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Relações Diplomáticas entre os Reis de Portugal e

Castela (1357-1367)

Trabalho de Investigação apresentado no Seminário de História Medieval Peninsular,


regido pela Prof.ª Doutora Julieta Araújo
Ana Filipa Coelho Muxagata, nº 48327
Mestrado em História – Especialidade de História Medieval
Lisboa, 27 de Janeiro de 2017
Índice

Capa p. 1
Índice p. 2
Introdução pp. 3 - 5
As Relações Diplomáticas entre os Reis de Portugal e de Castela pp. 6 - 12
1. Primeira Embaixada enviada pelo Rei de Portugal ao seu sobrinho: p. 6
a) Análise da carta enviada pelo Rei Português, p. 6
b) Explicitação dos comissários Portugueses enviados; p. 6
2. Primeira Embaixada enviada pelo Rei de Castela ao seu tio: p. 7
a) Interpretação da resposta Castelhana; p. 7
3. Segunda Embaixada Castelhana: pp. 8 - 9
a) Estudo da aliança firmada pelos dois Reinos, p. 8
b) Proposta de casamento entre os filhos dos dois Reis, p. 8
c) Referência ao embaixador Castelhano; p. 9
4. Transladação do corpo da Rainha Dona Maria; p. 10
5. Envio de um emissário pelo Rei de Portugal a propor a troca de exilados. pp. 11 - 12
Conclusão p. 13
Fontes e Bibliografia pp. 14 - 16

2
Introdução
A presente investigação, realizada no âmbito do Seminário de História
Medieval, pretende analisar as relações diplomáticas entre o Rei D. Pedro I de Portugal
e o seu sobrinho, o Rei Pedro I de Castela entre os anos de 1357 e 1367. Para este
trabalho, tive como fontes a Chancelaria de D. Pedro I (editado por Oliveira Marques),
a Crónica de D. Pedro (escrita por Fernão Lopes), os Itinerários de El-Rei D. Pedro I
(redigido por J. T. Montalvão Machado) e O Desembargo Régio (1320-1433)
(organizado por Armando de Carvalho Homem). Também analisei vários artigos de
diferentes autores que estudaram as relações diplomáticas entre Portugal e Castela na
Idade Média, durante os Reinados de D. Pedro I de Portugal e Pedro I de Castela (tio e
sobrinho, respectivamente).

Em Coimbra, a 08 de Abril de 1320, nasce Pedro, filho dos ainda Infantes D.


Afonso (futuro Rei D. Afonso IV) e Dona Beatriz; além de Pedro, este casal teve apenas
duas filhas, as Infantas Dona Maria (que casou com Rei Afonso XI de Castela) e Dona
Leonor (que casou com o Rei Pedro IV de Aragão). Quando tem apenas 5 anos, o seu
pai ascende ao trono; tornando-se Pedro oficialmente o Príncipe herdeiro 1.
Em 1336, é assinado um acordo de casamento entre o Infante D. Pedro e Dona
Constança Manuel (filha do Infante de Castela, Juan Manuel); mas, somente 4 anos
depois, Constança chega a Portugal (acompanhada de Inês de Castro) pois só nessa
altura é que Afonso XI a autoriza a deixar Castela. D. Pedro e Dona Constança têm dois
filhos: Dona Maria (nascida a 06 de Abril de 1342) e D. Fernando (nascido a 31 de
Outubro de 1345). 2
D. Pedro teve duas mulheres (Dona Constança Manuel, e Dona Inês de Castro) e
5 filhos legítimos (D. Fernando e Dona Maria, da primeira esposa, D. João, D. Dinis e
Dona Beatriz, da 2ª esposa). A 07 de Janeiro de 1355, Dona Inês de Castro é
assassinada por Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco por ordem de.
Afonso IV. Desde este dia até 05 de Agosto do mesmo ano, Pedro entra num período de
hostilidades contra o pai que finda com assinatura da paz em Canavezes, onde fica
escrito que o Infante passa a auxiliar o pai no governo do Reino. 3

1
Vide Cristina Pimenta, D. Pedro, Rio de Mouro, Círculo de Leitores, 2015.
2
Vide idem, ibidem.
3
Vide idem, ibidem.

3
No dia 28 de Maio de 1357, D. Pedro é aclamado Rei de Portugal. Ainda durante
este ano, tem um filho natural com Teresa Lourenço, João (futuro D. João I); que aos 5
anos torna-se Mestre de Avis. Três anos depois (1360), assume publicamente o seu
casamento com Inês ocorrido sete anos antes (1353). Pedro governa o Reino de Portugal
durante 10 anos até à sua morte, ocorrida a 18 de Janeiro de 1367 em Estremoz. 4

A 30 de Agosto de 1334, em Burgos, nasceu o único filho do Rei Afonso XI de


Castela e da Rainha Dona Maria de Portugal (filha de Afonso IV e Beatriz de Castela),
Pedro (futuro Rei Pedro I de Castela). Mas, Afonso XI teve mais 10 filhos da sua
amante, Luísa de Gusmão, que são:
1. Joana Afonso de Castela (1330-?);
2. Pedro Afonso de Castela, Senhor de Aguilar (1330-1338);
3. Sancho Afonso de Castela, Senhor de Ledesma, Béjar e Galisteo (1331-1343);
4. Henrique II de Castela, o das Mercês (1333-1379);
5. Fradique Afonso de Castela, Senhor de Haro e Mestre da Ordem de Santiago (1335-
?);
6. Fernando Afonso de Castela, Senhor de Ledesma (1336-?);
7. Telo Afonso de Castela, 1º Senhor de Aguilar de Campoo (1337-1370);
8. João Afonso de Castela, Senhor de Badajoz e Jerez (1341-1359);
9. Sancho de Castela, Conde de Alburquerque (1342-1375; casado com a Infanta
Beatriz de Portugal, filha de D. Pedro I);
10. Pedro Afonso de Castela, Senhor de Aguilar (1345-1359) 5.
No ano de 1351, casou-se por procuração e depois presencialmente em
Valladolid a 03 de Junho de 1353 com Branca de Bourbon (2ª filha de Isabel de Valois,
Condessa de St-Pol, e de Pedro I, Duque de Bourbon); Pedro e Branca não tiveram
descendência. No dia em Branca chegou a Valladolid (25 de Fevereiro de 1353), o Rei
encontrava-se em Torrijos com a sua amante, Maria de Padilha, que estava a dar à luz.
Alguns dias depois do casamento, Pedro foi viver com a amante para Olmedo; enquanto
Branca mudou-se com a Rainha-Mãe para Tordesilhas e depois para Medina del
Campo, mas o Rei não autorizou e a fez encerrar primeiro em Arévalo e depois no

4
Vide idem, ibidem.
5
Vide Pedro I de Castela, https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_I_de_Castela. Consultado a 22 de
Novembro de 2016.

4
Castelo de Toledo. Dez anos (1361), em Medina Sidónia, Branca foi assassinada pelo
besteiro Juan Perez de Rebolledo 6.
Ainda quando Branca estava viva, os adversários do Rei aproveitam-se da
circunstância de Pedro ter declarado que antes de casar com Branca tinha-se esposado
secretamente com Maria de Padilha. Isto fez com que Carlos V de França, casado com a
irmã gémea de Branca, se aliasse a Henrique de Trastamara, irmão do Rei, contra Pedro.
O Rei e Maria de Padilha, que acabou por morrer de peste também em 1361, tiveram 4
filhos:
1. Infanta Beatriz de Castela (1353-1369),
2. Infanta Constança de Castela (1354-1394),
3. Infanta Isabel de Castela (1355-1393);
4. Príncipe Afonso de Castela (1359-1362) 7.
No ano de 1354, quando ainda Branca e Maria de Padilha ainda estavam vivas,
Pedro I de Castela casa-se com Joana de Castro (meia-irmã de Inês de Castro), Senhora
de Duena e Ponferrada, com quem teve um filho chamado João de Castela 8.
O Rei Pedro de Castela teve ainda 4 filhos bastardos:
1. Com Isabel de Sandoval:
a) Sancho de Castela, Senhor de Almazán
b) Diego de Castela e Sandoval;
2. Com Teresa de Ayala:
a) Maria de Castela (freira em Toledo);
3. Com Maria de Henestrosa:
a) Fernando de Castela, Senhor de Niebla 9.

6
Vide idem, ibidem.
7
Vide idem, ibidem.
8
Vide idem, ibidem.
9
Vide idem, ibidem.

5
As Relações Diplomáticas entre os Reis de Portugal e
Castela (1357-1367)

Primeira Embaixada enviada pelo Rei de Portugal ao seu sobrinho

Análise da carta enviada pelo Rei Português


Em Novembro de 1357, logo que D. Pedro I subiu ao trono de Portugal, enviou
Aires Gomes da Silva e Gonçalo Anes de Beja ao seu sobrinho, Pedro I de Castela. Por
intermédio destes enviados, “tratou-se então entre os reis que fossem ambos verdadeiros
e leais amigos; e firmaram daquela vez suas amizades” 10.
Segundo Montalvão Machado, na obra Itinerários de El-Rei D. Pedro I (1357-
13567), “nem os nossos historiadores, nem os historiadores espanhóis insistem muito
nesta primeira embaixada de D. Pedro I” 11.
Pode-se assim concluir que esta embaixada afirma a vontade do Rei D. Pedro de
Portugal preservar o seu Reino em paz.

Explicitação dos comissários Portugueses enviados – Aires Gomes da Silva


Aires Gomes da Silva fora um dos partidários de D. Pedro enquanto Infante
durante a guerra entre pai e filho suscitada pela execução de Inês de Castro e
desempenhara a função de testemunha na Concórdia de Canavezes entre D. Afonso IV e
o Infante.
D. Pedro já distinguira este fidalgo, designando-o Alcaide do Castelo de
Santarém 12
. Como se pode confirmar na Chancelaria do Monarca: “o dicto senhor
mandou entregar o seu castello de santarem a airas gomez da silva o grande seu uasallo
que lhe delle fez menagem” 13.

10
Vide Fernão Lopes, Crónica de D. Pedro I, Lisboa, Livros Horizonte, 1997, p. 79.
11
Vide J. T. Montalvão Machado, Itinerários de El-Rei D. Pedro I (1357-1367), Lisboa, Academia
Portuguesa da História, 19 de Maio de 1978, p. 48.
12
Vide idem, ibidem, p.48.
13
A. H. de Oliveira Marques, Chancelaria de D. Pedro I, Lisboa, Instituto de Investigação Científica,
1984, p. 21.

6
Primeira Embaixada enviada pelo Rei de Castela ao seu tio

Interpretação da resposta Castelhana


Após receber e aprovar Aires Gomes e Gonçalo Anes de Beja como
procuradores do Rei de Portugal, Pedro de Castela fez reverência e louvor ao seu
procurador, Fernão Lopes d’Estenhega, tendo como atestante João Fernandes de
Fenestrosa, Camareiro-Mor e Chanceler-Mor do mesmo Rei, passando-lhe uma
procuração.
Essa procuração dizia: “Saibham quantos esta virem como nos dom pedro pella
graça de deus Rey de castella de toledo de liam de Galiza de seujlha de cordoua de
Murça de Jaem do alguarue E senhor de molina fazemos e stabelecemos outorgamos
por nosso certo procurador special mensageiro suficiente auondoso como el mjlhor e
mais compridamente po // de e deue seer e mais ualler o nobre e sages barom fermam
lopez de abstunjga caualeiro nosso uasallo o mostrador desta presente procuraçam.
E damos-lhe comprido e special poder pera poer e tractar e afermar por nos e em
nosso nome com o muy nobre Rey dom pedro de Portugal posturas e auenças per
fermjdooe e amijzades trautadas e firmadas com Juramento na sancta uerdadeira cruz e
sobre os sanctos uaangelhos corporalmente tangidas e per menageens e per cartas
pubricas em esta guisa. s. que nos amemos bem e lealmente sem engano nehuu e que
seuanis uerdadeiros e leaaes amjgos E pera fazer sobre esto todo scpritura e firmamento
com o dicto Rey de portugal sobre esto que dicto he”. 14
Esta procuração foi feita em Sevilha a 21 de Fevereiro de 1358 e teve como
testemunhas: Gomes Carrilho (Copeiro-Mor do Rei), Garcia Alvares de Toledo e Rui
Gonçalves da Câmara.

O Rei de Portugal, depois de ler a procuração, aprova Fernão Lopes de


Abstunjga como o representante do seu sobrinho. Pedro jura cumprir tudo o que for
acordado entre si e o Rei de Castela e, por isso, manda lavrar um documento onde
confirma tudo. Esse registo é dado no dia 08 de Março de 1358.

14
A. H. de Oliveira Marques, op. Cit., p. 20.

7
Segunda Embaixada Castelhana

Estudo da aliança firmada pelos dois Reis


Em 1358, mais ou menos um ano depois da primeira embaixada enviada pelo
Rei de Portugal a Castela, Pedro de Castela encaminha o seu Tesoureiro-Mor (Samuel
Levi), o Aguazil-Mor de Sevilha (Garcia Guterrez Telo) e o seu Alcaide (Gomez
Fernandez de Soria) a Portugal para confirmar os acordos de amizade e lealdade
assinados no ano anterior.
Ficou disposto “que el-rei de Castela fosse seu amigo e inimigo de inimigo e que
se ajudassem um ao outro por mar e por terra cada vez que requerido fosse. E que el-rei
de Castela não fizesse paz com el-rei de Aragão contra quem lhe ele então requeria
ajuda, sem lho fazer saber primeiro, nem com outro nenhum rei e senhor” 15.
Esta disposição advém do facto do Rei Castelhano necessitar do auxílio do tio
por mar e por terra na guerra que tinha contra o Reino de Aragão. A resposta do Rei
Português foi “que lhe prazia de o ajudar com dez galés grossas, pagas por três meses,
as quais lhas fariam bem prestes quando lhes mandasse requerer. E foi assim de feito
que lhe fez ajuda por mar duas vezes, e duas por terra de bons cavaleiros e bem
corrigidos” 16.

Proposta de casamento entre os filhos dos dois Reis


Os mensageiros apresentaram ao Rei de Portugal a proposta de casamento do
Infante D. Fernando, herdeiro da Coroa Portuguesa, com a Infanta Beatriz (filha do Rei
Castelhano); os esponsórios seriam firmados entre Fevereiro e último dia de Março
seguintes e a boda realizar-se-ia no último dia de Abril. Mais duas sugestões foram
expostas: que se “casasse Dona Constança, filha do dito rei Dom Pedro de Castela, com
o infante Dom João, e a outra filha, que chamavam Dona Isabel, casasse com o infante
Dom Dinis. E o que os esponsórios e casamentos destes fossem acabados daí a seis
anos” 17.

15
Vide Fernão Lopes, op. cit., p. 80.
16
Vide idem, ibidem, p. 81.
17
Vide idem, ibidem, p. 80.

8
Referência ao embaixador Castelhano – Samuel Levi
Samuel Levi, de nome completo Samuel Halevi Abulafi, nasceu na cidade de
Ubeda no ano de 1320. Pouco tempo depois de dar à luz, a mãe de Samuel morre e
alguns meses depois morre também o seu pai (Mair Há-Levi) devido à peste negra.
Foi administrador do Cavaleiro Português João Afonso de Albuquerque e, em
1350 com 30 anos de idade, é criado do Rei Pedro I de Castela. Apenas 1 ano depois
(1351), é designado pelo Rei como Tesoureiro-Real. “Durante dez anos ele foi o
confidente do rei e colocá-lo em seu próprio palácio o tesouro do reino, que em 1354
apreendeu os inimigos de D. Pedro (a poderosa família dos seus irmãos bastardos, a
Trastámara) para organizar um massacre em que saquearam o bairro judeu de Toledo e
apreendeu ambos os bens reais como seu ministro. Em tais dificuldades e a mercê dos
conspiradores, o rei foi obrigado a marchar para Toro para a exigir a devolução da sua
propriedade, mas Samuel acompanhou seus truques hábeis e causou divisão entre os
seus inimigos ganhando adeptos ao seu senhor; na verdade, ele subornou os guardas
para que eles pudessem escapar. Então, como um diplomata, ele ajudou a ganhar Toledo
novamente para Pedro I com a ajuda de seus irmãos da judiaria e negociou a paz entre
Castela e Portugal que foi assinada em Évora em 1358” 18.
Levi morou num palácio localizado no bairro Judeu de Toledo onde
presentemente está sediado o Museu e Casa do Grego. Durante toda a sua existência,
defendeu os seus irmãos de religião e concentrou uma grande fortuna devido à sua
colocação política.
Além das funções já anunciadas, Samuel Levi também foi designado para o
cargo de Juiz da Audiência conseguido obter poder judicial.
Em consequência da colocação priorizada e da ampla fortuna, estimulou a
cobiça e a desconfiança de todos incluindo do próprio Rei. Pedro ordenou que Samuel
fosse preso e torturado para elucidar se ele tinha furtado algum montante do Tesouro
Real. Levi acabou por morrer, preso nas Atarazanas de Sevilha, no ano de 1360 antes de
receber o perdão Real.

18
Vide Samuel Halevi, https://es.wikipedia.org/wiki/Samuel_ha_Lev%C3%AD. Consultado a 15 de
Dezembro de 2016, com tradução da autora do trabalho.

9
Transladação do corpo da Rainha Dona Maria

Aquando da subida de D. Pedro I de Portugal ao trono, o mesmo recebe uma


carta do seu sobrinho, Pedro I de Castela, em que lhe era rogado que enviasse o corpo
da Rainha Dona Maria (mãe do Rei de Castela e irmã do Rei de Portugal) para Sevilha
pois desejava coloca-la na Capela dos Reis junto ao Rei Afonso XI de Castela, seu
marido.
Ao mesmo tempo que envia uma emissiva para Portugal, o Rei de Castela
ordena ao Arcebispo de Sevilha e a outros prelados que se dirigissem a Portugal para
acompanharem os restos mortais da sua mãe.
Na carta que escreveu ao seu tio, Pedro também determinou mais à frente que se
corrigisse “todas as cousas que cumpriam para o corpo ir honradamente, Gomez Perez,
seu despenseiro-mor, ao qual o corpo havia de ser entregue para ordenar tudo o que
mister fazia à sua trasladação, para quando os prelados viessem, que achassem tudo
prestes e se partissem logo” 19.
Quando recebeu a carta do sobrinho, Pedro respondeu logo concordando com
pedido e dizendo para enviar quem desejasse. Gomez Perez foi imediatamente enviado
a Évora onde recolheu o corpo da Dona Maria, acompanhado pelo Arcebispo de Sevilha
e por outros prelados. Ao chegar junto de D. Pedro, o Arcebispo entregou uma emissiva
do Monarca de Castela ao Rei de Portugal; que além da saudação inicial habitual na
correspondência entre os Reinos Ibéricos, refere que “fazemos-vos saber que vimos uma
carta de crença que nos enviastes por Martim Vasques e Gonçalo Anes de Beja, vossos
vassalos; e disseram-nos da vossa parte a crença que lhes mandásteis” 20. Mais à frente,
Pedro de Castela sugere o casamento das suas filhas com os filhos do Soberano de
Portugal tal como já tinha proposto aos emissários Portugueses e, por isso, enviou como
embaixador o Chanceler do seu Selo da Puridade, João Fernandes de Mellgarejo; além
desta simples referência aos casamentos nada mais se menciona na carta.

19
Vide Fernão Lopes, op. Cit., p. 47.
20
Vide idem, ibidem, p. 48.

10
Envio de um emissário pelo Rei de Portugal a propor a troca de
exilados

Quando D. Pedro de Portugal ainda era Infante, o Rei D. Afonso IV manda


Álvaro Gonçalves (seu Meirinho-Mor), Pêro Coelho e Diogo Lopes Pacheco
assassinarem a 2ª esposa do seu filho, Dona Inês de Castro, na cidade de Coimbra.
Ao saber o que aconteceu, Pedro levantou armas contra o Rei e os seus homens.
Contundo, após a intervenção da Rainha Dona Beatriz, o Infante assinou um acordo
com o pai onde “perdoou o infante a estes a outros de que suspeitava. E isso mesmo
perdoou el-rei aos do infante todo queixume que deles havia” 21. O juramento do tratado
afirmado pelo Rei, pela Rainha e pelo filho destes foi feito em locais diferentes e em
datas diferenciadas: “D. Pedro jurou em Canaveses em 5 de Agosto de 1355, D. Afonso
IV jurou no mosteiro de São Francisco de Guimarães, em 14 de Agosto de 1355 (…), a
rainha D. Beatriz jurou no mosteiro de São Domingos, do Porto em 20 de Agosto de
1355” 22
. Depois disto, durante o tempo que o Rei D. Afonso IV viveu, Álvaro
Gonçalves, Pêro Coelho e Diogo Lopes Pacheco habitaram em segurança no Reino de
Portugal. Um dia, estando D. Afonso às portas da morte chamou os seus antigos
conselheiros e “disse-lhes que ele sabia bem que o infante Dom Pedro, seu filho, lhes
tinha má vontade, não embargando as juras e perdão que fizera da guiza que eles bem
sabiam. E que, porquanto se ele sentia mais chegado à morte que à vida, que lhes
cumpria de se porem a salvo fora do reino, porque ele não estava já em tempo de os
poder defender dele se lhes algum nojo quisesse fazer” 23. Ao ouvir isto, os três antigos
conselheiros fugiram de Portugal e refugiaram-se em Castela onde viveram em
segurança até que Pedro de Portugal subisse o trono. Assim que subiu ao trono de
Portugal, Pedro condenou os três por alta traição e entregou “os bens de Pero Coelho a
Vasco Martins de Sousa, rico-homem e seu chanceler-mor, e os de Álvaro Gonçalves e
Diogo Lopes a outras pessoas como lhe prouve. E fez el-rei nalguns destes bens tantas e
tais benfeitorias, e outros repartiu em tantas partes que, depois que ele morresse, nunca
mais os pudessem haver aqueles cujos foram nem tirar àqueles a que os assim dava” 24.

21
Vide idem, ibidem, p. 127.
22
LOUREIRO, Sara, O conflito entre D. Afonso IV e o infante D. Pedro (1355-1356),
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/71.pdf, Consultado a 29 de Novembro de 2016, p. 14.
23
Vide Fernão Lopes, op. cit., p. 128.
24
Vide idem, ibidem, p. 128.

11
De igual forma, D. Pedro Nunez de Gusmán (adiantado-mor de Leão), Mem
Rodriguez Tenório, Fernan Godiel de Toledo e Fernan Sanchez Caldeirom escaparam
de Castela e refugiaram-se em Portugal onde habitavam nas graças do Rei.
Num total segredo foi firmada uma “avença que el-rei de Portugal entregasse
presos a el-rei de Castela os fidalgos que em seu reino viviam e que ele outrossim lhe
entregaria Diogo Lopes Pacheco e os outros ambos que em Castela andavam. E
ordenaram que fossem todos presos num dia, porque a prisão de uns não fosse
avisamento dos outros. E que aqueles que levassem presos os castelhanos até ao
extremo do reino recebessem os portugueses que trouxessem de Castela” 25.
Pedro de Castela conseguiu prender todos os homens que desejava. Já o Rei de
Portugal só conseguiu dois, pois Diogo Lopes Pacheco, avisado por um mendigo, fugiu
para França.

25
Vide idem, ibidem, pp. 128-129.

12
Conclusão
A realização deste trabalho foi um pouco complicada, pois havia pouca
informação específica sobre as relações diplomáticas entre o Rei D. Pedro I de Portugal
e o Rei Pedro I de Castela. Mesmo assim, consegui atingir quase todos os objectivos
que me propôs no plano de trabalho apresentado no início do semestre.
Conclui-se que a relação entre tio e sobrinho baseava-se principalmente na troca
de correspondências e embaixadores. Também encontrei referências a empréstimo de
homens e barcos por parte do Rei de Portugal a Castela.

13
Fontes
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O Desembargo Régio (1320-1433), Porto, Instituto Nacional de Investigação
Científica – Centro de História da Universidade do Porto, 1990.

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Bibliografia

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LOUREIRO, Sara,
O conflito entre D. Afonso IV e o infante D. Pedro (1355-1356),
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/71.pdf, Consultado a 29 de
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14
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Quadro elementar das relações políticas e diplomáticas de Portugal com as
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15
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Samuel Halevi, https://es.wikipedia.org/wiki/Samuel_ha_Lev%C3%AD.
Consultado a 15 de Dezembro de 2016, com tradução da autora do trabalho.

16

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