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D.

Pedro e Dona Inês de Castro – casamento e filhos

Trabalho de Investigação apresentado no Seminário de História Medieval, regido pelas


Profs.ª Drs.ª Ana Mª Rodrigues e Manuela Santos Silva

Ana Filipa Coelho Muxagata nº 48327


Curso de História
Lisboa, 15 de Junho de 2015
Índice

Capa p. 1
Índice p. 2
Introdução p. 3
Contextualização política da época de D. Pedro e Dona Inês pp. 4 - 5
Contextualização das relações familiares entre Pedro e Inês p. 6
Casamento de D. Pedro e Dona Inês pp. 7 - 12
Filhos de D. Pedro e Dona Inês pp. - 13
Conclusão p. 14
Fontes e Bibliografia pp. 15 - 18
Anexos: pp. 19 - 20
1. Imagens p. 19
2. Árvore Genealógica de D. Pedro e Dona Inês p. 20

2
Introdução

A presente investigação, realizada no âmbito do Seminário de História


Medieval, pretende analisar o juramento feito pelo Rei D. Pedro I sobre o casamento
celebrado com Dona Inês de Castro (declarado em Cantanhede no dia 18 de Junho de
1360), a Carta de Inquirição a Respeito da Ilegitimidade dos Filhos de D. Pedro e Dona
Inês de Castro (feita a 30 de Maio de 1385) e os Túmulos de D. Pedro e Dona Inês.
Durante a investigação que efectuei, além do Juramento de D. Pedro e a Carta de
Inquirição, foram vários os autores que encontrei que escreveram obras sobre o Rei D.
Pedro I e a Dona Inês de Castro; serão esses autores (e as suas obras) que definiram a
bibliografia do meu trabalho de investigação. Vários autores declaram que o casamento
de D. Pedro e Dona Inês nunca aconteceu, como é o caso de Fernão Lopes, de João das
Regras, do Frei Rafael de Jesus e do Frei Manuel dos Santos; por outro lado, outros
autores defenderam que este casamento aconteceu mesmo, tais como: Cristina Pimenta,
José Barbosa, Francisco da Fonseca Benevides, António Caetano da Silva e António
Brásio. Relativamente à ilegitimidade dos filhos de D. Pedro e Dona Inês também
existiram alguns autores a declará-la, entre eles Fernão Lopes e João das Regras; no
caso da legitimidade desses mesmos filhos é defendida por outros autores, como
Cristina Pimenta e António Brásio.
Os objectivos do meu trabalho de investigação são: perceber se o casamento de
D. Pedro I e Dona Inês de Castro aconteceu verdadeiramente ou não e compreender se
os filhos de D. Pedro e Dona Inês eram legítimos, naturais ou bastardos.

3
Contextualização Política da Época de D. Pedro e Dona Inês

O romance de D. Pedro e Dona Inês dura provavelmente entre 1349 e 1355.


Nesta análise, irei apresentar o contexto político da Península Ibérica, especialmente
Portugal e Castela, durante estes 6 anos.
Neste período, Portugal é governado pelo Rei D. Afonso IV e a Rainha Dona
Beatriz, pais do Príncipe D. Pedro. Enquanto em Castela, no primeiro ano do romance,
governava o Rei Afonso XI e depois o seu filho Pedro I de Castela; este Pedro era
sobrinho de D. Pedro I de Portugal. Para compreender as relações políticas entre
Portugal e Castela, temos que recuar até ao Reinado de D. Dinis que, em 1297, assina o
Tratado de Alcanizes com o Rei Sancho IV de Castela em que é decidido o
“estabelecimento definitivo da linha de fonteira entre os dois reinos”1; com este tratado,
são celebrados dois casamentos: o do Príncipe D. Afonso (futuro D. Afonso IV) com a
Princesa Dona Beatriz de Castela e o do Príncipe Fernando de Castela (futuro Fernando
IV) com a Infanta Dona Constança de Portugal. Mais tarde e também para selar a paz
com Castela (mais uma vez), o Rei D. Afonso IV entregou ao Rei Afonso XI de Castela
a sua filha mais velha Maria em casamento; a qual foi muito mal tratada pelo marido,
que sempre preferiu a amante (Dona Luísa de Gusmão), por isso o Rei de Portugal
decidiu escolher para esposa do seu único filho e herdeiro da Coroa Portuguesa
Constança Manuel (que já tinha tido um acordo para se casar com Afonso XI, mas que
foi preterida em favor da Princesa Maria), a filha de um dos principais adversários de
Afonso XI (o Príncipe D. João Manuel, tio do Rei de Castela). Mas, Afonso XI proibiu
a vinda de Constança para Portugal e só a autorizou após a vitória do Salado, em que
recebeu o apoio de Portugal liderado pelo seu sogro o Rei D: Afonso IV.
Mais tarde, em 1350, morre Afonso XI vítima da peste que alastrava pela
Europa. Só existia um herdeiro legítimo à Coroa Castelhana, o Príncipe Pedro filho do
falecido Rei e da Rainha Dona Maria de Portugal; mas, em seu redor andam 8 bastardos
do falecido Rei e da sua amante Dona Luísa de Gusmão: Henrique, Fradique, Fernando,
Tello, João, Sancho, Pedro e Joana. Além destes, existiam mais 2 primos, Fernando e

1
MENDONÇA, Manuela, “O tempo de Inês de Castro – A Época e a Circunstâncias Políticas”, in Actas
do Colóquio Inês de Castro, Academia Portuguesa da História, Lisboa, 15 de Janeiro de 2005, p. 21.

4
João, que fugiram às intrigas de Aragão acompanhados da sua mãe, Leonor de Castela,
após a morte do pai, Afonso IV de Aragão. 2
O Reino de Aragão era governando por Pedro IV de Aragão, que foi casado em
segundas núpcias com a Infanta Leonor de Portugal (filha do Rei D. Afonso IV e da
Rainha Dona Beatriz de Castela). Enquanto o Reino de Navarro era governando pelo
Rei Carlos II de Navarra. O Reino Mouro de Granada, durante os cinco primeiros anos
de romance, era governando pelo Rei Yusuf I de Granada e, no último ano do romance,
governando o seu filho Maomé V de Granada.

2
MENDONÇA, Manuela, “O tempo de Inês de Castro – A Época e a Circunstâncias Políticas”, in Actas
do Colóquio Inês de Castro, Academia Portuguesa da História, Lisboa, 15 de Janeiro de 2005, p. 23.
2
MENDONÇA, Manuela, “O tempo de Inês de Castro – A Época e a Circunstâncias Políticas”, in Actas
do Colóquio Inês de Castro, Academia Portuguesa da História, Lisboa, 15 de Janeiro de 2005, p. 23.

5
Contextualização das Relações Familiares entre Pedro e Inês

Dona Inês de Castro e D. Pedro I de Portugal são primos em segundo grau, visto
que D. Pedro era neto de Sancho IV de Castela e Inês era bisneta do mesmo Sancho IV.
D. Pedro I de Portugal era o quarto dos sete filhos do Rei D. Afonso IV e da
Rainha Dona Beatriz de Castela, mas só ele e duas irmãs, as Infantas Dona Maria (casou
com o Rei Afonso XI de Castela) e Dona Leonor (casou com o Rei Pedro IV de Aragão)
sobreviveram à infância; os outros irmãos de D. Pedro foram: D. Afonso (morto à
nascença), D. Dinis (morreu na infância), Dona Isabel (morta na infância) e D. João
(morreu na infância). D. Afonso IV era filho do Rei D. Dinis e da Rainha Dona Isabel;
enquanto a Rainha Dona Beatriz era filha de Rei Sancho IV de Castela e da Rainha
Maria de Molina.
Dona Inês de Castro era a segunda filha de D. Pêro Fernandes de Castro e de
Aldonça Suárez de Valadares. Inês tinha mais um irmão dos pais chamado Álvaro Pires
de Castro; do pai e da madrasta (Isabel Ponce de Leão) tinha dois irmãos chamados
Fernando Rodrigues de Castro e Joana de Castro. Pêro Fernandes de Castro era filho de
D. Fernando de Castro e de Violante Sanches; enquanto Aldonça Suárez de Valadares
era filha de Lourenço Soares de Valadares e de Sancha Nunes de Chacim.
Para se perceber melhor as relações de parentesco entre Dona Inês e D. Pedro,
ver a árvore genealógica em anexo.

6
Casamento de D. Pedro e Dona Inês

Antes de tentar perceber se o casamento de D. Pedro e Dona Inês aconteceu


mesmo ou não, irei reflectir sobre a noção de casamento durante a Idade Média
Portuguesa. Segundo o Prof. Dr. Luís Cabral de Moncada no artigo “O casamento em
Portugal na Idade Média”, “é ainda hoje doutrina corrente que foram três os tipos ou
espécies de casamento conhecidos e praticados pelo nosso direito na Idade Média: o
«casamento de benção» (ad benedictionem); o «casamento de pública fama» (maridos
conhoçudos); e o chamado «casamento a furto ou de juras»” 3; deve se estabelecer uma
diferenciação extensa sobre estes três tipos, não só nos seus modos de celebração como
também nos seus próprios conceitos jurídicos-sociais. O autor defende ainda que a
primeira espécie pode corresponder ao “verdadeiro casamento religioso e solene” 4

como foi definido mais tarde no Concílio de Trento; enquanto as duas últimas podem
semelhar-se com o que se chama actualmente de casamento civil. Todas as famílias
tinham as mesmas garantias qualquer que tivesse sido a forma de casamento que lhe deu
origem; também todos têm a mesma validade religiosa. O mesmo artigo refere-nos que
inicialmente o casamento de benção não seria mais que um casamento clandestino
expandido e solenizado que, com a ida do casal à Igreja, recebia uma consagração
pública e religiosa; muitas vezes este casal já tinha casado no seio da sua família e até já
viviam juntos, só iam à Igreja para tornar o seu casamento público e religioso 5. No
artigo “Em torno do «casamento de juras», o Prof. Dr. Paulo Merêa diz-nos que
Alexandre Herculano “deu como assente que o casamento de juras era um matrimónio
ao qual faltava a benção, pelo que não tinha o carácter de sacramento e era considerado
6
como inferior ao casamento in facie Ecclesiae” (em face da Igreja); neste mesmo
artigo, temos outro autor (Araújo e Gama) que defende o contrário dizendo que o
casamento de juras era um matrimónio legítimo, o qual a Igreja legitimava como
sagrado. Para Luís Cabral de Moncada, um «casamento de pública fama» era uma

3
MONCADA, Luís Cabral de, “O casamento em Portugal na Idade Média”, in Estudos de história do
direito, vol. I, Coimbra, 1948, p. 37.
4
MONCADA, Luís Cabral de, “O casamento em Portugal na Idade Média”, in Estudos de história do
direito, vol. I, Coimbra, 1948, p. 38.
5
MONCADA, Luís Cabral de, “O casamento em Portugal na Idade Média”, in Estudos de história do
direito, vol. I, Coimbra, 1948, pp. 38.
6
MERÊA, Manuel Paulo, “Em torno do «casamento de juras»”, in Estudos de direito hispânico medieval,
t. I, Coimbra, 1952, p. 152.

7
“simples troca de palavras de presente e a ausência de qualquer impedimento” 7, em
termos de pecados, por parte dos noivos; só lhe faltando a benção dum sacerdote para
ser exactamente igual ao «casamento de benção» e ao «casamento de juras».

Irei agora apresentar alguns autores e documentos que defendem o casamento de


D. Pedro I com Dona Inês de Castro, referindo as justificações evidenciadas por esses
mesmos documentos e autores.
Segundo a Declaração de Cantanhede, no dia 12 de Junho de 1360 o Rei D.
Pedro I declarou, perante Gonçalo Perez seu Tabelião Geral, ter recebido “por sua
molher lydima per palavras de presente assi como manda a Sancta Egreja Donna Enes
de Crasto filha que foi de Dom Pero Fernandez de Crasto e essa Donna Enes er (sic)
recebeu por seu marido lydimo o dicto senhor seendo assi iffante per essas semelhavys
palavras de presente como manda a Sancta Eigreja e que depois dos dictos recebimentos
o dicto senhor rey que ora he tevera a dicta Donna fines por sua molher lydima per
huum dous tres annos e mais ata o tempo da morte dessa Donna Enes vivendo ambos de
consuum e fazendo se maridança pela guisa que deviam” 8. D. Pedro diz mais frente que
não se lembra em que dia e mês tinha recebido Dona Inês por sua mulher, será o seu
criado Estevão Lobato que jurará que o casamento aconteceu no início do mês de
Janeiro só não se recordando do ano. Outra testemunha é D. Gil, Bispo da Guarda e que
aquando do casamento era Deão da Sé da Guarda, que afirma que o “dicto senhor
chegou aa camara onde esse senhor stava e presente a dicta Donna Enes o dicto senhor
iffante disse a el testemunha que queria receber a dicta Donna Enes por sua molher e
logo sem deteença esse senhor rey seendo entom iffante como dicto he pose a mãao nas
mãaos del testemunha e esso meesmo a dicta Donna Ines e recebeu a dicta Donna Enes
por sa molher lydima per palavras de presente assi como manda a Sancta Eigreja” 9;
quando lhe perguntaram se se lembrava da data disse que tinha sido há mais ou menos
sete anos, mas que não se lembrava do dia e do mês. Nesta Declaração, Estevão Lobato
disse que D. Pedro o mandou chamar à sua câmara e lhe pediu que juntamente com
Deão da Guarda fosse testemunha do seu casamento com Dona Inês; quando lhe

7
MONCADA, Luís Cabral de, “O casamento em Portugal na Idade Média”, in Estudos de história do
direito, vol. I, Coimbra, 1948, pp. 72.
8
Juramento de D. Pedro I do matrimónio celebrado com D. Inês de Castro, Cantanhede, 18 de Junho de
1936.
9
Juramento de D. Pedro I do matrimónio celebrado com D. Inês de Castro, Cantanhede, 18 de Junho de
1936.

8
perguntaram quando isto ocorreu, “respondeu que foi em huum dia primeiro de Janeyro
pode aver sete annos pouco mais ou pouco me[n]os” 10.
Os túmulos de D. Pedro e Dona Inês também servem para confirmar o
casamento, visto que o primeiro tem na sua Roda da Fortuna a imagem do casal sentado
lado a lado estando Dona Inês à direita de D. Pedro, como se coloca duas pessoas
casadas; enquanto a “estátua de Inês de Castro, de proporções naturais, está vestida com
as insígnias de rainha e descansa numa posição graciosa entre seis anjos, cuja
11
fisionomia exprime uma terna simpatia pela infeliz esposa de D. Pedro I” .
Inicialmente os túmulos foram colocados lado a lado no transepto sul da Igreja do
Mosteiro de Alcobaça, estando o da Dona Inês do lado direito e o de D. Pedro do lado
esquerdo, como se deve fazer em caso de marido e mulher; mais tarde, entre 1782 e
1786, passaram para a Sala dos Reis e actualmente as “arcas tumulares de D. Pedro I
(1320-1367) e de D. Inês de Castro (?-1355), colocadas nos braços direito e esquerdo,
respectivamente, do transepto da igreja do Mosteiro de Alcobaça” 12
. A autoria destes
túmulos ainda hoje contínua sem ser conhecida.
A Medievalista Cristina Pimenta na biografia de D. Pedro I não defende
categoricamente que o casamento de Dona Inês e D. Pedro acontecem realmente, mas
também não o rejeita, faz somente quatro comentários ao assunto: “o primeiro tem a ver
com facto de D. Pedro I ter, realmente, estado na região de Trás-os-Montes no ano de
1353; ou seja, os tais sete anos antes que o rei, em 1360, invoca dizendo ter casado com
D. Inês em Bragança” 13, testemunhado por uma nota que está presente num diploma do
arquivo local, datado de 12 de Março de 1353 no concelho de Mirandela, em que o
Infante diz que intercedeu pelo concelho junto do pai relativamente às medidas de vinho
vendidas nesse concelho; “o segundo tem a ver com uma breve nota que recolhemos na
chancelaria do monarca quando, a propósito de uma doação feita a D. Pedro, bispo de
Coimbra, o rei menciona que este está ausente em Roma «requerendo e procurando hi o
que era meu serviço…»” 14, esta nota é datada de 19 de Abril de 1363 e pode significar

10
Juramento de D. Pedro I do matrimónio celebrado com D. Inês de Castro, Cantanhede, 18 de Junho de
1936.
11
BENEVIDES, Francisco da Fonseca, Rainhas de Portugal – As mulheres que construíram a nação,
Marcador Editora, Queluz de Baixo, Outubro de 2013, pp. 151-152.
12
SILVA, José Custódio Vieira da, “Os Túmulos de D. Pedro e de D. Inês, em Alcobaça”, Portugália,
Nova Série, vols. XVII-XVIII, 1996/1997, p. 269-276.
13
PIMENTA, Cristina, D. Pedro I: entre o reino e a recordação de Inês, Temas e Debates, Lisboa, 2007,
p. 191.
14
PIMENTA, Cristina, D. Pedro I: entre o reino e a recordação de Inês, Temas e Debates, Lisboa, 2007,
p. 191.

9
que D. Pedro ainda não tinha desistido de conseguir do Papa a confirmação do seu
casamento com Dona Inês e a consequente legitimação dos seus filhos com ela (D. João,
D. Dinis e Dona Beatriz); “ o terceiro, vai no sentido de que deve ser analisado com
muito cuidado o teor da declaração de D. Pedro I pela qual «recebeo por palavras de
presente a D. Ignez de Castro» e dos testemunhos aí prestados, uma vez que toda a
argumentação construída por diversos autores à volta da imprecisão das datas do
possível casamento (…) acabaria por vingar, desfazendo a possibilidade da realização
do casamento” 15; “o quarto comentário, não menos complexo que os anteriores, prende-
se com o facto de D. Pedro, por inconstância, por interesse, ou por verdade, tanto se
referir a D. Inês como sua mulher em datas supostamente anteriores a terem casado
como em datas posteriores ao possível enlace” 16.

Segundo Francisco da Fonseca Benevides, “vários escritores pronunciaram-se


contra a verdade do casamento de D. Inês de Castro com D. Pedro I, alegando sobretudo
17
a demora da declaração que el-rei só fez anos depois de subir ao trono” . Para o
mesmo autor, quem mais batalhou contra este matrimónio foi João das Regras nas
Cortes de Coimbra de 1385; o objectivo deste jurisconsulto era contestar a legitimidade
dos Infantes D. João e D. Dinis de Castro à Coroa Portuguesa e assim promover a
escolha do Mestre de Avis (futuro D. João I) para Rei de Portugal. João das Regras
ainda utilizou como argumento que a Bula do Papa João XXII tinha dado ao Rei D.
Pedro enquanto Infante nada servia para dispensar a compadria de D. Pedro e Dona Inês
devido ao facto de Dona Inês ser madrinha do falecido Infante D. Luís; mas, deve ficar
claro que não existem provas do nascimento deste Infante e muito menos que Dona Inês
de Castro tenha alguma vez sido madrinha de algum filho de D. Pedro e Dona
Constança, pois a primeira pessoa a dizer que este nascimento e, consequentemente,
este baptizado aconteceu foi Diogo Lopes Pacheco, um dos assassinos de Inês de
Castro, na Carta de Inquirição a Respeito da Ilegitimidade dos Filhos de D. Pedro e D.
Inês de Castro de 30 de Maio de 1385. Mas para Francisco Benevides, “os argumentos
de João das Regras eram mais filhos da necessidade do momento do que provas da
verdade. O célebre jurisconsulto teve a satisfação de ver que, acreditando ou não as suas

15
PIMENTA, Cristina, D. Pedro I: entre o reino e a recordação de Inês, Temas e Debates, Lisboa, 2007,
p. 191.
16
PIMENTA, Cristina, D. Pedro I: entre o reino e a recordação de Inês, Temas e Debates, Lisboa, 2007,
p. 191.
17
BENEVIDES, Francisco da Fonseca, Rainhas de Portugal – As mulheres que construíram a nação,
Marcador Editora, Queluz de Baixo, Outubro de 2013, p. 152.

10
asserções, todos os conformes votaram que o trono de Portugal se encontrava vago e
que se devia proceder à eleição de um rei, que seria D. João I, filho bastardo do rei D.
Pedro” 18.
Outro grande defensor da inexistência do matrimónio de D. Pedro I com Dona
Inês de Castro foi Fernão Lopes tanto na Crónica de D. Pedro I como na Crónica de D.
João I; mas, tal como João das Regras, Fernão Lopes quer é elevar e legitimar a
Dinastia de Avis que é quem lhe particiona os seus trabalhos. Fernão Lopes defende que
o Juramento de D. Pedro é falso, pois é estranho que o Rei não se lembre com exactidão
do dia do seu casamento com a sua amada. Para Fernão Lopes, também é estranho que
D. Pedro tenha tido receio de dizer ao pai, o Rei D. Afonso IV, que tinha casado com
Inês de Castro se depois da morte desta não teve medo de enfrentar o pai.
A Carta de Inquirição a Respeito da Ilegitimidade dos Filhos de D. Pedro e D.
Inês de Castro teve várias testemunhas, entre elas: Diogo Lopes Pacheco, Vasco
Martins de Sousa, Vasco Perez Bocarro, etc. Nesta inquirição é perguntado a Diogo
Lopes de Pacheco se quando os Infantes D. João e D. Dinis de Castro nasceram D.
Pedro “hera casado com algum molher disse que el sabia tanto que o dicto Rey dom
pedro sendo Iffante fora esposado com a iffante dona branca filha do Inffante dom
pedro que se morreu nas vegas de Granada” 19; acrescentou que sabia isto, porque o seu
pai (Lopo Fernandes) fora o procurador do Príncipe D. Pedro junto do Rei de Castela e
acompanhara a Dona Branca a Portugal. Quando lhe perguntaram se sabia que D. Pedro
tinha sido ou não casado com Dona Inês, respondeu que o Príncipe dizia que não casaria
com ninguém. Outra testemunha é Vasco Martins de Sousa, que jurou que “sabia que
ElRey dom Pedro que foi de Portugall fora casado sendo Iffante com alguma outra
molher ante que casasse com a Iffante dona Çonstança andou esposado em casa delRey
dom Affonso e da Raynha dona Biatriz seus avos que o criarom com a Iffante dona
Branca filha do Iffante dom Pedro que se morreu nas vegas de Graada e que se criavam
ambos em casa dos dictos senhores como esposados sendos elles mayores de hidade de
quatorze anos que podiam haver filhos e filhas e que lhi pareçia que ella hera mayor e
de mayor hydade que el E que como quer que non fezessem ambos vodas sobbenes que
el testemunha ouvyra dizer que dormiram ambos per vezes em humã cama E que o dicto

18
BENEVIDES, Francisco da Fonseca, Rainhas de Portugal – As mulheres que construíram a nação,
Marcador Editora, Queluz de Baixo, Outubro de 2013, p. 152.
19
Carta de Inquirição a Respeito da Ilegitimidade dos Filhos de D. Pedro e D. Inês de Castro, 30 de Maio
de 1385, ll. 17-21.

11
20
Iffante houvera com ella copula carnal” . Esta testemunha comete um grave erro ao
dizer que D. Afonso e Dona Beatriz são avós de D. Pedro o que é errado, pois os Reis
são pais de D. Pedro e não avós; que pode levar a que se considere que a inquirição seja
falsa e que não se utilizar como prova da inexistência do casamento de D. Pedro e Dona
Inês. Relativamente ao casamento com Dona Branca, actualmente existem provas que
nunca aconteceu ao contrário do que este documento defende desde o início ao fim.

20
Carta de Inquirição a Respeito da Ilegitimidade dos Filhos de D. Pedro e D. Inês de Castro, 30 de
Maio de 1385, ll. 114-124.

12
Filhos de D. Pedro e Dona Inês

Agora expor alguns documentos que defendem a legitimação e outros a


ilegitimação dos Infantes D. João, D. Dinis e Dona Beatriz de Castro, filhos de Dona
Inês de Castro e D. Pedro I.

A Prof.ª Dr.ª Cristina Pimenta defende que os Infantes são filhos legítimos de D.
Pedro, pois foram contemplados no testamento da Rainha Dona Beatriz; ao contrário do
Mestre de Avis (futuro D. João I) que não foi agraciado, porque era filho bastardo do
Rei D. Pedro I.
Francisco da Fonseca Benevides diz a “8 de Setembro de 1358, D. Pedro I,
confirmando ao Mosteiro de Alcobaça o couto velho e novo, que lhe tinha sido dado por
D. Afonso I, declarou, na carta de confirmação, que desejava ser enterrado na igreja do
dito mosteiro, juntamente com a sua segunda mulher e os seus filhos; no referido
documento, lêem-se a este respeito as seguintes palavras: … como seja nosso propósito
e intenção de nos mandar hy deitar e dona Enes de Castro nossa molher e nossos filhos
21
ao tempo de nosso saimento deste mundo quando for mercê de Deus…” ; para este
autor, a expressão ao tempo de nosso saimento deste mundo refere-se ao Rei D. Pedro e
aos filhos dele com Inês de Castro.

Para Fernão Lopes e para João das Regras como o casamento não é válido, logo
os Infantes D. João, D. Dinis e Dona Beatriz são filhos ilegítimos. Na Carta de
Inquirição a Respeito da Ilegitimidade dos Filhos de D. Pedro e D. Inês de Castro,
Diogo Lopes Pacheco defende que os Infantes D. João e D. Dinis são traidores à pátria,
pois como o próprio diz “vira os dictos Iffantes virem a estes Reynos o Iffante dom
Denis primeiro veio a Lixboa em companha delRey dom Henrique de Castella armado e
fazer hy guerra e que depois vira he o Iffante dom Joham vir com poder delRey de
Castella deste que hora he acercar Trancoso e depois veio acercar Elvas e quando entrou
ao Reyno em Vale dela Mula aldeia do termo de Almeida desnaturou-se e pôs fogo logo
em Sa maao e depois se parti dy e foy cercar Elvas e andar pelo Reyno e fez muita
guerra” 22.

21
BENEVIDES, Francisco da Fonseca, Rainhas de Portugal – As mulheres que construíram a nação,
Marcador Editora, Queluz de Baixo, Outubro de 2013, p. 150.
22
Carta de Inquirição a Respeito da Ilegitimidade dos Filhos de D. Pedro e D. Inês de Castro, 30 de
Maio de 1385, ll. 66-74.

13
Conclusão

A realização deste trabalho foi fundamental na medida em que consegui atingir


os objectivos que me tinha proposto no início do semestre; esses objectivos eram
perceber se o casamento de D. Pedro I e Dona Inês de Castro aconteceu
verdadeiramente ou não e compreender se os filhos de D. Pedro e Dona Inês eram
legítimos, naturais ou bastardos.
Na minha opinião, o casamento de D. Pedro com Dona Inês é válido pois o
Infante D. Pedro não iria viver para uma casa em Coimbra que a sua avó a Rainha Dona
Isabel lhe deixou, juntamente com os irmãos e os primos; como comprova esta adenda
do testamento: “das cazas da minha morada, que son outras acerca do dito mosteiro as
quaes mando q fique ao mosteiro, e mando que se algua ouver do meu linhagem a mais
chegada q queria ficar em essas minhas casas dapar do dito mosteiro” 23.
Também concordo com a Prof.ª Dr.ª Cristina Pimenta, quando ela refere que os
Infantes só podiam ser legítimos ao serem contemplados no testamento da Rainha Dona
Beatriz.

23
“Testamento da Rainha Dona Isabel”, in Provas do Livr. II da Historia Genealogica.

14
Fontes
Carta de Inquirição a Respeito da Ilegitimidade dos Filhos de D. Pedro e D.
Inês de Castro, 30 de Maio de 1385.

Juramento de D. Pedro I do matrimónio celebrado com D. Inês de Castro,


Cantanhede, 18 de Junho de 1936.

Túmulos de D. Pedro e Dona Inês de Castro, construídos entre 1358 e 1367,


presentes no Mosteiro de Alcobaça.

Bibliografia
ARNAUT, Salvador Dias,
“Os amores de Pedro e Inês: Suas consequências políticas”, in Actas do
Colóquio A Mulher na Sociedade Portuguesa: Visão Histórica e Perspectivas actuais,
vol. II, Instituto de História Económica e Social da Faculdade de Letras da Universidade
de Coimbra, Coimbra, pp. 403-414.

Brásio, António,
“Os casamentos de D. Pedro I e o Auto das Cortes de 1382”, in Anais da
Academia Portuguesa de História, série II, vol. 11, Lisboa, 1961, pp. 235-280.

BENEVIDES, Francisco da Fonseca,


Rainhas de Portugal – As mulheres que construíram a nação, Marcador Editora,
Queluz de Baixo, Outubro de 2013.

CONDE DE TOVAR,
“A legitimidade dos filhos de D. Inês de Castro”, in Anais, 10 Lisboa, 1960, pp.
157-158.

GIRÃO, Guilherme Manuel de Sousa,


Na descendência de D. Pedro e Dona Inês, 1ª ed., Edição do autor, [Lisboa],
2005.

15
LOPES, Fernão,
Crónica de D. Pedro, Civilização, Porto, 1985.

MACEDO, Francisco Pato de,


“O Túmulo de Inês de Castro: Memórias de uma Rainha”, in Pedro e Inês – O
Futuro do Passado. Congresso Internacional, vol. III, Associação dos Amigos D. Pedro
e D. Inês, 2013, 21-31.

MATTOSO, José,
“Barregão-barregã: notas de semântica”, in Naquele tempo. Ensaios de história
medieval, vol. 1 das Obras completas, Círculo de Leitores, Lisboa, 2000, pp. 55-63.

MATTOSO, José,
“A longa persistência da barregania”, in Naquele tempo. Ensaios de história
medieval, vol. 1 das Obras completas, Círculo de Leitores, Lisboa, 2000, pp. 65-78.

MERÊA, Manuel Paulo,


“Em torno do «casamento de juras»”, in Estudos de direito hispânico medieval,
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MERÊA, Paulo,
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VASCONCELOS, António de,


Inês de Castro. Estudos para uma série de lições no Curso de História de
Portugal, 2ª ed., Portucalense Editora, 1928.

18
Anexos

Imagens

Anexo 2 – D: Pedro enquanto Rei e


Dona Inês -
Anexo 1 – D: Pedro e Dona https://templars.files.wordpress.co
Inês no Jardim - m/2007/09/pedro-e-ines.jpg
https://lusitanapaixao.files.word
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Anexo 3 – Túmulos de D: Pedro e


Anexo 4 –D: Pedro e Dona Inês -
Dona Inês -
http://ensina.rtp.pt/site-
http://2.bp.blogspot.com/_Lp643LyYu
uploads/2013/09/pedro-i-333x188.jpg
DA/Scq7DDBV6qI/AAAAAAAAAB
k/yQ9-H5slOuo/s400/post3_05.jpg

Anexo 5 –D: Pedro e Dona Inês - Anexo 6 –D: Pedro e Dona Inês -
http://deltacat6.no.sapo.pt/PedroInes.jp https://lusitanapaixao.files.wordpress.c
g om/2010/03/historia_011.jpg

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