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LÍNGUA
PORTUGUESA II
PROFESSORES
Me. Débora Sodré Esper
Me. João Carlos Dias Furtado
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O SEU LIVRO
NA VERSÃO
DIGITAL!
EXPEDIENTE
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de
EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi
FICHA CATALOGRÁFICA
Coordenador(a) de Conteúdo
Fabiane Carniel
Projeto Gráfico e Capa C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.
Arthur Cantareli, Jhonny Coelho Núcleo de Educação a Distância. ESPER, Débora Sodré; FURTA-
DO, João Carlos Dias.
e Thayla Guimarães
Editoração Prática de Ensino da Língua Portuguesa II.
Débora Sodré Esper; João Carlos Dias Furtado.
Juliana Duenha
Design Educacional
Maringá - PR.: UniCesumar, 2020.
Patrícia Ramos Peteck
168 p.
Revisão Textual “Graduação - EaD”.
Diego Delavega Marques
1. Prática 2. Ensino 3. Português. EaD. I. Título.
Ilustração
André Luis Azevedo
Fotos
Shutterstock CDD - 22 ed. 469.5
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Impresso por:
ISBN 978-85-459-2059-5
qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- são, que é promover a educação de qua-
versão integral das pessoas ao conhecimento. lidade nas diferentes áreas do conheci-
Reitor
Wilson de Matos Silva
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
http://lattes.cnpq.br/3572346470006337.
http://lattes.cnpq.br/8086963414003127.
A P R E S E N TA Ç Ã O DA DISCIPLINA
Olá, aluno(a)!
Resgatando a metáfora utilizada no livro anterior, damos mais um passo em direção a uma
profissão que estenderá a nossa caminhada até o último dia em que atuaremos como profes-
sores. Por isso, é importante sempre fortalecermos a nossa caminhada com passos firmes e
que saibamos aonde queremos chegar, pois caminhar sem destino pode nos levar a qualquer
lugar e, nem sempre, àquele que gostaríamos. Isso nos indica que a nossa formação acumu-
lará experiências, vivências, práticas e teorias que se somam à necessidade de vislumbrar o
fato de que essa profissão exige uma formação contínua, com atualizações constantes.
A profissão docente é aventurar-se na teoria, na prática e na sua própria vida, pois estar em
sala de aula é um exercício de autoconhecimento, de refletir sobre valores, ideias e conceitos.
Por isso, também temos um desafio pessoal: o de educar, hoje, sempre melhor do que ontem.
Esse é um bom momento para fazermos o exercício que Jacobina, o alferes, personagem do
conto “O Espelho”, de Machado de Assis, fez ao visitar a sua tia Marcolina no sítio. Ao depa-
rar-se com um antigo espelho proveniente da família real, ele comparou a sua imagem como
alferes, militar profissional, e a imagem do homem Jacobina, e constatou: “O alferes eliminou
o homem” (ASSIS, 1994, p. 67). Essa reflexão nos leva a uma pergunta: o meu eu, enquanto
ser humano, completa a minha pessoa como profissional docente? A resposta não é fácil e
nem sempre simples, pois devemos caminhar na construção teórica de nossa profissão e na
reflexão da minha personalidade junto a essa profissão, de forma que uma complete a outra,
e não que se anulem.
Ser professor não exige somente o conhecimento teórico, mas também o árduo exercício de
se aperfeiçoar todos os dias, de se melhorar pessoal e profissionalmente. Os primeiros passos
já foram dados: estamos no meio de uma caminhada. Assim, que ela seja feita com consciência
da formação que devemos alcançar e das necessidades que atenderemos no futuro.
Ante o exposto, desejo a você, estudante do curso de Letras da Unicesumar, que encare essa
caminhada com perseverança, esforço e muita determinação, para que os frutos possam ser
colhidos com muita satisfação, depois de uma plantação e adubação bem feitas.
explorando Ideias
quadro-resumo
conceituando
Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele-
mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples.
conecte-se
PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01
8 UNIDADE 02
44
PROCESSO DE ENSINO- PROCESSO
APRENDIZAGEM DE ENSINO-
DE LÍNGUA APRENDIZAGEM
PORTUGUESA: LEITURA DE LÍNGUA
PORTUGUESA:
ESCRITA
UNIDADE 03
78 UNIDADE 04
102
PROCESSO DE ENSINO E
ENSINO- TECNOLOGIA
APRENDIZAGEM
DE LÍNGUA
PORTUGUESA:
ANÁLISE LINGUÍSTICA
UNIDADE 05
122 FECHAMENTO
155
PROFISSÃO CONCLUSÃO GERAL
PROFESSOR:
DA ORGANIZAÇÃO
À PRÁTICA
1
PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM
de língua portuguesa: leitura
PROFESSORES
Me. Débora Sodré Esper
Me. João Carlos Dias Furtado
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Concepções de leitura • Etapas
do processo de leitura • Leitura, gêneros discursivos e intergenericidade • A leitura na contemporanei-
dade • Leitura literária.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Conhecer as concepções de leitura • Entender o funcionamento da leitura • Relacionar a leitura aos gê-
neros discursivos e à intergenericidade • Refletir acerca da leitura na contemporaneidade • Reconhecer
a importância da leitura literária.
INTRODUÇÃO
LEITURA
UNICESUMAR
linguagem tem, como base, os aspectos formais ou estruturais da língua voltados
ao sistema linguístico. Também estruturalista, a visão de leitura cujo foco está no
autor se encontra associada a essa concepção. O texto é visto como a representa-
ção mental do pensamento do escritor/locutor (KOCK; ELIAS, 2008).
Segundo essa concepção, a leitura é entendida, de modo restrito, apenas como
a decodificação, a realização fonética por parte do leitor ou a construção de uma
imagem acústica do significante. O leitor é somente um decodificador das pa-
lavras e precisa captar a representação mental no processo de leitura, ou seja, as
intenções psicológicas do autor, por meio de um processo linear, exercendo um
papel passivo (KOCH; ELIAS, 2008). Trata-se de:
“
“[...] um leitor que precisava receber um estímulo visual, uma letra,
para uni-la a um estímulo visual anterior para assim formar uma
sílaba, procedendo dessa forma em todos os níveis de significação:
letra por letra até completar uma sílaba, sílaba por sílaba, até com-
pletar uma palavra, palavra por palavra até completar uma frase e
assim sucessivamente” (KLEIMAN, 2004, p. 16-17).
explorando Ideias
Ângela Kleiman, linguísta que dedica, entre outros temas, aos estudos acerca do Letra-
mento, apresentou o conceito de “agente do letramento”, o qual se relaciona ao professor
e à sua prática docente. Segundo a autora, o agente do letramento é “um promotor das
capacidades e recursos de seus alunos e de suas redes comunicativas, para que partici-
pem das práticas de uso da escrita situadas”.
Fonte: os autores.
12
UNICESUMAR
Como você deve ter percebido, há uma grande diferença
entre a primeira e a segunda concepção, no que diz respei-
to ao leitor. Enquanto aquela focaliza o texto e considera o
leitor um mero decodificador, a quem é atribuída a tarefa
de captar a mensagem da materialização da língua, esta, na
contramão, coloca o leitor em primeiro plano, valorizando
a sua leitura, mesmo que não corresponda à do autor, do
professor ou que não seja comprovada por meio do mate-
rial linguístico. O que há de comum entre elas é que ambas
desconsideram o contexto em que o texto foi produzido,
os elementos sociais, históricos e ideológicos que cingem a
atividade de produção e construção de sentidos.
Sob ponto de vista mais amplo, a terceira concepção, que tem, como bases, a Lin-
guística Textual e o Sócio-Interacionismo, defende que o ato de ler é um processo
que integra as informações da página – processo perceptivo –, as que o leitor traz
consigo – processo cognitivo – e o contexto sócio histórico e ideológico. Assim,
os significados se tornam acessíveis mediante o processo de interação entre leitor,
texto e autor, sempre considerando o espaço em que se materializa a comuni-
cação, o tempo e todas as demais informações que fazem parte do processo de
produção textual, seja oral ou escrita.
13
Essa abordagem se caracteriza por mudar, de algum modo, todos os envolvi-
UNIDADE 1
dos: texto, leitor, autor, pois estes dois últimos são responsáveis pela construção
de sentidos, por meio de um processo de interação que envolve não apenas pala-
vras ou frases, mas sim o texto, que pode se manifestar com apenas uma palavra,
períodos, som, imagem e outras semioses.
Sob essa ótica, a leitura é entendida como prática social, concepção ampara-
da nos Estudos do Letramento (KLEIMAN, 2004). Desse modo, os usos que os
sujeitos fazem, em sociedade, estão sempre relacionados à situação, ou seja, são
“determinados pelas histórias dos participantes, [...] características da instituição
em que se encontram, [...] grau de formalidade ou informalidade da situação, [...]
objetivo da atividade de leitura, diferindo segundo o grupo social” (KLEIMAN,
2004, p. 12).
A concepção de leitura como prática social,segundo Marcuschi (2009), traz
algumas consequências. Dentre elas, o autor destaca:
Nesse sentido, é possível entender que a leitura, em seu nível máximo de com-
preensão, não é apenas resultado da simples apreensão literal do código escrito.
Assim, muito além de decodificar os grafemas, o sujeito precisa estar atento às
entrelinhas, ou seja, o que não está explícito no texto, inclusive o(s) discurso(s)
que envolvem a construção da temática. Veja como tudo isso funcionaria, caro(a)
aluno(a), considerando o texto a seguir, por meio de uma breve análise.
14
Assim como já destacamos, hoje em dia,
UNICESUMAR
uma boa leitura envolve muito mais do
que aspectos linguísticos, embora eles
também sejam importantes. Sendo as-
sim, a análise do texto deve despertar
nossos sentidos a vários fatores, como:
1. Gênero discursivo: a propaganda.
2. Autor: a ONG Greenpeace.
3. Objetivo do texto: chamar a atenção
dos leitores para a preservação da
natureza (o que inclui alguns dis-
cursos ideológicos etc.).
Após esse pequeno levantamento de
informações, percebemos, logo de início,
que há uma frase em destaque: “Não dei-
Figura 1 – Publicidade Greenpeace xe que as florestas do Brasil fiquem no
Fonte: SOS Fauna e Flora Brasil (2014, on-
-line)¹. passado”, o que dá pistas acerca do ob-
jetivo textual. Há, igualmente, a imagem
de uma ampulheta – material que marca a passagem do tempo –, na qual se
encontra uma árvore na parte superior, representando o presente, quando ainda
existem matas, e, na parte inferior, somente pó de árvores, o que representa as
florestas, as quais, no futuro, serão derrubadas, queimadas e destruídas, caso não
sigamos o conselho da ONG. As cores predominantes da publicidade também
remetem a essa comparação entre presente e futuro, ou seja, o verde da natureza
e o marrom das queimadas.
Analisar todas essas informações e, ainda, relacioná-las com a situação atual
é importantíssimo, isto é, uma leitura baseada na terceira concepção preconiza
que o leitor acesse vários conhecimentos e, sobretudo, relacione-os, para construir
sentidos, amparado em pistas deixadas pelo autor. Em outras palavras, é por meio
das informações implícitas e explícitas, internas e externas ao texto, que o leitor
chega ao que o autor quis dizer.
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A compreensão do texto, sob o ponto de vista da terceira concepção, a qual
UNIDADE 1
16
“
A leitura acontece ao desencadear-se o processo criativo em que o
UNICESUMAR
sujeito e linguagem interagem permanentemente, uma vez que o
texto nunca está acabado, não é produto, antes, dispositivo de pro-
dução. O texto é enunciação projetada pelo autor, continuada ad
infinitum e perpetuada pelo leitor, um exercendo influência sobre
o outro. Na relação entre a página impressa, a imagem acústica ou
visual e o sujeito leitor, este dá ao texto um sentido, uma forma, uma
dimensão dentro da multiplicidade de possibilidades que a lingua-
gem permite. A leitura produto é pessoal, individual, determinada
pelas condições sociais, culturais, históricas, afetivas e ideológicas
do leitor, portanto, é variável, porque o texto apresenta lacunas que
convidam o leitor a preenchê-las. Nesse processo ativo, os espaços
textuais serão ocupados pelo eu/ sujeito/ leitor/ ser do mundo a
seu modo: ele pode produzir do mesmo texto diferentes leituras,
passíveis de variação de momento para momento, pois a relação
leitor/ mundo/ contexto também é passível de mudanças (as no-
vas expectativas pessoais interferem nas impressões que se tem
sobre a realidade, sobre o modo de ver, de estar e viver no mundo)
(DELL’ISOLA, 1996, p. 73).
17
2
ETAPAS DO
UNIDADE 1
PROCESSO
de Leitura
Já constatamos que ler não é apenas decodificar, nem identificar ideias explícitas.
Assim, no âmbito escolar, é preciso que, principalmente, formemos:
“
[...] alguém que compreenda o que lê; que possa aprender a ler tam-
bém o que não está escrito, identificando elementos implícitos; que
estabeleça relações entre o texto que lê e outros já lidos; que saiba
que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto; que consiga
justificar e validar a sua leitura a partir da localização de elementos
discursivos (BRASIL, 1997, p. 41).
No entanto, esse ato não ocorre instantaneamente, assim como podemos pensar,
isto é, ler é uma atividade processual que envolve várias etapas e depende de
muitos tipos de conhecimentos que são acessados cada vez que nos deparamos
com um texto.
De acordo com Menegassi (2010a), o processo de leitura é constituído por
três etapas:
18
3. Interpretação: etapa na qual o leitor utiliza a sua capacidade crítica, anali-
UNICESUMAR
sa o texto, reflete e julga as informações que lê.
20
3
GÊNEROS DISCURSIVOS,
UNICESUMAR
INTERGENERICIDADE
e a Leitura
21
Nesse processo, de acordo com Garcez (1998), o interlocutor é parceiro e ele-
UNIDADE 1
UNICESUMAR
além de outros elementos linguísticos típicos. Para Esper (2015), esse, talvez, seja
o eixo em que o autor mais tenha liberdade para expressar a sua individualidade,
pois pode acessar aos recursos que mais respondem a sua intenção. A autora res-
salta, no entanto, que nem todos os gêneros permitem essa flexibilidade, tendo em
vista que alguns, devido à maior rigidez nas regras de produção, padronizam as
escolhas. Vale destacar que cada uma dessas escolhas estabelece a interação entre
si e o seu interlocutor, com vistas à posição responsiva ativa deste, seja refutando,
concordando ou completando o discurso.
Segundo a teoria bakhtiniana, os gêneros discursivos se dividem em dois
tipos: os gêneros primários, que são aqueles que se constituem mais esponta-
neamente, no cotidiano, como uma conversa entre mãe e filho; e os secundários,
que “aparecem em uma circunstância de comunicação cultural, mais complexa
e relativamente mais evoluída, principalmente escrita” (BAKHTIN, 1997, p. 282),
como um artigo científico ou uma tese de doutorado, por exemplo. De acordo
com Esper (2015), a maior ou a menor espontaneidade e planejamento entre os
gêneros primários e os secundários não os fazem mais ou menos importantes.
Ao contrário, na escola, é importante vinculá-los, destacando as “pistas de ativi-
dades reflexivas em que se passa de um gênero para o outro” (DOLZ; GAGNON;
DECÂNDIO, 2010, p. 43).
O último eixo dos gêneros discursivos é a construção composicional, ou seja,
a estrutura típica de cada gênero. A carta, por exemplo, embora se divida em
vários tipos, mantém certa regularidade quanto à estrutura, marcada por data,
vocativo, saudação, corpo da carta, despedida e assinatura. É preciso ressaltar,
contudo, que, tendo em vista a idiossincrasia do indivíduo que circula nas esfe-
ras de atividade humana – familiar, religiosa, educacional etc. –, sua história e os
discursos construídos ao longo da vida, as formas de uso dos gêneros não são
uniformes e estanques, mesmo que mantenham certa regularidade.
Ainda quanto à estrutura composicional, Marcuschi (2009) explica que al-
guns gêneros seguem uma estrutura mais rígida, como o artigo científico ou uma
ata; outros, no entanto, são mais flexíveis, como o bilhete ou os literários. Sob
esse escopo, o linguista ressalta a intergenericidade de gêneros, isto é, as produ-
ções textuais que têm características de mais de um gênero, algo recorrente, por
exemplo, em textos publicitários e propagandas. A intergenericidade de gêneros é
muito mais comum do que imaginamos, o que mostra a dinamicidade da língua.
Devemos nos lembrar sempre que a linguagem/língua está a nosso serviço: nós
23
a usamos para estabelecer a interação. Assim, caso seja necessário, adaptamos
UNIDADE 1
RECEITA DA FELICIDADE
Ingredientes:
Bons amigos;
Natureza;
Sorrisos;
Boa comida e bebida;
Um lugar agradável.
Modo de preparo:
Misture todos os ingre-
dientes e apenas seja
feliz.
UNICESUMAR
“
A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois
a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera
dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que
vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera
se desenvolve e fica mais complexa.
Quanto à presença dos gêneros na escola, Esper (2015) explica que, tendo em
vista o objetivo do ensino de língua materna de ampliar a competência comu-
nicativa do aluno, é superficial o ensino de Língua Portuguesa apoiado somente
nas tipologias, uma vez que elas não abrangem a diversidade de manifestações
linguísticas produzidas pelos indivíduos em suas práticas sociais. O trabalho com
o uso dos gêneros no ensino, ao contrário, justifica-se por diversos motivos, assim
como advoga Hila (2009, p. 152):
“
(a) abrem possibilidade de se integrar a prática da leitura, da escrita e
da análise linguística, comumente estanques nos currículos da escola
básica; (b) permitem a concretização de um ideal de formação com
vistas ao exercício pleno da cidadania (já que se utilizam de textos de
efetiva circulação social e de diferentes esferas e práticas sociais); (c)
possibilitam a concretização de uma perspectiva enunciativa para as
aulas de língua portuguesa, o que quer dizer, uma perspectiva que
leve em conta o conhecimento situado, a linguagem efetivamente em
uso, o trabalho com textos e práticas didáticas plurais e multimodais;
(d) conseguem dar conta tanto de noções discursivas como também
mantém noções eminentemente estruturais ou linguísticas/enunciati-
vas, todas elas necessárias para o letramento do sujeito e para a correta
compreensão do próprio gênero; etc.
Sob um ponto de vista parecido, Dolz, Gagnon e Decândio (2010) asseveram que
o gênero, além de instrumento social, cultural e histórico é, ainda, instrumento
didático, “pois age como meio de articulação entre as práticas sociais e os objetos
escolares” (p. 44). Desse modo, a proposta de ensino com base da teoria dos gê-
neros discursivos corrobora para que formemos estudantes/sujeitos proficientes
nos diversos usos da língua, a nível linguístico, discursivo e social. Isso faz que
a sala de aula seja não apenas um lugar de repetição de conceitos, mas também
um espaço de transformação da língua em ações cidadãs. 25
Há, entretanto, uma questão pertinente quanto à relação entre gêneros discur-
UNIDADE 1
sivos e ensino: o professor deve estar embasado e preparado para trabalhar com
gêneros, e não deve utilizá-los por modismos (HILA, 2009). Assim, o comprome-
timento do docente com a proposta se torna crucial para o sucesso do trabalho.
4
A LEITURA NA
CONTEMPORANEIDADE
“
Toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano
– que se trate de um poema, quer de uma música, uma pintura, um
26
filme, uma escultura etc. –, isto é, qualquer tipo de comunicação
UNICESUMAR
realizado através de um sistema de signos(p. 20-21).
pensando juntos
Em sala de aula, como nós, professores, podemos trabalhar a leitura com os alunos de
modo que eles percebam todos os elementos textuais e extra linguísticos e, ainda, cons-
truam sentidos, ou seja, como formar bons leitores?
Definido esse conceito, vamos ao foco desta parte do estudo: o que é ler na con-
temporaneidade?
Tendo em vista o sentido amplo de texto, ler é selecionar, integrar e organizar
todas as informações que fazem parte desses diferentes canais constituintes da
materialidade visual e escrita, a fim de construir sentidos. Além disso, cruzar
as informações de diferentes fontes, perceber as ideologias presentes no texto,
comparar as materialidades, pensar, repensar, refletir novamente, enfim, ler, hoje
em dia, é uma tarefa ainda mais complexa, pois envolve diversas habilidades.
Ciavolella (2015) explica que as novas tecnologias da comunicação possibili-
taram a disseminação de conteúdos não apenas dominantes, os quais, até então,
27
predominavam. Com esse enfoque diferente, surgiu a teoria dos multiletramen-
UNIDADE 1
“
[...] uma visão que privilegia a ordem social contemporânea, uma cultura
pós-moderna, globalizada, marcada pela agentividade, pela diversidade e
pelo hibridismo, tanto no contexto histórico, social e cultural – incluindo
o virtual – quanto na própria linguagem – nas suas variedades linguísticas
e também nas diferentes semioses (CIAVOLELLA, 2015, p. 54).
“
[...] para ler [...], é preciso algum conhecimento de composição em fra-
mes, [...], técnicas de edição, relação entre som e imagem, assim como
a mobilização de convenções narrativas e de gênero, e ainda o contexto
de signos e imagens, o som como um veículo do significado, e os efeitos
da tipografia. [...]. Esses elementos são estratégicos para a construção
28
do significado, assim como advérbios, adjetivos, parágrafos, orações,
UNICESUMAR
analogias e metáforas o são para textos (DALEY, 2010, p. 488).
5
LEITURA
LITERÁRIA
Caro(a), aluno(a), assim como nós, você acredita que o texto literário é impres-
cindível na sala de aula?
Defendemos esse ponto de vista, pois a literatura contribui cognitivamente
e estimula o processo sensorial do aluno, além de ser uma das responsáveis pela
formação do leitor. Por meio das práticas que envolvem a literatura, o leitor entra
em contato com inúmeras histórias, cenas, fatos e personagens. Por isso, ele inte-
rage com dois mundos: o da realidade (vida diária) e o da ficção (sonho, utopia).
29
De acordo com Coelho (2000, p. 25):
UNIDADE 1
“
Na verdade, desde as origens, a Literatura aparece ligada a esta fun-
ção essencial: atuar sobre as mentes, onde se decidem as vontades
ou as ações; e sobre os espíritos, onde se expandem as emoções,
paixões, desejos, sentimentos de toda ordem [...]. No encontro com a
Literatura (ou com a Arte em geral), os homens têm a oportunidade
de ampliar, transformar ou enriquecer sua própria experiência de
vida, em um grau de intensidade não igualada por nenhuma outra
atividade.
Assim, o mistério, o enigma, a essência, a mentira, o medo etc. são objetos re-
tratados na literatura, porque a expressão da arte é algo tão vasto e fascinante
quanto a própria natureza humana. Ainda, por meio da linguagem artística, o ser
humano é conduzido ao prazer estético e estimulado a ampliar seus horizontes
para formação de novas ideias, concepções e visões de mundo:
“
É à literatura, como linguagem e como instituição, que se confiam
os diferentes imaginários, as diferentes sensibilidades, valores
e comportamentos através dos quais uma sociedade expressa e
discute, simbolicamente, seus impasses, seus desejos, suas utopias.
Por isso a literatura é importante no currículo escolar: o cidadão,
para exercer, plenamente sua cidadania, precisa apossar-se da lin-
guagem literária, alfabetizar-se nela, tornar-se seu usuário compe-
tente, mesmo que nunca vá escrever um livro: mas porque precisa
ler muitos (LAJOLO, 2008, p.106).
Nesse sentido, para que a literatura possa desempenhar esse papel na escola, de
maneira qualitativa, o educador precisa ter consciência do seu papel enquanto me-
diador da obra de arte e o aluno. Para isso, o professor deve se orientar em três eixos:
30
UNICESUMAR
LITERÁRIO: DA REALIDADE:
formar um leitor concentrado, formar um cidadão
crítico e voraz; consciente de sua função;
DOCENTE:
um profissional competente para conduzir o aluno a
um amadurecimento e criticidade em relação ao que
lê, transformando-o em um leitor autônomo.
Além disso, é importante que os alunos tenham contato com os clássicos da literatura
universal e nacional, obras que mostrem a genialidade artística construída por meio
da história da humanidade. Isso se deve, porque, segundo Ezra Pound (2007), essas
obras carregam uma “juventude eterna e irreprimível”, isto é, possuem, independente
da época que foram escritas, um valor inesgotável, pois a “grande literatura é simples-
mente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível” (p. 32).
Calvino (2007, p. 9-16) nos apresenta quatorze motivos para lermos as obras
literárias canônicas na escola. Dentre eles, destacamos cinco:
■ Os clássicos são livros inesquecíveis e que exercem uma influência par-
ticular nos leitores.
31
■ São livros que nunca terminam de dizer o que tem pra dizer, são inesgo-
UNIDADE 1
“
A leitura é, basicamente, o ato de perceber e atribuir significados atra-
vés de uma conjunção de fatores pessoais com o momento e o lugar,
com as circunstâncias. Ler é interpretar uma percepção sob as in-
fluências de um determinado contexto. Esse processo leva o indivíduo
a uma compreensão particular da realidade (SOUZA, 1992, p. 22).
UNICESUMAR
pois, normalmente, ela é o seu ponto de partida, como em mitos e lendas. É essa
fusão da realidade com a ficção que mostra a força de integrar e transformar a
sociedade a partir da literatura.
A segunda função está relacionada à escola, pois, para o autor, a literatura
pode formar, mas não de forma dirigida e organizada pela “pedagogia oficial”,
que reforça, normalmente, os interesses das classes dominantes. Assim, a litera-
tura contrapõe a ideia de textos para uma educação formal, mas “traz livremente
em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em sentido
profundo, porque faz viver” (CANDIDO, 1972, p. 36).
A função cognitiva, a terceira elencada pelo especialista, entende a literatura
como uma forma de conhecimento, isto é, as características estilísticas e formais
se unem à personalidade do mundo imaginário da história, que recorre às fontes
da realidade e à capacidade de interagir com os fatos e acontecimentos reais.
Além dessas funções, a literatura pode ser trabalhada de modo interdisci-
plinar, pois representa uma dada realidade social e histórica. Um bom exemplo
disso são as obras do regionalismo brasileiro, que estão repletas de registros de
acontecimentos que marcam a história brasileira.
Após o esclarecimento desses três aspectos, fica mais clara a ideia da “lite-
ratura com força humanizadora” proposta por Candido, na qual o leitor pode
incorporar a experiência profunda que o escritor criou no texto literário com
uma visão da realidade, a partir da sua experiência humana.
Diante da imensidade dos diferentes gêneros literários, de modo a entender o
livro como algo fundamental no crescimento intelectual e cultural do ser humano
e não descartando o forte apelo comercial que existe hoje no mercado editorial,
a literatura não deixou de ser um meio natural de ir além do simples fato ocorri-
do, de inventar alegrias, dores e conquistas. É a absorção do prazer por meio da
fruição estética a qual permite ter acesso ao conhecimento de forma humanizada.
Da mesma forma que todo ser humano tem tantos direitos civis, ele também tem
direito à arte, à literatura.
Desse modo, fica evidente a importância de se consolidar uma população
leitora dos diversos gêneros e estilos literários. Por isso, a literatura não pode cair
no erro e ser trabalhada da mesma forma que o “modelo gramatical” no ensino da
língua, em que são decorados estilos de época, características de escolas literárias,
nomes de autores e obras. Mais do que isso, o aluno leitor deve ampliar as suas
competências linguísticas e dilatar a sua capacidade imaginativa, ou seja, o ensino
33
literário deve formar o leitor, desenvolvendo o letramento literário, que, muitas
UNIDADE 1
“
[...] a literatura nos letra e nos liberta, apresentando-nos diferentes mo-
dos de vida social, socializando-nos e politizando-nos de várias manei-
ras, porque nos textos literários pulsam forças que mostram a grandeza
e a fragilidade do ser humano; a história e a singularidade, entre outros
contrastes, indicando-nos que podemos ser diferentes, que nossos es-
paços e relações podem ser outros. O outro nos diz a respeito de nós
mesmos – é na relação com o outro que temos oportunidade de saber
de nós mesmos de uma forma diversa daquela que nos é apresentada
apenas pelo viés do nosso olhar (GOULART, 2007 p. 64-65).
explorando Ideias
34
A literatura, em seu sentido amplo, é o registro da cultura letrada da humanida-
UNICESUMAR
de e, quando pensamos no âmbito artístico, a ficção/invenção. Por isso, ela deve
estar presente nos currículos escolares. Além disso, pelo fato de que a escola é a
responsável por orientar e democratizar a produção e o acesso à cultura, a disciplina
de literatura assume grande importância, pois apresenta contornos diferentes, de
modo que a formação da identidade dos alunos seja multicultural.
No Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano, há uma tendência mais aberta para
a literatura voltada mais à formação do leitor e menos para uma sistematização
das escolas literárias. Nesse segmento de ensino, normalmente, é ofertado um
repertório mais vasto, abrangente e diverso, em relação a estilos, autores e gêneros,
o que proporciona um contato com uma ficção diversa e inclusiva. Já no Ensino
Médio, a questão de aprovação no vestibular é, quase sempre, um eixo norteador:
por isso, as indicações das universidades norteiam o trabalho escolar.
Destarte, nesse momento de transição, existe um empobrecimento na expe-
riência de leitura, pois, uma vez que a diversidade do Fundamental é enrijecida
pelos “livros do vestibular” e o trabalho estético com a obra, o prazer de ler e as
descobertas se tornam a memorização das escolas literárias, dos autores e das
obras, quando não ocorre a simples leitura dos resumos, problema recorrente
nas práticas escolares.
Não existe problema em ler os clássicos da literatura mundial ou nacional. Isso,
na verdade, é uma prática recomendada. O verdadeiro problema é transformar um
processo de letramento literário em uma simples memorização de resumos e carac-
terísticas aleatórias que não ajudam a formar um aluno crítico, mas sim reprodutivo.
Dessa maneira, a formação que se estabelece no Ensino Fundamental, tornando o
aluno mais maduro para leituras mais profundas e complexas, é, normalmente, re-
duzida no Ensino Médio. As práticas que poderiam ser ampliadas e trabalhadas em
conjunto com outras artes, como o cinema, o hip-hop, o grafite, a dança, a música,
as histórias em quadrinhos, o repente e entre outras, ficam restritas ou esquecidas
a poucos momentos, o que não colaboram à formação do leitor.
Outro problema bastante frequente na escola se refere ao modo como os tex-
tos literários são “explorados”. Assim como destaca Esper (2015), esse material é
utilizado, na maioria dos casos – inclusive, em avaliações governamentais de larga
escala –, para uma simples análise gramatical. Essa é uma prática que, segundo
Razzine (2000), é comum em nosso país há muito tempo e é um erro que os
antigos documentos norteadores do ensino, Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN’s), já criticavam:
35
“
É possível afastar uma série de equívocos que costumam estar pre-
UNIDADE 1
36
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNICESUMAR
Caro(a) estudante, enfim, encerramos esta parte do estudo. Quantas discussões
importantes foram apresentadas, não é mesmo?
No início, apresentamos as três principais concepções que amparam, ou ampa-
raram, a análise da língua e assumimos a concepção cuja base é o sócio-interacio-
nismo, o qual defende que a linguagem serve à interação humana. A língua, dessa
maneira, é marcada pelo contexto social, histórico e por ideologias, pois somos seres
perpassados por crenças, culturas diferentes, ideias etc. Já em um segundo momen-
to, definimos a leitura como a capacidade humana de analisar textos, desmistifi-
cando o conceito antigo e ampliando-o. Desse modo, destacamos que texto não é
apenas a materialização verbal escrita, uma vez que ele pode se apresentar apenas
por uma imagem, sons, sinais, letras, números ou por todos esses elementos juntos.
Essa concepção de texto fez que a leitura deixasse de ser um trabalho estanque e
pontual, com vistas somente à decodificação, e fosse entendida como uma atividade
processual que envolve, além dessa, as etapas de compreensão e interpretação.
Com base na teoria de Bakhtin, destacamos, ainda, que todo texto se organiza
por meio de um determinado gênero discursivo, em função das intenções comu-
nicativas e das condições de produção, as quais determinam os usos sociais. Des-
sa maneira, os gêneros são determinados sócio-historicamente, constituindo-se
como formas relativamente estáveis de enunciados, presentes na sociedade, que
refletem as diferentes culturas. Entre esses, encontram-se os gêneros literários, os
quais se configuram como materiais importantíssimos para o desenvolvimento
da leitura, mas que ainda não são trabalhados de modo significativo na escola.
Assim, ao docente, cabe mediar as práticas sociais desenvolvidas na escola,
com o objetivo de orientar e incentivar a reflexão do aluno. Tudo isso, afim de se
obter uma aprendizagem efetiva.
O trabalho é árduo, contudo, demos, aqui, mais um passo. Sigamos juntos,
aluno(a)!
37
na prática
3. Os estudos dos gêneros discursivos têm, como uma das bases teóricas, os pressu-
postos bakhtinianos. Acerca desse tema, podemos melhor defini-los por meio de
qual dos conceitos a seguir?
38
na prática
5. A interpretação é uma das etapas da leitura, ou seja, uma habilidade linguística que,
constantemente, faz parte da vida do ser humano. Diante disso, assinale a alternativa
correta quanto a essa parte do processo de leitura:
39
aprimore-se
A inclusão das crianças com deficiência passa por compreender que não são elas
que têm “dificuldades”, mas que faltam, nas ruas, nas instituições e na sociedade
como um todo, os recursos necessários para abarcar quaisquer diferenças, e possi-
bilitar que todos possam desenvolver-se integralmente.
Compreender esse conceito, no entanto, pode ser uma tarefa complexa para
crianças e, neste processo, a literatura infantil pode ajudar. Algumas obras cons-
troem narrativas que colocam como protagonistas as pessoas com deficiência e em
uma perspectiva de igualdade, contribuindo para uma abordagem que ressalta suas
múltiplas potências.
“Esses livros vão criando outro jeito de olhar para a pessoa com deficiência,
como alguém que pode estar junto, brincar, fazer coisas, casar e ter filhos se assim
desejar, e não pelo viés do assistencialismo”, explica Guacyara Labonia Guerreiro,
coordenadora da Mais Diferenças, organização que trabalha pela educação e cul-
tura inclusivas. “Chamamos de pessoas com deficiência porque a pessoa vem em
primeiro lugar”, frisa ainda.
Nessa perspectiva, o Mais Diferenças listou 6 livros que tratam da questão da
deficiência. A maior parte dessas obras também está disponível na biblioteca virtual
do Mais Diferenças, em formatos acessíveis. Confira:
Sonhos do dia
40
aprimore-se
redor impõe. Cansada dessa situação, ela pede a heróis e heroínas, seres das ga-
láxias, das revistas em quadrinhos, da televisão, dos sonhos de outras crianças, da
internet, dos livros e das histórias que seu avô contava para que revelem o segredo
de fazer os sonhos da noite não morrerem durante o dia.
41
aprimore-se
Tom
Serei Sereia
42
eu recomendo!
livro
Literatura e Sociedade
Autor: Antônio Candido
Editora: Ouro sobre azul
Sinopse: Antônio Candido, neste livro, focaliza a produção literária
e o contexto social, destacando o panorama geral da literatura bra-
sileira. Além disso, aproxima o processo de construção literária do
leitor, que tem a oportunidade de adentrar na evolução artística na-
cional das letras.
livro
livro
livro
43
2
PROCESSO DE ENSINO
APRENDIZAGEM
de Língua Portuguesa: Escrita
PROFESSORES
Me. Débora Sodré Esper
Me. João Carlos Dias Furtado
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Concepções de escrita • Os
processos de revisão e reescrita • O papel do professor no processo de produção textual • Os tipos de
revisão.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Conhecer as concepções de escrita • Entender como funcionam os processos de revisão e de reescrita
• Refletir acerca do papel do professor no processo de produção textual • Conhecer os tipos de revisão.
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a)!
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento federal que
orienta o ensino de Língua Portuguesa no Brasil, destaca que esse traba-
lho visa “proporcionar aos estudantes experiências que contribuam para a
ampliação dos letramentos, de forma a possibilitar a participação signifi-
cativa e crítica nas diversas práticas sociais permeadas/constituídas” pela
linguagem (BRASIL, 2017, p. 67-68). Para tanto, segundo o documento, é
necessário que o autor escolha o gênero adequado, conforme a sua finali-
dade, e entenda o texto como algo processual, sendo a sujeito a revisões e
reescritas, quando preciso, com o objetivo de deixá-lo mais claro e, assim,
manter a interação com o leitor.
Dessa forma, a prática de produção de, texto é vista como um traba-
lho progressivo, em que, na escola, o docente assume o papel de mediador.
Isso se deve, pois, por meio de apontamentos, além de orientar na prepara-
ção prévia à escrita, auxilia o aluno nas etapas de escrita, revisão e reescrita.
O que se percebe, no entanto, é que muitos professores não assumem
essa tarefa, seja pelas condições de trabalho, seja por desconhecimento
teórico e prático. Assim, em muitos casos, propõem exercícios descontex-
tualizados, não efetuam revisões ou as fazem confusas e superficiais, além
de não incentivarem a reescrita. Nesse sentido, perdem a oportunidade
de desenvolver essa competência, uma vez que não há a possibilidade de
reflexão do autor em relação ao texto. Cria-se, desse modo, um ciclo em
que o maior prejudicado é o discente, pois permanece anos sem realmente
aprimorar a escrita, e ainda carrega a ideia de que não sabe escrever.
Tendo em vista tal problemática, propomos, nesta parte, um estudo
acerca da escrita, em especial, sua e as concepções e metodologias de ensi-
no, contemplando todas a etapa que envolve essa prática. Temos o objetivo
maior de proporcionar uma reflexão sobre esse tema, para que, juntos,
igualmente ampliemos nossos conhecimentos como escritores e futuros
mediadores. Vamos começar?
1
AS
UNIDADE 2
CONCEPÇÕES DE
Escrita
Prezado(a) aluno(a), você já notou que interagimos por meio da escrita cons-
tantemente em nosso cotidiano? Embora já dominasse a língua falada, o que
possibilitava a comunicação, foi a partir do desenvolvimento da escrita que a
humanidade ganhou a oportunidade de minimizar distâncias, transmitir, registar
e, assim, perpetuar os conhecimentos, pensamentos e ações.
Essa linguagem, que, no princípio, era marcada por representações pictóricas
e ideogramas, evoluiu aos poucos e se tornou cada vez mais crucial ao ser hu-
mano. Atualmente, crianças que apenas balbuciam pequenas palavras já tentam
se expressar por meio da escrita, mesmo que por meio de rabiscos, no intuito de
também fazerem parte do universo letrado.
Mesmo que o desejo de dominar a escrita seja intrínseco aos indivíduos e
que essa prática tenha se tornado tão presente em nosso cotidiano, notamos que,
após tantos séculos de seu surgimento, o ato de escrever, para muitos, é entendi-
do como um dom destinado a poucos. Até alguns anos, essa crença poderia se
justificar, tendo em vista o acesso restrito das pessoas à educação. Atualmente,
contudo, a maioria tem a oportunidade de estudar. Desta forma, o que justifica a
insegurança dos cidadãos no momento em que precisam escrever textos mais for-
mais? Por que a “redação” ainda é um “bicho de sete cabeças” para os estudantes?
Curiosa com esse tema, Garcez (1998) desenvolveu uma pesquisa, com o
intuito de entender melhor a relação dos estudantes com tal habilidade, na qual
46
constatou que, aproximadamente, sessenta por cento dos discentes entrevistados
UNICESUMAR
consideram essa relação péssima ou ruim. As causas apontadas por eles foram a
falta de domínio da gramática, a baixa leitura e, por consequência, conhecimento
de mundo, além da pouca experiência com a escrita, uma vez que a produção
textual, conforme o ponto de vista dos alunos, não é muito comum na escola.
Tendo em vista tal problemática, vários pesquisadores da área de Língua Por-
tuguesa se dedicam ao estudo, em busca de, se não solucionar a questão, ao menos,
buscar alternativas para minimizá-la. Alguns autores, por exemplo, focam as suas
análises no processo prático de ensino/aprendizagem, para entender quais são as
concepções de escrita que amparam as dinâmicas escolares e qual é a influência des-
sas metodologias quanto ao procedimento utilizado pelo aluno durante a produção
escrita. Nesse sentido, entende-se que a escrita pode ser entendida com base em
três perspectivas diferentes, cada uma amparada em uma concepção de linguagem.
São elas: a escrita como dom, como consequência e como trabalho.
Você já havia ouvido falar nessas concepções? Se ainda não, vamos apren-
dê-las!
47
“
A professora de Português da sétima série da escola L, estadual não pa-
UNIDADE 2
c ) o trabalho não
tem finalidade
relacionada ao d) não há
desenvolvimento continuidade
da escrita; no trabalho.
48
A escrita como consequência
UNICESUMAR
Caro(a) aluno(a), você perceberá que a segunda concepção de escrita mantém
traços semelhantes à anterior. A diferença é que, agora, tem-se a preocupação
de preparar o aluno quanto à construção de ideias, por meio de leituras e/ou
atividades prévias. Embora seja apenas um pequeno avanço, esse fato se mostra
extremamente importante, pois a preparação prévia habilita o escritor para a
produção em si, expandindo os conhecimentos, até mesmo porque:
“
Textos escritos não surgem do nada […] atividades de leitura, dis-
cussões e debates sobre temas variados e configurações textuais
variadas são condição necessária para que os alunos tenham efe-
tivamente estratégias para dizer o que tem a dizer em seus textos
(RUIZ, 2010, p. 16).
Por meio do exemplo, notamos que a produção textual, com base nessa concep-
ção, é entendida de modo limitado, como a conclusão de um trabalho. Esse tipo de
atividade, para Esper (2011), tendo em vista a falta de continuidade da atividade,
desmotiva o aluno, pois ele não encontra uma razão significativa para escrever,
fora o recebimento da nota ou conclusão da tarefa.
Segundo Geraldi (1993), para que a escrita tenha sentido, o aluno precisa de
um objetivo, uma vez que esse tipo de trabalho “se sustenta quando os envolvidos
[...] encontram motivação interna ao próprio trabalho a executar. Não fosse assim,
não haveria um trabalho, mas tarefa a cumprir” (p. 162-163).
Além disso, a proposta não segue as orientações dos documentos oficiais que ampa-
ram a educação, tampouco dos textos contemporâneos de linguística, os quais ressaltam
que o trabalho da disciplina de Língua Portuguesa, especialmente o de produção de
textos, deve funcionar com base nos gêneros discursivos, e não em tipologias.
Assim sendo, estudante, podemos caracterizar a concepção de escrita como
trabalho da seguinte forma:
as atividades
prévias são
realizadas apenas
como um pretexto
para a escrita; a escrita é a
consequência de
um trabalho;
UNICESUMAR
A terceira concepção de escrita tem, como base, a visão interacionista de lingua-
gem, na qual a produção textual é entendida como a ação entre sujeitos, e não
como um ato individual, isto é, uma atividade social. Assim, surge uma nova
forma de se conceber a escrita: como um trabalho.
Primeiramente, de acordo com a concepção de escrita como trabalho, essa
atividade é um processo contínuo, e não mais estagnado. Não só, mas é um dos
vários momentos no percurso desse processo, sempre passível de ser continuado.
Dessa forma, o texto está aberto a comentários, revisões e a quantas reescritas
forem necessárias, com o intuito de melhorá-lo (ESPER, 2011).
Diferentemente da primeira concepção, não se acredita que seja necessário um
dom especial para se produzir um bom texto, visto que essa atividade, assim como
qualquer trabalho, envolve certas etapas que serão respeitadas e desenvolvidas com
orientação, a saber: planejamento, escrita, revisão e reescrita.
Durante o planejamento, conforme ressalta Menegassi (2010b, p. 79), apoiado
em Bakhtin eVolochinov (2009), o autor “considera a finalidade, o interlocutor
eleito e o gênero textual escolhido para trabalhar sobre o tema, a organização
composicional e o estilo de língua na produção textual”.
Em seguida, o autor organiza o que dizer, amparado em atividades prévias,
como debates, leituras e filmes, por exemplo, os quais funcionarão como o ponto
de partida para a produção textual. Nesse momento, diferentemente da concepção
anterior, o preparo não é usado como um pretexto à produção, e sim para o emba-
samento, a fim de auxiliar e preparar o estudante durante a escrita. Desse modo, o
aluno, unindo as novas informações às que já possui, amplia cada vez mais o seu
conhecimento e, por consequência, o repertório para futuras produções.
Esper (2011) acredita que é importante que os discentes não se limitem ao seu
mundo, ou seja, aos conhecimentos que trazem de casa. Pelo contrário, é preciso
interagir, criando uma rede de troca de informações variadas, pois “da hetero-
geneidade de vozes pode emergir o novo, o desconhecido, a fim de enriquecer
todo o processo de aprendizagem” (SERCUNDES, 1997, p. 86). Vale ressaltar, no
entanto, que:
“
Para que a escola possa incorporar essa proposta, é necessário que
se construa uma nova escola que dê condições aos alunos de ex-
pressarem as próprias experiências de vida e, partindo dessas, se
51
desenvolva um processo de aprendizagem que apresente novos co-
UNIDADE 2
“
As contradições internas deste mundo social, os diferentes acentos
apreciativos que nele circulam estão a mostrar diferentes nuanças
nas compreensões que produzimos dos mesmos fatos […]. É por
isso que na “minha” palavra me (re)velo na contra-palavra do outro
que me constitui como sujeito.
52
Na verdade, aluno(a), em muitos casos, o próprio escritor, ao ler e analisar o seu
UNICESUMAR
texto, torna-se leitor e, assim, crítico de seu produto, pois, ainda segundo Geraldi
(1996), “o próprio autor é leitor de si mesmo, e é enquanto leitor – um outro de
si mesmo – que o autor se corrige” (p. 141).
De modo distinto das outras concepções, nesta, cada texto funciona como
lançamento a outras produções, inclusive, sob a estrutura de outros gêneros. No
relato a seguir, você encontra uma dessas situações:
“
Na escola A, os alunos da sétima série estavam estudando, na aula de
português, os processos de comunicação veicular no interior da es-
cola. A partir da análise e escritas de textos emergentes do cotidiano
escolar, foi feito um projeto para a organização de um mural con-
tendo esses textos. Dando continuidade ao trabalho, a elaboração
de convites para peças teatrais deu origem à discussão e à escrita de
textos teatrais cuja confecção e dramatização sintetizaram o estudo
sobre os processos de comunicação (SERCUNDES, 1997, p. 84).
pensando juntos
“Um mesmo texto mudadas as formas de produção, circulação e recepção, ainda que
sendo “o mesmo”, passa a pertencer a um gênero discursivo diferente.
Fonte: Beth Brait.
53
UNIDADE 2
b) as atividades
a) a escrita é
prévias servem
processual; como suporte
para o trabalho;
c) a produção
textual tem uma d) existe um
finalidade social planejamento
definida; antes da escrita;
e) durante o
planejamento o
gênero textual f ) o leitor é
também é levado em conta;
considerado;
g) a revisão é feita
durante todo o h) o texto circula
processo de em um ambiente
produção e, sociocomunicativo
se necessário, o em determinado
texto é reescrito; suporte.
Segundo o Mini Dicionário Houaiss (2009), a palavra trabalho significa “atividade produ-
tiva ou criativa, exercida para determinado fim” ou ainda “esforço, lida” (p. 734). Quais
relações podemos traçar entre esse conceito e a concepção de escrita como trabalho?
Fonte: os autores.
55
2
OS PROCESSOS DE
UNIDADE 2
REVISÃO
e Reescrita
“
A escrita é um trabalho no qual o sujeito tem algo a dizer e o faz
sempre em relação a um outro (o seu interlocutor/leitor) com um
certo propósito. Em razão do objetivo pretendido (pra quem escre-
ver?), do quadro espacio-temporal (onde? quando?) e do suporte de
veiculação, o produtor elabora um projeto de dizer e desenvolve esse
projeto, recorrendo a estratégias linguísticas, textuais, pragmáticas,
cognitivas, discursivas e interacionais, vendo e revendo, no próprio
percurso da atividade, a sua produção (KOCH; ELIAS, 2009, p. 36).
56
A escrita, normalmente, realiza-se individualmente, mas o autor trabalha em
UNICESUMAR
conjunto, visto que “a enunciação é o produto da interação de dois indivíduos
socialmente organizados e, mesmo que não haja um interlocutor real, este pode
ser substituído pelo representante médio do grupo social a qual pertence o locu-
tor” (BAKHTIN; VOLOCHINOV, 2009, p. 116). Desse modo, o locutor se torna
interlocutor do próprio texto, já que o enunciador, entendido como aquele que,
por meio da língua e em conjunto dos signos, enuncia o seu discurso em função
de um outro:
“
Deve apropriar-se de habilidades de estruturação do discurso, prin-
cipalmente quando se trata de discurso escrito formal, que levem em
conta que o seu objetivo é estabelecer um elo na cadeia dialógica das
relações sociohistóricas. Entre essas habilidades está a capacidade de
distanciamento do próprio texto para observá-lo e analisá-lo quanto
ao seu funcionamento junto a um leitor virtual, isto é, a capacidade
de dirigir e controlar a atenção sobre os pontos críticos do processo
enunciativo – a habilidade de deslocamento do papel de enunciador
para o papel de leitor (GARCEZ, 1998, p. 156).
“
A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema
abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica
isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fe-
nômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação
57
ou das enunciações. A interação verbal constituiu assim a realidade
UNIDADE 2
Nesse sentido, sendo a língua escrita, assim como as outras modalidades, uma
atividade interativa, em que o autor afeta e é afetado por seu(s) interlocutor(es),
a preocupação com o que se escreve e o modo como se escreve se torna crucial.
Por isso, devemos aproveitar o tempo maior entre o planejamento e a produção
final para, literalmente, trabalharmos o texto, assumindo-o como um processo,
e não apenas um produto. Afinal, escrever:
“
É uma tarefa cujo processo não se completa, simplesmente, pela
codificação das ideias ou das informações, através de sinais gráficos.
Ou seja, produzir um texto escrito não é uma tarefa que implica
apenas o ato de escrever. Não começa, portanto, quando tomamos
nas mãos papel e lápis. Supõe, ao contrário, várias etapas, interde-
pendentes e intercomplementares, que vão desde o planejamento,
passando pela escrita propriamente, até o momento posterior da
revisão e reescrita (ANTUNES, 2003, p. 54).
UNICESUMAR
processo de produção textual desde o planejamento, de tal ma-
neira que o escritor possa coordenar eficientemente os papéis
de produtor, leitor e avaliador do seu próprio texto. Isso signi-
fica deslocar a ênfase da intervenção, no produto final, para o
processo de produção, ou seja, revisar, desde o planejamento,
ao longo de todo o processo: antes, durante e depois. A me-
lhor qualidade do produto, nesse caso, depende de o escritor,
progressivamente, tomar nas mãos o seu próprio processo de
planejamento, escrita e revisão dos textos (BRASIL, 1997, p. 51).
Nessa etapa, o aluno irá rever o que escreveu, refletir sobre seus ar-
gumentos, suas ideias, verificar se os objetivos foram alcançados;
observar a continuidade temática, analisar se o texto está claro, se
atende à finalidade, ao gênero e ao contexto de circulação; avaliar
se a linguagem está adequada as condições de produção, aos in-
terlocutores, rever as normas de sintaxe, bem como a pontuação,
ortografia, paragrafação (PARANÁ, 2008, p. 69-70).
“
Desenvolver estratégias de planejamento, revisão, edição, reescri-
ta/redesign e avaliação de textos, considerando-se sua adequação
aos contextos em que foram produzidos, ao modo (escrito ou oral;
imagem estática ou em movimento etc.), à variedade linguística e/ou
semioses apropriadas a esse contexto, os enunciadores envolvidos,
o gênero, o suporte, a esfera/ campo de circulação, adequação à
norma-padrão etc. (BRASIL, 2017, p. 78).
Notamos, no entanto, que, na escola, não é comum que o texto produzido pelos
alunos tenha mais de uma versão: o mais recorrente é que os estudantes produ-
zam apenas a primeira versão, o que não contribui “para o texto ser entendido
como processo ou para desenvolver a habilidade de revisar” (BRASIL, 1997, p.
51). Entendemos que, em muitos casos, a carga horária do docente é alta e as
condições de trabalho podem não favorecer a revisão e a reescrita, mas também
reconhecemos que a escrita proposta sem o objetivo de desenvolver a compe-
59
tência do aluno não faz sentido. É necessário, assim, buscarmos estratégias que
UNIDADE 2
pensando juntos
Tendo em vista a conjuntura atual das instituições de ensino, quais são os desafios do
professor enquanto revisor e principal responsável pelo desenvolvimento da escrita de
seu aluno?.
“
[...] confirmar se os objetivos foram cumpridos, se conseguiu a con-
centração temática desejada, se há coerência e clareza no desenvol-
60
vimento das ideias, se há encadeamento entre os vários segmentos
UNICESUMAR
do texto, se há fidelidade às normas da sintaxe e da semântica – con-
forme preveem as regras de estrutura da língua –se respeitou, enfim,
aspectos da superfície do texto, como a ortografia, a pontuação e a
divisão do texto em parágrafos. [...], para decidir o que fica, o que
sai, o que se reformula.
“
Sensibilizar o aluno para a necessidade de objetivar o texto e de tomar
distância face ao que escreveu, fornecer-lhe instrumentos que ajudem
a análise de sua própria escrita e facultar-lhe, na aula, momentos espe-
cificamente dedicados à revisão, é, pois, um percurso que se impõem,
se queremos que as aquisições relativas à escrita sejam efetivas e con-
tribuam para uma progressão do aluno nesse domínio.
Assim, durante a revisão, o autor se torna crítico do próprio produto, pois assume
o papel de leitor de seu texto e, dessa forma, nota problemas não percebidos antes
e constata que o texto está sempre aberto a modificações, podendo ser melhorado
a cada reescrita. A revisão e a reescrita, portanto, têm “uma função retrospectiva,
que sinaliza os ‘achados feitos’, e uma função prospectiva, no sentido de que nos
aponta ‘como devemos prosseguir’, o que fazer ‘daqui em diante’, por ‘onde ir’, ‘a
que ponto voltar’ etc.” (ANTUNES, 2006, p. 166).
Acadêmico(a), neste processo, além do aluno, quem se torna um dos princi-
pais responsáveis pela escrita? Se você respondeu o professor acertou! Por isso,
no próximo tópico, enfatizamos esse personagem.
61
3
O PAPEL DO
UNIDADE 2
PROFESSOR
no Processo de Produção
Textual
“
O trabalho de retextualização realizado pelo aluno que revisa em fun-
ção de uma correção pelo professor não é um trabalho solitário, como
a princípio pode parecer (muito embora a solitude da tarefa de escrita
lhe seja imanente). Esse seu trabalho é, necessariamente, e pela própria
natureza, um trabalho a quatro mãos. De modo que toda e qualquer
consideração que se faça a respeito do maior ou menor sucesso do
aluno na tarefa de revisão (retextualização) deve inalienavelmente
levar em conta a participação efetiva do mediador (o professor) no
processo como um todo (RUIZ, 2010, p. 26).
Para que o aluno siga as orientações do revisor, é preciso que este esteja atento aos
seus apontamentos, pois ele possui um papel relevante e influencia na revisão e
reescrita”. Segundo Menegassi (2000), os feedbacks, para serem eficazes, precisam
apresentar quatro componentes básicos:
62
UNICESUMAR
1. Apresentação do problema a ser revisado.
2. Identificação da localização do problema.
3. Apresentação do contexto em que se encontra o problema.
4. Oferecimento de diretrizes para a reformulação do problema levantado.
Ruiz (2010) reforça que o professor deve se preocupar, também, com a leitura
que faz do texto do aluno, uma vez que é a partir dela que o autor fará, ou não, a
reestruturação textual. Nesse sentido, devemos lembrar que, assim como o texto
do aluno pode ter diferentes interpretações, os comentários marcados na revisão
também podem estar ambíguos e, por consequência, causar um efeito contrário
ao pretendido. Tal problema pode acontecer, porque, embora o professor tenha
uma boa intenção acerca de seu trabalho com a escrita, não tem clareza teórica
e metodológica para explicitá-la ao aluno.
Serafini (1998), na tentativa de ajudar o educador no momento da revisão,
aponta seis princípios a serem considerados durante a revisão:
a. A correção não deve ser ambígua: é preciso mostrar o erro
de forma precisa.
b. Os erros devem ser reagrupados e catalogados.
c. O aluno deve ser estimulado a rever as correções feitas, com-
preendê-las e a trabalhar sobre elas.
d. Deve-se corrigir poucos erros em cada texto.
63
e. O professor deve estar pré-disposto a aceitar o texto do alu-
UNIDADE 2
Vale enfatizar que o professor não deve apontar todos os problemas dos textos de
uma só vez, pois, se assim o fizer, correrá o risco de desmotivar o aluno ou con-
fundi-lo com tantas observações. Uma das maneiras de evitarmos esse problema
é selecionarmos os temas a serem destacados em cada proposta, como ortografia,
acentuação e pontuação; já outra maneira seria o desenvolvimento da temática
e assim por diante.
Posterior à intervenção do professor, o aluno pode adotar diferentes operações
na reestruturação do texto. Fabre (1986, apud MENEGASSI, 1998, p. 46) sistemati-
zou quatro operações linguísticas usadas pelos discentes durante a reescrita. Vamos
conhecê-las?
a. Adição ou acréscimo: pode tratar-se do acréscimo de um
elemento gráfico, acento, sinal de pontuação, grafema [...], mas
também de uma palavra, de um sintagma, de uma ou de várias
frases.
b. Supressão: supressão sem substituição do elemento suprimi-
do. Ela pode ser aplicada sobre unidades diversas, acentos, gra-
femas, sílabas, palavras sintagmáticas, uma ou diversas frases.
c. Substituição: supressão, seguida por substituição por um
termo novo. Ela se aplica sobre um grafema, uma palavra, um
sintagma, ou sobre conjuntos generalizados.
d. Deslocamento: permutação de elementos, que acaba por
modificar sua ordem no processo do encadeamento.
64
Para melhor entendermos essas operações que envolvem a reescrita, apresenta-
UNICESUMAR
mos alguns exemplos destacados por Menegassi (1998), coletados em textos de
alunos do curso de Letras:
O uso das quatro operações linguísticas depende muito do tipo de revisão feita
pelo professor, da forma como se materializa e do estímulo que transmite. Por
isso, no próximo tópico, passamos a descrever acerca dos tipos de revisão textual.
65
4
TIPOS DE
UNIDADE 2
REVISÃO
Aluno(a), você já tentou encontrar um livro que o(a) orientasse na prática da escrita? Sera-
fini (1998), em seu livro Como escrever textos, dedica-se a essa tarefa.Assim, em uma parte,
em especial, explica que as intervenções de revisão podem se apresentar de três modos:
UNICESUMAR
ta a revisão textual-interativa, a qual, conforme essa autora, trata-se “de comentários
mais longos do que os que fazem na margem, razão pelo qual são geralmente escritos
em sequência do texto do aluno [...] na forma de pequenos ‘bilhetes’ […]” . Ao com-
pararmos os princípios de revisão mostrados por Serafini (1998) e os tipos de
correção apontados por ela e por Ruiz (2010), notaremos que alguns deles podem
não colaborar para o desenvolvimento do texto.
A correção indicativa, por exemplo, pode ser ambígua, já que apenas uma
indicação não deixa evidente o que deve ser revisto, podendo acarretar no des-
caso com o apontamento. De forma similar, na correção classificatória, um sinal,
se não for de conhecimento do aluno, confundirá o escritor. Por exemplo, se o
professor colocar um símbolo no início da frase para marcar a falta de parágrafo,
sem explicar o significado, o aluno pode ignorar o pedido do revisor. A correção
resolutiva, por sua vez, não permite que o aluno reflita ou trabalhe sobre o seu
erro, uma vez que ele, provavelmente, apenas o substituirá pela forma marcada
pelo docente. Portanto, esse método de correção não incentivaria o aluno a refletir
sobre a escrita e a revisão.
Para Nascimento (2009), a revisão textual-interativa é inovadora por cons-
truir um espaço interativo entre docente e aluno, pois, por meio dela, a revisora
“deixou de ocupar a posição de alguém que lê para apontar os erros gramaticais
e ortográficos dos alunos, tornando-se uma ‘interlocutora interessada’ no que os
alunos têm a dizer em seus textos” (p. 77). Ainda, os bilhetes permitem a abor-
dagem de “aspectos mais amplos relacionados à macroestrutura textual e aos
modos de circulação do gênero, que dificilmente poderiam ser apontados através
de marcações ou símbolos” (NASCIMENTO, 2009, p. 66).
Ademais, há a possibilidade de haver uma maior proximidade entre escritor
e revisor, uma vez que, ao utilizar o recurso interativo, o docente tem a possibili-
dade de elogiar os pontos positivos e incentivar o aluno ao crescimento textual,
de modo a levá-lo a refletir sobre seu texto por meio de um diálogo, diminuir o
distanciamento e proporcionar mais envolvimento. Assim, ao mesmo tempo em
que o professor “explica, esclarece, instrui, define regras que asseguram a compe-
tência mínima esperada, modela, monitora, estimula e elogia o progresso, sempre
com um papel crítico e positivo” (GARCEZ, 1998, p. 42).
67
UNIDADE 2
“
A noção do processo de ensino como transmissão, concebendo-se
a sala de aula como lugar de interação verbal e por isso mesmo de
diálogo entre sujeitos, ambos portadores de diferentes saberes. São
os saberes do vivido trazidos por ambos – alunos e professores – que
se confrontam com outros saberes, historicamente sistematizados e
denominados “conhecimentos” que dialogam em sala de aula (GE-
RALDI, 1997, p. 21).
Gonçalves (2009), entre os quatro tipos de análise textual que podem ser realizadas
pelo professor, prioriza a revisão interativa, que se assemelha à textual-interativa de
Ruiz (2010). O autor, no entanto, defende que o docente deve apoiar o seu trabalho
em listas de controle, considerando as características do gênero discursivo, a par-
tir de sequências didáticas. Para Gonçalves (2009), esse método de revisão “pode
oferecer importante caminho para o educando operar qualificações com e sobre a
linguagem […]” (p. 21). De posse desse material de apoio formulado pelo professor,
68
o aluno reflete sobre vários pontos: a adequação ao gênero, a construção do texto, a
UNICESUMAR
coerência, a coesão, o desenvolvimento da temática, os desvios gramaticais e entre
outros. Em resumo, as listas de constatações seriam construídas com perguntas
que guiam os alunos durante o processo de revisão, tais como: “Você selecionou as
informações prioritárias, de modo que o professor possa avaliar a sua compreen-
são global do texto? Não existem desvios gramaticais, tais como pontuação, frases
truncadas/incompletas?” (GONÇALVES, 2009, p. 24).
Gonçalves (2009) também esclarece que esse recurso não é a solução para todas
as dificuldades enfrentadas pelo docente no momento da revisão, haja vista que ela
é somente uma das etapas da produção textual. O estudioso nos lembra, contudo,
que os comentários interativos fazem que o professor mantenha o exercício dialó-
gico da linguagem por meio da interação que mantém com o autor (ESPER, 2011).
Independentemente do tipo de revisão, os critérios de avaliação devem es-
tar bem claros ao professor e, principalmente, ao aluno. Além disso, o educador
precisa estar atento às necessidades reais do aprendiz, a fim de não cair no erro
de favorecer, com maior dedicação, aqueles que respondem com mais facilidade
ao seu trabalho, pois são os alunos que mais têm dificuldade que necessitam de
mais atenção. Isso se deve, porque eles não têm o conhecimento necessário para a
reestruturação do texto e, por isso, necessitam de, além das instruções via bilhetes,
orientações pessoais.
Vale ressaltar, acadêmico(a), que o professor não precisa ser o único avaliador
do texto do aluno, até mesmo porque o próprio autor deve fazer a autoavaliação.
Para Cabral (1994), essa tarefa será facilitada:
“
[…] se for acompanhada de instrumentos de apoio e se for pedido
ao aluno que se avalie mediante parâmetros por ele conhecidos. Daí
a necessidade de se construir grelhas de avaliação, de preferência
com a colaboração dos alunos que, ao participarem nessa constru-
ção, reforçam e investem o que aprenderam anteriormente. Assim
se associará a avaliação à aprendizagem (p. 119).
69
“
Primeiro, se aguçaria esse olhar avaliador, no sentido, claro, cons-
UNIDADE 2
Um dos pontos a serem observados diz respeito aos aspectos focalizados na re-
visão, pois é muito comum que priorizemos os aspectos pontuais baseados em
critérios gramaticais, em detrimento de outros elementos tão ou mais relevantes
para a produção.
Jesus (2001) denomina essa espécie de revisão de higienização da escrita pois
o revisor desenvolve o seu trabalho de revisão como se estivesse fazendo uma
verdadeira limpeza, cujo foco são os erros gramaticais. “Como resultado temos
um texto, quando muito, ‘linguisticamente correto’, mas prejudicado na sua po-
tencialidade de realização (p. 102). Desse modo, o aluno entende a revisão como
uma punição, uma imposição do professor que deve ser seguida de forma rígida,
deixando de lado a sua idiossincrasia, uma vez que somente se apropria do modo
de dizer/escrever do revisor.
Você deve ter notado, caro(a) aluno(a), que essa não é uma tarefa fácil, não é
mesmo? De acordo com Menegassi (1998), a partir do momento em que o pro-
fessor compreende “a importância de seus comentários na construção textual dos
alunos, conscientiza-se de que deve melhorar a qualidade de suas observações, o
que, invariavelmente, é refletido na avaliação do texto, tanto por parte do aluno,
como por parte do professor” (p. 61). Para Antunes (2006), a consciência da res-
ponsabilidade e a competência do avaliador no processo de revisão do texto são
reflexos de sua própria formação. A autora enfatiza, ainda, que:
“
É inadiável, ainda, que se ponha como ponto de estudo, nos cursos de
graduação, o processo da avaliação e seus múltiplos procedimentos
didáticos. Além disso, não se pode ter grandes expectativas de sucesso
escolar, se os professores não demonstram ser leitores assíduos, não
são capazes de escrever, com coerência e relevância um texto formal,
se os professores, enfim, não têm uma visão mais relevante e interativa
do funcionamento social da língua (ANTUNES, 2006, p. 177).
70
Esse resultado nos mostra que o ato de revisar os textos e, principalmente, o de
UNICESUMAR
reescrever, ainda precisam ser muito explorados e trabalhados nas salas de aula,
inclusive nos cursos de Letras. Isso se deve, para que, dessa forma, a escrita deixe
de ser entendida como um dom ou como uma inspiração e passe a ser entendida
realmente como um trabalho, que, como tal, precisa ser aprimorada a cada dia,
pois “não acontece gratuitamente, por acaso, sem ensino, sem esforço, sem per-
sistência. Supõe orientação, vontade, determinação, exercício, prática, tentativas”
(ANTUNES, 2003, p. 60).
71
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 2
Caro(a) estudante, finalizamos mais uma parte do estudo, a qual foi dedicada à
escrita. Inicialmente, ao “caminharmos” pelas três concepções, entendemos que
a concepção de escrita como trabalho tem base no sócio-interacionismo, o qual
sustenta que a linguagem serve à interação humana. Assim, entendemos o texto
como uma das atividades que visam à interação, focalizando um interlocutor.
Nesse sentido, compreendemos que essa é uma tarefa processual que, como
tal, envolve várias etapas: planejamento, escrita, revisão e reescrita. Por isso, a pro-
dução textual, independentemente da situação em que é proposta, exige bastante
de nós, tanto como aluno(a) quanto professor(a).
Ao assumirmos o papel de autores, somos levados a considerar o nosso leitor,
o objetivo, o gênero discursivo, a situação comunicativa e muitos outros fatores
que influenciam e encaminham nosso trabalho. Desse modo, na escola, o profes-
sor assume o lugar de mediador e, com isso, grande responsabilidade, pois, por
meio de suas considerações, orienta o discente e, por consequência, o direciona
em seu desenvolvimento quanto à competência em escrever.
Tendo em vista tamanha responsabilidade, precisamos assumir, de fato, esse papel
e conduzir o nosso trabalho com base em teorias e práticas já estudadas e que possam
nos auxiliar, uma vez que, muitas vezes, pecamos apenas por desconhecimento.
Assim, ao fim, conhecemos os três tipos de revisão apresentados por Sera-
fini (1998), a saber: indicativa, classificatória e resolutiva, bem como as revisões
textual-interativa e a interativa, de Ruiz (2010) e Gonçalves (2009), das quais as
reconhecemos como as mais adequadas, pois possibilitam a reflexão do autor
sobre o seu processo de produção. Além disso, chamam a sua atenção para a
função interativa e dialógica da linguagem.
Como podemos perceber a escrita é uma atividade complexa, mas, por ser
um trabalho, é passível de ser constantemente desenvolvida.
Sigamos sempre aprendendo, aluno(a), autor(a), professor(a)!
72
na prática
a) O professor deve corrigir todos os erros dos alunos, pois a sua revisão apontará
os problemas que devem ser evitados.
b) O professor deve mostrar ao aluno, por meio de bilhetes, que ele não deve fugir
às regras gramaticais, pois esses erros impedem a interação.
c) O professor deve entender a sua revisão como uma forma de interação e orien-
tação, deixando-a clara e precisa.
d) O professor deve fazer que o aluno revise o seu texto sozinho, para que possa
criar autonomia.
e) O professor não precisa se dedicar tanto à sua escrita, pois um bom aluno precisa
compreender os seus apontamentos prontamente.
73
na prática
a) Entende-se que a escrita é um dom inato, ou seja, os sujeitos que, desde novos,
têm facilidade para produzir textos serão mais competentes.
b) Entende-se a escrita como um exercício a ser desenvolvido continuamente e
que, por isso, envolve etapas.
c) A produção textual, na escola, deve focalizar os aspectos gramaticais, pois a língua
é formada por esses elementos.
d) A produção textual, na escola, deve ser proposta como um trabalho resultante
das atividades de leitura.
e) A produção textual serve para a comunicação entre aluno e professor apenas
dentro do contexto da escola.
74
aprimore-se
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) substituiu, há cerca de dois anos, os Pa-
râmetros Curriculares Nacionais (PCN), quanto ao ensino escolar. No que diz res-
peito à Língua Portuguesa, mais especificamente à escrita, o documento destaca
algumas orientações:
O Eixo da Produção de Textos compreende as práticas de linguagem relaciona-
das à interação e à autoria (individual ou coletiva) do texto escrito, oral e multis-
semiótico, com diferentes finalidades e projetos enunciativos como, por exemplo,
construir um álbum de personagens famosas, de heróis/heroínas ou de vilões ou vi-
lãs; produzir um almanaque que retrate as práticas culturais da comunidade; narrar
fatos cotidianos, de forma crítica, lírica ou bem-humorada em uma crônica; comen-
tar e indicar diferentes produções culturais por meio de resenhas ou de playlists
comentadas; descrever, avaliar e recomendar (ou não) um game em uma resenha,
gameplay ou vlog; escrever verbetes de curiosidades científicas; sistematizar dados
de um estudo em um relatório ou relato multimidiático de campo; divulgar conhe-
cimentos específicos por meio de um verbete de enciclopédia digital colaborativa;
relatar fatos relevantes para a comunidade em notícias; cobrir acontecimentos ou
levantar dados relevantes para a comunidade em uma reportagem; expressar posi-
ção em uma carta de leitor ou artigo de opinião; denunciar situações de desrespeito
aos direitos por meio de fotorreportagem, foto denúncia, poema, lambe-lambe, mi-
cro roteiro, dentre outros.
O tratamento das práticas de produção de textos compreende dimensões inter-
-relacionadas às práticas de uso e reflexão, tais como:
■ Consideração e reflexão sobre as condições de produção dos textos que re-
gem a circulação de diferentes gêneros nas diferentes mídias e campos de
atividade humana.
■ Dialogia e relação entre textos.
■ Alimentação temática.
■ Construção da textualidade.
■ Aspectos notacionais e gramaticais.
■ Estratégias de produção.
75
aprimore-se
Da mesma forma que na leitura, não se deve conceber que as habilidades de pro-
dução sejam desenvolvidas de forma genérica e descontextualizadas, mas por meio
de situações efetivas de produção de textos pertencentes a gêneros que circulam
nos diversos campos de atividade humana. Os mesmos princípios de organização
e progressão curricular valem aqui, resguardadas à mudança de papel assumido
frente às práticas discursivas em questão, com crescente aumento da informativi-
dade e sustentação argumentativa, do uso de recursos estilísticos e coesivos e da
autonomia para planejar, produzir e revisar/editar as produções realizadas. Aqui,
também, a escrita de um texto argumentativo no 7º ano, em função da mobilização
frente ao tema ou de outras circunstâncias, pode envolver análise e uso de diferen-
tes tipos de argumentos e movimentos argumentativos, que podem estar previstos
para o 9º ano. Da mesma forma, o manuseio de uma ferramenta ou a produção de
um tipo de vídeo proposto para uma apresentação oral no 9º ano pode se dar no
6º ou 7º anos, em função de um interesse que possa ter mobilizado os alunos para
tanto. Nesse sentido, o manuseio de diferentes ferramentas – de edição de texto, de
vídeo, áudio etc. – requerido pela situação e proposto ao longo dos diferentes anos
pode se dar a qualquer momento, mas é preciso garantir a diversidade sugerida ao
longo dos anos.
Fonte: Brasil (2017).
76
eu recomendo!
livro
livro
A escrita e o outro
Autor: Lucília Garcez
Editora: UNB
Sinopse: a autora, amparada nas teorias atuais de Bakhtin, Vygot-
sky, Bronckart e Scheneuwly, apresenta uma pesquisa educacio-
nal, a fim de compreender o fenômeno da escrita e suas práticas
escolares. Assim, analisa comentários de docentes, os quais fo-
ram desenvolvidos durante a revisão da produção textual e reflete sobre esses
diálogos.
conecte-se
77
3
PROCESSO DE ENSINO
APRENDIZAGEM
de Língua Portuguesa: Análise
Linguística
PROFESSORES
Me. Débora Sodré Esper
Me. João Carlos Dias Furtado
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Tipos de gramática • Da gramática
à análise linguística: nova concepção acerca do ensino gramatical • Por que ensinar/estudar gramática.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Conhecer os tipos de gramática • Conhecer o novo conceito de gramática • Perceber a importância do
ensino gramatical.
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a), o que vem à sua mente quando você pensa no estudo
gramatical? Certamente, prevalecem as regras, nomenclaturas e classifica-
ções, além do sentimento de insegurança em relação a tais aspectos. Certo?
Essa, infelizmente, não é uma questão apenas sua. O processo de ensi-
no/aprendizagem de gramática ou, conforme a nomenclatura mais recente,
análise linguística, tornou-se, há bastante tempo, um problema para pro-
fessores e alunos. Estes o veem como algo cansativo e sem finalidade, aque-
les como um desafio constante, pois não conseguem mudar esse quadro.
Mesmo com tantos estudos voltados ao tema, o problema permanece nas
escolas, o que faz os discentes sempre se questionarem sobre o porquê de
estudar gramática. Essa realidade não poderia ser diferente, visto que, na
maioria, dos casos, eles passam toda a vida escolar e, às vezes, até acadêmica,
decorando regras que parecem não ter nenhuma utilidade.
Por isso, para entender todo o processo que levou o ensino gramatical
à falência, faremos um percurso que vai desde os primeiros estudos gra-
maticais até os contemporâneos, pesquisando os objetivos pretendidos e
as metodologias utilizadas em todo esse caminho. Conheceremos, ainda,
os tipos de gramáticas que predominaram ao longo dos anos, a influência
dos gregos e dos romanos na construção da disciplina, bem como enten-
deremos, enquanto alunos e docentes, a importância dessa parte do estudo
da língua. Não só, mas visualizaremos as mudanças de pensamento e as
concepções que surgiram junto à nova nomenclatura: análise linguística.
Como base teórica, nos ampararemos em autores renomados na área,
como Travaglia, Perini, Faraco e Mendonça, além, evidentemente, dos
documentos oficiais que orientaram e/ou orientam o ensino da Língua
Portuguesa. Está curioso para conhecer tudo isso? Então, acompanhe-nos
nesta jornada de aprendizagem! Bom estudo!
1
TIPOS DE
UNIDADE 3
GRAMÁTICA
Caro(a) aluno(a), desde o princípio até os dias atuais, o ensino de gramática teve
como base diferentes objetivos, assumidos de acordo com o contexto sócio-his-
tórico de cada época.
Assim como esclarece Faraco (2006), os estudos iniciais a respeito da gramá-
tica começaram por volta de 2000 a. C, pelos babilônios. Mais tarde, em torno do
século IV a. C., os chineses também se dedicaram a esse tema. Na mesma época,
os hindus, com ênfase à Panini, “dedicaram-se a descrever minuciosamente sua
língua, produzindo modelos de análise que foram descobertos pelo ocidente no
final do século XVIII”, conforme explana Petter (2002, p. 12). A visão de gramática
tal qual temos hoje, no entanto, foi influenciada pelos gregos, os quais tiveram
três motivações: política, filosófica e social.
Na sociedade ateniense, especialmente devido à instauração da democracia,
os debates políticos fizeram que os participantes se dedicassem ao estudo da
retórica. Assim, o discurso falado tinha de ser profundamente trabalhado, para
que, por meio da linguagem, convencessem o público sobre o ponto de vista de-
fendido. Por isso, as escolhas linguísticas eram feitas metódica e organizadamente.
Cada figura de linguagem, cada verbo ou mesmo a organização dos elementos na
80
frase tinham um papel extremamente importante na concretização dos objetivos
UNICESUMAR
pretendidos pelos oradores.
Fora a motivação política, o estudo gramatical também teve, sobretudo com
Platão e Aristóteles, um caráter filosófico. Platão, tomando o logos (palavra) como
unidade mínima do discurso, categorizou os elementos sintáticos da sentença
em sujeito e predicado, os elementos linguísticos formadores dessas sentenças
em classes de palavras (verbos, substantivos, adjetivos, pronomes etc.) e, para
ligar esses elementos, os conectivos. Essa estruturação da linguagem se amparou
na noção que se tinha da língua: um código fechado, lógico e que expressava o
pensamento do falante.
Nesse sentido, segundo Travaglia (1996), a criação linguística dependia so-
mente “da capacidade de o homem organizar de maneira lógica seu pensamento
por meio de uma linguagem articulada e organizada” (p. 21). A verdade acerca
do que estava sendo dito, ou juízo de valor, era expresso pela combinação dos
vocábulos escolhidos. Como se pode perceber, não era levado em consideração
nenhum fator externo que pudesse influenciar o enunciado, somente fatores psi-
cológicos e cognitivos internos ao homem.
Passada a fase aristotélica, com a grande expansão territorial, os cidadãos
gregos buscaram criar uma normatização da língua utilizada, tendo em vista que
as conquistas de novos territórios traziam consigo diferentes idiomas e dialetos
que influenciavam na transformação da língua vernácula. Como uma forma de
manter um padrão dessa língua, o qual deveria ser seguido por todos, tomou-se,
como base, após uma comparação entre diversos textos antigos, a linguagem
utilizada por autores conceituados, mais precisamente, Homero. Assim, nasceu
a primeira gramática grega, formulada por Dionísio da Trácia, com o intuito de
purificar a língua, mantendo-a o mais próximo possível da considerada original.
Falar em língua padrão, sem considerar as variedades linguísticas e em sobre-
posição de um estilo de linguagem a outro, assim como fizeram os gregos, parece
uma discussão das últimas décadas, mas, como notamos, é uma prática que já
existe há muito tempo. Mesmo assim, ainda hoje, a sociedade tem dificuldade
para aceitar as variedades linguísticas. Os “fiscais” da língua estão em todos os
lugares, em especial, nas mídias, para sempre nos lembrar da pureza linguística
que existe apenas a eles e em um mundo fictício.
81
Voltemos à história!
UNIDADE 3
Com a queda do império grego e o domínio dos romanos sobre esse território, a
cultura dos dominados, na qual são incluídas a literatura e a língua, foi incorporada
a dos dominantes e a concepção de gramática normativa adotada foi justamente
com esse objetivo. As intenções dos romanos, ao usar esse tipo de gramática, conti-
nuavam as mesmas: impor um padrão para a língua – latim – e ditar regras para se
falar e escrever corretamente. Varrão foi o responsável por criar a primeira gramáti-
ca latina, apoiando-se, também, na linguagem dos famosos autores latinos e gregos.
Após os momentos de glória dos romanos, passamos por um período de
inconstâncias sociais e econômicas, época em que os estudos linguísticos foram
deixados de lado por um longo tempo, sem que houvesse grandes inovações
nesse campo.
explorando Ideias
Platão e Aristóteles são filósofos gregos que contribuíram, de modo significativo, à teoria
gramatical tal como a conhecemos. Platão identificou as partes do discurso e estabeleceu
uma nomenclatura específica aos estudos linguísticos. Para ele, o discurso, em sua tota-
lidade, é constituído por um componente que designa (sintagma nominal) e outro que
predica (sintagma verbal). A partir dessa bipartição platônica, surgiu a classificação das
palavras. Aristóteles contribuiu com as pesquisas de seu orientador ao designar mais um
elemento do discurso, o sydesmoy – termo que engloba, atualmente, as conjunções, os
artigos, os pronomes e preposições. Aristóteles se dedicou, ainda, aos tempos verbais,
formas de apresentação os adjetivos, gêneros dos nomes e advérbios.
Quer conhecer um pouco mais os estudos gregos voltados à gramática? Acesse o seguinte
artigo: https://philpapers.org/archive/CARLEG-2.pdf.
Fonte: os autores.
Assim, chegamos à Idade Média, época em que as línguas estavam passando por
transformações e o uso do latim já não era tão recorrente. Nessa fase, havia dois
grupos: um que, mesmo com o surgimento de línguas novas, tentava preservar
o latim; e outro que se deixou tomar pelas novas línguas formadas a partir do
idioma latino. Aqueles, compostos principalmente por religiosos, defendiam o
latim como superior às outras línguas; já estes, incentivados pela entrada de no-
vos idiomas advindos do latim popular, procuravam ampliar o acervo literário
e linguístico escritos nessas novas línguas. As tentativas do primeiro grupo de
82
manter o latim “vivo”, contudo, foram em vão, pois a língua se tornou, cada vez
UNICESUMAR
mais, menos recorrente. Ao contrário, as novas línguas tomaram seu lugar, em-
bora o modelo de gramática vinda desde os gregos permanecesse.
No século XVI, com a decadência do latim e a estabilidade das novas línguas,
entre elas, o português, houve a necessidade de sistematizar, descrever e estabe-
lecer novas normas sobre elas, o que gerou a criação de gramáticas e dicionários.
Não pense, no entanto, aluno(a), que surgiram muitas inovações quanto à orga-
nização da linguagem humana: manteve-se o sistema latino e o grego.
Nessa época, Antônio de Nebrija escreveu a primeira gramática das línguas
modernas, por volta de 1530, em castelhano. Já Fernão D’ Oliveira dedicou-se à
Língua Portuguesa, levando em consideração o critério de diferenciação dos sons
dessa língua com a de Castela, devido ao sentimento ufanista português. Com a
independência, Portugal tentava criar a sua identidade e, por isso, o autor usou,
como padrão, o dialeto mais distante possível do utilizado pelos castelhanos.
Em 1540, João de Barros lançou a gramática que é considerada por alguns
autores, como Faraco (2006), a mais conhecida no que se refere ao português. O
autor, para a sua criação, tentou enobrecer a sua língua fazendo descrições muito
semelhantes ao latim, procurando, assim, desviar a ligação do padrão escolhido
com dialetos, já que a inspiração era a língua que advinha dos deuses.
83
Dessa forma, tinha-se, como apoio, uma língua morta – o latim. Além disso, se na
UNIDADE 3
antiguidade, as tais normas eram úteis principalmente à fala, visto que o objetivo
era convencer os ouvintes por meio de discursos perfeitos, agora, esse padrão se
voltava, sobretudo, à escrita, uma vez que não correspondia à fala dos cidadãos.
No século XIX, a teoria Darwinista sobre a evolução das espécies influenciou
novos estudos acerca das estruturas linguísticas. Influenciados pelo cientista, os
estudiosos da linguagem passaram a entender que, da mesma forma como os
seres humanos não surgem de maneira independente, descendem de outros e
carregam traços genéticos consigo, as línguas também evoluem. Elas nascem,
crescem e morrem, mas deixam algumas marcas como herança para as novas
línguas. Nesse período, surge a gramática comparativa, cujo objetivo é cotejar as
línguas recorrentes, a fim de descobrir aquela que originaria as demais.
Junto à gramática comparativa, surge a descritiva, que tem o intuito de des-
crever as línguas, para compreender como elas se constituem, uma visão um
pouco mais social do que a normativa e a comparativa. Já na segunda metade
do século XIX e início do século XX, nos Estados Unidos e na Europa, surge o
estruturalismo, representado por Ferdinand Saussure, Edward Sapir e outros. A
partir desse momento, o estudo da linguagem passa a ter um status de ciência
autônoma: a linguística. No estruturalismo, conforme afirma Azeredo (1995), o
conceito de gramática passa a ser o mesmo de estrutura, pois os estudos se vol-
tam ao funcionamento da língua a partir de sua forma, algo bastante próximo ao
estruturalismo grego e latino.
Após essa longa trajetória, prezado(a) aluno(a), enfim, chegamos ao século XXI,
tempo em que se discute a globalização, a união entre os povos, o fim de tantos pre-
conceitos e, entre esses, o linguístico. Na teoria, no que diz respeito à análise das lín-
guas, esse seria o momento em que consideraríamos a evolução da língua e as varieda-
des linguísticas, deixando um pouco de lado a intitulação de “certo” ou “errado” e sem
separar os usuários da língua em aqueles que a “dominam” e os que “não a dominam”.
Essa é uma reflexão, assim como afirmamos, apenas real na teoria, pois, na
prática, quem de nós já não escutou as famosas frases: “Português é uma língua
muito difícil”; “Fala bem quem fala seguindo a norma padrão”; “Eu não sei falar
bem o português”; “Brasileiro não sabe nem falar” etc.? Nesse sentido, a realidade
nos mostra que, mesmo passados tantos séculos, ainda seguimos concepções re-
correntes há quase dois mil anos, com base em uma língua que nem existe mais.
Ainda, focamos na obediência às normas, na tentativa de estabelecer um padrão
de língua, que, na verdade, existe, de modo geral, somente em textos formais.
84
Aproximadamente Século V ao XV:
UNICESUMAR
1 100 a.C. Idade Média Século XVI
Segunda metade
Século XIX do século XIX e Século XXI
início do século XX
Teoria Darwinista na Estruturalismo: o estudo Globalização: evolução
estrutura linguística: da linguagem se torna a da língua. Surgem as
compreensão de que as Linguística. Conceito de variedades linguísticas e é
línguas também evoluem. gramática se torna o descartada a intitulação de
Surge a Gramática mesmo de estrutura, ou "certo" e "errado".
Comparativa. seja, o funcionamento da
língua parte de sua forma.
pensando juntos
85
2
DA GRAMÁTICA À ANÁLISE
UNIDADE 3
LINGUÍSTICA:
Nova Concepção Acerca do
Ensino Gramatical
“
[...] deve voltar-se para a observação e análise da língua em uso, o que
inclui morfologia, sintaxe, semântica e estilística; variedades linguísti-
cas; as relações entre a língua oral e escrita, quer no nível fonológico
ortográfico, quer no nível textual e discursivo, visando à construção
de conhecimentos sobre o sistema linguístico (PARANÁ, 2008, p. 60).
UNICESUMAR
saber. A gramática deve ser vista, portanto, como um instrumento para melhorar
a competência discursiva do aluno, e não como um fim em si mesmo” (RITTER,
2010, p. 87).
Os antigos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa ressal-
tam que:
“
A análise linguística refere-se a atividades que se podem classifi-
car em epilinguísticas e metalinguísticas. Ambas são as atividades
de reflexão sobre a língua, mas diferenciam-se nos seus fins. Nas
atividades epilinguísticas, a reflexão está voltada para o uso, no pró-
prio interior da atividade linguísticas em que se realiza. Já as ativida-
des metalinguísticas estão relacionadas a um tipo de análise voltada
para a descrição, por meio da caracterização e sistematização dos
elementos linguísticos (BRASIL, 1997, p. 53).
“
O Eixo da Análise Linguística/Semiótica envolve os procedimentos e
estratégias (meta)cognitivas de análise e avaliação consciente, durante
os processos de leitura e de produção de textos (orais, escritos e multis-
semióticos), das materialidades dos textos, responsáveis por seus efeitos
de sentido, seja no que se refere às formas de composição dos textos,
determinadas pelos gêneros (orais, escritos e multissemióticos) e pela
situação de produção, seja no que se refere aos estilos adotados nos
textos, com forte impacto nos efeitos de sentido (BRASIL, 2017, p. 82).
explorando Ideias
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento que regulamenta quais são
as aprendizagens essenciais a serem trabalhadas nas escolas brasileiras públicas e parti-
culares de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Ao ter como objetivo nortear os currículos dos estados e municípios de todo o Brasil a
partir dessas perspectivas, a BNCC coloca em curso o que está previsto no artigo nove
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) sancionada em 1996.
Segundo a LDB, cabe ao Governo Federal “estabelecer, em colaboração com os Estados, o
87
Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino
UNIDADE 3
O termo análise linguística usado pelos documentos traz consigo um novo con-
ceito e uma maneira inovadora de se pensar no ensino gramatical. Trata-se de
um trabalho que, primeiramente, toma o texto como objeto de análise, e não
como frases ou palavras soltas, uma vez que, assim como salienta Antunes (2003),
“toda atuação verbal se dá através de textos, independentemente de sua função
e extensão” e “é apenas no domínio do texto que as regularidades da gramática
encontram inteira relevância e aplicabilidade” (p. 92).
Geraldi (1997), um dos primeiros autores que levantou a discussão a respeito
da forma tradicional de ensino, explica do que se trata a análise linguística:
“
A análise linguística inclui tanto o trabalho sobre questões tradi-
cionais da gramática quanto questões amplas a propósito do tex-
to, entre as quais vale a pena citar: coesão e coerência internas do
texto; adequação do texto aos objetivos pretendidos; análise dos
recursos expressivos utilizados (metáforas, metonímias, paráfrases,
citações, discursos direto e indireto, etc.); organização e inclusão de
informações; etc. Essencialmente, a prática da análise linguística não
poderá limitar-se à higienização do texto do aluno nos seus aspectos
gramaticais e ortográficos, limitando-se a “correções”. Trata-se de
trabalhar com o aluno o seu texto para que ele atinja seus objetivos
junto aos leitores a que se destina (p. 74).
Mendonça (2006), a esse respeito, explica que a análise linguística surge como
outra opção de trabalho “às práticas de leitura e produção de textos, dado que
possibilitaria a reflexão consciente sobre os fenômenos gramaticais e textual-dis-
cursivos que perpassam os usos linguísticos” (p. 204).
Perfeito (2010) defende que, durante o processo de análise linguística, devemos:
“
[...] observar em um texto – de determinado gênero – o arranjo textual
e as marcas linguísticas enunciativas, vinculadas às condições de produ-
88
ção – interlocução, suporte, possíveis finalidades, época de publicação e
UNICESUMAR
circulação [...], no processo de construção de sentidos (p. 28).
explorando Ideias
“A boa prática em educação exige que os facilitadores expandam aquilo que os apren-
dizes trazem para a sala de aula, ouvindo e não apenas transmitindo, e respondendo às
articulações locais do que é ‘necessário.
Fonte: Street.
89
3
POR QUE
UNIDADE 3
ENSINAR/ESTUDAR
Gramática?
UNICESUMAR
o objetivo de estudarmos gramática, constatamos que o pensamento do referido
autor faz todo sentido. Transcrevemos as respostas dos alunos a seguir:
Aluno 02:
“É preciso estudar gramática para não
sermos incapazes de saber o que é
certo ou errado, na forma de escrever.”
Aluno 04:
“Para escrever corretamente, aprender
a aplicar suas regras ex: o uso do
porque aprender a pronunciar
corretamente as palavras e aprender a
escrevelas etc...”
Aluno 07:
“Porque é importante para nossa
aprendizagem, para que podemos
pronunciar melhor as palavras o som
das palavras, e ter um bom diálogo.”
Talvez, por isso, há o repúdio pela gramática, pois os estudantes passam anos e
mais anos decorando regras por acreditarem que sairão da escola dominando a
escrita. Entretanto, eles concluem seus estudos, em vários casos, sem a capacidade
de escrever adequadamente diferentes gêneros em variados contextos.
Nesse sentido, Perini (1999) defende que “quando justificamos o ensino de
gramática dizendo que é para que os alunos venham a escrever (ou ler, ou falar)
melhor, estamos prometendo uma mercadoria que não podemos entregar” (p. 50).
Já o aluno 07, ao afirmar que esse ensino auxiliará a “ter um bom diálogo”, en-
tende que, sem o domínio da gramática, não é possível interagir de forma clara, ou
seja, ser entendido. Sabemos, no entanto, que muitas pessoas que estudaram pouco
interagem do mesmo modo que os sujeitos os quais têm maior tempo de estudo.
Sobre o segundo problema do ensino gramatical – metodologia inadequa-
da –, Perini (1999) esclarece que, diferente de outras disciplinas cujas teorias se
91
amparam em explicações mais lógicas, no estudo linguístico gramatical, além
UNIDADE 3
UNICESUMAR
que o aluno já chega à escola dominando a fala e, às vezes, a escrita básica, o papel
da escola seria o de ampliar os conhecimentos linguísticos e o domínio da língua
escrita, para que, quando preciso, ele consiga interagir com o seu interlocutor ade-
quadamente, tendo em vista o seu objetivo e contexto de produção.
Dessa forma, o ensino gramatical teria uma razão funcional, uma vez que es-
tudaríamos o funcionamento da língua com um propósito: refletir sobre o texto
produzido/lido, analisando todos os recursos que a língua oferece, a fim de cons-
truirmos um enunciado que atinja os nossos intuitos como seres sociais e, da mes-
ma forma, considerar esses recursos para construir sentidos em textos alheios.
Travaglia (2004), a esse respeito, complementa que é preciso acreditar que
o homem se comunica por meio de textos. Assim, comunicar-se significa, de
alguma forma, linguística ou não, produzir um efeito de sentido entre o(s) produ-
tor(es) de um texto e o(s) seu(s) interlocutor(es). “Esse efeito de sentido é que faz
com que algo seja um texto. [...] Caso contrário, o que temos é só um amontoado
de elementos da língua, mas não um texto” (TRAVAGLIA, 2004, p. 44).
Nesse sentido, em sala de aula, o professor deve mostrar ao aluno que, ao se pro-
duzir um texto, ele precisa refletir sobre os recursos que a língua oferece, considerar
o gênero textual mais adequado, a variedade linguística apropriada, o seu leitor e as
suas intenções. O docente assumiria, desse modo, o papel de mediador no processo
de aprendizagem ao mostrar que uma escolha equivocada pode comprometer o texto
e provocar um efeito de sentido oposto ao pretendido. Vejamos um texto produzido
por um aluno do 4º ano do Ensino Fundamental I, cujo gênero é biografia:
Sem atribuir enfoque aos outros problemas que a produção apresenta, analisemos
o seguinte:
93
O aluno escolheu, como personagem de sua biografia, a própria mãe e, duran-
UNIDADE 3
te todo o texto, ele usou os verbos em terceira pessoa, assim como percebemos
na primeira linha e no início da segunda: “As coisas mais marcantes da vida
dela”. Ao citar os acontecimentos mais marcantes da vida da mãe, no entanto, o
autor muda a conjugação verbal para a primeira pessoa: “É o nascimento das
minhas filhas. A morte da minha mãe e do meu marido”. Veja como uma escolha
equivocada da pessoa verbal pode comprometer o entendimento do texto! Ao
ler, temos a impressão de que os acontecimentos mais marcantes da vida da mãe
foram o nascimento das netas, a morte do genro e o pior, a morte dela mesma.
Além de mostrar a importância da aplicação adequada dos elementos linguís-
ticos, podemos perceber que não é necessário que o professor dê, aos alunos, in-
cansáveis exercícios de conjugação verbal, realizados sem nenhum objetivo, além
da ocupação do tempo ou avaliação. As produções textuais são materiais valiosos
para esse trabalho, pois, assim, os alunos trabalharão com um propósito lógico.
Caro(a) estudante, dedicamo-nos, até o momento, ao modo como o ensino
gramatical deve ser realizado na escola, para que tenhamos um estudo gramatical
significativo e justificável. Precisamos, contudo, dedicarmo-nos a outro ponto mui-
to importante também, relacionado à primeira parte deste estudo: que tipo de gra-
mática escolher? Essa é uma questão debatida há bastante tempo no âmbito escolar.
Mesmo assim, ainda existem muitas divergências entre os autores especializados.
Possenti (1996) declara que “o objetivo da escola é ensinar o português padrão,
ou talvez, mais exatamente, o de criar condições para que ele seja aprendido” (p. 17).
O autor ressalta, ainda, que não podemos excluir as variedades linguísticas trazidas
pelo aluno, mas lhe apresentar a uma nova. No entanto, Faraco (2006, p. 25) com-
pleta a afirmação de Possenti (1996), ressaltando que “a norma padrão não é mais
um bem exclusivo da aristocracia; ela precisa ser cultivada e difundida como um
fator sociocultural do cidadão”. Contrário a tais visões, Antônio (2006) faz críticas
a esse uso e afirma que “o modelo de gramática normativa concebe a língua como
objeto autônomo e homogêneo” (p. 03), pois não considera as suas variações.
94
De maneira mais flexível, com a qual concordarmos, Travaglia (2004) sugere
UNICESUMAR
que trabalhemos com quatro tipos de gramática: a gramática de usos, a reflexiva,
a teórica e a normativa. Por gramática de usos, o estudioso entende um trabalho
voltado ao conhecimento da língua; por reflexiva e teórica, algo que vise ao co-
nhecimento sobre a língua. Além disso, o autor lembra que esse uso não precisa
ser efetivado de maneira estanque, ao contrário, podemos mesclar os tipos de
gramática, dependendo do objetivo do professor e do aprendiz.
Travaglia (2004) defende que “é necessário e importante que a educação
linguística ensine esta norma culta ou padrão dada a sua importância política,
econômica e cultural em nossa sociedade, inclusive como instrumento de mo-
bilidade social para os cidadãos” (p. 29). Devemos, evidentemente, esclarecer
que essa é apenas uma forma de uso da língua e que cada situação comunicativa
pede uma variedade diferente. Não seria conveniente, por exemplo, anunciar o
presidente de uma nação falando: “Aí mano, o cara chego”. Da mesma forma,
também soaria estranho anunciar a chegada de um amigo a uma festa informal
dizendo: “Senhores, o excelentíssimo senhor Gabriel adentra ao evento”.
Independentemente do tipo de gramática escolhido, o professor de Língua
Portuguesa deve tentar realizar um trabalho que leve em consideração a língua
em uso, contextualizando a gramática. Dessa maneira, assim como já ressaltamos,
os incansáveis exercícios estruturais de classificações e conceituações perdem o
seu sentido. Ninguém precisa saber o que é um substantivo ou um adjetivo para
produzir um bom texto. Podemos até ensinar os conceitos para conhecimento do
aluno, mas isso não deve ser parte essencial no processo de ensino/aprendizagem.
Por fim, devemos priorizar o trabalho gramatical com base em textos, mas não
usá-los sem um fim específico, por influência do meio, já que muito se defende
essa estratégia. É preciso utilizá-los como um instrumento que soma, até mesmo
porque ninguém se comunica por meio de palavras ou frases soltas, e sim por
textos planejados e organizados conscientemente, de acordo com um propósito e
interlocutor definidos.
95
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 3
96
na prática
1. Na primeira parte deste estudo, conhecemos alguns dos principais tipos de gramá-
tica. Quais são e como se caracterizam?
a) I e II.
b) II e III.
c) III.
d) II e IV.
e) I, II e III.
97
na prática
5. Por que, de acordo com Travaglia (2004), é necessário que se ensine a gramática
culta ou padrão aos alunos?
98
aprimore-se
A discriminação com base no modo de falar dos indivíduos é encarada com muita
naturalidade na sociedade brasileira. Os “erros” de português cometidos por anal-
fabetos, semianalfabetos, pobres e excluídos são criticados pela elite, que “disputa”
quem sabe mais a nossa língua. Essa é uma das constatações do linguista e pro-
fessor do Instituto de Letras (IL) da Universidade de Brasília (UnB) Marcos Bagno.
Segundo o pesquisador, o conhecimento da gramática normativa tem sido usado
como um instrumento de distinção e de dominação pela população culta.
“É que, de todos os instrumentos de controle e coerção social, a linguagem talvez
seja o mais complexo e sutil”, afirma. “Para construir uma sociedade tolerante com
as diferenças, é preciso exigir que as diversidades nos comportamentos linguísticos
sejam respeitadas e valorizadas”, defende.
O preconceito na língua faz com que os indivíduos se sintam humilhados ou inti-
midados com a possibilidade de cometer um erro de português. “Como se o fato de
saber a regência ‘correta’ do verbo implicar gerasse algum tipo de vantagem, de su-
perioridade, de senha secreta para o ingresso num círculo de privilegiados”, afirma
o professor, que foi um dos convidados do seminário Universidade e Preconceitos
– Discutindo e Enfrentando uma Realidade, ocorrido em setembro de 2006 na UnB.
Mas Bagno assegura que esse tal erro, que tanto aterroriza, na realidade, não
existe. Na sua opinião, o que há são variedades do português, como aquele falado
no interior pelo caipira ou aquele falado por alguém que estudou e mora na capital.
O que mais importa para Bagno é o contexto de quem diz o quê, a quem, como e
visando que efeito.
SALAS DE AULA – Isso não significa que a norma culta deva ser desprezada nas
escolas. Muito pelo contrário. Bagno acredita que esta deve ser a base do que é en-
sinado na cadeira de língua portuguesa. Mas é preciso entender essa norma como
sendo a falada e escrita atualmente pela população culta do país e não aquela que
só existe na gramática, mas ninguém usa.
Autor de diversos livros sobre o assunto – entre os quais o famoso Preconceito
99
aprimore-se
100
eu recomendo!
livro
livro
livro
101
4
ENSINO E
TECNOLOGIA
PROFESSORES
Me. Débora Sodré Esper
Me. João Carlos Dias Furtado
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • O contexto tecnológico • Mudanças
na sociedade e na escola • Novas mídias • A tecnologia na educação.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Refletir sobre o contexto tecnológico • Entender as mudanças provenientes das novas tecnologias •
Conhecer e/ou reconhecer as novas mídias • Compreender o papel da tecnologia no ensino.
INTRODUÇÃO
TECNOLOGIA
“
Mais informações têm sido produzidas nos últimos 30 anos do que
nos cinco mil anos anteriores. Uma edição de um dia de semana do
New York Times contém mais informações do que tudo aquilo que um
homem médio do século XVII ficou sabendo em toda sua vida (p. 148).
Esse cenário foi impulsionado pela globalização e pelo advento da internet, que
potencializaram todos os meios de comunicação já existentes e os que surgiram.
McLuhan (1979) compreendia que a evolução tecnológica era um aprimoramen-
to da capacidade humana de captar, processar e produzir informações, moldando,
dessa maneira, a sociedade que se formava diante das inovações vigentes. Para
o estudioso, “cada produto que molda uma sociedade acaba por transpirar em
todos e por todos os seus sentidos” (MCLUHAN, 1979, p. 37).
104
Outro teórico que analisou as mudanças tecnológicas foi Pierre Lévy (1999), o
UNICESUMAR
qual acredita que a internet trouxe muitas facilidades, mais acessibilidade e liber-
tou o conhecimento dos modelos clássicos, isto é, abriu um caminho direto com
uma quantidade inimaginável de informações que, antes, eram de uso restrito ou
controlável. Lévy (1999, p. 88) defende, no entanto, que “o ‘virtual’ não substitui
o ‘real’, ele multiplica as oportunidades para atualizá-lo”. Em outras palavras, as
tecnologias podem condicionar a sociedade, mas não a determinam. Isso indica
que elas abrem caminhos, possibilidades, mas não decretam o futuro.
Para Ciavollela (2015), o uso da web 2.0 fez surgir novos conteúdos, uma maior
praticidade e interatividade, práticas sociais e gêneros discursivos. Com isso, ga-
nhamos a oportunidade de interagir por meio de uma diversidade de informações
e marcar a nossa autoria, independentemente do lugar ou da condição em que
vivemos. “A interface e softwares se tornaram acessíveis ao público que não tem
conhecimento específico de informática”, ou seja, “a internet se popularizou, con-
tribuindo, assim, para que vozes, muitas vezes silenciadas, pudessem ser mostradas
de novas e distintas maneiras” (CIAVOLLELA, 2015, p. 61). Isso, porque:
“
Alguém com acesso a um computador padrão ou outro dispositivo
e conexão à internet móvel digital, e que tenha algum conhecimento
básico de aplicativos de software padrão pode criar uma grande va-
riedade de artefatos significativos, usando um conjunto estritamente
finito de operações físicas ou técnicas (digitar, clicar, selecionar, copiar,
arrastando), em um espaço relativamente pequeno com apenas uma
ou duas (embora complexas) ‘ferramentas’. Estas pessoas podem, por
exemplo, criar um texto multimodal e enviá-lo a outra pessoa ou a
um grupo ou a uma comunidade inteira na internet, em pouco tempo
e com quase nenhum custo, receber um retorno sobre este texto, quase
que imediatamente (LANKSHEAR; KNOBEL, 2012, p. 51).
O autor destaca, contudo, que essa participação requer de nós – seja como aluno,
simples leitor ou professor – uma maior consideração quanto à produção de senti-
dos dos textos multissemióticos. Em outras palavras, o acesso à internet nos trouxe
maiores possibilidades, mas também a necessidade de uma aprendizagem diferente.
105
2
AS NOVAS
UNIDADE 4
MÍDIAS
“
Um conjunto de participantes autônomos, unindo ideias e recursos
em torno de valores e interesses compartilhados. A questão central
das redes é a valorização dos elos informais e das relações, em detri-
mento das estruturas hierárquicas. As redes sociais são exatamente
as relações entre os indivíduos na comunicação mediada por com-
putador (CARDOZO, 2008, p. 7).
106
Alguns exemplos dessas redes são:
UNICESUMAR
TWITTER WIKIPÉDIA MYSPACE
microblogging que enciclopédia virtual local de divulgação
permite escrever que é alimentada de trabalhos
uma mensagem de pelos próprios musicais.
texto de até 140 internautas.
caracteres.
FACEBOOK
espaço de YOUTUBE FLICKR:
relacionamento espaço para espaço para
interpessoal com divulgar vídeos. publicação de
jogos e ferramentas fotos e vídeos.
diversas.
INSTAGRAM
rede social online
que permite o
compartilhamento
de fotos e vídeos
entre os usuários,
além da aplicação
de filtros digitais.
Poderíamos citar inúmeras outras redes que já não existem mais e muitas que,
enquanto este material é preparado, surgirão. Entretanto, nunca contemplaríamos
todas, tendo em vista a dinamicidade desse fenômeno.
As redes sociais compreendem uma nova forma de conectar grupos sociais,
o que gera novos comportamentos os quais são mediados por um computador
e recursos digitais que se consolidam e produzem novos hábitos. Nesse sentido,
Dom Tappscot (1999), pesquisador norte-americano, em seu livro Geração digital
constatou que jovens da geração pós-internet vêm praticando um novo jeito de
aprender, ao que, querendo ou não, precisamos estar atentos enquanto educadores.
É preciso estarmos cientes de que esse novo cenário traz um aprendizado
orientado pela autonomia e independência, pois os jovens pesquisados buscam
fontes de informações e até produzem informações, tornando o processo mais
dinâmico. Nesse contexto, o professor “sabe tudo”, que simplesmente fornece as
informações, está prestes a acabar e a escola precisa se adaptar a essa nova reali-
dade e ir o ao encontro das novas tecnologias.
107
3
TECNOLOGIA E
UNIDADE 4
EDUCAÇÃO
Assim como já foi discutido em outras partes deste estudo, o ensino tradicional
da língua recebe várias críticas, principalmente por se restringir ao ensino da
gramática. Desse modo, as tecnologias têm um papel importante, pois funcionam
como um dos instrumentos de apoio às práticas educacionais, afinal, as novas mí-
dias tomaram conta da vida cotidiana da população, de forma geral. No entanto,
devemos fazer referência a um número ainda significativo de excluídos digitais,
por não terem acesso à internet, os quais participam lentamente dessa revolução.
Com o aluno imerso nesse mundo digital, é imprescindível o trabalho com o
domínio dessas novas mídias e seus mecanismos linguísticos e extralinguísticos,
os quais devem estar presentes no processo de ensino-aprendizagem. A realidade
tecnológica conduz o mundo a uma comunicação muito veloz e a revolução das
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) deve ser entendida como uma
das mais importantes dos últimos tempos, por estar presente em, praticamente,
todos os setores da sociedade:
“
A penetração das ‘máquinas inteligentes’ em todas as esferas da vida
social é incontestável: no trabalho e no lazer; nas esferas pública e
privada. Do cinema mudo às redes telemáticas, as principais insti-
tuições sociais foram sendo transformadas por estas tecnologias
que, nos dias de hoje (mas as mudanças são tão rápidas!), estão
108
compreendidas na expressão tecnologias de informação e comu-
UNICESUMAR
nicação (TIC) (BELLONI, 2005, p. 07).
Dessa maneira, a escola não pode estar alheia a todas as mudanças. O papel dela é
o de repensar como esses novos mecanismos podem contribuir com a construção
e a manutenção do conhecimento, assim como a inclusão dos educandos nessa
sociedade tecnológica.
explorando Ideias
Muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, apren-
demos muito pouco e, por consequência, nos desmotivamos continuamente. Tanto nós,
professores, quanto os alunos temos a clara sensação de que muitas aulas convencio-
nais estão ultrapassadas. Mas como mudar? Como ensinar e aprender em uma sociedade
mais interconectada?
Encontrar as respostas para as questões pontuadas por Moran não é algo simples. Pelo
contrário, professores comprometidos as procuram constantemente para que possam
enriquecer sua prática pedagógica.
No artigo “O Uso das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação na EAD - uma
leitura crítica dos meios”, Moran discute um pouco mais essas questões.
Fonte: os autores.
“
[...] as tecnologias de informação e comunicação já estão presentes
e influentes em todas as esferas da vida social, cabendo à escola,
especialmente à escola pública, atuar no sentido de compensar as
terríveis desigualdades sociais e regionais que o acesso desigual a
estas máquinas está gerando (BELLONI, 2005, p. 10).
Há uma série de valores, conceitos e funções que estão e devem continuar a ser pen-
sadas no contexto escolar. A reflexão para esse novo momento é algo necessário e
deve servir de subsídio para a construção de realidades de ensino da língua materna,
condizentes com o tempo contemporâneo, de modo a contribuir com a formação
de cidadãos capazes de viver e interagir no contexto em que estão inseridos.
109
Novas propostas estão surgindo, sendo experimentadas e avaliadas para en-
UNIDADE 4
“
É importante não nos esquecermos de que a tecnologia possui um
valor relativo: ela somente terá importância se for adequada para
facilitar o alcance dos objetivos e se for eficiente para tanto. As téc-
nicas, não se justificarão por si mesmas, mas pelos objetivos que se
pretenda que elas alcancem, que no caso serão de aprendizagem
(MORAN; MASETTO; BEHRENS, 2000, p. 144).
110
4
HIPERTEXTO NA
UNICESUMAR
SALA
de Aula
111
A relação de leitura “padrão” do texto tradicional é redimensionada com ferra-
UNIDADE 4
“
[...] ler o mundo tornou-se virtualmente possível, haja vista que sua
natureza imaterial o faz ubíquo por permitir que seja acessado em
qualquer parte do planeta, a qualquer hora do dia e por mais de um
leitor simultaneamente (XAVIER, 2004, p. 176).
“
Dessa forma, como em qualquer outra prática de linguagem, tor-
na-se necessário considerar a configuração do gênero do discurso
em função da situação de enunciação em que está inserido ou que
constitui, considerando, por isso, todos os elementos que amparam
esta produção dialógica (CIAVOLLELA, 2015, p. 62).
Diante dessas novas opções, o professor tem de ser um profissional que estimu-
la e desenvolve novas estratégias de ensino para contribuir com o aprendizado
dos alunos na era da cibercultura. A nova postura do professor, segundo Ramal
112
(2002), contribuirá para reformular o conceito de educar pois critérios, tais como
UNICESUMAR
motivação, articulação dos conhecimentos, senso crítico, criatividade e dialogis-
mo cultural são necessidades no ambiente digital.
Para que isso aconteça, é necessário que ocorra um letramento nas práticas
sociais de leitura e escrita envolvendo as novas tecnologias, pois a cibercultura
leva a um estado ou a uma condição diferente da realidade de leitura e escrita
quirográficas e tipográficas, o letramento tradicional na cultura do papel.
“
Segundo Soares (2002, p. 146):
A tela, como novo espaço de escrita, traz significativas mudanças
nas formas de interação entre escritor e leitor, entre escritor e texto,
entre leitor e texto e, até mesmo, mais amplamente, entre o ser hu-
mano e o conhecimento. [...] A hipótese é de que essas mudanças
tenham consequências sociais, cognitivas e discursivas, e estejam,
assim, configurando um letramento digital, isto é, um certo estado
ou condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia
digital e exercem práticas de leitura e de escrita na tela, diferente do
estado ou condição – do letramento – dos que exercem práticas de
leitura e de escrita no papel.
Esse novo universo promove maiores possibilidades de interação e motivação dos
alunos, os quais poderão, por meio dos gêneros digitais, buscar novas fontes e in-
formações, publicar seus trabalhos, conhecer novas realidades e culturas. Além
disso, esses gêneros digitais – blogs, chats, e-mail, Twitter, vídeos, etc – podem ser
valiosas ferramentas educacionais no processo de ensino-aprendizagem, pois são
espaços nos quais a língua ocorre efetivamente nos mais variados níveis: formal,
informal, artístico, visual e ilustrado. O contato com essas condições específicas
estimula não apenas a leitura e produção textual, mas também a reflexão temática
– conteúdo – e linguística – recursos lexicais – na construção de material.
Ademais, os diversos ambientes e mídias existentes estimulam o contato lúdico,
estrutural e científico dos alunos com informações, conceitos e práticas que vão além
da pedagogia tradicional, a qual engloba apenas a tríade quadro, giz e caderno. Enten-
demos, dessa forma, que a sala de aula tradicional deve abrir espaço aos gêneros digitais,
que possibilitam a ampliação da capacidade discursiva dos alunos. Por meio deles, o
desenvolvimento cognitivo, acadêmico e linguístico se torna mais concreto para o aluno
e mais sólido, já que ocorre por meio de práticas relacionadas ao seu universo cotidiano.
Para que essa mudança ocorra, no entanto, é necessário que a escola e o pro-
fessor permitam que esse ambiente digital adentre à sala de aula, aprendendo
113
e reinventando as competências da escola, já que, com isso, serão desenvolvi-
UNIDADE 4
das novas habilidades. O desafio está em explorar novos recursos digitais com o
objetivo de resgatar a motivação da leitura e da escrita e criar a consciência da
importância dessas práticas para a formação do cidadão.
Fora isso – e sobretudo – o hipertexto e os gêneros digitais permitem um tra-
balho real com a língua nas mais variadas possibilidades discursivas, resgatando
o aspecto dialógico e social da linguagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) aluno(a), o tema desta última unidade chama a nossa atenção, não é
mesmo? Afinal, a tecnologia tomou conta de nossas vidas e influencia, mesmo
que não quisermos, o nosso cotidiano.
Estudamos, neste tópico, as influências das novas tecnologias e mídias na vida
do ser humano, o que proporcionou mudanças nos hábitos e na rotina das pessoas,
sobretudo, dos nativos digitais, público com o qual trabalhamos enquanto educadores.
Constatamos, ainda, que essa realidade atingiu as práticas escolares, espaço
que, por isso, está cada vez mais envolto pelos objetos digitais e pela tecnologia,
recursos comuns aos alunos que já nasceram na Era Digital e, por consequência
disso, estão acostumados com essas mudanças. Nesse sentido, se quisermos des-
pertar, nos alunos, o interesse pelo seu processo de aprendizagem, é inevitável
que nós, professores, estejamos atualizados quanto a tal assunto, entendendo a
tecnologia como uma aliada, e não como inimiga.
Nesta caminhada, percebemos que algumas das mudanças mais significativas
apresentadas é o hipertexto e os gêneros digitais, que possibilitam um trabalho moti-
vador e reflexivo sobre a linguagem, desde que utilizados de modo consciente e rela-
cionados com o planejamento, uma vez que não basta usá-los apenas por modismos.
Para finalizar, refletimos sobre algumas práticas de ensino da língua em que
se utiliza o universo das novas tecnologias e os modos como podem ser benéficas
ao processo de ensino-aprendizagem.
Nosso trajeto não se encerra por aqui, aluno(a). Afinal, o percurso é longo,
contínuo, mas também promissor. Estamos chegando ao fim deste estudo, mas
não ao fim da caminhada. Convidamos você a seguir em frente e a refletir um
pouco mais acerca de questões que nos dizem respeito e que, certamente, contri-
buirão em nosso processo como estudantes e educadores. Vamos lá?
114
na prática
1. Constatamos, ao longo deste estudo, que a tecnologia e as novas mídias estão cada
vez mais presentes nas práticas escolares. Nesse sentido, responda: quais são suas
influências diretas no ensino?
3. Após as discussões realizadas sobre o uso das novas tecnologias na sala de aula, é
correto afirmar que elas podem ser consideradas um “corpo estranho” no espaço
escolar ou, apesar de serem algo ainda novo aos envolvidos, podem e devem ser
incorporadas nas práticas educacionais?
a) A tecnologia fez que nossa leitura se tornasse mais superficial. Por isso, não é
necessária uma análise mais profunda.
b) A tecnologia exige de nós uma leitura mais atenta, tendo em vista os diferentes
recursos semióticos utilizados na construção textual.
c) A tecnologia tem, como base, recursos de áudio e imagem. Por isso, a leitura da
escrita já não é tão importante para nós.
d) A tecnologia destruiu a leitura aprofundada, uma vez que os textos não exigem
análise crítica.
e) A tecnologia não tem, necessariamente, relação com as práticas escolares, entre
elas, a leitura e a escrita.
115
na prática
5. O uso das novas tecnologias, assim como estudamos, é inevitável nas práticas edu-
cacionais. Nesse sentido, assinale a alternativa que destaca as ações necessárias
aos docentes atuais quanto a essa questão:
116
aprimore-se
Prezado(a) aluno(a), ao longo desta unidade, discutimos sobre o uso das tecnologias
na sala de aula e salientamos a necessidade de atividades consistentes. No dia a
dia, no entanto, nem sempre sabemos como trabalhar dessa forma. Por isso, Luísa
França apresenta, no artigo a seguir, algumas ideias de como deixarmos a teoria e
colocarmos em prática o hipertexto. Leia-o!
O uso da tecnologia na sala de aula tem modificado o modo como os jovens apren-
dem. Nascidos depois do ano 2000, quando uma verdadeira revolução tecnológica
aconteceu, os alunos de hoje demandam abordagens inovadoras quando o assunto
é ensino.
Os professores também têm mudado suas práticas pedagógicas por causa da tec-
nologia, de acordo com a pesquisa TIC Educação, que traz dados a respeito da influência
das tecnologias da informação e da comunicação em escolas públicas e particulares.
Desse modo, cabe aos educadores e aos gestores escolares acompanhar os
avanços das principais tendências, investindo cada vez mais em métodos de ensino
que tragam a tecnologia para a sala de aula. Pensando nisso, reunimos neste arti-
go 5 novidades que já podem ser vistas em escolas de todo o país.
Livro digital
Os livros digitais começaram a ganhar força nos últimos anos, quando as prin-
cipais livrarias do Brasil investiram nos seus próprios modelos de e-reader. Não de-
morou para que a novidade tomasse conta das escolas, e é fácil entender o porquê.
Prático, leve e moderno, os leitores digitais chamaram a atenção dos jovens que
cresceram em meio a videogames e computadores. Entre os aspectos que garanti-
ram a popularidade dessa tecnologia, o mais relevante provavelmente é a possibi-
lidade de se explorar recursos que vão muito além do que é apresentado no livro
didático impresso. Isso porque os leitores digitais permitem que o texto original
seja complementado com vídeos, áudios, animações, simulações, mapas interati-
vos, softwares, links e muitos outros materiais que visam a facilitar a aprendiza-
117
aprimore-se
Gamificação
A gamificação consiste em trazer a dinâmica dos games para a sala de aula e é uma
das maiores tendências atuais no campo da educação. Alguns dos aspectos dos
jogos que podem ser trazidos para a sala de aula são: o desafio, que estimula os
alunos a se superarem; a definição de objetivos, que ajuda o estudante a manter o
foco nas tarefas; e a competição, que aumenta o engajamento quando incentivada
de maneira saudável.
O grande benefício da gamificação para a educação é a sua capacidade de estimular os
alunos a aprender mais e de maneira divertida. Além disso, ao aplicar os conhecimentos
nos jogos, fica mais fácil colocar o conhecimento em prática e fixar o conteúdo aprendido
nas aulas. Em sala, a gamificação aparece, por exemplo, por meio de atividades aplicadas
de forma lúdica, que concedem recompensas conforme o aluno aplica seu conhecimento
e que ficam mais difíceis ao passo que o estudante avança nas tarefas.
118
aprimore-se
Redes sociais
Ainda que, normalmente, sejam usadas para diversão, as redes sociais têm grande
potencial de contribuir com o processo educativo – tanto dos alunos quanto dos
professores e da gestão escolar.
A criação de grupos, por exemplo, é uma prática que tem muito a contribuir.
Grupos criados com os alunos possibilitam que os professores enviem materiais
diferentes e interessantes, que atraem a atenção dos alunos, mas que fogem do
formato padrão que é visto em sala. Além disso, os grupos permitem que os alunos
discutam os conteúdos entre si e tirem suas dúvidas com os colegas de maneira
mais prática e rápida. O professor pode até mesmo propor debates a respeito de
notícias e acontecimentos que se relacionem com o conteúdo trabalhado em aula.
Quando criados envolvendo professores e gestão escolar, por sua vez, os grupos
permitem a troca de boas práticas pedagógicas e ajudam a transmitir avisos de for-
ma mais rápida.
Avaliação on-line
livro
livro
filme
120
eu recomendo!
conecte-se
conecte-se
Caro(a) aluno(a), você ficou curioso(a) sobre o uso das novas ferramentas em con-
texto escolar? Assista ao vídeo que demonstra algumas das criações da empresa
Google, em um segmento intitulado Apps for Education.
Web: https://www.youtube.com/watch?v=2MMqo1b6CyQ#t=20.
121
5
PROFISSÃO PROFESSOR:
DA ORGANIZAÇÃO
à Prática
PROFESSORES
Me. Débora Sodré Esper
Me. João Carlos Dias Furtado
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Profissão docente • Planejamento e
organização pedagógica do professor • O livro didático: instrumento de apoio ao professor • Sequência
didática: modelo de trabalho com os gêneros discursivos.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Refletir sobre a profissão docente • Entender a organização pedagógica do professor • Compreender o
funcionamento do livro didático • Conhecer a sequência didática como um dos modelos de trabalho
com os gêneros discursivos.
INTRODUÇÃO
DOCENTE
Aluno(a), sabemos que toda profissão cria a uma identidade perpetua certos
modelos e, em alguns momentos, transita por crises, bem como fazendo que se
repense a profissão e os objetivos pessoais e profissionais.
No início do século XXI, duas características acentuaram os problemas relativos
à profissão docente: a falta de uma formação sólida e a desvalorização financeira e
social, frustrando, assim, as expectativas de muitos profissionais tanto em relação à
crença em sua função quanto ao estímulo de iniciar essa carreira. Nota-se que há
uma oferta muito grande de cursos de graduação e pós-graduação, mas nem todos
oferecem uma formação teórica e prática qualificada para sustentar a docência.
Em consequência disso, além de outros aspectos, decorre a desvalorização histórica
que a figura do professor sofreu, a sua descaracterização como referência e a desvalori-
zação financeira, desfigurando a identidade clássica desse profissional. Esses dois fatores
agravaram a crise docente, que não promove, para o professor, o desejo de recriar essa
identidade profissional. Por isso, existe um abismo entre a identidade do professor de
outros tempos e posta no contexto atual, já esquecendo que ela é mutável, pois “a iden-
tidade do professor está em constante transformação” (VEIGA, 2008, p. 18). Segundo
a autora, essa construção é uma formação cultural e histórica, pois ela se constrói com:
“
[...] base na significação social da profissão, na revisão das tradições.
Mas também com base na reafirmação de práticas consagradas cul-
124
turalmente que permanecem significativas [...]. Constrói também
UNICESUMAR
pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor confere
à atividade docente em seu cotidiano, em seu mundo situar-se no
mundo, em sua história de vida, em suas representações, em seus
saberes, em suas angústias e anseios, no sentido que tem em vida o
ser professor (VEIGA, 2008 p.18).
“
[...] uma posição de inacabamento, vinculada à história de vida dos
sujeitos em permanente processo de formação, que proporciona a
125
preparação profissional. O processo de formação é multifacetado,
UNIDADE 5
Paradigma da profissão
126
Diante desse desafio, é estabelecido um dos primeiros desafios que o professor
UNICESUMAR
tem: conseguir apresentar a tradição cultural, histórica e científica e, ao mesmo
tempo, integrá-la ao contexto do século XXI:
“
Saber produzir essa mediação não é um dom, embora alguns o te-
nham; não é uma técnica, embora requeira uma excelente operacio-
nalização técnico-estratégica; não é uma vocação, embora alguns a
possam sentir. É ser um profissional de ensino, legitimado por um co-
nhecimento específico exigente e complexo (ROLDÃO, 2007, p. 102).
pensando juntos
competência não é algo inato ao ser humano, mas algo a ser desenvolvido ao
longo de uma vida profissional.
Ao entendermos a educação como um processo dinâmico, inovador e trans-
formador, sabemos que o professor não pode se acomodar em suas atribuições
de docente. Assim, algumas das características que o professor deve ter no século
XXI para ser um bom profissional são:
• USAR AS NOVAS
TECNOLOGIAS:
não deixar de
• ATUALIZAR-SE NAS pesquisar, conhecer e
NOVAS DIDÁTICAS: entender as novas
estar sempre ferramentas para poder
• TER BOA FORMAÇÃO: estudando e buscando usá-las em sala de aula.
a necessidade do estudante aprimorar seus
de se preparar de forma conhecimentos e práticas.
teórica e prática para a
função que exercerá.
• TER ATITUDES E
• TRABALHAR EM EQUIPE: POSTURA
saber se relacionar com PROFISSIONAIS:
os colegas e trabalhar • PLANEJAR E AVALIAR
SEMPRE: saber os limites que a
compartilhando profissão exige para
opiniões, experiências lembrar-se da importância
do planejamento e um bom trabalho.
e ideias.
avaliação para o processo
de aprendizagem.
128
Dessa maneira, percebemos que o perfil do professor do século XXI é bem pa-
UNICESUMAR
recido ao de outros profissionais, pois, independente da área, é preciso que nos
adequemos ao tempo.
2
PLANEJAMENTO E
ORGANIZAÇÃO
Pedagógica do Professor
Acadêmico(a), aprendemos, na primeira parte deste estudo, que é necessário que nos
aperfeiçoemos constantemente. Nesse processo, o planejamento escolar funciona como
uma das formas de nos organizarmos e, assim, viabilizarmos nossas práticas pedagó-
gicas no cotidiano, apresentando propostas, objetivos e modos para que ele se realize.
Isso não quer dizer que o planejamento seja sempre entendido assim nas es-
colas, uma vez que nem sempre é percebido como algo necessário; pelo contrário,
muitas vezes, torna-se apenas uma obrigação. Devemos, no entanto, transpor esse
conceito e entendermos que, da mesma forma que um empresário traça metas e
planeja o crescimento de sua empresa, ou quando fazemos um roteiro de viagem,
a escola também precisa de um planejamento eficaz e útil para que tudo funcione
da melhor forma possível.
Segundo Saviani (1989), todo ato de planejar deve ocorrer por meio de re-
flexões, ou seja, precisa levar em consideração a experiência prática, a teoria e as
129
metas a serem alcançadas. Por isso, para o autor, o planejamento é uma análise
UNIDADE 5
“
[...] trata-se de um processo contínuo que se preocupa com o “para
onde ir e quais as maneiras adequadas para chegar lá”, tendo em vista
a situação presente e possibilidades futuras, para que o desenvol-
vimento da educação atenda tanto as necessidades do desenvolvi-
mento da sociedade, quanto às do indivíduo (CLÓDIA, 1975, p. 14).
A partir disso, entendemos que um plano de ensino pode ser superado ao transcor-
rer do ano, mas o planejamento não, porque ele é própria prática docente. Os dois,
no entanto, têm dependência, pois baseiam-se na reflexão e ação. Evidentemente,
um bom plano de ensino deve estar adequado à realidade de cada escola e, assim,
adaptar-se conforme a proposta pedagógica de cada instituição. Dessa forma, pro-
fessores e a equipe pedagógica precisam pensar nos seguintes itens para formulá-lo:
130
■ Objetivos escolares (para que ensinar?).
UNICESUMAR
■ Métodos (como ensinar?).
■ Conteúdos (o que ensinar?).
■ Espaço e tempo (quando e onde ensinar?).
■ Avaliação (como avaliar?).
“
[...] os docentes incumbir-se-ão de: I – participar da elaboração da
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II – elaborar e
cumprir o plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do es-
tabelecimento de ensino; III – zelar pela aprendizagem dos alunos;
IV – estabelecer estratégias de recuperação para alunos de menor ren-
dimento; V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além
de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento,
à avaliação e ao desenvolvimento profissional (BRASIL, 1996, p. 26).
“
[...] elaborar o planejamento anual e de aulas de sua área/subárea, zelan-
do pelo seu cumprimento em consonância com a proposta do estabele-
cimento de ensino e tendo como norteador os princípios contidos nas
Diretrizes Curriculares Nacionais e políticas da SEED para a educação
profissional; estabelecer a relação teoria-prática no desenvolvimento
das atividades curriculares de acordo com os conhecimentos discipli-
nares selecionados [...] (PARANÁ, 2007, p. 03-04, [2019], on-line)6.
CONTEÚDOS:
Definidos por conteúdos estruturantes,
ou seja, saberes – conhecimentos de
grande amplitude, conceitos ou práticas
– que identificam e organizam os
diferentes campos de estudo das
disciplinas escolares, sendo fundamen-
tais para a compreensão do objeto de
estudo das áreas do conhecimento. O OBJETIVOS (JUSTIFICATIVA):
desdobramento dos conteúdos Referem-se às intenções educativas.
estruturantes em conteúdos específicos Expressam as intenções de mudanças no
será feito pelo professor em discussão plano individual, institucional e estrutural.
com os demais professores da área que Estão voltados aos conteúdos, e não às
atuam na escola. O professor deve atividades. Explicita a escolha dos
dominar o conteúdo escolhido em sua conteúdos estruturantes e específicos,
essência, de forma a tomar o conheci- como opção política, educativa
mento em sua totalidade e em seu e formativa.
contexto, o que exige uma relação com
as demais áreas do conhecimento. Esse
processo de contextualização visa a
atualização e aprofundamento do
conteúdo pelo professor, possibilitando
ao aluno estabelecer relações e análises ENCAMINHAMENTOS
críticas sobre o conteúdo. METODOLÓGICOS E RECURSOS
DIDÁTICOS:
O conjunto de determinados princípios
e recursos para chegar aos objetivos,
o processo de investigação teórica
e de ação prática.
REFERÊNCIAS:
As referências permitem perceber em
que material e em qual concepção o
professor vem fundamentando seu
conteúdo. Fundamentar conteúdos de CRITÉRIOS E INSTRUMENTOS DE
forma historicamente situada implica AVALIAÇÃO/RECUPERAÇÃO:
buscar outras referências, não sendo, Critérios definem os propósitos e a
portanto o livro didático o único recurso dimensão do que se avalia.
(PARANÁ, [2019], on-line)6. Para cada conteúdo, é necessário ter
claro o que se deseja ensinar dentro
dele, desenvolver e, portanto, avaliar. Os
critérios refletem de que forma
vai se avaliar e são as formas
previamente estabelecidas para se
avaliar um conteúdo.
Deve constar a proposta de
recuperação dos conteúdos.
132
Por meio da leitura dos cinco pilares que estruturam esse plano, notamos que
UNICESUMAR
os conteúdos, podem ser organizados de acordo com as características de cada
disciplina. Nota-se, ainda, a necessidade do professor e da escola de adequar a
realidade dos alunos com o que será ministrado, para que ocorra uma aprendi-
zagem significativa, mesmo porque o planejamento não é apenas um recurso
burocrático, mas um instrumento que constrói a caminhada escolar do aluno.
3
O LIVRO DIDÁTICO:
INSTRUMENTO
de Apoio ao Professor
conecte-se
Esse material pedagógico, no entanto, não deve ser o único em sala de aula, pois
sempre, por melhor que seja, apresenta limitações. Cabe, dessa forma, ao profes-
sor, ampliá-lo, ilustrá-lo e complementá-lo, sempre levando “em consideração as
especificidades sociais e culturais da comunidade em que [...] é utilizado, para que
o seu papel na formação integral do aluno seja mais efetivo” (BRASIL, 2007, p.
12). Contudo, para que ocorra uma boa escolha, o professor deve conhecer bem
os conteúdos e as propostas didáticas, para que ele possa suprir, ao máximo, as
exigências do ciclo escolar e da própria escola.
Para que o livro didático possa cumprir esse papel com excelência, é interessante obser-
varmos, ainda, outros pontos relevantes antes de uma escolha final. O livro apresenta:
■ As novas descobertas da ciência?
■ O novo acordo ortográfico de Língua Portuguesa?
134
■ Uma concepção pedagógica atualizada?
UNICESUMAR
■ Exercícios que façam o aluno refletir e não apenas identificar, sublinhar e copiar?
■ Visão não preconceituosa quanto à religião, sexualidade e etnia?
■ Uma proposta interdisciplinar e que aborda os gêneros textuais?
■ Suporte para a utilização de novas mídias?
“
A obra didática deve considerar, em sua proposta científico-peda-
gógica, o perfil do aluno e dos professores visados, as características
gerais da escola pública e as situações mais típicas e frequentes de
interação professor-aluno, especialmente em sala de aula. Além dis-
so, nos conteúdos e procedimentos que mobiliza, deve apresentar-se
como compatível e atualizada, seja em relação aos conhecimentos
correspondentes nas ciências e saberes de referência, seja no que diz
respeito às orientações curriculares oficiais (BRASIL, 2008, p. 11).
135
Além disso, o professor deve mediar o uso do livro didático tendo em mente
UNIDADE 5
que:
“
A maneira como o professor concebe a linguagem e a língua, pois o
modo como se concebe a natureza fundamental da língua altera em
muito o como se estrutura o trabalho com a língua em termos de
ensino. A concepção de linguagem é tão importante quanto à postura
que se tem relativamente à educação (TRAVAGLIA, 1996, p. 21).
“
[...] auxiliar no ensino de uma determinada disciplina, por meio da
apresentação de um conjunto extenso de conteúdos do currículo,
de acordo com uma progressão, sob a forma de unidades ou lições,
e por meio de uma organização que favorece tanto usos coletivos,
quanto individuais (BATISTA; ROJO, 2005, p. 15).
136
4
SEQUÊNCIA DIDÁTICA:
UNICESUMAR
MODELO
de Trabalho com os Gêneros
Discursivos
conceituando
Conforme Mikhail Bakhtin, filósofo russo que revolucionou a teoria da linguagem, os gê-
neros discursivos são tipos relativamente estáveis de enunciados (BAKHTIN, 1997). Em
outras palavras, eles são a forma como se materializam os textos com os quais interagi-
mos em sociedade.
Fonte: os autores.
137
Para apresentar alguns modelos de trabalho, nos baseamos em Dolz, Noverraz e
UNIDADE 5
UNICESUMAR
bulas, regras de jogo, rótulos, calendários, cartas, bilhetes, postais, textos literários,
em prosa e poesia, e outros que circulam na sociedade.
Apresentaremos, na sequência, algumas propostas de trabalho com os gêne-
ros elencados. Para obtermos uma visão panorâmica sobre as sequências didá-
ticas, optamos por tabular os textos em um padrão geral de uso, considerando
que o gênero tem suas especificidades.
Cada tabela é composta dos seguintes itens: função, modelos, conteúdo, for-
mato, recursos estilísticos, procedimentos de leitura, requisitos e exemplos. Esses
itens foram inseridos de acordo as atribuições que os gêneros textuais exigem
para um trabalho contextualizado em sala de aula, observando, assim, a sua fun-
cionalidade no dia a dia.
Para iniciarmos, abordaremos textos instrucionais: receitas, bulas de remédio e
manuais, os quais apresentam informações sobre a realização de tarefas ou atividades:
139
Receitas, Bulas de Remédio e Manuais
UNIDADE 5
140
Listas, Rótulos e Cartazes
UNICESUMAR
Ordenação sintática voltada para nomes, produtos, fun-
Recursos estilís-
ções; estrutura repetitiva; campo semântico específico do
ticos
tema.
Cartaz de Publicidade
Exemplo
Fonte: Unicesumar.
Notamos, nessa tabela, que os textos apresentam uma estrutura simples, com a
finalidade comunicativa específica. Eles são comuns e práticos tanto no dia a dia
de uma grande empresa quanto em ambientes familiares.
Os próximos gêneros têm caráter informacional – cartas, bilhetes, postais,
mensagens do celular ou internet etc. –, com a finalidade de comunicar informa-
ções sobre um tema, fato ou evento. Vale salientar que, dependendo do contexto,
existem cartas que se encaixam melhor no modelo literário:
141
Cartas, Bilhetes e Postais
UNIDADE 5
142
Cartas, Bilhetes e Postais
UNICESUMAR
Modelo de Mensagem Informal na Internet
E aí, cara, blza?!
Me conta como estão as coisas aí na facul? Espero que
Exemplo 2 td bem, por aqui td certo!
Me dá um toque qdo possível.
Abço,
Marcelo
143
Contos, Poemas e Quadrinhos
UNIDADE 5
UNICESUMAR
de elementos diversos, tais como discurso direto, narrações e elementos visuais.
A próxima tabela apresenta o gênero jornalístico – notícia, reportagem, relato,
entrevista etc. –, textos com a função de informar um acontecimento relevante de
modo objetivo e claro. Eles se apropriam de vários elementos para constituir a
sua estrutura informativa: gráficos, imagens, perguntas e respostas, dados estatís-
ticos. Esses gêneros têm uma relevância social, uma vez que circulam em diversas
veículos de comunicação, como televisão, rádio, jornal e revistas:
145
Entrevistas, Notícias e Relatos
UNIDADE 5
Conseguimos notar que os textos informativos têm uma estrutura bem marcada
e uma função social importante, pois levam os fatos aos leitores, telespectadores
ou ouvintes.
Os últimos gêneros abordados requisitam as habilidades escrita e oral, pois
trabalham no sentido de produzir algo documentado para ser apresentado – tese,
pesquisa, estatística –, por meio de um seminário ou palestra:
146
Seminários e Palestras
UNICESUMAR
São textos que envolvem, simultaneamente, a fala e a escuta.
147
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 5
Chegamos ao fim de mais um estudo, no qual constatamos que ser professor não
é somente estar em sala de aula e ministrar algum conteúdo, pois a profissão en-
volve muitos outros pontos. Notadamente, a imagem mais comum do professor
é em sala de aula, por isso, normalmente, quem não atua na área não visualiza
suas muitas outras atribuições: planejar, avaliar, diários de classe, reuniões peda-
gógicas, cursos de atualização, preparação de atividades etc.
Entre tantas tarefas, discutimos sobre a importância da escolha do livro didá-
tico, material que tem uma função importante e que, por isso, deve ser escolhido
com cautela e critérios claros, para que a sua utilização possa surtir efeito positivo
na aprendizagem.
Outro ponto trabalhado nesta unidade foi o ato de planejar e executar, prática
comum e necessária para toda atividade docente, uma vez que não existe um
bom trabalho em sala de aula que não passe por um planejamento adequado,
tornando-se, assim, um dos fundamentos da prática do professor.
Por fim, notamos a importância de direcionar as práticas para um caminho
que o conhecimento signifique algo para o aluno, por meio do trabalho com as
sequências didáticas.
Tivemos a oportunidade de discutir e refletir um pouco sobre a vida e a
carreira docente, observando problemas, desafios, metodologias, materiais e atri-
buições. De forma ampla, compreendemos as atribuições que o professor tem
além da sala de aula e suas funções que se completam junto às funções escolares;
unidas, formam um todo da dinâmica da escola e da aprendizagem.
Nem sempre, ao ingressarmos em um curso que direciona à docência, temos
ciência da realidade se sala de aula e das escolas, o que pode ocasionar um des-
conforto posterior. Por consequência disso, entender e conhecer bem a realidade
que nos espera antes do fim do curso é fundamental para nos prepararmos como
profissionais do ensino.
Até um próximo encontro e bom estudo, caro(a) aluno(a)!
148
na prática
149
na prática
a) Planejar é uma ação burocrática que apenas atrasa a prática docente, que deve
se voltar exclusivamente à sala de aula.
b) O planejamento é único: uma vez realizado no início do ano, não precisa ser
adaptado ou alterado.
c) A necessidade de planejar se baseia no conceito de que a teoria deve se sobrepor
à prática docente, já que uma é subsidiária da outra.
d) O planejamento deve levar em consideração reflexões conceituais, a prática
docente, experiências anteriores e a necessidade de se adaptar sempre que
necessário.
e) O planejamento deve ser um produto do professor, levando em consideração
alunos hipotéticos que possam se adaptar ao que foi planejado.
Modo de preparo:
150
aprimore-se
151
aprimore-se
152
eu recomendo!
livro
livro
livro
153
eu recomendo!
conecte-se
Planejar faz parte da nossa vida cotidiana e ainda mais da rotina de um professor.
Saber como funciona e como ele pode te ajudar facilita o trabalho. Você está em
dúvida de como idealizar um Plano e um Planejamento de Ensino? Sim?! Então
veja a entrevista com a Priscila Monteiro, coordenadora de formação em Matemá-
tica da Prefeitura de São Caetano do Sul, e veja as dicas que ela apresenta.
Web: <https://www.youtube.com/watch?v=uCQCtHOnwkM>.
conecte-se
Sabe qual é o Dia Nacional do Livro Didático? Dia 27 de fevereiro. Está com von-
tade de contribuir para a educação do país e fazer um bom livro didático? Se a
sua resposta é positiva, assista ao vídeo no qual William Cereja fala sobre a sua
experiência como produtor de livro didáticos de Língua Portuguesa e faz sua ho-
menagem e ele.
Web: <https://www.youtube.com/watch?v=HAU6g7Wr9Wo>.
154
conclusão geral
conclusão geral
Saber explorar as realidades que surgem e as que já existem faz parte da nossa pro-
fissão. Planejar, avaliar, escolher livros didáticos e paradidáticos, atualizar-se, buscar
novas práticas e métodos são, ou devem ser, práticas cotidianas nessa profissão.
Espero que tenha ajudado, pelo menos, um pouco, no estímulo e na discussão so-
bre essa carreira que é tão antiga, tão nobre e, hoje, tão maltratada, bem como ter
contribuído na descoberta de coisas tão simples, porém importantes no dia a dia
de um professor. Isso se deve, pois, muitas vezes, queremos revolucionar, mas nos
esquecemos de fazer o simples, que é olhar primeiro para a necessidade do aluno,
a fim de saber por onde e como conduzi-los.
Desejo, então, que o seu futuro como profissional seja brilhante e que seus estudos
levem-no para bons caminhos. A educação nacional precisa de bons profissionais
como você, pessoa que se esforça pelos seus objetivos e luta por eles. Por isso,
estimo que tenha bons estudos, sucesso nos desafios e muita disposição para ultra-
passar qualquer empecilho que venha a aparecer!
155
referências
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6 Em: http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/otp/docs_pdf/proj_polit_pe-
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gabarito
UNIDADE 4
UNIDADE 2
1. As novas mídias trouxeram facilidades
1. D. para o ensino, pois deixaram mais aces-
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gabarito
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anotações
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