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Libras - Língua Brasileira de Sinais


LIBRAS - LIBRAS -
LÍNGUA BRASILEIRA LÍNGUA BRASILEIRA
DE SINAIS DE SINAIS
ORGANIZADORA: ETNA PALOMA NOBRE ORGANIZADORA: ETNA PALOMA NOBRE

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GRUPO SER EDUCACIONAL

gente criando futuro


LIBRAS
Língua Brasileira
de Sinais

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© by Editora Telesapiens
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro
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autorização, por escrito, da Editora Telesapiens.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

N754l Nobre, Etna Paloma.


Libras: Língua brasileira de sinais [recurso eletrônico]/ Etna
Paloma Nobre. – Recife: Telesapiens, 2019.
116 p. : pdf
ISBN: 978-85-54921-15-6
1.Educação 2. Libras I. Título.
CDU 81’221.24

(Bibliotecário responsável: Nelson Oliveira da Silva – CRB 10/854)

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LIBRAS
Língua Brasileira de Sinais

Créditos Institucionais
Presidente do Conselho de Administração:
Janguiê Diniz
Diretor-presidente:
Jânio Diniz
Diretoria Executiva de Ensino:
Adriano Azevedo
Diretoria Executiva de Serviços Corporativos:
Joaldo Diniz
Diretoria de Ensino a Distância:
Enzo Moreira

2019 by Telesapiens
Todos os direitos reservados

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A AUTORA
ETNA PALOMA NOBRE
Olá. Meu nome é Etna Paloma Nobre. Sou formada em
Letras com Especialização Lato Sensu em Educação de
Surdos, com uma experiência técnico-profissional na área de
Libras e Educação a Distância há mais de cinco anos. As
minhas experiências são todas em Instituições de Ensino. Sou
apaixonada pelo que faço e gosto de transmitir minha
experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas
profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a
integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito
feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e
trabalho. Conte comigo!

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ICONOGRÁFICOS
Esses ícones que irão aparecer em sua trilha de aprendizagem
significam:
OBJETIVO NOTA
Breve descrição Uma nota explicativa
do objetivo de + sobre o que acaba de
aprendizagem; ser dito;

CITAÇÃO RESUMINDO
Parte retirada de um Uma síntese das
texto; últimas abordagens;

TESTANDO DEFINIÇÃO
Sugestão de práticas ou Definição de um
exercícios para fixação conceito;
do conteúdo;
IMPORTANTE ACESSE
O conteúdo em destaque Links úteis para
precisa ser priorizado; fixação do conteúdo;

DICA SAIBA MAIS


Um atalho para resolver Informações adicionais
algo que foi introduzido sobre o conteúdo e
no conteúdo; temas afins;
EXPLICANDO
++
SOLUÇÃO
+ MELHOR Resolução passo a
Um jeito diferente e mais passo de um problema
simples de explicar o que ou exercício;
acaba de ser explicado;
EXEMPLO VOCÊ SABIA?
Explicação do conteúdo Indicação de curiosidades
ou conceito partindo de e fatos para reflexão sobre
um caso prático; o tema em estudo;

PALAVRA DO
REFLITA
AUTOR
Uma opinião pessoal e O texto destacado
particular do autor da deve ser alvo de
obra; reflexão.

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SUMÁRIO
UNIDADE 01
O surdo no contexto histórico das sociedades: a aceitação
da língua de sinais como língua natural da comunidade
surda, culturas e identidades surdas....................................12
A cultura dos surdos .................................................................15
Mundo solitário.........................................................................18
Acesso e conhecimento.............................................................19
Identidade surda........................................................................23
Conceito sobre surdez e surdez na visão clínica e sócio-
antropológica ..........................................................................25
Aspectos filosófico e legal na educação do surdo..................29
O bilinguismo na educação de surdos...................................32
Escolas bilíngues na Determinação Federal nº 5.626/2005......33
UNIDADE 02
Entendimentos gerais sobre a Língua de Sinais .................42
Os parâmetros da Libras .........................................................45
A fonologia das Línguas de Sinais............................................49
Língua de Sinais e classificadores............................................57
Intensificadores no discurso da Libras......................................58
Alfabeto manual e números (cardinais e quantidades);
condições climáticas, ano sideral e calendário.....................61
Números....................................................................................62
Valores ......................................................................................63
Calendário: dias da semana ......................................................64

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Meses do ano.............................................................................65
Condições climáticas................................................................66
Advérbios de tempo e flexões de frases: negativa,
interrogativa e exclamativa....................................................66
Estrutura sintática .....................................................................66
Sinais de verbos e suas negativas...........................................68
UNIDADE 03
Espaço, direção e perspectiva................................................72
Parâmetros e componentes .......................................................73
Espaço na Libras ......................................................................75
Perspectiva na Educação dos Surdos........................................78
Tempo e numerais ordinais ...................................................80
Tempo na Libras.......................................................................81
Pronomes e expressões interrogativas: quando-passado, quando-
Futuro, D-I-A, que Hora, quanta-hora........................................... 84
Pronomes pessoais ...................................................................85
Quando e D-I-A.........................................................................86
Que-horas e quantas-horas .......................................................87
Sinais do verbo PROCURAR e suas variações...................88
UNIDADE 04
Sinais de diversas profissões ..................................................94
Influenciadores da profissão ...................................................94
Surdos x profissões ..................................................................95
Pro issão de intérprete de Libras .............................................97
Sinais de diversas profissões ...................................................98
Sinais de diferentes meios de comunicação.......................100

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Sistema de transição...............................................................102
Libras e a Escrita de Sinais.....................................................103
Oralismo e Língua de Sinais...................................................105
A escrita de sinais....................................................................106
Módulos da Libras conversação: encenações teatrais..... ......109
Teatro em Libras ....................................................................109
Aspectos cenográficos ..........................................................112

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 9

01
UNIDADE

O SURDO NA SOCIEDADE

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10 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

INTRODUÇÃO
A LIBRAS foi idealizada para que estudantes tenham
contato com a cultura surda, que envolve os preconceitos
linguísticos existentes no Brasil e, também, as abordagens de
ensino para a Educação de Surdos.
A Língua de Sinais é a língua materna dos surdos,
reconhecida como um meio de comunicação legal, reconhecida
pela Lei 10.436 de 2002. É a partir desta lei que os
profissionais da área da pedagogia, fonoaudiologia e
licenciaturas têm a garantia do contato com disciplina de
Libras para a sua formação, o que é um avanço relevante tanto
para esses profissionais quanto para a comunidade surda.
O que você receberá, aqui, são informações que, com
certeza, irão lhe auxiliar na tomada de decisões em seu
percurso profissional, caso em sua rotina diária você encontre
pessoas surdas ou outros profissionais que trabalhem com
pessoas surdas. O contexto histórico de lutas e exigências
quanto a Educação dos Surdos no Brasil é cheio de
acontecimentos, proibições e conquistas. Desde já anuncio que
será feito um retrospecto desses fatos. A partir da convivência
com os surdos, conforme o andamento dos nossos estudos,
perceberemos que é uma comunidade que lida em sua maioria
com “guetos”. Geralmente, os surdos optam por parceiros com
características em comum. Muitos se mostram inseguros com a
aproximação e presença de ouvintes, por conta da
incompreensão, este comportamento é resultado das ações que
perduram por muitos anos, o que ainda acontece até hoje. No
entanto, as dificuldades que foram vistas no passado serviram
para se chegar a um momento mais pertinente e acessível.
Entendeu ? Ao longo desta unidade letiva você vai
mergulhar neste universo!

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 11

OBJETIVOS
Olá! Se bem-vindo(a) à Unidade 1. Nosso objetivo é
auxiliar você no desenvolvimento de algumas competências
profissionais até o término desta etapa de estudos.

1 Compreender as diferenças a respeito do surdo.

2 Aplicar as técnicas de comunicação.

3 Identificar e solucionar problemas relacionados à


convivência.

4 Executar os procedimentos que envolvem o


aprendizado e aspectos da cultura surda.

Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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12 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

O surdo no contexto histórico das


sociedades: a aceitação da língua de sinais
como língua natural da comunidade
surda, culturas e identidadesisurdas
Quais conhecimentos você tem sobre deficiência
auditiva? Com certeza já ouviu falar a respeito dos surdos,
deve ter visto pessoas dizendo: “todo surdo é mudo”, “são
muito agitados, se irritam fácil”, “leem nossos lábios”.
Mas, a maioria das informações que adquirimos através do
senso comum sobre esse assunto não são reais.
Então, o objetivo deste estudo é esclarecer tais informações
equivocadas e mostrar a realidade sobre a comunidade surda.
A deficiência auditiva é uma diferença de atuação
na sociedade entre um indivíduo e a sua capacidade para a
retenção dos sons.
A deficiência auditiva exibe uma abrangência no
Brasil e, segundo os Decretos nº 3.298/99 e nº 5.5296/04, art.
4º, inc. II (BRASIL, 1999), é considerada “a perda
ambilateral, restrito ou na totalidade, de 41 decibéis (dB)
ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500
Hertz (Hz), 1.000 Hz, 2.000 Hz e 3.000 Hz”.
[…] considera-se pessoa surda aquela que, por ter
perda auditiva, compreende e interage com o
mundo por meio de experiências visuais,
manifestando sua cultura principalmente pelo uso
da Língua Brasileira de Sinais – Libras. Parágrafo
único. Considera-se deficiência auditiva a perda
bilateral, parcial ou total, de quarenta e um
decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas
frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e
3.000Hz (Decreto nº 5.626 de 22 de Dezembro de
2005.)

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 13

É preciso saber diferenciar a pessoa surda e entender que


a surdez é a perda da audição, que ocasiona, em muitos casos, a
perda congênita, que, por conseguinte, faz surgir a necessidade
de comunicar-se pela língua de sinais.
Crianças que nascem com a audição intacta podem ter a
audição comprometida. A dificuldade pode acontecer por
doença que causa a inutilidade da audição ou até traumatismos
e/ou lesões. Na maioria das situações, a pessoa que aprendeu a
expressar-se, após o ocorrido da lesão, que ocasionou a perda
auditiva, adquirirá outra forma de comunicação. Já os surdos
de nascença, eles não são considerados deficientes porque já se
adaptaram a outros meios compensatórios de interação e
comunicação.
Em ambas, mesmo com as difi culdades é importante
o convívio na sociedade, porque em vários ambientes as

++
duas características de difi culdade auditiva estão presentes.

SAIBA MAIS

Segundo Quadros (2004), o hemisfério esquerdo do cérebro


estabelece a linguagem, e o direito processa as informações no
âmbito espacial. Você sabia? Isso porque a Libras é organizada
de maneira que a informação seja captada por meio de uma
mensagem visual. Você acredita que esta língua se encontra no
hemisfério direito do cérebro? Negativo! Como a língua de
sinais tem uma estrutura semelhante à língua expressa,
neurologicamente está submissa ao hemisfério esquerdo do
cérebro, o responsável pela linguagem.

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14 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Deixar claro essa diferença já é um bom começo para o


entendimento da cultura surda, porque ela é bem vivenciada no
ambiente da comunidade.
Pertencem à cultura surda aqueles que não tem audição e
se apropriam da língua de sinais para se expressar. Os
deficientes auditivos, que por alguma lesão ou trauma em
algum momento da vida e que adquiriram a surdez, aprenderão
e se beneficiarão da nova forma de comunicação.
Segundo Strobel (2008), os surdos tiveram um início de
história visto por duas expectativas, que é o olhar doutrinário e
medicinal, das quais as pessoas surdas eram representadas por
pessoas com anomalias nos ouvidos, na composição vocal e no
cérebro. Esses pacientes tinham o empenho dos médicos, que
estudavam acerca da fala e da aprendizagem dos surdos com
expectativas de possibilidades. Já na visão doutrinária religiosa,
inicialmente, a igreja tinha a crença de que, como os surdos não
ouviam nem se comunicavam pela fala, eles não poderiam ter
os perdoados deles pecados e, consequentemente, seriam
condenados ao inferno. Para a salvação, a Igreja
disponibilizava os membros do clero na prática da assistência a
essas pessoas surdas. Assim, os padres e demais religiosos
tornaram-se responsáveis, zelando e cuidando da educação dos
surdos.
E diante desse olhar, antes de entender que nem todo
surdo é mudo, o termo surdo-mudo foi utilizado, em muitas
situações, incorretamente, já que a mudez não tem relação com
a surdez. Como ainda não havia motivação para que os surdos
desenvolvessem a fala, surgiu essa expressão que “todo surdo é
mudo”, que na verdade não deve ser usada.
As terapias de fala auxiliaram nessa quebra de mito,
porque desenvolvem a fala dos surdos e isso é um estímulo, se
um surdo não se expressa por meio da fala, necessariamente
não é mudo. Porém, provavelmente, não obteve orientações
para o seu desenvolvimento, como exercícios que estimulam a
comunicação oral.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 15

Figura 1 - Mudez x Surdez

Fonte: Pixabay.

A cultura dos surdos


As crenças criadas por falta de entendimento
possibilitaram que muitos mitos se disseminassem. No entanto,
a partir do momento que foi aberto o acesso à comunicação
para o surdo, ele passou a interagir socialmente em vários
ambientes dando origem a formação de grupos sociais, nos
dando a oportunidade de identificar a sua cultura e
peculiaridades.

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16 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Figura 2 - Cultura Surda

++
Fonte: Ivanovgood/Pixabay.

SAIBA MAIS

Vamos refletir juntos sobre como se dá a cultura surda, fazendo,


algumas perguntas como, por exemplo, o que é cultura? Ela está
relacionada apenas aquilo que é retratado por meio da arte? Do
conhecimento? Não, não podemos nos prender somente a isso,
pois existem várias formas de expressão e entendimento do
conceito de cultura. Muitos significados indicam o que é cultura,
mas, aqui, vamos considerar cultura como uma linha de
comportamento, que traz uma percepção de um grupo social, no
caso, os surdos.

Para dar uma definição de cultura surda, é coerente partir do sen-


so que existe uma separação, que parte de ouvintes e próprios

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 17

surdos que não compartilham de uma mesma cultura. Observe


o que dizem Santana e Bergamo.
Um outro modo de discutir a questão da cultura surda
é bem mais complexo. Desse lado, não vale a pena
entrar em jogos teóricos como, por exemplo, se existe
ou não cultura surda e seu oposto, a cultura ouvinte
[...]. Em outras palavras, seria preciso entender por
que persistem as opiniões em favor da cultura surda e
entender quais as vantagens em adotar (e defender)
essa ideia. Assim, não parece interessante partir de
uma ideia rígida e preconcebida do que seja ou não
cultura (SANTANA; BERGAMO, 2005, p. 574).
A história da cultura surda supera séculos. Concordava-
se que o surdo tinha habilidade de desenvolver a língua falada,
por isso ele foi obrigado a utilizar a língua oral, mas a
oralização não trazia sentido, o vocabulário não remetia a
nenhum significado e, a partir da introdução da língua de
sinais, foi possível a compreensão da linguagem e de tudo que
lhe rodeava.

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Mundo solitário
No livro O voo da gaivota, uma autobiografia de
Emanuelle Laborit, a autora surda relata a sua rotina solitária,
que por orientação médica havia sido recomendada a não se
relacionar com nenhum surdo, porque deveria ter em mente o
aprendizado da língua oral. Mesmo fazendo uso do aparelho
auditivo, as palavras expressadas oralmente não faziam
sentido: “Quero entender o que dizem. Estou enjoada de ser
prisioneira desse silêncio que eles não procuram romper.
Esforço-me o tempo todo, eles não muito. Os ouvintes não se
esforçam. Queria que se esforçassem” (LABORIT, 1994, p.
39).
Figura 3 - Surdo com aparelho auditivo

Fonte:Kalhh/Pixabay.

Quando ela tinha por volta de 7 anos de idade, o pai dela


ouviu no rádio uma notícia que envolvia a surdez e a língua de
sinais, se interessou e pensou que talvez surgisse ali uma
esperança em relação as possibilidades comunicativas de sua
filha. Após esse dia, a autora relata a importância da língua de
sinais para a sua vida em seu cotidiano.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 19

A esperança de um novo nascimento, o início da vida


novamente. O primeiro muro caiu. Havia ainda outros em torno
de mim, mas foi aberta a primeira brecha em minha prisão, iria
compreender o mundo com os olhos e com as mãos. Sonhava.
Estava tão impaciente! Diante de mim, havia aquele homem
maravilhoso que me ensinava o mundo. O nome das pessoas e
das coisas; há um sinal para Bill, um para Alfredo, um para
Jacques, meu pai, minha mãe, minha irmã, para a casa, a mesa, o
gato... Vivia! E tinha tantas perguntas a fazer! Tantas e tantas.
Estava ávida, sedenta de respostas, já que podiam me responder!
(LABORIT, 1994, p. 48).
Após esse relato, atesta-se que a língua de sinais auxilia
em um novo sentido como surda, abrindo os caminhos para a
comunicação e compreensão daquilo que ainda era
desconhecido, possibilitando, de fato, a comunicação.

Acesso e conhecimento
A língua de sinais abriu caminhos e ajudou nos
desenvolvimentos dos surdos, possibilitando o acesso a novas
culturas. Segundo Santana e Bergamo (2005, p. 572), “a língua
e a cultura são dois artefatos que caminham juntos, e mais, é
uma ferramenta na construção da cultura”.
É bem normal relacionarmos a palavra cultura à língua
de sinais, como se a cultura fosse formada apenas pela
representação linguística. A língua de sinais foi uma
estratégia de relacionamento com o mundo, ajudou a tirá-lo do
isolamento que o cercava.
A língua de sinais propiciou a formação de grupos sociais
que interage e participa de uma comunidade surda.
É notória a diferença entre a comunidade e a cultura surda,
segundo Padden (1989, p. 5 apud FELIPE, 2007, p. 45),
uma estudiosa linguista surda:

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20 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

[...] uma cultura é um conjunto de comportamentos


aprendidos de um grupo de pessoas que possuem sua
própria língua, valores, regras de comportamento e
tradições’. Ao passo que ‘uma comunidade é um
sistema social geral, no qual pessoas vivem juntas,
compartilham metas comuns e partilham certas
responsabilidades umas com as outras’.
Veja também o que diz a própria autora do livro Libras em Con-
texto, Tânia Felipe:
A comunidade surda é formada regionalmente por
pessoas que moram em determinadas localizações, que
buscam as mesmas metas, portanto, uma comunidade
surda também pode ter ouvintes, enquanto que a cultura
surda é compartilhada de forma universal somente pelos
surdos, pois os membros da cultura surda comportam-se
como pessoas surdas, utilizam a língua de sinais e
compartilham de crenças de pessoas surdas (FELIPE,
2007, pág.45).
Para falar sobre a comunidade surda, inicialmente,
precisamos entender que ela é regional, ou seja, formada por
pessoas que moram em determinadas regiões, que almejam
os mesmos objetivos e que também pode ter ouvintes, já a
cultura surda é compartilhada de forma mais ampla,
universal, aceita somente surdos, pois os membros da cultura
surda demonstram um comportamento singular, comportam-
se como surdos, comunicam-se através da língua de sinais e
repartem experiências e crenças.
Figura 4 – Interação e Comunicação.

Fonte: Sasint/Pixabay

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 21

É importante compreendê-los e os considerar como um


grupo social, que pratica interação, se expressa e produz
conhecimento como qualquer outro cidadão. Isto é, os sujeitos
pertencentes à cultura não entendem como problema a
deficiência, ao contrário, eles valorizam o uso da língua de
sinais que sobrepõe a capacidade de expressão verbal.
Dessa forma, quando se pensar em cultura, deve-se ter um
conceito de um conjunto de práticas simbólicas de um
determinado grupo: que usa a língua, as artes (literatura,
música, dança, teatro), a religião, o sentimento, as ideias, as
ações, o modo de vestir, de falar, entre tantas outras
(SANTANA; BERGAMO, 2005, p.130).
Esse debate de conceitos, de estudos não fi nda de
forma fácil, segundo Laraia (2008, p. 63), “provavelmente
nunca terminará, pois uma compreensão exata do conceito de
cultura signifi ca a compreensão da própria natureza
humana, tema perene da incansável refl exão humana”.
Existe uma cultura para o surdo, é a comunidade
onde ele está inserido, onde se comunica e desenvolve
signos para expressar interação na língua que é de sua
propriedade.
Esse reconhecimento traz uma bagagem de perseverança,
persistência, diversidade e aquisição pelo respeito à língua dos
surdos.
Há muitas realizações a se concretizar com o crescimento
regular da comunidade surda.

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22 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

OBSERVAÇÃO
+

Anular o passado e requerer o presente se mostrou como


artefato cultural para os surdos. Um passado imerso na
obrigação de serem ouvintes e, em função disto, aceitar que os
outros fizessem a sua história, os dominassem, se tornou a
marca mais deprimente. Diante disto, surgem novos feitos e
novas interpretações no cotidiano. Neste sentido, se
prosseguirmos com as velhas realidades, narradas como que no
tempo colonial, perigamos escrever uma história de holocausto,
de dominação, de lamentos. Mas não é por aí... Temos outros
caminhos que, mesmo desconhecidos, merecem ser trazidos à
tona, vivenciados e narrados por constituírem a genuína
história natural e cultural dos surdos. De fato, temos nossas
lutas de significação quais sejam: a busca por educação
bilíngue, por políticas para a língua de sinais no Brasil, pela
abertura das portas das universidades, por posições de
igualdade, por ter intérpretes de língua de sinais e por serem
válidos os nossos direitos. Além desses, há muitos espaços que
possibilitam novos signos e significados que nos motivam,
estando presentes em nosso cotidiano e que nos trazem algo
mais desejado – encarnar essas possibilidades ‘como pessoas
completamente diferentes’ (PERLIM; STROBEL, 2014, p.20).

++ SAIBA MAIS

Indico o fi lme “O milagre de Anne Sullivan” (The Miracle Worker,


2000), dirigido por Nadia Tass, que traz a história da escritora Helen
Adams Keller, surda e cega, como ela venceu as suas difi culdades.
O auxilio e compartilhamento da Mestre Anne Sullivan, defi ciente
visual que lhe instruiu a língua dos sinais ainda na sua fase infantil,
Helen Keller veio a ser uma fi lósofa e jornalista excelente.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 23

Identidade surda
A história de Emanuelle Laborit (1994) traz informações
sobre a sociedade surda e a língua de sinais.
[...] Lugar de vida, de recreação, de aprendizado para
os surdos. Lugar de encontro com os pais enredados
nas mesmas dificuldades, com os profissionais da
surdez, que colocam em causa as informações e as
práticas do corpo médico. Pois eles estavam
decididos a ensinar uma língua, a língua de sinais.
Não um código, um jargão; mas uma verdadeira
língua. Lembrando-se da primeira vez em Vincennes,
mamãe conta: - Senti um medo terrível. Confrontava-
me com a realidade. Era como um segundo
diagnóstico. As pessoas eram calorosas, mas ouvi
histórias sobre o sofrimento de crianças, o isolamento
terrível que tinham vivido antes. Suas dificuldades de
adultos, seus combates permanentes. Vomitei tudo
aquilo. Havia me enganado. Tinham me enganado
dizendo: ‘com a reeducação, com o aparelho, ela vai
falar...’. Meu pai conta: - Era como se até então não
houvesse escutado, ou não houvesse desejado escutar
‘um dia, ela FALARÁ’. Vincennes é um outro
mundo, o da realidade dos surdos, sem indulgência
inútil, mas também o da esperança dos surdos.
Certamente, o surdo chega a falar, bem ou mal, mas
trata-se apenas de uma técnica incompleta para
muitos deles, os surdos profundos. Com a língua de
sinais, mais a oralização e a vontade voraz de
comunicação que sentia em mim, iria fazer
progressos espantosos. O primeiro, o imenso
progresso em sete anos de existência acabara de
acontecer: eu me chamo ‘EU’ (LABORIT, 1994, p.
52-53).

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24 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Laborit, retrata o quanto conseguiu se encontrar, já que a


proximidade com surdos e com a língua de sinais proporcionou
uma releitura de sua identidade e a sentir-se pertencente a alguém.
A identidade relatada foi buscada com a ajuda
da cultura surda, que opera de maneira individual no
âmbito da aprendizagem, diferente da vivência anterior.
Reconhecer a si mesma pode ser chamada de uma
identidade, há uma autenticidade para o surdo que é diferente
do ouvinte, e até entre os próprios surdos. Como se pode ver
mais abaixo, há 5 possibilidades de identidade para o surdo.
Identidade surda: geralmente, a identidade relaciona-
se aos filhos surdos de pais surdos, instruídos a conviver com a
percepção visual. Uma autenticidade que se destaca na atuação
pelos direitos do surdo, que necessita da língua de sinais para
desenvolver uma linguagem.
Identidade surda híbrida: é uma percepção evidente
nos surdos que nasceram com a audição intacta e lidam com a
língua portuguesa e a língua de sinais. É uma analogia peculiar
em diferentes momentos, porque são conhecedores da estrutura
do português verbalizado.
Identidade de transição: os surdos mantidos em
cárcere na igualdade de ouvintes, viveram parte da vida
convivendo e contatando com pessoas que se expressavam
verbalmente e não se relacionavam com surdos. Essa mudança
acontece ao conhecer a comunidade surda e daí passarem pelo
processo de “des- ouvintização” comumente. Grande número de
surdos passa por esse estágio, posto que são filhos de ouvintes.
Identidade surda incompleta: nessa identidade, o
surdo encontra dificuldade para assumir-se, para ingressar na
comunidade surda, justamente, por não fazer talvez uso total da
língua de sinais, persiste em percorrer ambientes que fazem
parte da rotina de ouvintes. Em outras palavras, ele não
compreende e não fala na mesma simetria do ouvinte e, por
isso, não está inserido plenamente em nenhum dos grupos.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 25

Identidade flutuante: são surdos que se expõem a


partir do domínio dos ouvintes. Retratado pelo surdo que tem
ciência ou não, que é surdo, mas a sua postura é de um ouvinte
e insistem nisso a qualquer custo, assimilam que são surdos, se
esforçam e pensam que a vida seria melhor como ouvintes.
Nessa identidade, o surdo despreza ou não tem compromisso
com a cultura surda e vive em uma situação de conformidade
(PERLIN, 1998).

++ SAIBA MAIS

É possível um ouvinte demonstrar uma autenticidade surda, em


famílias. Quando os pais são surdos e os filhos ouvintes, é
comum o uso da língua de sinais como língua materna, para
apenas após um tempo adquirirem a língua portuguesa.

Conceito sobre surdez e surdez na visão


clínica e socioantropológica
Além dos mitos que ouvimos sobre a cultura surda,
existem outras crenças sobre a língua de sinais que é
importante sabermos ao certo. Por exemplo, a mímica pode
ser considerada sinais, a língua de sinais expressa
pensamentos, percepções, opiniões, possibilita a discussão
e resolução de assuntos e convicções complexos, porém
importante como assuntos relacionados a nação.
A ideia de que a língua de sinais é universal
também é um mito. Tal afirmação é incoerente
porque não é possível ter uma comunicação gestual
igualitária, com entendimento geral para todos. Da
mesma maneira que existe as diversidades na língua
falada, também a língua sinais sofre diferenças,
correspondendo, não menos, a fatores gramaticais,
geográficos e culturais.

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26 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Há tempos que o estudo da linguística se limitava


apenas às línguas orais, mas o advento do reconhecimento da
língua de sinais trouxe uma nova perspectiva de
abrangência que com o tempo vem ganhando espaço e se
estabelecendo. As abordagens orientadas a LIBRAS vêm
com alcance específico educacional na defesa da cultura
surda. Essas variações não se resumem apenas à
comparação dos processos que promovem um
enriquecimento do vocabulário, mas estão relacionadas à
percepção de mundo e à condição de complexidade em
decorrência do processo de aquisição da língua, aspectos
culturais e até impactos políticos e sociais na vida dos
surdos. É importante apontar para aspectos relacionados à
organização da gramática e seu funcionamento. Há uma
delimitação entre gesto, língua de sinais e aprendizado de
uma segunda língua, o que gera, muitas vezes,
incompreensão por parte dos surdos, que, por não terem
orientação, não se identificam com outros surdos quando se
cria um determinado sinal.
As escolas de surdos, que adotam uma proposta
bilíngue, proporcionam a interação do surdo com outros, o que
incentiva a aquisição da língua por parte de crianças, jovens
e adultos.
Para o surdo, o significado de cultura é compreender
o mundo ao redor e torná-lo ao alcance e habitável,
adequar com as suas impressões visuais, que colabora para
o sentido das identidades surdas (STROBEL, 2008, p.
30), que contempla a língua e hábitos.
Ainda sobre os mitos que envolve a relação dos
surdos, mesmo após a conquista da inserção da língua de
sinais, é importante lembrar que os surdos enfrentaram
impedimentos que levaram a uma certa dificuldade de
aceitação por parte da sociedade, presença de intolerância no
ambiente familiar e escolar. Segundo Strobel (2008), nas

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 27

décadas de 1970 e 1980, a aquisição de aprendizagem era


indiferente, de controle e de disciplinamento. As crianças
surdas eram proibidas de fazer uso da articulação gestual,
quando não, eram comparadas a macacos e obrigadas a se
expressar oralmente, mesmo que de forma forçada, para
serem respeitadas.
Os surdos viam-se obrigados a todo custo a desenvol- ver
a expressão oral e a leitura labial, o que gera o mito de que os
surdos compreendem as demonstrações orais.
Witkoski (2009) desmistifica esse mito ao expor que os
surdos, na sua maioria, não fazem leitura labial. Vários fatores
envolvem o sucesso desta técnica, como a articulação
e a proximidade dos interlocutores, por exemplo.
Fatores que podem colaborar ou atrapalhar a leitura labial,
já que a obtenção da proficiência nesta modalidade
comunicativa depende muito da postura do locutor, o que
não é uma prática simples. O sujeito deve se posicionar com os
lábios de frente para o receptor, deve haver similaridade nas
articulações específicas das letras e o conhecimento anterior das
palavras proferidas. Todos esses fatores influenciam no
processo de leitura labial.
[...] o ambiente de conversação usual não se constitui
num ideal de apreensão visual ao surdo; ao contrário.
Em geral este é caracterizado pela presença de um
falante distante, em permanente movimento (quando
não está inclusive ausente do seu foco visual), que
realiza trocas verbais com outras pessoas as quais não
poderão ser observadas concomitantemente. Estas são
as características mais comuns do diálogo entre
ouvintes, sendo inclusive também as da sala de aula no
ensino regular (WITKOSKI, 2009, p. 569).

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28 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

A autora ainda ressalta que:


A autora ainda ressalta que não é possível realizar
leitura labial em toda situação, até porque a leitura não
supre a falta de audição por conta do acesso às palavras
expressas oralmente e identificadas pela leitura labial. Tal
ação, por si só, não garante a compreensão de tudo o que é
verbalizado.
Essa ideia equivocada da leitura labial, que motiva o
surdo a interagir de forma falada com um ouvinte, traz à
tona outro mito: o de que os surdos ouvem algumas coisas que
são do interesse próprio, e ainda que consigam e se
esforcem para compreender uma informação, é muito
difícil assimilar o diálogo na sua totalidade, pois até com o uso
do aparelho auditivo existe a dificuldade em se adaptar
com os ruídos que o aparelho capta, o que dificulta a recepção
da mensagem, e se o receptor não entende a língua de
sinais, é possível que não se estabeleça uma interação.
Veja a seguir o relato de uma experiência apresentado por
Witkoski.
Em relação a essa caracterização do comportamento do
surdo como patológica, resgato a situação de uma linda menina
surda, de sete anos, que conheci. Estava numa escola de surdos
de Curitiba conversando com a professora da turma, enquanto
acompanhava a harmonia com que os alunos interagiam através
da língua de sinais. Nessa hora chegou a mãe de uma das alunas,
que estava visivelmente feliz junto a seus colegas conversando
em Libras. Vendo o comportamento da fi lha, a mãe fez o
seguinte comentário: ‘Engraçado como aqui ela se comporta
bem. Em casa ela não faz nada. Se não mandar tomar
banho, não vai; fi car só deitada no sofá assistindo à
televisão. O pior é que às vezes ela começa a gritar, cada grito,
que chega a doer os meus ouvidos!’. Perguntei se ela sabia a
língua de sinais. Respondeu: ‘Não, não tive tempo ainda,
tenho a casa para cuidar, muito trabalho’. (Witkoski; Surdez
e preconceito. A norma da fala e o mito da leitura da palavra
falada; 2009, p. 571)

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 29

Na situação apresentada a filha não atende ao pedido


da mãe, que questiona o fato de a filha se relaciona apenas
com amigos da escola, levando em consideração que em
casa a menina demonstra que é “surda”. No entanto, essa
postura pode estar mais relacionada com a apreciação que
a filha tem pelo uso da língua de sinais, que a proporciona
entendimento de fato.

Figura 6 - Língua de sinais

Fonte: Clker-Free-Vector-Images/Pixabay.

Aspectos filosóficos e legal na educação


do Surdo

A identidade surda está ligada à língua de sinais. Essa


relação depende de como a língua de sinais é inserida como
uma possibilidade de comunicação.
Segundo Santana e Bergamo (2005), essa relação de que
a identidade do surdo é ligada à língua de sinais vem de
pesquisas realizadas em relação ao contato do surdo com outro
surdo, que faz uso da língua de sinais. Isso acontece devida a
expansão de novas possibilidades de interação e compreensão,
que não acontece por meio da língua oral.

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30 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Figura 7 - Criança aprende a língua de sinais

Fonte: OpenClipart-Vectors/Pixabay.

Vygotsky (1991) ressalta que as ações cognitivas


essenciais de um ser humano têm relação direta com a sua
história social, que traz a memória da sociedade na qual a
criança desenvolve-se socialmente, o que é bem relevante para
a formação do pensamento e para processo de aquisição de
conhecimento. A língua tem um papel fundamental na
designação de como a criança desenvolverá o seu aprendizado.
O contato da criança com a língua de sinais influencia na
capacidade da formação de pensamento e o ambiente em que
ela está inserida deverá proporcionar o servir dessa língua.
Perlin (1998), chama a atenção para a aquisição de uma
identidade que é repelida ao indivíduo no ambiente em que ele
habita. Um surdo que tem contato contínuo e direto com um
ouvinte irá ponderar a surdez como uma deficiência tratável e
guiará a sua identidade sob essa perspectiva. Por outro lado, é
positivo o surdo que tem a oportunidade de conviver e
vivenciar uma comunidade de surdos com ouvintes, porque
essa relação desenvolverá uma identidade que favorece e
evidencia a diferença e não a deficiência.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 31

Para Felipe (2007, p. 82), é provável identificar caracte-


rísticas do tipo:
a maioria das pessoas Surdas sentem-se mais à vontade
para ter relacionamento e dividir sentimentos com outra
pessoa surda;
as frases com gênero humorístico em tom de piadas afastam
o desejo de conhecimento sobre a língua de sinais e sua cultura;
a abordagem de assuntos sobre relacionamento, educação
e olhar de mundo, pode ser representado em cenas teatrais.
O surdo tem um olhar diferenciado de mundo, ele se
identifica com as expressões faciais e corporais que são
representadas com as mãos, que devem ser usadas de forma
necessária com agilidade e fluência, dando sentido a mensagem
transmitida.
O surdo possui uma identidade própria, independente
do seu acesso a língua ou não. A diferença é a sua própria
aceitação como surdo junto com a língua de sinais. Observe
que aquele que se aceita consegue desenvolver-se e interage
com o mundo positivamente, sob o olhar da sua comunidade e
cultura surda.

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32 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

O bilinguismo na educação de surdos


Quando pesquisamos a Educação Bilíngue para surdos,
nos reportamos a um trabalho pedagógico que faz uso de
línguas no desenvolvimento do processo de aprendizagem,
de forma inclusiva.
Libras - Língua de Sinais.
Língua Portuguesa escrita.
Os surdos precisam e devem ter acesso a uma
educação bilíngue, que dê ênfase a língua de sinais como
sua língua natural, bem como o aprendizado da língua
portuguesa, como segunda língua” (BRASIL, 2006, p. 71).
O bilinguismo, porém, reconhecido como política pública
brasileira, surgiu a pouco tempo, mas já existe registro de ações
de sucesso. É o caso real presente na administração municipal
de São Bernardo do Campo, na grande São Paulo.
Em 2012 o município de ensino da cidade criou as Escolas
Polo para priorizar a educação de alunos surdos.
Essas instituições escolares regulares são de educação
básica, que possuem toda a estrutura física e pedagógica para
recepcionar e prestar atendimento adequado aos alunos.
Alguns professores têm habilidade regular em Libras e são
bilíngues, pois são os responsáveis pelas turmas e realizam os
encaminhamentos das disciplinas ativas, são também os
intérpretes de Libras. No horário oposto das aulas comuns, há
atividades complementares à prática de Libras e quem
ministra é sempre um professor surdo. Essa é uma das
iniciativas escolares que priorizam a educação em duas
línguas. Depoimento da professora Nadia Aparecida Issa Pina.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 33

A Determinação Federal nº 5.626, de 2005, e a Política


Nacional de Educação Especial no Panorama da Educação
Inclusiva, de 2008, são dois documentos essenciais que
discorrem sobre este assunto. Já ouviu falar? Vamos tratar
deles agora!

Escolas bilíngues na Determinação Federal


nº 5.626/2005
Mais adiante veremos os documentos ofi ciais, as
leis e decretos, vamos no momento conhecer a
relevância do decreto que apoia e estabelece o bilinguismo e a
escola bilíngue no atual contexto educativo brasileiro.
O Decreto Federal nº 5.626, de 22 de dezembro de
2005, que regulamentou a Lei nº10.436/2002 (BRASIL,
2002), tornando reconhecida a Língua Brasileira de Sinais como
meio de comunicação da comunidade surda, de mesmo
modo a regulamentação do artigo 18 da Lei nº 10.098/2000
(BRASIL, 2000), que trata da realização da formação de
profissionais intérpretes de Libras, para viabilizar a interação
com os surdos.
Encontra-se em vigor após o reconhecimento da Libras,
em 2002, e sob a importância dos demais documentos que
tratavam da inclusão social e ambiente escolar para surdos.

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34 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais
A lei possui dizeres variados que garante a educação
e a conservação da Libras, no status de política pública, que
garanta uma educação estirpe para aquisição de conhecimento a
beneficiar o surdo. A língua de sinais como ensino mandatório
nas licenciaturas, formação específica de profissionais da área
da educação. Essas são ações das quais se estendem longos
tempos para se solidificarem, pois existe a burocracia do
poder público, além da ausência de profissionais por outro
capacitados prejudica a prática das diretrizes da respectiva lei.
O objetivo do decreto é a educação dos surdos, é ampará-
los, as primeiras tratativas referentes ao reconhecimento e à
aprovação da língua de sinais e seu cumprimento de uso nos
espaços educacionais iniciaram no ano de 1996, quando da
execução da Câmara Técnica O Surdo e a Língua de Sinais.
O decreto foi desenvolvido em acordo com a academia e
com a cultura surda.
Conforme este documento, intitula-se Escolas de
Educação Bilíngue aquelas em que a Libras e a escrita da
Língua Portuguesa representam línguas de instrução inseridas
no desenvolvimento do processo educativo. É um direito dos
estudantes à escolarização em um período oposto ao
atendimento educacional especializado para a
complementação curricular, com aproveitamento de
equipamentos de tecnologias de informação (BRASIL, 2005).
Segundo o Decreto Federal (BRASIL, 2005), essa
educação está dividida seguindo os critérios apresentados a
seguir.
Ensino infantil e Anos iniciais do
fundamental: formação obrigatória de professores bilíngues
para atuação em escolas e classes de educação.
Anos finais do ensino fundamental, médio e no
técnico profissional: não se faz obrigatório que os professores
sejam bilíngues, porém, é importante conhecer as especificidades
linguísticas e o processo de ensino-aprendizagem dos alunos surdos.
Imprescindível a presença de tradutores e intérpretes
da Libras-Língua Portuguesa, embora, que nessas fases não se

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 35

torna obrigatório que as escolas e/ou classes sejam bilíngues:


esses níveis de ensino também podem ser realizados em
escolas de ensino básico comum, desde que atenda as condições
expostas.
Segundo Lodi (2013, p. 54), “para que a língua inicial de
instrução escolar seja a Libras, é necessário mudanças e
reivindicações, uma vez que até mesmo a escrita das duas
línguas é diferente”.
A presença da escrita do português nos processos
educacionais é inerente à estrutura pedagógica, que insere e
garante status de língua de instrução, o desenvolvimento de
linguagem/apropriação da Libras pelos alunos surdos nos
primeiros anos escolares é garantido e, consequentemente
adquire-se uma base educacional.
Após aquisição da língua materna, a Língua de Sinais, os
alunos podem praticar com professores nativos da Língua
Portuguesa, com o auxílio de um tradutor intérprete.
O ensino infantil, assim como os primeiros anos do
fundamental, deve ser cursado, obrigatoriamente, em escolas
bilíngues. Já os demais níveis podem ser frequentados em
escolas comuns, sob a orientação de professores com o perfil
conhecedor da língua e intérpretes contratados, objetivando
facilitar o acesso aos conteúdos curriculares, em todas as
atribuições didático-pedagógicas e no auxílio e facilidade às
atividades institucionais. Embora a escolarização do aluno surdo
possa acontecer por intermédio de docentes que entendam as
particularidades do ensino de surdos, fica notório que essa
organização não descaracteriza uma escola bilíngue.
O instrumento ao informar que as instituições
federais de ensino devem abastar específicas constituições
também detalha os papéis dos agentes docentes inseridos
nas escolas bilíngues: professor ou instrutor de Libras;
tradutor e intérprete da Libras para a Língua Portuguesa e
vice-versa; professor para o ensino, como segunda língua
para os surdos, do português; e professor regente de
classe geral, nas várias áreas de conhecimento, com
ciência da originalidade linguística dos alunos surdos.

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36 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Frequentemente existe nas escolas debates sobre os limites


entre a ação do professor na sala de aula e o intérprete, e fi ca
claro que o intérprete transmite a informação que é produzida
pelo professor sem interferência sobre o raciocínio do professor.
“É imprescindível ofertar, desde a educação infantil,
o ensino da Libras e da Língua Portuguesa, como segunda
língua para alunos surdos” (BRASIL, 2005). Assim, para que
isso seja realidade deve-se pensar em formas singulares de
avaliação, que contemplem o ensino de Libras e Língua
Portuguesa.
O decreto também define que se deve:
[...] adotar mecanismos de avaliação coerentes com
aprendizado de segunda língua, na correção das
provas escritas, valorizando o aspecto semântico e
reconhecendo a singularidade linguística manifestada
no aspecto formal da Língua Portuguesa; desenvolver
e adotar mecanismos alternativos para a avaliação de
conhecimentos expressos em Libras, desde que
devidamente registrados em vídeo ou em outros
meios eletrônicos e tecnológicos (BRASIL, 2005).
A formação de professores para o ensino de Libras é um
ponto importante dessa visão e deve ser:
[...] posta em diálogo com a formação necessária
para o ensino do português como segunda língua.
No que diz respeito ao ensino de Libras, o
documento, uma vez mais, relaciona essa
formação à atuação nos diferentes níveis
educacionais e recomenda que pessoas surdas
tenham prioridade em todos os processos
formativos, visando garantir, assim, que a
apropriação dessa língua pelos alunos surdos ou
sua aprendizagem por ouvintes, seja realizada
por meio de seus usuários (LODI, 2013, p. 57).

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 37

SAIBA MAIS

É importante que você pesquise na internet e leia o


Decreto Federal para que você tenha embasamento prático
e teórico na escola.

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38 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 39

02
UNIDADE

A CONSTRUÇÃO GRAMATICAL DA LIBRAS

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40 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

INTRODUÇÃO
A disciplina de Libras foi idealizada para que estudantes
tenham contato relacionado à Língua de Sinais, à Cultura
Surda, aos preconceitos linguísticos existentes no Brasil e às
abordagens de ensino para a Educação de Surdos.
A Libras é uma língua natural, reconhecida como um
meio de comunicação legal pela Lei 10.436 de 2002. É a partir
dessa lei que os profissionais da área de pedagogia,
fonoaudiologia e licenciaturas têm a garantia do contato com a
disciplina de Libras para a sua formação, o que é um avanço
relevante tanto para esses profissionais como para a
comunidade surda.
O que você receberá, aqui, são informações que
certamente irão lhe auxiliar na tomada de decisões, caso no seu
percurso profissional ou na sua rotina diária você encontre
pessoas surdas ou outros profissionais que trabalhem com
pessoas surdas.
Acredito que você já tenha assimilado que a Língua de
Sinais Brasileira é uma língua usada nas comunidades surdas,
então agora estudaremos juntos a parte da linguística, que
descreve a língua no âmbito da construção gramatical da
Libras.
Este material fornece informações relevantes sobre os
fonemas na Língua de Sinais Brasileira, do ponto de vista de
sua função na língua, que é onde começa a estrutura da
gramática. Assim, entenderemos os parâmetros da Libras e as
suas funções.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 41

OBJETIVOS
Olá! Seja bem-vindo(a) à Unidade 2. Nosso objetivo é
auxiliar você no desenvolvimento de algumas competências
profissionais até o término desta etapa de estudos.

1 Obter entendimento sobre os parâmetros da Libras.

2 Aprender e praticar os classificadores.

3 Identificar e solucionar problemas relacionados à


gramática da Libras.

4 Compreender o papel e a importância dos


intensificadores dentro do discurso.

Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!

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42 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Entendimentos gerais sobre a Língua de Sinais


Conhecer a Língua de Sinais é de fundamental
importância, há inúmeras comunidades surdas espalhadas pelo
país. A Libras foi instituída como língua pelo Decreto nº
5.626/2005. E qual é o peso desse reconhecimento? Porque
pelo que já vimos foi com o reconhecimento que passou a ser
obrigatório o uso em todos os órgãos públicos, como em
escolas, hospitais, prefeituras e outros ambientes. É possível
perceber uma melhoria em relação ao atendimento às pessoas
surdas.
Apesar da legalização ter acontecido a pouco tempo, a
dificuldade na comunicação vem de muitos anos. Foi
necessária uma verdadeira revolução para a aceitação da
Língua de Sinais, pois, até então, ela era tida apenas como uma
linguagem expressa por meio do movimento do corpo e
encarada como mímicas.
As pesquisas da Língua de Sinais sob o olhar da
linguística começaram a ocorrer no ano de 1957 com o
observador norte-americano William Stokoe. Em 1960, os
resultados da análise foram notados sobre a Língua Americana
de Sinais (STOKOE, 1960) e desse momento em diante as
Línguas de Sinais passaram a ser objeto de estudos, levando
em consideração que a linguística considerou a presença
gramatical da Libras, assim como as Línguas Orais.
[…] considera-se pessoa surda aquela que, por ter
perda auditiva, compreende e interage com o
mundo por meio de experiências visuais,
manifestando sua cultura principalmente pelo uso
da Língua Brasileira de Sinais – Libras. Parágrafo
único. Considera-se deficiência auditiva a perda
bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis
(dB) ou mais, aferida por audiograma nas
frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e
3.000Hz (BRASIL, 2005).

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 43

Há alguns anos, os estudos sobre linguística se limitavam


às Línguas Orais, mas desde o início do reconhecimento da
Língua de Sinais, um novo olhar vem sendo estabelecido. As
pesquisas direcionadas a Libras vêm com abordagens
específicas educacionais na defesa da Cultura Surda. Essas
variações não se resumem apenas à comparação dos processos
que promovem um enriquecimento do vocabulário, mas
também estão relacionadas à percepção de mundo e à condição
de complexidade em decorrência do processo de aquisição da
língua, aspectos culturais e até impacto político e social na vida
dos surdos. É importante apontar para aspectos relacionados à
organização da gramática e seu funcionamento. Há uma
delimitação entre gesto, Língua de Sinais e aprendizado de uma
segunda língua, o que gera, muitas vezes, incompreensão por
parte dos surdos, que, por não terem orientação, não se
identificam com outros surdos quando se cria um determinado

++
sinal.

SAIBA MAIS

O entendimento dos parâmetros contempla o perceber da


fonética e fonologia, elas se complementam por estarem
inseridas na linguística. O estudo da Linguística analisa as
línguas nativas humanas, ou seja, é uma ciência que estuda
diferentes línguas, não se detém a uma análise restrita.

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44 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Segundo Strobel (2008), os surdos tiveram um início de


história mediado por duas expectativas, que é o olhar
doutrinário e o medicinal, onde as pessoas surdas eram
representadas por pessoas com anomalias nos ouvidos, na
composição vocal e no cérebro. Esses pacientes tinham o
empenho dos médicos, que estudavam acerca da fala e da
aprendizagem dos surdos com expectativas de possibilidades.
Já, na visão doutrinária, religiosa, inicialmente, a igreja tinha a
crença de que, como os surdos não ouviam e se comunicavam
pela fala, não poderiam ser perdoados seus pecados e
consequentemente condenados ao inferno, para a salvação, a
Igreja disponibilizava os membros do clero na prática da
assistência a essas pessoas surdas, assim, os padres e demais
religiosos tornavam-se responsáveis, zelando e cuidando da
educação dos surdos.
E diante desse olhar, antes de entender que nem
todo surdo é mudo, o termo surdo-mudo foi utilizada, em
muitas situações, incorretamente, porque a mudez não tem
relação com a surdez, como ainda não havia motivação para
que os surdos desenvolvessem a fala, surgiu essa expressão
que “todo surdo é mudo” que na verdade não deve ser usada.
As terapias de fala auxiliaram nessa quebra de mito,
porque desenvolvem a oralização nas pessoas surdas, e isso
é o estímulo, se um surdo não se expressa através da fala,
necessariamente não é mudo; mas provavelmente não obteve
orientações para o seu desenvolvimento, como exercícios
que estimulam a comunicação oral.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 45

Figura 1 - Língua de Sinais

Fonte: Wikimedia.

Os parâmetros da Libras
A linguística explora a língua enquanto processo e preza
pela coerência na atividade de expressar-se. Nesse sentido, a
linguística é vista como uma ciência com características de
descrição própria, descrever-se a si mesma, já que a linguística
desnuda a língua e a mostra de maneira autêntica.
O estudo da linguística contempla a morfologia, a fonética,
a fonologia, a semântica e a pragmática, além disso a linguística
tem relação com outras ciências, como a sociologia, por exemplo.

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46 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Figura 2 - Fonética e Fonologia

Fonte: GraphicMama-team / Pixabay.

A fonética explora os sons isolados, descreve os sons


usados na linguagem humana, e a fonologia se detém a estudar
sons que altera o significado do sentido, como pares mínimos
que ressignifica alguma coisa, como um objeto, por exemplo,
café, boné, cafuné, então, enquanto a fonética descreve, a
fonologia explica.
A morfologia examina os princípios internos da formação
das palavras, com o objetivo de compreender os ajustes
realizados entre eles (QUADROS, 2004). Essas palavras são
produzidas por morfemas, que são as identidades significativas.
Há morfemas que constituem vocábulo, outros são reclusos e
não têm capacidade de habilitar palavras insubordinadas de
outras (QUADROS, 2004).
A sintaxe é a competência da linguística que cria e
discorre a estrutura das sentenças de uma língua, as línguas
possuem variadas estruturas sintáticas e, por isso, existe no seu
desenvolvimento uma base estrutural. Quadros (2004) afirma
com intensidade que a Libras carrega uma gramática de
sistema básico que a Língua Portuguesa dominante no Brasil.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 47

A ordem de sequência:
S (sujeito) + V (verbo) + O (objeto).

Apesar da apresentação dessa ordem ser essencial, não


quer dizer que as pessoas que a utilizam não se apropriem de
outro tipo de comunicação oral (QUADROS, 2004).
De acordo com Quadros (2004, p. 21), “A semântica
analisa o significado do vocábulo e da sentença”. Quer dizer
que, explora o sentido particular das palavras e também em
grupos, que muitas vezes apresentam uma interpretação
diferenciada – a exemplo do linguajar, que são línguas
regionais inerentes. A semântica examina os significados das
sentenças, implícitos ou não, como as metáforas, ironias e
outros. E sob o ponto de vista clássico, a pragmática, que
explora a linguagem na prática.

Figura 3 - Estrutura da Comunicação

Fonte: GraphicMama-team / Pixabay.

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48 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

O estudo científico da língua é como uma manifestação


natural, não delimita a análise de uma espécie de línguas, não é
o estudo isolado do português, da Língua de Sinais Americana
(ASL), da Língua Brasileira de Sinais, e também não se refere
ao estudo de um conjunto de línguas com características em
comum. Quanto mais estudarmos sobre as especificidades das
mais diversas línguas naturais, melhor o entendimento da
língua.
A história da Cultura Surda supera séculos de opressão.
Antes, concordava- se que o surdo tinha habilidade de
desenvolver a língua falada, por isso ele foi obrigado a utilizar
a língua oral. Porém a língua verbalizada já expressava sentido,
já que o vocabulário não remetia a nenhum significado, mas, a
partir da introdução da Língua de Sinais, foi possível a
compreensão da linguagem e de tudo que lhe rodeava.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 49

A fonologia das Línguas de Sinais


O propósito inicial da fonologia na Língua de Sinais é
descrever as identidades mínimas da língua que são adequadas
à formação de sinais. É ter habilidade e conhecimento para as
normas de ajustes.
As primeiras análises linguísticas referentes à Língua de
Sinais tiveram início no período de 1957, no momento em que
o estudioso William Stokoe descreveu um estudo de
compreensão da constituição dos sinais na Língua Americana
de Sinais, a ASL (American Signs Language). Com o objetivo
de trazer conhecimento dos sinais, ele os separou e indicou três
parâmetros básicos: configuração de mão (CM), ponto de
articulação (PA) e movimentos (M).
Depois desse momento iniciaram-se pesquisas quanto a
estrutura linguística da Libras. Autores como Ferreira Brito
(1995), Quadros e Karnopp (2004) persistiram nas análises
linguísticas da Libras para descrever a composição de seus
sinais.
Foram estabelecidos mais dois parâmetros: a orientação
de mãos e expressões não manuais (ENM).
Desse modo, veja a seguir os cinco parâmetros citados
acima.
 Configuração de mão: são 46 configurações de mão e
são elementos fundamentais para possibilitar a formação dos sinais.

Figura 4 – Configurações de Mão.

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50 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Figura 4 – Configurações de Mão.

Fonte: Ferreira Brito e Langevin, 1995

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 51

Um dos parâmetros da Libras é a configuração de mãos, elas


foram representadas a partir de informações coletadas nas importantes
capitais brasileiras, reunidas verticalmente segundo a similitude.
O bloco de CMs da figura refere-se somente às exposições
ao nível fonético, encontradas na Libras.
A CM pode permanecer a mesma durante a articulação de
um sinal, ou pode alterar-se de uma configuração para outra.
Quando acontece a alteração na configuração de mão, ocorre
deslocamento interno da mão, fundamental mudança que
interfere na configuração dos dedos selecionados.
Ponto de articulação (PA) ou Locação (L): lugar
em que será realizado o sinal. O Ponto de Articulação pode se
localizar no rosto, cabeça, braços, troncos e até pernas, como
acontece no sinal de “shorts”.
Pode também representar um espaço neutro, como
exemplifica a imagem 3. O PA exerce ação de influência no
significado do sinal, tanto que havendo mudança de lugar, há
também mudança de significado. Na Libras, assim como em
outras Línguas de Sinais que até o momento foram objetos de
estudos, o espaço de enunciação é uma área que possui os pontos
dentro da esfera de alcance das mãos.

Figura 5 - Ponto de Articulação

Fonte: Baltison (1978. p.49).

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52 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Nesse espaço interno de enunciação, define-se um


número limitado de pontos de articulação. Alguns são mais
objetivos, como a ponta do nariz, e outros são mais vastos,
como a frente do tórax.
Movimento (M): este parâmetro contempla várias
formas de movimentos importantes nas Línguas de Sinais,
quando alterado, reflete no significado dos sinais, o que pode
ocasionar mudança secular, necessário ter objeto e espaço.
_____As mãos da pessoa que realiza o movimento representam
o objeto, enquanto o espaço de enunciação é o espaço que
abrange o corpo do indivíduo que enuncia (BRITO;
LANGEVIN, 1995). O movimento é determinado como um
parâmetro incompreensível por abranger um conjunto de
direções, que vai de ações internas da mão, os movimentos do
pulso e os movimentos direcionais no espaço (KLIMA;
BELLUGI 1979). Quanto ao movimento, há estudos que
orientam que o percurso pode estar nas mãos, pulsos e
antebraço. Os deslocamentos direcionais podem ter um sentido
único, duas direções ou mais.
Figura 6 – Movimento.

Fonte: Quadros; Karnopp, 2004.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 53

Orientação da mão: é um critério determinante no


significado do sinal. Na Libras, foram estipulados seis tipos de
movimentos - para cima, para baixo, para o corpo, para
frente, para a direita ou para a esquerda (QUADROS, 2004).
Figura 7 - Orientação das Mãos

Fonte: Quadros; Karnopp (2004).

Expressões não manuais (ENM): são os movimentos


de cabeça, dos olhos, da face ou do tronco, que expressam as
proposições indicativas interrogativas, relativas, topicalização,
concordância.

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54 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

O acesso a nova cultura é originário do acesso a Língua de


Sinais que possibilitou caminhos e auxiliou no
desenvolvimento dos surdos, a língua e a cultura são
construções que se complementam e acrescenta na
ampliação da cultura.
Geralmente associamos o termo cultura à Língua de
Sinais, mas não podemos esquecer que a cultura não se resume
somente a um conceito linguístico.
A Língua de Sinais propiciou a formação de
grupos sociais que interagem por meio dessa língua,
constituindo uma coletividade surda.
Felipe (2002) cita que as línguas e, consequentemente
as culturas proporcionam novas sensações, por meio de
sistemas que carregam categorias que, em harmonia em seus
contextos, considera acontecimentos, qualidades, e outras
situações que proporciona significado.
Há línguas que fazem subclassificações apartando os
elementos em animados e inanimados, penetrando o gênero,
tamanho, o formato, a consistência, o número, o caso, o
modo, o tempo, o aspecto e o sistema de flexão para
concordância (FELIPE, 2002).
Os classificadores encaixam-se na Língua de Sinais e
nas Línguas Orais. Intitula-se classificador um afixo usado
especificamente nas Línguas Negro-africanas, para exemplifi-
car a classe nominal pertence de um vocábulo.

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Assim como em algumas Línguas Orais e várias Línguas


de Sinais, estão lá os classificadores, inclusive a Libras. Esses
são uma espécie de morfema gramatical e lexical, que tem a
função de referir-se a classe a que pertence e descrever formas,
ações verbais etc. (FERREIRA-BRITO, 1995).
Pizzio et al. cita o linguista Allan (1997), que aponta
quatro tipos de classificadores nas Línguas Orais, que
constituem um conjunto universal.
Confira a seguir!
Obrigatório
1. Línguas de classificador numeral: são línguas em que
um classificador é básico em muitas expressões quantitativas e
em personificações anafóricas.
2. Línguas de classificador concordante: São línguas
em que os classificadores caminham juntos aos nomes e seus
modificadores, predicados e pró-formas.
3. Línguas de classificador predicativo: são dominantes os
verbos classificadores, que diversificam o seu radical conforme
as características das entidades, que comunicam argumentos do
verbo.
4. Línguas de classificador intralocativo: nelas os
classificadores nominais são introduzidos em expressões
locativas, que forçadamente seguem nomes em muitos
contextos.
Referente aos tipos de classificadores, pode-se acrescentar
e subdividir-se dentro de outras.
A categoria que se refere às pessoas e aos animais
caracteriza as relações naturais que se desenvolvem entre o
gênero feminino e masculino e de adulto ou criança. As que
não possuem vida representam objetos, coisas como árvores,
montanhas e outros.
O tipo de classificador que representa formato
exemplifica objetos longos, com formato arredondado que possui
variadas superfícies.

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56 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

A terceira é a densidade e associa-se com material e forma.


A quarta que reúne dois grupos, é a quarta: grandes e
pequenos.
A quinta é a localidade, que representa um lugar de
concentração, um ponto.
A sexta é o arranjo, que descreve um motivo específico.
E a sétima representa característica quantitativa, que
demonstra volume, por exemplo.

REFLITA

Eliminar situações que já passaram e requisitar o presente para a


Cultura Surda se tornou objeto. Um passado mergulhado na
incumbência de se tornarem ouvintes e, por conta disto, aceitar o
domínio da sua história os marcou de tristeza. Diante disto, surgem
novos feitos e novas interpretações no cotidiano. Por isso, é inaceitável
prosseguirmos com as antigas realidades, contadas como antigamente,
no tempo da opressão. Há outros caminhos que, mesmo ainda não
percorridos, precisam ser relembrados, vividos, por contemplarem a
autêntica história natural e cultural dos surdos. Sim, temos nossas
persistências de significação: a busca por uma Educação Bilíngue, de
qualidade, por políticas para a Língua de Sinais no Brasil, pela
conquista do conhecimento inserido nas universidades e muitos
espaços que possibilitam novas histórias e significados, que nos alegra,
vivenciados em nosso cotidiano e que nos reporta a outras
oportunidades.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 57

++ SAIBA MAIS

Não deixe de conferir o filme “O milagre de Anne Sullivan” (The


Miracle Worker, 2000, com direção de Nadia Tass. A escritora
Helen Adams Keller, surda e cega, graças à ajuda e
motivação da professora Anne Sullivan, superou as suas difi-
culdades.

Língua de Sinais e Classificadores


Pizzio et al. (2008) cita que existem várias referências de
classificadores verbais e formas de representação. A opção por
um classificador é fundamentada no combinado lexical
relacionado à concordância gramatical, o que o subdivide em
conjuntos.
Conforme Pizzio et al. (2008), os classificadores que
exercem a ação de descrever são visualmente entendidos
conforme a sua representação de imagem. Por meio deles é
possível entender os elementos essenciais, incorporar ações
usando os classificadores de acordo com a necessidade.
Essa especificidade de classificador abrange subgrupos:
o dimensional, que expõe as dimensões; a bidimensional, que é
o dobro das dimensões que se vê; e o tridimensional, que
demonstra todas essas dimensões que permitem registrar a
sensação de introdução da ênfase visual (PIZZIO et al., 2008).
Os classificadores dentro da Língua de Sinais são
configurações de mãos que sinalizam aquilo que se quer com
os objetos, interação com as pessoas e até mesmo com os
animais. Os classificadores expressam e auxiliam na interação
em todos os ambientes.
Segundo Felipe (2007), sinalizam em concordância com
os marcadores substituindo e estabelecendo o sujeito, o objeto
em questão à ação verbalizada. Os classificadores auxiliam

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58 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

na representação inclusive de expressões que exigem o uso do plural.


Alguns sinais são icônicos e confundem-se com os
classificadores, importante atentar-se para não substituir
pelo termo “classificadores”, que são algumas configurações de
mãos incorporadas junto a tipos de verbos específicos e que são
exigidos, com os adjetivos que tem função de descrever na
Língua de Sinais, por serem gesto-visuais, representam
iconicamente qualidades de objetos (FELIPE, 2007).

++ SAIBA MAIS

O texto Sistema de flexão verbal na Libras: os classificadores


considerados marcadores de flexão de gênero, Tanya A. Felipe
trata de expor os classificadores de forma clara.

Intensificadores no discurso da Libras


Os intensificadores são representados tanto pelos
adjetivos quanto pelos verbos e intensificadores, que
conhecemos como “rápido e muito”. No caso dos verbos,
incorporam advérbios transparecendo as alterações de
movimentos. Os intensificadores estão presentes nas
expressões não manuais, que são as faciais e corporais
(FELIPE, 2007).
Para intensificar uma ação repetimos o sinal que representa
a expressão corporal que é geralmente um movimento lento, até
por conta da própria interpretação.
Para obter sucesso na realização do sinal que demonstra a
intensificação rápida, a ação já deve ser incorporada por um
movimento acelerado e repetido várias vezes seguidamente.
Um bom exemplo é o sinal de feio:

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 59

Figura 8 - Sinal de feio

Fonte: Quadros; Karnopp (2004).

Perceba que no sinal de feio há uma expressão facial que


colabora com a interpretação, para dizer “muito feio” é só repetir
o sinal algumas vezes seguidas para demonstrar intensidade.
Exemplo de Feliz:
Figura 8 - Sinal de feliz

Fonte: Quadros; Karnopp (2004).

Perceba que no sinal de feliz há uma expressão facial que


colabora com a interpretação, para dizer “muito feliz” é só repetir
o sinal algumas vezes seguidas para demonstrar intensidade.
É comum usar esses intensificadores em exposições
na Língua de Sinais. As marcas não manuais, que são as
expressões faciais e corporais bastante utilizadas pelos

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60 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

surdos para argumentar ou explicitar na comunicação com sentido


intensificado.
As marcas morfológicas auxiliam no cumprimento desse
papel. Vamos entender!
a) Morfema adjetivo: é o deslocar da cabeça e a direção do
olhar, ao mesmo tempo do sinal manual, o qual expressa um
substantivo qualitativo.
b) Morfemas dêiticos: é a indicação do olhar e da cabeça,
ao mesmo tempo de um sinal relativo ao pronome, ele sinaliza
uma referência de espaço singular para os referentes.
c) Intensificador: representa uma expressão facial
direcionada, e alguns deslocamentos auxiliam na caracterização,
como o levantar das sobrancelhas, as bochechas cheias, os olhos
bem abertos como se estivessem arregalados, tudo concomitante
com o adjetivo, substantivo ou classificador.
d) Caso modal: é uma expressão facial específica, marcada
pela boca, simultânea com a marcação de um verbo, que caracteriza
um caso modal.
e) Negação, reprovação: é a movimentação não manual
que marca uma expressão particular, indicada pela movimentação
contínua da cabeça para os lados e testa enrugada, juntamente
com um determinado sinal; a cabeça sutilmente inclinada.
f) Morfema para grau de adjetivo: é a proporção pode ser
marcada no olhar com o movimento de dilatar ou diminuir as
pálpebras em ação com o erguer das sobrancelhas e ao contrair as
bochechas. Tudo isso marca os graus aumentativos ou grau
diminutivo e o superlativo.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 61

Alfabeto manual e números (cardinais e


quantidades); condições climáticas, ano
sideral e calendário
Infelizmente, ainda encontramos pessoas que associam a
Língua de Sinais ao alfabeto manual, e isto é um grande
equívoco, que acontece por falta de informação.
Utiliza-se o alfabeto manual em três situações:
nomes de pessoas e/ou lugares
palavras que desconhecemos os sinais específicos.
configurar um determinado sinal.
Ex.:sinal DESCULPAR configuração da mão em y.
soletração rítmica, trata-se de um empréstimo da
Língua Portuguesa, sendo expressa com um ritmo próprio e
em situações específicas.
Trata-se de um empréstimo da Língua Portuguesa, sendo
expressa com um ritmo próprio e em situações específicas
A-C-H-O, M-Ã-E, N-Ã-O, V-A-I.
O alfabeto manual pode ser feito com qualquer uma das
mãos, só o que não é possível acontecer é trocar as mãos durante
a sinalização.
3- Os primeiros movimentos são doloridos por conta da
falta de prática.
4- Na datilologia usa-se o espaço ao término da 1ª palavra
(lembrando o espaço da antiga máquina de escrever manual).

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A-N-A (espaço) M-A-R-I-A

++ SAIBA MAIS

O alfabeto manual não é universal, difere de país para país.


Existem apenas alguns que são semelhantes.

Números
Os numerais ordinais do PRIMEIRO até o NONO têm a
mesma forma dos cardinais, mas aqueles possuem movimentos
enquanto estes não possuem. Os ordinais do PRIMEIRO até o
QUARTO têm movimentos para cima e para baixo e os
ordinais, do QUINTO até o NONO têm movimentos para os
lados. A partir do numeral DEZ, não há mais diferença entre os
cardinais e ordinais.
Figura 8 - Números 0 a 9

Fonte: Quadros; Karnopp, 2004.

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Valores
Representam regras para valores.
Os sinais em valores de R$ 1,00 a 4,00 por exemplo, são
realizados de forma a atender a uma rotação, avançando os
números para quantidade. Observe o exemplo!
Figura 9 - Valores de 1 a 4

Fonte: Quadros; Karnopp (2004).

Não é necessário usar o sinal de real, pois o mesmo já


está subentendido no contexto do movimento de rotação da
mão.
Os sinais para valores a partir de 6,00 deverão ser feitos
com sinais de números cardinais. Veja na figura abaixo!
Figura 10 - Valores de 5 a 9

Fonte: Quadros; Karnopp (2004).

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Calendário - Dias da Semana


Figura 11 - Sinal de semana

Figura 12 - Sinais de dias específicos

Figura 13 - Sinais de domingo a sábado

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Meses do ano
Figura 14 - Sinal de cada mês do ano

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Condições Climáticas
Figura 15 - Sinal de todas as estações do ano

Advérbios de tempo e flexões de frases:


negativa, interrogativa e exclamativa
Estrutura Sintática
A estrutura gramatical da Libras não é a mesma da
Língua Portuguesa, porque ela tem gramática diferenciada,
independente da Língua Oral.
A ordem dos sinais na movimentação de um enunciado
segue regras próprias, que obedecem a toda uma percepção
visual- espacial da realidade.
Perceba como as estruturas são independentes!

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 67

EXEMPLO

Libras: EU IR PARQUE
(Verbo direcional)
Português: " Eu irei para o parque. "
“para” - não se usa em Libras porque está incorporado ao verbo
Libras: FLOR EU-DAR MULHER^BENÇÃO
(Verbo direcional)
Português: "Eu dei a flor para a vovó."
Libras: PORQUE ISTO (expressão facial de interrogação)
Português: "Para que serve isto?”
Há alguns casos de omissão de verbos na Libras:
Libras: “CINEMA O-M-E-U-H-E-R-O-I MUITO-BO@“
Português: "O filme Meu herói é maravilhoso!” Exclamação
Libras: PORQUE PESSOA FELIZ-PULAR
Português: “... porque as pessoas estão felizes demais!”
Exclamação

OBSERVAÇÃO
+

Exclamação
Na estruturação da Libras observa-se que a mesma possui regras
próprias; não são usados artigos, preposições, conjunções,
porque esses conectivos estão incorporados ao sinal.

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68 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Sinais de verbos e suas negativas


Tratando da sintaxe, as sinalizações não-manuais
indicam tipos de construções específicas, como acontece nas
sentenças interrogativas, afirmativas, condicionais, negativas.
No caso, vamos focar na negativa.
Sentença negativa traz um elemento de negação
explícito, como o “não”, o “nada”, a expressão “nunca”.
Segundo Arrotéia (2005), existem duas formas de
expressar a negação não-manual em Libras.
Realizar o deslocamento da cabeça de um lado para o
outro indicando a negação, lembrando que ele não é obrigatório,
apenas está relacionado a questões discursivas.
1º A utilização de expressões faciais de negação
onde a característica facial em que há o abaixamento
dos cantos da boca ou arredondamento dos lábios,
sempre agregada ao abaixamento das sobrancelhas e
ao discreto abaixamento da cabeça.
É obrigatório o movimento de negação da cabeça por estar
relacionada a questões sintáticas.
Figura 16 - Sinal de expressão negativa

Fonte: Freepik.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 69

03
UNIDADE

COLOQUIAL

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70 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

INTRODUÇÃO
A disciplina de Libras foi idealizada para que estudantes
tenham contato relacionado à Língua de Sinais, à Cultura Surda,
aos preconceitos linguísticos existentes no Brasil e às abordagens
de ensino para a Educação de Surdos.
A Libras é uma língua natural, reconhecida como um meio
de comunicação legal pela Lei 10.436 de 2002. É a partir dessa
lei que os profissionais da área de pedagogia, fonoaudiologia e
licenciaturas têm a garantia do contato com a disciplina de
Libras para a sua formação, o que é um avanço relevante tanto
para esses profissionais como para a comunidade surda. O que
você receberá aqui são informações que com certeza irão lhe
auxiliar na tomada de decisões caso no seu percurso profissional,
na sua rotina diária você encontre pessoas surdas ou outros
profissionais que trabalhe com pessoas surdas.
Você já sabe qual é a Língua usada nas comunidades
surdas? Sim, então agora estudaremos juntos a parte da
linguística que descreve a língua no âmbito da construção
gramatical da Libras.
Este material dará informações referentes à fonética e à
fonologia, que é onde começa a estrutura da gramática,
entenderemos os parâmetros da Libras e as suas funções.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 71

OBJETIVOS
Olá! Seja bem-vindo(a) à Unidade 3. Nosso objetivo é
auxiliar você no desenvolvimento de algumas competências
profissionais até o término desta etapa de estudos.:

1 Entender os parâmetros espaço, direção e perspectiva.

2 Aprender os sinais que representam o tempo e os


números ordinais.

3 Identificar pronomes e expressões que fazem parte


do cotidiano.

4 Compreender verbos específicos e as suas variações.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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72 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Espaço, direção e perspectiva


A Língua Brasileira de Sinais, como estudado
anteriormente, possui uma estrutura gramatical própria, como
qualquer outra língua. Não são apenas gestos ou mímicas,
todas as marcações e sinalizações realizadas constituem um
sentido de expressão. Existem os níveis linguísticos,
morfológicos que é a parte da gramática que analisa os
vocábulos de forma independente, a análise do sistema sonoro
de cada idioma, nível sintático que estuda a construção da
oração, e semântico que nos leva ao entendimento do
significado das palavras.
O que vai refletir a variação da Libras em comparação
com as outras que também conhecemos é sua modalidade
visual-espacial que é representada por sinais diferentes da
Língua Oral auditiva que utiliza a palavra. Os gestos e
expressões faciais e corporais estabelecem uma relação de
compreensão entre os participantes do diálogo. A Língua de
Sinais não é única em todos os lugares do mundo, ela sofre
variações regionais.
[..]considera-se pessoa surda aquela que, por ter
perda auditiva, compreende e interage com o mundo
por meio de experiências visuais, manifestando
sua cultura principalmente pelo uso da Língua
Brasileira de Sinais – Libras. Parágrafo único.
Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral,
parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou
mais, aferida por audiograma nas freqüências de
500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz (Art. 2º do
Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005)
A Língua de Sinais é baseada e desenvolvida no âmbito
de maior percepção do surdo, que é a dimensão espacial, com
estrutura semântica, sintática e gramatical, mesmo sendo
basicamente diferente das línguas escritas e expressadas
verbalmente. Quando tratamos de uma língua que não possui
sonoridade ficamos mais atentos a perceber de forma singular
os processos de sentido. O uso da Libras no cotidiano do surdo
minimiza as dificuldades de aprendizagem que ocorrem
continuamente em ambientes onde a Língua Oral é imposta.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 73

SAIBA MAIS

Estudiosos da ciência, que se debruçam sobre os estudos dos


conflitos linguísticos e que são cientes da essencialidade da
Língua de Sinais, apontam as divergências vivenciadas pelos
surdos nas situações de inclusão escolar, dadas as razões
concernentes à forma peculiar de comunicação e de
compreensão do mundo.

Parâmetros e componentes
Quando mencionamos a respeito dos articuladores da
Língua de Sinais, afirmativamente pensamos no movimento das
mãos, juntamente com outras partes do corpo que compõem o
movimento, como a cabeça, face e tronco.
Vamos relembrar os parâmetros que formam os sinais em
Libras.
São cinco parâmetros.
 A configuração da mão
A representação seguida pela mão, resulta na posição dos
dedos, cada idioma tem seu próprio repertório de
configurações, algumas são mais complexas, que exige
treinamento como o alongamento dos dedos, e outras são mais
simples por não exigir movimento e articulação.
Ponto ou local de articulação
O ponto ou local de articulação orienta onde é possível
o toque no corpo ou no espaço. Ele é demarcado pela extensão
dos braços e acontece acima da cabeça ou também para frente
do corpo, geralmente o tamanho do sinal pode ser comparado
à emoção, intensidade da voz, ritmo etc. Tudo isso para que
visualmente fique mais perceptível a mensagem.

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74 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Orientação/direcionalidade
Existem sinais que possuem a mesma configuração. Eles são
comuns no ponto de articulação e movimento, e se diferencia
apenas na orientação da mão, o que já altera por completo o sinal e
o seu movimento.
O movimento
É comum que não haja sinais estáticos em um local, porém
não livres de movimento. O parâmetro de movimento é a maneira
como a mão se desloca, que pode ser de forma linear, arqueada,
circular, simultânea ou alternada com ambas as mãos, que podem
ir para frente, em direção a direita, esquerda etc.
Expressão facial e/ou corporal:
Também chamados de componentes não manuais: as
fisionomias faciais e corporais, vocalizações parciais de palavras e
movimentos dos olhos, cabeça e corpo etc. têm um papel
importante na produção dos sinais, porque complementam o
sentido do que está sendo expressado.
É por meio desse parâmetro que inserimos todas as marcas
necessárias para articular o sinal, pensar no que é correto em
termos de parâmetro para expressar a palavra na qual nos
referimos na língua de sons.
Componente oral: são os movimentos realizados com a boca
e bochechas que complementam a descrição fonológica do sinal.
Posição de sobrancelha e testa: A expressão das sobrancelhas
pode ser enrugada, levantada ou manter a posição neutra.
Outros aspectos também importantes da expressão facial e/
ou corporal são: a direção do olhar, a posição do corpo, posição e/
ou movimento da cabeça, a expressão facial global.
Todos esses parâmetros desempenham uma função diferente,
cada um tem o seu lugar, possibilitando a origem de um sinal
variado.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 75

A observação de todos os movimentos e


desenvolvimento dos sinais contribui muito para a
aprendizagem e entender os parâmetros, que auxiliam na
prática e assimilação da língua.

Espaço na Libras
Figura 1 - Parâmetros na Libras

Fonte: Editorial Telesapiens.

As relações gramaticais são verificadas quando


observamos o manuseio dos sinais no espaço. As
proposições acontecem no interior de um espaço
delimitado na frente do corpo, o qual contempla uma área
que vai da extremidade da cabeça até os quadris.
A finalização da sentença na Libras é orientada por um
intervalo.
A ilustração abaixo, demonstra o espaço de efetivação
dos sinais.
Figura 2 – Espaço na Libras

Fonte: Editorial Telesapiens.

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76 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

O local em que se identifica o ponto de articulação é o


espaço no corpo em que o sinal é realizado. O espaço de
enunciação é o campo que contém todos os pontos inseridos no
quadrante de extensão das mãos. Como qualquer Língua de
Sinais, a organização visual-espacial é uma característica
fundamental e está evidente em todas as situações de análise.
Referente ao nível fonológico, um mesmo sinal pode ser
realizado em diferentes locais, inclusive no espaço neutro, que
é a dimensão localizada na frente do comunicador.
A variação do ponto requerido na área para a execução
de um sinal pode gerar sinais com referentes diferentes. Veja
alguns exemplos.

Figura 3 - Espaço na Libras

Fonte: Editorial Telesapiens.

Na fi gura 3 é possível notar que o desenvolvimento de


um sinal em um específico ponto na área origina alterações de

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 77

sentido relacionadas a questões semânticas. Para especificar


um referente, é praticável produzir um sinal em uma
estabelecida localização; se o mesmo sinal for imitado em
distintos pontos do espaço, estaremos no domínio morfológico,
por conta dos movimentos que apontam uma marcação
múltipla e flexão verbal. No estado sintático, a escolha do
espaço é examinada para definir combinações gramaticais entre
os referentes.
Figura 4 - Direção na Libras

Fonte: Editorial Telesapiens.

Os sinais transmitem uma direção, quando invertidos pode


acontecer de representar um signifi cado contrário.
As mãos se deslocam em movimentos internos de mão,
pulso e também direcionais no espaço.

Figura 5 - Mãos na altura do peito e cabeça

Fonte: Editorial Telesapiens.

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78 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

SAIBA MAIS

A história presente no filme O milagre de Anne Sullivan


(The Miracle Worker, 2000), sob direção de Nadia Tass, expõe
como a escritora Helen Adams Keller, surda e cega, ultrapassou
as suas limitações. Os ensinamentos da professora Anne Sullivan,
deficiente visual a auxiliou, ainda na infância, Helen Keller
tornou-se filósofa e jornalista de sucesso.

Perspectiva na Educação dos Surdos


Tratando da perspectiva no âmbito educacional que inclui
as pessoas com surdez, a educação bilíngue é aquela que motiva
o aluno a se expressar e se sentir participante do ambiente
escolar auxiliando-o no exercício cognitivo e treinando as suas
habilidades, que proporcionarão interação no meio do grupo
social no qual pertence.
Infelizmente, a insistência no embate entre a relação no
uso individual da Libras e/ou da Língua Portuguesa mantém os
alunos surdos longe das escolas e, por conseguinte, afasta
intenções que parte de iniciativas escolares de reconhecimento
inclusivo.
O Decreto de 5 de dezembro de 2005, sob nº 5.626,
garante que as pessoas com surdez tenham direito a uma
educação formadora, em que a Língua de Sinais e a Língua
Portuguesa sejam contempladas no ensino de forma
simultânea, porque isso auxilia no processo de
desenvolvimento escolar dos alunos.
Um ambiente que favoreça a aprendizagem a todos os
alunos, que estimule a capacidade de idealização de novos
pensamentos, conceitos e aprendizagem em sala de aula parte
de uma busca de recursos variados, uma metodologia que
pratique a vivência onde juntos, alunos e professores
desenvolvam um raciocínio e cheguem às respostas de seus
questionamentos. Essa postura faz com que o aluno desenvolva
as suas habilidades.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 79

As aulas devem ser elaboradas por professores das áreas


que compõem o quadro de disciplinas da instituição para que
construam conhecimentos diferentes.
A confiança no professor é um dos fatores que garantirá o
êxito na aprendizagem, dependendo da forma que o
profissional o acolhe, o aluno se sentirá respeitado e acatará as
informações e aprendizado transmitido, gerando assim uma
relação de troca.
Figura 6 - Crianças aprendendo linguagem de sinais

Fonte: http://bit.ly/335hwIe.

A naturalidade das Línguas de Sinais e a sua


complexidade por ser identificada como um canal visual-
espacial, utilizando da articulação manual, fisionomias faciais e
expressões corporais, compõem a sua estrutura. As línguas são
independentes umas das outras e a Língua de Sinais possui uma
estrutura gramatical própria, na qual é possível notar aspectos
linguísticos presentes na fonologia, na morfologia,
características sintáticas e semânticas.
Assim, é perceptível, tal como em outras línguas, não
apenas um diálogo fluente e discussões que comtemplam temas
relacionados a contextos específicos e variados, como também
a sua não universalidade, visto que possui diversas variações
regionais. Aqui no Brasil, a Libras é reconhecida pelo Decreto
de Lei nº 10.436/2002 como legítimo meio de comunicação e
expressão.

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80 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Ultimamente, diversas manifestações pedagógicas


promoveram o uso da Libras nas escolas, propiciando o seu
ensino, já que não é uma língua usual na maioria dos ambientes
sociais. Por isso, a construção de ambientes educacionais é um
desafio pertencente às políticas públicas de inclusão nas escolas
no Brasil.

SAIBA MAIS

Aniquilar o passado e querer viver o presente é um trunfo para


a cultura surda. Uma vivência na obrigação de aceitar que
outros fossem protagonistas de sua história, a opressão que
viveram marcou-os de forma triste. Agora, surgem novas
conquistas e significações no dia a dia. Se persistirmos com a
realidade da época colonial, corremos o risco de registrar uma
história de renúncia, de dominação, de lamentos. Há outros
caminhos a serem percorridos que estamos a descobrir e que
serão vivenciados e narrados por produzirem uma autentica
história cultural. São lutas de significação que persistem na
busca por uma educação bilíngue, por políticas que
contemplem e amparem a Libras, por posições igualitárias para
profissionais da área. E muitos outros espaços que propiciem
novos sentidos.

Tempo e numerais ordinais


As expressões que envolvem os numerais ordinais são
expostas do primeiro até o nono e configuram-se como os
cardinais. O que os diferencia são apenas alguns movimentos.
Os ordinais que representam do primeiro até o quarto realizam
movimentos para cima e para baixo, e os ordinais do quinto até
o nono deslocam-se para os lados. No numeral “dez”, não
existe alteração intervalar nos ordinais e cardinais.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 81

Figura 7 - Números ordinais

Fonte: Editorial Telesapiens.

Tempo na Libras
A Libras não contempla variações verbais como na Língua
Portuguesa para representar o verbo no tempo passado, futuro ou
presente. A ação é quem vai determinar, por exemplo, a inserção
dos advérbios hoje, amanhã, ontem, semana passada.
Até aparecer no diálogo um sinal que represente outro tempo
além do passado, tudo é interpretado como acontecimento que já
ocorreu, ou seja, tempo passado, assim, não acontece de a
comunicação possuir um sentido ambíguo.

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82 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Os sinais que representam uma especificação temporal,


geralmente, acompanham uma marcação de passado, futuro
ou presente:
Figura 8 - Sinal de passado

Fonte: Editorial Telesapiens.

Poucos desses sinais introduzem essa marca de tempo


não demandando uma sinalização separada como ocorre nos
sinais de ontem e anteontem.
Figura 9 - Ontem e Anteontem

Fonte: Editorial Telesapiens.

Outros sinais, como ano, exigem o acompanhamento


de uma sinalização que represente o futuro ou presente,
mas é importante observar que, quando mencionamos o
passado, ele sofre uma mudança na direção do movimento
“para frente” e “para trás”, o que já significa “ano
passado”.

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Figura 10 - Sinal de ano passado

Fonte: Editorial Telesapiens.

Figura 11 - Sinal de próximo ano

Fonte: Editorial Telesapiens.

Para a marcação de tempo, são usados locais no espaço


para a articulação dos movimentos. Como pode se observar na
figura 10, que representa o sinal de passado, a orientação de
movimento é para trás. Já o futuro, o movimento é para frente.
E quando se refere ao presente, a movimentação é direcionada
para a frente do corpo do sinalizador.

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84 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

SAIBA MAIS

Uma base significativamente diferente do tempo foi examinada na


Língua de Sinais Urubu-Kaapor, Língua de Sinais da cultura
indígena Urubu morador da Floresta Amazônica. Para expressar o
tempo verbal no futuro utilizam-se de configurações para cima e o
presente no tronco.

Pronomes e expressões interrogativas: quando-


passado, quando-futuro, D-I-A, que hora, quanta-
hora
A Libras abrange um sistema pronominal que representa as
pessoas que fazem parte do discurso. O interessante é que não
existe sinalização de gênero. A facilidade é que, quando o
pronome está marcado no singular, o sinal que se usa é o mesmo
para todos. O que vai orientar a diferença de gênero é a orientação
da mão:

Singular, Dual (mão no formato do numeral 2).

 Trial (Mão no formato do numeral 3).

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 85

 Quadrial (mão no formato do numeral 4).

Plural (fazer o sinal de grupo ou com a mão em


configuração e “D”, fazendo um semicírculo à frente do
sinalizador, apontado para as 2°s ou 3°s pessoas do discurso).

Pronomes_pessoais

Representa a 1ª pessoa do singular a marcação que


aponta para o peito do próprio emissor, que é a pessoa que se
expressa:
Para representar a 2ª pessoa do singular, a marcação
aponta para o receptor da mensagem, que é a pessoa na qual se
interage no momento:

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86 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Para referir-se à 3ª pessoa do singular, há o apontamento


para a pessoa que não faz parte do diálogo, mas se encontra em
algum ambiente próximo.
Expressões Interrogativas
QUE e QUEM são pronomes usados quando se inicia
uma frase.
ONDE e QUEM representa um significado de QUEM-É
ou DE QUEM É e são inseridos no final da frase.

Que Quem Onde


As expressões interrogativas são acompanhadas de uma
expressão facial que, na verdade, é o que indica que está se
fazendo uma pergunta:

Quando e D-I-A
Vamos aos exemplos para facilitar o entendimento:
 Quando passado
Irmão mudar de casa quando-passado?
 Quando futuro

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 87

Ele passear Fortaleza quando-futuro?


D-I-A
Eu aprender Libras escola sua. Você poder D-I-A?

Que-horas e quantas-horas
Usa-se dois sinais para verificar as horas.
Podemos usar conforme as ilustrações abaixo:

 Hora nessa imagem representa um tempo cronológico


e para completar o entendimento observa-se a expressão
interrogativa no rosto.

 Que hora? O arqueado da sobrancelha induz a


pergunta interrogativa, por isso a expressão é essencial, porque
ela define muitas vezes o sentido a ser dado ao diálogo.
 Horas do dia – indicam-se os numerais que
representam quantidade. Após as 12 horas, a contagem
inicia-se novamente: HORA 1, HORA 2, inserindo o sinal

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88 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

TARDE. Geralmente, o sinalizador já entende que a marcação


se refere ao período da manhã, tarde, noite ou madrugada.
HORA – com sentido de tempo de duração, são feitos
formato de círculos em volta da face.
QUANTAS-HORAS – a expressão facial determina a
característica interrogativa. Essa pergunta quer dizer quanto
tempo se gastará para a execução de uma tarefa.
Filme começar que-horas lá?
Você dormir que horas?
Assistir filme quantas-horas noite?
Caminhar escola até parque quantas-horas?

Sinais do verbo PROCURAR e suas variações


Há variação entre o verbo com e sem flexão:
Figura 12 - Sinal do verbo procurar

Fonte: Editorial Telesapiens.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 91

04
UNIDADE

APLICADAS

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92 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

INTRODUÇÃO
A disciplina de Libras foi idealizada para que estudantes
tenham contato relacionado à Língua de Sinais, à Cultura Surda,
aos preconceitos linguísticos existentes no Brasil e às abordagens
de ensino para a Educação de Surdos.
A Libras é uma língua natural reconhecida como um meio
de comunicação legal reconhecida pela Lei 10.436 de 2002. É a
partir dessa lei que os profissionais da área de pedagogia,
fonoaudiologia e licenciaturas têm a garantia do contato com a
disciplina de Libras para a sua formação, o que é um avanço
relevante tanto para esses profissionais como para a comunidade
surda.
O que você receberá aqui são informações que com certeza
irão lhe auxiliar na tomada de decisões caso no seu percurso
profissional, na sua rotina diária você encontre pessoas surdas ou
outros profissionais que trabalhe com pessoas surdas.
Você já sabe qual é a Língua usada nas comunidades
surdas? Sim, então agora estudaremos juntos a parte da
linguística que descreve a língua no âmbito da construção
gramatical da Libras.
Este material dará informações referentes à fonética e à
fonologia, que é onde começa a estrutura da gramática,
entenderemos os parâmetros da Libras e as suas funções.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 93

OBJETIVOS
Olá! Seja bem-vindo(a) à Unidade 4. Nosso objetivo é
auxiliar você no desenvolvimento de algumas competências
profissionais até o término desta etapa de estudos.

1 Conhecer os sinais de diversas profissões e associar


o seu significado.

2 Aprender os principais sinais dos meios de


comunicação mais usados.

3 Conhecer os parâmetros dos sistemas de transcrição


da Libras.

4 Identificar a arte como uma ponte de interação entre


surdos e ouvintes.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

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Sinais de diversas profissões


O momento da escolha da profissão é uma fase de dilema
na vida de muitos jovens, pois inúmeros fatores influenciam
nessa decisão que é tão importante e define o futuro de muitos.
A escolha da profissão afeta mais aqueles que já estão
prestes a concluir o ensino médio ou que têm a necessidade de
interromper os estudos por conta de alguma circunstância que
possa interferir na vida financeira familiar.
A imaturidade por conta da idade e a falta de experiência
de vida, faz com que a decisão se torne ainda mais difícil e, por
isso, algumas pessoas sentem-se confusas com influência
externa por parte da família, da escola, dos amigos.

Influenciadores da profissão
Família: os pais têm o poder de auxiliar os filhos na
decisão da profissão, e como é uma fase delicada, deve haver
bastante diálogo para que os filhos não se sintam
incompreendidos e desencorajados.
Vislumbre da profissão: algumas profissões são vistas
como perfeitas por conta do reconhecimento do mercado.
Amigos influenciadores: geralmente na fase da
escolha da profissão a amizade entre um grupo está intensa o
que causa influência de uma escolha ou outra, porque a
intenção a princípio é estarem sempre juntos.
Profissão tendência: anualmente, uma nova profissão
surge, mas é preciso agir com cautela e jamais por empolgação
do momento, porque o que é tendência hoje, amanhã não será
mais, daí o arrependimento futuro.
Remuneração: sempre pensar no que vale a pena, se a
satisfação do dia a dia e trabalhar com algo que dá prazer ou os
ganhos de remuneração. Conciliar a satisfação profissional e o
sucesso financeiro é o ideal.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 95

Conclusões imaturas: apreciar uma disciplina não


indica vocação profissional.
Preconceito: existe e atinge a maioria das mulheres
que decidem se profissionalizar em áreas predominantemente
masculinas. Em contrapartida, há homens que não optam por
áreas relacionadas ao âmbito feminino por receio do
preconceito.

Surdos x profissões
Os surdos são cidadãos que almejam por uma
qualificação e, assim como os ouvintes, alcançar uma posição
profissional bem-sucedida. É importante sabermos que dar os
primeiros passos para inserção no mercado é uma situação que
também acontece com eles.
Existem alguns trabalhos mais acessíveis aos surdos que
vêm ganhando espaço. São atribuições como serviços de
digitação, tarefas administrativas, docência etc., e não apenas
serviço braçal como geralmente associamos. Isso, porque há
áreas que não exigem titulação e formação específicas, que
com trabalho braçal é possível executar, pois se trata de uma
modalidade de profissões também prevista por lei, como a Lei
nº 7.853 de 1989, relacionada ao Decreto 3.298 de Dezembro
de 1999, que sustém a inserção de pessoas com “deficiência”
no mercado de trabalho.
As instituições que possuem um quadro com mais de 100
funcionários, a Lei nº 8.213/91 preconiza que estas
organizações se obrigam a ocupar de 2% a 5% dos seus cargos
com pessoas com deficiência.
Empresas com até 200 funcionários, a ocupação é de 2%;
de 201 até 500 empregados, 3%; de 501 a 1.000, 4%, de 1001
em diante, 5%.

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96 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

A área relacionada à informática oferece formações que


auxiliam na profissionalização do surdo. Por exemplo, o curso
de informática ministrado pelo Ministério das Comunicações
em Brasília, já formou 22 jovens ouvintes e 8 surdos.
A docência é um segmento bem visto pelos surdos e pelo
qual eles, também, adquirem visibilidade profissional. A
quantidade significativa de docentes que ministram aulas no
nível de ensino fundamental, médio e universitário contribui
para a função de instrutor da Federação Nacional de Educação
e Integração de Surdos (FENEIS) ou das Secretarias de
Educação dos Estados e Municípios, seja como contratado ou
por nomeação.
Nestas organizações, executam a função de docentes dos
cursos de Libras, atividades de desenvolvimento, que tem por
objetivo a obtenção da língua pelas crianças surdas e atividades
que iniciam na Pré-Escola e vai até o Ensino Superior, que
proporciona o aprendizado por parte de todos os alunos que
desejam aprender, surdos ou ouvintes.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 97

Profissão de Intérprete de Libras


Figura 1 - Aula de Libras na UnB

Fonte: Flickr.

Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE), o Brasil conta com 10 milhões
de surdos. A elaboração de leis, que garantam a
integração de fato e o acesso a direitos, tem
proporcionado a inserção de surdos além de
ambientes universitários, também a eventos sociais.
Por essa razão, a necessidade do profissional de
Libras, denominado profissionalmente como intérprete
de Libras vem ganhando, cada vez mais, visibilidade
acentuada e alta na procura por esses profissionais.
O curso de formação em Letras com habilitação
em Libras oferecido nas titulações de licenciatura e
bacharelado já é ministrado em algumas universidades
do Brasil e tem como objetivo capacitar profissionais
no domínio da língua, com uma composição
curricular que inclui disciplinas básicas. Assim, a
principal formação por parte dos intérpretes acontece
em escolas e universidades, porém a área é crescente
e promissora.
Leis têm garantido a integração dos deficientes. É
em decorrência disso que muitas empresas de grande

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98 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

parte das vagas para pessoas com deficiência. Além disso, nas
campanhas eleitorais é obrigatório nas transmissões, a
tradução por meio do profissional tradutor intérprete de
Libras.

Sinais de Diversas Profissões


O sinal de “jornalismo” – para aquele profissional que
exerce função na área de comunicação, desenvolve entrevistas,
traz fatos, elabora matérias, artigos para divulgar em jornais,
revistas e outros veículos de comunicação – é conforme
aparece na figura abaixo.
Figura 2 - Sinal de jornalista

Fonte: Editorial Telesapiens.

Figura 3 - Sinal de juiz

Fonte: Editorial Telesapiens.

Veja também o sinal da profissão de professor que é aquele que


instrui, ensina disciplinas, auxilia os estudantes na aquisição de
conhecimentos.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 99

Figura 4 - Sinal de professor

Fonte: Editorial Telesapiens.

Na sequência, veja o sinal de instrutor, que é designado


para aquele que usa seus conhecimentos em prol da educação,
exercendo a função de orientar, instruir estudantes, em
ambientes escolares, diversos cursos e instituições.
Figura 5 - Sinal de instrutor

Fonte: Editorial Telesapiens.

Sinal de diretor para o que comanda; pessoa que exerce


uma das funções de mais responsabilidade na administração de
instituições, organizações hospitalares e outras.
Figura 6 - Sinal de diretor

Fonte: Editorial Telesapiens.

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100 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Figura 7 - Sinais de profissões em Libras

Fonte: Editorial Telesapiens.

Sinais de diferentes meios de comunicação


Figura 8 - Sinais de meios de comunicação

Fonte: Editorial Telesapiens.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 101

Figura 9 - Sinais de meios de comunicação

Fonte: Editorial Telesapiens.

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102 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Figura 10 - Sinais de meios de comunicação

Fonte: Editorial Telesapiens.

Sistema_detransição
A transcrição da Libras para a Língua Portuguesa conta
com especificidades, que viabilizam o entendimento no
contato com a língua.
Diferente da escrita de sinais, nas palavras da Língua
Portuguesa, os itens lexicais são representados em letras
maiúsculas.
Vamos aprender com exemplos!
Se um sinal se relaciona a duas palavras compostas na
Língua Portuguesa, deve-se fazer a divisão com hífen. Ex.:
GUARDA-CHUVA.

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LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais 103

Se dois ou mais sinais fazem referência a uma única palavra


na Língua Portuguesa, deve-se usar o sinal de igualdade, para dar
o entendimento de que a junção das duas palavras deve dar o
sentido de apenas uma e o acento circunflexo, que une ambas,
cumpre essa função. Ex.: CAVALO^LISTRA= ZEBRA.
Na cabeça do surdo ele vai associar que a zebra é um
cavalo com listras.
Nas condições em que existe transcrição de palavras no
modelo do alfabeto manual, a representação deve ocorrer
separadamente por hífen.
Ex.:
C-o-t-o-n-e-t-e
Se ocorrer um suprimento da Língua Portuguesa para a
Língua Brasileira de Sinais a palavra deve ser destacada em itálico.
Ex.:
NÃO
A Libras não apresenta termos que representam gênero e
número. Neste caso, usa-se o @ (arroba) no lugar do termo.
Ex.:
EL@ - ela ou ele
ME@ - meu ou minha
O recurso de transcrição da Libras é compreendido quando
dispensamos atenção, porque assim é possível eliminar equívocos
por conta dos sinônimos presentes na Língua Portuguesa.

Libras e a escrita de sinais


No Brasil, a Língua Brasileira de Sinais – Libras é
reconhecida legalmente como meio de comunicação e
expressão entre os cidadãos por meio da Lei nº 10.436, de
24 de abril de 2002.

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Reconhecemos a Língua Brasileira de Sinais como um meio


de interação, comunicação e expressão tanto corporal quanto
facial pelo qual o recurso linguístico de origem visual-motora,
com uma organização gramatical peculiar, participa de um
sistema linguístico, que transfere conceitos e fatos originários
de culturas pertencentes a pessoas surdas.
Foi regulamentado em 2005, o Decreto n° 5.626, que abarca
a Lei n° 10.436/02, a qual descreve como “pessoa surda aquela
que, por falta de capacidade auditiva, interage e se comunica
com a sociedade por meio de experimentações visuais,
expondo sua cultura e costumes essencialmente pelo uso da
Libras”.
A Libras é a língua materna do surdo, é a primeira língua
usada por ele. Se para nós, ouvintes, a língua materna é a
Língua Portuguesa, para o surdo essa língua é a Libras. Desse
modo, a relevância da Libras se dá pelo fato de ser possível a
comunicação com as pessoas em circunstâncias parecidas.
Analisando a escrita da Língua de Sinais, uma criança surda
não tem habilidade para desenvolver as características da
escrita da Língua Portuguesa preponderante à qual está
envolvendo formas da oralidade com a da escrita. A Língua
Portuguesa é a segunda língua de uso para o surdo, e ela é
importante para que o surdo se relacione e conheça a cultura
dos ouvintes, essa é uma das circunstâncias que os leva ao
bilinguismo.
Dizeu e Caporali referenciam os novos aspectos ligados ao
tema ao afirmar que “a discussão sobre surdez, educação e
língua de sinais vem sendo ampliada nos últimos anos por
profissionais envolvidos com a educação de surdos, como
também pela própria comunidade surda” (DIZEU;
CAPORALI, 2005, p. 2). Silva (2009), cita que a educação de
surdos tem vivido constantes alterações pedagógicas e
linguísticas no decorrer da história humana.

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Oralismo e Língua de Sinais


Alguns registros datam do século XVIII na Europa com o
surgimento do oralismo e de sua progressão para a Língua de
Sinais imposto às pessoas surdas. Nessa perspectiva, o surdo
era estimulado a oralizar para assim incluir-se na sociedade;
mas, a metodologia do oralismo estrito, tido como forma
singular de o surdo interagir, não mostrava resultados
eficientes, o que propiciou julgamentos por parte dos que os
rodeava.
A comunicação imposta aos surdos os deixava em uma
condição frágil perante a sociedade, por isso da persistência por
reconhecimento e inúmeras reivindicações por parte da
comunidade surda, reaquisições quanto a sua linguagem,
acesso a direitos, interação de forma adequada e sem distinção
em sociedade.
O início do século XIX data o reconhecimento dos sinais
que representam a comunicação entre pessoas surdas e
ouvintes, um período longo de 100 anos para obter progresso,
sempre amparados por outros modelos de outros países, até
chegar, em 1974, ao SignWriting (SW), com toda sua
complexidade gramatical, que envolve o significado das
palavras e outros aspectos, evoluindo para o desenvolvimento
da escrita.
Dificuldade e qualidades cercam qualquer cidadão,
inclusive pessoas surdas. Há uma especificidade de linguagem
entre os surdos, que, infelizmente, não é considerada ao se
mencionar sobre a escrita dos símbolos representados durante a
conversação, o que obriga a adaptação a uma linguagem que
não é espontânea.
Uma realidade a ser enfatizada é que surdez é diferente
de outras deficiências, não pela incapacidade auditiva, mas pela
complexidade de fixar interação, já que as dificuldades de
comunicação no dia a dia dos surdos é uma circunstância que
gera graves efeitos na sua desenvoltura emocional e cognitiva.

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A escrita de sinais
A educação de surdos no Brasil, assim como nosso
processo instrutivo, acompanha visões mundiais, que debatidas
em eventos e congressos por todo o mundo sobre os princípios e
metodologias de ensino da Língua de Sinais.
A escrita de sinais pode ser elaborada de forma manual
pelo surdo ou por meio do uso de sistema digital. Por exemplo, a
Universidade Católica de Pelotas (UCPel) construiu um software
para esse fim (SW- Edit). Apesar de o projeto SignNet ter sido
suspendido e o software não está mais acessível para download,
este é um exemplo de iniciativa mediada pelo aparato digital que
pode colaborar com o desenvolvimento comunicacional dos
surdos. Para a comunidade surda é lamentável e prejudicial a não
indisponibilidade do programa.
Figura 11 - Escrita de sinais

Fonte: Stump, 2005.

A educação dos surdos passa por momentos de progresso


linguístico singular quanto ao formato de escrita da linguagem.
Um número significativo de surdos é julgado de maneira indae-

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quada, sendo rotulados de iletrados, por não fazerem uso da


escrita e da oralidade da Língua Portuguesa e da Língua de
Sinais. É necessário cogitar que essa falta de conhecimento não
se deve a quesitos individuais, porque no Brasil, a maior parte
dos surdos adultos não desbrava a Língua Portuguesa.

Figura 12 – Escrita de Sinais

Fonte: Stump, 2005.

Eles compreendem que a Língua de Sinais é a língua


atingível para o surdo por não representar empecilhos sensoriais e
a sua aquisição ser por meio de imersão linguística em ambiente
apropriado, ou seja, no convívio natural desse formato linguístico.
A pesquisadora Gesueli traz alguns apontamentos a seguir.

A questão da língua de sinais, portanto, está


intimamente relacionada à cultura surda. Esta,
por sua vez, remete à identidade do sujeito que
convive, quase sempre, com as duas
comunidades (surda e ouvinte). Nesse contexto,
importa analisar o modo como os sujeitos
inseridos em escolas bilíngues se narram como

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sujeitos da comunidade surda. Assim, o papel do


professor surdo e da língua de sinais no ambiente
escolar é essencial para que haja construção da
identidade surda e, consequentemente, para
chegarmos a uma educação eficiente (GESUELI,
2006, p. 4).
Segundo Peixoto:
Dentre esses processos relacionados à escola e à
aprendizagem, a escrita e a leitura parecem ser os
que mais demandam essas novas reflexões,
principalmente porque (e às vezes exclusivamente) é
por meio desses dois processos que a condição
bilíngue do surdo se constrói e se revela (PEIXOTO,
p. 3).
O recurso de escrita SignWriting é complexo, mas
exequível a estrutura gramatical da Língua de Sinais. O que
conhecemos como alfabeto na língua expressa é estabelecido
com configurações de mão na Libras. Sua divulgação é recente
no Brasil, especialmente, nas instituições de ensino superior,
em análises de grupos de pesquisa, prospectos científicos e de
extensão.
Os recursos educacionais, além de introduzir a língua em
seu processo de aprendizagem como recurso de inclusão,
proporcionam interação entre surdos e ouvintes, e o ensino da
escrita de sinais é inserido como elemento particular à sua
comunidade e à sua cultura.

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Módulos da Libras conversação – encenações


teatrais
Há tempos que o teatro segue discussões humanas das
questões mais específicas até de âmbito mais preponderante. Com
isso, algumas problematizações têm gerado soluções para diferentes
maneiras de se ver o que rodeia o mundo, pensar e agir.
O teatro é um dos recursos de disseminação cultural
relevante, porque traz conceitos e discussões de um grupo que faz
parte de um específico contexto histórico, social e político. Desse
modo, é possível afirmar que, de fato, o teatro está mais para enviar
uma imagem global e uniforme do gosto pelo divertimento, mas ele
se afirma como obra de arte, como obra estética, que provoca em
vários sentidos a criatividade e a sensibilidade nos indivíduos em
momentos de interação comunicacional.
LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de; GURGEL, Taís
Margutti do Amaral . Perfil de tradutores-intérpretes de Libras
(TILS) que atuam no ensino superior no Brasil. Revista Brasileira
de Educação Especial, v. 17, p. 481-496, 2011
Um grupo majoritário da população surda não tem
aproximação com esse artefato de produção, onde a própria
comunidade surda está na direção, na escrita e desenvolvendo as
suas próprias encenações. Essas atividades têm alcançado sucesso
com atores surdos e excelentes estruturas de encenação. Há um
número significativo de produções elaboradas e apresentadas pela
comunidade ouvinte, com discussões variadas e diferentes maneiras
de declarações e estéticas, as quais os surdos, até pouco tempo
atrás, não acessavam nenhum tipo de mecanismo inclusivo que
viabilizasse o acesso a peças teatrais.
Em síntese, é possível dizer que as leis estão mudando com a
intenção de resguardar a aproximação da comunidade, inclusive
referente a formação dos intérpretes de Libras para realizar esse
ofício, por conta da falta de formação específica.
Teatro em Libras
De acordo com o dicionário de Teatro, a palavra teatro
origina-se no grego em theatron, e o sentido direciona para uma
“propriedade deixada de lado”, porém essencial. É o ambiente

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uma influência apresentada de outro lugar. Pensando assim, é


um ponto de vista no qual há um certo movimento entre os
observadores da representação.
O autor do dicionário, ainda, fortalece um ponto de vista
a partir do que afirma Barthes:
O denominador comum a tudo o que se costuma
chamar “teatro” em nossa civilização é o
seguinte: de um ponto de vista estático, um
espaço de atuação (palco) e um espaço onde se
pode olhar (sala), um ator (gestual, voz) no palco
e espectadores na sala. De um ponto de vista
dinâmico, a constituição de um mundo “real” no
palco em oposição ao mundo “real” da sala e, ao
mesmo tempo, o estabelecimento de uma
corrente de “comunicação” entre o ator e o
espectador (apud PAVIS, 2011).
É este o conceito de teatro adotado, para refletirmos uma
tradução de Libras em um específico espaço cênico.
Importante pensar em outro conceito com objetivo de
complementar o entendimento.
Barthes, conforme citado por Pavis, propõe a discussão da
qualidade de teatro quando se fala em teatralidade. Diz que sem
o conceito de teatralidade, o entendimento deste universo sofre
porque as “espessuras de signos e sensações” representadas na
cena em virtude do argumento escrito assemelham-se a uma
“espécie de percepção ecumênica dos artifícios sensuais, gestos,
tons, distâncias, substâncias, luzes, que submerge o texto sob
a plenitude de sua linguagem exterior” (BARTHES, 2003).
Assim, “teatralidade no texto dramático é aquilo que, na
representação ou no texto dramático, é especificamente teatral

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(ou cênico) no sentido que o entende...” (PAVIS, 2011).


Desta forma, podemos admitir que a teatralidade está
relacionada à expressividade, ao espaço, ao visual e à
especificidade da enunciação teatral, a qual define como “a
projeção, no mundo sensível dos estados e imagens que
constituem suas molas ocultas [...] a manifestação do
conteúdo oculto, latente, que acoita os germes do
drama” (PAVIS, 20011).
No entanto, ainda percebemos a ocorrência de uma
confusão entre dois conceitos próximos e do mesmo
campo epistemológico, mas de maneira alguma sinônimos.
A fim de sanar essa confusão conceitual, Pavis segmenta e
explicita as diferenças entre teatralizar e dramatizar. Para o
autor: “teatralizar um acontecimento ou um texto é
interpretar cenicamente usando cenas e atores para
construir a situação. O elemento visual da cena e a
colocação dos discursos são as marcas da
teatralização” (PAVIS, 2011).
Já a dramatização faz referência ao deslocamento
contrário, o da manutenção do foco na estrutura textual:
inclusão e inserção em diálogos, criação de uma tensão
dramática e de conflitos entre as personagens, dinâmica da
ação (dramática ou épica). Tendo em mente essas
distinções, propomos discuti-las nas próximas partes por
entendê-las como pertinentes às problematizações para
tradução de peças teatrais. Assim, compreende-se a
dramatização a partir de uma análise sobre as
particularidades do texto dramático; a cena e o aspecto
visual que se relaciona tanto ao teatro quanto a Libras.
Nessa perspectiva, o conceito de teatralidade e
dramatização são de muita relevância para o tradutor de
Libras, que representará no teatro, pois, a partir desses, ele
poderá perceber que direção deverá conduzir, em
momentos específicos, o seu projeto de tradução.

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Aspectos cenográficos
O espaço cenográfico é um fator importante de
compreensão para atuação em um contexto cênico do tradutor
de Libras, porque o cenário guia o ponto de vista mimético e
pictórico da base decorativa. O ensaio de alteração do termo
para cenografia, em parte, ocorre pelo fato da primeira palavra
trazer a inocência de um telão de fundo ou de transportar um
estigma de uma aspiração ilusionista.
Atualmente, o cenário não possui incumbência mimética,
mas toma lugar na sua própria totalidade, transparecendo
flexibilidade, expansivo e coextensivo à interpretação do ator e
à recepção do público. Com a intenção de exemplificar a
questão e facilitar o entendimento segue incumbências cênicas
de um número específico de cenários.
A iluminação - ou design de luz: modifica o ambiente
do palco, ao flexibilizar, proporcionar texturas, aumentar ou
diminuir os espaços, sombrear o palco, pois a alegria das cores,
dá expressividade ao momento. A luz tem uma capacidade de
influência, como a música, complementa lacunas, altera espaços
etc., e é o único recurso externo que não traz desatenção para os
espectadores, agindo objetivamente em sua imaginação e
assumindo uma extensão quase metafísica, modalizando e
gerando sutilezas. Para o tradutor de Libras, a luz é um fator de
suma importância que deve ser levado em consideração no
projeto de tradução. A Libras por ser visual precisa da luz para
ser percebida visualmente. Logo, uma iluminação estratégica,
em posição de evidência pode substanciar um projeto de
tradução.
Figurino: atribui uma característica ao ator com a
evolução da estética viva, esse é o papel inicial desse elemento,
é aquele que anuncia o personagem, aproximando-se a outros
figurinos pelos tons das cores, das formas, dos cortes, dos
materiais, proporciona texturas e padronagens. Todo o figurino
deve ser sempre visível ao público e que “a dificuldade está no
fato de tornar dinâmico o figurino: fazer com que ele se trans-

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forme, que não se esgote após um exame inicial de alguns


minutos, mas que ‘emita signos’ por um bom tempo, em
função da ação e da evolução das relações
actanciais” (PAVIS, 2011.).
O figurino não acontece apenas com a pretensão de
beleza, e sim transmitir significado, contando com a
semelhança estética da obra, fazendo com que os seus
elementos carreguem conceitos da personagem e enuncie-os
ao público. Assim, devemos problematizar o figurino do
tradutor de Libras, o qual, costumeiramente, sugere-se que
seja preto - para se dizer neutro, fato que por si só
apresenta uma concepção de tradução bastante anacrônica,
haja vista que as discussões contemporâneas da tradução
apontam para o caráter intersubjetivo e discursivo do
traduzir.
Dessa forma, pensar o figurino do tradutor, seja para
assumi-lo ou para apagá-lo, talvez deva passar por uma
reflexão mais profunda, ligada aos outros aspectos teatrais.
Percebendo a estética do cenário, do figurino e dos
personagens, bem como o projeto de iluminação, é possível
que o figurino do tradutor tenha por objetivo destaca-lo ou
apagá-lo, não meramente omiti-lo por busca da
neutralidade, e sim por uma concepção estética.

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