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Entre o outro e eu: práticas instituintes do orientador educacional na educação infantil / Jéssica de Souza Borges. -
Santo Antônio de Pádua, 2017.
64 f. ; 30 cm.
1. Orientação educacional. 2. Práticas instituintes. 3. Escola. I. Benedito, Mitsi Pinheiro de Lacerda Leite. II.
Título.
CDD 371.4
IV
ATA DE APRESENTAÇÃO DO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Às treze horas e trinta minutos do dia 30 do mês de maio do ano de 2017, na sala 07, do Campus
do INFES/UFF, compareceu para apresentação pública de Trabalho de Conclusão de Curso,
requisito obrigatório para a obtenção do título de Licenciada em Pedagogia, a aluna Jéssica de
Souza Borges, tendo como título do “ENTRE O OUTRO E EU: PRÁTICAS INSTITUINTES
DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL”. Constituíram a banca
examinadora os professores Profa. Dra. Maristela Barenco Corrêa de Mello e Prof. Josias Teodoro
Guedes. Após a apresentação e as observações dos membros da banca avaliadora, ficou definido
que o trabalho foi considerado _____(aprovado/reprovado/aprovado com restrições)______. Eu, MITSI
PINHEIRO DE LACERDA LEITE BENEDITO lavrei a presente ata que segue assinada por mim
e pelos demais membros da Banca Examinadora.
Observações: (para aprovação com restrições)
______________________________________________________________
Profa. Dra. Mitsi Pinheiro de Lacerda Leite Benedito – INFES/UFF
Orientadora
_______________________________________________________________
Profa. Dra. Maristela Barenco Corrêa de Mello – INFES/UFF
Examinadora
_______________________________________________________________
Prof. Josias Teodoro Guedes – PPGEn/INFES/UFF
Examinador
V
AGRADECIMENTOS
Sentar e escrever meus agradecimentos é uma tarefa difícil. Ou o papel será pouco ou as
palavras se atrapalharão com o meu pensamento. Em contrapartida, gostaria de iniciar esse
momento prazeroso dedicando um abraço.
Abraço, à todos que me incentivaram quando eu julguei não conseguir.
Abraço, ao colega de curso que sempre via em mim mais do que eu acreditava ser.
Abraço, aos que construíram em mim, um sentimento bom, ascendente e perpetuável.
Um abraço apertado à Ana Luiza Cunha, que de maneira singela e meiga, oferecia
créditos a mim que me transportavam a figura de irmã mais velha.
Um abraço apertado ao Profº. MSc Francis de Souza Borges que é, e sempre será um ser
humano capaz de demonstrar amor e sabedoria nos momentos mais adversos que a vida lhe
propuser.
Um abraço apertado ao meu irmão Flavio de Souza Borges, que sempre delegou prestígio
e honra à minha formação.
Um beijo cotado de carinho à minha irmã mais nova, Jhennifer Feitosa Lima, por viver,
conviver e vivenciar as experiências mais marcantes da minha vida.
Um beijo cotado de amor ao homem que faz meus olhos se encherem de risos, meus lábios
de palavras afetuosas e meu coração de certezas, por escolher viver ao seu lado. Eu não seria mais
eu, se não existisse você, João Jazbik.
Meu muito obrigada, à banca. Que fez deste trabalho um espelho de mim, cheio de
acertos, erros e novos recomeços.
Meu muito obrigada ao “Grupo de Pesquisas e Estudos CotidianoS” por tantos momentos
de partilha. Partilha de indagações, medos, sorrisos, diálogos e muito conhecimento.
Meu muito obrigada à minha orientadora Mitsi Pinheiro Lacerda pela paciência,
compreensão e sabedoria em lidar com uma pessoa como eu.
E por fim, minha eterna gratidão a mulher que me gerou, educou, instruiu e possibilitou
estar aqui para escrever essas palavras. Obrigada mãe. Você é o exemplo de persistência, de
segurança, de firmeza, de professora, de mãe e mulher que tento ser.
Papai do céu você foi muito generoso comigo, obrigada.
VII
RESUMO
ABSTRACT
This paper aims to articulate reflections about the role of the educational orientation in
the municipal public institution of a certain city located in the Northwest Fluminense of
the state of Rio de Janeiro. Having as a way the daily perspective, I try to understand
about the following research topic: What are the instituting practices of the educational
supervisor within the school that contribute to the educational development? In this sense,
the research movement is characterized by the association between theory and practice in
the pedagogues' performance, interest and necessity of the researcher to include the
institutional formation of this professional and the understanding of the dynamic
educational action that falls on the daily life of the school, as well as , To rethink the role
of the school as a protagonist in the formation of active and participatory subjects capable
of respecting the humanization process of one another. The theoretical-methodological
approach of research is the ETNOMETODOLOGIA, which aims to investigate the
method that the other subject does daily in their practice, thinking as well as the individual
organizes and thinks their activities. This research methodology sharpens understanding
of how the construction of this social world is organized; And from then on, knowing
how these members construct their activities, investigating empirically the methods that
the educational advisors produce and use to carry out daily actions, seeking to understand
the senses from which these methods are created.
SUMÁRIO
ANEXOS ................................................................................................................................. 60
11
TRILHANDO O CAMINHO
1
Usarei a palavra no masculino do mesmo modo como aparece na Lei 9.394/96.
13
instituído só se valida quando temos indivíduos sendo objetos sociais, quando os que
deveriam ser sujeitos sociais e políticos se veem na figura reduzida da incompetência.
Procuro pelas práticas instituintes que os sujeitos sociais e políticos produzem
como pano de fundo em um cenário dominador. A excelência nas ações intituintes está
na autonomia de valor, na equidade da diversidade, na validação histórica, na
permanência de um ser, na abundancia dos saberes e nas diversas razões em que
construímos saberes. Tento vislumbrar os saberes instituintes presentes na escola através
da orientação educacional, com seus desafios, possibilidades e enfrentamentos que
compõem essa figura educacional.
E neste movimento que apresento este Trabalho de Conclusão de Curso. Julgo o
tema relevante, pois envolve um assunto de interesse dos que se formam academicamente
e dos que se preocupam em fazer uma educação voltada para a integração de todos os
atores do ambiente escolar através de uma visão participativa e democrática.
Neste sentido, o movimento de pesquisa é caracterizado pelo processo de
associação entre teoria e prática na atuação de pedagogos, interesse e necessidade da
pesquisadora de abarcar a formação institucional deste profissional2 e a compreensão da
ação dinâmica educacional que recaem no cotidiano da escola, assim como, repensar o
papel da escola como protagonista na formação de sujeitos atuantes e participativos,
capazes de respeitar o processo de humanização um dos outros. E também com o intuito
de manifestar a importância do trabalho articulador do orientador educacional nas
instituições de Ensino Fundamental das séries iniciais.
2
Visto que no currículo do Curso de Pedagogia – UFF/INFES não foi oferecido disciplina voltada para a
Orientação Educacional durante o período de minha formação e a certificação do Curso em Pedagogia
habilita para tal.
14
SEÇÃO II
METODOLOGIA DE PESQUISA E EPISTEMOLOGIA
[...] fazer uma experiência com algo significa que algo nos acontece,
nos alcança; que se apodera de nós, que nos tomba e nos transforma.
Quando falamos em “fazer” uma experiência, isso não significa
precisamente que nós a façamos acontecer, “fazer” significa aqui:
sofrer, padecer, tomar o que nos alcança receptivamente, aceitar, à
medida que nos submetemos a algo. Fazer uma experiência quer dizer,
portanto, deixar-nos abordar em nós próprios pelo que nos interpela,
entrando e submetendo-nos a isso. Podemos ser assim transformados
por tais experiências, de um dia para o outro ou no transcurso do tempo.
Assim, “Fazer uma experiência quer dizer, portanto, deixar-nos abordar em nós
próprios pelo que nos interpela, entrando e submetendo-nos a isso”, portanto permitir-se
a algo do qual não controlamos não nos pertence e não nos completa. Todavia, apenas o
sujeito desta experiência está aberto à própria transformação. Por essa inquietação do não
ser, não poder controlar, não pré-ver e não pré-dizer que proponho esta reflexão.
16
Cunha, (2016) traz em sua fala uma percepção intrínseca sobre o que significa
vivenciar uma experiência que conturba o ser humano. “Essa experiência move o meu
afeto. Nós não delimitamos a experiência, ela permanece em aberto”. Esse pensamento
expressado nas palavras da autora acima, me remete a uma concepção de atravessamento,
quando o indivíduo se vê inserido em um contexto do qual não se premeditou e as relações
e desdobramentos são pulverizadas para as demais compreensões humanas deste sujeito.
Quando nos deparamos, ou percebemos que estamos imersos em um movimento
centrípeto, força resultante que puxa o corpo para o centro da trajetória em um movimento
curvilíneo ou circular, onde nossas conjecturas, sendo-as de cunho social, intelectual,
profissional e familiar, configurando-se em campos teoricamente externos ao fator em
experiência, ainda assim, são aproximados para essa força centrípeta da experiência do
qual eu conceituo.
A experiência é para mim um umbral aberto a vários horizontes. Tomo
emprestadas, também, as palavras extremamente tocantes de MERLEAU-PONTY, (apud
Oliveira, 1999, p. 14) onde pincela “o mundo é não aquilo que eu penso, mas aquilo que
eu vivo; eu estou aberto ao mundo, comunico-me indubitavelmente com ele, mas não o
possuo, ele é inesgotável”. Assim, devaneio nas palavras do autor Leal (2015, p. 402) ao
delegar liberdade ao sujeito em se perceber como um ser inteiro absorvido em sua
experiência. A parte que nos compete a sentir a experiência já não se mantém enquanto
parte, em contrapartida, se torna um todo para que esse mesmo sujeito aprenda a
importância de sentir a pulsação da experiência pelo campo tátil, visual, sensitivo e
mental. Pois assim se percebe a experiência em nós, de forma integral e exponencial.
Essa noção de experiência é tamanha, que não estou somente buscando na
legislação as normatizações do que venha ser o trabalho do orientador educacional. Não
me parece suficiente acreditar na atuação do orientador educacional somente pela sua
disposição legal. Os documentos oficiais são para mim insuficientes para contemplar a
atividade e o afeto com que essa função afeta as pessoas ao seu redor, mesmo ainda
quando proponho a refletir sobre tal registro profissional. Eu busco entender como
acontece dentro da instituição, junto às relações entre os atores que constroem a escola,
suas vivências e táticas presentes nas fugas do dia a dia.
Ao refletir sobre as possíveis táticas que o orientador pode ter e produzir em seu
cotidiano, objetivo primário desta pesquisa, sugiro as palavras de Certeau para esclarecer
minhas proposições acerca desta proposta. O autor nos aponta três ideias que devem ser
consideradas para a compreensão das estratégias e táticas sociais cotidianas.
17
Em um primeiro momento ele nos fala do próprio, um indivíduo (que aqui pode
ter a representatividade de um grupo, organizações, empresas, cidades entre outros)
favorecido de querer e poder, proveniente de um lugar privilegiado que mobiliza e
manipula estratégias. Esse campo é denominado de próprio, sendo o sujeito do querer e
do poder algo. Certeau nos diz “O ‘próprio’ é uma vitória do lugar sobre o tempo. Permite
capitalizar vantagens conquistadas, preparar expansões futuras e obter para si uma
independência em relação à variabilidade das circunstancias” (1994, p. 99). No segundo
momento também é possível compreender a dominação dos lugares pela visibilidade que
a posição do próprio possibilita e consequentemente prever qualquer força estranha que
curse no seu lugar de domínio. “A divisão do espaço permite uma prática panóptica a
partir de um lugar de onde a vista transforma as forças estranhas em objetos que se podem
observar e medir, controlar portanto e ‘incluir’ na sua visão” (1994, p. 100). E no terceiro
momento seria legitimar o poder de um saber por ser determinado a partir do lugar de um
“próprio”, sendo perceptível reconhecer nestas “estratégias” a manutenção e a conquista
deste mesmo poder. “[...] um poder é a preliminar deste saber, e não apenas o seu efeito
ou seu atributo. Permite e comanda as suas características. Ele se produz aí” (1994, p.
100).
Assentadas as ideias, emanam as correlações a respeito das práticas cotidianas
do orientador educacional em razão das táticas que estes desenvolvem. Quando penso, ou
pesquiso as práticas de alguma função ou órgão tenho que compreender as atribuições
pré-determinadas para aquele ofício. E mais ainda, de onde (campo, ordem, setor, regime,
repartição) partiram tais instruções para a execução das atividades pertinente ao cargo.
Quando me reporto as palavras do Certeau são justamente para compreender o universo
administrativo que envolve a minha pesquisa. O autor fala sobre o poder do “próprio” que
administra e influencia nas competências dos que estão subordinados a este campo de
poder. Pensado isso, são as táticas que este profissional usa em seu cotidiano inundado
nesta concepção, que quero conhecer.
Certeau caracteriza tática como “a ação calculada que é determinada pela
ausência de um próprio” (1994, p. 100). A estes é necessário usar da ausência do próprio
para articular suas intervenções, façanhas, obras e práticas. Desta maneira, é através das
táticas que os sujeitos não detentores daquele mesmo lugar se movimentam, chegando até
a subverter, de modo silencioso e astuto os ambientes do poder e querer determinados em
uma esfera social. A tática é a arte do fraco, é a maneira como o outro que não se torna
próprio, se faz para articular, subverter e viver frente as determinações do forte/próprio.
18
Ele trabalha com o tempo, usando dos momentos e ocasiões para armazenar proveitos,
ampliar a posse e pressagiar saídas, válvulas de escape em meio a sujeição do forte.
Enquanto a estratégia é, por manifestação, atitudes desenhadas pelo titular do lugar de um
próprio para se conservar dominante.
A tática não tem por lugar senão o do outro. E por isso deve jogar com
o terreno que lhe é imposto tal como o organiza a lei de uma força
estranha. Não tem meios para se manter em si mesma, à distância, numa
posição recuada, de previsão e de convocação própria: a tática é o
movimento “dentro do campo de visão do inimigo” [...] e no espaço por
ele controlado. Ela não tem portanto a possibilidade de dar a si mesma
um projeto global nem totalizar o adversário num espaço distinto,
visível e objetivável. Ela opera golpe por golpe, lance por lance.
Aproveita as “ocasiões” e delas depende, sem base para estocar
benefícios, aumentar a propriedade e prever saídas. O que ela ganha não
se conserva. [...] Aí vai caçar. Cria ali surpresas. Consegue estar onde
ninguém espera. É astúcia (CERTEAU, 1994, p. 101).
experiência. Cito neste trabalho contribuições de Carvalho. Maria, T., (1994); Grinspun.
Libâneo. José, C.,(2011);MírianPaura. Z., (2008); Pimenta. Selma, G.,(2011);Santos.
Marcos, Pereira., (2011) entre outros autores que também pesquisam a orientação
educacional. Procurei em cada autor um perfil para cada profissional, seja em âmbito
educacional ou acadêmico e tentei vincular com os dados que colhi na pesquisa
etnometodológica realizada em campo, ou seja, ambiente escolar onde eu me encontro
com este orientador.
Venho de alguma forma elucidá-los sobre o termo, que para mim é tão novo e
inesperado, quanto suponho que seja para você também, leitor. O termo etnometodologia
enquanto abordagem de pesquisa empírica surgiu nos anos 1960 nos Estados Unidos,
tendo como principal marco fundador a publicação do livro de Harold Garfinkel (Estudos
sobre Etnometodologia em 1967).
A etnometodologia estuda fenômenos sociais, aqueles que estão disponíveis em
atividades humanas incorporadas, sensíveis, de fala e ação. Recebeu influência de teorias
que constituem outros elementos filosóficos, métodos e tipos de pesquisas. Pode-se
afirmar que a etnometodologia não trata de um método, mas de uma abordagem teórico-
metodológica de pesquisa, a qual situa, no cerne da sua proposta, o estudo dos métodos
que os membros da sociedade empregam, de maneira conjunta, para organizar as
definições das atividades práticas diárias (Mehan e Wood;Zimmerman, 1976 apud
Oliveira; Montenegro, 2012, p. 134).A etnometodologia é assim compreendida, porque
ela pretende investigar os métodos; logo, não faz sentido entendê-la como um método em
si, isolado.
A Etnometodologia faz a contemplação de outros conceitos nucleares desta
teórica-metodológica, bem como: a noção das Práticas e Realizações – como as coisas
acontecem, como se dá o entendimento sobre esses eventos, qual a relação destas práticas
e a estrutura em que estas se reúnem; a Indicialidade – que se codificam nas linguagens
que vinculam a palavra a uma situação, sentido distinto nas situações em que é usada; a
Reflexividade - se configura pela maneira de pensar, e planejar as ações a seguir,
propiciando uma segurança ontológica para a ação dos indivíduos; a Relatabilidade –
apoia-se na lógica da reflexividade, pois parte do princípio de uma reflexividade
consciente, o indivíduo pode ainda que minimamente, descrever por meio da linguagem,
de forma inteligível e descritível um determinado evento, tornando-o assim, relatável ; e
por último a noção de Membro - onde os indivíduos tem capacidade suficiente
de“dominar naturalmente um conjunto de modos de agir, de métodos, de atividades, de
20
uso da linguagem para dar sentido ao mundo que os cercam” Coulon, (1995, p. 48 apud
Oliveira; Montenegro, 2012 p. 136).
Em síntese, a abordagem teórico-metodológica de pesquisa,
ETNOMETODOLOGIA, visa investigar o método que o outro sujeito faz cotidianamente
em sua prática, pensando assim como o indivíduo se organiza e pensa suas atividades.
Essa metodologia de pesquisa me aguça a compreender como a construção deste mundo
social se organiza; e a partir de então, conhecendo como esses membros constroem suas
atividades, investigando empiricamente os métodos que os mesmos produzem e utilizam
para realizar ações cotidianas, buscando compreender os sentidos a partir dos quais estes
métodos são criados.
A intenção de produzir esse material mina da responsabilidade inerente de se
refletir sobre esse orientador educacional que pretendo ser. E a função que esse
profissional exerce na escola e como ele está sendo constituído no cotidiano. Por isso,
pondero minhas questões analisando as transformações da nomenclatura do Orientador
Educacional que as Leis 5692/71 e Lei 9394/96 – ambas Leis de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. E também como esse processo ocorre na realidade de uma escola do
interior do Rio de Janeiro, no Noroeste Fluminense no ano de 2015. É importante
delimitar o espaçotempo de onde reflito e pesquiso para não corremos o risco de
generalizar as informações encontradas.
Pretendo apresentar de forma clara e sucinta as modificações na definição de
função deste profissional que encontro nas respectivas leis e pensar sobre essas alterações
contrapondo o cotidiano deste orientador educacional de educação infantil. Bem como,
as atribuições oficiais que regem a ação do Orientador educacional no cotidiano da escola
e a efetiva participação deste indivíduo como coadjutor social presente no ambiente
educacional.
21
SEÇÃO III
A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: HISTÓRICO, NORMATIZAÇÃO E
REVISÃO DE LITERATURA
3865) discute que ainda permanecia limitado o campo de atuação deste profissional, visto
que, as opções presentes no texto era apenas que o licenciado atuaria em sala de aula e ao
bacharel cabiam as funções técnicas, coordenação pedagógica, organização burocrática
do sistema de ensino, entre outras funções.
Já o Parecer CFE nº 251/62 tentou entender a questão existente, se a formação do
professor (a) primário (a) deveria acontecer em âmbito superior, e a dos técnicos da
educação em nível de pós-graduação, pensando ser questões possíveis para o futuro. Em
relação ao curso de Pedagogia sua intenção não era que fosse extinto, mas que fosse
remodelado para que sua definição pudesse ser compreendida com clareza. O parecer
descarta a hipótese de extinção do curso e parte para uma redefinição, principalmente no
que se referia ao cargo de técnico em educação, ou o bacharel, já que este profissional era
modelado a todas as atividades não-docentes dentro do nível educacional. Em razão disso
começa a se desenhar uma nova função ou um novo campo de trabalho que começa a
surgir na década de 50. Assim abrindo novos caminhos ao bacharel em Pedagogia, na
forma conseguir de esclarecer sua identidade Manchope, (2004, p. 3865-3866).
O curso de Pedagogia nos anos 1960 passa a formar bacharéis e licenciados. O
Parecer CFE nº 252/69 acarretou um estufamento do curso por causa das diversas
especialidades que a formação em pedagogia agora habilitava. O indivíduo que cursava
pedagogia estaria habilitado para lecionar o ensino normal (licenciado), e também apto
para exercer a função de especialista nas atividades de orientação, administração,
supervisão e inspeção dentro das escolas e do sistema escolar. “Mexeu-se também no
currículo, este agora estava estruturado para uma base comum de estudos, e ao
especialista oferecia a habilitação específica para os conjuntos de tarefas” Manchope,
(2004, p. 3866). O pedagogo então passa a ser um professor (a) para diferentes disciplinas
dos então cursos ginasial e normal.
Santos, (2012, p. 142) relata que durante a gestão governamental no final da
década de 1960, a classe dominante propagava uma imagem de um país harmonioso e
sem problemas, no entanto, o país convivia com a repressão e a violência, assim como,
com discussões acerca da implantação de uma legislação educacional. Sendo assim, a
proposta educacional pensada para aquele momento deveria atender aos interesses de uma
classe para atingir objetivos alheios. Tanto se faz essa afirmativa que o projeto de reforma
do Ensino de 1º e 2º Graus foi planejada pela “cúpula” do sistema, sem qualquer consulta
aos professores e demais agentes educacionais.
25
Trago essa junção de ideia justamente para nos fazer pensar. Desconheço órgãos
de fiscalização com a nomenclatura de orientação ou sinônimos que vinculem outras
formas de observação a este conceito. Visto que orientar não tem a ver com verificar,
28
§ 7o (VETADO).
§ 8o Os currículos dos cursos de formação de docentes terão por
referência a Base Nacional Comum Curricular.
Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se refere o inciso
III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo técnico-
pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo habilitações
tecnológicas.
Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para os
profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou em
instituições de educação básica e superior, incluindo cursos de
educação profissional, cursos superiores de graduação plena ou
tecnológicos e de pós-graduação.
Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
I - cursos formadores de profissionais para a educação básica,
inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes
para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino
fundamental;
II - programas de formação pedagógica para portadores de
diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação
básica;
III - programas de educação continuada para os profissionais de
educação dos diversos níveis.
Art. 64. A formação de profissionais de educação para
administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação
educacional para a educação básica, será feita em cursos de
graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da
instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum
nacional.
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação superior,
incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas.
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério superior far-
se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de
mestrado e doutorado.
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por universidade
com curso de doutorado em área afim, poderá suprir a exigência de
título acadêmico.
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos
profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos
estatutos e dos planos de carreira do magistério público:
I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas e
títulos;
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com
licenciamento periódico remunerado para esse fim;
III - piso salarial profissional;
IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e
na avaliação do desempenho;
V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação,
incluído na carga de trabalho;
VI - condições adequadas de trabalho.
§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercício
profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos termos das
normas de cada sistema de ensino.
§ 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § 8o do
art. 201 da Constituição Federal, são consideradas funções de
magistério as exercidas por professores e especialistas em educação no
31
3
Segundo as pesquisas de Santos, (2012, p. 169), neste contexto, o professor-pedagogo pode ser entendido
como aquele profissional encarregado de prestar assessoria técnica, didática, pedagógica e metodológica
aos professores em suas atividades educativas no interior da instituição-escola.
33
4
A pesquisa realizada em 1994 (Brzezinski, 1996, p. 207) constatou que em um universo de quarenta cursos
investigados, as vinte e duas universidades públicas apenas três ainda permaneciam formando o
especialista, sem exigência inicial da docência. Todavia, o número de cursos de pedagogia é relativamente
pequeno quando comparamos com a totalidade dos cursos oferecidos também no setor privado do nosso
país. (PINTO, 2011, p. 173)
34
Libâneo (2011, p. 191) vai assumir que a formação para os especialistas de ensino
deveria ter uma nomenclatura diferenciada, a partir do momento que ele identifica os
pedagogos que, mesmo sem restringir suas atividades profissionais ao ensino, lançam-se
aos movimentos de pesquisa, ações documentais, formação profissional, gestão de
sistemas escolares e escolas, coordenação pedagógica, animação sociocultural, formação
continuada em empresas e escola e ainda em outras instituições em pedagogos formados
como“stricto sensu” diferente dos professores que como “latu sensu” seriam todos
pedagogos.
Avançando no debate, compreendemos que a busca por uma qualidade na
formação do docente e/ou especialista na representação do pedagogo, se justifica a
medida que os objetivos visem a contribuição na pratica social e educacional exercida
nos ambiente escolares e também não-escolares dos quais este profissional perpassa. Por
outro lado, o autor Pinto, reforça que os profissionais que exercem funções de
especialistas dentro da escola, devem nortear o seu trabalho enfatizando a “qualidade do
processo de ensino aprendizagem que ocorre em sala de aula” (2011, p. 188).
Deste modo, é necessário repensar o argumento sobre a questão levantada “a
docência como base de formação do profissional de educação”, e tão somente
metamorfosear em “a docência constitui a base de formação do especialista de ensino”.
Entendendo que o termo pedagogo, também inclui o profissional que não atua na área da
educação, orquestramos o termo pedagogo escolar, assim adjetivado, identifica e
especifica o profissional de educação habilitado na área educacional com experiência
docente. Reformulando mais uma vez, a expressão “a docência constitui a base de
formação do pedagogo escolar” (Pinto, 2011, p. 191)
Os especialistas precisam trabalhar como semelhantes em um mesmo objetivo
unificado. Preocupando-se em proporcionar qualidade de ensino para os educandos. Se o
especialista, e aqui friso o papel do orientador educacional, exercer seu cargo sem se
preocupar com a qualidade do processo de ensino e aprendizagem que ocorrem em sala
de aula, tão pouco os docentes validarão a proposta do mesmo. Agregando valor ao
debate sobre a questão da docência como requisito para o especialista de ensino, trago a
narrativa do autor Pinto, como especialista com experiência docente
Refletindo ainda sem concluir, temos muito o que pensar sobre a prática do
profissional especialista. Libâneo e Pimenta destacam que existem outros pressupostos
epistemológicos que se incorporam na Pedagogia. Reforçando que as demandas na
atuação do pedagogo vão além da sala de aula, por isso, discordam da exigência docente
como condição para a formação do pedagogo. “Ser pedagogo é mais abrangente que ser
especialista de ensino. Quando o pedagogo direciona sua ação para qualquer situação
pedagógica que não seja a escolar, a docência não se faz necessária”. (Pinto, 2011, p. 190)
Havemos de concordar que o pedagogo que atuar em áreas externas as salas de aula, não
haveria a necessidade da docência como pré-requisito para o exercício da função, visto
que, seu âmbito de trabalho não está vinculado as necessidades pedagógicas da sala de
aula. Entretanto, o pedagogo docente, traz contribuições significantes nas atividades
exercidas no interior da escola, colaborando para um trabalho mais qualitativo de forma
geral. “[...] é a formação docente para o caso de o pedagogo assumir as funções dos
especialistas de ensino, ou seja, quando ele exerce as ações pedagógicas de suporte ao
trabalho docente em escolas ou em outras instâncias do sistema escolar” (Pinto, 2011, p.
190).
Contudo, debater sobre a formação do pedagogo ainda que seja tarefa obrigatória
na definição deste profissional dentro do ambiente educacional, ainda se faz
imprescindível pensar que nem todo território brasileiro dispõe tal profissional para estar
atuando nas redes de ensino de nosso país. Prova disso, está na pesquisa realizada por
Pascoal (2010, p. 115) onde apenas “dos 26 estados mais o Distrito Federal, 13 possuem
o orientador educacional na sua rede escolar estadual”. Os estados que possuem a
orientação educacional são: Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá, Tocantins, Piauí,
Paraíba, Distrito Federal, Minas Gerais, Espirito Santo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio
Grande do Sul. Posto isso, ainda que a lei de regulamentação da profissão seja destinada
a nível nacional, não temos um amparo legal que reafirme a exigência desta função
36
cooperando nas práticas escolares do nosso Brasil. Ainda ficam de fora metade de uma
nação que não abrange o exercício da orientação educacional.
37
SEÇÃO IV
A ATUAÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NO COTIDIANO
ESCOLAR
Segundo Santos, (2012, p. 169) na Grécia antiga, o pedagogo era aquele escravo
que tomava conta das crianças e as conduzia ao local de aprendizagem, isto é, até o mestre
para receber ensinamentos. Mais tarde, passou a significar o próprio educador, visto que
era ele quem se encarregava da educação das crianças. Atualmente, considera-se
pedagogo todo e qualquer profissional da educação graduado em Pedagogia, cuja função
é a de articular o trabalho didático-pedagógico na escola e em outras instituições públicas
e privadas que necessitem de seu serviço (empresas, hospitais, universidades,
organizações não governamentais etc.).
Orientador educacional. O que é esta função? Essa pergunta me consome todos os
dias quando penso em que eu estou me formando academicamente. Acredito que todo
profissional que se dedica verdadeiramente a sua função, que aqui, já não permito chamar
de função ou cargo, mas, sim de parte integrante da construção de seu ser, rumina-se
constantemente sobre sua prática. Cito a construção do ser, pois ao nascer eu era um bebê
desconhecendo a vida. Cresci, me tornei uma criança onde minhas únicas necessidades
eram se alimentar, brincar e ser amada. Ingressei na escola e já incorporei papéis sociais,
o de filha e o de estudante. Ao optar por um ensino médio profissionalizante recebi o
certificado de habilitação para lecionar da educação infantil ao 5ºano do Ensino
Fundamental, me tornando filha, estudante e então professora. E hoje ao optar por fazer
um 3ºgrau em uma universidade pública eu escolhi ser pedagoga.
É bem verdade que as consequências da vida nos encaminham para lugares que
não almejávamos, que encontramos pessoas que nos surpreenderam e obstáculos quase
intransponíveis. O que quero dizer e tentar deixar o mais claro possível, é que as decisões
que nós tomamos formam nosso ser. Neste exato momento, eu sou Jéssica de Souza
Borges: filha, professora e pedagoga. Ainda não sou mãe e muito menos esposa, todavia,
em algum momento eu me tornarei essa mulher. Quando ouvimos a pergunta: “Quem é
você?” imediatamente iremos responder nome, profissão, onde residimos, se temos
filhos(as) ou se temos cônjuge ou não. Geralmente respondemos qualificando nossas
funções e papéis para dizermos quem somos. Penso que hoje a palavra que define sua
pessoa em primeira instância é a sua profissão, ou algo relacionada a sua família. Sendo
algo que lhe define e isso acontece com muita frequência, ao menos, no meu cotidiano.
Na área das ciências sociais, e principalmente na educação, campo de onde falo, as
relações entre indivíduo e função se atravessam. Por isso, questiono tanto a função do
Orientador Educacional porque é quem realmente a minha alma deseja um dia ser.
Todavia, esse enfrentamento criado por mim não será compreendido de maneira
objetivada, imparcial ou neutra, muito pelo contrário, eu sou e estou apaixonada pelos
devaneios do cotidiano escolar, pelos seres humanos que os compõem, por tudo que os
constrói.
Agora, trago uma reflexão bem contundente no universo acadêmico para nós
graduandos que precisamos “executar” (desculpe a força da palavra, mas é preciso de
rigor neste momento) nosso trabalho de pesquisa para concluirmos um curso a nível de
3º grau. Como pensar e elaborar uma pesquisa que aos olhos de outrem venha agregar
valor e conhecimento de maneira equânime, reta ou apartidária? Sendo justo e dissecando
melindrosamente cada parte do objeto a ser estudado, ou então elencando todos os
manuais e documentos que regeriam e regulamentasse o meu objeto de pesquisa? Não.
Isso aos meus olhares é raso, desapaixonado e a mim, não agrega valor. Pois eu estou
refletindo sobre pessoas, seus sentimentos, seus gestos, sua prática. Seres humanos que
como eu e você, caro leitor, estamos irrigados de tantas outras pessoas, sentimentos e
realidades. E para com pensamentos, atividades e sensações tão tênues preciso me
acomodar investigativamente para esta prática, que me afeta grandiosamente.
Certa vez li a respeito desse rigor científico que tanto nos estarrece. Digo que a
leitura conversa com o leitor, pois a obra se intitula Conversas com quem gosta de ensinar
ordem biológica (criança com fome não pode aprender bem, nem
criança doente, nem criança marcada por fatores hereditários adversos),
psicológica, social, econômica política. Que cientista está em condições
de pesquisar este fenômeno, na sua globalidade? Nenhum. Não é
possível dominar todas as áreas do saber. Qualquer análise
interdisciplinar, empreendida por um pesquisador, tem,
necessariamente, de ser frouxa do ponto de vista metodológico. Mas é
isso que a comunidade científica não perdoa! Rigor acima de tudo!
Reprimidos pelo fantasma do rigor os pesquisadores se põem a campo
não em busca de problemas interessantes e relevantes, mas de
problemas que podem ser tratados com os magros recursos
metodológicos de que dispõem. [..] A obsessão com o rigor,
especialmente quando se leva em consideração que este será o critério
básico a ser invocado pelas bancas de tese de mestrado e doutoramento,
força o pesquisador a abandonar os problemas importantes (são muito
complexos) e a eleger problemas triviais que são passíveis de
tratamento metodológico fechado (ALVES, 1993, p. 76).
E
ra um dia comum de estágio de observação pelo PIBID na
escola municipal da qual eu conhecia e já fazia parte de
sua rotina há alguns meses. Quando em uma das diversas
datas efemérides, ou seja, datas comemorativas que a
instituição comemorava, a escola se organizou para realizar uma
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Segundo Garcia (2012, p. 21) “os povos que não conhecem a sua história estão
condenados a repeti-la”. Pensando nisso, relembrar momentos marcantes de conquista
social é um movimento importante para a memória coletiva. Assim como, reavivar as
lembranças das grandes vitórias faz de nós sujeitos mais participativos e cientes dos
processos pelos quais já se batalharam para a apreensão daquele determinado triunfo. E
esses ensinamentos podem ocorrerem primeira instância, no grupo familiar e em segunda
instância, no ambiente escolar com mais frequência. Sendo assim, uma das maneiras que
a escola encontrou de produzir conhecimento histórico, para com as crianças que ainda
estando na tenra idade não se apropriaram de tais memórias, introduzem de forma lúdica
as datas comemorativas no cronograma escolar. As datas comemorativas ou efemérides
são datas importantes e que merecem ser relembradas e celebradas principalmente pelo
seu valor histórico, político e econômico.
[...] Para este Brasil, que nas últimas décadas foi capaz de consolidar a
democracia e de promover o desenvolvimento econômico com inclusão
social, as Efemérides (...) surgem como uma recordação poderosa do
esforço que puseram os fundadores de nossa nacionalidade na
construção deste imenso patrimônio, o qual as gerações atuais têm a
responsabilidade de preservar. Para que possamos enfrentar os desafios
do presente e perseverar no caminho da solução dos problemas que
ainda nos angustiam, é sempre inspirador o exemplo dos personagens e
dos eventos do passado. (GARCIA, 2012, p. 21)
Não seria a rotina do dia que lhe imputa esvaziamento. O que lhe paralisa é o
apartamento do pensar, do fazer-se sem ação reflexiva. As ações maquinais estão em
grande parte envolvidas responsavelmente pela escassez do fazer mental. Repenso a ação
do orientador educacional em registrar somente para efetivar seu modelo de trabalho para
um outro sujeito onde, no momento de produção da ação, não lhe disseminou valor,
atenção e tampouco, afeto. Quando na realidade, os que exalavam apego e admiração pelo
movimento da ação estavam sendo registrados todavia, não sentidos.
Antes de começar a elencar os pontos dos quais tenho a intenção de dialogar com
a minha narrativa, gostaria de chamar a atenção para a denominação da função deste
especialista de ensino “Orientador Pedagógico”. Nas pesquisas realizadas até aqui, pouco
se tem usado tal nomenclatura para definir a profissão do pedagogo. Segundo Libâneo,
“não se faz distinção relevante entre supervisor pedagógico e orientador educacional:
quanto mais cresce a convicção da unidade do ato pedagógico na sua diversidade, menos
sentido faz a fragmentação do atendimento ao professor e ao aluno” (1983, n.p). O termo
pedagógico aparece geralmente fazendo referência as ações, práticas, tendências, ao
ensino, as atividades, mas poucas vezes na função de orientação.
Depois de tomada ciência de tal atribuição, consigo enxergar o motivo pelo qual
o orientador educacional realizava suas “rondas” na escola caminhando de sala em sala,
perguntando os professores (as) se estava ocorrendo tudo bem naquele dia de aula. Ou
quando os alunos eram induzidos a ficar na sala dos professores junto com a orientadora,
se permanecessem fazendo bagunça. É preciso lembrar que era uma instituição que era
uma instituição de educação infantil com crianças de 4 a 6 anos de idade. Não pretendo
relembrar tais memórias presentes em minha narrativa com o objetivo de julgar os
atuantes desta prática obsoleta e invasiva para com os alunos. Mas sim, indagar como as
ações mecanizadas e por vezes, incorporadas a nossa rotina nos fazem tão rasos e
empobrecidos de nós mesmos. Necessitamos pensar. Pensar para agir, pensar para falar,
pensar para fazer, pensar para ser, repensar nosso pensar. A autora Carvalho (1994, p.
119) reforça “Pensar-se, portanto, facilita o entendimento com os outros, a compreensão
das circunstancias e evita a auto projeção”. Ainda contraponho esta atribuição, aponto as
palavras de outra autora na área orientação educacional
a orientação, hoje, está mobilizada com outros fatores que não apenas e
unicamente cuidar e ajudar os ‘alunos com problemas’. Há, portanto,
necessidade de nos inserirmos em uma nova abordagem de Orientação,
voltada para a ‘construção’ de um cidadão que esteja mais
comprometido com seu tempo e sua gente. Desloca-se,
significativamente, o ‘onde chegar’, neste momento da Orientação
Educacional, em termos do trabalho com os alunos. Pretende-se
trabalhar com o aluno no desenvolvimento do seu processo de
cidadania, trabalhando a subjetividade e a intersubjetividade, obtidas
através do diálogo nas relações estabelecidas (GRINSPUN, 1994, p.
13).
SEÇÃO V
CONCLUSÃO
Tenho uma convicção muito forte dentro de mim ao refletir sobre todas as
interrogações abordadas neste trabalho, é a de que somos seres inacabados e em
incessante transformação. Permaneço assim como em um movimento de experiência por
se fazer constantemente. “Fazer uma experiência quer dizer, portanto, deixar-nos abordar
em nós próprios pelo que nos interpela, entrando e submetendo-nos a isso” Heidegger
(1987, p. 143 apud Larrosa 2006, p.98). Tentamos aprender para melhorar para nós, para
o outro, por nós e pelo outro. É vivenciar a polivalência das ações em constante mutação
comigo mesmo, indo e voltando ao encontro do outro, me refazendo o tempo todo.
A nossa escola é, com certeza, um dos âmbitos mais importantes da sociedade.
Tendo por função primordial o ato de ensinar, que por si só não podemos reduzi-la a
missão empobrecida de transferir conhecimento, ela ganha palco para voos mais amplos.
Essa instituição se organiza para atender as reformulações do ser humano do nosso tempo,
onde o raciocínio lógico e a velocidade com que as informações transitam de forma
rápida, e bem como a criatividade são necessários para adentrar o mundo dos que a
habitam todos os dias. Assim sendo, trago a definição do papel da escola nas palavras de
Assis quando
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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: Cortez, 1993. – (Coleção questões da nossa época ; v. 11)
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397 In: PEREIRA, Ana Luísa. O ginásio: um panóptico de Bentham para o cuidado de
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educação dos mais pobres. Revista Brasileira de Educação, v. 17, n. 49, p. 11-37, 2012.
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PIMENTA, Selma Garrido. Pedagogo na escola pública (O). Edições Loyola, 2002.
ANEXOS
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