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PSICOLOGIA DO PSICOLOGIA DO

Psicologia do Desenvolvimento
DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO
Organizadora Tainá Thies Organizadora Glauco Tainá Thies

CM

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GRUPO SER EDUCACIONAL

gente criando o futuro


Psicologia do
Desenvolvimento

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© by Editora Telesapiens
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autorização, por escrito, da Editora Telesapiens.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

T439p Thies, Tainá.


Psicologia do desenvolvimento [recurso eletrônico]/ Tainá
Thies. – Recife: Telesapiens, 2019.
200 p. : pdf
ISBN: 978-85-54921-26-2
1.Psicologia do desenvolvimento I. Título.
CDU 159.922

(Bibliotecário responsável: Nelson Oliveira da Silva – CRB 10/854)

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Psicologia do
Desenvolvimento

Créditos Institucionais

Fundador e Presidente do Conselho de Administração:


Janguê Diniz
Diretor-Presidente:
Jânyo Diniz
Diretor de Inovação e Serviços:
Joaldo Diniz
Diretoria Executiva de Ensino:
Adriano Azevedo
Diretoria de Ensino a Distância:
Enzo Moreira

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Todos os direitos reservados

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A AUTORA
TAINÁ THIES
Olá. Meu nome é Tainá Thies. Sou formada em Letras,
com especialização em Linguística e mestrado em Teoria da
Literatura, atualmente cursando Psicologia. Possuo experiência
técnico-profissional na área de Educação e Aprendizagem de
mais de 10 anos. Tive a oportunidade de trabalhar em empresas
que me colocaram em contato com a diversidade do povo
brasileiro e que me fizeram amar ainda mais a Educação, a
Psicologia e a Língua Portuguesa. Sou apaixonada pelo que faço
e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão
iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes.
Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito
estudo e trabalho. Conte comigo!

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ICONOGRÁFICOS
Esses ícones que irão aparecer em sua trilha de aprendizagem
significam:
OBSERVAÇÃO
OBJETIVO
Uma nota explicativa
Breve descrição do objetivo
sobre o que acaba de
de aprendizagem; +
ser dito;

RESUMINDO
CITAÇÃO
Uma síntese das
Parte retirada de um texto;
últimas abordagens;

TESTANDO
DEFINIÇÃO
Sugestão de práticas ou
Definição de um
exercícios para fixação do
conceito;
conteúdo;

IMPORTANTE ACESSE
O conteúdo em destaque Links úteis para
precisa ser priorizado; fixação do conteúdo;

DICA SAIBA MAIS


Um atalho para resolver Informações adicionais
algo que foi introduzido no sobre o conteúdo e
conteúdo; temas afins;

++
EXPLICANDO
SOLUÇÃO
+ DIFERENTE Resolução passo a
Um jeito diferente e mais passo de um problema
simples de explicar o que ou exercício;
acaba de ser explicado;

EXEMPLO CURIOSIDADE
Explicação do conteúdo ou Indicação de curiosidades
conceito partindo de um e fatos para reflexão sobre
caso prático; o tema em estudo;

PALAVRA DO AUTOR REFLITA


Uma opinião pessoal e O texto destacado deve
particular do autor da obra; ser alvo de reflexão.

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SUMÁRIO
UNIDADE 01
A Psicologia e a história..........................................................12
Principais influências filosóficas na Psicologia.........................14
Período Pré-Socrático (séculos VII-V a.C.)......................14
Período socrático (séculos V- IV a.C.)..............................15
Sócrates 469 a.C..........................................................15
Platão 428 a.C..............................................................16
Aristóteles 384 a.C. ....................................................17
Período Pós-Socrático (320 a.C. até o começo da era
cristã).................................................................................18
Idade Média.......................................................................19
Origem da Psicologia Moderna.............................................19
Descoberta da subjetividade privada........................................22
Crise da subjetividade privada..................................................26
Objeto de estudo da Psicologia..............................................29
As escolas psicológicas: Estruturalismo, Funcionalismo e
Associacionismo......................................................................35
Estruturalismo...........................................................................36
Funcionalismo...........................................................................40
Associacionismo.......................................................................45
Edward Lee Thorndike (1874-1949).................................48
Ivan Petrovitch Pavlov (1849-1936).................................49
UNIDADE 02
Evolução Histórica..................................................................54

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Teorias de 1890 a 1920.............................................................54
Medição das diferenças individuais por meio de testes....60
Análise dos processos de aprendizagem...........................61
Psicologia Infantil..............................................................63
Teorias de 1920 - 1955..............................................................65
Henri Wallon (1879- 1962)...............................................66
Jean Piaget (1896-1923)....................................................68
Lev Vygotsky (1896-1924)................................................70
Teorias a partir de 1955.............................................................72
As Concepções de Psicologia da Educação e Implicações
Pedagógicas..............................................................................75
Construtivismo..........................................................................77
Socioconstrutivismo..................................................................79
Teorias de enfoque e contexto cultural.....................................81
Estudo dos conteúdos escolares................................................82
Novas práticas educacionais.....................................................83
Noções de Psicopedagogia......................................................85
O(a) psicopedagogo(a)..............................................................87
Dificuldade x Transtorno..........................................................90
Noções de Neuropsicopedagogia............................................92
UNIDADE 03
Os fatores que influenciam no desenvolvimento do psiquismo.. 103
Fatores Biológicos..................................................................104
Fatores biológicos de ordem universal............................104
Fatores biológicos de ordem individual..........................107
Fatores Sociais........................................................................108

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Fatores individuais..................................................................113
Fatores Histórico-culturais......................................................117
Os processos mentais e a constituição do psiquismo humano.... 120
Sensação..................................................................................122
Percepção................................................................................123
Princípio do fechamento..................................................124
Princípio de proximidade................................................124
Princípio da semelhança .................................................125
Principio da simplicidade ...............................................126
Princípio da figura e fundo .............................................126
Memória..................................................................................127
Memória sensorial...........................................................127
Memória de curto prazo..................................................128
Memória de trabalho.......................................................128
Memória de longo prazo..................................................129
Memória declarativa..................................................129
Memória processual...................................................129
Memória semântica....................................................129
Memória episódica.....................................................130
Memória explícita............................................................130
Memória implícita...........................................................130
Memória instantânea.......................................................130
Pensamento e raciocínio lógico..............................................131
Linguagem..............................................................................132
Atenção...................................................................................135
Emoções..................................................................................136

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Psicologia do Desenvolvimento 9

Transtornos mentais e o desenvolvimento da aprendizagem .... 139


Distúrbios fisiológicos e o desenvolvimento da aprendizagem ..144
UNIDADE 04
Teorias do desenvolvimento e da aprendizagem e suas implicações
pedagógicas ........................................................................................... 150
A Psicanálise de Freud e o desenvolvimento infantil ...........150
Sigmund Freud (1856-1939) ..........................................151
Instâncias e Estrutura Psíquicas .....................................153
Fases do desenvolvimento psicossexual ........................159
O behaviorismo radical de Skinner e a aprendizagem ...........163
Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) ..........................164
Consequências - reforço e punição .................................167
Reforço .....................................................................167
O humanismo de Rogers e a mudança ao longo da vida .......171
Carl Rogers (1902 - 1987) ..............................................172
Abraham Maslow (1908-1970) ......................................175
Psiquismo da criança frente ao processo de aprendizagem .177
Desenvolvimento da confiança ..............................................177
Desenvolvimento do apego ....................................................178
Desenvolvimento da autonomia, da iniciativa e da produtividade ..180
Psiquismo na adolescência e a aprendizagem ...................183
Identidade...............................................................................185
Sexualidade ............................................................................188
Andragogia e a Psicologia da aprendizagem em fase adulta .....190
Inteligência na vida adulta .....................................................191
Educação na idade madura.....................................................194

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10 Psicologia do Desenvolvimento

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Psicologia do Desenvolvimento 11

01
UNIDADE

A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA

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12 Psicologia do Desenvolvimento

INTRODUÇÃO
Olá, sejam muito bem-vindos a Disciplina de Psicologia
do Desenvolvimento. Vocês terão a oportunidade de perceber o
quão fascinante é esta área.
Ao estudarmos a sua história podemos perceber o quão
antigo é o interesse de entender o ser humano. Pretendemos que
você conheça a evolução dessa ciência e seu objeto de estudo, a
fim de que possa compreender sua importância para a Educação.
Ao entendermos como nos desenvolvemos, nós podemos
– como educadores – perceber mais facilmente situações que
precisem de nossa intervenção no processo de aprendizagem,
isso é possível quando detectamos algum tipo de transtornos
do desenvolvimento, dificuldades escolares e problemas de
comportamento.
Estudar o desenvolvimento da psicologia e dos indivíduos,
aguça nossos sentidos para a aceitação daquele que é diferente
e possibilita uma maior compreensão do processo de ensino-
aprendizagem e da educação integral, que visa formar um sujeito
capaz de tomar suas próprias decisões.
Vamos começar?

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Psicologia do Desenvolvimento 13

OBJETIVOS
Olá! Seja bem-vindo a nossa Unidade 1, e o nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências
profissionais até o término desta etapa de estudos:

1 Compreender a importância do histórico da


psicologia;

2 Identificar o surgimento da psicologia enquanto


ciência;

3 Reconhecer a evolução do objeto de estudo da


psicologia;

4 Esquematizar as principais escolas fundadoras


da psicologia.

Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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14 Psicologia do Desenvolvimento

A Psicologia e a história
Você já se perguntou sobre o motivo de estudarmos a
história de alguma coisa? Por que não começamos a estudar o
que a Psicologia diz hoje e pronto? Será que conhecer a história
dessa disciplina nos auxilia na compreensão de como chegamos
até aqui?

REFLITA

Para você, qual a importância de saber o seu passado para


compreender o que está sentindo?

A Psicologia é constituída de muitas visões acerca do


homem e do mundo, porém, o que liga todas estas visões é a
história desta ciência:
“Somente a exploração das origens da psicologia e o
estudo do seu desenvolvimento é que proporcionam
uma visão clara da natureza da psicologia atual.
O conhecimento histórico organiza a desordem e
estabelece um significado ao que parece ser um caos,
colocando o passado em perspectiva para explicar o
presente. (SCHULTZ, 2012, p. 2)”
Também pode-se dizer que olhar para o passado constitui
um método de várias linhas psicoterapêuticas, como a Psicanálise
que tenta compreender o passado do paciente ou, como nas
abordagens cognitivo-comportamental e gestáltica, que tentam
entender como o passado afeta o presente.
Além disso, podemos nos questionar: a partir de que
ponto começamos o estudo da Psicologia? 1900? 1800? 1700?
Não, senhoras e senhores! A Psicologia remonta à antiguidade,
embora ainda não fosse conhecida como “Psicologia”. Porém,

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Psicologia do Desenvolvimento 15

suas bases podem ser encontradas em Platão e Aristóteles, no


século V a.C.

SAIBA MAIS

A palavra Psicologia, vem da junção das palavras gregas


“Psyché” (que significa alma ou espírito) e “logos” (estudo,
compreensão). Assim, Psicologia significa “o estudo da alma”.

Os filósofos antigos já faziam questionamentos quanto


ao comportamento humano e, até o século XVIII, continuaram
a investigar o ser humano, suas motivações, pensamentos,
emoções, sensações, memórias e aprendizagem. A partir desta
época, pesquisadores das ciências médicas e biológicas também
passaram a se interessar pelo estudo da mente humana. Tal
aproximação das ciências naturais possibilitou que, a partir do
século XIX, a Psicologia fosse estabelecida como ciência.
Considerando isso, talvez não devamos chamar de
“História da Psicologia” o que veio antes do século XIX, porém,
também não podemos fingir que os acontecimentos anteriores
não possuem importância para nos trazer até o ponto em que a
Psicologia se torna ciência.
Vamos, então, ver um resumo das principais influências, em
especial filosóficas, que antecederam a constituição dessa ciência.
“A Psicologia tem um longo passado, mas uma curta
história.” Hermann Ebbinghaus

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16 Psicologia do Desenvolvimento

Principais influências filosóficas na Psicologia


Para entendermos melhor os períodos que influenciam a
Psicologia moderna, veja abaixo uma linha do tempo das eras
pré-histórica e histórica, bem como os principais eventos em
cada Idade.

Figura 1 – Linha do tempo dos principais eventos históricos.

O período definido como Idade Antiga, ou Antiguidade,


apresenta 3 grandes períodos de pensamentos filosóficos: Pré-
Socrático, Socrático, Pós- Socrático.
Vamos ver cada um desses períodos do pensamento
filosófico, seus representantes e suas ideias:

Período Pré-Socrático (séculos VII-V a.C.)


Neste período, os pensadores se preocupavam com
problemas cosmológicos, isto é, com problemas relativos
à origem do universo. Os pré-socráticos acreditavam que o
universo tinha se originado a partir de um único elemento ou
fenômeno.
Partiam da observação para estudar a realidade, buscando a
origem natural das coisas, sua essência, por meio de explicações
lógicas provindas das observações naturalistas.

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Psicologia do Desenvolvimento 17

Podemos destacar, neste período, pensadores como: Tales


de Mileto(624 a.C.-548 a.C.), Pitágoras de Samos ( (570 a.C.-497
a.C.) e Demócrito Abdera (460 a.C.- 370 a.C.), dentre outros.

++ SAIBA MAIS

Quer saber um pouco mais sobre esses pensadores e seus


contemporâneos? Então, acesse: https://bit.ly/2K8SyBk.

Período socrático (séculos V- IV a.C.)


Sócrates 469 a.C.
Neste período, também chamado de clássico, os filósofos se
preocupam com problemas metafísicos, isto é, que transcendem
a realidade objetiva do mundo físico. Assim, o interesse pela
natureza se integra ao interesse pelo espírito. Sócrates, Platão e
Aristóteles são os maiores representantes deste período.
Figura 2 - Sócrates

Fonte: Wikipedia

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18 Psicologia do Desenvolvimento

O propósito deste período é um exame de si mesmo,


enquanto método filosófico, assim, buscando o estudo do homem.
Porém, homem não enquanto indivíduo e sim enquanto ser,
possuidor de uma alma (psyché), a qual é constituída de virtudes.
Assim, o homem nasceria para ser virtuoso, diferenciando-se
dos animais por sua inteligência.

Platão 428 a.C.


Figura 3: Platão

Fonte: Wikipedia

Para Platão, discípulo de Sócrates, o conhecimento


empírico (através de experiências) deveria ser substituído pelo
conhecimento intelectual, pois este seria universal e absoluto,
enquanto as experiências seriam relativas, ou seja, pessoais.
O filósofo acreditava que a alma humana deriva de
uma alma universal e esta alma universal pertenceria ao
mundo das ideias, logo, da intelectualidade. Sendo a alma a
inteligência pura. Platão acreditava que tudo que é criado no
mundo físico, vem antes deste mundo das ideias, de onde vêm
as almas dos homens.

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Psicologia do Desenvolvimento 19

ACESSE

Para saber um pouco mais sobre os filósofos apresentados


aqui e mais alguns, acesse a vídeo aula “Sócrates, Platão,
Aristóteles, Descartes e Rousseau”produzida pela Unesp
https://bit.ly/35zNleh.

Aristóteles 384 a.C.


Figura 4: Aristóteles

Fonte: Wikipedia

Já para Aristóteles, a alma seria um princípio da vida, e o


mundo físico não seria criado primeiramente nas ideias, como
para Platão. O filósofo apresentava uma postura mais realista,
estudando os seres vivos em si e não a ideia do ser vivo, como
seu antecessor.

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20 Psicologia do Desenvolvimento

Período Pós-Socrático (320 a.C. até o começo da


era cristã)
Neste período, os filósofos se separaram em duas linhas,
estóicos e epicuristas, ambas buscando a discussão de problemas
morais. Os filósofos discutiam a ética e a conduta moral dos
homens. Seus representantes: Epicuro ( 341 a.C) e Zenão.
Figura 5 - Epicuro

++
Fonte: Wikipedia

SAIBA MAIS

Quer saber mais sobre os epicuristas e os estóicos e sua busca


pela ética? Acesse o link https://bit.ly/2oM5bde.

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Psicologia do Desenvolvimento 21

Idade Média
Com o advento da era Cristã, os valores da antiguidade
modificaram-se. Enquanto o pensamento grego atestava que o
homem era subordinado ao universo e exaltava a inteligência,
os cristãos pregavam a subordinação do universo ao homem e a
obediência a Deus.
Na Idade Média, há uma ordem superior que ampara os
homens e que dita as regras da vida. A vida é compartilhada,
não privada, pois nem mesmo há cômodos separados nas casas.
Assim, há a coletividade que vive em função dos senhores
feudais e da Igreja.

Origem da Psicologia Moderna


A Idade Moderna corresponde o período do século
XV ao século XVIII, começa a formar os primórdios de uma
disciplina chamada de Psicologia. Neste período da história da
humanidade, houve o estabelecimento de uma teoria econômica,
o mercantilismo. Além disso, houve a expansão da colonização
europeia dos continentes americano, asiático e africano,
disseminando a religião cristã por todo o mundo.
Esse período é marcado também pela difusão do
Renascimento (séc. XIV a XVI) e do Iluminismo (século
XVIII). O Renascimento foi um importante movimento
artístico, científico, cultural e filosófico da modernidade, sendo
o marco da transição da Idade Média para Idade Moderna.
O Iluminismo surge no século XVIII na Europa, defende o
uso da razão (luz). Sendo contra as ideias do antigo regime, prega
a liberdade econômica, política e social. Alguns pensadores se
destacaram, como: John Locke,Voltaire e Rousseau.

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22 Psicologia do Desenvolvimento

Figura 6 - Renascimento

Fonte: Wikipedia

Figura 7 - Iluminismo

Fonte: Wikipedia

No século XVI, o ser humano apresentou a necessidade


de obter um conhecimento de si mesmo, de identificar sua
individualidade e de ter novas experiências. Desta busca por uma
individualidade surgiram outras discussões, que faremos apenas
menção neste material por considerar de menor importância
à compreensão do surgimento da Psicologia. Tais discussões
giram em torno:

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Psicologia do Desenvolvimento 23

 da distinção entre o corpo e mente;


 do reconhecimento da loucura como uma doença que é
ligada à mente;
 da distinção entre infância e vida adulta, sendo que a
criança era antes vista como um mini adulto, sem necessidades
cognitivas ou físicas distintas, de um adulto.

EXEMPLO

O filme: “Nise: O coração da loucura” (2015) retrata a história


de uma psiquiatra brasileira que se recusa a tratar os pacientes
internados no manicômio onde trabalha da mesma forma que
sempre foram tratados, com crueldade. Inicia um lindo trabalho de
terapia ocupacional e psicoterapia com os internos, revolucionando
o tratamento dado a pessoas com transtornos mentais. Assista, é um
filme que retrata as condições, das pessoas com doenças mentais e
o tratamento que muitas vezes, eram utilizados choques e cirurgias.

Esta necessidade de busca por si mesmo, foi o princípio


para toda uma ciência, o qual deu origem a dois pontos muito
importantes para o delineamento da Psicologia:
 A descoberta da subjetividade privada;
 A crise da subjetividade privada.

ACESSE

Com dúvidas sobre o que é a subjetividade? Acesse o vídeo a


seguir no link https://bit.ly/30nRsGN e descubra.

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24 Psicologia do Desenvolvimento

Descoberta da subjetividade privada


Se pensarmos no homem, enquanto indivíduo que tem
consciência de ser um “eu”, com experiências próprias e
subjetivas, entendemos que hoje todos nós nos reconheceremos
como este indivíduo, correto?
“Ter uma experiência da subjetividade privatizada
bem nítida é para nós muito fácil e natural: todos
sentem que parte de suas experiências é íntima,
que mais ninguém tem acesso a ela. É possível,
por exemplo, ficar um longo tempo pensando se
vamos ou não fazer uma coisa, quase decidir por
uma e, no final, acabar fazendo a outra, sem que
ninguém fique sabendo de nada. Com frequência
sentimos alegrias e tristezas intensas e procuramos
escondê-las. A possibilidade de mantermos nossa
privacidade é altamente valorizada por nós e
relacionada ao nosso desejo de sermos livres para
decidir nosso destino. A experiência da solidão,
ansiada ou temida, é também altamente expressiva
daquilo que acreditamos ser nossa individualidade.
(FIGUEIREDO & SANTI, 1997, p. 19) ”.
Assim, de acordo com Figueiredo e Santi ( 1997), para
nós, seres da Idade Contemporânea, é fácil compreendermos
que somos sujeitos (subjetividade) que possuem pensamentos,
emoções, planos e sensações que sejam privadas, somente
nossas. Mas, nem sempre foi assim.
Na antiguidade, como vimos, buscava-se uma vida que
refletisse um autogoverno do corpo e da alma (psyché). Não
havia uma busca por autoconhecimento, a qual sempre tentamos
cultivar nos dias de hoje.

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Psicologia do Desenvolvimento 25

CURIOSIDADE

Que há um conto grego que retrata a


história de amor entre Eros (deus do
amor) e uma mortal, Psyché? O conto
é de fácil acesso e uma leitura muito
agradável. Saiba um pouco da Mitologia
Grega e dessa história de amor, acesse:
https://bit.ly/2JsGetM.

Os antigos buscavam uma vida que se assemelhasse a


uma obra de arte a partir de ensinamentos e da natureza, não
buscavam verdades internas como fazemos hoje.
A cristandade voltou-se para o interior, mas não para
encontrar a si, e sim para encontrar Deus, dentro de si. Assim,
os cristãos se diferenciaram dos antigos por buscarem verdades
interiores, porém não verdades individuais, mas advindas de um
ser superior a eles próprios.
Por fim, a partir da modernidade, passou-se a olhar para
dentro de si, como nos dizem Vilela, Ferreira e Portugal:
“Na passagem para o cuidado de si moderno há,
pois, uma mudança de finalidade: não se busca
mais uma purificação da alma para atingir Deus,
mas uma pura afirmação de si. E também, o exame
de si, outrora exercido através de instrumentos
religiosos e jurídicos (como a confissão), cede
aos aparatos científicos modernos (a anamnese,
a entrevista clínica, os testes mentais). Portanto,
mudam igualmente as técnicas desse novo cuidado
de si. (2005, p. 16)”.

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26 Psicologia do Desenvolvimento

A busca por esta afirmação, que dizem os autores,


acontece quando há situações de crise social, isto é, quando
aquilo que temos estabelecido enquanto valores ou costumes
são questionados, produzindo novas formas de se viver. Quando
há este questionamento daquilo que temos como verdade,
precisamos nos interiorizar, ou seja, nos voltar para dentro de
nós mesmos para tomar as decisões, uma vez que não há apoio
da sociedade para nos dizer o que devemos ou não fazer.

REFLITA

Quais atos as minorias como: mulheres, negros, indígenas e


comunidade LGBT, realizam para que suas vozes e seus anseios
sejam ouvidos? Você crê que a sociedade tem condições de
prover tais grupos, com os direitos que lhe são devidos, sem que
haja pressão popular? De que forma? Reflita e busque maiores
informações sobre a representatividade das minorias.

Ao colocar em debate o que estava estabelecido


socialmente, ocorre uma perda de referências, as quais antes eram
coletivas, partilhadas por quase toda a sociedade (referências
como gênero, raça, família, leis, etc).
Portanto, o ser humano se vê na necessidade de
encontrar suas próprias respostas. Nesta busca, muitas vezes há
questionamentos como: Quem sou? O que quero para mim? O
que é correto? o que desenvolve a habilidade de reflexão moral.

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Psicologia do Desenvolvimento 27

Figura 9 – Quem sou.

Fonte: Prawny / Pixabay

Estes questionamentos se refletem em outros setores, como


as artes. Quando começamos a perceber que poderíamos ter uma
subjetividade privada, pudemos nos expressar de forma diferente.
Assim, surgiram o romance e a poesia lírica (que fala do eu) e,
também, pinturas que traduzem o mundo interior do artista.

CURIOSIDADE

A subjetividade privada foi possível, também, graças à criação


da imprensa e da possibilidade de impressão de livros e jornais.
Antes da imprensa, pouquíssimos possuíam livros, pois eles
eram copiados a mão. Mas também, poucos eram os que sabiam
ler. Assim, a imprensa possibilitou que a leitura se ampliasse e
que, se tornasse silenciosa, dentro da mente de cada um.

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28 Psicologia do Desenvolvimento

A partir do Renascimento, as autoridades que governavam


a vida dos indivíduos e ditavam a conduta do povo perderam a
força ou mudaram de função. A forma de governo foi lentamente
se modificando e os reis não mais ditavam o que seus súditos
deveriam ou não fazer com suas vidas.
Da mesma forma, a Reforma e Contrarreforma da Igreja,
diminuíram os padres, cardeais e bispos o posto de governantes
da vida privada de seus fiéis. Também Deus se distanciou, não
era mais o guardador dos passos individuais, sendo agora o
criador, cabendo ao homem escolher seus caminhos.
Mas, não apenas de alegrias viveram os homens do século
XIX. Há alguns dissabores no caminho! Vejamos quais.

Crise da subjetividade privada


Definimos, até aqui, que a subjetividade privada não é algo
que a humanidade sempre teve, mas que foi construída quando
questionamos valores e crenças e passamos a refletir para tomar
nossas decisões, assim, criando uma ideia de que o homem é
livre para escolher seus caminhos.
Entretanto, a ideia de liberdade passou a ser questionada
no século XIX, uma vez que, liberdades e interesses individuais
se colocam a favor de alguns poucos e resultam em problemas,
como nos dizem Figueiredo e Santi:
“Os interesses particulares levam a conflitos;
a liberdade para cada um tratar de seu negócio
desencadeou crises, lutas e guerras. Os
trabalhadores no século XIX foram aos poucos
descobrindo que se defenderiam melhor unidos
em sindicatos e partidos do que sozinhos. O
Estado, a administração pública, não ficaram
inertes. Para combater os movimentos operários

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Psicologia do Desenvolvimento 29

reivindicatórios, para pôr um pouco de ordem


na vida social - em que cada um defendia o que
era seu sem pensar nas consequências para todos
-e para defender os interesses dos produtores de
uma nação contra os das outras, a administração
pública cresceu, cresceram o Estado, a burocracia,
cresceram as forças armadas. A partir daí, como
ficava aquela idéia de liberdade individual?
Ainda no século XIX, conjuntamente com as
burocracias, cresce a grande indústria baseada
na produção padronizada e mecanizada, cresce o
consumo de massa para os produtos industriais.
Onde ficava, então, aquela idéia de que cada um é
único e diferente dos demais? (1997, pp. 49-50)”.
Com o questionamento acerca da real liberdade individual,
muitos conflitos tomam forma ao redor do mundo e, em
especial, na Europa. Dessa forma, o campo para o surgimento da
Psicologia enquanto ciência está pronto. É preciso uma ciência
que dê conta da angústia do indivíduo, gerada pela compreensão
de que possui uma subjetividade, mas que sua liberdade é, em
certo grau, ilusória. Além disso, é necessária uma nova ciência
que auxilie o Estado a governar e controlar sujeitos que agora
tiram suas próprias conclusões.

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30 Psicologia do Desenvolvimento

EXEMPLO

Para compreender uma pouco mais sobre a crise da subjetividade


privada, assista ao filme “Os Miseráveis”, baseado na obra do
escritor francês Victor Hugo. O filme conta a história de um
povo preso entre sonhos e desilusões, culminando na Revolução
Francesa. É possível perceber bem o quanto a miséria leva ao
povo a entrar em crise, assim como as estruturas sociais.

Figura 10 – Revolução Francesa

Fonte: WikiImages / Pixabay

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Psicologia do Desenvolvimento 31

Objeto de estudo da Psicologia


Ao tentar se estabelecer como ciência, a Psicologia
apresenta inicialmente um problema: seu objeto de estudo: a
psiquê, ou seja, a mente humana.
“O que restaria para uma psicologia como ciência
independente? Nada! Embora, à primeira vista,
possa parecer surpreendente, esta foi exatamente
a resposta de um importante filósofo francês do
século XIX, Auguste Comte (1798-1857). No seu
sistema de ciências não cabe uma “psicologia”
entre as “ciências biológicas” e as “sociais”.
(Figueiredo e Santi, 1997, p. 15) ”.
Para Comte, as ciências biológicas e as ciências sociais
já dariam conta de estudar o ser humano, a primeira: biologia,
a segunda, a sua inserção na sociedade. Porém, era preciso que
alguém estudasse a subjetividade do ser humano, a sua mente.

DEFINIÇÃO

A mente seria, para os psicólogos iniciais, uma entidade separada


do corpo, a qual seria responsável pelos processos cognitivos.
Este conceito foi contestado por linhas futuras, em especial pelo
behaviorismo, que não utiliza tal conceito em sua teoria.

Todavia, para estudar a mente eram necessários


métodos e os séculos XVIII e XIX providenciaram diversos
deles para compreender o mundo e seus seres. Veja abaixo
os principais métodos de pesquisa tanto do homem quanto
do mundo que o rodeia:

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32 Psicologia do Desenvolvimento

Quadro 01 - Principais métodos de pesquisa e seus pensadores.

PRINCIPAIS
PENSADORES
Francis Bacon Corrente filosófica
(1561-1626) que crê na experiência
John Locke (sentidos, sensações)
EMPIRISMO
(1632-1704) para o acesso ao
David Hume conhecimento do
(1711-1776) mundo e do homem.
Para eles, tudo o
que existe tem uma
explicação e uma
René Descartes
causa, as quais são
RACIONALISMO (1596-1650) dadas pela lógica,
Georg Hegel mesmo que a
(1770-1831) explicação não possa
ser dada por meio de
experiência.
Auguste Comte
O conhecimento
(1798-1857) científico seria o único
POSITIVISMO
John Stuart Mill válido.
(1806-1873)

Esses métodos foram (e ainda são) utilizados nas mais


diversas disciplinas. Da mesma forma que os filósofos os
utilizavam para estudar a mente e a sociedade, os pesquisadores
das ciências biológicas do século XIX, os utilizavam para
entender a fisiologia humana.

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Psicologia do Desenvolvimento 33

DEFINIÇÃO

Fisiologia: é o estudo do funcionamento dos seres vivos e dos


processos físicos e químicos que se passam nos organismos.

Desta forma, os fisiologistas se encarregaram de estudar


a ligação entre os nervos e as sensações no corpo humano,
mapeando as funções do cérebro. Com tais pesquisas, inicia-se a
Psicologia Experimental, que tinha por objetivo estudar a mente
por meio de experimentos.
Os primeiros estudos na área da Psicologia Experimental
foram realizados por Hermann Von Helmholtz, Ernst Webber,
Gustav Theodor Fechner e Wilhelm Wundt. Este último
considerado ainda hoje o pai da Psicologia Moderna.
Figura 11 – Wilhelm Wundt

Fonte: WikiImages

Até este ponto, a Psicologia já era considerada disciplina


dentro dos cursos de graduação e pós-graduação, porém ainda
não era uma ciência de fato, oficial, capaz de gerar uma profissão.

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34 Psicologia do Desenvolvimento

“Wilhelm Wundt foi o fundador da psicologia como


disciplina acadêmica formal. Instalou o primeiro
laboratório, lançou a primeira revista especializada e
deu início à psicologia experimental como ciência. Os
temas de suas pesquisas, como sensação e percepção,
atenção, sentimento, reação e associação, tornaram-
se capítulos básicos de livros didáticos e são até hoje
fontes inesgotáveis de estudo. Tanto que a maior parte
da história da psicologia pós-wundtiana é caracterizada
pela contestação ao seu ponto de vista da psicologia,
fato que não desvaloriza sua importância nem seus
feitos como seu fundador. (SCHULTZ & SCHULTZ,
2010, pp. 78-79)”.
Wundt criou o primeiro laboratório de psicologia
experimental na Universidade de Leipzig, na Alemanha. Ele
estudava a consciência, a qual “incluía várias partes diferentes
e podia ser estudada pelo método de análise ou da redução”.
(Idem, ibidem, p. 84).
Para conseguir estudar a consciência, Wundt utilizou o
método da introspecção, pois, para ele, somente o sujeito que
passa pela experiência pode fazer observações sobre o que se
passa em sua mente.

DEFINIÇÃO

Método Introspectivo: método de autoanálise para o estudo


dos pensamentos e sentimentos.

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Psicologia do Desenvolvimento 35

Utilizando o Método Introspectivo para vasculhar a mente


humana, Wundt chegou às seguintes teorizações:
Quadro 13 - Conceitos da teoria de Wilhelm Wundt

Ideia de que a mente é capaz de organizar


Voluntarismo o conteúdo mental em processos de
pensamento de nível mais elevado. (p. 84)

A experiência mediata proporciona ao


indivíduo as informações ou o conhecimento
relacionado com algo além dos elementos
de uma experiência. Por exemplo, quando
olhamos uma rosa e dizemos ‘A rosa é
Experiência
vermelha’, subentende-se que nosso interesse
mediata e
principal se concentra na flor e não no fato
imediata
de percebermos algo denominada ‘cor
vermelha’. Todavia a experiência imediata
de visualizar a flor não está no objeto
propriamente dito, e sim na experiência de
perceber que alguma coisa é vermelha. (p. 84)
Explicação de Wundt para os estados de
Teoria
sentimento, baseada em três dimensões:
tridimensional do
prazer/desprazer, tensão/relaxamento e
sentimento
excitação/depressão. (p. 87)
Processo pelo qual elementos mentais
Apercepção
são organizados. (p. 88)

EXEMPLO

Alguns exemplos de processos cognitivos são: linguagem,


percepção, reflexão e pensamento.

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36 Psicologia do Desenvolvimento

Obviamente seu método de introspecção foi muito


criticado, afinal, se cada indivíduo observar sua própria mente
e trouxer suas respostas, diferindo das respostas dos outros
indivíduos, como saber o que é correto não é mesmo?
Apesar de ter suas ideias criticadas, Wundt conseguiu
eliminar da pauta da Psicologia a discussão sobre a separação
corpo e alma presente desde a antiguidade, concentrando-se na
experiência consciente. Também, fundou sua revista científica
e formou diversos alunos que continuaram ou modificaram seu
legado, tornando a Psicologia uma ciência moderna.
Considerando que no início da Psicologia o objeto de
estudo foi a mente e, depois, para Wundt, a consciência, podemos
nos questionar: qual será, realmente, o objeto de estudo da
Psicologia atual?
Vamos analisar a definição proposta por Myers e DeWall:
“Para englobar a preocupação da psicologia com o
comportamento observável e com os pensamentos
e sentimentos internos, atualmente definimos
psicologia como a ciência do comportamento
e dos processos mentais. Vamos esclarecer
essa definição. Comportamento é tudo o que
um organismo faz – toda ação que podemos
observar e registrar. Gritar, sorrir, piscar, suar,
falar e responder a um questionário são todos
comportamentos observáveis. Processos mentais
são as experiências internas e subjetivas que
inferimos a partir do comportamento – sensações,
percepções, sonhos, pensamentos, crenças e
sentimentos. (2017, p. 6)”.
Podemos perceber, então, que hoje a Psicologia enquanto
ciência se interessa tanto pelo comportamento humano, aquilo
que podemos observar externamente, mesmo que muito
sutilmente, quanto pelos processos mentais, as experiências que

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Psicologia do Desenvolvimento 37

não conseguimos observar apenas ao olhar para o outro, que


podemos chamar, também, de subjetividade privada.

SAIBA MAIS

O que faz alguém ser reconhecido como fundador de uma ciência?


Veja o que nos dizem Schultz & Schultz acerca de Wundt:
“A contribuição de Wundt para a fundação da psicologia moderna
é devida não tanto a uma única descoberta científica quanto à
promoção vigorosa da experimentação sistemática realizada por
ele. Portanto, fundação não é sinônimo de criação, embora essa
distinção não tenha a intenção de ser depreciativa (2012, p. 79)”.

As escolas psicológicas: Estruturalismo,


Funcionalismo e Associacionismo
Como dissemos anteriormente, a Psicologia derivou-se de
experiências pessoais e eventos sociais. Esta junção possibilitou
que a nova ciência tentasse compreender o comportamento e
os processos mentais por diversos ângulos, formado diversas
escolas psicológicas.
As primeiras escolas foram surgindo, mais ou menos junto
com as pesquisas de Wundt, e as principais escolas derivadas dos
primeiros anos da Psicologia Experimental são: o Estruturalismo,
o Funcionalismo e o Associacionismo. Embora não sejam escolas
que tenham expressividade hoje, elas certamente possibilitaram
o desenvolvimento de diversas abordagens atuais.

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38 Psicologia do Desenvolvimento

ACESSE

O professor José Antônio Damásio Abib, da Universidade


Federal de São Carlos, realizou um levantamento histórico
da constituição da psicologia enquanto ciência. Leia o artigo
na íntegra clicando no link a seguir: https://bit.ly/2MnqhI5.

Estruturalismo
Figura 14 – Edward B. Titchener

Fonte: WikiImages

O estruturalismo foi pensado e fundado por Edward B.


Titchener (1867-1827), um britânico que se interessou pela
psicologia de Wundt e foi até Leipzig, para estudar diretamente
com o pai da psicologia moderna.
Ao se formar, Titchener e suas ideias não foram bem
recebidos em sua terra natal, por isso partiu para o Estados Unidos
para lecionar e abrir seu laboratório de psicologia experimental.

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Psicologia do Desenvolvimento 39

Embora tenha estudado com Wundt e levado as ideias do


alemão para os Estados Unidos, a sua escola diferia muito da
psicologia experimental de seu mestre.
Para Wundt, como vimos anteriormente, a psicologia
deveria estudar os elementos da consciência e, mais
especificamente, a organização destes elementos (processos
cognitivos) por meio da apercepção. Isto é, a mente possuiria
uma capacidade peculiar de “decidir" qual a melhor forma de
organizar os processos cognitivos. Porém,
“Titchener se concentrava nos elementos ou
conteúdos mentais, assim como na conexão
mecânica mediante o processo de associação, mas
descartava a doutrina da apercepção de Wundt. O
seu enfoque estava nos elementos propriamente
ditos e, na sua opinião, a principal tarefa da
psicologia consistia na descoberta da natureza
das experiências conscientes elementares -
a determinação da estrutura da consciência
mediante a análise das suas partes componentes.
(SCHULTZ & SCHULTZ, 2012, p. 106)”.
Como podemos ver, Titchener acreditava que o que deveria
ser estudado não era a organização dos processos cognitivos
superiores e sim as partes que constituíam tais processos. Para
isso, como o método ainda era a introspecção, Titchener pedia a
seus alunos que realizassem alguns experimentos.
Um desses experimentos era o do tubo de borracha. Os
alunos engoliam um tubo de borracha, porém deixando sua
extremidade na boca. Ao longo do dia eram alternados água
quente e água gelada e os alunos deveriam relatar o que sentiam.
Outros experimentos pediam que os alunos anotassem
suas sensações ao urinar, defecar ou até mesmo durante a relação
sexual, por vezes utilizando alguns dispositivos amarrados
ao corpo para medir respostas fisiológicas – como suor ou
batimentos cardíacos.

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40 Psicologia do Desenvolvimento

REFLITA

Você conseguiria participar de testes como estes descritos


acima? Muitas vezes a ciência necessita de pessoas que passem
por experimentos para que chegue a respostas, como no caso de
testagem de medicamentos. Mas será que você entregaria seu
corpo e sua mente para o auxílio da ciência?

++ SAIBA MAIS

A psicologia produziu diversos experimentos que ficaram famosos,


acesse o site a seguir e veja alguns deles: https://bit.ly/2vin7fL.

Uma vez que os processos cognitivos superiores, como os


pensamentos são inconscientes, isto é, produzidos pela mente
sem que nos demos conta, para Titchener o objeto de estudo da
psicologia deveriam ser os processos conscientes, por isso usava
como medida as sensações (tubo de borracha/eliminação de urina
e fezes/sensações na relação sexual), as imagens e a afetividade.
As imagens, para o estruturalismo, seriam as lembranças
do passado, as quais produziriam imagens que poderiam ser
descritas. Da mesma forma, também se estudou a afetividade,
experiências como amor, ódio ou tristeza, emoções que podem
ser observadas e descritas por meio da introspecção.
Claramente podemos perceber que esta escola não
teve continuidade após a morte de seu fundador, devido as

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Psicologia do Desenvolvimento 41

diversas críticas. A primeira delas foi em relação ao método da


introspecção, crítica que também alcançou Wundt anos antes. O
filósofo Auguste Comte levantou a questão de deveriam haver
duas mentes, uma que observasse e uma que fosse observado, o
que obviamente não é possível.
“A mente é capaz de observar todos os fenômenos,
exceto os próprios. (…) O órgão observador
e observado neste caso é o mesmo e a sua ação
não pode ser pura e natural. Para realizar uma
observação, o intelecto deve fazer uma pausa
na sua atividade; no entanto essa é exatamente
a atividade que se deseja observar. Se uma
pausa não for possível, será impossível realizar
a observação; e, se for possível, não haverá
objeto a ser observado. Os resultados desse
método são igualmente proporcionais ao seu
absurdo. (COMTE, 1830/1896 apud SCHULTZ &
SCHULTZ, 2012, p. 117)”.
Ao mesmo tempo em que as críticas recaíam sobre o
método introspectivo, também o faziam sobre a figura de
Titchener, que teimava em não alterar sua pesquisa ou método,
quando a psicologia já vinha avançando a passos largos.
Assim, suas teorias foram – aos poucos – sendo excluídas
dos cursos de Psicologia e morreram com seu fundador. Ao
mesmo tempo, seu método introspectivo contribuiu para o
desenvolvimento do que chamamos de relato oral de experiência,
usado por diversas abordagens atualmente, tanto na resposta
de questionários, em testes de inteligência, e em relatórios que
requerem relatos de experiências pessoais.
A partir das críticas e contestações ao método de Titchener,
outras escolas foram se aperfeiçoando para doar as bases para as
abordagens contemporâneas da Psicologia.

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42 Psicologia do Desenvolvimento

SAIBA MAIS

Para compreender melhor como acontecem os relatos orais,


acesse o artigo “As Técnicas de Relatos Orais e o Estudo das
Representações Sociais em Saúde”, de Raquel Maria Rigotto,
da UFCE. Acesse o artigo pelo link: https://bit.ly/2nSWCgl.

Funcionalismo
Qualquer nova teoria não nasce de forma aleatória e em
uma data específica, ela vai se moldando ao longo do tempo e em
concomitância com as teorias que são tendências no momento.
Para que o Funcionalismo passasse a existir, enquanto uma
escola de pensamento da Psicologia, foram necessárias algumas
influências, as quais veremos a seguir.
Figura 15 - Herbert Spencer.

Fonte: WikiImages

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Psicologia do Desenvolvimento 43

A primeira influência foi a do filósofo americano Herbert


Spencer (1820-1903). Spencer tivera contato com a teoria da
evolução de Charles Darwin e nomeou sua própria teoria de
Darwinismo Social. Tal teoria previa que tudo no universo atua
em evolução conforme a sobrevivência do mais apto. Assim, o
próprio caráter humano e as instituições sociais deveriam seguir
a “lei do mais apto”.
"Na visão utópica de Spencer, se o princípio da
sobrevivência do mais apto operasse com liberdade, apenas os
melhores sobreviveriam. Portanto, a perfeição humana seria
inevitável, desde que nenhuma ação interferisse na ordem natural
das coisas." (SCHULTZ & SCHULTZ, 2012, p. 153)
Para se atingir a “perfeição humana”, Spencer acreditava que
o governo não deveria interferir e nem ajudar seus cidadãos (sem
educação, saúde ou moradia aos mais pobres). Tais ideias eram
compatíveis com o pensamento da sociedade americana, voltada
ao individualismo e ao útil e funcional. Ou seja, a sociedade só
seria perfeita caso somente os mais aptos sobrevivessem.
Sabemos bem o quanto estas ideias são perigosas. Elas
criam um clima de “sobrevivência do mais forte” que desconsidera
qualquer diferença entre os indivíduos e de pensamento.

SAIBA MAIS

O artigo de Costa; Costa e Gomes, intitulado Teorias fascistas:


discutindo o fascismo em sala de aula, apresenta ligações
entre o Darwinismo Social e regimes que não respeitam as
diferenças. Acesse: https://bit.ly/32oU0pA.

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44 Psicologia do Desenvolvimento

Além das ideias de Spencer sobre o Darwinismo


social, um médico americano possibilitou o florescimento do
Funcionalismo. Foi William James (1842-1910), formado em
medicina e com interesse pela psicologia, quem criou alguns
princípios para o novo campo de estudos.
Figura 16 – William James

Fonte: WikiImages

James concluiu que o objeto de estudo da Psicologia


deveria ser a adaptação dos seres humanos no meio ambiente
em que estão inseridos, revelando ligação de sua teoria com o
Darwinismo Social de Spencer.
O pesquisador acreditava, também, que o físico afetava
as condições psicológicas do sujeito e “que fatores emocionais
determinavam as crenças e que as necessidades e os desejos
humanos influenciavam a formação da razão e dos conceitos”.
(SCHULTZ & SCHULTZ, 2010, P. 161)
Assim, a psicologia deveria buscar explicar os fenômenos,
experiências imediatas, e as condições da vida mental, corpo e
cérebro. A consciência, para James, não poderia ser reduzida a
processos, pois ela é um fluxo constante, não há como dividi-la.
Os cientistas que iniciaram o Funcionalismo não estavam,
inicialmente em busca de criar uma nova teoria, e sim de
combater as duas escolas vigentes, a de Wundt e a de Titchener.
Entretanto, logo as ideias foram se delineando enquanto uma
nova escola de pensamento.

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Psicologia do Desenvolvimento 45

Em verdade, quem acabou nomeando a nova escola foi,


sem querer, o próprio Titchener. Sim! Em um de seus artigos (Os
postulados da psicologia estrutural), Titchener fez uma oposição
entre o estruturalismo e o funcionalismo de seus opositores,
dando uma identidade à nova escola, sem mesmo perceber.
Outros pesquisadores muito importantes para o
funcionalismo foram John Dewey (1859-1952) e James R. Angell
(1869-1949). O primeiro postulou a teoria do Arco Reflexo, que
é a ligação entre um estímulo sensorial e uma resposta motora,
ou seja, quando batemos com o martelinho no joelho (estímulo
sensorial), a perna dá um leve chute no ar (resposta motora).

SAIBA MAIS

Assista ao vídeo sobre os reflexos para entender melhor sobre


o ato reflexo. Acesse pelo link: https://bit.ly/2nXFt5i.

Angell descreveu os principais temas do movimento


funcionalista, moldando o movimento:
 O funcionalismo deveria descobrir como os processos
mentais ocorrem e sob quais condições;
 A consciência é um instrumento, e como tal, tem um
uso, que é o de mediar o que o organismo necessita e o que o
ambiente disponibiliza, gerando adaptação;
 É uma psicologia da relação entre a mente e o corpo e
o ambiente.
Os estruturalistas criticaram muito o movimento
funcionalista, mesmo antes de se estabelecer como uma escola
de pensamento. A principal crítica vinha em relação ao nome,
os cientistas nunca explicaram de forma veemente o motivo do
termo, função.

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46 Psicologia do Desenvolvimento

Para os críticos também era necessário rever a necessidade de


se trabalhar questões práticas, uma vez que os estruturalistas não se
interessavam por aplicar nada, diferentemente dos funcionalistas.
Porém, mesmo com as críticas, o funcionalismo possibilitou
o desenvolvimento da psicologia contemporânea, em especial
nos Estados Unidos. Entre seus métodos estavam: pesquisa
fisiológica, descrições objetivas, testes mentais e questionários.
O funcionalismo abriu as portas para as pesquisas
de comportamento animal, bebês, crianças e adultos com
dificuldades mentais.

REFLITA

O que você acha das pesquisas que utilizam animais? Acesse


duas matérias que apresentam seus pontos de vista e reflita sobre
isso. Matéria da Fiocruz: https://bit.ly/2IajM5Z. Entrevista
com médico americano sobre o assunto: https://bit.ly/2VPwj7i.

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Psicologia do Desenvolvimento 47

SAIBA MAIS

Hoje sabemos que o maior contingente de trabalhadores da psicologia


é composto por mulheres. Porém, ao longo deste material você
verá que não há menção a mulheres nos primórdios da Psicologia.
Embora em número inferior, havia sim, muitas mulheres trabalhando
e pesquisando nos bastidores. Entretanto, raras vezes durante o
desenvolvimento da Psicologia como ciência elas puderam aparecer,
na maior parte das vezes, impedidas pelos próprios professores de
seguirem pesquisando. Mas algumas conseguiram se sobressair em
meio à repressão. Acesse a matéria 10 grandes mulheres da ciência
e veja algumas das cientistas extraordinárias que fizeram grandes
descobertas! https://glo.bo/2Fn71Ey

Associacionismo
As escolas que vêm a seguir do funcionalismo nos
Estados Unidos não ficaram conhecidas como Associacionismo,
mas sim como Teorias da Aprendizagem. Porém, seu início é
impreciso, dividido entre diferentes países e pesquisadores,
a partir da influência da teoria associacionista de John Locke,
podemos então, chamar o início das Teorias da Aprendizagem
de Associacionismo.
Para entendermos, teremos que voltar um pouco na nossa
linha de raciocínio da evolução da psicologia para falarmos de
Locke. John Locke foi um filósofo inglês que viveu no século
XVII. Em 1690, Locke publicou um livro intitulado “Um ensaio
sobre a compreensão humana”, o qual marcou o início do
empirismo inglês.
O filósofo se interessava em saber como a mente aprende,
uma vez que considerava que os seres humanos, nasciam sem

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48 Psicologia do Desenvolvimento

conhecimento algum, como Aristóteles afirmou na antiguidade


(o homem é uma tábula rasa). Ele se opunha a Descartes, que
acreditava na existência das ideias inatas, como na crença
do homem em Deus. Porém, Locke explica que, embora seja
plausível para um adulto que a crença em Deus seja inata, ela é,
na verdade, ensinada desde tenra infância.

++ SAIBA MAIS

Entenda melhor a ligação entre o Empirismo britânico e o


Associacionismo, com exemplos. Acesse o vídeo clicando no
link: https://bit.ly/2J0tLxU.

Logo, a mente era capaz de adquirir conhecimento por


meio da experiência, dividida por ele em dois tipos:
 Sensação: “derivadas da experiência sensorial direta
com os objetos físicos presentes no ambiente, são simples
impressões do sentido. ” (SCHULTZ & SCHULTZ, 2012, p. 42)
 Reflexão: as sensações geram uma operação na mente,
que por sua vez age sobre as sensações, formando ideias por
meio da reflexão.
“Essa função cognitiva ou mental da reflexão
como fonte de conceitos depende da experiência
sensorial, já que as ideias produzidas pela
reflexão da mente têm como base as impressões
anteriormente percebidas pelos sentidos. […].
Durante a reflexão, resgatamos as impressões
sensoriais passadas, combinando-as para formar
abstrações e outras ideias de nível superior. (idem,
ibidem, p. 42)”.

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Psicologia do Desenvolvimento 49

Estas ideias de que nos falam Schultz e Schultz, foram


divididas por Locke em simples e complexas, sendo que as
simples provêm das sensações e as complexas derivam da
reflexão, por meio da associação de várias ideias.
Assim, as ideias simples, podem ser transformadas em
complexas, associando-se a outras ideias simples ou mesmo
complexas. A associação de Locke é o que hoje chamamos de
aprendizagem.
Agora que compreendemos de onde vem o nome
dado às escolas iniciais das Teorias da Aprendizagem, ou
associacionistas, podemos entrar no ramo da psicologia que deu
origem ao que hoje conhecemos como Behaviorismo, ou Ciência
do Comportamento. Veremos o Behaviorismo e suas aplicações
na Unidade 4, quando analisarmos a aprendizagem nas diversas
fases da vida.
Aqui faremos um levantamento breve das influências
do Behaviorismo, dando continuidade ao nosso levantamento
histórico. Vamos lá?

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50 Psicologia do Desenvolvimento

Edward Lee Thorndike (1874-1949)


Você percebeu que até aqui a maioria dos pesquisadores
eram formados em medicina ou ciências biológicas? Pois então,
podemos dizer que Thorndike é um dos primeiros psicólogos
enquanto profissão, embora seus antecessores tivessem doutorados
na área, muitas vezes não eram reconhecidos como tal.

ACESSE

Assista ao vídeo sobre o experimento da caixa problema de


Thorndike para compreender melhor suas teorias. Acesse
pelo link: https://bit.ly/2YbrTb8.

Thorndike focou no comportamento que poderia ser


observado, e não na experiência consciente ou nos elementos
mentais com muitos antes dele. Compreendia a aprendizagem
como conexões entre o estímulo apresentado e a resposta.

EXEMPLO

Estou te apresentando um estímulo, que são as palavras e


imagens neste e-book, e você está emitindo uma resposta, que
é a de ler!

Thorndike também descreveu o aprendizado por tentativa


e erro, embora chamasse de tentativa e sucesso acidental.

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Psicologia do Desenvolvimento 51

Ivan Petrovitch Pavlov (1849-1936)


Concomitante a Thorndike, o russo Pavlov também
desenvolvia teorias sobre aprendizagem. O médico e fisiologista
primeiramente estudou a função dos nervos cardíacos e as
glândulas digestivas, este último lhe rendendo o Prêmio Nobel
em 1904. Por fim, seus estudos se voltaram para os reflexos
condicionados, área que o efetivou como um influenciador das
teorias da aprendizagem.
Para explicar o que é um reflexo condicionado, vamos
quebrar em algumas etapas.
Em primeiro lugar devemos saber, que todos os seres
humanos possuem reflexos inatos, isto é, que nascem conosco.
Exemplos de reflexos inatos são: o ato de sugar do bebê quando
o seio da mãe é apresentado, a capacidade de salivar quando
ingerimos alimento, lacrimejar quando há um cisco no olho e
assim por diante.
Como você pode ver pelos exemplos acima, para que
haja um reflexo é necessário um estímulo do ambiente. Vamos
analisar um deles:

Cisco no olho = estímulo apresentado pelo ambiente


Ato de lacrimejar = resposta do organismo ao cisco

Ou seja, o reflexo inato nada mais é do que uma ‘preparação


mínima, que os organismos têm para começar a interagir com
seu ambiente e para ter chances de sobreviver”. (MOREIRA;
MEDEIROS, 2007, p. 17)
Muito bem, agora que você já compreendeu o que é um
reflexo inato, vamos ver o reflexo condicionado.
Pavlov realizou uma pesquisa com cães para estudar suas
glândulas digestivas, porém, percebeu que o cão podia aprender
novos reflexos. Como assim? Vamos ver de forma mais detalhada:

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52 Psicologia do Desenvolvimento

ACESSE

Para ver como era feito o experimento de Pavlov acesse o vídeo


no link https://bit.ly/2Mm76yk.

I. Em primeiro lugar, Pavlov inseriu um tubo de ensaio na


boca dos cães para medir a salivação dos animais, em relação
com a quantidade e qualidade da comida apresentada.
II. Em seguida, Pavlov descobriu que havia outros estímulos
que faziam com que o cão salivasse, e não apenas a comida. A mera
visão da comida gerava uma resposta de salivar, e também os passos
do pesquisador para alimentar o cão faziam com o mesmo salivasse.
Não apenas isso, Pavlov percebeu que, chegando perto da hora em
que os pesquisadores deveriam alimentar o cão, ele salivava.
III. Foi então que o russo decidiu estudar com mais afinco
esses reflexos que estavam sendo aprendidos pelos cães.
IV. Assim, Pavlov começou a emparelhar os estímulos,
ou seja, apresentava a carne seguida do som de uma sineta. Em
seguida media a quantidade de saliva produzida.
V. Após mais ou menos 60 emparelhamentos (carne e sineta),
o pesquisador apenas apresentou a sineta, sem a carne, e o cão
produziu a mesma quantidade de saliva que produzia com a carne.
Podemos perceber, então, que Pavlov conseguiu demonstrar
que pela apresentação de estímulos podemos ter diferentes
respostas e, assim, aprender novas respostas também.

SAIBA MAIS

Que tal rever alguns conceitos e se preparar para as próximas


unidades? Acesse o vídeo sobre Pavlov, Watson e Skinner, os três
maiores pensadores da Teoria da Aprendizagem: https://bit.ly/31lbi5t.

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Psicologia do Desenvolvimento 53

UNIDADE

02 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

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54 Psicologia do Desenvolvimento

INTRODUÇÃO
Olá! Sejam muito bem-vindos(as) a nossa Unidade 2.
Vimos na Unidade 1 como surgiu a Psicologia, a evolução
de seu objeto de estudo e as suas principais escolas.
A Psicologia da Educação teve um início conturbado,
permeado pela filosofia e pelas descobertas da Psicologia. Aos
poucos, psicólogos foram se interessando pela aprendizagem
e preparando campo para que pesquisadores pudessem chegar
a conclusões acerca de como aprendemos e como podemos
contribuir para o aprendizado na escola ou em outros ambientes
educacionais. Então, nesta unidade, vamos ver um breve
histórico da Psicologia da Educação, levantando as concepções
e implicações pedagógicas mais relevantes. Você também irá
estudar as noções de uma área muito ampla, a psicopedagogia,
e de uma área que vem ganhando campo pelo mundo e,
especialmente, no Brasil, a neuropsicopedagogia. Ao longo
desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
Vamos lá!

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Psicologia do Desenvolvimento 55

OBJETIVOS
Olá! Seja bem-vindo a nossa Unidade 2, e o nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências
profissionais até o término desta etapa de estudos:

1 Recordar os marcos históricos da psicologia da


educação;

2 Diferenciar as concepções acerca da psicologia da


educação;

3 Enunciar as diferentes implicações pedagógicas


inerentes às diferentes concepções;

4 Examinar as bases da psicopedagogia e da


neuropsicopedagogia.

Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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56 Psicologia do Desenvolvimento

Evolução Histórica
Na unidade anterior vimos como surgiu a Psicologia
enquanto uma ciência. Porém, esta ciência se preocupa em
estudar tanto o comportamento quanto os processos mentais.
Entre os processos mentais, podemos citar a aprendizagem.
Neste tópico vamos relembrar algumas teorias psicológicas
que tentaram encontrar respostas sobre como as pessoas aprendem,
avançando para pesquisas do século XX que desenvolveram uma
nova área dentro da psicologia, a Psicologia da Educação.
Inicialmente, não havia uma disciplina que desse conta dos
processos psicológicos na educação. Assim como a Psicologia em
geral, a educação também era permeada pelas ideias filosóficas
até o século XIX.
Posteriormente, com diferentes conhecimentos levantados
pelas pesquisas em Psicologia é que se pode chegar a um campo que
se preocupasse com a aplicação de tais conhecimentos na educação.
Vamos ver então como a área da Psicologia da Educação
se desenvolveu dentro da Psicologia?

Teorias de 1890 a 1920


Como vimos na unidade 1, a Psicologia se tornou uma ciência
com auxílio de diversos fatores e vários pesquisadores. Dentre
os pioneiros da Psicologia vimos Wundt (1832- 1920), Titchener
(1867–1927), W. James (1842- 1910), Thorndike (1874-19419) e
Pavlov (1849-1936).
De certa forma, todos contribuíram para as pesquisas a
respeito da aprendizagem, em especial Thorndike e Pavlov, com
seus estudos associacionistas de estímulo e resposta.

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Psicologia do Desenvolvimento 57

OBSERVAÇÃO
+

Relembre na Unidade 1 os conceitos de associacionismo e as


teorias sobre o aprendizado por tentativa e erro, de Thorndike, e
reflexos condicionados, de Pavlov.

Porém, outros profissionais foram importantes para


o desenvolvimento da área da Psicologia da Educação.
Vamos conhecê-los?
Figura 1: James Cattell

Fonte: WikiImagens

Um deles foi aluno de Wundt, o americano James McKeen


Cattell (1860-1944). Cattell foi um funcionalista americano que
estudou as capacidades humanas por meio de testes mentais.
Seus testes mediam velocidade dos movimentos dos alunos, a
sensibilidade dos dedos na escrita ou ao toque, pressão necessária
no corpo para se provocar dor, tempo em que o aluno levava
para reagir ao som ou à luz, entre outros.
Como pode se ver, os testes de Cattell não estavam
ligados à inteligência como os de Binet, que veremos mais
adiante. Ele se interessava por medir fenômenos observáveis
ligados às sensações e concluiu que tais testes não tinham

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58 Psicologia do Desenvolvimento

condições de demonstrar as habilidades acadêmicas dos alunos,


apenas a resposta dos mesmos a certos estímulos como som, luz
e pressão.
Figura 2: Stanley Hall

Fonte: WikiImagens

Outro pesquisador de destaque foi o americano Granville


Stanley Hall (1844-1924). Hall demonstrou interesse pelas
teorias psicanalíticas de Freud, as quais trataremos mais adiante,
embora sua pesquisa recaísse sobre a teoria evolucionista.

ACESSE

Para se aprofundar na Teoria evolucionista, acesse a matéria


do site Educação do Uol no link: https://bit.ly/2nPAjrQ.

Sendo assim, Hall estudou o desenvolvimento humano,


focando no desenvolvimento infantil. Para testar suas teorias, o
psicólogo americano aplicou inúmeros testes com as crianças,
desenvolvendo a Teoria da Recapitulação:

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Psicologia do Desenvolvimento 59

Em essência, Hall afirmou que as crianças, no seu


desenvolvimento pessoal, repetem a história de vida
da raça humana, evoluindo de um estágio próximo
ao selvagem quando bebês e durante a infância, até
um ser humano racional e civilizado na fase adulta.
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2012, p.176)
Assim, Hall escreveu livros sobre a adolescência e também
idade adulta, discorrendo sobre o processo de desenvolvimento
do ser humano e da sexualidade, assim como enfocado por Freud.
Para ele, o desenvolvimento infantil deveria ser levado
em consideração no processo educacional. Esta ideia pode
nos parecer óbvia atualmente, mas para o fim do século XIX e
início do século XX era uma grande novidade. Tal ideia também
pode se desenvolver pois, nesta época, os governos iniciaram
a ampliação e obrigatoriedade do sistema de educação, antes
relegado somente a pessoas com boas condições financeiras.
É neste contexto, de ampliação da oferta de ensino, que a
Psicologia da Educação de fato se origina, pois agora a escola
precisa de auxílio das pesquisas realizadas pela psicologia.
Inicialmente, a área da Psicologia da Educação se torna uma
aliada da psicologia para a aplicação de seus conhecimentos,
sem um objeto de estudos específico.
Desta forma, testes mentais, teorias sobre o desenvolvimento
e sobre o comportamento humano, todos passam a fornecer
dados para a educação, servindo a um especialista que possa
fazer a aplicação das descobertas da psicologia na educação.

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60 Psicologia do Desenvolvimento

SAIBA MAIS

Muitos testes são utilizados ainda hoje e são de grande


auxílio para os profissionais da área da saúde e da educação.
Eles auxiliam a descobrir como estão as funções cognitivas,
psicológicas e motoras dos indivíduos. Um bom exemplo são
as escalas de ansiedade e depressão, que auxiliam os psicólogos
no estabelecimento do melhor curso de tratamento. Porém, você
sabia que na Psicologia há uma divisão entre testes projetivos e
psicométricos? Os testes projetivos levam em conta as teorias
psicanalíticas da estruturação da mente e medem, especialmente,
a personalidade. Já os psicométricos são constituídos com valores
de referência para medir diferentes situações ou transtornos.

Figura 3: Educação e desenvolvimento humano.

Fonte: jarmoluk / Pixabay

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Psicologia do Desenvolvimento 61

No início do século XX, a Psicologia da Educação era uma


área interessada pelo desenvolvimento humano e pelo estado
mental em relação com as fases de educação.
O Journal of Educational Psychology de 1910 definiu a
Psicologia Educacional:
Considera-se, pois, que a psicologia educacional
inclui não só o campo bem conhecido que integra
o livro-texto convencional – a psicologia das
sensações, o instinto, a atenção, os hábitos,
a memória, as técnicas e a economia da
aprendizagem, os processos conceituais, etc. –,
mas também os seguintes aspectos: os problemas
de desenvolvimento mental (a herança, a
adolescência e o inesgotável campo do estudo da
criança); o estudo das diferenças individuais, do
“retardo e da precocidade” no desenvolvimento;
a psicologia da “classe especial”; a natureza dos
dotes mentais; a medida da capacidade mental;
a psicologia dos testes mentais; a correlação
dos hábitos mentais; a psicologia dos métodos
especiais nas diversas etapas escolares; os
importantes problemas da higiene mental.
Todos esses elementos – seja do ponto de vista
experimental, estatístico ou literário – são temas
e problemas a serem tratados em uma revista de
psicologia educacional. (COLL, 2004, p. 23)
A partir destes objetivos iniciais da Psicologia da Educação,
delinearam-se três grandes áreas de estudo:

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62 Psicologia do Desenvolvimento

Medição das diferenças individuais por meio de testes

REFLITA

Você acha válido separar aluno por um escore em testes de


inteligência? Embora haja muitas críticas a estas práticas,
ainda há diversas entidades que se fundamentam no resultado
destes testes, inclusive para concessão de bolsas de estudos.

Figura 4: Alfred Binet

Fonte: WikiImagens

O pesquisador que mais se destaca neste campo é o psicólogo


francês Alfred Binet (1857-1911), que desenvolveu testes para
identificar o desenvolvimento intelectual a partir da idade mental
da criança. O teste levava em consideração três fatores básicos,
compreensão, raciocínio e capacidade de julgamento.

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Psicologia do Desenvolvimento 63

O teste de Binet-Simon concebe o desenvolvimento


intelectual como a aquisição progressiva de
mecanismos intelectuais básicos, de forma que
a criança com atraso é quem não adquire os
mecanismos intelectuais que correspondem à
sua idade cronológica. Se compararmos a idade
mental com a idade cronológica, a escala métrica
permite quantificar os anos de avanço ou de atraso
no desenvolvimento intelectual. No ano de 1912,
William Stem enriquece o teste de Binet-Simon
com a introdução do Quociente Intelectual (QI),
que é o resultado da divisão da idade mental pela
idade real e da multiplicação do resultado por
100, proporcionando, assim, uma medida única
da inteligência. (COLL, 2004, p. 24)
Desta forma, inúmeros testes foram sendo desenvolvidos
ao longo do tempo para medir as habilidades de compreensão
leitora ou matemática, bem como para verificação do
comportamento e da personalidade.

Análise dos processos de aprendizagem


Nas pesquisas sobre o processo de aprendizagem destacam-
se Thorndike e Judd.
As teorias de Thorndike sobre a aprendizagem de
condutas a partir da satisfação das necessidades ou de se evitar
um perigo são base para as futuras teorias sobre o processo de
aprendizagem, em especial em relação ao estímulo-resposta.

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64 Psicologia do Desenvolvimento

ACESSE

Para compreender melhor as teorias de Thorndike, acesse o


artigo do site Psicoativo sobre a lei do efeito do pesquisador.
Acesse o link: https://bit.ly/33BZFJ4.

Figura 5: Charles Judd

Fonte: WikiImagens

Ao contrário de Thorndike, Charles H. Judd (1873-1946)


tinha um enfoque prático, de estudo sobre a real aplicação dos
conceitos da Psicologia na escola. Preocupou-se ao longo de sua
vida em como fazer com que tal conhecimento fosse útil para os
professores e alunos. Assim, debruçou-se sobre o currículo e a
organização escolar.
Segundo Judd, os conteúdos escolares compõem-
se de uma série de conhecimentos acumulados
pela sociedade no transcurso da história; por isso,

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Psicologia do Desenvolvimento 65

o currículo inclui tudo aquilo que a sociedade


exige que a criança conheça. Assim, a verdadeira
finalidade da psicologia da educação é, de acordo
com este autor, analisar os processos mentais por
meio dos quais a criança assimila esse sistema de
experiência social acumulada, constituído pelas
disciplinas que o currículo inclui. Além do mais,
esses processos não podem ser entendidos somente
sob a forma de uma sequência de associações de
estímulos e de respostas, mas sim que intervêm na
capacidade de organizar, sintetizar e transformar a
experiência. (JUDD, 1938, p. 25)

Psicologia Infantil
Esta área de estudos se tornou muito importante a partir
das concepções de que para ensinar melhor o aluno, é preciso
conhecê-lo. Destaca-se neste campo o pesquisador suíço
Edouard Claparède (1873-1940).

Figura 6: Claparède

Fonte: WikiImagens

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66 Psicologia do Desenvolvimento

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre Edouard Claparède, acesse o site da


Nova escola e leia sobre suas descobertas. Acesse o link:
https://bit.ly/33CBn1v.

Claparède teve um papel fundamental na Psicologia da


Educação, pois foi o fundador do movimento da Escola Nova,
cuja mais conhecida representante foi Maria Montessori e, no
Brasil, Anísio Teixeira. Suas ideias também influenciaram seu
aluno mais ilustre, Jean Piaget.
Suas mais diversas obras apresentam:
…um fundamento e uma justificativa às propostas
pedagógicas do movimento renovador em educação,
conhecido com o nome de Escola Nova, na Europa,
nas primeiras décadas do século XX. Assim, por
exemplo, a base do processo educativo não deve ser o
castigo nem a recompensa, mas o interesse profundo
pela matéria ou pelo conteúdo de aprendizagem; a
criança deve sentir que o trabalho escolar é um algo
desejável em si mesmo; a educação terá o propósito
fundamental de desenvolver as funções intelectuais
e morais e abandonará os objetivos puramente
memorísticos sem relação com a vida da criança;
a escola será ativa, isto é, assumirá a obrigação de
mobilizar a atividade do aluno; a tarefa principal do
mestre será a de estimular os interesses da criança e
desvendar as suas inquietudes intelectuais, afetivas
e morais; a educação será personalizada e levará em
conta as dificuldades e os interesses de cada aluno;
etc. (p. 26)

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Psicologia do Desenvolvimento 67

Teorias de 1920 - 1955


Este foi um período muito propício para o florescimento da
Psicologia da Educação, pois permitiu que a própria Pedagogia
obtivesse um status de ciência.
Os três campos constituintes do primeiro período da
Psicologia da Educação continuaram a se desenvolver, ampliando
seus escopos, bem como suas ferramentas.
Talvez, a maior distinção neste período tenha se dado
entre os pesquisadores que acreditavam que as ideias deveriam
ser frutos de experiências e teorias e daqueles que acreditavam
que os estudos deveriam ter uma aplicação prática na escola.
Esta discussão, em verdade, pode ser vista até os dias de hoje se
pensarmos bem.
Descobertas muito importantes foram feitas na área
do desenvolvimento psicológico e físico da criança neste
período, em especial na Europa. Os pesquisadores americanos
concentravam-se, em sua maioria, nas pesquisas a respeito dos
processos de aprendizagem.

REFLITA

Por que será que houve esta distinção entre os estudos europeus
e americanos? Talvez se lembrarmos do início do funcionalismo,
veremos que os EUA prezam pelo utilitarismo, o que poderia ser
uma possível resposta.

Em especial temos neste período três grandes nomes que


norteiam até hoje o trabalho sobre o desenvolvimento infantil:
Henri Wallon (1879-1962), Jean Piaget (1896-1980) e Lev
Vygotsky (1896-1934).
De forma muito resumida, podemos sumarizar os principais
pontos das teorias do desenvolvimento de cada um dos autores,
conforme a seguir:

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68 Psicologia do Desenvolvimento

Henri Wallon (1879- 1962)


Figura 7: Wallon

Fonte: WikiImagens

Wallon descreveu cinco estágios de desenvolvimento,


levando em consideração a evolução sensório-motora e
psicológica. Para o pesquisador, a interação com o grupo tem
um papel muito importante no desenvolvimento infantil.
Um ponto muito importante é a ênfase dada em suas
pesquisas ao movimento, sendo o ato de brincar uma atividade
essencial no desenvolvimento, da mesma forma que, brincando,
desenvolvem-se as emoções, por meio da resolução dos conflitos
que aparecem em grupo.

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Psicologia do Desenvolvimento 69

Quadro 1: Estágios de desenvolvimento para Wallon.

ESTÁGIO IDADE DESCRIÇÃO


Neste estágio, a criança não
se difere do mundo que a
Durante o
Impulsivo cerca. Seus movimentos
primeiro ano
emocional são descoordenados, mas
de vida
em desenvolvimento com o
ambiente.

Desenvolvimento de uma
Sensório- inteligência prática e
motor e 1-3 anos linguística, pela interação do
projetivo corpo com os objetos e pelo
desenvolvimento da fala.

Personalismo 3-6 anos Formação da personalidade.


Início e desenvolvimento
Categorial 6-11/12 anos das capacidades cognitivas
de abstração
Transformações físicas e
psicológicas da puberdade.
Predominância A partir dos Desenvolvimento afetivo
funcional 12 anos em busca de autoafirmação
e compreensão dos
conflitos internos.

Fonte: Adaptado pela autora com base em LA TAILLE, Y. de; OLIVEIRA, M. K. de; DANTAS, H. Piaget,
Vygotsky, Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 2016.

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70 Psicologia do Desenvolvimento

Jean Piaget (1896-1923)


Figura 8: Jean Piaget

Fonte: WikiImagens

Para Piaget, o processo de aprendizagem se fundamenta no


desenvolvimento cognitivo do indivíduo, sem tal desenvolvimento
não é possível a construção de saberes. Assim, a escola e os
mediadores têm o papel de facilitar o desenvolvimento cognitivo
infantil, por meio de desafios, uma vez que a criança constrói seus
saberes por meio da elaboração das experiências. Veja a seguir
alguns dos conceitos chave elaborados por Piaget.

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Psicologia do Desenvolvimento 71

Quadro 2: Principais conceitos e estágios de Piaget.

PRINCIPAIS CONCEITOS

Criação de estruturas cognitivas


complexas; padrões de comportamento
Organização
que auxiliam na adaptação ao ambiente,
seu modo de pensar e agir.
Forma como a criança lida com novas
Adaptação
informações.
Receber a informação e incorporá-la aos
Assimilação
esquemas cognitivos já existentes.
Ajuste nos esquemas cognitivos existentes
Acomodação
para inserir uma nova informação.
Esforço para equilibrar a assimilação e a
Acomodação
acomodação.
ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO

Por meio de
atividades motoras e
Sensório motor 0-2 anos sensoriais, a criança
começa a organizar
seu ambiente.
Utilização de
símbolos para
representação dos
seres e objetos.
Pré-operatório 0-2 anos
A brincadeira e a
imaginação são
fundamentais neste
estágio.

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72 Psicologia do Desenvolvimento

Desenvolvimento
da lógica voltada
Operatório
7-11 anos ao concreto, ainda
Concreto
não desenvolvido
pensamento abstrato.

Operatório Desenvolvimento do
11 - idade adulta
Formal pensamento abstrato.

Fonte: Adaptado pela autora de PAPALIA, D.; OLDS, S.; FELDMAN, R. Desenvolvimento Humano. Porto
Alegre: AMGH, 2010, pp. 33-37.

Lev Vygotsky (1896-1924)


Figura 9: Lev Vygotsky

Fonte: WikiImagens

Da mesma forma que Piaget, Vygotsky trabalha com a


teoria de que o engajamento ativo da criança no processo de
aprendizagem promove seu desenvolvimento. Porém, para

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Psicologia do Desenvolvimento 73

o psicólogo russo, o desenvolvimento cognitivo depende da


interação entre o indivíduo e o mundo que o rodeia.
A criança, segundo Vygotsky, aprende através
da interação social. Ela adquire habilidades
cognitivas como parte de sua indução a um modo
de vida. Atividades compartilhadas ajudam a
criança a internalizar os modos de pensar da
sociedade, cujos hábitos passam a ser seus.
(PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2010, p. 38)
Porém, para que a criança internalize tais hábitos, é preciso
que ocorra o processo de mediação. De acordo com Marta K. de
Oliveira, “enquanto sujeito de conhecimento o homem não tem
acesso direto aos objetos, mas um acesso mediado, isto é, feito
através dos recortes do real operados pelos sistemas simbólicos de
que dispõe”. (LA TAILLE; OLIVEIRA; DANTAS, 2016, p. 26)
Desta forma, é a faculdade de representar a realidade
por meio de símbolos e signos que permite ao homem fazer as
relações mentais quando o objeto não está presente. Explicando
melhor, por meio da linguagem, nosso sistema simbólico mais
básico possibilita que consigamos refletir sobre algo que não
está presente no momento ou sobre conceitos complexos, como
este que estamos aqui estudando.
Outro fator muito importante na teoria de Vygotsky é o
conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), “o hiato
entre aquilo que elas já são capazes de fazer e aquilo que ainda
não estão bem-preparadas para realizar sozinhas”. (PAPALIA;
OLDS; FELDMAN, 2010, p. 264)

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74 Psicologia do Desenvolvimento

ACESSE

Que tal testar seus conhecimentos acerca das teorias de Piaget,


Vygotsky e Wallon? Acesse o site da Nova Escola e responda
ao questionário! Disponível em: https://bit.ly/2ppNsbN.

Por fim, podemos salientar que as teorias psicanalistas


também foram de grande relevância neste período, introduzindo
conceitos sobre afetividade e relacionamento entre professor e
aluno, priorizando o desenvolvimento em fases iniciais da vida
como definidores da personalidade futura da criança.
Foi, assim, uma fase bastante conturbada para a psicologia
da educação, pois, de um lado, trouxe inúmeras teorias as quais
são utilizadas até hoje e, por outro, deixou o campo da Psicologia
da Educação um tanto confuso, sem uma delimitação objetiva
sobre os métodos e objetos de pesquisa.

Teorias a partir de 1955


A partir de 1955 o panorama da Psicologia da Educação foi
se modificando, em grande parte porque as teorias de maior peso
para a Educação já tinha sido escritas no período anterior. Em
segundo lugar, outras disciplinas foram surgindo para estudar
a relação entre a Psicologia e a Educação. Entre tais disciplinas
podemos citar a Educação Comparada, a Tecnologia Educativa
e o Planejamento Educativo.

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Psicologia do Desenvolvimento 75

Figura 10: Prosperidade do desenvolvimento tecnológico

Fonte: kaboompics / Pixabay

Fatores sociais (políticos, culturais e econômicos) também


foram de grande importância para este período, repercutindo na
Psicologia da Educação. A Prosperidade econômica nos EUA, o
desenvolvimento tecnológico, a crença de que a educação pode
ser utilizada como um instrumento de progresso, as reformas
educativas e a ampliação do tempo escolar obrigatório são
alguns dos fatores que influenciaram este período.
Assim, os governos incentivam pesquisas na área
da educação, possibilitando que mais e mais psicólogos se
dedicassem a projetos que estudassem a relação entre psicologia
e educação.
Neste contexto, ganha muita força a Psicologia Cognitiva
que intenta explicar os processos ligados à aprendizagem, como
memória, atenção, visão etc.

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76 Psicologia do Desenvolvimento

SAIBA MAIS

A Psicologia Cognitiva tem o objetivo de estudar as funções que


estão por trás do comportamento e da aprendizagem. Para se
aprofundar nesta área, faça a leitura do artigo dos pesquisadores
da Universidade de Oxford: SPINILLO, Alina Galvão; ROAZZI,
Antônio. A atuação do psicólogo na área cognitiva: reflexões e
questionamentos. Psicologia Ciência e Profissão, Brasília, v. 9, n.
3, p. 20-25, 2 jan. 1989. Disponível em: https://bit.ly/2pt5OZh.

Também as teorias de B.F.Skinner (as quais veremos


na última unidade desta disciplina) sobre o condicionamento
operante são amplamente utilizadas na educação, com proposição
de programas educacionais que utilizassem tecnologias e um
enfoque instrucional.
Teremos muitos outros pesquisadores nesta fase, porém,
os citados são os mais relevantes para nossa compreensão nesta
disciplina, exatamente por serem as teorias que até hoje explicitam
o desenvolvimento infantil e sua ligação com a educação.

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Psicologia do Desenvolvimento 77

As Concepções de Psicologia da Educação


e Implicações Pedagógicas
A partir do desenvolvimento das primeiras e principais
teorias acerca do desenvolvimento infantil e da aprendizagem,
surgem inúmeras outras que tentam dar conta da Psicologia da
Educação. Porém, estas novas teorias acabam por pender para
uma de três concepções gerais sobre aprendizagem:
Figura 11: Aprender com a interação do ambiente

Fonte: StockSnap / Pixabay

 A aprendizagem e o crescimento pessoal se devem


a um processo interno e a educação tem por finalidade
acompanhar tal processo.
 Ao contrário da anterior, há uma visão que acredita
que o crescimento e desenvolvimento pessoal são frutos da
aprendizagem, e, sendo assim, a educação tem papel fundamental
na construção dos indivíduos.
 E, mais recentemente, desenvolveu-se a ideia de
que desenvolvimento e aprendizagem caminham juntos, uma

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78 Psicologia do Desenvolvimento

vez que há certo grau de processos internos que guiam o


desenvolvimento independente da aprendizagem enquanto
escolaridade, como descrito por Piaget. Ao mesmo tempo, não
se pode separar estes processos internos do contexto cultural
do indivíduo, como afirmam Vygotsky e pesquisadores que
continuaram suas teorias.
Assim, neste e-book utilizamos este último como norteador
do processo de desenvolvimento, há uma predisposição no
indivíduo que o impele a se desenvolver e aprender, mas as
condições dadas pelo meio proporcionarão chances de se
desenvolver ou não.

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre as áreas de pesquisa na Psicologia


da Educação e suas concepções, faça a leitura do artigo da
pesquisadora Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas:
GATTI, Bernardete. Psicologia da educação: conceitos, sentidos
e contribuições. Psicologia da Educação, São Paulo, n. 31, p.
7-22, 4 jan. 2010. Disponível em: https://bit.ly/2MoHOiV.

A partir destas concepções iniciais, surgem novas linhas


de pesquisa dentro da área da Psicologia da Educação. Vamos
ver a seguir as principais linhas, que se mostram muito férteis
ainda hoje para o desenvolvimento de pesquisas.

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Psicologia do Desenvolvimento 79

Construtivismo
Figura 12: Construtivismo

Fonte: RawPixel / Pixabay

O Construtivismo é uma teoria desenvolvida pelo biólogo


e epistemólogo suíço, Jean Piaget (1896-1980). Segundo sua
base teórica, o conhecer se dá a partir da inserção do objeto
do conhecimento em um determinado esquema. Para Piaget, o
processo de desenvolvimento envolve a capacidade de organizar,
de estruturar, de entender e após a aquisição da fala, de explicar
os pensamentos e as ações. A inteligência se aprimora de acordo
com a experimentação, através do contato com o mundo.
Esta teoria se expandiu de forma rápida, gerando um
arsenal de novas ideias aplicadas na educação. Podemos citar
alguns autores que seguiram os princípios construtivistas de
Piaget como: Constance Kamii, Emília Ferreiro, Mario Carretero
e Delia Lerner.
O construtivismo atribui grande importância da participação
construtiva do indivíduo no seu processo de aprendizagem,
permeando inúmeros movimentos atuais sobre a aprendizagem.

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80 Psicologia do Desenvolvimento

Como um exemplo, podemos citar as metodologias ativas e o


movimento maker, ambos focados em fazer o indivíduo tornar-
se ativo em seu processo de aprendizagem.
Há uma observação acerca do desenvolvimento de teorias
construtivistas, muitas delas enfocam na primeira concepção
sobre aprendizagem, como descrita no início deste módulo.
Assim, as teorias construtivistas acabam por determinar a
aprendizagem como um processo individual e interno, conforme
Coll et al:
A generalização dos enfoques construtivistas em
educação levou a uma visão da aprendizagem
escolar como um processo que, além de ser
ativo e construtivo, é de natureza essencialmente
individual e interno. Individual porque os
alunos devem realizar seu próprio processo de
construção de significados e atribuição de sentido
sobre os conteúdos escolares sem que ninguém
possa substituí-los nessa tarefa; e interno, porque
a aprendizagem não é o resultado da leitura
pura e simples da experiência, mas que é sim o
fruto de um complexo e intrincado processo de
construção, de modificação e de reorganização
dos instrumentos cognitivos e dos esquemas de
interpretação da realidade. (COLL, 2004, p. 37)
Ao considerar que a aprendizagem é um processo interno
e individual não devemos acreditar que deva ser solitário, como
a descrição de um construtivismo cognitivo, o qual estuda os
processos internos e não necessariamente as relações entre o
aprendiz e seu meio. Assim, passamos a um socioconstrutivismo.

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Psicologia do Desenvolvimento 81

SAIBA MAIS

Que as escolas têm buscado inserir o aluno em atividades que


o torne um agente de seu processo de aprendizagem? Com
isso, hoje, temos o florescimento das Metodologias Ativas e
do Movimento Maker, ambos voltados para o protagonismo
do aluno.

ACESSE

Para aprofundar seus conhecimentos sobre Metodologias Ativas


e Movimento Maker, recomendamos os sites abaixo: Como
as metodologias ativas favorecem o aprendizado. Disponível
em: https://bit.ly/2KkidHJ. Movimento Maker. Disponível em:
https://bit.ly/2xUDTkB.

Socioconstrutivismo
Figura 13: Socioconstrutivismo

Fonte: FeeLoona / Pixabay

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82 Psicologia do Desenvolvimento

O Socioconstrutivismo é uma teoria voltada para


Psicologia da Aprendizagem, tendo como precursor Lev
Vygotsky, psicólogo bielo-russo. Sua base teórica tem como
alicerces três fundamentos:
 o funcionamento psicológico estrutura-se a partir das
relações sociais e do contexto histórico e social;
 a cultura tem grande influência na formação dos
sistemas simbólicos;
 a linguagem possibilita o intercâmbio com o mundo e
abstração e generalização do pensamento.
Para o Socioconstrutivismo o aprendizado provém de um
processo de construção que considera na aprendizagem tanto os
processos internos e individuais quanto, e principalmente, o grupo
do qual faz parte o aluno e como este grupo age para que seus
indivíduos aprendam. Assim, para esta teoria são importantes
o ambiente, os colegas, os professores e as experiências que o
aluno passa na busca pelo aprendizado.
Não faltam tampouco os enfoques construtivistas
que, embora aceitem o caráter individual e
fundamentalmente interno do processo de
construção, negam o caráter solitário e postulam
que os alunos aprendem sempre de outros e
com outros, ao mesmo tempo que assinalam
que a aprendizagem é fortemente mediada por
instrumentos culturais e se dirige basicamente
à assimilação de saberes que também têm uma
origem cultural. (COLL et al; 2004, p.37)
Há inúmeras pesquisas que mostram hoje o impacto da
interação na aprendizagem, e o quanto o contato com os colegas
auxilia na construção dos saberes em detrimento de técnicas
como leitura pura e simples e resposta a questionários. Estudos
comprovam que apenas a leitura como método de estudo pode
não ser eficaz. Fazer e falar sobre o que fez, são métodos mais
efetivos para retenção do conhecimento.

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Psicologia do Desenvolvimento 83

SAIBA MAIS

Para saber um pouco mais sobre as diferenças entre


Construtivismo e o Socioconstrutivismo, assista o vídeo
“Vygotsky(1): Construtivismo e Socioconstrutivismo”
disponível em: https://bit.ly/2VPo8bb.

Teorias de enfoque e contexto cultural


Estas teorias buscam comprovar a importância da interação
entre as pessoas e seus contextos para o pleno desenvolvimento
dos processos psicológicos como raciocínio lógico, linguagem,
memória, atenção.
Para estas teorias, só é possível avaliar tais processos
psicológicos na interação entre o indivíduo e meio, e não apenas
verificando como funcionam tais processos no cérebro.
Segundo César Coll et al:
Não apenas a cognição, ou a inteligência, encontra-
se distribuída entre os membros do grupo e os
materiais e os instrumentos presentes, mas todos
e cada um dos membros, assim como os materiais
e os instrumentos, devem ser considerados para
todos os efeitos como uma forma de recursos
cognitivos para os demais. (COLL, 2004, p. 38)
Nestas teorias, então, o aprendizado seria fruto de uma
cognição distribuída entre os membros dos grupos culturais e
não algo construído individualmente, e sim compartilhado, seja
por informações, seja por materiais utilizados no aprendizado ou
por saberes que são socialmente construídos.

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84 Psicologia do Desenvolvimento

SAIBA MAIS

Quer saber um pouco mais sobre a importância da cultura no


processo da aprendizagem? Então, recomendamos a leitura
do artigo abaixo: A importância da cultura no processo da
aprendizagem, disponível em: https://bit.ly/2SNtMsv.

Estudo dos conteúdos escolares


Outra área que tem se desenvolvido muito e de forma
rápida é a dos conteúdos escolares como leitura, matemática,
ensino de ciências, e assim por diante.
Este campo busca compreender as melhores formas
de ensinar o aluno em cada um dos conteúdos, levando em
consideração as descobertas acerca de como se dá o aprendizado
e as especificidades de cada componente.

SAIBA MAIS

Você já ouviu falar sobre o STHEM? Esta é uma sigla para


Science, Technology, Humanity, Engineering and Mathematics,
em português - Ciência, Tecnologia, Humanidades, Engenharia
e Matemática. É uma proposta muito difundida em outros países
e que preza pela construção dos conhecimentos nestas áreas
acima com a construção de saberes e de materiais, incluindo
robôs e programação.

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Psicologia do Desenvolvimento 85

Novas práticas educacionais


Por fim, uma área que atrai grande interesse por parte dos
pesquisadores da Psicologia da Educação é a de novas práticas,
levando-se em consideração o aluno enquanto protagonista de
seu processo de aprendizagem. Além disso, também leva em
consideração que diferentes formas de estudos podem auxiliar
melhor a reter o conhecimento, conforme indicado na Figura 14.

Figura 14: Pirâmide do aprendizado.

- Índice de retenção do
Assistir uma palestra
conhecimento 5%

10% Leitura
Utilizando recursos
20% áudios-visual
Demonstração /
30%
Uso imediato
Discurssões em
50%
grupo
Praticando o
75%
conhecimento
+
85%

Ensinando os outros

Não apenas novas práticas escolares são buscadas, mas


também novas formas de aprendizado em espaços informais
como a família, locais de trabalho e lazer. Assim:

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86 Psicologia do Desenvolvimento

São cada vez mais frequentes as vozes que


reivindicam a volta a um conceito mais amplo
de educação que leve em conta o conjunto das
atividades e das práticas sociais - entre as quais se
encontram as práticas educativas escolares, mas
não apenas elas - mediante as quais os grupos
sociais promovam o desenvolvimento pessoal e
a socialização de seus membros. (COLL et al.,
2004, p. 41)

SAIBA MAIS

Há um movimento crescente no Brasil em relação à liberação


da educação domiciliar. O que você pensa a esse respeito?
Acha que os pais têm condições de fazer a educação integral
de seus filhos? Como você acha que deveria ser regulamentada
esta forma de ensino?

Sendo assim, muitas pesquisas têm saído do âmbito


escolar para discutir aprendizagem em outros locais, afinal,
a aprendizagem não ocorre somente na escola, e sim desde o
momento em que nascemos e em cada interação que temos em
nossa vida, não é mesmo?

ACESSE

Recomendamos que veja o vídeo de Celso Antunes - Novo


estilo de ensinar a pensar. Após assistir, reflita sobre o papel
do professor na formação do sujeito reflexivo, crítico e atuante
dentro do seu contexto social e cultural. Disponível em: https://
youtu.be/Rd139_Kbl4c.

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Psicologia do Desenvolvimento 87

Noções de Psicopedagogia
A Psicopedagogia é um campo de estudos e trabalho já
muito bem estabelecido mundialmente. Ela surge da necessidade
de se ter um profissional que possa trabalhar com as dificuldades
de aprendizagem.
É uma área que a aborda a aprendizagem por diversos
ângulos, desde a motivação do aluno para aprender até as práticas
mais eficazes para aquele indivíduo.
Patrícia Sobrinho nos diz que a Psicopedagogia possui três
princípios fundamentais para sua atuação:
O princípio da prevenção: refere-se às ações que
podem ser executadas, de modo que um sujeito
não tenha mais dificuldades de aprendizagem mas
que aprenda a lidar com elas.
O princípio do desenvolvimento: está intimamente
ligado ao princípio anterior; um sujeito pode não
apenas superar as dificuldades de aprendizagem,
como também aprimorar seus talentos, indo além.
O princípio da ação social: tem a ver com a forma
de o indivíduo interagir com os outros e construir
relações positivas. (SOBRINHO, 2016, p. 11)
Deste modo, a Psicopedagogia trabalha com o
desenvolvimento e aprimoramento da aprendizagem e com
suas dificuldades, verificando as melhores formas de auxiliar
o indivíduo e fazendo intervenções para que haja melhores
interações sociais.
Algumas teorias equivalem a Psicopedagogia
à Psicologia da Educação, em especial por terem um
desenvolvimento próximo em período e em ideias. Talvez
possamos fazer uma distinção mais lógica se levarmos em
consideração que a Psicologia da Educação mostrou-se
inicialmente como a difusora de conhecimentos acerca do

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88 Psicologia do Desenvolvimento

desenvolvimento da aprendizagem. Já a Psicopedagogia leva em


conta um grau maior de intervenção do processo de aprendizagem
dos sujeitos.
Porém, de uma forma ou de outra, as duas ciências com
certeza se complementam para atingir o objetivo de auxílio no
processo de ensino-aprendizagem.
Figura 15: Dificuldades de aprendizagem.

Fonte: PublicDomainPictures / Pixabay

IMPORTANTE

A Psicopedagogia nos permite conhecer a situação do processo


de aprendizagem dos sujeitos com a intenção de melhorar e atuar
sobre ele, para fazer o aluno aprender efetivamente. Ela pode
agir na vida do aluno, intervindo em seu processo de estudo e
aprendizagem, ou na vida do docente e dos recursos externos,
incorporando conhecimentos e técnicas para a melhoria da
aprendizagem do aluno” (SOBRINHO, 2016, p. 23-24).

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Psicologia do Desenvolvimento 89

Logo, o objeto de estudo da Psicopedagogia é, atualmente,


o próprio aprendiz e suas relações com o seu meio, lembrando
as teorias socioconstrutivistas, e sempre atuando de forma
interdisciplinar.

ACESSE

Para saber mais sobre o que é a Psicopedagogia , seu objeto de


estudo, como pode atuar o psicopedagogo, acesse:Mariana Imori
- O que é Psicopedagogia? Disponível em: https://bit.ly/31y8IJx.

O(a) psicopedagogo(a)
Figura 16: Psicopedagogo clínico.

Fonte: geralt / Pixabay

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90 Psicologia do Desenvolvimento

O profissional da psicopedagogia é alguém que tem como


foco o processo de aprendizagem do indivíduo em seu contexto.
Muitas vezes, pensamos apenas em termos de escola, porém, um
psicopedagogo pode atuar em diferentes locais.
Há possibilidades de trabalho em empresas, verificando
questões relacionadas à capacitação dos trabalhadores e à
resolução de problemas relativos ao seu desenvolvimento, tanto
pessoal quanto profissional.
Também há campo para trabalho dentro de hospitais,
auxiliando, em especial, crianças em tratamento e internação
prolongada.
E, talvez a prática mais frequente, o psicopedagogo
pode atuar na clínica, avaliando e intervindo nas dificuldades
de aprendizagem e de relacionamento que afetem seu
desenvolvimento escolar.
Enquanto psicopedagogo escolar, cabe a esse profissional
não apenas resolver problemas de cunho individual relativos
ao processo de aprender, mas também a intervenção em casos
comportamentais que afetem à comunidade escolar.
Um bom exemplo disso são os crescentes casos de bullying
nas escolas brasileiras. O psicopedagogo é um profissional que
deve ter um olhar para as relações que se estabelecem dentro
da escola e/ou empresa, analisando o grupo e verificando quais
práticas podem ser implementadas para que este grupo possa
funcionar de forma harmoniosa e efetiva, atuando, assim, como
um mediador de conflitos.

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Psicologia do Desenvolvimento 91

SAIBA MAIS

Saiba mais sobre a mediação de conflitos na educação. Leia o


artigo do site JusBrasil e se informe a respeito desta prática:
https://bit.ly/2MvPPCK.

Embora estes sejam os principais locais de atuação do


psicopedagogo, locais como centros comunitários, ONGs e o
sistema correcional juvenil também solicitam o trabalho deste
profissional. Merece destaque o trabalho com os jovens privados
de liberdade e seu direito ao acesso à educação.
Sabemos que a educação é poderoso aliada na luta
contra a violência e criminalidade. Sendo assim, medidas
socioeducativas, como o próprio nome diz, devem levar em
consideração que os jovens privados de liberdade necessitam
desenvolver suas funções cognitivas por meio da aprendizagem,
tanto de habilidade e conteúdos, quanto de novas formas de se
relacionar com o outro e com a sociedade.

SAIBA MAIS

O papel do psicopedagogo nas instituições de medidas


socioeducativas é de suma importância para a ressocialização
dos menores privados de liberdade. Abaixo há um artigo muito
relevante para se aprofundar na área: FREITAS, Riane Conceição
F.; SILVA, Gilmar Pereira da. Privação de Escolaridade: A
Situação do Jovem em Conflito com a Lei e a Escolarização.
Margens: revista interdisciplinar, Digital, v. 11, n. 16, p. 148-159,
13 jun. 2017. Disponível em: https://bit.ly/2VZRiEB.

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92 Psicologia do Desenvolvimento

Dificuldade x Transtorno
Há uma distinção que precisamos fazer aqui, a qual
permeia o trabalho do psicopedagogo, bem como dos psicólogos,
neuropsicólogos e neuropsicopedagogos, dificuldades de
aprendizagem são diferentes de transtornos de aprendizagem?
Sim.
A dificuldade de aprendizagem se caracteriza por obstáculo
no avanço da aprendizagem de um indivíduo, a qual pode ser
resolvida com intervenções no método de ensino ou nas relações
que envolvem o aprendiz. Dito isto, pode ser que uma dificuldade
apareça por motivos como:
 desmotivação para aprender da forma como é ensinado;
 tempo diferente de aprendizagem;
 problemas emocionais relacionados à família ou ao
próprio grupo escolar;
 problemas de saúde;
 falta de acesso à satisfação de necessidades básicas como
sono, alimentação, transporte, lazer ou segurança, gerando uma
criança que não consegue estar motivada para o aprendizado.
Figura 17: Intervenção com paciente autista.

Fonte: Design_Miss_C / Pixabay

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Psicologia do Desenvolvimento 93

SAIBA MAIS

Acesse o documento sobre estilos de aprendizagem produzido


pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná e compreenda
melhor quais são os estilos de aprendizagem. Acesse no link
https://bit.ly/2wuRORV.

Já os transtornos (ou distúrbios) de aprendizagem


se caracterizam por uma disfunção neurológica, isto é, um
funcionamento distinto do cérebro e de suas conexões neuronais.
Esta disfunção faz com que o aprendiz apresente dificuldades
de aprendizado que não estão ligadas apenas ao método ao à
desmotivação, embora estes dois possam influenciar no trabalho
de intervenção.
Ter um distúrbio de aprendizagem não significa que o
aluno não será capaz de aprender, mas sim que ele necessitará
de diferentes estímulos e de um tempo diferente para adquirir as
habilidades e competências necessárias.
Alguns transtornos que são hoje muito recorrentes nas clínicas
psicopedagógicas e nas escolas são dislexia, TDAH e Autismo.

SAIBA MAIS

Existem associações voltadas para a compreensão e propagação de


informações sobre estes transtornos descritos acima? Acesse os links e
navegue pelos sites para ter acesso a vários materiais sobre os assuntos:
Associação Brasileira de Dislexia: http://www.dislexia.org.br/
Associação Brasileira do Déficit de Atenção: https://tdah.org.br/
Associação Brasileira de Autismo: http://www.autismo.org.br/

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94 Psicologia do Desenvolvimento

Embora a psicopedagogia tenha um escopo grande


de atuação e de produção de saberes, outra ciência vem
se desenvolvendo a passos largos e em relação com as
neurociências, a neuropsicopedagogia, que visa aliar as
descobertas neurológicas ao trabalho de intervenção em
dificuldades e transtornos de aprendizagem.

SAIBA MAIS

Que a profissão de psicopedagogo foi regulamentada em 2014?


Leia a matéria do senado para entender sobre o assunto. Acesse
o link https://bit.ly/2MzmwBk.

Noções de Neuropsicopedagogia
A Neuropsicopedagogia se coloca enquanto uma ciência
que se alia aos conhecimentos produzidos pela Neurociência,
pela Psicopedagogia e pela Psicologia Cognitiva. Seu principal
objetivo é estudar as relações entre a aprendizagem e o sistema
nervoso, visando o desenvolvimento do ser humano em todas as
suas frentes, biopsicossocial.
Assim como na Psicopedagogia, o Neuropsicopedagogo
pode atuar em diferentes locais, como na clínica, na escola, em
hospitais e instituições diversas.
O site da Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia
traz algumas diretrizes que devem ser seguidas enquanto um
bom trabalho, as quais consideram as seguintes fases:
 Identificação precoce: a partir das queixas levantadas
pela escola ou pelos responsáveis (na clínica), o profissional
deve fazer uma sondagem acadêmica para se chegar a questões
a respeito das funções cognitivas do aprendiz, com aplicação de
testes e entrevistas estruturadas.

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Psicologia do Desenvolvimento 95

 Planejamento e intervenção: após a sondagem inicial, o


profissional deve montar um planejamento de intervenção o qual
deve levar em conta a escola, a família, os grupos nos quais o
aprendiz está inserido, os métodos e instrumentos.
 Encaminhamento e resultado: realização de laudos e
encaminhamento para outros profissionais quando necessário.
Assim, tanto na escola quanto na clínica, o
neuropsicopedagogo tem a tarefa de identificar as
dificuldades e planejar e executar intervenções que visem ao
desenvolvimento pleno do aprendiz.

SAIBA MAIS

A Neuropsicopedagogia também possui uma associação


para divulgar informações estudar assuntos relevantes para
a área. Navegue pelo site da associação acessando o link
https://bit.ly/2J9uxJk.

Em relação à intervenção psicopedagógica, conceitos que


podem ser aplicados à neuropsicopedagogia, Rotta, Bridi Filho
e Bridi (Orgs) nos dizem que:
O espaço psicopedagógico é, metaforicamente,
a exposição do espaço simbólico do aprendente.
Não é tanto a quantidade de materiais ou sua
diversidade que determinam o tratamento, mas
sim a capacidade de transformação do espaço
interno, de intervenção, de reconstrução. A
psicopedagogia, mesmo quando sistematizada
por meio de produções ou organizações de
escrita ou cálculo, busca conectar o sujeito com
suas capacidades, com o reconhecimento das
potencialidades que ele mesmo acredita que tinha
perdido ou não possuía. (2016, p. 23-24)

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96 Psicologia do Desenvolvimento

Assim, muitas vezes, tanto a psicopedagogia quanto a


neuropsicopedagogia, irão atuar com o objetivo de desenvolver
novas “rotas neuronais” para que o indivíduo possa aprender.

SAIBA MAIS

Assista ao vídeo sobre “Como nosso cérebro aprende?” para


compreender melhor a ligação entre o sistema nervoso e o
aprendizado. Acesse pelo link https://bit.ly/32yTdTd.

Isto é, o próprio ato de aprender já faz com que nosso


cérebro se modifique, e essa modificação, também possibilita
novos aprendizados, como em um círculo.
Pense em uma constelação, um céu com muitas estrelas.
Agora pense que você pode percorrer caminhos entre as estrelas,
com certeza você irá descobrir caminhos diferentes a se chegar
nas diversas estrelas. Da mesma forma, o cérebro está em
constante desenvolvimento, ou melhor, seus neurônios estão em
constante desenvolvimento, criando diferentes rotas para que as
informações possam passar, garantindo assim a aprendizagem.
Este processo de desenvolvimento de novas rotas se
chama de plasticidade cerebral (ou neuronal) e é de extrema
importância para o aprendizado.
Logo "… a plasticidade cerebral é multidimensional,
um processo dinâmico que estabelece uma relação entre
estrutura e função: a plasticidade atua no nível neuroquímico,
hedológico e comportamental". (ROTTA, BRIDI FILHO,
BRIDI et al., 2016, p. 20)

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Psicologia do Desenvolvimento 97

Vamos compreender estes três níveis em que a plasticidade atua.


I. Nível neuroquímico
O nosso cérebro é composto por estruturas, líquidos,
membranas, neurônios, outras células auxiliares que fazem a
limpeza, a defesa, a nutrição entre outras funções, e, não menos
importantes, substâncias químicas.

Figura 19: Funçoes do celebro

Estas substâncias químicas são chamadas de


neurotransmissores, e auxiliam na passagem de informações
pelas redes de neurônios. Temos diversas dessas substâncias e
elas atuam em diferentes partes do cérebro. Desta forma, a partir
das interações com o meio, os neurotransmissores podem ir se
modificando, interagindo uns com os outros, realizando uma
adaptação no sistema nervoso.

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98 Psicologia do Desenvolvimento

Figura 20: Conexões neurais

Assim, temos o primeiro nível de plasticidade é a mudança


na forma de atuação dos neurotransmissores.

SAIBA MAIS

Assista ao vídeo do canal Minhas Inteligências para saber


mais sobre a Plasticidade cerebral. Acesse pelo link https://bit.
ly/2pE5Yx0.

II. Nível hedológico


Esses neurotransmissores têm a função de passar ou inibir
mensagens, ou seja, quando um estímulo chega ao cérebro (som,
luz, imagem, sensação, emoção, etc.), os neurotransmissores são
disparados estabelecendo uma rede de mensagens.
Para que as mensagens sejam passadas de um neurônio
para o outro, é necessário que os neurotransmissores saiam de

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Psicologia do Desenvolvimento 99

um neurônio e consigam se encaixar em um receptor do neurônio


seguinte. Esta passagem é a sinapse! Logicamente que tudo isso
ocorre em milésimos de segundos.

Figura 21: Sinapses

Célula pré-
sináptica
Vesículas com
neurotransmissores
Fenda Sinéptica

Célula pós-sináptica
Receptores dos
neurotransmissores

Muito bem, cada neurônio pode fazer sinapses com


diversos outros neurônios. Assim, quando a plasticidade
muda o cérebro a um nível hedológico, queremos dizer que
na verdade o neurônio consegue modificar estas sinapses,
fazendo ou desfazendo ligações com neurônios vizinhos.
III. Nível comportamental
Ao modificarmos padrões nas sinapses e na atuação dos
neurotransmissores, permitimos que o cérebro estabeleça
novas rotas para o pensamento. Dito isto, quer dizer que
conseguimos encontrar novas formas de resolver nossos
problema e isto se reflete em nosso comportamento, ou seja,
aquilo que conseguimos observar no outro.

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100 Psicologia do Desenvolvimento

Ao analisarmos mais de perto a capacidade que o


cérebro tem de se reorganizar, podemos compreender o
quão importante é a aprendizagem para o desenvolvimento
do indivíduo. Sem diferentes estímulos, as conexões
neuronais não evoluem e não conseguimos adquirir novos
comportamentos e novas formas de pensar.
A neuropsicopedagogia também se interessa pelo
estudo dos processos neurológicos envolvidos em como
acontece a aprendizagem e nos transtornos de aprendizagem,
sendo que cada transtorno pode apresentar características
neurológicas próprias associadas à interação do sujeito com
o ambiente.
A Psicologia do Desenvolvimento é uma área
abrangente, que trata desde os processos de maturação do
corpo físico até a intervenção em processos de dificuldades
e transtornos de aprendizagem. Espero que este panorama
geral tenha possibilitado a você uma motivação para
esmiuçar cada uma das áreas trabalhadas até aqui!

SAIBA MAIS

Gostou de saber um pouco mais sobre o cérebro humano e toda a


sua incrível capacidade de aprendizado? Então, se você quiser se
aprofundar e compreender melhor como os neurotransmissores
agem no nosso cérebro possibilitando a transmissão das
mensagens, assista ao vídeo sobre a anatomia e fisiologia dos
neurotransmissores. Acesse pelo link https://bit.ly/2P7x6zo.

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Psicologia do Desenvolvimento 101

UNIDADE

03 BASES BIOLÓGICAS E SOCIAIS DO COMPORTAMENTO HUMANO

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102 Psicologia do Desenvolvimento

INTRODUÇÃO
Caros (as) Estudantes,
Sejam todos(as) muito bem-vindos(as) a nossa Unidade 3.Vimos
na unidade passada o desenvolvimento da Psicologia da Educação,
as teorias e concepções de desenvolvimento e aprendizagem, noções
sobre a Psicopedagogia e Neuropsicopedagogia.
Dentro da Psicologia do Desenvolvimento podemos nos
aprofundar em diversos conhecimentos que se inter-relacionam
com a aprendizagem. Dentre eles destacam-se fatores biológicos,
sociais, individuais e até mesmo culturais. Todos estes influenciam
no desenvolvimento do ser humano. Porém, infelizmente nem
sempre o desenvolvimento segue como o esperado, e para isso
temos áreas de estudos que focam em desvendar os mistérios
por trás dos transtornos mentais e distúrbios fisiológicos que
interagem com a aprendizagem. Assim, nesta unidade veremos
um resumo de todos estes conhecimentos listados acima para
que se tenha uma visão mais ampla sobre a área da Psicologia
do Desenvolvimento.
Vamos começar?

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Psicologia do Desenvolvimento 103

OBJETIVOS
Olá! Seja bem-vindo a nossa Unidade 3, e o nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências
profissionais até o término desta etapa de estudos:

1 Diferenciar os fatores que influenciam


desenvolvimento do psiquismo humano.
no

2 Identificar os processos cognitivos que constituem


o ser humano.

3 Esclarecer os possíveis transtornos mentais em


consonância com a aprendizagem.

4 Descrever distúrbios fisiológicos mais relevantes para


o processo de desenvolvimento da aprendizagem.

Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!

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104 Psicologia do Desenvolvimento

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Psicologia do Desenvolvimento 105

Os fatores que influenciam no desenvolvimento


do psiquismo
Estudar o desenvolvimento humano é tarefa árdua, pois
não envolve apenas a observação e pesquisa do desenvolvimento
físico do ser humano, mas com certeza inicia-se deste ponto, desde
antes do nascimento. Os estudiosos do desenvolvimento tentam
compreender como os seres humanos se transformam ao longo de
suas vidas e quais processos estão envolvidos nesta transformação.

CURIOSIDADE

Que o interesse por estudar o desenvolvimento humano em sua


totalidade, levando-se em consideração o físico, o psicológico e o
social, iniciou-se com as observações do psiquiatra francês Jean-
Marc-Gaspard Itard a respeito de Victor, o menino selvagem da
cidade de Aveyron? Para saber mais sobre esta história, assista ao
filme de 1970 O menino selvagem, dirigido por François Truffaut.

Para estudar o desenvolvimento é preciso saber que


há dois tipos de mudanças que ocorrem com os seres, são
mudanças de ordem quantitativa e qualitativa. As mudanças
quantitativas podem ser descritas em termos de números
ou medidas, como peso, altura, quantidade de palavras
aprendidas e frequência de comportamentos.
Já as qualitativas são aquelas que não são facilmente
mensuradas, mas que apresentam um salto em relação como a
criança era há pouco tempo, isto é, em pouco tempo pode-se
notar a melhoria na fala ou na motricidade, bem como a aquisição
de novas habilidades que antes a criança não possuía.

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106 Psicologia do Desenvolvimento

Há ainda outro ponto que precisamos saber antes de


verificarmos os fatores que influenciam no desenvolvimento,
há características que mudam e outras que são relativamente
estáveis ao longo do tempo, como a personalidade.
Assim, para se observar o desenvolvimento de uma pessoa é
preciso levar em consideração o processo físico, como crescimento
do corpo, desenvolvimento do cérebro e habilidades motoras.
Também se deve levar em conta o desenvolvimento cognitivo,
com mudanças no aprendizado, na linguagem e nos outros
processos cognitivos, bem como o desenvolvimento psicossocial,
isto é, a personalidades, os relacionamentos e emoções.
Veremos a seguir cada uma destas dimensões, porém, não
ache que elas agem de forma separada, muito pelo contrário,
elas interagem entre si e se afetam mutuamente. Assim, um
acontecimento no desenvolvimento físico pode afetar tanto as
dimensões cognitiva e psicossocial, e vice e versa.

Fatores Biológicos
Os fatores biológicos são uma série de eventos que ocorrem
em diferentes níveis no corpo humano: genético, anatômico e
fisiológico. Eles podem ser de ordem universal ou individual, ou
seja, podem determinar acontecimentos que ocorrem com todos
(ou pelo menos que deveriam ocorrer) e acontecimentos que
ocorrem com cada indivíduo em específico.
Vamos esclarecer sobre cada um deles.

Fatores biológicos de ordem universal


Tais fatores dizem respeito a processos que ocorrem de
forma natural e que são pré-determinados geneticamente para
a espécie humana. Estes fatores foram amplamente explorados
por cientistas como Piaget quando estudou, em específico, o
desenvolvimento motor da criança.

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Psicologia do Desenvolvimento 107

Assim, há na espécie humana um código genético que


determina que precisaremos de mais ou menos 6 meses de
vida para desenvolver tônus muscular capaz de fazer com que
fiquemos sentados e mais ou menos 11 meses para darmos os
primeiros passos, entre outras características. Da mesma forma,
o nosso código genético determina que a puberdade se inicie por
volta dos 11 anos de idade com o desenvolvimento de feições
adultas. O mesmo acontece com o cérebro humano, que só se
desenvolve completamente ao final da adolescência, terminando
seu processo de mielinização próximo dos 18 anos de idade.

DEFINIÇÃO

A maior parte dos neurônios possui uma camada de gordura que


envolve seus axônios, esta substância gordurosa denomina-se a
bainha de mielina e é composta por células de Schwann, que
fazem um isolamento elétrico nos axônios. Assim, a bainha de
mielina auxilia na condução dos impulsos nervosos, aumentando
a velocidade de transmissão das informações. A mielinização
é o processo de formação de bainha de mielina ao redor dos
neurônios, este processo se dá desde a infância até o início da
vida adulta, começando na parte posterior do cérebro e indo até a
parte frontal, área responsável pelo raciocínio lógico, linearidade
e personalidade entre outros.

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108 Psicologia do Desenvolvimento

Figura 1: Comunicação entre Neurônios

Pontos de sinapses
Neurônio Ponto de
conexão
com outro
neurônio

Bainha de Mielina
Denditros
Axônio

Assim, os eventos emocionais que ocorrem durante a


adolescência têm ligação direta com fatores maturacionais:
Duas importantes mudanças no cérebro do
adolescente são semelhantes a processos que
ocorrem antes do nascimento e durante a
infância: o crescimento e a inibição da matéria
cinzenta. Um segundo surto na produção de
matéria cinzenta - neurônios, axônios e dendritos
- começa pouco antes da puberdade e pode estar
relacionado ao repentino aumento na produção
dos hormônios sexuais nessa época. (PAPALIA;
OLDS; FELDMAN, 2010, p. 403)
Logo, percebe-se o quão importantes são os eventos
desencadeados pelo fator biológico, pois eles interferem, como
falamos anteriormente, na cognição, personalidade e emoções.
Logicamente que, mesmo que tenhamos uma determinação
genética, não quer dizer que há uma idade correta e exata para
que estes eventos ocorram, há, sim, uma média que deve ser
levada em consideração para o acompanhamento e verificação
de possíveis problemas no desenvolvimento.

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Psicologia do Desenvolvimento 109

Como vimos no trecho citado acima, há interação entre


a anatomia (a matéria cinzenta) e a fisiologia (os hormônios)
corporais, ambas seguindo um programa de desenvolvimento
ditado por um código genético que é passado pela nossa espécie.

SAIBA MAIS

Quer saber mais a respeito de como o código genético é


composto? Assista a aula sobre o código genético acessando
o vídeo pelo link disponível em: https://bit.ly/2oZIhzj.

Fatores biológicos de ordem individual


Fatores biológicos que podem influenciar o
desenvolvimento também podem se apresentar na forma de
material genético, com a herança de genes familiares que possam
influenciar na maturação física e cognitiva, como síndromes e
características individuais.
Outros fatores de ordem individual tais como: consumo
de drogas ou medicamentos, doenças e transtornos causados
em decorrência da gestação ou do nascimento, como má
formação ou nascimento prematuro, com defeitos em órgãos
vitais que requeiram intervenções, como problemas cardíacos
ou pulmonares.

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110 Psicologia do Desenvolvimento

CURIOSIDADE

Que ao ingerir álcool durante a gestação o bebê pode desenvolver


a Síndrome Alcoólica Fetal? Esta síndrome causa déficits
intelectuais no crescimento e no desenvolvimento psicológico
e motor.

Embora tais situações relatadas acima não sejam


determinantes em possíveis atrasos ou problemas no
desenvolvimento, elas podem contribuir para estes quadros.
Porém, tem-se a certeza de que todos estes fatores
influenciam a forma como a criança se desenvolve em todas
as suas dimensões, mesmo que tal influência não represente
problema ou distúrbio no desenvolvimento.

ACESSE

Recomendamos que aprofunde um pouco mais seus estudos sobre


os fatores que influenciam o desenvolvimento, que assistam o
vídeo abaixo: Influências Internas no Desenvolvimento - Psicóloga
Mônica Alves. Disponível em: https://youtu.be/Q7TukJM5LUU.

Fatores Sociais
O segundo fator de desenvolvimento do ser humano é o
social. De acordo com Papalia, Olds e Feldman,
Seres humanos são seres sociais. Desde o começo,
desenvolvem-se dentro de um contexto social e
histórico. Para um bebê, o contexto imediato

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Psicologia do Desenvolvimento 111

normalmente é a família, que, por sua vez, está


sujeita às influências mais amplas e em constante
transformação da vizinhança, da comunidade e da
sociedade. (2010, p. 15)
Quando falamos que os humanos são seres sociais,
compreendemos que, mesmo que haja um código genético que
determine etapas de desenvolvimento, este só é possível caso
haja contato com outros indivíduos da mesma espécie, indivíduos
que proporcionem um ambiente propício para que o código
genético seja posto em prática, e para que outras habilidades
sejam afloradas.
Assim, os primeiros indivíduos que propiciam tal ambiente
é a família nuclear. Essa família é uma unidade de parentesco,
não necessariamente biológico, mas que contemple a criança e
seu(s) cuidador(es). Desta forma, temos diversas constituições
familiares, com um, dois ou mais adultos na função parental,
sejam eles do mesmo sexo ou de sexos opostos. Também temos
famílias constituídas por outras funções, como aquelas lideradas
por ambos ou um dos avós e por outros adultos que exerçam
grau de parentesco.
É nesta família nuclear que a criança terá seus primeiros
modelos e estímulos para se desenvolver. Mesmo que a criança
esteja em lares ou abrigos, haverá um número de estímulos no
ambiente aos quais a criança responderá, com o desenvolvimento
motor, cognitivo e emocional.

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112 Psicologia do Desenvolvimento

SAIBA MAIS

A constituição familiar e também o conceito do que é uma


família mudaram ao longo do tempo. Hoje as famílias não se
constituem por meio de contrato entre duas partes que acordam
viverem em conjunto (casamento legalmente falando) como há
50 anos, mas sim por união de pessoas com objetivos e afetos
em comum. A respeito deste tema, leia a matéria escrita pelo
advogado Luís Fernando Augusto, e publicada no site Jusbrasil.
Disponível em: https://bit.ly/2ravRSW.

Desta forma, convivendo com a família nuclear e,


posteriormente, expandido o contato da criança para outros
ambientes como a escola, promove-se a socialização da mesma.
A socialização se torna possível quando há uma internalização
de padrões que são ensinados desde cedo às crianças:
Socialização é o processo pelo qual a criança
desenvolve hábitos, habilidades, valores e
motivações que as tornam membros responsáveis
e produtivos de uma sociedade. […] A socialização
depende da internalização desses padrões.
Crianças bem-sucedidas na socialização não
apenas obedecem a regras ou comandos para
obter recompensas ou evitar punições; elas fazem
dos padrões da sociedade seus próprios padrões.
(PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2010, p. 215-216)
É por meio da socialização que se desenvolve o
comportamento moral, com respeito a regras e ordens, bem
como a cooperação, as habilidades socioemocionais e o controle
de impulsos.

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Psicologia do Desenvolvimento 113

ACESSE

Piaget desenvolveu uma teoria sobre o desenvolvimento moral


na criança e descreveu três fases na aquisição das regras: anomia,
heteronomia e autonomia. Saiba mais lendo o artigo Piaget e o
desenvolvimento moral na criança, disponível em: https://bit.
ly/2qpLWGT. Caso tenha interesse em se aprofundar nas ideias
de Piaget, faça a leitura de seu livro: PIAGET, Jean. O juízo
moral na criança. São Paulo: Summus, 1994.

Outro fator social que tem grande influência sobre o


desenvolvimento é a condição socioeconômica de sua família.
As condições sociais e econômicas em que as crianças crescem
afetam significativamente seu desenvolvimento, por condições
que vão desde acesso à alimentação até acesso ao lazer.
É sabido que a pobreza pode se associar a fatores
emocionais na família, refletir-se nas más condições de saúde
e saneamento, segurança e educação precárias, todos fatores de
grande importância para o pleno desenvolvimento do indivíduo.
Figura 2: Os males da pobreza atingem as crianças.

Fonte: PAPALIA; OLDS; FELDMAN. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: AMGH, 2010, p. 16.

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114 Psicologia do Desenvolvimento

Em relação aos males que a pobreza pode trazer a


uma criança, Papalia, Olds e Feldman nos mostram que
tais crianças estão mais suscetíveis a problemas de saúde e
educação que crianças que têm acesso a serviços como os
descritos anteriormente.
Como podemos verificar pela tabela acima, a pobreza
afeta tanto o biológico, quanto o cognitivo e o emocional,
estes últimos envolvidos de forma íntima com o abandono, a
repetência e a expulsão da escola.
Embora não ligado obrigatoriamente a fatores
econômicos, os maus tratos e abusos podem ser classificados
como fatores sociais subjacentes a problemas no
desenvolvimento infantil. Tais abusos podem ser de ordem
física e psicológica e podem ter grande impacto na vida da
criança causando barreiras para seus desenvolvimento e
traumas que podem ser carregados para a vida.

SAIBA MAIS

É sabido que o maior número de abusos sexuais contra crianças


ocorre dentro da própria casa, cometido por familiares próximos.
Por este motivo é tão importante que a escola trabalhe assuntos
ligados à educação sexual, uma vez que dentro de casa a criança
não consegue auxílio para sair de situações angustiantes. Mais,
muitas vezes a criança não tem o mínimo discernimento para
saber que o que fazem com ela é errado. A esse respeito, leia
a entrevista realizada pela Ong Childhood com o antropólogo
Felipe Areda. Disponível em: https://bit.ly/2p2xPHb.

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Psicologia do Desenvolvimento 115

Fatores individuais
Entre os fatores individuais de desenvolvimento
encontramos os processos cognitivos: linguagem, memória,
atenção, raciocínio lógico e percepção. Porém, não apenas os
fatores de forma individual devem ser levados em consideração,
mas sim a ligação entre eles, a qual proporciona a aprendizagem,
o pensamento e a inteligência.
Outro fator individual de extrema importância para a
adaptação do indivíduo é a personalidade.

ACESSE

Para complementar seu conhecimento sobre o que é a


personalidade, acesse o vídeo do canal Minuto Psíquico
disponível em: https://bit.ly/2ASXx6i.

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116 Psicologia do Desenvolvimento

Para compreendermos o que é a personalidade é preciso


antes saber que não há uma visão única a respeito dela na
Psicologia. A definição da mesma se dá por meio das teorias que
a estudam. Porém, em linhas gerais, Hall, Lindzey e Campbell
nos dizem que “a personalidade consiste concretamente em
uma série de valores ou termos descritivos que descrevem o
indivíduo que está sendo estudado”. (2000, p. 33)
Segundo as autoras citadas acima, há inúmeras explicações
para o que vem a ser personalidade, porém, tais definições
podem ser subdivididas em algumas categorias, como seguem
(idem, p. 32):
I. Definição biossocial: as teorias que se encaixam nessa
teoria acreditam que a personalidade não está no sujeito, e sim
no que os outros pensam sobre ele, isto é, é a reação dos outros
ao indivíduo.
II. Definição biofísica: a personalidade seria o conjunto
das qualidades específicas do sujeito teria relação tanto com
processos internos quanto com comportamentos externos,
observáveis.
III. Definição globalizante: tudo o que pode ser medido no
indivíduo e que possa descrevê-lo seria a personalidade. Assim,
fariam parte também características como cor de cabelos, pele,
olhos, altura, peso, etc.
IV. Definição integrativa: a personalidade seria algo que
organiza os comportamentos do indivíduo.
V. Definição de ajustamento: a personalidade é resultado
dos comportamentos emitidos pelo indivíduo que servem para
se ajustar ao ambiente.
VI. Definição dos aspectos únicos: aquelas características
que são individuais e fazem com que o sujeito seja distinto dos
outros formariam a personalidade.

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Psicologia do Desenvolvimento 117

VII. Definição da essência: aquela parte da pessoa que faz


dela quem ela realmente é.
Em todo caso, podemos retirar das teorias que a
personalidade e aquilo que faz com que o indivíduo seja ele
mesmo, único, mesmo que estas características sejam dadas pelos
outros. De toda forma, vimos como se tenta definir o conceito de
personalidade, vamos ver agora como ela se compõe.

SAIBA MAIS

Pesquisadoras criaram um teste muito utilizado no meio


corporativo para realizar seleção de pessoas, com base nas
características dos tipos psicológicos do psicanalista Jung?
Ficou curioso? Acesse o site https://bit.ly/1MbpsO7 e
descubra mais sobre o teste e sobre o seu perfil! Divirta-se.

Segundo Papalia, Olds e Feldman, há quatro grandes


concepções que explicam o desenvolvimento da personalidade.
Vamos a elas!

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118 Psicologia do Desenvolvimento

Quadro 1: Concepções acerca do desenvolvimento da personalidade humana

CONCEPÇÕES ACERCA DO DESENVOLVIMENTO


DA PERSONALIDADE HUMANA
Os teóricos
Os teóricos desse
desse modelo
modelo acreditam
acreditam que
que a personalidade
Modelos a personalidade
está ligada ao
normativo- está ligada ao
desenvolvimento
sequenciais desenvolvimento
psicossocial, e se
psicossocial, e se
modifica de acordo
modifica de acordo
com a idade.
com a idade.
A personalidade
A personalidade
está ligada aos
pode ser afetada
Modelos da eventos, esperados
pelos eventos
cronologia dos ou não, que
em diferentes
eventos marcam a vida do
etapas da vida,
indivíduo, e não
modificando-a.
com a idade.
Há traços que são
Há diferentes
estáveis ao longo de
tipos ou estilos de
toda a vida, embora
Modelos personalidade que
fatos possam
Tipológicos organizam como o
afetar como a
indivíduo organiza
personalidade vinha
estes traços.
se desenvolvendo.
Há traços que são
Há diferentes
estáveis ao longo de
tipos ou estilos de
toda a vida, embora
personalidade que
Modelo de Traços fatos possam
organizam como o
afetar como a
indivíduo organiza
personalidade vinha
estes traços.
se desenvolvendo.

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Psicologia do Desenvolvimento 119

Como podemos ver, ainda não há um consenso acerca do


que é e como se forma a personalidade, porém, o que devemos ter
em mente é que ela é parte muito importante do desenvolvimento
do ser humano, pois nos confere a nossa singularidade!

Fatores Histórico-culturais
Embora fatores biológicos, sociais e individuais
possam vir a ser estáveis ao longo da história da humanidade,
temos um fator que de influência que muda constantemente,
interferindo especialmente no fator social: a história e a
cultura a que estamos inseridos.
Os costumes, os hábitos e os valores são diferentes de um
país para o outro e vão se modificando ao longo do tempo. Se
pensarmos bem, ao longo de nossa história podemos ter contato
com diversas influências culturais, ainda mais nos dias atuais
de globalização. Além disso, vemos que muitos valores que
vigoravam antes vêm agora sendo modificados, o que significa
por um lado uma evolução da humanidade e, por outro, que
teremos de nos adaptar.

SAIBA MAIS

Que tal dar um passeio por alguns dos sistemas educacionais de


diferentes países? Assista ao documentário realizado pelo canal
Futura sobre a educação em diferentes países disponível em:
https://bit.ly/32zZ4HM.

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120 Psicologia do Desenvolvimento

Há 30 anos atrás não tínhamos a influência da tecnologia


digital no desenvolvimento infantil, hoje, quem pensa em ficar
sem seu celular? Embora ainda haja muito a ser pesquisado
no uso das tecnologias digitais no desenvolvimento infantil, é
inegável que ela faça parte de nossa história.

SAIBA MAIS

As tecnologias digitais apresentam benefícios para o


desenvolvimento cognitivo infantil. Para saber quais benefícios,
leia a matéria do site da Escola da Inteligência disponível em:
https://bit.ly/2qvXxnT.

Assim, até mesmo conteúdos escolares tentam acompanhar


a evolução histórico-cultural, embora de forma mais lenta que o
restante da sociedade. Porém, temos que compreender como a
sociedade tem evoluído de forma rápido e quais podem ser os
fatores que influenciam no desenvolvimento dos outros fatores.
Por exemplo, nossa comunicação ficou muito mais efetiva,
mas a socialização entre os jovens vem caindo. Ao mesmo tempo
em que as ferramentas vêm nos auxiliar a buscar diferentes
informações, elas nos jogam dados demais, mais do que nossas
cognições conseguem dar conta neste momento.

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Psicologia do Desenvolvimento 121

REFLITA

Ao mesmo tempo em que a tecnologia digital traz inúmeros


benefícios para nossas vidas, ela também pode representar um
perigo ao desenvolvimento de algumas funções e habilidades.
Saiba mais lendo o artigo dos pesquisadores Natália de Paiva e
Johnatan Costa disponível em: https://bit.ly/2PFf8S8.

Porém, não são apenas as invenções que influenciam o


desenvolvimento, a cultura em que a criança está inserida é de
grande importância para compreendermos o indivíduo como um
ser em sua totalidade.
Segundo Papalia, Olds e Feldman,
Os padrões étnicos e culturais afetam o
desenvolvimento por sua influência na composição
de uma família, nos recursos econômicos e sociais,
no modo como seus membros agem em relação
uns aos outros, nos alimentos que comem, nos
jogos e nas brincadeiras das crianças, no modo
como aprendem, no aproveitamento escolar, nas
profissÕes escolhidas pelos adultos e na maneira
como os membros da família pensam e percebem
o mundo. (2010, p. 17)
A educação dada a uma criança no Japão será
consideravelmente distinta da educação dada a uma criança nos
Estados Unidos. Culturas distintas tratarão o desenvolvimento
de forma também distinta. Assim, uma criança no Japão seguirá
uma cultura que preza pela comunidade, ao passo que nos
Estados Unidos, a individualidade é mais importante que o senso
de comunidade.

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122 Psicologia do Desenvolvimento

São muitas as características que diferem as duas culturas


citadas acima, como todas as outras ao redor do mundo. Tais
características moldam a personalidade e a interação social entre
os indivíduos, mesmo que o desenvolvimento biológico seja o
mesmo para todos os seres humanos.

REFLITA

Você acha que ser adolescente hoje é o mesmo que ser adolescente
há 100 anos atrás? E se compararmos a nossa adolescência com
a de um jovem atualmente? Há diferenças?

Os processos mentais e a constituição do


psiquismo humano
Para iniciarmos este capítulo é preciso fazermos uma distinção
acerca do que é o psiquismo. Segundo o dicionário Priberam:
psi·quis·mo
(grego psukhê, -ês, vida, espírito + -ismo)
substantivo masculino
1. Conjunto de fenômenos procedentes da alma ou
a ela relativos.
2. [Psicologia] Conjunto de fenômenos estudados
pela psicologia. = PSIQUE
3.[Psicologia] Conjunto das características psíquicas
de um indivíduo. = PSIQUE
Fonte: ”psiquismo”, in Dicionário Priberam da Língua
Portuguesa [em linha], 2008-2013. Disponível em:
https://bit.ly/2JcbmOR.

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Psicologia do Desenvolvimento 123

Assim, o psiquismo associa-se a uma visão de mente,


como uma estrutura que, embora ligada ao corpo, muitas vezes é
descrita como agindo além do mesmo. Assim, liga-se à psiquê da
Psicanálise. Porém, aqui, para fins de melhor compreensão acerca
de como o psiquismo humano acontece, utilizaremos, então,
o termo processos mentais, que englobam tanto os processos
cognitivos quanto os não cognitivos, fazendo uma relação entre
o psiquismo e a cognição, uma vez que esta relaciona a “mente”,
ou a consciência, ao órgão que a produz, o cérebro.
Desta forma, a nossa mente é desenvolvida por todas as
instâncias já discutidas até aqui, por fatores biológicos, sociais,
individuais e histórico-culturais.
Os processos não cognitivos são derivados de nossa
personalidade e demonstram nossas habilidades socioemocionais,
como a capacidade de motivação, perseverança, sociabilidade
entre outros.

SAIBA MAIS

A relação entre a motivação e a aprendizagem é muito importante


no contexto escolar. Para saber mais sobre este assunto, leia o
artigo das pesquisadoras Juliana Coutinho, Lurdes Cuconato e
Elisa Alcantara disponível em: https://bit.ly/35UPqSf.

Veremos agora de forma um pouco mais detalhada as


principais funções cognitivas que, juntamente com nossa
personalidade, dão origem ao nosso processo de consciência,
isto é, quem fazem com que sejamos quem somos.

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124 Psicologia do Desenvolvimento

Sensação
Nossa primeira interação com o mundo se dá pelas
sensações - visão, audição, tato, olfato e paladar.
As sensações mencionadas apenas tocam na
superfície da experiência sensorial. Embora
possivelmente você tenha aprendido […] que
existem apenas apenas cinco sentidos - visão,
audição, paladar, olfato e tato -, essa enumeração é
muito modesta. As capacidades sensoriais humanas
vão muito além dos cinco sentidos básicos. Por
exemplo, somos sensíveis não apenas ao toque,
mas a um conjunto consideravelmente mais
amplo de estímulos - dor, pressão, temperatura
e vibração, para mencionar apenas alguns. Além
disso, a visão tem dois subsistemas - relacionados
à visão diurna e noturna -, e a orelha responde a
informações que nos permitem não apenas ouvir,
mas também manter o equilíbrio. (FELDMAN,
2015, p. 89)
Vimos um pouco a respeito das sensações na primeira
unidade e como elas dependem de estímulos (externos ou
internos) para ocorrerem. Assim, conforme descrito por Feldman
no trecho acima, a sensação de temperatura dependerá de fatores
externos como a temperatura do ambiente, ou fatores internos,
como a febre provocada por uma doença.

ACESSE

A videoaula sobre a “fisiologia dos sentidos” para compreender


melhor como ocorrem as sensações em nosso corpo. Disponível
em: https://bit.ly/33NktNQ.

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Psicologia do Desenvolvimento 125

Outro conceito muito importante dentro do campo das


sensações é o de adaptação sensorial. Vamos ver a seguinte
situação para compreender este conceito: o dia está frio lá fora
e as janelas da sala de aula estão fechadas; você entra na sala de
aula após o intervalo e 30 crianças que correram muito no recreio
estão lá dentro! A primeira coisa que seu nariz nota é o odor de
suor, não é mesmo? Mas você já percebeu que após um tempo
você não sente mais o cheiro? Não é porque ele desapareceu,
mas sim porque seu cérebro realizou uma adaptação sensorial,
como se ele reduzisse a intensidade do odor para que você não
passe mal e possa se concentrar em outras coisas.

Percepção
As sensações são provenientes de estímulos, como
acabamos de ver, porém, elas precisam ser analisadas e
interpretadas pelo cérebro. A esta análise e interpretação
chamamos de Percepção. Desta forma, "a percepção é um
processo construtivo pelo qual vamos além dos estímulos que
nos são apresentados e tentamos construir uma situação com
sentido”, com significado. (FELDMAN, 2015, p. 116)

ACESSE

O vídeo a seguir demonstra de forma breve o conceito de


percepção para que se tenha maior compreensão desta função
mental. Disponível em: https://bit.ly/2MxN43S.

Há uma linha de pensamento na Psicologia que deu


grande importância ao estudar a percepção, foi a Escola
da Gestalt. Para os gestaltistas há princípios que regem as
sensações, principalmente as visuais, e que organizam a

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126 Psicologia do Desenvolvimento

percepção. São eles: da Unidade, Semelhança, Proximidade,


Segregação, Fechamento, Continuidade, Pregnância e Simetria.
Vamos ver alguns deles a seguir.

Princípio do fechamento
Nosso cérebro agrupa os elementos para que percebamos
figuras fechadas, completas, como no exemplo abaixo. Você vê
linhas que formam ângulos, porém, você percebe um triângulo,
a figura em sim não fecha a forma triangular.

Figura 3: Princípio do Fechamento.

Princípio de proximidade
Nosso cérebro agrupa elementos próximos. Na imagem
abaixo você pode ver uma linha ou ponto agrupados de dois em
dois, normalmente seu cérebro escolherá ver o agrupamento.

Figura 4: princípio de proximidade.

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Psicologia do Desenvolvimento 127

Princípio da semelhança
Da mesma forma, tendemos a agrupar os elementos que
são semelhantes ao invés de visualizar o todo, como na figura
abaixo, onde percebemos melhor as linhas do que as colunas:

Figura 5: Semelhanças.

SAIBA MAIS

Que alguns dos maiores estudiosos da percepção eram de uma


escola psicológica chamada de Gestalt? Eles descreveram os
princípios que estamos vendo aqui. Para saber mais, assista à
aula da Khan Academy sobre os princípios da Gestalt disponível
em: https://bit.ly/2pEB3kl.

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128 Psicologia do Desenvolvimento

Principio da simplicidade
Quando há um padrão, tendemos a percebê-lo da maneira
mais simples possível. Nosso cérebro normalmente preenche
as lacunas, logo, a imagem abaixo pode ser interpretada como
um retângulo no primeiro momento, por ser uma forma mais
simples. Em seguida pode-se perceber duas letras K, ou W e M.

K K KK
Figura 6: Imagem Produzida pela autora.

KK
Princípio da figura e fundo
O cérebro faz uma distinção entre o fundo e a figura em si,
produzindo diferentes significados, como nas imagens abaixo:

Figuras 7: Figuras com diferentes significados

Desta forma, temos uma capacidade de constância


perceptual, que nada mais é do que a percepção dos objetos
enquanto constantes, mesmo que haja mudanças, como quando
um carro passa e você o observa, ele parece diminuir quanto
mais longe estiver. Porém, pela constância perceptual, sabemos

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Psicologia do Desenvolvimento 129

que o carro não diminui, e sim que há uma mudança na sua


percepção pelo distanciamento do mesmo.

CURIOSIDADE

Que o princípio da figura e fundo deu origem há ao mesmo


conceito na Gestalt-terapia? Para os gestaltistas, quando algo é a
figura significa que está no nosso consciente, como uma ideia ou
uma lembrança. O que não está no nosso consciente, aquilo que
não estamos focando no momento, é o fundo.

Memória
A memória é uma função primordial para a sobrevivência,
adaptação e desenvolvimento do indivíduo. Com a memória
conseguimos codificar, armazenar e recuperar as informações
sobre nós mesmos e sobre o mundo que nos rodeia. Não seríamos
quem somos sem a nossa memória.
E ela é um processo complexo, o qual podemos subdividir
para compreender suas diferentes funções:

Memória sensorial
A memória sensorial é o primeiro sistema de memória
desenvolvido no ser humano, pois ela representa um retrato
breve, como a imagem de um raio que entra pela visão mas que
logo se perde se não for transferida para outro tipo de memória.
Assim, é um armazenamento muito breve das informações
processadas por meio dos órgãos do sentido.

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130 Psicologia do Desenvolvimento

Memória de curto prazo


A memória sensorial se dá por estímulos sensoriais
simples, para que eles tenham significado, é preciso transferi-los
para a memória de curto prazo. Desta forma, a memória de curto
prazo produz um sentido para as informações recebidas, mas se
o processo não continuar, esta memória também é breve e as
informações se perdem.
Acredita-se que as informações permanecem na memória
de curto prazo por no máximo 25 segundos, após isso, se não
passar para outra memória, a informação se perde. Um bom
exemplo é quando tentamos reter um número telefone para
discar no telefone ou até anotarmos em um papel, após discar ou
anotar, não lembramos mais do número.

SAIBA MAIS

Que tal saber um pouco mais sobre como a memória funciona?


Leia o artigo dos pesquisadores Carlos Alberto Mourão Júnior
e Nicole Costa Faria, da Universidade federal de Juiz de Fora
disponível em: https://bit.ly/2MYj4xf.

Memória de trabalho
Embora a memória de curto prazo seja breve, ela tem papel
importante, seleciona as informações que devem ser guardadas
enviando-as para outras memórias como a de trabalho. A memória
de trabalho também possui um tempo determinado, porém,
maior que a etapa anterior. Ela manipula as informações a partir
de memórias pré-existentes. Como exemplo, ao realizarmos
uma conta complexa mentalmente, lembramos dos processos
envolvidos no cálculo e focamos na realização da tarefa, porém,
após realizado o cálculo, não lembramos mais os passos que nos
levaram até o resultado.

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Psicologia do Desenvolvimento 131

CURIOSIDADE

Que, de acordo com Associação Internacional do Alzheimer,


em 2030 aproximadamente 75 milhões de pessoas serão
acometidas pelo Alzheimer? Saiba um pouco mais sobre esta
doença no site do Hospital Israelita Albert Einstein. Disponível
em: https://bit.ly/2KPqY9E.

Memória de longo prazo


São as informações que de fato são armazenadas em nosso
“sistema” e que são acessadas quando necessitamos. Esta memória
pode ser subdividida em módulos, como caixas de armazenamento
de diferentes tipos de informação, como veremos a seguir.

Memória declarativa
Memória que grava fatos ou informações sobre pessoas e
coisas, como os nomes das pessoas, suas feições, fatos e datas.

Memória processual
Memória de como realizar operações e de habilidades como
andar de bicicleta, dirigir, etc. É a memória que guarda informação
de como realizar alguma atividade.

Memória semântica
Informações e conhecimentos sobre os fatos, sequências
e lógica. Podemos chamar esta memória de almanaque ou
enciclopédia, onde se armazenam memórias como saber que a
Independência foi declarada às margens de um rio, que se chamava
Ipiranga, por um príncipe regente, etc.

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132 Psicologia do Desenvolvimento

Memória episódica
Guarda os eventos, sejam eles passados ou futuros, como
a data de comemoração do aniversário de casamento ou marcar
e organizar a festa dos filhos.

Memória explícita
Ocorre quando tentamos recordar de algo de forma intencional.

Memória implícita
São aquelas memórias que às vezes nos aparecem do
nada, sem querermos recordar, e têm grande influência em nosso
estado emocional.

Memória instantânea
Memórias ligadas a eventos muito específicos e importantes
e que podem ser lembradas com detalhes, como por exemplo, você
se lembra como foi o seu primeiro beijo? Ou o que estava fazendo
no dia em que o World Trade Center caiu pelo ataque terroristas em
11/09/2001? Embora lembremos com detalhes, nem sempre esta
memória é precisa, pois normalmente ela está ligada à emoção, a
qual pode alterar nossa percepção dos fatos ocorridos.

CURIOSIDADE

Que o Alzheimer ainda não tem cura? Porém, há pesquisas


promissoras tanto na descoberta das causas da doença, quanto na
produção de medicamentos que retardem os sintomas. De qualquer
forma, o melhor é cuidar bem do seu corpo e de sua mente. E este
cuidado envolve todos os setores da vida: emocional, nutricional,
exercícios físicos, novos aprendizados, socialização, entre outros.
Cuide bem da sua memória.

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Psicologia do Desenvolvimento 133

Pensamento e raciocínio lógico


Segundo Feldman,
Os psicólogos definem o pensamento como a
manipulação das representações mentais da informação.
Uma representação pode assumir a forma de uma
palavra, de uma imagem visual, de um som ou de
dados em qualquer outra modalidade sensorial em que
estejam armazenados na memória. O pensar transforma
determinada representação da informação em formas
novas e diferentes, permitindo-nos responder perguntas,
resolver problemas ou alcançar objetivos. (2015, p. 241)
Desta forma, para transformar as representações, o nosso
pensamento é feito de imagens e de conceitos mentais.
As imagens mentais são produzidas por meio das
sensações, e não significam que devam ser somente visuais, isto
é, ao olharmos para uma cadeira teremos em mente sua imagem,
porém, ao escutarmos e registrarmos mentalmente uma melodia,
a mesmaa também será uma imagem mental. Assim, as imagens
mentais são representações dos objetos ou produtos do mundo
real, possibilitadas pelos sentidos e pela memória.
Já os conceitos mentais são a capacidade de agruparmos as
representações em categorias. Como exemplo, conhecemos um
gato e um leão, mesmo que não tenha visto um leão. Assim, temos
as imagens mentais dos dois e sabemos que um é domesticado
e outro não. O conceito mental permite que classifiquemos o
gato como um animal no qual podemos passar a mão para fazer
carinho, enquanto o leão não.
Por fim, o raciocínio lógico é formado por regras
internalizadas para se chegar a uma solução de um problema e
também por atalhos cognitivos que auxiliam na busca por novas
formas de resolver os problemas.

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134 Psicologia do Desenvolvimento

CURIOSIDADE

Que jogos de celular podem auxiliar na melhoria do raciocínio


lógico tanto de crianças quanto de adultos? O site catraca livre fez
uma lista com alguns ótimos aplicativos para você desenvolver
esta função cognitiva. Disponível em: https://bit.ly/31wSFvt.

Linguagem
Há inúmeros estudos que se voltam para a linguagem, para
compreender seu funcionamento e sua importância, tanto que há
áreas específicas que se preocupam com as diversas facetas da
linguagem, como a linguística e a fonoaudiologia.
Para Feldman,
O uso da linguagem - a comunicação de
informações por meio de símbolos organizados
de acordo com regras sistemáticas - é uma
capacidade cognitiva central, que é indispensável
para nos comunicarmos uns com os outros. Além
de ser crucial para a comunicação, ela também
está intimamente vinculada ao modo como
pensamos sobre o mundo e o compreendemos.
Sem a linguagem, nossa capacidade de transmitir
informações, adquiri conhecimento e cooperar
com os outros seria extremamente prejudicada.
(2015, p. 257)
Linguagem é diferente de língua! A língua requer uma
estrutura fixa, como uma gramática, entre outros aspectos,
para se estabelecer como tal. A linguagem pode se utilizar de
símbolos, como a língua falada, escrita ou de sinais, mas tem por
principal função comunicar. Se pensarmos em animais, veremos

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Psicologia do Desenvolvimento 135

que eles não possuem uma língua, e sim uma linguagem, a qual
possibilita que interajam.

SAIBA MAIS

Leia o artigo a seguir a respeito da aquisição da linguagem


e aprofunde seus conhecimentos nos problemas gerados
durante o desenvolvimento da linguagem. Disponível em:
https://bit.ly/2JaonIW.

De forma breve, vamos ver no quadro abaixo como se dá o


desenvolvimento da linguagem nos seres humanos:
Quadro 2: Desenvolvimento da linguagem.

IDADE DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

Produção de balbucios; capacidade de produção de


3-6 meses qualquer som de qualquer língua. Crianças surdas
apresentam balbucios com as mãos.

Aos poucos os balbucios vão se aproximando dos


sons da língua falada ao seu redor e seus neurônios
6-8 meses
vão formando redes de reconhecimento dos sons do
ambiente.

Em torno desta época, os bebês param de forma


8-12 meses gradual a produzir sons que não são os de sua língua
materna.

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136 Psicologia do Desenvolvimento

Iniciam a produção de combinação de sons, produzindo


as primeiras palavras. Aos poucos, as formas vão
ficando mais complexas e as crianças começam a
1-3 anos
produzir sentenças simples, telegráficas, sem o uso de
palavras que não são necessárias para a comunicação.
Seu vocabulário aumenta consideravelmente.

Inicia-se a formação de plurais e conjugação temporal


de verbos no passado, usando de supergeneralização,
3-5 anos isto é, aplicando uma mesma regras para várias
palavras. Da mesma forma que falam “caminhou”,
também falam “escrivinhou”.

Nesta fase as crianças já possuem domínio sobre


as regras básicas de sua língua materna, embora
5 anos +
seu vocabulário ainda continuará aumentando nos
próximos anos.

É preciso salientar que estas idades são aproximações


para que tais eventos aconteçam, mas não são uma regra.
Quem já esteve em contato com bebês consegue visualizar
as situações relatadas acima e saberá que, uma vez iniciado o
processo de desenvolvimento da linguagem, a interação com
os adultos e com outras crianças é fundamental para que o
bebê aumente seu vocabulário.

REFLITA

Quando falamos com crianças é normal que modifiquemos nosso


tom de voz e alteremos algumas palavras. Porém, e quando os
pais e/ou cuidadores utilizam a fala infantilizada constantemente?
Isto pode ser um prejuízo no desenvolvimento da linguagem da
criança? O que você acha? Pesquisa mais sobre o assunto.

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Psicologia do Desenvolvimento 137

Atenção
Quando temos uma grande quantidade de informações
em nosso ambiente e processamos somente parte delas é porque
estamos colocando em ação a habilidade de atenção! Sem a
atenção, não temos como selecionar as informações e retê-las
na memória.

SAIBA MAIS

Que há diversas técnicas que trabalham a atenção entre elas a


meditação? Uma das áreas promissoras da psicologia hoje é a do
Mindfulness! Esta técnica é uma meditação que foca no momento
presente e na atenção plena. Saiba mais sobre ela na reportagem
da Superinteressante. Disponível em: https://bit.ly/2wzB2yQ.

De acordo com Sternberg, há quatro principais funções da


atenção, conforme quadro abaixo:
Quadro 3: Funções da atenção.

FUNÇÃO DESCRIÇÃO EXEMPLO


“Aguçar” a audição quando
se está andando só pela rua
As pessoas ficam
escura à noite, tentando
Vigilância e alertas para detectar
identificar sons diferentes em
sinais em seus
detecção de caso de ter alguém seguindo
ambientes para que
sinais e poder correr ou reagir.
possam agir com
Também estar atento a sinais
rapidez.
feitos pelo bebê para saber se
está com fome ou dor.

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138 Psicologia do Desenvolvimento

Ao assistir a um filme
focamos nas falas e sons
Escolhemos em
Atenção do filme e não no som das
qual estímulo
pessoas comendo pipoca.
seletiva prestar atenção e
Quando estou escrevendo,
qual ignorar.
foco nesta atividade e não nos
sons da rua.

Quando se está dirigindo, a


Quando dividimos
atenção fica dividida entre
Atenção nossa atenção
guiar o carro, os pedestres
para realizar mais
dividida na rua, os outros carros, os
de uma tarefa ao
espelhos e também a conversa
mesmo tempo.
com o passageiro.

Quando a atenção
Ao sentir o cheiro de fumaça,
é voltada para
procura-se a origem do
Busca encontrar um
cheiro, e a atenção se volta
estímulo do
para esta atividade.
ambiente.

Como vemos no quadro acima, a atenção é a função


capaz de nos manter seguros em nosso ambiente, pois seleciona
qual informação é mais importante para aquele momento, nos
preparando para as ações seguintes.

Emoções
Por fim, não podemos esquecer que somos seres com
emoções, simples e complexas, e que elas atuam tanto em nosso
psicológico quanto em nosso corpo. Para Papalia, Olds e Feldman:
O desenvolvimento emocional é um processo
ordenado; emoções complexas se desdobram
de emoções mais simples. O padrão de reações
emocionais característicos de uma pessoa começa
a se desenvolver durante a primeira infância,

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Psicologia do Desenvolvimento 139

constituindo um elemento básico da personalidade.


Entretanto, quando a criança fica mais velha,
algumas respostas emocionais podem mudar. […]
A emoção está intimamente ligada a outros
aspectos do desenvolvimento. Um recém-nascido,
por exemplo, que é negligenciado emocionalmente
- ninguém o abraça, acaricia ou fala com ele -
poderá apresentar insuficiência de crescimento
não-orgânica, isto é, incapacidade de crescer e
ganhar peso, apesar de adequadamente nutrido.
(2010, p. 194)
Assim, conforme as autoras, o desenvolvimento emocional
inicia-se com emoções básicas como tristeza, alegria, medo ou
raiva, e, aos poucos vai se desenvolvendo em emoções mais
complexas como culpa, orgulho, vergonha, empatia, entre outras.

REFLITA

Muitas crianças e jovens apresentam quadros de Transtornos de


conduta ou de comportamento. Boa parte dos casos acontece
por uma falha no desenvolvimento emocional do indivíduo,
isto é, por não ter aprendido um repertório diverso de emoções.
Assim, muitas pessoas passam a vida lutando com emoções
não compreendidas. Para isso, e outras tantas situações, é que a
psicoterapia existe. Ir ao psicólogo ainda é um estigma. Porém,
reflita: Se você sentir dor de dente, você não irá ao dentista? E
se tiver uma dor no peito, fará de conta que não existe? Por que
deve ser diferente com a dor emocional? Saúde mental deve ser
uma prioridade assim como a saúde física, sempre!

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140 Psicologia do Desenvolvimento

Abaixo, veja o quadro produzido pelas autoras a respeito


do desenvolvimento emocional do nascimento ao 3 anos.
Figura 8: Desenvolvimento emocional de 0-36 meses.

Fonte: PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 2010, p. 194.

Como podemos perceber pela imagem acima, os bebês


vão se desenvolvendo emocionalmente em relação com o
ambiente e com seus cuidadores. Por isso é tão importante que
as crianças se relacionem com outras pessoas desde cedo, para

++
que experimentem e elaborem diferentes emoções.

SAIBA MAIS

Aprofunde seus conhecimento acerca do desenvolvimento


emocional coma leitura do artigo Desenvolvimento da
compreensão emocional, das pesquisadoras Maria da Glória
Franco e Natalie Santos, da Universidade da Madeira. Disponível
em: https://bit.ly/2P8zohq.

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Psicologia do Desenvolvimento 141

E assim, com todos estes fatores e ainda outros derivados


da interação deles, formamos a nossa subjetividade. Embora o
desenvolvimento emocional, do raciocínio, da linguagem, da
percepção, da atenção, da memória e das sensações ocorrem com
bases biológicas e sigam um determinado roteiro, seu conjunto
faz com que cada ser humanos seja único e dê significados

++
diferentes para o mundo.

SAIBA MAIS

Para melhor compreender os tópicos 3 e 4, assista à aula do


professor Liércio Pinheiro sobre a neuropsicologia dos transtornos
do desenvolvimento disponível em: https://bit.ly/35TZIlp.

Transtornos mentais e o desenvolvimento


da aprendizagem
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM-V) agrupa os chamados transtornos de desenvolvimento
sob a categoria de “Transtornos de neurodesenvolvimento”,
porém, é preciso ter em mente que, na maior parte dos casos,
os transtornos mentais estão ligados aos distúrbios fisiológicos,
os quais trabalharemos no próximo tópico desta unidade. Ao
mesmo tempo, os transtornos de neurodesenvolvimento têm,
muitas vezes, ligação com o biológico, não apenas o psicológico.
Assim, segundo o DSM-V:
Os transtornos do neurodesenvolvimento são um
grupo de condições com início no período do
desenvolvimento. Os transtornos tipicamente se
manifestam cedo no desenvolvimento, em geral
antes de a criança ingressar na escola, sendo
caracterizados por déficits no desenvolvimento
que acarretam prejuízos no funcionamento

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142 Psicologia do Desenvolvimento

pessoal, social, acadêmico ou profissional.


Os déficits de desenvolvimento variam desde
limitações muito específicas na aprendizagem ou
no controle de funções executivas até prejuízos
globais em habilidades sociais ou inteligência. É
freqüente a ocorrência de mais de um transtorno do
neurodesenvolvimento; por exemplo, indivíduos
com transtorno do espectro autista frequentemente
apresentam deficiência intelectual (transtorno do
desenvolvimento intelectual), e muitas crianças
com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade
(TDAH) apresentam também um transtorno
específico da aprendizagem. (2014, p. 31)
Como podemos ver, os transtornos de desenvolvimento
podem vir de forma separada ou em conjunto com outro
transtorno. Não é apenas o DSM que orienta sobre tais
transtornos, a Classificação Estatística Internacional de Doenças
e Problemas Relacionados com a Saúde, conhecida como CID-
10 (pois está em sua décima edição), também dá diretrizes sobre
a saúde mental, porém é mais amplo que o DSM, englobando
todas as doenças, não apenas mentais.
Ambos os manuais estabelecem códigos para que a
comunidade médica possa se orientar em seus diagnósticos e
seus encaminhamentos. Desta forma, quando a escola recebe
algum laudo a respeito de avaliações neuropsicológicas dos
alunos, os códigos estarão sempre presentes e auxiliam na
pesquisa a respeito do transtorno relacionado.

SAIBA MAIS

Para ter maior clareza sobre o que são DSM-V e CID-10,


assista ao vídeo do canal Filosofia da Psique disponível em:
https://bit.ly/2P6CPoX.

eBook Completo para Impressao - Psicologia do Desenvolvimento - Aberto.indd 142 09/04/2020 19:15:59
Psicologia do Desenvolvimento 143

Assim, conforme a tabela abaixo, podemos ter os seguintes


transtornos relacionados ao neurodesenvolvimento, os quais
afetam a aprendizagem:
Quadro 4: Transtornos do neurodesenvolvimento segundo o DSM-V.

TRANSTORNO CATEGORIAS PRINCIPAIS DÉFICITS

São déficits nas


capacidades cognitivas
como resolução de
problemas, aprendizagem
Leve; moderada; acadêmica ou por
grave; profunda; experiência, raciocínio,
Deficiências atraso global do pensamento abstrato e
intelectuais (DI) desenvolvimento; outros. Normalmente
DI não levam a prejuízos na
especificada independência pessoal.
Pode ser consequência
de uma lesão durante o
desenvolvimento ou no
nascimento.

Transtorno da
linguagem;
Transtorno da
Transtornos da fala; Transtorno São déficits no
da fluência desenvolvimento bem como
comunicação
(gagueira); no uso da linguagem em
(TC) Transtorno de vários níveis.
comunicação
social; TC não
especificado.

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144 Psicologia do Desenvolvimento

O DSM-V
classifica
em níveis de
gravidade 1, 2,
e 3. O CID-10
Transtorno do Déficits na interação social e
distingue entre
na comunicação, bem como
Espectro Autista autismo infantil,
apresenta comportamentos
(TEA) atípico, Síndrome
repetitivos, entre outros.
de Asperger,
Síndrome de Rett
e outro associados
a movimentos
estereotipados.

Apresentações:
combinada;
Transtorno predominantemente
de Déficit desatenta;
Prejuízos na atenção ou
predominantemente;
de Atenção/ organização e/ou controle
hiperativa/
hiperatividade dos impulsos.
impulsiva;
(TDA-H) Outros,
especificados ou
não.

Déficits na capacidade do
Transtorno indivíduo de processar as
leitura; expressão
informações com base nas
específico de escrita;
habilidades acadêmicas que
Aprendizagem matemática
requerem uso de leitura,
escrita ou cálculos.
Desenvolvimento Déficits na habilidades
Transtornos da coordenação; motoras coordenadas;
Motores Movimento comportamentos motores de
estereotipado repetição.

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Psicologia do Desenvolvimento 145

Tourette; Tique
motor ou vocal
Transtornos de Movimentos ou
persistente; tique
vocalizações repetidas e
Tique transitório; outros
repentinas.
especificados ou
não.

Como se pode ver pela tabela acima, são muitos os


transtornos mentais os quais podem interferir no desenvolvimento
da aprendizagem do indivíduo. Saber as características de cada
um deles é importante para ter noção de como cada indivíduo
aprende e quais as dificuldades encontrará.
Não menos importante podemos citar ansiedade e
depressão como quadros que influenciam no desenvolvimento
da aprendizagem, bem como outros tantos transtornos de ordem
mental, cada um interferindo por suas próprias razões.

SAIBA MAIS

Que não somente a ansiedade pode causar prejuízos na


aprendizagem como também problemas na autoimagem?
As pesquisadoras Monalisa Muniz e Débora Fernandes
escreveram um artigo sobre estes dois fatores e sua relação
com a aprendizagem de alunos do Ensino Fundamental.
Acesse o artigo disponível em: https://bit.ly/2P4q0eG.

É um campo extremamente amplo o dos transtornos


mentais e sua relação com a aprendizagem, e o que precisamos
ter em mente é que os transtornos não são iguais entre si e podem
apresentar desafios dos mais diversos em sala de aula.

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146 Psicologia do Desenvolvimento

Distúrbios fisiológicos e o desenvolvimento


da aprendizagem
Como dissemos anteriormente, muitos transtornos
mentais vêm acompanhados de distúrbios fisiológicos e vice-
versa. Porém, é preciso que façamos aqui uma distinção para
problemas que são de ordem fisiológica e que interferem na
aprendizagem como um déficit, e aqueles problemas que são, na
verdade, de ordem da visão de quem aprende de forma comum a
boa parte da população.
Vamos entender melhor. Um aluno com deficiência
auditiva, visual ou motora pode, em muitos casos, não
apresentar nenhum déficit cognitivo, apenas necessitará de
formas diferentes de ensino para adquirir os conhecimentos e
desenvolver habilidades.
Já alunos que tenham passado por acidentes envolvendo o
cérebro, tumores, paralisia cerebral, epilepsia ou outras situações
que interferem no funcional cerebral, apresentam muitas vezes
déficits no desenvolvimento da aprendizagem. Também entram
nestes quadros algumas síndromes cromossômicas, as quais
fazem com que o funcionamento do cérebro seja atípico, isto é,
diferente de uma pessoa sem síndromes ou distúrbios fisiológicos.

DEFINIÇÃO

Você sabe o que é a epilepsia? Segundo a Liga Brasileira de


Epilepsia, é uma alteração no funcionamento do cérebro,
com emissão de sinais incorretos durante alguns minutos ou
segundos. A epilepsia nem sempre se apresenta com quadros
de convulsões severas, como às vezes costumamos pensar. Para
saber mais, acesse https://bit.ly/2FwG4CS.

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Psicologia do Desenvolvimento 147

Assim, para compreender algumas destas situações, vamos


ver abaixo de forma breve um pouco mais sobre a epilepsia e a
paralisia cerebral.
Segundo Rudimar Riesgo,
Como o aprendizado é, na realidade, o primeiro
dos três passos mnemônicos, e como em um
cérebro epilético pode haver perturbação
da atividade cerebral como um todo ou em
determinados “focos” de atividade irritativa,
não é surpreendente que crianças epiléticas
possam ter, concomitantemente, problemas
atencionais e de aprendizagem […]. (ROTTA;
OHLWEILER;RIESGO, 2016, p. 410)
Crises de epilepsia podem comprometer tanto a atenção
quanto a memória, ambos responsáveis pela aprendizagem. Além
do fator neurológico, a criança com epilepsia pode sofrer com
baixa autoestima, ansiedade por causa de suas crises convulsivas
e dificuldades de relacionamento.
Já a paralisia cerebral se configura como:
[…] uma sequela predominantemente motora de
um insulto orgânico ocorrido durante as etapas
iniciais do desenvolvimento neuropsicomotor
(DNPM) da criança. Portanto, por definição,
paralisia cerebral não é uma doença em evolução.
(ROTTA; OHLWEILE; RIESGO, 2016, p. 411)
Estes insultos orgânicos podem ser infecções, falta de
oxigenação, malformação do sistema nervoso central, entre outros.

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148 Psicologia do Desenvolvimento

SAIBA MAIS

A respeito da paralisia cerebral no link a seguir https://


msdmnls.co/2t51yyi.

Como se pode perceber, a gama de transtornos ou distúrbios


que podem afetar a aprendizagem é imensa e pode ocorrer desde
uma baixa autoestima até mesmo uma lesão no sistema nervoso
central, quando afetarem áreas como linguagem, raciocínio,
atenção, memória ou percepção, por exemplo.
Assim, a área de estudo dos Transtornos de Aprendizagem
é muito vasta, e normalmente os pesquisadores se concentram em
alguns poucos transtornos, tentando compreender sua biologia e
suas implicações psicológicas e sociais.
Por isso, se você achou interessante saber sobre como nós
desenvolvemos nossas funções cognitivas, nossa personalidade
e quais são os possíveis déficits na aprendizagem, pesquise mais
sobre um dos assuntos tratados nesta unidade. Tenho certeza que
você ficará maravilhado com o mundo de conhecimentos e áreas
de atuação dentro da Psicologia do Desenvolvimento!

SAIBA MAIS

Para ampliar seus horizontes de conhecimentos sobre


o desenvolvimento humano e sobre a aprendizagem,
recomendamos o vídeo a seguir, que trata dos métodos e de
fatores adjacentes que interferem no processo de aprender.
Disponível em: https://bit.ly/2Q4Jizk.

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Psicologia do Desenvolvimento 149

UNIDADE

04 A PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM EM VÁRIAS FASES DA VIDA

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150 Psicologia do Desenvolvimento

INTRODUÇÃO
Caríssimos(as) Estudantes,
Chegamos ao final de mais uma disciplina. Nesta unidade
vamos verificar as principais linhas teóricas da Psicologia,
Psicanálise, Behaviorismo e Humanismo. Cada uma destas áreas
estuda o ser humano de um ponto de vista diferente, descrevendo
desenvolvimento e aprendizagem em cada fase da vida. Nos
aprofundaremos em algumas das características que marcam
infância, adolescência e vida adulta, relacionando-as a diferentes
teóricos, tais como: Freud, Skinner, Roger, Erikson e Bowlby.
Esperamos que você se interesse pelos conceitos trabalhados
aqui para aprofundar seus estudos cada vez mais, pesquisando
as diferentes abordagens da Psicologia do Desenvolvimento.

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Psicologia do Desenvolvimento 151

OBJETIVOS
Olá! Se bem-vindo a nossa Unidade 4, e o nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências
profissionais até o término desta etapa de estudos:

1 Distinguir entre as principais abordagens da


Psicologia Moderna;

2 Discutir o desenvolvimento psíquico da criança;

3 Apontar o desenvolvimento psíquico na adolescência;

4 Investigar o desenvolvimento da aprendizagem


na vida adulta.

Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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152 Psicologia do Desenvolvimento

Teorias do desenvolvimento e da aprendizagem


e suas implicações pedagógicas
Ao longo desta disciplina, falamos bastante sobre o
desenvolvimento interligado com a aprendizagem e os fatores
que o influenciam. Agora, vamos focar em três grandes teorias
que descrevem como o ser humano se desenvolve, aprende
e muda ao longo da vida. Para cada uma dessas três ações,
falaremos de um teórico fundador de uma das três grandes
escolas de pensamento dentro da Psicologia: o Behaviorismo, a
Psicanálise e o Humanismo.
Assim, começaremos falando como a pessoa se desenvolve
na teoria de Freud (Psicanálise). Em seguida veremos como o
indivíduo aprende na concepção de Skinner (Behaviorismo) e,
por fim, como ocorre a mudança ao longo da vida, pela visão de
Rogers (Humanismo).

A Psicanálise de Freud e o desenvolvimento


infantil
Figura 1: Sigmund Freud

Fonte: janeb13 / Pixabay

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Psicologia do Desenvolvimento 153

Sigmund Freud (1856-1939)


Freud começou sua carreira formando-se em medicina e
atendendo em consultório particular, muito embora tivesse em
mente ser um pesquisador. Porém, não sendo rico e tendo origem
judia, as oportunidades para o jovem médico nem sempre eram
as melhores no início, por isso optou por praticar a medicina,
mais especificamente a neurologia e os transtornos nervosos.
Para poder trabalhar com o tratamento dos transtornos
nervosos, Freud estudou com o psiquiatra Jean Charcot, o qual
utilizava técnicas de hipnose para tratar a histeria.

DEFINIÇÃO

Para os psicanalistas, a histeria era uma desordem que atingia


mulheres, fazendo com que elas sofressem de ataques nervosos
e reações exageradas. Porém, este conceito mudou após tantas
pesquisas.

++ SAIBA MAIS

Para saber mais sobre a história da histeria e seu conceito atual,


leia o artigo do psicólogo Giovani Belintani. Acesse o artigo
pelo link https://bit.ly/2VkEpmL.

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154 Psicologia do Desenvolvimento

Entretanto, Freud não se interessou pelo método da


hipnose, e voltou-se para o método empregado pelo médico
Joseph Breuer, que tratava os pacientes escutando-os. Os dois
trabalharam juntos por um tempo, mas separaram-se, em virtude
de ideias contrárias a respeito das causas da histeria.
A partir deste trabalho, Freud começou a pesquisar
e escrever suas pesquisas sobre a teoria psicanalítica. Aos
poucos ele foi colecionando inúmeros discípulos, muitos dos
quais seguiram com sua linha de pensamento, e outros tantos
quebraram com Freud por não concordarem com suas teorias ou
com sua personalidade.
Assim, Freud desenvolveu uma das teorias mais robustas
da psicologia, a Psicanálise.

ACESSE

O documentário sobre a vida e o trabalho de Freud para saber


mais sobre o psicanalista tão famoso. Acesse no link: https://
bit.ly/2sItI2X.

Figura 2: Freud e o divã

Fonte: mohamed_hassan / Pixabay

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Psicologia do Desenvolvimento 155

Instâncias e Estrutura Psíquicas


Não teremos como dar conta neste breve espaço de todos os
pontos trabalhados na teoria de Freud, porém, precisamos entender
como a psique se forma, de acordo com a Psicanálise, para, então
podermos discutir o desenvolvimento a partir desta visão.
Assim,
A Psicanálise, o método terapêutico desenvolvido
por Freud, procura favorecer nos pacientes a
compreensão sobre seus conflitos emocionais
inconscientes, fazendo-lhes perguntas destinadas a
evocar lembranças há muito esquecidas. (PAPALIA,
OLDS, FELDMAN, 2010, p. 32)
Conforme as autoras, a Psicanálise tenta trazer à tona, ou
melhor, ao consciente, os traumas e conflitos que foram relegados
ao inconsciente, a uma parte da psique que não é acessada de
forma direta, mas por meio de sonhos, lapsos e trabalho em
consultório, de acordo com Freud.
Há um termo muito importante na Psicanálise, e que é
utilizado de diferentes formas pelas pessoas: o recalque. Para a
Psicanálise, o recalque é um mecanismo de defesa que auxilia o
indivíduo a colocar traumas e situações difíceis em um local de
difícil acesso, o inconsciente.

SAIBA MAIS

Para entender melhor, assista ao vídeo da psicanalista Evelyn


Disitzer acessando pelo link https://bit.ly/33NzjUw.

Desta forma, nossa psique humana é constituída por uma


parte consciente, uma pré-consciente e uma parte inconsciente.
Veja a imagem abaixo:

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156 Psicologia do Desenvolvimento

Figura 3: Id, Ego e Superego

MENTE CONSCIENTE

SUPEREGO EGO

ID

MENTE INCONSCIENTE

Como se pode ver na imagem, Freud descreveu a psique


humana como um iceberg, com elementos visíveis e não visíveis,
ou melhor, como mente consciente, ou aquilo que está visível
sobre a superfície, e mente inconsciente, o que está submerso e
não é visível.

SAIBA MAIS

Assista ao vídeo da psicanalista Lucila Faerchtein


para compreender melhor Id, Ego e Superego no link
https://bit.ly/2MBtqAZ.

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Psicologia do Desenvolvimento 157

A imagem também traz as três instâncias, ou sistemas


psíquicos. Tais instâncias são o fundamento a personalidade
do indivíduo para a Psicanálise. De acordo com Hall, Lindzey
& Campbell:
A personalidade é constituída por três grandes
sistemas: o id, o ego e o superego. Embora
cada uma dessas partes da personalidade total
tenha suas próprias funções, propriedades,
componentes, princípios de operação, dinamismos
e mecanismos, elas interagem tão estreitamente
que é difícil, senão impossível, desemaranhar
seus efeitos e pesar sua relativa contribuição ao
comportamento humano. O comportamento é
quase sempre o produto de uma interação entre
esses três sistemas; e raramente um sistema opera
com a exclusão dos outros dois. (2000, P. 53)
Portanto, para a Psicanálise, a personalidade opera com a
interação destas três instâncias: id, ego e superego. Para Freud,
tais instâncias agem como fontes de energia para o funcionamento
da mente humana.
ID: É o primeiro sistema do ser humano, dele se originam
os outros dois e é ele quem fornece a maior parte da energia para
o ego e o superego. Ele é composto pelos instintos, por aquilo
que é herdado pela raça humana e está em contato permanente
com o corpo e seus processos. É o que Freud chama de princípio
do prazer, isto é, os impulsos que garantem com que tenhamos
a satisfação de nossas necessidades.

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158 Psicologia do Desenvolvimento

SAIBA MAIS

O professor Hélio Miranda Jr nos proporciona um melhor


entendimento do Id no vídeo https://bit.ly/2pBvi71.

Vamos exemplificar para entender melhor. Quando um


bebê nasce, ele tem apenas o princípio do prazer. Se sente fome,
chora para ter sua necessidade de fome atendida. Se quer a mãe,
chora para ter a satisfação da necessidade de conforto. E assim
o id garante também a sobrevivência do indivíduo. Porém, o id
não conhece o mundo externo, as pessoas, as regras, as coisas do
mundo, apenas as vontades e necessidades do sujeito. Assim, aos
poucos, o ego passa a se desenvolver para que o sujeito possa ter
contato com o mundo exterior, não apenas pelo choro.
EGO: Embora o Id possa saber o que é um chocolate e
querer um chocolate, ele não consegue negociar com a realidade
para obtê-lo. Desta forma é preciso um sistema que consiga
fazer as transações com o mundo objetivo, e o ego assume esse
papel. Porém, nem sempre o ego pode satisfazer as necessidades
e vontades do id no momento ou da forma como ele quer. Se
você estiver em uma fila de banco e estiver com vontade de ir
ao banheiro, o ego não deixará que você esvazie sua bexiga ali
naquele lugar. Ele fará um balanço, tentará calcular quanto tempo
a bexiga aguenta, qual o tamanho da fila, onde está o banheiro e
assim por diante, até poder satisfazer esta necessidade.

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Psicologia do Desenvolvimento 159

SAIBA MAIS

Assista também ao vídeo sobre o ego no link https://bit.ly/33VLaQF.

Em outras palavras,
… o ego é o executivo da personalidade porque ele
controla o acesso à ação, seleciona as características
do ambiente às quais irá responder e decide que
instintos serão satisfeitos e de que maneira. Ao
realizar essas funções executivas imensamente
importantes, o ego precisa tentar integrar as
demandas muitas vezes conflitantes do id, do
superego e do mundo externo. Essa não é uma tarefa
fácil e em geral coloca tensão sobre o ego. (HALL,
LINDZEY & CAMPBELL, 2010, p. 54)
Assim, o ego tem uma tarefa árdua de dar conta tanto das
demandas do sujeitos, quanto das demandas do ambiente. Como
vimos as demandas do sujeito podem vir do id, dos desejos e impulsos,
porém, podem vir também de outra instância que se desenvolve a
partir da internalização das regras no sujeito, o superego.
SUPEREGO: Esta instância se desenvolve ao longo
da primeira infância com as regras sociais impostas no
desenvolvimento infantil, e será mais ou menos exigente
dependendo da internalização de tais regras pelas crianças.
Assim, os valores, as normas, o certo e o errado (ou o que se
considera certo e errado) e os padrões de vida internalizados
formarão o superego, o qual é uma instância altamente exigente
por seu teor moral, sendo o oposto do Id.

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160 Psicologia do Desenvolvimento

Ele é o representante interno dos valores


tradicionais e dos ideais da sociedade conforme
interpretados para a criança pelos pais e impostos
por um sistema de recompensas e punições. O
superego é a força moral da personalidade. Ele
representa o ideal mais do que o real e busca a
perfeição mais do que o prazer. Sua principal
preocupação é decidir se alguma atitude é certa ou
errada, para poder agir de acordo com os padrões
morais autorizados pelos agentes da sociedade.
(HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000, p. 55)
O superego atua como nossa bússola moral interna, mas
que se construiu a partir do que nos disseram ser certo ou errado.
Porém, às vezes, esta bússola pode ser extremamente rígida,
causando sofrimento para o sujeito. Uma vez que o superego
tem como uma de suas funções coibir os desejos do Id, se ele
conseguir inibir todos os desejos, como fica o sujeito diante de
suas necessidades?
Assim, o superego possui, além da função de coibir o
desejo do Id, outras duas funções: (1) fazer com que o ego ceda
a objetivos moralistas e não realistas e (2) ser o agente da busca
da perfeição, tentando fazer com que o mundo seja o seu ideal
de certo e moral.

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Psicologia do Desenvolvimento 161

IMPORTANTE

As instâncias foram descritas por Freud em um período em


que ainda não possuíamos todo o conhecimento acerca dos
processos mentais a que temos acesso hoje. Desta forma, não
devemos pensar as instâncias psíquicas como estruturas distintas
do corpo e do ambiente em que o sujeito está inserido. Logo, o id
representaria o fator biológico constituinte da personalidade, o
superego o componente social e o ego o componente psicológico.

Por fim, para Freud, os conflitos gerados entre o desejo


(Id) e as imposições da sociedade (superego) originam a
personalidade do sujeito, a qual vai se moldando ao longo da
vida e passando por diferentes fases, como veremos a seguir.

SAIBA MAIS

Assista mais um vídeo do prof. Hélio Miranda Jr, sobre o


superego no link https://bit.ly/35QCaxQ.

Fases do desenvolvimento psicossexual


De acordo com Freud, os anos iniciais (de 0 a 5 anos
aproximadamente) são os anos de desenvolvimento da
personalidade infantil. Há sempre muitas críticas (positivas e
negativas) em relação ao modelo proposto por Freud, pois o
mesmo leva em consideração o desenvolvimento sexual. Porém,
tal desenvolvimento não condiz em sua totalidade com a ideia de
sexo, e sim de fontes de prazer, sendo o sexo uma delas.

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162 Psicologia do Desenvolvimento

Por isso, caso você se aprofunde mais na psicanálise de


Freud, você verá que muitas vezes o que se leva em consideração
são as fontes de gratificação, ou de satisfação de um desejo, que
não está sempre relacionado com um prazer ligado aos órgãos
genitais, mas sim a todos os órgãos que podem proporcionar
prazer, não obrigatoriamente com conotação sexual.

REFLITA

Embora pensemos nas crianças como seres sem o despertar


da sexualidade, os psicólogos nos mostram o quanto este
pensamento está errado. A partir do momento que a criança
descobre seus órgãos genitais, ela experimentará sensações
relacionadas a eles. A masturbação infantil como é chamada
é natural ao desenvolvimento, porém, deve ter a devida
orientação e atenção, pois pode se tornar um problema. Leia
o artigo do canal Fãs da Psicanálise para compreender melhor
esse fenômeno e ver algumas dicas de como trabalhar com as
crianças nessa fase. Acesse pelo link https://bit.ly/2p1IEJI.

Vamos ver as fases de desenvolvimento descritas por


Freud e compreenderemos melhor tal conceito. Veja a tabela
abaixo com o resumo de cada uma das fases:

SAIBA MAIS

Freud descreveu um sentimento de desejo e ciúmes entre a


criança e seus genitores chamado Complexo de Édipo? Assista
ao vídeo para saber o que é este complexo acessando o link
https://bit.ly/2o6WTwr.

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Psicologia do Desenvolvimento 163

Tabela 1: Fases do desenvolvimento psicossexual segundo Freud

Fase Idade Descrição

Neste estágio se desenvolvem as atividades


de prazer ligadas ao ato de sugar, engolir,
morder, comer, isto é, o alimentar-se ou,
de forma metafórica, o colocar o mundo
para dentro de si. É uma fase em que os
0-12/18 estímulos chegam pela boca do bebê, ao
Oral
meses lamber as paredes, colocar objetos na
boca, aprender a mastigar e defender-se
com os dentes. É também um período
de dependência, que será passado com o
aprender a andar e correr, podendo afastar-
se do seu cuidador.

Quando bebê, se havia a necessidade de


evacuar após sentir desconforto, não era
preciso esperar, para isso estava ali a fralda.
Porém, a partir da maior independência
vem a fase ligada ao aprendizado de adiar
12/18
a gratificação da evacuação. Começa o
Anal meses - 3
desfralde e a produção infantil de seu
anos
primeiro produto, as fezes. Por isso a
importância de frases como “muito bem” ou
“tchau, cocô”, pois demonstra que a criança
faz e produz tem valor e é reconhecido. É
uma fase de criatividade e produção.

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164 Psicologia do Desenvolvimento

Fase de descobrimento dos próprios genitais


e dos genitais do sexo oposto. Neste período
inicia-se também uma gratificação erótica,
por meio da masturbação. Ao mesmo tempo,
é uma fase em que a criança passa a se
identificar com o genitor ou uma figura do
Fálica 3 - 6 anos sexo oposto, procurando uma atenção maior,
para só depois identificar-se com o genitor do
mesmo sexo. Normalmente pode confundir
os profissionais, pois não sabem como lidar
com a gratificação erótica advinda desta fase.
Indicamos um aprofundamento em leituras,
como as sugeridas na página anterior.

Uma fase tida como entre fases.


6 anos
Normalmente mais calma em relação à
Latência até à
gratificação dos desejos e muito propícia ao
puberdade
aprendizado.

Os desejos e impulsos sexuais da fase fálica


retornam, porém com a conotação do outro,
da
isto é, antes o desejo era voltado para si, para
puberdade
Genital o próprio corpo. Agora o adolescente passa
até a idade
a canalizar este desejo em relações com os
adulta
outros e a obtenção do prazer adquire de fato
uma conotação sexual.

Como podemos ver pelo quadro acima, há fases em que


a necessidade de gratificação é maior e voltada para o próprio
indivíduo, fases de maior calma em relação aos impulsos e fases
em que o prazer é deslocado para a interação com o outro. E
assim, na negociação entre o desejo e as regras morais e sociais
que vão sendo internalizadas é que nos constituímos.

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Psicologia do Desenvolvimento 165

SAIBA MAIS

Recapitule as fases do desenvolvimento psicossexual de Freud


com a matéria do Portal Educação no link https://bit.ly/2lzuURe.

O behaviorismo radical de Skinner e a


aprendizagem
Antes de entrarmos na teoria desenvolvida por Skinner,
vamos relembrar como o Behaviorismo se constitui de forma breve.
Vimos na primeira unidade que Pavlov estudou o
condicionamento clássico, a partir da apresentação de um
estímulo com a eliciação de uma resposta. Reveja o conteúdo da
primeira unidade para lembrar estes conceitos.
Outra figura muito importante para o estabelecimento do
Behaviorismo como uma das escolas de maior peso na Psicologia
foi John Watson, pesquisador americano. Watson ficou famoso
primeiramente por seu experimento com um bebê chamado Albert.
Neste experimento, o pesquisador estabeleceu que o medo
e a ansiedade podem ser condicionados e generalizados, isto
é, se por acaso o bebê desenvolver medo de cachorros, poderá
generalizar este medo para bichos de pelúcia, coelhos e outros
animais peludos.

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166 Psicologia do Desenvolvimento

SAIBA MAIS

Watson realizou experimento com o pequeno Albert, os quais


ficaram mundialmente famosos. Assista ao vídeo destes
experimentos para entender como era realizada a pesquisa
experimental nesta época. Acesse https://bit.ly/35VLRee.

Outro feito de Watson foi a publicação de um artigo


que trazia um manifesto behaviorista, que lançava as bases
de um novo movimento dentro da psicologia. Desta forma,
o behaviorismo deveria ater-se ao estudo dos elementos do
comportamento, aquilo que é observável no corpo, e não deveria
utilizar termos e nomenclaturas subjetivas e mentalistas, como
no método introspectivo dos psicólogos anteriores.
Embora Watson tenha lançado as bases para a nova escola
de pensamento, foi Skinner que a de fato desenvolveu e a tornou
tão conhecida, como veremos a seguir.

Burrhus Frederic Skinner (1904-1990)


Figura 5: Skinner

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Psicologia do Desenvolvimento 167

Skinner foi um psicólogo americano que iniciou sua


carreira como escritor e que, após ver suas tentativas de escrita
e renome frustradas, decidiu estudar psicologia em Harvard,
dedicando-se à psicologia experimental. Foi um psicólogo muito
premiado e reconhecido por seus trabalhos e suas publicações.
Seu trabalho girou em torno do comportamento (behavior),
salientando que o mesmo poderia ser estudado por ele mesmo, e
não com base em processos mentais internos.
De forma bastante ampla, seu trabalho pretendia estabelecer
leis gerais a partir da observação do indivíduo, focando sempre
em transpor tais leis para problemas práticos, como tecnologia
educacional, tratamento de crianças autistas, desenvolvimento
infantil, entre outros campos.

SAIBA MAIS

Assista ao documentário sobre a vida de Skinner para


compreender melhor esta figura tão importante para a Psicologia
e Educação. Acesse https://bit.ly/2W0qvua.

Diferentemente de Pavlov, Skinner não estudou apenas o


comportamento respondente, aquele produzido por um estímulo,
mas sim o comportamento operante, que é o comportamento que
produz também uma consequência (ou mudança) no ambiente,
não apenas uma resposta. Vamos ver o exemplo para compreender:

eBook Completo para Impressao - Psicologia do Desenvolvimento - Aberto.indd 167 09/04/2020 19:16:02
168 Psicologia do Desenvolvimento

Tabela 2 : Exemplos de comportamentos e suas possíveis consequências.

COMPORTAMENTO CONSEQUÊNCIA

Estudar para a prova Tirar boas notas

Girar a torneira do chuveiro Ter água para banhar-se

Fazer manha Receber o chocolate no mercado

Conversar muito alto em sala Obter a atenção dos colegas

Acima podemos ver alguns comportamentos e suas


possíveis consequências. As consequências podem ser
simples, como obter um chocolate, ou complexas, como
obter respostas emocionais de outra pessoa.
O que precisamos compreender é que agimos da
forma como agimos, para obter algo do ambiente. Para
compreendermos bem isso, vamos pegar o comportamento
da manhã no mercado.
A criança pode apresentar o comportamento de chorar
e ficar parada pedindo o chocolate quando a mãe lhe diz
que não vai comprar. Com isso, a criança poderá variar
seu comportamento, atirar-se no chão, gritar, chutar, entre
outros, tudo com a finalidade de fazer com que o ambiente
se modifique, isto é, que a mãe lhe dê o que deseja.
Até aqui conseguimos perceber como o sujeito age
para que consiga ou não algo, emitindo comportamentos
para alterar o ambiente. Porém, e a partir deste primeiro
comportamento, o que acontece?
Vamos voltar à birra pelo chocolate. Digamos que
tenha sido a primeira vez que a criança faz isso no mercado.
O que vai determinar que ela pare com esse comportamento
inadequado ou o reproduza no futuro em outras situações?
É algo que Skinner chamou de reforço e punição, como
veremos a seguir.

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Psicologia do Desenvolvimento 169

Consequências - reforço e punição


Reforço e punição são consequências do comportamento
do indivíduo e atuam de forma direta no aprendizado do ser
humano. Assim, a primeira birra da criança no mercado poderá
ser reforçada ou punida. Mas para sabermos como, vamos ver
cada uma destas consequências.

Reforço
Um reforço é uma consequência que aumenta a
probabilidade de que aquele comportamento volte a ocorrer.
Assim, se o comportamento de birra for reforçado, é muito
provável que a criança aja da mesma forma novamente.
Existem dois tipos de reforço, o positivo e o negativo.

IMPORTANTE

Na Análise do Comportamento (behaviorismo), positivo equivale a


adição, e negativo a subtração. Cuidado. Nunca confunda positivo
com bom, nem negativo com mau neste caso.

REFORÇO POSITIVO: Quando acrescentamos


um estímulo ao ambiente, temos um reforço positivo ao
comportamento. Assim, caso a mãe dê o chocolate à criança
após a mesma fazer a birra, ela estará reforçando positivamente
o comportamento de birra, pois ela adicionou ao ambiente o
chocolate. Assim, no futuro, a criança saberá que basta chorar e
espernear para a mãe comprar o que ela quer!

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170 Psicologia do Desenvolvimento

Porém, o reforço positivo pode ocorrer por exemplo


ao emitirmos o comportamento de estudar para a prova, e o
estímulo boa nota for adicionado ao ambiente. Desta maneira,
é bem provável que eu volte a estudar para as provas para que
ganhe mais boas notas.
REFORÇO NEGATIVO: Quando retiramos um
estímulo aversivo do ambiente, temos um reforço negativo do
comportamento.

DEFINIÇÃO

Segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o termo


aversivo, muito utilizado na Análise do Comportamento,
significa algo que provoca repulsa. https://bit.ly/2N1MlH7.

Digamos que esta mesma criança vá à praia com seus pais.


Em um primeiro momento ela se nega a passar o protetor solar e,
o fim do dia, está com a pele ardendo. Logo, a ardência na pele
é um estímulo aversivo para a criança.
Assim, no dia seguinte, a criança aceita o protetor solar, pois
o mesmo retira o estímulo ardência, e, assim, o comportamento de
passar protetor solar é reforçado negativamente, pois subtraímos
algo que incomodava, e bem provavelmente a criança passará a
se comportar de forma a utilizar o protetor solar sem reclamar.
Da mesma forma podemos analisar diversos comportamentos
que são reforçados positiva ou negativamente. vamos ver mais um
exemplo para compreender.
Fazemos o nosso trabalho e cumprimos os prazos muitas
vezes tanto por reforço positivo quanto por reforço negativo. O
reforço positivo, na maioria das vezes, é o salário. Uma adição

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Psicologia do Desenvolvimento 171

de um estímulo ao ambiente. O reforço negativo é a retirada da


advertência do chefe, ou a retirada das dívidas!

REFLITA

Se pensarmos que podemos agir por reforço positivo, ou seja,


adicionando algo que gostamos, ou por reforço negativo,
subtraindo algo aversivo do nosso ambiente, você diria que
suas ações durante a semana são motivadas mais por reforço
positivo ou por reforço negativo? Em todo caso, esperamos
que por reforço positivo. Afinal, passar os dias apenas retirando
estímulos aversivos do ambiente nem sempre nos deixa felizes.

PUNIÇÃO: Da mesma forma que o reforço, a punição


também pode ser positiva ou negativa. Porém, a punição visa
diminuir e extinguir um comportamento tido como inadequado.
PUNIÇÃO POSITIVA: No caso da criança do mercado,
talvez a mãe não consiga sair de perto e deixar a criança
chorando para extinguir este comportamento. Muitos pais
aplicam uma punição positiva adicionando agressão física ou
verbal. Sabemos o quanto isto pode ser prejudicial à criança.
Assim, nessa situação, caso a mãe dê um tapa na criança, ela esta
adicionando um estímulo (tapa/dor/humilhação) para diminuir o
comportamento de birra da criança.
PUNIÇÃO NEGATIVA: O famoso castigo! Quando
retiramos algo considerado bom do ambiente. Então, com o
exemplo da birra, pode ser que a mãe, ao chegar em casa, retire
da criança as horas de televisão da semana e, com isso, espera-se
que diminua o comportamento inadequado de fazer birra.

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172 Psicologia do Desenvolvimento

Como podemos ver, reforço e punição são mecanismos


extremamente poderosos e que agem a cada instante sem
mesmo percebermos. Estes mecanismos fazem com que
aprendamos o nosso repertório de comportamentos que
levaremos ao longo da vida.

SAIBA MAIS

Sabemos bem o quanto a punição positiva, em especial a


violência (física, emocional ou verbal) pode ser prejudicial para
o desenvolvimento da criança. Por isso, é muito importante saber
como aplicar os conceitos de reforço, em especial positivo, no
ambiente educacional. Leia a matéria do G1 a respeito deste
assunto por meio do link https://glo.bo/2Hl3OYw.

Desta forma, Skinner decodificou como o processo


de aprendizagem se dá. Logicamente há mais descrições e
processos complexos envolvidos nestes mecanismos, porém,
este panorama básico possibilita que compreendamos como é
importante pensarmos nas consequências que aplicamos aos
alunos para que eles expressem comportamentos aceitos ou
diminuam comportamentos inadequados.

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Psicologia do Desenvolvimento 173

O humanismo de Rogers e a mudança ao


longo da vida
Vimos duas grandes escolas de pensamento até aqui, a
Psicanálise e o Behaviorismo. Estas duas correntes dominaram
boa parte do século XX, dividindo os psicólogos e pesquisadores.
Porém, com o surgimento de uma filosofia que pensava a respeito
da existência do homem, surge uma outra escola que procura
relacionar tais pensamentos à Psicologia. Nasce então uma
terceira grande escola, a do Existencial Humanismo, embora
possamos chamá-la apenas de Humanista também.
Os autores Hall, Lindzey e Cambpell (2000) definem tal
escola no seguinte sentido:
A psicologia humanista se opõe ao que considera
como o triste pessimismo e desespero inerentes
à visão psicanalítica do ser humano, por um
lado, e à concepção de robô do ser humano
retratada no comportamentalismo, por outro.
A psicologia humanista é mais esperançosa e
otimista em relação ao ser humano. Ela acredita
que a pessoa, qualquer pessoa contém dentro de
si o potencial para um desenvolvimento sadio e
criativo. O fracasso em realizar esse potencial se
deve às influências coercitivas e distorcedoras
do treinamento parental, da educação e de outras
pressões sociais. (p. 363)
Desta forma, para a Psicologia Humanista, o ser humano
é capaz de superar suas dificuldades, pois possui capacidades
internas para isso. Porém, esta superação só é possível quando o
sujeito reconhece que tem total responsabilidade sobre sua própria
vida, mesmo que seu desenvolvimento tenha sido permeado por
influências externas, como a educação e a sociedade.

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174 Psicologia do Desenvolvimento

Carl Rogers (1902 - 1987)


Figura 7: Carl Rogers

Desde muito cedo Rogers demonstrou interesse por


compreender o ser humanos, primeiramente por vir de uma
família muito rígida e sentir-se muito isolado. Por volta dos 20
anos, o psicólogo revolta-se com seu modo de vida e a visão
imposta por sua família, acreditado que as pessoas é que deveriam
pensar quais os melhores caminhos para suas vidas baseadas em
suas interpretações e não indicadas por um código moral ou social
restritivo. (SCHULTZ & SCHULTZ, 2012, p. 419)

ACESSE

Assista ao vídeo sobre Rogers e sua abordagem para entender


melhor o psicólogo que fundou a terceira via na Psicologia,
saindo do dualismo Psicanálise x Behaviorismo no link
https://bit.ly/2LPYilQ.

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Psicologia do Desenvolvimento 175

Rogers nasceu e viveu nos EUA, recebendo título de Pós-


Doutor pela Universidade de Colúmbia, onde passou boa parte
de sua vida. Sua pesquisa foi realizada majoritariamente com
estudantes da universidade, fato que recebeu muitas críticas, pois
os estudantes tinham certo nível tanto social quanto educacional,
e não apresentavam graves problemas de saúde mental. Outros
pesquisadores não acreditavam que seria possível aplicar a terapia
desenvolvida por Rogers em contextos mais graves ou profundos.
A partir de seus estudos, Rogers desenvolveu a Abordagem
Centrada na Pessoa (ACP). Esta abordagem é tida como não
diretiva, isto é, o psicólogo não define as metas ou os caminhos
da terapia, não “dirige" o paciente, e sim proporciona um
ambiente seguro e acolhedor para o paciente ser quem ele é.
Para ele, estamos sempre em busca de um sentido, e
isso faz com que continuemos sempre em desenvolvimento,
até o final de nossas vidas. O que definirá nosso sucesso é um
conjunto de fatores que passa, como dito anteriormente, por
compreendermos que temos responsabilidade sobre nossas vidas
e recursos internos para isso.
Entre os recursos que mais influenciam no desenvolvimento
ao longo da vida estão uma atenção positiva desde o nascimento,
e a autorrealização.

SAIBA MAIS

Carl Rogers acreditava que a educação tinha a possibilidade de


despertar a autorrealização do sujeito. Para saber mais sobre
a visão dele acerca do desenvolvimento da personalidade e a
educação, acesse o vídeo https://bit.ly/2U65vlO.

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176 Psicologia do Desenvolvimento

ATENÇÃO POSITIVA: Ter o amor incondicional do


cuidador desde o nascimento é um grande facilitador na vida do
sujeito, pois construirá nele um sentimento de valor, de que ele
tem possibilidades de demonstrar e aceitar amor, desenvolvendo
uma personalidade que podemos chamar de saudável.
Caso a criança não venha a ter esta atenção positiva da
mãe, sua personalidade se desenvolverá com baixa autoestima e
sentimentos de fracasso, impedindo a plena realização do sujeito.
AUTORREALIZAÇÃO: Para Rogers é a mais alta
expressão de uma boa saúde mental. É quando o sujeito tem a
possibilidade de aceitar novas experiências e valores, vivendo o
momento presente, sem ansiedades ou depressões. Um sujeito
autorrealizado também não depende das opiniões dos outros
para viver sua vida, se guia por seus instintos, pois sabe que é
livre para pensar e criar.
OS conceitos ilustrados acima e a abordagem desenvolvida
por Rogers encontraram campo muito fértil nos EUA,
especialmente após a Guerra Fria, pois as pessoas buscavam
novos sentidos para suas vidas e muitas certezas estavam
mudando. Assim, seus estudos influenciaram diversas outras
escolas e pesquisadores.
Porém, embora Rogers tenha ficado conhecido como o
fundador desta escola, um outro psicólogo contemporâneo
seu deve ser lembrado aqui, pois tem grande importância
quando pensamos na autorrealização do sujeito adulto:
Abraham Maslow.

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Psicologia do Desenvolvimento 177

Abraham Maslow (1908-1970)


Figura 8: Abraham Maslow

Maslow foi outro psicólogo americano que quebrou


com o pensamento dualista vigente da época (psicanálise
x comportamentalismo). Para ele, assim como para o
humanismo, o indivíduo tem total capacidade de se autorrelizar
plenamente, porém, se obtiver a satisfação de necessidades
básicas antes disso.

SAIBA MAIS

Assista ao vídeo no link a seguir para entender melhor a hierarquia


das necessidades básicas do ser humano. https://bit.ly/2HjS5JE.

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178 Psicologia do Desenvolvimento

É provável que você já tenha visto a pirâmide abaixo com


a lista das necessidades básicas do sujeito:
Figura 9: Hierarquia das necessidades básicas de Maslow.

Realização
Pessoal

Estima

Amor /
Relacionamento

Segurança

Fisiologia

Como podemos ver na imagem, antes da autorrealização, o


sujeito precisa ainda garantir que suas necessidades fisiológicas,
de segurança, amor e estima sejam satisfeitas.
Quando o sujeito atinge o topo da pirâmide e se autorrealiza,
ele é alguém que tem aceitação de quem é, de seus limites, que
tem uma visão clara da realidade, independência, autonomia e
age com naturalidade e criatividade.
Como vimos, para que o indivíduo seja pleno, ele
precisa passar por diferentes fases na infância, desenvolvendo,
assim, sua personalidade, passa uma vida aprendendo novos
comportamentos por reforço e punição, e tem uma busca que
dura até o final da vida por autorrealização, por seu um ser
humano pleno.

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Psicologia do Desenvolvimento 179

Psiquismo da criança frente ao processo


de aprendizagem
A aprendizagem, como vimos até aqui, depende de
inúmeros fatores, dentre eles biológicos, sociais, culturais
e psicológicos. Durante a infância, há certos aspectos que
garantem que o indivíduo se desenvolva de forma plena, ou se
autorrealize, como vimos em Rogers e Maslow.
Entre estes aspectos, vamos nos deter um pouco mais
sobre o desenvolvimento da confiança, do apego, da autonomia,
da iniciativa e da produtividade. Para isto, iremos referenciar
teorias de dois psicólogos e psicanalistas: Erik Erikson (1902-
1994) e John Bowlby (1907-1990).

Desenvolvimento da confiança
Quando nascemos, somos seres completamente dependentes
de outros para sobrevivermos. Porém, precisamos desenvolver
certa confiança de que seremos capazes de ser independentes.
Para o psicanalista Erik Erikson, o primeiro estágio do
desenvolvimento vai até os 18 meses de vida e faz com que
haja um esforço entre o que ele chama de confiança básica e
desconfiança básica. Vamos explicar melhor.

SAIBA MAIS

Assista ao vídeo sobre a Teoria Psicossocial de Erikson para


compreender melhor as fases de desenvolvimento propostas por
ele e descritas ao longo do material. https://bit.ly/2Yr9VkU.

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180 Psicologia do Desenvolvimento

Para Erikson, o desenvolvimento acontece por meio de


crises entre o que você tinha antes e o que terá a seguir, e os
estágios se prolongam por toda a vida. Assim, cada etapa é
acompanhada de um conflito entre algo que é negativo e algo
que é positivo. Para que o indivíduo se desenvolva plenamente, é
preciso que a cada crise o indivíduo consiga sair da fase anterior
com uma virtude, com o aspecto positivo, para que possa assumir
o próximo estágio e a próxima crise.
Desta forma, o primeiro estágio prevê que a criança forme
um equilíbrio entre confiar nas pessoas e no mundo e desconfiar
das mesmas para poder se proteger. Porém, ao final do período
de 18 meses, deve prevalecer a confiança, para que o bebê possa
ir em busca da satisfação de suas necessidades.
Caso ele não desenvolva a confiança, poderá ter
complicações em estabelecer relacionamentos e confiar nas
pessoas no futuro.

Desenvolvimento do apego
O apego é um mecanismo que auxilia o bebê a adaptar-
se ao mundo, garantindo que ele tenha proteção e possa se
desenvolver. Como falamos no tópico anterior, ao nascer o bebê
precisa de um cuidador, e é este cuidador (ou cuidadores) que
fará com que a criança desenvolva ou não um apego saudável.
Assim, segundo Bowlby, o bebê aos poucos vai
internalizando o modo de funcionamento do cuidador para
saber o que esperar dele. Se o cuidador sempre agir da mesma
maneira, ficará mais fácil de o bebê prever o que acontecerá e se
sentirá mais seguro, com maior confiança.

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Psicologia do Desenvolvimento 181

IMPORTANTE

Para Bowlby o apego é algo instintivo que garante a sobrevivência


do bebê por meio dos cuidados de outra pessoa. Saiba mais no artigo
das pesquisadoras Juliana Dalbem e Débora Dell`Aglio, ambas da
UFRGS. Acesso o artigo pelo link https://bit.ly/2NmoTTJ.

Ele desenvolveu, então, a descrição de 4 tipos de apego,


conforme vemos abaixo:
Tabela 3: Tipos de Apego em pesquisas de Bowlby.

APEGO COMPORTAMENTOS
O relacionamento entre criança e
cuidador é baseado na segurança. A
criança é livre para explorar, mas possui
Seguro proteção e cuidados se necessitar. O
cuidador age com responsabilidade, e a
criança se incomoda com a separação do
mesmo, porém, sem exageros.

Uma criança tranquila em relação à


exploração ou brincadeira e que busca
pouca interação com o cuidador e
Evitativo ao mesmo tempo não preocupa-se
tanto com a interação com estranhos.
Normalmente não há procura do
cuidador para conforto e segurança.

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182 Psicologia do Desenvolvimento

É uma criança mais imatura e que


não explora muito o ambiente. Fica
muito incomodada com a separação
Ambivalente
do cuidador e não interage bem com
estranhos. Quando o cuidador retorna, a
criança reage mal, com irritação.

Quando a adaptação foi uma experiência


negativa, as crianças podem apresentar
muita apreensão em relação à separação
Desorganizado
do cuidador, apresentando irritação
e comportamento confuso antes da
separação.

Portanto, ao olharmos para o quadro acima, podemos


compreender como o padrão de apego da criança com seu
cuidador em idade tenra afeta os padrões de confiança e
relacionamento com outras pessoas em outras fases da vida.
Quando uma criança tem um apego seguro, ela tende a ter
melhores habilidades interacionais, de linguagem e emocionais.

Desenvolvimento da autonomia, da
iniciativa e da produtividade
Erikson descreveu 8 estágios de desenvolvimento, vimos
até agora o primeiro estágio. Logo, veremos os próximos dois
que se dividem em autonomia e iniciativa.

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Psicologia do Desenvolvimento 183

SAIBA MAIS

O vídeo do link a seguir traz o detalhamento dos 8 estágios de


desenvolvimento propostos por Erikson. Dê uma olhada para
aprofundar-se na teoria do psicanalista. https://bit.ly/2vUfWdw.

O estágio de autonomia x vergonha vai dos 18 meses aos 3


anos de idades. É uma fase em que a criança entrará em contato
com o que se espera dela e, ao mesmo tempo, tentará exercer
controle sobre sua vida. Assim, é um conflito constante entre
controlar e ser controlado. (HALL, LINDZEY & GOLDBERG,
2000, p. 171)
Neste estágio o cuidador muitas vezes usará da vergonha
da criança para que ela aprende os comportamentos corretos e
também desenvolva sua autonomia de forma gradativa por meio
de explorações do ambiente. Se a criança aprender a ter senso
de autocontrole e autonomia, levará os dois de forma sadia para
a vida, desenvolvendo a vontade própria, caso contrário, poderá
viver uma vida com sentimentos de vergonha e dúvidas sobre
sua capacidade de agir no mundo.
Saindo de forma saudável do estágio anterior, o sujeito
possui agora um senso de autonomia e vontade própria. Entra
então no estágio de iniciativa x culpa, que vai dos 3 aos 6 anos
de idade. Aqui, com a autonomia já desenvolvida, surge a
iniciativa, para que a criança consiga se orientar para metas e
objetivos próprios, como explorar o ambiente, pesquisar sobre
os dinossauros, etc. Em caso de fracasso ao atingir suas metas,
pode surgir um sentimento de culpa. (HALL, LINDZEY &
GOLDBERG, 2000, p. 171-172)

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184 Psicologia do Desenvolvimento

Desta maneira, o que a criança precisará aprender é dar


equilíbrio a sua iniciativa e a culpa advinda de alguns fracassos.
É com este equilíbrio que ela conseguirá dar um propósito
tanto para si, quanto para o restante do mundo, objetos, seres,
natureza. E tal propósito é alcançado por meio das brincadeiras
e do reconhecimento do mundo ao seu redor.
Passamos então a uma fase que dará início a uma série de
mudanças corporais que só serão vistas na puberdade, embora
iniciem seu processo interno por volta dos 7 anos de idade
com a produção de hormônios que, quando prontos, entrarão
em ação para dar as formas adultas ao corpo. Neste estágio,
que vai dos 6 anos até o início da puberdade, há um conflito
entre a produtividade x inferioridade. (HALL, LINDZEY &
GOLDBERG, 2000, p. 172)
É o período escolar, a alfabetização e o domínio de diversas
habilidades que culminam na produção de conhecimentos.
Se a criança não conseguir produzir o que se espera, pode ter
sentimentos de inferioridade em relação à sua competência.
E, assim, a criança passa à puberdade e à adolescência.
Vamos então nos aprofundar nas características do psiquismo
adolescente no próximo tópico.

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Psicologia do Desenvolvimento 185

Psiquismo na adolescência e a aprendizagem


Não podemos negar que a puberdade e a adolescência são
períodos complexos para o ser humano. Se você lembrar de como
foi a sua adolescência, talvez encontre o que os adultos chamam
de rebeldia, mas com certeza encontrará uma grande confusão
de sentimento e uma necessidade de buscar sua identidade e o
grupo a que pertence.

SAIBA MAIS

Que o psicólogo Maurício Knobel escreveu sobre a “Síndrome da


Adolescência Normal”, que discorre sobre as mudanças ocorridas
nessa fase? Você pode encontrar este texto no livro: ABERASTURY,
A. KNOBEL, M. Adolescência normal: um enfoque psicanalítico.
Porto Alegre: Artmed, 2003.

Erik Erikson descreve em seus estágios que a adolescência


é um período de conflito entre identidade x confusão de
identidade. Este conflito ocorre por inúmeras escolhas que agora
se colocam ao adolescente, afinal, ao sair desta fase ele deverá
ter um papel na sociedade, saber que é de fato.
Aos poucos, neste estágio, o adolescente passa a perceber
como ele é, quais suas características, o que o diferencia do
outro, e também o que o aproxima, além de perceber que não é
mais criança e que logo será um adulto. É um momento muito
propício para uma confusão de identidade pois, ao mesmo tempo
em que se descobre quem é, não se tem certeza do que virá a ser.
É um período delicado, pois, caso não tenha uma base
fortalecida nos estágios anteriores, o adolescente poderá
desenvolver uma identidade negativa, com comportamentos
nocivos para ele próprio.

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186 Psicologia do Desenvolvimento

Porém, saindo desta fase, o adolescente estará apto a


desenvolver a fidelidade consigo mesmo e com o outro e a entrar
no início da vida adulta. (HALL, LINDZEY & GOLDBERG,
2000, p. 173)
Com certeza reconheceremos muito dos adolescentes
na descrição acima, porém, hoje os dados apontam que a vida
adulta tem iniciado bem mais tarde do que imaginamos, e não
próximos aos 20 anos. Logo, vamos ver a próxima fase de
Erikson, a que se dá no início da vida adulta, em conjunto com
as características adolescentes.

REFLITA

Quais os motivos de considerarmos, atualmente, a adolescência


como uma fase maior do que tempos atrás? Bem provavelmente
encontraremos muitos fatores sociais e culturais envolvidos na
resposta a essa pergunta. A BBC escreveu uma reportagem a respeito
deste tema. Acessa a mesma pelo link https://bbc.in/2CxHgly.

O próximo estágio se caracteriza pelo conflito entre


intimidade x isolamento. É uma fase em que o jovem anseia e
busca relacionamentos que tenham intimidade, tanto emocional
quanto sexual, passando de relações transitórias para uma fase
de comprometimentos e sacrifícios.
A depender dos estágios anteriores, o jovem pode isolar-se
de forma drástica, embora o isolamento seja algo muito bom às
vezes, em demasia afasta ao sujeito do convívio social. Porém,
saindo-se bem, o jovem tem agora a capacidade do amor, nas
mais diversas formas. (HALL, LINDZEY & GOLDBERG,
2000, p. 174)

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Psicologia do Desenvolvimento 187

Vamos nos aprofundar um pouco mais em duas áreas


muitos importantes na adolescência: identidade e sexualidade.

Identidade
Família, sociedade, questões de gênero, sexualidade,
relacionamentos, sucessos ou fracassos, hormônios, tudo isso
influenciará na construção final da identidade do sujeito. A
identidade não é algo que vai ser agora construído por completo,
mas será lapidado e consolidado. Ela pode sofrer alterações ao
longo da vida, mas a base sempre estará lá.

SAIBA MAIS

O artigo das pesquisadoras Teresa Schoen-Ferreira, Maria


Aznar-Farias e Edwiges Silvares da USP faz um levantamento
da construção da identidade de adolescentes de escolas públicas
de São Paulo, estabelecendo ligação com a teoria de James
Marcia. https://bit.ly/2p3jVEP.

Assim, um pesquisador chamado James Marcia conduziu


uma pesquisa com adolescentes para descobrir os estados de
identidade de acordo com a crise instaurada neste período da vida.
Ele chegou a 4 grandes estados de identidade, conforme abaixo:

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188 Psicologia do Desenvolvimento

Tabela 4: Estados de Identidade descritos por James Marcia

ESTADO FAMÍLIA PERSONALIDADE


O adolescente tem um alto
Há maior liberdade
nível de desenvolvimento
para o adolescente
Realização de moral, da autoestima, da
ser autônomo. O
identidade intimidade, de sua capacidade
ambiente familiar é
de sair-se bem sob pressão e
encorajador.
de sua segurança.
Quando as famílias
envolvem-se Adolescentes mais
demais na vida dos autoritários, dependentes,
Sob execução filhos, permitindo com pouca ansiedade e que
pouca autonomia preferem seguir a norma
ou expressão de imposta a pensar sobre ela.
diferenças.

Adolescente ansioso e com


Disputas de medo de fracassar, porém
Moratória autoridade entre pais com bom desenvolvimento da
e filhos. autoestima e do julgamento
moral.

Os níveis de desenvolvimento
Não há intervenção
do comportamento moral,
alguma na educação
Difusão de da própria segurança, da
dos filhos, ou há
identidade cooperação e da cognição são
uma rejeição ou não
mais baixos em relação aos
disponibilidade.
outros estados.

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Psicologia do Desenvolvimento 189

Ao observarmos o quadro acima, podemos perceber o


quanto um relacionamento saudável entre adolescente e família
auxilia no desenvolvimento da identidade do sujeito. Assim,
famílias que dão maior autonomia e encorajam propiciam
indivíduos mais autônomos no agir e pensar; famílias que fazem
tudo pelo jovem, mostram a ele que não é preciso questionar,
apenas seguir e impor as regras; há padrões que deixam o sujeito
mais ansioso e há famílias disfuncionais que não proporcionam
um nível adequado de desenvolvimento do sujeito.

SAIBA MAIS

Aprofunde sua leitura com o artigo PRATTA , Elisângela


Maria Machado ; SANTOS , Manoel Antonio dos. Família
e Adolescência: A Influência do Contexto Familiar no
Desenvolvimento Psicológico de seus Membros. Psicologia
em Estudo, Maringá, v. 12, n. 12, p. 247-256, maio/ago 2007.
Disponível em: https://bit.ly/2FP40OP.

Porém, não é apenas a família que interfere na construção


da identidade. Questões ligadas ao gênero são muito relevantes
nesta fase. É aqui que o adolescente, bem provavelmente, iniciará
uma busca por parceiros sexuais, do mesmo sexo ou do sexo
oposto, e também se construirá com uma identidade de acordo
com diferentes gêneros.

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190 Psicologia do Desenvolvimento

SAIBA MAIS

Você sabe qual a diferença entre sexo e gênero? Sexo é um fator


biológico e gênero é a forma como a pessoa se identifica e não
necessariamente tem a ver com o sexo biológico. Para entender
melhor todas estas definições, acesse o infográfico produzido
pelo governo para se informar melhor. https://bit.ly/2JhuGvJ.

Assim, a sociedade estabelece o que é ser mulher ou


homem, logo, a identidade do adolescente dependerá, também,
qual seu estado, se ele questionará as regras impostas, as seguirá,
ou quebrará com elas completamente.
Embora distintos, gênero e sexualidade guardam a
devida proximidade. Então, falaremos sobre a sexualidade no
próximo tópico.

Sexualidade
A identidade sexual não diz respeito a apenas ao ato
em si, mas também a identificação da orientação sexual, o
reconhecimento do próprio corpo agora com forma diferentes
e a segurança dele, e a formação de uniões afetivas e sexuais e
todo o contexto que elas trazem.
Como podemos ver, é um tema um tanto complexo, que
passa desde saber como seu corpo funciona, como protegê-lo
(seja de agressões, seja em relações sexuais), até saber quem de
fato se é neste campo.
Assim, é um momento que pode ser delicado ou não para o
sujeito, mas que com certeza gera dúvidas que devem ser sanadas
pela família e pela escola, principalmente. Quando deixamos a

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Psicologia do Desenvolvimento 191

cargo da família apenas, estamos pensando naquelas famílias


funcionais, aquelas que permitem um estado de realização da
identidade como descrito por Marcia.
Porém, a maior parte das famílias pertencem aos outros
grupos, ou, o que é mais próximo do real, não conseguem
conversar com seus filhos sobre a sexualidade, por inúmeras
razões. Algumas famílias consideram um tabu, vêem o sexo
como algo errado, outras não possuem o conhecimento do
próprio corpo e da sexualidade e assim não conseguem ajudar os
filhos, sem contar que a maioria dos pais também não teve uma
educação sobre a própria sexualidade, então crê que não precise
ser explicada, e sim experimentada, o que pode ser um grande
risco para os jovens.

ACESSE

São muitas as definições em identidades de gênero e orientação


sexual. Para compreender melhor este universo, nada como
ouvirmos pessoas que trabalham diretamente com este tema e
vivem na pele esta realidade. Assista ao documentário Somos,
que pode ser acessado pelo link https://bit.ly/2BK9jh3.

A sexualidade e o gênero são dois fatores de extrema


importância na constituição da personalidade, pois a partir deles
é que nos colocaremos frente à sociedade e aos relacionamentos
amorosos e constituição familiar, tópico este que já faz parte da
vida adulta como veremos a seguir.

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192 Psicologia do Desenvolvimento

Andragogia e a Psicologia da aprendizagem


em fase adulta
A fase adulta é marcada por inúmeras transformações:
casamentos, separações, filhos, perdas, problemas de saúde,
carreira, alterações físicas e emocionais. Mas também é uma fase
de constantes aprendizados. A cognição do adulto pode não ser
a mesma de uma criança ou de um adolescente, porém, encontra
maiores motivação e foco para atingir os objetivos.
As duas últimas fases descritas por Erik Erikson marcam
a vida adulta e a terceira idade. o sétimo estágio se estabelece
no conflito generatividade x estagnação. É uma fase de
preocupação com o que foi gerado, seus frutos e o futuro de seus
ensinamentos. Assim, filhos, trabalhos, produções e tudo o que
envolve o cuidado é a expressão desse estágio.
Caso não haja uma evolução no sentido de perpetuar o
cuidado e os saberes adquiridos ao longo da vida, a pessoa fica em
uma estagnação, torna-se empobrecida diante das possibilidades
de expansão de sua personalidade.
Por fim, o estágio da integridade x desespero marca uma
fase de adaptação tanto ao que foi bem sucedido, quanto ao
que foi fracassado em sua vida. É um momento de dar sentido
a sua existência, ao que foi realizado ou deixado para trás,
preservando a dignidade de saber que teve uma vida íntegra ou
do desespero frente aos fracassos e à iminência da morte. Se a
pessoa conseguir ultrapassar estes conflitos, Erikson aponta que
alcançará, então, a sabedoria.

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Psicologia do Desenvolvimento 193

SAIBA MAIS

A pesquisadora Marta Kohl de Oliveira escreveu um artigo em


que reflete sobre algumas teorias a respeito da psicologia do
desenvolvimento do adulto. Acesse o artigo: OLIVEIRA, Marta
Kohl de. Ciclos de vida: algumas questões sobre a psicologia do
adulto. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 211-229,
maio/ago 2004. Disponível em: https://bit.ly/2JER9lN.

Inteligência na vida adulta


Um pesquisador de Seattle, K. Warner Schaie, realizou
um estudo com pessoas entre 22 e 67 anos para verificar as
diferenças nas habilidades cognitivas. Embora em um primeiro
momento possamos achar que os jovens têm vantagens muito
significativas em relação aos mais velhos, a pesquisa demonstrou
que o desenvolvimento humano é mais complexo, como você
pode perceber pelo gráfico abaixo

Figura 10: Inteligência na vida adulta

Fonte: Pexels / Pixabay

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194 Psicologia do Desenvolvimento

Figura 11: Mudança longitudinal em seis habilidades mentais básicas, dos 25 aos 67 anos.

60
Pontuação Média nos testes

55

50

45 25 32 39 46 53 60 67
Idade
Rapidez perceptual Número
Raciocínio Indutivo Vocabulário
Rapidez perceptual Fluência verbal

Ao verificarmos o gráfico podemos compreender que


a única habilidade que de fato sofre um grande declínio do
início da vida adulta para a entrada na terceira idade é a
rapidez perceptual, que diz respeito à velocidade com que
percebemos os movimentos, sons e imagens, o que explica o
declínio na faculdade de reagir de forma rápida aos eventos.
A capacidade numérica também tende a diminuir, porém não
tão drasticamente quanto a rapidez perceptual.
Porém, se olhamos para a fluência verbal e o
vocabulário, vemos que estas habilidades seguem num
crescimento, declinando levemente próximo aos 67 anos
apenas, mas mesmo assim ficando em graus mais altos que
pessoas com 25 anos. Isto significa que a experiência de vida
e o contato com diferentes pessoas e culturas possibilita um
aumento no vocabulário e na comunicação fluente.

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Psicologia do Desenvolvimento 195

Por fim, o raciocínio indutivo e a orientação espacial


tendem a atingir seu ápice por volta dos 46 anos, tornando-
se consideravelmente melhor que aos 25 anos. Assim, as
experiências e situações enfrentadas permitem que o adulto
continue se desenvolvendo ao longo da vida, adquirindo níveis
mais elevados de algumas habilidades cognitivas.
Na mesma linha do estudo anterior, Horn e Cattell
estabeleceram diferenças a respeito da inteligência no adulto.
Ela pode ser de ordem fluida ou cristalizada. De acordo com
Papalia, Olds e Feldman (2010):
Inteligência fluida é a habilidade de resolver
problemas novos que exigem pouco ou nenhum
conhecimento prévio, como encontrar o padrão
em uma sequência de figuras. Envolve perceber
relações, formar conceitos e fazer inferências.
Essas habilidades, que são amplamente
determinadas pela condição neurológica, tendem
a declinar com a idade. Inteligência cristalizada
é a capacidade de lembrar e utilizar a informação
adquirida ao longo da vida. Por exemplo,
encontrar o sinônimo de uma palavra. Ela é
medida por testes de vocabulário, conhecimentos
gerais e respostas a situações e dilemas sociais.
Essas habilidades, que dependem amplamente da
experiência educacional e cultural, mantêm-se e
até mesmo melhoram com a idade. (p. 573)
A inteligência fluida, então, tende a chegar a seu ponto
máximo de desenvolvimento no início da vida adulta, ao passo
que a cristalizada pode continuar a se desenvolver ao longo da
vida, caso haja um suporte educacional e cultural para isso.

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196 Psicologia do Desenvolvimento

Pensando nessas características dos adultos, os programas


educacionais devem levar em conta os sujeitos do processo
de ensino-aprendizagem, que têm diferentes expectativas em
relação aos cursos regulares ou aos espaços de aprendizagem.
Costumou-se chamar o campo de estudos sobre o
aprendizado na vida adulta de Andragogia, embora muitos
pesquisadores acabem por não mais fazer uso do termo.

SAIBA MAIS

Segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o termo


Andragogia significa: “Ciência ou conjunto de métodos para
ensinar adultos. andragogia”, in Dicionário Priberam da Língua
Portuguesa [em linha],2008-2013. https://bit.ly/2MCTq2b.

Educação na idade madura


A aprendizagem não é mais relegada às fases iniciais da
vida. O mercado de trabalho pede constantemente que façamos
atualizações não é mesmo?
São pós graduações, MBAs, cursos rápidos, de extensão,
congressos, seminários, novas faculdades e novas habilidades.
E mais, a aprendizagem agora não é mais somente a tradicional,
no papel e na carteira escolar, é também a distância, no vídeo, no
podcast e no jogo.
Por todas estas diferenças, o ensino para adultos deve levar
em consideração as especificidades de tempo, de habilidades
cognitivas e de objetivos, bem como pensar as melhores
metodologias para este público.

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Psicologia do Desenvolvimento 197

De acordo com Papalia, Olds e Feldman, “eles necessitam


de conhecimentos que possam aplicar a problemas específicos.
O estudo cooperativo construído em torno de problemas ou
projetos criados pela própria pessoa é o mais apropriado para
um estudante maduro.” (2010, p. 581)
Também devemos levar em consideração qual o nível
de estudos prévio do indivíduo, por exemplo, um adulto não
alfabetizado necessitará de uma metodologia diferenciada da de
um adulto que fará um doutorado ou língua estrangeira. Assim,
cada programa deve prever as especificidades do seu público alvo.
Chegamos ao final da disciplina! Espero que você
tenha aproveitado e descoberto novas áreas interessantes para
se aprofundar e pesquisar mais. O campo da Psicologia do
Desenvolvimento e também da Psicologia da Aprendizagem são
muitos vastos. Cada um deles apresenta um arsenal de teorias que
dão conta de estudar o sujeito como um todo e sua relação com o
aprendizado e tudo que envolve este processo. Por isso tratamos
de tantos assuntos neste material, para que você possa, agora, ir
além dele e buscar novos conhecimentos e caminhos. Sucesso.

SAIBA MAIS

Saiba mais sobre o conceito de Andragogia, pois ele poderá


ser muito útil caso decida trabalhar com jovens e adultos, em
ambiente escolar ou corporativo. Para isso, consulte o site https://
andragogiabrasil.com.br/ e navegue pelas áreas referentes ao
ensino de adultos.

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198 Psicologia do Desenvolvimento

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200 Psicologia do Desenvolvimento

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