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Plotino

Enéada IV
Introdução, tradução e notas de

Juvino A. Maia

Ideia – João Pessoa – 2022


Todos os direitos do tradutor/autor.

Editoração/Capa: Magno Nicolau

Ilustração da capa:
Testa ritratto di Plotini (inv. SBAO 1386)
Dalla Domus del Filosofo (1940)
Marmo – III secolo d.C.

Conselho Editoral
Hildeberto Barbosa Filho – UFPB
Milton Marques – UFPB
Marcos Nicolau – UFPB
Roseane Feitosa – UFPB (Litoral Norte)
Dermeval da hora – Proling/UFPB
Helder Pinheiro – UFCG

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD


M217p Maia, Juvino A.
Plotino: Enéada IV [recurso eletrônico] / Introdução,
tradução e notas: Juvino A. Maia. – Dados eletrônicos -João
Pessoa: Ideia, 2022.
4 mb; pdf

ISBN 978-65-5608-254-7

1. Literatura grega clássica - Enéada. 2. Plotino – filósofo


neoplatônico. 3. Tradução literária. I.Título.

CDU 821.14’02 =030.134.3


Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Gilvanedja Mendes, CRB 15/810

EDITORA LTDA.
www.ideiaeditora.com.br
contato@ideiaeditora.com.br
SUMÁRIO

IV 1
Da essência da alma, Livro I 6

IV 2
Da essência da alma, Livro II 9

IV 3
Das Aporias da Alma, I 19

IV 4
Das Aporias da Alma, II 94

IV 5
Das Aporias da Alma, III 188

IV 6
Sobre Sensação e Memória 212

IV 7
Da Imortalidade da Alma 223

IV 8 (6)
Da Descida da Alma aos Corpos 268

IV 9 (8)
Se Todas as Almas Formam uma Só 289
Da es s ência da alma |6

IV 1
Da essência da alma, Livro I
Introdução

IV 1 (21)

Livro de breve tratado que indica o tema a ser desenvolvido no Livro


II. A crítica de modo geral tem dificuldade em explicar as numerações
diversas dos códices em relação a esses dois livros. Adotamos aqui a
numeração adotada pela maioria, embora alguns a adotem mas
mantenham a numeração invertida, seguindo a numeração da maioria
dos códices.

A inteligência é no mundo inteligível toda e indivisível, e do mesmo


modo a alma, mas sendo que esta tem natureza divisível, porque vai se
juntar a corpos; assim a alma se multiplica em todos os corpos, dando-
lhes vida, mas mantendo-se inteira em cada um deles. Sua forma
divisível só pode ser dita no mundo sensível.

Ἐννεάς Δ´

αʹ

Περὶ οὐσίας ψυχῆς πρῶτον

1. Ἐν τῶι κόσμωι τῶι νοητῶι ἡ ἀληθινὴ οὐσία· νοῦς τὸ ἄριστον αὐτοῦ·


ψυχαὶ δὲ κἀκεῖ· ἐκεῖθεν γὰρ καὶ ἐνταῦθα. Κἀκεῖνος ὁ κόσμος ψυχὰς
ἄνευ σωμάτων ἔχει, οὗτος δὲ τὰς ἐν σώμασι γινομένας καὶ μερισθείσας
τοῖς σώμασιν. Ἐκεῖ δὲ ὁμοῦ μὲν νοῦς πᾶς καὶ οὐ διακεκριμένον οὐδὲ

SUMÁRIO
Enéada IV – Livro I |7

μεμερισμένον, ὁμοῦ δὲ πᾶσαι ψυχαὶ ἐν αἰῶνι τῶι κόσμωι, οὐκ ἐν


διαστάσει τοπικῆι. Νοῦς μὲν οὖν ἀεὶ ἀδιάκριτος καὶ οὐ μεριστός, ψυχὴ
δὲ ἐκεῖ ἀδιάκριτος καὶ ἀμέριστος· ἔχει δὲ φύσιν μερίζεσθαι. Καὶ γὰρ ὁ
μερισμὸς αὐτῆς τὸ ἀποστῆναι καὶ ἐν σώματι γενέσθαι. Μεριστὴ οὖν
εἰκότως περὶ τὰ σώματα λέγεται εἶναι, ὅτι οὕτως ἀφίσταται καὶ
μεμέρισται. Πῶς οὖν καὶ ἀμέριστος; Οὐ γὰρ ὅλη ἀπέστη, ἀλλ᾽ ἔστι τι
αὐτῆς οὐκ ἐληλυθός, ὃ οὐ πέφυκε μερίζεσθαι. Τὸ οὖν ἐκ τῆς ἀμερίστου
καὶ τῆς περὶ τὰ σώματα μεριστῆς ταὐτὸν τῶι ἐκ τῆς ἄνω καὶ κάτω
ἰούσης καὶ τῆς ἐκεῖθεν ἐξημμένης, ῥυείσης δὲ μέχρι τῶνδε, οἷον
γραμμῆς ἐκ κέντρου. Ἐλθοῦσα δὲ ἐνθάδε τούτωι τῶι μέρει ὁρᾶι, ὧι καὶ
αὐτῶι τῶι μέρει σώιζει τὴν φύσιν τοῦ ὅλου. Οὐδὲ γὰρ ἐνταῦθα μόνον
μεριστή, ἀλλὰ καὶ ἀμέριστος· τὸ γὰρ μεριζόμενον αὐτῆς ἀμερίστως
μερίζεται. Εἰς ὅλον γὰρ τὸ σῶμα δοῦσα αὑτὴν καὶ μὴ μερισθεῖσα τῶι
ὅλη εἰς ὅλον τῶι ἐν παντὶ εἶναι μεμέρισται.

1. No cosmo inteligível é a verdadeira essência; inteligência é o melhor


dali; e almas também há ali: pois dali são também aqui. E aquele cosmo
tem almas sem corpos, este tem as que vieram a ser em corpos, porque
foram partilhadas em corpos. E ali tanto a inteligência é toda, não
estando distinguida nem partilhada, quanto todas são as almas, em
eternidade naquele cosmo, não em distância espacial. Então,
inteligência é sempre indistinta e não partilhável; e alma ali é indistinta
e impartilhável, mas tem por natureza ser partilhada. Pois o produto da
partilha dela é afastar-se e vir a ser em corpos. Então, naturalmente se
diz ser partilhável em corpos, porque, assim que se afasta, ela está
partilhada. Como, então, é também impartilhável? Pois ela não se
afastou inteira, mas há algo dela que não se foi, que é não se partilhar
por natureza. Então, o que é desde o impartilhável e desde o partilhável
em corpos1 é igual a algo que é desde o que vem de cima para baixo, e,

1
Platão, Timeu 35a: τῆς ἀμερίστου καὶ ἀεὶ κατὰ ταὐτὰ ἐχούσης οὐσίας καὶ τῆς αὖ
περὶ τὰ σώματα γιγνομένης μεριστῆς τρίτον ἐξ ἀμφοῖν ἐν μέσῳ συνεκεράσατο οὐσίας
εἶδος (da essência impartilhável e que é sempre a mesma e ainda da que vem a ser
partilhável em corpos [o demiurgo] combinou no meio de ambas uma terceira forma
de essência).

SUMÁRIO
Da es s ência da alma |8

de lá tendo partido, decorre até as coisas daqui, como uma linha desde
um centro [de circunferência]. Tendo vindo para cá, a alma olha com
essa parte, com que, por essa mesma parte, preserva a natureza do
inteiro. Pois aqui não é apenas partilhável, mas também impartilhável;
pois o que dela se partilha se partilha de modo impartilhável. Pois, por
ter-se dado ao corpo inteiro e por não se ter partilhado por ser inteira
em inteiro, está partilhada por ser no todo.

SUMÁRIO
Enéada IV – Livro I |9

IV 2
Da essência da alma, Livro II
Introdução

IV 2 (4)

A alma é de natureza divisível e ao mesmo tempo indivisível, mas sua


essência é de natureza indivisível. Mas o que compõe este todo é em
parte, ou seja, é divisível, sendo suas partes menores do que os inteiros;
além disso não é possível ser a mesma coisa em mais de um lugar,
porque são grandezas sensíveis. Pode-se comparar esse esquema a uma
circunferência com seu centro; o que se mantém único é o centro,
portanto a essência da alma é o centro, e aquilo em que ela se divide é
a circunferência, que é de múltiplos pontos. Há necessidade de algo que
os ligue, uma natureza distinta, que no centro é indivisível, mas, quando
parte dele, torna-se divisível, até chegar à circunferência; assim as
formas que são inteligíveis vão ao mundo sensível, partilhando-se nos
corpos através da razão, de modo a que o que é sempre o mesmo vem a
ser múltiplo, como o conceito de cor ou de qualidade é sempre o mesmo
na diversidade dos corpos, que se mostram diferentes pelo resultado da
impressão causada pela cor ou qualidade em cada um deles. Em
essência cada forma não é a mesma, pois nos corpos são apenas razões
sensíveis, que se partilham multiplicando-se nos diversos corpos, o que
leva essa essência a não ser mais única. Então, a diferença de impressão
das qualidades é dos corpos, não da alma, pois eles não são capazes de
recebê-la de modo inteiro e completo, e só a recebem em parte.

Seria preciso haver muitas almas em um só corpo, se fôssemos admitir


que cada parte do corpo sente através da alma, como sustentam os
estoicos. Mas a alma não precisa ser apenas indivisível nem apenas
divisível em sua essência, mas é isso ao mesmo tempo. Se a alma fosse

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 10

só em partes, cada uma teria de passar as sensações até a parte principal,


como a que conduz ou hegemônica, mas esta mesma teria de receber as
sensações por alguma parte dela, o que anularia o sentido de principal
ou hegemônica; assim haveria sensações diferentes em partes
diferentes, sendo as mesmas sensações. E se isso fosse, isto é, haver
uma parte hegemônica, a alma seria um centro de um inteiro em que
não haveria sensação, exceto no centro. Por isso, ela é una e múltipla,
está partilhada e não é partilhável, pois partilha a vida a todas as partes
por sua multiplicidade e conduz toda vida com moderação por sua
unidade.

βʹ

Περὶ οὐσίας ψυχῆς δεύτερον

1. Τὴν τῆς ψυχῆς οὐσίαν τίς ποτέ ἐστι ζητοῦντες σῶμα οὐδὲν αὐτὴν
δείξαντες εἶναι, οὐδ᾽ ἐν ἀσωμάτοις αὖ ἁρμονίαν, τό τε τῆς ἐντελεχείας
οὔτε ἀληθὲς οὕτως, ὡς λέγεται, οὔτε δηλωτικὸν ὂν τοῦ τί ἐστιν ἀφέντες,
καὶ μὴν τῆς νοητῆς φύσεως εἰπόντες καὶ τῆς θείας μοίρας εἶναι τάχα
μὲν ἄν τι σαφὲς εἰρηκότες εἴημεν περὶ τῆς οὐσίας αὐτῆς. Ὅμως γε μὴν
προσωτέρω χωρεῖν βέλτιον· τότε μὲν οὖν διηιροῦμεν αἰσθητῆι καὶ
νοητῆι φύσει διαστελλόμενοι, ἐν τῶι νοητῶι τὴν ψυχὴν τιθέμενοι. Νῦν
δὲ κείσθω μὲν ἐν τῶι νοητῶι· κατ᾽ ἄλλην δὲ ὁδὸν τὸ προσεχὲς τῆς
φύσεως αὐτῆς μεταδιώκωμεν. Λέγωμεν δὴ τὰ μὲν πρώτως εἶναι
μεριστὰ καὶ τῆι αὐτῶν φύσει σκεδαστά· ταῦτα δὲ εἶναι, ὧν οὐδὲν μέρος
ταὐτόν ἐστιν οὔτε ἄλλωι μέρει οὔτε τῶι ὅλωι, τό τε μέρος αὐτῶν
ἔλαττον εἶναι δεῖ τοῦ παντὸς καὶ ὅλου. Ταῦτα δέ ἐστι τὰ αἰσθητὰ μεγέθη
καὶ ὄγκοι, ὧν ἕκαστον ἴδιον τόπον ἔχει, καὶ οὐχ οἷόν τε ἅμα ταὐτὸν ἐν
πλείοσι τόποις εἶναι. Ἡ δέ ἐστιν ἀντιτεταγμένη ταύτηι οὐσία, οὐδαμῆι
μερισμὸν δεχομένη, ἀμερής τε καὶ ἀμέριστος, διάστημά τε οὐδὲν οὐδὲ
δι᾽ ἐπινοίας δεχομένη, οὐ τόπου δεομένη οὐδ᾽ ἔν τινι τῶν ὄντων
γιγνομένη οὔτε κατὰ μέρη οὔτε κατὰ ὅλα, οἷον πᾶσιν ὁμοῦ τοῖς οὖσιν
ἐποχουμένη, οὐχ ἵνα ἐν αὐτοῖς ἱδρυθῆι, ἀλλ᾽ ὅτι μὴ δύναται τὰ ἄλλα
ἄνευ αὐτῆς εἶναι μηδὲ θέλει, ἀεὶ κατὰ τὰ αὐτὰ ἔχουσα οὐσία, κοινὸν

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 11

ἁπάντων τῶν ἐφεξῆς οἷον κέντρον ἐν κύκλωι, ἀφ᾽ οὗ πᾶσαι αἱ πρὸς τὴν
περιφέρειαν γραμμαὶ ἐξημμέναι οὐδὲν ἧττον ἐῶσιν αὐτὸ ἐφ᾽ ἑαυτοῦ
μένειν ἔχουσαι παρ᾽ αὐτοῦ τὴν γένεσιν καὶ τὸ εἶναι, καὶ μετέχουσι μὲν
τοῦ σημείου, καὶ ἀρχὴ τὸ ἀμερὲς αὐταῖς, προῆλθόν γε μὴν ἐξαψάμεναι
αὐτὰς ἐκεῖ. Τούτου δὴ τοῦ πρώτως ἀμερίστου ὄντος ἐν τοῖς νοητοῖς καὶ
τοῖς οὖσιν ἀρχηγοῦ καὶ αὖ ἐκείνου τοῦ ἐν αἰσθητοῖς μεριστοῦ πάντη,
πρὸς μὲν τοῦ αἰσθητοῦ καὶ ἐγγύς τι τούτου καὶ ἐν τούτωι ἄλλη ἐστὶ
φύσις, μεριστὴ μὲν οὐ πρώτως, ὥσπερ τὰ σώματα, μεριστή γε μὴν
γιγνομένη ἐν τοῖς σώμασιν· ὥστε διαιρουμένων τῶν σωμάτων
μερίζεσθαι μὲν καὶ τὸ ἐν αὐτοῖς εἶδος, ὅλον γε μὴν ἐν ἑκάστωι τῶν
μερισθέντων εἶναι πολλὰ τὸ αὐτὸ γινόμενον, ὧν ἕκαστον πάντη ἄλλου
ἀπέστη, ἅτε πάντη μεριστὸν γενόμενον· οἷα χροιαὶ καὶ ποιότητες πᾶσαι
καὶ ἑκάστη μορφή, ἥτις δύναται ὅλη ἐν πολλοῖς ἅμα εἶναι διεστηκόσιν
οὐδὲν μέρος ἔχουσα πάσχον τὸ αὐτὸ τῶι ἄλλο πάσχειν· διὸ δὴ μεριστὸν
πάντη καὶ τοῦτο θετέον. Πρὸς δ᾽ αὖ ἐκείνηι τῆι ἀμερίστωι πάντη φύσει
ἄλλη ἑξῆς οὐσία ἀπ᾽ ἐκείνης οὖσα, ἔχουσα μὲν τὸ ἀμέριστον ἀπ᾽
ἐκείνης, προόδωι δὲ τῆι ἀπ᾽ αὐτῆς ἐπὶ τὴν ἑτέραν σπεύδουσα φύσιν εἰς
μέσον ἀμφοῖν κατέστη, τοῦ τε ἀμερίστου καὶ πρώτου καὶ τοῦ περὶ τὰ
σώματα μεριστοῦ τοῦ ἐπὶ τοῖς σώμασιν, οὐχ ὅντινα τρόπον χρόα καὶ
ποιότης πᾶσα πολλαχοῦ μέν ἐστιν ἡ αὐτὴ ἐν πολλοῖς σωμάτων ὄγκοις,
ἀλλ᾽ ἔστι τὸ ἐν ἑκάστωι ἀφεστὼς τοῦ ἑτέρου πάντη, καθόσον καὶ ὁ
ὄγκος τοῦ ὄγκου ἀπέστη· κἂν τὸ μέγεθος δὲ ἓν ἦι, ἀλλὰ τό γε ἐφ᾽
ἑκάστωι μέρει ταὐτὸν κοινωνίαν οὐδεμίαν εἰς ὁμοπάθειαν ἔχει, ὅτι τὸ
ταὐτὸν τοῦτο ἕτερον, τὸ δ᾽ ἕτερόν ἐστι· πάθημα γὰρ τὸ ταὐτόν, οὐκ
οὐσία ἡ αὐτή. Ἣν δὲ ἐπὶ ταύτηι τῆι φύσει φαμὲν εἶναι τῆι ἀμερίστωι
προσχωροῦσαν οὐσίαι, οὐσία τέ ἐστι καὶ ἐγγίγνεται σώμασι, περὶ ἃ καὶ
μερίζεσθαι αὐτῆι συμβαίνει οὐ πρότερον τοῦτο πασχούσηι, πρὶν
σώμασιν ἑαυτὴν δοῦναι. Ἐν οἷς οὖν γίγνεται σώμασι, κἂν ἐν τῶι
μεγίστωι γίγνηται καὶ ἐπὶ πάντα διεστηκότι, δοῦς ἑαυτὴν τῶι ὅλωι οὐκ
ἀφίσταται τοῦ εἶναι μία. Οὐχ οὕτως, ὡς τὸ σῶμα ἕν· τῶι γὰρ συνεχεῖ τὸ
σῶμα ἕν, ἕκαστον δὲ τῶν μερῶν ἄλλο, τὸ δ᾽ ἄλλο καὶ ἀλλαχοῦ. Οὐδ᾽
ὡς ποιότης μία. Ἡ δ᾽ ὁμοῦ μεριστή τε καὶ ἀμέριστος φύσις, ἣν δὴ ψυχὴν
εἶναί φαμεν, οὐχ οὕτως ὡς τὸ συνεχὲς μία, μέρος ἄλλο, τὸ δ᾽ ἄλλο
ἔχουσα· ἀλλὰ μεριστὴ μέν, ὅτι ἐν πᾶσι μέρεσι τοῦ ἐν ὧι ἔστιν,
ἀμέριστος δέ, ὅτι ὅλη ἐν πᾶσι καὶ ἐν ὁτωιοῦν αὐτοῦ ὅλη. Καὶ ὁ τοῦτο

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 12

κατιδὼν τὸ μέγεθος τῆς ψυχῆς καὶ τὴν δύναμιν αὐτῆς κατιδὼν εἴσεται,
ὡς θεῖον τὸ χρῆμα αὐτῆς καὶ θαυμαστὸν καὶ τῶν ὑπὲρ τὰ χρήματα
φύσεων. Μέγεθος οὐκ ἔχουσα παντὶ μεγέθει σύνεστι καὶ ὡδὶ οὖσα ὡδὶ
πάλιν αὖ ἐστιν οὐκ ἄλλωι, ἀλλὰ τῶι αὐτῶι· ὥστε μεμερίσθαι καὶ μὴ
μεμερίσθαι αὖ, μᾶλλον δὲ μὴ μεμερίσθαι αὐτὴν μηδὲ μεμερισμένην
γεγονέναι· μένει γὰρ μεθ᾽ ἑαυτῆς ὅλη, περὶ δὲ τὰ σώματά ἐστι
μεμερισμένη τῶν σωμάτων τῶι οἰκείωι μεριστῶι οὐ δυναμένων αὐτὴν
ἀμερίστως δέξασθαι· ὥστε εἶναι τῶν σωμάτων πάθημα τὸν μερισμόν,
οὐκ αὐτῆς.

1. Buscando a essência da alma – o que é isso –, temos demonstrado


não ser ela nenhum corpo nem ainda harmonia em incorpóreos 2, ao
descartar isso da enteléquia3 por não ser verdadeiro assim como se diz,
nem demonstrativo do ‘o que é’, contudo tendo dito ser ela de natureza
inteligível e de divina moira4, logo, por ter dito algo claro, estaríamos
acerca da essência dela. Contudo é melhor avançar mais para adiante;
então dividíamos a alma, separando em natureza sensível e inteligível,
pondo sua essência na natureza inteligível. Agora, que fique no
inteligível; e por outro caminho persigamos o confinante de sua
natureza. Digamos então que primeiramente há coisas partilháveis e
dispersáveis por sua própria natureza; e que são essas das quais
nenhuma parte é igual nem à parte diversa nem ao inteiro, e a parte delas
é preciso ser menor do que o todo e inteiro. Essas coisas são grandezas
sensíveis e volumes, cada uma das quais tem lugar próprio, e não é
possível ao mesmo tempo haver a mesma em muitos lugares. E há a
essência, que se ordena contrariamente a essa5, de nenhum modo
aceitando produto de partilha, sem parte e não partilhável, nenhum
intervalo aceitando nem por conceito, nem necessitando de lugar, nem
de vir a ser em algo das coisas que são, nem é por partes nem por

2
Plotino, Enéada IV, 7, que é seu segundo tratado; este é o quarto.
3
ἐντελέχεια (enteléquia, composto de ἐντελής + ἔχειν) é a realidade completa, que
está perfeita.
4
Parte ou porção associada ao destino.
5
À essência das coisas partilháveis.

SUMÁRIO
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inteiros, tal que sendo levada a todas as coisas que são em conjunto, não
para que seja fundada nelas, mas por não ser possível as outras coisas
ser sem ela, e nem elas querem, essência que é sempre segundo um só
e o mesmo, algo comum de todas as coisas sucessivamente, tal que
centro em um círculo, a partir do qual todas as linhas tendo partido para
a circunferência não obstante permitem que o centro permaneça sobre
si mesmo, elas mantendo da parte dele a origem e o ser, e participam do
ponto assinalado, e princípio para elas é sem parte, e avançam contudo
para lá extrapolando a si mesmas. Portanto, sendo isso primeiramente
sem parte nos inteligíveis e originário para as coisas que são, e ainda
aquilo totalmente partilhável nos sensíveis, sendo da parte do sensível
e algo perto disso sem parte, há nisso uma natureza distinta6, partilhável
não no primeiro plano, como nos corpos, pois de fato vem a ser
partilhável nos corpos; assim sendo divididos os corpos, partilha-se
também a forma neles, sendo contudo inteira em cada um dos que foram
partilhados, de modo a ser múltiplo o que veio a ser o mesmo, dentre os
quais cada um se afasta totalmente do outro, porque veio a ser
totalmente partilhável; tais como são cores e qualidades todas e cada
uma das formas, qualquer uma é capaz de ao mesmo tempo ser inteira
em muitos corpos que estão separados, tendo nenhuma parte que sofre
o mesmo sofrer para outra; por isso deve-se pôr isso como em tudo
partilhável. E diante dessa natureza em tudo não partilhável há
sucessivamente outra essência que é a partir dela, que tem o não
partilhável a partir dessa, que em procissão a partir desta apressa-se para
a natureza diferente e fica no meio de ambas7, entre o não partilhável e

6
O que é sem parte junta-se ao que é partilhável criando uma terceira natureza distinta,
conforme nota 1.
7
Platão, Timeu 31c: δύο δὲ μόνω καλῶς συνίστασθαι τρίτου χωρὶς οὐ δυνατόν·
δεσμὸν γὰρ ἐν μέσῳ δεῖ τινα ἀμφοῖν συναγωγὸν γίγνεσθαι (constituir belamente
apenas dois, sem um terceiro, não é possível; pois é preciso vir a ser um elo que se
introduz no meio de ambos); 35a: τῆς ἀμερίστου καὶ ἀεὶ κατὰ ταὐτὰ ἐχούσης οὐσίας
καὶ τῆς αὖ περὶ τὰ σώματα γιγνομένης μεριστῆς τρίτον ἐξ ἀμφοῖν ἐν μέσῳ
συνεκεράσατο οὐσίας εἶδος (da essência não partilhável e que é sempre a mesma e da
partilhável que vem a ser nos corpos foi misturada no meio de ambas uma terceira
forma de essência).

SUMÁRIO
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primeiro e o partilhável acerca dos corpos que é nos corpos, não de


qualquer modo como cor e toda qualidade, que em diversa parte é a
mesma em muitos volumes corpóreos, mas é o que em cada um está
afastado em tudo do diferente, quanto o volume se afasta do volume; e
mesmo que a grandeza seja uma só, mas o mesmo em cada parte
nenhuma relação em comum tem com o produto de igual impressão,
porque esse mesmo é uma coisa e outra; pois o produto da impressão é
o mesmo, a essência não é a mesma. E dizemos ser nessa natureza a que
avança com a essência não partilhável, e é essência e vem a ser em
corpos, nos quais também acontece a ela ser partilhada, que sofre isso
não antes de primeiro dar a si mesma a corpos. Então, nos corpos em
que ela vem a ser, e ainda que venha a ser no maior e que em tudo está
afastado, ao dar a si mesma ao inteiro, não se afasta de ser uma só. Não
é assim como o corpo é uno; pois em contínuo o corpo é uno, cada uma
das partes sendo uma coisa e outra também em outro lugar. Não há
assim qualidade única. E a natureza ao mesmo tempo partilhável e não
partilhável, que dizíamos ser a alma, não é assim quanto ao contínuo
única, tendo uma parte e outra; mas é partilhável, porque é em todas as
partes daquilo em que é, e é não partilhável, porque é inteira no todo e
em qualquer parte dele é inteira. E o que viu essa grandeza da alma,
tendo-lhe visto a potência, saberá que divino e admirável é o caráter
dela e das naturezas acima das riquezas. E ela não tendo grandeza, é
junto com toda grandeza, ora sendo de um modo ora de outro, é de novo
não com diversa [grandeza], mas com a mesma; de modo a estar
partilhada e ainda não estar partilhada, ou seja, não estar partilhada nem
ter vindo a estar partilhada; pois permanece inteira consigo mesma, e
está partilhada nos corpos por uma grandeza partilhável familiar dos
corpos, que não são capazes de recebê-la de modo não partilhável; de
modo a ser dos corpos o produto da impressão da partilha, não dela.

2. Ὅτι δὲ τοιαύτην ἔδει τὴν ψυχῆς φύσιν εἶναι, καὶ τὸ παρὰ ταύτην οὐχ
οἷόν τε εἶναι ψυχὴν οὔτε ἀμέριστον οὖσαν μόνον οὔτε μόνον μεριστήν,
ἀλλ᾽ ἀνάγκη ἄμφω τοῦτον τὸν τρόπον εἶναι, ἐκ τῶνδε δῆλον. Εἴτε γὰρ
οὕτως ἦν, ὡς τὰ σώματα, ἄλλο, τὸ δὲ ἄλλο ἔχουσα μέρος, οὐκ ἂν τοῦ
ἑτέρου παθόντος τὸ ἕτερον μέρος εἰς αἴσθησιν ἦλθε τοῦ παθόντος, ἀλλ᾽

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 15

ἐκείνη ἂν ἡ ψυχή, οἷον ἡ περὶ τὸν δάκτυλον, ὡς ἑτέρα καὶ ἐφ᾽ ἑαυτῆς
οὖσα ἤισθετο τοῦ παθήματος· πολλαί γε ὅλως ἦσαν ψυχαὶ αἱ διοικοῦσαι
ἕκαστον ἡμῶν· καὶ δὴ καὶ τὸ πᾶν τόδε οὐ μία, ἀλλὰ ἄπειροι χωρὶς
ἀλλήλων. Τὸ γὰρ τῆς συνεχείας, εἰ μὴ εἰς ἓν συντελοῖ, μάταιον· οὐ γὰρ
δὴ ὅπερ ἀπατῶντες ἑαυτοὺς λέγουσιν, ὡς διαδόσει ἐπὶ τὸ ἡγεμονοῦν
ἴασιν αἱ αἰσθήσεις, παραδεκτέον. Πρῶτον μὲν γὰρ ἡγεμονοῦν ψυχῆς
μέρος λέγειν ἀνεξετάστως λέγεται· πῶς γὰρ καὶ μεριοῦσι καὶ τὸ μὲν
ἄλλο, τὸ δ᾽ ἄλλο φήσουσι, τὸ δὲ ἡγεμονοῦν; Πηλίκωι ποσῶι
διαιροῦντες ἑκάτερον ἢ τίνι διαφορᾶι ποιότητος, ἑνὸς καὶ συνεχοῦς
ὄγκου ὄντος; Καὶ πότερα μόνον τὸ ἡγεμονοῦν ἢ καὶ τὰ ἄλλα μέρη
αἰσθήσεται; Καὶ εἰ μὲν μόνον, εἰ μὲν αὐτῶι προσπέσοι τῶι ἡγεμονοῦντι,
ἐν τίνι τόπωι ἱδρυμένον τὸ αἴσθημα αἰσθήσεται; Εἰ δὲ ἄλλωι μέρει τῆς
ψυχῆς, αἰσθάνεσθαι οὐ πεφυκὸς τόδε τὸ μέρος οὐ διαδώσει τῶι
ἡγεμονοῦντι τὸ αὐτοῦ πάθημα, οὐδ᾽ ὅλως αἴσθησις ἔσται. Καὶ αὐτῶι δὲ
τῶι ἡγεμονοῦντι εἰ προσπέσοι, ἢ μέρει αὐτοῦ προσπεσεῖται καὶ
αἰσθομένου τοῦδε τὰ λοιπὰ οὐκέτι· μάταιον γάρ· ἢ πολλαὶ αἰσθήσεις
καὶ ἄπειροι ἔσονται καὶ οὐχ ὅμοιαι πᾶσαι· ἀλλ᾽ ἡ μέν, ὅτι πρώτως
ἔπαθον ἐγώ, ἡ δ᾽ ὅτι τὸ ἄλλης πάθημα ἠισθόμην· ποῦ τε ἐγένετο τὸ
πάθημα, ἀγνοήσει ἑκάστη πάρεξ τῆς πρώτης. Ἢ καὶ ἕκαστον μέρος
ψυχῆς ἀπατήσεται δοξάζον, ὅπου ἔστιν, ἐκεῖ γεγονέναι. Εἰ δὲ μὴ μόνον
τὸ ἡγεμονοῦν, ἀλλὰ καὶ ὁτιοῦν μέρος αἰσθήσεται, διὰ τί τὸ μὲν
ἡγεμονοῦν ἔσται, τὸ δὲ οὔ; Ἢ τί δεῖ ἐπ᾽ ἐκεῖνο τὴν αἴσθησιν ἀνιέναι;
Πῶς δὲ καὶ τὰ ἐκ πολλῶν αἰσθήσεων, οἷον ὤτων καὶ ὀμμάτων, ἕν τι
γνώσεται; Εἰ δ᾽ αὖ πάντη ἓν ἡ ψυχὴ εἴη, οἷον ἀμέριστον πάντη καὶ ἐφ᾽
ἑαυτοῦ ἕν, καὶ πάντη πλήθους καὶ μερισμοῦ ἐκφεύγοι φύσιν, οὐδὲν
ὅλον, ὅ τι ἂν ψυχὴ καταλάβοι, ἐψυχωμένον ἔσται· ἀλλ᾽ οἷον περὶ
κέντρον στήσασα ἑαυτὴν ἑκάστου ἄψυχον ἂν εἴασε πάντα τὸν τοῦ
ζώιου ὄγκον. Δεῖ ἄρα οὕτως ἕν τε καὶ πολλὰ καὶ μεμερισμένον καὶ
ἀμέριστον ψυχὴν εἶναι, καὶ μὴ ἀπιστεῖν, ὡς ἀδύνατον τὸ αὐτὸ καὶ ἓν
πολλαχοῦ εἶναι. Εἰ γὰρ τοῦτο μὴ παραδεχοίμεθα, ἡ τὰ πάντα συνέχουσα
καὶ διοικοῦσα φύσις οὐκ ἔσται, ἥτις ὁμοῦ τε πάντα περιλαβοῦσα ἔχει
καὶ μετὰ φρονήσεως ἄγει, πλῆθος μὲν οὖσα, ἐπείπερ πολλὰ τὰ ὄντα,
μία δέ, ἵν᾽ ἦι ἓν τὸ συνέχον, τῶι μὲν πολλῶι αὐτῆς ἑνὶ ζωὴν χορηγοῦσα
τοῖς μέρεσι πᾶσι, τῶι δὲ ἀμερίστωι ἑνὶ φρονίμως ἄγουσα. Ἐν οἷς δὲ μὴ
φρόνησις, τὸ ἓν τὸ ἡγούμενον μιμεῖται τοῦτο. Τοῦτ᾽ ἄρα ἐστὶ τὸ θείως

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 16

ἠινιγμένον τῆς ἀμερίστου καὶ ἀεὶ κατὰ τὰ αὐτὰ ἐχούσης καὶ τῆς
περὶ τὰ σώματα γιγνομένης μεριστῆς τρίτον ἐξ ἀμφοῖν
συνεκεράσατο οὐσίας εἶδος. Ἔστιν οὖν ψυχὴ ἓν καὶ πολλὰ οὕτως· τὰ
δὲ ἐν τοῖς σώμασιν εἴδη πολλὰ καὶ ἕν· τὰ δὲ σώματα πολλὰ μόνον· τὸ
δ᾽ ὑπέρτατον ἓν μόνον.

2. Que era preciso a natureza da alma ser tal, e o contrário a essa


natureza não ser possível como alma, nem sendo apenas impartilhável
nem apenas partilhável, mas é necessidade ela ser de ambos os modos,
desde estes argumentos é claro8. Pois se assim a alma fosse como os
corpos, tendo uma parte e outra diversa, uma parte não chegaria à
sensação da outra que sofre, mas haveria essa alma tal que aquela no
dedo, como uma parte diferente, sendo a alma nessa mesma parte,
sentiria a impressão; portanto muitas de modo geral seriam as almas
que administram cada um de nós; e além disso este todo seria não uma
só, mas inumeráveis separadamente umas das outras. Pois o que é da
continuidade, se não levar à unidade, é em vão 9; pois na verdade não se
deve aceitar o que dizem, enganando a si mesmos, que por
transmissão10 as sensações vão ao que conduz. Pois primeiro dizer que
o que conduz é parte da alma, [isso] é dito sem fundamentação; pois,
como partilharão [a alma], dirão ser uma coisa isso, outra coisa aquilo
e o que conduz? Distinguindo cada uma por qual medida de grandeza
ou por alguma diferença de qualidade, sendo ela única e de volume
contínuo? E qual dos dois: apenas o que conduz sente, ou também as
outras partes? E se é único, se incidir no mesmo que conduz,
fundamentado em que lugar o produto da sensação sentirá? E se é em

8
Polêmica com os estoicos.
9
Os estoicos argumentam que pela continuidade (συνεχεία) há a conjunção de
impressões entre os diferentes órgãos.
10
Sobre a transmissão (διάδοσις), Stoicorum Vetera Fragmenta II, fr. 882: καὶ τοῦτο
βούλεταί γε Ζήνων καὶ Χρύσιππος ἅμα τῷ σφετέρῳ χορῷ παντί, διαδίδοσθαι τὴν ἐκ
τοῦ προσπεσόντος ἔξωθεν ἐγγιγνομένην τῷ μορίῳ κίνησιν εἰς τὴν ἀρχὴν τῆς ψυχῆς,
ἵν᾿ αἴσθηται τὸ ζῷον (Zenão e Chrysippo querem que, ao mesmo tempo em todo seu
espaço, o movimento que em parte vem a ser do que incidiu de fora se transmite para
o princípio da alma, para que o animal tenha sensação).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 17

outra parte da alma, essa parte não sendo naturalmente apta a sentir não
transmitirá ao que conduz o produto de sua impressão, nem
inteiramente haverá sensação. E se no mesmo que conduz incidir, ou
incidirá em parte dele, e esta parte sentindo, as restantes não mais
sentirão; pois seria em vão; ou haverá muitas sensações e serão infinitas
e não serão todas semelhantes; mas é uma, porque primeiramente eu
sofri, e é outra, porque senti o produto da sensação de outra; e onde se
gerou o produto da sensação, cada uma desconhecerá, exceto a
primeira. Ou também cada parte da alma se iludirá tendo opinião de que
onde ela está aí se gerou. E se não apenas o que conduz, mas também
qualquer parte sentirá, por que haverá o que conduz, e o que não
[conduz]? Ou por que é preciso a ele sensação lançar-se? E como
também isso de muitas sensações, tal que de ouvidos e olhos, algo único
conhecerá? E se ainda a alma fosse totalmente uma só coisa, tal que não
partilhável totalmente e uma só coisa em si mesma, e evitasse
totalmente a natureza de multiplicidade e de partilha, nenhum inteiro,
qualquer um que a alma tomar, será animado; mas tal que no centro
tendo posto a si mesma, deixaria sem vida todo o volume de cada
vivente. Portanto, é preciso assim ser a alma uma só coisa e muitas, que
está partilhada e é impartilhável, e não descrer como impossível o
mesmo ser um só em muitos lugares. Pois se isso não aceitarmos, a
natureza que contém e administra todas as coisas não haverá, qualquer
que seja a natureza que tudo em conjunto tendo tomado mantém e ao
mesmo tempo conduz com moderação, e sendo múltipla, uma vez que
muitas são as coisas que são, e única, para que seja um só o continente,
e pela unidade múltipla dela provê vida a todas as partes, pela sua
impartilhável unidade conduzindo com moderação. E naqueles em que
não houver moderação, a unidade que conduz imita isso. Portanto, isso
é o que divinamente obscuro está dito “da [natureza] não partilhável e
que é sempre a mesma e da partilhável que vem a ser nos corpos, uma
terceira forma de essência foi misturada de ambas”11. Então, a alma é

11
Platão, Timeu 35a: τῆς ἀμερίστου καὶ ἀεὶ κατὰ ταὐτὰ ἐχούσης οὐσίας καὶ τῆς αὖ
περὶ τὰ σώματα γιγνομένης μεριστῆς τρίτον ἐξ ἀμφοῖν ἐν μέσῳ συνεκεράσατο οὐσίας

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 18

uma só coisa e muitas assim: as formas nos corpos são muitas e uma só
coisa; e os corpos são muitos unicamente; apenas o que é mais elevado
é uno.

εἶδος (da essência não partilhável e que é sempre a mesma e da partilhável que vem a
ser nos corpos foi misturada no meio de ambas uma terceira forma de essência).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 19

IV 3
Das Aporias da Alma, I
Introdução

IV 3 (27)

Desenvolve-se neste grande tratado o problema da alma, que não sendo


divisível evolui desde a Inteligência em sua primeira e essencial forma
de que deriva a alma do todo, que vai dar vida aos corpos; além dessas
há a alma individual, que mesmo ligada aos corpos provém também da
primeira, por sua predisposição à inteligência. Não se pode dizer que as
duas últimas sejam partes da primeira, pois estas não têm partes, e muito
menos a primeira; portanto, ‘parte’ só se diz quando for em corpo, isto
é, em relação a corpo. A alma, sendo inteligível, é sempre uma só e a
mesma (ἀεὶ κατὰ ταὐτά). E buscando isso, acabamos por buscar aquilo
que busca, isto é, o amável produto da contemplação, que é a
inteligência. A primeira aporia é: ‘A alma do todo é também as
nossas?’. Isso seria dizer que as individuais são partes dela; no entanto,
não se pode dizer ‘parte’ onde não houver grandeza. Mas ao participar
da grandeza do cosmo, não serão também essas almas partes dele? Se
dissermos, como os estoicos dizem, que elas são semelhantes à alma do
todo, muito justamente diríamos que são uma só, como no caso da
semelhança de triângulos. Mas a alma toda não é essência de algo,
porque é sempre uma só e a mesma (ἀεὶ κατὰ ταὐτά), as outras é que
são essência de algo, de algo que incidiu, ou seja, segundo as
circunstâncias e disposições deste cosmo. Então, só se diz parte o que
for nos corpos, pois haverá volume e não será segundo as formas (εἴδη);
de modo que a parte nos corpos é como parte de círculo ou de um
quadrilátero, que não é igual ao inteiro, e parte nos incorpóreos é como
um teorema em relação ao conhecimento todo, pois essa parte é
proporcional ao todo, sendo em potência o todo. Assim, a alma toda não

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 20

pode ser ‘de algo’, mas só de si mesma, pois ela é também em todas as
outras, em potência, como no caso da semelhança de triângulos. E outra
alma será do cosmo, e outras, as individuais. Estas, que são particulares,
funcionam como os órgãos dos sentidos da alma do cosmo, pois cada
órgão funciona de acordo com a impressão no corpo, mas enviando o
que é sentido à mente, que funciona como um juiz para todos os sentidos
físicos, assim também as almas individuais são partes da alma do todo,
enquanto são incorporadas, mas não serão partes quando houver o
pensamento próprio, pois este está regido pela Alma primeira, de modo
que nesse sentido as almas particulares são inteiras tais como a
primeira, não sendo partes do todo. Por isso mesmo a alma do todo pode
ser única se deve estar em todos os seres em toda parte; assim pode-se
pensar na parte principal dela, a inteligência, que não sendo divisível
está em toda parte ao mesmo tempo. Mas a alma do todo e as nossas
têm a mesma origem: o Uno; então, seria como se lá do alto fosse
emitida luz sobre os homens, em suas moradas, mas essa luz não é
divisível, porque não é corpórea, no entanto ela se faz presente sempre
em toda parte. Nossas almas descem porque está delimitada para elas
uma porção deste todo, que é mantido pela parte mais baixa da alma do
todo, a alma física, de modo que seria como uma grande árvore a que
se agregam pequenos vermes em suas partes inferiores apodrecidas,
esses vermes dependentes da grande planta são nossas almas. A parte
superior da alma do todo, que contempla a Inteligência, é como um
agricultor que cuida da planta, isto é, se alguém se encontra são, estará
disposto às obras práticas e teóricas, mas se estiver doente, só terá
disposição e ansiedade pelo cuidado do corpo. Então, quando alguém
morre, a alma retorna à sua origem, que é muito melhor do que o corpo,
pois retornará ao mundo inteligível. E as inteligências particulares, que
dependem da principal, não são corpóreas e têm as almas particulares
como dependentes, porque as almas são razões de inteligência. Essas
razões, ao se configurar, segundo as formas, não conseguem chegar ao
limite da partilha, porque as inteligências não têm limite, assim elas são
partilhadas guardando ao mesmo tempo o mesmo e o diferente, que
compõem a natureza deste todo, por isso cada alma se mantém no uno,
e todas são uno. O principal de tudo é que cada alma provém daquela

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 21

que contempla a inteligência; desse modo elas são partilhadas, porque


são razões de inteligências particulares, e ao mesmo tempo são não
partilhadas, porque as inteligências de que elas dependem são originais
de único princípio, que a parte superior da alma contempla, como razão
única da inteligência, que se imagina como a árvore que sustenta
pequenos vermes, ou cada luz em cada casa particular, ou seja, nossas
almas como razões parciais e imateriais. Mas sendo de forma
semelhante, como uma cria, outra não cria? A diferença é que a que cria
tem o corpo do todo a volta de si e mantém uma proximidade da
inteligência, que é sua parte superior, maior do que aquelas individuais
podem manter; é como se a irmã mais velha preparasse habitações para
as menores. Uma olha para a inteligência inteira, as outras só podem
olhar para o reflexo dessa inteligência em si mesmas. Estas já são no
mundo sensível, desse modo a inteligência delas é em parte. Sendo a
primeira a que cria os inteligíveis, a segunda a que cria o todo,
mantendo toda sua potência, porque está próxima da inteligência, a
terceira criação é da parte das almas individuais, que não criam do
mesmo modo, pois sua criação é no mundo sensível; além disso, o
múltiplo nelas se torna material, e é isso que as arrasta para baixo com
grande peso de matéria. Assim, entre nós não é o mesmo que se
encontra como potência da alma, mas uns podem mais do que outros,
porque uns podem chegar ao Uno pela inteligência, por ser mais
próximo de seu princípio, outros podem buscar isso, sem conseguir, por
ser mais distante de seu princípio, mas ambos têm todas as potências,
que não usam da mesma forma. Para afirmar que o céu é animado,
Platão diz que as almas individuais, sendo partes dele, seriam como
partes destinadas da alma do todo, mas, ao contrário do que alguns
entendem, não está dito que elas são partes da alma do todo, embora
elas sofram a influência de sua órbita, assumindo forma de lugares e de
elementos diferentes. Pois ao criar a alma inteira, ou seja, a primeira, a
Inteligência passa a ser contemplada por ela, que por sua vez cria o todo,
administrando-o; assim há a Alma hipóstase e sua diversa, que é a
natureza. Nossas almas têm desta última a matéria, mas não em sua
essência, pois o demiurgo determinou que os deuses, isto é, as partes do
todo superior criassem os seres mortais para que o todo fosse completo,

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 22

pois se ele mesmo os criasse, não seriam mortais; assim, em Timeu 41c,
se diz que aquela parte que é homônima à dos imortais ele mesmo a
proveria, tendo-a semeado e iniciado. Essa parte é a inteligência, que
nos homens faz que a justiça e a piedade sejam seguidas sempre.
Portanto, a parte principal de nossas almas pertence à própria
Inteligência, e não à natureza física do todo. Mas tanto a alma do todo
quanto as nossas tem uma só e mesma origem, a Alma inteira, que
contempla a Inteligência. Sendo semelhantes, dizemos as nossas almas
diferem entre si; de fato, essa diferença se dá quando ela incorpora, pois
isso está dito por Platão, Politeia 620, onde se diz que cada alma deve
escolher sua ‘moira’, ou seja, sua parte destinada, de modo que todas,
sendo de mesma origem, se diferenciam pela escolha e pelo modo como
viverão. Essa diversidade em cada uma faz que a perfeição seja para
elas variada e composta, deixando de ser a mesma e a única. E a
composição das almas no cosmo segue sendo uma só, como um número
que não se altera, pois todas elas são dependentes da mesma alma. Cada
alma é em potência infinita, pois a potência é infinita e não se dispersa,
mas no cosmo elas são de potência limitada pela matéria, umas criando
mais, outras menos. Assim, elas são no corpo como um todo, mesmo
que em ínfima parte dele, mesmo que em parte cortada do corpo, porque
o corpo sendo um só ela é em toda parte. Num corpo que apodrece,
criam-se vários organismos que se alimentam dele; não se pode dizer
que o número de almas tenha aumentado, pois a alma que mantinha
aquele corpo passa a manter aqueles viventes, pois ela é única e se
mantém desde a alma do todo, sendo que a parte que a recebia morreu,
e a outra parte passa a recebê-la; o que acontece também conosco, pois
as nossas almas são uma só, enquanto a alma do todo permanece única.

A segunda questão é como a alma, sendo imune a corpo, vem a ser em


corpo. Mas ‘entrar’ e ‘animar’ o corpo se diz por clareza didática, pois
não há cosmo sem alma, nem sem matéria. Na verdade, não havendo
corpo, a alma não haveria de proceder, mas procedendo ela gera lugar
e corpo. É como uma imensa luz em cujos limites veio a ser
obscuridade, e a alma tendo visto, deu-lhe forma, pois assim o que é
mais próximo dela teria parte de razão. De modo que essa obscuridade

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 23

é mantida nos limites da luz pela razão, como o todo é mantido na alma
que o sustém, porque nada é sem parte dela, como uma rede de pesca
viva que se estende na água e não faz senão estender-se na água, pois
jazendo ali ela alcança o que é possível, estendendo-se a quanto houver
água. Então, o todo é do tamanho de onde é a alma; e sua sombra é tão
grande quanto é grande a razão dela. A alma possui a razão de todas as
coisas, de deuses inclusive, mas ao passá-la aos corpos produz efeito de
visão mórbida (εἴδωλον), e não de imagem (εἰκών); a primeira palavra
se compõe de (εἶδος) visão e (ὄλλυμαι) morte, sendo, portanto, a
contraparte do corpo, que não suporta a verdadeira imagem do que é.
Pois o fulgor da alma é como imensa luz que se projeta na escuridão,
em cujos limites se cria o mundo sensível; como criar é essência da
alma, ela dá razão às coisas desse cosmo, e essa razão provém das
formas inteligíveis (εἴδη) que dão figuras (μορφαί) às coisas sensíveis.
Tudo converge por sua semelhança, como é natural também no mundo
sensível. E ao contemplar a natureza os antigos sábios constituíram os
locais e objetos sacros, para que pudessem receber ao menos uma parte
da impressão da natureza da alma desse todo, porque a natureza tem
como espelho a criação de si mesma, que foi constituída pela
Inteligência, assim, ao imitar a Inteligência, cria esse todo,
desenvolvendo-o em seu meio conectado à sua parte superior, que olha
a Inteligência, que seria comparada ao nosso sol; portanto, o limite
pressuposto seria do sol à Inteligência, através da alma. E como os
deuses estão ligados à alma do todo, que se liga à Alma, que contempla
a Inteligência, eles são bem-aventurados e podem servir de contato
entre os homens e os inteligíveis. As almas individuais, ao lançarem-
se de cima abaixo, distanciam-se da Inteligência, mas elas mantêm seu
princípio e inteligência, porque estão fixadas na parte superior da Alma,
que contempla a Inteligência; assim elas podem descer mais ou menos,
segundo sua própria ‘moira’, que terão seus laços corpóreos desfeitos
de tempos em tempos, porque a alma do todo não se volta às coisas
inferiores, então as individuais é que se preocuparão com o corpóreo,
daí a ‘errância’ alternada de cada uma. Toda essa ordem está assinalada
nas figuras dos astros, que em seu conjunto emitem uma harmonia de
sons, cada um emitindo única voz não dissonante. A Alma que

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 24

contempla tem à disposição as formas inteligíveis e as dá às almas


individuais para que através da razão configurem essas formas. A
mesma razão, que as faz seguir a justiça e os deuses, as mantém ligadas
à parte superior do céu. Mesmo a Inteligência tem uma moira que lhe
foi destinada (εἱμαρμένην), que é manter-se sempre nos inteligíveis e
daí irradiar a sua luz no cosmo; assim os indivíduos em geral têm de
cumprir a lei que eles mesmos portam, como um código genético, que
os obriga a ir aonde ela quer. Assim por essa lei a alma desce e se dirige
ao que é preciso. E há um tempo certo, como um chamado, para chegar
ao corpo; o que acontece como por mágicas potências que a atraem
fortemente para cumprir o seu destino. Isso se deve à escolha que a alma
fez primeiro, antes de chegar ao corpo, e a obrigação é posterior, como
uma forma natural de cumprir aquilo que já está no código, desde as
funções físicas no corpo até os sentimentos e a vontade. O fato deste
mundo ser iluminado e ornado por deuses e almas pode ser visto no
mito de Pandora (Hesíodo, Trabalhos e Dias 60-89), provavelmente em
versão diferente da que temos, que narra que os deuses todos deram
dons à criação de Prometeu, que Epimeteu recusa para permanecer no
mundo inteligível; a libertação de Prometeu por Heraclés indica a
potência da alma de poder libertar-se do corpo e retornar ao seu ponto
de origem. Essa é a condição e posição para as almas decaídas, que em
corpo estão mortas e esperam o tempo determinado de retorno à vida.
É claro que isso se deve à escolha de sua moira, antes de nascer, pois
ao passar ao mundo sensível elas se tornam cada vez mais pesadas,
sendo incapazes de se elevar, caindo cada vez mais em grande distância
de sua origem, assim elas vêm a ser aquilo que elas mesmas
produziram, enredadas pelas tramas do destino, cujas amarras podem
ser quebradas pela força do intelecto, que no mito de Prometeu é
Heraclés. Somente aquelas que se dão à instituição das leis divinas
podem viver como senhoras de si mesmas, apesar das imensas
dificuldades, pois, resignadas, elas podem seguir em suas prisões,
enquanto aguardam a liberdade na esperança de viver novamente.
Desse modo pode ocorrer ao homem virtuoso alguma injustiça, mas se
tudo está ordenado e tramado segundo a necessidade, como isso seria
possível? Na verdade, não há injustiça nisso, pois o que sofre estaria

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 25

dentro da trama necessária do destino, mesmo nas menores coisas; mas


o que pratica injustiça não está isento da causa. A justificativa de tudo
deve estar em ações anteriores, ou até em vidas anteriores, o que torna
invisível a causa da injustiça; por isso não se pode julgar sem ver as
causas. Se os corpos fossem perfeitos e sem parte, eles não precisariam
da luz das almas, que descem desde o inteligível, sendo arrastadas por
mágicas potências, arriscando-se como pilotos se arriscam a salvar suas
naus da tempestade. Essas almas são raios que provêm de centro de luz
permanente, ou seja, a Inteligência, centrada por sua vez no Uno; A
Inteligência cria outra esfera, a Alma, que é luz de luz (φῶς ἐκ φωτός),
que desde seus limites cria o todo, em que habitam os seres animados.
Quando as almas descem do inteligível ao céu, elas não precisam de
razão ainda que sejam racionais por natureza, pois ali as coisas são
claras e precisas, sem a hesitação e a aporia daqui; nem se deve
considerar que elas se sirvam de vozes, pois o que significariam? Mas
no ar elas podem se servir de vozes, bem como os dâimones. Mas como
o que não é divisível ou partilhável vem a ser junto com o partilhável
na alma? Na verdade, são duas coisas distintas e separáveis, pois os
deuses criados pelo demiurgo criaram uma forma de alma diversa
daquela imortal criada pelo criador e a puseram no corpo, sendo mortal
como o próprio corpo (Platão, Timeu 69c). Por isso se diz que a alma
está partilhada nas diversas sensações, sendo perceptível
principalmente no tato, porque está em praticamente todo o corpo. No
entanto, a parte mortal ou partilhável pode receber da potência superior
o raciocínio e a inteligência, que são impartilháveis por si; mas pode
receber se não for por meio de nenhum órgão do corpo, que para isso é
empecilho. E como se diz que a alma é no corpo? Na verdade, é o
contrário; pois ela não é em parte, ou seja, sensível, para ser em algum
lugar. Desse modo ela não é como parte em um inteiro, nem como um
inteiro em partes, pois a sua relação com o corpo é distintamente
separável, mas não como vinho em um vaso, nem como alguma
qualidade em um vaso, como cor ou configuração, pois a matéria é
inseparável da forma, quando a alma assim cria. Como para nós o corpo
é visível, e ela não é, dizemos que ela é no corpo, mas os sentidos nos
enganam, pois ela é que contém o corpo, e não o contrário, como está

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 26

dito por Platão, no Timeu 36d: Ἐπεὶ δὲ κατὰ νοῦν τῷ συνιστάντι πᾶσα
ἡ τῆς ψυχῆς σύστασις ἐγεγένητο, μετὰ τοῦτο πᾶν τὸ σωματοειδὲς ἐντὸς
αὐτῆς ἐτεκταίνετο καὶ μέσον μέσῃ συναγαγὼν προσήρμοττεν (uma vez
que veio a ser toda a constituição da alma pelo que a constitui, segundo
inteligência, depois disso ele montava todo o corpóreo dentro dela e
harmonizava conduzindo o meio dele ao meio dela). A alma
comparando-se ao piloto serve bem para mostrar que ela é separável,
porque o piloto não é nela toda e é só por acidente (κατὰ συμβεβηκὸς);
desse modo seria melhor comparar a alma à arte do timão da nau, como
algo que o governa e que é separável dele, pois vem de fora. Pondo a
arte no instrumento poderíamos nos aproximar mais da verdade.
Podemos ainda pensar no ar que é iluminado pela luz: a luz permanece
estável sempre, mas o ar passa; assim deve-se dizer que o ar está na luz,
e não o contrário. Da mesma forma as potências da alma iluminam o
corpo, dando vida e suas funções físicas, pois o corpo necessita delas
para viver, mas não necessita das potências superiores, já que essas não
descem para iluminar o corpo, essas são alcançadas pela potência da
mente, isto é, a inteligência. E a alma ao iluminar o corpo, animando-
o, ilumina cada órgão segundo sua função; na parte inferior à cabeça, é
a alma sensitiva, responsável por ter impulsos e sonhos, como fantasias,
onde mora o coração, seu principal órgão, responsável pelo amor e pela
cólera, separando-se pelo diafragma da alma vegetativa, logo abaixo,
que nutre o corpo e o faz crescer, gerenciado pelo fígado, sua parte
principal. Mas a alma superior, inteligente, não será no corpo por muito
tempo, pois está estabelecido pela lei divina o seu tempo ligada ao
corpo. Quando sua conduta for má, ela terá de sofrer pelas injustiças
praticadas, errando por trajetória instável, chegando mesmo a buscar
outro corpo que lhe pareça próprio, segundo sua própria conduta, como
está dito no Fédon 81a – e, mas se sua conduta for de acordo com a
justiça, nada haverá que a ligue ao corpo.

Sobre a memória, é preciso buscar se é a alma que lembra, e como e


quando; ou seja, o que produz a memória? Se memória é algo adquirido,
não pode pertencer aos inteligíveis, por isso seria em tempo, não na
eternidade, como é a inteligência. A memória se adquire de

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 27

ensinamentos e de impressões, e também se perde, a inteligência é em


essência. As almas ao nascer trazem memória e reminiscência
(ἀνάμνησις), que é uma forma diferente de memória, porque esta se
perde, aquela é ontológica. Mas que parte de nós é instrumento da
memória? Mas como o vivente é conjunto de corpo e alma, também a
sensação é algo comum a ambos, de modo que a alma seja o artesão,
como o demiurgo, e o corpo seja o instrumento operado por ele. A
memória poderia ser natural, pois se diz que alguém nasceu com boa ou
má memória; mas a operação desse instrumento se faz pela alma, então,
o lembrar fica a seu juízo. De fato, mesmo sendo conjunto de dois,
ambos permanecem como são, ou seja, um sendo sempre, outro vindo
a ser sempre; por isso a alma sempre dirigirá seu instrumento, sendo
junta com ele, por exemplo, na mistura de vinho com mel, se algo for
doce será devido ao mel. O que não quer dizer que a alma receba as
marcas da memória como a cera recebe marcas de uma impressão, pois
a alma não é corpórea e não se desgasta no ato de pensar. A alma sendo
de si mesma não preciso do corpo para perceber a memória do que fez
e do que não fez, porque ela tem absoluto controle sobre tudo que é do
corpo. Muitas vezes o corpo é impedimento à memória, pois o acúmulo
de matéria faz o esquecimento, mas quando a alma se afasta de toda
matéria a memória retorna. Ela pode se lembrar de tudo que se passou
na vida com o corpo, ou até na vida anterior, uma vez que a alma que
se separa é purificada do que é corpóreo, tal como se diz que a visagem
de Heraclés no Hades tem memória de seus feitos na terra; mas sua alma
verdadeira não tem aquele aspecto terrível que se mostra em Homero,
Odisseia XI 601, pois ela é inteligência e vive entre os deuses. Quando
o conjunto de corpo e alma se desfaz, a parte racional se liberta e pode
lembrar, embora essa lembrança nada tenha de relevante para ela; pois
haveria algo tão importante de que ela deveria lembrar? Mas no corpo,
a qual potência da alma assistiria a memória? Alguém dirá que os olhos
veem o desejável, mas o que deseja se move de modo distinto, como se
fosse partilhado, desse modo também é o irascível: alguém vê a prática
da injustiça e se ira por isso. Mas o que deseja tem a marca do prazer
ou do desprazer, que fica não como memória, mas como disposição e
impressão. De fato, essa potência que lembra forma uma imagem

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 28

fantástica do que não é presente, a memória. Essa memória é sensível,


pois está ligada à parte corpórea, que depende de características dos
ancestrais e de diversas especificações, tais que de visão, de audição
etc. O pensamento, por sua vez, é o processo de recepção da razão pela
alma, ou seja, sua compreensão (ἀντίληψις), como imagem; a razão
abre o pensamento e o conduz a uma imagem, que se revela à alma,
como em espelho. Portanto, o mesmo que recebe a sensação recebem
também o pensamento, que permanece como memória. Ambas as
memórias, inteligível e sensível, se servem das potências da fantasia,
portanto, quando houver acordo entre elas, a predominante poderá se
lembrar das imagens da inferior, mas quando não houver acordo, a mais
próxima de nós obscurece a mais distante, que a acompanha como uma
pequena luz, e se tornam uma só, pois a mais próxima é como grande
sombra que a engloba, mostrando-se uma só. Mas quando a alma
inteligível se separa da sensível, podemos lembrar de tudo, mas
deixamos o que é menos importante, desfazendo-se a ilusão de uma só
alma. Isso se dá quando lembramos melhor o que é de mais valor,
deixando de lado as piores lembranças. Um homem culto tem as
lembranças com impressões boas e más, mas pela sua alma inteligente
ele pode lembrar apenas das boas, deixando as más lembranças para a
alma de natureza inferior. Isso é necessário porque a alma inteligente
tende ao uno, afastando-se do múltiplo e do indefinido.

γʹ

Περὶ ψυχῆς ἀποριῶν πρῶτον

1. Περὶ ψυχῆς, ὅσα ἀπορήσαντας δεῖ εἰς εὐπορίαν καταστῆναι, ἢ καὶ ἐν


αὐταῖς ταῖς ἀπορίαις στάντας τοῦτο γοῦν κέρδος ἔχειν, εἰδέναι τὸ ἐν
τούτοις ἄπορον, ὀρθῶς ἂν ἔχοι τὴν πραγματείαν ποιήσασθαι. Περὶ τίνος
γὰρ ἄν τις μᾶλλον τὸ πολὺ λέγων καὶ σκοπούμενος εὐλόγως ἂν
διατρίβοι ἢ περὶ ταύτης; Διά τε πολλὰ καὶ ἄλλα, καὶ ὅτι ἐπ᾽ ἄμφω τὴν
γνῶσιν δίδωσιν, ὧν τε ἀρχή ἐστι καὶ ἀφ᾽ ὧν ἐστι. Πειθοίμεθα δ᾽ ἂν καὶ
τῶι τοῦ θεοῦ παρακελεύσματι αὑτοὺς γινώσκειν παρακελευομένωι περὶ

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 29

τούτου τὴν ἐξέτασιν ποιούμενοι. Ζητεῖν τε τὰ ἄλλα καὶ εὑρεῖν


βουλόμενοι δικαίως ἂν τὸ ζητοῦν τί ποτ᾽ ἐστὶ τοῦτο ζητοῖμεν, τό τε
ἐραστὸν ποθοῦντες λαβεῖν θέαμα τοῦ νοῦ. Ἦν γὰρ καὶ ἐν τῶι παντὶ νῶι
τὸ διττόν· ὥστε εὐλόγως ἐν τοῖς κατὰ μέρος τὸ μὲν οὕτως μᾶλλον, τὸ
δὲ οὕτω. Τὰς δὲ ὑποδοχὰς τῶν θεῶν ὅπως, σκεπτέον. Ἀλλὰ τοῦτο μέν,
ὅταν πῶς ἐν σώματι ψυχὴ γίγνεται ζητῶμεν· νῦν δὲ πάλιν ἐπανίωμεν
ἐπὶ τοὺς λέγοντας ἐκ τῆς τοῦ παντὸς ψυχῆς καὶ τὰς ἡμετέρας εἶναι.
Οὐδὲ γὰρ ἴσως ἱκανὸν φήσουσιν εἶναι τὸ φθάνειν μέχρι τῶν αὐτῶν καὶ
τὰς ἡμετέρας, μέχρις ὧν καὶ ἡ τοῦ παντὸς ψυχὴ ἔρχεται, μηδὲ τὸ ὁμοίως
νοερόν, καὶ εἰ συγχωροῖεν τὸ ὁμοίως, τῶι μὴ μόρια αὐτῆς εἶναι· εἶναι
γὰρ ὁμοειδῆ καὶ τὰ μέρη τοῖς ὅλοις. Παραθήσονται δὲ καὶ Πλάτωνα
τοῦτο δοξάζοντα, ὅταν πιστούμενος τὸ πᾶν ἔμψυχον εἶναι λέγηι, ὡς
σῶμα μέρος ὂν τοῦ παντὸς τὸ ἡμέτερον, οὕτω καὶ ψυχὴν τὴν ἡμετέραν
μέρος τῆς τοῦ παντὸς ψυχῆς εἶναι. Καὶ τὸ συνέπεσθαι δὲ ἡμᾶς τῆι τοῦ
παντὸς περιφορᾶι καὶ λεγόμενον καὶ δεικνύμενον ἐναργῶς εἶναι, καὶ τὰ
ἤθη καὶ τὰς τύχας ἐκεῖθεν λαμβάνοντας εἴσω τε γενομένους ἐν αὐτῶι
ἐκ τοῦ περιέχοντος ἡμᾶς τὴν ψυχὴν λαμβάνειν. Καὶ ὅπερ ἐπὶ ἡμῶν
μέρος ἕκαστον ἡμῶν παρὰ τῆς ἡμετέρας ψυχῆς λαμβάνει, οὕτω καὶ
ἡμᾶς ἀνὰ τὸν αὐτὸν λόγον μέρη πρὸς τὸ ὅλον ὄντας παρὰ τῆς ὅλης
ψυχῆς μεταλαμβάνειν ὡς μέρη. Καὶ τὸ ψυχὴ δὲ πᾶσα παντὸς
ἐπιμελεῖται τοῦ ἀψύχου τὸ αὐτὸ τοῦτο σημαίνειν καὶ οὐκ ἄλλο τι
ἔξωθεν ψυχῆς καταλείποντος μετὰ τὴν τοῦ ὅλου· αὕτη γὰρ ἡ τὸ πᾶν
ἄψυχον ἐν ἐπιμελείαι τιθεμένη.

1. Da alma, em relação a quantas coisas estivemos em aporia, é preciso


dispor em boa passagem; certamente, mesmo estando nas mesmas
aporias, por ter ao menos essa vantagem de saber a dificuldade nessas
coisas, haveria como corretamente fazer o tratado. Pois acerca de que
alguém se ocuparia, ao dizer e examinar muito mais e com boa razão,
senão dela? Por muitas e outras, também porque dá o conhecimento em
duas coisas: de quais coisas ela é princípio e a partir de quais princípios
ela é. E obedeceríamos ao preceito do deus de conhecer a nós mesmos,
ordenado acerca disso ao fazermos a investigação. E querendo buscar e
encontrar as outras coisas, buscaríamos justamente o que busca o que é
então isso, desejando tomar o amável produto da contemplação da

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 30

inteligência. Pois havia também na total inteligência o duplo produto;


de modo bem racional naqueles que são por partes, um era mais assim,
outro era de outro modo12. Quanto aos receptáculos dos deuses, como
são, deve-se examinar. Mas faremos isso, quando buscarmos como
alma vem a ser em corpo; e agora retornemos aos que dizem que desde
a alma do todo são também as nossas13. Pois talvez nem dirão ser
suficiente as nossas almas também chegar até as mesmas coisas, a que
também chega a alma do todo, nem [dirão ser suficiente] o
semelhantemente inteligente, mesmo se consentissem com o
‘semelhantemente’, por não haver partículas dela; pois também
[consentiriam] em ser as partes formas semelhantes aos inteiros. E
apresentarão mesmo Platão que opina isso, quando confiante disser ser
animado o todo; como o nosso corpo que é parte do todo, assim também
nossa alma é parte da alma do todo14. E quanto a nós seguirmos a
revolução do todo, isso é tanto dito quanto demonstrado de modo claro,
ao tomarmos dali tanto os caráteres quanto as sortes e porque, tendo
vindo a ser internamente nele, tomamos a alma a partir do que é
circunstante. E [isso é] o que em nós toma cada parte de nós da nossa
alma, de modo a também nós que pelo mesmo raciocínio somos partes
em relação ao inteiro participar da alma inteira como partes. E quanto a
“a alma toda cuida do todo inanimado”15 é o mesmo que significa não

12
O duplo produto da contemplação da inteligência é a própria inteligência e o
inteligível, que no mundo sensível é deste modo, e no inteligível é de outro modo.
13
Primeira aporia: as nossas almas são emanações ou partes da alma do todo?
Heráclito e os estoicos admitem haver somente uma alma, da qual é parte cada alma
particular. Nos capítulos 2 a 6: a tese de Plotino; no capítulo 7, a interpretação correta
de Platão, no 8, a potência infinita da alma.
14
Platão, Filebo 29e: Πότερον οὖν ἐκ τούτου τοῦ σώματος ὅλως τὸ παρ’ ἡμῖν σῶμα
ἢ ἐκ τοῦ παρ’ ἡμῖν τοῦτο τρέφεταί τε καὶ ὅσα νυνδὴ περὶ αὐτῶν εἴπομεν εἴληφέν τε
καὶ ἔχει; (então, qual dos dois: o corpo em nós se nutre desse corpo que é por inteiro
ou esse e quantos corpos que agora mesmo dissemos tomaram e têm nutrição do corpo
que é em nós?).
15
Platão, Fedro 246b: ψυχὴ πᾶσα παντὸς ἐπιμελεῖται τοῦ ἀψύχου (a alma toda cuida
do todo inanimado); Filebo 30a: Πόθεν, ὦ φίλε Πρώταρχε, λαβόν, εἴπερ μὴ τό γε τοῦ
παντὸς σῶμα ἔμψυχον ὂν ἐτύγχανε, ταὐτά γε ἔχον τούτῳ καὶ ἔτι πάντῃ καλλίονα;

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 31

haver outra coisa fora da alma, nada restando depois da alma do inteiro;
pois é ela mesma que é posta em cuidado do todo inanimado.

2. Πρὸς δὴ ταῦτα πρῶτον ἐκεῖνο λεκτέον, ὡς ὁμοειδῆ τιθέμενοι τῶι τῶν


αὐτῶν συγχωρεῖν ἐφάπτεσθαι, τὸ αὐτὸ γένος κοινὸν διδόντες ἔξω
ποιοῦσι τοῦ μέρος εἶναι· ἀλλὰ μᾶλλον ἂν τὴν αὐτὴν καὶ μίαν καὶ
ἑκάστην πᾶσαν δικαιότερον ἂν εἴποιεν. Μίαν δὲ ποιοῦντες εἰς ἄλλο
ἀναρτῶσιν, ὃ μηκέτι τοῦδε ἢ τοῦδε ἀλλὰ οὐδενὸς ὂν αὐτὸ ἢ κόσμου ἤ
τινος ἄλλου αὐτὸ ποιεῖ, ὃ καὶ κόσμου καὶ ὁτουοῦν ἐμψύχου. Καὶ γὰρ
ὀρθῶς ἔχει μὴ πᾶσαν τὴν ψυχήν τινος εἶναι οὐσίαν γε οὖσαν, ἀλλ᾽ εἶναι,
ἣ μή τινός ἐστιν ὅλως, τὰς δέ, ὅσαι τινός, γίγνεσθαί ποτε κατὰ
συμβεβηκός. Ισως δὲ δεῖ λαβεῖν τὸ μέρος ἐν τοῖς τοιούτοις πῶς λέγεται
σαφέστερον. Τὸ μὲν δὴ ὡς σωμάτων μέρος, εἴτε ὁμοειδὲς τὸ σῶμα, εἴτε
ἀνομοειδές, ἐατέον ἐκεῖνο μόνον ἐπισημηναμένους, ὡς ἐπὶ τῶν
ὁμοιομερῶν ὅταν λέγηται μέρος, κατὰ τὸν ὄγκον ἐστὶ τὸ μέρος, οὐ κατὰ
τὸ εἶδος, οἷον τὴν λευκότητα· οὐ γὰρ ἡ ἐν τῶι μορίωι τοῦ γάλακτος
λευκότης μέρος ἐστὶ τῆς τοῦ παντὸς γάλακτος λευκότητος, ἀλλὰ
μορίου μέν ἐστι λευκότης, μόριον δὲ οὐκ ἔστι λευκότητος· ἀμέγεθες
γὰρ ὅλως καὶ οὐ ποσὸν ἡ λευκότης. Ἀλλὰ τοῦτο μὲν οὕτως. Ὅταν δ᾽
ἐπὶ τῶν οὐ σωμάτων λέγωμεν μέρος, ἤτοι οὕτως ὡς ἐπὶ τῶν ἀριθμῶν
λέγοιμεν ἄν, ὡς τὰ δύο τῶν δέκα· ἔστω δὲ ἐπὶ ψιλῶν μόνων τὸ
λεγόμενον· ἢ ὡς κύκλου καὶ γραμμῆς μέρος, ἢ ὡς ἐπιστήμης μέρος τὸ
θεώρημα. Ἐπὶ μὲν δὴ τῶν μονάδων καὶ τῶν σχημάτων ἀνάγκη ὥσπερ
ἐπὶ τῶν σωμάτων ἐλαττοῦσθαί τε τὸ ὅλον τῶι εἰς τὰ μέρη μερισμῶι,
ἐλάττω τε τὰ μέρη ἕκαστα τῶν ὅλων εἶναι· ποσὰ γὰρ ὄντα καὶ τὸ εἶναι
ἐν τῶι ποσῶι ἔχοντα, οὐ τὸ αὐτοποσὸν ὄντα, μείζω καὶ ἐλάττω ἐξ
ἀνάγκης γίνεται. Κατὰ δὴ ταῦτα οὐκ ἐνδέχεται ἐπὶ ψυχῆς τὸ μέρος
λέγεσθαι. Οὔτε γὰρ ποσὸν οὕτως, ὡς δεκάδα τὴν πᾶσαν, τὴν δὲ μονάδα
εἶναι· ἄλλα τε γὰρ πολλὰ καὶ ἄτοπα συμβήσεται, καὶ οὐχ ἕν τι τὰ δέκα,
καὶ ἑκάστη αὐτῶν τῶν μονάδων ἢ ψυχὴ ἔσται, ἢ ἐξ ἀψύχων ἁπάντων ἡ
ψυχή, καὶ ὅτι καὶ τὸ μέρος τῆς ὅλης ψυχῆς συγκεχώρηται ὁμοειδὲς
εἶναι. Τὸ δὲ ἐπὶ τοῦ συνεχοῦς οὐκ ἀνάγκη τὸ μέρος, οἷον τὸ ὅλον ἐστίν,

(tendo tomado [a alma] de onde, caro Protarco, se o corpo do todo era por acaso
animado, por ter as mesmas coisas mais belas nesse corpo e ainda em toda alma?).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 32

εἶναι, οἷον κύκλου ἢ τετραγώνου, ἢ οὐ πάντα γε τὰ μόρια ὅμοια ἐφ᾽ ὧν


ἔστι λαβεῖν τὸ μέρος, οἷον ἐπὶ τῶν τριγώνων τρίγωνα, ἀλλὰ
παραλλάσσοντα· τὴν δὲ ψυχὴν ὁμοειδῆ τίθενται εἶναι. Καὶ ἐπὶ γραμμῆς
δὲ τὸ μὲν μέρος ἔχει τὸ γραμμὴ εἶναι, ἀλλὰ τῶι μεγέθει διαφέρει καὶ
ἐνταῦθα. Ἐπὶ δὲ ψυχῆς ἡ διαφορὰ τῶι μεγέθει εἰ λέγοιτο τῆς μερικῆς
πρὸς τὴν ὅλην, ποσόν τι ἔσται καὶ σῶμα τὴν διαφορὰν λαμβάνουσα
καθὸ ψυχὴ παρὰ τοῦ ποσοῦ· ἀλλὰ ὑπέκειντο πᾶσαι ὅμοιαι καὶ ὅλαι.
Φαίνεται δὲ οὐδὲ μεριζομένη οὕτως ὡς τὰ μεγέθη, οὐδ᾽ ἂν
συγχωρήσαιεν δὲ οὐδὲ αὐτοὶ κατατέμνεσθαι τὴν ὅλην εἰς μέρη·
ἀναλώσουσι γὰρ τὴν ὅλην, καὶ ὄνομα μόνον ἔσται, εἰ μὴ ἀρχή τίς ποτε
ἦν πᾶσα, ὡς εἰ οἴνου μερισθέντος εἰς πολλὰ ἕκαστον τὸ ἐν ἑκάστωι
ἀμφορεῖ λέγοι[το] μέρος οἴνου τοῦ ὅλου. Ἆρ᾽ οὖν οὕτω μέρος ὡς
θεώρημα τὸ τῆς ἐπιστήμης λέγεται τῆς ὅλης ἐπιστήμης, αὐτῆς μὲν
μενούσης οὐδὲν ἧττον, τοῦ δὲ μερισμοῦ οἷον προφορᾶς καὶ ἐνεργείας
ἑκάστου οὔσης; Ἐν δὴ τῶι τοιούτωι ἕκαστον μὲν δυνάμει ἔχει τὴν ὅλην
ἐπιστήμην, ἡ δέ ἐστιν οὐδὲν ἧττον ὅλη. Εἰ δὴ οὕτως ἐπὶ ψυχῆς τῆς τε
ὅλης καὶ τῶν ἄλλων, οὐκ ἂν ἡ ὅλη, ἧς τὰ τοιαῦτα μέρη, ἔσται τινός,
ἀλλὰ αὐτὴ ἀφ᾽ ἑαυτῆς· οὐ τοίνυν οὐδὲ τοῦ κόσμου, ἀλλά τις καὶ αὕτη
τῶν ἐν μέρει. Μέρη ἄρα πᾶσαι μιᾶς ὁμοειδεῖς οὖσαι. Ἀλλὰ πῶς ἡ μὲν
κόσμου, αἱ δὲ μερῶν τοῦ κόσμου;

2. Contra essas coisas primeiro deve-se dizer que, ao pôr [a alma do


todo e as individuais] como formas semelhantes por consentir que elas
alcançam os mesmos limites, atribuindo-lhes o mesmo gênero comum,
farão [as almas individuais] estar fora da parte [da alma do todo]; mas
de modo muito mais justo diriam cada uma ser alma toda, ela mesma e
única. E fazendo-a uma só remetem a outra coisa, que não é mais disso
ou daquilo, mas de nada sendo isso, quer de cosmo quer de alguma outra
coisa, faz isso ser tanto de cosmo quanto de qualquer coisa animada.
Pois também está correto que a alma toda não é essência de algo, mesmo
ela sendo [essência], mas sendo, a que não é inteiramente [essência] de
algo, e as outras, quantas são essência de algo, vêm a ser segundo o que

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 33

então incidiu16. E igualmente é preciso tomar como se diz mais


claramente ‘a parte’ em tais coisas. E a parte como de corpos, seja de
semelhante forma o corpo seja de forma dessemelhante, [isso] deve-se
deixar, ao assinalar apenas isso como [nos corpos] de partes
semelhantes quando se disser parte, segundo o volume é a parte, não
segundo a forma, como a brancura; pois a brancura na partícula do leite
não é parte da brancura do leite todo, mas é brancura de partícula, e não
é partícula de brancura; pois é inteiramente sem grandeza e não é de
certa quantidade a brancura. Mas quanto a isso é assim. E quando
falarmos parte dos incorpóreos, certamente é assim como se falássemos
parte dos números, como dois é parte de dez; e seja [isso] o que é dito
dos [números] puros apenas; ou é como parte de círculo ou de linha
[reta], ou como o produto da investigação é parte do conhecimento.
Então, nas unidades e nas configurações, bem como dos corpos, há
necessidade de reduzir o inteiro pelo produto da partilha nas partes, e
cada parte ser menor do que os inteiros. Pois sendo de certa quantidade
e tendo o ser em certa quantidade, não sendo de certa quantidade por si,
essas coisas vêm a ser por necessidade maiores e menores. Portanto,
segundo essas coisas não se aceita dizer ‘a parte’ na alma. Pois ela nem
é de certa quantidade assim como a alma toda ser uma dezena, e a
[individual] ser uma unidade; pois muitos outros absurdos incidirão,
não será algo único tanto o dez, quanto cada uma das mesmas unidades,
ou alma ou a alma de todos inanimados, e porque também a parte da
alma inteira tenha consentido ser de semelhante forma. E não há
necessidade a parte ser do que é contínuo, tal como é o inteiro, como
parte de círculo ou de quadrilátero17, certamente nem todas as
partículas, sobre as quais é possível tomar a parte, serão semelhantes,
tal como triângulos em triângulos18, mas serão alternantes; e [ainda]

16
A Alma, essência, está ligada à Inteligência e ao Bem; a alma do todo está ligada
aos corpos, pois contém o todo; as almas individuais são essências de corpos, ligadas
à primeira, à qual está ligada também a segunda.
17
Uma parte de um círculo ou de um quadrilátero não é círculo nem quadrilátero.
18
Medidas diferentes, mas proporcionais, nos lados de um triângulo podem resultar
em outro triângulo semelhante ao primeiro.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 34

propõem a alma ser de semelhante forma. E mesmo na linha, a parte


tem o ser linha, mas por grandeza difere mesmo aí. E na alma, a
diferença por grandeza, se for dita da parcial para a inteira, será de certa
quantidade, tomando a diferença em relação a corpo, pelo que alma
seria de certa quantidade; mas jaziam todas como semelhantes e
inteiras. E parece que ela não é partilhada assim como as grandezas, e
nem consentiriam, nem eles mesmos, em seccioná-la inteira em partes;
pois a destruiriam inteira, e haveria apenas o nome, senão algum
princípio ainda seria ela toda, como se, vinho tendo sido partilhado em
muitas partes, dissesse ser cada parte em cada ânfora parte do vinho
inteiro. Então, por acaso parte é assim como um teorema sobre o
conhecimento se diz do conhecimento inteiro, ele mesmo
permanecendo em nada menos, sendo cada partilha tal que prenúncio e
atividade do conhecimento que é? Na verdade, em tal partilha cada
parte tem em potência o conhecimento inteiro, e ele é em nada menos
inteiro. E se é assim na alma, na inteira e nas diversas, a inteira, da qual
seriam as tais partes, não seria de algo, mas ela seria de si mesma;
portanto, não será nem do cosmo, mas uma certa alma, também ela
mesma, será dos que são em parte. Portanto, todas serão partes, sendo
de formas semelhantes de uma só. Mas como uma é do cosmo, e outras
são de partes do cosmo?

3. Ἀλλ᾽ ἆρα οὕτω μέρη, ὥσπερ ἂν καὶ ἐφ᾽ ἑνὸς ζώιου τις εἴποι τὴν ἐν
τῶι δακτυλίωι ψυχὴν μέρος τῆς ἐν τῶι παντὶ ζώιωι ὅλης; Ἀλλ᾽ οὗτός γε
ὁ λόγος ἢ οὐδεμίαν ποιεῖ ψυχὴν ἔξω σώματος γίγνεσθαι, ἢ πᾶσαν οὐκ
ἐν σώματι, ἀλλ᾽ ἔξω τοῦ σώματος τοῦ κόσμου τὴν τοῦ παντὸς
λεγομένην. Τοῦτο δὲ σκεπτέον· νῦν δὲ ὡς λέγοιτο ἂν κατὰ τὴν εἰκόνα
ἐξεταστέον. Εἰ γὰρ ἡ τοῦ παντὸς παρέχει αὑτὴν πᾶσι τοῖς ἐν μέρει
ζώιοις, καὶ οὕτω μέρος ἑκάστη, διαιρεθεῖσα μὲν οὐκ ἂν αὑτὴν ἑκάστωι
παρέχοι, ἡ αὐτὴ δὲ πανταχοῦ ἔσται ἡ ὅλη, μία καὶ ἡ αὐτὴ ἐν πολλοῖς
ἅμα οὖσα. Τοῦτο δὲ οὐκέτ᾽ ἂν τὴν μὲν ὅλην, τὴν δὲ μέρος ἂν εἶναι
παράσχοιτο, καὶ μάλιστα οἷς τὸ αὐτὸ δυνάμεως πάρεστιν· [εἰσὶ γὰρ ἐν
ἀμφοτέραις ἅρασαι]. Ἐπεὶ καὶ οἷς ἄλλο ἔργον, τῶι δὲ ἄλλο, οἷον
ὀφθαλμοῖς καὶ ὠσίν, οὐ μόριον ἄλλο ψυχῆς ὁράσει, ἄλλο δὲ ὠσὶ
λεκτέον παρεῖναι – ἄλλων δὲ τὸ μερίζειν οὕτως – ἀλλὰ τὸ αὐτό, κἂν

SUMÁRIO
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ἄλλη δύναμις ἐν ἑκατέροις ἐνεργῆι· [εἰσὶ γὰρ ἐν ἀμφοτέραις ἅπασαι·]


τῶι δὲ τὰ ὄργανα διάφορα εἶναι διαφόρους τὰς ἀντιλήψεις γίνεσθαι,
πάσας μέντοι εἰδῶν εἶναι εἰς εἶδος πάντα δυνάμενον μορφοῦσθαι .
Δηλοῖ δὲ καὶ τὸ εἰς ἓν ἀναγκαῖον εἶναι πάντα ἰέναι. Τῶν δὲ ὀργάνων,
δι᾽ ὧν, μὴ [πάντα] πάντα δύνασθαι δέξασθαι, καὶ τὰ μὲν παθήματα
διάφορα γίνεσθαι τοῖς ὀργάνοις, τὴν δὲ κρίσιν παρὰ τοῦ αὐτοῦ οἷον
δικαστοῦ καὶ τοὺς λόγους τοὺς λεγομένους καὶ τὰ πραχθέντα
κατανενοηκότος. Ἀλλ᾽ ὅτι ἕν γε πανταχοῦ, εἴρηται, καὶ ἐν τοῖς
διαφόροις τῶν ἔργων. Εἴ τε ὡς αἱ αἰσθήσεις, οὐκ ἔνι ἕκαστον αὐτὸν
νοεῖν, ἀλλ᾽ ἐκείνην· εἰ δ᾽ οἰκεία ἦν ἡ νόησις, ἐφ᾽ ἑαυτῆς ἑκάστη. Ὅταν
δὲ καὶ λογικὴ ἦι ψυχή, καὶ οὕτω λογικὴ ὡς [ἡ] ὅλη λέγεται, τὸ
λεγόμενον μέρος ταὐτόν, ἀλλ᾽ οὐ μέρος ἔσται τοῦ ὅλου.

3. Mas por acaso as partes são assim como se alguém dissesse, em um


só animal, a alma no dedinho ser parte da alma inteira no animal todo?
Mas esse discurso ou faz nenhuma alma vir a ser fora de corpo, ou [a
alma] toda não ser em corpo, mas fora do corpo do cosmo ser a que é
dita do todo. E isso deve-se examinar; e agora como isso seria dito
segundo a imagem deve-se investigar. Pois se a alma do todo se
apresenta a todos os viventes em parte, e assim parte é cada um, tendo
sido dividida ela toda não apresentaria a cada um [vivente], e ela
mesma, a inteira, estará em toda parte, única e ela mesma sendo ao
mesmo tempo em muitos. Isso não mais permitiria haver uma sendo
inteira, outra sendo parte, sobretudo [àqueles viventes] em que é
presente o mesmo em capacidade; <pois [todas as capacidades] 19 são
em ambas almas >. Uma vez que mesmo para os que há diversa função,
a um e a outro diversa função, tal que a olhos e ouvidos, não se deve
dizer que é presente uma diversa partícula da alma para vista, e outra
para ouvidos – de outras coisas é o partilhar assim – mas é a mesma
função, ainda que diversa capacidade seja em atividade em ambos;
<pois [todas as capacidades] são em ambas>; e por ser diversos os

19
ἅρασαι] ἅπασαι, todas.

SUMÁRIO
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órgãos vêm a ser divergentes as suas contrapartidas 20, contudo por ser
todas sensações de formas <...> em forma que podem configurar tudo
<...>21. É claro também que é necessário tudo ir para o uno. As
diferenças são dos órgãos, pelos quais não é possível receber tudo, e as
impressões vêm a ser diferentes com eles, a distinção dos sentidos é da
parte do que é o mesmo tal que um juiz que considerou tanto as razões
argumentadas quanto os feitos praticados22. Mas que isso é uma só coisa
em toda parte, está dito, mesmo nas diferenças das funções. E se [isso
for] como as sensações, não é possível cada parte pensar por si mesma,
mas aquela23; e se próprio era o ato de pensar, cada ato de pensar é em
si mesmo. E quando também racional for a alma, e racional assim como
se diz a inteira, o mesmo é o que se diz parte, mas não será parte do
inteiro24.

4. Τί οὖν φατέον, εἰ οὕτω μία, ὅταν τις ζητῆι τὸ ἐντεῦθεν πρῶτον μὲν
ἀπορῶν, εἰ οἷόν τε οὕτως ἓν ἅμα ἐν πᾶσιν, ἔπειτα, ὅταν ἐν σώματι ἦι, ἡ

20
Platão, Teeteto 184d: Δεινὸν γάρ που, ὦ παῖ, εἰ πολλαί τινες ἐν ἡμῖν ὥσπερ ἐν
δουρείοις ἵπποις αἰσθήσεις ἐγκάθηνται, ἀλλὰ μὴ εἰς μίαν τινὰ ἰδέαν, εἴτε ψυχὴν εἴτε
ὅτι δεῖ καλεῖν, πάντα ταῦτα συντείνει, ᾗ διὰ τούτων οἷον ὀργάνων αἰσθανόμεθα ὅσα
αἰσθητά (pois seria terrível se fossem encontradas em nós diversas sensações, como
em cavalos de pau, mas não uma só certa ideia, seja alma seja o que é preciso chamar,
[a que] todas essas funções tendem, pela qual percebemos através desses órgãos
quantas coisas são sensíveis).
21
Todas as percepções são formas da alma, que é também forma que pode dar figura
a todas as coisas.
22
Aristóteles, De Anima III 424b 22 – 429a; Cícero, Disputationes Tusculanae I, 20:
quid, quod eadem mente res dissimillimas comprendimus, ut colorem, saporem,
calorem, odorem, sonum? quae numquam quinque nuntiis animus cognosceret, nisi
ad eum omnia referrentur et is omnium iudex solus esset (o que é isso em relação a
que com a própria mente compreendemos coisas muitíssimo diferentes, como cor,
sabor, calor, odor, som? Que o ânimo nunca reconheceria com cinco anúncios, a não
ser que todos se referissem a ele, e este fosse único juiz de todos).
23
Se as diferenças das funções da alma toda forem como as sensações das almas
individuais, estas não terão como pensar por elas mesmas, uma vez que estão regidas
pela alma toda, do mesmo modo que as sensações são julgadas por um só juiz.
24
Se o pensamento da alma individual é próprio, ela será racional tal qual a alma
toda, e sendo parte desta não será parte do inteiro, pois o pensamento é inteligível.

SUMÁRIO
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δὲ μὴ ἐν σώματι; Ισως γὰρ ἀκολουθήσει ἀεὶ ἐν σώματι πᾶσαν εἶναι καὶ


μάλιστα τὴν τοῦ παντός· οὐ γὰρ ὥσπερ ἡ ἡμετέρα λέγεται καταλείπειν
τὸ σῶμα· καίτοι τινές φασι τόδε μὲν καταλείψειν, οὐ πάντη δὲ ἔξω
σώματος ἔσεσθαι. Ἄλλ᾽ εἰ πάντη ἔξω σώματος ἔσται, πῶς ἡ μὲν
καταλείψει, ἡ δὲ οὔ, ἡ αὐτὴ οὖσα; Ἐπὶ μὲν οὖν τοῦ νοῦ ἑτερότητι
χωριζομένου ἑαυτοῦ κατὰ μέρη μάλιστα ἀπ᾽ ἀλλήλων, ὄντων δὲ ὁμοῦ
ἀεί – ἀμέριστος γὰρ ἂν εἴη αὕτη ἡ οὐσία – οὐδεμία τοιαύτη ἂν ἀπορία
κατέχοι· ἐπὶ δὲ τῆς ψυχῆς τῆς λεγομένης μεριστῆς εἶναι κατὰ σώματα
τοῦτο τὸ ἕν τι εἶναι πάσας πολλὰς ἂν ἔχοι ἀπορίας· εἰ μή τις τὸ μὲν ἓν
στήσειεν ἐφ᾽ ἑαυτοῦ μὴ πῖπτον εἰς σῶμα, εἶτ᾽ ἐξ ἐκείνου τὰς πάσας, τήν
τε τοῦ ὅλου καὶ τὰς ἄλλας, μέχρι τινὸς οἷον συνούσας [ἀλλήλαις] καὶ
μίαν τῶι μηδενός τινος γίνεσθαι, τοῖς δὲ πέρασιν αὐτῶν ἐξηρτημένας
[καὶ συνούσας ἀλλήλαις] πρὸς τὸ ἄνω ὡδὶ καὶ ὡδὶ ἐπιβάλλειν, οἷον
φωτὸς δὴ πρὸς τῆι γῆι μεριζομένου κατ᾽ οἴκους καὶ οὐ μεμερισμένου,
ἀλλ᾽ ὄντος ἑνὸς οὐδὲν ἧττον. Καὶ τὴν μὲν τοῦ παντὸς ἀεὶ ὑπερέχειν τῶι
μηδὲ εἶναι αὐτῆι τὸ κατελθεῖν μηδὲ τῶι κάτω μηδὲ ἐπιστροφὴν τῶν
τῆιδε, τὰς δ᾽ ἡμετέρας τῶι τε εἶναι ἀφωρισμένον αὐταῖς τὸ μέρος ἐν
τῶιδε καὶ τῆι ἐπιστροφῆι τοῦ προσδεομένου φροντίσεως, τῆς μὲν οὖν
ἐοικυίας τῆι ἐν φυτῶι μεγάλωι ψυχῆι, ἣ ἀπόνως τὸ φυτὸν καὶ ἀψόφως
διοικεῖ, τοῦ κατωτάτω τῆς ψυχῆς τοῦ παντός, τοῦ δὲ ἡμῶν κάτω, οἷον
εἰ εὐλαὶ ἐν σαπέντι μέρει τοῦ φυτοῦ γίγνοιντο· οὕτω γὰρ τὸ σῶμα τὸ
ἔμψυχον ἐν τῶι παντί. Τῆς δὲ ἄλλης ψυχῆς τῆς ὁμοειδοῦς τῶι ἄνω τῆς
ὅλης, οἷον εἴ τις γεωργὸς ἐν φροντίδι τῶν ἐν τῶι φυτῶι εὐλῶν γίνοιτο
καὶ ταῖς μερίμναις πρὸς τῶι φυτῶι γίγνοιτο, ἢ εἴ τις ὑγιαίνοντα μὲν καὶ
μετὰ τῶν ἄλλων τῶν ὑγιαινόντων ὄντα πρὸς ἐκείνοις εἶναι λέγοι, πρὸς
οἷς ἐστιν ἢ πράττων ἢ θεωρίαις ἑαυτὸν παρέχων, νοσήσαντος δὲ καὶ
πρὸς ταῖς τοῦ σώματος θεραπείαις ὄντος πρὸς τῶι σώματι εἶναι καὶ τοῦ
σώματος γεγονέναι.

4. O que então se deve dizer, se [a alma do todo] é assim única, quando


alguém busque o que é decorrente disso, primeiro sendo em aporia, se
é possível ser assim uma só coisa ao mesmo tempo em todos, em
seguida, quando seja em corpo, ela não será em corpo? Talvez seguir-
se-á sempre que ela é toda em corpo, sobretudo sendo a alma do todo;
pois não se diz que deixa o corpo como a nossa; se bem que alguns

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 38

dizem que ela haverá de deixar este todo, ela não haverá de ser
totalmente fora de corpo. Mas se for totalmente fora de corpo, como
uma haverá de deixá-lo, e outra não, sendo a mesma? De fato, sobre a
inteligência, que se separa por alteridade em partes sobretudo umas das
outras, que são sempre em conjunto – pois a própria essência é não
partilhável – nenhuma tal aporia se manteria; mas sobre a alma que é
dita ser partilhável em corpos, para todas ser uma só coisa, isso teria
muitas aporias; senão, alguém estabeleceria o uno ser em si mesmo, não
incidindo em corpo, se desde aquele uno são todas as almas, a do todo
e as outras, até certo ponto sendo juntas <umas com as outras> e única
por vir a ser de coisa nenhuma, e estando dependentes [do uno] por seus
próprios limites [e sendo juntas umas com as outras] no mundo
superior, lançam-se aqui e ali, tal como luz partilhada na terra, nas
casas, não estando partilhada, mas sendo uma só em nada menos. E a
[alma] do todo deve ser sempre acima por não ser para ela nem descer
com [a parte] inferior nem ter cuidado das coisas daqui, mas as nossas
[não], por estar delimitada a elas a parte neste todo e pelo cuidado da
agregada preocupação por ele, então a parte mais baixa da alma do todo
é semelhante à alma em uma grande planta, que sem esforço e sem
rumor administra a planta, e a nossa parte baixa da alma é tal como se
vermes viessem a ser em parte que apodrece da planta; pois é assim o
corpo animado no todo. E a outra [parte da] alma, que é de forma
semelhante à parte superior da [alma] inteira, é tal como se algum
camponês viesse a ser em preocupação por causa dos vermes na planta
e ficasse apreensivo por ela, ou se alguém que está são sendo com outros
que estão sãos dissesse ser para aquelas coisas às quais ele é ou o que
pratica ou o que se apresenta em contemplação, e, tendo ficado doente,
ele diz que é para o corpo e que veio a ser do corpo, porque é para as
terapias do corpo.

5. Ἀλλὰ πῶς ἔτι ἡ μὲν σή, ἡ δὲ τοῦδε, ἡ δὲ ἄλλου ἔσται; ἆρ᾽ οὖν τοῦδε
μὲν κατὰ τὸ κάτω, οὐ τοῦδε δέ, ἀλλ᾽ ἐκείνου κατὰ τὸ ἄνω; Ἀλλ᾽ οὕτω
γε Σωκράτης μὲν ἔσται ὅταν ἐν σώματι καὶ ἡ Σωκράτους ψυχή·
ἀπολεῖται δέ, ὅταν μάλιστα γένηται ἐν τῶι ἀρίστωι. Ἢ ἀπολεῖται οὐδὲν
τῶν ὄντων· ἐπεὶ κἀκεῖ οἱ νόες οὐκ ἀπολοῦνται, ὅτι μή εἰσι σωματικῶς

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 39

μεμερισμένοι, εἰς ἕν, ἀλλὰ μένει ἕκαστον ἐν ἑτερότητι ἔχον τὸ αὐτὸ ὅ


ἐστιν εἶναι. Οὕτω τοίνυν καὶ ψυχαὶ ἐφεξῆς καθ᾽ ἕκαστον νοῦν
ἐξηρτημέναι, λόγοι νῶν οὖσαι καὶ ἐξειλιγμέναι μᾶλλον ἢ ἐκεῖνοι, οἷον
πολὺ ἐξ ὀλίγου γενόμεναι, συναφεῖς τῶι ὀλίγωι οὖσαι ἀμερεστέρωι
ἐκείνων ἑκάστωι, μερίζεσθαι ἤδη θελήσασαι καὶ οὐ δυνάμεναι εἰς πᾶν
μερισμοῦ ἰέναι, τὸ ταὐτὸν καὶ ἕτερον σώιζουσαι, μένει τε ἑκάστη ἓν καὶ
ὁμοῦ ἓν πᾶσαι. Εἴρηται δὴ κεφάλαιον τοῦ λόγου, ὅτι ἐκ μιᾶς, καὶ αἱ ἐκ
μιᾶς πολλαὶ κατὰ τὰ αὐτὰ τῶι νῶι, κατὰ τὰ αὐτὰ μερισθεῖσαι καὶ οὐ
μερισθεῖσαι, καὶ λόγος εἷς τοῦ νοῦ ἡ μένουσα καὶ ἀπ᾽ αὐτῆς λόγοι
μερικοὶ καὶ ἄυλοι, ὥσπερ ἐκεῖ.

5. Mas como ainda uma será a tua, e outra deste, e outra de outro? Por
acaso a deste é pela parte inferior, e não a de outro, mas a daquele é pela
parte superior? Mas assim Sócrates será, quando em corpo também seja
a alma de Sócrates; e ele morre, quando principalmente [a alma] venha
a ser no melhor. Certamente, nenhum dos que são morre; uma vez que
mesmo ali as inteligências não morrem, porque as inteligências que
estão partilhadas não são em corpo, elas são para o uno, mas cada uma
tendo o uno em alteridade permanece sendo o mesmo que é. Assim, de
fato, são mesmo as almas que estão dependentes sucessivamente de
cada inteligência, porque são razões de inteligências e porque estão
desenvolvidas mais do que aquelas [inteligências], tal que [as almas]
que vieram a ser muito de pouco, porque foram coligadas ao pouco, que
é cada um mais impartilhável do que aquelas almas, desejaram já ser
partilhadas por não ser capazes de ir ao todo da partilha, salvando o
mesmo e o diferente, cada uma permanece uno e todas em conjunto são
uno. Está dito, de fato, o principal do discurso: que [as almas
individuais] são desde uma só e que de uma só são muitas, segundo as
mesmas coisas com a inteligência, e segundo as mesmas coisas são
partilhadas e não são partilhadas, e razão única da inteligência é a

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 40

[alma] que permanece25, e a partir dela são razões parciais e imateriais,


como é lá.

6. Διὰ τί δὲ ἡ μὲν τοῦ παντὸς ψυχὴ ὁμοειδὴς οὖσα πεποίηκε κόσμον, ἡ


δὲ ἑκάστου οὔ, ἔχουσα καὶ αὐτὴ πάντα ἐν ἑαυτῆι; Τὸ γὰρ δύνασθαι ἐν
πολλοῖς γίνεσθαι ἅμα καὶ εἶναι εἴρηται. Νῦν δὲ λεκτέον – τάχα γὰρ καὶ
πῶς ταὐτὸν ἐν ἄλλωι καὶ ἄλλωι τὸ μὲν τοδί, τὸ δὲ τοδὶ ποιεῖ ἢ πάσχει ἢ
ἄμφω, γνωσθήσεται· ἢ καθ᾽ αὑτό γε τοῦτο ἐπισκεπτέον – πῶς οὖν καὶ
διὰ τί κόσμον πεποίηκεν, αἱ δὲ μέρος τι κόσμου διοικοῦσιν; Ἢ
θαυμαστὸν οὐδὲν τοὺς τὴν αὐτὴν ἐπιστήμην ἔχοντας τοὺς μὲν
πλειόνων, τοὺς δὲ ἐλαττόνων ἄρχειν. Ἀλλὰ διὰ τί, εἰπεῖν ἂν ἔχοι τις.
Ἀλλ᾽ ἔστιν, εἴποι τις ἄν, καὶ ψυχῶν διαφορά, ἢ μᾶλλον, καθὸ ἡ μὲν οὐκ
ἀπέστη τῆς ὅλης, ἀλλ᾽ ἔσχεν ἐκεῖ οὖσα περὶ αὐτὴν τὸ σῶμα, αἱ δὲ ἤδη
ὄντος οἷον ἀδελφῆς ψυχῆς ἀρχούσης μοίρας διέλαχον, οἷον
προπαρασκευασάσης ταύτης αὐταῖς οἰκήσεις. ῎Εστι δὲ καὶ τὴν μὲν πρὸς
τὸν ὅλον νοῦν ἰδεῖν, τὰς δὲ μᾶλλον πρὸς τοὺς αὑτῶν τοὺς ἐν μέρει. Τάχα
δ᾽ ἂν καὶ αὗται δύναιντο ποιεῖν, τῆς δὲ ποιησάσης οὐκέτι οἷόν τε καὶ
αὐταῖς, πρώτης ἐκείνης ἀρξάσης. Τὸ δ᾽ αὐτὸ ἄν τις ἠπόρησε, καὶ εἰ
ἡτισοῦν καὶ ἄλλη πρώτη κατεῖχε. Βέλτιον δὲ λέγειν τῶι ἐξηρτῆσθαι
μᾶλλον τῶν ἄνω· τῶν γὰρ ἐκεῖ νενευκότων ἡ δύναμις μείζων.
Σώιζουσαι γὰρ αὑτὰς ἐπ᾽ ἀσφαλοῦς ἐκ τοῦ ῥάιστου ποιοῦσι· δυνάμεως
γὰρ μείζονος μὴ πάσχειν ἐν οἷς ποιεῖ· ἡ δὲ δύναμις ἐκ τοῦ ἄνω μένειν.
Μένουσα οὖν ἐν αὐτῆι ποιεῖ προσιόντων, αἱ δὲ αὐταὶ προσῆλθον.
Ἀπέστησαν οὖν εἰς βάθος. Ἢ πολὺ αὐτῶν καθελκυσθὲν
συνεφειλκύσατο καὶ αὐτὰς ταῖς γνώμαις εἰς τὸ κάτω εἶναι. Τὸ γὰρ
δευτέρας καὶ τρίτας τῶι ἐγγύθεν καὶ τῶι πορρώτερον ὑπονοητέον
εἰρῆσθαι, ὥσπερ καὶ παρ᾽ ἡμῖν οὐχ ὁμοίως πάσαις ψυχαῖς ὑπάρχει τὸ
πρὸς τὰ ἐκεῖ, ἀλλ᾽ οἱ μὲν ἑνοῖντο ἄν, οἱ δὲ βάλλοιεν ἂν ἐγγὺς ἐφιέμενοι,
οἷς δὲ ἧττον ἂν ἔχοι τοῦτο, καθὸ ταῖς δυνάμεσιν οὐ ταῖς αὐταῖς
ἐνεργοῦσιν, ἀλλ᾽ οἱ μὲν τῆι πρώτηι, οἱ δὲ τῆι μετ᾽ ἐκείνην, οἱ δὲ τῆι
τρίτηι, ἁπάντων τὰς πάσας ἐχόντων.

25
A alma que permanece é a que contempla a inteligência, sendo portanto razão única
desta; as almas particulares são assim razões múltiplas daquela.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 41

6. E por que a alma do todo sendo de semelhante forma criou o cosmo,


e a de cada um não, tendo esta também tudo em si mesma? Que é
possível [a alma do todo] vir a ser e ao mesmo tempo ser em muitos
está dito. Agora deve-se dizer – pois logo será conhecido – como o
mesmo é em um, e para outro um é deste modo, outro é daquele, cria
ou sofre ou ambas as coisas; certamente segundo isso mesmo deve-se
examinar como e por que [aquela] criou o cosmo, e estas administram
alguma parte do cosmo. Certamente, em nada é admirável os que têm o
mesmo conhecimento, uns governar maior número, e outros, menor
número. Mas por quê? Teria de dizer alguém. Mas há, diria alguém,
também diferenças de almas, ou melhor, porque uma não se afastou da
alma inteira, mas sendo ali tinha acerca dela o corpo, e as outras
obtiveram por sorte o que já é, tal que da alma irmã que governa
destinos, tal como se essa tivesse preparado habitações para elas. E é
que uma olha para a inteligência inteira, e as outras olham antes para as
[inteligências] de si mesmas, que são em parte. Logo também elas
mesmas poderiam criar, mas, sendo a que cria aquela primeira a
começar, não é mais possível também para elas. Em relação a isso
mesmo alguém estaria em aporia, tanto se qualquer uma quanto [se] a
outra se mantivesse primeira. E melhor é dizer [que é a primeira] por
estar dependente antes das coisas superiores; pois das que estão
inclinadas para ali a capacidade é maior. Pois elas se guardando em
segurança, criam muito facilmente; pois sendo de capacidade maior não
há sofrer naquilo em que cria; porque a capacidade desde o que é
superior permanece. Então, enquanto a alma do todo permanece em si
mesma cria, enquanto [as outras] avançam para a criação e elas mesmas
chegam. Então, elas põem-se afastadas para profundeza26. Certamente
a parte múltipla delas tendo sido puxada para baixo, puxou junto
também elas mesmas com produtos de parecer para ser inferior. Pois,
deve-se entender que [Platão] disse “segundas e terceiras”, por ser

26
Enquanto a Alma contempla a Inteligência, a do todo cria este cosmo mantendo sua
potência, e as almas individuais se aproximam dando vida aos seres, caindo em
profundeza ao incorporar-se.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 42

próximo e distante [da Inteligência]27, assim também para nós não de


modo semelhante em todas as almas é princípio que é voltado para as
coisas de lá, mas uns poderiam unificar-se, e outros poderiam lançar-se
buscando aproximação, aos quais esse princípio seria menos, segundo
o que são em atividade pelas potências que não são as mesmas, mas uns
com a primeira [potência], outros com a depois dessa, e outros com a
terceira, todos eles tendo todas as potências.

7. Ταῦτα μὲν οὖν ταύτηι. Ἀλλὰ τὸ ἐν Φιλήβωι λεχθὲν παρέχον ὑπόνοιαν


μοίρας τῆς τοῦ παντὸς τὰς ἄλλας εἶναι; Βούλεται δὲ ὁ λόγος οὐ τοῦτο,
ὅ τις οἴεται, ἀλλ᾽ ὅπερ ἦν χρήσιμον αὐτῶι τότε, καὶ τὸν οὐρανὸν
ἔμψυχον εἶναι. Τοῦτο οὖν πιστοῦται λέγων, ὡς ἄτοπον τὸν οὐρανὸν
ἄψυχον λέγειν ἡμῶν, οἳ μέρος σώματος ἔχομεν τοῦ παντός, ψυχὴν
ἐχόντων. Πῶς γὰρ ἂν τὸ μέρος ἔσχεν ἀψύχου τοῦ παντὸς ὄντος; Δῆλον
δὲ μάλιστα τὸ τῆς γνώμης αὐτοῦ ἐν Τιμαίωι ποιεῖ, οὗ γενομένης τῆς
ψυχῆς τοῦ παντὸς ὕστερον τὰς ἄλλας ποιεῖ ἐκ τοῦ αὐτοῦ μιγνύων
κρατῆρος, ἀφ᾽ οὗ καὶ ἡ τῶν ὅλων, ὁμοειδῆ ποιῶν καὶ τὴν ἄλλην, τὴν δὲ
διαφορὰν δευτέροις καὶ τρίτοις διδούς. Τὸ δὲ ἐν τῶι Φαίδρωι ψυχὴ
πᾶσα παντὸς ἐπιμελεῖται τοῦ ἀψύχου; Τί γὰρ ἂν εἴη, ὃ σώματος τὴν
φύσιν διοικεῖ καὶ ἢ πλάττει ἢ τάττει ἢ ποιεῖ ἢ ψυχή; Καὶ οὐχ ἡ μὲν
πέφυκε τοῦτο δύνασθαι, ἡ δὲ οὔ. Ἡ μὲν οὖν τελεία, φησίν, ἡ τοῦ παντὸς
μετεωροποροῦσα οὐ δῦσα, ἀλλ᾽ οἷον ἐποχουμένη, εἰς τὸν κόσμον ποιεῖ
καὶ ἥτις ἂν τελεία ἦι, οὕτω διοικεῖ. Ἡ δὲ πτερορρυήσασα εἰπὼν ἄλλην
ταύτην παρ᾽ ἐκείνην ποιεῖ. Τὸ δὲ συνέπεσθαι τῆι τοῦ παντὸς περιφορᾶι
καὶ ἤθη ἐκεῖθεν κομίζεσθαι καὶ πάσχειν παρ᾽ αὐτοῦ οὐδὲν ἂν εἴη
σημεῖον τοῦτο τοῦ μέρη τὰς ἡμετέρας εἶναι.᾿Ικανὴ γὰρ ψυχὴ καὶ παρὰ
φύσεως τόπων πολλὰ ἀπομάττεσθαι καὶ ὑδάτων καὶ ἀέρος· καὶ πόλεων
διάφοροι οἰκήσεις καὶ τῶν σωμάτων αἱ κράσεις. Καί τι ἔφαμεν ἔχειν ἐν
τῶι παντὶ ὄντες τῆς τοῦ ὅλου ψυχῆς, καὶ παρὰ τῆς περιφορᾶς
συνεχωροῦμεν τὸ πάσχειν, ἀλλ᾽ ἀντετίθεμεν ἄλλην ψυχὴν πρὸς ταῦτα
καὶ μάλιστα τῆι ἀντιστάσει δεικνυμένην ἄλλην. Τὸ δ᾽ ὅτι εἴσω

27
O primeiro nível de criação é desde a contemplação da Alma, que cria os
inteligíveis; o segundo já é criação de sua parte inferior, que cria o todo; o terceiro é
a criação dos seres que habitam o todo.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 43

γεννώμεθα ἐν αὐτῶι, καὶ ἐπὶ τῶν μητρῶν φαμὲν ἑτέραν εἶναι οὐ τὴν τῆς
μητρὸς τὴν ἐπεισιοῦσαν.

7. Isso de fato é desse modo. Mas e o que foi lido no Filebo28 que
apresenta hipótese de as outras almas serem moiras da alma do todo?
Quer a razão não isso, que alguém pensa, mas o que era então útil para
Platão: o céu ser animado. Então, disso há confiança, quando ele diz
que dizer que o céu é inanimado é absurdo, quando nós, que temos parte
do corpo do todo, temos alma. Pois como a parte teria alma, sendo
inanimado o todo? E ele faz claro sobretudo isso de seu parecer no
Timeu, onde, tendo sido gerada a alma do todo, posteriormente faz as
outras ao misturar da mesma cratera de que também [misturara] a dos
inteiros29, criando da mesma forma também a diversa, dando a
diferença em segundas e terceiras30. E aquilo no Fedro “alma toda cuida
de tudo inanimado”? Pois o que seria o que administra a natureza do
corpo e plasma, ordena, cria, senão alma? E nem é que uma é capaz
disso por natureza, e outra não. De fato, a perfeita, diz ele, a que vai
acima do todo e não mergulha, tal como sendo transportada, cria para o
cosmo e, [como] qualquer uma que seja perfeita, assim administra. E ao
dizer “a que perdeu as asas”31, cria essa diversa contra aquela. E [a alma

28
No capítulo 1: as almas individuais seriam ‘moiras’, partes destinadas da alma do
todo.
29
Platão, Timeu 41d: Ταῦτ’ εἶπε, καὶ πάλιν ἐπὶ τὸν πρότερον κρατῆρα, ἐν ᾧ τὴν τοῦ
παντὸς ψυχὴν κεραννὺς ἔμισγεν, τὰ τῶν πρόσθεν ὑπόλοιπα κατεχεῖτο μίσγων τρόπον
μέν τινα τὸν αὐτόν, ἀκήρατα δὲ οὐκέτι κατὰ ταὐτὰ ὡσαύτως, ἀλλὰ δεύτερα καὶ τρίτα
(disse isso e novamente, na cratera anterior em que tendo dado a têmpera misturou a
alma do todo, eram deixadas as coisas restantes de antes misturando-as de certo modo
o mesmo, mas não mais da mesma forma puras segundo um só e o mesmo, mas
segundas e terceiras).
30
A Alma, criação da Inteligência, é segundo as mesmas coisas (κατὰ ταὐτά), a outra,
sua parte inferior, e as almas individuais são de forma semelhante, mas segundas e
terceiras.
31
Platão, Fedro 246c: τελέα μὲν οὖν οὖσα καὶ ἐπτερωμένη μετεωροπορεῖ τε καὶ πάντα
τὸν κόσμον διοικεῖ, ἡ δὲ πτερορρυήσασα φέρεται ἕως ἂν στερεοῦ τινος ἀντιλάβηται,
οὗ κατοικισθεῖσα, σῶμα γήϊνον λαβοῦσα, αὐτὸ αὑτὸ δοκοῦν κινεῖν διὰ τὴν ἐκείνης
δύναμιν (sendo perfeita e alada passa pelas alturas e administra todo o cosmo, a que

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 44

do todo] seguir junto com a órbita do todo e já de lá reportar e sofrer de


sua parte, isso nenhum sinal seria de ser partes as nossas. Pois é
suficiente [essa] alma e muitas vezes ela toma forma da natureza de
lugares, como da natureza das águas e do ar; e de cidades, diferentes
habitações, e dos corpos, as fusões. E dizíamos que temos algo da alma
do inteiro, sendo no todo32, e consentíamos no sofrer da parte de sua
órbita, mas antepúnhamos a essa uma alma diversa e que
principalmente é indicada diversa pela sua posição contrária33. E quanto
a que somos gerados internamente no mesmo todo, mesmo nas mães
dizemos ser diferente a alma que se introduz, [que] não é a da mãe.

8. Ταῦτα μὲν οὖν οὕτως ἂν ἔχοι λύσεως καὶ τοῦ τῆς συμπαθείας μὴ
ἐμποδίζοντος τὸν λόγον· ἐκ γὰρ τῆς αὐτῆς πᾶσαι οὖσαι, ἐξ ἧς καὶ ἡ τοῦ
ὅλου, συμπαθεῖς. Καὶ γὰρ εἴρηται, ὅτι καὶ μία καὶ πολλαί. Περὶ δὲ τοῦ
μέρους πρὸς τὸ ὅλον τῆς διαφορᾶς ὅπως, εἴρηται. Εἴρηται δὲ καὶ ὅλως
περὶ διαφορᾶς ψυχῆς καὶ νῦν συντόμως λεγέσθω, ὅτι καὶ παρὰ τὰ
σώματα μὲν ἂν γίγνοιτο διαφέρειν καὶ ἐν τοῖς ἤθεσι μάλιστα καὶ ἐν τοῖς
τῆς διανοίας ἔργοις καὶ ἐκ τῶν προβεβιωμένων βίων· κατὰ γὰρ τοὺς
προβεβιωμένους φησὶ τὰς αἱρέσεις ταῖς ψυχαῖς γίγνεσθαι. Εἰ δέ τις
φύσιν ψυχῆς ὅλως λαμβάνοι, καὶ ἐν ταύταις εἴρηνται αἱ διαφοραί, ἐν
οἷς καὶ δεύτερα καὶ τρίτα ἐλέγετο, καὶ ὅτι πάντα πᾶσαι, κατὰ δὲ τὸ
ἐνεργῆσαν ἐν αὐτῆι ἑκάστη· τοῦτο δὲ τῶι τὴν μὲν ἑνοῦσθαι ἐνεργείαι,
τὴν δὲ ἐν γνώσει [εἶναι], τὴν δὲ ἐν ὀρέξει, καὶ ἐν τῶι ἄλλην ἄλλα
βλέπειν καὶ ἅπερ βλέπει εἶναι καὶ γίγνεσθαι· καὶ τὸ πλῆρες δὲ ταῖς
ψυχαῖς καὶ τέλειον οὐχὶ ταὐτὸν πάσαις. Ἀλλ᾽ εἰ ποικίλον τὸ ὅλον

perdeu as asas é levada até que se choque com algo sólido, onde, tendo tomado um
corpo de terra, passa a habitar).
32
O que temos da parte do inteiro, sendo no todo, é o que se diz no Timeu 41c: καὶ
καθ’ ὅσον μὲν αὐτῶν ἀθανάτοις ὁμώνυμον εἶναι προσήκει, θεῖον λεγόμενον
ἡγεμονοῦν τε ἐν αὐτοῖς τῶν ἀεὶ δίκῃ καὶ ὑμῖν ἐθελόντων ἕπεσθαι, σπείρας καὶ
ὑπαρξάμενος ἐγὼ παραδώσω (e quanto desses [mortais] convém ser homônimo aos
imortais, que é dito divino e que dirige nesses dentre os que sempre desejam seguir a
justiça e a vós, eu, tendo semeado e começado, atribuirei).
33
A alma inteira é a alma contemplativa; a alma do todo é a sua parte inferior, que
move o todo.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 45

σύνταγμα αὐταῖς – εἷς γὰρ πᾶς λόγος πολὺς καὶ ποικίλος, ὥσπερ ζῶιον
ψυχικὸν πολλὰς μορφὰς ἔχον – εἰ δὴ τοῦτο, καὶ σύνταξίς ἐστι, καὶ οὐ
διέσπασται τὰ ὄντα ὅλως ἀπ᾽ ἀλλήλων, οὐδὲ τὸ εἰκῆ ἐν τοῖς οὖσιν, ὅπου
μηδὲ ἐν τοῖς σώμασι, καὶ ἀριθμόν τινα ἀκόλουθόν ἐστιν εἶναι. Καὶ γὰρ
αὖ ἑστάναι δεῖ τὰ ὄντα, καὶ τὰ αὐτὰ τὰ νοητὰ εἶναι, καὶ ἕκαστον ἓν
ἀριθμῶι εἶναι· οὕτω γὰρ τὸ τόδε. Τοῖς μὲν γὰρ τῶν σωμάτων τῶι φύσει
τοῦ καθέκαστον ῥέοντος ἅτε ἐπακτοῦ τοῦ εἴδους ὄντος τὸ εἶναι κατ᾽
εἶδος ἀεὶ ὑπάρχει μιμήσει τῶν ὄντων, τοῖς δὲ ἅτε οὐκ ἐκ συνθέσεως
οὖσι τὸ εἶναί ἐστιν ἐν τῶι ὅ ἐστιν ἀριθμῶι ἕν, ὅπερ ἐξ ἀρχῆς ὑπάρχει,
καὶ οὔτε γίνεται ὃ μὴ ἦν, οὔτε ὅ ἐστιν οὐκ ἔσται. ᾿Επεὶ καὶ εἰ ποιοῦν τι
ἔσται αὐτά, ἐκ μὲν ὕλης οὐκ ἄν· εἰ δὲ καὶ τοῦτο, δεῖ τι καὶ ἐξ αὐτοῦ
οὐσιῶδες προσθεῖναι· ὥστε μεταβολὴ περὶ αὐτὸ ἐκεῖνο ἔσται, εἰ νῦν
πλέον ποιεῖ ἢ ἔλαττον. Καὶ διὰ τί νῦν, ἀλλ᾽ οὐκ ἀεὶ οὕτως; Καὶ τὸ
γενόμενον δὲ οὐκ ἀίδιον, εἴπερ πλέον καὶ ἔλαττον· κεῖται δὲ ἡ ψυχὴ
τοιοῦτον. Πῶς οὖν ἄπειρον, εἰ στήσεται; Ἢ τῆι δυνάμει τὸ ἄπειρον, ὅτι
ἡ δύναμις ἄπειρος, οὐχ ὡς μερισθησομένης εἰς ἄπειρον. Ἐπεὶ καὶ ὁ θεὸς
οὐ πεπερασμένος. Καὶ αὗται τοίνυν οὐ πέρατι ἀλλοτρίωι ἐστὶν ἑκάστη
ὅ ἐστιν, οἷον τοσαύτη, ἀλλ᾽ αὐτή ἐστιν ὅσον θέλει, καὶ οὐ μή ποτε
γένηται προιοῦσα ἔξω αὐτῆς, ἀλλὰ φθάνει μὲν πανταχοῦ, ὃ πέφυκεν
αὐτῆς ἐπὶ τὰ σώματα [εἰς τὰ σώματα] φθάνειν· οὐ μὴν διέσπασται ἀφ᾽
ἑαυτῆς, ὅταν ἦι καὶ ἐν τῶι δακτυλίωι καὶ ἐν τῶι ποδί. Οὕτω δὴ καὶ ἐν
τῶι παντί, εἰς ὃ ἂν φθάνηι, ἐν ἄλλωι καὶ ἄλλωι μέρει φυτοῦ καὶ
ἀποτετμημένου, ὥστε εἶναι καὶ ἐν τῶι ἐξ ἀρχῆς φυτῶι καὶ τῶι ἀπ᾽ αὐτοῦ
τετμημένωι· ἓν γὰρ τὸ σῶμα τοῦ παντός, καὶ ὡς ἐν ἑνί ἐστιν αὐτοῦ
πανταχοῦ. Καὶ σαπέντος δὲ ζώιου εἰ πολλὰ ἐξ αὐτοῦ, ἐκείνη μὲν οὐκέτι
ἐστὶν ἡ τοῦ παντὸς ζώιου ψυχὴ ἐν τῶι σώματι· οὐ γὰρ ἔχει αὖ τὸ
δεκτικὸν αὐτῆς· οὐ γὰρ ἂν ἀπέθανε. Τὰ δὲ ἐκ τῆς φθορᾶς ἐπιτηδείως
ἔχοντα πρὸς γενέσεις ζώιων, τὰ μὲν τῶνδε, τὰ δὲ τῶνδε, ἴσχει ψυχὴν
οὐδενὸς ὄντος ὅτου ἀποστατεῖ, ὄντος δὲ τοῦ μὲν δέχεσθαι, τοῦ δὲ μὴ
δέχεσθαι δυναμένου. Καὶ τὰ γιγνόμενα οὕτως ἔμψυχα οὐ πλείους
ἐποίησε ψυχάς· ἐξήρτηται γὰρ τῆς μιᾶς, ἣ μένει μία· ὥσπερ καὶ ἐν ἡμῖν
ἀποτεμνομένων τινῶν, ἄλλων δὲ ἀντ᾽ αὐτῶν φυομένων, τῶν μὲν
ἀπέστη ἡ ψυχή, τοῖς δὲ προσεγένετο, ἕως ἡ μία μένει. Ἐν δὲ τῶι παντὶ
μένει ἀεὶ ἡ μία· τὰ δὲ ἐντὸς τὰ μὲν ἴσχει, τὰ δὲ ἀποτίθεται, τῶν αὐτῶν
ψυχικῶν μενόντων.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 46

8. Portanto, essas coisas assim teriam solução, pela comunhão de


impressões [nas almas] não impedir o raciocínio; pois desde a mesma
todas são, desde a qual é também a do todo, tendo todas as mesmas
impressões. Pois também está dito que [ela] é tanto uma só quanto
muitas. E sobre a diferença da parte em relação ao todo, como é, [isso]
está dito34. E está dito também de modo geral sobre a diferença da alma,
e agora concisamente seja dito que [a alma] difere, quando vier a ser
nos corpos, tanto nos hábitos principalmente quanto nos trabalhos do
pensamento, desde as vidas que antes foram vividas; pois segundo as
vidas antes vividas, [Platão] diz que as escolhas vêm a ser para as
almas35. E se alguém tomar a natureza da alma em geral, mesmo nessas
estão ditas as diferenças, em tais [lugares] era dito ‘de segunda’ e ‘de
terceira’36, porque todas são em relação a tudo, cada uma segundo o que
é em atividade em si mesma; isto é, uma em atividade para unificar-se,
outra para ser em conhecimento, outra em apetite, e no olhar outras
coisas é diversa, para ser e vir a ser o que olha; o completo e perfeito
para as almas não é o mesmo para todas. Mas se isso é variado, o inteiro
é composto para elas – pois um só todo é razão múltipla e variada, como
vivente animado tendo muitas formas – e se é isso, também é [a sua]
composição, pois em geral as coisas que são não estão dispersas umas
das outras, nem há algo sem propósito nas coisas que são, nem quando
sejam nos corpos, [assim a composição da alma] é para ser um número
que a segue. Pois ainda é preciso as coisas que são ser estáveis, e os
inteligíveis ser eles mesmos, e cada um ser um só em número; pois
assim cada um será ‘isto’. E às coisas que são dos corpos por natureza
– a forma de cada uma escorrendo, uma vez que é importada – o ser
segundo a forma37 sempre tem início em imitação das coisas que são, e

34
Plotino, Enéada IV 9, 3.
35
Platão, Politeia 620a: κατὰ συνήθειαν γὰρ τοῦ προτέρου βίου τὰ πολλὰ αἱρεῖσθαι
(pois segundo o hábito da vida anterior a maioria escolhe).
36
Platão, Timeu 41d: ἀκήρατα δὲ οὐκέτι κατὰ ταὐτὰ ὡσαύτως, ἀλλὰ δεύτερα καὶ
τρίτα (não mais da mesma forma puras segundo um só e o mesmo, mas segundas e
terceiras).
37
A essência formal (τὸ εἶναι κατ᾽ εἶδος).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 47

àquelas que não são desde composição, o ser é único no número que é,
que desde o princípio tem início, não vem a ser o que não era, nem o
que é não será. Uma vez que, se houver algo que as cria, desde a matéria
não seria; e se é também isso, é preciso de si mesmo acrescentar algo
de essência; assim haverá uma mudança acerca daquilo mesmo, se
agora cria mais ou menos. E por que agora, mas não é sempre assim? E
o que veio a ser não é eterno, se é mais e menos; e jaz a alma tal como
é. Então, como é algo infinito, se for estável? Certamente em potência
é o infinito, porque a potência é infinita, não sendo assim partilhada ao
infinito. Uma vez que mesmo a divindade não está limitada, as próprias
almas, de fato, não [têm] limite alheio, cada uma é o que é, tal que tão
grande, mas ela mesma é quanto quer, nem há temor de que alguma vez
venha a ser que ela avance para fora de si mesma, mas avança em toda
parte, que é sua natureza avançar aos corpos. Contudo, ela não está
separada de si mesma, quando seja tanto no dedinho quanto no pé.
Assim é também no todo para o qual ela avance; em uma e em outra
parte de uma planta, mesmo estando cortada dela, de modo a ser de
princípio tanto na planta quanto no que foi cortado dela; pois um só é o
corpo do todo, e como em um só ela é em toda parte dele. E tendo
apodrecido um vivente, se há muitos viventes desde ele, aquela não
mais é a alma do vivente todo no corpo; pois não há mais o receptáculo
dela; pois [se houvesse] ele não teria morrido. Aquilo que é desde a
destruição [desse vivente apodrecido] está oportunamente para gêneses
de viventes, uma parte destes, outra parte daqueles, mantém alma,
porque ela está afastada de nada que é, qualquer que seja, havendo o
que é capaz de recebê-la, e o que não é capaz de recebê-la38. E os que
vêm a ser assim animados não fazem mais numerosas as almas; pois
eles estão dependentes de uma só, que permanece única; assim é
também em nós, quando algumas partes são cortadas, outras crescem
no lugar dessas, e a alma se afastou daquelas, e acrescentou-se a estas,
enquanto ela permanece a única. No todo ela permanece sempre a

38
Um corpo em decomposição produz pequenos organismos que se alimentam dele;
estes por sua vez são capazes de receber alma, aquele não.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 48

única; e do que é interior a ela, uma parte a mantém, e outra se afasta


dela, permanecendo [em número] os mesmos seres animados.

9. Ἀλλὰ [καὶ] πῶς ἐγγίγνεται σώματι ψυχή, ζητητέον. Τίς ὁ τρόπος [καὶ
πῶς]; Οὐχ ἧττον γὰρ καὶ τοῦτο θαυμάσαι τε καὶ ζητῆσαι ἄξιον.᾿Επεὶ
τοίνυν διττὸς ὁ τρόπος τῆς εἰς σῶμα ψυχῆς εἰσόδου – ἡ μὲν γὰρ γίνεται
ψυχῆι ἐν σώματι οὔσηι τῆι τε μετενσωματουμένηι καὶ τῆι ἐκ σώματος
ἀερίνου ἢ πυρίνου εἰς γήινον γινομένηι, ἣν δὴ μετενσωμάτωσιν οὐ
λέγουσιν εἶναι, ὅτι ἄδηλον τὸ ἀφ᾽ οὗ ἡ εἴσκρισις, ἡ δὲ ἐκ τοῦ ἀσωμάτου
εἰς ὁτιοῦν σῶμα, ἣ δὴ καὶ πρώτη ἂν εἴη ψυχῆι κοινωνία σώματι – ὀρθῶς
ἂν ἔχοι ἐπισκέψασθαι περὶ ταύτης, τί ποτέ ἐστι τὸ γινόμενον πάθος
τότε, ὅτε ψυχὴ καθαρὰ οὖσα σώματος πάντη ἴσχει περὶ αὐτὴν σώματος
φύσιν. Περὶ μὲν δὴ τῆς τοῦ παντός – ἐντεῦθεν γὰρ ἴσως [εἰκὸς]
ἄρξασθαι, μᾶλλον δὲ ἀναγκαῖον τυγχάνει – δεῖ δὴ τῶι λόγωι τὴν
εἴσοδον καὶ τὴν ἐμψύχωσιν διδασκαλίας καὶ τοῦ σαφοῦς χάριν
γίγνεσθαι νομίζειν. Ἐπεὶ οὐκ ἦν ὅτε οὐκ ἐψύχωτο τόδε τὸ πᾶν, οὐδὲ ἦν
ὅτε σῶμα ὑφειστήκει ψυχῆς ἀπούσης, οὐδὲ ὕλη ποτὲ ὅτε ἀκόσμητος
ἦν· ἀλλ᾽ ἐπινοῆσαι ταῦτα χωρίζοντας αὐτὰ ἀπ᾽ ἀλλήλων τῶι λόγωι οἷόν
τε. Ἔξεστι γὰρ ἀναλύειν τῶι λόγωι καὶ τῆι διανοίαι πᾶσαν σύνθεσιν.
Ἐπεὶ τό γε ἀληθὲς ὧδε ἔχει· σώματος μὲν μὴ ὄντος οὐδ᾽ ἂν προέλθοι
ψυχή, ἐπεὶ οὐδὲ τόπος ἄλλος ἐστίν, ὅπου πέφυκεν εἶναι. Προιέναι δὲ εἰ
μέλλοι, γεννήσει ἑαυτῆι τόπον, ὥστε καὶ σῶμα. Τῆς δὴ στάσεως αὐτῆς
ἐν αὐτῆι τῆι στάσει οἱονεὶ ῥωννυμένης οἷον πολὺ φῶς ἐκλάμψαν ἐπ᾽
ἄκροις τοῖς ἐσχάτοις τοῦ πυρὸς σκότος ἐγίνετο, ὅπερ ἰδοῦσα ἡ ψυχή,
ἐπείπερ ὑπέστη, ἐμόρφωσεν αὐτό. Οὐ γὰρ ἦν θεμιτὸν γειτονοῦν τι
αὐτῆι λόγου ἄμοιρον εἶναι, οἷον ἐδέχετο τὸ λεγόμενον ἀμυδρὸν ἐν
ἀμυδρῶι τῶι γενομένωι. Γενόμενος δὴ οἷον οἶκός τις καλὸς καὶ
ποικίλος οὐκ ἀπετμήθη τοῦ πεποιηκότος, οὐδ᾽ αὖ ἐκοίνωσεν αὐτὸν
αὐτῆι, ἀλλὰ πανταχοῦ πᾶς ἄξιος ἐπιμελείας νομισθεὶς ὠφελίμου μὲν
ἑαυτῶι τῶι εἶναι καὶ τῶι καλῶι, ὅσον δὴ τοῦ εἶναι δυνατὸν ἦν αὐτῶι
μεταλαμβάνειν, ἀβλαβοῦς δὲ τῶι ἐφεστηκότι· ἄνω γὰρ μένων
ἐπιστατεῖ· ἔμψυχος τῶι τοιούτωι τρόπωι, ἔχων ψυχὴν οὐχ αὑτοῦ, ἀλλ᾽
αὑτῶι, κρατούμενος οὐ κρατῶν, καὶ ἐχόμενος ἀλλ᾽ οὐκ ἔχων. Κεῖται
γὰρ ἐν τῆι ψυχῆι ἀνεχούσηι αὐτὸν καὶ οὐδὲν ἄμοιρόν ἐστιν αὐτῆς, ὡς
ἂν ἐν ὕδασι δίκτυον τεγγόμενον ζώιη, οὐ δυνάμενον δὲ αὑτοῦ ποιεῖσθαι

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 49

ἐν ὧι ἐστιν· ἀλλὰ τὸ μὲν δίκτυον ἐκτεινομένης ἤδη τῆς θαλάσσης


συνεκτέταται, ὅσον αὐτὸ δύναται· οὐ γὰρ δύναται ἀλλαχόθι ἕκαστον
τῶν μορίων ἢ ὅπου κεῖται εἶναι. Ἡ δὲ τοσαύτη ἐστὶ τὴν φύσιν, ὅτι μὴ
τοσήδε, ὥστε πᾶν τὸ σῶμα καταλαμβάνειν τῶι αὐτῶι, καὶ ὅπου ἂν
ἐκταθῆι ἐκεῖνο, ἐκεῖ ἐστι· καὶ εἰ μὴ εἴη δὲ ἐκεῖνο, οὐδὲν ἂν αὐτῆι εἰς
μέγεθος μέλοι· ἔστι γὰρ ἥτις ἐστί. Τοσοῦτον γάρ ἐστι τὸ πᾶν, ὅπου ἐστὶν
αὐτή, καὶ ὁρίζεται τῶι ὅσον, εἰς ὅσον προιὸν σώιζουσαν αὐτὴν αὐτὸ
ἔχει. Καὶ τοσαύτη ἐστὶν ἡ σκιά, ὅσος ὁ λόγος ὁ παρ᾽ αὐτῆς. Ὁ δὲ λόγος
τοιοῦτος ἦν, ὡς μέγεθος τοσοῦτον ἐργάσασθαι, ὅσον τὸ εἶδος αὐτοῦ
ἐβούλετο μέγεθος ἐργάσασθαι.

9. Mas deve-se buscar também como alma vem a ser em corpo39. Qual
é o modo? Pois também isso não é menos digno de admirar e buscar.
De fato, duplo é o modo de entrada da alma no corpo – pois uma entrada
vem a ser à alma que está em corpo, e transmigrando-se de um corpo
aéreo ou ígneo vem a ser em um terrestre, que não dizem ser
transmigração de corpo, porque não é claro o a partir de que é o
ingresso, e outra entrada é a partir do incorpóreo para qualquer corpo,
que na verdade seria a primeira comunhão de alma e corpo – seria
correto que se examinasse sobre essa [entrada], qual é então a impressão
que vem a ser no momento em que a alma sendo imune totalmente ao
corpo mantém acerca dela a natureza de corpo. Na verdade, sobre a do
todo – pois daqui talvez seja conveniente começar, e [isso] por acaso é
mais necessário – é preciso considerar pela razão que a entrada e a
animação vêm a ser por clareza didática. Já que não havia um tempo
em que este todo não era animado, nem quando o corpo se havia
estabelecido, estando a alma ausente, nem jamais havia matéria, quando
era desordenado; mas somos capazes de entender essas coisas
separando-as umas das outras pela razão. Pois é possível analisar pela
razão e pelo pensamento toda composição. Uma vez que a verdade é
assim: não havendo corpo, não procederia alma, uma vez que nem há
outro lugar, onde ela naturalmente seria. E se ela vai proceder, gerará a

39
Segunda questão, que é desenvolvida de §9 - §17.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 50

si mesma um lugar, assim também um corpo. Na verdade, sua


estabilidade sendo de certo modo forte na própria estabilidade, tal que
muita luz brilhando, nas últimas extremidades do fogo veio a ser
obscuridade, que tendo visto a alma, exatamente porque está em guarda,
deu-lhe uma forma. Pois não era lícito algo sendo vizinho a ela ser sem
parte de razão, tal que recebia o dito de ‘não claro’ por ter-se gerado em
‘não claro’. Na verdade, [o todo] tendo-se gerado tal que habitação bela
e variada, não se separou do que o criou, nem ainda se fez comum a ela,
mas em toda parte considerando-se todo digno de cuidado, sendo
benéfico a si mesmo para ser e para ser belo, quanto era possível a si
participar do ser, sendo inofensivo ao que está acima; pois [a alma]
preside permanecendo acima; animado de tal modo, tendo alma não de
si mesmo, mas para si mesmo, sendo dominado não dominando, sendo
mantido mas não mantendo. Pois ele jaz na alma que o sustém, e nada
é sem parte dela, como uma rede de pesca versada em água viveria, não
podendo de si mesma fazer-se no que é40; mas a rede, estendendo-se o
mar, está estendida com ele, quanto isso é possível; pois não é possível
em outro lugar cada uma das partes ser, senão onde jaz. E a [alma do
todo] é tão grande de natureza, que não é desta [ou daquela] grandeza,
de modo a envolver todo o corpo no mesmo lugar, e onde ele for
disposto, ali está ela; se não fosse ele, ela em nada cuidaria de grandeza;
pois o que quer que ela seja, ele é; pois o todo é do tamanho de onde ela
é, e ele se limita por tanto quanto, avançando, tem a alma que o salva.
E tão grande é a sombra dele, quanto é grande a razão da parte dela. E
a razão era tal, de modo a realizar-se tamanha grandeza, quanto sua
forma queria realizar-se grandeza.

10. Οὕτω δὴ ἀκούσαντας χρὴ πάλιν ἐπὶ τὸ ἀεὶ οὕτως ἐλθόντας ὁμοῦ
λαβεῖν πάντα ὄντα· οἷον τὸν ἀέρα, τὸ φῶς, τὸν ἥλιον, ἢ τὴν σελήνην
καὶ τὸ φῶς καὶ πάλιν τὸν ἥλιον ὁμοῦ πάντα, τάξιν δὲ πρώτων καὶ
δευτέρων καὶ τρίτων ἔχοντα, καὶ ἐνταῦθα ψυχὴν ἀεὶ ἑστῶσαν ἢ τὰ
πρῶτα καὶ τὰ ἐφεξῆς ὡς πυρὸς ἔσχατα, εἰς ὕστερον τοῦ πρώτου ἐκ τοῦ

40
Uma rede de pesca estendida na água é completamente envolvida pela água e não
faz senão estender-se ao máximo na água.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 51

ἐσχάτου νοουμένου πυρὸς σκιᾶς, εἶτα ἐπιφωτιζομένου ἅμα καὶ τούτου,


ὥστε οἷον εἶδος ἐπιθεῖν τῶι ἐπιβληθέντι πρώτωι γενομένωι παντάπασιν
ἀμυδρῶι. Ἐκοσμεῖτο δὲ κατὰ λόγον ψυχῆς δυνάμει ἐχούσης ἐν αὐτῆι
δι᾽ ὅλης δύναμιν κατὰ λόγους κοσμεῖν· οἷα καὶ οἱ ἐν σπέρμασι λόγοι
πλάττουσι καὶ μορφοῦσι τὰ ζῶια οἷον μικρούς τινας κόσμους. Ὅ τι γὰρ
ἂν ἐφάψηται ψυχῆς, οὕτω ποιεῖται ὡς ἔχει φύσεως ψυχῆς ἡ οὐσία· ἡ δὲ
ποιεῖ οὐκ ἐπακτῶι γνώμηι οὐδὲ βουλὴν ἢ σκέψιν ἀναμείνασα· οὕτω γὰρ
ἂν οὐ κατὰ φύσιν, ἀλλὰ κατ᾽ ἐπακτὸν τέχνην ἂν ποιοῖ. Τέχνη γὰρ
ὑστέρα αὐτῆς καὶ μιμεῖται ἀμυδρὰ καὶ ἀσθενῆ ποιοῦσα μιμήματα,
παίγνια ἄττα καὶ οὐ πολλοῦ ἄξια, μηχαναῖς πολλαῖς εἰς εἴδωλον φύσεως
προσχρωμένη. Ἡ δὲ οὐσίας δυνάμει κυρία σωμάτων εἰς τὸ γενέσθαι τε
καὶ οὕτως ἔχειν ὡς αὐτὴ ἄγει, οὐ δυναμένων τῶν ἐξ ἀρχῆς ἐναντιοῦσθαι
τῆι αὐτῆς βουλήσει. Ἐν γὰρ τοῖς ὑστέροις ἄλληλα ἐμποδίζοντα
πολλάκις ἀποστερεῖται τοῦ τυχεῖν μορφῆς τῆς οἰκείας, ἣν ὁ λόγος ὁ ἐν
σμικρῶι θέλει· ἐκεῖ δὲ γιγνομένης καὶ τῆς ὅλης μορφῆς ὑπ᾽ αὐτῆς καὶ
τάξιν τῶν γενομένων ἅμα ἐχόντων ἀπόνως τὸ γενόμενον καὶ
ἀνεμποδίστως καλόν ἐστι. Κατεσκευάσατο δὲ ἐν αὐτῶι τὰ μὲν θεῶν
ἀγάλματα, τὰ δὲ ἀνθρώπων οἰκήματα, τὰ δὲ ἄλλα ἄλλοις. Τί γὰρ ἔδει
γίνεσθαι παρὰ ψυχῆς, ἢ ὧν τὴν δύναμιν εἰς τὸ ποιεῖν ἔχει; Πυρὸς μὲν
γὰρ θερμὰ ποιεῖν, καὶ τὸ ψύχειν ἄλλου· ψυχῆς δὲ τὸ μὲν ἐν αὐτῆι τὸ δὲ
ἐξ αὐτῆς εἰς ἄλλο. Τοῖς μὲν γὰρ ἀψύχοις τὸ μὲν [ἐξ αὐτῶν] οἷον εὕδει
κείμενον ἐν αὐτοῖς, τὸ δὲ [ἐξ αὐτῶν] εἰς ἄλλο ὁμοιῶσαι πρὸς αὐτὸ τὸ
παθεῖν δυνάμενον· καὶ κοινὸν δὴ τοῦτο παντὶ τῶι ὄντι εἰς ὁμοίωσιν
ἑαυτῶι ἄγειν. Ψυχῆς δὲ ἔργον καὶ τὸ ἐν αὐτῆι ἐγρηγορός τι καὶ τὸ εἰς
ἄλλο ὡσαύτως. Ζῆν οὖν καὶ τὰ ἄλλα ποιεῖ, ὅσα μὴ ζῆι παρ᾽ αὐτῶν, καὶ
τοιαύτην ζωήν, καθ᾽ ἣν αὐτὴ ζῆι. Ζῶσα οὖν ἐν λόγωι λόγον δίδωσι τῶι
σώματι, εἴδωλον οὗ ἔχει – καὶ γὰρ καὶ εἴδωλον ζωῆς, ὅσον δίδωσι τῶι
σώματι – καὶ μορφὰς σωμάτων, ὧν τοὺς λόγους ἔχει· ἔχει δὲ καὶ θεῶν
καὶ πάντων. Διὸ πάντα καὶ ὁ κόσμος ἔχει.

10. Assim tendo ouvido, é necessário, ir desse modo ao que é sempre e


tomar em conjunto todas as coisas que são; tal que o ar, a luz, o sol, ou
a lua e a luz e novamente o sol, tudo em conjunto, que tem posição de

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 52

primeiras, de segundas e de terceiras coisas41, e aí [é necessário tomar]


a alma que sempre é estável ou as primeiras coisas e as que seguem
como extremos de fogo, sendo pensado por último o primeiro fogo a
partir do extremo como sombra42, depois também isso é iluminado
junto, tal como uma forma a correr sobre o que é visto primeiro, tendo
vindo a ser de toda parte obscuro. E [o todo] era ordenado segundo
razão da alma que em potência tem em si mesma, através da alma
inteira, potência para ordenar segundo razões; tais como também as
razões em semente modelam e configuram os seres vivos tal como
certos pequenos cosmos. Pois o que é tocado de alma se cria de modo
que sua essência seja da natureza da alma; e ela cria não por importável
conhecimento, tendo esperado nem decisão ou exame; pois assim seria
não por natureza, mas criaria por arte importável. Pois arte é depois dela
e imita ao criar imitações obscuras e fracas, algumas brincadeiras não
dignas de muito, recorrendo a muitos artifícios para uma visão mórbida
da natureza. E a [alma] por capacidade de sua essência é senhora de
corpos para eles vir a ser e ser como ela conduz, corpos que não são
capazes de se opor de princípio à vontade dela. Pois, nos últimos corpos,
os que impedem uns aos outros muitas vezes são privados de ter por
sorte a figura familiar, que a razão, aquela em pequena parte, quer; mas
lá [no mundo superior], vindo a ser a figura inteira pela [alma] mesma,
e os que vieram a ser em conjunto tendo posição sem dificuldade, o que
vem a ser é belo sem empecilho. Ela preparou no mesmo [cosmo]
corpos que são imagens sacras de deuses, habitações de homens e outras
coisas para outros. Pois o que era preciso vir a ser da parte da alma,
senão aquilo de que tem potência para criar? Pois a potência do fogo é
para criar calor, e o esfriar é potência de outra coisa; e [a potência] da
alma, por um lado é em si mesma, por outro é desde ela para um outro.
De fato, nos inanimados, uma parte é [desde si] tal que dorme jazendo

41
As primeiras coisas são a que sempre são, as segundas aquelas em contato com elas,
ou seja, os inteligíveis, como ar, luz e sol, como fonte de fogo, as terceiras são seus
extremos, ou sua sombra: a lua, a luz e o sol tal como os vemos.
42
A alma do todo e sua criação são como extremos de fogo, ou seja, sombra, portanto
o que vemos é a obscuridade iluminada pela forma, através da razão.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 53

neles mesmos, outra parte é [desde si] para um diverso, cujo sofrer pode
assemelhar a si mesmo43; e na verdade esse conduzir à assimilação a si
mesmo é comum a tudo que é. Pois da alma é trabalho um certo estar
vigilante tanto em si quanto para um diverso. Então, seu viver tanto cria
as outras coisas, quantas não possam viver de si mesmas, quanto cria a
tal vida, segundo a qual ela mesma vive. Então, vivendo em razão, ela
dá uma razão ao corpo, uma visão mórbida do que tem – pois também
é visão mórbida de vida, quanto dá ao corpo – e figuras de corpos, das
quais tem as razões; e [as] tem tanto de deuses quanto de todas as coisas.
Por isso também o cosmos tem tudo.

11. Καί μοι δοκοῦσιν οἱ πάλαι σοφοί, ὅσοι ἐβουλήθησαν θεοὺς αὐτοῖς
παρεῖναι ἱερὰ καὶ ἀγάλματα ποιησάμενοι, εἰς τὴν τοῦ παντὸς φύσιν
ἀπιδόντες, ἐν νῶι λαβεῖν ὡς πανταχοῦ μὲν εὐάγωγον ψυχῆς φύσις,
δέξασθαί γε μὴν ῥᾶιστον ἂν εἴη ἁπάντων, εἴ τις προσπαθές τι
τεκτήναιτο ὑποδέξασθαι δυνάμενον μοῖράν τινα αὐτῆς. Προσπαθὲς δὲ
τὸ ὁπωσοῦν μιμηθέν, ὥσπερ κάτοπτρον ἁρπάσαι εἶδός τι δυνάμενον.
Καὶ γὰρ ἡ τοῦ παντὸς φύσις πάντα εὐμηχάνως ποιησαμένη εἰς μίμησιν
ὧν εἶχε τοὺς λόγους, ἐπειδὴ ἕκαστον οὕτως ἐγένετο ἐν ὕληι λόγος, ὃς
κατὰ τὸν πρὸ ὕλης ἐμεμόρφωτο, συνήψατο τῶι θεῶι ἐκείνωι, καθ᾽ ὃν
ἐγίνετο καὶ εἰς ὃν εἶδεν ἡ ψυχή, καὶ εἶχε ποιοῦσα. Καὶ δὴ οὐχ οἷόν τε
ἦν ἄμοιρον αὐτοῦ γενέσθαι, οὐδὲ ἐκεῖνον αὖ κατελθεῖν εἰς τοῦτον. Ἦν
δὴ νοῦς ἐκεῖνος ὁ ἐκεῖ ἥλιος – οὗτος γὰρ ἡμῖν γινέσθω παράδειγμα τοῦ
λόγου – ἐφεξῆς δὲ τούτωι ψυχὴ ἐξηρτημένη μένοντος νοῦ μένουσα.
Δίδωσι δὴ αὕτη τὰ πέρατα αὐτῆς τὰ πρὸς τοῦτον τὸν ἥλιον τούτωι τῶι
ἡλίωι, καὶ ποιεῖ διὰ μέσου αὐτῆς κἀκεῖ συνῆφθαι οἷον ἑρμηνευτικὴ
γενομένη τῶν τε ἀπ᾽ ἐκείνου εἰς τοῦτον καὶ τῶν τούτου εἰς ἐκεῖνον,
ὅσον διὰ ψυχῆς εἰς ἐκεῖνον φθάνει. Οὐ γὰρ μακρὰν οὐδὲ πόρρω
οὐδενὸς οὐδὲν καὶ αὖ πόρρω τῆι διαφορᾶι καὶ μὴ μίξει, ἀλλ᾽ εἶναι ἐφ᾽
ἑαυτοῦ [οὐ τόποις] καὶ συνεῖναι χωρὶς ὄν. Θεοὶ δέ εἰσιν οὗτοι τῶι ἀεὶ
μὴ ἀποστατεῖν ἐκείνων, καὶ τῆι μὲν ἐξαρχῆς ψυχῆι προσηρτῆσθαι τῆι

43
Os inanimados têm potência em si mesmos, que pode ser de si para si, como os
elementos têm forma sem figura, e pode ser de si para outro, como para representar
figuras por semelhança de outro.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 54

οἷον ἀπελθούσηι ψυχῆι, ταύτηι δέ, ἧιπερ καί εἰσι καὶ ὃ λέγονται, πρὸς
νοῦν βλέπειν οὐδαμοῦ ψυχῆς αὐτοῖς ἢ ἐκεῖ βλεπούσης.

11. E a mim parece que os sábios de antigamente, quantos deliberaram


que deuses fossem presentes entre eles, ao criar santuários e imagens
sacras, tendo dirigido o olhar à natureza do todo, captaram na mente
que em toda parte a natureza da alma se conduz bem, e que de fato seria
muitíssimo mais fácil do que tudo recebê-la se alguém construísse algo
que prove sua impressão, sendo capaz de acolher uma certa parte dela.
E que prove sua impressão é o que de algum modo foi imitado, como
um espelho que pode capturar uma certa forma. Pois também a natureza
do todo ao criar tudo engenhosamente para imitação das coisas cujas
razões ela tinha, quando cada coisa veio a ser desse modo razão em
matéria, razão que tinha tomado forma segundo o que é antes da
matéria, a alma conectou-se àquela divindade segundo a qual vem a ser
e para a qual olha e tinha ao criar. Na verdade, não era possível vir a ser
sem parte dela, nem ela por sua vez descer até esse mundo. Essa
divindade era, de fato, a inteligência que ali é o sol – pois esse para nós
venha a ser modelo da razão – e em seguida a essa divindade [vem] a
alma que permanece dependente da inteligência que permanece. Então,
ela mesma dá seus os limites, que são em relação a esse sol com aquele
sol, e cria em de seu meio enquanto está conectada ali, tal que vindo a
ser interpretativa das coisas daquele mundo para esse e das desse para
aquele, quanto através da alma [é possível] apressar-se àquele mundo.
Pois [aquele sol é] nem longe nem nada além de nada, sendo por sua
vez além por diferença, não sendo por mistura, mas [ele] é em si mesmo
[não em lugares], por ser junto, sendo em separado. E esses são deuses
por sempre não ser distantes daqueles [inteligíveis], por estar de
princípio ligados à alma, tal como à alma que toma distância, e a essa
[alma]44, pela qual também são aquilo que se dizem [ser], e de modo

44
A alma do todo, que é ponte de contato entre a alma em si e as almas individuais.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 55

algum é possível olhar para inteligência, senão dali, da alma que olha45
com esses deuses.

12. Ἀνθρώπων δὲ ψυχαὶ εἴδωλα αὐτῶν ἰδοῦσαι οἷον Διονύσου ἐν


κατόπτρωι ἐκεῖ ἐγένοντο ἄνωθεν ὁρμηθεῖσαι, οὐκ ἀποτμηθεῖσαι οὐδ᾽
αὗται τῆς ἑαυτῶν ἀρχῆς τε καὶ νοῦ. Οὐ γὰρ μετὰ τοῦ νοῦ ἦλθον, ἀλλ᾽
ἔφθασαν μὲν μέχρι γῆς, κάρα δὲ αὐταῖς ἐστήρικται ὑπεράνω τοῦ
οὐρανοῦ. Πλέον δὲ αὐταῖς κατελθεῖν συμβέβηκεν, ὅτι τὸ μέσον αὐταῖς
ἠναγκάσθη, φροντίδος δεομένου τοῦ εἰς ὃ ἔφθασαν, φροντίσαι. Ζεὺς
δὲ πατὴρ ἐλεήσας πονουμένας θνητὰ αὐτῶν τὰ δεσμὰ ποιῶν, περὶ ἃ
πονοῦνται, δίδωσιν ἀναπαύλας ἐν χρόνοις ποιῶν σωμάτων ἐλευθέρας,
ἵν᾽ ἔχοιεν ἐκεῖ καὶ αὗται γίνεσθαι, οὗπερ ἡ τοῦ παντὸς ψυχὴ ἀεὶ οὐδὲν
τὰ τῆιδε ἐπιστρεφομένη. Ὃ γὰρ ἔχει τὸ πᾶν ἤδη, τοῦτο αὔταρκες αὐτῶι
καὶ ἔστι καὶ ἔσται, κατὰ λόγους ἀεὶ ἑστηκότας ἐν χρόνοις
περαινόμενον· καὶ κατὰ χρόνους ἀεὶ εἰς τὸ αὐτὸ καθιστάμενα ἐν
μέτροις βίων ὡρισμένων εἰς συμφωνίαν ἀγόμενα ταῦτα ἐκείνοις καὶ
κατ᾽ ἐκεῖνα, τῶνδε περαινομένων ὑφ᾽ ἕνα λόγον, πάντων τεταγμένων
ἔν τε καθόδοις ψυχῶν καὶ ἀνόδοις καὶ εἰς τὰ ἄλλα σύμπαντα. Μαρτυρεῖ
δὲ καὶ τὸ τῆς συμφωνίας τῶν ψυχῶν πρὸς τὴν τοῦδε τοῦ παντὸς τάξιν
οὐκ ἀπηρτημένων, ἀλλὰ συναπτουσῶν ἐν ταῖς καθόδοις ἑαυτὰς καὶ
μίαν συμφωνίαν πρὸς τὴν περιφορὰν ποιουμένων, ὡς καὶ τὰς τύχας
αὐτῶν καὶ τοὺς βίους καὶ τὰς προαιρέσεις σημαίνεσθαι τοῖς τῶν
ἄστρων σχήμασι καὶ οἷον μίαν τινὰ φωνὴν οὐκ ἐκμελῶς ἀφιέναι· καὶ τὸ
μουσικῶς καὶ ἐναρμονίως μᾶλλον τοῦτο εἶναι ἠινιγμένως. Τοῦτο δὲ
οὐκ ἂν ἦν μὴ τοῦ παντὸς κατ᾽ ἐκεῖνα ποιοῦντος καὶ πάσχοντος ἕκαστα
ἐν μέτροις περιόδων καὶ τάξεων καὶ βίων κατὰ γένη διεξόδων, οὓς αἱ
ψυχαὶ διεξοδεύουσιν ὁτὲ μὲν ἐκεῖ, ὁτὲ δὲ ἐν οὐρανῶι, ὁτὲ δὲ εἰς τούσδε
τοὺς τόπους ἐπιστρεφόμεναι. Νοῦς δὲ πᾶς ἀεὶ ἄνω καὶ οὐ μή ποτε ἔξω
τῶν αὐτοῦ γένοιτο, ἀλλ᾽ ἱδρυμένος πᾶς ἄνω πέμπει εἰς τὰ τῆιδε διὰ
ψυχῆς. Ψυχὴ δὲ ἐκ τοῦ πλησίον μᾶλλον κατὰ τὸ ἐκεῖθεν διάκειται εἶδος
καὶ δίδωσι τοῖς ὑπ᾽ αὐτήν, ἡ μὲν ὡσαύτως, ἡ δὲ ἄλλοτε ἄλλως, ἴσχουσα
ἐν τάξει τὴν πλάνην. Κάτεισι δὲ οὐκ ἀεὶ τὸ ἴσον, ἀλλ᾽ ὁτὲ μὲν πλέον,

45
A alma suprema ou alma em si olha para a inteligência, e através dela a alma do
cosmo e as almas individuais também têm contato com a inteligência.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 56

ὁτὲ δὲ ἔλαττον, κἂν πρὸς τὸ αὐτὸ γένος ἴηι· κάτεισι δὲ εἰς ἕτοιμον
ἑκάστη καθ᾽ ὁμοίωσιν τῆς διαθέσεως. Ἐκεῖ γάρ, ὧι ἂν ὁμοιωθεῖσα ἦι,
φέρεται, ἡ μὲν εἰς ἄνθρωπον, ἡ δὲ εἰς ζῶιον ἄλλη ἄλλο.

12. E as almas dos homens, tendo visto visões mórbidas de si mesmas


tal que em um espelho de Dioniso46, ali vêm a ser para se lançarem do
alto, mas não se separando do princípio e inteligência de si mesmas.
Pois não vieram com a inteligência, mas se apressaram até a terra e estão
fixadas por sua parte superior acima do céu47. E aconteceu-lhes descer
demais, porque a sua parte média foi obrigada a preocupar-se, pois era
necessária preocupação por algo a que se apressaram. E Zeus pai teve
compaixão48 delas porque sofriam, criando mortais seus laços, acerca
de que sofrem: dá intervalos em tempos fazendo-as livres de corpos,
para que elas mesmas se mantivessem e viessem a ser ali exatamente
onde a alma do todo é sempre, que por nada se volta às coisas daqui.
Pois o que ela tem é já o todo, e esse todo tanto é quanto será suficiente
a si, cumprindo-se em tempos segundo razões sempre estáveis; e por
tempos sempre se restabelecendo para o mesmo em medidas de vidas
que estão delimitadas, conduzindo-se em sinfonia essas coisas com
aquelas e segundo aquelas, estas cumprindo-se por uma só razão, todas
se ordenando na descida e subida das almas49 e para todas as outras
coisas em conjunto. E é prova também isso da sinfonia das almas com
relação à ordem deste todo, não sendo dependentes, mas coligadas nas
descidas entre si mesmas, criando uma só sinfonia em relação à órbita
delas, de modo a tanto suas sortes quanto as vidas e as escolhas se

46
Mito, ligado ao de Narciso, segundo o qual Dioniso ao se ver em um espelho se
encantou com sua beleza e criou a natureza segundo sua imagem.
47
As almas individuais chegam ao corpo como partes da alma do todo, mas sua
essência não é corpórea, pois está ligada à Inteligência através da Alma que a
contempla, conforme o Timeu 41d: θεῖον λεγόμενον ἡγεμονοῦν τε ἐν αὐτοῖς ...
σπείρας καὶ ὑπαρξάμενος ἐγὼ παραδώσω (o que é dito divino e hegemônico neles ...
eu tendo semeado e iniciado fornecerei).
48
Expressão análoga em Platão, Simpósio 191b: ἐλεήσας δὲ ὁ Ζεὺς ἄλλην μηχανὴν
πορίζεται (tendo-se compadecido, Zeus arranja artifício diverso).
49
Referência implícita de ‘eterno retorno’, conforme o Antro das ninfas, de Porfírio.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 57

assinalar nas figuras dos astros e emitir como que uma única voz não
dissonante; e isso é enigmaticamente mais de modo musical e
harmônico50. Isso não haveria, se o todo não criasse segundo aquelas
[razões] e suportasse cada uma em medidas de órbitas, de posições e de
vidas que percorrem segundo geração, que as almas também percorrem
quando são ali, no céu, e quando se voltam a estes lugares. E a
inteligência é toda sempre acima, e não há temor de que alguma vez
possa vir a ser fora do que é de si mesma, mas fundamentada toda acima
acompanha as coisas daqui através da alma. E a alma por ser mais
próxima dela dispõe de uma forma que é originária dali e a dá aos que
são sob ela, uma alma [fazendo sua escolha] da mesma forma, outra, de
uma e outra forma diversamente, mantendo em ordem a errância. E
desce não sempre igual, mas uma vez mais, outra vez menos, embora
vá ao mesmo gênero51; e desce ao [corpo] pronto, cada uma segundo
semelhança de sua disposição. Pois para lá, onde ela tenha-se
assemelhado a um [vivente], é levada uma ao humano, outra diversa, a
vivente diverso.

13. Τὸ γὰρ ἀναπόδραστον καὶ ἡ δίκη οὕτως ἐν φύσει κρατούσηι ἰέναι


ἕκαστον ἐν τάξει πρὸς ὅ ἐστιν ἕκαστον γενόμενον εἴδωλον
προαιρέσεως καὶ διαθέσεως ἀρχετύπου, καὶ ἔστιν ἐκεῖνο πᾶν ψυχῆς
εἶδος ἐκείνου πλησίον, πρὸς ὃ τὴν διάθεσιν τὴν ἐν αὐτῆι ἔχει, καὶ τοῦ
τότε πέμποντος καὶ εἰσάγοντος οὐ δεῖ, οὔτε ἵνα ἔλθηι εἰς σῶμα τότε
οὔτε εἰς τοδί, ἀλλὰ καὶ τοῦ ποτὲ ἐνστάντος οἷον αὐτομάτως κάτεισι καὶ
εἴσεισιν εἰς ὃ δεῖ – καὶ ἄλλος ἄλληι χρόνος, οὗ παραγενομένου οἷον
κήρυκος καλοῦντος κατίασι – καὶ εἰσέδυ εἰς τὸ πρόσφορον σῶμα, ὡς
εἰκάσαι τὰ γιγνόμενα οἷον δυνάμεσι μάγων καὶ ὁλκαῖς τισιν ἰσχυραῖς
κινεῖσθαί τε καὶ φέρεσθαι· οἷον καὶ ἐφ᾽ ἑνὸς ἑκάστου τελεῖται ἡ τοῦ

50
Platão, Politeia 617b: ἐπὶ δὲ τῶν κύκλων αὐτοῦ ἄνωθεν ἐφ’ ἑκάστου βεβηκέναι
Σειρῆνα συμπεριφερομένην, φωνὴν μίαν ἱεῖσαν, ἕνα τόνον· ἐκ πασῶν δὲ ὀκτὼ οὐσῶν
μίαν ἁρμονίαν συμφωνεῖν (e sobre os círculos, caminha, acima de cada um, uma
Sereia sendo levada em torno deles, que emite uma só voz de único tom; e de todas,
que são oito, uma só harmonia consoava).
51
O gênero dos seres vivos, isto é, animados.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 58

ζώιου διοίκησις, ἐν χρόνωι ἕκαστον κινούσης καὶ γεννώσης, οἷον


γενειάσεις καὶ [ἐκ]φύσεις κεράτων καὶ νῦν πρὸς τάδε ὁρμὰς καὶ
ἐπανθήσεις πρότερον οὐκ οὔσας, καὶ περιττάς, τῶν [τε] δένδρων
διοίκησις ἐν προθεσμίαις τακταῖς γιγνομένη. ᾿Ιασι δὲ οὔτε ἑκοῦσαι οὔτε
πεμφθεῖσαι· οὔ γε τὸ ἑκούσιον τοιοῦτον ὡς προελέσθαι, ἀλλ᾽ ὡς τὸ
πηδᾶν κατὰ φύσιν, ἢ [ὡς] πρὸς γάμων φυσικὰς προθυμίας ἢ [ὡς] πρὸς
πράξεις τινὲς καλῶν οὐ λογισμῶι κινούμενοι· ἀλλ᾽ εἱμαρμένον ἀεὶ τῶι
τοιῶιδε τὸ τοιόνδε, καὶ τῶι τοιῶιδε τὸ νῦν, τῶι δὲ τὸ αὖθις. Καὶ ὁ μὲν
πρὸ κόσμου νοῦς εἱμαρμένην ἔχει τὴν τοῦ μένειν ἐκεῖ ὁπόσον καὶ
πέμπει, καὶ τὸ καθέκαστον τῶι καθόλου ὑποπῖπτον νόμωι πέμπεται·
ἔγκειται γὰρ ἑκάστωι τὸ καθόλου, καὶ ὁ νόμος οὐκ ἔξωθεν τὴν ἰσχὺν
εἰς τὸ τελεσθῆναι ἴσχει, ἀλλὰ δέδοται ἐν τοῖς χρησαμένοις εἶναι καὶ
περιφέρουσιν αὐτόν· κἂν ἐνστῆι καὶ ὁ χρόνος, καὶ ὃ θέλει γενέσθαι,
γίνεται τότε ὑπ᾽ αὐτῶν τῶν ἐχόντων αὐτόν, ὥστε αὐτοὺς αὐτὸν τελεῖν,
ἅτε περιφέροντας [καὶ] ἰσχύσαντα ἐν τῶι ἐν αὐτοῖς αὐτὸν ἱδρῦσθαι,
οἷον βρίθοντα εἰς αὐτοὺς καὶ προθυμίαν ἐμποιοῦντα καὶ ὠδῖνα ἐκεῖ
ἐλθεῖν, οὗ ὁ ἐν αὐτοῖς ὢν οἷον ἐλθεῖν φθέγγεται.

13. Pois é o inevitável e a justiça que assim na natureza dominam para


cada um ir em ordem para o que é, cada um tendo vindo a ser visão
mórbida de anterior escolha e disposição arquetípica, é aquele todo
próximo daquela forma de alma, em relação a que a alma tem
disposição que é nela52, e não é preciso do que então envia e conduz,
nem para que ela chegue ao corpo nem a este ponto, mas é preciso do
que é interior, tal que por si desce e se dirige ao que é preciso – pois um
tempo diverso é para uma alma diversa, em que descem tal que sendo
presente um arauto que as chama – e mergulha no corpo ajustado a ela,
de modo a representar o que vem a ser tal que por potências de magos
e por algumas fortes atrações ela se move e se leva; por exemplo, em
um único indivíduo se completa a administração da vida, em tempo
cada um [a completa], [a alma] movendo-se e gerando, tal que

52
A alma do todo, sendo vizinha da Alma contemplativa, tem as formas à disposição
e as dá às almas individuais, para que, segundo suas escolhas, possam dispor delas e
configurá-las segundo a razão.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 59

crescimento da barba e surgimento de chifres, e agora em relação a isto


impulsos e florescimentos que antes não eram, mais que suficientes, [ou
seja], administração das árvores que vem a ser em pré-estabelecidas
disposições. E elas vão nem voluntárias nem por ter sido enviadas; de
fato, não é do tipo voluntário, de modo a escolher, mas é como nos
movemos a saltar naturalmente, ou como [temos] propensões naturais
para casamentos ou para certas práticas de coisas belas, não é por
cálculo; mas sempre é destinada a certo indivíduo certa coisa, a um
agora, a outro depois. Também a inteligência, antes do cosmo, tem [uma
moira] que lhe foi destinada, a de permanecer ali quanto tempo for e
[dali ela] envia [sua luz], e cada indivíduo é enviado para baixo caindo
sob a lei do que é o inteiro; pois é inerente a cada parte o que é do
inteiro, e a lei, não de fora, mantém a força para cumprir-se, mas é dada
para ser nos que a utilizam e que vão a sua volta; e se [a lei] estiver
neles, também o tempo [estará], para [eles] vir a ser o que [ela] quer,
então vem a ser [o que ela quer] pelos mesmos que a têm, de modo a
ela cumprir o que eles mantém, enquanto vão a sua volta, porque ela
fundamentou neles, tal que pesando neles e criando uma propensão e
dor de parto para ir ali, onde o que é neles é capaz de gritar para ir.

14. Τούτων δὴ γινομένων φῶτα πολλὰ ὁ κόσμος οὗτος ἔχων καὶ


καταυγαζόμενος ψυχαῖς ἐπικοσμεῖται ἐπὶ τοῖς προτέροις ἄλλους
κόσμους ἄλλον παρ᾽ ἄλλου κομιζόμενος, παρά τε θεῶν ἐκείνων παρά
τε νῶν τῶν ἄλλων ψυχὰς διδόντων· οἷον εἰκὸς καὶ τὸν μῦθον
αἰνίττεσθαι, ὡς πλάσαντος τοῦ Προμηθέως τὴν γυναῖκα ἐπεκόσμησαν
αὐτὴν καὶ οἱ ἄλλοι θεοί· γαῖαν ὕδει φύρειν, καὶ ἀνθρώπου ἐνθεῖναι
φωνήν, θεαῖς δ᾽ ὁμοίαν τὸ εἶδος, καὶ Ἀφροδίτην τι δοῦναι καὶ Χάριτας
καὶ ἄλλον ἄλλο δῶρον καὶ ὀνομάσαι ἐκ τοῦ δώρου καὶ πάντων τῶν
δεδωκότων· πάντες γὰρ τούτωι ἔδοσαν τῶι πλάσματι παρὰ προμηθείας
τινὸς γενομένωι. Ὁ δὲ Ἐπιμηθεὺς ἀποποιούμενος τὸ δῶρον αὐτοῦ τί ἂν
σημαίνοι ἢ τὴν τοῦ ἐν νοητῶι μᾶλλον αἵρεσιν ἀμείνω εἶναι; Δέδεται δὲ
καὶ αὐτὸς ὁ ποιήσας, ὅτι πως ἐφάπτεται τοῦ γενομένου ὑπ᾽ αὐτοῦ, καὶ
ὁ τοιοῦτος δεσμὸς ἔξωθεν· καὶ ἡ λύσις ἡ ὑπὸ Ἡρακλέους, ὅτι δύναμίς
ἐστιν αὐτῶι, ὥστε καὶ ὣς λελύσθαι. Ταῦτα μὲν οὖν ὅπηι τις δοξάζει,

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 60

ἀλλ᾽ ὅτι ἐμφαίνει τὰ τῆς εἰς τὸν κόσμον δόσεως, καὶ προσάιδει τοῖς
λεγομένοις.

14. De fato isso vindo a ser, esse cosmo tendo muitas luzes e sendo
iluminado com almas se adorna além das [luzes] anteriores, reportando
outros cosmos, de um para outro, da parte daqueles deuses e da parte
das outras inteligências que dão almas53; tal que é verossímil também
dizer por enigma o mito: Prometeu tendo modelado a mulher, ornaram-
na também os outros deuses; ao misturar terra com água e inserir voz
humana, em forma semelhante às deusas, e Afrodite dar um dom e as
Graças outro e outra [divindade] outro dom, e nomeá-la desde o dom
que todos lhe deram54; pois todos deram a esse modelo que da parte de
certa providência veio a ser. E Epimeteu, ao recusar o dom de Prometeu,
que é que indicaria senão ser bem melhor a escolha [de ficar] no
inteligível? E está amarrado ele mesmo que a criou, porque de algum
modo é tocado do que veio a ser por si, e tal amarração é de fora; e a
sua libertação por Heraclés, é porque a potência é nele, de modo a ter-
se assim libertado. De fato, disso de qualquer modo alguém tem
opinião, mas [é certo] que mostra aquilo da doação ao cosmo, e é
consoante com o que é dito.

15. Ἴασι δὲ ἐκκύψασαι τοῦ νοητοῦ εἰς οὐρανὸν μὲν πρῶτον καὶ σῶμα
ἐκεῖ προσλαβοῦσαι δι᾽ αὐτοῦ ἤδη χωροῦσι καὶ ἐπὶ τὰ γεωδέστερα
σώματα, εἰς ὅσον ἂν εἰς μῆκος ἐκταθῶσι. Καὶ αἱ μὲν ἀπ᾽ οὐρανοῦ εἰς
σώματα τὰ κατωτέρω, αἱ δὲ ἀπ᾽ ἄλλων εἰς ἄλλα εἰσκρινόμεναι, αἷς ἡ
δύναμις οὐκ ἤρκεσεν ἆραι ἐντεῦθεν διὰ βάρυνσιν καὶ λήθην πολὺ
ἐφελκομέναις, ὃ αὐταῖς ἐβαρύνθη. Γίνονται δὲ διάφοροι ἢ σωμάτων εἰς
ἃ ἐνεκρίθησαν παραλλαγαῖς ἢ καὶ τύχαις ἢ καὶ τροφαῖς, ἢ αὐταὶ παρ᾽
αὐτῶν τὸ διάφορον κομίζουσιν ἢ πᾶσι τούτοις ἤ τισιν αὐτῶν. Καὶ αἱ

53
Platão, Timeu 41e: συστήσας δὲ τὸ πᾶν διεῖλεν ψυχὰς ἰσαρίθμους τοῖς ἄστροις,
ἔνειμέν θ’ ἑκάστην πρὸς ἕκαστον ([o demiurgo], tendo constituído o todo, dividiu as
almas em número igual aos astros e distribuiu cada uma a cada um).
54
Pandora. Hesíodo, Trabalhos e dias, 60 – 89; provavelmente em uma versão
diferente.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 61

μὲν τὰ πάντα ὑποπεπτώκασιν εἱμαρμένηι τῆι ἐνταῦθα, αἱ δὲ ὁτὲ μὲν


οὕτως, ὁτὲ δὲ αὐτῶν, αἱ δὲ ὅσα μὲν ἀναγκαῖα ὑπομεῖναι συγχωροῦσι,
δύνανται δὲ ὅσα ἐστὶν αὐτῶν ἔργα αὐτῶν εἶναι, ζῶσαι κατ᾽ ἄλλην τὴν
τῶν συμπάντων τῶν ὄντων νομοθεσίαν ἄλλωι ἑαυτὰς θεσμῶι δοῦσαι.
Πέπλεκται δὲ αὕτη ἔκ τε τῶν τῆιδε λόγων τε καὶ αἰτίων πάντων καὶ
ψυχικῶν κινήσεων καὶ νόμων τῶν ἐκεῖθεν, συμφωνοῦσα ἐκείνοις καὶ
ἀρχὰς ἐκεῖθεν παραλαβοῦσα καὶ συνυφαίνουσα τὰ ἑξῆς ἐκείνοις,
ἀσάλευτα μὲν τηροῦσα, ὅσα δύναται σώιζειν ἑαυτὰ πρὸς τὴν ἐκείνων
ἕξιν, τὰ δὲ ἄλλα ἧι πέφυκε περιάγουσα, ὡς τὴν αἰτίαν ἐν τοῖς
κατελθοῦσιν εἶναι, ὅτι οὕτως, ὡς τὰ μὲν ὡδὶ τεθῆναι, τὰ δὲ ὡδὶ κεῖσθαι.

15. E [as almas] vão, tendo declinado do inteligível ao céu, para


primeiro assumir corpo ali, através disso avançam a corpos ainda mais
terrestres, quão grande for a distância a que se tenham estendido. E
umas do céu aos corpos mais abaixo, outras são as que se introduzem
de uns a outros55 [corpos], às quais a potência não bastou para elevá-las
dali, sendo arrastadas por causa da ação de muito peso e esquecimento,
o que foi agravado para elas. E elas vêm a ser diferentes ou de corpos
em que se introduziram por mudanças, tanto por destinos quanto por
nutrição, ou elas trazem o que difere de si mesmas, ou por essas coisas
todas ou por algumas delas. Enquanto umas em tudo estão submetidas
à causa aqui destinada, outras, ora sendo assim, ora sendo senhoras de
si mesmas, concordam em permanecer sob quanto é necessário, e são
capazes de suportar quão grandes sejam seus trabalhos, sendo senhoras
de si mesmas, para viver segundo outra legislação das coisas que são
todas em conjunto, ao dar-se a outra instituição56. Esta mesma
legislação está entrelaçada das razões daqui e das causas todas, tanto
dos movimentos das almas quanto das leis de lá, consoante com aquelas
coisas que sempre são, tendo tomado os princípios de lá e costurado a
elas as coisas que se seguem, conservando-as inabaláveis, quantas é
possível salvar-se em relação à disposição daqueles princípios,

55
Dos corpos celestes aos terrestres.
56
Algumas almas são capazes de se libertar, apesar de imensas dificuldades, para
passar a viver sob a lei do mundo inteligível.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 62

conduzindo as outras coisas por onde é natural, de modo a ser a causa


nos que descem, porque é assim que por um lado estão mortos, e por
outro jazem57.

16. Τὰ μὲν οὖν γινόμενα τιμωρήματα εἰς τοὺς πονηροὺς μετὰ δίκης τῆι
τάξει ἀποδιδόναι προσήκει ὡς κατὰ τὸ δέον ἀγούσηι· ὅσα δὲ τοῖς
ἀγαθοῖς συμβαίνει ἔξω δίκης, οἷον κολάσεις ἢ πενίαι ἢ νόσοι, ἆρα διὰ
προτέρας ἁμαρτίας λεκτέον γίνεσθαι; Συμπέπλεκται γὰρ ταῦτα καὶ
προσημαίνεται, ὡς καὶ αὐτὰ κατὰ λόγον γίγνεσθαι. Ἢ οὐ κατὰ λόγους
φυσικοὺς ταῦτα, οὐδ᾽ ἦν ἐν τοῖς προηγουμένοις, ἀλλ᾽ ἑπόμενα ἐκείνοις·
οἷον πιπτούσης τινὸς οἰκοδομίας τὸν ὑποπεσόντα ἀποθανεῖν ὁποῖός
ποτ᾽ ἂν ἦι, ἢ καὶ ἵππων δύο κατὰ τάξιν φερομένων ἢ καὶ ἑνὸς τὸ
ἐμπεσὸν τρωθῆναι ἢ πατηθῆναι. Ἢ καὶ τὸ ἄδικον τοῦτο οὐ κακὸν ὂν
τῶι παθόντι πρὸς τὴν τοῦ ὅλου χρήσιμον πλοκήν. Ἢ οὐδὲ ἄδικον ἐκ
τῶν πρόσθεν ἔχον τὴν δικαίωσιν. Οὐ γὰρ τὰ μὲν δεῖ νομίζειν
συντετάχθαι, τὰ δὲ κεχαλάσθαι εἰς τὸ αὐτεξούσιον. Εἰ γὰρ κατ᾽ αἰτίας
γίγνεσθαι δεῖ καὶ φυσικὰς ἀκολουθίας καὶ κατὰ λόγον ἕνα καὶ τάξιν
μίαν, καὶ τὰ σμικρότερα δεῖ συντετάχθαι καὶ συνυφάνθαι νομίζειν. Καὶ
τὸ ἄδικον δὴ τὸ παρ᾽ ἄλλου εἰς ἄλλον αὐτῶι μὲν τῶι ποιήσαντι ἄδικον,
καὶ οὐκ ἀφείθη αἰτίας ὁ δράσας, συντεταγμένον δ᾽ ἐν τῶι παντὶ οὐκ
ἄδικον ἐν ἐκείνωι οὐδ᾽ εἰς τὸν παθόντα, ἀλλ᾽ οὕτως ἐχρῆν. Εἰ δ᾽ ἀγαθὸς
ὁ παθών, εἰς ἀγαθὸν ἡ τελευτὴ τούτων. Δεῖ γὰρ τήνδε τὴν σύνταξιν οὐκ
ἀθεεὶ οὐδὲ ἄδικον, ἀλλ᾽ ἀκριβῆ εἰς τὴν τοῦ προσήκοντος ἀπόδοσιν
νομίζειν, ἀδήλους δὲ ἔχειν τὰς αἰτίας καὶ τοῖς οὐκ εἰδόσι παρέχειν
μέμψεως αἰτίας.

16. Portanto, convém atribuir os castigos que vêm a ser com justiça aos
malvados à ordem que conduz [o todo] segundo o que é preciso; e
quantos [castigos] que incidem nos bons fora de justiça, tal que
punições, sejam situações de pobreza sejam doenças, por acaso deve-se
dizer que vêm a ser por causa de erros anteriores? Pois essas coisas
estão entrelaçadas e dão sinais antes, de modo que também elas vêm a

57
A causa de ser em corpo cabe apenas às almas decaídas, de modo que estão mortas,
enquanto vivem nos corpos, e jazem à espera do retorno à vida.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 63

ser segundo uma razão. Certamente essas coisas não são segundo razões
físicas, nem eram nas coisas que antes foram conduzidas, mas são as
que se seguem a essas58; tal que caindo alguma habitação, [é necessário]
o que está submetido morrer, qualquer que seja, ou também movendo-
se em ordem dois ou mesmo um esquadrão de cavalaria, [é necessário]
o que cai ser ferido ou ser pisoteado. Certamente isso seria injusto para
o que sofre, se ele não for mau, em relação à útil trama do inteiro.
Certamente nem é injusto, porque desde as coisas de antes tem a
justificação. Pois não é preciso considerar umas coisas estar ordenadas
em conjunto, e outras ser precipitadas como granizo à
autodeterminação. Pois se [tudo] é preciso vir a ser segundo uma causa,
também as consequências naturais, tanto por uma só razão quanto por
uma só ordem, é preciso considerar que mesmo as menores coisas estão
ordenadas e tecidas em conjunto. E, na verdade, o injusto da parte de
um a outro, é injusto ao mesmo que faz, e não foi isento de causa o que
age, e [o que age] não é injusto naquilo, nem para o que sofreu, porque
está ordenado no todo, mas assim era necessário. Se bom é o que sofre,
para o bem é o termo dessas coisas. Pois é preciso ser a composição
nem sem um deus59 nem algo injusto, mas [é preciso] considerá-la exata
para o ato de pagar o que convém, e as causas ser invisíveis,
apresentando aos que não sabem causas de censura.

17. Ὅτι δὲ ἐκ τοῦ νοητοῦ εἰς τὴν οὐρανοῦ ἴασιν αἱ ψυχαὶ τὸ πρῶτον
χώραν, λογίσαιτο ἄν τις ἐκ τῶν τοιούτων. Εἰ γὰρ οὐρανὸς ἐν τῶι
αἰσθητῶι τόπωι ἀμείνων, εἴη ἂν προσεχὴς τῶν νοητῶν τοῖς ἐσχάτοις.
Ἐκεῖθεν τοίνυν ψυχοῦται ταῦτα πρῶτα καὶ μεταλαμβάνει ὡς
ἐπιτηδειότερα μεταλαμβάνειν. Τὸ δὲ γεηρὸν ὕστατόν τε καὶ ψυχῆς
ἥττονος πεφυκὸς μεταλαμβάνειν καὶ τῆς ἀσωμάτου φύσεως πόρρω.
Πᾶσαι μὲν δὴ καταλάμπουσι τὸν οὐρανὸν καὶ διδόασιν οἷον τὸ πολὺ
αὐτῶν καὶ τὸ πρῶτον ἐκείνωι, τὰ δὲ ἄλλα τοῖς ὑστέροις ἐναυγάζονται,
αἱ δ᾽ ἐπιπλέον κατιοῦσαι ἐναυγάζουσι μᾶλλον κάτω, αὐταῖς δὲ οὐκ

58
Os males que afetam os bons são consequências acidentais da Providência, sem ser
determinados por ela.
59
Expressão homérica: Odisseia XVIII, 353.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 64

ἄμεινον εἰς πολὺ προιούσαις. Ἔστι γάρ τι οἷον κέντρον, ἐπὶ δὲ τούτωι
κύκλος ἀπ᾽ αὐτοῦ ἐκλάμπων, ἐπὶ δὲ τούτοις ἄλλος, φῶς ἐκ φωτός·
ἔξωθεν δὲ τούτων οὐκέτι φωτὸς κύκλος ἄλλος, ἀλλὰ δεόμενος οὗτος
οἰκείου φωτὸς ἀπορίαι αὐγῆς ἀλλοτρίας. Ἔστω δὲ ῥόμβος οὗτος,
μᾶλλον δὲ σφαῖρα τοιαύτη, ἣ δὴ κομίζεται ἀπὸ τῆς τρίτης – προσεχὴς
γὰρ αὐτῆι – ὅσον ἐκείνη ἐναυγάζεται. Τὸ μὲν οὖν μέγα φῶς μένον
ἐλλάμπει, καὶ διήκει κατὰ λόγον ἐξ αὐτοῦ αὐγή, τὰ δ᾽ ἄλλα
συνεπιλάμπει, τὰ μὲν μένοντα, τὰ δ᾽ ἐπιπλέον ἐπισπᾶται τῆι τοῦ
ἐλλαμπομένου ἀγλαίαι. Εἶτα δεομένων τῶν ἐλλαμπομένων πλείονος
φροντίδος, ὥσπερ χειμαζομένων πλοίων κυβερνῆται ἐναπερείδονται
πρὸς τὸ πλέον τῆι τῶν νεῶν φροντίδι καὶ ἀμελήσαντες αὐτῶν ἔλαθον,
ὡς κινδυνεύειν συνεπισπασθῆναι πολλάκις τῶι τῶν νεῶν ναυαγίωι,
ἔρρεψαν τὸ πλέον καὶ αὗται καὶ τοῖς ἑαυτῶν· ἔπειτα δὲ κατεσχέθησαν
πεδηθεῖσαι γοητείας δεσμοῖς, σχεθεῖσαι φύσεως κηδεμονίαι. Εἰ δ᾽ ἦν
τοιοῦτον ἕκαστον ζῶιον οἷον καὶ τὸ πᾶν, τέλεον καὶ ἱκανὸν σῶμα καὶ
ἀκίνδυνον παθεῖν, καὶ παρεῖναι λεγομένη ψυχὴ οὐκ ἂν παρῆν αὐτῶι,
καὶ παρεῖχεν αὐτῶι ζωὴν μένουσα πάντη ἐν τῶι ἄνω.

17. E que do inteligível as almas vão primeiro à região do céu, calcularia


alguém desde tais coisas. Pois se no espaço sensível o céu é melhor, ele
seria contíguo aos extremos dos inteligíveis. De lá, portanto, esses
primeiros corpos são animados e tomam parte de modo a tomar parte
mais oportunamente. E o [corpo] terrestre é o último a tomar parte da
alma, porque é naturalmente inferior e distante da natureza incorpórea.
E todas então iluminam o céu e doam-lhe como que o ‘muito’ e
‘primeiro’ delas, e nos extremos se irradiam nos outros corpos, e as que
ainda mais descem irradiam mais abaixo, e a elas que avançam ao
‘muito’ não há melhor. Pois há algo como um centro, e nele um círculo
esplendente a partir desse centro, e nesses [elementos] um outro
[círculo], luz desde luz; e de fora desses não há mais um outro círculo
de luz, mas há um [círculo] em aporia de luz própria que precisa de

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 65

brilho alheio60. E seja esse [círculo] uma roda, ou melhor, tal como uma
esfera que é produzida a partir da terceira [hipóstase] – pois é contígua
a essa – quanto aquela é irradiada. Então a grande luz que permanece
brilha, e por razão própria um raio se expande, e as outras [luzes]
brilham em conjunto, umas permanecendo, outras são ainda mais
atraídas pelo esplendor do que é iluminado. Em seguida, as que são
iluminadas precisando de mais cuidado, como quando embarcações são
apanhadas por tempestade os pilotos empenham-se ao máximo pelo
cuidado das naus e descuidam-se de si mesmos sem perceber, de modo
a arriscar-se a ser arrastados junto muitas vezes pelo naufrágio das naus,
[as almas] inclinam a si mesmas mais aos próprios corpos; uma vez que
foram contidas ao ser amarradas a cepos por mágicas amarras, foram
mantidas por cura da natureza. E se cada vivente era tal que também o
todo, corpo perfeito e suficiente e sem perigo de sofrer, a alma que é
dita ser presente não seria presente a ele, e forneceria a ele vida,
permanecendo totalmente no mundo superior.

18. Πότερα δὲ λογισμῶι ψυχὴ χρῆται πρὶν ἐλθεῖν καὶ πάλιν αὖ


ἐξελθοῦσα; Ἢ ἐνταῦθα ὁ λογισμὸς ἐγγίγνεται ἐν ἀπόρωι ἤδη οὔσης καὶ
φροντίδος πληρουμένης καὶ μᾶλλον ἀσθενούσης· ἐλάττωσις γὰρ νοῦ
εἰς αὐτάρκειαν τὸ λογισμοῦ δεῖσθαι· ὥσπερ καὶ ἐν ταῖς τέχναις ὁ
λογισμὸς ἀποροῦσι τοῖς τεχνίταις, ὅταν δὲ μὴ χαλεπὸν ἦι, κρατεῖ καὶ
ἐργάζεται ἡ τέχνη. Ἀλλ᾽ εἰ ἐκεῖ ἄνευ λογισμῶν, πῶς ἂν ἔτι λογικαὶ εἶεν;
Ἢ ὅτι δύνανται, εἴποι τις ἄν, ὅταν περίστασις, εὐπορῆσαι
διασκοποῦσαι. Δεῖ δὲ τὸν λογισμὸν λαβεῖν τὸν τοιοῦτον· ἐπεὶ εἴ τις
λογισμὸν λαμβάνει τὴν ἐκ νοῦ ἀεὶ γινομένην καὶ οὖσαν ἐν αὐταῖς
διάθεσιν, καὶ ἐνέργειαν ἑστῶσαν καὶ οἷον ἔμφασιν οὖσαν, εἶεν ἂν κἀκεῖ
λογισμῶι χρώμεναι. Οὐδὲ δὴ φωναῖς, οἶμαι, χρῆσθαι νομιστέον ἐν μὲν
τῶι νοητῶι οὔσας, καὶ πάμπαν σώματα δ᾽ ἐχούσας ἐν οὐρανῶι. Ὅσα
μὲν διὰ χρείας ἢ δι᾽ ἀμφισβητήσεις διαλέγονται ἐνταῦθα, ἐκεῖ οὐκ ἂν
εἴη· ποιοῦσαι δὲ ἐν τάξει καὶ κατὰ φύσιν ἕκαστα οὐδ᾽ ἂν ἐπιτάττοιεν

60
O centro é o Uno, o círculo dele é a Inteligência, o seguinte é a Alma, luz desde luz
(φῶς ἐκ φωτός). Além desses há o mundo sensível, que não tem luz própria, e é
irradiado por aquela Alma-luz, segundo sua distância dela.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 66

οὐδ᾽ ἂν συμβουλεύοιεν, γινώσκοιεν δ᾽ ἂν καὶ τὰ παρ᾽ ἀλλήλων ἐν


συνέσει. Ἐπεὶ καὶ ἐνταῦθα πολλὰ σιωπώντων γινώσκοιμεν δι᾽
ὀμμάτων· ἐκεῖ δὲ καθαρὸν πᾶν τὸ σῶμα καὶ οἷον ὀφθαλμὸς ἕκαστος καὶ
οὐδὲν δὲ κρυπτὸν οὐδὲ πεπλασμένον, ἀλλὰ πρὶν εἰπεῖν ἄλλωι ἰδὼν
ἐκεῖνος ἔγνω. Περὶ δὲ δαιμόνων καὶ ψυχῶν ἐν ἀέρι φωνῆι χρῆσθαι οὐκ
ἄτοπον· ζῶια γὰρ τοιάδε.

18. E qual dos dois: a alma se serve de um raciocínio61 antes de vir e


novamente tendo saído? Certamente, aqui o raciocínio vem a ser
estando ela já em [algo] sem saída, cheia de cuidado e mais fraca; pois
diminuição de inteligência é precisar de raciocínio para
autossuficiência; assim também nas artes há o raciocínio para os
artesãos em aporia, e quando isso não seja difícil, a arte domina e se
cumpre. Mas se é lá elas são sem raciocínios, como seriam ainda
racionais? Certamente, é porque podem, diria alguém, quando houver
circunstância, se sair bem, examinando a fundo. E é preciso tomar o
raciocínio tal qual; uma vez que, se alguém toma um raciocínio como a
disposição que sempre vem a ser da inteligência e que é nas [almas],
como uma atividade que está estabelecida e que é tal que manifestação,
elas haveriam, mesmo lá, de se servir de raciocínio. E nem, na verdade,
se deve considerar, creio, que elas se servem de vozes, sendo no
[mundo] inteligível, mesmo que no céu elas tenham corpos. E quantas
coisas se dizem aqui por necessidade ou por incerteza, lá não poderia
haver; elas, criando cada coisa em ordem e segundo a natureza, nem
ordenariam nem deliberariam, e conheceriam o que é de uma e outra
coisa em intuição. Uma vez que mesmo aqui podemos conhecer muitas
coisas pelo silêncio dos olhos; ali todo o corpo é puro tal como é cada
olho, nada é oculto nem fingido, mas antes de dizer ao outro, esse, tendo
visto, conhece. Acerca de dâimones e almas no ar servir-se de voz não
é absurdo; pois estes tais são viventes.

61
Terceira questão: a alma se utiliza de raciocínio, sendo fora de corpo?

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 67

19. Πότερα δὲ ἐπὶ τοῦ αὐτοῦ τὸ ἀμέριστον καὶ μεριστὸν ὥσπερ


κραθέντων, ἢ ἄλληι μὲν καὶ κατ᾽ ἄλλο τὸ ἀμέριστον, τὸ δὲ μεριστὸν
οἷον ἐφεξῆς καὶ ἕτερον μέρος αὐτῆς, ὥσπερ τὸ μὲν λογιζόμενόν φαμεν
ἄλλο, τὸ δὲ ἄλογον; Γνωσθείη δ᾽ ἂν ληφθέντος τί λέγομεν ἑκάτερον.
Ἀμέριστον μὲν οὖν ἁπλῶς εἴρηται αὐτῶι, μεριστὸν δὲ οὐχ ἁπλῶς, ἀλλὰ
περὶ τὰ σώματά φησι γινομένην μεριστὴν καὶ ταύτην οὐ γεγενημένην.
Τὴν δὴ σώματος φύσιν ὁρᾶν δεῖ πρὸς τὸ ζῆν οἵας ψυχῆς προσδεῖται,
καὶ ὅ τι δεῖ τῆς ψυχῆς πανταχοῦ τῶι σώματι καὶ ὅλωι παρεῖναι. Πᾶν μὲν
δὴ τὸ αἰσθητικόν, εἴπερ διὰ παντὸς αἰσθήσεται, ἀφικνεῖσθαι πρὸς τὸ
μερίζεσθαι· πανταχοῦ μὲν γὰρ ὂν μεμερίσθαι ἂν λέγοιτο· ὅλον δὲ
πανταχοῦ φαινόμενον οὐ μεμερίσθαι ἂν παντελῶς λέγοιτο, περὶ δὲ τὰ
σώματα γίγνεσθαι μεριστόν. Εἰ δέ τις λέγοι ἐν ταῖς ἄλλαις αἰσθήσεσι
μηδὲ μεμερίσθαι, ἀλλ᾽ ἢ μόνον ἐν τῆι ἁφῆι, λεκτέον ὅτι καὶ ἐν ταῖς
ἄλλαις, εἴπερ σῶμά ἐστι τὸ μεταλαμβάνον, ἀνάγκη οὕτω μερίζεσθαι,
ἔλαττον δὲ ἢ ἐν τῆι ἁφῆι. Καὶ δὴ καὶ τὸ φυτικὸν αὐτῆς καὶ τὸ αὐξητικὸν
ὡσαύτως· καὶ εἰ περὶ τὸ ἧπαρ ἡ ἐπιθυμία, τὸ δὲ περὶ τὴν καρδίαν ὁ
θυμός, ὁ αὐτὸς λόγος καὶ ἐπὶ τούτων. Ἀλλ᾽ ἴσως ταῦτα οὐ
παραλαμβάνει ἐν ἐκείνωι τῶι μίγματι, ἴσως δὲ ἄλλον τρόπον καὶ ἔκ
τινος τῶν παραληφθέντων ταῦτα. Λογισμὸς δὲ καὶ νοῦς; οὐκέτι ταῦτα
σώματι δίδωσιν αὑτά· καὶ γὰρ τὸ ἔργον αὐτῶν οὐ δι᾽ ὀργάνου τελεῖται
τοῦ σώματος· ἐμπόδιον γὰρ τοῦτο, εἴ τις αὐτῶι ἐν ταῖς σκέψεσι
προσχρῶιτο. Ἄλλο ἄρα ἑκάτερον τὸ ἀμέριστον καὶ μεριστόν, καὶ οὐχ
ὡς ἓν κραθέντα, ἀλλ᾽ ὡς ὅλον ἐκ μερῶν ἑκατέρου καθαροῦ καὶ χωρὶς
τῆι δυνάμει. Εἰ μέντοι καὶ τὸ περὶ τὰ σώματα γιγνόμενον μεριστὸν
παρὰ τῆς ἐπάνω δυνάμεως ἔχει τὸ ἀμέριστον, δύναται τὸ αὐτὸ τοῦτο
ἀμέριστον καὶ μεριστὸν εἶναι, οἷον κραθὲν ἐξ αὐτοῦ τε καὶ τῆς εἰς αὐτὸ
ἐλθούσης ἄνωθεν δυνάμεως.

19. E qual dos dois: no mesmo é o impartilhável e partilhável62, como


tendo sido misturados, ou para o diverso e segundo o diverso é o
impartilhável, e o partilhável é em seguida e parte diferente da mesma
[alma], de modo que dizemos uma parte é o que raciocina, e outra o

62
Quarta questão: como a alma é partilhável e não partilhável ao mesmo tempo?

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 68

irracional? Ambas as partes seriam conhecidas, tendo sido tomado o


que dizemos. Então, impartilhável está dito de modo absoluto para
Platão, e partilhável de modo não absoluto, mas ele diz que ela vem a
ser partilhável nos corpos, e não que essa alma veio a ser63 [partilhável].
E é preciso ver a natureza do corpo em relação ao viver, de que tipo de
alma é preciso, e o que da alma é preciso ser presente em toda parte do
corpo inteiro. Certamente todo é o sensível, se pelo todo sentir, para
chegar a partilhar-se; pois, sendo em toda parte, dir-se-ia estar
partilhado, mas de modo geral dir-se-ia não estar partilhado o que
aparece inteiro em toda parte, e que nos corpos o todo vem a ser
partilhado. E se alguém disser que a alma nas diversas sensações não
está partilhada, senão unicamente no tato, deve-se dizer que [está
partilhada] também nas outras sensações, se corpo é o que participa [do
sensível], necessidade é assim partilhar-se, em menor medida [nas
outras sensações] do que no tato. E certamente também quanto ao
instinto vegetativo dela e ao de crescimento da mesma forma; e se no
fígado é o desejo, e no miocárdio é o ânimo64, o mesmo discurso
também há nessas partes. Mas talvez esses sentidos [o corpo] não
acolhe naquela mistura, talvez [ele os acolhe] de outro modo, desde
alguma dentre as partes acolhidas65. E raciocínio e inteligência? Essas
partes acolhidas não mais dão por si mesmas [raciocínio e inteligência]
ao corpo; pois o trabalho delas não se cumpre por órgão do corpo; pois

63
Platão, Timeu 35a: τῆς ἀμερίστου καὶ ἀεὶ κατὰ ταὐτὰ ἐχούσης οὐσίας καὶ τῆς αὖ
περὶ τὰ σώματα γιγνομένης μεριστῆς τρίτον ἐξ ἀμφοῖν ἐν μέσῳ συνεκεράσατο οὐσίας
εἶδος (da essência não partilhável e que é sempre uma só e a mesma e da que por sua
vez vem a ser nos corpos partilhável, [o demiurgo] misturava no meio de ambas uma
terceira forma de essência).
64
Platão, Timeu 70a – 71b.
65
Platão, Timeu 69c: οἱ δὲ μιμούμενοι, παραλαβόντες ἀρχὴν ψυχῆς ἀθάνατον, τὸ μετὰ
τοῦτο θνητὸν σῶμα αὐτῇ περιετόρνευσαν ὄχημά τε πᾶν τὸ σῶμα ἔδοσαν ἄλλο τε εἶδος
ἐν αὐτῷ ψυχῆς προσῳκοδόμουν τὸ θνητόν, δεινὰ καὶ ἀναγκαῖα ἐν ἑαυτῷ παθήματα
ἔχον (e os [deuses criados], imitando [o demiurgo], tendo acolhido o princípio imortal
da alma, depois disso tornearam o corpo com esse princípio e deram todo o corpo
como um veículo, e edificavam uma diversa forma mortal de alma nele, que tem
impressões terríveis e necessárias nela mesma).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 69

este é empecilho, se alguém se servir dele nas considerações66. Portanto,


diverso é cada um dos dois: o impartilhável e o partilhável, e não como
um só que foi misturado, mas como um inteiro desde partes, cada parte
sendo pura e separável em potência. Se, no entanto, o que vem a ser
partilhável nos corpos tem o impartilhável da parte da potência lá de
cima, é possível esse mesmo ser impartilhável e partilhável, tal que
tendo sido misturado desde ele mesmo e da potência que veio lá de cima
para ele.

20. Εἰ δὲ καὶ ἐν τόπωι ταῦτά τε καὶ τὰ ἄλλα τῆς ψυχῆς λεγόμενα μέρη,
ἢ ταῦτα μὲν ὅλως οὐκ ἐν τόπωι, τὰ δὲ ἄλλα ἐν τόπωι καὶ ποῦ, ἢ ὅλως
οὐδέν, ἐπιστῆσαι προσήκει. Εἴτε γὰρ μὴ ἀφοριοῦμεν ἑκάστοις τῶν τῆς
ψυχῆς, τόπον τινὰ οὐδαμοῦ οὐδὲν θέντες, οὐ μᾶλλον εἴσω τοῦ σώματος
ἢ ἔξω ποιοῦντες, ἄψυχον αὐτὸ ποιήσομεν, τά τε δι᾽ ὀργάνων
σωματικῶν ἔργα ὅπηι γίγνεσθαι προσήκει εἰπεῖν ἀπορήσομεν, εἴτε τοῖς
μέν, τοῖς δ᾽ οὔ, οἷς μὴ δίδομεν, οὐκ ἐν ἡμῖν αὐτὰ ποιεῖν δόξομεν, ὥστε
μὴ πᾶσαν ἡμῶν τὴν ψυχὴν ἐν ἡμῖν εἶναι. Ὅλως μὲν οὖν οὐδὲν τῶν τῆς
ψυχῆς μερῶν οὐδὲ πᾶσαν φατέον ὡς ἐν τόπωι εἶναι τῶι σώματι·
περιεκτικὸν μὲν γὰρ ὁ τόπος καὶ περιεκτικὸν σώματος, καὶ οὗ ἕκαστον
μερισθέν ἐστιν, ἔστιν ἐκεῖ, ὡς μὴ ὅλον ἐν ὁτωιοῦν εἶναι· ἡ δὲ ψυχὴ οὐ
σῶμα, καὶ οὐ περιεχόμενον μᾶλλον ἢ περιέχον. Οὐ μὴν οὐδ᾽ ὡς ἐν
ἀγγείωι· ἄψυχον γὰρ ἂν γένοιτο τὸ σῶμα, εἴτε ὡς ἀγγεῖον, εἴτε ὡς τόπος
περιέχει· εἰ μὴ ἄρα διαδόσει τινὶ αὐτῆς οὔσης πρὸς αὐτὴν
συνηθροισμένης, καὶ ἔσται, ὅσον μετέλαβε τὸ ἀγγεῖον, τοῦτο ἀπολωλὸς
αὐτῆι. Ὁ δὲ τόπος ὁ κυρίως ἀσώματος καὶ οὐ σῶμα· ὥστε τί ἂν δέοιτο
ψυχῆς; Καὶ τὸ σῶμα τῶι πέρατι αὐτοῦ πλησιάσει τῆι ψυχῆι, οὐχ αὑτῶι.
Πολλὰ δὲ καὶ ἄλλα ἐναντιοῖτο πρὸς τὸ ὡς ἐν τόπωι εἶναι. Καὶ γὰρ
συμφέροιτο ἂν ἀεὶ ὁ τόπος, καὶ αὐτό τι ἔσται τὸν τόπον αὐτὸν
περιφέρον. Ἀλλ᾽ οὐδ᾽ εἰ ὁ τόπος διάστημα εἴη, πολὺ μᾶλλον οὐκ ἂν εἴη
ὡς ἐν τόπωι τῶι σώματι. Τὸ γὰρ διάστημα κενὸν εἶναι δεῖ· τὸ δὲ σῶμα

66
Platão, Fédon 65a: Τί δὲ δὴ περὶ αὐτὴν τὴν τῆς φρονήσεως κτῆσιν; πότερον
ἐμπόδιον τὸ σῶμα ἢ οὔ, ἐάν τις αὐτὸ ἐν τῇ ζητήσει κοινωνὸν συμπαραλαμβάνῃ; (E
quanto à mesma aquisição de sensatez? O corpo é ou não empecilho, caso alguém o
acolha junto sendo algo comum na pesquisa?).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 70

οὐ κενόν, ἀλλ᾽ ἴσως ἐν ὧι τὸ σῶμα ἔσται, ὥστε ἐν τῶι κενῶι τὸ σῶμα.


Ἀλλὰ μὴν οὐδ᾽ ὡς ἐν ὑποκειμένωι ἔσται τῶι σώματι· τὸ γὰρ ἐν
ὑποκειμένωι πάθος τοῦ ἐν ὧι, ὡς χρῶμα καὶ σχῆμα, καὶ χωριστὸν ἡ
ψυχή. Οὐ μὴν οὐδ᾽ ὡς μέρος ἐν ὅλωι· οὐ γὰρ μέρος ἡ ψυχὴ τοῦ
σώματος. Εἰ δέ τις λέγοι, ὡς ἐν ὅλωι μέρος τῶι ζώιωι, πρῶτον μὲν ἡ
αὐτὴ ἂν μένοι ἀπορία, πῶς ἐν ὅλωι· οὐ γὰρ δὴ ὡς ἐν τῶι ἀμφορεῖ τοῦ
οἴνου ὁ οἶνος, ἢ ὡς ὁ ἀμφορεύς, οὐδ᾽ ἧι καὶ αὐτό τι ἐν αὐτῶι ἔσται.
Ἀλλ᾽ οὐδ᾽ ὡς ὅλον ἐν τοῖς μέρεσι· γελοῖον γὰρ τὴν μὲν ψυχὴν ὅλον
λέγειν, τὸ δὲ σῶμα μέρη. Ἀλλ᾽ οὐδὲ ὡς εἶδος ἐν ὕληι· ἀχώριστον γὰρ
τὸ ἐν ὕληι εἶδος, καὶ ἤδη ὕλης οὔσης ὕστερον τὸ εἶδος. Ἡ δὲ ψυχὴ τὸ
εἶδος ποιεῖ ἐν τῆι ὕληι ἄλλη τοῦ εἴδους οὖσα. Εἰ δὲ οὐ τὸ γενόμενον
εἶδος, ἀλλὰ τὸ χωριζόμενον φήσουσι, πῶς τοῦτο τὸ εἶδος ἐν τῶι σώματι,
οὔπω φανερόν [καὶ χωριστὸν ἡ ψυχή]. Πῶς οὖν ἐν τῶι σώματι ἡ ψυχὴ
λέγεται πρὸς πάντων; Ἢ ἐπειδὴ οὐχ ὁρατὸν ἡ ψυχή, ἀλλὰ τὸ σῶμα.
Σῶμα οὖν ὁρῶντες, ἔμψυχον δὲ συνιέντες, ὅτι κινεῖται καὶ αἰσθάνεται,
ἔχειν φαμὲν ψυχὴν αὐτό. Ἐν αὐτῶι ἄρα τῶι σώματι τὴν ψυχὴν εἶναι
ἀκολούθως ἂν λέγοιμεν. Εἰ δέ γε ὁρατὸν ἡ ψυχὴ καὶ αἰσθητὸν ἦν
περιειλημμένον πάντη τῆι ζωῆι καὶ μέχρις ἐσχάτων οὖσα εἰς ἴσον, οὐκ
ἂν ἔφαμεν τὴν ψυχὴν ἐν τῶι σώματι εἶναι, ἀλλ᾽ ἐν τῶι κυριωτέρωι τὸ
μὴ τοιοῦτον, καὶ ἐν τῶι συνέχοντι τὸ συνεχόμενον, καὶ ἐν τῶι μὴ ῥέοντι
τὸ ῥέον.

20. E se são também em lugar essas e as outras ditas partes da alma, ou


se essas são não inteiramente em lugar, e as outras em lugar e onde, ou
inteiramente nenhuma [parte é em lugar], convém conhecer67. Pois se
não dermos limite a cada uma das partes da alma, não estabelecendo de
nenhum modo um certo lugar, não as fazendo mais para dentro ou para
fora do corpo, faremos esse corpo ser inanimado e estaremos em
dificuldade para dizer por onde convém vir a ser os trabalhos [dessas
partes da alma] através dos órgãos dos corpos, se há para umas partes,
e para outras não, às quais concedemos que não haja [trabalhos], não
pareceremos [pensar] que essas partes criam em nós, de modo a não ser

67
Quinta questão: as relações da alma com o corpo.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 71

em nós toda nossa alma. De modo geral, deve-se dizer que nenhuma
das partes da alma nem ela toda é no corpo como em um lugar; pois o
lugar é continente e continente de corpo, e de onde cada coisa que foi
partilhada é, é ali [o lugar], de modo a não haver inteiro em lugar algum;
e a alma não é corpo, e não é o que é contido mais do que o que contém.
E ela não é nem como em recipiente; pois inanimado viria a ser o corpo,
se a contivesse ou como recipiente, ou como lugar; portanto a não ser
por alguma distribuição dela que é com relação a si mesma a que está
conjunta, e será isso, quanto o recipiente recebeu, o que está perdido
para ela68. O lugar é o propriamente incorpóreo e não corpo; assim por
que necessitaria de alma? E o corpo se avizinhará à alma por um limite
de si mesmo, não por si mesmo. Muitos outros [argumentos] seriam em
oposição, em relação à alma ser como em um lugar. Pois também o
lugar seria sempre levado junto [ao corpo], e este mesmo será algo que
leva em torno de si o mesmo lugar. Mas nem se o lugar fosse um
intervalo, muito mais não seria para o corpo como em um lugar. Pois é
preciso o intervalo ser vazio; e o corpo não é vazio, mas talvez um vazio
em que o corpo estará, de modo que o corpo seja no vazio. Mas então
ela nem será como no corpo que subjaz; pois o que é no que subjaz é
uma impressão de algo em que é, como cor e figura, e algo separável é
a alma. Não é, no entanto, nem como parte é em inteiro; pois a alma não
é parte do corpo. E se alguém disser que é parte em inteiro, vivente,
primeiro ela mesma permaneceria uma aporia, como em um inteiro;
pois na verdade não é como o vinho na ânfora do vinho, ou como a
ânfora, nem como isso mesmo será em si mesmo. Mas nem como
inteiro nas partes; pois é ridículo dizer que a alma é um inteiro, e o
corpo, partes. Mas nem será como forma em matéria; pois inseparável
é a forma em matéria, e já sendo matéria, depois é forma. E a alma cria
a forma na matéria, que é diversa da forma. E se disserem que a forma
não é o que veio a ser, mas o que é separado, como essa forma é no
corpo ainda não é claro, [sendo algo separável a alma]. Como, para
todos, a alma se diz em corpo? Certamente porque não visível é a alma,

68
A alma perderia tanto da vida quanto transmitisse ao corpo.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 72

mas o corpo. Então vendo o corpo, compreendemos que é animado,


porque se move e percebe, dizemos que ele tem alma. Portanto, por
consequência poderíamos dizer que no mesmo corpo é a alma. E se a
alma fosse algo visível e perceptível que está em tudo envolvido com o
vivente, até os limites sendo ela de modo igual, não diríamos a alma ser
no corpo69, mas no mais importante o que não é tal, e no que contém o
que é contido, e no que não escorre o que escorre.

21. Τί οὖν; Πῶς πάρεστιν, εἴ τις ἐρωτώιη μηδὲν αὐτὸς λέγων ὅπως, τί
ἐροῦμεν; Καὶ εἰ ὁμοίως πᾶσα, ἢ ἄλλο μέρος ἄλλως, τὸ δ᾽ ἄλλως; Ἐπεὶ
τοίνυν τῶν νῦν λεγομένων τρόπων τοῦ ἔν τινι οὐδεὶς φαίνεται ἐπὶ τῆς
ψυχῆς πρὸς τὸ σῶμα ἁρμόττων, λέγεται δὲ οὕτως ἐν τῶι σώματι εἶναι
ἡ ψυχή, ὡς ὁ κυβερνήτης ἐν τῆι νηί, πρὸς μὲν τὸ χωριστὴν δύνασθαι
εἶναι τὴν ψυχὴν καλῶς εἴρηται, τὸν μέντοι τρόπον, ὡς νῦν ἡμεῖς
ζητοῦμεν, οὐκ ἂν πάνυ παραστήσειεν. Ὡς μὲν γὰρ πλωτὴρ κατὰ
συμβεβηκὸς ἂν εἴη ἐν αὐτῆι ὁ κυβερνήτης, ὡς δὲ κυβερνήτης πῶς;
Οὐδὲ γὰρ ἐν πάσηι τῆι νηί, ὥσπερ ἡ ψυχὴ ἐν τῶι σώματι. Ἀλλὰ ἆρα
οὕτω φατέον, ὡς ἡ τέχνη ἐν τοῖς ὀργάνοις, οἷον ἐν τῶι οἴακι, [οἷον] εἰ
ἔμψυχος ὁ οἴαξ ἦν, ὥστε κυβερνητικὴν εἶναι ἔνδον τὴν κινοῦσαν
τεχνικῶς; Νῦν δὲ τοῦτο διαλλάττειν, ὅτι ἔξωθεν ἡ τέχνη. Εἰ οὖν κατὰ
τὸ παράδειγμα τὸ τοῦ κυβερνήτου τοῦ ἐνδύντος πρὸς τὸν οἴακα θείμεθα
τὴν ψυχὴν ἐν τῶι σώματι εἶναι ὡς ἐν ὀργάνωι φυσικῶι – κινεῖ γὰρ οὕτως
αὐτὸ ἐν οἷς ἂν ἐθέληι ποιεῖν – ἆρ᾽ ἄν τι πλέον ἡμῖν πρὸς τὸ ζητούμενον
γένοιτο; Ἢ πάλιν ἀπορήσομεν πῶς ἐστιν ἐν τῶι ὀργάνωι, καίτοι τρόπος
οὗτος ἕτερος τῶν πρόσθεν· ἀλλ᾽ ὅμως ἔτι ποθοῦμεν ἐξευρεῖν καὶ
ἐγγυτέρω προσελθεῖν.

21. Por quê, então? Como ela é presente, se alguém perguntasse, ele
mesmo nada dizendo como, o que diremos? E se ela é toda por igual,

69
Platão, Timeu 36d: Ἐπεὶ δὲ κατὰ νοῦν τῷ συνιστάντι πᾶσα ἡ τῆς ψυχῆς σύστασις
ἐγεγένητο, μετὰ τοῦτο πᾶν τὸ σωματοειδὲς ἐντὸς αὐτῆς ἐτεκταίνετο καὶ μέσον μέσῃ
συναγαγὼν προσήρμοττεν (uma vez que veio a ser toda a constituição da alma pelo
que a constitui, segundo inteligência, depois disso ele montava todo o corpóreo dentro
dela e harmonizava conduzindo o meio dele ao meio dela).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 73

ou em uma parte de um modo, e em outra de outro? Uma vez que dos


modos agora ditos sobre o que é em algo nenhum se mostra em
harmonia sobre a alma em relação ao corpo, e assim se diz ser no corpo
a alma, como o piloto na nau; em relação à alma poder ser separável a
alma, está dito belamente, contudo quanto ao modo como agora nós
buscamos, [isso] não representaria muito. Pois seria como navegante
por acidente o piloto nela, e como piloto, como [seria]? Pois não é em
toda nau, como a alma é no corpo. Mas por acaso assim deve-se dizer
que a arte é nos instrumentos, tal que no timão, [como] se o timão fosse
animado, de modo a [uma arte] náutica ser dentro [dele] movendo-se
com arte? Isso agora é para mudar: que de fora é a arte. Se então,
segundo o paradigma, isso do piloto que se investe no timão, pusermos
ser a alma no corpo, como em instrumento físico – pois assim ela o
move, nos que ela desejar fazer – por acaso viria a ser algo mais para
nós em relação ao que se busca? Ou de novo estaremos em dificuldade,
como ela é no instrumento, ainda que esse modo seja diferente dos de
antes; no entanto, ainda queremos descobrir e avançar para mais perto.

22. Ἆρ᾽ οὖν οὕτω φατέον, ὅταν ψυχὴ σώματι παρῆι, παρεῖναι αὐτὴν ὡς
τὸ πῦρ πάρεστι τῶι ἀέρι; Καὶ γὰρ αὖ καὶ τοῦτο παρὸν οὐ πάρεστι καὶ
δι᾽ ὅλου παρὸν οὐδενὶ μίγνυται καὶ ἕστηκε μὲν αὐτὸ, τὸ δὲ παραρρεῖ·
καὶ ὅταν ἔξω γένηται τοῦ ἐν ὧι τὸ φῶς, ἀπῆλθεν οὐδὲν ἔχων, ἕως δέ
ἐστιν ὑπὸ τὸ φῶς, πεφώτισται, ὥστ᾽ ὀρθῶς ἔχειν καὶ ἐνταῦθα λέγειν, ὡς
ὁ ἀὴρ ἐν τῶι φωτί, ἤπερ τὸ φῶς ἐν τῶι ἀέρι. Διὸ καὶ Πλάτων καλῶς τὴν
ψυχὴν οὐ θεὶς ἐν τῶι σώματι ἐπὶ τοῦ παντός, ἀλλὰ τὸ σῶμα ἐν τῆι ψυχῆι,
[καί] φησὶ τὸ μέν τι εἶναι τῆς ψυχῆς ἐν ὧι τὸ σῶμα, τὸ δὲ ἐν ὧι σῶμα
μηδέν, ὧν δηλονότι δυνάμεων οὐ δεῖται τῆς ψυχῆς τὸ σῶμα. Καὶ δὴ καὶ
ἐπὶ τῶν ἄλλων ψυχῶν ὁ αὐτὸς λόγος. Τῶν μὲν ἄλλων δυνάμεων οὐδὲ
παρουσίαν τῶι σώματι λεκτέον τῆς ψυχῆς εἶναι, ὧν δὲ δεῖται, ταῦτα
παρεῖναι, καὶ παρεῖναι οὐκ ἐνιδρυθέντα τοῖς μέρεσιν αὐτοῦ οὐδ᾽ αὖ τῶι
ὅλωι, καὶ πρὸς μὲν αἴσθησιν παρεῖναι παντὶ τῶι αἰσθανομένωι τὸ
αἰσθητικόν, πρὸς δὲ ἐνεργείας ἤδη ἄλλο ἄλλωι.

22. Por acaso, então, assim deve-se dizer ser a alma presente, quando
for presente em corpo, como o fogo é presente no ar? Pois mesmo o

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 74

fogo sendo presente, não é presente e sendo presente pelo inteiro a nada
se mistura, e ele mesmo fica estável, e o [ar] passa; e quando [o ar]
venha a ser fora de algo em que é a luz, afasta-se nada tendo, e enquanto
é sob a luz, está iluminado, assim é [mais] correto dizer aqui que o ar é
na luz, do que a luz é no ar. Por isso também Platão70 [diz] muito bem
não tendo posto a alma no corpo, no universo, mas o corpo na alma, e
diz que por um lado há algo da alma em que é o corpo, e por outro há
algo em que é nenhum corpo, das potências dessa parte da alma,
claramente, o corpo não necessita71. E mesmo nas outras almas, o
discurso é o mesmo. E das diversas potências da alma, não se deve dizer
que há presença delas no corpo, e daquelas das quais houver
necessidade, essas serão presentes, e serão presentes não porque foram
fundamentadas nas partes do corpo, nem ainda nele inteiro, em relação
à sensação o sensível é presente no todo que é percebido, já em relação
às atividades [essas potências] são de modo diverso em diversa parte.

23. Λέγω δὲ ὧδε· τοῦ σώματος πεφωτισμένου τοῦ ἐμψύχου ὑπὸ τῆς
ψυχῆς ἄλλο ἄλλως μεταλαμβάνειν αὐτοῦ μέρος· καὶ κατὰ τὴν τοῦ
ὀργάνου πρὸς τὸ ἔργον ἐπιτηδειότητα, δύναμιν τὴν προσήκουσαν εἰς
τὸ ἔργον ἀποδιδοῦσαν, οὕτω τοι λέγεσθαι τὴν μὲν ἐν ὀφθαλμοῖς
δύναμιν τὴν ὁρατικὴν εἶναι, τὴν δ᾽ ἐν ὠσὶ τὴν ἀκουστικήν, καὶ
γευστικὴν ἐν γλώσσηι, ὄσφρησιν ἐν ῥισί, τὴν δὲ ἁπτικὴν ἐν παντὶ
παρεῖναι· πρὸς γὰρ ταύτην τὴν ἀντίληψιν πᾶν τὸ σῶμα ὄργανον τῆι
ψυχῆι [παρ]εἶναι. Τῶν δὲ ἁπτικῶν ὀργάνων ἐν πρώτοις τοῖς νεύροις
ὄντων, ἃ δὴ καὶ πρὸς τὴν κίνησιν τοῦ ζώιου τὴν δύναμιν ἔχει, ἐνταῦθα
τῆς τοιαύτης δούσης ἑαυτήν, ἀρχομένων δὲ ἀπὸ ἐγκεφάλου τῶν
νεύρων, τὴν τῆς αἰσθήσεως καὶ ὁρμῆς ἀρχὴν καὶ ὅλως παντὸς τοῦ
ζώιου ἐνταῦθα ἔθεσαν φέροντες, οὗ δηλονότι αἱ ἀρχαὶ τῶν ὀργάνων,
ἐκεῖ παρεῖναι τὸ χρησόμενον τιθέμενοι – βέλτιον δὲ λέγειν τὴν ἀρχὴν
τῆς ἐνεργείας τῆς δυνάμεως ἐκεῖ – ὅθεν γὰρ ἔμελλε κινεῖσθαι τὸ
ὄργανον, ἐκεῖ ἔδει οἷον ἐναπερείδεσθαι τὴν δύναμιν τοῦ τεχνίτου

70
Platão, Timeu 36d-e: vide nota 69.
71
A parte superior da Alma não é em corpo, pois permanece estavelmente ligada à
Inteligência.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 75

ἐκείνην τὴν τῶι ὀργάνωι πρόσφορον, μᾶλλον δὲ οὐ τὴν δύναμιν –


πανταχοῦ γὰρ ἡ δύναμις – ἐκεῖ δὲ τῆς ἐνεργείας ἡ ἀρχή, οὗ ἡ ἀρχὴ τοῦ
ὀργάνου. Ἐπεὶ οὖν ἡ τοῦ αἰσθάνεσθαι δύναμις καὶ ἡ τοῦ ὁρμᾶν ψυχῆς
οὔσης αἰσθητικῆς καὶ φανταστικῆς [φύσις] ἐπάνω ἑαυτῆς εἶχε τὸν
λόγον, ὡς ἂν γειτονοῦσα πρὸς τὸ κάτω οὗ αὐτὴ ἐπάνω, ταύτηι ἐτέθη
τοῖς παλαιοῖς ἐν τοῖς ἄκροις τοῦ ζώιου παντὸς ἐπὶ τῆς κεφαλῆς, ὡς οὖσα
οὐκ ἐν τῶι ἐγκεφάλωι, ἀλλ᾽ ὡς ἐν τούτωι τῶι αἰσθητικῶι, ὃ ἐν τῶι
ἐγκεφάλωι ἐκείνως ἵδρυτο. Τὸ μὲν γὰρ ἔδει σώματι διδόναι, καὶ τῶι
σώματος μάλιστα τῆς ἐνεργείας δεκτικῶι, τὸ δὲ σώματι οὐδαμοῦ
κοινωνοῦν πάντως ἐκείνωι κοινωνεῖν ἔδει, ὃ ψυχῆς εἶδος ἦν καὶ ψυχῆς
δυναμένης τὰς παρὰ τοῦ λόγου ἀντιλήψεις ποιεῖσθαι. Αἰσθητικὸν γὰρ
κριτικόν πως, καὶ φανταστικὸν οἷον νοερόν, καὶ ὁρμὴ καὶ ὄρεξις,
φαντασίαι καὶ λόγωι ἑπόμενα. Ἐκεῖ οὖν τὸ λογιζόμενον οὐχ ὡς ἐν
τόπωι, ἀλλ᾽ ὅτι τὸ ἐκεῖ ἀπολαύει αὐτοῦ. Πῶς δὲ τὸ ἐκεῖ ἐπὶ τοῦ
αἰσθητικοῦ, εἴρηται. Τοῦ δὲ φυτικοῦ αὖ καὶ αὐξητικοῦ καὶ θρεπτικοῦ
μηδενὸς ἀπολειπομένου, τρέφοντος δὲ τῶι αἵματι, τοῦ δὲ αἵματος τοῦ
τρέφοντος ἐν φλεψὶν ὄντος, ἀρχῆς δὲ καὶ φλεβῶν καὶ αἵματος ἐν ἥπατι,
οἷον ἐναπερειδομένης ταύτης τῆς δυνάμεως ἐνταῦθα ἡ τοῦ
ἐπιθυμητικοῦ μοῖρα τῆς ψυχῆς οἰκεῖν ἀπεδόθη. Ὃ γάρ τοι καὶ γεννᾶι
καὶ τρέφει καὶ αὔξει, τοῦτο καὶ τούτων ἐπιθυμεῖν ἀνάγκη. Τοῦ δὲ
λεπτοῦ καὶ κούφου καὶ ὀξέος καὶ καθαροῦ αἵματος, θυμῶι προσφόρου
ὀργάνου, ἡ τούτου πηγή – ἐνταῦθα γὰρ τὸ τοιοῦτον αἷμα ἀποκρίνεται
τῆι τοῦ θυμοῦ ζέσει – καρδία πεποίηται οἴκησις πρέπουσα.

23. E digo assim: um corpo animado estando iluminado pela alma, uma
parte sua participa dum modo, outra doutro; e segundo a aptidão do
órgão para a função, a alma lhe dá potência conveniente para essa
função, de modo a se dizer que a potência nos olhos é a da visão, a nos
ouvidos é a da audição, e a gustativa é na língua, olfativa nas narinas, e
a do tato é presente no corpo todo; pois em relação a essa contraparte
todo o corpo é instrumento para a alma. Sendo os instrumentos do tato
nos primeiros nervos, que na verdade têm a potência para a
movimentação do animal, [potência] tal que aqui dá [movimento] a si
mesma, nervos que se iniciam a partir do cerebelo, puseram aí o
princípio da sensação e do impulso, sustentando de modo geral que é

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 76

de todo animal, de onde é claro são os princípios dos órgãos, puseram


ali ser presente o que há de servir [deles] – é melhor dizer o princípio
da potência da atividade é ali – pois daí havia de se mover o órgão, aí
era preciso como que apoiar-se aquela potência do artesão que se aplica
ao órgão, ou melhor, não a potência – pois a potência é em toda parte –
aí há o princípio da atividade, da qual há o princípio do órgão. Então,
uma vez que a potência de perceber e a do impulsionar é da a alma que
é sensitiva e visionária, [a natureza] mantinha acima dela a razão, para
que essa natureza fosse vizinha do que é inferior, a que ela mesma é
superior, ali foi posta [a razão] pelos antigos, nas partes elevadas de
todo animal, na cabeça72, não que essa natureza seja no cerebelo, mas
que é nesse órgão sensível o que daquele modo era fundamentado no
cerebelo. Pois isso era preciso dar algo ao corpo, e principalmente ao
corpo receptível da atividade, e de modo algum o que é comum ao corpo
era preciso ser totalmente comum àquilo que era forma de alma, e de
alma capaz de criar as contrapartes da razão. Pois o que é sensível é de
algum modo crítico, e o que é visionário é tal que inteligente, tanto
impulso quanto apetite, coisas que seguem fantasia e razão. Então, o
que é calculado não é ali [na cabeça] como em um lugar, porque o que
é ali tira proveito do que é calculado. E como o que é ‘ali’ é no sensível,
esteja dito. E ainda em nada sendo deixado o vegetativo, que tanto faz
crescer quanto nutre [o corpo], nutrindo com o sangue, o sangue que
nutre sendo nas veias, no fígado sendo o princípio tanto de veias quanto
de sangue, tal que se apoiando ali essa potência vegetativa, concede-se
a moira do desejo da alma ali habitar. Pois o que gera, nutre e faz
crescer, isso é necessidade de desejar essas coisas. E sendo o sangue
fino, ligeiro, ácido e puro, órgão apropriado à cólera, a sua fonte – pois
ali o tal sangue se distingue pela ebulição da cólera73 – é o coração, feito
como habitação conveniente.

72
Platão, Timeu 90a: ἐπ’ ἄκρῳ τῷ σώματι (na parte alta do corpo).
73
Platão, Timeu 70a: τὸ μετέχον οὖν τῆς ψυχῆς ἀνδρείας καὶ θυμοῦ (a parte da alma
que participa de coragem e de cólera).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 77

24. Ἀλλὰ ποῦ ἐξελθοῦσα τοῦ σώματος γενήσεται; Ἢ ἐνταῦθα μὲν οὐκ
ἔσται, οὗ οὐκ ἔστι τὸ δεχόμενον ὁπωσοῦν, οὐδὲ δύναται παραμένειν
τῶι μὴ πεφυκότι αὐτὴν δέχεσθαι, εἰ μή τι ἔχοι αὐτοῦ ὃ ἕλκει πρὸς αὐτὸ
ἄφρονα οὖσαν. Ἔστι δὲ ἐν ἐκείνωι, εἰ ἄλλο ἔχει, κἀκεῖ ἀκολουθεῖ, οὗ
πέφυκε τοῦτο εἶναι καὶ γίνεσθαι. Ὄντος δὲ πολλοῦ καὶ ἑκάστου τόπου,
καὶ παρὰ τῆς διαθέσεως ἥκειν δεῖ τὸ διάφορον, ἥκειν δὲ καὶ παρὰ τῆς
ἐν τοῖς οὖσι δίκης. Οὐ γὰρ μή ποτέ τις ἐκφύγοι, ὃ παθεῖν ἐπ᾽ ἀδίκοις
ἔργοις προσήκει· ἀναπόδραστος γὰρ ὁ θεῖος νόμος ὁμοῦ ἔχων ἐν ἑαυτῶι
τὸ ποιῆσαι τὸ κριθὲν ἤδη. Φέρεται δὲ καὶ αὐτὸς ὁ πάσχων ἀγνοῶν ἐφ᾽
ἃ παθεῖν προσήκει, ἀστάτωι μὲν τῆι φορᾶι πανταχοῦ αἰωρούμενος ταῖς
πλάναις, τελευτῶν δὲ ὥσπερ πολλὰ καμὼν οἷς ἀντέτεινεν εἰς τὸν
προσήκοντα αὐτῶι τόπον ἐνέπεσεν, ἑκουσίωι τῆι φορᾶι τὸ ἀκούσιον εἰς
τὸ παθεῖν ἔχων. Εἴρηται δὲ ἐν τῶι νόμωι καὶ ὅσον καὶ ἐφ᾽ ὅσον δεῖ
παθεῖν, καὶ πάλιν αὖ ὁμοῦ συνέδραμεν ἡ ἄνεσις τῆς κολάσεως καὶ ἡ
δύναμις τοῦ ἀναφυγεῖν ἐξ ἐκείνων τῶν τόπων, ἁρμονίας δυνάμει τῆς
κατεχούσης τὰ πάντα. Ἔχουσαι δὲ σῶμα καὶ τὸ ἀντιλαμβάνεσθαι τῶν
σωματικῶν κολάσεων ἔχουσι· ταῖς δὲ τῶν ψυχῶν καθαραῖς οὔσαις καὶ
μηδὲν μηδαμῆι ἐφελκομέναις τοῦ σώματος ἐξ ἀνάγκης [καὶ] οὐδαμοῦ
σώματος ὑπάρξει εἶναι. Εἰ οὖν εἰσι [καὶ] μηδαμοῦ σώματος – οὐδὲ γὰρ
ἔχουσι σῶμα – οὗ ἐστιν ἡ οὐσία καὶ τὸ ὂν καὶ τὸ θεῖον – ἐν τῶι θεῶι –
ἐνταῦθα καὶ μετὰ τούτων καὶ ἐν τούτωι ἡ τοιαύτη ψυχὴ ἔσται. Εἰ δ᾽ ἔτι
ζητεῖς ποῦ, ζητητέον σοι ποῦ ἐκεῖνα· ζητῶν δὲ ζήτει μὴ τοῖς ὄμμασι
μηδ᾽ ὡς ζητῶν σώματα.

24. Mas onde [a alma], tendo saído do corpo, virá a ser? Certamente
aqui não será, onde não há absolutamente o que a receba, nem é possível
permanecer junto ao que não naturalmente a recebe, caso não haja algo
que de si a atrai para si mesmo, sendo ela insensata74. E é naquele corpo,
se ela tiver outro, e ali ela segue, onde é natural isso ser e vir a ser. E o
que difere do lugar que é múltiplo e de cada um é preciso chegar

74
Platão, Fédon 81a-e; 81e: καὶ μέχρι γε τούτου πλανῶνται, ἕως ἂν τῇ τοῦ
συνεπακολουθοῦντος, τοῦ σωματοειδοῦς, ἐπιθυμίᾳ πάλιν ἐνδεθῶσιν εἰς σῶμα (e
vagueiem até o ponto em que sejam novamente presas a um corpo, pelo desejo do que
é de forma corpórea, que a acompanha).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 78

também da parte da disposição, e chegar também da parte da justiça nos


que são. Pois ninguém jamais evitaria o que convém sofrer por causa
de injustas obras; pois inevitável é a lei divina que tem ao mesmo tempo
em si criar o que já foi julgado. E o mesmo que sofre é levado, não
sabendo, ao que convém sofrer, e suspenso em errâncias pela trajetória
instável em toda parte, terminando de modo que, tendo-se fadigado de
muitas coisas às quais resistia, caiu no lugar conveniente a si, tendo o
involuntário para sofrer por ser voluntário à trajetória. E está dito na lei
o tanto e por quanto tempo é preciso sofrer, novamente a um só tempo
tanto concorre o relaxamento do castigo quanto a capacidade de fugir
daqueles lugares, pela potência da harmonia que mantém todas as
coisas. As almas tendo corpo têm também o tomar a contraparte das
punições corpóreas; e dentre as almas que são puras e que de nenhum
modo são arrastadas a nada do corpo por necessidade, de maneira
nenhuma [alguma] começará a ser do corpo. E se, então, são de modo
algum de corpo – pois não têm corpo – onde é a essência e o que é e o
divino – no deus – ali com esses e nesse deus a tal alma será. E se ainda
buscas onde [a alma virá a ser], deve ser buscado por ti onde são aqueles
inteligíveis; e ao buscar, busca não com os olhos nem como quem busca
corpos.

25. Περὶ δὲ μνήμης, εἰ αὐταῖς ταῖς ψυχαῖς τῶνδε τῶν τόπων


ἐξελθούσαις μνημονεύειν ὑπάρχει, ἢ ταῖς μέν, ταῖς δ᾽ οὔ, καὶ πάντων ἤ
τινων, καὶ εἰ μνημονεύουσιν ἀεί, ἢ ἐπί τινα χρόνον τὸν ἐγγὺς τῆς
ἀφόδου, ζητεῖν ὁμοίως ἄξιον. Ἀλλ᾽ εἰ μέλλομεν ὀρθῶς περὶ τούτων τὴν
ζήτησιν ποιεῖσθαι, ληπτέον τί ποτε τὸ μνημονεῦόν ἐστι. Λέγω δὲ οὐ τί
μνήμη ἐστίν, ἀλλ᾽ ἐν τίνι συνίστασθαι πέφυκε τῶν ὄντων. Τί μὲν γάρ
ἐστι μνήμη, εἴρηται ἐν ἄλλοις καὶ πολλάκις τεθρύλληται, τὸ δὲ
μνημονεύειν πεφυκὸς ὅ τί ποτέ ἐστιν ἀκριβέστερον ληπτέον. Εἰ δέ ἐστι
τὸ τῆς μνήμης ἐπικτήτου τινὸς ἢ μαθήματος ἢ παθήματος, οὔτε τοῖς
ἀπαθέσι τῶν ὄντων οὔτε τοῖς [μὴ] ἐν χρόνωι ἐγγίνοιτο ἂν τὸ
μνημονεύειν. Μνήμην δὴ περὶ θεὸν οὐδὲ περὶ τὸ ὂν καὶ νοῦν θετέον·
οὐδὲν γὰρ εἰς αὐτοὺς οὐδὲ χρόνος, ἀλλ᾽ αἰὼν περὶ τὸ ὄν, καὶ οὔτε τὸ
πρότερον οὔτε τὸ ἐφεξῆς, ἀλλ᾽ ἔστιν ἀεὶ ὡς ἔχει ἐν τῶι αὐτῶι οὐ
δεχόμενον παράλλαξιν. Τὸ δὲ ἐν τῶι αὐτῶι καὶ ὁμοίωι πῶς ἂν ἐν μνήμηι

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 79

γένοιτο, οὐκ ἔχον οὐδ᾽ ἴσχον ἄλλην κατάστασιν μεθ᾽ ἣν εἶχε πρότερον,
ἢ νόησιν ἄλλην μετ᾽ ἄλλην, ἵνα ἐν ἄλληι μένηι, ἄλλης δὲ μνημονεύηι
ἣν εἶχε πρότερον; Ἀλλὰ τί κωλύει τὰς ἄλλων μεταβολὰς εἰδέναι οὐ
μεταβάλλοντα αὐτόν, οἷον κόσμου τὰς περιόδους; Ἢ ὅτι ἄλλο μὲν
πρότερον, ἄλλο δὲ ὕστερον νοήσει ἐπακολουθοῦν ταῖς τοῦ τρεπομένου
μεταβολαῖς, τό τε μνημονεύειν παρὰ τὸ νοεῖν ἄλλο. Τὰς δὲ αὐτοῦ
νοήσεις οὐ μνημονεύειν λεκτέον· οὐ γὰρ ἦλθον, ἵνα κατέχηι μὴ
ἀπέλθοιεν· ἢ οὕτω γε τὴν οὐσίαν αὐτοῦ φοβοῖτο μὴ ἀπέλθοι ἀπ᾽ αὐτοῦ.
Οὐ τοίνυν οὐδὲ ψυχὴν φατέον μνημονεύειν τὸν αὐτὸν τρόπον οἷον
λέγομεν τὸ μνημονεύειν εἶναι ὧν ἔχει συμφύτων, ἀλλ᾽ ἐπειδὴ ἐνταῦθά
ἐστιν, ἔχειν καὶ μὴ ἐνεργεῖν κατ᾽ αὐτά, καὶ μάλιστα ἐνταῦθα ἡκούσηι.
Τὸ δὲ καὶ ἐνεργεῖν ἤδη – ταῖς ἐνεργούσαις ἃ εἶχον μνήμην καὶ
ἀνάμνησιν προστιθέναι ἐοίκασιν οἱ παλαιοί. Ὥσθ᾽ ἕτερον εἶδος μνήμης
τοῦτο· διὸ καὶ χρόνος οὐ πρόσεστι τῆι οὕτω λεγομένηι μνήμηι. Ἀλλ᾽
ἴσως εὐχερῶς περὶ τούτων ἔχομεν καὶ οὐκ ἐξεταστικῶς. ᾿Ισως γὰρ ἄν
τις ἀπορήσειε, μήποτε οὐ τῆς ψυχῆς ἦι ἐκείνης ἡ λεγομένη τοιαύτη
ἀνάμνησις καὶ μνήμη, ἀλλὰ ἄλλης ἀμυδροτέρας, ἢ τοῦ συναμφοτέρου
τοῦ ζώιου. Εἴτε γὰρ ἄλλης, πότε ἢ πῶς λαμβανούσης; Εἴτε τοῦ ζώιου,
πότε ἢ πῶς; Διὸ ζητητέον τί ἐστι τῶν ἐν ἡμῖν τὸ τὴν μνήμην ἴσχον, ὅπερ
καὶ ἐξ ἀρχῆς ἐζητοῦμεν· καὶ εἰ μὲν ἡ ψυχὴ ἡ μνημονεύουσα, τίς δύναμις
ἢ τί μέρος, εἰ δὲ τὸ ζῶιον, ὥσπερ καὶ τὸ αἰσθανόμενον ἔδοξέ τισι, τίς ὁ
τρόπος, καὶ τί ποτε δεῖ φάναι τὸ ζῶιον, καὶ ἔτι εἰ τὸ αὐτὸ τῶν
αἰσθημάτων δεῖ τίθεσθαι ἀντιλαμβάνεσθαι καὶ τῶν νοημάτων, ἢ ἄλλο
τοῦ ἑτέρου.

25. E sobre memória75, se às mesmas almas que deixam estes lugares é


princípio lembrar, ou a umas [sim], e a outras não, e de todos [lugares],
ou de alguns, e se lembram sempre, ou por algum tempo perto da
partida, buscar é semelhantemente digno. Mas se vamos fazer
corretamente a busca sobre isso, deve-se tomar o que é então o que
lembra, e digo não o que é memória, mas buscar o que se constitui
naturalmente em alguma das coisas que são. Pois o que é memória,

75
Sétima questão: como é o processo da memória e da imaginação (§ 25 – 32).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 80

[isso] está dito em outras partes e muitas vezes repetido, e o lembrar


natural, o que então é, deve-se tomar mais exatamente. E se o lembrar
é próprio de certa memória adquirível, seja de ensino seja de impressão,
isso viria a ser nem aos impassíveis dentre as coisas que são, nem aos
fora do tempo. Não se deve pôr a memória em um deus, nem no que é,
nem na inteligência. Pois nada é para esses, nem tempo, mas há
eternidade no que é, e nem há o antes, nem o depois, mas é sempre como
está em si mesmo, não recebendo mudança. E o que é em si e em
semelhante [a si] como viria a ser em memória, não tendo nem
mantendo uma condição diversa daquela que tinha antes, ou um
pensamento diverso depois de outro, para que permaneça em um, e se
lembre de outro que tinha antes? Mas o que impede [a divindade] de
saber as mudanças de outras coisas, não mudando a si mesma, tal que
as órbitas do cosmo? Certamente é porque uma coisa é antes, e outra é
depois, ao seguir as mudanças do que volta pelo pensar, e o lembrar é
diverso do pensar. Deve-se dizer que seus pensamentos não lembram;
pois não vieram [de fora], para que ela os mantivesse, e eles não
partissem; ou assim se temeria que sua essência saísse dela. Nem, de
fato, se deve dizer que a alma lembra do mesmo modo, tal como
dizemos ser o lembrar das coisas que nos são inatas, mas, quando ela é
aqui, ela as mantém, mas não age segundo essas coisas, principalmente
porque acaba de chegar aqui76. E quanto ao agir – os antigos parecem
ter atribuído àquelas almas, que são em atividade em relação ao que
tinham, memória e reminiscência. Desse modo isso é uma forma
diferente de memória77. Por isso também tempo não pertence à
‘memória’ que é assim dita. Mas talvez sobre isso estamos por
facilidade, e não por investigação. Pois talvez, alguém estaria em
aporia, se reminiscência e memória não for jamais daquela alma a que
é dita tal, mas de outra mais obscura, ou do duplo conjunto, do vivente.
Pois se é de outra, então como esta as acolhe? E se é de um vivente,

76
De fato, as almas recém-chegadas não têm do que se lembrar, apenas vão adquirindo
impressões e aprendizados, mesmo não tendo como agir em relação a isso.
77
Reminiscência é algo que as almas não perdem, pois é ontológico; diferente da
memória, que elas perdem antes de vir a ser em corpo.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 81

então como este as acolhe? Por isso deve-se buscar o que, dentre o que
é em nós, é o que mantém a memória, que desde o princípio
buscávamos; e se é a alma que lembra – que potência ou que parte
lembra? – se é o vivente – parece a alguns como o que tem sensação –
qual o modo? Então o que é preciso dizer ser o vivente? E ainda alguém
estaria em aporia, se é preciso pôr o mesmo [instrumento] a se ocupar
das coisas sentidas e das pensadas, ou é preciso pôr algo diverso a se
ocupar de umas e de outras.

26. Εἰ μὲν οὖν τὸ ζῶιον τὸ συναμφότερόν ἐστιν ἐν ταῖς αἰσθήσεσι ταῖς


κατ᾽ ἐνέργειαν, δεῖ τὸ αἰσθάνεσθαι τοιοῦτον εἶναι – διὸ καὶ κοινὸν
λέγεται – οἷον τὸ τρυπᾶν καὶ τὸ ὑφαίνειν, ἵνα κατὰ μὲν τὸν τεχνίτην ἡ
ψυχὴ ἦι ἐν τῶι αἰσθάνεσθαι, κατὰ δὲ τὸ ὄργανον τὸ σῶμα, τοῦ μὲν
σώματος πάσχοντος καὶ ὑπηρετοῦντος, τῆς δὲ ψυχῆς παραδεχομένης
τὴν τύπωσιν τὴν τοῦ σώματος, ἢ τὴν διὰ τοῦ σώματος, ἢ τὴν κρίσιν, ἣν
ἐποιήσατο ἐκ τοῦ παθήματος τοῦ σώματος· οὗ δὴ ἡ μὲν αἴσθησις οὕτω
κοινὸν ἔργον λέγοιτο ἄν, ἡ δὲ μνήμη οὐκ ἀναγκάζοιτο τοῦ κοινοῦ εἶναι
τῆς ψυχῆς ἤδη παραδεξαμένης τὸν τύπον καὶ ἢ φυλαξάσης ἢ
ἀποβαλούσης αὐτήν· εἰ μή τις τεκμαίροιτο κοινὸν καὶ τὸ μνημονεύειν
εἶναι ἐκ τοῦ ταῖς κράσεσι τῶν σωμάτων καὶ μνημονικοὺς καὶ
ἐπιλήσμονας ἡμᾶς γίγνεσθαι. Ἀλλὰ καὶ ὧς κωλυτικὸν ἂν ἢ οὐ
κωλυτικὸν λέγοιτο τὸ σῶμα γίνεσθαι, τῆς δὲ ψυχῆς τὸ μνημονεύειν οὐχ
ἧττον εἴη. Τῶν δὲ δὴ μαθήσεων πῶς τὸ κοινόν, ἀλλ᾽ οὐχ ἡ ψυχὴ ἡ
μνημονεύουσα ἔσται; Εἰ δὲ τὸ ζῶιον τὸ συναμφότερον οὕτως, ὡς
ἕτερον ἐξ ἀμφοῖν εἶναι, πρῶτον μὲν ἄτοπον μήτε σῶμα μήτε ψυχὴν τὸ
ζῶιον λέγειν· οὐ γὰρ δὴ μεταβαλόντων ἀμφοτέρων ἕτερόν τι ἔσται τὸ
ζῶιον οὐδ᾽ αὖ κραθέντων, ὡς δυνάμει τὴν ψυχὴν ἐν τῶι ζώιωι εἶναι·
ἔπειτα καὶ οὕτως οὐδὲν ἧττον τῆς ψυχῆς τὸ μνημονεύειν ἔσται, ὥσπερ
ἐν οἰνομέλιτος κράσει εἴ τι γλυκάζει, παρὰ τοῦ μέλιτος τοῦτο ἔσται. Τί
οὖν, εἰ αὐτὴ μὲν μνημονεύοι, τῶι δὲ ἐν σώματι εἶναι τῶι μὴ καθαρὰ
εἶναι, ἀλλ᾽ ὥσπερ ποιωθεῖσα, ἀναμάττεσθαι δύναται τοὺς τῶν
αἰσθητῶν τύπους καὶ τῶι οἷον ἕδραν ἐν τῶι σώματι πρὸς τὸ
παραδέχεσθαι καὶ μὴ ὥσπερ παραρρεῖν [ἐᾶν]; Ἀλλὰ πρῶτον μὲν οἱ
τύποι οὐ μεγέθη, οὐδ᾽ ὥσπερ αἱ ἐνσφραγίσεις οὐδ᾽ ἀντερείσεις ἢ
τυπώσεις, ὅτι μηδ᾽ ὠθισμός, μηδ᾽ ὥσπερ ἐν κηρῶι, ἀλλ᾽ ὁ τρόπος οἷον

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 82

νόησις καὶ ἐπὶ τῶν αἰσθητῶν. Ἐπὶ δὲ τῶν νοήσεων τίς ἡ ἀντέρεισις
λέγοιτο ἄν; Ἢ τί δεῖ σώματος ἢ ποιότητος σωματικῆς μεθ᾽ ἧς; Ἀλλὰ
μὴν καὶ τῶν αὐτῆς κινημάτων ἀνάγκη μνήμην αὐτῆι γίγνεσθαι, οἷον ὧν
ἐπεθύμησε καὶ ὧν οὐκ ἀπέλαυσεν οὐδὲ ἦλθεν εἰς σῶμα τὸ ἐπιθυμητόν.
Πῶς γὰρ ἂν εἴποι τὸ σῶμα περὶ ὧν οὐκ ἦλθεν εἰς αὐτό; Ἢ πῶς μετὰ
σώματος μνημονεύσει, ὃ μὴ πέφυκε γινώσκειν ὅλως τὸ σῶμα; Ἀλλὰ τὰ
μὲν λεκτέον εἰς ψυχὴν λήγειν, ὅσα διὰ σώματος, τὰ δὲ ψυχῆς εἶναι
μόνης, εἰ δεῖ τὴν ψυχὴν εἶναί τι καὶ φύσιν τινὰ καὶ ἔργον τι αὐτῆς. Εἰ δὲ
τοῦτο, καὶ ἔφεσιν καὶ μνήμην τῆς ἐφέσεως ἄρα καὶ τῆς τεύξεως καὶ τῆς
οὐ τεύξεως, ἐπείπερ καὶ ἡ φύσις αὐτῆς οὐ τῶν ῥεόντων. Εἰ γὰρ μὴ
τοῦτο, οὐδὲ συναίσθησιν οὐδὲ παρακολούθησιν δώσομεν οὐδέ τινα
σύνθεσιν καὶ οἷον σύνεσιν. Οὐ γὰρ δὴ οὐδὲν ἔχουσα τούτων ἐν τῆι
φύσει αὐτῆς ταῦτα κομίζεται ἐν σώματι, ἀλλ᾽ ἐνεργείας μέν τινας ἴσχει
ὧν ἔργων δεῖται ἡ ἐπιτέλεσις ὀργάνων, τῶν δὲ τὰς δυνάμεις ἥκει
φέρουσα, τῶν δὲ καὶ τὰς ἐνεργείας. Τὸ δὲ τῆς μνήμης καὶ τὸ σῶμα
ἐμπόδιον ἔχει· ἐπεὶ καὶ νῦν προστιθεμένων τινῶν λήθη, ἐν δ᾽ ἀφαιρέσει
καὶ καθάρσει ἀνακύπτει πολλάκις ἡ μνήμη. Μονῆς δὲ οὔσης αὐτῆς
ἀνάγκη τὴν τοῦ σώματος φύσιν κινουμένην καὶ ῥέουσαν λήθης αἰτίαν,
ἀλλ᾽ οὐ μνήμης εἶναι· διὸ καὶ ὁ τῆς Λήθης ποταμὸς οὗτος ἂν
ὑπονοοῖτο. Ψυχῆς μὲν δὴ ἔστω τὸ πάθημα τοῦτο.

26. Então, se o vivente, conjunto de ambos (corpo e alma), é nas


sensações segundo atividade, é preciso ele sentir-se ser tal – por isso
também [a sensação] se diz comum – tal que o furar e o tecer, para que,
no sentir-se, a alma seja segundo o artesão, e segundo o instrumento,
seja o corpo: o corpo sofrendo e se submetendo, e a alma recebendo a
marcação que é do corpo, seja aquela [que a alma recebe] através do
corpo, seja o ato de julgar78, que ela criou desde a impressão do corpo;
de que resulta que a sensação poderia ser dita como obra comum [desse
conjunto], e a memória não seria obrigada a ser em comum com a alma,
que já recebeu a marcação, seja conservando a memória seja rejeitando-
a; a não ser que alguém argumentasse ser comum [desse conjunto] o

78
O julgamento da alma através do corpo é a opinião.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 83

lembrar desde as uniões dos corpos, quando viemos a ser ou de boa


memória ou desmemoriados. Mas seria dito que o corpo viria ser algo
impeditivo ou não impeditivo, e o lembrar não seria menos da alma.
Então, como seria o comum [de ambos], entre os aprendizados? Mas
não será a alma que lembra? E se o vivente é assim o conjunto de ambos,
de modo a ser diferente de ambos, primeiro absurdo é dizê-lo nem corpo
nem alma; pois nem, ambos mudando, o vivente será algo diferente,
nem mesmo fundindo-se [ambos], de modo a ser em potência a alma no
vivente; uma vez que mesmo assim nada menos da alma será o lembrar,
como na mistura de vinho-mel, se algo é doce, isso será da parte do mel.
Que é então, se ela mesma lembrar, por ser em corpo e por ser não pura,
mas como tendo sido qualificada, ela pode assumir as marcas das coisas
sensíveis e com algo tal como assento no corpo para recebê-las e não as
deixar escapar? Mas primeiro as marcas não são grandezas, nem assim
são as inscrições, nem resistências ou marcações, porque não há
impulso, não como em cera, mas o modo é tal que ato de pensar, e sobre
coisas sensíveis79. E sobre os atos de pensar que resistência seria dita?
Ou que é que precisa de corpo ou de qualidade corpórea com
resistência? No entanto, há necessidade vir a ser para a alma a memória
dos seus movimentos, tal que das coisas que desejou e das que não
desfrutou, nem o desejável veio ao corpo. Pois como diria o corpo sobre
o que não veio a si mesmo? Ou como a alma lembrará, com o corpo,
daquilo que o corpo não conheceu inteiramente, por sua natureza? Mas
deve-se dizer que as coisas, quantas são pelo corpo, terminam na alma,
e as outras são apenas da alma, se é preciso a alma ser algo, tanto
alguma natureza quanto algum trabalho de si mesma. E se é isso, [ela
terá] tanto aspiração quanto memória da aspiração, portanto [ela terá
memória] tanto da obtenção quanto da não obtenção, se é que a natureza
dela não é das coisas que escapam. Pois se não for isso, nem sensação
conjunta nem acompanhamento de perto concederemos a ela, nem
alguma síntese, tal que compreensão. Pois ela, nada tendo dessas coisas
em sua natureza, não as conduz em corpo, mas mantém algumas

79
Tese contrária ao pensamento dos estoicos, que empregavam a imagem da marca
na cera para referência às marcas dos sentidos na alma.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 84

atividades, de cujos trabalhos a execução dos órgãos precisa, e ela chega


a portar as potências de uns [órgãos], e também as atividades de outros.
É o caso da memória, [que] tem o corpo como impedimento; uma vez
que há esquecimento de algumas coisas que agora passavam, e no ato
[da alma] se afastar e de se purificar emerge muitas vezes a memória. E
há necessidade se ser apenas a alma, porque a natureza do corpo, que
se move e escapa, é causa de esquecimento, mas não é de memória; por
isso mesmo esse rio do esquecimento80 seria cogitado. Portanto, da
alma seja esse produto da impressão.

27. Ἀλλὰ τίνος ψυχῆς, τῆς μὲν λεγομένης ὑφ᾽ ἡμῶν θειοτέρας, καθ᾽ ἣν
ἡμεῖς, τῆς δὲ ἄλλης τῆς παρὰ τοῦ ὅλου; Ἢ λεκτέον εἶναι μνήμας
ἑκατέρας, τὰς μὲν ἰδίας, τὰς δὲ κοινάς· καὶ ὅταν μὲν συνῶσιν, ὁμοῦ
πάσας, χωρὶς δὲ γενομένων, εἰ ἄμφω εἶεν καὶ μένοιεν, ἑκατέραν
ἐπιπλέον τὰ ἑαυτῆς, ἐπ᾽ ὀλίγον δὲ χρόνον τὰ τῆς ἑτέρας. Τὸ γοῦν
εἴδωλον ἐν Ἅιδου Ἡρακλέους – τοῦτο γὰρ καὶ τὸ εἴδωλον, οἶμαι, χρὴ
νομίζειν ἡμᾶς – μνημονεύειν τῶν πεπραγμένων πάντων κατὰ τὸν βίον,
αὐτοῦ γὰρ μάλιστα καὶ ὁ βίος ἦν. Αἱ δὲ ἄλλαι τὸ συναμφότερον
[γενόμεναι] [οὖσαι] οὐδὲν πλέον ὅμως εἶχον λέγειν· ἢ ἅ γε τοῦ βίου
τούτου, καὶ αὐταὶ [τὸ συναμφότερον γενόμεναι] ταῦτα ἤιδεσαν· ἢ εἴ τι
δικαιοσύνης ἐχόμενον. Ὁ δὲ Ἡρακλῆς αὐτὸς ὁ ἄνευ τοῦ εἰδώλου τί
ἔλεγεν, οὐκ εἴρηται. Τί οὖν ἂν εἴποι ἡ ἑτέρα ψυχὴ ἀπαλλαγεῖσα μόνη;
Ἡ γὰρ ἐφελκομένη ὅ τι κἄν, πάντα, ὅσα ἔπραξεν ἢ ἔπαθεν ὁ ἄνθρωπος·
χρόνου δὲ προιόντος ἐπὶ τῶι θανάτωι καὶ ἄλλων μνῆμαι ἂν φανεῖεν ἐκ
τῶν πρόσθεν βίων, ὥστε τινὰ τούτων καὶ ἀτιμάσασαν ἀφεῖναι. Σώματος
γὰρ καθαρωτέρα γενομένη καὶ ἃ ἐνταῦθα οὐκ εἶχεν ἐν μνήμηι
ἀναπολήσει· εἰ δ᾽ ἐν σώματι γενομένη ἄλλωι ἐξέλθοι, ἐρεῖ μὲν τὰ τοῦ
ἔξω βίου καὶ ἐρεῖ [δὲ] [εἶναι] ὃ ἄρτι ἀφῆκεν [ἐρεῖ δὲ] καὶ πολλὰ τῶν
πρόσθεν. Χρόνοις δὲ πολλῶν τῶν ἐπακτῶν ἀεὶ ἔσται ἐν λήθηι. Ἡ δὲ δὴ
μόνη γενομένη τί μνημονεύσει; Ἢ πρότερον σκεπτέον τίνι δυνάμει
ψυχῆς τὸ μνημονεύειν παραγίνεται.

80
O nome do rio (Λήθη) é ‘esquecimento’.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 85

27. Mas de que alma, ou da que é dita por nós mais divina, segundo a
qual somos nós, ou da outra que é da parte do inteiro81? Certamente
deve-se dizer que há memórias de cada uma das duas, umas próprias,
outras comuns; e quando estejam juntas, em conjunto são todas [as
memórias], tendo vindo a ser separadamente, se ambas fossem e
permanecessem [separadas], cada uma [guardaria] por mais tempo
aquelas [memórias] de si mesma, e por menos tempo aquelas da outra.
Então, a visagem de Heraclés no Hades – pois creio que há necessidade
de nós considerarmos também essa visagem – é lembrar de todas as
coisas feitas durante a vida, pois dela principalmente era a vida. E as
outras, que são almas dele que vieram a ser o conjunto de ambas as
coisas [racionais e irracionais], nada mais tinham, no entanto, a dizer
[dele]; ou [tinham a dizer] em relação às coisas dessa vida, e elas [que
vieram a ser o conjunto de ambas as coisas] sabiam isso; ou se algo do
sentimento de justiça era mantido. E Heraclés mesmo, aquele sem a
visagem, o que ele dizia, [isso] não está dito82. O que então diria a outra
alma que se afastou sozinha? Pois a que é atraída [ao corpo diria] o que
quer que seja, tudo quanto praticou e sofreu o homem; e avançando o
tempo, na morte também lembranças de outras coisas se mostrariam das
vidas de antes, de modo a rejeitar algumas dessas [lembranças], ela
tendo agido com desprezo. Pois tendo vindo a ser mais pura de corpo,
mesmo aquilo que aqui não havia, revolverá na memória83; se tendo
vindo a ser em corpo, ela sair para um diverso, dirá as coisas da vida de
fora [desse corpo] e também dirá [ser] o que há pouco deixou [e dirá]
também muitas coisas das vidas de antes. E para tempos de muitas
coisas importadas, [ela] sempre será em esquecimento. E tendo ela

81
A alma do universo.
82
Isto é, a alma racional de Heraclés; Homero, Odisseia XI, 601 – 626.
83
Platão, Filebo 34b: Καὶ μὴν καὶ ὅταν ἀπολέσασα μνήμην εἴτ’ αἰσθήσεως εἴτ’ αὖ
μαθήματος αὖθις ταύτην ἀναπολήσῃ πάλιν αὐτὴ ἐν ἑαυτῇ, καὶ ταῦτα σύμπαντα
ἀναμνήσεις [καὶ μνήμας] που λέγομεν (contudo, quando ela tiver perdido a memória,
seja de uma sensação seja ainda de um aprendizado, ela mesma logo a revolverá
novamente em si mesma, e de certo modo dizemos que essas coisas todas são
reminiscências e memórias).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 86

vindo a ser só, o que lembraria? Anteriormente deve-se examinar a que


potência da alma o lembrar assiste.

28. Ἆρά γε ὧι αἰσθανόμεθα καὶ ὧι μανθάνομεν; Ἢ καὶ ὧι ἐπιθυμοῦμεν


τῶν ἐπιθυμητῶν, καὶ τῶν ὀργιστῶν τῶι θυμοειδεῖ; Οὐ γὰρ ἄλλο μὲν
ἀπολαύσει, φήσει τις, ἄλλο δὲ μνημονεύσει τῶν ἐκείνου. Τὸ γοῦν
ἐπιθυμητικὸν ὧν ἀπέλαυσε τούτοις κινεῖται πάλιν ὀφθέντος τοῦ
ἐπιθυμητοῦ δηλονότι τῆι μνήμηι. Ἐπεὶ διὰ τί οὐκ ἄλλου, ἢ οὐχ οὕτως;
Τί οὖν κωλύει καὶ αἴσθησιν τῶν τοιούτων διδόναι αὐτῶι καὶ τῶι
αἰσθητικῶι τοίνυν ἐπιθυμίαν καὶ πάντα πᾶσιν ὥστε κατὰ τὸ ἐπικρατοῦν
ἕκαστον λέγεσθαι; Ἢ αἴσθησιν ἄλλως ἑκάστωι· οἷον εἶδε μὲν ἡ ὅρασις,
οὐ τὸ ἐπιθυμοῦν, ἐκινήθη δὲ παρὰ τῆς αἰσθήσεως τὸ ἐπιθυμοῦν οἷον
διαδόσει, οὐχ ὥστε εἰπεῖν τὴν αἴσθησιν οἵα, ἀλλ᾽ ὥστε
ἀπαρακολουθήτως παθεῖν. Καὶ ἐπὶ τοῦ θυμοῦ εἶδε τὸν ἀδικήσαντα, ὁ
δὲ θυμὸς ἀνέστη, οἷον εἰ ποιμένος ἰδόντος ἐπὶ ποίμνηι λύκον ὁ σκύλαξ
τῆι ὀδμῆι ἢ τῶι κτύπωι αὐτὸς οὐκ ἰδὼν ὄμμασιν ὀρίνοιτο. Καὶ τοίνυν
ἀπέλαυσε μὲν τὸ ἐπιθυμοῦν, καὶ ἔχει ἴχνος τοῦ γενομένου ἐντεθὲν οὐχ
ὡς μνήμην, ἀλλ᾽ ὡς διάθεσιν καὶ πάθος· ἄλλο δὲ τὸ ἑωρακὸς τὴν
ἀπόλαυσιν καὶ παρ᾽ αὐτοῦ ἔχον τὴν μνήμην τοῦ γεγενημένου.
Τεκμήριον δὲ τὸ μὴ ἡδεῖαν εἶναι τὴν μνήμην πολλάκις ὧν μετέσχε τὸ
ἐπιθυμοῦν, καίτοι, εἰ ἐν αὐτῶι, ἦν ἄν.

28. Por acaso [assiste] àquilo que sentimos e com que aprendemos? Ou
àquilo que desejamos dentre as coisas desejáveis, e dentre as irritáveis
ao irascível? Pois não gozará de uma coisa, dirá alguém, e lembrará algo
diverso daquilo. De fato, o desejável dentre o que gozou a isso se move,
novamente ‘tendo sido avistado’ o desejável, é claro, pela memória.
Então, por que não [se move] por algo diverso, senão assim? Que é,
então, que impede atribuir ao mesmo [desejável] a sensação de tais
coisas e ao sensível, portanto, [atribuir] desejo e todas as coisas a todos
[os desejos], de modo a se dizer que cada coisa é segundo o [desejo]
que prevalece? Certamente sensação [se move] de modo diverso para
cada coisa; tal que vê a vista, não o que deseja, e o que deseja se move
da parte da sensação [da vista], tal que por distribuição, não de modo a
dizer que a sensação é tais coisas, mas de modo a sofrer essas coisas,

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 87

não de modo consciente. Também sobre a ira, [a sensação] ‘vê’ o que


pratica injustiça, e a ira se eleva, tal que se o pastor tivesse visto o lobo
sobre o rebanho, o cão pelo odor ou pelo rumor, mesmo não tendo visto
com olhos, se excitaria. Então, o que deseja goza, e tem marca do que
veio a ser, tendo sido posta aí não como memória, mas como disposição
e impressão; e o que ‘viu’ o ato de prazer é algo diverso que tem de si
mesmo a memória do que veio a ser. E um indício é a memória, daquilo
de que o que deseja participou, muitas vezes não ser agradável, e, no
entanto, se é nele mesmo, haveria memória.

29. Ἆρ᾽ οὖν τῶι αἰσθητικῶι φέροντες ἀναθήσομεν τὴν μνήμην, καὶ τὸ
αὐτὸ ἡμῖν μνημονευτικὸν καὶ αἰσθητικὸν ἔσται; Ἀλλ᾽ εἰ καὶ τὸ εἴδωλον
μνημονεύσει, ὡς ἐλέγετο, διττὸν τὸ αἰσθητικὸν ἔσται, καὶ εἰ μὴ τὸ
αἰσθητικὸν δὲ τὸ μνημονευτικόν, ἀλλ᾽ ὁτιοῦν ἄλλο, διττὸν τὸ
μνημονεῦον ἔσται. ᾿Ετι εἰ τὸ αἰσθητικόν, καὶ τῶν μαθημάτων ἔσται καὶ
τῶν διανοημάτων τὸ αἰσθητικόν. Ἢ ἄλλο γε δεῖ ἑκατέρων. Ἆρ᾽ οὖν
κοινὸν θέμενοι τὸ ἀντιληπτικὸν τούτωι δώσομεν ἀμφοῖν τὴν μνήμην;
Ἀλλ᾽ εἰ μὲν ἓν καὶ ταὐτὸ τὸ ἀντιλαμβανόμενον αἰσθητῶν τε καὶ νοητῶν,
τάχα ἄν τι λέγοιτο· εἰ δὲ διαιρεῖται διχῆι, οὐδὲν ἧττον δύο ἂν εἴη. Εἰ δὲ
καὶ ἑκατέραι τῆι ψυχῆι δώσομεν ἄμφω, τέτταρα ἂν γένοιτο. Ὅλως δὲ
τίς ἀνάγκη, ὧι αἰσθανόμεθα, τούτωι καὶ μνημονεύειν, καὶ τῆι αὐτῆι
δυνάμει γίνεσθαι ἄμφω, καὶ ὧι διανοούμεθα, τούτωι τῶν διανοημάτων
μνημονεύειν; Ἐπεὶ οὐδ᾽ οἱ αὐτοὶ διανοεῖσθαι κράτιστοι καὶ
μνημονεύειν, καὶ ἐπίσης αἰσθήσει χρησάμενοι οὐκ ἐπίσης
μνημονεύουσι, καὶ εὐαισθήτως ἔχουσιν ἄλλοι, μνημονεύουσι δὲ ἄλλοι
οὐκ ὀξέως ἐν αἰσθήσει γεγενημένοι. Ἀλλὰ πάλιν αὖ, εἰ ἄλλο ἑκάτερον
δεήσει εἶναι, καὶ ἄλλο μνημονεύσει ὧν ἡ αἴσθησις ἤισθετο πρότερον,
κἀκεῖνο δεῖ αἰσθέσθαι οὗπερ μελλήσει μνημονεύσειν; Ἢ οὐδὲν
κωλύσει τῶι μνημονεύσοντι τὸ αἴσθημα φάντασμα εἶναι, καὶ τῶι
φανταστικῶι ἄλλωι ὄντι τὴν μνήμην καὶ κατοχὴν ὑπάρχειν· τοῦτο γάρ
ἐστιν, εἰς ὃ λήγει ἡ αἴσθησις, καὶ μηκέτι οὔσης τούτωι πάρεστι τὸ
ὅραμα. Εἰ οὖν παρὰ τούτωι τοῦ ἀπόντος ἤδη ἡ φαντασία, μνημονεύει
ἤδη, κἂν ἐπ᾽ ὀλίγον παρῆι. Ὧι δὴ εἰ μὲν ἐπ᾽ ὀλίγον παραμένοι, ὀλίγη ἡ
μνήμη, ἐπὶ πολὺ δέ, μᾶλλον μνημονικοὶ τῆς δυνάμεως ταύτης οὔσης
ἰσχυροτέρας, ὡς μὴ ῥαιδίως τρεπομένης ἐφεῖσθαι ἀποσεισθεῖσαν τὴν

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 88

μνήμην. Τοῦ φανταστικοῦ ἄρα ἡ μνήμη, καὶ τὸ μνημονεύειν τῶν


τοιούτων ἔσται. Διαφόρως δ᾽ ἔχειν πρὸς μνήμας φήσομεν ἢ ταῖς
δυνάμεσιν αὐτῆς διαφόρως ἐχούσαις ἢ ταῖς προσέξεσιν ἢ μή, ἢ καὶ
σωματικαῖς κράσεσιν ἐνούσαις καὶ μή, καὶ ἀλλοιούσαις καὶ μή, καὶ
οἷον θορυβούσαις. Ἀλλὰ ταῦτα μὲν ἑτέρωθι.

29. Por acaso, então, consagraremos a memória, relacionando-a, ao


sensível, e o mesmo que em nós é mnemônico será sensível? Se também
a visagem lembrará, como era dito, duplo será o sensível, e se o sensível
não for mnemônico, mas uma outra coisa qualquer, duplo será o que
lembra. Ainda se o sensível [lembrar], tanto será o sensível dos
ensinamentos quanto dos pensamentos. Ou algo diverso é preciso de
cada um [desses dois]84. Por acaso, então, ao pormos como comum o
que recebe isso, daremos a ambos a memória? Mas se um só e o mesmo
fosse o que recebe das coisas sensíveis e das inteligíveis, logo algo seria
dito; e se [o que recebe] se divide em dois, nada menos do que duas
memórias haveria [para cada parte]. E se a cada alma daremos ambas,
viriam a ser quatro [memórias]. De modo geral, qual é a necessidade
de, com o que sentimos, com isso também lembrar, e pela mesma
potência ambas as coisas vir a ser, e de lembrar das coisas pensadas
com isso que pensamos? Uma vez que não são os mesmos os melhores
em pensar e em lembrar, e os que se serviram de sensação em igual
parte, não igualmente se lembram, uns são bem dispostos a perceber,
outros lembram, porque não tiveram agudeza em percepção85. Mas, de
novo, se for preciso cada uma das duas coisas ser algo diverso, também
algo diverso lembrará do que a sensação percebeu antes, e é preciso

84
Ou seja, da inteligência e da memória; pois a inteligência ‘lembra’ dos inteligíveis,
e a memória, dos sensíveis.
85
Aristóteles, Da memória e reminiscência, I 449b 4: οὐ γὰρ οἱ αὐτοί εἰσι μνημονικοὶ
καὶ ἀναμνηστικοί, ἀλλ’ ὡς ἐπὶ τὸ πολὺ μνημονικώτεροι μὲν οἱ βραδεῖς,
ἀναμνηστικώτεροι δὲ οἱ ταχεῖς καὶ εὐμαθεῖς (não são os mesmos os que têm memória
e reminiscência, de modo que são muito mais de memória os lentos, e mais de
reminiscência os rápidos em aprender bem).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 89

perceber também aquilo de que estará para lembrar86? Certamente, nada


impede ao que há de lembrar o produto da sensação ser produto de
fantasia, e ao fantástico que é diverso [da sensação] [nada impede] ser
princípio a memória e retenção; pois é isso, para o que cessa, a
sensação: não mais sendo com isso [que cessa], é presente o produto da
visão. Se, então, junto a isso há a fantasia do que é ausente, [essa
potência] já lembra, ainda que por pouco [tempo] seja presente [essa
fantasia]. Naquele em que [essa fantasia] permanecer por pouco
[tempo], pequena é a memória, e [se permanecer] muito [tempo], serão
mais mnemônicos, sendo essa potência mais forte, de modo a não
facilmente desejar sacudir a memória dela que volta. Portanto, do
fantástico é a memória, e o lembrar será de tais fantasias. E diremos que
ser diferente em relação à memória é ou pelas potências dela que são
diferentes, que ou são pré-dispostas ou não, ou também por uniões
corpóreas, que são interiorizadas e não são, tanto por ser diversas
quanto por não ser, tais que perturbem. Mas essas coisas serão tratadas
em um outro lugar87.

30. Τὸ δὲ τῶν διανοήσεων τί; Ἆρά γε καὶ τούτων τὸ φανταστικόν; Ἀλλ᾽


εἰ μὲν πάσηι νοήσει παρακολουθεῖ φαντασία, τάχα ἂν ταύτης τῆς
φαντασίας, οἷον εἰκόνος οὔσης τοῦ διανοήματος, μενούσης οὕτως ἂν
εἴη τοῦ γνωσθέντος ἡ μνήμη· εἰ δὲ μή, ἄλλο τι ζητητέον. Ἴσως δ᾽ ἂν
εἴη τοῦ λόγου τοῦ τῶι νοήματι παρακολουθοῦντος ἡ παραδοχὴ εἰς τὸ
φανταστικόν. Τὸ μὲν γὰρ νόημα ἀμερὲς καὶ οὔπω οἷον προεληλυθὸς εἰς
τὸ ἔξω ἔνδον ὂν λανθάνει, ὁ δὲ λόγος ἀναπτύξας καὶ ἐπάγων ἐκ τοῦ
νοήματος εἰς τὸ φανταστικὸν ἔδειξε τὸ νόημα οἷον ἐν κατόπτρωι, καὶ ἡ
ἀντίληψις αὐτοῦ οὕτω καὶ ἡ μονὴ καὶ ἡ μνήμη. Διὸ καὶ ἀεὶ κινουμένης
πρὸς νόησιν τῆς ψυχῆς, ὅταν ἐν τούτωι γένηται, ἡμῖν ἡ ἀντίληψις. Ἄλλο
γὰρ ἡ νόησις, καὶ ἄλλο ἡ τῆς νοήσεως ἀντίληψις, καὶ νοοῦμεν μὲν ἀεί,

86
Aristóteles, Da memória e reminiscência, I 449b 25: τοῦ δὲ νῦν ἐν τῷ νῦν οὐκ ἔστι
μνήμη ... τοῦ δὲ γενομένου μνήμη· διὸ μετὰ χρόνου πᾶσα μνήμη (do que é no agora
não há memória ... do que veio a ser há memória; por isso toda memória é com tempo).
87
Enéada IV 6, 3.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 90

ἀντιλαμβανόμεθα δὲ οὐκ ἀεί· τοῦτο δέ, ὅτι τὸ δεχόμενον οὐ μόνον


δέχεται νοήσεις, ἀλλὰ καὶ αἰσθήσεις κατὰ θάτερα.

30. E isso dos atos de pensar é o quê? Por acaso também dentre esses
atos é o fantástico? Mas se a todo ato de pensar seguisse uma fantasia,
sendo logo essa fantasia como imagem do pensamento, permanecendo
ela assim, seria a memória do que foi conhecido; se não, deve-se buscar
algo diverso. Talvez [isso] seria a compreensão da razão, que segue
junto ao pensamento, para o fantástico. Pois o pensamento é sem parte
e, a não ser que tenha avançado para fora, é oculto por ser interno, e a
razão, tendo-o aberto e conduzido de pensamento a fantasia, mostra o
pensamento tal como em espelho, e a sua compreensão é assim tanto a
permanência quanto a memória. Por isso, a alma sempre se movendo
para o ato de pensar, quando venha a ser nesse [pensamento], para nós
é a compreensão. Pois uma coisa é o ato de pensar, e outra a
compreensão do ato de pensar, e pensamos sempre, e nem sempre
compreendemos; e é isso, porque o que recebe não apenas recebe atos
de pensar, mas também sensações, ora recebendo uns ora outras.

31. Ἀλλ᾽ εἰ τοῦ φανταστικοῦ ἡ μνήμη, ἑκατέρα δὲ ἡ ψυχὴ μνημονεύειν


εἴρηται, δύο τὰ φανταστικά. Χωρὶς μὲν οὖν οὖσαι ἐχέτωσαν ἑκάτερα,
ἐν δὲ τῶι αὐτῶι παρ᾽ ἡμῖν πῶς τὰ δύο καὶ τίνι αὐτῶν ἐγγίνεται; Εἰ μὲν
γὰρ ἀμφοτέροις, διτταὶ ἀεὶ αἱ φαντασίαι· οὐ γὰρ δὴ τὸ μὲν τῆς ἑτέρας
τῶν νοητῶν, τὸ δὲ τῶν αἰσθητῶν· οὕτω γὰρ ἂν παντάπασι δύο ζῶια
οὐδὲν ἔχοντα κοινὸν πρὸς ἄλληλα ἔσται. Εἰ οὖν ἀμφοτέραις, τίς ἡ
διαφορά; Εἶτα πῶς οὐ γινώσκομεν; Ἢ ὅταν μὲν συμφωνῆι ἡ ἑτέρα τῆι
ἑτέραι, οὐκ ὄντων οὐδὲ χωρὶς τῶν φανταστικῶν, κρατοῦντός τε τοῦ τῆς
κρείττονος, ἓν τὸ φάντασμα γίνεται, οἷον παρακολουθούσης σκιᾶς τῶι
ἑτέρωι, καὶ ὑποτρέχοντος οἷον σμικροῦ φωτὸς μείζονι· ὅταν δὲ μάχη ἦι
καὶ διαφωνία, ἐκφανὴς ἐφ᾽ αὑτῆς καὶ ἡ ἑτέρα γίνεται, λανθάνει δὲ [ὅ
τι] ἐν ἑτέρωι. [ὅτι] Καὶ ὅλως τὸ διττὸν τῶν ψυχῶν λανθάνει. Εἰς ἓν γὰρ
ἦλθον ἄμφω καὶ ἐποχεῖται ἡ ἑτέρα. Ἑώρα οὖν ἡ ἑτέρα πάντα καὶ τὰ μὲν
ἔχει ἐξελθοῦσα, τὰ δ᾽ ἀφίησι τῶν τῆς ἑτέρας· οἷον ἑταίρων ὁμιλίας
φαυλοτέρων λαβόντες ποτὲ ἄλλους ἀλλαξάμενοι ὀλίγα τῶν ἐκείνων
μεμνήμεθα, χρηστοτέρων δὲ γεγενημένων πλείω.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 91

31. Mas se é do fantástico a memória, e está dito que uma e outra alma
lembra, duas são as potências da fantasia. As almas sendo em separado,
tenham, portanto, cada uma dessas duas fantasias, e, as almas tendo
ambas fantasias no mesmo indivíduo, no nosso caso, como ambas vêm
a ser e em qual delas? Porque se [a memória] vem a ser em ambas as
fantasias, duplas sempre serão as fantasias; pois, na verdade, o que é
dos sensíveis e o que é dos inteligíveis não é de alma diferente; pois
assim haveria de modo absoluto dois viventes que nada têm em comum
um com o outro. Se então em ambas potências de fantasia [vem a ser a
memória], qual a diferença? E depois como não tomamos
conhecimento? Certamente, quando uma fantasia esteja em sintonia
com a outra, não sendo mais em separado as coisas fantásticas,
dominando aquela potência da alma mais forte, um só vem a ser o
produto da imaginação, tal que sombra acompanhando outra coisa
maior, correndo abaixo dela tal que pequena luz; e quando haja batalha
e desacordo, brilhante sobre essa [pequena luz] vem a ser a outra
fantasia, e oculta o que é nessa outra. E inteiramente o duplo das almas
se oculta; pois ambas chegam ao um, e a diferente se sobrepõe88. Então,
uma alma via todas as fantasias e, tendo-se ido, mantém umas e deixa
outras dentre as fantasias da outra alma; tal que tendo tomado relações
das mais fracas amizades e então tendo-as trocado por outras,
lembramos pouco daquelas, e mais das que vieram a ser de maior valor.

32. Τί δὲ δὴ φίλων καὶ παίδων καὶ γυναικός; Πατρίδος δὲ καὶ τῶν ὧν


ἂν καὶ ἀστεῖος οὐκ ἄτοπος μνημονεύων; Ἢ τὸ μὲν μετὰ πάθους
ἑκάστου, ὁ δὲ ἀπαθῶς ἂν τὰς μνήμας τούτων ἔχοι· τὸ γὰρ πάθος ἴσως
καὶ ἐξ ἀρχῆς ἐν ἐκείνωι καὶ τὰ ἀστεῖς τῶν παθῶν τῆι σπουδαίαι,
καθόσον τῆι ἑτέραι τι ἐκοινώνησε. Πρέπει δὲ τὴν μὲν χείρονα καὶ τῶν
τῆς ἑτέρας ἐνεργημάτων ἐφίεσθαι τῆς μνήμης καὶ μάλιστα, ὅταν ἀστεία
ἦι καὶ αὐτή· γένοιτο γὰρ ἄν τις καὶ ἐξ ἀρχῆς ἀμείνων καὶ τῆι παιδεύσει
τῆι παρὰ τῆς κρείττονος. Τὴν δὲ δεῖ ἀσμένως λήθην ἔχειν τῶν παρὰ τῆς
χείρονος. Εἴη γὰρ ἂν καὶ σπουδαίας οὔσης τῆς ἑτέρας τὴν ἑτέραν τὴν

88
Uma alma serve de veículo à outra, mostrando-se apenas a diferente, ou seja, a que
é em parte.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 92

φύσιν χείρονα εἶναι κατεχομένην ὑπὸ τῆς ἑτέρας βίαι. Ὅσωι δὴ σπεύδει
πρὸς τὸ ἄνω, πλειόνων αὐτῆι ἡ λήθη, εἰ μή που πᾶς ὁ βίος αὐτῆι καὶ
ἐνταῦθα τοιοῦτος οἷος μόνων τῶν κρειττόνων εἶναι τὰς μνήμας· ἐπεὶ
καὶ ἐνταῦθα καλῶς τὸ ἐξιστάμενον τῶν ἀνθρωπείων σπουδασμάτων.
Ἀνάγκη οὖν καὶ τῶν μνημονευμάτων· ὥστε ἐπιλήσμονα ἄν τις λέγων
τὴν ἀγαθὴν ὀρθῶς ἂν λέγοι τρόπωι τοιούτωι. Ἐπεὶ καὶ φεύγει ἐκ τῶν
πολλῶν, καὶ τὰ πολλὰ εἰς ἓν συνάγει τὸ ἄπειρον ἀφιείς. Οὕτω γὰρ καὶ
οὐ μετὰ πολλῶν, ἀλλὰ ἐλαφρὰ καὶ δι᾽ αὐτῆς· ἐπεὶ καὶ ἐνταῦθα, ὅταν
ἐκεῖ ἐθέληι εἶναι, ἔτι οὖσα ἐνταῦθα ἀφίησι πάντα ὅσα ἄλλα· ὀλίγα
τοίνυν κἀκεῖ τὰ ἐντεῦθεν· καὶ ἐν οὐρανῶι οὖσα πλείω. Καὶ εἴποι ἂν ὁ
Ἡρακλῆς ἐκεῖνος ἀνδραγαθίας ἑαυτοῦ, ὁ δὲ καὶ ταῦτα σμικρὰ
ἡγούμενος καὶ μετατεθεὶς εἰς ἁγιώτερον τόπον καὶ ἐν τῶι νοητῶι
γεγενημένος καὶ ὑπὲρ τὸν Ἡρακλέα ἰσχύσας τοῖς ἄθλοις, οἷα ἀθλεύουσι
σοφοί.

32. Então, o que [dizer da lembrança] de amigos, filhos e esposa? E da


pátria e das coisas de que alguém culto não seria absurdo lembrar?
Certamente, por um lado há lembrança com cada impressão, por outro
lado aquele homem culto manteria as memórias dessas coisas sem
impressão; pois talvez a impressão seja desde o princípio naquele
homem culto e, quanto às coisas cultas dentre as impressões, talvez
[elas sejam] para a [alma] zelosa, quanto esta tomar algo em comum
com a diferente89. Convém a [alma] inferior aspirar à memória dos atos
da outra, sobretudo quando ela mesma seja cultivada; pois certa alma
viria a ser melhor desde o princípio pela educação da parte da melhor.
E é preciso que esta tenha prazerosamente esquecimento das coisas da
parte da pior. Pois uma, mesmo uma sendo zelosa, haveria de ser
mantida sob a violência da outra, que é de natureza pior. E quanto [a
alma] se esforça para o alto, de mais coisas há o esquecimento para ela,
a não ser que de algum modo a vida para ela mesmo aqui seja tal que
haja as memórias apenas das melhores coisas; uma vez que aqui é belo

89
A alma irracional tem todas as lembranças, boas e más, mas no homem culto, a alma
racional tem essas lembranças sem as impressões, isto é, a alma racional tem a medida
do bem que é padrão para as boas lembranças, deixando as más para a alma irracional.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 93

afastar-se das preocupações humanas90. Há necessidade então [de


afastar-se] também das recordações; assim alguém dizendo que a [alma]
boa é desmemoriada, corretamente diria de tal modo. Uma vez que foge
do múltiplo, ela conduz o múltiplo ao um, deixando o infinito. Pois
desse modo [ela é] não com múltiplo, mas ágil e por si; uma vez que
mesmo aqui, quando desejar ser lá, ainda estando aqui deixa tudo
quanto é diverso; pois poucas coisas aqui são também de lá; e no céu,
há mais. E aquele Heraclés diria suas próprias façanhas, mas o que se
mudou para lugar mais santo, vindo a ser no inteligível, as consideraria
mesmo pequenas, e seria acima de Heraclés, tendo prevalecido nas
disputas, tais quais os sábios disputam.

90
Platão, Fedro 249d: ἐξιστάμενος δὲ τῶν ἀνθρωπίνων σπουδασμάτων (afastando-se
das preocupações humanas).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 94

IV 4
Das Aporias da Alma, II
Introdução

IV 4 (28)

Este livro, que é uma sequência do anterior, aborda quatro questões:

§1 a §5) Quais são as almas que usam memória e imaginação, e de que


se lembram?

§6 a §16) A alma universal e as dos astros têm necessidade de memória


e raciocínio ou se limitam a contemplar a Inteligência?

§17 a §29) Qual é a diferença intelectual entre as almas, universal, dos


astros e humana?

§30 a §45) Qual é a influência exercida pelos astros?

Quando as almas estão no mundo inteligível, elas não podem recordar


de tudo que passaram no mundo sensível, uma vez que não é possível
se aplicar a algo tão sublime, pensando em coisas que não são. E como
tudo ali é atemporal, não deve haver memória das coisas temporais. Ao
pensar, a alma divide as formas desdobrando-as pela racionalidade,
apesar das formas, que são inteligíveis, não ter divisão ou
desdobramento. No entanto, a alma, quando vem a ser em corpo, tem
como que um impulso acumulado dos seus atos de pensar, e isso passa
a ser memória, quando ela for acumulando as impressões das coisas que
vêm a ser. E como esse ‘espetáculo’, no inteligível, é variado e múltiplo,
o ato de pensar da alma também é múltiplo e variado, passando a dividir
e desdobrar as formas (εἴδη) pela inteligência; divisão que não é em

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 95

tempo, pois o ‘antes’ e o ‘depois’ são apenas por uma ordem, tal como
se vê um vulto e se compreende o todo, ou como se vê uma árvore toda,
com todas as suas partes. Portanto, os atos de pensar, não sendo únicos,
têm potências estabilizadas que podem receber a natureza do que é
múltiplo. Mas todo múltiplo contém em si o uno, que é anterior a ele.
Mas como a alma se lembrará de si mesma? No mundo sensível, alguém
pode contemplar o uno através da inteligência e distinguir-se voltando
a sua alma para o inteligível, assim, estando no inteligível, a alma cria
sendo tudo e ao mesmo tempo sendo uma só; então, lembrar-se de si
mesma não envolve mudança, o que é nela é ela mesma. Isso se dá
quando a alma se unifica com o uno através da inteligência, tornando-
se ambas uma só coisa. Então, pelo ato de pensar ela tem todas as coisas,
sendo ela mesma. E como ela é confinante com ambos os mundos, ela
tende a um e a outro, retendo-se em cada parte do inteligível, do céu e
da terra pela memória respectiva desses lugares; memória que vem à
atividade quando ela se inclina desde o lugar superior, pois quando está
ali ela não tem como lembrar, pois a atividade dos inteligíveis suprime
a lembrança, mas ali ela vê o bem através da inteligência, tendo em
atividade o ato de pensar. Enquanto decai, ela percebe que pode
lembrar, mesmo de forma inconsciente. Ao ver pela razão, no mundo
sensível, o que antes via, no inteligível, compreende a profundidade de
onde se encontra. Mas não é preciso que a alma desça totalmente até à
geração, pois ela pode se deter no céu, e de lá retornar ao inteligível.
Quanto à memória do mundo inteligível, ela a terá através da mesma
potência que a faz ver ali, assim também aqui é possível ‘ver’ as
mesmas coisas, através da reminiscência. Esse ‘ver’ é especial, como
se alguém subisse a um observatório para ver melhor; o que não o faz
não terá essa visão especial de si mesmo. E isso faz que se reconheçam
tanto as que descem quanto as que sobem, mesmo tendo mudado de
forma, pois ainda guardam seus hábitos. Aquelas almas que não mudam
e que não passam de um ponto a outro, como as dos astros e a do
universo, não precisam de memória, pois de que lembrariam? No
entanto, alguém dirá: “O espaço percorrido em suas órbitas é distinto,
bem como o tempo de cada um”; desse modo como não haverá
memória? Os astros têm uma vida feliz e perfeita, pois é como uma

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 96

dança coral que se desenvolve em harmonia do início ao fim, ou como


as cordas de uma lira bem afinada que tocando em sintonia compõe uma
bela melodia de harmonia natural. Assim, não há necessidade de
memória, pois não há nem tempo nem espaço para ser divido, porque o
que é perfeito não é em parte, e mesmo que se possa dividir o céu em
partes, isso é só do nosso ponto de vista, isto é, parcial e imperfeito. E
Zeus que tudo ordena e põe em movimento sabe que a obra é uma só
em uma vida infinita, assim não necessita de memória. Sua obra é
infinita e se encontra no uno, porque é eterna, não sendo em parte ou
em tempo; é o passo completo, sem divisões. Então, Zeus é o demiurgo
porque é a inteligência, e é também a Alma porque porta essa
inteligência em ato. A Alma não calcula nem busca o que criar, pois ela
desenvolve sua ordem como imagem nela mesma, que é dependente da
sensatez permanente. Essa é a sensatez do cosmo, que é múltipla e vária,
mas ao mesmo tempo simples, pois é uma só razão e todas as coisas;
ela não precisa deliberar, apenas segue a natureza a partir do princípio,
não sendo alterada pela multiplicidade nem pela variedade. Assim, o
criador permanece estável, enquanto sua obra se multiplica e varia,
como em um só vivente tudo que vem a ser não é ao mesmo tempo, mas
varia em tempo e em espaço, isto é, em partes, mas ele se mantém único,
havendo crescimento do corpo e de partes diferentes em tempos
diferentes. O princípio é o mesmo em cada ser gerado. O criador não
tem de passar pelas dificuldades de raciocínio nem de nada que lhe
permitiria ter o que já tem; pois ele não é como o que busca saber, mas
é o que sabe. Ele permanece sempre um só e o mesmo, embora as razões
sucessivas alterem as formas em multiplicidade e variação; mas ele olha
para o paradigma que se mantém sempre o mesmo, e sua vontade é sua
própria sensatez. Então, a sensatez é a parte superior da alma, e a
natureza é inferior e última luz dos inteligíveis, pois as formas (εἴδη)
que são contempladas pela alma se modificam em figuras (μορφαὶ) que
a natureza dá às coisas, que antes disso constituem os derradeiros raios
de luz do inteligível. A natureza não pensa nem compreende, apenas
recebe essa luz e a transforma em corpos na matéria, através da fantasia,
ou imaginação, pois tudo que é depois desse limite é imitação. Assim,
o que a alma recebe da inteligência repassa à natureza que recria em

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 97

matéria, como o fogo que aquece o que está junto dele, mas este calor
é menor do que o do próprio fogo, assim a natureza cria e sofre,
diferente da alma, que cria e não sofre, que por sua vez é diferente da
inteligência, que nada cria em corpo ou em matéria. Então, o que a
natureza dá à sua criação é diferente daquilo que ela mesma recebeu,
pois as formas (εἴδη) são diferentes das figuras (μορφαὶ) plasmadas em
matéria.

Mas como se diz que a Alma cria o tempo, como ela mesma não é em
tempo? Pois assim teria memória, ao voltar-se ao passado. Ela sendo o
criador não se submete ao tempo, pois é antes dele, embora sua criação
seja em tempo, porque assim se completa o cosmo, segundo a vontade
do demiurgo. A Alma contém todas as coisas porque é como um círculo
móvel pelo desejo em volta de outro imóvel, a Inteligência, que por sua
vez tem o mesmo centro, o Bem. As coisas nela são as formas
inteligíveis, que pela razão vêm a ser figuras sensíveis, que são em
tempo de modo a não ser ao mesmo tempo nem em conjunto, pois são
em partes separadas. Estas são corpos que se movem pelo desejo, em
círculo, imitando a Alma. A alma do todo não precisa buscar nem
raciocinar, pois tem o uno e o mesmo como centro que domina tudo, ao
contrário das nossas almas, que não têm, porque muitas vezes o governo
é dado ao conjunto do corpo e de alma, tendo como consequência uma
anarquia, tal como em uma cidade, quando o governo é dado à multidão
tumultuosa e barulhenta; assim o homem médio tem por governo algo
útil, porque seu domínio tem mal discernimento do que é o melhor para
si; o melhor, com melhor julgamento, tem o modo de vida aristocrático,
evitando o comum, mas convivendo com ele; o ótimo é o que separa
definitivamente o comum, não tendo relações com o que é corpóreo e
material. Como somos um conjunto híbrido, ou seja, de corpo e alma,
que têm naturezas diversas, nunca somos totalmente estáveis, mas
sentimos dor e prazer, quando estamos mais ligados à parte inferior da
alma, e desejamos o belo, o bom e o justo, quando buscamos a
comunhão com a parte superior da alma. Mas a alma não sofre pela
sensação, como o corpo; ela apenas anuncia onde é a sensação, pois se
ela sentisse como o corpo, ela sentiria nela toda e não saberia dizer onde

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 98

seria a dor. Ela apenas percebe e anuncia onde é a dor. O corpo, por sua
vez, sendo em comum com a alma, deseja, por não ser um só; assim
quer doce ou salgado, segundo os movimentos que adquire. O que
começa o desejo é o corpo, depois disso a natureza, que é traço da alma,
reconhece o desejo o tenta fazer o corpo alcançá-lo, como se ela mesma
o sentisse, mas é a alma que concede ou não concede a realização do
desejo. Desse modo, a alma decide se vai comer ou beber, anunciando
à natureza apetitiva, que está junto ao corpo para satisfazer ou não os
seus apetites. Quanto às plantas, sua alma vegetativa deve provir da
terra, uma vez que esta é dita por Platão, Timeu 40c, ser um deus; assim
a terra que dá vida a tantos seres é também dotada de vida e inteligência,
tal como uma divindade. E tendo alma, a terra deve sentir, mas com que
órgãos? E se é isso, a terra sente apenas pela utilidade? A alma não pode
sentir sozinha, é preciso algo intermédio que não seja igual ao que julga
nem ao que é julgado; assim ela só pode ter sensação se estiver em
corpo, que através de seus órgãos passará a sensação à alma, porque o
corpo tem a impressão intermédia entre sensível e inteligível. A
sensação chegará à alma do que é em corpo, e por isso não é para
alguém que não seja em utilidade nem em esquecimento, ou seja, em
utilidade para a própria sobrevivência, e em esquecimento para poder
lembrar o que antes de vir a ser conhecia, conforme se diz na Politeia
de Platão, 621a. Assim, a alma do todo tem sensação através de seu
corpo, que é diáfano como olho animado de luz. Então, os astros podem
ter sensação ao voltar-se a nós, sendo nossos benfeitores, de modo que
também eles podem ter memória. Deve-se pensar também que a terra,
cuja alma é totalmente boa, é um deus, que se volta a nós para prover e
resguardar a vida de todos que nela estão, de modo a ter por ‘simpatia’
os sentidos que nós mesmos temos, mesmo prescindindo de órgãos.
Então, ela transmite a potência produtora a tudo em seu corpo, sendo
alma e inteligência, que os homens por inspiração divina denominam
respectivamente Deméter e Héstia. Sobre o irascível da nossa alma,
deve-se dizer que provém da divisão do vegetativo, que se completa
pelo concupiscível, mas não divisão de sua essência, apenas das coisas
desejáveis, porque estas provêm do mesmo princípio. Assim, como um
vestígio ou marca da alma inteligente, a vegetativa tem seus cavalos

SUMÁRIO
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atrelados, o bom e o mau, como diz Platão, no Fedro 253d; o bom é o


irascível, que obedece e é guiado pelo pudor, o mau é o concupiscível,
que não obedece e não tem pudor. A alma quando deixa o corpo, este
ainda mantém certos sinais de vida, ainda que por breve instante; nota-
se até mesmo crescimento de pelos e unhas. Então, se a vida é como a
luz que ilumina o corpo, quando ela cessa, o corpo mantém ainda seu
reflexo por algum tempo. Quando a alma inteligente se afasta, as outras
se mantêm como reflexo dela, e por isso o corpo pode manter certa
atividade. Então, a vida não morre com o corpo, porque é luz da alma
em sentido ontológico, e esta luz se apaga quando a alma se afasta. A
vida acompanha a alma, como a luz acompanha o sol.

Começa aqui o terceiro livro sobre a alma, na edição de Eustóquio.

Deve-se examinar como, ao conceder memória aos astros, estes podem


realizar algo favorável aos homens, ainda que isso não pareça justo. Que
as órbitas dos astros criam, esse mesmo cosmo é prova. Contudo, a
posição deles, que é determinante na terra, não trama para a falta de
caráter dos homens, nem para melhor ou pior sorte. Pois tudo que é no
todo sensível participa de sua alma única para todas as partes, enquanto
corpos, mas os homens têm além dessa alma sensível outra, a
inteligível, através da qual podemos contemplar a Inteligência e o
próprio Uno-Bem. Não é de se admirar que a gênese seja um processo
de destruição e diversificação (ἥ τε φθορὰ ἀλλοίωσις τε), pois para
permanecer o mesmo, o todo sensível move-se constantemente,
renovando a vida em contínua gênese. Muitos creem que a configuração
dos astros determina muitas coisas entre nós, mas na verdade não é a
configuração por si, e sim o que os configura, ou seja, a alma que cria
o cosmo ao criar cada parte em si, assim há um interagir ativo e passivo
do todo consigo mesmo, o que determina que haja harmonia dos
movimentos das partes e do todo. Tanto os astros, por sua própria
natureza e constituição, quanto suas configurações recíprocas podem
criar e significar aquilo que para nós acontece, no mundo sensível. Pois
seria absurdo pensar que qualquer coisa, por mínima que seja, animal,
vegetal ou mineral, não seja capaz de criar ou sofrer algo neste universo

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 100

que é único, conforme é dito por Platão, no Sofista, 247e. Por isso as
configurações dos astros atuam direta ou indiretamente nos afazeres
humanos, como elementos fundamentais da dança eterna, em que cada
elemento age e sofre, conforme sua disposição seja diversa. A única
ressalva que se faz é que para esses elementos não há escolha, pois esta
é única do vivente que é único. Mesmo sendo único, admirável é sua
variada multiplicidade, que não é de partes sem vida, mas cada uma tem
vida própria, ainda que não percebamos seus movimentos; de fato,
desses elementos que nos parecem imóveis advêm potências
admiráveis, que faz deste todo o que ele é realmente. E se não há
escolha, é porque ele é anterior à escolha, portanto não necessita dela
para criar. Cada potência que há no todo é atribuição de algum
elemento, que por sua vez age, não por escolha nem tendo consciência,
pois os elementos sendo parte do todo agem na natureza segundo sua
essência. Por isso, os astros não podem ter influência negativa na vida
de alguém, pois o que dão é para a vida, mas a natureza do que recebe
pode não ser capaz de aproveitar o dom oferecido, porque muitas vezes
alguém pretende coisa diversa, pensando ser vantagem e mistura esses
elementos naturais que produzem sua diversidade; assim nós mesmos
acrescentamos algo de nossa própria vontade ao dom que nos é dado. A
natureza que acolhe o dom divino não é capaz de dominá-lo, desse
modo ele se torna algo diverso na mistura com a matéria. Mas como
tudo no todo se faz por simpatia das partes, o primeiro encanto é o
próprio cosmo, com suas partes em amor e aversão, que se mudam
sempre convergindo ao uno. Assim o encantamento tem o alcance do
sensível, como alguém que se seduz por certa música sem perceber, mas
sabe que sofreu: sua parte racional não se deixa seduzir. Portanto, o que
se verifica aqui por interferência dos astros acontece porque há
elementos simpáticos uns aos outros, mesmo que sejam contrários, pois
sua origem é a mesma que a dos elementos semelhantes. No entanto,
como as partes agem e sofrem por simpatia do todo, deve-se conceder
que algo venha delas, uma vez que a arte médica e de encantamentos
podem tirar potência de uma parte para outra; e isso ocorre com ou sem
preces, pois o todo é impassível, mesmo que suas partes possam atuar
assim; sua alma é impassível. Então, como os astros, enquanto partes,

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 101

têm impressões, sua escolha permanece impassível, porque esta é do


seu elemento hegemônico, ou seja, a alma, o que lhes garante
permanecer tais como são. O homem sábio pode ser livre do que
encanta a maioria, pois a maioria se encanta pela concupiscível e pelo
irascível, ou seja, pela alma irracional, mas o racional do homem pode
livrá-lo disso, uma vez que a alma racional é isenta de encantamentos.
Até mesmo os dâimones são atraídos pelo irracional, principalmente
aqueles mais ligados às coisas daqui. A natureza dá os encantamentos
como ilusão e une uma coisa à outra através de filtros; esta é a magia
natural. Acima da magia e dos encantamentos está a contemplação,
como antídoto para o que não quer se iludir com encantamentos
mágicos. E como se faz? Isolando o que é produto da ira e do desejo,
que são provenientes da alma vegetativa; assim o homem deve
contemplar a si mesmo, sem buscar o que essas partes apresentam como
um bem, porque ele mesmo já o tem em si, daí a contemplação de si
mesmo ser isenta de encanto.

Desse modo é o todo, composto por partes que são viventes por ele ser
imensurável; cada parte concorre para a percepção do todo, assim nós
viemos a ser recebendo a contribuição de cada parte do todo, que muda
constantemente. Não é de admirar que as almas mudem de lugar a lugar
e também de caráter, pois a disposição e natureza de cada parte
contribui para isso: elas podem escolher um lugar diverso, mudando
também seu caráter, pois as punições que sofrerem serão como remédio
que se administra para que o todo seja melhor. A cada geração as almas
são reposicionadas, de forma variada e múltipla, por sua própria escolha
e para que a composição do todo seja perfeita.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 102

δʹ

Περὶ ψυχῆς ἀποριῶν δεύτερον

1. Τί οὖν ἐρεῖ; Καὶ τίνων τὴν μνήμην ἕξει ψυχὴ ἐν τῶι νοητῶι καὶ ἐπὶ
τῆς οὐσίας ἐκείνης γενομένη; Ἢ ἀκόλουθον εἰπεῖν ἐκεῖνα θεωρεῖν καὶ
περὶ ἐκεῖνα ἐνεργεῖν, ἐν οἷς ἔστιν, ἢ μηδὲ ἐκεῖ εἶναι. Τῶν οὖν ἐνταῦθα
οὐδέν, οἷον ὅτι ἐφιλοσόφησε, καὶ δὴ καὶ ὅτι ἐνταῦθα οὖσα ἐθεᾶτο τὰ
ἐκεῖ; Ἀλλ᾽ εἰ μὴ ἔστιν, ὅτε τις ἐπιβάλλει τινὶ τῆι νοήσει, ἄλλο τι ποιεῖν
ἢ νοεῖν κἀκεῖνο θεωρεῖν – καὶ ἐν τῆι νοήσει οὐκ ἔστιν ἐμπεριεχόμενον
τὸ ἐνενοήκειν, ἀλλ᾽ ὕστερον ἄν τις τοῦτ, εἰ ἔτυχεν, εἴποι, τοῦτο δὲ ἤδη
μεταβάλλοντος – οὐκ ἂν εἴη ἐν τῶι νοητῶι καθαρῶς ὄντα μνήμην ἔχειν
τῶν τῆιδέ ποτε αὐτῶι τινι γεγενημένων. Εἰ δὲ καί, ὥσπερ δοκεῖ,
ἄχρονος πᾶσα νόησις, ἐν αἰῶνι, ἀλλ᾽ οὐκ ἐν χρόνωι ὄντων τῶν ἐκεῖ,
ἀδύνατον μνήμην εἶναι ἐκεῖ οὐχ ὅτι τῶν ἐνταῦθα, ἀλλὰ καὶ ὅλως
ὁτουοῦν. Ἀλλὰ ἔστιν ἕκαστον παρόν· ἐπεὶ οὐδὲ διέξοδος οὐδὲ
μετάβασις ἀφ᾽ ἑτέρου ἐπ᾽ ἄλλο. Τί οὖν; οὐκ ἔσται διαίρεσις ἄνωθεν εἰς
εἴδη, ἢ κάτωθεν ἐπὶ τὸ καθόλου καὶ τὸ ἄνω; Τῶι μὲν γὰρ ἄνω μὴ ἔστω
ἐνεργείαι ὁμοῦ ὄντι, τῆι δὲ ψυχῆι ἐκεῖ οὔσηι διὰ τί οὐκ ἔσται; Τί οὖν
κωλύει καὶ ταύτην τὴν ἐπιβολὴν ἀθρόαν ἀθρόων γίγνεσθαι; Ἆρ᾽ οὖν ὥς
τινος ὁμοῦ; Ἢ ὡς πολλῶν ὁμοῦ πάσας νοήσεις. Τοῦ γὰρ θεάματος
ὄντος ποικίλου ποικίλην καὶ πολλὴν τὴν νόησιν ἅμα γίγνεσθαι καὶ
πολλὰς τὰς νοήσεις, οἷον αἰσθήσεις πολλὰς προσώπου ὀφθαλμῶν ἅμα
ὁρωμένων καὶ ῥινὸς καὶ τῶν ἄλλων. Ἀλλ᾽ ὅταν ἕν τι διαιρῆι καὶ
ἀναπτύσσηι; Ἢ ἐν τῶι νῶι διήιρηται· καὶ τὸ τοιοῦτον οἷον ἐναπέρεισις
μᾶλλον. Τὸ δὲ πρότερον καὶ τὸ ὕστερον ἐν τοῖς εἴδεσιν οὐ χρόνωι ὂν
οὐδὲ τὴν νόησιν τοῦ προτέρου καὶ ὑστέρου χρόνωι ποιήσει· ἔστι γὰρ
καὶ τάξει, οἱονεὶ φυτοῦ ἡ τάξις ἐκ ῥιζῶν ἀρξαμένη ἕως εἰς τὸ ἄνω τῶι
θεωμένωι οὐκ ἔχει ἄλλως ἢ τάξει τὸ πρότερον καὶ τὸ ὕστερον ἅμα τὸ
πᾶν θεωμένωι. Ἀλλ᾽ ὅταν εἰς ἓν βλέπηι, εἶτα πολλὰ καὶ πάντα ἔχηι, πῶς
τὸ μὲν πρῶτον ἔσχε, τὸ δὲ ἐφεξῆς; Ἢ ἡ δύναμις ἡ μία οὕτως ἦν μία, ὡς
πολλὰ ἐν ἄλλωι, καὶ οὐ κατὰ μίαν νόησιν πάντα. Αἱ γὰρ ἐνέργειαι [οὐ]
καθ᾽ ἕνα, ἀλλ᾽ ἀεὶ πᾶσαι δυνάμει ἑστώσηι· ἐν δὲ τοῖς ἄλλοις γινομένων.
Ἤδη γὰρ ἐκεῖνο ὡς μὴ ἓν ὂν δυνηθῆναι τὴν τῶν πολλῶν ἐν αὐτῶι φύσιν
δέξασθαι πρότερον οὐκ ὄντων.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 103

1. Que então dirá [essa alma]?91 E de quais coisas terá a lembrança uma
alma no mundo inteligível e que veio a ser naquela essência?
Certamente, é consequente dizer que ela contempla aqueles [seres
inteligíveis] e em torno deles é em atividade, nos quais é, ou que nem
ali ela é. Então, das coisas daqui de nada [se recorda]? Por exemplo,
que se dedicou à filosofia e que, sendo aqui, contemplava as coisas de
lá? Mas isso não seria possível: quando alguém se aplica a algo pelo ato
de pensar, fazer algo diverso de pensar e contemplar aquilo – e no ato
de pensar não é possível o que envolve o ‘eu tinha pensado’, mas, se for
o caso, alguém diria isso posteriormente, e isso já quando muda – não
seria possível, sendo puramente no inteligível, ter memória das coisas
daqui que lhe aconteceram alguma vez. E se é mesmo como parece,
todo ato de pensar é atemporal, na eternidade, mas, não sendo em tempo
aqueles de lá, é impossível haver memória ali, não porque é memória
das coisas daqui, mas também em geral de qualquer coisa. Mas é
possível cada coisa ser presente; pois nem há desvio nem mudança do
diferente ao diverso. Quê, então? Não haverá uma divisão do que vem
de cima às formas, ou do que vai debaixo até o que é do inteiro e
superior? De fato, ao que é superior não haja [essa divisão] em atividade
ao mesmo tempo; mas à alma, que é ali, por que não haverá? – Que,
então, impede também esse impulso acumulado vir a ser de coisas
acumuladas? Por acaso [esse impulso] é então como de algo em
conjunto? Certamente, todos atos de pensar vêm a ser de muitas coisas
em conjunto. Pois sendo variado o espetáculo, vem a ser ao mesmo
tempo variado e múltiplo o ato de pensar, e múltiplos atos de pensar são
tais que sensações múltiplas de um rosto, de olhos e nariz que são vistos
ao mesmo tempo, e de outras partes92. Mas quando [a alma] dividir e
desdobrar algo único? Certamente, isso é dividido na inteligência; e
algo desse tipo é mais como ato de apoiar. O anterior e o posterior nas
formas não sendo em tempo, ela não criará em tempo o ato de pensar
do anterior e do posterior; pois também isso é por ordem, tal como se
fosse ordem de uma planta, que começa desde as raízes até o alto, ao

91
O começo deste tratado é continuação da sétima questão do livro anterior.
92
Compreende-se o todo único a partir de suas partes.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 104

que contempla não há diversidade, senão por ordem, o anterior e o


posterior sendo ao mesmo tempo o todo para ele. Mas, quando [a alma]
olhar para o uno e depois tiver múltiplas e todas as coisas, como
primeiro tem uma coisa e em seguida outra? Certamente, a potência que
é única era de tal modo única que é múltipla em algo diverso, e todas as
coisas não são segundo um só ato de pensar. Pois as atividades [do ato
de pensar] não são segundo o uno, mas todas são sempre em potência
estabilizada; nas coisas diversas, são atos de pensar daquilo que vem a
ser. Pois assim aquilo, já não sendo único, é capaz de receber em si a
natureza de múltiplas coisas que anteriormente não havia.

2. Ἀλλὰ ταῦτα μὲν ταύτηι. Ἑαυτοῦ δὲ πῶς; Ἢ οὐδὲ ἑαυτοῦ ἕξει τὴν
μνήμην, οὐδ᾽ ὅτι αὐτὸς ὁ θεωρῶν, οἷον Σωκράτης, ἢ ὅτι νοῦς ἢ ψυχή.
Πρὸς δὴ ταῦτά τις ἀναμνησθήτω, ὡς ὅταν καὶ ἐνταῦθα θεωρῆι καὶ
μάλιστα ἐναργῶς, οὐκ ἐπιστρέφει πρὸς ἑαυτὸν τότε τῆι νοήσει, ἀλλ᾽
ἔχει μὲν ἑαυτόν, ἡ δὲ ἐνέργεια πρὸς ἐκεῖνο, κἀκεῖνο γίνεται οἷον ὕλην
ἑαυτὸν παρασχών, εἰδοποιούμενος δὲ κατὰ τὸ ὁρώμενον καὶ δυνάμει
ὢν τότε αὐτός. Τότε οὖν αὐτός τί ἐστιν ἐνεργείαι, ὅταν μηδὲν νοῆι; Ἤ,
εἰ μὲν αὐτὸς κενός ἐστι παντός, ὅταν μηδὲν νοῆι. Εἰ δέ ἐστιν αὐτὸς
τοιοῦτος οἷος πάντα εἶναι, ὅταν αὑτὸν νοῆι, πάντα ὁμοῦ νοεῖ· ὥστε τῆι
μὲν εἰς ἑαυτὸν ὁ τοιοῦτος ἐπιβολῆι καὶ ἐνεργείαι ἑαυτὸν ὁρῶν τὰ πάντα
ἐμπεριεχόμενα ἔχει, τῆι δὲ πρὸς τὰ πάντα ἐμπεριεχόμενον ἑαυτόν. Ἀλλ᾽
εἰ οὕτω ποιεῖ, μεταβάλλει τὰς νοήσεις, ὃ πρότερον αὐτοὶ οὐκ ἠξιοῦμεν.
Ἢ λεκτέον ἐπὶ μὲν τοῦ νοῦ τὸ ὡσαύτως ἔχειν, ἐπὶ δὲ τῆς ψυχῆς ἐν οἷον
ἐσχάτοις τοῦ νοητοῦ κειμένης γίνεσθαι τοῦτο δυνατὸν εἶναι, ἐπεὶ καὶ
προσχωρεῖν εἴσω; Εἰ γάρ τι περὶ τὸ μένον γίνεται, δεῖ αὐτὸ παραλλαγὴν
πρὸς τὸ μένον ἔχειν μὴ ὁμοίως μένον. Ἢ οὐδὲ μεταβολὴν λεκτέον
γίνεσθαι, ὅταν ἀπὸ τῶν ἑαυτοῦ ἐφ᾽ ἑαυτόν, καὶ ὅταν ἀφ᾽ ἑαυτοῦ ἐπὶ τὰ
ἄλλα· πάντα γὰρ αὐτός ἐστι καὶ ἄμφω ἕν. Ἀλλ᾽ ἡ ψυχὴ ἐν τῶι νοητῶι
οὖσα τοῦτο πάσχει τὸ ἄλλο καὶ ἄλλο πρὸς αὐτὴν καὶ τὰ ἐν αὐτῆι; Ἢ
καθαρῶς ἐν τῶι νοητῶι οὖσα ἔχει τὸ ἀμετάβλητον καὶ αὐτή. Καὶ γὰρ
αὐτή ἐστιν ἅ ἐστιν· ἐπεὶ καὶ ὅταν ἐν ἐκείνωι ἦι τῶι τόπωι, εἰς ἕνωσιν
ἐλθεῖν τῶι νῶι ἀνάγκη, εἴπερ ἐπεστράφη· στραφεῖσα γὰρ οὐδὲν μεταξὺ
ἔχει, εἴς τε νοῦν ἐλθοῦσα ἥρμοσται, καὶ ἁρμοσθεῖσα ἥνωται οὐκ
ἀπολλυμένη, ἀλλ᾽ ἕν ἐστιν ἄμφω καὶ δύο. Οὕτως οὖν ἔχουσα οὐκ ἂν

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 105

μεταβάλλοι, ἀλλὰ ἔχοι ἂν ἀτρέπτως πρὸς νόησιν ὁμοῦ ἔχουσα τὴν


συναίσθησιν αὐτῆς, ὡς ἓν ἅμα τῶι νοητῶι ταὐτὸν γενομένη.

2. Mas essas coisas sejam nesse ponto. E de si mesmo, como se


lembrará? Certamente, nem de si mesmo terá memória, nem que é o que
contempla, tal que Sócrates, ou que é inteligência ou alma. Em relação
a isso, alguém tenha reminiscência, como quando mesmo aqui
contemple e muitíssimo claramente, não volta a si mesmo, então, pelo
ato de pensar, mas tem a si mesmo, e sua atividade é em relação àquilo,
e ele vem a ser também aquilo, oferecendo a si mesmo como matéria, e
criando-se forma segundo o que é visto, sendo então ele mesmo em
potência. Então, sendo ele mesmo, o que é em atividade, quando nada
pense? Certamente, se é ele mesmo, é vazio de tudo, quando nada
pense. E se é ele mesmo de modo a ser todas as coisas, quando pense
em si mesmo, pensa ao mesmo tempo todas as coisas; assim esse tal,
pelo impulso a si mesmo, vendo-se em atividade, tem todas as coisas
compreendidas, e pelo impulso a todas as coisas compreende-se a si
mesmo. Mas se a alma cria assim, muda os atos de pensar, o que
anteriormente nós mesmos não avaliávamos. Ou deve-se dizer sobre a
inteligência que ela se mantém ela mesma, mas sobre a alma, que jaz
tal que nos limites do inteligível, é possível que isso venha a ser, uma
vez que ela avança para isso? Pois se algo vem a ser em torno do que
permanece, é preciso ele mesmo ter mudança em relação ao que
permanece. Ou nem se deve dizer ter vindo a ser uma mudança, quando
alguém se volta das coisas de si mesmo para si mesmo e quando de si
mesmo para coisas diversas; pois tudo é ele mesmo e ambos são um só.
Mas a alma que está no inteligível suporta isso como uma coisa e outra
diversa em relação a si mesma e às coisas que são nela? Certamente,
sendo puramente no inteligível, ela tem o imutável e é ela mesma. Pois
ela mesma é as coisas que são; uma vez que, quando seja naquele lugar,
há necessidade ir à unificação com a inteligência, se é que ela se volta
[à inteligência]; pois ela tendo-se voltado, nenhum intervalo há, e tendo
ido ela está harmonizada, e tendo-se harmonizado fica unificada não
perecendo, mas ambas são uma só coisa e duas. Assim estando, a alma
não mudaria, mas, estando de modo irrevogável para o ato de pensar,

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 106

teria em conjunto a sensação de si mesma, porque veio a ser uma só e


ao mesmo tempo a mesma coisa com o inteligível.

3. Ἐξελθοῦσα δὲ ἐκεῖθεν καὶ οὐκ ἀνασχομένη τὸ ἕν, τὸ δὲ αὐτῆς


ἀσπασαμένη καὶ ἕτερον ἐθελήσασα εἶναι καὶ οἷον προκύψασα, μνήμην,
ὡς ἔοικεν, ἐφεξῆς λαμβάνει. Μνήμη δὲ ἡ μὲν τῶν ἐκεῖ ἔτι κατέχει μὴ
πεσεῖν, ἡ δὲ τῶν ἐνταῦθα ὡδὶ φέρει, ἡ δὲ τῶν ἐν οὐρανῶι ἐκεῖ κατέχει,
καὶ ὅλως, οὗ μνημονεύει, ἐκεῖνό ἐστι καὶ γίνεται. Ἦν γὰρ τὸ
μνημονεύειν ἢ νοεῖν ἢ φαντάζεσθαι, ἡ δὲ φαντασία αὐτὴ οὐ τῶι ἔχειν,
ἀλλ᾽ οἷα ὁρᾶι, καὶ οἷα διάκειται· κἂν τὰ αἰσθητὰ ἴδηι, ὁπόσον αὐτῶν ἂν
ἴδηι, τοσοῦτον ἔχει τὸ βάθος. Ὅτι γὰρ ἔχει πάντα δευτέρως καὶ οὐχ
οὕτω τελείως, πάντα γίνεται, καὶ μεθόριον οὖσα καὶ ἐν τοιούτωι
κειμένη ἐπ᾽ ἄμφω φέρεται.

3. Tendo saído de lá e não mantendo a unidade, por ser a que se alegra


consigo mesma e a que deseja o diferente e tal que se tendo inclinado,
como parece, toma em seguida memória. A memória das coisas dali
ainda a retêm para não cair, aquela das coisas daqui a traz aqui, e aquela
das coisas do céu a retém ali, e de modo geral a alma é e vem a ser
aquilo de que lembra. Pois o lembrar era ou pensar ou fantasiar, e a
fantasia mesma é por não ter, mas ela vê tais coisas e se dispõe a tais
coisas; e quando vê as coisas sensíveis, tanto delas vê quanto tem a
profundidade. Pois, porque a alma tem todas as coisas em segundo grau
e não as tem assim perfeitamente, vem a ser todas as coisas, e sendo
confinante e jazendo em tal limite, ela é levada a ambos.

4. Ἐκεῖ μὲν οὖν καὶ τἀγαθὸν διὰ νοῦ ὁρᾶι, οὐ γὰρ στέγεται ἐκεῖνο, ὥστε μὴ
διελθεῖν εἰς αὐτήν· ἐπεὶ μὴ σῶμα τὸ μεταξὺ ὥστε ἐμποδίζειν· καίτοι καὶ
σωμάτων μεταξὺ πολλαχῆι εἰς τὰ τρίτα ἀπὸ τῶν πρώτων ἡ ἄφιξις. Εἰ δὲ πρὸς
τὰ κάτω δοίη αὑτήν, ἀναλόγως τῆι μνήμηι καὶ τῆι φαντασίαι ἔχει ὃ ἠθέλησε.
Διὸ ἡ μνήμη, καὶ ὅταν τῶν ἀρίστων ἦι, οὐκ ἄριστον. Δεῖ δὲ τὴν μνήμην
λαμβάνειν οὐ μόνον ἐν τῶι οἷον αἰσθάνεσθαι ὅτι μνημονεύει, ἀλλὰ καὶ ὅταν
διακέηται κατὰ τὰ πρόσθεν παθήματα ἢ θεάματα. Γένοιτο γὰρ ἄν, καὶ μὴ
παρακολουθοῦντα ὅτι ἔχει, ἔχειν παρ᾽ αὐτῶι ἰσχυροτέρως ἢ εἰ εἰδείη. Εἰδὼς
μὲν γὰρ τάχα ἂν ὡς ἄλλο ἔχοι ἄλλος αὐτὸς ὤν, ἀγνοῶν δὲ ὅτι ἔχει κινδυνεύει
εἶναι ὃ ἔχει· ὃ δὴ πάθημα μᾶλλον πεσεῖν ποιεῖ τὴν ψυχήν. Ἀλλ᾽ εἰ ἀφισταμένη

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 107

τοῦ ἐκεῖ τόπου ἀναφέρει τὰς μνήμας ὁπωσοῦν, εἶχε κἀκεῖ. Ἢ δυνάμει· ἡ δὲ
ἐνέργεια ἐκείνων ἠφάνιζε τὴν μνήμην. Οὐ γὰρ ὡς κείμενοι ἦσαν τύποι, ἵνα ἂν
ἦι ἴσως ἄτοπον τὸ συμβαῖνον, ἀλλ᾽ ἡ δύναμις ἦν ἡ ἀφεθεῖσα ὕστερον εἰς
ἐνέργειαν. Παυσαμένης οὖν τῆς ἐν τῶι νοητῶι ἐνεργείας, εἶδεν ἃ πρότερον ἡ
ψυχή, πρὶν ἐκεῖ γενέσθαι, ἰδοῦσα ἦν.

4. Então ali ela vê o bem pela inteligência, pois ele não se encobre de
modo a não atravessar até ela; uma vez que não há corpo intermediário
de modo a impedir; ainda que fosse por intermédio de corpos, haveria
a chegada de várias maneiras das primeiras essências para as terceiras93.
E se ela se der às coisas inferiores, em proporção à memória e à fantasia
ela tem o que desejou. Por isso a memória, mesmo quando seja das
melhores coisas, não seria o melhor. É preciso tomar a memória não só
tal como no perceber que lembra, mas também quando se disponha às
impressões ou visões de antes. Poderia acontecer, mesmo não sendo
consciente do que tem, alguém ter junto a si mais fortemente do que se
soubesse; pois esse, por saber, logo teria algo diverso, sendo ele mesmo
diverso; mas desconhecendo que tem, ele se arrisca a ser o que tem;
produto de impressão que faz a alma haver de cair mais. Mas, ao se
afastar dali daquele lugar94, recupera as memórias, [que] de qualquer
modo mesmo ali já tinha. Certamente, ela as tinha em potência; mas a
atividade daqueles inteligíveis suprimia a memória. Pois eles não
jaziam como sendo marcas, para que fosse talvez absurdo o coincidente,
mas era a potência que havia de ser enviada posteriormente à atividade.
Então, tendo cessado a atividade no mundo inteligível, a alma, tendo
visto o que era, antes de vir a ser ali, vê o que era anteriormente95.

93
No inteligível são as primeiras essências, no céu as segundas e no mundo sensível
as terceiras.
94
Do mundo inteligível.
95
A alma pela reminiscência pode ‘ver’ no mundo sensível o que viu antes no mundo
inteligível.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 108

5. Τί οὖν; Κἀκεῖνα νῦν αὐτὴ ἡ δύναμις, καθ᾽ ἣν τὸ μνημονεύειν, εἰς


ἐνέργειαν ἄγει; Ἢ εἰ μὲν μὴ αὐτὰ ἑωρῶμεν, μνήμηι, εἰ δ᾽ αὐτά, ὧι κἀκεῖ
ἑωρῶμεν. Ἐγείρεται γὰρ τοῦτο οἷς ἐγείρεται, καὶ τοῦτό ἐστι τὸ ὁρῶν
περὶ τῶν εἰρημένων. Οὐ γὰρ εἰκασίαι δεῖ χρώμενον ἀποφαίνεσθαι οὐδὲ
συλλογισμῶι τὰς ἀρχὰς ἄλλοθεν εἰληφότι, ἀλλ᾽ ἔστι περὶ τῶν νοητῶν,
ὡς λέγεται, καὶ ἐνθάδε οὖσι τῶι αὐτῶι λέγειν, ὃ δύναμιν ἔχει τἀκεῖ
θεωρεῖν. Ταὐτὸ γὰρ οἷον ἐγείραντας δεῖ ὁρᾶν τἀκεῖ, ὥστε καὶ ἐγεῖραι
ἐκεῖ· οἷον εἴ τις ἀνάγων αὐτοῦ τὸν ὀφθαλμὸν ἐπί τινος ὑψηλῆς σκοπιᾶς
ὁρώιη ἃ μηδεὶς τῶν οὐ σὺν αὐτῶι ἀναβεβηκότων. Ἡ τοίνυν μνήμη ἐκ
τοῦ λόγου φαίνεται ἄρχεσθαι ἀπ᾽ οὐρανοῦ, ἤδη τῆς ψυχῆς τοὺς ἐκεῖ
τόπους καταλειπούσης. Ἐντεῦθεν μὲν οὖν ἐν οὐρανῶι γενομένη καὶ
στᾶσα θαυμαστὸν οὐδέν, εἰ τῶν ἐνθάδε μνήμην πολλῶν ἔχοι οἵων
εἴρηται, καὶ ἐπιγινώσκειν πολλὰς τῶν πρότερον ἐγνωσμένων, εἴπερ καὶ
σώματα ἔχειν περὶ αὐτὰς ἀνάγκη ἐν σχήμασιν ὁμοίοις. Καὶ εἰ τὰ
σχήματα δὲ ἀλλάξαιντο σφαιροειδῆ ποιησάμεναι, ἆρα διὰ τῶν ἠθῶν καὶ
τῆς τῶν τρόπων ἰδιότητος γνωρίζοιεν; Οὐ γὰρ ἄτοπον. Τὰ μὲν γὰρ πάθη
ἔστωσαν ἀποθέμεναι, τὰ δ᾽ ἤθη οὐ κωλύεται μένειν. Εἰ δὲ καὶ
διαλέγεσθαι δύναιντο, καὶ οὕτως ἂν γνωρίζοιεν. Ἀλλ᾽ ὅταν ἐκ τοῦ
νοητοῦ κατέλθωσι, πῶς; Ἢ ἀνακινήσουσι τὴν μνήμην, ἐλαττόνως
μέντοι ἢ ἐκεῖναι, τῶν αὐτῶν· ἄλλα τε γὰρ ἕξουσι μνημονεύειν, καὶ
χρόνος πλείων λήθην παντελῆ πολλῶν πεποιηκὼς ἔσται. Ἀλλ᾽ εἰ
τραπεῖσαι εἰς τὸν αἰσθητὸν κόσμον εἰς γένεσιν τῆιδε πεσοῦνται, ποῖος
τρόπος ἔσται τοῦ μνημονεύειν; Ἢ οὐκ ἀνάγκη εἰς πᾶν βάθος πεσεῖν.
Ἔστι γὰρ κινηθείσας καὶ στῆναι ἐπί τι προελθούσας καὶ οὐδὲν δὲ
κωλύει πάλιν ἐκδῦναι, πρὶν γενέσεως ἐλθεῖν ἐπ᾽ ἔσχατον τόπον.

5. Que [potência era], então? Agora a mesma potência, segundo a qual


há o lembrar, conduz à atividade aqueles [inteligíveis]? Certamente, se
não os víamos, é pela memória, mas se os víamos, é pelo que era ali.
Pois isso ela se desperta com o que se desperta [em nós], e é isso o que
vê sobre as coisas ditas. Pois não é preciso se utilizar de imaginação
nem de silogismo tomado de outra parte para demonstrar os princípios,
mas é possível dizer sobre os inteligíveis por essa mesma potência,
como se diz, mesmo sendo aqui, potência que mesmo aqui tem o
‘contemplar’. Pois é preciso ver o mesmo tal que nos despertando

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 109

mesmo ali, de modo a nos despertar também aqui; como se alguém, ao


elevar seu olho sobre um alto observatório, visse as coisas que nenhum
dos que não subiram com ele [vê]. Portanto, a memória desde a razão
se mostra que começa a partir do céu, tendo já a alma deixado os lugares
dali96. Então, quando dali a alma veio a ser e se pôs no céu, nada
admirável é que ela tenha memória de muitas coisas daqui, quantas
sejam ditas, e que reconhecesse muitas almas dentre as que conheceu
antes, se é que, por necessidade, elas têm corpos em semelhantes
figuras. E se as figuras fossem mudadas, tendo-se feito esféricas, por
acaso poderiam ser reconhecidas pela particularidade dos hábitos de dos
costumes? Isso não é absurdo. Sejam as que tenham deixado as
impressões, isso não impede permanecer os hábitos. E se forem capazes
de dialogar, assim também reconheceriam. Mas, quando tenham
descido do inteligível, como seriam? Certamente reativarão a memória
das mesmas coisas, contudo em menor grau do que aquelas97; pois estas
terão outras coisas para lembrar, e o tempo completo haverá de ter feito
o esquecimento total de muitas coisas. Mas se, ao se voltar ao cosmos
sensível, hão de cair à gênese aqui, qual será o modo de lembrar?
Certamente não há necessidade de que tenham de cair ao todo profundo.
Pois é possível que, tendo-se movido e avançado, elas tenham-se fixado
em algo; e nada impede emergir de novo, antes de chegar ao último
lugar da gênese.

6. Τὰς μὲν οὖν μετιούσας καὶ μεταβαλλούσας [τὰς ψυχὰς] ἔχοι ἄν τις εἰπεῖν
ὅτι καὶ μνημονεύσουσι· τῶν γὰρ γεγενημένων καὶ παρεληλυθότων ἡ μνήμη·
αἷς δὲ ἐν τῶι αὐτῶι ὑπάρχει μένειν, τίνων ἂν αὗται μνημονεύοιεν; Ἄστρων δὲ
περὶ ψυχῆς τῶν γε ἄλλων ἁπάντων καὶ δὴ καὶ περὶ ἡλίου καὶ σελήνης ἐπιζητεῖ
ὁ λόγος τὰς μνήμας, καὶ τελευτῶν εἶσι καὶ ἐπὶ τὴν τοῦ παντὸς ψυχήν, καὶ
ἐπιτολμήσει καὶ τοῦ Διὸς αὐτοῦ τὰς μνήμας πολυπραγμονεῖν. Ταῦτα δὲ ζητῶν
καὶ τὰς διανοίας αὐτῶν καὶ τοὺς λογισμοὺς τίνες εἰσὶ θεωρήσει, εἴπερ εἰσίν.
Εἰ οὖν μήτε ζητοῦσι μήτε ἀποροῦσιν – οὐδενὸς γὰρ δέονται, οὐδὲ

96
Ou seja, os inteligíveis.
97
Aquelas que deixaram as impressões, indo em sentido contrário, do mundo sensível
ao inteligível.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 110

μανθάνουσιν, ἃ πρότερον οὐκ ἦν αὐτοῖς ἐν γνώσει – τίνες ἂν λογισμοὶ ἢ τίνες


συλλογισμοὶ αὐτοῖς γίγνοιντο ἢ διανοήσεις; Ἀλλ᾽ οὐδὲ περὶ τῶν ἀνθρωπίνων
αὐτοῖς ἐπίνοιαι καὶ μηχαναί, ἐξ ὧν διοικήσουσι τὰ ἡμέτερα ἢ ὅλως τὰ τῆς γῆς·
ἄλλος γὰρ τρόπος τῆς εἰς τὸ πᾶν παρ᾽ αὐτῶν εὐθημοσύνης.

6. As almas que passam e que mudam, alguém teria de dizer que


também elas se lembram; pois do que veio a ser e que passou é a
memória; as que têm como princípio permanecer no mesmo ponto98, de
que elas se lembrariam? E sobre as almas dos astros, de todos os outros,
além daquela do sol e da lua, a razão investiga as memórias, e
concluindo ela vai também à alma do todo, e ousará também se ocupar
das memórias do próprio Zeus. Buscando isso, examinará também os
seus pensamentos e cálculos, o que são, se é que são. Então, se nem
buscam nem têm dúvida – pois de nada necessitam, nem aprendem o
que antes não era para eles em conhecimento – que cálculos ou que
silogismos ou atos de pensar viriam a ser para eles? Mas sobre as coisas
humanas eles não têm intenções nem artifícios, desde os quais
administram as nossas ou em geral as coisas da terra; pois diverso é o
modo da ordenação da parte deles para o todo.

7. Τί οὖν; Ὅτι τὸν θεὸν εἶδον οὐ μνημονεύουσιν; Ἢ ἀεὶ ὁρῶσιν. Ἕως δ᾽ ἂν


ὁρῶσιν, οὐκ ἔνι δήπου φάναι αὐτοῖς ἑωρακέναι· παυσαμένων γὰρ τοῦτο ἂν
πάθος εἴη. Τί δέ; Οὐδ᾽ ὅτι περιῆλθον χθὲς τὴν γῆν καὶ [τὸ] πέρυσιν, οὐδ᾽ ὅτι
ἔζων χθὲς καὶ πάλαι καὶ ἐξ οὗ ζῶσιν; Ἢ ζῶσιν ἀεί· τὸ δὲ ἀεὶ ταὐτὸν ἕν. Τὸ δὲ
χθὲς τῆς φορᾶς καὶ τὸ πέρυσι τοιοῦτον ἂν εἴη, οἷον ἂν εἴ τις τὴν ὁρμὴν τὴν
κατὰ πόδα ἕνα γενομένην μερίζοι εἰς πολλά, καὶ ἄλλην καὶ ἄλλην καὶ πολλὰς
ποιοῖ τὴν μίαν. Καὶ γὰρ ἐνταῦθα μία φορά, παρὰ δὲ ἡμῖν μετροῦνται πολλαὶ
καὶ ἡμέραι ἄλλαι, ὅτι καὶ νύκτες διαλαμβάνουσιν. Ἐκεῖ δὲ μιᾶς οὔσης ἡμέρας
πῶς πολλαί; Ὥστε οὐδὲ τὸ πέρυσιν. Ἀλλὰ τὸ διάστημα οὐ ταὐτόν, ἀλλ᾽ ἄλλο,
καὶ τὸ ζωιδίου τμῆμα ἄλλο. Διὰ τί οὖν οὐκ ἐρεῖ παρῆλθον τόδε, νῦν δὲ ἐν
ἄλλωι εἰμί; Εἰ δὲ καὶ ἐφορᾶι τὰ ἀνθρώπων, πῶς οὐ καὶ τὰς μεταβολὰς τὰς περὶ

98
Segunda Questão (§6 - §16): A alma do universo e as dos astros devem se lembrar
de algo ou se limitam à contemplação?

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 111

αὐτούς, καὶ ὅτι νῦν ἄλλοι; Εἰ δὲ τοῦτο, καὶ ὅτι πρότερον ἕτεροι καὶ ἕτερα·
ὥστε καὶ μνήμη.

7. Quê, então? Eles não se lembram de que viram o deus? Certamente


sempre o veem. E enquanto o veem, certamente não há para eles dizer
‘ter visto’; pois essa seria a impressão deles cessando [de ver]. Quê?
Nem se lembram que contornaram ontem a terra e o ano passado, nem
que viviam ontem e há tempo desde que vivem? Certamente vivem
sempre, e o que é sempre é o mesmo uno; o ontem da órbita e o ano
passado seriam desse tipo, como se alguém partilhasse em múltiplos o
impulso que veio a ser um só do pé, e de um e outro impulso que é único
fizesse muitos. Pois ali uma só é a órbita, para nós são medidos muitos
e diversos dias, porque noites os distinguem. Havendo ali um só dia,
como seriam muitos? Desse modo, nem o ano passado. Mas o intervalo
não é o mesmo, mas diverso, e o recorte do zodíaco é diverso. Por que,
então, [o astro] não dirá “ultrapassei este [signo], e agora estou em
outro”? E se olha as coisas dos homens, como também não olha as
mudanças acerca deles e que eles agora são outros? E se é isso, [sabem]
que antes eles eram diferentes, e diferentes coisas; desse modo, também
é memória.

8. Ἢ οὐκ ἀνάγκη οὔτε ὅσα τις θεωρεῖ ἐν μνήμηι τίθεσθαι, οὔτε τῶν
πάντη κατὰ συμβεβηκὸς ἐπακολουθούντων ἐν φαντασίαι γίγνεσθαι, ὧν
τε ἡ νόησις καὶ ἡ γνῶσις ἐνεργεστέρα, εἰ ταῦτα αἰσθητῶς γίγνοιτο, οὐκ
ἀνάγκη παρέντα τὴν γνῶσιν αὐτῶν τῶι κατὰ μέρος αἰσθητῶι τὴν
ἐπιβολὴν ποιεῖσθαι, εἰ μή τις ἔργωι οἰκονομοῖτό τι, τῶν ἐν μέρει τῆι
γνώσει τοῦ ὅλου ἐμπεριεχομένων. Λέγω δὲ ἕκαστον ὧδε· πρῶτον μὲν
τὸ μὴ ἀναγκαῖον εἶναι, ἅ τις ὁρᾶι, παρατίθεσθαι παρ᾽ αὐτῶι. Ὅταν γὰρ
μηδὲν διαφέρηι, ἢ μὴ πρὸς αὐτὸν ἦι ὅλως ἡ αἴσθησις ἀπροαιρέτως τῆι
διαφορᾶι τῶν ὁρωμένων κινηθεῖσα, τοῦτο αὐτὴ ἔπαθε μόνη τῆς ψυχῆς
οὐ δεξαμένης εἰς τὸ εἴσω, ἅτε μήτε πρὸς χρείαν μήτε πρὸς ἄλλην
ὠφέλειαν αὐτῆς τῆς διαφορᾶς μέλον. Ὅταν δὲ καὶ ἡ ἐνέργεια αὐτὴ πρὸς
ἄλλοις ἦι καὶ παντελῶς, οὐκ ἂν ἀνάσχοιτο τῶν τοιούτων παρελθόντων
τὴν μνήμην, ὅπου μηδὲ παρόντων γινώσκει τὴν αἴσθησιν. Καὶ μὴν ὅτι
τῶν πάντη κατὰ συμβεβηκὸς γινομένων οὐκ ἀνάγκη ἐν φαντασίαι

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 112

γίνεσθαι, εἰ δὲ καὶ γίνοιτο, οὐχ ὥστε καὶ φυλάξαι καὶ παρατηρῆσαι,


ἀλλὰ καὶ ὁ τύπος τοῦ τοιούτου οὐ δίδωσι συναίσθησιν, μάθοι ἄν τις, εἰ
τὸ λεγόμενον οὕτω λάβοι. Λέγω δὲ ὧδε· εἰ μηδέποτε προηγούμενον
γίνεται τὸν ἀέρα τόνδε εἶτα τόνδε τεμεῖν ἐν τῶι κατὰ τόπον κινεῖσθαι,
ἢ καὶ ἔτι μᾶλλον διελθεῖν, οὔτ᾽ ἂν τήρησις αὐτοῦ οὔτ᾽ ἂν ἔννοια
βαδίζουσι γένοιτο. Ἐπεὶ καὶ τῆς ὁδοῦ εἰ μὴ ἐγίνετο τὸ τόδε διανύσαι
προηγούμενον, δι᾽ ἀέρος δὲ ἦν τὴν διέξοδον ποιήσασθαι, οὐκ ἂν
ἐγένετο ἡμῖν μέλειν τὸ ἐν ὅτωι σταδίωι γῆς ἐσμεν, ἢ ὅσον ἠνύσαμεν·
καὶ εἰ κινεῖσθαι δὲ ἔδει μὴ τοσόνδε χρόνον, ἀλλὰ μόνον κινεῖσθαι, μηδ᾽
ἄλλην τινὰ πρᾶξιν εἰς χρόνον ἀνήγομεν, οὐκ ἂν ἐν μνήμηι ἄλλον ἂν καὶ
ἄλλον χρόνον ἐποιησάμεθα. Γνώριμον δέ, ὅτι τῆς διανοίας ἐχούσης τὸ
πραττόμενον ὅλον καὶ πιστευούσης οὕτω πάντως πραχθήσεσθαι οὐκ ἂν
ἔτι προσέχοι γιγνομένοις ἑκάστοις. Καὶ μὴν καὶ ὅταν τις ταὐτὸν ἀεὶ
ποιῆι, μάτην ἂν ἔτι παρατηροῖ ἕκαστα τοῦ ταὐτοῦ. Εἰ οὖν τὰ ἄστρα
φερόμενα τὰ αὑτῶν πράττοντα φέρεται καὶ οὐχ ἵνα παρέλθηι ταῦτα ὅσα
παρέρχεται, καὶ τὸ ἔργον αὐτοῖς οὔτε ἡ θέα ὧν πάρεισιν, οὔτε τὸ
παρελθεῖν, κατὰ συμβεβηκός τε ἡ πάροδος, πρὸς ἄλλοις τε ἡ γνώμη
μείζοσι, τά τε αὐτὰ ἀεὶ δι᾽ ὧν διέρχονται ταῦτα, ὅ τε χρόνος οὐκ ἐν
λογισμῶι ὁ ἐν τοσῶιδε, εἰ καὶ διηιρεῖτο, οὐκ ἀνάγκη οὔτε τόπων ὧν
παρίασιν οὔτε χρόνων εἶναι μνήμην· ζωήν τε τὴν αὐτὴν ἔχοντα, ὅπου
καὶ τὸ τοπικὸν αὐτοῖς περὶ ταὐτόν, ὡς μὴ τοπικόν, ἀλλὰ ζωτικὸν τὸ
κίνημα εἶναι ζώιου ἑνὸς εἰς αὐτὸ ἐνεργοῦντος ἐν στάσει μὲν ὡς πρὸς τὸ
ἔξω, κινήσει δὲ τῆι ἐν αὐτῶι ζωῆι ἀιδίωι οὔσηι – καὶ μὴν εἰ καὶ χορείαι
ἀπεικάσειέ τις τὴν κίνησιν αὐτῶν, εἰ μὲν ἱσταμένηι ποτέ, ἡ πᾶσα ἂν εἴη
τελεία ἡ συντελεσθεῖσα ἐξ ἀρχῆς εἰς τέλος, ἀτελὴς δὲ ἡ ἐν μέρει
ἑκάστη· εἰ δὲ τοιαύτηι οἵα ἀεί, τελεία ἀεί. Εἰ δὲ ἀεὶ τελεία, οὐκ ἔχει
χρόνον ἐν ὧι τελεσθήσεται οὐδὲ τόπον· ὥστε οὐδὲ ἔφεσιν ἂν ἔχοι
οὕτως· ὥστε οὔτε χρονικῶς οὔτε τοπικῶς μετρήσει· ὥστε οὐδὲ μνήμη
τούτων. Εἰ μέντοι αὐτοὶ μὲν ζωὴν ζῶσι μακαρίαν ταῖς αὐτῶν ψυχαῖς τὸ
ζῆν προσεμβλέποντες, ταύτηι δὲ τῶν ψυχῶν αὐτῶν πρὸς ἓν [ταύτηι] τῆι
νεύσει καὶ τῆι ἐξ αὐτῶν εἰς τὸν σύμπαντα οὐρανὸν ἐλλάμψει – ὥσπερ
χορδαὶ ἐν λύραι συμπαθῶς κινηθεῖσαι μέλος ἂν ἄισειαν ἐν φυσικῆι τινι
ἁρμονίαι – εἰ οὕτω κινοῖτο ὁ σύμπας οὐρανὸς καὶ τὰ μέρη αὐτοῦ, πρὸς
αὐτὸν φερόμενος καὶ αὐτός, καὶ ἄλλα ἄλλως πρὸς τὸ αὐτὸ ἄλλης αὐτοῖς

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 113

καὶ τῆς θέσεως οὔσης, ἔτι ἂν μᾶλλον ὁ λόγος ἡμῖν ὀρθοῖτο μιᾶς ζωῆς
καὶ ὁμοίας τῆς πάντων ἔτι μᾶλλον οὔσης.

8. Certamente não há necessidade alguém pôr em memória quantas


coisas ele observa, nem pôr em fantasia quantas coisas, dentre as que,
sendo consequências totalmente incidentais, vêm a ser, mas [sim]
dentre aquelas cujos atos de pensar e conhecer são mais claros, mesmo
se vierem a ser pelos sentidos; não há necessidade criar-se um impulso
do conhecimento das [primeiras] que passa em parte pelo sentido, a
menos que alguém administre algo pelo trabalho, porque as coisas em
parte são empreendidas pelo conhecimento do inteiro. Digo cada coisa
assim: primeiro, não ser necessário pôr junto a si o que alguém vê. Pois
quando nada seja diferente, certamente a sensação não será inteiramente
para ele, porque [sua alma] se moveu de modo involuntário pela
diferença das coisas vistas, isso é apenas da alma: ela tem a impressão,
não aceitando no seu interior, enquanto isso não importe nem para
utilidade nem para outro benefício da própria diferença. E quando sua
própria atividade seja para coisas diversas e de modo total, ela não
suportaria a memória de tais coisas que passam, onde nem reconhece a
sensação das coisas presentes. E, no entanto, porque, as coisas vindo a
ser totalmente incidentais, não há necessidade vir a ser em fantasia, e se
vierem a ser, não será desse modo para guardar e conservar, mas a
marca de tal coisa não dá percepção, aprenderia alguém, se tomasse o
que é dito assim. E digo assim: se jamais acontece premeditando cortar
este ar depois aquele no mover-se de lugar, ou mais ainda atravessá-lo,
nenhuma vigilância nem reflexão disso viria a ser aos que caminham.
Uma vez que, se não acontecesse premeditar esta conclusão do
caminho, e ‘fazer o percurso’ fosse pelo ar, não aconteceria preocupar-
nos o ‘somos em qualquer posição da terra’ ou ‘quanto concluímos’; e
se ao se mover fosse preciso não ‘tanto tempo’, mas apenas ‘mover-se’,
não reconduziríamos a tempo nenhuma outra prática, não faríamos na
memória um e outro tempo. De fato, é conhecido que, a reflexão tendo
o que é praticado inteiro e confiando assim haver de praticá-lo
totalmente, ela não mais daria atenção a cada [minuto] que vem a ser.
E além disso, quando alguém faça sempre o mesmo, em vão ainda

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 114

observaria cada detalhe do mesmo. Então, se os astros são levados,


portando suas próprias práticas, não para passar por esses signos por
quantos passam, o trabalho para eles não é a contemplação dos signos
por que passam, nem o passar por eles, a passagem é incidental, e sua
atenção é para outras coisas maiores, e são sempre os mesmos signos
pelos quais eles passam, e o tempo não é em cálculo ‘em tanto tempo’,
se for mesmo dividido, não há necessidade haver memória, nem de
espaços nem de tempos pelos quais vão; eles, tendo vida própria, de
modo que o movimento local para eles é em torno do mesmo ponto,
como não sendo tópico, mas vital, de um só vivente em atividade para
si, assim sendo em repouso em relação ao exterior, e em movimento
para a vida eterna que é em si – contudo, se alguém comparasse o
movimento deles a uma dança coral, quando ela é em repouso, ela toda
seria perfeita, porque foi concluída do início ao fim, mas não concluída
é cada dança em parte; e se tal dança tem sempre tais coisas, ela é
sempre perfeita. E se eles são sempre perfeitos, não terão nem tempo
nem espaço em que haverão de ser concluídos; por um lado, nem teriam
assim aspiração, por outro, darão medida nem em tempo nem em
espaço, e por outro, nenhuma memória disso haverá. Portanto, se eles
vivem uma vida feliz olhando com suas almas o viver, é por esse aceno
de suas almas para o uno e por esse brilho desde eles para todo o céu –
como as cordas em uma lira a mover-se em sintonia comporia uma
melodia em certa harmonia natural – e se assim se move o céu em seu
conjunto e também suas partes, levando-se ele para si mesmo, e as
outras partes levando-se de modo diverso para o mesmo ponto, porque
os astros têm diversa deposição, ainda mais nossa razão seria correta,
porque a vida que é de todos é ainda mais única e semelhante.

9. Ὁ δὲ δὴ πάντα κοσμῶν Ζεὺς καὶ ἐπιτροπεύων καὶ διατιθεὶς εἰσαεί,


ψυχὴν βασιλικὴν καὶ βασιλικὸν νοῦν ἔχων καὶ πρόνοιαν, ὅπως
γίνοιτο, καὶ γινομένων ἐπιστασίαν καὶ τάξει διοικῶν καὶ περιόδους
ἑλίττων πολλὰς ἤδη καὶ τελέσας, πῶς ἂν ἐν τούτοις ἅπασι μνήμην οὐκ
ἔχοι; Ὁπόσαι τε ἐγένοντο καὶ οἷαι αἱ περίοδοι, καὶ ὡς ἂν καὶ ἔπειτα
γένοιτο, μηχανώμενος καὶ συμβάλλων καὶ λογιζόμενος
μνημονικώτατος ἂν εἴη πάντων, ὅσωι καὶ δημιουργὸς σοφώτατος. Τὸ

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 115

μὲν οὖν τῶν περιόδων τῆς μνήμης καὶ καθ᾽ αὑτὸ ἂν ἔχοι πολλὴν
ἀπορίαν, ὁπόσος ἀριθμὸς εἴη καὶ εἰ εἰδείη. Πεπερασμένος γὰρ ὢν ἀρχὴν
τῶι παντὶ χρονικὴν δώσει· εἰ δ᾽ ἄπειρος, οὐκ εἰδήσει, ὁπόσα τὰ αὐτοῦ
ἔργα. Ἢ ὅτι ἕν, εἰδήσει, καὶ μία ζωὴ ἀεὶ – οὕτως γὰρ ἄπειρος – καὶ τὸ
ἓν οὐ γνώσει ἔξωθεν, ἀλλ᾽ ἔργωι, συνόντος ἀεὶ τοῦ οὕτως ἀπείρου,
μᾶλλον δὲ παρεπομένου καὶ θεωρουμένου οὐκ ἐπακτῶι γνώσει. Ὡς γὰρ
τὸ αὐτοῦ ἄπειρον τῆς ζωῆς οἶδεν, οὕτω καὶ τὴν ἐνέργειαν τὴν εἰς τὸ πᾶν
οὖσαν μίαν, οὐχ ὅτι εἰς τὸ πᾶν.

9. Então, Zeus99 ordenando tudo, ao governar e dispor tudo para a


eternidade, porque tem alma de rei, inteligência de rei e providência,
administrando com ordem o domínio das coisas que vêm a ser, para que
venham a ser, ao fazer girar e já completar muitos períodos, como não
haveria memória em todas essas coisas? Tantos vieram a ser quanto são
os períodos, o que arranja, projeta e calcula o que assim viria a ser
depois seria o mais dotado de memória dentre todos, tanto é demiurgo
sapientíssimo. Quanto à memória dos períodos e se são segundo o
mesmo100, haveria muita aporia: quanto seria o número e se ele saberia.
Sendo esse número finito, ele dará um início cronológico ao todo; se é
infinito, não saberá quantas são suas obras. Certamente, porque é uma
só obra, ele saberá, e uma só vida sempre – pois assim é infinita – e não
conhecerá o uno de fora, mas pela obra, sendo desse modo sempre junto
o infinito, ou seja, conhecerá o uno não pelo que é importável, porque
segue junto dele e o contempla. Pois assim ele sabe que o infinito dele
é da vida, como também sabe que a atividade para o todo é uma só, não
porque é para o todo.

99
Platão, Fedro 246e: ὁ μὲν δὴ μέγας ἡγεμὼν ἐν οὐρανῷ Ζεύς, ἐλαύνων πτηνὸν ἅρμα,
πρῶτος πορεύεται (Zeus o grande guia no céu, dirigindo um carro alado, segue
primeiro ...); Filebo 30d: Οὐκοῦν ἐν μὲν τῇ τοῦ Διὸς ἐρεῖς φύσει βασιλικὴν μὲν ψυχήν,
βασιλικὸν δὲ νοῦν ἐγγίγνεσθαι διὰ τὴν τῆς αἰτίας δύναμιν, (Então dirás que na
natureza de Zeus vem a ser uma alma de rei e inteligência de rei por causa da potência
da causa ...).
100
Platão, Timeu 35a: τῆς τε ταὐτοῦ φύσεως [αὖ πέρι] καὶ τῆς τοῦ ἑτέρου (e da
natureza do mesmo e da do outro ...).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 116

10. Ἀλλ᾽ ἐπεὶ τὸ κοσμοῦν διττόν, τὸ μὲν ὡς τὸν δημιουργὸν λέγομεν,


τὸ δὲ ὡς τὴν τοῦ παντὸς ψυχήν, καὶ τὸν Δία λέγοντες ὁτὲ μὲν ὡς ἐπὶ τὸν
δημιουργὸν φερόμεθα, ὁτὲ δὲ ἐπὶ τὸ ἡγεμονοῦν τοῦ παντός. Ἐπὶ μὲν
τοῦ δημιουργοῦ ἀφαιρετέον πάντη τὸ πρόσω καὶ ὀπίσω μίαν αὐτῶι
ἄτρεπτον καὶ ἄχρονον ζωὴν διδόντας. Ἡ δὲ τοῦ κόσμου ζωὴ τὸ
ἡγούμενον ἐν αὐτῆι ἔχουσα ἔτι ἐπιζητεῖ λόγον, εἰ οὖν καὶ αὕτη μὴ ἐν
τῶι λογίζεσθαι ἔχει τὸ ζῆν, μηδ᾽ ἐν τῶι ζητεῖν ὅ τι δεῖ ποιεῖν. Ἤδη γὰρ
ἐξεύρηται καὶ τέτακται ἃ δεῖ, οὐ ταχθέντα· τὰ γὰρ ταχθέντα ἦν τὰ
γινόμενα, τὸ δὲ ποιοῦν αὐτὰ ἡ τάξις· τοῦτο δὲ ψυχῆς ἐνέργεια
ἐξηρτημένης μενούσης φρονήσεως, ἧς εἰκὼν ἡ ἐν αὐτῆι τάξις. Οὐ
τρεπομένης δὲ ἐκείνης ἀνάγκη μηδὲ ταύτην τρέπεσθαι· οὐ γὰρ ὁτὲ μὲν
βλέπει ἐκεῖ, ὁτὲ δὲ οὐ βλέπει· ἀπολειπομένη γὰρ ἂν ἀποροῖ· μία γὰρ
ψυχὴ καὶ ἓν ἔργον. Τὸ γὰρ ἡγεμονοῦν ἓν κρατοῦν ἀεί, καὶ οὐχ ὁτὲ μὲν
κρατοῦν, ὁτὲ δὲ κρατούμενον· πόθεν γὰρ τὰ πλείω, ὥστε καὶ γενέσθαι
μάχην ἢ ἀπορίαν; Καὶ τὸ διοικοῦν ἓν τὸ αὐτὸ ἀεὶ ἐθέλει· διὰ τί γὰρ ἂν
καὶ ἄλλο καὶ ἄλλο, ἵνα εἰς πλείω ἀπορῆι; Καίτοι, εἰ καὶ ἓν οὖσα
μεταβάλλοι, οὐκ ἂν ἀποροῖ· οὐ γὰρ ὅτι ἤδη πολλὰ τὸ πᾶν καὶ μέρη ἔχει
καὶ ἐναντιώσεις πρὸς τὰ μέρη, διὰ τοῦτο ἂν ἀποροῖ, ὅπως διαθεῖτο· οὐ
γὰρ ἀπὸ τῶν ἐσχάτων οὐδ᾽ ἀπὸ τῶν μερῶν ἄρχεται, ἀλλ᾽ ἀπὸ τῶν
πρώτων, καὶ ἀπὸ πρώτου ἀρξαμένη ὁδῶι ἀνεμποδίστωι ἐπὶ πάντα εἶσι
καὶ κοσμεῖ καὶ διὰ τοῦτο κρατεῖ, ὅτι ἐφ᾽ ἑνὸς ἔργου μένει τοῦ αὐτοῦ καὶ
ταὐτόν. Εἰ δ᾽ ἄλλο καὶ ἄλλο βούλοιτο, πόθεν τὸ ἄλλο; Εἶθ᾽ ὅ τι χρὴ
ποιεῖν ἀπορήσει, καὶ ἀσθενήσει τὸ ἔργον αὐτῆι εἰς ἀμφίβολον τοῦ
πράττειν ἐν λογισμοῖς ἰούσηι.

10. Mas, uma vez que o cosmo é duplo, dizemos que de um lado é o
demiurgo, e de outro, que é a alma do todo; dizendo Zeus, ora nos
referimos ao demiurgo e ora ao dirigente do todo. Sobre o demiurgo,
deve-se afastar totalmente o ‘adiante’ e o ‘de trás’, dando-lhe uma vida
imutável e atemporal. A vida do cosmo que tem o dirigente em si ainda
busca uma razão: se ela mesma tem o viver não no calcular nem no
buscar o que é preciso criar. Pois o que é preciso já está encontrado e
ordenado, não tendo sido ordenado; pois as coisas ordenadas eram as
que vinham a ser, e o que as cria é a ordem; isso é a atividade da alma
que está dependente da sensatez que permanece, cuja imagem é a ordem

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 117

nela. Não se mudando aquela, há necessidade essa não se mudar; pois


não é ora olha para lá ora não olha; pois se ela deixasse de olhar ficaria
em aporia; pois uma só é a alma, e uma só é a obra. Pois o que dirige e
governa é sempre um só, e não ora o que governa ora o que é governado;
pois de onde seria a multiplicidade, de modo a vir a ser luta ou aporia?
Um só é o que administra e quer sempre o mesmo; pois porque haveria
uma coisa e outra diversa, para que fosse em mais aporia? No entanto,
se, sendo uma só, mudasse, não seria em aporia; mas não é porque o
todo tem múltiplas coisas e partes que se opõem entre si, que por isso
ela seria em aporia, como isso seria disposto; pois não inicia a partir dos
extremos nem das partes, mas a partir dos princípios, e tendo iniciado
do princípio por via desimpedida vai a todas as coisas e adorna e por
isso governa, porque permanece igual sobre o mesmo trabalho que é um
só. Se quisesse uma coisa e outra diversa, de onde seria o diverso? E se
ficasse em aporia em que é preciso criar, a alma teria enfraquecido a
obra ao ir em cálculos a ambíguo praticar.

11. Ἔστι γὰρ ὥσπερ ἐφ᾽ ἑνὸς ζώιου ἡ διοίκησις, ἡ μέν τις ἀπὸ τῶν
ἔξωθεν καὶ μερῶν, ἡ δέ τις ἀπὸ τῶν ἔνδον καὶ τῆς ἀρχῆς, καθάπερ
ἰατρὸς μὲν ἔξωθεν ἀρχόμενος καὶ κατὰ μέρος ἄπορος πολλαχῆι καὶ
βουλεύεται, ἡ δὲ φύσις ἀπὸ τῆς ἀρχῆς ἀπροσδεὴς βουλεύσεως. Καὶ δεῖ
τοῦ παντὸς τὴν διοίκησιν καὶ τὸν διοικοῦντα ἐν τῶι ἡγεῖσθαι οὐ κατ᾽
ἰατροῦ ἕξιν εἶναι, ἀλλ᾽ ὡς ἡ φύσις. Πολὺ δὲ μᾶλλον ἐκεῖ τὸ ἁπλοῦν,
ὅσωι κατὰ πάντων ἐμπεριειλημμένων ὡς μερῶν ζώιου ἑνός. Πάσας γὰρ
τὰς φύσεις κρατεῖ μία, αἱ δὲ ἕπονται ἀνηρτημέναι καὶ ἐξηρτημέναι καὶ
οἷον ἐκφῦσαι, ὡς αἱ ἐν κλάδοις τῆι τοῦ ὅλου φυτοῦ. Τίς οὖν ὁ λογισμὸς
ἢ τίς ἀρίθμησις ἢ τίς ἡ μνήμη παρούσης ἀεὶ φρονήσεως καὶ ἐνεργούσης
καὶ κρατούσης καὶ κατὰ τὰ αὐτὰ διοικούσης; Οὐ γὰρ δὴ ὅτι ποικίλα καὶ
διάφορα τὰ γινόμενα, δεῖ συνεπόμενον ταῖς τοῦ γινομένου μεταβολαῖς
καὶ τὸ ποιοῦν ἡγεῖσθαι. Ὅσωι γὰρ ποικίλα τὰ γινόμενα, τοσούτωι τὸ
ποιοῦν ὡσαύτως μένον. Πολλὰ γὰρ καὶ ἐφ᾽ ἑνὸς ἑκάστου ζώιου τὰ
γινόμενα κατὰ φύσιν καὶ οὐχ ὁμοῦ πάντα, αἱ ἡλικίαι, αἱ ἐκφύσεις ἐν
χρόνοις, οἷον κεράτων, γενείων, μαζῶν αὐξήσεις, ἀκμαί, γενέσεις
ἄλλων, οὐ τῶν πρόσθεν λόγων ἀπολλυμένων, ἐπιγιγνομένων δὲ ἄλλων·
δῆλον δὲ ἐκ τοῦ καὶ ἐν τῶι γεννωμένωι αὖ ζώιωι τὸν αὐτὸν καὶ

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 118

σύμπαντα λόγον εἶναι. Καὶ δὴ τὴν αὐτὴν φρόνησιν ἄξιον περιθεῖναι καὶ
ταύτην καθόλου εἶναι οἷον κόσμου φρόνησιν ἑστῶσαν, πολλὴν μὲν καὶ
ποικίλην καὶ αὖ ἁπλῆν ζώιου ἑνὸς μεγίστου, οὐ τῶι πολλῶι
ἀλλοιουμένην, ἀλλὰ ἕνα λόγον καὶ ὁμοῦ πάντα· εἰ γὰρ μὴ πάντα, οὐκ
ἐκείνη, ἀλλὰ τῶν ὑστέρων καὶ μερῶν ἡ φρόνησις.

11. A administração é como sobre único vivente, uma a partir de fora e


das partes, outra a partir de dentro e do princípio, como um médico, que
começa de fora e por parte é frequentemente em dúvida e delibera, mas
a natureza é a partir do princípio, não precisando de deliberação. E é
preciso que a administração do todo e o que administra no conduzir seja
não por um médico, mas como a natureza. Ali o que é simples é muito
mais, tanto seja por todos que estão compreendidos como partes de
único vivente. Pois uma só governa todas as naturezas, e estas a seguem
estando suspensas e dependentes, tal que tendo brotado dela, como
sendo em ramos para a natureza da planta do todo. Então, que cálculo
ou que conta ou que memória haveria, sendo presente sempre a
sensatez, que é em atividade, governa e administra segundo o que é o
mesmo? Pois, porque são várias e diferentes as coisas que vêm a ser,
não é preciso considerar que o criador siga junto com as mudanças do
que vem a ser. Pois tanto são várias as coisas que vêm a ser, quanto o
criador permanece da mesma forma. Pois muitas são as coisas que vêm
a ser por natureza em cada vivente único, e não ao mesmo tempo todas:
as idades, as germinações em tempos, tais que de chifres, de barba,
aumentos de mamas, florescimentos e gêneses de outras partes, não
perecendo as razões de antes, mas vindo a ser diversas; isso é claro
desde que haja a mesma e toda razão junta no vivente que acaba de ser
gerado. Então, é digno revestir [a alma do todo] da mesma sensatez e
esta ser do inteiro tal que sensatez do cosmo que fica estável, múltipla
e vária e por sua vez simples, sendo do maior vivente único, não é
diversificada pelo múltiplo, mas é uma só razão e ao mesmo tempo
todas as coisas; pois se não fosse todas as coisas, não seria aquela, mas
seria a sensatez dos extremos e das partes.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 119

12. Ἀλλ᾽ ἴσως τὸ μὲν τοιοῦτον ἔργον φύσεως ἄν τις εἴποι, φρονήσεως
δὲ ἐν τῶι παντὶ οὔσης καὶ λογισμοὺς ἀνάγκη καὶ μνήμας εἶναι. Ἔστι δὲ
τοῦτο ἀνθρώπων τὸ φρονεῖν ἐν τῶι μὴ φρονεῖν τιθεμένων, καὶ τὸ ζητεῖν
φρονεῖν τὸ αὐτὸ τῶι φρονεῖν νενομικότων. Τὸ γὰρ λογίζεσθαι τί ἄλλο
ἂν εἴη ἢ τὸ ἐφίεσθαι εὑρεῖν φρόνησιν καὶ λόγον ἀληθῆ καὶ τυγχάνοντα
[νοῦ] τοῦ ὄντος; Ὅμοιος γὰρ ὁ λογιζόμενος κιθαρίζοντι εἰς κιθάρισιν
καὶ μελετῶντι εἰς ἕξιν καὶ ὅλως τῶι μανθάνοντι εἰς γνῶσιν. Ζητεῖ γὰρ
μαθεῖν ὁ λογιζόμενος ὅπερ ὁ ἤδη ἔχων φρόνιμος· ὥστε ἐν τῶι στάντι τὸ
φρονεῖν. Μαρτυρεῖ δὲ καὶ αὐτὸς ὁ λογισάμενος· ὅταν γὰρ εὕρηι ὃ δεῖ,
πέπαυται λογιζόμενος· καὶ ἀνεπαύσατο ἐν τῶι φρονῆσαι γενόμενος. Εἰ
μὲν οὖν κατὰ τοὺς μανθάνοντας τὸ ἡγούμενον τοῦ παντὸς τάξομεν,
λογισμοὺς ἀποδοτέον καὶ ἀπορίας καὶ μνήμας συμβάλλοντος τὰ
παρεληλυθότα τοῖς παροῦσι καὶ τοῖς μέλλουσιν. Εἰ δὲ κατὰ τὸν εἰδότα,
ἐν στάσει ὅρον ἐχούσηι νομιστέον αὐτοῦ εἶναι τὴν φρόνησιν. Εἶτα εἰ
μὲν οἶδε τὰ μέλλοντα – τὸ γὰρ μὴ εἰδέναι λέγειν ἄτοπον – διὰ τί οὐχὶ
καὶ ὅπως ἔσται οὐκ εἰδήσει; Εἰ δὲ εἰδήσει καὶ ὅπως ἔσται, τί ἔτι δεῖ τοῦ
λογίζεσθαι καὶ τοῦ τὰ παρεληλυθότα πρὸς τὰ παρόντα συμβάλλειν; Καὶ
ἡ γνῶσις δὲ τῶν μελλόντων, εἴπερ αὐτῶι συγχωρεῖται παρεῖναι, οὐ
τοιαύτη ἂν εἴη, οἵα τοῖς μάντεσι πάρεστιν, ἀλλ᾽ οἵα αὐτοῖς τοῖς ποιοῦσι
τοῖς πεπιστευκόσιν ὅτι ἔσται, τοῦτο δὲ ταὐτὸν τοῖς πάντα κυρίοις, οἷς
οὐδὲν ἀμφίβολον οὐδὲ ἀμφιγνοούμενον. Οἷς ἄρα ἄραρεν ἡ δόξα,
τούτοις παραμένει. Ἡ αὐτὴ ἄρα καὶ περὶ μελλόντων φρόνησις, οἵα καὶ
ἡ περὶ παρόντων, κατὰ τὸ ἑστάναι· τοῦτο δὲ λογισμοῦ ἔξω. Ἀλλ᾽ εἰ μὴ
οἶδε τὰ μέλλοντα, ἃ αὐτὸς ποιήσει, οὐδὲ εἰδήσει ποιήσει οὐδὲ πρός τι
βλέπων ποιήσει, ἀλλὰ τὸ ἐπελθὸν ποιήσει· τοῦτο δὲ ταὐτὸν τῶι εἰκῆι.
Μένει ἄρα καθὸ ποιήσει. Ἀλλ᾽ εἰ μένει καθὸ ποιήσει, οὐκ ἄλλως
ποιήσει, ἢ ὡς οἷον τὸ ἐν αὐτῶι παράδειγμα ἔχει. Μοναχῶς ἄρα ποιήσει
καὶ ὡσαύτως· οὐ γὰρ νῦν μὲν ἄλλως, ὕστερον δὲ ἄλλως, ἢ τί κωλύει
ἀποτυχεῖν; Εἰ δὲ τὸ ποιούμενον διαφόρως ἕξει, ἀλλ᾽ ἔσχε γε διαφόρως
οὐ παρ᾽ ἑαυτοῦ, ἀλλὰ δουλεῦον λόγοις· οὗτοι δὲ παρὰ τοῦ ποιοῦντος·
ὥστε ἠκολούθησε τοῖς ἐφεξῆς λόγοις. Ὥστε οὐδαμῆι τὸ ποιοῦν
ἀναγκάζεσθαι πλανᾶσθαι οὐδ᾽ ἀπορεῖν οὐδ᾽ ἔχειν πράγματα, ὥσπερ
τινὲς ὠιήθησαν δύσκολον εἶναι τὴν τῶν ὅλων διοίκησιν. Τὸ γὰρ ἔχειν
πράγματα ἦν, ὡς ἔοικε, τὸ ἐπιχειρεῖν ἔργοις ἀλλοτρίοις· τοῦτο δὲ ὧν μὴ
κρατεῖ. Ὧν δέ τις κρατεῖ καὶ μόνος, τίνος ἂν οὗτος δέοιτο ἢ αὐτοῦ καὶ

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 120

τῆς αὐτοῦ βουλήσεως; Τοῦτο δὲ ταὐτὸν τῆς αὐτοῦ φρονήσεως· τῶι γὰρ
τοιούτωι ἡ βούλησις φρόνησις. Οὐδενὸς ἄρα δεῖ τῶι τοιούτωι εἰς τὸ
ποιεῖν, ἐπειδὴ οὐδ᾽ ἡ φρόνησις ἀλλοτρία, ἀλλ᾽ αὐτὸς οὐδενὶ ἐπακτῶι
χρώμενος. Οὐδὲ λογισμῶι τοίνυν οὐδὲ μνήμηι· ἐπακτὰ γὰρ ταῦτα.

12. Mas talvez, alguém diria, ser tal a obra da natureza, e, sensatez
havendo no todo, há necessidade haver cálculos e memória. Isso é de
homens que põem o ‘ser sensato’ em ‘não ser sensato’, e dos que estão
habituados a ‘buscar ser sensato’ ser o mesmo que ‘ser sensato’. Pois o
raciocinar, que outra coisa seria senão desejar descobrir sensatez e razão
verdadeira, que por acaso encontra a inteligência que é? Pois o que
raciocina é semelhante ao que toca uma cítara, exercitando-se no ato de
tocar para ter posse dele, e que em geral é aprendiz desse conhecimento.
O que raciocina busca aprender o que o sensato já tem; assim o ‘ser
sensato’ é em ser estável; o mesmo que raciocina é prova: quando
descobre o que precisa, cessou de raciocinar; pois firmou-se em ‘ser
sensato’, porque veio a ser sensato. Então, se ordenarmos segundo os
que aprendem o dirigente do todo, devem-se lhe atribuir cálculos,
aporias e memórias, comparando-se as coisas passadas com as
presentes e futuras. Mas se o ordenarmos segundo o que sabe, sendo em
estabilidade que tem limite, deve-se considerar que é dele a sensatez.
Depois, se ele sabe o futuro – pois seria absurdo dizer que não sabe –
por que também não saberá como será? E se também saberá como será,
por que ainda é preciso calcular e comparar o passado com o presente?
E o conhecimento do futuro, se é que há acordo ser presente para ele,
não seria tal como é presente para os adivinhos, mas seria tal para os
mesmos que criam, que estão confiantes que será, e isso é igual para os
senhores de tudo, para os quais nada é ambíguo nem incerto. Então, ao
que a opinião se ajusta, nisso permanece. Portanto, a mesma sensatez
sobre as coisas futuras, tal que sobre as presentes, é segundo o que é
estável; e isso é fora de raciocínio. Mas se o dirigente do todo não
soubesse o futuro, que ele mesmo criará, não saberia [o que] criará,

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 121

olhando para algum [paradigma101], mas criará o que ocorrer; isso é o


mesmo que ‘falar sem propósito102’. Mas se ele permanece segundo o
que criará, não criará diversamente do que tem em si, tal que paradigma.
Portanto, criará de modo único e igual; não agora de um modo, depois
de outro, ou o que impede falhar? Mas se o que é criado for de modo
diverso, mas é de modo diverso não de si mesmo, mas sujeitando-se às
razões; e essas são da parte do que cria; assim o que é criado segue as
razões em sequência. Assim, de nenhum modo o criador precisa hesitar,
nem ser em aporia, nem manter as coisas feitas, como alguns103 acharam
que seria fastidiosa a administração dos inteiros. Pois manter as coisas
feitas era, ao que parece, empreender com trabalhos estranhos, isto é,
dos que não domina. E aquilo que alguém domina sendo único, de que
esse necessitaria, senão de si mesmo e de sua própria vontade? Isso é o
mesmo que a sensatez dele mesmo; para esse tal a vontade é sensatez.
Portanto, nada é preciso a esse tal para criar, uma vez que nem a
sensatez lhe é estranha, mas ele mesmo se serve de nada importável.
Portanto nem se serve de cálculo nem de memória, pois essas coisas são
importáveis.

13. Ἀλλὰ τί διοίσει τῆς λεγομένης φύσεως ἡ τοιαύτη φρόνησις; Ἢ ὅτι


ἡ μὲν φρόνησις πρῶτον, ἡ δὲ φύσις ἔσχατον· ἴνδαλμα γὰρ φρονήσεως
ἡ φύσις καὶ ψυχῆς ἔσχατον ὂν ἔσχατον καὶ τὸν ἐν αὐτῆι ἐλλαμπόμενον
λόγον ἔχει, οἷον εἰ ἐν κηρῶι βαθεῖ διικνοῖτο εἰς ἔσχατον ἐπὶ θάτερα ἐν
τῆι ἐπιφανείαι τύπος, ἐναργοῦς μὲν ὄντος τοῦ ἄνω, ἴχνους δὲ ἀσθενοῦς
ὄντος τοῦ κάτω. Ὅθεν οὐδὲ οἶδε, μόνον δὲ ποιεῖ· ὃ γὰρ ἔχει τῶι ἐφεξῆς

101
Platão, Timeu 29a: ὅτου μὲν οὖν ἂν ὁ δημιουργὸς πρὸς τὸ κατὰ ταὐτὰ ἔχον βλέπων
ἀεί, τοιούτῳ τινὶ προσχρώμενος παραδείγματι, τὴν ἰδέαν καὶ δύναμιν αὐτοῦ
ἀπεργάζηται, καλὸν ἐξ ἀνάγκης οὕτως ἀποτελεῖσθαι πᾶν (o artífice do que quer que
seja, ao olhar para o que é sempre um só e o mesmo, servindo-se de algum paradigma
desse tipo, forja a ideia e a potência disso mesmo, assim por necessidade o realiza
todo belo).
102
Platão, Timeu 34c: ἀλλά πως ἡμεῖς πολὺ μετέχοντες τοῦ προστυχόντος τε καὶ εἰκῇ
ταύτῃ πῃ καὶ λέγομεν (mas como nós participamos muito do que é casual também
falamos desse modo sem propósito).
103
Referência a Epicuro.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 122

διδοῦσα ἀπροαιρέτως, τὴν δόσιν τῶι σωματικῶι καὶ ὑλικῶι ποίησιν


ἔχει, οἷον καὶ τὸ θερμανθὲν τῶι ἐφεξῆς ἁψαμένωι δέδωκε τὸ αὐτοῦ
εἶδος, θερμὸν ἐλλαττόνως ποιῆσαν. Διὰ τοῦτό τοι ἡ φύσις οὐδὲ
φαντασίαν ἔχει· ἡ δὲ νόησις φαντασίας κρεῖττον· φαντασία δὲ μεταξὺ
φύσεως τύπου καὶ νοήσεως. Ἡ μέν γε οὐθενὸς ἀντίληψιν οὐδὲ σύνεσιν
ἔχει, ἡ δὲ φαντασία σύνεσιν ἐπακτοῦ· δίδωσι γὰρ τῶι φαντασθέντι
εἰδέναι ἃ ἔπαθεν· ἡ δὲ γέννα αὐτὴ καὶ ἐνέργεια ἐξ αὐτοῦ τοῦ
ἐνεργήσαντος. Νοῦς μὲν οὖν ἔχει, ψυχὴ δὲ ἡ τοῦ παντὸς ἐκομίσατο εἰς
ἀεὶ καὶ ἐκεκόμιστο, καὶ τοῦτό ἐστιν αὐτῆι τὸ ζῆν, καὶ τὸ φαινόμενον
ἀεὶ σύνεσις νοούσης· τὸ δὲ ἐξ αὐτῆς ἐμφαντασθὲν εἰς ὕλην φύσις, ἐν ἧι
ἵσταται τὰ ὄντα, ἢ καὶ πρὸ τούτου, καὶ ἔστιν ἔσχατα ταῦτα τοῦ νοητοῦ·
ἤδη γὰρ τὸ ἐντεῦθεν τὰ μιμήματα. Ἀλλ᾽ ἡ φύσις εἰς αὐτὴν ποιοῦσα καὶ
πάσχουσα, ἐκείνη δὲ ἡ πρὸ αὐτῆς καὶ πλησίον αὐτῆς ποιοῦσα οὐ
πάσχει, ἡ δ᾽ ἔτι ἄνωθεν εἰς σώματα ἢ εἰς ὕλην οὐ ποιεῖ.

13. Mas por que a tal sensatez diferirá da que se diz natureza?
Certamente é porque a sensatez vem primeiro, e a natureza por último;
pois a natureza é uma visão da sensatez, visão que, sendo extrema da
alma, tem por último a razão que se ilumina nela, tal que se uma marca
em cera profunda chegasse ao extremo do outro lado em evidência,
sendo claro o traço superior, e fraco o inferior. Daí a natureza não sabe,
apenas cria; dando o que tem ao seguinte de modo involuntário, tem a
criação como doação ao corpóreo e ao material, tal como o que foi
aquecido deu ao que foi tocado em sequência a mesma forma, fazendo-
o quente em menor grau. Por isso a natureza não tem fantasia; o ato de
pensar é superior à fantasia; e fantasia é intervalo da marca da natureza
e do ato de pensar. De coisa nenhuma a natureza tem recepção e
compreensão, mas a fantasia tem compreensão do que é importável;
pois dá ao que teve a fantasia saber o que sofreu; e ela mesma é geração
e é atividade desde o mesmo que a pôs em atividade. A inteligência tem
[os inteligíveis], e a alma do todo os recebe sempre e já os tinha
recebido, isso é o viver para ela, e o que se manifesta sempre é
compreensão dela pensante; e aquilo que desde ela teve a fantasia em
matéria é natureza, em que estão as coisas que são, ou ainda antes disso,
essas também são as últimas coisas do mundo inteligível; pois a partir

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 123

daí já são as imitações. Mas é a natureza que cria na mesma matéria e


sofre, e aquela [Alma] que é antes dessa e perto dessa cria e não sofre,
e aquela [Inteligência] ainda mais acima não cria em corpos ou em
matéria.

14. Τὰ δὲ σώματα ὑπὸ φύσεως λεγόμενα γίγνεσθαι τὰ μὲν στοιχεῖα αὐτὸ


τοῦτο τὰ σώματα, τὰ δὲ ζῶια καὶ τὰ φυτὰ ἆρα οὕτως, ὥστε τὴν φύσιν
οἷον παρακειμένην ἐν αὐτοῖς ἔχειν; Οἷον ἐπὶ φωτὸς ἔχει· ἀπελθόντος
οὐδὲν ὁ ἀὴρ αὐτοῦ ἔχει, ἀλλ᾽ ἔστιν οἷον χωρὶς τὸ φῶς, χωρὶς δὲ ὁ ἀὴρ
οἷον οὐ κιρνάμενος· ἢ οἷον ἐπὶ τοῦ πυρὸς καὶ τοῦ θερμανθέντος, οὗ
ἀπελθόντος μένει τις θερμότης ἑτέρα οὖσα παρὰ τὴν οὖσαν ἐν τῶι πυρί,
πάθος τι τοῦ θερμανθέντος. Τὴν μὲν γὰρ μορφήν, ἣν δίδωσι τῶι
πλασθέντι, ἕτερον εἶδος θετέον παρ᾽ αὐτὴν τὴν φύσιν. Εἰ δέ τι ἄλλο
παρὰ τοῦτο ἔχει, ὅ ἐστιν οἷον μεταξὺ τούτου καὶ αὐτῆς τῆς φύσεως,
ζητητέον. Καὶ ἥτις μὲν διαφορὰ φύσεως καὶ τῆς εἰρημένης ἐν τῶι παντὶ
φρονήσεως, εἴρηται.

14. Os corpos são ditos que vêm a ser pela natureza, e os elementos são
por isso mesmo os corpos, os animais e as plantas, por acaso, são ditos
de modo a ter a natureza que jaz neles mesmos? Tal como se diz que o
ar é na luz; que tendo partido, o ar nada tem dela, mas a luz é tal que
em separado, e em separado o ar é tal que não se tendo misturado;
certamente é tal que no fogo e no que foi esquentado, do qual o fogo
afastando-se permanece uma quentura que é diferente da que é no fogo,
uma certa impressão do que foi esquentado. Pois a figura, que a
natureza dá ao que foi plasmado, deve-se pôr como forma diferente da
mesma natureza. E se há algo diverso disso, que é tal que intermédio
dessa figura e da própria natureza, deve-se buscar. E qual é a diferença
da natureza e da sensatez que é dita no todo, isso está dito.

15. Ἐκεῖνο δὲ ἄπορον πρὸς [τὰ νῦν] ἅπαντα τὰ [νῦν] εἰρημένα· εἰ γὰρ
αἰὼν μὲν περὶ νοῦν, χρόνος δὲ περὶ ψυχήν – ἔχειν γάρ φαμεν τῆι
ὑποστάσει τὸν χρόνον περὶ τὴν τῆς ψυχῆς ἐνέργειαν καὶ ἐξ ἐκείνης –
πῶς οὐ, μεριζομένου τοῦ χρόνου καὶ τὸ παρεληλυθὸς ἔχοντος,
μερίζοιτο ἂν καὶ ἡ ἐνέργεια, καὶ πρὸς τὸ παρεληλυθὸς ἐπιστρέφουσα

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 124

ποιήσει καὶ ἐν τῆι τοῦ παντὸς ψυχῆι τὴν μνήμην; Καὶ γὰρ αὖ ἐν μὲν τῶι
αἰῶνι τὴν ταυτότητα, ἐν δὲ τῶι χρόνωι τὴν ἑτερότητα τίθεσθαι, ἢ ταὐτὸν
αἰὼν ἔσται καὶ χρόνος, εἰ καὶ ταῖς τῆς ψυχῆς ἐνεργείαις τὸ μεταβάλλειν
οὐ δώσομεν. Ἆρ᾽ οὖν τὰς μὲν ἡμετέρας ψυχὰς μεταβολὴν δεχομένας
τήν τε ἄλλην καὶ τὴν ἔνδειαν οἷα ἐν χρόνωι φήσομεν εἶναι, τὴν δὲ τοῦ
ὅλου γεννᾶν μὲν χρόνον, οὐ μὴν ἐν χρόνωι εἶναι; Ἀλλ᾽ ἔστω μὴ ἐν
χρόνωι· τί ἐστιν, ὃ ποιεῖ γεννᾶν αὐτὴν χρόνον, ἀλλὰ μὴ αἰῶνα; Ἢ ὅτι,
ἃ γεννᾶι, οὐκ ἀίδια, ἀλλὰ περιεχόμενα χρόνωι· ἐπεὶ οὐδ᾽ αἱ ψυχαὶ ἐν
χρόνωι, ἀλλὰ τὰ πάθη αὐτῶν ἅττα ἐστὶ καὶ τὰ ποιήματα. Ἀίδιοι γὰρ αἱ
ψυχαί, καὶ ὁ χρόνος ὕστερος, καὶ τὸ ἐν χρόνωι ἔλαττον χρόνου·
περιέχειν γὰρ δεῖ τὸν χρόνον τὸ ἐν χρόνωι, ὥσπερ, φησί, τὸ ἐν τόπωι
καὶ ἐν ἀριθμῶι.

15. Aquela dificuldade é em relação a todas as coisas que foram agora


ditas; pois se a eternidade reveste a inteligência, e o tempo, a alma –
pois dizemos que o tempo, nesta hipóstase, reveste a atividade da alma
e é desde ela – o tempo sendo partilhado e contendo o passado, como
não seria partilhada também a atividade da alma, que, ao voltar-se para
o passado, criará a memória também na alma do todo? E por sua vez
dizemos que na eternidade se põe a identidade, e no tempo, a alteridade,
ou o mesmo será identidade e tempo, se não dermos às atividades da
alma o ‘mudar’. Por acaso diremos que as nossas almas, ao aceitar
mudança e a diversidade e a necessidade, ser tais que em tempo, e a do
inteiro, que gera o tempo, não ser em tempo? Mas seja esta não em
tempo; o que é ‘ela gerar tempo’ como o que cria, mas não ‘gerar
eternidade’? Certamente é porque as coisas que ela gera não são eternas,
mas coisas que se revestem de tempo; uma vez que as almas não são
em tempo, mas o são algumas de suas impressões e produtos da criação.
Pois as almas são eternas, e o tempo é posterior, e o que é em tempo é
menor do que o tempo; pois é preciso o tempo revestir o que é em

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 125

tempo, como diz Platão104, o tempo reveste o que é em espaço e o que


é em número.

16. Ἀλλ᾽ εἰ ἐν αὐτῆι τόδε μετὰ τόδε καὶ τὸ πρότερον καὶ τὸ ὕστερον
τῶν ποιουμένων, κἂν εἰ ἐν χρόνωι, αὐτὴ ποιεῖ, καὶ νεύει καὶ πρὸς τὸ
μέλλον· εἰ δὲ τοῦτο, καὶ πρὸς τὸ παρεληλυθός. Ἢ ἐν τοῖς ποιουμένοις
τὸ πρότερον καὶ παρεληλυθός, ἐν αὐτῆι δὲ οὐδὲν παρεληλυθός, ἀλλὰ
πάντες οἱ λόγοι ἅμα, ὥσπερ εἴρηται. Ἐν δὲ τοῖς ποιουμένοις τὸ οὐχ ἅμα,
ἐπεὶ οὐδὲ τὸ ὁμοῦ, καίτοι ἐν τοῖς λόγοις τὸ ὁμοῦ, οἷον χεῖρες καὶ πόδες
οἱ ἐν λόγωι· ἐν δὲ τοῖς αἰσθητοῖς χωρίς. Καίτοι κἀκεῖ ἄλλον τρόπον τὸ
χωρίς· ὥστε καὶ τὸ πρότερον ἄλλον τρόπον. Ἢ τὸ μὲν χωρὶς εἴποι ἄν
τις ἑτερότητι· τὸ δὲ πρότερον πῶς, εἰ μὴ ἐπιστατοῖ τὸ τάττον;
Ἐπιστατοῦν δὲ ἐρεῖ τὸ τόδε μετὰ τόδε· διὰ τί γὰρ οὐχ ἅμα πάντα ἔσται;
Ἢ εἰ μὲν ἄλλο τὸ τάττον καὶ ἡ τάξις, οὕτως ὡς οἷον λέγειν· εἰ δὲ τὸ
ἐπιστατοῦν ἡ πρώτη τάξις, οὐκέτι λέγει, ἀλλὰ ποιεῖ μόνον τόδε μετὰ
τόδε. Εἰ γὰρ λέγει, εἰς τάξιν βλέπων λέγει· ὥστε ἕτερον τῆς τάξεως
ἔσται. Πῶς οὖν ταὐτόν; Ὅτι μὴ ὕλη καὶ εἶδος τὸ τάττον, ἀλλ᾽ εἶδος
μόνον καὶ δύναμις, καὶ ἐνέργεια δευτέρα μετὰ νοῦν ἐστι ψυχή· τὸ δὲ
τόδε μετὰ τόδε ἐν τοῖς πράγμασιν οὐ δυναμένοις ἅμα πάντα. Σεμνὸν
γάρ τι καὶ ἡ ψυχὴ ἡ τοιαύτη, οἷον κύκλος προσαρμόττων κέντρωι εὐθὺς
μετὰ κέντρον αὐξηθείς, διάστημα ἀδιάστατον· οὕτω γὰρ ἔχει ἕκαστα.
Εἰ δὲ τἀγαθόν τις κατὰ κέντρον τάξειε, τὸν νοῦν κατὰ κύκλον ἀκίνητον,
ψυχὴν δὲ κατὰ κύκλον κινούμενον ἂν τάξειε, κινούμενον δὲ τῆι ἐφέσει.
Νοῦς γὰρ εὐθὺς καὶ ἔχει καὶ περιείληφεν, ἡ δὲ ψυχὴ τοῦ ἐπέκεινα ὄντος
ἐφίεται. Ἡ δὲ τοῦ παντὸς σφαῖρα τὴν ψυχὴν ἐκείνως ἐφιεμένην ἔχουσα
ἧι πέφυκεν ἐφίεσθαι κινεῖται. Πέφυκε δὲ ἧι σῶμα τοῦ οὗ ἐστιν ἔξω
ἐφίεσθαι· τοῦτο δὲ περιπτύξασθαι καὶ περιελθεῖν πάντη ἑαυτῶι. Καὶ
κύκλωι ἄρα.

16. Mas se na alma há isto depois daquilo e o anterior e o posterior das


coisas criadas, e se for em tempo, ela mesma cria e tende para o que há
de vir; e se é isso, também para o que passou. Certamente, nas coisas

104
Enéada III 7.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 126

que são criadas há o antes e o passado, e nela nenhum passado há, mas
todas as razões são ao mesmo tempo, como está dito105. Nas coisas
criadas não há o ‘ao mesmo tempo’, uma vez que nem há o ‘em
conjunto’, embora haja nas razões o ‘em conjunto’ tais que mãos e pés
que são em razão; e nos sensíveis são em separado. Entretanto, mesmo
ali o ‘em separado’ é de modo diverso; assim também o ‘anterior’ é de
modo diverso. Certamente, alguém diria o ‘em separado’ pela
alteridade; e o ‘anterior’ como alguém diria, se o que ordena não
mandar? O que manda dirá isto depois daquilo; pois por que não serão
todas as coisas ao mesmo tempo? Certamente, se é diverso o que ordena
e a ordem, de modo a assim ele a dizer; e se o que manda é a primeira
ordem, não mais diz, mas cria apenas isto depois daquilo. Pois se diz,
diz olhando para a ordem; assim será diferente da ordem. Como seria
igual? Porque não é matéria e forma o que ordena, mas apenas forma e
potência, e a alma é atividade segunda depois da inteligência; e o ‘isto
depois daquilo’ é nas práticas que não podem ser todas ao mesmo
tempo. Pois tal alma é algo venerável, tal que um círculo que se
harmoniza direto com um centro, que, tendo sido aumentado além do
centro, sua extensão é inextensível; pois assim a alma tem cada coisa.
Se alguém ordenar o Bem no centro, a Inteligência no círculo imóvel,
ordenará a alma no círculo que se move, e se move pelo desejo. Pois a
Inteligência é direta e tem o Bem e o envolveu, e a Alma deseja o que
é além [da Inteligência]. A esfera do todo que contém daquele modo a
alma que deseja se move por onde é natural desejar. Por onde é natural
o corpo desejar o que é fora dele; e isso é envolver e conter totalmente
a si mesmo. E, portanto, em círculo.

17. Ἀλλὰ πῶς οὐ καὶ ἐν ἡμῖν οὕτως αἱ νοήσεις αἱ τῆς ψυχῆς καὶ οἱ λόγοι,
ἀλλ᾽ ἐνταῦθα ἐν χρόνωι καὶ τὸ ὕστερον καὶ αἱ ζητήσεις ὡδί; Ἆρ᾽ ὅτι
πολλὰ ἃ ἄρχει καὶ κινεῖται, καὶ οὐχ ἓν κρατεῖ; Ἢ καὶ ὅτι ἄλλο καὶ ἄλλο
πρὸς τὴν χρείαν καὶ πρὸς τὸ παρὸν οὐχ ὡρισμένον ἐν αὐτῶι, ἀλλὰ πρὸς
τὸ ἄλλο ἀεὶ καὶ ἄλλο ἔξω· ὅθεν ἄλλο τὸ βούλευμα καὶ πρὸς καιρόν, ὅτε

105
Capítulo 11.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 127

ἡ χρεία πάρεστι καὶ συμβέβηκεν ἔξωθεν τουτί, εἶτα τουτί. Καὶ γὰρ τῶι
πολλὰ ἄρχειν ἀνάγκη πολλὰς καὶ τὰς φαντασίας εἶναι καὶ ἐπικτήτους
καὶ καινὰς ἄλλου ἄλλωι καὶ ἐμποδίους τοῖς αὐτοῦ ἑκάστου κινήμασι
καὶ ἐνεργήμασιν. Ὅταν γὰρ τὸ ἐπιθυμητικὸν κινηθῆι, ἦλθεν ἡ φαντασία
τούτου οἷον αἴσθησις ἀπαγγελτικὴ καὶ μηνυτικὴ τοῦ πάθους ἀπαιτοῦσα
συνέπεσθαι καὶ ἐκπορίζειν τὸ ἐπιθυμούμενον· τὸ δὲ ἐξ ἀνάγκης ἐν
ἀπόρωι συνεπόμενον καὶ πορίζον ἢ καὶ ἀντιτεῖνον γίνεται. Καὶ ὁ θυμὸς
δὲ εἰς ἄμυναν παρακαλῶν τὰ αὐτὰ ποιεῖ κινηθείς, καὶ αἱ τοῦ σώματος
χρεῖαι καὶ τὰ πάθη ἄλλα ποιεῖ καὶ ἄλλα δοξάζειν· καὶ ἡ ἄγνοια δὲ τῶν
ἀγαθῶν, καὶ τὸ μὴ ἔχειν ὅ τι εἴπηι πάντη ἀγομένη, καὶ ἐκ τοῦ μίγματος
τούτων ἄλλα. Ἀλλ᾽ εἰ καὶ τὸ βέλτιστον αὐτὸ ἄλλα δοξάζει; Ἢ τοῦ
κοινοῦ ἡ ἀπορία καὶ ἡ ἀλλοδοξία· ἐκ δὲ τοῦ βελτίστου ὁ λόγος ὁ ὀρθὸς
εἰς τὸ κοινὸν δοθεὶς τῶι [ἀσθενὴς] εἶναι ἐν τῶι μίγματι, οὐ τῆι αὐτοῦ
φύσει ἀσθενής, ἀλλ᾽ οἷον ἐν πολλῶι θορύβωι ἐκκλησίας ὁ ἄριστος τῶν
συμβούλων εἰπὼν οὐ κρατεῖ, ἀλλ᾽ οἱ χείρονες τῶν θορυβούντων καὶ
βοώντων, ὁ δὲ κάθηται ἡσυχῆι οὐδὲν δυνηθείς, ἡττηθεὶς δὲ τῶι θορύβωι
τῶν χειρόνων. Καὶ ἔστιν ἐν μὲν τῶι φαυλοτάτωι ἀνδρὶ τὸ κοινὸν καὶ ἐκ
πάντων ὁ ἄνθρωπος κατὰ πολιτείαν τινὰ φαύλην· ἐν δὲ τῶι μέσωι, [ὡς]
ἐν ἧι πόλει κἂν χρηστόν τι κρατήσειε δημοτικῆς πολιτείας οὐκ ἀκράτου
οὔσης· ἐν δὲ τῶι βελτίονι ἀριστοκρατικὸν τὸ τῆς ζωῆς φεύγοντος ἤδη
τὸ κοινὸν τοῦ ἀνθρώπου καὶ τοῖς ἀμείνοσι διδόντος· ἐν δὲ τῶι ἀρίστωι,
τῶι χωρίζοντι, ἓν τὸ ἄρχον, καὶ παρὰ τούτου εἰς τὰ ἄλλα ἡ τάξις· οἷον
διττῆς πόλεως οὔσης, τῆς μὲν ἄνω, τῆς δὲ τῶν κάτω, κατὰ τὰ ἄνω
κοσμουμένης. Ἀλλ᾽ ὅτι γε ἐν τῆι τοῦ παντὸς ψυχῆι τὸ ἓν καὶ ταὐτὸν καὶ
ὁμοίως, ἐν δὲ τοῖς ἄλλοις ἄλλως, καὶ δι᾽ ἅ, εἴρηται. Ταῦτα μὲν οὖν
ταύτηι.

17. Mas como assim não são em nós os atos de pensar e as razões que
são da alma, mas aqui são em tempo, e deste modo há o posterior e as
buscas106? Por acaso é porque há muitas coisas que [nossa alma] inicia
e movimenta, e não uma só domina? Certamente, é também porque há
uma e outra coisa diversa que não está definida neste [princípio

106
Terceira Questão: diferença entre a alma universal e as outras (§17-39).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 128

dominante] para a utilidade e para o presente, mas ele é sempre para o


diverso, e diverso é exterior; daí a decisão ser diversa e pela ocasião,
quando a utilidade é presente e incidiu ali, depois acolá. Pois também
por iniciar muitas coisas, há necessidade também haver muitas
fantasias, tanto adquiríveis quanto variáveis de uma a outra decisão,
impedimentos para o produto de movimentos e de atividades de cada
decisão [desse princípio dominante]. Pois quando o desejável se move,
vem a fantasia disso como uma sensação, que refere e declara a
impressão, exigindo que se consiga e forneça o que é desejado. E nisso
esse princípio dominante vem a ser necessariamente em dúvida, se
consegue e fornece, ou mesmo se resiste. E o irascível, ao exortar para
defesa, tendo-se movido cria o sentimento de vingança, e as
necessidades do corpo cria impressões diversas, tendo opiniões
diversas. Também há a ignorância do que são bens, e não ter o que dizer
quando a alma é conduzida a toda parte, e da mistura dessas coisas há
outras diversas. E se também o que é o melhor da alma tiver opinião
diversa? Certamente, do comum [à alma e ao corpo] é a aporia e a
diversidade de opinião; a razão correta do que é o melhor, tendo sido
dada ao comum por ser fraca na mistura, não por ser fraca por sua
natureza, tal que em muita confusão de assembleia o melhor dos
conselhos ao falar não domina, mas os piores, dos que causam confusão
e gritam, [dominam], e aquele fica sentado em silêncio nada podendo,
tendo sido vencido pela confusão dos piores. E é o comum [que
governa] no varão mais fraco, e por causa disso tudo o homem é
segundo uma constituição fraca; no varão que é médio, é como na
cidade em que dominasse algo útil, a constituição pública não deixando
de ser misturada; no varão melhor, aristocrático é o modo de vida,
porque o homem já evita o comum, e se dá às melhores coisas; no ótimo,
que separa [o comum], um só é o que governa, e a ordem é junto desse
para todas as coisas; tal como sendo dupla a cidade, a superior e aquela
das coisas inferiores, que é ordenada segundo as coisas superiores. Mas
que na alma do todo é o uno e o mesmo que dominam de modo
semelhante, e nos outros conjuntos comuns é de modo diverso e pelo
que dominam, está dito. Então essas coisas são nesse ponto.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 129

18. Περὶ δὲ τοῦ εἰ ἐφ᾽ ἑαυτοῦ τι ἔχει τὸ σῶμα καὶ παρούσης ζῆι τῆς
ψυχῆς ἔχον ἤδη τι ἴδιον, ἢ ὃ ἔχει ἡ φύσις ἐστί, καὶ τοῦτό ἐστι τὸ
προσομιλοῦν τῶι σώματι ἡ φύσις. Ἢ καὶ αὐτὸ τὸ σῶμα, ἐν ὧι καὶ ψυχὴ
καὶ φύσις, οὐ τοιοῦτον εἶναι δεῖ, οἷον τὸ ἄψυχον καὶ οἷον ὁ ἀὴρ ὁ
πεφωτισμένος, ἀλλ᾽ οἷον ὁ τεθερμασμένος, καὶ ἔστι τὸ σῶμα τοῦ ζώιου
καὶ τοῦ φυτοῦ δὲ οἷον σκιὰν ψυχῆς ἔχοντα, καὶ τὸ ἀλγεῖν καὶ τὸ ἥδεσθαι
δὲ τὰς τοῦ σώματος ἡδονὰς περὶ τὸ τοιόνδε σῶμά ἐστιν· ἡμῖν δὲ ἡ
τούτου ἀλγηδὼν καὶ ἡ τοιαύτη ἡδονὴ εἰς γνῶσιν ἀπαθῆ ἔρχεται. Λέγω
δὲ ἡμῖν τῆι ἄλληι ψυχῆι, ἅτε καὶ τοῦ τοιοῦδε σώματος οὐκ ἀλλοτρίου,
ἀλλ᾽ ἡμῶν ὄντος· διὸ καὶ μέλει ἡμῖν αὐτοῦ ὡς ἡμῶν ὄντος. Οὔτε γὰρ
τοῦτό ἐσμεν ἡμεῖς, οὔτε καθαροὶ τούτου ἡμεῖς, ἀλλὰ ἐξήρτηται καὶ
ἐκκρέμαται ἡμῶν, ἡμεῖς δὲ κατὰ τὸ κύριον, ἡμῶν δὲ ἄλλως ὅμως τοῦτο.
Διὸ καὶ ἡδομένου καὶ ἀλγοῦντος μέλει, καὶ ὅσωι ἀσθενέστεροι μᾶλλον,
καὶ ὅσωι ἑαυτοὺς μὴ χωρίζομεν, ἀλλὰ τοῦτο ἡμῶν τὸ τιμιώτατον καὶ
τὸν ἄνθρωπον τιθέμεθα καὶ οἷον εἰσδυόμεθα εἰς αὐτό. Χρὴ γὰρ τὰ πάθη
τὰ τοιαῦτα μὴ ψυχῆς ὅλως εἶναι λέγειν, ἀλλὰ σώματος τοιοῦδε καί τινος
κοινοῦ καὶ συναμφοτέρου. Ὅταν γὰρ ἕν τι ἦι, αὐτῶι οἷον αὔταρκές
ἐστιν. Οἷον σῶμα μόνον τί ἂν πάθοι ἄψυχον ὄν; διαιρούμενόν τε γὰρ
οὐκ αὐτό, ἀλλ᾽ ἡ ἐν αὐτῶι ἕνωσις. Ψυχή τε μόνη οὐδὲ τοῦτο [οὐδὲ τὸ
διαιρεῖσθαι], καὶ οὕτως ἔχουσα ἐκφεύγει πᾶν. Ὅταν δὲ δύο ἐθέληι ἓν
εἶναι, ἐπακτῶι χρησάμενα τῶι ἓν ἐν τῶι οὐκ ἐᾶσθαι εἶναι ἓν τὴν γένεσιν
εἰκότως τοῦ ἀλγεῖν ἔχει. Λέγω δὲ δύο οὐκ, εἰ δύο σώματα· μία γὰρ
φύσις· ἀλλ᾽ ὅταν ἄλλη φύσις ἄλληι ἐθέληι κοινωνεῖν καὶ γένει ἄλλωι,
καί τι τὸ χεῖρον λάβηι παρὰ τοῦ κρείττονος, καὶ ἐκεῖνο μὲν μὴ δυνηθῆι
λαβεῖν, ἐκείνου δέ τι ἴχνος, καὶ οὕτω γένηται δύο καὶ ἓν μεταξὺ
γενόμενον τοῦ τε ὃ ἦν καὶ τοῦ ὃ μὴ ἐδυνήθη ἔχειν, ἀπορίαν ἐγέννησεν
αὐτῶι ἐπίκηρον κοινωνίαν καὶ οὐ βεβαίαν εἰληχός, ἀλλ᾽ εἰς τὰ ἐναντία
ἀεὶ φερομένην. Κάτω τε οὖν καὶ ἄνω αἰωρούμενον φερόμενον μὲν
κάτω ἀπήγγειλε τὴν αὐτοῦ ἀλγηδόνα, πρὸς δὲ τὸν ἄνω τὴν ἔφεσιν τῆς
κοινωνίας.

18. Sobre se o corpo tem algo em si mesmo e vive, a alma sendo


presente, porque tem algo próprio, ou o que tem é a natureza, e essa
relação com o corpo é a natureza. Certamente, o próprio corpo, em que
há alma e natureza, não precisa ser tal como o que é inanimado e como

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 130

o ar que está iluminado, mas como o ar que está aquecido, e o corpo do


animal ou da planta é tal que tem sombra de alma, e sentir dor e gozar
dos prazeres do corpo é no corpo deste tipo; para nós107 a sua dor e o tal
prazer chegam para conhecimento sem impressão. E digo [que chegam]
para nós pela alma diversa, porque tal corpo não é estranho, mas é
nosso; por isso cuidamos dele como sendo nosso. Pois nós não somos
esse corpo, nem somos purificados dele, mas está ligado a nós e
depende de nós, e ‘nós’ é no sentido de ‘principal’, contudo, de modo
diverso, esse corpo é ‘nosso’. Por isso cuidamos dele ao sentir prazer e
dor, e tanto somos mais fracos quanto não nos separamos dele, mas
pomos o homem como esse ‘nosso’ que é o mais honrado, e tal que
mergulhamos nisso. Portanto, há necessidade dizer que as tais
impressões não são inteiramente da alma, mas são deste corpo e de um
certo ‘comum’ que é um conjunto de ambos108. Pois quando houver
algo único, isso por si será tal que autossuficiente. Tal que sendo apenas
corpo, o que sofreria, sendo inanimado? Pois não é ele mesmo que é
separado, mas a unificação nele. Apenas a alma não [sofre] esse
‘separar-se’, e assim mantendo-se evita tudo. Mas quando dois querem
ser um só, por se servir de unidade importável em que não se permite
ser uno, eles provavelmente têm a gênese do ter dor. E digo não ser
dois, se forem dois corpos; pois a natureza é uma só; mas [digo ser dois]
quando uma natureza queira ser comum com outra, com diverso gênero,
e o pior tome algo da parte do melhor, mas aquele não será capaz de
tomar, senão um certo traço deste, e assim virá a ser dois e um, porque
veio a ser entre o que era e o que não foi capaz de ter, gerou a si aporia,
por ter tomado comunhão arriscada e não segura, mas que é levada
sempre aos contrários. Sendo suspenso abaixo e acima, quando era
levado abaixo anunciava sua própria dor, quando acima, anunciava o
desejo de comunhão.

19. Τοῦτο δὴ τὸ λεγόμενον ἡδονήν τε εἶναι καὶ ἀλγηδόνα, εἶναι μὲν


ἀλγηδόνα γνῶσιν ἀπαγωγῆς σώματος ἰνδάλματος ψυχῆς

107
Isto é, para o princípio dominante, que é a inteligência em nós.
108
Enéada I 1, 7.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 131

στερισκομένου, ἡδονὴν δὲ γνῶσιν ζώιου ἰνδάλματος ψυχῆς ἐν σώματι


ἐναρμοζομένου πάλιν αὖ. Ἐκεῖ μὲν οὖν τὸ πάθος, ἡ δὲ γνῶσις τῆς
αἰσθητικῆς ψυχῆς ἐν τῆι γειτονίαι αἰσθανομένης καὶ ἀπαγγειλάσης τῶι
εἰς ὃ λήγουσιν αἱ αἰσθήσεις. Καὶ ἠλγύνθη μὲν ἐκεῖνο· λέγω δὲ τὸ
ἠλγύνθη τὸ πέπονθεν ἐκεῖνο· οἷον ἐν τῆι τομῆι τεμνομένου τοῦ
σώματος ἡ μὲν διαίρεσις κατὰ τὸν ὄγκον, ἡ δ᾽ ἀγανάκτησις κατὰ τὸν
ὄγκον τῶι μὴ μόνον ὄγκον, ἀλλὰ καὶ τοιόνδε ὄγκον εἶναι· ἐκεῖ δὲ καὶ ἡ
φλεγμονή· ἤισθετο δὲ ἡ ψυχὴ παραλαβοῦσα τῶι ἐφεξῆς οἷον κεῖσθαι.
Πᾶσα δὲ ἤισθετο τὸ ἐκεῖ πάθος οὐκ αὐτὴ παθοῦσα. Αἰσθανομένη γὰρ
πᾶσα ἐκεῖ λέγει τὸ πάθος εἶναι, οὗ ἡ πληγὴ καὶ ἡ ὀδύνη. Εἰ δ᾽ ἦν αὐτὴ
παθοῦσα ἐν παντὶ ὅλη τῶι σώματι οὖσα, οὐκ ἂν εἶπεν οὐδ᾽ ἂν ἐμήνυσεν
ὅτι ἐκεῖ, ἀλλ᾽ ἔπαθεν ἂν τὴν ὀδύνην πᾶσα καὶ ὠδυνήθη ὅλη, καὶ οὐκ ἂν
εἶπεν οὐδὲ ἐδήλωσεν ὅτι ἐκεῖ, ἀλλὰ ὅπου ἐστὶν εἶπεν ἂν ἐκεῖ· ἔστι δὲ
πανταχοῦ. Νῦν δὲ ὁ δάκτυλος ἀλγεῖ, καὶ ὁ ἄνθρωπος ἀλγεῖ, ὅτι ὁ
δάκτυλος ὁ τοῦ ἀνθρώπου. Τὸν δὲ δάκτυλον ὁ ἄνθρωπος λέγεται
ἀλγεῖν, ὥσπερ καὶ ὁ γλαυκὸς ἄνθρωπος κατὰ τὸ ἐν ὀφθαλμῶι γλαυκόν.
Ἐκεῖνο μὲν οὖν τὸ πεπονθὸς ἀλγεῖ, εἰ μή τις τὸ ἀλγεῖ μετὰ τῆς ἐφεξῆς
αἰσθήσεως περιλαμβάνοι· περιλαμβάνων δὲ δηλονότι τοῦτο σημαίνει,
ὡς ὀδύνη μετὰ τοῦ μὴ λαθεῖν τὴν ὀδύνην τὴν αἴσθησιν. Ἀλλ᾽ οὖν τὴν
αἴσθησιν αὐτὴν οὐκ ὀδύνην λεκτέον, ἀλλὰ γνῶσιν ὀδύνης· γνῶσιν δὲ
οὖσαν ἀπαθῆ εἶναι, ἵνα γνῶι καὶ ὑγιῶς ἀπαγγείληι. Πεπονθὼς γὰρ
ἄγγελος σχολάζων τῶι πάθει ἢ οὐκ ἀπαγγέλλει, ἢ οὐχ ὑγιὴς ἄγγελος.

19. Isso é o que se diz ser prazer e dor, e dor é conhecimento do desvio
do corpo que é privado de uma visão da alma; e por sua vez prazer é
conhecimento de uma visão da alma que se harmoniza novamente no
corpo do animal. Ali, então, há a impressão, e o conhecimento é da alma
sensitiva que na vizinhança percebe e anuncia em certo ponto em que
as sensações terminam. E aquele ponto teve dor; e digo que aquilo que
sofreu teve dor; tal como em um corte, tendo-se cortado o corpo, a
distinção é pela massa, e a irritação é pela massa, não apenas por ser
massa, mas por ser massa deste tipo; e ali há a inflamação; e a alma
percebe porque participa, por jazer tal que em seguida. E ela toda sente
a impressão ali, mesmo não tendo sofrido. Pois ela toda ao sentir diz
que a impressão é ali onde é o dano e a dor. E se fosse ela mesma que

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 132

sofreu inteira, sendo no corpo todo, não diria nem indicaria que é ali,
mas ela toda sofreria a dor e seria inteira dolorida, e não diria nem
mostraria que é ali, mas onde é diria ser ali, e é em toda parte. Agora, o
dedo tem dor, e o homem tem dor porque o dedo é o do homem. E se
diz que o homem tem dor no dedo, como se diz homem reluzente
segundo o azul reluzente de seu olho. Então, aquilo que sofreu tem dor,
a não ser que alguém envolva o ter dor com a sensação em seguida; e
envolvendo isso, é claro, indica que dor com algo não é a sensação
ocultar a dor. Mas, então, deve-se dizer que a sensação mesma não é
dor, mas conhecimento de dor; e que, sendo conhecimento, ela é sem
impressão, para que de modo saudável reconheça e anuncie. Pois se o
mensageiro sofreu preocupando-se com a impressão, ou não anuncia ou
não é mensageiro são.

20. Καὶ τῶν σωματικῶν δὲ ἐπιθυμιῶν τὴν ἀρχὴν ἐκ τοῦ οὕτω κοινοῦ
καὶ τῆς τοιαύτης σωματικῆς φύσεως ἀκόλουθον τίθεσθαι γίνεσθαι.
Οὔτε γὰρ τῶι ὁπωσοῦν ἔχοντι σώματι δοτέον τὴν ἀρχὴν τῆς ὀρέξεως
καὶ προθυμίας, οὔτε τῆι ψυχῆι αὐτῆι ἁλμυρῶν ἢ γλυκέων ζήτησιν, ἀλλὰ
ὃ σῶμα μέν ἐστιν, ἐθέλει δὲ μὴ μόνον σῶμα εἶναι, ἀλλὰ καὶ κινήσεις
ἐκτήσατο πλέον ἢ αὐτή, καὶ ἐπὶ πολλὰ διὰ τὴν ἐπίκτησιν ἠνάγκασται
τρέπεσθαι· διὸ οὑτωσὶ μὲν ἔχον ἁλμυρῶν, οὑτωσὶ δὲ γλυκέων, καὶ
ὑγραίνεσθαι καὶ θερμαίνεσθαι, οὐδὲν αὐτῶι μελῆσαν, εἰ μόνον ἦν.
Ὥσπερ δὲ ἐκεῖ ἐκ τῆς ὀδύνης ἐγίνετο ἡ γνῶσις, καὶ ἀπάγειν ἐκ τοῦ
ποιοῦντος τὸ πάθος ἡ ψυχὴ βουλομένη ἐποίει τὴν φυγήν, καὶ τοῦ
πρώτου παθόντος διδάσκοντος τοῦτο φεύγοντός πως καὶ αὐτοῦ ἐν τῆι
συστολῆι, οὕτω καὶ ἐνταῦθα ἡ μὲν αἴσθησις μαθοῦσα καὶ ἡ ψυχὴ ἡ
ἐγγύς, ἣν δὴ φύσιν φαμὲν τὴν δοῦσαν τὸ ἴχνος, ἡ μὲν φύσις τὴν τρανὴν
ἐπιθυμίαν τέλος οὖσαν τῆς ἀρξαμένης ἐν ἐκείνωι, ἡ δ᾽ αἴσθησις τὴν
φαντασίαν, ἀφ᾽ ἧς ἤδη ἢ πορίζει ἡ ψυχή, ἧς τὸ πορίζειν, ἢ ἀντιτείνει
καὶ καρτερεῖ καὶ οὐ προσέχει οὔτε τῶι ἄρξαντι τῆς ἐπιθυμίας, οὔτε τῶι
μετὰ ταῦτα ἐπιτεθυμηκότι. Ἀλλὰ διὰ τί δύο ἐπιθυμίας, ἀλλ᾽ οὐκ ἐκεῖνο
εἶναι τὸ ἐπιθυμοῦν μόνον τὸ σῶμα τὸ τοιόνδε; Ἢ εἰ ἔστιν ἕτερον ἡ
φύσις, ἕτερον δὲ τὸ σῶμα τὸ τοιόνδε παρὰ τῆς φύσεως γενόμενον – ἔστι
γὰρ ἡ φύσις πρὸ τοῦ τὸ τοιόνδε σῶμα γενέσθαι, αὕτη γὰρ ποιεῖ τὸ
τοιόνδε σῶμα πλάττουσα καὶ μορφοῦσα – ἀνάγκη μήτε ἄρχειν αὐτὴν

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 133

τῆς ἐπιθυμίας, ἀλλὰ τὸ τοιόνδε σῶμα τὸ πεπονθὸς ταδὶ καὶ


ἀλγυνόμενον τῶν ἐναντίων ἢ πάσχει ἐφιέμενον, ἡδονῆς ἐκ τοῦ πονεῖν
καὶ πληρώσεως ἐκ τῆς ἐνδείας· τὴν δὲ φύσιν ὡς μητέρα, ὥσπερ
στοχαζομένην τῶν τοῦ πεπονθότος βουλημάτων, διορθοῦν τε
πειρᾶσθαι καὶ ἐπανάγειν εἰς αὑτὴν καὶ ζήτησιν τοῦ ἀκεσομένου
ποιουμένην συνάψασθαι τῆι ζητήσει τῆι τοῦ πεπονθότος ἐπιθυμίαι καὶ
τὴν περάτωσιν ἀπ᾽ ἐκείνου πρὸς αὐτὴν ἥκειν. Ὥστε τὸ μὲν ἐπιθυμεῖν
ἐξ αὐτοῦ – εἴποι ἄν τις προεπιθυμίαν ἴσως καὶ προθυμίαν – τὴν δὲ ἐξ
ἄλλου καὶ δι᾽ ἄλλου ἐπιθυμεῖν, τὴν δὲ ποριζομένην ἢ μὴ ἄλλην εἶναι.

20. É consequente pôr que o princípio dos desejos corpóreos vem a ser
desde o que assim é comum e da natureza corpórea. Pois nem se deve
dar ao corpo que está de qualquer modo o princípio do anseio e da
tendência, nem à própria alma a busca de salgados e doces, mas aquilo,
que é corpo, deseja não apenas ser corpo, mas também adquiriu
movimentos mais do que a própria alma, e por causa da aquisição está
forçado a voltar-se a muitas partes; por isso o corpo estando de um
modo busca salgados, e de outro, busca doces, e ser húmido e aquecido,
nada disso seria preocupação para ele, se fosse único. E como ali, desde
a dor vinha a ser o conhecimento, e a alma, querendo desviar do que
cria a impressão, criava a fuga, e como a parte que primeiro sofre isso
foge, como sendo em contração, desse modo ali há a sensação, que
aprende, e a alma, que é próxima, que dizemos ser a natureza que dá a
marca, e a natureza que conhece o claro desejo que é o objetivo do
desejo iniciado naquele corpo, e a sensação que conhece a fantasia, a
partir da qual ou a alma provê, que dela é o prover, ou resiste e se
domina e não dá atenção nem ao que começou o desejo nem ao que teve
o desejo depois disso. Mas por que dois desejos, mas não ser aquilo que
deseja apenas o corpo deste tipo? Certamente, se a natureza é uma coisa,
e outra o corpo que veio a ser tal junto à natureza – pois a natureza é
antes do tal corpo vir a ser, pois ela cria o tal corpo plasmando e dando-
lhe figura – é necessidade não ela dominar o desejo, mas o tal corpo que

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 134

sofreu essas coisas aí e que tem a dor dos contrários daquilo que sofre109
desejando, desejo de prazer desde o penar e desejo de satisfação desde
a indigência; a natureza, como uma mãe, como se conjecturasse as
vontades do que sofreu, dirige tentando reconduzir a si mesma a busca
do corpo que há de se curar, fazendo-se ligar à busca, que é desejo do
que sofreu, e a limitação chegar a partir dele até ela. Assim o desejar é
do próprio corpo – alguém talvez diria ser ‘pré-impulso’ ou ‘pré-desejo’
– a natureza deseja desde uma coisa e através de outra diversa, e a alma
é a que provê ou não provê, sendo diversa.

21. Ὅτι δὲ τοῦτό ἐστι, περὶ ὃ ἡ ἀρχὴ τῆς ἐπιθυμίας, καὶ αἱ ἡλικίαι
μαρτυροῦσιν αἱ διάφοροι. Ἄλλαι γὰρ παίδων καὶ μειρακίων καὶ ἀνδρῶν
αἱ σωματικαὶ ὑγιαινόντων τε καὶ νοσούντων τοῦ ἐπιθυμητικοῦ τοῦ
αὐτοῦ ὄντος· δῆλον γὰρ ὅτι τῶι σωματικὸν καὶ σῶμα τοιόνδε εἶναι
τρεπόμενον παντοίας τροπὰς παντοδαπὰς καὶ τὰς ἐπιθυμίας ἴσχει. Καὶ
τὸ μὴ συνεγείρεσθαι δὲ πανταχοῦ ταῖς λεγομέναις προθυμίαις τὴν
πᾶσαν ἐπιθυμίαν, εἰς τέλος τῆς σωματικῆς μενούσης, καὶ πρὸ τοῦ τὸν
λογισμὸν εἶναι μὴ βούλεσθαι ἢ φαγεῖν ἢ πιεῖν ἐπί τι προελθοῦσαν τὴν
ἐπιθυμίαν λέγει, ὅσον ἦν ἐν τῶι τοιῶιδε σώματι, τὴν δὲ φύσιν μὴ
συνάψασθαι αὐτὴν μηδὲ προθέσθαι μηδὲ βούλεσθαι, ὥσπερ οὐδὲ κατὰ
φύσιν ἐχούσης, ἄγειν εἰς φύσιν, ὡς ἂν αὐτὴν τῶι παρὰ φύσιν καὶ κατὰ
φύσιν ἐπιστατοῦσαν. Εἰ δέ τις πρὸς τὸ πρότερον λέγοι ἀρκεῖν τὸ σῶμα
διάφορον γινόμενον διαφόρους τῶι ἐπιθυμητικῶι τὰς ἐπιθυμίας ποιεῖν,
οὐκ αὔταρκες λέγει πρὸς τὸ ἄλλου παθόντος ἄλλως αὐτὸ ὑπὲρ ἄλλου
διαφόρους ἐπιθυμίας ἔχειν, ὁπότε οὐδ᾽ αὐτῶι γίνεται τὸ ποριζόμενον.
Οὐ γὰρ δὴ τῶι ἐπιθυμητικῶι ἡ τροφὴ ἢ θερμότης καὶ ὑγρότης οὐδὲ
κίνησις οὐδὲ κούφισις κενουμένου οὐδὲ πλήρωσις μεστουμένου, ἀλλ᾽
ἐκείνου πάντα.

21. Que é isso acerca do que é o princípio do desejo também as idades,


que são diferentes, dão testemunho. Pois diversas são as idades

109
Platão, Filebo 35a: Ὁ κενούμενος ἡμῶν ἄρα, ὡς ἔοικεν, ἐπιθυμεῖ τῶν ἐναντίων ἢ
πάσχει· κενούμενος γὰρ ἐρᾷ πληροῦσθαι (Aquele dentre nós que é vazio, ao que
parece, tem desejo dos contrários do que sofre; pois sendo vazio deseja encher-se).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 135

corpóreas de crianças, jovens e adultos, sendo o mesmo o apetitivo dos


que são saudáveis e dos que são doentes; é claro que por ser corpóreo e
corpo deste tipo, ao se voltar tem variados tropos e desejos de toda
parte. E não despertar de toda parte pelas ditas tendências todo o desejo
do que permanece corpóreo até o fim, antes de haver o cálculo de não
querer ou comer ou beber, diz que o desejo que vem antes é até certo
ponto, quanto era em corpo deste tipo, e a natureza não quer nem se
ligar [a isso] nem se pôr de acordo, de modo que não é ela por natureza
a conduzir isso para natureza, de modo que a própria alma teria a
decisão de ser contra a natureza e de ser pela natureza. E se alguém, em
relação ao discurso anterior, disser que basta o corpo que vem a ser
divergente criar ao apetitivo divergentes desejos, diz não ser suficiente
para ter divergentes desejos que um sofra de modo diverso o mesmo em
favor de outro, uma vez que o que provê110 não vem a ser para ele. Pois
não é para o apetitivo o alimento ou calor e humidade nem movimento
nem alívio do que se esvazia nem satisfação do que se enche, mas
daquele corpo é tudo.

22. Ἐπὶ δὲ τῶν φυτῶν ἆρα ἄλλο μὲν τὸ οἷον ἐναπηχηθὲν τοῖς σώμασιν
αὐτῶν, ἄλλο δὲ τὸ χορηγῆσαν, ὃ δὴ ἐπιθυμητικὸν μὲν ἐν ἡμῖν, ἐν
ἐκείνοις δὲ φυτικόν, ἢ ἐν μὲν τῆι γῆι τοῦτο ψυχῆς ἐν αὐτῆι οὔσης, ἐν δὲ
τοῖς φυτοῖς τὸ ἀπὸ τούτου; Ζητήσειε δ᾽ ἄν τις πρότερον, τίς ψυχὴ ἐν τῆι
γῆι, πότερα ἐκ τῆς σφαίρας τοῦ παντός, ἣν καὶ μόνην δοκεῖ ψυχοῦν
πρώτως Πλάτων οἷον ἔλλαμψιν εἰς τὴν γῆν, ἢ πάλιν αὖ λέγων πρώτην
καὶ πρεσβυτάτην θεῶν τῶν ἐντὸς οὐρανοῦ καὶ αὐτῆι δίδωσι ψυχὴν
οἵαν καὶ τοῖς ἄστροις· πῶς γὰρ ἂν θεὸς εἴη, εἰ μὴ ἐκείνην ἔχοι; Ὥστε
συμβαίνει καὶ τὸ πρᾶγμα ὅπως ἔχει ἐξευρεῖν δύσκολον, καὶ μείζω
ἀπορίαν ἢ οὐκ ἐλάττω ἐξ ὧν εἴρηκεν ὁ Πλάτων γίνεσθαι. Ἀλλὰ
πρότερον, πῶς ἂν εὐλόγως ἔχειν τὸ πρᾶγμα δόξειε. Τὴν μὲν οὖν
φυτικὴν ψυχὴν ὡς ἔχει ἡ γῆ, ἐκ τῶν φυομένων ἐξ αὐτῆς ἄν τις
τεκμαίροιτο· εἰ δὲ καὶ ζῶια πολλὰ ἐκ γῆς γινόμενα ὁρᾶται, διὰ τί οὐ καὶ
ζῶιον ἄν τις εἴποι αὐτὴν εἶναι; Ζῶιον δὲ τοσοῦτον οὖσαν καὶ οὐ

110
O que provê é a alma superior, não a apetitiva.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 136

σμικρὰν μοῖραν τοῦ παντὸς διὰ τί οὐ καὶ νοῦν ἔχειν φήσειε καὶ οὕτω
θεὸν εἶναι; Εἴπερ δὲ καὶ τῶν ἄστρων ἕκαστον, διὰ τί οὐ καὶ τὴν γῆν
ζῶιον μέρος τοῦ παντὸς ζώιου οὖσαν; Οὐ γὰρ δὴ ἔξωθεν μὲν
συνέχεσθαι ὑπὸ ψυχῆς ἀλλοτρίας φατέον, ἔνδον δὲ μὴ ἔχειν ὡς οὐ
δυναμένης καὶ αὐτῆς ἔχειν οἰκείαν. Διὰ τί γὰρ τὰ μὲν πύρινα δύναται,
τὸ δὲ γήινον οὔ; Σῶμα γὰρ ἑκάτερον καὶ οὐκ ἶνες οὐδὲ ἐκεῖ οὐδὲ σάρκες
οὐδ᾽ αἷμα οὐδὲ ὑγρόν· καίτοι ἡ γῆ ποικιλώτερον καὶ ἐκ πάντων τῶν
σωμάτων. Εἰ δ᾽ ὅτι δυσκίνητον, τοῦτο πρὸς τὸ μὴ κινεῖσθαι ἐκ τόπου
λέγοι τις ἄν. Ἀλλὰ τὸ αἰσθάνεσθαι πῶς; Πῶς γὰρ καὶ τὰ ἄστρα; Οὐ γὰρ
δὴ οὐδὲ σαρκῶν τὸ αἰσθάνεσθαι, οὐδ᾽ ὅλως σῶμα δοτέον τῆι ψυχῆι, ἵνα
αἰσθάνοιτο, ἀλλὰ τῶι σώματι δοτέον ψυχήν, ἵνα ἦι καὶ σώιζοιτο τὸ
σῶμα· κριτικῆι δὲ οὔσηι τῆι ψυχῆι ὑπάρχει βλεπούσηι εἰς σῶμα καὶ τῶν
τούτου παθημάτων τὴν κρίσιν ποιεῖσθαι. Τίνα οὖν [τὰ] παθήματα γῆς,
καὶ τίνων αἱ κρίσεις; Ἐπεὶ καὶ τὰ φυτά, καθόσον γῆς, οὐκ αἰσθάνεται.
Τίνων οὖν αἰσθήσεις καὶ διὰ τίνων; Ἢ οὐ τολμητέον καὶ ἄνευ ὀργάνων
γίνεσθαι αἰσθήσεις; Καὶ εἰς τίνα δὲ χρείαν τὸ αἰσθάνεσθαι αὐτῆι; Οὐ
γὰρ δὴ διὰ τὸ γινώσκειν· ἀρκεῖ γὰρ ἡ τοῦ φρονεῖν ἴσως γνῶσις, οἷς μὴ
ἐκ τοῦ αἰσθάνεσθαι γίνεταί τις χρεία. Ἢ τοῦτο μὲν οὐκ ἄν τις
συγχωρήσειεν. Ἔστι γὰρ καὶ παρὰ τὴν χρείαν ἐν τοῖς αἰσθητοῖς εἴδησίς
τις οὐκ ἄμουσος, οἷον ἡλίου καὶ τῶν ἄλλων καὶ οὐρανοῦ καὶ γῆς· αἱ γὰρ
τούτων αἰσθήσεις καὶ παρ᾽ αὐτῶν ἡδεῖαι. Τοῦτο μὲν οὖν σκεπτέον
ὕστερον· νῦν δὲ πάλιν, εἰ αἱ αἰσθήσεις τῆι γῆι, καὶ [ζώιων] τίνων αἱ
αἰσθήσεις, καὶ πῶς. Ἢ ἀναγκαῖον πρότερον ἀναλαβεῖν τὰ ἀπορηθέντα
καὶ καθόλου λαβεῖν, εἰ ἄνευ ὀργάνων ἔστιν αἰσθάνεσθαι, καὶ εἰ πρὸς
χρείαν αἱ αἰσθήσεις, κἂν εἰ ἄλλο τι παρὰ τὴν χρείαν γίγνοιτο.

22. Por acaso nas plantas uma coisa é tal como que ecoa em seus corpos,
e outra é o que provê, que em nós é o apetitivo e nelas o vegetativo, ou
na terra é isso, a alma sendo nela, e nas plantas é o que é a partir disso?
Alguém buscaria primeiro que alma há na terra, se é da esfera do todo,
a única que Platão parece primeiramente dotar de alma, tal que um raio
de luz na terra, ou ao dizer novamente que ela é a primeira e a mais

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 137

antiga dentre os deuses no céu111, dá a ela alma tal como também aos
astros; pois como seria um deus, se não tivesse aquela alma? E assim
acontece que o feito é assim difícil de descobrir, e maior ou não menor
aporia vem a ser desde o que disse Platão. Mas primeiro, o modo como
alguém pensaria que o feito seria bem racional. Então, que a terra tem
a alma vegetativa, desde as coisas produzidas desde ela mesma, alguém
arguiria; e se são vistos muitos viventes que vêm a ser desde a terra, por
que não diria ser ela mesma um vivente? E sendo tamanho vivente e
não pequena moira112 do todo, por que não diria que ela tem inteligência
e que assim é um deus? E se também é cada um dos astros, por que não
será vivente a terra, sendo parte do todo vivente? Pois não se deve dizer
que de fora ela é contida por uma alma estranha e que internamente ela
não tem alma, como não sendo capaz de ela mesma ter uma alma
familiar. Por que são capazes os corpos ígneos, e o de terra não? Cada
um dos dois tipos são corpos, e ali não há músculos nem carnes nem
sangue nem líquido; ainda que a terra seja algo mais variado e é
composta de todos os corpos. E se alguém disser que ela é difícil de
mover, isso é em relação a não se mover de lugar. Mas quanto ao sentir,
como é? Como também os astros sentem? Pois não é nem de carnes o
sentir, nem de modo geral deve-se dar corpo à alma, para que ela sinta,
mas deve ser dada alma ao corpo, para que o corpo seja e se salve; para
a alma que tem capacidade de julgar, tem início, ao olhar para o corpo,
fazer o julgamento das impressões dele. Mas quais são as impressões
da terra, e de quais impressões são os julgamentos? Uma vez que as
plantas, enquanto da terra, não sentem. Então, de que órgãos são as
sensações, e através de quais? Ou não se deve ousar que as sensações
venham a ser sem órgãos? E de que utilidade seria para a terra o ‘sentir’?
Pois não é pelo ‘conhecer’; pois basta talvez o conhecimento de ser

111
Platão, Timeu 40c: ἰλλομένην δὲ τὴν περὶ τὸν διὰ παντὸς πόλον τεταμένον, φύλακα
καὶ δημιουργὸν νυκτός τε καὶ ἡμέρας ἐμηχανήσατο, πρώτην καὶ πρεσβυτάτην θεῶν
ὅσοι ἐντὸς οὐρανοῦ γεγόνασιν (arranjou a terra que se volta em torno do polo que está
ordenado pelo todo, guardiã e demiurgo da noite e do dia, primeira e mais antiga
dentre os deuses quantos vieram a ser no céu).
112
Parte integrante do destino do universo.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 138

sensato, aos que alguma utilidade vem a ser de não sentir. Certamente,
alguém não concordaria com isso. Pois, à parte a utilidade, há nos
sensíveis certo saber não rústico, tal que do sol e dos outros astros e do
céu e da terra; pois as sensações deles são agradáveis mesmo de sua
própria parte. Mas isso deve-se examinar depois; agora, novamente
deve-se examinar se a terra tem sensações, de quais viventes são e como
são. Certamente, primeiro há necessidade retomar o que causou
dificuldade e tomar de modo geral se é possível sentir sem órgãos, e se
as sensações são em relação à utilidade, mesmo se, à parte a utilidade,
vier a ser algo diverso.

23. Δεῖ δὴ θέσθαι, ὡς τὸ αἰσθάνεσθαι τῶν αἰσθητῶν ἐστι τῆι ψυχῆι ἢ


τῶι ζώιωι ἀντίληψις τὴν προσοῦσαν τοῖς σώμασι ποιότητα συνιείσης
καὶ τὰ εἴδη αὐτῶν ἀποματτομένης. Ἢ τοίνυν μόνη ἐφ᾽ ἑαυτῆς
ἀντιλήψεται, ἢ μετ᾽ ἄλλου. Μόνη μὲν οὖν καὶ ἐφ᾽ ἑαυτῆς πῶς; Ἐφ᾽
ἑαυτῆς γὰρ τῶν ἐν αὐτῆι, καὶ μόνον νόησις· εἰ δὲ καὶ ἄλλων, δεῖ
πρότερον καὶ ταῦτα ἐσχηκέναι ἤτοι ὁμοιωθεῖσαν ἢ τῶι ὁμοιωθέντι
συνοῦσαν. Ὁμοιωθῆναι μὲν οὖν ἐφ᾽ ἑαυτῆς μένουσαν οὐχ οἷόν τε. Πῶς
γὰρ ἂν ὁμοιωθείη σημεῖον γραμμῆι; Ἐπεὶ οὐδ᾽ ἡ νοητὴ τῆι αἰσθητῆι ἂν
γραμμῆι ἐφαρμόσειεν, οὐδὲ τὸ νοητὸν πῦρ ἢ ἄνθρωπος τῶι αἰσθητῶι
πυρὶ ἢ ἀνθρώπωι. Ἐπεὶ οὐδ᾽ ἡ φύσις ἡ ποιοῦσα τὸν ἄνθρωπον τῶι
γενομένωι ἀνθρώπωι εἰς ταὐτόν. Ἀλλὰ μόνη, κἂν εἰ οἷόν τε τῶι
αἰσθητῶι ἐπιβάλλειν, τελευτήσει εἰς νοητοῦ σύνεσιν, ἐκφυγόντος τοῦ
αἰσθητοῦ αὐτήν, οὐκ ἐχούσης ὅτωι αὐτοῦ λάβοιτο. Ἐπεὶ καὶ τὸ ὁρατὸν
ὅταν ψυχὴ πόρρωθεν ὁρᾶι, κἂν ὅτι μάλιστα εἶδος εἰς αὐτὴν ἥκηι,
ἀρχόμενον τὸ πρὸς αὐτὴν οἷον ἀμερὲς ὂν λήγει εἰς τὸ ὑποκείμενον
χρῶμα καὶ σχῆμα, ὅσον ἐστὶν ἐκεῖ ὁρώσης. Οὐ τοίνυν δεῖ μόνα ταῦτα
εἶναι, τὸ ἔξω καὶ τὴν ψυχήν· ἐπεὶ οὐδ᾽ ἂν πάθοι· ἀλλὰ δεῖ τὸ πεισόμενον
τρίτον εἶναι, τοῦτο δέ ἐστι τὸ τὴν μορφὴν δεξόμενον. Συμπαθὲς ἄρα καὶ
ὁμοιοπαθὲς δεῖ εἶναι καὶ ὕλης μιᾶς καὶ τὸ μὲν παθεῖν, τὸ δὲ γνῶναι, καὶ
τοιοῦτον γενέσθαι τὸ πάθος, οἷον σώιζειν μέν τι τοῦ πεποιηκότος, μὴ
μέντοι ταὐτὸν εἶναι, ἀλλὰ ἅτε μεταξὺ τοῦ πεποιηκότος καὶ ψυχῆς ὄν,
τὸ πάθος ἔχειν μεταξὺ αἰσθητοῦ καὶ νοητοῦ κείμενον μέσον ἀνάλογον,
συνάπτον πως τὰ ἄκρα ἀλλήλοις, δεκτικὸν ἅμα καὶ ἀπαγγελτικὸν
ὑπάρχον, ἐπιτήδειον ὁμοιωθῆναι ἑκατέρωι. Ὄργανον γὰρ ὂν γνώσεώς

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 139

τινος οὔτε ταὐτὸν δεῖ τῶι γινώσκοντι εἶναι οὔτε τῶι γνωσθησομένωι,
ἐπιτήδειον δὲ ἑκατέρωι ὁμοιωθῆναι, τῶι μὲν ἔξω διὰ τοῦ παθεῖν, τῶι δὲ
εἴσω διὰ τοῦ τὸ πάθος αὐτοῦ εἶδος γενέσθαι. Εἰ δή τι νῦν ὑγιὲς λέγομεν,
δι᾽ ὀργάνων δεῖ σωματικῶν τὰς αἰσθήσεις γίνεσθαι. Καὶ γὰρ τοῦτο
ἀκόλουθον τῶι τὴν ψυχὴν πάντη σώματος ἔξω γενομένην μηδενὸς
ἀντιλαμβάνεσθαι αἰσθητοῦ. Τὸ δὲ ὄργανον δεῖ ἢ πᾶν τὸ σῶμα, ἢ μέρος
τι πρὸς ἔργον τι ἀφωρισμένον εἶναι, οἷον ἐπὶ ἁφῆς καὶ ὄψεως. Καὶ τὰ
τεχνητὰ δὲ τῶν ὀργάνων ἴδοι τις ἂν μεταξὺ τῶν κρινόντων καὶ τῶν
κρινομένων γινόμενα καὶ ἀπαγγέλλοντα τῶι κρίνοντι τὴν τῶν
ὑποκειμένων ἰδιότητα· ὁ γὰρ κανὼν τῶι εὐθεῖ τῶι ἐν τῆι ψυχῆι καὶ τῶι
ἐν τῶι ξύλωι συναψάμενος ἐν τῶι μεταξὺ τεθεὶς τὸ κρίνειν τῶι τεχνίτηι
τὸ τεχνητὸν ἔδωκεν. Εἰ δὲ συνάπτειν δεῖ τὸ κριθησόμενον τῶι ὀργάνωι,
ἢ καὶ διά τινος μεταξὺ διεστηκότος πόρρω τοῦ αἰσθητοῦ, οἷον εἰ πόρρω
τὸ πῦρ τῆς σαρκὸς τοῦ μεταξὺ μηδὲν παθόντος, ἢ οἷον εἰ κενόν τι εἴη
μεταξὺ ὄψεως καὶ χρώματος, δυνατὸν ὁρᾶν τοῦ ὀργάνου τῆι δυνάμει
παρόντος, ἑτέρου λόγου. Ἀλλ᾽ ὅτι ψυχῆς ἐν σώματι καὶ διὰ σώματος ἡ
αἴσθησις, δῆλον.

23. Há necessidade pôr que o sentir é a recepção dos sensíveis pela alma
ou pelo vivente, a alma compreendendo a qualidade inerente aos corpos
e plasmando suas formas. Certamente ela perceberá sozinha por si
mesma, ou com algo diverso. Então, sozinha e por si mesma, como
perceberá? Pois perceberá por si mesma do que há em si, e há apenas
ato de pensar; e se perceber também do que é diverso, é preciso ter tido
anteriormente essas coisas diversas, ou tendo-se assemelhado a elas ou
unindo-se ao que foi assemelhado. Ora não é possível ter-se
assemelhado ao permanecer em si mesma. Pois como se assemelharia
um ponto a uma linha? Uma vez que nem a linha inteligível combinaria
com a sensível, nem o fogo inteligível, ou homem, combinaria com o
fogo sensível, ou homem. Uma vez que nem a natureza que cria o
homem combinaria para ser igual ao homem que veio a ser. Mas
sozinha, se fosse possível lançar-se ao sensível, terminaria na
compreensão do inteligível, o sensível tendo-lhe escapado, ela não
tendo quanto fosse tomado dele. Uma vez que mesmo o visível, quando
a alma de longe o veja, ainda que a ela chegue sobretudo forma, sendo

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 140

tal que sem parte em relação a ela, o que se inicia cessa na cor e na
configuração que subjaz, porque ela vê quanto há ali. Portanto, não é
preciso haver apenas essas coisas, o que é exterior e a alma; uma vez
que elas não teriam impressão; mas é preciso haver uma terceira coisa
que há de ter a impressão, e é isso que há de receber a figura. Portanto,
é preciso isso ser ‘simpático’ e ‘homeopático’ e seja de uma só matéria,
para ter impressão e para conhecer, e vir a ser a impressão do tipo a
salvar algo do que foi criado, contudo não ser igual, mas sendo
enquanto há um intervalo entre o que foi criado e a alma, ter impressão
intermédia entre sensível e inteligível, jazendo proporcional entre eles,
coligando os extremos entre si, sendo princípio ao mesmo tempo
receptivo e enunciativo, aplicável a se assemelhar a cada um dos dois.
Pois sendo órgão de certo conhecimento não é preciso ser igual ao que
conhece nem ao que foi conhecido, aplicável a se assemelhar a cada um
dos dois, ao de fora por ter impressão, ao interno por vir a ser forma a
sua impressão. E se dizemos agora algo são, é preciso as sensações
corpóreas vir a ser através de órgãos. E isso é o que se segue: a alma
que veio a ser totalmente fora do corpo toma parte de nada sensível. É
preciso o órgão ser ou todo o corpo ou certa parte em relação a certa
função que foi delimitada, tal que no tato e na visão. Alguém veria o
produto da arte dos órgãos como o que vem a ser entre os que julgam e
as coisas que são julgadas e como o que anuncia ao que julga a
propriedade das coisas que jazem; pois a régua ao coligar-se ao reto que
é na alma e na madeira, tendo sido posta no intervalo, dá ao artesão o
julgar o produto da arte. E se é preciso coligar o que há de ser julgado
ao órgão ou se é por algo intermédio que se estendeu longe do sensível,
tal que se o fogo é longe da carne, o intermédio nada sofrendo, ou tal
que se algum vazio fosse intermédio entre a visão e a cor, é possível ver
pela capacidade do órgão presente, isso é de um outro discurso113. Mas
que é da alma em corpo e pelo corpo a sensação, é evidente.

113
Enéada IV 5.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 141

24. Τὸ δὲ εἰ τῆς χρείας μόνον ἡ αἴσθησις, ὧδε σκεπτέον. Εἰ δὴ ψυχῆι


μὲν μόνηι οὐκ ἂν αἴσθησις γίνοιτο, μετὰ δὲ σώματος αἱ αἰσθήσεις, διὰ
σῶμα ἂν εἴη, ἐξ οὗπερ καὶ αἱ αἰσθήσεις, καὶ διὰ τὴν σώματος κοινωνίαν
δοθεῖσα, καὶ ἤτοι ἐξ ἀνάγκης ἐπακολουθοῦσα – ὅ τι γὰρ πάσχει τὸ
σῶμα, καὶ φθάνει τὸ πάθος μεῖζον ὂν μέχρι ψυχῆς – ἢ καὶ μεμηχάνηται,
ὅπως καὶ πρὶν μεῖζον γενέσθαι τὸ ποιοῦν, ὥστε καὶ φθεῖραι, ἢ καὶ πρὶν
πλησίον γενέσθαι, φυλάξασθαι. Εἰ δὴ τοῦτο, πρὸς χρείαν ἂν εἶεν αἱ
αἰσθήσεις. Καὶ γὰρ εἰ καὶ πρὸς γνῶσιν, τῶι μὴ ἐν γνώσει ὄντι ἀλλ᾽
ἀμαθαίνοντι διὰ συμφοράν, καὶ ἵνα ἀναμνησθῆι διὰ λήθην, οὐ τῶι μήτε
ἐν χρείαι μήτε ἐν λήθηι. Ἀλλ᾽ εἰ τοῦτο, οὐ περὶ τῆς γῆς ἂν μόνον εἴη
σκοπεῖσθαι, ἀλλὰ καὶ περὶ ἄστρων ἁπάντων καὶ μάλιστα περὶ παντὸς
τοῦ οὐρανοῦ καὶ τοῦ κόσμου. Μέρεσι μὲν γὰρ πρὸς μέρη, οἷς καὶ τὸ
παθεῖν ὑπάρχει, γένοιτο ἂν αἴσθησις κατὰ τὸν παρόντα λόγον, ὅλωι δὲ
πρὸς αὐτὸ τίς ἂν εἴη ἀπαθῶς ἔχοντι πανταχῆι ἑαυτοῦ πρὸς ἑαυτόν; Καὶ
γὰρ εἰ δεῖ τὸ μὲν ὄργανον τοῦ αἰσθανομένου εἶναι, ἕτερον δὲ παρὰ τὸ
ὄργανον τὸ οὗ αἰσθάνεται ὑπάρχειν, τὸ δὲ πᾶν ὅλον ἐστίν, οὐκ ἂν εἴη
αὐτῶι τὸ μὲν δι᾽ οὗ, τὸ δὲ οὗ ἡ αἴσθησις· ἀλλὰ συναίσθησιν μὲν αὐτοῦ,
ὥσπερ καὶ ἡμεῖς ἡμῶν συναισθανόμεθα, δοτέον, αἴσθησιν δὲ ἀεὶ ἑτέρου
οὖσαν οὐ δοτέον· ἐπεὶ καὶ ὅταν ἡμεῖς παρὰ τὸ καθεστὼς ἀεί τινος τῶν
ἐν τῶι σώματι ἀντιλαμβανώμεθα, ἔξωθεν προσελθόντος
ἀντιλαμβανόμεθα. Ἀλλ᾽ ὥσπερ ἐφ᾽ ἡμῶν οὐ μόνον τῶν ἔξωθεν ἡ
ἀντίληψις, ἀλλὰ καὶ μέρει μέρους, τί κωλύει καὶ τὸ πᾶν τῆι ἀπλανεῖ τὴν
πλανωμένην ὁρᾶν, καὶ ταύτηι τὴν γῆν καὶ τὰ ἐν αὐτῆι βλέπειν; Καὶ εἰ
μὴ ἀπαθῆ ταῦτα τῶν ἄλλων παθῶν, καὶ ἄλλας αἰσθήσεις ἔχειν καὶ τὴν
ὅρασιν μὴ μόνον ὡς καθ᾽ αὑτὴν τῆς ἀπλανοῦς εἶναι, ἀλλ᾽ ὡς ὀφθαλμοῦ
ἀπαγγέλλοντος τῆι τοῦ παντὸς ψυχῆι ἃ εἶδε; καὶ γὰρ εἰ τῶν ἄλλων
ἀπαθής, διὰ τί ὡς ὄμμα οὐκ ὄψεται φωτοειδὲς ἔμψυχον ὄν; Ἀλλ᾽
ὀμμάτων, φησίν, οὐκ ἐπεδεῖτο. Ἀλλ᾽ εἰ ὅτι μηδὲν ἔξωθεν ὑπελέλειπτο
ὁρατόν, ἀλλ᾽ ἔνδον γε ἦν καὶ ἑαυτὸν ὁρᾶν οὐδὲν ἐκώλυσεν· εἰ δ᾽ ὅτι
μάτην ἂν ἦν αὑτὸν ὁρᾶν, ἔστω μὴ προηγουμένως μὲν οὕτως ἕνεκα τοῦ
ὁρᾶν γεγονέναι, ἀκολουθεῖν δὲ τῶι οὕτως ἔχειν ἐξ ἀνάγκης. Διὰ τί οὐκ
ἂν εἴη τοιούτωι ὄντι σώματι διαφανεῖ τὸ ὁρᾶν;

24. Se a sensação é algo apenas de utilidade, assim deve-se examinar.


E se apenas à alma vier a ser a sensação, com o corpo serão as

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 142

sensações, pelo corpo, desde o qual há sensações, haverá sensação, que


se deu pela comunhão com o corpo, sendo elas por necessidade
consequência disso – pois o que sofre o corpo, a impressão que é maior
se antecipa até a alma – de modo a estar arranjado que ou assim o que
cria destrua [o que causa a sensação] antes de vir a ser maior ou se
guarde antes de vir a ser próximo. Se é isso, para utilidade seriam as
sensações. Pois se também é para conhecimento, não é para o que é em
conhecimento, mas para o ignorante pela circunstância, para que ele
possa recordar pelo esquecimento, não é para alguém nem em utilidade
nem em esquecimento114. Mas se é isso, não só na terra haver-se-ia de
examinar, mas nos astros todos e sobretudo no todo do céu e do cosmo.
Pois às partes em relação a partes cujo princípio é sofrer, viria a ser
sensação segundo o presente discurso, e que sensação haveria ao inteiro
que é totalmente de si para si impassível para si mesmo? E se é preciso
haver o órgão que é do que sente e, à parte esse órgão, uma coisa
diferente cujo princípio é ser sentida, e se o todo é inteiro, não haveria
a sensação para ele, por não haver nem ‘pelo que sente’ e nem ‘de que
sente’; mas deve-se-lhe atribuir uma consciência de si mesmo, como
nós temos consciência de nós mesmos; mas não se lhe deve atribuir
sensação que é sempre de algo diferente; uma vez que nós, quando
percebemos algo em nosso corpo sempre contra disposição,
percebemos que isso vem de fora. Mas como em nós a percepção não é
apenas das coisas externas, mas também de parte por parte, o que
impede também o todo ver a esfera errante pela não errante, e por essa
esfera errante olhar a terra e as coisas nela? E se esses astros não forem
impassíveis de outras impressões, mas tenham diversas sensações, e a
visão seja não apenas segundo a visão da esfera não errante, mas como
o olho que anuncia à alma do todo aquilo que viu? Pois mesmo que o
todo seja impassível de outras impressões, por que não verá, sendo
como um olho em forma de luz e animado? Mas não havia necessidade

114
A sensação é para utilidade e conhecimento daquele que tem necessidade de
aprender, como utilidade, e para conhecimento do que esqueceu, ao tomar água do
Lethe (Platão, Politeia 621a); portanto, alguém que não é nem em utilidade nem em
esquecimento é o que ainda não nasceu, ou seja, o que não veio a ser.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 143

de olhos, diz Platão115. Mas se era porque nada visível restasse de fora,
mas dentro havia, e nada impede ver a si mesmo; e se é porque seria
inútil ele ver, seja que inicialmente não era por causa de ver que assim
o todo veio a ser, mas segue a estar assim por necessidade. Por que o
ver não seria para um tal corpo que é diáfano?

25. Ἢ οὐκ ἀρκεῖ εἶναι τὸ δι᾽ οὗ, ἵνα ὁρᾶι καὶ ὅλως αἰσθάνηται, ἀλλὰ
δεῖ τὴν ψυχὴν οὕτως ἔχειν, ὡς νεύειν πρὸς τὰ αἰσθητά. Τῆι δὲ ψυχῆι
ὑπάρχει ἀεὶ πρὸς τοῖς νοητοῖς εἶναι· κἂν οἷόν τε ἦι αὐτῆι αἰσθάνεσθαι,
οὐκ ἂν γένοιτο τοῦτο τῶι πρὸς κρείττοσιν εἶναι, ὁπότε καὶ ἡμῖν σφόδρα
πρὸς τοῖς νοητοῖς οὖσιν, ὅτε ἐσμέν, λανθάνουσι καὶ ὄψεις καὶ αἰσθήσεις
ἄλλαι· κἂν πρὸς ἑτέρωι δὲ ὅλως, τὰ ἕτερα λανθάνει. Ἐπεὶ καὶ τὸ μέρει
τινὶ μέρους ἀντιλαμβάνεσθαι θέλειν, οἷον ἑαυτὸν εἰ καταβλέποι,
περίεργον καὶ ἐφ᾽ ἡμῶν, καὶ εἰ μὴ ἕνεκά τινος, μάτην. Ἄλλου τε ὄψιν
ὡς καλοῦ ὁρᾶν, πεπονθότος καὶ ἐνδεοῦς. Ὀσφραίνεσθαι δὲ [καὶ
ἀκούειν] καὶ γεύεσθαι χυμῶν περιστάσεις ἄν τις καὶ περιελκυσμοὺς τῆς
ψυχῆς θεῖτο· ἥλιον δὲ καὶ τὰ ἄλλα ἄστρα κατὰ συμβεβηκὸς ὁρᾶν καὶ
ἀκούειν δέ. Εἰ δὲ δὴ καὶ ἐπιστρέφεσθαι δι᾽ ἄμφω, οὐκ ἄλογος ἡ θέσις.
Ἀλλ᾽ εἰ ἐπιστρέφοιτο, καὶ μνημονεύσει· ἢ ἄτοπον, ὧν εὐεργετεῖ, μὴ
μνημονεύειν. Πῶς οὖν εὐεργετεῖ, εἰ μὴ μνημονεύει;

25. Não basta, certamente, haver o ‘pelo que sente’ para que veja e de
modo geral sinta, mas é preciso a alma estar de modo a anuir às coisas
sensíveis. À alma é princípio ser sempre para os inteligíveis; mesmo
que lhe seja possível sentir, isso não viria a ser, ela sendo para as coisas
superiores, e quando somos fortemente para os inteligíveis, quando
somos, passam despercebidas as visões e outras sensações; quando de
modo geral somos para uma coisa, as outras passam despercebidas.
Uma vez que querer perceber uma por outra parte, tal como se olhasse
para si mesmo, seria supérfluo mesmo em nós, e se não for por causa
de algo é em vão. Ter uma visão de algo diverso como belo é do que
está disposto a sofrimento e necessitado. Sentir odor, ouvir e degustar

115
Platão, Timeu 33c: ὀμμάτων τε γὰρ ἐπεδεῖτο οὐδέν, ὁρατὸν γὰρ οὐδὲν ὑπελείπετο
ἔξωθεν (pois nada de olhos era preciso, pois nada de fora restava).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 144

variedades de sabores alguém poria como distrações da alma; ver e


ouvir para o sol e os outros astros é pelo que incidiu. E se eles se voltam
[a nós] é através de ambos os sentidos, não é irracional a tese. Mas se o
sol se voltar, também lembrará; ou seria absurdo não lembrar daqueles
dos que é benfeitor. Como será benfeitor, se não lembrar?

26. Γίνονται δὲ εὐχῶν γνώσεις κατὰ οἷον σύναψιν καὶ κατὰ τοιάνδε
σχέσιν ἐναρμοζομένων, καὶ αἱ ποιήσεις οὕτως· καὶ ἐν ταῖς μάγων
τέχναις εἰς τὸ συναφὲς πᾶν· ταῦτα δὲ δυνάμεσιν ἑπομέναις συμπαθῶς.
Εἰ δὲ τοῦτο, διὰ τί οὐ καὶ τὴν γῆν αἰσθάνεσθαι δώσομεν; Ἀλλὰ ποίας
αἰσθήσεις; Ἢ διὰ τί οὐ πρῶτον ἁφὴν καὶ μέρει μέρους ἀναπεμπομένης
ἐπὶ τὸ ἡγούμενον τῆς αἰσθήσεως καὶ τῶι ὅλωι πυρὸς καὶ τῶν ἄλλων;
Καὶ γὰρ εἰ τὸ σῶμα δυσκίνητον, οὔτι γε ἀκίνητον. Ἀλλ᾽ ἔσονται αἱ
αἰσθήσεις οὐ τῶν μικρῶν, ἀλλὰ τῶν μεγάλων. Ἀλλὰ διὰ τί; Ἢ ὅτι
ἀνάγκη ψυχῆς ἐνούσης τὰς κινήσεις τὰς μεγίστας μὴ λανθάνειν.
Κωλύει δ᾽ οὐδὲν καὶ διὰ τοῦτο τὸ αἰσθάνεσθαι γίνεσθαι, ἵνα εὖ τίθοιτο
τὰ πρὸς ἀνθρώπους, ὅσον εἰς αὐτὴν τὰ ἀνθρώπων ἀνάκειται – εὖ
τίθοιτο δὲ οἷον συμπαθῶς – καὶ ἀκούειν δὲ εὐχομένων καὶ ἐπινεύειν
εὐχαῖς οὐχ ὃν ἡμεῖς τρόπον, καὶ ταῖς ἄλλαις αἰσθήσεσι παθητὴν εἶναι
πρὸς αὐτήν. Καὶ τἆλλα, οἷον ὀσμῶν πέρι καὶ τῶν γευστῶν; Ἀλλ᾽ ἤ, ὅσα
ὀσφραντὰ κατὰ τὰς τῶν χυλῶν ὀσμάς, πρὸς ζώιων πρόνοιαν καὶ
κατασκευὴν καὶ ἐπισκευὴν τοῦ σωματικοῦ αὐτῆς. Καὶ οὐκ ἀπαιτητέον
ἃ ἐφ᾽ ἡμῶν ὄργανα· οὐδὲ γὰρ πᾶσι ζώιοις ταὐτά· οἷον ὦτα οὐ πᾶσι, καὶ
οἷς μὴ ἔστιν, ἀντίληψίς ἐστι ψόφων. Περὶ δὲ ὄψεως, εἰ φωτὸς δεῖ, πῶς;
Οὐ γὰρ δὴ ἀπαιτητέον ὄμματα. Εἰ οὖν τοῦ φυτικοῦ συγχωρουμένου ἦν
συγχωρεῖν, ἢ ἐν πνεύματι ὄντος τοῦ φυτικοῦ πρώτως, οὕτως ἔχειν, [ἢ]
ὄντος πνεύματος, τί χρὴ ἀπιστεῖν καὶ διαφανὲς εἶναι; Μᾶλλον δ᾽ εἴπερ
πνεῦμα, καὶ διαφανὲς καί, ἐλλαμπόμενον παρὰ τοῦ κύκλου, ἐνεργείαι
διαφανές· ὥστε οὐδὲν ἄτοπον οὐδ᾽ ἀδύνατον ὁρᾶν τὴν ἐν τῆι γῆι ψυχήν.
Καὶ δὴ καὶ νοεῖν ψυχὴν οὐ φαύλου σώματος εἶναι, ὥστε καὶ θεὸν εἶναι·
πάντως γὰρ καὶ ἀγαθὴν δεῖ ἀεὶ τὴν ψυχὴν εἶναι.

26. Conhecimentos de preces vêm a ser como que por coligação e por
certa condição de elementos combinados, e os atos de criar são assim;
também nas artes dos magos tudo é para o coligado; e isso é por

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 145

potências que seguem de modo simpatético. E se é isso, porque não


concederemos que a terra sinta? Mas quais sensações? Ou por que não
concederemos primeiro o tato e a sensação por parte de parte que se
transmite ao hegemônico da sensação e de modo geral a sensação do
fogo e dos outros elementos? E se o corpo é de movimento difícil, ao
menos não é imóvel. Mas haverá sensações não de pequenas coisas,
mas de grandes. Mas por quê? Certamente porque há necessidade dos
maiores movimentos da alma que é interna não passar despercebidos. E
por isso nada impede que o sentir venha a ser, para que sejam bem-
postas as condições humanas, tanto estão dispostas para a terra as
condições dos homens – e bem-postas tais que de modo simpatético –
e tanto ouvir o que é feito prece quanto anuir às preces não do modo
como fazemos, e pelas outras sensações a terra poder ter impressão em
si mesma. E quanto aos outros sentidos tais que dos odores e dos
paladares? Exceto se quantas coisas sejam odoríferas segundo os odores
de suas partes liquefeitas, em relação à providência, preparação e
restauração dos viventes, sejam do corpo da terra. E não se deve exigir
nela órgãos que haja em nós; pois não são os mesmos para todos os
viventes; tal que nem todos têm orelhas, e para esses que não têm há
percepção de ruídos. E sobre a visão, se é preciso luz, como? Então, não
se deve exigir olhos. Se é para concordar com a potência vegetativa que
é aceita, seja que primitivamente ela é em espírito seja que assim se
mantém espírito, por que é preciso desconfiar de ser diáfano? Ou
melhor, se é espírito, também é diáfano, e sendo iluminado da parte do
círculo é por atividade diáfano; assim não é absurdo nem impossível a
alma na terra ver. Portanto, é para pensar que a alma [da terra] não é de
um corpo inferior, de modo a ela ser um deus; pois é preciso a sua alma
ser sempre absolutamente boa.

27. Εἰ οὖν τοῖς φυτοῖς δίδωσι τὴν γεννητικήν – ἢ αὐτὴν τὴν γεννητικήν,
ἢ ἐν αὐτῆι μὲν ἡ γεννητική, ταύτης δὲ ἴχνος ἡ ἐν τοῖς φυτοῖς – καὶ οὕτως
ἂν εἴη ὡς ἡ σὰρξ ἔμψυχος ἤδη καὶ ἐκομίσατο, εἰ ἔχει, καὶ τὴν
γεννητικὴν ἐν αὐτοῖς τὰ φυτά. Ἐνοῦσα δὲ δίδωσι τῶι σώματι τοῦ φυτοῦ
ὅπερ βέλτιον, ὧι διαφέρει τοῦ κοπέντος καὶ οὐκέτι φυτοῦ, ἀλλὰ μόνον
ξύλου. Ἀλλ᾽ αὐτῶι γε τῶι σώματι τῆς γῆς τί δίδωσιν ἡ ψυχή; Οὐ ταὐτὸν

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 146

δεῖ νομίζειν σῶμα εἶναι γήινον ἀποτμηθέν τε τῆς γῆς καὶ μένον συνεχές,
οἷα λίθοι δεικνύουσιν αὐξόμενοι μέν, ἕως εἰσὶ συνηρτημένοι, μένοντες
δὲ ὅσον ἐτμήθησαν ἀφηιρημένοι. Ἕκαστον μὲν οὖν μέρος ἴχνος ἔχειν
δεῖ νομίζειν, ἐπιθεῖν δὲ ἐπὶ τούτωι τὸ πᾶν φυτικόν, ὃ οὐκέτι τοῦδέ ἐστιν
ἢ τοῦδε, ἀλλὰ τῆς ὅλης· εἶτα τὴν τοῦ αἰσθητικοῦ φύσιν οὐκέτι τῶι
σώματι συμπεφυρμένην, ἐποχουμένην δέ· εἶτα τὴν ἄλλην ψυχὴν καὶ
νοῦν, ἣν δὴ Ἑστίαν καὶ Δήμητραν ἐπονομάζουσιν ἄνθρωποι θείαι
φήμηι καὶ φύσει ἀπομαντευομένηι τὰ τοιαῦτα χρώμενοι.

27. Então, se a terra dá às plantas a potência produtora – seja a própria


potência produtora seja a potência produtora que é na terra, e é traço
dessa a que é nas plantas – e desse modo as plantas seriam como a carne
já animada e reportariam, caso elas tenham, a potência produtora nelas.
E essa potência sendo interior, a terra dá ao corpo da planta o que é
melhor, pelo que difere do ramo cortado que não é mais planta, mas
apenas madeira. Mas o que a alma dá ao próprio corpo da terra? Não é
preciso considerar ser o mesmo um corpo terrestre cortado da terra e
um que permanece inteiro, por exemplo pedras indicam que crescem,
enquanto estão íntegras, e que permanecem [sem crescer], porque
ficaram privadas de quanto elas foram cortadas. Então, é preciso
considerar que cada parte tem um traço [dessa potência produtora], e
que o todo vegetativo a percorre em toda parte, que não mais é desta ou
daquela parte, mas da terra inteira; ora a natureza do sensível não está
mais confundida com o corpo, mas é suspensa; ora é a alma diversa e
inteligência, que os homens denominam Héstia e Deméter, ao se servir
de voz profética e natureza que revela tais coisas.

28. Καὶ ταῦτα μὲν ταύτηι. Ἐπανιτέον δὲ πάλιν καὶ περὶ τοῦ θυμοειδοῦς
ζητητέον, εἰ, ὥσπερ τῶν ἐπιθυμιῶν τὴν ἀρχὴν καὶ ἀλγηδόνας καὶ
ἡδονάς – τὰ πάθη, οὐ τὰς αἰσθήσεις – ἐν τῶι οὕτως ἔχοντι σώματι
ἐτίθεμεν τῶι οἷον ζωωθέντι, οὕτω καὶ τοῦ θυμοῦ τὴν ἀρχὴν ἢ καὶ πάντα
τὸν θυμὸν τοῦ οὕτως ἔχοντος σώματος θησόμεθα ἢ μέρους τινὸς
σώματος, οἷον καρδίας οὕτως ἐχούσης ἢ χολῆς οὐ νεκροῦ σώματος· καὶ
εἰ, ἄλλου ὄντος τοῦ διδόντος, τὸ ἴχνος τὸ ψυχικόν, ἢ ἐνταῦθα ἕν τι τοῦτο
ὁ θυμός, οὐκέτι παρὰ φυτικοῦ ἢ αἰσθητικοῦ. Ἐκεῖ μὲν οὖν καθ᾽ ὅλον

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 147

τὸ σῶμα τὸ φυτικὸν ὂν παντὶ ἐδίδου τῶι σώματι τὸ ἴχνος, καὶ τὸ ἀλγεῖν


ἦν ἐν παντὶ καὶ τὸ ἥδεσθαι, καὶ ἡ ἀρχὴ τῆς ἐπιθυμίας ἐν παντὶ τοῦ
πληροῦσθαι· ἡ δὲ τῶν ἀφροδισίων οὐκ εἴρητο, ἀλλ᾽ ἔστω περὶ τὰ μόρια
τῶν τοιούτων τελεστικά. Ἔστω δὲ ὁ περὶ τὸ ἧπαρ τόπος τῆς ἐπιθυμίας
ἀρχή, ὅτι τὸ φυτικὸν ἐκεῖ ἐνεργεῖ μάλιστα, ὃ τὸ ἴχνος τὸ ψυχικὸν τῶι
ἥπατι καὶ τῶι σώματι παρέχει· ἐκεῖ δέ, ὅτι ἐκεῖ ἄρχεται ἡ ἐνέργεια.
Ἀλλὰ περὶ τοῦ θυμικοῦ τί τε αὐτὸ καὶ τίς ψυχή, καὶ εἰ ἀπ᾽ αὐτοῦ ἴχνος
περὶ τὴν καρδίαν ἢ ἄλλο τι τὴν κίνησιν εἰς συναμφότερον τελοῦν
παρέχεται, ἢ ἐνταῦθα οὐκ ἴχνος, ἀλλ᾽ αὐτὸ τὸ ὀργίζεσθαι παρέχεται.
Πρῶτον οὖν σκεπτέον, τί αὐτό. Ὅτι μὲν οὖν οὐχ ὑπὲρ ὧν ἂν πάσχηι τὸ
σῶμα μόνον, ἀλλὰ καὶ ὑπὲρ ὧν ἂν καὶ ἕτερός τις τῶν προσηκόντων, καὶ
ὅλως ὑπὲρ ὧν ἄν τις παρὰ τὸ προσῆκον ποιῆι, ὀργιζόμεθα, δῆλόν που·
ὅθεν καὶ αἰσθήσεως δεῖ καὶ συνέσεώς τινος ἐν τῶι ὀργίζεσθαι. Διὸ καὶ
εἰς ταῦτά τις ὁρῶν οὐκ ἐκ τοῦ φυτικοῦ ὡρμῆσθαι, ἀλλ᾽ ἐξ ἄλλου ἂν
ζητοῖ τὸν θυμὸν τὴν γένεσιν ἴσχειν. Ἀλλ᾽ ὅταν ταῖς σωματικαῖς
διαθέσεσιν ἕπηται τὸ τῆς ὀργῆς πρόχειρον, καὶ ὅταν οἱ μὲν ζέοντες
αἵματι καὶ χολῆι ἕτοιμοι εἰς τὸ ὀργίζεσθαι ὦσιν, ἀνειμένοι δὲ πρὸς
ὀργὰς οἱ ἄχολοι λεγόμενοι καὶ κατεψυγμένοι, τά τε θηρία πρὸς τὰς
βράσεις οὐδενὸς ἄλλου, ἀλλὰ πρὸς τὸ δοκηθὲν λυμήνασθαι τὰς ὀργὰς
ἔχωσι, πρὸς τὸ σωματικώτερον πάλιν αὖ καὶ πρὸς τὸ συνέχον τὴν τοῦ
ζώιου σύστασιν τὰς ὀργὰς ἄν τις ἀνοίσειε. Καὶ ὅταν οἱ αὐτοὶ νοσοῦντες
μὲν ὀργιλώτεροι ἢ ὑγιαίνοντες, ἄγευστοι δὲ σιτίων ἢ λαβόντες,
σώματος τοιοῦδε μηνύουσι τὰς ὀργὰς ἢ τὰς ἀρχὰς τῆς ὀργῆς εἶναι, καὶ
τὴν χολὴν ἢ τὸ αἷμα οἷον ψυχοῦντα παρέχεσθαι τὰς τοιάσδε κινήσεις,
ὥστε παθόντος τοῦ τοιοῦδε σώματος εὐθέως κινεῖσθαι τὸ αἷμα ἢ τὴν
χολήν, αἰσθήσεως δὲ γενομένης τὴν φαντασίαν κοινώσασαν τὴν ψυχὴν
τῆι τοιοῦδε σώματος διαθέσει ἤδη πρὸς τὸ ποιοῦν τὴν ἀλγηδόνα ἵεσθαι·
ἄνωθεν δὲ αὖ τὴν ψυχὴν τὴν λογισμῶι χρωμένην φανέντος ἀδικήματος
– καὶ μὴ περὶ τὸ σῶμα – ἔχουσαν ἕτοιμον τὸ ἐκείνως θυμούμενον ἅτε
πεφυκὸς τῶι ἀποδειχθέντι ἐναντίωι μάχεσθαι σύμμαχον τοῦτο
ποιεῖσθαι. Καὶ εἶναι τὸ μὲν ἐγειρόμενον ἀλόγως καὶ ἐφέλκεσθαι τῆι
φαντασίαι τὸν λόγον, τὸ δὲ ἀρχόμενον ἀπὸ λόγου καὶ λῆγον εἰς τὸ
πεφυκὸς χολοῦσθαι· καὶ παρὰ τοῦ φυτικοῦ καὶ γεννητικοῦ ἄμφω
γίγνεσθαι κατασκευάζοντος τὸ σῶμα οἷον ἀντιληπτικὸν ἡδέων καὶ
λυπηρῶν, τὸ δὲ πεποιηκέναι χολῶδες καὶ πικρόν. Καὶ [τῶι] ἐν τοιούτωι

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 148

[εἶναι] ψυχῆς ἴχνος [τῶι ἐν τοιούτωι εἶναι] τοιάδε κινεῖσθαι


δυσχεραντικὰ καὶ ὀργίλα καὶ τῶι κεκακῶσθαι πρῶτον αὐτὸ κακοῦν πως
ζητεῖν καὶ τὰ ἄλλα καὶ οἷον ὁμοιοῦν ἑαυτῶι. Μαρτύριον δὲ τοῦ
ὁμοούσιον εἶναι τοῦτο τῶι ἑτέρωι ἴχνει ψυχῆς τὸ τοὺς ἧττον τῶν
σωματικῶν ἡδέων ἐφιεμένους καὶ ὅλως σώματος καταφρονοῦντας
ἧττον κινεῖσθαι πρὸς ὀργὰς [καὶ ἀλόγωι ἀπαθείαι]. Τὸ δὲ τὰ δένδρα μὴ
ἔχειν θυμὸν καίπερ τὸ φυτικὸν ἔχοντα οὐ δεῖ θαυμάζειν· ἐπεὶ οὐδ᾽
αἵματος οὐδὲ χολῆς αὐτοῖς μέτεστιν. Ἐγγενομένων μὲν γὰρ τούτων
ἄνευ αἰσθήσεως ζέσις ἂν ἐγένετο μόνον καὶ οἷον ἀγανάκτησις,
αἰσθήσεως δὲ ἐγγενομένης καὶ πρὸς τὸ ἀδικοῦν ἂν ἤδη, ὥστε καὶ
ἀμύνεσθαι, ὁρμή. Ἀλλ᾽ εἰ τὸ ἄλογον τῆς ψυχῆς διαιροῖτο εἰς τὸ
ἐπιθυμητικὸν καὶ θυμοειδὲς καὶ τὸ μὲν εἴη τὸ φυτικόν, τὸ δὲ θυμοειδὲς
ἐξ αὐτοῦ ἴχνος περὶ αἷμα ἢ χολὴν ἢ τὸ συναμφότερον, οὐκ ἂν ὀρθὴ ἡ
ἀντιδιαίρεσις γίνοιτο, τοῦ μὲν προτέρου, τοῦ δὲ ὑστέρου ὄντος. Ἢ
οὐδὲν κωλύει ἄμφω ὕστερα καὶ τῶν ἐπιγενομένων ἐκ τοῦ αὐτοῦ τὴν
διαίρεσιν εἶναι· ὀρεκτικῶν γὰρ ἡ διαίρεσις, ἧι ὀρεκτικά, οὐ τῆς οὐσίας,
ὅθεν ἐλήλυθεν. Ἐκείνη δὲ ἡ οὐσία καθ᾽ αὑτὴν οὐκ ὄρεξις, ἀλλ᾽ ἴσως
τελειοῦσα τὴν ὄρεξιν συνάψασα αὐτῆι τὴν παρ᾽ αὐτῆς ἐνέργειαν. Καὶ
τὸ ἐκπεσὸν δὲ εἰς θυμὸν ἴχνος περὶ τὴν καρδίαν λέγειν οὐκ ἄτοπον· οὐ
γὰρ τὴν ψυχὴν ἐνταῦθα, ἀλλὰ τὴν τοῦ αἵματος ἀρχὴν τοῦ τοιοῦδε
ἐνταῦθα λεγέσθω εἶναι.

28. Nesse ponto estão essas coisas. Deve-se retornar e buscar


novamente sobre o irascível116, se, como o princípio dos desejos e dores
e prazeres – as impressões, não as sensações – púnhamos no corpo que
assim está, tal que foi vivificado, assim também o princípio da ira
poremos, ou a ira sendo toda do corpo que está assim ou é de certa parte
do corpo, tal que do coração que está assim, ou da bile, não sendo corpo
de cadáver; e se, sendo diverso o que dá a marca psíquica, aqui for algo
único essa ira, nem mais do vegetativo nem do sensível. Ali então,
sendo o vegetativo no corpo inteiro, dava ao corpo todo a marca, e sentir
dor e prazer era em todo corpo, e o princípio do desejo de completar-se

116
§ 21.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 149

era em todo corpo; o princípio dos desejos afrodisíacos não estava dito,
mas sejam perfeitos nas partes de tais desejos. E seja no fígado o lugar
princípio do desejo, porque o vegetativo ali é em máxima atividade, que
apresenta a marca psíquica no fígado e no corpo; e é ali, porque ali se
inicia a atividade. Mas o que é isso mesmo e que alma há no irascível,
e se é a partir dele a marca no coração ou se algo diverso apresenta o
movimento para completar o conjunto corpo-alma, ou aí não há marca,
mas o mesmo irritar-se se apresenta. Primeiro deve-se examinar o que
é isso. Que não é por causa do que sofra o corpo apenas, mas também
por causa de algum outro dentre os que importam, e em geral por causa
do que alguém faça contra o conveniente, é claro que aí nos irritamos;
daí é preciso certa sensação e compreensão no irritar-se. Por isso
alguém, vendo não haver impulso para essas coisas desde o vegetativo,
buscaria desde outro princípio a ira ter gênese. Mas quando para as
disposições somáticas é o acesso de cólera, quando alguns de sangue e
bile ferventes sejam prontos a irritar-se, e os que não se lançam a cóleras
se dizem sem bile, porque são frios, e as feras têm acessos de cólera por
nada diverso de ações bruscas, mas que se mostraram ser ameaça,
alguém relacionaria os acessos de cólera ao que é mais corpóreo e por
sua vez ao que contém a constituição do animal. E os próprios homens,
estando doentes, são mais irritáveis do que estando sãos, e sem ter
alimento mais do que tendo, denunciam ser deste corpo os acessos de
cólera ou os princípios da cólera, e apresenta-se a bile ou o sangue tal
que animando os tais movimentos, de modo que, sofrendo este corpo,
diretamente move-se o sangue ou a bile, e, tendo vindo a ser uma
sensação, a alma em comum com a fantasia pela disposição deste corpo
já se lança contra o que causa a dor; proveniente do mundo superior, a
alma que se serve do cálculo, o produto da injustiça tendo-se mostrado
– e não no corpo – tem pronto o ânimo que desse modo é naturalmente
irascível para fazer dele um aliado para lutar com o que se mostra em
oposição117. E há o que se desperta de modo irracional, e pela fantasia

117
No Fedro, Platão divide a alma em três, sendo comparada a um cocheiro que guia
dois cavalos, um branco e outro preto; o primeiro é bom, mesmo sendo irascível, pois
é esse o aliado da alma, o outro é mau, porque não se refreia nem quer obedecer; 253d:

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 150

a razão é arrastada, e o que se inicia a partir da razão, terminando em


encolerizar-se naturalmente; de ambos os modos [esse estado de ânimo]
vem a ser do vegetativo e produtivo que prepara o corpo como um
receptivo de prazeres e dores, e isso o fez colérico e áspero118. E por
haver em tal estado uma marca da alma, movem-se dificuldades e
irritações deste tipo, e por ter sofrido um mal primeiro busca algum
modo de fazer um mal, tal que assemelhar os outros a si mesmo. E
testemunho disso ser de natureza semelhante à diferente marca da
alma119 é que os que menos desejam os prazeres corpóreos e que em
geral desprezam o corpo têm menos movimentos para irritações, por
irracional impassibilidade. Quanto às árvores não ter ira, ainda que
tenham o vegetativo, não é preciso admirar; uma vez que para elas não
há participação nem de sangue nem de bile. Essas coisas tendo vindo a
ser sem sensação, viria a ser uma ebulição apenas tal que irritação, e
tendo vindo a ser sensação, viria ser um impulso contra o que já seria
injusto, de modo a afastá-lo. Mas se o irracional da alma fosse dividido
em apetitivo e irascível, e aquele fosse o vegetativo, e o irascível uma
marca deste no sangue ou na bile ou no conjunto de ambos, a divisão
em contrário não viria a ser correta, porque uma é anterior, e outra é
posterior. Certamente, nada impede ambas ser posteriores, e a divisão
do que veio a ser ser desde o mesmo; pois a divisão pela qual são
desejáveis é das coisas desejáveis, não da essência de onde elas
vieram120. E aquela essência por si mesma não é um apetite, mas talvez
seja ela que aperfeiçoa o apetite, ao coligar a atividade de si para si
mesma. E dizer que no coração há a marca que decai em ira não é

τῶν δὲ δὴ ἵππων ὁ μέν, φαμέν, ἀγαθός, ὁ δ’ οὔ (dos cavalos, dizemos ser um bom, ou
não).
118
Essa parte segue o Timeu 69d – 71d, na produção da alma irascível com os órgãos
do tórax.
119
O irascível é de natureza semelhante ao apetitivo.
120
O concupiscível e o irascível são produto de divisão do mesmo princípio, ou seja,
do vegetativo, portanto o que é dividido são as coisas desejáveis, e não sua essência.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 151

absurdo; pois a alma não é ali, mas seja dito ser ali o princípio do sangue
que é deste tipo.

29. Πῶς οὖν, εἴπερ τῶι θερμανθέντι τὸ σῶμα ἔοικεν ἀλλ᾽ οὐ τῶι
φωτισθέντι, ἐξελθούσης τῆς ἄλλης ψυχῆς οὐδέν τι ζωτικὸν ἔχει; Ἢ ἔχει
ἐπ᾽ ὀλίγον, ἀπομαραίνεται δὲ θᾶττον, ὥσπερ καὶ ἐπὶ τῶν θερμανθέντων
ἀποστάντων τοῦ πυρός. Μαρτυροῦσι δὲ καὶ τρίχες φυόμεναι ἐπὶ τῶν
νεκρῶν σωμάτων καὶ ὄνυχες αὐξόμενοι καὶ ζῶια διαιρούμενα ἐπὶ πολὺ
κινούμενα· τοῦτο γὰρ τὸ ἔτι ἐγκείμενον ἴσως. Καὶ εἰ συναπέρχεται δὲ
τῆι ἄλληι ψυχῆι, οὐ τεκμήριον τοῦτο τοῦ μὴ ἕτερον εἶναι. Καὶ γὰρ
ἀπελθόντος ἡλίου οὐ μόνον τὸ ἐφεξῆς φῶς καὶ κατ᾽ αὐτὸν καὶ
ἐξηρτημένον ἀπέρχεται, ἀλλὰ καὶ τὸ ἀπὸ τούτου εἰς τὸ ἔξω τούτου
ὁρώμενον ἐν τοῖς παρακειμένοις ἕτερον ὂν ἐκείνου συναπέρχεται. Ἆρ᾽
οὖν συναπέρχεται, ἢ φθείρεται; Τοῦτο δὲ καὶ ἐπὶ τοῦ φωτὸς τοῦ
τοιούτου ζητητέον καὶ ἐπὶ τῆς ζωῆς τῆς ἐν τῶι σώματι, ἣν δή φαμεν
οἰκείαν τοῦ σώματος εἶναι. Ὅτι μὲν γὰρ οὐδέν ἐστιν τοῦ φωτὸς
λειπόμενον ἐν τοῖς πεφωτισμένοις, δῆλον· ἀλλ᾽ εἰ μεταπίπτει εἰς τὸ
πεποιηκὸς ἢ οὐκ ἔστιν ἁπλῶς, ζητεῖ ὁ λόγος. Πῶς οὖν οὐκ ἔστιν ἁπλῶς
ὄν γέ τι πρότερον; Ἀλλὰ τί ἦν ὅλως, ὅτι μὲν αὐτῶν τῶν σωμάτων, ἀφ᾽
ὧν τὸ φῶς, ἡ λεγομένη χρόα, καί, ὅταν φθαρτὰ ἦι τὰ σώματα,
μεταβαλλόντων οὐκ ἔστι, καὶ οὐδεὶς ζητεῖ, ὅπου τὸ χρῶμα τοῦ πυρὸς
φθαρέντος, ὥσπερ οὐδ᾽ ὅπου τὸ σχῆμα; Ἢ τὸ μὲν σχῆμα σχέσις τις,
ὥσπερ συστολὴ τῆς χειρὸς καὶ ἡ ἔκτασις, χρῶμα δὲ οὐχ οὕτως, ἀλλ᾽
ὥσπερ γλυκύτης. Τί γὰρ κωλύει φθαρέντος τοῦ σώματος τοῦ γλυκέος
τὴν γλυκύτητα μὴ ἀπολωλέναι καὶ τοῦ εὐώδους τὴν εὐωδίαν, ἐν ἄλλωι
δὲ σώματι γίνεσθαι, οὐκ αἰσθητὰ δὲ εἶναι διὰ τὸ μὴ τοιαῦτα εἶναι τὰ
σώματα τὰ μετειληφότα, ὥστε ἀντερείδειν τὰς ἐπ᾽ αὐτῶν γενομένας
ποιότητας τῆι αἰσθήσει; Οὕτως οὖν καὶ τὸ φῶς τῶν φθαρέντων
σωμάτων μένειν, τὴν δὲ ἀντιτυπίαν τὸ ἐκ πάντων οὖσαν μὴ μένειν. Εἰ
μή τις λέγοι νόμωι ὁρᾶν, καὶ τὰς λεγομένας ποιότητας μὴ ἐν τοῖς
ὑποκειμένοις εἶναι. Ἀλλ᾽ εἰ τοῦτο, ἀφθάρτους ποιήσομεν καὶ οὐ
γινομένας ἐν ταῖς τῶν σωμάτων συστάσεσι τὰς ποιότητας, καὶ οὐδὲ
τοὺς λόγους τοὺς ἐν τοῖς σπέρμασι ποιεῖν τὰς χρόας, οἷον καὶ ἐπὶ τῶν
ποικίλων ὀρνίθων, ἀλλ᾽ οὔσας συνάγειν ἢ ποιεῖν μέν, προσχρῆσθαι δὲ
καὶ ταῖς ἐν τῶι ἀέρι πλήρει ὄντι τῶν τοιούτων· καὶ γὰρ καὶ εἶναι ἐν τῶι

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 152

ἀέρι οὐ τοιαῦτα, οἷα, ὅταν γένηται, ἐν τοῖς σώμασι φαίνεται. Ἀλλ᾽ αὕτη
μὲν ἔστω ἡ ἀπορία ἐνθαδὶ κειμένη· μενόντων δὲ τῶν σωμάτων εἰ
συνήρτηται καὶ οὐκ ἀποτέτμηται, τί κωλύει τὸ φῶς μετακινουμένου τοῦ
σώματος συμμετακινεῖσθαι τό τε προσεχὲς καὶ εἴ τι τῶι προσεχεῖ
συνήρτηται, κἂν μὴ ὁρᾶται ἀπιόν, ὥσπερ οὐδὲ προσιὸν φαίνεται; Ἀλλ᾽
ἐπὶ τῆς ψυχῆς, εἰ συνέπεται τὰ δεύτερα τοῖς προτέροις καὶ τὰ ἐφεξῆς
ἀεὶ τοῖς πρὸ αὐτῶν, ἢ ἐφ᾽ ἑαυτῶν ἕκαστα καὶ ἐστερημένα τῶν πρὸ
αὐτῶν καὶ δυνάμενα ἐφ᾽ ἑαυτῶν μένειν ἢ ὅλως οὐδὲν ἀποτέτμηται τῆς
ψυχῆς μέρος, ἀλλὰ πᾶσαι μία καὶ πολλαί, καὶ ὅστις ὁ τρόπος, ἐν ἄλλοις.
Ἀλλὰ τί τὸ ἤδη σώματος γενόμενον ἴχνος τῆς ψυχῆς ὄν; Ἢ εἰ μὲν ψυχή,
συνέψεται, εἴπερ μὴ ἀποτέτμηται, τῶι ψυχῆς λόγωι· εἰ δὲ οἷον ζωὴ τοῦ
σώματος, ὁ αὐτὸς λόγος ἐκεῖ, ὃς περὶ φωτὸς ἰνδάλματος ἠπορεῖτο, καὶ
εἰ δυνατὸν ζωὴν ἄνευ ψυχῆς εἶναι, εἰ μὴ ἄρα τῶι παρακεῖσθαι τὴν
ψυχὴν ἐνεργοῦσαν εἰς ἄλλο, ταῦτα σκεπτέον.

29. Como, então, se o corpo se assemelha ao que foi aquecido, mas não
ao que foi iluminado, a alma diversa tendo saído, ele nada tem de vivo?
Certamente tem por pouco tempo, e se desgasta mais rapidamente,
como nas coisas aquecidas, distanciadas do fogo. Dão testemunho disso
pelos que surgem nos corpos de cadáveres e unhas que aumentam e
animais que, quando divididos, movem-se por muito tempo; pois isso é
o que talvez jaz neles. Pois se [a alma racional] se afastasse junto com
a alma diversa, isso não seria prova de elas não serem diferentes. Pois
o sol tendo-se afastado, não apenas a luz consequente e que é nele e que
depende dele se vai, mas também a luz que é vista nas coisas que jazem
junto, a que é a partir disso para fora disso, se vai junto, mesmo sendo
diferente daquela do sol. Por acaso, ela se vai junto ou se destrói? Isso
na luz de tal tipo deve-se buscar também na vida que é no corpo, que
dizemos ser própria do corpo. Que nada há da luz que resta nas coisas
iluminadas, é claro; mas a razão busca se ela se muda para o que a criou
ou simplesmente não é. Pois como simplesmente não é, sendo algo
anteriormente? Mas o que era de modo geral? Porque era dos mesmos
corpos, a partir dos quais era a luz, a que é dita cor, e, quando se tenham
corrompido os corpos, e não é das coisas que se mudam, e ninguém
busca onde é a cor do fogo que se apagou, como nem onde é sua

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 153

configuração. Certamente, sua configuração é produto de certo ato de


configurar, como a contração e a extensão da mão, e o produto da cor
não é assim, mas é como a doçura. Pois o que impede, o corpo do que
é doce tendo-se corrompido, a doçura não ter perecido, e o do que é
bem odoroso, o bom odor não ter perecido, ao vir a ser essas qualidades
em um corpo diverso, os corpos que as tomaram não são sensíveis a
elas porque eles não são do mesmo tipo, de modo a que as qualidades
que vieram a ser neles possam persistir pela sensação? Desse modo
também permaneceria a luz dos corpos que se corrompem, e a essência
contraposta do que é de todas as coisas não permaneceria. A não ser que
alguém diga “ver por uma lei”, e as ditas qualidades não haveria nas
coisas que subjazem121. Mas se fosse isso, faríamos indestrutíveis as
qualidades nas constituições dos corpos, e nem as razões seminais
criariam as cores, tal que na variedade de pássaros, mas elas sendo,
essas razões as reuniriam ou criariam ao se servir delas no ar, que é
cheio de qualidades desse tipo; pois por ser no ar, não seriam tais quais,
quando venham a ser, mostram-se nos corpos. Seja essa a aporia que
jaz aí; permanecendo os corpos, se a luz está conectada e não está
separada, o que a impede de mover-se junto quando o corpo se move, e
também a luz que é contígua a ela, e também se alguma luz está
conectada à contígua, mesmo que não se veja indo, como não se mostra
vindo? Mas na alma, se as coisas secundárias seguem junto às
primárias, e as que vêm em seguida seguem sempre as que vêm antes
delas, ou em si mesmas são cada uma e estão privadas das que vêm
antes e são capazes de permanecer em si mesmas, ou de modo geral
nenhuma está separada de parte da alma, mas todas são uma só e muitas,
e qualquer que seja o modo, nos diversos corpos. Mas o que é a marca
que veio a ser do corpo, sendo da alma? Certamente, se for alma, seguirá
junto com a razão da alma, se não estiver separada; e se for tal que vida
do corpo, há aí a mesma razão que hesitava sobre a aparência da luz, e
se for possível haver vida sem alma, e, portanto, se não for possível, é

121
Demócrito 68 B 125, Diels – Kranz: Δ. φύσει μὲν μηδὲν εἶναι χρῶμα· τὰ μὲν γὰρ
στοιχεῖα ἄποια, τά τε ναστὰ καὶ τὸ κενόν ... (Segundo Demócrito, por natureza não há
cor; pois os elementos e os corpos sólidos e o vazio são sem qualidade ...).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 154

por ela jazer junto da alma que é em atividade em algo diverso, essas
coisas devem-se examinar122.

30. Νῦν δ᾽ ἐπειδὴ μνήμας μὲν ἐν τοῖς ἄστροις περιττὰς εἶναι ἐθέμεθα,
αἰσθήσεις δὲ ἔδομεν καὶ ἀκούσεις πρὸς ταῖς ὁράσεσι καὶ εὐχῶν δὴ
κλύοντας ἔφαμεν, ἃς πρὸς ἥλιον ποιούμεθα καὶ δὴ καὶ πρὸς ἄστρα
ἄλλοι τινὲς ἄνθρωποι, καὶ πεπίστευται, ὡς δι᾽ αὐτῶν αὐτοῖς πολλὰ καὶ
τελεῖται καὶ δὴ καὶ οὕτω ῥᾶιστα, ὡς μὴ μόνον πρὸς τὰ δίκαια τῶν ἔργων
συλλήπτορας εἶναι, ἀλλὰ καὶ πρὸς τὰ πολλὰ τῶν ἀδίκων, τούτων τε πέρι
παραπεπτωκότων ζητητέον – ἔχει γὰρ καὶ καθ᾽ ἑαυτὰ μεγίστας καὶ
πολυθρυλλήτους παρὰ τοῖς δυσχεραίνουσιν ἀπορίας, θεοὺς συνεργοὺς
καὶ αἰτίους γίγνεσθαι ἀτόπων ἔργων, τῶν τε ἄλλων καὶ δὴ καὶ πρὸς
ἔρωτας καὶ ἀκολάστους συλλήψεις – τούτων τε οὖν εἵνεκα καὶ μάλιστα
περὶ οὗ ἐξ ἀρχῆς ὁ λόγος, τῆς μνήμης αὐτῶν. Δῆλον γὰρ ὅτι, εἰ
εὐξαμένων ποιοῦσι καὶ οὐ παραχρῆμα δρῶσιν αὐτά, ἀλλ᾽ εἰς ὕστερον
καὶ πάνυ πολλάκις εἰς χρόνους, μνήμην ὧν εὔχονται ἄνθρωποι πρὸς
αὐτοὺς ἔχουσιν. Ὁ δὲ πρόσθεν λόγος ὁ παρ᾽ ἡμῶν λεγόμενος οὐκ
ἐδίδου τοῦτο. Ἀλλὰ καὶ πρὸς τὰς εἰς ἀνθρώπους εὐεργεσίας ἦν ἂν
τοιοῦτον, οἷον Δήμητρος καὶ Ἑστίας γῆς γε οὔσης εἰ μή τις τῆι γῆι
μόνον τὸ εὖ ποιεῖν τὰ ἀνθρώπεια λέγοι. Ἀμφότερα οὖν πειρατέον
δεικνύναι, πῶς τε τὰ τῆς μνήμης θησόμεθα ἐν τούτοις – ὃ δὴ πρὸς ἡμᾶς
ἔχει, οὐ πρὸς τὰ δοκοῦντα τοῖς ἄλλοις, οἳ οὐ κωλύονται μνήμας διδόναι
– καὶ περὶ τῶν ἀλλοκότως δοκούντων γίγνεσθαι, ὃ φιλοσοφίας ἔργον
ἐπισκέψασθαι, εἴ πηι ἔστιν ἀπολογήσασθαι πρὸς τὰ κατὰ θεῶν τῶν ἐν
οὐρανῶι· καὶ δὴ καὶ περὶ αὐτοῦ παντὸς τοῦ κόσμου – ὡς καὶ εἰς τοῦτον
εἶσιν ἡ αἰτία ἡ τοιαύτη – εἰ πιστοὶ οἱ λέγοντες, οἳ καὶ αὐτόν φασι τὸν
σύμπαντα οὐρανὸν γοητεύεσθαι ὑπὸ ἀνθρώπων τόλμης καὶ τέχνης. Καὶ
περὶ δαιμόνων δὲ ἐπιζητήσει ὁ λόγος, ὅπως τὰ τοιαῦτα ὑπουργεῖν
λέγονται, εἰ μὴ διὰ τῶν προτέρων λύσιν καὶ τὰ τούτων λαμβάνοι.

122
Na edição de Eustóquio, aqui começa o terceiro livro sobre alma, isto é, de §30 a
§45.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 155

30123. Agora, já que pusemos ser supérfluas as memórias nos astros,


concedemos-lhes sensações e capacidades de ouvir além das de ver, e
dizíamos que ouvem as preces que fazemos ao sol 124, e alguns outros
homens fazem aos astros, e há confiança de que através dos astros
muitas coisas se lhes cumprem, até assim muito facilmente, de modo a
não ser apenas colaboradores para a justiça, mas também para muitas
coisas dentre as injustas, e sobre essas coisas que sobrevêm deve-se
buscar – pois por essas mesmas coisas há as maiores e muito notórias
aporias para os que acham difícil os deuses vir a ser ajudantes e
causadores de obras absurdas, até para uniões eróticas e desenfreadas –
por causa disso e principalmente sobre o que desde o princípio era o
discurso, da memória dos astros. Pois é claro que, se, tendo sido feitas
as preces, não agem subitamente aos que as fazem, mas deixam para
depois e frequentemente depois de muito tempo, eles têm memória do
que os homens imprecam para si. O discurso de antes, dito por nós, não
concedia isso. Mas para as benesses aos homens haveria tal coisa, como
de Deméter e de Héstia, que é da terra, a não ser que alguém diga que
fazer bem à humanidade não é apenas para a terra. Então, deve-se tentar
mostrar ambas as coisas: como poremos o que é da memória nos astros
– que na verdade está em relação a nós, não em relação ao que parece
aos outros, que não se impedem de conceder-lhes memórias – e sobre o
que estranhamente parece vir a ser, que é trabalho da filosofia examinar,
se de algum modo é possível falar em defesa das obras dos deuses que
são no céu; e até sobre o mesmo todo do cosmo – de modo que a causa
que é tal são as acusações contra esse cosmo – se confiáveis são os que
dizem, pois dizem que esse mesmo céu todo está encantado pela
audácia e arte de homens. Também sobre dâimones o discurso
examinará de que modo se dizem ajudar em tais coisas, a não ser que
pela solução anterior dos deuses se alcance também as questões desses.

123
Quarta questão, a influência dos astros.
124
Platão, Simpósio 220d: ἔπειτα ᾤχετ’ ἀπιὼν προσευξάμενος τῷ ἡλίῳ (em seguida
[Sócrates] foi-se afastando, tendo feito uma prece ao sol).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 156

31. Καθόλου τοίνυν τὰς ποιήσεις ληπτέον ἁπάσας καὶ τὰς πείσεις, ὅσαι
γίνονται ἐν τῶι παντὶ κόσμωι, τάς τε λεγομένας φύσει, καὶ ὅσαι τέχνηι
γίνονται· καὶ τῶν φύσει τὰς μὲν φατέον ἐκ τοῦ παντὸς γίνεσθαι εἰς τὰ
μέρη καὶ ἐκ τῶν μερῶν εἰς τὸ πᾶν ἢ μερῶν εἰς μέρη, τὰς δὲ τέχνηι
γινομένας ἢ τῆς τέχνης, ὥσπερ ἤρξατο, ἐν τοῖς τεχνητοῖς τελευτώσης,
ἢ προσχρωμένης δυνάμεσι φυσικαῖς εἰς ἔργων φυσικῶν ποιήσεις τε καὶ
πείσεις. Τὰς μὲν οὖν τοῦ ὅλου λέγω, ὅσα τε ἡ φορὰ ἡ πᾶσα ποιεῖ εἰς
αὐτὴν καὶ εἰς τὰ μέρη – κινουμένη γὰρ καὶ αὐτὴν διατίθησί πως καὶ τὰ
μέρη αὐτῆς – τά τε ἐν αὐτῆι τῆι φορᾶι καὶ ὅσα δίδωσι τοῖς ἐπὶ γῆς·
μερῶν δὲ πρὸς μέρη πείσεις [καὶ ποιήσεις] εὔδηλοί που παντί, ἡλίου τε
πρός τε τὰ ἄλλα σχέσεις [καὶ ποιήσεις] καὶ πρὸς τὰ ἐπὶ γῆς καὶ τὰ ἐν
τοῖς ἄλλοις στοιχείοις αὐτοῦ τε καὶ τῶν ἄλλων καὶ τῶν ἐπὶ γῆς καὶ ἐν
τοῖς ἄλλοις – περὶ ὧν ἑκάστου ἐξεταστέον. Τέχναι δὲ αἱ μὲν οἰκίαν
ποιοῦσαι καὶ τὰ ἄλλα τεχνητὰ εἰς τοιοῦτον ἔληξαν· ἰατρικὴ δὲ καὶ
γεωργία καὶ αἱ τοιαῦται ὑπηρετικαὶ καὶ βοήθειαν εἰς τὰ φύσει
εἰσφερόμεναι, ὡς κατὰ φύσιν ἔχειν· ῥητορείαν δὲ καὶ μουσικὴν καὶ
πᾶσαν ψυχαγωγίαν ἢ πρὸς τὸ βέλτιον ἢ πρὸς τὸ χεῖρον ἄγειν
ἀλλοιούσας, ἐν αἷς ζητητέον, ὅσαι αἱ τέχναι καὶ τίνα τὴν δύναμιν
ἔχουσι· καί, εἴπερ οἷόν τε, ἐν τούτοις ἅπασι τοῖς πρὸς τὴν παροῦσαν
χρείαν ἡμῖν καὶ τὸ διατί ἐφ᾽ ὅσον δυνατὸν πραγματευτέον. Ὅτι μὲν οὖν
ἡ φορὰ ποιεῖ, αὑτὴν μὲν πρῶτον διαφόρως διατιθεῖσα καὶ τὰ ἐντὸς
αὐτῆς, ἀναμφισβητήτως μὲν τὰ ἐπίγεια οὐ μόνον τοῖς σώμασιν, ἀλλὰ
καὶ ταῖς τῆς ψυχῆς διαθέσεσι, καὶ τῶν μερῶν ἕκαστον εἰς τὰ ἐπίγεια καὶ
ὅλως τὰ κάτω ποιεῖ, πολλαχῆι δῆλον. Εἰ δὲ καὶ ταῦτα εἰς ἐκεῖνα,
ὕστερον· νῦν δὲ τὰ πᾶσιν ἢ τοῖς πλείστοις συγχωρούμενα ἐάσαντες
οὕτως ἔχειν, ὅσα διὰ λόγου φανεῖται, πειρατέον λέγειν τὸν τρόπον ἐξ
ἀρχῆς τῆς ποιήσεως λαβόντας. Οὐ γὰρ μόνον θερμὰ καὶ ψυχρὰ καὶ τὰ
τοιαῦτα, ἃ δὴ ποιότητες πρῶται τῶν στοιχείων λέγονται, οὐδ᾽ ὅσαι ἐκ
τῆς τούτων μίξεως ποιεῖν λεκτέον οὐδὲ πάντα τὸν ἥλιον θερμότητι,
ψύξει δὲ ἄλλον τινά – τί γὰρ ἂν ψυχρὸν εἴη ἐν οὐρανίωι καὶ πυρίνωι
σώματι; – οὐδ᾽ ἄλλον ὑγρῶι πυρί. Οὕτω τε γὰρ οὐδὲ τὴν διαφορὰν
αὐτῶν λαβεῖν οἷόν τε. Πολλὰ δὲ καὶ τῶν γινομένων εἰς τούτων τι οὐχ
οἷόν τε ἀναγαγεῖν. Οὐδὲ γὰρ εἴ τις τὰς τῶν ἠθῶν διαφορὰς δοίη αὐτοῖς
κατὰ τὰς τῶν σωμάτων κράσεις διὰ ψυχρότητα ἐπικρατοῦσαν ἢ διὰ
θερμότητα τοιαύτας – πῶς ἂν φθόνους ἢ ζηλοτυπίας ἢ πανουργίας εἰς

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 157

ταῦτα ἀνάγοι; Ἀλλ᾽ εἰ καὶ ταῦτα, τύχας γοῦν πῶς, χείρους τε καὶ
βελτίους, πλουσίους καὶ πένητας, καὶ πατέρων εὐγενείας ἢ αὐτῶν
θησαυρῶν τε εὑρέσεις; Μυρία ἄν τις ἔχοι λέγειν πόρρω ἄγων
σωματικῆς ποιότητος τῆς ἐκ τῶν στοιχείων εἰς τὰ τῶν ζώιων σώματα
καὶ ψυχὰς ἰούσης. Οὐ μὴν οὐδὲ προαιρέσει ἀναθετέον τῶν ἄστρων καὶ
τῆι τοῦ παντὸς γνώμηι καὶ τοῖς τούτων λογισμοῖς τὰ συμπίπτοντα περὶ
ἕκαστα τῶν ὑπ᾽ αὐτά. Ἄτοπον γὰρ ἐκείνους μηχανᾶσθαι περὶ τὰ τῶν
ἀνθρώπων, ὅπως οἱ μὲν γένοιντο κλέπται, οἱ δὲ ἀνδραποδισταὶ
τοιχωρύχοι τε καὶ ἱερόσυλοι, ἄνανδροί τε ἄλλοι καὶ θήλεις τὰ ἔργα καὶ
τὰ πάθη καὶ τὰ αἰσχρὰ δρῶντες. Οὐ γὰρ ὅτι θεῶν, ἀλλ᾽ οὐδὲ ἀνθρώπων
μετρίων, τάχα δὲ οὐδὲ ὡντινωνοῦν τὰ τοιαῦτα ἐργάζεσθαι καὶ
καταμηχανᾶσθαι, ἐξ ὧν αὐτοῖς οὐδ᾽ ἡτισοῦν ὠφέλεια ἂν γίγνοιτο.

31. Em geral deve-se tomar todas as criações e as afecções, quantas vêm


a ser em todo o cosmo, as que são ditas por natureza, e quantas vêm a
ser por arte; e daquelas por natureza deve-se dizer que umas vêm a ser
desde o todo para as partes e desde as partes para o todo ou de partes
para partes, as que vêm a ser por arte, é porque ou da arte termina nos
artifícios, como começou, ou se serve de potências naturais para
criações e afecções de obras naturais. E digo que aquelas que são do
inteiro são também quantas coisas a órbita toda cria em si mesma e em
suas partes – pois ao mover-se dispõe-se como também suas partes – e
o que há na própria órbita é quanto ela dá aos que são na terra; as
afecções e as criações de partes a partes são de certo modo bem
evidentes para o todo, configurações e criações do sol para coisas
diversas, para o que há na terra nas diversas posições125 do mesmo sol,
e dentre as coisas diversas há aquelas na terra e aquelas nos outros astros
– deve-se indagar sobre cada uma dessas coisas. As artes que criam uma
casa e diversas coisas artificiais cessam em tal fim; a arte médica e da
agricultura e aquelas assistentes desse tipo levam ajuda às coisas que
são por natureza, de modo a ser segundo a natureza; a retórica e a
música e toda arte que conduz a alma leva ou ao melhor ou ao pior, por

125
Στοιχεῖον é a linha de sombra no relógio solar que marca as horas e sua posição.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 158

ser diversas, nas quais se devem buscar quantas são as artes e que
potência têm; e, se for possível, nessas coisas todas de presente utilidade
para nós deve-se elaborar o ‘porquê’, de quanto for possível. Então, que
a órbita cria, porque primeiro dispõe a si mesma em modo diverso e as
coisas dentro de si, e ela cria de modo inequívoco as coisas sobre a terra
não só para os corpos, mas também para as disposições da alma, e cada
uma de suas partes para as coisas sobre a terra e de modo geral as coisas
abaixo dela, é claro de vários modos. E se essas coisas inferiores criam
também para aquelas, fica para depois126. Agora, deixando assim estar
o que está de acordo com todos ou com a maioria, quanto se mostra pelo
discurso, deve-se tentar dizer o modo, ao tomar desde o princípio da
criação. Pois não são apenas coisas quentes e frias as que se dizem
qualidades primeiras das posições [dos astros], nem se deve dizer
quantas qualidades essas tais coisas criam desde a mistura de tais
posições, nem que o sol cria tudo pelo calor, e pelo resfriamento algum
outro astro – pois o que no céu seria frio e de corpo ígneo? – nem que
outro astro é de húmido fogo. Pois assim nem é possível tomar a
diferença deles. Não é possível reconduzir muitas das coisas que vêm a
ser a algum desses posicionamentos. Nem se alguém lhes atribuísse as
diferenças de caracteres segundo as tais fusões de corpos, por causa de
frio ou de calor que excede – como conduziria a isso sentimentos de
carência ou de ciúmes ou de astúcia? Mas se fosse isso, como
conduziria as sortes, piores e melhores, riquezas e pobrezas, nobreza
dos pais ou de si mesmos e descobertas de tesouros? Alguém, ao
conduzir assim, teria a dizer a mais uma miríade de qualidade corpórea
que vai desde as posições dos astros aos corpos dos viventes e almas.
Contudo, nem não se deve atribuir à escolha dos astros aquilo que incide
em cada coisa das que são abaixo deles, tanto pelo saber do todo quanto
pelos cálculos deles. Pois é absurdo que aqueles astros tramem acerca
dos caracteres dos homens, de modo que eles venham a ser ladrões, uns
sendo traficantes de escravos, arrombadores e saqueadores de templo,
e outros sendo covardes e efeminados no trabalho e no sofrimento,

126
§40-42.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 159

agindo torpemente. Porque não é de deuses, mas nem de homens


comedidos, logo nem de qualquer um que seja elaborar e tramar tais
coisas, desde as quais nenhuma vantagem viria a ser para eles.

32. Εἰ οὖν μήτε σωματικαῖς αἰτίαις ἀναθήσομεν μήτε προαιρέσεσιν,


ὅσα ἔξωθεν εἰς ἡμᾶς τε καὶ τὰ ἄλλα ζῶια καὶ ὅλως ἐπὶ γῆς ἀφικνεῖται
ἐξ οὐρανοῦ, τίς ἂν εἴη λοιπὴ καὶ εὔλογος αἰτία; Πρῶτον τοίνυν θετέον
ζῶιον ἓν πάντα τὰ ζῶια τὰ ἐντὸς αὐτοῦ περιέχον τόδε τὸ πᾶν εἶναι,
ψυχὴν μίαν ἔχον εἰς πάντα αὐτοῦ μέρη, καθόσον ἐστὶν ἕκαστον αὐτοῦ
μέρος· μέρος δὲ ἕκαστόν ἐστι τὸ ἐν τῶι παντὶ αἰσθητῶι, κατὰ μὲν τὸ
σῶμα καὶ πάντη, ὅσον δὲ καὶ ψυχῆς τοῦ παντὸς μετέχει, κατὰ τοσοῦτον
καὶ ταύτηι· καὶ τὰ μὲν μόνης ταύτης μετέχοντα κατὰ πᾶν ἐστι μέρη, ὅσα
δὲ καὶ ἄλλης, ταύτηι ἔχει τὸ μὴ μέρη πάντη εἶναι, πάσχει δὲ οὐδὲν ἧττον
παρὰ τῶν ἄλλων, καθόσον αὐτοῦ τι ἔχει, καὶ κατ᾽ ἐκεῖνα, ἃ ἔχει.
Συμπαθὲς δὴ πᾶν τοῦτο τὸ ἕν, καὶ ὡς ζῶιον ἕν, καὶ τὸ πόρρω δὴ ἐγγύς,
ὥσπερ ἐφ᾽ ἑνὸς τῶν καθέκαστα ὄνυξ καὶ κέρας καὶ δάκτυλος καὶ ἄλλο
τι τῶν οὐκ ἐφεξῆς· ἀλλὰ διαλείποντος τοῦ μεταξὺ καὶ παθόντος οὐδὲν
ἔπαθε τὸ οὐκ ἐγγύς. Οὐ γὰρ ἐφεξῆς τῶν ὁμοίων κειμένων,
διειλημμένων δὲ ἑτέροις μεταξύ, τῆι δὲ ὁμοιότητι συμπασχόντων, καὶ
εἰς τὸ πόρρω ἀφικνεῖσθαι ἀνάγκη τὸ παρὰ τοῦ μὴ παρακειμένου
δρώμενον· ζώιου τε ὄντος καὶ εἰς ἓν τελοῦντος οὐδὲν οὕτω πόρρω
τόπωι, ὡς μὴ ἐγγὺς εἶναι τῆι τοῦ ἑνὸς ζώιου πρὸς τὸ συμπαθεῖν φύσει.
Τὸ μὲν οὖν ὁμοιότητα πρὸς τὸ ποιοῦν ἔχον πεῖσιν ἔχει οὐκ ἀλλοτρίαν,
ἀνομοίου δὲ ὄντος τοῦ ποιοῦντος ἀλλότριον τὸ πάθημα καὶ οὐ
προσηνὲς τὸ πάσχον ἴσχει. Βλαβερὰν δὲ ποίησιν ἄλλου πρὸς ἄλλου
ἑνὸς ὄντος ζώιου οὐ δεῖ τεθαυμακέναι· ἐπεὶ καὶ ἐφ᾽ ἡμῶν ἐν ταῖς
ἐνεργείαις ταῖς ἡμετέραις βλάπτοι ἂν ἄλλο πρὸς ἄλλου μέρος, ἐπεὶ καὶ
χολὴ καὶ ὁ θυμὸς ἄλλο, ὡς δοκεῖ, πιέζει καὶ κεντεῖ. Καὶ δὴ καὶ ἐν τῶι
παντὶ ἔστι τι θυμῶι καὶ χολῆι ἀνάλογον καὶ ἄλλο ἄλλωι· καὶ ἐν τοῖς
φυτοῖς δὲ ἐμπόδιον ἔσται ἄλλο ἄλλωι, ὥστε καὶ ἀφαυᾶναι. Τοῦτο δὲ οὐ
μόνον ἓν ζῶιον, ἀλλὰ καὶ πολλὰ ὂν ὁρᾶται· ὥστε καθόσον μὲν ἕν,
ἕκαστον τῶι ὅλωι σώιζεται, καὶ καθόσον δὲ καὶ πολλά, πρὸς ἄλληλα
συνιόντα πολλαχῆι τῶι διαφόρωι ἔβλαψε· καὶ πρὸς τὴν αὐτοῦ χρείαν
ἄλλο ἕτερον ἔβλαψε, καὶ δὴ καὶ τροφὴν ἐποιήσατο συγγενὲς ἅμα καὶ
διάφορον ὑπάρχον· καὶ σπεῦδον ἕκαστον ἑαυτῶι κατὰ φύσιν, ὅσον τε

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 160

οἰκεῖον τοῦ ἑτέρου, λαμβάνει εἰς αὐτό, καὶ ὅσον ἀλλότριον ἐγίνετο,
ἀφανίζει εὐνοίαι τῆι ἑαυτοῦ. Ἔργον τε τὸ αὑτοῦ ποιοῦν ἕκαστον τὸ μὲν
δυνηθὲν ἀπολαῦσαί τι τῶν αὐτοῦ ἔργων ὠφέλησεν, ὃ δ᾽ ἀδύνατον ἦν
ὑπομεῖναι τὴν ὁρμὴν τοῦ ἔργου, ἠφάνισεν ἢ ἔβλαψεν, ὥσπερ ὅσα
αὐανθείη ἂν παριόντος πυρός, ἢ ζῶια ἐλάττω ὑπὸ μειζόνων δρόμου
παρασυρείη ἢ καί που πατηθείη. Πάντων δὲ τούτων ἡ γένεσις ἥ τε
φθορὰ ἀλλοίωσις τε πρὸς τὸ χεῖρον ἢ βέλτιον τὴν τοῦ ἑνὸς ζώιου
ἐκείνου ἀνεμπόδιστον καὶ κατὰ φύσιν ἔχουσαν ζωὴν ἀποτελεῖ, ἐπείπερ
οὐχ οἷόν τε ἦν ἕκαστα οὕτως ἔχειν, ὡς μόνα ὄντα, οὐδὲ πρὸς αὐτὰ τὸ
τέλος εἶναι καὶ βλέπειν μέρη ὄντα, ἀλλὰ πρὸς ἐκεῖνο, οὗπερ καὶ μέρη,
διάφορά τε ὄντα μὴ πάντα τὸ αὐτῶν ἐν μιᾶι ζωῆι ὄντα ἀεὶ ἔχειν· οὐκ ἦν
τε μένειν οὐδὲν πάντη ὡσαύτως, εἴπερ ἔμελλε τὸ πᾶν μένειν ἐν τῶι
κινεῖσθαι τὸ μένειν ἔχον.

32. Então, se nem por causas corpóreas nem por escolhas atribuiremos,
quantas coisas de fora chegam a nós, aos outros viventes e de modo
geral desde o céu sobre a terra, qual seria a causa restante e racional?
Primeiro deve-se pôr que este todo é “vivente único que contém dentro
de si mesmo todos os viventes”127, tendo única alma para todas as partes
dele, na medida em que é cada parte sua; e cada parte é no todo sensível,
segundo seja corpo em sua totalidade, enquanto participa da alma do
todo, segundo é tão grande nessa alma; e são partes no todo aqueles
viventes que participam dessa única, quantas são também de outra
alma128, e por essa têm o não ser partes totalmente, mas nada menos
sofrem da parte dos outros viventes, na medida em que têm algo do
todo, o que têm é segundo aqueles outros viventes. Na verdade, esse

127
Platão, Timeu 30d: τῷ γὰρ τῶν νοουμένων καλλίστῳ καὶ κατὰ πάντα τελέῳ
μάλιστα αὐτὸν ὁ θεὸς ὁμοιῶσαι βουληθεὶς ζῷον ἓν ὁρατόν, πάνθ’ ὅσα αὐτοῦ κατὰ
φύσιν συγγενῆ ζῷα ἐντὸς ἔχον ἑαυτοῦ, συνέστησε (o mesmo deus, querendo
assemelhar o vivente ao mais belo dos que são inteligentes e mais perfeito em tudo,
constituiu-o um só, visível, tendo dentro de si mesmo todos os viventes quantos são
seus congêneres por natureza).
128
Apresentação do homem como figura ontológica, que, mesmo sendo parte do todo,
tem outra alma, que é parte daquela criadora do cosmo e pela qual contempla a
Inteligência e o Uno-Bem.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 161

todo, que sofre junto, é único, e como é único vivente, o que é distante
é próximo, como são de um só cada uma das partes: unha, chifre, dedo,
e algo diverso das partes que não são em sequência; mas o que resta
sendo no intervalo e nada sofrendo, sofre o que não é próximo. Pois
partes semelhantes que não jazem em sequência, que estão distinguidas
entre outras diferentes, pela semelhança sofrem em conjunto, e há
necessidade chegar ao distante que age da parte do que não está perto;
sendo vivente e perfeito em um só, nada assim é distante no espaço,
como não é próximo pela natureza do vivente único em relação a sofrer
junto. O que é semelhante em relação ao que cria, tendo afecção, a tem
não estranha, mas sendo dessemelhante do que cria, estranha é a
impressão e o que a sofre não fica confortável. Não é preciso estar
admirado que, sendo vivente único, a criação de uma parte seja nociva
a outra; uma vez que mesmo em nós, nas atividades de nossas partes,
uma parte prejudique outra, já que tanto a bile quanto a ira, ao que
parece, oprime e aguça outra parte. E mesmo no todo há algo análogo à
bile e à ira, um por outro; e nas plantas uma parte será impedimento à
outra, de modo a ressecá-la. Esse vivente não é apenas único, mas
também se vê sendo muitos viventes; conquanto seja único, cada parte
se salva pelo inteiro, e conquanto seja muitos, por seguir junto
frequentemente prejudica um ao outro pela diferença; e por vantagem
própria um prejudica um diferente, e ainda se faz nutrição ao mesmo
tempo tanto do que por princípio é congênere quanto do que é diferente;
e cada parte esforçando-se por si mesma por natureza, quanto venha a
ser familiar de parte diferente, a toma para si, e quanto venha a ser
estranha, faz desaparecer por benevolência a si mesma129. E cada parte
cria de si mesma um trabalho, a que foi capaz de gozar algo de seus
próprios trabalhos tem vantagem, mas faz desaparecer ou prejudica a
que era incapaz de resistir ao impulso do trabalho, desse modo quantas
coisas seriam ressecadas com o passar do fogo, ou os viventes menores

129
Platão, Górgias 485a: ὅπου δ’ ἂν φαῦλος ᾖ, ἐντεῦθεν φεύγει καὶ λοιδορεῖ τοῦτο,
τὸ δ’ ἕτερον ἐπαινεῖ, εὐνοίᾳ τῇ ἑαυτοῦ, ἡγούμενος οὕτως αὐτὸς ἑαυτὸν ἐπαινεῖν
(onde seja fraco, daí foge e reprova, mas louva o diferente por benevolência a si
mesmo, considerando assim louvar a si mesmo).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 162

seriam arrastados ou até de algum modo pisoteados pela corrida dos


maiores. A gênese de todas essas coisas que é destruição e
diversificação para pior ou para melhor completa a vida daquele vivente
único que é desimpedida e natural, uma vez que não era possível cada
parte ser assim, como se fossem únicas, nem o fim era ser e olhar para
as elas mesmas, porque são partes, mas era olhar para aquilo de que
exatamente são partes, e sendo diferentes, nem todas têm sempre o que
é delas mesmas em única vida; e não havia permanecer nada totalmente
do mesmo modo, se o todo havia de permanecer no mover-se que tem
o permanecer.

33. Τῆς δὴ φορᾶς τὸ εἰκῆ οὐκ ἐχούσης, ἀλλὰ λόγωι τῶι κατὰ τὸ ζῶιον
φερομένης, ἔδει καὶ συμφωνίαν τοῦ ποιοῦντος πρὸς τὸ πάσχον εἶναι καί
τινα τάξιν εἰς ἄλληλα καὶ πρὸς ἄλληλα συντάσσουσαν, ὥστε καθ᾽
ἑκάστην σχέσιν τῆς φορᾶς καὶ τῶν αὖ ὑπὸ τὴν φορὰν ἄλλην καὶ ἄλλην
τὴν διάθεσιν εἶναι, οἷον μίαν ὄρχησιν ἐν ποικίληι χορείαι ποιούντων·
ἐπεὶ καὶ ἐν ταῖς παρ᾽ ἡμῖν ὀρχήσεσι τὰ μὲν ἔξω [πρὸς τὴν ὄρχησιν] καθ᾽
ἕκαστον τῶν κινημάτων, ὡς ἑτέρως μεταβαλλόντων τῶν συντελούντων
πρὸς τὴν ὄρχησιν, αὐλῶν τε καὶ ὠιδῶν καὶ τῶν ἄλλων τῶν
συνηρτημένων, τί ἄν τις λέγοι φανερῶν ὄντων; Ἀλλὰ τὰ μέρη τοῦ τὴν
ὄρχησιν παρεχομένου καθ᾽ ἕκαστον σχῆμα ἐξ ἀνάγκης οὐκ ἂν ὡσαύτως
δύναιτο ἔχειν, [τῶν μελῶν] τοῦ σώματος ταύτηι συνεπομένου καὶ
καμπτομένου καὶ [τῶν μελῶν] πιεζομένου μὲν ἑτέρου, ἀνιεμένου δὲ
ἄλλου, καὶ τοῦ μὲν πονοῦντος, τοῦ δὲ ἀναπνοήν τινα ἐν τῶι διαφόρωι
σχηματισμῶι δεχομένου. Καὶ ἡ μὲν προαίρεσις τοῦ ὀρχουμένου πρὸς
ἄλλο βλέπει, τὰ δὲ πάσχει τῆι ὀρχήσει ἑπομένως καὶ ὑπουργεῖ τῆι
ὀρχήσει καὶ συναποτελεῖ τὴν πᾶσαν, ὥστε τὸν ἔμπειρον ὀρχήσεως
εἰπεῖν ἄν, ὡς τῶι τοιούτωι σχηματισμῶι αἴρεται μὲν ὑψοῦ τοδὶ μέλος
τοῦ σώματος, συγκάμπτεται δὲ τοδί, τοδὶ δὲ ἀποκρύπτεται, ταπεινὸν δὲ
ἄλλο γίνεται, οὐκ ἄλλως τοῦ ὀρχηστοῦ προελομένου τοῦτο ποιεῖν, ἀλλ᾽
ἐν τῆι τοῦ ὅλου σώματος ὀρχήσει θέσιν ταύτην ἀναγκαίαν ἴσχοντος
τοῦδε τοῦ μέρους τοῦ τὴν ὄρχησιν διαπεραίνοντος. Τοῦτον τοίνυν τὸν
τρόπον καὶ τὰ ἐν οὐρανῶι φατέον ποιεῖν, ὅσα ποιεῖ, τὰ δὲ καὶ σημαίνειν,
μᾶλλον δὲ τὸν μὲν ὅλον κόσμον τὴν ὅλην αὐτοῦ ζωὴν ἐνεργεῖν
κινοῦντα ἐν αὐτῶι τὰ μέρη τὰ μεγάλα καὶ μετασχηματίζοντα ἀεί, τὰς δὲ

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 163

σχέσεις τῶν μερῶν πρὸς ἄλληλα καὶ πρὸς τὸ ὅλον καὶ τὰς διαφόρους
αὐτῶν θέσεις ἑπόμενα καὶ τὰ ἄλλα, ὡς ζώιου ἑνὸς κινουμένου,
παρέχεσθαι, ὡδὶ μὲν ἴσχοντα κατὰ τὰς ὡδὶ σχέσεις καὶ θέσεις καὶ
σχηματισμούς, ὡδὶ δὲ κατὰ τὰς ὡδί, ὡς μὴ τοὺς σχηματιζομένους τοὺς
ποιοῦντας εἶναι, ἀλλὰ τὸν σχηματίζοντα, μηδ᾽ αὖ τὸν σχηματίζοντα
ἄλλο ποιοῦντα ἄλλο ποιεῖν – οὐ γὰρ εἰς ἄλλο – ἀλλὰ αὐτὸν πάντα τὰ
γινόμενα εἶναι, ἐκεῖ μὲν τὰ σχήματα, ἐνθαδὶ δὲ τὰ συνεπόμενα τοῖς
σχήμασιν ἀναγκαῖα παθήματα περὶ τὸ οὑτωσὶ κινούμενον ζῶιον εἶναι,
καὶ αὖ περὶ τὸ οὑτωσὶ συγκείμενον καὶ συνεστὼς φύσει καὶ πάσχον καὶ
δρῶν εἰς αὐτὸ ἀνάγκαις.

33. Portanto, a órbita não sendo em vão, mas levada por uma razão que
é no vivente, era preciso haver uma sintonia do que cria para o que sofre
e uma certa ordem em uns e outros que os coordenasse entre si, de modo
a haver também diversa disposição segundo cada configuração da órbita
e dos astros que são sob a órbita diversa, tal que dos que criam uma só
dança em variada coreografia. Uma vez que mesmo nas danças entre
nós há elementos de fora segundo cada produto dos movimentos,
mudando-se assim diferentemente os elementos que contribuem para a
dança, como flautas, cantos e diversos elementos dependentes, por que
alguém diria, sendo eles evidentes? Mas os membros do que representa
a dança segundo cada configuração de necessidade não poderia ser da
mesma forma, o corpo aí seguindo e curvando-se, comprimindo-se uma
parte diferente e relaxando outra diversa, uma parte sofrendo e outra
recebendo certo repouso em diferente produto de configuração. A
escolha do dançarino olha para algo diverso, os membros sofrem com
o seguir da dança e auxiliam a levar a termo a dança toda, de modo que
o especialista de dança diria que em tal produto de configuração eleva-
se ao alto este membro do corpo, se contrai aquele, este se oculta e um
diverso vem a ser abaixado, não porque o dançarino escolheu fazer isso
diversamente, mas porque esta parte que conduz a dança tinha essa
posição necessária na dança do corpo inteiro. Desse modo, portanto,
deve-se dizer que os astros no céu criam e sinalizam quantas coisas
criam, isto é, que o cosmo inteiro ativa sua inteira vida ao mover as
partes que são grandes, que mudam sempre em si mesmo sua

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 164

configuração e seguem: as configurações das partes em relação umas


com outras e em relação ao todo e as posições diferentes delas, e as
outras partes, como de vivente único que se move, se apresentam, aqui
mantendo os produtos de configuração segundo as configurações e
posições daqui, ali mantendo segundo as dali, de modo a não ser os que
são configurados os que criam, mas o que configura, nem por sua vez o
que configura cria uma coisa ao criar outra – pois não cria para algo
diverso – pois ele mesmo é todas as coisas que vêm a ser, aqui as coisas
que seguem as configurações são impressões necessárias acerca do
vivente que assim se move, e por sua vez acerca do que junto assim jaz
e se constitui junto por natureza, sofrendo e agindo para si mesmo por
necessidades.

34. Ἡμᾶς δὲ διδόντας τὸ μέρος αὐτῶν εἰς τὸ πάσχειν, ὅσον ἦν ἡμέτερον


ἐκείνου τοῦ σώματος, μὴ τὸ πᾶν ἐκείνου νομίζοντας, μέτρια παρ᾽ αὐτοῦ
πάσχειν· ὥσπερ οἱ ἔμφρονες τῶν θητευόντων τὸ μέν τι τοῖς
δεσπόζουσιν ὑπηρετοῦντες, τὸ δ᾽ αὐτῶν ὄντες, μετριωτέρων τῶν παρὰ
τοῦ δεσπότου ἐπιταγμάτων διὰ τοῦτο τυγχάνοντες, ἅτε μὴ ἀνδράποδα
ὄντες μηδὲ τὸ πᾶν ἄλλου. Τὸ δὲ τῶν σχηματισμῶν διάφορον τῶν
θεόντων μὴ ἰσοταχῶν ὄντων ἀναγκαῖον ἦν γίνεσθαι, ὡς νῦν γίνεται.
Λόγωι δὲ φερομένων καὶ διαφόρων τῶν σχέσεων τοῦ ζώιου γινομένων,
εἶτα καὶ ἐνταῦθα τούτων τῶν παρ᾽ ἡμῖν συμπαθῶν πρὸς τὰ ἐκεῖ
γινομένων, εὔλογον ζητεῖν, πότερα συνέπεσθαι φατέον ταῦτα
συμφωνοῦντα ἐκείνοις, ἢ τὰ σχήματα τὰς δυνάμεις τῶν ποιουμένων
ἔχειν, καὶ τὰ σχήματα ἁπλῶς ἢ τὰ τούτων. Οὐ γὰρ ὁ αὐτὸς σχηματισμὸς
ταὐτοῦ ἐπ᾽ ἄλλου καὶ αὖ ἄλλων τὴν αὐτὴν σημασίαν ἢ ποίησιν
ἐργάζεται· ἐπεὶ καὶ καθ᾽ αὑτὸν ἕκαστος διάφορον ἔχειν τὴν φύσιν
δοκεῖ. Ἢ ὀρθῶς ἔχει λέγειν τὴν τούτων σχημάτισιν ταδὶ καὶ τοιάνδε
διάθεσιν εἶναι, τὴν δὲ ἄλλων τὴν αὐτὴν οὖσαν ἐν σχηματισμῶι ἄλλην;
Ἀλλ᾽ εἰ τοῦτο, οὐκέτι τοῖς σχήμασιν, ἀλλ᾽ αὐτοῖς τοῖς σχηματιζομένοις
δώσομεν. Ἢ συναμφοτέροις; Τοῖς γοῦν αὐτοῖς διάφορον σχέσιν
λαβοῦσιν, ἀλλὰ καὶ τῶι αὐτῶι μόνωι διάφορον τόπον ἄλλα. Ἀλλὰ τί;
Ποιήσεις ἢ σημασίας; Ἢ τῶι συναμφοτέρωι τῶι σχηματισμῶι τῶι
τούτων ἄμφω καὶ ποιήσεις καὶ σημασίας ἐν πολλοῖς, ἀλλαχοῦ δὲ
σημασίας μόνον. Οὗτος τοίνυν ὁ λόγος δυνάμεις μὲν δίδωσι τοῖς

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 165

σχήμασι, δυνάμεις δὲ καὶ τοῖς σχηματιζομένοις· ἐπεὶ καὶ τῶν


ὀρχουμένων ἔχει μὲν δύναμίν τινα καὶ χεὶρ ἑκατέρα καὶ τὰ ἄλλα μέλη,
ἔχει δὲ καὶ τὰ σχήματα πολλήν, τρίτα δέ ἐστι τὰ συνεπόμενα, αὐτῶν τε
τῶν εἰς τὴν ὄρχησιν παραλαμβανομένων τὰ μέρη καὶ ἐξ ὧν ταῦτα, οἷον
χειρὸς τὰ συνθλιβόμενα καὶ νεῦρα καὶ φλέβες συμπαθοῦντα.

34. Ao atribuirmos para o sofrer a parte de nós mesmos, quanto era


nosso daquele corpo [do universo], porque não nos consideramos ser
dele totalmente, o sofrer da parte dele é moderado; assim são os
sensatos dentre os servidores, por um lado prestando algum serviço aos
que mandam, por outro, sendo de si mesmos, obtendo por isso que
sejam mais moderadas as ordens do senhor, porque não são escravos
nem absolutamente de outro. Era necessário a diferença das
configurações vir a ser, como agora vem a ser, porque os que correm
não são de mesma velocidade. Ao levar-se por uma razão e vir a ser
diferenças das configurações do vivente, depois por vir a ser mesmo
aqui esses elementos em simpatia conosco em relação aos de lá, é boa
razão buscar se se deve dizer que esses elementos seguem junto em
sinfonia com aqueles, ou porque as configurações têm as potências das
coisas criadas, e são simplesmente configurações ou são aquelas desses
astros. Pois a mesma configuração de um mesmo astro sobre outro não
elabora por sua vez a mesma significação ou criação de outras
configurações; uma vez que cada astro parece ter por si mesmo uma
diferença natural. Ou é correto dizer que a configuração deles é uma
disposição aqui e deste tipo, e, sendo a mesma disposição na
configuração de outros astros, é diversa? Mas se é isso, não mais
atribuiremos às configurações, mas aos astros configurados. Ou será a
ambos juntos? Certamente, atribuiremos aos que tomam configuração
diferente, mas também a esse único astro em diferente lugar haverá
outras configurações. Mas por quê? Criações ou significações? Por
certo, atribuiremos ao produto de configuração em conjunto de ambos
os casos, tanto criações quanto significações na maioria dos casos, e em
outra parte apenas significações. Portanto, esse discurso dá potências
às configurações e dá também potências aos astros configurados; uma
vez que mesmo dentre os que dançam, cada mão e os outros membros

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 166

têm certa potência, as suas configurações têm potência diversa, e


terceiras configurações são os membros que seguem em conjunto,
sendo os mesmos que empregam as partes na dança, desde o que há
essas configurações, tal que da mão os nervos e veias que são
comprimidos por impressão conjunta.

35. Πῶς δὴ οὖν αὗται αἱ δυνάμεις; Σαφέστερον γὰρ πάλιν λεκτέον, τί


τὸ τρίγωνον παρὰ τὸ τρίγωνον διάφορον ἔχει, τί δὲ ὁδὶ πρὸς τονδί, καὶ
κατὰ τί τοδὶ ἐργάζεται καὶ μέχρι τίνος. Ἐπειδὴ οὔτε τοῖς σώμασιν αὐτῶν
οὔτε ταῖς προαιρέσεσιν ἀπέδομεν τὰς ποιήσεις· τοῖς μὲν σώμασιν, ὅτι
μὴ μόνον σώματος ἦν ποιήματα τὰ γινόμενα, ταῖς δὲ προαιρέσεσιν, ὅτι
ἄτοπον ἦν προαιρέσεσι θεοὺς ποιεῖν ἄτοπα. Εἰ δὲ μνημονεύοιμεν, ὅτι
ζῶιον ἓν ὑπεθέμεθα εἶναι, καὶ ὅτι οὕτως ἔχον συμπαθὲς αὐτὸ ἑαυτῶι
ἐξανάγκης ἔδει εἶναι, καὶ δὴ καὶ ὅτι κατὰ λόγον ἡ διέξοδος τῆς ζωῆς
σύμφωνος ἑαυτῆι ἅπασα, καὶ ὅτι τὸ εἰκῆ οὐκ ἔστιν ἐν τῆι ζωῆι, ἀλλὰ
μία ἁρμονία καὶ τάξις, καὶ οἱ σχηματισμοὶ κατὰ λόγον, καὶ κατ᾽
ἀριθμοὺς δὲ ἕκαστα καὶ τὰ χορεύοντα ζώιου μέρη, ἄμφω ἀνάγκη
ὁμολογεῖν τὴν ἐνέργειαν τοῦ παντὸς εἶναι, τά τε ἐν αὐτῶι γινόμενα
σχήματα καὶ τὰ σχηματιζόμενα μέρη αὐτοῦ, καὶ τὰ τούτοις ἑπόμενα καὶ
οὕτω, καὶ τοῦτον τὸν τρόπον ζῆν τὸ πᾶν, καὶ τὰς δυνάμεις εἰς τοῦτο
συμβάλλειν, ἅσπερ καὶ ἔχοντες ἐγένοντο ὑπὸ τοῦ εὐλόγως
πεποιηκότος. Καὶ τὰ μὲν σχήματα οἷον λόγους εἶναι ἢ διαστάσεις ζώιου
καὶ ῥυθμοὺς καὶ σχέσεις ζώιου κατὰ λόγον, τὰ δὲ διεστηκότα καὶ
ἐσχηματισμένα μέλη ἄλλα· καὶ εἶναι τοῦ ζώιου δυνάμεις χωρὶς [τῆς]
προαιρέσεως ἄλλας τὰς ὡς ζώιου μέρη, ἐπεὶ τὸ τῆς προαιρέσεως αὐτοῖς
ἔξω καὶ οὐ συντελοῦν πρὸς τοῦ ζώιου τοῦδε τὴν φύσιν. Μία γὰρ ἡ
προαίρεσις ἑνὸς ζώιου, αἱ δὲ δυνάμεις αἱ ἄλλαι αὐτοῦ πρὸς αὐτὸ
πολλαί. Ὅσαι δ᾽ ἐν αὐτῶι προαιρέσεις, πρὸς τὸ αὐτό, πρὸς ὃ καὶ ἡ τοῦ
παντὸς ἡ μία. Ἐπιθυμία μὲν γὰρ ἄλλου πρὸς ἄλλο τῶν ἐν αὐτῶι· λαβεῖν
γάρ τι τῶν ἑτέρων ἐθέλει μέρος τὸ ἄλλο μέρος ἐνδεὲς ὂν αὐτό· καὶ
θυμὸς πρὸς ἕτερον, ὅταν τι παραλυπῆι, καὶ ἡ αὔξησις παρ᾽ ἄλλου καὶ ἡ
γένεσις εἰς ἄλλο τῶν μερῶν. Τὸ δ᾽ ὅλον καὶ ἐν τούτοις μὲν ταῦτα ποιεῖ,
αὐτὸ δὲ τὸ ἀγαθὸν ζητεῖ, μᾶλλον δὲ βλέπει. Τοῦτο τοίνυν καὶ ἡ ὀρθὴ
προαίρεσις ἡ ὑπὲρ τὰ πάθη ζητεῖ καὶ εἰς τὸ αὐτὸ ταύτηι συμβάλλει· ἐπεὶ
καὶ τῶν παρ᾽ ἄλλωι θητευόντων πολλὰ μὲν τῶν ἔργων αὐτοῖς βλέπει

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 167

πρὸς τὰ ἐπιταχθέντα ὑπὸ τοῦ δεσπότου, ἡ δὲ τοῦ ἀγαθοῦ ὄρεξις πρὸς τὸ


αὐτό, πρὸς ὃ καὶ ὁ δεσπότης. Εἰ δὴ δρᾶι τι ἥλιος καὶ τὰ ἄλλα ἄστρα εἰς
τὰ τῆιδε, χρὴ νομίζειν αὐτὸν μὲν ἄνω βλέποντα εἶναι – ἐφ᾽ ἑνὸς γὰρ τὸν
λόγον ποιητέον – ποιεῖσθαι δὲ παρ᾽ αὐτοῦ, ὥσπερ τὸ θερμαίνεσθαι τοῖς
ἐπὶ γῆς, οὕτω καὶ εἴ τι μετὰ τοῦτο, ψυχῆς διαδόσει, ὅσον ἐν αὐτῶι,
φυτικῆς ψυχῆς πολλῆς οὔσης. Καὶ ἄλλο δὲ ὁμοίως οἷον ἐλλάμπον
δύναμιν παρ᾽ αὐτοῦ ἀπροαίρετον διδόναι. Καὶ πάντας δὴ ἕν τι οὕτως
ἐσχηματισμένον γενομένους τὴν διάθεσιν ἄλλην καὶ ἄλλην αὖ διδόναι·
ὥστε καὶ τὰ σχήματα δυνάμεις ἔχειν – παρὰ γὰρ τὸ οὕτως ἢ οὕτως
ἄλλως καὶ ἄλλως – καὶ δι᾽ αὐτῶν τῶν ἐσχηματισμένων γίνεσθαί τι –
παρὰ γὰρ [τὸ] τούτους ἄλλο καὶ ἄλλο αὖ παρ᾽ ἄλλους. Ἐπεὶ καὶ καθ᾽
αὑτὰ τὰ σχήματα, ὡς δυνάμεις ἔχει, καὶ ἐπὶ τῶν τῆιδε ἄν τις ἴδοι. Διατί
γὰρ τὰ μὲν φοβερὰ τοῖς ὁρῶσι τῶν σχημάτων μηδέν τι προπεπονθότων
τῶν φοβουμένων, τὰ δὲ οὐ φοβεῖ ὀφθέντα; Καὶ ἄλλους μὲν ταδί, ἄλλους
δὲ ταδί; Ἢ ὅτι εἰς μὲν τὸ τοιόνδε ταδὶ ἐργάζεται, εἰς δὲ τοῦτον ἄλλα,
οὐκ ἂν μὴ δυναμένων εἰς τὸ πεφυκὸς ποιεῖν. Καὶ οὑτωσὶ μὲν
σχηματισθὲν ἐκίνησε τὴν ὄψιν, οὑτωσὶ δὲ οὐ τὸν αὐτόν. Καὶ γὰρ εἴ τις
λέγοι τὸ κάλλος εἶναι τὸ κινοῦν, διατί τὸν μὲν τοῦτο, τὸν δὲ ἄλλο
ἐκίνησε, μὴ τῆς κατὰ τὸ σχῆμα διαφορᾶς τὴν δύναμιν ἐχούσης; Διατί
γὰρ τὰς μὲν χρόας φήσομεν δύναμιν ἔχειν καὶ ποιεῖν, τὰ δὲ σχήματα οὐ
φήσομεν; Ἐπεὶ καὶ ὅλως ἄτοπον εἶναι μέν τι ἐν τοῖς οὖσι, μὴ μέντοι
ἔχειν τι ὃ δύναται. Τὸ γὰρ ὂν τοιοῦτον, οἷον ἢ ποιεῖν ἢ πάσχειν· καὶ ἐν
μὲν τοῖς δοτέον τὸ ποιεῖν, ἐπὶ δὲ τῶν ἄλλων ἄμφω. Καὶ ἐν τοῖς
ὑποκειμένοις δὲ δυνάμεις καὶ παρὰ τὰ σχήματα· καὶ ἐν τοῖς παρ᾽ ἡμῖν
εἰσι πολλαί, ἃς οὐ θερμὰ ἢ ψυχρὰ παρέχεται, ἀλλὰ γενόμενα ποιότησι
διαφόροις καὶ λόγοις εἰδοποιηθέντα καὶ φύσεως δυνάμεως
μεταλαβόντα, οἷον καὶ λίθων φύσεις καὶ βοτανῶν ἐνέργειαι θαυμαστὰ
πολλὰ παρέχονται.

35. Então, como são essas potências? De modo mais claro novamente
deve-se dizer, por que um triângulo é diferente de outro? Por que é este
astro em relação àquele, e segundo o que este elabora e até que ponto.
Uma vez que nem aos corpos deles nem às suas escolhas atribuímos as
criações, aos corpos, porque não apenas de corpo eram os produtos de
criação que vieram a ser, e às escolhas, porque absurdo seria por

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 168

escolhas os deuses criar coisas absurdas. Se lembrarmos: supusemos o


vivente ser um só, e sendo assim era necessário ele ter por necessidade
elemento de simpatia consigo mesmo, e além disso, segundo uma razão,
todo o desenvolvimento de sua vida ser consoante com ela mesma, e o
que é em vão não é em sua vida, mas uma só harmonia e ordem, e as
configurações dos astros são segundo uma razão, e cada astro é segundo
um número como as partes do vivente que dançam, é necessidade
ambas as partes concordar para haver a atividade do todo, uns vindo a
ser produto de configuração nele, e as partes dele que são configuradas,
e as partes que seguem essas configurações, e assim, para o todo viver
desse modo, [é necessidade] lançar as potências para isso, e mantendo-
as eles vieram a ser sob o que bem racionalmente os criou. E os produtos
das configurações são tais que razões ou separações do vivente, ritmos
e configurações do vivente segundo uma razão, e os membros que
foram separados e configurados são diversos; e há potências diversas
do vivente, exceto a escolha, que são partes do vivente, uma vez que a
escolha para eles está fora e não contribui para a natureza deste vivente.
Pois uma só é a escolha do único vivente, e as potências que são
diversas de si para si são múltiplas. E quantas em si são escolhas, são
potências para o mesmo vivente, para o que também é aquela do todo
que é única. Pois há desejo de uma em relação a outra dentre as partes
que são em si; uma parte quer tomar algo das outras, porque ela mesma
é necessitada, sendo parte diversa; e há ira em relação à outra, quando
algo a moleste, das partes o crescimento é de parte diversa, e a gênese
é para parte diversa. O vivente inteiro cria isso nessas partes, e ele
mesmo busca o bem, ou melhor, olha. Portanto, a correta escolha que é
acima das impressões busca isso, e a isso mesmo aí se lança; uma vez
que mesmo os que servem a um outro, muitos de seus trabalhos olham
para o que foi ordenado por seu senhor, a vontade do bem é para o
mesmo, para o que também o senhor olha. Na verdade, se o sol age em
algo, e também os outros astros para as coisas daqui, é preciso
considerar ser ele que olha para cima – pois deve-se criar o raciocínio
sobre um só – assim de sua parte cria-se o ‘aquecer-se’ para os que são
sobre a terra, de modo que se algo há além disso, é por distribuição de
alma, quanto disso há nele, porque múltipla é a alma natural. Também

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 169

outro astro é de modo semelhante tal que irradiando potência, de sua


parte a dá sem escolha. E todos que vêm a ser algo único assim
configurado dão por sua vez uma disposição e outra diversa; desse
modo também os produtos das configurações têm potências – pois
contra o que é assim ou assim há o que é de modo diverso e diverso – e
através desses astros configurados vem a ser algo – pois contra esses há
algo diverso, e por sua vez há algo diverso contra outros. Uma vez que
as configurações são segundo elas mesmas, alguém poderia ver nas
coisas daqui que elas têm potências. E por que algumas configurações
são assustadoras para os que as veem, os que temem nada tendo sofrido
delas, e outras não assustam quando são vistas? E por que a uns
assustam essas, e a outros, aquelas? Certamente é porque para este aqui
essas têm efeito, e para esse, outras diversas, não se temendo que não
possam criar para o que é natural. E deste modo tendo sido configurado,
comove a visão, e de outro, não comove o mesmo. E se alguém disser
que o belo é o que comove, por que a um comove isso, e a outro, algo
diverso, se a diferença segundo a figura não tem a potência? E por que
diremos que as cores têm potência e criam, e quanto às configurações
não diremos? Uma vez que de modo geral é absurdo haver algo nas
coisas que são, não havendo algo de que isso seja capaz. Pois sendo,
será capaz tal que ou de criar ou de sofrer130; em algumas delas deve-se
atribuir o criar, em outras, ambas as coisas. E há potências mesmo nas
coisas que subjazem, em contraste com as configurações; entre nós há
muitas potências que não se apresentam por ser calor ou frio, mas por
vir a ser de qualidades diferentes e por ter sido formadas por razões e
por participar de potência natural, tal como as naturezas de pedras e
atividades de ervas apresentam muitas coisas admiráveis.

130
Platão, Sofista 247e: Λέγω δὴ τὸ καὶ ὁποιανοῦν [τινα] κεκτημένον δύναμιν εἴτ’ εἰς
τὸ ποιεῖν ἕτερον ὁτιοῦν πεφυκὸς εἴτ’ εἰς τὸ παθεῖν καὶ σμικρότατον ὑπὸ τοῦ
φαυλοτάτου, κἂν εἰ μόνον εἰς ἅπαξ, πᾶν τοῦτο ὄντως εἶναι (Digo que, se algo de
qualquer qualidade obteve potência ou para criar seja o que for diferente por natureza,
ou para sofrer o mínimo pelo que é mais fraco, mesmo se for apenas uma vez, esse
todo é realmente ser).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 170

36. Ποικιλώτατον γὰρ τὸ πᾶν καὶ λόγοι πάντες ἐν αὐτῶι καὶ δυνάμεις
ἄπειροι καὶ ποικίλαι· οἷον δέ φασι καὶ ἐπ᾽ ἀνθρώπου ἄλλην μὲν δύναμιν
ἔχειν [ὀφθαλμὸν καὶ] ὀστοῦν τόδε, τοδὶ δ᾽ ἄλλην, χειρὸς μὲν τοδὶ καὶ
δακτύλου τοῦ ποδός, καὶ οὐδὲν μέρος εἶναι ὃ μὴ ἔχει καὶ οὐ τὴν αὐτὴν
δὲ ἔχει – ἀγνοοῦμεν δὲ ἡμεῖς, εἰ μή τις τὰ τοιαῦτα μεμάθηκεν – οὕτω
καὶ πολὺ μᾶλλον· μᾶλλον δὲ ἴχνος ταῦτα ἐκείνων· ἐν τῶι παντὶ
ἀδιήγητον δὲ καὶ θαυμαστὴν ποικιλίαν εἶναι δυνάμεων, καὶ δὴ καὶ ἐν
τοῖς κατ᾽ οὐρανὸν φερομένοις. Οὐ γὰρ δή, ὥσπερ ἄψυχον οἰκίαν
μεγάλην ἄλλως καὶ πολλὴν ἔκ τινων εὐαριθμήτων κατ᾽ εἶδος, οἷον
λίθων καὶ ξύλων, εἰ δὲ βούλει, καὶ ἄλλων τινῶν, εἰς κόσμον ἔδει αὐτὸ
γεγονέναι, ἀλλ᾽ εἶναι αὐτὸ ἐγρηγορὸς πανταχῆι καὶ ζῶν ἄλλο ἄλλως καὶ
μηδὲν δύνασθαι εἶναι, ὃ μὴ ἔστιν αὐτῶι. Διὸ καὶ ἐνταῦθα λύοιτο ἂν ἡ
ἀπορία ἡ πῶς ἐν ζώιωι ἐμψύχωι ἄψυχον· οὕτως γὰρ ὁ λόγος φησὶν ἄλλο
ἄλλως ζῆν ἐν τῶι ὅλωι, ἡμᾶς δὲ τὸ μὴ αἰσθητῶς παρ᾽ αὐτοῦ κινούμενον
ζῆν μὴ λέγειν· τὸ δέ ἐστιν ἕκαστον ζῶν λανθάνον, καὶ τὸ αἰσθητῶς ζῶν
συγκείμενον ἐκ τῶν μὴ αἰσθητῶς μὲν ζώντων, θαυμαστὰς δὲ δυνάμεις
εἰς τὸ ζῆν τῶι τοιούτωι ζώιωι παρεχομένων. Μὴ γὰρ ἂν κινηθῆναι ἐπὶ
τοσαῦτα ἄνθρωπον ἐκ πάντη ἀψύχων τῶν ἐν αὐτῶι δυνάμεων
κινούμενον, μηδ᾽ αὖ τὸ πᾶν οὕτω ζῆν μὴ ἑκάστου τῶν ἐν αὐτῶι ζώντων
τὴν οἰκείαν ζωήν, κἂν προαίρεσις αὐτῶι μὴ παρῆι· ποιεῖ γὰρ καὶ
προαιρέσεως οὐ δεηθέν, ἅτε προαιρέσεως ὂν προγενέστερον· διὸ καὶ
πολλὰ δουλεύει αὐτῶι ταῖς δυνάμεσιν.

36. Pois variadíssimo é o todo, todas as razões nele e potências infinitas


e variadas; tal como dizem que no homem este osso tem uma potência,
aquele ali tem outra, como este da mão e aquele do dedo do pé, e
nenhuma parte há que não tem, mas não tem a mesma potência – nós
ignoramos, se ninguém tiver aprendido tais coisas – é assim e muito
mais; ou seja, traço daquelas coisas são essas; no todo inenarrável e
admirável é a variedade das potências, e portanto também nos
elementos levados pelo céu. Pois, na verdade, não como uma casa
inanimada diversamente grande e múltipla, desde alguns elementos
enumeráveis pela forma, como pedras e madeiras, e se queres, alguns
outros elementos, até um ornamento, era preciso ele ter vindo a ser, mas
era preciso ele estar desperto em toda parte, o diverso vivendo

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 171

diversamente, não sendo possível nada que não seja dele. Por isso, aqui
seria solucionada a aporia: como haveria um inanimado em vivente
animado; assim a razão diz que o diverso vive diversamente no inteiro,
mas nós não dizemos que vive o que sensivelmente não se move de sua
parte; mas há cada um que vive de modo latente, e o que está junto
vivendo de modo sensível é desde os que vivem de modo não sensível,
porque estes apresentam admiráveis potências para o viver de tal
vivente. Pois não se moveria a tamanhas coisas o homem, movendo-se
desde elementos que há em si totalmente inanimados, nem por sua vez
o todo viveria, não fosse a vida familiar de cada um dos elementos que
vivem em si, mesmo não sendo presente para ele uma escolha; pois ele
cria e não há necessidade de escolha, porque ele é de gênese anterior à
escolha; por isso muitas coisas servem a ele pelas potências.

37. Οὐδὲν οὖν τῶι παντὶ ἀπόβλητον αὐτοῦ· ἐπεὶ καὶ πῦρ καὶ ὅσα τῶν
τοιούτων λέγομεν ποιεῖν, εἴ τις τὸ ποιεῖν αὐτῶν ζητήσειε τί ποτ᾽ ἐστὶ
τῶν νῦν δοκούντων εἰδέναι, ἀπορήσειεν ἄν, εἰ μὴ δύναμιν ταύτην
ἀποδοίη αὐτῶι [τῶι] ἐν τῶι παντὶ εἶναι, καὶ τοῖς ἄλλοις δὲ τὸ τοιοῦτον
τοῖς ἐν χρήσει λέγοι. Ἀλλ᾽ ἡμεῖς τὰ μὲν συνήθη οὔτ᾽ ἀξιοῦμεν ζητεῖν
οὔτ᾽ ἀπιστοῦμεν, περὶ δὲ τῶν ἄλλων τῶν ἔξω τοῦ συνήθους δυνάμεων
ἀπιστοῦμέν τε ὡς ἔχει ἕκαστον, καὶ τῶι ἀσυνήθει τὸ θαυμάζειν
προστίθεμεν θαυμάσαντες ἂν καὶ ταῦτα, εἰ ἀπείροις αὐτῶν οὖσιν
ἕκαστόν τις προσφέρων ἐξηγεῖτο αὐτῶν τὰς δυνάμεις. Ἔχειν μὲν οὖν
ἕκαστον δύναμίν τινα ἄλογον φατέον ἐν τῶι παντὶ πλασθὲν καὶ
μορφωθὲν καὶ μετειληφός πως ψυχῆς παρὰ τοῦ ὅλου ὄντος ἐμψύχου
καὶ περιειλημμένον ὑπὸ τοιούτου καὶ μόριον ὂν ἐμψύχου – οὐδὲν γὰρ
ἐν αὐτῶι ὅ τι μὴ μέρος – ἄλλα δὲ ἄλλων πρὸς τὸ δρᾶν δυνατώτερα καὶ
τῶν ἐπὶ γῆς καὶ τῶν οὐρανίων μᾶλλον, ἅτε ἐναργεστέραι φύσει
χρώμενα· καὶ γίνεσθαι πολλὰ κατὰ τὰς δυνάμεις ταύτας, οὐ τῆι
προαιρέσει ἀφ᾽ ὧν δοκεῖ ἰέναι τὸ δρώμενον – ἔστι γὰρ καὶ ἐν τοῖς
προαίρεσιν οὐκ ἔχουσιν – οὐδὲ ἐπιστραφέντων τῆι δόσει τῆς δυνάμεως,
κἂν ψυχῆς τι ἀπ᾽ αὐτῶν ἴηι. Γένοιτο γὰρ ἂν καὶ ζῶια ἐκ ζώιου οὐ τῆς
προαιρέσεως ποιούσης οὐδ᾽ αὖ ἐλαττουμένου οὐδ᾽ αὖ
παρακολουθοῦντος· ἀργὸς γὰρ ἦν ἡ προαίρεσις, εἰ ἔχοι, ἢ οὐκ ἦν ἡ

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 172

ποιοῦσα. Εἰ δὲ μὴ ἔχοι τι προαίρεσιν ζῶιον, ἔτι μᾶλλον τὸ μὴ


παρακολουθεῖν.

37. Então, ao todo nada é descartável de si mesmo; uma vez que


dizermos que fogo e quantos de tais elementos criam, se alguém, dos
que agora parecem saber, buscasse o que é o ‘criar’ desses elementos
estaria em dificuldade, se não atribuísse essa potência a esse elemento
que é no todo, e diria que tal princípio é também para os outros
elementos que são em utilidade. Mas nós nem avaliamos buscar as
coisas consuetas nem desconfiamos como cada uma tem potência, mas
das outras coisas fora do consueto desconfiamos de suas potências e
acrescentamos ao inconsueto o ‘admirar’, porque admiraríamos
também essas coisas consuetas, se alguém, relatando cada coisa aos que
são inexperientes delas, expusesse suas potências. Então, deve-se dizer
que no todo cada coisa tem certa potência irracional, porque foi
plasmada e afigurada e porque participou de certo modo da alma da
parte do inteiro que é animado e está envolvido por tal inteiro animado,
sendo parte – pois nada há nele que não seja parte – umas coisas são
mais potentes para agir do que outras, dentre aquelas na terra e mais
dentre aquelas celestes, porque se servem de natureza mais clara; e
muitas coisas vêm a ser segundo essas potências, a partir das quais o
que é feito parece vir não pela escolha – pois é possível mesmo para os
que não têm escolha – nem é porque se voltaram à atribuição da
potência, mesmo que algo da alma venha a partir delas. Pois viventes
viriam a ser desde um vivente, não porque é a escolha que cria, ele não
sendo por sua vez diminuído nem tendo consciência; pois inoperante
seria a escolha, se houver, ou não seria a que cria. E se algum vivente
não tiver escolha, ainda mais não terá o ‘ter consciência’.

38. Ἅ τε οὖν ἐξ αὐτοῦ μηδενὸς κινήσαντος ἐκ τῆς ἄλλης αὐτοῦ ζωῆς


γίνεται [καὶ ὅλως ὅσα ἐξ αὐτοῦ], ὅσα τε κινήσαντος ἄλλου, οἷον εὐχαῖς
ἢ ἁπλαῖς ἢ τέχνηι δομέναις, ταῦτα οὐκ εἰς ἐκεῖνον ἕκαστον, ἀλλ᾽ εἰς τὴν
τοῦ δρωμένου φύσιν ἀνενεκτέον. Καὶ ὅσα μὲν χρηστὰ πρὸς ζωὴν ἤ τινα
ἄλλην χρείαν συμβάλλεται τῆι δόσει, ἀνενεκτέον, ἐξ ἄλλου μέρους
μείζονος εἰς ἄλλο ἔλαττον ἰόν· ὅ τι δ᾽ ἂν δυσχερὲς ἐξ αὐτῶν λέγηται εἰς

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 173

τὰς γενέσεις τῶν ζώιων ἰέναι, ἢ τῶι μὴ δύνασθαι τὸ εὔχρηστον


δέξασθαι τὸ ὑποκείμενον – οὐ γὰρ ἁπλῶς γίνεται τὸ γινόμενον, ἀλλ᾽ εἰς
τοδὶ καὶ ὡδί· καὶ δὴ καὶ τὸ πάσχον καὶ τὸ πεισόμενον ὑποκειμένην τινὰ
καὶ τοιάνδε φύσιν ἔχειν – πολλὰ δὲ καὶ αἱ μίξεις ποιοῦσιν, ἑκάστου τι
εὔχρηστον εἰς τὸ ζῆν διδόντος. Γίνοιτο δ᾽ ἄν τωι καὶ μὴ συμφερόντων
τῶν λυσιτελῶν τὴν φύσιν, καὶ ἡ σύνταξις ἡ τῶν ὅλων οὐ δίδωσιν
ἑκάστωι ἀεὶ ὃ βούλεται· πολλὰ δὲ καὶ προστίθεμεν αὐτοὶ τοῖς δοθεῖσι.
Πάντα δ᾽ ὅμως εἰς ἓν συμπλέκεται καὶ θαυμαστὴν τὴν συμφωνίαν ἔχει
καὶ ἀπ᾽ ἄλλων ἄλλα, κἂν ἀπ᾽ ἐναντίων ἴηι· πάντα γὰρ ἑνός. Καὶ εἴ τι δὲ
ἐλλεῖπον πρὸς τὸ βέλτιον τῶν γινομένων μὴ εἰδοποιηθὲν εἰς τέλος μὴ
κρατηθείσης τῆς ὕλης, οἷον ἐλλεῖπον τῶι γενναίωι, οὗ στερηθὲν πίπτει
εἰς αἰσχρότητα. Ὥστε τὰ μὲν ποιεῖσθαι ὑπ᾽ ἐκείνων, τὰ δὲ τὴν
ὑποκειμένην φύσιν εἰσφέρεσθαι, τὰ δὲ παρ᾽ αὐτῶν προστιθέναι.

38. Então, aquilo que é desde o próprio astro, ninguém tendo movido,
vem a ser desde a diversa vida dele, e de modo geral tudo quanto é desde
ele mesmo, outro tendo movido, tal que preces, ou simples ou que são
dadas por arte, não se deve referir essas coisas àquele astro
individualmente, mas à natureza do que é feito. E tudo quanto é útil para
a vida ou projeta com atribuição alguma utilidade diversa deve-se
referir como o que vai desde a maior parte de um para a menor parte de
outro; e o que se disser desagradável, vindo desde eles para a geração
dos viventes, certamente é porque o que subjaz não é capaz de receber
o bem utilizável – pois não vem a ser simplesmente o que vem a ser,
mas para isto e deste modo; e, na verdade, mesmo o que sofre e o que
há de sofrer tem certa natureza que subjaz e a natureza deste tipo – e as
misturas criam muitas coisas, cada astro dando algo bem utilizável para
a vida. Isto viria a ser a alguém, mesmo os astros não comportando
coisas vantajosas por natureza, e a composição dos inteiros não dá a
cada um o que ele quer; pois muitas coisas acrescentamos nós mesmos
aos dons que foram dados. Tudo, no entanto, tem sua complexidade no
uno, e mesmo uns sendo a partir de outros têm admirável sinfonia, ainda
que venham de contrários; pois é tudo do uno. E se algo é inferior em
relação ao melhor das coisas que vêm a ser, é por não ter sido criada a
forma para o fim, não tendo sido dominada a matéria, tal que inferior

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 174

por nascimento, de que tendo sido privado cai no vergonhoso. Assim


umas coisas criam-se por aqueles astros, outras são levadas à natureza
que subjaz, outras são acrescentadas de nossa parte.

39. Συνταττομένων δὲ ἀεὶ πάντων καὶ εἰς ἓν συντελούντων πάντων,


σημαίνεσθαι πάντα. Ἀρετὴ δὲ ἀδέσποτον· συνυφαίνεσθαι δὲ καὶ τὰ
αὐτῆς ἔργα τῆι συντάξει, ἅτε καὶ τῶν τῆιδε ἐκεῖθεν ἐξηρτημένων, τῶν
ἐν τῶιδε τῶι παντὶ τοῖς θειοτέροις, καὶ μετέχοντος καὶ τοῦδε ἐκείνων.
Γίνεται τοίνυν τὰ ἐν τῶι παντὶ οὐ κατὰ σπερματικούς, ἀλλὰ κατὰ
λόγους περιληπτικοὺς καὶ τῶν προτέρων ἢ κατὰ τοὺς τῶν σπερμάτων
λόγους· οὐ γὰρ ἐν σπερματικοῖς λόγοις ἔνι τι τῶν γινομένων παρὰ τοὺς
σπερματικοὺς αὐτοὺς λόγους οὐδὲ τῶν παρὰ τῆς ὕλης εἰς τὸ ὅλον
συντελούντων οὐδὲ τῶν δρωμένων εἰς ἄλληλα παρὰ τῶν γενομένων.
Ἀλλὰ μᾶλλον ἂν ἐοίκοι ὁ λόγος τοῦ παντὸς κατὰ λόγον τιθέντα κόσμον
πόλεως καὶ νόμον, ἤδη εἰδότα ἃ πράξουσιν οἱ πολῖται καὶ δι᾽ ἃ
πράξουσι, καὶ πρὸς ταῦτα πάντα νομοθετοῦντος καὶ συνυφαίνοντος
τοῖς νόμοις τὰ πάθη πάντα αὐτῶν καὶ τὰ ἔργα καὶ τὰς ἐπὶ τοῖς ἔργοις
τιμὰς καὶ ἀτιμίας, πάντων ὁδῶι οἷον αὐτομάτηι εἰς συμφωνίαν
χωρούντων. Ἡ δὲ σημασία οὐ τούτου χάριν, ἵνα σημαίνηι
προηγουμένως, ἀλλ᾽ οὕτω γιγνομένων σημαίνεται ἐξ ἄλλων ἄλλα· ὅτι
γὰρ ἓν καὶ ἑνός, καὶ ἀπ᾽ ἄλλου ἄλλο γινώσκοιτ᾽ ἄν, καὶ ἀπὸ αἰτιατοῦ δὲ
τὸ αἴτιον, καὶ τὸ ἑπόμενον ἐκ τοῦ προηγησαμένου, καὶ τὸ σύνθετον ἀπὸ
θατέρου, ὅτι θάτερον καὶ θάτερον ὁμοῦ ποιῶν. Εἰ δὴ ταῦτα ὀρθῶς
λέγεται, λύοιντο ἂν ἤδη αἱ ἀπορίαι, ἥ τε πρὸς τὸ κακῶν δόσιν παρὰ
θεῶν γίνεσθαι τῶι μήτε προαιρέσεις εἶναι τὰς ποιούσας, φυσικαῖς δὲ
ἀνάγκαις γίνεσθαι, ὅσα ἐκεῖθεν, ὡς μερῶν πρὸς μέρη, καὶ ἑπόμενα ἑνὸς
ζωῆι, καὶ τῶι πολλὰ παρ᾽ αὐτῶν τοῖς γινομένοις προστιθέναι, καὶ τῶι
τῶν διδομένων παρ᾽ ἑκάστων οὐ κακῶν ὄντων ἐν τῆι μίξει γίγνεσθαι
ἄλλο τι, καὶ τῶι μὴ ἕνεκα ἑκάστου ἀλλ᾽ ἕνεκα τοῦ ὅλου τὴν ζωήν, καὶ
τὴν ὑποκειμένην δὲ φύσιν ἄλλο λαβοῦσαν ἄλλο πάσχειν καὶ μηδὲ
δύνασθαι κρατῆσαι τοῦ δοθέντος.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 175

39. Sendo coordenadas sempre todas as coisas e todas contribuindo para


o uno, todas as coisas sinalizam. A virtude é sem senhor131; as suas
obras tramam pela composição, porque as coisas daqui estão
dependentes das de lá, sendo as coisas neste todo para as mais divinas,
porque este todo também participa delas. Portanto, as coisas neste todo
vêm a ser não segundo razões seminais, mas segundo razões
compreensivas, sendo estas coisas anteriores àquelas segundo as razões
das sementes; pois nas razões seminais não é possível algo dentre as
coisas que vêm a ser em contraste com elas mesmas, nem algo dentre
as que contribuem da parte da matéria para o inteiro, nem algo dentre
as que agem reciprocamente da parte das coisas que vêm a ser. Mas
antes a razão do todo teria semelhança com uma razão que estabelece
ordem e lei de uma cidade, já sabedora do que farão os cidadãos e por
que farão, em relação a isso tudo legislando e entretecendo com as leis
todas suas impressões e obras, as demonstrações de apreço e de
desprezo sobre seus trabalhos, tudo concorrendo por uma via tal que
espontânea para sinfonia. O assinalar não é graças a isso, para que o
todo assinale precedentemente, mas, porque assim as coisas vêm a ser,
ele assinala umas desde outras; porque o uno é de um só, um seria
reconhecido por outro, o que causa pelo causador, o que segue desde o
que precedeu, o composto por um diferente, porque o que cria um cria
ao mesmo tempo o outro. Se essas coisas se dizem corretamente, seriam
já solucionadas as aporias, [principalmente] aquela em relação a vir a
ser da parte dos deuses a atribuição de males, por não haver as escolhas
que criam os males, porque quantas coisas vêm a ser de lá é por
necessidades físicas, como de partes para partes, as coisas que seguem
vivem de um só, muitas coisas se acrescentam da parte delas mesmas
aos que vêm a ser, porque o que é dado da parte de cada deus não é
mau, quando vem a ser na mistura algo diverso, pois a vida não é por
causa de cada um, mas por causa do inteiro, e a natureza que subjaz ao

131
Platão, Politeia 617e: ἀρετὴ δὲ ἀδέσποτον, ἣν τιμῶν καὶ ἀτιμάζων πλέον καὶ
ἔλαττον αὐτῆς ἕκαστος ἕξει. αἰτία ἑλομένου· θεὸς ἀναίτιος (virtude é sem senhor, a
qual cada um terá mais e menos dela ao honrar e não honrar. Causa é do que escolheu;
deus é sem culpa).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 176

tomar uma coisa sofre outra, porque não é capaz de dominar o que é
dado.

40. Τὰς δὲ γοητείας πῶς; Ἢ τῆι συμπαθείαι, καὶ τῶι πεφυκέναι


συμφωνίαν εἶναι ὁμοίων καὶ ἐναντίωσιν ἀνομοίων, καὶ τῆι τῶν
δυνάμεων τῶν πολλῶν ποικιλίαι εἰς ἓν ζῶιον συντελούντων. Καὶ γὰρ
μηδενὸς μηχανωμένου ἄλλου πολλὰ ἕλκεται καὶ γοητεύεται· καὶ ἡ
ἀληθινὴ μαγεία ἡ ἐν τῶι παντὶ φιλία καὶ τὸ νεῖκος αὖ. Καὶ ὁ γόης ὁ
πρῶτος καὶ φαρμακεὺς οὗτός ἐστιν, ὃν κατανοήσαντες ἄνθρωποι ἐπ᾽
ἀλλήλοις χρῶνται αὐτοῦ τοῖς φαρμάκοις καὶ τοῖς γοητεύμασι. Καὶ γάρ,
ὅτι ἐρᾶν πεφύκασι καὶ τὰ ἐρᾶν ποιοῦντα ἕλκει πρὸς ἄλληλα, ἀλκῆι
ἐρωτικῆς διὰ γοητείας τέχνης γεγένηται, προστιθέντων ἐπαφαῖς φύσεις
ἄλλας ἄλλοις συναγωγοὺς καὶ ἐγκείμενον ἐχούσας ἔρωτα· καὶ
συνάπτουσι δὲ ἄλλην ψυχὴν ἄλληι, ὥσπερ ἂν εἰ φυτὰ διεστηκότα
ἐξαψάμενοι πρὸς ἄλληλα. Καὶ τοῖς σχήμασι δὲ προσχρῶνται δυνάμεις
ἔχουσι, καὶ αὑτοὺς σχηματίζοντες ὡδὶ ἐπάγουσιν ἐπ᾽ αὐτοὺς ἀψοφητὶ
δυνάμεις ἐν ἑνὶ ὄντες εἰς ἕν. Ἐπεὶ ἔξω γε τοῦ παντὸς εἴ τις ὑποθοῖτο τὸν
τοιοῦτον, οὔτ᾽ ἂν ἕλξειεν οὔτ᾽ ἂν καταγάγοι ἐπαγωγαῖς ἢ καταδέσμοις·
ἀλλὰ νῦν, ὅτι μὴ οἷον ἀλλαχοῦ ἄγει, ἔχει ἄγειν εἰδὼς ὅπηι τι ἐν τῶι
ζώιωι πρὸς ἄλλο ἄγεται. Πέφυκε δὲ καὶ ἐπωιδαῖς τῶι μέλει καὶ τῆι
τοιᾶιδε ἠχῆι καὶ τῶι σχήματι τοῦ δρῶντος· ἕλκει γὰρ τὰ τοιαῦτα, οἷον
τὰ ἐλεεινὰ σχήματα καὶ φθέγματα. [Ἀλλ᾽ ἡ ψυχή] Οὐδὲ γὰρ ἡ
προαίρεσις οὐδ᾽ ὁ λόγος ὑπὸ μουσικῆς θέλγεται, ἀλλ᾽ ἡ ἄλογος ψυχή,
καὶ οὐ θαυμάζεται ἡ γοητεία ἡ τοιαύτη· καίτοι φιλοῦσι κηλούμενοι, κἂν
μὴ τοῦτο αἰτῶνται παρὰ τῶν τῆι μουσικῆι χρωμένων. Καὶ τὰς ἄλλας δὲ
εὐχὰς οὐ τῆς προαιρέσεως ἀκουούσης οἰητέον· οὐδὲ γὰρ οἱ θελγόμενοι
ταῖς ἐπωιδαῖς οὕτως, οὐδ᾽ ὅταν γοητεύηι ὄφις ἀνθρώπους, σύνεσιν ὁ
γοητευόμενος ἔχει, οὐδ᾽ αἰσθάνεται, ἀλλὰ γινώσκει, ἤδη παθών, ὅτι
πέπονθεν, ἀπαθὲς δ᾽ αὐτῶι τὸ ἡγούμενόν ἐστιν. Ὧι δ᾽ ηὔξατο, ἦλθέ τι
πρὸς αὐτὸν ἐξ ἐκείνου ἢ πρὸς ἄλλον.

40. E quanto aos encantamentos mágicos, como? Certamente é por


simpatia, tanto por haver uma sinfonia natural das coisas semelhantes
quanto uma contraposição das dessemelhantes, e pela variedade das
potências múltiplas que contribuem para um só vivente. Pois, sem

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 177

nenhum diverso artifício, muitos viventes são atraídos e encantados; a


verdadeira magia é a amizade no todo e por sua vez a contenda132. E
este é o primeiro mago e prático de poções, que os homens tendo
estudado se servem para uns e outros dos fármacos e encantamentos
dele. E, porque é natural ‘ter eros’ e o que produz ‘ter eros’ atrai um ao
outro, isso veio a ser em defesa da arte erótica por encantamentos, ao
reconduzir naturezas diversas, que têm eros que jaz em si, a outros
viventes por toques do que se acrescenta; e coligam uma alma à outra,
como se fossem ligar plantas separadas umas às outras. E [os que] se
servem das configurações que têm potências, ao configurar a si mesmos
deste modo, conduzem sem rumor a si mesmos potências que são no
uno para o uno. Uma vez que se alguém supusesse que tal fato fosse
exterior ao todo, ele nem atrairia nem depreenderia por mágicas
importações ou desenlaces; mas agora, porque não conduz [essas
potências] como de outra parte, ele tem como conduzir, sabendo por
onde algo no vivente se conduz para parte diversa. Ele produz isso com
cantos de certa melodia e ressonância e com certa figuração corporal do
que atua; pois tais coisas atraem, tais que figurações corporais e
sonoridades de compaixão. Mas a alma irracional133, pois nem a escolha
nem a razão se encantam pela música, mas sim a alma irracional, e não
se admira ser tal o encantamento; no entanto amam ao ser seduzidos,
mesmo que não peçam isso aos que se servem da música. E quanto às
diversas preces, não se deve crer, como se a escolha ouvisse; pois nem
os que são seduzidos por cantos assim creem, nem quando uma serpente
encante homens, o que é encantado tem compreensão, não percebe, mas
conhece, já sofrendo, que sofreu, ele tem impassível o hegemônico.

132
Empédocles 31B 17, versos 5-8 Diels – Kranz: καὶ ταῦτ’ ἀλλάσσοντα διαμπερὲς
οὐδαμὰ λήγει, // ἄλλοτε μὲν Φιλότητι συνερχόμεν’ εἰς ἓν ἅπαντα, // ἄλλοτε δ’ αὖ δίχ’
ἕκαστα φορεύμενα Νείκεος ἔχθει (e essas coisas mudando de parte a parte jamais
cessam, ora por amor todas convergem ao uno, ora em oposição cada uma é levada
por hostilidade de contenda).
133
[Ἀλλ’ ἡ ψυχή]: é preferível a lição [Ἀλλ’ ἡ <ἄλογος> ψυχή].

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 178

Chega algo daquele astro a que se fez a súplica, para o mesmo


suplicante ou para outro.

41. Ὁ δὲ ἥλιος ἢ ἄλλο ἄστρον οὐκ ἐπαίει. Καὶ γίνεται τὸ κατὰ τὴν εὐχὴν
συμπαθοῦς μέρους μέρει γενομένου, ὥσπερ ἐν μιᾶι νευρᾶι τεταμένηι·
κινηθεῖσα γὰρ ἐκ τοῦ κάτω καὶ ἄνω ἔχει τὴν κίνησιν. Πολλάκις δὲ καὶ
ἄλλης κινηθείσης ἄλλη οἷον αἴσθησιν ἔχει κατὰ συμφωνίαν καὶ τῶι ὑπὸ
μιᾶι ἡρμόσθαι ἁρμονίαι. Εἰ δὲ καὶ ἐν ἄλληι λύραι ἡ κίνησις ἀπ᾽ ἄλλης
ἔρχεται, ὅσον τὸ συμπαθές, καὶ ἐν τῶι παντὶ τοίνυν μία ἁρμονία, κἂν ἐξ
ἐναντίων ἦι· καὶ ἐξ ὁμοίων δέ ἐστι καὶ πάντων συγγενῶν καὶ τῶν
ἐναντίων. Καὶ ὅσα λωβᾶται ἀνθρώπους, οἷον τὸ θυμοειδὲς ἑλχθὲν μετὰ
χολῆς εἰς ἥπατος φύσιν ἦλθεν, οὐχ ὡς λωβησόμενα· οἷον εἰ πῦρ τις ἐκ
πυρὸς λαβὼν ἔβλαψεν ἄλλον ὁ μηχανησάμενος † ἢ ἐλθεῖν † ἢ ὁ λαβὼν
ἐκεῖνος ποιεῖ τῷ δεδωκέναι γοῦν τι οἷον μετατιθέν τι ἐξ ἄλλου εἰς ἄλλο·
καὶ τὸ ἐληλυθὸς δέ, εἰ μὴ οἷός τε ἐγένετο δέξασθαι εἰς ὃν μετηνέχθη.

41. O sol, ou outro astro, não ouve. E vem a ser o que é segundo a prece,
porque uma parte veio a ser simpática com outra, como em única corda
estendida: pois tendo sido movida embaixo, em cima também tem
movimento. E frequentemente uma tendo sido movida, outra tem tal
que a sensação segundo a sinfonia e por estar harmonizada por uma só
harmonia. E se também em uma lira o mover vem a partir de outra,
tamanho é o elemento simpático, também no todo, portanto, há uma só
harmonia, mesmo que seja desde elementos contrários134; desde
semelhantes é também a harmonia de todos os elementos congêneres e
contrários. E tudo quanto maltrata os homens, tal que vem uma forma
de ira que foi arrastada com bile à natureza do fígado, não é o que há de

134
Heráclito 22 B 8 Diels – Kranz: τὸ ἀντίξουν συμφέρον καὶ ἐκ τῶν διαφερόντων
καλλίστην ἁρμονίαν (o que se opõe é concordante e dos que diferem é a mais bela
harmonia); B 51: οὐ ξυνιᾶσιν ὅκως διαφερόμενον ἑωυτῶι ὁμολογέει· παλίντροπος
ἁρμονίη ὅκωσπερ τόξου καὶ λύρης (não compreendem como o que difere concorda
consigo mesmo; harmonia em contrário como do arco e da lira); B 80: εἰδέναι δὲ χρὴ
τὸν πόλεμον ἐόντα ξυνόν, καὶ δίκην ἔριν, καὶ γινόμενα πάντα κατ’ ἔριν καὶ χρεών (é
preciso saber que a guerra é comum, justiça é contenda, tudo que vem a ser é segundo
contenda e necessidade).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 179

maltratar: tal como se alguém prejudicasse outro, ao tomar fogo de


fogo, o que usa de artifício [...] ou para ir [...] 135 ou aquele que pegou
fogo de fogo faz ao ter dado algo que foi mudado de uma parte a outra;
e o que veio para o que foi transferido veio a ser [um dano] se [o outro]
não é capaz de receber.

42. Ὥστε οὔτε μνήμης διὰ τοῦτο δεήσει τοῖς ἄστροις, οὗπερ χάριν καὶ
ταῦτα πεπραγμάτευται, οὔτε αἰσθήσεων ἀναπεμπομένων· οὔτε
ἐπινεύσεις τοῦτον τὸν τρόπον εὐχαῖς, ὡς οἴονταί τινες, προαιρετικάς
τινας, ἀλλὰ καὶ μετ᾽ εὐχῆς γίνεσθαί τι δοτέον καὶ εὐχῆς ἄνευ παρ᾽
αὐτῶν, ἧι μέρη καὶ ἑνός· καὶ ὅτι δυνάμεις καὶ χωρὶς προαιρέσεως
πολλαὶ καὶ αὗται καὶ ἄνευ μηχανῆς καὶ μετὰ τέχνης, ὡς ἐν ζώιωι ἑνί·
καὶ ἀπολαύει ἄλλο ἄλλου καὶ βλάπτεται τῶι οὕτω πεφυκέναι, καὶ
τέχναις ἰατρῶν καὶ ἐπαοιδῶν ἄλλο ἄλλωι ἠναγκάσθη παρασχεῖν τι τῆς
δυνάμεως τῆς αὐτοῦ. Καὶ τὸ πᾶν δὲ ὡσαύτως εἰς τὰ μέρη δίδωσι καὶ
παρ᾽ αὐτοῦ καὶ ἑλκύσαντος ἄλλου εἰς μέρος τι αὐτοῦ, κείμενον τοῖς
αὐτοῦ μέρεσι τῶι αὐτοῦ φυσικῶι, ὡς μηδενὸς ἀλλοτρίου τοῦ αἰτοῦντος
ὄντος. Εἰ δὲ κακὸς ὁ αἰτῶν, θαυμάζειν οὐ δεῖ· καὶ γὰρ ἐκ ποταμῶν
ἀρύονται οἱ κακοί, καὶ τὸ διδὸν αὐτὸ οὐκ οἶδεν ὧι δίδωσιν, ἀλλὰ δίδωσι
μόνον· ἀλλ᾽ ὅμως συντέτακται καὶ [ὃ] δέδοται τῆι φύσει τοῦ παντός·
ὥστε, εἴ τις ἔλαβεν ἐκ τῶν πᾶσι κειμένων, οὐ δέον, ἕπεσθαι αὐτῶι
ἀναγκαίωι νόμωι τὴν δίκην. Οὔκουν δοτέον τὸ πᾶν πάσχειν· ἢ τὸ μὲν
ἡγεμονοῦν αὐτοῦ ἀπαθὲς δοτέον πάντη εἶναι, γιγνομένων δὲ παθῶν ἐν
μέρεσιν αὐτοῦ ἐκείνοις μὲν ἥκειν τὸ πάθος, παρὰ φύσιν δὲ μηδενὸς
αὐτῶι ὄντος ἀπαθὲς [τὸ γενόμενον] ὡς πρὸς αὐτὸ εἶναι. Ἐπεὶ καὶ τοῖς
ἄστροις, καθόσον μὲν μέρη, τὰ πάθη, ἀπαθῆ μέντοι αὐτὰ εἶναι τῶι τε
τὰς προαιρέσεις καὶ αὐτοῖς ἀπαθεῖς εἶναι καὶ τὰ σώματα αὐτῶν καὶ τὰς
φύσεις ἀβλαβεῖς ὑπάρχειν καὶ τῶι, καὶ εἰ διὰ τῆς ψυχῆς τι διδόασι, μὴ
ἐλαττοῦσθαι αὐτοῖς τὴν ψυχὴν καὶ τὰ σώματα αὐτοῖς τὰ αὐτὰ μένειν
καί, εἴ τι ὑπεκρεῖ, ἀναισθήτως ἀπιόντος καὶ τοῦ προσιόντος, εἰ
πρόσεισι, λανθάνοντος.

135
Há uma parte do texto corrompida, mas o sentido geral se recupera.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 180

42. Assim por causa disso aos astros não haverá necessidade de
memória, graças a que esses argumentos estão elaborados, nem de que
sensações lhes sejam remetidas; nem há certos assentimentos volitivos
desse modo para as preces, como alguns creem, mas deve-se conceder
que algo vem a ser da parte deles, com prece e sem prece, para que
sejam partes de um só; também deve-se conceder que há muitas
potências, sem escolha, e que essas são por si mesmas, sem artifício e
com arte, como é em vivente único; e uma coisa tira proveito de outra
e é prejudicada por ser assim natural; e por artes de médicos e de
encantadores uma parte é forçada a passar a outra algo da potência de
si mesma. E desse modo o todo dá às partes, porque uma parte atraiu de
si mesma para certa parte dele, que jaz com as partes dele, por ser
natural dele, porque nenhuma parte que pede é estranha a ele. E se for
mau o que pede, não é preciso se admirar: pois também os maus tiram
água dos rios, e o mesmo que dá não vê a quem dá, mas apenas dá; no
entanto, o que foi dado está coordenado à natureza do todo; assim se
alguém toma do que jaz a todos, não sendo devido, a justiça o segue
com necessária lei. Então, não se deve conceder que o todo sofra;
certamente se deve conceder que o hegemônico dele seja totalmente
impassível, porque as impressões vêm a ser em partes dele, a essas
chega a impressão, e como nada é para ele contra a natureza, o todo é
impassível em relação a isso mesmo que vem a ser. Uma vez que há aos
astros, enquanto partes, as impressões, contudo eles são impassíveis
porque as escolhas para eles são impassíveis, seus corpos e naturezas
são por princípio incólumes para o todo, mesmo se por causa da alma
algo concedam [aos seres inferiores], nem sua alma diminui, e seus
próprios corpos permanecem, e se algo esvanece [para eles], é porque
o que se afasta e o que se aproxima é imperceptível, e se eles
precederem, é por ser fugidio.

43. Ὁ δὲ σπουδαῖος πῶς ὑπὸ γοητείας καὶ φαρμάκων; Ἢ τῆι μὲν ψυχῆι
ἀπαθὴς εἰς γοήτευσιν, καὶ οὐκ ἂν τὸ λογικὸν αὐτοῦ πάθοι, οὐδ᾽ ἂν
μεταδοξάσειε· τὸ δὲ ὅσον τοῦ παντὸς ἐν αὐτῶι ἄλογον, κατὰ τοῦτο
πάθοι ἄν, μᾶλλον δὲ τοῦτο πάθοι ἄν· ἀλλ᾽ οὐκ ἔρωτας ἐκ φαρμάκων,
εἴπερ τὸ ἐρᾶν ἐπινευούσης καὶ τῆς ψυχῆς τῆς ἄλλης τῶι τῆς ἄλλης

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 181

παθήματι. Ὥσπερ δὲ ἐπωιδαῖς τὸ ἄλογον πάσχει, οὕτω καὶ αὐτὸς


ἀντάιδων καὶ ἀντεπάιδων τὰς ἐκεῖ δυνάμεις ἀναλύσει. Θάνατον δὲ ἐκ
τοιούτων ἢ νόσους ἢ ὅσα σωματικὰ πάθοι ἄν· τὸ γὰρ μέρος τοῦ παντὸς
ὑπὸ μέρους ἄλλου ἢ τοῦ παντὸς πάθοι ἄν, αὐτὸς δὲ ἀβλαβής. Τὸ δὲ μὴ
εὐθύς, ἀλλ᾽ ὕστερον, οὐκ ἀποστατεῖ φύσεως. Δαίμονες δὲ οὐκ ἀπαθεῖς
οὐδ᾽ αὐτοὶ τῶι ἀλόγωι· μνήμας δὲ καὶ αἰσθήσεις τούτοις οὐκ ἄτοπον
διδόναι καὶ θέλγεσθαι φυσικῶς ἀγομένους καὶ κατακούειν καλούντων
τοὺς αὐτῶν ἐγγυτέρω τῶν τῆιδε καὶ ὅσωι πρὸς τὰ τῆιδε. Πᾶν γὰρ τὸ
πρὸς ἄλλο γοητεύεται ὑπ᾽ ἄλλου· πρὸς ὃ γάρ ἐστιν, ἐκεῖνο γοητεύει καὶ
ἄγει αὐτό· μόνον δὲ τὸ πρὸς αὐτὸ ἀγοήτευτον. Διὸ καὶ πᾶσα πρᾶξις
γεγοήτευται καὶ πᾶς ὁ τοῦ πρακτικοῦ βίος· κινεῖται γὰρ πρὸς ταῦτα, ἃ
θέλγει αὐτόν. Ὅθεν καὶ τὸ εὐπρόσωπος γὰρ ὁ τοῦ μεγαλήτορος
Ἐρεχθέως δῆμος. Τί γὰρ μαθών τις πρὸς ἄλλο ἔχει; Ἢ ἑλκόμενος οὐ
μάγων τέχναις, ἀλλὰ τῆς φύσεως, τῆς ἀπάτης δούσης καὶ συναψάσης
ἄλλο πρὸς ἄλλο οὐ τοῖς τόποις, ἀλλ᾽ οἷς ἔδωκε φίλτροις.

43. E o zeloso, como será sob encantamentos e fármacos? Certamente


ele é de alma impassível a encantamento, e seu racional não sofreria
nem mudaria de opinião; e quanto do todo nele é irracional, segundo
isso sofreria, ou melhor, isso sofreria; mas não sofrerá de eros desde
fármacos, se é que ter eros é porque uma alma consente com o
sofrimento da outra. Do modo como o irracional sofre por encantos,
assim também ele, ao se opor a cantos e encantos, dissolverá as
potências dali. Mas de tais encantamentos ele sofreria morte ou doenças
ou tudo quanto é corpóreo; pois a parte do todo sofreria por outra parte
ou pelo todo, e o que é zeloso é incólume. E o não sofrer logo, mas
depois, não se afasta da natureza. Nem mesmo os dâimones são
impassíveis pelo irracional; não é absurdo atribuir a esses memórias e
sensações, conduzindo-os a encantar-se naturalmente e a dar ouvidos
aos que chamam, aqueles dâimones que são mais próximos das coisas
daqui, em quanto são propensos a elas. Tudo que é em relação a outro
se encanta pelo outro; pois em relação ao que é, aquilo o encanta e
conduz; apenas o que é em relação a si é isento de ser encantado. Por
isso toda ação está encantada e toda vida do que a pratica; pois este se
move para essas coisas que o encantam. Daí, o “de belo aspecto é o

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 182

povo do magnânimo Erecteu”136. O que alguém tem por ter aprendido


em relação a outra coisa? Certamente o que é atraído não é por artes de
magos, mas por artes da natureza, do engano que dá e conecta uma coisa
com outra, não pelos lugares137, mas aos que ela deu o engano, a
natureza os coliga com filtros.

44. Μόνη δὲ λείπεται ἡ θεωρία ἀγοήτευτος εἶναι, ὅτι μηδεὶς πρὸς αὑτὸν
γεγοήτευται· εἷς γάρ ἐστι, καὶ τὸ θεωρούμενον αὐτός ἐστι, καὶ ὁ λόγος
οὐκ ἠπατημένος, ἀλλ᾽ ὃ δεῖ ποιεῖ, καὶ τὴν αὐτοῦ ζωὴν καὶ τὸ ἔργον
ποιεῖ. Ἐκεῖ δὲ οὐ τὸ αὐτοῦ, καὶ οὐχ ὁ λόγος τὴν ὁρμήν, ἀλλ᾽ ἀρχὴ καὶ
τοῦ ἀλόγου αἱ τοῦ πάθους προτάσεις. Τέκνων μὲν γὰρ ἐπιμέλειαι καὶ
πρὸς γάμον σπουδαὶ φανερὰν τὴν ὁλκὴν ἔχουσιν, ὅσα τε ἀνθρώπους
δελεάζει ἡδέα γινόμενα ταῖς ἐπιθυμίαις. Πράξεις δὲ αἱ μὲν διὰ θυμὸν
ἀλόγως κινοῦνται, αἱ δὲ δι᾽ ἐπιθυμίας ὡσαύτως, πολιτεῖαι δὲ καὶ ἀρχῶν
ὀρέξεις τὸ φίλαρχον τὸ ἐν ἡμῖν ἔχουσι προκαλούμενον. Καὶ αἱ μὲν
γινόμεναι ὑπὲρ τοῦ μὴ παθεῖν ἀρχὴν ἔχουσι τὸν φόβον, αἱ δ᾽ ὑπὲρ τοῦ
πλείονος τὴν ἐπιθυμίαν. Αἱ δὲ τῶν χρειωδῶν χάριν τὴν τῆς φύσεως
ἔνδειαν ζητοῦσαι ἀποπληροῦν φανερῶς ἔχουσι τὴν τῆς φύσεως βίαν
πρὸς τὸ ζῆν οἰκειώσασαν. Εἰ δέ τις λέγοι τὰς πράξεις τῶν καλῶν
ἀγοητεύτους εἶναι ἢ καὶ τὴν θεωρίαν καλῶν οὖσαν γοητεύεσθαι
λεκτέον, εἰ μὲν ὡς ἀναγκαίας καὶ τὰς καλὰς λεγομένας πράξεις πράττοι
ἄλλο τὸ ὄντως καλὸν ἔχων, οὐ γεγοήτευται – οἶδε γὰρ τὴν ἀνάγκην καὶ
οὐ πρὸς τὸ τῆιδε βλέπει, οὐδὲ πρὸς ἄλλα ὁ βίος – ἀλλὰ τῆι τῆς φύσεως
τῆς ἀνθρωπίνης βίαι καὶ τῆι πρὸς τὸ ζῆν τῶν ἄλλων ἢ καὶ αὐτοῦ
οἰκειώσει – δοκεῖ γὰρ εὔλογον ἴσως μὴ ἐξάγειν ἑαυτὸν διὰ τὴν
οἰκείωσιν – [ὅτι] οὕτως ἐγοητεύθη. Εἰ δὲ τὸ ἐν ταῖς πράξεσιν ἀγαπήσας
καλὸν τὰς πράξεις αἱρεῖται ἀπατηθεὶς τοῖς ἴχνεσι τοῦ καλοῦ,
γεγοήτευται τὸ περὶ τὰ κάτω καλὸν διώκων· ὅλως γὰρ ἡ περὶ τὸ ἐοικὸς
τῶι ἀληθεῖ πραγματεία καὶ ὁλκὴ εἰς αὐτὸ πᾶσα ἠπατημένου ἐξ ἐκείνων
τῶν ἐπ᾽ αὐτὰ ἑλκόντων· τοῦτο δὲ ἡ τῆς φύσεως γοητεία ποιεῖ· τὸ γὰρ

136
Homero, Ilíada II 547: δῆμον Ἐρεχθῆος μεγαλήτορος (povo do magnânimo
Erecteu); Platão, Alcibíades Maior 135a: εὐπρόσωπος γὰρ ὁ τοῦ μεγαλήτορος δῆμος
Ἐρεχθέως (de belo aspecto é o povo do magnânimo Erecteu).
137
Como se ligam as plantas separadas.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 183

οὐκ ἀγαθὸν ὡς ἀγαθὸν διώκειν ἑλχθέντα τῶι ἐκείνου εἴδει ἀλόγοις


ὁρμαῖς, τοῦτό ἐστιν ἀγομένου ὅπου μὴ ἤθελεν οὐκ εἰδότος. Τοῦτο δὲ τί
ἄν τις ἄλλο ἢ γοητείαν εἴποι; Μόνος οὖν ἀγοήτευτος, ὃς ἑλκόμενος τοῖς
ἄλλοις αὐτοῦ μέρεσι τούτων οὐδὲν ἀγαθὸν λέγει εἶναι ὧν ἐκεῖνα λέγει,
ἀλλὰ μόνον ὃ οἶδεν αὐτὸς οὐκ ἠπατημένος οὐδὲ διώκων, ἀλλ᾽ ἔχων.
Οὐκ ἂν οὖν ἕλκοιτο οὐδαμοῦ.

44. Resta que apenas a contemplação não pode ser encantada, porque
ninguém está encantado em relação a si mesmo; pois é um só e ele
mesmo é o que é contemplado, e a razão não está enganada, mas ela
cria o que é preciso e cria sua própria vida e seu trabalho. Onde não há
o que é do mesmo, nem a razão tem impulso, mas princípio mesmo do
irracional são as propostas da impressão. Preocupações com filhos e
cuidados com o casamento têm clara atração, e tudo quanto atrai os
homens vem a ser agradável aos desejos. Há práticas que de modo
irracional agem pela ira, e outras que do mesmo modo agem pelo
desejo, e aspirações políticas de poder têm o que em nós é denominado
‘amante de poder’. E as práticas que vêm a ser para não sofrer têm por
princípio o medo, e aquelas para ter mais têm por princípio o desejo. E
as práticas que graças às coisas úteis buscam completar a insuficiência
da natureza claramente têm a força mais familiar da natureza para o
viver. E se alguém disser que as práticas das coisas belas não são
encantadas, certamente também deve-se dizer que a contemplação das
coisas belas é por encantar-se, e se praticasse como necessárias as
práticas que são ditas belas, tendo o que é realmente belo como algo
diverso, não está encantado – pois viu a necessidade e olha para o que
não é daqui, nem a sua vida é em relação a outras coisas – mas terá
familiaridade com a força da natureza humana que é para o viver dos
outros ou de si mesmo – pois parece boa razão talvez não conduzir para
fora da vida a si mesmo pela familiaridade – porque assim foi
encantado. E se alguém, tendo-se alegrado com o belo nas práticas,
escolher as práticas por ter-se iludido com as marcas do belo, está
encantado ao perseguir o belo nas coisas inferiores; pois em geral a
prática acerca do que é semelhante ao verdadeiro e toda atração para
isso é do que se iludiu por aquelas coisas que atraem a elas mesmas; e

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 184

isso o encanto da natureza cria; pois perseguir o não bom como bom,
tendo sido atraído pela forma daquilo com impulsos irracionais, isso é
do que é conduzido não sabendo aonde não queria. E isso o que alguém
diria ser senão encantamento? Então, apenas não pode ser encantado o
que, sendo atraído por partes diversas de si, diz que é um bem nenhuma
dessas coisas dentre as que aquelas partes dizem ser, mas apenas o que
ele sabe, não estando enganado nem perseguindo, mas tendo. Então, ele
não seria atraído de modo algum.

45. Ἐκ δὴ τῶν εἰρημένων ἁπάντων ἐκεῖνο φανερόν, ὅτι, ὡς ἕκαστον


τῶν ἐν τῶι παντὶ ἔχει φύσεως καὶ διαθέσεως, οὕτω τοι συντελεῖ εἰς τὸ
πᾶν καὶ πάσχει καὶ ποιεῖ, καθάπερ ἐφ᾽ ἑκάστου ζώιου ἕκαστον τῶν
μερῶν, ὡς ἔχει φύσεως καὶ κατασκευῆς, οὕτω πρὸς τὸ ὅλον συντελεῖ
καὶ ὑπουργεῖ καὶ τάξεως καὶ χρείας ἠξίωται· δίδωσί τε τὸ παρ᾽ αὐτοῦ
καὶ δέχεται τὰ παρὰ τῶν ἄλλων, ὅσων αὐτῶι δεκτικὴ ἡ φύσις· καὶ οἷον
συναίσθησις παντὸς πρὸς πᾶν· καὶ εἰ ἕκαστον δὲ τῶν μερῶν καὶ ζῶιον
ἦν, εἶχεν ἂν καὶ ζώιου ἔργα ἕτερα ὄντα τῶν τοῦ μέρους. Καὶ δὴ κἀκεῖνο
ἀναφαίνεται, ὅπως τὸ καθ᾽ ἡμᾶς ἔχει, ὡς ποιοῦντές τι καὶ ἡμεῖς ἐν τῶι
παντί, οὐ μόνον ὅσα σῶμα πρὸς σῶμα καὶ πάσχον αὖ τὰ τοιαῦτα, ἔτι
καὶ τὴν ἄλλην αὐτῶν φύσιν εἰσφερόμεθα συναφθέντες τοῖς συγγενέσιν
οἷς ἔχομεν πρὸς τὰ συγγενῆ τῶν ἔξω· καὶ δὴ καὶ ψυχαῖς ἡμῶν καὶ
διαθέσεσι συναφεῖς γινόμενοι, μᾶλλον δὲ ὄντες, πρός τε τὰ ἐφεξῆς ἐν
τῶι δαιμονίωι τόπωι καὶ τὰ ἐπέκεινα αὐτῶν οὐκ ἔστιν ὅπως λανθάνομεν
ὁποῖοί τινες ἐσμέν. Οὐ τοίνυν οὐδὲ τὰ αὐτὰ πάντες δίδομεν οὐδὲ ταὐτὸν
δεχόμεθα· ὃ γὰρ μὴ ἔχομεν πῶς ἂν μεταδοίημεν ἄλλωι, οἷον ἀγαθόν;
Οὐδ᾽ αὖ τῶι μὴ δεκτικῶι ἀγαθοῦ ἀγαθόν τι κομιούμεθα. Τὴν οὖν αὐτοῦ
τις κακίαν συνάψας ἐγνώσθη τε ὅς ἐστι καὶ κατὰ τὴν αὐτοῦ φύσιν ὤσθη
εἰς ὃ ἔχει καὶ ἐνταῦθα καὶ ἐντεῦθεν ἀπαλλαγεὶς εἰς ἄλλον τοιοῦτον
τόπον φύσεως ὁλκαῖς. Τῶι δὲ ἀγαθῶι αἵ τε λήψεις αἵ τε δόσεις καὶ αἱ
μεταθέσεις ἄλλαι, ὥσπερ ἐκ μηρίνθων ὁλκαῖς τισι φύσεως
μετατιθεμένων. Οὕτω θαυμαστῶς ἔχει δυνάμεως καὶ τάξεως τόδε τὸ
πᾶν γινομένων ἁπάντων ἀψόφωι κελεύθωι κατὰ δίκην, ἣν οὐκ ἔστι
φυγεῖν οὐδενί, ἧς ἐπαίει μὲν ὁ φαῦλος οὐδέν, ἄγεται δὲ οὐκ εἰδὼς οἷ δεῖ
ἐν τῶι παντὶ φέρεσθαι· ὁ δ᾽ ἀγαθὸς καὶ οἶδε, καὶ οὗ δεῖ ἄπεισι, καὶ
γινώσκει πρὶν ἀπιέναι οὗ ἀνάγκη αὐτῶι ἐλθόντι οἰκεῖν, καὶ εὔελπίς

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 185

ἐστιν, ὡς μετὰ θεῶν ἔσοιτο. Ἐν μὲν γὰρ ὀλίγωι ζώιωι σμικραὶ τῶν
μερῶν αἱ μεταβολαὶ καὶ συναισθήσεις καὶ οὐκ ἔστιν ἐν αὐτῶι τὰ μέρη
ζῶια εἶναι, εἰ μή που ἐπὶ βραχὺ ἔν τισιν· ἐν δὲ τῶι ἐν ὧι διαστάσεις τε
τοσαῦται καὶ ἕκαστον τῶν ἐν αὐτῶι χάλασιν ἔχει καὶ ζῶιά ἐστι πολλά,
τὰς κινήσεις δεῖ καὶ τὰς μεταστάσεις μείζους εἶναι. Ὁρῶμεν δὲ καὶ
ἥλιον καὶ σελήνην καὶ τὰ ἄλλα ἄστρα ἐν τάξει μετατιθέμενα καὶ
μετακινούμενα. Οὐ τοίνυν ἄλογον οὐδὲ τὰς ψυχὰς μετατίθεσθαι μὴ τὸ
αὐτὸ ἀεὶ ἦθος σωιζομένας, ταττομένας δὲ ἀνάλογον ὧν ἔπαθον καὶ
ποιοῦσι, τάξιν οἷον κεφαλῆς, τὰς δὲ οἷον ποδῶν λαβούσας, πρὸς τὸ πᾶν
σύμφωνον· ἔχει γὰρ καὶ αὐτὸ διαφορὰς πρὸς τὸ ἄμεινόν τε καὶ χεῖρον.
Ἣ δ᾽ ἂν μήτε τὸ ἄμεινον τὸ ἐνταῦθα αἱρῆται μήτε τοῦ χείρονος
μετέχουσα ἦι, ἄλλον τόπον καὶ καθαρὸν ἠλλάξατο τοῦτον, ὃν εἵλετο,
λαβοῦσα. Αἱ δὲ κολάσεις ὥσπερ νενοσηκότων μερῶν, τῶν μὲν
ἐπιστύψεις φαρμάκοις, τῶν δὲ ἐξαιρέσεις ἢ καὶ ἀλλοιώσεις, ἵνα ὑγιαίνοι
τὸ πᾶν ἑκάστου διατιθεμένου οὗ δεῖ· τὸ δ᾽ ὑγιεινὸν τοῦ παντὸς
ἀλλοιουμένου, τοῦ δὲ ἐξαιρουμένου ἐντεῦθεν, ὡς ἐνθαδὶ νοσοῦντος, οὗ
δὲ μὴ νοσήσει, τιθεμένου.

45. Portanto, de todas as coisas ditas é clara aquela: conforme é cada


um dos que são de natureza e disposição no todo, assim contribui para
o todo, sofre e cria, segundo cada uma das partes em cada vivente, como
são de natureza e preparação [no todo], assim [cada uma] contribui para
o inteiro, auxilia e tem valor de ordem e utilidade; e [cada um] dá o que
é de si e recebe o que é de outros, de quantos a sua natureza for
receptiva; tal que a percepção conjunta do todo é para o todo; e se cada
uma das partes fosse um vivente, teria funções de vivente que são
diferentes daquelas da parte. E também tem destaque aquele dito: como
o que é em nós, porque criamos algo e somos no todo, que não apenas
sofre corpo a corpo quantas coisas são tais, ainda levamos para dentro
também a diversa natureza delas, tendo sido afetados pelos elementos
congêneres que temos em relação aos elementos congêneres dos de
fora; e então por nossas almas e disposições viemos a ser por ter sido
afetados, ou melhor, somos, em relação às coisas em sequência no
espaço daimônico e aquelas além dessas, não é possível que não
percebêssemos de que qualidade somos. Portanto, não damos todos nem

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 186

as mesmas coisas nem recebemos o mesmo; pois o que não temos, como
passaríamos a outro, tal que o bem? Nem por sua vez reportaremos
algum bem a alguém não receptivo de bem. Então, tendo sido afetado
de sua própria maldade, foi reconhecido o que é e segundo sua natureza
foi impulsionado para o que tem, porque aqui e dali foi mudado para tal
lugar diverso por impulsos da natureza. Para o homem bom as
recepções, as doações e as mudanças são diversas, como desde cordas
que são mudadas por certos impulsos da natureza138. Assim admirável
de potência e ordem é este todo, tudo vindo a ser por ‘silencioso
caminho segundo a justiça’139, que a nenhum é possível evitar, da qual
o tolo nada entende e é conduzido, não sabendo, aonde no todo é preciso
levar-se; o homem bom sabe e sabe de onde é preciso sair e reconhece
antes de sair onde é necessidade a ele mesmo que chega habitar, e há
boa esperança de que ele haverá de ser com os deuses140. Pois em
pequeno vivente pequenas são as mudanças das partes e suas
percepções em conjunto, e nele não é possível ser viventes as partes, a
não ser por pouco tempo em alguns. Mas naquele em que as distâncias
são tamanhas, e cada uma das partes nele tem intervalo, muitas partes
são viventes, é preciso que os movimentos e as mudanças sejam

138
Platão, Leis 644e: τόδε δὲ ἴσμεν, ὅτι ταῦτα τὰ πάθη ἐν ἡμῖν οἷον νεῦρα ἢ σμήρινθοί
τινες ἐνοῦσαι σπῶσίν τε ἡμᾶς καὶ ἀλλήλαις ἀνθέλκουσιν ἐναντίαι οὖσαι ἐπ’ ἐναντίας
πράξεις (sabemos isto: que essas impressões são em nós como nervos ou certas cordas
que sendo em nós nos puxam e arrastam umas contra as outras, por ser contrárias, a
contrárias práticas).
139
Eurípides, Troianas 886-888: Ζεύς, εἴτ’ ἀνάγκη φύσεος εἴτε νοῦς βροτῶν, /
προσηυξάμην σε· πάντα γὰρ δι’ ἀψόφου / βαίνων κελεύθου κατὰ δίκην τὰ θνήτ’ ἄγεις
(Zeus, seja a necessidade da natureza, seja a inteligência dos mortais, / te invoco; pois
conduzes todas as naturezas mortais, indo por silencioso caminho segundo a justiça).
140
Platão, Fédon 63c: νῦν δὲ εὖ ἴστε ὅτι παρ’ ἄνδρας τε ἐλπίζω ἀφίξεσθαι ἀγαθούς—
καὶ τοῦτο μὲν οὐκ ἂν πάνυ διισχυρισαίμην—ὅτι μέντοι παρὰ θεοὺς δεσπότας πάνυ
ἀγαθοὺς ἥξειν (mas agora sabei bem que espero chegar junto aos homens bons – e
isso eu nem poderia sustentar muito – contudo [poderia sustentar] que hei de chegar
junto a deuses, muito melhores senhores); 81a: ὥσπερ δὲ λέγεται κατὰ τῶν
μεμυημένων, ὡς ἀληθῶς τὸν λοιπὸν χρόνον μετὰ θεῶν διάγουσα (como se diz
segundo os que foram iniciados, a passar verdadeiramente o resto do tempo com
deuses).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 187

maiores. E vemos o sol, a lua e os outros astros que em ordem mudam


posição e movimento. Portanto, não é irracional que as almas nem
mudem posição, nem conservem sempre o mesmo caráter, sendo
ordenadas em proporção daquilo que sofrem e criam, por ter tomado
uma ordem tal que de cabeça e tal que de pés, consoante com o todo;
pois este tem diferenças em relação ao melhor e pior. E a alma, que nem
o melhor daqui escolha nem seja participante do pior, muda ao tomar
esse lugar diverso e puro, que ela escolheu. E as punições são como de
partes que estão doentes, de umas há contrações com fármacos, de
outras há extrações ou mesmo variações, para que o todo se restabeleça,
cada parte dispondo do que é preciso; e o estado saudável é do todo que
varia, uma parte sendo extraída daqui onde está doente e sendo posta
onde não estará doente.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 188

IV 5
Das Aporias da Alma, III
Introdução

Tratado que discute a questão da visão e da luz e, por analogia, a do


ouvido e do som.

Plotino segue Aristóteles no De Anima, que trata de explicar que a luz


necessita de um meio para chegar ao órgão sensível. Mas o meio não
sofre o mesmo que o órgão sensível, sendo assim via, não impedimento.
No entanto, o ar, como meio, necessita de luz, pois ele mesmo é
obscuro. Como os objetos são sombras, e o seu meio é obscuro, a luz é
‘enteléquia’ da visão, ou seja, a luz é a completude para ver. Assim o ar
não abre caminho para a luz, para que se veja, mas a luz o ilumina, em
movimento diáfano, até o objeto sensível. Então, o ar não pode ser
intermédio da visão, pois só poderíamos ver a parte iluminada do objeto
visível, que estivesse próximo da retina e que fosse do tamanho desta;
mas todos veem o objeto inteiro, de várias posições, de modo que a
visão não pode ser processo corpóreo apenas, mas deve envolver
necessidades psíquicas devido à ‘simpatia’ que as partes do todo têm
entre si e com o inteiro. A luz que vai do objeto sensível ao olho sendo
intermédio e ao mesmo tempo não sendo corpo, não há corpo
intermédio da visão. Assim a alma vem a ser nessa luz e é levada por
ela até o objeto sensível. Para o som pode-se pensar do mesmo modo:
o ar não é intermédio, embora o som se propague por ele, pois o som de
metais diferentes é diferente um do outro; uma vez que o ar é um só e
também a batida nele, haveria o mesmo som, o que não se comprova.
No interior dos corpos dos animais há ecos que se produzem por órgãos
e ossos que se desgastam uns contra outros, não havendo ar intermédio;
por isso esses ecos seriam por simpatia, porque a estrutura dos corpos
dos animais é semelhante ao do todo, isto é, única. Mas a luz teria

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 189

necessidade do ar como intermédio? Não, pois a luz proveniente de sua


fonte ilumina os corpos, e ela existe mesmo não havendo corpos; assim
pode-se comparar a luz com a vida, pois o luminoso irradia a luz, como
a alma irradia a vida. E a fonte nunca se esgota. O corpo, ao perecer,
não leva consigo sua luz, ou seja, sua alma, mas ela se eleva de volta a
sua fonte. Não se pode dizer que a luz perece, pois mesmo afastada de
sua fonte ela é sempre, pois é incorpórea; não se diz que é ali nem que
não é ali. A luz que vemos é atividade de algo luminoso, que produz
incessante e constantemente a luz, como atividade de si mesmo; do
mesmo modo é a vida, que conceitualmente não deixa de ser, pois sua
fonte é eterna. Ao se destruir o corpo, a vida se une a sua origem, que é
atividade primeira e interna, que por sua vez emite sempre a vida, como
uma fonte de luz perene. Isso está de acordo com a ideia da procissão
desde o Uno-Bem, como fonte inexaurível de vida que se multiplica na
Alma através da Inteligência. A percepção de tudo se dá por simpatia
das partes do cosmo, que sendo um só mantém suas partes em atividade
recíproca. Conceber um outro universo não é possível, pois uma outra
alma diferente desta haveria de o criar; e como não seria mais uno, o
cosmo não seria simpático a si mesmo, o mesmo não seria o mesmo, o
outro não seria o outro, o perfeito não seria o perfeito. Por isso a relação
de semelhança só se dá por simpatia de um cosmo que é único.

εʹ

Περὶ ψυχῆς ἀποριῶν τρίτον ἢ περὶ ὄψεως

1. Ἐπεὶ δὲ ὑπερεθέμεθα σκέψασθαι, εἰ μηδενὸς ὄντος μεταξὺ ἔστιν


ὁρᾶν οἷον ἀέρος ἢ ἄλλου τινὸς τοῦ λεγομένου διαφανοῦς σώματος, νῦν
σκεπτέον. Ὅτι μὲν οὖν διὰ σώματός τινος δεῖ τὸ ὁρᾶν καὶ ὅλως τὸ
αἰσθάνεσθαι γίνεσθαι, εἴρηται· ἄνευ μὲν γὰρ σώματος πάντη ἐν τῶι
νοητῶι τὴν ψυχὴν εἶναι. Τοῦ δὲ αἰσθάνεσθαι ὄντος ἀντιλήψεως οὐ
νοητῶν, ἀλλὰ αἰσθητῶν μόνον, δεῖ πως τὴν ψυχὴν συναφῆ γενομένην
τοῖς αἰσθητοῖς διὰ τῶν προσομοίων κοινωνίαν τινὰ πρὸς αὐτὰ γνώσεως
ἢ παθήματος ποιεῖσθαι. Διὸ καὶ δι᾽ ὀργάνων σωματικῶν ἡ γνῶσις· διὰ
γὰρ τούτων οἷον συμφυῶν ἢ συνεχῶν ὄντων οἷον εἰς ἕν πως πρὸς αὐτὰ

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 190

τὰ αἰσθητὰ ἰέναι, ὁμοπαθείας τινὸς οὕτω πρὸς αὐτὰ γινομένης. Εἰ οὖν


δεῖ συναφήν τινα πρὸς τὰ γινωσκόμενα γίνεσθαι, περὶ μὲν τῶν ὅσα ἁφῆι
τινι γινώσκεται, τί ἄν τις ζητοῖ; Περὶ δὲ τῆς ὁράσεως – εἰ δὲ καὶ περὶ
τῆς ἀκοῆς, ὕστερον – ἀλλὰ περὶ τοῦ ὁρᾶν, εἰ δεῖ τι μεταξὺ εἶναι σῶμα
τῆς ὄψεως καὶ τοῦ χρώματος. Ἢ νύττοι κατὰ συμβεβηκὸς ἂν τὸ μεταξὺ
σῶμα, συμβάλλεται δὲ οὐδὲν πρὸς ὅρασιν τοῖς ὁρῶσιν; Ἀλλ᾽ εἰ πυκνὰ
μὲν ὄντα τὰ σώματα, ὥσπερ τὰ γεηρά, κωλύει ὁρᾶν, ὅσωι δὲ λεπτότερα
ἀεὶ τὰ μεταξύ, μᾶλλον ὁρῶμεν, συνεργὰ ἄν τις τοῦ ὁρᾶν τὰ μεταξὺ θείη.
Ἤ, εἰ οὐ συνεργά, οὐ κωλυτικά· ταῦτα δὲ κωλυτικὰ ἄν τις εἴποι. Ἀλλ᾽
εἰ τὸ πάθος πρότερον τὸ μεταξὺ παραδέχεται καὶ οἷον τυποῦται –
σημεῖον δὲ τό, εἰ καὶ ἔμπροσθέν τις ἡμῶν ἔστη πρὸς τὸ χρῶμα βλέπων,
κἀκεῖνον ὁρᾶν – πάθους ἐν τῶι μεταξὺ μὴ γενομένου οὐδ᾽ ἂν εἰς ἡμᾶς
τοῦτο ἀφικνοῖτο. Ἢ οὐκ ἀνάγκη τὸ μεταξὺ πάσχειν, εἰ τὸ πεφυκὸς
πάσχειν – ὁ ὀφθαλμός – πάσχει· ἤ, εἰ πάσχοι, ἄλλο πάσχει· ἐπεὶ οὐδ᾽ ὁ
κάλαμος ὁ μεταξὺ τῆς νάρκης καὶ τῆς χειρός, ὃ πάσχει ἡ χείρ· καὶ μὴν
κἀκεῖ, εἰ μὴ μεταξὺ ὁ κάλαμος εἴη καὶ ἡ θρίξ, οὐκ ἂν πάθοι ἡ χείρ. Ἢ
τοῦτο μὲν καὶ αὐτὸ ἀμφισβητοῖτο ἄν· καὶ γάρ, εἰ ἐντὸς δικτύου γένοιτο,
ὁ θηρευτὴς πάσχειν λέγεται τὸ ναρκᾶν. Ἀλλὰ γὰρ κινδυνεύει ὁ λόγος
ἐπὶ τὰς λεγομένας συμπαθείας ἰέναι. Εἰ δὲ τοδὶ ὑπὸ τουδὶ πέφυκε
πάσχειν συμπαθῶς τῶι τινα ὁμοιότητα ἔχειν πρὸς αὐτό, οὐκ ἂν τὸ
μεταξὺ ἀνόμοιον ὂν πάθοι, ἢ τὸ αὐτὸ οὐκ ἂν πάθοι. Εἰ τοῦτο, πολλῶι
μᾶλλον μηδενὸς ὄντος μεταξὺ πάθοι ἂν τὸ πεφυκὸς πάσχειν ἢ ἐὰν τὸ
μεταξὺ τοιοῦτον ἦι, οἷον αὐτὸ καὶ παθεῖν τι.

1. Depois de diferirmos141 ao examinar se é possível ver, nada havendo


intermédio, tal que ar ou algum outro corpo dito transparente 142, agora
deve-se examinar. Que então é preciso o ‘ver’ ser através de um corpo,
e inteiramente vir a ser o ‘perceber’, está dito; pois totalmente sem
corpo é a alma no inteligível. E sendo o ‘perceber’ contraste não de

141
Enéada IV 4, 23.
142
Aristóteles, De anima II 418 b4: διαφανὲς δὲ λέγω ὃ ἔστι μὲν ὁρατόν, οὐ καθ’ αὑτὸ
δὲ ὁρατὸν ὡς ἁπλῶς εἰπεῖν, ἀλλὰ δι’ ἀλλότριον χρῶμα. (e digo transparente o que é
visível, não visível por si mesmo, para dizer de modo simples, mas por uma cor
estranha).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 191

inteligíveis, mas de sensíveis apenas, é preciso que a alma, tendo vindo


a ser de algum modo conectada com os sensíveis, crie através das
semelhanças uma certa comunhão de conhecimento ou de produto de
impressão. Por isso mesmo através de instrumentos corpóreos é o ato
de conhecer; pois por esses instrumentos, que são como que conaturais
e contínuos, indo de certo modo ao uno em relação aos mesmos
sensíveis, a alma vem a ser assim algo de igual impressão em relação a
esses sensíveis. Então, se é preciso vir a ser algum contato em relação
às coisas conhecidas, sobre essas, quantas se conhecem por algum
contato, que é que alguém buscaria? Sobre a visão – e se é também
sobre a audição, por último143 – mas sobre o ‘ver’, alguém buscaria se
é preciso haver algum corpo intermédio entre a visão e a cor. Ou o corpo
intermédio pontuaria pelo que incidiu, e nada interfere em relação à
visão para os que veem? Mas se, sendo densos os corpos, como os de
terra, [isso] impede de ver, e quanto mais sutis sempre [forem] os
intermédios, mais vemos, alguém poria os intermédios como
colaboradores do ‘ver’. Certamente, se não forem colaboradores, não
serão impeditivos; alguém diria que esses [de terra] são impeditivos.
Mas se o intermédio recebe a impressão primeira e tal que se imprime
– este é o sinal, se diante de nós alguém se puser olhando para a cor,
também esse a vê – impressão não tendo vindo a ser no intermédio, ela
não chegaria a nós144. Ou não há necessidade de o intermédio sofrer, se
o que naturalmente sofre – o olho – sofre; ou, se sofrer, sofre algo
diverso; uma vez que nem a vara de pesca, o intermédio entre o torpor
e a mão, [sofre] o que sofre a mão; no entanto, mesmo aí, se intermédio
não fosse a vara e a linha, a mão não sofreria. Certamente, isso também
seria o mesmo em desacordo; pois também, se dentro da rede viesse a
ser [o torpor], diz-se que o pescador sofre o entorpecer. De fato o

143
Capítulo 5.
144
Aristóteles, De Anima, II 419a 17-21: πάσχοντος γάρ τι τοῦ αἰσθητικοῦ γίνεται τὸ
ὁρᾶν· ὑπ’ αὐτοῦ μὲν οὖν τοῦ ὁρωμένου χρώματος ἀδύνατον· λείπεται δὴ ὑπὸ τοῦ
μεταξύ, ὥστ’ ἀναγκαῖόν τι εἶναι μεταξύ (pois o sensível sofrendo algo, vem a ser o
‘ver’; a cor ser vista pelo sensível é impossível; resta que é pelo intermédio, de modo
que é necessário haver algo intermédio).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 192

raciocínio arrisca-se a ir às ditas simpatias145. E se isso aqui sofre


naturalmente por simpatia por aquilo, por ter alguma semelhança com
ele, o intermédio por ser dessemelhante não sofreria, ou não sofreria a
mesma coisa. Se é isso, muito mais, sendo nenhum intermédio, o que
naturalmente sofre sofreria, ainda que o intermédio fosse tal qual ele
mesmo também sofrer algo.

2. Εἰ μὲν οὖν τοιοῦτόν ἐστι τὸ ὁρᾶν, οἷον τὸ τῆς ὄψεως φῶς συνάπτειν
πρὸς τὸ μεταξὺ [φῶς] μέχρι τοῦ αἰσθητοῦ, δεῖ μεταξὺ τοῦτο εἶναι τὸ
φῶς, καὶ ἡ ὑπόθεσις αὕτη τὸ μεταξὺ τοῦτο ζητεῖ· εἰ δὲ τροπὴν ἐργάζεται
τὸ ὑποκείμενον σῶμα κεχρωσμένον, τί κωλύει τὴν τροπὴν εὐθὺς πρὸς
τὸ ὄμμα ἰέναι μηδενὸς ὄντος μεταξύ; Εἰ καὶ νῦν ἐξ ἀνάγκης, ὅτε ἐστί,
τρέπεταί πως τὸ τῶν ὀμμάτων πρόσθεν κείμενον. Καὶ οἱ ἐκχέοντες δὲ
τὰς ὄψεις οὐκ ἂν ἔχοιεν ἀκολουθοῦν τὸ πάντως μεταξύ τι εἶναι, εἰ μὴ
φοβοῖντο, μὴ πέσηι ἡ ἀκτίς· ἀλλὰ φωτός ἐστι, καὶ τὸ φῶς εὐθυποροῦν.
Οἱ δὲ τὴν ἔνστασιν αἰτιώμενοι δέοιντο ἂν πάντως τοῦ μεταξύ. Οἱ δὲ τῶν
εἰδώλων προστάται διὰ τοῦ κενοῦ λέγοντες διιέναι χώραν ζητοῦσιν, ἵνα
μὴ κωλυθῆι· ὥστε, εἰ ἔτι μᾶλλον οὐ κωλύσει τὸ μηδὲν εἶναι μεταξύ, οὐκ
ἀμφισβητοῦσι τῆι ὑποθέσει. Ὅσοι δὲ συμπαθείαι τὸ ὁρᾶν λέγουσιν,
ἧττον μὲν ὁρᾶν φήσουσιν, εἴ τι μεταξὺ εἴη, ἧι κωλύοι καὶ ἐμποδίζοι καὶ
ἀμυδρὰν ποιοῖ τὴν συμπάθειαν· μᾶλλον δὲ ἀκόλουθον λέγειν ποιεῖν
πάντως ἀμυδρὰν καὶ τὸ συγγενές, ἧι καὶ αὐτὸ πάσχον. Καὶ γὰρ εἰ σῶμα
συνεχὲς ἐν βάθει ἐκ προσβολῆς πυρὸς καίοιτο, ἀλλὰ τὸ ἐν βάθει αὐτοῦ
τῆι προσβολῆι τοῦ πρόσθεν ἧττον ἂν πάσχοι. Ἀλλ᾽ εἰ ζώιου ἑνὸς μόρια
εἴη συμπαθῆι, ἆρ᾽ ἂν ἧττον πάθοι, ὅτι μεταξύ τί ἐστιν; Ἢ ἧττον μὲν ἂν
πάθοι, σύμμετρον δ᾽ ἂν εἴη τὸ πάθος, ὅσον ἐβούλετο ἡ φύσις,
κωλύοντος τὸ ἄγαν τοῦ μεταξύ· εἰ μή που τοιοῦτον εἴη τὸ διδόμενον,
ὥστε ὅλως τὸ μεταξὺ μὴ πάσχειν. Ἀλλ᾽ εἰ συμπαθὲς τῶι ἓν ζῶιον εἶναι,
καὶ ἡμεῖς πάσχομεν ὅτι ἐν ἑνὶ καὶ ἑνός, πῶς οὐ δεῖ, ὅταν τοῦ πόρρω
αἴσθησις ἦι, συνέχειαν εἶναι; Ἢ τὴν συνέχειαν καὶ τὸ μεταξὺ διὰ τὸ τὸ
ζῶιον δεῖν συνεχὲς εἶναι, τὸ δὲ πάθος κατὰ συμβεβηκὸς συνεχοῦς, ἢ
πᾶν ὑπὸ παντὸς φήσομεν πάσχειν. Εἰ δὲ τόδε μὲν ὑπὸ τοῦδε, ἄλλο δὲ

145
Enéadas IV, 4, 23 e 32.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 193

ὑπ᾽ ἄλλου οὐ τὸ αὐτό, οὐκ ἂν δέοιτό τις τοῦ μεταξὺ πανταχοῦ. Εἰ οὖν
ἐπὶ ὄψεως λέγοι τις δεῖσθαι, διὰ τί φατέον· ἐπεὶ οὐδὲ πανταχοῦ φαίνεται
τὸ δι᾽ ἀέρος ἰὸν πάσχειν ποιοῦν τὸν ἀέρα, ἀλλ᾽ ἢ μόνον διαιρεῖν· οἷον
λίθος εἰ ἄνωθεν πίπτοι, τί ἄλλο ἢ οὐχ ὑπομένει ὁ ἀήρ; Ἐπεὶ οὐδὲ τῆι
ἀντιπεριστάσει εὔλογον κατὰ φύσιν οὔσης τῆς φορᾶς· ἐπεὶ οὕτω καὶ τὸ
πῦρ ἄνω τῆι ἀντιπεριστάσει· ἀλλ᾽ ἄτοπον· φθάνει γὰρ τὸ πῦρ τῆι αὐτοῦ
κινήσει ταχείαι οὔσηι τὴν ἀντιπερίστασιν τοῦ ἀέρος. Εἰ δ᾽ ὑπὸ τοῦ
τάχους ταχύνεσθαί τις τὴν ἀντιπερίστασίν φησιν, ἀλλὰ κατὰ
συμβεβηκὸς ἂν γίνοιτο, οὐκ εἰς τὸ ἄνωθεν· ἐπεὶ καὶ ἀπὸ τῶν ξύλων ἡ
ὁρμὴ πρὸς τὸ ἄνω οὐκ ὠθούντων· καὶ ἡμεῖς δὲ κινούμενοι τέμνομεν
τὸν ἀέρα, καὶ οὐχ ἡ ἀντιπερίστασις ὠθεῖ, πληροῖ δὲ μόνον ἐφεπόμενος
τὸ παρ᾽ ἡμῶν κενούμενον. Εἰ οὖν τοῖς σώμασι διίσταται τοῖς τοιούτοις
μηδὲν παθών, τί κωλύει καὶ ἄνευ διαστάσεως συγχωρεῖν παριέναι τοῖς
εἰς ὄψιν εἴδεσιν; Εἰ δὲ μηδὲ πάρεισιν ὡς ἐν ῥοῆι τὰ εἴδη, τίς πάσχειν
ἀνάγκη καὶ δι᾽ αὐτοῦ τὸ πάθος πρὸς ἡμᾶς τῶι προπαθεῖν ἰέναι; Εἰ γὰρ
τῶι προπαθεῖν τὸν ἀέρα ἡ αἴσθησις ἡμῖν, οὐκ ἂν πρὸς αὐτὸ βλέποντες
τὸ ὁρώμενον εἴδομεν, ἀλλ᾽ ἐκ τοῦ παρακειμένου ἔσχομεν ἂν τὴν
αἴσθησιν, ὥσπερ ἐπὶ τοῦ θερμαίνεσθαι. Ἐκεῖ γὰρ οὐ τὸ πόρρωθεν πῦρ,
ἀλλὰ ὁ ἀὴρ ὁ παρακείμενος θερμανθεὶς θερμαίνειν δοκεῖ· ἁφῆι γὰρ
τοῦτο, ἐν δὲ τοῖς ὁράμασιν οὐχ ἁφή· ὅθεν οὐδ᾽ ἐπιτεθὲν τῶι ὄμματι τὸ
αἰσθητὸν ὁρᾶν ποιεῖ, ἀλλὰ φωτισθῆναι δεῖ τὸ μεταξύ· ἢ ὅτι σκοτεινὸν
ὁ ἀήρ. Μὴ ὄντος δὲ τούτου σκοτεινοῦ οὐδ᾽ ἂν ἐδέησε φωτὸς ἴσως. Τὸ
γὰρ σκοτεινὸν ἐμπόδιον ὂν τοῦ ὁρᾶν δεῖ κρατηθῆναι τῶι φωτί. Τάχα δὲ
ἂν καὶ προσαχθὲν τῆι ὄψει οὐχ ὁρᾶται, ὅτι σκιὰν φέρει τὴν τοῦ ἀέρος
καὶ τὴν αὑτοῦ.

2. Portanto se tal é o ver, tal que coligar a luz da visão com a luz
intermédia até o sensível, é preciso esse intermédio ser a luz, e a
hipótese mesma busca esse intermédio; e se o corpo que subjaz,
colorido, realiza uma mudança, o que impede a mudança ir direto em
relação ao olho, nenhum intermédio havendo146? E se mesmo agora é

146
Platão, Timeu 45b-d: τοῦ πυρὸς ὅσον τὸ μὲν κάειν οὐκ ἔσχε, τὸ δὲ παρέχειν φῶς
ἥμερον, οἰκεῖον ἑκάστης ἡμέρας, σῶμα ἐμηχανήσαντο γίγνεσθαι (e do fogo quanto
não tem o ‘queimar’, mas o apresentar luz cotidiana, familiar de cada dia, [os deuses]

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 194

de necessidade [mudar-se], quando é, muda-se como o que jaz ante os


olhos. E os dizem que os atos de ver versam para fora [dos olhos] não
teriam como seguir que há absolutamente um intermédio, a não ser que
temam que o raio decline; mas é raio de luz, e a luz vai direto. E os que
reputam como causa a resistência147 precisariam totalmente do
intermédio. E os defensores dos simulacros, dizendo que eles vão pelo
vazio, buscam um espaço, para que [a luz] não seja impedida; assim, se
ainda mais não impedirá que haja nenhum intermédio, não são
contrários à hipótese148. E quantos dizem que o ver é por simpatia149,
dirão menos ver, se algum intermédio houver, à qual [esse intermédio]
impediria e embaraçaria, e faria obscura a simpatia; ou melhor, algo
consequente é dizer que [o intermédio] faz [a simpatia] ser
absolutamente obscura, mesmo se ele for congênere, com a qual
[simpatia] também ele é o que sofre. Pois também se um corpo contínuo
se queimasse desde o avanço de fogo em seu interior, mas o que é no
interior dele menos sofreria com o avanço do que a parte de fora. Mas
se houvesse partes de um só vivente que sofressem em conjunto, por
acaso [ele] menos sofreria, porque há algum intermédio? Certamente,
sofreria menos, pois comedida seria a impressão, em quanto queria a
natureza, porque o intermédio impede o excesso; a não ser que de algum
modo o que se recebe fosse tal que de modo geral o intermédio não
sofresse. Mas se [o todo] é ‘simpático’ por ser único vivente, também
nós sofremos porque somos em um e de um, como não é preciso haver
continuidade, quando haja sensação do que é adiante? Certamente, [é

arranjaram que um corpo viesse a ser) ... ἓν σῶμα οἰκειωθὲν συνέστη κατὰ τὴν τῶν
ὀμμάτων εὐθυωρίαν, ὅπῃπερ ἂν ἀντερείδῃ τὸ προσπῖπτον ἔνδοθεν πρὸς ὃ τῶν ἔξω
συνέπεσεν (tendo sido familiarizado como corpo único, constituiu-se segundo o limite
dos olhos, onde o que vem de dentro se apoie no que convergiu dentre as luzes de
fora).
147
Aetius (doxógrafo) 403 b5: Καὶ κατά τινων ἀκτίνων ἔκκρισιν μετὰ τὴν πρὸς τὸ
ὑποκείμενον ἔνστασιν πάλιν ὑποστρεφουσῶν πρὸς τὴν ὄψιν (segundo a separação de
alguns raios, que, depois da resistência no que subjaz, novamente voltam-se para a
visão).
148
Referindo-se aos atomistas e a Epicuro.
149
O próprio Plotino.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 195

preciso haver] a continuidade e o intermédio por ser preciso o vivente


ser contínuo, e a impressão é segundo o que incidiu, do contínuo, ou
diremos que tudo sofre por tudo. E se isto [sofre] por aquilo, e uma
coisa por outra, não sofrendo o mesmo, alguém não precisaria do
intermédio absolutamente. Então se alguém dissesse sobre a visão que
é preciso [um intermédio], deve-se dizer por quê; uma vez que não
parece em parte alguma que o que vai pelo ar sofra criando o ar, a não
ser que apenas separe o ar; tal que uma pedra se cair do alto, que outra
coisa senão o ar não a suporta? Uma vez que, havendo deslocamento
[de ar], não é por ‘antiperístasis’150 uma boa razão segundo a natureza;
uma vez que também seria assim o fogo que vai acima, por
‘antiperístasis’; mas seria absurdo; pois o fogo se antecipa por seu
próprio movimento que é veloz em relação à ‘antiperístasis’ do ar. E se
alguém disser que a ‘antiperístasis’ é pelo acelerar da velocidade, mas
[isso] viria a ser pelo que incidiu, não para o de cima; uma vez que o
impulso [do fogo] na madeira é para cima, a madeira não sendo
impulsionada para cima; e mesmo nós que nos movemos fendemos o
ar, e a ‘antiperístasis’ não impulsiona, e o [ar] que vai atrás apenas
completa o que se esvazia de nossa parte. Se então para corpos tais [o
ar] se divide nada sofrendo, que é que impede também ele, sem
separação, concorrer para estar presente nas formas para visão? E se as
formas não são presentes como em corrente, que necessidade há [o ar]
sofrer e a impressão por ele mesmo vir a nós, por ele ter antes a
impressão? Pois se for por ter antes a impressão o ar é a sensação para
nós, não veríamos o que é visto ao olhar para a mesma coisa, mas do
que jaz por perto teríamos a sensação, como é no aquecer. Pois aí não é
o fogo de longe, mas o ar que jaz por perto que foi aquecido que parece
aquecer; pois por contato é isso, e nas coisas vistas não há contato; daí

150
Aristóteles, Física, VIII 10 267a 15: διὸ ἐν ἀέρι καὶ ὕδατι γίγνεται ἡ τοιαύτη
κίνησις, ἣν λέγουσί τινες ἀντιπερίστασιν εἶναι (por isso no ar e na água vem a ser o
tal movimento, que dizem alguns ser ‘antiperístasis’). ‘Antiperístasis’ é a mudança de
posição por oposição da massa de um corpo, como uma pedra que cai no ar ou na
água.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 196

nem tendo sido sobreposto ao olho o sensível faz ver151, mas é preciso
ser iluminado o intermédio; ou porque obscuro é o ar. Não sendo este
obscuro, não precisaria talvez de luz. Pois o obscuro, sendo obstáculo
do ver, é preciso ser dominado pela luz. Logo o que for levado para
junto da visão não é visto, porque porta sombra, a do ar e a sua.

3. Μέγιστον δὲ μαρτύριον τοῦ μὴ διὰ τοῦ ἀέρος παθόντος τὸ εἶδος τοῦ


αἰσθητοῦ ὁρᾶν [καὶ τὰς τούτων μορφάς] ὥσπερ διαδόσει τὸ νύκτωρ ἐν
σκότωι πῦρ τε καὶ τὰ ἄστρα ὁρᾶσθαι καὶ τὰς τούτων μορφάς. Οὐ γὰρ
δὴ φήσει τις ἐν τῶι σκοτεινῶι τὰ εἴδη γενόμενα οὕτω συνάψασθαι· ἢ
οὐκ ἂν ἦν σκότος τοῦ πυρὸς ἐλλάμψαντος τὸ αὑτοῦ εἶδος. Ἐπεὶ καὶ
πάνυ πολλοῦ σκότου ὄντος καὶ κεκρυμμένων καὶ τῶν ἄστρων [καὶ τοῦ
πυρὸς] καὶ τοῦ φωτὸς τοῦ παρ᾽ αὐτῶν μὴ ἐλλάμποντος ἐκ τῶν
φρυκτωριῶν ὁρᾶται τὸ πῦρ, καὶ ἐκ τῶν πύργων τῶν ταῖς ναυσὶ
σημαινόντων. Εἰ δὲ καὶ διιέναι τις λέγοι καὶ ἐν τούτοις τὸ πῦρ
ἐναντιούμενος τῆι αἰσθήσει, ἐχρῆν τὴν ὄψιν τοῦ ἀμυδροῦ τοῦ ἐν τῶι
ἀέρι ποιεῖσθαι τὴν ἀντίληψιν, οὐκ ἐκείνου αὐτοῦ, οἷόν ἐστιν ἐναργές.
Εἰ δὲ μεταξὺ σκότου ὄντος ὁρᾶται τὸ ἐπέκεινα, πολλῶι μᾶλλον
μηδενός. Ἀλλ᾽ ἐκείνωι ἄν τις ἐπιστήσειε, μὴ τῶι μεταξὺ μηδενὶ οὐκ
ἔσται ὁρᾶν, οὐχ ὅτι μηδέν ἐστι μεταξύ, ἀλλ᾽ ὅτι ἡ συμπάθεια τοῦ ζώιου
ἀναιρεῖται πρὸς αὐτὸ καὶ ἡ πρὸς ἄλληλα τῶν μερῶν τῶι ἓν εἶναι.
Τούτωι γὰρ ἔοικε καὶ τὸ αἰσθάνεσθαι ὁπωσοῦν εἶναι, ὅτι συμπαθὲς τὸ
ζῶιον – τόδε τὸ πᾶν – ἑαυτῶι. Εἰ γὰρ μὴ τοῦτο, πῶς ἂν ἄλλο ἄλλου τῆς
δυνάμεως μετελάμβανε καὶ μάλιστα τῆς πόρρω; Τοῦτο δὴ ἐπισκεπτέον,
εἰ ἄλλος κόσμος ἦν καὶ ἄλλο ζῶιον μὴ συντελοῦν πρὸς τοῦτο καὶ ὄψις
ἦν ἐπὶ τοῖς νώτοις τοῦ οὐρανοῦ, εἰ ἐθεάσατο ἐκεῖνον ἐκ διαστήματος
συμμέτρου· ἢ οὐδὲν ἂν εἴη πρὸς ἐκεῖνον τούτωι. Ἀλλὰ τοῦτο μὲν
ὕστερον. Νῦν δὲ κἀκεῖνο ἄν τις μαρτύραιτο εἰς τὸ μὴ τῶι πάσχειν τὸ

151
Aristóteles, De Anima, II 7 419a 12: ἡ δ’ ἐντελέχεια τοῦ διαφανοῦς φῶς ἐστιν.
σημεῖον δὲ τούτου φανερόν· ἐὰν γάρ τις θῇ τὸ ἔχον χρῶμα ἐπ’ αὐτὴν τὴν ὄψιν, οὐκ
ὄψεται (‘enteléquia’ do diáfano é luz; e o sinal disso é claro: se alguém puser o que
tem cor na própria visão, não verá); 421b 17: καὶ τὸ μὲν ἐπ’ αὐτῷ τιθέμενον τῷ
αἰσθητηρίῳ ἀναίσθητον εἶναι κοινὸν πάντων (e o que é posto no próprio órgão do
sentido não poder ser sentido é comum de todos [os animais]).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 197

μεταξὺ τούτωι τὸ ὁρᾶν γίνεσθαι. Εἰ γὰρ δὴ πάσχοι τὸ τοῦ ἀέρος,


σωματικῶς δήπουθεν ἀνάγκη πάσχειν· τοῦτο δέ ἐστιν οἷον ἐν κηρῶι
τύπον γενέσθαι. Μέρος δὴ δεῖ τοῦ ὁρατοῦ καθ᾽ ἕκαστον μόριον
τυποῦσθαι· ὥστε καὶ τὸ συναφὲς τῆι ὄψει μόριον τοσοῦτον, ὅσον καὶ ἡ
κόρη τὸ καθ᾽ αὑτὸ μόριον τοῦ ὁρατοῦ δέχοιτο ἄν. Νῦν δὲ πᾶν τε ὁρᾶται,
καὶ ὅσοι ἐν τῶι ἀέρι κατά γε τὸ καταντικρὺ ἔκ τε πλαγίων ἐπὶ πολὺ
ὁρῶσιν ἐγγύς τε καὶ κατόπιν οὐκ ἐπιπροσθούμενοι· ὥστε ἕκαστον
μόριον τοῦ ἀέρος ὅλον οἷον τὸ πρόσωπον τὸ ὁρώμενον ἔχειν· τοῦτο δὲ
οὐ κατὰ σώματος πάθημα, ἀλλὰ κατὰ μείζους καὶ ψυχικὰς καὶ ζώιου
ἑνὸς συμπαθοῦς ἀνάγκας.

3. E a maior prova do não se ver através do ar, que sofre, a forma do


sensível [e as figuras dessas formas], como por transmissão152, é o ver-
se à noite em obscuridade fogo e os astros e as figuras deles. Pois não
dirá alguém que no escuro as formas que vieram a ser são assim
coligadas [ao ar]; ou não haveria obscuridade [nele], porque o fogo
ilumina a sua própria forma. Uma vez que, mesmo havendo muita
obscuridade, e estando ocultos mesmos os astros [e seu fogo], e a luz
da parte desses não iluminando, desde as sinalizações com fogo vê-se o
fogo, e desde as torres que sinalizam às naus. E se alguém disser, indo
contra a percepção, que o fogo atravessa [o ar], mesmo nesses casos,
era necessário a visão fazer a recepção do que é indistinto no ar, não
daquele mesmo [fogo], tal como é claro. E se, havendo obscuridade
intermédia, vê-se o além, muito mais [ver-se-ia], nenhuma [obscuridade
havendo]. Mas a isso alguém contraporia, não havendo nenhum
intermédio, não haverá ‘ver’, [mas] não é porque nenhum intermédio
há, mas porque o conjunto de impressões do vivente anula-se para ele
mesmo, e também o conjunto de impressões das partes entre si, por ser

152
Διάδοσις ‘transmissão’ é conceito estoico. Galenus, De placitis Hippocratis et
Platonis, II 35: καὶ τοῦτο βούλεταί γε Ζήνων καὶ Χρύσιππος ἅμα τῷ σφετέρῳ χορῷ
παντί, διαδίδοσθαι τὴν ἐκ τοῦ προσπεσόντος ἔξωθεν ἐγγενομένην τῷ μορίῳ κίνησιν
εἰς τὴν ἀρχὴν τῆς ψυχῆς ἵν’ αἴσθηται τὸ ζῷον (e isso quer Zenão e Chrysippo,
juntamente com todo o coro de ambos: o movimento que veio a ser à parte de fora do
que incidiu se transmite ao princípio da alma para que o vivente perceba).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 198

um só. Pois a isso é semelhante o ‘perceber’, sendo como quer que seja,
porque é ‘simpático’ o vivente – este todo – consigo mesmo. Pois se
não é isso, como um trocaria potência com outro, principalmente a
distante [potência]? Portanto, deve-se examinar isto: se outro cosmo
houver e outro vivente que não confina com este, também visão haveria
no dorso do céu153, se aquele fosse contemplado desde simétrico
intervalo; ou este nada teria com aquele. Mas isso é depois 154. E agora
também alguém testemunharia que vir a ser o ‘ver’ é para isto: para não
sofrer o intermédio. Portanto se o que é do ar sofresse, de modo
corpóreo certamente seria necessidade sofrer; e isso seria tal que vir a
ser uma marca em cera. Então, seria preciso uma parte do visível ser
marcada em cada partícula [de ar]; assim a partícula conjunta com a
visão seria tão grande quanto a pupila poderia receber, segundo a
partícula do mesmo objeto visível. E agora [o objeto] todo é visto, e
quantos o veem no ar em oposição, desde os lados, muito perto, atrás,
não são impedidos [pelo ar]; assim cada partícula do ar tem inteiro o
que é visto, tal que o rosto; e esse produto de impressão não é segundo
corpo, mas segundo algo maior e de necessidades psíquicas, porque o
vivente é único em seu conjunto de impressões.

4. Ἀλλὰ τὸ συναφὲς τῆς ὄψεως φῶς πρὸς τὸ περὶ τὴν ὄψιν καὶ μέχρι τοῦ
αἰσθητοῦ πῶς; Ἢ πρῶτον μὲν τοῦ μεταξὺ ἀέρος οὐ δεῖται, εἰ μὴ ἄρα τὸ
φῶς οὐκ ἂν ἀέρος ἄνευ λέγοιτο. Οὕτω δὲ τοῦτο μεταξὺ κατὰ
συμβεβηκός, αὐτὸ δὲ φῶς ἂν εἴη μεταξὺ οὐ πάσχον· οὐδ᾽ ὅλως πάθους
ἐνταῦθα δεῖ, ἀλλ᾽ ὅμως τοῦ μεταξύ· εἰ δὲ τὸ φῶς οὐ σῶμα, οὐ σώματος.
Καὶ δὴ οὐ πρὸς τὸ ὁρᾶν ἁπλῶς δέοιτο ἂν τοῦ φωτὸς τοῦ ἀλλοτρίου καὶ
μεταξὺ ἡ ὄψις, ἀλλὰ πρὸς τὸ πόρρω ὁρᾶν. Τὸ μὲν οὖν εἰ τὸ φῶς γένοιτο
ἄνευ τοῦ ἀέρος, ὕστερον· νῦν δὲ ἐκεῖνο σκεπτέον. Εἰ μὲν γὰρ τὸ φῶς

153
Platão, Fedro 247b-c: αἱ μὲν γὰρ ἀθάνατοι καλούμεναι, ἡνίκ’ ἂν πρὸς ἄκρῳ
γένωνται, ἔξω πορευθεῖσαι ἔστησαν ἐπὶ τῷ τοῦ οὐρανοῦ νώτῳ, στάσας δὲ αὐτὰς
περιάγει ἡ περιφορά, αἱ δὲ θεωροῦσι τὰ ἔξω τοῦ οὐρανοῦ (pois as almas que são ditas
imortais, quando venham a ser no cume, ao passar para fora ficam no dorso do céu, e
a órbita que está ali as leva em volta, e elas contemplam as coisas externas do céu).
154
No capítulo 8.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 199

τοῦτο τὸ συναφὲς ἔμψυχον γίνεται, καὶ ἡ ψυχὴ δι᾽ αὐτοῦ φερομένη καὶ
ἐν αὐτῶι γιγνομένη, ὥσπερ καὶ ἐπὶ τοῦ ἔνδον, ἐν τῶι ἀντιλαμβάνεσθαι
δήπουθεν, ὅπερ ἐστὶν ὁρᾶν, οὐδὲν ἂν δέοιτο τοῦ μεταξὺ φωτός, ἀλλ᾽
ἁφῆι ἔσται ἐοικὸς τὸ ὁρᾶν τῆς ὁρατικῆς δυνάμεως ἐν φωτὶ
ἀντιλαμβανομένης πάσχοντος οὐδὲν τοῦ μεταξύ, ἀλλὰ γίνεται τῆς
ὄψεως φορὰ ἐκεῖ. Οὗ δὴ ζητητέον, πότερα τῶι διάστημά τι εἶναι ἐκεῖ
δεῖ πορευθῆναι τὴν ὄψιν ἢ τῶι σῶμά τι εἶναι ἐν τῶι διαστήματι. Καὶ εἰ
μὲν τῶι σῶμα ἐν τῶι διαστήματι εἶναι τὸ διεῖργον, εἰ ἀφαιρεθείη τοῦτο,
ὄψεται· εἰ δ᾽ ὅτι διάστημα ἁπλῶς, ἀργὴν δεῖ ὑποθέσθαι τὴν τοῦ ὁρατοῦ
φύσιν καὶ οὐδὲν δρῶσαν ὅλως. Ἀλλ᾽ οὐχ οἷόν τε· οὐ γὰρ μόνον ἡ ἁφὴ
ὅτι ἐγγύς τι λέγει καὶ ἅπτεται, ἀλλὰ τὰς τοῦ ἁπτοῦ πάσχουσα
ἀπαγγέλλει διαφοράς, καὶ εἰ μὴ διείργοι τι, κἂν τοῦτο πόρρω, ἤισθετο.
Ἅμα γὰρ ὁ ἀὴρ ὁ μεταξὺ καὶ ἡμεῖς πυρὸς αἰσθανόμεθα οὐκ
ἀναμείναντες θερμανθῆναι ἐκεῖνον. Μᾶλλον γοῦν τὸ σῶμα θερμαίνεται
τὸ στερεὸν ἢ ὁ ἀήρ· ὥστε δι᾽ αὐτοῦ μᾶλλον, ἀλλ᾽ οὐ δι᾽ αὐτό. Εἰ οὖν
ἔχει δύναμιν εἰς τὸ δρᾶν, τὸ δὲ εἰς τὸ πάσχειν, ἢ καὶ ὁπωσοῦν ἡ ὄψις,
διὰ τί ἄλλου δεῖται μέσου εἰς ὃ δύναται πρὸς τὸ ποιῆσαι; Τοῦτο γὰρ
ἐμποδίου ἐστὶ δεῖσθαι. Ἐπεὶ καὶ ὅταν τὸ φῶς προσίηι τὸ τοῦ ἡλίου, οὐ
πρότερον δεῖ τὸν ἀέρα εἶτα καὶ ἡμᾶς, ἀλλ᾽ ἅμα, καὶ πρὶν ἐγγὺς τῆς
ὄψεως γενέσθαι πολλάκις ὄντος ἀλλαχοῦ, ὡς μὴ παθόντος τοῦ ἀέρος
ἡμᾶς ὁρᾶν, μεταξὺ ὄντος τοῦ μὴ πεπονθότος καὶ τοῦ φωτὸς μήπω
ἐληλυθότος, πρὸς ὃ δεῖ τὴν ὄψιν συνάψαι. Ἐπεὶ καὶ τὸ τῆς νυκτὸς ὁρᾶν
τὰ ἄστρα ἢ ὅλως πῦρ χαλεπὸν ταύτηι τῆι ὑποθέσει ἀπευθῦναι. Εἰ δὲ
μένει μὲν ἡ ψυχὴ ἐφ᾽ ἑαυτῆς, φωτὸς δὲ δεῖται ὥσπερ βακτηρίας πρὸς
τὸ φθάσαι, ἔδει τὴν ἀντίληψιν βίαιον καὶ ἀντερείδοντος εἶναι καὶ
τεταμένου τοῦ φωτός, καὶ τὸ αἰσθητόν, τὸ χρῶμα, ἧι χρῶμα,
ἀντιτυποῦν καὶ αὐτὸ εἶναι· οὕτω γὰρ διὰ μέσου αἱ ἁφαί. Εἶτα καὶ
πρότερον ἐγγὺς γέγονε μηδενὸς μεταξὺ ὄντος τότε· οὕτω γὰρ ὕστερον
τὸ διὰ μέσου ἅπτεσθαι ποιεῖ τὴν γνῶσιν, οἷον τῆι μνήμηι καὶ ἔτι μᾶλλον
συλλογισμῶι· νῦν δὲ οὐχ οὕτως. Ἀλλ᾽ εἰ παθεῖν δεῖ τὸ πρὸς τὸ αἰσθητὸν
φῶς, εἶτα διαδοῦναι μέχρι ὄψεως, ἡ αὐτὴ γίνεται ὑπόθεσις τῆι ἀπὸ τοῦ
αἰσθητοῦ τὸ μεταξὺ πρότερον τρεπούσηι, πρὸς ἣν ἤδη καὶ ἐν ἄλλοις
ἠπόρηται.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 200

4. Mas a luz em contato com a visão é em relação ao que é acerca da


visão até o objeto sensível, como? Primeiro não há necessidade do ar
intermédio, a não ser que não se diga haver luz sem ar. Assim esse
intermédio é por ter incidido, e a mesma luz seria intermédio que não
sofre; nem é preciso inteiramente impressão aqui, contudo [há
necessidade] de intermédio; e se a luz não é corpo, não [há necessidade]
de corpo [como intermédio]. Então, em relação a ver simplesmente, a
visão não necessitaria da luz alheia e de intermédio, mas necessitaria
[disso] para ver longe. Então, se a luz vier a ser sem o ar, para depois155;
agora aquilo deve-se examinar. Portanto se essa luz em contato [com o
olho] vem a ser animada, a alma sendo levada por ela e nela vindo a ser,
como acontece também na luz interior, o que, certamente quando uma
recebe a outra, é o ‘ver’, nada necessitaria da luz intermédia, mas ao
tato será semelhante o ‘ver’, a potência da visão sendo recebida em luz,
nada sofrendo o intermédio, mas vem a ser ali transporte da visão. De
onde deve-se buscar qual seria das duas coisas: por haver um intervalo
ali é preciso passar a visão, ou é por haver algum corpo no intervalo. E
se é por haver um corpo no intervalo o que separa, se esse for afastado,
verá; e se é porque há intervalo simplesmente, é preciso sugerir que a
natureza do visível é inútil e em nada atua inteiramente. Mas [isso] não
é possível; pois não apenas o tato diz ser algo perto e faz contato, mas
faz conhecer, ao sofrer, as diferenças do toque, e se algo não isolar,
ainda que isso estivesse longe, sentiria. Pois ao mesmo tempo o ar, que
é o intermédio, e nós sentimos o fogo, não esperando que ele seja
aquecido. Pois o corpo sólido mais se aquece do que o ar; assim é mais
através do ar, mas não por causa do ar. Então se [algo] tem potência
para agir, e algo a tem para sofrer, ou mesmo de qualquer modo a visão,
por que há necessidade de algum meio diverso para o que é capaz em
relação ao fazer? Pois isso é haver necessidade de impedimento. Uma
vez que, quando avance a luz do sol, não é preciso anteriormente [tocar]
o ar e em seguida a nós, mas é ao mesmo tempo, antes de vir a ser
próxima da visão, a luz muitas vezes sendo em outra parte, de modo a,

155
No capítulo 6.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 201

não sofrendo o ar, nós a vermos, não havendo intermédio que sofre,
porque a luz ainda não chegou, em relação a que a visão se liga. Uma
vez que é possível ver de noite os astros ou de modo geral um fogo, é
difícil redirecionar a essa hipótese. E se a alma permanece em si mesma,
e há necessidade de luz como de um bastão156 para antecipar, era preciso
haver uma recepção forçada entre o objeto que apoia e a luz que se
estendeu até ele: o objeto sensível, que repercute a cor, seja cor, para
isso mesmo ser; pois por um meio assim são as sensações táteis. Depois,
quanto antes [a luz] veio a ser próxima, nenhum intermédio havendo,
então; pois assim posteriormente ser tocado por um meio cria o ato de
conhecer, tal que com memória e ainda mais com cálculo; agora [isso]
não é assim. Mas se é preciso a luz sofrer em relação ao objeto sensível,
depois distribuir até a visão, vem a ser a mesma hipótese, que muda o
intermédio anterior a partir do objeto sensível, em relação a que já em
outros pontos houve dificuldade157.

5. Περὶ δὲ τοῦ ἀκούειν ἆρα ἐνταῦθα συγχωρητέον, πάσχοντος τοῦ


ἀέρος τὴν κίνησιν τὴν πρώτην τοῦ παρακειμένου ὑπὸ τοῦ τὸν ψόφον
ποιοῦντος, τῶι τὸν μέχρι ἀκοῆς ἀέρα πάσχειν τὸ αὐτό, οὕτως εἰς
αἴσθησιν ἀφικνεῖσθαι; Ἢ κατὰ συμβεβηκὸς μὲν τὸ μεταξὺ τῶι παρεῖναι
ἐν μέσωι, ἀναιρεθέντος δὲ τοῦ μεταξύ, ἅπαξ δὲ γενομένου τοῦ ψόφου,
οἷον συμβαλλόντων δύο σωμάτων, εὐθέως ἀπαντᾶν πρὸς ἡμᾶς τὴν
αἴσθησιν; Ἢ καὶ δεῖ μὲν ἀέρος τὴν πρώτην τοῦ πληττομένου, τὸ δὲ
ἐντεῦθεν ἤδη ἄλλως τὸ μεταξύ; Ἐνταῦθα μὲν γὰρ δοκεῖ κύριος εἶναι ὁ
ἀὴρ τοῦ ψόφου· μὴ γὰρ ἂν μηδὲ τὴν ἀρχὴν γενέσθαι ψόφον δύο

156
Alexander Afrodisias, De anina libri mantissa, 130, 14: νυττόμενον γὰρ ὑπὸ τῆς
ὄψεως τὸν συνάπτοντα τῇ κόρῃ ἀέρα σχηματίζεσθαι εἰς κῶνον. τούτου δὲ οἷον
τυπουμένου κατὰ τὴν βάσιν ὑπὸ τῶν ὁρατῶν τὴν αἴσθησιν γίνεσθαι, καθάπερ καὶ τῇ
ἁφῇ διὰ βακτηρίας (sendo tocado pela visão o ar que se liga à retina configura-se em
um cone, e esse sendo marcado na base pelos objetos sensíveis, vem a ser a sensação,
como é para o tato a sensação através de um bastão). Diogenes Laertius, Vitae
philosophorum, VII 157: γίνεσθαι μέντοι τὸ κωνοειδὲς τοῦ ἀέρος πρὸς τῇ ὄψει, τὴν
δὲ βάσιν πρὸς τῷ ὁρωμένῳ (no entanto, vem a ser a forma cônica do ar para a visão,
a base para o objeto que é visto).
157
Enéada IV 4, 23.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 202

σωμάτων συρραγέντων, εἰ μὴ ὁ ἀὴρ πληγεὶς ἐν τῆι ταχείαι συνόδωι


αὐτῶν καὶ ἐξωσθεὶς πλήξας ἔδωκε τῶι ἐφεξῆς μέχρις ὤτων καὶ ἀκοῆς.
Ἀλλ᾽ εἰ ὁ ἀὴρ κύριος τοῦ ψόφου καὶ τούτου κινηθέντος ἡ πληγή, παρὰ
τί ἂν εἶεν αἱ διαφοραὶ τῶν φωνῶν καὶ τῶν ψόφων; Ἄλλο γὰρ ἠχεῖ
χαλκὸς πρὸς χαλκὸν ἢ πρὸς ἄλλο, ἄλλο δὲ ἄλλο· ὁ δὲ ἀὴρ εἷς καὶ ἡ ἐν
αὐτῶι πληγή· οὐ γὰρ μόνον τῶι μεγάλωι καὶ τῶι μικρῶι διαφοραί. Εἰ δ᾽
ὅτι πρὸς ἀέρα γενομένη πληγὴ ψόφον ἐποίησεν, οὐχ ἧι ἀὴρ φατέον·
τότε γὰρ φωνεῖ, ὅταν στάσιν λάβηι στερεοῦ σώματος, πρὶν χυθῆναι
μένων ὥσπερ στερεόν τι· ὥστε ἀρκεῖ τὰ συγκρούοντα, καὶ τὴν
σύρρηξιν καὶ ταύτην τὴν πληγὴν εἶναι τὸν ψόφον εἰς αἴσθησιν
ἐλθοῦσαν· μαρτυρεῖν δὲ καὶ τοὺς ἔνδον ἤχους τῶν ζώιων οὐκ ἐν ἀέρι,
ἀλλὰ συγκρούσαντος καὶ πλήξαντος ἄλλο ἄλλου· οἷον καὶ ὀστῶν
κάμψεις καὶ πρὸς ἄλληλα παρατριβομένων ἀέρος μὴ ὄντος μεταξὺ καὶ
πρίσεις. Ἀλλὰ περὶ μὲν τούτου ἠπορήσθω ὁμοίου ἤδη καὶ ἐνταῦθα τοῦ
ζητήματος γενομένου, ὅπερ ἐλέγετο ἐπὶ τῆς ὄψεως εἶναι, συναισθήσεώς
τινος ὡς ἐν ζώιωι καὶ τοῦ κατὰ τὴν ἀκοὴν πάθους ὄντος.

5. Sobre o ouvir, por acaso aqui deve-se convir que, sofrendo o ar o


movimento primeiro pelo que jazendo por perto faz o rumor, e por
sofrer o ar isso mesmo até o ouvido, desse modo chega à sensação 158?
Ou é por acidente que o intermédio se apresenta no meio, e tendo-se
retirado o intermédio, uma só vez tendo vindo a ser o rumor, tal que
chocando-se dois corpos, logo toda a sensação [chega] a nós159? Ou

158
Diogenes Laertius, Vitae philosophorum, VII 158: Ἀκούειν δὲ τοῦ μεταξὺ τοῦ
φωνοῦντος καὶ τοῦ ἀκούοντος ἀέρος πληττομένου σφαιροειδῶς, εἶτα κυματουμένου
καὶ ταῖς ἀκοαῖς προσπίπτοντος, ὡς κυματοῦται τὸ ἐν τῇ δεξαμενῇ ὕδωρ κατὰ κύκλους
ὑπὸ τοῦ ἐμβληθέντος λίθου (ouvir é quando o ar entre o que emite o som e o que o
ouve se repercute em forma de esfera, para depois indo em ondas incidir nos ouvidos,
como a água vai formando ondas em círculos em um reservatório, por causa de uma
pedra que foi lançada).
159
Aristóteles, De Anima, II 8, 419a 25-28: ὁ δ’ αὐτὸς λόγος καὶ περὶ ψόφου καὶ
ὀσμῆς ἐστιν· οὐθὲν γὰρ αὐτῶν ἁπτόμενον τοῦ αἰσθητηρίου ποιεῖ τὴν αἴσθησιν, ἀλλ’
ὑπὸ μὲν ὀσμῆς καὶ ψόφου τὸ μεταξὺ κινεῖται, ὑπὸ δὲ τούτου τῶν αἰσθητηρίων
ἑκάτερον (a mesma razão há tanto sobre rumor quanto sobre odor; pois nenhum deles

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 203

mesmo é preciso o primeiro [movimento] do ar que é percutido, e daí


de outra forma o intermédio? Pois aqui o ar parece ser senhor do
rumor160; pois nem mesmo viria a ser princípio o rumor de dois corpos
entrechocando-se, se o ar tendo sido percutido na rápida convergência
deles, ao ser impelido não concedesse percussões em sequência até os
ouvidos e audição. Mas se o ar é senhor do rumor, e desse [rumor] que
se moveu é a batida, em contraste a que seriam as diferenças dos sons e
dos rumores? Pois diversamente ecoa bronze contra bronze ou contra
outro metal, um e outro [ecoam] diversamente; um só é o ar, e também
a batida nele; pois não unicamente no grande e no pequeno há
diferenças. Se é porque em relação ao ar uma batida que veio a ser fez
rumor, não se deve dizer que seja o ar; pois então [o ar] ressoa, quando
tomar a consistência de um corpo sólido, antes de expandir-se
permanecendo como um sólido; assim, para a sensação que chega,
bastam corpos que colidem, para o rompimento e essa batida ser o
rumor; e para provar, também há os ecos de dentro dos animais, que
não são no ar, mas são porque uma coisa colidiu e bateu-se com outra;
como curvaturas e rangidos de ossos que se desgastam uns contra os
outros, não havendo ar intermédio. Mas sobre isso houve uma aporia de
algo semelhante, quando veio a ser aqui e agora o resultado da busca, o
que precisamente era dito ser sobre a visão161: uma certa sensação que
no animal é impressão que há no ouvido162.

6. Εἰ δὲ καὶ τὸ φῶς γένοιτο ἂν μὴ ὄντος ἀέρος, οἷον ἡλίου [ὄντος] ἐν


ἐπιφανείαι τῶν σωμάτων ἐπιλάμποντος, τοῦ μεταξὺ ὄντος κενοῦ καὶ
νῦν κατὰ συμβεβηκός, ὅτι πάρεστι, φωτιζομένου; Ἀλλ᾽ εἰ δι᾽ αὐτὸν

cria a sensação ao ser tocado, mas pelo odor e pelo rumor o intermédio se move, cada
um por esse intermédio dos órgãos da sensação).
160
Aristóteles, De Anima, II 8, 419b 18-20: ἔτι ἀκούεται ἐν ἀέρι, κἀν ὕδατι, ἀλλ’
ἧττον, οὐκ ἔστι δὲ ψόφου κύριος ὁ ἀὴρ οὐδὲ τὸ ὕδωρ, ἀλλὰ δεῖ στερεῶν πληγὴν
γενέσθαι πρὸς ἄλληλα καὶ πρὸς τὸν ἀέρα (ainda se ouve no ar, e mesmo na água, mas
menos, o ar não é senhor do rumor, nem a água, mas é preciso vir a ser um choque de
sólidos entre si e em relação ao ar).
161
Enéada IV 4, 23.
162
Impressão por simpatia devido à unicidade do todo universal.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 204

παθόντα καὶ τὰ ἄλλα, καὶ τὴν ὑπόστασιν εἶναι τῶι φωτὶ διὰ τὸν ἀέρα –
πάθημα γὰρ αὐτοῦ εἶναι – μὴ ἂν οὖν ἔσεσθαι τὸ πάθημα μὴ ὄντος τοῦ
πεισομένου. Ἢ πρῶτον μὲν οὐκ αὐτοῦ πρώτως οὐδ᾽ ἧι αὐτός. Ἔστι γὰρ
καὶ αὐτοῦ ἑκάστου σώματος πυρίνου καὶ λαμπροῦ· καὶ δὴ καὶ λίθων
τοιούτων φωτεινὴ χρόα. Ἀλλὰ τὸ εἰς ἄλλο ἀπὸ τοῦ ἔχοντος χρόαν
τοιαύτην ἰὸν ἆρα ἂν εἴη μὴ ὄντος ἐκείνου; Ἀλλ᾽ εἰ μὲν ποιότης μόνον
καί τινος ποιότης, ἐν ὑποκειμένωι οὔσης πάσης ποιότητος, ἀνάγκη καὶ
τὸ φῶς ζητεῖν ἐν ὧι ἔσται σώματι. Εἰ δὲ ἐνέργεια ἀπ᾽ ἄλλου, διὰ τί οὐκ
ὄντος ἐφεξῆς σώματος, ἀλλὰ οἷον κενοῦ μεταξύ, εἴπερ οἷόν τε, οὐκ
ἔσται καὶ ἐπιβαλεῖ καὶ εἰς τὸ ἐπέκεινα; Ἀτενὲς γὰρ ὂν διὰ τί οὐ περάσει
οὐκ ἐποχούμενον; Εἰ δὲ δὴ καὶ τοιοῦτον οἷον πεσεῖν, καταφερόμενον
ἔσται. Οὐ γὰρ δὴ ὁ ἀὴρ οὐδ᾽ ὅλως τὸ φωτιζόμενον ἔσται τόδε ἕλκον
ἀπὸ τοῦ φωτίζοντος καὶ βιαζόμενον προελθεῖν· ἐπεὶ οὐδὲ συμβεβηκός,
ὥστε πάντως ἐπ᾽ ἄλλωι, ἢ πάθημα ἄλλου, ὥστε δεῖ εἶναι τὸ πεισόμενον·
ἢ ἔδει μένειν ἐληλυθότος· νῦν δὲ ἄπεισιν· ὥστε καὶ ἔλθοι ἄν. Ποῦ οὖν;
Ἢ τόπον δεῖ μόνον εἶναι. Ἢ οὕτω γε ἀπολεῖ τὴν ἐνέργειαν αὐτοῦ τὴν
ἐξ αὐτοῦ τὸ τοῦ ἡλίου σῶμα· τοῦτο δὲ ἦν τὸ φῶς. Εἰ δὲ τοῦτο, οὐδὲ τὸ
φῶς τινος ἔσται. Ἔστι δὲ ἡ ἐνέργεια ἔκ τινος ὑποκειμένου, οὐκ εἰς
ὑποκείμενον δέ· πάθοι δ᾽ ἄν τι τὸ ὑποκείμενον, εἰ παρείη. Ἀλλ᾽ ὥσπερ
ζωὴ ἐνέργεια οὖσα ψυχῆς ἐστιν ἐνέργεια παθόντος ἄν τινος, οἷον τοῦ
σώματος, εἰ παρείη, καὶ μὴ παρόντος δέ ἐστι, τί ἂν κωλύοι καὶ ἐπὶ
φωτὸς οὕτως, εἴπερ ἐνέργειά τις [τὸ φωτεινὸν] εἴη; Οὐδὲ γὰρ νῦν τὸ
φωτεινὸν τοῦ ἀέρος γεννᾶι τὸ φῶς, ἀλλὰ γῆι συμμιγνύμενος σκοτεινὸν
ποιεῖ καὶ οὐ καθαρὸν ὄντως· ὥστε ὅμοιον εἶναι λέγειν τὸ γλυκὺ εἶναι,
εἰ πικρῶι μιγείη. Εἰ δέ τις τροπὴν λέγοι τοῦ ἀέρος τὸ φῶς, λεκτέον ὡς
ἐχρῆν αὐτὸν τρέπεσθαι τὸν ἀέρα τῆι τροπῆι, καὶ τὸ σκοτεινὸν αὐτοῦ μὴ
σκοτεινὸν γεγονέναι ἠλλοιωμένον. Νῦν δὲ ὁ ἀὴρ οἷός ἐστι μένει, ὡς ἂν
οὐδὲν παθών. Τὸ δὲ πάθημα ἐκείνου δεῖ εἶναι, οὗ πάθημα· οὐ τοίνυν
οὐδὲ χρῶμα αὐτοῦ, ἀλλ᾽ αὐτὸ ἐφ᾽ αὑτοῦ· πάρεστι δὲ ὁ ἀήρ. Καὶ τοῦτο
μὲν οὑτωσὶ ἐπεσκέφθω.

6. E se também a luz vier a ser, não havendo o ar, tal que havendo sol
que brilha em manifestação dos corpos, o intermédio sendo vazio, o sol,
porque é presente, os ilumina agora por acidente? Mas se é pelo ar que
sofrem também os outros corpos, por ser por ele a hipóstase para a luz

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 205

– por ser dele o produto da impressão – não poderia haver o produto da


impressão, não havendo o que há de sofrer. Primeiro [a luz] não é dele
por princípio, nem seja ele mesmo. Pois ela é, uma vez que cada corpo
ígneo e brilhante é de si mesma; e além disso, de pedras tais é a cor
luminosa. Mas o corpo que vai ao outro a partir do que tem tal cor, por
acaso seria, não havendo aquele corpo? Mas se [ela] é qualidade apenas
e qualidade de algo, toda qualidade sendo no que subjaz, há necessidade
também de buscar em que corpo a luz será. E se a luz é atividade a partir
de algo diverso, através de que, não havendo corpo contíguo, mas
havendo tal que de um intermédio vazio, se [isso] é possível, não será e
se lançará também ao além? Pois sendo inflexível, por que não
atravessará [o vazio], mesmo não sendo transportada? E se é tal que é
para cair, será a que é levada para baixo. Pois nem será o ar, nem
inteiramente o que é iluminado isso que a puxa desde o que ilumina e
que a obriga a avançar; uma vez que [ela] não é o que coincidiu de modo
a ser totalmente em algo diverso, ou produto de impressão de outro
corpo, assim é preciso haver o que há de sofrer; ou era preciso
permanecer, quando [o que ilumina] se for; agora [ela] vai [com ele];
assim ela também iria; onde, então? Certamente, é preciso haver apenas
lugar. Certamente, assim o corpo do sol perderá sua atividade, que é de
si mesmo; e isso era a luz. E se é isso, nem a luz será de algo. [Ela] é a
atividade desde algo que subjaz, mas não para o que subjaz, e sofreria
algo o que subjaz, se [este] for presente. Mas como a vida, sendo
atividade da alma, é atividade de algo que poderia sofrer, tal que corpo,
se [ele] for presente, e mesmo [ele] não sendo presente, [ela] é, e o que
impediria [ser] assim sobre a luz, se [ela] for uma atividade, haverá [o
luminoso]163? Pois nem agora o luminoso do ar gera a luz, mas [o ar]
misturando-se à terra cria o obscuro que realmente não é puro; assim
seria semelhante dizer ser doce, se misturasse com amargo. E se alguém
disser que a luz é mudança do ar, deve-se dizer como era preciso mudar-
se o mesmo ar com essa mudança, e o seu obscuro não ter vindo a ser
obscuro ao ter-se diversificado. E agora o ar é tal como permanece,

163
Explicação ontológica e metafísica da luz como atividade; se a luz é atividade de
uma fonte que a irradia, a vida é atividade da alma.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 206

como se nada tivesse sofrido. É preciso haver o produto da impressão


daquilo de que há impressão; então [ela] não é nem cor do ar, mas ela
mesma é sobre ele; e é presente o ar. E isso fique assim examinado.

7. Πότερα δὲ ἀπόλλυται ἢ ἀνατρέχει; Τάχα γὰρ ἄν τι καὶ ἐκ τούτου


λάβοιμεν εἰς τὸ πρόσθεν. Ἢ εἰ μὲν ἦν ἔνδοθεν, ὥστε τὸ μετειληφὸς
ἔχειν οἰκεῖον ἤδη, τάχα ἄν τις εἶπεν ἀπόλλυσθαι· εἰ δέ ἐστιν ἐνέργεια
οὐ ῥέουσα – περιέρρεε γὰρ ἂν καὶ ἐχεῖτο εἴσω πλέον ἢ ὅσον τὸ παρὰ
τοῦ ἐνεργοῦντος ἐπεβάλλετο – οὐκ ἂν ἀπολλύοιτο μένοντος ἐν
ὑποστάσει τοῦ φωτίζοντος. Μετακινουμένου δὲ ἐν ἄλλωι ἐστὶ τόπωι
οὐχ ὡς παλιρροίας ἢ μεταρροίας γενομένης, ἀλλ᾽ ὡς τῆς ἐνεργείας
ἐκείνου οὔσης καὶ παραγινομένης, εἰς ὅσον κωλύει οὐδέν. Ἐπεὶ καὶ εἰ
πολλαπλασία ἡ ἀπόστασις ἦν ἢ νῦν ἐστι πρὸς ἡμᾶς τοῦ ἡλίου, ἦν ἂν καὶ
μέχρι ἐκεῖ φῶς μηδενὸς κωλύοντος μηδὲ ἐμποδὼν ἐν τῶι μεταξὺ
ἱσταμένου. Ἔστι δὲ ἡ μὲν ἐν αὐτῶι ἐνέργεια καὶ οἷον ζωὴ τοῦ σώματος
τοῦ φωτεινοῦ πλείων καὶ οἷον ἀρχὴ τῆς ἐνεργείας καὶ πηγή· ἡ δὲ μετὰ
τὸ πέρας τοῦ σώματος, εἴδωλον τοῦ ἐντός, ἐνέργεια δευτέρα οὐκ
ἀφισταμένη τῆς προτέρας. Ἔχει γὰρ ἕκαστον τῶν ὄντων ἐνέργειαν, ἥ
ἐστιν ὁμοίωμα αὐτοῦ, ὥστε αὐτοῦ ὄντος κἀκεῖνο εἶναι καὶ μένοντος
φθάνειν εἰς τὸ πόρρω, τὸ μὲν ἐπιπλέον, τὸ δὲ εἰς ἔλαττον· καὶ αἱ μὲν
ἀσθενεῖς καὶ ἀμυδραί, αἱ δὲ καὶ λανθάνουσαι, τῶν δ᾽ εἰσὶ μείζους καὶ
εἰς τὸ πόρρω· καὶ ὅταν εἰς τὸ πόρρω, ἐκεῖ δεῖ νομίζειν εἶναι, ὅπου τὸ
ἐνεργοῦν καὶ δυνάμενον, καὶ αὖ οὗ φθάνει. Ἔστι δὲ καὶ ἐπὶ ὀφθαλμῶν
ἰδεῖν ζώιων λαμπόντων τοῖς ὄμμασι, γινομένου αὐτοῖς φωτὸς καὶ ἔξω
τῶν ὀμμάτων· καὶ δὴ καὶ ἐπὶ ζώιων, ἃ ἔνδον συνεστραμμένον πῦρ
ἔχοντα ταῖς ἀνοιδάνσεσιν ἐν σκότωι ἐκλάμπει εἰς τὸ ἔξω, καὶ ἐν ταῖς
συστολαῖς αὐτῶν οὐδέν ἐστι φῶς ἔξω, οὐδ᾽ αὖ ἐφθάρη, ἀλλ᾽ ἢ ἔστιν ἢ
οὐκ ἔστιν ἔξω. Τί οὖν; Εἰσελήλυθεν; Ἢ οὐκ ἔστιν ἔξω, ὅτι μηδὲ τὸ πῦρ
πρὸς τὸ ἔξω, ἀλλ᾽ ἔδυ εἰς τὸ εἴσω. Τὸ οὖν φῶς ἔδυ καὶ αὐτό; Ἢ οὔ, ἀλλ᾽
ἐκεῖνο μόνον· δύντος δὲ ἐπίπροσθέν ἐστι τὸ ἄλλο σῶμα, ὡς μὴ ἐνεργεῖν
ἐκεῖνο πρὸς τὸ ἔξω. Ἔστιν οὖν τὸ ἀπὸ τῶν σωμάτων φῶς ἐνέργεια
φωτεινοῦ σώματος πρὸς τὸ ἔξω· αὐτὸ δὲ ὅλως [φῶς] τὸ ἐν τοῖς
τοιούτοις σώμασιν, ἃ δὴ πρώτως ἐστὶ τοιαῦτα, οὐσία ἡ κατὰ τὸ εἶδος
τοῦ φωτεινοῦ πρώτως σώματος. Ὅταν δὲ μετὰ τῆς ὕλης τὸ τοιοῦτον
σῶμα ἀναμιχθῆι, χρόαν ἔδωκε· μόνη δὲ ἡ ἐνέργεια οὐ δίδωσιν, ἀλλ᾽

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 207

οἷον ἐπιχρώννυσιν, ἅτε οὖσα ἄλλου κἀκείνου οἷον ἐξηρτημένη, οὗ τὸ


ἀποστὰν κἀκείνου τῆς ἐνεργείας ἄπεστιν. Ἀσώματον δὲ πάντως δεῖ
τιθέναι, κἂν σώματος ἦι. Διὸ οὐδὲ τὸ ἀπελήλυθε κυρίως οὐδὲ τὸ
πάρεστιν, ἀλλὰ τρόπον ἕτερον ταῦτα, καὶ ἔστιν ὑπόστασις αὐτοῦ ὡς
ἐνέργεια. Ἐπεὶ καὶ τὸ ἐν τῶι κατόπτρωι εἴδωλον ἐνέργειαν λεκτέον τοῦ
ἐνορωμένου ποιοῦντος εἰς τὸ πάσχειν δυνάμενον οὐ ῥέοντος· ἀλλ᾽ εἰ
πάρεστι, κἀκεῖνο ἐκεῖ φαίνεται καὶ ἔστιν οὕτως ὡς εἴδωλον χρόας
ἐσχηματισμένης ὡδί· κἂν ἀπέλθηι, οὐκέτι τὸ διαφανὲς ἔχει, ὃ ἔσχε
πρότερον, ὅτε παρεῖχεν εἰς αὐτὸ ἐνεργεῖν τὸ ὁρώμενον. Ἀλλὰ καὶ ἐπὶ
τῆς ψυχῆς, ὅσον ἐνέργεια ἄλλης προτέρας, μενούσης τῆς προτέρας
μένει καὶ ἡ ἐφεξῆς ἐνέργεια. Εἴ τις δὲ μὴ ἐνέργεια, ἀλλ᾽ ἐξ ἐνεργείας,
οἵαν ἐλέγομεν τὴν τοῦ σώματος οἰκείαν ἤδη ζωήν, ὥσπερ τὸ φῶς τὸ
ἀναμεμιγμένον ἤδη τοῖς σώμασιν; Ἢ ἐνταῦθα τῶι καὶ συμμεμῖχθαι τὸ
ποιοῦν τὸ χρῶμα. Ἐπὶ δὲ τῆς ζωῆς τῆς τοῦ σώματος τί; Ἢ παρακειμένης
ψυχῆς ἄλλης ἔχει. Ὅταν οὖν τὸ σῶμα φθαρῆι – οὐ γὰρ δὴ ψυχῆς τι
ἄμοιρον δύναται εἶναι – φθειρομένου οὖν τοῦ σώματος καὶ οὐκ
ἐπαρκούσης αὐτῶι οὔτε τῆς δούσης οὔτ᾽ εἴ τις παράκειται, πῶς ἂν ἔτι
ζωὴ μένοι; Τί οὖν; Ἐφθάρη αὕτη; Ἢ οὐδὲ αὕτη· εἴδωλον γὰρ
ἐκλάμψεως καὶ τοῦτο· οὐκέτι δέ ἐστιν ἐκεῖ μόνον.

7. Qual dos dois: [a luz] perece ou retorna? Pois logo tomaríamos disso
algo para a questão anterior. Certamente, se era de dentro, de modo a o
que está empossado já ser familiar, logo alguém diria que ela perece; e
se é atividade que não flui – pois fluiria entorno e manter-se-ia dentro
mais do que quando se lançasse a partir do que é ativo – não pereceria,
permanecendo o que ilumina em hipóstase. E [isso] ao se deslocar é em
outro lugar, não porque a atividade veio a ser refluxo ou mudança de
fluxo, mas porque é e vem a ser junto como atividade daquilo, em
quanto nada impede. Uma vez que se muito maior fosse a distância do
sol do que agora é em relação a nós, haveria mesmo até ali luz, nada
impedindo nem estando como obstáculo no intermédio. E a atividade
nela é tal que vida plena do corpo luminoso, tal que princípio e fonte de
atividade; e nela a [atividade] é além do limite do corpo, visagem do
interno, atividade segunda não afastada da primeira. Pois cada uma das
coisas que são tem atividade, que é semelhança de si mesma, de modo

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 208

a, sendo ela mesma, ser também aquela outra, e, permanecendo,


antecipar-se para adiante, uma para mais, e outra para menos; umas
[atividades] são fracas e opacas, outras até fogem à atenção, dentre as
que são maiores e para adiante; e quando são para adiante, ali é preciso
considerar ser no lugar em que [a atividade] é ativa e potente, e ainda
[considerar] de onde se antecipa. Nos olhos brilhantes dos animais, ver
é pela vista, vindo-lhes a ser uma luz mesmo fora da visão; além disso
mesmo nos animais que têm um fogo constrito internamente, com
dilatações [das pupilas] no escuro [seus olhos] emitem luz para fora, e
nas contrações delas nenhuma luz há fora, não foi de fato destruída [a
luz], mas ou é ou não é fora. Quê, então? [Ela] foi para dentro?
Certamente, não é fora, porque nem o fogo vem para fora, mas imerge
para dentro. Então, a luz imerge e é ela mesma? Certamente não, mas
apenas aquele [fogo]; e tendo imergido, há um corpo diverso que serve
de obstáculo, de modo a não ser ativo aquele [fogo] que vai para fora.
Então, a luz a partir dos corpos é atividade de corpo luminoso para fora;
e a mesma [luz] é inteiramente o que é em tais corpos, que então
primeiramente são tais: essência segundo a forma do corpo
primeiramente luminoso. E quando com a matéria o tal corpo seja
misturado, dá uma cor; e apenas a atividade [da luz] não dá, mas como
que colore, enquanto é dependente daquela outra luz [interna], onde o
que se afasta daquela [luz] se afasta também de sua atividade. E é
preciso pôr totalmente [a luz] como incorpórea, embora seja de
corpo164. Por isso nem é válido o “está afastada” nem o “é presente”,
mas isso é de modo diferente, e é hipóstase dela como atividade. Uma
vez que a visagem no espelho deve-se dizer atividade do que se vê nele,
que cria o que tem capacidade de sofrer, que não flui; mas se [o que se
vê] é presente, também aquela [visagem] ali se manifesta e é assim
como visagem de cor que está configurada deste modo; quando [o que

164
Aristóteles, De Anima II 7, 418b 14: τί μὲν οὖν τὸ διαφανὲς καὶ τί τὸ φῶς, εἴρηται,
ὅτι οὔτε πῦρ οὔθ’ ὅλως σῶμα οὐδ’ ἀπορροὴ σώματος οὐδενός (então o que é o diáfano
e o que é a luz, está dito que nem é fogo nem em geral corpo nem decorrência de
nenhum corpo). Alexandre de Afrodísia, De Anima 43, 11: οὐ γὰρ σῶμα τὸ φῶς (pois
a luz não é corpo).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 209

se vê] se afaste, [o espelho] não tem mais o diáfano, que tinha antes,
quando permitia que o que é visto fosse em atividade nele. Mas também
sobre a alma, enquanto atividade de outra anterior, permanecendo a
anterior, permanece também a atividade seguinte. E se alguém [a disser]
não atividade, mas desde atividade, tal como dizíamos a vida então
familiar do corpo, como a luz que já está misturada com os corpos?
Certamente aqui, por estar misturada, é o que cria a cor. E sobre a vida
do corpo, é o quê? Certamente [ele a] tem, estando junta a alma diversa.
Então quando o corpo for destruído – pois não pode haver algum corpo
não participante de alma – então é destruído o corpo, se não estiver junto
dele nem a alma que lhe sustém nem a que lhe dá [vida], como ainda
permaneceria vida? Quê, então? Foi destruída a mesma [vida]?
Certamente não ela mesma; pois visagem de reflexo também é isso; não
mais é ali apenas.

8. Εἰ δ᾽ εἴη σῶμα ἔξω τοῦ οὐρανοῦ, καὶ ὄψις τις ἐντεῦθεν μηδενὸς
κωλύοντος εἰς τὸ ἰδεῖν, ἆρ᾽ ἂν θεάσαιτο ὅ τι μὴ συμπαθὲς πρὸς ἐκεῖνο,
εἰ τὸ συμπαθὲς νῦν διὰ τὴν ζώιου ἑνὸς φύσιν; Ἢ εἰ τὸ συμπαθὲς διὰ τὸ
ἑνὸς ζώιου τὰ αἰσθανόμενα καὶ τὰ αἰσθητά, καὶ αἱ αἰσθήσεις οὕτως οὐκ
ἄν, εἰ μὴ τὸ σῶμα τοῦτο τὸ ἔξω μέρος τοῦδε τοῦ ζώιου· εἰ γὰρ εἴη, τάχα
ἄν. Εἰ μέντοι μὴ μέρος εἴη, σῶμα δὲ κεχρωσμένον καὶ τὰς ἄλλας
ποιότητας ἔχον, οἷον τὸ ἐνταῦθα, ὁμοειδὲς ὂν τῶι ὀργάνωι; Ἢ οὐδ᾽
οὕτως, εἰ ὀρθὴ ἡ ὑπόθεσις· εἰ μή τις τούτωι γε αὐτῶι τὴν ὑπόθεσιν
ἀνελεῖν πειρῶιτο ἄτοπον εἶναι λέγων, εἰ μὴ χρῶμα ὄψεται ἡ ὄψις παρόν,
καὶ αἱ ἄλλαι αἰσθήσεις τῶν αἰσθητῶν παρόντων αὐταῖς οὐκ
ἐνεργήσουσι πρὸς αὐτά. Ἀλλὰ τὸ ἄτοπον τοῦτο, πόθεν δὴ φαίνεται,
φήσομεν. Ἢ ὅτι ἐνταῦθα ἐν ἑνὶ ὄντες καὶ ἑνὸς ταῦτα ποιοῦμεν καὶ
πάσχομεν. Τοῦτο οὖν σκεπτέον, εἰ παρὰ τοῦτο. Καὶ εἰ μὲν αὐτάρκως,
δέδεικται· εἰ δὲ μή, καὶ δι᾽ ἄλλων δεικτέον. Τὸ μὲν οὖν ζῶιον ὅτι
συμπαθὲς αὐτῶι, δῆλον· καὶ εἰ εἴη ζῶιον, ἀρκεῖ· ὥστε καὶ τὰ μέρη, ἧι
ἑνὸς ζώιου. Ἀλλ᾽ εἰ δι᾽ ὁμοιότητά τις λέγοι; Ἀλλ᾽ ἡ ἀντίληψις κατὰ τὸ
ζῶιον καὶ ἡ αἴσθησις, ὅτι τοῦ ὁμοίου μετέχει τὸ αὐτό· τὸ γὰρ ὄργανον
ὅμοιον αὐτοῦ· ὥστε ἡ αἴσθησις ψυχῆς ἀντίληψις ἔσται δι᾽ ὀργάνων
ὁμοίων τοῖς ἀντιληπτοῖς. Ἐὰν οὖν ζῶιον ὂν αἰσθάνηται μὲν μὴ τῶν ἐν
αὐτῶι, τῶν δὲ ὁμοίων τοῖς ἐν αὐτῶι, ἧι μὲν ζῶιον, ἀντιλήψεται; Ἢ

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 210

μέντοι τὰ ἀντιληπτὰ ἔσται, οὐχ ἧι αὐτοῦ, ἀλλ᾽ ἧι ὅμοια τοῖς ἐν αὐτῶι.


Ἢ καὶ τὰ ἀντιληπτὰ οὕτως ἀντιληπτὰ ὅμοια ὄντα, ὅτι αὕτη αὐτὰ ὅμοια
πεποίηκεν, ὥστε μὴ οὐ προσήκοντα εἶναι· ὥστε εἰ τὸ ποιοῦν ἐκεῖ ἡ
ψυχὴ πάντη ἑτέρα, καὶ τὰ ἐκεῖ ὑποτεθέντα ὅμοια οὐδὲν πρὸς αὐτήν.
Ἀλλὰ γὰρ ἡ ἀτοπία τὸ μαχόμενον ἐν τῆι ὑποθέσει δείκνυσιν ὡς αἴτιόν
ἐστιν αὐτῆς· ἅμα γὰρ ψυχὴν λέγει καὶ οὐ ψυχήν, καὶ συγγενῆ καὶ οὐ
συγγενῆ, καὶ ὅμοια ταῦτα καὶ ἀνόμοια· ὥστε ἔχουσα τὰ ἀντικείμενα ἐν
αὐτῆι οὐδ᾽ ἂν ὑπόθεσις εἴη. Καὶ γάρ, ὡς ἡ ψυχὴ ἐν τούτωι· ὥστε πᾶν
καὶ οὐ πᾶν τίθησι, καὶ ἄλλο καὶ οὐκ ἄλλο, καὶ τὸ μηδὲν καὶ οὐ τὸ μηδέν,
καὶ τέλεον καὶ οὐ τέλεον. Ὥστε ἀφετέον τὴν ὑπόθεσιν, ὡς οὐκ ὂν ζητεῖν
τὸ ἀκόλουθον τῶι αὐτὸ τὸ ὑποτεθὲν ἐν αὐτῶι ἀναιρεῖν.

8. E se houvesse um corpo fora do céu, e houvesse uma visão dali nada


impedindo para o ver, por acaso seria contemplado o que não é
simpático em relação ao céu, se o simpático agora é pela natureza de
um único vivente165? Certamente, se o simpático é por um só vivente
quanto às coisas sentidas e às sensíveis, também não haveria assim as
sensações, se esse corpo for parte de fora desse vivente; pois se for
[parte deste vivente], logo haveria [sensações]. Contudo se não for parte
[deste vivente], um corpo colorido e que tem outras qualidades, tal que
o que é daqui, sendo de forma semelhante ao órgão [da visão], [haveria
sensações]? Certamente nem assim [haveria], se correta é a hipótese; se
alguém não tentar anular a hipótese para isso mesmo, dizendo ser
absurdo se a visão não vir a cor, [esta] sendo presente, e as outras
sensações, os sensíveis sendo presentes a elas, não entrarem em
atividade em relação aos mesmos [sensíveis]. Mas esse absurdo, donde
se mostra, diremos. Certamente, é porque aqui, sendo em um só e de
um só, fazemos e sofremos essas coisas. Então isso deve-se examinar,
se é contra aquilo. E se é de modo autossuficiente, está demonstrado; se
não [é], deve-se demonstrar por outras formas. Então que o vivente é
simpático consigo mesmo é claro; e se for vivente, [isso] basta; assim

165
Capítulo 8, linha 21: Pois a isso é semelhante o ‘perceber’, sendo como quer que
seja, porque é ‘simpático’ o vivente – este todo – consigo mesmo. (A numeração das
linhas é da edição Mondadori, 2012)

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 211

também as partes, sejam [elas] de um só vivente. Mas se alguém disser


[que isso é] por semelhança? Mas a troca no vivente é também a
sensação, porque o mesmo participa do semelhante; pois o órgão é
semelhante de si mesmo; assim a sensação da alma será troca através
de órgãos semelhantes às coisas trocadas166. Então, caso perceba o que
é vivente não das partes em si, mas das partes semelhantes àquelas em
si, por onde é vivente, haverá troca? Certamente, para as coisas que se
podem trocar haverá [troca], não por onde sejam partes dele, mas por
onde sejam semelhantes àquelas partes nele. Certamente, mesmo as
coisas que se podem trocar são assim as coisas semelhantes que se
podem trocar, porque a própria alma criou coisas semelhantes, de modo
a não se temer que não sejam convenientes; assim se o que cria ali é a
alma totalmente diferente [dessa nossa], também as partes que ali que
foram submetidas em nada seriam semelhantes em relação a essa
[nossa]. Mas há o absurdo: o que luta nessa hipótese mostra que há um
causador dela; pois diz ao mesmo tempo ser alma e não alma, congênere
e não congênere, e que essas coisas são semelhantes e dessemelhantes;
assim havendo o que em si é contraditório, nem seria hipótese. Pois
[diz] também que a alma é nesse todo; de modo que põe como todo e
não todo, diverso e não diverso, o nada e não o nada, perfeito e não
perfeito. Assim deve-se descartar a hipótese, porque o que se segue dela
busca o que não é, por anular o mesmo que se submete em si.

166
A alma percebe e conhece por simpatia, que por sua vez se dá por semelhança; mas
isso só acontece por ser um único vivente. Em relação a outro vivente, só pode haver
dessemelhança.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 212

IV 6
Sobre Sensação e Memória
Introdução

IV 6 (41)

Tratado que desenvolve e aprofunda o tema dos Livros 3, 4 e 5, ou seja,


a sensação e a memória não são marcas na alma, pois ela é inteligível,
embora tenha sido atraída ao mundo sensível. Assim as sensações não
são marcas na alma, nem a memória é de alguma marca nela. O
processo da visão não é interno à alma, que já tem em si as formas (εἴδη)
do que é visto, de modo que essas marcas não existem nela, como não
existe a marca do que é visto no órgão da visão. Assim também acontece
ao gosto e ao olfato, pois há impressões sensitivas e o julgamento dessas
impressões é operado pela alma. O reconhecimento dos inteligíveis se
dá de modo inverso, pois estes se lançam de dentro da alma, como as
formas, para serem contemplados pela visão, porque a alma é em
atividade para cada realidade: sendo atividade principal a dos
inteligíveis, e secundária a dos sensíveis. Mas alguns que consideram a
alma corpórea, e mesmo aqueles que a consideram incorpórea, acham
que as sensações e a lembrança são marcas na alma, como se fossem
letras em tábuas de argila ou de cera, e são levados a grande erro por
causa de semelhanças com o mundo sensível. Basta pensar que a alma
é a razão de todas as coisas e razão última dos inteligíveis, o que a põe
no limite entre o mundo sensível e o inteligível. A visão das coisas passa
antes pela racionalização dos inteligíveis, que não possuem figura ou
qualidade, mas são formas (εἴδη); a alma assim é em potência, e passa
à atividade ao investir de figura aquilo que ela já é de alguma forma

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 213

obscura para nós. A alma gera os sensíveis ao entrar em atividade, como


se entrasse em trabalho de parto. Por isso a memória não é marca nela,
embora ela já as tenha de forma inteligível, não sensível. A prova é que
se perde e se ganha memória por esforço ou exercício de capacitação,
que se mostra na capacidade de lembrar de coisas suas e de outros.
Pode-se potencializar a memória de forma independente da inteligência,
pois esta é que vai selecionar o que deve ser ou não ser lembrado. E há
seleção porque o que mais lembra é o que mais sofre a impressão da
memória, por isso não é do que domina, mas do que é dominado. Assim
como o que a ginástica faz com mãos ou pés, que realizam o que não
está nessas partes, a alma capacita a memória sem reter suas marcas. A
isso se dá o nome de potência, porque não tem grandeza.

ςʹ

Περὶ αἰσθησεως καὶ μνήμης

1. Τὰς αἰσθήσεις οὐ τυπώσεις οὐδ᾽ ἐνσφραγίσεις λέγοντες ἐν ψυχῆι


γίγνεσθαι, οὐδὲ τὰς μνήμας πάντως τε καὶ ἀκολούθως ἐροῦμεν κατοχὰς
μαθημάτων καὶ αἰσθήσεων εἶναι τοῦ τύπου μείναντος ἐν τῆι ψυχῆι, ὃς
μηδὲ τὸ πρῶτον ἐγένετο. Διὸ τοῦ αὐτοῦ λόγου ἂν εἴη ἄμφω, ἢ
ἐγγίγνεσθαί τε ἐν τῆι ψυχῆι καὶ μένειν, εἰ μνημονεύοιτο, ἢ τὸ ἕτερον
ὁποτερονοῦν μὴ διδόντα μὴ διδόναι μηδὲ θάτερον. Ὅσοι δὴ λέγομεν
μηδέτερον, ἀναγκαίως ζητήσομεν, τίς τρόπος ἑκατέρου, ἐπειδὴ οὔτε
τὸν τύπον τοῦ αἰσθητοῦ ἐγγίγνεσθαί φαμεν τῆι ψυχῆι καὶ τυποῦν αὐτήν,
οὔτε τὴν μνήμην λέγομεν εἶναι τοῦ τύπου ἐμμείναντος. Εἰ δ᾽ ἐπὶ τῆς
ἐναργεστάτης αἰσθήσεως θεωροῖμεν τὸ συμβαῖνον, τάχ᾽ ἂν καὶ ἐπὶ
τῶν ἄλλων αἰσθήσεων μεταφέροντες τὸ αὐτὸ ἐξεύροιμεν ἂν τὸ
ζητούμενον. Δῆλον δὲ δήπου ἐν παντί, ὡς αἴσθησιν ὁτουοῦν
λαμβάνοντες δι᾽ ὁράσεως ἐκεῖ ὁρῶμεν καὶ τῆι ὄψει προσβάλλομεν, οὗ
τὸ ὁρατόν ἐστιν ἐπ᾽ εὐθείας κείμενον, ὡς ἐκεῖ δηλονότι τῆς ἀντιλήψεως
γινομένης καὶ πρὸς τὸ ἔξω τῆς ψυχῆς βλεπούσης, ἅτε μηδενός, οἶμαι,

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 214

τύπου ἐν αὐτῆι γενομένου ἢ γιγνομένου οὐδὲ τῶι σφραγῖδα λαμβάνειν,


ὥσπερ ἐν κηρῶι δακτυλίου βλεπούσης. Οὐδὲν γὰρ ἂν ἐδεήθη τοῦ ἔξω
βλέπειν, ἤδη ἔχουσα παρ᾽ ἑαυτῆς εἶδος τοῦ ὁρωμένου τούτωι τῶι ἐκεῖ
εἰσελθεῖν τὸν τύπον βλέπουσα. Τὸ δὲ δὴ διάστημα προστιθεῖσα τῶι
ὁράματι καὶ ἐξ ὅσου ἡ θέα ἡ ψυχὴ λέγουσα οὕτως ἂν τὸ ἐν αὐτῆι οὐδὲν
ἀφεστηκὸς ἀφ᾽ αὑτῆς ὡς πόρρω ὂν βλέποι; Τό τε μέγεθος αὐτοῦ, ὅσον
ἐστὶν ἔξω, πῶς ἂν ὅσον ἐστὶ λέγοι, ἢ ὅτι μέγα, οἷον τὸ τοῦ οὐρανοῦ, τοῦ
ἐν αὐτῆι τύπου τοσούτου δὲ εἶναι οὐ δυναμένου; Τὸ δὲ μέγιστον
ἁπάντων· εἰ γὰρ τύπους λαμβάνοιμεν ὧν ὁρῶμεν, οὐκ ἔσται βλέπειν
αὐτὰ ἃ ὁρῶμεν, ἰνδάλματα δὲ ὁραμάτων καὶ σκιάς, ὥστε ἄλλα μὲν εἶναι
αὐτὰ τὰ πράγματα, ἄλλα δὲ τὰ ἡμῖν ὁρώμενα. Ὅλως δέ, ὥσπερ λέγεται,
ὡς οὐκ ἔστιν ἐπιθέντα τῆι κόρηι τὸ ὁρατὸν θεάσασθαι, ἀποστήσαντα δὲ
δεῖ οὕτως ὁρᾶν, τοῦτο χρὴ καὶ πολὺ μᾶλλον ἐπὶ τὴν ψυχὴν μεταφέρειν.
Εἰ γὰρ τὸν τύπον τοῦ ὁρατοῦ θείμεθα ἐν αὐτῆι, ἐκεῖνο μέν, ὧι
ἐνεσφράγισται, οὐκ ἂν ὅραμα ἴδοι· δεῖ γὰρ [καὶ] δύο γενέσθαι τό τε
ὁρῶν καὶ τὸ ὁρώμενον. Ἄλλο ἄρα δεῖ εἶναι τὸ ὁρῶν ἀλλαχοῦ κείμενον
τὸν τύπον, ἀλλ᾽ οὐκ ἐν ὧι ἐστι κείμενον. Δεῖ ἄρα τὴν ὅρασιν οὐ
κειμένου εἶναι, ἀλλὰ μὴ κειμένου εἶναι, ἵνα ἦι ὅρασις.

1. Ao dizer que as sensações não vêm a ser marcações nem inscrições


na alma, nem as memórias diremos ser de modo total e consequente
detenções de aprendizados e de sensações da marca que permanece na
alma, marca que nem veio a ser a primeira. Por isso ambas [as
afirmações] seriam da mesma razão, ou elas vêm a ser e permanecem
na alma, se [algo] for recordado, ou não se concedendo qualquer uma
das duas [afirmações] nem se concede a outra. De fato quantos de nós
dizemos ser nem uma nem outra coisa, necessariamente buscaremos de
que modo é de cada uma, uma vez que nem dizemos que a marca da
sensação vem a ser na alma, marcando-a, nem dizemos haver memória

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 215

da marca que permanece167. Se sobre a mais clara sensação168


considerarmos o que acontece, transferindo logo isso mesmo sobre
outras sensações, descobriríamos o que se busca. E certamente em tudo
é claro que ao tomarmos uma sensação de qualquer coisa pela visão ali
vemos e lançamos a visão onde o visível é o que jaz em uma reta, assim
é claro que ali a troca vem a ser, quando a alma olha para fora, porque,
creio, nenhuma marca nela veio a ser ou vem a ser, nem ela a toma por
assinatura, como se ela olhasse a marca de um de anel em cera. Pois ela
nem teria necessidade de olhar nada de fora, porque já tem junto a si a
forma do que é visto, ao olhar a marca se inserir ali nesse [que é visto].
De fato, ao acrescentar o intervalo ao produto da visão, desde quanto
intervalo a contemplação, que assim a alma diz, olharia o que por nada
está afastado nela, como sendo distante? E a grandeza disso, quanta é
de fora, como ela diria quanto é grande ou que é grande, tal que a
grandeza do céu, não podendo haver nela marca tamanha? E o mais
difícil de tudo: se tomamos marcas do que vemos, não será possível
olhar as mesmas coisas que vemos, porque são aparições e sombras das
coisas vistas, de modo a umas ser as mesmas coisas praticadas, e outras
as vistas por nós. E de modo geral, como se diz que não é possível
contemplar o visível posto sobre a pupila, assim é preciso ver o que foi

167
Platão, Teeteto 191c: Θὲς δή μοι λόγου ἕνεκα ἐν ταῖς ψυχαῖς ἡμῶν ἐνὸν κήρινον
ἐκμαγεῖον (põe então para meu raciocínio que há nas nossas almas um molde de cera).
Aristóteles, Sobre a Memória 450a 30: οἷον ζωγράφημά τι [τὸ πάθος] οὗ φαμεν τὴν
ἕξιν μνήμην εἶναι· ἡ γὰρ γιγνομένη κίνησις ἐνσημαίνεται οἷον τύπον τινὰ τοῦ
αἰσθήματος, καθάπερ οἱ σφραγιζόμενοι τοῖς δακτυλίοις (tal que certa pintura, não
dizemos que a impressão dela seja o haver memória; pois o movimento que vem a ser
toma significado tal que certa marca do é percebido, como os que assinam com os
dedos). Stoicorum Veterum Fragmenta I, 484 [Sextus Empiricus, Adversus
Mathematicos VII, 228]: φαντασία οὖν ἐστι κατ’ αὐτοὺς τύπωσις ἐν ψυχῇ (então,
segundo esses, fantasia é marcação na alma).
168
Platão, Fedro 250d: δεῦρό τ’ ἐλθόντες κατειλήφαμεν αὐτὸ διὰ τῆς ἐναργεστάτης
αἰσθήσεως τῶν ἡμετέρων στίλβον ἐναργέστατα (e tendo logo retornado apreendemos
a mesma [beleza] pelo nosso mais brilhante sentido, que esplende mais
brilhantemente).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 216

afastado, isso é necessário muito mais transportar para a alma. Pois se


pusermos a marca do visível na alma, ela não veria como produto da
visão aquilo em que isso está inscrito; pois é preciso [também] vir a ser
duas coisas: o que vê e o que é visto. Portanto é preciso o que vê ser
diverso da marca que está posta aleatoriamente, mas não [ser] no que a
marca está posta. Não é preciso, portanto, a visão ser do que está posto
[na alma], mas [é preciso ser] do que não está posto nela, para que seja
visão.

2. Εἰ οὖν μὴ οὕτως, τίς ὁ τρόπος; Ἢ λέγει περὶ ὧν οὐκ ἔχει· τοῦτο γὰρ
δυνάμεως, οὐ τὸ παθεῖν τι, ἀλλὰ τὸ δυνηθῆναι καὶ ἐφ᾽ ὧι τέτακται
ἐργάσασθαι. Οὕτως γὰρ ἄν, οἶμαι, καὶ διακριθείη τῆι ψυχῆι καὶ τὸ
ὁρατὸν καὶ τὸ ἀκουστόν, οὐκ εἰ τύποι ἄμφω, ἀλλ᾽ εἰ μὴ τύποι μηδὲ
πείσεις, ἀλλ᾽ ἐνέργειαι περὶ ὃ ἔπεισι πεφύκασιν. Ἡμεῖς δὲ ἀπιστοῦντες,
μὴ οὐ δύνηται, ἐὰν μὴ πληγῆι, τὸ αὑτῆς γινώσκειν δύναμις ἑκάστη,
πάσχειν, ἀλλ᾽ οὐ γινώσκειν τὸ ἐγγὺς ποιοῦμεν, οὗ κρατεῖν δέδοται, ἀλλ᾽
οὐ κρατεῖσθαι. Τὸν αὐτὸν δὴ τρόπον καὶ ἐπὶ ἀκοῆς δεῖ νομίζειν
γίνεσθαι· τὸν μὲν τύπον εἶναι ἐν τῶι ἀέρι πληγήν τινα οὖσαν
διηρθρωμένην, οἷον γραμμάτων ἐγγεγραμμένων ὑπὸ τοῦ τὴν φωνὴν
πεποιηκότος, τὴν μέντοι δύναμιν καὶ τὴν τῆς ψυχῆς οὐσίαν οἷον
ἀναγνῶναι τοὺς τύπους ἐν τῶι ἀέρι γεγραμμένους ἐλθόντας πλησίον,
εἰς ὃ ἐλθόντες πεφύκασιν ὁρᾶσθαι. Γεύσεως δὲ καὶ ὀσφρήσεως τὰ μὲν
πάθη, τὰ δ᾽ ὅσα αἰσθήσεις αὐτῶν καὶ κρίσεως, τῶν παθῶν εἰσι γνώσεις
ἄλλαι τῶν παθῶν οὖσαι. Τῶν δὲ νοητῶν ἡ γνῶσις ἀπαθὴς καὶ ἀτύπωτός
ἐστι μᾶλλον· ἀνάπαλιν γὰρ ἔσωθεν οἷον προπίπτει, τὰ δὲ ἔξωθεν
θεωρεῖται· καὶ ἔστιν ἐκεῖνα μᾶλλον ἐνέργειαι καὶ κυριώτεραι· αὑτῆς
γάρ, καὶ ἔστιν αὐτὴ ἐνεργοῦσα ἕκαστον. Πότερα δὲ αὑτὴν μὲν ἡ ψυχὴ
δύο καὶ ὡς ἕτερον ὁρᾶι, νοῦν δὲ ἓν καὶ ἄμφω τὰ δύο ἕν, ἐν ἄλλοις.

2. Se não for assim, qual é o modo? Certamente [a alma] diz acerca do


que não tem; pois isso de potência não é sofrer algo, mas ser capaz de
realizar aquilo para o que está ordenado. Pois assim, creio, também
seria distinguido pela alma tanto o visível quanto o audível, se ambos
não forem marcas, não havendo marcas nem afecções [nela], mas

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 217

atividades acerca do que naturalmente presidem. E nós ao desconfiar de


que ela não seja capaz [de sentir], se acaso não houver um golpe,
criamos para o ‘conhecer’ dela que cada potência seja sofrer, mas não
‘conhecer o que é próximo’, de onde foi dado ‘dominar’, mas não ser
dominada169. De fato, do mesmo modo é preciso considerar que isso
vem a ser também sobre a audição: há a marca no ar que é um golpe
quando foi articulado, tal que havendo letras inscritas pelo que produziu
a voz, então a potência e a essência da alma como que ‘leem’ as marcas
escritas no ar que chegam perto, para que, tendo chegado, sejam
naturalmente ‘vistas’. E do gosto e do olfato há de um lado as
impressões, e de outro quantas são sensações delas, e do julgamento
delas há atos de reconhecimento que são diversos das impressões. E dos
inteligíveis o ato de reconhecer é mais intacto e não marcável; pois é
em sentido contrário tal que eles se lançam de dentro [da alma], e de
fora são contemplados [pela visão]; e quanto mais esses são atividades,
mais serão atividades principais; pois cada coisa é [atividade] da própria
alma, e ela mesma é em atividade em relação a cada coisa. Se a alma vê
a si mesma como duas coisas, sendo ela algo diferente, e a inteligência
como uma só coisa, e ambas as duas coisas sendo como uma só,
[trataremos] em outras partes170.

3. Νῦν δὲ τούτων εἰρημένων περὶ μνήμης ἐφεξῆς λεκτέον εἰποῦσι


πρότερον, ὡς οὐ θαυμαστόν, μᾶλλον δὲ θαυμαστὸν μέν, ἀπιστεῖν δὲ οὐ
δεῖ τῆι τοιαύτηι δυνάμει τῆς ψυχῆς, εἰ μηδὲν λαβοῦσα εἰς αὑτὴν
ἀντίληψιν ὧν οὐκ ἔσχε ποιεῖται. Λόγος γάρ ἐστι πάντων, καὶ λόγος
ἔσχατος μὲν τῶν νοητῶν καὶ τῶν ἐν τῶι νοητῶι ἡ ψυχῆς φύσις, πρῶτος
δὲ τῶν ἐν τῶι αἰσθητῶι παντί. Διὸ δὴ καὶ πρὸς ἄμφω ἔχει, ὑπὸ μὲν τῶν
εὐπαθοῦσα καὶ ἀναβιωσκομένη, ὑπὸ δὲ τῶν τῆι ὁμοιότητι ἀπατωμένη
καὶ κατιοῦσα ὥσπερ θελγομένη. Ἐν μέσωι δὲ οὖσα αἰσθάνεται ἀμφοῖν,
καὶ τὰ μὲν νοεῖν λέγεται εἰς μνήμην ἐλθοῦσα, εἰ πρὸς αὐτοῖς γίγνοιτο·

169
Para ser capaz de sentir, a alma exerce domínio sobre o objeto visto ou ouvido, que
é apreendido sendo submetido à sua capacidade, nem a marcando nem sendo nela,
mas sendo distante enquanto apreensível.
170
Enéada V 6, 1-2.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 218

γινώσκει γὰρ τῶι αὐτά πως εἶναι· γινώσκει γὰρ οὐ τῶι ἐνιζάνειν αὐτά,
ἀλλὰ τῶι πως ἔχειν αὐτὰ καὶ ὁρᾶν αὐτὰ καὶ εἶναι αὐτὰ ἀμυδρότερον καὶ
γίνεσθαι ἐκ τοῦ ἀμυδροῦ τῶι οἷον ἐγείρεσθαι ἐναργεστέρα καὶ ἐκ
δυνάμεως εἰς ἐνέργειαν ἰέναι. Τὰ δ᾽ αἰσθητὰ τὸν αὐτὸν τρόπον οἷον
συναψάμενα καὶ ταῦτα παρ᾽ αὑτῆς οἷον ἐκλάμπειν ποιεῖ καὶ πρὸ
ὀμμάτων εἶναι ἐργάζεται ἑτοίμης οὔσης καὶ πρὸ οἷον ὠδινούσης πρὸς
αὐτὰ τῆς δυνάμεως. Ὅταν τοίνυν ῥωσθῆι πρὸς ὁτιοῦν τῶν φανέντων,
ὥσπερ πρὸς παρὸν διάκειται ἐπὶ πολὺν χρόνον καὶ ὅσωι μᾶλλον, τόσωι
ἀεί. Διὸ καὶ τὰ παιδία μνημονεύειν λέγεται μᾶλλον, ὅτι μὴ ἀφίστανται,
ἀλλὰ κεῖται αὐτοῖς πρὸ ὀμμάτων ὡς ἂν ὁρῶσιν οὔπω εἰς πλῆθος, ἀλλὰ
πρὸς ὀλίγα· οἷς δὲ ἐπὶ πολλὰ ἡ διάνοια καὶ ἡ δύναμις, ὥσπερ
παραθέουσι καὶ οὐ μένουσιν. Εἰ δέ γε ἔμενον οἱ τύποι, οὐκ ἂν ἐποίησε
τὸ πλῆθος ἧττον μνήμας. Ἔτι, εἰ τύποι μένοντες, οὐδὲν ἔδει σκοπεῖν,
ἵνα ἀναμνησθῶμεν, οὐδὲ πρότερον ἐπιλαθομένους ὕστερον
ἀναμιμνήσκεσθαι κειμένων. Καὶ αἱ εἰς ἀνάληψιν δὲ μελέται δηλοῦσι
δυνάμωσιν ψυχῆς τὸ γινόμενον ὑπάρχον, ὥσπερ χειρῶν ἢ ποδῶν τὰ
γυμνάσια εἰς τὸ ποιεῖν ῥαιδίως, ἃ μὴ ἐν ταῖς χερσὶν ἢ ποσὶ κεῖται, ἀλλὰ
πρὸς ἃ τῆι συνεχείαι ἡτοίμασται. Διὰ τί γὰρ ἅπαξ μὲν ἀκούσας ἢ
δεύτερον οὐ μέμνηται, ὅταν δὲ πολλάκις, καὶ ὃ πρότερον ἀκούσας οὐκ
ἔσχε, πολλῶι ὕστερον χρόνωι μέμνηται ἤδη; Οὐ γὰρ δὴ τῶι μέρη
ἐσχηκέναι πρότερον τοῦ τύπου· ἔδει γὰρ τούτων μεμνῆσθαι· ἀλλ᾽ οἷον
ἐξαίφνης γίγνεται τοῦτο ἔκ τινος [τῆς] ὑστέρας ἀκροάσεως ἢ μελέτης.
Ταῦτα γὰρ μαρτυρεῖ πρόκλησιν τῆς δυνάμεως καθ᾽ ἣν μνημονεύομεν
τῆς ψυχῆς ὡς ῥωσθεῖσαν ἢ ἁπλῶς ἢ πρὸς τοῦτο. Ὅταν δὲ μὴ μόνον
πρὸς ἃ ἐμελετήσαμεν τὸ τῆς μνήμης ἡμῖν παρῆι, ἀλλ᾽ οἵπερ πολλὰ
ἀνειλήφασιν ἐκ τοῦ εἰθίσθαι ἀπαγγελίαις χρῆσθαι, ῥαιδίας ἤδη καὶ τῶν
ἄλλων τὰς λεγομένας ἀναλήψεις ποιῶνται, τί ἄν τις ἐπαιτιῶιτο τῆς
μνήμης ἢ τὴν δύναμιν τὴν ῥωσθεῖσαν εἶναι; Οἱ μὲν γὰρ τύποι μένοντες
ἀσθένειαν μᾶλλον ἢ δύναμιν κατηγοροῖεν· τὸ γὰρ ἐντυπώτατον τῶι
εἴκειν ἐστὶ τοιοῦτον, καὶ πάθους ὄντος τοῦ τύπου τὸ μᾶλλον πεπονθὸς
τοῦτό ἐστι τὸ μνημονεῦον μᾶλλον. Τούτου δὲ τοὐναντίον φαίνεται
συμβαῖνον· οὐδαμοῦ γὰρ ἡ πρὸς ὁτιοῦν γυμνασία εὐπαθὲς τὸ
γυμνασάμενον ποιεῖ· ἐπεὶ καὶ ἐπὶ τῶν αἰσθήσεων οὐ τὸ ἀσθενὲς ὁρᾶι
οἷον ὀφθαλμός, ἀλλ᾽ ὅτωι δύναμίς ἐστιν εἰς ἐνέργειαν πλείων. Διὸ καὶ
οἱ γεγηρακότες καὶ πρὸς τὰς αἰσθήσεις ἀσθενέστεροι καὶ πρὸς τὰς

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 219

μνήμας ὡσαύτως. Ἰσχὺς ἄρα τις καὶ ἡ αἴσθησις καὶ ἡ μνήμη. Ἔτι τῶν
αἰσθήσεων τυπώσεων οὐκ οὐσῶν, πῶς οἷόν τε τὰς μνήμας κατοχὰς τῶν
οὐκ ἐντεθέντων οὐδὲ τὴν ἀρχὴν εἶναι; Ἀλλ᾽ εἰ δύναμίς τις καὶ
παρασκευὴ πρὸς τὸ ἕτοιμον, πῶς οὐχ ἅμα, ἀλλ᾽ ὕστερον εἰς
ἀναπόλησιν τῶν αὐτῶν ἐρχόμεθα; Ἢ ὅτι τὴν δύναμιν δεῖ οἷον
ἐπιστῆσαι καὶ ἑτοιμάσασθαι. Τοῦτο γὰρ καὶ ἐπὶ τῶν ἄλλων δυνάμεων
ὁρῶμεν εἰς τὸ ποιῆσαι ὃ δύνανται ἑτοιμαζομένων καὶ τὰ μὲν εὐθύς, τὰ
δέ, εἰ συλλέξαιντο ἑαυτάς, ἐργαζομένων. Γίγνονται δὲ ὡς ἐπὶ τὸ πολὺ
οὐχ οἱ αὐτοὶ μνήμονες καὶ ἀγχίνοι [πολλάκις], ὅτι οὐχ ἡ αὐτὴ δύναμις
ἑκατέρου, ὥσπερ οὐδ᾽ ὁ αὐτὸς πυκτικὸς καὶ δρομικός· ἐπικρατοῦσι γὰρ
ἄλλαι ἐν ἄλλωι ἰδέαι. Καίτοι οὐκ ἐκώλυε τὸν ἁστινασοῦν ἔχοντα
πλεονεξίας ψυχῆς ἀναγινώσκειν τὰ κείμενα, οὐδὲ τὸν ταύτηι ῥυέντα
τὴν τοῦ πάσχειν καὶ ἔχειν τὸ πάθος ἀδυναμίαν κεκτῆσθαι. Καὶ τὸ τῆς
ψυχῆς δὲ ἀμέγεθες [καὶ ὅλως] ψυχὴν μαρτυρεῖ δύναμιν εἶναι. Καὶ ὅλως
τὰ περὶ ψυχὴν πάντ᾽ οὐ θαυμαστὸν ἄλλον τρόπον ἔχειν, ἢ ὡς
ὑπειλήφασιν ὑπὸ τοῦ μὴ ἐξετάζειν ἄνθρωποι, ἢ ὡς πρόχειροι αὐτοῖς
ἐπιβολαὶ ἐξ αἰσθητῶν ἐγγίνονται δι᾽ ὁμοιοτήτων ἀπατῶσαι. Οἷον γὰρ
ἐν πίναξιν ἢ δέλτοις γεγραμμένων γραμμάτων, οὕτως περὶ τῶν
αἰσθήσεων καὶ τοῦ μνημονεύειν διάκεινται, καὶ οὔτε οἱ σῶμα αὐτὴν
τιθέμενοι ὁρῶσιν, ὅσα ἀδύνατα τῆι ὑποθέσει αὐτῶν συμβαίνει, οὔτε οἱ
ἀσώματον.

3. E agora, essas coisas estando ditas, deve-se dizer em seguida sobre


memória aos que disseram antes que não é admirável – ou melhor, que
é admirável, mas que não é preciso desconfiar de tal potência da alma
– se ela, ao nada tomar para própria troca, cria daquilo que não tem.
Pois ela é razão de todas as coisas e razão última dos inteligíveis, e dos
que são no inteligível é a natureza da alma, primeira [razão] dos que são
no todo sensível. Por isso mesmo é em relação com ambos, porque por
uns é beneficiada e revivida e por outros é enganada por semelhança e
desce, sendo desse modo seduzida. E sendo no meio de ambos, ela
sente, e diz-se que ela pensa os inteligíveis quando chega à memória, se
[isso] vier a ser além dos inteligíveis; pois ela os conhece por ser de
algum modo eles mesmos; pois os conhece não por eles se assentar nela,
mas por os ter de algum modo, ela os vê e é obscuramente eles mesmos,

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 220

e do obscuro, tal que pelo despertar, vem a ser mais evidente e vai de
potência à atividade. As coisas sensíveis são do mesmo modo tal que
coligadas, ela as faz tal que resplenderem, de sua parte, e trabalha para
ser perante os olhos, sendo pronta a potência em relação a elas mesmo
antes, tal que sentindo dor de parto. Então, quando ela se esforça em
relação a qualquer das coisas que se manifestam, assim em relação ao
que é presente ela se dispõe por muito tempo, tanto mais [se dispõe]
quanto é para sempre. Por isso se diz que as crianças memorizam mais,
porque não se afastam, mas ficam com essas coisas diante dos olhos, de
modo que olhem não já para o múltiplo, mas para o pouco; e para os
que [fixam o olhar] em direção a muitas coisas, o seu pensamento e
potência assim percorrem [todas] e não permanecem. E se
permanecessem as marcas, o múltiplo não criaria menos memórias171.
E ainda, se as marcas fossem permanentes, nada era preciso examinar
para que lembrássemos, nem se tivessem sido esquecidas antes [seria
preciso] depois lembrar das que ficam. Mesmo os cuidados para
recuperação [da memória] mostram o que vem a ser princípio de
capacitação da alma, como os exercícios de mãos ou pés são para fazer
facilmente o que não fica nas mãos ou pés, mas em relação aos quais
pela continuidade [mãos e pés] ficam preparados. Por que uma vez
tendo ouvido, ou segunda vez, não há lembrança, e quando [se ouve]
muitas vezes, e não há mais isso que se ouviu antes, muito tempo depois
há lembrança ainda? Na verdade, não é por ter-se mantido antes partes
da marca; pois era preciso haver lembrança delas; mas é tal que de
repente vem a ser isso desde alguma audição ou cuidado posterior. Pois
isso prova uma invocação de potência da alma segundo a qual
lembramos, ou porque foi fortalecida simplesmente ou em relação a
isso. E quando não apenas em relação a que nos ocupamos isso da
memória seja presente para nós, mas os que retomaram muitas
lembranças, por estar habituados a servir-se de narrações, façam fáceis
as lembranças ditas dos outros, o que alguém imputaria ser isso da
memória, senão que sua potência foi fortalecida? Permanecendo, as

171
As memórias vão diminuindo porque suas marcas não permanecem.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 221

marcas denunciariam mais fraqueza que potência; pois tal é o


muitíssimo marcável por ceder, e sendo a marca impressão, o que mais
a sofreu é o que mais recorda. E parece que acontece o contrário disso;
pois de modo algum a ginástica em relação ao que quer que seja faz o
que é exercitado bem impressionável; uma vez que nos órgãos sensíveis
não é o fraco, como olho, que vê, mas é para o que há mais potência
para atividade [de ver]. Por isso mesmo os mais idosos são mais fracos
tanto em relação às sensações quanto da mesma forma em relação às
memórias. Portanto uma certa força é tanto a sensação quanto a
memória. E ainda, não sendo as sensações marcações, como é possível
as memórias das coisas que não foram postas ser mantidas, e não haver
o princípio [delas]? Mas se é uma certa potência, preparada para o
pronto, como não ao mesmo tempo, mas depois chegamos à
reminiscência das mesmas coisas? Certamente é porque é preciso a
potência como que se estabelecer e preparar-se. Pois também é isso
sobre as outras potências, que são preparadas, olhamos para fazer o que
é possível: umas coisas sendo realizadas logo, outras, se forem
recolhidas [as potências] a si mesmas. E vem a ser que ‘no muito’ não
são os mesmos172 dotados de memória e prontos de inteligência
[frequentemente], porque não é a mesma potência de cada um, como
não é o mesmo pugilista e corredor; pois umas ideias prevalecem em
um, outras em outro. Contudo, nada impedia o que tenha quaisquer
vantagens de alma reconhecer as restantes [impressões], nem o que é
fluente nisso ter adquirido a incapacidade de sofrer e de ter a
impressão173. E quanto a ela ser sem grandeza, também prova
inteiramente que alma é potência. Em geral, não é admirável que tudo
acerca da alma seja de modo diverso, ou porque os homens assim

172
Aristóteles, De memoria et reminiscentia I 449 b6: οὐ γὰρ οἱ αὐτοί εἰσι μνημονικοὶ
καὶ ἀναμνηστικοί, ἀλλ’ ὡς ἐπὶ τὸ πολὺ μνημονικώτεροι μὲν οἱ βραδεῖς,
ἀναμνηστικώτεροι δὲ οἱ ταχεῖς καὶ εὐμαθεῖς (pois não são os mesmos dotados de
memória e de reminiscência, mas assim são muito mais de boa memória os lentos, e
mais de reminiscência os rápidos de bom aprendizado).
173
O que é dotado de inteligência pode ter boa memória, ou seja, é capaz de reconhecer
as restantes impressões, e o que tem boa memória pode ser dotado de inteligência,
nem sofrendo nem tendo essa impressão da memória.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 222

supuseram por não indagar, ou porque os impulsos das coisas sensíveis


vêm a ser assim para eles, para enganar pelas semelhanças. Pois, tal que
em quadros ou tabuletas de letras escritas, assim dispõem ser sobre as
sensações e sobre o lembrar, e nem os que propõem ser a alma corpo
veem quanto impossível acontece pela hipótese deles, nem os [que a
propõem] incorpórea174.

174
Alusão aos estoicos, que propunham ser a alma corpórea, e a Aristóteles, que a
propunha incorpórea.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 223

IV 7
Da Imortalidade da Alma
Introdução

IV 7 (2)

Neste livro, sobre a imortalidade da alma, Plotino deve provar que a


alma não é corpórea, nem harmonia, como pensavam epicuristas e
estoicos, nem entelechia (que tem a perfeição: ἐντελής + ἔχειν), como
dizia Aristóteles, porque é essência inteligível de natureza divina. Como
o homem é conjunto de duas partes, a parte principal domina a
secundária, mantendo-se uma relação da forma à matéria ou do artesão
ao instrumento. O corpo é composto por partes que não são por si
mesmas únicas, ou seja, elas podem ser divididas em partes menores
que não constituem outras partes menores, por isso elas se destroem e
se modificam, identificando-se com o que não é, isto é, com o que vem
a ser. Além disso, esses corpos não possuem vida por si mesmos, ou
seja, os elementos que compõem o universo não têm vida de si mesmos,
por isso é preciso haver o ordenador e causador da vida, que é a alma.
Esta é potência diversa que atua em toda parte constituindo o cosmo e
todos os seres, de modo inteiro. Não poderia haver potência dessa forma
em algum elemento natural, como o ar, pois todos eles compõem a
natureza do cosmo ‘obedecendo’ à ordem de seu provedor, isto é, a
alma. E esta não pode ter natureza corpórea, pois sua mesma função é
diversa e múltipla ao criar, o que não poderia acontecer se fosse
corpórea, uma vez que criaria um único efeito. O mesmo acontece com
o movimento, que no corpo é único de cada parte, na alma é múltiplo,
pois ela não tem partes; além disso tudo depende de sua escolha, não do
corpo, que não tem escolha, pois seu crescimento é devidamente em
partes no tempo, dentro dos limites que lhe dá a alma. Ela mesma não
tem crescimento nem diminuição, pois a grandeza em nada contribui

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 224

para sua essência. Não havendo grandeza não é possível acumular


imagens na memória, pois as recentes seriam impedidas pelas
anteriores, pois o ‘órgão’ que recebe o conjunto de impressões corporais
não é como marca de cera, que guarda as figuras impressas, mas é
indivisível que age no divisível corpóreo, assim como o uno é no
múltiplo, e o todo é nas partes, e a identidade é na diversidade. Por isso
a dor é sentida no hegemônico da alma, e não por transmissão
(διάδοσις) de parte a parte, pois o corpo é composto por partes que não
se reconhecem. Quanto às virtudes que são acolhidas na alma, todas
devem ser incorpóreas como a própria alma, porque se fossem ligadas
ao corpo, como poderiam ser na alma, que é incorpórea? Como Platão
diz no Fédon, 79c – 81a, a alma se relaciona com o corpo pelos órgãos
do sentido, e isso a faz ter hesitação e instabilidade por serem corpóreos,
mas quando ela age em contato consigo mesma, não há nada disso, não
há hesitação nem instabilidade, ela é sempre a mesma e sente-se
congênere dos seres inteligíveis. Então, a alma é da mesma natureza
que as virtudes que ela acolhe.

Não175 se pode atribuir as potências da alma ao corpo, porque elas são


incorpóreas, mas se os estoicos fazem assim, é porque dizem que a
matéria é corpo, bem como a qualidade, mas se concordam que
qualidade é diferente de quantidade, devem concordar que todo corpo
tem certa quantidade, mas nem todo tem certa qualidade, de modo que
esta não deve ser corpo. A criação é da alma, que cria o que vem a ser
por razões imateriais e incorpóreas. Por isso não é possível admitir que
um corpo possa entrar em outro por inteiro – para seguir a doutrina
estoica de que o corpo é mistura de matéria e de qualidade – uma vez
que tal mistura deveria ser até nas mínimas partes; no máximo haveria
justaposição. Assim a alma sendo incorpórea tem essa capacidade, pois
é em todo corpo por inteiro até nas mínimas partes. Quanto à ordem dos
fundamentos, primeiro a natureza, como uma condição (ἕξις), depois a
alma, e por último a inteligência, não deve ser considerada como uma

175
Parte recuperada da Preparação Evangélica, de Eusébio de Cesarea.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 225

boa razão, uma vez que o pior vem antes do que é melhor; para os
estoicos o feto no útero é pura natureza, que ao nascer modela a alma,
pelo choque de ar frio, depois com a razão vem a inteligência. Mas a
ordem natural é inversa, pois primeiro é a inteligência, depois a alma e
por último a natureza; aquela ordem invertida pode parecer mais natural
devido ao fato de sermos no mundo sensível, que por ser por último
mostra esses fundamentos em ordem invertida. Esse pensamento pode
levar à inexistência de deus e da própria alma. O que é em ato é anterior
ao que é em potência, pois é como se o que é em potência desejasse o
que é em ato. A inteligência e a alma são sempre em ato. E como alguns
pensaram que a alma seja harmonia, certamente é por não ter observado
que a alma é antes da harmonia, se esta for elementos que se combinem
convenientemente; pois como harmonia das cordas da lira ou dos
órgãos do corpo pode ser algo anterior que dirige seus movimentos,
embora com luta, concedendo-lhe a própria essência? No máximo
haveria boa disposição em ambos, como afinação e saúde. Na verdade,
a alma cria essa harmonia, como o músico a cria nas cordas da lira. Não
se deve fazer do que é corpóreo um elemento essencial, pois só os
incorpóreos podem conduzir a vida com harmonia que é neles mesmos.
Se no Timeu, 28a, Platão diz que o que é é sempre um só e o mesmo e
que o que vem a ser não é realmente, é porque tudo que é corpóreo vem
a ser e morre, ao contrário do que realmente é, ou seja, a essência, que
na alma tem seu próprio fundamento; assim enteléquia tem de ser
essência pura e simples, jamais relacionada a corpo, portanto não se
deve dizer que a alma é enteléquia de corpo, porque corpo não pode
gerar alma, que é antes dele vir a ser. A alma tem de si mesma o que é,
e com isso pode oferecer a vida que lhe é própria ao cosmo e a tudo que
o compõe. Todo princípio de vida tem de ser indestrutível e imortal,
pois o que tem de si mesmo o que é, de modo primeiro, sempre será o
que é, ou seja, será sempre. E se às vezes a alma se mistura com algo
inferior, isso a impede do melhor, mas logo ela retorna, encaminhando-
se à virtude e à sua antiga instituição (τὴν ἀρχαίαν κατάστασιν). Para
isso é preciso ela se reconhecer de tal valor como ouro que, se fosse
animado, se livraria de toda impureza e se veria como é, e veria que ele
não precisaria de nada complementar, porque ele mesmo é belo por si e

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 226

em si. A alma que não se reconhece não sabe desse valor próprio,
porque o tempo a acumulou de impurezas. É preciso o homem se
esforçar para poder voltar-se a si mesmo e ver o seu valor íntimo, como
figuras sacras guardadas e esquecidas no seu interior, que precisam ser
limpas de toda impureza trazida pelo tempo. Só por essa abstração é
possível ver o que há de divino em si, que tem parentesco com o que é
de igual essência (τὸ ὁμοούσιον), e ninguém duvidaria da imortalidade
da alma. Além do que, a alma é a provedora de vida, por si mesma, e
não pode trazer o contrário do que ela mesma é, ou seja, como contém
a vida por si mesma não pode morrer, pois é única natureza vivente. Por
isso é imortal, pois se ela se corrompesse nada mais existiria, porque
ela é princípio de todo movimento; a reminiscência das coisas prova
que ela é imortal, porque, sendo simples, não se modifica, e o que se
modifica anula a forma (εἶδος) e deixa a matéria, como prova de sua
composição, o que não acontece ao que é simples. Mas como a alma
decai ao mundo sensível? A Alma que é hipóstase nunca deixa o
inteligível, porque é sempre com a Inteligência, que a criou; a parte que
é prenha de inteligência, na ânsia de produzir, cria o mundo sensível,
sempre em contato com o inteligível, sem ser inteiramente em corpo ou
de corpo. A partir dos inteligíveis, ela desce criando o mundo sensível,
difundindo beleza e ordem no cosmo através da inteligência, que por
isso se confunde com ela mesma. Mesmo se dizendo tripartida, a alma
não perece, pois a parte irascível e a concupiscível são partes que se
ajuntam na gênese e provêm da própria natureza que é viva, por isso
não são imortais. A alma inteligível é sempre, pois não se pode eliminar
nada do que é sempre. O que se disse basta aos que buscam uma
demonstração lógica, aos que se preocupam com as crenças enraizadas
no mundo sensível basta buscar exemplos nos oráculos e profecias, que
são abundantes, para saber que as almas que deixaram seus corpos não
pereceram.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 227

ζʹ

Περὶ ἀθανασίας ψυχῆς

1. Εἰ δέ ἐστιν ἀθάνατος ἕκαστος ἡμῶν, ἢ φθείρεται πᾶς, ἢ τὰ μὲν αὐτοῦ


ἄπεισιν εἰς σκέδασιν καὶ φθοράν, τὰ δὲ μένει εἰς ἀεί, ἅπερ ἐστὶν αὐτός,
ὧδ᾽ ἄν τις μάθοι κατὰ φύσιν ἐπισκοπούμενος. Ἁπλοῦν μὲν δή τι οὐκ ἂν
εἴη ἄνθρωπος, ἀλλ᾽ ἔστιν ἐν αὐτῶι ψυχή, ἔχει δὲ καὶ σῶμα εἴτ᾽ οὖν
ὄργανον ὂν ἡμῖν, εἴτ᾽ οὖν ἕτερον τρόπον προσηρτημένον. Ἀλλ᾽ οὖν
διηιρήσθω τε ταύτηι καὶ ἑκατέρου τὴν φύσιν τε καὶ οὐσίαν
καταθεατέον. Τὸ μὲν δὴ σῶμα καὶ αὐτὸ συγκείμενον οὔτε παρὰ τοῦ
λόγου δύναται μένειν, ἥ τε αἴσθησις ὁρᾶι λυόμενόν τε καὶ τηκόμενον
καὶ παντοίους ὀλέθρους δεχόμενον, ἑκάστου τε τῶν ἐνόντων πρὸς τὸ
αὐτοῦ φερομένου, φθείροντός τε ἄλλου ἕτερον καὶ μεταβάλλοντος εἰς
ἄλλο καὶ ἀπολλύντος, καὶ μάλιστα ὅταν ψυχὴ ἡ φίλα ποιοῦσα μὴ παρῆι
τοῖς ὄγκοις. Κἂν μονωθῆι δὲ ἕκαστον γενόμενον ἓν οὐκ ἔστι, λύσιν
δεχόμενον εἴς τε μορφὴν καὶ ὕλην, ἐξ ὧν ἀνάγκη καὶ τὰ ἁπλᾶ τῶν
σωμάτων τὰς συστάσεις ἔχειν. Καὶ μὴν καὶ μέγεθος ἔχοντα, ἅτε
σώματα ὄντα, τεμνόμενά τε καὶ εἰς μικρὰ θραυόμενα καὶ ταύτηι φθορὰν
ἂν ὑπομένοι. Ὥστ᾽ εἰ μὲν μέρος ἡμῶν τοῦτο, οὐ τὸ πᾶν ἀθάνατοι, εἰ δὲ
ὄργανον, ἔδει γε αὐτὸ εἰς χρόνον τινὰ δοθὲν τοιοῦτον τὴν φύσιν εἶναι.
Τὸ δὲ κυριώτατον καὶ αὐτὸς ὁ ἄνθρωπος, εἴπερ τοῦτο, κατὰ τὸ εἶδος ὡς
πρὸς ὕλην τὸ σῶμα ἢ κατὰ τὸ χρώμενον ὡς πρὸς ὄργανον· ἑκατέρως δὲ
ἡ ψυχὴ αὐτός.

1. Se cada um de nós é imortal, ou se destrói todo, ou umas partes do


homem afastam-se à dispersão e à perdição, e outras permanecem para
sempre, que realmente são ele mesmo176, deste modo alguém aprenderia
examinando segundo a natureza. De fato, algo simples não poderia ser
homem, mas há nele alma, e tem também corpo, quer sendo instrumento
para nós, quer de modo diferente como algo que está conectado. Mas
então fique dividido desse modo, e deve-se aprofundar na natureza e

176
Enéada I 1.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 228

essência de cada uma [das duas partes]. De fato, o corpo, sendo ele
mesmo o que jaz composto, não pode de parte da razão permanecer, e
a percepção o vê desfazer-se e consumir-se ao receber ruínas de todo
tipo, cada uma das partes que são nele é em relação a isso, porque ela
mesma se leva, uma destruindo a diferente, mudando-se em outra e
perecendo, sobretudo quando alma, a que faz as partes amigáveis, não
seja presente aos volumes. Mesmo que cada parte seja isolada, não é
possível que ela venha a ser uma só, porque recebe dissolução para
figura e matéria, de que há necessidade mesmo as partes simples dos
corpos ter suas constituições. E além disso, tendo grandeza, porque são
corpos, ao ser cortadas e fragmentadas em pequenas partes, com isso
[elas] se submeteriam à destruição. Assim se parte de nós é isso, não no
todo somos imortais, e se [o corpo] é instrumento, era preciso [esse
instrumento] mesmo ser para um tempo que foi dado ser tal em relação
à natureza. A parte principal é o mesmo homem, se é realmente isso,
[essa parte principal] tem o corpo em uma relação da forma para a
matéria, ou do que se serve para o instrumento; de cada um dos dois
modos a alma é o próprio homem.

2. Τοῦτο οὖν τίνα φύσιν ἔχει; Ἢ σῶμα μὲν ὂν πάντως ἀναλυτέον·


σύνθετον γὰρ πᾶν γε σῶμα. Εἰ δὲ μὴ σῶμα εἴη, ἀλλὰ φύσεως ἄλλης,
κἀκείνην ἢ τὸν αὐτὸν τρόπον ἢ κατ᾽ ἄλλον σκεπτέον. Πρῶτον δὲ
σκετέον, εἰς ὅ τι δεῖ τοῦτο τὸ σῶμα, ὃ λέγουσι ψυχήν, ἀναλύειν. Ἐπεὶ
γὰρ ζωὴ ψυχῆι πάρεστιν ἐξανάγκης, ἀνάγκη τοῦτο τὸ σῶμα, τὴν ψυχήν,
εἰ μὲν ἐκ δύο σωμάτων ἢ πλειόνων εἴη, ἤτοι ἑκάτερον αὐτῶν ἢ ἕκαστον
ζωὴν σύμφυτον ἔχειν, ἢ τὸ μὲν ἔχειν, τὸ δὲ μή, ἢ μηδέτερον ἢ μηδὲν
ἔχειν. Εἰ μὲν δὴ ἑνὶ αὐτῶν προσείη τὸ ζῆν, αὐτὸ τοῦτο ἂν εἴη ψυχή. Τί
ἂν οὖν εἴη σῶμα ζωὴν παρ᾽ αὐτοῦ ἔχον; Πῦρ γὰρ καὶ ἀὴρ καὶ ὕδωρ καὶ
γῆ ἄψυχα παρ᾽ αὐτῶν· καὶ ὅτωι πάρεστι τούτων ψυχή, τοῦτο ἐπακτῶι
κέχρηται τῆι ζωῆι, ἄλλα δὲ παρὰ ταῦτα σώματα οὐκ ἔστι. Καὶ οἷς γε
δοκεῖ εἶναι καὶ στοιχεῖα τούτων ἕτερα, σώματα, οὐ ψυχαί, ἐλέχθησαν
εἶναι οὐδὲ ζωὴν ἔχοντα. Εἰ δὲ μηδενὸς αὐτῶν ζωὴν ἔχοντος ἡ σύνοδος
πεποίηκε ζωήν, ἄτοπον· εἰ δὲ ἕκαστον ζωὴν ἔχοι, καὶ ἓν ἀρκεῖ· μᾶλλον
δὲ ἀδύνατον συμφόρησιν σωμάτων ζωὴν ἐργάζεσθαι καὶ νοῦν γεννᾶν
τὰ ἀνόητα. Καὶ δὴ καὶ οὐχ ὁπωσοῦν κραθέντα ταῦτα φήσουσι

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 229

γίγνεσθαι. Δεῖ ἄρα εἶναι τὸ τάξον καὶ τὸ τῆς κράσεως αἴτιον· ὥστε
τοῦτο τάξιν ἂν ἔχοι ψυχῆς. Οὐ γὰρ ὅ τι σύνθετον, ἀλλ᾽ οὐδὲ ἁπλοῦν ἂν
εἴη σῶμα ἐν τοῖς οὖσιν ἄνευ ψυχῆς οὔσης ἐν τῶι παντί, εἴπερ λόγος
προσελθὼν τῆι ὕληι σῶμα ποιεῖ, οὐδαμόθεν δ᾽ ἂν προσέλθοι λόγος ἢ
παρὰ ψυχῆς.

2. Então isso que natureza tem? Certamente sendo corpo, deve-se


analisar totalmente; pois composto é realmente todo corpo. E se não for
corpo, mas de outra natureza, mesmo essa ou do mesmo modo ou de
outro deve-se examinar. Deve-se examinar primeiro em que é preciso
analisar esse corpo que dizem ser alma177. Uma vez que vida
necessariamente é presente na alma178, há necessidade esse corpo ser a
alma, e se for de dois ou mais corpos, é preciso cada um desses dois ou
cada um de todos ter vida conatural, ou um ter, e outro não, ou nenhum
dos dois, ou nenhum de todos ter. Se então em um desses for presente
o viver, isso mesmo seria alma. O que então seria corpo que tem de si
mesmo vida? Pois fogo, ar, água e terra são inanimados de si mesmos;
[quando] para algum desses é presente alma, esse se serviu de vida
importável, mas da parte desses mesmos corpos não é possível. E aos
que parece haver elementos diferentes desses, foram ditos ser corpos,
não almas, que não têm vida. E se nenhum deles tem vida, [mas] a sua
reunião criou vida, é absurdo; se cada um tiver vida, um só basta; e mais
impossível [seria] um ajuntamento de corpos produzir vida, e os não

177
Tese dos estoicos; Stoicorum Veterum Fragmmenta I, 142: Joannes STOBAEUS,
Anthologium I 49, 33, 8: Ἀλλὰ μὴν οἵγε ἀπὸ Χρυσίππου καὶ Ζήνωνος φιλόσοφοι καὶ
πάντες ὅσοι σῶμα τὴν ψυχὴν νοοῦσι τὰς μὲν δυνάμεις ὡς ἐν τῷ ὑποκειμένῳ ποιότητας
συμβιβάζουσι, τὴν δὲ ψυχὴν ὡς οὐσίαν προϋποκειμένην ταῖς δυνάμεσι τιθέασιν, ἐκ
δ’ ἀμφοτέρων τούτων σύνθετον φύσιν ἐξ ἀνομοίων συνάγουσιν (mas aqueles
filósofos da escola de Chysippo e de Zenon e todos quantos pensam ser a alma corpo
concordam ser as potências como qualidades no que subjaz, e põem a alma como
essência que as suporta, e de cada uma dessas vertentes, convergem desde
pensamentos dessemelhantes a que a alma seja um composto).
178
Platão, Fédon 105c: Ἀποκρίνου δή, ἦ δ’ ὅς, ᾧ ἂν τί ἐγγένηται σώματι ζῶν ἔσται;
Ὧι ἂν ψυχή, ἔφη (responde, então, com que será vivente o que vier a ser em um corpo?
A alma será com isso, disse).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 230

inteligentes gerar inteligência. E apesar disso dirão que essas coisas


vêm a ser tendo sido misturadas não de qualquer modo. Portanto é
preciso haver o que ordenou e o causador da mistura; assim isso teria
uma ordem de alma. Pois não é porque é algo composto, nem simples
[que] haveria corpo nas coisas que são, sem a alma que é no todo, se é
que razão cria corpo chegando à matéria, e de nenhuma parte chegaria
razão, senão da parte da alma.

3. Εἰ δέ τις μὴ οὕτως, ἀλλὰ ἀτόμους ἢ ἀμερῆ συνελθόντα ψυχὴν ποιεῖν


τῆι ἑνώσει λέγοι καὶ ὁμοπαθείαι, ἐλέγχοιτ᾽ ἂν καὶ τῆι παραθέσει μὴ δι᾽
ὅλου δέ, οὐ γιγνομένου ἑνὸς οὐδὲ συμπαθοῦς ἐξ ἀπαθῶν καὶ μὴ
ἑνοῦσθαι δυναμένων σωμάτων· ψυχὴ δὲ αὑτῆι συμπαθής. Ἐκ δὲ
ἀμερῶν σῶμα οὐδὲ μέγεθος ἂν γένοιτο. Καὶ μὴν εἰ ἁπλοῦ ὄντος τοῦ
σώματος τὸ μὲν ὅσον ὑλικὸν παρ᾽ αὐτοῦ ζωὴν ἔχειν οὐ φήσουσιν – ὕλη
γὰρ ἄποιον – τὸ δὲ κατὰ τὸ εἶδος τεταγμένον ἐπιφέρειν τὴν ζωήν, εἰ μὲν
οὐσίαν φήσουσι τὸ εἶδος τοῦτο εἶναι, οὐ τὸ συναμφότερον, θάτερον δὲ
τούτων ἔσται ἡ ψυχή· ὃ οὐκέτ᾽ ἂν σῶμα· οὐ γὰρ ἐξ ὕλης καὶ τοῦτο, ἢ
πάλιν τὸν αὐτὸν τρόπον ἀναλύσομεν. Εἰ δὲ πάθημα τῆς ὕλης, ἀλλ᾽ οὐκ
οὐσίαν φήσουσιν εἶναι, ἀφ᾽ οὗ τὸ πάθημα καὶ ἡ ζωὴ εἰς τὴν ὕλην
ἐλήλυθε, λεκτέον αὐτοῖς. Οὐ γὰρ δὴ ἡ ὕλη αὐτὴν μορφοῖ οὐδὲ αὐτὴ
ψυχὴν ἐντίθησι. Δεῖ ἄρα τι εἶναι τὸ χορηγὸν τῆς ζωῆς, εἴτε τῆι ὕληι ἡ
χορηγία, εἴθ᾽ ὁτωιοῦν τῶν σωμάτων, ἔξω ὂν καὶ ἐπέκεινα σωματικῆς
φύσεως ἁπάσης. Ἐπεὶ οὐδ᾽ ἂν εἴη σῶμα οὐδὲν ψυχικῆς δυνάμεως οὐκ
οὔσης. Ῥεῖ γάρ, καὶ ἐν φορᾶι αὐτοῦ ἡ φύσις, καὶ ἀπόλοιτο ἂν ὡς
τάχιστα, εἰ πάντα σώματα εἴη, κἂν εἰ ὄνομα ἑνὶ αὐτῶν ψυχήν τις θεῖτο.
Ταὐτὰ γὰρ ἂν πάθοι τοῖς ἄλλοις σώμασιν ὕλης μιᾶς οὔσης αὐτοῖς.
Μᾶλλον δὲ οὐδ᾽ ἂν γένοιτο, ἀλλὰ στήσεται ἐν ὕληι τὰ πάντα, μὴ ὄντος
τοῦ μορφοῦντος αὐτήν. Τάχα δ᾽ ἂν οὐδ᾽ ἂν ἡ ὕλη τὸ παράπαν εἴη.
Λυθήσεταί τε καὶ τόδε τὸ ξύμπαν, εἴ τις αὐτὸ πιστεύσειε σώματος
συνέρξει, διδοὺς αὐτῶι ψυχῆς τάξιν μέχρι τῶν ὀνομάτων, ἀέρι καὶ
πνεύματι σκεδαστοτάτωι καὶ τὸ ἑνὶ εἶναι ἔχοντι οὐ παρ᾽ αὐτοῦ. Πῶς
γὰρ τεμνομένων τῶν πάντων σωμάτων ὡιτινιοῦν τις ἀναθεὶς τόδε τὸ
πᾶν οὐκ ἀνόητόν τε καὶ φερόμενον εἰκῆ ποιήσει; Τίς γὰρ τάξις ἐν
πνεύματι δεομένωι παρὰ ψυχῆς τάξεως ἢ λόγος ἢ νοῦς; Ἀλλὰ ψυχῆς
μὲν οὔσης ὑπουργὰ ταῦτα πάντα αὐτῆι εἰς σύστασιν κόσμου καὶ ζώιου

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 231

ἑκάστου, ἄλλης παρ᾽ ἄλλου δυνάμεως εἰς τὸ ὅλον συντελούσης· ταύτης


δὲ μὴ παρούσης ἐν τοῖς ὅλοις οὐδὲν ἂν εἴη ταῦτα, οὐχ ὅτι ἐν τάξει.

3. E se alguém disser que não é assim, mas [que] átomos ou elementos


sem parte criam a alma convergindo à unificação e à igual impressão,
seria refutado mesmo pela justaposição [desses elementos], porque, o
que não é pelo inteiro, não vem a ser unidade nem [algo] simpático vem
a ser desde apáticos corpos que não podem unificar-se; e alma é
simpática consigo mesma179. E corpo de elementos sem parte não viria
a ser grandeza180. Mesmo sendo simples o corpo, não dirão, conquanto
seja material, que ele tem vida de si mesmo – pois [dizem] que matéria
é sem qualidade – e que ele traz junto a vida segundo a forma ordenada,
e se disserem que essência é essa forma, uma dessas duas coisas será a
alma, não o conjunto de ambas; o que ainda não será corpo; pois
nenhuma das duas coisas é de matéria, ou novamente do mesmo modo
analisaremos. E se disserem que [essa forma] é um produto de
impressão da matéria, mas não essência, a partir de que o produto da
impressão e a vida chegaram à matéria, [isso] deve ser dito por eles.
Pois não é [isso], uma vez que a matéria [nem] configuraria a si mesma
nem em si mesma poria alma. É preciso, portanto, haver um certo
provedor da vida, seja para matéria a providência, seja para qualquer
dos corpos, provedor que é externo e além de toda natureza corpórea.
Uma vez que nem haveria corpo nenhum, não havendo potência de
alma. Pois corre também a natureza em seu porte, quanto mais rápido
se definhe, se todas as coisas fossem corpos, mesmo que alguém
pusesse alma como nome a um só desses. Pois sofreria coisas iguais aos
outros corpos, havendo única matéria para eles. E mais nem viria a ser,
mas ficariam na matéria todas as coisas, não havendo o que a
configurasse. Logo nem a matéria absolutamente haveria. Será todo
desfeito o que é todo composto, se alguém o confiar à restrição de
corpo, dando-lhe entre os nomes ‘ordem’ de alma, como ao mais

179
Contra Leucipo, Demócrito e Epicuro.
180
Como corpo é divisível e tem grandeza, os átomos, que são indivisíveis, não
constituiriam grandeza.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 232

dispersivo [dos elementos]: ao ar e ao sopro, porque [este elemento] não


tem ‘o ser uno’ de si mesmo181. Pois como, sendo divisíveis todos os
corpos, a um corpo qualquer alguém tendo atribuído esse todo não o
fará sem inteligência e que se leva ao acaso? Pois que ordem há no sopro
que é necessitado de ordem de alma, seja razão seja inteligência? Mas,
havendo alma, todas essas coisas estão a serviço dela para constituição
do cosmo e de cada vivente, porque diversa potência de parte diversa
contribui para o inteiro; e essa não sendo presente nos inteiros, nenhum
inteiro haveria em relação a essas coisas, porque elas não são em
ordem.

4. Μαρτυροῦσι δὲ καὶ αὐτοὶ ὑπὸ τῆς ἀληθείας ἀγόμενοι, ὡς δεῖ τι πρὸ


τῶν σωμάτων εἶναι κρεῖττον αὐτῶν ψυχῆς εἶδος, ἔννουν τὸ πνεῦμα καὶ
πῦρ νοερὸν τιθέμενοι, ὥσπερ ἄνευ πυρὸς καὶ πνεύματος οὐ δυναμένης
τῆς κρείττονος μοίρας ἐν τοῖς οὖσιν εἶναι, τόπον δὲ ζητούσης εἰς τὸ
ἱδρυθῆναι, δέον ζητεῖν, ὅπου τὰ σώματα ἱδρύσουσιν, ὡς ἄρα δεῖ ταῦτα
ἐν ψυχῆς δυνάμεσιν ἱδρῦσθαι. Εἰ δὲ μηδὲν παρὰ τὸ πνεῦμα τὴν ζωὴν
καὶ τὴν ψυχὴν τίθενται, τί τὸ πολυθρύλλητον αὐτοῖς πως ἔχον, εἰς ὃ
καταφεύγουσιν ἀναγκαζόμενοι τίθεσθαι ἄλλην παρὰ τὰ σώματα φύσιν
δραστήριον; Εἰ οὖν οὐ πᾶν μὲν πνεῦμα ψυχή, ὅτι μυρία πνεύματα
ἄψυχα, τὸ δέ πως ἔχον πνεῦμα φήσουσι, τό πως ἔχον τοῦτο καὶ ταύτην
τὴν σχέσιν ἢ τῶν ὄντων τι φήσουσιν ἢ μηδέν. Ἀλλ᾽ εἰ μὲν μηδέν,
πνεῦμα ἂν εἴη μόνον, τὸ δέ πως ἔχον ὄνομα. Καὶ οὕτω συμβήσεται
αὐτοῖς οὐδὲ ἄλλο οὐδὲν εἶναι λέγειν ἢ τὴν ὕλην καὶ ψυχὴν καὶ θεόν, καὶ
ὀνόματα πάντα, ἐκεῖνο δὲ μόνον. Εἰ δὲ τῶν ὄντων ἡ σχέσις καὶ ἄλλο
παρὰ τὸ ὑποκείμενον καὶ τὴν ὕλην, ἐν ὕληι μέν, ἄυλον δὲ αὐτὸ τῶι μὴ
πάλιν αὖ συγκεῖσθαι ἐξ ὕλης, λόγος ἂν εἴη τις καὶ οὐ σῶμα καὶ φύσις
ἑτέρα. Ἔτι δὲ καὶ ἐκ τῶνδε οὐχ ἧττον φαίνεται ἀδύνατον ὂν τὴν ψυχὴν
εἶναι σῶμα ὁτιοῦν. Ἢ γὰρ θερμόν ἐστιν ἢ ψυχρόν, ἢ σκληρὸν ἢ
μαλακόν, ὑγρόν τε ἢ πεπηγός, μέλαν τε ἢ λευκόν, καὶ πάντα ὅσα

181
Alexander Aphrodisias, De Anima 26, 15: ὧν εἰσιν οἵ τε ἀπὸ τῆς Στοᾶς, πνεῦμα
αὐτὴν λέγοντες εἶναι συγκείμενόν πως ἔκ τε πυρὸς καὶ ἀέρος, καὶ οἱ περὶ Ἐπίκουρον
(dentre os quais são os discípulos da Stoá, que dizem que a alma é espírito de algum
modo composto de fogo e de ar, e os que são em torno de Epicuro).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 233

ποιότητες σωμάτων ἄλλαι ἐν ἄλλοις. Καὶ εἰ μὲν θερμὸν μόνον,


θερμαίνει, ψυχρὸν δὲ μόνον, ψύξει· καὶ κοῦφα ποιήσει τὸ κοῦφον
προσγενόμενον καὶ παρόν, καὶ βαρυνεῖ τὸ βαρύ· καὶ μελανεῖ τὸ μέλαν,
καὶ τὸ λευκὸν λευκὸν ποιήσει. Οὐ γὰρ πυρὸς τὸ ψύχειν, οὐδὲ τοῦ
ψυχροῦ θερμὰ ποιεῖν. Ἀλλ᾽ ἥ γε ψυχὴ καὶ ἐν ἄλλοις μὲν ζώιοις ἄλλα,
τὰ δ᾽ ἄλλα ποιεῖ, καὶ ἐν τῶι δὲ αὐτῶι τὰ ἐναντία, τὰ μὲν πηγνῦσα, τὰ δὲ
χέουσα, καὶ τὰ μὲν πυκνά, τὰ δὲ ἀραιά, μέλανα λευκά, κοῦφα βαρέα.
Καίτοι ἓν δεῖ ποιεῖν κατὰ τὴν τοῦ σώματος ποιότητά τε τὴν ἄλλην καὶ
δὴ καὶ χρόαν· νῦν δὲ πολλά.

4. E são prova esses mesmos, ao se conduzir pela verdade, de que é


preciso haver alguma forma de alma antes dos corpos, melhor do que
eles, quando propõem o sopro que pensa e fogo inteligente182, de modo
que sem fogo nem sopro a moira183, que é melhor, não é capaz de ser
nas coisas que são, buscando um lugar a ser fundado, precisando buscar
onde os corpos terão fundamento, de modo que é preciso esses [corpos]
ter fundamento em potências de alma. E se nada propõem ser a vida e a
alma em relação ao sopro, o que é o efetivo dito muito caro a eles “que
é de certo modo184”, para o que se refugiam quando são obrigados a
propor uma diversa natureza em relação aos corpos? Então se nem todo
sopro é alma, porque há milhares de sopros sem alma, dirão ser “sopro
que é de um certo modo185”, isso “que é de certo modo” e essa condição
dirão [que é] ou alguma das coisas que são ou que nada são. Mas se é

182
Stoicorum Veterum Fragmenta II 779: Οἱ Στωϊκοὶ πνεῦμα νοερὸν θερμόν [τὴν
ψυχήν] (os estoicos consideravam a alma sopro quente inteligente).
183
Alma destinada.
184
πως ἔχον (que é de certo modo). Para os estoicos deus e os inteligíveis são apenas
matéria ‘de certo modo’.
185
Eusebius, Praeparatio Euangelica XV 11, 4, 3: πῶς γὰρ οὐκ αἰσχρὸς ὁ ἐντελέχειαν
τιθεὶς τὴν ψυχὴν λόγος σώματος φυσικοῦ ὀργανικοῦ; πῶς δὲ οὐκ αἰσχύνης γέμων ὁ
πνεῦμά πως ἔχον αὐτὴν ἀποδιδοὺς ἢ πῦρ νοερόν ... (como não é vergonhosa a razão
que propõe que a alma é ‘enteléquia’ de um corpo natural orgânico? Como [essa
razão] não é carregada de vergonha, ao conceder que a [alma] é o espírito ‘de algum
modo’ ou fogo inteligente ...). Citação de Eusébio tirada do tratado De Anima, de
Porfírio.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 234

nada, seria apenas sopro, e o “que é de certo modo” seria uma


expressão. E assim coincidirá a eles dizer da alma e de Deus que em
nada são algo diverso da matéria186, e todas as coisas seriam expressões,
e haveria aquele [sopro] apenas. E se a condição das coisas que são é
mesmo diferente em relação ao que subjaz e à matéria, mesmo em
matéria, é imaterial o mesmo que não mais se compõe de matéria, seria
alguma razão, e não corpo, e [seria] natureza diferente. E ainda desde
essas coisas não menos mostra-se que é impossível ser a alma corpo
qualquer que seja. Pois [este] é ou quente ou frio, ou rígido ou mole,
fluido ou fixo, negro ou branco, e todas quantas qualidades dos corpos
são umas em outros. E apenas se for quente esquenta, e apenas ser for
frio esfriará; e as coisas ligeiras farão o ligeiro que se junta e é presente,
e o pesado fará pesar; e enegrecerá o negro, e o branco fará branco. Pois
não é do fogo o resfriar, nem do frio fazer coisas quentes. Mas a alma
em diversos viventes cria umas coisas e outras diversas, e no mesmo
cria os contrários, em umas coisas sendo fixa, em outras sendo corrente,
em umas é densa, em outras, porosa, tendo enegrecido coisas brancas,
[a mesma] para coisas leves e pesadas. No entanto, [para ser corpórea]
é preciso ela criar um só efeito segundo a qualidade do corpo, e além
disso segundo a cor que é diversa; agora [ela cria] muitos.

5. Τὰς δὲ δὴ κινήσεις πῶς διαφόρους, ἀλλ᾽ οὐ μίαν, μιᾶς οὔσης παντὸς


σώματος κινήσεως; Εἰ δὲ τῶν μὲν προαιρέσεις, τῶν δὲ λόγους
αἰτιάσονται, ὀρθῶς μὲν τοῦτο· ἀλλ᾽ οὐ σώματος ἡ προαίρεσις οὐδὲ οἱ
λόγοι διάφοροί γε ὄντες, ἑνὸς ὄντος καὶ ἁπλοῦ τοῦ σώματος, καὶ οὐ
μετὸν αὐτῶι τοιούτου γε λόγου, ἢ ὅσος δέδοται αὐτῶι παρὰ τοῦ
ποιήσαντος θερμὸν αὐτὸ ἢ ψυχρὸν εἶναι. Τὸ δὲ καὶ ἐν χρόνοις αὔξειν,
καὶ μέχρι τοσούτου μέτρου, πόθεν ἂν τῶι σώματι αὐτῶι γένοιτο, ὧι
προσήκει ἐναύξεσθαι, αὐτῶι δὲ ἀμοίρωι τοῦ αὔξειν εἶναι, ἢ ὅσον

186
Stoicorum Veterum Fragmenta I 155: Stoici enim uolunt deum sic per materiam
decucurrisse quomodo mel per fauos (os estoicos querem que deus tenha decorrido
assim pela a matéria como o mel pelos favos). I 156: et ubi materia cum deo
exaequatur, Zenonis disciplina est (e onde a matéria se compara com deus, é disciplina
de Zenão).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 235

παραληφθείη ἂν ἐν ὕλης ὄγκωι ὑπηρετοῦν τῶι δι᾽ αὐτοῦ τὴν αὔξην


ἐργαζομένωι; Καὶ γὰρ εἰ ἡ ψυχὴ σῶμα οὖσα αὔξοι, ἀνάγκη καὶ αὐτὴν
αὔξεσθαι, προσθήκηι δηλονότι ὁμοίου σώματος, εἰ μέλλει εἰς ἴσον ἰέναι
τῶι αὐξομένωι ὑπ᾽ αὐτῆς. Καὶ ἢ ψυχὴ ἔσται τὸ προστιθέμενον ἢ ἄψυχον
σῶμα. Καὶ εἰ μὲν ψυχή, πόθεν καὶ πῶς εἰσιούσης, καὶ πῶς
προστιθεμένης; Εἰ δὲ ἄψυχον τὸ προστιθέμενον, πῶς τοῦτο ψυχώσεται
καὶ τῶι πρόσθεν ὁμογνωμονήσει καὶ ἓν ἔσται καὶ τῶν αὐτῶν δοξῶν τῆι
πρόσθεν μεταλήψεται, ἀλλ᾽ οὐχ ὥσπερ ξένη ψυχὴ αὕτη ἐν ἀγνοίαι
ἔσται ὧν ἡ ἑτέρα; Εἰ δὲ καί, ὥσπερ ὁ ἄλλος ὄγκος ἡμῶν, τὸ μέν τι
ἀπορρεύσεται αὐτοῦ, τὸ δέ τι προσελεύσεται, οὐδὲν δὲ ἔσται τὸ αὐτό,
πῶς οὖν ἡμῖν αἱ μνῆμαι, πῶς δὲ ἡ γνώρισις οἰκείων οὐδέποτε τῆι αὐτῆι
ψυχῆι χρωμένων; Καὶ μὴν εἰ σῶμά ἐστι, φύσις δὲ σώματος μεριζόμενον
εἰς πλείω ἕκαστον μὴ τὸ αὐτὸ εἶναι τῶν μερῶν τῶι ὅλωι, εἰ τὸ τοσόνδε
μέγεθος ψυχή, ὃ ἐὰν ἔλαττον ἦι ψυχὴ οὐκ ἔσται, ὥσπερ πᾶν ποσὸν
ἀφαιρέσει τὸ εἶναι τὸ πρόσθεν ἠλλάξατο – εἰ δέ τι τῶν μέγεθος ἐχόντων
τὸν ὄγκον ἐλαττωθὲν τῆι ποιότητι ταὐτὸν μένοι, ἧι μὲν σῶμα ἕτερόν
ἐστι, καὶ ἧι ποσόν, τῆι δὲ ποιότητι ἑτέραι τῆς ποσότητος οὔσηι τὸ
ταὐτὸν ἀποσώιζειν δύναται – τί τοίνυν φήσουσιν οἱ τὴν ψυχὴν σῶμα
εἶναι λέγοντες; Πρῶτον μὲν περὶ ἑκάστου μέρους τῆς ψυχῆς τῆς ἐν τῶι
αὐτῶι σώματι πότερον ἕκαστον ψυχήν, οἵα ἐστὶ καὶ ἡ ὅλη; Καὶ πάλιν
τοῦ μέρους τὸ μέρος; Οὐδὲν ἄρα τὸ μέγεθος συνεβάλλετο τῆι οὐσίαι
αὐτῆς· καίτοι ἔδει γε ποσοῦ τινος ὄντος· καὶ ὅλον πολλαχῆι, ὅπερ
σώματι παρεῖναι ἀδύνατον ἐν πλείοσι τὸ αὐτὸ ὅλον εἶναι καὶ τὸ μέρος
ὅπερ τὸ ὅλον ὑπάρχειν. Εἰ δὲ ἕκαστον τῶν μερῶν οὐ ψυχὴν φήσουσιν,
ἐξ ἀψύχων ψυχὴ αὐτοῖς ὑπάρξει. Καὶ προσέτι ψυχῆς ἑκάστης τὸ
μέγεθος ὡρισμένον ἔσται, οὐδὲ ἐφ᾽ ἑκάτερα ἢ ἐπὶ τὸ ἔλαττόν γε ἢ ἐπὶ
τὸ μεῖζον ψυχὴ οὐκ ἔσται. Ὅταν τοίνυν ἐκ συνόδου μιᾶς καὶ ἐνὸς
σπέρματος δίδυμα γένηται γεννήματα, ἢ καί, ὥσπερ καὶ ἐν τοῖς ἄλλοις
ζώιοις, πλεῖστα τοῦ σπέρματος εἰς πολλοὺς τόπους μεριζομένου, οὗ δὴ
ἕκαστον ὅλον ἐστί, πῶς οὐ διδάσκει τοῦτο τοὺς βουλομένους
μανθάνειν, ὡς, ὅπου τὸ μέρος τὸ αὐτό ἐστι τῶι ὅλωι, τοῦτο ἐν τῆι αὐτοῦ
οὐσίαι τὸ ποσὸν εἶναι ὑπερβέβηκεν, ἄποσον δὲ αὐτὸ εἶναι δεῖ ἐξ
ἀνάγκης; Οὕτω γὰρ ἂν μένοι τὸ αὐτὸ τοῦ ποσοῦ κλεπτομένου, ἅτε μὴ
μέλον αὐτῶι ποσότητος καὶ ὄγκου, ὡς ἂν τῆς οὐσίας αὐτοῦ ἕτερόν τι
οὔσης. Ἄποσον ἄρα ἡ ψυχὴ καὶ οἱ λόγοι.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 236

5. E quanto aos movimentos, como serão diferentes, uma vez que não é
um só, mas um só é todo movimento de corpo? E se apontarem escolhas
de uns e razões de outros, corretamente seria isso; mas não é de corpo
a escolha, nem as razões, que são diferentes, sendo um só e simples o
corpo, e não tendo parte de tal a razão, senão quanto lhe é dado, da parte
do que o criou, ser quente ou frio187. E quanto ao crescer nos seus
devidos tempos, até tão grande medida, de onde viria a ser ao próprio
corpo, ao qual convém ser em crescimento, mas ele mesmo ser sem
parte do crescer, senão quanto foi recebido em massa de matéria que
ajuda o que por si elaborou o crescimento? Pois se a alma crescesse
sendo corpo, necessidade seria também ela aumentar, por acréscimo é
claro de semelhante corpo, se ela é igual ao que é aumentado por ela. O
que se acrescenta ou será alma ou corpo inanimado. E se é alma, de
onde e como é, quando ela vai para dentro e quando é acrescentada? E
se é inanimado o que se acrescenta, como isso será animado e de mesmo
parecer com o de antes e será um só e tomará parte das mesmas opiniões
com o de antes, mas [ao contrário] ela mesma não será como alma
estrangeira em ignorância do que é a outra? E se é mesmo [assim], como
massa diversa de nós mesmos, por um lado algo será afastado de si, de
outro, algo virá em acréscimo, e nada será o mesmo, como serão então
as nossas memórias, e como será o ato de conhecer das coisas familiares
que jamais se servem da mesma alma? No entanto, se é corpo, e
natureza de corpo é o que se partilha cada um em muitas [partes], para
o mesmo das partes não ser igual ao inteiro, se tamanha grandeza é
alma, o que, se for menor, não será alma, como tudo em quantidade será
diminuído, o ser de antes se muda – e se algum dos que têm grandeza,
tendo sido diminuído em massa, permanecer o mesmo em qualidade,
pela qual corpo é diferente, e pela qual [permanece o mesmo] em
quantidade, é possível resgatar ‘o mesmo’ pela qualidade que é
diferente da quantidade – então o que dirão os que dizem ser corpo a
alma? Primeiro, sendo cada parte da alma no mesmo corpo, dirão que
cada parte é alma, e que tais partes são também a inteira [alma]? E dirão

187
O corpo não tem escolha e só participa de alguma razão seminal quando a alma lhe
concede, por exemplo, ser quente ou frio.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 237

novamente, sendo a parte da parte? Portanto a grandeza em nada


contribuía para a essência dela; no entanto era preciso, quando ela era
de certa quantidade; um inteiro é em toda parte, o que a um corpo é
impossível, ser presente em muitos [lugares] e ser o mesmo inteiro e a
parte que o inteiro inicia. E se disserem não ser alma cada uma das
partes, de partes inanimadas a alma terá princípio para eles. E ainda a
grandeza de cada alma será o que está definido, e nem será alma para
uma coisa e outra, ou para menos ou para mais. De fato, quando de um
só encontro e de uma só semente vier a ser gêmeas proles, ou mesmo,
como em diversos viventes, múltiplas, porque a semente é partilhada
em muitos lugares, onde na verdade cada uma é um inteiro, como isso
não ensina aos que querem aprender que, onde a parte é o mesmo para
o inteiro, isso excedeu em sua essência ser de certa quantidade, e que é
preciso isso ser sem quantidade necessariamente? Pois assim
permaneceria o mesmo, certa quantidade sendo perdida, porque não
importa a ele quantidade e massa, porque sua essência é algo diferente.
Sem quantidade, portanto, são a alma e as razões.

6. Ὅτι δέ, εἰ σῶμα εἴη ἡ ψυχή, οὔτε τὸ αἰσθάνεσθαι οὔτε τὸ νοεῖν οὔτε
τὸ ἐπίστασθαι οὔτε ἀρετὴ οὔτε τι τῶν καλῶν ἔσται, ἐκ τῶνδε δῆλον. Εἴ
τι μέλλει αἰσθάνεσθαί τινος, ἓν αὐτὸ δεῖ εἶναι καὶ τῶι αὐτῶι παντὸς
ἀντιλαμβάνεσθαι, καὶ εἰ διὰ πολλῶν αἰσθητηρίων πλείω τὰ εἰσιόντα εἴη
ἢ πολλαὶ περὶ ἓν ποιότητες, κἂν δι᾽ ἑνὸς ποικίλον οἷον πρόσωπον. Οὐ
γὰρ ἄλλο μὲν ῥινός, ἄλλο δὲ ὀφθαλμῶν, ἀλλὰ ταὐτὸν ὁμοῦ πάντων. Καὶ
εἰ τὸ μὲν δι᾽ ὀμμάτων, τὸ δὲ δι᾽ ἀκοῆς, ἕν τι δεῖ εἶναι, εἰς ὃ ἄμφω. Ἢ
πῶς ἂν εἴποι, ὅτι ἕτερα ταῦτα, μὴ εἰς τὸ αὐτὸ ὁμοῦ τῶν αἰσθημάτων
ἐλθόντων; Δεῖ τοίνυν τοῦτο ὥσπερ κέντρον εἶναι, γραμμὰς δὲ
συμβαλλούσας ἐκ περιφερείας κύκλου τὰς πανταχόθεν αἰσθήσεις πρὸς
τοῦτο περαίνειν, καὶ τοιοῦτον τὸ ἀντιλαμβανόμενον εἶναι, ἓν ὂν ὄντως.
Εἰ δὲ διεστὼς τοῦτο γένοιτο, καὶ οἷον γραμμῆς ἐπ᾽ ἄμφω τὰ πέρατα αἱ
αἰσθήσεις προσβάλλοιεν, ἢ συνδραμεῖται εἰς ἓν καὶ τὸ αὐτὸ πάλιν, οἷον
τὸ μέσον, ἢ ἄλλο, τὸ δὲ ἄλλο, ἑκάτερον ἑκατέρου αἴσθησιν ἕξει· ὥσπερ
ἂν εἰ ἐγὼ μὲν ἄλλου, σὺ δὲ ἄλλου αἴσθοιο. Καὶ εἰ ἓν εἴη τὸ αἴσθημα,
οἷον πρόσωπον, ἢ εἰς ἓν συναιρεθήσεται – ὅπερ καὶ φαίνεται·
συναιρεῖται γὰρ καὶ ἐν αὐταῖς ταῖς κόραις· ἢ πῶς ἂν τὰ μέγιστα διὰ

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 238

ταύτης ὁρῶιτο; ὥστε ἔτι μᾶλλον εἰς τὸ ἡγεμονοῦν ἰόντα οἷον ἀμερῆ
νοήματα γίγνεσθαι – καὶ ἔσται ἀμερὲς τοῦτο· ἢ μεγέθει ὄντι τούτωι
συμμερίζοιτο ἄν, ὥστε ἄλλο ἄλλου μέρος καὶ μηδένα ἡμῶν ὅλου τοῦ
αἰσθητοῦ τὴν ἀντίληψιν ἴσχειν. Ἀλλὰ γὰρ ἕν ἐστι τὸ πᾶν· πῶς γὰρ ἂν
καὶ διαιροῖτο; Οὐ γὰρ δὴ τὸ ἴσον τῶι ἴσωι ἐφαρμόσει, ὅτι οὐκ ἴσον τὸ
ἡγεμονοῦν παντὶ αἰσθητῶι. Κατὰ πηλίκα οὖν ἡ διαίρεσις; Ἢ εἰς
τοσαῦτα διαιρεθήσεται, καθόσον ἂν ἀριθμοῦ ἔχοι εἰς ποικιλίαν τὸ
εἰσιὸν αἴσθημα; Καὶ ἕκαστον δὴ ἐκείνων τῶν μερῶν τῆς ψυχῆς ἄρα καὶ
τοῖς μορίοις αὐτοῦ αἰσθήσεται. Ἢ ἀναίσθητα τὰ μέρη τῶν μορίων
ἔσται; Ἀλλὰ ἀδύνατον. Εἰ δὲ ὁτιοῦν παντὸς αἰσθήσεται, εἰς ἄπειρα
διαιρεῖσθαι τοῦ μεγέθους πεφυκότος ἀπείρους καὶ αἰσθήσεις καθ᾽
ἕκαστον αἰσθητὸν συμβήσεται γίγνεσθαι ἑκάστωι οἷον τοῦ αὐτοῦ
ἀπείρους ἐν τῶι ἡγεμονοῦντι ἡμῶν εἰκόνας. Καὶ μὴν σώματος ὄντος
τοῦ αἰσθανομένου οὐκ ἂν ἄλλον τρόπον γένοιτο τὸ αἰσθάνεσθαι ἢ οἷον
ἐν κηρῶι ἐνσημανθεῖσαι ἀπὸ δακτυλίων σφραγῖδες, εἴτ᾽ οὖν εἰς αἷμα,
εἴτ᾽ οὖν εἰς ἀέρα τῶν αἰσθητῶν ἐνσημαινομένων. Καὶ εἰ μὲν ὡς ἐν
σώμασιν ὑγροῖς, ὅπερ καὶ εὔλογον, ὥσπερ εἰς ὕδωρ συγχυθήσεται, καὶ
οὐκ ἔσται μνήμη· εἰ δὲ μένουσιν οἱ τύποι, ἢ οὐκ ἔστιν ἄλλους
ἐνσημαίνεσθαι ἐκείνων κατεχόντων, ὥστε ἄλλαι αἰσθήσεις οὐκ
ἔσονται, ἢ γινομένων ἄλλων ἐκεῖνοι οἱ πρότεροι ἀπολοῦνται· ὥστε
οὐδὲν ἔσται μνημονεύειν. Εἰ δὲ ἔστι τὸ μνημονεύειν καὶ ἄλλων
αἰσθάνεσθαι ἐπ᾽ ἄλλοις οὐκ ἐμποδιζόντων τῶν πρόσθεν, ἀδύνατον τὴν
ψυχὴν σῶμα εἶναι.

6. E que, se corpo fosse a alma, nem o ter sensação nem o pensar nem
o ter conhecimento nem virtude nem algo das coisas belas haveria, é
claro desde estes argumentos: se algo está para ter sensação de algo, é
preciso isso mesmo ser um só e receber do todo para si mesmo, caso
por muitos órgãos dos sentidos numerosas sejam as [sensações] que se
insinuam ou muitas sejam as qualidades que são em torno de uma só
coisa, mesmo que por um só [órgão] [seja percebido] algo complexo tal
que um rosto. Pois não há um órgão [que percebe] o nariz, outro, os
olhos, mas é o mesmo ao mesmo tempo [que percebe] tudo. E se um
[sentido] é através dos olhos, outro, dos ouvidos, é preciso haver um só
‘órgão’, para o que é dos dois. Ou como [alguém] diria que são

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 239

diferentes essas coisas, caso os produtos das sensações não cheguem ao


mesmo tempo ao mesmo ‘órgão’? É preciso, portanto, esse ‘órgão’ ser
como um centro, e as linhas que convergem desde a circunferência do
círculo ser como as sensações de toda parte que tendem a esse ‘órgão’,
e tal é o ‘órgão’ que recebe, porque realmente é um só188. Se viesse a
ser que esse ‘órgão’ estivesse dividido, tal que as sensações lançassem
os limites da linha a ambos, ou [a sensação] concorreria a um só e
novamente o mesmo ponto, tal que o meio, ou um ponto diverso, e
sendo diverso, e cada um terá a sensação do outro; como se eu tivesse
percepção de uma coisa, e tu, de outra189. E se fosse um só produto de
sensação, tal que um rosto, ou se a um só [centro] fossem tomados
juntamente [os produtos de sensação] – exatamente o que se mostra;
pois tomam-se mesmo nas próprias pupilas; ou como as maiores coisas
por essa [pupila] seriam vistas? Assim, ao ir ao hegemônico, ainda mais
os pensamentos vêm a ser sem partes – e esse ‘órgão’ será sem parte;
ou se esse ‘órgão’ tivesse grandeza ele seria compartilhado, de modo a
haver uma parte de um, outra, de outro, e nenhum de nós poderia ter a

188
Alexander Aphrodisias, De Anima 63, 7-12: ὡς γὰρ ἐπὶ κύκλου αἱ ἀπὸ τῆς
περιφερείας αὐτοῦ ἐπὶ τὸ κέντρον ἐπιζευγνύμεναι οὖσαι πολλαὶ πᾶσαι κατὰ τὸ πέρας
εἰσὶν αἱ αὐταὶ τῷ τά τε πέρατα αὐτῶν ἐφαρμόζειν τῷ τοῦ κύκλου κέντρῳ καὶ ἔστι τὸ
πέρας τοῦτο ἕν τε καὶ πολλά, καθόσον μὲν πολλῶν ἐστι καὶ διαφερόντων πέρας,
πολλά, καθόσον δὲ πάντα ἀλλήλοις ἐφήρμοσεν, ἕν, οὕτως ἔχειν ὑποληπτέον καὶ τὴν
κοινὴν αἴσθησιν τὸ ἕν τε καὶ πολλά (pois como no círculo, as [linhas] a partir de sua
circunferência que se conjungem ao centro, sendo muitas, todas, segundo o seu limite,
são as mesmas, por harmonizar os seus limites com o centro do círculo, e esse limite
é um só e muitos: muitos, enquanto limite de muitas e diferentes linhas, um só,
enquanto todos os limites se harmonizam entre si, assim deve-se supor que a sensação
comum tem o que é um só e muitos).
189
Aristóteles, De Anima III 2, 426b 12-14: ἐπεὶ δὲ καὶ τὸ λευκὸν καὶ τὸ γλυκὺ καὶ
ἕκαστον τῶν αἰσθητῶν πρὸς ἕκαστον κρίνομεν, τινὶ καὶ αἰσθανόμεθα ὅτι διαφέρει ...
(uma vez que julgamos o branco e o doce e cada uma das coisas sensíveis em relação
a cada uma, com que [órgão] percebemos que elas diferem ...); 19-21: οὕτω μὲν γὰρ
κἂν εἰ τοῦ μὲν ἐγὼ τοῦ δὲ σὺ αἴσθοιο, δῆλον ἂν εἴη ὅτι ἕτερα ἀλλήλων, δεῖ δὲ τὸ ἓν
λέγειν ὅτι ἕτερον· ἕτερον γὰρ τὸ γλυκὺ τοῦ λευκοῦ (assim, se eu tiver percepção de
uma coisa, e tu de outra, seria evidente que são diferentes entre si, e é preciso o [órgão]
único dizer que é diferente; pois o doce é diferente do branco).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 240

recepção do inteiro sensível. Mas de fato um só é o todo; pois como


também [ele] poderia dividir-se? Pois então nem o igual harmonizar-
se-á com o igual, porque o hegemônico não é igual ao todo sensível.
Por quanto seria, então, a divisão? Ou esse ‘órgão’ será divido em tantas
partes quanto em variedade de número as tiver o produto de sensação
que se insinua? E cada uma daquelas partes da alma, portanto, será
sentida também pelas as partículas daquele ‘órgão’. Ou insensíveis
serão as partes das partículas dele? Mas é impossível. E se qualquer
parte do todo sentir, porque a grandeza que é natural se divide ao
infinito, acontecerá que infinitas sensações segundo cada parte sensível
vêm a ser a cada um, tal que do mesmo todo infinitas imagens vêm a
ser no nosso hegemônico190. Contudo, se fosse corpo o que sente, não
de outro modo viria a ser o sentir, senão que como em cera191 imprimir-
se impressões de anéis, sendo as impressões dos sensíveis quer em
sangue quer em ar. E se fossem impressões como em corpos líquidos, o
que também é razoável, assim em água ter-se-ia confundido, e não
haveria memória. E se permanecem as marcas, ou não é possível
imprimir outras, aquelas mantendo-se, assim outras sensações não
haverá, ou, vindo a ser outras, aquelas de anteriores perder-se-ão. Assim
nada haverá para lembrar, e se há o lembrar e sentir umas coisas sobre
outras, que não impedem as de antes, é impossível a alma ser corpo.

190
O hegemônico de nossa alma se define em dimensão metacorpórea como
identidade na diversidade, unidade no múltiplo e o todo na parte.
191
Platão, Teeteto 191d: ... ὑπέχοντας αὐτὸ ταῖς αἰσθήσεσι καὶ ἐννοίαις,
ἀποτυποῦσθαι, ὥσπερ δακτυλίων σημεῖα ἐνσημαινομένους (... mantemos isso ao
marcar em nossas sensações e reflexões, como imprimimos sinais de anéis).
Aristóteles, De Memoria et Reminiscentia 450b 25: ἀπορήσειε δ’ ἄν τις πῶς ποτε τοῦ
μὲν πάθους παρόντος τοῦ δὲ πράγματος ἀπόντος μνημονεύεται τὸ μὴ παρόν. δῆλον
γὰρ ὅτι δεῖ νοῆσαι τοιοῦτον τὸ γιγνόμενον διὰ τῆς αἰσθήσεως ἐν τῇ ψυχῇ καὶ τῷ μορίῳ
τοῦ σώματος τῷ ἔχοντι αὐτήν—οἷον ζωγράφημά τι [τὸ πάθος] οὗ φαμεν τὴν ἕξιν
μνήμην εἶναι (alguém acharia difícil como lembrar o que não é presente, quando seja
presente a impressão, e o fato seja ausente. Pois é claro que é preciso pensar que tal
coisa vem a ser pela sensação na alma e pela partícula do corpo que a contém – tal
que certo desenho [a impressão] de que dizemos que é haver memória).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 241

7. Ἴδοι δ᾽ ἄν τις καὶ ἐκ τοῦ ἀλγεῖν καὶ ἐκ τῆς τοῦ ἀλγεῖν αἰσθήσεως τὸ
αὐτὸ τοῦτο. Ὅταν δάκτυλον λέγηται ἀλγεῖν ἄνθρωπος, ἡ μὲν ὀδύνη
περὶ τὸν δάκτυλον δήπουθεν, ἡ δ᾽ αἴσθησις τοῦ ἀλγεῖν δῆλον ὅτι
ὁμολογήσουσιν, ὡς περὶ τὸ ἡγεμονοῦν γίγνεται. Ἄλλου δὴ ὄντος τοῦ
πονοῦντος μέρους τοῦ πνεύματος τὸ ἡγεμονοῦν αἰσθάνεται, καὶ ὅλη ἡ
ψυχὴ τὸ αὐτὸ πάσχει. Πῶς οὖν τοῦτο συμβαίνει; Διαδόσει, φήσουσι,
παθόντος μὲν πρώτως τοῦ περὶ τὸν δάκτυλον ψυχικοῦ πνεύματος,
μεταδόντος δὲ τῶι ἐφεξῆς καὶ τούτου ἄλλωι, ἕως πρὸς τὸ ἡγεμονοῦν
ἀφίκοιτο. Ἀνάγκη τοίνυν, εἰ τὸ πρῶτον πονοῦν ἤισθετο, ἄλλην τὴν
αἴσθησιν τοῦ δευτέρου εἶναι, εἰ κατὰ διάδοσιν ἡ αἴσθησις, καὶ τοῦ
τρίτου ἄλλην καὶ πολλὰς αἰσθήσεις καὶ ἀπείρους περὶ ἑνὸς ἀλγήματος
γίγνεσθαι, καὶ τούτων ἁπασῶν ὕστερον τὸ ἡγεμονοῦν αἴσθεσθαι καὶ
τῆς ἑαυτοῦ παρὰ ταύτας. Τὸ δὲ ἀληθὲς ἑκάστην ἐκείνων μὴ τοῦ ἐν τῶι
δακτύλωι ἀλγήματος, ἀλλὰ τὴν μὲν ἐφεξῆς τῶι δακτύλωι, ὅτι ὁ ταρσὸς
ἀλγεῖ, τὴν δὲ τρίτην, ὅτι ἄλλο τὸ πρὸς τῶι ἄνωθεν, καὶ πολλὰς εἶναι
ἀλγηδόνας, τό τε ἡγεμονοῦν μὴ τοῦ πρὸς τῶι δακτύλωι ἀλγήματος
αἰσθάνεσθαι, ἀλλὰ τοῦ πρὸς αὐτῶι, καὶ τοῦτο γινώσκειν μόνον, τὰ δ᾽
ἄλλα χαίρειν ἐᾶν μὴ ἐπιστάμενον, ὅτι ἀλγεῖ ὁ δάκτυλος. Εἰ τοίνυν κατὰ
διάδοσιν οὐχ οἷόν τε τὴν αἴσθησιν τοῦ τοιούτου γίγνεσθαι μηδὲ
σώματος, ὄγκου ὄντος, ἄλλου παθόντος ἄλλου γνῶσιν εἶναι – παντὸς
γὰρ μεγέθους τὸ μὲν ἄλλο, τὸ δὲ ἄλλο ἐστί – δεῖ τοιοῦτον τίθεσθαι τὸ
αἰσθανόμενον, οἷον πανταχοῦ αὐτὸ ἑαυτῶι τὸ αὐτὸ εἶναι. Τοῦτο δὲ
ἄλλωι τινὶ τῶν ὄντων ἢ σώματι ποιεῖν προσήκει.

7. E alguém saberia isso mesmo a partir de ter dor e a partir da sensação


de ter dor. Quando um homem disser ter dor no dedo, a sensação de dor
é no dedo certamente, e, quanto à sensação de ter dor, é claro que
concordam192 que vem a ser no hegemônico. Sendo diversa a parte do
espírito que tem dor, o hegemônico sente, e a alma inteira sofre o

192
Stoicorum Veterum Fragmenta II 854: Οἱ Στωϊκοὶ τὰ μὲν πάθη ἐν τοῖς πεπονθόσι
τόποις, τὰς δὲ αἰσθήσεις ἐν τῷ ἡγεμονικῷ (os estoicos [põem] as impressões nos
lugares que sofreram, as sensações, no hegemônico).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 242

mesmo. Como então isso acontece? Por transmissão193, dirão, primeiro


tendo sofrido o espírito psíquico no dedo, mudando-se a um seguinte e
esse a outro, até que chegue ao hegemônico. Há necessidade então, se
a primeira parte que se aflige sentir, uma diversa sensação ser da
segunda, se é por transmissão a sensação, e da terceira, uma outra, e
muitas e infinitas sensações vir a ser em um só produto de dor, e depois
dessas todas o hegemônico sentir além dessas a sua própria [sensação].
Na verdade, cada uma dessas [sensações] não é do produto da dor no
dedo, mas a seguinte ao dedo, porque a sola do pé tem dor, e há a
terceira [sensação], porque outra [dor] é a que é junto à [sensação] de
cima, e há muitas sensações de dor, e o hegemônico não sente do
produto de dor junto ao dedo, mas do que é junto a ele mesmo, e apenas
reconhece isso, e as outras [dores] deixa passar, nem tomando
conhecimento de que o dedo tem dor. Se de fato por transmissão não é
possível a sensação de tal [dor] vir a ser, porque não é de corpo, que,
sendo massa, uma parte sofre, e outra tem conhecimento – pois de toda
grandeza isso é uma coisa, e aquilo é outra194 – é preciso pôr o que sente
tal que em toda parte ele seja o mesmo para si mesmo. E isso convém
fazer a algo das coisas que são, que é diverso de corpo.

8. Ὅτι δὲ οὐδὲ νοεῖν οἷόν τε, εἰ σῶμα ἡ ψυχὴ ὁτιοῦν εἴη, δεικτέον ἐκ
τῶνδε. Εἰ γὰρ τὸ αἰσθάνεσθαί ἐστι τὸ σώματι προσχρωμένην τὴν ψυχὴν
ἀντιλαμβάνεσθαι τῶν αἰσθητῶν, οὐκ ἂν εἴη καὶ τὸ νοεῖν τὸ διὰ σώματος
καταλαμβάνειν, ἢ ταὐτὸν ἔσται τῶι αἰσθάνεσθαι. Εἰ οὖν τὸ νοεῖν ἐστι
τὸ ἄνευ σώματος ἀντιλαμβάνεσθαι, πολὺ πρότερον δεῖ μὴ σῶμα αὐτὸ
τὸ νοῆσον εἶναι. Ἔτι εἰ αἰσθητῶν μὲν ἡ αἴσθησις, νοητῶν δὲ ἡ νόησις

193
Stoicorum Veterum Fragmenta II 882 – Galenus Med. De placitis Hippocratis et
Platonis ΙΙ 5, 35, 1: καὶ τοῦτο βούλεταί γε Ζήνων καὶ Χρύσιππος ἅμα τῷ σφετέρῳ
χορῷ παντί, διαδίδοσθαι τὴν ἐκ τοῦ προσπεσόντος ἔξωθεν ἐγγενομένην τῷ μορίῳ
κίνησιν εἰς τὴν ἀρχὴν τῆς ψυχῆς ἵν’ αἴσθηται τὸ ζῷον (e isso quer Zenão e Chrysippo
junto com todo coro deles, que seja transmitido o movimento em parte desde o que
veio a ser desde o que de fora se lançou até o princípio da alma, para que o vivente
sinta).
194
O corpo é constituído de partes que não se reconhecem, portanto não há
‘transmissão’ entre elas.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 243

– εἰ δὲ μὴ βούλονται, ἀλλ᾽ οὖν ἔσονταί γε καὶ νοητῶν τινων νοήσεις


καὶ ἀμεγέθων ἀντιλήψεις – πῶς οὖν μέγεθος ὂν τὸ μὴ μέγεθος νοήσει
καὶ τῶι μεριστῶι τὸ μὴ μεριστὸν νοήσει; Ἢ μέρει τινὶ ἀμερεῖ αὐτοῦ. Εἰ
δὲ τοῦτο, οὐ σῶμα ἔσται τὸ νοῆσον· οὐ γὰρ δὴ τοῦ ὅλου χρεία πρὸς τὸ
θίγειν· ἀρκεῖ γὰρ καθ᾽ ἕν τι. Εἰ μὲν οὖν συγχωρήσονται τὰς πρώτας
νοήσεις, ὅπερ ἀληθές ἐστιν, εἶναι τῶν πάντη σώματος καθαρωτάτων
αὐτοεκάστου, ἀνάγκη καὶ τὸ νοοῦν σώματος καθαρὸν ὂν ἢ γιγνόμενον
γινώσκειν. Εἰ δὲ τῶν ἐν ὕληι εἰδῶν τὰς νοήσεις φήσουσιν εἶναι, ἀλλὰ
χωριζομένων γε τῶν σωμάτων γίγνονται τοῦ νοῦ χωρίζοντος. Οὐ γὰρ
δὴ μετὰ σαρκῶν ἢ ὅλως ὕλης ὁ χωρισμὸς κύκλου καὶ τριγώνου καὶ
γραμμῆς καὶ σημείου. Δεῖ ἄρα καὶ τὴν ψυχὴν σώματος αὐτὴν ἐν τῶι
τοιούτωι χωρίσαι. Δεῖ ἄρα μηδὲ αὐτὴν σῶμα εἶναι. Ἀμέγεθες δέ, οἶμαι,
καὶ τὸ καλὸν καὶ τὸ δίκαιον· καὶ ἡ τούτων ἄρα νόησις. Ὥστε καὶ
προσιόντα ἀμερεῖ αὐτῆς ὑποδέξεται καὶ ἐν αὐτῆι ἐν ἀμερεῖ κείσεται.
Πῶς δ᾽ ἂν καὶ σώματος ὄντος τῆς ψυχῆς ἀρεταὶ αὐτῆς, σωφροσύνη καὶ
δικαιοσύνη ἀνδρία τε καὶ αἱ ἄλλαι; Πνεῦμά τι γὰρ ἢ αἷμά τι ἂν τὸ
σωφρονεῖν εἴη ἢ δικαιότης ἢ ἀνδρία, εἰ μὴ ἄρα ἡ ἀνδρία τὸ δυσπαθὲς
τοῦ πνεύματος εἴη, καὶ ἡ σωφροσύνη ἡ εὐκρασία, τὸ δὲ κάλλος
εὐμορφία τις ἐν τύποις, καθ᾽ ἣν λέγομεν ἰδόντες ὡραίους καὶ καλοὺς
τὰ σώματα. Ἰσχυρῶι μὲν οὖν καὶ καλῶι ἐν τύποις πνεύματι εἶναι
προσήκοι ἄν· σωφρονεῖν δὲ τί δεῖ πνεύματι; Ἀλλ᾽ οὐ τοὐναντίον ἐν
περιπτύξεσι καὶ ἁφαῖς εὐπαθεῖν, ὅπου ἢ θερμανθήσεται ἢ συμμέτρως
ψύχεος ἱμείροι ἢ μαλακοῖς τισι καὶ ἁπαλοῖς καὶ λείοις πελάσει; Τὸ δὲ
κατ᾽ ἀξίαν νεῖμαι τί ἂν αὐτῶι μέλοι; Πότερον δὲ ἀιδίων ὄντων τῶν τῆς
ἀρετῆς θεωρημάτων καὶ τῶν ἄλλων τῶν νοητῶν ἡ ψυχὴ ἐφάπτεται, ἢ
γίνεταί τωι ἡ ἀρετή, ὠφελεῖ καὶ πάλιν φθείρεται; Ἀλλὰ τίς ὁ ποιῶν καὶ
πόθεν; Οὕτω γὰρ ἂν ἐκεῖνο πάλιν μένοι. Δεῖ ἄρα ἀιδίων εἶναι καὶ
μενόντων, οἷα καὶ τὰ ἐν γεωμετρίαι. Εἰ δὲ ἀιδίων καὶ μενόντων, οὐ
σωμάτων. Δεῖ ἄρα καὶ ἐν ὧι ἔσται τοιοῦτον εἶναι· δεῖ ἄρα μὴ σῶμα
εἶναι. Οὐ γὰρ μένει, ἀλλὰ ῥεῖ ἡ σώματος φύσις πᾶσα.

8. E que nem pensar é possível, se a alma fosse um corpo qualquer,


deve-se mostrar a partir disto: pois se o ‘sentir’ é a alma que se serve de
corpo receber os sensíveis, também o ‘pensar’ não seria depreender pelo
corpo, ou será o mesmo que o sentir. Se então o ‘pensar’ é receber sem

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 244

corpo, muito antes é preciso não ser corpo o que há de pensar195. E se


dos sensíveis é a sensação, dos inteligíveis é o ato de pensar – e caso
não queiram, mas então serão tanto atos de pensar de alguns inteligíveis
quanto recepções de algumas coisas sem grandeza196 – como então o
que é grandeza pensará o sem grandeza, e pelo partilhável o não-
partilhável pensará197? Certamente, será por alguma parte sem parte de
si mesmo. E se é isso, não será corpo o que há de pensar; pois não há
utilidade do inteiro para tocar; pois basta ser segundo o que é um só. E
então se concordam que os primeiros conceitos, o que é realmente
verdadeiro, são dos mais puros totalmente de cada corpo em si,
necessidade é reconhecer também que o que pensa é puro de corpo ou
vem a ser. E se disserem ser os conceitos dentre as formas em matéria,
mas [eles] vêm a ser da inteligência que se separa, quando os corpos se
separam198. Pois não é com carne ou de modo geral com matéria a
abstração de círculo, de triângulo, de linha e de ponto. É preciso,
portanto, que também a alma separe ela mesma de corpo em tal
[operação]. É preciso, portanto, ela mesma não ser corpo.

195
Platão, Fédon 79c – d: Οὐκοῦν καὶ τόδε πάλαι ἐλέγομεν, ὅτι ἡ ψυχή, ὅταν μὲν τῷ
σώματι προσχρῆται εἰς τὸ σκοπεῖν τι ... τότε μὲν ἕλκεται ὑπὸ τοῦ σώματος εἰς τὰ
οὐδέποτε κατὰ ταὐτὰ ἔχοντα ... Ὅταν δέ γε αὐτὴ καθ’ αὑτὴν σκοπῇ, ἐκεῖσε οἴχεται
εἰς τὸ καθαρόν τε καὶ ἀεὶ ὂν καὶ ἀθάνατον καὶ ὡσαύτως ἔχον, καὶ ὡς συγγενὴς οὖσα
αὐτοῦ ἀεὶ μετ’ ἐκείνου τε γίγνεται (então, dizíamos há pouco que a alma, quando se
servir do corpo para examinar algo ... então é arrastada pelo corpo para as coisas que
jamais se mantêm as mesmas ... e quando ela examina por si mesma, vai para o lugar
que é puro, que é sempre, imortal , que é sempre o mesmo, e vem a ser com aquilo de
que ela é congênere).
196
Stoicorum Veterum Fragmenta II 85 - Sextus Empiricus, Adversus mathematicos
VIII 407: τὸ μὲν οὖν πάσχον ὅτι <τὸ> ἡγεμονικόν ἐστι, δεδώκασιν οἱ ἀπὸ τῆς Στοᾶς
φιλόσοφοι (então, que o que sofre é o hegemônico, concederam os filósofos da Stoá).
197
Aristóteles, De Anima I 3, 407a 16-20: ἔτι δὲ πῶς νοήσει τὸ μεριστὸν ἀμερεῖ ἢ τὸ
ἀμερὲς μεριστῷ; ἀναγκαῖον δὲ τὸν νοῦν εἶναι τὸν κύκλον τοῦτον· νοῦ μὲν γὰρ κίνησις
νόησις κύκλου δὲ περιφορά (e ainda como o partilhável pensará com o sem parte, ou
o que é sem parte com o partilhável? É necessário a inteligência ser esse círculo; pois
ele é ato de mover da inteligência, e ato de pensar é circunferência do círculo).
198
O conceito ou ato de pensar (νόησις) é abstração da matéria, ou seja, as formas
(εἴδη) são pensadas, e depois racionalizadas em matéria, quando se lhes atribuem
figura (σχῆμα).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 245

E sem grandeza, creio, ser também o belo e o justo; e, portanto, também


o conceito dessas coisas. De modo que essas coisas que se aproximam
dela serão recebidas pelo que é sem parte e ficarão nela, no que é sem
parte. E como, se fosse corpo, haveria virtudes da própria alma,
sensatez, sentimento de justiça, coragem e as outras? Pois certo espírito
ou sangue199 seria ter sensatez, ou justiça ou coragem, se por acaso não
for a coragem o impassível do espírito, e a sensatez a boa têmpera, e o
belo uma certa boa figura em tipos, segundo a qual dizemos ao ver os
corpos na flor da idade e belos. De fato, conviria ser de espírito forte e
belo em tipos; mas ter sensatez, por que é preciso ao espírito? Mas não
é o contrário: o espírito sentir-se bem entre abraços e afagos, onde ou
irá se aquecer ou desejaria200 na mesma medida um frescor, ou se
aproximará de algo suave, tenro e leve? Por que lhe importaria distribuir
por mérito? Qual dos dois: sendo as coisas eternas os teoremas da
virtude e os outros inteligíveis, a alma se ocupa deles, ou a virtude vem
a ser para alguém, [este] tira vantagem e novamente se corrompe? Mas
quem é o que os cria e de onde? Pois assim aquele inteligível ainda
permaneceria. É preciso, portanto, ele ser das coisas eternas e
permanentes, tais quais são também aquelas em geometria. E se são das
eternas e permanentes, não são de corpos. É preciso, portanto, também
“em que estará” ser tal; é preciso, portanto, não ser corpo. Mas [ele] não
permanece, pois toda natureza de corpo escorre.

8a. Εἰ δὲ τὰς τῶν σωμάτων ποιήσεις ὁρῶντες θερμαινούσας καὶ


ψυχούσας καὶ ὠθούσας καὶ βαρυνούσας ἐνταῦθα τάττουσι τὴν ψυχὴν
οἷον ἐν δραστηρίωι τόπωι ἱδρύοντες αὐτήν, πρῶτον μὲν ἀγνοοῦσιν, ὡς
καὶ αὐτὰ τὰ σώματα δυνάμεσι ταῖς ἐν αὐτοῖς ἀσωμάτοις ταῦτα

199
Stoicorum Veterum Fragmenta I 140 – Galenus, De placitis Hippocratis et Platonis
II 8, 48: εἰ δέ γε ἕποιτο Κλεάνθει καὶ Χρυσίππῳ καὶ Ζήνωνι τρέφεσθαι μὲν ἐξ αἵματος
φήσαντι τὴν ψυχήν, οὐσίαν δ’ αὐτῆς ὑπάρχειν τὸ πνεῦμα, πῶς ἔτι ταὐτὸν ἔσται τὸ
τρέφον τε καὶ κινοῦν εἴπερ τρέφει μὲν τὸ αἷμα κινεῖ δὲ τὸ πνεῦμα; (e se [Diógenes]
seguir Kleanthes, Chrysippo e Zenão, dizendo que a alma se nutre de sangue, e que a
essência dela tem princípio no espírito, como ainda será o mesmo o que nutre e o que
move, se o sangue nutre, e o espírito move?).
200
Homero, Odisseia X 555: ψύχεος ἱμείρων (buscando um frescor).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 246

ἐργάζεται· ἔπειτα, ὅτι οὐ ταύτας τὰς δυνάμεις περὶ ψυχὴν εἶναι


ἀξιοῦμεν, ἀλλὰ τὸ νοεῖν, τὸ αἰσθάνεσθαι, λογίζεσθαι, ἐπιθυμεῖν,
ἐπιμελεῖσθαι ἐμφρόνως καλῶς, ἃ πάντα ἄλλην οὐσίαν ζητεῖ. Τὰς οὖν
δυνάμεις τῶν ἀσωμάτων μεταβιβάσαντες εἰς τὰ σώματα οὐδεμίαν
ἐκείνοις καταλείπουσιν. Ὅτι δὲ καὶ τὰ σώματα ἀσωμάτοις δυνάμεσι
δύναται ἃ δύναται, ἐκ τῶνδε δῆλον. Ὁμολογήσουσι γὰρ ἕτερον
ποιότητα καὶ ποσότητα εἶναι, καὶ πᾶν σῶμα ποσὸν εἶναι, καὶ ἔτι οὐ πᾶν
σῶμα ποιὸν εἶναι, ὥσπερ τὴν ὕλην. Ταῦτα δὲ ὁμολογοῦντες τὴν
ποιότητα ὁμολογήσουσιν ἕτερον οὖσαν ποσοῦ ἕτερον σώματος εἶναι.
Πῶς γὰρ μὴ ποσὸν οὖσα σῶμα ἔσται, εἴπερ πᾶν σῶμα ποσόν; Καὶ μήν,
ὅπερ καὶ ἄνω που ἐλέγετο, εἰ πᾶν σῶμα μεριζόμενον καὶ ὄγκος πᾶς
ἀφαιρεῖται ὅπερ ἦν, κερματιζομένου δὲ τοῦ σώματος ἐφ᾽ ἑκάστωι μέρει
ἡ αὐτὴ ὅλη ποιότης μένει, οἷον γλυκύτης ἡ τοῦ μέλιτος οὐδὲν ἔλαττον
γλυκύτης ἐστὶν ἡ ἐφ᾽ ἑκάστωι, οὐκ ἂν εἴη σῶμα ἡ γλυκύτης. Ὁμοίως
καὶ αἱ ἄλλαι. Ἔπειτα, εἰ σώματα ἦσαν αἱ δυνάμεις, ἀναγκαῖον ἦν τὰς
μὲν ἰσχυρὰς τῶν δυνάμεων μεγάλους ὄγκους, τὰς δὲ ὀλίγον δρᾶν
δυναμένας ὄγκους μικροὺς εἶναι. Εἰ δὲ μεγάλων μὲν ὄγκων μικραί,
ὀλίγοι δὲ καὶ μικρότατοι τῶν ὄγκων μεγίστας ἔχουσι τὰς δυνάμεις,
ἄλλωι τινὶ ἢ μεγέθει τὸ ποιεῖν ἀναθετέον· ἀμεγέθει ἄρα. Τὸ δὲ ὕλην μὲν
τὴν αὐτὴν εἶναι σῶμα, ὥς φασιν, οὖσαν, διάφορα δὲ ποιεῖν ποιότητας
προσλαβοῦσαν, πῶς οὐ δῆλον ποιεῖ τὰ προσγενόμενα λόγους ἀύλους
καὶ ἀσωμάτους εἶναι; Μή, διότι πνεύματος ἢ αἵματος ἀποστάντων
ἀποθνήισκει τὰ ζῶια, λεγόντων. Οὐ γὰρ ἔστιν ἄνευ τούτων εἶναι, οὐδ᾽
ἄνευ πολλῶν ἄλλων, ὧν οὐδὲν ἂν ἡ ψυχὴ εἴη. Καὶ μὴν οὔτε πνεῦμα διὰ
πάντων οὔτε αἷμα, ψυχὴ δέ.

8α. E201 se ao ver os atos de fazer dos corpos que aquecem e esfriam,
que ganham impulso e se tornam pesados, aqui posicionam a alma tal
que fundamentando-a em lugar operacional, primeiro ignoram como os
próprios corpos realizam essas coisas por potências incorpóreas neles;
depois, porque não avaliamos ser digno que essas potências sejam da
alma, mas sim o pensar, o sentir, raciocinar, desejar, empenhar-se

201
§8α – 8ε são recuperados da Preparação Evangélica, de Eusébio de Cesareia,
portanto não estão na edição de Marsílio Ficino do final do século XV.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 247

sensata e belamente em relação a que tudo busca essência diversa202.


Então transportando as potências dos incorpóreos aos corpos, deixam a
esses nenhuma [potência]. Porque a partir disso, é claro que os corpos
podem o que podem por incorpóreas potências. Pois consideram ser
diferente qualidade e quantidade, e todo corpo ser de certa quantidade,
e ainda nem todo corpo ser de certa qualidade, como a matéria. E
concordando nisso, concordam que a qualidade, que é diferente de certa
quantidade, é diferente de corpo. Pois como [a qualidade], não sendo de
certa quantidade, será corpo, se todo corpo é de certa quantidade? E, no
entanto, o que em algum lugar acima era dito203, se todo corpo que é
partilhado, também toda massa, anula aquilo que era, e fragmentando-
se o corpo, a qualidade mesma permanece inteira em cada parte, tal que
a doçura do mel nada menos é doçura em cada parte, não seria corpo a
doçura. Semelhantemente também as outras [qualidades]. Depois, se
corpos eram as potências, necessidade era as fortes dentre as potências
ser grandes massas, e as potências capazes de fazer pouco ser pequenas
massas. E se, sendo grandes massas, são pequenas [as potências],
poucas e pequeníssimas dentre as massas têm as maiores potências,
deve-se atribuir o ‘criar’ a algo diverso de grandeza; portanto [a algo]
sem grandeza. E quanto à mesma matéria ser corpo, como dizem que
ela é204, porque ela toma parte de qualidades para criar coisas diferentes,
como não é claro que ela cria as coisas que vêm a ser junto dela por

202
Platão, Leis X 897a: ἄγει μὲν δὴ ψυχὴ πάντα τὰ κατ’ οὐρανὸν καὶ γῆν καὶ θάλατταν
ταῖς αὑτῆς κινήσεσιν, αἷς ὀνόματά ἐστιν βούλεσθαι, σκοπεῖσθαι, ἐπιμελεῖσθαι,
βουλεύεσθαι, δοξάζειν ὀρθῶς ἐψευσμένως ... καὶ πάσαις ὅσαι τούτων συγγενεῖς ἢ
πρωτουργοὶ κινήσεις τὰς δευτερουργοὺς αὖ παραλαμβάνουσαι κινήσεις σωμάτων
ἄγουσι πάντα εἰς αὔξησιν καὶ φθίσιν ( a alma conduz todas as coisas no céu, na terra
e no mar por seus movimentos, que têm nomes: querer, examinar, cuidar, deliberar,
opinar correta e falsamente ... e a todos quantos são movimentos congêneres ou
primários desses, ajuntando movimentos secundários de corpos, conduzem tudo a
crescimento e diminuição ...).
203
§ 5.
204
Stoicorum Veterum Fragmenta II 325: Οἱ Στωϊκοὶ σῶμα τὴν ὕλην ἀποφαίνονται
(os estoicos demonstram que a matéria é corpo). Para os estoicos há dois princípios:
um passivo, que é a matéria, que cria a essência ou substância, e outro ativo, a
qualidade, que também é corpo, que cria na matéria os seres.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 248

razões imateriais e incorpóreas? E nem quando dizem que, por ter


faltado sopro ou sangue, morrem os viventes. Pois não é possível ser
sem essas coisas, nem sem muitas outras, das quais nenhuma seria a
alma. E, no entanto, nem sopro nem sangue é por todas elas, mas sim a
alma.

8b. Ἔτι εἰ σῶμα οὖσα ἡ ψυχὴ διῆλθε διὰ παντός, κἂν κραθεῖσα εἴη, ὃν
τρόπον τοῖς ἄλλοις σώμασιν ἡ κρᾶσις. Εἰ δὲ ἡ τῶν σωμάτων κρᾶσις
οὐδὲν ἐνεργείαι ἐᾶι εἶναι τῶν κραθέντων, οὐδ᾽ ἂν ἡ ψυχὴ ἔτι ἐνεργείαι
ἐνείη τοῖς σώμασιν, ἀλλὰ δυνάμει μόνον ἀπολέσασα τὸ εἶναι ψυχή·
ὥσπερ, εἰ γλυκὺ καὶ πικρὸν κραθείη, τὸ γλυκὺ οὐκ ἔστιν· οὐκ ἄρα
ἔχομεν ψυχήν. Τὸ δὲ δὴ σῶμα ὂν σώματι κεκρᾶσθαι ὅλον δι᾽ ὅλων, ὡς
ὅπου ἂν ἦι θάτερον, καὶ θάτερον εἶναι, ἴσον ὄγκων ἀμφοτέρων καὶ
τόπον κατεχόντων, καὶ μηδεμίαν αὔξην γεγονέναι ἐπεμβληθέντος τοῦ
ἑτέρου, οὐδὲν ἀπολείψει ὃ μὴ τέμηι. Οὐ γὰρ κατὰ μεγάλα μέρη
παραλλὰξ ἡ κρᾶσις – οὕτω γάρ φησι παράθεσιν ἔσεσθαι – διεληλυθὸς
δὲ διὰ παντὸς τὸ ἐπεμβληθὲν, ἔτι εἰ σμικρότερον – ὅπερ ἀδύνατον, τὸ
ἔλαττον ἴσον γενέσθαι τῶι μείζονι – ἀλλ᾽ οὖν διεληλυθὸς πᾶν τέμοι
κατὰ πᾶν· ἀνάγκη τοίνυν, εἰ καθ᾽ ὁτιοῦν σημεῖον καὶ μὴ μεταξὺ σῶμα
ἔσται ὃ μὴ τέτμηται, εἰς σημεῖα τὴν διαίρεσιν τοῦ σώματος γεγονέναι,
ὅπερ ἀδύνατον. Εἰ δέ, ἀπείρου τῆς τομῆς οὔσης – ὃ γὰρ ἂν λάβηις
σῶμα, διαιρετόν ἐστιν – οὐ δυνάμει μόνον, ἐνεργείαι δὲ τὰ ἄπειρα
ἔσται. Οὐ τοίνυν ὅλον δι᾽ ὅλου χωρεῖν δυνατὸν τὸ σῶμα· ἡ δὲ ψυχὴ δι᾽
ὅλων· ἀσώματος ἄρα.

8β. Ainda, se a alma, sendo corpo, fosse através de tudo, tendo-se


misturado, a mistura desse modo seria com os diversos corpos 205. E se
a mistura dos corpos que foram misturados a nenhum permite ser em
atividade, nem a alma seria em atividade nos corpos, mas apenas seria
em potência por ter destruído o ‘ser alma’; como se fossem misturados
doce e amargo, o doce não é; portanto não temos alma. De fato, o corpo
sendo em corpo está misturado inteiro por inteiros, assim, onde seja um,

205
Haveria mistura de matéria e de qualidade, segundo a teoria dos estoicos.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 249

será também o outro, ambas massas por igual mantendo o espaço, e


nenhum aumento veio a ser por um ter sido invadido pelo outro, nada
restará que não se possa dividir. Pois a mistura não é por grandes partes
alternando-se – pois assim se diz que há de ser justaposição – o que
invadiu tendo chegado a tudo, ainda se for menor – o que é impossível,
o menor vir a ser igual ao maior – mas então, tendo percorrido o todo,
dividiria em toda parte; necessidade é, de fato, se for por qualquer ponto
e não houver corpo intermédio que não seja dividido, a divisão dos
corpos ter vindo a ser em pontos, o que é impossível. E, sendo a divisão
infinita – pois o que tomares como corpo, [isso] é divisível – não apenas
em potência, mas em atividade serão as coisas infinitas. Portanto não é
possível o corpo inteiro correr pelo outro; mas a alma [corre] por todos;
é incorpórea, portanto.

8c. Τὸ δὲ καὶ φύσιν μὲν προτέραν τὸ αὐτὸ πνεῦμα λέγειν, ἐν δὲ ψυχρῶι


γενομένην καὶ στομωθεῖσαν ψυχὴν γίνεσθαι λεπτοτέραν ἐν ψυχρῶι
γιγνομένην – ὃ δὴ καὶ αὐτὸ ἄτοπον· πολλὰ γὰρ ζῶια ἐν θερμῶι γίγνεται
καὶ ψυχὴν ἔχει οὐ ψυχθεῖσαν – ἀλλ᾽ οὖν φασί γε προτέραν φύσιν ψυχῆς
εἶναι κατὰ συντυχίας τὰς ἔξω γιγνομένης. Συμβαίνει οὖν αὐτοῖς τὸ
χεῖρον πρῶτον ποιεῖν καὶ πρὸ τούτου ἄλλο ἔλαττον, ἣν λέγουσιν ἕξιν,
ὁ δὲ νοῦς ὕστατος ἀπὸ τῆς ψυχῆς δηλονότι γενόμενος. Ἢ εἰ πρὸ πάντων
νοῦς, ἐφεξῆς ἔδει ψυχὴν ποιεῖν, εἶτα φύσιν, καὶ αἰεὶ τὸ ὕστερον χεῖρον,
ἧιπερ πέφυκεν. Εἰ οὖν καὶ ὁ θεὸς αὐτοῖς κατὰ τὸν νοῦν ὕστερος καὶ
γεννητὸς καὶ ἐπακτὸν τὸ νοεῖν ἔχων, ἐνδέχοιτο ἂν μηδὲ ψυχὴν μηδὲ
νοῦν μηδὲ θεὸν εἶναι. Εἰ τὸ δυνάμει, μὴ ὄντος πρότερον τοῦ ἐνεργείαι
καὶ νοῦ, γένοιτο, οὐδὲ ἥξει εἰς ἐνέργειαν. Τί γὰρ ἔσται τὸ ἄγον μὴ ὄντος
ἑτέρου παρ᾽ αὐτὸ προτέρου; Εἰ δ᾽ αὑτὸ ἄξει εἰς ἐνέργειαν, ὅπερ ἄτοπον,
ἀλλὰ βλέπον γε πρός τι ἄξει, ὃ οὐ δυνάμει, ἐνεργείαι δὲ ἔσται. Καίτοι
τὸ ἀεὶ μένειν τὸ αὐτὸ εἴπερ τὸ δυνάμει ἕξει, καθ᾽ ἑαυτό, εἰς ἐνέργειαν
ἄξει, καὶ τοῦτο κρεῖττον ἔσται τοῦ δυναμένου οἷον ὀρεκτὸν ὂν ἐκείνου.
Πρότερον ἄρα τὸ κρεῖττον καὶ ἑτέραν φύσιν ἔχον σώματος καὶ
ἐνεργείαι ὂν ἀεί· πρότερον ἄρα καὶ νοῦς καὶ ψυχὴ φύσεως. Οὐκ ἄρα
οὕτως ψυχὴ ὡς πνεῦμα οὐδ᾽ ὡς σῶμα. Ἀλλ᾽ ὅτι μὲν μὴ σῶμα λέγοιτ᾽
ἂν, καὶ εἴρηται καὶ ἄλλοις ἕτερα, ἱκανὰ δὲ καὶ ταῦτα.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 250

8γ. E quanto a dizer que o mesmo espírito também é natureza anterior,


e que no frio a alma tendo vindo a ser, porque temperou-se para vir a
ser mais leve, [a alma] vindo a ser no frio206 – o que é, na verdade,
próprio absurdo; pois muitos viventes vêm a ser no quente e não têm
alma que foi resfriada – mas então dizem ser natureza anterior da alma,
que vem a ser por contingências de fora. Então acontece-lhes criar
primeiro o pior e antes disso um outro inferior, que dizem ser
‘condição’, e a inteligência é a última que veio a ser, é claro, a partir da
alma207. Certamente se a inteligência é antes de tudo, em seguida era
preciso criar a alma, depois a natureza, e sempre o pior por último, como
é natural. Então, se também o deus para eles segundo a inteligência é
posterior tanto gerável quanto tendo o pensar como importado, aceitar-
se-ia ser nem alma nem inteligência nem deus. E se o que é em potência
não vier a ser anterior ao que é em atividade e à inteligência nem
chegará à atividade. Pois o que será que o conduz, não havendo um
diferente anterior em contraste consigo mesmo? Se ele mesmo conduzir
à atividade, o que é absurdo, conduzirá visando a algo, que não será em

206
Stoicorum Veterum Fragmenta II 805 – Tertulianus, De Anima 25: ... qui
praesumunt non in utero concipi animam nec cum carnis figulatione compingi atque
produci, sed et effuso iam partu nondum uiuo infanti extrinsecus inprimi ... eam
editam et de uteri fornace fumantem et calore solutam, ut ferrum ignitum et ibidem
frigidae immersum, ita aeris rigore percussam et uim animalem rapere et uocalem
sonum reddere (... que presumem que a alma não é concebida no útero nem se
compacta e se produz por modelação da carne, mas que se imprime quando a criança
ainda não viva sai no parto ... essa [sustância de carne] tendo vindo à luz, esfumaçando
do forno do útero e desfeita em calor, como ferro ígneo imerso no mesmo ponto em
água fria, batida pelo rigor do ar, toma força viva e emite som vocal).
207
Plutarchus, De Stoicorum repugnantiis 1052 F: Τὸ βρέφος ἐν τῇ γαστρὶ φύσει
τρέφεσθαι νομίζει καθάπερ φυτόν· ὅταν δὲ τεχθῇ, ψυχόμενον ὑπὸ τοῦ ἀέρος καὶ
στομούμενον τὸ πνεῦμα μεταβάλλειν καὶ γίνεσθαι ζῷον· ὅθεν οὐκ ἀπὸ τρόπου τὴν
ψυχὴν ὠνομάσθαι παρὰ τὴν ψῦξιν ([Chrysippo] considera que o bebê por natureza se
alimenta no ventre, como uma planta; quando é parido, resfriado pelo ar e modelado
o espírito, muda e vem a ser vivente; daí não ter nomeado desse modo a alma em
contraste com o resfriamento). Para os estoicos a alma deriva do resfriamento (ψῦχος
> ψυχή) e o homem é antes de nascer uma planta, depois vem a ser animal, assim o
espírito que dá vida é uma condição (ἕξις) natural, que depois vem a ser alma, e depois
inteligência.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 251

potência, mas em atividade. No entanto o que sempre permanece o


mesmo, se tiver o que é em potência, por si mesmo conduzirá à
atividade, e isso será melhor do que aquele que é em potência, porque
isso é tal que seu objeto de aspiração208. Portanto primeiro o melhor,
que tem uma natureza diversa de corpo e que sempre é em atividade;
portanto inteligência e alma antes de natureza. Portanto, alma não é
como espírito nem como corpo. Mas que [alma] não seja dita corpo
tanto está dito quanto diferentes tratados dizem de modos diversos, e
esses discursos são suficientes.

8d. Ἐπεὶ δὲ ἄλλης φύσεως, δεῖ ζητεῖν, τίς αὕτη. Ἆρ᾽ οὖν ἕτερον μὲν
σώματος, σώματος δέ τι, οἷον ἁρμονία; Τοῦτο γὰρ ἁρμονίαν τῶν ἀμφὶ
Πυθαγόραν λεγόντων ἕτερον τρόπον ὠιήθησαν αὐτὸ τοιοῦτόν τι εἶναι
οἷον καὶ ἡ περὶ χορδὰς ἁρμονία. Ὡς γὰρ ἐνταῦθα ἐντεταμένων τῶν
χορδῶν ἐπιγίνεταί τι οἷον πάθημα ἐπ᾽ αὐταῖς, ὃ λέγεται ἁρμονία, τὸν
αὐτὸν τρόπον καὶ τοῦ ἡμετέρου σώματος ἐν κράσει ἀνομοίων
γινομένου τὴν ποιὰν κρᾶσιν ζωήν τε ἐργάζεσθαι καὶ ψυχὴν οὖσαν τὸ
ἐπὶ τῆι κράσει πάθημα. Ὅτι δὲ ἀδύνατον, πολλὰ ἤδη πρὸς ταύτην τὴν
δόξαν εἴρηται· καὶ γάρ, ὅτι τὸ μὲν πρότερον ἡ ψυχή, ἡ δ᾽ ἁρμονία
ὕστερον, καὶ ὡς τὸ μὲν ἄρχει τε καὶ ἐπιστατεῖ τῶι σώματι καὶ μάχεται
πολλαχῆι, ἁρμονία δὲ οὐκ ἂν οὖσα ταῦτα ποιοῖ, καὶ ὡς τὸ μὲν οὐσία, ἡ
δ᾽ ἁρμονία οὐκ οὐσία, καὶ ὅτι ἡ κρᾶσις τῶν σωμάτων, ἐξ ὧν
συνέσταμεν, ἐν λόγωι οὖσα ὑγεία ἂν εἴη, καὶ ὅτι καθ᾽ ἕκαστον μέρος
ἄλλως κραθὲν εἴη ἂν ψυχὴ ἑτέρα, ὥστε πολλὰς εἶναι, καὶ τὸ δὴ
μέγιστον, ὡς ἀνάγκη πρὸ τῆς ψυχῆς ταύτης ἄλλην ψυχὴν εἶναι τὴν
ποιοῦσαν τὴν ἁρμονίαν ταύτην, οἷον ἐπὶ τῶν ὀργάνων τὸν μουσικὸν
τὸν ἐντιθέντα ταῖς χορδαῖς τὴν ἁρμονίαν λόγον ἔχοντα παρ᾽ αὐτῶι, καθ᾽
ὃν ἁρμόσει. Οὔτε γὰρ ἐκεῖ αἱ χορδαὶ παρ᾽ αὐτῶν οὔτ᾽ ἐνταῦθα τὰ
σώματα ἑαυτὰ εἰς ἁρμονίαν ἄγειν δυνήσεται. Ὅλως δὲ καὶ οὗτοι ἐξ
ἀψύχου ἔμψυχα ποιοῦσι καὶ [τὰ] ἐξ ἀτάκτων κατὰ συντυχίαν
τεταγμένα, καὶ τὴν τάξιν οὐκ ἐκ τῆς ψυχῆς, ἀλλ᾽ αὐτὴν ἐκ τῆς
αὐτομάτου τάξεως τὴν ὑπόστασιν εἰληφέναι. Τοῦτο δὲ οὔτε ἐν τοῖς

208
Aristóteles, Metafísica IX 8, 1049b 5: φανερὸν ὅτι πρότερον ἐνέργεια δυνάμεώς
ἐστιν (é claro que atividade é anterior à potência).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 252

κατὰ μέρος οὔτε ἐν τοῖς ἄλλοις δυνατὸν γενέσθαι. Οὐκ ἄρα ἡ ψυχὴ
ἁρμονία.

8δ. Uma vez que [a alma] é de natureza diversa, é preciso buscar o que
é essa mesma. Por acaso é algo diferente de corpo, mas algo de corpo,
como harmonia? Pois os pitagóricos, ao dizer que isso é harmonia,
acreditaram que de modo diferente era isso mesmo tal que a harmonia
de cordas209. Pois como aqui, entesadas as cordas, sobrevém algo como
produto de impressões sobre elas, que se diz harmonia, do mesmo modo
também vindo a ser nosso corpo em mistura de dissímiles impressões a
realizar em certa mistura vida e alma, que é o produto de impressões na
mistura. Que [isso] é impossível, muito já está dito contra essa
opinião210; pois é também, porque, por um lado, anterior é a alma, e a
harmonia é posterior, e, por outro, ela é como o que governa e se
sobrepõe ao corpo211 e luta em muitos pontos, e não é harmonia que
faria essas coisas, depois ela é como essência, e a harmonia não é
essência, e porque a mistura dos corpos, de que estamos constituídos,

209
Philolaos 44A 23 Diels – Kranz; Macrob. S. Scip. I 14, 19: Pythagoras et Philolaus
harmoniam [animam esse dixerunt] (Pitágoras e Philolaos disseram que a alma é
harmonia). Aristóteles De Anima Α 4. 407b 27: καὶ ἄλλη δέ τις δόξα παραδέδοται
περὶ ψυχῆς ... ἁρμονίαν γάρ τινα αὐτὴν λέγουσι· καὶ γὰρ τὴν ἁρμονίαν κρᾶσιν καὶ
σύνθεσιν ἐναντίων εἶναι καὶ τὸ σῶμα συγκεῖσθαι ἐξ ἐναντίων (uma certa opinião é
dada sobre a alma ... pois dizem que ela é certa harmonia). Platão, Fédon 85e: Ταύτῃ
ἔμοιγε, ἦ δ’ ὅς, ᾗ δὴ καὶ περὶ ἁρμονίας ἄν τις καὶ λύρας τε καὶ χορδῶν τὸν αὐτὸν
τοῦτον λόγον εἴποι, ὡς ἡ μὲν ἁρμονία ἀόρατον καὶ ἀσώματον καὶ πάγκαλόν τι καὶ
θεῖόν ἐστιν ἐν τῇ ἡρμοσμένῃ λύρᾳ (nesse ponto, para mim, disse ele, seria a mesma
razão sobre harmonia que alguém diria sobre a lira e as cordas, que a harmonia é
invisível, incorpórea, e que há algo totalmente belo e divino em lira afinada).
210
Platão, Fédon 91c – 95a: ... Οὐκ ἄρα, ὦ ἄριστε, ἡμῖν οὐδαμῇ καλῶς ἔχει ψυχὴν
ἁρμονίαν τινὰ φάναι εἶναι (portanto, caríssimo, de modo algum para nós não fica bem
dizer que a alma é certa harmonia).
211
Platão, Fédon 80a: Ὅρα δὴ καὶ τῇδε ὅτι ἐπειδὰν ἐν τῷ αὐτῷ ὦσι ψυχὴ καὶ σῶμα,
τῷ μὲν δουλεύειν καὶ ἄρχεσθαι ἡ φύσις προστάττει, τῇ δὲ ἄρχειν καὶ δεσπόζειν (vê
então que quando alma e corpo sejam no mesmo, a natureza estabelece a um servir e
ser governado, a outra governar e ser senhora).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 253

sendo em razão, seria saúde212, e porque [harmonia é] segundo cada


parte [do corpo] que foi misturada de modo diverso, haveria alma
diferente [para cada parte], de modo a haver muitas, e o maior
argumento é que há necessidade antes dessa alma haver uma alma
diversa que crie essa harmonia, tal que nos instrumentos o músico que
põe a harmonia nas cordas, porque tem uma razão em si mesmo,
segundo a qual estará em harmonia. Pois nem ali as cordas por si
mesmas, nem aqui os corpos eles mesmos serão capazes de conduzir à
harmonia. E inteiramente esses fazem do inanimado as coisas animadas
e das desordenadas as que estão ordenadas por contingência, e [fazem]
a ordem não desde a alma, mas [fazem] que ela tenha tomado a mesma
hipóstase desde a ordem casual. E isso nem nos [elementos] segundo
parte nem nos outros é possível vir a ser. Portanto a alma não é
harmonia.

8e. Τὸ δὲ τῆς ἐντελεχείας ὧδ᾽ ἄν τις ἐπισκέψαιτο, πῶς περὶ ψυχῆς


λέγεται· τὴν ψυχήν φασιν ἐν τῶι συνθέτωι εἴδους τάξιν ὡς πρὸς ὕλην
τὸ σῶμα ἔμψυχον [ὂν] ἔχειν, σώματος δὲ οὐ παντὸς εἶδος οὐδὲ ἧι σῶμα,
ἀλλὰ φυσικοῦ ὀργανικοῦ δυνάμει ζωὴν ἔχοντος. Εἰ μὲν οὖν ἧι
παραβέβληται ὡμοίωται, ὡς μορφὴ ἀνδριάντος πρὸς χαλκόν, καὶ
διαιρουμένου τοῦ σώματος συμμερίζεσθαι τὴν ψυχήν, καὶ
ἀποκοπτομένου τινὸς μέρους μετὰ τοῦ ἀποκοπέντος ψυχῆς μόριον
εἶναι, τήν τε ἐν τοῖς ὕπνοις ἀναχώρησιν μὴ γίνεσθαι, εἴπερ δεῖ προσφυᾶ
τὴν ἐντελέχειαν οὗ ἐστιν εἶναι, τὸ δ᾽ ἀληθές, μηδὲ ὕπνον γίνεσθαι· καὶ
μὴν ἐντελεχείας οὔσης οὐδὲ ἐναντίωσιν λόγου πρὸς ἐπιθυμίας, ἓν δὲ
καὶ ταὐτὸν δι᾽ ὅλου πεπονθέναι τὸ πᾶν οὐ διαφωνοῦν ἑαυτῶι.
Αἰσθήσεις δὲ μόνον δυνατὸν ἴσως γίνεσθαι, τὰς δὲ νοήσεις ἀδύνατον.
Διὸ καὶ αὐτοὶ ἄλλην ψυχὴν ἢ νοῦν εἰσάγουσιν, ὃν ἀθάνατον τίθενται.
Τὴν οὖν λογιζομένην ψυχὴν ἄλλως ἐντελέχειαν ἢ τοῦτον τὸν τρόπον
ἀνάγκη εἶναι, εἰ δεῖ τῶι ὀνόματι τούτωι χρῆσθαι. Οὐδ᾽ ἡ αἰσθητική,
εἴπερ καὶ αὕτη τῶν αἰσθητῶν ἀπόντων τοὺς τύπους ἔχει, αὐτοὺς οὐ μετὰ
τοῦ σώματος ἄρα ἕξει· εἰ δὲ μὴ οὕτως, ἐνέσονται ὡς μορφαὶ καὶ

212
Aristóteles, De Anima I 4, 408a 2: ἁρμόζει δὲ μᾶλλον καθ’ ὑγιείας λέγειν ἁρμονίαν
(ter mais harmonia na saúde é dizer harmonia).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 254

εἰκόνες· ἀλλ᾽ ἀδύνατον ἄλλους δέχεσθαι, εἰ οὕτως ἐνεῖεν. Οὐκ ἄρα ὡς


ἀχώριστος ἐντελέχεια. Καὶ μὴν οὐδὲ τὸ ἐπιθυμοῦν, μὴ σιτίων μηδὲ
ποτῶν ἀλλ᾽ ἄλλων παρὰ τὰ τοῦ σώματος, οὐδ᾽ αὐτὸ ἀχώριστος
ἐντελέχεια. Λοιπὸν δὲ τὸ φυτικὸν ἂν εἴη, ὃ ἀμφισβήτησιν ἂν δόξειεν
ἔχειν, μὴ τοῦτον τὸν τρόπον ἐντελέχεια ἀχώριστος ἦι. Ἀλλ᾽ οὐδὲ τοῦτο
φαίνεται οὕτως ἔχον. Εἰ γὰρ ἡ ἀρχὴ παντὸς φυτοῦ περὶ τὴν ῥίζαν καὶ
αὐαινομένου τοῦ ἄλλου σώματος περὶ τὴν ῥίζαν καὶ τὰ κάτω ἐν πολλοῖς
τῶν φυτῶν ἡ ψυχή, δῆλον ὅτι ἀπολιποῦσα τὰ ἄλλα μέρη εἰς ἕν τι
συνεστάλη· οὐκ ἄρα ἦν ἐν τῶι ὅλωι ὡς ἀχώριστος ἐντελέχεια. Καὶ γὰρ
αὖ ἐστι πρὶν αὐξηθῆναι τὸ φυτὸν ἐν τῶι ὀλίγωι ὄγκωι. Εἰ οὖν καὶ εἰς
ὀλίγον ἔρχεται ἐκ μείζονος φυτοῦ καὶ ἐξ ὀλίγου ἐπὶ πᾶν, τί κωλύει καὶ
ὅλως χωρίζεσθαι; Πῶς δ᾽ ἂν καὶ ἀμερὴς οὖσα μεριστοῦ τοῦ σώματος
ἐντελέχεια γένοιτο; Ἥ τε αὐτὴ ψυχὴ ἐξ ἄλλου ζώιου ἄλλου γίνεται· πῶς
οὖν ἡ τοῦ προτέρου τοῦ ἐφεξῆς ἂν γένοιτο, εἰ ἦν ἐντελέχεια ἑνός;
Φαίνεται δὲ τοῦτο ἐκ τῶν μεταβαλλόντων ζώιων εἰς ἄλλα ζῶια. Οὐκ
ἄρα τῶι εἶδος εἶναί τινος τὸ εἶναι ἔχει, ἀλλ᾽ ἔστιν οὐσία οὐ παρὰ τὸ ἐν
σώματι ἱδρῦσθαι τὸ εἶναι λαμβάνουσα, ἀλλ᾽ οὖσα πρὶν καὶ τοῦδε
γενέσθαι, οἷον ζώιου οὐ τὸ σῶμα τὴν ψυχὴν γεννήσει. Τίς οὖν οὐσία
αὐτῆς; Εἰ δὲ μήτε σῶμα, μήτε πάθος σώματος, πρᾶξις δὲ καὶ ποίησις,
καὶ πολλὰ καὶ ἐν αὐτῆι καὶ ἐξ αὐτῆς, οὐσία παρὰ τὰ σώματα οὖσα ποία
τίς ἐστιν; Ἢ δῆλον ὅτι ἥν φαμεν ὄντως οὐσίαν εἶναι. Τὸ μὲν γὰρ
γένεσις, ἀλλ᾽ οὐκ οὐσία, πᾶν τὸ σωματικὸν εἶναι λέγοιτ᾽ ἄν, γινόμενον
καὶ ἀπολλύμενον, ὄντως δὲ οὐδέποτε ὄν, μεταλήψει δὲ τοῦ ὄντος
σωιζόμενον, καθόσον ἂν αὐτοῦ μεταλαμβάνηι.

8ε. E assim alguém examinaria como se diz acerca da alma isso de


enteléquia; dizem que a alma no ‘composto’ é ordem de forma, como o
corpo, que é animado, é em relação à matéria, mas seja forma não de
corpo todo, nem seja corpo, mas de corpo natural orgânico que tem vida
em potência213. Então se [a forma] está assemelhada à [matéria] em que

213
Aristóteles, De Anima II 1, 412a 19: ἀναγκαῖον ἄρα τὴν ψυχὴν οὐσίαν εἶναι ὡς
εἶδος σώματος φυσικοῦ δυνάμει ζωὴν ἔχοντος. ἡ δ’ οὐσία ἐντελέχεια τοιούτου ἄρα
σώματος ἐντελέχεια (portanto há necessidade da alma ser essência, como forma de
corpo natural que tem vida em potência). Idem, ibidem 412a 27: διὸ ἡ ψυχή ἐστιν

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 255

foi lançada, como figura de estátua em bronze214, dividindo-se o corpo,


compartilha-se a alma, amputando-se uma parte, uma partícula de alma
há junto do que foi amputado, e nos sonos o refúgio nem virá a ser, e se
é que é preciso a enteléquia ser naturalmente dedicada ao que é, o
verdadeiro, nem sono virá a ser; no entanto, sendo enteléquia, nem
contradição de razão [haverá] em relação a desejo, um só e o mesmo
terá sofrido o todo, não sendo em desacordo consigo mesmo. E apenas
sensações poderiam talvez vir a ser, e os atos de pensar, não. Por isso
eles introduzem uma alma diversa ou inteligência, que põem como
imortal. Há necessidade de a alma que é dita enteléquia ser de modo
diverso desse, se é preciso servir-se desse nome. E a [alma] sensitiva,
se é que também ela tem as marcas dos sensíveis ausentes, as terá,
portanto, com o corpo; se for assim, serão nela como figuras ou
imagens; mas é impossível receber outras [marcas], se assim forem
nela. Portanto não é assim separável a enteléquia215. Contudo [a parte]
que deseja, não comida nem bebida, mas coisas diversas daquelas do
corpo, essa é enteléquia separável. E a parte vegetativa seria o que resta,
que pareceria ter dúvida de que desse modo seja enteléquia inseparável.
Mas nem essa parece que é assim. Pois se o princípio de toda planta é
na raiz, e é na raiz quando se resseca a outra parte do corpo, as partes
de baixo em muitas plantas é a alma, é claro que, [ela] tendo deixado as
outras partes, se concentrou em algo único; portanto não era no inteiro
como enteléquia inseparável. Pois ainda antes de desenvolver-se a

ἐντελέχεια ἡ πρώτη σώματος φυσικοῦ δυνάμει ζωὴν ἔχοντος (por isso a alma é
enteléquia primeira de corpo natural que tem vida em potência).
214
Aristóteles, De Anima II 1, 413b 24: περὶ δὲ τοῦ νοῦ καὶ τῆς θεωρητικῆς δυνάμεως
οὐδέν πω φανερόν, ἀλλ’ ἔοικε ψυχῆς γένος ἕτερον εἶναι, καὶ τοῦτο μόνον ἐνδέχεσθαι
χωρίζεσθαι, καθάπερ τὸ ἀΐδιον τοῦ φθαρτοῦ (sobre a inteligência e a capacidade de
contemplação nada é de algum modo claro, mas parece ser um gênero diferente de
alma, e apenas isso aceita separar-se, como o eterno do corruptível).
215
Aristóteles, De Anima I 1, 403a 10: εἰ μὲν οὖν ἔστι τι τῶν τῆς ψυχῆς ἔργων ἢ
παθημάτων ἴδιον, ἐνδέχοιτ’ ἂν αὐτὴν χωρίζεσθαι· εἰ δὲ μηθέν ἐστιν ἴδιον αὐτῆς, οὐκ
ἂν εἴη χωριστή (então, se houver algo próprio dentre os trabalhos ou impressões da
alma, seria aceitável ela se separar; se não houver algo próprio dela, ela não seria
separável). Enquanto subsistir em um corpo, a alma é inseparável.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 256

planta, [a alma] é em pequena massa. Então, se ela vai à pequena desde


a maior parte da planta e da pequena ao todo, o que impede também de
separar-se inteiramente? E como, sendo [a alma] sem parte, viria ser
enteléquia do corpo partilhável? E a mesma alma de um vem a ser de
outro vivente; como então a do anterior viria a ser a do seguinte, se era
enteléquia de um só? Mostra-se isso desde os viventes que se
transformam em outros viventes. Portanto, não por ser forma de algo [a
alma] tem o ser, mas é essência não ao tomar o ser, quando se
fundamenta em corpo, mas é essência mesmo antes deste vir a ser, tal
que de vivente não é o corpo que gerará a alma. Então qual é a essência
dela? E se não for corpo, nem impressão de corpo, mas ato de agir e de
criar muitas coisas tanto nela quanto desde ela, essência que é contrária
aos corpos, de que qualidade é? É claro que é a que dizemos ser
realmente essência216. Pois é gênese, não essência, tudo isso que se diria
ser corpóreo, que vem a ser e que morre, jamais sendo realmente217,
salvando-se pela participação do ser, enquanto participe dele.

9. Ἡ δὲ ἑτέρα φύσις, ἡ παρ᾽ αὐτῆς ἔχουσα τὸ εἶναι, πᾶν τὸ ὄντως ὄν, ὃ


οὔτε γίνεται οὔτε ἀπόλλυται· ἢ τὰ ἄλλα πάντα οἰχήσεται, καὶ οὐκ ἂν
ὕστερον γένοιτο τούτου ἀπολωλότος, ὃ παρέχει αὐτοῖς σωτηρίαν, τοῖς
τε ἄλλοις καὶ τῶιδε τῶι παντὶ διὰ ψυχῆς σωιζομένωι καὶ κεκοσμημένωι.
Ἀρχὴ γὰρ κινήσεως ἥδε χορηγοῦσα τοῖς ἄλλοις κίνησιν, αὐτὴ δὲ ἐξ
ἑαυτῆς κινουμένη, καὶ ζωὴν τῶι ἐμψύχωι σώματι διδοῦσα, αὐτὴ δὲ παρ᾽
ἑαυτῆς ἔχουσα, ἣν οὔποτε ἀπόλλυσιν, ἅτε παρ᾽ ἑαυτῆς ἔχουσα. Οὐ γὰρ
δὴ πάντα ἐπακτῶι ζωῆι χρῆται· ἢ εἰς ἄπειρον εἶσιν· ἀλλὰ δεῖ τινα φύσιν
πρώτως ζῶσαν εἶναι, ἣν ἀνώλεθρον καὶ ἀθάνατον εἶναι δεῖ ἐξ ἀνάγκης,
ἅτε ἀρχὴν ζωῆς καὶ τοῖς ἄλλοις οὖσαν. Ἔνθα δὴ καὶ τὸ θεῖον ἅπαν καὶ

216
Platão, Fedro 247c: ἡ γὰρ ἀχρώματός τε καὶ ἀσχημάτιστος καὶ ἀναφὴς οὐσία ὄντως
οὖσα (a que é realmente essência sem cor, sem figura e intocável); Sofista 248a: Καὶ
σώματι μὲν ἡμᾶς γενέσει δι’ αἰσθήσεως κοινωνεῖν, διὰ λογισμοῦ δὲ ψυχῇ πρὸς τὴν
ὄντως οὐσίαν (pelo corpo nós comungamos da geração através da sensação, e pela
alma através do raciocínio comungamos em relação à essência que realmente é).
217
Platão, Timeu 28a: γιγνόμενον καὶ ἀπολλύμενον, ὄντως δὲ οὐδέποτε ὄν (que vem
a ser e que morre, jamais sendo realmente).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 257

τὸ μακάριον ἱδρῦσθαι δεῖ ζῶν παρ᾽ αὐτοῦ καὶ ὂν παρ᾽ αὐτοῦ, πρώτως
ὂν καὶ ζῶν πρώτως, μεταβολῆς κατ᾽ οὐσίαν ἄμοιρον, οὔτε γινόμενον
οὔτε ἀπολλύμενον. Πόθεν γὰρ ἂν καὶ γένοιτο, ἢ εἰς τί ἀπόλοιτο; Καὶ εἰ
δεῖ ἐπαληθεύειν τὴν τοῦ ὄντος προσηγορίαν, αὐτὸ οὐ ποτὲ μὲν εἶναι,
ποτὲ δὲ οὐκ εἶναι δεήσει. Ὡς καὶ τὸ λευκόν, αὐτὸ τὸ χρῶμα, οὐ ποτὲ
μὲν λευκόν, ποτὲ δὲ οὐ λευκόν· εἰ δὲ καὶ ὂν ἦν τὸ λευκὸν μετὰ τοῦ
λευκὸν εἶναι, ἦν ἂν ἀεί· ἀλλὰ μόνον ἔχει τὸ λευκόν. Ὧι δ᾽ ἂν τὸ ὂν ἦι
παρὸν παρ᾽ αὐτοῦ καὶ πρώτως, ὂν ἀεὶ ἔσται. Τοῦτο τοίνυν τὸ ὂν πρώτως
καὶ ἀεὶ ὂν οὐχὶ νεκρόν, ὥσπερ λίθον ἢ ξύλον, ἀλλὰ ζῶν εἶναι δεῖ, καὶ
ζωῆι καθαρᾶι κεχρῆσθαι, ὅσον ἂν αὐτοῦ μένηι μόνον· ὃ δ᾽ ἂν
συμμιχθῆι χείρονι, ἐμπόδιον μὲν ἔχειν πρὸς τὰ ἄριστα – οὔτι γε μὴν τὴν
αὐτοῦ φύσιν ἀπολωλέναι – ἀναλαβεῖν δὲ τὴν ἀρχαίαν κατάστασιν ἐπὶ
τὰ αὑτοῦ ἀναδραμόν.

9. E a natureza diferente, que tem de si mesma o ser, é tudo que


realmente é, que nem vem a ser nem perece218; certamente todas as
outras coisas passarão e nem posteriormente viriam a ser, se esse [ser]
que lhes oferece salvação estivesse destruído: às outras coisas e a este
todo que pela alma se salva e está ordenado. Pois [ela] é princípio de
movimento219, a que provê aos outros movimento, e é a que de si mesma
se move, dando vida ao corpo animado, ela que de si mesma a tem, que
jamais perece, porque a tem de si mesma. Pois na verdade nem todos os
seres se servem de vida importável; certamente vão ao infinito; mas é

218
Platão, Simpósio 211a: τοῦτο ἐκεῖνο, ὦ Σώκρατες, οὗ δὴ ἕνεκεν καὶ οἱ ἔμπροσθεν
πάντες πόνοι ἦσαν, πρῶτον μὲν ἀεὶ ὂν καὶ οὔτε γιγνόμενον οὔτε ἀπολλύμενον (isso,
Sócrates, é aquilo por causa de que eram todos os sofrimentos de antes, primeiro que
é sempre e que nem vem a ser nem perece); Politeia 485b: Τοῦτο μὲν δὴ τῶν
φιλοσόφων φύσεων πέρι ὡμολογήσθω ἡμῖν ὅτι μαθήματός γε ἀεὶ ἐρῶσιν ὃ ἂν αὐτοῖς
δηλοῖ ἐκείνης τῆς οὐσίας τῆς ἀεὶ οὔσης καὶ μὴ πλανωμένης ὑπὸ γενέσεως καὶ φθορᾶς
(sobre a natureza dos filósofos esteja acordado entre nós que eles sempre têm um eros
de aprendizado que lhes mostra isso daquela essência que sempre é e que não erra por
geração e corrupção).
219
Platão, Fedro 245c: ἀλλὰ καὶ τοῖς ἄλλοις ὅσα κινεῖται τοῦτο πηγὴ καὶ ἀρχὴ
κινήσεως (mas também aos outros, quanto ela se move, isso é fonte e princípio de
movimento).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 258

preciso haver certa natureza que primeiramente vive, que, de


necessidade, é preciso ser indestrutível e imortal220, enquanto é
princípio de vida também para os outros. Aí, na verdade, é preciso
fundamentar-se tanto o divino quanto o feliz que vive de si mesmo e
que é de si mesmo, que é primeiramente e que primeiramente vive, sem
parte de mudança segundo essência, nem vindo a ser nem perecendo.
Pois de onde viria se ser, ou em que pereceria? E se é preciso confirmar
a denominação do que é, isso não precisará ser uma vez, e outra vez não
ser. Como também o branco, em relação à mesma cor, não uma vez
[ser] branco, e outra vez não [ser] branco; e se também, além de ser
branco, o branco era o que é, ele seria sempre; mas apenas tem o branco.
Com que o que é seja, quando é presente de si mesmo e primeiramente,
sempre será o que é. De fato esse que é primeiramente e que é sempre
não é morto, como pedra ou madeira, mas é preciso ser vivente, e estar
servido de vida pura, quanto de si permaneça único; e o que for
misturado com o pior, é para ser impedimento para as melhores coisas
– com efeito sua natureza não é para se destruir – para retomar a antiga
instituição ao retornar ao que é de si221.

10. Ὅτι δὲ τῆι θειοτέραι φύσει συγγενὴς ἡ ψυχὴ καὶ τῆι ἀιδίωι, δῆλον
μὲν ποιεῖ καὶ τὸ μὴ σῶμα αὐτὴν δεδεῖχθαι. Καὶ μὴν οὐδὲ σχῆμα ἔχει
οὐδὲ χρῶμα ἀναφής τε. Οὐ μὴν ἀλλὰ καὶ ἐκ τῶνδε ἔστι δεικνύναι.

220
Platão, Fédon 88b: εἰ δὲ τοῦτο οὕτως ἔχει, οὐδενὶ προσήκει θάνατον θαρροῦντι μὴ
οὐκ ἀνοήτως θαρρεῖν, ὃς ἂν μὴ ἔχῃ ἀποδεῖξαι ὅτι ἔστι ψυχὴ παντάπασιν ἀθάνατόν τε
καὶ ἀνώλεθρον (se isso é assim, a nenhum corajoso convém enfrentar a morte, senão
de modo sem inteligência, a não ser que este tenha como demonstrar que a alma é
absolutamente imortal e indestrutível); idem, ibidem 107a: Παντὸς μᾶλλον ἄρα, ἔφη,
ὦ Κέβης, ψυχὴ ἀθάνατον καὶ ἀνώλεθρον, καὶ τῷ ὄντι ἔσονται ἡμῶν αἱ ψυχαὶ ἐν Ἅιδου
(portanto, mais do que tudo, dizia, Cebes, a alma é imortal e indestrutível, e, para o
que é, nossas almas serão no Hades).
221
Platão, Politeia 547b: τὼ δ’ αὖ, τὸ χρυσοῦν τε καὶ ἀργυροῦν, ἅτε οὐ πενομένω
ἀλλὰ φύσει ὄντε πλουσίω τὰς ψυχάς, ἐπὶ τὴν ἀρετὴν καὶ τὴν ἀρχαίαν κατάστασιν
ἠγέτην (por sua vez, ambos os gêneros de ouro e prata, porque não têm carência, mas
porque são por natureza ricos quanto às almas, se conduzem à virtude e à antiga
instituição).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 259

Ὁμολογουμένου δὴ ἡμῖν παντὸς τοῦ θείου καὶ τοῦ ὄντως ὄντος ζωῆι
ἀγαθῆι κεχρῆσθαι καὶ ἔμφρονι, σκοπεῖν δεῖ τὸ μετὰ τοῦτο ἀπὸ τῆς
ἡμετέρας ψυχῆς, οἷόν ἐστι τὴν φύσιν. Λάβωμεν δὲ ψυχὴν μὴ τὴν ἐν
σώματι ἐπιθυμίας ἀλόγους καὶ θυμοὺς προσλαβοῦσαν καὶ πάθη ἄλλα
ἀναδεξαμένην, ἀλλὰ τὴν ταῦτα ἀποτριψαμένην καὶ καθόσον οἷόν τε μὴ
κοινωνοῦσαν τῶι σώματι. Ἥτις καὶ δῆλον ποιεῖ, ὡς προσθῆκαι τὰ κακὰ
τῆι ψυχῆι καὶ ἄλλοθεν, καθηραμένηι δὲ αὐτῆι ἐνυπάρχει τὰ ἄριστα,
φρόνησις καὶ ἡ ἄλλη ἀρετή, οἰκεῖα ὄντα. Εἰ οὖν τοιοῦτον ἡ ψυχή, ὅταν
ἐφ᾽ ἑαυτὴν ἀνέλθηι, πῶς οὐ τῆς φύσεως ἐκείνης, οἵαν φαμὲν τὴν τοῦ
θείου καὶ ἀιδίου παντὸς εἶναι; Φρόνησις γὰρ καὶ ἀρετὴ ἀληθὴς θεῖα
ὄντα οὐκ ἂν ἐγγένοιτο φαύλωι τινὶ καὶ θνητῶι πράγματι, ἀλλ᾽ ἀνάγκη
θεῖον τὸ τοιοῦτον εἶναι, ἅτε θείων μετὸν αὐτῶι διὰ συγγένειαν καὶ τὸ
ὁμοούσιον. Διὸ καὶ ὅστις τοιοῦτος ἡμῶν ὀλίγον ἂν παραλλάττοι τῶν
ἄνω τῆι ψυχῆι αὐτῆι μόνον τοῦτο, ὅσον ἐστὶν ἐν σώματι, ἐλαττούμενος.
Διὸ καί, εἰ πᾶς ἄνθρωπος τοιοῦτος ἦν, ἢ πλῆθός τι τοιαύταις ψυχαῖς
κεχρημένον, οὐδεὶς οὕτως ἦν ἄπιστος, ὡς μὴ πιστεύειν τὸ τῆς ψυχῆς
αὐτοῖς πάντη ἀθάνατον εἶναι. Νῦν δὲ πολλαχοῦ λελωβημένην τὴν ἐν
τοῖς πλείστοις ψυχὴν ὁρῶντες οὔτε ὡς περὶ θείου οὔτε ὡς περὶ
ἀθανάτου χρήματος διανοοῦνται. Δεῖ δὲ τὴν φύσιν ἑκάστου σκοπεῖσθαι
εἰς τὸ καθαρὸν αὐτοῦ ἀφορῶντα, ἐπείπερ τὸ προστεθὲν ἐμπόδιον ἀεὶ
πρὸς γνῶσιν τοῦ ὧι προσετέθη γίγνεται. Σκόπει δὴ ἀφελών, μᾶλλον δὲ
ὁ ἀφελὼν ἑαυτὸν ἰδέτω καὶ πιστεύσει ἀθάνατος εἶναι, ὅταν ἑαυτὸν
θεάσηται ἐν τῶι νοητῶι καὶ ἐν τῶι καθαρῶι γεγενημένον. Ὄψεται γὰρ
νοῦν ὁρῶντα οὐκ αἰσθητόν τι οὐδὲ τῶν θνητῶν τούτων, ἀλλὰ ἀιδίωι τὸ
ἀίδιον κατανοοῦντα, πάντα τὰ ἐν τῶι νοητῶι, κόσμον καὶ αὐτὸν νοητὸν
καὶ φωτεινὸν γεγενημένον, ἀληθείαι καταλαμπόμενον τῆι παρὰ τοῦ
ἀγαθοῦ, ὃ πᾶσιν ἐπιλάμπει τοῖς νοητοῖς ἀλήθειαν· ὡς πολλάκις αὐτῶι
δόξαι τοῦτο δὴ καλῶς εἰρῆσθαι· χαίρετ, ἐγὼ δ᾽ ὑμῖν θεὸς ἄμβροτος
πρὸς τὸ θεῖον ἀναβὰς καὶ τὴν πρὸς αὐτὸ ὁμοιότητα ἀτενίσας. Εἰ δ᾽ ἡ
κάθαρσις ποιεῖ ἐν γνώσει τῶν ἀρίστων εἶναι, καὶ αἱ ἐπιστῆμαι ἔνδον
οὖσαι ἀναφαίνονται, αἳ δὴ καὶ ὄντως ἐπιστῆμαί εἰσιν. Οὐ γὰρ δὴ ἔξω
που δραμοῦσα ἡ ψυχὴ σωφροσύνην καθορᾶι καὶ δικαιοσύνην, ἀλλ᾽
αὐτὴ παρ᾽ αὐτῆι ἐν τῆι κατανοήσει ἑαυτῆς καὶ τοῦ ὃ πρότερον ἦν ὥσπερ
ἀγάλματα ἐν αὐτῆι ἱδρυμένα ὁρῶσα οἷα ὑπὸ χρόνου ἰοῦ πεπληρωμένα
καθαρὰ ποιησαμένη· οἷον εἰ χρυσὸς ἔμψυχος εἴη, εἶτα ἀποκρουσάμενος

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 260

ὅσον γεηρὸν ἐν αὐτῶι, ἐν ἀγνοίαι πρότερον ἑαυτοῦ ὤν, ὅτι μὴ χρυσὸν


ἑώρα, τότε δὴ αὐτὸν ἤδη τοῦ χρήματος θαυμάσειεν ὁρῶν μεμονωμένον,
καὶ ὡς οὐδὲν ἄρα ἔδει αὐτῶι κάλλους ἐπακτοῦ ἐνθυμοῖτο, αὐτὸς
κρατιστεύων, εἴ τις αὐτὸν ἐφ᾽ ἑαυτοῦ ἐώιη εἶναι.

10. Que a alma é congênere à natureza mais divina e eterna faz claro
que ela não recebeu corpo. E, portanto, ela não tem figura nem cor e é
intangível222. Não só [isso], mas também é possível demonstrar a partir
disto: uma vez que concordamos que todo o divino e tudo que é
realmente se serve de vida boa e sensata223, é preciso examinar, depois
disso a partir de nossa alma, como é possível a sua natureza. Tomemos
uma alma, não a que procura no corpo desejos irracionais e cóleras e
que acolhe outras impressões, mas aquela que se desvencilhou disso,
quanto é possível não ter parte comum com o corpo. Uma [alma] tal, é
claro, faz os males à alma ser como acréscimos e de outro lugar, mas na
que está purificada tem princípio o melhor, sensatez e a diversa virtude
que lhe são familiares224. Se é então tal coisa a alma, quando retorna a
si mesma, como não será daquela natureza, tal qual dizemos ser do
divino e de tudo que é eterno? Pois sensatez e verdadeira virtude, sendo
coisas divinas, não viriam a ser em algum feito vil e mortal, mas há
necessidade de isso ser de tipo divino, enquanto do divino participar
porque ele tem por parentesco o que é de igual essência225. Por isso
qualquer um de nós desse tipo pouco se afastaria das coisas superiores

222
Platão, Fedro 247c: ἡ γὰρ ἀχρώματός τε καὶ ἀσχημάτιστος καὶ ἀναφὴς οὐσία ὄντως
οὖσα (pois ela é realmente essência sem cor, sem figura e intangível).
223
Platão, Politeia 521a: ἐν μόνῃ γὰρ αὐτῇ ἄρξουσιν οἱ τῷ ὄντι πλούσιοι, οὐ χρυσίου
ἀλλ’ οὗ δεῖ τὸν εὐδαίμονα πλουτεῖν, ζωῆς ἀγαθῆς τε καὶ ἔμφρονος (pois apenas nessa
[cidade] governarão o que são realmente ricos, não de ouro, mas do que é preciso o
[cidadão] feliz enriquecer: de uma vida boa e sensata).
224
Platão, Simpósio 209a: εἰσὶ γὰρ οὖν, ἔφη, οἳ ἐν ταῖς ψυχαῖς κυοῦσιν ἔτι μᾶλλον ἢ
ἐν τοῖς σώμασιν, ἃ ψυχῇ προσήκει καὶ κυῆσαι καὶ τεκεῖν· τί οὖν προσήκει; φρόνησίν
τε καὶ τὴν ἄλλην ἀρετήν (pois há, dizia, os que concebem nas almas ainda mais do
que nos corpos o que convém à alma conceber e gerar; o que ela concebe? Sensatez e
diversa virtude).
225
Τὸ ὁμοούσιον (o que é de igual essência): termo caro à teologia cristã.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 261

na mesma alma, sendo diminuído apenas nisso, quanto é em corpo. Por


isso também, se todo homem fosse tal, ou uma multidão que se serviu
de tais almas, nenhum seria assim incrédulo, de modo a não acreditar
que o que é da alma para eles seja totalmente imortal. Mas agora, ao ver
a alma na maioria dos homens mutilada226 de todo modo, nem a pensam
como sendo de coisa divina nem imortal. É preciso examinar a natureza
de cada coisa atentando para o puro dela, uma vez que o que foi aposto
vem a ser impedimento sempre para conhecimento de alguma coisa a
que outra foi aposta. Examina, então, tu que abstrai227, e o que abstrai
veja a si mesmo e mais acreditará ser imortal, quando contemplar a si
mesmo no inteligível por ter vindo a ser no puro. Pois verá inteligência
que olha não algo sensível nem algo dessas coisas mortais, mas que com
o eterno compreende o eterno, todas as coisas no inteligível, por ele
mesmo ter vindo a ser cosmo inteligível e luminoso, que ilumina com a
verdade que é da parte do bem, que resplende verdade a todos os
inteligíveis228; assim frequentemente deve parecer com isso esse belo
dito: “Salve, eu para vós sou deus imortal”229, tendo ao divino subido e
olhado atentamente para a semelhança com ele mesmo. E se a catarse
faz ser em ato de conhecimento das melhores coisas, também os
conhecimentos sendo internos reaparecem, os que na verdade são
realmente conhecimentos. Pois, na verdade, não é a correr em algum

226
Platão, Politeia 611c: οἷον δ’ ἐστὶν τῇ ἀληθείᾳ, οὐ λελωβημένον δεῖ αὐτὸ
θεάσασθαι ὑπό τε τῆς τοῦ σώματος κοινωνίας καὶ ἄλλων κακῶν, ὥσπερ νῦν ἡμεῖς
θεώμεθα (na verdade, é tal que não é preciso contemplar isso mutilado pela comunhão
do corpo e de outros males, como agora nós contemplamos).
227
Platão, Politeia 534b-c: Οὐκοῦν καὶ περὶ τοῦ ἀγαθοῦ ὡσαύτως; ὃς ἂν μὴ ἔχῃ
διορίσασθαι τῷ λόγῳ ἀπὸ τῶν ἄλλων πάντων ἀφελὼν τὴν τοῦ ἀγαθοῦ ἰδέαν ... (Então
sobre o bem é do mesmo modo? O que não tenha como se definir com a razão,
abstraindo a ideia do bem a partir de todas as coisas diversas ...).
228
Platão, Politeia 508d: Οὕτω τοίνυν καὶ τὸ τῆς ψυχῆς ὧδε νόει· ὅταν μὲν οὗ
καταλάμπει ἀλήθειά τε καὶ τὸ ὄν, εἰς τοῦτο ἀπερείσηται, ἐνόησέν τε καὶ ἔγνω αὐτὸ
καὶ νοῦν ἔχειν φαίνεται (Portanto, quanto à alma pensa deste modo: quando a verdade
e o que é resplendem em algo, [a alma] se apoia nisso, pensa e o compreende e parece
ter inteligência).
229
Empédocles 31 B 112, 10 Diels – Kranz: ἐγὼ δ’ ὑμῖν θεὸς ἄμβροτος (eu, para vós,
sou deus imortal).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 262

ponto de fora que a alma depreende moderação e justiça230, mas ela [o


fará] por si em compreensão de si mesma e pelo que era anterior, como
vendo sacras representações fundamentadas em si, tais que as fizesse
limpas, porque foram impregnadas pela vicissitude do tempo; como se
ouro fosse algo animado, em seguida tendo retirado quanto de terra há
em si231, sendo em ignorância anterior de si mesmo, porque via-se
[como não sendo] ouro, então se admiraria já de seu próprio valor ao
ver-se estando só, e portanto pensasse que nada era preciso a si de
beleza importável, ele mesmo sendo superior, se alguém o deixar ser
em si mesmo.

11. Περὶ τοιούτου χρήματος τίς ἂν ἀμφισβητοίη νοῦν ἔχων, ὡς οὐκ


ἀθάνατον; Ὧι πάρεστι μὲν ἐξ ἑαυτοῦ ζωή, ἣν οὐχ οἷόν τε ἀπολέσθαι·
πῶς γὰρ οὐκ ἐπίκτητόν γε οὖσαν οὐδ᾽ αὖ οὕτως ἔχουσαν, ὡς τῶι πυρὶ
ἡ θερμότης πάρεστι; Λέγω δὲ οὐχ ὡς ἐπακτὸν ἡ θερμότης τῶι πυρί,
ἀλλ᾽ ὅτι, εἰ καὶ μὴ τῶι πυρί, ἀλλὰ τῆι ὑποκειμένηι τῶι πυρὶ ὕληι. Ταύτηι
γὰρ καὶ διαλύεται τὸ πῦρ. Ἡ δὲ ψυχὴ οὐχ οὕτω τὴν ζωὴν ἔχει, ὡς ὕλην
μὲν οὖσαν ὑποκεῖσθαι, ζωὴν δὲ ἐπ᾽ αὐτῆι γενομένην τὴν ψυχὴν
ἀποδεῖξαι. Ἢ γὰρ οὐσία ἐστὶν ἡ ζωή, καὶ ἔστιν οὐσία ἡ τοιαύτη παρ᾽
αὐτῆς ζῶσα – ὅπερ ἐστίν, ὃ ζητοῦμεν, ἡ ψυχή – καὶ τοῦτο ἀθάνατον
ὁμολογοῦσιν, ἢ ἀναλύσουσιν ὡς σύνθετον καὶ τοῦτο πάλιν, ἕως ἂν εἰς
ἀθάνατον ἔλθωσι παρ᾽ αὐτοῦ κινούμενον, ὧι μὴ θέμις θανάτου μοῖραν
δέχεσθαι. Ἢ πάθος ἐπακτὸν τῆι ὕληι λέγοντες τὴν ζωήν, παρ᾽ ὅτου
τοῦτο τὸ πάθος ἐλήλυθεν εἰς τὴν ὕλην, αὐτὸ ἐκεῖνο ἀναγκασθήσονται
ὁμολογεῖν ἀθάνατον εἶναι, ἄδεκτον ὂν τοῦ ἐναντίου ὧι ἐπιφέρει. Ἀλλὰ
γάρ ἐστι μία φύσις ἐνεργείαι ζῶσα.

230
Platão, Fedro 247d: ἐν δὲ τῇ περιόδῳ καθορᾷ μὲν αὐτὴν δικαιοσύνην, καθορᾷ δὲ
σωφροσύνην, καθορᾷ δὲ ἐπιστήμην ... (nessa circunvolução, [a alma] depreende a
própria justiça e depreende a moderação e depreende o conhecimento ...).
231
Platão, Politeia 612a: καὶ ὑπὸ ταύτης τῆς ὁρμῆς ἐκκομισθεῖσα ἐκ τοῦ πόντου ἐν ᾧ
νῦν ἔστιν, καὶ περικρουσθεῖσα πέτρας τε καὶ ὄστρεα ἃ νῦν αὐτῇ, ἅτε γῆν ἑστιωμένῃ,
γεηρὰ καὶ πετρώδη πολλὰ ... (por esse impulso [a alma] tendo sido resgatada do mar
em que é, e tendo-se livrado de pedras e conchas que há agora nela, porque se
banqueteia de terra, muitas coisas de terra e de pedra ...).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 263

11. Acerca de tal valor quem duvidaria, tendo razão, de que [a alma]
não é imortal? Em que está presente a vida desde si mesma e que não é
possível perder; pois como não é adquirível, que é e não é mais assim,
como no fogo é presente o calor? E não digo que o calor é importável
ao fogo, mas que, se não é presente ao fogo, é presente à matéria que
subjaz ao fogo. Pois por essa [matéria] se desfaz o fogo. E a alma, que
tem vida, não é assim, de modo a sustentar-se, havendo matéria, para a
alma receber vida que vem a ser na matéria. Pois a vida é essência, e é
essência tal que vive de si – o que é exatamente o que buscamos: a alma
- e concordam que isso é imortal, ou analisam como composto e é
novamente isso, até chegar ao imortal que se move de si, a que não é
lícito receber destino de morte. Ou dizendo que a vida é uma impressão
importável à matéria, de alguma parte essa impressão chegou à matéria,
serão obrigados a concordar que isso mesmo é imortal, que é isento de
receber o contrário daquilo que porta232. Portanto há uma só natureza
vivente em atividade.

12. Ἔτι εἰ πᾶσαν ψυχὴν φήσουσι φθαρτήν, πάλαι ἂν ἔδει πάντα


ἀπολωλέναι· εἰ δὲ τὴν μέν, τὴν δ᾽ οὔ, οἷον τὴν τοῦ παντὸς ἀθάνατον
εἶναι, τὴν δ᾽ ἡμετέραν μή, λεκτέον αὐτοῖς τὴν αἰτίαν. Ἀρχή τε γὰρ
κινήσεως ἑκατέρα, καὶ ζῆι παρ᾽ αὑτῆς ἑκατέρα, καὶ τῶν αὐτῶν τῶι
αὐτῶι ἐφάπτεται νοοῦσα τά τε ἐν τῶι οὐρανῶι τά τε οὐρανοῦ ἐπέκεινα
καὶ πᾶν ὅ ἐστι κατ᾽ οὐσίαν ζητοῦσα καὶ μέχρι τῆς πρώτης ἀρχῆς
ἀναβαίνουσα. Ἥ τε δὴ παρ᾽ αὐτῆς ἐκ τῶν ἐν αὐτῆι θεαμάτων
κατανόησις αὐτοεκάστου καὶ ἐξ ἀναμνήσεως γιγνομένη πρὸ σώματός
τε αὐτῆι δίδωσι τὸ εἶναι καὶ ἀιδίοις ἐπιστήμαις κεχρημένην ἀίδιον καὶ
αὐτὴν εἶναι. Πᾶν τε τὸ λυόμενον σύνθεσιν εἰς τὸ εἶναι εἰληφὸς ταύτηι
διαλύεσθαι πέφυκεν, ἧι συνετέθη. Ψυχὴ δὲ μία καὶ ἁπλῆ ἐνεργείαι οὖσα
ἐν τῶι ζῆν φύσις· οὐ τοίνυν ταύτηι φθαρήσεται. Ἀλλ᾽ ἄρα μερισθεῖσα
κερματιζομένη ἀπόλοιτο ἄν. Ἀλλ᾽ οὐκ ὄγκος τις οὐδὲ ποσόν, ὡς
ἐδείχθη, ἡ ψυχή. Ἀλλ᾽ ἀλλοιωθεῖσα ἥξει εἰς φθοράν. Ἀλλ᾽ ἡ ἀλλοίωσις

232
Aplicação do conceito que se desenvolve em Platão, Fédon 105b – 106d.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 264

φθείρουσα τὸ εἶδος ἀφαιρεῖ, τὴν δὲ ὕλην ἐᾶι· τοῦτο δὲ συνθέτου πάθος.


Εἰ οὖν κατὰ μηδὲν τούτων οἷόν τε φθείρεσθαι, ἄφθαρτον εἶναι ἀνάγκη.

12. Se disserem ainda que toda [alma] é corruptível233, há muito tempo


era preciso estar tudo destruído234; e se [disserem] que uma é imortal,
tal que a do todo, e a nossa não, deve ser dita por eles a causa. Pois cada
uma é princípio de movimento, e cada uma vive de si mesma e está em
contato com o mesmo das mesmas coisas, pensando tanto as coisas do
céu quanto as além do céu, buscando tudo o que é segundo a essência e
retornando ao primeiro princípio. E a sua própria depreensão desde as
coisas contempladas em si que vem a ser de cada uma por anamnese235
concede a ela ser antes do corpo, por ter-se servido de conhecimentos
eternos para ser ela mesma eterna. E tudo que se desfaz, porque tomou
uma composição para ser, com essa com que foi composto naturalmente
se desfaz. Mas a alma é única e simples, sendo em atividade natureza
no viver; portanto, com essa não se corromperá. Mas, se tiver sido
partilhada, ao se decompor pereceria; mas a alma não é alguma massa
nem certa quantidade, como foi demonstrado. Mas se for modificada
chegará à corrupção. Mas a modificação ao corromper anula a forma e
deixa a matéria; e isso é impressão de composto. Se então por nada disso
é possível [a alma] corromper-se, necessidade é ela ser incorruptível.

13. Πῶς οὖν τοῦ νοητοῦ χωριστοῦ ὄντος ἥδε εἰς σῶμα ἔρχεται; Ὅτι,
ὅσος μὲν νοῦς μόνος, ἀπαθὴς ἐν τοῖς νοητοῖς ζωὴν μόνον νοερὰν ἔχων

233
Stoicorum Veterum Fragmenta II 809 – Arius Didymus, Physica (fragmenta) 39,
28: Τὴν δὲ ψυχὴν γενητήν τε καὶ φθαρτὴν λέγουσιν (dizem que a alma é gerável e
corruptível).
234
Platão, Fédon 72d: εἰ γὰρ ἐκ μὲν τῶν ἄλλων τὰ ζῶντα γίγνοιτο, τὰ δὲ ζῶντα
θνῄσκοι, τίς μηχανὴ μὴ οὐχὶ
πάντα καταναλωθῆναι εἰς τὸ τεθνάναι; (se o que é vivo viesse a ser do algo diverso, e
morresse, que mecanismo haveria para que tudo não se destruísse ao morrer?).
235
Platão, Fédon 72e: καὶ κατ’ ἐκεῖνόν γε τὸν λόγον, ὦ Σώκρατες, εἰ ἀληθής ἐστιν, ὃν
σὺ εἴωθας θαμὰ λέγειν, ὅτι ἡμῖν ἡ μάθησις οὐκ ἄλλο τι ἢ ἀνάμνησις τυγχάνει οὖσα (e
segundo aquela razão, Sócrates, se é verdadeira, que tu estás muito acostumado a
dizer, que nosso aprendizado não é por acaso algo diverso de anamnese).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 265

ἐκεῖ ἀεὶ μένει – οὐ γὰρ ἔνι ὁρμὴ οὐδ᾽ ὄρεξις – ὃ δ᾽ ἂν ὄρεξιν προσλάβηι
ἐφεξῆς ἐκείνωι τῶι νῶι ὄν, τῆι προσθήκηι τῆς ὀρέξεως οἷον πρόεισιν
ἤδη ἐπιπλέον καὶ κοσμεῖν ὀρεγόμενον καθὰ ἐν νῶι εἶδεν, ὥσπερ κυοῦν
ἀπ᾽ αὐτῶν καὶ ὠδῖνον γεννῆσαι, ποιεῖν σπεύδει καὶ δημιουργεῖ. Καὶ τῆι
σπουδῆι ταύτηι περὶ τὸ αἰσθητὸν τεταμένη, μετὰ μὲν πάσης τῆς τῶν
ὅλων ψυχῆς ὑπερέχουσα τοῦ διοικουμένου εἰς τὸ ἔξω καὶ τοῦ παντὸς
συνεπιμελουμένη, μέρος δὲ διοικεῖν βουληθεῖσα μονουμένη καὶ ἐν
ἐκείνωι γιγνομένη, ἐν ὧι ἐστιν, οὐχ ὅλη οὐδὲ πᾶσα τοῦ σώματος
γενομένη, ἀλλά τι καὶ ἔξω σώματος ἔχουσα. Οὔκουν οὐδὲ ὁ ταύτης
νοῦς ἐμπαθής· αὕτη δὲ ὁτὲ μὲν ἐν σώματι, ὁτὲ δὲ σώματος ἔξω,
ὁρμηθεῖσα μὲν ἀπὸ τῶν πρώτων, εἰς δὲ τὰ τρίτα προελθοῦσα εἰς τὰ
ἐπίταδε νοῦ, ἐνέργεια νοῦ μένοντος ἐν τῶι αὐτῶι καὶ διὰ ψυχῆς πάντα
καλῶν πληροῦντος καὶ διακοσμοῦντος, ἀθανάτου δι᾽ ἀθανάτου, εἴπερ
ἀεὶ καὶ αὐτὸς ὢν ἔσται δι᾽ ἐνεργείας ἀπαύστου.

13. Como então, sendo separável o inteligível, esta [alma] vem ao


corpo? Porque, quanto é inteligência apenas, que impassível tem apenas
vida inteligente entre os inteligíveis, ali sempre permanece – pois não é
possível impulso nem desejo – e o que é posterior àquela inteligência,
ao se atirar ao desejo, pelo acréscimo do desejo, tal que [a alma] avança
ainda mais desejando ornar [a matéria] segundo as coisas que viu na
inteligência, de modo a, estando grávida dessas mesmas coisas, gerar
dor de parto, apressa-se a criar e produz. E por esse impulso acaba
estendida no sensível, e em contato com a alma toda dos inteiros, ela
mantem-se acima do que é administrado, para fora, e cuida do todo, mas
tendo deliberado administrar uma parte, sozinha, veio a ser nessa [parte]
em que é, porque nem inteira nem toda veio a ser do corpo, mas tem de
fora algo de corpo. Então, [a alma] não é impressionável, nem a
inteligência dessa [alma]; e ela mesma ora é em corpo, ora fora de
corpo, e porque foi impulsionada a partir das coisas de primeiro nível,
avançou até as de terceiro, aquelas de prática da inteligência, atividade
de inteligência que permanece em si mesma e que pela alma enche e
ordena tudo de coisas belas, imortal por imortal, se é que [a
inteligência], sendo ela mesma, será sempre por incessável atividade.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 266

14. Περὶ δὲ τῆς τῶν ἄλλων ζώιων ψυχῆς, ὅσαι μὲν αὐτῶν σφαλεῖσαι καὶ
μέχρι θηρίων ἧκον σωμάτων, ἀνάγκη καὶ ταύτας ἀθανάτους εἶναι. Εἰ
δὲ ἔστιν ἄλλο τι εἶδος ψυχῆς, οὐκ ἄλλοθεν ἢ ἀπὸ τῆς ζώσης φύσεως δεῖ
καὶ ταύτην εἶναι καὶ αὐτὴν οὖσαν ζωῆς τοῖς ζώιοις αἰτίαν, καὶ δὴ καὶ
τὴν ἐν τοῖς φυτοῖς· ἅπασαι γὰρ ὡρμήθησαν ἀπὸ τῆς αὐτῆς ἀρχῆς ζωὴν
ἔχουσαι οἰκείαν ἀσώματοί τε καὶ αὗται καὶ ἀμερεῖς καὶ οὐσίαι. Εἰ δὲ
τὴν ἀνθρώπου ψυχὴν τριμερῆ οὖσαν τῶι συνθέτωι λυθήσεσθαι
[λέγεται] καὶ ἡμεῖς φήσομεν τὰς μὲν καθαρὰς ἀπαλλαττομένας τὸ
προσπλασθὲν ἐν τῆι γενέσει ἀφήσειν, τὰς δὲ τούτωι συνέσεσθαι ἐπὶ
πλεῖστον· ἀφειμένον δὲ τὸ χεῖρον οὐδὲ αὐτὸ ἀπολεῖσθαι, ἕως ἂν ἦι,
ὅθεν ἔχει τὴν ἀρχήν. Οὐδὲν γὰρ ἐκ τοῦ ὄντος ἀπολεῖται.

14. E sobre a alma dos outros viventes, quantas, tendo caído neles,
chegavam até corpos de selvagens, há necessidade que essas sejam
imortais. E se há uma forma diversa de alma, não de outra parte senão
a partir da natureza que vive é preciso também essa ser, ela mesma
sendo causa de vida aos viventes, e também aquela nas plantas; pois
todas foram impulsionadas a partir do mesmo princípio, tendo vida
própria, incorpóreas e elas mesmas tanto sem parte quanto essências. E
se é dito que a alma do homem que é tripartida vem a se desfazer com
o composto, também nós diremos que as que se purificaram hão de
deixar o que foi plasmado na gênese, e outras hão de estar com isso um
pouco mais236; deixada a parte pior, nem essa há de se eliminar,
enquanto houver aquilo de que tem o princípio. Pois nada será
eliminado do que é.

15. Ἃ μὲν οὖν πρὸς τοὺς ἀποδείξεως δεομένους ἐχρῆν λέγεσθαι,


εἴρηται. Ἃ δὲ καὶ πρὸς τοὺς δεομένους πίστεως αἰσθήσει
κεκρατημένης, ἐκ τῆς ἱστορίας τῆς περὶ τὰ τοιαῦτα πολλῆς οὔσης
ἐκλεκτέον, ἔκ τε ὧν θεοὶ ἀνεῖλον κελεύοντες μῆνιν ψυχῶν ἠδικημένων
ἱλάσκεσθαι τιμάς τε νέμειν τεθνηκόσιν ὡς ἐν αἰσθήσει οὖσι, καθὰ καὶ

236
Platão, Timeu 69e: ἐν δὴ τοῖς στήθεσιν καὶ τῷ καλουμένῳ θώρακι τὸ τῆς ψυχῆς
θνητὸν γένος ἐνέδουν (no peito e ao que se chama tórax davam o gênero mortal da
alma).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 267

πάντες ἄνθρωποι ποιοῦσιν εἰς τοὺς ἀπεληλυθότας. Πολλαὶ δὲ ψυχαὶ


πρότερον ἐν ἀνθρώποις οὖσαι σωμάτων ἔξω γενόμεναι οὐκ ἀπέστησαν
τοῦ εὐεργετεῖν ἀνθρώπους· αἳ δὴ καὶ μαντεῖα ἀποδειξάμεναι εἴς τε τὰ
ἄλλα χρῶσαι ὠφελοῦσι καὶ δεικνύουσι δι᾽ αὐτῶν καὶ περὶ τῶν ἄλλων
ψυχῶν, ὅτι μή εἰσιν ἀπολωλυῖαι.

15. O que era necessário dizer aos que precisam de demonstração está
dito. E o que era necessário dizer aos que precisam de crença, que tenha
domínio sobre a sensação, isso deve-se dizer desde a investigação que
é muita acerca de tais coisas: do que deuses respondem ordenando
abrandar a ira de almas que sofreram injustiças e distribuir honras aos
que morreram, como se fossem em sensação, segundo o que todos os
homens fazem aos que se foram. E muitas almas que antes eram em
corpos humanos, quando vieram a ser fora de seus corpos, não se
abstiveram de beneficiar os homens; as quais, na verdade são úteis ao
revelar oráculos e profetizar nas diversas situações e mostram, por elas
mesmas e sobre outras almas, que não pereceram.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 268

IV 8 (6)
Da Descida da Alma aos Corpos
Introdução

A questão tratada neste livro é a relação da alma com o sensível, ou


seja, como ela vê este mundo. Se a alma é em cárcere ou está sepultada
no corpo, a consciência disso se dá quando ela olha para ela mesma,
sem a interferência de algo de fora, vendo-se como superior ao corpo,
fundamentada no divino. Mas como ela pode descer dessa estabilidade
divina ao racional? Isso está dito pelos filósofos como Heráclito,
Empédocles, Pitágoras e principalmente por Platão. Os poetas também
dizem isso por alegoria. O cosmo é um deus bem-aventurado, cuja alma
foi concedida pelo demiurgo para que ele fosse cosmo vivo, animado e
inteligente. Alguns o chamam de Antro ou Caverna, e quando nossas
almas caem nele, sua liberação e passagem para fora é retornar ao
inteligível. Isto não acontece à alma do todo criado pelo demiurgo, ou
alma universal, pois esta não precisa imergir no corpo de sua criação
para satisfazer suas necessidades, pois ela não as tem; assim não há
necessidade de ela descer ou prover o que poderia faltar, conforme se
diz no Timeu 33b – 34b. Desse modo, a alma do todo fica em
contemplação dos inteligíveis, e não precisa de conexão com o mundo
criado ou sensível; nossas almas, ao contrário disso, precisam ter essa
conexão com o corpo, para depois se liberar. Essa conexão traz o
contágio das necessidades desse corpo, que a faz prisioneira pelos
desejos e faltas da matéria. Há então esses dois tipos de providência: a
divina, superior a tudo e contemplativa e a que se envolve no turbilhão
dos sentidos para cuidar de seu corpo individualmente. A Alma
universal acumula ao pensar outra função, que é a criação; como há uma
só inteligência e múltiplas inteligências individuais, também há uma só
alma, o criador, e as múltiplas almas individuais. A Alma tendo olhado
para a Inteligência, olha para si mesma e administra tudo em si mesma

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 269

com potência natural, ou seja, potência que diminui conforme se


distancia da origem. A Inteligência se impregna dos inteligíveis com a
contemplação do Uno, e a Alma se impregna de razões com a
contemplação da Inteligência. Com a Alma estão também as almas
individuais que administram o cosmo junto dela; estas são criadas na
mesma cratera em que o demiurgo criara a primeira e inteira, como diz
Platão no Timeu 41d, mas elas serão de segunda e terceira mão, pois
assim se determina que elas devem deixar o mundo inteligível para
completar o mundo sensível. Umas passam a vida mais perto da
inteligência, junto da alma inteira, outras passam a vida mais longe dela,
seja por natureza seja por sorte, mas sempre por livre escolha delas
mesmas. Não há contradição entre a queda da alma, que é divina, e a
perfeição do todo, pois a necessidade tem o voluntário; se o ser em
corpo é justa pena por algum mal, este é involuntário, na medida em
que a alma precisa revelar sua potência ao tentar administrar algo como
o corpo, e isso só se revela pela ação. Daí a admiração de todos, que ao
observar suas ações externas contemplam as internas, tal como se revela
pelo efeito da procissão dos deuses. Assim o que há de mais belo no
mundo sensível é simples demonstração das maravilhas do mundo
inteligível, porque todas as coisas estão conjuntas e ligadas pela força
inexaurível do Bem, da Inteligência até aos extremos do mundo sensível
com a matéria, que por ter origem dessa divina procissão não pode ser
um mal absoluto, sendo um mal apenas pela maior distância do Bem,
que não nega sua potência encerrando-se em si mesmo, mas a estende
ao infinito de forma inesgotável. Sendo as almas de dupla natureza,
inteligível e sensível, elas seguem a divina procissão descendo ao limite
entre o sensível e o inteligível, para retornar àquilo que é melhor; de
fato, esse processo imita o processo anterior pelo qual a Inteligência
parte do Bem até a Alma, fundando a criação que pode ser por si mesma
eternamente. A Alma, como hipóstase, não desce ao pior extremo, mas
fica a contemplar a Inteligência, em contato (ἐφάπτεσθαι) com as coisas
que são sempre, enquanto ao mesmo tempo provê dessas formas divinas
a natureza sensível. Cabe às almas individuais administrar seus corpos,
imitando-a, mas conservando o meio pelo qual elas retornam à sua
origem, a conversão (ἐπιστροφή). Isso significa que elas se mantêm em

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 270

contato com a Inteligência por sua parte superior, jamais se desligando


totalmente. Se a alma inteira, que não é por parte, cuida do cosmo não
descendo ao limite sensível, porque sua parte inferior ordena de modo
inteiro, daí ‘a arte não delibera’ que Aristóteles cita ao mencionar a
criação de modo inteiro, na Física 199b 28, as almas individuais descem
e se ocupam da sensação ao se apropriar do que é corpóreo e por isso
sofrem, pois o prazer agrada e ilude, mas a sua parte superior se conduz
por semelhança.

ηʹ

Περὶ τῆς εἰς τὰ σώματα καθόδου τῆς ψυχῆς

1. Πολλάκις ἐγειρόμενος εἰς ἐμαυτὸν ἐκ τοῦ σώματος καὶ γινόμενος


τῶν μὲν ἄλλων ἔξω, ἐμαυτοῦ δὲ εἴσω, θαυμαστὸν ἡλίκον ὁρῶν κάλλος,
καὶ τῆς κρείττονος μοίρας πιστεύσας τότε μάλιστα εἶναι, ζωήν τε
ἀρίστην ἐνεργήσας καὶ τῶι θείωι εἰς ταὐτὸν γεγενημένος καὶ ἐν αὐτῶι
ἱδρυθεὶς εἰς ἐνέργειαν ἐλθὼν ἐκείνην ὑπὲρ πᾶν τὸ ἄλλο νοητὸν ἐμαυτὸν
ἱδρύσας, μετὰ ταύτην τὴν ἐν τῶι θείωι στάσιν εἰς λογισμὸν ἐκ νοῦ
καταβὰς ἀπορῶ, πῶς ποτε καὶ νῦν καταβαίνω, καὶ ὅπως ποτέ μοι ἔνδον
ἡ ψυχὴ γεγένηται τοῦ σώματος τοῦτο οὖσα, οἷον ἐφάνη καθ᾽ ἑαυτήν,
καίπερ οὖσα ἐν σώματι. Ὁ μὲν γὰρ Ἡράκλειτος, ὃς ἡμῖν παρακελεύεται
ζητεῖν τοῦτο, ἀμοιβάς τε ἀναγκαίας τιθέμενος ἐκ τῶν ἐναντίων, ὁδόν
τε ἄνω κάτω εἰπὼν καὶ μεταβάλλον ἀναπαύεται καὶ κάματός ἐστι
τοῖς αὐτοῖς μοχθεῖν καὶ ἄρχεσθαι εἰκάζειν ἔδωκεν ἀμελήσας σαφῆ
ἡμῖν ποιῆσαι τὸν λόγον, ὡς δέον ἴσως παρ᾽ αὐτῶι ζητεῖν, ὥσπερ καὶ
αὐτὸς ζητήσας εὗρεν. Ἐμπεδοκλῆς τε εἰπὼν ἁμαρτανούσαις νόμον
εἶναι ταῖς ψυχαῖς πεσεῖν ἐνταῦθα καὶ αὐτὸς φυγὰς θεόθεν γενόμενος
ἥκειν πίσυνος μαινομένωι νείκει τοσοῦτον παρεγύμνου, ὅσον καὶ
Πυθαγόρας, οἶμαι, καὶ οἱ ἀπ᾽ ἐκείνου ἠινίττοντο περί τε τούτου περί τε
πολλῶν ἄλλων. Τῶι δὲ παρῆν καὶ διὰ ποίησιν οὐ σαφεῖ εἶναι. Λείπεται
δὴ ἡμῖν ὁ θεῖος Πλάτων, ὃς πολλά τε καὶ καλὰ περὶ ψυχῆς εἶπε περί τε
ἀφίξεως αὐτῆς πολλαχῆι εἴρηκεν ἐν τοῖς αὐτοῦ λόγοις, ὥστε ἐλπίδα
ἡμῖν εἶναι λαβεῖν παρ᾽ αὐτοῦ σαφές τι. Τί οὖν λέγει ὁ φιλόσοφος οὗτος;
Οὐ ταὐτὸν λέγων πανταχῆι φανεῖται, ἵνα ἄν τις ἐκ ῥαιδίας τὸ τοῦ ἀνδρὸς

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 271

βούλημα εἶδεν, ἀλλὰ τὸ αἰσθητὸν πᾶν πανταχοῦ ἀτιμάσας καὶ τὴν πρὸς
τὸ σῶμα κοινωνίαν τῆς ψυχῆς μεμψάμενος ἐν δεσμῶι τε εἶναι καὶ
τεθάφθαι ἐν αὐτῶι τὴν ψυχὴν λέγει, καὶ τὸν ἐν ἀπορρήτοις λεγόμενον
λόγον μέγαν εἶναι, ὃς ἐν φρουρᾶι τὴν ψυχήν φησιν εἶναι· καὶ τὸ
σπήλαιον αὐτῶι, ὥσπερ Ἐμπεδοκλεῖ τὸ ἄντρον, τόδε τὸ πᾶν – δοκῶ
μοι – λέγειν, ὅπου γε λύσιν τῶν δεσμῶν καὶ ἄνοδον ἐκ τοῦ σπηλαίου
τῆι ψυχῆι φησιν εἶναι τὴν πρὸς τὸ νοητὸν πορείαν. Ἐν δὲ Φαίδρωι
πτερορρύησιν αἰτίαν τῆς ἐνταῦθα ἀφίξεως· καὶ περίοδοι αὐτῶι
ἀνελθοῦσαν πάλιν φέρουσι τῆιδε, καὶ κρίσεις δὲ καταπέμπουσιν ἄλλας
ἐνταῦθα καὶ κλῆροι καὶ τύχαι καὶ ἀνάγκαι. Καὶ ἐν τούτοις ἅπασι
μεμψάμενος τὴν τῆς ψυχῆς ἄφιξιν πρὸς σῶμα, ἐν Τιμαίωι περὶ τοῦδε
τοῦ παντὸς λέγων τόν τε κόσμον ἐπαινεῖ καὶ θεὸν λέγει εἶναι εὐδαίμονα
τήν τε ψυχὴν παρὰ ἀγαθοῦ τοῦ δημιουργοῦ πρὸς τὸ ἔννουν τόδε τὸ
πᾶν εἶναι δεδόσθαι, ἐπειδὴ ἔννουν μὲν αὐτὸ ἔδει εἶναι, ἄνευ δὲ ψυχῆς
οὐχ οἷόν τε ἦν τοῦτο γενέσθαι. Ἥ τε οὖν ψυχὴ ἡ τοῦ παντὸς τούτου
χάριν εἰς αὐτὸ παρὰ τοῦ θεοῦ ἐπέμφθη, ἥ τε ἑκάστου ἡμῶν, πρὸς τὸ
τέλεον αὐτὸ εἶναι· ἐπειδὴ ἔδει, ὅσα ἐν νοητῶι κόσμωι, τὰ αὐτὰ ταῦτα
γένη ζώιων καὶ ἐν τῶι αἰσθητῶι ὑπάρχειν.

1. Muitas vezes ao despertar e vindo a ser a mim mesmo desde o corpo,


fora das outras coisas, para dentro de mim mesmo, vejo uma beleza
admiravelmente grande por acreditar ainda mais ser de superior destino
e por ativar a melhor vida e por ter vindo a ser para o mesmo que o
divino, por ter-me fundamentado nele mesmo, chego àquela atividade
e fundamento a mim mesmo acima de todo diverso inteligível, depois
dessa estabilidade no divino, sinto-me em aporia ao descer para o
racional desde a inteligência, como então ainda agora desço, para que
afinal uma vez dentro de mim a alma tenha vindo a ser, sendo ela isso
do corpo, tal que se mostra por si mesma, ainda que seja em corpo237.
De fato, Heráclito, que nos exorta a buscar isso, ao propor “trocas

237
Esse é o único trecho em que Plotino fala em primeira pessoa.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 272

necessárias”238 desde os contrários, ao dizer “um caminho acima e


abaixo”239, “mudando repousa”240, “duro é suportar e ser dominado
pelos mesmos”241, deu-nos como comparar tendo descuidado de fazer-
nos claro o discurso, assim sendo preciso talvez buscar por si mesmo,
como também ele achou, tendo buscado. E Empédocles, tendo dito242
ser lei às almas que erram cair aqui, tendo ele mesmo vindo a ser exilado
do divino, para chegar confiante em contenda que se enfurece, tanto
desnudava [isso], quanto também Pitágoras243, creio, e os que a partir
dele acenavam enigmaticamente sobre isso e sobre muitas outras coisas.
A algum era possível que ele não fosse claro devido à poesia. Resta-nos
ainda o divino Platão, que disse muitas e belas coisas sobre a alma e
sobre o retorno dela muita vez deixou dito nos seus discursos, de modo
a haver para nós esperança de tomar de sua parte algo claro. Que diz
então esse filósofo? Não se mostra dizendo o mesmo em toda parte,
para que alguém visse claramente o resultado da deliberação do varão,
mas tendo desprezado todo o sensível de toda parte e censurado a
comunhão da alma em relação ao corpo, diz que a alma é em cadeia e
está sepultada nele, e que é grande o discurso dito nos indizíveis

238
Heráclito, 22 B 90, Diels – Kranz: πυρός τε ἀνταμοιβὴ τὰ πάντα καὶ πῦρ ἁπάντων
ὅκωσπερ χρυσοῦ χρήματα καὶ χρημάτων χρυσός (tudo é troca com fogo, e fogo é
troca de tudo, como riqueza é de ouro, e ouro é de riqueza).
239
Heráclito, 22 B 60, Diels – Kranz: ὁδὸς ἄνω κάτω μία καὶ ὡυτή (via acima e abaixo
é uma só e a mesma).
240
Heráclito, 22 B 84a, Diels – Kranz: μεταβάλλον ἀναπαύεται (mudando repousa).
241
Heráclito, 22 B 84b, Diels – Kranz: κάματός ἐστι τοῖς αὐτοῖς μοχθεῖν καὶ ἄρχεσθαι
(é duro suportar e ser dominado pelos mesmos).
242
Empédocles, 31 B 115, Diels – Kranz: 47- ἔστιν Ἀνάγκης χρῆμα, θεῶν ψήφισμα
παλαιόν (há um oráculo da Necessidade, decreto antigo dos deuses); 52- τρίς μιν
μυρίας ὧρας ἀπὸ μακάρων ἀλάλησθαι (por três vezes dez mil estações vagarem longe
dos beatos); 53- φυομένους παντοῖα διὰ χρόνου εἴδεα θνητῶν (renascendo nesse
tempo em variadas formas de mortais).
243
Xenófanes, 21 B 7a: καί ποτέ μιν στυφελιζομένου σκύλακος παριόντα / φασὶν
ἐποικτῖραι καὶ τόδε φάσθαι ἔπος· / “παῦσαι, μηδὲ ῥάπιζ’, ἐπεὶ ἦ φίλου ἀνέρος ἐστὶν /
ψυχή, τὴν ἔγνων φθεγξαμένης ἀϊών” (certa vez [Pitágoras] ao passar por um cãozinho
que era maltratado / diz que lamentou e disse isto: “Para, não batas, porque é a alma
de um homem amigo, eu a reconheci ouvindo-a lamentar-se).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 273

[mistérios], que diz que a alma está em cárcere; e a caverna para ele,
como para Empédocles244 o antro, é para dizer esse todo245 – parece-me
– onde liberação das amarras e subida a partir da caverna é para a alma
a passagem para o inteligível. E no Fedro a perda de penas é causa do
retorno para cá; e há circuitos para ele, [a alma] tendo subido,
novamente a trazem para cá, e juízos enviam abaixo outras para cá, e
sorteios e acasos e necessidades. E nesses [pontos] todos, censurando o
retorno da alma para o corpo, no Timeu dizendo sobre isso tudo, Platão
louva o cosmo e o diz ser um deus bem-aventurado246 e que a alma foi
dada da parte do demiurgo, que é bom, para ser esse todo inteligente,
uma vez que era preciso ele ser inteligente, sem alma não era possível
isso vir a ser. Então a alma desse todo, graças a isso, foi mandada para
ele da parte do deus, e a de cada um de nós, para ele ser perfeito; uma
vez que era preciso, quantos [houver] no cosmo inteligível, esses
mesmos gêneros de viventes também ter início no sensível.

244
Empédocles, 31 B 120: Porphyr. De Antro Nymph. 8 p. 61, 19 Nauck – παρά τε
γὰρ Ἐμπεδοκλεῖ αἱ ψυχοπομποὶ δυνάμεις λέγουσιν: ἠλύθομεν τόδ’ ὑπ’ ἄντρον
ὑπόστεγον ... (Pois em Empédocles as potências que conduzem as almas dizem:
‘Chegamos a este antro coberto ...’).
245
Platão, Fédon 67d: ... ἐκλυομένην ὥσπερ [ἐκ] δεσμῶν ἐκ τοῦ σώματος (libertando-
se assim dos grilhões do corpo); 82e: ἀναγκαζομένην δὲ ὥσπερ διὰ εἱργμοῦ διὰ
τούτου σκοπεῖσθαι τὰ ὄντα ... (sendo forçada por isso a ver as coisas que são através
de um cárcere); 62b: ὁ μὲν οὖν ἐν ἀπορρήτοις λεγόμενος περὶ αὐτῶν λόγος, ὡς ἔν τινι
φρουρᾷ ἐσμεν οἱ ἄνθρωποι ... (então o discurso que é dito nos indizíveis mistérios
sobre isso, que somos os homens em certo cárcere ...); Politeia 514a: ἰδὲ γὰρ
ἀνθρώπους οἷον ἐν καταγείῳ οἰκήσει σπηλαιώδει ... (vê homens tal que em habitação
subterrânea em forma de caverna ...).
246
Platão, Timeu 34b: διὰ πάντα δὴ ταῦτα εὐδαίμονα θεὸν αὐτὸν ἐγεννήσατο (por
tudo isso [o Demiurgo] gerou-o um deus bem-aventurado); 29a: εἰ μὲν δὴ καλός ἐστιν
ὅδε ὁ κόσμος ὅ τε δημιουργὸς ἀγαθός ... (e se este cosmo é belo e o demiurgo é bom
...); 30b: οὕτως οὖν δὴ κατὰ λόγον τὸν εἰκότα δεῖ λέγειν τόνδε τὸν κόσμον ζῷον
ἔμψυχον ἔννουν τε τῇ ἀληθείᾳ διὰ τὴν τοῦ θεοῦ γενέσθαι πρόνοιαν (de modo que
segundo esse discurso verossímil é preciso dizer que este cosmo veio a ser vivente
animado e inteligente, na verdade, pela providência do deus).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 274

2. Ὥστε ἡμῖν συμβαίνει περὶ τῆς ἡμετέρας ψυχῆς παρ᾽ αὐτοῦ μαθεῖν
ζητήσασιν ἐξ ἀνάγκης ἐφάπτεσθαι καὶ περὶ ψυχῆς ὅλως ζητῆσαι, πῶς
ποτε κοινωνεῖν σώματι πέφυκε, καὶ περὶ κόσμου φύσεως οἷόν τινα δεῖ
αὐτὸν τίθεσθαι, ἐν ὧι ψυχὴ ἐνδιαιτᾶται ἑκοῦσα εἴτε ἀναγκασθεῖσα εἴτε
τις ἄλλος τρόπος· καὶ περὶ ποιητοῦ δέ, εἴτε ὀρθῶς εἴτε ὡς ἡμέτεραι
ψυχαὶ ἴσως, ἃς ἔδει σώματα διοικούσας χείρω δι᾽ αὐτῶν εἴσω πολὺ
δῦναι, εἴπερ ἔμελλον κρατήσειν, σκεδασθέντος μὲν ἂν ἑκάστου καὶ
πρὸς τὸν οἰκεῖον τόπον φερομένου – ἐν δὲ τῶι παντὶ πάντα ἐν οἰκείωι
κατὰ φύσιν κεῖται – πολλῆς δὲ καὶ ὀχλώδους προνοίας δεομένων, ἅτε
πολλῶν τῶν ἀλλοτρίων αὐτοῖς προσπιπτόντων ἀεί τε ἐνδείαι
συνεχομένων καὶ πάσης βοηθείας ὡς ἐν πολλῆι δυσχερείαι δεομένων.
Τὸ δὲ τέλεόν τε ὂν καὶ ἱκανὸν καὶ αὔταρκες καὶ οὐδὲν ἔχον αὐτῶι παρὰ
φύσιν βραχέος οἷον κελεύσματος δεῖται· καὶ ὡς πέφυκε ψυχὴ ἐθέλειν,
ταύτηι καὶ ἀεὶ ἔχει οὔτ᾽ ἐπιθυμίας ἔχουσα οὔτε πάσχουσα· οὐδὲν γὰρ
ἄπεισιν οὐδὲ πρόσεισι. Διὸ καί φησι καὶ τὴν ἡμετέραν, εἰ μετ᾽ ἐκείνης
γένοιτο τελέας, τελεωθεῖσαν καὶ αὐτὴν μετεωροπορεῖν καὶ πάντα τὸν
κόσμον διοικεῖν, ὅτε ἀφίσταται εἰς τὸ μὴ ἐντὸς εἶναι τῶν σωμάτων
μηδέ τινος εἶναι, τότε καὶ αὐτὴν ὥσπερ τὴν τοῦ παντὸς συνδιοικήσειν
ῥαιδίως τὸ πᾶν, ὡς οὐ κακὸν ὂν ψυχῆι ὁπωσοῦν σώματι παρέχειν τὴν
τοῦ εὖ δύναμιν καὶ τοῦ εἶναι, ὅτι μὴ πᾶσα πρόνοια τοῦ χείρονος ἀφαιρεῖ
τὸ ἐν τῶι ἀρίστωι τὸ προνοοῦν μένειν. Διττὴ γὰρ ἐπιμέλεια παντός, τοῦ
μὲν καθόλου κελεύσει κοσμοῦντος ἀπράγμονι ἐπιστασίαι βασιλικῆι, τὸ
δὲ καθέκαστα ἤδη αὐτουργῶι τινι ποιήσει συναφῆι τῆι πρὸς τὸ
πραττόμενον τὸ πρᾶττον τοῦ πραττομένου τῆς φύσεως ἀναπιμπλᾶσα.
Τῆς δὲ θείας ψυχῆς τοῦτον τὸν τρόπον τὸν οὐρανὸν ἅπαντα διοικεῖν ἀεὶ
λεγομένης, ὑπερεχούσης μὲν τῶι κρείττονι, δύναμιν δὲ τὴν ἐσχάτην εἰς
τὸ εἴσω πεμπούσης, αἰτίαν μὲν ὁ θεὸς οὐκ ἂν ἔτι λέγοιτο ἔχειν τὴν τοῦ
τὴν ψυχὴν τοῦ παντὸς ἐν χείρονι πεποιηκέναι, ἥ τε ψυχὴ οὐκ
ἀπεστέρηται τοῦ κατὰ φύσιν ἐξ ἀιδίου τοῦτ᾽ ἔχουσα καὶ ἕξουσα ἀεί, ὃ
μὴ οἷόν τε παρὰ φύσιν αὐτῆι εἶναι, ὅπερ διηνεκῶς αὐτῆι ἀεὶ ὑπάρχει
οὔποτε ἀρξάμενον. Τάς τε τῶν ἀστέρων ψυχὰς τὸν αὐτὸν τρόπον πρὸς
τὸ σῶμα ἔχειν λέγων, ὥσπερ τὸ πᾶν – ἐντίθησι γὰρ καὶ τούτων τὰ
σώματα εἰς τὰς τῆς ψυχῆς περιφοράς – ἀποσώιζοι ἂν καὶ τὴν περὶ
τούτους πρέπουσαν εὐδαιμονίαν. Δύο γὰρ ὄντων δι᾽ ἃ δυσχεραίνεται ἡ
ψυχῆς πρὸς σῶμα κοινωνία, ὅτι τε ἐμπόδιον πρὸς τὰς νοήσεις γίγνεται,

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 275

καὶ ὅτι ἡδονῶν καὶ ἐπιθυμιῶν καὶ λυπῶν πίμπλησιν αὐτήν, οὐδέτερον
τούτων ἂν γένοιτο ψυχῆι, ἥτις μὴ εἰς τὸ εἴσω ἔδυ τοῦ σώματος, μηδέ
τινός ἐστι, μηδὲ ἐκείνου ἐγένετο, ἀλλ᾽ ἐκεῖνο αὐτῆς, ἔστι τε τοιοῦτον,
οἷον μήτε τινὸς δεῖσθαι μήτε τινὶ ἐλλείπειν· ὥστε μηδὲ τὴν ψυχὴν
ἐπιθυμιῶν πίμπλασθαι ἢ φόβων· οὐδὲν γὰρ δεινὸν μήποτε περὶ
σώματος προσδοκήσηι τοιούτου, οὔτε τις ἀσχολία νεῦσιν ποιοῦσα
κάτω ἀπάγει τῆς κρείττονος καὶ μακαρίας θέας, ἀλλ᾽ ἔστιν ἀεὶ πρὸς
ἐκείνοις ἀπράγμονι δυνάμει τόδε τὸ πᾶν κοσμοῦσα.

2. Assim acontece a nós, que buscamos aprender da parte dele247 sobre


a nossa alma, dedicarmo-nos por necessidade a buscar também sobre
alma de modo geral, como ela criou relação em comum com o corpo, e
sobre a natureza do cosmo tal que é preciso [o demiurgo] pôr algo, em
que a alma habita voluntária, seja porque foi forçada seja algum modo
diverso; e sobre o criador, seja de modo direto seja talvez como nossas
almas, que, por administrar corpos inferiores, era preciso imergir muito
para dentro deles, se é que elas iam dominá-los, porque cada [corpo]
ter-se-ia dispersado levando-se ao lugar familiar – no todo todos [os
corpos] jazem em [lugar] familiar por natureza – e necessitando de
muita providência fastidiosa, enquanto muitas coisas estranhas a eles
incidem e sempre com indigência se mantêm, porque necessitam de
toda ajuda como em muita dificuldade. Mas o [corpo do todo] é
perfeito, capaz e autossuficiente, nada tendo para si contra a natureza,
tal que precisa de breve comando [da alma universal]; e assim é natural
a alma querer aí o que sempre tem, não tendo desejos nem sofrendo;
pois nada se afasta nem se aproxima248. Por isso [Platão] também diz
que a nossa, se vier a ser com aquela perfeita, será perfeita e ela mesma
se elevará para administrar todo o cosmo249, quando ela se afasta não é

247
De Platão.
248
Platão, Timeu 33c: ἀπῄει τε γὰρ οὐδὲν οὐδὲ προσῄειν αὐτῷ ποθεν—οὐδὲ γὰρ ἦν
... (pois nada vai nem vem de algum ponto a ele – pois nem havia [algo] ...).
249
Platão, Fedro 246c: τελέα μὲν οὖν οὖσα καὶ ἐπτερωμένη μετεωροπορεῖ τε καὶ
πάντα τὸν κόσμον διοικεῖ ([a alma] sendo perfeita e alada se eleva e administra todo
o cosmo).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 276

para ser dentro, nem ser de algum dos corpos, então também ela, como
a do todo, passa facilmente a administrar em conjunto o todo, como não
sendo mal à alma de qualquer modo apresentar ao corpo a potência do
bem e do ser, porque nem toda providência afasta do pior o que prevê
permanecer no melhor. Pois dupla é a atenção do todo: pelo ato de
comandar do inteiro que ordena com tranquila autoridade real, e por
certo ato de criar cada coisa com genuína conexão, com que, o que
pratica, em relação com o que é praticado, se contamina com a natureza
do que é praticado250. E a alma divina que se diz administrar daquele
modo o céu todo, mantendo-se sobre o que é inferior e enviando a
potência extrema para o interior, o deus não mais seria dito ter a causa
da alma do todo estar criada em lugar inferior, e a alma não seja privada
de algo, que por natureza desde sempre o mantém e sempre manterá, o
que para ela, ser contra a natureza, não seria possível, o que
continuamente para ela sempre tem início jamais tendo-se iniciado251.
E dizendo que as almas dos astros têm o mesmo modo em relação ao
corpo, desse modo o todo – pois [o deus] põe também os corpos dos
astros nas órbitas da alma – conduziria a salvo a felicidade conveniente
acerca deles. Pois sendo duas as coisas pelas quais se desaprova a
comunhão da alma em relação ao corpo, uma que vem a ser
impedimento em relação aos atos de pensar e outra que a enche de
prazeres, desejos e dores, nenhuma dessas duas coisas viria a ser para a
alma, qualquer uma que não imergisse para o interior do corpo, nem é
de algum [corpo], nem viria a ser daquele, mas aquele [vem a ser] dela,
e [ele] é tal que nem precise de algo nem é inferior a algo252. Assim nem
a alma vem a se encher de desejos ou de medos; pois nada terrível [ela]
poderia esperar sobre um corpo tal, nem alguma ocupação que cria

250
Atenção do todo é a divina providência, que é dupla: da alma universal que é o
criador, que não intervém diretamente, mas com autoridade real, e da alma natural, no
corpo do todo, que intervém de modo direto, contaminando-se com a natureza das
criaturas, ao criá-las.
251
O fato do Demiurgo ter criado a alma natural em lugar inferior não a priva de nada
que seja dele mesmo, que olha para a Inteligência e para o Uno-Bem.
252
A alma universal não precisa imergir no corpo do todo, pois este é autossuficiente
e não precisa de nada de fora, conforme se diz no Timeu 33b – 34b.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 277

inclinação para baixo a afasta da maior e feliz contemplação, mas é


sempre para aquelas coisas [sublimes] ordenando este todo com
potência não fastidiosa.

3. Περὶ δὲ τῆς ἀνθρωπείας ψυχῆς, ἣ ἐν σώματι πάντα λέγεται


κακοπαθεῖν καὶ ταλαιπωρεῖν ἐν ἀνοίαις καὶ ἐπιθυμίαις καὶ φόβοις καὶ
τοῖς ἄλλοις κακοῖς γιγνομένη, ἧι καὶ δεσμὸς τὸ σῶμα καὶ τάφος, καὶ ὁ
κόσμος αὐτῆι σπήλαιον καὶ ἄντρον, ἥντινα γνώμην οὐ διάφωνον ἔχει
ἐκ τῶν αἰτιῶν οὐ τῶν αὐτῶν τῆς καθόδου, νῦν λέγωμεν. Ὄντος τοίνυν
παντὸς νοῦ ἐν τῶι τῆς νοήσεως τόπωι ὅλου τε καὶ παντός, ὃν δὴ κόσμον
νοητὸν τιθέμεθα, ὄντων δὲ καὶ τῶν ἐν τούτωι περιεχομένων νοερῶν
δυνάμεων καὶ νόων τῶν καθέκαστα – οὐ γὰρ εἷς μόνος, ἀλλ᾽ εἷς καὶ
πολλοί – πολλὰς ἔδει καὶ ψυχὰς καὶ μίαν εἶναι, καὶ ἐκ τῆς μιᾶς τὰς
πολλὰς διαφόρους, ὥσπερ ἐκ γένους ἑνὸς εἴδη τὰ μὲν ἀμείνω, τὰ δὲ
χείρω, νοερώτερα, τὰ δ᾽ ἧττον ἐνεργείαι τοιαῦτα. Καὶ γὰρ ἐκεῖ ἐν τῶι
νῶι τὸ μὲν νοῦς περιέχων δυνάμει τἆλλα οἷον ζῶιον μέγα, τὰ δὲ
ἐνεργείαι ἕκαστον, ἃ δυνάμει περιεῖχε θάτερον· οἷον εἰ πόλις ἔμψυχος
ἦν περιεκτικὴ ἐμψύχων ἄλλων, τελειοτέρα μὲν [ἡ] πόλεως καὶ
δυνατωτέρα, οὐδὲν μὴν ἐκώλυε τῆς αὐτῆς φύσεως εἶναι καὶ τὰς ἄλλας.
Ἢ ὡς ἐκ τοῦ παντὸς πυρὸς τὸ μὲν μέγα, τὸ δὲ μικρὰ πυρὰ εἴη· ἔστι δὲ
ἡ πᾶσα οὐσία ἡ τοῦ παντὸς πυρός, μᾶλλον δὲ ἀφ᾽ ἧς καὶ ἡ τοῦ παντός.
Ψυχῆς δὲ ἔργον τῆς λογικωτέρας νοεῖν μέν, οὐ τὸ νοεῖν δὲ μόνον· τί
γὰρ ἂν καὶ νοῦ διαφέροι; Προσλαβοῦσα γὰρ τῶι νοερὰ εἶναι καὶ ἄλλο,
καθὸ νοῦς οὐκ ἔμεινεν· ἔχει τε ἔργον καὶ αὐτή, εἴπερ πᾶν, ὃ ἐὰν ἦι τῶν
νοητῶν. Βλέπουσα δὲ πρὸς μὲν τὸ πρὸ ἑαυτῆς νοεῖ, εἰς δὲ ἑαυτὴν τὸ
μετ᾽ αὐτὴν [ὃ] κοσμεῖ τε καὶ διοικεῖ καὶ ἄρχει αὐτοῦ· ὅτι μηδὲ οἷόν τε
ἦν στῆναι τὰ πάντα ἐν τῶι νοητῶι, δυναμένου ἐφεξῆς καὶ ἄλλου
γενέσθαι ἐλάττονος μέν, ἀναγκαίου δὲ εἶναι, εἴπερ καὶ τὸ πρὸ αὐτοῦ.

3. E sobre a alma humana, que em corpo se diz que em tudo é maltratada


e que sofre duramente253 vindo a ser em ignorâncias, desejos, medos e

253
Platão, Fédon 95d: ἀλλὰ καὶ αὐτὸ τὸ εἰς ἀνθρώπου σῶμα ἐλθεῖν ἀρχὴ ἦν αὐτῇ
ὀλέθρου, ὥσπερ νόσος·

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 278

outros males, à qual o corpo é tanto prisão quanto tumba, e o cosmo


para ela é caverna e antro, que há qualquer opinião não discordante de
não ser das memas causas a sua descida, agora digamos. Sendo, de fato,
a inteligência inteira e toda no lugar do ato de pensar, lugar que
certamente pomos como cosmo inteligível, e havendo realmente
potências inteligentes que se mantêm aí e inteligências dos que são
individuais – pois não há uma só, mas uma só e muitas – tanto era
preciso haver muitas almas quanto uma só, e haver desde uma só muitas
distintas, como desde um só gênero, espécies, umas melhores, outras
piores, mais inteligentes, e aquelas tais de menor atividade [intelectual].
Pois ali no inteligível, por um lado, [como gênero] é a inteligência que
mantém em potência os outros inteligíveis, como um grande vivente, e,
por outro, as espécies, cada uma mantém em atividade o que o outro
[gênero] mantinha em potência; como se uma cidade animada fosse
continente de outras cidades animadas, mais perfeita e potente seria [a
alma] da cidade [continente], contudo nada impede ser da mesma
natureza também as outras. Ou como desde grande fogo, por um lado
houvesse um grande, por outro, pequenos fogos; a essência toda é a do
fogo todo, ou seja, desde a qual também é a do todo. E o trabalho da
alma mais racional é pensar, mas não só o pensar; pois o que a
diferenciaria da inteligência? Tendo ela acrescentado a ser inteligente
também algo diverso, segundo o ela que não permanecia inteligência,
ela mesma tem um trabalho, que, se é mesmo um todo, será dos
inteligíveis. E tendo voltado a vista para o que é antes de si mesma,
pensa, ordena e administra o que é depois dela em si mesma, e o
domina; porque nem era possível ficar todas as coisas no inteligível,
porque era capaz de em seguida coisa diversa vir a ser, sendo inferior,
mas necessária, se é que também isso é anterior a si.

καὶ ταλαιπωρουμένη τε δὴ τοῦτον τὸν βίον ζῴη καὶ τελευτῶσά γε ἐν τῷ καλουμένῳ


θανάτῳ ἀπολλύοιτο (mas esse chegar a corpo humano era para ela princípio de
destruição, como uma doença; e vive essa vida sofrendo e ao completá-la pereceria
no que se chama morte).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 279

4. Τὰς δὴ καθέκαστα ψυχὰς ὀρέξει μὲν νοερᾶι χρωμένας ἐν τῆι ἐξ οὗ


ἐγένοντο πρὸς αὐτὸ ἐπιστροφῆι, δύναμιν δὲ καὶ εἰς τὸ ἐπὶ τάδε ἐχούσας,
οἷά περ φῶς ἐξηρτημένον μὲν κατὰ τὰ ἄνω ἡλίου, τῶι δὲ μετ᾽ αὐτὸ οὐ
φθονοῦν τῆς χορηγίας, ἀπήμονας μὲν εἶναι μετὰ τῆς ὅλης μενούσας ἐν
τῶι νοητῶι, ἐν οὐρανῶι δὲ μετὰ τῆς ὅλης συνδιοικεῖν ἐκείνηι, οἷα οἱ
βασιλεῖ τῶν πάντων κρατοῦντι συνόντες συνδιοικοῦσιν ἐκείνωι οὐ
καταβαίνοντες οὐδ᾽ αὐτοὶ ἀπὸ τῶν βασιλείων τόπων· καὶ γάρ εἰσιν
ὁμοῦ ἐν τῶι αὐτῶι τότε. Μεταβάλλουσαι δὲ ἐκ τοῦ ὅλου εἰς τὸ μέρος τε
εἶναι καὶ ἑαυτῶν καὶ οἷον κάμνουσαι τὸ σὺν ἄλλωι εἶναι ἀναχωροῦσιν
εἰς τὸ ἑαυτῶν ἑκάστη. Ὅταν δὴ τοῦτο διὰ χρόνων ποιῆι φεύγουσα τὸ
πᾶν καὶ τῆι διακρίσει ἀποστᾶσα καὶ μὴ πρὸς τὸ νοητὸν βλέπηι, μέρος
γενομένη μονοῦταί τε καὶ ἀσθενεῖ καὶ πολυπραγμονεῖ καὶ πρὸς μέρος
βλέπει καὶ τῶι ἀπὸ τοῦ ὅλου χωρισμῶι ἑνός τινος ἐπιβᾶσα καὶ τὸ ἄλλο
πᾶν φυγοῦσα, ἐλθοῦσα καὶ στραφεῖσα εἰς τὸ ἓν ἐκεῖνο πληττόμενον ὑπὸ
τῶν [ὅλων καὶ] πάντων, τοῦ τε ὅλου ἀπέστη καὶ τὸ καθέκαστον μετὰ
περιστάσεως διοικεῖ ἐφαπτομένη ἤδη καὶ θεραπεύουσα τὰ ἔξωθεν καὶ
παροῦσα καὶ δῦσα αὐτοῦ πολὺ εἰς τὸ εἴσω. Ἔνθα καὶ συμβαίνει αὐτῆι
τὸ λεγόμενον πτερορρυῆσαι καὶ ἐν δεσμοῖς τοῖς τοῦ σώματος γενέσθαι
ἁμαρτούσηι τοῦ ἀβλαβοῦς τοῦ ἐν τῆι διοικήσει τοῦ κρείττονος, ὃ ἦν
παρὰ τῆι ψυχῆι τῆι ὅληι· τὸ δὲ πρὸ τοῦ ἦν παντελῶς ἄμεινον
ἀναδραμούσηι· εἴληπται οὖν πεσοῦσα καὶ πρὸς τῶι δεσμῶι οὖσα καὶ
τῆι αἰσθήσει ἐνεργοῦσα διὰ τὸ κωλύεσθαι τῶι νῶι ἐνεργεῖν καταρχάς,
τεθάφθαι τε λέγεται καὶ ἐν σπηλαίωι εἶναι, ἐπιστραφεῖσα δὲ πρὸς
νόησιν λύεσθαί τε ἐκ τῶν δεσμῶν καὶ ἀναβαίνειν, ὅταν ἀρχὴν λάβηι ἐξ
ἀναμνήσεως θεᾶσθαι τὰ ὄντα· ἔχει γάρ τι ἀεὶ οὐδὲν ἧττον ὑπερέχον τι.
Γίγνονται οὖν οἷον ἀμφίβιοι ἐξ ἀνάγκης τόν τε ἐκεῖ βίον τόν τε ἐνταῦθα
παρὰ μέρος βιοῦσαι, πλεῖον μὲν τὸν ἐκεῖ, αἳ δύνανται πλεῖον τῶι νῶι
συνεῖναι, τὸν δὲ ἐνθάδε πλεῖον, αἷς τὸ ἐναντίον ἢ φύσει ἢ τύχαις
ὑπῆρξεν. Ἃ δὴ ὑποδεικνὺς ὁ Πλάτων ἠρέμα, ὅτε διαιρεῖ αὐτὰ ἐκ τοῦ
ὑστέρου κρατῆρος καὶ μέρη ποιεῖ, τότε καί φησιν ἀναγκαῖον εἶναι εἰς
γένεσιν ἐλθεῖν, ἐπείπερ ἐγένοντο μέρη τοιαῦτα. Εἰ δὲ λέγει σπεῖραι τὸν
θεὸν αὐτάς, οὕτως ἀκουστέον, ὥσπερ ὅταν καὶ λέγοντα καὶ οἷον
δημηγοροῦντα ποιῆι· ἃ γὰρ ἐν φύσει ἐστὶ τῶν ὅλων, ταῦτα ἡ ὑπόθεσις
γεννᾶι τε καὶ ποιεῖ εἰς δεῖξιν προάγουσα ἐφεξῆς τὰ ἀεὶ οὕτω γιγνόμενά
τε καὶ ὄντα.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 280

4. Portanto, quanto às almas de cada um que se servem de inteligente


desejo na revolução para o mesmo desde que vieram a ser, que têm
potência para o que é daqui, tal como a luz, que no mundo superior é
dependente do sol e não recusa depois disso a alguém seu sustento,
sendo elas imunes por permanecer com a [alma] inteira no inteligível,
e sendo no céu com a [alma] inteira administram junto com ela, tal como
aqueles junto ao rei que a todos domina administram junto com ele, não
descendo, nem eles mesmos, dos lugares reais; pois também elas são
então ao mesmo tempo no mesmo lugar. E mudando-se do inteiro para
a parte para ser também [parte] de si mesmas, e tal que se cansando do
ser com o diverso retiram-se cada uma para o que é de si mesmas. E
quando [ela] faça isso por algum tempo, evita o todo e pela dissolução
se afasta e, por não olhar para o inteligível, porque veio a ser uma parte,
isola-se e se enfraquece e ocupa-se de muitas coisas, olha para parte, e
pelo afastamento a partir do inteiro, sendo algo único, avança a evitar o
todo diverso, ao chegar volta-se para aquele [corpo] único que é repleto
de inteiros e de todas as coisas, afastou-se do inteiro, mas administra o
individual com circunstância tocando já e cuidando das coisas externas,
sendo presente e imergindo muito para dentro dele mesmo. Aqui
acontece-lhe o que é dito “perder as asas” e em cadeias do corpo vir a
ser perdendo a invulnerabilidade, que é na administração do mundo
superior, que era com a alma, a inteira; o antes disso era em tudo melhor
para [ela] que acima andava; então tendo caído e estando em cadeia 254,
pela sensação agindo por ser impedida no princípio de agir pela
inteligência, diz-se que ela está tomada e sepultada e que está em
caverna, tendo-se voltado para o ato de pensar, para libertar-se das
cadeias e retornar, quando tomar o princípio desde anamnese de
contemplar as coisas que são255; pois ela tem sempre algo que se

254
Platão, Fédon 67d: ... ἐκλυομένην ὥσπερ [ἐκ] δεσμῶν ἐκ τοῦ σώματος; (... como
se libertasse das cadeias do corpo?).
255
Platão, Fedro 249d: τοῦ ἀληθοῦς ἀναμιμνῃσκόμενος, πτερῶταί τε καὶ
ἀναπτερούμενος προθυμούμενος ἀναπτέσθαι, ἀδυνατῶν δέ ([a alma] relembrando a
verdade, torna-se alada e tendo novamente asas pretende levantar voo, não sendo
capaz).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 281

mantém algo nada menos acima. Elas vêm a ser então tal que anfíbios
que de necessidade passam a viver em parte a vida ali e a [vida] aqui, e
mais a [vida] ali as que são capazes de ser mais com a inteligência, e
mais a [vida] daqui aquelas às quais resulta o contrário, seja por
natureza seja por sorte. Ao que na verdade fazendo tacitamente menção,
Platão, quando separa o que é da cratera [usada] por último e cria
partes256, então também diz ser necessário vir à geração, se é que vêm
a ser partes tais. E diz que o deus as semeia, assim deve-se ouvir como
se Platão criasse discursos para divulgar; pois o que há dos inteiros na
natureza, essa hipótese gera e cria para demonstração, prolongando em
seguida as coisas que assim sempre vêm a ser e que sempre são.

5. Οὐ τοίνυν διαφωνεῖ ἀλλήλοις ἥ τε εἰς γένεσιν σπορὰ ἥ τε εἰς


τελείωσιν κάθοδος τοῦ παντός, ἥ τε δίκη τό τε σπήλαιον, ἥ τε ἀνάγκη
τό τε ἑκούσιον, ἐπείπερ ἔχει τὸ ἑκούσιον ἡ ἀνάγκη, καὶ τὸ ἐν κακῶι τῶι
σώματι εἶναι· οὐδ᾽ ἡ Ἐμπεδοκλέους φυγὴ ἀπὸ τοῦ θεοῦ καὶ πλάνη οὐδ᾽
ἡ ἁμαρτία, ἐφ᾽ ἧι ἡ δίκη, οὐδ᾽ ἡ Ἡρακλείτου ἀνάπαυλα ἐν τῆι φυγῆι,
οὐδ᾽ ὅλως τὸ ἑκούσιον τῆς καθόδου καὶ τὸ ἀκούσιον αὖ. Πᾶν μὲν γὰρ
ἰὸν ἐπὶ τὸ χεῖρον ἀκούσιον, φορᾶι γε μὴν οἰκείαι ἰὸν πάσχον τὰ χείρω
ἔχειν λέγεται τὴν ἐφ᾽ οἷς ἔπραξε δίκην. Ὅταν δὲ ταῦτα πάσχειν καὶ
ποιεῖν ἦι ἀναγκαῖον ἀιδίως φύσεως νόμωι, τὸ δὲ συμβαῖνον εἰς ἄλλου
του χρείαν ἐν τῆι προσόδωι ἀπαντᾶι καταβαῖνον ἀπὸ τοῦ ὑπὲρ αὐτόν,
θεὸν εἴ τις λέγοι καταπέμψαι, οὐκ ἂν ἀσύμφωνος οὔτε τῆι ἀληθείαι οὔτε
ἑαυτῶι ἂν εἴη. Καὶ γὰρ ἀφ᾽ ἧς ἀρχῆς ἕκαστα, εἰ καὶ τὰ μεταξὺ πολλά,
καὶ τὰ ἔσχατα εἰς αὐτὴν ἀναφέρεται. Διττῆς δὲ τῆς ἁμαρτίας οὔσης, τῆς
μὲν ἐπὶ τῆι τοῦ κατελθεῖν αἰτίαι, τῆς δὲ ἐπὶ τῶι ἐνθάδε γενομένην κακὰ
δρᾶσαι, [δίκη] ἡ μέν ἐστιν αὐτὸ τοῦτο, ὃ πέπονθε κατελθοῦσα, τῆς δὲ

256
Platão, Timeu 41d: Ταῦτ’ εἶπε, καὶ πάλιν ἐπὶ τὸν πρότερον κρατῆρα, ἐν ᾧ τὴν τοῦ
παντὸς ψυχὴν κεραννὺς ἔμισγεν, τὰ τῶν πρόσθεν ὑπόλοιπα κατεχεῖτο μίσγων τρόπον
μέν τινα τὸν αὐτόν, ἀκήρατα δὲ οὐκέτι κατὰ ταὐτὰ ὡσαύτως, ἀλλὰ δεύτερα καὶ τρίτα
(disse isso e novamente na cratera de antes, em que temperava a alma do todo,
misturou, dispondo as partes restantes de antes ao misturar, de certo modo o mesmo,
mas como coisas sem têmpera, não mais da mesma forma, um só e o mesmo, mas
segundas e terceiras).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 282

τὸ ἔλαττον εἰς σώματα ἄλλα δῦναι καὶ θᾶττον ἐκ κρίσεως τῆς κατ᾽
ἀξίαν – ὃ δὴ θεσμῶι θείωι γιγνόμενον διὰ τοῦ τῆς κρίσεως ὀνόματος
δηλοῦται – τὸ δὲ τῆς κακίας ἄμετρον εἶδος μείζονος καὶ τῆς δίκης
ἠξίωται ἐπιστασίαι τινυμένων δαιμόνων. Οὕτω τοι καίπερ οὖσα θεῖον
καὶ ἐκ τῶν τόπων τῶν ἄνω ἐντὸς γίνεται τοῦ σώματος καὶ θεὸς οὖσα ὁ
ὕστερος ῥοπῆι αὐτεξουσίωι καὶ αἰτίαι δυνάμεως καὶ τοῦ μετ᾽ αὐτὴν
κοσμήσει ὡδὶ ἔρχεται· κἂν μὲν θᾶττον φύγηι, οὐδὲν βέβλαπται γνῶσιν
κακοῦ προσλαβοῦσα καὶ φύσιν κακίας γνοῦσα τάς τε δυνάμεις ἄγουσα
αὐτῆς εἰς τὸ φανερὸν καὶ δείξασα ἔργα τε καὶ ποιήσεις, ἃ ἐν τῶι
ἀσωμάτωι ἠρεμοῦντα μάτην τε ἂν ἦν εἰς τὸ ἐνεργεῖν ἀεὶ οὐκ ἰόντα, τήν
τε ψυχὴν αὐτὴν ἔλαθεν ἂν ἃ εἶχεν οὐκ ἐκφανέντα οὐδὲ πρόοδον
λαβόντα· εἴπερ πανταχοῦ ἡ ἐνέργεια τὴν δύναμιν ἔδειξε κρυφθεῖσαν ἂν
ἁπάντη καὶ οἷον ἀφανισθεῖσαν καὶ οὐκ οὖσαν μηδέποτε ὄντως οὖσαν.
Νῦν μὲν γὰρ θαῦμα ἔχει τῶν ἔνδον ἕκαστος διὰ τῆς ποικιλίας τῶν ἔξω,
οἷόν ἐστιν ἐκ τοῦ τὰ γλαφυρὰ ταῦτα δρᾶσαι.

5. Portanto não há dissonância entre uma coisa e outra: a disseminação


para geração e a descida para perfeição do todo, a justiça e a caverna, a
necessidade e o voluntário, uma vez que a necessidade tem o voluntário,
e o ser em corpo que é um mal; e nem a fuga e o vagar a partir da
divindade, tema de Empédocles257, nem o erro, sobre que é a justiça,
nem o repouso na fuga258, tema de Heráclito, nem em geral o voluntário
e por sua vez o involuntário da descida. Pois tudo que vai para o pior é
involuntário, contudo indo em órbita familiar sofrendo as piores coisas
diz-se ter a justiça sobre o que praticou. E quando sofrer e criar essas
coisas seja necessário eternamente por lei da natureza, o que incide para
utilidade de algo diverso no acesso contrário, baixando ele mesmo a
partir do que é acima, se alguém disser que o deus envia abaixo, não
seria em desacordo nem com a verdade nem consigo mesmo. Pois a

257
Empédocles, 31 B 84 Diels – Kranz: φῶς δ’ ἔξω διαθρῶισκον, ὅσον ταναώτερον
ἦεν (e a luz saltando para fora, tanto era mais distante).
258
Heráclito, 22 B 60 Diels – Kranz: ὁδὸς ἄνω κάτω μία καὶ ὡυτή (a via acima e
abaixo é uma só e a mesma); 22 B 84a Diels – Kranz: μεταβάλλον ἀναπαύεται
(mudando repousa).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 283

partir desse princípio cada coisa, mesmo sendo muitos os intermédios,


reporta os extremos ao mesmo princípio. E sendo duplo o erro, um por
causa do vir abaixo, outro por tendo vindo a ser aqui agir mal, a [pena]
é isso mesmo que sofreu, tendo vindo abaixo, sendo a outra pena mais
abaixo imergir em corpos diversos, mais acelerado desde juízo que é
por mérito – o que na verdade vem a ser por estatuto divino se mostra
pelo nome do juízo – e a forma desmedida de maldade maior ainda que
a pena está avaliada por direção de dâimones que cobram 259. Assim,
mesmo sendo divina, desde lugares superiores vem a ser dentro do
corpo, porque é o último deus com autodeterminante inclinação, tanto
por causa de sua potência quanto pela ordenação de algo depois dela
mesma, deste modo chega [ao corpo]; e se fugir mais rapidamente, não
está prejudicada por tomar conhecimento do mal e por conhecer a
natureza de maldade, porque conduz as potências dela para o que é
evidente, ao mostrar trabalhos e criações, que, isolados no incorpóreo,
seriam em vão, porque não iriam para o agir sempre, e ocultamente a
mesma alma não revelaria o que tinha nem tomaria a procissão; se é que
em toda parte a atividade mostra potência que se esconderia totalmente
e tal que desapareceria não sendo nunca a que é realmente. Pois agora
cada um fica maravilhado das [atividades] de dentro pela variação das
de fora, [porque] desde alguma atividade ela é capaz de realizar essas
coisas refinadas.

6. Εἴπερ οὖν δεῖ μὴ ἓν μόνον εἶναι – ἐκέκρυπτο γὰρ ἂν πάντα μορφὴν


ἐν ἐκείνωι οὐκ ἔχοντα, οὐδ᾽ ἂν ὑπῆρχέ τι τῶν ὄντων στάντος ἐν αὐτῶι
ἐκείνου, οὐδ᾽ ἂν τὸ πλῆθος ἦν ἂν τῶν ὄντων τούτων τῶν ἀπὸ τοῦ ἑνὸς

259
Platão, Fédon 83d: Ὅτι ἑκάστη ἡδονὴ καὶ λύπη ὥσπερ ἧλον ἔχουσα προσηλοῖ
αὐτὴν πρὸς τὸ σῶμα καὶ προσπερονᾷ καὶ ποιεῖ σωματοειδῆ, δοξάζουσαν ταῦτα ἀληθῆ
εἶναι ἅπερ ἂν καὶ τὸ σῶμα φῇ (porque cada prazer e dor é como se, tendo um prego,
pregasse e transfixasse a alma ao corpo e a fizesse formalmente corpórea, porque ela
acredita ser verdadeiro isso que o corpo diga); 113e: ἐπειδὰν ἀφίκωνται οἱ
τετελευτηκότες εἰς τὸν τόπον οἷ ὁ δαίμων ἕκαστον κομίζει, πρῶτον μὲν διεδικάσαντο
οἵ τε καλῶς καὶ ὁσίως βιώσαντες καὶ οἱ μή (quando os que morreram chegam ao lugar
em que o dâimon conduz cada um, primeiro são julgados tanto os que viveram bem e
piamente quanto os que não).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 284

γεννηθέντων μὴ τῶν μετ᾽ αὐτὰ τὴν πρόοδον λαβόντων, ἃ ψυχῶν εἴληχε


τάξιν – τὸν αὐτὸν τρόπον οὐδὲ ψυχὰς ἔδει μόνον εἶναι μὴ τῶν δι᾽ αὐτὰς
γενομένων φανέντων, εἴπερ ἑκάστηι φύσει τοῦτο ἔνεστι τὸ μετ᾽ αὐτὴν
ποιεῖν καὶ ἐξελίττεσθαι οἷον σπέρματος ἔκ τινος ἀμεροῦς ἀρχῆς εἰς
τέλος τὸ αἰσθητὸν ἰούσης, μένοντος μὲν ἀεὶ τοῦ προτέρου ἐν τῆι οἰκείαι
ἕδραι, τοῦ δὲ μετ᾽ αὐτὸ οἷον γεννωμένου ἐκ δυνάμεως ἀφάτου, ὅση ἐν
ἐκείνοις, ἣν οὐκ ἔδει στῆσαι οἷον περιγράψαντα φθόνωι, χωρεῖν δὲ ἀεί,
ἕως εἰς ἔσχατον μέχρι τοῦ δυνατοῦ τὰ πάντα ἥκηι αἰτίαι δυνάμεως
ἀπλέτου ἐπὶ πάντα παρ᾽ αὐτῆς πεμπούσης καὶ οὐδὲν περιιδεῖν ἄμοιρον
αὐτῆς δυναμένης. Οὐ γὰρ δὴ ἦν ὃ ἐκώλυεν ὁτιοῦν ἄμοιρον εἶναι
φύσεως ἀγαθοῦ, καθόσον ἕκαστον οἷόν τ᾽ ἦν μεταλαμβάνειν. Εἴτ᾽ οὖν
ἦν ἀεὶ ἡ τῆς ὕλης φύσις, οὐχ οἷόν τε ἦν αὐτὴν μὴ μετασχεῖν οὖσαν τοῦ
πᾶσι τὸ ἀγαθὸν καθόσον δύναται ἕκαστον χορηγοῦντος· εἴτ᾽
ἠκολούθησεν ἐξ ἀνάγκης ἡ γένεσις αὐτῆς τοῖς πρὸ αὐτῆς αἰτίοις, οὐδ᾽
ὣς ἔδει χωρὶς εἶναι, ἀδυναμίαι πρὶν εἰς αὐτὴν ἐλθεῖν στάντος τοῦ καὶ τὸ
εἶναι οἷον ἐν χάριτι δόντος. Δεῖξις οὖν τῶν ἀρίστων ἐν νοητοῖς τὸ ἐν
αἰσθητῶι κάλλιστον, τῆς τε δυνάμεως τῆς τε ἀγαθότητος αὐτῶν, καὶ
συνέχεται πάντα εἰσαεὶ τά τε νοητῶς τά τε αἰσθητῶς ὄντα, τὰ μὲν παρ᾽
αὐτῶν ὄντα, τὰ δὲ μετοχῆι τούτων τὸ εἶναι εἰσαεὶ λαβόντα, μιμούμενα
τὴν νοητὴν καθόσον δύναται φύσιν.

6. Então, se é preciso não haver somente o uno – pois tudo se ocultaria


nele, não havendo figura, nem algo das coisas que são teria começo,
aquele estando em si mesmo, nem haveria a multiplicidade daquelas
coisas que são as que foram geradas a partir do uno, nem das que, depois
dessas, tomaram a procissão, que tiveram por sorte posição de almas –
do mesmo modo não era preciso haver somente almas, sem que, por
elas, as coisas que vêm a ser se mostrassem, se é que a cada natureza é
possível esse criar o que vem depois de si e desenvolver-se tal que
semente que vai de algum princípio sem parte ao termo que é sensível,
permanecendo sempre o anterior em familiar assento, tal que o que é
gerado depois disso é desde indizível potência, tamanha é a potência
naqueles [inteligíveis], a qual não era preciso ficar tal como tendo-se
limitado por ciúme, mas [é preciso] correr sempre, até que todas as
coisas cheguem ao extremo, quanto é possível, por causa da potência

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 285

insaciável que envia a tudo [parte] de si mesma, para nada ver ao redor
sem parte de si mesma. Pois na verdade não havia o que impedisse
qualquer coisa, sendo sem parte, tomar parte da natureza do bem,
enquanto cada uma fosse capaz. Então se era sempre a natureza da
matéria, não era possível ela mesma sendo [sempre] não participar do
que a tudo provê o bem, quanto cada um é capaz; e se a geração dela
foi consequência da necessidade por causadores antes dela, nem assim
era preciso ser fora [da natureza do bem], estando em incapacidade de
antes chegar a ela o que dá também o ser tal que de graça. Então o mais
belo no mundo sensível é uma demonstração dos melhores entre os
inteligíveis, tanto da capacidade quanto da bondade deles, e se mantêm
juntas todas as coisas para sempre tanto as que são de modo inteligível
quanto as de modo sensível, umas sendo de si mesmas, e outras que por
participação dessas tomam o ser para sempre, imitando a natureza
inteligível quanto podem.

7. Διττῆς δὲ φύσεως ταύτης οὔσης, νοητῆς, τῆς δὲ αἰσθητῆς, ἄμεινον


μὲν ψυχῆι ἐν τῶι νοητῶι εἶναι, ἀνάγκη γε μὴν ἔχειν καὶ τοῦ αἰσθητοῦ
μεταλαμβάνειν τοιαύτην φύσιν ἐχούσηι, καὶ οὐκ ἀγανακτητέον αὐτὴν
ἑαυτῆι, εἰ μὴ πάντα ἐστὶ τὸ κρεῖττον, μέσην τάξιν ἐν τοῖς οὖσιν
ἐπισχοῦσαν, θείας μὲν μοίρας οὖσαν, ἐν ἐσχάτωι δὲ τοῦ νοητοῦ οὖσαν,
ὡς ὅμορον οὖσαν τῆι αἰσθητῆι φύσει διδόναι μέν τι τούτωι τῶν παρ᾽
αὐτῆς, ἀντιλαμβάνειν δὲ καὶ παρ᾽ αὐτοῦ, εἰ μὴ μετὰ τοῦ αὐτῆς
ἀσφαλοῦς διακοσμοῖ, προθυμίαι δὲ πλείονι εἰς τὸ εἴσω δύοιτο μὴ
μείνασα ὅλη μεθ᾽ ὅλης, ἄλλως τε καὶ δυνατὸν αὐτῆι πάλιν ἐξαναδῦναι,
ἱστορίαν ὧν ἐνταῦθα εἶδέ τε καὶ ἔπαθε προσλαβούσηι καὶ μαθούσηι,
οἷον ἄρα ἐστὶν ἐκεῖ εἶναι, καὶ τῆι παραθέσει τῶν οἷον ἐναντίων οἷον
σαφέστερον τὰ ἀμείνω μαθούσηι. Γνῶσις γὰρ ἐναργεστέρα τἀγαθοῦ ἡ
τοῦ κακοῦ πεῖρα οἷς ἡ δύναμις ἀσθενεστέρα, ἢ ὥστε ἐπιστήμηι τὸ
κακὸν πρὸ πείρας γνῶναι. Ὥσπερ δὲ ἡ νοερὰ διέξοδος κατάβασίς ἐστιν
εἰς ἔσχατον τὸ χεῖρον – οὐ γὰρ ἔνι εἰς τὸ ἐπέκεινα ἀναβῆναι, ἀλλ᾽
ἀνάγκη ἐνεργήσασαν ἐξ ἑαυτῆς καὶ μὴ δυνηθεῖσαν μεῖναι ἐφ᾽ ἑαυτῆς
φύσεως δὴ ἀνάγκηι καὶ νόμωι μέχρι ψυχῆς ἐλθεῖν· τέλος γὰρ αὐτῆι
τοῦτο· ταύτηι δὲ τὸ ἐφεξῆς παραδοῦναι αὐτὴν πάλιν ἀναδραμοῦσαν –
οὕτως καὶ ψυχῆς ἐνέργεια· τὸ μὲν μετ᾽ αὐτὴν τὰ τῆιδε, τὸ δὲ πρὸ αὐτῆς

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 286

ἡ θέα τῶν ὄντων, ταῖς μὲν παρὰ μέρος καὶ χρόνωι γιγνομένου τοῦ
τοιούτου καὶ ἐν τῶι χείρονι γιγνομένης ἐπιστροφῆς πρὸς τὰ ἀμείνω, τῆι
δὲ λεγομένηι τοῦ παντὸς εἶναι τὸ μηδ᾽ ἐν τῶι χείρονι ἔργωι γεγονέναι,
ἀπαθεῖ δὲ κακῶν οὔσηι θεωρίαι τε περινοεῖν τὰ ὑπ᾽ αὐτὴν ἐξηρτῆσθαί
τε τῶν πρὸ αὐτῆς ἀεί· ἢ ἅμα δυνατὸν καὶ ἄμφω, λαμβανούσηι μὲν
ἐκεῖθεν, χορηγούσηι δὲ ἅμα ἐνταῦθα, ἐπείπερ ἀμήχανον ἦν μὴ καὶ
τούτων ἐφάπτεσθαι ψυχῆι οὔσηι.

7. E dupla sendo essa natureza, inteligível e sensível, melhor à alma é


ser inteligível, contudo há necessidade também de tomar parte do
sensível mantendo tal natureza, e não deve irar-se consigo mesma, se
nem tudo é o melhor, mantendo o meio termo entre as coisas que são,
sendo de [natureza] divina e de destino, sendo no extremo do inteligível,
de modo a, sendo confinante com a natureza sensível, dar algo a esse
[sensível] das coisas de si, para também receber [algo] em troca dele;
se não ordena com a própria segurança, com muito ardor imerge para
dentro [do corpo] não permanecendo inteira com a [alma] inteira, e por
outro lado também é possível para ela reemergir, [porque] do
experimento das coisas daqui viu e sofreu, tendo tomado parte e
aprendido, tal que é possível portanto ser ali, e pela comparação
daquelas coisas como que contrárias, tal que de modo mais sábio
aprenda as melhores. Pois ato é de conhecer: de modo mais claro do que
a do bem, é a prova do mal para aqueles cuja potência é mais fraca do
que conhecer assim por experiência o mal antes da prova. Assim o
inteligente percurso é descida ao pior extremo – pois não é possível [a
inteligência] subir ao que é além, mas necessidade é que ela seja em
atividade a partir de si mesma, não sendo capaz de permanecer em sua
mesma natureza por necessidade e por lei, para chegar até a alma [do
todo]; pois este é o objetivo dela: entregar aqui o que se segue, e
novamente retornar – assim também é a atividade da alma: de um lado
depois dela são as coisas daqui, de outro a contemplação das coisas que
são260 antes dela, quando ela é com as coisas por parte, porque por um

260
A atividade da alma é dupla: administrar o corpo e contemplar as essências
inteligíveis.

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 287

tempo vem a ser assim, no pior vem a ser a volta para as melhores
coisas, mas à [alma] que é dita ser do todo não aconteceu ser no pior
trabalho, porque é imune de males para cogitar em contemplação as
coisas abaixo de dela e estar ligada sempre às que são antes dela;
certamente, ao mesmo tempo é possível ambas as coisas: ela tomar lá
de cima e prover ao mesmo tempo cá em baixo, uma vez que, sendo
alma, era impensável não tocar nessas coisas [sensíveis].

8. Καὶ εἰ χρὴ παρὰ δόξαν τῶν ἄλλων τολμῆσαι τὸ φαινόμενον λέγειν


σαφέστερον, οὐ πᾶσα οὐδ᾽ ἡ ἡμετέρα ψυχὴ ἔδυ, ἀλλ᾽ ἔστι τι αὐτῆς ἐν
τῶι νοητῶι ἀεί· τὸ δὲ ἐν τῶι αἰσθητῶι εἰ κρατοῖ, μᾶλλον δὲ εἰ κρατοῖτο
καὶ θορυβοῖτο, οὐκ ἐᾶι αἴσθησιν ἡμῖν εἶναι ὧν θεᾶται τὸ τῆς ψυχῆς ἄνω.
Τότε γὰρ ἔρχεται εἰς ἡμᾶς τὸ νοηθέν, ὅταν εἰς αἴσθησιν ἥκηι
καταβαῖνον· οὐ γὰρ πᾶν, ὃ γίγνεται περὶ ὁτιοῦν μέρος ψυχῆς,
γινώσκομεν, πρὶν ἂν εἰς ὅλην τὴν ψυχὴν ἥκηι· οἷον καὶ ἐπιθυμία ἐν τῶι
ἐπιθυμητικῶι μένουσα [οὐ] γιγνώσκεται ἡμῖν, ἀλλ᾽ ὅταν τῆι αἰσθητικῆι
τῆι ἔνδον δυνάμει ἢ καὶ διανοητικῆι ἀντιλαβώμεθα ἢ ἄμφω. Πᾶσα γὰρ
ψυχὴ ἔχει τι καὶ τοῦ κάτω πρὸς σῶμα καὶ τοῦ ἄνω πρὸς νοῦν. Καὶ ἡ μὲν
ὅλη καὶ ὅλου τῶι αὐτῆς μέρει τῶι πρὸς τὸ σῶμα τὸ ὅλον κοσμεῖ
ὑπερέχουσα ἀπόνως, ὅτι μηδ᾽ ἐκ λογισμοῦ, ὡς ἡμεῖς, ἀλλὰ νῶι, ὡς ἡ
τέχνη οὐ βουλεύεται τὸ κάτω αὐτῆς κοσμοῦντος ὅ τι ὅλου. Αἱ δ᾽ ἐν
μέρει γινόμεναι καὶ μέρους ἔχουσι μὲν καὶ αὗται τὸ ὑπερέχον, ἄσχολοι
δὲ τῆι αἰσθήσει καὶ ἀντιλήψει πολλῶν ἀντιλαμβανόμεναι τῶν παρὰ
φύσιν καὶ λυπούντων καὶ ταραττόντων, ἅτε οὗ ἐπιμέλονται μέρους καὶ
ἐλλειποῦς καὶ πολλὰ ἔχοντος τὰ ἀλλότρια κύκλωι, πολλὰ δὲ ὧν ἐφίεται·
καὶ ἥδεται δὲ καὶ ἡδονὴ ἠπάτησε. Τὸ δέ ἐστι καὶ ἀνήδονον ὂν τὰς
προσκαίρους ἡδονάς, ἡ δὲ διαγωγὴ ὁμοία.

8. E se é preciso ousar dizer contra a opinião dos outros o que se mostra


mais claramente: não toda a nossa alma imerge, mas há algo dela no
inteligível sempre; e se a parte no sensível dominar, ou seja, se [a alma]
for dominada e perturbada, essa parte não permite haver sensação para
nós das coisas que a parte superior da alma contempla. Pois o que foi
pensado chega a nós no momento em que, descendo, chega à sensação;
pois não conhecemos tudo que se conhece em qualquer parte da alma,

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 288

antes de chegar à alma inteira; tal que um desejo que permanece no


concupiscível <não> é conhecido para nós, mas [reconhecemos]
quando [o] contrapusermos à capacidade interna de sentir ou ainda de
raciocinar, ou ambas as coisas. Pois toda alma tem algo de inferior para
o corpo e de superior para a inteligência. E a [alma] inteira ordena o
cosmo inteiro com sua parte de inteiro que é para o corpo, ela sendo
acima sem fadiga, não desde cálculo, como nós, mas com inteligência,
assim ‘a arte não delibera’261 é a parte inferior da alma, quando uma
parte inteira ordena o que quer que seja. E as que vêm a ser em parte e
essas que de parte têm o que é superior são ocupadas com a sensação e
apropriação de muitas coisas, porque se apropriam de coisas que contra
a natureza as afligem e perturbam, pois cuidam do que é parte tanto
insuficiente quanto que tem muitas coisas estranhas ao círculo, e muitas
das quais se permitem; e o prazer tanto agrada quanto ilude. A parte
[superior delas] não se agrada de prazeres ocasionais, e sua condução é
por semelhanças.

261
Aristóteles, Física II 8, 199b 28: καίτοι καὶ ἡ τέχνη οὐ βουλεύεται (no entanto a
arte não delibera).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 289

IV 9 (8)
Se Todas as Almas Formam uma Só
Introdução

Neste tratado Plotino vai examinar o problema da unidade da Alma que


produz tudo múltiplo, como pode ser una, se a nossa, a minha e a tua,
não têm o mesmo sentir e sofrer? Cada uma tem diferenças
fundamentais, como sendo justas ou injustas, humanas ou selvagens,
ativas ou inertes; de fato, elas não parecem ser únicas em número, mas
múltiplas, o que poderia levar a pensar que são do mesmo gênero, mas
de diferentes espécies, ou seja, que têm em ato a mesma essência que o
criador tem em potência, o que causa qualidades e afecções diversas.
Platão diz, no Timeu 35a, que o demiurgo obteve uma terceira forma de
essência da mistura da essência indivisível com a divisível, de modo
que a alma do todo viesse novamente a ser una; as nossas almas têm
essa mesma natureza híbrida, pois se multiplicam e criam de modo
múltiplo, mas sabem guardar o caminho de volta, tornando-se unas
novamente. As sensações de uma não são necessariamente de outra,
porque seria necessário ter o mesmo corpo, embora haja uma ‘simpatia’
das sensações do todo para a parte. O ato de criar é individual e difere
da criação do todo, que tem a faculdade de plasmar e produzir os corpos
que serão administrados pelas almas individuais; e nestas a sensações
não são semelhantes. O inteiro tem a mesma faculdade em ato que se
divide, como de crescimento ou de julgar com inteligência, mas todas
essas potências, quando livres do corpo, retomam a unicidade de que
provêm. Assim a alma una provê tudo atribuindo as potências
necessárias a cada espécie sua; desse modo mesmo as almas individuais
poderiam criar, à imitação da alma do todo, se não fosse preciso estar
aqui. Mas como a alma una é também em todas as outras individuais?
Se ela se dividir em muitas continuará a ser íntegra? De fato, a alma do
todo é o limite da Alma contemplativa, que a cria para administrar o

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 290

todo, que sendo um só tem uma só alma dirigente, que por sua vez é
una no uno, ou seja, é íntegra porque é incorpórea, mas está em cada
parte como marca de cera de um único selo em muitos corpos, essa
imagem para nós é visagem, pois da nossa parte não conseguimos
contemplar sua essência como sendo o que é. No entanto ela é tanto
essência como incorpórea, por isso mantém-se una no uno. Mas nós
temos de projetar a dimensão sensível sobre o que é inteligível, por isso
não conseguimos ver claramente o que a ciência demonstra pelo homem
que é seu conhecedor, pois este conclui tudo que é anterior a
determinada parte da ciência, tal que um teorema, além de deduzir tudo
que é posterior a essa parte estudada; isso evidencia que o uno é no
múltiplo, por ser uno em ato e por ser essência em potência para todos
que participam dele. Desse modo a Alma é una em ato e mantém todas
as outras, a do todo e as individuais, em potência, porque todas
participam dela, na medida em que dela provêm e para ela se dirigem.
Essa capacidade da Alma de se dar a todas, mas se manter única, é
própria do que é sempre um só e o mesmo, por oposição ao que sempre
vem a ser, como se diz no Timeu, 28a. Todas as almas por ter a mesma
essência retornam a sua origem, podendo ainda retornar à dimensão
sensível infinitas vezes; essa é sua capacidade por ter a essência que
tende ao uno.

θʹ

Εἰ αἱ πᾶσαι ψυχαὶ μία

1. Ἆρ᾽ ὥσπερ ψυχὴν ἑκάστου μίαν φαμὲν εἶναι, ὅτι πανταχοῦ τοῦ
σώματος ὅλη πάρεστι, καὶ ἔστιν ὄντως τὸν τρόπον τοῦτον μία, οὐκ
ἄλλο μέν τι αὐτῆς ὡδί, ἄλλο δὲ ὡδὶ τοῦ σώματος ἔχουσα, ἔν τε τοῖς
αἰσθητικοῖς οὕτως ἡ αἰσθητική, καὶ ἐν τοῖς φυτοῖς δὲ ὅλη πανταχοῦ ἐν
ἑκάστωι μέρει, οὕτως καὶ ἡ ἐμὴ καὶ ἡ σὴ μία καὶ πᾶσαι μία; Καὶ ἐπὶ τοῦ
παντὸς ἡ ἐν πᾶσι μία οὐχ ὡς ὄγκωι μεμερισμένη, ἀλλὰ πανταχοῦ
ταὐτόν; Διὰ τί γὰρ ἡ ἐν ἐμοὶ μία, ἡ δ᾽ ἐν τῶι παντὶ οὐ μία; Οὐ γὰρ ὄγκος
οὐδὲ ἐκεῖ οὐδὲ σῶμα. Εἰ μὲν οὖν ἐκ τῆς τοῦ παντὸς καὶ ἡ ἐμὴ καὶ ἡ σή,
μία δὲ ἐκείνη, καὶ ταύτας δεῖ εἶναι μίαν. Εἰ δὲ καὶ ἡ τοῦ παντὸς καὶ ἡ

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 291

ἐμὴ ἐκ ψυχῆς μιᾶς, πάλιν αὖ πᾶσαι μία. Αὕτη τοίνυν τίς ἡ μία; Ἀλλὰ
πρότερον λεκτέον, εἰ ὀρθῶς λέγεται τὸ μίαν τὰς πάσας, ὥσπερ ἡ ἑνὸς
ἑκάστου. Ἄτοπον γάρ, εἰ μία ἡ ἐμὴ καὶ ἡ ὁτουοῦν ἄλλου· ἐχρῆν γὰρ
ἐμοῦ αἰσθανομένου καὶ ἄλλον αἰσθάνεσθαι, καὶ ἀγαθοῦ ὄντος ἀγαθὸν
ἐκεῖνον εἶναι καὶ ἐπιθυμοῦντος ἐπιθυμεῖν, καὶ ὅλως ὁμοπαθεῖν ἡμᾶς τε
πρὸς ἀλλήλους καὶ πρὸς τὸ πᾶν, ὥστε ἐμοῦ παθόντος συναισθάνεσθαι
τὸ πᾶν. Πῶς δὲ καὶ μιᾶς οὔσης ἡ μὲν λογική, ἡ δὲ ἄλογος, καὶ ἡ μὲν ἐν
ζώιοις, ἡ δὲ ἐν φυτοῖς ἄλλη; Πάλιν δὲ εἰ μὴ θησόμεθα ἐκείνως, τό τε
πᾶν ἓν οὐκ ἔσται, μία τε ἀρχὴ ψυχῶν οὐχ εὑρεθήσεται.

1. Por acaso, como dissemos que a alma de cada um é uma só, porque
inteira é presente em toda parte do corpo, e é por esse modo realmente
uma só, e não uma coisa é algo dela aqui, e outra ali, sendo do corpo, e
desse modo é nos sensíveis a sensitiva, e mesmo nas plantas é inteira
absolutamente em cada parte, desse modo tanto a minha e a tua é uma
só quanto todas são uma só? E no todo ela é uma só em tudo, não
estando partilhada como em massa, mas absolutamente a mesma coisa?
Pois pelo quê aquela em mim é uma só, e aquela no todo não é uma só?
Não [é assim], pois não há massa ali nem corpo. Então se desde a do
todo é também a minha e a tua, e uma só é aquela, também estas é
preciso ser uma só. E se a do todo e a minha são desde uma só alma,
novamente todas por sua vez são uma só. Portanto essa mesma que é
uma só quem é? Mas antes deve-se dizer, se corretamente se diz que
todas são uma só, como é a de cada um. Pois é absurdo se é uma só a
minha e a de qualquer um outro; pois era preciso, eu tendo uma
sensação, também o outro sentir, e, sendo eu bom, aquele ser bom e, eu
desejando, [aquele] desejar, e inteiramente termos as mesmas
impressões um em relação ao outro e em relação ao todo, de modo a,
tendo eu uma impressão, o todo sentir junto. E como, sendo uma só,
uma racional, e outra irracional, e uma nos animais, e outra diversa nas
plantas? E novamente se não pusermos desse modo, o todo não será
único, e o princípio único das almas não será encontrado.

2. Πρῶτον μὲν οὖν οὐκ, εἰ ἡ ψυχὴ μία ἡ ἐμὴ καὶ ἡ ἄλλου, ἤδη καὶ τὸ
συναμφότερον τῶι συναμφοτέρωι ταὐτόν. Ἐν ἄλλωι γὰρ καὶ ἐν ἄλλωι

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 292

ταὐτὸν ὂν οὐ τὰ αὐτὰ πάθη ἕξει ἐν ἑκατέρωι, ὡς ἄνθρωπος ὁ ἐν ἐμοὶ


κινουμένωι· ἐν ἐμοὶ γὰρ κινουμένωι καὶ ἐν σοὶ μὴ κινουμένωι ἐν ἐμοὶ
μὲν κινούμενος, ἐν σοὶ δὲ ἑστὼς ἔσται· καὶ οὐκ ἄτοπον οὐδὲ
παραδοξότερον τὸ ἐν ἐμοὶ καὶ σοὶ ταὐτὸν εἶναι· οὐ δὴ ἀνάγκη
αἰσθανομένου ἐμοῦ καὶ ἄλλον πάντη τὸ αὐτὸ πάθος ἔχειν. Οὐδὲ γὰρ ἐπὶ
τοῦ ἑνὸς σώματος τὸ τῆς ἑτέρας χειρὸς πάθημα ἡ ἑτέρα ἤισθετο, ἀλλ᾽
ἡ ἐν τῶι ὅλωι. Εἰ δὴ ἔδει τὸ ἐμὸν γινώσκειν καὶ σέ, ἕν τι ἐξ ἀμφοῖν ὄν,
συνημμένον σῶμα ἐχρῆν εἶναι· οὕτω γὰρ συναφθεῖσαι ἑκατέρα ἤισθετο
ταὐτόν. Ἐνθυμεῖσθαι δὲ προσήκει τὸ καὶ πολλὰ λανθάνειν τὸ ὅλον καὶ
τῶν ἐν ἑνὶ καὶ τῶι αὐτῶι σώματι γιγνομένων, καὶ τοσούτωι, ὅσωι ἂν
μέγεθος ἔχηι τὸ σῶμα πολύ, ὥσπερ ἐπὶ κητῶν λέγεται μεγάλων, ἐφ᾽ ὧν
παθήματός τινος περὶ τὸ μέρος ὄντος τῶι ὅλωι αἴσθησις διὰ μικρότητα
τοῦ κινήματος οὐδεμία προσέρχεται· ὥστε οὐκ ἀνάγκη διάδηλον τύπωι
τὴν αἴσθησιν τῶι ὅλωι καὶ παντὶ εἰσαφικνεῖσθαι ἑνός τινος παθόντος.
Ἀλλὰ συμπάσχειν μὲν οὐκ ἄτοπον οὐδὲ ἀπογνωστέον, τύπωσιν δὲ
αἰσθητικὴν οὐκ ἀναγκαῖον γίγνεσθαι. Ἀρετὴν δὲ ἐν ἐμοὶ ἔχειν, κακίαν
δὲ ἐν ἑτέρωι, οὐκ ἄτοπον, εἴπερ καὶ κινεῖσθαι ἐν ἄλλωι καὶ ἐν ἄλλωι
ἑστάναι ταὐτὸν οὐκ ἀδύνατον. Οὐδὲ γὰρ οὕτως μίαν λέγομεν, ὡς πάντη
πλήθους ἄμοιρον – τοῦτο γὰρ τῆι κρείττονι φύσει δοτέον – ἀλλὰ μίαν
καὶ πλῆθος λέγομεν καὶ μετέχειν τῆς φύσεως τῆς περὶ τὰ σώματα
μεριστῆς γινομένης καὶ τῆς ἀμερίστου αὖ, ὥστε πάλιν εἶναι μίαν.
Ὥσπερ δὲ ἐπ᾽ ἐμοῦ τὸ γενόμενον περὶ τὸ μέρος πάθος οὐκ ἀνάγκη
κρατεῖν τοῦ ὅλου, ὃ δ᾽ ἂν περὶ τὸ κυριώτερον γένηται φέρει τι εἰς τὸ
μέρος, οὕτω τὰ μὲν ἐκ τοῦ παντὸς εἰς ἕκαστον σαφέστερα μᾶλλον
ὁμοπαθούντων πολλαχοῦ τῶι ὅλωι, τὰ δὲ παρ᾽ ἡμῶν ἄδηλον εἰ συντελεῖ
πρὸς τὸ ὅλον.

2. Primeiro, se a alma é una, a minha e a de outro, um conjunto [de alma


e corpo] já não seria o mesmo que outro. Pois sendo o mesmo em um e
em outro, não haverá as mesmas impressões em cada um dos dois
conjuntos, assim homem é o que é em mim, quando me movo; pois será
[o mesmo] em mim quando me movo e em ti quando não te moves,
movendo-se em mim, será o que está parado em ti; e não é absurdo nem
mais paradoxal o que é em mim ser o mesmo em ti; portanto não há
necessidade, tendo eu uma sensação, também o outro ter totalmente a

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 293

mesma impressão. Pois nem no corpo único uma [mão] perceberia o


produto de sensação de outra mão, mas a [alma perceberia] no inteiro
[conjunto]. Portanto se era preciso tu também conhecer a minha
[impressão], como sendo algo único de ambos, era necessário ser um
corpo que está coligado; pois por ter sido assim coligados ambos
sentiriam o mesmo. Convém considerar que muitas coisas fogem ao
inteiro mesmo das que vêm a ser em um só e mesmo corpo, tanto mais
quanto o corpo tenha grandeza, como se diz sobre os grandes cetáceos,
sobre os quais, havendo um certo produto de impressão em uma parte,
ao inteiro nenhuma sensação de movimento se apresenta por sua
pequenez; assim não é necessidade clara por uma marca a sensação
insinuar-se no inteiro e todo de algo único que sofre. Mas sofrer em
conjunto não é absurdo nem se deve deixar de reconhecer, mas
marcação sensível não é necessário vir a ser. E haver virtude em mim,
e vício em outro não é absurdo, se [a alma] se mover em um e ficar
parada em outro, não é possível ser a mesma coisa. Pois nem dizemos
ser assim una de modo a ser totalmente não participante do múltiplo –
pois isso deve-se atribuir à natureza superior – mas dizemos que ela é
una e múltipla por participar da natureza que vem a ser partilhável nos
corpos e ainda da não-partilhável262, de modo a ser una novamente. E
como em mim a impressão que vem a ser na parte não há necessidade
dominar o todo, [porque] o que venha a ser o mais forte leva algo à
parte, assim são as mais claras [impressões] desde o todo a cada parte,
porque são mais simpáticas em toda parte ao inteiro, e quanto às de
nossa parte não é claro se elas contribuem em relação ao inteiro.

3. Καὶ μὴν ἐκ τῶν ἐναντίων φησὶν ὁ λόγος καὶ συμπαθεῖν ἀλλήλοις


ἡμᾶς καὶ συναλγοῦντας ἐκ τοῦ ὁρᾶν καὶ διαχεομένους καὶ εἰς τὸ φιλεῖν
ἑλκομένους κατὰ φύσιν· μήποτε γὰρ τὸ φιλεῖν διὰ τοῦτο. Εἰ δὲ καὶ

262
Platão, Timeu 35a: τῆς ἀμερίστου καὶ ἀεὶ κατὰ ταὐτὰ ἐχούσης οὐσίας καὶ τῆς αὖ
περὶ τὰ σώματα γιγνομένης μεριστῆς τρίτον ἐξ ἀμφοῖν ἐν μέσῳ συνεκεράσατο οὐσίας
εἶδος (da essência não partilhável que é sempre una e a mesma e da que por sua vez
vem a ser partilhável nos corpos misturou uma terceira forma de essência no meio de
ambas).

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 294

ἐπωιδαὶ καὶ ὅλως μαγεῖαι συνάγουσι καὶ συμπαθεῖς πόρρωθεν ποιοῦσι,


πάντως τοι διὰ ψυχῆς μιᾶς. Καὶ λόγος δὲ ἠρέμα λεχθεὶς διέθηκε τὸ
πόρρω, καὶ κατακούειν πεποίηκε τὸ διεστὼς ἀμήχανον ὅσον τόπον· ἐξ
ὧν ἐστι τὴν ἑνότητα μαθεῖν ἁπάντων τῆς ψυχῆς μιᾶς οὔσης.

Πῶς οὖν, εἰ ψυχὴ μία, ἡ μὲν λογική, ἡ δὲ ἄλογος, καί τις καὶ φυτική; Ἢ
ὅτι τὸ μὲν ἀμέριστον αὐτῆς κατὰ τὸ λογικὸν τακτέον οὐ μεριζόμενον
ἐν τοῖς σώμασι, τὸ δὲ μεριζόμενον περὶ σώματα ἓν μὲν ὂν καὶ αὐτό,
περὶ δὲ τὰ σώματα μεριζόμενον παρεχόμενον τὴν αἴσθησιν πανταχοῦ
ἄλλην δύναμιν αὐτῆς θετέον, τό τε πλαστικὸν αὐτῆς καὶ ποιητικὸν
σωμάτων δύναμιν ἄλλην. Οὐχ ὅτι δὲ πλείους αἱ δυνάμεις, οὐ μία· καὶ
γὰρ ἐν τῶι σπέρματι πλείους αἱ δυνάμεις καὶ ἕν· καὶ ἐξ ἑνὸς τούτου
πολλὰ ἕν. Διὰ τί οὖν οὐ πανταχοῦ πᾶσαι; Καὶ γὰρ ἐπὶ τῆς μιᾶς ψυχῆς
πανταχοῦ λεγομένης εἶναι ἡ αἴσθησις οὐκ ἐν πᾶσι τοῖς μέρεσιν ὁμοία,
ὅ τε λόγος οὐκ ἐν ὅλωι, τό τε φυτικὸν καὶ ἐν οἷς μὴ αἴσθησις· καὶ ὅμως
εἰς ἓν ἀνατρέχει ἀποστάντα τοῦ σώματος. Τὸ δὲ θρεπτικόν, εἰ ἐκ τοῦ
ὅλου, ἔχει καὶ ἐκείνης. Διὰ τί οὖν οὐ καὶ παρὰ τῆς ἡμετέρας ψυχῆς τὸ
θρεπτικόν; Ὅτι τὸ τρεφόμενον μέρος τοῦ ὅλου, ὃ καὶ παθητικῶς
αἰσθητικόν, ἡ δὲ αἴσθησις ἡ κρίνουσα μετὰ νοῦ ἑκάστου, ἧι οὐδὲν ἔδει
πλάττειν τὸ ὑπὸ τοῦ ὅλου τὴν πλάσιν ἔχον. Ἐπεὶ κἂν ἐποίησεν αὐτήν,
εἰ μὴ ἐν τῶι ὅλωι τούτωι ἔδει αὐτὴν εἶναι.

3. Contudo, desde partes contrárias, diz a razão que nós temos simpatias
uns com os outros desde o olhar, quando sentimos dor e alegria, sendo
levados a amar, segundo a natureza; pois talvez o amar seja por isso. E
se tanto encantamentos quanto magias de modo geral nos conduzem e
fazem que de longe tenhamos simpatia, [isso] é totalmente por causa da
alma una. Uma palavra que foi dita isoladamente dispôs a distância e
fez ouvir o que está afastado em tamanho espaço impraticável; desde o
que é possível aprender a unicidade de todas as coisas, sendo a alma
una.

Então como, se alma é una, uma é racional, outra, irracional, e


alguma também é vegetativa? Certamente porque o não partilhável dela
deve-se ordenar segundo o racional que não é partilhado nos corpos, e

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 295

o que é partilhado nos corpos, sendo uma só e a mesma coisa, é


partilhado nos corpos e apresenta a sensação em toda parte, deve-se pôr
como uma potência dela, e sua faculdade de plasmar e produzir corpos,
como uma outra potência dela. E não é porque são múltiplas as
potências que ela não é una; pois também nas sementes são múltiplas
as potências, e a semente é una; e desde essa una muitas são una. Por
quê, então, não há em toda parte todas [as potências]? Porque, mesmo
na alma una, que é dita ser em toda parte, a sensação não é semelhante
em todas as partes, e a razão não é no inteiro, e o vegetativo é nas partes
em que não há sensação263; contudo a sensação recorre à unidade,
quando [essas potências] forem afastadas do corpo. E a faculdade de
nutrir, se é desde o inteiro, tem também [algo] daquela [alma do todo].
Por quê, então, essa faculdade não é também da parte da nossa alma?
Porque o que se nutre é parte do inteiro, que é sensível também de modo
impressivo, e a sensação que é faculdade que julga com inteligência é
de cada um; com essa sensação nada era preciso plasmar, porque o que
tem a faculdade de plasmar é pelo inteiro. Então, ela poderia ter essa
faculdade de criar, se não fosse preciso ser nesse inteiro264.

4. Ταῦτα μὲν οὖν εἴρηται ὡς μὴ θαυμάζειν τὴν εἰς ἓν ἀναγωγήν. Ἀλλὰ


γὰρ ζητεῖ ὁ λόγος, πῶς μία; Ἆρα γὰρ ὡς ἀπὸ μιᾶς ἢ μία αἱ πᾶσαι; Καὶ
εἰ ἀπὸ μιᾶς, μεριζομένης ταύτης ἢ μενούσης μὲν ὅλης, ποιούσης δὲ
παρ᾽ αὐτῆς οὐδὲν ἧττον πολλάς; Καὶ πῶς ἂν μένουσα οὐσία πολλὰς
ποιοῖ ἐξ αὐτῆς; Λέγωμεν οὖν θεὸν συλλήπτορα ἡμῖν γενέσθαι
παρακαλέσαντες, ὡς δεῖ μὲν εἶναι μίαν πρότερον, εἴπερ πολλαί, καὶ ἐκ
ταύτης τὰς πολλὰς εἶναι. Εἰ μὲν οὖν σῶμα εἴη, ἀνάγκη μεριζομένου
τούτου τὰς πολλὰς γίγνεσθαι, ἄλλην πάντη οὐσίαν, τὴν δὲ ἄλλην
γινομένην· καὶ ὁμοιομεροῦς οὔσης ὁμοειδεῖς πάσας γενέσθαι εἶδος ἓν
ταὐτὸν φερούσας ὅλον, τοῖς δὲ ὄγκοις ἑτέρας· καὶ εἰ μὲν κατὰ τοὺς
ὄγκους εἶχον τοὺς ὑποκειμένους τὸ ψυχαὶ εἶναι, ἄλλας ἀλλήλων εἶναι,

263
A alma é una, mas a sensação não é semelhante em todas suas espécies, umas não
têm razão, e as que não têm sensação são vegetativas.
264
Pela unicidade da alma, a própria faculdade de julgar com inteligência poderia criar
o que não tivesse sido criado nesse cosmo.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 296

εἰ δὲ κατὰ τὸ εἶδος, μίαν τῶι εἴδει ψυχὰς εἶναι. Τοῦτο δέ ἐστι τὸ μίαν
καὶ τὴν αὐτὴν ἐν πολλοῖς σώμασι ψυχὴν ὑπάρχειν καὶ πρὸ ταύτης τῆς
μιᾶς τῆς ἐν πολλοῖς ἄλλην αὖ εἶναι μὴ ἐν πολλοῖς, ἀφ᾽ ἧς ἡ ἐν πολλοῖς
μία, ὥσπερ εἴδωλον οὖσα πολλαχοῦ φερόμενον τῆς ἐν ἑνὶ μιᾶς, οἷον εἰ
ἐκ δακτυλίου ἑνὸς πολλοὶ κηροὶ τὸν αὐτὸν τύπον ἀπομαξάμενοι
φέροιεν. Ἐκείνως μὲν οὖν ἀνηλίσκετο ἂν εἰς πολλὰς ἡ μία, ὡς δὲ τὸ
δεύτερον ἀσώματον μὲν ἡ ψυχὴ ἐγίνετο. Καὶ πάθημα μὲν ὂν θαυμαστὸν
οὐδὲν εἶχε μίαν ποιότητα γενομένην ἐξ ἑνός τινος ἐν πολλοῖς εἶναι· καὶ
εἰ κατὰ τὸ συναμφότερον δὲ ἡ ψυχή, θαυμαστὸν οὐδέν. Νῦν δὲ
ἀσώματόν τε αὐτὸ τιθέμεθα καὶ οὐσίαν.

4. Isso de fato está dito de modo a não se admirar a recondução [da


alma] ao uno. Mas a razão busca: como [ela] é una? Por acaso todas são
a partir de uma só ou é uma só? E se são a partir de uma só, essa se
partilha ou permanece inteira, criando de si mesma nada menos do que
muitas? E como, permanecendo essência, desde si mesma criaria
muitas? Digamos então, ao chamar em ajuda um deus para vir a ser
nosso colaborador265, que é preciso haver uma só antes, se são muitas,
e desde essa haver muitas. Se ela fosse um corpo, haveria necessidade
de, partilhando-se este, as almas virem a ser muitas, vindo a ser
totalmente essência uma e outra; e sendo de partes semelhantes, todas
de mesma forma [é necessidade] vir a ser uma só forma, portadoras do
mesmo inteiro, mas diferentes pelas massas. E se fosse segundo as
massas, o ‘ser almas’ as teria como o que subjaz, e umas seriam
diferentes das outras, mas se for segundo a forma, as almas serão uma
só pela forma. E isso é a alma começar a ser una e a mesma em muitos
corpos, porque antes dessa una em muitos corpos há ainda uma diversa
que não é em muitos corpos, a partir da qual é a que é una em muitos
corpos, como sendo visagem que a toda parte se leva da que é una no

265
Um deus colaborador (θεὸς συλλήπτωρ) é invocado para afrontar o problema,
como também faz Timeu, no Timeu 27c: ἀνάγκη θεούς τε καὶ θεὰς ἐπικαλουμένους
εὔχεσθαι πάντα κατὰ νοῦν ἐκείνοις μὲν μάλιστα, ἑπομένως δὲ ἡμῖν εἰπεῖν (há
necessidade fazer uma prece invocando deuses e deusas para que possamos dizer tudo
segundo a inteligência, principalmente por eles, e de consequência por nós).

SUMÁRIO
E n é a d a I V – L i v r o I | 297

uno, tal que de um único anel-selo muita cera que foi impressa portaria
a mesma marca. Daquele modo se consumiria em muitas a que é una, e
do segundo modo a alma viria a ser incorpórea266. E o produto de
impressão que é nada admirável teria uma só qualidade que veio a ser
de algo único para ser em muitos corpos. E se a alma for segundo o
conjunto de dois267, nada é admirável. Agora propomos que ela é o
mesmo, incorpóreo e essência.

5. Πῶς οὖν οὐσία μία ἐν πολλαῖς; Ἢ γὰρ ἡ μία ἐν πᾶσιν ὅλη, ἢ ἀπὸ
ὅλης καὶ μιᾶς αἱ πολλαὶ ἐκείνης μενούσης. Ἐκείνη μὲν οὖν μία, αἱ δὲ
πολλαὶ εἰς ταύτην ὡς μίαν δοῦσαν ἑαυτὴν εἰς πλῆθος καὶ οὐ δοῦσαν·
ἱκανὴ γὰρ πᾶσι παρασχεῖν ἑαυτὴν καὶ μένειν μία· δύναται γὰρ εἰς πάντα
ἅμα καὶ ἑκάστου οὐκ ἀποτέτμηται πάντη· τὸ αὐτὸ οὖν ἐν πολλοῖς. Μὴ
δή τις ἀπιστείτω· καὶ γὰρ ἡ ἐπιστήμη ὅλη, καὶ τὰ μέρη αὐτῆς ὡς μένειν
τὴν ὅλην καὶ ἀπ᾽ αὐτῆς τὰ μέρη. Καὶ τὸ σπέρμα ὅλον καὶ ἀπ᾽ αὐτοῦ τὰ
μέρη, ἐν οἷς πέφυκε μερίζεσθαι, καὶ ἕκαστον ὅλον καὶ μένει ὅλον οὐκ
ἠλαττωμένον τὸ ὅλον – ἡ δ᾽ ὕλη ἐμέρισε – καὶ πάντα ἕν. Ἀλλ᾽ ἐν τῆι
ἐπιστήμηι, εἴποι τις ἄν, τὸ μέρος οὐχ ὅλον. Ἢ κἀκεῖ ἐνεργείαι μὲν μέρος
τὸ προχειρισθὲν οὗ χρεία, καὶ τοῦτο προτέτακται, ἕπεται μέντοι καὶ τὰ
ἄλλα δυνάμει λανθάνοντα καὶ ἔστι πάντα ἐν τῶι μέρει. Καὶ ἴσως ταύτηι
ἡ ὅλη λέγεται, τὸ δὲ μέρος· ἐκεῖ μὲν οἷον ἐνεργείαι ἅμα πάντα· ἕτοιμον
οὖν ἕκαστον, ὃ προχειρίσασθαι θέλεις· ἐν δὲ τῶι μέρει τὸ ἕτοιμον,
ἐνδυναμοῦται δὲ οἷον πλησιάσαν τῶι ὅλωι. Ἔρημον δὲ τῶν ἄλλων
θεωρημάτων οὐ δεῖ νομίζειν· εἰ δὲ μή, ἔσται οὐκέτι τεχνικὸν οὐδὲ
ἐπιστημονικόν, ἀλλ᾽ ὥσπερ ἂν καὶ εἰ παῖς λέγοι. Εἰ οὖν ἐπιστημονικόν,
ἔχει δυνάμει καὶ τὰ πάντα. Ἐπιστήσας γοῦν ὁ ἐπιστήμων ἐπάγει τὰ ἄλλα
οἷον ἀκολουθίαι· καὶ ὁ γεωμέτρης δὲ ἐν τῆι ἀναλύσει δηλοῖ, ὡς τὸ ἓν
ἔχει τὰ πρὸ αὐτοῦ πάντα, δι᾽ ὧν ἡ ἀνάλυσις, καὶ τὰ ἐφεξῆς δέ, ἃ ἐξ

266
Do primeiro modo a alma se divide em muitos corpos, como a visão impressa de
um ídolo, ou seja, visagem decorrente da marca impressa em todas as almas, no
segundo ela se mantém íntegra, por ser incorpórea.
267
O conjunto de dois (τὸ συναμφότερον) é o composto corpo e alma, que constitui o
homem.

SUMÁRIO
D a e s s ê n c i a d a a l m a | 298

αὐτοῦ γεννᾶται. Ἀλλὰ ταῦτα διὰ τὴν ἡμετέραν ἀσθένειαν ἀπιστεῖται,


καὶ διὰ τὸ σῶμα ἐπισκοτεῖται· ἐκεῖ δὲ φανὰ πάντα καὶ ἕκαστον.

5. Como então há uma só essência em muitas almas? Ou a essência una


é inteira em todas, ou a partir da essência inteira e una são as muitas
almas, aquela essência permanecendo [em si mesma]. Então aquela
essência é una, e são muitas as almas para ela, como una, que dá a si
mesma à multidão e que não dá; pois é suficiente para apresentar-se a
todas e permanecer una; pois ao mesmo tempo é capaz [de dar-se] a
todo [ser] e não estar totalmente separada de cada um; então é o mesmo
em muitos268. Portanto ninguém duvide; pois também a ciência é
inteira, e as partes são dela, de modo a permanecer inteira, e as partes
ser a partir dela. Também a semente é um inteiro, e a partir dela são as
partes, nas quais é natural partilhar-se, e cada uma é um inteiro e
permanece inteiro não sendo diminuído o inteiro – a matéria partilha-se
– e tudo é uno. Mas na ciência, diria alguém, a parte não é um inteiro.
Certamente aqui é em atividade a parte que foi manipulada onde há
utilidade, e isso está pré-ordenado; segue-se, contudo, que as outras
[partes] que se ocultam em potência também são todas na parte. E talvez
aí a [ciência] se diz inteira, mas na parte; ali é tal que tudo ao mesmo
tempo em atividade; é pronta então cada [parte] que queres manipular;
na parte há o que é pronto, e ela toma potência quando se avizinha do
inteiro. Não é preciso considerar [a parte] isolada dos outros teoremas;
senão, não mais será técnico nem científico, mas seria como se uma
criança dissesse. Se é então científico, é em potência também em
relação a tudo. Portanto o sapiente que se destaca conduz todas as partes
como que por consequência; e o geômetra em análise mostra que o uno
tem todas as partes antes dele, através das quais há a análise, e tem
também as coisas que se seguem, que são geradas desde ele. Mas em
relação a isso há dúvida por causa da nossa fraqueza e se torna obscuro
por causa do corpo; mas lá tudo é luminoso, mesmo cada [parte].

268
O mesmo em muitos (τὸ αὐτὸ ἐν πολλοῖς), porque a alma do todo pode se dar em
potência a cada alma e permanecer nela mesma como essência.

SUMÁRIO

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