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BIOLOGIA E MANEJO DE PLANTAS DANINHAS

I. BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS


1. DEFINIÇÕES
Todos os conceitos se baseiam na indesejabilidade em
relação a uma atividade.

Inicialmente: erva daninha


Shaw (1956): “Planta daninha é qualquer planta que ocorre onde
não é desejada.”

Cruz (1979): “É uma planta sem valor econômico ou que compete,


com o homem, pelo solo.”

Fischer (1973): duas definições


- “ Plantas cujas vantagens ainda não foram descobertas.”
- “Plantas que interferem com os objetivos do homem em
determinada situação.”

Silva e Silva (2007): “Uma espécie só deve ser considerada


daninha se estiver direta ou indiretamente prejudicando
determinada atividade humana.”

Deuber (1997): Planta Infestante. “Plantas podem estar presentes


sem causar qualquer tipo de dano ou interferência.”
Daninha: é um atributo humano, provém da vontade de agir com
daninhesa. Os prejuízos causados é resultado natural das leis e
relações biológicas.
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2. ORIGEM
Existem duas grandes teorias:
a) Hidrossere: afirma que a vida originou-se no meio líquido;
b) Xerossere: segundo a qual a vida teve origem em terra firme.

Na verdade, é possível que tenha surgido quando o homem


iniciou suas atividades agrícolas, separando as benéficas das
maléficas. Assim, o próprio homem é responsável pela evolução
dessas plantas.

3. ESTABELECIMENTO E PROPAGAÇÃO
Durante o processo de evolução das plantas daninhas,
diversos mecanismos lhes conferiram alta agressividade. Além dos
mecanismos de agressividade, mecanismos de sobrevivência foram
aprimorados, permitindo à espécie persistir no ambiente mesmo em
situações adversas.

O estabelecimento de uma determinada espécie daninha em


uma área envolve a agregação e a migração, além da competição
pelos recursos do meio.
Os órgãos que garantem a sobrevivência das espécies são
seguramente os que proporcionam armazenamento de reservas
energéticas, aliados às estruturas de reprodução vegetativa. Assim,
sementes, rizomas, tubérculos, estolões e bulbos colaboram com a
persistência das plantas daninhas em áreas cultivadas.
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As plantas daninhas apresentam estratégia de evolução e


sobrevivência tipo R, ou seja, rápido crescimento vegetativo, ciclo
de vida relativamente curto, produção grande número de sementes
viáveis e com mecanismos de quiescência e dormência.
- Quiescência: repouso metabólico da semente devido a condições
externas desfavoráveis;
- Dormência: estado de repouso devido a condições intrínsecas
(física, mecânica ou fisiológica) inerentes à própria semente.
As características que garantem a sobrevivência da espécie
também contribuem para sua maior agressividade competitiva.

Tabela 1. Mecanismos de sobrevivência e agressividade


apresentados pro algumas espécies de plantas daninhas
Mecanismo
Sobrevivência Agressividade
Alta produção de sementes Elevada capacidade de
produção de dissemínulos
Ampla dispersão das sementes Facilidade de dispersão dos
propágulos
Dormência das sementes - Manutenção da viabilidade
mesmo em condições
desfavoráveis;
- Grande longevidade dos
dissemínulos
Germinação escalonada das - Grande desuniformidade no
sementes processo germinativo;
- Capacidade de germinar e
emergir de grandes
profundidades;
- Rápido desenvolvimento e
crescimento inicial
Reprodução assexuada Mecanismos alternativos de
reprodução
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4. CLASSIFICAÇÃO
- Quanto ao Ciclo Vegetativo:
a) Anuais: são plantas que germinam, desenvolvem, florescem,
produzem sementes e morrem dentro de um ano.
b) Bienais: são plantas cujo completo desenvolvimento se dá
normalmente em dois anos.
c) Perenes: são aquelas que vivem mais de dois anos e são
caracterizadas pela renovação do crescimento, ano após ano, a
partir do mesmo sistema radicular.

- Quanto ao hábito de Crescimento:


a) Herbáceas: plantas tenras de baixo porte.
b) Arbustivas: apresentam ramificações desde a base.
c) Arbóreas: apresentam ramificações bem definidas acima da base
do caule.
d) Trepadeiras: beneficiam-se de outras plantas como suporte para
o crescimento.
e) Hemiepífiticas: iniciam seu desenvolvimento como trepadeira e,
posteriormente, emitem sistema radicular.
f) Epifíticas: crescem sobre outras sem a utilização de
fotoassimilados da hospedeira.
g) Parasitas: cresce sobre a outra, beneficiando-se dos
fotoassimilados da espécie parasitada.
- Quanto ao Habitat:
a) Terrestres: vivem sobre o solo
b) Baixada: desenvolvem em solo orgânico e úmidos;
c) Aquáticas: marginais, flutuantes, submersas livres, submersas
ancoradas, emergentes;
d) Indiferentes: vivem tanto dentro como fora da água;
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e) Parasitas: vivem às custas de outra planta hospedeira.

- Quanto à morfologia:
a) monocotiledôneas: principalmente gramíneas;
b) Eudicotiledôneas: muitas famílias;
c) Ciperáceas: todas as espécies do gênero Cyperus.

5. PREJUÍZOS
a) Prejuízos Diretos:
- Redução da produtividade;
- Reduzem qualidade do produto comercial;
- Responsáveis pela não-certificação de sementes de culturas;
- Podem intoxicar animais domésticos em pastagens;
- Parasitam fruteiras, milho e plantas ornamentais;
- Reduzir o valor da terra.

b) Prejuízos Indiretos:
- Hospedeiras alternativas de organismos nocivos às espécies
cultivadas;
- Interferem no processo de colheita;
- Podem criar condições favoráveis ao desenvolvimento de
vetores de doenças e animais peçonhentos;
- São inconvenientes em áreas industriais, vias públicas,
ferrovias e refinarias de petróleo;
- Dificultam navegação, geração de energia, manejo da água,
aumentam custo irrigação, prejudicam a pesca.
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6. ALELOPATIA
Plantas superiores desenvolveram notável capacidade de
sintetizar, acumular e secretar grande variedade de metabólitos
secundários – aleloquímicos.
Os aleloquímicos, quando liberados no ambiente, promovem
uma interação bioquímica entre plantas, incluindo microrganismos,
cujos efeitos podem ser deletérios ou benéficos.
Assim, alelopatia seriam compostos secundários que,
lançados no ambiente, afetam o crescimento, o estado sanitário, o
comportamento ou a biologia da população de organismos de outra
espécie.
- Órgãos produtores de aleloquímicos: folhas, caules, raízes, flores,
frutos e sementes.
- Liberação dos aleloquímicos: planta viva (volatilização, exsudação
radicular, lixiviação) e pela planta morta (decomposição de folhas
ou outras partes da planta).
- Natureza dos aleloquímicos: maioria são compostos terpenóides
(fitoalexinas, flavonóides, chalconas, naftoquinonas, saponinas,
triterpenos, etc.).
- Relações alelopáticas:
a) Plantas daninhas sobre culturas e outras plantas daninhas:
situação mais comum;
b) Culturas sobre plantas daninhas: não é muito comum, sendo
conhecidos poucos casos.
Ex: restos de nabo forrageiro, canola, aveia e centeio apresentam
razoável efeito alelopático sobre Brachiaria plantaginea, Cenchrus
echinatus e Euphorbia heterophylla;
c) Alelopatia entre culturas: relacionado com a rotação e
consorciação;
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d) Alelopatia de coberturas mortas: utilizado no conceito de plantio


direto.
Ex.: mucuna afetando desenvolvimento de Digitaria horizontalis, e
Hyptis lophanta.

7. COMPETIÇÃO ENTRE PLANTAS DANINHAS E CULTURAS


Para germinar, crescer e reproduzir-se, completando seu ciclo
de vida, toda planta necessita de água, luz, calor, gás carbônico,
oxigênio e nutrientes minerais em quantidades adequadas. Estes
fatores de crescimento e sobrevivência podem tornar-se escassos à
medida que a planta se desenvolve e à medida que aumenta a
quantidade de outras plantas no mesmo espaço – COMPETIÇÃO.
- Decandole (1820): afirma que todas as plantas de determinado
lugar estão em estado de guerra entre si.
- Weaver e Clements (1938): a competição é a luta que se inicia
entre indivíduos quando uma planta está em um grupo de outras
plantas ou quando esta é rodeada por seus descendentes.
- Odum (1969): competição significa uma luta por um fator e, em
nível ecológico, a competição torna-se importante quando dois ou
mais organismos lutam por algo que não existe em quantidade
suficiente para todos.
- Locatelly e Doll (1977): define competição como a luta que se
estabelece entre a cultura e as plantas daninhas por água, luz,
nutrientes e dióxido de carbono disponíveis em determinado local e
tempo.
NOTA: as plantas daninhas sempre levam vantagem competitiva
sobre as plantas cultivadas.
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- Tipos de competição: intra-específica e interespecífica.

- Fatores passíveis de competição


a) Água: plantas daninhas possuem elevada capacidade de
sobrevivência com pouca água no solo, são capazes de usar menos
água por unidade de matéria seca (EUA = eficiência no uso da
água) e baixo coeficiente transpiratório.
b) Luz: Difícil de ser mensurado e está relacionado com a rota
fotossintética que a planta apresenta (C3 – ineficientes, C4 –
eficientes, CAM).
Relação CO2 fixado/ATP/NADPH:
C3 – 1:3:2
C4 – 1:5:2  necessitam de mais energia luminosa e se for
reduzido o acesso à luz passarão a perder a competição.
c) CO2: de forma similar
C3 – 1:3:2  necessitam de mais gás carbônico e se for reduzido
o acesso à luz passarão a perder a competição.
C4 – 1:5:2
d) Nutrientes: as plantas daninhas apresentam grande capacidade
de extrair do ambiente os elementos essenciais ao seu crescimento.
Depende da quantidade e das espécies envolvidas na convivência.
Ex: Richardia brasiliensis (poaia-branca) acumula 10 x menos N, 20
x menos P e 5 x menos K quando comparada com a soja. No
entanto, alta infestação representa elevada remoção desses
nutrientes.
Deve-se considerar também os teores de nutrientes na
matéria seca.
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Ex.: Desmodium tortuosum pode acumular até 2,4 x mais P g-1 MS


comparada com soja.
e) Espaço: no solo e na parte aérea, o qual pode limitar a resposta
da planta.

8. INTERFERÊNCIA E PERÍODO CRÍTICO DE COMPETIÇÃO


Interferência: conjunto de ações que afetam determinada cultura
em decorrência da comunidade infestante local.

 Quanto maior for o período de convivência múltipla


(cultura – plantas daninhas), maior será o grau de
interferência.
 Depende das manifestações de fatores ligados à
comunidade infestante, à própria cultura e à época e
extensão da convivência de ambas.

- Terminologia para períodos e convivência:


a) Período anterior à interferência (PAI): espaço de tempo, após
a semeadura ou o plantio, em que a cultura pode conviver com a
comunidade de plantas daninhas antes que a interferência se
instale de maneira definitiva.

b) Período total de prevenção da interferência (PTPI): é o


período, a partir do plantio ou da emergência, em que a cultura
deve ser mantida livre de plantas daninhas para que sua produção
não seja afetada quanti e qualitativamente.

c) Período crítico de prevenção da interferência (PCPI): período


em que a cultura deve ser mantida livre das plantas daninhas até o
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momento em que elas não mais interfiram na produtividade da


cultura.
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Fonte: Silva e Silva (2007).


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II. LEVANTAMENTOS DE OCORRÊNCIA DE PLANTAS


DANINHAS

Antes de se adotar um método de controle para o manejo das


plantas daninhas, a primeira providência que precisamos a tomar é
o levantamento da condição de infestação dessas plantas.
 O levantamento é fundamental, pois a partir dele é que
podemos definir o que será feito, como e quando.

Geralmente, as espécies de plantas daninhas estão dispersas


de forma desigual ou agrupadas, em função dos diferentes usos ou
condições locais.
Portanto, o levantamento envolve dois aspectos:
a) Identificação das espécies e
b) Frequência de cada uma delas.

Os levantamentos podem ser organizados para diferentes


abrangências (áreas pequenas, médias ou regionais) e feitos de
maneira semelhante ao método utilizado para coleta de amostras
de solo para análise (caminhar em ziguezague, pontos a cada 20-
30 metros, ou mais)  utilizar uma ficha para cada unidade
de observação.
Também é conveniente registrar as épocas e os meios de
introdução de cada espécie na área.
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MODELO DE FICHA PARA LEVANTAMENTO


(INFORMAÇÕES DA ÁREA)
Localização:
Uso do solo:
Tipo de solo
Declividade
Época do ano:
Clima:
Ventos dominantes:
Direção:
Frequência:

Intensidade:
Tamanho da
área:
Outras informações:

MODELO DE FICHA PARA LEVANTAMENTO


(INFORMAÇÕES DAS ESPÉCIES)
Pontos amostrados
Espécies 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 ...
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As notas devem ser bem definidas e representativas e podem


abranger a porcentagem do total de espécies presentes para cada
unidade em função da área coberta.
No final do levantamento, as pessoas que o conduziram
devem tirar as médias de suas notas e listar por ordem de
frequência e cobertura da área em ordem decrescente.

Exemplo:
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III. BANCO DE SEMENTES


É a designação normalmente utilizada para o conjunto de
sementes existentes no solo, nas suas camadas superficiais.
 representam potenciais plantas infestantes, visto que, de
alguma forma, poderão vir a germinar e intervir com as plantas
cultivadas.
Banco de Semente do Solo:
- Solo contém entre 2.000 a 50.000 sementes/m2 em uma faixa de
10 cm profundidade;
- Apenas 2 a 5% germinam. Demais permanecem dormentes;
- Maiores taxas de germinação são observadas em solo submetido
a movimentação mecânica (arado, grade, enxada rotativa).
 Consequência: composição florística pode mudar de ano para
ano.

Na prática agronômica, o que se visa é manter o banco de


sementes em nível bastante reduzido para evitar grandes
infestações de plantas indesejáveis. O tipo de manejo do solo,
condições de aeração, encharcamento, adensamento interferem
diretamente na composição do banco de sementes (redução ou
aumento).

Existem duas formas eficazes de redução do banco de


sementes. O primeiro método é o preventivo, através da qual se
impede a formação das sementes e frutos das plantas existentes no
local. O segundo é o não revolvimento da camada superficial do
solo, porém de ação mais lenta devido o fato das sementes mais
profundas perderem gradativamente a viabilidade.
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III. MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS


A escolha do método de controle das diversas espécies de
plantas daninhas na área de interesse deve levar em conta as
condições locais para o uso de mão-de-obra e de equipamentos,
sem se esquecer dos aspectos ambientais e econômicos.
Para adoção de qualquer medida de controle, o meio na qual
as plantas daninhas se encontram deve ser tratado como um
ecossistema capaz de responder a qualquer mudança imposta.

 É importante saber que a adoção de apenas um método


de controle proporciona o manejo paliativo das plantas
daninhas, postergando o problema para datas
posteriores.

a) Controle Preventivo
Consiste no uso de práticas que visam prevenir a introdução,
estabelecimento e/ou a disseminação de determinadas espécies-
problema em áreas ainda por elas não infestadas.
Em síntese, o elemento humano é a chave do controle
preventivo. A ocupação eficiente pela cultura diminui a
disponibilidade de fatores adequados ao crescimento e ao
desenvolvimento das plantas daninhas, podendo ser considerada
uma integração entre prevenção e método cultural.
Principais Medidas:
- Utilizar sementes de elevada pureza;
- Limpar cuidadosamente implementos agrícolas;
- Inspecionar cuidadosamente mudas;
- Limpar canais de irrigação;
- Colocar animais comprados em áreas quarentenas.
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b) Controle Cultural
É o uso de práticas comuns ao bom manejo da água e do
solo.

 Essas práticas contribuem para reduzir o banco de sementes de


espécies daninhas, consistindo então, em usar as próprias
características ecológicas das culturas e das plantas daninhas
visando beneficiar o estabelecimento e desenvolvimento da cultura.

Práticas: rotação de cultura, variação do espaçamento da cultura,


uso de coberturas verdes.

c) Controle Mecânico
Consiste na utilização de equipamentos de uso manual ou
tracionados por animais ou tratores. As principais limitações deste
método são: i) dificuldade de eliminar plantas daninhas na linha da
cultura; ii) baixa eficiência em períodos chuvosos; iii) é ineficiente
para controlar plantas daninhas que se reproduzem por partes
vegetativas; e ix) poder ser não seletivo à cultura.
Principais métodos: arranque manual (monda), capina manual
(enxada), arranquio com enxadão, roçada manual (foice), roçada
mecanizada (roçadeira de arrasto ou 3º ponto); cultivador mecânico.

d) Controle Físico
Consiste na utilização de recursos físicos para a eliminação
de espécies indesejadas, tais como: inundação; cobertura do
solo com restos vegetais ou filme plástico preto; solarização com
filme plástico transparente (muito caro); queima com lança-
chamas (muito caro); microondas.
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e) Controle Biológico
É o uso de inimigos naturais (fungos, bactérias, vírus, insetos,
aves, peixes) capazes de reduzir a população das plantas daninhas
e consequentemente sua capacidade de competir, por meio do
equilíbrio populacional entre inimigo natural e a planta hospedeira.

 Para que este tipo de controle seja eficiente, o parasita dever


ser especifico, pois, uma vez eliminado o hospedeiro, ele não
deve parasitar outras espécies.
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f) Controle Químico
Utilização de herbicidas, o qual proporciona as seguintes
vantagens: menor dependência de mão-de-obra; maior eficiência;
controla as plantas daninhas presentes na linha de plantio; permite
cultivo mínimo ou plantio direto; pode controlar plantas de
propagação vegetativa; e permite o plantio a lanço e alterações no
espaçamento.
Porém, o controle químico como único método pode levar ao
desequilíbrio do sistema de produção, seleção de espécies
tolerantes ou resistentes a determinados ingredientes ativos, reduzir
produtividade devido problemas de fitotoxicidade na cultura.
Entretanto, o herbicida é uma importante ferramenta no
manejo de plantas daninhas desde que utilizado no momento
adequado e de forma correta.

IV. HERBICIDAS
1. CLASSIFICAÇÃO
Os herbicidas podem ser classificados de diversas
maneiras, de acordo com as características de cada um, que
permitem estabelecer grupos afins com base na:
A) Seletividade
- Seletivos: são aqueles que, sob algumas condições, são mais
tolerados por determinada espécie ou cultivar de plantas do que
outras. A seletividade é sempre relativa, pois depende do estádio
de desenvolvimento das plantas, condições climáticas, tipo de
solo, localização (posição) e dose aplicada.
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- Não-Seletivos: são aqueles que atuam indiscriminadamente


sobre todas as espécies de plantas, recomendados geralmente
para dessecação ou em aplicações dirigidas.

B) Época de Aplicação
- Pré-Plantio: herbicidas utilizados após o preparo de solo e antes
o plantio da cultura. Alguns herbicidas são muito voláteis, de baixa
solubilidade em água ou fotodegradável e por isso necessitam ser
incorporados ao solo (PPI: pré-plantio incorporado – trifluralin).
- Pré-Emergência ou pós-plantio: utilizados logo após a
semeadura, porém antes que ocorra o rompimento do solo pelas
plântulas da cultura (“cracking”) – seletividade por posição.
- Pós-Emergência: são herbicidas absorvidos somente pelas folhas
das plantas e, por isso, devem apresentar como característica
serem seletivos para a cultura. (variações: pós-inicial, pós-tardio).

C) Translocação
- Contato: atuam próximo de ou no local onde eles penetram nas
plantas. O simples fato de um herbicida entrar em contato com a
planta não é suficiente para que ele exerça sua ação tóxica.
 Necessariamente tem que penetrar no tecido da planta.

- Sistêmicos: movimentam-se nas plantas pelo xilema, floema ou


por ambas as vias e podem se translocar a longas distâncias no
interior do vegetal. Dependendo da dose, alguns produtos
sistêmicos também podem apresentar efeito de contato.
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D) Mecanismos de Ação
Modo de Ação vs Mecanismo de ação
- Modo de ação: refere-se à sequência completa de todas as
reações que ocorrem desde o contato do produto com a planta até
sua morte ou ação final do produto;
- Mecanismo de ação: a primeira lesão bioquímica ou biofísica que
resulta na morte ou ação final do produto.
 O estudo dos herbicidas pelo seu mecanismo de ação
permite que se apresentem diversas características gerais e
comuns a um grupo bastante grande de ingredientes ativos,
facilitando sua identificação e memorização.

2. Comportamento de Herbicidas nas Plantas


Os herbicidas podem penetrar nas plantas através de
estruturas aéreas (folhas, caules, flores e frutos), de estruturas
subterrâneas (raízes, rizomas, estolões, tubérculos), de estruturas
jovens como radículas e caulículos e pelas sementes.

A absorção do herbicida representa a integração existente


entre o ambiente aéreo e o solo com a planta e assim, está
diretamente relacionado com a eficiência dos herbicidas. A
absorção é o primeiro passo da interação do herbicida com os
processos metabólicos das plantas.
Após a absorção é necessário que o herbicida seja
transportado até os locais onde irão exercer ação biológica. Os
herbicidas podem ser translocados pelo simplásto (protoplásto vivos
e floema), pelo apoplásto (paredes intercelulares e xilema) ou pelo
aposimplásto (movimento pelo xilema/floema).
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A. Absorção dos Herbicidas Aplicados na Parte Aérea


Uma vez pulverizado, o herbicida entra em contato com a
superfície foliar e podem ocorrer os seguintes eventos:
- Volatilização: significa perda do produto para o ambiente devido à
propriedade físico-química de pressão de vapor;
- Lixiviação pela água: representa perda pelo escorrimento do
produto devido ao excesso de umidade livre na superfície da folha
(água, orvalho, coalisão de gotas, excesso de adjuvante);
- Cristalização do herbicida: o ingrediente ativo passa do estado
líquido para o estado sólido devido a condições de alta temperatura
e baixa umidade relativa do ar, havendo assim perda de produto.
- Penetração na cutícula sem translocação: ocorre perda do produto
que fica aprisionado na cutícula.
- Absorção e translocação: O produto segue a via apoplástica e/ou
simplástica.

1 4 5
2 3 Cera
Pectina
Celulose

Espaços
intercelulares

Xilema

Floema Células

1 – Volatilização; 2 – Cristalização; 3 – Retenção na cera; 4 – Penetração por


difusão (apoplástica); 5 – Penetração intracelular (simplástica)
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Cristalização de uma gota com calda de glifosate

Gota integra com calda de glifosate + adjuvante


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A absorção dos herbicidas aplicados em pós-emergência


acontece principalmente pela interação do herbicida com a
membrana cuticular das folhas
A absorção estomática possui limitada prática, uma vez que,
para ocorrer o movimento do herbicida através do ostíolo aberto
para dentro da câmara estomática e deste para o citoplasma das
células, seria necessário uma diminuição drástica da tensão
superficial da gota pulverizada.

 a membrana cuticular é a principal barreira para a absorção


dos herbicidas pelas folhas.

A membrana é formada por um miscélio de camadas de cera,


cutina, pectina e celulose e as características físico-químicas destas
camadas possibilitam a absorção dos herbicidas através de rotas
polares a apolares.
Além disso, a espessura, composição, pH e lipofilicidade
da cutícula também podem influenciar na penetração do herbicida,
os quais também são interdependentes quanto às variações das
condições ambientais.

Tricomas
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Cera epicuticular

Cera epicuticular

 Na prática, o coeficiente octanol / água (Kow) é uma


característica físico-química relacionada à lipofilicidade
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dos herbicidas e possui aplicação direta nas estimativas


de penetração do herbicida através da cutícula e de
membranas celulares, onde:
 Kow  afinidade com constituintes apolares da cutícula.

Geralmente herbicidas não ionizados são mais lipofílicos e os


ionizados (forma aniônica de herbicidas ácidos fracos em alto pH)
são mais hidrofílicos.
Os herbicidas que apresentam alto Kow (lipofílicos) são
capazes de penetrar na cutícula por simples difusão, através dos
componentes lipofílicos, como ceras epicuticulares e ceras
cuticulares da cutina.
Já os herbicidas altamente solúveis em água são capazes de
penetrar pela superfície cuticular através da parte hidrofílica da
cutina, pectina e celulose. No entanto, em virtude da baixa
permeabilidade dentro da cutícula, sua taxa de movimento é menor
do que a dos herbicidas lipofílicos. Essa penetração reduzida
geralmente resulta em menor absorção total.

B. Absorção dos Herbicidas Aplicados no Solo


A absorção radicular é um processo menos complexo que a
foliar. As raízes não possuem cutícula como as folhas, embora
raízes maduras sejam recobertas por uma camada suberificada.
Isto significa que há poucos obstáculos à absorção do herbicida
pelas raízes das plantas.
A absorção de herbicidas aplicados ao solo acontece
diretamente via raiz e através de órgãos subterrâneos, como nó do
coleóptilo (seletividade por posição).
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Carregados pela fase aquosa do solo, os herbicidas movem-


se primeiramente em um sistema de paredes celulares
interconectadas do parênquima cortical (via apoplástico). Nesse
sistema, os íons são adsorvidos pelas superfícies carregadas das
paredes celulares e das membranas externas do protoplasma. Esse
processo é totalmente passivo, obedecendo ao gradiente de
concentração e cargas entre a solução do solo e o interior da raiz
(espaço livre aparente).
O transporte celular pelo apoplasto é interrompido por
elementos hidrofóbicos ou impermeáveis nas paredes celulares da
endoderme da raiz, denominados estrias de Caspary. A via
simplastica transporta a solução até os elementos condutores do
cilindro central.
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O comportamento dos herbicidas no solo decorre da interação


entre diversos fatores que disponibilizam certa quantidade do
herbicida para a absorção pelas raízes:
- Adsorção do herbicida ao solo: representa um fator integrador
desta interação e atua na disponibilidade dos herbicidas para
absorção pelas plantas – associação com colóides do solo. É
altamente dependente da quantidade de água no solo.
- Dinâmica de água no solo: o herbicida é disponibilizado
(dissociado) na solução do solo pela presença de água,
determinando assim a eficiência do herbicida.
 Déficit hídrico: grande quantidade do herbicida adsorvido aos
colóides;
 Excesso hídrico: facilmente arrastado por lixiviação.

C. Fatores que Afetam a Absorção dos Herbicidas


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3. TRANSLOCAÇÃO
A translocação dos herbicidas é regulada por uma série de
processos que também podem ser relacionados ao comportamento
dos herbicidas no ambiente e na planta (herbicidas sistêmicos),
os quais podem ser:

A. Translocação Apoplástica
Os produtos (geralmente de solo), após serem
absorvidos pelas raízes conseguem chegar até a parte aérea das
plantas via xilema e desempenhar o seu mecanismo de ação – a
forma de deslocamento acontece através da pressão de raiz ou do
fluxo de transpiração da planta.

 assim, o fluxo de transpiração da planta é o fenômeno mais


importante na translocação de herbicidas aplicados no solo.

 o pKa (constante de dissociação de um ácido) é a


característica físico-química do herbicida que está diretamente
relacionado à capacidade do herbicida se difundir, onde

 pKa  movimentação
 pKa ideal para a translocação apoplástica: ≤ 8

 Kow significa alta afinidade com componentes lipofílicos, o


que pode caracterizar  movimentação
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B. Translocação Apossimplástica
Também denominada de fluxo bidirecional e refere-se ao
movimento via apoplásto e via simplásto (floema). No entanto, estes
sistemas de condução são independentes e a translocação de
herbicidas através de ambos deve-se às propriedades físico-
químicas que estes compostos possuem, onde:

 herbicidas com baixo pKa e baixo Kow possuem mobilidade


maximizada no floema

Via de regra, os herbicidas com alta solubilidade em água (e,


portanto, baixo Kow) possuem alta permeabilidade e entram e saem
do floema e xilema rapidamente, tendo maior mobilidade neste
último, onde o fluxo de água é mais intenso.

A movimentação do herbicida no simplasto acontece em


conjunto com o fluxo de açúcares e água, segundo a relação fonte /
demanda.

- Fatores que afetam a translocação simplástica: idade da


planta, idade do órgão, dormência, estado hídrico, intensidade
luminosa, temperatura, surfactante e dose do herbicida.
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1 4 5
2 3

Xilema

Floema

4 – Rota de entrada polar; 5 – Rota de entrada apolar


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V. HERBICIDAS: MECANISMOS DE AÇÃO


1. CARACTERÍSTICAS BIOQUÍMICAS
Os herbicidas modernos inibem a atividade enzimática nos
organismos suscetíveis. Enzimas são moléculas proteicas
relativamente grandes que possuem um local (sítio catalítico) que
é diretamente envolvido com o(s) substrato(s) nas etapas que
antecedem a reação química.
Os herbicidas inibidores das enzimas acetil-CoA (ACCase),
acetolactato sintase (ALS), enolpiruvil shuikimato-P sintase
(EPSPS), glutamina sintetase (GS), inibidores de carotenoides ,
inibidores do fluxo de elétrons no fotossistema 1 e fotossistema 2
atuam em rotas metabólicas presentes no interior dos cloroplastos.
Todavia, os herbicidas que atuam fora do cloroplasto incluem as
auxinas sintéticas, inibidores de síntese de ácidos graxos da cadeia
muito longa e os inibidores da polimerização de tubulina.
Um dos benefícios de apresentar os herbicidas conforme seu
mecanismo de ação reside na facilidade do aprendizado da
sintomatologia dos mesmos e suas causas. Além disso, facilita o
manejo racional de herbicidas, de forma que o usuário poderá tomar
consciência da necessidade de rotacionar herbicidas de diferentes
mecanismos de ação.
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As enzimas podem ser inibidas:


- Irreversivelmente: ocorre quando um inibidor faz uma ligação
covalente com um grupo funcional da enzima, atrapalhando a
atividade catalítica da mesma; e

- Reversivelmente: o qual pode ser:


a) Competitiva: quando um composto se liga ao sítio catalítico da
enzima e pode ser revertido com o aumento da concentração do
substrato.
b) Não Competitiva: quando um produto se liga a um local
diferente do sítio catalítico da enzima, alterando sua forma
tridimensional, prejudicando, então, a sua atividade enzimática.

As reações químicas nas células ocorrem em sequência, as


quais são catalisadas por diversas enzimas e, o produto de uma
reação é o substrato da reação seguinte.

1 2 3 4 5
A → B → C → D→ E → F

Cada herbicida inibe, em geral, uma única enzima específica,


mas, subsequentemente, desorganiza a produção de várias
substâncias necessárias para a sobrevivência das plantas.
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Resumo do “Mapa dos Herbicidas”, incluindo local da aplicação, tipo


de movimento na planta, local de ação e espécies daninhas
controladas.
Local de Movimentação Local de ação Espécies
aplicação nas plantas controladas
Folhagem Sistêmicos Inibidores de G
AACase
Inibidores de DCG
ALS
Inibidores de DCG
EPSPs
Auxinas D
sintéticas
Contato Inibidores do DG
FS I
Inibidores de D
PROTOX
Solo Móveis Inibidores do D
FS II
Inibidores de DG
caroteno
Imóveis Inibidores da G
parte aérea
Inibidores de G
mitose
G = Gramíneas, D = Dicotiledôneas, C = Ciperáceas.

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