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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

História da Educação
Organizadores André Luís Gabriel Organizadores André Luís Gabriel
Glória Freitas Glória Freitas

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GRUPO SER EDUCACIONAL

gente criando o futuro


História da Educação

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

G118h Gabriel, André Luís.


História da educação [recurso eletrônico]/ André Luís Gabriel;
Glória Freitas. – Recife: Telesapiens, 2019.
284 p. : pdf
ISBN: 978-85-54921-37-8
1.Educação 2. Freitas, Glória II. Título.
CDU 37(091)

(Bibliotecário responsável: Nelson Oliveira da Silva – CRB 10/854)

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História da Educação

Créditos Institucionais

Fundador e Presidente do Conselho de Administração:


Janguê Diniz
Diretor-Presidente:
Jânyo Diniz
Diretor de Inovação e Serviços:
Joaldo Diniz
Diretoria Executiva de Ensino:
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OS AUTORES
ANDRÉ LUÍS GABRIEL
Olá. Meu nome é André Luís Gabriel. Minha graduação
é em História, fiz mestrado em Educação e especialização em
Psicopedagogia Institucional. Além de atuar em universidades onde
leciono várias disciplinas relacionadas à atuação docente, entre elas
História da Educação, sou docente na rede pública municipal da cidade
de São Paulo. Iniciei a carreira docente em 2005, lecionando História,
Geografia e Ensino Religioso no ensino fundamental e médio em
escolas públicas da rede estadual de São Paulo. Também atuo como
professor em cursos de extensão e de formação docente. Como gosto
muito de escrever, indo além das fronteiras acadêmicas, participei de
mais de uma dezena de coletâneas de poesia e de contos, inclusive
publiquei textos poéticos na Revista Brasileira da Academia Brasileira
de Letras. Estou muito feliz com o convite da Editora Telesapiens para
integrar seu elenco de autores independentes e ainda mais feliz por
poder fazer o que mais amo: junto com você desbravar os caminhos do
aprendizado nessa disciplina, fase que requer muito estudo e trabalho.
Conte comigo!

GLÓRIA FREITAS
Olá. Meu nome é Glória Freitas. Sou formada em Pedagogia,
com mestrado e doutorado na área de educação com uma experiência
técnico-profissional na área de Educação, na Educação Infantil e
no Ensino Fundamental I, em Organizações Não Governamentais
(ONG’s e OSCIP’s, e no Ensino Superior de mais de 30 anos. Passei
por inúmeras universidades públicas e privadas, em São Paulo, Paraná,
Ceará, Rondônia e Maranhão. Sou apaixonada pelo que faço e adoro
transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em
suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a
integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em
poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!

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ICONOGRÁFICOS
Esses ícones que irão aparecer em sua trilha de aprendizagem
significam:
OBSERVAÇÃO
OBJETIVO
Uma nota explicativa
Breve descrição do objetivo
sobre o que acaba de
de aprendizagem; +
ser dito;

RESUMINDO
CITAÇÃO
Uma síntese das
Parte retirada de um texto;
últimas abordagens;

TESTANDO
DEFINIÇÃO
Sugestão de práticas ou
Definição de um
exercícios para fixação do
conceito;
conteúdo;

IMPORTANTE ACESSE
O conteúdo em destaque Links úteis para
precisa ser priorizado; fixação do conteúdo;

DICA SAIBA MAIS


Um atalho para resolver Informações adicionais
algo que foi introduzido no sobre o conteúdo e
conteúdo; temas afins;

++
EXPLICANDO
SOLUÇÃO
+ DIFERENTE Resolução passo a
Um jeito diferente e mais passo de um problema
simples de explicar o que ou exercício;
acaba de ser explicado;

EXEMPLO CURIOSIDADE
Explicação do conteúdo ou Indicação de curiosidades e
conceito partindo de um fatos para reflexão sobre o
caso prático; tema em estudo;

PALAVRA DO AUTOR REFLITA


Uma opinião pessoal e O texto destacado deve
particular do autor da obra; ser alvo de reflexão.

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SUMÁRIO
UNIDADE 01
Educação e formação: diferenças e similaridades...............10
Evolução dos conceitos sobre educação e sua história segundo
diferentes abordagens.............................................................24
Os conceitos de educação na Linha do Tempo.........................27
A Educação Primitiva.............................................................46
Educação das civilizações orientais e do Egito Antigo.........51
UNIDADE 02
Definindo a Educação na Civilização do Oriente Médio:
Hebreus, Mesopotâmia, Roma e Grécia ..............................64
Definindo a Educação na civilização do Oriente Médio...........64
Definindo a Educação dos Hebreus .........................................71
Definindo a Educação na Mesopotâmia ...................................77
Definindo a Educação entre os romanos ..................................82
Definindo a Educação entre os gregos......................................88
Relembrando a educação na era cristã.................................92
Definindo a educação na idade média: práticas educativas;
educação feminina e dos cavaleiros; educação nas corporações
de ofícios; a educação cavalheiresca....................................101
Definindo a Educação na Idade Média...................................101
Definindo a educação na Idade Média: Educação feminina e dos
cavaleiros................................................................................106

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História da Educação 7

Definindo a educação na Idade Média: Educação nas corporações


de ofícios.................................................................................109
Definindo a educação na Idade Média: Educação Cavalheiresca..... 113
Identificando a patrística e as diretrizes da pedagogia
escolástica ..............................................................................116
Identificando a patrística ........................................................116
Identificando as diretrizes da pedagogia escolástica...............120
UNIDADE 03
Conhecendo a constituição da universidade.......................134
Conhecendo o cenário da chegada da idade moderna e sua
oposição aos tempos medievais..............................................134
Conhecendo a Construção da Universidade, da Idade Medieval
a Idade Moderna.....................................................................138
Definindo os Marcos Históricos da Educação Moderna .....141
Definindo os Marcos Históricos da Educação Moderna: a
Renascença e o humanismo pedagógico.................................141
Definindo a reforma protestante e contrarreforma educacional ....152
Definindo a Companhia de Jesus e o “ratio Studiorum”; A
Pedagogia Jesuítica.................................................................162
Definindo o papel dos Colégios Modernos.............................167
Explicando a Pedagogia moderna: a trajetória histórica da
infância; A nova concepção de infância na modernidade....173
Explicando a Pedagogia moderna: a trajetória histórica da
infância....................................................................................173
Explicando a nova concepção de infância na modernidade....177

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8 História da Educação

Avaliando a pedagogização dos conhecimentos e o


disciplinamento dos sujeitos.................................................184
Avaliando a pedagogização dos conhecimentos.....................185
Avaliando a Pedagogização dos conhecimentos e o
Disciplinamento dos sujeitos..................................................191
UNIDADE 04
Descrevendo os Marcos Históricos da Educação no Brasil. ....202
Marcos Históricos da Educação no Brasil..............................202
Descrevendo o Período colonial jesuítico...............................203
Descrevendo a Era Pombal.....................................................209
Descrevendo a Pedagogia Realista do Século XVII...............212
Descrevendo a Nova Didática de Comênio ...........................214
Descrevendo as Propostas de John Locke..............................216
Descrevendo o Século XVIII................................................218
Descrevendo o Século XVIII: o Iluminismo e suas relações com
a educação...............................................................................219
Descrevendo a Enciclopédia e sua relação com a Educação..222
Descrevendo a “Revolução Copernicana” na Educação.........223
Rousseau e o Naturalismo Pedagógico em “Emilio” .............226
Descrevendo a Educação Nacional.........................................229
Reconhecendo o Século XIX................................................233
As Realizações Educativas e Sistematizações Pedagógicas...233
Reconhecendo o Neo-Humanismo Social..............................235
Reconhecendo a relevância educacional dos Jardins de Infância..237

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História da Educação 9

Reconhecendo a Importância da Educação Integral...............238


Reconhecendo a Importância da Educação no Período Joanino....241
Reconhecendo Avanços e retrocessos da Educação na República
no Brasil..................................................................................246
Analisando a Educação no Século XX................................250
Analisando a Educação no Século XX e a Relevância do Método
Montessori..............................................................................250
Analisando a Educação no Século XX: Os Grandes Teóricos da
Pedagogia Ativista (John Dewey e Jean Piaget).....................253
Analisando a Educação no Século XX: Os Organismos
internacionais..........................................................................258
Analisando a Educação no Século XX: As Perspectivas para a
escola do futuro ......................................................................264
Analisando a Educação no Século XX: Tendências da Educação
Contemporânea.......................................................................266

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10 História da Educação

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História da Educação 11

01
UNIDADE

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

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12 História da Educação

INTRODUÇÃO
É muito comum, e também compreensível, que ao
iniciarmos a caminhada por um novo espaço, por uma nova área
do conhecimento, fiquemos apreensivos por causa dos conceitos
e termos que tomaremos contato pela primeira vez. Não parece
ser o caso de Educação, por exemplo, que é um termo muito
comum e utilizado amplamente por todos nós ao longo da vida.
Mas o que é educação? Qual a diferença entre educação e
ensino?
São questões que parecem muito simples, mas que exigem
reflexão e uma boa dose de conhecimento sobre os dois conceitos
envolvidos nelas para que sejam respondidas com razoabilidade.
Por isso, é fundamental seguirmos passo a passo, com muita
calma e atenção para que possamos aproveitar ao máximo o que
a História da Educação tem a oferecer à nossa formação.
Vamos lá? Ao longo desta unidade letiva você vai
mergulhar no universo da História da Educação!

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História da Educação 13

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem vindo a nossa Unidade 1, e o nosso
objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes

1
competências profissionais até o término desta etapa de estudos:

Identificação dos conceitos de educação, associada


à reflexão dos seus respectivos contextos históricos;

2
Compreensão sobre a relação entre Educação e
Sociedade, identificando a influência do contexto
histórico-social nas propostas educativas de cada
período;

3 Distinguir conceitos correlatos, mas distintos,


como Educação e Ensino e suas variantes;

4 Compreender e identificar os períodos históricos e


suas respectivas formas de organização educacional.

Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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14 História da Educação

Educação e formação: diferenças e


similaridades
Independente da definição conceitual ou do entendimento
sobre seu significado, inicialmente podemos afirmar que
educação é um conceito muito amplo. Tanto que, além da
História (da educação) que estudamos aqui como disciplina,
outros campos do conhecimento científico também lançam suas
análises sobre tal conceito, como a Filosofia, a Sociologia, a
Antropologia e a Psicologia, por exemplo.
Apenas a título de iniciação à pesquisa e de acesso à
compreensão das diferentes possibilidades conceituais referentes
a um mesmo termo, vamos demonstrar brevemente como
cada um desses campos científicos citados definem o conceito
educação.
É importante ressaltar que a filosofia, desde a
antiguidade, tem especial preocupação com a
educação e os aspectos que a circundam. Mesmo
atualmente, quando temos o objetivo de formar
cidadãos críticos e participativos da vida em
sociedade, além de prepara-los para o mundo
do trabalho, tal objetivo é oriundo de uma
filosofia, de uma maneira de pensar o ideal de
formação do homem. O Dicionário de Filosofia
(ABBAGNANO, 2007, p. 306-307) traz a seguinte
definição para educação:
Em geral, designa-se com esse termo a transmissão
e o aprendizado das técnicas culturais, que são
as técnicas de uso, produção e comportamento,
mediante as quais um grupo de homens é capaz de
satisfazer suas necessidades, proteger-se contra
a hostilidade do ambiente físico e biológico e
trabalhar em conjunto, de modo mais ou menos
ordenado e pacífico. Como o conjunto dessas

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História da Educação 15

técnicas se chama cultura, uma sociedade


humana não pode sobreviver se sua cultura
não é transmitida de geração para geração; as
modalidades ou formas de realizar ou garantir
essa transmissão chamam-se educação. Esse é o
conceito generalizado de Educação, que se tornou
indispensável graças à consideração do fenômeno
não só nas sociedades chamadas civilizadas, mas
também nas sociedades primitivas.

ACESSE

Para ler a essa definição filosófica completa de educação acesse


o link: https://bit.ly/2Rg1Qz9.

Por sua vez, outro campo da ciência que lança seu olhar
criterioso sobre a educação é a sociologia da educação que, como
disciplina estuda os processos sociais de ensino e aprendizagem,
abrangendo também aspectos organizacionais e institucionais
que, por sua vez, permeiam o desenvolvimento da educação.
Além disso, essa disciplina busca compreender relações sociais
que envolvem os indivíduos inseridos no meio educacional e em
seus distintos processos. O Dicionário de Sociologia (Repositório
Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina) traz a
seguinte definição para o conceito educação:
A educação interessa a duplo título as ciências
sociais e mais particularmente a sociologia: sejam
quais forem os costumes, os usos e os modos
de pensamento dos povos, numa palavra, a sua
cultura, esta é lhes primeiramente transmitida; por
outro lado, esta transmissão faz-se pela mediação

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16 História da Educação

de instituições, algumas das quais desempenham


um papel social crescente. Este duplo aspecto
pode recobrir uma clivagem disciplinar: etnólogos
e psicossociólogos interessar-se-ão mais pela
transmissão e seus efeitos individuais; economistas
e sociólogos, pelo funcionamento das instituições e
pelo seu contexto social. Mas trata-se de pistas que,
segundo a época e o ponto de vista, caminharão em
paralelo ou misturarão o seu curso.

ACESSE

Para ler a essa definição sociológica completa de educação


acesse: https://bit.ly/2qgufKe.

No Brasil, a antropologia da educação ainda é um campo


que está em processo de estruturação e de consolidação,
embora possamos reconhecer que a interface entre esse campo
do conhecimento antropológico ligado à educação não é um
fenômeno recente em nossa realidade. Tanto que, diferente da
filosofia e da sociologia, a antropologia estabeleceu um marco
significativo na sua relação com a educação que é a estruturação
da “antropologia pedagógica” presente em escolas regulares
já no início deste século, de modo a indicar a compreensão de
que o saber antropológico seja de fundamental importância no
processo de formação docente, por exemplo.
Mais especificamente, em relação a uma definição
conceitual sobre educação, recorremos ao Dicionário de
Antropologia (BARFIELD, 2003, p. 229) para acessar o que
essa ciência propõe:

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História da Educação 17

Termo geral para se referir aos processos sociais que


facilitam o aprendizado em comunidades humanas.
A educação é universal em todas as sociedades
humanas e tão necessária para a continuidade
da vida social quanto à reprodução biológica, a
subsistência econômica, a comunicação simbólica
e a regulação social, que exigem que os jovens
sejam educados para participar culturalmente. Os
termos «socialização», com ênfase na preparação
para a participação social, e «CULTURIZAÇÃO»,
que enfatizam os modelos culturais a serem
adquiridos, são mais ou menos equivalentes à
educação em sentido amplo.

ACESSE

Para ler a essa definição antropológica completa de educação


acesse: https://bit.ly/2P8Z7oz.

Finalmente, a Psicologia da Educação é o ramo da


psicologia aplicada que estuda as interações que se estabelecem
entre o indivíduo e as situações de educação, além de observar os
estados psicológicos resultantes da ação educativa e a influência
das variáveis intervenientes no processo educativo. Entre todas
as demais ciências que lançam suas pesquisas e análises sobre a
educação, é a Psicologia que mais contribuiu com ela, sobretudo
por causa de sua proximidade com a pedagogia e de autores que
produziram trabalhos monumentais sobre o aprendizado e os
aspectos cognitivos. Mais a frente, vamos nos ater um pouco
mais profundamente sobre alguns deles, casos de Jean Piaget,
Lev Vygotsky, Heinrich Pestalozzi e John Dewey, entre outros.

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18 História da Educação

Nesse momento, vamos observar qual a definição


conceitual sobre educação que nos traz o Dicionário de Psicologia
(GALIMBERTI, 2002, p. 794):
Atividade tipicamente humana que, através de
influências e atos voluntariamente realizados
por um indivíduo sobre outro, geralmente por
um adulto em uma pessoa jovem, tende a formar
as disposições que correspondem aos objetivos
da sociedade e cultura em que o indivíduo está
inserido. Como a educação está sempre ligada a
estilos de vida historicamente determinados, a
pedagogia, ao delinear os critérios de treinamento,
sente os efeitos dos ideais políticos, dos interesses
econômicos e do tipo de sociedade em que opera.
Essa dependência levantou a questão de se a
pedagogia é uma ciência em si, com propósitos
específicos, ou melhor, não é um conjunto de
disciplinas diferentes que convergem no problema
educacional. Permanece também o problema
de se a pedagogia deve indicar os objetivos da
educação, ou melhor, simplesmente descrever os
procedimentos, se deve ser depositário, no sentido
de transmitir aos jovens os valores e conhecimentos
de sua sociedade, ou problematizar, no sentido de
liberar na comunicação as instâncias criativas e
interrogativas do aprendiz.
A Psicopedagogia, deliberadamente, toma o caminho da
autonomia ao constituir-se como a ciência que une os campos do
conhecimento ligados à psicologia e à pedagogia com a finalidade
de dar suporte e de compreender os aspectos cognitivos presentes
nos seres humanos.

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História da Educação 19

ACESSE

Para ler a essa definição psicológica completa de educação


acesse: https://bit.ly/33MBZ4v.

Ao acessar o Plano de Ensino e a própria lista de referências


bibliográficas ao final dessa unidade de estudo, você perceberá
que os autores citados como leitura básica e a complementar
são aqueles que desenvolveram trabalhos na área da história da
educação, embora muitos deles lancem mão da metodologia
ou de conceitos propostos pelas demais ciências que também
analisam a educação, caso daquelas que aqui foram elencadas e
contribuíram com suas definições conceituais.
Entre tais autores, citamos um historiador, o professor
Dermeval Saviani, que afirma que “a educação é inerente à
sociedade humana, originando-se do mesmo processo que deu
origem ao homem. Desde que o homem é homem ele vive
em sociedade e se desenvolve pela mediação da educação.
A humanidade se constituiu a partir do momento em que
determinada espécie natural de seres vivos se destacou da
natureza e, em lugar de sobreviver adaptando-se a ela necessitou,
para continuar existindo, adaptar a natureza a si” (2004, p. 1).
Assim, o ser humano é a única espécie animal que
vai muito além da mera adaptação à natureza, ele também a
transforma por meio de um conjunto de técnicas e habilidades
que são transmitidas de geração a geração.

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20 História da Educação

EXEMPLO

Olhe ao seu redor: absolutamente tudo o que existe é resultado


dessa interação entre o ser humano e a natureza. O homem tira
proveito da natureza para dela extrair aquilo que precisa para sua
melhor sobrevivência.

Figura 1: Tudo o que existe é produzido pela ação do ser humano

Fonte: pixabay

A vivência em sociedade e o seu desenvolvimento mediados


pela educação, conforme citado acima, tem o objetivo principal de
tornar melhor e mais duradoura a existência humana, também por
isso as informações, o conhecimento, as experiências e as técnicas
são transmitidas entre as gerações e entre os diferentes povos.
Essa “transmissão” de conhecimentos possibilita melhorar
a sobrevivência humana. Além dos gêneros alimentícios, dos
utensílios e ferramentas e de tantos outros itens produzidos com

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História da Educação 21

a finalidade de prover o sustento e o abrigar das intempéries


naturais, o ser humano também produz outras coisas:
instrumentos musicais (e música), pinturas artísticas, esculturas
em vários materiais e com várias finalidades, brinquedos e uma
infinidade de exemplos que caberiam aqui.

DEFINIÇÃO

A esse conjunto de realizações podemos chamar de trabalho,


que é, justamente, “a ação transformadora do homem sobre a
natureza, que modifica também a forma de pensar, agir e sentir,
de modo que nunca permanecemos os mesmos ao fim de uma
atividade, qualquer que ela seja. É nesse sentido que dizemos
que, pelo trabalho, o homem se autoproduz, ao mesmo tempo
que produz sua própria cultura. (ARANHA, 1996, p. 15)

++
+
EXPLICANDO MELHOR

O ser humano só é diferente dos outros animais porque tem a


capacidade de se comunicar, de educar, de transmitir aos seus
pares e às novas gerações um modo de ser, de transformar o
meio em que vive e as relações em sociedade. O ser humano
aprende que pode sempre desenvolver mais seu modo de viver
e de se relacionar, portanto, está sempre em formação. Como
diferentes povos têm também distintos modos de viver, de
aprender e de se expressar, são muitas as possibilidades culturais
a serem produzidas.

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22 História da Educação

SAIBA MAIS

Para ler uma definição conceitual completa sobre trabalho,


acesse https://bit.ly/34OCYT8 para o Dicionário de Conceitos
Históricos.

Antes de abordarmos outros conceitos que estão diretamente


relacionados, vamos aprofundar mais nossa compreensão sobre
o conceito educação. Para isso, vamos recorrer às definições
conceituais e perspectivas de mais autores.
O professor-pesquisador Carlos Rodrigues Brandão inicia
seu livro O que é educação afirmando que “ninguém escapa da
educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo
ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela:
para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber,
para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias, misturamos
a vida com a educação. Com uma ou com várias: educação?
Educações”. (1981, p. 9)
Essa perspectiva, que compreende a existência de várias
educações, se sustenta na argumentação de que, do mesmo
modo que se pode verificar que também existem múltiplas
formas e variações dos modelos de casas/lares inseridos em
cidades multifacetadas, de igrejas/templos que comportam
inúmeras denominações religiosas e, principalmente, de escolas
organizadas em diferentes modos e com muitas finalidades,
pode se verificar também a existência de mais que uma forma de
compreender (e de praticar) a educação.

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História da Educação 23

IMPORTANTE

Ainda sobre a multiplicidade conceitual e prática sobre o que


é educação, é a partir das relações que estabelecem entre si,
os seres humanos criam diversos padrões de comportamento,
um sem número de instituições e de saberes que passam por
aperfeiçoamento ao longo do tempo, por meio da ação de gerações
que se sucedem, o que lhes permite assimilar e transformar os
modelos valorizados em uma determinada cultura, que inclusive
são influenciadas por outras. É a educação, portanto, que
“mantém viva a memória de um povo e dá condições para a sua
sobrevivência. Por isso dizemos que a educação é uma instância
mediadora que torna possível a reciprocidade entre indivíduo e
sociedade” (ARANHA, 1996, p. 15).

Podemos perceber que os diferentes autores relacionam,


sempre, o conceito educação à produção humana para sua
sobrevivência e a tudo que decorre dessa relação social e com a
natureza, com a cultura. Também percebemos que há sempre a
relação entre educação e o modo como os conhecimentos, como
as técnicas e as experiências são transmitidas entre as gerações,
ou seja, como tudo isso é ensinado.
Vitor Henrique Paro, professor/autor brasileiro que pesquisa
os modelos de ensino e de gestão escolar, preocupado em superar
o senso comum acerca do entendimento do conceito educação
afirma que, em seu sentido mais amplo, a educação consiste na
apropriação da cultura entendida também de forma ampla e que
envolve conhecimentos, informações, valores, crenças, ciência,
arte, tecnologia, filosofia, direito, costumes, tudo enfim que o
homem produz em sua transcendência da natureza (2008, p. 23)
e utiliza de formas sistematizadas para reproduzi-los e repassá-
los, principalmente a partir da organização das sociedades com
a presença do Estado.

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24 História da Educação

DEFINIÇÃO

Com o surgimento das primeiras cidades e da organização


das sociedades com a presença do Estado, ocorrem muitas
transformações, inclusive na questão da posse dos meios de
produção. Na antiguidade o principal meio de produção era a
terra, que deixou de ser comunal e passou a pertencer a alguém,
a algum grupo ou ao próprio Estado. Essa relação transformou
também a educação e, principalmente, os seus objetivos. Assim,
configuraram-se diferentes modos de transmitir a cultura e os
conhecimentos, foram surgindo vários modelos de ensino.

Enquanto a educação é inerente à humanidade e com ela


se constitui, o ensino é uma estratégia, um processo específico
idealizado pelos homens com o objetivo claro de repassar sua
cultura. Ainda na antiguidade, como a maior parte daquilo
que era ensinado tinha finalidade direta ligada à produção,
o desenvolvimento de maior complexidade social (surgem
vários ofícios) também fez com que o modo de ensinar tivesse
variações e objetivos distintos. Ampliando sua compreensão, o
ensino pode ter sua definição entendida como:
Transmissão formalizada de conhecimentos que
juntos constituem instrução; deve ser distinguido
da educação (v. pedagogia), em que o ensino pode
ser muito pouco ou não presente. Ensinar, em
seu significado específico, pressupõe a existência
de uma cultura escrita e, portanto, o uso de
sinais especiais que são transmitidos com certa
sistemática e metodologia. Como uma atitude
mediata, consciente, reflexiva e intencional, o
ensino está localizado além da experiência direta do
ambiente, de onde também surgem informações e

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História da Educação 25

experiências, mas ocasionalmente ou simplesmente


respondendo às necessidades mais imediatas da
vida. (GALIMBERTI, 2002, p. 398)

+
OBSERVAÇÃO

Educação e humanidade são inerentes, se constituem de forma


orgânica e simultânea, enquanto o ensino é uma parte da educação,
uma estratégia composta por processos, metodologias e objetivos
práticos. Portanto, se pudermos definir essa relação de forma
estrutural, o grupo ensino está contido no grupo educação.

À medida que surgiam mais cidades e com o crescimento


destas, ocorre a maior complexidade nas relações sociais por
causa da ampliação da produção e do surgimento do comércio.
Isso ocorre por causa do domínio cada vez maior das técnicas
e do conhecimento por parte dos homens. Parte considerável
daquilo que deve ser “transmitido” passa a ocorrer em momentos
e espaços específicos, tornando-se item fundamental da própria
educação. O aprendizado passa a ter um objetivo claro de
formação. Para isso surgem métodos e estratégias específicas
realizadas em locais próprios a essa finalidade. É o início ainda
incipiente do ensino em escolas.

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26 História da Educação

Figura 2: Antiga sala de aula

Fonte: pixabay

Nos próximos tópicos vamos avançar os estudos para


compreensão sobre a relação entre educação e ensino escolar,
este último ganhando cada vez maior importância e espaço à
medida que também os Estados se consolidam e o que e como
ensinar ganha importância nos rumos econômicos e políticos
nas sociedades.

++
+
EXPLICANDO MELHOR

Para termos uma ideia da importância do ensino escolar


atualmente, onde o modelo de vida urbana tem predominância
sobre o rural e sobre os demais, Saviani (2004, p. 3) afirma que,
na contemporaneidade, na sociedade moderna, é a partir da
escola que é possível compreender a educação em geral e não o
contrário. Nesse contexto, também não é possível compreender
a educação sem a escola (formação do cidadão, participativo,
consciente e crítico, preparado para o mundo do trabalho), mas
é possível compreender a escola sem educação (proporcionando
apenas uma parte da formação, apenas a técnica, por exemplo,
sem se comprometer com os aspectos culturais mais amplos).

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História da Educação 27

SAIBA MAIS

Para maior aprofundamento sobre o conceito de ensino e suas


relações e ambiguidades com o conceito de educação, acesse
o texto O conceito de ensino de autoria do professor John
Passmore no portal do Instituto de Educação da Universidade de
Lisboa em https://bit.ly/380IzHP.

Para realizarmos uma primeira aproximação a essa relação,


transcrevemos um trecho do referido artigo onde se destaca
claramente o intricado encadeamento dos conceitos ensino e
educação, além da ambiguidade e utilização difusa deles no
cotidiano atual.
Neste ponto, há um contraste interessante entre
‘ensino’ e ‘educação’. Isto porque a palavra
‘educação’ cria de fato ambiguidades incômodas.
Por vezes, a palavra é utilizada como sinônimo de
‘formação’ em termos gerais. É o que se passa com
a obra de John Lock Alguns pensamentos relativos
à educação. É também o que Hume tem em mente
quando condena a ‘educação’ como fonte das nossas
crenças confusas e irracionais. Mas, outras vezes,
‘educação’ significa apenas ‘escolaridade’, como
quando, por exemplo, se diz que ‘15% do produto
nacional é dedicado à educação’. Outras vezes
ainda, educação significa um determinado tipo de
escolaridade recebida por aqueles a quem chamamos
‘pessoas cultas’. (PASSMORE, 1980, p. 23).

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28 História da Educação

Dúvidas? Não se preocupe. Recorra ao fórum de dúvidas


e discussões para socializar o seu conhecimento e esclarecer
todas as suas dúvidas. Depois, desenvolva as atividades e
questões sugeridas. Nós estaremos a sua disposição em caso de
dificuldades!

Evolução dos conceitos sobre educação e


sua história segundo diferentes abordagens
A jornada humana é bastante longa. Passamos por um
extenso período considerado como pré-história, que na história
da educação corresponde a denominada educação primitiva,
ou seja, antes do estabelecimento do ser humano em cidades
ou agrupamentos com organização social fundamentada no
sedentarismo (estabelecido em um local específico, superando
o nomadismo), no domínio da agricultura e domesticação de
animais, das técnicas de olaria e metalurgia, além de utilizar
a escrita. Vale ressaltar que esse é um tipo de classificação
estabelecido pela história como ciência a partir do pensamento
europeu, ou seja, da sociedade ocidental.
Para facilitar a visualização da classificação ocidental,
vamos observar a sua Linha do Tempo.
Figura 3: Linha do tempo da sociedade ocidental

Fonte: http://www.historiamais.com/linhadotempo.htm acessado em 24/02/2019

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História da Educação 29

Não se preocupe em decorar datas. O importante é saber


que tais divisões são fundamentadas em características gerais do
modo de produção de um determinado período. Por exemplo: ao
citar a pré-história, no parágrafo logo acima, destacamos que os
agrupamentos humanos eram nômades, ou seja, se deslocavam
coletando alimentos e caçando/pescando. Esse era o modo principal
como produziam para prover suas necessidades de alimentação e
abrigo da natureza. Não havia ainda o domínio da agricultura em
larga escala nem das técnicas de olaria (que permitiram construir
abrigos de tijolos). Também é importante saber que o inicio e o
término de cada período é marcado por um grande evento histórico
que representa a ruptura com o período anterior.
Como o conceito modo de produção estará presente durante
todo o percurso nessa disciplina, é interessante realizar uma
breve descrição com suas características principais. Vejamos:
O modo de produção, em linguagem menos
teórica, seria o modo pelo qual determinada
sociedade organiza sua vida econômica, o trabalho,
as estruturas políticas e jurídicas e mesmo as
manifestações culturais. Todos os aspectos da
vida em sociedade (desde os aspectos materiais
até os aspectos mentais) estariam determinados
pelo modo de produção da vida material. Para o
materialismo histórico, é a maneira concreta de
uma sociedade organizar sua produção que dá
forma a todo o edifício social nela existente. (...)
Há ainda um modo de produção que complica o
quadro exposto: o modo de produção asiático,
que não corresponde à sucessão linear esboçada
para a história europeia. Nesse modo de produção
não há a subordinação de escravos, servos ou
assalariados a uma classe proprietária dos meios
de produção, mas a subordinação coletiva de
todos os trabalhadores ao Estado. (SILVA: SILVA,
2013, p. 301-302)

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30 História da Educação

ACESSE

Para maior compreensão e aprofundamento, leia os conceitos de


modo de produção e de pré-história no Dicionário de Conceitos
que pode ser acessado por meio do link a seguir: https://bit.
ly/2YkNU8A.Os outros períodos históricos presentes nessa
organização da Linha do Tempo também estão disponíveis nesse
dicionário.

++
+
EXPLICANDO MELHOR

Observe novamente a Linha do Tempo da sociedade ocidental e


perceba que o fim do período da Pré-História e o início da Idade
Antiga (Antiguidade) são marcados pela invenção da escrita. Esse
foi o grande evento de ruptura entre esses dois períodos porque
com o domínio da agricultura e das técnicas de olaria e metalurgia,
os seres humanos criaram mais e melhores ferramentas e utensílios
(o ferro substitui a pedra, o osso e a madeira) e produzem muito
mais em quantidade, em variedade e em qualidade de alimentos.
Além disso, consegue construir moradias de pedra e de tijolos.
Se alimentando mais e melhor, a população aumenta muito,
surgem cidades, as atividades produtivas ficam mais complexas
e surgem os ofícios especializados, o comércio floresce e ocorre
troca de mercadorias, de ideias e de cultura. A sociedade precisava
urgentemente se organizar para dar conta de tantas informações
e necessidades de estabelecer controles. Por isso surge a
escrita, que facilita o estabelecimento de leis que superavam as
consuetudinárias (tradição oral), a cobrança de taxas e impostos e
o controle de estoques e movimentação de cargas e produtos.

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História da Educação 31

A escrita surge pela necessidade humana e marca o fim


de um período (não se esqueça do processo todo que levou a
essa necessidade) e o início de outro, com características de
produção bem diferentes do anterior (agricultura em larga escala,
sedentarismo, e urbanidade).
Na Antiguidade estão situadas civilizações como o Egito
Antigo, os povos mesopotâmicos (hebreus, caldeus, babilônicos,
assírios e fenícios, entre outros), além da Grécia Antiga e de
Roma, todos tendo em comum a agricultura e o escravismo
como base econômica.

SAIBA MAIS

Você pode saber mais sobre os grandes períodos históricos


caracterizados pela perspectiva ocidental no portal História Mais
que, além disso, conta com interessantes textos sobre História do
Brasil, História da Arte, curiosidades sobre cultura, atualidades
e a biografia de alguns famosos personagens históricos. O link
para esse portal é http://www.historiamais.com/

Os conceitos de educação na Linha do


Tempo
Você já deve ter percebido que tudo é história e que tudo
tem história, inclusive no processo educacional isso é ainda mais
presente, uma vez que educação e humanidade são simultâneas.
Atualmente, a forma mais difundida e mais importante
para a sociedade moderna é a chamada educação escolar.
Acreditamos que, chegando até aqui, você já deve ter percebido
também porque atualmente utilizamos com maior propriedade
o termo educador, ao invés de professor, ao nos referirmos

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32 História da Educação

aos profissionais que atuam na docência. Os conceitos se


transformam e adquirem novos significados à medida que as
relações produtivas e sociais também se transformam.
Vamos iniciar, nesse tópico, uma breve viagem no tempo-
espaço para compreendermos alguns dos principais significados
do conceito educação e da atuação dos mestres-professores-
educadores em cada período histórico. Ao final dessa viagem,
retomaremos a questão do uso do termo educador.

+
OBSERVAÇÃO

Vale ressaltar que abordaremos, em tópicos posteriores e de


forma específica e mais aprofundada, os modelos educacionais
de cada período histórico, inclusive nos detento particularmente
na História da Educação no Brasil. Nesses tópicos mais à frente
vamos observar os diferentes modelos educacionais e escolares.
Agora vamos passear pelos períodos históricos para termos uma
visão panorâmica de como era pensada a educação e quais os
significados desse conceito.

Para falarmos das concepções de educação na Antiguidade,


temos que saber um pouco mais sobre as atividades produtivas
e sociais desse período. Silva (2013, p. 19) entende que a
Antiguidade é um conceito é de vital importância para a
construção da ideia de Ocidente, da mesma forma que algumas
noções correlatas, como clássico e antigo.
No campo educacional, em linhas gerais, da Antiguidade
até o início do século XIX, a característica predominante
das práticas escolares era a aprendizagem de tipo passivo e
receptivo. A compreensão era a de que aprender estava quase
que exclusivamente ligado ao ato de memorizar informações e
conteúdos.

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História da Educação 33

IMPORTANTE

Esse era o pensamento predominante, mas nem todas as pessoas


concordavam com ele, tanto que houve mudanças dentro desse
longo período e a ruptura no século XX.

Durante todo esse longo período, a compreensão, a


conscientização e a aprendizagem crítica tinham papel muito
reduzido ou quase nulo, pois esta forma de educação baseava-se
na concepção de que o ser humano era semelhante a um pedaço
de cera ou argila úmida que podia ser modelado à vontade do
mestre. Estamos tão acostumados à presença da escola e dos
modelos educacionais que pouco nos preocupamos em pensar
sobre a possibilidade de compreender que nem sempre eles
existiram.

Fonte: pixabay

Mais ainda, é o surgimento das escolas e dos espaços


especializados para o ensino que propiciaram, em grande
parte, a predominância desse tipo de pensamento (e práticas)
que perdurou da Antiguidade até o século XIX. Por isso, não
podemos, de modo algum, tecer considerações fundamentadas
em comparações entre sociedades em diferentes tempos e
espaços visando detectar qual delas é melhor, mais avançada,
mais civilizada, entre outros equívocos comuns aos leigos em
história da educação.

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34 História da Educação

SAIBA MAIS

Em grande parte das sociedades consideradas primitivas (sem


escrita, sem organização de classes sociais e de Estado, sem
utilização de agricultura em larga escala e também sem escolas!)
há um grande respeito pelas individualidades e pelo tempo de
aprendizado de cada criança, além da preocupação integral.
Quanto a isso, vejamos o que diz a professora Maria Lúcia de
Arruda Aranha:
A cuidadosa adaptação aos usos e valores da tribo
geralmente é levada a efeito sem castigos. Os adultos
demonstram muita paciência com os enganos
infantis e respeitam o seu ritmo próprio. Por meio
dessa educação difusa, de que todos participam, a
criança toma conhecimento dos mitos ancestrais,
desenvolve aguda percepção do mundo e aperfeiçoa
suas habilidades. A formação é integral – abrange
todo o saber da tribo – e universal, porque todos
podem ter acesso ao saber e ao fazer apropriados
pela humanidade. É bem verdade que alguns se
destacam, detendo um conhecimento mais amplo
ou especial – como no caso do feiticeiro –, o que,
no entanto, não resulta em privilégio, mas apenas
em prestígio. (1996, p. 27-28)

Aqui, podemos destacar o conceito de educação difusa, ou


seja, não há espaços definidos nem o controle social sobre esse
modelo. Todos os membros da sociedade são responsáveis pela
educação em todos os momentos. O processo de aprendizagem
ocorre pelo exemplo prático.

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História da Educação 35

DEFINIÇÃO

Na concepção de educação difusa a responsabilidade do


aprendizado não está confiada a ninguém em especial, mas a
toda sociedade e a vigilância difusa do ambiente.

Novamente se faz necessário salientar que, atualmente,


estamos totalmente acostumados à presença da escola como
responsável por grande parte da educação. Além disso, é muito
comum tecermos comparações entre modelos sociais a partir
de avanços tecnológicos, com a intenção de, equivocadamente,
classificá-las como mais ou menos desenvolvidas ou civilizadas.
Cada cultura, cada sociedade, se desenvolve a partir de
suas reais necessidades. Conhecer a história da educação nos
auxilia a ampliar nossa perspectiva acadêmica, mas também a
humana, a social. Bastam apenas alguns momentos de reflexão
sobre os atuais desafios educacionais e, ampliando ainda mais
o olhar, os sociais, para percebermos o quão distante estamos
de atingir o pleno respeito pelas diferenças e individualidades,
promovendo maior igualdade.

REFLITA

Será que somos, atualmente, enquanto sociedade, o resultado


de todo conhecimento historicamente acumulado e colhemos os
frutos do maior desenvolvimento possível, principalmente no
bem estar social?

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36 História da Educação

Vamos observar o que Aníbal Ponce, ao analisar as


sociedades primitivas, tem a contribuir sobre esse aspecto:
Na comunidade primitiva, as mulheres estavam
em pé de igualdade com os homens e o mesmo
acontecia com as crianças. Até os 7 anos, idade a
partir da qual já deviam começar a viver às suas
próprias expensas, as crianças acompanhavam os
adultos em todos os seus trabalhos, ajudavam-nos
nas medidas de suas forças e, como recompensa,
recebiam a sua porção de alimentos como qualquer
outro membro da comunidade. (...) Apesar de
entregues ao seu próprio desenvolvimento –
Bildung, como diriam séculos mais tarde Goethe e
Humboldt –, nem por isso as crianças deixavam de
se converter em adultos, de acordo com a vontade
impessoal do ambiente: adultos tão idênticos uns
aos outros que Marx dizia, com justiça, que ainda
se encontravam ligados à comunidade por um
verdadeiro ‘cordão umbilical’. (2003, p. 18-19)

REFLITA

Até aqui vimos apenas alguns aspectos da educação difusa.


Ainda assim, não lhe parecem precipitadas as comparações que
se fundamentam em avanços tecnológicos para concluírem que
existam sociedades mais ou menos desenvolvidas (civilizadas)?

Vamos continuar o nosso breve passeio pela Linha do


Tempo. Já vimos por que surgiu a escrita e também como todo o
contexto de transformações humanas e nas técnicas para domínio
da natureza marcou a ruptura entre o período pré-histórico e a
Antiguidade.

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História da Educação 37

O período da Idade Antiga durou aproximadamente


quatro mil anos e tem duas subdivisões básicas: as civilizações
hidráulicas (Mesopotâmicas, onde atualmente está o Iraque que
também são conhecidas como povos bíblicos) e o Egito Antigo
e; as civilizações clássicas (Grécia Antiga e Roma).
Nas civilizações da antiguidade dos povos bíblicos
não havia propostas pedagógicas específicas. Os livros
sagrados têm passagens que demonstram a preocupação com
a educação, normalmente oferecendo regras ideais de conduta
e o enquadramento das pessoas nos rígidos sistemas religiosos
e morais. Aranha (1996, p. 33) relata que as sociedades
tradicionalistas, por serem conservadoras, pretendem perpetuar
os costumes e evitar a transgressão das normas.
Com o surgimento da posse dos meios de produção (a
terra era o principal), transformam-se as relações sociais.
Passam a existir pessoas que trabalham para outras, os Estados
se organizam em busca de expansão territorial resultando em
escravidão aos povos vencidos.

DEFINIÇÃO

O conceito de meios de produção é definido pelo conjunto de


equipamentos utilizados pelo trabalhador para obtenção de renda,
seja em uma atividade individual, seja em um trabalho coletivo
ou subordinado, como nas fábricas. Mais recentemente, com o
desenvolvimento do sistema capitalista, os meios de produção
transformaram-se, modificando, assim, as relações de trabalho e a
forma de produção das mercadorias. Essa transformação é bastante
perceptível quando observamos o intenso desenvolvimento
tecnológico presente nas atividades produtivas, o que,
irremediavelmente, se reflete nas necessidades educacionais e de
formação do trabalhador, do ser humano, do cidadão, etc.

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38 História da Educação

IMPORTANTE

Nesse momento da história surge o dualismo escolar, isto é,


um tipo de ensino para a maior parte do povo (camponeses
e trabalhadores em geral) e outro tipo para as pessoas com
condição social mais privilegiada (filhos dos funcionários do
Estado, pessoas ligadas à religião, agregados dos dirigentes
do Estado). Fato é que a grande massa de pessoas era excluída
da escola e ficava restrita à educação familiar informal.
Enquanto nas sociedades tribais o saber é difuso, acessível
a qualquer membro, nas civilizações orientais, ao se criarem
segmentos privilegiados, a população, composta por lavradores,
comerciantes e artesãos, não tem direitos políticos nem acesso
ao saber da classe dominante (ARANHA, 1996, p.33).

Em linhas gerais, o conhecimento da escrita ficou restrito


a poucas pessoas, entre coisas porque tinha caráter sagrado e
esotérico. Por outro lado, houve grande procura pela instrução,
mas apenas os filhos dos privilegiados atingiam os graus
superiores.

REFLITA

Você notou aqui alguma similaridade entre aspectos educacionais


das sociedades na antiguidade oriental e aquilo que acontece na
atual sociedade na modernidade?

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História da Educação 39

Na Grécia Antiga, já no período clássico, o filósofo


Aristóteles acreditava na ideia de que o ser humano era como se
fosse uma tábua lisa, um papel em branco sem nada escrito, onde
tudo podia ser impresso. Como o pensamento da antiguidade
clássica influenciou as sociedades em muitos momentos
posteriores, essa teoria foi retomada frequentemente, ao longo
dos séculos, reaparecendo em novas formas e com pequenas
variações.

Fonte: pixabay

Aprofunda-se a concepção dualista de educação, mas


independente do espaço de ensino que as pessoas frequentassem,
ensinava-se a ler e a escrever da mesma forma que se ensinava
um oficio manual. Era comum o ensino de ofícios sem o ensino
da escrita e leitura. A metodologia era baseada na repetição de
exercícios graduados que aumentavam de dificuldade a cada
etapa para que o discípulo passasse a executar atos complexos,
que gradualmente, tornavam-se hábitos. Quanto ao estudo
da gramática, da História, da Geografia e das ciências era
caracterizada pela recitação de cor.
O marco histórico do fim da Antiguidade e do início da
Idade Média é a queda do Império Romano (em tópico mais
à frente vamos nos debruçar mais detalhadamente sobre a
educação em Roma) e, como já sabemos, marca também a
ruptura com o modelo de produção e das atividades sociais com
o período anterior.

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40 História da Educação

SAIBA MAIS

A única instituição que permaneceu sólida e espalhada pelo


grande território que havia sido o Império Romano antes de sua
queda foi a Igreja Católica, por onde se moveu parte considerável
da história medieval e onde foram dados os primeiros passos das
bases que constituíram a educação na contemporaneidade.

Com mil anos de abrangência, os relatos dos fatos da


idade média requerem especiais cuidados nas análises, visto
que é comum a simplificação em sua caracterização apenas a
um tempo, um monobloco de períodos iguais marcados pela
alcunha da “idade das trevas” ou “a noite de mil anos”. No
aspecto educacional, que é o que nos interessa nesse momento e
por causa do objetivo da disciplina aqui estudada, é importante
saber que a educação é profundamente marcada pela religião no
período medieval.

Fonte: pixabay

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História da Educação 41

O modo de produção no período medieval é o feudalismo,


isto é, todas as relações produtivas se organizam a partir do
feudo. No aspecto educacional, predominaram as escolas
cristãs, criadas ao lado de mosteiros e catedrais. Os alunos mais
destacados estudavam a filosofia e a teologia, processo que fez
com que os mosteiros dominassem a ciência, tornando-se o
reduto da cultura medieval.
Vamos ler parte da definição de Feudalismo (SILVA;
SILVA, 2013, p. 152) em que é possível perceber as intrincadas
relações entre o poder político e a influência da igreja, além de
alguns aspectos da cultura militar do período:
O Feudalismo se caracterizou, assim, por ser
uma rede de relações de dependência jurídica, da
servidão à vassalagem, que se entrelaçavam com
a estrutura econômica fundiária. Por sua vez, a
mais marcante de suas características políticas
era a decadência da autoridade real. Com a queda
do Império, formaram-se, nas antigas províncias,
diversos reinos de origem germânica. E apesar
da grande absorção da cultura romana, essas
monarquias foram constituídas com base na
antiga organização tribal: ao lado do rei – posição
inicialmente eletiva, mas que logo adquiriu caráter
hereditário – estavam os guerreiros, que logo se
tornaram nobres, pois a função militar passou a
definir a nobreza. Com a fragmentação do antigo
poder central romano e com a influência crescente
dos nobres guerreiros (que tinham, inclusive, o
poder de eleger reis), gradativamente os potentados
locais foram assumindo as funções da realeza. Ao
mesmo tempo, a Igreja Católica em franca expansão
começou a se inserir na cena política. Com as
invasões e a ausência de autoridades estatais nas
províncias, foram os bispos que primeiro assumiram
as funções administrativas.

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42 História da Educação

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre conceitos que são abordados ao longo


dessa unidade de estudos, acesse o Dicionário de Sociologia
disponibilizado pela Universidade Federal de Santa Catarina em
https://bit.ly/2sCwCI4.

Nesse dicionário você encontrará definições mais


aprofundadas sobre o que é educação, trabalho, cultura, elite,
história, entre outros. Também poderá saber aspectos gerais
do trabalho de alguns importantes autores/pesquisadores da
sociologia como Émile Durkheim, Alexis de Tocqueville, Karl
Marx e Max Weber, por exemplo.
Por causa das atividades econômicas pouco intensas, as
pessoas não tinham interesse pelo aprender a ler e escrever, o
trabalho era agrário, as pessoas não mudavam de classe social
e, principalmente os servos (camponeses, em sua maioria) mal
tinham tempo para dar conta das tarefas impostas pelo senhor
feudal. Era uma relação bastante desigual, mas com suas
peculiaridades, conforme afirma Silva:
A servidão foi a relação social predominante
no Feudalismo, estabelecida entre os servos e
os senhores medievais, resultante não apenas
da desagregação do Império Romano como das
sociedades dos povos ditos “bárbaros”. É preciso
ressaltar de antemão, como fez Georges Duby,
que nem a sociedade romana nem a germânica
eram sociedades igualitárias. Portanto, não era
de se esperar que a fusão dessas duas culturas

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História da Educação 43

originasse uma Idade Média livre de alguma


forma de desigualdade. Essa forma de relação
social – embora, sem dúvida, bastante desigual
– era caracterizada, em linhas gerais, pelos laços
de dependência mútua: ao servo, o senhor devia
“proteção”; ao senhor, o servo devia obediência,
trabalho e tributos. (2013, p. 379)

ACESSE

Leia mais sobre servidão e sobre outros termos que aqui


apareceram e que irão aparecer acessando o Dicionário de
Conceitos Históricos elaborado por Kalina Vanderlei e Maciel
Henrique disponível em https://bit.ly/2LkjvSu.

Mesmo os padres se desinteressaram pela cultura e não


buscavam mais a formação intelectual oque fez com que, já no
século IX, o imperador franco Carlos Magno pensasse em sua
corte formada por intelectuais, intencionando reformar a vida
eclesiástica, ter maior influência sobre a educação e o sistema
de ensino. A escola palatina (ficava ao lado do palácio) concorre
com as escolas catedrais (ao lado das igrejas), monacais e
paroquiais como centro de disseminação do conhecimento.
Nos altos graus de instrução realizados nas (poucas)
universidades, o modelo de ensino era a Escolástica,
procedimento educacional que visava equilibrar a fé cristã com
o racionalismo (base do pensamento filosófico).
No âmbito da família medieval, as crianças tinham papel
social quase inexistente. As condições materiais da maior parte da
população (servos) geravam altos índices de mortalidade, além
de que a falta de afeto e maiores cuidados às crianças, desde o

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44 História da Educação

nascimento, também contribuísse em tal contexto. As mulheres,


comumente, eram submissas e subalternas aos homens, não
recebiam educação formal. Os jovens também eram subalternos
ao pai, sem direitos e com forte dependência. A vida social dos
jovens era praticamente inexistente e a posição deles se igualava
à dos criados, permanecendo assim até o casamento.
A transição entre o período medieval e a Idade Moderna
está marcada em nossa Linha do Tempo da sociedade ocidental
utilizada aqui pela tomada de Constantinopla (antiga capital
do Império Romano do Oriente, atual Istambul) pelos turcos
otomanos.

+
OBSERVAÇÃO

A formação dos Estados Modernos é um fato histórico, ou seja,


é incontestável que aconteceu. Mas, o processo e quando esse
fato histórico aconteceu é passível de diferentes interpretações.
Por isso, não há verdades absolutas em história, o que há são os
fatos históricos que são interpretados por diferentes vieses. A
Segunda Guerra Mundial é um fato histórico, mas com certeza
os estadunidenses, os soviéticos e os alemães tinham diferentes
interpretações sobre ela.

Para exemplificar o que foi dito acima, vamos tecer


considerações sobre interpretações sobre o evento histórico que
marcaria o início da Idade Moderna.
Parte considerável dos historiadores argumenta que o
início do período moderno acontece com a concretização do
primeiro Estado Moderno, ou seja, com a Revolução de Avis
(1383-1385) em Portugal. Dois grupos formados após a morte
do último rei da dinastia de Borgonha, D. Fernando, disputavam
o poder. Um era liderado pela burguesia portuguesa que

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História da Educação 45

apoiava a ascensão do Mestre de Avis (filho bastardo do pai de


D. Fernando de Borgonha), e outro liderado pela nobreza que
apoiava a anexação de Portugal ao reino de Castela. Com vitória
e a ascensão do Mestre de Avis, coroado como D. João I, teve
início a dinastia de Avis. A vitória da burguesia nesse processo
marcaria a vitória dos interesses burgueses.
Outra perspectiva bastante difundida é a de que a Idade
Moderna começa com a chegada dos europeus ao continente
que, mais tarde, eles próprios denominariam como América. As
Grandes Navegações que pela primeira vez permitiu a travessia
dos oceanos foi resultado inicial do poder de investimento
de dois estados modernos: Espanha e Portugal. Nesses dois
estados a burguesia já se mostrava mais presente na economia
e nas decisões políticas o que, inegavelmente, contribuiu nesse
processo de expansão territorial das nações citadas.
Em linhas gerais, é possível afirmar que foi na Europa
Moderna que surgiu a realidade política do Estado nacional, sendo
que o sociólogo Max Weber afirmou que o Estado Moderno se
definiu a partir de duas características: a existência de um aparato
administrativo cuja função seria prestar serviços públicos, e o
monopólio legítimo da força (SILVA; SILVA, 2013, p. 114).

+
++ EXPLICANDO MELHOR

Seja qual for o fato histórico com maior influência na transição


entre o medieval e o moderno, todos têm ao fundo um elemento
comum: a burguesia. Essa classe social irá tomar o controle
dos rumos econômicos e políticos a partir da Idade Moderna.
Uma definição bastante empregada para definir a burguesia é
“aquela cunhada por Marx e Engels em meados do século XIX,
segundo a qual a burguesia é a classe dos capitalistas modernos,
proprietários dos meios de produção e exploradores da classe
dos trabalhadores assalariados” (SILVA; SILVA, 2013, p. 34).

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46 História da Educação

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre as definições conceituais de burguesia


acesse o Dicionário de Conceitos Históricos que está disponível
em https://bit.ly/2qgbUgj.

Portanto, também a educação começa a ter influência


dos valores burgueses. Nesse aspecto, a influência da igreja e
da religião começa a diminuir e duas instituições educativas
passam por uma profunda redefinição e reorganização: a família
e a escola, instituições cada vez mais centrais na experiência
formativa dos indivíduos e na socialização dos aspectos culturais,
além da formação profissional. O Estado começa a se preocupar
cada vez mais com a educação por causa do importante papel
das escolas e do ensino na formação de pessoas inseridas em
uma sociedade marcada pelo surgimento de novos ofícios e pelo
aprofundamento do conhecimento técnico ligado à expansão
comercial europeia.
Chegamos, finalmente, à transição entre os dois últimos
grandes períodos históricos: a passagem entre Idade Moderna
e Idade Contemporânea, marcada pelo evento da Revolução
Francesa no ano de 1789.

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História da Educação 47

Fonte: pixabay

As Grandes Navegações que possibilitaram a colonização


da América e o enorme crescimento das atividades comerciais,
fez com que a burguesia acumulasse cada vez mais riquezas,
tornando-se, ao longo de quase três séculos, a classe social
mais poderosa economicamente. Quem tem o poder econômico
invariavelmente quer também deter o poder político. Foi ocaso
da burguesia, que via cada vez mais a nobreza (a classe social
dominante na Idade Média e ainda influente nos rumos do estado
na Idade Moderna) como um empecilho às suas pretensões.
Importante: A burguesia tinha consciência que produzir o
conhecimento, além de difundi-lo era essencial para transformar
a mentalidade “antiga” que ainda era muito presente. Era preciso
tomar o poder político. Para isso, difundiram ideias “iluministas”,
produzidas por pensadores respeitados da filosofia, da política,
da economia e das ciências em geral.

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48 História da Educação

A Revolução Industrial iniciada na Inglaterra na primeira


parte do século XVIII, e logo depois reverberada na França e
Alemanha, consolidou definitivamente o poder econômico
da burguesia. O Iluminismo deu as bases filosóficas para o
movimento revolucionário burguês que se consolidou com a
Queda da Bastilha em 1789 que, na prática, representou a queda
da nobreza e a ascensão da burguesia ao poder político. Os
ideais revolucionários burgueses se espalharam pela Europa e
por algumas outras partes do mundo. Os EUA tinha realizado
sua revolução burguesa, fundamentada no ideário iluminista,
anos antes, em 1776.

+
OBSERVAÇÃO

Alguns autores apontam a existência de uma segunda, terceira e


até quarta Revoluções Industriais, acontecidas a partir do século
xix e caracterizadas também por grandes transformações na
tecnologia de produção. Entretanto, o pioneirismo da Inglaterra
e a força do conceito clássico de Revolução Industrial são
pontos pouco contestados pelos historiadores e economistas
em geral. A chamada Primeira Revolução Industrial é definida
pelos economistas como o ponto de partida para o crescimento
autossustentável da produção. Para o historiador Eric Hobsbawm,
o termo revolução deve ser aplicável ao fenômeno, pois de
fato houve uma explosão na capacidade humana de produzir
mercadorias e serviços por volta da década de 1780 quando, pela
primeira vez na história, essa capacidade se multiplicou de modo
ilimitado. A influência da Revolução Industrial, em particular
no Ocidente, ultrapassou a esfera da produção e da economia,
mudando, por exemplo, as noções tradicionais de tempo, ritmo e
velocidade. A Revolução Industrial e as revoluções tecnológicas
subsequentes forneceram algumas das bases para o mundo
contemporâneo. (SILVA: SILVA, 2013, p. 372-373)

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História da Educação 49

Na contemporaneidade a escolarização passa a ser a


principal forma de educação, as cidades crescem vertiginosamente
com o incremento das indústrias e dos processos mecanizados.
É preciso formar um enorme contingente de pessoas que saibam
minimamente ler e escrever, pois o trabalho na indústria e em
processos industriais exige muito mais acúmulo de técnicas do que
a antiga atividade agrária característica dos períodos anteriores.
Como a burguesia é a classe social dominante nesse
processo, os valores e conteúdos, além da forma como eles
serão ensinados nas escolas estão profundamente marcados pelo
viés burguês, pela sua cultura, pela visão de mundo e por seus
interesses políticos e econômicos.

IMPORTANTE

O atual estágio de grandes avanços tecnológicos presentes nas


atividades produtivas faz com que haja também a necessidade
de uma educação voltada à formação que irá suprir a grande
demanda de ofícios altamente especializados. Além disso, na
sociedade moderna, mais de ¾ das pessoas vivem em cidades,
por isso o objetivo de formação para a cidadania.

Fonte: pixabay

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50 História da Educação

Depois da Revolução Francesa e, mais marcadamente


a partir de meados do século XIX, inicia-se um processo de
grande expansão da forma escolarizada de educação. O século
XX é repleto de estudiosos e de teorias pedagógicas que são
formuladas para que haja aproveitamento máximo no processo
de aprendizagem e que estes cheguem o mais perto possível dos
objetivos planejados pelos sistemas de ensino.
A partir de agora, nos dois próximos tópicos desta e nas
próximas unidades, vamos nos deter mais detalhadamente sobre
as características gerais da educação em cada um dos períodos
históricos aqui citados. Vamos abordar um pouco da filosofia
e dos métodos educacionais empregados em cada período, até
chegarmos, ao final da disciplina, à contemporaneidade da
História da Educação no Brasil.
Vamos lá? Dúvidas? Não se preocupe. Recorra ao fórum
de dúvidas e discussões para socializar o seu conhecimento
e esclarecer todas as suas dúvidas. Depois, desenvolva as
atividades e questões sugeridas. Nós estaremos a sua disposição
em caso de dificuldades!

A Educação Primitiva
As características principais no modo de produção das
comunidades primitivas (comunal) são o nomadismo com
a caça, o pastoreio, a pesca e a agricultura como atividades
predominantes. Segundo Ponce (2003, p. 19) nas comunidades
primitivas “o ensino era para a vida e por meio da vida; para
aprender a manejar o arco a criança caçava; para aprender a
guiar um barco, navegava. As crianças se educavam tomando
parte nas funções da coletividade”.
Como visto anteriormente: A educação difusa é aquela em
que não há um ente ou indivíduo destinado à função específica de
educar/ensinar. Todos os membros das comunidades primitivas
participavam ativamente do processo educacional uns dos
outros, notadamente no das crianças e dos jovens.

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História da Educação 51

Portanto, por causa do modo de produção das comunidades


primitivas, não havia a necessidade da existência de espaços
específicos para a educação, uma vez que também havia pouca
complexidade e variação dos ofícios e tarefas, que por sua vez,
eram comunais. Embora pareça o contrário, não é tarefa fácil
caracterizar as comunidades primitivas.

++
+
EXPLICANDO MELHOR

Alguns dos motivos:


 Há muitas diferenças entre as comunidades primitivas:
imagine o modo como comunidades tribais da região do
amazonas se relacionam com a natureza em comparação às
comunidades que viviam na região subsaariana na África. As
técnicas de trabalho e as interações com a natureza em cada
um desses espaços são bem distintas gerando, portanto, modos
distintos de educar.
 Há sempre o risco do etnocentrismo, isto é, avaliar estas
sociedades a partir dos padrões de nossa cultura ou de outra que
se mostra hegemônica.
 É comum que os estudos realizados sobre as
comunidades primitivas centrem as análises sobre aquilo que
elas não desenvolveram, ao invés de compreendê-las apenas
como outro modelo de viver nesse mundo.

As sociedades tribais têm também, em sua essência, a


mítica com a manifestação do sagrado como forma principal
de compreensão sobre a origem de todas as coisas. Nessa
perspectiva, é por causa das forças divinas que se fazem possíveis
a aquisição da técnica, o trabalho na agricultura ou a cura para
todos os males. Nesse modo de compreender o mundo, a própria

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52 História da Educação

ação dos homens tem lastro nos possíveis movimentos dos


deuses. Isso se expressa em suas manifestações religiosas, como
no caso das danças antes da guerra representando a antecipação
mágica do que visa garantir o sucesso ou ainda nos desenhos
rupestres como forma antecipada de apropriação da caça e como
forma de restituir os animais na natureza.
Tomando referência a tese de que as atividades produtivas
condicionam todas as demais em uma sociedade (nesse caso,
sociedades comunais), Ponce afirma que:
Dessa concepção de mundo – a única possível
numa sociedade rudimentar em que todos os seus
membros ocupavam a mesma posição na produção
– derivava logicamente o ideal pedagógico a
que as crianças deveriam se ajustar. O dever ser,
no qual está a raiz do fato educativo, lhes era
sugerido pelo seu meio social desde o momento
do nascimento. Com o idioma que aprendiam a
falar, recebiam certa maneira de associar ou de
idear; com as coisas que viam e com as vozes
que escutavam, as crianças se impregnavam
das ideias e dos sentimentos elaborados pelas
gerações anteriores e submergiam de maneira
irresistível numa ordem social que as influenciava
e as moldava. Nada viam e nada sentiam, a não ser
através das maneiras consagradas pelo seu grupo.
A sua consciência era um fragmento da consciência
social, e se desenvolvia dentro dela. Assim, antes
de a criança deixar as costas da sua mãe, ela já
havia recebido, de um modo confuso certamente,
mas com relevos ponderáveis, o ideal pedagógico
que o seu grupo considerava fundamental para sua
própria existência. (2003, p. 21)

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História da Educação 53

Outra característica geral às comunidades primitivas é a


tradição oral. Nelas, os mitos e os ritos são transmitidos pela
oralidade, constituindo aquilo que conhecemos por tradição,
o que permitia, no caso dessas sociedades, a coesão grupal e
reprodução social de comportamentos considerados desejáveis.
Tal contexto é um dos fatores que explica a configuração
destas como comunidades estáveis, em que as mudanças, as
transformações ocorrem de forma muito lenta.
O modelo educacional também apoia a estrutura social
que se mantém homogênea, onde as relações não apresentam
dominação de um ou outro segmento, “mesmo que a divisão de
tarefas leve as pessoas a exercerem funções diferentes, o trabalho
e o seu produto são sempre coletivos.” (ARANHA, 2006, p.27).
No modelo de educação difusa das sociedades primitivas,
a universalidade ocorre porque todos seus membros têm
acesso ao saber e ao fazer fundamentados nos conhecimentos
acumulados socialmente. Desse modo, outro ponto importante a
ser destacado nesse modelo é o seu caráter de integralidade, uma
vez que abrange todo o saber da tribo em todos os momentos de
atuação social.

SAIBA MAIS

É por esse motivo que, apesar de que algumas poucas pessoas


especiais possuírem prestígio como o chefe guerreiro ou o
feiticeiro, isso não represente privilégios, mas consideração e
respeito. Tais pessoas especiais também não se aproveitam de
sua condição de para estabelecer relações de mando-obediência.

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54 História da Educação

Uma das atividades sociais mais importantes nessas


sociedades são os ritos de passagem, tendo o nascimento e a
morte e ainda a iniciação à vida adulta os principais entre eles,
Segundo afirma Aranha (1996, p. 28) o conhecimento mítico
imprime uma tonalidade especial à educação do passado da tribo.
Diferentemente, o mito é atemporal e conta o ocorrido no “início
dos tempos”, nos primórdios, assim é possível compreender o
prestígio das pessoas especiais por serem elas fundamentais
nesse processo ritual. Segundo Clastres (1978, p. 125), os rituais
representam a pedagogia que vai do grupo ao indivíduo, da tribo
aos jovens. Pedagogia de afirmação.

RESUMINDO

As transformações nas sociedades primitivas acontecem de


forma bastante lenta e gradual, mas acontecem. Por isso, ao longo
de milhares de anos acumulando conhecimento sobre técnicas
de domínio da natureza, o modelo educativo dessas sociedades
passou a não servir mais, pois já não funcionava. As causas dessa
situação estão na própria evolução da produção, o que iniciou o
processo de surgimento de classes sociais (alguns passaram a
deter a posse da terra). O crescimento dos agrupamentos humanos
e o gradual surgimento das cidades, fez com que o conceito de
educação difusa como função espontânea da sociedade, mediante
a qual as novas gerações se assemelhassem às mais velhas deixou
de ser importante (PONCE, 2003, p. 23) e de representar o ideal
de formação humana, pois a própria sociedade e suas relações de
produção haviam se transformado. Em suma, aquela filosofia de
formação do homem estava ultrapassada.

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História da Educação 55

SAIBA MAIS

Para saber mais e aprofundar os conhecimentos acerca da


transição entre as sociedades primitivas e a origem do Estado,
acesse o interessante portal Arquivo Marxista na Internet pelo
link a seguir: https://bit.ly/2qhQQWV.

Nesse portal é possível também acessar alguns e-books,


textos diversos de vários autores que têm o viés marxista como
referência em suas obras.
Dúvidas? Não se preocupe. Recorra ao fórum de dúvidas
e discussões para socializar o seu conhecimento e esclarecer
todas as suas dúvidas. Depois, desenvolva as atividades e
questões sugeridas. Nós estaremos a sua disposição em caso de
dificuldades!

Educação das civilizações orientais e do


Egito Antigo
Antes de iniciarmos os estudos mais específicos sobre
o conceito de educação nas civilizações orientais e no Egito
Antigo, precisamos localizá-las dentro de seu período de
existência histórica. Tais civilizações aqui analisadas pertencem
à Antiguidade que, segundo a Linha do Tempo da sociedade
ocidental que adotamos, teve iniciou-se 4000 anos a.C. e teve
fim com a queda de Roma no ano de 476 d.C.
Vamos caracterizar esse período utilizando definições
elaboradas por estudiosos no assunto, ou seja, historiadores.

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56 História da Educação

O Dicionário de Conceitos Históricos (SILVA: SILVA,


2013, p. 20) define que:
Para Rostovtzeff, a Antiguidade significava o início
do desenvolvimento do Homem, período em que
a civilização foi formada e a vida política e social
se distinguiu da selvageria. Essa Idade teria tido
seu início no Oriente Próximo, entendido como o
Egito, a Mesopotâmia, a Ásia Central e o Egeu,
e seu auge na Grécia e em Roma. A importância
da História Antiga, para Rostovtzeff, estava na
herança palpável deixada por ela na vida ocidental
moderna, sendo os antigos os inventores da vida
civilizada contemporânea. Nessa perspectiva, as
ligações entre Antiguidade e mundo atual seriam
muitas: comércio mundial e indústria em larga
escala; as principais formas políticas ainda hoje
utilizadas, como a monarquia, o sistema federal
e o Estado autogovernado; além da Filosofia, da
Ética e da Estética atuais.
A leitura atenta da citação acima nos remete a relacionar
o período a outros conceitos, como civilização. Ora, o fato de
que a “invenção da escrita” marque o fim do período anterior e
inicie a Antiguidade já denota um determinado direcionamento
na interpretação destes períodos por parte dos autores que
veem nesse fato histórico o marco determinante para tecer
considerações e análises.
Os autores citam Rostovtzeff, para quem a Antiguidade,
literalmente, significava o período em que a civilização foi
formada e a vida política e social se distinguiu da “selvageria”,
sendo que apenas nesse período o homem realmente evoluiu. Essa
percepção é bastante carregada de etnocentrismo, ou seja, tece
comparações e faz considerações a partir da percepção de que
haja uma cultura, um povo, uma civilização mais desenvolvida,
melhor que outras.

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História da Educação 57

DEFINIÇÃO

Vamos novamente recorrer ao Dicionário para observar a


definição do conceito etnocentrismo:
De modo simples, o etnocentrismo pode ser
definido como uma visão de mundo fundamentada
rigidamente nos valores e modelos de uma dada
cultura; por ele, o indivíduo julga e atribui valor
à cultura do outro a partir de sua própria cultura.
Tal situação dá margem a vários equívocos,
preconceitos e hierarquias, que levam o indivíduo
a considerar sua cultura a melhor ou superior.
Nesse sentido, a diferença cultural percebida
rapidamente se transforma em hierarquia. O
outro, só compreendido Etnocentrismo de maneira
superficial, é então usualmente designado como
“selvagem”, “bárbaro” ou não humano. Em linhas
gerais, é difícil para qualquer indivíduo se despojar
dos preconceitos arraigados em sua cultura e tentar
compreender a cultura do outro em seus próprios
termos. Essa seria uma atitude não etnocêntrica,
pois faria uso da relativização, que é o oposto
do etnocentrismo. No entanto, o mais comum
é o indivíduo tomar suas representações, sua
linguagem, seus valores, para falar sobre o que é
esse “outro”. Não dá a palavra para o outro, porque
considera sua cultura a detentora da palavra.

Por isso é que ressaltamos que, ao observar as civilizações


orientais, estaremos falando de apenas algumas delas, pois
como nos demais períodos ou conceitos, existem uma grande

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58 História da Educação

variedade de povos, de culturas e modos de organização. Aqui


faremos o recorte com o critério de observar aquelas que mais se
destacaram e que influenciaram e deixaram legados históricos.
Comecemos então pelas características mais gerais e
presentes em várias civilizações da antiguidade oriental, como
na China e na Índia. Diferente daquilo que ocorre nas sociedades
tribais onde a educação é difusa, nas civilizações orientais são
estabelecidos modelos educacionais dotados de locais específicos
à prática do ensino, com objetivos e métodos. Nessas civilizações
a educação, de um modo geral, era uma preocupação que estava
presente muito relacionada com a religião, tanto que aparece
representada nos livros sagrados, que ofereceram regras ideais
de conduta e o enquadramento das pessoas nos rígidos sistemas
religiosos e morais. Portanto, não havia propostas propriamente
ditas pedagógicas, principalmente se comparadas Às formas
posteriores e às que conhecemos atualmente.
Como o modo de produção estabelece influência sobre
todos os aspectos sociais e culturais, o modelo educacional não
escapa disso: a princípio o conhecimento da escrita é bastante
restrito, devido ao seu caráter sagrado e esotérico, fazendo com
que a maior parte da população (camponeses, comerciantes e
artesãos) não tivesse acesso ao saber da classe dominante, nem
direitos políticos (ARANHA, 1996, p. 43).

++
+
EXPLICANDO MELHOR

Esse contexto representa, na prática, uma forma de dualismo


educacional (escolar), ou seja, se destina um tipo de ensino para
o povo e outro tipo para uma pequena parte da sociedade (os
privilegiados). Mas, a maior parte da grande massa populacional
não tem acesso nem a um nem a outro tipo, sendo excluída da
escola e restringida à educação familiar informal.

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História da Educação 59

+
OBSERVAÇÃO

Para caracterizar melhor essas civilizações, inclusive


relacionando aspectos produtivos (econômicos) sociais, políticos
e educacionais, vamos recorrer mais uma vez à citação, dessa
vez quem nos auxilia é Franco Cambi:
O Extremo Oriente é aquela terra dos grandes
rios e dos vegetais (...), mas é também um terreno
polifônico do sagrado e um conjunto de terras
submetidas à agressão da barbárie (seja dos turcos,
dos mongóis ou dos quirguezes) contra a qual é
preciso defender-se – assim como das intempéries:
as grandes chuvas monçônicas – organizando-se
de modo compacto, militar e social sob o governo
de um soberano que, geralmente, é deus e rei. As
sociedades do Extremo Oriente são sociedades
complexas, mas imóveis, e por várias razões.
Por um influxo central exercido pelas religiões,
construídas como organismos perenes e sentidas
como tais: pela indistinção entre humano e divino
que as caracteriza e, portanto, pela perenização do
humano (visto como invariante). São características
comuns tanto à China e à Índia, como ao Japão e à
Indochina/Indonésia. (1999, p. 62)

Outro traço comum às civilizações da antiguidade oriental e


também à egípcia e mesopotâmica é o caráter de tradicionalismo.
Isto significa que, nelas, a organização social já está estruturada com
a presença do Estado que tem a preocupação de manter a ordem
vigente e estabelecida. Para isso são empregadas ações organizadas
em vários âmbitos: no religioso, no econômico, no cultural e, como
não poderia deixar de ser, no educacional, conforme já vimos

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60 História da Educação

anteriormente. Os governos são despóticos e teocráticos onde rei


e imperadores têm poder absoluto justificado pela crença em sua
origem divina. O Estado é extremamente organizado e tem vários
escalões burocráticos que administram e controlam a produção
agrícola, arrecada impostos, recruta mão de obra para a construção
de grandes templos, diques, túmulos e palácios (ARANHA, 1996,
p. 32), sendo que essa administração é conduzida pelos membros de
uma minoria privilegiada que tem acesso à educação que os prepare
para tal finalidade, enquanto os demais são educados para tarefas
técnicas de escalões sociais inferiores ou ainda à mera educação
familiar informal e que não possibilita ascensão.
Na China os sacerdotes não são letrados, isso cabe aos
chamados mandarins que são os altos funcionários de estrita
confiança do imperador e responsáveis pela máquina adminis-
trativa do Estado. A educação elementar tem como objetivo a
alfabetização, muito difícil e demorada por causa do caráter
complexo da escrita chinesa, sendo ensinado também o cálculo
e a formação moral por meio da transmissão dos valores dos
ancestrais, processo realizado de maneira dogmática, com ênfase
nas técnicas de memorização (ARANHA, 2006, p.35 e 36). Há um
rigoroso sistema de seleção para o ensino superior (para formação
de mandarins) que é composto por exames oficiais que distribuem
os candidatos nas diversas atividades administrativas.
O modelo educacional na Índia era ainda mais seletivo e
excludente, visto que era profundamente baseado na composição
das castas sociais que, por sua vez, representavam as intensas
desigualdades que permeavam a sociedade. Toda a organização
social era fundamentada nos livros sagrados do hinduísmo que
professa que os seres e os acontecimentos são manifestações de
uma só realidade chamada Brahman (alma/essência de todas as
coisas). A população é dividida em castas fechadas: os brâmanes
(sacerdotes) que são os mais privilegiados na educação hindu,
os xátrias (guerreiros nobres), os vaicias (agricultores e
comerciantes) e os sudras (servos dedicados aos serviços mais
humildes) que não recebem sequer educação formal elementar.

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História da Educação 61

+
++ EXPLICANDO MELHOR

Devido à crença de que todos saíram do corpo do deus Brahma,


os brâmanes são considerados mais importantes por terem sido
gerados da cabeça do deus. No outro extremo, os párias, por sequer
terem origem divina, não pertencem a qualquer casta e por isso
são intocáveis e reduzidos a uma condição miserável (ARANHA,
2006, p. 34). Essa organização do modelo educacional demonstra
bem a própria organização social da Índia.

Nesse mesmo período, floresce no norte da África, a partir


das margens do Rio Nilo, uma imponente civilização: o Egito
Antigo.

IMPORTANTE

Chegando até aqui você deve ter percebido a relação direta


entre a estrutura econômica e o modo como se organizam a vida
social e o modelo educacional. Por isso, ao tratarmos aqui do
Egito Antigo (a chamada civilização egípcia), vamos direto aos
aspectos educacionais que, se bem observados, trarão elementos
que permitirão analisar a própria sociedade.

No Egito Antigo, o saber religioso e também o saber


técnico eram ministrados pelos sacerdotes nos templos, grupo
este que representava uma casta intelectual naquela sociedade
(CAMBI, 1999, p. 67) e que tinha acesso à escrita, coisa para
pouquíssimas pessoas. Embora a sociedade egípcia fosse

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62 História da Educação

profundamente influenciada pela religião, isso se expressava


mais na estrutura social para manter as classes sociais em seus
lugares do que na produção intelectual e científica, resultado do
modelo educacional.

++
+
EXPLICANDO MELHOR

Como exemplos dessa situação, principalmente na arte e na


arquitetura, os egípcios criaram soluções para problemas
práticos, desenvolvendo técnicas de demarcação de propriedades,
medição de áreas de triângulos, retângulos, hexágonos e o
volume de cilindros e pirâmides. Organizaram também um
calendário (com 365 dias e três estações: cheia, inverno e verão)
que apontava o início da cheia e das vazantes do rio Nilo. Na
medicina, os egípcios conheciam várias doenças, praticavam
operações, sabiam a importância do coração para a vida animal
e conheciam a circulação sanguínea.

Ao lado da educação escolar, havia a familiar (atribuída


primeira à mãe, depois ao pai) e a “dos ofícios”, que se fazia
nas oficinas artesanais e que atingia a maior parte da população
(ARANHA, 1996, p. 34), sendo que este aprendizado não
tinha nenhuma necessidade de “processo institucionalizado de
instrução” e “são os pais ou os parentes artesãos que ensinavam
a arte aos filhos”, através do observar para depois reproduzir o
processo observado (CAMBI, 1999, p. 68). A escrita hieroglífica,
reservada aos privilegiados, era sagrada e constituída por
pequenas figuras que juntas, formavam um texto. Com o
uso e com a maior complexidade das atividades produtivas e
comerciais, esse modelo de escrita evoluiu para representações
mais simples, como a escrita hierática e, depois, culminou na
escrita demótica, mais popular e usada pelos escribas.

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História da Educação 63

Por fim, as classes mais populares eram também excluídas


da ginástica e da música, reservadas apenas a casta guerreira e
colocadas como adestramento para guerra.

SAIBA MAIS

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à


seguinte fonte de consulta e aprofundamento:
 Livro: O Egito Antigo, do professor da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Arnoldo W.
Doberstein e publicado pela EdiPUCRS no ano de 2010. O livro
é disponibilizado pelo autor no site da universidade em https://
bit.ly/35W0Rbt.
 Documentário: Construindo um Império: China.
Produzido e disponibilizado pela Discovery Channel acesse pelo
link https://bit.ly/2LkmuKw.

Dúvidas? Não se preocupe. Recorra ao fórum de dúvidas


e discussões para socializar o seu conhecimento e esclarecer
todas as suas dúvidas. Depois, desenvolva as atividades e
questões sugeridas. Nós estaremos a sua disposição em caso de
dificuldades!

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64 História da Educação

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História da Educação 65

02
UNIDADE

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66 História da Educação

INTRODUÇÃO
Você vai conhecer a Educação na Civilização do Oriente
Médio, com o foco nos Hebreus, Povos da Mesopotâmia,
Romanos e Gregos, na antiguidade. Depois, vai percorrer
a Educação na Era Cristã, visualizando a sua importância,
naquele momento histórico medieval. Seguirá na compreensão
da educação na Idade Média, percebendo as Práticas educativas,
observando que a Educação feminina foi bem modesta, nesta
época. Compreenderá a importância da Educação, nas famosas
corporações de ofícios medievais, importantes associações de
profissionais, na Idade Média. Será possível entender a educação
cavalheiresca e suas características, entendendo que a educação
estava presente na formação desta categoria tão expressiva, em
tempos medievais. Ainda será possível identificar a patrística
e as diretrizes da pedagogia escolástica, que revelaram figuras
históricas importantes como Santo Agostinho e São Tomás de
Aquino, dois dignos Pais da Igreja. Preparado para esta fantástica
viagem histórica? Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você
vai mergulhar neste universo!

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História da Educação 67

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 2, e o nosso
objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes

1
competências profissionais até o término desta etapa de estudos:

Definir a educação na civilização do oriente médio:


Hebreus, Mesopotâmia, Roma e Grécia;

2 Relembrar a Educação na era cristã;

3
Definir a educação na idade média: práticas
educativas; educação feminina e dos cavaleiros;
educação nas corporações de ofícios; a educação
cavalheiresca;

4 Identificar a patrística e as diretrizes da pedagogia


escolástica.

Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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68 História da Educação

Definindo a Educação na Civilização do


Oriente Médio: Hebreus, Mesopotâmia,
Roma e Grécia
Você verá as contribuições da educação, na civilização do
Oriente Médio, e a participação efetiva e significativa dos seguintes
povos do Oriente Médio: Hebreus, Povos da Mesopotâmia,
Romanos e Gregos, na antiguidade, a educação. Será possível
perceber que não foram insignificantes tais aportes para o campo
educativo, ficando assim imortalizados pelos seus grandes fatos.

Definindo a Educação na civilização do


Oriente Médio
A Idade Antiga ou Antiguidade é o extenso tempo
compreendido da invenção da escrita (por volta dos 4000 a.C.) até
a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.). Envolve a
existência dos proeminentes povos da Europa, do Oriente Próximo
(precursores das civilizações mediterrâneas, incluindo Roma), os
Pré-colombianos da América (Incas, Maias e Astecas), o período
chinês que vai até a chegada da Dinastia Chin (200 a.C.) e no
Japão com o fim do período Heian em 1185 d.C.
Os inspiradores povos do oriente médio, na antiguidade,
existiam com suas distintas formas de organização político-
social, tratando a religião como um aspecto essencial nas suas
vidas, com culturas diversificadas, e empenhados com a educação
(transmitindo conhecimentos e preparando as novas gerações para
os desafios que teriam pela frente). “Em sociedades rigidamente
divididas em castas, não fazia sentido fornecer ‘cultura inútil’ para
membros de um segmento social destinado ao trabalho braçal
desde o seu nascimento.” (TERRA, 2014, p. 06).
Os Povos da antiguidade, nas suas organizações tribais,
foram caracterizados por uma educação difusa, assim acontecia
que

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História da Educação 69

as crianças aprendiam com os adultos, imitando


seus gestos e comportamentos, a “educação
era para a vida e por meio da vida”. Todo
conhecimento deveria ser transmitido, pois
ele era uma questão de sobrevivência. Com a
sedentarização, o desenvolvimento de técnicas,
da escrita, da urbanização e do comércio alteram
as relações e surgem diferenças na organização
social que se refletem também na educação. Se
antes ela era integral e universal, ela se tornava,
então, privilégio, saindo do espaço natural de
convivência para um lugar específico. Surgem as
escolas. (TERRA, 2014, p. 02).
Assim, fica claro que a educação acompanhou o desloca-
mento dos povos antigos, de suas trajetórias nômades, mudando
constantemente e procurando melhores espaços para viver, aos
tempos em que as pessoas começaram a habitar um específico
território, ou seja, deixaram as viagens constantes, tomando um
estilo de vida sedentário, fixado em algum lugar escolhido por
elas condições boas para viver. O caráter da educação devia
estar engajada em modos de viver bem, as crianças aprendiam e
os adultos ensinavam formas de viver razoavelmente, diante das
condições possíveis, aos povos da antiguidade.

SAIBA MAIS

Veja o vídeo sobre as primeiras práticas, concepções e teorias


filosóficas dos antigos gregos e romanos sobre escola e educação,
quais vínculos tais práticas educativas terão com os nossos dias?
É com a Profa. Dra. Marisa Bittar, janeiro de 2013 na UFSCar.
Disponível no link: http://bit.ly/32gUwWB

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70 História da Educação

Um elemento essencial nas escolhas por um lugar para


viver, na Idade Antiga, superados os tempos e os constantes
deslocamentos e nomadismo, é a presença de água suficiente para
viver. São as conhecidas civilizações que foram estabelecendo
suas vidas, ao lado dos rios.
A expressão “civilizações hidráulicas” remete
à dependência econômica que as civilizações
primitivas localizadas nas terras áridas e desertos
do Oriente Próximo tinham dos grandes rios
da região, como o Tigre, o Eufrates, O Nilo e o
Jordão. No período pré-histórico, numerosas
tribos migraram para essa região em busca de
melhores condições para a produção de alimentos.
Essa dependência das terras férteis da bacia dos
rios ocorreu também na índia, com os rios Ganges
e Indo, e na China, com os rios Yang-Tsé e
Amarelo. (TERRA, 2014, p.12)
É interessante lembrar do Egito e seu importante Rio Nilo e
também a Mesopotâmia (Região entre dois rios Tigre e Eufrates).
“As denominadas civilizações fluviais se tornam sociedades
complexas e iniciam o processo educativo, com elementos
filosóficos, políticos e religiosos”. (TERRA, 2014, p. 02).
Entre as encantadoras civilizações da antiguidade, não
se pode esquecer as civilizações grega e romana, que deixaram
importante legado cultural para o ocidente. Todas são exuberantes,
cada uma com a sua enorme contribuição. “Destacam-se
também as civilizações orientais, que valorizavam a filosofia e a
religião; esses elementos influenciaram a educação da China, da
Índia, do Japão e dos hebreus, cuja cultura era carregada, além
de conteúdos religiosos, por um forte sentimento de identidade
nacional.” (TERRA, 2014, p. 02)
São povos reunidos em reconhecidos impérios. Era possível
ter acesso aos saberes e cultura, e vasculhando a história dos
grandes impérios, saber mais sobre os privilegiados sacerdotes:

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História da Educação 71

Depositários do conhecimento sobre as compe-


tências mais altas e complexas, a poderosa casta
dos religiosos controlava sua irradiação segundo
critérios bem definidos. As ciências esotéricas e
sagradas eram restritas à formação de sacerdotes.
Os estudos “intelectuais”, como a matemática,
geometria e astronomia, além de noções sobre
valores morais e filosóficos, eram exclusivos para
as classes dominantes. O domínio da leitura e da
escrita elevou os escribas a um status intermediário
de trabalhador qualificado. Para os segmentos
ou classes considerados inferiores “artesãos,
camponeses, artistas e guerreiros” eram reservadas
as técnicas elementares de produção, transmitidas de
pai para filho ou na prática nas oficinas de ofício.
Na base piramidal social, aos escravos era ensinado
um único conceito fundamental – a obediência.”
(TERRA, 2014, p. 06).
Era uma educação hierarquizada, ou seja, era diferenciada
para as diferentes camadas sócias, na antiguidade. Assim, os
governantes conseguiam dominar a grande de massa, agindo
como os guardiões das “técnicas de produção e a classe dominada
tinha acesso apenas as técnicas primárias de trabalho. Com isso,
era assegurada a perpetuação da nobreza e das elites no poder.”
(TERRA, 2014, p. 06).
Não menos importante que os gregos e os romanos, a
educação das civilizações milenares do Oriente, não estará focada
nesta unidade, eles são igualmente importantes os Impérios
chineses e os tempos feudais no Japão e da Índia. O ponto de
concentração será, no oriente médio, com o interesse do sistema
de educação dos hebreus. Os gregos influenciaram bastante,
a conhecida cultura ocidental, e vai ser observada os detalhes
deste legado. Sendo verdadeiro afirmar que os gregos e a cultura
helênica influenciaram os romanos, que os subjugaram e foram
aculturados pelo legado cultura dos gregos. (TERRA, 2014).

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72 História da Educação

Ao examinar as ideias pedagógicas, cronologicamente,


será possível entender “o quanto a evolução da educação está
ligada à evolução da própria sociedade.” (GADOTTI, 2003,
p. 19). Tomando os fatos históricos, no Oriente Médio, na
antiguidade, é possível, um engajamento envolvendo atos de
“ordenar e sistematizar a história das ideias pedagógicas, da
antiguidade a nossos dias, e mostrar as perspectivas para o
futuro.” (Gadotti, 2003, p.21).
Oriente Médio, estava localizada nos territórios
localizados na Eurásia, na África, especificamente entre o Mar
Mediterrâneo e do Oceano Índico. Nesta região de distintos
povos, surgiram algumas das religiões com maior número de
adeptos no mundo: cristianismo, islamismo e judaísmo, com
suas práticas educativas específicas e que influenciaram muitos
outros povos. O Oriente Médio representou um amplo centro
de negócios mundial. Com considerável papel na economia, na
política, em distintas culturas e religiões. O Oriente Médio viveu
distintas unificações, inicialmente pelo império Aquemênida,
posteriormente pelo Império Macedônio e, ainda pelos impérios
iranianos (os Impérios Arsácida e Sassânida).
Figura 1: Mapa Oriente Médio

Fonte: wikimedia commons

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História da Educação 73

A dedicação à educação, por parte dos Povos antigos, do


oriente médio, foi efetiva. Evidentemente, que de uma forma
distinta aos tempos seguintes, carregando as suas peculiaridades.
Mas já é possível defender que haviam educandos, educadores e
educação consistentes. “A prática da educação é muito anterior
ao pensamento pedagógico. O pensamento pedagógico surge
com a reflexão sobre a prática de educação, como necessidade
de sistematiza-la e organizá-la em função de determinados fins e
objetivos.” (Gadotti, 2003, p. 24).
E o que caracterizava os povos do oriente eram mestres na
arte de bem viver, cultivando
os valores da tradição, da não violência, da
meditação. Ligou-se sobretudo à religião entre
as quais se destacam: o taoísmo, o budismo, o
hinduísmo e o judaísmo. Esse pensamento não
desapareceu inteiramente. Evoluiu, transformou-
se, mas guarda ainda grande atualidade e mantém
muitos seguidores. (Gadotti, 2003, p. 24).
A Educação antiga, chamada também de primitiva era
bastante prática e com muitos rituais de iniciação, que colocavam
as novas gerações como cuidadoras dos legados ancestrais
Além disso, fundamentava-se pela visão
animista: acreditava-se que todas as coisas –
pedras, árvores, animais – possuíam uma alma
semelhante à do homem. Espontânea, natural, não
intencional, a educação baseava-se na imitação e
na oralidade, limitada ao presente imediato. Outra
visão característica dessa visão é o totemismo
religioso, concepção de mundo que toma qualquer
ser – homem, animal, planta ou fenômeno
natural – como sobrenatural e criador do grupo.
O agrupamento social que adora o mesmo totem
recebe o nome de clã. (Gadotti, 2003, p. 24).

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74 História da Educação

Bemvenuti (2012) comenta que as mais variadas formas de


organizações das sociedades nas civilizações antigas apontam a
presença do lúdico no cotidiano das famílias (para adultos também).
E ter contato com este tema revela as diferentes formas de pensar
ludicidade, jogo e brincadeira ou ainda, exercício, divertimento
e treinamento, conjuntamente. Dentro de um universo extenso é
possível até perceber o surgimento na Grécia e Roma antigas da
produção de doces no formato de letras propostos a aprendizagem
das letras. (Rau, 2012). É notável as famosas e deliciosas técnicas
de Quintiliano (Professor romano falecido em 100 d.C.) para a
aprendizagem ser divertida, com doces em forma de letras. Marco
Fábio Quintiliano “põe peso principal no conteúdo do discurso.
O estudo devia dar-se num espaço de alegria (schola). O ensino
da leitura e da escrita era oferecido pelo ludi-magister (mestre do
brinquedo).” (Gadotti, 2003, p. 46)
Os brinquedos existiam na Grécia e Roma antigas,
incluindo o domínio galo-romano (a cultura romanizada da
Gália sob o controle do Império Romano) e a expansão cristã do
Egito, os Povos Coptas. Eram feitos por corporações “como as
de ceramistas para brinquedos gregos de terracota ou os artesãos
coptas foram profissionais dedicados parcialmente ao serviço
dessa produção”. (Manson, 2014, p.04).
Figura 2: Professor com dois alunos, na Roma Antiga

Fonte: wikimedia commons

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História da Educação 75

Definindo a Educação dos Hebreus


A educação hebraica foi caracterizada por seu idealismo
religioso. Os estudos escolares eram baseados na bíblia. “Os
hebreus preservaram a cultura e a religião, tendo a educação
como importante aliado.” (TERRA, 2018, p. 18).
A educação hebraica sofreu mutações motivadas por
transformações de ordem social e política. “Antes da escravização
no Egito, a educação estava centralizada na família, na qual o pai
era o mestre principal, nessa época não havia escolas. O patriarca
era a fonte e o símbolo da educação.” (Piletti, 2012, p. 24 e 25).
Havia uma preocupação intensa com disciplina, seguindo os
ensinamentos bíblicos, contidos no Livro dos Provérbios, para
não poupar os filhos de correções, à vara, vistas como fonte de
sabedoria e como forma dos filhos nunca envergonharem os
pais, no futuro. O Livro do Eclesiástico caminhava no mesmo
sentido, vendo como viável o condicionamento dos filhos aos
seus desejos, como forma de educação, por parte dos pais. Os
tempos de exílio e escravidão no Egito, na África, mudaram
o cenário e despertou grande sentimento de nacionalidade,
bastante difundido através da educação:
A escravidão dos hebreus no Egito teve efeitos em
sua educação. Após a escravidão, surge a forma
colegiada de instrução: sacerdotes e profetas
se reuniam para conhecer a sagrada escritura,
principalmente o livro chamado levítico. E as
chamadas escolas dos profetas instruíam sobre
serviços religiosos, muito importantes num estado
teocrático. A música e a poesia também eram
importantes. Estudavam-se, ainda, Legislação e
Medicina. (PILETTI, 2012, p. 35)
E era possível aprender história, aritmética, ciências
naturais e geografia, relacionados aos textos bíblicos e ao
aprendizado de preceitos morais. Aprendiam com a Tora ou
Pentateuco, os cinco livros escritos por Moisés, aquele que

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76 História da Educação

guiou os hebreus, na fuga do Egito. O ensino era sobretudo oral.


A repetição e a revisão constituíam-se os processos pedagógicos
básicos na memorização. (Gadotti, 2003).
Foram os hebreus que mais conservaram as
informações sobre sua história. Por isso, legaram
ao mundo um conjunto de doutrinas, tradições,
cerimônias religiosas e preceitos que ainda hoje
são seguidos. A educação hebraica era rígida,
minuciosa, desde a infância; pregava o temor
a Deus e a obediência aos pais. O método que
utilizava era a repetição e a revisão: o catecismo.
Foi principalmente através do cristianismo que os
métodos educacionais dos hebreus influenciaram
a cultura ocidental.” (Gadotti, 2003, p.25)
O talmude (datado do século II d.C.), um livro sagrado dos
judeus, era muito importante e trazia os princípios básicos da
educação judaica, apresentando importantes tradições, doutrinas
e cerimônias. Era um código de leis e tradições judaicas, contendo
a Mishná (texto fundamental judaico) e a Gemara (comentários).
“O Talmude aconselha os mestres a repetirem até quatrocentas
vezes as noções mal compreendidas pelos alunos. A disciplina
escolar recomendada era mais amena do que a da bíblia. Para o
Talmude, a criança deve ser punida com uma mão e acariciada
com a outra.” (Gadotti, 2003, p. 29).
No Talmude é recomendado levar a criança para a escola
aos seis anos. Este livro está repleto de saberes para viver
bem, reconhecendo que o conhecimento não é a coisa mais
importante da vida, mas o relevante é o uso que pode ser feito
dos conhecimentos. O sábio é aquele que sabe que nada sabe.
Os velhos sábios são mais sábios que quando eram jovens.
Os jovens são como folhas brancas para inserir sabedorias.
Defende que os jovens devem aprender com os velhos. E os
sábios deviam ter cuidado com o que falam, para evitar que suas
palavras sejam entendidas de forma equivocadas. Ressaltava

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História da Educação 77

que o mestre deveria primar por um ensino conciso e sem muitas


divagações, com bondade e paciência. Ressaltava que os jovens
podem aprender com seus colegas, não só com os mestres. E que
os sábios precisavam ensinar aos outros, para não serem pé de
mirra no deserto. (Gadotti, 2003)
Era intensa a relevância da religião, na vida dos povos da
antiguidade. Os hebreus atribuíam às práticas religiosas intensas
importâncias à educação. Isso é mantido nas práticas atuais dos
judeus, que dedicam longo tempo ao aprendizado das escrituras
sagradas, a tal ponto que foram conhecidos como o povo do
livro, ao longo dos tempos.
Antes da escravização no Egito, a educação do
povo judeu baseava-se na família, centralizada na
figura do pai, fonte e símbolo da sabedoria. Após
o período da escravidão, as chamadas escolas
dos profetas instruíam sobre serviços religiosos
e estudavam as sagradas escrituras contidas no
Levítico. Além da religião, os estudos abrangiam
também a legislação e a medicina, além de artes
como a música e a poesia. (TERRA, 2014, p. 18)
Por volta de 1056 a.C, aproximadamente, os hebreus
viram as suas escolas chegarem ao ápice. Era a época da realeza
hebraica, momento em que as escolas hebraicas tiveram o seu
apogeu no decorrer dos reinados de rei Davi e rei Salomão. O
sistema educacional foi progressivamente aperfeiçoado
Mas foi a escravidão e o Êxodo em direção à
Terra Prometida na Palestina que despertaram nos
judeus um forte sentimento de identidade nacional,
que procuravam conservar e transmitir de uma
geração para outra por meio da educação. Nesse
sentido, tornaram-se comuns as profissões de
escriba e doutor de lei, importantes em um Estado
teocrático, no qual as leis eram inseparáveis da

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78 História da Educação

religião, cabia ao escriba conservar as narrativas,


enquanto o doutor da lei estudava as parábolas e
investigava o sentido dos provérbios nos textos
sagrados”. (TERRA, 2014, p.19)
O grande rei Salomão (1016-976 a.C) aprimorou o sistema
educativo. “Seus provérbios dão prova do cuidado que havia
com a educação do povo: ‘Escuta, meu filho, a disciplina do teu
pai, não desprezes a instrução da tua mãe’ (Provérbios, 1.8)”.
(PILETTI, 2012, p.25).
Da passagem pelo Egito trouxeram a profissão de escriba
(que lia e interpretava as leis). E ainda, pela necessidade jurídica
de uma organização teocrática, instituíram a profissão de doutor
da lei, juiz erudito, responsável por examinar saberes antigos
e dos profetas. Tinha um papel fundamental na conservação
das narrativas, tornando inteligível as parábolas para todos. E
tinham as suas escolas para o estudo dos textos sagrados.
Quando surgiu a escola elementar dos hebreus, presente
em todas as cidades, as crianças iniciavam aos seis anos os seus
processos educativos, como previa o Talmude.
Entre os judeus, a escola elementar só surgiu
mais tarde. Tanto que a bíblia nem fala dela. Só
o Talmude, que é a coleção de tradições rabínicas
que interpretam a lei de Moisés, fala da escola.
O Talmude, palavra que significa disciplina, no
segundo século, depois de Cristo, estabelecia
em relação ao filho: ‘Depois dos 6 anos, leva-o à
escola e carrega-o como um boi’. Ou seja, estudo
e trabalho. (PILETTI, 2012, p. 26)
O recomendado é que cada cidade tivesse pelo menos uma
escola. E se determinada cidade fosse dividida por algum rio, era
recomendado que tivesse duas escolas. Assim, nenhuma criança

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História da Educação 79

ficaria sem acesso à educação por dificuldade de atravessar o rio.


“A sala de aula, que devia primar pela higiene, era exteriormente
simples e, no seu interior, tinha todas as comodidades e mestres
em número suficientes. Diz o Talmude: “Se o número de alunos
não passa de 25, haverá um professor; de 25 a 40, haverá dois.”
(PILETTI, 2012, p.26)
Esta disciplina rigorosa, ao longo do tempo foi suavizada. E
haviam três classes. A Mingrah, espaço dedicado ao aprendizado
da leitura e da linguagem hebraica, para ser concluída até os 10
anos. Já a Mishnath era dedicada apara as crianças de 10 aos 15
anos. Os estudos focavam em leis penais, comerciais e civis.
Por último, a Guemara estava relacionada aos aprendizados de
ciências naturais e o direito comum. (PILETTI,2012 e TERRA,
2014). “O método de ensino era baseado na repetição e na
revisão de conceitos, sendo empregada a forma de diálogos.
Paralelamente ao aprendizado teórico, os alunos eram adestrados
para um ofício de trabalhos manuais, como carpintaria ou
construção de tendas.” (TERRA, 2014, p. 19)
Repetição e revisão eram usados na metodologia de ensino
da escola elementar dos hebreus, baseada no Talmude. Era um
formato de diálogo, catequético. E havia uma preocupação
séria com os trabalhos manuais e a educação manual, isso
baseado no Talmude que recomendava aos pais ensinar ofícios
aos filhos, para evitar que tornassem ladrões ou dependentes
da piedade humana, e comparando a importância de ensinar
ofícios à instrução em leis. É interessante lembrar que Jesus
e seu pai estavam envolvidos com o ofício de carpinteiro. Os
judeus procuraram não valorizar mais o trabalho intelectual, em
detrimento da desvalorização do trabalho Manual. Esta é um
importante legado judaico!

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80 História da Educação

SAIBA MAIS

Conheça algumas FRASES DO TALMUDE


Feliz o aluno a quem o mestre agradece
Aprendi muito com meus mestres, mais com meus companheiros,
mas ainda com meus alunos.
A coisa principal da vida não é o conhecimento, mas uso que
dele se faz.
Não vemos as coisas como elas são e sim como nos parecem.
A palavra dita é como uma abelha: tem mel e tem ferrão.
Quem vive estudando, mas nunca repete o que aprendeu, se
parece com quem vive semeando, mas nunca ceifa.
Fonte: PILETTI, 2012.

Figura 3: Hebreus deixando o Egito

Fonte: wikimedia commons

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História da Educação 81

Definindo a Educação na Mesopotâmia


A Mesopotâmia era uma região entre dois rios Tigre e
Eufrates. Localizados nos atuais Iraque e Kuwait, nas partes
orientais da Síria, como também nas fronteiras entre a Turquia
e Síria, e Irã e Iraque. Foi nomeada como berço da civilização
ocidental. Na Idade antiga, os povos sumérios e acádios (assírios
e babilônios também) domaram a região desde o início da história
escrita (por volta de 3 100 a.C.) até a queda de Babilônia (539
a.C.), momento em que foi invadida pelo Império Aquemênida.
Posteriormente Alexandre, o Grande, incorporou ao seu vasto
domínio de territórios em 332 a.C. O que aconteceu foi que
depois da morte dele, tornou-se parte do Império Selêucida,
ligado a cultura grega. A palavra Mesopotâmia é de “origem
grega, significando “entre rios” (meso-potamos). Contido entre
os rios Tigre e Eufrates, seu território corresponde ao atual
Iraque. Sua ocupação por povos de diferentes costumes, religiões
e formas de organização social intensificou-se a partir de 6500
a.C. (TERRA, 2014, p.13)
Neste período, a mesopotâmia estava ocupada por um povo
de origem semita, os sumérios. Considerados como os prováveis
primeiros habitantes da região sul mesopotâmica, por volta de
5.000 a.C. Construíram as consideradas primeiras cidades,
conhecidas pela humanidade. Eram três cidades Ur, Uruque e
Lagash, localizadas entre colinas, fortemente protegidas da
invasão dos outros povos. Organizada em cidades-Estado,
governadas pelo Patesi, misto de chefe religioso e militar.

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82 História da Educação

Figura 4: Venerador mesopotâmico de 2 750-2 600 a.C.

Fonte: wikimedia commons

Um dos primeiros povos a chegar nesta região foram os


Sumérios, fabulosos, sábios e imortalizados ao desenvolver a
escrita e veículos de roda.
Naquela época, controlavam as enchentes
sazonais dos grandes rios com diques e canais,
e utilizavam complexas obras de irrigação para
tronar as terras próprias para a agricultura. Esse
desenvolvimento contribuiu para a formação
de Estados centralizados, capazes de submeter
a maioria do povo à servidão no trabalho na
lavoura. Isso favoreceu a ascensão ao poder de
uma elite proprietária das terras. Surge, então,
o Estado, para administrar as questões sociais
e políticas. As técnicas de irrigação e tratos
culturais foram sendo aperfeiçoadas pelos povos
que ali habitavam, como os sumérios, os caldeus
e os acádios. (TERRA, 2014, p. 13)

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História da Educação 83

Foram os Sumérios que desenvolveram a escrita


cuneiforme, expressa em placas de argila, com estilete, feito
de cana que esculpia traços verticais, horizontais e oblíquos. A
existência de uma forma de registro traz inferências importantes
ao campo educativo:
Tornou-se um instrumento tão importante no
processo de ensino-aprendizagem que os escribas
adquiriram o status de profissionais qualificados.
Para exercer o ofício de grafar as informações
na nova linguagem, os candidatos a escriba
precisavam passar por uma longa educação
e treinamento em um local conhecido como
edubba. Sob a rígida disciplina e a orientação de
um dubsar (mestre), eles usavam silabários para
aprender a escrever sobre placas de argila. Essa
formação especializada ocupava desde o início da
juventude até a idade adulta. (TERRA, 2014, p.
14/ p.15)
A literatura era das disciplinas mais importantes no ensino
mesopotâmico, com poemas e muitas obras,
com destaque para temas religiosos, e os códigos
de direito que ditavam padrões de comportamento
social. Outros objetos de estudo eram os provérbios
populares, além da interpretação dos augúrios. Esta
última atividade consistia em adivinhar o futuro e
o desejo dos deuses, a partir da observação dos
fenômenos da natureza. (TERRA, 2014, p. 15)
A antiga escrita cuneiforme era usada primeiramente para
“registros comerciais e a contabilidade de bens. As cidades
sumerianas eram independentes entre si, com autonomia política
e sistemas de leis próprios. A divisão e a rivalidade entre esses
centros permitiu que a região fosse conquistada por um povo
oriundo da Síria “os Amoritas” (TERRA. 2014. P. 13)

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84 História da Educação

Nos seus primeiros tempos, tal escrita era representativa


das formas visualizadas no mundo (pictogramas), e com o
passar do tempo foi evoluindo para as formas mais simples.
Mais adiante, a escrita cuneiforme tomou o curso horizontal,
superando os formatos pictográficos, inseridos na vertical. A
escrita evoluiu para uma possibilidade de ser usada na tabuleta
de barro com estilete, sendo possível fazer grande números
de signos. Depois as tabuletas podiam ser secas em fornos,
tomando um registro definitivo, em uma metodologia que em
nada lembra a nossa era digital, na concretude de seus objetos
usados para produzir a escrita. Seguiu sendo utilizada por
3 mil anos e era de natureza silábica. E, o surgimento de tal
escrita, foi pela necessidade de administrar os palácios, templos,
cobrar impostos, registrar as criações de gado e mensurar as
quantidades de cereais produzidos ou na comercialização. Isso
leva a uma reflexão sobre a objetividade da escrita e seus usos
na vida social. Esta escrita já existia no século XIV a.C. E, por
volta do ano 75 d.C. foi usada, na sociedade mesopotâmica, para
registrar um almanaque astronômico, sobre o movimento dos
astros mensalmente.
O Império Babilônico chegou na mesopotâmia por volta
de 2500 a.C, no momento em que o domínio dos Amoritas
já passava dos 600 anos. E foi na Babilônia que este império
babilônico estabeleceu a sua sede. E seus habitantes passaram
a ser chamados de babilônios. Um monarca notabilizou-se, no
século XVIII a.C, era Hamurabi. Ele uniu “as cidades sumerianas
e incrementou a navegação pelos rios, fomentando o comércio
entre a Alta e a Baixa mesopotâmia. Apesar dessas realizações
ficou mais conhecido por um rigoroso código de leis, em que a
célebre Lei de Talião pregava ‘olho por olho; dente por dente’.”
(TERRA, 2014, p. 13)
Já o Império Assírio, após a morte de Hamurabi e o
declínio babilônico, veio do norte da região mesopotâmica. O
rei Assurbanipal expandiu o território, anexando o Egito. No
campo mais relativo a educação e cultura criou a fantástica

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História da Educação 85

“Biblioteca de Nínive, com seu grande acervo de plaquetas de


argila.” (TERRA, 2014, p. 14).
Já os caldeus insurgiram contra os opressores assírios,
conquistando o poder e retornando a Babilônia a sede do Império,
considerado como o Segundo Império Babilônico (612 a 539 a.C).
O imperador célebre Nabucodonosor transformou a Babilônia
em um dos mais respeitáveis centros comerciais da Antiguidade.
“No plano militar conquistou o povo hebreu, que foi conduzido
do Vale do Jordão para a Babilônia, em um episódio bíblico.
Além disso, construiu suntuosos templos e palácios, um deles
com os famosos ‘jardins suspensos’. ” (TERRA, 2014, p.14).
Após a morte de Nabucodonosor, os persas expandiram seus
territórios e acabaram com a independência da mesopotâmia.
AEducação, de modo similar era influenciada pela oralidade,
nas experiências educativas de muitos territórios da Antiguidade,
um exemplo disso é que a “transmissão do conhecimento na
Mesopotâmia era a tradição oral. O desenvolvimento da escrita
cuneiforme em suas cidades foi um passo importante para a
civilização daquela época.” (TERRA,2014, p. 14)
Foram nos templos religiosos que a invenção e
aperfeiçoamento de tal escrita prosperou. Eram considerados
centros sociais. Educação e religião caminhavam juntos.
Os sacerdotes constituíam uma casta privilegiada
na hierarquia social, acima de camponeses,
guerreiros, artesãos e artistas. Eles eram os
depositários da palavra escrita e disciplinavam
as competências técnicas mais complexas,
como escrever, contar e medir. Com base nessas
operações eram desenvolvidas a literatura, a
matemática, a geometria e astronomia. (TERRA,
2014, p. 14)

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86 História da Educação

Figura 5 : Vista parcial das ruínas da antiga cidade de Babilónia

Fonte: wikimedia commons

Definindo a Educação entre os romanos


Os estudos romanos eram, por essência, humanistas. A
humanitas (como foi traduzido a Paideia, dos gregos, pelos
Romanos) era a “cultura geral que transcende os interesses locais
e nacionais, os romanos queriam universalizar a sua humanitas,
o que acabaram por conseguir com o cristianismo”. (Gadotti,
2003, p. 45)
Educadores romanos agiam para exercer suas práticas de
forma utilitarista e militarista, amparados na disciplina e justiça.
Era a “educação para a pátria, paz só com vitórias e escravidão
aos vencidos.” (Gadotti, 2003, p. 47).
O pai, exercia seu poder, atribuindo obrigações do clã aos
seus filhos. A educação romana, na antiguidade, era inicialmente
doméstica. Já a escola era um espaço de castigos rigorosos, com
uso de varas. E as rotinas escolares eram levadas aos territórios
conquistados pelo poderoso Império Romano. Romanos
foram vitoriosos no seu projeto de romanização, apoiados no
cristianismo para concluir tal intento. (Gadotti, 2003).

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História da Educação 87

No entanto, ao estender seu império e dominar


vastas regiões, essa educação recebeu muitas
influências da educação grega na cultura e na
filosofia, sendo esta a que exerceu maior influência
sobre seus dominadores. Esse intercâmbio cultural
deu-se em todas as frentes, desde a religião, as
artes e letras e a educação. (TERRA, 2014, p. 24)
Gadotti afirma que os romanos tiveram muitos teóricos da
educação. Entre eles, foram notabilizados Catão (234-149 a.C),
que era preocupado com a formação do caráter. Já Varrão (117
- 27 a.C.) era favorável da cultura romano-helênica (influências
gregas), defendendo a virtude romana, a piedade, honestidade e
austeridade. E o Senador Marco Túlio Cícero (106-43 a.C) foi
considerado o pai da pátria. Ele
considerava o ideal da educação formar um orador
que reunisse as qualidades do dialético, do filósofo,
do poeta, do jurista e do ator. O orador encontrava
sua base de sustentação na humanitas. Essa, por sua
vez, vinculava-se ao projeto político de Roma: reunir
os diversos povos num grande Império. Cícero foi o
idealizador do Direito. (Gadotti, 2003, p. 46)
Cícero (103 a.C - 43 a.C), filosofo, orador e
político romano, chamava de humanitas, a cultura
do espírito (chamada Paideia pelos gregos), e
aliava “a educação do ser humano de acordo com
a sua natureza. Com base nas deias de Aristóteles
e Platão das vocações humanas, Cícero enfatiza as
peculiaridades pessoais que devem levar o indivíduo
a escolher sua profissão”. (TERRA, 2014, p. 24)
Cícero defendia que a educação precisava privilegiar a
eloquência, a boa expressão de ideia. “O bom orador seria uma
raridade, pois deveria reunir as qualidades de dialético, filósofo,
poeta, jurista e ator, além de comportamento moral exemplar.
(TERRA 2014, p. 24)

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88 História da Educação

As escolas romanas foram muito valorizadas. Na Roma


antiga, a retórica era muito valorizada, com o passar do tempo. Foi
com o grande Júlio César que tal estudo deixou de ser rechaçada
pelos governantes. Com o passar do tempo, foi se tornando um
estudo vazio, os pensadores passaram a criticá-lo. Assim, surgiu
algo para completar este esvaziamento, as escolas de Direito,
com isso os estudos de Filosofia e Direito foram promovidos a
alta consideração. E dentro das escolas de Direitos foram sendo
instaladas as escolas de filósofos e institutos helenísticos. Não
passaria pela cabeça de ninguém que escolas que ajudavam a
pensar eram obsoletas, em Roma, na antiguidade. Sendo que as
melhores escolas de Direito eram as de Roma e Constantinopla.
Imperador Adriano fundou o Ateneu, como um centro de cultura
superior, encarregando os retóricos e poetas de formar os jovens.
(PILETTI,2012 e TERRA. 2014)
As escolas de Retórica desfrutaram de muito
prestigio em Roma. Com o tempo. A educação
retórica foi caindo num formalismo vazio, e
foi progressivamente substituída pelo direito e
pela filosofia. Junto com as escolas de direito,
multiplicavam-se as escolas de filósofos e os
institutos helenísticos.
O Ateneu, fundado pelo imperador Adriano,
foi um centro de ensino superior que serviu de
modelo para a criação das universidades romanas.
Protegidas e incentivadas por decretos imperiais,
essas universidades eram verdadeiros centros de
pesquisa e educação onde mestres e discípulos
se reuniam em torno das diversas disciplinas.
(TERRA, 2014, p. 25)
Já o sistema de ensino existente no Império Romano
comportava três níveis;
1. as escolas dos ludi magister, correspondendo a educação
elementar.

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História da Educação 89

1. as escolas de gramático, comparáveis ao ensino


secundário ou ensino médio, eram oferecidas aos homens
livres. Os escravos viviam sem nenhuma instrução. As escolas
de gramático eram “estabelecimentos de ensino de educação
terciária, que iniciavam com a escola de retórico e que, após
acolher o ensino de Direito e de Filosofia, se transformaram
numa espécie de universidades.” (PILETTI, 2012, p. 39)
a. humanitas era oferecida na denominada escola do
gramático. Seguindo as fases de:
b. Ditado de partes de um texto, com intenção de exercitar
a ortografia.
c. Memorização de tais trechos.
d. traduzir verso para prosa e prosa para verso.
e. expressar uma mesma ideia com construções diferentes.
f. analisar palavras e frases
g. Composição literária
1. Ensino Superior, evoluindo das escolas de retórica,
associando os ensinos de direito e filosofia, e virando
universidades.
As universidades romanas surgiram com o
objetivo de reunir, além das diversas disciplinas,
os mestres e discípulos que a eles se dedicavam.
Logo se percebeu as vantagens que essa
reunião representava. Tanto que elas serviram
de modelo para o que mais tarde se chamou de
universitas litterarum (universidade do saber).
Assim que foram organizadas, os imperadores as
protegeram através de decretos que asseguravam
sua estabilidade e a formação de professores e
pesquisadores. E, ao mesmo tempo, multiplicaram-
se as bibliotecas, tão importantes para o ensino
superior. (PILLETI, 2012, p. 39)

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90 História da Educação

Os imperadores romanos não estavam preocupados


somente com as universidades. Eles estavam atentos ao ensino
elementar, no que aconteciam nas escolas elementares e eram
oferecidos aos meninos desamparados. “O imperador Nero
forneceu, inclusive, alimento aos meninos e meninas de pais
pobres em diversas cidades. O imperador Trajano fez a mesma
coisa. O imperador Juliano organizou um sistema rudimentar de
inspeção escolar por parte do Estado.” (PILETTI, 2012, p. 39)
Figura 6: Antiga tabuleta de cera romana com estiletes

Fonte: wikimedia commons

Havia uma preocupação dos imperadores romanos em


difundir a educação, nas mais diversas províncias, e em levar a
educação para além de Roma e de Constantinopla, pela África
do Norte, Gália Meridional e Espanha. (TERRA, 2014).
A Espanha, por exemplo, teve numerosas escolas e
produziu grandes nome do conhecimento, tais como
Sêneca, Quintiliano, Marcial, Trajano e outros. Na
África do Norte, Utica, Madaura e Cartago tiveram
escolas famosas. Marcaino e Santo Agostinho são
provas disso. Mas foi na Gália Meridional que
floresceram as melhores escolas provinciais. Lá
surgiram grandes mestres que, inclusive, rivalizavam
com os sábios romanos. (PILETTI, 2012, p. 39 e 40)
Sêneca (viveu entre os anos 2 e 66 d.C.). Nascido em
Córdoba. Viveu em Roma, atuando lá como o preceptor do
célebre Imperador Nero. Suas ideias pedagógicas partiam da
individualidade do educando. “Ele, como Cícero, aconselha
que o mestre considere a psique frágil e complexa do aluno.

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História da Educação 91

Caso contrário, a educação não alcançará o objetivo que, na


sua proposta, seguindo os estoicos, é a libertação das paixões
e a harmonia com a natureza” (Piletti, 40). Nesta perspectiva, a
educação deveria ser prática, educando para a vida. Não deveria
ser dissipada a preocupação com a formação moral e o respeito
pelos outros. Educar moralmente os jovens é dar bons exemplos,
mais potentes que preceitos. Sêneca valorizava a cultura do
corpo, cuidar do corpo com a finalidade da boa saúde, praticando
uma ginástica inspirada nos gregos.
Bemvenuti (2012) comenta que ao dominar a Grécia, os
romanos viram a fusão de sua cultura com a cultura grega. O
grego se torna a língua do comércio e diplomacia romana e surgem
escolas dirigidas por educadores gregos para complementar a
educação doméstica. Ocorreu uma difusão da cultura da Grécia
Antiga em Roma (helenização), incorporando a ciência, filosofia,
arte e educação gregas, e, posterior ao comando dos mestres
gregos nas escolas romanas. Tal assimilação da cultura romana aos
gregos, não abalou o utilitarismo e praticidade romana, levando
a uma educação pragmática, utilizando métodos empíricos dos
romanos, e com demasiado uso da disciplina. Já Plutarco, outro
notável educador romano, defendia que a educação doméstica
deveria acontecer na formação elementar. E as escolas superiores
nunca deveriam despreocupar com a formação do caráter de seus
alunos. (Piletti, 2012)

SAIBA MAIS

Conheça mais sobre a educação na Roma Antiga, com este


vídeo, feito a partir da leitura de Aníbal Ponce - Educação e Luta
de Classe. O vídeo foi feito por alunos que leram este texto,
dublaram e editaram em um vídeo empolgante e esclarecedor.
No seguinte link: http://bit.ly/2OOK0SC

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92 História da Educação

Definindo a Educação entre os gregos


Os gregos, na antiguidade, viviam em uma sociedade
estratificada, com fácil circulação comercial entre o ocidente e o
oriente. Habitavam o denominado e importante berço civilizatório,
cultural e educacional do ocidente. Gadotti esclarece o papel de
Esparta e Atenas:
Começaram por perguntar o que é o homem. Duas
cidades rivalizaram em suas respostas: Esparta e
Atenas. Para a primeira o homem devia ser antes
de mais nada o resultado de seu culto ao corpo -
deva ser forte, desenvolvido em todos os sentidos,
eficaz em todas as suas ações. Para os atenienses,
a virtude principal de um homem devia ser a luta
pela liberdade. Além disso, precisava ser racional,
falar bem, defender seus direitos, argumentar. Em
Atenas, o ideal do homem educado era o orador.
(Gadotti, 2003, P.29)
Ao homem grego livre era exigido que os ensinos
estimulassem “a competição, as virtudes guerreiras, para
assegurar a superioridade militar sobre as classes submetidas e
as regiões conquistadas. O homem bem-educado tinha de ser
capaz de mandar e de fazer-se obedecer”. (Gadotti, 2003, P.
29) A educação, preparava futuros governantes, com diálogo e
liberdade de ensino, privilégio, exclusivo dos gregos livres.
A Grécia, na Antiguidade, avançou na educação. Gadotti
(2003) lembra que a paidéia, era uma educação integral dos gregos
livres, consistindo na integração entre a cultura da sociedade e
a criação individual de outra cultura, numa influência recíproca.
Os gregos criaram uma pedagogia da eficácia individual e,
concomitantemente, da liberdade e da convergência social e
política. (Gadotti, 2003, P. 30). Foram capazes de integrar,
educação e arte. Valorizaram as artes, ciências, literatura e filosofia.
A educação dedicada ao homem integral valorizava a “formação
do corpo pela ginástica, na mente pela filosofia e pelas ciências,

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História da Educação 93

e na da moral e dos sentimentos pela música e pelas artes. Nos


poemas de Homero, a ‘bíblia do mundo heleno’, tudo se estudava:
literatura, história, geografia, ciências, etc.”. (Gadotti, 2003, P.30)
Os gregos influenciaram enormemente a cultura ocidental,
com aspectos importantes da fantástica civilização que
desenvolveram. É tão vultuosa esta participação que até hoje seus
pensadores são lidos, tais como Aristóteles, Sócrates e Platão.
É na Grécia Antiga que surgem filosofia, história, olimpíadas,
poesia, teatro, mitologia, a democracia é invenção grega, assim
como os colégios.
Platão julgava que a questão educativa surge da iniciativa
política, “sua proposta é saber de que competência depende a
política e qual educação dar aos cidadãos. A política é a finalidade
dos princípios educativos de Platão.” (Marondi, 2008, p.36). E
Sócrates usava o seu método de educar, a maiêutica, encarregado
de “fazer nascer os espíritos dos pensamentos naqueles que os
possuem sem o saber” (Morandi, 2008, p.36). Este método agia,
através de indagações do mestre, com sucessivas indagações aos
aprendizes. Sócrates defendia que “o conhecimento nada mais é
do que uma recordação.” (Marondi, 2008, p. 37).
Os Sofistas viveram entre os séculos V e IV a.C e eram
vistos como educadores profissionais viajando constantemente
pelas cidades gregas, na antiguidade, foram imortalizados na
realização discursos chamativos de novos discípulos. No século
V a.C, os sofistas “desenvolveram uma intensa vida cultural
e educacional. São considerados os primeiros pedagogos,
ocupavam-se do ensino itinerante e recebiam pelos ensinamentos
ministrados. ” (TERRA, 2014, p. 20).
Eles ensinavam encarregados arte da política, aos homens
livres. Foram os desenvolvedores da dialética, “arte argumentativa,
possibilitando a vitória em qualquer debate” (Morandi, 2008,
p. 36). Ensinavam retórica, a arte de falar, a persuasão, arte de
convencer, preparavam os futuros políticos a arte de argumentar
contra ou a favor sobre os mais variados assuntos.

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94 História da Educação

Figura 7: PROTÁGORAS DE ABDERA (485 – 411 a. C)

Fonte: wikimedia commons

O século V a.C foi marcado por inovações na educação


grega, graças aos seus grandes pensadores.
Os objetivos, métodos pedagógicos e conteúdos
didáticos sofreram influência das reflexões de
filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Por
outro lado, a organização do sistema educacional
inicia sua evolução desde o ensino particular na
casa paterna até a escola de Estado, mantida pelas
contribuições financeiras de particulares, cidades
e soberanos. Quando a cidade-estado, a polis,
assumiu diretamente a tarefa da instrução foi
estendido não só aos meninos livres, mas também
as meninas, pobres e até escravos, o que se
mostrou revolucionário, levando-se conta a época
em que essas medidas foram tomadas. (TERRA,
2014, p. 20)

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História da Educação 95

Os gregos creditavam ao conhecimento um instrumento


para elevar o indivíduo e seus primeiros educadores eram poetas.
A escola não era único espaço educativo. A cidade era educativa
com suas reuniões políticas, administrativas e jurídicas. Tanto
quanto com seus os jogos, sua arquitetura, suas representações
dramáticas e suas artes. (BEMVENUTI, 2012, p.21)
Os espartanos foram influenciados pelos asiáticos. Já a
educação ateniense realizou plenamente os ideais do humanismo
grego. Os atenienses amavam as artes e as ciências. E lá se deu
uma ampla liberdade para aprender e ensinar. A educação física
ou ginástica e a educação intelectual ou da música. (Bemvenuti,
2012 e Brougère, 1998). Aos sete anos a criança era entregue a
responsabilidade de um pedagogo (em geral um escravo idoso)
e com ele ia a escola e recebia dele algumas lições.
Agon era a assembleia para jogos públicos tais como lutas,
jogos ginásticos e os prezados concursos. Os concursos eram
importantes na civilização grega. Os jogos (paidia) constituem
a mola fundamental da educação (paideia) durante toda a vida.
Os gregos acreditavam que a virtude é adquirida nos concursos
(competições), festas e jogos. (Brougère, 1998.)
Os jogos olímpicos iniciaram provavelmente no século
X a.C. e com vestígios encontrados no século VIII a.C. Há
inscrições dos nomes dos vencedores no ano 776 a.C. (conforme
Brougère, 1998 e Bemvenuti, 2012) e aconteciam em um festival
religioso e atlético, a cada quatro anos no santuário de Olímpia,
dedicado a Zeus. E tais jogos tomaram o nome de Olímpiada,
marcada pelo cessar de Guerras. Educação e jogos estão bem
vinculados, entre os gregos.
Os jogos olímpicos teriam a função de reanimar a
natureza. Esporte e mitologia se confundiam na Grécia antiga.
As disputas ocorriam em honra aos deuses e heróis gregos. A
Paideia (educação) era impossível sem a educação física. Os
jogos olímpicos reuniam a população em diversas cidades.
Os atletas mais importantes eram heroicizados e tiveram seus
nomes gravados no muro do estádio em Olímpia. (Rubio, 2009).

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96 História da Educação

Rubio (2009) comenta que os atuais jogos Olímpicos


iniciaram em 1896, na Grécia, na cidade de Atenas e acontecem
ainda hoje a cada 4 anos. Na Idade Antiga foram proibidos
após serem considerados pelo Imperador Teodósio (unificador
das partes oriental e ocidental do império romano e o último
imperador a governar todo o mundo romano) uma festa pagã,
graças ao pedido do Bispo de Milão, San Ambrósio, em 394 d.C.
“A pedagogia socrática baseia-se nas reflexões sobre a natureza
e o sentido da educação, girando em torno dos objetivos que
se espera alcançar com a formação e a instrução dos jovens.”
(TERRA, 2014, p.21) Platão entendia que “o conhecimento é
um esforço da alma para se apoderar da verdade, e não algo que
venha de fora para o homem. Portanto, a educação consiste na
atividade cada homem desenvolve para conquistar as ideias e
viver de acordo com elas.” (TERRA, 2014, p. 22).

SAIBA MAIS

Para saber mais a importância de das ideias de Sócrates para a


educação, veja o vídeo (um pouco mais de sete minutos), narrado
com desenho animado, no link: http://bit.ly/33Gl4Rv. E para
saber mais sobre a influência de Platão para a educação, veja
outro vídeo (também pequeno, só um pouco mais de 8 minutos),
no seguinte link: http://bit.ly/31hvPId

Relembrando a educação na era cristã


A verdade é que a educação medieval foi praticamente
um monopólio da Igreja Católica. Foram intensos tempos de
dominação dos ideários cristãos na educação. “Durante um
bom tempo, os representantes eclesiásticos controlavam os
procedimentos relativos às formas de transmissão, bem como os

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História da Educação 97

processos de concessão de licença para ensinar”. (VEIGA, 2007,


p. 18). Sendo assim, as questões sobre educação dependiam dos
desejos da Igreja para ela.
Os mosteiros, por um bom tempo, eram os singulares espaços
educativos da época medieval. Para lá eram encaminhados os
que decidiam ter uma vida religiosa, com uma conduta rígida a
ser estritamente respeitada. Alguns leigos iam para tais espaços
cristãos, com o intuito de receberem educação. E lá pelos 18 anos
tinham que decidir, casar ou seguir o sacerdócio (QUEZADA,
2012). E tais mosteiros medievais foram essenciais para a
cópia e preservação de livros e manuscritos antigos, já que se
dedicavam extremamente à educação.
A educação das crianças era também uma ocupação
educacional da Igreja. Já que com o passar do tempo foi ficando
definido que as crianças, os filhos do povo deveriam estudar. Era
comum perceber “nas paróquias ou nos mosteiros, um tratamento
diferenciado para as crianças; as regras, aliás, previam uma
abordagem afetuosa com elas. No entanto o sadismo pedagógico
era o método mais comum, isto é, a aplicação de castigos físicos
perante os erros dos pequenos”. (QUEZADA, 2012, p. 31). Era
difundida uma pedagogia que agia menos pela persuasão e mais
pelo castigo corporal, tão condenado nos tempos contemporâneos.
Este quadro de monopólio da educação, orquestrado
pela Igreja, só vai começar a mudar lá pelo século XII, com a
dinamização das cidades, e os sucessivos questionamentos dos
seus habitantes sobre a gestão das cidades, entregues aos nobres
ou bispos, que
pôs em xeque o poder dos bispos como adminis-
tradores das cidades trouxe também conflitos para
administração do ensino. Surgiram tensões entre
os representantes locais da Igreja e a comunidade
de mestres e alunos. Dessa maneira também estes
vão se organizar para a administração autônoma
de seus estudos. (VEIGA, 2007, p. 18)

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98 História da Educação

Para compreender a dimensão gigantesca das práticas


religiosas cristãs para a educação medieval, na chamada Era
Cristã, é necessário lembrar o decorrer da formação da Igreja
Católica Romana, nos tempos medievais, em um
período em que a organização político-social em
feudos senhoriais não favorecia as trocas comerciais,
muito menos o intercâmbio cultural. Os povos
quase não se encontravam e quando isso acontecia
nem sempre era amistoso. Além disso, a inquisição
católica costumava “purificar” pelas chamas os
hereges que ousavam rezar por outro catecismo. Por
todas essas dificuldades, a Idade Média costuma ser
descrita como “tempos das trevas”, o que talvez seja
um exagero. (TERRA, 2014, p. 04).
Nas organizações sociais ocidentais, a Igreja Católica foi
instalada como uma mediadora cultura, antes de qualquer outra
função, primordialmente. Negando sobremaneira as influências
greco-romanas, na base desta doutrina havia a negação de
muitos valores próprios desta tradição cultural greco-romana,
“especialmente em relação aos desejos terrenos e materiais -
a concepção de vida cristã pregava valores espirituais que se
centravam na existência de um salvador virtuoso para os males
provocados pela devassidão e o apego à vida terrena”. (VEIGA,
2007, p. 18).
Foi necessário para este esquecimento de valores que
não fossem cristãos criar um ideário potente para produzir
uma pedagogia cristã capaz de elevar as mentes aos desígnios
da doutrina cristã católica medieval. O certo é que a história
comprova que
a expansão do cristianismo não se fez sem uma
pedagogia mediadora expressa em rituais, cantos,
arquitetura dos templos, poderes locais, pregações
e sermões, mas também em escolas fundadas pela
Igreja. Contudo, esse movimento de doutrinação

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História da Educação 99

manteve algumas tradições da Antiguidade Clássica


e da cultura pagã que correspondiam à necessidade
de ordenar a sociedade cristã. São exemplos a
organização hierárquica da Igreja, a manutenção
do latim como língua oficial da cristandade e a
estruturação dos estudos. (VEIGA, 2007, p. 18)
O latim foi constituído como a língua das liturgias cristãs,
no século IV, e difundida pelos papas, tribunais eclesiásticos,
conselhos da Igreja, de forma ampla nas mais diversas instâncias
do catolicismo cristão, não ficando de fora das práticas educativas.
Assim, era “por um longo período histórico, a estrutura
linguística escolhida para dar significado à doutrina católica”
(VEIGA, p. 18). Isso provocou uma intensa contribuição do
latim na formação e muitas línguas consideradas latinas, na
imensidade de etimologias que explicitam que palavras tão
usuais, na contemporaneidade, são de origem latina.
O latim virou língua sagrada, a língua da Igreja, a língua
para onde foram redigidos e transmitidos, de forma oral, suas
verdades, suas normas e seus cânones de fé. Até mesmo os
textos clássicos escritos em grego, na antiguidade, receberam
suas traduções e recortes do grego, ao latim. (VEIGA, 2007)
A educação cristã representou o resultado da forte presença
da Igreja Católica Romana, nos tempos medievais. Controlava o
ensino, a cultura latina, a preservação da arte e da escrita, além
de ter controle sobre todos os segmentos sociais. Após a queda
do Império Romano, passou a exercer o poder político, por meio
de um estatuto que estabeleceu o direito canônico, aplicado
pelos bispos. Entre vários filósofos, teólogos, pedagogos da
Idade Medieval, é impossível não destacar Santo Agostinho
(354 -430) e São Tomás de Aquino (1225-1274).
Santo Agostinho (354-430) nasceu na Argélia, África,
foi professor de Retórica em Tagaste, Cartago, Milão e Roma.
Conheceu o cristianismo e foi batizado junto com o filho (que
morreu aos 17 anos). Santo Agostinho representava o modelo de

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100 História da Educação

inteligência cristã, ele agiu em nome da apropriação da Grécia pelo


cristianismo. Foi habilidoso em lidar com conceitos originários da
filosofia grega, conciliando-os as crenças da fé cristã. Um exemplo
deste hábil exercício, é sua obra pedagógica De Magistro (que
podemos traduzir como O professor), em que ele se amparava na
visão de Platão para tratar do processo de ensino. Ele defendia que
o órgão potente para todo aprendizado era o logus (mestre interior
ou autoeducação), iluminado sempre por Deus, usando palavras e
sinais para comunicações. (PILETTI, 2012)
Figura 8: Santo Agostinho

Fonte: wikimedia commons

Depois virou sacerdote e bispo de Hipona. Habilidoso


pensador, teólogo e filósofo, no fim da antiguidade e começo
da Idade Média. Em suas obras pedagógicas defende “a ideia de
que, com toda necessidade humana, também a aprendizagem,
em última instância, só pode ser satisfeita por Deus. Em sua
pedagogia, recomendou aos educadores jovialidade, alegria, paz
no coração e as vezes também alguma brincadeira”. (GADOTTI,
2003, p. 59).

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História da Educação 101

Na obra pedagógica, denominada De magistro, defende


que Jesus Cristo ensinava interiormente e o homem revela tal
aprendizagem, exteriormente, por suas palavras. Defendia a
importância dos livros sagrados, que segundo ele continham
verdades importantes. E conclamava que ninguém é mestre na
terra, somente é Mestre aquele que está no céu. Revelado isso é
preciso amá-lo.
A pedagogia agostiniana é baseada no pensamento
filosófico de Santo Agostinho, E tal filosofia era baseada na
fé e ética cristãs, em plena Era Cristã. Educar só poderia ter
como objetivo final a conquista da paz e da alma. E considerava
essencial oferecer às crianças e aos jovens conhecimentos de
leitura, escrita, cálculo, gramática, retórica, dialética, geometria,
filosofia e teologia.
Santo Agostinho exerceu forte influência sobre a
pedagogia patrística. Ele escreveu De magistro,
obra na qual destaca o logos, ou mestre interior.
Para ele, a disciplina cristã poderia ajudar o ser
humano na sua situação de conflito existencial.
A finalidade da existência do ser humano seria o
desfrute de Deus. Os objetivos práticos da vida
terrena teriam apenas valor de uso. O cristianismo
passou então a ser entendido como um meio de
disciplina e a pedagogia como um processo de
contemplação. (TERRA, 2014, p. 28).
Santo Agostinho considerava que os fracassos das
crianças nas escolas eram causados pela pouca capacidade
do mestre, pela monotonia repetitiva de conhecimentos,
problemas de inteligência ou desatenção do aluno. O aluno, na
pedagogia agostiniana possui um vigoroso lugar de construtor
de conhecimento. Era necessário evitar a transmissão de
conhecimentos que mantém os alunos passivos. “O mestre
deveria se limitar a indicar o caminho; o aluno é que deveria
percorrê-lo”. (TERRA, 2014, p. 28).

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102 História da Educação

A educação cristã medieval tinha textos censurados


e selecionados cuidadosamente, já que não havia desejo de
transmissão dos escritos greco-romanos como sistema filosófico,
pelo simples fato que estes dois sistemas de pensamento, o
greco-romano (da antiguidade, dos filósofos antes de Cristo, de
Platão, Sócrates e Aristóteles) e o Cristão medieval, da revelação
cristão e da promessa que a felicidade não era deste mundo, mas
era celestial. Tanto cuidado, complicada elaboração e estrita
vigilância e controle trouxeram diversos conflitos enfrentados
pelo cristianismo.
Os escolásticos, denominação para os clérigos
vinculados ao ensino. Eles introduziram para o
estudo da língua latina o procedimento de retirar
dos textos da Antiguidade Clássica apenas de
trechos em que se evidenciava o aspecto formal da
língua ou modelos de estruturação da ordenação
lógica do discurso como matéria de reflexão e
ensinamentos. (VEIGA. 2007, P.18).
Os escolásticos foram escolhidos para dirigir as escolas
cristãs medievais, vinculadas aos estabelecimentos religiosos, sob
o comando de bispos ou abades. O que faz lembra um conhecido
ditado popular brasileiro: Não está contente, vai reclamar para o
bispo. Restava a obediência das regras constituídas pela Igreja,
na Era Cristã. “Chega o momento em que a cultura escolástica
confirma-se como dominante no Ocidente europeu, podendo-se
afirmar que o conteúdo da educação já estava significativamente
transformado por essa nova cultura” (QUEZADA, 2012, p. 32).
Foram surgindo escolas, dentro das instituições religiosas cristãs.
Com o aparecimento de um número maior de
escolas nas paroquias urbanas, houve uma
certa universalização da educação, e as classes
subalternas, historicamente excluídas, passaram
a ter acesso a essas instituições. Essa foi a nova
ação da Igreja para fortalecer um processo muito
mais de aculturação que de instrução, porém

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História da Educação 103

isso representa um salto relevante, se comparado


à situação de não haver nenhum tipo de
sistematização da cultura e nenhum meio formal de
convívio e participação nas vivências nas escolas.
Essas eram escolas canônicas do clero secular das
cidades, regidas por regras administrativas bem
organizadas e que marcaram a entrada do reino
carolíngio. (QUEZADA, 2012, p. 32)
Entre os séculos X e XI prosperou a procurar por conhe-
cimentos, ampliando enormemente a quantidade de mestres,
escolas e alunos.
A revitalização urbana, fruto do encontro e
cooperação entre pessoas de várias origens
e profissões, criou um ambiente propício à
identificação das pessoas com o mundo material
e com a ideia de enriquecimento, bem como para
trocas intelectuais. Por sua vez, as Cruzadas
permitiram intensa, mobilidade social e trocas
entre o Ocidente e o Oriente. Destaca-se ainda, no
século XII, o incremento no número de tradutores
e a tradução de obras clássicas, o que fez aumentar
o número de textos em circulação, mesmo que
restrita. (VEIGA, 2007, p. 20)
A procura intensa por novos conhecimentos, escolas e
mestres, levou os clérigos (sacerdotes, padres, sacerdotes, etc.)
e não clérigos as funções docentes, não somente nas escolas
episcopais. Um exemplo de escola famosa é a catedral de
Notre Dame, em Paris (que comoveu o mundo contemporâneo,
em um incêndio que aconteceu próximo da páscoa cristã, em
2019). Era tão intenso o movimento de procura para estudar lá,
por conta da localização privilegiada, isso frustrava os que não
alcançavam uma vaga, mas não os impediam de estudar. “Os
que não conseguem vaga nessa escola procuram outros mestres,
tudo sinaliza a perda do controle da igreja quanto aos processos
de ensino e regulamentação da profissão” (VEIGA, 2007, p. 20)

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104 História da Educação

A grande procura por mestres, e o número grande de


alunos, motivaram a necessidade de regulamentar, através de
autorizações para clérigos ou para leigos conseguirem montar
suas escolas, fora das catedrais medievais. As casas dos mestres
acolhiam estes alunos (não é incomum na história da educação
no Brasil esta realidade que perdurou, em lugares distantes, das
grandes cidades até o século XX). Assim, em tempos medievais,
foi necessário determinar os licenciamentos, bem como iriam
orientar os novos mestres, que passavam por um ritual de
iniciação (incepcio), havendo a necessidade de ministrar a sua
primeira aula, com o bispo presente. Só depois deste momento é
que receberia a licencia docendi (licença para lecionar, licença
docente), começando a lecionar. (VEIGA, 2007).
Sendo assim, a autonomia universitária era relativa, já que
a Igreja centralizava o poder político, nos tempos medievais. E
“os papas foram bastante astuciosos para acolher as corporações
universitárias, na medida em que nelas identificaram o papel de
centros da cristandade: o doutor de uma universidade deveria
ser também um doutor da Igreja”. (VEIGA, 2007, p. 20).
Levando ao estabelecimento de proteções e privilégios dos que
entravam para cooperações, existindo até rendas eclesiásticas
que garantiam pagamentos dos mestres.

SAIBA MAIS

Para entender um pouco mais sobre o assunto, leia o artigo,


Cristianismo e Educação - Uma abordagem histórica da
pedagogia da catequese, de Léo Antonio Perrucho Mittaraquis.
No seguinte link: http://bit.ly/2IWPC9t

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História da Educação 105

Definindo a educação na idade média:


práticas educativas; educação feminina e
dos cavaleiros; educação nas corporações
de ofícios; a educação cavalheiresca
Atualmente já foi consolidada a participação feminina na
educação, de professores de crianças às grandes cientistas, as
mulheres brasileiras atuais são muito diferentes das mulheres
medievais. A Educação na Idade Média apresentou práticas
diversas, voltadas prioritariamente aos homens, seja na formação
dos cavaleiros e na imensa quantidade de corporações de ofício
que tiveram imenso papel, nos tempos medievais, tanto nas
suas práticas profissionais como nas formações de jovens nos
diversos ofícios.

Definindo a Educação na Idade Média


A Idade Antiga ou Antiguidade é o longo período
compreendido da invenção da escrita (por volta dos 4000 a.C.)
a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.). Abrange a
existência dos relevantes povos da Europa, do Oriente Próximo
(precursores das civilizações mediterrâneas, incluindo Roma),
os nossos Pré-colombianos da América (Incas, Maias e Astecas),
o período chinês que vai até a chegada da Dinastia Chin (200
a.C.) e no Japão com o fim do período Heian em 1185 d.C.
A Idade Média é o período entre o ano de 476 d.C. até
1453, quando acontece a conquista de Constantinopla pelos
turcos otomanos e consequentemente a queda do Império
Romano do Oriente. A Alta Idade Média (Entre os séculos V
ao XII) e Baixa Idade Média (entre os séculos XII a XV) foram
os tempos em que viveram importantes impérios carolíngio,
bizantino e muçulmano. (QUEZADA, 2012). O começo dos
tempos medievais surge com a decadência do Império Romano e

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106 História da Educação

as denominadas invasões bárbaras limitaram a influência greco-


romana. “Uma nova força espiritual se sucedeu à cultura antiga,
preservando-a, mas submetendo-a a seu crivo ideológico: A
Igreja Cristã.” (Gadotti, 2003, p. 54).
Caracterizada por um modo de existir baseado na
agricultura, o feudalismo medieval, era montado com grandes
latifúndios, as terras dos senhores feudais, recebidas dos reis.
Quem realmente trabalhava na terra, os servos, deviam pagar
pelo uso da terra de tais senhores feudais. Assim, é possível
afirmar que era bem difícil ser servo, e muito vantajoso ser senhor
feudal. Isso já denúncia que os tempos medievais são tempos
restritos, dos pontos de vista cultural, social e econômico. Além
disso, foram tempos de muitas invasões bárbaras e doenças que
mataram grande número de habitantes medievais. (Quezada,
2012).
Somente no século XIX, o concílio Lateranense, de 1179,
foi convocado por Alexandre III, determinando que cada catedral
estaria obrigada trazer um mestre para ensinar, gratuitamente,
aos clérigos e aos pobres, assim os pobres aprenderiam a ler
e poderiam avançar nos estudos. Em cada igreja ou mosteiro,
deveria haver escolas. Esta tradição viajou pelo tempo e espaço,
no Brasil, cidades como Salvador, São Paulo, Olinda tinham os
seus colégios, ao lado das igrejas. Isso é tão evidente que na
colonização do Brasil eram os jesuítas os percussores do ensino
colonial, para segmentos mais favorecidos no Brasil.
A educação do homem medieval foi condicionada a
pregação apostólica, presente no século I d.C. A educação
medieval fundiu fé cristã e doutrinas greco-romanas.
Representante deste pensamento Santo Agostinho dizia que o
lúdico era fortemente educativo e força impulsora de curiosidade
sobre o mundo e a vida, impulsionando a descoberta e a criação.
Os homens nobres ganhavam formação musical, guerreira e nas
artes liberais, tais como atirar com arco e flecha, caçar, jogar
xadrez, lutar, cavalgar e fazer versos. (Bemvenuti, 2012).

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História da Educação 107

O clero e a nobreza eram encarregados de sua própria


educação, e o que se buscava como ideal “ era o perfeito
cavaleiro com a formação musical e guerreira, experiente nas
sete artes liberais: cavalgar, atirar com o arco, lutar, caçar,
nadar, jogar, xadrez e versificar. A profissão da nobreza
consistia apenas em cuidar de seus interesses, que se reduziam
à guerra”. (GADOTTI, 2003, p. 58). Já aos escravos só restava
a educação oral, passada de pai para filho, “apenas herdavam a
cultura da luta pela sobrevivência. As mulheres, consideradas
pecadoras pela Igreja, só podiam ter alguma educação se fossem
‘vocacionadas’ (vocare; chamar) para ingressar nos conventos
femininos)”. (GADOTTI, 2003, p. 58). Assim, podiam estudar
um pouco, já que as moças ricas, com terras para herdar, eram
as preferidas para o chamado à vida religiosa. Isso explica o fato
de Igreja ter se tornado em forte latifundiária mundial, pois foi
juntando as terras de padres e freiras, ricos filhos dos nobres. E
os conventos “eram poderosas instituições bancárias. No interior
dos conventos a divisão de classes continuava existindo: de um
lado os senhores (priores, reitores, etc.) e de outro os servos
(freiras, frades, menores, coadjutores, etc.)”. (GADOTTI, 2003,
p. 58). Não havia preocupação com a educação física, o corpo
precisava ser dominado e sujeitado, já quer era visto como
pecaminoso.
No século XIII as universidades vão se solidificar e expandir,
apoiadas nas ajudas do Papa e dos reis, que as regulamentaram.
E forma surgindo universidades em Salamanca, Roma, Nápoles,
Viana Praga, Cracóvia, “originalmente, as universidades
resultaram da confluência espontânea de clérigos de várias
origens para ouvir aulas de algum mestre famoso”. (PILETTI,
2012, p. 57). As universidades, primeiras organizações liberais
medievais, foram criadas nas seguintes cidades francesas:
Heidenberg, Oxford, Salerno, Bolonha e Paris.

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108 História da Educação

Figura 9: uma reunião de doutores na Universidade de Paris

Fonte: wikimedia commons

Em 1290, em Lisboa, Portugal, foram organizados cursos


superiores de medicina, artes e direito. E, em 1380, a de teologia.
Alternando a sede desta universidade, entre as cidades de Lisboa
e Coimbra. Além da criação dos colégios de Artes de São Paulo
e Colégio de São Pedro, para realizar as tarefas de ensino,
pensionato e assistência. Estes fatos reunidos representam duas
novidades aparecidas entre os séculos XII e XIII,

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História da Educação 109

a criação das universidades (corporação de


mestres e alunos) e as organização e proliferação
de colégios como lugar de formação de letrados.
Mas é importante ressaltar que as definições
de universidade, faculdade e colégio possuíam
naquele tempo outra significação. Como veremos,
elas traduziam uma organização diferenciada
e evidenciada nos seus métodos, disciplinas e
saberes. (VEIGA, 2007, p.16)
Universidades configuravam como centros para buscar a
universalidade do saber:
Iniciaram no século XIII, com o desenvolvimento
das escolas monásticas, a organização gremial da
sociedade e o vigor da ciência trazida pelos árabes.
Permitiram à burguesia emergente no final da
Idade Média participar de muitas vantagens que
até então só pertenciam ao claro e à nobreza. Todos
os seus membros eram ricos. As universidades
desenvolveram sobretudo três métodos intimamente
relacionados: as lições, as repetições e as disputas.
Elas representaram (e representam ainda hoje)
uma grande força nas mãos das classes dirigentes.
(GADOTTI, 2003, p. 59
Colégios e universidades, as novas formas escolares
medievais, estão associados a reurbanização da Europa, entre
os séculos X e XI. Com seus centros urbanos revitalizados, o
concomitante aumento das instituições que se ocupavam em
transmitir conhecimentos, surgiram necessidades como a de
dispor textos escritos, para dinamizar estes novos modos de
sociabilidade, alimentada pela busca de conhecimentos. Estas
cidades eram cercadas por muralhas, reunião vilas ao seu redor,
comandadas por bispo ou um nobre, “nos arredores fixaram-se
os subúrbios e parte das atividades agrícolas, além das oficinas
dos artesãos, ateliês e corporações”. (VEIGA, 2007, p.16).

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110 História da Educação

Estas corporações também buscaram o aperfeiçoamento


e a formação de novos membros que aprenderam seus
ofícios. E existiam os mercadores, banqueiros, funcionários,
clérigos, trabalhadores que não estavam associados a nenhuma
corporação, além de agricultores e artesãos (VEIGA, 2007). Em
cidades, como Paris, haviam ainda os nobres e representantes da
Igreja católica.
Ainda nos principais centros urbanos torna-se
cada vez mais comum a presença de estudantes
e mestres. As cidades eram, pois, espaços de
trocas múltiplas - materiais, afetivas, espirituais,
intelectuais - que se davam nas festas, mercados,
tabernas, igrejas e escolas, não sem conflitos e
discriminações. Também a partir das necessidades
urbanas abriram-se novas carreiras profissionais.
(VEIGA, 2007, p. 17).

SAIBA MAIS

Veja o vídeo sobre a relação entre a Escolástica e o Surgimento


e a Importância das Universidades, no seguinte link: http://bit.
ly/2IWPmrj

Definindo a educação na Idade Média:


Educação feminina e dos cavaleiros
O vasto período da Idade Média não ofereceu para as
mulheres amplos espaços para a educação. Elas eram preparadas
para cuidar dos lares, filhos e maridos, com exceção de algumas
mulheres que iam estudar nos mosteiros, religiosas ou não, mas
providas de bens.

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História da Educação 111

As mulheres medievais estavam bem distantes


das escolas, com raras exceções. Ficavam
intensamente restritas as casas e preparando
para assumir os papeis tradicionais femininos.
Desempenhavam basicamente o tradicional papel
de filhas, esposas e mães. Ao se casar, a mulher
tornava-se a responsável pela manutenção do lar,
sendo essa sua principal atribuição. Essa condição
foi herdada de épocas anteriores, mas apresentava
variações de uma sociedade para outra.
No judaísmo, a mulher era totalmente subordinada
ao marido. No paganismo romano, anterior ao
modelo cristão, a mulher tinha o status de uma
menor, sendo impedida de participar de certos
atos jurídicos sem a permissão do marido.
O casamento na Idade Média ocorria quando
as mulheres eram ainda muitos jovens, o que
determinava o domínio completo do esposo, e
inclusive a perda dos direitos legais que a mulher
possuía quando solteira. Era dever do chefe da
família vigiar e controlar a vida das mulheres que
viviam sob sua tutela“ (TERRA, 2014, p. 32).
As definições hierárquicas dentro da família e no casamento
mudavam entre as regiões e as diferentes classes sociais. A
mulher camponesa até parecia ser mais livre que as nobres.
Nas classes populares, como os camponeses,
a situação da mulher era igualitária frente ao
homem. Em algumas aldeias era comum se
encontrar camponeses solteiras ou casadas como
chefes (anciãs) de sua comunidade. Mas de um
modo geral, a força que ditava esses padrões
era a Igreja Católica, com seu predomínio
cultural e religioso sobre a mentalidade popular.
Santo Agostinho expressava em três palavras o
propósito do casamento - a prole, a fidelidade e o
sacramento. (TERRA, 2014, p. 31 e 33).

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112 História da Educação

Figura 10: Dama medieval com vestuário luxuoso e cabelo trançado.

Fonte: wikimedia commons

Neste cenário, será complicado imaginar que a educação


feminina será libertadora.
Levando em conta o papel subalterno da mulher, as
famílias medievais de um modo geral não tinham
interesse em providenciar a instrução das filhas.
Em alguns casos, as damas da sociedade eram
exceção, pois sua elevada condição social exigia
certo nível de refinamento e cultura. Aprendiam
então a ler e escrever, e algumas chegavam a
dominar o latim e o grego. (TERRA, 2014, p.33).

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História da Educação 113

Já as filhas dos pobres, longe do estilo de vida da elite,


“a formação era orientada para os afazeres domésticos, do
casamento e dos filhos. As mulheres eram educadas para serem
mães zelosas, educadoras da virtude e da fé, constituindo
exemplo para suas filhas. ” (TERRA, 2014, p. 33). Já os
cavaleiros, passariam horas, pajeando as damas. Deviam
aprender a proteger as damas. Ficavam próximos a elas, neste
longo período de aprendizagem, para aprender a cortesia. Um
bom cavaleiro precisava ter uma educação que lhe transmitisse
boas virtudes como honradez, bom caráter, fidelidade e cortesia.

SAIBA MAIS

Vídeo sobre a vida da mulher na Idade Média, apresentando o


livro “La Femme Médiévale au quotidien” (A mulher medieval
no cotidiano), de Claire Lhermey, e com o apoio dos livros “As
Damas do Século XII” (https://goo.gl/GZ7Nx8), de Georges
Duby, e “O Mito da Idade Média” (https://goo.gl/EXj8iW), de
Régine Pernoud. No seguinte link: http://bit.ly/2MKmkME

Definindo a educação na Idade Média:


Educação nas corporações de ofícios
As corporações de ofícios medievais eram associações de
artesãos que agregava a mesma profissão. Sendo assim existiam
diversas corporações de ofício. Assim organizados podiam
regularizar seus ofícios e lutar por melhorias nos desempenhos
de suas atividades. Surgiram muitas corporações de ofício
(universitates)
denominação geral para associações juridica-
mente reconhecidas por todos (universi). Essas
associações decorreram das demandas da

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114 História da Educação

urbanização e de seu comércio. Organizadas


de forma sistemática, congregavam pessoas de
um mesmo ofício que se submetiam a estatutos
regimentais e tinham seus serviços legitimados
por meio da corporação. (VEIGA, 2007, p. 17)
Instalados para realizar os seus ofícios nos burgos, aqueles
centros urbanos medievais (chamados de burgos), haviam
migrado do campo. São exemplos de corporações de ofício
medievais, corporações de ferreiros, alfaiates, carpinteiros,
construtores, sapateiros e muitas outras, oferecendo importantes
serviços aos tais burgos. “Surgem as Corporações de Ofício,
que regulavam a fabricação, os preços dos produtos e também a
aprendizagem dos futuros artesãos. Os mestres das corporações
submetiam os aprendizes a exames, só assim podiam se tornar
companheiros ou donos de oficinas”. (TERRA, 2014, p. 34)
Estes trabalhadores medievais, organizados em
corporações de ofício, foram conquistando espaço e respeito,
ofereciam objetos essências que fabricavam e comercializam.
Uma cidade com uma média de 10 mil habitantes já contava com
suas corporações. Como a união faz a força, reunidos os artesãos
determinavam valores dos objetos, qualidade e quantidade, e até
quanto lucro poderiam obter. Isso era tão evidente que cabiam
as corporações de ofícios relacionadas a produção de vinho, pão,
cereais e cerveja regulamentada, nas suas associações as suas
tabelas de preço. Fizeram história e trouxeram uma valorização
do trabalho dos artesãos. Tais corporações não estavam
dissociadas da Igreja católica.
Os estatutos das corporações de ofício regulavam
as relações externas - com o poder municipal e
com o mercado (vendas, preços, aquisição de
matérias-primas) - e as relações internas, como
o monopólio de seus produtos, das ferramentas
e dos saberes, e os vínculos entre mestres e
aprendizes. Estes eram estabelecidos a partir de

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História da Educação 115

contratos celebrados entre o mestre e o pai ou


tutor do aprendiz e fixavam o preço, a duração da
aprendizagem e os deveres de ambos. (VEIGA,
2007, p. 17)
As associações eram também espaços dedicados para
aprender os ofícios. Hierarquicamente compostos de mestres,
oficiais e aprendizes. Mestres eram os experientes donos da
oficina. Tinham conhecimento amplo, eram donos das oficinas
e da matéria prima necessária para produzir seus objetos. Já os
oficiais recebiam salário para desempenhar o seu ofício, lugar
conquistado depois de fazer prova e pagar taxa e podiam sonhar
em um dia ser mestre e dono de sua própria oficina.
Ao final da aprendizagem e, portanto, do contrato,
o aprendiz tornava-se companheiro assalariado ou
não. Poderia tornar-se um mestre se autorizado
pelo seu superior e assim integrar a corporação.
Para isso era preciso apresentar uma “obra-prima”
como demonstração de sua competência. O
problema é que os mestres controlavam a ascensão
dos companheiros e muitos permaneciam nesse
estágio durante muito tempo ou por toda a vida.
Em outras palavras, os mestres controlavam o
mercado profissional, além de se beneficiarem do
trabalho dos companheiros. (VEIGA, 2007, p.17)
Aqueles que estavam na oficina na posição de aprendiz,
contavam com as lições dos mestres, por muitos anos, na
esperança de consolidação na profissão. Mercado existia para
as vendas:
O movimento das Cruzadas, no século XI,
favoreceu as transformações ocorridas em vários
segmentos da sociedade europeia; lembrando que
as Cruzadas tiveram vários objetivos (econômicos,
sociais e religiosos) e que o objetivo religioso
era restaurar a Terra Santa, que estava nas mãos

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116 História da Educação

dos muçulmanos, e devolvê-la aos cristãos. Esse


contato promoveu uma nova realidade social e
econômica por meio do acesso às mercadorias e
às especiarias do Oriente, das práticas comerciais
árabes, como o cheque e a letra de câmbio e as
trocas de produtos nos entroncamentos dos feudos,
originando as feiras comerciais e rompendo o
isolacionismo europeu. (TERRA, 2014, p.33).
O renascimento do comércio, no século XIII, ressaltou
a posição das cidades europeias medievais. Isso incidiu sobre
novas necessidades educacionais, aliadas as corporações.
Os servos libertos se ocuparam de afazeres como
alfaiates, ferreiro, marceneiro, tecelagem. As
corporações controlavam o volume, a qualidade
e o preço dos produtos, o artesão era proibido de
praticar um preço maior ou usar matéria-prima
inferior à do seu colega de oficio. Além disso,
a corporação impedia a entrada de produtos
similares aos produzidos na cidade e amparava
seus trabalhadores em caso de velhice, doença ou
invalidez. Tanto quanto as produções precisam de
organizações. (TERRA, 2014, p. 33)

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre corporações de ofício e Administração


Pública, entenda mais sobre o Modelo medieval de produção.
Veja os três primeiros minutos do vídeo, produzido pela
UNIVESP, no link: http://bit.ly/2IR442X

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História da Educação 117

Definindo a educação na Idade Média:


Educação Cavalheiresca
Na Idade Média, havia uma preocupação com a formação
da cavalaria, ficou conhecida como educação cavalheiresca,
relacionada à formação de importantes defensores medievais.
Assim, os cavaleiros podiam dedicar seus tempos a atividades
corporais e cultivo de bons valores espirituais e intelectuais, bem
como formação de bons hábitos apropriados às suas práticas,
aprendiam a defender os nobres e serem fieis aos importantes
nobres e senhores feudais. Aprendiam a manusear e zelar bem as
armas e como agir, habilmente, em guerras. Deviam aprender a
proteger as damas. Ficavam próximos a elas, neste longo período
de aprendizagem, para aprender a cortesia. Um bom cavaleiro
precisava ter uma educação que lhe transmitisse boas virtudes
como honradez, bom caráter, fidelidade e cortesia visíveis.
A educação do cavaleiro ou cavalheiresca começava cedo
e era uma longa jornada, no seio da família, muito pequenos,
aos seis ou sete anos iam já saiam da casa paterna para receber a
educação apropriada a meta de suas vidas, na corte, ou com outro
cavaleiro, servindo as damas, assim estes pajens aprendiam a
polidez esperada as suas futuras profissões. Aos 14 ou 15 anos,
viravam escudeiros, prontos para ir à guerra com os senhores
ou acompanhar as damas. Aos 21 eram, finalmente, ordenados
cavaleiros em uma cerimônia muito especial.
A formação dos cavaleiros medievais está relacionada
a desagregação do poder central do estado, no regime feudal.
A propriedade do senhor feudal, seu castelo, representava um
símbolo importante da organização político-social, nos tempos
medievais. “Os senhores feudais, que viviam isolados uns dos
outros e eram muitas vezes rivais, estabeleceram com os vassalos
de suas terras um pacto de mútua dependência - o vassalo servia
e produzia, protegido e beneficiado por seu senhor. ” (TERRA,
2014, p.34).

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118 História da Educação

A sociedade medieval envolvia lutas e competições dos


senhores feudais, realizavam caçadas e praticavam torneios,
necessitando boa forma física, capacidade de defesa pessoal e de
exercer papel militar. Ainda deviam ter devoção religiosa cristã,
cumprir sua palavra, proteger crianças e mulheres. (TERRA,
2014)
Para fazer face a essas exigências, o cavaleiro
recebia uma educação baseada na sensibilidade
moral, religiosa e estética, em vez do intelecto, do
conhecimento científico e da capacitação dialética
ou da abstração. Os textos que formavam sua
instrução não eram os manuais das disciplinas do
trívio e quadrívio, mas as canções de gesta e as
poesias de trovadores. (TERRA, 2014, p. 34).
Os cavaleiros deviam adquirir conhecimentos, disciplina e
serem leais. Assim, “os ensinamentos da formação do cavaleiro
eram transmitidos por meio da ação e do espírito, e não pelo
discurso da razão e cultivo da mente. Os elementos do código
da cavalaria eram o gosto pela aventura, a paixão pela luta, o
sentimento da honra” (TERRA, 2014, p. 34). Haviam passos
a serem fielmente seguidos na formação do cavaleiro. Ainda
crianças, por volta dos 5 a 7 anos, já haviam sido designados por
seu pais para exercerem este ofício, assim seriam cavaleiros. Iam
aprendendo na casa dos seus pais a cavalgar e a jogar xadrez. O
capelão lhes ensinava a ler, escrever e cantar, de forma bastante
rudimentar.

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História da Educação 119

Figura 11: Cena alegórica de mulher sob a proteção da cavalaria

Fonte: wikimedia commons

Lá pelos 12 anos, mudavam da casa dos pais, iam viver


no solar de um senhor mais poderosos. Ali
aperfeiçoava suas habilidades na equitação, ao
mesmo tempo em que iniciado no manejo da
espada e da lança, na caça, na falcoaria e, às
vezes, na execução de um instrumento musical.
Normalmente, ficava ao serviço de uma dama do
solar como pajem, para adquirir polidez e boas
maneiras. (TERRA, 2014, p. 35)
Lá pelos 14 anos, virava escudeiro de algum cavaleiro,
seguia-o em caçadas, combates e torneios, responsabilizado
por manter bem guardadas as armas e cuidar dos cavalos.
Depois desta longa aprendizagem e preparações, aos 21 anos,
o escudeiro, “educado física e moralmente, ainda precisava dar
provas de ser rico em virtudes, forte de ânimo e coragem, para
ser considerado apto a ser investido como cavaleiro. Além disso,
o candidato precisava possuir terras ou renda suficiente para
arcar com as responsabilidades. ” (TERRA, 2014, p. 35)

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120 História da Educação

SAIBA MAIS

Quer saber mais sobre as ordens cavalheirescas? Veja este vídeo


sobre e o juramento dos cavaleiros [Outono da Idade média]. No
seguinte link: http://bit.ly/35Jef3w

Identificando a patrística e as diretrizes


da pedagogia escolástica
A Patrística deve muito aos chamados Pais da Igreja,
estes foram fundamentais com os seus ideários e concepções,
que envolvia um projeto de educação cristã, para os povos
medievais e que alcançou além dos povos europeus, outros
povos por estes últimos colonizados. Entre estes pais da Igreja, é
imensa a contribuição de dois brilhantes teóricos do cristianismo
católico medieval; Santo Agostinho e São Tomás de Aquino,
imortalizados pela gigantesca obra.

Identificando a patrística
Na longa história da Igreja Católica, chama-se Patrística,
um fantástico período entre os séculos II e VII, da era Cristã.
Foram os pais da Igreja homenageados na hora de denominar
este rico período. “Pais da Igreja são os primeiros padres e
bispos que explicaram e defenderam os princípios da nova fé”.
(PILETTI, 2012, p. 45). Eles deixaram forte legado cristão, com
as suas imortalizadas ideias, seguidos de dogmas, planejadas
cerimônias e costumes que foram espalhados pelo mundo
cristianizado.
Gadotti compreende que a patrística, entre os séculos I ao
VII d.C., foi capaz de conciliar

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História da Educação 121

a fé cristã com as doutrinas greco-romanas e


difundiu escolas catequéticas por todo o Império.
Ao mesmo tempo, a educação monacal conservou
a tradição e a cultura antiga. Os copistas
reproduziram as obras clássicas nos conventos.
Nos séculos seguintes, surgiu a centralização
do ensino por parte do Estado cristão. A partir
de Constantino (século IV), o Império adotou
o cristianismo como religião oficial e fez, pela
primeira vez, a escola tornar-se o aparelho
ideológico do Estado. (Gadotti, 2003, p. 55).
Se as educações, na antiguidade, eram baseadas “no
heroísmo, no aristocratismo, na existência terrena, foram
substituídas pelo poder do Cristo, critério de vida e verdade: “Eu
sou o caminho, a verdade, a vida...Todo o poder me foi dado. ”
(Gadotti, 2003, p. 55)
São Paulo, convertido ao cristianismo, passou de
perseguidor dos primeiros cristãos para um forte batalhador pela
universalização do cristianismo, agindo para agregar gregos e
romanos. Já os denominados pais da Igreja, entre eles Clemente
de Alexandria (150 -211 e 215), Orígenes (185-254 d.C.), São
Gregório (330 -389 d.C.), São Basílio (329 d.C-379 d.C.). São
João Crisóstomo (347 - 407 d.C.), São Jerônimo (347 - 419
ou 420 d.C.) e Santo Agostinho (354-430 d.C.), estes e outros
vultuosos e importantes Pais da Igreja
impuseram a necessidade de se ficar um corpo
de doutrinas, dogmas, culto e disciplina da nova
religião. Obtiveram pleno êxito. Criaram ao
mesmo tempo uma educação para o clérigo,
humanista e filosófico-teológica. Obtiveram deste
a subserviência, mediante juramentos de fidelidade
à fé Cristã e “votos” de obediência, castidade e
pobreza. A essa disciplina se sujeitavam mais os
clérigos provenientes das classes populares e menos
os que detinham o poder. (Gadotti, 2003, p. 55)

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122 História da Educação

Santo Agostinho transformou substancialmente a Patrística.


A pedagogia agostiniana compreende que o mestre indica o caminho
ao aluno, mas somente o aluno é que poderá percorrê-lo. O mestre
não poderá fazê-lo por seus alunos. Esta concepção, fundada na
fé cristã, e não na razão, trata o homem como um ser que circula
entre brutos (irracionalidade e mortalidade e anjos (racionalidade
e imortal), estando os seres humanos no meio, inferiores aos anjos
e superiores aos brutos, mortais e racionais. Só pela capacidade de
entendimento é que os humanos superam os brutos, estes são mais
fortes que os homens. A sorte é que os seres humanos são feitos a
imagem de Deus, pelo ponto de vista do entendimento, capacidade
mental fundamental. (PILETTI, 2012)
E o próprio cristianismo passou a ser visto como
um meio de disciplina e a pedagogia, como um
processo de contemplação. O ponto de partida
da pedagogia agostiniana é o ser humano na
sua situação de conflito e inquietude. Ao ter que
se decidir entre diversos propósitos, às vezes
antagônicos, a disciplina cristã pode ajudá-lo,
pois, de acordo com o cristianismo, o fim último
do ser humano é o desfrute de Deus. Os demais
objetivos da vida só devem ter valor de uso.
(PILETTI,2012, p. 45)
Não havia possibilidade nenhuma, das práticas educativas
contemporâneas da Patrística, caminharem longe de seus
preceitos. Deixaram legados significativos como a catequese,
forma de instruir com perguntas e respostas. Derivando daí o
nome do compêndio (livro) que contém a doutrina religiosa. E
o surgimento da palavra catecúmeno, aquele que foi instruído
na religião cristã. Surgiram as “escolas catecúmenas, que
preparavam os adultos para receber o batismo. Com o tempo,
as crianças passaram a fazer parte dessas escolas. Por isso, além
da instrução religiosa, passou a ensinar leitura, escrita e canto”.
(PILETTI, 2012, p. 45)

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História da Educação 123

No decorrer da educação na Idade Média, no conhecido


período da Patrística e da escolástica, “a fé cristã se organizou
em forma de doutrina religiosa, para exercer forte influência
em todos os setores da vida cultural, ideológica e educacional”.
(TERRA, 2014, p. 02). No decorrer do século II a VIII, da
Era Cristã, os 1.ºs padres e bispos “estabeleceram os dogmas,
as normas, os rituais e os sacramentos da então jovem Igreja
Católica. Esse período recebeu o nome de patrística, que se
caracterizava pela apologética, isto é, pela defesa da fé e a
conversão dos nãos cristãos.” (TERRA, 2014, p. 28).
A evolução da patrística recaiu sobre a educação, que
passou a seguir fielmente seus conceitos.
A pregação da época dos apóstolos é substituída
pela catequese (do grego, instruir por meio de
perguntas e respostas). A mesma palavra originou
a expressão catecismo (compêndio de uma ciência
ou doutrina religiosa). Surgem as primeiras
escolas que preparavam os adultos para receber
o batismo. Quando as crianças foram admitidas
nessas escolas, passou-se a ensinar leitura, escrita
e canto, além de instrução religiosa. (TERRA,
2014, p. 28).
Com o aumento considerável das escolas foi necessário
a preocupação com a formação e mestres. Isso motivou a
criação e manutenção de escolas de catequistas. Haviam escolas
catecúmenas e de catequistas. Depois surgiram as escolas de
Gramática e de Retórica, ensinando ciências gregas, oferecendo
ensino secundário, aberta aos cristãos, alunos ou mestres.
(PILETTI,2012). “Entre as primeiras instituições criadas
para esse fim, a mais importante foi a Escola de Catequistas
de Alexandria. Paralelamente, foram surgindo as escolas de
Gramática e Retórica, que ensinavam as ciências gregas, mas
com a ativa participação de cristãos.” (TERRA, 2014, p. 28).

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124 História da Educação

SAIBA MAIS

Saiba mais sobre a Patrística e os pais da Igreja , vendo um vídeo


da editora Cléofas, disponível em: http://bit.ly/2MkS2Rz

Identificando as diretrizes da pedagogia


escolástica
Os estudos eram divididos em trivium (gramática latina,
dialética e retórica) e quadrivium (geometria, aritmética,
astronomia e música). Ficou evidente que nos tempos medievais
pela influência e necessidades da Igreja, esses
conhecimentos não foram abordados de forma
sistemática e abrangente, restringindo-se
principalmente aos estudos do trivium. Os saberes
eram escolhidos dentro de uma concepção de que
os saberes escolhidos deveriam ter sentido para
a vida cristã, já que tanto trivium e quadrivium
representavam as diferenças que existiam
dentro da natureza das disciplinas. “O trivium
se relacionava com os instrumentos analíticos
da palavra e da mente, com a expressão do
pensamento e suas regras, enquanto o quadrivium
se referia ao conhecimento das coisas do mundo”
(VEIGA, 2007, p. 20).
Aprender gramática latina (relacionada o trivium) era
saber sobre regras formais e gerais do pensar pelos mecanismos
da linguagem, considerando a ortografia, sintaxe e métrica,
já a dialética entrava como metodologia capaz de permitir a
assimilação de vínculos e fazer saber a lógica de um discurso,
restava contar com a retórica para conhecer a exposição perfeita
do discurso, como convencer e persuadir os ouvintes. (VEIGA,

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História da Educação 125

2007). Isso é incomparável com o quadrivium e seus saberes,


suas “disciplinas para conhecer e tornar conhecidas as coisas do
mundo ou as realidades externas” (VEIGA, 2007, p. 20), tais
como aritmética, geometria, astronomia e sons das músicas.
Devido ao fato da Igreja privilegiar conhecimentos
que favoreciam a vida espiritual, esse conjunto de
saberes somente despertará maior interesse no final
da idade média. Sua aplicação pode ser constatada
na astrologia, na medicina, na arquitetura e na
elaboração de um sistema unificado de notação
musical, além da astronomia. (VEIGA, 2007, p. 20)
A idade escolástica definiu uma organização escolar que
ainda prevalece? Reflita, se faz sentido comparar, os tempos
medievais aos contemporâneos, e suas respectivas educações:
universidade, faculdade, colégios, graduações
(como a de bacharel). Os estudos dividiam-se
trivium (retórica, gramática, lógica) e quadrivium
(aritmética, geometria, astronomia, música). A
retórica contribuiu para a concepção de discurso,
associando-se à “arte” de ensinar não como simples
transmissão, mas como técnica de raciocínio. Isso
faz do professor o “mestre do discurso”, mas numa
tradição oral em que a prática do oral está repleta
de significados implícitos, como a do debate.
(Marondi, 2008, p. 42)
É percebido que os tempos medievais foram marcados
por um uso restrito da aritmética para o fim de elaboração
de calendários cristãos e atividades na área do comércio,
principalmente junto aqueles lugares de importantes mercados
(Itália, por exemplo). “Esse ensino era ministrado pelos
chamados ‘mestres do ábaco’, que ensinavam noções de
aritmética e contabilidade. A ampliação desses conteúdos e
mestres acompanhou o desenvolvimento do comércio do século
X em diante”. (VEIGA, 2007, p. 20).

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126 História da Educação

No século IX, surge um sistema de ensino, inspirado por


Carlos Magno, com a educação elementar “ministrada em escolas
paroquiais por sacerdotes. A finalidade dessas escolas não era
instruir, mas doutrinar as massas camponesas, mantendo-as ao
mesmo tempo dóceis e conformadas (Gadotti, 2003, p.55). Já
a educação secundária acontecia em escolas monásticas, dentro
dos conventos. Diferenciando das duas anteriores, a educação
superior era “ministrada nas escolas imperiais, onde eram
preparados os funcionários do Império”. (Gadotti, 2003, p. 56).
Carlos Magno foi o 1.º Imperador do Sacro Império Romano
(por volta de 800), como também Rei dos Lombardos (em 774)
e Rei dos Francos (em 768).
Já mais para o fim do 1.º milênio cristão, palco de muitas
conturbações, as cruzadas até Jerusalém, foram lutas contra os
islâmicos. A acumulação de terras, neste período medieval, fez
surgir os soberanos dos feudos, com representantes da Igreja, houve
superação do escravagismo, fazendo surgir novo modo de produção.
Assim, surgiram duas classes sociais, o dono de uma grande região
era o Suserano, e os pequenos proprietários, advindos do claro ou
da nobreza, subordinados a algum suserano. E já aos servos restava
cultivar a terra, não eram escravos, mas podiam ser vendidos pelos
senhores, com a sua propriedade, o feudo.
Ao contrário dos cristãos, os árabes não queriam
mutilar a cultura grega em função de seus
interesses. Foram eles que a levaram ao ocidente,
com a invasão cultural que realizaram. Desse
choque, desse conflito, inicia-se um novo tipo de
vida intelectual, chamada escolástica, que procura
conciliar a razão histórica com a fé cristã. Seus
fundadores foram SANTO ANSELMO (1033
OU 1034-1109 e PEDRO ABELARDO (1079 -
1142), mas o maior expoente foi SÃO TOMÁS
DE AQUINO (1224 OU 1225-1274), para o qual
a revelação divina era supra-racional, mas não
antirracional. (GADOTTI, 2003, p. 58)

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História da Educação 127

Figura 12: Pais da Igreja - São Tomás de Aquino

Fonte: wikimedia commons

São Tomás de Aquino, viveu entre 1224 (ou 1225) até


1274 e foi um célebre representante de uma época em que Santo
Agostinho estava batalhando pelaa sustentação doutrinária
que o imortalizou. “Tomás formulou um sistema filosófico que
procurava conciliar a fé cristã com o pensamento de Aristóteles”.
(PILETTI, 2012, p. 52). Procurou trazer o realismo aristotélico
para dentro da Igreja, superando as dificuldades de conciliar o fato
de Aristóteles não admitir um Deus criador e nem a existência
da vida no pós-morte, aparentemente inconciliáveis com o
cristianismo. Apesar do pensador grego Aristóteles afirmar que
a realidade material é quem fornece conhecimento científico,
São Tomás de Aquino justifica que “há no ser humano uma
alma única, intrinsecamente unida ao corpo. Isso, para aquela
época marcada pelo espiritualismo agostiniano, que nutria certo
desprezo pela matéria, foi uma ideia revolucionária”. (PILETTI,
2012, p. 54)

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128 História da Educação

Nasceu em Nápoles, filho de um Conde de Aquino, não viu


outro recurso a não ser fugir de casa para ingressar na Ordem de
São Domingos (dominicanos), concluiu seus estudos em Paris,
aprendendo com seu Mestre Alberto Magno. Depois se tornou
professor universitário. Ele se notabilizou tanto na área de
educação que é considerado patrono das escolas católicas, pelo
mundo. É comum encontrar escolas católicas pelo Brasil com
seu nome. Ele foi um peregrino, andou bastante a pé, visitando
cidades, morando em algumas temporariamente. Foi notável
professor, escritor, teólogo, filósofo, organizou os estudos,
reformou programas de ensino e fundou escolas superiores.
“Seguia e pregava os seguintes princípios: evitar a aversão pelo
tédio e despertar a capacidade de admirar e perguntar, como
início do autêntico ensino.” (GADOTTI, 2003, p. 61)
Admirador do Grego Aristóteles, São Tomás de Aquino
afirma que a “educação habitua o educando a desabrochar todas
as suas potencialidades (educação integral), operando assim
a síntese entre a educação cristã e a educação greco-romana”.
(GADOTTI, 2003, p. 58). Ele defendia que Deus é o mestre
verdadeiro e as deduções provém das experiências humanas.
Formulou um sistema filosófico que procurava conciliar a fé
cristã com o pensamento de Aristóteles. Essa missão parecia
impossível, pois em oposição ao idealismo platônico que havia
inspirado Sant Agostinho, o realismo aristotélico se permitia
verdadeiras heresias, como não conceber um Deus criador de
todas as coisas e a vida após a morte. Para Tomás de Aquino,
o ser humano carrega uma alma única, intrinsecamente unida
ao corpo. Além dessa ênfase que dava à matéria em relação ao
espírito, ele valorizava a razão em relação a fé.
Um dos grandes méritos de Tomás, além da ênfase
dada à matéria frente ao espírito, foi a valorização
da razão humana frente à intuição e, até mesmo,
frente à revelação. Aliás, a relação entre razão e
fé está no centro dos interesses de Tomás, para
quem, mesmo subordinada à fé, a razão funciona

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História da Educação 129

segundo leis próprias. Em outras palavras: o


conhecimento não depende da fé nem da presença
de uma verdade divina no interior da pessoa.
PILETTI, 2012, p. 54 e p. 55)
Com relação ao ensino e à educação, Tomás de Aquino
coloca Deus na posição de verdadeiro e único mestre que ensina
dentro de nossa alma, entretanto, ele aponta a necessidade de
colaboração exterior. O professor colabora no ensino, mas
o processo da aprendizagem dependerá do próprio aluno.
Em outras palavras, o professor não tem como “entregar - a
ciência, mas prepara o aluno para ela. Só Deus ensina e deve ser
chamado de mestre. Ele escreveu, assim como Agostinho, e nove
séculos depois deste, um livro chamado De Magistro, com suas
importantes contribuições aos maiores problemas pedagógicos
do seu tempo. São Tomás de Aquino eleva Deus ao verdadeiro
agente da educação. Professores, médicos e lavradores são
agentes externos, já que o ensino, a cura e a lavoura, dependem
igualmente de ajuda externa. Sendo um agente externo, o
professor “colabora na aprendizagem do aluno, mas esta depende
do próprio aluno. Em outras palavras: o professor não pode
comunicar a ciência, mas prepara para ela. Por isso, só Deus
ensina e deve ser chamado de mestre”. (PILETTI, 2012, p. 54).
A Escolástica é, ao mesmo tempo, sistema de pensamento
e método de ensino. É uma relevante filosofia cristã medieval e
o proeminente método de ensino que prevaleceu, longamente,
entre os séculos IX e XV.
Dentro dos princípios da filosofia cristã da Idade
Média, o método de ensino que predominou do século
IX ao século XV recebeu o nome de escolástica. Na
realidade, a expressão era usada para designar tanto
a filosofia ensinada quanto o método pedagógico
empregado para transmiti-la. Era a união da fé com
a razão. (TERRA, 2014, p. 29)

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130 História da Educação

Este nome escolástica originou-se do fato de que nos


tempos medievais, denominava-se “scolasticus o professor de
Artes Liberais e, em seguida, o de Filosofia ou Teologia que
dava suas aulas, primeiro nas escolas do convento e, depois,
na Universidade. Desse nome derivou escolástica, para dizer
tanto a Filosofia ensinada quanto o método utilizado na escola”.
(PILETTI, 2012, p. 55).
A escolástica tinha como propósito ensinar a verdade, através
de um método racional, um ´serio exercício de atividade racional.
Usando duas formas distintas de ensino: o lectio, comentário de um
determinado texto, e o disputatio, representando o estudo de um
específico problema, aliado a uma discussão, que reúne os prós e
contras argumentos. Os textos, na escolástica, tomaram, de modo
dominante, o formato de comentários, ou coleções de questões. A
escolástica “não se limitava ao ensino das verdades teológicas e
filosóficas e abrangia todas as atividades intelectuais das escolas
medievais. O próprio Tomás de Aquino foi o responsável por
elevá-la ao mais alto nível como método didático”. (TERRA,
2014, p. 29 e p. 30)
Ao longo do seu desenvolvimento, a escolástica medieval
viveu três importantes fases ou períodos. A Alta escolástica
(entre os séculos IX e XIII, reunindo harmonia entre a razão
e a fé), o Florescer da escolástica (Séculos XIII a começo do
século XIV), com parcial harmonia, mas não admite contraste
entre razão e fé. E, por fim, a Dissolução da escolástica, que
durou do começo do século XIX ao Renascimento, em que ficou
impossível não admitir o contraste entre fé e razão (PILETTI,
2012). Terra decifra cada um destes três períodos significativos:
1. Do século IX ao século XII, a Alta escolástica
se caracterizava pela harmonia entre a razão e a fé.
2. Do século XII ao início do século XIV, o
Florescer da escolástica, em que essa harmonia
passa a ser parcial.

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História da Educação 131

3. Das primeiras décadas do ´século XIV até


o renascimento, a dissolução da escolástica,
quando o tema básico passa a ser o conflito entre
fé e razão. (TERRA, 2014, p.30)
A decadência da escolástica, sistema de pensamento e
método de ensino deu-se ao excesso de autoridade e exacerbado
autoritarismo de seus atores. Trouxe grandes legados à cultura
ocidental, entre elas, a valorização dialética clássica e também
do pensamento lógico, com a enorme contribuição de Tomás de
Aquino. (TERRA, 2014).
Tomás de Aquino, na sua obra De Magistro indaga se
ensinar é ato de vida ativa ou contemplativa. Vai tecendo, ao longo
do texto argumentos a favor de uma resposta relacionada a vida
ativa ou a vida contemplativa. Até trazer a solução ao problema
apresentado. Reconhece que a vida ativa e contemplativa são
distintas pela matéria e pelo fim. As matérias da vida ativa
não são perenes, são passageiras, objetos dos atos humanos.
Já a matéria contemplativa está ligada as razões cognoscíveis
dos seres, ali vivendo o contemplativo. A finalidade da vida
contemplativa é penetrar na verdade, aquela verdade que não é
obra dos homens, perfeita para a vida eterna. O homem começa
a contemplar aqui na terra e segue lá no céu. Já a vida ativa é
restrita a operação dirigida para utilidade próximas humanas. E
Gadotti pondera que
no ato de ensinar achamos dupla matéria, cujo sinal
é o duplo ato cumulado pelo ensino. Pois uma das
suas matérias é aquilo mesmo que ensina. Outra,
a pessoa a quem e comunica a ciência. Em razão
da primeira matéria, pertence o ato de ensinar à
vida contemplativa, em razão, porque da segunda
à ativa; mas em razão do fim parece só pertencer à
vida ativa, porque a última das suas matérias, em
que se atinge o fim colimado, é matéria de vida
ativa. (GADOTTI, 2003, p. 62)

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132 História da Educação

A escolástica ficou notabilizada não só pelo ensino de


verdades filosóficas e teológicas, vai além e envolve outras
atividades intelectuais das escolas medievais. Chamá-la somente
como Filosofia e Teologia, representa uma injustiça com o amplo
trabalho de São Tomás de Aquino, que a ergueu como método
didático. E tal método da escolástica, segundo ele próprio
qualificava, “valorizava os dois fatores do processo educativo:
o de considerar que o saber tem uma estrutura suscetível de ser
ensinada e o de que o ser humano possui a capacidade de fazê-lo”.
(PILETTI, 2012, p. 56).
Recebeu muitas críticas o abuso do princípio de autoridade
da escolástica. Havendo até quem reconheça que isso pode ter
resultado no fato dela não representa, por um período maior, o
desenvolvimento intelectual e processos educacionais superiores.
É visto como se a mediocridade tenha fundado a autoridade,
e a autoridade fundou a mediocridade. Professores exerciam
seu autoritarismo, em detrimento de gestos como incentivar o
raciocínio, e nada de questionamentos aos saberes oferecidos
como verdades prontas e eternas. (PILETTI, 2012).
Sobre a organização dos estudos, graus de ensino das
universidades e a pedagogia escolástica é possível afirmar
fazer uma faculdade era algo bem diferente do que fazem, nos
dias atuais, aqueles que querem ser professores ou médicos.
Nos tempos medievais, aqueles que queriam ser professores
frequentavam um professor da corporação e faziam “os atos
prescritos para se tornar mestre (faculdade de artes) ou um
doutor (medicina, teologia, direito). Os estudos tinham duração
variável - me média seis anos para os estudos das faculdades de
artes; o mais longo era o de teologia, que podia se estender por
15 anos) ”. (VEIGA, 2007, p. 24)
Havia a necessidade de saber latim, língua essencial para
acessar nas faculdades. E aqueles que aprendiam sozinhos
(autodidatas) foram surgindo somente, ao longo do século XV.
Os que interessados em aprender latim procuravam um mestre

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História da Educação 133

de escola latina ou de gramática. “Os alunos aprendiam o


alfabeto, a pronúncia das sílabas e, finalmente, a ler um texto.
Muito raramente se aprendia a escrever”. (VEIGA, 2007, p. 24).
Jovens de todas as idades iam às aulas, maioria
masculina, iam sendo instalados em bancos e aprendiam de
forma individual. Uma prática ainda comum nas infâncias de
muitos dos nossos bisavôs era comum: Ir à frente da sala para o
exame oral, exato momento em que o aluno deveria dar a lição,
habilmente decorada e memorizada sem falhas. A oralidade era
ferramenta essencial na educação medieval. Quem não aprendia
ou era indisciplinado, era corrigido com chicotadas. Uma dureza
e crueldade que demorou a sumir na história humana!
Obter conhecimentos, neste momento da história medieval,
era memorizar o que pensavam os escritores clássicos como
Aristóteles, o que continha a Bíblia e o que escreveram os famosos
pensadores como Hipócrates e Galeno, sobre a medicina. Foi essa
a rica base da pedagogia escolástica ou método escolástico, que
costumava partir de uma autoridade, texto ou livro que continham
os princípios gerais de alguma disciplina.
O desenvolvimento do método escolástico previa que
o mestre deveria fazer a sua exposição (lectio ou expositivo)
da obra. “O objetivo era ensinar como o autor demonstra sua
ideia, a lógica de construção do discurso, e para isso fazia-se
a decomposição dos argumentos”. (VEIGA, 2007, p. 25). O
que se seguia era a disputa ou discussão (disputatio), para o
estabelecimento daquela lição retirada do livro (questio), para
que o professor realizasse a conclusão (determinatio), de forma
determinada como verdadeira (conclusio). (VEIGA, 2007).
Montado em uma estrutura oral e para ser memorizada. Os
livros ainda eram raros e caros, o que os obrigava a copiar e
“escrevia-se comprimindo as letras e de forma abreviada, além
de se copiarem os livros em cadernos separados”. (VEIGA,
2007, p. 25). Alunos tinham por volta de 12 livros e os mestres
tinham 30 livros. Isso é impressionante, diante da evolução que

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134 História da Educação

a indústria editorial tomou com o tempo, no mundo. Hoje, temos


as bibliotecas digitais e a possibilidade de ler de forma digital,
em uma velocidade impensável aos povos medievais. Nem é
possível comparar! Podemos afirmar que a democratização dos
saberes foi uma intensa conquista humana, dos tempos medievais
aos nossos tempos contemporâneos.

SAIBA MAIS

Para conhecer um pouco mais sobre a escolástica, veja o vídeo


Brevíssimo comentário sobre a Escolástica, Expressão máxima
da filosofia medieval e saiba mais sobre São Tomás de Aquino.
Disponível em: http://bit.ly/2BdVo2t

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História da Educação 135

03
UNIDADE

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136 História da Educação

INTRODUÇÃO
Você vai conhecer, fatos significativos da Educação,
na Idade Moderna, momento marcado pela existência da
cultura impressa, que mobilizou homogeneização, coerência,
lógica e clareza. Será possível acompanhar a Constituição da
Universidade Moderna. Percorrer os Marcos Históricos da
Educação Moderna, percebendo a importância da Renascença e
do Humanismo pedagógico. Saber sobre a Reforma protestante
e Contra-Reforma católica, e suas repercussões Educacionais;
conhecer o papel educacional da Companhia de Jesus e do
“Ratio Studio-rum”, ainda, saber sobre a Pedagogia Jesuítica e
os Colégios Modernos. Além das discussões sobre a Pedagogia
moderna e a trajetória histórica da infância, conhecendo a nova
concepção de infância na modernidade, bem como as discussões
sobre a Pedagogização dos conhecimentos e o Disciplinamento
dos sujeitos, na Idade Moderna. Entendeu? Ao longo desta
unidade letiva você vai mergulhar neste universo!

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História da Educação 137

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 3, e o nosso
objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes
competências profissionais até o término desta etapa de estudos:

1 Descrever a constituição da universidade;

2
Definir os Marcos Históricos da Educação Moderna:
a Renascença e o Humanismo pedagógico; Reforma
e Contra-Reforma Educacional Protestante; a
Companhia de Jesus e o “Ratio Studiorum”; A
Pedagogia Jesuítica; Os Colégios Modernos;

3 Explicar a Pedagogia moderna: a trajetória


histórica da infância; A nova concepção de infância
na modernidade;

4 Avaliar a pedagogização dos conhecimentos e o


disciplinamento dos sujeitos.

Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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138 História da Educação

Conhecendo a constituição da
universidade
Tratar da Educação na Idade Moderna requer o
entendimento do que caracterizou este momento histórico ímpar,
assinalado pela racionalização, secularização, emancipação,
disciplinarização, civilização dos costumes e institucionalização.
Eram tempos de mentes emancipadas, sob corpos vigiados, os
costumes foram civilizados e as buscas aceleraram, na busca por
viver em uma realidade letrada.

Conhecendo o cenário da chegada da


idade moderna e sua oposição aos tempos
medievais
Este momento da história, tão distinto da Idade média, é
marcado por profundas mudanças na cultura, sociedade, política,
economia, ciências, artes, literatura, religião e filosofia e tantas
descobertas e invenções, entre elas a Imprensa, de Gutenberg e
a até a pólvora, modificando até as guerras.
“O processo de transição entre a Idade Média
e a Idade Moderna ocorreu nos séculos XV e
XVI e teve como características fundamentais o
surgimento do movimento renascentista, a reforma
religiosa e a consolidação da economia burguesa.
A Europa passou por um período de organização
política dos estados e deu início à época das
Grandes Navegações, que buscavam novas
relações comerciais e terras a serem conquistadas
e exploradas. (Jélvez, 2012, p. 40).
A chamada Idade Moderna é considerada o período
entre 1453 até 1789, quando ocorreu a eclosão da Revolução
Francesa. Compreende o período da invenção da Imprensa, os
descobrimentos marítimos e o Renascimento. Caracteriza-se
pelo nascimento do modo de produção capitalista.

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História da Educação 139

Figura 1: Gutenberg, o inventor da Imprensa

Fonte: wikimedia commons

As grandes navegações ampliaram o mundo conhecido,


através dos oceanos, chegando as Índias e as Américas. Se
na Idade Média, a mesopotâmia era tão importante caminho
comercial, a idade Moderna caminha para o atlântico. Os
inimigos dos europeus, os mouros já tinham deixado a Península
Ibérica (século XV). É notável, a contribuição de Copérnico,
que a psicanálise de Freud denomina como um dos mais graves
golpes no narcisismo humano, descentralizando a certeza de que
habitamos o centro do universo, imagina acordar e descobrir que
a Terra já não era o centro do universo (sem nunca ter sido)? A
Idade Moderna ainda, foi marcada, pela construção dos modernos
Estados nacionais, fatos significativos e incomuns aos tempos
medievais, entre tantos outros fatos singulares da Idade Moderna.
E a educação moderna foi privilegiada, a partir do século XV,
com uma tipografia, capaz de oferecer os livros impressos em
quantidades significativas, aposentando os copistas.
Este fato é tão significativo aos homens da modernidade
quanto aos momentos de digitalização das publicações que as
tecnologias contemporâneas trouxeram a editoração. O fato

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140 História da Educação

é que no começo do século XVI já existia uma circulação de


aproximadamente 20 milhões de livros impressos. Um fato de
consenso é que a Idade Média não foi além do século XV. Se nos
tempos medievais, a vida era no campo e começou a se deslocar
para os burgos, a lógica da idade moderna é a da urbanidade
em tais burgos, regulados por controles e estratégias de poder
distanciados dos modos feudais, que carregavam as proteções
e obediências aos senhores feudais. Os grandes comerciantes
passam a ter bastante dinheiro e poder.
É natural, perceber, que os grupos que queriam inovações
rivalizaram com os que pretendiam a manutenção da ordem
estabelecida, nos tempos medievais. Este período, significativo,
da história da humanidade, vai exigir mais rigor nas observações
(tanto faz se for para navegar por mares nunca antes navegados
ou para fazer leituras). O que Copérnico fez foi extraordinário,
revolucionou o mundo conhecido, até nas teorias aceitas. E
os protestantes deram sua contribuição na hegemonia católica
cristã, com a Reforma. O certo é que este momento da história
está muito vinculado a leitura. E ler, implica em modificações
nos leitores, seja a bíblia traduzida para o alemão, por Lutero ou
livros sobre etiqueta social.
A Idade Moderna inicia durante a instalação do capitalismo
comercial. Os comerciantes ganham fama e notoriedade, no
mundo até então conhecido. Isso aliado ao movimento intenso
de descoberta de novas terras, o grande impulso às navegações,
amparados pela invenção da bússola, o que impedia que
navegantes ficassem desorientados em alto mar, saindo da Europa
e indo para o Oriente e para a América, resultando em uma
inusitada circulação de moedas e mercadorias, transnacional.
Havia intensa circulação de capital. Os homens passaram a
controlar o tempo, muito mais que os sinos das catedrais, da
Igreja e do que Deus, como vistos na Idade Média. Isso é o que se
entende por secularização da temporalidade humana. Os tempos
humanos, dos profissionais, possível de ser medido, não são os
mesmos dos padres e outras autoridades da Igreja Católica.

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História da Educação 141

Assim, este período da história foi marcado pela


inventividade, novidades culturais e diversificados conflitos.
Copérnico, astrônomo e matemático polonês (viveu entre os
anos 1473 até 1543) vai inverter a ideia medieval de que a
terra era o centro do universo, e lançar a teoria heliocêntrica do
Sistema Solar, desenvolvendo a ideia de que a Terra não está fixa
no centro do universo, giraria em uma órbita circular e ao redor
do Sol, de modo idêntico aos outros planetas. Este fato, por si só,
revolucionou a cosmovisão moderna. Assim, certezas medievais
inabaláveis chegavam à exaustão. Já que a Terra já não era
mais o centro do universo, até a visão de homem foi mudando,
juntamente com a visão de mundo, na modernidade. As pessoas,
na Idade moderna, começaram a pensar na individualidade e na
liberdade, movidos por esta nova imagem do mundo.
Figura 2: Carta náutica de Fernão Vaz Dourado, da África ocidental, atlas náutico de 1571

Fonte: wikimedia commons

SAIBA MAIS

Veja o vídeo sobre IDADE MODERNA, MERCANTILISMO


e EXPANSÃO MARÍTIMA, de Carecas de Saber Videoaulas,
Publicado em 23 de nov de 2016. Disponível no link: http://bit.
ly/2MorCOM

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142 História da Educação

Conhecendo a Construção da
Universidade, da Idade Medieval a Idade
Moderna
As Universidades, já no século XIV, antes da idade
Moderna, eram lugares dedicados a conseguir um título para
ser poderoso, assim como se o mundo dos práticos e dos sábios
fossem distintos. Até a chegada do século XV as universidades
foram sendo transformadas em espaços aristocráticos europeus.
A Idade Média é o palco dos poderes do Clero e da Nobreza
nos espaços universitários, isso era fator para atrelamento dos
ditames dele, no cotidiano universitário. Não havia liberdade
para a escolha de professores ou chamamento de alunos.
Assim, devagar, foram tomando lugares distintos das primeiras
agremiações universitárias, em Paris e Bolonha, na Idade Média.
A Universidade Renascentista era um espaço para um ensino
ortodoxo, voltado as elites, dando sua contribuição para a ordem
social e política instituída no Renascimento. (Boto, 2017)
Este é o motivo do afastamento e rejeição dos humanistas
às universidades. Mas serão contaminadas pelas ideias opostas
aos tempos da Era Cristã Medieval. A Universidade Média foi
atingida pelos movimentos da Reforma, tendo uma diminuição
drástica nos números de alunos, já nos primeiros anos do século
XVI. É que os humanistas defenderam que a universidade
é o desdobramento da escolástica, com práticas próprias
do autoritarismo medieval. Então, os humanistas preferiam
aprender, fora da universidade, e esta nova instituição que
criaram foi chamada de academia. Entre 1500 a 1790, foram
criadas novas universidades, saltando e 60 para 1790. Só que as
instituições cosmopolitas medievais foram dando espaço para
as universidades renascentistas diferenciadas, se eram católicas,
luteranas, anglicanas ou calvinistas. E já aquelas universidades
medievais, controladas pelos bispos e nobres, serviriam como
modelos para os colégios. (BOTO, 2007)

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História da Educação 143

A partir do século XVI os redutos universitários


sofreram transformações, mas não o suficiente
para ampliar os estudos científicos. Luteranas,
calvinistas, jesuíticas ou vinculadas ao Estado,
novas universidades surgiram na Alemanha,
Espanha, Itália e França. Nos Estados Unidos
foram criados os colégios que depois dariam
origem a duas conhecidas universidades: Harvard
(1636) e Yale (1701). Contudo, a fundação de
academias e sociedades científicas, ainda que
frequentadas por professores universitários,
indicou a necessidade de profundas reformas nas
universidades para dotá-las de uma característica
científica, o que somente ocorreria no final do
século XVIII em diante. (Veiga, 2007, p. 42)
A Idade Moderna dará uma dignidade e ascensão social
aos mestres universitários, compondo títulos, parecidos aos
títulos de nobres. E nesta transição da Idade Média à Moderna,
o mestre (Magister) se torna senhor (dominus), na tradicional
Universidade de Bolonha são chamados nos documentos
escritos de nobres homens e cidadãos principais, e no cotidiano
são chamados de senhores juristas. Alunos chamam os seus
adorados mestres por dominus meus (meu senhor), aproximando-
os aos títulos comuns na vassalagem. (Boto, 2017).
Estes tempos da Idade Moderna civilizaram os costumes,
racionalizando e institucionalizando as ações, os afetos e as
pulsões das pessoas, promovendo uma pretensa superioridade
dos povos europeus. Isso colocou outro papel para a educação, a
escola, os colégios e os mestres, chamados a um papel civilizador,
de regulação das existências e dos modos de conviver, e se
comportar socialmente. As pessoas, nos tempos modernos,
precisavam umas das outras, nas cidades, isso foi mudando as
instituições, da Igreja à escola, como também as comunidades
e as famílias.

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144 História da Educação

A educação aos comportamentos desejados já revelaria o


pertencimento à aristocracia, assim se pensava, naqueles tempos.
Viver no mundo urbano exigia a modelação dos costumes, saber
lidar com os outros, ter bom comportamento social. Foi assim
que os nobres guerreiros viraram nobres da corte. E as crianças
não podiam ser desprezadas neste projeto político moderno,
precisavam receber a educação adequada das condutas, serem
vigiados e controlados para aprenderem a conviver socialmente,
terem posturas adequadas e civilizadas.
Figura 3: Estátua de John Harvard, no Campus da Universidade Harvard, criada em 1636.

Fonte: wikimedia commons

SAIBA MAIS

Leia um artigo sobre a inserção sócio histórica e política da


Universidade nos vários contextos históricos que marcaram a vida
dessa instituição.Disponível no link: http://bit.ly/2IW9VUM.
Quer saber mais sobre a História da Universidade? Veja o vídeo
no seguinte link: http://bit.ly/2OVo9cj

eBook Completo para Impressao - Historia da Educacao - Aberto.indd 144 09/04/2020 18:33:22
História da Educação 145

Definindo os Marcos Históricos da


Educação Moderna
A Renascença e o Humanismo pedagógico; Reforma e
Contra-Reforma Educacional Protestante; a Companhia
de Jesus e o “Ratio Studiorum”; A Pedagogia Jesuítica;
Os Colégios Modernos
O Renascimento marcou os séculos XV e XVI, apesar
de já existirem traços renascentistas no século XIV ou ainda
presentes até o século XVII. Mas não há discordância sobre
importantes fatos, o ano 1443 e a invenção da imprensa, a
Tomada Constantinopla pelos turcos em 1453, a descoberta da
América (que toca as nossas vidas), a contribuição de Lutero
com a sua Reforma, em 1517, além do Concílio de Trento, em
1545. Definindo os marcos históricos da Educação Moderna,
será importante saber sobre o Renascimento, o Humanismo, a
Reforma Protestante e sua contestação católica, a Contrarreforma,
que trouxe uma participação importante dos jesuítas, com a
sua Pedagogia e sua contribuição na construção dos Colégios
Modernos.

Definindo os Marcos Históricos da Educação


Moderna: a Renascença e o humanismo
pedagógico.
O Renascimento foi uma vanguarda cultural, partindo
da Itália. As cidades-estados italianas floresceram muito neste
período. O Renascimento mudou os focos sobre os homens, as
artes, o mundo e influenciou a educação.
A preparação do Renascimento, feita pelos
humanistas italianos, estudiosos dos modelos da
Antiguidade, propagou ideias que modificaram
o modo de pensar de sua época e desenvolveram
o espírito crítico da sociedade. Apontam-se

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146 História da Educação

como causas desse movimento a descoberta de


manuscritos antigos esquecidos, a invenção da
imprensa, que auxiliou na divulgação dessas
novas ideias, o desenvolvimento das riquezas
e a influência dos sábios gregos que fugiam de
Constantinopla, tomada pelos turcos. (Jélvez,
2012, p.40).
O Renascimento foi uma importante expressão cultural e
artística europeia, no decorrer dos séculos XV e XVI, marcado
por intenso aprimoramento técnico e novos modos estéticos,
trazendo novas formas de arte e produções culturais. O
Renascimento implicou, em uma nova época, com o apogeu do
movimento humanista, mudando a educação. A humanidade, no
renascimento, passou a ser o centro, como não havia sido em
nenhum momento anterior, os homens passam a ter a capacidade
de serem os centros do universo. A humanidade, sua filosofia,
sua formação e sua educação passam a ser primordiais, surgindo
uma nova pedagogia, que traz preocupações políticas.
O Renascimento é um tempo diversificado, em que
coexistem uma realidade tipicamente medieval (rural, cristã aos
modos de visão medieval, dependentes do movimento do sol
e dos anúncios dos sinos da Igreja, marcando o tempo, como
ainda hoje tocam para anunciar que é meio-dia) e o tempo
produtivo, mercantil e moderno, baseado no relógio. Sendo
um conceito organizador (Burke, 1997), composto de muitas
realidades distintas. Preservando formas clássicas herdadas da
Antiguidade. Enquanto gritava contra tudo e todos que revelava
algo dos movimentos antecessores a Idade Moderna. Colocou a
mão no legado grego romano, se autoproclamando herdeiro de
tal legado da Antiguidade, ao mesmo tempo em que contestava
os tempos imediatamente anteriores, os tempos medievais. Os
poderosos ricos das cidades queriam erudição e estavam prontos
à oferecer a proteção burguesa as novas produções nas artes e
nas letras.

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História da Educação 147

Boto (2017) afirma que o Renascimento é uma espécie de


pedagogia da cultura. Surgiu na Itália está vanguarda cultural
(Século XV), oferecendo novos focos impensáveis em tempos
medievais. Vai agir, na Europa, entre os séculos XV e XVI,
oferecendo uma movimentação ampla, com técnicas renovadas
e novos modos de pensar e produzir, na arte e na produção
cultural. Foi uma época de intensas renovações. Isso resultou
no movimento humanista, carregando inovações nos modos de
pensar a educação. Além dos florescimentos das cidades italianas,
o que se deu foi a elevação do homem do Renascimento a um
lugar de destaque. O homem ocupa um lugar central, o centro
do universo (não mais Deus, como se viu na Idade Média). “É o
desenvolvimento de uma filosofia do homem, que implica uma
teoria da sua formação, da sua educação. É o esboço de uma
nova pedagogia, não isenta de preocupações políticas” (Garin,
1990, p.11).
É individualidade humana que está sendo apoiada na sua
existência máxima, não vista nos tempos medievais. E com tantos
estudos sobre o universo, o mundo passou a ser mais dinâmico
do que se apresentava na idade Média. O Renascimento, lança
a civilização capitalista, dinamizando e lançando um novo
conceito de homem, capaz de compreender a si mesmo e aos seus
semelhantes. Vai superando aquelas visões de relações sociais
voltadas as suas comunidades de origem e familiares, em uma
nova organização das classes sociais. Este tempo de mudanças
contornar a rigidez das fronteiras e facilita os intercâmbios.
A ação do renascimento é de um fato social amplo, é de
pesquisa pela identidade do homem e pelo mundo, nos mais
amplos espaços da vida cotidiana, modos de pensar a existência,
estabelecimento de novas práticas morais e princípios éticos
para a vida social, religiosa, e os modos de produção e artes
e ciências. E estes aspectos estão interligados no desabrochar
do Renascimento, diante da nova estrutura social e econômica,
da Idade Moderna. Ao mesmo tempo em que se sonha em
voltar aos clássicos da antiguidade, a imprensa é inventada, e

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148 História da Educação

a mecanização do tempo surge com os relógios, como o fato de


que a pólvora modifica os modos de guerrear, enquanto avançam
os formatos econômicos de empréstimos a juros, com letras de
câmbio, em feiras bancárias, não vistas na Idade Média. Tudo
isso se dá com as promessas econômicas representadas pelas
descobertas de novas terras, no além-mar europeu. A Arte, por
exemplo, é vista como um ofício intelectual, contando com
alguns cientistas como famosos artistas, é o caso de Leonardo
da Vinci. (BOTO, 2017)
O Renascimento é o tempo primordial dos domínios das
técnicas, pelos homens. Isso possibilitou viagens pelos oceanos
e descobrir e se apossar de outras terras, fabricação de ferro,
aprimoramento de armas de fogo, a contagem mecânica do
tempo (relógio), a impressão de livros, dinheiro emprestado
para fazer novos empreendimentos e enriquecer, sem ter nascido
rico, como acontecia na Idade Média. Era um momento de muita
curiosidade intelectual. 500 anos após a morte de Leonardo da
Vinci, encanta a humandade!
Figura 4: Leonardo da Vinci, um suposto Autorretrato, hoje sob contestação.

Fonte: wikimedia commons

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História da Educação 149

Era intensa a busca por conhecimentos e fontes impressas


eram difundidas, com uma capacidade extraordinária, menos
onerosa e mais acessível, de produção editorial nova, em uma
escala maior de números de livros, na história da humanidade,
ampliando os números dos que liam e dos que queriam aprender
a ler e aprendiam (a imprensa foi inventada no século XV).
Surgiam novos livros, no que se refere aos conteúdos, formas
e formatos renovados, em oposição a oralidade da educação
medieval. Além das escolas de mosteiros e bispados (algumas
já existiam na Idade Média), a novidade nos burgos foram a
extrema demanda por estudar e as escolas municipais de estres
livres tentavam dar conta disso, ensinando a ler e calcular, e em
casos especiais, ensinando artes liberais.
Ser letrado era um fato favorável, no Renascimento. E este
desejo de aprender a ler era o motor que fazia com que as pessoas
buscassem esta técnica até mesmo fora da escola. Isso explica
o fato dos humanistas serem contrários a institucionalização
da escola, defendendo a educação doméstica, visualizada em
um preceptor que vai a casa de seu discípulo para ensiná-lo,
aprendendo com liberdade, longe da influência da Igreja e outras
visões medievais.
A Itália ficou notabilizada nas artes e alguns países do norte
europeu no campo das letras, aparecendo uma elite cultural, com
bastante respeito na sociedade. Os artistas são protagonistas, em
um mundo que valoriza tanto a cultura. E este momento histórico
é marcado por um grande avanço nas formas de pintar, desenhar
e fazer esculturas. A arquitetura também mudou. Era preciso
sujar as mãos para produzir saberes, não só bastava os saberes
contemplativos. Unir ação e pensamento era um ideal, bem
como a verificação de conceitos visíveis nas obras feitas, como
acreditava Leonardo da Vinci (Garin, 1996). Foram intensas
as novidades na cultura erudita e no campo das artes, entre os
séculos XV e XVI. A busca pela cultura escrita foi herdada da
Igreja medieval, que tanta dedicação apresentou ao ler e escrever
e das necessidades mercantis, que exigia o domínio da escrita e
do cálculo, pelo bem das ações comerciais, nos burgos.

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150 História da Educação

A vida, no Renascimento, é examinada e interessa. Isso é


o que se denomina secularização da vida, se na Idade Média era
interessante pensar no além-vida, aqui na Renascimento a vida
é necessariamente pensada, mas do que a vida celestial, o que
interessa ao contemporâneo deste momento histórico é buscar
compreensão e saberes sobre a sua própria humanidade. Os
humanistas estavam preocupados até com a infância, passando
a interessar em seus modos de viver. Tudo o que alargasse a
compreensão da condição humana era muito salutar aos
pensadores renascentistas.
Os séculos XV e XVI trouxeram novas formas de ver o
mundo ao redor, lendo as suas imagens. As pessoas transitavam
de uma sociedade medieval, movida pela oralidade, e ainda
muitos não sabiam ler os livros, mas sabiam olhar as novas
imagens modernas. E qual seria a expressão pedagógica do
processo criativo da Renascença? A educação humanista não
era somente erudita. E “os jovens recebiam educação cristã, mas
também, a educação humanista por meio do ensino da educação
física, da educação estética e da educação intelectual”. (Santos,
2013, p. 20)
Segundo Boto (2017) seria o refinamento do gosto,
possibilitando a convivência elegante com condutas e hábitos
das elites. Os cultos eram elegantes, isso era uma meta para os
ricos! A intenção era adentrar em modos de ser e agir das elites,
oferecendo educação dos costumes. A arte renascentista serve
aos que pretendem atingir este refinamento, agindo corretamente
e com as condutas sociais exigidas pelas elites perfeitamente
interiorizadas. Quase uma lição de etiqueta social? Aulas de
civilidade? Agir bem na civilização? O certo é que a estética
renascentista tinha um formato pedagógico, queria educar as
pessoas a serem nobres, na Idade Moderna. Embora nem todos
fossem príncipes, um cortesão precisava ser capaz de lutar
e dançar, pintar e cantar, escrever poemas e aconselhar seu
príncipe (Burke, 1999, p.78). Há uma cultura a ser imposta, há
um interesse em revelações científicas.

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História da Educação 151

Os humanistas eram professores ou estudantes de


gramática, poesia, retórica, história ou filosofia moral das
universidades italianas. Já foi visto que a Itália foi palco
primordial do Renascimento. Mas usar esta palavra Humanismo
só será usual no século XIX. E o que significa, neste momento,
“humanismo”? É um específico programa de ensino que quer
tomar um distanciamento das ciências naturais e das necessidades
práticas (Helferich, 2006). Representou uma nova visão do
mundo, associada a um estilo. Era expressa na cultura geral,
dos enciclopedistas, sem fins utilitários, marcadas pela busca de
refinamento e belas boas maneiras, reveladoras dos que vivem
em abundância econômica. Então era muito importante aprender
a falar bem, para saber viver adequadamente na corte, por isso a
busca intensa por cursos de retórica. Podia até não ser de elite,
mas precisava saber interagir com os nobres.
Boto (2017) e também Veiga (2007 lembram que o modelo
de educação humanista estava interessado nas crianças nobres e
os burgueses ricos, era necessário ensiná-los o comportamento
socialmente esperado aos ricos. Estes pensadores humanistas
estavam preocupados em falar o latim elegante e o estudo de
textos literários e registros escritos. A “unanimidade entre os
pedagogos humanistas foi a ampliação dos currículos. O ensino
das línguas pretendia incluir a língua materna e o ensino das
‘belas-letras’. A proposta era ir além do rigorismo gramatical
e buscar nas línguas o estilo literário dos clássicos gregos e
latinos” (Veiga, 2007, p. 38)
A palavra educação, na Pedagogia Renascentista, era
entendida tanto como prática e também como reflexão sistemática
sobre a prática. E estas reflexões sobre como educar produziram
famosas escritas (Europa, no fim do século XV) e as principais
críticas eram de mimos das famílias, o sadismo nas escolas e
o descaso com os mais jovens. Aconselhavam a não ameaçar
os alunos, não bater, já que bater não iria ajudar na melhoria
da educação, e para evitar a vinculação entre medo e educação.
Assim, deveria ser a educação dos homens de bem, das elites.

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152 História da Educação

Os pedagogos deviam ter cuidado com a formação do caráter


infantil e juvenil, com uma seleção adequada de conteúdos,
com práticas de raciocínio, com o corpo e o espírito dos alunos.
Na educação humanista não deveria haver compromissos com
formações profissionais, e sobretudo privilegiar a cultura geral,
a formação do caráter nobre de futuros homens livres, com o
apoio dos clássicos da Antiguidade.
Os humanistas eram a expressão letrada da Renascença,
opostos a Escolástica dos tempos medievais. Reclamavam
dos maus modos dos escolásticos, mais preocupados com
argumentos do que em tratar bem, agradar e atrair os alunos. É
aquela conhecida reclamação de que os escolásticos seriam muito
autoritários, com gestos muito rudes. Isso levou os humanistas
a buscar inspiração, na Antiguidade. O padrão de beleza grega
agradava os pintores e escritores renascentistas. Afastam-se de
Aristóteles, aproximam-se de Platão, nas ideias de que textos
são verdades reveladas, sendo possível ter autonomia para ler e
interpretar os clássicos.
O modelo erudito, o gosto pela declamação em público,
pela leitura, interesse em ler sobre a Antiguidade clássica,
como ferramentas para serem sujeitos afáveis, atingindo assim
aqueles que gostariam de atingir e influenciar, com bom gosto,
gentileza e graciosidade, os poderosos da corte. Saber conversar,
com boas maneiras. Educar, nos padrões esperados pelos
renascentistas, era promover, nos aprendizes, o padrão cultural e
intelectual clássico ou erudito. Educar para a polidez, ensinando
os padrões de comportamento social, bons costumes, elegância,
civilidade, gestos civilizatórios essenciais, na vida social, na
corte, nos tempos da Renascença. O humanismo tem conteúdo
aristocrático, mas universalista também. Apresentou uma
reflexão sobre a necessidade da educação, no campo intelectual,
mas estaria longe do que será visto nos ideários republicanos
(Educação para todos). (BOTO, 2017)

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História da Educação 153

Renascentistas criaram maneiras de pensar a educação


para crianças e jovens ricos e que necessitavam de formação
primorosa, para a vida nas cortes, podendo acontecer nas casas de
tais ricos, oferecidas por preceptores. Então, se são autoritários os
escolásticos; não é menos verdade, que os renascentistas estavam
interessados em educar os bens favorecidos economicamente,
não os pobres. O conhecido humanista Erasmo de Rotterdam
(1466-1536) não deixou de lançar as ideias sobre as crianças,
sobre uma necessária civilidade pueril, ele esclarece, nos seus
celebres escritos, na sua obra (1530) denominada De Pueris, os
cuidados necessários para domar as crianças, formar e impor
hábitos culturais.
A educabilidade infantil evitaria a rudez, se perfeitamente
modelados, retirando-lhes qualquer semelhança com os instintos
típicos dos animais. Os humanistas não defendiam que os adultos
olhassem as crianças como se elas fossem inocentes. Agindo
assim evitariam que seus filhos virassem monstros (isso até
os reformadores protestantes e os adeptos da contrarreforma
católicos concordavam). Na sua famosa obra, Elogio da loucura,
julga que os professores da sua época, os conhecidos gramáticos
eram pedantes e julgavam que eram eruditos, mas não passavam
de ilustres para si próprios, ensinando palavras insignificantes,
ameaçando os alunos constantemente e espancando aos grito (tão
comum à esta época nas escolas). Erasmo de Rotterdam confere
aos filhos dos homens uma fragilidade, diante da forma que já
nascem quase prontos muitos filhotes de animais. Mas as crianças
humanas nascem com a capacidade de aprender, desde que seja
estimulado. A Pedagogia humanista defendia o afeto como fonte
para favorecer o aprendizado. Isso em um tempo em que os severos
castigos e o gosto de tratar os alunos com gestos humilhantes eram
práticas comuns, trazidas da Idade Medieval. Ainda, com este
quadro terrível de desrespeito aos alunos, o humanista Erasmo
de Rotterdam vai defender a ida dos meninos da elite à escola
pública, não com o intuito de tratá-los como gado a ser domado,
mas para educá-los para serem livres! (BOTO, 2017)

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154 História da Educação

Figura 5: Erasmo de Rotterdam

Fonte: wikimedia commons

Os humanistas ensinavam com a imitação de bons


exemplos, com modelos, que deviam ser recitados aos filhos da
elite. Estes jovens ricos deveriam ser preparados a raciocinar,
ter argumentos, saber convencer e ter a cultura geral para vida
ser mais adornada. Quanto mais enfeite, mas fácil perceber a
diferença entre o que recebeu a educação, nos moldes humanistas.
Assim as metodologias de ensino humanista previam a
aprendizagem, a recitação, a revisão e a recapitulação das lições
dadas pelo preceptor. Erasmo de Rotterdam, na obra De Pueris,
recomenda que os pais (ricos da sua época) procurem homens
de bons costumes, com caráter afetuoso, cultos para educar os
filhos, comparando ao que é feito com os cavalinhos, adestrados,
enquanto são flexíveis ao adestramento. (BOTO, 2017)
Ainda que os filhotes dos cavalos tinham suas destinações
naturais e as crianças não tenham nascido prontas. Daí a
necessidade de modelar as crianças, já que os humanos possuem
a razão. Modelar era uma tarefa importante aos professores.
Repetindo que se manuseia a cera enquanto está mole e modela
a argila enquanto não secar, dizia Erasmo. Deveria se encher o

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História da Educação 155

vaso de excelentes licores enquanto novo. A educação deveria


agir de forma intencional em prol desta modelagem. Humanistas
julgavam que os adultos eram rudes para receber conhecimentos,
nada comparáveis a capacidade de aprendizagem das crianças.
Caberia aos ricos falar o latim elegante e ser educado,
ter boas maneiras, adornando a mente, enfeitando os modos
de agir, pensar e sentir. Estes modos humanitas de pensar a
educação influenciaram as universidades e escolas. E estavam,
na sua nascença, vinculados aos chamados reitores medievais,
vinculados a retórica medieval, muito menos do que queriam
os humanistas modernos. O que lembra um poeta brasileiro
contemporâneo e que dizia “ainda somos os mesmos e vivemos
como os nossos pais”.
O professor medieval seria aquele que vive cercado de
alunos, diante dos bancos onde estão seus alunos, onde profere
suas aulas, diante de tantos olhares, na agitação das escolas,
das salas empoeiradas e simples. Já o professor humanista é
um erudito solitário, sozinho no seu gabinete, na sua casa rica,
pensando livremente, cercado de riqueza, beleza e tranquilidade.
(LE GOLF, 1973).
Uma contribuição significativa do humanismo foi tornar
insignificante a influência da escolástica e a importância das
universidades. Assim, os colégios prosperaram, os métodos
de pesquisa mudaram, livros traziam textos antigos, não
mais os recitados textos, não mais a grande importância dos
mestres recitadores de textos antigos, já que era possível ler
sozinho, ter métodos suficientes para estudar e para observar a
realidade, podendo ser um pesquisador. Ainda que interessasse
aos humanistas as obras do passado, da Antiguidade. Desde a
infância era necessário apresentar o estudo das humanidades
para as crianças, tarefa que deveria ser feita por um bom
preceptor, da cabeça bem-feita, e não cheia (como defendia
Montaigne. Ele defendia que era melhor do que martelar nos
ouvidos dos aprendizes, como quem despeja em um funil,

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156 História da Educação

fazendo-os de repetidores do que ouviam, ao invés de favorecer


a experimentação, a capacidade de discernir sozinho, sem nem
mesmo ouvir as crianças. Será que já superamos nas escolas,
pelo vasto território brasileiro, esta mania medieval, criticada por
Montaigne? Evidente que interessava na crítica de Montaigne
a educação das elites. Mas já conseguimos, nos tempos
republicanos, universalizar tais direitos para uma aprendizagem
significativa? Tal preceptor, na Idade Moderna, deveria primar
pelos costumes (BOTO, 2017).
Figura 6: Florença, século XV

Fonte: wikimedia commons

SAIBA MAIS

Saiba mais sobre o Humanismo Pedagógico, no seguinte link:


http://bit.ly/35JbHCo

Definindo a reforma protestante e


contrarreforma educacional
Boto (2017) comenta que a Reforma protestante iria
modificar a consciência do imaginário cristão, os protestantes
costumavam ler a bíblia, sem mediadores, dialogando com
os textos sagrados, sem intermediários, com liberdade e

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História da Educação 157

individualidade. Isso vai influenciar a educação na Era Moderna.


O Século XVI propagou as escolas urbanas, conduzidas por
mestres livres, para ler, escrever e contar, necessárias à vida, no
seio de uma cultura mercantil.
A Reforma Protestante trouxe um elemento novo:
a catequese. Livros existiam, graças ao desenvolvimento
tipográfico, para instruir as pessoas, por mais diferentes que
fossem as classes sociais, eram necessários os tratados das boas
maneiras, um mínimo de etiqueta social. Incluindo as crianças,
que precisavam ter civilidade e agir com comportamentos
aceitáveis socialmente. Os livros tratavam de catecismos e
outros eram manuais de civilidade. Assim, na escola era possível
aprender como agir corretamente, na vida social. Já a Reforma,
o que trouxe este importante movimento de contestação a mais,
ao campo da educação?
Reforma Protestante trouxe novas ideias e
valores, que orientaram a organização de
alguns sistemas de ensino, como o dos estados
alemães. Com isso, a escola, de modo geral,
institucionalizou-se de forma mais elaborada,
visto que, nessa época, surgiram os currículos,
as graduações e séries e a separação por idade.
A superação da escola medieval também pode ser
observada quando o ensino deixa de ser ligado a
temáticas contemplativas e passa a ter um teor
mais realista, vinculado à sociedade moderna em
desenvolvimento. (Jélvez, 2012, p.44).
O foco trazido pela Reforma protestante era aprender a ler
para conseguir ler a bíblia, sem nenhum mediador, espalhando
bíblias nas mãos da população, graças a “santa” invenção da
imprensa. Mas os reformadores foram além disso! Começaram
a pensar na vida civil, defendendo que a educação poderia
colaborar na prosperidade das pessoas, na Idade Moderna.
Escolas para as instâncias foram pensadas.

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158 História da Educação

“Os alunos foram divididos em classes


estabelecidas conforme o nível de seu saber. Um
pedagogo luterano da época, Philipp Melanchthon
(1497 -1560), propôs a divisão em três classes:
uma para os alunos que estavam aprendendo a ler e
a escrever, outra para os que estudavam gramática
latina e uma terceira para os que e dedicavam a
estudar retórica e lógica” (Veiga, 2007, p. 31)
Lutero (viveu entre 1483 e 1546) falava que o “coração do
homem é como um moinho que trabalha sem parar. Se não há
nada para moer, corre o risco de triturar a si mesmo” (Piletti, p.
65). Lutero entendia que o “cristão é um livre senhor de todas
as coisas e não está submetido a ninguém. O cristão é em todas
as coisas um servidor e está submetido a todo mundo. ” (Piletti,
2012, p. 65).
Lutero defendia que era preciso indagar às mães, às
crianças e ao homem do povo,, no mercado como traduz um
texto em latim para a língua materna, nacional, como o alemão
falado nas ruas, nos Séculos XV e XVI. “Por discordar dos
costumes da Igreja de seu tempo, o monge alemão Marino
Lutero liderou a Reforma Protestante, responsável pela divisão
do cristianismo e o surgimento de novas igrejas” (Piletti, 2012,
p. 62). A Reforma protestante vai trazer consequências políticas,
sociais, econômicas e educacionais.
O grande Lutero lança, em 1524, um conhecido manifesto
intitulado Aos conselhos de todas as cidades da Alemanha para
que criem e mantenham escolas. A ordem e a disciplina, de
inspiração de colégios calvinistas, só poderiam trazer o preparo
dos jovens para as suas profissões futuras, era assim que se
pensava. Então era necessário ensinar de forma racional. O que a
Reforma traz é uma necessária, à época, de mudança na reflexão
pedagógica e o desejo de promover uma escola secularizada,
civilizadora, institucionalizada e racionalizada, ou seja, bem
diferente da escola medieval, gerida pela Igreja católica.

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História da Educação 159

Somente ler e escrever não bastava, como era ensinado na


Idade Medieval e suas escolas católicas, precisava ser inovado
com saberes necessários ao mundo mercantil, urbano e comercial,
dos burgos, com suas práticas materiais de troca, o modo de agir
ético do burguês, do protestante, do capitalismo e a civilização
social dos costumes, saber se comportar bem socialmente
deveria ser buscado incessantemente. Isso levou a criação de
códigos de conduta moral aceitável, capaz de fazer o aprendiz
saber se autocontrolar, autoconter e autodominar, ter pudores e
vergonhas, saber lidar bem com paixões e afetos, além, de saber
ser cortês e civilizado. Então, este lugar da escola, como espaço
de aprender civilidade e para alguns, civilização, muda o cenário
dos estabelecimentos de ensino, na Idade Moderna.
Lutero foi um dos responsáveis pela reformulação
do sistema de ensino público que serviu de
modelo para a nossa escola atual. É dele a ideia
da escola pública para todos organizada em três
ciclos: fundamental, médio e superior. E, coerente
com esta ideia, condenou a educação dada pelas
escolas monásticas e eclesiásticas de sua época.
Para ele, a educação, não devia ser dominada pela
Igreja. (Piletti, 2012, p. 62)
A Reforma Protestante prestou seus serviços à
escolarização, na Idade Moderna. Na Renascença, os textos eram
resumidos, copiados, com as suas anotações nos cadernos, e até
nos cantinhos os livros. A Reforma protestante vai favorecer a
pedagogia, refletindo sobre a própria história da educação. Com
a possibilidade de ter uma bíblia e lê-la, ampliados foram os
números de leitores, bem como a valorização social da leitura. É
interessante lembrar que a Reforma Protestante existiu motivada
pela aversão à venda de indulgências, para trazer dinheiro à
Igreja, com os pecados perdoados e assim sustentar a riqueza dos
dirigentes da Igreja, pagar as cruzadas e construir novas igrejas.

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160 História da Educação

As indulgências católicas oferecidas, no tempo de


Lutero, eram absurdamente oferecidas para redimir pecados
que poderiam ser impostos por Deus, no mundo espiritual,
sem nem passar pelo purgatório. Lutero vai sugerir, em 1524,
que as autoridades municipais criem e mantenham escolas e
procurem promover uma consistente política escolar para que
as crianças consigam ler a bíblia, ainda caberia oferecer aos
meninos, a possibilidade de aprender a ser capaz de administrar
o funcionamento dos ofícios e das cidades, e às meninas saber
cuidar bem do lar. Educação era ferramenta importante enquanto
estratégia para firmar a nova concepção nascente religiosa. A
escolarização, para Lutero, é fato político também, não apenas
algo relativo à educação. Era necessário aumentar o número de
escolas, formar os jovens para cuidar das cidades, assim pensava
Lutero. E, ainda, “a educação não podia ser responsabilidade só
da escola. A família também devia participar nessa tarefa. Por
isso, ele defendia que as escolas fossem mais amplas e abertas
do que eram em sua época”. (Piletti, 2012, p. 62)
Figura 7: Martim Lutero

Fonte: wikimedia commons

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História da Educação 161

Criticando, além do pagamento que faziam os fiéis para


ter seus pecados perdoados, a suprema arrogância do clero
católico, que estariam inconvenientemente colocados como
intermediários entre Deus e os fiéis católicos. Lutero condena
a confissão auricular a um sacerdote, não admite que somente
o sacerdote leia as palavras contidas na bíblia, faça seu sermão,
sem que os fiéis possam ler as escrituras, continuando a fazer
suas obras boas e justas. Lutero entendia que a fé é confiança
em Deus, com alegria, e não com coação, fazendo o bem
voluntariamente e ajudando uns aos outros, obra e fé não podem
ser separados. Os clamados de Deus seriam feitos a cada um dos
viventes.
Mas nem todos serão chamados ao sacerdócio, alguns
trabalharam ativamente na sociedade (chamado trabalho secular),
aproximando muito os postulados da Reforma Protestante com
os do capitalismo. O trabalho secular dignifica o homem. Os
Reformistas defendiam que a profissionalização, perseverança
e êxito nas tarefas trarão prosperidade para todos. Os chamados
de Deus devem ser seguidos, não recusados. Os calvinistas
defendiam que ao aceitar este chamado de Deus, este trabalho
vai favorecer o sujeito, pois enseja o atendimento do que pediu
Deus, o homem é dignificado no trabalho, afastado dos vícios.
Calvino compreendia que nem s obras e nem a fé eram
alicerces da salvação. Não é possível aos homens conhecerem
a graça divina. É somente Deus quem faz suas escolhas. Os
seres humanos são predestinados, unicamente por Deus. Entre
os reformadores cristãos o francês João Calvino (Viveu entre
1509 a1564), “que se deu ao protestantismo suíço e ao francês
sua doutrina de organização. Suas ideias se espalharam pela
Holanda, Bélgica, Inglaterra, Escócia e atingiram as colônias
inglesas da América do Norte”. (Gadotti, 2003, p. 68)
O que cabia aos humanos, segundo Calvino, era considerar-
se eleito por Deus, repudiar as forças malignas, seguir convicto,
com fé e agir firmemente para conseguir a graça divina, cuidando

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162 História da Educação

de sua família, tratando bem sua comunidade, trabalhando com


afinco, zelando por suas mulheres e filhas, os filhos precisariam
respeitar os Pais, mesmos aqueles maus pais, respeitar os
superiores, não permanecendo preocupados com o cumprimento
dos deveres dos outros, mas apenas dos seus próprios deveres.
A doutrina de Calvino declara que é preciso aceitar as
predestinações, que devem ser vividas com racionalidade,
e futuros lucros serão benvindos, que não são reprováveis
moralmente. Acumular capital seria legítimo, enquanto lógica
subjetivamente reguladora da organização capitalista, que se
sustenta com a produção e venda de matérias, e alguns lucram
disto, enquanto outros trabalham, sem cessar, cumprem seus
chamados divinos, e recebem seus predestinados salários, e
devem dizer Glória a Deus! Calvino entendia que a vocação era
uma lei da natureza.
Figura 8: João Calvino

Fonte: wikimedia commons

A proposta dos Reformadores Protestantes para a educação


seria renovar padrões ultrapassados, escolásticos (Idade
Medieval) e dos mestres livres (que educavam em suas casas).
Isso exigira um cuidado para selecionar livros. Lutero declarou

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História da Educação 163

que haviam muitas publicações duvidosas. Outros saberes


além de gramática, grego e latim (relacionados ao trivium), era
necessário aprender a língua nacional e valorizá-la.
Quando ao currículo, o Latim e o Grego deveriam
constituir a parte mais importante. E o Hebraico
também precisaria estar ao alcance de todos. Para
além do aspecto linguístico, ele incluía a Lógica,
as Matemáticas, a Ciência, a Gramática e a música.
Aliás, a música, por influência de Lutero, tornou-
se obrigatória na educação e todos. (Piletti,2012,
p. 62)
Aprender história ajudaria a entender melhor o curso do
mundo, segundo Lutero. Ele defendia que a educação universal
era importante para a própria Reforma Protestante. E deveria
ser oferecida educação para todos, ricos e pobres, plebeus ou
nobres. “E contrariando o que se pensava e fazia na época, ele
deveria beneficiar tanto os meninos quanto as meninas. Caberia
ao Estado, finalmente, decretar a frequência obrigatória à
escola”. (Piletti, 2012, p. 62)
Lutero, posteriormente, passou a defender a alfabetização
para aproximar o leitor do texto bíblico, mas repensou algumas de
suas metas, motivado pela irrupção de Guerra dos Camponeses
(que haviam lido a Bíblia e resolveram invadir terras, já que
tinham direito à terra e pela proliferação do movimento
anabatista, reunidos crenças, inspiradas em Lutero e no Livro
do Apocalipse, criando indisposições com os poderes civis,
apelando para a possibilidade de retorno de Cristo até a defesa
de partilha de bens).
Lutero criou um catecismo para as escolas, com roteiro
de uma interpretação da Bíblia, organizado com perguntas e
respostas, para ensinar preceito por preceito. Linha por linha,
sem liberdade de interpretação. E deixou de defender a entrega
de Bíblias nas mãos de pessoas comuns, por ser perigoso, já que
acabou por concluir que as massas populares não conseguiam

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164 História da Educação

atingir a verdade pela luz das escrituras. Traduziu as Fábulas


de Esopo, escreveu uma obra chamada Pequeno catecismo e
o Catecismo maior. Trazendo as escolas uma possibilidade de
interpretação certa do texto bíblico. Popularizou o formato de
que para cada questão há somente uma resposta correta, todas
as demais serão erradas, decididas pelo professor. Lutero foi
um pioneiro na defesa da necessidade de promover o caráter
das crianças, já nas escolas de primeiras letras. Seus Cânticos
foram usados na Reforma da escola. Manteve o latim como base
de seus estudos. Batalhando muito pelas línguas maternas, e
por catecismos e cânticos escritos nas línguas maternas. Teria
feito um silabário (cartilha) em 1525, com alfabeto, os dez
mandamentos, o credo, a oração dominical, preces e passagens
bíblicas e numeração e 1 a 100. (BOTO,2017).
O resultado da Reforma protestante foi uma
interiorização da religiosidade cristã, que ficou mais íntima e
de responsabilidade pessoal maior. E com relação as escolas,
um “resultado prático foi o surgimento de sistemas de escolas
controladas e parcialmente mantidas pelo Estado. Tais sistemas
são considerados os primeiros de tipo moderno” (Piletti, 2012,
p. 62). Cidades e vilas passaram a ter escolas elementares de
latim. E também as escolas superiores de Latim, posteriormente
incorporadas ao ginásio, com as escolas elementares. “E, acima
de tudo, estava a universidade, cuja história foi determinada
pelo progresso da religião protestante e pelo desenvolvimento
da teologia protestante”. (Piletti, 2012, p. 64)

SAIBA MAIS

Quer saber mais sobre a Reforma Protestante e sobre Calvino?


Veja no seguinte link: http://bit.ly/2VR5vU5

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História da Educação 165

A Contrarreforma foi a reação pensada pela Igreja Católica


à Reforma Protestante. Isso foi configurado, em 1534, com o
surgimento da Companhia de Jesus, até no Brasil Colonial
os jesuítas deixaram suas marcas. Seu fundador foi Inácio de
Loyola (1491-1556), “um militar espanhol ferido em batalha e
que, não podendo retornar à carreira, colocou-se a serviço da
Igreja. Ele organizou a Companhia de Jesus em moldes militares,
obrigando seus membros a uma rigorosa disciplina e a uma total
obediência ao papa.” (Piletti, 2012, p. 65)
Estes jesuítas “graças ao seu rigoroso preparo intelectual,
alcançaram grande êxito educativo. Entre eles, os que se
destacavam intelectualmente eram escolhidos para exercer
permanentemente a função”. (Piletti, 2012, p. 65). Vão ter
grande destaque na educação católica, na Idade Moderna.
O conteúdo de ensino das escolas jesuítas
tinha um caráter essencialmente humanista. As
matérias eram as mesmas das outras escolas. O
que diferenciava as diferenciava era o rigor do
método de ensino, que e caracterizava por revisões
frequentes da matéria. Cada dia, cada semana,
cada mês e ano, terminavam com uma revisão”.
(Piletti, p. 65)
A Contrarreforma revelou um desejo maior de ler os
salmos, por parte dos católicos. Parecia que ninguém queria ficar
fora destes tempos repletos de leitores, era necessário ensinar a
ler, ao mesmo tempo que as autoridades eclesiásticas entendiam
que também nem tudo deveria ser lido. O Concílio de Trento
não mudou este temor, na religião católica, pelo potencial da
leitura. A pregação era valorizada, como a confissão foi mantida
para que o clero exercesse o poder. Era necessário permanecer
fortalecendo o poder do papa. (BOTO, 2017).

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166 História da Educação

Figura 9: Concílio de Trento

Fonte: wikimedia commons

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre CONTRARREFORMA, CONCÍLIO


DE TRENTO E COMPANHIA DE JESUS, Veja o vídeo, no
seguinte link: http://bit.ly/35Mmmwf

Definindo a Companhia de Jesus e o “ratio


Studiorum”; A Pedagogia Jesuítica
A Companhia de Jesus ou Sociedade de Jesus foi criada
por Inácio de Loyola, em 1534, oficializada em 1540, pelo
papa Paulo II, como uma resposta católica contra a Reforma
Protestante. Pretendia combater as heresias e o protestantismo.
Um importante fato da Idade Moderna e grande marco nas
sociedades católicas na Europa e América Latina foram os
colégios jesuítas (Veiga, 2007). Os colégios

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História da Educação 167

estiveram no centro da Igreja Contrarreformada e


estimularam a cultura geral erudita, integrando a
pedagogia humanista ao espírito da cristandade,
enquanto favoreciam distinções sócias e formavam
na moral cristã. Esses colégios se afirmaram como
propedêuticos aos estudos superiores de teologia,
medicina e direito. (Veiga, 2007, p. 41).
Os dirigentes católicos julgavam que era necessário ater o
grande avanço protestante. E a meta era atingir tal objetivo através
da educação de novas gerações, e, ao mesmo tempo, com as missões,
“por meio da ação missionária, procurando converter à fé católica
os povos das regiões que estavam sendo colonizadas”. (Piletti,
2012, p. 69). Com atividades múltiplas, “destacando-se as ações
missionárias desenvolvidas nas colônias em favor da conversão do
gentio à fé cristã por meio da pregação do evangelho”. (Veiga, 2007,
p. 41). Foram fundando colégios, a depender da condição social
dos estudantes. Assim, “havia tanto escolas para burgueses e nobres
quanto escolas exclusivas para filhos dos pobres. Todas elas, porém,
eram regidas por um mesmo regulamento: Ratio atque Institutio
Studiorum Societatis Jesus, de 1599, mais conhecido como Ratio
Studiorum”. (Veiga, 2007, p. 41)
O Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu, foi
um Plano e uma Organização de Estudos, estabelecidos pela
Companhia de Jesus. Abreviada como Ratio Studiorum, tal
coletânea, abalizada em experiências ocorridas no Colégio
Romano, e também em observações pedagógicas de distintos
colégios, desejava instruir velozmente os jesuítas docentes sobre
a real natureza, a verdadeira extensão e as esperadas obrigações
do seu cargo. O Ratio Studiorum aparece como resposta a precisão
de unificação de procedimentos pedagógicos dos jesuítas, já
que muito colégios surgiram para serem administrados pelos
jesuítas, no exato momento histórico em que resolvem oferecer
as suas ações missionárias, na Europa e nos países colonizados.
“Desse plano de estudos constavam desde a regulamentação dos
estudos e da vida no colégio até a disciplina, mas a ênfase estava

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168 História da Educação

no método de ensino. A emulação e a entrega de prêmios eram


incentivadas, evitando-se castigos físicos.” (Veiga, 2007, p. 41).
Ratio Studiorum é a sistematização da pedagogia jesuítica,
composta de 467 regras capazes de abranger a totalidade das
atividades dos agentes relacionados diretamente ao ensino. Era
sugerido que o professor jamais se afastasse do estilo filosófico
de Aristóteles, e da teologia de Santo Tomás de Aquino, que na
Idade Medieval tinha instituído a escolástica. Estas observações
feitas em Roma e outros colégios, em 1584, são codificadas
por uma comissão, que foi encarregada de produzir a escrita
do documento apresentado no fim do século XVI (1591),
assim o Ratio Studiorum foi promulgado em 1599. Pretendiam
instruir (civilizar) os povos originários das colônias e a elite
colonial, tendo como modelo o estudante europeu. Respaldando
a instrução moral para aa elite das colônias e a catequese aos
indígenas. Eram previstas provas orais.
As escolas jesuítas permitiram uma certa
homogeneização cultural das elites por meio da
unidade entre a gramática latina, as belas-letras
(humanidades) e a retórica, base fundamental da
educação dos jovens. Além da formação de turmas
com média etária aproximada e da designação de
um professor específico para cada turma, outras
materialidades ajudaram a unificar os processos
de formação, o uso recorrente da escrita, a
composição de textos, o uso de livros impressos e
a promoção anual dos alunos, com a distribuição
de prêmios. (Veiga, 2007, p. 42)
O método Pedagógico Jesuítico, previsto na Ratio
Studiorum, apresentavam as 467 regras apropriadas, que
deveriam ser respeitadas pelos professores, pelo bem da suas
funções pedagógicas:

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História da Educação 169

Que o professor ensine os jovens confiados à


educação da Companhia de modo que aprendam
coma s letras, também os costumes dignos de um
cristão.
Antes do começo da aula recite apara alguém
uma oração breve e apropriada, que o professor
e todos os alunos ouvirão atentamente de cabeça
descoberta e de joelhos.
Assistam todos à missa e à pregação; à missa
diariamente, à pregação nos dias de festa.
Nas classes de Gramática principalmente e, se for
mister, também nas outras, aprenda-se e recite-
se de cor a doutrina cristã, as sextas-feiras e aos
sábados. (Piletti, 2012, p. 72 e p. 73)
E, ainda, determinam que sejam conservadas as aulas no seu
nível, que os alunos recitem as lições decoradas, memorizadas.
Bem como, nas classes de gramática deveriam todos os dias,
menos no sábado, apresentar trabalhos escritos. As correções
de trabalhos deveriam ser feitas com voz baixa, diante de cada
aluno, enquanto os outros alunos exercitam a escrita. Levando
em conta de que ao início e fim das aulas, ler e comentar algumas
escolhidas tarefas, tendo como critério de escolha as melhores
ou as piores, decisão a ser feita pelo professor a cada dia.
Diferentemente do que ocorria antes, o novo
método fazia largo uso da escrita. A lectio incluía
leitura e comentário do texto e também aconteciam
debates (sabbatinae disputattiones), mas toda
aula tinha uma parte destinada aos exercícios
escritos e à redação. Outra ênfase era a retórica,
o desenvolvimento de uma expressão oral que
produzisse no ‘como falar’ efeito de verdade para
os ouvintes. (Veiga, 2007, p. 41)

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170 História da Educação

O professor deveria tomar os pontos estudados pelos


alunos para verificar se tinham fixado muito bem as lições,
memorizado bem o que deveriam estudar, seguindo a seguinte
escolha, primeiro os mais adiantados, depois os demais alunos.
Era essencial fazer uma sabatina, todos os sábados, para verificar
se os alunos aprenderam as lições da semana.
A gramática latina continuou sendo a base
fundamental dos estudos, que eram divididos em
dois conjuntos de disciplinas: o studia inferiora e
o studia superiora. O primeiro compreendia seis
anos de estudos linguísticos e literários - três anos
de gramática latina, dois anos de humanidades ou
belas-artes e um ano de retórica - e destinava-se à
maioria dos alunos. Os estudos superiores visavam
preparar os estudantes para as carreiras liberais
(com estudos de filosofia e matemática) e para
o curso de teologia, que incluía teologia moral
(casos de consciência, vícios e virtudes) e teologia
dogmática. (Veiga, 2007, p. 40).
Vieira afirma que inicialmente não existiam internatos para
os que não fossem entrar para o sacerdócio, na Companhia de Jesus.
Os demais alunos ficavam em pensionatos, anexos aos colégios,
com as mesmas rígidas determinações disciplinares dos colégios.
Figura 10: ratio studiorum

Fonte: wikimedia commons

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História da Educação 171

As preleções (discursos) feitas para os alunos não podiam


ser feitas baseadas em autores modernos, somente baseados nos
clássicos, como Aristóteles e São Tomás de Aquino.
As preleções precisariam seguir a seguinte ordem:
1. Ler, sem parar, todo o trecho.
1. Argumentar com poucas palavras o texto lido.
1. Ler cada pequeno trecho, explicar em Latim, clarificando
as ideias mais obscuras, ligando as ideias, explanando pensamentos.
1. Retome o texto inicialmente lido e faça as observações
cabíveis, aquela classe, onde está lecionando.
1. Com um mês completo de estudos, dias antes dos
exames (excetuando os estudos de Retórica), seria necessário
fazer uma boa quantidade de exercícios. E ficar atento aos alunos
que alcançaram bons resultados, devendo ser comunicados tais
fatos aos superiores para ocorrer exames privados, para a posterior
mudança de classe. A disciplina de cada aluno será alcançada,
se as 467 regras forem observadas. E quanto aos castigos, seria
necessário ter cautela, e evitar ser exagerado ao investigar. No
lugar de castigar, seria interessante acrescentar um trabalho
literário, além das tarefas que todos deveriam fazer naquele dia.
Não deveriam castigar fisicamente (só o corretor poderia fazer
isso). Não cometer injúrias (ofensas) com palavras e atos. Sempre
chamar os alunos pelos seus nomes. (Piletti, 2012).

Definindo o papel dos Colégios Modernos


A Idade Moderna é marcada pela ritualização da pedagogia
para fins civilizatórios. Era necessário educar as elites, dar-lhes
boas maneiras. “Criado no final da Idade Média, uma instituição
de muita relevância foi o colégio, que aos poucos substituiu os
estudos dispersos dos mestres das faculdades de artes”. (Veiga,
2007, p. 29).

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172 História da Educação

Espalhar pelas cidades os hábitos de cortesia, forçar uma


sociabilidade urbana, as pessoas precisavam ter bons modos, na
vida social, aprender os adequados códigos de comportamento
social, contendo os impulsos, as paixões, tornando-se cortesãos,
urbanizados, palacianos e civilizados. Com este objetivo para
realizar forma sendo criados rituais de como proceder, quais
práticas buscar, quais os gestos aceitos e como torna-se pessoa
letrada. Uma pessoa com cultura era alguém que tinha recebido
lições de linguagem erudita, cristã, lia bastante, aprendeu a
conversar, sabia conter seus comportamentos e se expressava
bem. (BOTO, 2017).
Este conjunto de saberes usados para viver socialmente,
de modo adequado, com comportamentos codificados e
normalizados seriam fortemente buscados na educação, tanto
na doméstica quanto na instrução oferecida nos colégios. Os
colégios agiam com a dupla meta de racionalizar e civilizar os
povos, na idade moderna. Entre os séculos XVI a XVII surgiram
muitos colégios, na Europa e até nas colônias graças as ações
jesuíticas. As famílias pareciam entender que era necessário
qualificar à educação de seus filhos e enviá-los aos colégios
Os colégios religiosos cumpriam suas funções, já desde o
século XVI. Entre os séculos XIII e XIV, da Idade Medieval, os
colégios atendiam aos estudantes pobres, agindo como asilos ou
alojamentos dos que vinham às universidades, sob a direção de
ordens religiosas e das paróquias, ainda não sendo instituições de
ensino, mas comunidades organizadas. Foi no começo do século
XV, na Idade Moderna, que viraram instituições formativas,
com rígidos sistemas disciplinares, com um duplo foco, instruir
e moralizar.
É importante levar em conta que
quando os estudos das universitas tiveram início,
jovens oriundos das mais diversas localidades
procuraram a orientação de um mestre, o que
exigia que buscassem um alojamento (hospitia).

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História da Educação 173

Os de melhor condição financeira moravam em


casas particulares ou em estalagens, enquanto os
mais pobres residiam em instalações criadas para
acolhê-los, as hospitias de caridade (collegiuns),
anexas às casas religiosas. Esses alunos realizavam
serviços domésticos, pediam esmolas ou recebiam
ajuda da igreja, na forma de bolsas, para se manter.
(Veiga, 2007, p.30).
Já estava provado que as escolas medievais, nas casas
dos mestres, reunindo diversas faixas etárias e para distintos
níveis de aprendizagem, indiferentes as diferentes etapas da
vida, com currículos sem graduações, com um só professor
para todos e indiferente a ideia de idades deixavam muito a
desejar. A Idade Moderna oferece um modo menos comunitário
de viver e mais próxima da ideia de família nuclear (pai, mãe
e filhos já bastam). Então esta escola com todo mundo junto
e misturado já deixaram de interessar estas famílias que liam
livros sobre a educação humanista. “A partir do século XVI,
devido ao prestígio acumulado, os colégios deixam de servir de
abrigo para estudantes pobres, e as funções se invertem: eles
se especializam como locais de ensino e em suas proximidades
surgem pensões especializadas para moradia dos estudantes”.
(Veiga, 2007, p.30).
O programa escolar moderno passava pela valorização
os bons costumes, apropriados hábitos de conduta, higiene e
civilidade no trato com os outros. Foi com este objetivo que os
ricos modernos começaram a enviar seus filhos aos colégios. A
mudança de mentalidade à época foi que “os colégios também
se fixam como estágio para ingresso nos estudos superiores
da maioria das universidades, além de contar com alunos
procedentes das classes abastardas – a pequena nobreza e a
burguesia”. (Veiga, 2007, p.30).
Os filhinhos dos ricos eram frágeis e era necessário que
o mestre, no colégio, tivesse responsabilidade moral com seus

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174 História da Educação

alunos, dentro e fora do colégio. Ocorreu que “os colégios


rompem com o modelo corporativo presente na Idade Média,
seja da corporação de mestres, seja de alunos (‘nações’), e se
apresentam como instituições burocráticas que ordenam a vida
de ambas as categorias”. (Veiga, 2007, p.30).
Assim, ia mudando o sentimento de infância, nos lares,
nas instituições escolares e nas ruas. Começou uma investida
para qualificar a profissão docente, separando-a da vida privadas
dos professores. Já não era certo enviar crianças para estudar nas
casas dos professores. Assim, a meta era construir uma sociedade
letrada. Já o acesso de compêndios sobre a infância, que os
pensadores escreviam e os pais liam, já faziam considerável
papel civilizatório, difundindo as certezas dos ideólogos
modernos. (BOTO, 2017)

SAIBA MAIS

Conheça mais sobre o pensamento da autora Carlota Boto sobre


a Liturgia Escolar da Idade Moderna, no seguinte link: http://bit.
ly/35MphFd

Os colégios, na Idade Moderna, foram potencializados


como espaços para obter informações novas, adquirir atitudes e
habilidades socialmente esperadas, ser um ser com a consciência
de sua própria individualidade, capaz de pensar, um sujeito
intelectualizado, que acreditava nos princípios modernos
contidos nos livros, afinal aprender a ler para ter acesso aos
mais novos conhecimentos, e aprimorar sua capacidade de
ver o mundo com clareza, racionalidade e ficaram para trás os
aprendizados orais medievais.

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História da Educação 175

Torna-se evidente a preocupação com o controle


da aquisição dos conhecimentos, mas também
com o trabalho do professor. Em outras palavras,
novas estruturas e relações de poder se delinearam,
expressas na concentração dos estudos num só
local, na instituição educacional, na centralização
do controle dos estudos, na reordenação do uso de
tempo e espaço e no estabelecimento do ensino
compulsório, seriado e de conteúdo hierarquizado.
(Veiga, 2007, p. 31)
Figura 11: Madonna e o menino Jesus

Fonte: wikimedia commons

Não era possível deixar as crianças fora dos aprendizados


modernos, novos leitores precisariam ser formados e a escola, na
Idade Moderna, vai produzir tais futuros leitores. Estudar em um
colégio é ir a uma instância intermediária entre a sua família e a
sociabilidade esperada, para viver em sociedade. Nos modernos
colégios, introduzindo nova forma escolar, relacionada aos
processos de racionalização da Idade Moderna, surgiram quatro
inovações básicas: “espaço, tempo, novas estruturas de poder e
seleção de elementos socioculturais. Esse novo modelo supunha

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176 História da Educação

a existência de uma nova organização espacial, traduzida em


prédios próprios com dependências especializadas de acordo
com as funções” (Veiga, 2007, p.31).
O Extenso processo de civilização ocidental (do começo
da Idade Média ao fim do século XIX) reformulou os códigos de
comportamento, era necessário saber se vestir, ter bons modos,
boas maneiras, cabendo aos professores serem os promotores do
que a literatura moderna chamava de saber viver (savoir-vivre) e
saber fazer (savoir-faire), destinado às elites, além do aprender
a ler para continuar sendo um leitor e escritor, pelo resto da
existência. Assim, foi possível dar conta das existências dos ricos,
na Idade Moderna, lendo os seus diários, suas autobiografias,
com exaustivos relatos da vida cotidiana. (BOTO, 2017)
Eram muitos os colégios, alguns católicos (jesuítas,
oratorianos ou jansenistas) e outros protestantes (luteranos,
anglicanos e calvinistas).
O ajustamento de um conjunto de procedimentos
e de técnicas para esquadrilhar, controlar, medir,
corrigir os indivíduos, para os tornar ao mesmo
tempo “dóceis e úteis”. É a inauguração da
“sociedade disciplinar”, onde a criança é mais
individualizada que ao adulto, o doente é antes
do homem são, e o louco e o delinquente antes
que o normal e o não delinquente. O momento
histórico das disciplinas é o tempo do corpo que
se manipula, que se corrige; é também o tempo de
encerramento da infância nos lugares que lhe são
destinados. (Nóvoa, 1991, p. 13).
Das escolas dos mestres livres, em suas casas, no século
XVII, abertas também aso filhos dos mercadores (querendo
aprender a ler, escrever e contar) era necessário avançar para
uma escolaridade urbana, dos bons leitores e dos que aprendiam
boas maneiras e adequadas forma de civilidade, nada mais
apropriado que os colégios.

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História da Educação 177

SAIBA MAIS

Um assunto que voltou a ser discutido e que era muito comum


na transição entre as Idades Medieval e Moderna é as escolas
dos mestres livres, atualmente é fruto de discussões a educação
domiciliar, contemporaneamente é chamado “homeschooling”.
A Prof. Da USP Carlota Boto é entrevistada. Disponível nos
links: http://bit.ly/35JHbbg e http://bit.ly/31niQVx

Explicando a Pedagogia moderna: a


trajetória histórica da infância; A nova
concepção de infância na modernidade
A Pedagogia Moderna vai ser expressa através de uma
mudança gigantesca com que escritores, pais e professores
pensaram a infância, de um modo tão distinto, que não poderia
ser comparado com outros momentos anteriores, da história
humana. Assim, é necessário percorrer a trajetória moderna
da infância, para explicar a nova concepção de infância na
modernidade.

Explicando a Pedagogia moderna: a


trajetória histórica da infância
Como foi possível estudar os costumes modernos e entender
as mudanças no pensar sobre a infância, na Idade Média? É bom
lembrar que na Idade Moderna ainda não havia a propulsão das
câmeras fotográfica e muito menos os modernos smartphones
que possibilitam que os pais façam registros inúmeros de seus
filhos. As pessoas ricas, os nobres, as classes mais abastardas
contratavam um pintor para registar suas imagens. Assim, se
registrou este tempo.

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178 História da Educação

O historiador Ariès (1981) sugere uma possível relação


entre a especialização infantil dos brinquedos e a importância
sugerida pela iconografia (quadros pintados por famosos pintores
renascentistas, por exemplo), à primeira infância, a partir já do fim
da Idade Média. Este autor contemporâneo francês aponta que a
criança medieval virou o repositório dos costumes abandonados
pelos adultos, até bonecas que antes eram usadas para vestir
modelos de roupas para as mulheres, abandonadas e já sem função,
viravam brinquedos. Em 1600, apenas a primeira infância tinha
especialização em suas brincadeiras. E “depois dos três ou quatro
anos, ela se atenuava e desaparecia. A partir dessa idade a criança
jogava os mesmos jogos e participava das mesmas brincadeiras
dos adultos, quer entre crianças, quer misturada aos adultos.”
(Ariès, 1981, p. 77). Isso vai mudar, no decorrer da idade Moderna.
Ariès lembra que representação de cenas de jogos é farta
na iconografia, da Idade Média até o século XVIII, já durante a
idade Moderna. Isso possibilitou que tivéssemos provas de que
Luís XIII, um reizinho francês “desde seus primeiros anos, ao
mesmo tempo que brincava com bonecas, jogava péla e malha,
jogos que hoje nos parecem ser muito mais jogos de adolescentes
e de adultos. Numa gravura de Arnoult do século XVII, vemos
crianças jogando boliche.” (Ariès, 1981, p.77)
Figura 12: Retrato de Louis XIII em 1611 por Frans Pourbus filho.

Fonte: wikimedia commons

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História da Educação 179

Ariès (1981) comenta não eram somente crianças que


usavam bonecas e réplicas de objetos adultos. Sa na Idade
Moderna serão as crianças proprietárias deste monopólio,
compartilharam na Antiguidade, pelo menos com os mortos. Na
Idade Média segue a ambiguidade da boneca e das réplicas. Até
por ser também a boneca ameaçador instrumento do bruxo e do
feiticeiro. O autor comenta que a vontade “em representar de
forma reduzida as coisas e as pessoas da vida quotidiana, hoje
reservado às criancinhas, resultou numa arte e num artesanato
populares destinados tanto a satisfação dos adultos como à
distração das crianças”. (Ariès, 1981, p. 75).
A infância mudará na Idade Moderna. Kishimoto chama o
Renascimento de período de compulsão lúdica, o Renascimento
viu a brincadeira como uma conduta livre e favorecedora do
desenvolvimento da inteligência e aprendizagem escolar. E a
autora analisa a obra Gargântua e Pantagruel, revelando que
o autor Rabelais critica o jogo como futilidade e inutilidade,
apreciando “como instrumento de educação para ensinar
conteúdos, gerar conversas, ilustrar valores e práticas do passado
ou, até, para recuperar brincadeiras dos tempos passados”.
(KISHIMOTO, 1998, p. 29). Isso vai mostrando a mudança na
mentalidade pedagógica, dedicada às crianças.
Mikhail Bakhtin, estudou esta obra renascentista e comenta
que o expressava o livro de Rabelais fora mal interpretado.
Bakhtin faz uma análise da estrutura social da Renascença
com o intuito de encontrar um equilíbrio entre a linguagem não
permitida e permitida à época moderna. E desvela o carnaval
entre pontos muito importantes ao longo do texto. A cultura do
carnaval tão associado a coletividade, desafiadora da organização
sócio, política e econômica da época e marcada, pela ampla
liberdade comunitária.
Rabelais criou uma nomenclatura de 216 jogos aos quais
se dedica em Gargântua, correspondente ao volume 2, publicado
em 1534. Bakhtin analisando o livro de Rabelais comenta que o
“jogo está estreitamente ligado ao tempo e ao futuro. Não é à toa

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180 História da Educação

que os instrumentos do jogo, cartas e dados, servem igualmente


para predizer a sorte, isto é para conhecer o futuro.” (Bakhtin,
1993, p.204). Era o homem moderno controlando o tempo.
Os contemporâneos de Rabelais eram bem conscientes
do universalismo das imagens dos jogos, da sua relação com o
“tempo e o futuro, o destino, o poder do Estado, o seu valor de
concepção do mundo. Era assim que interpretavam as figuras do
jogo de xadrez, as figuras e cores das cartas de baralho e também
os dados.” (Bakhtin, 1993, p. 204). O jogo tinha a capacidade
de fazer “o homem sair dos trilhos da vida comum, liberava-o
das suas leis e regras, substituía às convenções correntes outras
convenções mais densas, alegres e ligeiras” (BAKHTIN, 1993,
p. 204). Bakhtin lembra que tal estado de liberdade não vale
unicamente para as cartas, dados, e xadrez, mas além disso
para todos os demais jogos, até mesmo os esportivos (pelota e
boliche) e os infantis.
Bakhtin analisa os aparecimentos de jogos no decorrer
do livro de Rabelais e recomenda levar em consideração a
concepção de jogo que perpassa destas passagens. O jogo “não
se tornara um simples fato da vida cotidiana, carregado de um
matiz pejorativo. Conservava ainda o seu valor de concepção
do mundo” (Bakhtin, 1993, p. 205). Ele sugere que Rabelais
conhecia as ideias vinculadas a antiguidade sobre jogo, enquanto
algo além de um simples passatempo.
Bakhtin (1993) lembra que as literaturas paródicas
medievais são literaturas recreativas, criadas durante os lazeres
das festas com uma atmosfera de licença e liberdade. Comenta
que as recreações escolares e universitárias foram impulsoras
de tais paródias, ocorridas nas festas com ampla liberdade de rir
e brincar. Longe dos regulamentos escolares aos quais usavam
como inspiração para criar suas brincadeiras jocosas. A paródia
medieval converte em jogo alegre e totalmente desregrado tudo
o que era considerado como sagrado e importante aos olhos da
ideologia oficial. E isso vai mudar drasticamente no decorrer da
Idade Moderna.

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História da Educação 181

Tal literatura renascentista aglutina as imagens do jogo,


das profecias paródicas, dos enigmas e imagens das festas
populares, do carnaval e juntos contribuem para modificar
a sombria idade média, em festiva escrita, até que surjam
os colégios para colocar regras aos jovens. É a ousadia de
humanizar o processo histórico, produzindo um conhecimento
lúcido e ousado dele, que vai marca este período. Mas com o
avanço da Idade Moderna e tantas influências dos jesuítas ficará
menos alegre e carnavalesco ser jovem, nos colégios.
Figura 13: Gargântua e Pantagruel, ilustração de Gustave Doré, 1873.

Fonte: wikimedia commons

Explicando a nova concepção de infância


na modernidade
A palavra Infans significa sem voz. Era necessário ensiná-
la a falar e assim acabava a infância. O que deveria ser concluído
até o 7.º ano de vida, a conhecida Idade da Razão, ou ainda a
Idade da Puerilidade. A literatura moderna vai trazer novos
entendimentos, não bastará aprender a falar, serão necessárias as
habilidades da lecto-escrita (ler e escrever). Com a menos idade
a ser encerrada até os 18 anos, com a saída da escola. Infantil
passa a ser tudo relacionado ao iletrado. Este era o público dos
colégios.

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182 História da Educação

Segundo um calendário das idades do século


XVI, aos 24 anos é criança forte e virtuosa, assim
acontece com as crianças quando elas têm 18 anos.
A longa duração da infância tal como aparecia
na língua comum, provinha da indiferença que
se sentia então pelos fenômenos propriamente
biológicos: ninguém teria a ideia de limitar a
infância pela puberdade. A ideia de infância estava
ligada à ideia de dependência: palavras fils, valets
e garçons eram também palavras do vocabulário
das relações feudais ou senhoriais de dependência.
(Ariès 1981, p35).
A História Moderna confirma que somos historicamente
determinados. Uma criança medieval era vista com o sentimento
de linhagem, pertencente a um clã e não dissociado dele. O que
ela é por si própria, sua singularidade, suas diferenças, peculiares
modos de agir e ser não interessavam em nada. Do fim da Idade
Média até o século XIX, atravessando a Idade Moderna e indo
além dela, surgem novos modos de sentir, perceber e conceituar
a infância como uma categoria, os Pais já não aparecem como
indiferentes aos filhos. A criança, na Modernidade, será fruto de
uma intenção e contenção de maus condutas. O caminho percorrido
foi sair dos excessivos castigos e intimidações para uma busca,
tão menos invasiva, de controlar internamente às mentes infantis.
A partir do século XVII desenvolve-se uma
preocupação com as distinções para a educação
das crianças - ou pelo menos dos filhos dos
burgueses e Aristocratas. A ótica individualista e a
constituição de novas sociabilidades favorecem o
afeto e o cuidado com a infância, que se expressa,
por exemplo, num maior empenho em planejar o
futuro profissional dos filhos seja para assumir
cargos administrativos, para seguir uma profissão
autônoma ou continuar os negócios da família.
(VEIGA, 2007, p. 38)

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História da Educação 183

A escola foi uma instituição relevante na modernidade,


com fortes poderes na subjetividade do aluno, moldando mentes
e corações, produzindo novas formas de ser infantil. A defesa
da escola como um lugar público, distanciado dos modelos
familiares, como se falasse com um adulto que a criança ainda
não era capaz de ser (adulto em miniatura), levou a infância a um
lugar público (longe da vida privada, das mamães e das pajens).
Esta visão moderna de escola e educação vão deixar legados
na educação, nos próximos tempos, por tratar tão especificamente
da infância, o que ainda não havia precedentes na história da
humanidade. Foram tocadas por ideias sobre infâncias, advindas
das grandes concepções sobre infância, presentes na Idade
Moderna, no Ocidente. Algo vem das concepções de Descartes
e algo da contribuição de Rousseau. Estes dois pensadores
vão representar as concepções sobre infância, cada um a seu
tempo. Neste sentido, “A infância para Santo Agostinho e para
Descartes era um momento para ser superado para o bem e para
a verdade e, portanto, para o bem da filosofia, que afinal, é a
busca da verdade.” (Ghiraldelli Junior, 2000, p. 180).
O pensamento de Descartes, sobre a infância, era que este
era um tempo, em que a o entendimento e a vontade racional
ficavam em posições de inferioridade, diante das paixões e
desejos que reinavam nas mentes infantis e em seus modos de
agir. Educar, segundo este pensador, é esquecer a imaginação, o
corpo e a memória, em prol da inteligência, preparando futuros
homens livres e racionais, conscientes e responsáveis por seus
próprios pensamentos, para viver no século XVII. Isso vai mudar
com Rousseau, pensador do século XVIII, escritor da conhecida
obra Emilio, ou da educação.
Para Rousseau, toda boa educação é negativa, e “deve
funcionar para preservar o ‘bom selvagem’ que há na criança,
que é metaforicamente posto como o ser de coração sincero e,
portanto, o único que ainda pode julgar o certo e o errado, e
não só o verdadeiro e o falso, como seria o sujeito cartesiano”.

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184 História da Educação

(Ghiraldelli, 2000, p. 180). Sendo assim, Descartes e Rousseau,


junto com todo o pensamento desde a saída da Idade Medieval e
seguindo para lá da Idade Moderna, passam a enxergar a criança.
Mas não somente isso, segundo Ghiraldelli, este conjunto de
ideias e certezas dos que pensaram a infância, em um período
tão longo e com situações históricas diversificadas, estariam
ainda hoje, na cabeça dos pais e professores, em nossos tempos
contemporâneos, a partir desta potente dupla concepção de
infância da modernidade, ainda que de modo confuso e cruzado.
“Em certos momentos pais e mestres elogiam a inocência de
seus filhos e alunos, apontando-os como modelo contra o adulto
reificado, em outros momentos eles punem qualquer sinal
de infantilidade, em nome do ideal cartesiano de vida adulta.
(Ghiraldelli, 2000, p. 181)
Já na Modernidade europeia vivenciou tempos de
decrescente mortalidade infantil. Os pais ficaram mais
próximos dos filhos, percebendo as suas diferenças. Isso
trouxe uma contestação, de lá para cá não superada: as crianças
europeias eram diferentes dos adultos. É aqui que o historiador
contemporâneo Ariès (1981) vai chamar de sentimento moderno
de infância (Entre os séculos XV e XVI). Neste sentido, foram
vistas diferentes dos adultos, adultos incompletos, a quem
deveriam ser oferecidos mimos ou paparicação. (BOTO, 2017)
Olhando de forma mais cuidadosa, o que os adultos
sentiam vontade de fazer era acarinhar seus filhinhos. Isso
ainda era conhecer muito pouco as crianças e suas condições
humanas infantis com que foram vistos em todo o período
medieval, permanecendo a indiferença dos adultos diante das
crianças, segundo Àries (1981). Foram submetidos ao discurso
pedagógico dos humanistas, e passaram a ser teorizados como
seres de pureza original, inocentes, configurando o segundo
sentimento moderno sobre as crianças (Do século XVII a
XVIII). Foram escritos muitos tratados de civilidade, já que o
homem moderno e rico precisava ter boas maneiras, além de
muito dinheiro, preparando bem seus filhos.

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História da Educação 185

Surge e se multiplica uma literatura específica


para instruir os pais sobre como cuidar dos filhos,
evitando ao mesmo tempo práticas violentas e
atitudes de excessiva condescendência. A ênfase
recai na formação moral, na cultura geral, nas
regras de comportamento e nos comedimentos
necessários para a vida em sociedade. Entre
outras obras podemos. A arte de criar bem os
filhos na idade da puerícia (1685), do jesuíta
português Alexandre de Gusmão; o Tratado sobre
a educação das meninas, de Fénelon (1687); e
Alguns pensamentos sobre educação, de John
Locke (1708). (Veiga, 2007, p. 38)
Veiga lembra estas publicações possuem em comum um
sentimento de que a criança é maleável, com natureza rebelde
e precisava ser domada, demandando educação o mais cedo
possível (Veiga, 2007).
Esta literatura humanística (no século XVI) será muito
lida e está repleta de dicas para diminuir a paparicação com as
crianças (vinculado ao 1.º sentimento de infância), surgindo um
consistente conjunto de normas e padrões que os adultos deveriam
seguir para ter filhos bem-educados. Um caso destas dicas é o
livro de Erasmo de Rotterdam, o De Pueris que expressa como
os humanistas não poupavam críticas aos excessivos afagos,
em detrimento de poucos esforços para educá-los. Este autor
tratando de oferecer dicas de como educar os filhos dos nobres,
em uma perspectiva de educação aristocrática, os esforços dos
humanistas eram dirigidos à elite, refletia sobre tantos mimos
maternos, tratando uma criança de sete anos como se fosse uma
bonequinha ou um animal de estimação, esclarecendo que os
filhos eram crianças, que procurassem se divertir com cadelinhas
ou macaquinhos e que parassem de subestimar o momento tão
essencial para formar/modelar as mentes das crianças, enquanto
estivessem capazes de aprender, com os seus preceptores.
(BOTO, 2017)

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186 História da Educação

E, ainda, compara estes atos maternos com maus-tratos.


Compreendendo que os que tais mamães fazem é trucidar o
espírito dos filhinhos. Os que não aprendiam eram seres inferiores,
aqueles desprovidos das culturas letradas teriam dificuldades de
desviar de instintos e impulsos, além de representar um distintivo
diante dos que não aprenderam. Os que aprendiam eram
considerados os verdadeiros homens. Os educadores, baseados
nas ideias humanistas, não deviam transformar os alunos em
adultos, antes da hora certa, não antecipando a maturidade,
nunca deveriam pensar que os alunos eram adultos, e prosseguir
nas suas obras de modelagem do futuro adulto, como um hábil
escultor, dirigida às crianças, seres capazes de receber as mais
diversificadas formas de instrução, já que eram vistos como
ágeis mentalmente, com capacidade de captar informações
diversas, em detrimento dos adultos que perdiam, com o tempo,
tais capacidades. Então, era urgente educá-los!
Surge o novo sentimento de infância, que pularam de dentro
dos livros dos pedagogos moralistas e dos humanistas, para tratar
bem as inocentes crianças, com preocupação em disciplinar e
racionalizar os costumes. Amar os filhos é ter a preocupação
psicológica e moral com eles, desprezando as suas brincadeiras,
primando pela sua educação, parando com as manias de vê-los
como divertidos, mimando-os demasiadamente, salvando-os do
desamparo, da fragilidade, orientá-los, não descuidando e fazê-
los se tornar adultos racionais e éticos.
Nada seria mais indesejado do que uma criança mal-
educada, a mercê de seus próprios instintos, voluntariosos. As
crianças da Idade Moderna precisavam ser educadas, habilmente.
Isso diferenciaria as crianças pobres, os filhos do povo, malcriados
e impulsivos, daqueles controlados menininhos ricos e bem-
educados, aproveitando a crença humanista de que ninguém nasce
homem, já expressa nos compêndios sobre como educar os filhos.
E os filhos precisavam ser modelados, os filhos dos ricos,
é bom lembrar! Isso tudo vai afastar as crianças dos jogos
coletivos com os adultos, dos jogos de salão, tão comuns à Idade

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História da Educação 187

Média. “Por fim o que ocorre é uma distinção entre os jogos dos
adultos e dos fidalgos, e os jogos das crianças e dos vilões no
século XVII”. (Ariès, 1981, p.116).
E aquelas roupas que os deixavam parecer com adultos
em miniatura deveriam ser trocadas por roupas específicas de
crianças. E de onde viria a ideia de criança como um adulto em
miniatura? É inspirado no evangelho, no momento em que Jesus
“pede que se deixe vir a mim as criancinhas, (...) as miniaturas que
se agruparam em torno de Jesus oito verdadeiros homens, sem
nenhuma das características da infância, foram reproduzidos em
uma escala menor. Apenas seu tamanho distingue dos adultos”.
(Ariès 1981, p.50). Evoluindo para uma nova visão, retratada
por Ariès,
No século XVII, entretanto, a criança, ou ao
menos a criança de boa família quer fosse
nobre ou burguesa, não era mais vertida como
os adultos. Ela agora tinha um traje reservado à
sua idade que a distinguia dos adultos. Esse fato
essencial aparece logo ao primeiro olhar lançado
ás numerosas representações de crianças do início
do século XVII. (Áries, 1981, p70).
Com tantas mudanças, as crianças não deverão participar
de conversas dos adultos referentes a sexo e violência. Assim, os
bons para educar eram as instituições educacionais, ampliando
as práticas de escolarização, como os modernos colégios. O
século XVII será o palco desta nova civilidade escolar.
Como a escola e o colégio que, na idade média,
eram reservados a um pequeno número de clérigos
e misturavam as diferentes idades dentro de um
espírito de liberdade de costumes, se tornaram
no início dos tempos modernos um meio de
isolar cada vez as crianças durante um período de
formação tanto moral como intelectual de adestra-
las da sociedade dos adultos. (Ariès, 1981 p.165)

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188 História da Educação

As crianças foram os primeiros a tomar um jeito moderno


de ser, antes mesmo dos adultos das camadas populares. Quanto
mais educado socialmente mais os ricos, na Idade Moderna, iam
se diferenciando dos pobres. “A antiga turbulência medieval foi
abandonada primeiro pelas crianças, e finalmente pelas classes
populares: ela é a marca dos moleques dos desordeiros, últimos
herdeiros dos antigos vagabundos” (Ariès, 1981 p.185) E aos
poucos, com a ajuda dos manuais escritos pelos humanistas e
renascentistas, serão as mães e o resto da família que mudaram.
E “a iconografia nos permite acompanhar a ascensão de um
sentimento novo: O sentimento da família, (...) o sentimento era
novo, mas não a família. (Ariès, 1981, p. 222).

SAIBA MAIS

Conheça a concepção de Ariès sobre A Descoberta da Infância


http://bit.ly/2MoIEfN

Avaliando a pedagogização dos


conhecimentos e o disciplinamento
dos sujeitos
Os Colégios jesuítas serão considerados modelos, na
Idade Moderna, as famílias ricas estavam convencidas da
relevância de colocar seus filhos nos colégios para ter um futuro
promissor. Se os tempos medievais eram momentos de suplícios
do corpo, para a salvação da alma, so tempos modernos serão
ainda mais cruéis, com as mentes, a pedagogização do cotidiano
trará uma eterna vigilância sobre os sujeitos e seus consequentes
e constantes disciplinamentos. Ninguém escapará do vigiar e
punir nos colégios, além das prisões e outros espaços.

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História da Educação 189

Avaliando a pedagogização dos


conhecimentos
Para saber sobre o estatuto dos saberes pedagógicos é
preciso voltar os olhos para a Idade Moderna. O Renascimento
carrega profundas responsabilidades, com as gigantescas
mudanças,
Essa mudanças, ainda que se refiram especialmente
à reorganização que afetou desde então o campo
dos saberes, têm também a ver com as relações
que se estabeleceram entre saberes e poderes
específicos, assim como entre esses e os modos de
subjetivação ou, se se prefere, os diferentes tipos
de identidades sociais, que se instituíram. (Varela,
1994, p. 87).
Sendo assim, o exame apurado das instituições escolares,
na Idade Média, revela a pedagogização do conhecimento,
orquestradas por profissionais da educação moderna, de dentro
dos colégios.
A Pedagogização do conhecimento, segundo Júlia Varela
(um Estatuto dos Saber Pedagógico da modernidade), está
associado as remodelações educacionais pós-renascimentos, que
trouxe uma nova visão de infância e a necessidade de procurar
oferecer uma educação moderna e adequada aos filhos dos
burgueses, no lugar de ficar paparicando em casa.
E a criação das novas instituições educacionais jesuítica,
os colégios jesuítas, não só os novos prédios, não unicamente
o que os olhos conseguem ver em na arquitetura, das fardas
dos estudantes, mas com tamanha relevância nas mentalidades
dos agentes que agiam dentro destes colégios, tomando tanta
fama que as demais instituições educacionais passaram a mirar
nestes modelos para imitando-os, criar suas pedagogias. Então
as novas instituições educacionais, como os colégios jesuíticos,
inauguram

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190 História da Educação

“um processo que com remodelações sucessivas,


tem se intensificado até chegar a nossos dias
e que denominarei, de forma provisória, de a
‘pedagogização dos conhecimentos’. Que significa
tal processo? Em função de uma nova concepção
de infância - que então começava a ser aceita
especialmente por alguns grupos sociais ligados
à camada média - vais e produzir uma separação
cada vez mais marcada entre o mundo dos adultos
e o das crianças, e vai urgir a necessidade de
delinear, de pôr em ação, novas formas específicas
de educação. Foi nesse quadro que teve lugar o
surgimento de novas instituições educacionais”.
(Varela, 1994, p. 87)
Figura 14: Inácio de Loyola

Fonte: wikimedia commons

Julia Varela comenta que tais instituições são nos países


católicos, aqueles colégios das nova ordens, os jesuítas e a
Companhia de Jesus são apontados como estabelecimentos
educacionais da Idade Moderna e que romperam com os formatos
medievais de ensino e “com as formas dominantes de socialização
das novas gerações, tanto com as estabelecidas tradicionalmente
para a nobreza (aprendizagem e ofício das armas), como as
instituídas para as classes populares (aprendizagem de ofícios)”
(Varela, 1994, p. 88).

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História da Educação 191

Ninguém escaparia do novo modelo de pedagogização,


nem os saberes, nem professores (os agentes de tal projeto que
foram bem preparados). Os jesuítas retomaram
a definição que moralistas e humanistas fizeram de
infância e puseram em ação uma maquinaria escolar
que não apenas contribuiu para dotas as crianças de
um estatuto especial, mas que também converteu
seu sistema de ensino, nos países católicos, num
sistema modelo para as demais instituições esco-
lares, incluindo, a pós lutas e sucessivos reajustes
as universidades. (Varela, 1994, p. 88).
A ideia que era defendida é que nada mais apropriado para
as crianças do que estas instituições fechadas. Foram aliados os
saberes e a moral, o cotidiano escolar deveria ser pensado em uma
escala de dificuldade crescente, a preocupação com a formação
moral e o caráter deveria estar sempre presente, mantendo todos
bem vigiados, para que só fizessem boas práticas morais. Tudo
o que não poderia ser deixado acontecer era atitudes afrontosas
morais entraram pelas mentes das crianças. Se os tempos
medievais serviram para controlar os corpos, agora seria a hora
de vigiar a mente infantil. Assim a tutela da moral da criança
estava sendo entregue aos membros dos colégios e estes não
poderiam falhar. Resolveram os jesuítas
controlar os saberes que iam transmitir e de
organizar esses saberes que iam transmitir e
de organizar esses saberes de tal forma que se
adequassem às supostas capacidades infantis. Os
saberes, tanto da cultura clássica como da cristã,
foram desse modo selecionados e organizados
em diferentes níveis e programas de dificuldade
crescente, ao mesmo tempo em que se viram
submetidos a censuras, em função, portanto, de
seu caráter moral. (Varela, 1994, p. 88)

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192 História da Educação

Os grandes mestres jesuítas deveriam ser e agir como


autoridades morais ilibadas, o que os diferenciavam dos antigos
mestres das universidades medievais. E, neste modelo, não é
previsto autonomia aos alunos, que passam a ser sinônimo de
escolares, confiados por suas famílias para receber tal educação
moral e prepará-los para um futuro exemplar e próspero. Varela
afirma que pedagogização dos conhecimentos é perceptível
no desdobramento que causa, diferenciando as ações de um
mestre jesuítas em comparação aos antigos e medievais mestres
universitários. Os mestres jesuítas eram as autoridades morais,
capazes de deter poderes dos estudantes, resultando “que os
estudantes perderam sua autonomia, suas prerrogativas ou,
se quisermos seus ‘privilégios’; transformando-se, assim, em
colegiais, em escolares”. (Varela, 1994, p. 88)
A Companhia de Jesus tinha o intuito de reformar a vida,
e consequentemente os costumes para batalhar contra os vícios,
naquilo que não deveria ser deixado de realizar, a educação dos
jovens, que deveriam aprender a serem cristãos, já bem pequenos
desde. Santos considera que os conceitos como piedade e virtude
estavam presentes no ensino dos Jesuítas. (Santos, 2017).

SAIBA MAIS

Leia o artigo de Fernanda Santos sobre o Colégio Jesuíta no


contexto do Século XVI: Formação De Um Novo Homem,
publicado em 2017, na Revista Esboços. Disponível em: DOI:
http://bit.ly/2pwaNIU

A ordem de jesuítas foi criada “com o objetivo de consagrar-


se à educação da juventude católica. Seguia os princípios cristãos
e insurgia-se contra a pregação religiosa protestante. O criador
da Companhia de Jesus imprimiu rígida disciplina e o culto da
obediência a todos os componentes da ordem”. (Gadotti, 2003,

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História da Educação 193

p.73). Encarregada da formação dos filhos dos burgueses, seu


próprio fundador Inácio de Loyola era da burguesia. Os jesuítas
apareceram como uma solução para a formação das futuras
gerações, entre os ricos da Europa.
Os jesuítas exerceram grande poder pedagógico e
influenciaram a vida social e a política, “contrários ao espírito
crítico, eles privilegiaram o dogma, a conservação da tradição,
a educação mais científica e moral que humanista. Quando liam
os clássicos, procuravam expurga-los previamente das partes
nocivas à fé e aos bons costumes”. (Gadotti, 2003, p. 68). Nada era
espontâneo, não havia espaço para imprevistos, “incluindo a posição
das mãos e o modo de levantar os olhos, para evitar qualquer forma
de independência pessoal. Seu lema: “obediência ao papa até a
morte”. Para isso, diziam era preciso “enfaixar-se a vontade”, como
são enfaixados os membros do bebês. (Gadotti, 2003, p. 68).
Estar em um colégio representava aprender não só receber as
“boas-letras e virtudes”, Varela comenta que era estar submetidos
a “uma série de procedimentos e técnicas que forma gradualmente
aperfeiçoando, com a finalidade de conferir, tanto aso colegiais,
como aos saberes, uma natureza moralizada e moralizante”
(Varela, 1994, p. 89). O uso de tais técnicas e procedimentos
pedagógicos viraram instrumentos hábeis de extração de “saberes
dos próprios escolares, assim como fonte de exercício de poderes
que tornaram possível o surgimento da ‘ciência pedagógica’, do
saber pedagógico” (Varela, 1994. P. 89). Que seguiu assim, a
pedagogia moderna, dando conta de vigiar aos todos.
Julia Varela indaga quais teriam sidos os efeitos desta
pedagogização dos conhecimentos, partindo dos colégios
jesuíticos e se disseminando em muitas outras instituições.
Em primeiro lugar, Varela comenta que adquirir esses saberes
moralizados não provocou uma cooperação entre mestres e
aprendizes. Os mestres passaram a se sentir e a exigir que fosse
tratados como os únicos detentores do saber, e os estudantes
deviam ficar subordinados e “converteram-se em sujeitos

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194 História da Educação

destinados a adquirir os ensinamentos dosificados, transmitidos


por seus professores para convertê-los, também a eles próprios,
em seres virtuosos” (VARELA, 1994, p. 89).
E ainda precisavam aceitar que seus mestres jesuítas
transmitiam saberes realmente verdadeiros, estes pedaços de
saberes, sempre censurados, não expostos como estavam nos
clássicos gregos e romanos, para servir a manutenção da ordem
social e política vigente, nem neutros e nem imparciais eram,
por mais que desejassem passar estes sentimentos, eram saberes
cortados e não integrais, incapazes de questionar o mundo
moderno, incapazes de dar conta da realidade do trabalho, das
lutas sociais e da realidade por trás das classes sociais, ficando
marcados pelo estigma do erro e da ignorância e viram-se
desterrados do recinto sagrado da cultura culta, uma cultura
que, com o passar do tempo, converteu-se na cultura dominante
e reclamou para si o monopólio da verdade e da neutralidade.
(VARELA, 1994, p. 89).
E se já não bastassem estes elementos, por último, a autora
aponta que tal processo de pedagogização dos saberes resultou
na instauração, progressivamente aperfeiçoada, de um aparato
disciplinar, que é um
aparato disciplinar de penalização e de moralização
dos colegiais, que ligou a aquisição da verdade e da
virtude à ascese e a renúncia de si mesmo. Foi desse
mofo que a disciplina e a manutenção da ordem
nas salas de aulas passaram a ocupar um papel
central no interior do sistema de ensino até chegar
praticamente a eclipsar a própria transmissão de
conhecimentos. (Varela, 1994, p. 89)
Assim será necessário desenvolver a ideia de discipli-
namento interno dos saberes, apoiado em Varela e também em
Michel Foucault, retratando os fins do século XVIII, marcada
por uma forte conexão do disciplinamento interno dos saberes
com a pedagogização dos saberes.

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História da Educação 195

Figura 15: Michel Foucault

Fonte: wikimedia commons

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre o pensamento de Julia Varela, leia o artigo


A maquinaria escolar. Disponível em: http://bit.ly/2VNNExD

Avaliando a Pedagogização dos


conhecimentos e o Disciplinamento dos
sujeitos
Tal potente Conjunto de intenções pedagógicas foram
encontrando cenários nos colégios da Idade Moderna, tendo
como atores ativos os professores e demais participantes de
tal projeto vitorioso. E estabelecendo como atores, passivos,
os estudantes. E isso acontecia, milimetricamente planejado,
através da pedagogização dos saberes, com o intuito de não
falhar no objetivo de disciplinar os sujeitos.

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196 História da Educação

Os saberes pedagógicos são o resultado, em


boa parte, da articulação dos processos que
levaram à pedagogização dos conhecimentos e
à disciplinarização interna dos saberes. Estas
classificações e hierarquias de sujeitos e saberes
costumam, em geral, ser aceitas como algo dado,
como naturais, razão pela qual seu reconhecimento
contribui para aprofundar sua lógica de
funcionamento. A pedagogia racionaliza, em geral,
uma certa organização escolar e certas formas de
transmissão sem questionar nunca a arbitrariedade
dessa organização, nem tampouco o estatuto dos
saberes que são objeto da transmissão. (VARELA,
1994, p.93).
Michel Foucault (estudioso contemporâneo que viveu
entre 1926-1984) examinou à exaustão a realidade educacional
moderna, encontrando elementos interessantes neste destino dos
colégios em prol do disciplinamento e da vigilância constante, bem
planejado. Tais instituições escolares modernas foram formadoras
da subjetivação moderna, a formação do sujeito moderno burguês
e cristão, temente e fiel ao papa e rico. Estes pedagogos modernos
deveriam zelar pela formação dos estudantes, que não nasciam
prontos e podiam ser moldados. Assim, os colégios, na Idade
Moderna ou a partir dela, terão funções de definir qual o sujeito
adequado à época, condicionando-os através de mecanismos
de poder e disciplinamento, escolhidos pelos professores ou
seguidos pelos mesmos, e direcionados aos meninos, nos
colégios, com o aval das famílias, que pensavam estar fazendo o
melhor pelo futuro de sues filhos. Este disciplinamento moderno
inquestionável, naturalizado como o certo e racional, formando
sujeitos racionais (Penso, logo existo!), sem que ninguém deixasse
de ser controlado, sendo dependente de tais adultos-professores,
passaram a deixar de ser crianças e viraram estudantes. Foucault,
em tempos contemporâneos, começou a indagar sobre a história
das construções sociais e seus efeitos sobre os sujeitos-estudantes,

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História da Educação 197

perguntava sobre os saberes e poderes, podres poderes que


criaram, forçadamente, o homem moderno, não um homem livre,
mas disciplinado em seus colégios. E Foucault vai defender que o
sujeito construído neste modelo pedagógico, é o resultado de um
poder próprio das instituições da Idade moderna, o nome de tal
poder, é poder disciplinar:
O poder disciplinar é com efeito um poder que,
em vez de se apropriar e de retirar, tem como
função maior “adestrar”; ou sem dúvida adestrar
para retirar e se apropriar ainda mais e melhor. (...)
A disciplina “fabrica” indivíduos; ela é a técnica
específica de um poder que toma os indivíduos ao
mesmo tempo como objetos e como instrumentos
de seu exercício. Não é um poder triunfante que, a
partir de seu próprio excesso, pode-se fiar em seu
superpoderio; é um poder modesto, desconfiado,
que funciona a modo de uma economia calculada,
mas permanente. (FOUCAULT, 1984. p.153).
Isso foi sendo construído de modo pensado, elaborando
saberes pedagógicos, convencendo os pais, dominando as cabeças
dos professores, já na formação deles, na França, como descreve
Foucault. A Racionalidade expressa nas inúmeras técnicas de
disciplinamento, dentro das instituições escolares necessitavam
de seus condutores perfeitos. Dos modelos de normatização uados
já na Medicina (Ortopedização usada pelos médicos para alinhar
o corpo, por exemplo, e porque não inspirar o disciplinamento
das almas, das mentes estudantis modernas?) e nas guerras
foram servindo para a pedagogização do conhecimento e o
disciplinamento de corpos e mentes dos estudantes.
Normatizou-se primeiro a produção dos canhões
e dos fuzis, em meados do século XVIII, a
fim de assegurar a utilização por qualquer
soldado de qualquer oficina, etc. depois de ter
normatizado os canhões, a França normatizou
seus professores. As primeiras Escolas Normais,

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198 História da Educação

destinadas a dar a todos os professores o mesmo


tipo de formação e, por conseguinte, o mesmo
nível de qualificação, apareceram em torno de
1775, antes de sua institucionalização em 1790
ou 1791. A França normatizou seus canhões e
seus professores, a Alemanha normatizou seus
médicos. (FOUCAULT, 1982, p. 83).
Os professores foram normalizados (coincidentemente
são chamadas as antigas escolas de formação e professores
primários por escolas normais), mas os prédios dos colégios
também necessitariam de uma arquitetura capaz de normalizar
perfeitamente e em harmonia com o projeto pedagógico de
disciplinamento dos saberes. Afinal, foi nestes espaços coletivos
que os alunos foram conviver longos anos de suas vidas. O
espaço foi normatizado, com arquitetura semelhante às das
prisões, as salas estavam lado a lado, impossibilitando fácil
comunicação, haviam grades nas janelas (para ninguém fugir?),
todos se encontravam na hora das refeições, mas as regras de
disciplinamento eram rígidas para tais momentos, nada de
algazarra, barulhos, o tempo todo estavam sendo vigiados, difícil
ousar passar pela portas também vigiadas, todos primavam pela
farda escolar, que deveria estar em bom estado e a obediência aos
mestres deveria ser total. O ideal moderno da individualização,
nem comparável com o viver coletivo medieval, legava a cada
aluno ocupar os eu lugarzinho na cadeira, calado, com postura
irrepreensível, já que sabiam que estavam sendo observados e
estudar, estudar e estudar, pois já viriam os terríveis exames.
Como desobedecer diante de tão rígida disciplina que era
uma técnica de poder que implica uma vigilância perpétua e
constante dos indivíduos. Não basta olhá-los às vezes ou ver se o
que fizeram é conforme à regra. É preciso vigiá-los durante todo
o tempo da atividade e submetê-los a uma perpétua pirâmide de
olhares. (FOUCAULT, 2002. p.106)? Ninguém é soberano, filho
do pai burguês, paparicado pela mamãe, escolhendo o que quer
fazer neste cotidiano escolar, na Idade Moderna. Todos estão

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História da Educação 199

submetidos as mesmas relações de disciplinamento. E para isso


acontecer de forma primorosa a vigilância era humana (não a
magnífica vida social cercada de câmeras, mas conduzida por
olhos adultos hábeis.
Aqueles pavorosos momentos de demonstração do poder
da Igreja e dos reis europeus, em que na frente de uma catedral
medieval todos assistiam a um supliciamento de alguém que teria
sido julgado pela Santa Inquisição, com dores impostas no corpo
para alcançar o perdão dos pecados na vida eterna, cruelmente
queimados em fogueiras, logo após de ter sua chance de pedir
perdão por seu pecados na terra, conduzidos por um sacerdote
católico, são segundo Foucault, na sua interessante obra Vigiar
e Punir (1984), foram sendo, da Idade Moderna ara frente,
por uma vigilância e disciplinamento constantes, que já não
deveriam arder tanto no corpo (as fogueiras foram esquecidas),
já que passou a interessar aos médicos, aos responsáveis pelas
prisões e aos dirigentes dos colégios controlar psicologicamente
moralmente as pessoas. Sendo que as correções, verdadeiras
ortopedizações da alma, não eram superficiais.
Figura 16: O Pan-óptico, metáfora e pesadelo da escuta-vigilância

Fonte: wikimedia commons

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200 História da Educação

Exemplar é Pan-óptico, espécie de penitenciária ideal


moderna, imaginada pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham
(1785), dotado de poder, a um único vigilante observar todos
os que estivesse, presos, em uma concepção tão perfeita que os
presos nem saberiam se eram observados ou não, por isso era
necessário sempre ficar bem comportamento. Foucault descreve
tal projeto tão representativo da ideia de disciplinamento e de
vigilância, modo de pensar a arquitetura para tempos em que
controle e disciplina chegaram aos colégios.
Um edifício em forma de anel, no meio do qual
havia um pátio com uma torre no centro. O anel
se dividia em pequenas celas que davam tanto
para o interior quanto para o exterior. Em cada
uma dessas pequenas celas, havia segundo o
objetivo da instituição, uma criança aprendendo a
escrever, um operário trabalhando, um prisioneiro
se corrigindo, um louco atualizando sua loucura,
etc. na torre central havia um vigilante. Como
cada cela dava ao mesmo tempo para o interior
e para o exterior, o olhar do vigilante podia
atravessar toda a cela; não havia nela nenhum
ponto de sombra e, por conseguinte, tudo o que
fazia o indivíduo estava exposto ao olhar de um
vigilante que observava através de venezianas,
de postigos semi-cerrados de modo a poder ver
sem que ninguém ao contrário pudesse vê-lo.
(FOUCAULT 1996, p. 87).
Como é que este poder disciplinar era exercido? Foucault
vai esclarecer que de modo invisível, deixados os vigiados
submetidos encerrados a visibilidade obrigatória. Na disciplina,
são os súditos que têm que ser vistos. Sua iluminação assegura
a garra do poder que se exerce sobre eles. É o fato de ser visto
sem cessar, de sempre poder ser visto, que mantém sujeitado
o indivíduo disciplinar. (FOUCAULT, 1984, p. 167). Isso foi
mudando o cenário educacional, sendo impregnado nas práticas

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História da Educação 201

pedagógicas, que nos tornaram os herdeiros de tal Estatuto do


saber Pedagógico, desta Pedagogização do Conhecimento, de
modos insípidos, com poderoso Disciplinamento Interno dos
Saberes, não teve como ninguém fugir com facilidade. Dentro
desta lógica é que Foucault propõe: Todo sistema de educação é
uma maneira política de manter ou modificar a apropriação dos
discursos, com os saberes e poderes que eles trazem consigo.
(FOUCAULT, 2002b, p.44). Assim, é possível afirmar que a
Idade Moderna marcou de forma consistente a educação, com
esta Pedagogização do conhecimento e com o disciplinamento
dos saberes, dos corpos e das mentes dos estudantes, com longas
repercussões ao longo da história da educação ocidental.

SAIBA MAIS

Conheça a obra de Foucault, na íntegra, Vigiar e Punir. No


seguinte link: http://bit.ly/2Biq5Dt

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202 História da Educação

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História da Educação 203

04
UNIDADE

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204 História da Educação

INTRODUÇÃO
Você vai conhecer, os Marcos Históricos, da Educação
Colonial no Brasil, da contribuição Jesuítica até a Era Pombal,
saber sobre A Pedagogia Realista do Século XVII, a Nova
Didática de Comênio e as propostas de John Locke. Já com
relação ao século XVIII vai ser possível acompanhar a descrição
do Iluminismo e suas relações com a educação, a Enciclopédia
e a educação, no iluminismo, dando conta da “Revolução
Copernicana” na Educação, a intensa contribuição de Rousseau,
com o Naturalismo Pedagógico e a sua obra “Emilio”, sabendo
também sobre a Educação Nacional. Vai reconhecer do
Século XIX, as realizações Educativas e as Sistematizações
Pedagógicas, saber sobre o Neo-Humanismo Social, a influência
de Froebel e os Jardins de Infância, e ainda sobre a Educação
Integral, além do importante Período Joanino, marcado pela
presença da família real, até a chegada da República, no
Brasil. Analisando as contribuições do século XX, vai tomar
conhecimento do Método Montessori, dos grandes teóricos da
pedagogia Ativista (j. Dewey e j. Piaget), entendendo ainda, a
importância dos Organismos internacionais na educação, no
fim do milênio passado, refletindo sobre as Perspectivas para a
Escola do Futuro e as Tendências da Educação Contemporânea,
no Século XXI. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você
vai mergulhar neste universo!

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História da Educação 205

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 4, e o nosso
objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes

1
competências profissionais até o término desta etapa de estudos:

Descrever os Marcos Históricos da Educação no


Brasil: Período Colonial; Jesuítico; Era Pombal;
A Pedagogia Realista do Século XVII; A Nova
Didática (Comênio); As propostas de John Locke.

2
Descrever o século XVIII: o Iluminismo e suas
relações com a educação; A Enciclopédia; A
“Revolução Copernicana” na Educação; Rousseau
e o Naturalismo Pedagógico “Emilio”; A Educação
Nacional.

3
Reconhecer o Século XIX: As realizações
Educativas; Sistematizações Pedagógicas; O Neo-
Humanismo Social; Os Jardins de Infância; A
Educação Integral; Período Joanino; A República
no Brasil.

4
Analisar o século XX: o Método Montessori; os
grandes teóricos da pedagogia Ativista (j. Dewey
e j. Piaget); os Organismos internacionais; As
Perspectivas para a Escola do Futuro; Tendências
da Educação Contemporânea.

Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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206 História da Educação

Descrevendo os Marcos Históricos da


Educação no Brasil.
Entre os Marcos Históricos da Educação no Brasil, a
contribuição jesuítica inaugura o processo até a Era Pombal. O
mundo está em processo de mutação, as descobertas e as ciências
interferiram na educação, assim é possível entender a Pedagogia
Realista. Comênio dará grande contribuição, assim como John
Locke.

Marcos Históricos da Educação no Brasil


Examinado os Marcos Históricos da Educação no Brasil,
desde a colonização portuguesa aos dias atuais, no século
XXI, aconteceu uma gigantesca resistência para a oferta e a
manutenção da educação pública no Brasil. E, ao mesmo tempo,
intensas lutas do povo brasileiro, para ter seu direito à educação
respeitado. Ao examinar os fatos históricos é possível perceber
o quanto a educação brasileira precisará avançar nos próximos
tempos. Os que escreveram os marcos históricos da educação
brasileira, para que escreveram? Qual o sentido se não for para
colaborar com os seus contemporâneos a ter confiança em seu
futuro e abordar com mais recursos as dificuldades que eles
encontram cotidianamente. O historiador, por conseguinte, tem
o dever de não se fechar no passado e de refletir assiduamente
sobre os problemas de seu tempo. (DUBY, 1998, p. 9)
Neste sentido, para a educação brasileira, de 1500 aos dias
atuais a melhor Constituição Federal é a e 1988, que com razão
é chamada de Constituição Cidadã. Somam mais de 500 anos de
dificuldades intensas para promover uma digna educação no Brasil,
universalizada, leiga e democrática. Muitas legislações atuais são
as expressões das intensas batalhas, a partir da redemocratização
do pais, do fim da década de 1980, até hoje. É interessante lembrar,
que estas leis, devem às suas existências, e aos seus avanços
democráticos, para a educação pública brasileira, às intensas
mobilizações da sociedade brasileira organizada, fatos notáveis

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História da Educação 207

são a Lei de Diretrizes e Bases (1996) e a nova Base Nacional


Comum Curricular (2017), entre tantos outros marcos legais, que
expressam as lutas inúmeras, pelo direito à educação, gratuita e
de qualidade, impondo mudanças. Conhecer os fatos históricos
podem colaborar na reflexão de soluções para os problemas atuais
e futuros e para não deixar nenhum para trás.

Descrevendo o Período colonial jesuítico


No período colonial, inicia a educação colonial no Brasil,
após a chegada dos jesuítas, engajados com as propostas
educacionais promovidas pela Companhia de Jesus, envolvendo
catequese (missões) e a criação e colégios (Educação), como
resultados concretos de uma resposta católica à Reforma
Protestante, que se chamou Contrarreforma, haviam os povos
originários do Brasil para catequisar e os filhos dos colonizadores
para educar. É neste cenário, já com os jesuítas morando e
trabalhando no Brasil que surgem os Regimentos de D. João III,
um histórico conjunto de regras constituídas, com a finalidade de
regulamentar o funcionamento educacional, no Brasil Colonial,
por volta de 1548 (Século XVI).
Estes Regimentos serviram para guiar as ações
educacionais do Governador Geral do Brasil, Tomé de Souza
e dos padres e irmãos jesuítas, destacando o papel de Padre
Manoel de Nóbrega, neste momento histórico. Os documentos,
atualmente históricos, das tarefas educacionais dos jesuítas, no
Brasil Colonial, chegavam por cartas e foram imortalizados
por tais cartas. É uma coleção de cartas jesuíticas retiradas de
edições espanholas (1551 e 1555), são dez cartas escritas pelos
ilustres jesuítas Manoel da Nóbrega, Juan de Azpilcueta Navarro
e José de Anchieta. O criador da Companhia de Jesus, Inácio
de Loyola, acompanhava, de Roma e por cartas, o desenrolar
do importante trabalho educativo dos jesuítas, que estavam nas
missões da Companhia de Jesus, no Brasil. Isso vai acontecer
a partir da 1.ª Missão Jesuítica ao Brasil, com a presença de
Manoel da Nóbrega, em 1549.

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208 História da Educação

Dada a dificuldade de notícias, através destas cartas,


eram relatados os sucessos relativos aos objetivos dos jesuítas
no Brasil, com as fundações de colégios, com as missões, com
esperadas as conversões, para animar os que se dedicavam
à catequese, no além-mar, em terras longínquas, com as mais
diversas dificuldades, convivendo com culturas e línguas
distintas das europeias. Nestas cartas, é possível perceber que
os jesuítas, que viveram no Brasil Colonial, não poupavam
esforços para atender às ações demandadas pelo fundador Inácio
de Loyola. Em uma carta escrita, em agosto de 1553, o padre
Inácio de Loyola afirma:
Nas cartas que se podem mostrar a outros,
informar-se-á em quantos lugares há residência da
Companhia, quantas pessoas em cada casa e em que
se ocupam, tudo em vista da edificação. Igualmente
como andam vestidos, qual é o seu comer e beber,
em que camas dormem e o que gasta cada um
deles. Também, quanto à região onde moram, qual
o clima e graus geográficos, quais os vizinhos,
como andam vestidos, que comem, como são suas
casas e quantas, segundo se diz, e que costumes
têm; quantos cristãos pode haver, quantos gentios
ou mouros. (Pereira 2019, p. 1)
Nestas cartas o que interessava era saber o sucesso da
empreitada difícil dos jesuítas no Brasil, se estavam conseguindo
realizar o que era esperado pela Companhia de Jesus, catequisar,
ou seja “a qualidade e permanência dos frutos produzidos pelos
missionários, o que para o padre Ignácio e seus sucessores
dependia do aperfeiçoamento do método para atuar entre infiéis”.
(TORRES LONDONO, 2002, p.24).
No Brasil, os índios adultos, preservando suas certezas
culturais e religiosas (das quais nada sabiam os jesuítas e nem
muito menos queriam saber), fechavam os ouvidos para não ouvir
a palavra do missionário e resistiam a conversão cristã católica,

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História da Educação 209

não aceitando a verdade única dos jesuítas, que tentavam ensinar


as lições sobre um verdadeiro culto à Deus, que era a certeza
católica e a função deles no Brasil, ao catequisar os povos
originários. Por volta de 1560, Jose de Anchieta afirma, em
carta, que haviam poucos avanços para escrever e escassíssimos
brasileiros convertidos. (TORRES LONDONO, 2002).
Em uma carta escrita na Bahia, por Padre Manuel da
Nóbrega, em 1549, ele esclarecia que seu companheiro nesta
jornada na América do Sul, o Irmão Vicente Rijo ensinava a
doutrina católica aos meninos, todos os dias mantinha a eschola
de ler e escrever. E o jesuíta narrador, Padre Manuel da Nóbrega,
julgava, nesta escrita que era boa maneira de aproximar os
indígenas, vistos como desejosos de aprender. A meta, explicita
na carta, é que iriam aproveitar a disponibilidade de aprender dos
indígenas, para ensinar-lhes as orações, as importantes doutrinas
da fé católica, para um posterior batismo. “Nóbrega deixou
claro que o ensinar tinha como primeira intenção a conversão ao
cristianismo”. (FARIA, 2006, p.67).
O Padre Manuel de Nóbrega (em outra carta, de agosto
de 1549) declarava ainda, que estas crianças indígenas que
iam sendo convidadas a ler e escrever, e ao mesmo tempo
aprender a doutrina cristã, estavam movidas pela admiração de
vê-los lendo e escrevendo, resultando desta observação de tais
meninos o perceptível desejo de aprender. Isso levava o padre
a acreditar que eles queriam ser cristãos igualmente. Mas que
os impedimentos seriam os maus costumes dos indiozinhos,
isso fadigava os padres. Assim, é nítido que o entendimento da
cultura de tal povo era nulo e só viam nas crianças um único
desejo: querer escrever e ler para ser igual ao padre jesuíta.
Hábitos ligados aos modos culturais indígenas eram vistos como
maus costumes, assim “indicam que a catequese lutou, desde
o início, pela transformação dos costumes ‘dessemelhantes’
e que esta era a sua principal empreitada.” (FARIA, 2006, p.
67). 500 anos depois muitas pessoas ainda estão com esta
dificuldade dos jesuítas, para ler as diferenças étnico-culturais,

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210 História da Educação

pelo vasto território brasileiro, e desqualificam as contribuições


das matrizes afro e indígena, na cultura brasileira. Lamentáveis
fatos, ontem e hoje!
Figura 1: Padre Manuel da Nóbrega

Fonte: wikipedia

Saviani narra que D. João II, rei de Portugal mandava


verbas não para construções, mas não para manter os colégios e
vestir os jesuítas, descreve o Padre Manuel da Nóbrega, em uma
em carta escrita, em agosto de 1552, eles aplicavam os recursos
no colégio da Bahia e nós no vestido remediamo-nos com o
que ainda do reino trouxemos, porque a mim ainda me serve a
roupa com que embarquei... e no comer vivemos por esmolas.
(SAVIANI, 2008, p. 1)

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História da Educação 211

Os jesuítas começaram suas importantes contribuições


educativas, focalizando na catequese, obedecendo os regimentos
de D. João III, rei de Portugal. Se nos dias atuais existem leis que
definem a alocação de recursos para a Educação Básica, naqueles
longínquos tempos, cabia à coroa portuguesa a manutenção do
ensino, mandava verbas não para construções, mas não para
manter os colégios e vestir os jesuítas. O rei João III
Enviava verbas para a manutenção e a vestimenta
dos jesuítas; não para construções. Então, como
relata o padre Manuel da Nóbrega em carta de agosto
de 1552, eles aplicavam os recursos no colégio da
Bahia e nós no vestido remediamo-nos com o que
ainda do reino trouxemos, porque a mim ainda
me serve a roupa com que embarquei...e no comer
vivemos por esmolas. (SAVIANI, 2008, p. 1)
Saviani (2008) declara que os recursos eram escassos. Em
1564, o rei de Portugal adota um plano denominado Redizima
e definiu que os impostos arrecadados da colônia brasileira
passaram a ser destinados à manutenção dos colégios jesuíticos.
A partir daí, iniciou-se uma fase de relativa prosperidade, dadas
as condições materiais que se tornaram bem mais favoráveis
(SAVIANI, 2008, p. 02)
A educação colonial brasileira foi financiada com os
recursos públicos, e estas escholas eram espécies de escolas
públicas religiosas. Saviani (2008) reflete que se
o ensino então ministrado pelos jesuítas podia ser
considerado como público por ser mantido com
recursos públicos e pelo seu caráter de ensino
coletivo, ele não preenchia os demais critérios, já
que as condições tanto materiais como pedagógicas,
isto é, os prédios assim como sua infraestrutura,
os agentes, as diretrizes pedagógicas, os
componentes curriculares, as normas disciplinares
e os mecanismos de avaliação encontravam-se

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212 História da Educação

sob controle da ordem dos jesuítas, portanto, sob


domínio privado. O resultado foi que, quando se
deu a expulsão dos jesuítas em 1759, a soma dos
alunos de todas as instituições jesuíticas não atingia
0,1% da população brasileira, pois delas estavam
excluídas as mulheres (50% da população), os
escravos (40%), os negros livres, os pardos, filhos
ilegítimos e crianças abandonadas. (SAVIANI
2008, p. 3)
Na construção histórica da Educação no Brasil, segundo
Saviani, está D. João III criando Regimentos, estabelecendo
regras para o acesso à educação, em 1548, trazendo orientações
ao Governador Geral do Brasil, Tomé de Souza, aos jesuítas
envolvidos na empreitada da educação, incluindo o conhecido
Padre Manoel de Nóbrega, que registrava em cartas os avanços
de tal educação aos nativos brasileiros, em nome de Deus e
dos desejos da Companhia de Jesus. Para converter os povos
indígenas brasileiros à fé católica, Portugal contou com a atuação
da Companhia de Jesus, fundada em 1534 por Inácio de Loyola,
no contexto da Contrarreforma. Essa ordem religiosa fundava-se
em uma cega obediência à doutrina da Igreja. (Santos, 2016, p. 6)

SAIBA MAIS

Veja o vídeo da Univesp TV, foi a Portugal investigar o caminho


feito pelos jesuítas no Brasil, logo no início da colonização.
Começando a educação no Brasil. E eles indagam: Mas foi
mesmo isso que eles vieram fazer aqui? Como eram os famosos
colégios que os jesuítas fundaram por toda colônia? Os índios
frequentavam esses colégios? Veja o vídeo no link: http://bit.
ly/2nY0UDi

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História da Educação 213

Descrevendo a Era Pombal


A ação pedagógica jesuítica foi insignificante? Em
setembro de 1759, os soldados ocuparam os colégios portugueses,
expulsaram os jesuítas, que já lidavam com a educação por
mais de 200 anos. Assim, começou a Reforma Educacional
de Marquês de Pombal, o 1.º ministro do Rei português, Dom
José I. Nos tempos de Marquês de Pombal (1759 a 1827),
surgiram as primeiras tentativas de criar a escola pública estatal.
(Saviani,2008). Em 1759, os colégios jesuítas foram fechados,
iniciaram-se as aulas régias, que eram mantidas pela Coroa, a
partir de 1772, com recursos do subsídio literário.
Sebastião José de Carvalho e Melo, o marquês
de Pombal, foi o primeiro-ministro de Portugal
de 1750 a 1759. Em seu governo tomou várias
medidas com vistas a centralizar a administração
da colônia, de forma a controlá-la de maneira
mais eficiente: suprimiu os sistemas de capitanias
hereditárias, elevou o Brasil à categoria de vice-
reinado, transferiu a capital de Salvador para o
Rio de Janeiro. (PILETTI, 2012, p. 74)
Mas a notoriedade de Pombal, na história da educação, foi
por conta da expulsão dos jesuítas. Ele adentrou em um conflito
com a Companhia de Jesus, atribuindo-lhes intenções de opor-
se ao controle do governo português. Do conflito, chegou-se
ao rompimento: os jesuítas foram expulsos de Portugal e de
suas colônias e, por alvará de 28 de junho de 1759, o marquês
de Pombal suprimiu as escolas jesuíticas. (PILETTI, 2012, p.
74). Assim, na Era Pombal, o foco da educação passou a ser os
interesses locais ou a formação de poucos indivíduos, sobretudo
aqueles pertencentes à elite, os quais costumavam concluir
seus estudos na Europa. (Santos, 2016, P.9). Pombal teria sido
incumbido de criar uma escola útil às finalidades do Estado, ao
invés de preconizarem uma política de difusão intensa e extensa
do trabalho escolar, pretenderam os homens de Pombal organizar

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214 História da Educação

a escola que, antes de servir aos interesses da fé, servisse aos


imperativos da coroa (Piletti, 2012, p. 76)
Foi instituído o cargo de Diretor-Geral, designado para
realizar os interesses portugueses, vigiando os usos de livros
proibidos e dando autorizações aos professores, para ensinar. Só
que Piletti (2012) aponta, que tal Diretoria de Estudos não teve
bons frutos, no vice-reino do Brasil. A Aula Régia constituía
somente uma unidade de ensino, adequada a uma só disciplina,
com autonomia e isoladas uma das outras, inexistindo diálogo
entre elas. Nem tampouco havia um currículo composto por um
conjunto de estudos sistematizados, de forma hierárquica, muito
menos um prazo para cada aula régia acabar. Assim, cabia ao
aluno escolher as aulas régias que desejasse cursar, para começar
a frequentar tais aulas e suportar professores despreparados,
que por sinal eram mal remunerados, tais precários mestres
arrumavam estas aulinhas indicados por um bispo, ou por
alguém importante, aqui, no vice-reinado. Os anos passaram e
o que mudou? O Brasil não equacionou facilmente esta mistura
danosa, de professores mal pagos e com formações que deixam
a desejar, ainda hoje, mas pelo menos os concursos de admissão,
aos cargos no magistério, mudaram muito.
Antes de 1772, sabe-se com certeza da existência
de algumas aulas régias de Latim em Pernambuco.
A partir deste ano, graças à criação de um imposto
para o ensino - o subsídio literário -, foram
instaladas 17 aulas de ler e de escrever, 15 aulas
de Gramática latina, 6 aulas de Retórica, 3 aulas
de língua grega e 3 de Filosofia, em diferentes
pontos da colônia. (PILETTI, 2012, p. 75)
A Era Pombalina, no Brasil (1759 a 1827), discute a
possibilidade de uma escola pública estatal. Saviani comenta que
Pelo Alvará de 28 de junho de 1759, determinou-se
o fechamento dos colégios jesuítas, introduzindo-
se as aulas régias a serem mantidas pela Coroa,

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História da Educação 215

para o que foi instituído, em 1772, o subsídio


literário. As reformas pombalinas contrapõem-
se ao predomínio dos ideais religiosos e, com
base nas ideais laicas inspiradas no Iluminismo,
institui o privilégio do Estado em matéria de
instrução, surgindo, assim, a nossa versão da
educação pública estatal. A partir dessa proposta,
foi baixada a Carta de Lei, de 10 de novembro de
1772. (Saviani, 2008, p.03)
As aulas régias, dos tempos de Pombal, estavam
relacionadas com a oferta de ensino secundário, existiam as
classes de latim, o Estado pagava o salário dos professores e
determinava às diretrizes curriculares das matérias a serem
ensinadas. As aulas régias de latim, Grego e Retórica que nem
de longe chegaram a substituir o eficiente sistema de ensino
organizado pela Companhia de Jesus” (Piletti, 2012, p. 74).
O professor deveria prover as condições materiais do local
escolhido para as aulas, que podia ser a própria casa do professor,
cuidando da infraestrutura da sala de aula, zelando pelos
recursos pedagógicos para promover o ensino. Com tudo isso,
ainda havia a insuficiência de recursos, a Colônia Portuguesa
não tinha recursos apropriados para a garantia e a aquisição do
subsídio literário e assim financiar as aulas régias (instituída em
1772). (Saviani, 2008)

SAIBA MAIS

Veja o vídeo da UNIVESP sobre A Reviravolta de Pombal:


Nasce a Educação Laica: http://bit.ly/2MoMBkp

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216 História da Educação

Descrevendo a Pedagogia Realista do


Século XVII
Dos séculos XVI até XIX foi mapeado o campo teórico
capaz de estruturar o pensamento científico. O século XVII
vai preparar a grande mudança do século XVIII, tempo em
que ciência foi entrelaçada com o progresso da humanidade, já
estando os seres humanos capazes de pensar que o progresso
na história seria alcançado através da independência e interação
de fatos e valores. (STEPHANOU & BASTOS, 2004, p. 146).
Uma revolução que começou no século XVI, atravessa o século
XVII, contou com a estruturação apoiada nas novidades ditas por
Copérnico, Galileu e só depois Newton, levando a humanidade
para uma cada vez maior, racionalidade científica.
A separação entre filosofia e ciência ocorreu
no século XVII, quando Galileu introduziu o
método científico, baseado na experimentação e
na matematização racional. Está se aproximou
como um modelo global e, portanto, totalitário,
criou o paradigma da igualdade, que estruturou o
Direito Natural dando condições para criar uma
nova categoria social, o indivíduo, fundamento
do Estado Nacional moderno. A razão estruturou
a igualdade, eliminou a diferença em nome
dessa igualdade e do progresso da humanidade.
(STEPHANOU & BASTOS, 2004, p. 146).
A idade moderna começa e já será quebrado a cosmovisão
medieval, sendo ultrapassada a visão de que o mundo é parado,
estático e hierarquizado:
A teoria heliocêntrica do movimento dos planetas
de Copérnico, as leis de Kepler sobre as órbitas
dos planetas, as leis de Galileu, a grande síntese
da ordem cósmica de Newton e a consciência

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História da Educação 217

filosófica que lhe conferem Bacon e sobretudo


Descartes, consubstanciaram o paradigma moderno.
(STEPHANOU & BASTOS, 2004, p. 147).
Foi o racionalismo de Descartes e o empirismo de Francis
Bacon que serviram de base filosófica, para pensar em um homem
capaz de pensar sobre as verdades universais (racionalismo) e,
ao mesmo tempo, o conhecimento era visto como uma realidade
em constante mudança, a depender do tempo, do homem e do
espaço (empiristas). Imagina quais são as bases do pensamento
científico aplicados, na reforma de Marques de pombal, em 1772
(Século XVII)? Exatamente Racionalismo e empirismo! Era
necessário superar a escolástica tradicional (medieval) e seguir
o caminho do racionalismo moderno. A modernidade é aqui
pensada como um modo de civilização fundado pelos princípios
matemáticos os quais poderiam ser aplicados, tal como na óptica,
a todo problema da representação do globo numa superfície
plana. (STEPHANOU & BASTOS, 2004, p. 149).
Assim, foi necessário separar fé e razão, foi preciso lutar
pelo progresso, com a ajuda da razão, em prol do desenvolvimento
humano. O Estado português fez a sua reforma do ensino
em geral, e na universidade. A educação jesuítica vai perder
todo o sentido, a partir das escolas de Marques de Pombal.
Os reformadores escolhidos por Pombal concebiam o campo
científico como caminho para construir o verdadeiro homem, o
progresso econômico e social, a felicidade humana, o encontro
do verdadeiro Deus, assim como para chegar ao conhecimento da
verdadeira natureza”. (STEPHANOU & BASTOS, 2004, p. 146).
A Pedagogia Realista, do século XVII, vai exigir que a
educação seja pensada e que não descuidasse da realidade (no
latim res, significa coisa), dando importância a experiência com
os mundos dos objetos, com a realidade, com fatos significativos,
do tempo em que se vive. Superando o que era mais caro à
educação medieval, teórica e formal e até a concentração dos
humanistas renascentistas, nas humanidades.

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218 História da Educação

Descrevendo a Nova Didática de Comênio


Comênio foi importante personagem para a Educação
Moderna. Ele defendia que não se deve aprender coisa alguma
exclusivamente para a escola, mas para vida, a fim de que
os alunos não tenham de lançar ao vento nenhuma de suas
aquisições ao sair da escola (PILETTI, 2012, p. 77). Ele foi
visto como o mais importante pensador da educação, no século
XVII, escreveu mais de cem livros, e ficou imortalizado juntos
aos educadores com a sua obra Didática Magna, que trata de
numerosos assuntos da educação e auxiliar o homem a alcançar
o seu fim último, ou seja, a sua felicidade eterna com Deus.
Mas isso não era novidade, pois todos os educadores da época
concordavam neste ponto. (Piletti, 2007, p. 77). Então, qual seria
a diferença destes educadores contemporâneos e Comênio? Qual
a novidade que ele ofereceu? Enquanto os outros afirmavam que
a educação, para alcançar seu objetivo, deveria tentar destruir
os desejos naturais, instintos e emoções, Comênio afirma que o
objetivo devia ser alcançado pelo domínio de si mesmo, o que
é assegurado pelo autoconhecimento e pelo conhecimento de
todas as coisas úteis. (PILETTI, 2012, p. 77).
Comênio foi o idealizador da ilustre Didática Magna. A
didática tem como lógica a relação com o saber, atividade que se
refere às lógicas próprias dos saberes em situação pedagógica.
Comenius prometia uma grande didática, uma arte universal de
ensinar tudo a todos. (Morandi, 2008, p. 34). O clérigo Comênio
defendia que só era possível aprender a universalização dos
conhecimentos, através da mensagem de Deus, contida na
Bíblia, capaz de moralizar os povos. Ensinar tudo a todos, era a
meta de Comênio.
Ele defendia que o principal foco da lógica pedagógica era
a ideia de método, como conduta racional. Comênio acreditava
que a escola era um ateliê da humanidade, devendo cumprir
a arte de ensinar tudo a todos, de forma consistente, veloz e
segura, divertida, não aborrecida e alcançando suas metas, com
perfeitos êxitos.

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História da Educação 219

O método estabelece o modo educativo com base


na relação original que a mente humana mantém
com o mundo segundo o princípio de uma ciência
universal. Acreditando na educabilidade do homem
e na perfectibilidade das sociedades, Comenius
fundou escolas, mantendo-as como instrumentos
intelectuais, como comunidades eruditas de
ultrapassar os conflitos atuais da época. Para ele, a
atividade do professor diz respeito ao método mais
do que ao talento. (Morandi, 2008, p. 39)
A Didática Magna de Comênio recebeu influências dos
novos modelos mecânicos, da Idade Moderna. O sonho dele era
tornar a educação mais barata para as massas populares, aos mais
empobrecidos. Um homem religioso, sonhador e que viveu em
um período de grande avanço da tipografia, era necessário criar
um método de ensino capaz de agir, bem e racionalmente, já livre
da necessidade de copistas para ter livros. Assim era necessário
ao formular seu método, Comênio considerou a eficácia na
transmissão como uma questão central (Piletti, 2007, p. 78).
Comênio avaliava que a o método de educar, do seu
tempo, era vago, não declarando e forma racional em que
lugar quer levar a criança com os seus esforços pedagógicos,
para onde levar e como levar deveria ser repensado. A opinião
de Comênio implicava em pensar o método e a ordem, de
forma sistemática, fundamentada na natureza. Foi ele que
pensou na educação, com o professor como figura central, que
expõe didaticamente a matéria aos alunos, que, por sua vez, o
escutam e obedecem. Nesse caso, o problema central é como
conseguir que os alunos escutem. (Piletti, 2012, p. 78). Isso
aconteceria através da predisposição das mentes dos alunos
para aprender, afastando-os todos os obstáculos que possam
impedir a aprendizagem. Assim, no momento da história em que
a educação passa a alcançar um número maior de pessoas, na
Europa, pensar em um método era fundamental. O legado de
Comênio para a educação passa por três importantes ideias, tais

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220 História da Educação

ideias são basicamente: naturalidade, intuição e


autoatividade. A arte de ensinar, segundo Comênio,
não exige outra coisa senão a judiciosa disposição
do tempo e das coisas. E tal disposição deve apoiar-
se na natureza como sobre uma rocha inabalável.
Para Comênio, a arte não pode ser outra coisa que a
imitação da natureza. E tudo o que é natural avança
por si mesmo! (Piletti, 2012, p. 80).
Figura 2: Comenius

Fonte: wikipedia

SAIBA MAIS

Leia o artigo A didática de Comênio: entre o método de ensino e


a viva voz do professor, no seguinte link: http://bit.ly/2Mrjmhb

Descrevendo as Propostas de John Locke


Este pensador, considerado o pai do empirismo inglês, John
Locke (século XVII) desenvolveu o conceito de conhecimento,
na perspectiva empirista. Como outros empiristas, vai criar

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História da Educação 221

teses que apoiam nas experimentações dos sentidos, já que o


conhecimento não já vinha, ao nascer. A folha em branco ou
tabula em branco, da mente precisaria ser preenchida. Locke
esteve preocupado em negar
a existência de ideia e princípios inatos na mente
ou espírito humano (o que levou a desenvolver
uma teoria sobre o processo pelo qual se chega a
conhecer) e justificação do liberalismo enquanto
filosofia política e enquanto forma de governo,
que tinha como base a noção de que a propriedade
era um direito inalienável dos homens (ANDERY,
1988, p. 222).
Nesta visão do pensador empirista o que o homem conhece
e as ideias que surgem à sua mente não eram inatas, portanto,
rechaçando o Inatismo.
Todas as ideias derivam da sensação ou reflexão.
Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos,
um papel em branco, desprovida de todos os
caracteres, sem quaisquer ideias; como ela será
suprida? De onde lhe provém este vasto estoque,
que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem
pintou nela com uma variedade quase infinita?
De onde apreende todos os materiais da razão e
do conhecimento? A isso respondo, numa palavra,
da experiência. Todo nosso conhecimento está
nela fundado, e dela deriva fundamentalmente
o próprio conhecimento. Empregada tanto nos
objetos sensíveis externos como nas operações
internas de nossas mentes, que são por nós mesmos
percebidas e refletidas, nossa observação supre
nosso entendimento com todos os materiais do
pensamento. Dessas duas fontes de conhecimento
jorram todas as nossas ideias, ou as que
possivelmente teremos. (CHAUÍ, p. 1996, p. 95)

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222 História da Educação

As ideias empiristas, entrando nas mentes, e percorrendo


por séculos, os ideais da educação. Locke defendia que as
observações que fazemos sobre os objetos exteriores e sensíveis
ou sobre as operações internas da nossa mente, de que nos
apercebemos e sobre as quais nós próprios refletimos, que
fornecem à nossa mente a matéria de todos os pensamentos.
(LOCKE, 1999, p. 106). O conhecimento, para Locke, seria
constituído de ideias advindas dos objetos externos e das
operações internas da mente. (ANDERY, 1988). Restando uma
tarefa importante: Como é que é adquirido o conhecimento,
já que não é por ideias inatas como pensavam, teóricos da
antiguidade até o período longo medieval.
Locke foi um importante precursor do iluminismo, fundou
o empirismo inglês. Sua educação realista objetiva investigar os
fenômenos naturais e a proposição de ideias que, futuramente,
influenciaria o pensamento de outros teóricos, por exemplo,
Rousseau. (TERUYA ET ALL, 2010, P.3). Empiristas, como
Locke costumavam criticar ideias metafísicas defendidas por
instituições religiosas e pela monarquia que representava o
centro das decisões políticas, econômicas e jurídicas. (TERUYA
ET ALL, 2010, p. 7).
O Empirista Locke entendia que todo e qualquer
conhecimento vindo do mundo exterior era decorrente deste
mundo, provocada pelo exterior e não pela mente, surge da
qualidade dos objetos e fenômenos postos no mundo exterior
e das ações dos sentidos humanos, em atividade constante de
apreender o mundo (ANDERY, 1988, p. 226).

Descrevendo o Século XVIII


O iluminismo vai trazer novas discussões para o campo da
educação, que vai desde a Revolução Copernicana, produzida
pela obra de Rousseau, a contribuição dos Enciclopedistas.

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História da Educação 223

Descrevendo o Século XVIII: o Iluminismo


e suas relações com a educação
A ciência ganha espaço no decorrer do século XVII e segue
até o iluminismo. Uma esperança especial surge na escolarização
das futuras gerações que poderiam ser baseadas no pensamento
iluminista, trazendo nova visão de infância e da importância da
formação escolar. O movimento iluminista valorizou o primado
da razão humana, É pelo signo da educação que se dará o
engendramento dessa racionalidade matricial, diretora do otimismo
expresso em um século que se pretendia veículo e condutor
daquilo que se supunha ser a perfectibilidade do homem (Boto,
2014, p. 157). Inspirador da reforma de Pombal, o iluminismo
teve seu papel inspirador, nas bases da proposta educacional desta
época, em que as metas eram estatizar, secularizar e uniformizar a
educação. Não ocorreu aumento substancial da oferta de escolas
secundárias, mas foram ampliadas as matriculas de crianças das
camadas populares portuguesas. Tais escolas, agenciadas talvez
para redistribuir o panorama social, continham em seu cotidiano
os germes da vida civil que a ilustração portuguesa projetou
desenhar. Nessa medida, com conteúdos, métodos e códigos de
conduta estritamente prescritos, a escola do Estado passa a falar
aos futuros cidadãos. (BOTO, 2014, p. 174).
Para entender as relações do iluminismo com a educação,
é fácil compreender a sua dimensão pegando um exemplo muito
significativo, que é Jean Itard. Este pensador francês, levou para
a sua casa um jovem, que foi encontrado nos arredores da cidade
de Aveyron, na França do Pós Revolução Francesa, sem contato
com a sociedade, na região de Aveyron. Itard é um exemplo
clássico do agir com o espirito cientifico da época, tentando
desmontar o idealismo que já vinha desde a antiguidade,
reforçada pelas práticas medievais da Igreja, contestadas desde
a Idade Moderna, nos dois séculos anteriores. O cenário agora
é o republicano francês, momento em que estes pensadores vão
tentar colocar em prática suas teorias realistas, racionalistas e
empiristas. Trabalhar os sentidos é uma meta, já que mente é

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224 História da Educação

vista como desprovida de ideias, ao nascer. O sensualismo de


Itard é inspirado no pensamento de Condillac, que tentou provar
que as atividades corpóreas e psíquicas possuem
um denominador comum: as impressões. Ao
explicar a origem do conhecimento, coloca a
sensação como fonte: não há mais Deus mediando
a relação entre o sujeito que conhece e o objeto
do conhecimento. A relação se dá diretamente
entre homem e mundo através da sensação, da
qual derivam todas as operações intelectuais.
(ANDERY, 1988, p. 335).
A pedagogia testada por Itard, com um jovem que não
falava, tinha passado os últimos doze anos de vida na floresta, sem
convívio de outros humanos, tornado um objeto de estudo para
provar a inadequação de pensar formatos teóricos não inatistas, já
que para Itard as ideias vinham dos sentidos. O Sensualista Itard,
desenvolveu um trabalho entre a medicina e a pedagogia com o
garoto e escreveu um relatório, ao Governo francês, treinando
os sentidos do garoto, a toda força, deixando-o todas as manhãs
exposto ao frio, ao lado das roupas, até que aprendesse a usá-las
(MALSON, 1980, p. 152) ou ainda para reforçar a aprendizagem
dos efeitos de um choque produzido por uma garrafa de Leyde e
vendo a inquietação que lhe causava tal aparelho, julguei que ia
fugir e agarrei-o pela gola”. (MALSON, 1980, p. 153).

SAIBA MAIS

Já viu o Filme sobre a História da Pedagogia de Itard com o


garoto Selvagem? Leia um artigo sobre o filme e o caso: O
menino selvagem Estudo do caso de uma criança selvagem
retratado no filme “O menino selvagem” de François Truffaut:
http://bit.ly/2Bj2JNY

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História da Educação 225

Itard, este cientista iluminista, adepto da medicina moral


pós-revolução francesa, faz parte da História da Pedagogia, no
momento em que inspirada, pelas discussões teóricas positivistas,
quis ter o status de Ciência Positiva da Educação Moderna.
É a partir de fins do século XVIII precisamente que
o Saber pedagógico, entrelaçado com a psiquiatria
e a filosofia do Iluminismo, adquire uma fisionomia
tal que se torna paradigma para gerações futuras
de educadores. Saber positivista que, convertido
em ideologia dominante no terreno pedagógico,
expande-se mascarado com o véu da naturalidade.
(LAJONQUIÉRE, 1992, P.37).
E Itard criou um projeto para educar o jovem selvagem,
não sendo pai, nem professor e muito menos afeiçoado ao garoto,
somente uma cientista querendo provar suas teorias, cumprindo
com suas tarefas cinco objetivos do seu determinado tratamento
moral ou a educação do selvagem de Aveyron:
PRIMEIRO OBJETIVO: Adaptá-lo à vida social,
tornando-a mais agradável do que a que levava
então e, principalmente, mais análoga à que acabava
de deixar. SEGUNDO OBJETIVO: Despertar a
sensibilidade nervosa com os estimulantes mais
enérgicos e, por vezes, com as mais vivas afeições
da alma. TERCEIRO OBJETIVO: Alargar-lhe a
esfera das ideais, dando-lhe necessidades novas
e multiplicando-lhe as relações com os que o
rodeiam. QUARTO OBJETIVO: Levá-lo ao uso
da palavra, determinando o exercício da imitação
pela lei imperiosa da necessidade. QUINTO
OBJETIVO: Exercer durante algum tempo sobre
os objetos das suas necessidades físicas as mais
simples operações do espírito, determinando-lhe
em seguida a aplicação aos objetos de instrução.
(MALSON, 1980, p. 144).

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226 História da Educação

Descrevendo a Enciclopédia e sua relação


com a Educação
Coube aos pensadores, conhecidos como Enciclopedistas,
organizar a Encyclopédie (Enciclopédia), entre 1751 e 1780).
Entre os diversos verbetes, havia o termo Pedagogia, relacionado
a Lógica da ciência do homem, como arte de comunicar ou
transmitir os pensamentos, tratando da escolha dos estudos
e da maneira de ensinar. E já verbete Educação, aponta que
a pedagogia é o sistema representado pelos conhecimentos
humanos. (Morandi, 2008).
Enciclopedistas é o nome pelo qual se designam
os homens de ciência franceses que redigiram
a Enciclopédia ou dicionário Racionado das
Ciências, das Artes e dos Ofícios. Dirigida por
D’Alembert e Diderot, a Enciclopédia tinha
por objetivo tornar conhecidos os progressos da
ciência e do pensamento em todos os campos.
Os principais enciclopedistas, além dos dois já
citados, forma Voltaire, Joucourt, Montesquieu e
o próprio Rousseau. (Piletti, 2012, p. 83)
Condorcet (presidente do Comitê de Instrução Pública) e os
enciclopedistas iluministas defendiam a ideia de educação como
condição fundamental de progresso da sociedade e do indivíduo.
As ideias iluministas, não afastam utilidade pública e progresso,
a instrução pública traz o progresso dos homens, sendo assim é
preciso cuidar do acesso aos saberes e dos métodos de instrução,
oportunizando-os de forma gratuita, leiga e universal.
Métodos cada vez mais elaborados se sucedem
e reúnem, em curso espaço de tempo, todas as
verdades cuja descoberta tinha ocupado os homens
durante todo o século. Em todos os tempos, o espírito
humano verá diante de si um espaço sempre infinito,
mas aquele que o separa dos tempos de sua infância
crescerá sem cessar. (Morandi, 2008, p. 40).

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História da Educação 227

Descrevendo a “Revolução Copernicana”


na Educação
Rousseau transformou a vida da criança e a sua educação,
agindo em uma verdadeira revolução, partindo das suas leituras não
seria possível tratar os filhos e seus educandos do mesmo jeito.
Tratai-a, pois, conforme sua idade, apesar das
aparências, e evitai esgotar suas forças exercitando-
as demais. Se aquele jovem cérebro se esquenta,
se virdes que está começando a ferver, deixai-o
primeiro fermentar em liberdade, mas não o
provoqueis jamais, para que nem tudo se exale.
(ROUSSEAU, 1995, p. 111).
A revolução copernicana mudou o modo de pensar da
humanidade, colocando o ser humano com uma responsabilidade
impensada em tempos anteriores a Copérnico, que fez com a sua
teoria uma revolução no modo de ver a realidade, ao pronunciar
uma palavra que mudaria o mundo, tirando das mentes humanas
a ilusão geocêntrica, os seres humanos tiveram que entender
que a ciência trazia uma nova evidência, a heliocêntrica, e que a
Terra não era o centro do universo.

SAIBA MAIS

Veja o vídeo da UNIVESP sobre a vida de Rousseau e sobre


seu livro Emilio ou da Educação. No seguinte link: http://bit.
ly/2P2gNnr

Isso vai cair sobre as cabeças modernas e produzir um


homem que pensa, tal qual Rousseau, que fez de suas reflexões
uma possibilidade de que a criança deixasse de ser uma miniatura
de adulto tão somente, terão que mudar a educação e a relação
do adulto com as crianças.

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228 História da Educação

Respeitai a infância e não vos apreceis em julgá-


la, quer para o bem, quer para o mal. Deixai
as exceções se revelarem, se provarem, se
confirmarem muito tempo antes de adotar para
elas métodos particulares. Deixai a natureza agir
bastante tempo antes de resolver agir em seu lugar,
temendo contrariar suas operações (ROUSSEAU,
1995, p. 112).
Será necessário criar oportunidades inúmeras para a
criança aprender a pensar. Copérnico criou um inusitado
modelo astronômico, destituindo a terra do centro do universo,
revelando que todos giravam em torno do sol. E que Revolução
Copernicana produziu Rousseau? Trouxe a importância do
contato com a natureza, o respeito às fases da vida, fundamentos
para uma educação que não descuida do corpo, uma educação
sensível, que permite que a criança seja livre, com seus jogos e
brincadeiras.
A natureza quer que as crianças sejam crianças
antes de serem homens. Se quisermos perverter esta
ordem, produziremos frutos temporãos, que não
estarão maduros e nem terão sabor, e não tardarão
em se corromper; teremos jovens doutores e velhas
crianças. (ROUSSEAU, 1995, p. 86)
Rousseau alterou o centro de interesse da pedagogia,
sugerindo que o professor gravite em torno do aluno, e não o
contrário. Tratar a criança conforme a fase em que realmente
vive é um conselho de Rousseau, expresso no Emílio:
Caso contrário, perdereis vosso tempo e vosso
trabalho, destruireis vossa própria obra e, depois
de vos terdes indiscretamente embriagado com
todos esses vapores inflamáveis, só vos restará um
resíduo sem vigor. (ROUSSEAU, 1995, p. 111).

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História da Educação 229

É para os alunos que existem os preceptores, figuras


típicas dos tempos que viveram Rousseau. Então quem ensina
precisa abandonar os modos medievais, rudes, desinteressados
da pessoa do aluno.
É posteriormente, com Rousseau que a infância
é concebida em sua especificidade, quando em
Emílio, o filósofo apresenta fases maturacionais
distintas nas diferentes idades. E, neste sentido, a
revolução pedagógica de Rousseau é comparada à
revolução copernicana, situando a criança no centro
do processo educacional. (Silva, 2015, p. 36)
Rousseau sustentava que os instintos e os interesses naturais
deveriam ser valorizados. A criança deveria ter papel sobre seus
saberes. Deveria conduzir mais do que ser obrigada a agir como
adulto em miniatura? O fato é que Rousseau não morrerá sem
deixar frutos na história da educação. Assim, Rousseau pode ser
pensado como um influenciador da escola nova, que vai fazer
história, do século XIX até o intenso sucesso escolanovista, na
primeira metade do século XX. Rousseau influenciou alguns de
seus contemporâneos educadores, como Pestalozzi, Herbart e
Froebel.
Figura 3: Rousseau, escreveu o livro Èmile

Fonte: wikimedia commons

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230 História da Educação

Rousseau e o Naturalismo Pedagógico em


“Emilio”
Jean Jacques Rousseau entendia que tudo é perfeito no
instante de sair das mãos do criador da natureza, tendendo a
degeneração nas mãos humanas. O pensamento de Rousseau e
outros estudiosos influenciaram o fato político determinante do
século XVIII, na França. Dentro dos esforços deste pensador
estavam algumas das preocupações centrais da Revolução
Francesa, como a liberdade e a igualdade.
Rousseau desenvolveu intensa atenção, na sua obra,
ao sentimento da natureza, cabendo-lhe a denominação de
naturalista. É interessante lembrar que este autor considerava o
homem como naturalmente bom, mas que poderia ser corrompido
pela sociedade e civilização.
Na educação, o movimento naturalista representou
uma revolução. É que, na última parte do século
XVII e maior parte do século XVII, o formalismo
estéril e sem vida que dominou a religião se refletiu,
também, na educação. A filosofia romântica e
do sentimento reage contra esse formalismo e,
em seu lugar, propõe uma concepção da vida
espontânea e sincera. Assim, os românticos
atacam a concepção racionalista do mundo e da
vida e defendem a importância do sentimento,
da fantasia, da intuição, do desejo e das forças
irracionais da vida. (PILETTI, 2012, p. 82).
Rousseau é um pensador do século XVIII, defendia que
a criança nascia boa. Incentivava seus leitores a acreditar na
bondade natural humana, refletindo sobre o papel condenável
da civilização, responsável pela existência do mal. A Educação,
concebida com o ideário rousseriano, deveria priorizar o contato
com a natureza. Rousseau refletiu sobre as diferentes fases do
desenvolvimento infantil, condenando a visão da criança como
miniatura de adulto. Ele defendia a pedagogia do cidadão, para

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História da Educação 231

manter a cidade firme. E recomendava que fossem oferecidas às


crianças autonomia e socializações.
Rousseau, o profeta do romantismo, contrapõe-
se frontalmente às ideias predominantes na época
sobre a natureza humana. De acordo com essas
ideias, a natureza humana seria essencialmente
má e caberia à educação destruir a natureza
humana seria essencialmente má e caberia à
educação destruir a natureza original e substituí-
la por outra modelada pela sociedade. Opondo-se
a essa maneira de pensar, Rousseau começa sua
importante obra Emílio ou da educação com a
seguinte afirmação: Tudo é certo em saindo das
mãos do Autor das coisas, tudo degenera nas mãos
do homem. (Piletti, 2012, p.83)
No seu famoso livro Émile (Emílio) vai defender as ideias
para uma educação relacionada a natureza enquanto origem e
ideal. Este famoso livro é
um romance pedagógico em que Rousseau
pretende ensinar como se devem formar as
pessoas partindo do princípio de que o homem é
naturalmente bom e de que, sando má a educação
dada pela sociedade, convém estabelecer uma
educação negativa como a melhor ou, antes, como
a única boa. Segundo ele, a educação negativa
consiste em não em não ensinar os princípios da
virtude ou da verdade, mas em proteger o coração
contra o vício e o espírito contra o erro. (Piletti,
2012, p. 86)
É da natureza que devem ser providos as práticas educativas.
Caberia a adulto ser capaz de respeitar as formas singulares da
criança sentir, pensar, usar livremente as faculdades naturais
com liberdade. A inteligência infantil deveria estar a serviço da
educação. Este pensador acreditava que os adultos deveriam agir

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232 História da Educação

em prol da educação natural, impedindo que as crianças


fossem corrompidas pela vida social
O professor tem que deixar a criança desenvolver
sua natureza, dirigi-la sem autoridade evidente,
instruí-la no contato casual das coisas. Ele deve
leva-la a descobrir o que lhe é útil perseguir, a se
exercitar espontaneamente, a aprender a bastar a
si mesma; estimulá-la a não depender de livros, a
ter a própria opinião sem recorrer ao julgamento
do outro. Ajudá-la a tornar adulta gradualmente,
primeiro pelo corpo, depois pelo espírito.
(Morandi, 2008, p. 40).
Este pensador oitocentista fincou os pés na educação
e influenciou muitos educadores por gerações seguintes aos
tempos em que viveu. “É preciso estudar a sociedade pelos
homens, e os homens pela sociedade: os que quiserem tratar
separadamente da política e da moral nunca entenderão nada de
nenhuma das duas” (Rousseau, 1995p.524), descreve Rousseau
na sua obra Emílio. Os tempos intensos em que viveu Rousseau
trouxeram a destituição da Igreja do controle da educação que
trazia já desde a Idade Medieval, na Europa, sendo levada às
experiências educacionais nas colônias, como é possível perceber
na educação colonial brasileira, com índios aprendendo com
padres que julgavam que nada eles sabiam, e que aprender a fé
cristã católica era tudo o que deveria ser feito e na base do medo.

SAIBA MAIS

Sobre Rousseau, seu pensamento e o seu livro Emílio, veja os


vídeos da UNIVESP: http://bit.ly/2Bh3s2i e ainda http://bit.
ly/2BjxnqP

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História da Educação 233

O Século XVIII, a obra de Rousseau, a Revolução Francesa


e tantas outras provocações deste rico momento histórico, com a
responsabilização do Estado, com a tarefa de tornar a educação
leiga, não confessional e dever do Estado, mudou drasticamente
como pensar a educação. Assim hoje, ainda estamos sobre a égide
da responsabilidade atual do estado, pelas políticas públicas,
em muitos países, entre eles, O do Brasil republicano. Muitas
pessoas enfrentam a realidade e se negam a admitir a laicidade da
educação, considerando que a 1.ª tarefa do dia é ensinar a rezar
específicas orações, de suas religiões, é fácil, assim, lembrar dos
antigos mestres jesuítas ensinando à sua religião aos indígenas.
Foi considerável a transformação que a obra de Rousseau
operou na concepção da criança, na Pedagogia. Vai interessar
pensar na criança, não mais centrada no saber e na transmissão
para as mentes infantis, de algo já pronto.
Centralizou sua abordagem na criança,
considerada não apenas um ser em construção,
mas simplesmente uma criança, isto é, como um
ser perfeito. (Piletti, 2012, p.83). Do pensamento
pedagógico de Rousseau foi possível valorizar,
dentro do campo da educação à redescoberta da
educação dos sentidos, à valorização do jogo, do
trabalho manual, do exercício físico e da higiene.
(Piletti, 2012, p. 83).

Descrevendo a Educação Nacional


A educação nacional nasceu durante a Revolução Francesa,
progredindo nos tempos posteriores à vitória republicana
francesa e de seus ideias de fraternidade, liberdade e igualdade.
Os seus teóricos vão criar as bases de uma educação nacional,
leiga, igualitária, universal, que vai viajar por muitas partes do
mundo, incluindo o Brasil.

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234 História da Educação

A Instrução, nos tempos seguintes da Revolução Francesa,


amparada no pensamento de seus ideólogos, como Condorcet
que se debruçou para propiciar sua institucionalização, no
nascente tempo republicano,
tornou-se, com a escola, sinônimo de vínculo
político instituído; para Condorcet, é a instrução
que institui o cidadão e é ao instituidor que se
confia a tarefa de elaboração da vida pública.
Hoje, a palavra professor denota o status de
um trabalho com características intelectuais,
com competências de alto nível (relativas aos
estudos superiores), bem como uma continuidade
de função (escolas de educação infantil, de
ensino fundamental, de ensino médio), por
oposição ao status de instituidor que desaparece
progressivamente. (Morandi, 2008, p. 32)
A educação estatal não será a mesma na França, havendo
a necessidade de formação de cidadãos, portando de direitos,
que poderão viver nos tempos novos republicanos, que possam
livremente pensar, com civismo e patriotismo.
Entendemos que o poder público devia dizer aos
cidadãos pobres: a fortuna de vossos pais apenas
pôde proporcionar-vos os conhecimentos mais
indispensáveis; mas asseguram-se vos os meios
fáceis de os conservar e ampliar. Se a natureza
vos deu talento, podeis desenvolvê-lo, a fim
de que não se perca, nem para vós nem para a
pátria. Assim, a instrução deve ser universal,
isto é, estender-se a todos os cidadãos. Deve ser
repartida com toda a igualdade que permitam os
limites necessários do orçamento, a distribuição
dos homens pelo território e o tempo mais ou
menos longo que as crianças puderem consagrar-
lhe. Nos seus diversos graus, ela deve abraçar o

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História da Educação 235

sistema completo do saber humano e assegurar


aos homens, em todas as idades, a facilidade
de conservarem os seus conhecimentos e de
adquirirem outros novos. Enfim, nenhum poder
público deve ter autoridade, nem mesmo direito,
de impedir o desenvolvimento de verdades novas,
ou o ensino de teorias contrárias a uma política
de partido, ou aos seus interesses particulares.
(Condorcet, 1943, p. 9-10)
E a escola precisaria ser obrigatória para as crianças,
gratuita, laica (não confessional de uma religião específica,
como era no tempo medieval). Tais anseios irão movimentar as
ideias para a educação do século XIX.

SAIBA MAIS

Leia mais sobre o assunto, o artigo Na revolução francesa, os


princípios democráticos da escola pública, laica egratuita: o
relatório de condorcet, de Carlota Boto: http://bit.ly/32kLxDM

Nóvoa ajuda a entender a Educação Nacional:


O processo de estatização do ensino é antes de tudo
a substituição de um corpo docente religioso (ou
sob controle da Igreja) por um corpo laico (ou sob
o controle do Estado), sem que por isso as antigas
motivações, nem as normas e os valores que
caracterizaram as origens da profissão docente,
tenham sido substancialmente modificadas: o
modelo do docente permanece muito próximo
daquele do padre. (Nóvoa, 1991, p. 119)

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236 História da Educação

No Brasil, a Carta de Lei, de 10 de novembro de 1772


determinava a responsabilidade do estado com o pagamento
dos salários do professor e ditar às diretrizes curriculares das
matérias que deveriam ser ensinadas. Imagine a dificuldade de
ser professor neste momento da história: O professor tinha que
prover condições materiais, lugar para ensinar (no geral em sua
casa), infraestrutura, recursos pedagógicos para desenvolver
suas tarefas pedagógicas. Nada era fácil! Essa situação era,
ainda, agravada pela insuficiência de recursos, dado que a
Colônia não contava com uma estrutura arrecadadora capaz de
garantir a obtenção do subsídio literário para financiar as aulas
régias. (Saviani, 2008, p.03)
Além das aulas régias, as ordens religiosas permaneceram
oferecendo estudos dentro dos seminários católicos, o Seminário
de Olinda, criado em 1789 e instalado em 1800 por Dom Azeredo
Coutinho tornou-se centro de difusão de ideais liberais. Dando
especial ênfase ao estudo das matemáticas e das ciências naturais.
(PILETTI, 2012, p.75). Notando que seus alunos e professores
tiveram ativa participação na Revolução Pernambucana (ou
Revolução dos Padres, em 1817) e na Confederação do Equador
(1824), este último foi eventos favorável a República. Havia
curso secundário neste dito seminário de Olinda, com classes
(salas de aula), submetidos a um plano de curso estabelecido.
No fim do Império, as instituições escolares eram escassas,
poucos liceus, alguns colégios privados em cidades mais
importantes, uma quantidade ínfima de escolas normais, número
pequeno de cursos superiores, muito pouco feito e muito o que
fazer nos séculos seguintes, em um país dividido com relação
ao acesso educacional, inexistindo grandes escolas e professores
leigos na zona rural até fim do século XX, poucas décadas atrás,
dos tempos contemporâneos.

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História da Educação 237

Reconhecendo o Século XIX


As Realizações Educativas e
Sistematizações Pedagógicas
No século XIX, as realizações educativas e as
sistematizações pedagógicas buscavam um novo modelo de
escola, para superar a escola tradicional, seus métodos obsoletos,
atreladas a Igreja, ou tratavam ainda das escolas leigas que
começavam a querer uma nova modelagem. Isso demorou muito
a se tornar efetivo no Brasil. Surgem importantes teorizações de
Pestalozzi, Herbart e Froebel que trarão um papel importante
à escola para as crianças e ao papel da mulher na educação de
crianças, não só no lar, mas nas escolas, sendo repensadas as
formações de professores, a luz destas novas teorias.
A segunda metade do século XIX agitou a economia, a
política, a cultura e a sociedade. Na Europa ocorreu grande
desenvolvimento da indústria, revolucionando as forças
produtivas, o mercado mundial, surgindo crises na sociedade
capitalista, apontando o dedo na ferida das contradições da
sociedade capitalista. O Brasil, daqui do novo mundo, mas
não isolado da ordem mundial e de seus modos de produção,
teve que remodelar os modos locais de produção, forçado pelas
novas exigências da ordem mundial capitalista, mas ficada nos
imperialismos e monopólios. Modernizar as formas de produção
era a palavra-chave, à época, juntamente com mudanças que
precisavam ser orquestradas na sociedade civil, finda a monarquia,
com todas as providências para separar Igreja e Estado, surgindo
o casamento civil, impondo a secularização dos cemitérios, com
reforma eleitoral, incentivando à imigração e industrialização.
Mudanças muitíssimas lentas que impacientavam os dissidentes.
No contexto de disputas, destaca-se, nas duas últimas décadas
do Império, a emergência de debates em trono da necessidade
de criação da escola para as classes populares sob a tutela do
Estado”. (MACHADO, 2014, p. 91).

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238 História da Educação

Figura 4: O Ato Adicional de 1834

Fonte: wikimedia commons

Este tempo é marcado por a discussão de uma escola para


o povo. São pensados vários projetos de reforma da educação,
na Câmara dos deputados, e a intenção era a criação do ensino
primário no Município da Corte, o Rio de Janeiro, assim
influenciando as demais províncias. O Ato Adicional de 1834
descentralizou o ensino e designou como responsabilidade do
governo geral a manutenção da instrução primária e secundária
apenas no município da Corte e o ensino superior em todo o
Império. (MACHADO, 2014, p. 92). Este período ainda contou
com Projetos de lei em 1870, 1873, 1874, o Decreto de Leôncio
de Carvalho (1879) e os Pareceres de Rui Barbosa (1882-1883), e
ainda os projetos de 1882 e 1886. Todos estes projetos, nos tempos
finais do Império, no Brasil, comprovam a importância que tais
políticos preponentes atribuíam à educação, entendendo-a como
fundamental para a sociedade nacional. Foram propostos sete
projetos de reforma em menos de duas décadas sem que houvesse
divergência no que se refere à urgência de implementação.
(MACHADO, 2014, p. 92). E nenhum foi implementado!
Triste tempos imperiais no Brasil! Não eram sem razão as
mobilizações populares! Tais projetos revelavam a dificuldade
de definição de um modelo de escola a ser implantado. Estes
projetos se inspiravam nas experiências dos países capitalistas
mais avançados, buscando atender as especificidades nacionais

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História da Educação 239

((MACHADO, 2014, p. 99). Nem Leôncio de Carvalho e nem


Rui Barbosa conseguiram avanços nos seus intentos. A existência
de projetos não efetivados naquele período mostra o quanto
foi difícil a construção da escola existente hoje e a origem de
suas mazelas. Embora os discursos destacassem a importância
da escola para a modernização da sociedade. (MACHADO,
2014, p. 100). O discurso era da necessidade da escola para
alcançar a modernização da sociedade. Já práticas não faziam
eco. Demorando muito a ser uma conquista no Brasil, somente
lá pela 2.ª metade do século XX.

SAIBA MAIS

História da educação no Brasil imperial, saiba sobre a Fundação


da Escola Normal e do 1.º Jardim de Infância estadual. http://bit.
ly/2MOsZ8j

Reconhecendo o Neo-Humanismo Social


Surgiu o Neo-humanismo como uma promessa de nova
missão, em um novo milênio, trazendo reflexões para pensar
os seres humanos, inseridos na natureza, que precisava ser
protegida, como todo o universo. O Neo-humanismo quer
entender os mistérios da vida, do universo, apresentando-se como
uma filosofia do espírito capaz de superar as dificuldades e trazer
uma vida melhor para a humanidade, com amabilidade, amando
os semelhantes, no que estes possuem do divino, já que todos
os seres humanos possuem o divino dentro dos seus corações.
No século XIX, é possível aprender me manuais a importância
da educação infantil, produzindo bases filosóficas capazes de
explicar as necessárias políticas públicas em prol da educação
novecentista. A Igreja ainda é importante para as práticas de

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240 História da Educação

educação, no século XIX, mas os liberais (sejam pensadores ou


gestores da educação junto aos governos, lutam por educação
leiga. Muitas reformas educacionais são produzidas, mas as
forças conservadoras, aliadas à Igreja, impuseram obstáculos
aos anseios burgueses, em prol de um ensino laico, com um
Estado fortemente montado com compromissos democráticos e
progressistas.
Serão importantes as contribuições as teorizações de
Pestalozzi, Herbart e Froebel transformando os modos de ver,
pensar e agir a educação, intervindo com estas novas visões nos
métodos, nas formas de ensino e nas mentes dos professores, em
prol da escola moderna. Era necessário pensar na formação de
uma nova professora para as crianças que iriam à escola primária,
lá nos centros dedicados a formação, as escolas normais.
Tinha chegado a hora de tratar afetuosamente as crianças,
saberes pedagógicos e psicológicos já existiam para fazer isso
de forma salutar e com bases científicas. Então as conhecidas
no Brasil como normalistas, as mulheres que escolhiam
ser professoras de crianças precisariam aprender novas
metodologias, baseadas em uma racionalidade científica, com
o carinho necessário e merecido pelas crianças. Surge campo
de trabalho para as mulheres, nas escolas, baseadas nas teorias
de Pestalozzi (Mulher é uma mãe-educadora) e de Froebel (que
pensou suas teorias sobre jardins de Infância, conduzidos pelas
jardineiras, as professoras de crianças bem pequenas).
Este conjunto de ideias progressistas de Pestalozzi, Herbart
e Froebel aparecem no Brasil, através das publicações da Revista
Pedagógica, com escrita de Rui Barbosa, um batalhador em prol
da educação, com os seus Pareceres de Rui Barbosa (1882-
1883), na Câmara dos Deputados.

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História da Educação 241

Reconhecendo a relevância educacional


dos Jardins de Infância
Grande contribuição para as escolas de crianças bem
pequenas, foi dada por Froebel, são os chamados Jardins da
Infância, despertou a importância das brincadeiras para o
desenvolvimento infantil. No século XIX, Froebel compreende
o jogo como objeto e ação de brincar, marcado pela liberdade e
espontaneidade. Propõe o brincar, orientado por um professor,
com materiais como bolas e cilindros, montar e desmontar
cubos, facilitador de aquisições matemáticas, de conhecimentos
de Física e da Estética. Ressaltava o jogo livre como importante
para o desenvolvimento infantil, mesmo assim introduz a ideia
de materiais educativos, os dons, como recursos auxiliares
necessários à aquisição de conhecimento, como meio de
instrução (KISHIMOTO, 1993, p. 16)
Para Froebel, os brinquedos são atividades imitativas
livres, e os jogos, atividades livres com o emprego dos dons.
(Kishimoto, 2008, P.64). O jogo funciona como uma espécie de
eixo da pedagogia froebeliana. Froebel defendia o princípio da
espontaneidade na educação física, mental ou moral. Ler Froebel
estimula educadores a desenvolver interesse em auto atividade
da criança, liberdade de brincar e expressar tendências internas
e pelo jogo como fator de desenvolvimento integral da criança.
(KISHIMOTO, 1993, p.71). Froebel vê a brincadeira como uma
ação metafórica, livre e espontânea infantil. Defende que está
presente ao brincar características como atividade representativa,
prazer, autodeterminação, valorização do processo de brincar,
seriedade do brincar, expressão de necessidades e tendências
internas. (KISHIMOTO, 1998, p.68).

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242 História da Educação

Reconhecendo a Importância da Educação


Integral
A Inovação educacional no século XIX, passou pela
construção do currículo da escola primária no Brasil, em um
momento de intensa renovação dos programas da escola primária
(1870), os pareceres de Rui Barbosa relativos a Reforma do
ensino primário e várias instituições complementares da
instrução pública (1883), apresentou uma discussão sobre
métodos e o programa escolar. Além de repensar os métodos, era
imperiosa a reorganização do programa escolar. A esse respeito,
Rui segue mais uma vez as ideais pedagógicas predominantes
na época, isto é, a ampliação do programa escolar justificada
pelo princípio da educação integral: educação física, intelectual
e moral. (SOUZA, 2000, p. 13). O Corpo e o espírito são
indissociáveis. O princípio da Educação Integral entendia que a
educação deverias seguir as leis da natureza e a disciplina moral
(inspirada em Spencer).
Rui Barbosa vai desenvolver esta ideia em um dos seus
pareceres, de 1883, recomendando o que seria essencial pensar
na educação integral, para substituir práticas ultrapassadas, que
seu projeto de lei queria mudar:
o que, portanto, cumpre, é repudiar absolutamente
o que existe, e reorganizar inteiramente de novo o
programa escolar, tendo por norma esta lei suprema:
conformá-lo com as exigências da evolução, observar
a ordem natural, que os atuais programas invertem
(...). Demonstra-se a perfeita racionalidade desse
critério, aplicado à educação científica do homem,
pela identidade exata entre a progressão que seguem
as faculdades humanas no desenvolvimento natural,
biológico, espontâneo do indivíduo e da espécie.
(Barbosa, 1883, p. 58).

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História da Educação 243

A ideia de Educação integral passou a ser o primeiro


fundamento pedagógico sistemático para a seleção dos conteúdos
para a escola primária. A definição de uma nova cultura escolar
para o povo encontrou justificações filosóficas e pedagógicas
para amparar um projeto de fundo político e social. (SOUZA,
2000, p. 6). Rui Barbosa ouviu muitos pensadores, educadores
e profissionais que concordavam que era necessário oferecer
um novo formato de educação para as crianças. Rui Barbosa
criou um texto vibrante, engajado, com ideias que melhor
atendiam às finalidades de modernização do país e de formação
das camadas populares; conteúdos que correspondessem ao
princípio da educação integral e fossem atestados pelos países
mais civilizados. (SOUZA, 2000, p. 8)
Figura 5: Rui Barbosa

Fonte: wikimedia commons

Rui Barbosa defendia que a educação integral significava a


ampliação da formação do aluno no decorrer do ensino primário,
através de uma completa recapitulação do progresso vivenciado
pela humanidade, através dos tempos, não deixando de trabalhar,
de forma ampla e harmônica, as faculdades físicas e intelectuais,
não desprezando

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244 História da Educação

as disciplinas das ciências físicas e naturais,


a língua materna, a matemática, a história e a
geografia, mais a educação física, a música, o
desenho, o canto, os rudimentos de economia
política, cultura moral, cultura cívica ou seja,
todas as que, após a alentada reflexão inicial, o
autor vai analisar, ao longo do já citado tomo II e
que constituem as habilidades físicas, cognitivas
e estéticas que completam, no sujeito, o seu SER
humano. (BONATO et alli, p.9, 2011)
Lourenço Filho examinaria as propostas de Rui Barbosa e
iria notar que ali não se estava propondo apenas a estimulação
no racional e no lógico das crianças,
mas no poder criador do espírito como entidade
livre. Por isso a metodologia a que deveria tender
seria integral, como integral é a sua pedagogia.
Nesse sentido, o seu pensamento se sintetiza
nestas poucas palavras: Toda reforma sincera,
em matéria escolar, depende de três modificações
cardeais no organismo do ensino, desde o primeiro
momento de sua função educadora: a introdução
na escola da cultura física, da cultura cientifica e
da cultura artística. (LOURENÇO FILHO, 2001,
p.53).
O ilustre Rui Barbosa, em 1882, organizou uma reforma
do ensino primário, no apagar das luzes dos tempos imperiais.
Assim, ocorre a promulgação, em 1884, do Ato Adicional à
Constituição do Império, incumbindo que o ensino primário
seria da competência das desprovidas províncias. O Estado
não mais teria obrigações a enfrentar, em tempos tão urgentes
de educação, da população brasileira, ainda hoje encontramos
adultos que só tiveram estes 4 anos iniciais, como toda as suas
escolaridades. Evidente que tal Ato Adicional fracassou, levando
ao entendimento que as províncias não estavam equipadas nem

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História da Educação 245

financeira e nem tecnicamente para promover a difusão do


ensino, o resultado foi que atravessamos o século XIX sem que
a educação pública fosse incrementada. (Saviani, 2008, p; 03).
Educação Imperial era muito excludente! Os ideais republicanos
seriam esperanças de mudanças! Ao chegar lá, na República,
carregou-se os resultados de uma educação para poucos e
voltada às elites.

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre a Educação integral, Ensino Integral e


Tempo no Pensamento de Rui Barbosa. Leia o artigo de Bonato
et all. Disponível em: http://bit.ly/31mL4zC

Reconhecendo a Importância da Educação


no Período Joanino
O período joanino corresponde a uma fase da história do
Brasil que ocorreu entre os anos de 1808 e 1821. Recebe esse
nome em referência ao rei D. João VI que transferiu seu governo
para o Brasil. A educação escolar do Brasil Colônia, longo tempo
que vai de 1500 até a independência do Brasil, em 1822, pode
ser dividida em três fases: 1) Educação jesuítica, 2) Reformas
de Pombal (1759) e 3) O Período Joanino, marcado pela vinda e
permanência (entre 1808 a 1821) de D. João VI, ficando o Brasil,
nesta presença forçada do rei, como sede do Império Português.
E, este período, colaborou para alterações profundas no ensino
no Brasil, Portugal foi invadido pelas tropas de Napoleão e, por
conseguinte, a Corte portuguesa se deslocou para o Brasil sob
escolta e proteção dos ingleses. O Brasil. Com D, João VI no
Rio de Janeiro, passou a ser a sede do reino português. Com
isso, inúmeros cursos, tantos profissionalizantes em nível médio

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246 História da Educação

quanto em nível superior, bem como militares, foram criados para


fazer do local algo realmente parecido com uma corte. Deu-se a
abertura dos portos, aconteceu o nascimento da Imprensa Régia
e a criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Em 1808,
surgiram o Curso de Cirurgia na Bahia e o Curso de Cirurgia e
Anatomia no Rio de Janeiro. (Ghiraldelli Júnior, 2009, p. 5)
Figura 6: Chegada da Familiar Real.

Fonte: wikimedia commons

Após a Independência do Brasil e a instalação do 1.º


Império, governados por D. Pedro I, surgiu em 1827, a lei das
escolas de primeiras letras e difundiu-se a promessa de que nas
cidades e vilas mais populosas haveriam as escolas de primeiras
letras. Não aconteceu. Foi uma daquelas leis brasileiras que
não surtiu efeito ao que se propunha. E o que se seguiu foi a
promulgação, em 1884, de um Ato Adicional à Constituição do
Império que determinou que o ensino primário fosse destinado
a jurisdição das províncias. Assim, lamentavelmente, o Estado
Nacional ficou livre de obrigações com este nível de ensino
levando em conta que as províncias não estavam equipadas
nem financeira e nem tecnicamente para promover a difusão do
ensino, o resultado foi que atravessamos o século XIX sem que
a educação pública fosse incrementada. (Saviani, 2008, p; 03).

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História da Educação 247

Fica sempre uma sensação, vasculhando a história que os


direitos foram negligenciados. Assim como até hoje percebemos,
basta visitar escolas pelos bairros afastados das grandes cidades
ou pequenas cidades no interior do país. O autor citado comenta
que foram 49 anos, 1840 a 1888, com gastos beirando
a média anual dos recursos financeiros investidos
em educação foi de 1,80% do orçamento do governo
imperial, destinando-se, para a instrução primária
e secundária, a média de 0,47%. O ano de menor
investimento foi o de 1844, com 1,23% para o conjunto
da educação e 0,11% para a instrução primária; e o
ano de maior investimento foi o de 1888, com 2,55%
para a educação e 0,73% para a instrução primária e
secundária. (Saviani, 2018, p. 4)
Após a Independência do Brasil, em 1827 foi promulgada
a lei das escolas de primeiras letras, obrigando a criação, nas
cidades e vilas mais populosas, de escolas de primeiras letras, em
uma defesa da educação como dever do Estado, a partir da criação
de escolas de primeiras letras, por todo o território brasileiro e
a instituição da escola primária também para as mulheres, com
o ensino das prendas e da economia domésticas, bem como das
quatro operações, (Alves, 2012, p.25). Porém poucos avanços
foram percebidos, os professores estavam despreparados para
tão grandiosas obras educativas e os recursos eram escassos,
tanto quanto em tempos anteriores, a independência do Brasil
de Portugal. Ontem, pós independência do Brasil, como ainda
hoje a educação básica recebia menos que os cursos superiores.

SAIBA MAIS

Veja sobre o Período Joanino, o vídeo da UNIVESP: D. João


VI: Ensino Superior e Profissional, no seguinte link: http://bit.
ly/2MP6uQJ

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248 História da Educação

Somente no final do século XIX serão libertos os africanos


e filhos dos africanos que viviam no Brasil, não escolarizados na
sua quase toda imensa população. Luís Gama nasceu na Bahia,
1830 e morreu em São Paulo, 1882, um dos poucos intelectuais
negros brasileiros, autodidata, aprendeu a ler, escrever e entender
a realidade social excludente brasileira imperial, no século XIX,
sozinho. Nascido num Brasil havia pouco independente, era filho,
segundo ele, de uma africana e de um pai de origem portuguesa
que o venderia, ainda criança, como escravo. Foi nesta condição
que chegou à capital paulista, onde viveu por quarenta e dois anos.
(Ferreira, 2008, p. 301), celebrizando-se como um de seus mais
dignos cidadãos. Caso raro neste momento histórico, levando
em conta que não era pequena a população de africanos e afro-
brasileiros que viviam no Brasil e seguiram vivendo depois da
abolição e com a chegada dos tempos republicanos. Para perceber
a raridade de pessoas letradas como Luís Gama, é interessante
perceber que em 1889, ano marcado pela Programação da
República), a fatia da população em idade escolar frequentando
escolas alcançou a marca de 12%. No mesmo período. Em São
Paulo, havia 274 letrados para cada 1000 habitantes. (Santos,
2016, P. 17). Luís de Gama lançou livro em 1859, assim um negro
ousara denunciar os paradoxos políticos, éticos e morais (Ferreira,
2008, p.301). Foi jornalista, lutando por um Brasil sem reis e sem
escravos, da sociedade imperial.
Figura 7: Luís de Gama

Fonte: wikimedia commons

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História da Educação 249

Quando chegou aos 50 anos, Luiz Gama já era forte


liderança abolicionista e republicana, em São Paulo. Por volta
de 1860, era palestrante de inúmeras conferências públicas,
escrevia artigos críticos nos jornais paulistanos, e alforriamento
de escravos, em aliança com a maior Loja maçónica, sendo um
dos membros fundadores. Era, sem ter passado pelas escolas
imperiais, ilustre autoridade no tema de escravização ilegal e
de alforriamento de escravos. Gama falava sobre ele mesmo:
eu como simples aprendiz-compositor, de onde saí para o foro
e para a tribuna, onde ganho o pão para mim e para os meus,
que são todos os pobres, todos os infelizes; e para os míseros
escravos, que, em número superior a 500, tenho arrancado às
garras do crime. (Ferreira, 2008, p. 305).

SAIBA MAIS

Veja o vídeo sobre a Educação no Império no Brasil. No


Império chega o Ensino Secundário, no seguinte link: http://bit.
ly/2Mm8pNC

O caminho ainda será longo até chegar nos tempos


republicanos. O imperador Pedro II (1859) instituiu uma reforma
ampla no ensino básico, em uma nova oportunidade histórica
de priorizar os primeiros anos escolares. Pedro II determinou
mudanças na estrutura e nos conteúdos pedagógicos, que passaram
a ser chamados de ensino primário, deveriam acontecer em 4
anos, divididos em nível elementar (instrução moral e religiosa,
leitura, escrita, gramática, aritmética, pesos e medidas) e nível
superior, alcançando até dez disciplinas. Leôncio de Carvalho,
o ministro e secretário de Estado dos Negócios do Império, em
1879, no decreto n. 7.247, propôs mudanças no ensino superior
imperial, no ensino primário, secundário e a novidade da criação
de cursos normais no Brasil (Santos, 2016),

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250 História da Educação

estimulava-se se a criação de Escolas Normais em


todas as províncias, acenando-se inclusive com
auxílio econômico do governo central. A partir
daí, as múltiplas experiências de estabelecimento
de Escolas Normais nas províncias, iniciadas
já em 1835 com a fundação de uma Escola em
Niterói, passam a tomar por referência as diretrizes
emanadas do Rio de Janeiro, especialmente depois
da criação de uma Escola Normal nessa cidade, em
1880, como resultado também daquela reforma.
(Kulesza, 1998, P.63)

Reconhecendo Avanços e retrocessos da


Educação na República no Brasil
Os tempos republicanos repetem os ínfimos resultados,
relativos a educação no Brasil, para a grande maioria da
população. A 1.ª República ainda engatinhava na defesa
de direitos à educação. E a segunda metade do século XX,
no período militar, foi marcado por exclusões à vinculação
orçamentária, ou seja, os gastos com educação pioraram. O
orçamento da União para a educação reduziu de 9, 6% em
1965, para 4,31% em 1975. Somente a Constituição de 1988
vai começar a alterar os tristes quadros relativos a Educação
nacional, do fim da década de 1980 até o fim da 1.ª década do
século XXI, leis relacionadas à Educação (como a LDB de 1996
e outras que seguiram os avanços garantidos na Constituição
Cidadã), trazendo a vinculação e fixando em 18% para a União e
25% para estados e municípios, considerados como percentuais
mínimos, relacionados as receitas, resultantes de impostos
arrecadados no Brasil. (Saviani, 2008). Isso fez a diferença, até
anos iniciais da 2.ª década do século XXI, momento em que a
instabilidade econômica, social e política abalou a geração de
renda, mergulhando o país em tempos difíceis e que colocaram
pressões nas arrecadações, desemprego, movimentos populares,
impeachment e incertezas, por volta de 2016.

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História da Educação 251

Nos tempos iniciais da República (1889), a 1.ª República


ou República Velha, a estagnação imperial foi conservada, o
número de analfabetos mantidos. Situação semelhante ainda
serão mantidas por longo tempo, até a 2.ª metade do século
XX, paralização de avanços apoiadas na constituição do regime
militar, de 1967 e na emenda de 1969, com reduzidos gastos
previstos para a educação nacional, como visto acima. (Saviani,
2008).
O período da segunda república é marcado pela reforma de
Francisco Campos (Entre 1930 a 1937). Getúlio Vargas assume
o poder, promulga a constituição de 1934, dando um golpe
de estado e permanecendo como ditador de 1937 a 1945, no
chamado Estado Novo. Vargas criou um Ministério da Educação
e Saúde Pública, que na sua Gestão, na Segunda República, será
comandada por Francisco Campos, criando o Conselho Nacional
de Educação (1931), criando o ensino superior, organizando a
Universidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Cuidou
do ensino comercial e regulamentou a profissão de contador,
regulamentou o ensino secundário (em Decreto, também de
1931). (Ghiraldelli Júnior, 2009)
Voltando os olhos, ao século XX, causa encantamento o
manifesto de 1932, revelado por um grupo de 26 educadores,
com maioria masculina e três mulheres, idealistas pela renovação
da Educação Nacional. Recorriam por educação obrigatória,
gratuita e pública, como dever do Estado, laica, apresentando
métodos novos, reconhecidos no Brasil, intitulado de Escola
Nova, que muitas influências sofreram de teóricos como John
Dewey (Estados Unidos) e Jean Piaget (Suíça).(Santos, 2016).
O manifesto dos Pioneiros é importante documento político do
debate educacional, refletindo o que se pensava na década de
1930, trazia a vontade de inovação, da necessidade de repensar a
educação, criar novas propostas educativas, criticas inúmeras ao
que se fazia como política educacional, no âmbito do denominado
Ministério da Educação e Saúde. Tal manifesto de 1932, ficou
imortalizado por uma carta de princípios pedagógicos, e pelo

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252 História da Educação

vigor da luta dos pioneiros, ousados e destemidos na luta por


uma escola renovada, responsabilizando o Estado Nacional com
a educação pública Brasileira. (Vidal, 2013).
Figura 8: Manifesto dos Pioneiros

Fonte: wikimedia commons

O movimento dos Pioneiros surgiu quando chegamos ao


fim da 1.ª República ou chamada ainda de República Velha,
período da nossa história, relacionado aos tempos corridos entre
a proclamação da República (1889), até o acontecimento da
Revolução de 1930 e a deposição do 13º e último presidente da
República Velha, Presidente Washington Luís. O país ganhou
um novo nome, passando a ser chamado de Estados Unidos
do Brasil, o mesmo nome da constituição de 1891, também
promulgada neste momento histórico.
No Estado Novo (1937 a 1945), ainda sob o comando
de Getúlio Vargas, os sopros progressistas dos pioneiros da
educação ficaram abalados com um fato lamentável, o governo
abriu mão de sua responsabilidade para com a educação pública
por meio de sua legislação máxima, assumindo apenas um papel
subsidiário em relação ao ensino (Ghiraldelli Júnior, 2009, p. 64).
Assim, não restou dúvida de que o Estado estava desobrigado,
de manter e expandir, o ensino público brasileiro. Como também

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História da Educação 253

a gratuidade foi mexida, explicitado na possibilidade, de que


os que podiam pagar uma matrícula e ainda uma contribuição
modesta e todos os meses para a caixa escolar (Ghiraldelli
Júnior, 2009). Retrocessos assim, a história da educação está
repleta, em todos os tempos, do Brasil Colonial aos dias atuais.
A chamada Quarta República (de 1945 a 1964) viu surgir
um projeto de Lei de Diretrizes e Bases Nacional (a comissão
foi instalada em 1947), abortado em 1949, pelos esforços de
Gustavo Capanema. Retomada depois (já na década de 1950),
ficou sendo elaborada por anos, até que em 1957 recebeu uma
proposta substitutiva, feita por Carlos Lacerda, bastante alinhado
com os estabelecimentos particulares de ensino. Logo tempo de
disputas seguirem, e somente em 1961 o projeto da nova LDBN
foi aprovado, desagradando mais uma vez as forças progressistas
que lutavam por educação gratuita. (Piletti, 2012). O que se
seguiu entre 1965 a 1985 foram os anos da Ditadura Militar, do
Golpe Militar de 1964, com diversos governos conduzidos por
generais, e após 1964, no campo da educação, foi uma drástica
redução do orçamento da União para a educação de 9, 6% em
1965, para 4,31% em 1975. Foram duros tempos pautados em
termos de educacionais pela repressão, privatização do ensino,
exclusão de boa parcela dos setores mais pobres do ensino
elementar de boa qualidade. (Ghiraldelli Júnior,2009 , p. 99).
Na última década do século XX, movidos pela constituição
de 1988, a educação começava a ser vista como uma política
pública. Os sindicatos de trabalhadores da educação, associações
de docentes do ensino superior e pensadores da educação
estavam esperançosos com mudanças e lutavam pela educação
básica e o ensino fundamental. Os anos de paralisação da
educação brasileira, nos tempos de ditadura militar, precisavam
ser superados em uma perspectiva de pensar a educação
e a cidadania conjuntamente (é bom lembrar que a recém
promulgada constituição é camada de cidadã). Guiomar Namo
de Mello reflete, em documento da época, sobre o cenário dos
difíceis primeiros tempos da Redemocratização, com as

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254 História da Educação

políticas de ajuste econômico de curto prazo que


dificultam consensos em torno de objetivos de longo
alcance, como são os da educação; instabilidade e
fragilidade da experiência democrática, em função
de longos períodos de governos autoritários, que
prejudicam a articulação entre as instituições
políticas e os atores sociais; crescimento desigual,
que faz conviver setores avançados tecnicamente
com outros de mão-de-obra intensiva e ainda
necessários à integração de grandes contingentes
marginalizados da produção e do consumo;
grandes desigualdades na distribuição de renda, e
ineficiência e desigualdade na oferta de serviços
educacionais. (Mello, 1991, p.04)

SAIBA MAIS

Veja o vídeo da UNIVESP sobre a Educação na República,


História da Educação - A República, Alfabetizar ou Alfabetizar,
no seguinte link: http://bit.ly/35EfkcR

Analisando a Educação no Século XX


Analisando a Educação no Século XX e a
Relevância do Método Montessori
Maria Montessori nasceu na Itália em 1870 e morreu em
1952, dedicou sua vida na reflexão de novas formas de educar
as crianças. De médica aos estudos de Pedagogia e Psicologia
infantil, tornou-se inspetora-geral das escolas da Itália. Deixou
a Itália, em 1934, com a ascensão do fascismo. Trabalhou em
outros países como Espanha, Srilanka, Índia e na Holanda, onde

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História da Educação 255

faleceu. Defendia maior papel à autoeducação da criança do que


a oferecida pelas professoras. Era a criança quem conquistava a
educação, não o adulto. Para auto educar-se a criança precisava
ser respeitada em sua interioridade, na sua própria atividade e
na liberdade do aluno. Educar é muito mais do que encher a
cabeça das crianças de informações, e o principal objetivo da
escola é dar aos alunos uma formação integral que lhes sirva
para a vida. Para isso, o melhor método de ensino é aquele que
procura desenvolver neles, desde a primeira infância, o potencial
criativo. (Piletti, 2012, p. 121). Montessori representa, com suas
ideias, as calorosas discussões da transição entre o século XIX e
XX, por renovações.
Sua teoria foi bastante relacionada a educação infantil
(os anos iniciais da educação, anteriores aos sete anos). Seu
método parte de evidências científicas, à sua época, sobre o
desenvolvimento infantil. Já se sabia que a evolução mental
da criança acompanha o crescimento biológico, através de
fases distintas, que devem fornecer elementos para a escolha
de conteúdos de aprendizagem. O respeito às necessidades
e interesses de cada criança, de acordo com os estágios de
desenvolvimento correspondentes às faixas etárias, é de
fundamental importância. (Piletti, 2012, p. 121). Ela defendia
estimular, prevendo as fases.
Maria Montessori acreditava que o método não deveria
contrariar a natureza da criança. Era um método em que as
crianças conduziam o seu próprio aprendizado, e o professor
ficava atento para detectar a maneira particular de cada criança
manifestar seu potencial. (Piletti, 2012, p. 121). É interessante
pontuar, que está lógica apontada por Montessori, vai deslocar
profundamente o foco da educação, com a sua contribuição,
já que a educação e os professores tradicionais, desde a Idade
Média, focavam na autoridade do professor, nos saberes que
deviam ser ensinados, sem reflexões, por memorização e com
silêncio.

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256 História da Educação

Assim, o método montessoriano e suas práticas


pedagógicas, nas ditas escolas montessorianas, que seguem as
bases deixadas pela autora,
inverte o foco da sala de aula tradicional,
centrada no professor. Em suas escolas, o centro
é a criança, que ela não considera um pretenso
adulto ou ser incompleto. A criança desde o seu
nascimento, já é um ser humano integral. Assim,
não é por acaso que as escolas que ela fundou se
chamavam Casa dei Bambini (Casa das Crianças).
E foi nessas casas que ela colocou em prática suas
ideias fundamentais: a educação pelos sentidos e a
educação pelo movimento. (Piletti, 2102, p. 122).
O espaço da escola montessoriana deverá permitir que
as crianças façam seus movimentos livres, com independência.
Atividades sensoriais (uso dos sentidos) e motoras são pensadas
para oportunizar ações livres de tocar e manipular objetos,
que é tão próprio nas ações das crianças pequenas. Montessori
lembrava que, em determinados estágios do desenvolvimento,
a aprendizagem passa pelas mãos. Por isso, é necessário criar
atividades de movimentos e toques para as crianças reconhecerem
o mundo que vivem, através dos sentidos. Isso já esclarece o fato
do método Montessoriano partir do concreto para o abstrato.
A idealizadora do método, Montessori criou objetos simples,
pensados para provocar o raciocínio. Foram projetados para
auxiliar em todo tipo de aprendizagem, do sistema decimal à
estrutura da linguagem. Tal a importância desse material que,
segundo Montessori, a professora tem de ver-se substituída pelo
material didático que corrige por si mesmo os erros (Piletti, 2012,
p. 122). Isso permitia a autoeducação da criança, sentada em
mesinhas ou até no chão, fazendo exercícios físicos e rítmicos,
exercícios da vida prática, aprendendo a cuidar de si mesmo e
do ambiente, sendo sempre elogiadas por seus esforços, em um
clima de confiança entre a professora e a criança.

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História da Educação 257

Analisando a Educação no Século XX: Os


Grandes Teóricos da Pedagogia Ativista
(John Dewey e Jean Piaget)
John Dewey (1859 - 1952) teve considerável importância na
difusão de uma educação nova. Este importante pensador norte-
americano, trouxe importantes contribuições ao pensamento
educacional, na transição entre os séculos XIX e XX, e para a
chamada Escola Nova. Preocupado em conciliar o conhecimento
e a prática, com liberdade para experimentar, a experiência
era vista como o principal meio, para o desenvolvimento da
capacidade prática, na educação. (Piletti, 2012).
Dewey defendia que ensinar bem é ensinar apelando para
as capacidades que o aluno já possui, dando-lhe, do mesmo passo,
tanto material novo quanto seja necessário para que ele reconstrua
aquelas capacidades em nova direção, reconstrução que exige
pensamento, isto é, esforço inteligente. (Piletti, 2012, p. 125).
Já no século XX, o atualíssimo Dewey, previu que a
pedagogia envolve reconstrução contínua que vai da experiência
sempre mutável da criança ás verdades organizadas que formam
o que chamamos de estudos. É também uma interrogação
constante entre convicções e concepções, elementos fundadores
e elementos instrumentais. (Morandi, 2008, p.10)
Dewey esteve preocupado com temas como educação,
democracia e racionalidade. Assim, ele pensava, que a vida
moderna significa democracia, democracia significa a libertação
da inteligência para a eficiência independente (FERNANDES,
2018, p. 07), decorrendo da inteligência um método perfeito e
moderno: a humanidade já possui um novo método: o método da
ciência cooperativa e experimental, a expressão metodológica
da inteligência. (FERNANDES. 2018, p. 11)
O desenvolvimento da inteligência permite o desenvolvi-
mento das potencialidades humanas, entendia Dewey. A
educação pode servir à tal desenvolvimento das potencialidades.

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258 História da Educação

Mas será qualquer projeto de educação? Dewey


responderia que tudo dependerá da qualidade das experiências
que se tenha (FERNANDES, 2018, p. 11). Dewey entendeu que
o problema não resolvido da democracia é a construção de uma
educação que desenvolva aquele tipo de individualidade que é
inteligentemente sensível à vida comum e sentimentalmente leal
à sua manutenção comum (FERNANDES, 2018, p. 16).
A ideia de Dewey era favorecer, com a educação, a
criação e hábitos de aprendizagem inteligente, relacionados aos
problemas cotidianos reais, criando um ambiente de resoluções
de problemas. Isso continua despertando grandes interesses
na educação contemporânea, na criação de métodos que
associam momentos de estudo sozinho do aluno e momentos
de presença física em sala de aula. Atualmente, Dewey é citado
nas teorizações sobre Métodos híbridos, que juntam momentos
presenciais e online, semipresenciais, educação a distância,
todos em plena procura, nas duas primeiras décadas do século
XXI, de plena digitalização.
Dewey associava que uma vez que a democracia representa,
em princípio, um livre intercâmbio, uma continuidade social
necessita desenvolver uma teoria do conhecimento que veja
no conhecimento o método pelo qual uma experiência se
torna disponível para dar direção e significado a uma outra,
(FERNANDES, 2018, p.17). O professor deve pensar nas
melhores maneiras de criar experiências enriquecedoras, já
que Dewey pensava que o problema central de uma educação
baseada na experiência é selecionar o tipo de experiências
reais que vivam criativa e potencialmente em experiências
subsequentes (FERNANDES, 2018, p. 18). Para isso acontecer
de forma muito favorável aos alunos, Dewey determinava, sobre
a sua proposta pedagógica, de interesse no seu tempo e nos dias
atuais que o estádio inicial desse desenvolvimento experiencial
a que chamamos pensar é a experiência (FERNANDES, 2018, p.
18). Conduzindo a base de sua teoria educacional na concepção
de experiência, compartilhada entre alunos e professores,

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História da Educação 259

vendo a educação vinculada ao processo de desenvolvimento


humano, ou seja, em um lugar essencial e que exigia forte e livre
atividade do aluno. Assim como nos atuais modelos em que o
aluno pesquisa sozinho, em casa.

SAIBA MAIS

Quer saber mais sobre Metodologias ativas e modelos híbridos


na educação, leia o artigo de José Moran, no seguinte link: http://
bit.ly/2IVN1MX

Pensar na contribuição que Dewey poderá oferecer,


nos tempos digitais contemporâneos, implica em lembrar
que ele sugeriu a necessidade de humanizar a ciência e a
tecnologia, repercutindo em uma associação perfeita para os
seres digitais, sempre atentos a aprender com os objetos que
trazem conhecimentos, via internet, como nossos notebooks
e smartphones, e concordando com Dewey que a ciência,
a educação e a causa democrática encontram-se reunidas
(FERNANDES, 2018, p.18).
Jean Piaget foi um grande pensador que nasceu no século
XIX e revolucionou os modos de pensar a inteligência até a
sua morte em 1980. Biólogo de formação, dedicou a vida aos
estudos da epistemologia, interessado em pesquisar os estágios
da inteligência humana e o intenso trabalho da criança em prol
de sua própria aquisição de conhecimento em um processo muito
construtivo, escreveu muito sobre a Psicologia Evolutiva.
A grande maioria dos indivíduos situa-se dentro de
uma faixa intelectual média: as diferenças (como
Piaget mostrou) correm por conta do ambiente em
que o indivíduo se desenvolve, principalmente

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260 História da Educação

por conta da alimentação, saúde e clima cultural.


Se queremos dar oportunidade iguais para todos...
temos que começar antes da gestação alfabetizando
os pais e criando condições de desenvolvimento
homogêneas para todos. Os exames de seleção são
o mais poderoso fator de manutenção das estrati-
ficações sociais. A inteligência é um fenômeno
social (LIMA, 1973, p. 637).
Piaget deixou uma grande contribuição à educação, a quem
queira usar estes saberes para pensar os cenários educacionais,
com a gigantesca obra que deixou, fruto de intensos trabalhos
de pesquisa, junto às crianças, com observações apuradas.
Lendo tais obras é possível entender, no campo da educação, a
inadequação dos princípios inatistas e empiristas que sobrevivem
na Educação. É importante notar que “ao que se sabe, ele [Piaget]
nunca participou diretamente nem coordenou uma pesquisa com
objetivos pedagógicos”. (COLL, 1992, p. 172). Seus trabalhos
eram sobre psicologia do desenvolvimento e epistemologia.
As escolas públicas brasileiras, no decorrer do século
XX, utilizando metodologias inspiradas no copiar e memorizar
(vindos de ideias empiristas), com crenças inatistas (professores
afirmavam, em um exame rápido que as crianças que não iriam
aprender, e eram vitimadas por sucessivas repetições, decididas
sem cientificidade). A extraordinária contribuição de Piaget, na
psicologia evolutiva da criança, chegou à educação no Brasil,
em experiências inovadoras, em escolas experimentais privadas,
que revolucionaram os modelos vigentes.
Em vez da memorização de fatos, nomes e datas,
a abordagem crítica do comportamento do homem
construtor de civilizações, do homem que se
democratiza, do homem que substitui a força pela
relação jurídica, do homem que renuncia às castas e
aos privilégios e destrói todas as espécies de tirania
e despotismo. É a disciplina da humanização do
homem (LIMA, 1967, p. 14)

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História da Educação 261

Uma delas, a extraordinária Escola Experimental Chave do


Tamanho, criada pelo pensador piagetianos brasileiro, Lauro de
Oliveira Lima, foi pioneira na tentativa de inspirar a educação com
os saberes piagetianos. E genial, pioneiro e ousado Lauro deixou o
seu pensamento em suas publicações, inspiradas em Jean Piaget, e
nas publicações que relatam as experiências de sua escola, no Rio
de Janeiro, a partir da década de 1960 até a sua morte em 2013:
Temos que imaginar métodos novos e novas
técnicas de trabalho que compensem a carência
de recursos, restabeleçam o equilíbrio quebrado
ao longo de nossa formação histórica. Temos
que substituir o impacto da riqueza de material
didático e recursos técnicos à disposição do
professorado sulista por técnicas pedagógicas
que superem nossas deficiências materiais. Temos
que descobrir formas didáticas que permitam
atingir maior número de adolescentes com menos
professores. Temos de fazer cada professor um
especialista capaz de obter rendimento nas mais
deploráveis condições de exercício de magistério.
Temos que aliviar com processos científicos a
sobrecarga do professorado, empenhado em dez
ou doze horas de trabalho diário. Que um professor
com poucos alunos e muitos recursos consegue ser
eficiente, todos o sabem. O que precisamos provar
e conseguir é que com poucos recursos e muitos
alunos também conseguiremos ser eficientes. O
que precisamos inventar é um processo adequado
e produtivo que permita multiplicar a ação do
professor sem reduzi-lo a um trapo humano dentro
de uma dezena de anos (LIMA, 1961, p. 4).
A memorização, as cópias de conteúdos, os autoritarismos
de professores despreparados poderiam ser superados, com
conhecimentos sólidos da construção da inteligência, nas diversas
fases do desenvolvimento cognitivo, deixadas por Jean Piaget.

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262 História da Educação

A escola, pois, dever ser repensada, abdicando de


seu papel predominantemente informativo para
ater-se aos processos de formação lógica, criação
de espírito crítico e estimulação da capacidade de
reflexão e de julgamento e avaliação, na certeza
de que os alunos obterão fora das escolas quase
todas as informações que, tradicionalmente, cabia
a escola transmitir. (LIMA, 1967, p. 210).
A formação dos professores para criar atividades em grupo,
não somente para descansar as cordas vocais, assim todo trabalho de
equipe deveria ser precedido ou seguido de trabalho individual. As
técnicas de ativação não devem ser usadas de maneira anárquica ao
sabor das circunstâncias ou ao talante do professor. O planejamento
deverá prever todas as técnicas que serão usadas no correr do ano
letivo. (LIMA, 1967, p. 109). Nos anos finais da década de 1990, a
obra de Piaget começará a ser estudada nos espaços universitários,
pesquisas são feitas, as políticas educacionais começam a
conhecer o importante legado piagetianos e, finalmente, surgem
críticas ao obsoleto modo de pensar os espaços, os métodos, as
ações interativas das crianças, baseadas nas teorias piagetianas, no
âmbito da educação pública brasileira.

SAIBA MAIS

Veja uma entrevista com o Lauro de Oliveira Lima e o Método


Psicogenético, que criou, no seguinte link: http://bit.ly/31pHPaJ

Analisando a Educação no Século XX: Os


Organismos internacionais
Percorrendo a história das políticas educacionais brasileiras,
em uma busca pelos fundamentos que agiram como sustentáculos
às nossas políticas educacionais, que teriam sido, no decorrer da

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História da Educação 263

história da educação brasileira, as mais significativas colaborações,


dos organismos e agências internacionais, no direcionamento das
políticas públicas, específicas da educação, direta ou indiretamente?
O que poderia ser esperado da atuação, da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)? É
interessante lembrar que a UNESCO, escolheu agir com funções
de um laboratório de ideias, como uma instituição que fixa
padrões, trabalha para tecer consensos universais, constituindo-se
em um fórum central disseminador, para a região latino-americana
e caribenha, de princípios e orientações gerais para a educação.
(NOMA e SUZUKI, 2006, p. 01).
A UNESCO, criada no pós-segunda guerra (1945), está
acoplado ao Conselho de Administração Fiduciária das Nações
Unidas (ONU), como Organismo Particularizado, do qual
fazem parte do Grupo o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional (FMI). Estes últimos muito atrelados às nossas
lembranças dos anos de recessão e intensas dificuldades
econômicas brasileiras, nos anos posteriores a Ditadura Militar.
A UNESCO está vinculada às ações setoriais, através de quatro
Institutos Internacionais de Educação: o Escritório Internacional
de Educação (OIE), em Genebra; bem como o Instituto
Internacional de Planejamento da Educação (IIPE), em Paris; e
ainda, o Instituto da UNESCO para a Educação, em Hamburgo.
O reconhecido PPE (Projeto Principal de educação para
a América latina e Caribe) foi proposto para acontecer entre
os anos 1980 até 2000. Após longo período de estabilidade
econômica mundial (pós-segunda guerra mundial/1945 até
a década de 1970), surge intensa crise política e econômica.
Guiomar Namo de Mello comenta que, simultaneamente, no
Brasil, estávamos saindo daquilo que os governos militares
chamavam de fase de ouro do modelo desenvolvimentista
brasileiro, entre 1968 a 1973, período marcado por elevação na
taxa de crescimento econômico sob a batuta do regime militar.
Ao mesmo tempo em que o período foi considerado o auge do
milagre econômico brasileiro, as contradições desse crescimento
econômico tornaram-se mais evidentes. (NOMA, 2011 p.109).

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264 História da Educação

A História da Educação no Brasil e de suas Políticas


Públicas Educacionais é uma história repleta de vácuos, de
exclusões e de privilégios de poucos, desde a chegada dos
colonizadores portugueses na costa brasileira. Os períodos
pós-redemocratização, movimentados pela constituição cidadã
de 1988 avançaram em muitos pontos. Trinta anos depois dos
resultados da mobilização nacional por uma constituição com
direitos sólidos, sabemos que muito teremos que percorrer
Noma (2011) interpreta que muitos países da América
latina, na segunda metade do século XX, na difícil década de
1980, encaravam árduas crise econômicas, com retrações nas
produções industriais e pesada desaceleração econômica, em
muitos desses países, ainda que os efeitos das ditaduras latinas
americanas, começaram a cessar e eleições diretas voltaram a
ser defendidas, em países como o Brasil. Estes são tempos do
Projeto Principal de Educação para a América Latina e Caribe
(PPE), coordenado pela Oficina Regional de Educação para a
América Latina e o Caribe (Orealc), subordinada à UNESCO.
A história do Projeto Principal de Educação (PPE), passa
pela sua elaboração, em reunião convocada pela Unesco com
os ministros de educação, e do planejamento econômico dos
daqueles países membros, com a cooperação da Comissão
Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) e da
Organização dos Estados Americanos (OEA), no México,
em 1979. Reunidos, nesta Conferência, com o objetivo de
identificação dos gigantescos problemas educativos da América
Latina e Caribe, elaboraram um projeto regional de educação,
com fins de superação dos problemas educacionais mais
evidenciados nesta região,
avaliou-se que a pobreza era evidente em vastos
setores da população, o que contribuiu para uma
baixa taxa de escolaridade, altas taxas de abandono
das escolas, conteúdos inadequados, escassas
articulações entre as relações da educação e o

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História da Educação 265

trabalho, organizações administrativas inadequadas


marcadas por uma forte centralização. A partir
dessa Conferência o PPE foi elaborado, tendo sido
apresentado e aprovado em 1981, na Reunião de
Quito, planejado para ser desenvolvido durante
vinte anos (1980-2000). (NOMA e SUZUKI,
2006, p. 5)
Este projeto envolvia a intenção de marcar as práticas
educacionais da América Latina e Caribe, com o início do
desenvolvimento educacional, nas duas últimas décadas do
século XX, na década de 1980. Era desafiante a promoção da
educação aos grupos socialmente mais vulneráveis, vivendo
em situação de extrema pobreza, estes eram os indígenas, os
analfabetos com mais de 15 anos, crianças e jovens que viviam
meio rural, crianças menores de 6 anos empobrecidas e as
crianças com necessidades especiais de aprendizagem.
Coincidentemente, as legislações brasileiras nas décadas
seguintes, a partir da constituição de 1988, no século XX e do
século XXI vão aprimorar os direitos à educação de indígenas,
de crianças com deficiência e nas garantias às crianças na
educação básica (envolvendo a Educação infantil, políticas para
promoção da alfabetização na idade certa e de avaliações dos
processos). Isso iria amenizar os efeitos das pobrezas das grandes
cidades brasileiras e no campo e de políticas educacionais que
mantiveram estas populações excluídas.
Eram três os objetivos específicos do PPE:
1. garantir a escolarização das crianças em idade escolar
antes de 1999, ofertando uma educação mínima de 08 a 10 anos.
2. extinguir o analfabetismo antes do final do século XX,
ampliando a oferta de Educação para Jovens e Adultos.
3. oferecer a melhoria na qualidade e na eficiência dos sistemas
educacionais, concretizando as reformas que se fizerem necessárias
para cumprir os três objetivos. (NOMA e SUZUKI, 2006).

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266 História da Educação

E qual era o cenário da região latina américa e Caribenha,


no período de vigor do PPE?
O período de vigência do PPE, final do século
XX, foi marcado por transformações intensas que
decorreram da resposta do capitalismo mundial
às crises de rentabilidade e de valorização que
se tornaram mais evidentes a partir da década de
1970. A superação da crise mundial ocorreu com
uma nova configuração e uma nova dinâmica
da produção e da acumulação do capital. Houve
um processo de reorganização do capital e do
correspondente sistema ideológico e político de
dominação cujos contornos mais evidentes foram
o advento do neoliberalismo e de suas políticas
econômicas e sociais. (NOMA, 2011 p.109)

SAIBA MAIS

Veja a palestra sobre os Quatros Pilares da Educação para o


Século 21, preconizada pela UNESCO, com José Pacheco no
seguinte link: http://bit.ly/32z6wmF

O PPE concebeu momentos de esperança aos países


latino americanos e do Caribe, com graves índices preocupantes
com relação aos direitos à educação, tão gritantes aos gestos
democratizantes e inclusivas políticas educacionais, com
amplo acesso à educação, para todos, principalmente os mais
empobrecidos povos desta região, para muitos países da região
assolados, por grande dívida externa, com problemas para obter
novos créditos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e até de
pagar os antigos empréstimos, aliados as necessidades de superar
modelos de produção inadequados às exigências, à época, da

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História da Educação 267

ordem econômica mundial e das relações de trabalho. Com o


término do PPE, os 34 países da região, reunidos em Havana,
Cuba, em novembro de 2002, aprovaram o Projeto Regional
de Educação para América Latina e o Caribe (PRELAC),
com vigência para o período 2002-2017, e seu Modelo de
Acompanhamento”. (NOMA e SUZUKI, 2006, p. 6)
A última década do século XX, viu surgir acordos
internacionais e uma visão da educação como campo fecundo de
investimentos. Assim, foi possível a construção de uma intensa
agenda internacional com fortes propósitos para a educação
materializada em diferentes eventos, tais como: a Conferência
Mundial sobre Educação para Todos (1990), a Conferência de
Nova Delhi (1993), o Fórum Mundial Educação de Dakar e as
reuniões do Projeto Principal de Educação na América Latina e
Caribe. (NOMA e SUZUKI, 2006, p. 14). E foram substanciosas
as pautas debatidas, com a presença dos ministros de educação
dos países, ocorrendo as assinaturas em declarações de intenções
e acordadas recomendações, os países signatários dos diferentes
acordos firmados comprometeram-se a cumpri-los, tornando-se,
portanto, sócios da agenda definida em tais fóruns. (NOMA e
SUZUKI, 2006, p. 14).
Isso representou um compromisso dos governos da região
da América Latina e Caribe, com a promoção de educação de
seus povos mais marginalizados. A presença de tais ministros
da educação destes países, suas assinaturas nos acordos foram
atitudes afirmativas das futuras políticas educacionais mundiais,
acertadas pelos países membros da Organização das Nações
Unidas. É visível, examinando esta história da educação, que
as políticas públicas educacionais Brasileiras, nas suas lutas,
reflexões, criações e implementações e sucessos, ganharam
muito com a participação das delegações do Brasil e da
assinatura dos acordos, das políticas para educação dos países
latino-americanos, sendo salutar naquele momento histórico e
continuando a ser importante a articulação entre as diferentes
esferas internacional, regional e nacional. (NOMA e SUZUKI,

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268 História da Educação

2006). Apesar de que muito ainda será necessário realizar,


principalmente nas esferas da Educação Básica (Educação
Infantil e Ensino Fundamental).

Analisando a Educação no Século XX:


As Perspectivas para a escola do futuro
As perspectivas para a escola do futuro associam a
busca de uma cultura da paz, da tolerância e empatia com as
diferenças étnico-culturais, religiosas, independente da origem
das diferentes pessoas, engajados em um processo de cuidar
da nossa casa, o planeta Terra, procurando preservar as vidas,
consciente e refletindo contra as causas das mudanças climáticas.
E, já o incrível arsenal digital e tecnológico coloca aos nossos
alcances modos de ensinar e de aprender impensáveis aos modos
de ir à escola no passado, dentro e fora da sala de aula. Uma
modalidade de ensino que é potente para a escola do futuro é o
ensino híbrido, que é um programa de educação formal, possível
para qualquer sistema de educação que optar por esta inovação
no qual um aluno aprende, pelo menos em parte, por meio do
ensino online, com algum elemento de controle do estudante
sobre o tempo, lugar, modo e/ou ritmo do estudo, e pelo menos
em parte em uma localidade física supervisionada, fora de sua
residência. (CHRISTENSEN, HORN & STAKER, 2013, p.7).
Moran convence que a tecnologia em rede e móvel em
aliança com as capacidades digitais são essências componentes
para uma educação plena. E cada vez mais possível usar as
ferramentas digitais fora e dentro da sala de aula, presencial,
semipresencial ou online. Um aluno não conectado e sem o
domínio digital perde importantes chances de informar-se, de
acessar materiais muito ricos disponíveis, de comunicar-se, de
tornar-se visível para os demais, de publicar suas ideias e de
aumentar sua empregabilidade futura. (Moran, 2015, p. 02).

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História da Educação 269

Viver neste mundo de convergência digital vem levando


a escola a repensar suas dimensões, tais como infraestrutura,
formação docente, projeto pedagógico e possibilidades de
mobilidade. As tecnologias digitais cabem dentro das mochilas
dos alunos, incomodando aos educadores que ainda não os usam
como ferramentas potentes que são.
Quanto mais tecnologias móveis, maior é a
necessidade de que o professor planeje quais
atividades fazem sentido para a classe, para cada
grupo e para cada aluno. As atividades exigem o
apoio de materiais bem elaborados. Os conteúdos
educacionais - atualizados e atraentes - podem
ser muito úteis para que os professores possam
selecionar materiais textuais, audiovisuais -
impressos e/ou digitais - que sirvam para momentos
diferentes do processo educativo: para motivar,
para ilustrar, para contar histórias, para orientar
atividades, organizar roteiros de aprendizagem,
para a avaliação formativa. (MORAN, 2015 p. 3)
E devem ser pensadas, nas imensas oportunidades que
podem trazer. São fáceis de usar e cada vez mais pessoas
aprendem a usar, possibilitando a diversas colaborações entre
pessoas que estão no mesmo ambiente ou em diferentes, distantes
ou próximas, ampliaram a noção de espaço escolar, integrando
os alunos e professores de países, línguas e culturas diferentes.
E todos, além da aprendizagem formal, têm a oportunidade de se
engajar, aprender e desenvolver relações duradouras para suas
vidas. (MORAN, 2015, p. 2)
Possibilitam a produção de materiais, com uma
interatividade não possível em livros usados pelas gerações
passadas, já que não se usam somente materiais impressos, mas
também os digitais. Uso de interessantes atividades, histórias,
games/jogos ampliam formatos de aprender sozinho ou em grupo,
usando inovadoras tecnologias pensadas para que aprendam em

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270 História da Educação

salas de aula e também sozinhos. O papel do professor é ajudar


os alunos a ir além de onde conseguiriam fazê-lo sozinhos. Até
alguns anos atrás, ainda fazia sentido que o professor explicasse
tudo e o aluno anotasse, pesquisasse e mostrasse o quanto
aprendeu. (MORAN, 2015, 2015 p. 2)

SAIBA MAIS

Leia o artigo de José Moran, Mudando a educação com


metodologias ativas. Disponível em: http://bit.ly/2MT0tCN. E
Veja também o vídeo Novas metodologias para aprendizagem
com tecnologias móveis - José Manuel Moran, no link: http://
bit.ly/35Hkc0x

Analisando a Educação no Século XX:


Tendências da Educação Contemporânea
O século XXI começa na América Latina com o
aparecimento de governos oriundos das lutas sociais em
embate contra o neoliberalismo, foram os anos de governos
socialdemocratas, democrático-populares, progressistas, pós ou
neoliberais. Apontaram neste momento experiências distintas,
mas semelhantes na preocupação em garantir e ampliar os direitos
e tentativas de melhorar a qualidade de vida das populações
mais empobrecidos da América Latina. Tais políticas sociais e
educacionais foram frutos de muitos investimentos, nos anos
2000.
O que se apontou para o futuro da educação brasileira
foi superar sua péssima pontuação, já que de acordo com a
UNESCO (2008), com relação ao Índice de Desenvolvimento
de Educação para Todos (IDE), O Brasil ficou no grupo de 53

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História da Educação 271

países em situações intermediária com relação ao alcance de


metas (GHRALDELLI JUNIOR, 2009, p. 283), significando que
o gigante Brasil estaria longe de satisfazer o IDE, apresentado
como uma média aritmética dos valores de quatro indicadores:
educação primária universal, alfabetização de adultos, igualdade
de gêneros e qualidade de educação (GHRALDELLI JUNIOR,
2009, p. 283). Então, ainda teremos que equacionar todos os
vácuos, transformando em políticas públicas em educação, dos
4 indicadores apontados aqui. E, não deixar ninguém para trás,
com eficazes programas de Educação para Todos!
Os últimos anos da 1.ª década do século XXI e o decorrer
da 2.ª década vem sendo uma correria para conseguir avanços.
E tais investimentos, na América Latina, trouxeram melhorias
na aplicação de recursos em políticas públicas, sonhos antigos
relativos aos direitos à educação, configurada de uma dívida
histórica imensa do excludente Estado Nacional. É deste
momento (2008) a Declaração final do Congresso Regional de
Educação Superior, em Cartagena, reconhecendo que a Educação
Superior é um bem público social, direito humano e universal e
um dever do Estado.
Alguns países ampliaram os anos de obrigatoriedade,
ampliação de escolas e universidades públicas e a inclusão de
setores populares historicamente excluídos, um caso particular
brasileiro são as cotas para afro-brasileiros e indígenas, com a
criação e implementação de políticas de acesso e permanência
dos descendentes dos africanos (uma grande população
afrodescendente excluída, através dos tempos) e das mais
diversos etnias, dos Povos Indígenas do Brasil (falantes de mais
de 200 línguas distintas da língua do colonizador e que já eram
faladas antes da chegada do português), através do acesso ao
ensino superior, via ENEM e os financiamentos, via SISU. E,
ainda, formando professores para comunidades quilombolas e
escolas indígenas bilíngues (com a aprendizagem simultânea do
português e das línguas faladas pelos distintos povos indígenas).

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272 História da Educação

Para o futuro, o que se deve esperar é não deixar ninguém


para trás, com eficazes programas de Educação para Todos!
Expandindo e melhorando a Educação Infantil, acesso para
todas as crianças no Ensino Fundamental gratuito e de qualidade,
ampliar oportunidades para jovens e adultos, alfabetização os
que ainda não foram alfabetizados e são adultos, eliminar as
diferenças entre gêneros na educação, melhorando em todos os
aspectos a educação (educação de qualidade). (GHRALDELLI
JUNIOR, 2009)

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História da Educação 273

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