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OFICINA DE TEXTOS

Oficina de Textos em Português


EM PORTUGUÊS OFICINA DE TEXTOS
Organizadora Fernanda Crevelin
EM PORTUGUÊS
(Oficina de Letras I)
Organizadora: Fernanda Crevelin

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GRUPO SER EDUCACIONAL

gente criando o futuro


Oficina de Textos
em Português
(Oficina de Letras I)

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© by Editora Telesapiens
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reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro
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autorização, por escrito, da Editora Telesapiens.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Crevelin, Fernanda Ramos


C926o Oficina de textos em português [recurso eletrônico]
/ Fernanda Ramos Crevelin, Silvia Cristina da Silva; coordenação de
David Lira Stephen Barros; organização de Cristiane Silveira Cesar de
Oliveira - Recife: Telesapiens, 2021.
180p.: il.; 23cm
ISBN 978-65-5873-115-3
1. Língua portuguesa – Estudo e ensino. 2. Língua portuguesa
– Produção de texto. I. Silva, Silvia Cristina da. II. Barros, David Lira
Stephen (coord.). III. Oliveira, Cristiane Silveira Cesar de (org.). IV.
Título.
CDD 469.5 (22.ed)
CDU 806.90-5

Bibliotecária: Maria Isabel Schiavon Kinasz, CRB9 / 626

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Oficina de Letras I
(Oficina de Textos
em Português)

Créditos Institucionais
Fundador e Presidente do Conselho de Administração:
Janguê Diniz
Diretor-Presidente:
Jânyo Diniz
Diretor de Inovação e Serviços:
Joaldo Diniz
Diretoria Executiva de Ensino:
Adriano Azevedo
Diretoria de Ensino a Distância:
Enzo Moreira

2020 by Telesapiens
Todos os direitos reservados

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A AUTORA
FERNANDA CREVELIN
Olá. Meu nome é Fernanda Crevelin. Sou formada em
Letras – Português e Inglês e suas respectivas literaturas. Também
sou pós-graduada em Produção e Recepção de Texto. Tenho uma
vasta experiência na área de redação, tanto em escrita de textos,
como em edição e revisão. Além de estudos linguísticos em
geral. Já atuei em diversos campos, desde emissora de televisão
até editora de material didático.
A Linguística está em tudo em nossas vidas e é uma
verdadeira paixão para mim! Transmitir minha experiência de
vida àqueles que estão iniciando em suas profissões é de fato
gratificante e enriquecedor. Por isso, fui convidada pela Editora
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes.
Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito
estudo e trabalho. Conte comigo!

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ICONOGRÁFICOS
Esses ícones que irão aparecer em sua trilha de aprendizagem
significam:
OBSERVAÇÃO
OBJETIVO
Uma nota explicativa
Breve descrição do objetivo
sobre o que acaba de
de aprendizagem; +
ser dito;

RESUMINDO
CITAÇÃO
Uma síntese das
Parte retirada de um texto;
últimas abordagens;

TESTANDO
DEFINIÇÃO
Sugestão de práticas ou
Definição de um
exercícios para fixação do
conceito;
conteúdo;

IMPORTANTE ACESSE
O conteúdo em destaque Links úteis para
precisa ser priorizado; fixação do conteúdo;

DICA SAIBA MAIS


Um atalho para resolver Informações adicionais
algo que foi introduzido no sobre o conteúdo e
conteúdo; temas afins;

++
EXPLICANDO
SOLUÇÃO
+ DIFERENTE Resolução passo a
Um jeito diferente e mais passo de um problema
simples de explicar o que ou exercício;
acaba de ser explicado;

EXEMPLO CURIOSIDADE
Explicação do conteúdo ou Indicação de curiosidades
conceito partindo de um e fatos para reflexão sobre
caso prático; o tema em estudo;

PALAVRA DO AUTOR REFLITA


Uma opinião pessoal e O texto destacado deve
particular do autor da obra; ser alvo de reflexão.

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SUMÁRIO
UNIDADE 01
Compreendendo como funcionam as funções da linguagem 12
Quais são as funções da linguagem? 12
Como é a formação da linguagem 22
Identificando e entendendo os processos de comunicação 22
Entendendo a linguagem como prática social 32
Linguagem como prática social 32
As considerações de Bakhtin 36
Conhecendo os processos de aprendizagem de leitura e
escrita 41
Concepções e métodos de alfabetização 41
Escrita alfabética como código ou sistema notacional 46
Aprendizagem inicial da língua escrita 49
UNIDADE 02
Compreendendo como funcionam os Gêneros Textuais 58
Diferença entre gênero textual e tipo textual 58
Exemplos de gêneros textuais - desenvolvendo 61
Entendendo os Tipos Textuais 68
Os Tipos Textuais 68
Especificidades dos Tipos Textuais 71

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Identificando a formalidade de um texto 83
A sociolinguística e as variações linguísticas 83
A formalidade do texto, de fato 88
Executando os Procedimentos de Coesão e Coerência 97
UNIDADE 03
Descobrindo a escrita acadêmica 110
O aluno e a escrita acadêmica 110
Um programa de ensino de redação acadêmica 113
Entendendo os gêneros acadêmicos  116
Gêneros acadêmicos existentes 119
Conhecendo o resumo acadêmico 128
Tipos de resumo 129
Resumo (abstract) dentro do trabalho 130
Conhecendo a resenha acadêmica 135
UNIDADE 04
Compreendendo as técnicas de exposição textual 150
As características do texto expositivo 150
Oralidade e escrita no texto expositivo 155
Alguns exemplos 156
Conhecendo as técnicas de argumentação textual 159
A argumentação e suas dimensões 159
Elementos comunicativos da argumentação 160

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Os argumentos 160
Formular uma tese 162
A força dos argumentos 162
Produzindo um texto 163
Tipos de textos 163
Como produzir um bom texto? 165
Estrutura do Texto 165
As estratégias de leitura 167
A importância da leitura 169
Construindo um texto 170

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Oficina de Textos em Português 9

01
UNIDADE

O TEXTO ESCRITO E A LINGUAGEM

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10 Oficina de Textos em Português

INTRODUÇÃO
Você já deve saber que o texto está nas nossas vidas o
tempo todo, não é mesmo? Quando falamos com alguém,
quando mandamos um e-mail, quando escrevemos um bilhete,
quando fazemos gestos, etc. Tudo isso são formas de texto,
que tem como função principal estabelecer a comunicação de
alguma forma.
Nesta disciplina nós vamos nos ater ao texto escrito,
principalmente. Então, nesta unidade nós vamos trabalhar os
processos de comunicação e as funções da linguagem. A ideia
é fazer com que você, aluno, se inteire como se dá o processo
de comunicar e que existem várias linguagens e qual é a
função de cada uma. Também se pretende, neste processo de
aprendizagem, mostrar a você a linguagem como prática social
e qual a importância disso. Além dos processos de aprendizagem
de leitura e escrita. Vamos lá? Ao longo desta unidade letiva
você poderá mergulhar neste universo.

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Oficina de Textos em Português 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1 – O texto escrito e
a linguagem. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento
das seguintes competências profissionais até o término desta

1
etapa de estudos:

Compreender como funcionam as funções da


linguagem;

2 Identificar e entender os processos de comunicação;

3 Entender por que a linguagem é uma prática social;

4 Conhecer os processos de aprendizagem de leitura


e escrita.

Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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12 Oficina de Textos em Português

Compreendendo como funcionam as funções


da linguagem

OBJETIVO

Ao término deste capítulo você será capaz de entender como


funcionam as funções da linguagem. Isso será fundamental
para o exercício de sua profissão, pois a produção de texto está
intimamente ligada a linguagem que será utilizada. É se suma
importância esse entendimento para que um texto possa estar
de acordo com o que é solicitado. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante.

Quais são as funções da linguagem?


Figura 1

Fonte: Freepik

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Oficina de Textos em Português 13

As funções da linguagem são as formas que se utiliza essa


linguagem de acordo com a intenção do falante. Então, essas
funções são classificadas em seis tipos:
1. Função Referencial;
2. Função Emotiva;
3. Função Fática;
4. Função Poética;
5. Função Conativa;
6. Função Metalinguística.
Cada função desempenha um papel relacionado aos
elementos presentes na comunicação, você se lembra deles?
Temos o emissor, receptor, mensagem, código, canal e contexto.
Dessa forma, elas determinam o objetivo dos atos comunicativos.
Vamos relembrar os elementos da comunicação antes que
entrarmos de fato na questão das funções:
 Emissor: ele também é denominado de locutor, ele
é o mais importante, pois é que quem dá início à atividade
comunicativa. A ele é dada a responsabilidade de emitir uma
mensagem que será destinada aos receptores.
 Mensagem: É o recurso utilizado dentro da
comunicação. É ela que faz a representação verbal ou não-
verbal do conteúdo a ser entregue. Então, ela é o conjunto de
informações emitidas pelo falante.
 Canal: é o local por onde a mensagem será transmitida.
Pode ser, por exemplo, um jornal, um telefone, uma revista, um
e-mail, eu blog, etc.
 Código: ele é o conjunto de signos que serão utilizados
para a transmissão da mensagem. Podem ser signos gráficos,
como as palavras, ou signos imagéticos, como a representação
de cores que significam uma fala.

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14 Oficina de Textos em Português

 Contexto: ele é situação comunicativa em que estão o


emissor e o receptor. É o ambiente ao qual eles estão inseridos,
que pode ser chamado também de referente.
 Receptor: como o próprio nome faz a dedução, é quem
recebe a mensagem. Pode ser chamado também de interlocutor
ou ouvinte.
Veja um esquema criado por Jakobson sobre os elementos
da comunicação:
Figura 2

Fonte: O Autor

Agora sim, nós podemos ir para as funções de fato!


1. Função Referencial ou Denotativa
Ela também pode ser chamada de função informativa, pois
tem como objetivo principal informar, referenciar algo. Voltada
para o contexto da comunicação, esse tipo de texto é escrito na
terceira pessoa (singular ou plural) e tem como ênfase o caráter
impessoal.
Como exemplos de linguagem referencial podemos citar
os materiais didáticos, textos jornalísticos e científicos. Todos
eles, por meio de uma linguagem denotativa, informam a
respeito de algo, sem envolver aspectos subjetivos ou emotivos
à linguagem.

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Oficina de Textos em Português 15

Veja o exemplo de uma notícia:


Produzido pelo Coletivo Pele, em parceria com Movimento
Negro Periférico, Projeto É Da Nossa Cor e Coletivo Pele, e
idealizado pela Sessão Cinemática Temas Transbordantes, o
Festival Cinema Negro SC tem sua primeira edição de 4 a 10 de
novembro, no Cinema do CIC, abrindo o Mês da Consciência
Negra em Florianópolis. A abertura ocorre nesta segunda-
feira (4), a partir das 18h, com exibição do filme Abolição, de
Zózimo Bulbul, e roda de conversa com Lelette Coutto, Giselle
Marques, Fabio Garcia, e mediação do produtor da mostra,
Allende Renck. O filme inaugural suscita reflexões relacionadas
ao sistema prisional, racismo estrutural, e como revolucionar as
relações raciais na sociedade.
Portal Catarinas
2. Função Emotiva ou Expressiva
Ela também é chamada de função expressiva, pois nela o
emissor tem como objetivo principal transmitir suas emoções,
sentimentos e subjetividades por meio da própria opinião.
Esse tipo de texto é normalmente escrito em primeira
pessoa e está voltado para o próprio emissor, já que possui um
caráter pessoal. Como exemplos podemos destacar: os textos
poéticos, as cartas, os diários. Pois todos ele são marcados pelo
uso de sinais de pontuação, por exemplo, reticências, ponto de
exclamação, etc.
Veja um exemplo:
Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.

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16 Oficina de Textos em Português

De tanto ser, só tenho alma.


Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa – Não sei quantas almas tenho
Um outro exemplo é o de um e-mail da mãe para os filhos:
Meus amores, tenho tantas saudades de vocês … Mas não
se preocupem, em breve a mamãe chega e vamos aproveitar o
tempo perdido bem juntinhos. Sim, consegui adiantar a viagem
em uma semana!!! Isso quer dizer que tenho muito trabalho

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Oficina de Textos em Português 17

hoje e amanhã.... Quando chegar, quero encontrar essa casa em


ordem, combinado?!?
Perceba como nos dois exemplos, apesar de bastante
distintos, o que predomina é a primeira pessoa e em ambos o
tema abordado é o sentimento.
3. Função Poética
A função poética está muito presente em obras literárias
que possui como marca a utilização do sentido conotativo das
palavras. Nessa função o emissor preocupa-se de que maneira a
mensagem será transmitida por meio da escolha das palavras, das
expressões, das figuras de linguagem. Por isso, aqui o principal
elemento comunicativo é a mensagem.
Note que esse tipo de função não pertence somente aos
textos literários. Também encontramos a função poética na
publicidade ou nas expressões cotidianas em que há o uso
frequente de metáforas (provérbios, anedotas, trocadilhos,
músicas). Além disso, é imprescindível que, pelo fato de ter o
termo “poética” no nome, essa função não agrega apenas poesias,
existem vários tipos de textos. Aqui o que prevalece é como a
mensagem será passada, de acordo com as escolhas de palavras.
Veja um exemplo de publicidade em uma agência funerária:
Nossos clientes nunca voltaram para reclamar!
Perceba como a escolha das palavras e de figuras de
linguagem são importantes para essa função da linguagem.
4. Função Fática
A função fática tem como objetivo estabelecer ou
interromper a comunicação de modo que o mais importante é a
relação entre o emissor e o receptor da mensagem. Aqui, o foco
está no canal de comunicação.
Esse tipo de função é muito utilizada nos diálogos, por
exemplo, nas expressões de cumprimento, saudações, discursos
ao telefone, etc.

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18 Oficina de Textos em Português

Veja o exemplo a seguir:


— Consultório da Dra. Marina, bom dia!
— Bom dia! Precisava marcar uma consulta para o
próximo mês, se possível.
— Hum, a Dra. tem vagas apenas para a segunda semana.
Entre os dias 15 e 20, qual a sua preferência?
— Dia 18 está ótimo.
Entenda que nesse tipo de função a ideia é que a
comunicação seja estabelecida, ela normalmente é utilizada no
início de uma conversa, quando se vai pedir uma informação,
quando se precisa de ajuda.
5. Função Conativa ou Apelativa
A função conativa é caracterizada por uma linguagem
persuasiva que tem o intuito de convencer o leitor. Portanto, o
grande foco é no receptor da mensagem.
Essa função é muito utilizada nas propagandas,
publicidades e discursos políticos com o intuito de influenciar o
receptor por meio da mensagem transmitida.
Esse tipo de texto costuma se apresentar na segunda ou na
terceira pessoa com a presença de verbos no imperativo e o uso
do vocativo.
Veja alguns exemplos:
Vote em mim!
Não perca essa oferta de dia das mães!
Compre esse carro!
Perceba que essa função da linguagem tem como objetivo
principal convencer o interlocutor de algo.

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Oficina de Textos em Português 19

6. Função Metalinguística
A função metalinguística é caracterizada pelo uso da
metalinguagem, ou seja, a linguagem que se refere à própria
linguagem. Assim, o emissor explica um código utilizando o
próprio código.
Um texto que descreva sobre a linguagem textual ou um
documentário cinematográfico que fala sobre a linguagem do
cinema são alguns exemplos.
Nessa categoria, os textos metalinguísticos que merecem
destaque são as gramáticas e os dicionários. Além disso, pode
ser algo falando sobre si mesmo.
Veja os exemplos:
Escrever é uma forma de expressão gráfica. Isto define o
que é escrita, bem como exemplifica a função metalinguística.
Também existem exemplos na música, falando sobre música:
“Minha música quer estar
Além do gosto
Não quer ter rosto
Não quer ser cultura...
Minha música quer ser
De categoria nenhuma
Minha música quer
Só ser música
Minha música
Não quer pouco…”
Adriana Calcanhoto – Minha Música

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20 Oficina de Textos em Português

Bem, agora você já sabe quais são e como funcionam as


funções da linguagem. Lembra-se de que um texto normalmente
possui uma função predominante, mas isso não significa que não
poderá existir outras na mesma escrita.
Posto isso, aqui temos uma imagem para exemplificar as
funções da linguagem e a que parte da comunicação elas estão
mais ligadas:
Figura 3

Fonte: O Autor

Não se esqueça de que os elementos da comunicação estão


intimamente relacionados às funções da linguagem. É importante
lembrar que cada função terá o seu elemento principal.

SAIBA MAIS

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte


fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: “As (Diferentes)
Funções Da Linguagem: Contribuições De Jakobson E Vygotsky”
(Andrá Gonçalves Ramos) Acessível em: https://bit.ly/2YXGLeK.

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Oficina de Textos em Português 21

E então? Gostou do que lhe foi mostrado? Conseguiu


entender tudo? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos
resumir tudo o que vimos. Bem, como vimos, existem seis
funções da linguagem: referencial, emotiva, poética, conativa,
fática e metalinguística. Cada uma delas tem o propósito
diferente, lembra?
A função referencial pretende informar, já a emotiva está
relacionada com sentimentos, por isso normalmente está na
primeira pessoa. Quando pensamos na função poética, temos
que lembrar que ela não é usada só em poesias, na verdade ela
tem esse nome porque normalmente apresenta bastantes figuras
de linguagem, certo? Além disso, temos a função conativa,
que é aquela que quer convencer o leitor, por isso os verbos
estão sempre no imperativo. Por fim, temos a linguagem fática
e a metalinguística, a primeira tem como objetivo estabelecer
comunicação e a segunda é quando uma linguagem fala sobre a
própria linguagem.
Acho que agora ficou fácil, não é?! Então, vamos continuar
nossos estudos?

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22 Oficina de Textos em Português

Identificando e entendendo os processos


de comunicação

OBJETIVO

Ao fim desta seção pretende-se que você, aluno, consiga


compreender como se dá os processos de comunicação. Além
disso, que você consiga diferenciar comunicação de linguagem.

Você sabe o que é a comunicação? Bem, ela é a troca de


informações por meio de sistemas simbólicos, como a linguagem
falada, escrita e gestual. Talvez, a comunicação seja o fenômeno
mais importante na história do ser humano, para entender esse
processo, então, é necessária uma viagem histórica em como se
originou a fala, o desenvolvimento da linguagem e sua evolução
ao longo do tempo. Então, primeiro devemos estabelecer como
a formação da linguagem acontece, vamos lá?

Como é a formação da linguagem


A linguagem se estrutura primeiramente no cérebro.
Quando se fala em localização da linguagem no cérebro, não
se pode deixar de citar Paul Broca, que iniciou suas pesquisas
por meio de um paciente que deixou de pronunciar as palavras
e acabou pronunciando somente as sílabas. A partir de seus
estudos, Broca percebeu que o lado predominante da linguagem
no cérebro é o hemisfério esquerdo e este processo de regressão
da fala foi denominado como Afasia de Broca.
Tempos depois, o neurologista alemão Wernicke começou
a pesquisar pacientes que apresentavam uma fala desordenada e
contínua, chamados de logorréicos. Esse problema de linguagem

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Oficina de Textos em Português 23

é chamado de Afasia de Wernicke. Sobre as pesquisas desses


dois neurologistas Aimard (1998) diz:
Esses dois grandes modelos iniciais conservaram o nome
de seu descobridor tanto na forma clínica como no território
cerebral responsável: Afasia de Broca e território de Broca, no
caso de problemas de produção, e afasia de Wernicke e zona
de Wernicke. A partir desses dois esquemas foram descritos
numerosos tipos particulares e diversos matizes no tocante à
localização. (AIMARD, 1998, p.14)
O estudo de lesões cerebrais presentes nos pacientes de
Broca e Wernicke (1982) permitiu identificar a localização da
linguagem no cérebro humano, em que a zona de Broca está
localizada no hemisfério esquerdo e a zona de Wernicke está
localizada na região posterior do lóbulo temporal esquerdo.
Para que essa aquisição ocorra, é preciso identificar
os órgãos responsáveis pela linguagem. Existem dois polos
periféricos: o ouvido e os órgãos de fonação que estão associados
ao sistema nervoso central. Aimard (1998) diz:
O ouvido recebe a mensagem sonora. As vibrações do
tímpano são transmitidas, no ouvido médio, pela cadeia de
ossinhos até o ouvido interno, até o caracol que é o órgão da
audição. Este é formado pelas células de corti, células nervosas
cujas fibras constituem o nervo auditivo, o oitavo par de nervos
cranianos; suas terminações chegam ao relés pedunculares e
talâmicos, vinculados ao córtex cerebral. ( AIMARD,1998, p. 16)
Partindo desses dados anatomofisiológicos, a estruturação
da linguagem passa por uma sequência, primeiramente
pelo desenvolvimento cognitivo, que significa reconhecer e
identificar. O outro é a aptidão para desenvolver a capacidade de
compreender as conversas e a última, é a capacidade de produzir
os sons vocais. O bom funcionamento dos órgãos associados à
linguagem leva à perfeita estruturação dela.

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24 Oficina de Textos em Português

Broca e Wernicke, como já foi citado, foram os primeiros


autores a registrar como a linguagem acontece no cérebro, como
a mente funciona. Tais conceitos fazem parte da teoria chamada
de Localizacionismo, ou seja, acreditava-se que cada parte do
cérebro tinha uma única função e quando uma determinada
área era afetada, a habilidade correspondente se perderia, não
se acreditava muito na possibilidade de recuperação funcional
após lesões cerebrais. Tempos depois, essa teoria foi expandida
e, assim, constitui-se a teoria da Neuroplasticidade Cerebral, que
de acordo com Dennis (2000) “pode ser concebida e avaliada a
partir de uma perspectiva estrutural (configuração sináptica) ou
funcional (modificação do comportamento)” (DENNIS, 2000,
p. 224). A implicação, então, é que o cérebro humano parece
apresentar uma capacidade plástica e de recuperação funcional
muito maior do que anteriormente suspeitada. Até hoje,
pesquisadores têm se confrontado mais com os limites desta
capacidade de modificação plástica dependente de experiência.
Além da função de comunicar, segundo Azevedo (2005), a
linguagem assume uma série de normas linguísticas, estruturadas
nos seguintes níveis: fonológico, que representa os sons da fala
e tem como unidade mínima o fonema; o morfológico, que está
relacionado com as partes que foram as palavras e categorias
gramaticais (pessoa, gênero, número, tempo, modo, grau) e tem
como unidade mínima o morfema; o semântico, que faz relação
com o sentido e significado das palavras, frases, discursos e a
língua em geral; o sintático, que reporta às regras, relaciona-se
com a ordem das palavras; e o pragmático, que tem como base
a relação existente entre falantes e a língua, estuda e enunciação,
a forma como um idioma é utilizado para produzir os discursos.
Além desses cinco níveis, a linguagem implica três aspectos-chave
para que o uso seja eficaz, são eles: o processual, que faz referência
aos processos cognitivos relacionados à compreensão e produção;
o funcional, que está relacionado à interação e à comunicação;
e o estrutural, que se refere à organização linguística. Segundo
Salthouse, “a execução das tarefas linguísticas exige capacidade

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Oficina de Textos em Português 25

de armazenamento, eficácia do processamento e efetividade na


coordenação, organização e controle dos processos implicados.”
(SALTHOUSE, 1994, p. 56).

SAIBA MAIS

Quer saber mais sobre as questões da linguagem? Você pode ler:


VIGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. Lisboa: Antídoto. 1979

Bem, agora que você sabe sobre o processo da linguagem, é


importante também fazer uma diferenciação entre o que é língua e
linguagem: a língua é um conjunto organizado de elementos (sons
e gestos) que possibilitam a comunicação. São aqueles signos de
Saussure, lembra? Como ele mesmo cita:
...não é o som material, coisa puramente física,
mas a impressão (empreinte) psíquica desse som,
a representação que dele nos dá o testemunho
de nossos sentidos; tal imagem é sensorial e,
se chegarmos a chamá-la “material”, é somente
neste sentido, e por oposição ao outro termo da
associação, o conceito, geralmente mais abstrato.
Então, a língua surge em sociedade, e todos os grupos
humanos desenvolvem sistemas com esse fim. As línguas podem
se manifestar de forma oral ou gestual, como a Língua Brasileira
de Sinais (Libras). Já a linguagem é a capacidade que os seres
humanos têm para produzir, desenvolver e compreender a língua
e outras manifestações, como a pintura, a música e a dança.
Posto isso, então, nós já podemos trabalhar a importância
da diferença entre comunicação e linguagem, vamos lá?

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26 Oficina de Textos em Português

Na comunicação há uma mensagem, certo? Ela é enviada


por um emissor a um receptor. Esse envio de informações pode
ser feito de várias maneiras: por meio da voz, de uma carta, de um
e-mail, de expressões faciais, do olhar ou de gestos, entre outras.
Mas, para fazer com que a mensagem chegue ao
destinatário, se utiliza a linguagem – falada, escrita, gestual,
corporal. O tipo de linguagem utilizada caracterizará o tipo de
comunicação – verbal ou não-verbal.
Mas o que é comunicação verbal e não-verbal?
 Comunicação verbal: quando a informação é
passada ou trocada por meio de linguagem escrita ou falada. A
comunicação verbal escrita foi um grande marco na história da
humanidade, pois, até então, a informação e o conhecimento
eram passados de forma oral e não existia uma evolução, uma
vez que dependia da memória humana, que não tinha como
acumular tudo que recebia.
Com a escrita desenvolvida, passou a existir uma forma
extracorpórea de memória, assim como o registro de saberes e
informações. Limites espaço-temporais foram ultrapassados na
transmissão de conhecimento e a evolução intelectual do homem
foi viabilizada, pois com a possibilidade de registro, a memória
humana passou a ser livre para ir atrás de novos conhecimentos.
 Comunicação não-verbal: se caracteriza por todas as
manifestações do comportamento humano que não envolvem a
linguagem falada ou escrita, ou que estão implícitas nesse tipo
de linguagem (entonação, variações da voz etc). Temos como
exemplo: expressões faciais, gestos, orientações do corpo,
organização de objetos em um espaço, sinalizações, signos
gráficos e outros. Além disso, existem alguns campos de estudo
da comunicação verbal, não muito conhecidos por nome, porém
bastante importantes.
 Proxêmica: tem relação com ambiente e espaço que
cada pessoa estabelece de forma espontânea no meio social

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Oficina de Textos em Português 27

para fins de comunicação, a forma como as pessoas ocupam ou


evitam ocupar determinados espaços em que estão inseridas.
Exemplo: no balcão de um bar há uma pessoa sentada e três
bancos disponíveis, com as opções de sentar ao lado, pular um
banco ou pular dois bancos. Dificilmente alguém senta ao lado
de quem não conhece, mas pular apenas um banco ou pular dois
bancos diz muito sobre a mensagem que a pessoa está passando.
 Paralinguagem: está relacionada às manifestações
sonoras e a como elas influenciam nos significados de um
discurso. Pausas, intensidade, volume, velocidade, entonação,
as hesitações, os “vícios” da fala e outras características estão
relacionadas a esse fenômeno, que é o responsável pela revelação
de vestígios emocionais.
 Cinésia: é a linguagem corporal, estudando os movimentos
do corpo, as expressões faciais, os gestos que as pessoas fazem com
as mãos, movimentos de pernas e braços, e outros.
 Tacêsica: está relacionada ao toque, a forma como a
pessoa abraça, dá um aperto de mão e qualquer outro toque vindo
de uma saudação, por exemplo. O toque também ocorre para
fazer notar a presença de outra pessoa, para chamar a atenção
ou confortar. O contato físico não é em si algo emocional, mas
sim as alterações que ele provoca por meio de seus elementos
sensoriais. Como: conforto, segurança, afetividade e confiança.
Então, a comunicação verbal é imprescindível para a
educação, enquanto que, nas organizações, além da necessidade
óbvia da verbal, a não-verbal tem um papel importante. Líderes,
por exemplo, além de credibilidade, devem passar confiança e
segurança a seus colaboradores. Portanto, tanto a segurança em
sua voz quanto o seu gestual devem estar em consonância com o
seu discurso, caso contrário, sua confiabilidade pode ser afetada.
Vamos dar continuidade a algumas perguntas, tudo bem?
Como definir o que é comunicação e linguagem? Elas estão
relacionadas com a evolução nas formas e tipos de comunicação
por meio da linguagem.

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28 Oficina de Textos em Português

E qual seria a diferença entre linguagem e comunicação?


Comunicação é o ato de passar a mensagem que queremos a um
interlocutor, já a linguagem é o sistema de sinais que utilizamos
para nos comunicar.
Que tipo de linguagem podemos usar para nos
comunicarmos? Podemos nos comunicar utilizando vários tipos
de linguagem como gestos, símbolos, sinais etc.
Quais são os elementos da comunicação? Os canais são:
emissor, receptor, mensagem, código, canal de comunicação e
contexto.
O que é linguagem, língua?
 Linguagem: o sistema de sinais, verbal e não verbal,
que permite que nos comuniquemos.
 Língua: é a forma de linguagem.
Agora que você já sabe diferenciar língua de linguagem
e linguagem de comunicação, é o momento de entender os
processos da linguagem.
Segundo Vanoye (2007) a teoria tradicional da comunicação
estabelece que esta deva se processar a partir, basicamente, de
sete elementos:
a origem da mensagem é denominada de fonte;
o responsável pela transmissão da informação
proveniente desta fonte, seja pela linguagem
verbal (oral ou escrita) ou por qualquer outro
sistema de códigos, é entendido como sendo o
emissor; a informação a ser transmitida, que é
veiculada pelo sistema de códigos manipulado pelo
emissor, é denominada de mensagem; o elemento
a que se destina a mensagem (um indivíduo,
grupo ou auditório) é denominado genericamente
como sendo o receptor; o campo de circulação
da mensagem deve ser entendido como sendo

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Oficina de Textos em Português 29

o canal de comunicação, este é o responsável


pelo deslocamento espacial e/ou temporal da
mensagem; aquilo que veicula a mensagem e que
é trabalhado pelo emissor, o sistema de signos,
é compreendido como sendo um código, o qual
pode ser verbal ou não verbal, o primeiro utiliza-
se da palavra falada e/ou escrita e o segundo
pode ser constituído pelos mais variados meios e
técnicas; o sistema de comunicação se completa
com o elemento ao qual a mensagem se refere,
que pode corresponder a objetos materiais ou a
aspectos abstratos que compõem a situação ou o
contexto da comunicação, a esse elemento dá-se o
nome de referente. (VANOYE, 2007 p. 56)
Então, recepção da mensagem não significa,
necessariamente, a sua compreensão. Pode haver falhas de
comunicação em qualquer um dos níveis citados. Por exemplo, a
mensagem pode ser recebida, mas não compreendida, quando o
emissor e o receptor não possuem signos em comum ou quando
a comunicação é restrita, pois poucos são os signos em comum.
Além disso, a comunicação pode ser eficiente quando há uma
completa compreensão dos signos emitidos, mas não basta que
o código seja comum para que se realize uma comunicação
satisfatória. Outras variáveis que incidam sobre os outros
elementos da comunicação podem atrapalhar o seu sucesso.
Alguns problemas podem, por exemplo, ser originados de
interferências indesejáveis na transmissão da mensagem, é o que
chamamos de ruído. A perturbação da comunicação originária
de uma desorganização da mensagem caracteriza aquilo que se
entende por entropia, já a repetição indevida de informações
durante o processo de comunicação é denominada redundância.
Como foi falado aqui, comunicar significa interagir,
estabelecer um contato que tem por objetivo transmitir
informações, buscar entendimento e estabelecer a compreensão.
Para que o entendimento e a compreensão aconteçam, não basta

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30 Oficina de Textos em Português

apenas que o discurso seja claro, mas também é necessário quem


comunica seja convincente, portanto, quem comunica também
deve buscar o convencimento. Assim, comunicar é já, de certa
maneira, argumentar.
A argumentação, ou o convencimento, é também
uma das funções primordiais da linguagem. Antes mesmo
do desenvolvimento das teorias contemporâneas sobre a
comunicação e sobre a linguagem de uma forma geral, o
que se objetivava no estudo da linguagem era o seu aspecto
argumentativo, capaz de convencer e influenciar pessoas em
suas posições e influenciar e atitudes. A esse ramo de estudo da
linguagem e da comunicação dá-se o nome de retórica.
Do próprio sentido etimológico da palavra argumentação
podem ser depreendidos os sentidos positivo e negativo que o
termo retórica tem recebido desde os tempos da Grécia antiga.
O termo argumento, que vem do latim argumentum, tem em
sua raiz temática o termo argu-, que significa “fazer brilhar”,
este termo também está presente em termos como argúcia ou
argentum (que significa prata). A argumentação é, portanto, o
processo por meio do qual a linguagem, seja falada ou escrita,
faz brilhar uma ideia, uma opinião.
Assim, uma tese que, em princípio, poderia ser
considerada fraca ou pouco convincente, passa a se tornar forte
e, depois de ganhar brilho, se torna evidente e aceitável por
meio da argumentação. Esse é o sentido positivo da ideia de
argumentação, tornar forte uma tese que era tida como fraca: em
outros termos, a tese pode ser até verdadeira, mas se não parecer
aceitável, convincente, poderá ser descartada pelo destinatário
da mensagem. Já o sentido negativo da retórica é aquele que
entende por retórico o discurso que se pretende tornar brilhante,
mas que não se sustenta numa tese que seja genuinamente forte.
O sentido negativo da retórica é, portanto, aquele que se associa
à ideia de um discurso cheio de ornamentos, mas que é, no

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Oficina de Textos em Português 31

fundo, vazio. O sentido pejorativo de retórica é aquele que se


associa à ideia de um discurso empolado, pedante, mas que não
tem conteúdo.

SAIBA MAIS

Quer saber mais sobre os estudos da retórica? Então leia o artigo


“Elementos da comunicação e suas formas de planejamento”, de Luís
Fernanda Prado Telles. Está acessível em: https://bit.ly/2MfR8Wb.

RESUMINDO

Nessa seção você pôde entender sobre os processos da comunicação,


como eles acontecem e quais são, certo? Trabalhamos sobre códigos,
mensagens satisfatórias e não satisfatórias. Além disso, foi possível
compreender as diferenças entre língua e linguagem e também entre
linguagem e comunicação. Você se inteirou sobre como o processo da
linguagem ocorre e quais as funções da comunicação. Diante disso,
você está pronto para aprofundar os estudos, não é? Vamos nessa.

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32 Oficina de Textos em Português

Entendendo a linguagem como prática social

OBJETIVO

De acordo com Benveniste, é na e pela linguagem que o


indivíduo se constitui enquanto sujeito na sociedade. Então, nesta
seção tem-se como objetivo que você, aluno, possa entender a
importância da linguagem na vida das pessoas, por que isso deve
ser considerado e como acontece. Vamos lá?

Linguagem como prática social


Tem-se na linguagem como prática social um processo
de interação que operacionaliza a vida social, porque a
multiplicidade de práticas discursivas leva às mudanças sociais
quando se utiliza recursos linguísticos empregados pelos atores
e/ou grupos sociais no ato da interação dialógica, a partir de
reflexões sobre determinada temática ou ações.
Em consonância a isso, Bakhtin no diz que todas as
esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão
sempre relacionadas com a utilização da língua. [... o enunciado
reflete condições específicas e as finalidades de cada uma dessas
esferas, não só por seu conteúdo...]
Portanto, é preciso estar atento ao impacto da linguagem na
sociedade, pois é muito mais do que as palavras que pronunciamos
ou escutamos. A linguagem está relacionada à maneira que nos
relacionamos mediados pelas práticas discursivas, produzimos
posicionamentos, enunciados e interações dialéticas com
propósito de mudanças, delineando concepções e variações de
um mundo social, determinada por seu contexto.

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Oficina de Textos em Português 33

Vygotsky e Bakhtin defendem a teoria de que o ser humano


é um sujeito interativo, social e participativo na construção de
conhecimento, assim, a linguagem é, portanto, um reflexo das
relações sociais. Seguindo esses preceitos, José Meurer (1997),
defende que a linguagem, além de sua configuração linguística,
está concebida como um instrumento de ação social, é por meio
dela que os indivíduos internalizam e interagem nos papéis
sociais. Em complemento disso, Vygotsky, citado por Gesser,
argumenta que “a aquisição de conhecimentos se realiza pela
interação do sujeito com o meio, e é através da linguagem que as
funções mentais superiores (percepção, memória, pensamento)
são socialmente formadas e culturalmente transmitidas”
(GESSER, 2009, p. 11). Dessa forma, o autor sustenta a teoria
da origem social da linguagem e do pensamento ao entender o
processo cognitivo como aquele que é definido pela cultura na
qual o indivíduo se insere. Ao encontro disso, tem-se a teoria
de Bakhtin, que considera que “o homem só existe após o
nascimento social” e a partir daí, o filósofo do diálogo desenvolve
duas noções básicas para fundamentar o estudo do discurso, são
elas: a polifonia e a dialogia. Tais conceitos estão relacionados
à multiplicidade de vozes presentes no discurso e suas relações.
Para Gesser, “todas as manifestações, vozes que, explícita ou
implicitamente, dão forma ao discurso, além de refletirem as
intenções do enunciador, refletem, principalmente, os sentidos e
os valores que estruturam a sociedade” (GESSER, 2009, p. 11).
Ou seja, todo discurso, de qualquer enunciador, provoca algum
efeito na sociedade. Ainda sobre essa consideração, Bakhtin
afirma:
A palavra penetra literalmente em todas as relações
entre indivíduos, e complementa esta afirmação
ao mencionar que as palavras são tecidas a partir
de uma multidão de fios ideológicos e ser de trama
a todas a relações sociais em todos os domínios.
(BAKHTIN, 2004, p. 210)

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34 Oficina de Textos em Português

Dessa forma então, se é no plano das práticas sociais


que a relação entre linguagem e cognição se constitui, é então,
no plano das práticas efetivas, dinâmicas e colaborativas de
linguagem, que a relação entre cognição humana e os processos
mentais cognitivos deve ser pensada para os contextos de perda
progressiva.
Então, quando entendemos a linguagem como uma
prática social, percebemos sua relação e interação, a partir da
movimentação e articulação de ideias, assim como a construção
do discurso de uma sociedade por meio da relação dialética entre
linguagem e práticas discursivas – reafirmando a relevância e as
práticas sociais que denotam a transformação de um contexto.
Dessa forma, é possível constatar que não há comunicação
verbal sem valores ideológicos, tendo em vista que toda prática
discursiva sempre será persuasiva, evidenciando a centralidade
da linguagem na vida social. Por isso e como exemplo, que é
tão importante o docente levar para a sala de aula temáticas
globalizadoras, para que exista uma multiplicação de ideologias
por parte dos alunos, se estão se formando cidadãos.
França (1994) ratifica que baseado na concepção de
mudanças educacionais, a escola seja um espaço onde se
possam promover tais observações e ponderações, visto que a
configuração do espaço sempre foi importante para caracterizar
a instituição escolar e a própria sociedade num determinado
período, porque materializa as aspirações, conflitos e incertezas
vividas.
Acerca disso, então, Koch nos diz que:
a interação social por intermédio da língua(gem)
caracteriza-se fundamentalmente, pela
argumentatividade. Em consequência disso,
vemos a todo instante a necessidade de reflexão
sobre as práticas pedagógicas, bem como a
prática discursiva do professor, para que o ensino-

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Oficina de Textos em Português 35

aprendizagem se torne um aliado do conhecimento


de mundo do aluno, primando pelo resgate de
valores socioculturais, por meio de uma relação
dialética. (Koch, 1987, p.19)
Dessa forma, quando o ser humano desenvolve sua
opinião sobre determinadas temáticas aos estabelecer suas
representações de mundo, ele está suscetível às diversas
influências que se dão por meio da linguagem. Isso permite a
reflexão entre conhecimento e prática, o que proporciona um
debate crítico-reflexivo. Além disso, esse desenvolvimento da
opinião por meio da linguagem constrói um cidadão consciente
de seu posicionamento e discurso.
Então, o ser dialogicamente ativo responde por aquilo
que foi dito, produzindo e, ao mesmo tempo, revelando sua
consciência linguística e social. Sobre isso Pinto (2007) nos diz
o seguinte:
O desenvolvimento da consciência envolve
a interação com os valores mobilizados por
uma sociedade: nossa consciência emerge e
se desenvolve na medida em que interagimos
com (e absorvemos) os valores que deverão
determinar nossa vida e nossos comportamentos
nas sociedades nas quais vivemos (...).
Assim, a apreensão e elaboração do pensamento
intelectual não acontecem isoladamente, sem levar em conta os
impulsos, as tendências, os desejos, as impressões e as imagens
idiossincráticas da percepção do mundo que nos rodeia.
Desse modo, “a língua não é só signo, é ação, é trabalho
coletivo dos falantes, não é simplesmente um intermediário
entre nosso pensamento e o mundo” (MORATO, 2005, p.
317). A linguagem, utilizando-se certamente como instrumento
de comunicação, passará a ser caracterizada com outro
olhar condizente ao mundo exterior. É por meio de laços

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contratuais imersos em uma sociedade que interagimos e nos


compreendemos como também “influenciamos os outros com
nossas opções relativas ao modo peculiar de ver e sentir o
mundo, com decisões consequentes sobre o modo de atuar nele”
(FRANCHI, 1977,18-9). Dessa forma, de acordo com Duarte
(2004, p. 50), “o processo de objetivação da cultura humana não
existe sem o seu oposto e, ao mesmo tempo, complemento, que
é o processo de apropriação dessa cultura pelos indivíduos.
Com isso, a significação e a comunicação não se destoam,
mas se complementam, uma vez que essas duas instâncias são
indissociáveis nas práticas sociais. Além disso, “a interação – e
tudo o que é afeito a ela – produz sentido, o sentido é produção
de interação; o outro é necessário para sabermos o que estamos
a dizer, e mais, para construirmos o sentido daquilo que estamos
a dizer” (MORATO, 2005, p. 318).

SAIBA MAIS

Ficou interessado em saber como a linguagem como prática


social deve funcionar no ensino médio? Então leio o artigo
de Bastolla e Souza, “A importância de uma linguagem como
prática social na formação do docente em nível médio”.
Acessível em: https://bit.ly/2YRlqmW.

As considerações de Bakhtin
De acordo com Bakhtin, é impossível que no vazio, não
produzimos enunciados fora das múltiplas e variadas esferas
do agir humano. Os nossos enunciados (orais ou escritos) terão
sempre um conteúdo temático, uma organização composicional
e estilo próprios, que estarão ligados às condições de realização e
às finalidades específicas de cada esfera de atividade. É por isso,

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Oficina de Textos em Português 37

então, que todo enunciado está sempre relacionado ao tipo de


atividade em que os participantes estão envolvidos. Nós falamos
por meio de gêneros de discurso que se realizam no interior de
uma determinada esfera da atividade humana.
Dessa forma, a língua não é uma atividade individual,
mas sim um legado histórico‐cultural da humanidade. A língua
vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta,
não no sistema linguístico abstrato das formas da língua nem no
psiquismo individual dos falantes. Nesse contexto explicativo,
cada enunciado produzido por um sujeito é um ato histórico
novo, portanto, irrepetível. Em cada caso, é a situação que
confere a uma mesma palavra significações distintas em cada
um dos enunciados produzidos. Para o autor, é este enunciado
a unidade básica do conceito de linguagem. Dessa forma, não
exista a possibilidade de se existir um enunciado neutro. Todo
o enunciado emerge sempre e necessariamente num contexto
cultural, carregado de significados e valores, sendo, portanto,
um ato responsivo, ou seja, uma ação na qual um sujeito assume
uma posição nesse contexto.
Conforme Bakhtin (1997), o enunciado não é simplesmente
um conceito formal. Um enunciado é sempre um acontecimento,
uma vez que ele exige uma situação histórica definida, atores
sociais plenamente identificados, compartilhamento da mesma
cultura e o estabelecimento de um diálogo. Então, todo o
enunciado demanda outro a que se responde ou outro que o
responderá. A enunciação é o produto da interação de dois
indivíduos socialmente organizados e, mesmo que não haja um
interlocutor real, ele pode ser substituído pelo representante médio
do grupo social ao qual pertence o locutor. A palavra dirige‐se a
um interlocutor: ela é função da pessoa desse interlocutor: variará
se se tratar de uma pessoa do mesmo grupo social ou não, se esta
for inferior ou superior na hierarquia social, se estiver ligada a
um interlocutor por laços sociais mais ou menos estreitos (pai,
mãe, marido, etc.). Não pode haver um interlocutor abstrato; não
teríamos linguagem comum com tal interlocutor, nem no sentido
próprio nem no figurado. (BAKHTIN, 1997, p.116).

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38 Oficina de Textos em Português

++
+
EXPLICANDO DIFERENTE

Portanto, toda enunciação é um diálogo e faz parte de um


processo comunicativo ininterrupto, em meio ao qual as
palavras dos outros penetram interativamente nas nossas
palavras. Nesse sentido, podemos dizer que a linguagem vai
além de sua dimensão comunicativa, pois considera que os
sujeitos se constituem por meio das interações sociais. Então,
para Bakhtin, a língua, no seu uso prático, é inseparável de seu
conteúdo ideológico ou relativo à vida, e, portanto, está ligada
à evolução ideológica.

Na realidade, não são palavras o que pronunciamos


ou escutamos, mas verdades ou mentiras,
coisas boas ou más, importantes ou triviais,
agradáveis ou desagradáveis, etc. A palavra está
sempre carregada de um conteúdo ou de um
sentido ideológico ou vivencial. É assim que
compreendemos as palavras e somente reagimos
àquelas que despertam em nós ressonâncias
ideológicas ou concernentes à vida. (BAKHTIN,
1997, p.99).
Bakhtin (1997) também acentua que a língua se desenvolveu
historicamente a serviço do pensamento participativo e dos atos
efetivamente realizados e só, posteriormente, passou também
a servir ao pensamento teórico. De acordo com o autor, toda
palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo
fato de que procede de alguém como pelo fato de que se dirige
para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação
do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um
em relação a outro. Através da palavra defino‐me em relação

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Oficina de Textos em Português 39

ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade.


A palavra de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se
apoia sobre mim numa extremidade, na outra apoia‐se sobre o
meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do
interlocutor. (BAKHTIN, 1997, p.117).
Dentro dessa perspectiva, a língua só existe em função
do uso que os locutores e interlocutores fazem dela em
situações de comunicação. O ensinar, o aprender e o empregar
a linguagem passam necessariamente pelo sujeito, o agente das
relações sociais é o responsável pela composição e pelo estilo
dos discursos. Assim, esse sujeito se vale dos conhecimentos
de enunciados anteriores para formular suas falas ou redigir
seus textos. A linguagem, portanto, na abordagem de Bakhtin,
contribui significativamente para a constituição do sujeito
enquanto um ser social e individual.
Por fim, de acordo com Bakhtin (1997), a vida humana é
por sua própria natureza dialógica. Nesse sentido destaca:
Viver significa tomar parte do diálogo: fazer
perguntas, dar respostas, dar atenção, responder,
estar de acordo e assim por diante. Desse diálogo,
uma pessoa participa integralmente e no decorrer
de toda sua vida: com seus olhos, lábios, mãos,
alma, espírito, com seu corpo todo e com todos os
seus feitos. Ela investe seu ser inteiro no discurso
e esse discurso penetra no tecido dialógico da vida
humana, o simpósio universal. (Bakhtin, 1997,
p.293).
Então, para o autor o sujeito se constitui e se move nesse
denso simpósio universal, sendo a alteridade e a intersubjetividade
constitutivas do processo de individuação, do movimento de
tornar‐se indivíduo. Nas palavras do autor:
“Eu não posso me arranjar sem o outro; eu não
posso me tornar eu mesmo sem um outro; eu

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40 Oficina de Textos em Português

tenho de me encontrar num outro para encontrar


um outro em mim. ”(BAKHTIN,1997, p.287).
Então, nosso discurso, ou seja, todos os nossos enunciados
são repletos das palavras dos outros. As palavras dos outros
trazem consigo a sua expressão, o seu tom valorativo que
assimilamos, reelaboramos e reacentuamos. Não pode haver
enunciado isolado. Ele sempre pressupõe enunciados que o
antecedem e o sucedem. Nenhum enunciado pode ser o primeiro
ou o último. Ele é apenas o elo na cadeia e fora dessa cadeia
não pode ser estudado. Entre os enunciados existem relações
que não podem ser definidas em categorias nem mecânicas nem
linguísticas. Eles não têm analogias consigo. (BAKHTIN, 2011,
p. 371).

RESUMINDO

Nesta seção você pôde compreender que a linguagem e a


sociedade estão intimamente ligadas, não é? Foi possível saber
como isso acontece e por que acontece. Então, por que mesmo
que a linguagem é uma função social? Porque é por meio dela
que se constrói o pensamento, a enunciação e, posteriormente,
a ideologia. É por meio da linguagem que se faz um cidadão,
por isso a importância de abordagens globalizadas no ensino,
para que se possa ensinar o pensamento crítico. Gostou? Vamos
terminar nossos estudos entendo um pouco mais sobre leitura
e escrita? Avante!

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Oficina de Textos em Português 41

Conhecendo os processos de aprendizagem


de leitura e escrita

OBJETIVO

Alfabetizar é um ato de muita satisfação para os professores,


mas também é algo tremendamente desafiador, não é? Porém,
existem controvérsias no que tange o tema da alfabetização.
Nesta seção o intuito é trazer alguns conceitos acerca da
alfabetização. Pretende-se conhecer alguns dos diversos
conceitos e métodos de alfabetização e discutir as implicações
de se adotar determinada concepção. Aqui também pretende-se
trazer questões sobre a escrita alfabética vista como código ou
como sistema notacional e as questões sobre a aprendizagem
inicial da língua escrita.
Vamos lá? Bons estudos.

Concepções e métodos de alfabetização


Você sabe que a Alfabetização requer mais do que
só método. É isso o que defende Magda Soares e é tomando
como referência as considerações da autora que nesta seção
será explicada a questão dos métodos. Então, de acordo com
Soares, o método de alfabetização é comumente confundido
com cartilhas, manuais didáticos, artefatos pedagógicos, etc.
Na verdade, o método de alfabetização, ou os métodos, são um
conjunto de procedimentos, que devem estar fundamentados em
teorias e princípios. Eles devem orientar a aprendizagem inicial
da leitura e da escrita da criança, ou seja, a alfabetização.
No Brasil, houve uma alternância metodológica de
alfabetização desde o século XIX. Acreditava-se que aprender

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42 Oficina de Textos em Português

a ler e escrever dependia somente de conhecer as letras, de


forma mais específica: os nomes das letras. Então, aprendia-
se o alfabeto, depois as vogais e consoantes eram combinadas
formando, então as sílabas, até se chegar, finalmente, nas
palavras e frases. A isso foi dado o nome de soletração, uma
aprendizagem com foco na grafia, sem levar em consideração as
relações oralidade-escrita, fonemas-grafemas.
Como diz Soares (2017): “como se as letras fossem os sons
da língua, quando, na verdade, representam os sons da língua.”
Ao longo do tempo o valor sonoro das letras e sílabas
começou a ser priorizado. Assim, a soletração começou a dar
lugar para métodos fônicos e silábicos, os chamados métodos
sintéticos. De acordo com Ribeiro, autor da Cartilha Nacional,
de 1880:
Como a arte da leitura a análise da falam levemos
desse logo o aluno a conhecer os valores fônicos
das letras, porque é com o valor que há de ler r não
com o nome delas. (Ribeiro, 1936, apud Mortatti,
2000:54)
Depois disso, surgiram os métodos analíticos, nos quais a
realidade psicológica da criança era considerada e a aprendizagem
deveria ser significativa para ela. Um método a ser citado como
exemplo é da palavração, que, segundo Silva Jardim, deve-se
ler desde logo a palavra. Para ele: “Como aprendemos a falar?
Falando as palavras; como aprendemos a ler? É claro que lendo
essas mesmas palavras. (Silva Jardim, 1884, apud Mortatti,
2000: 48)
Segundo Soares, então:
Indiferentemente, porém, da orientação adotada,
o objetivo, tanto em métodos sintéticos quanto
em métodos analíticos, é, limitadamente, a
aprendizagem do sistema alfabético-ortográfico
da escrita. Embora se possa identificar, nos

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Oficina de Textos em Português 43

métodos analíticos, a intenção de partir também


do significado, da compreensão, seja no nível do
texto (método global), seja no nível da palavra
com da sentença (métodos da palavração,
método as sentenciação), estes – textos,
palavras, sentenças – são postos a serviço da
aprendizagem do sistema de escrita: palavras são
intencionalmente selecionadas para servir à sua
decomposição em sílabas e fonemas, sentenças e
textos são artificialmente construídos, com rígido
controle léxico e morfossintático, para servir à
sua decomposição em palavras, sílabas e fonemas.
Dessa forma, para que a criança desenvolva habilidades
de uso da leitura e da escrita, lendo e produzindo textos reais,
o domínio do sistema de escrita é considerado condição e pré-
requisito. Além disso, para que se aprenda o sistema de escrita,
estímulos externos muito bem selecionados devem existir ou ser
construídos com o objetivo de levar a criança a apropriação da
tecnologia da escrita. Então, ainda de acordo com Soares, tantos
os métodos sintéticos quanto os analíticos estão no mesmo
paradigma pedagógico e psicológico: o associacionismo.
Mas e como se dão esses métodos na atualidade?
Soares nos dá uma explicação de que as periódicas
mudanças de paradigma e de concepção de métodos tem trazido
um fracasso, persistente, da escola em levar as crianças ao
domínio da língua escrita. Até a década de 1980 acreditava-se
que, para que esse fracasso revertesse, na série inicial de ensino
fundamental haveria um alto índice de reprovação, repetência e
evasão. Claramente, não funcionou.
Então, surge o construtivismo como tentativa de combate
ao fracasso da alfabetização. Mesmo que, segundo Ferreiro e
Teberosky (1986), a causa de tal fracasso era de cunho social, foi
proposto que a solução não seria um novo método, mas sim uma
nova concepção do processo de aprendizagem da língua escrita.

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44 Oficina de Textos em Português

Por mais que o construtivismo tenho exercido uma


hegemonia, o fracasso em alfabetizar persiste, agora com uma
configuração diferente: antes de dava por meios das avaliações
internas à escola, concentrava-se na série inicial do ensino
fundamental. Agora, é denunciado por avaliações externas,
de âmbito estadual, nacional e até internacional, podendo se
estender ao longo de todo o ensino fundamental e até mesmo do
ensino médio. O que traduz os altos índices de um domínio da
língua escrito precário e, em alguns casos, nulo.
Acerca disso Soares argumenta:
Nos anos iniciais de século XXI reaparece
a discussão sobre métodos na alfabetização,
relativamente marginalizada durante as duas
últimas duas décadas do século XX, e enfrentam-
se de novo polêmicas, agora mais complexas:
não apenas divergências em torno de diferentes
métodos de alfabetização, mas também, e talvez
sobretudo, dúvidas sobre a possibilidade ou
a necessidade de método para alfabetizar –
um movimento de recuperação do método em
conflito com a tendência à desmetodização,
consequência da interpretação que se deu
ao construtivismo. Então, a continuação dos
problemas e das controvérsias acerca da dos
métodos de alfabetização acontecem porque
sempre derivam sempre de concepções diferentes
sobre o objeto da alfabetização, ou seja, sobre o
que se ensina quando se ensina a língua escrita.
Essa divergência se mostra quando é considerado
o conceito de alfabetização que fundamenta os
diferentes métodos. Nas ciências linguísticas,
psicologia cognitiva e do desenvolvimento atuais,
a alfabetização é: “processo complexo que envolve
vários componentes, ou facetas, e demanda
diferentes competências.” (SOARES,2017).

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Oficina de Textos em Português 45

Basicamente, são três as facetas que disputam a primazia


na inserção no mundo da escrita, nos métodos e nas propostas
de aprendizagem. A primeira é a faceta linguística, que faz a
representação visual da cadeia sonora da fala.
Depois, tem-se a faceta interativa, em que a língua escrita é
vista como interação entre as pessoas, de expressão e compreensão
de mensagens. Por último, a faceta sociocultural, com funções
e valores atribuídos à escrita em contextos socioculturais; a ela
dá-se o nome de letramento. Segundo Soares (2017):
Se se põe o foco na faceta linguística, o objeto
de conhecimento é a apropriação do sistema
alfabético-ortográfico e das convenções da
escrita... se se pões o foco na faceta interativa,
o objeto são as habilidades de compreensão e
produção de textos... finalmente, se se pões o foco
na faceta sociocultural, o objeto são os eventos
sociais e culturais que envolvem a escrita. Essa
tricotomia explica a questão – controvérsias –
entre os métodos.
Dessa forma, então, fica evidente que a aprendizagem
inicial da língua escrita é de grande complexidade e envolve duas
funções da língua escrita: ler e escrever. Portanto, o ensino da
língua escrita inicial não deve se ater apenas a uma faceta, pois
elas possuem suas particularidades e devem se complementar.
Sobre isso, Adams nos diz:
Não podemos agir completando cada subsistema
individualmente, em seguida atando-o a outro. Ao
contrário, as partes do sistema de alfabetização
devem crescer simultaneamente. Devem crescer
cada uma em relação a outra e cada uma a partir
de outra.
[...] Elas [as partes do sistema] devem estar
interligadas no próprio processo de aquisição. E, o

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46 Oficina de Textos em Português

que é importante, essa dependência atua nas duas


direções. Não se pode desenvolver adequadamente
os processos mais avançados em a devida atenção
aos menos avançados. Nem se pode focalizar os
processos menos avançados sem constantemente
esclarecer e praticar suas conexões com os
processos mais avançados. (Adams, 1990, p.6)
Então, é possível compreender que a questão dos métodos
em sua dimensão pedagógica, ou seja, na prática do contexto de
ensino, a aprendizagem inicial da língua escrita, mesmo que com
várias facetas, deve ser desenvolvida de forma inteira, como um
todo. Pois essa é a verdadeira natureza dos atos de ler e escrever,
como cita Soares: “em que a complexa interação entra as práticas
sociais da língua escrita e aquele que lê ou escreve pressupõe o
exercício simultâneo de muitas e diferenciadas competências.
É o que se ter denominado alfabetizar letrando.” (Soares, 2017)

Escrita alfabética como código ou sistema


notacional
A escrita alfabética é um sistema notacional e não apenas
um código. O desenvolvimento dela envolve um trabalho
conceitual complexo, completamente desconsidero pelos
métodos tradicionais de alfabetização.
Cada criança reconstrói na mente dela o sistema alfabético.
E é uma reconstrução pois não se trata de inventar um novo
sistema. Também não se pode dizer que é uma descoberta,
pois essa está vinculada à errônea ideia de que a criança deve
descobrir tudo sozinha e o professor alfabetizador não pode dar
informações que o aluno consegue adquirir por conta própria.
Na verdade, de acordo com as premissas de Morais
(2012), é necessário ajudar as crianças desde cedo a descobrirem
ou melhor, entenderem, as regras ou propriedades do sistema
alfabético e que a consciência fonológica tem um papel de
destaque nessa caminhada da alfabetização.

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Oficina de Textos em Português 47

Os métodos tradicionais de alfabetização,


independentemente se analíticos ou sintéticos, sempre enxergam
a escrita como um simples código da língua oral. Então, nesses
métodos, escrever é apenas uma lista de símbolos que substituem
os fonemas que já existiam como unidades isoláveis na mente
da criança ainda não alfabetizada. Acerca disso Morais (2012)
argumenta:
Os dois métodos têm, portanto, uma visão
adultocêntrica, isto é, enxergam o funcionamento
infantil como idêntico ao adulto. Ambos partem do
pressuposto de que as crianças, naturalmente e sem
dificuldades, já pensariam, desde cedo, que as letras
“substituem sons das palavras que pronunciamos”.
Essa visão simplista é o que justificaria a solução
de, simplesmente, transmitir-lhes, de forma pronta,
as informações sobre correspondências som-grafia.
(MORAIS, 2012, p. 31)
Então, para os adeptos dos métodos tradicionais de ensino,
uma boa cartilha e um plano de ensino bem controlado seriam
a garantia para a alfabetização satisfatória para os alunos ao
fim do ano. Porém, isso só funcionaria se a criança estivesse
no estágio de “prontidão” para, nas palavras de Morais: para
receber os ensinamentos que lhe seriam transmitidos em doses
homeopáticas.
É neste momento então que entramos na problemática do
porquê a escrita alfabética é um sistema notacional e não um
código. Vamos lá?
Primeiramente, é necessário reconhecer que o aprendiz
da escrita alfabética não tem na sua mente as propriedades do
sistema de forma pronta, dada ou disponível. Ele ainda não sabe
como as letras funcionam e têm sobre ela uma visão diferente
dos adultos. É por isso, que em uma etapa inicial, não faz sentido
ficar pronunciando fonemas isolados e ficar repetindo a leitura
de sílabas e palavras que comecem com determinado fonema.

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48 Oficina de Textos em Português

Portanto, a internalização das regras e convenções do alfabeto


não é algo que acontece da noite para o dia, muito menos pela
acumulação de informações prontas que a escola passa para o
alfabetizando.
Portanto, quando nos apropriamos de qualquer sistema
notacional, devemos compreender e internalizar as regras e
propriedades desse sistema. Além disso, devemos sempre
acreditar que os alunos não precisam e não devem que descobrir
tudo sozinhos. Nós, professores, temos o dever de ajudá-los
nessa descoberta da escrita alfabética. Para esse conhecimento,
seguem algumas propriedades do SEA (Morais, 2012) que o
aprendiz precisa reconstruir, com a ajuda do professor, para se
tornar alfabetizado, vamos a elas:
1. Escreve-se com letras que não podem ser inventadas,
que têm um repertório finito e que são diferentes de números e
de outros símbolos.
2. As letras têm formatos fixos e pequenas variações
produzem mudanças em sua identidade (p, q. b. d).
3. A ordem das letras no interior da palavra não pode ser
mudada, pois isso muda o sentido dela.
4. Uma letra pode se repetir no interior de uma palavra
e em diferentes palavras, ao mesmo tempo em que distintas
palavras compartilham as mesmas letras.
5. Nem todas as letras podem ocupar certas posições no
interior das palavras e nem todas as letras podem vir juntas de
quaisquer outras.
6. As letras notam ou substituem a pauta sonora das palavras
que pronunciamos e nunca levam em conta as características
físicas ou funcionais dos referentes que substituem.
7. As letras notam segmentos sonoros menores que as
sílabas orais que pronunciamos.

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Oficina de Textos em Português 49

8. As letras têm valores sonoros fixos, apesar de muitas


terem mais de um valor sonoro e certos sons poderem ser notados
com mais de uma letra.
9. Além de letras, na escrita de palavras usam-se também
algumas marcas (acentos) que podem modificar a tonicidade ou
o som das letras ou sílabas onde aparecem.
10. As sílabas podem variar quanto às combinações entre
consoantes e vogais (CV, CCV, CVV, CVC, V, VC, VCC,
CCVCC...), mas a estrutura predominante no português é a
sílaba CV (consoante-vogal) e todas as sílabas do português
contêm, ao menos, uma vogal.
A partir disso, então, fica claro que um novo conhecimento
do sistema alfabético não surge, simplesmente do exterior,
a partir das informações transmitidas pelo professor. Tal
conhecimento acontece por uma transformação que o próprio
aprendiz realiza sobre seus conhecimentos anteriores junto das
novas informações que ele adquire. Por isso, esse entendimento
da escrita alfabética significa, para o aluno, uma fonte de desafio
e conflito.
No próximo item entraremos mais a fundo na questão de
como se dá essa aprendizagem inicial da língua escrita.

Aprendizagem inicial da língua escrita


Anteriormente ficou evidente que é necessário reinventar
a forma de alfabetização. Então, qual é o melhor método de
alfabetizar? Essa pergunta nunca terá uma resposta única, vai
depender sempre do que o professor irá considerar e isso vai
depender se uma séria de fatores. Aqui entram as questões
ideológicas e filosóficas, além de juízos de valor que adotam
no dia a dia. Portanto, de acordo com Morais (2012) alguns
princípios devem ser seguidos:
a. Formar pessoas não conformistas, críticas, que lutam
por seus direitos;

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50 Oficina de Textos em Português

b. Formar pessoas que não só repetem, mecânica ou


ordeiramente, o eu lhes é transmitido, mas que criam ou recriam
conhecimentos e formas de expressão;
c. Formar pessoas que se regem por princípios éticos de
justiça social, de redução das desigualdades socioeconômicas,
de respeito à diversidade entre os indivíduos, grupos sociais e
povos;
d. Formar pessoas respeitando suas singularidades,
seus ritmos de aprendizagem, e levando em conta em quê,
especificamente, necessitam ser ajudadas, para que possam
avançar em suas aprendizagens.
Então, quando começar o ensino do sistema de escrita
alfabética?
Para o enfretamento do apartheid na educação que existe
em nosso país, é necessário que as escolas, ao fim da educação
infantil, disponibilizem um ensino que permita aos alunos não
apenas conviver e desfrutar, dia a dia, de práticas de leitura e
produção de texto. Além disso, deve haver uma reflexão sobre
as palavras, brincando com a dimensão sonora e gráfica delas.
Como cita Morais (2012):
... não se trata de iniciar um ensino sistemático
das correspondências som-grafia, aos 5 anos
de idade. Mas, sim, de praticar um ensino que
tem a explícita intenção de ajudar as crianças a
avançarem em sua compreensão dos aspectos
conceituais e convencionais da escrita, além de
permitir-lhes avançar em seus conhecimentos
letrados. (MORAIS, 2012, p. 117)
Dessa forma, essa opção visa a respeitar as características
dos alunos da educação infantil, com a faixa etária de 5 anos.
Pois tal forma de ensino não embarca na proposta alienada de
simplesmente eliminar a escrita no interior da pré-escola com a
promessa de garantir uma ludicidade ilusória e sem aprendizados.

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Oficina de Textos em Português 51

Em vez disso, a proposta dá aos alfabetizandos direitos de


conviver com a escrita, de refletir sobre a notação dela, portanto,
de começar a aprender o que é a escrita de fato e como a escrita
cria notações. Então, de acordo com Morais (2012):
A reflexão sobre a dimensão sonora das palavras,
apoiada em sua notação escrita, de modo a
promover determinadas habilidades de consciência
fonológica, nos parece a estratégia principal...
o trabalho com palavras estáveis, como o nome
próprio, e a prática de montagem e desmontagem
das palavras, com o alfabeto móvel, também têm
se revelado boas alternativas para auxiliá-las a
avançar na apropriação do SEA... (MORAIS,
2012, p. 118)
Para fechar a seção, vamos a um exemplo prático?
Vamos imaginar uma criança que desde muito nova pôde
conviver com pessoas que fazem uso da leitura e da escrita em
seu cotidiano e, além disso, teve a oportunidade de ouvir histórias
e manusear livros. Agora, vamos imaginar outra criança a quem
essas condições não puderam ser oferecidas. Não é difícil supor
que a transição entre o ambiente privado (a família) e o público
(a escola) trará, para cada uma delas, sensações iniciais bastante
diferentes.
No caso da primeira criança, gestos leitores (olhar a capa
de um livro, folheá-lo, escutar atentamente a leitura em voz
alta feita pela professora, entre outros) e gestos escritores (ver
a professora escrevendo na lousa ou em cadernos, por exemplo)
parecerão familiares e o fato de ela estar em um ambiente
organizado intencionalmente para a sua aprendizagem lhe
oferecerá novos desafios ajustados à sua capacidade de enfrentá-
los. No caso da segunda criança, tudo será novidade. Embora
algum grau de interesse possa ser suscitado, inseguranças
diante do desconhecido podem vir à tona e desafios podem se
transformar em grandes obstáculos.

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52 Oficina de Textos em Português

Essa desigualdade, logo no ponto de partida da


escolaridade, merece nossa máxima atenção não apenas porque
todas as classes são heterogêneas, mas porque é possível criar
condições para que cada um dos alunos se aproprie dos saberes
estruturantes ao enfrentamento da vida escolar.
Crianças que têm boas oportunidades para desenvolver
sua linguagem contam com mais ferramentas (vocabulário,
expressões, conhecimento de estruturas sintáticas) para falar
com maior precisão, compreender as leituras que ouvem,
participar das conversas e atividades que se desenvolvem em sala
(respondendo perguntas, fazendo descrições, dando explicações,
recontando histórias), acompanhar explicações e tomar a palavra
para expressar suas incompreensões.
A leitura e as conversas em torno dos textos são situações
férteis para o desenvolvimento da linguagem. Por meio delas,
as crianças têm a chance de conhecer os diversos usos e
possibilidades que a língua materna oferece para narrar, explicar,
descrever, definir, rimar.
A presença do professor como parceiro mais experiente
é fundamental: além de apresentar e interpretar aquilo que está
escrito, ele conhece o caminho, ou seja, pratica socialmente atos
de leitura e escrita em seu cotidiano com propósitos diversos.
A leitura feita em voz alta pelo professor permite que
os alunos observem que o texto é sempre um convite: ao riso,
à indignação, à seriedade, à comoção, à descoberta, à beleza,
à ampliação e às associações. A progressiva construção e
intimidade com a cultura escrita favorece que os alunos, mesmo
muito antes de saberem escrever de forma convencional,
arrisquem hipóteses sobre o que a escrita representa porque vão,
aos poucos, percebendo certas regularidades.
Ao observarem e escutarem as leituras feitas por sua
professora, os alunos têm a chance de aprender como manejar
e como transitar pelos vários textos em seus diferentes suportes

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Oficina de Textos em Português 53

(livro, jornal, carta etc.), o que lhes abre as portas da construção


de sentidos para os diferentes gêneros.
Para os métodos de alfabetização tradicionais, a
aprendizagem da língua escrita é um processo de acumulação de
informações transmitidas pelo professor e assimiladas de forma
passiva pelo aprendiz. No entanto, as pesquisas da psicogênese
da língua escrita revelaram uma postura ativa e curiosa das
crianças pré-alfabetizadas, mostrando que elas pensam e criam
hipóteses para entender o sistema de escrita alfabética. Essas
descobertas levaram a modificações nas políticas, nos estudos e
nas práticas escolares.
Como expõe Magda Soares, a adoção da perspectiva
psicogenética, conhecida no Brasil como Construtivismo,
trouxe consequências para o ensino da língua escrita: se, por
um lado, revelou a importância de expor a criança a diferentes
materiais e práticas reais de leitura e escrita, por outro levou
a uma desvalorização do ensino sistemático das relações entre
fala e escrita. Também é importante considerar que as hipóteses
de escrita não são um caminho único e homogêneo pelo qual
passariam todas as crianças, mas esses estudos orientam o
olhar dos educadores para as regularidades do processo de
aprendizagem da língua escrita. Para além dessa sistematização,
é fundamental observar com sensibilidade as peculiaridades
de cada criança em sua busca pelo conhecimento a fim de
mediar de forma adequada esse processo. Nesse contexto, é
imprescindível que a infância seja respeitada como etapa singular
do desenvolvimento humano, valorizando o brincar como forma
de a criança entender o mundo, interagir com ele e (re)criá-lo.

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54 Oficina de Textos em Português

SAIBA MAIS

Quer se inteirar mais sobre processos de aprendizagem de


forma divertida? Então assista ao filme Estação Central, com
Fernanda Montenegro estrelando.

Tenho certeza que vai gostar.


Até a próxima Unidade.

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Oficina de Textos em Português 55

02
UNIDADE

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56 Oficina de Textos em Português

INTRODUÇÃO
Como já vimos na primeira unidade, o texto está nas
nossas vidas o tempo todo! Quando falamos com alguém,
quando mandamos um e-mail, quando escrevemos um bilhete,
quando fazemos gestos, etc. Tudo isso são formas de texto,
que tem como função principal estabelecer a comunicação de
alguma forma.
Então, nesta unidade nós vamos trabalhar os tipos e
gêneros textuais, quais são, suas características etc. Também
faremos a diferenciação, muito importante entre gênero e tipo
textual. A ideia é fazer com que você, aluno, se inteire como se
dá o processo de um texto Também se pretende, neste processo
de aprendizagem, mostrar como é a formalidade de um texto,
quais os níveis e como ela acontece. Além dos processos de
coesão e coerência, suas diferenças e porque elas caminham
sempre juntas. Vamos lá? Ao longo desta unidade letiva você
poderá mergulhar neste universo.

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Oficina de Textos em Português 57

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências

1
profissionais até o término desta etapa de estudos:

Compreender como funcionam os gêneros textuais;

2 Entender quais são os tipos textuais;

3 Identificar qual e como é a formalidade de um texto;

4 Executar os procedimentos de coesão e coerência.

Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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58 Oficina de Textos em Português

Compreendendo como funcionam os Gêneros


Textuais

OBJETIVO

Ao término deste capítulo você será capaz de entender como


funcionam as funções da linguagem. Isso será fundamental
para o exercício de sua profissão, pois a produção de texto está
intimamente ligada a linguagem que será utilizada. É se suma
importância esse entendimento para que um texto possa estar
de acordo com o que é solicitado. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante.

Diferença entre gênero textual e tipo textual


Muito se fala sobre os gêneros e tipos textuais e muito se
confunde esses dois termos. Muitas vezes é ensinado que eles
são as mesmas coisas, porém, são bem distintos um do outro.
Vamos a eles?
Bem, os gêneros textuais são textos que exercem uma
função social específica, ou seja, ocorrem em situações cotidianas
e têm uma intenção comunicativa bem definida. Os diferentes
gêneros textuais se adequam ao uso que se faz deles. Eles fazem
adequação principalmente ao objetivo do texto. Eles têm muita
relação com o emissor, receptor e ao contexto. Você se lembra
desses termos? Nós os estudamos na unidade 1.

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Oficina de Textos em Português 59

Figura 1

Fonte: Bia Mapas Editora

Então, os gêneros textuais são inúmeros, alguns deles


estão muito no nosso dia a dia. Vamos a alguns exemplos:

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60 Oficina de Textos em Português

 Bula de remédio;
 Carta;
 E-mail;
 Reportagem;
 Relatório;
 Texto científico;
 Diário;
 Entrevista;
 Artigo de opinião;
 Lista de compras;
 Entre vários outros.
Os gêneros textuais são inúmeros e estão presentes o
tempo todo em nossas vidas, que nem percebemos. Então, eles
fazem parte do nosso cotidiano, desde quando abrimos o jornal
para ler uma notícia pela manhã, até quando temos que fazer
uma lista do que comprar no supermercado.
E os tipos textuais?
Bem, esses são bem específicos e apenas 6:
 Texto narrativo;
 Texto descritivo;
 Texto dissertativo expositivo;
 Texto dissertativo argumentativo;
 Texto explicativo injuntivo;
 Texto explicativo prescritivo.
Os tipos textuais são modelos abrangentes e fixos que
definem e distinguem a estrutura e os aspectos linguísticos de
uma narração, descrição, dissertação e explicação. Mas sobre
eles nós falaremos melhor na próxima seção.

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Oficina de Textos em Português 61

Exemplos de gêneros textuais - desenvolvendo


Agora, para facilitar seu entendimento sobre gêneros
textuais, vamos dar alguns exemplos práticos?
1. Reportagem
A reportagem apresenta elementos que não são próprios do
gênero notícia, entre eles o levantamento de dados, entrevistas
com testemunhas e/ou especialistas e uma análise detalhada dos
fatos. Embora preze pela objetividade, característica importante
dos gêneros jornalísticos, a reportagem invariavelmente
apresenta um retrato do assunto a partir de um ângulo pessoal,
por isso, ao contrário da notícia, ela é assinada pelo repórter.
Nesse gênero é comum encontrar também o recurso da polifonia,
pois nele existem outras vozes que não a do repórter, por isso o
equilíbrio entre os discursos direto e indireto. A finalidade maior
da polifonia é permitir que o repórter aborde o tema de maneira
global e, dessa maneira, isente-se da apresentação dos fatos.
Exemplo:
“Jornalistas e feministas”: livro aborda a prática do Portal
Catarinas
“Jornalistas e feministas: a construção da perspectiva de
gênero no jornalismo” é o título do livro que traz um estudo
de caso sobre o Portal Catarinas. Resultado da dissertação de
mestrado da estudante Jessica Gustafson no Programa de Pós-
Graduação em Jornalismo da UFSC, a publicação será lançada
nesta quinta-feira (14), às 19h, na Fundação Cultural Badesc, em
Florianópolis.
Em entrevista ao Catarinas, a doutoranda em jornalismo
pela UFSC fala sobre as principais descobertas dessa pesquisa
e das contribuições ao campo científico e profissional. Durante
a investigação, Gustafson ouviu cinco jornalistas do Portal,
buscando compreender suas rotinas de trabalho, visões de
mundo e práticas jornalísticas.

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62 Oficina de Textos em Português

A pesquisadora estudou particularmente o fundamento da


objetividade jornalística que está ligado ao conceito de verdade,
no sentido de ser um método para aproximar-se dela. Assim como
na ciência, a objetividade jornalística pressupõe o distanciamento
do sujeito que olha. “Acredito que o mais interessante seja pensar
nas rupturas importantes que os feminismos podem trazer aos
pressupostos do jornalismo”, explica a pesquisadora.
Ela encontrou em Donna Haraway, bióloga e professora
emérita estadunidense do Departamento de História da
consciência, na Universidade da Califórnia em Santa Cruz,
as bases teóricas para entender uma nova maneira de pensar a
objetividade, a partir de uma visão crítica da ideia de verdade
no jornalismo.
“Refletindo a partir do conceito de objetividade
corporificada de Donna Haraway, pude perceber que o jornalismo
feminista subverte esse distanciamento, se aproximando e
dialogando mais abertamente com as pessoas envolvidas na
construção das matérias jornalísticas e não se eximindo de sua
responsabilidade enquanto sujeitos que enxergam o mundo a
partir de uma localização social específica”, explica Jessica.
Ainda segundo a autora do livro, ao assumir que
a perspectiva apresentada será sempre parcial, abre-se
possibilidades para outros saberes, “em um movimento de
abertura e não de fechamento em busca de verdade única, que
será sempre excludente”.
“De forma geral, me parece importante buscar nos
feminismos, enquanto práticas políticas de ativismo e também
contribuições teóricas densas, novas formas de se pensar a prática
de um outro tipo de jornalismo, que possa melhor se relacionar
com a complexidade social que vivemos hoje”, afirma.
Portal Catarinas

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Oficina de Textos em Português 63

2. E-mail
Os e-mails se assemelham muito às cartas, mas de forma
eletrônica. Para enviá-los é necessário um assunto, depois vem
o corpo do e-mail, normalmente com uma saudação, texto e a
despedida. E-mails são enviados por inúmeros motivos: de boas-
vindas, para informar, para vender, para perguntar, para entregar
documentos etc. Vejamos um exemplo:
À
(destinatário)
Atenção a
(pessoa ou departamento)
Assunto
(tema da mensagem)
Prezados(as) Senhores(as),
Com relação à reunião marcada para o próximo dia 20 de
abril, sinto informar que será necessário remarcar a data diante
da impossibilidade de comparecimento de boa parte do corpo
diretor, que se encontrará em viagem para negociação com
fornecedores.
Dessa forma, agendaremos a exposição de seus produtos
para a outra oportunidade na data mais próxima disponível.
Faremos em breve novo contato para agendamento.
Atenciosamente,
(empresa)
(nome do responsável)
(cargo)
(telefone)
(e-mail)

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64 Oficina de Textos em Português

3. Crônica
A Crônica é um tipo de texto narrativo curto, geralmente
produzido para meios de comunicação, por exemplo, jornais,
revistas etc. Além de ser um texto curto, possui uma “vida curta”,
ou seja, as crônicas tratam de acontecimentos corriqueiros do
cotidiano. Portanto, elas estão extremamente conectadas ao
contexto em que são produzidas, por isso, com o passar do
tempo ela perde sua “validade”, ou seja, fica fora do contexto.
De acordo com o crítico literário Antônio Cândido:
A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma
literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho
universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem
se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor
que fosse. Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero
menor. “Graças a Deus”, seria o caso de dizer, porque sendo
assim ela fica mais perto de nós. E para muitos pode servir de
caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, mas para
a literatura (...).
Veja um exemplo:
A morte dos girassóis
Anoitecia, eu estava no jardim. Passou um vizinho e
ficou me olhando, pálido demais até para o anoitecer. Tanto
que cheguei a me virar para trás, quem sabe alguma coisa além
de mim no jardim. Mas havia apenas os brincos-de-princesa,
a enredadeira subindo lenta pelos cordões, rosas cor-de-rosa,
gladíolos desgrenhados. Eu disse oi, ele ficou mais pálido.
Perguntei que-que foi, ele enfim suspirou: “Me disseram no
Bonfim que você morreu na quinta-feira”. Eu disse ou pensei
dizer ou de tal forma deveria ter dito que foi como se dissesse:
“É verdade, morri sim. Isso que você está vendo é uma aparição,
voltei porque não consigo me libertar do jardim, vou ficar
aqui vagando feito Egum até desabrochar aquela rosa amarela
plantada no dia de Oxum. Quando passar lá no Bonfim diz que

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Oficina de Textos em Português 65

sim, que morri mesmo, e já faz tempo, lá por agosto do ano


passado. Aproveita e avisa o pessoal que é ótimo aqui do outro
lado: enfim um lugar sem baixo astral”.
Acho que ele foi embora, ainda mais pálido. Ou eu fui, não importa.
Mudando de assunto sem mudar propriamente, tenho aprendido
muito com o jardim. Os girassóis, por exemplo, que vistos assim de
fora parecem flores simples, fáceis, até um pouco brutas.
Pois não são. Girassol leva tempo se preparando, cresce
devagar enfrentando mil inimigos, formigas vorazes, caracóis
do mal, ventos destruidores. Depois de meses, um dia pá! Lá
está o botãozinho todo catita, parece que vai abrir.
Mas leva tempo, ele também, se produzindo. Eu cuidava,
cuidava, e nada. Viajei por quase um mês no verão, quando
voltei, a casa tinha sido pintada, muro inclusive, e vários girassóis
estavam quebrados. Fiquei uma fera. Gritei com o pintor: “Mas
o senhor não sabe que as plantas sentem dor que nem a gente?”
O homem ficou me olhando tão pálido quanto aquele vizinho.
Não, ele não sabe, entendi. E fui cuidar do que restava, que é
sempre o que se deve fazer.
Porque tem outra coisa: girassol quando abre flor,
geralmente despenca. O talo é frágil demais para a própria flor,
compreende? Então, como se não suportasse a beleza que ele
mesmo engendrou, cai por terra, exausto da própria criação
esplêndida. Pois conheço poucas coisas mais esplêndidas, o
adjetivo é esse, do que um girassol aberto.
Alguns amarrei com cordões em estacas, mas havia um tão
quebrado que nem dei muita atenção, parecia não valer a pena.
Só apoie-o numa espada de são-jorge com jeito, e entreguei a
Deus. Pois no dia seguinte, lá estava ele todo meio empinado
de novo, tortíssimo, mas dispensando o apoio da espada. Foi
crescendo assim precário, feinho, fragilíssimo. Quando parecia
quase bom, cráu! Veio chuva medonha e deitou-o por terra. Pela
manhã estava todo enlameado, mas firme. Aí me veio a ideia:

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66 Oficina de Textos em Português

cortei-o com cuidado e coloquei-o aos pés do Buda chinês de


mãos quebradas que herdei de Vicente Pereira. Estava tão mal
que o talo pendia cheio de ângulos das fraturas, a flor ficava
assim meio de cabeça baixa e de costas para o Buda. Não havia
como endireitá-lo.
Na manhã seguinte, juro, ele havia feito um giro completo
sobre o próprio eixo e estava com a corola toda aberta, iluminada,
voltada exatamente para o sorriso do Buda. Os dois pareciam
sorrir um para o outro. Um com o talo torto, o outro com as
mãos quebradas. Durou pouco, girassol dura pouco, uns três
dias. Então peguei e joguei-o pétala por pétala, depois o talo
e a corola entre as alamandas da sacada. Para que caíssem no
canteiro lá embaixo e voltassem a ser pó, húmus misturado à
terra. Depois não sei ao certo, voltasse à tona fazendo parte de
uma rosa, palma-de-santarrita, lírio ou azaleia, vai saber que
tramas armam as raízes lá embaixo no escuro, em segredo.
Ah, pede-se não enviar flores. Pois como eu ia dizendo,
depois que comecei a cuidar do jardim aprendi tanta coisa, uma
delas é que não se deve decretar a morte de um girassol antes do
tempo, compreendeu? Algumas pessoas acham que nunca. Mas
não é para essas que escrevo.
Caio Fernando Abreu

SAIBA MAIS

Quer saber mais sobre a importância dos gêneros textuais no


ensino da Língua Portuguesa? Então leia o artigo de Alina
Segate, “Gêneros textuais no ensino de língua portuguesa”.
Disponível em: https://bit.ly/38CRRtQ.

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Oficina de Textos em Português 67

RESUMINDO

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o
que vimos. Você deve ter aprendido que os gêneros textuais são
coisas diferentes de tipos textuais. Os primeiros são inúmeros
e são sempre presentes no nosso cotidiano, como receitas,
bulas de remédio, e-mails, reportagens etc. Já os tipos textuais
são especificamente seis: narrativo, descritivo, argumentativo,
expositivo, explicativo injuntivo e explicativo prescritivo, que
serão melhor explicados na próxima seção. Vamos lá?

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68 Oficina de Textos em Português

Entendendo os Tipos Textuais

OBJETIVO

Como nós vimos na primeira seção, tipos textuais são diferentes


de gêneros textuais, por mais que um tenha relação com o outro.
Nesta seção nós vamos trabalhar mais profundamente os tipos
textuais, reforçar quais são eles e definir as características cada
um. Então, ao término desta seção você deverá saber como
funcionam os tipos textuais e quais são as características de cada
um. Vamos lá?

Os Tipos Textuais
Alguns autores definem os tipos textuais como sendo um
“sorteamento” Segundo os autores, o sorteamento de textos é
um procedimento de base indutiva e empírica, já a tipologia
de textos, outra forma de se chamar os tipos textuais, é um
procedimento de base dedutiva e teórica. Nesse sentido, os tipos
textuais partem de uma teoria e tem como objetivo categorizar o
universo textual de forma sistemática e exaustiva. Dessa forma,
a caracterização dos textos é baseada em um conjunto limitado
de critérios, constituindo um número relativamente pequeno de
tipos. De acordo com os estudiosos, a tipologia não utiliza as
categorizações já existentes em uma dada comunidade, já que
estabelece sua própria terminologia para dar conta de todos os
textos.
Os tipos textuais, ou tipologia textual ou até mesmo tipos
de texto, são as diferentes formas que um texto pode apresentar,
visando a responder a diferentes intenções comunicativas.
Os aspectos constitutivos de um texto divergem mediante a
finalidade do texto: contar, descrever, argumentar, informar

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Oficina de Textos em Português 69

etc. Então, os diferentes tipos de texto apresentam diferentes


características, em questão, por exemplo, de: estrutura,
construções de frases, linguagem, vocabulário, tempos verbais,
relações lógicas, modo de interação com o leitor etc.
Então, as propriedades de uma tipologia que são: a
homogeneidade, a monotipia, o rigor e a exaustividade. A
homogeneidade diz respeito à base que sustenta as definições
dos tipos textuais, que deve ser da mesma natureza. A monotipia
diz respeito à atribuição de um dado texto a um único tipo
textual, ou seja, um texto não pode ser classificado em diversos
tipos em um mesmo nível de hierarquia. O rigor refere-se ao
fato de não haver ambiguidade tipológica, de modo que o
texto não possa ser classificado em distintos tipos. Por fim,
a exaustividade se refere ao fato de que a tipologia tenha a
possibilidade de ser aplicada em todos os textos.
Existe uma dificuldade em se entrar em um consenso
conceitual em relação à noção de “tipo textual”, principalmente
por conta da utilização de diferentes teorias de linguagem que
a fundamentam. Em uma tentativa de elaborar uma síntese
desta categoria, Silva (1999, p. 101) tece articulações entre
diferentes quadros teóricos e formula uma concepção de “tipo
textual” como:
modos enunciativos de organização do discurso
no texto [...], efetivados por operações textual-
discursivas [...], construídas pelo locutor em
função de sua atitude discursiva em relação ao seu
objeto do dizer e ao seu interlocutor. Tudo isso
é regulado pelo gênero a que o texto pertence e
pela situação interlocutiva, ambientada em dada
instância social do uso da linguagem.
De acordo com essa concepção podemos perceber uma
forte conexão com “tipo textual” e “gênero textual”, entre
“tipo textual” e situação de comunicação e entre “tipo textual”
e esfera de atividade humana (no sentido bakhtiniano, autor

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70 Oficina de Textos em Português

muito abordado na nossa primeira unidade), deixando evidente


que a noção de “tipo textual” é concebida a partir do diálogo
entre uma dimensão estrutural e uma dimensão discursiva.
Já Marcuschi (2002) se posiciona de forma contrária ao
apresentar diferenças entre as concepções de “gênero textual”
e “tipo textual”. Para o autor, os tipos textuais são “construtos
teóricos definidos por propriedades linguísticas intrínsecas”
(MARCUSCHI, 2002, p. 23). Como é possível observar, são
considerados apenas os aspectos estruturais na noção de “tipo
textual”. Essas posições ilustram que, mesmo em uma tentativa
de estabilizar a noção de “tipo textual”, ela se apresenta de
forma escorregadia. Quando iniciamos a discussão acerca dos
tipos textuais é de suma importância trabalhar o conceito de
“superestrutura” de Van Dijk (1978), considerarmos que no
conceito do autor há uma convergência com a noção de “tipo
textual” por conta do viés cognitivista. Outro argumento é
apresentado por Marcuschi (2000) ao afirmar que, apesar de
o autor não ter elaborado uma tipologia textual, a noção de
“superestrutura” provê bases para isso. Para Dijk, superestrutura
é “um tipo de esquema abstrato que estabelece a ordem global
de um texto e que é constituído de uma série de categorias,
cujas possibilidades se baseiam em regras convencionais”.
Essa conceituação revela que a superestrutura tem um caráter
textual, abstrato e convencional.
A natureza textual da “superestrutura” se explica em
oposição à natureza gramatical, de modo que a categoria se
presta a definir um texto tomado em seu conjunto e não a
partir de orações isoladas, por exemplo. Já a natureza abstrata,
diz respeito ao fato de a “superestrutura” se constituir em
um sistema secundário que não possui diretamente funções
pragmáticas, e se manifestar indiretamente por meio dos
sistemas linguísticos das línguas naturais. Essas “estruturas
textuais abstratas” são conhecidas e utilizadas pelos falantes,
de modo que eles produzem e interpretam textos de acordo
com esse sistema implícito. Daí sua natureza convencional. De

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Oficina de Textos em Português 71

acordo com o autor, esse conhecimento cognitivo pertence aos


falantes de uma dada comunidade linguística. Van Dijk (1978)
define, ainda, a superestrutura como a “forma” do texto, contudo
Marcushi (2000, p. 42) nos adverte que “a superestrutura não
é apenas forma, mas tem um componente cognitivo bastante
claro [...]”. Veja a seguir a exemplificação em imagem essa
superestrutura de Dijk.
Figura 2

Argumentação

Justificativa Conclusão

Marco Circunstância

Pontos de Partida Feitos

Legitimidade Reforço
Fonte: Editorial Telesapiens

SAIBA MAIS

Quer saber mais como é o pensamento de Marcushi? Leia o


livro do autor intitulado como “Gêneros textuais: definição e
funcionalidade”, publicado em 2002.

Especificidades dos Tipos Textuais


Agora que você tem uma noção geral sobre os tipos
textuais, vamos estudar um por um? Vamos lá!

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72 Oficina de Textos em Português

1. Texto narrativo
Maioritariamente escrito em prosa, o texto narrativo é
caracterizado por narrar uma história, ou seja, contar uma história
através de uma sequência de várias ações reais ou imaginárias.
Essa sucessão de acontecimentos é contada por um narrador e
está estruturada em introdução, desenvolvimento e conclusão.
Ao longo dessa estrutura narrativa são apresentados os principais
elementos da narração: espaço, tempo, personagem, enredo e
narrador. Quais são os principais elementos da narrativa?
 Espaço: O espaço se refere ao local onde se desenrola a
ação. Pode ser físico (no colégio, no Brasil, na praça etc.), social
(características do ambiente social) e psicológico (vivências,
pensamento e sentimentos do sujeito etc.).
 Tempo: O tempo se refere à duração da ação e ao
desenrolar dos acontecimentos. O tempo cronológico indica
a sucessão cronológica dos fatos, pelas horas, dias, anos etc.
O tempo psicológico se refere às lembranças e vivências das
personagens, sendo subjetivo e influenciado pelo estado de
espírito das personagens em cada momento.
 Personagens: São caracterizadas através de qualidades
físicas e psicológicas, podendo essa caracterização ser feita de
modo direto (explicitada pelo narrador ou por outras personagens,
através de autocaracterização ou heterocaracterização) ou de
modo indireto (feita com base nas atitudes e comportamento das
personagens).
 Enredo: Também chamado de intriga, trama ou ação,
o enredo é composto pelos acontecimentos que ocorrem num
determinado tempo e espaço e são vivenciados pelas personagens.
As ações seguem-se umas às outras por encadeamento, encaixe
e alternância.
 Narrador: O narrador é o responsável pela narração, ou
seja, é quem conta a história. Existem vários tipos de narrador:

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Oficina de Textos em Português 73

 Narrador onisciente e onipresente: Conhece


intimamente as personagens e a totalidade do enredo, de forma
pormenorizada. Utiliza maioritariamente a narração na 3.ª
pessoa, mas pode narrar na 1.ª pessoa, em discurso indireto livre,
tendo sua voz confundida com a voz das personagens, tal é o seu
conhecimento e intimidade com a narrativa.
 Narrador personagem, participante ou presente:
Conta a história na 1.ª pessoa, do ponto de vista da personagem
que é. Apenas conhece seus próprios pensamentos e as ações
que se vão desenrolando, nas quais também participa. Tem
conhecimentos limitados sobre as restantes personagens e sobre
a totalidade do enredo. Este tipo de narração é mais subjetivo,
transmitindo o ponto de vista e as emoções do narrador.
 Narrador observador, não participante ou ausente:
Limita-se a contar a história, sem se envolver nela. Embora tenha
conhecimento das ações, não conhece o íntimo das personagens,
mantendo uma narrativa imparcial e objetiva. Utiliza a narração
na 3.ª pessoa.
Nós temos também a estrutura de uma narrativa. Vamos a ela?
 Introdução: A introdução se refere à situação inicial
da história. Também chamada de apresentação, é nesta parte
da narração que são apresentados os principais elementos
da narração: espaço, tempo, personagens, enredo e narrador.
Ficamos sabendo quem, quando e onde.
 Desenvolvimento: Durante o desenvolvimento do
enredo, ocorrem conflitos, ou seja, acontecimentos que quebram
o equilíbrio apresentado na introdução, modificando essa situação
inicial. Ficamos sabendo o quê e como. No desenvolvimento
ocorre também o momento mais tenso e emocionante da história
- o clímax.
 Conclusão: Também chamada de desfecho, desenlace
ou epílogo, a conclusão é a parte da narração em que se resolvem
os conflitos (positiva ou negativamente). Fica evidenciada a

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74 Oficina de Textos em Português

relação existente entre os diferentes acontecimentos, sendo


apresentadas suas consequências.
Exemplo de excerto de texto narrativo:
A memória é a costureira, e costureira caprichosa. A
memória faz a sua agulha correr para dentro e para foram, para
cima e para baixo, para cá e para lá. Não sabemos o que vem em
seguida, o que virá depois. Assim, o ato mais vulgar do mundo,
como o de sentar-se a uma mesa e aproximar o tinteiro, pode
agitar mil fragmentos díspares, ora iluminados, ora em sombra,
pendentes, oscilantes, e revirando-se como a roupa branca de
uma família de catorze pessoas, numa corda ao vento. ( Orlando
– Virgina Woolf)
2. Texto Descritivo
O texto descritivo é caracterizado por descrever algo ou
alguém detalhadamente, sendo possível ao leitor criar uma
imagem mental do objeto ou ser descrito, de acordo com a
descrição efetuada. Descrição essa tanto dos aspectos mais
importantes e característicos que generalizam um objeto ou ser,
como dos pormenores e detalhes que os diferenciam dos outros.
Não é, por norma, um tipo de texto autônomo, encontrando-
se presente em outros textos, como o texto narrativo. Passagens
descritivas ocorrem no meio da narração quando há uma
pausa no desenrolar dos acontecimentos para caracterizar
pormenorizadamente um objeto, um lugar ou uma pessoa, sendo
um recurso útil e importante para capturar a atenção do leitor.
Estrutura do texto descritivo
 Introdução: Primeiramente é feita a identificação do
ser ou objeto que será descrito, de modo a que o leitor foque sua
atenção nesse ser ou objeto.
 Desenvolvimento: Ocorre então a descrição do objeto
ou ser em foco, apresentando seus aspectos mais gerais e mais

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Oficina de Textos em Português 75

pormenorizados, havendo caracterizações mais objetivas e


outras mais subjetivas.
 Conclusão: A descrição está concluída quando a
caracterização do objeto ou ser estiver terminada.
Características do texto descritivo
O texto descritivo não se encontra limitado por noções
temporais ou relações espaciais, visto descrever algo estático,
sem ordem fixa para a realização da descrição. Há uma notória
predominância de substantivos, adjetivos e locuções adjetivas,
em detrimento de verbos, sendo maioritariamente necessária
a utilização de verbos de estado, como ser, estar, parecer,
permanecer, ficar, continuar, tornar-se, andar etc.
O uso de uma linguagem clara e dinâmica, com vocabulário
rico e variado, bem como o uso de enumerações e comparações,
ou outras figuras de linguagem, servem para melhor apresentar
o objeto ou ser em descrição, enriquecendo o texto e tornando-o
mais interessante para o leitor.
A descrição pode ser mais objetiva, focalizando aspectos
físicos, ou mais subjetiva, focalizando aspectos emocionais
e psicológicos. Nas melhores descrições, há um equilíbrio
entre os dois tipos de descrição, sendo o objeto ou ser descrito
apresentado nas suas diversas vertentes.
Na descrição de pessoas, há a descrição de aspectos físicos,
ou seja, aquilo que pode ser observado e a descrição de aspectos
psicológicos e comportamentais, como o caráter, personalidade,
humor,…, apreendidos pelo convívio com a pessoa e pela
observação de suas atitudes. Na descrição de lugares ocorre tanto
a descrição de aspectos físicos, como a descrição do ambiente
social, econômico, político,… Na descrição de objetos, embora
predomine a descrição de aspectos físicos, pode ocorrer uma
descrição sensorial, que estimule os sentidos do leitor.

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76 Oficina de Textos em Português

Exemplos:
Descrição Subjetiva
“Ficara sentada à mesa a ler o Diário de Notícias, no seu
roupão de manhã de fazenda preta, bordado a sutache, com largos
botões de madrepérola; o cabelo louro um pouco desmanchado,
com um tom seco do calor do travesseiro, enrolava-se, torcido
no alto da cabeça pequenina, de perfil bonito; a sua pele tinha
a brancura tenra e láctea das louras; com o cotovelo encostado
à mesa acariciava a orelha, e, no movimento lento e suave dos
seus dedos, dois anéis de rubis miudinhos davam cintilações
escarlates.” (O Primo Basílio, Eça de Queiroz)
Descrição Objetiva
“A vítima, Solange dos Santos (22 anos), moradora da
cidade de Marília, era magra, alta (1,75), cabelos pretos e curtos;
nariz fino e rosto ligeiramente alongado.”
3. Texto dissertativo-expositivo
O texto dissertativo-expositivo tem como objetivo informar
e esclarecer o leitor através da exposição de um determinado
assunto ou tema. Não há a necessidade de convencer o leitor,
apenas de expor conhecimentos, ideias e pontos de vista.
É essencial que o autor domine totalmente o assunto, uma
vez que o rigor na análise do conteúdo de um texto dissertativo-
expositivo é elevadíssimo. Por se tratar da transmissão de um
conhecimento teórico, devidamente legitimado, não pode haver
qualquer tipo de incorreção.
Além disso, é importante que o assunto seja exposto de
forma clara, pormenorizada e objetiva, de modo a que o texto
seja entendido pelo maior número possível de leitores.
Este tipo de texto é usado em: livros, aulas e resumos
escolares, enciclopédias, textos científicos, verbetes de dicionário,
textos para transmissão de conhecimentos em diversos meios de
comunicação, como internet, jornais, revistas etc.

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Oficina de Textos em Português 77

Características do texto dissertativo-expositivo:


Com o intuito de informar e esclarecer, o texto dissertativo-
expositivo é caracterizado por:
 utilizar uma linguagem clara e objetiva;
 ser de fácil compreensão por diversas pessoas;
 apresentar muita informação sobre um determinado
assunto;
 especificar conceitos e definições;
 realizar descrições de características;
 recorrer a enumerações, comparações e contrastes para
clarificar os conceitos.
Estrutura do texto dissertativo-expositivo
O texto dissertativo-expositivo pode ser construído através
da estrutura textual típica de introdução, desenvolvimento
e conclusão. Contudo, mais importante do que seguir uma
estrutura rígida, é que haja a exposição de ideias certas e bem
organizadas sobre um determinado tema.
 Introdução:
Na introdução é feita a apresentação do tema que será
abordado, com possível contextualização num universo mais
amplo no qual o tema se encontra inserido. Neste momento, é
feita também a definição do objetivo do texto.
 Desenvolvimento:
No desenvolvimento é feita uma explicação pormenorizada,
clara e objetiva do tema, havendo uma exploração de todas as
suas vertentes e de todos os aspectos principais e secundários
relativos ao mesmo.

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78 Oficina de Textos em Português

 Conclusão:
Na conclusão ocorre a reafirmação do tema, sendo feita
a síntese dos conteúdos abordados. Pode haver uma tomada de
posição do autor relativamente ao assunto tratado.
Exemplo de texto dissertativo-expositivo:
“Locução adjetiva é um conjunto de duas ou mais palavras
que, juntas, atuam como um adjetivo, caracterizando um
substantivo. A maior parte das locuções adjetivas é formada pela
preposição de mais um substantivo. Há, no entanto, locuções
adjetivas formadas por advérbios e pelas preposições sem, com,
em, etc.”
Algumas locuções adjetivas se encontram diretamente
relacionadas com um adjetivo, outras não. Assim, em alguns
casos é possível a substituição da locução adjetiva por um
adjetivo, em outros não.
A utilização de locuções adjetivas permite uma maior
diversidade vocabular e enriquecimento textual.
4. Texto dissertativo argumentativo
O texto dissertativo-argumentativo tem como objetivo
persuadir e convencer, ou seja, levar o leitor a concordar com
a tese defendida. É expressa uma opinião crítica acerca de um
assunto, sendo defendida uma tese sobre esse assunto através
de uma argumentação clara e objetiva, fundamentada em fatos
verídicos e dados concretos.
Estrutura do texto dissertativo argumentativo
A apresentação e defesa da tese desenvolvem-se através
da estrutura textual típica de introdução, desenvolvimento e
conclusão.
 Introdução
Na introdução ocorre a apresentação de um assunto e de
uma tese que será defendida sobre esse assunto. Assim, após

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Oficina de Textos em Português 79

a identificação de um problema num determinado assunto, é


apresentada a tese de forma clara e objetiva, sendo essencial que
esta esteja bem definida e delimitada. A reflexão crítica sobre
a tese e sua argumentação serão feitas no desenvolvimento do
texto.
 Desenvolvimento
No desenvolvimento ocorre a apresentação e a exploração
dos diversos argumentos que suportam a tese. Podem
ser apresentados através do reconhecimento das causas e
consequências do problema, da identificação de seus aspectos
positivos e negativos ou da contra-argumentação de uma tese
contrária. Pode haver um foco no argumento justificando a tese
ou um foco na tese que ocorre por um determinado argumento.
O que importa é que se utilize uma linguagem coerente, objetiva
e precisa.
A apresentação dos argumentos deve seguir uma sequência
lógica. Pode haver um argumento principal e argumentos
auxiliares ou vários argumentos fortes. O mais importante é que
estes sejam objetivos e detalhados e que haja conexão entre eles.
Os diversos argumentos deverão ser sustentados com
exemplos e provas que os validem, tornando-os indiscutíveis, como:
 Atos comprovados;
 Conhecimentos consensuais;
 Dados estatísticos;
 Pesquisas e estudos;
 Citações de autores renomados;
 Depoimentos de personalidades renomadas;
 Alusões históricas;
 Fatores sociais, culturais e econômicos.

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80 Oficina de Textos em Português

Além disso, diversos recursos de linguagem podem ser


usados para captar a atenção do leitor e convencê-lo da correção
da tese, como a utilização de uma linguagem formal, de perguntas
retóricas, de repetições, de ironia, de exclamações etc.
 Conclusão
Na conclusão há a retoma e reafirmação da tese inicial,
já defendida pelos diversos argumentos apresentados no
desenvolvimento. Pode ocorrer a apresentação de soluções
viáveis ou de propostas de intervenção. A conclusão aparece
como um desfecho natural e inevitável visto o pensamento do
leitor já ter sido direcionado para a mesma durante a apresentação
dos argumentos.
Exemplo de texto dissertativo-argumentativo:
“Não é de hoje que a sociedade brasileira sofre com os
tormentos ocasionados pela disseminação da violência. Esse
fato estarrecedor gera debates e mais debates, na tentativa de
sanar, ou ao menos coibir, os sérios impactos sociais que as
ações violentas representam para a coletividade. Para esse fim,
seria a redução da maioridade penal um componente de primeira
grandeza?
Constata-se que o envolvimento de jovens infratores em
graves delitos pode não ser uma exclusividade dos tempos
modernos; no entanto, é inegável o aumento de casos envolvendo
crianças e adolescentes em situações deploráveis, como furtos,
roubos e, em muitos contextos, homicídios.
Com esse cenário, parece irrefutável a tese que defende o
declínio de dois anos nas contas da maioridade penal. Para os
mais inconformados com a realidade, aqueles tomados pelo afã
do “justiceiro implacável”, não parecem existir outras saídas.
Todavia, nem sempre o que se revela aparentemente óbvio
o é. Há fatores envolvidos nas estatísticas da criminalidade
covardemente camuflados por alguns setores governamentais,
bem como por áreas específicas da sociedade civil.

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Oficina de Textos em Português 81

Se reduzir a idade mínima penal tivesse consequências


positivas imediatas para a diminuição dos índices criminais, essa
certamente já seria uma medida adotada por todas as nações.
Fatores bem mais importantes como priorização efetiva dos
investimentos em educação e cultura, bem como distribuição
de emprego e renda, inserindo o jovem no universo acadêmico
ou técnico, indubitavelmente aplacariam com mais rapidez e
eficácia os deploráveis números.
A participação de menores infratores em crimes hediondos
não deve ser ignorada, é inegável; diminuir a idade base para a
criminalização de seus atos pode ser uma saída, mas necessita,
ainda, de discussões e argumentos mais convincentes. De
concreto, fica a certeza de que só um programa capaz de incluir
crianças, adolescentes e jovens nos interesses mais prioritários
do país terá a força suficiente para contornar quadro tão
desfavorável.” (Prof. Eduardo Sampaio)
5. Texto injuntivo e prescritivo
Tanto os textos injuntivos quanto os prescritivos têm a
finalidade de instruir o leitor. Não só fornecem uma informação,
como incitam à ação, guiando a conduta do leitor.
Embora considerados sinônimos por alguns autores,
podemos distinguir os textos injuntivos dos textos prescritivos
devido ao grau de obrigatoriedade existente no seguimento
das instruções dadas. Os textos injuntivos informam, ajudam,
aconselham, recomendam e propõem, dando alguma liberdade
de atuação ao interlocutor. Os textos prescritivos obrigam,
exigem, ordenam e impõem, exigindo que as determinações
sejam cumpridas da forma que estão referidas, sem margem para
alterações.
Texto injuntivo
O texto injuntivo (ou instrucional) apresenta as seguintes
características:

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82 Oficina de Textos em Português

 Instrui o leitor acerca de um procedimento;


 Induz o leitor a proceder de uma determinada forma;
 Permite a liberdade de atuação ao leitor;
 Utiliza linguagem objetiva e simples;
 Utiliza predominantemente verbos no infinitivo,
imperativo ou presente do indicativo com indeterminação do sujeito.
Exemplos: receita culinária, bula de remédio, manual de
instrução, livro de autoajuda, guia rodoviário etc.
Excerto de texto injuntivo:
“Derreta uma colher de sopa de manteiga numa panela
em fogo médio. Acrescente uma lata de leite condensado. De
seguida, junte quatro colheres de sopa de chocolate em pó.
Mexa suavemente, sem parar, até desgrudar do fundo da panela.
Despeje a mistura em um recipiente previamente untado e deixe
esfriar. Depois, com a ajuda de uma colher de sobremesa, faça
pequenas bolas com as mãos e passe-as no chocolate granulado.”
(receita de brigadeiro de chocolate)
Texto prescritivo
O texto prescritivo apresenta as seguintes características:
 Instrui o leitor acerca de um procedimento;
 Exige que o leitor proceda de uma determinada forma;
 Não permite a liberdade de atuação ao leitor;
 Apresenta caráter coercitivo;
 Utiliza linguagem objetiva e simples;
 Utiliza predominantemente verbos no infinitivo,
imperativo ou presente do indicativo com indeterminação do
sujeito.
Exemplos: cláusulas contratuais, leis, códigos, constituição,
edital de concursos públicos, regras de trânsito,…

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Oficina de Textos em Português 83

Excerto de texto prescritivo:


“O pedido de isenção deverá ser solicitado, das 12 horas do
dia 22 de abril de 2015 até as 16 horas do dia 4 de maio de 2015.
Esta solicitação deverá ser caracterizada no Requerimento de
Inscrição, em campo próprio, devendo o candidato informar o seu
Número de Identificação Social – NIS, atribuído pelo Cadastro
Único – CadÚnico.” (Edital N.° 101/ 2015 - Universidade
Federal Fluminense)

Identificando a formalidade de um texto

OBJETIVO

A formalidade de um texto é algum muito subjetivo, pois tudo


depende do ambiente, do tempo histórico, do falante, do receptor
e vários outros fatores. Então, nesta seção você deverá entender
as variações linguísticas como um tudo, saber por que a língua é
mutável, o que é um texto formal e informal na língua escrita e
quando usar cada um. Está pronto? Então vamos nessa.

A sociolinguística e as variações linguísticas


Para dar início a nossa seção, vamos ler uma pequena
piada sobre a língua de Sírio Possenti? Analise:
Domingo à tarde, o político vê um programa de TV. Um
assessor passa por ele e pergunta:
– Firme?
O político responde:
– Não, Sírvio Santos.

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84 Oficina de Textos em Português

(POSSENTI, S. Os humores da língua. Campinas, SP:


Mercado das Letras,
1998, p. 34)
Você deve estar se perguntando: ótimo, mas o que isso tem
a ver piada com a Sociolinguística?
Bem, fazendo uma análise rápida, notamos que é a palavra
“firme” que desencadeia o efeito humorístico, pois aqui ela tem
dois sentidos:
a. firme = “tudo bem?”, um cumprimento informal;
b. firme = “filme”, uma variante popular.
O assessor cumprimenta o político perguntando se está
tudo bem, mas ele entende que o primeiro está querendo saber se
ele está assistindo a um filme na TV. Essa segunda interpretação
é linguisticamente reforçada pelo uso da palavra “Sírvio”.
Assim, fica claro que a figura do político está sendo representada
como caipira, não escolarizado etc. Ele ouve a palavra “firme” e
a entende como uma variante de “filme”.
A troca de /l/ por /r/, nesse caso, representa uma variação
linguística. Neste caso, é uma variação fonológica, ou seja, a troca
de um fonema por outro sem alteração do significado referencial
da palavra. No caso exemplificado pela piada, a variante usada
pelo político carrega um significado social, justamente aquele
mencionado acima: o falante não tem domínio da variedade
padrão do português oral, sendo, provavelmente, de baixa
escolaridade. A piada veicula um teor de crítica apresentando
uma espécie de caricatura da classe dos políticos.
A partir desse exemplo, é que existe uma relação estreita
entre as formas da língua, os diferentes grupos sociais que as
utilizam e a imagem que projetamos nestes através daquela. É
dessa relação que se ocupa a Sociolinguística.
Então, para que você tenha uma dimensão histórica sobre
a sociolinguística, foi no início do século XX que começaram

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Oficina de Textos em Português 85

a germinar as sementes que viriam posteriormente – depois de


cerca de meio século de domínio de correntes estruturalistas
– a florescer e dar frutos na área de estudos da linguagem que
estamos abordando. Assim, a partir da década de 60, como
herança de Meillet, volta a ganhar força a noção de língua como
fato social dinâmico, cuja variação é explicada pela mudança
social, por forças externas. E como herança de Bakhtin, como já
muito estudado aqui, se renova a perspectiva de que a língua é
um fenômeno social cuja natureza é ideológica.

SAIBA MAIS

Quer ficar ainda mais por dentro sobre az história da


Sociolinguística? Então leia o livro “Sociolinguística. Uma
Introdução Critica”, de Louis-Jean Calvet.

Agora que você já tem uma noção do que é a sociolinguística,


vamos as variações linguísticas de fato?
Bem, existem vários tipos de variações linguísticas, elas
acontecem porque a língua muda o tempo todo. De acordo
com Labov, um dos precursores do nosso estudo, variação é
o processo pelo qual duas formas podem ocorrer no mesmo
contexto linguístico com o mesmo valor referencial, ou com
o mesmo valor de verdade, com o mesmo significado. Dois
requisitos devem, ser cumpridos para que ocorra variação: as
formas envolvidas precisam ser intercambiáveis no mesmo
contexto e manter o mesmo significado. Ainda em consonância
com o autor, a Sociolinguística se ocupa da relação entre língua
e sociedade, e do estudo da estrutura e da evolução da linguagem
dentro do contexto social da comunidade de fala. Veja que, ao
eleger como objeto de estudo a estrutura e a evolução linguística,

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86 Oficina de Textos em Português

Labov rompe com a relação estabelecida por Saussure entre


estrutura e sincronia de um lado e história evolutiva e diacronia
de outro, aproximando igualmente a sincronia e a diacronia às
noções de estrutura e funcionamento da língua.
No âmbito da Sociolinguística, o termo ‘evolução’ equivale
a ‘mudança’. Não existe nenhum tipo de valoração associado:
não está em jogo nenhuma avaliação positiva ou negativa – as
línguas simplesmente mudam (nem para melhor, nem para pior).
Vamos, então, finalmente a cada variação linguística?
1. Variações diatópicas
Também chamada de variação geográfica ou regional,
consiste numa variação ocorrida quando a mesma Língua é
falada de forma diferente, a depender de determinada localidade
(país, estado, cidade).
Esse tipo de variação linguística é identificado ao
compararmos as alterações do português entre as diversas
regiões do Brasil e também ao compararmos o português falado
no nosso país com o português falado em Portugal.
Alguns exemplos:
 Mexerica, bergamota ou vergamota = determinado tipo
de fruta cítrica.
 Marmitex, quentinha = comida.
 Macaxeira, aipim, mandioca = um tipo de raiz.
Esse tipo de variação ocorre mediante influências
culturais, hábitos regionais, tradições etc., podendo acontecer
das seguintes maneiras:
 Diferentes palavras para os mesmos conceitos ou
significados;
 Diferentes dialetos, sotaques e falares;
 Diminuição de palavras ou perda de fonemas.

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Oficina de Textos em Português 87

2. Variações diastráticas
Também conhecidas como variações sociais, são tipos de
variações linguísticas que ocorrem em virtude da convivência
entre determinados grupos sociais que, por questões culturais,
preferências, atividades ou profissões em comum adotam um
linguajar próprio (especialmente jargões e gírias).
Trata-se, por exemplo, da linguagem utilizada entre grupos
distintos, tais como:
 Advogados;
 Surfistas;
 Policiais;
 Políticos;
 Religiosos;
 Bandidos etc.
Por que é importante compreender as variações
linguísticas?
O entendimento com relação a essas variações evita o
preconceito quanto a quem fala diferente, tornando o idioma
ainda mais amplo e rico com relação aos significados das
palavras e expressões.
Estudos relacionados a cada tipo de variação linguística
são recorrentes no caso dos profissionais que atuam na área de
Letras, já que eles buscam analisar as transformações ocorridas
na Língua em virtude de fatores geográficos, históricos, culturais,
sociais etc.
Fatores extralinguísticos que interferem nas variações
 Classe social ou nível socioeconômico;
 Origem geográfica;
 Nível de escolarização;

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88 Oficina de Textos em Português

 Sexo;
 Idade;
 Profissão;
 Redes sociais;
 Palavras e expressões estrangeiras.
Classificação das variações linguísticas
Essas variações possuem uma classificação específica,
sendo nomeadas de:
 Variação morfológica: alteração na grafia (forma de
escrever) da palavra.
 Variação fonético-fonológica: diferentes pronúncias
para uma letra. Aqui no Brasil, um exemplo comum são as
diferentes pronúncias da letra R.
 Variação semântica: quando uma mesma palavra pode
ser empregada com significados diferentes.
 Variação sintática: refere-se à organização dos elementos,
mantendo o mesmo sentido da oração.
 Variação estilístico-pragmática: variam conforme situações
de interação social, sendo caracterizadas por maior ou menor grau de
formalidade.
 Variação lexical: palavras escritas de maneira diferente,
mas que possuem o mesmo significado.

A formalidade do texto, de fato


Agora que nós vimos como acontecem e quais são
as variações linguísticas, vamos entender de fato sobre a
formalidade do texto:
A linguagem pode ser mais ou menos formal dependendo
da situação. Neste capítulo, o que são os níveis de formalidade,

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Oficina de Textos em Português 89

estrangeirismos e neologismos e ainda vai entender mais sobre


o emprego de gírias e regionalismos.
Linguagem formal e linguagem informal
A linguagem formal pode ser oral ou escrita. É geralmente
empregada quando nos dirigimos a um interlocutor com quem
não temos proximidade: solicitação de algo a uma autoridade,
entrevista de emprego, por exemplo. A polidez e a seleção
cuidadosa de palavras são suas características marcantes.
A linguagem formal segue a norma culta. É usada em
situações formais, como correspondência entre empresas, artigos
de alguns jornais e revistas, textos científicos, livros didáticos.
A linguagem informal também pode ser oral e escrita. É
geralmente empregada quando há um certo grau de intimidade
entre os interlocutores, em situações informais, como na
correspondência entre amigos e familiares.
A estrutura da linguagem informal é mais solta, com
construções mais simples, e permite abreviações, diminutivos,
gírias e até construções sintáticas que não seguem a norma
culta. Lembre-se de que usar essa linguagem não significa que
o emissor não saiba (ou não possa) se comunicar de outra forma
quando necessário.
Vamos ler alguns textos para contextualizar?
Texto 1
“(...)
Os meninos estão se divertindo no chafariz da
Praça da Sé. Dos oito aos quinze anos, eu também
pulava nessas águas, e o chafariz era a minha
felicidade. Mas o tempo passou. Hoje estou com
21 anos e não tomo mais banho da praça. (...)
Nesse tempo, dos banhos gelados da Sé aos
banhos do meu chuveiro quente, quase dancei,

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90 Oficina de Textos em Português

quase morri. Fui até o fundo. Roubei, fumei crack,


trafiquei, fui presa, apanhei pra caramba. Diziam
que eu não tinha jeito, estava perdida. Eu mesma
achava que não tinha jeito. Quase todos os meus
amigos daquela época do chafariz estão mortos,
presos, loucos ou doentes. Gente que andava
comigo, fumava comigo ou roubava comigo. Por
que não morri? Por que não pirei? (...)”
Esmeralda Ortiz – Por que não dancei
Texto 2
“Chegando à vila, tive más noticias do coronel. Era
homem insuportável, estúrdio, exigente, ninguém
o aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais
enfermeiros que remédios. A dous deles quebrou
a cara. Respondi que não tinha medo de gente sã,
menos ainda de doentes; e depois de entender-
me om o vigário, que me confirmou as notícias
recebidas, e me recomendou mansidão e caridade
segui para a residência do coronel.
Achei-o na varanda da casa estirado numa cadeira,
bufando muito. Não me recebeu mal. Começou
por não dizer nada; pôs em mim dous olhos de
gato que observa; depois, uma espécie de riso
maligno alumiou-lhe as feições, que eram duras.
Afinal, disse-me que nenhum dos enfermeiros que
tivera prestava para nada, dormiam muito, eram
respondões e andavam ao faro das escravas; dous
eram até gatunos!”
Machado de Assis – Contos Consagrados

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Oficina de Textos em Português 91

Além da linguagem formal e informal, existem outros


níveis de formalidade de um texto, vamos a eles:
Estrangeirismos:
A forte influência qu3e algumas culturas exercem sobre
outras pode ser percebida no vestuário, na culinária, na música,
no cinema e também no comportamento. Na língua, pode se
manifestar pelo emprego de estrangeirismos.
Algumas palavras são empregadas até hoje sem modificar
a forma original ou a pronúncia, mesmo existindo o termo
aportuguesado. Por exemplo: usa-se omelete, vitrine, nuance,
vindas do francês – e não omeleta, vitrina e nuança.
Uma palavra – hoje considerada estrangeirismo – pode,
com o tempo, ser incorporada ao cotidiano do falante e ao
vocabulário da língua. Foi o que ocorreu com lanche e futebol:
essas palavras, assimiladas do inglês (lunch e football), eram
estrangeirismos quando começaram a ser utilizadas e agora
fazem parte do vocabulário da língua portuguesa.
Atualmente, observa-se o uso cada vez mais frequente de
estrangeirismos, o que em geral tem relação com a globalização
dos meios de produção e da economia. Termos como design,
case, job, deadline, show etc. estão presentes na TV, no rádio, na
mídia impressa e na internet.
No entanto, nem sempre o uso do estrangeirismo comunica
ou traduz o que pretende o emissor. No texto a seguir, você pode
observar tanto usos funcionais quanto equivocados desse recurso
linguístico. Veja um texto que exemplifica bem essa questão dos
estrangeirismos:
“Yes”, a gente fala inglês... ou quase
“Com conhecimento rudimentar da língua, carioca transforma
o idioma nascido nas ilhas britânicas em dialeto especial.

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92 Oficina de Textos em Português

‘Shine, mister?’ (brilho, senhor?). Gesticulando e


gingando diante do possível freguês (...) o engraxate Gilberto da
Costa, de 36 anos, 26 deles com sua caixa na Avenida Atlântica,
não se aperta diante do fato de que o americano branquela à
sua frente aparenta não falar nada além de inglês. ‘É tem (dez)
real, mister’, continua, agarrando o sapato do sujeito – e, à
exclamação espantosa do gringo: ‘It’s too expensíve!’ (é muito
caro), responde sem vacilar. ‘É, sou especialista, mesmo!’.
O americano em questão, porém, nasceu em Lisboa e
fala um excelente português. O advogado John Godinho, de 59
anos, que foi para os Estados Unidos ainda criança, mas mora
no Brasil há três décadas (...) percorreu a cidade para ver, no
globalizado Rio de Janeiro, como o carioca se apropriou do que,
há 1.500 anos, era um dialeto esquisito das Ilhas Britânicas – e
que, hoje, transformou-se num dialeto esquisito do lado de cá do
hemisfério.
‘Parece que está acontecendo uma contaminação mútua
entre o carioca e a língua inglesa. O inglês in filtra-se, mas
o cidadão dá o troco. É como se o carioca criasse um limbo
linguístico em que as palavras parecem inglesas, mas já não
são’, observa Godinho, que trabalha como consultor da língua
para executivos. (...)
Nessa época de liquidação em shopping center (que
em inglês, na verdade, chama-se mal), a palavra da moda
é off. Segundo Godinho, a expressão só faz sentido se vier
acompanhada, por exemplo, de um percentual: 50% off. (...)
(...) ‘A gente usa off porque dá muito estrangeiro no
shopping’, explica José Luiz Marques, 51 anos, um dos sócios
da loja de roupas femininas Scrap, no Rio Sul.
A loja é um daqueles exemplos de como essa apropriação,
se indébita, pode criar constrangimentos gerais. ‘Quando entra
turista aqui, eles ficam rindo do nome’, confessa Marques.
Pudera: scrap significa restos, sobras de comida. ‘Quando a loja

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Oficina de Textos em Português 93

começou, na Rua da Alfândega, vendia várias marcas de jeans,


daí a ideia de sucata. Depois, o nome pegou’, justifica. (...)”
AZEVEDO, Eliane. In Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 19
ago. 2001.
Neologismos:
Os neologismos ocorrem quando o falante necessita
expressar uma ideia mas não encontra uma palavra com
significado adequado na língua. Nesses casos, o falante recorre
a uma palavra em outra língua, cujo significado expressa bem
a ideia. Os neologismos ocorrem também quando o falante usa
uma palavra com um sentido novo, diferente do significado
original.
Algum tempo após o seu uso informal, alguns neologismos
são incorporados aos dicionários, isto é, são dicionarizados.
Na literatura e na música, os neologismos são utilizados
sem restrições em razão da licença poética de que dispõem os
escritores e os compositores e, também, porque o próprio “fazer
literário” usa as palavras de forma distinta daquela com que
é utilizada no senso comum e amplia os recursos expressivos
possíveis.
Na canção “Carnavália”, de Arnaldo Antunes, Carlinhos
Brown e Marisa Monte (CD Tribalistas, 2002), á um neologismo
por aglutinação de palavras:
“Repique tocou
O surdo escutou
E o meu corasamborim
Cuíca gemeu, será que era eu, quando ela
passou por mim?”
No terceiro verso, corasamborim é junção de coração
+ samba + tamborim. A palavra refere-se, ao mesmo tempo,

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94 Oficina de Textos em Português

a elementos que compõem uma escola de samba e à situação


emocional em que se encontra o emissor da mensagem, com o
coração no ritmo da percussão.
Na mídia é comum o uso de neologismos que, aos poucos, são
incorporados ao cotidiano da maioria da população. Laranja (falso
proprietário) e gato (ligação clandestina de instalações elétricas) são
exemplos de palavras com significado diverso do usual.
Na terminologia da informática, observa-se diariamente a
introdução de neologismos. Leia alguns verbetes de informática
do glossário a seguir. (Verbete é o conjunto de acepções e
exemplos referentes a um termo, encontrado em dicionários,
enciclopédias, glossários.)
“DELETAR (forma aportuguesada de delete.) Destruir,
eliminar; apagar um texto.”
“LINCAR (forma aportuguesada de link.) Acessar
documentos de hipertexto por meio de link.”
“LOGAR (forma aportuguesada de login ou logon.)
Fornecer nome do usuário e senha para obter acesso a um
equipamento, sistema ou rede de computadores.”
Gírias:
As gírias nascem num determinado grupo social e passam
a fazer parte da linguagem familiar de várias camadas sociais.
Podem também ser constituídas de estrangeirismo e neologismos.
O processo de formação de gírias inclui metáforas,
truncamentos, sufixação, acréscimo de sons ou sílabas, e, às
vezes, palavras de baixo calão. Por exemplo: nas frases “Está
um sol de chapar o coco!” e “Não esquente a moringa com isso”,
as gírias são formadas com base em metáforas – coco e moringa
estão no lugar de cabeça; chapar quer dizer “esquentar”, e
esquentar, na segunda frase, significa “preocupar”.
A gíria pode revelar a idade do falante. Uma pessoa
de 50 anos provavelmente sabe o significado destas gírias:

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Oficina de Textos em Português 95

“boco-moco”, “cafona”, “careta”, “joia”, “é uma brasa, mora”,


“prafrentex”. Um jovem sabe o que é “parada sinistra”, “pro
“responsa”, “mó legal” e “da hora”.
A gíria também é conhecida como jargão quando se
refere à linguagem peculiar usada por quem exerce determinada
profissão. Veja estes exemplos do jargão da área de economia
e finanças: quase moeda (o mesmo que depósitos de poupança,
títulos emitidos pelo governo etc.), duopólio (mercado no qual
só há dois vendedores), boom (fase de aumento significativo no
número de transações no mercado de ações).
Regionalismos:
No Brasil, a influência de várias culturas deixou na língua
portuguesa marcas que acentuam a riqueza de vocabulário e
de pronúncia. As diferenças na nossa língua não constituem
erro, mas são consequência das marcas deixadas pelas línguas
originais que entraram na formação do português falado no
Brasil, no qual estão presentes sobretudo elementos de línguas
indígenas e africanas, além das europeias, como o francês e o
italiano.
Existem diversas variantes linguísticas quanto à forma de
expressão escrita e falada de acordo com as regiões em que as
pessoas vivem. São os regionalismos linguísticos, que diferem
quanto ao sotaque ou pronúncia de cada região.
Um mesmo objeto pode ser nomeado por palavras diversas,
conforme a região. Por exemplo: “pipa” ou “papagaio”, no
Rio Grande do Sul, se chama “pandorga”; “semáforo” pode ser
designado por “farol” em |São Paulo, e “sinal” ou “sinaleiro” no
Rio de Janeiro.
Leia o texto a seguir para exemplificar o regionalismo:
“Acharam mais um chimpanzé. Lá na Serra da
Capivara. Ingá, não sei. Ou será que foi no chão
de Catolé? O dente do macaco vale ouro, pois é.
E a gente aqui nessa miséria. O couro cabeludo.

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96 Oficina de Textos em Português

Enterrado até o pescoço. Há um milhão de tempo.


No esquecimento. Osso bom é osso morto. O que
vai ter de estudioso, perguntando. No futuro, pela
gente, pode crer. De que ele morreu, sei lá, foi
de repente? Comeu calango podre? Bebeu água
doente?. E a mulher dele, o que será que houve?
Eu, preta, caída na cova. Cabelo até a cintura.
Carcaça prematura. Morreu de desgosto. Isso se
a gente tiver sorte. O que tem de corpo que morre
e ninguém vê o pó. Neste sol de rachar o quengo.
É vaca, é bode, bezerro, jumento, cachorro. É
menino morto. feito passarinho. Não o passarinho
que eles encontram, gigante. Importante é bicho
grande. Se pelo menos ovo de dinossauro matasse
a fome. A gente tava feito. A gente tem de fazer
alguma coisa, urgente. Para sair desse buraco,
entende? A gente podia ganhar dinheiro. Não deve
ser difícil achar mais um chimpanzé, Zé. Por aqui
mesmo.”
FREIRE, Marcelino. In Folha de S.Paulo, 29
out.2002.

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Oficina de Textos em Português 97

Executando os Procedimentos de Coesão


e Coerência

OBJETIVO

A coesão e coerência são de suma importância para a formação de


um bom texto. Ao fim desta seção, você, aluno, deverá entender
o que são esses termos, como eles aparecerem nos textos, quais
suas características e diferenças. Vamos lá?

A língua escrita tem funções bem definidas nas sociedades


e se manifesta através de diferentes registros. A variedade de
contextos sociais envolve uma infinidade de textos que versam
sobre os mais diferentes conteúdos e que são organizados de
modos distintos e característicos. Os diferentes gêneros de texto
podem ser considerados um fenômeno cognitivo e social. Na
perspectiva cognitiva, observa-se um interesse em examinar
os processos de desenvolvimento que atuam na estruturação e
representação que a criança apresenta sobre determinado gênero
de texto.
Na perspectiva social, a ideia de gênero é expandida
para caracterizar qualquer discurso, oral, conversacional etc.
Para Bakhtin (1986), gênero é um componente essencial de
significados, podendo ser de dois tipos: secundários e primários.
Os gêneros secundários (textos científicos, novelas) derivam-se
dos primários, os quais têm origem nas situações e contextos da
vida diária.
A Linguística Textual é a responsável pelo estudo da
estrutura e do funcionamento dos textos, ela é capaz de explanar
os fenômenos textuais através de uma gramática de enunciado.

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98 Oficina de Textos em Português

O texto é composto de grupos de enunciados e para produzi-lo


e fazer com que seja entendido se faz necessária a habilidade
do falante/escritor para falar/escrever. Para se ter textos, que
são frases interligadas e não um monte de palavras soltas, é
necessário haver uma produção linguística, pois o texto é uma
criação falada ou escrita que forma um todo significativo. Os
textos são considerados unidades da língua com uma função
comunicativa definível, caracterizando-se por vários fatores
textuais: contextualização, coesão, coerência, intencionalidade,
informatividade, aceitabilidade, situacionalidade e
intertextualidade.
Então, como se dão a coesão e coerência?
1. Coesão
Coesão textual é um fator importante do texto que se
refere à conexão de palavras, expressões ou frases dentro de uma
sequência. O texto coeso se constrói com elementos de ligação
que podem ser pronomes, verbos, advérbios, conectores coesivos
(termos e expressões); e sem sequenciadores, sendo o lugar do
conector marcado por sinais de pontuação (vírgula, ponto, dois-
pontos, ponto-e-vírgula). Segundo Koch e Travaglia (1989),
a coesão é explicitamente apresentada através de elementos
linguísticos, indicações na estrutura superficial do texto, sendo de
caráter claro e direto, expressando-se na organização sucessiva
do texto.
Então, a coesão é a relação semântica entre os elementos
do texto que são decisivos para sua interpretação. Além disso,
a coesão é a relação entre os componentes superficiais do
texto e a maneira pela qual eles se interligam e se combinam
para resultar num desenvolvimento desejado. Essa visão
semântica da coesão diz respeito às relações de dependência
que transformam enunciados interligados em um texto. Coesão
é a relação de significado entre dois componentes do texto,
sendo um dependente do outro. “há dois tipos de coesão: coesão

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Oficina de Textos em Português 99

gramatical (expressa através da gramática) e coesão lexical


(expressa através do vocabulário)”.
Além dos conectores coesivos se faz necessário haver um
certo grau de coerência para que um discurso seja um texto.
Então, a coesão é o modo como os elementos superficiais do
texto se interligam numa sucessão linear por meio de sinais
linguísticos. De acorso com Widdowson (1978),
“a coesão ‘é o modo pelo qual as frases ou
partes delas se combinam para assegurar um
desenvolvimento proposicional...’ e revela-se
por índices formais, sintáticos, sem apelo ao
pragmático”.
Para Marcuschi (1983), a coesão diz respeito à estruturação
sucessiva da superfície do texto e a sua conformidade linear sob
o aspecto linguístico. Portanto, a coesão pode ser considerada um
conjunto de conectores do texto que apresenta relações entre os
componentes do mesmo. Além disso, a coesão pode também ser
definida como as correspondências de associação entre as partes
de enunciados do texto “que podem ser resolvidos em termos
de igualdade ou diferença: pronomes, descrições definidas e
demonstrativos, possessivos, etc.”
Segundo Koch e Travaglia (1989:24),
“evidentemente, um texto coeso pode parecer
incoerente, por dificuldades particulares do leitor,
como o desconhecimento do assunto ou a não-
inserção na situação. Tudo isso evidencia que a coesão
ajuda a estabelecer a coerência, mas não a garante,
pois ela depende muito dos usuários do texto (seu
conhecimento de mundo) e da situação. Na verdade, a
coesão ajuda a perceber a coerência na compreensão
dos textos, porque é resultado da coerência no
processo de produção desses mesmos textos”.

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100 Oficina de Textos em Português

Há dois tipos principais de coesão: a retomada de


termos, expressões ou frases já ditos e/ou sua antecipação e o
encadeamento de segmento textual. A coesão por retomada por
uma palavra gramatical (pronomes, verbos, numerais, advérbios)
se dá quando um termo se refere àquele que já foi mencionado
no texto, como na frase:
Ana está no hospital. Ela está doente.
O pronome “ela” é um anafórico de Ana.
Quando uma palavra gramatical antecipa um termo do
texto, ocorre a catáfora; no exemplo a seguir, o pronome isso
antecipa tomou banho de chuva por quatro horas seguidas (Luís
fez isso: tomou banho de chuva por quatro horas seguidas). O
artigo definido é usado para retomar um referente indefinido
já mencionado, exemplo: Luís tomou uma xícara de chá. A
xícara era de louça, o vocábulo xícara, mencionado na primeira
oração, passa a ser acompanhado pelo artigo definido a. Ainda
como anáforas, os verbos ser e fazer substituem outros por
retomada: Luís tomou chá. Leila fez o mesmo, o verbo fazer
substitui verbos de ação, sempre acompanhado de um pronome.
O verbo ser substitui verbos de estado: Luís parece frágil. Leila
também é, pois Leila também é frágil. A retomada por palavra
lexical (substantivos, verbos, adjetivos) se dá por repetição ou
substituição por sinônimo, múltiplo referenciamento (repetição
de um mesmo fenômeno por formas diversas), hiperônimo
(elemento que mantém com o segundo uma relação de todo) ou
hipônimo (elemento que mantém com o segundo uma relação de
parte) ou por antonomásia (substituição de um nome próprio por
um comum ou vice-versa). Estes mecanismos podem ser assim
exemplificados: Luís gosta de quadros. Expressionistas, então,
ama, existe aí um hiperônimo; o hipônimo aparece assim: O galo
canta toda manhã. Essa ave acorda todo mundo bem cedo. A
antonomásia é dizer Ele é um judas, em vez de Ele é um traidor
ou se referir ao rei do futebol em vez de Pelé. Alguns nomes
genéricos como gente, coisa, negócio, elemento, funcionam

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Oficina de Textos em Português 101

como itens de referência anafórica, como O eclipse iluminava


a todos. Era uma coisa mágica, a coisa é o eclipse. Muitas
vezes para se entender as formas nominais definidas (múltiplo
referenciamento) se faz necessário haver um conhecimento
de mundo, e não apenas a sinonímia, pois expressões como
populista, pai dos pobres e estadista, se referem a Getúlio Vargas
e podem substituí-lo num determinado contexto. A elipse é o
apagamento de um termo da frase que pode ser recuperado pelo
contexto, exemplo: Em que hospital Luís está? Está no hospital
da Restauração, neste caso o sujeito do verbo estar, nas duas
passagens, é Luís.
A coesão sequencial é feita por encadeamento de
segmentos textuais e tem por função assinalar que a informação
se desenvolve, ou seja, leva à frente o discurso. Os conectores
coesivos sequenciais (palavras ou expressões) são responsáveis
pela concatenação, pela criação de relações entre os segmentos
do texto, marcando conclusões, gradações, comparações,
argumentos decisivos, generalizações, exemplificações,
correções, explicitações, entre outros. Além disso, a coesão
sequencial pode ser feita sem o uso de sequenciadores, “cabendo
ao leitor reconstruir, com base na sequência, os operadores que
não estão presentes na superfície textual” (Platão & Fiorin,
1996:382).
Os conectores de coesão de um texto não o fazem coerente,
mas foi visto que para textos jornalísticos, assim como científicos,
didáticos e outros, faz-se necessário o uso de elementos coesivos
para uma boa leitura e um bom entendimento do texto. A coesão
textual apresenta subsídios para interpretações reais e não
ambíguas, e se dá através de ligações entre palavras, expressões
ou frases. Por mais organizado que esteja o texto, a compreensão
não se dará se os elementos coesivos não estiverem numa
sequência lógica, e para o leitor, ele se apresentará destituído
de coesão. Assim, é necessário que ao se elaborar um texto,
utilizem-se recursos coesivos.

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102 Oficina de Textos em Português

2. Coerência
“a coerência está diretamente ligada à possibilidade de
se estabelecer um sentido para o texto” (KOCH, 1990:21). Em
outras palavras, só existirá sentido no texto se as informações
nele contidas estiverem interligadas por uma noção lógica, se
forem coerentes. Portanto, o que o intérprete procura num texto,
é o seu sentido ou a sua lógica interna, que, em última instância,
se liga a uma lógica maior e externa que aqui chamamos de
conhecimento do mundo. Em algumas circunstâncias, a falta
de sentido no discurso de partida poderá indicar ao intérprete a
necessidade de ativar estratégias que lhe possibilitem restaurar ou
restabelecer o sentido, o que implica em encontrar informações
que supram vazios existentes na estrutura lógica do texto ou na
memória do intérprete.
A coerência deve ser também entendida como um
“princípio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto
numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor
tem para calcular o sentido deste texto.” Essa capacidade é o
resultado da concatenação das informações existentes no texto
com aquelas que estão armazenadas na memória do intérprete.
Ou poderíamos dizer que a coerência interna do texto dependerá
de uma correspondência entre os dados existentes na mente
do intérprete e aqueles do mundo onde ele se insere. Mais do
que uma relação direta e unívoca, todavia, essa relação é múlti-
facetada, o que reflete o entrelaçamento geralmente existente
entre os diversos dados armazenados na memória. Os dados se
cruzam permanentemente e evocam outros que também a eles
se associam, tornando o processamento muito complexo. Como
explica Koch:
Evidentemente o relacionamento entre esses
elementos não é linear e a coerência aparece assim
como uma organização reticulada, tentacular e
hierarquizada do texto. A continuidade estabelece
uma coesão conceitual cognitiva entre os

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Oficina de Textos em Português 103

elementos do texto através de processos cognitivos


que operam entre os usuários (produtor e receptor)
do texto e são não só de tipo lógico, mas também
dependem de fatores sócio-culturais diversos e de
fatores interpessoais... (KOCH, op. cit, 25)
Os fatores socioculturais e interpessoais são o conhecimento
do mundo que o intérprete possui, sendo que esse conhecimento
estende-se também ao que convencionalmente se denomina
intertextualidade, ou seja, a capacidade de relacionar textos
novos com outros já existentes. Parece evidente que é impossível
separar conhecimento do mundo de intertextualidade, pois os
dois conceitos se superpõem.
A coerência textual está diretamente relacionada com a
significância e com a interpretabilidade de um texto. A mensagem
de um texto é coerente quando ela faz sentido e é comunicada de
forma harmoniosa, de forma que haja uma relação lógica entre
as ideias apresentadas, onde umas complementem as outras.
Para garantir a coerência de um texto, é preciso ter em conta
alguns conceitos básicos.
Para uma boa coerência em um texto, existem alguns
aspectos a serem abordados, vamos a eles:
1. Princípio da não contradição
Não pode haver contradições de ideias entre diferentes
partes do texto.
Coerência correta: Ele só compra leite de soja pois é
intolerante à lactose.
Erro de coerência: Ele só compra leite de vaca pois é
intolerante à lactose.
Explicação: quem é intolerante à lactose não pode
consumir leite de vaca. Por esse motivo, o segundo exemplo
constitui um erro de coerência; não faz sentido.

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104 Oficina de Textos em Português

2. Princípio da não tautologia


Ainda que sejam expressas através do uso de diferentes
palavras, as ideias não devem ser repetidas, pois isso compromete
a compreensão da mensagem a ser emitida e muitas vezes a torna
redundante.
Coerência correta: Visitei Roma há cinco anos.
Erro de coerência: Visitei Roma há cinco anos atrás.
Explicação: “há” já indica que a ação ocorreu no passado.
O uso da palavra “atrás” também indica que a ação ocorreu
no passado, mas não acrescenta nenhum valor e torna a frase
redundante.
3. Princípio da relevância
As ideias devem estar relacionadas entre si, não devem ser
fragmentadas e devem ser necessárias ao sentido da mensagem.
O ordenamento das ideias deve ser correto, pois, caso
contrário, mesmo que elas apresentem sentido quando analisadas
isoladamente, a compreensão do texto como um todo pode ficar
comprometida.
Coerência correta: O homem estava com muita fome,
mas não tinha dinheiro na carteira e por isso foi ao banco e sacou
uma determinada quantia para utilizar. Em seguida, foi a um
restaurante e almoçou.
Erro de coerência: O homem estava com muita fome,
mas não tinha dinheiro na carteira. Foi a um restaurante almoçar
e em seguida foi ao banco e sacou uma determinada quantia para
utilizar.
Explicação: observe que, embora as frases façam sentido
isoladamente, a ordem de apresentação da informação torna a
mensagem confusa. Se o homem não tinha dinheiro, não faz
sentido que primeiro ele tenha ido ao restaurante e só depois
tenha ido sacar dinheiro.

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Oficina de Textos em Português 105

4. Continuidade temática
Esse conceito garante que o texto tenha seguimento
dentro de um mesmo assunto. Quando acontece uma falha na
continuidade temática, o leitor fica com a sensação de que o
assunto foi mudado repentinamente.
Coerência correta: “Tive muita dificuldade até acertar
o curso que queria fazer. Primeiro fui fazer um curso de
informática... A meio do semestre troquei para um curso de
desenho e por fim acabei me matriculando aqui no curso de
inglês. Foi confuso assim também para você?”
“Na verdade foi fácil pois eu já tinha decidido há algum
tempo que assim que tivesse a oportunidade de pagar um curso,
faria um de inglês.”
Erro de coerência: “Tive muita dificuldade até acertar
o curso que queria fazer. Primeiro fui fazer um curso de
informática... A meio do semestre troquei para um curso de
desenho e por fim acabei me matriculando aqui no curso de
inglês. Foi confuso assim também para você?”
“Quando eu me matriculei aqui no curso, eu procurei me
informar sobre a metodologia, o tipo de recursos usados, etc. e
acabei decidindo rapidamente por este curso.”
Explicação: note que no último exemplo, o segundo
interlocutor acaba por não responder exatamente ao que foi
perguntado.
O primeiro interlocutor pergunta se ele também teve
dificuldades de decidir que tipo de curso fazer e a resposta foi
sobre características que ele teve em conta ao optar pelo curso
de inglês onde se matriculou.
Apesar de ter falado de um curso, houve uma alteração de
assunto.

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106 Oficina de Textos em Português

5. Progressão semântica
É a garantia da inserção de novas informações no texto,
para dar seguimento a um todo. Quando isso não ocorre, o leitor
fica com a sensação de que o texto é muito longo e que nunca
chega ao objetivo final da mensagem.
Coerência correta: Os meninos caminhavam e quando se
depararam com o suspeito apertaram o passo. Ao notarem que
estavam sendo perseguidos, começaram a correr.
Erro de coerência: Os meninos caminhavam e quando
se depararam com o suspeito continuaram caminhando mais
um pouco. Passaram por várias avenidas e ruelas e seguiram
sempre em frente. Ao notarem que estavam sendo perseguidos,
continuaram caminhando em direção ao seu destino, percorreram
um longo caminho...
Explicação: note que a frase onde a coerência está correta
apresenta uma sequência de novas informações que direcionam
o leitor à conclusão do desfecho da frase.

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Oficina de Textos em Português 107

03
UNIDADE

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108 Oficina de Textos em Português

INTRODUÇÃO
Como vimos na unidade 2, existem diversos gêneros
textuais, certo? Nesta unidade de aprendizagem nós vamos
atentar aos gêneros acadêmicos. Além disso, vamos trabalhar
especificamente o resumo e a resenha. Vamos lá? Bons estudos.

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Oficina de Textos em Português 109

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências

1
profissionais até o término desta etapa de estudos:

Descobrir a escrita acadêmica;

2 Entender quais são os gêneros acadêmicos;

3 Conhecer o resumo acadêmico;

4 Conhecer a resenha acadêmica.

Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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110 Oficina de Textos em Português

Descobrindo a escrita acadêmica

OBJETIVO

Ao término desta seção você será capaz de entender quais


são os gêneros acadêmicos. Isso será fundamental para a sua
formação, pois tais formas de textos são de extrema importância
neste mundo no qual você está vivendo. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante.

O aluno e a escrita acadêmica


Todo profissional ou estudante precisa saber se comunicar
com clareza. A capacidade para redigir textos de qualquer
extensão é característica distintiva quer na faculdade, quer no
ambiente de trabalho. Para tornar o estudo e a aprendizagem
mais eficazes, existem técnicas a ser seguidas.
Ao ingressar em um curso superior, frequentemente o
aluno revela desconhecimento de algumas normas de elaboração
de trabalhos de grau, bem como despreparo para a leitura de
texto de várias modalidades.
Professores de todas as disciplinas salientam as dificuldades
do aluno na elaboração de fichamentos, resumos, resenhas. É
muito comum que o aluno apresente dificuldade em elaborar
texto acadêmicos, ler artigos científicos, etc.
Tradicionalmente, é possível reconhecer pelo menos três
vertentes diferentes do processo de redação quanto a seu foco
de atenção: redação como experiência individual, envolvendo a
Visão Expressiva e a Visão Cognitiva, e redação como processo
social, envolvendo a Visão Social. Na Visão Expressiva, o ato de
pensar é concebido como uma habilidade diferente e antecedente

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Oficina de Textos em Português 111

a escrever, dando margem a uma visão ‘neorromântica’ dos


processos de redação, onde ‘escrever bem’ era definido por
meio do filtro das qualidades essenciais de espontaneidade,
integridade e originalidade. O argumento expressivista alegava
que há um processo de autodescoberta ocorrendo através da
redação (Faigley, 1986:536). O aluno deve escrever o que pensa
ou sente, sem preocupações quanto à forma, gramática, estilo ou
organização.
Na Visão Cognitiva, há ênfase nos processos cognitivos
do aluno durante a produção do texto. O foco recai sobre o
indivíduo e seu processamento psicolinguístico da linguagem,
através da qual o escritor constrói a realidade. Pedagogias que
assumem uma visão cognitiva ‘tendem a passar por cima das
diferenças em usos da linguagem entre alunos de diferentes
classes sociais, gêneros, e etnias etc. Dessa forma, a falha
fundamental da pesquisa cognitivista é o isolamento da parte em
relação ao todo’.
Já a Visão Social origina-se a partir de várias tradições
disciplinares (sociologia da ciência, etnografia, marxismo, por
exemplo) e concebe linguagem humana sob a perspectiva da
sociedade e não do indivíduo tomado isoladamente. Assim, o
foco de uma visão social de redação está na maneira como o
indivíduo se constitui como membro de uma matriz cultural.
Nessa visão social do processo de redação, qualquer escritura
está intimamente ligada ou é interdependente de quaisquer
outros textos prévios.
Uma porção significativa da pesquisa em Sociologia
da Ciência examina os processos de redação em uma dada
comunidade discursiva da academia. Esses estudos tendem
a favorecer a visão de ciência como um conjunto de formas
literárias, desafiando a crença de que textos científicos fazem
apresentações objetivas de fatos.
Dentro dos Estudos Marxistas, qualquer ato de ensino ou
aprendizagem de redação deve ser analisado em relação à estrutura

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112 Oficina de Textos em Português

de poder relacionada aos meios de produção e conceitos básicos


tais como ideologia. Comunidades disciplinares são vistas como
contextos de interação social que, frequentemente, estão mais
ocupados em descobrir meios de excluir novos membros do que
de admiti-los (Faigley, 1986:537; Gale, 1996:2).
Ao considerarmos esses desdobramentos no ensino de
redação acadêmica, duas questões merecem ser analisadas mais
atentamente:
 Conhecimento sobre gêneros, embora sendo fator
importantíssimo para a compreensão e uso de textos, impõe
convenções e expectativas da comunidade disciplinar a escritores
iniciantes, enquanto possibilita a escritores consagrados
explorar convenções para criar novos gêneros adaptados a novos
contextos (a teleconferência, por exemplo);
 Ensino de redação deve ser orientado para o
desenvolvimento de competências acadêmicas relativas ao uso
de gêneros discursivos acadêmicos e aos elementos linguísticos
que materializam esses gêneros.
Parece existir uma crença generalizada de que, enquanto
pesquisadores experientes podem introduzir inovações em seus
textos, o mesmo, via de regra, é proibido a escritores novatos.
Conforme definido por Johns (1993:14), enquanto experts
criticam e questionam padrões, novatos apenas os imitam. Nesse
sentido, o conhecimento sobre gêneros e o desenvolvimento de
competências acadêmicas pode aparelhar escritores iniciantes
para engajar-se no discurso acadêmico (Gale, 1996).
O conceito de gêneros discursivos no ensino de redação
e as descrições de gêneros utilizados na academia têm sido
incorporadas ao ensino de Línguas para fins acadêmicos para
facilitar a aculturação de pesquisadores, com pouca ou nenhuma
experiência, nas práticas discursivas de suas respectivas
disciplinas, possibilitando seu engajamento no discurso e seu
acesso aos debates em curso na academia (Madden & Rohlck,

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Oficina de Textos em Português 113

1997). Tal acesso é legitimado pela produção de conhecimento


via leitura e publicação e depende, em grande parte, do
conhecimento de convenções formais e funcionais de gêneros
discursivos acadêmicos.
Considerando que os gêneros acadêmicos com uso
consagrado na academia (p. ex., abstracts, artigos, resenhas,
e-mails, comunicações, dissertações, teses) mediam o saber
instituído, o discurso consagrado ou normalizado mantém o
conhecimento instituído e qualquer divergência desse discurso
normalizado é reconhecida como evidência de um saber anormal
ou produzido por um sujeito operando de fora da comunidade.
Em vista disso, pode-se argumentar que o discurso variante ou
anormal pode contribuir para novas configurações da academia
com a chegada de novos membros a essa comunidade e, em
última instância para mudanças de paradigma e, portanto, para o
avanço do conhecimento.
Além disso, através do processo de ensino-aprendizagem,
devemos buscar desenvolver uma consciência socio-retórica (de
aluno e professor) sobre as diferentes possibilidades do discurso,
debatendo sobre meios de pesquisadores iniciantes serem
reconhecidos pelo saber instituído (via uso do conhecimento das
práticas discursivas da comunidade disciplinar em questão?).
Em outras palavras, a busca por novas formas de divisão
de poder mais equânime, na disciplina, entre estudiosos
consagrados e iniciantes só pode ocorrer via discurso anormal
se esse for produzido sobre um entendimento profundo de como
o discurso normalizado da disciplina funciona.

Um programa de ensino de redação acadêmica


Você sabia que especialmente nos anos 90, o ensino de
Línguas para Fins Acadêmicos (redação e leitura) tem buscado
ir além da discussão sobre parâmetros de gramaticalidade e de
registro, propondo ao aprendiz uma discussão sobre as práticas

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114 Oficina de Textos em Português

discursivas da academia enquanto comunidade com valores


culturais próprios (Kuhn, 1970). Tome-se, como exemplo
uma versão resumida do programa da disciplina de Redação
Acadêmica desenvolvida na UFSM4. Nesse programa, o
foco recai sobre um aprofundamento do saber do aluno sobre
gêneros acadêmicos como condição necessária à ampliação das
competências acadêmicas.
REDAÇÃO ACADÊMICA - Programa
1. Mapa semântico
2. Elementos linguísticos usados por escritores experientes
e Edição do mapa semântico
3. Organização do abstract
4. Edição do abstract (até 300 palavras)
5. Introdução e Referências (até 2 páginas)
6. Revisão da literatura (até 5 páginas)
7. Metodologia (até 6 páginas)
8. Resultados e Discussão (até 9 páginas)
9. Conclusão (até 10 páginas)
10. Artigo completo com abstract (11 páginas).
Parte-se da investigação da gama de assuntos e problemas
a serem tratados na área para chegar-se ao mapa semântico
dos conceitos e terminologias centrais ao estudo de cada
aluno. Implementa-se um processo de elaboração, discussão
e reelaboração do mapa semântico que representa a estrutura
conceitual do trabalho a ser escrito. Através da hierarquização
de palavras-chave mais gerais e mais específicas, começa-se
a construir a organização do artigo (ou da dissertação ou tese)
em seções. Dessa forma, o aluno busca definir, no texto, seu
universo de interesse, de focalização e de pesquisa.

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Oficina de Textos em Português 115

SAIBA MAIS

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à


seguinte fonte de consulta e aprofundamento: OLIVEIRA, J. L.
Texto acadêmico: técnicas de redação e de pesquisa científica. 6.
ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

E então? Gostou do que lhe foi mostrado? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o
que vimos. Você deve ter aprendido que normalmente os alunos
têm muito dificuldade na escrita acadêmica, em como interpretar
um texto acadêmico e depois escrevê-lo. Então, para isso,
devemos tomar dois pontos de partida, você se lembra deles?
1. Conhecimento sobre gêneros, embora sendo fator
importantíssimo para a compreensão e uso de textos, impõe
convenções e expectativas da comunidade disciplinar a escritores
iniciantes, enquanto possibilita a escritores consagrados
explorar convenções para criar novos gêneros adaptados a novos
contextos (a teleconferência, por exemplo);
2. Ensino de redação deve ser orientado para o
desenvolvimento de competências acadêmicas relativas ao uso
de gêneros discursivos acadêmicos e aos elementos linguísticos
que materializam esses gêneros.

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116 Oficina de Textos em Português

Entendendo os gêneros acadêmicos

OBJETIVO

Nesta seção você deverá entender ainda mais sobre os gêneros


acadêmicos, quais são, como acontecem, a história deles etc.
Vamos lá? Aos estudos.

Dentro do campo dos estudos de gêneros do discurso,


segundo Bakhtin (2003, p. 262), “Cabe salientar em especial
a extrema heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais e
escritos), nos quais devemos incluir as breves réplicas do diálogo
do cotidiano [...]”.
Nessa afirmação do autor fica evidente que os gêneros
de caráter discursivo fazem parte das conversas do dia a dia da
sociedade e de outras formas de interação verbal. Para tanto,
segundo Bakhtin (2003, p. 263):
Não se deve, de modo algum, minimizar a extrema
heterogeneidade dos gêneros discursivos e a
dificuldade daí advinda de definir a natureza geral
do enunciado. Aqui é de especial importância
atentar para a diferença essencial entre os gêneros
discursivos primários (simples) e os secundários
(complexos) [...]
Bakhtin (2003) ainda classifica esses gêneros de forma
a identificar nessa teoria diferenças entre eles. Segundo ele, a
diferença entre os gêneros primário e secundário (ideológicos)
é extremamente grande e essencial, e é por isso mesmo que a
natureza do enunciado deve ser descoberta e definida por meio
da análise de ambas as modalidades; apenas sob essa condição a

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Oficina de Textos em Português 117

definição pode vir a ser adequada à natureza complexa e profunda


do enunciado (e abranger as suas facetas mais importantes); [...]
(Ibid., 2003, p. 264).
Por esse ponto de vista compreendemos que se torna
importante notar que para estudar as diferenças entre os tipos de
gêneros, temos que proceder a uma análise linguística e termos
consciência que toda oralidade ou escrita perpassa pelo viés da
interação, e pela realidade onde ambos estão inseridos. O autor
ressalta em sua obra a diferença que existe entre os gêneros
primários e os secundários. Os primários são integrantes dos
gêneros secundários complexos, se transformando e adquirindo
uma identidade especial perdendo o contato real com a realidade
concreta e o discurso do outro. Já os secundários complexos se
caracterizam como: romances, dramas, pesquisas científicas de
toda espécie, os grandes gêneros publicitários, etc.). Implica nos
dizer que quando falamos interligamos nosso discurso à fala do
outro, e que se torna impossível haver uma interação sem que
várias pessoas enunciem e que um novo enunciado aconteça
em um enunciado anterior. Bakhtin ainda chama a atenção para
outra característica:
Cada enunciado isolado é um elo na cadeia da
comunicação discursiva. Ele tem limites precisos,
determinados pela alternância dos sujeitos do
discurso (dos falantes), mas no âmbito desses
limites o enunciado, como a mônada de Leibniz,
reflete o processo do discurso, os enunciados do
outro, e antes de tudo os elos precedentes da cadeia
(às vezes os mais imediatos, e vez por outra até
os muito distantes – os campos da comunicação
cultural). (Ibid., 2003, p. 299).
Ao enunciar, cada falante se torna importante dentro do
processo de comunicação, pois sua oralidade é única e seu
enunciado é individual, mais que do ponto de vista socio-
interacional seu discurso se molda ao falar do outro, construindo

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118 Oficina de Textos em Português

novos discursos e que as vezes refletem a natureza da cultura de


cada esfera social.
E os gêneros acadêmicos?
A prática de leitura acadêmica pressupõe um interesse
específico, definido antes do momento de contato com o texto a
ser lido – o leitor acadêmico em geral procura algo específico,
um conteúdo de seu interesse que costuma ser o principal agente
motivador na busca pelo texto. Suas expectativas diante do texto
são, portanto, bem definidas. Em geral, espera-se que o texto
se atenha diretamente ao tema proposto, que este tema esteja
claramente definido, que o texto apresente e mantenha uma
estrutura mais rígida do que a de outros textos em geral, uma
estrutura na qual a introdução, o desenvolvimento e a conclusão
sejam partes bem marcadas. (MOTTAROTH; HENDGES, 2010).
Uma questão muito debatida é a maneira de se trabalhar
os gêneros textuais, lembrando que eles são utilizados durante
toda a vida escolar. Ao chegar à universidade, esta atividade é
cada vez mais nítida e específica, por ser exigido dos alunos
que sempre estejam elaborando textos de qualidade na forma
de artigos científicos, resenhas, resumos, relatórios, ensaios e
outros.
Segundo Dell’Isola (2008, p.3), os gêneros que circulam
na academia decorrem da “demanda de conhecimentos de formas
retóricas típicas de interação entre os membros da comunidade
acadêmica”. Dessa maneira, produzi-los, torna-se, pois, uma
habilidade exigida por professores de diferentes disciplinas no
cotidiano acadêmico. O problema é que nem sempre existe um
consenso por parte dos professores sobre tais gêneros. A esse
respeito, Machado (2002, p.139) considera que:
O ensino de produção e compreensão de textos
deve centrar-se no ensino de gêneros, sendo
necessário, para isso, que se tenha, previamente, a
construção de um modelo didático do gênero, que

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Oficina de Textos em Português 119

defina com clareza, tanto para o professor quanto


para o aluno, o objetivo que está sendo ensinado,
guiando, assim, as intervenções didáticas.

IMPORTANTE

É necessário, então, um consenso entre alunos e professores no


sentido de (re)conhecimento de modelos e análises de gêneros
acadêmicos. Nesta perspectiva, é necessário que o pesquisador,
estudante, profissional, professor ou aluno da graduação tenha
uma boa atuação na comunidade científica. Para tanto, os
recursos linguísticos exercem uma fundamental importância,
pois é através deles que se evidencia a participação do indivíduo
na estruturação discursiva científica. Esses recursos estão
relacionados ao saber fazer, sendo entendidos como os modos
de referência e textualização dos saberes (MATÊNCIO, 2002).
A capacidade de textualizar saberes pode contribuir de maneira
significativa para as práticas exigidas no cotidiano socio-
científico.

Gêneros acadêmicos existentes


Nós temos alguns gêneros que sempre estão presentes na
escrita acadêmica, são eles:
1. O artigo
2. O ensaio
3. O fichamento
4. O relato de experiência
5. TCC, monografia, dissertação e tese

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120 Oficina de Textos em Português

6. A resenha
7. O resumo
Nesta seção nós vamos nos ater ao artigo, ensaio,
fichamento, relato e TCC. A resenha e o resumo terão seções
dedicadas somente a eles. Vamos lá?
1.Artigo
O artigo apresenta uma investigação científica em
todas as suas fases fundamentais: um problema digno de ser
pesquisado, os objetivos, materiais e métodos de pesquisa, a
análise e as considerações sobre a investigação. É, então, um
texto dissertativo que busca apresentar à comunidade científica
e leitora um estudo novo em dada área de conhecimento.
Esse gênero pode ser de dois tipos principais. O artigo de
divulgação, também chamado de artigo original, é aquele que
traz um tema novo ou uma metodologia nova, apresentando essa
novidade na forma de um estudo completo e que, assim, poderá
ser replicado futuramente. Ele pode ser teórico, ou empírico. Já o
artigo de revisão trabalha com estudos já publicados, analisando
e discutindo essas contribuições anteriores sob uma nova ótica
ou ponto de vista a ser considerado.
O artigo apresenta uma introdução que contextualiza a
área temática e o problema específico investigado. O problema
é exposto acompanhado dos objetivos de sua investigação. O
texto também traz uma revisão de literatura e fundamentação
teórica, as quais podem vir em seções próprias ou diluídas na
introdução. A seguir, o artigo descreve os materiais e os métodos
usados para conduzir a investigação do problema, e expõe os
resultados e sua devida discussão. Após isso, é apresentada a
conclusão, que responde diretamente ao problema investigado. A
isso se segue a lista de referências bibliográficas e, se necessário,
apêndices e anexos.
Observe que mesmo o artigo de revisão, descrito
anteriormente, tem um problema central de análise naquela

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Oficina de Textos em Português 121

dada literatura, bem como métodos específicos para a análise do


material e respectivas conclusões sobre o que for dissertado na
análise.
Além da estrutura vista, é convenção incluir no artigo,
após o título e identificação do autor, um resumo com palavras-
chave adequadas para a correta indexação do texto. O resumo
geralmente deve ser tanto em língua portuguesa quanto em uma
língua estrangeira. Alguns periódicos solicitam o resumo em dois
idiomas estrangeiros, outros delimitam o número de palavras-
chave em até 5 ou até 6, outros pedem tradução também do
título, entre outras variações. Assim, é sempre preciso verificar
as diretrizes para autores do periódico específico em questão.
2. Ensaio
O ensaio é um texto de caráter crítico sobre certo debate ou
questão de ordem científica. Nesse sentido, o ensaio é discursivo,
no sentido de mostrar o posicionamento e as reflexões do autor
a respeito do ponto sob consideração. O autor ‘ensaia’ um
discurso de manifestação sobre um ponto de vista, a partir de
questionamentos, críticas, experimentações e ponderações sobre
o tema.
Para tanto, o ensaio, ainda que trazendo posicionamento
nítido, se apresenta de modo formal e bem articulado, a fim de
expor lógica e claramente as reflexões e argumentação do autor.
As reflexões devem ser feitas com racionalidade e seriedade,
a partir da capacidade do autor de articular conhecimentos e
posicionamentos e proceder interpretações e avaliações sobre a
área na qual reflete. O modo de fazer tais articulações é mais
flexível do que em outros gêneros, mas ainda assim o rigor e a
organização são fundamentais, assim como o comprometimento
e maturidade intelectuais de quem redige o ensaio.
Já que defende um ponto de vista, o ensaio não exige,
como o artigo ou as dissertações e teses, a inclusão extensiva
de referenciais teóricos de apoio ou de provas e evidências

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122 Oficina de Textos em Português

empíricas para cada item argumentado. É evidente que o texto


precisa ser sensato em sua argumentação, no sentido de oferecer
reflexões plausíveis a partir do que a ciência já demonstrou na
área, não podendo, portanto, ser caótico nem aleatório. Nesse
sentido, diz-se que o ensaio é um gênero que permite certa
transição entre o cultural, o literário, o didático e o não-didático,
o científico e o filosófico.
3. Fichamento
O fichamento não se constitui em um material publicável
como um artigo ou uma resenha. Trata-se, na verdade, de um
registro criado durante a fase de pesquisa bibliográfica para a
realização de um dado estudo. Se o fichamento é bem feito, ele
também viabiliza ao estudante a assimilação de conteúdo. Ele é
um método de armazenar informações e consultar sobre obras
lidas, podendo-se fazer fichamento de uma obra na íntegra ou
apenas de um capítulo ou parte que for de interesse da pesquisa.
Como o nome sugere, o fichamento é feito em fichas, como
veremos mais adiante na exemplificação de seus diferentes tipos.
Normalmente, se faz um fichamento de obras de modo a
poder acessar mais rapidamente, no ato da escrita do texto em si,
os conteúdos sobre o assunto pesquisado. Então, no fichamento,
basicamente se registra a identificação completa da obra (autor,
editora, título, tradutor, edição, cidade, etc.) e os principais
pontos de seu conteúdo, de modo resumido.
Tipos de fichamento:
O fichamento de conteúdo (ou de resumo) se concentra
no pensamento do(a) autor(a) da obra e no desenvolvimento
lógico de suas ideias. Ele pode registrar não apenas o progresso
dessas ideias no texto como também suas fundamentações,
justificativas, exemplos, etc. Isso deve ser feito nas palavras
do(a) autor(a) do fichamento (ou seja, você), que escreve com
seus termos o que o(a) autor(a) da obra sob fichamento discute.
Exemplo:

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Oficina de Textos em Português 123

 Assunto: Os professores diante do saber: esboço de


uma problemática do saber docente (p. 31-55). Capítulo 1.
 Fonte: TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação
profissional. 16. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2014.
O trabalho do autor baseia-se em uma pesquisa
sociológica desenvolvida desde o surgimento, nos anos 1980,
da preocupação científica com os saberes dos professores. O
autor divide o capítulo em três partes, sendo a primeira sobre a
pluralidade do saber docente, a segunda sobre a importância do
saber experiencial na visão dos próprios educadores, e a terceira
trazendo conclusões preliminares. Tardif argumenta que o saber
docente é composto pelos seguintes aspectos: os saberes de
formação profissional, os saberes da disciplina em si, os saberes
experienciais e os saberes curriculares da instituição escolar.
(etc.)
O fichamento de citações (ou de transcrição) consiste no
registro de citações diretas da obra, observando-se absoluto
rigor para anotar o trecho tal e qual consta no trabalho original,
e marcando as aspas de início e fim da citação e sua página.
Exemplo:
 Assunto: Os professores diante do saber: esboço de
uma problemática do saber docente (p. 31-55). Capítulo 1.
 Fonte: TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação
profissional. 16. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2014.
“Pode-se chamar de saberes profissionais o conjunto
de saberes transmitidos pelas instituições de formação de
professores (escolas normais ou faculdades de ciências da
educação” (p. 36).
“Ao longo de suas carreiras, os professores devem também
apropriar-se de saberes que podemos chamar de curriculares.
Estes saberes correspondem aos discursos, objetivos, conteúdos
e métodos a partir das quais a instituição escolar categoriza e

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124 Oficina de Textos em Português

apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados


como modelos da cultura erudita e de formação” (p. 38).
(etc.)
Há também o fichamento bibliográfico, no qual são
registrados os tópicos abordados e feitos comentários descritivos
sobre a obra (diferente do fichamento de conteúdo, que apenas
resume o pensamento do autor ou da autora). Em qualquer caso,
a identificação completa da obra é fundamental para você não
correr riscos de escrever informações imprecisas ou erradas, ou
cometer, intencionalmente ou não, casos de plágio.
 Assunto: Os professores diante do saber: esboço de
uma problemática do saber docente (p. 31-55). Capítulo 1.
 Fonte: TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação
profissional. 16. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2014.
A obra insere-se nos campos de pesquisa educacional e de
formação profissional. O autor aborda o tema de forma analítica
e comentada, fundamentando-se em coleta qualitativa de dados
e estabelecendo relações entre diferentes contextos no que tange
o tema em pauta.(etc.)
Quando professores e professoras pedem para seus
estudantes fazerem um fichamento, geralmente se referem aos
tipos bibliográfico ou de conteúdo. Cabe ao aluno ou aluna
seguir as instruções dadas por cada instrutor(a).
4. Relato de experiência
O relato de experiência é um texto que descreve
precisamente uma dada experiência que possa contribuir de
forma relevante para sua área de atuação (por exemplo, um
curso novo ministrado sobre determinado assunto, um projeto
profissional etc.). Ele traz as motivações ou metodologias para
as ações tomadas na situação e as considerações/impressões que
a vivência trouxe àquele que a viveu. O relato é feito de modo
contextualizado, com objetividade e aporte teórico. Em outras

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Oficina de Textos em Português 125

palavras, não é uma narração emotiva e subjetiva, nem uma


mera divagação pessoal e aleatória.
Enquanto alguns defendem que nesse tipo de texto exista
maior liberdade para descrever impressões e tecer considerações
com uma linguagem mais pessoal, outros mantêm que, sendo
um trabalho científico, ele deve manter a impessoalidade e
seriedade, ou seja, sem desenvolvimento pessoal, que a academia
requer. Dada essa dicotomia de pensamentos, recomendamos, na
medida do possível, que você sempre verifique o tom dos relatos
de experiência em sua área de atuação, nos periódicos em que
gostaria de publicar, e, também, em anais de edições anteriores
de eventos científicos dos quais você queira participar.
Seja como for, o relato deve trazer considerações (a partir da
vivência sobre a qual se relata e reflete) que sejam significativas
para a área de estudos em questão. Isto é, é importante que seu
relato não fique apenas no nível de descrever uma situação. Ele
deve ir além e estabelecer ponderações e reflexões, embasadas
na experiência relatada e no seu respectivo aparato teórico. É
esperado que tais experiências possam contribuir para outros
pesquisadores da área, ampliando o efeito da sua experiência
como potencial exemplo para outros estudos e vivências.
O relato de experiência normalmente inclui uma introdução
com marco teórico de referência para a experiência. A seguir, traz
os objetivos da vivência e expõe as metodologias empregadas
para realizar tal experiência, incluindo descrição do contexto
e dos procedimentos. Após isso, apresentam-se os resultados
observados e as considerações tecidas a partir dos mesmos.
5. TCC, monografia, dissertação e tese
Os trabalhos de conclusão de curso (TCCs) de graduação,
as monografias de especialização, as dissertações de mestrado
e as teses de doutorado são textos semelhantes em termos de
linguagem, estilo e estrutura (ou seja, sendo compostos por
elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais). No entanto,

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126 Oficina de Textos em Português

esses tipos de trabalho são muito diferentes no que tange seus


graus de complexidade, de detalhamento e de originalidade.
Evidentemente, do primeiro texto (o TCC) até o último
(a tese), os graus de complexidade e detalhamento aumentam
progressiva e significativamente, acompanhando o próprio
amadurecimento intelectual do pesquisador, nos seus processos
de obter o título de licenciado ou bacharel, de especialista, de
mestre ou de doutor. Essa progressão também vai ao encontro
da melhor instrumentalização do(a) aluno(a), que, avançando
em seus estudos de pós-graduação, torna-se cada vez mais
capacitado para realizar procedimentos metodológicos e lidar
com problemas de pesquisa mais densos. Já a questão de
originalidade é requerimento primordial da tese de doutorado,
visto que ela exige uma efetiva contribuição nova a ser agregada
para dada área de estudos.
Sobre as semelhanças, o estilo do texto requer linguagem
clara, concisa, formal, impessoal, objetiva, com tom sóbrio e
apresentando rigor e organização textual que respeitem as partes
do estudo e os objetivos propostos. Já a estrutura, de modo geral,
deve incluir em todos esses tipos de trabalho uma ordem lógica
de introdução do estudo, seu desenvolvimento, e as respectivas
conclusões sobre a pesquisa conduzida além dos elementos pré-
e pós-textuais.
Vejamos as definições específicas para esses trabalhos,
segundo as diretrizes da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT):
Conforme publicado nas normas NBR 14724, de 2002, os
trabalhos de conclusão de curso de graduação (TCCs) e os de curso
de especialização (monografias) devem “expressar conhecimento
do assunto escolhido, que deve ser obrigatoriamente emanado
da disciplina, módulo, estudo independente, curso, programa e
outros ministrados” (p. 4).

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Oficina de Textos em Português 127

A dissertação de mestrado, por sua vez, “representa o


resultado de um trabalho experimental ou exposição de um
estudo científico retrospectivo, de tema único e bem delimitado
em sua extensão, com o objetivo de reunir, analisar e interpretar
informações. Deve evidenciar o conhecimento de literatura
existente sobre o assunto e a capacidade de sistematização do
candidato” (p. 3).
Já a tese de doutorado, que, como a dissertação, também
lida com um trabalho de caráter experimental ou a elucidação
de estudo sobre tema específico, ainda exige sua elaboração
“com base em investigação original, constituindo-se em real
contribuição para a especialidade em questão” (p. 4).

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128 Oficina de Textos em Português

Conhecendo o resumo acadêmico

OBJETIVO

Nesta seção você deverá entender o que é um resumo


acadêmico, quais as características, como fazê-lo e exemplos.
Vamos aos estudos?

O resumo acadêmico apresenta de modo objetivo e


direto os pontos mais relevantes de uma pesquisa conduzida
e concluída. Ele mostra, de forma sucinta, qual o tópico e as
principais contribuições do trabalho. Assim, é fundamental
selecionar cuidadosamente o conteúdo a ser resumido, isto é,
elencar com rigor os pontos mais importantes do trabalho, e
apresentar tais pontos de modo articulado.
O mesmo especifica: a temática da pesquisa e o problema
investigado, os objetivos principais, informações básicas acerca
da metodologia (por exemplo, tipo de coleta de dados, sujeitos
envolvidos etc.), e as conclusões mais relevantes perante os
objetivos expostos.
Segundo a ABNT o resumo geralmente deve:
 ser escrito em um único parágrafo, apresentando frases
concisas e preferencialmente afirmativas, escritas em ordem
direta e na voz ativa;
 apresentar palavras-chave apropriadas, selecionadas
com rigor em relação ao conteúdo real do estudo; normalmente
o número de palavras-chave varia de 3 a 5;
 ser compreensível em si mesmo, de modo que apenas
com a leitura do resumo o(a) leitor(a) possa entender sobre o que
trata o estudo feito.

eBook completo impressão - Oficina de Textos em Português - Aberto - SER.indb 128 05/10/2021 17:58:30
Oficina de Textos em Português 129

Além disso, recomenda-se EVITAR:


 escrever o resumo como um pensamento livre e
aleatório sobre a ideia geral do estudo. Ao contrário, o resumo
precisa cumprir o objetivo específico de apresentar de modo
resumido o que o trabalho buscou e conseguiu fazer;
 redigir o resumo como um mero enumerado de tópicos;
 reproduzir frases ou trechos meramente copiados do
estudo original;
 apresentar citações ou paráfrases. É fundamental que o
resumo seja inteiramente a voz do autor do texto, explicitando
seus objetivos e conclusões, sem interferências. Citações e
paráfrases pertencem ao texto em si;
 apresentar fórmulas, símbolos, equações, figuras,
diagramas, tabelas, etc.
Exemplo de um bom resumo acadêmico:
A série The Handmaid’s Tale (HULU, 2016) é uma distopia
na qual as mulheres sofrem todos os dias com a intensa repressão
e misoginia por parte de um sistema patriarcal. Pensando na
possível relação entre o sistema da república retratada na série,
chamada de Gilead, e na crescente onda de conservadorismo no
Brasil, sobretudo após as manifestações de 2013, este projeto
tem como objetivo avaliar essa proximidade da obra com a
realidade. A partir das relações já existentes entre a série e o
livro homônimo de Margaret Atwood, este projeto visa a fazer
essa comparação midiática e de análise de discurso com notícias
acerca do cenário político brasileiro desde 2013, até os dias
atuais e, também com relação ao que pode acontecer no futuro.

Tipos de resumo
Assim como os artigos acadêmicos e artigos científicos e
qualquer outro trabalho, os resumos também podem seguir certo
método.

eBook completo impressão - Oficina de Textos em Português - Aberto - SER.indb 129 05/10/2021 17:58:30
130 Oficina de Textos em Português

Naturalmente, os resumos dentro do texto (abstract) serão


apenas indicativos ou informativos, já que a pessoa que vai ler
usará essa ferramenta para ter uma noção do que será abordado
no decorrer do texto.
Já, resumos expandidos podem atender à qualquer um dos
métodos abaixo:
Resumo Indicativo
Inicialmente, o resumo indicativo é aquele que destaca
apenas os fatos importantes e as principais ideias. Não devem
ser oferecidos exemplos ou citações diretas do texto original.
Por isso é o tipo de resumo mais pedido nas escolas.
Resumo Informativo
Já, o resumo informativo resume as informações e ou
dados qualitativos e quantitativos expressos no texto original.
Por isso pode, muitas vezes, ser confundido com os fichamentos.
Geralmente são utilizados em textos acadêmicos.
Resumo Crítico
Por fim, nos resumos críticos, além de resumir as informações
do texto original, será acrescentada uma visão crítica, ou seja,
comentários e contribuições utilizando como fonte de pesquisa
outros trabalhos sobre o mesmo tema ou tema afim.
Resumos expandidos, no geral, seguem esse método.

Resumo (abstract) dentro do trabalho


Como fazer resumo de TCC, monografia e artigo científico?
Como o resumo fica logo nas primeiras páginas de um
trabalho como monografia ou TCC, é muito comum que quem
esteja iniciando a escrita pensa em começar pelo resumo. E esse
é um erro recorrente.

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Oficina de Textos em Português 131

Claro, a localização do resumo entre todos os elementos


que compõem um trabalho acadêmico é de prévia, mas o resumo
por sua natureza depende do trabalho completo para poder ser
escrito da forma correta. O ideal é deixar uma folha em branco
onde o resumo será redigido dentro da sua monografia e trabalhar
o restante, se você está escrevendo no Mettzer não precisa se
preocupar, o espaço já está lá com as configurações corretas.
Depois, como última parte do trabalho, você pode retornar
para este ponto do trabalho e o completar.
Qual é a estrutura básica do resumo?
O resumo é composto, basicamente, de quatro partes.
Cada uma delas cumpre uma função única e essencial ao texto
e servirão para uma melhor compreensão do que está sendo
trabalhado a longo prazo. Essas partes são:
Você pode iniciar pelo Objetivo, no qual o autor ou os
autores do artigo explicam o que pretendem alcançar com o
trabalho e a origem da ideia por trás de tudo.
A segunda parte se chama Materiais e Métodos, no qual
deve estar contido, de forma curta, a metodologia utilizada para
a pesquisa em questão, sem grandes detalhes, apenas com uma
ideia geral sobre o que foi feito.
A terceira parte leva o nome de Resultados, no qual se deve
adiantar os principais resultados encontrados na monografia da
forma mais concreta e objetiva possível, sem discorrer sobre
impressões gerais.
A última parte do resumo são as Conclusões, em que o
TCC deve ser descrito com relação a sua utilidade prática para
a área de estudo e os pensamentos sobre os avanços obtidos
podem começar a ser apresentados de forma curta.
Você não precisa, necessariamente, seguir este modelo
com relação à ordem para ser aprovado, apenas conseguir conter

eBook completo impressão - Oficina de Textos em Português - Aberto - SER.indb 131 05/10/2021 17:58:30
132 Oficina de Textos em Português

as informações descritas acima de forma organizada o suficiente


para serem compreendidas.
Entretanto, a ideia de seguir o formato acima é relevante
porque dificulta que as informações se confundam.
O que NÃO fazer?
A confusão mais comum com relação ao resumo, comum
a muitos TCCs apresentados a orientadores, é o pensamento
de que esse elemento se trata de alguma forma de um capítulo
de prévia da introdução do artigo ou monografia. A tarefa de
contextualizar e explicar as origens do trabalho não deve estar
neste elemento, pois isso roubaria a função da introdução.
Da mesma forma, o resumo não deve ser um estudo sobre o
pensamento dos autores sobre os resultados obtidos. Não pense
nessa parte do seu TCC como uma forma de adiantar o que foi
concluído através dos dados obtidos, pois isso tira a objetividade
do trabalho.
Por fim, o resumo também não deve contar longas
discussões sobre a metodologia do trabalho. Esse é um erro
comum, uma vez que é necessário que ele contenha uma
descrição generalista dos métodos considerados, mas no fim das
contas não se deve aprofundar demais nessa questão ainda.
Resumo expandido
O resumo expandido, diferentemente do abstract, é um
modelo de trabalho separado, e não um elemento integrante de
outro trabalho. Por isso seguem algumas características, como,
por exemplo, a extensão. Ele é geralmente utilizado em eventos
como forma de apresentar uma proposta ou pesquisa em marcha.
É importante esclarecer que cada evento pode ter um
formato específico de resumo expandido. Por isso, se atente
também ao edital e às diretrizes do evento que você quer submeter
seu resumo. Esse formato pode oferecer até mesmo uma folha
timbrada específica com cores e formatações exclusivas como o
uso de colunas, por exemplo.

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Oficina de Textos em Português 133

Acontece que geralmente essas diretrizes, quando existem,


poder ser vagas, ou orientar de forma geral. Por isso elaboramos
um padrão bem legal para seguir:
Como fazer um resumo expandido:
1. O resumo expandido deve ter no mínimo 500 e no
máximo 1000 palavras, incluindo as referências bibliográficas.
2. Para o corpo do texto você deverá usar fonte Times
New Roman ou Arial, tamanho 12 com espaçamento simples
entre as linhas e texto justificado.
3. Os títulos e subtítulos deverão ser digitados em letras
maiúsculas, em negrito, com fonte tamanho 12 e em Times New
Roman ou Arial, espaçamento simples.
4. Em alguns casos será exigido o minicurrículo que inclui
titulação, área de estudos e e-mail. Ele deverá será inserido como
nota de rodapé na primeira página.
5. Se você ainda não é Mettzer deverá configurar a sua
página dentro dos padrões da ABNT
 Papel A4 (210 x 297 mm), no modo retrato, com
margens de 3 cm na borda superior e esquerda e 2,0 cm na borda
inferior e direita.
 O parágrafo deve ter abertura de1,5 cm do alinhamento
esquerdo e 0 cm, antes e depois.
Apenas se atente de que alguns eventos podem exigir
um formato sem identificação em razão da imparcialidade na
escolha, neste caso, inserir tais informações poderia causar a
rejeição do trabalho
Utilização de Citações
Não é incomum encontrar resumos povoados por quase
uma dezena de citações.

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134 Oficina de Textos em Português

Apesar de não existir uma regra formal que impeça isso,


é altamente desaconselhado o uso de mais do que uma ou duas
citações nessa parte da monografia, já que essa ferramenta não
contribui muito para os objetivos do elemento.
Quando realizar citações, as utilize de forma completa.
Outra questão contestada é sobre o uso de frases idênticas
às escritas pelos autores em outras partes do trabalho. Isso
também não é proibido e ainda pode ser de grande utilidade para
relacionar as partes do TCC.
Entretanto, tenha em mente que o resumo deve ser curto
e objetivo, o que pode dificultar que o autor dê contexto a uma
frase tirada de outro setor do trabalho.

SAIBA MAIS

Quer saber como fazer um resumo para um artigo que será


publicado? Leia o editorial “Como escrever o resumo de uma
artigo para publicação”, disponível em: https://bit.ly/2tk46LD.

eBook completo impressão - Oficina de Textos em Português - Aberto - SER.indb 134 05/10/2021 17:58:31
Oficina de Textos em Português 135

Conhecendo a resenha acadêmica

OBJETIVO

Nesta seção você deverá entender o que é uma resenha


acadêmica, quais são suas características, como ela deve ser
escrita etc. Vamos nessa?

A resenha é um tipo de texto que serve para divulgar obras


novas e apresentar uma obra que o(a) leitor(a) geralmente não
leu ou não conhece. Ela pode, assim, atualizar o público leitor de
modo breve sobre outras produções científicas, especialmente
recentes.
É comum periódicos científicos dedicarem uma seção
inteira de sua publicação apenas para resenhas, já que elas
representam uma atualização sobre quais publicações estão
surgindo na área de interesse da revista. Por isso, normalmente,
as resenhas costumam ser de obras recentes.
As revistas normalmente especificam um período limite
diferente para obras nacionais (por exemplo, aceitando apenas
resenhas de obras publicadas no último ano, ou nos últimos dois
anos etc.), e para obras lançadas no exterior (geralmente, obras
publicadas nos últimos cinco anos). É preciso atentar para a
especificação feita pelo periódico em questão.
A resenha, nesse papel de divulgar e apresentar uma dada
obra, geralmente cumpre três passos essenciais:
1. Identifica a obra a ser resenhada;
2. Apresenta/descreve resumidamente o conteúdo dessa obra;
3. Aprecia/avalia criticamente esse conteúdo.

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136 Oficina de Textos em Português

A identificação detalha o nome do autor e inclui breves


informações sobre sua carreira. A identificação também informa
o trabalho resenhado, seu local e editora de publicação, a data,
e apresenta demais informações que se apliquem, como por
exemplo o nome da coleção ou série a que a obra pertence, o
número de volumes, o nome do tradutor, se for o caso, e assim
por diante.
A apresentação do conteúdo da obra consiste no resumo
dos principais argumentos feitos, um levantamento das ideias
apresentadas e defendidas pelo autor. Pode ser organizada
conforme os fatos ou dados aparecem na obra (resumindo os
capítulos ou as partes em sua ordem sequencial na obra) ou
então em agrupamento de conjuntos de ideias.
Já a apreciação do conteúdo pode ser tanto positiva quanto
negativa, desde que seja fundamentada. De qualquer modo, é
importante que a apreciação seja feita com respeito e zelo.
Recomenda-se que já na apresentação do resumo da obra se
insiram pequenas sinalizações sobre o tom da apreciação crítica
(se houver). Isso pode ser feito, por exemplo, com expressões do
tipo: “o autor sabiamente desenvolve o argumento . . .”, ou “o
autor discute o ponto X de modo relativamente apressado . . .”.
Tipos de resenha:
A resenha pode ser do tipo descritiva (também chamada
de resenha técnica ou resenha científica), ou então do tipo crítica
(também conhecida como resenha opinativa). A resenha descritiva
se concentra na avaliação do conteúdo enquanto conhecimento,
ciência ou verdade, ou seja, ela faz um julgamento de verdades.
Já a resenha crítica avalia a obra considerando valor, estilo,
estética, beleza etc. (julgamento de valores). Assim, a resenha
crítica exige maior grau de detalhes para a fundamentação da
crítica (seja ela positiva ou negativa), já que trata de questões
menos palpáveis e mais subjetivas.

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Oficina de Textos em Português 137

Existem ainda as chamadas resenhas temáticas. Nesse


tipo de resenha, há a apresentação de vários textos de diferentes
autores que tratam de um mesmo tema principal. Na resenha
temática, cada um desses textos é identificado e apreciado em
termos de sua real contribuição (e o grau de qualidade dessa
contribuição) para o tema em questão.
Se uma resenha não emitir qualquer avaliação sobre o
conteúdo, temos o caso da resenha-resumo. Esse tipo de resenha
se limita aos dois primeiros passos descritos anteriormente, isto
é, apenas identificar a obra e resumir seu conteúdo. Então, essa
modalidade cumpre uma função meramente informativa, e não
busca convencer o leitor sobre a importância ou valor de ler
dada obra ou não.
Como nós já citamos aqui, a resenha é uma espécie
de resumo, de síntese de um objeto, o qual pode ser um
acontecimento qualquer da realidade (jogo de futebol ou outro
esporte, exposição de arte, peça de teatro, uma feira de produtos,
uma comemoração solene etc.) ou textos e obras culturais (filme,
livro, capítulo de livro, peça de teatro etc.), com o objetivo de
passar informações ao leitor/ouvinte/assistente.
De acordo com Fiorin, resenhar significa destacar as
propriedades de um objeto, mencionar seus aspectos mais
importantes, descrever as circunstâncias que o envolvem, sempre
de acordo com uma intenção/finalidade previamente definida
pelo resenhador. Normalmente, a resenha é utilizada na mídia
(jornais e revistas, tanto em papel como online, e na televisão),
quando recebe o nome de ‘crítica’, ou não recebe nome algum;
na Academia (estabelecimento de educação superior), ela é
denominada de ‘resenha’ mesmo (MACHADO, 2007).
Ao lhe ser solicitada a tarefa de fazer um desses trabalhos
de aula, você deverá se informar com o seu professor sobre qual
tipo é o desejado e se há alguma particularidade a ser observada.
A resenha pode ser elaborada sem crítica (só como resumo) ou
com crítica (resumo e comentário).

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138 Oficina de Textos em Português

Vamos ver cada tipo de resenha?


1. Resenha-resumo
A resenha-resumo é um texto que sintetiza o objeto a ser
resenhado, sem julgamento de valor, sem crítica ou apreciação
do resenhador; trata-se de um texto informativo, descritivo, que
apenas resume as informações básicas para conhecimento do
leitor/ouvinte/assistente. Por exemplo, se for resenha-resumo
de um livro, sugere-se esta estrutura para a apresentação do
trabalho: a) folha de rosto, para a identificação do estudante
resenhador e dados gerais do trabalho, se este for entregue ao
professor. O texto da resenha em si, composta das seguintes
partes, sem mudar de página a cada uma delas: – título (diferente
do título da obra resenhada);
– referência dos dados da obra: autor, título, editora, local
de publicação, número de páginas, preço do exemplar etc. Esses
dados podem ser apresentados separadamente do texto (conforme
exemplo seguinte), ou dentro de um parágrafo do texto;
– alguns dados biobibliográficos do autor do livro
resenhado: dizer algo sobre quem é o autor, o que ele já publicou
etc.;
– resumo do conteúdo da obra: indicação breve do assunto
tratado e do ponto de vista adotado pelo autor (perspectiva
teórica, gênero, método, tom etc.) e resumo dos pontos essenciais
do texto e seu desenvolvimento geral.
Exemplo de possível resenha-resumo:
O direito como teoria separada de outras ciências sociais
KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. São Paulo:
Martins Fontes, 1985.
A obra – Esta obra, tradução de João Baptista Machado,
é o resultado da segunda edição alemã (a primeira é de 1934),
publicada em Viena em 1960, composta de oito capítulos:
direito e natureza; direito e moral; direito e ciência; estática

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Oficina de Textos em Português 139

jurídica; dinâmica jurídica; direito e estado; o estado e o direito


internacional; a interpretação, todos com subdivisões, num total
de 378 páginas.
O autor – Hans Kelsen nasceu em Praga, cidade pertencente
ao então Império Áustrohúngaro, cuja capital era Viena, em 11
de outubro de 1881, e faleceu em Berkeley, EUA, em 19 de abril
de 1973. Em 1911 publicou sua primeira tese. Foi professor
de Filosofia do Direito e Direito Público na Universidade de
Viena, tendo fundado o grupo de estudos “A Escola de Viena”
- uma doutrina pura do direito. Ensinou em diversas outras
universidades, na Alemanha, Suíça, Estados Unidos. Além disso,
foi constitucionalista e atuou como juiz e relator permanente do
Tribunal Constitucional da Áustria. Possui obras traduzidas em
vários idiomas, sendo as principais “Teoria Pura do Direito” e
“Teoria Geral das Normas”.
Resumo – A obra trata da descrição de uma teoria jurídica
pura, utilizando-se de uma pureza metodológica capaz de
isolar o estudo do direito do estudo das outras ciências sociais
(história, economia, psicologia etc.), descrição essa isenta de
ideologias políticas e de elementos de ciência natural: “Isso quer
dizer que ela [teoria pura do Direito] pretende libertar a ciência
jurídica de todos os elementos que lhe são estranhos. Esse é o
seu princípio metodológico fundamental” (p.1). Sua concepção
lógico-normativista rejeita o direito natural, os juízos de valor,
os critérios de justiça, as considerações de ordem axiológica,
pretendendo determinar o direito que é, e não o que deveria ser.
Analisa o objeto do Direito como (a) ordens de conduta humana,
sendo ‘ordem’ tida como um sistema de normas cuja unidade é
constituída pelo fato de todas elas terem o mesmo fundamento de
validade, ou seja, a norma fundamental, e como (b) ordem coativa,
no sentido de que ela reage contra as situações consideradas
indesejáveis, por serem socialmente perniciosas. [...] O mestre
austríaco constrói o sistema jurídico alicerçado no critério de
validade das normas jurídicas. Ao indagar sobre o fundamento
de validez de uma norma, responde que deve ser dada como

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140 Oficina de Textos em Português

resposta outra norma, formando-se, assim, uma hierarquia, uma


estrutura escalonada de normas, em cujo ápice estaria a norma
fundamental, a qual não pertence ao direito positivo. No topo
desta hierarquia de normas, dando validade a todo o sistema
jurídico, está uma norma fictícia, um produto do pensamento:
[...] o fundamento de validade de uma outra norma é, em face
desta, uma norma superior. Mas a indagação do fundamento
de validade de uma norma não pode, tal como a investigação
da causa de um determinado efeito, perder-se no interminável.
Tem de terminar numa norma que se pressupõe como a última
e a mais elevada. Como norma mais elevada, ela tem de ser
pressuposta, visto que não pode ser posta por uma autoridade,
cuja competência teria de se fundar numa norma ainda mais
elevada. [...] Uma tal norma, pressuposta como a mais elevada,
será aqui designada como norma fundamental (Grundnorm) (p.
206-207). [...] Para finalizar sua obra, Kelsen trabalha a questão
da interpretação, dizendo que “a interpretação científica é pura
determinação cognoscitiva do sentido das normas jurídicas” (p.
370), que estabelece as possíveis significações de uma norma
jurídica, repudiando a jurisprudência dos conceitos e alegando
ser incapaz de preencher as lacunas do Direito, já que isto é
função criadora de Direito que apenas pode ser realizada por
um órgão aplicador do Direito. Defende a ideia de que, tendo
em vista a plurissignificação da maioria das normas jurídicas, o
ideal da ficção de que uma norma jurídica apenas permite uma
só interpretação, a interpretação ‘correta’, somente é realizável
de forma aproximativa.
2. Resenha crítica
A resenha crítica é um resumo comentado, uma apreciação
crítica sobre determinada obra/fato, ou seja, além de fazer o
resumo, acrescenta-se uma avaliação, julgamento(s) de valor,
apreciação, crítica. Quanto à extensão, as resenhas, por suas
características especiais, não estão sujeitas a limite de palavras:
você deverá verificar a finalidade do trabalho e o espaço em que

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Oficina de Textos em Português 141

ela será utilizada, pois se for, por exemplo, publicada em jornais/


revistas, o periódico orienta sobre o número máximo de linhas.
Estrutura da resenha crítica:
Quanto à sua estrutura, por exemplo, se for uma resenha
crítica de livro ou similar, sugere-se esta para a apresentação do
trabalho:
a. folha de rosto, para a identificação do estudante
resenhador e dados gerais do trabalho, se este for entregue ao
professor;
b. em outra página, a resenha em si, composta das
seguintes partes, sem mudar de página a cada uma delas (se for
resenha de pouca extensão, a critério do professor da tarefa):
– título (diferente do título da obra resenhada);
– referência dos dados da obra: autor, título, editora, local
de publicação, número de páginas, preço do exemplar etc.;
– alguns dados biobibliográficos do autor da obra
resenhada: dizer algo sobre quem é o autor, o que ele já publicou
etc.;
– resumo do conteúdo da obra: indicação breve do assunto
tratado e do ponto de vista adotado pelo autor (perspectiva
teórica, gênero, método, tom etc.) e resumo dos pontos essenciais
do texto e seu desenvolvimento geral;
– avaliação crítica: comentários, julgamentos, juízos de
valor do resenhador sobre as ideias do autor, o valor da obra etc.;
– referências (só se for um trabalho de maior extensão,
em que houver a utilização de outras obras para complementar
o estudo crítico).
Exemplo de resenha crítica curta referente a um filme:
Um elefante que incomoda muita gente

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142 Oficina de Textos em Português

Horton e o Mundo dos Quem (Horton Hears a Who!,


Estados Unidos, 2008. Estreia nesta sexta-feira) – Juntar
novamente Jim Carrey e a obra do autor infantil Dr. Seuss (1904-
1991) parece, à primeira vista, uma temeridade – como quem
viu o insuportável O Grinch não consegue esquecer. Mas, graças
à criatividade do ateliê Blue Sky, de Robôs, e da série A Era do
Gelo, o saldo aqui é encantador. Carrey empresta sua voz ao
expansivo elefante Horton, que incomoda muita gente quando
cisma que, num pequeno grão de pólen que passou voando perto
dele, existe todo um mundo habitado por pessoas minúsculas.
Perseguido por uma canguru reacionária e pela massa que
ela manobra, Horton ainda assim insiste na sua teoria. Não
só prova que ela é verdadeira, como, com a ajuda do prefeito
do pequeno mundo dos Quem (com a voz excelente de Steve
Carell), enfrenta perigos terríveis para conduzir o grãozinho até
um lugar seguro. O enredo é perfeito para o time da Blue Sky,
cujos maiores atributos são o humor com um quê de absurdo (o
traço marcante das rimas de Dr. Seuss, preservadas na narração)
e o talento para sequências de ação que são verdadeiros delírios
da causa e efeito.
Exemplo de resenha crítica referente a um álbum musical:
Radiohead: sucesso da internet, agora nas lojas
In Rainbows, Radiohead (Flamil) – O novo disco do
quinteto inglês tornou-se um fenômeno do mercado por causa
de sua estratégia de lançamento – em outubro do ano passado,
ele estava disponível para download, pelo preço que o fã achasse
justo (estimase que um milhão de pessoas tenha baixado o
álbum). Neste ano, In Rainbows chegou às lojas de discos e
também teve bons resultados, alcançando os primeiros lugares
nas paradas dos Estados Unidos e da Inglaterra. Muito mais do
que a uma estratégia de marketing, o êxito de In Rainbows se
deve à excelência musical do Radiohead. O quinteto capitaneado
pelo guitarrista e vocalista Thom Yorke e pelo guitarrista Jonny
Greenwood sabe como poucos misturar rock, música clássica,

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Oficina de Textos em Português 143

eletrônica e experimental. As faixas Bodysnatchers e House of


Cards são ótimos exemplos dessa mistura.
Outra forma de analisar a estrutura da resenha crítica Dito
de outra forma, a resenha terá introdução, desenvolvimento e
conclusão, sem aparecerem esses títulos no trabalho, mas é a
sequência do texto que vai revelar essas partes. A introdução
é breve. Nela se procura identificar o objeto que está sendo
resenhado e contextualizar o assunto de que ele trata. Por
exemplo, se for resenha de um livro, na introdução mencionar
seus dados básicos: autor, título, editora, local de publicação,
número de páginas, preço do exemplar etc., discutindo-se a
importância do assunto, a fim de o leitor, a quem será entregue o
trabalho, ficar localizado no tempo e no espaço. Exemplo de um
parágrafo de introdução de uma resenha crítica de um livro, em
que a referência dos dados da obra aparece descrita no interior
do próprio parágrafo:
A TECNOLOGIA SERÁ INVISÍVEL
Um dos fenômenos que marcaram os últimos anos do
século 20 foi a democratização da tecnologia. Durante décadas,
apenas as grandes corporações podiam manter uma estrutura
própria de equipamentos caros e poderosos. A miniaturização
e o barateamento de componentes permitiram mais tarde que
os computadores passassem a fazer parte da vida cotidiana no
trabalho e nas casas. O mundo da tecnologia, porém, está às
vésperas de uma nova e profunda transformação. Em um futuro
próximo, tudo o que acontece dentro do computador – desde
o processamento até o armazenamento de informações – deve
migrar para a internet. [...] Os contornos dessa transformação –
mais profunda do que parece à primeira vista – são delineados
na obra The Big Switch: Rewiring the World, from Edison to
Google (“A grande virada: reconectando o mundo, de Edison ao
Google”, em tradução livre e ainda sem previsão de lançamento
no Brasil), escrita pelo especialista em tecnologia e ex-editor da
revista Harvard Business Review Nicholas Carr. Recém-lançado

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144 Oficina de Textos em Português

nos Estados Unidos, o livro é uma visão do novo mundo da


tecnologia.
O desenvolvimento consiste em um resumo com crítica
aberta, em que se apresentam as ideias principais do autor,
concatenando-as e ordenando-as. Sempre um parágrafo, ou uma
frase, deve ser relacionado com o que vem antes e depois. Como é
um resumo com crítica, você, ao mesmo tempo em que resume a
obra, já vai expondo sua opinião, já vai emitindo seu julgamento,
mostrando os pontos falhos, destacando os pontos válidos,
confirmando com exemplos de outros autores os argumentos
apresentados, apontando causas e efeitos concordantes e/ou
discordantes, comparando o livro em análise com outras obras
lidas, com outros autores etc.
Usam-se principalmente adjetivos, substantivos e
advérbios para expressar a opinião do resenhador. Verbos que
expressam o ato de falar, em suas várias nuances, podem ser
utilizados: afirmar, alertar, anunciar, apontar, citar, concordar,
considerar, declarar, destacar, dizer, esclarecer, explicar, expor,
lembrar, mencionar, propor, ressaltar, salientar. Dar preferência
para o verbo no presente do indicativo. Normalmente, quando se
resenha uma obra cujo autor seja do gênero masculino, usa-se o
seu sobrenome para identificá-lo no decorrer da redação; quando
for do gênero feminino, usa-se o prenome da autora. Quando
necessário, se for trabalho de maior fôlego, poderão aparecer
subtítulos, para melhor distribuir os assuntos na sequência do
texto, e, também, algumas citações diretas e indiretas, com as
devidas referências às fontes/autores citados.
Exemplo de resenha crítica, com subtítulos, sem citações
diretas, referente a um livro:
O fenômeno da invenção amorosa na voz feminina
Heloisa Caldas
O livro Amor paixão feminina, de Malvine Zalcberg
[Editora Campus, 256 p., R$ 39,90], destaca-se pela importância

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Oficina de Textos em Português 145

de seu tema. Afinal, desde os tempos mais remotos, o amor


interessa à humanidade. O banquete, de Platão, e A arte de
amar, de Ovídio, para citar apenas duas grandes obras da cultura
ocidental, atestam isso. [...] Ela sabe entrelaçar conceitos diversos,
valendo-se, em especial, da psicanálise e da arte. Seu texto é
delicado, cuidadoso, preciso. Sustenta predominantemente a
psicanálise e atesta como esta se enriquece ao não prescindir
da arte e da cultura. Texto viril e feminino Pode-se dizer que
é um texto feminino. Não porque a autora é uma mulher, mas
pelo fato de ela escrever deixando lacunas à reflexão, espaços
abertos à fecundação, ao engendramento e à invenção. Contudo,
é também um texto viril, se se levar em conta a sustentação
dos conceitos. [...] A autora o explica ao mesmo tempo que o
faz. Sua habilidade com a linguagem e o rumo claro da prosa
tomam o leitor pela mão e o conduzem, passo a passo, por
uma teorização nada simples, nem fácil. O livro ensina tanto
o jovem que se aproxima do assunto, como o estudioso mais
experiente. Endereçar-se num mesmo texto a um público tão
vasto não é comum. É preciso dedicar-se com amor a essa tarefa
de transmissão. [...]
Diferença radical Quando se escolhe a psicanálise,
escolhe-se uma teoria que introduz uma diferença radical.
Essa diferença se deve ao fato de a teoria psicanalítica não se
separar da experiência analítica. Assim – e este é um aspecto
desenvolvido de forma exemplar no livro – ainda que o amor
nasça de um encontro fortuito, a forma como se estabelece para
cada sujeito é determinada por condições. O apaixonado tende a
pensar que o encontro lhe era destinado, estava de alguma forma
escrito. Nisso, podese dizer que ele tem alguma razão, pois, ainda
que a pessoa amada não seja em si predestinada, as condições
para que ela tenha se tornado a pessoa amada obedecem a uma
necessidade lógica específica a cada amante. [...] Malvine nos
mostra que o amor é uma tentativa de construir, através da
fala, uma solução aos impasses do ser. [...] Alegria infantil Eis,
então, a demonstração de Malvine Zalcberg: o feminino apela

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146 Oficina de Textos em Português

ao amor. Uma demanda por algo valioso, devido a seu aspecto


de imprevisibilidade, à alegria infantil do novo, à renovação
que torna as coisas cheias de vida, ao que transborda os limites
conhecidos e traz esperança de felicidade. [...] Trata-se de uma
leitura instigante recomendável a todos: seja o leitor iniciante
ou experiente nas coisas do amor; amante ou amado; parceiro
ou companheiro; ficante, rolo, caso ou namorado; romântico
ou contemporâneo; crente de que o amor possa ser eterno ou
descartável; duradouro ou mutável; sólido ou fluído; quer ame
alguém em especial, quer ame de forma especial a alguém; quer
vise a pessoa amada como complemento de seu ser, quer a tenha
como companhia transitória ao longo de seu viver.

RESUMINDO

Nesta seção foi possível entender um pouco mais sobre como é a


resenha acadêmica, quais os tipos existentes, como escrever cada
uma e quais as características delas. Gostou? Então aproveite
seus estudos.

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Oficina de Textos em Português 147

04
UNIDADE

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148 Oficina de Textos em Português

INTRODUÇÃO
Chegamos, finalmente a nossa última unidade de
aprendizagem! Nós já vimos questões sobre linguagem e
comunicação, já trabalhamos os gêneros textuais. Na última
unidade pudemos entrar no universo acadêmico e entender os
gêneros mais científicos, além de aprender mais sobre o resumo
e a resenha acadêmicos. Agora nesta última unidade nós vamos
aprender sobre técnicas de exposição e argumentação textual.
Nós também vamos trabalhar como é a produção e a construção
de um texto. Vamos nessa? Pronto para embarcar na sua última
viagem no mundo dos textos? Aos estudos.

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Oficina de Textos em Português 149

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências

1
profissionais até o término desta etapa de estudos:

Compreender técnica de exposição textual;

2 Conhecer técnica de argumentação textual;

3 Produção de um texto;

4 Construção de um texto.

Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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150 Oficina de Textos em Português

Compreendendo as técnicas de exposição


textual

OBJETIVO

Como nós vimos, existem tipos textuais específicos, eles são seis,
certo? Bem, nesta seção nós vamos abordar especificamente o
tipo textual expositivo, suas características e também técnicas de
escrita para essa tipologia. E então? Motivado para desenvolver
esta competência? Então vamos lá. Avante.

As características do texto expositivo


A exposição é utilizada para apresentar o conteúdo de um
tema de maneira clara e convincente, explicando e desenvolvendo
uma série de ideias. O texto em que a exposição predomina
denomina-se texto expositivo. Exposição é um tipo de discurso
cuja principal finalidade é transmitir informação. É uma das
formas de expressão próprias dos textos didáticos. A finalidade
de transmitir informação pode concretizar-se de modos muito
distintos, seja na língua oral, seja na escrita.
São exemplos de texto expositivo: o artigo especializado
em que um cientista apresenta suas descobertas; a notícia por
meio da qual essas descobertas são divulgadas; uma questão em
que o aluno desenvolve um tema proposto ou, ainda, a explicação
oral do guia que apresenta um museu a turistas. Em qualquer um
desses casos, o emissor deve ter um conhecimento profundo do
tema de que trata.
Para que o propósito informativo se cumpra de maneira
satisfatória, o texto expositivo deve reunir muitas qualidades,
entre as quais a clareza, a ordem e a objetividade, além de

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Oficina de Textos em Português 151

apresentar seu conteúdo de forma compreensível para o


interlocutor (clareza) e ser organizado de acordo com um
determinado critério (ordem) e sem juízos de valor pessoais, ou
seja, as informações devem ser embasadas em fatos justificados
e objetivos (objetividade).
Elementos da exposição
O discurso expositivo ocorre em situações de comunicação
determinadas por três elementos: o emissor, o receptor e a relação
que se estabelece entre eles. Nós os vimos na primeira unidade,
vamos relembrar?
 O emissor (ou locutor) deve possuir conhecimentos
suficientes acerca do tema da exposição e a intenção de transmiti-
los de maneira ao mesmo tempo objetiva e compreensível para
seu potencial receptor.
 O receptor (ou locutário) pode ser um especialista
na matéria exposta, ignorá-la por completo ou possuir alguns
conhecimentos sobre ela. De seu nível de conhecimentos
dependerá seu objetivo ao abordar o texto: encontrar uma
informação simplificada sobre um tema, ampliar o que já sabe
ou verificar as últimas investigações de uma disciplina na qual é
especialista, para concordar ou não com elas.
 A relação entre emissor e receptor é fundamental para
que a informação seja transmitida de maneira eficaz. O emissor
deve conhecer o tipo de receptor a quem vai se dirigir; somente
assim conseguirá dar à sua exposição o nível e o tom adequados.
Estruturas de textos expositivos
A informação pode ser ordenada no parágrafo conforme
diferentes estruturas:
 Estrutura dedutiva: A ideia principal é exposta
no início e, na continuação, ela é explicada, demonstrada ou
desenvolvida. Exemplo:

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152 Oficina de Textos em Português

Os avanços científicos são sumamente benéficos para a


humanidade. Em primeiro lugar, porque permitem combater
numerosas doenças e, em segundo lugar, porque tomam nossa
existência mais cômoda.
 Estrutura indutiva: A informação mais relevante é
exposta no fim do parágrafo e é apresentada como conclusão do
que foi expresso anteriormente. Exemplo:
Os avanços científicos permitem combater numerosas
doenças. Por outro lado, tomam mais cômoda nossa existência.
Podemos concluir, portanto, que o desenvolvimento da ciência é
sumamente benéfico para a humanidade.
 Estrutura paralela: O parágrafo é organizado como
uma sucessão de ideias que não são subordinadas umas às outras.
Exemplo:
Os avanços científicos permitem combater numerosas
doenças. Por outro lado, tomam mais cômoda nossa existência.
Além disso, permitem-nos sonhar com um futuro em que o ser
humano será dono absoluto de seu destino.
Recursos linguísticos da exposição
De acordo com a forma adotada na exposição, empregam-
se conectores específicos:
 Nas exposições narrativas, predominam os conectores
temporais ou ordinais (primeiro, depois, por último).
 Nas exposições descritivas, prevalecem os conectores
espaciais (adiante, acima), os de contraste (diferentemente de,
pelo contrário) e os distributivos (por um lado, por outro lado).
 Nas exposições argumentativas, apresentam-se como
conectores característicos os que exprimem relação de causa e
efeito (porque, de modo que).

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Oficina de Textos em Português 153

Classificação dos textos expositivos


A exposição pode se organizar de acordo com diversos
esquemas textuais e temáticos. Focalizando-se a forma, o texto
expositivo pode ser narrativo, descritivo ou argumentativo; do
ponto de vista do conteúdo, pode ser científico, didático ou
jornalístico.
Classificação textual da exposição
A palavra expor remete, entre outras, à ideia de explicar
um assunto ou falar desse assunto para que outros o conheçam.
Desse modo, pode-se definir exposição como o tipo de discurso
que tem por objetivo transmitir informação. Clareza, ordem e
objetividade são as principais características da prosa expositiva.
 Texto expositivo narrativo: quando o tema a ser
exposto implica um desenvolvimento temporal, a exposição é
feita na forma narrativa. Exemplo:
Os grupos de avanço da 3a Divisão Encouraçada americana
iniciaram o ataque contra o posto de comando avançado de
Koechling (general alemão encarregado da defesa de Colônia),
a uns 13 quilômetros ao norte de Colônia. O general alemão
observou os restos da 9a Panzer, ultrapassados pelo avanço dos
tanques americanos, e no fim viu-se obrigado a abandonar seu
próprio posto de comando.
 Texto expositivo descritivo: a forma descritiva é típica
das exposições centradas na caracterização de uma realidade que
se apresenta a um receptor (leitor, ouvinte) e também é frequente
nas classificações e comparações. Exemplo:
Planta da família das palmáceas, o buriti (Mauritia vinifera
e M flexuosa) ocorre no Brasil central e no sul da planície
Amazônica. Seu caule pode atingir até 35 m de altura. Floresce
de dezembro a abril. Seus frutos castanho-avermelhados têm
forma elipsoide. E muito utilizado para extração de óleo, palmito
e fibras (na fabricação de móveis e cestaria).

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154 Oficina de Textos em Português

 Texto expositivo argumentativo: a exposição na


forma argumentativa caracteriza-se pela análise racional do
tema, estabelecendo relações de causa e consequência. Exemplo:
A ampliação do comércio internacional e a melhora dos
mecanismos financeiros fizeram com que, no século XVIII, a
economia passasse a ser controlada pela burguesia.
Classificação temática da exposição
Os textos expositivos também podem ser classificados de
acordo com sua temática:

MODALIDADES CARACTERÍSTICAS

Tema especializado. Exige ordem,


Científica
rigor e precisão.

Temas do conhecimento. Deve


Didática
apresentar ordem, clareza e exatidão.

Dirige-se ao público em geral. Trata


Propagandística de temas de interesse comum e
costuma ter estilo simples e claro.

Exige análise reflexiva, ordem,


Humanística
clareza e desenvolvimento dialético.

Predomínio da objetividade, clareza


Jornalística e exatidão na informação que
transmite.

O texto expositivo implica uma apresentação consequente


e lógica do assunto, com articulação apropriada de partes
relevantes. Então, a necessidade de o desenvolver ou apresentar,
referindo o tempo, o espaço ou as circunstâncias.

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Oficina de Textos em Português 155

Oralidade e escrita no texto expositivo


Aluno, independente da realização comunicativa, podemos
encontrar marcas distintivas na e exposição oral e na exposição
escrita. Na oral, a apresentação do assunto deve ser consequente
e lógica, com articulação apropriada de palavras relevantes.
Além disso, os argumentos apresentados devem ser pertinentes
e eficazes. As razões e dados não só necessitam de clareza e
precisão, mas também devem estar de acordo com o que se
quer transmitir para que produzam efeito, seja na transmissão
de uma informação, seja como opinião ou até mesmo em uma
propaganda.
Como, muitas vezes, a exposição oral é uma comunicação
sem intercâmbio, qualquer enunciado deficiente não pode
ser esclarecido e sofre interpretações diversas e que podem
ser deturpadas. O cuidado com a organização das ideias e na
estruturação do discurso tem de ser o melhor. É por isso que
o texto expositivo está associado com a análise e sínteses de
representações conceituais.
Já a exposição escrita surge, normalmente, sob as formas
de texto informativo-expositivo ou expositivo argumentativo.
Como vimos, o informativo-expositivo tem por finalidade a
transmissão de informações e indicações que digam respeito a
fatos concretos e referências reais. No entanto, o expositivo-
argumentativo procura defender uma tese, apresentando dados
e observações que a confirmem. Deve expor com clareza e
precisão as razões que levam à defesa de uma opinião sobre
determinado tema.

SAIBA MAIS

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à


seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: “A estrutura
textual”, acessível pelo link https://bit.ly/2M2Gpho.

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156 Oficina de Textos em Português

Alguns exemplos
1. Verbete de dicionário
“Significado de Nostalgia (s.f). Tristeza causada pela
saudade de sua terra ou de sua pátria; melancolia. Saudade do
passado, de um lugar etc. Disfunções comportamentais causadas
pela separação ou isolamento (físico) do país natal, pela ausência
da família e pela vontade exacerbada de regressar à pátria.
Saudade de alguma coisa, de uma circunstância já passada ou
de uma condição que (uma pessoa) deixou de possuir. Condição
melancólica causada pelo anseio de ter os sonhos realizados.
Condição daquele que é triste sem motivos explícitos. (Etm. do
francês: nostalgie)” Fonte: (Dicionário Online de Português-
Dicio.com)
2. Enciclopédia
“Cervo-do-pantanal (nome científico: Blastocerus dichotomus),
também chamado suaçuetê, suaçupu, suaçuapara, guaçupuçu ou
simplesmente cervo, é um mamífero ruminante da família dos cervídeos
e único representante do gênero Blastocerus. Ocorria em grande parte
das várzeas e margens de rios do centro da América do Sul, desde o sul
do rio Amazonas até o norte da Argentina, mas atualmente, a espécie
só é comum no Pantanal, na bacia do rio Guaporé, na ilha do Bananal
e em Esteros del Iberá.”
3. Entrevista
“Clarice Lispector, de onde veio esse Lispector?
É um nome latino, não é? Eu perguntei a meu pai desde
quando havia Lispector na Ucrânia. Ele disse que há gerações
e gerações anteriores. Eu suponho que o nome foi rolando,
rolando, rolando, perdendo algumas sílabas e foi formando
outra coisa que parece “Lis” e “peito”, em latim. É um nome
que quando escrevi meu primeiro livro, Sérgio Milliet (eu era
completamente desconhecida, é claro) diz assim: “Essa escritora

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Oficina de Textos em Português 157

de nome desagradável, certamente um pseudônimo…”. Não era,


era meu nome mesmo.
Você chegou a conhecer o Sérgio Milliet pessoalmente?
Nunca. Porque eu publiquei o meu livro e fui embora do
Brasil, porque eu me casei com um diplomata brasileiro, de
modo que não conheci as pessoas que escreveram sobre mim.
Clarice, seu pai fazia o que profissionalmente?
Representações de firmas, coisas assim. Quando ele, na
verdade, dava era para coisas do espírito.
Há alguém na família Lispector que chegou a escrever
alguma coisa?
Eu soube ultimamente, para minha enorme surpresa, que
minha mãe escrevia. Não publicava, mas escrevia. Eu tenho uma
irmã, Elisa Lispector, que escreve romances. E tenho outra irmã,
chamada Tânia Kaufman, que escreve livros técnicos.
Você chegou a ler as coisas que sua mãe escreveu?
Não, eu soube há poucos meses. Soube através de uma
tia: “Sabe que sua mãe fazia um diário e escrevia poesias?” Eu
fiquei boba…
Nas raras entrevistas que você tem concedido surge, quase
que necessariamente, a pergunta de como você começou a
escrever e quando?
Antes de sete anos eu já fabulava, já inventava histórias,
por exemplo, inventei uma história que não acabava nunca.
Quando comecei a ler comecei a escrever também. Pequenas
histórias.”
(Trecho da última entrevista com a escritora Clarice
Lispector, concedida em 1977, ao repórter Júlio Lerner, da TV
Cultura).

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158 Oficina de Textos em Português

Figura 1: Clarice Lispector

Fonte: Wikicommons

RESUMINDO

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir
tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que A exposição é
utilizada para apresentar o conteúdo de um tema de maneira
clara e convincente, explicando e desenvolvendo uma série
de ideias. O texto em que a exposição predomina denomina-
se texto expositivo. Exposição é um tipo de discurso cuja
principal finalidade é transmitir informação. É uma das formas
de expressão próprias dos textos didáticos. A finalidade de
transmitir informação pode concretizar-se de modos muito
distintos, seja na língua oral, seja na escrita. Então, pronto para
continuar nossos estudos? Vamos nessa!

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Oficina de Textos em Português 159

Conhecendo as técnicas de argumentação


textual

OBJETIVO

Argumentar é defender racionalmente uma ideia ou opinião


a fim de levar um interlocutor a aceitar como válida essa
ideia ou opinião. Nesta seção nós vamos conhecer técnicas e
características da argumentação. Vamos lá?

A argumentação e suas dimensões


Argumentar é defender uma ideia ou opinião alegando uma
série de razões que as apoiem. O propósito de quem argumenta
é convencer seus interlocutores da validade de uma posição
ou persuadi-los a adotar um determinado comportamento. Na
argumentação é possível distinguir duas dimensões: uma lógica,
na medida em que se apontam razões, e outra prática, visto que
o principal objetivo é conseguir a adesão do receptor.
A argumentação tem uma grande importância na vida
social, porque é a ela que se recorre para justificar certos
comportamentos ou para influenciar o comportamento de outras
pessoas. Veja um exemplo:
A violência é uma conduta aprendida, e nossa cultura é
uma eficiente professora. Um dado aterrador em mais de 15%
dos vídeos musicais dirigidos a crianças e adolescentes aparecem
imagens de crianças armadas. As cenas violentas que a criança
vê na televisão “legitimam” a violência do entorno.
José Antônio Marina.

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160 Oficina de Textos em Português

Elementos comunicativos da argumentação


A argumentação ocorre em uma situação de comunicação
peculiar, na qual se deve levar em conta três elementos: o
emissor, o destinatário e o modo de comunicação. Vamos a eles?
 Emissor é a pessoa que faz a argumentação. Em
algumas ocasiões, ele permanece no anonimato, como ocorre,
por exemplo, na maioria dos anúncios publicitários. A natureza
do emissor, isto é, seu prestígio ou seu descrédito, é um fator
que aumenta ou reduz a força da argumentação. O emissor
deve expressar-se de maneira simples, ordenada e adaptada
às circunstâncias em que se encontra. Ele tem de expor seus
argumentos com base em sua experiência pessoal e na opinião
de especialistas, tentando ser sempre objetivo.
 Destinatário é a pessoa ou o grupo de pessoas a quem
se dirige a argumentação. O destinatário pode ser individual
ou coletivo, concreto (uma pessoa conhecida pelo emissor) ou
genérico (um conjunto potencial de receptores que o emissor
não conhece).
 O modo de comunicação diz respeito a questões como
o caráter público ou privado da argumentação, a presença ou
ausência física do destinatário, a possibilidade de réplica por
parte dele, assim por diante.
A argumentação será eficaz na medida em que o emissor
consegue que o destinatário adote o ponto de vista defendido
ou modifique seu comportamento no sentido desejado. Para
isso, o emissor deverá levar em conta tanto as características
do destinatário como os fatores relacionados com o modo de
comunicação.

Os argumentos
A opinião que se sustenta recebe o nome de tese, e as
razões que se alegam em sua defesa denominam-se argumentos.

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Oficina de Textos em Português 161

Para que a argumentação seja eficaz, o emissor deve considerar


as características e as crenças das pessoas a quem se dirige, pois
somente assim poderá saber a quais argumentos elas são mais
sensíveis. Além disso, esses fatores devem estar relacionados
com a tese de tal modo que a aceitação dos argumentos conduza à
aceitação da tese. Nas argumentações, é frequente haver marcas
que revelam a presença do emissor (como o uso da primeira
pessoa, por exemplo) e que o emissor se dirija diretamente ao
destinatário, com o objetivo de incluí-lo no discurso.
No entanto, às vezes o emissor prefere dar à argumentação
uma aparência de objetividade e elabora seu texto em terceira
pessoa. Os argumentos apoiam-se em valores, crenças ou
premissas que se supõem aceitos pela maior parte dos membros
da comunidade. Tais premissas compartilhadas recebem o nome
de tópicos e permitem classificar os argumentos ajustados ao seu
conteúdo.
Entre os argumentos baseados em tópicos, empregam-se
frequentemente os seguintes:
 O argumento da maioria baseia-se no tópico da
quantidade (“O maior ou mais numeroso é preferível ao menor
ou menos numeroso”). Exemplo:
O filme teve mais de 2 milhões de espectadores, portanto
deve ser muito bom.
 O argumento de utilidade baseia-se no tópico do útil
(“O útil é preferível ao que não é”). Exemplo:
Ajudar globalmente as populações em condições de
pobreza beneficiará a todos.
 O argumento ético baseia-se no tópico da moralidade
(“O moral é preferível ao imoral”). Exemplo:
Senhores membros do Congresso, é à sua responsabilidade
e ao seu senso de dever que recorremos para propor soluções aos
problemas que assolam o país.

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162 Oficina de Textos em Português

• O argumento hedonista baseia-se no tópico do prazer


(“O prazeroso é preferível ao desagradável”). Exemplo:
Praia da Pipa: o paraíso na Terra.

Formular uma tese


Quando se redige uma tese, convém seguir estas diretrizes:
1. Fazer com que a tese seja facilmente identificada. Em um
processo de argumentação, é fundamental que o receptor possa
reconhecer imediatamente a ideia que está sendo defendida.
2. Expressar a tese por meio de orações. A tese é uma ideia
e, portanto, deve ser representada linguisticamente na forma de
oração. Não se deve confundir tese com tema, o qual é designado
por meio de um sintagma. Exemplo:
Tema: A pobreza em nossa sociedade. Tese: A pobreza é
uma ameaça à estabilidade social.
3. Expor a tese da forma mais concisa possível.

A força dos argumentos


Nem todos os argumentos têm o mesmo poder de
persuasão. A força persuasiva de um argumento depende de
sua consistência interna e do grau de aceitação da premissa na
qual se apoia. Um argumento é consistente quando está bem
construído e serve para defender a tese. No enunciado a seguir,
por exemplo, emprega-se um argumento consistente:
Fumar é prejudicial à saúde porque o cigarro contém
substâncias que originam doenças.
Não seria consistente, entretanto, o argumento que é usado
neste outro enunciado:
Fumar é prejudicial à saúde porque meu primo sofreu um
acidente quando estava fumando.

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Oficina de Textos em Português 163

Como nós vimos, a argumentação faz parte da nossa vida


o tempo todo, não é mesmo? Mas, só para ter certeza que você
aprendeu tudo mesmo: argumentar prescinde de amadurecimento
cognitivo-intelectivo. Resta saber como fazê-lo, como viabilizá-
lo no dia a dia. Até mesmo porque saber argumentar não é um
luxo, mas uma necessidade.

Produzindo um texto

OBJETIVO

A produção de textos é o ato de expor por meio de palavras as


ideias, sendo uma ação deveras importante. Saber produzir um
texto pode ser um pré-requisito para conseguir um emprego, uma
vaga na faculdade, dentre outros. Pessoas que escrevem bons
textos conseguem se expressar melhor. A leitura, intimamente
ligada à escrita, é um ato essencial para se produzir um bom
texto. É por isso que nesta seção nós vamos apresentar questões
sobre produção textual. Vamos nessa?

Tipos de textos
Antes de entrarmos no assunto da produção textual, nós
devemos relembrar os tipos textuais. Você se lembra deles?
1. Texto narrativo
Maioritariamente escrito em prosa, o texto narrativo é
caracterizado por narrar uma história, ou seja, contar uma história
através de uma sequência de várias ações reais ou imaginárias.
Essa sucessão de acontecimentos é contada por um narrador e
está estruturada em introdução, desenvolvimento e conclusão.
Ao longo dessa estrutura narrativa são apresentados os principais

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164 Oficina de Textos em Português

elementos da narração: espaço, tempo, personagem, enredo e


narrador.
2. Texto Descritivo
O texto descritivo é caracterizado por descrever algo ou
alguém detalhadamente, sendo possível ao leitor criar uma
imagem mental do objeto ou ser descrito, de acordo com a
descrição efetuada. Descrição essa tanto dos aspectos mais
importantes e característicos que generalizam um objeto ou ser,
como dos pormenores e detalhes que os diferenciam dos outros.
3. Texto dissertativo-expositivo
O texto dissertativo-expositivo tem como objetivo informar
e esclarecer o leitor através da exposição de um determinado
assunto ou tema. Não há a necessidade de convencer o leitor,
apenas de expor conhecimentos, ideias e pontos de vista.
4. Texto dissertativo argumentativo
O texto dissertativo-argumentativo tem como objetivo
persuadir e convencer, ou seja, levar o leitor a concordar com
a tese defendida. É expressa uma opinião crítica acerca de um
assunto, sendo defendida uma tese sobre esse assunto através
de uma argumentação clara e objetiva, fundamentada em fatos
verídicos e dados concretos.
5. Texto injuntivo e prescritivo
Tanto os textos injuntivos quanto os prescritivos têm a
finalidade de instruir o leitor. Não só fornecem uma informação,
como incitam à ação, guiando a conduta do leitor.
Embora considerados sinônimos por alguns autores,
podemos distinguir os textos injuntivos dos textos prescritivos
devido ao grau de obrigatoriedade existente no seguimento
das instruções dadas. Os textos injuntivos informam, ajudam,
aconselham, recomendam e propõem, dando alguma liberdade
de atuação ao interlocutor. Os textos prescritivos obrigam,

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Oficina de Textos em Português 165

exigem, ordenam e impõem, exigindo que as determinações


sejam cumpridas da forma que estão referidas, sem margem para
alterações.

Como produzir um bom texto?


Bem, primeiramente deve lembrar que não existe uma
“fórmula mágica” para produzir um bom texto, no entanto,
há estratégias interessantes para melhorar sua produção. Cada
indivíduo tem um estilo de escrita, no entanto, o que importa
não é necessariamente o estilo, mas sim a coesão e a coerência
apresentadas no texto. Você se lembra delas, não é?
 Coesão: A coesão é resultado da disposição e da
correta utilização das palavras que propiciam a ligação entre
frases, períodos e parágrafos de um texto. Ela colabora com
sua organização e ocorre por meio de palavras chamadas de
conectivos.
 Coerência: A coerência é a relação lógica das ideias
de um texto que decorre da sua argumentação - resultado
especialmente dos conhecimentos do transmissor da mensagem.
Um texto contraditório e redundante ou cujas ideias iniciadas não
são concluídas, é um texto incoerente. A incoerência compromete
a clareza do discurso, a sua fluência e a eficácia da leitura.
Então, para que um texto seja considerado bom, o
importante é conhecer o tipo e o gênero do texto. Além disso, não
fugir do tema pedido e sobretudo, cumprir as regras gramaticais
essenciais para sua compreensão. Além disso, pesquisar sobre
o tema antes de escrever o texto é muito importante para
dar consistência e mais propriedade à argumentação textual
agregando maior valor ao texto.

Estrutura do Texto
Segue abaixo algumas etapas básicas para a produção de
texto:

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166 Oficina de Textos em Português

1. Tema e Título
Observe que o tema da redação é diferente do título. Assim,
o tema representa o assunto a ser abordado, enquanto o título é
o nome dado ao texto. Na maioria dos casos, o título é muito
importante, sendo que algumas pessoas preferem começar por
ele. Outras, escrevem o texto primeiro e a palavra ou expressão
que o define é escolhida posteriormente.
2. Apresentação
A apresentação do texto (também chamada de tese) é
de suma importância pois são nos primeiros parágrafos que o
leitor vai ficar interessado em ler o restante do texto. Portanto,
é o momento em que você irá instigar o leitor, sendo essencial
pontuar as principais informações que serão desenvolvidas
no decorrer do texto. Claro que nem toda a informação deve
estar presente na apresentação, que deverá ser breve. Porém, os
principais dados e elementos que serão abordados devem surgir
nesse momento do texto.
3. Desenvolvimento
Após definir a apresentação, o segundo momento da
produção do texto é o desenvolvimento. Como o próprio nome
indica, nessa etapa é fundamental o desenvolvimento das ideias.
Aqui o escritor irá argumentar e oferecer os dados e/ou as
informações obtidas na pesquisa e fazer uma reflexão sobre o
tema abordado.
Assim, fica claro que quanto melhor a sua argumentação,
melhor será o texto.
4. Conclusão
Muitas pessoas não se preocupam com essa parte
fundamental do texto, ou seja, o momento da conclusão
(também chamado de nova tese). Finalizar o texto é tão
importante quanto começá-lo. Assim, não adianta fazer uma boa
introdução e desenvolvimento, e deixar o texto sem conclusão.

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Oficina de Textos em Português 167

Após a argumentação faz se necessário que o escritor chegue


numa conclusão e opine (no caso dos textos dissertativos),
apresentando assim um novo caminho. Note que, quanto mais
criativa for a conclusão, mais interessante ficará o texto.
Vamos a algumas dicas para a produção de um bom texto?
 Mantenha o hábito da leitura e da escrita;
 Tenha o conhecimento das novas regras gramaticais;
 Preste atenção à grafia, pontuação, parágrafos e concordâncias;
 Seja criativo e espontâneo;
 Não utilize palavras de baixo calão, palavrões;
 Se distancie da linguagem coloquial, informal;
 Tenha opinião e faça críticas próprias;
 Atenção à relação lógica das ideias (coerência);
 Não se afaste do tema e do tipo de texto proposto;
 Faça um rascunho para evitar rasuras;
 Se necessário, leia o texto em voz alta;
 Cuidado com as repetições de palavras e ideias;
 Não utilize palavras ou expressões que não conheça;
 Se necessário, recorra ao dicionário;
 Seja claro e conciso.

As estratégias de leitura
As estratégias de leitura reúnem as diversas técnicas
e métodos que facilitam a leitura e, consequentemente, a
compreensão dos textos.
Praticamos a leitura com finalidades específicas seja para
estudar, aprender, entreter, obter alguma informação, dentre

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168 Oficina de Textos em Português

outros. Por isso, elas são de extrema importância para a produção


textual. Vamos conhecê-las?
Principais técnicas de Leitura:
 Ler com atenção: para compreender melhor um texto é
importante ressaltar que temos que ler com calma cada parágrafo.
Se não compreender, volte e releia. E ainda, se aparecer algum
termo que não saiba o significado, o importante é recorrer ao
dicionário e voltar ao texto.
 Sintetizar as principais ideias do texto: tal qual um
resumo, vale apontar os principais temas e/ou assuntos abordados
pelo texto. Por isso, a técnica indicada acima é deveras importante
e complementa esta técnica. Portanto, leia com atenção, e aos
poucos vá assinalando as palavras-chave do texto.
 Ler nas entrelinhas: esse recurso é muito interessante
perceber no momento em que estamos lendo o texto. Assim, o
conceito de “ler nas entrelinhas” define a leitura que fazemos
além do texto, ou seja, baseia-se nas adivinhações e inferências
que realizamos e que não está escrito em palavras no texto. Por
exemplo, podemos perceber a posição de um autor sem que esteja
escrito. Essa estratégia é facilitada a partir dos conhecimentos
prévios que já possuímos.
 Manter o hábito da leitura: além da importância da
leitura na vida social e para ampliação do universo cognitivo,
adquirir o hábito da leitura facilitará cada vez mais a compreensão
dos textos. A partir disso, o vocabulário, a imaginação e a
criatividade aumentam, e não somente o texto escrito, mas a
produção de texto oral, melhora muito. Em resumo, quanto mais
lemos, melhores leitores nos tornamos.
 Leitura em voz alta: se possível, realize a leitura do
texto em voz alta e perceba toda sua estruturação, desde palavras,
virgulas, discursos, etc. Em muitos casos, isso facilita a leitura e a
compreensão dos textos. No entanto, algumas pessoas preferem
ler em silêncio. Portanto, faça o teste e veja o que você prefere.

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Oficina de Textos em Português 169

 Tipos de textos: outra boa estratégia de leitura é variar


o tipo de texto que se lê, de forma que a abordagem de cada um é
diferente bem como seu conteúdo; e isso ampliará ainda mais sua
compreensão. Assim, leia livros, jornais, revistas, quadrinhos,
textos acadêmicos, etc. Isso também facilitará a interpretação,
aumentando seu vocabulário. Note que a linguagem pode variar
de formal para informal, e ainda de verbal e não-verbal (imagens,
fotos, gráficos, etc) dependendo do tipo de texto.
 Produção de textos: não somente a leitura supre as
necessidades de nosso cérebro de aumentar sua capacidade
intelectual. É fato que uma pessoa que tem o hábito da leitura
possui mais facilidade para produzir um texto. Isso ocorre
justamente porque ao lermos estamos aumentando nossa
capacidade de comunicação bem como nosso repertório
interpretativo. Portanto, uma boa dica para facilitar cada vez
mais a leitura é a escrita, ou seja a produção de textos.

A importância da leitura
A leitura e a escrita são práticas sociais muito importantes
e que devem ser desenvolvidas desde a infância. Lembre-se que
a leitura é uma atividade complexa de produção de sentido. Sua
importância reside no desenvolvimento das habilidades mentais,
na compreensão do mundo e na ampliação dos conhecimentos,
a partir dos diversos textos que o compõe (verbal e não-verbal).
Leitura e Interpretação de Texto:
Note que a interpretação de texto está intimamente
relacionada com o ato de ler, na medida em que é considerada
uma das principais chaves para seu entendimento. Afinal, a
leitura só é efetivada com sua interpretação, ou seja, não basta
ler ou decodificar os códigos linguísticos (compreender as
palavras), faz-se necessário interpretar essa leitura construindo
uma rede de significados.

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170 Oficina de Textos em Português

Construindo um texto

OBJETIVO

Tendo em vista que a linguagem viabiliza a comunicação,


podemos inferir que, para haver uma interação social entre os
indivíduos, é necessário que haja um locutor (quem fala), um
interlocutor (com quem se fala) e, ainda, um terceiro (de que/
quem se fala), classificado por Benveniste (1946) como não
pessoa. Dessa forma, nesta seção nós trataremos dos aspectos
da enunciação no texto, para que ocorra essa interação entre as
pessoas, é necessária uma sequência de atos enunciativos. Para
Benveniste, “o que caracteriza a enunciação é a acentuação da
relação discursiva com o parceiro, seja este real ou imaginário,
individual ou coletivo”. Vamos lá?

Muito se tem ouvido falar em gênero do discurso e gênero


textual. O discurso é toda situação que envolve a comunicação
dentro de um determinado contexto e diz respeito a quem
fala, para quem se fala e sobre o que se fala. Quanto ao termo
“gênero”, entendemos como parte constituinte dos diversos
domínios discursivos em que ocorrem as interações humanas, ou
seja, trata-se da especificação que abarca os diversos campos da
atuação humana, como, por exemplo, o campo jornalístico (em
que podemos ter o gênero notícia, reportagem, editorial, etc.),
bem como o campo jurídico (em que se inserem leis, estatutos,
contratos, regimentos, entre outros).
Aqui e como já estudamos em outra unidade, vamos considerar
o conceito de gênero textual proposto por Marcuschi (2003):
Trata-se de textos orais ou escritos materializados
em situações comunicativas recorrentes. Os
gêneros textuais são os textos que encontramos em

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Oficina de Textos em Português 171

nossa vida diária com padrões sociocomunicativos


característicos definidos por sua composição,
objetivos enunciativos e estilo concretamente
realizado por forças históricas, sociais, institucionais
e tecnológicas. (MARCUSCHI 2003, p. 4).
Então, de acordo com Costa, o texto: “pode-se definir texto,
hoje, como qualquer produção linguística, falada ou escrita, de
qualquer tamanho, que possa fazer sentido numa situação de
comunicação humana, isto é, numa situação de interlocução”
(COSTA VAL 2004, p. 1).
No entanto, para que se constituam textos, é crucial o
atendimento a certas regras e condições de textualidade. A
textualidade “é a qualidade essencial de todos os textos, mas
é também uma realização humana sempre que um texto é
textualizado, isto é, sempre que um “artefato” de marcas sonoras
ou escritas é produzido ou que recebe o nome de texto” (COSTA
VAL 2000, p. 19.).
Existem algumas leis do discurso que definem regras entre
enunciador e coenunciador, e fazem resguardar os direitos e
deveres de cada um deles, respeitando-se o tempo e o espaço da
fala de cada um. Embora sejam vistas como reguladoras da fala,
as aplicações de tais regras bem cabem ao plano da construção
do texto, já que este representa a materialização dos enunciados
e discursos. Para Grice (1982), as máximas categorizam-se em:
a. Quantidade – Lei da Informatividade e da Exaustividade
– não diga mais (exaustividade) nem menos (Informatividade)
do que o necessário para se fazer compreender;
b. Qualidade – Lei da Sinceridade – não diga o que seja
falso ou que você não saiba ser genuíno. Em casos de atos de
fala como prometer, afirmar, ordenar, desejar, entre outros, diga
apenas aquilo que for possível de se realizar;
c. Relevância – Lei da Pertinência – Diga apenas o
que for relevante, de forma adequada e interessante para seu
coenunciador;

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172 Oficina de Textos em Português

d. Modo / Maneira – Lei da Modalidade – seja claro,


conciso e ordenado. Evite a ambiguidade e a obscuridade. Desta
forma, uma troca comunicativa civilizada e efetiva (seja oral ou
escrita) se deixa guiar por uma série de princípios norteadores.
Para Beaugrande e Dressler há três princípios reguladores
/ controladores da comunicação textual, que são:
a. Eficiência: “diz respeito à sua capacidade de comunicar
com o mínimo de esforço tanto do produtor quanto do recebedor”.
b. Eficácia: busca causar uma boa impressão no leitor,
bem como atingir os objetivos pelos quais o texto foi produzido;
c. Adequação: tem relação com a capacidade de adaptação
do texto ao contexto em que ele está inserido, observando-se
o gênero que assumirá e o suporte textual pelos quais o texto
será veiculado. De acordo com Costa, um texto coerente e
coeso atende a quatro requisitos: continuidade, progressão,
não contradição e articulação. Assim, a continuidade trata-se
da necessidade da retomada de elementos no decorrer do texto,
utilizando-se de artifícios como uma sequência lógica das ideias,
artigos definidos, pronomes anafóricos, dêiticos, entre outros
que viabilizam esse processo de retomada e associação entre as
ideias dispostas no texto.
Já a progressão é a necessidade da evolução semântica,
fazendo com que haja uma soma de ideias ao longo do texto,
de modo que ele possa ter um momento introdutório, um de
desenvolvimento e, por fim, que haja uma conclusão clara,
construída no desenrolar do texto. Elementos como conectivos,
modalizadores, pronomes catafóricos, demonstrativos (assim
como na continuidade), fazem parte desse “avanço textual”,
embora colaborem com a manutenção da conexão entre as ideias,
de modo a não perder a linha pela qual o texto se desenrola.
A não contradição, como o próprio nome já diz, vem da
necessidade de dizermos algo e não nos contradizermos, dentro
do texto, de modo a nos mantermos coerentes em nossas ideias,
sem confundirmos nosso leitor. A coerência implica, ainda, se

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Oficina de Textos em Português 173

resguardar a realidade do mundo em que o texto está inserido,


ou seja, em um discurso real,
“as causas têm efeitos; os objetos têm identidade,
peso e massa; dois corpos não podem ocupar, ao
mesmo tempo, o mesmo lugar no espaço, etc.“
(COSTA VAL 1991, p. 4).
Já no plano da coesão, devemos observar as marcações de
tempo no texto e lançarmos mão de outros recursos linguísticos,
além dos tempos verbais, como os verbos modais, alguns
advérbios (talvez, certamente) e os chamados verbos elocutórios
(achar, aceitar, considerar, admitir, exigir, deplorar, declarar,
negar, etc.). A articulação abrange a todos os quesitos anteriores,
consiste em correlacionar as ideias no texto, utilizando-se, para
isso, além do plano da coerência recursos linguísticos – como
conjunções, expressões como, por exemplo, dessa forma, por
outro lado, etc. –, a ordem linear de apresentação dos elementos
do texto, as conjunções temporais, alguns advérbios e expressões
de valor adverbial, os numerais ordinais e alguns adjetivos, como
anterior, posterior, subsequente.
Ainda no que se refere à discussão sobre textualidade,
Costa estabelece sete princípios constitutivos da textualidade, e
criam a comunicação textual, que são:
a. Coesão e coerência: ambas são fundamentais para a
produção de um bom texto. A coesão define-se pela forma em
que ocorre a conexão textual, ou seja, no âmbito da semântica,
são os mecanismos/recursos linguísticos utilizados para
correlacionarem as ideias no texto. A coerência, já no âmbito
da pragmática, define-se pelo que podemos chamar de sentido
do texto, tendo em vista que se trata do campo das ideias e dos
conceitos, de forma a contar com um conhecimento prévio (de
mundo) do leitor, para se atingir os objetivos da produção do
texto;
b. Intencionalidade e aceitabilidade: definem-se pela
intenção do autor ao produzir determinado texto, isto é, o que este
pretende com o texto, qual objetivo foi traçado, e, respectivamente,

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a aceitação do leitor ao texto, e sua cooperação na construção do


sentido dele;
c. Informatividade: segundo os autores citados por Costa
Val (2000), relaciona-se com o grau de novidade, podendo ser
mais ou menos informativo, conforme o conhecimento prévio
do leitor a respeito do assunto abordado. Para eles, o texto deve
conter um grau mediano de informação, variando entre menor e
maior, de modo a levar o leitor a trabalhar essas informações ao
longo do texto, podendo apoiar-se naquilo que já lhe é conhecido,
a fim de atingir o que ainda não conhece;
d. Situacionalidade: constituinte importante da textualidade,
visto que todos os outros aspectos citados estão diretamente ligados
à forma em que se dá a situação de produção do texto. Pode-se
dizer, que, em grande parte, o sentido de um texto e o seu uso são
decididos com base na situação mesma de enunciação;
e. Intertextualidade: define-se o texto como um
amálgama de originalidade (criatividade do autor) e de
interferências, nem sempre explícitas, de textos precedentes,
que colaboraram para fundamentar o conhecimento do autor a
respeito de determinado assunto. Em contrapartida, na recepção,
também interferem os textos assimilados pelo leitor que, por sua
vez, também já possui uma bagagem, às vezes um conhecimento
prévio sobre o assunto abordado, colaborando, assim, com a
interpretação do texto lido. Por exemplo, a intertextualidade
(explícita) presente neste artigo decorre dos vários textos lidos
na situação de aluna ao longo do curso de Letras, selecionados
e indicados pelos diversos professores (principalmente, aos
textos constantes nas referências bibliográficas, os quais nos
deram suporte para que este pudesse ser escrito). De igual modo,
àqueles que lerem este artigo, a percepção de formas diversas
de intertextualidade aqui presentes se relacionará aos textos que
eles já tiverem lido / assimilado, que trataram de temas próximos
ao tema aqui abordado.
Falando sobre intertextualidade, cabe aqui mencionar a
transtextualidade, que consiste no diálogo entre textos, isso é, na

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transcendência textual ou intertextualidade. Existem cinco tipos


de transtextualidade:
a. A intertextualidade restrita, que inclui dentro de si a
intertextualidade explícita e a implícita (nos termos de Koch,
1997 e 2004), que são, respectivamente, a presença efetiva de
um texto em outro através da citação explícita, reconhecida
pela utilização das aspas como também dos grifos em itálico ou
negrito, e a alusão a discursos atribuídos a grupos sociais como
dos pais, dos filhos, dos religiosos, dos políticos ou, ainda, de
figuras públicas conhecidas por seus bordões;
b. A paratextualidade e a arquitextualidade - para além do
texto, mas nas bordas da intertextualidade: a paratextualidade
é definida por aquilo que compõe o paratexto, isto é, pelas
informações que o circundam, dando ao leitor como que uma
prévia do que encontrará, ou, ainda, informações secundárias
que não convieram ao autor abordar no corpo do texto.
São paratextos: título, subtítulo, prefácio, posfácio, notas
marginais, finais ou de rodapé, epígrafes e ilustrações. Já a
arquitextualidade, ainda no campo extratextual, “se define por
uma espécie de filiação do texto a outras categorias, como o tipo
de discurso, o modo de enunciação, o gênero etc., em que o texto
se inclui e que, por isso, o tornam único” (KOCH; BENTES;
CAVALCANTE, 2007, p. 11). A arquitextualidade é o tipo de
transtextualidade mais discreto, de modo que, quando aparece, é
na paratextualidade, nos casos de títulos que informam o gênero
textual de que o texto se trata. Exemplos de arquitextualidade:
“Declaração”, “Requerimento”, “Ofício Circular” e, no caso
dos gêneros literários, “Poema de Purificação”, de Drummond;
“Soneto do Amigo”, de Vinícius de Moraes.
c. A metatextualidade – denominada por Genette (1982)
como a “relação crítica” entre os textos, trata dos casos em que
se estabelece relação entre um texto fonte e outro texto que a
ele retoma ou aborda, ou seja, texto falando de texto, como, por
exemplo, um resumo, uma resenha ou uma crítica literária, feita
por alguém que escreve a respeito de outro texto. Nesse tipo,

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podemos mencionar, novamente, o prefácio e o posfácio que,


embora já citados como paratextualidade, encaixam-se, também,
na metatextualidade, mostrando que os tipos de transtextualidade
estão ligados entre si;
d. A hipertextualidade e as relações de derivação: neste
caso, encontramos uma relação de derivação entre textos que
pode ocorrer direta ou indiretamente. Sabemos que, de forma
ampla, todo texto se deriva de outro(s) texto(s), visto que não
há nada a se dizer que nunca tenha sido dito antes, de alguma
forma, por alguém. Contudo, a derivação aqui mencionada é no
seu sentido literal, visto que se trata de algo mais direto como
a paródia, por exemplo, que é um texto que só passa a existir
devido a existência de outro, a alusão e a paráfrase.

RESUMINDO

Você deve ter percebido que nesta unidade nós fizemos várias
pequenas revisões, não é? Abordamos novamente os tipos
textuais, a coesão e a coerência. Além disso, vimos dicas
para a escrita de um bom texto. Falamos sobre enunciação e
discurso, também trouxemos alguns aspectos do texto, como
a situcionalidade e a informatividade. Por fim, discutimos a
importância das estratégias de leitura para, por conseguinte, ter
uma boa escrita.
Espero que você possa aplicar esses estudos na sua vida
acadêmica e profissional. Sucesso.

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