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SALA DE

RECURSOS
MULTIFUNCIONAIS

Alex Ribeiro Nunes


A tecnologia assistiva e
suas possibilidades: tipos,
características, recursos e
contexto escolar
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
„ Diferenciar os diferentes tipos de tecnologia assistiva.
„ Reconhecer a importância do uso dos materiais adaptados.
„ Identificar o processo de avaliação e seleção de recursos de tec-
nologia assistiva, a partir do estudo de caso, com o enfoque no
aluno, contexto escolar e características das tarefas.

Introdução
Aqui você terá acesso às ideias e discussões que perpassam por este
arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou
ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, con-
sequentemente, promover vida independente e inclusão. Essa é a
intenção deste capítulo: proporcionar conhecimento e ferramentas
para que você possa desempenhar com excelência seus estudos e,
consequentemente, as suas funções. Então vamos lá!

Reflexões sobre o contexto escolar


Alex Ribeiro Nunes

O Já existe em nós, hoje, uma consciência que nos leva a perceber o caráter
homogeneizador e monocultural da escola, bem como a necessidade de romper
com esta para, assim, pensar e construir práticas educativas em que questões
como as deficiências e a inclusão se façam cada vez mais presentes nas discus-
sões e no cotidiano escolar.
Revisitar o conceito de cotidiano escolar torna-se fundamental, pois é neste
espaço que emergem as relações e as possibilidades.
Sendo assim, Gallo (2007) entende que:

Podemos tomar o cotidiano da escola como o conjunto das coisas e situações


que acontecem na sala de aula e para além da sala, na instituição escolar como
um todo, e quero experimentar aqui a ideia de que os acontecimentos coti-
dianos em tal espaço são pedagógicos. Em outras palavras, na escola não se
aprende apenas na formalidade da sala de aula, mas também na informalidade
das múltiplas relações e acontecimentos que se dão no dia a dia da vida na
instituição. (GALLO, 2007. p. 21)

Outra contribuição pertinente para uma nova compreensão das relações entre
escola e processos inclusivos diz respeito a pensar a concepção da escola como
um lugar de cruzamento de diferenças, cuja responsabilidade se faz na me-
diação reflexiva das suas diferenças plurais.
Evidenciar as convenções nas quais as questões das deficiências e inclusão na
escola estão inseridas é uma forma de apresentá-las, analisá-las e problemati-
zá-las, dando a oportunidade de discutir para entender e, se possível, descons-
truir alguns aspectos “estáticos” e “indiscutíveis”.
É importante que surjam novas perspectivas de desconstruções dentro da es-
cola, que sejam criados novos vieses que reformulem e possam permitir novos
rumos ao cotidiano escolar a partir de ressignificações.
No momento atual, as questões sobre os espaços inclusivos não podem ser ig-
noradas pelas educadoras e educadores, sob o risco de que a escola se distancie
cada vez mais deste universo e das diferentes dimensões dos sujeitos.
As preocupações aqui apresentadas são relevantes a partir de uma ansiedade
que vem se acentuando em nossas escolas, entre professoras e professores
que se encontram perdidos em meio às questões sobre educação especial e
inclusão, o que tem gerado uma crise no cotidiano escolar. Isso exige que haja
um enfrentamento a esta crise atual da escola, não de maneira superficial, mas
a partir de problematizações, reflexões e transformações nas práticas educa-
tivas cotidianas e na estruturação do AEE e de Salas de Recursos.
Você sabe o que é uma Sala de Recursos Multifuncionais
e para que ela serve?

SARTORETTO, M. L.; BERSCH, R.


Alex Ribeiro Nunes (adaptação)

As Salas de Recursos Multifuncionais não são apenas salas de aulas adap-


tadas, são muito mais que isso; são espaços de significação, de superação e de
aprendizagens diversas. Portanto, considerá-las apenas como espaços físicos
localizados nas escolas públicas onde se realiza o Atendimento Educacional
Especializado – AEE passa a ser muito simples e muito restrito para algo que
carrega tanta significância.
Os espaços das Salas de Recursos Multifuncionais possuem mobiliário, mate-
riais didáticos e pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos espe-
cíficos para o atendimento dos alunos que são o público alvo da Educação Es-
pecial e que necessitam do AEE no contraturno escolar. Surgem, então, como
“uma luz” para aqueles que, muitas vezes, não eram nem vistos no contexto
escolar.
A organização, planejamento e a administração deste espaço são de responsa-
bilidade da gestão escolar e o professor que atua neste serviço educacional deve
ter formação para o exercício do magistério de nível básico e conhecimentos
específicos de Educação Especial, adquiridos em cursos de aperfeiçoamento e
de especialização. Este fica responsável por ordenar os grupos de alunos para
atendimento, além de organizar a agenda e as atividades a serem realizadas.
Outra ação do professor é elaborar os relatórios de atendimento e programar
as reuniões devolutivas aos pais, para que os mesmos possam acompanhar o
desempenho de seus filhos.
Atendimento Educacional Especializado (AEE): é um atendimento relacio-
nado à área de educação especial que identifica, analisa, elabora e organiza
recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a
devida participação e inclusão dos alunos, considerando suas necessidades e
deficiências específicas.
A proposta pedagógica oferecida no atendimento educacional especializado
é necessariamente diferente do ensino escolar regular e não pode caracteri-
zar-se como um espaço de reforço escolar ou complementação das atividades
escolares. São exemplos práticos de atendimento educacional especializado o
ensino da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e do código Braille, a intro-
dução e formação do aluno na utilização de recursos de tecnologia assistiva,
como a comunicação alternativa e os recursos de acessibilidade ao compu-
tador, a orientação e mobilidade, a preparação e disponibilização ao aluno de
material pedagógico acessível, entre outros.

A tecnologia assistiva e sua relação com a Sala


de Recursos Multifuncionais

A tecnologia assistiva é, na verdade, uma área do conhecimento, de caracte-


rística interdisciplinar e diversa, que engloba ideias, produtos, recursos, me-
todologias, estratégias, práticas, serviços e técnicas que objetivam promover
a habilidade funcional, relacionada à atividade e integração de pessoas com
deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia,
independência, qualidade de vida, inclusão social e dignidade.
A tecnologia assistiva é, portanto, um recurso ou uma técnica utilizada para
ampliar ou possibilitar a execução de uma atividade necessária e pretendida
por uma pessoa com deficiência. Na perspectiva da educação inclusiva, a tec-
nologia assistiva é voltada a favorecer a participação do aluno com deficiência
nas diversas atividades do cotidiano escolar, vinculadas aos objetivos educa-
cionais comuns, estando atravessada à criatividade e ao compromisso com o
bem-estar do outro.
Exemplificando, a tecnologia assistiva na escola, pode ser:

„ os materiais escolares e pedagógicos acessíveis;


„ os recursos tecnológicos adaptados;
„ a comunicação alternativa;
„ os recursos de acessibilidade ao computador;
„ os recursos para mobilidade, localização;
„ a sinalização;
„ o mobiliário que atenda às necessidades posturais;
„ as adaptações e reformas estruturais, dentre outros.
A tecnologia assistiva e a proposta da educação inclusiva

É na sala de recursos multifuncionais que o aluno irá aprender a utilizar as fer-


ramentas de tecnologia assistiva, ou seja, é o local apropriado, tendo em vista o
desenvolvimento da autonomia e independência. Porém, não podemos manter
o recurso de tecnologia assistiva exclusivamente na sala multifuncional para
que, somente ali, o aluno possa utilizá-lo.
A tecnologia assistiva se reforça quando há a continuidade em outros espaços,
seja com o apoio da família, de amigos ou de outras pessoas e profissionais
que acompanham a criança. Assim há uma reafirmação das aprendizagens,
há uma naturalização e valorização do processo e, consequentemente, uma
prática para o aperfeiçoamento das habilidades funcionais.
No atendimento educacional especializado, o professor fará, junto com o aluno,
a identificação das barreiras que ele enfrenta no âmbito educacional comum
e que o impedem ou o limitam de participar dos desafios de aprendizagem
existentes na escola. Identificando essas situações e também identificando as
possíveis habilidades e capacidades do aluno, o professor ou professora pes-
quisará e implementará recursos ou estratégias que o auxiliarão, promovendo
ou ampliando suas possibilidades de participação e atuação nas atividades,
nas relações, na comunicação e nos espaços da escola. E, assim, são dadas as
oportunidades de navegar entre as diferentes formas de aprender.
Enfim, a tecnologia assistiva só encontra um sentido real quando acompanha
a criança para além do contexto escolar e das ações regulares da escola. O tra-
balho e as atividades desenvolvidas na sala se destinam a avaliar a melhor al-
ternativa de tecnologia assistiva, produzir material para o aluno e encaminhar
estes recursos e materiais produzidos, para que eles sirvam ao aluno na escola
comum, junto com a família e nos demais lugares.

A tecnologia assistiva é uma área de atuação


da educação ou é exclusiva da área clínica?

O tema da tecnologia assistiva nasceu associado à ideia de reabilitação e era


inicialmente vinculado à prática de profissionais da saúde. A mudança de en-
tendimento sobre o que é a deficiência e especialmente o novo modelo biop-
sicossocial e ecológico de compreendê-la como o resultado da interação do
indivíduo, que possui uma alteração de estrutura e funcionamento do corpo,
com as barreiras que estão impostas no meio em que vive; mostram-nos que
os impedimentos de participação em atividades e a exclusão das pessoas com
deficiência são hoje um problema de ordem social e tecnológica, e não somente
um problema médico ou de saúde.
As grandes e mais importantes barreiras estão, muitas vezes, na falta de conhe-
cimentos, de recursos tecnológicos, na não aplicação da legislação vigente, na
forma como a sociedade está organizada, de forma a ignorar as diferentes de-
mandas de sua população, promovendo, assim, a exclusão e a marginalização.
Nessa perspectiva, o conceito e a prática da tecnologia assistiva também evo-
luem, saindo da concepção de recursos médicos ou clínicos para um bem de
consumo de um usuário que busca um apoio tecnológico para a resolução de
um problema de ordem pessoal e funcional. Nesse sentido, o usuário deixa de
ser um paciente e assume o papel de quem busca no âmbito da tecnologia assis-
tiva a informação sobre o que é mais apropriado para suprir a sua deficiência e
os recursos disponíveis para o seu caso específico.
A tecnologia assistiva envolve hoje várias áreas do conhecimento, tais como a
saúde, a reabilitação, a educação, o design, a arquitetura, a engenharia, a infor-
mática, entre outras. É algo amplo e com uma dimensão extraordinária, uma
enorme possibilidade de alcance e que avança cada vez mais.
Na prática, em se tratando de crianças com deficiência, o lugar por excelência
da atuação da tecnologia assistiva é a sala de recursos multifuncionais, onde
se oferece um serviço que identifica, elabora e disponibiliza recursos que am-
pliam a participação do aluno com deficiência nos desafios educacionais pro-
postos pela escola comum e pulveriza tais ideias para os demais espaços.
Por fim, vale ressaltar que a tecnologia assistiva é, acima de tudo, um recurso
de seu usuário e a equipe coloca seu conhecimento à disposição para que ele
encontre o recurso ou a estratégia que atenda à sua demanda de atuar e par-
ticipar de tarefas e atividades de seu interesse. É, de fato, uma possibilidade
significativa de inclusão, de agregação e de integração entre as pessoas, prin-
cipalmente com deficiências.
Referência
GALLO, Sílvio. Acontecimento e resistência: educação menor no cotidiano da
escola. In: CAMARGO, A. M. F. de; MARIGUELA, M. (orgs.). Cotidiano Escolar: Emergência
e invenção. Piracicaba: Jacintha Editores. 2007.

SARTORETTO, M. L.; BERSCH, R. Atendimento Educacional Especializado.


Disponível em: <http://www.assistiva.com.br/aee.html. 2017>. Acesso em: 19 maio
2017.
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