do discurso do paciente: uma palavra, a parte
de uma palavra, uma letra, um som, um lapso, uma série de
palavras, um gesto.

Assim, o analisante se implica na cena que relata,


escuta aquilo que fala, provavelmente ri daquilo que
acontece, provavelmente se angustia por não se encontrar
mais lá onde ele suspeitava estar, provavelmente fica em
silêncio, provavelmente reencontra aquilo que já sabia. O
analista não sabe o que diz desde que saiba o que faz, isto é,
interpretar na experiência analítica.

30
Os sonhos do pequeno Freud
Desde criança Freud costumava anotar seus sonhos em
um caderno que levou adiante durante anos. Mas o interesse
científico pelo funcionamento e sentido dos sonhos foi depois
de utilizar o método da associação livre nas pacientes
histéricas. Na noite de 24 de julho de 1895, num quarto do
hotel Bellevue, em Koblenz, perto de Viena, de propriedade da
família Ritter von Schlag, Freud sonha com uma mulher, Irma,
e uma injeção que ele aplicaria à paciente. Esse sonho ficou
registrado como o sonho da injeção de Irma.

A morte do pai

Na primavera de 1896, o pai de Sigmund Freud, Jakob


Freud, teve graves problemas de saúde. De alguma maneira
a família se preparava para seu falecimento, o que veio a
acontecer. Tudo indica que esse fato foi decisivo para
fortalecer o vínculo com o doutor Fliess e aprofundar seu
processo de “análise” por meio de encontros, cartas e
manuscritos. Foi nesse momento que Freud, pensando nos
seus próprios sonhos, elabora uma técnica propriamente
psicanalítica de interpretação.
A interpretação dos sonhos

É o livro de Freud que foi concluído em setembro de 1899,


mas o autor quis que fosse publicado com data de 1900.
Contém quase 200 sonhos. 47 sonhos são do próprio Freud.

Fragmento de tradução de S. Freud, A interpretação


dos sonhos, 1900.

Muitas vezes sabemos que sonhamos, mas não o


que sonhamos. E nos acostumamos tanto com a
experiência de que o sonho está sujeito ao
esquecimento que já não consideramos absurda a
possibilidade de haver sonhado durante a noite a
pessoa que, pela manhã, não se lembra do
conteúdo nem do fato de ter sonhado. Por outro
lado, ocorre que os sonhos demonstram uma
persistência extraordinária na memória. Analisei
sonhos de pacientes meus que os tiveram há 25
anos ou mais, e lembro-me de um sonho meu de,
no mínimo, 37 anos atrás, e que nada perdeu de seu
frescor na minha memória. Tudo isso é muito
notável e, a princípio, incompreensível.
31
Indícios, rastros e sintomas

Sherlock Holmes e o Doutor House são dois personagens


da literatura e dos seriados de televisão que diferem muito
um do outro quanto às suas características pessoais, mas
têm algo em comum que é o fato de se inquietarem diante de
algo que parece evidente, porém, não é.

Dito de outro modo, Holmes e House questionam a


evidência, duvidam das evidências e procuram mais. Tanto
nos casos policiais do detetive Sherlock Holmes quanto nos
casos clínicos do doutor House o que está em jogo é a procura
do que não se mostra como evidente, eles buscam a outra
cena em que as peças se encaixam de outro modo e
produzem outras consequências.

Em alguma medida, o doutor Sigmund Freud parece


seguir os mesmos passos que Holmes e House. Também ele
(Freud) decifra enigmas e mistérios partindo da dúvida das
evidências e reconstruindo a outra cena desde os pequenos
detalhes de um equívoco, um mal-entendido, um
esquecimento, a troca de um nome, a minúcia de um sonho,
a particularidade de uma fantasia ou os elementos
sintomáticos de um caso. Rastros e indícios conduzem a
diferentes inferências. Porém, enquanto Holmes e House
relacionam elementos de um conjunto, Freud faz lugar à fala
de um sujeito que experimenta ouvir aquilo que diz e,
portanto, se implica na cena que se lhe apresenta como
misteriosa ou enigmática.

32
Poderíamos dizer que o doutor Freud coloca Sherlock
Holmes e Doutor House no divã não apenas para indagar a
cena do crime, mas também para se perguntar o que estão
fazendo eles lá. A psicanálise não procura apenas dar conta
de uma estrutura de elementos que se combinam, mas
também do sujeito implicado nessa estrutura. Portanto,
temos dois registros a serem considerados aqui:

1.As evidências só evidenciam aquilo que referem, mas


se nos interrogamos pelo modo em que um signo pode referir
a outro, então, um corpo quente num caso pode ser evidência
de um dia calorento e, em outro, pode ser o sintoma de uma
infecção.

2.O sujeito pode observar o modo de referir como algo


alheio ou se implicar na leitura das evidências. Assim, num
caso, um dia de chuva pode ser interpretado como a
condição para ter um dia alegre por ser algo desejado, ou
pode ser decodificado como um dia triste por acabar com
alguma programação prevista.

3.Assim, podemos entender como a psicanálise inclui o


sujeito na cena que analisa. Trata-se de um sujeito que
carrega um corpo marcado pela sexualidade e a morte.

33
4. A sexualidade e o corpo

Vimos no início do livro que a medicina da época de Freud


entendia que os sintomas dos pacientes poderiam ter uma
causa natural, biológica ou anatómica ou seriam fenômenos
provocados conscientemente, propositalmente,
intencionalmente.

A psicanálise nasce com a invenção da hipótese


do inconsciente, que permite acolher os
fenômenos de neurose histérica e de neurose
obsessiva. Esses fenômenos produziriam
sintomas como formações substitutivas de um
desejo recalcado (inconscientemente). O corpo
não só se nutre senão que também produz
energia, esse corpo em excitação deveria poder
escoar a sua energia em objetos de satisfação
permitindo que o paciente alcance um estado de
calma. Por algum tipo de mandato social, norma,
regra, lei, costume familiar ou cultural o sujeito se
vê inconscientemente impedido de alcançar
satisfação com alguns objetos e permitido com
outros. O impedimento produz na psique do
sujeito um fenômeno de recalque e a energia
contida acaba provocando uma formação
substitutiva: um sintoma. Este sintoma só poderá
ser removido, de acordo com Freud, tentando
tornar consciente o inconsciente. Assim, o
tratamento psicanalítico será uma experiência
de fala do paciente por meio da associação livre
que deixe emergir no consciente aquilo que está
reprimido inconscientemente.
34
Desta forma podemos observar que temos dois
elementos fundamentais, dois pilares fundamentais para o
início do trabalho analítico:

(1) O material do sujeito onde pode surgir o inconsciente (os


lapsos e os sonhos);

(2) uma teoria sexual que permita dar conta dessa energia
do corpo e dos objetos nos quais a energia descarrega
encontrando satisfação.

O ponto (1) foi tratado anteriormente como sendo o


material da análise. Aqui avançaremos no ponto (2): a vida
sexual.

Freud observou na clínica, a partir do relato das suas


pacientes, que o sintoma se associava a uma questão sexual.
Assim, tentou indagar essa via e em 1905 publica um dos
livros mais importantes da teoria psicanalítica: Três ensaios
para uma teoria sexual.

Freud descobriu que a satisfação


humana, como descarga de energia, não
acontecia apenas a partir da
adolescência, senão que se iniciava na
infância, na relação do bebê com a mãe.
Um livro que falava sobre a sexualidade
infantil e tirava a infância não só da
escuridão mantida pelas psicologias e a
medicina da época no que se refere aos
conflitos psíquicos senão que, também,
propunha a ideia de que a vida sexual de
um ser humano começava já no início da
sua existência não podia não causar
escândalo por ser julgado não de modo
científico, mas de modo moral.
35
Três ensaios para uma teoria sexual foi publicado em
1905. A obra tem as seguintes partes: (1) primeiro ensaio: as
aberrações sexuais; (2) segundo ensaio: a sexualidade
infantil; (3) terceiro ensaio: as metamorfoses da puberdade.

Primeiro ensaio

No primeiro ensaio Freud aborda a origem infantil das


perversões, mas começa criticando os preconceitos
populares e também do discurso científico. Na época, a
homossexualidade era vista como um caso de
degenerescência ou tara. Diante disso, Freud se propõe
buscar na infância a origem da escolha dos objetos de
satisfação sexual, não por uma determinação biológica ou
escolha consciente, mas pela via do desenvolvimento
psíquico inscrito na ordem social.

Freud entende que a noção de instinto, presente nos estudos


da época sobre o comportamento animal, não é suficiente
para dar conta da experiência sexual do sujeito humano.
Assim, propõe a noção de pulsão, isto é, uma carga de
energia associada a um representante psíquico, uma ideia.
Assim, a pulsão seria uma carga de energia direcionada para
um objeto. A partir daqui, Freud faz a distinção das
perversões como (1) os desvios sexuais em relação ao objeto
sexual (a pessoa pela qual sente uma atração sexual) e (2)
os desvios em relação à meta sexual (o ato ao qual conduz a
pulsão).

Com respeito aos desvios sexuais em relação ao objeto


sexual (a pessoa ou objeto que exerce atração sexual) Freud
menciona as diferentes formas de homossexualidade, a
pedofilia, a zoofilia. Essa orientação para um determinado
objeto de satisfação é adquirida e não inata como pensava a
medicina da época. Poderíamos dizer que se trata de uma
“escolha de objeto” inconsciente, que não depende de
inatismo nem de eleição consciente, mas do
desenvolvimento psíquico na experiência de cada sujeito.
Freud adota como princípio um postulado do seu colega
Fliess que propõe a predisposição universal da
bissexualidade do sujeito humano. Isto significa que, a
princípio, todos os seres humanos estão abertos a ter como
objeto da pulsão qualquer um, independentemente da
normatividade socialmente estabelecida entre menino e
menina.

36
Fliess tinha demonstrado que o desenvolvimento
embrionário do sujeito humano mostrava a sua condição
bissexual. Freud avançou com essa ideia passando do
campo biológico para o campo psíquico. Na psique humana,
a princípio qualquer objeto pode ser o objeto da satisfação
sexual, só haverá escolha de um e renúncia de outro objeto
no desenvolvimento da constituição psicológica. Dessa
forma, o sujeito terá tendências à masculinidade e à
feminilidade que coexistem desde a infância até a idade
adulta. Assim, a escolha inconsciente de objeto de satisfação
dependerá da força daquelas tendências.

A energia do corpo do sujeito humano se produz em


zonas de excitação chamadas por Freud de zonas erógenas.
O predomínio insistente de uma dessas zonas em detrimento
de todas as outras estaria ligado àquilo que se denomina de
perversão, isto levaria ao uso de partes bem específicas do
corpo ou objetos fetiche para a satisfação sexual. Em outros
casos se produziriam fixações de metas sexuais
exclusivamente na oralidade, ou no toque, ou no olhar, ou no
sadismo, ou no masoquismo.

Assim, segundo Freud, os neuróticos imaginam nas suas


fantasias e nos seus sonhos os modos de satisfação que o
perverso realiza. Devemos salientar aqui que o termo
perverso não tem caráter pejorativo nem é uma condena
moral, apenas nomeia a orientação da pulsão para
determinados objetos. A predisposição para a perversão
enquanto escolha de objeto não é entendida como uma
anormalidade senão que também se encontra na vida dita
normal da constituição psíquica.

Segundo ensaio

No segundo ensaio Freud escreve que “a primeira e mais vital


atividade da criança é o aleitamento materno, seja no seu
seio, seja no substituto do seio”. A amamentação não só
nutre a criança senão que também sensibiliza, excita,
erogeniza os lábios da criança, assim a boca se constitui
como lugar de nutrição, mas também como zona erógena. O
aleitamento materno ao mesmo tempo nutre e satisfaz a
excitação que originou. Esse fenômeno, de acordo com Freud,
não se restringe à boca, mas pode acontecer em qualquer
parte do corpo. Além da zona oral Freud menciona a zona
anal e o prazer obtido na retenção ou expulsão das fezes
ligadas ao funcionamento intestinal.

37
Aqui outra vez temos uma função biológica ligada a um
funcionamento psíquico. O terceiro caso é a zona genital. São
atividades uretrais ligadas à satisfação que provoca a
micção. Todos os casos se realizam tanto na menina quanto
no menino. Assim, Freud entende que na criança existe uma
predisposição perversa polimorfa. No início da vida a
satisfação se encontra indistintamente (do ponto de vista do
gênero socialmente estabelecido) em todas as zonas
erógenas. No desenvolvimento a criança encontrará a
unificação sexual na genitalidade.

Terceiro ensaio

No terceiro ensaio será abordada a passagem do


autoerotismo infantil à escolha de objeto na adolescência.

Freud afirma que a imagem da criança que suga o seio


da mãe acaba sendo o modelo de toda relação amorosa,
essa seria a primeira relação sexual e a mais importante
porque é o grande momento de excitação e satisfação. Na
adolescência ocorre uma integração das pulsões que
acabaria na escolha de objeto. Assim, se manifestam
significativamente os afetos de amor e ódio, e de corrente
terna e corrente sensual do encaminhamento da energia
libidinal.

De acordo com Freud e outros psicanalistas do início do


século XX, o desenvolvimento psicossexual dos seres
humanos se realiza por estágios. Estes estágios são: oral,
anal, fálico, latência e genital.

38
O estágio oral é fundado na necessidade de
nutrição pela boca. Assim, a sucção que o bebê
realiza para se alimentar produz uma zona de
excitação erógena. Essa excitação encontra seu
repouso na satisfação da oralidade. Desse modo,
temos uma dupla satisfação: a fome e o prazer
sexual. De acordo com Freud, a oralidade tem como
propósito a incorporação do objeto, por isso
também se denomina de fase canibal ou de pulsão
canibal. Psicanalistas como Karl Abraham e
Melanie Klein consideram que a oralidade
determina determinam, o primeiro, o caráter da
pessoa, a segunda, a relação de objeto. A
ansiedade da separação, a tolerância à frustração,
a compulsão com o consumo de bebida, comida ou
drogas podem estar relacionados com a
experiência infantil do bebê com a sucção.

O estágio anal está fundado com a necessidade


de regular os esfíncteres. A criança aprende a
controlar a expulsão das fezes pelo ânus. Essa
experiência de reter e soltar as fezes, ao mesmo
tempo que satisfaz uma necessidade biológica
acaba criando uma zona de excitação erógena.
Assim, quando “a criança faz cocó” ela
experimenta um prazer sexual (no sentido
psicanalítico). Alguns psicanalistas entendem que
alguns traços de personalidade são definidos aqui.
Pessoas com características de rigidez nos seus
hábitos, intolerantes com a mínima desordem,
impossibilitados de se entregar numa relação
amorosa, impossibilitados de receber amor etc.
Também pode ser que a relação com as fezes
tenha sido de um modo que lhes permite oferecer
criativamente aquilo que consideram próprio.

O estágio fálico tem como zona erógena a


genitália e está marcado pela experiência de
castração, isto é, o medo a perder ou ter perdido o
falo. Trata-se do reconhecimento de um órgão que
encontra uma diferença entre o pênis e a vagina e
que coloca a criança em outra relação com quem
faz a função de pai/mãe. A criança atravessa a
experiência nomeada por Freud como Complexo
de Édipo, onde, a princípio, o menino se coloca
como adversário do pai pelo amor da mãe.

39
A latência é o período no qual haveria uma
detenção do desenvolvimento sexual da criança
que entra na puberdade e dessexualiza as relações
com os objetos. Há uma intensificação dos
mecanismos de repressão, a criança começa a
adquirir os valores morais da sociedade em que
habita. Sentimentos como ternura, modéstia ou
apreciações estéticas são alcançadas.

O estágio genital é onde reaparece o interesse


sexual e coincide com o estágio fálico na
importância dada para a genitália. Os interesses
sexuais da criança, na puberdade e agora já
entrando na adolescência até sua morte são para
além de quem faz função pai/mãe. A pessoa
precisa lidar com seus impulsos sexuais e
agressivos para além do círculo familiar, para além
do familiar, e entrar no mundo social, ter que se
encontrar com o infamiliar, com o estranho. Precisa
lidar com seu corpo sexuado e com o corpo
sexuado do outro que aparece na convivência. Essa
experiência inédita carece de regras
preestabelecidas que permitam saber o que fazer
em cada caso e, por isso, o sujeito procura
exemplos, grupos, imagens com as quais se
identificar e encontrar respostas para lidar com os
impulsos do corpo, para, de algum modo, dar
direcionamento à sua sexualidade e
agressividade.

40
A identidade das/des/dos diferentes

O que acontece com aquelas pessoas que não entram


dentro das etiquetas de identidade oferecidas no mercado
das nomeações? Como lidam com os/as outros/as/es
quando resistem a serem obrigadas a assumir um rótulo,
um lugar, uma posição, um discurso, um conjunto de gestos,
uma série de ideias e opiniões? Que sucede com o sujeito
que não se reconhece no grupo que supostamente deveria
se reconhecer ou pertencer ou não age como supostamente
deveria agir? São singularidades que incomodam uns e
outros por não assumirem comportamentos, ideias e
hábitos sociais e morais legitimados dentro de grupos
reconhecidos.

A identidade das/des/dos diferentes é socialmente


intolerável e inadmissível e é identificada como perigosa,
criminosa, imoral, isto é, louca. O sistema das identidades
reconhecíveis e aceitáveis da sociedade de produção e de
consumo, seja na ordem social oficial ou em grupos
pretensamente alternativos, encarrega-se de excluir e
encerrar ou diretamente exterminar a diferença, a
singularidade do sujeito que em cada caso nós habitamos.
Essa diferença, essa singularidade, é exatamente aquilo que
a psicanálise como experiência ética propicia sustentar até
às últimas consequências, para que outra relação entre a
diferença possa advir. Isso é a ética do desejo como ética da
psicanálise.

41
5. O que é a psicanálise?

A análise
A psicanálise é uma prática clínica que inicialmente foi
inventada por Freud no final do século XIX para tratar casos
de neurose histérica e se desenvolveu até hoje, por 130 anos
em diferentes línguas e regiões do planeta. Freud propôs a
hipótese de que uma causa psíquica inconsciente
determinava o comportamento ou fazia surgir sintomas
somáticos e conversões no corpo do paciente.

O tratamento consistia em fazer falar o paciente e usar


a técnica das associações livres, procedimento pelo qual o
desejo recalcado acabava aparecendo, primeiro na forma
de lapsos, sonhos, chistes e fantasias, depois fazendo tornar
consciente o que permanecia inconsciente. Assim, cenas da
vida infantil, já esquecidas, tornavam à memória presente e,
dessa forma, se dissolviam os sintomas.

Recordar e elaborar essas recordações, por mais


traumáticas e dolorosas que fossem, era o caminho para
desfazer o sintoma que fazia sofrer o paciente. O tratamento
psicanalítico durava entre 6 meses e dois anos e meio, com
sessões diárias, de segunda a sexta-feira, de 50 minutos
cada uma. Alguns tratamentos foram mais longos, como o
caso conhecido como “O homem dos lobos”, uma neurose
obsessiva que durou 4 anos e cujo paciente retomou outras
análises com outros analistas. No caso das análises de
analistas, Freud recomendava voltar a análise a cada 5
anos.

As resistências

A psicanálise é uma experiência clínica que trata


conflitos psíquicos que causam sofrimento. Na medida em
que a análise aborda o sofrimento implicando o próprio
sujeito na cena sintomática acaba provocando resistências.

42
De acordo com Freud, há resistências do
paciente quando este precisa dar conta
do desejo sexual enquanto tal. De acordo
com Lacan, há resistências do próprio
analista quando este é incapaz de levar
adiante uma análise para além de onde
levou sua própria análise. Também há
resistências na opinião pública, na
medida em que o desejo é comumente
reprimido em favor da exploração
econômica, o disciplinamento dos corpos
e a domesticação dos sentimentos. Há
resistência do mercado dos negócios
farmacológicos, do sistema sanitário, dos
detentores de discursos de autoridade e
de dogmas conservadores. A todas essas
resistências resiste a psicanálise.

Algumas das pessoas que contribuíram nos primeiros anos


da psicanálise

Paul Federn (1871-1950) era austríaco e foi um dos


discípulos mais persistentes do círculo freudiano, ele próprio
não passou pela experiência da análise, algo que sucedeu
com Freud e outros analistas da primeira geração. Se iniciou
em 1903 e foi o analista de outra geração de psicanalistas,
tais como: Otto Fenichel, Wilhelm Reich, Edward Bibring,
Edoardo Weiss entre outros.

43
As clínicas tinham suas particularidades. Federn, na
hora do almoço, convidava o paciente a sentar à mesa e a
análise de Reich foi sem pagamento. Ele era médico
reformista e tinha um permanente compromisso político
com o socialismo. Entendia que a psicanálise articula a
clínica com o social e sua prática contribuía para a
libertação da humanidade. Publicou vários textos, dentre
eles um manual bastante popular de psicanálise. Embora
judeu, Federn tinha ideais cristãos e pretendia se converter
para o protestantismo. Ele também foi talvez o primeiro em
desenvolver os fundamentos da psicologia do ego. Entendia
que, em certos casos, os indivíduos padeciam de uma
deficiência no seu ego. Essa ideia foi sugerida por Freud em
alguns textos e desenvolvida por Anna Freud mais tarde. Os
indivíduos geram mecanismos de defesa e, alguns deles,
essas defesas não funcionam. Fugiu para os Estados Unidos
com o objetivo de evitar o extermínio que os nazistas
levaram adiante como plano sistemático na Europa e que
acabaria em poucos anos com a vida de 6 milhões de
judeus.

Edward Hitschmann (1871-1957) nasceu em Viena e se


iniciou em 1905, foi também o médico da família de Freud.
Em 1922 foi chefe do Ambolatorium, a experiência de
psicanálise pública.

Lou Andreas-Salomé, ou também Louise Gustavovna


Salome (1961-1937) natural de São Petersburgo, de família
russo-alemã. Frequentou os ambientes culturais e
intelectuais de Paul Rée, Freud, Nietzsche e Rilke. A
psicanálise, a filosofia e a literatura do seu tempo faziam
parte da vida cotidiana de Louise. Os nazistas a acusaram de
praticar “ciência judia”, isto é, psicanálise, influenciada pelo
judeu Sigmund Freud. Sua biblioteca foi confiscada pelos
nazistas por esse motivo. O trabalho clínico de Salomé está
bastante vinculado ao de Tausk.

Viktor Tausk (1879-1919) era natural da Croácia,


estudou psiquiatria, direito, música, publicou textos
literários em prosa e poesia, foi tradutor e participou da
elaboração de várias noções psicanalíticas no círculo de
Freud, especialmente no que se refere ao tratamento das
psicoses.

44
Helene Deutsch (1884-1982) nasceu na Polônia,
fronteira com a Ucrânia. Fez parte do movimento político que
liderava Rosa Luxemburgo. Estudou psiquiatria com Emil
Kraepelin e acabou iniciando a formação em psicanálise
quando se transferiu para Viena, em 1912. Em 1918 se tornou
membro da Associação de Psicanálise de Viena e fez um
trecho de análise com Freud. Em 1923 muda para Berlim onde
continua sua análise com Karl Abraham. Em 1924 começa a
dirigir as atividades do Instituto de psicanálise de Viena,
fundado por Freud. Por causa da perseguição nazista contra
os judeus em 1935 Helene fugiu para Estados Unidos.
Dedicou-se especialmente ao tema da sexualidade
feminina e às diferenças anatômicas dos corpos sexuados.
Em 1949 publica um livro intitulado “Psicologia das
mulheres”, um texto referência para Simone de Beauvoir.

Outras figuras fundacionais da psicanálise

Ruth Mack Brunswick (1897-1946) Anna Freud


(1895-1982) Hermine von Hug-Hellmuth (1871-1924) Marie
Bonaparte (1882-1962) Melanie Klein (1882-1960) Theodor
Reik (1888-1969) Hermann Nunberg (1883-1970) Karl
Abraham (1877-1925) Ernst Jones (1879-1858).

45
6. Fragmentos de textos de Freud sobre a psicanálise

Quem é praticante de psicanálise?

Fragmento de tradução do texto de Freud “Psicanálise


profana”

“Para o paciente é indiferente que o analista seja ou


não um médico, desde que todo perigo de erro seja
eliminado por observação médica exigida antes de
iniciar o tratamento e ao surgir durante o mesmo
algum sintoma duvidoso. O que é verdadeiramente
importante é que o analista possua qualidades
pessoais que o fazem merecedor de confiança e tenha
adquirido conhecimentos e experiências que o
tenham capacitado verdadeiramente para o
cumprimento da sua tarefa”.

(...)

“Por outro lado, os analistas profanos (não médicos)


que hoje praticam a análise não são indivíduos
quaisquer, de procedência indistinta, senão pessoas
de formação acadêmica, doutores em filosofia,
pedagogos e algumas mulheres de grande
experiência e personalidade destacada. Todos os
candidatos a psicanalistas devem fazer análise e esse
é o melhor modo de dimensionar a capacidade
pessoal para o exercício da atividade analítica”.

(...)

“O ensino da psicanálise compreende disciplinas


alheias ao médico e com as que costuma não se topar
na sua atividade profissional, tais como: história da
civilização, mitologia, psicologia das religiões e
literatura. Sem uma boa orientação nestes campos o
analista não pode chegar a uma compreensão
correta de boa parte do seu material”.

46
O que é a psicanálise?

Fragmento de tradução do texto de Freud


“Psicanálise: Escola freudiana”

“Freud criou o termo psicanálise, que no decorrer do


tempo chegou a ter dois significados: 1) um método
particular para tratar as afeições neuróticas; 2) a
ciência dos processos psíquicos inconscientes, que
também foi chamada de psicologia profunda”.

Conteúdo da psicanálise

A psicanálise tem cada dia mais pessoas que aderem à


sua prática como método terapêutico, isso se deve a que os
pacientes têm um benefício muito maior do que com
qualquer outra forma de tratamento. Sua principal área de
aplicação é a das neuroses leves, como a histeria, as fobias e
os estados obsessivos, além disso, permite conseguir
importantes resultados e curas em deformações do caráter
e nas inibições e desvios sexuais. Sua influência sobre a
demência precoce e a paranoia é duvidosa, mas em
circunstâncias favoráveis pode se tratar ainda os mais
graves estados depressivos.

Em todos os casos o tratamento impõe duras


demandas, tanto para o analista quanto para o analisante.
O analista deve contar com uma formação especializada e
deve dedicar um longo período à exploração profunda de
cada caso, o paciente tem de realizar grandes sacrifícios,
tanto materiais quanto psíquicos. No entanto, os resultados
compensam todos os esforços.

A psicanálise não é uma panaceia para todos os


transtornos psíquicos, pelo contrário, sua aplicação tem
vindo a revelar pela primeira vez as dificuldades e as
limitações com que se depara o tratamento dos
padecimentos. Por enquanto, só em Berlim e Viena existem
instituições privadas que tornam acessível o tratamento
psicanalítico também às classes operárias e as indigentes.

47
Os resultados terapêuticos da psicanálise se fundam
na substituição de atos psíquicos inconscientes por outros
conscientes, e seu alcance chega até que possa se estender.
Tal substituição funciona superando resistências internas
na vida psíquica do paciente. No futuro, provavelmente, se
dará mais importância à psicanálise como ciência do
inconsciente do que como procedimento terapêutico”.

48
Referências Bibliográficas

FREUD, S. Obituário de Charcot. In: Obras completas, Edição


Standard Brasileira das obras psicológicas completas de
Sigmund Freud. Vol. 3. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, S. Extratos dos documentos dirigidos a Fliess In: Obras


completas, Edição Standard Brasileira das obras psicológicas
completas de Sigmund Freud. Vol. 1. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, S. Sobre a justificação para separar a neurastenia de um


determinado complexo de sintomas nomeados como “neuroses
de angústia”. In: Obras completas, Edição Standard Brasileira
das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. 3. Rio
de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, S. Estudos sobre histeria. In: Obras completas. São Paulo:


Cia das letras, 2016.

FREUD, S. A interpretação dos sonhos. In: Obras completas. São


Paulo: Cia das letras, 2019

FREUD, S. Psicopatologia da vida cotidiana. In: Obras completas.


São Paulo: Cia das letras, 2021

FREUD, S. Três ensaios para uma teoria sexualidade. In: Obras


completas. São Paulo: Cia das letras, 2021

FREUD, S. Cinco Lições de psicanálise. In: Obras completas. São


Paulo: Cia das letras, 2020

FREUD, S. O início do tratamento. In: Obras completas. São Paulo:


Cia das letras, 2010

FREUD, S. Psicanálise: Escola Freudiana. In: Obras completas,


Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de
Sigmund Freud. Vol. 20. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, S. Psicanálise profana. In: Obras completas, Edição


Standard Brasileira das obras psicológicas completas de
Sigmund Freud. Vol. 20. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

ROAZEN, P. Freud e seus discípulos. São Paulo: Editora Cultrix,


1978.

As traduções realizadas no texto são diretas dos textos em


alemão que estão abertos ao público na Internet. As referências
acima são indicações de edições brasileiras para facilitar ao
leitor o acesso às obras. 49
Sobre o autor

Daniel Omar Perez

Professor de filosofia da Universidade Estadual de


Campinas (UNICAMP), pesquisador PQ 1D CNPQ com
pesquisa sobre o tema da loucura de Kant. Atualmente, a
pesquisa aborda a relação entre linguagem e natureza
humana (antropologia) em torno do fenômeno da loucura.
Também desenvolve um projeto sobre a constituição do
sujeito a partir das relações de identificação (filosofia e
psicanálise).

Entre suas publicações podemos citar Kant e o


problema da significação (Editora Champagnat, 2008); O
Inconsciente: onde mora o desejo (Civilização Brasileira,
2012); Ontologia sem espelhos: ensaio sobre a realidade
(CRV, 2014), Sentimentos em conflito (PHI Publisher, 2019), O
pêndulo de Epicuro: ensaio sobre o sujeito e a lógica de uma
história sem finalidade (CRV, 2019, também publicado em
França pela Harmattan Publisher). Em 2021 publicou a
tradução das Reflexões de Antropologia de Kant (Editora
Langage).

E-mail: danielomarperez1@gmail.com

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