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BIOQUÍMICA HUMANA BIOQUÍMICA HUMANA

Bioquímica Humana
Organizadora Katiucha Rocha Organizadora Katiucha Rocha

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GRUPO SER EDUCACIONAL

gente criando o futuro


Bioquímica Humana
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

ROCHA, KATIUCHA
R672b Bioquímica humana [recurso eletrônico] / Katiucha
Rocha - Recife: Telesapiens, 2021.
216 p.: il.; 21cm
ISBN 978-65-86073-27-0
1. Bioquímica. I. Título.
CDD 612.015 (22.ed)
CDU 616-074

Bibliotecária: Maria Isabel Schiavon Kinasz, CRB9 / 626


Bioquímica Humana

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Enzo Moreira

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Todos os direitos reservados
A AUTORA
KATIUCHA ROCHA
Olá. Meu nome é Katiucha Rocha. Sou formada em Ciências
Biológicas, com mestrado e doutorado em Ciências Biológicas
– Farmacologia e Pós-doutorado em Farmacologia. Possuo uma
experiência técnico-profissional na área de bioquímica de mais
de 4 anos. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir
minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas
profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a
integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz
em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte
comigo!
ICONOGRÁFICOS
Esses ícones que irão aparecer em sua trilha de aprendizagem
significam:
OBSERVAÇÃO
OBJETIVO
Uma nota explicativa
Breve descrição do objetivo
sobre o que acaba de
de aprendizagem; +
ser dito;

RESUMINDO
CITAÇÃO
Uma síntese das
Parte retirada de um texto;
últimas abordagens;

TESTANDO
DEFINIÇÃO
Sugestão de práticas ou
Definição de um
exercícios para fixação do
conceito;
conteúdo;

IMPORTANTE ACESSE
O conteúdo em destaque Links úteis para
precisa ser priorizado; fixação do conteúdo;

DICA SAIBA MAIS


Um atalho para resolver Informações adicionais
algo que foi introduzido no sobre o conteúdo e
conteúdo; temas afins;

++
EXPLICANDO
SOLUÇÃO
+ DIFERENTE Resolução passo a
Um jeito diferente e mais passo de um problema
simples de explicar o que ou exercício;
acaba de ser explicado;

EXEMPLO CURIOSIDADE
Explicação do conteúdo ou Indicação de curiosidades
conceito partindo de um e fatos para reflexão sobre
caso prático; o tema em estudo;

PALAVRA DO AUTOR REFLITA


Uma opinião pessoal e O texto destacado deve
particular do autor da obra; ser alvo de reflexão.
SUMÁRIO
UNIDADE 01
Compreendendo como são formadas as proteínas...............12
O que é um aminoácido e como ocorre a construção uma
proteína.....................................................................................12
Classificação dos aminoácidos quanto a cadeia lateral.....16
Aminoácidos essenciais e não essenciais..........................19
Aminoácidos com propriedades únicas ...........................19
Estrutura das proteínas..............................................................21
Proteínas Fibrosas e Globulares........................................24
Principais funções proteicas......................................................24
Explicando o Funcionamento das Enzimas..........................28
Enzimas.....................................................................................28
Equação de Michaelis – Menten...............................................30
Inibição da atividade enzimática...............................................33
Cofatores enzimáticos...............................................................34
Digestão, absorção e excreção de proteínas..........................38
Digestão e absorção de proteínas..............................................38
Degradação de aminoácidos ....................................................40
Ciclo da Ureia...........................................................................42
Síntese Proteica.......................................................................46
DNA e RNA..............................................................................46
Processo de Transcrição Gênica................................................47
RNA ..................................................................................47
RNAs polimerases em eucariotos......................................48
Etapas da Transcrição........................................................48
Modificações Pós Transcricionais.............................................49
Processo de Tradução: Expressão da Informação Genética......50
Ativação de Aminoácidos..................................................50
Etapas de Iniciação, Alongamento e Terminação..............51
Modificações Pós-Traducionais e Endereçamento de
Proteínas............................................................................54
Desnaturação, dobramento incorreto e consequências.............54
UNIDADE 02
Compreendendo como funciona a estrutura, principais
funções e classificação dos carboidratos...............................62
Estrutura e classificação dos carboidratos.................................62
Classificação de monossacarídeos ....................................63
Polissacarídeos ou carboidratos complexos......................67
Digestão e absorção de carboidratos.........................................69
Papel dos hormônios na captação de glicose............................71
Vias metabólicas no estado alimentado e em jejum.............75
Vias metabólicas no estado alimentado....................................75
Via glicolítica....................................................................75
Glicogênese ......................................................................80
Via da pentose fosfato.......................................................82
Vias metabólicas no estado de jejum.................................83
Glicogenólise.....................................................................83
Gliconeogênese.................................................................87
Oxidação do Acetil - Coenzima A e produção do ATP.........92
Conversão de Piruvato a Acetil-Coenzima A ...........................92
Etapas do ciclo do ácido cítrico.........................................94
Cadeia transportadora de elétrons e Fosforilação oxidativa.....96
Componentes da cadeia respiratória e suas funções..........96
Fosforilação oxidativa – Síntese de ATP...........................99
Desordens no metabolismo de carboidratos.......................101
Formação de espécies reativas de oxigênio e envelhecimento....101
Diabetes mellitus.....................................................................103
UNIDADE 03
Compreendendo estrutura, funções e classificação dos
lipídeos...................................................................................110
Lipídeos: Estrutura e função ..................................................110
Estrutura dos ácidos graxos.............................................113
Lipídeos simples: Estrutura e função......................................116
Bioquímica Humana 9

Lipídeos Complexos: Estrutura e função................................120


Síntese de lipídeos simples e complexos..............................124
Síntese de ácidos graxos.........................................................124
Síntese de Prostaglandinas .....................................................130
Síntese de Fosfolipídios e glicolipídeos ................................132
Síntese de Colesterol...............................................................134
Síntese de Triacilglicerol.........................................................135
Degradação de Ácidos Graxos.............................................137
Catabolismo de ácidos graxos.................................................137
Ácidos graxos de cadeia longa: Beta-oxidação .....................140
Formação de Corpos Cetônicos..............................................143
Digestão e absorção de ácidos graxos.....................................145
Metabolismo lipídico: Regulação e Desordens Metabólicas....152
Regulação do metabolismo de ácidos graxos.........................152
Desordens metabólicas associadas ao metabolismo lipídico .154
UNIDADE 04
Compreendendo a ação hormonal sobre órgãos-chave no
metabolismo...........................................................................164
Ação hormonal e controle metabólico....................................164
Insulina – hormônio de síntese metabólica.............................169
Glucagon – hormônio do jejum .............................................172
10 Bioquímica Humana

Identificando as inter-relações metabólicas no estado


alimentado.............................................................................176
Órgãos-chave no metabolismo ...............................................176
Vias metabólicas ativas no tecido hepático.............................178
Vias metabólicas ativas no estado alimentado - Músculo
Esquelético..............................................................................181
Estado Alimentado - Vias metabólicas no Tecido Adiposo....183
Estado Alimentado: Encéfalo - principais vias metabólicas...185
Entendendo as inter-relações metabólicas presentes no
organismo em estado de jejum.............................................188
Estado de Jejum......................................................................188
Fígado: Distribuidor de Nutrientes.........................................189
Lipólise: Tecido adiposo provendo energia ...........................193
Estado de Jejum e Músculo Esquelético.................................194
Cérebro no Estado de Jejum...................................................198
Executando os procedimentos para identificar e solucionar
desordens metabólica............................................................200
Desordens Metabólicas...........................................................200
Doenças Inflamatórias Intestinais....................................200
Hipertireoidismo e hipotireoidismo – Tireoide e a produção
de hormônios reguladores do metabolismo.....................202
Bioquímica Humana 11

01
UNIDADE
12 Bioquímica Humana

INTRODUÇÃO
Você sabia que proteínas constituem a forma de expressão
da informação genética sendo fundamentais a sobrevivência
de um organismo? Proteínas são macromoléculas que atuam
em praticamente todas as atividades biológicas. As principais
funções de proteínas compreendem a atividade hormonal, catálise
biológica, contração muscular, função estrutural, transporte,
defesa contra patógenos, coagulação, entre outras. Proteínas
também podem ser definidas como polímeros de aminoácidos
apresentando vários tamanhos e quatro níveis de organização.
Os aminoácidos são provenientes da síntese e degradação de
proteínas não necessárias ao metabolismo, da dieta rica em
proteínas ou da síntese de novo. O excedente de aminoácidos não
pode ser armazenado no corpo humano e, portanto, é excretado
por uma via interessante como será discutido no decorrer dos
capítulos. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai
mergulhar neste universo!
Bioquímica Humana 13

OBJETIVOS
Olá, seja muito bem-vindo a nossa Unidade 1, nosso
objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes
competências profissionais até o término desta etapa de estudos:

1 Compreender como são formadas as proteínas,


com enfoque em estrutura, principais funções e
propriedades;

2 Entender como funcionam as enzimas e sua


importância para as vias metabólicas;

3 Aprender sobre digestão, absorção e degradação de


aminoácidos;

4 Conhecer e identificar todos os mecanismos


envolvidos na síntese proteica e as consequências
da formação errônea da cadeia polipeptídica.

Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
14 Bioquímica Humana

Compreendendo como são formadas as


proteínas

OBJETIVO

Ao término deste capítulo você será capaz de entender


como funciona a construção de proteínas. Saberá o que são
aminoácidos, quais suas principais propriedades e como estas
propriedades afetam a conformação de proteínas. Descobrirá
quais são suas principais funções e como elas são fundamentais
a sobrevivência de um organismo. Isto será fundamental para o
exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver
estes objetivos? Então vamos lá. Avante!

O que é um aminoácido e como ocorre a


construção uma proteína
Proteínas são polímeros de aminoácidos cuja sequência é
responsável por determinar sua estrutura tridimensional e suas
propriedades específicas. Atualmente encontramos na natureza
aproximadamente setecentos aminoácidos, mas apenas 20 deles
são utilizados pelos seres vivos na produção de proteínas.
Um aminoácido é composto por grupamento amino
(-NH2), grupamento carboxila (-COOH), cadeia lateral ou R
e um átomo de hidrogênio, todos ligados a um carbono alfa
(C-α) (Figura 1). Os aminoácidos utilizados na construção de
proteínas são isômeros do tipo L (Levogiro), considerado o
isômero biologicamente ativo. As designações D (dextrogiro) e
L (levogiro) referem-se à configuração do carbono alfa ao qual o
grupo amino está ligado. Dessa maneira, quando o aminoácido
Bioquímica Humana 15

tem seu grupo amino em uma projeção de Fischer voltado para a


esquerda é chamado de L-aminoácido; enquanto o aminoácido
que apresenta o grupo amino voltado para direita é chamado
de D-aminoácido.
Figura 1: Principais estruturas componentes de aminoácidos

Fonte: (Adaptado de NELSON & COX, 2011)

A prolina é considerada um iminoácido porque possui um


grupamento imino (-NH) em substituição ao grupamento amino
(-NH2) presente nos demais nos aminoácidos.

Figura 2: Isomeria óptica da alanina em comparação com gliceraldeído

Fonte: Adaptado de CHAMPE et al., 2006


16 Bioquímica Humana

Na síntese proteica, um aminoácido é ligado o outro até a


formação completa do peptídeo. A união entre dois aminoácidos
origina um dipeptídeo, assim como a união entre três aminoácidos
forma um tripeptídeo e essas reações ocorrem sucessivamente
até a formação de um polímero longo, contínuo e não
ramificado chamada cadeia polipeptídica. A ligação entre
aminoácidos ocorre com a junção do grupamento carboxila
de um aminoácido com o grupamento amino do aminoácido
adjacente, liberando de uma molécula de água durante a
reação. A junção entre aminoácidos é chamada ligação
peptídica (Figura 3). A ligação peptídica constitui um tipo de
ligação covalente rígida, planar, a qual não pode ser rompida
por processos de desnaturação.
Após a construção da proteína, essa molécula apresentará
uma estrutura amino livre denominada região amino-terminal
ou N-terminal escrita no lado esquerdo da molécula, bem como
uma região denominada carboxi-terminal ou C-terminal escrita
no lado direito da molécula. Portanto, a sequência correta de
leitura da proteína é extremidade N-terminal para extremidade
C-terminal. Cada aminoácido que compõe uma proteína é
denominado resíduo.

Figura 3: Ligação peptídica

Fonte: A autora
Bioquímica Humana 17

Seguiremos agora com a classificação dos aminoácidos


quanto a sua cadeia lateral R, discutindo as principais
características de cada grupo de aminoácidos e suas implicações
na estrutura da proteína. Em seguida serão discutidas as
classificações baseadas em necessidades estruturais (aminoácidos
essenciais e não essências) e fecharemos o assunto explicando a
respeito dos aminoácidos chamados especiais.

IMPORTANTE

Os aminoácidos são nomeados com base nas três primeiras


letras de seu nome em inglês (Tabela 1). A abreviatura de apenas
uma letra também pode ser utilizada por textos científicos, mas
o usual é a abreviatura de três letras utilizadas para descrever de
forma prática a sequência de aminoácidos das proteínas.

Tabela 1: Nomenclatura dos aminoácidos contendo abreviaturas de uma letra e de três letras
18 Bioquímica Humana

Classificação dos aminoácidos quanto a cadeia


lateral
Os aminoácidos diferem entre si pela cadeia lateral R e
com base em suas cadeias podem ser divididos em aminoácidos
polares e carregados positivamente (Básicos); polares e
carregados negativamente (Ácidos); polares e não carregados;
apolares ou hidrofóbicos.
Iniciaremos a discussão com estudo dos aminoácidos
polares e carregados. Estes aminoácidos apresentam cadeia
lateral totalmente carregada em solução aquosa em pH fisiológico
(pH≈7,4) e por esta razão podem formar ligaçõesiônicas com
outras substâncias celulares.
Aminoácidos podem apresentar-se carregados
positivamente quando o grupamento amino de sua cadeia lateral
aceita um próton (-NH3+) em solução com pH fisiológico. Dentre
estes aminoácidos encontram-se lisina, arginina, histidina.
Aminoácidos cuja cadeia lateral doa prótons, apresentam carga
elétrica negativa em solução neutra sendo classificados como
aminoácidos carregados negativamente (-COO-). Representam
este grupo aspartato ou ácido aspártico e glutamato ou ácido
glutâmico (Figura 4).
Você Sabia? Ponto isoelétrico ou pH isoelétrico – haverá
apenas uma forma dipolar, ou seja, o grupamento amino
com carga positiva (forma catiônica) ou o grupamento ácido
Bioquímica Humana 19

carboxílico com carga negativa (forma aniônica) presentes ao


mesmo tempo neutralizando as cargas elétricas do aminoácido.
Esse dipolo é denominado Zwitterion (do alemão= híbrido).
Alguns aminoácidos apresentam cadeia lateral não-polar
(apolar) tornando-o muito hidrofóbico e impedindo sua interação
com água. Neste grupo encontram-se aminoácidos com:
 Cadeia alifática (aberta) hidrocarbonada: leucina,
alanina, isoleucina, valina e prolina;
 Anel aromático: fenilalanina, triptofano;
 Tioéster: metionina;
 Hidrogênio: glicina.
Este tipo de cadeia lateral proporciona o dobramento de
proteínas por meio de interações hidrofóbicas e ligações do tipo
Van der Walls.
Aminoácidos com cadeias R polares e não carregados
podem formar pontes de hidrogênio com outras moléculas e são
poucos reativos. Estão representados neste grupo aminoácidos
com cadeias laterais contendo:
 Hidroxila: serina, treonina, tirosina;
 Grupo amida: asparagina e glutamina;
 Sulfidrila: cistéina.
Todos os aminoácidos e suas diferenças quanto a cadeia
lateral R estão representados na Figura 4.
20 Bioquímica Humana

Figura 4: Aminoácidos com cadeias polares carregadas negativamente, Aminoácidos com cadeias polares
carregadas positivamente, aminoácidos apolares, aminoácidos com cadeias polares e não carregadas

Fonte: Adaptado de CHAMPE et al., 2006

IMPORTANTE

As interações entre cadeias laterais de aminoácidos


intramoleculares e intermoleculares como ligações iônicas,
interações hidrofóbicas, formação de pontes de hidrogênio,
ligação de Van der Walls são fundamentais para determinar o
nível de organização das proteínas.
Bioquímica Humana 21

Aminoácidos essenciais e não essenciais


Podemos classificar os aminoácidos de acordo com as
necessidades estruturais como essenciais e não essenciais.
Parte dos aminoácidos é sintetizada pelo organismo
humano para suprir as necessidades celulares, entretanto, os
aminoácidos ditos essenciais não podem ser sintetizados e
devem necessariamente ser supridos pela dieta.
Os aminoácidos essenciais são isoleucina, valina, leucina,
fenilalanina, lisina, arginina, metionina, triptofano, treonina.
Podemos encontrá-los em proteínas contidas em alimentos como
carnes vermelhas, peixes, ovos, soja, leite, granola, entre outros.

Aminoácidos com propriedades únicas


Os aminoácidos com propriedades únicas ou aminoáci-
dos especiais compreendem principalmente: selenocisteína,
hidroxilisina, hidroxiprolina, ornitina, citrulina e γ-carboxiglu-
tamato.
O mineral selênio é incorporado na forma de selenocisteína
no sítio ativo de diversas proteínas originando selenoproteínas.
A principal selenoproteína é a glutationa peroxidase, enzima
protetora de organelas celulares contra danos oxidativos. A
segunda maior selenoproteína conhecida é a chamada iodotironina
desiodase responsável pela conversão catalítica do pró-hormônio
tiroxina (T4) em sua forma ativa triiodotironina (T3).
Hidroxilisina e hidroxiprolina são formadas a partir da
hidroxilação de resíduos prolil e lisil em presença de vitamina
C. Esses aminoácidos especiais são necessários a formação de
colágeno, proteína estrutural e mais abundante no organismo.
Deficiência de vitamina C pode causar o escorbuto pela má-
formação da proteína colágeno.
Ornitina e Citulina são aminoácidos básicos utilizados
apenas no ciclo da ureia que será discutido no decorrer da unidade.
22 Bioquímica Humana

A carboxilação de resíduos de glutamato capacita as


proteínas de coagulação a se ligarem ao cálcio, permitindo assim
a interação com os fosfolipídios das membranas de plaquetas e
células endoteliais, o que, por sua vez, possibilita o processo
de coagulação sanguínea normal (DAS DORES et al., 2001).
A vitamina K é cofator da enzima gama glutamil-carboxilase
responsável pela carboxilação e, portanto, imprescindível ao
processo de coagulação.
Além dos aminoácidos descritos acima a glicina e
prolina também possuem propriedades únicas. A
Glicina é o aminoácido mais flexível que os demais,
possibilitando a movimentação do polipeptídeo.
A prolina é um aminoácido hidrofóbico que
não é compatível com uma estrutura secundária
(NOVELLI, 2005).
Saiba mais: Cisteínas são aminoácidos que contém
grupamentos sulfidrila (SH) formadores de pontes dissulfeto
(S-S), as quais auxiliam na estabilização de proteínas.
Glutamato é o aminoácido mais abundante no sistema nervoso
central (SNC) agindo como um neurotransmissor excitatório,
atuando também no desenvolvimento neural, aprendizado,
memória, plasticidade neuronal, tem papel no desenvolvimento
da depressão e ansiedade. Ele não atravessa a barreira
hematoencefálica, portanto, precisa ser sintetizado no tecido
nervoso a partir de glicose via ciclo de Krebs ou glutamina
(produzido nas células da glia e captado por neurônios). No
sistema nervoso central, mais precisamente em neurônios, o
glutamato através de ação enzimática é convertido também em
γ-aminobutírico (GABA) que funciona como neurotransmissor
inibitório neste sistema. GABA tem dois tipos de receptores,
GABAa e GABAb. Fármacos ansiolíticos e sedativos como
os benzodiazepínicos (Exemplo: diazepam) atuam nos
receptores GABAa reforçando a ação do neurotransmissor
inibitório no SNC. (RANG & DALE, 2008). Triptofano:
um aminoácido essencial através de atividade enzimática
Bioquímica Humana 23

é convertido a 5-Hidroxitriptamina ou serotonina no SNC.


A disponibilidade desse aminoácido constitui o principal
fator associado a regulação na síntese do neurotransmissor.
Fármacos que bloqueiam a recaptação de serotonina como
a Fluoxetina permitem que este neurotransmissor fique por
mais tempo na fenda sináptica atuando na melhoria do humor
e perda de apetite. A tirosina é precursora de neurotransmissor
dopamina, bem como hormônios secretados na medula da
glândula adrenal (ou suprarrenal) adrenalina e noradrenalina.

Estrutura das proteínas


As proteínas apresentam níveis de organização os quais
descrevem os tipos de interação ou arranjos realizados por estas
moléculas. Existem quatro níveis de organização ou estruturas:
primária, secundária, terciária e quaternária.
A estrutura primária corresponde a sequência de
aminoácidos na cadeia polipeptídica. Essa estrutura é definida
pela informação genética contida no DNA e expressa através do
processo de tradução durante a síntese proteica.
A saber: Para calcular o número de diferentes peptídeos
ou proteínas possíveis de serem formados, basta
utilizar a equação 20n (20 corresponde ao número
de diferentes aminoácidos que podem participar
da estrutura proteica e enquanto n= é o número de
aminoácidos na cadeia) (NOVELLI, 2005).
O arranjo regular entre os aminoácidos que estão próximos
uns dos outros na sequência linear da proteína é denominado
estrutura secundária. Dois tipos de estruturas secundárias são
mais comuns: alfa hélice (α-Hélice) e folha beta-pregueada
(folha β-pregueada).
A α-Hélice consiste em uma cadeia polipeptídica central
em formato espiral, compacto, cujas cadeias laterais estendem-
se para fora do eixo central em uma disposição helicoidal e a
24 Bioquímica Humana

cadeia peptídica principal forma a parte interna da estrutura.


A estrutura em hélice é estabilizada por grande número de
pontes de hidrogênio intra-cadeia formadas entre hidrogênios
do grupamento amida e oxigênio do grupamento carbonila na
cadeia peptídica principal. Cada volta completa de uma α-Hélice
contém 3,6 aminoácidos e em todas as proteínas a torção da
hélice é voltada para o lado direito. Aminoácidos carregados
positivamente geralmente são encontrados a três resíduos de
distância dos aminoácidos carregados negativamente formando
assim pares iônicos entre eles e estabilizando a molécula.
A folha β-pregueada pode ser formada em uma única cadeia
polipeptídica que se dobra sobre si mesma ou por duas ou mais
cadeias. São formando por pontes de hidrogênio intra-cadeia ou
inter-cadeia perpendiculares ao polipeptídeo. Cada segmento
da cadeia polipeptídica na folha β-pregueada apresenta uma
conformação dobrada ou pregueada. As cadeias adjacentes em
folha β-pregueada podem ser tanto paralelas quanto antiparalelas
iguais ou opostas respectivamente.
A estrutura primária de uma cadeia polipeptídica determina
sua estrutura terciária, e corresponde ao arranjo tridimensional
total de todos os aminoácidos de uma proteína. A estrutura
terciária é estabilizada por ligações covalentes entre diversas
cadeias laterais da proteína. Esse tipo de estrutura é mantido por
pontes dissulfeto, ligações iônicas e interações hidrofóbicas.
Pontes dissulfeto são ligações covalentes formadas por
grupos sulfidrila (-SH) de dois resíduos de cisteína impedindo
a desnaturação da proteína no meio extracelular. As interações
hidrofóbicas acontecem porque os aminoácidos hidrofóbicos
tendem a ficar porque os aminoácidos hidrofóbicos tendem a ficar
localizados no interior da molécula de proteína associando-
se a outros aminoácidos hidrofóbicos. Grupos carregados
negativamente cadeia lateral de alguns aminoácidos podem
interagir com grupos carregados positivamente na cadeia
lateral de outros aminoácidos promovendo interações iônica
Bioquímica Humana 25

entre eles. Aminoácidos com cadeias laterais polares ou com


carga tendem a ficar na superfície da molécula em contato com
a solução aquosa. Cadeias laterais de aminoácidos contendo
hidrogênio ligado a oxigênio ou nitrogênio podem formar
pontes de hidrogênio com o oxigênio dos grupos carboxila ou
carbonila das ligações peptídicas.
A saber: Peptídeos são moléculas que contêm no máximo
50 aminoácidos em sua cadeia; polipeptídios são formados
por cadeias contendo entre 50 a 100 aminoácidos enquanto
proteínas possuem cadeias polipeptídicas contendo no mínimo
100 aminoácidos.
Proteínas compostas por várias subunidades são chamadas
de proteínas com estrutura quaternária. Essas subunidades são
unidas por ligações não- covalentes como pontes de hidrogênio,
ligações iônicas e interações hidrofóbicas. As subunidades podem
funcionar independentemente umas das outras ou cooperativamente.

CURIOSIDADE

Proteínas podem conter outras moléculas ligadas à sua estrutura


sendo denominadas de proteínas conjugadas. Exemplos:
lipoproteínas, quando associada a lipídeos; glicoproteínas, quando
moléculas de carboidratos estão ligadas a proteínas, entre outros.

Considerando os níveis organizacionais mais elevados


(terciário e quaternário) podemos classificar as proteínas em
dois grandes grupos: fibrosas e globulares.
26 Bioquímica Humana

Proteínas Fibrosas e Globulares


Proteínas fibrosas têm suas cadeias polipeptídicas
arranjadas em longos filamentos insolúveis em água. Estas
proteínas são utilizadas na produção de estruturas que
garantem suporte, forma e proteção externa ao organismo.
Elas possuem grande número de ligações covalentes entre as
cadeias polipeptídicas. As cadeias apresentam-se enroladas
sobre si como “cordas” multi-helicoidais formando um arranjo
supramolecular que lhe confere grande resistência. Um exemplo
de proteína fibrosa é o colágeno, uma molécula rígida, longa
onde três cadeias polipeptídicas estão torcidas uma ao redor da
outra semelhante a uma corda de tripla hélice.
Proteínas globulares possuem cadeias polipeptídicas
dobradas em forma esférica ou globular. Elas estão dobradas
mais compactamente do que proteínas fibrosas. Dentre o grupo
encontram-se enzimas, proteínas transportadoras, motoras,
reguladoras, imunoglobulinas, bem como proteínas com
diversas outras funções. Um bom exemplo de proteína globular
é a hemoglobina presente em hemácias.

Principais funções proteicas


As proteínas são responsáveis pelo transporte de
oxigênio para os tecidos por meio da hemoglobina presente nos
eritrócitos (hemácias) e reserva de oxigênio no músculo através
da mioglobina. A hemoglobina é composta pela porção globina,
com 4 cadeias de aminoácidos (2 cadeias α-globinas e duas
cadeias β-globinas) e grupamento heme contendo átomos de
Fe2+ aos quais se ligam os átomos de oxigênio. A interação entre
as subunidades presentes na hemoglobina induz alterações na
conformação da proteína e afetam sua afinidade pelo oxigênio.
Hemoglobina é responsável pelo transporte de oxigênio dos
pulmões até os capilares dos tecidos, bem como 23% do
transporte de dióxido de carbono (ligado a porção globina)
dos tecidos para os pulmões.
Bioquímica Humana 27

Hemoglobinopatias – as principais hemoglobinopatias


incluem anemia falciforme, doença da hemoglobina
C e talassemia. A anemia falciforme constitui uma
alteração genética que promove modificações
nas cadeias β-globina sem prejuízo as cadeias
α-globinas. A alteração genética provoca a troca
do aminoácido ácido glutâmico pelo aminoácido
valina nas cadeias β-globina resultando em
hemácias longas, finas, em formato de foice, com
reduzido tempo de vida (de 120 dias para 20 dias
apenas). É uma doença homozigota recessiva de
maior incidência em indivíduos afro-americanos.
Indivíduos heterozigotos para anemia falciforme
são menos susceptíveis a malária causada pelo
Plasmodium falciparum. Doença da hemoglobina
C provoca uma anemia hemolítica crônica e é
causada por substituição do aminoácido glutamato
por lisina na posição 6 da cadeia β-globina.
Talassemias constituem doenças hemolíticas onde
ocorre síntese defeituosa de cadeias α-globinas
ou β-globina. Na talassemia-β ocorre redução ou
ausência na síntese de cadeias β, sem alteração na
síntese de cadeias α; já na talassemia-α ocorre o
inverso (CHAMPE, et al., 2006).
Proteínas constituem as melhores formas de desencadear
uma resposta imunológica. Elas são descritas como bons
antígenos pelo fato de demorarem mais para serem digeridas, e
quanto maior o grau de complexidade, mais tempo permanecem
na corrente sanguínea. Citocinas são proteínas que regulam a
resposta imune através de sinalização intercelular. Entre as
citocinas encontramos interleucinas, responsáveis pela regulação
das interações entre linfócitos e outros leucócitos; Intérferons
- glicoproteínas sintetizadas em resposta a uma infecção
viral; fatores de necrose tumoral – promovem a morte celular
programada em células tumorais; quimiocinas – família de
28 Bioquímica Humana

pequenas proteínas com importante papel na inflamação.


Leucócitos (células brancas do sangue) como macrófagos e
linfócitos são originados na medula óssea. Os linfócitos B
produzem anticorpos, proteínas que reconhecem um antígeno
de forma específica e com alta afinidade.
Colágeno e elastina são proteínas fibrosas com função
estrutural. O colágeno é formado por três cadeias polipeptídicas
enroladas umas sobre as outras e mantidas por pontes de
hidrogênio, constitui a proteína mais abundante no corpo
humano, presente por exemplo em tendões, córneas, paredes
vasculares. A elastina presente na matriz extracelular com
propriedades elásticas é encontrada em paredes das artérias de
grande calibre e ligamentos elásticos.
Proteínas também tem papel na contração muscular. As
proteínas presentes no músculo esquelético ou estriado são
actina, miosinas, troponina e tropomiosina. Os filamentos finos
de actina e os filamentos grossos de miosina compõem 80% da
massa de proteínas presentes no músculo e ambos interagem
para que ocorra a contração muscular.
Hormônios são compostos proteicos ou peptídicos.
Insulina é um hormônio peptídico que contém pelo menos 9
aminoácidos.
Uma das funções de destaque das proteínas constitui a
catalise biológica, ou seja, essas proteínas denominadas enzimas
ligam-se a outras moléculas e as transformam quimicamente.
As moléculas sobre as quais as enzimas exercem seus efeitos
são chamados substratos da reação e o sítio de ligação a esses
substratos é chamado sitio ativo da enzima. A seguir discutiremos
sobre a atividade enzimática, suas propriedades e sua regulação.
Bioquímica Humana 29

RESUMINDO

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o
que vimos. Você deve ter aprendido que as proteínas são polímeros
de aminoácidos e expressam a informação genética presente
do DNA. Aprendeu também que os aminoácidos são formados
por um grupamento ácido, grupamento carboxila e por outro
grupamento chamado amino, grupamento básico. Na formação
da proteína ocorre a ligação peptídica que une um grupamento
carboxila (-COOH) de um aminoácido com um grupamento
amino (-NH2) de um aminoácido adjacente, com liberação de
uma molécula de água para formação da cadeia polipeptídica.
A cadeia polipeptídica de uma proteína possui uma extremidade
N-terminal escrita a esquerda e outra extremidade C-terminal
escrita à direita e a sequência de leitura da proteína é da região N
para região C-terminal. As propriedades dos aminoácidos como
polaridade, afetam a interação intra e intercadeia e define o nível
de organização das proteínas. A estrutura primaria da proteína
é fundamental para definir os demais níveis de organização de
sua cadeia. As proteínas participam de praticamente todas as
funções celulares. As principais funções de proteínas envolvem
formação de membranas biológicas, colágeno e elastina, fibras
musculares, transporte de substâncias, entre outras. Atuam no
sistema imunológico a exemplo os anticorpos e as citocinas
inflamatórias. Além destas importantes funções, algumas
proteínas têm papel de catalisadores biológicos, sendo chamadas
de enzimas cuja função é diminuir a energia de ativação das
reações químicas, tópico que será estudado ainda nesta unidade.
30 Bioquímica Humana

Explicando o Funcionamento das Enzimas

OBJETIVO

Ao término deste capítulo você será capaz de compreender que


enzimas são proteínas com função de catálise biológica. Entenderá
o mecanismo de ação dessas proteínas e os fatores capazes alterar
sua função. Aprenderá a respeito da regulação alostérica, além
dos mecanismos de ação dos inibidores enzimáticos. E então?
Motivado para desenvolver estes objetivos? Então vamos lá.
Avante!

Enzimas
Enzimas são proteínas altamente específicas que interagem
com um ou alguns poucos substratos catalisando apenas um
tipo de reação química, ou seja, transformam quimicamente
substratos em produtos durante reações essenciais para os
sistemas vivos. As estruturas proteicas primarias, secundárias,
terciarias e quaternárias das enzimas são fundamentais para sua
atividade catalítica.
A ativação de enzimas depende de sua ligação a cofatores
que podem ser metais e/ou moléculas orgânicas derivadas de
vitaminas denominadas coenzimas. Uma enzima ligada a cofator
é cataliticamente ativa e chamada de holoenzima, enquanto
a parte proteica é denominada apoenzima ou apoproteína. As
enzimas aumentam a velocidade das reações sem sofrerem
alterações no processo global.
Devido à grande energia de ativação, a velocidade das
reações químicas não catalisadas são geralmente lentas.
Bioquímica Humana 31

Energia de ativação maior reflete na velocidade de reação


que se apresenta mais lenta. A energia de ativação é uma barreira
energética para as reações químicas. O delta G é à medida que
representa a variação de energia no sistema.

Um grande valor negativo na energia livre de Gibbs reflete um


equilíbrio de reação favorável a conversão de substrato em produto.
A velocidade da reação é caracterizada pelo número de moléculas
de substrato convertidas em produtos por unidade de tempo.
A enzima permite que a reação química ocorra
mais rapidamente ao oferecer uma rota de reação
alternativa com menor energia livre de ativação.
Desta forma, velocidade de reação é aumentada
na ordem de 103 a 107 vezes em condições ótimas
de temperatura, pH e concentração de substrato.
A complementaridade entre enzima e substrato
define o que muitos autores relatam como modelo
de chave-e-fechadura (LIEBERMAN et al., 2009).
A atividade da maioria das enzimas pode ser
modulada. Os moduladores mais conhecidos
são o pH e a temperatura; logo existem
condições ótimas de pH e temperatura para que
a enzima trabalhe em sua velocidade máxima.
Em contrapartida, mudanças bruscas de pH
podem inativar completamente uma enzima.
A maioria das enzimas funcionais em animais
superiores funciona em temperatura de 37ºC, e
temperaturas superiores podem inativar várias
delas (LIEBERMAN et al., 2009).
32 Bioquímica Humana

A nomenclatura das enzimas pode referir-se à função


exercida nas reações químicas. Exemplos: glicogênio fosforilase,
piruvato desidrogenase, adenilato ciclase, entre outros. Outra
maneira de nomeá-las é pela adição do sufixo “ase” ao nome
referente ao substrato da reação. Exemplos: urease, sacarase.
A classificação das enzimas é baseada em suas funções:
Oxidorredutases: catalisam a transferência de elétrons, ou seja,
participam de reações de oxido-redução. Exemplo: NADH
desidrogenase. Transferases: catalisam reações de transferência
de grupamentos funcionais como grupo amino, fosfato, acil,
carboxil. Exemplos: aminotransferases. Hidrolases: catalisam
reações de hidrólise de ligação covalente. Exemplos: peptidases.
Liases: catalisam a quebra de ligações covalentes e removem
moléculas de água, gás carbônico e amônia. Exemplos:
descarboxilases. Isomerases: catalisam reações de interconversão
entre isômeros ópticos ou geométricos. Exemplos: Epimerases.
Ligases: catalisam reações de formação de novas moléculas a
partir da ligação entre duas já existentes, com uso de energia.

Equação de Michaelis – Menten


Michaelis e Menten propuseram o modelo
que explica a atividade enzimática de proteína
catalítica. Neste modelo a enzima combina-se
de forma reversível ao substrato formando um
complexo ES (Enzima+Substrato) e em seguida
converte o substrato em produto, regenerando a
enzima livre (CHAMPE, 2006).
A interação do substrato com a enzima promove
alteração conformacional, resultando na
formação de um sítio de ligação mais forte e no
reposicionamento dos aminoácidos formando o
sítio ativo. Pontes de hidrogênio, ligações iônicas e
interações hidrofóbicas contribuem para a ligação
do substrato ao sítio ativo (DEVLIN, 1998).
Bioquímica Humana 33

A equação de Michaelis – Menten descreve como


a velocidade de reação varia com a alteração na
concentração de substrato (CHAMPE, 2006).
Figura 5: Equação da velocidade de reação

Somente as velocidades iniciais (V0) são utilizadas


na análise de reações enzimáticas de determinado
substrato ([S]), refletindo a afinidade da enzima
por seu substrato. O Km é numericamente igual
a concentração de substrato na qual a velocidade
da reação é igual a 1/2 da velocidade máxima)
(CHAMPE, 2006).
A saber: Km corresponde a constante de Michaelis-
Menten = (K-1 + K2)/K1 . Km baixo indica alta afinidade da
enzima pelo substrato. Km alto representa baixa afinidade da
enzima pelo substrato.
A regulação da atividade enzimática pode ser realizada
pelo aumento ou redução na concentração de substrato
alterando assim a velocidade das reações metabólicas.
O aumento ou redução na velocidade de reação pode ser
promovido por efetores alostéricos positivos (ativadores) ou
negativos (inibidores) respectivamente em reações catalisada
por enzimas alostéricas.
Os efetores alostéricos ligam-se a um local especifico na
estrutura tridimensional da enzima, o centro alostérico, atuando
como inibidores ou ativadores de reações enzimática. Enzimas
alostéricas catalisam reações geralmente irreversíveis.
34 Bioquímica Humana

++
+
EXPLICANDO DIFERENTE

Em Vias metabólicas é frequente que o produto final iniba a


atividade de uma enzima alostérica catalisadora das primeiras
reações desta via, atuando, portanto, como inibidor alostérico
negativo. Quando ocorre aumento na concentração celular de
um produto, sua atuação como inibidor faz a velocidade da via
diminuir restringindo sua própria produção. Esse mecanismo é
conhecido como feedback negativo.

IMPORTANTE

Algumas enzimas são utilizadas para diagnóstico laboratorial


das funções cardíacas e hepáticas. O infarto do miocárdio pode
ser detectado por meio da avaliação na atividade enzimática
de creatina quinase e lactato desidrogenase. Na avaliação da
função hepática são analisadas as seguintes enzimas: alanina
aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST),
gama glutamiltransferase (GGT) e fosfatase alcalina (ALP).
Elevadas concentrações destas enzimas no soro indicam dano ou
prejuízo a integridade tecidual em coração ou fígado de acordo
com a análise realizada.
Bioquímica Humana 35

Inibição da atividade enzimática


Inibidores são substâncias capazes de se ligar a enzima e
impedir sua atividade catalítica. Existem três tipos de inibidores
enzimáticos: competitivo, não competitivos e irreversíveis.
Inibidores competitivos competem com o substrato pelo
mesmo sitio ativo da enzima impedindo a transformação do
substrato em produto. Este tipo de inibição pode ser revertido
com aumento na concentração de substrato. Na inibição
competitiva ocorre redução na velocidade máxima da reação.
Inibidores não competitivos são substâncias que se ligam a
enzima em local diferente do sítio ativo alterando a afinidade da
enzima pelo substrato. Pode se ligar diretamente a enzima ou ao
complexo enzima+substrato. Neste tipo de inibição a velocidade
máxima da reação é reduzida, mas o Km não é afetado.
Inibidores irreversíveis ligam-se a enzima e destroem a
ação catalítica.
Muitos fármacos são utilizados como inibidores enzimáticos
como sulfanilamida, um agente antibiótico que compete com
o ácido p-aminobenzóico (PABA), substância necessária ao
crescimento bacteriano.
O metotrexato, análogo estrutural do ácido fólico é
utilizado como inibidor da enzima diidrofolato redutase que
catalisa a redução do ácido fólico a ácido tetraidrofólico, forma
ativa do ácido fólico necessária a síntese de DNA e RNA. A
ausência de folatos reduzidos (forma ativa do ácido fólico)
impede a ocorrência de reações de transferência de átomos de
carbono, essenciais para síntese de novo de nucleotídeos de
purina e de timidilato.
Fluorouracil, análogo a timina, é inibidor da timidilato
sintase e, portanto, da síntese de DNA.
36 Bioquímica Humana

Inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA)


como captopril, enalapril, impedem a conversão de angiotensina
I em angiotensina II reduzindo a pressão arterial uma vez que a
angiotensina II é mais potente vasoconstritora quando comparada
a angiotensina I.

Cofatores enzimáticos
Cofatores são imprescindíveis para que enzimas exerçam
seu papel catalítico. Entre os cofatores encontram-se moléculas
orgânicas ou coenzimas geralmente derivadas de vitaminas e
compostos inorgânicos como íons Fe2+, Mg2+, Mn2+, Zn2+.
Algumas enzimas, entretanto, requerem ambos, uma coenzima e
um ou mais íons metálicos para sua ativação.
As vitaminas são divididas em dois grandes grupos:
vitaminas hidrossolúveis quando solúveis em água e vitaminas
lipossolúveis, solúveis em lipídeos e solventes orgânicos.
Vitaminas não podem ser sintetizadas pelas células humanas
(exceto vitamina D) e devem ser obtidas por meio da dieta.
As vitaminas hidrossolúveis compreendem as vitaminas
do complexo B e ácido ascórbico (vitamina C). Essas vitaminas
não são armazenadas no organismo, exigindo seu abastecimento
diário. Devido a solubilidade em água, o excedente é eliminado
na urina. O complexo B possui 8 vitaminas a saber: B1- tiamina,
B2- riboflavina, B3- Niacina, B5- ácido pantotênico, B6-
piridoxina, B7- Biotina, B9- ácido fólico e B12- cianocobalamina.
As funções associadas ao complexo B são produção de energia,
síntese e reparo de DNA, RNA, metilação genômica e não
genômica, síntese de neuroquímicos e moléculas sinalizadoras.
O aporte diário de todas as vitaminas do complexo B é essencial
para o funcionamento fisiológico e neurológico ótimos.
Bioquímica Humana 37

A biotina em doses farmacológicas pode ter efeitos


hipolipidêmicos e hipoglicemiantes reduzindo
as complicações em ambos modelos, animais
e humanos. Esses efeitos foram associados a
capacidade desta vitamina em promover mudanças
na expressão gênica e produção de proteínas
em órgãos considerados órgãos- chave no
metabolismo como fígado e ilhotas pancreáticas
(BOONE-VILLA et al., 2015)
A vitamina B12 apresenta uma pequena reserva no tecido
hepático enquanto a vitamina B6 é armazenada também em
pequenas quantidades no músculo esquelético.
A vitamina C atua como agente antioxidante, eliminando
radicais livres e na formação do colágeno (proteína estrutural).
As vitaminas lipossolúveis A, D, E e K precisam de lipídeos
para serem bem absorvidas. Após a absorção, essas vitaminas
são transportadas no sangue associadas a lipoproteínas.
A vitamina A ou retinol é considerado um hormônio porque
estimula a transcrição de genes, tem como funções: ativação do
sistema imune, diferenciação e proliferação celular, reprodução,
crescimento, visão e atua como antioxidante. A pró-vitamina A
de origem vegetal é conhecida como carotenóide. É armazenada
no fígado.
A vitamina D pode ser obtida pela dieta ou por síntese
cutânea endógena, onde a luz ultravioleta converte o
7-dehidrocolesterol em colecalciferol que precisa sofrer duas
hidroxilações para tornar ativa (calcitriol). A vitamina D ou pró-
hormônio tem como funções a manutenção da homeostasia do
cálcio e fósforo séricos; mineralização óssea; interfere de forma
positiva na produção de insulina; exerce efeito no crescimento e
diferenciação celular; além de melhorar a resposta imunológica.
Assim como a vitamina A, a vitamina D é armazenada no tecido
hepático.
38 Bioquímica Humana

Vitamina E é um potente antioxidante biológico, potencializa


a síntese de prostaglandina e, portanto, a vasodilatação; inibe
a agregação plaquetária em células endoteliais e geração de
trombina. Presentes nos vegetais na forma de tocoferóis. É
armazenada em sua maior parte no tecido adiposo.
Vitamina K é um nome genérico de todos os
compostos que apresentem atividade de cofator para enzimas
γ-glutamilcarboxilase. Esta enzima catalisa a conversão de
resíduos de ácido glutâmico a resíduos γ-carboxiglutâmico cuja
principal função é ativar fatores de coagulação. Tem ação anti-
hemorrágica.
Minerais são elementos inorgânicos que também
funcionam como cofatores enzimáticos. Eles podem ser divididos
em macrominerais quando as necessidades diárias do organismo
são superiores a concentração de 100mg ou microminerais
quando as necessidades diárias não ultrapassam 100mg. Dentre
os macrominerais encontram-se cálcio, fósforo, magnésio,
enxofre, bem como os eletrólitos sódio, potássio e cloro. Os
microminerais são representados por ferro, cobre, manganês,
zinco, selênio, iodo, cobalto, cromo, boro e molibdênio.
Bioquímica Humana 39

RESUMINDO

E então? Gostou do conteúdo apresentado? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo proposto neste capítulo, vamos resumir
tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que enzimas são
catalisadores biológicos, ou seja, reduzem a energia de ativação
das reações químicas aumentando a velocidade das reações
metabólicas na ordem de 103 a 107 em condições ótimas de
temperatura, pH e concentração de substrato. Enzimas precisam
de cofatores para ativá-las, estes podem ser íons metálicos ou
coenzimas derivadas de vitaminas. O corpo humano não é capaz
de produzir vitaminas e minerais que precisam ser obtidos por
meio da dieta. Na catálise biológica o substrato se liga ao sitio
ativo da enzima convertendo-o em produto sem ser consumida
na reação, este modelo foi proposto por Michaelis-Menten em
1913. A atividade enzimática pode ser inibida pelo produto
final da reação em caso de enzimas alostéricas e este processo
chama-se feedback negativo. A ação enzimática também pode
sofrer inibição por inibidores competitivos que competem com
o substrato pelo sítio ativo da enzima, reduzindo a velocidade
máxima da reação. Inibidores não competitivos se ligam a sítios
diferentes do sítio ativo da enzima e reduz sua afinidade pelo
substrato, reduzindo a velocidade máxima da reação. Inibidores
irreversíveis se ligam a enzima e destroem a ação catalítica.
40 Bioquímica Humana

Digestão, absorção e excreção de proteínas

OBJETIVO

Ao término deste capítulo você será capaz de compreender


como ocorre a digestão de proteínas e quais as principais
enzimas envolvidas no processo. Aprenderá sobre a degradação
de aminoácidos e a síntese de amônia, bem como todos os
processos envolvidos no ciclo da ureia. E então? Motivado para
desenvolver estes objetivos? Então vamos lá. Avante!

Digestão e absorção de proteínas


Proteínas são macromoléculas e precisam sofrer hidrólise
a aminoácidos para serem absorvidos no intestino. A hidrólise
ocorre durante a digestão gástrica e intestinal.
A digestão de proteínas inicia-se no estômago onde por
ação do ácido clorídrico (pH2 a 3) as proteínas e peptídeos
sofrem desnaturação. O pH ácido do estômago fornece o pH
ideal para ação das enzimas lipase gástrica e pepsina. Pepsina
é secretada como um zimógeno inativo (pepsinogênio) pelas
células da parede do estômago por ação da gastrina. A conversão
do pepsinogênio a pepsina (forma ativa) ocorre por ação do
ácido clorídrico e da própria pepsina.
Ao contrário da lipase gástrica e da pepsina, as enzimas
que atuam no lúmen do duodeno e do intestino têm pHs ótimos
próximos da neutralidade. No lúmen do duodeno, o ácido do
estômago é neutralizado pelo bicarbonato dos sucos pancreático
e biliar. O pH neutro do lúmen do duodeno e do intestino é
adequado à ação das enzimas que atuam nesses locais.
Bioquímica Humana 41

O estímulo para a secreção de bicarbonato tem origem na


secretina, hormônio sintetizado por células endócrinas situadas
no epitélio intestinal. Outro hormônio sintetizado por células
endócrinas do epitélio intestinal é a colecistocinina, cujo papel
é estimular a secreção de enzimas digestivas pancreáticas (pelas
células acinares do pâncreas) e estimular a contração da vesícula
biliar que descarga bile no lúmen duodenal. Portanto, secretina
e colecistocinina atuam de forma paralela inibindo a motilidade
gástrica, ativando a secreção de enzimas e bicarbonato, além
de estimular também a secreção de sais biliares pelo fígado.
A síntese destes dois hormônios é estimulada pela presença de
oligopeptídeos no lúmen duodenal resultantes da ação de pepsina
em proteínas da dieta.
O próximo passo é a conversão do tripsinogênio em tripsina
na superfície luminal induzida pela enzima enteropeptidase
produzida nas células da mucosa intestinal. A tripsina é o ativador
de todos os zimógenos pancreáticos. A tripsina, a quimotripsina,
a elastase e a enteropeptidase são chamadas endopeptidases
porque catalisam a ruptura de ligações peptídicas situadas no
“interior” da estrutura primária dos seus substratos.
Uma enzima chamada aminopeptidase presente
na superfície luminal do intestino cliva resíduos
N-terminais de oligopeptídeos produzindo
aminoácidos livres e peptídeos menores enquanto
carboxipeptidases libertam o aminoácido de sua
extremidade carboxílica. As aminopeptidases,
carboxipeptídases e dipeptídases são denominadas
exopeptidases porque atuam em ligações peptídicas
das extremidades, resultando na liberação de
aminoácidos (MOUGHAN & STEVENS, 2013).
A absorção dos produtos da digestão proteica,
ou seja, aminoácidos, di e tripeptídeos ocorre
por processos complementares, podendo ser
transportados por três mecanismos: transferência
42 Bioquímica Humana

passiva por difusão simples (celular e


paracelular); transferência passiva por difusão
facilitada e transferência ativa por co-transporte.
A transferência passiva por difusão simples,
ocorre principalmente com aminoácidos livres
e é inversamente proporcional à hidrofilia
e diretamente proporcional ao gradiente de
concentração do aminoácido (HIRST, 1993.).
A transferência passiva por difusão facilitada
ocorre principalmente com aminoácidos livres,
porém esse transporte é mais rápido por ser
mediado por carreadores, independentes de sódio
(Na+) e da energia metabólica. A transferência
ativa por co-transporte ocorre com os aminoácidos
livres, di e tripeptídeos. É mediada por carreadores
dependentes de sódio, porém é capaz de “bombear”
uma substância contra gradiente de concentração
(ou potencial eletroquímico) e, portanto, envolve
gasto energético (KUTCHAI, 1990).
Após a absorção nos enterócitos, os aminoácidos
atingem o sistema porta e são liberados na
circulação geral ou metabolizados no fígado
(CHAMPE et al, 2006).
Os aminoácidos não podem ser armazenados e seu
excedente proveniente da síntese de novo, dieta rica em proteína
ou degradação de proteínas endógenas devem ser excretados.

Degradação de aminoácidos
A degradação de aminoácidos ocorre no tecido hepático. Ao
atingir o fígado, há remoção do grupo α-amino dos aminoácidos
para permitir que sejam degradados.
O grupo α-amino é transferido para um grupamento
α-cetoácido resultando em glutamato e outro grupamento
Bioquímica Humana 43

α-cetoácido. O grupo α-cetoácido resultante aceita grupos


amino de outros aminoácidos transformando-se em glutamato.
Essa reação só é possível em presença de enzimas chamadas
transaminases ou aminotransferases e piridoxal- fosfato como
grupo prostético.
O aminoácido glutamato produzido na reação anterior
terá dois destinos possíveis: doar grupamentos amino para
síntese de outros aminoácidos não essenciais ou ser desaminado
oxidativamente.
A síntese de outros aminoácidos ocorre no fígado, onde
o glutamato pode sofrer transaminação com oxaloacetato para
formar aspartato, outro doador de nitrogênio para o ciclo da ureia.
A desaminação oxidativa do glutamato ocorre nas
mitocôndrias das células pela ação da enzima L-glutamato
desidrogenase. A enzima está presente na matriz mitocondrial e
converte o glutamato em α-cetoácido e amônia.
Os α-cetoácidos formados pela desaminação
dos aminoácidos podem por sua vez, dar
origem a metabólitos precursores de lipídeos
ou carboidratos. Os aminoácidos que formam
intermediários para síntese de carboidratos são
chamados glicogênicos. Aqueles que formam
intermediários para síntese de lipídeos são
cetogênicos (NOVELLI et al., 2005).
Aminoácidos como alanina, glicina, serina,
cisteína e treonina originam piruvato quando
desaminados. Asparagina e ácido aspático dão
origem a oxaloacetato. O α-cetoglutarato é
originado da desaminação de glutamina, ácido
glutâmico, prolina, arginina e histidina. Isoleucina,
metionina e valina formam succinil-Coenzima
A por desaminação. Fumarato é originado por
fenilalanina e tirosina (NOVELLI et al., 2005).
44 Bioquímica Humana

Todos os aminoácidos citados originam intermediários


do ciclo do ácido cítrico e podem ser utilizados na produção de
energia.
Em tecidos extra-hepáticos a amônia resultante da
desaminação oxidativa deve ser transportada ao fígado onde será
convertida em ureia e seguirá até os rins para ser excretada na
urina. A amônia livre é tóxica para as células e por esse motivo
combina-se com glutamato produzindo glutamina pela ação da
enzima glutamina- sintase e energia na forma de ATP.
Na maioria dos animais o excedente de glutamina é
transportado para o intestino, fígado e rins para ser processada.
Nestes tecidos, o nitrogênio amídico é liberado como amônio
(NH4+) na mitocôndria, onde a enzima glutaminase converte
glutamina em glutamato e amônio.
Através do ciclo da glicose-alanina, a alanina transporta
grupos amino para o fígado. A alanina funciona como
transportador de amônia e do esqueleto carbônico do piruvato
desde o músculo até o fígado. No fígado a amônia é excretada e o
piruvato empregado na produção de glicose, a qual pode retornar
ao músculo em um ciclo denominado ciclo glicose-alanina.
Assim, o nitrogênio chega ao fígado como glutamina
(glutamato) ou como alanina (músculo).
A amônia em animais ureotélicos é convertida a ureia nas
mitocôndrias hepáticas via ciclo da ureia e transportada aos rins
para ser eliminada na urina.

Ciclo da Ureia
O processo global da síntese de ureia requer energia de três
moléculas de ATP e a participação sucessiva de cinco enzimas.
A amônia que chega a matriz mitocondrial das células é
unida ao dióxido de carbono produzido no ciclo do ácido cítrico
(CO2 na forma de HCO3) formando um composto chamado
Bioquímica Humana 45

carbamoil–fosfato. Essa reação é catalisada pela carbamoil-


fosfato sintetase I.
O ciclo da ureia possui quatro etapas. Na primeira delas
o carbamoil-fosfato doa seu grupo carbamoil para a ornitina
formando citrulina com liberação de fosfato inorgânico (Pi). A
enzima que catalisa essa reação é ornitina-transcarbamoilase. A
citrulina formada na reação anterior é transferida da mitocôndria
para o citosol das células hepáticas.
O passo seguinte é a condensação da citrulina com
o aspartato produzido na mitocôndria por transaminação e
transportado para o citosol. A reação de condensação entre
citrulina e aspartato origina argininosuccinato, reação catalisada
pela enzima argininosuccinato- sintetase que requer energia na
forma de ATP.
A argininosuccinato é quebrada a arginina e fumarato. O
fumarato é hidratado e convertido a malato, pode ser oxidado a
oxaloacetato ou entrar na mitocôndria e participar do ciclo do
ácido cítrico.
A enzima argininase que é dependente do mineral
manganês cliva a arginina produzindo ureia e ornitina. A ornitina
é transportada para a mitocôndria e inicia nova volta no ciclo da
ureia (Figura 10). A ureia por sua vez, é liberada para o sangue
e segue até os rins onde será eliminada.
O ciclo da ureia produz fumarato que pode ser convertido
a oxaloacetato com produção de uma nicotinamida adenina
dinucleotídeo (NADH) na reação catalisada pela malato-
desidrogenase. A molécula de NADH pode gerar 2,5 ATP
durante a respiração mitocondrial e repor parte da energia gasta
no ciclo da ureia (Figura 6).
46 Bioquímica Humana

Figura 6: Ciclo da ureia

Figura 7- Equação da síntese de ureia (Fonte: NELSON & COX)


Bioquímica Humana 47

RESUMINDO

E então? Gostou do conteúdo apresentado? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo proposto neste capítulo, vamos
resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que as
proteínas são moléculas muito grandes e por isso precisam
ser digeridas a aminoácidos para serem absorvidas. A digestão
inicia-se no estômago com a enzima pepsina, ativada por
suco gástrico, cuja função é quebrar grandes peptídeos em
oligopeptídeos e aminoácidos livres. Secretina e colicistocinina
são hormônios produzidos nas células intestinais em presença
de pH ácido proveniente do quimo e induzem a liberação de
bicarbonato, suco pancreático e bile respectivamente. Tripsina,
quimotripsina, elastase e enteropeptídases continuam a digestão
dos oligopeptídeos que são absorvidos por mecanismos
transporte passivo e transporte ativo mediado por carreadores.
O excedente de aminoácidos não pode ser armazenado e deve
ser eliminado. Primeiro o aminoácido é desaminado sendo
convertido em α-cetoácido e amônia, a amônia combina-se com
glutamato sendo convertida em glutamina e segue para o fígado.
No músculo esquelético a alanina é o transportador de nitrogênio
até o tecido hepático. Na mitocôndria dos hepatócitos a amônia é
convertida em ureia através do ciclo da ureia. Esse ciclo envolve
5 etapas e gasto de energia na forma de ATP, converte amônia
em ureia que segue pela corrente sanguínea até os rins, onde será
excretada na forma de urina.
48 Bioquímica Humana

Síntese Proteica

OBJETIVO

Ao término deste capítulo você será capaz de entender como a


informação genética contida no DNA é expressa. Compreenderá
os processos pós-traducionais necessários para tornar uma
proteína funcional e as consequências da falha na degradação
de proteínas malformadas. E então? Motivado para desenvolver
estes objetivos? Então vamos lá. Avante!

DNA e RNA
A informação genética armazenada no DNA é repassada
as células-filhas através do processo de replicação e deve ser
expressa por meio da transcrição antes de ser traduzida. No
processo de transcrição informações contidas nos cromossomos
são utilizadas para construção de moléculas de RNA mensageiro
(RNAm) que, em seguida, é traduzido em proteína. Portanto, a
via de síntese de proteínas é denominada tradução e é dependente
da informação contida nos ácidos nucléicos (DNA e RNA) para
expressar a sequência específica de aminoácidos utilizados na
construção do polipeptídeo.
O código genético é representado por letras que representam
bases nitrogenadas presentes no DNA e RNA. No processo de
tradução esse código de letras é lido 3 a 3, ou seja, cada trinca
de letras ou bases nitrogenadas é chamado de códon e indica
o aminoácido que será adicionado a cadeia polipeptídica em
construção. Esse código genético é dito universal e degenerado
pois um códon corresponde a um único aminoácido, mas um
aminoácido pode ter vários códons que o representam. O código
e lido a partir de um ponto fixo em uma sequência continua de
bases lidas 3 a 3.
Bioquímica Humana 49

As bases nitrogenadas são divididas em bases púricas e


pirimídicas. As bases púricas são Adenina (A) e Guanina (G)
utilizadas tanto na formação de DNA quanto RNA. Bases
pirimídicas são representadas pela Citocina a qual participa da
formação de nucleotídeos em DNA e RNA, Timina (T) base
exclusiva de DNA e Uracila, base exclusiva de RNA.
A sequência de nucleotídeos SEMPRE é escrita da
extremidade 5’ para a extremidade 3’.
DNA e RNA constituem polímeros de nucleotídeos.
Nucleotídeos são formados por bases nitrogenadas, discutidas
anteriormente, ligadas a um açúcar de cinco carbonos (pentose)
e um grupamento fosfato. O DNA é uma molécula de fita dupla
e sua pentose é uma desoxirribose; já o RNA é composto por fita
única dobrada em estruturas complexas e o açúcar presente em
seus nucleotídeos é denominado ribose.

Processo de Transcrição Gênica


RNA
Existem três tipos de RNAs que diferem no tamanho,
função e modificações estruturais. O RNA ribossomal está
associado a proteína chamada ribossomo, local onde ocorre a
síntese proteica. Esse tipo de RNA apresenta quatro variações
diferindo apenas no tamanho da molécula, 28S, 18S, 5,8S e 5S. A
letra S indica unidade de medida de ribossomos, Svedberg, a qual
mede a velocidade de sedimentação em uma centrifugação. RNA
transportadores, são os menores entre os RNAs e transportam os
aminoácidos para o local de síntese proteica (ribossomo). Existe
pelo menos um tipo de RNAt para cada um dos 20 aminoácidos
utilizados na construção de proteínas ou cadeias polipeptídicas.
RNA mensageiro é a molécula que carrega a informação genética
do DNA presente no núcleo para o citosol onde posteriormente
será traduzido.
50 Bioquímica Humana

RNAs polimerases em eucariotos


Enzimas denominadas RNA polimerases são encontradas no
núcleo das células eucarióticas e divididas em três classes: RNA
polimerase I, RNA polimerase II e RNA polimerase III. A RNA
polimerase I é responsável pela síntese do precursor de ribossomos.
RNA polimerase II sintetiza precursores de RNAm e pequenos
RNAs ditos RNAsp presentes no núcleo. RNA polimerase II
reconhecem regiões promotoras que servem de sítios de ligação
para fatores de transcrição necessários em genes a serem transcritos.
RNA polimerase III transcreve genes pra RNAr 5S e RNAt.
RNAs polimerase de células eucarióticas são mais
complexas do que RNA polimerases de procariotos.

Etapas da Transcrição
O material genético em eucariotos está associado a
histonas formando nucleossomos que dificultam o processo
de transcrição. A remodelação da cromatina é necessária para
deixá-la em uma forma mais relaxada chamada eucromatina
para que ocorra a transcrição.
Apenas uma das fitas de DNA é transcrita em um RNAm
por vez e apenas uma pequena parte dos genes é transcrita. As
moléculas de ácidos nucleicos (DNA e RNA) somente conseguem
se parear se estiverem em sentidos opostos. Esse sentido é dado pela
posição dos carbonos 5’ e 3’ do açúcar (uma pentose - desoxirribose
no DNA e ribose no RNA) presente nessas moléculas.
O processo de transcrição é iniciado após a enzima RNA
polimerase reconhecer e ligar-se a uma região promotora no
gene. Essa região é associada a fatores gerais de transcrição
os quais atraem a enzima RNA polimerase II e a posicionam
no local adequado para o início da transcrição. Em células
eucarióticas a RNA polimerase II é a responsável pela ligação a
região promotora chamada TATA ou Hodness rica em Adenina
e Timina, localizada a 25 nucleotídeos da base inicial do sítio
de transcrição. A região promotora contém o sitio de início da
Bioquímica Humana 51

transcrição. Células eucarióticas apresentam um único gene


como uma unidade de transcrição.
Após reconhecer a região promotora e transcrever cerca
de nove a dez nucleotídeos, fatores de alongamento se ligam a
polimerase que se move ao longo da fita molde sintetizando o
RNA mensageiro até atingir a região de terminação. Ao mover-
se sobre o DNA, a RNA polimerase desenrola a fita dupla desse
nucleotídeo expondo novos segmentos a serem transcritos na fita
molde. Os nucleotídeos são unidos a extremidade 3’ da cadeia
de RNA em crescimento formando um hídrido DNA/RNA na
região desenrolada do DNA.
A terceira etapa do processo de transcrição é a fase de
terminação. Nesta fase a RNA polimerase reconhece uma
sequência sinalizadora de término na transcrição.
RNAm recém-sintetizado constitui o transcrito primário,
contendo íntrons e éxons em uma sequência longa de
nucleotídeos. O RNAm precisa ser modificado ainda no núcleo
da célula para ser ativado.
O RNA mensageiro formado é monocistrônico, ou seja,
cada RNAm codifica apenas uma cadeia polipeptídica.

Modificações Pós Transcricionais


O RNAm eucariótico precisa sofrer algumas modificações
pós-transcricionais para se tornar maduro e, portanto, ativo.
A primeira modificação pós- transcricional envolve a
excisão de íntros do transcrito primário pelo processo de splicing
ou recomposição reduzindo o tamanho da molécula.
A adição de cauda poli A, uma cadeia de bases adenina
inserida próxima a extremidade 3’ do RNAm, é necessária para
estabilizar a molécula e permitir sua saída do núcleo para o
citosol da célula, local onde ocorrerá o processo de tradução.
Adição de uma extremidade 5’CAP ajuda na estabilização
da molécula de RNAm e permite o início do processo de
52 Bioquímica Humana

tradução. A extremidade 5’CAP ou “quepe” constitui uma


7-metilguanosina ligada a extremidade 5’ do RNAm. RNAm
sem adição 5’CAP não pode ser transcrito.
Iniciaremos a seguir a discussão a respeito do processo de
tradução ou síntese proteica propriamente dita.

Processo de Tradução: Expressão da


Informação Genética
A síntese de proteínas envolve cinco etapas, a primeira
delas é a ativação de aminoácidos e formação do complexo
aminoácido-RNAt. A etapa seguinte é chamada de iniciação
e constitui a ligação da metionina-acil- RNAt a subunidade
menor do ribossomo no códon AUG do RNAm. Na elongação o
peptídeo nascente é alongado pela ligação de novos aminoácidos
em sequência a cadeia em formação. A terminação é a parada
na síntese que ocorre após o encontro do códon de parada e o
desligamento do peptídeo do ribossomo. A última etapa envolve o
enovelamento e o processamento pós-traducional do polipeptídeo.
Para iniciar a síntese proteica é necessário a presença de
aminoácidos, fatores de iniciação, elongação, término da cadeia
polipeptídica e RNA transportador, responsável pela inserção
do aminoácido ao complexo ribossomo-RNAm, RNAm a ser
transcrito, ribossomo, todos presentes no citoplasma da célula
onde ocorre a síntese proteica. Além disso são necessárias
enzimas, energia na forma de ATP e GTP.

Ativação de Aminoácidos
O RNAt é uma molécula adaptadora capaz de interagir
com sítios específicos do ribossomo durante a tradução do
polipeptídeo definindo a posição dos aminoácidos de acordo com
a sequência de bases do RNAm. Ele tem sítio de ligação específico
para o aminoácido na extremidade 3’ enquanto a extremidade 5’
é formada pelo anticódon, local que reconhece e se associa ao
RNAm através de interação entre bases complementares.
Bioquímica Humana 53

A ligação entre RNAt e aminoácido é catalisada pela


enzima aminoacil-RNAt sintetase em presença de ATP ocorrendo
em duas etapas. Existem 20 aminoacil-sintetases para cada tipo
de aminoácido.
Na primeira etapa o aminoácido reage com ATP formando
aminoacil-adenilato, liberando adenosina monofosfato (AMP)
e pirofosfato. Em seguida o aminoácido ativado reage com
RNAt liberando AMP. A enzima tem alta especificidade no
reconhecimento do RNAt e seu aminoácido.

Etapas de Iniciação, Alongamento e Terminação


O RNAm é traduzido de sua extremidade 5’ para
extremidade 3’ enquanto o polipeptídeo deve ser formado a
partir de sua extremidade amino-terminal para extremidade
carboxi-terminal. A leitura deve obedecer ao código de 3 letras
chamado códon o qual especificará o aminoácido que deverá ser
acrescido a proteína em formação (Tabela 2).

Tabela 2: Tabela com a tradução do código genético


54 Bioquímica Humana

A etapa iniciação é a etapa mais demorada e pode ser


decisiva na determinação da frequência com que o mensageiro
deve ser traduzido. Nesta etapa o ribossomo liga-se a estrutura
5’CAP na extremidade 5’ do RNAm movendo-se ao longo do
RNA até atingir o códon de iniciação AUG mais próxima à
extremidade 5’ do mensageiro. RNAt iniciador entra no sitio
ribossomal P carregando o aminoácido metionina não formilada.
Ribossomos constituem grandes complexos de proteína e
RNA ribossômico, localizados livres no citosol ou associados
ao retículo endoplasmático rugoso. Essa molécula possui três
sítios ativos de ligação para o RNAt, os sítios A, P e E os quais
se estendem através das duas subunidades. Geralmente mais de
um ribossomo pode participar da tradução do RNAm ao mesmo
tempo formando um complexo denominado polissomo.
O sitio A do ribossomo é o local onde o aminoacil-RNAt
recém-chegado se associa e libera o aminoácido na cadeia
polipeptídica em crescimento. O sitio P ou sitio de ligação ao
peptidil-RNAt é o local associado a molécula de RNAt pela
extremidade carboxílica (5’) do peptídeo em crescimento.
Sítio E ou sítio de saída é ocupado transitoriamente pelo
RNAt livre de aminoácidos.

IMPORTANTE

Sequências específicas de bases no RNAm, sequências Kozac,


ajudam o complexo de iniciação a identificar o códon AUG
iniciador em eucariotos. Em procariotos essa sequência é
denominada Shine-Delgarno.
Bioquímica Humana 55

A fase de alongamento inicia-se logo após a formação da


primeira ligação peptídica até o códon de término, constitui a
fase mais rápida do processo de síntese. A formação de ligações
peptídicas é catalisada pela peptidiltransferase presente na RNAr
23 S na subunidade 50 S do ribossomo.
Durante o alongamento, o ribossomo move-se ao longo
do RNAm que está sendo traduzido. Esta fase ocorre em três
etapas: na primeira etapa ocorre alongamento com a ligação de
um aminoacil-RNAt ao sitio A do ribossomo; segunda etapa
constitui a ligação peptídica com aminoácido recém-chegado
causando transferência da cadeia polipeptídica em crescimento
do sitio P para o sitio A e promovendo translocação do ribossomo
ao longo do RNAm, transferindo o novo peptidil-RNAt do sitio
A para P com posicionamento do próximo códon a ser traduzido
no sítio A. Durante a terceira etapa o RNAt descarregado é
deslocado para o sitio E. Esses três passos são repetidos várias
vezes até o término da cadeia peptídica.
Fatores de alongamento são necessários na produção da
cadeia polipeptídica. Fatores EFTu carregados com uma
molécula de GTP (guanosina monofosfato) localizados
no sitio A do ribossomo são essenciais para a ligação do
aminoacil-RNAt ao sítio. O GTP é clivado durante a formação
da ligação peptídica fornecendo energia para reação.
A terminação ocorre quando um dos três códons de
terminação é translocado para o sitio A, UAG, UAA, UGA.
Esses códons não codificam aminoácidos e sinalizam o término
da síntese proteica.
Na etapa de terminação ocorre hidrólise da ligação peptidil
–RNAt terminal com liberação do polipeptídeo do último RNAt.
Existe um único fator de liberação do peptídeo em eucariotos
denominado eRF dependente de GTP. Em seguida ocorre a
dissociação do ribossomo e sua reciclagem.
56 Bioquímica Humana

A cadeia polipeptídica recém-formada precisa sofrer


modificações adicionais, reducionais pós-traducionais discutido
a seguir.

Modificações Pós-Traducionais e Endereçamento


de Proteínas
Modificações pós-traducionais são eventos de processamento
covalente que mudam as propriedades das proteínas por clivagem
proteolítica ou por adição de um grupo químico a um ou mais
aminoácidos. Estas modificações podem determinar a atividade, a
localização, e interações com outras proteínas.
Grande parte das proteínas humanas sofre modificações,
a mais comum é a glicosilação. A adição de açúcares ocorre
no retículo endoplasmático e no complexo de Golgi. Algumas
proteínas também podem ser fosforiladas aumentando ou
reduzindo sua atividade enquanto outras podem ser acetiladas
alterando sua função. As modificações em proteínas recém-
sintetizadas como enovelamento, pontes dissulfeto, glicosilação,
entre outras, ocorrem no retículo endoplasmático.
Quanto ao endereçamento das proteínas, geralmente são
direcionadas ao complexo de Golgi para posteriormente serem
selecionadas e enviadas a seu destino.
Proteínas destinadas ao meio extracelular, formação
de membranas biológicas, possuem carboidratos ligados ao
grupamento hidroxila de aminoácidos como serina e treonina
por exemplo. Nas proteínas que são direcionadas para retículo
endoplasmático e mitocôndria possuem uma sequência sinal
localizada na porção aminoterminal

Desnaturação, dobramento incorreto e


consequências
A desnaturação é o processo de desdobramento e desorga-
nização de estruturas proteicas sem a ocorrência de hidrolise em
Bioquímica Humana 57

ligações peptídicas. O calor, pH extremos e solventes orgânicos


como etanol e acetona podem desnaturar as proteínas tornando-as
insolúveis.
Durante a formação de proteínas podem ocorrer
dobramentos incorretos e está proteína deverá ser marcada
por ubiquitinação para sofrer degradação no interior da célula.
A degradação evita o acúmulo de proteínas anormais ou não
desejadas. Proteínas que precisam ser renovadas também são
degradadas por este sistema.
A ubiquitina é uma proteína globular que quando ligadas
a proteína sinaliza a necessidade de sua degradação. A proteína
a ser degradada apresenta várias ubiquitinas adicionadas a
sua estrutura formando uma cadeia de poliubiquitina a qual é
reconhecida por proteassomo. O proteossomo corta a proteína
alvo em pequenos fragmentos posteriormente degradado a
aminoácidos cujo excedente é excretado.
Proteínas celulares destinadas à degradação pelo
proteossomo devem estar devidamente marcadas
com ligação covalente de múltiplos monômeros
de ubiquitina, peptídeos compostos de 76
aminoácidos. O sistema ubiquitina-proteossomo
é responsável por processar e degradar proteínas
celulares essenciais para a regulação de
desenvolvimento, diferenciação, proliferação,
apoptose, transdução de sinal, respostas imune
e inflamatória, entre outros, governando, assim,
processos celulares básicos (KIRKIN et al., 2009).
Nas últimas décadas tornou-se claro que muitas
proteínas requerem assistência para dobrar-
se eficientemente a uma taxa biologicamente
relevante. Essa assistência é fornecida por
proteínas chamadas chaperonas. Diferentes
proteínas chaperonas acompanham a cadeia
polipeptídica nascente durante o processo de
58 Bioquímica Humana

tradução no ribossomo e subsequente dobramento


para prevenir (ou reverter) o desdobramento e a
agregação. As chaperonas atuam promovendo
a blindagem de resíduos de aminoácidos
hidrofóbicos que são expostos pelas proteínas
em suas conformações não nativas, mas ficam
encerrados no interior da cadeia no estado nativo
(HARTL, 2017)
Deficiências no dobramento proteico ou no sistema de
ubiquitinação tornam a proteína insolúvel formando agregados
denominados amiloidose.
A amiloidose pode ocorrer de novo ou ser secundária
a várias doenças infecciosas, inflamatórias ou
malignas. Elas constituem agregados de proteínas
com dobramento errôneo presentes nos meios
intra e extracelulares. Na maioria dos casos as
manifestações são idade-dependentes, ocorrendo
com mais frequência em indivíduos idosos em
decorrência do declínio na capacidade da rede de
proteases em degradar proteínas com dobramento
incorreto (HARTL, 2017)
Desordens neuronais têm sido atribuídas a amiloidoses
principalmente quando estas desordens estão associadas a
doenças neurodegenerativas como Alzheimer, Parkinson,
doenças de Creutzfeldt Jakob.
Na doença de Alzheimer ocorre acúmulo de um peptídeo
amiloide Aβ decorrente da clivagem de uma proteína precursora
amiloide maior presente na superfície de células neurais e
outros tecidos. Esse peptídeo contendo 40 a 43 aminoácidos se
agrega na configuração de folha β- pregueada formando placas
amiloides neurotóxicas que se depositam no meio extracelular
e ao redor de vasos sanguíneos. Outra característica da doença
de Alzheimer é a agregação amiloide envolvendo a proteína Tau
em neurônios formando um emaranhado de neurofibrilas.
Bioquímica Humana 59

A doença de Parkinson é degenerativa do sistema nervoso


central, crônica e progressiva onde a proteína α-sinucleína mal
dobrada se agrega em massas filamentosas chamadas corpos
de Lewy.
Doença do Príon ou Creutzfeldt Jakob em humanos. Nesta
doença uma proteína denominada Príon causa encefalopatia
espongiforme transmissível. Esta proteína é muito resistente
a degradação proteolítica e forma agregados similares a placa
amiloide. A infecção provocada pela proteína Príon se dá por
alterações na conformação tridimensional da proteína que tem
suas estruturas em α-Hélice substituídas por folhas β-pregueadas
tornando-a infecciosa. O agente infeccioso é uma versão alterada
da proteína normal sendo capaz de converter proteínas normais
em proteínas patogênicas.
60 Bioquímica Humana

RESUMINDO

E então? Gostou do conteúdo apresentado? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo proposto neste capítulo, vamos
resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que DNA é
o depositário da informação genética e esta informação deve ser
traduzida na forma de proteínas. Para a ocorrência do processo
de tradução, o DNA precisa que sua informação seja transcrita na
forma de uma molécula de RNA, chamada de RNA mensageiro.
O RNA mensageiro recém-sintetizado é modificado antes de sair
do núcleo em direção ao citoplasma, local onde ocorre a síntese
proteica. A modificação pós-transcricional do RNAm recém-
formado envolve a perda de íntrons, adição de cauda poli A na
extremidade 3´e adição de 5’CAP na extremidade 5’ da molécula.
Essas modificações são necessárias para a saída do RNAm do
núcleo e seu reconhecimento no processo de tradução. O ribossomo
liga-se a estrutura 5’CAP na extremidade 5’ do RNAm movendo-
se ao longo do RNA até atingir o códon de iniciação AUG. Neste
momento um RNAt ativado com aminoácido metionina não
formilada liga-se ao sito P do ribossomo. O ribossomo continua
a se mover pelo RNAm e os aminoácidos vão sendo inseridos só
que desta vez no sitio A do ribossomo. A tradução termina quando
o ribossomo atinge o código de terminação e a cadeia peptídica é
liberada do complexo. Após a formação do pepetídeo é necessário
que ocorram modificações pós-traducionais como enovelamento,
glicosilação, metilação, acetilação, entre outras, a fim de tornar a
cadeia polipeptídica funcional. Quando ocorre malformação da
cadeia polipeptídica é necessário que ocorra degradação por um
processo chamado ubiquitina-proteassomo. A falha no processo
de ubiquinação pode promover o aparecimento de amiloidoses
que desencadearão doenças degenerativas.
Bioquímica Humana 61

02
UNIDADE
62 Bioquímica Humana

INTRODUÇÃO
Você sabia que carboidratos constituem moléculas
orgânicas mais abundantes na natureza. Isso mesmo! Eles podem
ser denominados como açúcares, hidratos de carbono, glicídeos
e glucídeos. Essas moléculas são classificadas em carboidratos
simples e carboidratos complexos. Dentre suas principais funções
encontram-se formação de membranas biológicas, comunicação
celular e paredes celulares de bactérias. Entretanto, a principal
função dos carboidratos é o fornecimento de energia química
para manutenção do metabolismo. A glicose é o principal
carboidrato absorvido no trato intestinal e sua oxidação pela via
glicolítica gera moléculas de piruvato. O piruvato será conduzido
do citosol a mitocôndria, convertido em Acetil-coenzima A e
posteriormente oxidada para produção de equivalentes redutores,
consequentemente energia. Parte dos carboidratos ingeridos na
dieta é armazenado na forma de glicogênio. Durante períodos
de jejum ocorre quebra de glicogênio, bem como produção de
glicose via gliconeogênese como veremos no decorrer desta
unidade. A captação de glicose pelos tecidos e sua concentração
sanguínea são controlados por hormônios cuja deficiência na
produção ou na resposta tecidual promove desenvolvimento de
patologias como Diabetes mellitus. Entendeu? Ao longo desta
unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
Bioquímica Humana 63

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 2. Nesta
unidade, o nosso objetivo é auxiliá-lo no desenvolvimento das
seguintes competências profissionais:

1 Compreender a estrutura, função e classificação


dos carboidratos;

2 Aprender sobre as vias metabólicas de carboidratos


associados ao estado de jejum e estado alimentado;

3 Identificar as etapas do ciclo do ácido cítrico e o


processo de formação da energia;

4 Entender problemas relacionados a desordens


metabólicas.

Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
64 Bioquímica Humana

Compreendendo como funciona


a estrutura, principais funções e
classificação dos carboidratos

OBJETIVO

Ao término deste capítulo você será capaz de entender a


estrutura dos carboidratos, principais funções e classificação.
Compreenderá também como ocorre sua digestão, absorção e
excreção, bem como os mecanismos envolvidos nestes processos.
Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá.
Avante!

Estrutura e classificação dos carboidratos


A fórmula geral dos carboidratos é Cn(H2O)n com n
maior ou igual a 3, onde C representa átomo de carbono, H é
representativo da molécula de hidrogênio, O é oxigênio e n
corresponde ao número de compostos presentes na molécula.
Portanto, esta fórmula representa o número de átomos de C, H e
O, contidos em uma molécula de carboidrato. A proporção entre
os átomos de C, H e O para grande maioria de carboidratos é
1:2:1 sugerindo a presença de um carbono hidratado (ligado à
agua) denominado hidrato de carbono.
Os carboidratos são chamados de açúcares, glicídios e
glucídeos os quais são encontrados em frutas, pães, massas,
doces, mel, leite, tubérculos, entre outros.
Vamos iniciar nossos estudos pela classificação dos
carboidratos em simples e complexos.
Bioquímica Humana 65

Carboidratos simples são classificados de acordo


com o número de monômeros presentes em sua
estrutura. Monossacarídeos possuem átomos
de carbono ligados por ligações simples a um
grupo hidroxila (-OH), exceto por um carbono
que carrega o grupamento carbonila (-C=O). Os
monossacarídeos são chamados de aldoses quando
o grupamento carbonila estiver localizado na
extremidade da molécula. Quando o grupamento
carbonila estiver localizado na posição interna
da molécula, este monossacarídeo é denominado
cetose (NOVELLI et al., 2005).
As principais aldoses são glicose, manose, galactose, ribose
e gliceraldeído, já as cetoses compreendem dihidroxicetona,
ribulose, frutose e sorbose.
Os carboidratos complexos são formados pela união entre
monossacarídeos formando oligossacarídeos contendo de 3 a 12
unidades monoméricas e polissacarídeos quando ocorre a união
de mais de 12 unidades de monossacarídeos.
Os carboidratos simples ou monossacarídeos têm
classificações quanto a estrutura, função química e número de
átomos de carbono como descrito a seguir.

Classificação de monossacarídeos
Os monossacarídeos podem ver classificados como D
(Dextrogiro) ou L (Levógiro). Esta classificação está baseada na
convenção de que o carbono classificado como C1 é o carbono
ligado ao grupamento aldeído ou cetona, enquanto o carbono
assimétrico, é representado pelo carbono mais distante dos
grupamentos aldeído e cetona.
66 Bioquímica Humana

IMPORTANTE

A contagem de átomos de carbonos na molécula em


monossacarídeos inicia-se sempre pela extremidade que contém
o grupamento carbonila (aldeído ou cetona).

Quando a hidroxila do carbono assimétrico está voltada


para direita, o monossacarídeo é um D-açúcar, consequentemente
quando a hidroxila presente no carbono assimétrico estiver
voltada para esquerda, é denominado um L-açúcar.
Em seres humanos a maioria dos açúcares são do tipo D.
Quando monossacarídeos diferem na configuração
ao redor de determinado átomo de carbono,
são denominados epímeros. Os exemplos mais
comuns isômeros do tipo epímeros são glicose
com galactose, as quais diferem na posição da
hidroxila (-OH) presente em qualquer átomo de
carbono (CHAMPE et al., 2006).
Uma outra forma de classificação de monossacarídeos
está relacionado ao número de átomos de carbono presentes em
suas moléculas. Monossacarídeos com 3 carbonos são trioses, 4
carbonos-tetroses, 5 carbonos-pentoses, 6 carbonos–hexoses, 7
carbonos-heptoses, e assim sucessivamente.
Bioquímica Humana 67

CURIOSIDADE

Os monossacarídeos de importância no metabolismo celular


contém de três a sete átomos de carbono em suas moléculas.
Exemplos: pentoses- açúcares de 5 carbonos como desoxirribose
e ribose são utilizados na produção de nucleotídeos que são
blocos constitutivos de DNA e RNA respectivamente. Hexoses-
açúcares de 6 carbonos como glicose e frutose, tem como função
fornecer energia.

Monossacarídeos contendo cinco ou mais átomos de


carbono formam um anel por processo de ciclização. A formação
do anel provém da reação entre o carbono chamado C1 de
uma aldose, ou carbono C2 em caso de cetose, com um grupo
álcool da mesma molécula formando derivados hemiacetais ou
hemicetais.
Açúcar contendo cinco e seis átomos de carbono
podem formar anel de 5 ou 6 carbonos denominados furanose
(frutofuranose e glicofuranose) e piranose (frutopiranose e
glicopiranose), respectivamente. Furanose constitui composto
semelhante ao furano, composto mais simples contendo um anel
de 5 membros enquanto piranose é o açúcar com anel de seis
carbonos, análogo ao pirano, composto mais simples contendo
um anel de seis membros.
Monossacarídeos cíclicos possuem duas formas
anoméricas de carbono da carbonila. O carbono anomérico tem
um centro quiral com duas configurações possíveis: Anômero α
que tem a hidroxila em C1 na posição trans ao grupo CH2OH e
anômero β cuja hidroxila em C1 está na posição cis em relação
ao grupo CH2OH.
68 Bioquímica Humana

De acordo com CHAMPE (et al., 2006) quando o oxigênio


do carbono ligado ao grupo carbonila de um aldeído não estiver
ligado a qualquer estrutura, esse açúcar é denominado um açúcar
redutor. A extremidade redutora pode reagir com substâncias
químicas e oxidar o carbono anômero, ou seja, carbono carbonil
a carbono carboxil.
Os monossacarídeos podem se ligar originado
estruturas maiores como dissacarídeo, oligossacarídeos
ou polissacarídeos por meio de ligações glicosídicas.
Ligações glicosídicas são formadas pela reação entre
o átomo de carbono localizado na posição C1 de um
monossacarídeo e o grupamento hidroxila (-OH)
de um outro monossacarídeo resultando em uma
ligação glicosídica (–C-O-C) entre as duas moléculas
(NOVELLI et al., 2006).
A ligação entre duas unidades de monossacarídeos produz
dissacarídeos. Um dos exemplos é a sacarose formada pela
união de uma molécula de glicose com uma molécula de frutose.
A lactose constitui um dissacarídeo formado pela união entre
glicose e galactose. Maltose é formada pela junção entre duas
moléculas de glicose.
A ligação de dois ou mais unidades de monossacarídeos
dá origem poliidroxialdeídos ou poliidroxicetonas com o termo
poliidroxi se referendo à presença de duas ou mais hidroxilas
(OH).
A união entre 3 e 12 unidades de monossacarídeos origina
os oligossacarídeos. A junção entre 20 ou mais unidades de
monossacarídeos dá origem aos polissacarídeos. Como exemplo
de polissacarídeos temos o glicogênio, amido e celulose. Assim
como oligossacarídeos, os polissacarídeos também constituem
carboidratos complexos, tópico discutido a seguir. Tanto
oligossacarídeos quanto polissacarídeos podem ser ligados a
outros tipos de moléculas como lipídeos, proteínas, bases púricas
ou pirimídicas, entre outras.
Bioquímica Humana 69

Polissacarídeos ou carboidratos complexos


Polissacarídeos contêm mais de 20 unidades de
monossacarídeos e podem ser divididos em homopolissacarídeos
e heteropolissacarídeos. Homopolissacarídeos possuem um
único tipo de monossacarídeo em sua composição. Este tipo
de polissacarídeo é representado por celulose, quitina, amido e
glicogênio.
O amido constitui um homopolissacarídeo presente em
células vegetais cuja função é armazenar glicose na forma de
tubérculos. Este polissacarídeo é formado por polímeros de
glicose chamados amilose e amilopectina. A amilose tem cadeia
linear com resíduos de glicose conectados por ligações α (1→4),
enquanto a amilopectina é altamente ramificada com ligações
α (1→4) na cadeia linear e ligações α (1→6) nas ramificações.
O glicogênio é a forma de reserva de glicose em animais e
está presente em fígado e músculo esquelético.

IMPORTANTE

Apenas o fígado é capaz de mobilizar a glicose armazenada no


glicogênio para a corrente sanguínea. O glicogênio muscular é
utilizado apenas para produção de energia em células musculares.

A celulose, outro homopolissacarídeo, é uma substância


fibrosa, resistente, insolúvel em água, constituinte de paredes
celulares em vegetais. A celulose não é ramificada e seus resíduos
de glicose estão associados por ligação do tipo β (1→4). Este tipo
de ligação impede a utilização de celulose como fonte de energia
na maioria dos animais pois eles não têm enzimas capazes de
hidrolisar ligações do tipo β (1→4).
70 Bioquímica Humana

Quitina é outro homopolissacarídeo linear presente


no exoesqueleto de insetos. É formado por resíduos de
N-acetilglicosamina em ligações β (1→4) e, assim como a
celulose não pode ser digerido por vertebrados.
Heteropolissacarídeos são formados por 2 ou mais
tipos diferentes de monossacarídeos representados por
glicosaminoglicanos e glicoproteínas.
Glicosaminoglicanos constituem grandes cadeias de
heteropolissacarídeos lineares, longas compostas por uma
unidade de dissacarídeos que se repetem. Os dissacarídeos
são formados por açúcar aminado ligado a um açúcar ácido,
geralmente associados a proteínas originando os proteoglicanos,
exceção ao ácido hialurônico.
Existem seis classes de glicosaminoglicanos com destaque
para o ácido hialurônico. O ácido hialurônico formado por ácido
D-glicurônico e N-acetil-D-glicosamina. Ácido hialurônico
é um mucopolissacarídeo presente em tecido conjuntivo. A
solução de ácido hialurônico tem consistência gelatinosa, alta
viscoelasticidade e alto grau de hidratação devido às suas
características estruturais (KIM et al., 1996).
Glicoproteínas podem atuar como hormônios (FSH-
hormônio folículo estimulante, LH- hormônio luteinizante
e TSH- hormônio tireoestimulante), são constituintes de
membranas biológicas e participam da resposta imunológica
(Imunoglobulinas – anticorpos).
Fica evidente o papel estrutural dos oligossacarídeos na
formação de membranas celulares, especificidade, comunicação
celular, bem como transporte de informação e reconhecimento
celular.
Bioquímica Humana 71

Digestão e absorção de carboidratos


A digestão de carboidratos inicia-se na boca. A mastigação
promove o fracionamento do alimento misturando-o a saliva. A
saliva contém a enzima α-amilase salivar que hidrolisa ligações
α-(1→4) de amido e glicogênio da dieta. A digestão cessa quando
o alimento chega ao estômago porque o ácido clorídrico inativa
a enzima α-amilase salivar.
Ao atingir o intestino delgado, os ácidos do estômago
são neutralizados pelo bicarbonato secretado pelo pâncreas.
Os carboidratos presentes no bolo alimentar sofrem ação de
enzimas pancreáticas e a α-amilase pancreática continua o
processo de digestão em carboidratos. No epitélio mucoso do
jejuno, as células epiteliais com bordadura em forma de escova
produzem enzimas chamadas dissacaridases e oligossacaridases
que hidrolisam dissacarídeos e oligossacarídeos respectivamente
para que possam ser absorvidos.
O duodeno e jejuno superior absorvem a maior parte dos
açúcares da dieta na forma de monossacarídeos glicose, frutose
e galactose.
O dissacarídeo lactose necessita da presença de enzima
lactase para ser hidrolisado a glicose e galactose. Indivíduos
intolerantes a lactose apresentam redução da atividade ou perda
da enzima. Essa intolerância é determinada geneticamente e o
tratamento consiste na remoção de dieta contendo lactose ou
ingestão de lactase antes das refeições (CHAMPE et al., 2006).
A maltose, dissacarídeo formado por duas moléculas de glicose
é hidrolisada pela enzima maltase no intestino delgado.
A frutose obtida da hidrólise do dissacarídeo sacarose,
necessita de um transportador de monossacarídeos independente
de sódio chamado GLUT-5 (“Glucose Transporter”) para ser
absorvida. A glicose e galactose necessitam do transportador
GLUT-2 ou são transportados para o interior das células mucosas
72 Bioquímica Humana

por transporte ativo dependente de energia e sódio. Os três


monossacarídeos citados são transportados das células mucosas
intestinais para a circulação por um transportador denominado
GLUT 2.
A maior parte da glicose é transportada através das células
da mucosa intestinal para o sangue portal e depois para a
circulação geral para ser distribuída aos tecidos.
Nos tecidos a entrada de glicose nas células é realizada
difusão facilitada por transportadores GLUT. Os transportadores
de glicose apresentam especificidade tecidual: GLUT3 está
presente em neurônios, GLUT1- eritrócitos e encéfalo, GLUT4
tecido adiposo e músculo esquelético, GLUT2- fígado, rins e
células β-pancreáticas. A ligação da glicose ao transportador
altera sua conformação e transporta a glicose através da
membrana plasmática para o interior das células.
Nas células a frutose é convertida em frutose 1-fosfato pela
enzima hexocinase ou frutocinase encontrada no fígado, rins e
mucosa intestinal. Nas células a frutose1-fosfato é clivada pela
aldolase B produzindo diidroxiacetona – fosfato que entra na
via glicolítica para fornecer energia ou pode seguir pela via da
gliconeogênese. A manose após ser fosforilada pela hexocinase é
convertida a frutose 6-fosfato pela ação da enzima fosfo-manose
isomerase.
A galactose obtida pela hidrólise da lactose por ação
enzimática da lactase é convertida a galactose 1-fosfato a qual
é transformada em UDP-galactose (UDP=uridina difosfato)
pela galactose 1-fosfato uridil-transferase. Em seguida a
UDP-galactose é convertida a UDP-glicose, a qual participa
de reações como formação de glicoproteínas, glicolipídeos
e glicosaminoglicanos. A galactosemia é caracterizada pela
deficiência na produção de galactose 1- fosfato uridil e, portanto,
no metabolismo da galactose. Os principais sintomas incluem
Bioquímica Humana 73

retardo mental, hepatomegalia, icterícia, cirrose, atraso no


crescimento e catarata. Tratamento: evitar consumo de produtos
lácteos.
A glicose é o principal carboidrato utilizado no
fornecimento de energia. A oxidação de glicose fornece quatro
quilocalorias por grama (1g=4Kcal). Pode ser obtida de fontes
diferentes: dieta, degradação de glicogênio e gliconeogênese.
A absorção de glicose nos tecidos e sua concentração
sanguínea precisam ser controladas hormonalmente para que se
mantenha a uma concentração entre 5 a 8 milimolar (mM). Esse
controle é importante porque a glicose é fonte preferencial de
energia para encéfalo e eritrócitos maduros.

Papel dos hormônios na captação de glicose


A insulina é um hormônio proteico anabólico cujas
funções envolvem homeostase da glicose, diferenciação celular
e crescimento. Sua síntese favorece a formação de glicogênio,
triacilgliceróis e proteínas. Atua também elevando a atividade
das enzimas que participam da via glicolítica favorecendo
a glicólise. Os principais órgãos alvo da insulina são fígado,
músculo e células adiposas.
A insulina atua no fígado inibindo a gliconeogênese e a
glicogenólise enquanto estimula a síntese de glicogênio. Em
tecidos extra-hepáticos atua no transporte facilitado de glicose
promovendo a translocação de vesículas contendo GLUT4
do interior celular para membrana plasmática onde captam a
glicose.
A síntese do hormônio origina pré-proinsulina que ocorre
nas células β presentes nas Ilhotas de Langerhans localizadas
no pâncreas. A pré-proinsulina é direcionado ao complexo de
Golgi onde sofre clivagem liberando pró-insulina em grânulos.
Após sua síntese, a insulina fica armazenada em grânulos
74 Bioquímica Humana

sob controle de secreção mediado pelos níveis sanguíneos de


glicose, respondendo também positivamente a aminoácidos e
ácidos graxos.
No estado alimentado há elevação na concentração de
glicose sanguínea e, portanto, liberação do hormônio insulina
pelas células pelas células β-pancreáticas. Isso ocorre porque
a glicose entra nas células β, sofre fosforilação pela ação da
hexocinase e segue na via glicolítica para produção de energia
na forma de ATP. A elevação nas concentrações intracelulares
de ATP inibe um canal de potássio sensível ao ATP ocasionando
a despolarização da membrana plasmática da célula. A
despolarização promove aberturas de canais de cálcio voltagem-
dependentes e o aumento de cálcio intracelular induz liberação
de cálcio de mitocôndria e reticulo endoplasmático resultando
na exocitose de vesículas contendo insulina.
As células β pancreáticas possuem receptores de
vitamina D. A vitamina D participa na atividade
de endopeptidases de células β dependentes de
cálcio, atuando em canais de cálcio dependentes
de voltagem e desta forma, pode aumentar a
concentração de cálcio intracelular e a exocitose
de insulina. Ela pode induzir diretamente as células
β secretoras de insulina na conversão de pró-
insulina para insulina (MITRI & PITTAS,2014;
MATHIEU et al., 2005).
A vitamina D pode ser sintetizada pela epiderme
humana e ingerida por meio de óleo de peixe, gema
de ovo, alimentos fortificados ou suplementos
(VUJOSEVIC et al., 2014).
Cessando a absorção, a glicemia vai declinando e ocorre a
normoglicemia. Desta forma a liberação de insulina é reduzida
e inicia-se a secreção do hormônio glucagon. O glucagon é um
hormônio peptídico liberado na corrente sanguínea quando a
Bioquímica Humana 75

concentração de glicose é baixa. Este hormônio é produzido nas


células α das Ilhotas de Langerhans e sua função é promover
glicogenólise e gliconeogênese para normalizar a concentração
de glicose no sangue.
Adrenalina ou epinefrina sintetizada nas glândulas adrenais
a partir do aminoácido tirosina é secretado em condições de luta
e fuga, atividade física, hipoglicemia. Atua como coadjuvante à
ação do glucagon e, portanto, sua ação é contrária a atividade da
insulina.
O hormônio esteroide cortisol produzido pelo córtex
da adrenal atua com a adrenalina em resposta ao estresse,
promovendo a gliconeogênese.
As vias de degradação de carboidratos representadas
por glicólise e glicogenólise; bem como as vias de síntese
representadas por glicogênese e gliconeogênese estão descritas
no decorrer desta unidade.
76 Bioquímica Humana

RESUMINDO

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo
o que vimos. Você deve ter aprendido que os carboidratos são
substâncias compostas por carbono, hidrogênio e oxigênio. Os
monossacarídeos são unidades monoméricas de carboidratos,
onde o principal monossacarídeo utilizado como fonte de
energia é a glicose. A união entre monossacarídeos ocorre por
meio de ligações glicosídicas formando carboidratos maiores. A
junção entre dois monossacarídeos produz dissacarídeos como
sacarose e lactose. Oligossacarídeos e polissacarídeos podem
ser associados a moléculas de proteínas e lipídeos dando origem
a glicoproteínas, glicolipídeos, entre outras; todas com funções
estruturais importantes. A digestão de carboidratos inicia-se na
boca com a ação da enzima α-amilase salivar, cessa no estômago
e continua no intestino com ação α-amilase pancreática, sacarase,
maltase e lactase. A absorção ocorre por co-transporte associado
ao sódio ou transporte por difusão facilitada através de GLUTs.
Após absorção, os carboidratos caem na corrente sanguínea, são
transportados aos tecidos e internalizados através de GLUTs
que apresentam especificidade tecidual. A captação da glicose é
mediada pela insulina que estimula a glicólise e glicogênese. O
glucagon é o hormônio secretado em condições de baixa glicemia
e tem efeitos opostos aos da insulina, promovendo glicogenólise
e gliconeogênese. As vias de degradação e síntese são discutidas
nos próximos capítulos desta unidade.
Bioquímica Humana 77

Vias metabólicas no estado alimentado e


em jejum

OBJETIVO

Ao término deste capítulo você será capaz de entender como


os carboidratos são transformados para produção de energia e
como podem ser armazenados em estado alimentado. Também
compreenderá a formação da glicose e a quebra das reservas
metabólicas em estado de jejum. Isto será fundamental para o
exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver
esta competência? Então vamos lá. Avante!

Vias metabólicas no estado alimentado


Metabolismo é definido como conjunto de reações química
que ocorrem nas células. Essas reações são classificadas em
reações de síntese ou construção de biomoléculas e reações de
catabólicas ou quebra de moléculas para produção de energia.
A ênfase deste capítulo será na glicose, principal carboidrato
absorvido no intestino e fonte de energia para as células.
Neste capitulo estudaremos a quebra da glicose, ou seja,
glicólise e a via de armazenamento deste carboidrato na forma
de glicogênio no estado alimentado. Já no estado de jejum
estudaremos a glicogenólise e a gliconeogênese para manter a
produção de energia principalmente do sistema nervoso central.

Via glicolítica
A principal via do catabolismo de glicose é chamada de
via glicolítica (do grego: glykys – açúcar e lysis- quebra). Esta
78 Bioquímica Humana

via ocorre em períodos pós-absortivos quando a glicemia está


elevada e a insulina atua promovendo a captação da glicose
pelos tecidos, bem como ativação de enzimas da via.
Esta via é composta por dez reações química as quais
convertem uma molécula de glicose em duas moléculas de
piruvato. Todas as dez reações ocorrem no citosol de todas as
células.
A primeira reação da via é a fosforilação da glicose
catalisada pela enzima hexocinase na maioria das células com
gasto de energia na forma de ATP. Essa reação tem como produto
glicose 6-fosfato é irreversível e necessária para reter a molécula
de glicose no interior das células.

IMPORTANTE

Hexocinases I a III presente em músculos têm baixo Km


(constante de Michaelis-Menten) e portanto, alta afinidade
para glicose. Esse fato permite a fosforilação eficiente da
glicose e sua entrada na via glicolítica mesmo em condições
de baixa concentração de glicose sanguínea. É inibida por
retroalimentação quando as concentrações de glicose 6-fosfato
aumentam em tecido muscular no repouso.

No fígado e ilhotas pancreáticas a enzima que fosforila


a glicose é chamada hexocinase D ou glicocinase e possui
propriedades diferentes das demais hexocinases. Em células
pancreáticas atua como sensor de glicose determinando a
liberação de insulina. No tecido hepático facilita a fosforilação
de glicose durante a hiperglicemia.
A hexocinases I, II, III e a hexocinase D (ou glicocinase)
são isoenzimas que diferem em seu Km. A glicocinase possui
Bioquímica Humana 79

alto Km e requer maior concentração de glicose para hemi-


saturação, ou seja, a glicocinase só fosforila a glicose quando este
carboidrato está em altas concentrações no citosol das células.
Além disso, a glicocinase não é inibida por glicose 6-fosfato.
Após consumo de refeições ricas em carboidratos em
períodos pós-absortivos, quando altas concentrações de glicose
atingem o fígado via sistema porta-hepático a insulina estimula
a atividade da glicocinase e a fosforilação da glicose.
A segunda reação da via glicolítica envolve a isomerização
da glicose 6-fosfato a frutose 6-fosfato catalisada pela enzima
fosfoglicose isomerase. Esta reação é reversível e não sofre
processo de regulação.
A terceira etapa da via glicolitica envolve a conversão
da frutose 6-fosfato em frutose 1,6-bifosfato catalisada pela
fosfofrutocinase- 1 (PFK1) com uso de uma molécula de
ATP durante a reação. A enzima que participa desta reação é
alostérica, regulada pela concentração de ATP e citrato. Esta
enzima é o principal ponto de controle da via glicolítica.
Altas concentrações de ATP ou citrato indicam abundância na
quantidade de energia disponível para célula e, portanto, inibem
a PFK-1 e a via glicolítica. Em altas concentrações de AMP
ocorre o inverso e a enzima PFK-1 é ativada.
A frutose 1,6-bifosfato é clivada pela enzima aldolase B
originando dihidroxicetona-fosfato e gliceraldeído 3-fosfato. A
reação é reversível e não é regulada. Essa etapa corresponde a
“lise” que dá nome a via.
A frutocinase é a principal enzima que promove a
fosforilação da frutose. Essa enzima é encontrada em fígado, rins
e mucosa do intestino delgado convertendo frutose em frutose
1-fosfato que em presença de aldolase B origina dihidroxicetona-
fosfato e gliceraldeído.
A enzima triose-fosfato interconverte essas duas
trioses, dihidroxicetona-fosfato e o gliceraldeído 3-fosfato.
80 Bioquímica Humana

A dihidroxicetona-fosfato sofre isomerização a gliceraldeído


3-fosfato resultando em duas moléculas de gliceraldeído
3-fosfato. Essa reação é reversível e não é etapa limitante da
via. Apenas o gliceraldeído 3-fosfato entra na via glicolítica.
A etapa seguinte converte o gliceraldeído 3-fosfato em 1,3
bifosfoglicerato pela gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase em
uma reação de oxidação da glicose que reduz NAD+ a NADH.
Cada molécula de gliceraldeído 3-fosfato é oxidado e fosforilado
por fosfato inorgânico para formar 1,3 bifosfoglicerato. Esta
reação é reversível como pode ser observada na.
Há liberação de energia quando as duas moléculas 1,3
bifosfoglicerato são convertidas a duas moléculas de piruvato.
NADH é um carreador temporário de elétrons e precisa ser
reoxidado a NAD+ para que a glicólise ocorra. As células têm
quantidades limitadas de NAD que são produzidos a partir da
vitamina niacina.
O 1,3 bifosfoglicerato é convertido a 3-fosfoglicerato
com produção de ATP a partir do fosfato de alta energia contido
na molécula. A reação é catalisada pela enzima fosfoglicerato
quinase e inicia a fase de ganho de energia. Nesta etapa da via
é realizada a recuperação das duas moléculas de ATP investidas
inicialmente, uma molécula de ATP para cada molécula de
3-fosfoglicerato formado.
A enzima fosfoglicerato mutase converte o 3-fosfoglicerato
a 2-fosfoglicerato, o qual será desidratado e transformado em
fosfoenolpiruvato pela ação da enolase.
A piruvato quinase catalisa fosforilação em nível de
substrato, ou seja, a síntese de ATP durante a conversão do
composto de alta energia chamado fosfoenolpiruvato a piruvato.
Esta reação não é reversível sob condições intracelulares
(DEVLIN, 1998). A piruvato quinase é importante ponto de
regulação da via glicolítica, sofre regulação alostérica sendo
Bioquímica Humana 81

inibida por elevadas concentrações de ATP, sendo estimulada


por frutose 1,6-bifosfato.
Grande parte da energia contida na molécula de glicose
é conservada pela fosforilação acoplada de quatro moléculas
de ADP as quais são convertidas a ATP. O rendimento líquido
são duas moléculas de ATP por molécula de glicose utilizada,
uma vez que duas moléculas de ATP foram consumidas na
fase preparatória. A energia também é conservada na fase de
compensação (fase de ganho) com formação de duas moléculas
de NADH por molécula de glicose. Cada molécula de NADH
libera hidrogênios e elétrons na cadeia respiratória mitocondrial
para produção de 2,5 ATP .
Glicose + 2NAD⁺ + 2ADP + 2Pi→ 2Piruvatos + 2(NADH + H�) + 2ATP + 2H20
Equação geral da glicólise

O produto final da glicólise, o piruvato, contém a maior


parte da energia química existente na glicose. Pode ser oxidado
com perda do grupo carboxil na forma de CO2 para gerar Acetil-
coenzima A que é oxidado a CO2 e H2O no ciclo do ácido
cítrico, estas reações ocorrem no interior da mitocôndria. Os
elétrons originados das oxidações realizada no ciclo do ácido
cítrico são transferidos para o oxigênio molecular pela cadeia
transportadora de elétrons presente na membrana mitocondrial
interna, formando água metabólica. A energia liberada nas
reações de transferência de elétrons descrita anteriormente
proporciona a síntese de ATP pela enzima ATP sintase também
presente na cadeia respiratória mitocondrial.
O piruvato pode seguir outros destinos como ser convertido
ao aminoácido alanina ou ser desviado para síntese de ácidos
graxos. Pode também ser reduzido a lactato quando o músculo
esquelético está trabalhando sobre baixas tensões de oxigênio
(hipóxia) em que o NADH não pode entregar seus elétrons e
hidrogênio na cadeia respiratória para ser reoxidado a NAD+. O
NAD+ (forma oxidada) é necessário como aceptor de elétrons
para oxidação do piruvato. Sob estas condições, o piruvato é
82 Bioquímica Humana

reduzido a lactato, recebendo elétrons do NADH e regenerando


o NAD+ necessário para continuidade da via glicolítica.
Agora que já compreendemos como as células extraem
parte da energia química das moléculas de glicose, o próximo
passo é entender como a glicose pode ser armazenada e
posteriormente utilizada na manutenção da glicemia (pelo
fígado) ou como reserva de energia para realização de contração
muscular.

Glicogênese
O glicogênio é a forma de armazenamento de glicose em
uma maneira rapidamente mobilizável. Os principais estoques
encontram-se no fígado (100g) e no músculo esquelético (300g).
O amido é a forma de armazenamento da glicose por
vegetais, sendo metabolizável pelo organismo humano. Assim
como o glicogênio, é um polímero de glicose diferindo apenas
na estrutura. Amido é composto por amilose e amilopectina.
A amilopectina é uma molécula ramificada enquanto a amilose
é linear. O amido é digerido pela enzima amilase como o
glicogênio.
O glicogênio é um homopolissacarídeo de cadeia
ramificada formado apenas por moléculas de glicose, ou seja,
um polímero de glicose. A união glicosídica primária é uma
ligação α (1→4). Após 8 a 10 resíduos de glicosil, existe uma
ramificação contendo uma ligação α (1→6). O glicogênio fica
armazenado em grânulos no citosol celular que contém enzimas
tanto de síntese quanto de degradação desse polissacarídeo.
A formação do glicogênio necessita de ATP e uma molécula
chamada trifosfato de uridina (UTP). A enzima envolvida na
síntese do glicogênio é a glicogênio sintase responsável pela
formação das ligações α (1→4) entre os resíduos de glicose
(glicosil). Esta enzima só pode alongar cadeias já existentes
Bioquímica Humana 83

de glicose. A glicogênio sintase é ativada alostericamente por


elevadas concentrações de glicose 6-fosfato.
Na ausência de fragmentos de glicogênio, uma proteína
chamada glicogenina pode servir como aceptora de resíduos de
glicose. Essa molécula fica no centro da molécula de glicogênio
e tem função enzimática, catalisa a auto-glicosilação de tirosina
de uma subunidade por outra fixando o C1 da UDP-glicose.

++
+
EXPLICANDO DIFERENTE

O glicogênio pode ser formado de duas maneiras. A partir da


adição de glicose a uma cadeia de glicogênio pré-existente ou
por meio da glicogenia, uma proteína iniciadora necessária a
síntese do polissacarídeo quando não existe reserva pré-existente
de glicogênio.

A D-glicose ligada ao difosfato de uridina (UDP) é a fonte


de todos os resíduos glicosil que são adicionados a molécula de
glicogênio em formação. A UDP-glicose é sintetizada a partir
da glicose 1-fosfato e de UTP pela UDP-glicose pirofosforilase.
A glicose 6-fosfato é convertida em glicose 1-fosfato pela
fosfoglicomutase.
As ramificações são formadas pela ação da enzima
de ramificação amilo α-(1→4)→α-(1→6)–transglicosidase.
A enzima tem como função a transferência de uma cadeia
contendo 7 ultimas unidades de glicose da posição α-(1→4) para
uma hidroxila do C6 na posição α-(1→6). Esta enzima troca
o fosfato do carbono C1 da glicose por UDP. As ramificações
são importantes porque aumentam a solubilidade do glicogênio,
bem como a velocidade de síntese e degradação da molécula.
84 Bioquímica Humana

Via da pentose fosfato


Na maioria dos tecidos animais o principal destino
catabólico da glicose 6-fosfato é a degradação glicolítica até
piruvato. A maior parte do piruvato formado é totalmente oxidado
pelo ciclo do ácido cítrico e os equivalentes redutores decorrentes
desse ciclo são utilizados na síntese de energia como ATP.
Esta via é composta por duas fases: uma fase oxidativa
com reações irreversíveis e uma fase não oxidativa contendo
reações reversíveis.
A fase oxidativa reduz NADP+ a NADPH necessário
para reações de reduções biossintéticas ou para diminuir efeitos
deletérios de radicais de oxigênio regenerando o sistema
antioxidante da glutationa. Tecidos utilizam NADPH para
síntese de ácidos graxos, colesterol e hormônios esteroides.
A fase não oxidativa é fundamental para produção de
pentoses fosfato como ribose e desoxirribose utilizadas na
síntese de RNA, DNA, bem como produção de coenzimas como
ATP, NAD, FAD, Coenzima A. A via das pentoses é mais efetiva
em células que se dividem rapidamente como medula óssea,
pele e mucosa intestinal, por exemplo. Fundamental em células
que produzem nucleotídeos, blocos constitutivos na síntese de
ácidos nucléicos.
Em estado alimentado e presença de insulina, a glicose
6-fosfato é repartida entre a via glicolítica e a via das pentoses
fosfato de acordo com a necessidade celular determinada pela
razão entre NADPH/NADP+.
Quando a razão NADPH/NADP+ está reduzida parte da
glicose 6-fosfato é oxidada pela glicose 6-fosfato desidrogenase
originando 6-fosfogliconolactona com a redução do primeiro
NADP+ a NADPH. A 6-fosfogliconolactona é hidrolisada
pela ação da 6-fosfogliconato hidrolase sendo convertida a
6-fosfogliconato. Em seguida 6-fosfogliconato é descarboxilado
a ribulose 5-fosfato originando o segundo NADPH da reação e
uma molécula de CO2. Estas reações pertencem a fase oxidativa
Bioquímica Humana 85

da via e cessam ao elevar a concentração de NADPH, o qual


inibe a atividade enzimática da glicose 6-fosfato desidrogenase.
A ribulose 5-fosfato pode ser convertida a ribose 5-fosfato
pela fosfopentose –isomerase em células que produzem
ácidos nucleicos. Esta molécula também pode ser convertida
a intermediários da via glicolítica como frutose 6-fosfato e
gliceraldeído 3-fosfato. Estas reações constituem a fase não
oxidativa da via das pentoses-fosfato e são reversíveis.

Vias metabólicas no estado de jejum


Ao cessar a absorção a glicemia vai declinando passando
de hiperglicemia para normoglicemia. A liberação de insulina
diminui e a inibição sobre o glucagon também declina. Inicia-se
a glicogenólise. Quando o estoque de glicogênio de músculo e
fígado não é suficiente, ou seja, durante períodos entre refeições
e períodos de jejum mais longos, ou após exercício vigoroso,
o glicogênio esgota-se. Nestas situações, o organismo inicia a
gliconeogênese ou formação de glicose.
Iniciaremos nossas discussões com a glicogenólise e em
seguida discorreremos sobre a gliconeogênese.

Glicogenólise
Para que ocorra o glicogenólise é necessário que haja
liberação de glucagon. O glucagon e adrenalina quando ligados a
receptores de membranas sinalizam a necessidade de degradação
de glicogênio para elevar a concentração de glicose disponível
fornecendo energia as células. Estes hormônios ativam a
proteína cinase A dependente de adenosina monofosfato cíclico
(AMP cíclico).
A ativação de proteína cinase A (PKA) dependente de AMP
cíclico fosforila (inativa) a glicogênio sintase, enzima utilizada
na síntese de glicogênio. PKA promove ativação da foforilase-
quinase b que ativa a glicogênio fosforilase responsável pelo
processo de degradação do glicogênio denominado glicogenólise.
86 Bioquímica Humana

A PKA também ativa por fosforilação a enzima inibidor-1 que


inibe a fosfatase proteica e consequentemente impede a inibição
da fosforilase mantendo a degradação do glicogênio.
A glicogenólise ocorre de forma rápida e eficiente.
As ramificações presentes nas moléculas do polissacarídeo
possibilitam a ação de várias fosforilases simultaneamente a
partir das extremidades não redutoras.
A função do glicogênio muscular é servir como fonte de
reserva de combustível para síntese de ATP durante a contração
muscular em períodos de intensa atividade física. Em condições
anaeróbicas, o músculo pode utilizar a glicose liberada do
glicogênio como suprimento para fornecer energia em condições
de baixa tensão de oxigênio.
Músculo em atividade intensa exige consumo rápido de
ATP. A adrenalina promove a liberação de glicose a partir do
glicogênio hepático, bem como a quebra de glicogênio muscular.
O glicogênio é a primeira forma de energia armazenada
buscada pelo corpo para executar suas tarefas.
O glicogênio hepático proporciona o controle e manutenção
da glicemia, especialmente durante períodos de jejum.

CURIOSIDADE

As enzimas glicogênio fosforilase do fígado e músculo


esquelético são isoenzimas que diferem em suas propriedades
reguladoras, além de serem codificadas por genes diferentes.
Durante o impulso nervoso na junção neuromuscular, ocorre
despolarização de membrana e liberação de cálcio de retículo
endoplasmático liso na fibra muscular. O cálcio ativa a fosforilase
do músculo e o processo de glicogenólise liberando glicose que é
utilizada como combustível energético para contração muscular.
Bioquímica Humana 87

As enzimas utilizadas no processo de glicogenólise são:


fosfoglicomutase, desramificação do glicogênio e glicogênio
fosforilase.
A glicogênio fosforilase catalisa a clivagem fosforolítica
do glicogênio, ou seja, catalisa a reação onde a ligação
glicosídica α-(1→4) é atacada pelo fósforo inorgânico (PPi)
removendo o resíduo de glicose 1-fosfato na extremidade não
redutora do glicogênio. A ação desta enzima continua até que
encontre ligações glicosídicas α-(1→6). Nesta hora a enzima de
desramificação conhecida por oligo α-(1→6) a α-(1→4) glican-
transferase, catalisa duas reações enzimáticas que promovem
remoção de ramificações.
A enzima de desramificação tem dois sítios ativos: o
sítio amilo α-(1→6) glicosidade e α-(1→4) glicantransferase,
apresentando ação de glicosidase e glicotransferase. A atividade
de glicosidase remove 3 unidades de glicosil de uma ramificação
para outra. A glicose em uma ligação α-(1→6) da ramificação é
removida pela ação da glicosidase.
A glicose 1-fosfato liberada pela ação enzimática do
glicogênio- fosforilase é convertida a glicose 6-fosfato pela
enzima fosfoglicomutase. A glicose 6-fosfato não atravessa
membranas biológicas e, portanto, será convertida a glicose pela
ação da enzima glicose 6-fosfatase presente apenas no fígado,
rins e intestino.
O metabolismo do glicogênio é de fundamental importância
para manter a homeostase do organismo e a sua disfunção tem
como consequência as glicogenoses. Glicogenoses resultam de
alterações genéticas que refletem na tradução de enzimas de
síntese ou degradação do glicogênio disfuncionais.
Existem doze tipos conhecidos de glicogenoses dentre as
mais comuns encontram-se os tipos I, II, III e V.
A glicogenose tipo I também chamada de doença de Von
Gierke é causada por deficiência na enzima glicose 6- fosfatase
responsável pela hidrólise da glicose 6-fosfato em glicose e
88 Bioquímica Humana

fosfato que ocorre durante a glicogenólise em fígado, intestino


e rins (SANTOS-ANTUNES, 2009). Os tipos I de glicogenoses
podem ser subdivididos em Ia, Ib, Ic e Id.
O tipo Ia apresenta uma disfunção no complexo
enzimático da glicose 6-fosfatase, enquanto o tipo
Ib apresenta o transporte deficiente de glicogênio
6-fosfato do citosol para o lúmen do retículo
endoplasmático, ou seja, defeito da glicose
6-translocase (OZEN, 2007). Glicogenose Ic é
caracterizada por um defeito no transportador de
fosfato do retículo endoplasmático ao citoplasma
da célula e tipo Id associada a uma disfunção
na saída de glicose dos tecidos que possuem
glicose 6-fosfatase (SANTOS-ANTUNES, 2009).
Todas as glicogenoses do tipo I comprometem a
glicemia pela ausência de metabolização correta
do glicogênio armazenado. Esse fato ocasiona
hipoglicemia, hepatomegalia, hiperlipidemia,
hiperuricemia entre outros sintomas (REIS et
al., 2001). Os primeiros sintomas surgem nos
primeiros 28 dias de vida com episódios de
hipoglicemia e hepatomegalia (REIS et al., 1999).
Doença de Pompe ou glicogenose tipo II é a mais grave e
muitas vezes fatal (MELLIES-LAFASO,2009). Ocorre acúmulo
de glicogênio lisossômico nas células de tecidos musculares
(SAVEGNAGO et al., 2012) como resultado da deficiência da
enzima α-glicosidase ácida. Sintomas associados a essa doença
envolvem insuficiência respiratória precedida de fraqueza
muscular iniciada na infância.
Glicogenose do tipo III também chamada de doença de
Cori caracterizada por deficiência da enzima desramificadora do
glicogênio. Esse distúrbio promove acúmulo de glicogênio no
citosol celular, dificultando o funcionamento principalmente do
músculo e fígado podendo ser subdividido em quatro tipos de
acordo com os sintomas (IIIa, IIIb, IIIc e IIId). As glicogenoses
Bioquímica Humana 89

IIIa e IIIc afetam tanto células musculares quanto células


hepáticas causando miopatias e hepatopatias respectivamente.
Em todos os casos observa-se hepatomegalia na infância.
Doença de McArdle constitui uma glicogenose tipo
V que representa um distúrbio causado pela deficiência na
enzima glicogênio fosforilase dos músculos esqueléticos
(miofosforilase), afetando a musculatura esquelética e impedindo
que o glicogênio seja hidrolisado (LORENZI et al., 2005).
Esta doença pode ser detectada pela ausência de elevação na
concentração sérica de lactato durante exercício físico intenso.

Gliconeogênese
O suprimento de glicose a partir de estoques de glicogênio
presentes em músculo esquelético e fígado não é suficiente
para fornecer energia entre as refeições ou durante períodos de
jejum mais longos, ou ainda durante a prática de atividade física
intensa. Nestas situações o organismo precisa sintetizar glicose
a partir de precursores que não são carboidratos.
A gliconeogênese, “formação de novo açúcar”, é um
processo que converte piruvato e compostos com três ou quatro
átomos de carbonos em glicose.
Os precursores de glicose em animais compreendem
compostos contendo três átomos de carbono como lactato,
piruvato, glicerol, além dos aminoácidos glicogênicos. Em
humanos e mamíferos em geral, a gliconeogênese ocorre
principalmente no fígado, em menor extensão no córtex renal
bem como em células epiteliais que revestem internamente o
intestino delgado.
A glicose, produto da gliconeogênese, passa dos locais de
síntese para o sangue e vai suprir os demais tecidos do organismo.
Após exercício intenso, o lactato produzido pela glicose
anaeróbica no músculo esquelético retorna ao fígado para ser
convertido em glicose, que por sua vez, pode retornar ao músculo
onde é convertido em glicogênio pelo ciclo de Cori.
90 Bioquímica Humana

A gliconeogênese e a glicólise não são reações idênticas


ocorrendo em direções opostas e sim reações diferentes que
compartilham várias enzimas utilizadas em ambas reações. Sete
entre dez reações enzimáticas da gliconeogênese são inversas as
reações da glicólise. Três reações da glicólise são essencialmente
irreversíveis e não podem ser utilizadas na gliconeogênese:
reação de conversão da glicose em glicose 6-fosfato catalisada
pela hexocinase; fosforilação da frutose 6-fosfato em frutose 1,6
bifosfato pela enzima fosfofrutoquinase-1 (PFK-1); e a conversão
do fosfoenolpiruvato em piruvato pela piruvato cinase.
As reações irreversíveis da via glicolítica precisam ser
contornadas para que possam ocorrer.
A primeira reação de contorno constitui a conversão de
piruvato em fosfoenolpiruvato. Para que ocorra o contorno, o
piruvato é transportado do citosol para a mitocôndria ou gerado
dentro desta organela a partir da transaminação da alanina. Nessa
reação o grupamento α-amino é transferido da alanina para um
α-cetoácido, gerando piruvato.

REFLITA

Reações de transaminação são catalisadas por enzimas


denominadas transaminases ou aminotransferases cujo grupo
prostético é derivado da vitamina B6. A vitamina B6 não pode
ser produzida pelas células e deve ser obtida através da dieta.
Principais alimentos contendo vitamina B6 são: Carne de porco,
vísceras, farelo e germe de trigo, leite, gema de ovo, farinha de
aveia, cereais integrais, leguminosas, banana, salmão, batata,
abacate, repolho, cenoura, vegetais verde escuros
Bioquímica Humana 91

Na reação seguinte o piruvato deve ser convertido a


oxaloacetato pela enzima mitocondrial dependente de biotina
chamada piruvato carboxilase. Essa enzima é a primeira enzima
regulada na via da gliconeogênese, necessitando de grupamento
acetil como um efetor positivo. A reação de carboxilação
necessita de biotina também conhecida como vitamina B7 ou H
que atua como grupo prostético de carboxilases.
A biotina atua como transportador de bicarbonato ativado
em todas as enzimas carboxilases. O ácido carbônico (HCO3 -) é
formado a partir de CO2 e H2O. O ácido carbônico é fosforilado
para formar um anidrido híbrido e a seguir a biotina desloca o
fosfato na formação da carboxibiotina.

IMPORTANTE

A biotina é uma vitamina hidrossolúvel e, portanto, não é


armazenada no organismo devendo ser consumida diariamente
por meio da dieta. A biotina pode ser encontrada em alimentos
como amendoim, chocolate, fígado, soja e nozes.

O oxaloacetato não atravessa a membrana mitocondrial


e precisa ser convertido a malato antes de ser exportado para o
citosol, onde ocorre a formação de glicose. A enzima malato-
desidrogenase reduz o oxaloacetato a malato em presença de
NADH que é oxidado a NAD+. O malato atravessa a membrana
mitocondrial por um transportador e segue em direção ao citosol
onde é reoxidado a oxaloacetato com produção NADH citosólico.
Oxaloacetato é convertido a fosfoenolpiruvato pela ação
da enzima fosfoenolpiruvato-caboxicinase dependente do
mineral magnésio e GTP (guanosina trifosfato) como doador de
grupamento fosfato. A reação é irreversível na célula.
92 Bioquímica Humana

Um segundo contorno envolve a conversão de frutose


1,6-bifosfato a frutose 6-fosfato. A geração de frutose 6-fosfato
a partir de frutose 1,6-bifosfato é catalisada por uma enzima
dependente de magnésio chamada frutose 1,6-bifosfatase
(FBase-1) que promove a hidrólise irreversível do fosfato no
carbono C1 da frutose 1,6-bifosfato.

IMPORTANTE

Regulação das vias glicolítica e gliconeogênica pela frutose 2,6


bifosfato. Nas células hepáticas, o glucagon exerce um papel
importante na regulação das velocidades das vias glicólise e
gliconeogênese, por meio da influência sobre as concentrações de
frutose 2,6-bisfosfato (F2,6BP). Concentrações baixas de frutose
2,6-bisfosfato (F2,6BF) levam a uma taxa reduzida de glicólise
e a um aumento da gliconeogênese. A F2,6BP é um ativador
da enzima glicolítica fosfofrutoquinase-1 (PKF-1); assim,
níveis mais baixos de F2,6BP resultam em taxas mais reduzidas
de glicólise. Além disso, a F2,6BP é um inibidor da enzima
gliconeogênica frutose 1,6-bisfosfatase e, consequentemente,
níveis mais baixos de F2,6BP diminuem a inibição da enzima e
aumentam a gliconeogênese.

A reação final da gliconeogênese é a desfosforilação da


glicose 6-fosfato para formação de glicose. A reação é catalisada
pela glicose 6-fosfatase e não requer ATP, sendo a hidrólise
simples de uma ligação éster-fosfato.
Em condições intracelulares a variação de energia livre
padrão da glicólise e gliconeogênese são negativas e, portanto,
irreversíveis nas células.
Bioquímica Humana 93

RESUMINDO

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o
que vimos. Você deve ter aprendido que no estado alimentado, a
insulina estimula a via da glicólise a qual por meio de dez reações
converte a glicose duas moléculas de piruvato e ATP. Parte
da glicose absorvida é convertida em glicogênio no músculo
esquelético e fígado. Parte da glicose é desviada também para via
das pentoses, com o objetivo de produzir NADPH utilizado em
reações biossintéticas, bem como pentoses-fosfato para síntese
de DNA e RNA. No estado de jejum, os níveis de glucagon
aumentam induzindo a quebra do glicogênio para produção de
energia. No músculo esquelético o glicogênio é utilizado para
suprir as necessidades energéticas de suas células, enquanto
o glicogênio hepático é convertido a glicose e exportado pela
corrente sanguínea aos demais tecidos. Durante a depleção do
glicogênio, jejum prolongado, inicia-se a síntese endógena de
glicose também chamada de gliconeogênese que utiliza muitas
das enzimas participantes da via glicolítica, apresentando três
reações de contorno necessárias para formação da glicose. A
gliconegênese ocorre no fígado, rins e intestino. No próximo
capítulo será descrito como ocorre a oxidação do Acetil-
coenzima A e a produção de energia na forma de ATP.
94 Bioquímica Humana

Oxidação do Acetil - Coenzima A e produção


do ATP

OBJETIVO

Ao término deste capítulo você será capaz de entender como o


piruvato, produto da glicólise, é convertida a Acetil-coenzima
A e como sua oxidação completa afeta a produção de ATP.
Compreenderá também como as desordens no metabolismo de
carboidratos promovem desenvolvimento de patologias. Isto
será fundamental para o exercício de sua profissão. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá.
Avante!

Conversão de Piruvato a Acetil-Coenzima A


O ciclo do ácido cítrico também conhecido como ciclo de
Krebs possui oito etapas e ocorre no interior da mitocôndria,
próximo a cadeia respiratória. Neste ciclo não há consumo
ou produção de intermediários, embora esses intermediários
passam ser produzidos pelo catabolismo de alguns aminoácidos
como veremos no decorrer desta unidade. É considerado a
via final para o qual converge o metabolismo oxidativo de
carboidratos, aminoácidos, ácidos graxos produzindo CO2,
H2O e equivalentes redutores.
Para iniciar o ciclo, o piruvato produto final da glicólise
precisa entrar na mitocôndria e ser convertido a Acetil-Coenzima
A (Acetil-coA). No interior da mitocôndria é descarboxilado
e oxidado pela ação do complexo enzimático piruvato
desidrogenase (PiDH) sendo convertido a Acetil-coA.
Bioquímica Humana 95

O complexo PiDH é composto por três enzimas e cinco


cofatores que funcionam conjuntamente para formação do
Acetil-coA.
A primeira enzima do complexo é chamada E1 ou piruvato
desidrogenase que dá nome ao complexo. Esta enzima está
ligada ao cofator tiamina pirofosfato que é a forma ativa da
vitamina B1 e catalisa a primeira etapa do ciclo. A conversão
do piruvato a acetil acontece com a retirada de um átomo de
carbono localizado em C1 do piruvato liberado na forma de
dióxido de carbono (CO2) com produção de NADH+ H+.

IMPORTANTE

Vitamina B1 ou tiamina é fundamental para o funcionamento


do complexo PiDH. Na ausência desta vitamina o piruvato é
deslocado para formação de lactato ou pode se acumular nas
células. Podemos encontrar a vitamina B1 em aveia, amendoim,
castanha-do-Brasil, levedo de cerveja, gema de ovo, fígado,
cereais integrais, peixes, nozes, etc. A deficiência severa está
associada ao Beriberi.

A segunda enzima do complexo PiDH é chamada


diidrolipoil transacetilase responsável pela formação do grupo
acetil a partir do grupo hidroxietil derivado da reação anterior.
Esta enzima utiliza o ácido lipóico como cofator.
A terceira e última etapa é catalisada pela porção E3 do
complexo também conhecido como diidrolipoil-desidrogenase
que transfere o acetil para a Coenzima A em troca de um
grupamento sulfidrila (-SH). Os elétrons retirados do hidroxietil
derivado do piruvato são entregues ao NAD+ pelo FADH2
reduzindo-o a NADH nesta porção do complexo.
96 Bioquímica Humana

REFLITA

A vitamina B5 ou ácido pantotênico é parte integrante da


Coenzima A. Esta vitamina é encontrada em vários alimentos
e tem grande distribuição na natureza. FAD ou FMN são
flavoproteínas que participam de reações de oxido-redução
e tem como grupo prostético a riboflavina também conhecida
como vitamina B2. Vitamina B2 está presente em fígado, ovos,
leite integral, brócolis, espinafre, couve. Vitamina B3 ou niacina
também é utilizada na produção de NAD e NAP como discutido
anteriormente.

O complexo PiDH é ativado por cálcio ou elevação na


concentração de NAD+ (forma oxidado) e Coenzima A. Este
complexo é inativado quando ocorre aumento de piruvato, ATP,
Acetil-coA e NADH (forma reduzida).

Etapas do ciclo do ácido cítrico


A acetil-coA formada a partir do piruvato como vimos
anteriormente se condensa com o oxaloacetato presente no ciclo
de Krebs originando citrato. Esta é a primeira etapa do ciclo
sendo catalisada pela enzima citrato sintase.
A segunda etapa envolve a isomerização do citrato a
isocitrato via atividade catalítica da enzima aconitase com
liberação de uma molécula de água. Na reação subsequente
o isocitrato é descarboxilado oxidativamente liberando uma
molécula de CO2 e NADH durante a reação catalisada pela
isocitrato-desidrogenase resultando em α-cetoglutarato.
Bioquímica Humana 97

O α-cetoglutarato segue no ciclo de Krebs sendo


convertido a succinil-coenzima A com perda de uma molécula
de CO2 e produzindo a segunda molécula de NADH da via.
A α-cetoglutarato desidrogenase é um complexo enzimático
com três enzimas homólogas a PiDH que precisa de tiamina
pirofosfato, FAD, NAD e coenzima A para ser ativada.
Succinil- coenzima A (succinil-coA) é convertida a
succinato pela enzima succinil-coenzima A sintetase, a qual
forforila uma molécula de GDP durante o processo. O succinato
formato na reação anterior continua o ciclo sendo oxidado a
fumarato pela ação da succinato desidrogenase e originando
um FADH2 no processo. A enzima é inibida pelo aumento no
oxaloacetato.
O fumarato sofre hidratação sendo convertido a malato
pela ação reversível da fumarase. Malato por sua vez é oxidado
a oxaloacetato em uma reação que produz o terceiro NADH do
ciclo e ocorre pela ação enzimática da malato-desidrogenase.
Dentre as oito etapas do ciclo, quatro constituem reações
de oxidação que conserva a energia na forma de equivalentes
redutores NADH e FADH2 .
Algumas enzimas do ciclo podem sofrer regulação entre
elas encontram-se a citrato sintase, isocitrato-desidrogenase
e complexo α-cetoglutarato desidrogenase. Estas enzimas
apresentam aumento na velocidade de reação quando em
presença de cálcio ou quando há elevadas concentrações de ADP
ou NAD+, indicativo de falta de energia nas células. Elevações
nas concentrações de ATP ou NADH reduzem a velocidade de
reações catalisadas por estas enzimas.
α-cetoglutarato e oxaloacetato podem ser produzidos a
partir de glutamato e ácido aspártico por desaminação oxidativa
com auxílio de transaminases dependentes de piridoxal-fosfato,
forma ativa da vitamina B6. Fumarato pode ser produzido pelo
ciclo da ureia.
98 Bioquímica Humana

Os equivalentes redutores NADH e FADH2 são oxidados


na cadeia transportadora de elétrons localizada na membrana
mitocondrial interna com a formação de água metabólica e
energia na forma de ATP.

Cadeia transportadora de elétrons e


Fosforilação oxidativa
A energia liberada pela oxidação de nutrientes é utilizada
pelo organismo na forma de energia química chamada ATP. A
produção de ATP na mitocôndria resulta do processo fosforilação
oxidativa na qual o ADP recebe um grupamento fosfato sendo
convertido a ATP.
Membrana mitocondrial interna é a via final na qual os
elétrons provenientes de diferentes combustíveis do organismo
fluem para o oxigênio que constitui o aceptor final de elétrons. O
transporte de elétrons e a síntese de ATP ocorrem continuamente
em todos os tecidos que contêm mitocôndrias.

Componentes da cadeia respiratória e suas funções


A cadeia transportadora de elétrons é composta por
cinco complexos multienzimáticos presentes na membrana
mitocondrial. Cada complexo, aceita ou doa elétrons que são
trocados entre esses complexos e carreadores tais como a
coenzima Q e o citocromo c. Cada carreador presente na cadeia
respiratória recebe elétrons de um doador e os repassa para o
próximo carreador na cadeia até que atinjam o oxigênio, aceptor
final de elétrons, formando água. O complexo V ou ATP- sintase
é o local onde ocorre a fosforilação oxidativa que discutiremos
a seguir.
A medida que os elétrons fluem pela cadeia transportadora,
perdem muita energia livre a qual será utilizada em parte para
produção de ATP e o restante será liberada na forma de calor.
Bioquímica Humana 99

O complexo I também conhecido como NADH


desidrogenase é o local onde a desidrogenase retira o íon hidreto
e o próton livre do NADH resultante da oxidação de substratos.
Os hidrogênios juntamente com os elétrons (2elétrons + 2H+) são
transferidos para flavoproteína FMN (Flavina mononucleotídeo),
reduzindo a FMNH2. Neste complexo existem centros ferro-
enxofre que recebem os elétrons da FMNH2 e os repassam à
coenzima Q ou ubiquinona.
A membrana mitocondrial interna é impermeável ao
NADH formado no citosol pela ação da enzima gliceraldeído
3-fosfato desidrogenase na via glicólise. Para que ocorra a
oxidação é necessário um sistema de transporte indireto chamado
Lançadeira. A lançadeira malato-aspartato utilizada por fígado,
rins e coração. Neste sistema de transporte o oxaloacetato é
reduzido pelo NADH (formando NAD+) originando malato que
atravessa a membrana da mitocôndria onde é oxidado (formando
NADH) a oxaloacetato que recebe um grupamento amino e
sai da mitocôndria como aspartato. NADH entrega seu próton
e elétrons no complexo I da cadeia respiratória. Lançadeira
glicerol 3-fosfato é utilizada por tecido muscular esquelético
e encéfalo. Nesta lançadeira a enzima glicerol 3-fosfato
desidrogenase catalisa a redução da dihidroxicetona fosfato a
glicerol 3-fosfato com oxidação de NADH citosólico (formando
NAD+). O glicerol 3-fosfato vai até a membrana interna que
contém FAD regenerando a dihidroxicetona fosfato formando
FADH2 que entrega seus elétrons na cadeia respiratória para
formação de ATP.
O complexo II ou succinato desidrogenase é composto
por 4 subunidades proteicas e centro ferro enxofre. A succinato
desidrogenase é a enzima responsável pela oxidação do succinato
a fumarato. Lembrado que todas as enzimas participantes no
ciclo do ácido cítrico estão presentes na matriz mitocondrial
com exceção da succinato desidrogenase. A ação desta enzima
resulta na formação de FADH2 a qual transfere seus elétrons e
prótons para a coenzima Q via centro ferro-enxofre.
100 Bioquímica Humana

Cada NADH é responsável pela produção de 2,5 ATP


durante a fosforilação oxidativa e cada FADH2 produz 1,5
molécula de ATP.
A coenzima Q é um lipídeo notável com papel essencial
na transferência de elétrons entre os complexos I e II da
cadeia respiratória para o complexo III. É cofator de outras
desidrogenases, modulador da permeabilidade do poro de
transição mitocondrial e um antioxidante essencial. Na cadeia
transportadora de elétrons transfere elétrons do NADH:
coenzima Q redutase (Complexo I) e succinato: Coenzima Q
redutase (Complexo II) para coenzima Q: citocromo c redutase
(Complexo III) (ACOSTA et al., 2016). A ubiquinona pode
aceitar 1 elétron se tornando radical semiquinona (QH-) ou 2
elétrons para formar ubiquinol (QH2) constituindo também um
transportador de prótons (H+).
Com exceção da coenzima Q, todos os membros da cadeia
respiratória são proteínas.
O Complexo III (citocromo bc1) possui dois citocromos b,
centro ferro-enxofre e citocromo c1. Neste complexo os elétrons
podem fluir por duas vias separadas através de dois citocromos,
tipo b e tipo c1, em direção a um centro ferro-enxofre. Este
complexo oxida a ubiquinona reduzida (ubiquinol) e transfere
elétrons dos centros ferro-enxofre presentes no complexo para
o citocromo c, uma proteína periférica, fracamente presa à
membrana interna e que transfere elétrons do Complexo III ao
Complexo IV.
O Complexo IV (citocromo c oxidade; ou oxidase
‘normal’), contém, dentre outros, um citocromo c, citocromo a e
citocromo a3. O Complexo IV é a oxidase terminal e promove a
redução do O2 a duas moléculas de H2O.
A passagem de elétrons pelos complexos respiratórios
promove a translocação de prótons (H+) da matriz mitocondrial
para o espaço intermembranas. Essa translocação de prótons
Bioquímica Humana 101

gera alteração elétrica, bem como alteração de pH entre matriz


mitocondrial e espaço intermembrana. Esse gradiente de prótons
conhecido como força próton- motriz, impulsiona a síntese de
ATP a partir de ADP e fosfato inorgânico pelo complexo V da
cadeia respiratória também chamado de ATP- sintase.

Fosforilação oxidativa – Síntese de ATP


O transporte de elétrons está acoplado a fosforilação
oxidativa do ADP pelo transporte de prótons através da
membrana mitocondrial interna.
A síntese de ATP ocorre no complexo V também conhecido
como ATP-sintase. ATP-sintase apresenta dois componentes
estruturais: F0, proteína integral de membrana e F1 que constitui
proteína periférica de membrana-matriz. Este complexo catalisa
a formação de ATP a partir de ADP e Pi acompanhado do fluxo
de prótons do espaço intermenbranas para a matriz.
A hipótese quimiosmótica propõe que os prótons
transferidos ao espaço intermembrana durante a passagem de
elétrons pela cadeia respiratória, retornam a matriz mitocondrial
passando pelo canal da ATP-sintase, resultando então na síntese
de ATP a partir de ADP e Pi, ao mesmo tempo dissipando o
gradiente elétrico e de pH (CHAMPE, 2006).
A membrana mitocondrial interna é impermeável a
maioria dos íons pequenos como H+, Na+, K+ e moléculas
pequenas como ADP, ATP e piruvato entre outros. Para mover
estas substancias através da membrana é necessário uso de
carreadores. No caso do ATP produzido no interior da matriz
mitocondrial é conduzido ao citosol pela troca por ADP e Pi
presentes no citosol das células. O deslocamento do ATP para
fora da matriz é acoplado a importação de ADP e Pi produzido
no citosol a partir de ATP.
102 Bioquímica Humana

O ATP é utilizado na biossíntese de macromoléculas,


contração muscular, transporte ativo e termogênese. Ele é
produto do catabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas.

++
+
EXPLICANDO DIFERENTE

Para cada molécula de glicose oxidada são produzidos 2 ATPs


e 2NADHs pela via glicolítica e a formação de duas moléculas
de piruvato. A conversão de 2 piruvatos a 2 acetil-CoA origina 2
NADHs. No ciclo de Krebs são produzidos 3 NADHs, 1 FADH2
e 1 GTP por molécula de Acetil-coA que entra no ciclo. Como
são formadas 2 moléculas de Acetil-CoA por molécula de glicose
temos o dobro de equivalentes redutores. GTP é convertido a
ATP. 1 NADH equivale a 2,5 ATP enquanto um FADH2 resulta
na produção de 1,5 ATP. Somando as equações temos a formação
total de 32 ATPs por molécula de glicose oxidada.

Desacopladores são substâncias capazes de dissociar


o transporte de elétrons da fosforilação oxidativa, ou seja, o
transporte de elétrons funciona mas sem produção de ATP.
Exemplo: 2,4 dinitrofenol que se associa a prótons no exterior
da mitocôndria impedindo a formação de gradiente de prótons e
aumentando a velocidade da cadeia transportadora de elétrons.
Inibidores de fosforilação oxidativa, a exemplo oligomicina,
se liga a ATP-sintase e impede o retorno dos prótons à matriz
mitocondrial. Oligomicina é um antibiótico que impede a síntese
de ATP e consequentemente a fluência de elétrons na cadeia
transportadora de elétrons.
Defeitos genéticos mitocondriais ou nucleares envolvendo
enzimas utilizadas no processo de respiração celular
diminuem a relação ATP: ADP. Tecidos com elevada demanda
Bioquímica Humana 103

energética (cérebro, nervos, retina, esqueleto e miocárdio) são


particularmente vulneráveis. As manifestações clínicas mais
comuns são convulsões, hipotonia, oftalmoplegia, episódios de
acidentes vasculares, fraqueza muscular, constipação grave e
cardiomiopatia.
Sabe-se que deficiências no funcionamento
normal da cadeia respiratória mitocondrial levam
a uma rápida queda na obtenção de energia,
ou seja, comprometimento na síntese de ATP
induzindo aumento da produção de espécies
reativas de oxigênio (ERO), lesão e morte celular
(ANKARCRONA et al., 1995).
As mutações mitocondriais e variantes têm sido envolvidas
em numerosas doenças do envelhecimento (p. ex., doença de
Parkinson, doença de Alzheimer, diabetes, surdez, tumores).

Desordens no metabolismo de carboidratos

Formação de espécies reativas de oxigênio e


envelhecimento
Mitocôndrias estão envolvidas na produção
de espécies reativas de oxigênio (EROs) e
desenvolvimento de estresse oxidativo. Estas
organelas representam as principais produtoras
e também as organelas mais prejudicadas pela
produção de ERO durante o envelhecimento
(NOVELLI, 2005).
O envelhecimento é definido como acúmulo de
danos celulares ao longo do tempo, promovendo o
desenvolvimento de doenças e morte (CORNU et
al., 2013). Durante este processo, ocorre declínio
nas funções celulares devido a esse acúmulo de
104 Bioquímica Humana

danos, principalmente danos a macromoléculas e


organelas as quais não são devidamente removidas
(MORIMOTO & CUERVO, 2009). O processo de
envelhecimento também é associado com a redução
das funções de órgãos decorrente de danos oxidativos
(FINKEL, 2005; HARMAN, 1956).
Danos oxidativos são causados por espécies reativas de
oxigênio, tais como radical superóxido (O2-), radical hidroxil
(OH•) e peróxido de hidrogênio (H2O2). EROs podem produzir
danos aos tecidos ao promover peroxidação de lipídios das
membranas celulares, danos ao DNA e a proteínas celulares.
EROs são essenciais para a sinalização
química, detoxificação, função imune e, como
conseqüência, são continuamente produzidas no
organismo (DROGE, 2002). Na maior parte das
reações fisiológicas, a produção de radicais livres
é controlada, entretanto, a produção excessiva
desses compostos, sua exposição a oxidantes
externos ou diminuição dos mecanismos de defesa
antioxidantes pode resultar em dano no DNA,
lipídios e proteínas, caracterizando o chamado
“estresse oxidativo” (NISHYIAMA et al., 1998).
Há evidências que a dislipidemia causada tanto
por dietas ricas em carboidratos como em lipídios,
podem induzir produção de EROs (ROBERTS et
al. 2000).
Bioquímica Humana 105

REFLITA

Os organismos possuem mecanismos de defesa endógenos contra


a ação tóxica dos radicais livres, divididos basicamente em dois
grupos: as enzimas de atividade antioxidante e os antioxidantes
não-enzimáticos. Os primeiros correspondem principalmente às
enzimas catalase, superóxido dismutase e glutationa peroxidase.
Os agentes antioxidantes não-enzimáticos compreendem as
substâncias antioxidantes totais (SAT), incluindo as vitaminas
C e E (α-tocoferol), além de peptídeos ativos representados por
glutationa reduzida (GSH) (FERRARI et al., 1998).

Diabetes mellitus
As concentrações séricas elevadas de insulina reduzem
os níveis de glicose sanguínea ao inibir a produção hepática
deste carboidrato, estimular a sua captação, bem como seu
metabolismo no fígado, músculo e tecido adiposo.
A concentração sanguínea de glicose está associada a
secreção de insulina e constitui seu principal secretagogo.
Desequilíbrios na concentração sérica de glicose associadas
ao comprometimento na secreção e/ou resposta tecidual ao
hormônio insulina é responsável pelo desenvolvimento do
diabetes mellitus.
Existem dois tipos de diabetes mellitus: tipo1 e tipo 2.
Diabetes mellitus tipo 1 é uma doença autoimune onde as células
β-pancreáticas não produzem insulina causando um déficit grave
na concentração sérica deste hormônio. A terapia recomendada
é a administração de insulina em injeções subcutâneas. Diabetes
mellitus tipo 2 está associado a resistência à insulina, redução
106 Bioquímica Humana

da sensibilidade das células β-pancreáticas à glicose e reduções


progressivas de massa de células β, bem como redução dos
receptores de insulina nos tecidos-alvo. O diabetes tipo 2
tem maior prevalência em indivíduos obesos onde ocorre
hiperinsulinemia está associada a elevação na resistência ao
hormônio.
O aumento da resistência à insulina ou ausência em sua
secreção induz hiperglicemia ao mesmo tempo ocorre redução
na inibição do hormônio glucagon pelas células α-pancreáticas.
O glucagon promove intensa gliconeogênese no tecido hepático
gerando aumento de glicose sérica.
O fígado resistente a ação da insulina no diabetes tipo 2
contribui com redução da capacidade da insulina em suprimir a
produção hepática de glicose, bem como a captação de glicose e
síntese de glicogênio.
No tecido adiposo a resistência à insulina provoca
aumento da lipólise e liberação de ácidos graxos na circulação.
No músculo esquelético e fígado com quantidades aumentadas
de armazenamento de lipídeos.
As principais terapias utilizadas em indivíduos diabéticos
têm como objetivo reduzir a glicemia sérica e evitar as
complicações crônicas ou agudas associadas a desordem na
homeostasia da glicose.
A terapia para o diabetes mellitus pode envolver o uso de
injeções subcutâneas de insulina (tipos 1 e 2). A insulina pode
ter ação curta ou longa, a qual se dissolve de forma gradual. Os
fármacos mais comumente utilizados como terapia para o diabetes
tipo 2 envolvem biguanidas, sulfonilureias e tiazolidinedionas.
O único fármaco utilizado na classe das biguanidas é a
metformina que atua elevando a atividade da proteína quinase
dependente de AMP (AMPK). AAMPK é ativada por fosforilação
quando as reservas energéticas celulares encontram-se reduzidas.
Bioquímica Humana 107

AMPK ativada estimula a oxidação de ácidos graxos e a captação


de glicose, reduzindo lipogênese e gliconeogênese.
Sulfonilureias atuam em canais de potássio ativados
por ATP inibindo sua abertura, depolarizando as células
β-pancreáticas, consequentemente elevam a concentração de
cálcio intracelular e aumentam a exocitose de vesículas contendo
insulina. As sulfonilureias mais utilizadas são glibenclamida e
glipizida.
Tiazolidinedionas são fármacos que se ligam a receptores
PPARγ (receptor gama de proliferação peroxissimal), receptores
nucleares envolvidos na regulação de genes associados ao
metabolismo de carboidratos e lipídeos. PPARγ quando ativado
promove aumento na sensibilidade dos tecidos a glicose elevando
a captação de glicose pelo músculo esquelético e fígado;
eleva também a captação de ácidos graxos pelos adipócitos e
desloca lipídeos dos tecidos para tecido adiposo. Fármacos
tiazolidinedionas são rosiglitazona e pioglitazona.
108 Bioquímica Humana

RESUMINDO

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo
o que vimos. Você deve ter aprendido que o produto final da
glicólise, o piruvato, é convertido a aceti-co-A no interior da
mitocôndria. Acetil-coA entra no ciclo do ácido cítrico que possui
oito etapas sendo totalmente oxidado a CO2 e H2O. Durante a
passagem do Acetil-coA pelo ciclo são formadas três moléculas
de NADH, uma molécula de FADH2 e um GTP. NADH e
FADH2 são chamados equivalentes redutores e entregam seus
elétrons juntamente com prótons na cadeia respiratória. Essa
cadeia possui cinco complexos enzimáticos aos quais os elétrons
fluem e perdem energia livre até atingirem o aceptor final, o
oxigênio, formando moléculas de água ao final do processo. A
passagem de elétrons pelos complexos respiratórios promove
translocação de próton da matriz mitocondrial para espaço
intermembrana. Esse fato gera um gradiente de concentração
de prótons no espaço intermembrana e uma força próton-motriz
que promove o retorno desses prótons a matriz via complexo
V ou ATP- sintase. A força próton-motriz faz com que a ATP-
sintase ligue uma molécula de ADP a Pi formando ATP, o qual
é deslocado, em parte, para o citosol da célula. Alterações na
cadeia respiratória estão associadas a produção de espécies
reativas de oxigênio e desenvolvimento de doenças relacionadas
ao processo de envelhecimento. E por último você deve ter
aprendido que distúrbios metabólicos associados a insulina
estão relacionados ao diabetes mellitus.

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