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PSICOLOGIA

DO ESPORTE
E DO EXERCÍCIO

PROFESSOR
Dr. Leonardo Pestillo de Oliveira

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PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

NEAD
Núcleo de Educação a Distância
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Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância;


OLIVEIRA, Leonardo Pestillo de.
Psicologia do Esporte e do Exercício. Leonardo Pestillo de Oliveira.
Maringá - PR: Unicesumar, 2018. Reimpresso em 2023.
168 p.
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1. Psicologia do Esporte. 2. Rendimento Esportivo. 3. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1660-4
CDD - 22ª Ed. 150
Impresso por: CIP - NBR 12899 - AACR/2

DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor
Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio
Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia
Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção
de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima,
Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência
de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas,
Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo.

Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho,
Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Revisão Textual
Meyre Barbosa da Silva, Ilustração Bruno Pardinho, Mateus Fotos Shutterstock.

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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10
com princípios éticos e profissionalismo, não maiores grupos educacionais do Brasil.
somente para oferecer uma educação de qualidade, A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão soluções inteligentes para as necessidades de todos.
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- Para continuar relevante, a instituição de educação
nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional precisa ter pelo menos três virtudes: inovação,
e espiritual. coragem e compromisso com a qualidade. Por
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia,
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro do ensino presencial e a distância.
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, promover a educação de qualidade nas diferentes áreas
com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. do conhecimento, formando profissionais cidadãos
Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais que contribuam para o desenvolvimento de uma
de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos sociedade justa e solidária.
pelo MEC como uma instituição de excelência, com Vamos juntos!
boas-vindas

Willian V. K. de Matos Silva


Pró-Reitor da Unicesumar EaD

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à A apropriação dessa nova forma de conhecer


Comunidade do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores de
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar agregação de valor, de superação das desigualdades,
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
e pela nossa sociedade. Porém, é importante Logo, como agente social, convido você a saber cada
destacar aqui que não estamos falando mais daquele vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas tecnologia que temos e que está disponível.
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
atemporal, global, democratizado, transformado pelas modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
tecnologias digitais e virtuais. as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
De fato, as tecnologias de informação e comunicação equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o
informações, da educação por meio da conectividade conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes
e da mobilidade dos celulares. cativantes, ricos em informações e interatividade. É
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá
a informação e a produção do conhecimento, que não as portas para melhores oportunidades. Como já disse
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
segundos. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
boas-vindas

Kátia Solange Coelho


Janes Fidélis Tomelin Diretoria de Graduação
Pró-Reitor de Ensino de EAD
e Pós-graduação

Débora do Nascimento Leite Leonardo Spaine


Diretoria de Design Educacional Diretoria de Permanência

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível e construção do conhecimento deve ser apenas
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autor

Dr. Leonardo Pestillo de Oliveira


Pós-doutor em Saúde Global pela Duke University-EUA. Doutor em Psicologia
Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com período sanduíche
na Université du Québec à Trois-Rivières-Canadá. Psicólogo pela Universidade
Estadual de Maringá, Mestre em Educação Física pela Universidade Estadual de
Maringá. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia do
Esporte e Promoção da Saúde. Atualmente é professor do Mestrado em Pro-
moção da Saúde e do curso de graduação em Psicologia do Centro Universitário
Cesumar (UniCesumar). Líder do Grupo de Pesquisa/CNPQ Psicologia, Esporte e
Saúde - PES. Membro do Comitê de Ética em Pesquisa da UniCesumar. Pesqui-
sador Bolsista - Modalidade Produtividade em Pesquisa para Doutor - PPD - do
Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICETI).
Link do currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/5641304042011472
apresentação do material

PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO


Professor Dr. Leonardo Pestillo de Oliveira

Olá, prezado(a) acadêmico(a), é com grande satisfação que apresento a você a nossa
disciplina de Psicologia do Esporte e do Exercício como uma disciplina do curso
de Educação Física. A realização desta disciplina possibilitará a compreensão de
elementos da Psicologia que fazem parte do contexto esportivo.
Tendo conhecimento da importância de se compreender as características psi-
cológicas envolvidas na prática esportiva, seja ela profissional ou não, espero que
você se sinta inclinado a buscar uma qualificação adequada que possa colaborar
com sua atuação profissional após a conclusão desta graduação.
Todo mecanismo de aprendizagem perpassa duas vias, uma delas é responsa-
bilidade do professor, que objetiva transmitir o conteúdo com a preocupação de
que este seja realizado com qualidade, a outra é a do aluno, que deve compreender
a importância de cada elemento a ele fornecido, pois trata-se de um processo em
construção constante.Veremos, aqui, elementos da Psicologia e sua contribuição
para o contexto esportivo de rendimento ou não.
Na Unidade I, temos como conteúdo um pouco da história da Psicologia do
Esporte e do Exercício no mundo e um pouco de sua história no Brasil. Este tópico
é importante para termos uma visão geral sobre como a área surgiu, compreen-
deremos as suas principais características e como ela pode ser importante para os
praticantes. Desmistificaremos um dos principais mitos existentes sobre a área,
o mito de que a Psicologia do Esporte e do Exercício é importante apenas para
atletas profissionais. Ou seja, precisamos compreender que esta área de atuação
está presente em qualquer contexto que envolva o esporte e a atividade física.
Na Unidade II, após termos discutido um pouco do histórico, faremos uma
discussão sobre como o desenvolvimento humano e o desenvolvimento no con-
texto esportivo ocorrem concomitantemente. Veremos como o esporte pode ser
uma ferramenta importante para colaborar com o desenvolvimento de crianças
e adolescentes, além de verificar como o desenvolvimento de um atleta ocorre,
quais fases e características são importantes ao longo do tempo.
Já na Unidade III, temos como tema principal as características individuais
que influenciam o sujeito a iniciar, continuar ou parar uma prática esportiva. Al-
gumas variáveis psicológicas são muito discutidas no contexto da Psicologia do
Esporte e do Exercício, e teremos alguns tópicos relacionadas a elas. Teremos uma
discussão sobre a motivação do sujeito, como a autoconfiança e as expectativas de
rendimento podem influenciar a prática e também quais habilidades psicológicas
estão presentes neste contexto.
Após a discussão de variáveis individuais, teremos, na Unidade IV, uma apre-
sentação de características presentes na coletividade, ou seja, no trabalho com
grupos. A coesão de grupo é uma das variáveis mais discutidas quando se fala em
rendimento esportivo, mas não podemos deixar de discutir também o papel do
líder neste processo bem como a cooperação e a comunicação entre todos os que
fazem parte de uma mesma equipe, ou grupo.
Para finalizar, teremos, na Unidade V, a discussão sobre os elementos que
envolvem características de saúde e bem-estar psicológico. Estas características
são importantes tanto para trabalharmos com atletas profissionais como com
amadores ou pessoas que realizam atividades físicas com objetivo de melhorar
sua qualidade de vida. Falaremos um pouco sobre como as lesões, no esporte,
podem atrapalhar e até interromper uma carreira de sucesso, e também como a
prática excessiva do esporte pode vir a se tornar um vilão à saúde física e mental.
Espero que este enfoque dado a alguns elementos da Psicologia do Esporte
e do Exercício possam contribuir para sua formação de forma satisfatória e que
possa estimulá-lo a continuar seus estudos e sua busca por conhecimento sobre a
área. Com experiência em duas áreas que são fundamentais para esta disciplina,
formação interdisciplinar, quero, também, fornecer a você um pouco do que a
Psicologia do Esporte e do Exercício pode colaborar com a formação de um pro-
fissional de Educação Física e em sua atuação profissional futura.
Desejo a você boa leitura e bons estudos!
sum ário

UNIDADE I 90 Treinamento de Habilidades Psicológicas


INÍCIO E DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA DO
96 Variáveis Individuais que Podem Ajudar ou
ESPORTE E DO EXERCÍCIO Prejudicar o Rendimento Esportivo
14 Discussões Iniciais Sobre a Psicologia do 101 Considerações finais
Esporte e do Exercício
106 Referências
20 Características da Psicologia do Esporte e do
Exercício na Atualidade 109 Gabarito
24 Compreendendo a Relação da Psicologia
do Esporte e do Exercício e o Rendimento UNIDADE IV
Esportivo ELEMENTOS DE GRUPO E O CONTEXTO ESPORTIVO
28 Compreendendo a Relação da Psicologia do 114 Como são Formados os Grupos: Coesão
Esporte e do Exercício e o Esporte Escolar
118 Liderança no Esporte
31 Considerações finais
122 Comunicação no Esporte
36 Referências
126 Competição e Cooperação: do Início da Car-
38 Gabarito
reira Esportiva à Profissionalização
130 Considerações finais
UNIDADE II
DESENVOLVIMENTO HUMANO E SUA RELAÇÃO COM O 135 Referências
ESPORTE 137 Gabarito
44 Compreendendo o Desenvolvimento Huma-
no e Esportivo UNIDADE V
50 Personalidade e Esporte PRÁTICA ESPORTIVA, SAÚDE E BEM-ESTAR PSICOLÓGICO
56 Desenvolvimento Psicológico de Crianças e 142 Prática Esportiva e Promoção da Saúde
Adolescentes por Meio do Esporte
146 Prática Esportiva e Bem-Estar Psicológico
62 Desenvolvimento da Carreira Esportiva
150 Fatores Psicológicos e Lesões Esportivas
67 Considerações finais
154 Consequências do Excesso da Prática Esportiva:
72 Referências Elementos Presentes no Rendimento
75 Gabarito 157 Considerações finais
161 Referências
UNIDADE III
164 Gabarito
CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS E RENDIMENTO ES-
PORTIVO 165 conclusão geral

80 Motivação Para a Prática do Esporte


86 Autoconfiança e Expectativas de Rendimento
INÍCIO E DESENVOLVIMENTO
DA PSICOLOGIA DO ESPORTE
E DO EXERCÍCIO

Professor Dr. Leonardo Pestillo de Oliveira

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Discussões iniciais sobre a Psicologia do Esporte e do
Exercício
• Características da Psicologia do Esporte e do Exercício na
atualidade
• Compreendendo a relação da Psicologia do Esporte e do
Exercício e o rendimento esportivo
• Compreendendo a relação da Psicologia do Esporte e do
Exercício e o esporte escolar

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar elementos históricos sobre como a Psicologia do
Esporte e do Exercício desenvolveu-se ao longo do tempo.
• Descrever as principais características que a área apresenta,
atualmente, como campo de atuação profissional.
• Discutir como o trabalho da Psicologia do Esporte e do
Exercício pode ser inserido no contexto do rendimento
esportivo.
• Discutir como o trabalho da Psicologia do Esporte e do
Exercício pode ser inserido no contexto esportivo amador e
início da carreira esportiva de rendimento.
unidade

I
INTRODUÇÃO

U
ma parcela significativa da população tem uma percepção
de que a Psicologia é uma área que se ocupa apenas de tra-
balhar com a área clínica e ainda considerando o estereóti-
po de “loucura”, termo já não utilizado para descrever pes-
soas que sofrem de transtornos mentais. Engana-se quem ainda tem esta
visão limitada em relação à área clínica da Psicologia, pois há diversos
outros campos de atuação em que a Psicologia se faz presente, entre eles
está o contexto esportivo, e é sobre isso que falaremos nesta Unidade I.
A Psicologia enquanto ciência é jovem quando comparada a outras
áreas, e por mais que o foco inicial tenha sido a saúde mental das pessoas
com transtornos mentais, as demais áreas da Psicologia também surgi-
ram em paralelo. Os primeiros estudos da área de Psicologia do Esporte
e do Exercício que se tem conhecimento datam do final do século XIX,
mesmo período em que a Psicologia passa a ser reconhecida enquanto
ciência e área específica de atuação.
Com isso, estudaremos alguns elementos do início da área, compre-
enderemos como ela se desenvolveu ao longo do tempo e quais caracte-
rísticas ainda hoje estão presentes e garantem sua permanência no ce-
nário atual. Um ponto importante a ser discutido também é sobre como
a Psicologia do Esporte e do Exercício pode ser ferramenta importante
não apenas para psicólogos, mas também para profissionais de Educação
Física. Basta compreendermos qual a função de cada profissional dentro
de suas características específicas, sabendo quais os limites de atuação e
como estas duas áreas podem atuar em conjunto.
O objetivo principal desta Unidade é fornecer uma visão geral sobre a
área e sobre como utilizar estes conhecimentos na atuação profissional, seja
no esporte de rendimento, seja no esporte amador, seja, inclusive, no contex-
to escolar, pois este também é um contexto em que o esporte está presente.
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Discussões Iniciais
Sobre a Psicologia do
Esporte e do Exercício

São mais de 100 anos de história, muitas barrei- Esta é apenas uma introdução simples de quan-
ras, muitas conquistas e muitas coisas ainda por do a Psicologia inicia sua trajetória como ciência,
se desenvolver. Era o ano de 1879, em Leipzig, na ela se torna importante para compreender também
Alemanha, quando Wilhelm Wundt fundou seu a história da Psicologia do Esporte e do Exercício,
Laboratório de Psicologia Experimental, um mar- ponto principal deste nosso livro. Vejamos, então,
co histórico que funda a Psicologia como ciência, como as próximas páginas podem ajudá-lo a com-
estabelecendo métodos e objeto próprios de estu- preender um pouco mais de como a área surgiu e
do. Apesar de ter a Filosofia como base, tornar-se como está nos dias atuais.
independente desta área passa a ser importante O início de tudo, antes do primeiro passo para
para as primeiras pesquisas que deram início à sua qualquer caminhada, seja ela longa, seja curta, é o
sistematização e delimitaram os horizontes de seu planejamento, e cada desafio necessita de um pla-
interesse (SOARES, 2010). nejamento específico, focado no que se pretende

14
EDUCAÇÃO FÍSICA

realizar, levando em consideração todos os pos- Com estas definições, podemos perceber que
síveis resultados deste planejamento. A sua com- a Psicologia do Esporte e do Exercício é uma área
preensão sobre como a Psicologia do Esporte e do que pode abranger diversos contextos, não apenas
Exercício surgiu, como se desenvolveu e como está o do esporte profissional, de rendimento, em que os
atualmente será mais adequada se você também se atletas fazem do contexto esportivo a sua principal
planejar, estabelecer um plano de leitura, estudo e, atividade profissional. Basta considerarmos que em
principalmente, se buscar outras fontes de infor- qualquer local em que o esporte esteja envolvido, e
mação, pois este livro dará apenas uma explicação que tenhamos pessoas praticando, a Psicologia po-
geral sobre a área. derá também estar lá, levando seus conhecimentos
Feito este planejamento, começaremos com o e proporcionando aos praticantes uma busca mais
que se conhece, de início, como Psicologia do Es- adequada aos resultados.
porte e do Exercício, e que suscitou as primeiras Sendo assim, podemos considerar dois objetivos
discussões sobre a área. Para isso, precisamos defi- principais da área. O primeiro seria voltado ao con-
nir o que pretendemos estudar. O que seria, então, texto esportivo profissional, pois visa a compreender
Psicologia do Esporte e do Exercício? Weinberg e como os fatores psicológicos dos atletas podem afe-
Gould (2017) dão-nos uma definição que nos leva tar o seu desempenho físico. Já o segundo objetivo
a compreender a área como o estudo científico do seria voltado ao público não profissional, mas que
comportamento das pessoas quando estão envolvi- está, de alguma forma, envolvido no contexto espor-
das em atividades esportivas, em atividades físicas tivo, ou seja, compreender como a prática esportiva
e, principalmente, na aplicação prática deste co- e de exercícios de um sujeito pode afetar o seu de-
nhecimento. Ou seja, não basta apenas estudarmos senvolvimento psicológico, a sua saúde e o seu bem-
os principais conceitos e as características, é preci- -estar (WEINBERG; GOULD, 2017).
so colocá-los em prática. Partindo destes dois objetivos, pode-se imagi-
Uma definição ainda mais abrangente e que nos nar como os pesquisadores começaram a inserir os
permite ter uma visão geral da área é apresentada conhecimentos da Psicologia no contexto esportivo.
pela American Psychological Association - APA, Após compreendermos quais os objetivos da Psico-
principal organização científica e profissional que logia do Esporte e do Exercício, precisamos saber
representa a Psicologia, nos Estados Unidos, e que da sua história, como começou e como chegou até
serve de base para muitos outros países. Segundo os dias atuais. A história remete-nos à Grécia Anti-
o site da própria organização, a Psicologia do Es- ga, considerada o berço dos estudos sobre a relação
porte é a capacidade de se utilizar conhecimentos mente e corpo. Avançando no tempo, o final do sé-
e habilidades psicológicas para atender ao ótimo culo XIX fica marcado pelos primeiros estudos e as
desempenho e ao bem-estar dos atletas, aos as- pesquisas sobre as questões psicológicas, no contex-
pectos sociais e de desenvolvimento de praticantes to esportivo (SAMULSKI, 2009). Este desenvolvi-
de esportes, e às questões sistêmicas associadas a mento da Psicologia do Esporte e do Exercício pode
configurações e a organizações esportivas ([2018], ser dividido em seis períodos, e alguns dos princi-
on-line)1. pais fatos estão destacados a seguir.

15
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Primeiros anos

Entre os anos de 1893 e 1920, alguns países destacaram-se, sendo considerados os


Destaques do Período 1

pioneiros dos estudos científicos da área. O primeiro deles é os Estados Unidos, em


1893. E. W. Scripture realiza estudos baseados em dados de atletas de Yale, e temos, na
Universidade de Indiana, os primeiros experimentos direcionados para a relação entre
a Psicologia e o esporte. Estes estudos foram conduzidos por Norman Triplett, que, em
1897, estudou sobre como um adversário pode influenciar no rendimento de um atleta,
neste caso, no ciclismo. Seus estudos chegaram a algumas respostas, mostrando que a
presença de um outro atleta poderia ser um estímulo para a liberação de uma energia
que não, necessariamente, estava manifestada no atleta, dando início, então, aos estu-
dos da motivação no contexto esportivo (GOULD; VOELKER, 2014; TRIPLETT, 1898). Em
1899, Scripture de Yale descreve traços de personalidade que acreditava serem favo-
recidos pela prática esportiva, e, em 1918, o ainda estudante Coleman Griffith conduz
estudos informais de jogadores de futebol americano e de basquetebol na University of
Illinois (WEINBERG; GOULD, 2017).

1893-1920 1921-1938

Desenvolvimento de laboratórios e de testes psicológicos

Após este período do final do século XIX, o início do século XX é marcado pelo desen-
Destaques do Período 2

volvimento dos primeiros laboratórios e Institutos de Psicologia do Esporte. Além dos


Estados Unidos, outros países, como Alemanha, Japão e Rússia também começaram a
investir em pesquisas na área.
• 1920: Robert Schulte dirige um laboratório de psicologia na German High School for Physi-
cal Education.
• 1920: início do primeiro laboratório de Psicologia do Esporte, por P. A. Rudik, em Moscou,
no Instituto Estatal de Cultura Física.

Até então, alguns estudos isolados eram realizados, porém o americano Coleman Gri-
ffith passa a dedicar sua carreira aos estudos da Psicologia, no contexto esportivo. En-
quanto psicólogo da University of Illinois, foi nomeado diretor, em 1925, do laboratório
intitulado Research in Athletics Laboratory, o que lhe confere reconhecimento como o pai
da Psicologia do Esporte, na América do Norte (GOULD; VOELKER, 2014). Entre os anos
de 1921 e 1931, Griffith publicou 25 artigos oriundos de pesquisas realizadas sobre
Psicologia do Esporte.

16
EDUCAÇÃO FÍSICA

Preparação para o futuro

Já na década de 1940, entra um novo período do desenvolvimento da área, em que os


Destaques do Período 3

estudos tornam-se mais específicos e, na University of California, em Berkeley, Franklin


Henry foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento científico da Psicologia
do Esporte (WEINBERG; GOULD, 2017).
• 1943: Dorothy Yates trabalha com boxeadores universitários e estuda os efeitos de inter-
venções de seu treino com relaxamento.
• 1949: Warren Johnson avalia as emoções experimentadas pelos atletas antes das com-
petições.
• 1951: John Lawther publica Psychology of Coaching.
Além dos Estados Unidos, outros países, como Austrália, Brasil, Inglaterra, Alemanha,
Itália, Japão e União Soviética começam a apresentar estudos e trabalhos realizados no
contexto da Psicologia do Esporte. Neste período, o trabalho com atletas envolvia técni-
cas comportamentais, cognitivas, e, principalmente Franklin Henry e Anna Espenscha-
de recomendavam a prática mental e visualização (EKLUND; TENENBAUM, 2014). Este
período de desenvolvimento científico leva à realização do primeiro Congresso Mundial
de Psicologia do Esporte, em Roma, no ano de 1965. Nesta cidade, também foi fundada
a International Society of Sport Psychology (ISSP).

1939-1965 1966-1977

Estabelecimento da psicologia do esporte como disciplina acadêmica

Todos estes fatos que marcam o início da área fazem com que ela chegue às univer-
Destaques do Período 4

sidades de forma mais específica, não apenas em laboratórios ou estudos isolados,


mas também em disciplinas dos cursos de graduação. Ao mesmo tempo, outras as-
sociações nacionais surgem também em diversos países. Em 1966, surgem a Associa-
tion for Sport Psychology, na Alemanha, e a North American Society for the Psychology of
Sport and Physical Activity (NASPSPA), nos Estados Unidos, e, em 1967, a British Society of
Sports Psychology (Inglaterra) e a French Society of Sports Psychology (França) (EKLUND;
TENENBAUM, 2014).

17
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Ciência e prática multidisciplinares na Psicologia do Esporte e do Exercício

Esta expressividade científica adquirida pela área faz com que ela se desenvolva em todo o mun-
do, não apenas em países isolados. A realização de eventos científicos e as pesquisas publicadas
Destaques do Período 5

começam a dar os frutos necessários para que a Psicologia do Esporte torne-se uma área conheci-
da e respeitada tanto no contexto universitário quanto no profissional, atuando, diretamente, com
atletas profissionais. A fundação de uma revista científica especializada foi um marco importante
em 1979, o Journal of Sport Psychology passa a ser referência, pois, a partir deste momento, as pes-
quisas passam a ser indexadas em um repositório científico, como as demais áreas.
Neste período, Dorothy Harris, professora na Pennsylvania State University, torna-se a primeira
mulher e a primeira norte-americana a ser membro da International Society of Sport Psychology (ISSP)
(GOULD; VOELKER, 2014). Este se tornaria o primeiro passo para que outras mulheres a seguissem,
já que, nesta época, a participação feminina era pouca nos cursos de nível superior da área.
• 1980: O Comitê Olímpico dos EUA cria o Conselho Consultor de Psicologia do Esporte.
• 1984: A cobertura da televisão norte-americana dos Jogos Olímpicos enfatiza a Psicologia do Esporte.
• 1985: O Comitê Olímpico dos EUA emprega o primeiro psicólogo do esporte em tempo integral.
• 1986: O primeiro periódico acadêmico aplicado, The Sport Psychologist, é publicado.
• 1989: É criado o Journal of Applied Sport Psychology.
O final do século XX e o início do século XXI, considerados o período contemporâneo da Psicologia
do Esporte e do Exercício, são marcados por demonstrar que este é um campo em ascensão, mui-
to empolgante de se fazer parte, porém há muito ainda o que se estudar e desenvolver, principal-
mente em países em que este desenvolvimento científico e profissional ainda pode ser conside-
rado emergente, como o Brasil. Já em 1986, a Associação Americana de Psicologia (APA) criou sua
Divisão 47 (www.apa47.org), voltada, especificamente, para a Psicologia do Esporte e do Exercício,
enquanto no Brasil a Psicologia ainda iniciava sua caminhada como profissão regulamentada, com
pouco mais de 20 anos de história (SOARES, 2010).

1978-2000 2001 ATÉ O PRESENTE

Psicologia contemporânea do esporte e do exercício

Mesmo antes de 1962 (ano da regulamentação da profissão de psicólogo no Brasil), há relatos de


Destaques do Período 6

trabalhos de intervenção psicológica no esporte. Em 1958, João Carvalhaes, então psicólogo do


São Paulo Futebol Clube, realizou um trabalho junto à seleção brasileira de futebol (VIEIRA et al.,
2010), coincidentemente, a equipe foi campeã da Copa do Mundo de Futebol desse ano, o primei-
ro título da equipe nacional (EKLUND; TENENBAUM, 2014).
O principal meio de desenvolvimento da Psicologia do Esporte e do Exercício dá-se no contexto
acadêmico, pelas pesquisas realizadas com apoio de instituições de fomento e também no traba-
lho realizado, principalmente, por psicólogos junto a atletas e equipes esportivas.
• 2000: A revista Psychology of Sport and Exercise é criada e publicada na Europa.
• 2003: A APA Division 47 tem foco na Psicologia do Esporte como área de proficiência especializada.
Assim, a psicologia do exercício prospera, especialmente, em ambientes universitários e há um
interesse crescente na psicologia aplicada ao esporte. Como mostrado neste primeiro momento,
podemos perceber que não estamos falando de uma área recente, porém ainda desconhecida por
alguns. Fato este que mostra a importância de se debater o assunto nos cursos de graduação de
Psicologia e Educação Física por todo o mundo.

18
EDUCAÇÃO FÍSICA

19
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Características da Psicologia
do Esporte e do Exercício na Atualidade
É fato que a Psicologia do Esporte e do Exercício tos atletas, técnicos e comissões técnicas esportivas
cresce no mundo todo, estando presente em muitos não incluem o trabalho psicológico no dia a dia de
países, seja em cursos universitários, seja de especia- suas equipes. Isto se dá, principalmente, pela he-
lização, seja no trabalho prático com atletas e equipes rança histórica da Psicologia sobre o trabalho com
esportivas. Como já descrito, este trabalho prático a “loucura”, fato que demonstra o desconhecimen-
também está presente em um contexto esportivo não to sobre qual seria o principal objetivo do trabalho
profissional, e este é um dos principais motivos pelo psicológico, principalmente no contexto esportivo,
qual denomina-se Psicologia do Esporte (referência em que o ponto principal é justamente fortalecer a
ao esporte profissional) e do Exercício (voltado para estrutura psíquica dos atletas na tentativa de que
o esporte não profissional). fatores psicológicos não interfiram, negativamente,
Todo esse desenvolvimento e toda essa expres- em seu rendimento.
sividade não significa que o trabalho seja aceito por Esta desconfiança e este desconhecimento so-
todos. Não estamos falando de uma unanimidade bre o trabalho psicológico, no contexto esportivo,
no contexto esportivo, visto que, ainda hoje, mui- ocorre devido a alguns fatores. Exemplo disso é

20
EDUCAÇÃO FÍSICA

que, no Brasil, a disciplina de Psicologia do Espor- como Samulski (2009) e Weinberg e Gould (2017)
te e do Exercício não está presente em grande parte apontam que o profissional que atua hoje no cam-
dos cursos de graduação de Psicologia, ou está pre- po da Psicologia do Esporte tem a possibilidade de
sente apenas como uma disciplina eletiva. Fato que atuar em diversas carreiras. Porém há três papéis
não ocorre com os cursos de Educação Física, pois básicos que condensam as principais atividades,
a maioria destes apresenta a disciplina como parte são eles: o papel de pesquisador, o papel de profes-
obrigatória de sua matriz curricular (RUBIO, 2000). sor e o papel de consultor.

SAIBA MAIS REFLITA

O primeiro registro da relação entre a Psico- A Psicologia do Esporte e do Exercício per-


logia aplicada ao esporte no Brasil é de 1954. mite um leque amplo de possibilidades de
Nesse ano, João Carvalhaes foi contratado atuação. Profissionais de Educação Física e
pela Federação Paulista de Futebol para tra- de Psicologia devem unir esforços para que
balhar na avaliação, seleção e treinamento esta área se fortaleça ainda mais no Brasil.
de árbitros de futebol. Devido à divulgação
de seu trabalho com os árbitros, em 1957,
foi contratado para aplicar a Psicologia nos
atletas do São Paulo Futebol Clube. Nesse
mesmo ano, foi convocado para compor a
comissão técnica da Seleção Brasileira de
Futebol, responsável pela preparação para
a Copa de 1958.

Fonte: Hernandez (2011).

A principal estratégia utilizada para que a área de-


senvolva-se no contexto acadêmico, no Brasil, é a
criação de laboratórios de pesquisa especializados e
também a realização de eventos científicos que dão
suporte e abrem espaço para as discussões teóricas e
práticas entre profissionais da área.
A Psicologia do Esporte e do Exercício é uma
ciência e precisa ser compreendida como tal. Por
isso a importância de que ela seja inserida cada vez
mais no contexto acadêmico, abarcando os três pi-
lares que podemos citar como sendo as principais Figura 1 - Os três papéis básicos da Psicologia do Esporte e do Exercício
áreas de atuação, na atualidade. Alguns autores, Fonte: o autor.

21
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

FUNÇÃO DE PESQUISA

A pesquisa é uma função muito importante no con- texto acadêmico, ministrando cursos universitários
texto da Psicologia do Esporte e do Exercício. Neste e compondo corpo docente em disciplinas de cursos
caso, o papel de pesquisador é aquele desenvolvido de graduação em Psicologia e Educação Física. Es-
no campo acadêmico e tem por objetivo aumentar tes transmitem seu conhecimento e suas habilidades
o conhecimento científico da área, por meio de pes- técnicas acerca da área, e é o principal momento em
quisas científicas. A maioria dos psicólogos e pro- que se pode compreender a relação entre fatores psi-
fissionais de Educação Física que atuam na área e cológicos e a prática esportiva ou de atividade física.
que estão vinculados a alguma universidade empe- Samulski (2009) destaca algumas metas que de-
nham-se em desenvolver pesquisas para compreen- vem ser seguidas pelos professores neste contexto,
der melhor este contexto. Uma das vantagens da área ou seja, os principais pontos a serem transmitidos
acadêmica é a possibilidade de realizar pesquisas em aos alunos, como:
conjunto com outros profissionais, o que pode cola- • Princípios e fundamentos psicológicos presen-
borar para aumentar a interdisciplinaridade da área, tes nos processos de aprendizagem e de ensino.
fato este importante tendo em vista que o sujeito • Conhecimentos e capacidades psicológicas
que está inserido no contexto esportivo precisa ser para a educação prática nos diversos setores
de aplicação no esporte.
pensado enquanto um sujeito biopsicossocial, como
• Conhecimentos e técnicas em metodologia
já descrito por Urie Bronfenbrenner, na década de
da pesquisa psicológica.
1970 (ROSA; TUDGE, 2013).
Como já destacado, o papel desempenhado
neste caso é o de pesquisador, que pode desenvol- FUNÇÃO DE INTERVENÇÃO
ver teorias, procedimentos de avaliação de atletas e
pessoas envolvidas no contexto esportivo, além de Após um período de formação profissional, é pos-
compreender melhor as variáveis psicológicas que sível assumir uma posição de intervenção junto a
estão envolvidas no esporte e na atividade física. O atletas de esporte individual ou coletivo. O principal
conhecimento que é adquirido na pesquisa servirá objetivo, neste caso, é trabalhar para o desenvolvi-
de base para uma função que discutiremos em bre- mento de habilidades psicológicas para melhorar o
ve, que é o da intervenção. desempenho em competições e treinamento (VE-
ALEY, 2007).
FUNÇÃO DE ENSINO Esta seria, talvez, a função que mais necessita
de desenvolvimento no Brasil, tendo em vista a não
Talvez a área que mais se destaca no Brasil, a área existência de uma formação específica e também a
do ensino é composta por professores que compar- falta de conhecimento sobre qual seria o papel de
tilham seu conhecimento com alunos interessados um psicólogo esportivo junto a uma equipe ou a
em conhecer melhor a área. Muitos especialistas em um atleta. Há muitas atividades que um psicólogo
Psicologia do Esporte e do Exercício estão no con- esportivo pode realizar junto a equipes esportivas,

22
EDUCAÇÃO FÍSICA

atletas profissionais e amadores, atletas de equipes Psicologia Educacional do Esporte


escolares, ou seja, em qualquer contexto envolvendo Nesta especialidade, os profissionais recebem trei-
esporte e atividade física, o psicólogo poderá atuar namento extensivo na área de ciência do esporte e
visando ao auxílio dos envolvidos. No entanto, é pos- do exercício, em Educação Física e em Cinesiolo-
sível dividirmos em dois tipos de especialidades que gia. Esta é uma área em que os profissionais não
encontramos na Psicologia do Esporte e do Exercí- são habilitados a tratar transtornos emocionais,
cio contemporâneo: Psicologia Clínica do Esporte e estando capacitados apenas a compreender os as-
Psicologia Educacional do Esporte. Veremos quais pectos psicológicos que podem contribuir para
as principais características de cada uma delas. um melhor desempenho dos atletas e praticantes
de atividade física. Este é o gancho importante
Psicologia Clínica do Esporte para justificar como os profissionais da Educação
De acordo com Brewer e Petrie (2014) e Proctor e Física podem trabalhar com Psicologia do Esporte
Boan-Lenzo (2010), esta é a área em que os profis- e do Exercício.
sionais são qualificados, extensivamente, em Psico- O controle da ansiedade, o auxílio no desenvol-
logia. Isso porque aprendem a detectar e a tratar in- vimento de habilidades psicológicas, da confiança
divíduos que apresentam algum tipo de transtorno e do autocontrole são elementos que não neces-
emocional, como depressão, ansiedade, tendências sitam de uma habilitação em Psicologia para tal.
suicidas, entre outros transtornos que são detecta- Isso porque, na maioria dos casos, é o treinador, o
dos também na população geral. Além disso, este preparador físico e o especialista em Ciências do
trabalho exige uma autorização específica que, neste Esporte que convivem diariamente com o atleta,
caso, é dada pelos Conselhos Federal e Regional de estando em contato diário com suas característi-
Psicologia, tendo em vista a profundidade de alguns cas mentais positivas e negativas (SI; STATLER;
destes problemas, exigindo uma qualificação especí- SAMULSKI, 2014).
fica para tal.
Há um mito de que o atleta profissional não apre-
senta transtornos emocionais, pois este é visto pela
população como um sujeito saudável, física e psico-
logicamente. Mas, assim como a população geral, os
atletas e praticantes de atividade física desenvolvem
desde transtornos leves até transtornos emocionais
graves, necessitando, assim, de tratamento específico.
Os transtornos mentais estão presentes em qualquer
estágio do desenvolvimento humano, alguns momen-
tos com maior prevalência que outros, mas há sempre
a necessidade de cuidado (GULLIVER et al., 2012).

23
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Compreendendo a Relação da
Psicologia do Esporte e do Exercício
e o Rendimento Esportivo

A Psicologia do Esporte e do Exercício é uma área Unidade, alguns dos principais serviços que a Psi-
que cresce, exponencialmente, no mundo todo. Di- cologia pode prestar a atletas e equipes esportivas
versos países investem na formação e especialização (WEINBERG; GOULD, 2017). Aplicar teorias e mé-
de profissionais para atuar junto a atletas e delega- todos da Psicologia na prática esportiva não significa
ções esportivas, nas principais competições espor- ser apenas esta a sua função, mas há que se pensar
tivas nacionais e internacionais. O desenvolvimento na relação teoria e prática, o que nem sempre é fácil
de teorias da psicologia e de métodos que sejam es- (VIEIRA; NASCIMENTO JUNIOR; VIEIRA, 2013).
pecíficos para o contexto esportivo pode contribuir A intervenção psicológica na prática esportiva,
para o desenvolvimento tanto da psicologia quanto seja esporte de rendimento ou escolar, seja apenas
do esporte (SAMULSKI, 2009). uma prática esportiva, pode ser baseada em pro-
Uma das principais dificuldades para a Psico- gramas psicológicos de treinamento, aconselha-
logia inserir-se no contexto esportivo é o conheci- mento e acompanhamento específico de cada mo-
mento sobre qual o seu papel. Já destacamos, nesta dalidade em questão (LIDOR; BLUMENSTEIN;

24
EDUCAÇÃO FÍSICA

TENENBAUM, 2007). Desenvolver habilidades Toda preparação envolvida no contexto es-


pessoais, a percepção psicológica em função do ad- portivo deve ser pensada e organizada de forma
versário (COIMBRA; BARA FILHO; MIRANDA, a facilitar o trabalho. A intervenção psicológica
2013), a autoconfiança (PALUDO et al., 2016), a deve ser estruturada de acordo com a realidade
autodeterminação (OLIVEIRA et al., 2015), o con- dos atletas e/ou da equipe esportiva, seguindo
trole das emoções (DIAS et al., 2013) são apenas al- etapas e pensando na realidade de cada esporte.
gumas das possibilidades de trabalho, tendo como Neste caso, o profissional da psicologia, ao iniciar
foco principal as situações concretas em que os um trabalho no contexto esportivo, deve levar em
atletas estão envolvidos. consideração as características de periodização do
Há, ainda, a necessidade de se desenvolver um treinamento dos atletas.
trabalho baseado nas características dos atletas.
Principalmente quando se fala em equipes, há o de-
safio de se pensar nas características individuais de
cada um dos membros desta. Os estudos sobre per-
sonalidade ajudam a compreender as características
de cada sujeito, mas não determinam como estes se
comportarão nem como responderão a determina-
dos estímulos que são emitidos ao longo do proces-
so (ROSADO; FONSECA; SERPA, 2013). Para isso,
há diversas estratégias de treinamento psicológico
que podem ser adaptadas às necessidades particu-
lares de cada atleta, levando-os a um autoconheci-
mento mais elaborado e a uma maior autogestão das
emoções (WEINBERG; GOULD, 2017).
As exigências de desempenho estão cada dia
maiores, os atletas buscam a excelência a cada trei-
namento, a cada competição, sendo este um dos
fatores que, naturalmente, levam à percepção das Bompa (1999) apresenta três etapas que podem ser
diferenças entre um e outro. Proporcionalmente às seguidas durante o que se conhece por uma tempo-
exigências cada vez maiores, os atletas convivem rada de treinamento esportivo: (1) Preparação, (2)
com as pressões externas, o que interferem, direta- Competição e (3) Transição. A partir disso, Lidor,
mente, no seu desempenho. Voltamos à discussão Blumenstein e Tenenbaum (2007) indicam que a
sobre a necessidade de pensarmos o sujeito (neste preparação psicológica deve refletir as necessidades
caso o atleta) como um ser biopsicossocial (ROSA; específicas dos atletas em cada uma das fases. Sendo
TUDGE, 2013), culminando na percepção de que assim, a intervenção psicológica no contexto espor-
a preparação esportiva compreende fatores físicos, tivo deve ocorrer com uma relação muito próxima
técnicos, táticos e psicológicos. da periodização do treinamento.

25
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Seguindo esta perspectiva, Vieira, Vissoci e Oli- Os dados obtidos nesta avaliação serão utili-
veira (2010) aprofundaram esta discussão no cam- zados no decorrer do trabalho, mas uma das ava-
po da intervenção psicológica e descreveram quatro liações que ocorre durante todo o trabalho é a
etapas que podem ser seguidas no acompanhamen- observação sistemática de treinamentos e competi-
to de atletas de rendimento. A proposta foi dividida ções, pois, quando realizada de maneira específica,
no seguinte modelo: funciona como um instrumento que permite aos
• Etapa 1 - Contato inicial. profissionais da psicologia identificarem padrões
• Etapa 2 - Levantamento das necessidades. de comportamentos dos atletas, da comissão téc-
• Etapa 3 - Programa de intervenção. nica, bem como relacionar estes padrões de com-
• Etapa 4 - Avaliação dos resultados. portamento dos atletas com o desempenho destes
(CILLO, 2003). As características psicológicas po-
As duas primeiras etapas do programa de inter- sitivas e negativas devem ser levadas em considera-
venção psicológica são as que ocorrem em menor ção a todo momento, pois, silenciosamente, podem
tempo. Isso porque devem ser realizadas logo nos levar os atletas a aumentarem ou diminuírem seu
primeiros momentos da intervenção. Durante o desempenho, muitas vezes, de forma silenciosa, e,
contato inicial, é preciso informar aos envolvidos ao serem negligenciadas, podem causar sérias con-
todas as etapas que serão realizadas bem como qual sequências no decorrer da temporada.
o papel de cada envolvido neste processo, momento Com as informações coletadas, chega o mo-
de estabelecimento de rapport (vínculo entre psicó- mento de executar o programa de inter-
logos e equipe esportiva) e também de definição de venção, que seguirá o calendário
metas/objetivos a serem atingidos, durante a tempo- esportivo da equipe e/ou do
rada. Os objetivos devem ser delimitados de acordo atleta. A intervenção psi-
com o cronograma da equipe, as competições alvo, cológica também deve se-
e também os objetivos individuais, tendo em vista guir uma periodização
que os atletas de esporte coletivo também têm suas específica, isto porque
metas individuais (WEINBERG; GOULD, 2017). as exigências psico-
Após todas as apresentações e já com as dúvidas lógicas em cada
sanadas, é o momento de a equipe psicológica realizar etapa da tempo-
o levantamento das necessidades psicológicas para a rada esportiva se
equipe alvo. É preciso ficar a par dos horários de trei- alteram e precisam
namentos, os tipos de treinamento e a rotina diária dos ser reguladas, dependendo
atletas, pois isto se torna uma ferramenta de conheci- das exigências. No traba-
mento individual e coletivo dos atletas. O foco princi- lho com atletas de mo-
pal é avaliar variáveis psicológicas da equipe e comissão dalidades individu-
técnica. São utilizados testes psicométricos individuais, ais, as sessões são
entrevistas e observações de conduta em treinamentos
e competições (VIEIRA; VISSOCI; OLIVEIRA, 2010).

26
EDUCAÇÃO FÍSICA

realizadas de acordo com as necessidades destes, cos são levados em conta após o levantamento das
mas a periodicidade semanal é uma das priori- necessidades individuais. Cada equipe terá suas pró-
dades. Nos esportes coletivos, esta periodicidade prias características, e isso deve ser levado em conta.
também é preservada com atividades em grupo, O treinamento psicológico que é fornecido aos atle-
mas, neste caso, há uma especificidade que deve tas torna-se importante, pois é uma das formas de
ser levada em conta, as intervenções individuais levá-los ao autoconhecimento e à maior capacidade
com os atletas, pois esta individualidade também de lidar de maneira eficaz com as exigências físicas
precisa ser trabalhada, não com tanta frequência e emocionais às quais são expostos (WEINBERG;
quanto às atividades em grupo, mas sempre que se GOULD, 2017).
achar necessário (SAMULSKI, 2009). A intervenção psicológica propriamente dita
As intervenções são realizadas de um lado dura o tempo necessário, de acordo com o crono-
com características pedagógicas, visando a levar grama da temporada em questão e, ao fim, é pre-
os atletas a conhecerem os conceitos psicológicos ciso realizar uma avaliação de todo o processo, vi-
que os afetam diariamente, tais como ativação, an- sando a destacar os pontos positivos e negativos do
siedade, humor, motivação para a prática, entre trabalho. Uma forma de se fazer esta avaliação é
outros. Este conhecimento inicial tem por obje- pelos resultados da equipe ou dos atletas durante a
tivo fazer com que os atletas cheguem a um au- temporada, mas basear o sucesso ou o fracasso de
toconhecimento sobre suas características, um trabalho apenas pelos títulos alcançados pode
sendo capazes de resolver seus próprios ser uma estratégia não muito adequada (ÁLVAREZ
conflitos emocionais, principalmente, et al., 2013).
em momentos de tensão e competição É preciso reconhecer quais mudanças signifi-
(LIDOR; BLUMENSTEIN; TE- cativas ocorreram durante este processo, como os
NENBAUM, 2007). atletas se percebem após todo o trabalho realizado,
Temas gerais de discus- a opinião da comissão técnica, ou seja, de todos os
são, como coesão de gru- envolvidos. Pois, apenas com esta avaliação final
po, motivação para a é possível realizar uma reestruturação do trabalho
prática esportiva, para que no ano seguinte as atividades possam ser
melhora da comu- realizadas de forma mais específica possível. O ob-
nicação entre os jetivo sempre será levar os atletas a melhorarem
membros e auto- seu desempenho esportivo, mas isso só será possí-
gestão da saúde vel se metas reais forem traçadas. Metas reais ten-
mental são es- dem a ser atingidas com trabalho e dedicação, mas
senciais em qual- metas que são definidas sem uma avaliação correta
quer equipe. Mas tendem a não ser atingidas e podem gerar frus-
fatores específi- tração, sendo um ponto muito negativo em qual-
quer trabalho que seja realizado (WEINBERG;
GOULD, 2017).

27
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Compreendendo a
Relação da Psicologia do Esporte
e do Exercício e o Esporte Escolar

A prática esportiva, desde a tenra idade, é, compro- voltadas à Promoção da Saúde devem incluir ele-
vadamente, discutida na literatura nacional e inter- mentos de atividade física, comportamentos saudá-
nacional como um dos principais fatores que auxi- veis, alimentação adequada e controle emocional. O
liam na aquisição de uma boa qualidade de vida nos esporte escolar analisa, de um lado, os processos de
anos posteriores. Há discussões importantes sobre ensino e aprendizagem e, de outro, os processos de
quanto mais cedo se começar a adquirir hábitos sau- educação e socialização, os comportamentos e as re-
dáveis, maiores as chances de que estes hábitos per- lações entre professores e alunos e também caracte-
durem por mais tempo. Isso aliado a um estilo de rísticas psicológicas, tais como estresse causado pelo
vida com alimentação rica em nutrientes naturais e contexto, motivação para a prática esportiva e pro-
controle permanente de peso e equilíbrio emocional cessos de socialização (SAMULSKI, 2009).
(SILVEIRA, 2017). A escola não é um local apenas para se apren-
Um dos locais em que estes hábitos podem ser der elementos técnico-científicos, mas também um
trabalhados e desenvolvidos é a escola. Atividades local de socialização, em que deve se respeitar as

28
EDUCAÇÃO FÍSICA

capacidades individuais dos alunos e os incenti- iniciação de uma criança no esporte é permeada de
varem a praticarem atividades que estimulem sua mudanças, novas interações sociais e a possibilidade
mente. Além disso, o desenvolvimento humano de se adaptar a novas realidades.
deve ser encarado como um processo que ocorre O esporte praticado nas escolas pode ser tam-
em diversas frentes: físico, cognitivo, afetivo, social bém um trampolim para a profissionalização. E este
e moral (SANTOS, 2016). aspecto envolve também um ponto importante, que
é o econômico. Quanto mais desigualdade social um
país apresenta, mais as pessoas buscam alternativas
para melhorar suas condições de vida, e o esporte
é uma destas ferramentas (MACHADO; MOIOLI;
PRESOTO, 2016). Por isso, as relações devem ser
estabelecidas sempre visando o desenvolvimento
natural das crianças, sem a obrigatoriedade de se re-
alizar uma atividade não desejada.
A prática esportiva na infância não deve ser en-
carada apenas como um trampolim social, tampou-
co como uma obrigatoriedade de que estas crianças
venham a se tornar atletas profissionais. Mesmo que
Há sempre um foco maior em atletas profissionais a etapa escolar seja um momento de desligamento
quando o assunto é esporte, mas estes mesmos atle- das questões familiares, a família continua com um
tas tiveram seu período de aprendizagem e de de- papel fundamental no desenvolvimento das crian-
senvolvimento antes de se tornarem os atletas que ças, motivo este pelo qual as discussões sobre a rela-
são. O comportamento humano adapta-se de acor- ção cada vez mais próxima das famílias com o con-
do com as características do ambiente em que está texto escolar são importantes.
inserido e, durante seu desenvolvimento, há com- Toda atividade que o ser humano realiza pre-
portamentos que são inatos (ligados aos fatores bio- cisa ser um momento que lhe cause prazer, e com
lógicos) e os que são moldados pela atividade cultu- as crianças e os adolescentes não é diferente. Este
ral das pessoas com as quais se relaciona. Berger e início da carreira esportiva pode ser um momento
Luckmann (2012) descrevem que o indivíduo nasce não tão agradável assim, tendo em vista as diversas
e se torna membro de uma sociedade, ou seja, é um variáveis envolvidas neste processo. Estas variáveis
ser social, que vive em grupo. terão sua parcela de influência na continuidade da
Ao sair do seio da família e adentrar ao contexto prática esportiva, mas também na possibilidade de
escolar, a criança passa a se relacionar com pessoas abandono da prática.
de outras culturas e locais, rompendo com o modelo Algumas pesquisas têm sido conduzidas com o
de educação que vinha recebendo em casa, e, assim, intuito de compreender o que se chama de dropout,
passa a receber influência deste novo núcleo de con- um fenômeno para nomear o abandono esportivo
vivência (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). A (PIRES; BRANDÃO; MACHADO, 2005). Há di-

29
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

versas causas para o abandono precoce da prática visa a uma reflexão por parte dos envolvidos de que
esportiva, tais como as elevadas exigências técnicas, o futuro é incerto, e o trabalho a ser realizado neste
os treinos exaustivos e a não adaptação psicológica momento é o de direcionar o jovem a ter a capacida-
às demandas do contexto (FONSECA; ZECHIN; de de decidir o que fará com sua vida ao longo dos
MANGINI, 2014). anos que virão.
A intervenção psicológica, no contexto do início É preciso ficar atento, pois o esporte com
da carreira esportiva, perpassa também o contexto crianças e adolescentes também tem um caráter
escolar e deve ser realizada de forma adequada, ten- recreativo e formativo. Não necessariamente se
do em vista sua complexidade, pois envolve múlti- tornarão grandes atletas do esporte mundial, mas,
plas responsabilidades. Estas responsabilidades são claro, os exemplos dos adultos devem ser utiliza-
referentes aos próprios atletas jovens, aos pais, aos dos também, tendo em vista que as crianças e os
técnicos, aos professores, aos árbitros e, até mesmo, jovens seguem seus passos, e a responsabilidade
aos torcedores que acompanham o desenvolvimen- destes chamados “exemplos” cresce a cada com-
to dos jovens atletas. A intervenção, neste momento, portamento realizado.

30
considerações finais

Para encerrar, faremos uma retomada do assunto que foi discutido nesta Unidade
cuja estrutura foi elaborada com o intuito de que você, aluno(a), fosse apresenta-
do(a) aos elementos iniciais da Psicologia do Esporte e do Exercício.
Foram apresentados quatro tópicos principais para a compreensão inicial da
área. Iniciamos falando um pouco sobre como começaram as discussões relacio-
nadas à importância da Psicologia ao ser utilizada no contexto esportivo para
ajudar os atletas a melhorarem seu desempenho. Este início foi marcado por ex-
periências específicas, em determinados países que ainda hoje são os grandes
produtores científicos da área.
Em seguida, entramos nas discussões sobre como a Psicologia do Esporte e
do Exercício está na atualidade, as relações entre a Educação Física e a Psicolo-
gia, como grandes áreas precisam se estreitar cada vez mais, sempre buscando
o desenvolvimento dos interesses em comum. Só com a união dos profissionais
é que poderemos ter mais destaque no trabalho com o contexto esportivo e a
atividade física.
Finalizamos a Unidade I apresentando duas formas de pensar a atuação da
Psicologia do Esporte e do Exercício hoje. A intervenção no esporte de rendi-
mento, que é o campo de trabalho em que as pessoas mais acreditam estar inseri-
da a Psicologia. Mas não devemos nos esquecer de que os grandes atletas inicia-
ram suas carreiras em locais e equipes com características diferentes. O início da
carreira e seu desenvolvimento, que será discutido de forma mais específica na
Unidade II, precisa ser considerado e, muitas vezes, o esporte escolar é o início
de muitas carreiras de sucesso.
Espero que esta explicação inicial tenha despertado em você o interesse por
compreender melhor quais as contribuições que a Psicologia pode trazer para o
contexto esportivo. Cada área com suas especificidades pode e deve contribuir
para o desenvolvimento humano e, assim, levar os atletas a melhores desempe-
nhos, dentro de suas próprias possibilidades.

31
atividades de estudo

1. Mário sempre quis ser professor de Educação Física, no entanto ele se sente frus-
trado porque seus alunos do Ensino Médio têm pouco interesse em desenvolver
capacidades e em aprender habilidades básicas. O objetivo de Mário é motivar
os alunos sedentários a engajarem-se em atividades físicas. Neste sentido, é im-
portante que Mário conheça alguns elementos principais da área chamada Psi-
cologia do Esporte (WEINBERG; GOULD, 2008). Considere as assertivas a seguir:
I - O psicólogo do esporte e do exercício identifica princípios e diretrizes que
os profissionais podem usar para ajudar adultos e crianças a participarem
e se beneficiarem de atividades esportivas e de exercícios.
II - Entender como os fatores psicológicos afetam o desempenho físico de um
indivíduo pode ser considerado um dos objetivos da Psicologia do Esporte.
III - Entender como a participação em esportes e exercícios afeta o desen-
volvimento psicológico, a saúde e o bem-estar de uma pessoa pode ser
considerado um dos objetivos da Psicologia do Esporte.
IV - A Psicologia do Esporte aplica-se a uma ampla parcela da população.

Assinale a alternativa que contenha assertivas verdadeiras sobre a Psicologia do Esporte:


a) I e II.
b) II e III.
c) I e III.
d) I e IV.
e) I, II, III e IV.

2. Os profissionais que atuam no contexto da Psicologia do Esporte e do Exercício


têm possibilidade de atuação junto a diversos atletas e a modalidades esportivas,
e não apenas atletas profissionais, como também atletas amadores e aqueles
que praticam atividade física. Analise as alternativas a seguir e assinale aquela
que melhor representa o motivo pelo qual cada um destes tipos de atletas prati-
cam o esporte/atividade física. Siga a ordem: atletas profissionais, atletas amado-
res e praticantes de atividade física.
a) Orientados para performance; orientados para a superação de recordes;
foco na competição.
b) Orientados para competição; orientados para o bem-estar; orientados
para o lazer.
c) Opção profissional; foco na superação pessoal; prazer da atividade física.
d) Questão de sobrevivência; escolha da prática como meio de vida; dificulda-
de em aderir ao exercício.
e) Reflexão sobre a prática; cobrança pessoal e institucional; sem intenção de
competir.

32
atividades de estudo

3. Há muito o que se fazer no contexto da Psicologia do Esporte e do Exercício, e


isso se define, também, dependendo da área em que se atua. É possível inserir
o trabalho da Psicologia do Esporte e do Exercício em diversas frentes, como o
esporte de rendimento, esporte escolar, esporte recreativo, prevenção, saúde e
reabilitação. Assinale a alternativa correta sobre o esporte escolar:
a) Contexto em que se analisa a modificação dos fatores psíquicos determi-
nantes do rendimento no esporte, com a finalidade de melhorá-lo e otimi-
zar o processo de recuperação.
b) É o contexto em que se analisa o comportamento recreativo de grupos
de diferentes faixas etárias, classes socioeconômicas e atuações de dife-
rentes motivos.
c) Parte do princípio de se analisar, por um lado, os processos de ensino e
aprendizagem e, por outro, processos de educação e socialização.
d) Principais temas de análise são esporte e personalidade, agressão, inte-
ração entre treinador e atleta, estresse psíquico na competição e motiva-
ção esportiva.
e) Contexto em que são pesquisadas as possibilidades preventivas e terapêu-
ticas do esporte.

4. Muitas discussões são realizadas atualmente sobre esta área de atuação, conhe-
cida como Psicologia do Esporte e do Exercício, por isso, é importante conhecer
qual o propósito desta área. Baseando-se nas discussões de Weinberg e Gould
(2007), descreva o que é (definição) Psicologia do Esporte e do Exercício, ressal-
tando quais os dois objetivos principais desta área de atuação.
5. A atuação profissional mais conhecida no contexto da Psicologia do Esporte e do
Exercício está relacionada aos esportes de alto rendimento, mas não é só isso o
foco do psicólogo do esporte. Os psicólogos do esporte modernos seguem car-
reiras variadas, desempenhando três papéis básicos em suas atividades profis-
sionais. Explique quais são os três campos de atuação de um psicólogo esportivo,
abordando seus papéis principais.

33
LEITURA
COMPLEMENTAR

A leitura a seguir é baseada em um artigo científico que aborda um tipo de pesquisa muito
utilizado para se compreender a fundo um tema específico. O artigo é uma revisão siste-
mática de literatura sobre a psicologia do esporte em periódicos da Psicologia. Segue um
pouco do que encontrarão neste artigo.
A ampliação da produção do conhecimento científico, no Brasil, tem levado diferentes
áreas a realizar balanços dos estudos e pesquisas desenvolvidas, demonstrando a impor-
tância de tais análises no processo de construção e aperfeiçoamento do conhecimento
(VIRTUOSO; HAUPENTHAL; PEREIRA; MARTINS, KNABBEN; ANDRADE, 2011). Ao analisar,
historicamente, as investigações e pesquisas no esporte, verifica-se o domínio das ciências
biológicas, no entanto não podemos deixar de lado os aspectos emocionais decorrentes do
esporte, especialmente a saúde mental e a necessidade destes aspectos na preparação de
atletas (ALLEN; DE JONG, 2006; RIMMELE et al., 2007).

Segundo Virtuoso et al. (2011), são necessários estudos que avaliem a produção literária
sobre os mais variados assuntos a fim de apontar lacunas de conhecimento e direcionar
trabalhos futuros. Na Psicologia do Esporte Aplicada ao Alto Rendimento, este levantamen-
to é importante para visualizar o foco das pesquisas na área, os principais assuntos que
vêm sendo estudados e quais são as principais carências nesta área.
A Psicologia do Esporte (PE) é a ciência que investiga aspectos emocionais no contexto es-
portivo (GOUVEIA, 2001), estando vinculada à Psicologia e às Ciências do Esporte. Nos EUA,
a Psicologia do Esporte e do Exercício foi estabelecida como área da American Psychologi-
cal Association (Division 47), em 1986, com o foco nas questões profissionais e de pesquisa.
Desde então, a área tem evoluído, aparentemente, mas o impacto na profissão ainda tem
sido pouco significante (AOYAGI; PORTENGA; POCZWARDOWSKI; COHEN; STATLER, 2012).
Fletcher e Wagstaff (2009) apontam como necessidade da PE aplicar efetivamente o que se
estuda na teoria e pesquisa na prática esportiva. Na Europa, a European Federation for the
Psychology of Sport and Physical Activity (FEPSAC) também tem se preocupado com os de-
safios da Psicologia do Esporte Aplicada (WYLLEMAN; HARWOOD; ELBE; REINTS; CALUWÉ,
2009).

Fonte: Andrade et al. (2015).

34
material complementar

Indicação para Ler

Psicologia do Esporte: teoria e prática


Katia Rubio (Org.)
Editora: Casa do Psicólogo
Sinopse: este livro, coletivo, aglutina muitos autores e reúne uma diversidade de
temas em uma área que, apesar de não ser emergente como a classificamos, pois
é antiga no Brasil, tem recebido, nos últimos, anos uma importância e divulgação
grandes, colocando-a acessível aos que iniciam a profissão e escolhem sua área
de intervenção e aprofundamento.
Ele responde a muitas necessidades, mas, acima de tudo, faz circular a Psicologia
de forma acessível e estimula o desenvolvimento de disciplinas nos cursos de gra-
duação em Psicologia. É também um livro para muitos, pois o conhecimento da
Psicologia tem sido necessário para complementar a formação de outros profis-
sionais. A área do esporte tem sido habitada por muitas profissões e a Psicologia,
com este livro, passa a contribuir para qualificar a formação de vários profissio-
nais e se coloca disponível para debater suas ideias.

Indicação para Acessar

The Players Tribune é uma nova plataforma de mídia que fornece conteúdo escrito por atletas profis-
sionais. Oferece diariamente conversas esportivas e publica histórias em primeira pessoa diretamente
de atletas. Entre eles, brasileiros como Ronaldinho Gaúcho e Marta. Disponível em: <https://www.the-
playerstribune.com>.

35
referências

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36
material complementar

PALUDO, A. C.; NUNES, S. A. N.; SIMÕES, A. C.; SILVEIRA, M. G. G. Prevenção da obesidade e


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petitiva, autoconfiança e desempenho esportivo: Vozes, 2017.
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Referência on-line:

Em: <http://www.apadivisions.org/division-47/index.aspx>. Acesso em: 30 jul. 2018.


1

37
gabarito

1. E
2. C
3. C
4.
Definição:
a. “É o estudo científico de pessoas e seus comportamentos em atividades
esportivas e atividades físicas e a aplicação prática desse conhecimento”
(GILL, 1979).
Objetivos:
a. Entender como os fatores psicológicos afetam o desempenho físico de um
indivíduo.
b. Entender como a participação em esportes e exercícios afeta o desenvolvi-
mento psicológico, a saúde e o bem-estar de uma pessoa.
5.
a. Pesquisador: busca entender o processo de regulação psicológica da ati-
vidade física e esportiva. Tipos: teórica, empírica, básica, aplicada, labora-
torial e estudo de campo.
b. Professor: busca assessorar na educação da maioria das pessoas envol-
vidas no esporte: em nível acadêmico para estudantes; profissionais do
esporte e participantes do esporte.
c. Consultor: busca, por meio do conhecimento e da competência, desen-
volver duas funções: a) diagnosticar e avaliar (detecção de talentos, testes
de cognição e habilidades sensório-motoras e evolução das necessidades
dos participantes; b) por meio da intervenção, conduzir de forma coopera-
tiva com outras pessoas da área, aconselhar, ou atuar como consultor em
situações de problemas especiais.

38
UNIDADE
II
DESENVOLVIMENTO HUMANO E
SUA RELAÇÃO COM O ESPORTE

Professor Dr. Leonardo Pestillo de Oliveira

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Compreendendo o desenvolvimento humano e esportivo
• Personalidade e esporte
• Desenvolvimento psicológico de crianças e adolescentes
por meio do esporte
• Desenvolvimento da carreira esportiva

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender como o desenvolvimento humano ocorre e
sua relação com o esporte.
• Apresentar características de personalidade e sua relação
com o desenvolvimento humano e esportivo.
• Compreender como o esporte pode ser um elemento de
influência do desenvolvimento psicológico infantil e juvenil.
• Compreender como os atletas se desenvolvem
dentro do contexto esportivo, as teorias e as fases de
desenvolvimento.
unidade

II
INTRODUÇÃO

A
pós a apresentação sobre a história da Psicologia do Esporte
e do Exercício, chega o momento de começarmos a discutir
sobre alguns assuntos mais específicos de como pode ser reali-
zado o trabalho dentro desta área. A partir da Unidade II, co-
meçaremos um percurso mais detalhado sobre temáticas que envolvem
questões individuais dos atletas e também as questões de grupo.
No contexto da Psicologia, é extremamente importante compreender
o desenvolvimento humano. É por meio de teorias que nos embasamos
para identificar o momento em que as pessoas estão dentro do quadro
de desenvolvimento e, assim, podermos definir também as formas que
podemos utilizar para agir junto a estas pessoas. Com isso, discutiremos
um pouco sobre algumas teorias específicas da Psicologia que nos levam
a compreender o desenvolvimento humano de forma mais detalhada.
A partir daí, estudaremos também uma característica que todos te-
mos, mas que também é muito específica, a personalidade. Esta precisa
ser compreendida dentro de alguns parâmetros para que, cientificamen-
te, possamos entender melhor as pessoas com quem convivemos. E já que
falaremos sobre desenvolvimento humano, estudaremos, também, como
se dá o desenvolvimento de crianças e adolescentes por meio do esporte
e quais as contribuições que o contexto esportivo pode trazer para este
público, como ser um elemento de desenvolvimento moral.
Por fim, veremos por quais fases estas crianças e adolescentes passam
até se tornarem atletas profissionais de sucesso ou, às vezes, nem tanto
assim. É preciso, também, dividir as fases de desenvolvimento dentro do
contexto esportivo para que, assim, possamos ter uma visão mais especí-
fica em cada um dos momentos em que esses atletas estão vivendo.
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Compreendendo o
Desenvolvimento Humano e Esportivo

44
EDUCAÇÃO FÍSICA

Todo profissional que trabalha diretamente com inserida é a família (LEME et al., 2016), o que nos
pessoas deve ter conhecimento básico sobre como leva a compreender que as principais características
elas se comportam, como elas chegaram até ali, en- que apresentamos atualmente foram também in-
fim, é preciso conhecê-las. A Psicologia, enquanto fluenciadas por esta família.
uma ciência, fornece elementos essenciais para que A Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Hu-
as pessoas possam se relacionar de forma eficiente e mano, uma proposta consistente de Bronfenbrenner
em busca de atingir os objetivos traçados em algum (2011), leva-nos a compreender, por exemplo, quais
contexto, no nosso caso, o esportivo. motivos levam as pessoas a se envolverem em de-
Todas as decisões que tomamos ao longo de nos- terminadas atividades, entre elas, as atividades es-
sas vidas são baseadas na nossa história (passado), portivas. Esta teoria oferece-nos a possibilidade de
levando em consideração as pessoas com quem con- compreender o desenvolvimento humano a partir
vivemos diariamente (presente) e, principalmente, de sistemas que influenciam o desenvolvimento, ao
pensando nos objetivos que pretendemos alcançar mesmo tempo em que são influenciados.
(futuro). Começamos, então, a nos questionar sobre Para começarmos a discutir essa teoria, precisa-
o porquê de algumas pessoas escolherem se dedicar mos entender sua principal característica. Segundo
ao esporte e, dentro deste contexto, se dedicarem a Bronfenbrenner (2011), o desenvolvimento humano
modalidades esportivas específicas (ALVES, 2015; é resultado da interação entre o indivíduo e o am-
SENA et al., 2017). biente em que ele está inserido. Essa interação dá-
Antes de falarmos em desenvolvimento do atle- -nos a perspectiva de compreender as características
ta, precisamos compreender o desenvolvimento do deste indivíduo, bem como as suas relações com as
ser humano, pois, antes de escolher ser atleta, o in- outras pessoas e com o ambiente. Além disso, é por
divíduo precisa aprender a ser um sujeito posto em meio dela que as atividades são realizadas e, tam-
um contexto. As relações humanas são estabeleci- bém, sua história é construída.
das, e o primeiro núcleo social em que a criança é

45
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

As pesquisas sobre o desenvolvimento de atletas multidimensional que esta abordagem nos fornece,
apresentam bastante semelhança com as caracterís- implicando respeitar o espaço de todos os profissio-
ticas da abordagem bioecológica, pois compreen- nais envolvidos no processo.
dem os processos que são gerados ao longo do tem- A representação gráfica do modelo bioecológico
po e o desenvolvimento biopsicossocial do sujeito/ pode ser uma das principais formas de compreen-
atleta que está dentro deste ambiente (ROTHER; dermos o seu significado. Isso pode ser ilustrado na
MEJIA, 2015). Isto nos leva a considerar toda a ótica Figura 1.

Figura 1 - Modelo de Bronfenbrenner


Fonte: adaptado de Bronfenbrenner (2011).

A partir do que se observa na Figura 1, podemos com- o Processo, a Pessoa, o Contexto e o Tempo (BRON-
preender a divisão do desenvolvimento humano em FENBRENNER, 2011). Estas interações constantes
etapas, ou melhor dizendo, em sistemas. O desenvolvi- ocorrem ao longo do desenvolvimento humano, que é
mento humano é considerado um processo que depen- tanto produto quanto produtor do seu processo. Veja-
de de uma interação sinérgica de quatro componentes: mos as características de cada um destes componentes:

46
EDUCAÇÃO FÍSICA

PROCESSO

O Processo representa todas as mudanças que va. As características desenvolvimentais gerado-


ocorrem no desenvolvimento da pessoa. Bron- ras contemplam a curiosidade, disposição para
fenbrenner enfatizou o papel desempenhado pela engajar-se em atividades solitárias ou coletivas,
pessoa em seu próprio desenvolvimento por meio prontidão para seguir metas de longo prazo. Já as
de um mecanismo denominado processos proxi- características disruptivas envolvem impulsivida-
mais (ROSA; TUDGE, 2013). As interações entre a de, intempestividade, distração, falta de habilidade
pessoa e o ambiente são importantes, mas só serão para adiar gratificações imediatas, agressividade
eficazes se ocorrerem com regularidade e ao longo (ROSA; TUDGE, 2013).
de períodos extensos de tempo (LEME et al., 2016).
Os processos proximais são o centro da teoria bio- Recursos
ecológica e são vistos como as forças motrizes do A característica dos Recursos é de influenciar as ha-
desenvolvimento humano (BRONFENBRENNER; bilidades da pessoa em engajar-se efetivamente nos
MORRIS, 2006). processos proximais (BRONFENBRENNER; MOR-
RIS, 2006). Estes recursos podem sofrer algumas
PESSOA limitações, tais como deficiências que restringem
ou inibem o desenvolvimento da pessoa. Estas de-
O segundo elemento considerado por Bron- ficiências podem variar como doenças físicas e/ou
fenbrenner em sua teoria é a Pessoa. Este elemen- mentais, distúrbios genéticos e também podem ser
to envolve características biológicas e psicológicas relacionados à competência da pessoa, ao conheci-
que são já determinadas, mas também envolve as mento e às experiências adquiridas ao longo da vida
características que surgem como resultado das in- (LEME et al., 2016).
terações com o ambiente (BRONFENBRENNER,
2011). Neste sentido é que se denominam caracte- Demandas
rísticas biopsicológicas, que são produto e produ- Por fim, as Demandas contemplam as caracterís-
toras do seu desenvolvimento. Leme et al. (2016) ticas da pessoa que estimulam ou desencorajam as
descrevem que este elemento Pessoa apresenta três reações ao ambiente, o que pode contribuir, ou não,
características biopsicológicas, as quais denominam para o aumento dos processos proximais (BRON-
Força, Recursos e Demandas. FENBRENNER; MORRIS, 2006). Um exemplo de
como nossas características sofrem esta influência
Força são as questões de aparência física, idade, gênero e
A Força é considerada a mais provável de in- etnia, que são influenciadas constantemente pelas
fluenciar os resultados de desenvolvimento de crenças, pelos valores e pelos papéis sociais estabele-
uma pessoa, seja de forma geradora ou disrupti- cidos pela cultura em que a pessoa vive.

47
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

CONTEXTO TEMPO

Um dos componentes mais complexos de se compre- O último dos sistemas considerados por Bron-
ender é o Contexto, em que se dá o desenvolvimen- fenbrenner é o Cronossistema, que “é constituído
to, composto por sistemas que são interdependen- por mudanças ou estabilidades que ocorrem nas ca-
tes com denominações específicas: Microssistema, racterísticas biopsicológicas da pessoa ao longo do
Mesossistema, Exossistema, Macrossistema e Cro- seu curso de vida” (LEME et al., 2016, p. 185). No
nossistema. De forma geral, Bronfenbrenner (2011) modelo bioecológico, o conceito de Tempo foi am-
assume que o desenvolvimento humano dá-se (ou é pliado para incluir o que acontece ao longo do tem-
resultado) tanto pelas relações de múltiplas pesso- po ontogenético e histórico (ROSA; TUDGE, 2013).
as em seus ambientes próximos, o que compreende, Operacionalmente, o modelo bioecológico pro-
neste caso, o Microssistema e o Mesossistema, quan- põe métodos para avaliar os resultados de desenvol-
to pelas influências de contextos remotos ou pelo vimento que emergem como resultado da participa-
Exossistema e Macrossistema. ção ativa dos quatro componentes do modelo PPCT:
Para compreender os ambientes próximos, Bron- Processo, Pessoa, Contexto e Tempo. No contexto
fenbrenner (2011) descreve o Microssistema como o esportivo, esta é uma teoria de extrema valia, ten-
contexto imediato em que a pessoa se desenvolve e do em vista a possibilidade que elas nos fornece de
tem suas experiências diretas, como a família, a es- compreender o processo de desenvolvimento huma-
cola (no caso de crianças) e o local de trabalho (para no sob a perspectiva de inter-relações dos elemen-
os adultos). O Mesossistema constitui um conjunto tos que são importantes desde o nascimento até as
ou rede de microssistemas contendo as trocas de in- idades mais avançadas (ROTHER; MEJIA, 2015). O
terambientes, ou seja, as relações entre as famílias, esporte pode ser classificado como um ambiente ou
entre a família e a escola e/ou trabalho. um sistema em que os processos proximais ocorrem
Com relação aos contextos externos, o autor de- ao longo do tempo e que, de alguma forma, causam
nomina o Exossistema como ambiente que não en- o desenvolvimento da pessoa.
volve a participação ativa da pessoa, mas, neste am-
biente, ocorrem atividades e elementos que afetam
a pessoa e, ao mesmo tempo, são afetados por ela.
Mais além, o Macrossistema pode ser compreendido
como a soma de todos os sistemas de ordem inferior
e que afetam indiretamente as relações interpessoais
e a qualidade de vida das pessoas (BRONFENBREN-
NER; MORRIS, 2006), envolvem os sistemas po-
lítico, econômico e educacional, as ideologias, os
valores e as crenças que são compartilhados pelos
membros da cultura (LEME et al., 2016).

48
EDUCAÇÃO FÍSICA

49
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Personalidade e Esporte

50
EDUCAÇÃO FÍSICA

Após compreendermos como se dá o desenvolvi- A razão para que os modelos da abordagem


mento humano de forma geral, a partir dos conhe- traço sejam muito utilizados no contexto esportivo
cimentos de Bronfenbrenner (2011), precisamos circunda a necessidade de alguns treinadores e ges-
detalhar algumas características individuais que tores esportivos compreenderem quais atletas terão
nos levam a compreender melhor alguns compor- sucesso, ou não, a partir de uma medida psicológica.
tamentos e atitudes das pessoas. Uma das carac- Este fato é muito completo, tendo em vista que as
terísticas mais discutidas e também mais contro- características atuais de uma pessoa não determi-
versas é a personalidade, que, por si só, nos leva nam o caminho que ela seguirá. O fato de um atleta
à compreensão de que somos seres humanos. A apresentar determinado traço psicológico que o pre-
personalidade é a característica comum a todos os disponha a se comportar de determinada maneira
seres humanos e o que nos diferencia dos demais não significa que isso ocorrerá em todas as situações
seres vivos. (WEINBERG; GOULD, 2017).
Muito se ouve, no dia a dia, sobre o que é perso- O Modelo Big 5 é composto por cinco diferentes
nalidade e, partindo para a literatura da Psicologia aspectos associados com o conceito de personalidade:
do Esporte, Weinberg e Gould (2017) descrevem-na • Variação individual de um indivíduo sobre
como um conjunto de características de uma pessoa o design evolucionário geral para a natureza
que a faz única. Pensando nesse conjunto de carac- humana, expressa como um padrão em de-
senvolvimento de:
terísticas, há diversas teorias e diversos instrumen-
• Traços disposicionais.
tos que são utilizados para descrever este fenômeno
• Adaptações características.
na vida do ser humano. As organizações esportivas
• Histórias de vida integrativas complexas e di-
fazem esforços constantes para um desenvolvimen-
ferencialmente situadas.
to dinâmico e o máximo de facilidades para manter
• Em cultura (LIDOR, 2014).
seus atletas, mas, apesar de todo este esforço, apenas
uma pequena parcela destes atletas chega ao topo Baseados em teorias como esta, é possível verificar o
(KHAN et al., 2016). que se chama de “personalidade do esporte”, referên-
É comum encontrarmos pesquisas no âmbito cia a atletas que possuem determinadas caracterís-
esportivo que analisam a personalidade dentro de ticas e qualidades que os levam a se tornar grandes
padrões. Podemos considerar que as teorias que atletas, como disciplina, inteligência de jogo, con-
compõem o que se conhece por Abordagem Traço trole emocional, motivação positiva, entre outros
são muito utilizadas neste meio. Esta abordagem (SAMULSKI, 2009).
pressupõe que as características principais da perso- A principal característica do modelo Big 5 é a
nalidade de uma pessoa são relativamente estáveis, definição dos cinco traços de personalidade mais
ou seja, os traços são permanentes e consistentes amplos, chamados de Extroversão, Amabilidade,
em diversas situações. Um dos modelos mais aceitos Conscienciosidade, Neuroticismo e Abertura para
hoje é o dos cinco grandes fatores da personalidade, Experiências (GOMES; GOLINO, 2012). Vejamos
conhecido também como Big 5 (ALLEN; GREEN- cada uma destas características como ilustradas
LESS; JONES, 2013). na Figura 2.

51
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

EXTROVERSÃO
Característica de pessoas consideradas expan- Alto
Busca de atenção.
sivas e focadas mais em valores externos que
Busca por excitação.
internos. É muito presente em pessoas comuni-
cativas que se manifestam de forma livre e com Baixo
Frieza Isolada.
boa desenvoltura (GOMES; GOLINO, 2012). Pes-
Retraimento social.
soas com poucas características de extroversão Anedonia.
são comumente chamadas de introvertidas,
sendo mais voltadas para si mesmas e prefe-
rem experiências íntimas de si mesmas.

AMABILIDADE
Amabilidade é a propensão de um indivíduo Alto
a acatar a ideia dos outros, pois são mais co- Credulidade.
Submissão.
operativas, receptivas e confiáveis; um dos in- Abnegação.
teresses das pessoas com alta amabilidade é
justamente o bem-estar dos outros. O altruís- Baixo
Grandiosidade.
mo representa-se como uma característica im-
Insensibilidade.
portante nestas pessoas (NUNES et al., 2010). Desconfiança.

CONSCIENCIOSIDADE
Apresenta-se como uma característica muito Alto
Perfeccionismo.
presente em pessoas que são confiáveis, res-
Workaholic.
ponsáveis, organizadas e persistentes. Além
disso, as pesquisas mostram que pessoas com Baixo
Irresponsabilidade.
esta característica são mais satisfeitas e com-
Distração.
prometidas em seus relacionamentos (YANG; Temeridade.
JOWETT. CHAN, 2015).

Figura 2 - Big 5
Fonte: adaptado de Gomes e Golino (2012).

52
EDUCAÇÃO FÍSICA

ABERTURA PARA EXPERIÊNCIAS


Alto As pessoas fascinadas por novidades são
Excentricidade.
aquelas que, geralmente, são rotuladas de
Desregulação perceptiva.
abertas a novas experiências, são criativas,
Baixo curiosas e sensíveis do ponto de vista artísti-
Mente fechada.
co (NUNES; HUTZ, 2002). Esta abertura a ex-
Inflexível.
periências leva o indivíduo à maior capacidade
de procurar caminhos alternativos, pensar em
novas formas e maneiras de enfrentar um de-
safio (GOMES; GOLINO, 2012).

ESTABILIDADE EMOCIONAL/
NEUROTICISMO
Alto A principal característica de pessoas com es-
Destemor.
tabilidade emocional é a capacidade para li-
Estabilidade emocional.
darem com as situações que lhe causam es-
Baixo tresse, com isso, apresentam pouca variação
Insegurança.
de humor, tendo um padrão psíquico mais
Instabilidade emocional.
Vergonha constante (GOMES; GOLINO, 2012). São, ge-
ralmente, pessoas calmas, autoconfiantes,
seguras. Já o neuroticismo caracteriza as
pessoas com mais instabilidade emocional,
sendo estas mais ansiosas, deprimidas, ner-
vosas e inseguras.

53
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Mais importante que compreender os traços de


personalidade do atleta é compreender todo o pro-
cesso em que ele está inserido, qual o contexto, qual
sua história e, principalmente, as relações que ele
estabelece no momento atual. Yang, Jowett e Chan
(2015) argumentam que, como o papel principal de
um treinador é apoiar e instruir os seus atletas, a
personalidade terá um efeito mínimo sobre os atle-
tas. O estudo descobriu que a personalidade dos
atletas determinava como seus treinadores viam a
qualidade do relacionamento, ao passo que a per-
sonalidade dos treinadores não tinha qualquer
efeito sobre a forma como os atletas viam a relação
treinador-atleta.
Além disso, o estilo de vínculo que se estabele-
ce também influencia as próprias percepções sobre
a qualidade do relacionamento na díade técnico-
-atleta, no entanto, apenas o estilo de vínculo dos
atletas influencia a percepção dos técnicos sobre a
qualidade dos relacionamentos (DAVIS; JOWETT,
2013). Por isso, a relação entre técnicos e atletas
deve ser uma das variáveis consideradas muito im-
portantes para o sucesso de um atleta ou de uma
equipe. As características de liderança serão estu-
dadas na Unidade IV.

54
EDUCAÇÃO FÍSICA

55
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Desenvolvimento Psicológico
de Crianças e Adolescentes por
Meio do Esporte
Como já explorado nesta Unidade, as características no contexto esportivo como uma ferramenta de de-
individuais são importantes no processo de desen- senvolvimento importantíssima para se vislumbrar
volvimento humano. A personalidade é a principal uma sociedade pautada em elementos das relações
característica que nos caracteriza enquanto seres humanas que levam ao bom convívio e ao respeito
humanos, e durante a carreira esportiva, muitas são mútuo. Autores como Piaget (2000) destacam que
as situações em que os atletas são expostos, o que todos são capazes de alguma ação considerada mo-
auxilia no desenvolvimento de suas características. ral, e esta ação só é possível a partir das relações que
Cada um, dentro de sua própria realidade, seja es- o sujeito estabelece com o meio em que habita. A
porte de rendimento, seja esporte voltado para a moral tende a se desenvolver paralelamente à cogni-
saúde e qualidade de vida, tem sua história e a cada ção e à afetividade, e o autor considera três diferen-
mudança, novos elementos são inseridos em seu re- tes momentos da vida do sujeito para explicar isso:
pertório humano (CIAMPA, 2009). Anomia, Heteronomia e Autonomia.
Considerando que o ambiente é um fator impor- Anomia caracteriza-se por ausência de consci-
tante no desenvolvimento humano, há que se pensar ência moral, não sendo possível apresentar a noção

56
EDUCAÇÃO FÍSICA

de regra social ou de justiça. O segundo momento, apresentar o conceito de “competência moral”,


chamado Heteronomia, surge quando a criança já Kohlberg (1964) explica como o sujeito tende a
é capaz de compreender, rudimentarmente, as re- agir, conscientemente, quando se depara com situ-
gras sociais e apresenta pouca noção de justiça. Já ações que envolvem aspectos morais. Por consciên-
o último momento, conhecido por Autonomia, é a cia moral entende-se que é a “capacidade de tomar
fase em que os adolescentes apresentam consciên- decisões e emitir juízos morais (baseados em prin-
cia de que as regras são importantes instrumentos cípios internos) e a agir de acordo com tais juízos”
que regulam as relações sociais (FREITAS, 2002; (KOHLBERG, 1964, p. 425).
LELEUX, 2003). Kohlberg (1971) explica esses conceitos por
A partir das discussões iniciais de Piaget, Kohl- meio de três estágios de desenvolvimento moral
berg (1964, 1981, 1984) desenvolve suas ideias (Pré-Convencional, Convencional e Pós-Conven-
empiricamente e sistematiza todo o conhecimen- cional), e cada estágio é subdividido em dois níveis,
to sobre o desenvolvimento moral em estágios como descritos a seguir:
sequenciais e organizados hierarquicamente. Ao

57
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Estágios do Desenvolvimento Níveis de Consciência Moral Noção de Justiça

Ordem Social
1. Orientação
Pré-Convencional “Punição-obediência”
Os mais fracos devem obediência
aos mais fortes.

A criança é capaz de responder


a regras culturais, noção de
bom e mau, certo e errado. Polidez
2. Orientação
Troca de agrados ou ofensas. Tratar
instrumental-relativista
os outros como eles lhe tratam.

Compreensão da regra de outro


Convencional 3. Orientação “Bom moço”
Reflexão sobre o role taking.

As crianças neste estágio


demonstram como é
importante satisfazer as
expectativas da família ou do
grupo social pertencente. Perspectiva de
4. Orientação “Lei e Ordem”
manutenção da lei e da ordem

5. Orientação Legalismo Princípio racional de


Pós-Convencional social-contratual legitimação do direito

Principal característica deste


estágio é o sujeito agir de
acordo com os princípios
morais universais, baseados na
reciprocidade e igualdade. 6. Orientação no sentido de
Moral point of view
princípios éticos universais

Quadro 1 - Etapas do desenvolvimento moral segundo Kohlberg


Fonte: Kohlberg (1971, 1976, 1981).

58
EDUCAÇÃO FÍSICA

Nível 1: Orientação “punição-obediência”


Uma ação é considerada boa ou má a partir das consequências físicas que ela gera. As crianças neste nível ainda
não conseguem realizar operações mentais concretas no sentido de reversibilidade, ou seja, no sentido da reci-
procidade lógica. A justiça é compreendida no sentido de uma ordem social, castigo, punição (HABERMAS, 1990).

Nível 2: Orientação instrumental-relativista


Todas as ações que satisfazem instrumentalmente as próprias necessidades (e ocasionalmente a necessidade
dos outros) são consideradas ações justas. A noção de reversibilidade lógica já está presente e pode ser ilus-
trada no seguinte ponto: “tu te inclinas a mim e eu me inclino a ti” (HABERMAS, 1990, p. 60).

Nível 3: Orientação “bom moço”


O comportamento que agrada aos outros é considerado o ideal e adequado. As pessoas consideradas autori-
dades e as instituições reconhecidas socialmente são importantes, pois as regras e convenções determinadas
por elas embasam aquilo que é correto e moral. Este é o estágio em que o sujeito pode assumir uma função
(role taking) ou diferentes papéis (APEL, 1994).

Nível 4: Orientação “lei e ordem”


Neste nível, observa-se uma orientação no sentido de autoridade, de papéis fixos e de manutenção da ordem
social (HABERMAS, 1990). A manutenção da ordem social é considerada a principal forma de perspectiva moral
(BATAGLIA; MORAIS; LEPRE, 2010).

Nível 5: Orientação Legalismo social-contratual


Principal característica deste nível é o princípio do contrato social e dos direitos à vida e à liberdade, uma ação
justa é aquela que é definida em termos de direitos individuais gerais e padrões examinados pela sociedade
(BATAGLIA; MORAIS; LEPRE, 2010). Mas é preciso considerar que alguns direitos e valores são considerados re-
lativos, ou seja, devem ser sustentados por toda a sociedade, independente da opinião da maioria, neste caso,
estamos falando de vida e liberdade (LELEUX, 2003).

Nível 6: Orientação no sentido de princípios éticos universais


Nível de desenvolvimento moral em que está presente o conceito de competência de juízo moral, além dos
conceitos de reversibilidade e universalidade. Neste período, justo é aquilo que é definido pela decisão que é
tomada de forma autônoma, baseada na consciência, de acordo com os princípios éticos (KOHLBERG, 1964).
Considera-se ainda que, neste nível de desenvolvimento moral, estejam presentes os princípios éticos univer-
sais de justiça (igualdade de valores) válidos pela humanidade.

59
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Toda esta discussão teórica sobre moral tem sua Permanecer no contexto esportivo pode ser um
base na Filosofia, mas, no contexto esportivo, estes elemento facilitador do desenvolvimento moral do
aspectos são abordados com base na compreensão sujeito. Quanto mais o sujeito percebe que é capaz
dos comportamentos de seus membros, sendo eles de satisfazer suas necessidades de autonomia com
atletas, treinadores e demais profissionais envol- a prática esportiva, maiores as chances deste emitir
vidos neste campo de atuação. Os estudos sobre orientações morais positivas em relação à prática.
agressividade no esporte (BREDEMEIER, 1994; O desenvolvimento moral é um elemento do de-
GUIVERNAU; DUDA, 2002) são importantes para senvolvimento da personalidade do sujeito, e com-
auxiliar no trabalho com crianças e adolescentes que portamentos baseados em autonomia podem ser
iniciam sua prática esportiva e estão inseridos em considerados resultados de maturação e descen-
um contexto que pode proporcionar um desenvol- tralização do eu e do grupo (HABERMAS, 1990),
vimento global mais inclinado à competência moral características que podem ser facilitadas pelo en-
(WEINBERG; GOULD, 2017). volvimento no esporte.
Mais recentemente, os estudos sobre desen-
volvimento moral por meio do esporte têm au-
mentado e abordam variáveis distintas, mas que
se relacionam com a temática, por exemplo, o fun-
cionamento moral (KAVUSSANU; ROBERTS;
NTOUMANIS, 2002; KAVUSSANU; SPRAY,
2006), julgamento moral (PROIOS; DOGANIS,
2006) e comportamento moral (BOARDLEY; JA-
CKSON, 2012). Com o avanço do esporte nos
últimos anos, é importante que as pesquisas tam-
bém se direcionem a investigar elementos que
possam sofrer influência dessa velocidade de de-
senvolvimento, pois as relações humanas necessi-
tam de elementos teóricos para auxiliar seu per-
curso, tendo em vista que o ser humano está em
constante mudança.

60
EDUCAÇÃO FÍSICA

61
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Desenvolvimento da
Carreira Esportiva

62
EDUCAÇÃO FÍSICA

Feitas as considerações sobre como o contexto esportivo pode


ser um caminho importante para o desenvolvimento geral do
ser humano, precisamos discutir sobre como um atleta desen-
volve-se, desde o início de sua carreira até sua aposentadoria.
Nem todas as crianças e os adolescentes que se inserem no con-
texto esportivo chegarão a ser atletas profissionais, mas aqueles
que o fazem, o fazem baseados em alguns pontos importantes
que precisam ser discutidos. Muitas teorias surgiram ao longo
do tempo para explicar este desenvolvimento esportivo, e aqui
discutiremos a desenvolvida por Wylleman e Lavallee (2004),
que avaliam os processos cognitivos, emocionais e sociais vivi-
dos pelos atletas de rendimento durante todo o processo.
Tendo em vista que, geralmente, as crianças iniciam a prá-
tica esportiva baseada no lúdico, na brincadeira e sem consi-
derar a hipótese de se tornar um atleta profissional, falar em
planejamento da carreira não é simples. Este planejamento
deve ser baseado nas características pessoais (aspectos cogni-
tivo, emocional e comportamental), nos níveis de escolarida-
de, nos aspectos socioeconômicos e no tipo de apoio social
recebido (SAMULSKI; MARQUES, 2009).
Como dito, é preciso pensar na carreira esportiva base-
ando-se em fases que possam ilustrar cada momento percor-
rido. A maioria das crianças praticam alguma modalidade
esportiva, principalmente para se divertir, mas também por-
que algumas já sabem que pode fazer bem, melhorar suas ha-
bilidades físicas e cognitivas e para poder permanecer mais
tempo com os amigos, a razão social para praticar um esporte
(WEINBERG; GOULD, 2017).
Wylleman e Lavallee (2004) apresentam um modelo de de-
senvolvimento da carreira esportiva baseado em quatro fases:
Fase de Iniciação, Fase de Desenvolvimento, Fase de Excelência
e Fase de Aposentadoria. Cada fase tem sua própria caracterís-
tica e está baseada no nível de exigência esportiva. Este mode-
lo pode ser representado no Quadro 1 e leva em consideração
tanto as questões essencialmente esportivas quanto questões de
ordem psicológica, psicossocial e escolaridade.

63
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

DESENVOLVIMENTO DA
CARREIRA ESPORTIVA
FASE DE INICIAÇÃO
Esta fase é característica de crianças que se envolvem em atividades
esportivas com o intuito principal de se divertir. As atividades lúdi-
cas sem preocupação com a performance é o principal ponto a ser
observado. O local onde as crianças se inserem são as escolinhas
esportivas de diversas modalidades, além das brincadeiras de
rua (SAMULSKI; MARQUES, 2009). Esta fase de iniciação pode
compreender dos 6-7 anos até os 12-13 anos de idade (SATAM-
BULOVA; WYLLEMAN, 2014).

FASE DE DESENVOLVIMENTO
Após a fase de iniciação, em que as brinca-
deiras reinam como principais atividades, os
adolescentes começam a se identificar com
uma prática mais específica. Nesta fase,
geralmente optam por uma determinada
modalidade esportiva e passam a partici-
par de competições regulares, e o nível de
comprometimento passa a ser crescente,
demandando maior organização (SAMULSKI;
MARQUES, 2009). Esta fase de desenvolvimento
pode compreender dos 12-13 anos até os 18-19 anos
de idade (SATAMBULOVA; WYLLEMAN, 2014).

FASE DE EXCELÊNCIA
Com a dedicação mais específica em uma modalidade esportiva, é possível
que os atletas venham a se tornar profissionais e assumam o desejo de
investir em sua carreira esportiva. O seu estilo de vida passa a ser muito
dedicado à performance esportiva (SAMULSKI; MARQUES, 2009). Esta fase
de excelência é considerada a mais extensa da carreira esportiva e pode compreender
dos 18-19 anos até os 35-40 anos de idade (SATAMBULOVA; WYLLEMAN, 2014).

FASE DE APOSENTADORIA
Considerada uma das fases mais complicadas, a aposentadoria representa uma diminuição do en-
volvimento do atleta em treinamentos e competições esportivas. Esta diminuição é experienciada de
forma gradual, mas cada atleta terá seu momento individual (SAMULSKI; MARQUES, 2009). Esta fase
de aposentadoria pode ocorrer por volta dos 35 anos de idade e se estender até os 40, dependendo da
modalidade e do atleta (SATAMBULOVA; WYLLEMAN, 2014).

64
EDUCAÇÃO FÍSICA

Idade 10 15 20 25 30 35

Fase de carreira Desenvolvi-


Iniciação Excelência Aposentadoria
esportiva mento

Nível psicológico Infância Adolescência Idade Adulta

Pais, irmãos, Amigos,


Nível psicossocial Parceiro(a), treinador Parceiro(a) família
amigos treinador, pais

Ensino Ensino
Escolaridade Ensino superior Ocupação profissional
fundamental médio

Quadro 2 - Características do modelo de desenvolvimento da carreira esportiva


Fonte: Samulski e Marques (2009).
Nota: As linhas tracejadas indicam que a idade em que acontece a transição é aproximada.

Como vimos, cada uma destas fases tem suas carac-


SAIBA MAIS
terísticas específicas e, de acordo com a Figura 3, é
possível observar que estas fases da carreira esportiva
A transição para o esporte induz a uma mu- ocorrem, concomitantemente, a outras fases de de-
dança de identidade para o atleta. Ao pôr senvolvimento, como o desenvolvimento psicológico,
fim à sua carreira esportiva, um atleta perde o desenvolvimento psicossocial e a escolaridade. Isso
uma parte importante de si mesmo, espe-
demonstra que a carreira de um atleta precisa ser ob-
cialmente, se treinar e competir um esporte
por grande parte da sua vida. Isso pode se servada para além das questões esportivas, e é preciso
aplicar ao atleta jovem que não competirá compreender que não basta focar apenas em como ele
na faculdade, ao colegiado que não competir se desenvolve como atleta, mas também como um ser
profissionalmente e ao atleta profissional
humano (SAMULSKI; MARQUES, 2009). As transi-
que estiver se aposentando. Como os atletas
gastam muito tempo treinando e se dedi- ções que ocorrem de uma fase para outra são resul-
cando ao esporte, eles têm pouco tempo tados de diversos fatores, tanto individuais quanto
para explorar outras atividades ou carreiras. sociais, e a qualidade destas transições também de-
Isso leva ao fechamento de identidade e a
pende dos fatores de adaptação dos atletas em cada
uma forte identidade atlética, associada à
dificuldade de adaptação, após o término
uma das fases, como as experiências de desenvolvi-
da carreira esportiva. mento, a identidade, a robustez mental, a percepção
Fonte: Murphy, Petitpas e Brewer (1996). de controle, as estratégias de adaptação e o apoio so-
cial que deve durar desde o início até a aposentadoria
(BRANDÃO et al., 2000).

65
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Pensar na carreira esportiva baseada nestas fases


é considerar uma carreira com transições chamadas
normativas. Esta Transição Esportiva Normativa é re-
lativamente previsível, segundo a lógica do desenvol-
vimento esportivo, seguindo padrões de organização
esportiva e sem levar em consideração aspectos que
possam atrapalhar este desenvolvimento (STAMBU-
LOVA, 2014). Mas é preciso pensar também nas Tran-
sições Esportivas Não-Normativas, que são menos
previsíveis e estão relacionadas às questões esportivas,
como lesões, mudanças de clube, perda de patrocínio
e também a questões não esportivas da vida do atleta,
que envolvem a separação dos familiares, insucesso
nos estudos, problemas financeiros e relacionamentos
afetivos (SAMULSKI; MARQUES, 2009).

REFLITA

O apoio social e emocional ao atleta é de ex-


trema importância nos momentos de transi-
ção de carreira.

(Geraldine M. Murphy)

Pensar nas etapas que um atleta pode passar ao longo


de sua vida é de extrema importância, principalmente,
porque, como vimos, há fatores que são mais previsí-
veis e os que são menos previsíveis. O grande desafio
desta temática e da prática é pensar no atleta a partir de
seu desenvolvimento biopsicossocial e estar atento aos
elementos que podem, de alguma maneira, influenciar
a transição de uma fase a outra. O trabalho realizado
a partir da integração de diversos profissionais, como
psicólogos, profissionais de Educação Física, especia-
listas em Administração e Marketing Esportivo pode
facilitar a possibilidade de diminuir os fatores que pos-
sam por ventura prejudicar o andamento da carreir

66
considerações finais

Chegamos ao final da nossa Unidade II da disciplina de Psicologia do Esporte e


do Exercício, em que começamos a compreender um pouco mais sobre as carac-
terísticas específicas das pessoas que estão envolvidas no contexto esportivo, no
caso, os atletas.
Discutimos, aqui, quatro pontos que são essenciais para compreendermos
um pouco do que ocorre no desenvolvimento humano, baseando nossas discus-
sões no contexto esportivo. Pensar no desenvolvimento humano é pensar em
quais características são importantes neste momento e, para isso, utilizamos uma
das teorias que nos levam a pensar de forma global este processo, a Teoria Bioe-
cológica do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner.
Bronfenbrenner faz-nos pensar em como nossa vida vai se desenvolvendo em
algumas etapas e em relações que vamos assumindo ao longo do tempo. Mas, in-
dividualmente, é a personalidade que começa a ser importante, pois é o conjunto
de características que adquirimos ao longo do tempo, a partir de características
próprias e também de elementos de fora que são internalizados, do ambiente, das
relações que estabelecemos.
Ao entrarmos, especificamente, no contexto esportivo, vimos como ocorre
o desenvolvimento psicológico de crianças e adolescentes por meio do espor-
te, assumindo que o esporte pode ser um ótimo contexto para se adquirir ca-
racterísticas psicológicas e comportamentais positivas. Já, quando o assunto é
esporte profissional, o desenvolvimento da carreira bem estabelecido torna-se
fundamental para que o atleta possa realizar suas transições de fase de forma
saudável até chegar a uma aposentadoria baseada em bons desempenhos e bons
relacionamentos dentro do esporte.
A partir destes elementos, o objetivo é levar a você, aluno(a), um pouco da
compreensão de como as características individuais são importantes para o de-
senvolvimento humano e também para o desenvolvimento esportivo, seja no
contexto esportivo profissional, seja no contexto esportivo voltado para a quali-
dade de vida e que contribui para o desenvolvimento humano.

67
atividades de estudo

1. As transições de carreira são elementos importantes para se compreender


como o atleta reage às mudanças que ocorrem ao longo de sua vida. A fase
de aposentadoria é considerada uma das mais complexas, tendo em vista
que muitos atletas não se preparam para ela, e pode apresentar aspectos
que dificultam a finalização saudável desta carreira esportiva. Considerando
esta fase de aposentadoria, assinale a alternativa que contém indicadores
deste processo mal elaborado:
a) Dificuldade de desenvolver um novo papel social.
b) Proximidade entre nível de aspiração e nível de habilidade.
c) Relacionamentos de apoio ilimitados.
d) Experiência prévia com situação de perda.
e) Apoio das instituições esportivas para a superação desse momento.

2. A palavra personalidade tem origem no latim persona, que se referia a uma


máscara teatral usada pelos atores romanos, nas encenações. Esses atores
antigos usavam máscara, que representava o papel em que se projetava este
“falso eu”. Sobre a personalidade, analise as afirmativas a seguir:
I - Por personalidade, os psicólogos contemporâneos querem referir-se
àqueles padrões relativamente consistentes e duradouros de percep-
ção, pensamento, sentimento e comportamento que dão às pessoas
identidade distinta.
II - Personalidade é o padrão de características constantes que produzem
consistência e individualidade em determinada pessoa.
III - A personalidade não pode ser vista como uma integração ou totalida-
de complexa e dinâmica, moldada por muitas forças.

Assinale a alternativa correta:


a) Apenas a afirmativa I é correta.
b) Apenas a afirmativa II é correta.
c) Apenas a afirmativa III é correta.
d) Apenas as afirmativas I e II são corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.

68
atividades de estudo

3. Como abordamos, a personalidade é um aspecto do ser humano que lhe


garante individualidade e permite que sejamos considerados únicos. O mo-
delo Big 5 da personalidade tem sido um dos mais utilizados em diversos
contextos, inclusive, no esportivo. Segundo o modelo dos fatores, são cinco
as dimensões básicas da personalidade: Extroversão, Amabilidade, Conscien-
ciosidade, Estabilidade Emocional (ou neurose) e Abertura para Experiências.
Assinale a alternativa que apresenta a definição correta do fator Extroversão:
a) Propensão de um indivíduo para acatar a ideia dos outros. As pessoas
com esta característica são cooperativas, receptivas e confiáveis.
b) Uma pessoa com esta característica é responsável, organizada, confiá-
vel e persistente.
c) Refere-se à capacidade de uma pessoa para lidar com o estresse. As
pessoas com esta característica costumam ser calmas, autoconfiantes
e seguras.
d) Refere-se aos interesses de uma pessoa e ao seu fascínio por novida-
des. Pessoas com esta característica são criativas, curiosas e sensíveis
artisticamente.
e) Nível de conforto de uma pessoa com seus relacionamentos. As pessoas
com esta característica costumam ser agregadoras, assertivas e sociáveis.

4. A carreira esportiva de um atleta envolve diferentes fases. As fases da carreira


esportiva de um atleta podem estar associadas à progressão pelas categorias
de um determinado esporte, ou, conforme o modelo de Wylleman e Lavallee
(2004), podem estar associadas ao nível de exigência esportiva. Discorra sobre
as quatro fases da carreira esportiva, segundo o modelo de Wylleman e Lavallee
(2004).
5. Em seu livro, Weinberg e Gould (2017) apresentam resultados de uma pes-
quisa de Ewing e Seefeldt (1996) realizada nos Estados Unidos com aproxima-
damente 8 mil crianças (49% meninos, 51% meninas) envolvidas em esportes
patrocinados tanto na escola como após a escola. O objetivo era saber quais
motivos levavam-nas a praticar a modalidade em que estavam envolvidas.
Baseado neste estudo e em suas experiências com o contexto esportivo, ex-
plique as principais razões que as crianças citam para a participação ou de-
sistência no esporte.

69
LEITURA
COMPLEMENTAR

Os estudos sobre o desenvolvimento e as transições da carreira esportiva começaram


a aparecer na década de 60, e vêm demonstrando aumento substancial tanto em sua
quantidade quanto em sua qualidade, especialmente a partir do fim da década de 80,
período em que começaram a se manifestar determinadas mudanças nos focos de
pesquisa, nos quadros teóricos e na atenção aos fatores contextuais que caracterizam
a evolução do tema. No campo da Psicologia do Esporte, o conceito de transição na
carreira esportiva foi introduzido com interesse especial no estudo de como (ex)atletas
enfrentavam a aposentadoria do esporte competitivo.
As transições correspondem às mudanças ocorridas durante o processo de desenvolvi-
mento da carreira esportiva do atleta, podendo ser caracterizadas como normativas ou
não normativas. As transições normativas são relativamente previsíveis e possibilitam
a ocorrência de oportunidades que preparam os atletas para lidarem com elas ante-
cipadamente e mais facilmente, pois são, geralmente, de natureza mais estrutural e
organizacional. As transições não normativas, por sua vez, são menos previsíveis, pois
ocorrem de forma inesperada e, consequentemente, caracterizam-se como as mais di-
fíceis de se lidar.
No domínio esportivo, enquanto as transições não normativas correspondem às tran-
sições causadas por fatores como lesões, overtraining, mudança de equipes, clubes,
treinadores ou companheiros de equipe, as transições normativas incluem as do início
da especialização esportiva para o treinamento intensivo das categorias de base para
a categoria adulta ou, ainda, do esporte amador para o profissional e da carreira ativa
para a aposentadoria esportiva, as quais apresentam características próprias que exi-
gem algum tipo de ajustamento dos esportistas.
As transições não esportivas, por sua vez, exigem que os atletas aprendam a lidar com
mudanças em nível psicológico (passagem da infância para adolescência; da adoles-
cência para idade adulta), psicossocial (mudanças significativas nos agentes sociais à
medida que eles amadurecem), acadêmico ou profissional (mudanças educacionais e
vocacionais).

Fonte: Folle et al. (2016).

70
material complementar

Indicação para Ler

Desenvolvimento de Treinadores e Atletas: Pedagogia do Esporte


(Volume 1)
Larissa Rafaela Galatti, Alcides José Scaglia, Paulo Cesar Montagner, Roberto Rodri-
gues Paes (Editores)
Editora: Unicamp
Sinopse: são múltiplos os caminhos para o desenvolvimento de um atleta. O mes-
mo se passa para que um treinador alcance o nível de excelência no seu contexto
de atuação. Em ambos os casos, trata-se de um processo em longo prazo, in-
fluenciado por múltiplos fatores de diferentes naturezas; são caminhos reflexivos,
com momentos com e sem mediação de outros agentes. No livro Desenvolvimento
de treinadores e atletas: Pedagogia do esporte, vol. 1, esses processos são apre-
sentados, levando-nos a refletir sobre procedimentos pedagógicos e pesquisas
aplicadas que venham a contribuir para um melhor desenvolvimento de dois dos
principais agentes do contexto esportivo: atletas e treinadores. Para tal, a obra
reúne 12 capítulos de respeitados autores do tema do Brasil, do Canadá, do Chile
e da Espanha, lançando-se como livro de referência para os treinadores, atletas,
professores e pesquisadores envolvidos neste complexo universo.

71
referências

ALLEN, M. S.; GREENLESS, I.; JONES, M. Persona- BRONFENBRENNER, U. Bioecologia do Desenvol-


lity in sport: A comprehensive review. International vimento Humano: tornando os seres humanos mais
Review of Sport and Exercise Psychology, v. 6, n. 1, humanos. Porto Alegre: Artmed, 2011.
p. 184-208, 2013. BRONFENBRENNER, U.; MORRIS, P. A. The bio-
ALVES, F. R. Fatores motivacionais para a prática de ecological model of human development. In: DA-
futsal em adolescentes entre 11 e 17 anos. Revista MON, W.; LERNER, R. M. Handbook of child psy-
Brasileira de Futsal e Futebol, Edição Especial: Pe- chology: Theoretical models of human development.
dagogia do Esporte, São Paulo, v. 7, n. 27, p. 579-585, New York: Wiley, 2006. p. 793-828.
2015. CIAMPA, A. C. (1987). A estória do Severino e a
APEL, K. O. Estudos de moral moderna. Petrópolis: história da Severina: um ensaio de Psicologia Social.
Vozes, 1994. São Paulo: Brasiliense, 2009.
BATAGLIA, P. U. R.; MORAIS, A.; LEPRE, R. M. A DAVIS, L.; JOWETT, S. An attachment theory pers-
teoria de Kohlberg sobre o desenvolvimento do ra- pective in the examination of relational processes as-
ciocínio moral e os instrumentos de avaliação de ju- sociated with coach–athlete dyads. Journal of Sport
ízo e competência moral em uso no Brasil. Estudos and Exercise Psychology, n. 35, v. 2, p. 156-167,
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74
gabarito

1. A
2. D
3. E
4.
• Fase de Iniciação - é característica de crianças que se envolvem em ativi-
dades esportivas com o intuito principal de se divertir. As atividades lúdicas
sem preocupação com a performance é o principal ponto a ser observado.
• Fase de Desenvolvimento - os adolescentes começam a se identificar
com uma prática mais específica. Nesta fase, geralmente, optam por uma
determinada modalidade esportiva e passam a participar de competições
regulares, e o nível de comprometimento passa a ser crescente, deman-
dando mais organização.
• Fase de Excelência - com a dedicação mais específica em uma modali-
dade esportiva, é possível que os atletas venham a se tornar profissionais
e assumam o desejo de investir em sua carreira esportiva. O seu estilo de
vida passa a ser muito dedicado à performance esportiva.
• Fase de Aposentadoria - considerada uma das fases mais complicadas,
a aposentadoria representa diminuição do envolvimento do atleta em trei-
namentos e competições esportivas. Esta diminuição é experienciada de
forma gradual, e cada atleta terá seu momento individual.
5.
As crianças participam:
• Para aprender novas habilidades.
• Por diversão.
• Para afiliação.
• Pelas emoções e pela excitação.
• Pelo exercício e condicionamento.
• Pelo desafio da competição/vencer.
As crianças desistem por:
• Falha em aprender novas habilidades.
• Falta de diversão.
• Falta de afiliação.
• Falta de emoções e excitação.
• Falta de exercício e condicionamento.
• Falta de desafio/fracasso.

75
CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS
E RENDIMENTO ESPORTIVO

Professor Dr. Leonardo Pestillo de Oliveira

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Motivação para a prática do esporte
• Autoconfiança e expectativas de rendimento
• Treinamento de Habilidades Psicológicas
• Variáveis individuais que podem ajudar ou prejudicar o
rendimento esportivo

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender os conceitos da motivação e como esta
influencia a prática esportiva profissional ou não.
• Descrever como a autoconfiança pode ser um fator de
influência no sucesso esportivo.
• Apresentar as principais características do Treinamento de
Habilidades Psicológicas (THP) e como elas podem ajudar o
desempenho no esporte e no exercício.
• Discutir sobre três variáveis importantes do indivíduo, no
contexto esportivo: ativação, ansiedade e estresse.
unidade

III
INTRODUÇÃO

O
lá, aluno(a), seja bem-vindo(a) à nossa Unidade III do livro
da disciplina de Psicologia do Esporte e do Exercício. Chega-
mos ao ponto da disciplina em que estudaremos alguns ele-
mentos que se destacam por serem mais voltados aos aspectos
individuais dos atletas. São variáveis que podemos trabalhar para tentar
modificá-las e, assim, melhorar a performance esportiva.
A primeira dessas variáveis é a Motivação, uma das questões mais dis-
cutidas no contexto esportivo e que ainda gera muitas dúvidas: o que faz
um atleta permanecer motivado para a prática esportiva? Como melho-
rar a motivação de atletas para que continuem na prática? São apenas al-
guns questionamentos que merecem ser discutidos, mas não são simples
de se responder, são muitos fatores que podem influenciar a motivação.
Uma das variáveis que influencia a motivação e que se relaciona com
a temática da personalidade, já estudada na disciplina, é a Autoconfian-
ça. A percepção de que se é capaz de realizar determinada tarefa é um
elemento importante para o desempenho no esporte. Além de se rela-
cionar com a personalidade, a autoconfiança pode ser trabalhada, e aí
entra nossa terceira temática da Unidade, o Treinamento de Habilidades
Psicológicas (THP).
Treinar habilidades psicológicas significa pensar sobre quais delas são
necessárias em determinado momento e em determinado esporte. Mes-
mo fazendo parte de uma mesma equipe, já sabemos que cada atleta e
cada indivíduo tem suas próprias características, por isso, a importância
de se pensar caso a caso no processo de treinamento psicológico.
Para fechar a Unidade III, abordaremos algumas variáveis que podem
ter um papel duplo no desempenho esportivo, podem ajudar, mas tam-
bém prejudicar o atleta, dependendo de como ela surge e de como o atleta
reage a ela. Por isso, precisamos trabalhar com os atletas no sentido de
serem capazes de reconhecer estas variáveis e usá-las a seu favor.
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Motivação Para a
Prática do Esporte
Atletas que já são considerados consagrados em situações. Já a intensidade significa o quanto essa
uma modalidade, pessoas que praticam atividade pessoa (atleta) se esforça ou quanto de esforço co-
física há anos sem interrupção prolongada e que loca nesta situação. Alguns autores consideram
se sentem bem, geralmente, são consideradas pes- que a motivação é um fator indispensável para o
soas motivadas para determinada atividade. Isso sucesso esportivo, por isso, dividem as discussões
já nos leva a pensar sobre o que vem a ser exata- acerca da motivação, baseando-se em determina-
mente esta motivação. A motivação é toda ener- das características. Essa divisão se justifica pelo
gia dispensada em uma direção e com intensidade fato de que os estágios de desenvolvimento espor-
suficiente para atingir um objetivo (WEINBERG; tivo diferentes exigem tipos diversos de motiva-
GOULD, 2017). ção. Há, porém, certa discussão mais comum de
Esta direção significa o quanto uma pessoa, no que a motivação intrínseca seria crucial para o su-
caso o atleta, sente-se atraída por determinadas cesso em todos os níveis. (VISSOCI et al., 2008).

80
EDUCAÇÃO FÍSICA

A motivação intrínseca é uma variável que nas características de personalidade da pessoa, nas
está presente em uma das teorias da motivação suas necessidades e nos seus objetivos, isso permite
mais utilizadas no contexto esportivo nas últi- a ideia de que a pessoa pode ser predisposta, ou não,
mas três décadas, a Teoria da Autodeterminação ao sucesso. Um pensamento contrário a este primei-
(DECI; RYAN, 1985; HAGGER; CHATZISA- ro é da “Visão centrada na situação”, que discute que
RANTIS, 2007). Mas nem sempre o pensamento a motivação é determinada, primariamente, pela
de autodeterminação foi consenso. Weinberg e situação, independentemente das características do
Gould (2017) apresentam três visões que foram sujeito. Por fim, a “Visão interacional” traz-nos uma
surgindo ao longo do tempo e que tentaram, de percepção que é considerada a mais aceita, atual-
alguma forma, compreender o que significa essa mente, no contexto esportivo, pois leva em conside-
motivação humana. ração tanto as questões do sujeito quanto as questões
A primeira destas visões é a chamada “Visão da situação que o ideal é examinar a forma como
centrada no traço”, que apresenta a ideia de que o estes dois elementos interagem para pensar no com-
comportamento humano motivado ocorre baseado portamento das pessoas (Figura 1).

FATORES PESSOAIS INTERAÇÃO INDIVÍDUO-SITUAÇÃO FATORES SITUACIONAIS

• Personalidade • Estilo do líder-técnico


• Necessidades • Atratividade das instalações
• Interesses • Histórico de vitórias e derrotas
da equipe
• Objetivos
• Objetivos

MOTIVAÇÃO DO PARTICIPANTE

Figura 1 - Modelo de motivação interacional: fatores pessoais e fatores situacionais


Fonte: adaptado de Weinberg e Gould (2017).

81
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINA 81 – Figura 1 - Modelo de motivação interacional: fatores pessoais e


fatores situacionais

INÍCIO DESCRIÇÃO – A figura 1 refere-se ao Modelo de motivação interacional: fatores


pessoais e fatores situacionais. A figura possui ao centro duas pessoas com luvas de boxe
nas mãos, um de frente ao outro com ambas as mãos na direção do rosto, acima a
informação INTERAÇÃO INDIVÍDUO-SITUAÇÃO. Do lado esquerdo a informação FATORES
PESSOAIS: Personalidade, Necessidade, Interesses e Objetivos. Do lado direito FATORES
SITUACIONAIS: Estilo do líder-técnico, Atratividade das instalações, Histórico de vitórias e
derrotas da equipe e Objetivos. Na figura ao centro apontando para baixo por uma seta
(MOTIVAÇÃO DO PARTICIPANTE) a imagem de um oponente com o braço direito reto em
direção ao rosto do outro e o braço esquerdo recolhido em direção ao próprio rosto. FIM
DESCRIÇÃO.
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

A partir destas abordagens, surgem teorias, como a Te- gulatórios que dão nome aos diferentes tipos de mo-
oria da Autodeterminação, que aponta para a natureza tivação, que vão desde uma ausência de motivação,
e a função da motivação com base nos aspectos psico- até o que se chama autodeterminação. Esses tipos de
lógicos e propõe a motivação dentro de um continuum motivação são (PELLETIER; SARRAZIN, 2007):
regulatório (DECI; RYAN, 1985; WILSON et al., 2006). • Amotivação.
Esta teoria tem como base conceber o ser humano com • Motivação Extrínseca de Regulação Externa.
um organismo ativo que é voltado ao crescimento e a • Motivação Extrínseca de Regulação Introjetada.
um desenvolvimento mais integrado do sentido do self • Motivação Extrínseca de Regulação Identi-
e no sentido da integração com as estruturas sociais. ficada.
Como é uma teoria que tem sua base em um con- • Motivação Extrínseca de Regulação Integrada.
tinuum, apresenta, também, diferentes processos re- • Motivação Intrínseca.

Motivação Motivação
Desmotivação
Extrínseca Intrínseca

Regulação Regulação Regulação Regulação


Externa Introjetada Identificada Integrada

Contingências de Autoestima dependente Importância dos Motivação


Ausência de Interesse e
recompensa e do desempenho; objetivos, valores e Moderamente
Regulação intencional prazer pela tarefa
punição envolvimento do ego regulamentos Autonôma

Motivação Coerência entre


Ausência de Motivação Motivação Motivação
Moderamente objetivos, valores
Motivação Controlada Autonôma Autonôma Inerente
Controlada e regulamentos

Figura 2 - Continuum de autodeterminação


Fonte: adaptada de Gagné e Deci (2005).

82
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINA 82 – Figura 2 - Continuum de autodeterminação

INÍCIO DESCRIÇÃO – A figura 2 refere-se a Continuum de autodeterminação. A figura se


divide em três partes, a primeira parte DESMOTIVAÇÃO: Ausência de Regulação
intencional e Ausência de Motivação. Na segunda parte MOTIVAÇÃO EXTRÍNSECA que se
divide em quatro partes que apontam por setas, sendo elas: Regulação Externa:
Contingência de recompensa e punição, Motivação controlada; Regulação Introjetada
Autoestima dependente do desempenho; envolvimento do ego; Motivação Moderamente
Controlada; Regulação Identificada: Importância dos objetivos, valores e regulamentos;
Coerência entre objetivos, valores e regulamentos; Regulação Integrada: Motivação
Moderamente Autônoma; Motivação Autônoma. E na última parte de três, a informação:
MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA: Interesse e prazer pela tarefa; Motivação Autônoma Inerente.
FIM DESCRIÇÃO.
EDUCAÇÃO FÍSICA

A Amotivação representa uma ausência de moti- • Motivação Extrínseca de Regulação Identifi-


vação no sujeito, este não apresenta intenção nem cada: pessoas que apresentam alto índice de
comportamento proativo, o que pode gerar, inclu- identificação realizam suas atividades nem
sempre por escolha, mas por necessidade, e
sive, desvalorização da atividade e falta de controle
podem não apreciar tal atividade. Algumas
pessoal (GUIMARÃES; BZUNECK, 2008). pessoas podem realizar atividade física ou
A Motivação Extrínseca, no geral, é caracte- praticar esportes não porque realmente gos-
rizada por levar o indivíduo a não se dedicar a tam, mas porque valorizam a importância do
uma atividade por prazer, mas se dedicar a uma engajamento esportivo para suas metas de
atividade pensando em obter algum tipo de re- saúde e desempenho. A Motivação Extrínse-
compensa externa (VALLERAND, 2004; VALLE- ca de Regulação Identificada está associada a
um endosso pessoal da participação esporti-
RAND, 2007).
va, sendo rica em autodeterminação.
A seguir, veremos os tipos de Motivação Extrín-
• Motivação Extrínseca de Regulação Integra-
seca que foram descritas, de acordo com Ntoumanis da: ocorre quando os comportamentos são
e Mallett (2014): realizados porque são totalmente assimila-
• Motivação Extrínseca de Regulação Externa: dos dentro do próprio sistema. Isso é comum
a principal característica de uma pessoa que quando os atletas percebem que seu engaja-
realiza uma atividade baseada neste tipo de mento esportivo faz parte de quem realmente
motivação é obter algum tipo de recompensa, são. Sendo assim, há certa coerência entre o
ou, até mesmo, evitar punições. Atletas po- comportamento emitido e os objetivos e/ou
dem apresentar comportamentos para obter valores da pessoa, é uma forma mais autô-
recompensas tangíveis (ganhar dinheiro ou noma de motivação extrínseca. A Motivação
troféus). A Motivação Extrínseca de Regula- Extrínseca de Regulação Integrada está asso-
ção Externa está associada a baixos níveis de ciada a um endosso pessoal da participação
autodeterminação. esportiva, sendo rica em autodeterminação.
• Motivação Extrínseca de Regulação Intro-
jetada: a pessoa realiza uma atividade ou Considerada unidimensional, a Motivação Intrín-
apresenta comportamentos extrinsecamente
seca é definida e está presente quando uma pessoa
motivados, que são regulados a partir das
consequências sentimentais que este com- realiza uma atividade por si mesma, pelo prazer
portamento pode gerar. Ou seja, realiza uma que sente em se engajar em tal atividade (PELLE-
atividade para não se sentir culpado ou com TIER; SARRAZIN, 2007). Quando uma pessoa se
vergonha. No esporte, é muito comum ver- engaja em uma atividade por questões autodetermi-
mos atletas jovens praticando alguma moda- nadas, o reforço que ela receberá é direcionado às
lidade esportiva porque não querem decep- suas funções psicológicas tendo associação entre a
cionar seus pais. A Motivação Extrínseca de
motivação intrínseca e o bem-estar psicológico. No
Regulação Introjetada está associada a baixos
níveis de autodeterminação. contexto esportivo, quando o atletas apresentam alta

83
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

motivação intrínseca, estes se envolvem livremente A autodeterminação assenta-se em três necessi-


em atividades que consideram interessantes e agra- dades psicológicas básicas: a necessidade de autono-
dáveis e que oferecem uma oportunidade de apren- mia, de competência e de estabelecimento de vín-
dizado e desenvolvimento pessoal (NTOUMANIS; culos. Estas necessidades básicas são consideradas
MALLETT, 2014). inatas, integradas e interdependentes, levando ao
A Teoria da Autodeterminação está presente em pensamento de que a satisfação de cada uma delas
diversos trabalhos sobre a motivação, no contexto fortalece e reforça as outras. Quando essas necessi-
esportivo, e demonstram que as formas autônomas/ dades são satisfeitas, os indivíduos experimentarão
autodeterminadas de regulação (motivação intrín- melhor qualidade de motivação, de bem-estar psico-
seca, regulação integrada e identificada), compara- lógico e se envolverão em comportamentos adapta-
das às formas de regulação controladas (regulação tivos (por exemplo, aumento do investimento com-
introjetada e externa) e amotivação, resultam em re- portamental) (NTOUMANIS; MALLETT, 2014;
sultados mais adaptativos, como mais esforço, per- TREASURE et al., 2007).
sistência, desempenho e vários índices de bem-estar A Autonomia refere-se ao desejo de sentir a
psicológico (VALLERAND, 2007). propriedade sobre o comportamento de alguém.
Um ponto deve ficar claro, não há um tipo me- Já a Competência refere-se à necessidade de se
lhor ou pior de motivação, quanto mais autodeter- sentir eficaz e alcançar resultados valiosos. Por
minado for um atleta, melhor a possibilidade de fim, o Estabelecimento de vínculos é o desejo de
sucesso. Mas é preciso pensarmos que a motivação se sentir aceito e, significativamente, conectado
extrínseca tem seu valor. Tipos elevados de motiva- com os outros (DECI; RYAN, 2002). Estas neces-
ção extrínseca autônoma (isto é, com regulação in- sidades básicas estão presentes nas pesquisas que
tegrada e identificada) no esporte são importantes, tratam da Teoria da Autodeterminação e que ten-
dado que alguns comportamentos podem não ser tam exemplificar como essas necessidades estão
inerentemente agradáveis (por exemplo, exercícios influenciando o desempenho dos atletas. Ou seja,
repetitivos durante o treinamento), mas podem ter no contexto esportivo, os atletas experimentarem
alto valor instrumental. a satisfação da necessidade de autonomia quando
A regulação introjetada, às vezes, pode levar à estiverem engajados, de maneira positiva, em seus
persistência, mas isso é relativamente de curta du- planos de treinamento e desenvolvimento pessoal;
ração (PELLETIER et al., 2001). Recompensas tan- a satisfação de competência-necessidade ocorrerá
gíveis são muito frequentemente usadas no esporte quando lhes são dadas oportunidades suficientes e
(por exemplo, bolsas esportivas), mas as evidências orientação para alcançar o sucesso; e a satisfação
sugerem que, quando usadas para motivar atletas, de necessidade de relacionamento quando eles se
elas resultam em atletas motivados por regulamen- sentem aceitos e valorizados por seu treinador e
tação externa. companheiros de equipe.

84
EDUCAÇÃO FÍSICA

85
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Autoconfiança e Expectativas
de Rendimento
Durante o desenvolvimento da carreira esportiva, o Com o passar do tempo e de acordo com as experi-
atleta depara-se com diversas situações que exigem ências vividas, as tomadas de decisão tornam-se mais
dele tomada de decisão rápida, mas nem sempre ela eficientes, exigindo menos esforço, tornando-se, tam-
precisa ser imediata. Em momentos específicos, du- bém, mais intencional e consciente (TENENBAUM;
rante uma partida, por exemplo, exige-se mais ra- LIDOR, 2005). Um elemento importante no processo
pidez, e as opções nem sempre são vastas. Cada de- de tomada de decisão é a autoconfiança, que também
cisão tomada, a partir de um número específico de é adquirida ao longo do tempo.
opções, carrega possíveis consequências positivas e/ As pesquisas mostram a relação direta entre ter
ou negativas (GRECO, 2009). autoconfiança e sucesso esportivo, tendo em vista o

86
EDUCAÇÃO FÍSICA

quanto os atletas de sucesso demonstram-se mais se- bém a quantidade e a duração do esforço realizado
guros de si e acreditam que suas capacidades podem na busca desse objetivo, no caso, sua persistência
lhes direcionar para o êxito (WEINBERG; GOULD, (STEFANELLO, 2007).
2017). A autoconfiança, então, seria o grau de certe- Como já descrito, a autoconfiança é uma variá-
za que uma pessoa tem em suas capacidades para ser vel multidimensional e, com isso, precisamos pensar,
bem-sucedido(a) em uma situação específica, ou em individualmente, sobre os casos com os quais tra-
diversas situações (VEALEY, 2005). Mas é preciso balhamos. Mas é preciso, também, pensar em como
pensar na autoconfiança como um elemento dinâ- a autoconfiança pode, em certa medida, ser um fa-
mico, e não estático, pois se manifesta em determi- tor negativo para o desempenho esportivo. Este fa-
nadas situações e varia, substancialmente, no tempo tor nos leva a pensar em uma autoconfiança ideal
e em resposta a novas experiências. (WEINBERG; GOULD, 2017). Esta autoconfiança
Weinberg e Gould (2017) descrevem uma pes- ideal pode ser melhor compreendida na Figura 3,
quisa realizada por Vealey e Knight (2002) em que que mostra a relação em U invertido com o topo da
os autores consideram a autoconfiança como uma curva inclinado um pouco mais para a direita.
variável multidimensional, podendo haver diver-
Alto
sos tipos de autoconfiança, que serão apresenta-
dos a seguir.
Primeiro ponto é pensar a autoconfiança na
Desempenho

capacidade de executar habilidades físicas, mas há Moderado


também a questão mental e a autoconfiança na ca-
pacidade de usar as habilidades psicológicas, como
a mentalização e o diálogo interior. Há também a
autoconfiança na capacidade de usar as habilidades
Baixo
perceptuais, como a tomada de decisão. Outro tipo é Pouco Confiança Excesso de
a autoconfiança no nível de condicionamento físico confiante adequada confiança

e na condição de treinamento, e, para fechar, a auto- Figura 3 - Relação entre autoconfiança e desempenho no esporte
confiança no potencial de aprendizagem e na possi- Fonte: adaptada de Weinberg e Gould (2017).

bilidade de melhorar as próprias habilidades.


No contexto esportivo, é viável considerar que A partir do que temos na Figura 3, pode-se perceber
a autoconfiança influencie também outras caracte- que o desempenho esportivo apresenta melhora à
rísticas psicológicas. Ela pode facilitar, por exem- medida que a autoconfiança também aumenta. Mas
plo, a concentração deixando sua mente mais pre- há um ponto máximo de desempenho (ideal) e, a
parada para concentrar-se na tarefa em questão. partir deste ponto, percebe-se que mesmo a auto-
Alcançar metas e objetivos traçados também pode confiança aumentando, o desempenho diminui. Isso
ter ajuda da autoconfiança, pois sendo este o obje- significa que problemas de desempenho podem sur-
tivo real, as chances de conseguir se manter focado gir em situações de pouca autoconfiança, mas tam-
mesmo sob pressão aumentam, aumentando tam- bém quando esta autoconfiança é excessiva.

87
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINA 87 – Figura 3 - Relação entre autoconfiança e desempenho no esporte

INÍCIO DESCRIÇÃO – A figura 3 refere-se à Relação entre autoconfiança e desempenho no


esporte. A imagem é de um gráfico onde o eixo X apresenta as informações POUCO
CONFIANTE, CONFIANÇA ADEQUADA E EXCESSO DE CONFIANÇA. No eixo Y mostra o
Desempenho de baixo para o alto, onde no meio há uma linha horizontal referente a
moderado. Iniciando uma linha no POUCO CONFIANTE e no ponto baixo de forma
ascendente cruzando a linha moderado atingindo ao topo entre CONFIANÇA ADEQUADA
e EXCESSO DE CONFIANÇA e uma queda brusca finalizando em EXCESSO DE CONFIANÇA.
FIM DESCRIÇÃO.
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Falta de confiança significa que o sujeito duvida isso faz com que o desempenho piore, como conse-
de si próprio. Um atleta pode apresentar grandes quência da crença do sujeito de que não precisa se
habilidades físicas para obter sucesso mas não tem preparar ou se esforçar para conseguir o que deseja.
tanta confiança em suas capacidades em realizar No entanto o excesso de confiança ainda é menos
determinada atividade, principalmente em situa- prejudicial do que a falta de confiança, mesmo que
ções de grande pressão. Isso ocorre também com ambos possam causar queda de rendimento (MIL-
praticantes de exercício e de atividade física, em LER; GERACI, 2011).
que a falta de confiança em relação à sua aparência Vealey e Chase (2008) apresentam um modelo
ou à capacidade de permanecer na atividade pode conceitual de autoconfiança no esporte, que apre-
gerar a interrupção desta forma (FELTZ; ÖNCÜ, senta quatro elementos principais:
2014). 1. Fatores que influenciam a confiança esportiva.
O excesso de confiança pode ser interpretado 2. Fontes de confiança no esporte.
também como uma falsa confiança. Neste caso, a 3. Construtos de confiança esportiva.
confiança é maior do que a própria capacidade, e 4. Consequências da confiança esportiva.

Estes elementos podem ser melhor visualizados na Figura 4:

Características Fatores que influenciam a


Cultura
demográficas e de confiança esportiva
organizacional
personalidade

Fatores de confiança esportiva

Realização Autorregulação Atmosfera social

Construtos de confiança esportiva

Confiança nas habilidades de Confiança nas Confiança na


tomada de decisões habilidades físicas resiliência

Consequências de confiança esportiva

Afeto Comportamento
Cognição

Figura 4 - Modelo de autoconfiança no esporte


Fonte: adaptada de Vealey e Chase (2008).

88
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINA 88 – Figura 4 - Modelo de autoconfiança no esporte

INÍCIO DESCRIÇÃO – A figura 4 refere-se ao Modelo de autoconfiança no esporte. A


imagem está dividida em três colunas, a da esquerda com três retângulos com as
informações: Características demográficas e de personalidade, Realidade e Confiança nas
habilidades de tomada de decisões; ao centro começando por Fatores que influenciam a
confiança esportiva sai uma seta apontando para baixo em Fatores de confiança esportiva;
Autorregularão; que forma uma interação entre Construtos de confiança esportiva;
Confiança nas habilidades físicas; Consequências de confiança esportiva; e Afeto
Comportamento Cognição. A última coluna são três retângulos com as informações:
CULTURA ORGANIZACIONAL; ATMOSFERA SOCIAL; e CONFIANÇA NA RESILIÊNCIA. FIM
DESCRIÇÃO.
EDUCAÇÃO FÍSICA

O modelo conceitual de autoconfiança no esporte Como vimos, a autoconfiança é um dos fatores


leva-nos a observar que temos dois tipos de fatores que mais influenciam o desempenho dos atletas.
que influenciam a confiança, questões externas ao Técnicos podem ajudar os atletas a aumentarem sua
sujeito, como a cultura organizacional, característi- autoeficácia e sua autoconfiança por meio de técni-
cas do ambiente e também questões internas, como cas específicas que podem ajudar, até mesmo, atle-
a personalidade. Há também diferentes fontes de tas experientes a superar algumas barreiras (FELTZ;
confiança esportiva que estão centradas na realiza- ÖNCÜ, 2014). O feedback é importante, visto que o
ção, na capacidade de autorregulação e na atmosfera treinador que elogia e reconhece quando os atletas
social. Sendo a autoconfiança multidimensional, os têm um bom desempenho é visto como uma base
quatro construtos fazem parte deste modelo e, como importante para reforçar a autoconfiança deles e
já descritos, envolvem a confiança nas habilidades atuam como um barômetro inestimável, permitindo
de tomada de decisão, confiança nas habilidades fí- aos atletas saberem se estão atendendo às expectati-
sicas e confiança na resiliência. Para fechar, estão as vas de seus treinadores (BEAUCHAMP, 2014).
consequências da autoconfiança no esporte, que se
referem ao afeto, ao comportamento e às cognições.
Pensando no contexto esportivo, em que a figura do
técnico é fundamental, esta figura também pode exer-
cer influência na autoconfiança dos atletas. Essa influ-
ência pode ocorrer de diversas formas, por exemplo, ao
criar expectativas nos atletas que são chamadas de sinais
pessoais. Estas influenciam o comportamento dos pró-
prios técnicos, pois se comportam de formas específicas
quando têm expectativas altas ou baixas em relação ao
atleta. Como consequência, o desempenho dos atletas
pode confirmar, ou não, as expectativas dos técnicos, se
estavam certos ou errados sobre as capacidades e poten-
ciais dos atletas (WEINBERG; GOULD, 2017).
O trabalho psicológico, no contexto esportivo,
pode ajudar os atletas a melhorarem sua autoconfian-
ça, tendo como base a melhora no foco, no desempe-
nho, maior confiança na atuação e também aumento
nos pensamentos confiantes. No caso das modalida-
des coletivas, não basta apenas desenvolver a con-
fiança individual, é preciso construir uma confiança
coletiva que aumenta também o desenvolvimento de
boas relações entre os atletas no momento das com-
petições e, assim, atingir as metas que são comuns.

89
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Treinamento de
Habilidades Psicológicas
Melhorar o desempenho é um objetivo diário quando to. Praticantes de exercício e de atividade física tam-
se está inserido no contexto esportivo. A busca pela bém podem ser beneficiados com esta questão, pois
excelência no esporte é inerente, e não basta apenas aprendem a lidar melhor com a raiva, a ansiedade e
treinar ou desenvolver as habilidades físicas, técnicas o estresse quando estão em prática (VIEIRA et al.,
e táticas. Precisamos pensar, também, nas habilidades 2010). As características de personalidade do sujeito
psicológicas que são importantes para que os atletas são bons indicadores de como se comportam em de-
mantenham-se firmes em suas carreiras. terminados momentos, mas há sempre a necessida-
O Treinamento de Habilidades Psicológica, no de de monitoramento destas características para que
entanto, não serve apenas para atletas de rendimen- possam ser utilizadas a favor das pessoas.

90
EDUCAÇÃO FÍSICA

ATENÇÃO

Certo grau de ansiedade pode ser considerado um aspecto positivo na motivação dos atletas, pois au-
menta o esforço durante a preparação física. Por outro lado, o excesso de ansiedade pode levar o atleta
a mudanças, como tensão muscular, ineficácia durante a execução de movimentos, dificuldade para
tomar decisões e redução da autoconfiança e do prazer pela prática esportiva. Ansiedade em menor
grau pode resultar pouco esforço e pouca motivação pela prática. Um equilíbrio da ansiedade pode
levar o atleta a estar autorregulado e a obter bom desempenho durante treinamentos e competições.

Fonte: Balaguer (2005).

91
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Muitos atletas, técnicos e demais profissionais en- A excelência no esporte não ocorre por acaso, e
volvidos no contexto esportivo ainda têm dúvidas mesmo grandes atletas podem ser vítimas de aba-
sobre o papel da psicologia para os atletas. Mas é timentos mentais e de erros, porém o segredo não
preciso compreender que, assim como os atletas está em evitar estes problemas, e sim, em conseguir
treinam e aprimoram suas habilidades físicas, suas reverter a situação. O autoconhecimento sobre suas
habilidades psicológicas também podem e o devem habilidades e características torna-se o grande trun-
ser (SAMULSKI, 2009). fo para que o atleta saiba respeitar seus limites e
O que vem a ser, então, o Treinamento de Habi- evitar que seu desempenho piore (HAGTVET; HA-
lidades Psicológicas? “Refere-se à prática sistemática NIN, 2007). A resistência mental é, muitas vezes,
e consistente de habilidades mentais ou psicológicas traduzida em como o atleta tem capacidade de con-
com o objetivo de melhorar o desempenho, aumentar centração, de recuperação frente a um fracasso, de
o prazer ou alcançar maior satisfação na atividade es- saber lidar com a pressão e persistir, mesmo em mo-
portiva e física” (WEINBERG; GOULD, 2017, p. 231). mentos de adversidade (BULL et al., 2005; CRUST;
Há diversos métodos para se trabalhar com estes ele- CLOUGH, 2012).
mentos que visam a modificação do comportamento Clough, Earle e Sewell (2002) apresentam um
com o intuito de melhorar o estabelecimento de me- modelo de resistência mental baseado em 4Cs: Con-
tas, controle de atenção, relaxamento físico e mental trole, Comprometimento, Desafio (Challenge) e
entre outros pontos que, em alguns textos, podemos Confiança. A definição de cada um destes elementos
encontrar definidos como treinamento mental. pode ser observado no Quadro 1:

Capacidade do atleta para lidar com diversos elementos ao mesmo tempo. São diver-
Controle sos fatores que podem influenciar o rendimento, e o controle faz com que ele perma-
neça influente em vez de controlado.

Capacidade do atleta em se manter profundamente envolvido no cumprimento dos


Comprometimento
objetivos delimitados, apesar das dificuldades envolvidas no processo.

Capacidade do atleta para perceber as possíveis ameaças como oportunidades de


Desafio (Challenge)
crescimento pessoal e de seguir em frente.

Capacidade do atleta em manter a crença em si mesmo, a autoconfiança que deve


Confiança
permanecer apesar das dificuldades do processo.

Quadro 1 - Características dos componentes do Modelo dos 4Cs


Fonte: adaptado de Clough, Earle e Sewell (2002).

92
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINA 92 – Quadro 1 - Características dos componentes do Modelo dos 4Cs

INÍCIO DESCRIÇÃO – O quadro 1 refere-se as Características dos componentes do Modelo


dos 4Cs. O quadro se divide em quatro linhas sendo elas:
Controle: Capacidade do atleta para lidar com diversos elementos ao mesmo tempo. São
diversos fatores que podem influenciar o rendimento, e o controle faz com que ele
permaneça influente em vez de controlado.
Comprometimento: Capacidade do atleta em se manter profundamente envolvido no
cumprimento dos objetivos delimitados, apesar das dificuldades envolvidas no processo.
Desafio (Challenge): Capacidade do atleta para perceber as possíveis ameaças como
oportunidades de crescimento pessoal e de seguir em frente.
Confiança: Capacidade do atleta em manter a crença em si mesmo, a autoconfiança que
deve permanecer apesar das dificuldades do processo. FIM DESCRIÇÃO.
EDUCAÇÃO FÍSICA

Mesmo com todas estas características, alguns atle-


tas ainda tendem a negligenciar o treinamento das
habilidades psicológicas, e podemos resumir isso
em três razões básicas: falta de conhecimento, equí-
vocos em relação a habilidades psicológicas e falta
de tempo (WEINBERG; GOULD, 2017).
A falta de conhecimento ocorre dos dois lados,
tanto atletas não sabem como desenvolver suas pró-
prias habilidades e também muitos profissionais não
sabem exatamente como ensinar. Não basta o técni-
co gritar com os atletas para que eles se concentrem,
eles já sabem disso, portanto, a concentração deve
ser desenvolvida durante os treinamentos, baseada
em elementos teóricos, como o atleta entender que,
em momentos em que ele está mais “relaxado”, sua
concentração aumenta (SAMULSKI, 2009).
Um dos erros em relação às habilidades psico-
lógicas é achar que as pessoas já nascem com elas.
Pode haver uma predisposição a desenvolver carac-
terísticas positivas para o contexto esportivo, mas as
habilidades podem ser aprendidas e desenvolvidas, O treinamento de habilidades psicológicas é uma
dependendo das exigências a que estamos expostos. ferramenta importantíssima para o desempenho
Nenhum atleta chega ao sucesso sem a prática siste- esportivo e não serve apenas para atletas de elite.
mática de suas habilidades físicas e mentais (BLU- Como já descrito, praticantes de atividade física de
MENSTEIN; LIDOR; TENENBAUM, 2005). forma não competitiva são também beneficiados
O último ponto está na falta de tempo que, mui- com estas técnicas. Não deve ser aplicado somen-
tas vezes, é o centro das justificativas de técnicos e te a atletas que apresentam problemas psicológicos
atletas sobre o porquê de o sucesso não ter sido atin- ou clínicos, pois não tem como objetivo a “cura”
gido. Mas acreditar que uma derrota foi causada por de problemas psicológicos, e sim, desenvolver ca-
questões que envolvem, por exemplo, a falta de con- racterísticas positivas, como estabelecimento de
centração não faz com que técnicos e atletas reservem metas, mentalização, concentração, que são apenas
tempo para treinar esta habilidade, ao contrário, é co- alguns dos elementos importantes a todos os pra-
mum observar o aumento de tempo de treinamento ticantes de esporte e atividade física (WEINBERG;
técnico ou físico (LIDOR; BLUMENSTEIN, 2007). GOULD, 2017).

93
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

REFLITA

Não basta ao atleta treinar apenas suas ha-


bilidades físicas, ele precisa reconhecer a im-
portância de treinar também suas habilida-
des psicológicas, pois os fatores psicológicos
podem ser os principais responsáveis por
quedas no desempenho.

(adaptado de Robert S. Weinberg e Daniel Gould)

É importante reconhecer que o treinamento de ha-


bilidades psicológicas tem efetividade comprovada
em diversos estudos, mas também é importante
reconhecer que esta efetividade depende das carac-
terísticas individuais dos atletas. Não basta tratar
todos como iguais e pensar que o mesmo tipo de
treinamento funcionará para todos, é preciso levar
em consideração as diferenças individuais (SHARP;
HODGE, 2011) e que a conexão com os atletas é im-
portante para se construir uma boa relação e atender
às suas necessidades.
De acordo com Weinberg e Gould (2017), é pre-
ciso pensar no programa de treinamento de habi-
lidades psicológicas em três fases distintas: Fase de
Educação, Fase de Aquisição e Fase de Prática, que
estão resumidas na Figura 5:

94
TRÊS FASES DO TREINAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

HABILIDADES PSICOLÓGICAS

FASE DE EDUCAÇÃO
Atletas reconhecem a importância
da aquisição de habilidades psico-
lógicas e como elas podem influen-
ciar o seu desempenho. Pode du-
rar horas ou dias, dependendo das
características individuais.

FASE DE PRÁTICA
Momento de automatizar as habilida-
des, de ensinar o atleta a integrar sis-
tematicamente as habilidades psico-
lógicas em situações de desempenho
FASE DE AQUISIÇÃO e simular as habilidades que o atleta
Concentra-se em estratégias e técnicas deseja aplicar nas competições reais.
para aprendizagem das diferentes ha- É importante que os atletas mante-
bilidades psicológicas. Técnicas de ati- nham um diário no qual registrem a
vação, regulação da ansiedade, mudar frequência e a efetividade percebida
padrões de pensamento, relaxamento. das estratégias.

Figura 5 - As três fases do treinamento de habilidades psicológicas


Fonte: Weinberg e Gould (2017).

Se houver controle tanto por parte do profissional que conduzir o programa de treinamento de habilidades
psicológicas quanto por parte dos atletas, há grandes chances de se obter sucesso. É um processo de apren-
dizagem sistemática e que pode ser consistente quando bem executado. Esta prática sistemática terá muita
relação com o sucesso no esporte e na atividade física, tanto quanto a prática de habilidades físicas.

95
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINA 95 – Figura 5 - As três fases do treinamento de habilidades psicológicas

INÍCIO DESCRIÇÃO – A figura 5 refere-se as três fases do treinamento de habilidades


psicológicas. A primeira fase é a FASE DE EDUCAÇÃO: Atletas reconhecem a importância
da aquisição de habilidades psicológicas e como elas podem influenciar o seu desempenho.
Pode durar horas ou dias, dependendo das características individuais.
A segunda é a FASE DE AQUISIÇÃO: Concentra-se em estratégias e técnicas para
aprendizagem das diferentes habilidades psicológicas. Técnicas de ativação, regulação da
ansiedade, mudar padrões de pensamento, relaxamento.
Por último, a FASE DE PRÁTICA: Momento de automatizar as habilidades, de ensinar o
atleta a integrar sistematicamente as habilidades psicológicas em situações de
desempenho e simular as habilidades que o atleta deseja aplicar nas competições reais. É
importante que os atletas mantenham um diário no qual registrem a frequência e a
efetividade percebida das estratégias. FIM DESCRIÇÃO
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Variáveis Individuais que Podem


Ajudar ou Prejudicar o Rendimento
Esportivo

Estratégias para melhorar o desempenho esportivo a Psicologia do Esporte e do Exercício, compreender


são sempre utilizadas por técnicos, preparadores físi- como os atletas reagem em determinados momentos
cos e também por psicólogos. A busca por resultados e situações é importante, e também verificar como as
é uma constante no contexto esportivo e, por isso, os questões psicológicas variam em determinadas situa-
estudos com foco nesta variável são importantes. Para ções (OLIVEIRA; FOGAGNOLI; VIEIRA, 2015).

96
EDUCAÇÃO FÍSICA

Uma das variáveis psicológicas mais estudadas Quanto mais o atleta aprende a reconhecer
e que influenciam diretamente no desempenho suas alterações de humor, e quanto mais ele con-
dos atletas é o humor. O humor reflete os estados segue controlá-las, menores as chances de que elas
emocionais, corporais e comportamentais do atle- influenciem negativamente no seu desempenho. O
ta, assim como também os sentimentos, os pensa- controle emocional e a capacidade de administrar os
mentos e o entusiasmo na realização da atividade níveis de medo, estresse e ansiedade causados pela
(WEINBERG; GOULD, 2017). situação faz com que os atletas sejam mais propen-
Como já vimos, as características psicológicas sos a alcançar níveis de ativação considerados óti-
das pessoas variam de acordo com suas experiências mos e resultados positivos durante uma competição
e suas vivências. O humor segue este mesmo pa- (WEINBERG; GOULD, 2017).
drão, pois segue as exigências provenientes do meio Entre algumas tentativas de formular conceitos
em que o atleta está inserido. Um ponto importan- sobre como trabalhar para que o desempenho de
te também é compreender que a maneira como a atletas seja o melhor possível, Morgan (1979) desen-
pessoa percebe o mundo à sua volta é influenciado volveu o que ele chamou de Perfil de Estados de Hu-
pelo seu estado de humor, o que pode diminuir ou mor, considerado um modelo de saúde mental que
aumentar o impacto dos acontecimentos e tam- muitos consideram eficiente para prever o sucesso
bém pode influenciar a forma como essa pessoa se esportivo. Este modelo é avaliado a partir de um
comportará diante dos fatos (GAZZANIGA; HEA- instrumento psicométrico chamado POMS, que, no
THERTON, 2005). Brasil, foi validado por Rohlfs et al. (2008) e chama-
Exemplos para isso não faltam, basta observar do de Escala de Humor de Brunel (Brums).
como o atleta comporta-se em situações de treina- Este instrumento avalia seis características do
mento e em situações de competição. A situação de humor do atleta, que podem ser grandes indicati-
treinamento exige atenção e comportamento com- vos de como este está do ponto de vista psicológico
patíveis com a realidade, já as competições, os jo- e também físico. Os fatores avaliados são: Tensão,
gos e as particularidades do momento de confronto Fadiga, Depressão, Raiva, Confusão Mental e Vi-
exigem outro tipo de atenção e comportamento. São gor. Estes fatores devem ser analisados e podem
estas exigências e a forma como o atleta as percebe demonstrar alguns pontos a serem trabalhados
que podem comprometer o seu desempenho e, sa- com os atletas. São cinco fatores considerados ne-
bendo que as exigências em diferentes situações são gativos e, quando se apresentam elevados, podem
específicas, é que o treinamento de habilidades psi- indicar uma possível queda de desempenho.Vere-
cológicas para evitar as alterações bruscas de humor mos como cada fator pode colaborar com o desem-
é importante (HAGTVET; HANIN, 2007). penho dos atletas, na Figura 6:

97
SEIS CARACTERÍSTICAS DO
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

HUMOR DO ATLETA

A Tensão é uma variável que se refere aos aspectos de tensão músculo-es-


quelética, que não, necessariamente, é expressa diretamente, mas que alguns
comportamentos podem ser indicativos, como a agitação, a inquietação e a
hiperatividade (OLIVEIRA et al., 2015).

Outro fator com carga negativa é a Fadiga, que,


muitas vezes, é negada pelos atletas, pois pode sig-
nificar consequências negativas para este. Ela re-
presenta estados de esgotamento, apatia e baixo
nível de energia. Os atletas podem verbalizar que
não estão cansados, mas podem apresentar, por
exemplo, alteração na atenção, baixa concentração
e memória, além de distúrbios de humor e irritabi-
lidade, que são mais percebidos pelos companhei-
ros de equipe e pessoas próximas (ROTTA, 2016).

Ao contrário da agitação percebida pelos índices altos de tensão e a irri-


tabilidade da fadiga, a Depressão representa um sentimento de inade-
quação pessoal e leva o atleta a apresentar sentimentos de humor de-
primido, de autovalorização negativa, isolamento emocional e tristeza.
Vale lembrar que não estamos nos referindo à depressão clínica, mas
sim, a um estado depressivo, não patológico (BRANDT et al., 2011).

Figura 6 - As seis características do humor do atleta


Fonte: adaptado de Oliveira et al. (2015); Rotta (2016); Brandt et al. (2011);
Weinberg e Gould (2017); Rotta et al. (2014).

98
EDUCAÇÃO FÍSICA

Muitos atletas podem apresentar, também, senti-


mentos de hostilidade e antipatia com relação aos
companheiros de equipe e a si mesmo. Este fator
é chamado de Raiva, que é considerado um esta-
do emocional que pode variar desde sentimentos
de leve irritação até a cólera, que são sentimentos
associados a estímulos do sistema nervoso autô-
nomo (WEINBERG; GOULD, 2017).

A Confusão Mental é um dos fatores também con-


siderados negativos e que se caracteriza por ser
uma possível resposta à ansiedade, ao estresse e à
depressão. Pode ser expressa por sentimentos de
incerteza, instabilidade para controlar as emoções
e dificuldade de manter a atenção (ROTTA; ROHL-
FS; OLIVEIRA, 2014).

Por fim, temos o fator considerado positivo, o Vigor, que pode ser expres-
so pelos sentimentos de energia, animação e que são fundamentais para
o bom desempenho do atleta. A excitação causada pelo vigor é importante
para que o atleta tenha disposição e energia física (OLIVEIRA et al., 2015).

99
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINAS 98 e 99 – Figura 6 - As seis características do humor do atleta

INÍCIO DESCRIÇÃO – A figura apresenta as seis características do humor do atleta, sendo


elas: A Tensão é uma variável que se refere aos aspectos de tensão músculo-esquelética,
que não, necessariamente, é expressa diretamente, mas que alguns comportamentos
podem ser indicativos, como a agitação, a inquietação e a hiperatividade (OLIVEIRA et al.,
2015). Outro fator com carga negativa é a Fadiga, que, muitas vezes, é negada pelos atletas,
pois pode significar consequências negativas para este. Ela representa estados de
esgotamento, apatia e baixo nível de energia. Os atletas podem verbalizar que não estão
cansados, mas podem apresentar, por exemplo, alteração na atenção, baixa concentração
e memória, além de distúrbios de humor e irritabilidade, que são mais percebidos pelos
companheiros de equipe e pessoas próximas (ROTTA, 2016). Ao contrário da agitação
percebida pelos índices altos de tensão e a irritabilidade da fadiga, a Depressão representa
um sentimento de inadequação pessoal e leva o atleta a apresentar sentimentos de humor
deprimido, de autovalorização negativa, isolamento emocional e tristeza. Vale lembrar que
não estamos nos referindo à depressão clínica, mas sim, a um estado depressivo, não
patológico (BRANDT et al., 2011). Muitos atletas podem apresentar, também, sentimentos
de hostilidade e antipatia com relação aos companheiros de equipe e a si mesmo. Este
fator é chamado de Raiva, que é considerado um estado emocional que pode variar desde
sentimentos de leve irritação até a cólera, que são sentimentos associados a estímulos do
sistema nervoso autônomo (WEINBERG; GOULD, 2017). A Confusão Mental é um dos
fatores também considerados negativos e que se caracteriza por ser uma possível resposta
à ansiedade, ao estresse e à depressão. Pode ser expressa por sentimentos de incerteza,
instabilidade para controlar as emoções e dificuldade de manter a atenção (ROTTA;
ROHLFS; OLIVEIRA, 2014). Por fim, temos o fator considerado positivo, o Vigor, que pode
ser expresso pelos sentimentos de energia, animação e que são fundamentais para o bom
desempenho do atleta. A excitação causada pelo vigor é importante para que o atleta
tenha disposição e energia física (OLIVEIRA et al., 2015). FIM DESCRIÇÃO.
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

A partir destes seis fatores, Morgan avaliou diver- O humor é uma boa variável para se verificar
sos atletas de rendimento e chegou ao que ele de- no contexto esportivo e, como ressaltado, pode dar
nomina Perfil Iceberg. Este perfil aponta que um indicativos importantes para se trabalhar com os
atleta bem-sucedido tem o fator positivo Vigor aci- atletas. Não é a única variável que pode atrapalhar o
ma da média da população, e os fatores considera- desempenho dos atletas, mas o modelo apresentado
dos negativos (Tensão, Depressão, Raiva, Fadiga e por Morgan (1979) mostra-nos seis fatores que fa-
Confusão Mental) abaixo da média da população. zem parte dessa variável psicológica. E se bem ana-
Este Perfil Iceberg pode ser melhor compreendido lisados, estes podem ajudar muito os profissionais
por meio da Figura 7: que trabalham diretamente com os atletas. Buscar a
excelência esportiva é importante, porém mais im-
Escore T (50% = média da população )

65
portante é saber como analisar os fatores que podem
60 influenciar esta busca.
55

50

45

40

35
Tensão Depressão Raiva Vigor Fadiga Confusão

Remadores
Lutadores
Corredores

Figura 7 - Exemplo de Perfil Iceberg descrito por Morgan (1979)


Fonte: Weinberg e Gould (2017, p. 39).

Este é apenas um indicativo de que o atleta encon-


tra-se com saúde mental positiva, mas é impor-
tante ressaltar que é apenas um indicativo. Outras
fontes devem ser analisadas para se chegar a uma
constatação mais confiável. É apenas uma maneira
de avaliar estes fatores de forma rápida e que pode
ser um material a ser utilizado durante os treina-
mentos e competições. Além disso, não deve ser
utilizado, por exemplo, como um instrumento de
seleção de atletas, ou para os considerar aptos para
uma partida ou competição.

100
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINA 100 – Figura 7 - Exemplo de Perfil Iceberg descrito por Morgan (1979)

INÍCIO DESCRIÇÃO – A figura 7 refere-se o Exemplo de perfil Iceberg descrito por Morgan
(1979). A imagem consiste em um gráfico em que no eixo X as informações são: TENSÃO,
DEPRESSÃO, RAIVA, VIGOR, FADIGA e CONFUSÃO. No eixo Y nomeado ESCORE T (50% =
média da população): 35, 40, 45, 50, 55, 60 e 65. A legenda é: linha fina para Remadores,
linha tracejada para Lutadores e linha grossa para Corredores. A linha tracejada inicia
pouco acima de 40 em tensão até depressão, onde sobe até pouco mais de 60 em vigor, e
desce até fadiga em pouco mais de 40 e desce até confusão entre 35 e 40. A linha fina inicia
pouco acima de 40 em tensão até depressão e sobe até pouco mais de 45 em raiva, volta
a subir até 55 em vigor e desce até 45 em fadiga, finalizando entre 40 e 45 em confusão.
A linha grossa inicia em 45 em tensão e desce para depressão entre 40 e 44, sobe até raiva
próximo de 50 e sobe até vigor entre 55 e 60, onde desce para fadiga em 45 e se mantém
até confusão. FIM DESCRIÇÃO.
considerações finais

Nossa Unidade III chega ao fim, e nela abordamos mais alguns elementos que
são considerados, pela literatura, importantes para compreendermos o papel da
Psicologia do Esporte e do Exercício no trabalho com os atletas.
Começamos a Unidade discutindo um pouco sobre uma das variáveis mais
estudadas no contexto esportivo, a Motivação. Como sabemos, sem motivação
não conseguimos alcançar nossos objetivos, e com os atletas não é diferente. O
contexto do esporte é baseado em atingir metas ou, no caso, vencer. É impor-
tante os profissionais que atuam junto aos atletas compreenderem os principais
conceitos que circundam a motivação dos atletas e como ela pode influenciar no
desempenho destes. E isso é importante também para as pessoas que praticam
alguma atividade física ou algum exercício com o objetivo de alcançar melhor
qualidade de vida.
Não é apenas a motivação, no entanto, que se torna importante neste cenário,
outras características psicológicas também funcionam como uma mola propul-
sora da busca pelo desempenho. Autoconfiança e expectativas positivas de de-
sempenho são fundamentais para a caminhada rumo ao sucesso. A pessoa que
consegue desenvolver a autoconfiança apresenta também um pensamento mais
propício para que as atividades diárias sejam mais prazerosas e possam, inclusive,
desenvolver o sentimento de paixão e felicidade na atividade.
Por isso, é importante que as habilidades psicológicas sejam trabalhadas no
dia a dia dos atletas. Quanto mais habilidade de controlar as emoções os atle-
tas apresentarem, melhor eles saberão lidar com elas em momentos de tensão
e estresse. Por isso, é importante conhecer a si mesmo e desenvolver também a
habilidade de controlar o humor, bem como os seus fatores envolvidos. Uma pes-
soa com boa capacidade de controlar suas emoções reconhece que há momentos
bons e momentos ruins, que isso é normal para todos, a diferença está em saber
como lidar com esta oscilação das emoções. Controle é muito importante.

101
atividades de estudo

1. De acordo com a Teoria da Autodeterminação, a 2. Estresse, ansiedade e medo são algumas emo-
motivação pode ser considerada a partir de duas ções que ocorrem em todos os seres humanos.
fontes: uma extrínseca e outra intrínseca. Sabe- O medo, assim como outras emoções primárias,
-se, também, que não apenas no esporte com- tem a função de “avisar” o organismo sobre pos-
petitivo, mas, nas práticas diárias, a motivação é síveis perigos que venham a ocorrer. Ele é bené-
fundamental para alcançar o objetivo proposto fico e saudável, mas, quando se torna excessivo,
(DECI; RYAN, 1985). A partir do que se sabe sobre pode se transformar em um transtorno psicoló-
a Teoria da Autodeterminação, assinale a alter- gico e prejudicar o desempenho de atletas. So-
nativa correta quanto à Motivação Intrínseca de bre o medo, assinale a alternativa correta:
Experiências Estimulantes: a) O medo é uma das principais emoções ne-
a) Ocorre quando o indivíduo regulariza, en- gativas que um atleta pode sentir, o que
tão, seu comportamento com o objetivo pode, em algumas situações, destruir a
de obter uma recompensa, ou evitar uma harmonia psíquica do indivíduo.
punição. A fonte de controle é perseguida b) Sentir medo não tem a ver com fatores cul-
pelo indivíduo como sendo completamen- turais, educacionais e sociais, por isso se
te externa a ele. torna fácil interpretar seus motivos.
b) Ocorre quando o indivíduo identifica-se c) Admitir que está com medo é fácil para
com as consequências (ex: sensação de atletas em geral, pelo fato de ser inerente
estar mais em forma) e ao comportamento a todos os seres humanos.
(ex: praticar uma atividade física).
d) A atenção e a velocidade de reação dimi-
c) É representada por muitos conceitos, tais nuem quando um atleta está com medo.
como a exploração, a curiosidade, os obje-
tivos intrínsecos de aprender, a motivação e) Técnicos e dirigentes proíbem seus atletas
intrínseca intelectual, a motivação intrínse- de sentirem medo em competições.
ca de aprender.
3. O Treinamento de Habilidades Psicológicas é
d) Ocorre quando uma pessoa faz uma ati- importante tanto para atletas de esportes indi-
vidade pelo simples prazer, sem objeti- viduais quanto coletivos. Sobre o THP, analise as
vo aparente (nem para aprender, nem afirmativas a seguir.
por realizar qualquer coisa), se não por
I - É preciso desenvolver programas de acon-
apreciar a atividade; ter o prazer e sentir
selhamento psicológico individualizado
sensações prazerosas representam, pro-
com atletas para que estes possam lidar
vavelmente, a sensação mais pura de mo-
melhor com a sobrecarga emocional cau-
tivação intrínseca.
sada pelas altas exigências do esporte.
e) Ocorre quando uma pessoa sente-se moti-
II - É importante identificar níveis de ansieda-
vada quando faz uma atividade pelo prazer
de e estresse, e o atleta precisa aprender
e pela satisfação que sente quando a reali-
a se automonitorar e, assim, direcionar ati-
za, cria qualquer coisa ou, ainda, tenta um
vidades específicas que visem a auxiliar os
desafio difícil.
atletas a manejar a ansiedade e o estresse
em situações preparatórias e competitivas.

102
atividades de estudo

III - Tanto atletas quanto comissão técnica c) Experiência: quanto maior o tempo de
devem trabalhar em conjunto para que prática, menor será a ansiedade do atleta
os programas de manejo de estresse, de frente às situações importantes. A vivência
coesão de grupo e promoção da saúde e no esporte faz com que a ansiedade dimi-
bem-estar funcionem. nua.

Assinale a alternativa correta. d) Tipos de Esporte: os esportes individuais


tendem a provocar menos ansiedade nos
a) Apenas a afirmativa I está correta.
atletas.
b) Apenas a afirmativa II está correta.
e) Características da situação: quanto mais
c) Apenas a afirmativa III está correta. complexa a situação, menor será a mani-
festação da ansiedade no atleta.
d) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas. 5. Assim como a ansiedade, o estresse e o medo, a
ativação tem uma influência direta no desempe-
4. A partir de estudos, Weinberg e Gould (2017) nho dos atletas. Por isso, autores como Weinberg
definem ansiedade como um estado emocional e Gould (2017) trabalham com o objetivo de fa-
caracterizado por nervosismo, preocupação e zer com que os atletas compreendam o que
apreensão, associada à ativação ou à agitação do chamam de estado ótimo de ativação. Assinale
corpo. A ansiedade pode ser um dos fatores que a alternativa correta sobre o que se entende por
afetam o desempenho de atletas tanto nas com- estado ótimo de ativação:
petições quanto nos treinamentos, dependendo
a) Um estado emocional negativo com sen-
da fase em que a equipe ou o atleta se encontra.
timentos de nervosismo, preocupação e
Além disso, o tipo de esporte pode também ser apreensão.
um fator característico para se observar as mani-
b) Estado emocional temporário, em constan-
festações da ansiedade no atleta. Sendo assim,
te variação, com sentimentos de apreen-
assinale a alternativa que contenha a descrição
são e tensão conscientemente percebidos.
correta de como os fatores sexo, idade, experiên-
cia, tipo de esporte e características da situação c) Tendência comportamental de perceber
estão relacionados com a ansiedade. como ameaçadoras circunstâncias que,
objetivamente, não são perigosas.
a) Sexo: indivíduos do sexo feminino apre-
sentam nível de ansiedade com traço infe- d) É um estado de desequilíbrio substancial
rior aos indivíduos do sexo masculino. entre as demandas físicas e psicológicas
impostas pela competição.
b) Idade: a ansiedade apresenta um aumen-
to de intensidade desde a fase da adoles- e) É uma preparação fisiológica e psicológica
cência até a terceira idade, ou seja, a últi- geral, variando em um continuum de sono
ma fase de desenvolvimento é o período profundo e uma intensa agitação.
de vida em que o ser humano se encontra
com maiores níveis de ansiedade.

103
LEITURA
COMPLEMENTAR

Os aspectos psicológicos no contexto esportivo devem ser considerados em todos os


esportes, independentemente de suas características. Ajudar os atletas a regularem sua
mente, visando ao sucesso esportivo de maneira saudável é fundamental para que haja
continuidade de sua carreira e também após o término da carreira, o que não é tão simples
assim. A Psicologia Esportiva refere-se a aspectos psicológicos que são estudados, com-
preendidos e aplicados no contexto do esporte de rendimento e da atividade física, tendo
como função colaborar com os praticantes para melhorar seu desempenho profissional ou
apenas pela Promoção da Saúde.
Ao avaliar e analisar os efeitos do esporte no seu praticante, a Psicologia pode contri-
buir para que este seja capaz de melhorar suas habilidades e alcançar novos objetivos
(WEINBERG; GOULD, 2008). Não raro, é possível encontrar estudos que destacam o quanto
os aspectos psicológicos determinam, direta ou indiretamente, o comportamento de atle-
tas de rendimento. Isso se dá pela especificidade do contexto em que os atletas são subme-
tidos à constante pressão de uma competição (DESCHAMPS; DE ROSE JR., 2000).
Esta influência, no entanto, é específica a cada modalidade em questão, por fatores relati-
vos à rotina de treinos, período de competição, preparação e pós competição. As alterações
psicológicas e comportamentais que ocorrem com os atletas influenciam o seu desempe-
nho individual e também do grupo quando se trata de esportes coletivos. Este é um dos
fatores importantes de serem analisados à medida que se torna possível detectar estas
mudanças.
Nos dias atuais, o esporte de alto nível está muito equilibrado no que se refere ao preparo
físico, técnico e tático, sendo o fator psicológico fundamental na diferença entre um vence-
dor e um perdedor. A capacidade de um atleta manter a estabilidade emocional colabora
com seu potencial de alcance de metas, prevenindo, inclusive, que pensamentos negativos
e incapacitantes invadam sua mente, prejudicando seu desempenho.

Fonte: Oliveira (2016).

104
material complementar

Indicação para Ler

Guga, um brasileiro
Gustavo Kuerten
Editora: Sextante
Sinopse: é em junho de 1997 que Gustavo Kuerten inicia a maior virada de sua
vida. O palco é Roland Garros, o torneio de tênis mais charmoso do mundo. Como
personagem inicialmente coadjuvante e depois protagonista, o desconhecido ca-
beludo, surfista e boa-praça iria abalar as tradições do esporte refinado e entrar
para a história mundial do tênis e do esporte brasileiro.
Mas sua trajetória brilhante rumo ao topo do ranking tem início muito antes,
quando ainda era criança em Florianópolis, onde seria preparado pela família,
pelas tragédias e por um treinador que esteve ao seu lado em todos os grandes
momentos.
Em um relato absolutamente sincero, empolgante e emocionante, Guga revela,
por meio de seus sentimentos, as passagens mais marcantes de sua vida. Ele des-
creve as memórias de sua infância e adolescência com o mesmo estilo modesto e
divertido que o caracteriza como jogador.
A forte base familiar, a inspiração no pai, a admiração pelo irmão tenista, o apoio
irrestrito da mãe, a paixão pelo irmão caçula e a confiança inabalável do treinador
são peças fundamentais em sua história, a base que o levou a superar a falta de
incentivo, a descrença em si mesmo e os adversários mais temidos de sua época.
Essa jornada sem igual, passando pelos torneios juvenis e profissionais, o tricam-
peonato de Roland Garros, a chegada ao topo do ranking mundial, entre outras
conquistas, é contada a partir da visão única do menino que nasceu para ser cam-
peão e cativou o coração de todos os brasileiros.

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referências

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108
gabarito

1. D
2. A
3. E
4. C
5. E

109
ELEMENTOS DE GRUPO E O
CONTEXTO ESPORTIVO

Professor Dr. Leonardo Pestillo de Oliveira

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Como são formados os grupos: coesão
• Liderança no esporte
• Comunicação no esporte
• Competição e cooperação: do início da carreira esportiva à
profissionalização

Objetivos de Aprendizagem
• Caracterizar o contexto do esporte coletivo e como
algumas variáveis podem ajudar, ou prejudicar, a coesão
de grupo.
• Descrever as características de um líder e sua influência no
rendimento esportivo.
• Compreender como a comunicação é um ponto importante
no contexto esportivo, suas qualidades e ruídos.
• Apresentar como a competição e a cooperação podem
facilitar o desempenho esportivo desde a infância.
unidade

IV
INTRODUÇÃO

S
eja bem-vindo(a) à Unidade IV da nossa disciplina de Psicolo-
gia do Esporte e do Exercício. Iniciaremos, neste momento, uma
discussão acerca de algumas características que são importan-
tes para pensarmos no contexto esportivo e que envolvem as
relações humanas.
Após verificarmos as variáveis individuais que influenciam o desem-
penho esportivo e também a prática de atividades físicas, falaremos so-
bre elementos de grupo. O primeiro ponto a ser discutido é justamente a
coesão, elemento dos mais importantes quando se trata de trabalho em
equipe, pois o trabalho que depende do esforço e da colaboração de todos
precisa ser trabalhado diariamente.
Uma figura que influencia diretamente na coesão de grupo é o líder, o
sujeito responsável por orientar e estabelecer determinados planos de traba-
lho para a equipe. O estilo de liderança exerce influência direta sobre o com-
portamento dos atletas e, consequentemente, no desempenho da equipe.
Mas a liderança também precisa ser pensada nos esportes individuais, em
que a relação se torna mais próxima e também sofre com outras variáveis.
Tanto para uma equipe esportiva ter sucesso quanto para o líder da
equipe ter influência positiva sobre os atletas, é preciso estabelecer ca-
nais de comunicação satisfatórios. Falar apenas não basta, é preciso saber
falar, assim como é preciso saber ouvir. Estas são apenas algumas carac-
terísticas que devemos pensar quando estabelecermos canais de comuni-
cação. Veremos como esse processo funciona e quais suas influências no
desempenho dos atletas.
Para finalizar a Unidade IV, abordaremos um tema complexo, princi-
palmente quando se trata de esporte infantil: a competição esportiva. Há
divergência sobre os riscos e benefícios que a competição pode trazer às
crianças, e discutiremos algumas destas divergências. Abordaremos algumas
características envolvidas no contexto competitivo e também qual o papel da
cooperação entre pares durante o processo de desenvolvimento da carreira.
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Como são Formados os Grupos:


Coesão
Vamos nos concentrar, neste momento, nos pro- Todas as variáveis psicológicas voltadas para o
cessos grupais. Mesmo os esportes individuais são indivíduo, como a personalidade, a motivação, o hu-
compostos por equipes que passam grande parte mor, entre outras precisam também ser trabalhadas
do tempo treinando em grupos. A maioria dos téc- no grupo. Imaginem um grupo de atletas que traba-
nicos, professores e demais instrutores trabalham, lham diariamente em busca de um mesmo objetivo
diariamente, com grupos, o que torna este tópico e cada um tem um objetivo, cada um tem uma mo-
importante para tratarmos de alguns elementos que tivação específica e não consegue exatamente traba-
compõem o trabalho de uma equipe. lhar estas variáveis de forma conjunta. Isso dificulta

114
EDUCAÇÃO FÍSICA

muito o alcance das metas que foram delimitadas no a coesão como elemento multidimensional e tam-
início do trabalho. bém acrescenta dois fatores principais, a coesão para
Uma das estratégias utilizadas por técnicos a tarefa e a coesão social.
de sucesso é, já no início da temporada, assegurar Quando nos referimos à coesão para a tarefa,
que todos os seus jogadores se ajustem ao conceito temos em mente que significa o quanto os mem-
de equipe e apoiem uns aos outros (WEINBERG; bros de um grupo trabalham juntos em função
GOULD, 2017). Mas, claro, a coesão de equipe não de objetivos comuns, neste caso, a conquista
é o único fator que pode levar ao sucesso, há outros de títulos e vitórias. Já a coesão social reflete o
fatores envolvidos no processo. Há exemplos de quanto os membros desta equipe gostam uns dos
equipes que apresentam resultados positivos mesmo outros e também gostam de permanecer na com-
com uma aparente falta de coesão. panhia desses mesmos membros (NASCIMEN-
Uma das primeiras definições de coesão foi re- TO JUNIOR; VIEIRA, 2013).
alizada por Festinger, Schacter e Back, em 1950, Do ponto de vista teórico, o ideal seria que uma
delimitando que ela seria um campo composto por equipe refletisse os dois tipos de coesão de forma
forças que agem para que os membros permaneçam satisfatória e elevada. Mas nem sempre isso ocorre,
no grupo (CARRON et al., 2002). Estas forças se- pois, como Weinberg e Gould (2017) relatam, diver-
riam definidas como: a) a atratividade do grupo e b) sas equipes obtiveram resultados importantes, mas
o controle dos meios. com problemas de coesão. Um exemplo disso foi a
A atratividade do grupo é um elemento que se equipe do Los Angeles Lakers, no início dos anos
expressa no desejo de um indivíduo ter interações 2000, em que havia baixa coesão social, exemplifi-
interpessoais com outros membros do grupo e de cada por discussões, brigas e comportamentos de
se envolver nas atividades deste grupo. Já o con- subgrupos. Mesmo com estes problemas, a coesão
trole dos meios refere-se aos benefícios que um para a tarefa era tão alta que supria a deficiência da
indivíduo pode obter ao fazer parte de um grupo coesão social, pois mesmo que atletas como Kobe
(WEINBERG; GOULD, 2017). Bryant e Shaquille O’Neal não se entendessem fora
Mais recentemente, Carron, Brawley e Widmeyer de quadra, dividiam o mesmo objetivo de vitória, re-
(1998) trouxeram outra definição mais abrangente, sultando em títulos.
em que a coesão é considerada um processo dinâmi- Para compreender melhor esta discussão, Car-
co que se reflete na tendência de um grupo unir-se e ron (1982) desenvolveu um modelo conceitual (Fi-
permanecer unido, sempre em busca de objetivos e/ gura 1) que auxilia na compreensão de como há di-
ou para satisfazer as necessidades afetivas dos mem- versos fatores envolvidos neste processo de coesão
bros deste grupo. Esta definição leva a compreender de uma equipe.

115
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

A ideia do modelo é demonstrar que há 4 FATORES DE LIDERANÇA


fatores principais que afetam diretamente o Todo grupo precisa de uma liderança asser-
desenvolvimento da coesão: tiva, e com isso este é um dos fatores con-
1. Fatores Ambientais siderados importantes para a manutenção
2. Fatores Pessoais da coesão de grupo. Elementos como uma
3. Fatores de Liderança boa comunicação entre técnicos e atletas in-
4. Fatores de Equipe. fluencia significativamente na coesão (CAS-
TELLANI, 2012). Assim como características
negativas de um técnico, podem afetar ne-
gativamente a coesão.
FATORES AMBIENTAIS
São considerados os fatores mais gerais e
envolvem as normas que mantêm um gru-
po unido. Entre estas normas pode-se citar FATORES DE EQUIPE
os contratos com empresários, bolsas de Por fim, há elementos como as normas de
estudo e até as expectativas que a família produtividade do grupo, os papéis desen-
tem sobre o futuro deste atleta. Estes ele- volvidos pelos atletas e a estabilidade da
mentos podem manter um grupo unido equipe que podem influenciar a coesão. As
pois às vezes limitam as escolhas de quais pesquisas têm mostrado que equipes que
grupos gostaria de fazer parte (NASCIMEN- permanecem unidas por longo tempo ten-
TO JUNIOR; VIEIRA, 2013). dem a apresentar níveis elevados de coesão
de grupo. Mesmo as derrotas e fracassos,
quando compartilhados entre os membros
do grupo, podem ser importantes para a
FATORES PESSOAIS
manutenção da coesão pois demonstra a
Os fatores pessoais referem-se às carac- união entre os membros (CARRON et al.,
terísticas individuais que cada membro do 2002).
grupo apresenta. Há características que
se assemelham, mas também característi-
cas que são muito diferentes mas há de se
considerar que a satisfação pessoal é uma
das características mais importantes para a
manutenção da coesão (CARRON; DENNIS,
2001). Há diversos benefícios pessoais que
podem surgir e estão relacionados à coesão
como por exemplo a paixão, a autoeficácia
e níveis menores de ansiedade e depressão
(PARADIS; MARTIN; CARRON, 2012).

116
EDUCAÇÃO FÍSICA

Fatores Abientais
• Responsabilidade contratual
• Orientação organizacional

Fatores Pessoais Fatores de Liderança


• Orientação individual • Comportamento de liderança
• Satisfação • Estilo de liderança
• Diferenças individuais • Personalidade dos técnicos e atletas

Fatores de Equipe
• Tarefa do grupo
• Desejo por sucesso do grupo
• Capacidade de equipe
• Estabilidade da equipe

Coesão
• Relacionada à tarefa
• Coesão Social

Resultados de grupo Resultados individuais


• Estabilidade de equipe • Consequências compartamentais
• Efetividade absoluta e relativa do desempenho • Efetividade absoluta e relativa do desempenho
• Satisfação
Figura 1 - Modelo conceitual de coesão esportiva
Fonte: adaptada de Carron (1982-X).

Altos níveis de coesão de grupo podem também aumentar o desempenho pois podem produzir
aumento do esforço dos envolvidos no grupo. Mas nem sempre isso é fácil, pois em alguns casos
os objetivos são traçados para o grupo como um todo, e buscar objetivos comuns esbarra em ca-
racterísticas individuais, como já vimos. As metas dos grupos não são resultado da soma das metas
individuais. Por isso, uma liderança com características positivas (comunicação efetiva e aberta)
para a manutenção da coesão se torna importante, levando os atletas a se envolverem no processo
e gerando possíveis resultados positivos.

117
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINA 117 – Figura 1 - Modelo conceitual de coesão esportiva

INÍCIO DESCRIÇÃO – A figura 1 refere-se Modelo conceitual de coesão esportiva, iniciando


pelos Fatores Ambientais: Responsabilidades contratual e Orientação organizacional.
Fatores ambientais se divide em Fatores Pessoais: Orientação individual, Satisfação e
Diferenças individuais; Fatores de Liderança: Comportamento de liderança, Estilo de
liderança e Personalidade dos técnicos e atletas; e Fatores de Equipe: Tarefas do grupo,
Desejo por sucesso do grupo, Capacidade de equipe, Estabilidade da equipe; Coesão:
Relacionada à tarefa e Coesão Social. Fatores de Equipe e Coesão se divide em Resultados
de grupo: Estabilidade de equipe e Efetividade absoluta e relativa do desempenho; e
Resultados individuais: Consequências comportamentais, Efetividade absoluta e relativa
do desempenho e Satisfação. FIM DESCRIÇÃO
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Liderança no Esporte

118
EDUCAÇÃO FÍSICA

O sucesso de um atleta perpassa diversos elementos, cologia Organizacional, porém com algumas dife-
entre eles a qualidade da liderança. Principalmente no renças quanto às definições. São várias também as
esporte infantil, o técnico e/ou professor deve ensinar definições de liderança, pois cada autor conceitua de
a seus atletas quando é apropriado competir e quando acordo com sua perspectiva teórica, autores diferen-
é apropriado cooperar (WEINBERG; GOULD, 2017). tes apresentam definições diferentes (NOCE; COS-
Seja no esporte coletivo, seja no individual, o TA; LOPES, 2009).
desempenho só será positivo frente a uma liderança Northouse (2010) define liderança como um
eficaz, com boa qualidade de comunicação e com es- processo pelo qual uma pessoa exerce influência
tilos de liderança sob uma perspectiva multidimen- sobre um grupo ou uma outra pessoa para que
sional. É preciso pensar, ainda, sobre a liderança que este alcance um determinado objetivo. No contex-
ocorre entre os próprios atletas. Não apenas técni- to esportivo, pensar em liderança é pensar em um
cos, mas também atletas são considerados grandes elemento multidimensional, em que as ações de
líderes, mesmo que aos olhos do público isso não um líder visam a tomar decisões, motivar os par-
seja tão visível. ticipantes do processo e oferecer feedback cons-
As discussões sobre liderança no contexto es- trutivo, o que visa também a mais qualidade nas
portivo tiveram base nos modelos teóricos da Psi- relações interpessoais.

119
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Pensando na questão multidimensional de lide- deste modelo é que a eficiência do líder esportivo
rança, Chelladurai (2007) desenvolveu um mo- é variável, e depende das características dos atle-
delo especificamente para a atividade física e o tas e dos limites impostos pela situação. A repre-
esporte, chamado Modelo Multidimensional de sentação gráfica deste modelo pode ser observada
Liderança no Esporte. A principal característica na Figura 2.

Antecedentes Comportamento do líder Consequências


1 4
Características situacionais Comportamento requerido

2 5 7
Características do líder Comportamento real Desempenho e satisfação

3 6
Características dos membros Comportamento preferido

Figura 2 - O modelo multidimensional de liderança no esporte


Fonte: Chelladurai (2007).

De acordo com este modelo, o objetivo final é levar o quada ao que a situação exige, e estes comportamen-
atleta à satisfação e ao desempenho positivo. Mas es- tos são, ao mesmo tempo, ajustados às preferências
tas consequências dependem de alguns antecedentes dos membros do grupo. Se estas três características
que são a situação, o líder e os membros da equipe do líder estão de acordo, e o resultado da equipe/
(Características situacionais, Características do líder atleta foram positivos, é provável que estes atletas
e Características dos membros), que levam a três ti- sintam-se satisfeitos (CHELLADURAI, 2007).
pos de comportamento do líder: o comportamento Este modelo multidimensional de liderança no
requerido pela situação, o comportamento real, ba- esporte foi, ao longo dos anos, utilizado por mui-
seado nas características próprias do líder, e o com- tos profissionais inseridos no contexto e também foi
portamento preferido, baseado nas características assunto de diversos trabalhos científicos. Tanto que
preferidas pelos membros da equipe (WEINBERG; a Escala de Liderança Esportiva (CHELLADURAI;
GOULD, 2017). RIEMER, 1998) foi desenvolvida para medir com-
Quando uma equipe ou um atleta alcança um portamentos de liderança, incluindo as preferências
resultado positivo, é possível que os três aspectos do dos atletas por comportamentos específicos. Esta es-
comportamento do líder estejam de acordo. É um cala avalia cinco dimensões que são relacionadas ao
cenário em que o líder se comporta de maneira ade- processo de liderança no esporte. São elas:

120
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINA 120 – Figura 2 - O modelo multidimensional de liderança no esporte

INÍCIO DESCRIÇÃO – A figura 2 refere-se o modelo multidimensional de liderança no


esporte. A imagem se divide em três partes, a primeira Antecedentes com as informações:
1ª Características situacionais, 2ª Características do líder e 3ª Características dos membros.
Na segunda parte Comportamento do líder: 4ª Comportamento requerido, 5ª
Comportamento real e 6ª Comportamento preferido. A última parte Consequências: 7ª
Desempenho e satisfação. O 1ª Características situacionais e 3ª Características dos
membros apontam para 4ª Comportamento requerido e 6ª Comportamento preferido. O
2ª Características do líder aponta para 5ª Comportamento real e 5ª Comportamento real
aponta e recebe de 7ª Desempenho e satisfação. FIM DESCRIÇÃO.
EDUCAÇÃO FÍSICA

1. Comportamento treino-instrução mente, os atletas como consequência


(comportamentos instrutivos): são de um comportamento positivo, um
características do técnico que se tradu- bom desempenho, por exemplo. Este
zem em comportamento instrutivo para comportamento depende do desempe-
tentar melhorar o desempenho dos nho e é mais específico e voltado ao de-
atletas. São instruções técnicas sobre sempenho esportivo.
habilidades, técnicas e estratégias. 4. Comportamento democrático: com-
2. Comportamento de apoio social: com- portamento do técnico que visa a ga-
portamento do técnico que visa ao bem- rantir que os atletas participem das
-estar dos atletas e tenta estabelecer decisões sobre as metas do grupo, mé-
um relacionamento afetuoso entre eles. todos de treino e estratégias que serão
Este apoio social independe do desem- traçadas.
penho dos atletas e ultrapassa as fron- 5. Comportamento autocrático: compor-
teiras do esporte, é um olhar também tamento do técnico que visa a tomar de-
para as questões pessoais do atleta. cisões de forma individual, independen-
3. Comportamento de feedback positi- temente da opinião dos atletas. É um
vo: comportamento do técnico que visa comportamento que enfatiza a autorida-
a elogiar ou recompensar, consistente- de ao colocar em prática suas decisões.

Estes estilos de liderança descritos são importantes, técnicos e atletas trabalham juntos e, geralmente,
pois não definem exatamente o que um técnico deve por um longo tempo, em uma relação de dependên-
fazer, ou deixar de fazer, para ser um grande líder. cia mútua (LORIMER; JOWETT, 2014).
Não há combinação perfeita de comportamentos Um líder deve estimular seus atletas para que
para isso, o ideal é que os comportamentos do téc- desenvolvam características desejáveis dentro do
nico sejam ajustados às preferências dos membros contexto esportivo e fora dele. Isso poderá transfor-
e às necessidades da situação, o que pode gerar um má-lo em um líder no futuro. Diversas característi-
ótimo desempenho e maior satisfação dos atletas cas foram descritas aqui que podem ajudar os atletas
(CHELLADURAI, 2014). a alcançarem um desempenho desejável. Empatia,
O desafio de um líder é justamente determinar comunicação efetiva, flexibilidade quanto aos estilos
qual estilo deverá se ajustar melhor às circunstâncias de liderança e saber emitir feedback possibilitam ao
para que, assim, possa adaptar seu estilo dominan- líder alcançar junto com os atletas a satisfação dos
te a uma situação específica. No contexto esportivo, resultados atingidos.

121
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Comunicação no Esporte

Os estudos que se debruçam nas temáticas discu- Já do ponto de vista da liderança, a comunicação
tidas anteriormente, a saber, a coesão de grupo e afetiva e aberta pode melhorar a coesão de grupo e
a liderança, trabalham com um elemento em co- ter impacto direto no desempenho. Boas habilidades
mum, que facilita a união do grupo e, também, o de comunicação figuram entre os aspectos mais im-
desenvolvimento de uma liderança saudável e as- portantes que contribuem para um desempenho no
sertiva. Estamos falando da comunicação. Quando contexto esportivo e também para um crescimento
se pretende, por exemplo, mudar as características pessoal para participantes de esportes e atividades
de uma equipe, não há elemento que substitua um físicas (WEINBERG; GOULD, 2017). Mas não é tão
canal de comunicação para que todos os elementos simples assim estabelecermos canais de comunica-
sejam esclarecidos. ção adequados.

122
EDUCAÇÃO FÍSICA

Um dos problemas mais comuns na comuni- Este modelo apresentado na Figura 3 é muito utili-
cação é o quanto as pessoas esperam que os outros zado para se compreender como as pessoas se co-
leiam suas mentes, compreendam o que elas querem municam. No entanto, é preciso pensar que a co-
dizer sem ao menos emitir um mínimo de informa- municação pode ser compreendida de duas formas.
ções suficientes para serem compreendidas (SERPA, A primeira delas é o que se conhece por Comuni-
2002). Isso é o que os pesquisadores chamam de cação Interpessoal, que ocorre, geralmente, quan-
rupturas do processo de comunicação, e esta inefi- do envolve, ao menos, duas pessoas. A segunda é
ciência na comunicação pode gerar efeitos negati- chamada de Comunicação Intrapessoal, que é a
vos nas relações que são estabelecidas (WEINBERG; comunicação que a pessoa tem com ela mesma, co-
GOULD, 2017). nhecida também como diálogo interior (SAMUL-
Martens (1987) descreve que a comunicação SKI; LOPES, 2009).
ocorre segundo um processo básico, que pode A Comunicação Interpessoal é a mais comum
ser dividido em cinco passos. O primeiro passo de ser observada e é a referência que temos quan-
(1) é a decisão pessoal de enviar uma mensagem; do se fala em comunicação. Uma pessoa envia uma
em seguida, (2) esta mesma pessoa codifica-a, ou mensagem, a outra recebe e interpreta, mas, nes-
seja, transforma os pensamentos em uma mensa- te processo, muitas vezes, ocorrem distorções do
gem que possa ser interpretada; após codificá-la, a conteúdo enviado, é mal interpretada, o que pode
transmite (3) para um receptor. Essa transmissão, gerar alguns problemas. A comunicação não verbal
geralmente, é feita por meio de palavras, mas tam- é um fator importante neste tipo de comunicação,
bém pode ser não verbal. Ocorre, então, a recep- e, no contexto esportivo, muitas vezes, os compor-
ção (4) dessa mensagem, que é interpretada pelo tamentos não verbais dos adversários podem in-
receptor e, em seguida, ocorre uma resposta inter- fluenciar nas expectativas de resultados dos atletas
na, baseada em emoções (interesse, raiva ou alívio (BUSCOMBE et al., 2006).
pela mensagem). Esses passos podem ser observa- Todos conversam consigo mesmos, portan-
dos na Figura 3: to, a Comunicação Intrapessoal é mais comum do
que imaginamos, além de ser muito importante.
Decisão de enviar Resposta interna do Essa comunicação interna ajuda a pessoa a mode-
uma mensagem receptor à mensagem
lar e a prever com ela age e se comporta. Quanto
mais positiva essa comunicação interna, maiores as
chances de influenciar, por exemplo, a motivação da
Traduz pensamentos Receptor interpreta a
em uma mensagem mensagem pessoa para a prática de exercícios e também atle-
tas a continuarem na busca por melhores resultados
(WEINBERG; GOULD, 2017).
Mensagem canalizada Há algumas diretrizes que podem ser utilizadas
(verbal e não verbal)
para que o processo de comunicação seja mais eficaz
Figura 3 - Etapas do Processo de Comunicação
(MARTENS, 1987). Algumas dessas diretrizes po-
Fonte: adaptada de Martens (1987). dem ser observadas no Quadro 1:

123
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINA 123 – Figura 3 - Etapas do Processo de Comunicação

INÍCIO DESCRIÇÃO – A figura 3 refere-se as etapas do processo de comunicação, com cinco


quadros com informações, iniciando por Decisão de enviar uma mensagem, Traduz
pensamentos em uma mensagem, Mensagem canalizada (verbal e não verbal), Receptor
interpreta a mensagem, Resposta interna do receptor à mensagem. FIM DESCRIÇÃO.
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Diretrizes Descrição das diretrizes

Não espere que as pessoas descubram o que se passa na sua mente. Enviar a mensa-
Ser direto
gem indiretamente causa interpretações equivocadas.
Se você está emitindo uma mensagem, seja claro e diga “eu”. O que você diz, é o que
Ser dono de sua men-
você acredita. Não use outras pessoas para se proteger. Evite dizer “a equipe acha...”,
sagem
“a maioria acha”.
Ser completo e espe- Forneça todas as informações que o outro precisa receber para compreender sua
cífico mensagem.
Evite mensagens duplas, pois emitem significados contraditórios, causam confusão.
Ser claro e consistente
Um técnico precisa ser claro ao dizer os motivos pelos quais está escalando um atleta.
Expresse suas neces-
Os relacionamentos íntimos precisam ser baseados na confiança, e compartilhar sen-
sidades e sentimentos
timentos é importante para um grupo de pessoas que buscam os mesmos objetivos.
claramente
Não envie mensagens baseadas em ameaças, sarcasmo ou julgamentos. Isso pode
Demonstre apoio
gerar falta de interesse do receptor quanto à mensagem.
Repita (com cautela) os pontos importantes para reforçar o que pretende que as pes-
Reforce com repetição
soas entendam sobre o que está querendo dizer.
Adeque a mensagem Saiba com quem está falando para que sua mensagem possa ser adaptada e melhor
ao receptor compreendida pelo receptor. O vocabulário utilizado é importante neste processo.

Quadro 1 - Diretrizes para o envio de mensagens verbais e não verbais eficazes


Fonte: Martens (1987).

Mesmo que uma pessoa utilize estratégias para se e amanhã já mudam de ideia e dizem algo oposto ao já
comunicar melhor, há sempre alguns ruídos que dito. Mas o receptor também pode ser responsável pe-
ocorrem neste processo. A comunicação eletrônica las falhas de comunicação ao interpretar, erroneamen-
facilita e melhora a rapidez da comunicação, mas te, uma mensagem, ou quando “deixam de escutar”.
não impede que ela seja ineficiente em alguns as- Pode-se considerar três níveis de escuta: Nível 1:
pectos. Alguns pontos são importantes de se com- escuta ativa, que denota a forma correta de se escutar
preender quando falamos de falhas no processo de uma mensagem; Nível 2: refere-se a escutar apenas
comunicação (WEINBERG; GOULD, 2017). o conteúdo quando ele é dito, gerando, no emissor, a
Uma das falhas mais comuns é a do emissor da sensação de desinteresse do receptor; Nível 3: ocorre
mensagem, que pode ser enviada de forma insatisfató- quando o receptor ouve apenas uma parte da men-
ria. A mensagem também pode ter uma característica sagem, o que leva a não compreender a mensagem
de incoerência, pois algumas pessoas dizem algo hoje correta (SAMULSKI; LOPES, 2009).

124
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINA 124 – Quadro 1 - Diretrizes para o envio de mensagens verbais e não


verbais eficazes

INÍCIO DESCRIÇÃO – O quadro 1 refere-se as diretrizes para o envio de mensagens verbais


e não verbais eficazes. O quadro se divide em duas colunas e oito linhas, as colunas
nomeadas de Diretrizes e Descrição das diretrizes.
Ser direito: Não espere que as pessoas descubram o que se passa na sua mente. Enviar a
mensagem indiretamente causa interpretações equivocadas.
Ser dono de sua mensagem: Se você está emitindo uma mensagem, seja claro e diga “eu”.
O que você diz, é o que você acredita. Não use outras pessoas para se proteger. Evite dizer
“a equipe acha...”, “a maioria acha”.
Ser completo e específico: Forneça todas as informações que o outro precisa receber para
compreender sua mensagem.
Ser claro e consistente: Evite mensagens duplas, pois emitem significados contraditórios,
causam confusão. Um técnico precisa ser claro ao dizer os motivos pelos quais está
escalando um atleta.
Expresse suas necessidades e sentimentos claramente: Os relacionamentos íntimos
precisam ser baseados na confiança, e compartilhar sentimentos é importante para um
grupo de pessoas que buscam os mesmos objetivos.
Demonstre apoio: Não envie mensagens baseadas em ameaças, sarcasmo ou julgamentos.
Isso pode gerar falta de interesse do receptor quanto à mensagem.
Reforce com repetição: Repita (com cautela) os pontos importantes para reforçar o que
pretende que as pessoas entendam sobre o que está querendo dizer.
Adeque a mensagem ao receptor: Saiba com quem está falando para que sua mensagem
possa ser adaptada e melhor compreendida pelo receptor. O vocabulário utilizado é
importante neste processo. FIM DESCRIÇÃO.
EDUCAÇÃO FÍSICA

125
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Competição e Cooperação:
do Início da Carreira Esportiva
à Profissionalização

Toda competição exige dos atletas dedicação e preparo soas com base em seu desempenho comparado ao
específicos para alcançar os objetivos traçados. Preci- de outros indivíduos, realizando a mesma tarefa ou
samos entender quais os efeitos positivos e negativos participando do mesmo evento”.
que a competição e a cooperação causam no contexto O caráter de recompensa é um dos elementos
esportivo. Mas esta compreensão visa, principalmen- de discussão neste contexto, tendo em vista que
te, ao equilíbrio entre estes dois contextos que são im- recompensar alguém por uma vitória significa, au-
portantes para o desenvolvimento do atleta. tomaticamente, alimentar a noção de fracasso de
O que seria, então, competição? Segundo outros atletas ou equipes. Mas nem sempre isso é o
Weinberg e Gould (2017), este termo é utilizado em que ocorre, pois o sucesso pode ser medido também
diversas situações, mas apresentam definições de di- pelo que se conhece por cooperação.
versos outros autores que se concentram em situa- Coakley (1994, p. 79) ainda apresenta a definição
ções nas quais as pessoas competem contra outras, de cooperação como sendo “um processo social por
em atividades físicas organizadas. Coakley (1994, meio do qual o desempenho é avaliado e recompen-
p. 78) define competição como “um processo social sado em termos da realização coletiva de um grupo
que ocorre quando são dadas recompensas às pes- de pessoas que trabalham juntas para alcançar de-

126
EDUCAÇÃO FÍSICA

terminado objetivo”. Este elemento retira a ideia de Martens (1975) descreve que a competição é
um vencedor e preza pela recompensa coletiva, em mais do que apenas um evento isolado, pois envolve
que é compartilhada por todos no grupo, cujo suces- quatro estágios distintos. Estes quatro estágios po-
so depende diretamente da coletividade. dem ser observados a seguir:

Estágio 1 - Situação competitiva obje- Estágio 2 - Situação competitiva sub-


tiva jetiva
Inclui um padrão para comparação (nível Refere-se ao modo como a pessoa
de desempenho passado) e pelo menos percebe, aceita e avalia a situação
uma outra pessoa (desempenho de outra competitiva objetiva. Os antecedentes
pessoa). e os atributos únicos do sujeito passam
a ser importantes. Capacidade percebi-
da, motivação, importância da situação
influenciam a avaliação subjetiva.

Estágio 3 - Resposta Estágio 4 - Consequências


A pessoa avalia a situação e decide en- Resulta da comparação entre a resposta
frentar ou evitar. Se a decisão é de não do atleta e o padrão comparativo. As con-
competir, então a resposta se encerra sequências são, geralmente, vistas como
aqui. Mas se a decisão for competir, pode positivas ou negativas. Mas a percepção
ocorrer no nível comportamental, fisio- que o atleta tem das consequências é
lógico, psicológico ou nos três níveis. As mais importante que o resultado prático.
instalações, o clima, o tempo e a capacida-
de do adversário são algumas influências
externas que podem ocorrer.

Quadro 2 - Estágios do processo competitivo


Fonte: adaptado de Martens (1975).

127
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINA 127 – Quadro 2 - Estágios do processo competitivo

INÍCIO DESCRIÇÃO – O quadro 2 refere-se aos estágios do processo competitivo. Um


desenho de uma prancheta com quatro papeis colados, sendo o primeiro Estágio 1 -
Situação competitiva objetiva: Inclui um padrão para comparação (nível de desempenho
passado) e pelo menos uma outra pessoa (desempenho de outra pessoa). O segundo é
Estágio 2 - Situação competitiva subjetiva: Refere-se ao modo como a pessoa percebe,
aceita e avalia a situação competitiva objetiva. Os antecedentes e os atributos únicos do
sujeito passam a ser importantes. Capacidade percebida, motivação, importância da
situação influenciam a avaliação subjetiva. O terceiro Estágio 3 – Resposta: A pessoa avalia
a situação e decide enfrentar ou evitar. Se a decisão é de não competir, então a resposta
se encerra aqui. Mas se a decisão for competir, pode ocorrer no nível comportamental,
fisiológico, psicológico ou nos três níveis. As instalações, o clima, o tempo e a capacidade
do adversário são algumas influências externas que podem ocorrer. E o quarto papel
Estágio 4 – Consequências: Resulta da comparação entre a resposta do atleta e o padrão
comparativo. As consequências são, geralmente, vistas como positivas ou negativas. Mas
a percepção que o atleta tem das consequências é mais importante que o resultado
prático. FIM DESCRIÇÃO.
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

A percepção que os atletas têm da situação esportiva dos competidores. Mas a competição em si não pro-
é muito importante. E isso só é possível com a ajuda duz o atleta agressivo e hostil. O que determina este
de técnicos, pais e demais profissionais do contex- tipo de comportamento e sentimento é o foco em
to esportivo. Considerando a competição como um fazer qualquer coisa para vencer, mesmo que isso
processo social aprendido e que sofre influência do signifique prejudicar seu adversário (WEINBERG;
ambiente, é preciso pensar nos estágios definidos GOULD, 2017).
por Martens como fundamentais para se compreen- Para os gregos, a competição era um princípio
der o ambiente esportivo. vital, e o sujeito crescia e se desenvolvia imerso em
um espírito criador, um competidor (RUBIO, 2002).
SAIBA MAIS Mas estes fatos ocorrem em casos extremos. Há di-
versas situações esportivas de competição em que os
atletas aprendem a ajudar os companheiros, a traba-
Podemos classificar os técnicos baseando em
cinco estilos principais de tomada de decisão: lharem em conjunto na busca dos mesmos objetivos,
autocrático, autocrático-consultivo, consul- e isso reduz a ênfase dada pelas pressões pela vitória.
tivo-individual, consultivo-grupal e grupal.
Estas características de grupo geram um ambiente
Embora os estilos de decisão autocrático e
consultivo-grupal sejam os preferidos dos social mais positivo e melhoram o desempenho.
treinadores, a escolha do estilo de decisão É importante que as crianças se insiram em am-
mais eficiente depende do técnico e de sua
bientes esportivos competitivos desde cedo, mas a
situação particular.
competição infantil deve ser baseada em práticas
Fonte: Chelladurai e Trail (2001).
pedagógicas, principalmente no contexto educacio-
nal, para que estas atividades gerem a possibilidade
de raciocínio e reflexão sobre o contexto (RUFINO
Todo processo social precisa ser pensado de forma et al., 2016). O esporte competitivo, desde que tra-
específica. Cada estágio apresentado sofre influência balhado de forma educativa com as crianças, possi-
dos demais estágios, dos fatores ambientais exter- bilita a compreensão de que ele pode desenvolver a
nos, e o processo de competição deve conter o papel inclusão, a cooperação e a divisão de tarefas. Nin-
do processo de socialização e o contexto social para guém está sozinho no esporte, e a cooperação entre
determinar a orientação das ações (WEINBERG; os envolvidos é muito importante (TUBINO, 2010).
GOULD, 2017). As atitudes esportivas surgem des- As atividades que são realizadas em cooperação
de idades pouco avançadas na vida do ser humano, tendem a produzir desempenho melhor do que o
e as diferenças naturais que ocorrem, por exemplo, competitivo, no entanto, quando a atividade deve
por conta do sexo, são resultados das questões so- ser realizada com outra pessoa, os resultados são
ciais presentes, e não de questões apenas naturais sempre melhores do que quando trabalham sozi-
(ECCLES; HAROLD, 1991). nhos. Cooke et al. (2011) avaliaram diversas pessoas
O contexto competitivo, em que a ênfase é dada em atividades simples que envolviam alcançar resul-
no processo de vencer e derrotar um adversário, pro- tados em que deveriam dar o melhor de si. Quando
duz a ideia de hostilidade e agressividade por parte realizaram as atividades sozinhas, o resultado foi

128
EDUCAÇÃO FÍSICA

sempre inferior do que quando realizaram as ativi-


dades na presença de outras pessoas, quando envol-
via competição.
A presença de um adversário faz com que as
pessoas se dediquem mais do que quando estão so-
zinhas. Isso pode representar que elas sentem mais
necessidade de esforço quando sua atividade depen-
de de outras pessoas, ou quando outras pessoas de-
pendem de sua colaboração. Por isso, o esporte pode
também levar ao desenvolvimento de uma equipe
cooperativa (FRASER-THOMAS; CÔTÉ, 2006).

REFLITA

Se o treinador enfatizar ao jogador a impor-


tância de sua contribuição para o êxito da
equipe, possivelmente esse jogador fará mais
esforço consistente e ficará envolvido de for-
ma mais pessoal.

(Robert S. Weinberg e Daniel Gould)

O grande desafio é combinar cooperação e competi-


ção, mas é um desafio que tende a beneficiar a todos.
Técnicos, atletas e todos os envolvidos no contexto
esportivo são responsáveis por colaborar com um
ambiente que seja, ao mesmo tempo, competitivo
e cooperativo. A cooperação tende a aumentar o
prazer na realização de uma atividade, melhora a
comunicação e pode, também, produzir resultados
melhores nas competições. Entretanto a cooperação
não precisa substituir a competição, é preciso ter
harmonia entre os dois elementos, pois isso pode
ajudar, principalmente, no desenvolvimento psico-
lógico global dos atletas, e isso é o que mais importa
(WEINBERG; GOULD, 2017).

129
considerações finais

P
rezado(a) aluno(a), chegamos ao final da nossa Unidade IV, em que
nos debruçamos sobre alguns assuntos que dizem respeito, basica-
mente, a situações que envolvem os grupos esportivos. Todos elemen-
tos importantes de serem trabalhados no contexto de modalidades
esportivas coletivas.
Abordamos quatro temáticas e começamos com a que mais se destaca no
contexto do esporte coletivo, a coesão de grupo. É importante perceber que a
coesão está presente em todas as situações que envolvem o esporte coletivo, desde
o início do trabalho até os objetivos serem atingidos. É por meio da coesão que
podemos entender como uma equipe que tem atletas muito talentosos não con-
segue ter um rendimento considerado satisfatório nas competições.
São muitas variáveis envolvidas no processo de formação e desenvolvimento
de um grupo esportivo. Uma delas é a liderança, o papel exercido por uma das
figuras que mais influencia os demais no grupo. O líder pode ter características
desenvolvidas por um técnico ou também por um atleta. Quando falamos em
líderes, não nos referimos apenas à figura do treinador, é preciso pensar nas li-
deranças que surgem entre os próprios atletas, tanto do ponto de vista esportivo
quanto do ponto de vista social. O que nos leva a compreender os dois elementos
da coesão: coesão para a tarefa e coesão social.
Coesão e liderança são dependentes dos processos de comunicação, que re-
presentam uma das características do ser humano mais importantes. A comuni-
cação faz parte da humanidade e, quando bem desenvolvida, pode levar as equi-
pes a ótimos desempenhos. Portanto, compreender como desenvolver bem os
canais de comunicação pode diminuir os problemas e gerar melhores resultados.
Para finalizar a Unidade, falamos um pouco sobre como os grupos podem e
devem trabalhar de forma cooperativa, mesmo em situações de competição. A
busca pela harmonia entre competição e cooperação é o ideal dentro do campo
esportivo, o que pode facilitar o desempenho esportivo desde a infância.

130
atividades de estudo

1. Liderança poderia ser considerada de forma ge- 2. Trabalhar com grupos de pessoas é uma das
nérica como “o processo pelo qual um indivíduo características da Psicologia, assim como outras
influencia um grupo de indivíduos para o alcance áreas das Ciências do Esporte, em que a aplica-
de uma meta comum“ (NORTHOUSE, 2010, p. 3 ção dos conhecimentos é voltada para a saúde e
apud WEINBERG; GOULD, 2017, p. 187), porém, o rendimento dos atletas. No trabalho com gru-
no esporte, esta definição precisa ser melhor pos, a Psicologia do Esporte e do Exercício visa a
discutida para que possa se adaptar a este am- intervir em equipes de esportes coletivos e, até
biente. Por isso, Chelladurai (1978) apresenta o mesmo, individuais, tendo em vista a quantidade
Modelo Multidimensional de Liderança no Es- de pessoas envolvidas no dia a dia. Sobre o tra-
porte, que indica algumas características do líder balho com grupos e o trabalho do profissional de
esportivo seja na competição, seja no momento Psicologia, analise as afirmativas a seguir:
de treinamento. Considerando este modelo de I - Trabalhar sempre com programas de psi-
liderança, analise as afirmações como seguem: coterapia individual, levando os atletas a
I - O Comportamento Treino-Instrução cor- lidarem melhor com a sobrecarga emocio-
responde ao comportamento do do trei- nal do cotidiano do esporte.
nador voltado para a melhoria da perfor- II - Trabalhar com elementos, como a ansie-
mance dos atletas por meio da focalização dade traço e a ansiedade estado e, assim,
das preocupações, nos treinos duros e poder direcionar atividades específicas que
exigentes. visem a auxiliar os indivíduos a manejar o
II - O Comportamento de Suporte Social do estresse em situações de preparação para
técnico é quando ele não se importa com competições e durante competições.
o que os atletas fazem fora do ambiente III - Trabalhar em conjunto com atletas, téc-
esportivo, ou seja, na sua vida social. nicos e comissão técnica maneiras de
III - O Comportamento de Reforço é quando o enfrentar o estresse em competições,
treinador reforça, positivamente, o atleta, controle da concentração, ampliação das
reconhecendo e recompensando os seus habilidades de comunicação e de coesão
bons desempenhos. de equipe, padrões de resiliência diante
de situações de derrota em competições,
IV - O Comportamento Autocrático é o com-
desenvolvimento da noção de esporte
portamento do treinador que preconiza a
como promoção de saúde e bem-estar in-
independência nas tomadas de decisão e
dividual e coletivo.
vinca a sua autoridade pessoal.
É correto o que se afirma em:
Está de acordo com o Modelo Multidimensional de
a) I, apenas.
Liderança no Esporte de Chelladurai a alternativa:
a. I e II. b) III, apenas.
b. II e IV. c) I e II, apenas.
c. I, III e IV. d) II e III, apenas.
d. I e III.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
e. I, II, III e IV.

131
atividades de estudo

3. Coesão é um processo dinâmico, que é refle- 5. Martens (1975) descreve quatro estágios do mo-
tido na tendência de um grupo a tornar-se e a delo de competição. Sobre o estágio situação com-
manter-se unido na busca de seus objetivos e/ petitiva subjetiva, analise as afirmativas a seguir:
ou para a satisfação das necessidades afetivas I - Necessita sempre de um padrão de com-
de seus membros (CARRON et al., 2002). Expli- paração sobre o nível de desempenho.
que quais os dois tipos de coesão que devem ser
II - É o momento da comparação entre a res-
considerados ao se trabalhar com uma equipe posta do atleta e o padrão comparado.
esportiva, abordando quais as duas forças distin-
tas que agem para que os membros permane- III - É o momento em que a pessoa avalia a
situação e decide se vai continuar (enfren-
çam em um grupo.
tar), ou não, a situação.
4. O diálogo interior é um fator potencial de distra-
IV - Caracteriza-se como a maneira que uma
ção mental. Toda vez que o atleta pensa em algo,
pessoa percebe, aceita e avalia a situação
ele está conversando consigo mesmo. Este diálo- competitiva objetiva.
go interior também é chamado de Comunicação
Intrapessoal e tem sua importância no desempe- É correto o que se afirma em:
nho do atleta. De acordo com Samulski e Lopes a) I, apenas.
(2009), descreva as características da Comunica-
b) III, apenas.
ção Intrapessoal.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) IV, apenas.

132
LEITURA
COMPLEMENTAR

O mundo esportivo tem presenciado, desde o final do século XIX, o envolvimento e a


inserção das mulheres neste espaço. A participação feminina em competições de alto
rendimento aumentou, consideravelmente, ao longo dos anos. Os discursos sociais e
biológicos que condenavam a prática esportiva feminina foram, gradativamente, per-
dendo a sua força. De tal modo, hoje não se questiona como antes a capacidade atlética
das mulheres.
A conquista do espaço feminino no esporte, entretanto, pode ser considerada de al-
cance apenas parcial. No que se refere ao comando esportivo, são os homens que
ainda prevalecem. As esferas administrativas do esporte, incluindo os cargos de dire-
ção e de tomadas de decisão, constituem espaço de domínio masculino. Isso porque a
associação entre autoridade e masculinidade ainda tem grande força na percepção das
pessoas (NORMAN, 2010). Esse quadro de desigualdade entre homens e mulheres, na
direção esportiva, provoca questionamentos. Em 1995, no Centésimo Congresso Olím-
pico, discutiu-se o pequeno número de mulheres em posições de liderança e se fizeram
recomendações (PFISTER, 2004).
No cargo de técnica esportiva, o campo de atuação ainda se encontra muito limitado
para o público feminino. Para se inserir e progredir na carreira, elas se deparam com
muitos obstáculos, desde o preconceito até os baixos salários. Essa situação leva-nos
a questionar por que existem tão poucas mulheres atuando nessa profissão, e o que
limita o acesso e a ascensão feminina nessa carreira.
Os profissionais com poucas oportunidades tendem a limitar suas aspirações, a valori-
zar sua competência menos do que o ideal e a não buscar mudanças neste quadro. A
estrutura de poder é definida como a capacidade da pessoa em atuar, eficientemente,
dentro dos limites do sistema e é determinada pelas características formais do cargo e
das alianças informais estabelecidas. O poder é afetado por fatores, como a visibilidade
e a relevância da função. Pessoas com pouco poder tendem a ser mais inseguras.

Fonte: Ferreira et al. (2013, p. 103-124).

133
material complementar

Indicação para Ler

Guardiola Confidencial
Martí Perarnau
Editora: Grande Área
Sinopse: Josep Guadiola i Sala, ou simplesmente Pep Guardiola, o nome que o
futebol consagrou, é o personagem central do livro. Artífice ideológico, como trei-
nador, de um tipo de jogo plástico, vencedor e revolucionário, Pep deixou o Bar-
celona, onde conquistara todos os títulos possíveis, para se lançar em um novo
projeto profissional no Bayern de Munique, outro gigante do futebol europeu.
E para escrever sobre ele, o jornalista Martí Perarnau acompanhou durante um
ano o dia a dia do novo comandante do Bayern. Perarnau obteve do próprio
Guardiola permissão para compartilhar o vestiário com os atletas, seguir de per-
to todos os passos do técnico e detalhar uma temporada inteira do catalão no
comando do clube. Estava lançado o desafio a Martí: decifrar a personalidade de
Pep Guardiola, o técnico que deu ao Barcelona os melhores anos de sua história.
O autor soube aproveitar o acesso livre – sem precedentes! – aos bastidores de
um dos maiores clubes de futebol do mundo. Observou de perto um personagem
apaixonado pelo futebol, meticuloso e obsessivo em sua busca pela perfeição.
Pôde conhecer melhor também as ideias e conceitos de jogo fundamentais para
o técnico, desfazendo ao longo da obra uma série de clichês que rodeiam a figura
de Guardiola.

134
referências

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136
gabarito

1. C
2. D
3. Uma das primeiras definições de coesão foi realizada por Festinger, Schacter
e Back em 1950, delimitando que a coesão seria um campo composto por
forças que agem para que os membros permaneçam no grupo (CARRON et
al., 2002). Estas forças seriam definidas como: a) a atratividade do grupo, e
b) o controle dos meios.
Mais recentemente, Carron, Brawley e Widmeyer (1998) trouxeram outra
definição mais abrangente, em que a coesão seria considerada um pro-
cesso dinâmico que se reflete na tendência de um grupo se unir e per-
manecer unido, sempre em busca de objetivos e/ou para satisfazer as
necessidades afetivas dos membros deste grupo. Esta definição leva a
compreender a coesão como um elemento multidimensional e também
acrescenta dois fatores principais, a coesão para a tarefa e a coesão social.
Quando nos referimos à coesão para a tarefa, temos em mente que significa
o quanto os membros de um grupo trabalham juntos em função de objeti-
vos comuns, neste caso, a conquista de títulos e vitórias. Já a coesão social
reflete o quanto os membros desta equipe gostam uns dos outros e tam-
bém gostam de permanecer na companhia uns dos outros (NASCIMENTO
JUNIOR; VIEIRA, 2013).
4. É preciso pensar que a comunicação pode ser compreendida de duas for-
mas. A primeira delas é o que se conhece por Comunicação Interpessoal,
que ocorre, geralmente, quando envolve ao menos duas pessoas. A segunda
é chamada de Comunicação Intrapessoal, que é a comunicação que a pes-
soa tem com ela mesma, conhecida também como diálogo interior (SAMUL-
SKI; LOPES, 2009).
Todos conversam consigo mesmo, portanto, a Comunicação Intrapessoal é
mais comum do que imaginamos, além de ser muito importante. Essa co-
municação interna ajuda a pessoa a modelar e a prever com o ela age e
se comporta. Quanto mais positiva essa comunicação interna, maiores as
chances de influenciar, por exemplo, a motivação da pessoa para a prática
de exercícios e também atletas a continuarem na busca por melhores resul-
tados (WEINBERG; GOULD, 2017).
5. E

137
PRÁTICA ESPORTIVA,
SAÚDE E BEM-ESTAR PSICOLÓGICO

Professor Dr. Leonardo Pestillo de Oliveira

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Prática esportiva e promoção da saúde
• Prática esportiva e bem-estar psicológico
• Fatores psicológicos e lesões esportivas
• Consequências do excesso da prática esportiva: elementos
presentes no rendimento

Objetivos de Aprendizagem
• Explorar como a prática esportiva pode colaborar com o
processo de promoção da saúde das pessoas.
• Descrever como a prática esportiva pode colaborar com o
bem-estar psicológico dos indivíduos.
• Compreender como os aspectos psicológicos podem
facilitar ou prejudicar a recuperação de lesões esportivas.
• Descrever quais as consequências da prática excessiva do
esporte: overtraining.
unidade

V
INTRODUÇÃO

C
aro(a) aluno(a), iniciamos, neste momento, a Unidade V da
nossa disciplina Psicologia do Esporte e do Exercício. Esta é a
última unidade do livro, e abordaremos alguns elementos que,
muitas vezes, não são tão discutidos no contexto do esporte
competitivo.
Estudaremos um pouco sobre como a prática esportiva e o exercí-
cio podem ser grandes aliados da saúde, não apenas física, mas também
mental dos que estão envolvidos neste ambiente. O primeiro ponto a ser
destacado na unidade será a relação entre a prática esportiva e a pro-
moção da saúde. É preciso explorarmos, de forma significativa, como a
prática esportiva pode colaborar com o processo de promoção da saúde
das pessoas, sejam elas atletas, sejam apenas simpatizantes do esporte.
Essa discussão sobre saúde, no contexto esportivo, leva à perspectiva
de entender melhor como a sua prática pode ser ferramenta de auxílio ao
bem-estar psicológico. A literatura atual já nos mostra que movimentar o
corpo não causa benefícios apenas físicos aos praticantes, o fator psicoló-
gico também é um dos beneficiados. Por isso, é importante pensarmos em
como esta relação pode ser trabalhada de forma cada vez mais positiva.
Praticar algum tipo de esporte ou atividade física, no contexto compe-
titivo ou não, leva o envolvido a se preocupar com um fator cada vez mais
presente, que é a lesão. Independentemente de como é feita a prática, as
pessoas podem sofrer consequências negativas que podem ser causadas
por diversos fatores, como a prática excessiva do esporte, muito comum
em atletas profissionais, e também a prática irregular e sem orientação,
mais comum entre os amadores e simpatizantes do esporte voltado à saúde.
Estas lesões podem ter consequências mais graves, levando o indi-
víduo a, muitas vezes, abandonar sua prática, no caso de profissionais, o
abandono da carreira. Mais adiante, pode desencadear comportamentos
não propícios à saúde, como comportamentos adictivos que são grandes
vilões da saúde mental e física dos atletas.
 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Prática Esportiva
e Promoção da Saúde

142
EDUCAÇÃO FÍSICA

No senso comum, é fácil perceber o quanto as pes- Estimular a prática de esportes desde a infância é
soas consideram que praticar algum esporte e/ou um ponto que já discutimos. Os benefícios são inú-
fazer uma atividade física traz benefícios para a meros, e as experiências vividas na infância tendem
saúde dos praticantes. Apesar de os conceitos de a ter efeito para a vida toda (KAVUSSANU, 2002). A
saúde e de doença se alterarem ao longo do tempo, regularidade na prática esportiva é considerada um
é sempre válido atentar-se à definição mais disse- dos fatores importantes na manutenção da saúde, e
minada da Organização Mundial da Saúde (WHO, investigar os benefícios psicológicos que esta prática
1948) que considera a saúde como o bem-estar fí- traz, não só para as crianças, mas para os adultos e
sico, mental e social, e não apenas ausência de do- também para os idosos, é um ponto fundamental.
ença. Esta é uma das principais questões a serem Algumas características psicológicas tendem a
avaliadas quando o assunto é Promoção da Saúde, melhorar com o envolvimento esportivo. O resga-
não focar tanto na doença. te da autoestima, a melhora no autoconceito e na
Com o avanço da tecnologia, as discussões qualidade de vida estão entre elas. Mas há que se
acerca do movimento das pessoas, principalmente lembrar também que nunca é tarde para iniciar esta
crianças, é assunto permanente. Alguns defenden- prática. Na fase adulta e/ou idosa, pode ser mais di-
do seus benefícios, outros criticando por conta dos fícil, mas não impossível, e adquirir o hábito pode
prejuízos que são causados. A demanda dos produ- levar um tempo.
tos eletrônicos disponíveis, atualmente, que visam A sensação de pertencimento a um grupo é
a facilitar a vida das pessoas, leva-nos a refletir jus- outro fator importante no contexto da prática es-
tamente sobre como essa tecnologia pode afetar a portiva. Sentir-se aceito gera a sensação de que há
saúde mental e o bem-estar físico e psicológico das preocupação dos demais para consigo, o que gera a
pessoas (OLIVEIRA et al., 2016). sensação de bem-estar individual (ORLICK, 2000).
Quando o assunto saúde torna-se um fator Estas características auxiliam no fortalecimento do
importante na vida das pessoas, é preciso pensar autoconceito, muito relacionado à satisfação com a
em como podemos ter estratégias para melhorá-la vida e pode ser definido por Tamayo (2001) como
e em como lutar para mantê-la. Os dados sobre estrutura cognitiva que organiza as experiências
saúde mental da população, a quantidade de pes- passadas do indivíduo, controla o processo informa-
soas com diagnósticos de depressão, ansiedade e tivo relacionado a ele próprio e exerce uma função
demais transtornos de humor são cada vez mais de autorregulação.
alarmantes (WHO, 2015, on-line)1. O uso de me- Todo este mecanismo que gera sensações emo-
dicamentos é uma das formas de tratamento para cionais positivas nas pessoas faz com que a percep-
este tipo de enfermidade, e as pesquisas têm de- ção de competência e controle sobre um estilo de
monstrado a importância também da prática de vida ativo e saudável sejam também intensificados.
atividade física e esporte que podem colaborar Diversas áreas da vida da pessoa são influenciadas
com o tratamento, além de aumentar os sentimen- positivamente, vida emocional, vida interpessoal,
tos de bem-estar e contribuírem para a redução vida social e as relações sociais melhoram (CAL-
das enfermidades já citadas. MEIRO; MATOS, 2004). Veja que esta relação da

143
 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

prática esportiva com a saúde mental não significa O benefício social e para a saúde que a prática de
tratar alguma doença em específico, sendo este o atividade física proporciona é muito importante. Há
mecanismo de Promoção da Saúde importante que é a consequência de contribuir com a cidadania, pro-
causado por este contexto (OLIVEIRA et al., 2016). porcionar atividades em grupo que possibilitam a
O autoconceito é apenas um fator que pode se compreensão sobre regras, respeito aos companhei-
beneficiar da prática esportiva. Este hábito saudável ros, além de melhorar o autoconceito e a autoestima
pode contribuir para um desenvolvimento integral já salientados. Todos são aspectos importantes para
das pessoas, levando a um melhor ajustamento pes- a compreensão da relação da atividade física com a
soal e social. Com isso, podemos pensar também na Promoção da Saúde (OLIVEIRA et al., 2016).
autoestima que envolve o grau em que o pratican- Os meios de comunicação e as pesquisas que são
te está satisfeito consigo mesmo. O sentimento que realizadas, atualmente, no campo da atividade física
envolve a percepção de uma baixa autoestima pode e da saúde, destacam a necessidade de a população
resultar em experiências negativas de fracasso pes- adquirir hábitos saudáveis de vida. Isso se torna uma
soal e a percepção de que a avaliação de terceiros ferramenta de combate aos danos causados à saúde,
também é negativa (TAMAYO, 2001). decorrentes, por exemplo, do estilo de vida urbana
Em sua pesquisa com atletas de voleibol, Vieira atual (SAMULSKI et al., 2009a).
et al. (2010) descrevem que o autoconceito represen- A atuação no campo da Promoção da Saúde é
ta uma característica do sujeito que o leva a certas complexo, pois envolve o pensamento de trabalho
escolhas, certos comportamentos, com isso, para interdisciplinar para compreender a complexidade
que o comportamento de uma pessoa mude, primei- do fenômeno descrito como saúde. Este fato envol-
ro é preciso que o seu autoconceito mude. Profissio- ve, entre outros aspectos, o incentivo ao desenvolvi-
nais que atuam junto a atletas precisam valorizar o mento de comportamentos saudáveis, o que inclui,
autoconceito à medida que necessitam de mudanças no nosso caso, a prática esportiva, e isso é social-
de comportamentos e atitudes para que sua percep- mente aceito (GUEDES, 2016).
ção seja positiva a ponto de colaborar com seu de- Apesar dos pontos já salientados, é fundamen-
sempenho. tal pensar que os benefícios causados pela prática
Autoconceito e autoestima não são a mesma esportiva não são automáticos e levam certo tempo
coisa, apesar de muitos tratarem como tal. A auto- para ocorrer. Na infância e na adolescência, o prin-
estima pode ser definida como a forma como nos cipal elemento é contribuir para o desenvolvimen-
sentimos acerca de nós mesmos e pode ser consi- to psicológico e da personalidade. Já nos adultos e
derada um componente avaliador do autoconceito nos idosos, é preciso organizar o ambiente para que
(BRANDEN, 2000). Se a autoestima envolve avalia- possa contribuir com a qualidade de vida de forma
ção, a prática de esportes e atividade física podem satisfatória. O engajamento na atividade física ou no
contribuir, e muito, para que crianças e adolescen- esporte geram consequências por longos períodos
tes desenvolvam uma autoestima mais positiva e, de tempo, desenvolvem nas pessoas outros compor-
ao chegarem na idade adulta, possam utilizar estas tamentos considerados saudáveis, deixando também
características positivas a seu favor. as experiências sociais mais positivas.

144
EDUCAÇÃO FÍSICA

145
 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Prática Esportiva
e Bem-Estar Psicológico

146
EDUCAÇÃO FÍSICA

A maioria dos transtornos psicológicos são tratados São diversos benefícios que a prática esportiva
com o uso de medicamentos, psicoterapias e demais pode causar, do ponto de vista psicológico, quanto
atividades do contexto médico e psicológico. Mas mais se pratica uma atividade física ou um espor-
como já destacado, a prática de atividade física tem te, maiores as chances de desenvolver níveis altos de
se tornado uma grande aliada ao tratamento de di- autoeficácia e competência percebida, aumentando
versas enfermidades. Dados epidemiológicos dão também a motivação para a prática (WEINBERG;
conta de contribuir com esta ideia sobre a influência GOULD, 2017). Não é de hoje que os autores deba-
benéfica que a atividade física e o esporte produzem tem estes benefícios psicológicos. Em 1985, Taylor
na vida da população (WEINBERG; GOULD, 2017). et al. (1985) descreveram alguns efeitos, mostran-
Os transtornos mentais mais comuns na popula- do que a prática esportiva aumenta o desempenho
ção mundial são a ansiedade e a depressão, e a ati- acadêmico, a positividade, a confiança, melhora a
vidade física pode ser um elemento de muita ajuda estabilidade emocional, a satisfação sexual e o bem-
neste processo de tratamento. Os efeitos agudos (ime- -estar. Além de diminuir os índices de abuso de
diatos) e crônicos (de longo prazo) podem influen- substâncias nocivas, como o álcool, reduz os índices
ciar nas mudanças positivas da saúde mental dos pra- de raiva, ansiedade, depressão e tensão.
ticantes, independentemente do tipo de exercício.
Sobre a ansiedade, os estudos que investigam SAIBA MAIS
os efeitos crônicos na redução da ansiedade têm
tido grandes resultados, mostrando que práticas de O exercício está associado à redução de emo-
exercício por um tempo significativo (dois a quatro ções estressantes, como o estado ansioso, e
meses) tendem a diminuir de forma significativa está ligado a um nível reduzido de depressão
e ansiedade de leves a moderadas. A longo
os estados ansiosos dos praticantes (O´CONNOR; prazo, o exercício físico costuma estar asso-
PUETZ, 2005). Compreender quais mudanças psi- ciado a reduções de traços, como neurose e
cológicas podem ser esperadas com determinados ansiedade.

tipos de exercícios e também com os níveis de in- Fonte: Weinberg e Gould (2017).

tensidade é importante para que se escolha deter-


minado exercício a ser realizado, tendo em vista a
sua adequação e adesão. Quando se fala em bem-estar psicológico, fala-se em
A depressão clínica apresenta uma característica uma característica psicológica também mais estru-
um pouco diferente da ansiedade. Causa um sofri- turada, o que possibilita o sujeito desenvolver algu-
mento psíquico significativo e, dependendo do grau, mas características positivas e que podem ser usadas
pode ser incapacitante para a pessoa. A inatividade no dia a dia, em relações sociais, profissionais e de
física é, muitas vezes, relacionada com níveis mais lazer. Uma destas características é a resiliência, que
altos de depressão, e pesquisadores como Legrand e se encaixa em uma característica da personalidade
Heuze (2007) constataram que a frequência de ativi- que permite a pessoa suportar situações estressan-
dade física pode ser um fator importante para redu- tes e enfrentá-las, retornando ao mesmo nível que se
zir os sintomas depressivos. encontrava antes da situação (ROSADO et al., 2013).

147
 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Ser resiliente significa ter capacidade de superar às vezes, não são consideradas importantes. Pensar
uma situação que poderia ter sido traumática, com nos motivos que levam as pessoas a se engajarem em
uma força renovada (ANAUT, 2005). Muitos auto- determinadas atividades, a idade dos praticantes,
res têm considerado um mecanismo importante de o sexo e a experiência em determinadas atividades
defesa contra o estresse e a adversidade (CLOUGH não podem ser descartadas. Há que se considerar
et al., 2002). características como a competência técnica, a possi-
O uso do esporte como parte de uma inter- bilidade de diversão, o prazer e a saúde, como discu-
venção médica ou terapêutica pode, de certa ma- tem Bernardes et al. (2015).
neira, encorajar uma abordagem positiva voltada O foco na infância e na adolescência é funda-
à promoção da saúde, no sentido de que os prati- mental. Os adolescentes encontram-se em uma
cantes de esporte e de atividade física incorporam fase de escolhas e decisões, e os comportamentos
e aprendem um estilo de vida mais saudável por emitidos neste momento podem determinar sua
meio do exercício (WEINBERG; GOULD, 2017). interação com a sociedade e aquisição de hábitos
Este estilo de vida pode ser descrito como um con- e atitudes que podem influenciar outros compor-
junto de ações e comportamentos do cotidiano que tamentos positivos ao longo da vida (OLIVEIRA
reflete as atitudes, os valores e que são realizados et al., 2017).
de forma consciente. O hábito pode ser considera- O trabalho da Psicologia, no estímulo da popu-
do consciente se a pessoa que realiza percebe que o lação à adesão de hábitos saudáveis, visa a reflexão
valor de um comportamento deve ser mudado por sobre a importância deste processo para a saúde
meio de sua vontade própria (NAHAS, 2006; RA- global da sociedade, além de contribuir, também,
PHAELLI, 2009). para a diminuição de comportamentos de risco
O bem-estar psicológico causado pela prática entre as classes menos favorecidas. Martins et al.
esportiva faz parte do estabelecimento de um esti- (2012) discutem que incentivar jovens a criarem
lo de vida saudável, o que é fundamental para me- estratégias que possibilitem a adoção de hábitos
lhor qualidade de vida. Mas há que se lembrar que saudáveis pode ser fundamental para que estes
estes benefícios só são possíveis com a realização comportamentos de risco reduzam e se transfor-
constante, de forma regular, da atividade, além de mem em aspectos positivos.
ser orientada por profissionais qualificados para tal. Vale ressaltar que o bem-estar psicológico pode
Não podemos esquecer que a atividade física ou o variar de acordo com o tipo de atividade que se rea-
esporte sozinhos não fazem milagre, é preciso ob- liza, além de se considerar os demais fatores envol-
servar outros elementos fundamentais, como a boa vidos na prática, como o ambiente físico, os profis-
alimentação, a hidratação adequada, o descanso re- sionais instrutores e a própria pessoa que realiza a
fletido em noites bem dormidas, entre outras ativi- atividade. Isso nos leva a pensar novamente no su-
dades importantes (WHO, 2010). jeito é um ser biopsicossocial, remetendo à dificul-
A orientação adequada, com profissionais quali- dade de se estabelecer conceitos e estratégias que
ficados, visa as questões que estão envolvidas e que, sejam comuns a todos (SAMULSKI et al., 2009a).

148
EDUCAÇÃO FÍSICA

Programas de atividade física que contemplam


todas as idades são fundamentais para evidenciar
a importância da atividade física para as pessoas.
Influenciar hábitos que podem resultar em melhor
bem-estar psicológico e físico desde a infância e
adolescência permitem melhorar a saúde no futuro,
o que aumenta também a probabilidade de o indi-
víduo continuar ativo nas idades mais avançadas
(MATSUDO et al., 2003).
Com o passar do tempo, é preciso pensar, por
exemplo, em como a prática de atividade física pode
ser um elemento fundamental para o bem-estar psi-
cológico, no processo de envelhecimento. Chegar
aos 40 ou 50 anos sem praticar algum tipo de ativi-
dade física de forma regular leva à percepção visível
de diminuição de resistência, força e flexibilidade.
Além da flacidez muscular e aumento da gordura
corporal (WEINBERG; GOULD, 2017).
Isso leva à compreensão da ideia de que a ativi-
dade física é prejudicial à saúde das pessoas idosas, o
que é contraditória. Não podemos privar esta popu-
lação de tentar alcançar melhor qualidade de vida,
baseando suas atividades apenas nas suas incapa-
cidades físicas. É preciso pensar nos benefícios que
essa população terá, não apenas físicos, mas também
psíquicos com a prática de atividade física e hábitos
saudáveis (SAMULSKI et al., 2009a).
Ainda há uma elevada porcentagem da população
que pode ser considerada inativa do ponto de vista fí-
sico, ou seja, de prática regular de atividade física. Mas
a disseminação dos benefícios aqui tratados é funda-
mental para que a população geral compreenda a sua
real necessidade. A prática de esporte e atividade física
sozinha não pode ser tratada como único fator de saú-
de, mas é um indicativo e pode ser também um incen-
tivo à adesão de outros hábitos considerados saudáveis.

149
 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Fatores Psicológicos
e Lesões Esportivas
Enaltecer a importância da prática esportiva é fun- culares, na intensidade da atividade e no excesso de
damental. Mais ainda é olhar também para o outro treino aliado à falta de descanso como principais
lado da moeda, os momentos nem tão bons assim causas das lesões (SMITH et al., 2000).
deste contexto que gera prazer e dor em algumas Sobre as razões sociais, Malcom (2006) destaca a
situações. Falaremos, agora, sobre as lesões espor- percepção que os atletas têm acerca do quão os tor-
tivas, que podem ocorrer tanto em atletas profis- cedores valorizam aqueles que continuam jogando
sionais quanto em atletas amadores ou praticantes mesmo com dor e lesionados. Suportar a dor e as
de atividade física com o objetivo voltado à saúde, dificuldades da lesão gera a percepção de que a le-
assunto já debatido nesta unidade. são não é tão séria quanto parece, porém pode gerar
Weinberg e Gould (2017) atentam para a dife- consequências piores, dependendo do caso.
rença entre lesão e desconforto. O desconforto é Os fatores psicológicos envolvidos nas discus-
uma sensação que está associada à lesão, e este, por sões sobre lesões no esporte ajudam a compreender
si só, não resulta, necessariamente, em prejuízo de um pouco sobre a percepção e a reação que os atle-
movimentos. A lesão é um trauma corporal que re- tas têm sobre este fator estressante. O estado mental
sulta em, no mínimo, uma incapacidade (momentâ- do atleta não causa diretamente uma lesão, mas as
nea ou permanente) das funções físicas. experiências negativas vivenciadas podem produ-
Apesar de sempre considerar a lesão um aspecto zir respostas fisiológicas e atencionais exageradas,
físico, há outros fatores que podem influenciar na determinando maior suscetibilidade a lesões por
causa da lesão e também no tratamento dessa lesão. meio do aumento exagerado da tensão muscular, a
Fatores físicos, sociais e psicológicos são todos ele- redução do campo visual e o aumento da distração
mentos que precisam ser analisados neste cenário (SAMULSKI; AZEVEDO, 2009).
em específico. Sobre os fatores físicos, não há muito As pesquisas demonstram alta relação entre o es-
segredo além de se pensar nos desequilíbrios mus- tresse e as lesões no contexto esportivo. Assim, é preci-

150
EDUCAÇÃO FÍSICA

so ficar atento às questões psicológicas, principalmente que torna este modelo útil para discutirmos suas
as consideradas negativas, para que programas de pre- características e contribuições.
venção sejam estabelecidos com o intuito de, pelo me- O modelo de Kübler-Ross (2008), adaptado ao
nos, minimizar os efeitos negativos das lesões. As cau- contexto esportivo, visa a descrever como os atletas e/
sas do estresse são inúmeras, desde situações sociais e ou praticantes de esportes e exercícios que se lesionam
competitivas, até exigências em excesso e estrutura psi- agem diante de tal fato. O processo todo é descrito
cológica que, muitas vezes, entra em contradição com em cinco estágios: negação, raiva, barganha ou nego-
a noção do senso comum de que esporte e saúde são a ciação, depressão, aceitação e reorganização. Embora
única relação existente (WEINBERG; GOULD, 2017). esses estágios sejam bem descritos pela autora, é ne-
cessário lembrar que os indivíduos lesionados, não ne-
REFLITA
cessariamente, seguem um padrão estabelecido nem
demonstram suas emoções baseadas nestes cinco está-
gios. Mas, levando em consideração esse modelo, refle-
Lesões ocorrem por diversos motivos, e isso
exige atenção interdisciplinar no processo de tiremos sobre como cada momento pode ser enfrenta-
reabilitação, dando atenção tanto às altera- do pelos atletas. A maioria passa por todos os estágios,
ções musculoesqueléticas quanto às altera- no entanto o tempo e a duração deles é dependente das
ções psíquicas.
características psicológicas apresentadas pelos atletas
(GORDON et al., 1991).
As reações psicológicas envolvidas nas lesões esporti- Logo nos momentos que seguem uma lesão, é
vas é o que nos interessa neste momento. Como já vi- possível verificar no atleta a fase de Negação, carac-
mos, há fatores psicológicos que podem desencadear terizada pela descrença sobre o ocorrido, o que o leva
reações fisiológicas que deixam o atleta mais propen- a negar sua importância. Com o passar do tempo e
so a se lesionar. Mas quais os fatores psicológicos en- a percepção de que a lesão é séria e terá consequên-
volvidos após a lesão? Como trabalhar para fortalecer cias, instala-se o estágio de Raiva, sendo demonstra-
os aspectos psicológicos de um atleta ou praticante de da por meio de agressividade com os demais à sua
atividade física no processo de recuperação? volta. A fase de Barganha ocorre quando o atleta co-
Independentemente da causa, do tipo e da in- meça a negociar consigo mesmo algumas estratégias
tensidade da lesão, as respostas emocionais preci- na tentativa de se recuperar de forma mais rápida.
sam ser analisadas. Kübler-Ross (2008), em seus es- As estratégias giram em torno de propor soluções na
tudos sobre a morte e o morrer, estabeleceu que as tentativa de evitar a realidade da situação. Ao per-
pessoas experimentam reações de ajustamento que ceber conscientemente a situação grave da lesão, o
podem ser chamadas de estágios do processo de atleta pode experimentar um período de Depressão
morrer. Algumas pesquisas na área esportiva têm e incerteza sobre o futuro, principalmente sobre o
utilizado este modelo para discutir a importância retorno da prática esportiva. Por fim, a Aceitação
da intervenção psicológica nestes casos (VELOSO; instala-se, e essa fase é importante para que possa
PIRES, 2007), as implicações psicológicas nas le- iniciar o processo de reabilitação e retorno às ativi-
sões (VASCONCELOS-RAPOSO et al., 2014), o dades (SAMULSKI; AZEVEDO, 2009).

151
 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Outras reações psicológicas que podem surgir nos atletas lesionados são apresentadas por
Petitpas e Danish (1995). Vamos a elas:

Perda da identidade:
surge quando o atleta não participa
mais das atividades esportivas por
motivos específicos à lesão. Essa não
participação das atividades pode levar
ao desenvolvimento da perda de iden-
tidade pessoal, afetando, inclusive,
seu autoconceito.

Medo e ansiedade:
a situação da lesão pode levar os atle-
tas a experimentarem altos níveis de
medo e ansiedade, que estão direta-
mente relacionados com a incerteza
futura no contexto esportivo, e isso
envolve diversos fatores, como vaga
na equipe e futuras transferências.

Falta de confiança:
o tempo que o atleta passa sem pra-
ticar a atividade pode desencadear
perda da autoconfiança e diminuição
da motivação para a prática esporti-
va. Esta falta de confiança pode gerar
dificuldades de concentração na ati-
vidade, levando a outras lesões ou à
reincidência.

Redução do desempenho:
o período sem praticar a atividade, ex-
perimentando sensações como a perda
da identidade, o medo, a ansiedade e a
falta de confiança pode desencadear re-
dução do desempenho, após o período
de recuperação. Pode surgir dificuldade
em reconhecer que, logo após a lesão,
seu desempenho pode ser menor, e
essa realidade precisa ser considerada.

152
EDUCAÇÃO FÍSICA

Após compreender alguns dos mecanismos psicoló- podem colaborar para o alívio da dor e do próprio
gicos presentes nas situações de lesão, no contexto estresse da situação, além da redução da tensão mus-
esportivo, é preciso pensar em como a Psicologia cular, melhora no fluxo sanguíneo e melhora do sis-
pode colaborar com a recuperação dos lesionados, tema imunológico (NATA, 2011).
sendo atletas ou não. Do ponto de vista da estrutura Todos os profissionais envolvidos no processo
psicológica, pessoas lesionadas que utilizam melhor de recuperação de um atleta precisam compreender
suas estratégias de estabelecimento de metas, men- que esta é uma fase complexa, cheia de percalços. Da
talização e possuem estratégias de enfrentamento parte da psicologia, a compreensão dos fatores de
mais adequadas são aquelas que se recuperam tam- risco nesta situação faz-se importante para intervir
bém mais rápido (IEVLEVA; ORLICK, 1991). de acordo com as necessidades estabelecidas. Mas
De acordo com Samulski e Azevedo (2009), o o trabalho isolado da Psicologia, sem comunicação
atleta lesionado precisa receber o máximo de in- com as demais áreas, torna o alcance dos resultados
formações possível sobre a gravidade da lesão bem mais complicado.
como sobre o processo de reabilitação. A informa-
ção sobre a realidade da situação deixa o atleta mais
seguro e com possibilidade de lidar melhor com a
reabilitação e as possíveis intercorrências.
As técnicas psicológicas são importantes ferra-
mentas nesse momento. Proporcionar ao atleta es-
tratégias de estabelecimento de metas, baseando-se
nos prazos para um possível retorno, nas sessões de
fisioterapia necessárias, tipos de exercícios a serem
realizados, pode ajudar o atleta a manter o foco no
processo. Estabelecer uma meta relaciona-se com a
expectativa do sucesso, mantendo o atleta concen-
trado nas atividades que precisa realizar. Mas estas
metas precisam se concentrar nas possibilidades,
na realidade, não podem ser muito exageradas, pois
isso pode causar frustração pelo não alcance destas
(NUNES et al., 2010).
Com as metas traçadas, fica mais fácil aderir a
outras técnicas, como o diálogo interno, que ajuda
na retomada da autoconfiança e pode ser utiliza-
do, inclusive, para bloquear pensamentos negativos
que surgem em decorrência da lesão (HATZIGE-
ORGIADIS et al., 2008). Por ser um momento que
causa estresse no atleta, as técnicas de relaxamento

153
 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Consequências do
Excesso da Prática Esportiva:
Elementos Presentes no Rendimento

154
EDUCAÇÃO FÍSICA

Como abordado no tópico anterior, as lesões po- ocorre por conta de um repouso insatisfatório, o
dem ser causadas, entre outros fatores, pelo exces- que gera queda do desempenho (U. S. OLYMPIC
so de treinamento, falta de descanso e atividades COMMITTEE, 1998).
mal orientadas. O excesso de prática esportiva, Do ponto de vista fisiológico, a estafa é muito
profissional ou não, pode ter consequências não comum, que se caracteriza por um estado fisiológico
tão agradáveis assim a quem pratica. Abordare- de treinamento excessivo que pode ser manifestado
mos, agora, algumas destas consequências que, como prontidão esportiva deteriorada (WILMORE;
infelizmente, ocorrem de forma silenciosa e, apa- COSTILL, 2001). A estafa tem como sinal principal
rentemente, repentina. a queda do desempenho do atleta, mas também há
O excesso de treinamento é muito conhecido sinais psicológicos, como alteração do humor, po-
pelo termo em inglês overtraining e pode ocorrer, dendo evoluir para quadros depressivos.
muitas vezes, pela pressão para que os atletas obte- Atualmente, muitas pesquisas estão estudando
nham resultados positivos e permaneçam treinando os efeitos psicológicos do excesso de treinamento e
o ano todo com vigor e intensidade máximos. Além concluindo que o burnout também é uma das suas
de fatores extraesporte que incluem questões pu- consequências. No Brasil, as pesquisas de Pires et
blicitárias, status e a ideia de quanto mais, melhor al. (2005) tentam compreender este fenômeno que
(WEINBERG; GOULD, 2017). causa afastamento físico, emocional e social de uma
O excesso de treinamento tornou-se um proble- atividade física (ou esporte) que antes era agradável.
ma significativo no contexto esportivo. No entanto Como nos casos clínicos, esse afastamento pode ser
atletas amadores e praticantes de atividade física acompanhado por exaustão emocional e física, além
também estão chegando ao limite da prática, sofren- de uma desvalorização do esporte praticado.
do problemas físicos e psicológicos, o que ocasiona, Alguns pesquisadores dedicam-se a compreen-
muitas vezes, o encerramento da carreira e da práti- der quais fatores podem levar o atleta ao excesso de
ca. A periodização do treinamento é uma das prin- treinamento, tendo em vista este ser um fator muito
cipais ferramentas para minimizar as consequências individual e de difícil mensuração. Apesar da relação
negativas da prática, é uma estratégia de expor os básica entre o volume de treinamento e as reações a
atletas a cargas de treinamento de grande volume e este volume excessivo, há evidências de que o estres-
alta intensidade, seguidas por uma carga de treina- se não esportivo pode ser associado ao treinamento
mento mais baixa, chamada de repouso ou polimen- excessivo (MEEHAN et al., 2004). Tobar (2012) en-
to (GOMES, 2009). controu também que o excesso de treinamento tem
Quando este treinamento vira excessivo, relação com alterações de humor e a ansiedade dos
ocorre um ciclo mais curto em que os atletas atletas, mas ainda com a ressalva de que isso depen-
são expostos a cargas de treinamento excessivas, de da estrutura psicológica individual.
próximas da capacidade máxima. Como este tra- Levando em consideração estes fatores, o Qua-
balho com sobrecarga é um processo individu- dro 1 apresenta os principais sinais e sintomas que
al, por vezes, torna-se demais, podendo resultar podemos encontrar nos casos de excesso de treina-
em lesões e demais consequências negativas. Isso mento e de burnout no esporte.

155
 PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

Excesso de treinamento Burnout


Desempenho insatisfatório Baixa motivação ou energia
Apatia Esgotamento físico e mental
Letargia Autoestima diminuída
Perturbação do sono Perturbação do sono
Perda de peso/perda de apetite Isolamento social
Dor ou sensibilidade muscular Ansiedade aumentada
Alterações de humor Alterações do humor
Lesões por excesso de prática Abuso de substâncias
Perda da concentração Baixa concentração

Quadro 1 - Sinais e sintomas apresentados por atletas em excesso de treinamento e burnout


Fonte: Hackney; Perlman; Nowacki (1990) apud Weinberg; Gould (2017).

Como podemos observar no Quadro 1, os sintomas transições naturais que ocorrem no contexto espor-
do excesso de treinamento e do burnout são mui- tivo, tornando-as insatisfatórias e, até mesmo, não
to parecidos e são de natureza física e psicológica. ocorrer, em neste caso, evoluindo para o abandono
Estes fatores tornaram-se um problema significativo da prática (STAMBULOVA; WYLLEMAN, 2014).
no contexto esportivo, principalmente de alto nível, Em cada idade, o tipo de treinamento é espe-
o que tem causado, em alguns casos, o encerramento cífico, mas é sempre necessário que os envolvidos
precoce de uma carreira que poderia ser de sucesso tenham consciência de um planejamento específico
(SAMULSKI et al., 2009b). Isto leva à importância para evitar que o excesso de treinamento e a pres-
do fato de os profissionais envolvidos no contexto são estabelecida ocasionem o abandono da carreira
entenderem dos sintomas que podem surgir por do atleta e, até mesmo, o surgimento de comporta-
conta do excesso de treinamento. mentos considerados prejudiciais à carreira. Manter
A pressão por resultados e pela dedicação na o corpo e a mente saudáveis é fundamental para o
prática pode ter algumas consequências negati- andamento da carreira, seja um atleta profissional,
vas. Quando se fala em crianças e adolescentes, os seja um praticante de atividade física. O estresse
efeitos psicológicos e físicos podem ser bem seve- crônico causado pelo excesso de treinamento e pelas
ros, podem ocorrer quedas de desempenho, baixa condições diárias da prática cobram um alto preço
autoestima, surgimento de transtornos alimentares ao corpo e à mente do atleta, portanto, cuidar da
e lesões crônicas (CARR; WEIGAND, 2014). Estes saúde mental, no contexto esportivo, é tão impor-
sintomas podem surgir em decorrência do excesso tante quanto cuidar da saúde física (WEINBERG;
de treinamento e acabam prejudicando também as GOULD, 2017).

156
DESCRIÇÃO DE IMAGENS

PÁGINA 156 – Quadro 1 - Sinais e sintomas apresentados por atletas em excesso


de treinamento e burnout

INÍCIO DESCRIÇÃO – O quadro 1 refere-se aos sinais e sintomas apresentados por atletas
em excesso de treinamento e burnout. O quadro se divide em duas colunas e nove linhas,
sendo as colunas EXCESSO DE TREINAMENTO e BURNOUT. EXCESSO DE TREINAMENTO:
Desempenho insatisfatório, Apatia, Letargia, Perturbação do sono, Perda de peso/perda
de apetite, Dor ou sensibilidade muscular, Alterações de humor, Lesões por excesso de
prática e Perda da concentração. BURNOUT: Baixa motivação ou energia, Esgotamento
físico e mental, Autoestima diminuída, Perturbação do sono, Isolamento social, Ansiedade
aumentada, Alterações do humor, Abuso de substâncias e Baixa concentração. FIM
DESCRIÇÃO.
considerações finais

Chegamos ao final de mais uma unidade e, nesta última etapa da nossa disciplina,
focamos em aspectos que fogem um pouco do contexto do esporte de rendimen-
to, mas que são tão importantes quanto, pois o destaque ficou por conta da saúde
e do bem-estar do atleta e também do praticante de atividade física.
O primeiro ponto discutido foi a respeito de como o esporte pode ser um
elemento a ser trabalhado, visando a qualidade de vida e a promoção da saúde da
população como um todo. Praticar um esporte significa mais do que cuidar do
corpo, significa, também, manter a mente em condições saudáveis ao ponto de
guiar os comportamentos de forma mais qualitativa, visando a saúde.
As consequências psicológicas da prática esportiva são amplamente discu-
tidas nas pesquisas da área, principalmente destacando os efeitos positivos de
como o esporte pode colaborar com o bem-estar psicológico das pessoas. A re-
lação mente e corpo, nestes casos, é o ponto importante a ser pensado, tendo em
vista a natureza humana indissociável neste caso.
Apesar das consequências positivas da prática esportiva, precisamos pensar
também em como o esporte pode ocasionar fatores negativos, como as lesões. As
diferentes modalidades esportivas geram diferentes estímulos, e também os atle-
tas estão sujeitos a diferentes tipos de lesões. As lesões podem prejudicar muito
a carreira de um atleta e influenciar, negativamente, a motivação de uma pessoa
para a prática esportiva.
Por fim, ainda discutindo aspectos referentes às lesões, uma temática tem
preocupado os envolvidos no esporte, que é o caso do excesso de prática esporti-
va, denominado overtraining. O excesso de prática pode ter consequências sérias
aos atletas, como o estresse elevado (burnout), lesões, comportamentos adictivos
e, até mesmo, o abandono da carreira. Com isso, fechamos a ideia de que pensar
no esporte vai além de pensar no aspecto físico, foca-se, também, no aspecto psi-
cológico, que é tão importante quanto.

157
atividades de estudo

1. Há cerca de quatro décadas, a Síndrome de Bur- 3. A síndrome do excesso de treinamento (over-


nout vem sendo investigada no cenário acadêmi- training) é considerada o resultado de um de-
co. Tem seu início de preocupação no contexto sequilíbrio entre a demanda do exercício e a
do trabalho, em que diversos casos de estresse possibilidade de assimilação ao treinamento.
relacionados diretamente com o local de traba- Este desequilíbrio gera alterações metabólicas e
lho surgiram, causando preocupação de diversas emocionais. Após a detecção do overtraining, o
áreas de estudo. No esporte, o burnout é um atleta necessita de um trabalho específico para
fenômeno que ocorre frequentemente entre jo- sua recuperação. Descreva como o overtraining
vens atletas e está relacionado basicamente: pode influenciar na motivação de um atleta que
a) à busca de uma nova modalidade espor- está em processo de repouso devido ao excesso
tiva. de treinamento.
b) à grande excitação vivida pela competição. 4. Em decorrência de lesões, cerca de 5% a 15%
c) ao abandono da modalidade, causado por dos atletas de elite ficam fora do treinamento
alto nível de stress. por, pelo menos, um mês, a cada temporada.
Cada modalidade esportiva apresenta suas le-
d) à relação de dependência entre técnico e
sões características e, neste caso, o objetivo da
atleta.
psicologia é limitar os sofrimentos e as perdas
e) à determinação do atleta em não se deixar associadas à lesão e garantir boas condições psi-
influenciar pelo meio. cológicas para a volta ao esporte. Disserte sobre
as reações psicológicas (KÜBLER-ROSS, 2008)
2. Todo atleta está sujeito a se lesionar pelo menos
que ocorrem com o atleta, associadas à lesão es-
uma vez, durante toda a sua carreira. Pensando
portiva.
em uma intervenção psicológica, após a lesão no
contexto esportivo, é possível observar e traba- 5. As evidências científicas sobre os benefícios do
lhar, baseando-se em algumas reações emocio- esporte na vida da população em geral são inú-
nais que podem ocorrem nestas situações. As- meras. No contexto da Psicologia do Esporte e
sinale a alternativa que apresenta a combinação do Exercício, estes benefícios são destacados
que melhor viabilizaria a intervenção do psicólo- a partir de alguns pontos específicos, como o
go do esporte: uso do esporte no tratamento de questões psi-
a) Desespero, negação, desilusão e suicídio. quiátricas, que se relacionam com o humor, a
ansiedade, a depressão, entre outros. A partir
b) Medo, resignação, raiva, pânico e reorga-
das discussões sobre a relação do esporte com
nização.
o bem-estar psicológico (WEINBERG; GOULD,
c) Negação, raiva, negociação, depressão, 2017), explique quais os efeitos positivos do es-
aceitação e reorganização.
porte sobre a ansiedade e a depressão.
d) Alegria, resignação, alívio, conforto e resi-
liência.
e) Frustração, resignação, isolamento e tenta-
tivas de aceitação.

158
LEITURA
COMPLEMENTAR

Uma população saudável é resultado de diversos fatores, boa alimentação, práticas


regulares de atividade física, cuidados com a saúde mental, entre outros fatores já co-
nhecidos. Entre estes elementos, a atividade física é uma prática que pode beneficiar,
e muito, os índices de saúde de cidades inteiras, desde que os programas sejam bem
desenvolvidos.
Neste aspecto, sempre é importante verificar como a população está de acordo com
alguns índices importantes para se avaliar a saúde geral. Por ser uma prática de fácil
visualização, e os resultados poderem ser mensurados, alguns estudos são desenvol-
vidos com o intuito de avaliar a população e verificar como a saúde está fazendo parte
do cotidiano.
Um bom desempenho motor é considerado um atributo fundamental para a constru-
ção de todo um acervo motor durante a infância, tornando-se, assim, essencial para
a efetiva participação em atividades cotidianas. É nas atividades diárias, como correr,
saltar e rolar que as crianças desenvolvem habilidades fundamentais de movimento, as
quais se refletem nos seus níveis de aptidão física e desempenho motor. Além de ser
determinado pela genética, o desempenho motor relaciona-se com os comportamen-
tos da conduta e da solicitação motora destes indivíduos.
Estudos com crianças e adolescentes têm reportado a uma associação direta entre de-
sempenho motor e atividade física. Um bom nível de desempenho motor e de aptidão
física relacionada à saúde, nas fases iniciais da vida, apresenta-se associado a bons indi-
cadores de saúde, tais como: baixos níveis de colesterol e triglicerídeos, pressão arterial
e sensibilidade à insulina equilibradas, risco menor de obesidade, baixa prevalência de
lombalgias e desvios posturais, além de refletir em bom desempenho acadêmico.
Levantamentos internacionais foram realizados, descrevendo o perfil de desempenho
motor e aptidão física relacionados à saúde de escolares. Algumas destas pesquisas
subsidiaram políticas públicas de promoção da saúde para a população infantil. Koute-
dakis e Bouziotas revelaram associação entre a baixa aptidão física e o rendimento es-
colar. Outras investigações prospectivas sugerem que a baixa aptidão física na infância
e na adolescência reflete negativamente na vida adulta. No Brasil, os estudos ainda não
são conclusivos quanto ao baixo padrão de aptidão física de escolares, principalmente
pelo fato de utilizar amostras pequenas.

Fonte: Pelegrini et al. (2011).

159
material complementar

Indicação para Ler

Manual Completo de Condicionamento Físico e Saúde


Barbara Buschman
Editora: Phorte
Sinopse: baseado em sólida fundamentação teórica e em importantes e recentes
pesquisas sobre atividade física e nutrição, este livro traz orientações específicas
em ambas as áreas e para as diferentes faixas etárias, incluindo pessoas em con-
dições especiais de saúde. A presente obra traz valiosas informações sobre condi-
cionamento físico e saúde, descrevendo programas de exercícios para diferentes
níveis de condicionamento, além de princípios e diretrizes em atividade física e
nutrição que permitem a obtenção de resultados eficientes e seguros.

160
referências

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Referências on-line:
1
Em: <http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs369/en/>. Acesso em: 06 ago. 2018.

163
gabarito

1. C Logo nos momentos que seguem uma


2. C lesão, é possível verificar no atleta a fase
3. de Negação. Essa fase caracteriza-se pela
descrença sobre o ocorrido, o que o leva
A suspensão da prática esportiva pode oca-
a negar sua importância. Com o passar do
sionar a desmotivação do atleta com relação tempo e a percepção de que a lesão é séria
à prática e pode levar ao abandono do es- e terá consequências, instala-se o estágio
porte. A pressão por resultados e a dedica- de Raiva, sendo demonstrada por meio de
ção na prática pode ter algumas consequên- agressividade com os demais à sua volta. A
cias negativas. Quando se fala em crianças e fase de Barganha ocorre quando o atleta
adolescentes, os efeitos psicológicos e físicos começa a negociar consigo mesmo algu-
podem ser bem severos. Podem ocorrer mas estratégias na tentativa de se recu-
quedas de desempenho, baixa autoestima, perar de forma mais rápida. As estratégias
surgimento de transtornos alimentares e le- giram em torno de propor soluções a fim
sões crônicas (CARR; WEIGAND, 2014). Estes de evitar a realidade da situação. Ao per-
ceber, conscientemente, a situação grave
sintomas podem surgir em decorrência do
da lesão, o atleta pode experimentar um
excesso de treinamento e acabam prejudi-
período de Depressão e incerteza sobre o
cando, também, as transições naturais que
futuro, principalmente sobre o retorno da
ocorrem no contexto esportivo, torna-as prática esportiva. Por fim, a Aceitação ins-
insatisfatórias e, até mesmo, não ocorrem, tala-se, e esta fase é importante para que
neste caso, evoluindo para o abandono da possa iniciar o processo de reabilitação e
prática (STAMBULOVA; WYLLEMAN, 2014). o retorno às atividades (SAMULSKI; AZEVE-
4. DO, 2009).
Negação, Raiva, Barganha ou Negociação, 5.
Depressão, Aceitação e Reorganização. Os índices de pessoas que sofrem com pro-
Embora estes estágios sejam bem descritos blemas devido à depressão e à ansiedade au-
pela autora, é necessário lembrar que os in- mentam a cada ano. A prática de exercícios e
divíduos lesionados, não necessariamente, esporte está relacionada com a redução de
seguem um padrão estabelecido nem de- sintomas destes estados emocionais tipica-
monstram suas emoções baseadas nestes mente negativos. Os efeitos tanto agudos
cinco estágios. Mas levando em consideração quanto crônicos do exercício geram a dimi-
este modelo, refletiremos sobre como cada
nuição da ansiedade a da depressão quando
momento pode ser enfrentado pelos atletas.
são realizados de forma regular, com inten-
A maioria passa por todos os estágios, mas o
sidade moderada (20 a 30 minutos de dura-
tempo e a duração delas é dependente das
características psicológicas apresentadas pe- ção), de natureza aeróbica e agradável.
los atletas (GORDON et al., 1991).

164
conclusão geral

Prezado(a) aluno(a), espero que este livro tenha Este conhecimento vai desde o início da práti-
contribuído com sua formação, com vistas à impor- ca, considerando os motivos que levam a pessoa a se
tância dos aspectos psicológicos envolvidos no es- inserir neste contexto, até os diversos pontos, como
porte, seja ele de rendimento, voltado para a saúde, as variáveis que contribuem para a continuidade
seja de bem-estar psicológico. Ao longo das cinco da prática e as variáveis que podem prejudicar esta
unidades, abordamos temáticas que não esgotam o atividade. No que concerne ao esporte profissional,
universo da Psicologia do Esporte e do Exercício, há as exigências físicas aumentadas e, com isso, as
mas estão em alta nas discussões em frentes de atu- exigências psicológicas também aumentam, pois a
ação no Ensino, na Pesquisa e na Intervenção no busca por resultados em uma competição é, muitas
contexto esportivo. vezes, barreira a ser ultrapassada que demanda de-
É fundamental a compreensão de que o traba- masiado esforço. O objetivo é contribuir para que
lho da Psicologia do Esporte e do Exercício pode um atleta possa desempenhar suas atividades de for-
ser realizado tanto por profissionais de Psicologia ma saudável, física e psicologicamente.
quanto de Educação Física, desde que respeita- Já a prática esportiva voltada à saúde deve ser
dos os limites da prática profissional. Conhecer considerada uma atividade permanente na vida das
os fatores psicológicos envolvidos no esporte e pessoas, desenvolvendo estratégias que colaboram
na atividade física é fundamental, e o profissional com o desenvolvimento saudável da população bem
de Educação Física necessita deste conhecimen- como para a promoção da saúde geral.
to para que seu trabalho ultrapasse a barreira de Desta forma, espero que tenham aproveitado, e
focar apenas nas questões físicas do esporte e da que este conteúdo possa ser aplicado, diariamente,
atividade física. em sua prática profissional.

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