Você está na página 1de 245

Plotino

Enéada V
Introdução, tradução e notas de

Juvino A. Maia

Ideia – João Pessoa – 2022


Todos os direitos do tradutor.

Editoração/Capa: Magno Nicolau

Ilustração da capa:
Testa ritratto di Plotini (inv. SBAO 1386)
Dalla Domus del Filosofo (1940)
Marmo – III secolo d.C.

Conselho Editorial
Hildeberto Barbosa Filho – UFPB
Milton Marques – UFPB
Marcos Nicolau – UFPB
Roseane Feitosa – UFPB (Litoral Norte)
Dermeval da hora – Proling/UFPB
Helder Pinheiro – UFCG

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD


M217p Maia, Juvino A.
Plotino: Enéada V [recurso eletrônico] / Introdução,
tradução e notas: Juvino A. Maia. – Dados eletrônicos -João
Pessoa: Ideia, 2022.
2.4 mb; pdf

ISBN 978-65-5608-336-0

1. Literatura grega clássica - Enéada. 2. Plotino – filósofo


neoplatônico. 3. Tradução literária. I.Título.

CDU 821.14’02 =030.134.3


Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Gilvanedja Mendes, CRB 15/810

EDITORA LTDA.
www.ideiaeditora.com.br
contato@ideiaeditora.com.br
SUMÁRIO

ENÉADA V - Livro I - Introdução 6

V 1 (10) - DAS TRÊS HIPÓSTASES ORIGINÁRIAS 13

ENÉADA V - Livro II - Introdução 43


V 2 (11) 43
V, 2 (11) 45
DA GERAÇÃO E DA ORDEM DO QUE É APÓS O PRIMEIRO 45

ENÉADA V - Livro III - Introdução 49


V 3 (49) 49
V, 3 (49) - DAS HIPÓSTASES CAPAZES DE APRENDER E DO ALÉM 56

ENÉADA V - Livro IV - Introdução 102


V 4 (7) 102
V, 4 (7) - COMO A PARTIR DO PRIMEIRO É O QUE VEM DEPOIS DO PRIMEIRO, E
SOBRE O UNO 105

ENÉADA V - Livro V - Introdução 112


V 5 (32) 112
V 5 (32) - PORQUE OS INTELIGÍVEIS NÃO SÃO FORA DA INTELIGÊNCIA, E SOBRE O
BEM 119

Livro VI - Introdução 150


V 6 (24) 150
V, 6 (24) - SOBRE O QUE É ALÉM DO QUE É NÃO PENSAR E O QUE É O QUE PENSA
PRIMEIRO E SEGUNDO 153

Livro VII - Introdução 163


V 7 (18) 163
V, 7 (18) - SOBRE SE AS IDEIAS TAMBÉM SÃO DAS CARACTERÍSTICAS EM CADA
CIRCUNSTÂNCIA 166

Livro VIII - Introdução 171


V 8 (31) 171
V, 8 (31) - DA BELEZA INTELIGÍVEL 179

Livro IX - Introdução 214


V 9 (5) 214
V, 9 (5) - SOBRE A INTELIGÊNCIA E AS IDEIAS E SOBRE O QUE É 220
Plotino |6

ENÉADA V
Livro I

Introdução
V 1 (10)
Livro que trata dos fundamentos da doutrina de Plotino e traz à luz o
pensamento acerca de cada hipóstase; a questão inicial é a ‘queda’ das
almas: o que as faz deixar o mundo inteligível e descer ao mundo
sensível, onde terão pelos sentidos do corpo contato com prazer e dor?
A ousadia (τόλμα) é o ponto inicial que dá acesso à geração, à primeira
alteridade e a deliberar sobre si; essa ousadia da alma representa sua
própria determinação, pois não se pode pensar que algo a tenha
obrigado a isso, ela mesma vai de encontro à geração, alterando seu
ambiente e deliberando sobre si mesmas por sua autodeterminação. O
problema é que, ao se afastar, elas passam a esquecer sua origem e o
deus que é seu fundamento, ao mesmo tempo passam a valorizar aquilo
de que se aproximam, chegando a se desvalorizar. Para retornar ao que
é uno e primeiro, o que ela deve buscar? Elas se admiram do que tem
vida pela Alma, mas deveriam antes se admirar de si mesmas, pois elas
mesmas são partes daquela, não como partes que dão vida
individualmente, mas como algo único e em toda parte, como princípio
fundamental, como o cosmo é deus único pela potência da Alma, que
se reflete em cada alma individual. E se ela é a causa de tudo animado

SUMÁRIO
Enéada V – Livro I |7

ser deus, inclusive nós mesmos, é necessário que ela seja um deus
anterior, de que provenha toda vida, porque ela criou todo vivente e os
pôs em movimento, sendo, portanto, superior. E como ela transmite a
vida? Ela contempla a Inteligência e o Uno; da mesma forma a alma do
cosmo a contempla em tranquila harmonia em toda parte do cosmo,
deixando tudo que é matéria, tudo que é encanto da natureza, tudo de
que se encantam as almas individuais, olhando para si mesma. Assim
também estas podem alcançar a beleza pura, deixando os encantos da
matéria e tudo que as enlaça e prende a este todo. Tudo isso só acontece
porque a Alma vem ao cosmo vertendo luz em toda parte, iluminando
e animando, dando a imortalidade e fazendo-o deus, porque sua
emanação vem a ser no mundo, não deixando de contemplar sua
origem. Sem ela o cosmo é corpo sem vida, com ela é um deus bem-
aventurado com movimento inteligente. Desse modo a Alma reproduz
o ato da Inteligência, que tanto vem a ser em tudo, quanto cria tudo,
assim a Alma vem a ser na natureza que ela mesma criou, dando
conformação através da racionalização das formas; mas tudo isso
acontece porque a Inteligência cria as formas sendo de forma inteligente
(νοοειδὴς). Por isso a Alma é imagem da Inteligência, porque ela age
como matéria que recebe a forma, no mundo sensível, ao olhar para
dentro da Inteligência e ver o que é familiar e o recriar dando-lhe
configuração racional. Assim a Inteligência é que provê, como um pai,
a necessidade do filho, que não tem a sua perfeição, e por isso a Alma
é inteligente, por ter sua hipóstase na própria Inteligência. Nesta está a
verdadeira compreensão de tudo e a verdadeira vida, pois ela encerra
em si todos os inteligíveis, estando em tudo ao mesmo tempo, sem
tempo, pois para ela há somente “é”, não havendo qualquer alteração
de tempo ou espaço, pois estes não são nela, que cria inclusive a Alma,
que está em tudo, mas a seu tempo, em cada uma das coisas criadas. Na

SUMÁRIO
Plotino |8

verdade, o que o tempo imita ao percorrer a alma do cosmo é a


eternidade que garante a beatitude de Cronos, a própria inteligência
intratável, porque é puríssima, saciedade eterna. Cada inteligível nele é
inteligência e ser, isto é, o que é, todo ser é sempre inteligência, esta
pelo pensar sustenta o ser, que sendo pensado gera pensamento e vida;
assim inteligência e o que é são ambos um só, de forma indissociável,
pois o princípio de ambos é o Uno. Então a Inteligência ao pensar cria
o que é pensado, por isso surgem alteridade e identidade, que assumem
movimento ou repouso; o pensar é para o movimento, e o mesmo é para
o repouso. Afastando-se a alteridade, tudo volta a ser uno, que é sua
origem, pois a alteridade caracteriza o que pensa e o que é pensado. A
alteridade dá a diferença no indivíduo, que por sua vez tem o mesmo
que é comum a todos. Daí o múltiplo cria o número e certa quantidade
em todos, que trazem sempre certa qualidade como característica
individual. Se a inteligência é pensamento em potência e visão em ato,
como intelecção é ato de ver, isso configura a díade que é indefinível
quando tomada pela matéria que subjaz, mas é definível da parte do
Uno, porque lá é a díade razões e inteligência, que se diz número. Pois
número não é princípio, o Uno cria inteligência, que cria os inteligíveis
e a Alma múltipla de razões, quando a Inteligência cria o múltiplo, já é
número, como essência e como Alma. Tudo que é perfeito cria algo
depois de si, sendo inferior, mas mantendo-se junto dele pela
contemplação do inferior ao superior; a Inteligência contempla o Uno,
como a Alma contempla a Inteligência, não havendo nenhum intervalo
entre eles, de modo que a diferença é pela alteridade. Mas por que o que
é perfeito não fica em si mesmo ao criar? Na verdade, ao criar ele se
volta a si mesmo, imóvel; se ele se movesse, criaria a terceira hipóstase,
a Alma, e não a Inteligência, que é segunda hipóstase. Esta é criada sem
movimento, que por sua vez cria os inteligíveis e a alma, ou seja,

SUMÁRIO
Enéada V – Livro I |9

essência e vida ou ser e pensar. Essa cadeia está atada ao Uno em


potência, sendo vida em ato, e culmina na geração do todo pela Alma.
Então, tudo que é gerado é uma visagem da criação original, pois
mesmo na matéria aquilo que cria algo passa a ter atração pelo que
criou, como o fogo em relação ao calor, a neve em relação ao frio, e o
que tem odor em relação às suas essências. A nossa geração é imagem
mórbida da criação eterna, pois ela é no tempo, que é imagem móvel da
eternidade. A Inteligência é a imagem perfeita da criação, porque o Uno
a cria sem se mover, voltando-se a si mesmo, como o homem deve
realizar imitando esse ato sublime, voltar-se a si mesmo para a
compreensão do sublime. A Alma é produto da geração da Inteligência,
porque pensa participando dela, e ao mesmo tempo toca o seu limite
inferior onde cria as coisas inferiores a si mesma. E como a Inteligência
cria inteligência ao voltar-se ao Uno, a Alma cria o todo ao voltar-se à
Inteligência; ambas têm o ser dependente de sua própria fonte, de que
se robustecem e se aperfeiçoam, pois sua potência é inexaurível, do Uno
para a Inteligência e da Inteligência para a Alma. Para haver o ser e o
pensar, é preciso a Inteligência ser partilhável, porque provém do não
partilhável, ou seja, o múltiplo desde o uno; assim não há delimitação
de figura no uno, e todas as coisas que são têm configuração na
inteligência, porque têm limite e estabilidade no fundamento que é a
inteligência, e esta gera a alma, inteligente e perfeita, porque é em
saciedade, conforme se aprende no rituais dos grandes mistérios e nos
mitos, que Cronos, de curvo pensar, engole sua prole, para as ter
consigo e não permitir que desçam para se nutrir da terra, ou seja, de
Rea, assim os inteligíveis e as ideias em todo seu esplendor é criação
desse deus em saciedade, o pai de Zeus, conforme Platão explica no
Crátilo 396a – d, porque toda essa potência produzida em perfeição não
pode ser infértil. De modo mais direto, Platão explica no Parmênides a

SUMÁRIO
P l o t i n o | 10

relação do Uno com tudo que é depois dele, pois há o primeiro e


principal, o segundo que é múltiplo e o terceiro que é um só e múltiplo.
Nesse sentido, se o causador é a Inteligência, o pai do causador é o Bem;
assim a Inteligência é o demiurgo que cria a Alma naquela cratera,
mencionada no Timeu 41d; portanto, o Bem é além da essência em
dignidade e potência. A ideia, então, é o que é e inteligência,
provenientes da segunda hipóstase, a Inteligência, que é uno-múltiplo,
e a Alma é uno e múltiplo, isto é, tem a marca de seus dois princípios
anteriores. Essa doutrina não é nova, Platão a divulga de forma mais
clara o que Parmênides e outros anteriores já diziam, como “pensar e
ser é o mesmo”; muitos a desenvolveram em seus escritos ou de forma
oral, como Anaxágoras, Heráclito, Empédocles etc, seguindo os
ensinamentos de Ferécides, de Pitágoras e de todos depois deles.
Portanto, que a inteligência e o que é vêm depois do Uno e que em
terceiro lugar vem a Alma está demonstrado. Essa tripla natureza
também se encontra em nós, não na parte sensível, mas na inteligível,
ou no homem interior, como diz Platão, na Politeia 589a. Essa parte da
nossa alma é de natureza divina e diversa da parte que fundamenta o
corpo; ela é perfeita porque tem inteligência e se apresenta para o
raciocínio, ou seja, raciocinar é algo que lhe é próprio, sem a
necessidade de algum órgão corpóreo, por isso deve-se considerar como
sendo luz que emana da própria Inteligência. A recomendação para se
separar do corpo não se refere a lugar, mas à inclinação às fantasias e à
diversidade do corpo, uma vez que está posta no alto da cabeça essa
natureza pura tenta resgatar para o inteligível a parte restante da alma,
que tem todo empenho em cuidar do corpo. Por isso nossa alma
representa o fundamento pelo qual alcançamos o belo e o justo, o que
essencialmente é um deus, pois não está em certo lugar, mas representa
a beleza e a justiça que nossa alma busca, como um sinal divino. É por

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 11

esse sinal que temos alcance do Uno, que nos sentimos com ele e que
dele dependemos, como se estivéssemos na extremidade de um círculo
formado desde seu centro; essa força atrativa é a inteligência. No
entanto, mesmo tendo tudo isso do maior valor, não conseguimos
garantir que tenhamos pleno gozo dessa capacidade, pois muitos nem
mesmo desconfiam dela em si mesmos, o que é absurdo; é preciso estar
atento ao som que vem de cima, esquecendo ao máximo outros sons,
para que nossos sentidos possam comunicar ao receber esses sons. Isso
não se dá sem esforço e atenção ao princípio de que provêm a
Inteligência e ao que ela cria.

Ἐννεάς Ε´
αʹ
Περὶ τῶν τριῶν ἀρχικῶν ὑποστάσεων

1. Τί ποτε ἄρα ἐστὶ τὸ πεποιηκὸς τὰς ψυχὰς πατρὸς θεοῦ ἐπιλαθέσθαι,


καὶ μοίρας ἐκεῖθεν οὔσας καὶ ὅλως ἐκείνου ἀγνοῆσαι καὶ ἑαυτὰς καὶ
ἐκεῖνον; Ἀρχὴ μὲν οὖν αὐταῖς τοῦ κακοῦ ἡ τόλμα καὶ ἡ γένεσις καὶ ἡ
πρώτη ἑτερότης καὶ τὸ βουληθῆναι δὲ ἑαυτῶν εἶναι. Τῶι δὴ
αὐτεξουσίωι ἐπειδήπερ ἐφάνησαν ἡσθεῖσαι, πολλῶι τῶι κινεῖσθαι παρ᾽
αὐτῶν κεχρημέναι, τὴν ἐναντίαν δραμοῦσαι καὶ πλείστην ἀπόστασιν
πεποιημέναι, ἠγνόησαν καὶ ἑαυτὰς ἐκεῖθεν εἶναι· ὥσπερ παῖδες εὐθὺς
ἀποσπασθέντες ἀπὸ πατέρων καὶ πολὺν χρόνον πόρρω τραφέντες
ἀγνοοῦσι καὶ ἑαυτοὺς καὶ πατέρας. Οὔτ᾽ οὖν ἔτι ἐκεῖνον οὔτε ἑαυτὰς
ὁρῶσαι, ἀτιμάσασαι ἑαυτὰς ἀγνοίαι τοῦ γένους, τιμήσασαι τἆλλα καὶ
πάντα μᾶλλον ἢ ἑαυτὰς θαυμάσασαι καὶ πρὸς αὐτὰ ἐκπλαγεῖσαι καὶ
ἀγασθεῖσαι καὶ ἐξηρτημέναι τούτων, ἀπέρρηξαν ὡς οἷόν τε ἑαυτὰς ὧν
ἀπεστράφησαν ἀτιμάσασαι· ὥστε συμβαίνει τῆς παντελοῦς ἀγνοίας
ἐκείνου ἡ τῶνδε τιμὴ καὶ ἡ ἑαυτῶν ἀτιμία εἶναι αἰτία. Ἅμα γὰρ διώκεται
ἄλλο καὶ θαυμάζεται, καὶ τὸ θαυμάζον καὶ διῶκον ὁμολογεῖ χεῖρον

SUMÁRIO
P l o t i n o | 12

εἶναι· χεῖρον δὲ αὐτὸ τιθέμενον γιγνομένων καὶ ἀπολλυμένων


ἀτιμότατόν τε καὶ θνητότατον πάντων ὧν τιμᾶι ὑπολαμβάνον οὔτε θεοῦ
φύσιν οὔτε δύναμιν ἄν ποτε ἐν θυμῶι βάλοιτο. Διὸ δεῖ διττὸν γίγνεσθαι
τὸν λόγον πρὸς τοὺς οὕτω διακειμένους, εἴπερ τις ἐπιστρέψει αὐτοὺς
εἰς τὰ ἐναντία καὶ τὰ πρῶτα καὶ ἀνάγοι μέχρι τοῦ ἀκροτάτου καὶ ἑνὸς
καὶ πρώτου. Τίς οὖν ἑκάτερος; Ὁ μὲν δεικνὺς τὴν ἀτιμίαν τῶν νῦν ψυχῆι
τιμωμένων, ὃν ἐν ἄλλοις δίιμεν ἐπιπλέον, ὁ δὲ διδάσκων καὶ
ἀναμιμνήσκων τὴν ψυχὴν οἷον τοῦ γένους καὶ τῆς ἀξίας, ὃς πρότερός
ἐστιν ἐκείνου καὶ σαφηνισθεὶς κἀκεῖνον δηλώσει. Περὶ οὗ νῦν λεκτέον·
ἐγγὺς γὰρ οὗτος τοῦ ζητουμένου καὶ πρὸ ἔργου πρὸς ἐκεῖνον. Τὸ γὰρ
ζητοῦν ἐστι ψυχή, καὶ τί ὂν ζητεῖ γνωστέον αὐτῆι, ἵνα αὑτὴν πρότερον
μάθηι, εἰ δύναμιν ἔχει τοῦ τὰ τοιαῦτα ζητεῖν, καὶ εἰ ὄμμα τοιοῦτον ἔχει,
οἷον ἰδεῖν, καὶ εἰ προσήκει ζητεῖν. Εἰ μὲν γὰρ ἀλλότρια, τί δεῖ; Εἰ δὲ
συγγενῆ, καὶ προσήκει καὶ δύναται εὑρεῖν.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 13

ENÉADA V

Livro I

V 1 (10)1

DAS TRÊS HIPÓSTASES ORIGINÁRIAS

1. Que é o que fez certa vez as almas esquecer-se de deus pai, sendo
moiras2 de lá e inteiramente daquele lugar, desconhecer a si mesmas e
a ele? Então para elas princípio do mal é a audácia e a geração e a
primeira alteridade e o deliberar ser de si mesmas. Uma vez que
mostraram agradar-se da autodeterminação, por ter-se servido muito do
mover-se por si mesmas, ao percorrer ao contrário e ter feito muitíssima
distância, desconheceram ser também elas de lá; como crianças, que
logo se desgarraram dos pais e que por muito tempo nutriram-se longe,
desconhecem tanto a si mesmas quanto os pais. Então não vendo mais
aquele nem a si mesmas, por desprezar a si mesmas por
desconhecimento da sua origem, por apreciar todas as outras coisas ao
admirar todas mais do que a si mesmas, e comovendo-se e encantando-
se por elas ficaram dependentes delas, destacaram a si mesmas quanto
possível daqueles de que se desviaram, desprezando-os; assim acontece

1
Em número romano a Enéada; em arábico, o tratado; em arábico entre parênteses, a
ordem cronológica do tratado.
2
Potências destinadas do mundo inteligível ao sensível.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 14

que a causa do total desconhecimento daquele é a valorização destas


coisas e a desvalorização de si mesmas. Pois enquanto um diverso é
seguido e admirado, o que se admira e segue concorda que é inferior; e
o que se põe como inferior ao que vem a ser e que perece3, sendo mais
desprezível e mortal do que todas as coisas a cuja honra se submete,
nem natureza nem potência de deus jamais lançaria no ânimo4. Por isso
é preciso vir a ser duplo o discurso em relação aos que assim se
dispõem, se algum discurso os reverter às coisas contrárias e primeiras,
este os reconduziria ao mais alto, único e primeiro. Qual é então cada
um dos dois discursos? Um que mostra a desvalorização das coisas que
são agora honradas pela alma, que em outras partes5 discorremos de
modo completo, e outro que ensina e faz a alma recordar tal que da sua
origem e dignidade, o qual é anterior àquele, porque ao se esclarecer
[este], também aquele será claro. Sobre este agora deve-se dizer; pois
ele é próximo do que se busca e em favor do trabalho em relação àquele.
Pois o que busca é alma, e ela busca algo que é reconhecível a ela, para
que aprenda antes a si mesma, se tem capacidade de buscar tais coisas
e se tem olho tal que para ver e se convém buscar. Pois se são coisas
estranhas, por que é preciso buscar? Se são congêneres, tanto convém
quanto é possível descobrir.

2. Ἐνθυμείσθω τοίνυν πρῶτον ἐκεῖνο πᾶσα ψυχή, ὡς αὐτὴ μὲν ζῶια


ἐποίησε πάντα ἐμπνεύσασα αὐτοῖς ζωήν, ἅ τε γῆ τρέφει ἅ τε θάλασσα
ἅ τε ἐν ἀέρι ἅ τε ἐν οὐρανῶι ἄστρα θεῖα, αὐτὴ δὲ ἥλιον, αὐτὴ δὲ τὸν

3
Platão, Timeu 28a: τὸ μὲν δὴ νοήσει μετὰ λόγου περιληπτόν, ἀεὶ κατὰ ταὐτὰ ὄν, τὸ
δ’ αὖ δόξῃ μετ’ αἰσθήσεως ἀλόγου δοξαστόν, γιγνόμενον καὶ ἀπολλύμενον, ὄντως δὲ
οὐδέποτε ὄν (um é apreensível pelo pensar com razão, sendo sempre um só e o
mesmo, o outro por sua vez é passível de opinião com sensação irracional, vindo a ser
e perecendo, jamais senso realmente).
4
Homero, Ilíada XV 566: ἐν θυμῷ δ’ ἐβάλοντο ἔπος (lançaram ao ânimo a palavra).
5
Enéadas II 4; III 4.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 15

μέγαν τοῦτον οὐρανόν, καὶ αὐτὴ ἐκόσμησεν, αὐτὴ δὲ ἐν τάξει περιάγει


φύσις οὖσα ἑτέρα ὧν κοσμεῖ καὶ ὧν κινεῖ καὶ ἃ ζῆν ποιεῖ· καὶ τούτων
ἀνάγκη εἶναι τιμιωτέραν, γιγνομένων τούτων καὶ φθειρομένων, ὅταν
αὐτὰ ψυχὴ ἀπολείπηι ἢ χορηγῆι τὸ ζῆν, αὐτὴ δὲ οὖσα ἀεὶ τῶι μὴ
ἀπολείπειν ἑαυτήν. Τίς δὴ τρόπος τῆς χορηγίας τοῦ ζῆν ἔν τε τῶι
σύμπαντι ἔν τε τοῖς ἑκάστοις, ὧδε λογιζέσθω. Σκοπείσθω δὲ τὴν
μεγάλην ψυχὴν ἄλλη ψυχὴ οὐ σμικρὰ ἀξία τοῦ σκοπεῖν γενομένη
ἀπαλλαγεῖσα ἀπάτης καὶ τῶν γεγοητευκότων τὰς ἄλλας ἡσύχωι τῆι
καταστάσει. Ἥσυχον δὲ αὐτῆι ἔστω μὴ μόνον τὸ περικείμενον σῶμα
καὶ ὁ τοῦ σώματος κλύδων, ἀλλὰ καὶ πᾶν τὸ περιέχον· ἥσυχος μὲν γῆ,
ἥσυχος δὲ θάλασσα καὶ ἀὴρ καὶ αὐτὸς οὐρανὸς ἀμείνων. Νοείτω δὲ
πάντοθεν εἰς αὐτὸν ἑστῶτα ψυχὴν ἔξωθεν οἷον εἰσρέουσαν καὶ
εἰσχυθεῖσαν καὶ πάντοθεν εἰσιοῦσαν καὶ εἰσλάμπουσαν· οἷον σκοτεινὸν
νέφος ἡλίου βολαὶ φωτίσασαι λάμπειν ποιοῦσι χρυσοειδῆ ὄψιν
διδοῦσαι, οὕτω τοι καὶ ψυχὴ ἐλθοῦσα εἰς σῶμα οὐρανοῦ ἔδωκε μὲν
ζωήν, ἔδωκε δὲ ἀθανασίαν, ἤγειρε δὲ κείμενον. Ὁ δὲ κινηθεὶς κίνησιν
ἀίδιον ὑπὸ ψυχῆς ἐμφρόνως ἀγούσης ζῶιον εὔδαιμον ἐγένετο, ἔσχε τε
ἀξίαν οὐρανὸς ψυχῆς εἰσοικισθείσης ὢν πρὸ ψυχῆς σῶμα νεκρόν, γῆ
καὶ ὕδωρ, μᾶλλον δὲ σκότος ὕλης καὶ μὴ ὂν καὶ ὃ στυγέουσιν οἱ θεοί,
φησί τις. Γένοιτο δ᾽ ἂν φανερωτέρα αὐτῆς καὶ ἐναργεστέρα ἡ δύναμις
καὶ ἡ φύσις, εἴ τις ἐνταῦθα διανοηθείη, ὅπως περιέχει καὶ ἄγει ταῖς
αὐτῆς βουλήσεσι τὸν οὐρανόν. Παντὶ μὲν γὰρ τῶι μεγέθει τούτωι, ὅσος
ἐστίν, ἔδωκεν ἑαυτὴν καὶ πᾶν διάστημα καὶ μέγα καὶ μικρὸν ἐψύχωται,
ἄλλου μὲν ἄλληι κειμένου τοῦ σώματος, καὶ τοῦ μὲν ὡδί, τοῦ δὲ ὡδὶ
ὄντος, καὶ τῶν μὲν ἐξ ἐναντίας, τῶν δὲ ἄλλην ἀπάρτησιν ἀπ᾽ ἀλλήλων
ἐχόντων. Ἀλλ᾽ οὐχ ἡ ψυχὴ οὕτως, οὐδὲ μέρει αὐτῆς ἑκάστωι
κατακερματισθεῖσα μορίωι ψυχῆς ζῆν ποιεῖ, ἀλλὰ τὰ πάντα ζῆι τῆι ὅληι,
καὶ πάρεστι πᾶσα πανταχοῦ τῶι γεννήσαντι πατρὶ ὁμοιουμένη καὶ κατὰ
τὸ ἓν καὶ κατὰ τὸ πάντη. Καὶ πολὺς ὢν ὁ οὐρανὸς καὶ ἄλλος ἄλληι ἕν
ἐστι τῆι ταύτης δυνάμει καὶ θεός ἐστι διὰ ταύτην ὁ κόσμος ὅδε. Ἔστι
δὲ καὶ ἥλιος θεός, ὅτι ἔμψυχος, καὶ τὰ ἄλλα ἄστρα, καὶ ἡμεῖς, εἴπερ τι,
διὰ τοῦτο· νέκυες γὰρ κοπρίων ἐκβλητότεροι. Τὴν δὲ θεοῖς αἰτίαν τοῦ

SUMÁRIO
P l o t i n o | 16

θεοῖς εἶναι ἀνάγκη πρεσβυτέραν θεὸν αὐτῶν εἶναι. Ὁμοειδὴς δὲ καὶ ἡ


ἡμετέρα, καὶ ὅταν ἄνευ τῶν προσελθόντων σκοπῆις λαβὼν
κεκαθαρμένην, εὑρήσεις τὸ αὐτὸ τίμιον, ὃ ἦν ψυχή, καὶ τιμιώτερον
παντὸς τοῦ ὃ ἂν σωματικὸν ἦι. Γῆ γὰρ πάντα· κἂν πῦρ δὲ ἦι, τί ἂν εἴη
τὸ καῖον αὐτοῦ; Καὶ ὅσα ἐκ τούτων σύνθετα, κἂν ὕδωρ αὐτοῖς προσθῆις
κἂν ἀέρα. Εἰ δ᾽ ὅτι ἔμψυχον διωκτὸν ἔσται, τί παρείς τις ἑαυτὸν ἄλλον
διώκει; Τὴν δὲ ἐν ἄλλωι ψυχὴν ἀγάμενος σεαυτὸν ἄγασαι.

2. Toda alma deve refletir portanto primeiro nisto: que ela criou todos
os viventes tendo-lhes inspirado vida, que terra nutre e que mar [nutre],
que no ar e que no céu são astros divinos, ela mesma criou o sol, ela
mesma, esse grande céu, e ela mesma adornou, e ela mesma os faz girar
em ordem, sendo natureza diferente das coisas que adorna e das coisas
que move, as quais faz viver6; e há necessidade de ter mais valor do que
essas coisas, que vêm a ser e que se corrompem, quando a própria alma
afaste ou forneça o viver, ela mesma sendo sempre, por não afastar a si
própria7. Qual o modo de fornecimento do viver há no conjunto todo e
em cada um, deve-se raciocinar assim: seja observada a grande alma,
porque a alma diversa veio a ser não pouco digna de a observar, quando
afastou-se do engano e das coisas que encantaram as outras, por
tranquila disposição. E tranquilo para ela seja não apenas o que está em
volta do corpo e a agitação do corpo, mas também todo o entorno; e

6
Platão, Fedro 246b: ψυχὴ πᾶσα παντὸς ἐπιμελεῖται τοῦ ἀψύχου, πάντα δὲ οὐρανὸν
περιπολεῖ, ἄλλοτ’ ἐν ἄλλοις εἴδεσι γιγνομένη (toda alma cuida de todo inanimado e
percorre todo o céu, vindo a ser em formas diversas variadamente); Leis 896e: ἄγει
μὲν δὴ ψυχὴ πάντα τὰ κατ’ οὐρανὸν καὶ γῆν καὶ θάλατταν ταῖς αὑτῆς κινήσεσιν ...
(então a alma conduz todas as coisas no céu, na terra e no mar com seus próprios
movimentos ...).
7
Platão, Fedro 245: μόνον δὴ τὸ αὑτὸ κινοῦν, ἅτε οὐκ ἀπολεῖπον ἑαυτό, οὔποτε λήγει
κινούμενον ... (somente o que move a si mesmo, porque não afasta a si mesmo, jamais
cessa de mover-se ...).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 17

tranquila a terra, tranquilo o mar, o ar e o mesmo céu superior8.


Considera a alma tal que de fora correndo e vertendo-se de toda parte
para dentro do cosmo que está em repouso, de toda parte introduzindo-
se e iluminando; tal que raios de sol a acender obscura nuvem fazem-
na brilhar dando-lhe aspecto semelhante a ouro, assim também a alma,
que vem ao corpo do céu, dá-lhe vida, dá-lhe imortalidade, desperta o
que jaz. E o que se move por movimento eterno, pela alma que o conduz
de modo inteligente, vem a ser vivente bem-aventurado9, e o céu tem
dignidade, quando a alma se instala, porque antes da alma era corpo
morto, terra e água, ou seja, sombra de matéria, que não é, de que os
deuses têm horror, diz alguém10. E viria a ser mais clara e mais evidente
a potência e a natureza dela, se alguém aqui raciocinasse como ela
mantém e conduz com seus propósitos o céu. Pois a toda essa grandeza,
quão grande é, deu a si mesma, e todo intervalo tanto grande quanto
pequeno seja animado, uma parte do corpo jazendo em diverso lugar,
sendo uma aqui, outra ali, umas se mantêm desde os contrários, e outras
que têm diversa dependência uma da outra. Mas a alma não é assim,
não é porque se decompôs em cada parte dela, por partícula de alma,
que faz viver, mas todas as partes vivem por ela inteira, e está presente
toda em toda parte assemelhando-se ao pai que a gerou, tanto segundo
o uno quanto segundo o que é em tudo. E sendo múltiplo o céu e diverso
em diversa parte, é uno pela potência dela, e este cosmo é deus através

8
Platão, Timeu 43b: πολλοῦ γὰρ ὄντος τοῦ κατακλύζοντος καὶ ἀπορρέοντος κύματος
ὃ τὴν τροφὴν παρεῖχεν, ἔτι μείζω θόρυβον ἀπηργάζετο τὰ τῶν προσπιπτόντων
παθήματα ἑκάστοις ... (pois sendo muita a onda que ia e vinha, que oferecia nutrição,
ainda maior barulho realizavam as impressões do que incidia a cada um ...).
9
Platão, Timeu 34b: διὰ πάντα δὴ ταῦτα εὐδαίμονα θεὸν αὐτὸν ἐγεννήσατο (por tudo
isso [ele] o fez um deus bem-aventurado).
10
Homero, Ilíada XX, 65: τά τε στυγέουσι θεοί περ (mesmo os deuses têm horror a
isso).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 18

dela11. E também o sol é deus, porque é animado, também os outros


astros, e nós, se somos algo, é por isso; pois cadáveres devem-se lançar
fora mais do que estrume12. E porque para os deuses ela é a causa de
eles serem deuses, é necessidade ela ser mais antiga para ser deus deles.
De forma semelhante também é nossa [alma], quando sem as coisas que
advêm a ela a examines, ao tomá-la estando purificada, encontrarás o
mesmo precioso que era alma, e mais precioso do que tudo que seja
corpóreo. Pois tudo é terra13; mesmo que seja fogo, o que seria o seu
ardor? E quantas coisas são compostas desses [elementos], mesmo que
juntes a eles água, mesmo que juntes ar. E se porque é animado será o
que pode ser seguido, por que alguém deixando a si mesmo de lado
persegue coisa diversa? Se te admiras da alma em algo diverso,
admiras-te de ti mesmo.

3. Οὕτω δὴ τιμίου καὶ θείου ὄντος χρήματος τῆς ψυχῆς, πιστεύσας ἤδη
τῶι τοιούτωι θεὸν μετιέναι μετὰ τοιαύτης αἰτίας ἀνάβαινε πρὸς ἐκεῖνον·
πάντως που οὐ πόρρω βαλεῖς· οὐδὲ πολλὰ τὰ μεταξύ. Λάμβανε τοίνυν
τὸ τοῦ θείου τούτου θειότερον τὸ ψυχῆς πρὸς τὸ ἄνω γειτόνημα, μεθ᾽
ὃ καὶ ἀφ᾽ οὗ ἡ ψυχή. Καίπερ γὰρ οὖσα χρῆμα οἷον ἔδειξεν ὁ λόγος,
εἰκών τίς ἐστι νοῦ· οἷον λόγος ὁ ἐν προφορᾶι λόγου τοῦ ἐν ψυχῆι, οὕτω
τοι καὶ αὐτὴ λόγος νοῦ καὶ ἡ πᾶσα ἐνέργεια καὶ ἣν προίεται ζωὴν εἰς
ἄλλου ὑπόστασιν· οἷον πυρὸς τὸ μὲν ἡ συνοῦσα θερμότης, ἡ δὲ ἣν

11
Platão, Timeu 92c: ζῷον ὁρατὸν τὰ ὁρατὰ περιέχον, εἰκὼν τοῦ νοητοῦ θεὸς
αἰσθητός, μέγιστος καὶ ἄριστος κάλλιστός τε καὶ τελεώτατος γέγονεν εἷς οὐρανὸς ὅδε
μονογενὴς ὤν (vivente visível envolvendo os invisíveis, imagem do inteligível, deus
sensível, o céu veio a ser o maior, o melhor, o mais belo e perfeito, porque é uno e
unigênito).
12
Heráclito, 22 B 96 Diels – Kranz: νέκυες γὰρ κοπρίων ἐκβλητότεροι (cadáveres
devem-se lançar fora mais do que estrume).
13
Aristóteles, Metafísica I 8, 989a 9-10: πάντα γὰρ εἶναί φασι γῆν (pois dizem que
tudo é terra).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 19

παρέχει. Δεῖ δὲ λαβεῖν ἐκεῖ οὐκ ἐκρέουσαν, ἀλλὰ μένουσαν μὲν τὴν ἐν
αὐτῶι, τὴν δὲ ἄλλην ὑφισταμένην. Οὖσα οὖν ἀπὸ νοῦ νοερά ἐστι, καὶ
ἐν λογισμοῖς ὁ νοῦς αὐτῆς καὶ ἡ τελείωσις ἀπ᾽ αὐτοῦ πάλιν οἷον πατρὸς
ἐκθρέψαντος, ὃν οὐ τέλειον ὡς πρὸς αὐτὸν ἐγέννησεν. Ἥ τε οὖν
ὑπόστασις αὐτῆι ἀπὸ νοῦ ὅ τε ἐνεργείαι λόγος νοῦ αὐτῆι ὁρωμένου.
Ὅταν γὰρ ἐνίδηι εἰς νοῦν, ἔνδοθεν ἔχει καὶ οἰκεῖα ἃ νοεῖ καὶ ἐνεργεῖ.
Καὶ ταύτας μόνας δεῖ λέγειν ἐνεργείας ψυχῆς, ὅσα νοερῶς καὶ ὅσα
οἴκοθεν· τὰ δὲ χείρω ἄλλοθεν καὶ πάθη ψυχῆς τῆς τοιαύτης. Νοῦς οὖν
ἐπὶ μᾶλλον θειοτέραν ποιεῖ καὶ τῶι πατὴρ εἶναι καὶ τῶι παρεῖναι· οὐδὲν
γὰρ μεταξὺ ἢ τὸ ἑτέροις εἶναι, ὡς ἐφεξῆς μέντοι καὶ ὡς τὸ δεχόμενον,
τὸ δὲ ὡς εἶδος· καλὴ δὲ καὶ ἡ νοῦ ὕλη νοοειδὴς οὖσα καὶ ἁπλῆ. Οἷον δὲ
ὁ νοῦς, καὶ ταὐτῶι μὲν τούτωι δῆλον, ὅτι κρεῖττον ψυχῆς τοιᾶσδε
οὔσης.

3. Portanto sendo assim precioso e divino o valor da alma, tendo já


confiado em tal valor, sobe em direção àquele deus para te liberar com
tal causa: ao lançar-te a um lugar absolutamente não distante; não
muitos são os intervalos. Toma, portanto, o que é mais divino do que
esse deus, o vizinho14 da alma em relação ao mundo superior, depois do
que e a partir do que é a alma. Pois mesmo sendo valor tal que o discurso
mostrou, ela é uma certa imagem de inteligência; tal que um discurso é
a [imagem] em pronúncia de certo discurso na alma15, assim também
ela é discurso de inteligência, e toda sua atividade projeta vida que é
para fundamento do diverso; tal que de fogo é o calor latente, e este

14
Platão, Leis 705a: πρόσοικος γὰρ θάλαττα χώρᾳ τὸ μὲν παρ’ ἑκάστην ἡμέραν ἡδύ,
μάλα γε μὴν ὄντως ἁλμυρὸν καὶ πικρὸν γειτόνημα (pois o mar é vizinho à região, o
que é agradável a cada dia, apesar de ser realmente um vizinho salgado e amargo).
15
Sextus Empiricus, Adversus Mathematicos VIII 275, 5: τοὐναντίον δὲ
κατασκευάζοντές φασιν, ὅτι ἄνθρωπος οὐχὶ τῷ προφορικῷ λόγῳ διαφέρει τῶν
ἀλόγων ζῴων ... ἀλλὰ τῷ ἐνδιαθέτῳ (os que preparam o contrário pensamento dizem
que o homem não difere dos viventes irracionais pelo discurso pronunciado, ... mas
pelo discurso posto no íntimo). A palavra exterior é imagem da palavra interior.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 20

apresenta sua [hipóstase]. E é preciso tomar aqui não o calor que corre
para fora, mas o que permanece no mesmo [fogo], e este é o que sustenta
o outro. Sendo então a partir de inteligência [ela] é inteligente, e em
raciocínios16 é a inteligência dela, e sua perfeição é a partir da mesma
[inteligência], novamente tal como fosse um pai que dá nutrição,
[porque] o que ele gerou não é perfeito em relação a si17. Então a
hipóstase para ela é a partir da inteligência, e sua razão em atividade é
da inteligência que é vista por ela18. Pois quando olha para dentro da
inteligência, de dentro ela tem tanto coisas familiares que pensa quanto
que põe em atividade. E é preciso dizer que são essas únicas as
atividades da alma, tanto de modo inteligente quanto do que é familiar;
as piores coisas são do que é diverso: impressões de alma desse tipo19.
Então inteligência a faz mais divina sobretudo por ser pai e por ser
presente; pois nenhum intermédio há, senão o ser para os diferentes, de
modo que por consequência uma é como o que recebe, a outra é como
forma20; e é bela também a matéria de inteligência por ser de forma

16
Ou seja, em razões discursivas.
17
A Alma só não é perfeita em relação à própria Inteligência.
18
A Alma é hipóstase que procede da Inteligência e, quando a contempla, ela é razão
em ato.
19
Platão, Teeteto 186c: Οὐκοῦν τὰ μὲν εὐθὺς γενομένοις πάρεστι φύσει αἰσθάνεσθαι
ἀνθρώποις τε καὶ θηρίοις, ὅσα διὰ τοῦ σώματος παθήματα ἐπὶ τὴν ψυχὴν τείνει
(portanto o que é presente por natureza aos que vieram a ser, a homens e a feras, é
perceber quantas sensações se estendem à alma através do corpo).
20
Aristóteles, De Anima III 5, 430a 10-15: Ἐπεὶ δ’ ... ἀνάγκη καὶ ἐν τῇ ψυχῇ ὑπάρχειν
ταύτας τὰς διαφοράς· καὶ ἔστιν ὁ μὲν τοιοῦτος νοῦς τῷ πάντα γίνεσθαι, ὁ δὲ τῷ πάντα
ποιεῖν, ὡς ἕξις τις, οἷον τὸ φῶς (uma vez que ... há necessidade que essas diferenças
tenham princípio na alma; a inteligência é tal por vir a ser todas as coisas, e por criar
todas as coisas, como uma certa condição de ser, tal como a luz). Ou seja, a alma está
para a inteligência assim como a matéria está para a forma.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 21

inteligente e simples. Tal é a inteligência que, por isso mesmo é claro,


é melhor do que alma, que é deste tipo.

4. Ἴδοι δ᾽ ἄν τις καὶ ἐκ τῶνδε· κόσμον αἰσθητὸν τόνδε εἴ τις θαυμάζει


εἴς τε τὸ μέγεθος καὶ τὸ κάλλος καὶ τὴν τάξιν τῆς φορᾶς τῆς ἀιδίου
ἀποβλέπων καὶ θεοὺς τοὺς ἐν αὐτῶι, τοὺς μὲν ὁρωμένους, τοὺς δὲ καὶ
ἀφανεῖς ὄντας, καὶ δαίμονας καὶ ζῶια φυτά τε πάντα, ἐπὶ τὸ ἀρχέτυπον
αὐτοῦ καὶ τὸ ἀληθινώτερον ἀναβὰς κἀκεῖ πάντα ἰδέτω νοητὰ καὶ παρ᾽
αὐτῶι ἀίδια ἐν οἰκείαι συνέσει καὶ ζωῆι, καὶ τούτων τὸν ἀκήρατον νοῦν
προστάτην, καὶ σοφίαν ἀμήχανον, καὶ τὸν ὡς ἀληθῶς ἐπὶ Κρόνου βίον
θεοῦ κόρου καὶ νοῦ ὄντος. Πάντα γὰρ ἐν αὐτῶι τὰ ἀθάνατα περιέχει,
νοῦν πάντα, θεὸν πάντα, ψυχὴν πᾶσαν, ἑστῶτα ἀεί. Τί γὰρ ζητεῖ
μεταβάλλειν εὖ ἔχων; Ποῦ δὲ μετελθεῖν πάντα παρ᾽ αὑτῶι ἔχων; Ἀλλ᾽
οὐδὲ αὔξειν ζητεῖ τελειότατος ὤν. Διὸ καὶ τὰ παρ᾽ αὐτῶι πάντα τέλεια,
ἵνα πάντη ἦι τέλειος οὐδὲν ἔχων ὅ τι μὴ τοιοῦτον, οὐδὲν ἔχων ἐν αὑτῶι
ὃ μὴ νοεῖ· νοεῖ δὲ οὐ ζητῶν, ἀλλ᾽ ἔχων. Καὶ τὸ μακάριον αὐτῶι οὐκ
ἐπίκτητον, ἀλλ᾽ ἐν αἰῶνι πάντα, καὶ ὁ ὄντως αἰών, ὃν μιμεῖται χρόνος
περιθέων ψυχὴν τὰ μὲν παριείς, τοῖς δὲ ἐπιβάλλων. Καὶ γὰρ ἄλλα καὶ
ἄλλα αὖ περὶ ψυχήν· ποτὲ γὰρ Σωκράτης, ποτὲ δὲ ἵππος, ἕν τι ἀεὶ τῶν
ὄντων· ὁ δὲ νοῦς πάντα. Ἔχει οὖν [ἐν τῶι αὐτῶι] πάντα ἑστῶτα ἐν τῶι
αὐτῶι, καὶ ἔστι μόνον, καὶ τὸ ἔστιν ἀεί, καὶ οὐδαμοῦ τὸ μέλλον – ἔστι
γὰρ καὶ τότε – οὐδὲ τὸ παρεληλυθός – οὐ γάρ τι ἐκεῖ παρελήλυθεν –
ἀλλ᾽ ἐνέστηκεν ἀεὶ ἅτε τὰ αὐτὰ ὄντα οἷον ἀγαπῶντα ἑαυτὰ οὕτως
ἔχοντα. Ἕκαστον δὲ αὐτῶν νοῦς καὶ ὄν ἐστι καὶ τὸ σύμπαν πᾶς νοῦς
καὶ πᾶν ὄν, ὁ μὲν νοῦς κατὰ τὸ νοεῖν ὑφιστὰς τὸ ὄν, τὸ δὲ ὂν τῶι
νοεῖσθαι τῶι νῶι διδὸν τὸ νοεῖν καὶ τὸ εἶναι. Τοῦ δὲ νοεῖν αἴτιον ἄλλο,
ὃ καὶ τῶι ὄντι· ἀμφοτέρων οὖν ἅμα αἴτιον ἄλλο. Ἅμα μὲν γὰρ ἐκεῖνα
καὶ συνυπάρχει καὶ οὐκ ἀπολείπει ἄλληλα, ἀλλὰ δύο ὄντα τοῦτο τὸ ἓν
ὁμοῦ νοῦς καὶ ὂν καὶ νοοῦν καὶ νοούμενον, ὁ μὲν νοῦς κατὰ τὸ νοεῖν,
τὸ δὲ ὂν κατὰ τὸ νοούμενον. Οὐ γὰρ ἂν γένοιτο τὸ νοεῖν ἑτερότητος μὴ
οὔσης καὶ ταυτότητος δέ. Γίνεται οὖν τὰ πρῶτα νοῦς, ὄν, ἑτερότης,
ταυτότης· δεῖ δὲ καὶ κίνησιν λαβεῖν καὶ στάσιν. Καὶ κίνησιν μέν, εἰ

SUMÁRIO
P l o t i n o | 22

νοεῖ, στάσιν δέ, ἵνα τὸ αὐτό. Τὴν δὲ ἑτερότητα, ἵν᾽ ἦι νοοῦν καὶ
νοούμενον. Ἢ ἐὰν ἀφέληις τὴν ἑτερότητα, ἓν γενόμενον σιωπήσεται·
δεῖ δὲ καὶ τοῖς νοηθεῖσιν ἑτέροις πρὸς ἄλληλα εἶναι. Ταὐτὸν δέ, ἐπεὶ ἓν
ἑαυτῶι, καὶ κοινὸν δέ τι ἓν πᾶσι· καὶ ἡ διαφορὰ ἑτερότης. Ταῦτα δὲ
πλείω γενόμενα ἀριθμὸν καὶ τὸ ποσὸν ποιεῖ· καὶ τὸ ποιὸν δὲ ἡ ἑκάστου
τούτων ἰδιότης, ἐξ ὧν ὡς ἀρχῶν τἆλλα.

4. E alguém veria também desde isto: este cosmo sensível, se alguém o


admira voltando o olhar para a grandeza, a beleza e a ordem da órbita
que é eterna, e os deuses nele, os que são vistos e os que são invisíveis,
e dâimones e todos animais e plantas, tendo retornado ao arquétipo dele,
o que é mais verdadeiro, ali veja todas as coisas inteligíveis e eternas
nele em familiar compreensão e vida, e adiante de todas as coisas a não-
misturável inteligência, e sabedoria intratável, e a vida que na verdade
é em Cronos, deus de saciedade que é inteligência. Pois todas as coisas
imortais ele envolve em si, toda inteligência, toda divindade, toda alma,
que estão em estabilidade sempre. Pois o que busca ele mudar estando
bem? Aonde ir tendo tudo junto a si? Mas nem crescer busca, sendo o
mais perfeito. Por isso tudo nele é perfeito, para que seja absolutamente
perfeito, nada tendo que em algo não seja tal, nada tendo em si que ele
não pense; e pensa não buscando, mas tendo. A beatitude para ele não
é adquirível, mas tudo é em eternidade, e é o que é realmente eterno que
o tempo imita21 percorrendo a alma, umas coisas deixando passar e a
outras lançando-se. Pois ora umas coisas, ora outras são a sua vez na
alma; pois uma vez ela é Sócrates, outra, cavalo, sempre algo único das

21
Platão, Timeu 37d: εἰκὼ δ’ ἐπενόει κινητόν τινα αἰῶνος ποιῆσαι, καὶ διακοσμῶν
ἅμα οὐρανὸν ποιεῖ μένοντος αἰῶνος ἐν ἑνὶ κατ’ ἀριθμὸν ἰοῦσαν αἰώνιον εἰκόνα,
τοῦτον ὃν δὴ χρόνον ὠνομάκαμεν (e pensava criar certa imagem móvel da eternidade,
enquanto adornava tudo cria o céu como imagem eterna da eternidade que permanece
no uno, indo segundo o número, e é isso que nós denominamos tempo).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 23

coisas que são22; mas a inteligência é tudo. Então [a inteligência] tem


tudo que é estável em si, e tem apenas “é”23, e sempre o “é”, de modo
algum tem o futuro – pois ainda é então – nem o passado – pois nada
ali passou – mas o “sempre” está instituído, enquanto são as mesmas
coisas, que assim se mantêm, tal que amando a si mesmas. Cada uma
dessas coisas é inteligência e o que é, e o conjunto é toda inteligência e
tudo que é, e é a inteligência pelo pensar que sustenta o que é, e o que
é por ser pensado com inteligência é o que dá o pensar e o ser24. E do
pensar há um causador diverso, que também é para o que é; então de
ambos ao mesmo tempo há um causador diverso. Pois ao mesmo tempo
esses tanto têm princípio em conjunto quanto não deixam um ao outro,
mas sendo dois, essa unidade é conjuntamente inteligência e o que é,
tanto pensando quanto sendo pensada, a inteligência pelo pensar, e o
que é pelo que é pensado. Pois não viria a ser o pensar, não havendo
alteridade e identidade. Então vêm a ser os princípios: inteligência, o
que é, alteridade, identidade; e é preciso tomar tanto movimento quanto
repouso25. Se pensar é para movimento, repouso é para o mesmo. E o
que pensa e o que é pensado é para que seja a alteridade. Quando
afastares a alteridade, [esses princípios] silenciarão, por vir a ser uno; é
preciso também às coisas pensadas ser diferentes uma da outra. E o
mesmo, uma vez que é um só em si mesmo, é também algo único

22
A alma é em algo único a seu tempo, mas a inteligência é em tudo ao mesmo tempo.
23
Platão, Timeu 37e: τὸ ἔστιν μόνον (apenas o ‘é’).
24
Parmênides 22 B 8, 34-36: ταὐτὸν δ’ ἐστὶ νοεῖν τε καὶ οὕνεκεν ἔστι νόημα. / οὐ γὰρ
ἄνευ τοῦ ἐόντος, ἐν ὧι πεφατισμένον ἐστιν, / (35) εὑρήσεις τὸ νοεῖν (o mesmo é
pensar e por causa de que há pensamento. / pois sem o que é em que está manifestado
/ não encontrarás o pensar).
25
Platão, Sofista 254d: Μέγιστα μὴν τῶν γενῶν ἃ νυνδὴ διῇμεν τό τε ὂν αὐτὸ καὶ
στάσις καὶ κίνησις (contudo, dentre os gêneros, os maiores são aqueles sobre que
agora mesmo discorremos: o próprio que é, repouso e movimento).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 24

comum a todos; e a diferença26 é alteridade. E essa multiplicidade que


veio a ser também cria número e o de certa quantidade; e o de certa
qualidade é a propriedade de cada um desses elementos, de modo que
desde cujos princípios são os outros27 elementos.

5. Πολὺς οὖν οὗτος ὁ θεὸς ἐπὶ τῆι ψυχῆι· τῆι δὲ ὑπάρχει ἐν τούτοις εἶναι
συναφθείσηι, εἰ μὴ ἀποστατεῖν ἐθέλοι. Πελάσασα οὖν αὐτῶι καὶ οἷον
ἓν γενομένη ζῆι ἀεί. Τίς οὖν ὁ τοῦτον γεννήσας; Ὁ ἁπλοῦς καὶ ὁ πρὸ
τοιούτου πλήθους, ὁ αἴτιος τοῦ καὶ εἶναι καὶ πολὺν εἶναι τοῦτον, ὁ τὸν
ἀριθμὸν ποιῶν. Ὁ γὰρ ἀριθμὸς οὐ πρῶτος· καὶ γὰρ πρὸ δυάδος τὸ ἕν,
δεύτερον δὲ δυὰς καὶ παρὰ τοῦ ἑνὸς γεγενημένη ἐκεῖνο ὁριστὴν ἔχει,
αὕτη δὲ ἀόριστον παρ᾽ αὐτῆς· ὅταν δὲ ὁρισθῆι, ἀριθμὸς ἤδη· ἀριθμὸς
δὲ ὡς οὐσία· ἀριθμὸς δὲ καὶ ἡ ψυχή. Οὐ γὰρ ὄγκοι τὰ πρῶτα οὐδὲ
μεγέθη· τὰ γὰρ παχέα ταῦτα ὕστερα, ἃ ὄντα ἡ αἴσθησις οἴεται. Οὐδὲ ἐν
σπέρμασι δὲ τὸ ὑγρὸν τὸ τίμιον, ἀλλὰ τὸ μὴ ὁρώμενον· τοῦτο δὲ
ἀριθμὸς καὶ λόγος. Ὁ οὖν ἐκεῖ λεγόμενος ἀριθμὸς καὶ ἡ δυὰς λόγοι καὶ
νοῦς· ἀλλὰ ἀόριστος μὲν ἡ δυὰς τῶι οἷον ὑποκειμένωι λαμβανομένη, ὁ
δὲ ἀριθμὸς ὁ ἐξ αὐτῆς καὶ τοῦ ἑνὸς εἶδος ἕκαστος, οἷον μορφωθέντος
τοῖς γενομένοις εἴδεσιν ἐν αὐτῶι· μορφοῦται δὲ ἄλλον μὲν τρόπον παρὰ
τοῦ ἑνός, ἄλλον δὲ παρ᾽ αὐτοῦ, οἷον ὄψις ἡ κατ᾽ ἐνέργειαν· ἔστι γὰρ ἡ
νόησις ὅρασις ὁρῶσα ἄμφω τε ἕν.

5. Então múltiplo é esse deus acima da alma; e ser nessas coisas tem
princípio quando ela se coligar, se ela não quiser estar longe28. Então

26
Aristóteles, Metafísica IV 1, 1004 a21: διαφορὰ γάρ τις ἡ ἐναντιότης, ἡ δὲ διαφορὰ
ἑτερότης (pois a contrariedade é certa diferença, e a diferença é alteridade).
27
Desses princípios de gênero de ser (o mesmo, o outro, quantidade, qualidade) são
todas as coisas.
28
Platão, Parmênides 144b: Ἐπὶ πάντα ἄρα πολλὰ ὄντα ἡ οὐσία νενέμηται καὶ
οὐδενὸς ἀποστατεῖ τῶν ὄντων, οὔτε τοῦ σμικροτάτου οὔτε τοῦ μεγίστου; (em todas

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 25

ela, tendo-se avizinhado dele e tendo vindo a ser como que uma só
coisa, vive sempre. Então quem é que gerou esse [deus]? O que é
simples e antes de tal plenitude, o causador tanto do ser quanto dele ser
múltiplo, o que cria o número. Pois o número não é primeiro; pois o uno
é antes da díade, e é em segundo lugar a díade que veio a ser da parte
do uno, este a tem definível, ela de sua parte é indefinível; e quando for
definida, já é número; e número como essência; e número também é a
alma29. Pois os princípios não são massas nem grandezas; pois as coisas
densas são essas últimas, que a sensação acha que são. E nem no sêmen
o úmido é de valor, mas o que não é visto; e isso é número e razão.
Então o que lá é dito número também é a díade razões e inteligência;
mas indefinível é a díade tal como quando é tomada pelo que subjaz, e
o número, que é desde a díade e do uno, é cada um uma forma, tal que
do que se afigurou pelas formas que vieram a ser na inteligência; e [esta]
afigura-se de um lado da parte do uno, e de outro da parte de si mesma,
tal que visão, que é segundo atividade; pois a intelecção é ato de ver
que vê ambos como um só30.

6. Πῶς οὖν ὁρᾶι καὶ τίνα, καὶ πῶς ὅλως ὑπέστη καὶ ἐξ ἐκείνου γέγονεν,
ἵνα καὶ ὁρᾶι; Νῦν μὲν γὰρ τὴν ἀνάγκην τοῦ εἶναι ταῦτα ἡ ψυχὴ ἔχει,
ἐπιποθεῖ δὲ τὸ θρυλλούμενον δὴ τοῦτο καὶ παρὰ τοῖς πάλαι σοφοῖς, πῶς
ἐξ ἑνὸς τοιούτου ὄντος, οἷον λέγομεν τὸ ἓν εἶναι, ὑπόστασιν ἔσχεν
ὁτιοῦν εἴτε πλῆθος εἴτε δυὰς εἴτε ἀριθμός, ἀλλ᾽ οὐκ ἔμεινεν ἐκεῖνο ἐφ᾽

as coisas que são múltiplas a essência está distribuída e de nenhuma das coisas que
são se afasta, nem da menor nem da maior?).
29
Xenócrates, nos fragmentos 165 – 198, discute esse tema, por exemplo: 165- ἐπεὶ
δὲ καὶ κινητικὸν ἐδόκει ἡ ψυχὴ εἶναι καὶ γνωριστικὸν οὕτως, ἔνιοι συνέπλεξαν ἐξ
ἀμφοῖν, ἀποφηνάμενοι τὴν ψυχὴν ἀριθμὸν κινοῦνθ’ ἑαυτόν (uma vez que a alma
parece ser movível e assim reconhecível, alguns juntaram ambas as coisas, para
demonstrar que a alma é número quando se move).
30
A inteligência é o pensamento em potência e a visão em ato.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 26

ἑαυτοῦ, τοσοῦτον δὲ πλῆθος ἐξερρύη, ὃ ὁρᾶται μὲν ἐν τοῖς οὖσιν,


ἀνάγειν δὲ αὐτὸ πρὸς ἐκεῖνο ἀξιοῦμεν. Ὧδε οὖν λεγέσθω θεὸν αὐτὸν
ἐπικαλεσαμένοις οὐ λόγωι γεγωνῶι, ἀλλὰ τῆι ψυχῆι ἐκτείνασιν ἑαυτοὺς
εἰς εὐχὴν πρὸς ἐκεῖνον, εὔχεσθαι τοῦτον τὸν τρόπον δυναμένους
μόνους πρὸς μόνον. Δεῖ τοίνυν θεατήν, ἐκείνου ἐν τῶι εἴσω οἷον νεῶι
ἐφ᾽ ἑαυτοῦ ὄντος, μένοντος ἡσύχου ἐπέκεινα ἁπάντων, τὰ οἷον πρὸς τὰ
ἔξω ἤδη ἀγάλματα ἑστῶτα, μᾶλλον δὲ ἄγαλμα τὸ πρῶτον ἐκφανὲν
θεᾶσθαι πεφηνὸς τοῦτον τὸν τρόπον· παντὶ τῶι κινουμένωι δεῖ τι εἶναι,
πρὸς ὃ κινεῖται· μὴ ὄντος δὲ ἐκείνωι μηδενὸς μὴ τιθώμεθα αὐτὸ
κινεῖσθαι, ἀλλ᾽ εἴ τι μετ᾽ αὐτὸ γίνεται, ἐπιστραφέντος ἀεὶ ἐκείνου πρὸς
αὐτὸ ἀναγκαῖόν ἐστι γεγονέναι. Ἐκποδὼν δὲ ἡμῖν ἔστω γένεσις ἡ ἐν
χρόνωι τὸν λόγον περὶ τῶν ἀεὶ ὄντων ποιουμένοις· τῶι δὲ λόγωι τὴν
γένεσιν προσάπτοντας αὐτοῖς αἰτίας καὶ τάξεως αὐτοῖς ἀποδώσειν. Τὸ
οὖν γινόμενον ἐκεῖθεν οὐ κινηθέντος φατέον γίγνεσθαι· εἰ γὰρ
κινηθέντος αὐτοῦ τι γίγνοιτο, τρίτον ἀπ᾽ ἐκείνου τὸ γιγνόμενον μετὰ
τὴν κίνησιν ἂν γίγνοιτο καὶ οὐ δεύτερον. Δεῖ οὖν ἀκινήτου ὄντος, εἴ τι
δεύτερον μετ᾽ αὐτό, οὐ προσνεύσαντος οὐδὲ βουληθέντος οὐδὲ ὅλως
κινηθέντος ὑποστῆναι αὐτό. Πῶς οὖν καὶ τί δεῖ νοῆσαι περὶ ἐκεῖνο
μένον; Περίλαμψιν ἐξ αὐτοῦ μέν, ἐξ αὐτοῦ δὲ μένοντος, οἷον ἡλίου τὸ
περὶ αὐτὸ λαμπρὸν ὥσπερ περιθέον, ἐξ αὐτοῦ ἀεὶ γεννώμενον
μένοντος. Καὶ πάντα τὰ ὄντα, ἕως μένει, ἐκ τῆς αὐτῶν οὐσίας
ἀναγκαίαν τὴν περὶ αὐτὰ πρὸς τὸ ἔξω αὐτῶν ἐκ τῆς παρούσης δυνάμεως
δίδωσιν αὐτῶν ἐξηρτημένην ὑπόστασιν, εἰκόνα οὖσαν οἷον ἀρχετύπων
ὧν ἐξέφυ· πῦρ μὲν τὴν παρ᾽ αὐτοῦ θερμότητα· καὶ χιὼν οὐκ εἴσω μόνον
τὸ ψυχρὸν κατέχει· μάλιστα δὲ ὅσα εὐώδη μαρτυρεῖ τοῦτο· ἕως γάρ
ἐστι, πρόεισί τι ἐξ αὐτῶν περὶ αὐτά, ὧν ἀπολαύει ὑποστάντων ὁ
πλησίον. Καὶ πάντα δὲ ὅσα ἤδη τέλεια γεννᾶι· τὸ δὲ ἀεὶ τέλειον ἀεὶ καὶ
ἀίδιον γεννᾶι· καὶ ἔλαττον δὲ ἑαυτοῦ γεννᾶι. Τί οὖν χρὴ περὶ τοῦ
τελειοτάτου λέγειν; Μηδὲν ἀπ᾽ αὐτοῦ ἢ τὰ μέγιστα μετ᾽ αὐτόν.
Μέγιστον δὲ μετ᾽ αὐτὸν νοῦς καὶ δεύτερον· καὶ γὰρ ὁρᾶι ὁ νοῦς ἐκεῖνον
καὶ δεῖται αὐτοῦ μόνου· ἐκεῖνος δὲ τούτου οὐδέν· καὶ τὸ γεννώμενον
ἀπὸ κρείττονος νοῦ νοῦν εἶναι, καὶ κρείττων ἁπάντων νοῦς, ὅτι τἆλλα

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 27

μετ᾽ αὐτόν· οἷον καὶ ἡ ψυχὴ λόγος νοῦ καὶ ἐνέργειά τις, ὥσπερ αὐτὸς
ἐκείνου. Ἀλλὰ ψυχῆς μὲν ἀμυδρὸς ὁ λόγος – ὡς γὰρ εἴδωλον νοῦ –
ταύτηι καὶ εἰς νοῦν βλέπειν δεῖ· νοῦς δὲ ὡσαύτως πρὸς ἐκεῖνον, ἵνα ἦι
νοῦς. Ὁρᾶι δὲ αὐτὸν οὐ χωρισθείς, ἀλλ᾽ ὅτι μετ᾽ αὐτὸν καὶ μεταξὺ
οὐδέν, ὡς οὐδὲ ψυχῆς καὶ νοῦ. Ποθεῖ δὲ πᾶν τὸ γεννῆσαν καὶ τοῦτο
ἀγαπᾶι, καὶ μάλιστα ὅταν ὦσι μόνοι τὸ γεννῆσαν καὶ τὸ γεγεννημένον·
ὅταν δὲ καὶ τὸ ἄριστον ἦι τὸ γεννῆσαν, ἐξ ἀνάγκης σύνεστιν αὐτῶι, ὡς
τῆι ἑτερότητι μόνον κεχωρίσθαι.

6. Então como [a inteligência] vê e o quê? E como em geral ela subsiste


e daquele [uno] veio a ser, para que também veja? Pois agora a alma
tem a necessidade de que essas coisas sejam, e deseja [saber] isso que
é sempre dito entre os filósofos de antigamente: como, desde o uno
sendo tal qual dizemos que ele é, [possa haver] qualquer hipóstase, ou
múltiplo, ou díade, ou número? Mas [como] aquele uno não permanece
em si mesmo e faz escorrer tamanha multiplicidade que se vê nas coisas
que são, e achamos oportuno reconduzi-la a ele? Então assim seja dito
para os que apelaram ao mesmo deus31, não que veio a ser com razão,
mas com a alma, [eles] tendo-se estendido em prece a ele, sendo capazes
de invocar desse modo sozinhos a [ele que é] só. É preciso então um
espectador, sendo aquele [deus] interno como que em algum templo em
si mesmo, que permanece tranquilo além de todas as coisas, para as
imagens de culto que ficam tal que de fora, e sobretudo contemplar
aquela primeira imagem de culto manifesta que é mostrada desse
modo32; a tudo que se movimenta é preciso haver algo para o que se
movimenta, e não havendo nada para esse, não o ponhamos a mover-

31
Platão, Timeu 27c-d: ἀνάγκη θεούς τε καὶ θεὰς ἐπικαλουμένους εὔχεσθαι πάντα
κατὰ νοῦν ἐκείνοις μὲν μάλιστα, ἑπομένως δὲ ἡμῖν εἰπεῖν (há necessidade de fazer
uma prece invocando deuses e deusas, para tudo dizer segundo a inteligência,
sobretudo a eles, e em consequência a nós).
32
Enéada VI 9 11.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 28

se, mas se algo vem a ser depois de si, é necessário isso ter vindo a ser,
porque ele se volta sempre para si mesmo33. E distante seja geração em
tempo para nós que somos criados em relação à razão sobre as coisas
que são sempre; é para haver de atribuir a geração à razão que ligamos
a essas coisas causa e ordem34. Então o que vem a ser dali não se deve
dizer que veio a ser do que se moveu; pois se do mesmo que se moveu
algo viesse a ser, o que se moveu depois do movimento daquele viria a
ser terceiro, e não segundo35. É preciso então, sendo imóvel [esse uno],
se há algo segundo depois dele, que ele subsista, nem consentindo nem
deliberando nem de modo geral se movendo36. Como, então, e o que é
preciso pensar sobre o uno que permanece? Que há desde ele um
esplendor à sua volta, desde ele que permanece, tal como do sol é o
brilho em torno dele, correndo assim à sua volta, sendo gerado sempre
desde ele que permanece. E todas as coisas que são, enquanto
permanecem, desde a essência delas dão a hipóstase necessária,
dependente de si mesmas, que é em torno delas, para fora delas, desde
a presente potência, sendo imagem tal que de arquétipos dos quais
nasceram: fogo [dá] o calor de sua parte; neve não apenas para dentro
mantém o frio; sobretudo quantas coisas perfumadas provam isso: pois
enquanto são, avança algo desde elas à sua volta, de cujas supostas
essências goza o vizinho. E todas as coisas quantas são perfeitas geram;
e o sempre perfeito sempre gera também eternamente; e gera também
inferior a si. Que então é preciso dizer sobre o perfeitíssimo? Que nada
gera a partir dele, senão as maiores coisas depois dele. E a maior coisa

33
O Uno não se move porque não há um fim a que se mova, e se algo vem a ser depois
dele é porque ele se volta a si mesmo.
34
No inteligível, só se diz ‘vir a ser’ para dar causa e consequência aos fatos.
35
Se o Uno se movesse ao criar criaria a terceira hipóstase, a Alma, não a segunda, a
Inteligência.
36
Daqui até o fim do § 6 é citação de Eusébio de Cesareia, Preparação evangélica XII
17.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 29

e segunda depois dele é inteligência; pois a inteligência também o vê e


precisa dele único; e ele nada [precisa] dela; e o que é gerado a partir
do que é melhor do que inteligência é inteligência, e inteligência é
melhor do que todas as coisas, porque as outras coisas são depois dela;
tal que a alma é certa razão e ato de inteligência, como a mesma
[inteligência] o é daquele [perfeitíssimo]. Mas a razão da alma é
obscura – pois é visagem de inteligência – nisso é preciso também ela
olhar para inteligência; e inteligência da mesma forma [é preciso olhar]
para aquele [uno], para que seja inteligência. E o vê não como tendo
sido separado, porque depois dele há nenhum intermédio, como não há
entre alma e inteligência. Tudo deseja o que o gerou e o ama, sobretudo
quando sejam únicos o que gerou e o que foi gerado; e quando o que
gera seja também o melhor, de necessidade está junto com esse
[gerado], de modo a estar separado apenas pela alteridade.

7. Εἰκόνα δὲ ἐκείνου λέγομεν εἶναι τὸν νοῦν· δεῖ γὰρ σαφέστερον


λέγειν· πρῶτον μέν, ὅτι δεῖ πως εἶναι ἐκεῖνο τὸ γενόμενον καὶ
ἀποσώιζειν πολλὰ αὐτοῦ καὶ εἶναι ὁμοιότητα πρὸς αὐτό, ὥσπερ καὶ τὸ
φῶς τοῦ ἡλίου. Ἀλλ᾽ οὐ νοῦς ἐκεῖνο. Πῶς οὖν νοῦν γεννᾶι; Ἢ ὅτι τῆι
ἐπιστροφῆι πρὸς αὐτὸ ἑώρα· ἡ δὲ ὅρασις αὕτη νοῦς. Τὸ γὰρ
καταλαμβάνον ἄλλο ἢ αἴσθησις ἢ νοῦς· [ϯ] αἴσθησιν γραμμὴν καὶ τὰ
ἄλλα· [ϯ] ἀλλ᾽ ὁ κύκλος τοιοῦτος οἷος μερίζεσθαι· τοῦτο δὲ οὐχ οὕτως.
Ἢ καὶ ἐνταῦθα ἓν μέν, ἀλλὰ τὸ ἓν δύναμις πάντων. Ὧν οὖν ἐστι
δύναμις, ταῦτα ἀπὸ τῆς δυνάμεως οἷον σχιζομένη ἡ νόησις καθορᾶι· ἢ
οὐκ ἂν ἦν νοῦς. Ἐπεὶ καὶ παρ᾽ αὐτοῦ ἔχει ἤδη οἷον συναίσθησιν τῆς
δυνάμεως, ὅτι δύναται οὐσίαν. Αὐτὸς γοῦν δι᾽ αὐτὸν καὶ ὁρίζει τὸ εἶναι
αὐτῶι τῆι παρ᾽ ἐκείνου δυνάμει καὶ ὅτι οἷον μέρος ἕν τι τῶν ἐκείνου καὶ
ἐξ ἐκείνου ἡ οὐσία, καὶ ῥώννυται παρ᾽ ἐκείνου καὶ τελειοῦται εἰς
οὐσίαν παρ᾽ ἐκείνου καὶ ἐξ ἐκείνου. Ὁρᾶι δὲ αὐτῶι ἐκεῖθεν, οἷον
μεριστῶι ἐξ ἀμερίστου, καὶ τὸ ζῆν καὶ τὸ νοεῖν καὶ πάντα, ὅτι ἐκεῖνος
μηδὲν τῶν πάντων· ταύτηι γὰρ πάντα ἐξ ἐκείνου, ὅτι μή τινι μορφῆι
κατείχετο ἐκεῖνος· μόνον γὰρ ἓν ἐκεῖνο· καὶ ὁ μὲν πάντα ἐν τοῖς οὖσιν

SUMÁRIO
P l o t i n o | 30

ἂν ἦν. Διὰ τοῦτο ἐκεῖνο οὐδὲν μὲν τῶν ἐν τῶι νῶι, ἐξ αὐτοῦ δὲ πάντα
[ἐν τοῖς οὖσιν ἂν ἦν]. Διὸ καὶ οὐσίαι ταῦτα· ὥρισται γὰρ ἤδη καὶ οἷον
μορφὴν ἕκαστον ἔχει. Τὸ δὲ ὂν δεῖ οὐκ ἐν ἀορίστωι οἷον αἰωρεῖσθαι,
ἀλλ᾽ ὅρωι πεπῆχθαι καὶ στάσει· στάσις δὲ τοῖς νοητοῖς ὁρισμὸς καὶ
μορφή, οἷς καὶ τὴν ὑπόστασιν λαμβάνει. Ταύτης τοι γενεᾶς ὁ νοῦς
οὗτος ἀξίας νοῦ τοῦ καθαρωτάτου μὴ ἄλλοθεν ἢ ἐκ τῆς πρώτης ἀρχῆς
φῦναι, γενόμενον δὲ ἤδη τὰ ὄντα πάντα σὺν αὐτῶι γεννῆσαι, πᾶν μὲν
τὸ τῶν ἰδεῶν κάλλος, πάντας δὲ θεοὺς νοητούς· πλήρη δὲ ὄντα ὧν
ἐγέννησε καὶ ὥσπερ καταπιόντα πάλιν τῶι ἐν αὐτῶι ἔχειν μηδὲ ἐκπεσεῖν
εἰς ὕλην μηδὲ τραφῆναι παρὰ τῆι Ῥέαι, ὡς τὰ μυστήρια καὶ οἱ μῦθοι οἱ
περὶ θεῶν αἰνίττονται Κρόνον μὲν θεὸν σοφώτατον πρὸ τοῦ Δία
γενέσθαι ἃ γεννᾶι πάλιν ἐν ἑαυτῶι ἔχειν, ἧι καὶ πλήρης καὶ νοῦς ἐν
κόρωι· μετὰ δὲ ταῦτά φασι Δία γεννᾶν κόρον ἤδη ὄντα· ψυχὴν γὰρ
γεννᾶι νοῦς, νοῦς ὢν τέλειος. Καὶ γὰρ τέλειον ὄντα γεννᾶν ἔδει, καὶ μὴ
δύναμιν οὖσαν τοσαύτην ἄγονον εἶναι. Κρεῖττον δὲ οὐχ οἷόν τε ἦν εἶναι
οὐδ᾽ ἐνταῦθα τὸ γεννώμενον, ἀλλ᾽ ἔλαττον ὂν εἴδωλον εἶναι αὐτοῦ,
ἀόριστον μὲν ὡσαύτως, ὁριζόμενον δὲ ὑπὸ τοῦ γεννήσαντος καὶ οἷον
εἰδοποιούμενον. Νοῦ δὲ γέννημα λόγος τις καὶ ὑπόστασις, τὸ
διανοούμενον· τοῦτο δ᾽ ἐστὶ τὸ περὶ νοῦν κινούμενον καὶ νοῦ φῶς καὶ
ἴχνος ἐξηρτημένον ἐκείνου, κατὰ θάτερα μὲν συνηγμένον ἐκείνωι καὶ
ταύτηι ἀποπιμπλάμενον καὶ ἀπολαῦον καὶ μεταλαμβάνον αὐτοῦ καὶ
νοοῦν, κατὰ θάτερα δὲ ἐφαπτόμενον τῶν μετ᾽ αὐτό, μᾶλλον δὲ γεννῶν
καὶ αὐτό, ἃ ψυχῆς ἀνάγκη εἶναι χείρονα· περὶ ὧν ὕστερον λεκτέον. Καὶ
μέχρι τούτων τὰ θεῖα.

7. E dizemos que a inteligência é imagem daquele [uno]; pois é preciso


dizer mais claro: primeiro dizer que é preciso de algum modo aquele
que é gerado ser e salvar muitas coisas desse [que gera] e haver
semelhança em relação a ele, como também a luz [que é e salva muitas

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 31

coisas] do sol37. Mas aquele [uno] não é inteligência. Como então gera
inteligência? Certamente é porque [ela] via ao voltar-se para ele; e o
próprio ato de ver é inteligência. Pois o que toma algo diverso ou é
sensação ou inteligência; [...] sensação e diversos sentidos são como
linha [reta]; [...] mas o círculo é tal como [inteligência] que se partilha;
mas isso não é assim38. Certamente também aqui é o uno, mas o uno
como potência de todas as coisas. Então [a inteligência] é potência de
todas as coisas, e essas são a partir da potência, tal que, ao se separar, o
ato de pensar olha para baixo; ou não haveria inteligência. Uma vez que
[ela] já tem de sua parte como que consciência de sua potência, [esta é]
sua essência, quanto possível. Então ela mesma por si define o ser para
si pela potência da parte daquele [perfeitíssimo], porque a sua essência
é tal que certa parte única das coisas daquele e desde aquele, e se
robustece da parte daquele e se aperfeiçoa em essência da parte daquele
e desde aquele. E [ela] vê por si mesma de lá que, [por ela ser] tal que
partilhável desde não partilhável, há o viver, o pensar e todas as coisas,
porque aquele [deus] nada é de todas as coisas. Aí todas as coisas são
desde aquele [deus], porque por nenhuma figura era delimitado aquele
[deus]; pois aquele é apenas uno; e [a inteligência] seria tudo nas coisas
que são. Por isso aquele [perfeitíssimo] nada é das coisas na
inteligência, e desde ele seria tudo nas coisas que são. Por isso essas
coisas são essências; pois já estão definidas tal que cada uma tem uma
figura. E o que é não é preciso ser suspenso tal que em indefinível, mas
estar fixo com limite e estabilidade; e estabilidade e figura aos
inteligíveis é produto de limite, com que toma o fundamento. Essa
inteligência é dessa estirpe digna de puríssima inteligência, [de modo
a] nascer não de outro senão do primeiro princípio, para gerar consigo

37
Platão, Politeia 509a: ὥσπερ ἐκεῖ φῶς τε καὶ ὄψιν ἡλιοειδῆ μὲν νομίζειν ὀρθόν
(como ali é correto considerar luz e visão formas do sol).
38
Neste trecho há problemas de leitura; o círculo é divisível, mas a inteligência é
indivisível.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 32

mesma o que vem a ser e todas as coisas que são: toda a beleza das
ideias, todas as divindades inteligíveis; que são plenos do que ela gerou,
de modo que ela os engole para novamente os ter em si, para nem haver
de decair para matéria nem se nutrir junto a Rea, como os ritos de
mistérios e os mitos que falam dos deuses por enigma [dizem que]
Cronos, o deus mais sábio antes de Zeus vir a ser, tem novamente em si
as coisas que gera39, para qual ele é tanto pleno quanto inteligência em
saciedade; depois disso dizem que ela gerou Zeus já sendo saciedade;
pois inteligência gera alma, inteligência sendo perfeita40. Pois o que é
perfeito era preciso gerar, para que sua potência sendo tamanha não seja
infértil. Nem ali o que é gerado é capaz de não ser inferior, mas é por
ser imagem da inteligência que era inferior, e do mesmo modo é
indefinível, sendo definido pelo que o gerou ao criá-lo como forma. E
produto de inteligência é uma certa razão e hipóstase, o que é pensado;
e isso que se move acerca de inteligência é luz de inteligência e marca
que está em dependência dela, por um lado estando conduzida a ela e
dela se completando, regozijando-se e tomando parte de dela, e
pensando, por outro, tocando as coisas depois de si, ou melhor, essa
mesma luz gerando as coisas de que há necessidade, para ser inferiores
à alma; sobre as quais depois deve-se dizer41. E até essas são as coisas
divinas.

8. Καὶ διὰ τοῦτο καὶ τὰ Πλάτωνος τριττὰ τὰ πάντα περὶ τὸν πάντων
βασιλέα – φησὶ γὰρ πρῶτα – καὶ δεύτερον περὶ τὰ δεύτερα καὶ περὶ
τὰ τρίτα τρίτον. Λέγει δὲ καὶ τοῦ αἰτίου εἶναι πατέρα αἴτιον μὲν τὸν
νοῦν λέγων· δημιουργὸς γὰρ ὁ νοῦς αὐτῶι· τοῦτον δέ φησι τὴν ψυχὴν

39
Na Teogonia 453 – 506, Hesíodo narra o nascimento de Zeus.
40
No Crátilo 396a – d, Platão discorre sobre o significado de Zeus como filho de
Cronos, que é saciedade.
41
Enéada II 4, o décimo segundo tratado na ordem cronológica, sendo este o décimo.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 33

ποιεῖν ἐν τῶι κρατῆρι ἐκείνωι. Τοῦ αἰτίου δὲ νοῦ ὄντος πατέρα φησὶ
τἀγαθὸν καὶ τὸ ἐπέκεινα νοῦ καὶ ἐπέκεινα οὐσίας. Πολλαχοῦ δὲ τὸ ὂν
καὶ τὸν νοῦν τὴν ἰδέαν λέγει· ὥστε Πλάτωνα εἰδέναι ἐκ μὲν τἀγαθοῦ
τὸν νοῦν, ἐκ δὲ τοῦ νοῦ τὴν ψυχήν. Καὶ εἶναι τοὺς λόγους τούσδε μὴ
καινοὺς μηδὲ νῦν, ἀλλὰ πάλαι μὲν εἰρῆσθαι μὴ ἀναπεπταμένως, τοὺς
δὲ νῦν λόγους ἐξηγητὰς ἐκείνων γεγονέναι μαρτυρίοις πιστωσαμένους
τὰς δόξας ταύτας παλαιὰς εἶναι τοῖς αὐτοῦ τοῦ Πλάτωνος γράμμασιν.
Ἥπτετο μὲν οὖν καὶ Παρμενίδης πρότερον τῆς τοιαύτης δόξης καθόσον
εἰς ταὐτὸ συνῆγεν ὂν καὶ νοῦν, καὶ τὸ ὂν οὐκ ἐν τοῖς αἰσθητοῖς ἐτίθετο
τὸ γὰρ αὐτὸ νοεῖν ἐστί τε καὶ εἶναι λέγων. Καὶ ἀκίνητον δὲ λέγει
τοῦτο – καίτοι προστιθεὶς τὸ νοεῖν – σωματικὴν πᾶσαν κίνησιν ἐξαίρων
ἀπ᾽ αὐτοῦ, ἵνα μένηι ὡσαύτως, καὶ ὄγκωι σφαίρας ἀπεικάζων, ὅτι
πάντα ἔχει περιειλημμένα καὶ ὅτι τὸ νοεῖν οὐκ ἔξω, ἀλλ᾽ ἐν ἑαυτῶι. Ἓν
δὲ λέγων ἐν τοῖς ἑαυτοῦ συγγράμμασιν αἰτίαν εἶχεν ὡς τοῦ ἑνὸς τούτου
πολλὰ εὑρισκομένου. Ὁ δὲ παρὰ Πλάτωνι Παρμενίδης ἀκριβέστερον
λέγων διαιρεῖ ἀπ᾽ ἀλλήλων τὸ πρῶτον ἕν, ὃ κυριώτερον ἕν, καὶ
δεύτερον ἓν πολλὰ λέγων, καὶ τρίτον ἓν καὶ πολλά. Καὶ σύμφωνος
οὕτως καὶ αὐτός ἐστι ταῖς φύσεσι ταῖς τρισίν.

8. E por isso são também todos os três gêneros de Platão acerca “do rei
de todas as coisas” – pois diz ser primeiros – o segundo acerca das
segundas e acerca das terceiras o terceiro42. E diz também haver um pai
do causador43, dizendo ser causador a inteligência. Pois para ele a

42
Platão, Carta II 312e: περὶ τὸν πάντων βασιλέα πάντ’ ἐστὶ καὶ ἐκείνου ἕνεκα πάντα,
καὶ ἐκεῖνο αἴτιον
ἁπάντων τῶν καλῶν· δεύτερον δὲ πέρι τὰ δεύτερα, καὶ τρίτον πέρι τὰ τρίτα (acerca
do rei de todas as coisas há tudo e tudo é por causa dele, e aquele é causador de todas
as coisas belas; o segundo acerca das segundas coisas, e o terceiro acerca das
terceiras).
43
Platão, Carta VI 323d: καὶ τὸν τῶν πάντων θεὸν ἡγεμόνα τῶν τε ὄντων καὶ τῶν
μελλόντων, τοῦ τε ἡγεμόνος καὶ αἰτίου πατέρα κύριον ἐπομνύντας (e jurando pelo

SUMÁRIO
P l o t i n o | 34

inteligência é demiurgo; e diz que esse [demiurgo] cria a alma naquela


cratera44. E diz ser pai do causador, que é inteligência, o bem, que é
além da inteligência e além da essência45. Muita vez diz que a ideia é o
que é e a inteligência; desse modo Platão sabe que desde o bem é a
inteligência e que desde a inteligência é a alma. E estas razões nem são
novidades nem são de agora, mas há muito tempo estão ditas não
abertamente, e as razões de agora vieram a ser por testemunhos
intérpretes daquelas, que confirmaram ser antigas essas opiniões, pelos
escritos do mesmo Platão. Ligava-se também Parmênides antes a essa
opinião, enquanto conduzia ao mesmo o que é e inteligência, e punha o
que é não nos sensíveis, dizendo: “pois é o mesmo pensar e ser”. E diz
que esse [ser] é imóvel – apesar de ter aposto o pensar – extraindo todo
movimento corpóreo dele, para que permaneça da mesma forma,
representando-o por volume de esfera46, porque contém tudo tomado ao
seu redor e porque o pensar não é exterior, mas em si mesmo47. E ia
dizendo em seu conjunto de escritos que o uno tinha causa de como,

deus de todas as coisas, das coisas que são e das que hão de ser, pai soberano do deus
condutor e causador).
44
Platão, Timeu 41d: Ταῦτ’ εἶπε, καὶ πάλιν ἐπὶ τὸν πρότερον κρατῆρα, ἐν ᾧ τὴν τοῦ
παντὸς ψυχὴν κεραννὺς ἔμισγεν ... (disse essas coisas e misturou novamente na
cratera de antes, em que tinha misturado a alma do todo ...).
45
Platão, Politeia 509b: οὐκ οὐσίας ὄντος τοῦ ἀγαθοῦ, ἀλλ’ ἔτι ἐπέκεινα τῆς οὐσίας
πρεσβείᾳ καὶ δυνάμει
ὑπερέχοντος (porque o bem não é essência, mas é ainda acima, além da essência em
dignidade e potência).
46
Platão, Sofista 244e: Πάντοθεν εὐκύκλου σφαίρης ἐναλίγκιον ὄγκῳ, / μεσσόθεν
ἰσοπαλὲς πάντῃ· τὸ γὰρ οὔτε τι μεῖζον / οὔτε τι βαιότερον πελέναι χρεόν ἐστι τῇ ἢ τῇ
(de toda parte semelhante ao volume de esfera bem circular, tendo igual medida do
meio ao extremo; pois nem algo maior nem menor é preciso mover aqui ou ali).
47
Parmênides 28 B 3; B 8, 26; B 8, 43 – 45; B 8, 6 Diels – Kranz.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 35

descobrindo-se esse uno, há muitas coisas48. O Parmênides de Platão,


dizendo mais exatamente, faz a diferença de um e de outro: o primeiro
uno, que é o uno principal, o segundo é o uno que é muitas coisas, o
terceiro é uno e muitas coisas. Assim também ele é concordante com as
três naturezas49.

9. Ἀναξαγόρας δὲ νοῦν καθαρὸν καὶ ἀμιγῆ λέγων ἁπλοῦν καὶ αὐτὸς


τίθεται τὸ πρῶτον καὶ χωριστὸν τὸ ἕν, τὸ δ᾽ ἀκριβὲς δι᾽ ἀρχαιότητα
παρῆκε. Καὶ Ἡράκλειτος δὲ τὸ ἓν οἶδεν ἀίδιον καὶ νοητόν· τὰ γὰρ
σώματα γίγνεται ἀεὶ καὶ ῥέοντα. Τῶι δὲ Ἐμπεδοκλεῖ τὸ νεῖκος μὲν
διαιρεῖ, ἡ δὲ φιλία τὸ ἕν – ἀσώματον δὲ καὶ αὐτὸς τοῦτο – τὰ δὲ
στοιχεῖα ὡς ὕλη. Ἀριστοτέλης δὲ ὕστερον χωριστὸν μὲν τὸ πρῶτον καὶ
νοητόν, νοεῖν δὲ αὐτὸ ἑαυτὸ λέγων πάλιν αὖ οὐ τὸ πρῶτον ποιεῖ· πολλὰ
δὲ καὶ ἄλλα νοητὰ ποιῶν καὶ τοσαῦτα, ὁπόσαι ἐν οὐρανῶι σφαῖραι, ἵν᾽
ἕκαστον ἑκάστην κινῆι, ἄλλον τρόπον λέγει τὰ ἐν τοῖς νοητοῖς ἢ
Πλάτων, τὸ εὔλογον οὐκ ἔχον ἀνάγκην τιθέμενος. Ἐπιστήσειε δ᾽ ἄν τις,
εἰ καὶ εὐλόγως· εὐλογώτερον γὰρ πάσας πρὸς μίαν σύνταξιν
συντελούσας πρὸς ἓν καὶ τὸ πρῶτον βλέπειν. Ζητήσειε δ᾽ ἄν τις τὰ
πολλὰ νοητὰ εἰ ἐξ ἑνός ἐστιν αὐτῶι τοῦ πρώτου, ἢ πολλαὶ αἱ ἐν τοῖς
νοητοῖς ἀρχαί· καὶ εἰ μὲν ἐξ ἑνός, ἀνάλογον δηλονότι ἕξει ὡς ἐν τοῖς
αἰσθητοῖς αἱ σφαῖραι ἄλλης ἄλλην περιεχούσης, μιᾶς δὲ τῆς ἔξω
κρατούσης· ὥστε περιέχοι ἂν κἀκεῖ τὸ πρῶτον καὶ κόσμος νοητὸς
ἔσται· καὶ ὥσπερ ἐνταῦθα αἱ σφαῖραι οὐ κεναί, ἀλλὰ μεστὴ ἄστρων ἡ
πρώτη, αἱ δὲ ἔχουσιν ἄστρα, οὕτω κἀκεῖ τὰ κινοῦντα πολλὰ ἐν αὐτοῖς
ἕξει καὶ τὰ ἀληθέστερα ἐκεῖ. Εἰ δὲ ἕκαστον ἀρχή, κατὰ συντυχίαν αἱ
ἀρχαὶ ἔσονται· καὶ διὰ τί συνέσονται καὶ πρὸς ἓν ἔργον τὴν τοῦ παντὸς
οὐρανοῦ συμφωνίαν ὁμονοήσει; Πῶς δὲ ἴσα πρὸς τὰ νοητὰ καὶ

48
Platão, Sofista 245a: Τὸ δὲ πεπονθὸς ταῦτα ἆρ’ οὐκ ἀδύνατον αὐτό γε τὸ ἓν αὐτὸ
εἶναι; (Por acaso o que sofreu essas coisas não é impossível ser ele mesmo o uno?).
49
Platão põe em discussão essa doutrina no Parmênides, de 137 até 166.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 36

κινοῦντα τὰ ἐν οὐρανῶι αἰσθητά; Πῶς δὲ καὶ πολλὰ οὕτως ἀσώματα


ὄντα ὕλης οὐ χωριζούσης; Ὥστε τῶν ἀρχαίων οἱ μάλιστα
συντασσόμενοι αὖ τοῖς Πυθαγόρου καὶ τῶν μετ᾽ αὐτὸν καὶ Φερεκύδους
δὲ περὶ ταύτην μὲν ἔσχον τὴν φύσιν· ἀλλ᾽ οἱ μὲν ἐξειργάσαντο ἐν αὐτοῖς
αὐτῶν λόγοις, οἱ δὲ οὐκ ἐν λόγοις, ἀλλ᾽ ἐν ἀγράφοις ἐδείκνυον
συνουσίαις ἢ ὅλως ἀφεῖσαν.

9. E Anaxágoras50 ao dizer que a inteligência pura e não misturada é


simples, põe o uno como primeiro e separável, mas a exatidão por causa
da antiguidade deixa a desejar. E Heráclito51 sabe que o uno é eterno e
inteligível; pois os corpos vêm a ser sempre perecendo. E para
Empédocles a contenda discrimina, a amizade é o uno – também esse
mesmo é incorpóreo – e os elementos são como matéria52. Aristóteles,
posteriormente, [diz] que o primeiro é separável e inteligível, mas,
dizendo que ele pensa a si mesmo, novamente não o faz primeiro53; e

50
Anaxágoras 59 B 12 Diels – Kranz: περὶ δὲ τοῦ νοῦ τάδε γέγραφε· ‘νοῦς δέ ἐστιν
... ἐστι καὶ ἦν’ (sobre a inteligência escreveu isto: ‘inteligência é ... é e era’).
51
Heráclito 22 A 1 Diels – Kranz: εἶναι γὰρ ‘ἓν τὸ σοφὸν ... πάντων’ (pois é ‘o uno
que sabe ... de todas as coisas’).
52
Empédocles 31 B 17, 7-8 Diels – Kranz: καὶ Φιλότητα συγκαταριθμεῖται
συγκριτικήν τινα ἀγάπην νοῶν ‘ἣν ... τεθηπώς’ (enumera o Amor pensando-o como
certo afeto que une ‘que ... me deixa estupefato); B 26, 5-6 Diels – Kranz: ἄλλοτε μὲν
Φιλότητι συνερχόμεν’ εἰς ἕνα κόσμον, / ἄλλοτε δ’ αὖ δίχ’ ἕκαστα φορούμενα Νείκεος
ἔχθει (ora cada coisa convergindo por Amor em único cosmo, / ora cada uma sendo
levada de modo diverso pela hostilidade da Contenda).
53
Aristóteles, Metafísica XII 7, 1072a 26: κινεῖ δὲ ὧδε τὸ ὀρεκτὸν καὶ τὸ νοητόν·
κινεῖ οὐ κινούμενα. τούτων τὰ πρῶτα τὰ αὐτά. ἐπιθυμητὸν μὲν γὰρ τὸ φαινόμενον
καλόν, βουλητὸν δὲ πρῶτον τὸ ὂν καλόν (assim move o apetecível e o inteligível;
move não se movendo. Os princípios deles são os mesmos. Pois desejável é o que se
mostra belo, e deliberável é o primeiro que é belo); 1072b 20: αὑτὸν δὲ νοεῖ ὁ νοῦς
κατὰ μετάληψιν τοῦ νοητοῦ· νοητὸς γὰρ γίγνεται θιγγάνων καὶ νοῶν, ὥστε ταὐτὸν
νοῦς καὶ νοητόν (a inteligência pensa a si mesma segundo a participação do
inteligível; pois ela vem a ser inteligível tratando e pensando, assim é o mesmo
inteligência e inteligível).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 37

criando diversos inteligíveis muitos e tantos, quantas são no céu as


esferas, para que cada [inteligível] mova cada [esfera], de modo diverso
de Platão diz ser os [elementos] nos inteligíveis, ao pôr o bom
argumento que não tem a necessidade. Alguém reconsideraria se é
mesmo de bom argumento; pois de melhor argumento seria todas [as
esferas] completando-se em uma só composição olhar para o uno e o
primeiro54. Alguém buscaria se os muitos inteligíveis são desde o uno,
o primeiro, para Aristóteles, ou são muitos os princípios nos
inteligíveis; se são desde o uno, é claro que terá algo análogo a como
nos sensíveis são as esferas, uma contendo a outra, uma só de fora
dominante; assim o primeiro conteria ali, e haverá o cosmo inteligível;
e como aqui as esferas não são vazias, mas a primeira é plena de astros,
e as outras têm astros, desse modo também ali haverá muitas coisas que
se movem nelas e serão as mais verdadeiras ali. E se cada [coisa] for
um princípio, por eventualidade serão os princípios; e por que haverão
de convergir ao trabalho único com igual pensar para a sinfonia de todo
o céu? E como os sensíveis no céu são iguais em relação aos inteligíveis,
que os movem? E como [serão] muitos, se assim são incorpóreos, pois
a matéria não os separa? Assim dentre os antigos os que mais se
coordenaram com os [discursos] de Pitágoras e dos que são depois dele
e também de Ferécides55 mantêm-se acerca dessa natureza; mas alguns

54
Em referência a Aristóteles, Metafísica XII 8, 1074a 14-17: τὸ μὲν οὖν πλῆθος τῶν
σφαιρῶν ἔστω τοσοῦτον, ὥστε καὶ τὰς οὐσίας καὶ τὰς ἀρχὰς τὰς ἀκινήτους [καὶ τὰς
αἰσθητὰς] τοσαύτας εὔλογον ὑπολαβεῖν (seja então o múltiplo das esferas tamanho
que suportem como bom argumento as essências, os princípios imóveis e os sensíveis
serem tão grandes).
55
Ferécides 7 A 4 Diels – Kranz: Πυθαγόρας πυθόμενος Φερεκύδην τὸν ἐπιστάτην
αὐτοῦ γεγενημένον ἐν Δήλωι νοσεῖν καὶ τελέως ἐσχάτως ἔχειν, ἔπλευσεν ἐκ τῆς
Ἰταλίας εἰς τὴν Δῆλον (Pitágoras tendo sabido que Ferécides, o seu mestre, se
encontrava em Delos, por estar doente e ter próximo seu fim, navegou desde a Itália
até Delos).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 38

a desenvolveram em seus próprios discursos, outros não em discursos,


mas a indicavam em encontros ágrafos ou inteiramente a descuidaram.

10. Ὅτι δὲ οὕτω χρὴ νομίζειν ἔχειν, ὡς ἔστι μὲν τὸ ἐπέκεινα ὄντος τὸ
ἕν, οἷον ἤθελεν ὁ λόγος δεικνύναι ὡς οἷόν τε ἦν περὶ τούτων
ἐνδείκνυσθαι, ἔστι δὲ ἐφεξῆς τὸ ὂν καὶ νοῦς, τρίτη δὲ ἡ τῆς ψυχῆς
φύσις, ἤδη δέδεικται. Ὥσπερ δὲ ἐν τῆι φύσει τριττὰ ταῦτά ἐστι τὰ
εἰρημένα, οὕτω χρὴ νομίζειν καὶ παρ᾽ ἡμῖν ταῦτα εἶναι. Λέγω δὲ οὐκ ἐν
τοῖς αἰσθητοῖς – χωριστὰ γὰρ ταῦτα – ἀλλ᾽ ἐπὶ τοῖς αἰσθητῶν ἔξω, καὶ
τὸν αὐτὸν τρόπον τὸ ἔξω ὥσπερ κἀκεῖνα τοῦ παντὸς οὐρανοῦ ἔξω·
οὕτω καὶ τὰ τοῦ ἀνθρώπου, οἷον λέγει Πλάτων τὸν εἴσω ἄνθρωπον.
Ἔστι τοίνυν καὶ ἡ ἡμετέρα ψυχὴ θεῖόν τι καὶ φύσεως ἄλλης, ὁποία
πᾶσα ἡ ψυχῆς φύσις· τελεία δὲ ἡ νοῦν ἔχουσα· νοῦς δὲ ὁ μὲν
λογιζόμενος, ὁ δὲ λογίζεσθαι παρέχων. Τὸ δὴ λογιζόμενον τοῦτο τῆς
ψυχῆς οὐδενὸς πρὸς τὸ λογίζεσθαι δεόμενον σωματικοῦ ὀργάνου, τὴν
δὲ ἐνέργειαν ἑαυτοῦ ἐν καθαρῶι ἔχον, ἵνα καὶ λογίζεσθαι καθαρῶς οἷόν
τε ἦι, χωριστὸν καὶ οὐ κεκραμένον σώματι ἐν τῶι πρώτωι νοητῶι τις
τιθέμενος οὐκ ἂν σφάλλοιτο. Οὐ γὰρ τόπον ζητητέον οὗ ἱδρύσομεν,
ἀλλ᾽ ἔξω τόπου παντὸς ποιητέον. Οὕτω γὰρ τὸ καθ᾽ αὑτὸ καὶ τὸ ἔξω
καὶ τὸ ἄυλον, ὅταν μόνον ἦι οὐδὲν ἔχον παρὰ τῆς σώματος φύσεως. Διὰ
τοῦτο καὶ ἔτι ἔξωθέν φησιν ἐπὶ τοῦ παντὸς τὴν ψυχὴν περιέβαλεν
ἐνδεικνύμενος τῆς ψυχῆς τὸ ἐν τῶι νοητῶι μένον· ἐπὶ δὲ ἡμῶν
ἐπικρύπτων ἐπ᾽ ἄκραι εἴρηκε τῆι κεφαλῆι. Καὶ ἡ παρακέλευσις δὲ τοῦ
χωρίζειν οὐ τόπωι λέγεται – τοῦτο γὰρ φύσει κεχωρισμένον ἐστίν –
ἀλλὰ τῆι μὴ νεύσει καὶ ταῖς φαντασίαις καὶ τῆι ἀλλοτριότητι τῆι πρὸς
τὸ σῶμα, εἴ πως καὶ τὸ λοιπὸν ψυχῆς εἶδος ἀναγάγοι τις καὶ συνενέγκαι
πρὸς τὸ ἄνω καὶ τὸ ἐνταῦθα αὐτῆς ἱδρυμένον, ὃ μόνον ἐστὶ σώματος
δημιουργὸν καὶ πλαστικὸν καὶ τὴν πραγματείαν περὶ τοῦτο ἔχον.

10. É preciso considerar que é assim: o uno é além do que é, tal como o
discurso queria demonstrar que era possível dar demonstração sobre
isso, depois [do uno] há o que é e inteligência, e terceira é a natureza da

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 39

alma, [isso] já está demonstrado. E como na natureza essas coisas que


foram ditas são triplas, assim é preciso considerar que também em nós
são elas. E digo não nos sensíveis – pois esses são separáveis – mas
sobre os que são fora dos sensíveis, e do mesmo modo é o “fora” como
também aquelas coisas são fora de todo o céu; assim também no que se
refere ao homem, tal como Platão diz “o homem interior”56. Portanto é
também a nossa alma algo divino e de natureza diversa, tal qual a
natureza toda da alma; e tendo inteligência é perfeita: uma inteligência
que raciocina e outra que se apresenta para raciocinar. Isso da alma que
raciocina, que de nenhum órgão corpóreo precisa, porque tem a
atividade de si mesmo em pureza, para também raciocinar puramente
quanto seja possível, alguém pondo-o no primeiro inteligível como
separável e que não se mistura a corpo não erraria. Pois não se deve
buscar um lugar em que iremos fundamentá-lo, mas de fora de todo
lugar deve-se fazer. Pois assim [será] o “por si”, o “de fora” e o
imaterial, quando seja único nada tendo com a natureza do corpo. Por
isso [Platão]57 ainda diz [que o demiurgo], da parte de fora, lançou a
alma em volta do todo, indicando que o que permanece no inteligível é
da alma; e está dito que em nós ele a ocultou58 no alto [do corpo], na
cabeça. E a recomendação de separar não se diz em lugar – pois isso

56
Platão, Politeia 589a – b: Οὐκοῦν αὖ ὁ τὰ δίκαια λέγων λυσιτελεῖν φαίη ἂν δεῖν
ταῦτα πράττειν καὶ ταῦτα λέγειν, ὅθεν τοῦ ἀνθρώπου ὁ ἐντὸς ἄνθρωπος ἔσται
ἐγκρατέστατος (então o que diz que as coisas justas são melhores diria que é preciso
praticá-las e dizê-las, daí o homem interior do homem será o mais forte).
57
Platão, Timeu 36e: ἡ δ’ ἐκ μέσου πρὸς τὸν ἔσχατον οὐρανὸν πάντῃ διαπλακεῖσα
κύκλῳ τε αὐτὸν ἔξωθεν περικαλύψασα, αὐτὴ ἐν αὑτῇ στρεφομένη, θείαν ἀρχὴν
ἤρξατο ἀπαύστου καὶ ἔμφρονος βίου πρὸς τὸν σύμπαντα χρόνον. (ela tendo-se
entrelaçado toda em círculo com o céu, desde o meio até o extremo, e tendo-o
envolvido de fora, voltando-se ela nela mesma, deu início ao princípio divino de vida
incessável e sensato para todo o tempo).
58
Platão, Timeu 90a: τοῦτο ὃ δή φαμεν οἰκεῖν μὲν ἡμῶν ἐπ’ ἄκρῳ τῷ σώματι (isso
que dizemos que habita em nossa parte alta do corpo).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 40

por natureza está separado – mas para a não inclinação às fantasias e à


diversidade em relação ao corpo, caso de algum modo alguém possa
reconduzir o que resta da alma, para levar ao alto o que é fundamento
dela aqui, que apenas é demiurgo que plasma o corpo, que tem empenho
acerca dele.

11. Οὔσης οὖν ψυχῆς τῆς λογιζομένης περὶ δικαίων καὶ καλῶν καὶ
λογισμοῦ ζητοῦντος εἰ τοῦτο δίκαιον καὶ εἰ τοῦτο καλόν, ἀνάγκη εἶναι
καὶ ἑστώς τι δίκαιον, ἀφ᾽ οὗ καὶ ὁ λογισμὸς περὶ ψυχὴν γίγνεται. Ἢ
πῶς ἂν λογίσαιτο; Καὶ εἰ ὁτὲ μὲν λογίζεται περὶ τούτων ψυχή, ὁτὲ δὲ
μή, δεῖ τὸν [μὴ] λογιζόμενον, ἀλλ᾽ ἀεὶ ἔχοντα τὸ δίκαιον νοῦν ἐν ἡμῖν
εἶναι, εἶναι δὲ καὶ τὴν νοῦ ἀρχὴν καὶ αἰτίαν καὶ θεόν – οὐ μεριστοῦ
ἐκείνου ὄντος, ἀλλὰ μένοντος ἐκείνου, καὶ οὐκ ἐν τόπωι μένοντος – ἐν
πολλοῖς αὖ θεωρεῖσθαι καθ᾽ ἕκαστον τῶν δυναμένων δέχεσθαι οἷον
ἄλλον αὐτόν, ὥσπερ καὶ τὸ κέντρον ἐφ᾽ ἑαυτοῦ ἐστιν, ἔχει δὲ καὶ
ἕκαστον τῶν ἐν τῶι κύκλωι σημεῖον ἐν αὐτῶι, καὶ αἱ γραμμαὶ τὸ ἴδιον
προσφέρουσι πρὸς τοῦτο. Τῶι γὰρ τοιούτωι τῶν ἐν ἡμῖν καὶ ἡμεῖς
ἐφαπτόμεθα καὶ σύνεσμεν καὶ ἀνηρτήμεθα· ἐνιδρύμεθα δὲ οἳ ἂν
συννεύωμεν ἐκεῖ.

11. Então sendo a alma a que raciocina sobre coisas justas e belas e
raciocínio que busca se isso é justo e se isso é belo, necessidade é haver
também algo justo que é estável, desde o qual o raciocínio acerca da
alma vem a ser. Ou como raciocinaria? E se ora a alma raciocina sobre
essas coisas, ora não, é preciso [haver] o que <não> raciocina, mas
sempre tendo o justo, por haver inteligência em nós, e [é preciso] haver
também o princípio de inteligência tanto causa quanto deus – não sendo
esse partilhável, mas permanecendo esse, e não permanecendo em lugar
– para que por sua vez seja contemplado em muitas coisas, segundo
cada uma das potências o receba, tal que ele mesmo diverso, de modo
que o centro é nele mesmo, e cada uma das coisas no círculo tem um
sinal nele, e as linhas se dirigem a ele pelo que é próprio. Pois, por tal

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 41

[centro] tocamos o que é em nós, e nos reunimos e somos dependentes


[dele]; e os que de nós consentir, ali teremos fundamento.

12. Πῶς οὖν ἔχοντες τὰ τηλικαῦτα οὐκ ἀντιλαμβανόμεθα, ἀλλ᾽


ἀργοῦμεν ταῖς τοιαύταις ἐνεργείαις τὰ πολλά, οἱ δὲ οὐδ᾽ ὅλως
ἐνεργοῦσιν; Ἐκεῖνα μέν ἐστιν ἐν ταῖς αὐτῶν ἐνεργείαις ἀεί, νοῦς καὶ τὸ
πρὸ νοῦ ἀεὶ ἐν ἑαυτῶι, καὶ ψυχὴ δέ – τὸ ἀεικίνητον – οὕτως. Οὐ γὰρ
πᾶν, ὃ ἐν ψυχῆι, ἤδη αἰσθητόν, ἀλλὰ ἔρχεται εἰς ἡμᾶς, ὅταν εἰς αἴσθησιν
ἴηι· ὅταν δὲ ἐνεργοῦν ἕκαστον μὴ μεταδιδῶι τῶι αἰσθανομένωι, οὔπω
δι᾽ ὅλης ψυχῆς ἐλήλυθεν. Οὔπω οὖν γιγνώσκομεν ἅτε μετὰ τοῦ
αἰσθητικοῦ ὄντες καὶ οὐ μόριον ψυχῆς ἀλλ᾽ ἡ ἅπασα ψυχὴ ὄντες. Καὶ
ἔτι ἕκαστον τῶν ψυχικῶν ζῶν ἀεὶ ἐνεργεῖ ἀεὶ καθ᾽ αὑτὸ τὸ αὑτοῦ· τὸ δὲ
γνωρίζειν, ὅταν μετάδοσις γένηται καὶ ἀντίληψις. Δεῖ τοίνυν, εἰ τῶν
οὕτω παρόντων ἀντίληψις ἔσται, καὶ τὸ ἀντιλαμβανόμενον εἰς τὸ εἴσω
ἐπιστρέφειν, κἀκεῖ ποιεῖν τὴν προσοχὴν ἔχειν. Ὥσπερ εἴ τις ἀκοῦσαι
ἀναμένων ἣν ἐθέλει φωνήν, τῶν ἄλλων φωνῶν ἀποστὰς τὸ οὖς ἐγείροι
πρὸς τὸ ἄμεινον τῶν ἀκουστῶν, ὁπότε ἐκεῖνο προσέλθοι, οὕτω τοι καὶ
ἐνταῦθα δεῖ τὰς μὲν αἰσθητὰς ἀκούσεις ἀφέντα, εἰ μὴ καθόσον ἀνάγκη,
τὴν τῆς ψυχῆς εἰς τὸ ἀντιλαμβάνεσθαι δύναμιν φυλάττειν καθαρὰν καὶ
ἕτοιμον ἀκούειν φθόγγων τῶν ἄνω.

12. Como então tendo coisas de tal importância não tiramos proveito,
mas na maior parte ficamos inativos em tais atividades, e há os que
inteiramente não as põem em atividade? Essas coisas são sempre em
suas atividades, inteligência e o que é sempre antes de inteligência em
si mesmo, e alma – o que é sempre móvel59 – assim. Pois nem tudo que
é em alma já é sensível, mas vem a nós, quando vá à sensação; e quando
cada coisa que é em atividade não comunique com o que é sentido,

59
Platão, Fedro 245c: Ψυχὴ πᾶσα ἀθάνατος. τὸ γὰρ ἀεικίνητον ἀθάνατον (toda alma
é imortal. Pois o que sempre se move é imortal).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 42

ainda não chegou pela alma inteira. Então ainda não conhecemos
porque somos com o sensível e [porque] não somos uma partícula da
alma, mas a alma toda. E ainda [porque] cada parte dos que são
animados vive sempre em atividade, sempre segundo isso que é de si
mesma; e há o reconhecer, quando vier a ser comunicação e recepção.
É preciso, portanto, se houver recepção das coisas que assim se
apresentam, também o que é recebido voltar-se para o interior, e ali
fazer ter atenção. Desse modo se alguém esperando ouvir uma voz que
deseja, ao afastar o ouvido das outras vozes, despertaria para a melhor
das [vozes] audíveis, quando essa [voz] chegar, assim também aqui é
preciso, tendo afastado as audições sensíveis, se não houver
necessidade de cada uma, para guardar a potência da alma de receber
pura e pronta para ouvir sons do alto.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 43

ENÉADA V

Livro II

Introdução

V 2 (11)

Este tratado segue o anterior cronologicamente, sendo, portanto, uma


sequência daquela explicação. Como nada é independente ou separado
do Uno, a Alma vai até o mundo sensível, mas de certo modo, pois os
seres vivos têm o que provém dela; ao criar a alma do todo, que deve
cuidar do que é corpóreo, ela desce ao que é pior, explicando-se que sua
parte superior se mantém ligada à inteligência, de modo que a parte
inferior vai ao corpo, como parte dependente daquela parte superior.
Assim se mantém a ‘procissão’ primordial, com reflexo no mundo
inferior, pois o Uno, que é nada, é tudo, por ser simples e por não ter
necessidade de nada; desse modo ele cria algo diverso de si, e o que
vem depois dele é Inteligência, que é essência, ou o que é; disso vem as
formas e a Alma, que se volta a sua origem, emprenhando-se de
inteligência. O Uno cria permanecendo em si mesmo, e também a
Inteligência o imita, permanecendo em si, mas a Alma cria um reflexo
de si, uma visagem dela mesma que desce ao mundo inferior que deverá
ser criado para ser administrado por esta última. Assim os seres criados
são ocupados pela alma de cada corpo na natureza do todo: o que é
criado não é o mesmo que o criador, pois há alteridade no segundo, de
modo que nas plantas a alma é vegetativa e não está em lugar, porque é

SUMÁRIO
P l o t i n o | 44

em um princípio, que a gera; nos animais irracionais há do mesmo modo


a alma sensitiva, e no homem a alma intelectiva. Cada uma delas retorna
ao seu princípio, podendo ficar aí ou retornar ainda, pois a alma
principal da qual derivam todas as outras é inteligente, e isso as faz ser
inteligentes para pensar e mover-se. A alma é em nenhuma parte da
natureza, pois é na inteligência que é de nenhuma parte, mas é em tudo.

βʹ

Περὶ γενέσεως καὶ τάξεως τῶν μετὰ τὸ πρῶτον

1. Τὸ ἓν πάντα καὶ οὐδὲ ἕν· ἀρχὴ γὰρ πάντων, οὐ πάντα, ἀλλ᾽ ἐκείνως
πάντα· ἐκεῖ γὰρ οἷον ἐνέδραμε· μᾶλλον δὲ οὔπω ἐστίν, ἀλλ᾽ ἔσται. Πῶς
οὖν ἐξ ἁπλοῦ ἑνὸς οὐδεμιᾶς ἐν ταὐτῶι φαινομένης ποικιλίας, οὐ
διπλόης οὔτινος ὁτουοῦν; Ἢ ὅτι οὐδὲν ἦν ἐν αὐτῶι, διὰ τοῦτο ἐξ αὐτοῦ
πάντα, καὶ ἵνα τὸ ὂν ἦι, διὰ τοῦτο αὐτὸς οὐκ ὄν, γεννητὴς δὲ αὐτοῦ· καὶ
πρώτη οἷον γέννησις αὕτη· ὂν γὰρ τέλειον τῶι μηδὲν ζητεῖν μηδὲ ἔχειν
μηδὲ δεῖσθαι οἷον ὑπερερρύη καὶ τὸ ὑπερπλῆρες αὐτοῦ πεποίηκεν
ἄλλο· τὸ δὲ γενόμενον εἰς αὐτὸ ἐπεστράφη καὶ ἐπληρώθη καὶ ἐγένετο
πρὸς αὐτὸ βλέπον καὶ νοῦς οὗτος. Καὶ ἡ μὲν πρὸς ἐκεῖνο στάσις αὐτοῦ
τὸ ὂν ἐποίησεν, ἡ δὲ πρὸς αὐτὸ θέα τὸν νοῦν. Ἐπεὶ οὖν ἔστη πρὸς αὐτό,
ἵνα ἴδηι, ὁμοῦ νοῦς γίγνεται καὶ ὄν. Οὗτος οὖν ὢν οἷον ἐκεῖνος τὰ ὅμοια
ποιεῖ δύναμιν προχέας πολλήν – εἶδος δὲ καὶ τοῦτο αὐτοῦ – ὥσπερ αὖ
τὸ αὐτοῦ πρότερον προέχεε· καὶ αὕτη ἐκ τῆς οὐσίας ἐνέργεια ψυχῆς
τοῦτο μένοντος ἐκείνου γενομένη· καὶ γὰρ ὁ νοῦς μένοντος τοῦ πρὸ
αὐτοῦ ἐγένετο. Ἡ δὲ οὐ μένουσα ποιεῖ, ἀλλὰ κινηθεῖσα ἐγέννα εἴδωλον.
Ἐκεῖ μὲν οὖν βλέπουσα, ὅθεν ἐγένετο, πληροῦται, προελθοῦσα δὲ εἰς
κίνησιν ἄλλην καὶ ἐναντίαν γεννᾶι εἴδωλον αὐτῆς αἴσθησιν καὶ φύσιν
τὴν ἐν τοῖς φυτοῖς. Οὐδὲν δὲ τοῦ πρὸ αὐτοῦ ἀπήρτηται οὐδ᾽
ἀποτέτμηται· διὸ καὶ δοκεῖ καὶ ἡ ἄνω ψυχὴ μέχρι φυτῶν φθάνειν·

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 45

τρόπον γάρ τινα φθάνει, ὅτι αὐτῆς τὸ ἐν φυτοῖς· οὐ μὴν πᾶσα ἐν φυτοῖς,
ἀλλὰ γιγνομένη ἐν φυτοῖς οὕτως ἐστίν, ὅτι ἐπὶ τοσοῦτον προέβη εἰς τὸ
κάτω ὑπόστασιν ἄλλην ποιησαμένη τῆι προόδωι καὶ προθυμίαι τοῦ
χείρονος· ἐπεὶ καὶ τὸ πρὸ τούτου τὸ νοῦ ἐξηρτημένον μένειν τὸν νοῦν
ἐφ᾽ ἑαυτοῦ ἐᾶι.

V, 2 (11)

DA GERAÇÃO E DA ORDEM
DO QUE É APÓS O PRIMEIRO
1. O uno é todas as coisas e nenhuma é o uno60; pois é princípio de todas
as coisas, não sendo todas as coisas, mas desse modo é todas as coisas;
pois para ali [elas] como que acorrem; isto é, ainda não são, mas serão.
– Como então é desde o uno simples, uma vez que nenhuma variedade
se mostra nele, nem duplicidade de coisa nenhuma? – Porque nada era
nele, por isso tudo é desde ele; e para que o que é seja, por isso esse
mesmo uno não é o que é, mas gerador dele; e essa mesma geração é
como que primeira; pois [o uno], sendo perfeito por nada buscar, nem
ter, nem precisar, é tal que superabundância, e o que é supercompleto
fez algo diverso de si. E o que veio a ser volta-se para ele e se completa
e vem a ser olhando para ele, e essa é inteligência. E o seu repouso em
relação ao uno gerou o que é, e a contemplação em relação a ele gerou
a inteligência. Uma vez que esta se põe em relação a ele, para que veja,

60
Platão, Parmênides 160b: Οὕτω δὴ ἓν εἰ ἔστιν, πάντα τέ ἐστι τὸ ἓν καὶ οὐδὲ ἕν ἐστι
καὶ πρὸς ἑαυτὸ καὶ πρὸς τὰ ἄλλα ὡσαύτως (então se assim é uno, o uno é todas as
coisas e não é uno em relação a si e em relação a outras coisas do mesmo modo).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 46

vem a ser ao mesmo tempo inteligência e o que é. Então, sendo essa


[inteligência] tal qual aquele [uno], ela cria as coisas semelhantes, tendo
versado antes múltipla potência – também essa é sua forma – como por
sua vez o que é anterior a ela versou; e é essa mesma atividade da alma
desde a essência que veio a ser essa [forma], enquanto aquele [uno]
permanece [na alma]; pois também a inteligência veio a ser, enquanto
o que é antes dela permanecia [nela]. E a alma que não permanece cria,
mas porque moveu-se gerou uma visagem. Então olhando ali de onde
veio a ser se completa, e tendo avançado em movimento diverso e
contrário gera uma visagem de si, sensação e natureza que há nas
plantas. Nada está independente nem está separado do que é antes; por
isso mesmo também a alma superior parece antecipar-se até as plantas;
pois antecipa-se de certo modo, visto que o que é dela é nas plantas; não
seguramente toda nas plantas, mas vindo a ser nas plantas assim é que
tanto avançou para o que é inferior, que criou diversa hipóstase por
progresso e presteza ao que é pior; uma vez que a parte que é antes dessa
é dependente de inteligência, ela permite que a inteligência permaneça
na própria [parte superior da alma].

2. Πρόεισιν οὖν ἀπ᾽ ἀρχῆς εἰς ἔσχατον καταλειπομένου ἀεὶ ἑκάστου ἐν


τῆι οἰκείαι ἕδραι, τοῦ δὲ γεννωμένου ἄλλην τάξιν λαμβάνοντος τὴν
χείρονα· ἕκαστον μέντοι ταὐτὸν γίνεται ὧι ἂν ἐπίσπηται, ἕως ἂν
ἐφέπηται. Ὅταν οὖν ψυχὴ ἐν φυτῶι γίνηται, ἄλλο ἐστὶν οἷον μέρος τὸ
ἐν φυτῶι τὸ τολμηρότατον καὶ ἀφρονέστατον καὶ προεληλυθὸς μέχρι
τοσούτου· ὅταν δ᾽ ἐν ἀλόγωι, ἡ τοῦ αἰσθάνεσθαι δύναμις κρατήσασα
ἤγαγεν· ὅταν δὲ εἰς ἄνθρωπον, ἢ ὅλως ἐν λογικῶι ἡ κίνησις, ἢ ἀπὸ νοῦ
ὡς νοῦν οἰκεῖον ἐχούσης καὶ παρ᾽ αὐτῆς βούλησιν τοῦ νοεῖν ἢ ὅλως
κινεῖσθαι. Πάλιν δὴ ἀναστρέφωμεν· ὅταν φυτοῦ ἢ τὰ παραφυόμενα ἢ
κλάδων τὰ ἄνω τις τέμηι, ἡ ἐν τούτωι ψυχὴ ποῦ ἀπελήλυθεν; Ἢ ὅθεν·
οὐ γὰρ ἀποστᾶσα τόπωι· ἐν οὖν τῆι ἀρχῆι. Εἰ δὲ τὴν ῥίζαν διακόψειας
ἢ καύσειας, ποῦ τὸ ἐν τῆι ῥίζηι; Ἐν ψυχῆι οὐκ εἰς ἄλλον τόπον ἐλθοῦσα·
ἀλλὰ κἂν ἐν τῶι αὐτῶι ἦι, ἀλλ᾽ ἐν ἄλλωι, εἰ ἀναδράμοι· εἰ δὲ μή, ἐν

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 47

ἄλληι φυτικῆι, οὐ γὰρ στενοχωρεῖται· εἰ δ᾽ ἀναδράμοι, ἐν τῆι πρὸ αὐτῆς


δυνάμει. Ἀλλ᾽ ἐκείνη ποῦ; Ἐν τῆι πρὸ αὐτῆς· ἡ δὲ μέχρι νοῦ, οὐ τόπωι·
οὐδὲν γὰρ ἐν τόπωι ἦν· ὁ δὲ νοῦς πολὺ μᾶλλον οὐκ ἐν τόπωι, ὥστε οὐδὲ
αὕτη. Οὐδαμοῦ οὖν οὖσα, ἀλλ᾽ ἐν τῶι ὃ μηδαμοῦ, καὶ πανταχοῦ οὕτως
ἐστίν. Εἰ δὲ προελθοῦσα εἰς τὸ ἄνω σταίη ἐν τῶι μεταξὺ πρὶν πάντη εἰς
τὸ ἀνωτάτω γενέσθαι, μέσον ἔχει βίον καὶ ἐν ἐκείνωι τῶι μέρει αὐτῆς
ἕστηκε. Πάντα δὲ ταῦτα ἐκεῖνος καὶ οὐκ ἐκεῖνος· ἐκεῖνος μέν, ὅτι ἐξ
ἐκείνου· οὐκ ἐκεῖνος δέ, ὅτι ἐκεῖνος ἐφ᾽ ἑαυτοῦ μένων ἔδωκεν. Ἔστιν
οὖν οἷον ζωὴ μακρὰ εἰς μῆκος ἐκταθεῖσα, ἕτερον ἕκαστον τῶν μορίων
τῶν ἐφεξῆς, συνεχὲς δὲ πᾶν αὐτῶι, ἄλλο δὲ καὶ ἄλλο τῆι διαφορᾶι, οὐκ
ἀπολλύμενον ἐν τῶι δευτέρωι τὸ πρότερον. Τί οὖν ἡ ἐν τοῖς φυτοῖς
γενομένη; οὐδὲν γεννᾶι; Ἢ ἐν ὧι ἐστι. Σκεπτέον δὲ πῶς ἀρχὴν ἄλλην
λαβόντας.

2. Avançam então desde o princípio até o fim, cada um sendo deixado


sempre em seu próprio lugar; o que é gerado tomando posição diversa
que é inferior; contudo cada um vem a ser idêntico ao que venha a
seguir, enquanto o siga. Quando então uma alma venha a ser na planta,
é como parte diversa dela aquela na planta, a parte mais audaciosa e
mais imprudente, visto ter avançado tanto; quando [venha a ser] em
irracional, a potência da sensação tendo dominado a conduziu; quando
[avançar] ao homem, ou seu movimento é em geral no raciocínio ou a
partir da inteligência, porque ela tem inteligência própria, e de si mesma
é a vontade de pensar ou em geral de mover-se. De novo então
retornemos: quando duma planta ou os rebentos ou as extremidades dos
ramos alguém corte, a alma nessa [parte] aonde foi? Certamente [ao
lugar] donde [veio]; pois por não estar separada por espaço, ela é então
em um princípio. Se então podares ou queimares a raiz, onde [fica o que
era] na raiz? Na alma, que não foi a lugar diverso. Mas se ela puder
retornar, ainda que não seja no mesmo lugar, será em outro; senão, será
em outra natureza vegetal, pois não se constrange; se ela puder retornar,
será na potência que é antes dela. Mas essa [potência] é onde? Na que

SUMÁRIO
P l o t i n o | 48

é antes dela; e ela é até a inteligência, não em lugar; pois nada era em
lugar; e a inteligência muito mais não é em lugar, assim nem a própria
alma. Então, sendo em nenhuma parte, mas no que é de nenhuma parte,
assim ela é em toda parte. E se [a alma], tendo avançado à região
superior, ficar a meio caminho antes de totalmente ter vindo a ser no
ponto mais alto, média tem a vida e fica naquela parte dela mesma. E
essas coisas todas são aquela inteligência e não são aquela inteligência;
são ela, porque são desde ela; e não são ela, porque ela, em si mesma
permanecendo, deu [a si mesma a elas]. Então é tal que uma vida longa
que se estendeu em comprimento; cada uma das partes que seguem é
diferente, e o todo é contínuo a ela; é uma coisa e outra pela diferença,
a parte anterior não se anulando na seguinte. Que então é [essa alma]
que veio a ser nas plantas? Nada gera? Certamente gera naquilo em que
é. É preciso investigar como, ao tomarmos princípio diverso.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 49

ENÉADA V

Livro III

Introdução

V 3 (49)

Tratado dos mais difíceis em que Plotino examina o problema do


conhecimento e autoconhecimento; o que é absolutamente simples pode
voltar-se a si mesmo para seu próprio reconhecimento? Se uma parte de
nós conhece as outras e não conhece a si mesma, não haveria o
‘conhecer a si mesmo’, pois a sensação sendo intermediária do que terá
recepção em nós deixa claro que recebemos o que é de fora, pela razão
discursiva e opinião. Mas a inteligência não é assim, pois ela atua em si
mesma; portanto é claro que a inteligência reconhecerá a si mesma e
também os inteligíveis, mas como? A capacidade discursiva da alma
(διανοητικὸν) se diz inteligência, mas diferente da inteligência pura
(νοῦς), pois uma se limita a racionalizar os inteligíveis, como as formas
(εἴδη), outra cria as formas. A alma tem contato com o que é de fora
através dos sentidos, recebendo as impressões através do corpo, e passa
a julgar as aparições da sensação separando e juntando como
impressões sensíveis; mas ela também guarda as marcas da inteligência
pura; assim ela harmoniza essas marcas que já tinha como essas que

SUMÁRIO
P l o t i n o | 50

chegam pelos sentidos, podendo compreender e reconhecer a si mesma,


o que podemos definir como reminiscência. Portanto a capacidade
discursiva da alma sozinha não é capaz de fazê-la voltar-se a si mesma
e assim se reconhecer, mas a inteligência pura, que se move assim, é
capaz disso. Nós podemos raciocinar através dessa potência de razão
discursiva (διάνοια) que chega a nós através do corpo, então nem
sempre estamos com a inteligência pura, mas estamos sempre com os
sentidos, temos a via de acesso, mas nem sempre acessamos. Na
verdade, ficamos em algum ponto médio entre a sensação e a
inteligência, mas esta é nossa quando nos voltamos a ela, e não é,
quando não nos voltamos a ela. Se, por comparação, a inteligência for
um rei, a sensação será um mensageiro. Mas como reconheceremos a
inteligência em nós mesmos? Certamente a inteligência vê a si mesma,
e nós poderemos ter consciência dela ao olhar para ela, transformando-
nos em inteligência, de modo que inteligência vê inteligência. E alguém
que se vê como inteligência, depois de ter afastado todas as outras
coisas, tem conhecimento de si mesmo; isso é possível porque houve a
escolha do que é melhor e superior, que eleva ao alto o pensamento,
porque aí a alma readquire asas, não sendo mais homem, mas sendo
algo diverso, que busca sua origem no alto, na Inteligência. Embora seja
através da potência da razão discursiva que alcançamos reconhecer a
inteligência, é por outra potência que é pura que nos tornamos como ela
mesma, inteligência pura. Essa inteligência pode pensar a si mesma? Se
ela for idêntica ao ato de pensar (νόησις), e este for o mesmo que o
inteligível (τὸ νοητόν), isso será possível; se o ato de pensar for o
inteligível de si mesmo, também será inteligência, e então esta pensará
a si mesma. Assim a inteligência será sujeito e objeto do ato de pensar,
que é o inteligível; uma vez que ela é em essência atividade de si
mesma, ela será com a sua atividade uma só coisa, e isso é o inteligível.
Por isso inteligência é tanto ato de pensar quanto inteligível. Não há
práxis para ela no mundo sensível, assim como ela poderia atuar sendo
no intelecto da alma? Como ela não tem necessidade de nada, há

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 51

necessidade voltar-se a si mesma, não apenas como uma boa razão, mas
como algo necessário para reconhecer a si mesma. O ato de pensar na
alma tem menos predominância do que na inteligência, pois ela vê os
inteligíveis vendo a si mesma em sua própria atividade. Essa sua
atividade não é em parte, mas inteira, diferente do que ocorre na alma,
que através de sua melhor parte contempla a inteligência, assim a
necessidade está para inteligência, como a persuasão está para a alma.
Quando não podemos ter a inteligência pura, procuramos a persuasão,
que aplaca em nós a falta de certeza, como se buscássemos ver a
imagem da inteligência pura. É preciso ensinar à alma como contemplar
a si mesma, contemplando aquilo que é sua melhor parte, que também
é da parte da inteligência. Assim também a alma poderá reconhecer a si
mesma. E reconhece a si mesma quando se volta para si; voltar-se para
si significa ver o que é visto, ou seja, ver a inteligência, que é ao mesmo
tempo agente e produto, pois sua ação não escapa de si, pois esse deus
tem tudo em seu domínio, daí o que é dito alegoricamente pelos poetas:
“engole os próprios filhos”. Quando a parte melhor da alma olha para
si, ela vê esse deus, e reconhece a si mesma, porque veio de lá e mantém
toda sua potência. Como ver a si mesma é ver o que é visto? Porque o
seu pensar é em si e para si, como aquele deus, de que nada escapa;
sendo assim, no segundo momento será também para o que é diverso,
como o fogo, que primeiro é para si e em si, depois deixa sua marca no
que é diverso. Assim, a alma que tem esse lado diverso, que é no mundo
sensível, tem também a inteligência, que é sempre a mesma no mesmo
lugar, de modo que por outro lado a alma volta-se para si, que é
inteligência, e age criando por imitação a ação de criação da
inteligência, dessa vez deixando essa marca no que é diverso; essa
criação é imitação do arquétipo, pois cria pelo ato de pensar as figuras
a partir das formas criadas pela inteligência. Esta é como o que se ocupa
absolutamente de si mesmo, e nós só alcançamos isso através dela,
quando nossa alma se volta para ela e vê a si mesma, tendo vida e
atividade semelhante, tão semelhante quanto é possível a uma parte da

SUMÁRIO
P l o t i n o | 52

alma, que é forma divina e inteligente. Assim, a qualidade dessa


inteligência não se dá por cor ou configuração corpórea, pois sendo um
deus em saciedade, ela é perfeita. A alma que se assemelha a ela pode
ver o que tem através dela mesma, ou seja, só é capaz de ver o que tem
se olhar para inteligência e ver a si mesma, como imagem que é de um
e vem a ser em outro. Por isso a alma é como uma visagem que não tem
luz própria, porque é momentaneamente no diverso, mas quando ela se
volta a ela mesma vê pela inteligência em todo seu esplendor. Quem
não conseguir contemplar a alma pura deve tomar a alma relativa à
opinião, para depois se elevar até a primeira; mas se nem disso for
capaz, deve tomar a sensação que já é nas formas, ou seja, que já é capaz
de perceber as formas inteligíveis, pois são essas formas que são
racionalizadas pela alma para criar o todo. O retorno é a partir daqui,
das últimas às primeiras coisas, para a alma pura, que pensa e contempla
o uno. A parte da alma que é capaz disso é a que se isola do homem,
isto é, do conjunto corpo e alma, parte capaz de se ver a si mesma por
si mesma. Essa é a imagem da inteligência que guarda a luz daquela,
mas não guarda em algum corpo, como a luz do sol que se guarda na
terra e em nós, porque não há espaço ou corpo em que essa imagem da
inteligência se poste, porque é pura essência. Por sua vez, a origem
dessa inteligência é o uno, que sendo sem parte, não precisa se ocupar
de si mesmo como o que pensa, pois este deve ser o que vê e o que é
visto, e o que é visto deve ser múltiplo, por ser forma indefinível; o uno
é sempre ele mesmo para si mesmo, a inteligência pensa em silêncio o
que se compreende pela razão; ela parte do uno ainda não pensando,
apenas buscando um contato ainda ininteligível, mas quando “vê”
volta-se ao uno e pensa, e o pensamento é múltiplo, e sendo múltiplo o
pensamento cria multiplicando o que vê no que é visto. Esse é o
processo do que pensa, avançando para o objeto e sendo o que vê e o
que é visto, juntando à identidade a alteridade no que é sempre. O
processo não se resume à procissão que parte do uno, mas é preciso que,
havendo o contato, haja uma volta à origem, para que se realize o ato

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 53

de pensar. Se a inteligência se multiplica completando-se a partir do


simples, de simples aspiração vem a ser inteligível; o uno não precisa
se completar, porque ele é antes de todas as coisas e totalmente simples.
O que é antes de tudo é princípio de tudo, mas não é imanente a tudo
(τὸ γὰρ ἀφ᾽ οὗ οὐκ ἐνυπάρχει), pois ele é diferente de tudo; o que é a
partir dele não é imanente a ele, mas o que vem em seguida tem
imanência em tudo (ἀλλ᾽ ἐξ ὧν), ou seja, o uno não é imanente nem
mesmo à inteligência, mas tudo que vem da inteligência é imanente a
ela. A inteligência só é inteligência quando se volta ao uno em
contemplação, criando os inteligíveis, essência e ato de pensar; assim
ela é essência e vê, e vendo se reconhece nele, pois ela não está separada
dele, mesmo não sendo igual a ele. Ela possui certo uno particular que
se identifica com o uno próprio, como a parte se identifica com a matriz.
Mas como a multiplicidade dela se relaciona com a unidade dele?
Através de sua atividade, que de primeira vai a múltipla, de modo que
sua essência compreende a multiplicidade; isso é necessário para que
todas as coisas se ordenem, não apenas números, mas tudo, para que a
ordem se sobreponha ao caos. Então, as atividades da inteligência
provêm do que é simples nela, simples e único, pois será a partir disso,
que é simples, que surgirá a multiplicidade, sem que isso entre em
atividade, porque seu primeiro ato é a inteligência, não porque a tenha
desejado, pois ele não precisa de nada que o desejo possa trazer. O que
subsiste com ele subsiste porque ele é simples e permanece em seu
próprio ethos, ou seja, é sempre um só e o mesmo no mesmo ‘lugar’.
Se ele se mover ou pensar sua atividade primeira será apenas um
impulso, e será imperfeita. A inteligência e os inteligíveis ‘decorrem’
dele como a luz decorre do sol, e ele reina acima a iluminar o mundo
inteligível. Por isso não se pode tomá-lo isoladamente, porque se ele for
tomado como algo que é, já será múltiplo por isso mesmo; pois o que é
verdadeiramente não é algo que se possa tomar como gênero único,
porque é múltiplo e se aplica à essência de todas as coisas. Ao pensar
uma delas, o ato de pensar já é múltiplo, porque tem de definir todos os

SUMÁRIO
P l o t i n o | 54

seus padrões de ser e estar. Assim, ao tentar reconhecê-lo, faríamos que


ele fosse múltiplo, dando-lhe um nome por uma forma de pensar. Isso
é ser autônomo em primeiríssimo grau, o que vem em seguida, a
Inteligência, é autônomo em segundo grau, pois necessita de si mesma
e cria no todo tudo que é dependente de si, voltando-se para si mesma,
como se engolisse os próprios filhos. Pode-se conceber o primeiro
princípio, de que tudo provém em procissão, quando se tem consciência
da inteligência pura, ou seja, ao se servir dela é possível ter contato com
o uno, mas não de modo completo, pois nem se consegue dizer como
ele é ou que ele é, nem mesmo dizê-lo, apenas falamos dele como de
algo que nos toma, como acontece com homens tomados pelo divino,
que não sabem definir o que é, mas falam disso como sendo desde algo
diferente; assim o uno se manifesta no mundo sensível, onipresente sem
ser perceptível. Nossa inteligência interna, que é a semente da
inteligência pura, é o único meio pelo qual podemos acessar o uno, que
é superior a tudo. Mas é justo ter dúvida se há algo depois dele que seria
diferente e de certa qualidade e se há necessidade de isso ser múltiplo,
pois o uno seria potência de todas as coisas, cuja atividade seria dada
pelo segundo princípio, a inteligência. Se algo é dependente dele, isso
será diferente dele, como dualidade, e a atividade sendo múltipla,
haverá o ser como o mesmo, o diferente, o movimento, o repouso e o
de certa qualidade. O que é imediatamente inferior ao uno é o múltiplo,
porque não é ele nem pode ser superior a ele, mas aspira a ele, sendo
uno-múltiplo. Nada que não se tenha preservado pelo uno pode ser algo
que é, pois tudo que é existe graças a ele; assim o uno tem o múltiplo
de modo indistinto, em potência, e a inteligência tem o múltiplo em
atividade. Um é hipóstase do outro, partindo do uno até os limites da
matéria, como uma procissão. O que é anterior é superior e provedor do
que o que vem depois pode conceder, pois o uno provê o que a
inteligência distribui, e a inteligência provê o que a alma distribui.
Segundo esse modelo o mundo sensível segue em sua imitação, a alma
universal criando e administrando toda a vida, desde os seres superiores

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 55

até os mais ínfimos. A alma cria como quem tem dor de parto, ao voltar-
se para a inteligência, buscando o uno; mas como dizer e explicar
racionalmente esse processo? Como só apreendemos as coisas de parte
a parte, não se pode explicar isso dizendo e raciocinando. Isso só se
concebe pelo toque da luz proveniente do deus criador, a alma quando
é iluminada percebe o que é indizível pelo raciocínio, como quando um
deus ilumina algum lugar com a luz que lhe é própria. Então a alma vê
com essa luz própria como se vê o sol com sua luz própria. Esse
princípio criador é superior à vida consciente em seu mais algo grau, é
infalível e irrepreensível, superior à própria inteligência que tudo tem.
Esse é o Uno-Bem.

γʹ

Περὶ τῶν γνωριστικῶν ὑποστάσεων καὶ τοῦ ἐπέκεινα

1. Ἆρα τὸ νοοῦν ἑαυτὸ ποικίλον δεῖ εἶναι, ἵνα ἑνί τινι τῶν ἐν αὐτῶι τὰ
ἄλλα θεωροῦν οὕτω δὴ λέγηται νοεῖν ἑαυτό, ὡς τοῦ ἁπλοῦ παντάπασιν
ὄντος οὐ δυναμένου εἰς ἑαυτὸ ἐπιστρέφειν καὶ τὴν αὐτοῦ κατανόησιν;
Ἢ οἷόν τε καὶ μὴ σύνθετον ὂν νόησιν ἴσχειν ἑαυτοῦ; Τὸ μὲν γὰρ διότι
σύνθετον λεγόμενον νοεῖν ἑαυτό, ὅτι δὴ ἑνὶ τῶν ἐν αὐτῶι τὰ ἄλλα νοεῖ,
ὥσπερ ἂν εἰ τῆι αἰσθήσει καταλαμβάνοιμεν αὐτῶν τὴν μορφὴν καὶ τὴν
ἄλλην τοῦ σώματος φύσιν, οὐκ ἂν ἔχοι τὸ ὡς ἀληθῶς νοεῖν αὑτό· οὐ
γὰρ τὸ πᾶν ἔσται ἐν τῶι τοιούτωι ἐγνωσμένον, μὴ κἀκείνου τοῦ
νοήσαντος τὰ ἄλλα τὰ σὺν αὐτῶι καὶ ἑαυτὸ νενοηκότος, ἔσται τε οὐ τὸ
ζητούμενον τὸ αὐτὸ ἑαυτό, ἀλλ᾽ ἄλλο ἄλλο. Δεῖ τοίνυν θέσθαι καὶ
ἁπλοῦ κατανόησιν ἑαυτοῦ καὶ τοῦτο πῶς, σκοπεῖν, εἰ δυνατόν, ἢ
ἀποστατέον τῆς δόξης τῆς τοῦ αὐτὸ ἑαυτὸ νοεῖν τι ὄντως. Ἀποστῆναι
μὲν οὖν τῆς δόξης ταύτης οὐ πάνυ οἷόν τε πολλῶν τῶν ἀτόπων
συμβαινόντων· καὶ γὰρ εἰ μὴ ψυχῆι δοίημεν τοῦτο ὡς πάνυ ἄτοπον ὄν,
ἀλλὰ μηδὲ νοῦ τῆι φύσει διδόναι παντάπασιν ἄτοπον, εἰ τῶν μὲν ἄλλων
γνῶσιν ἔχει, ἑαυτοῦ δὲ μὴ ἐν γνώσει καὶ ἐπιστήμηι καταστήσεται. Καὶ

SUMÁRIO
P l o t i n o | 56

γὰρ τῶν μὲν ἔξω ἡ αἴσθησις, ἀλλ᾽ οὐ νοῦς ἀντιλήψεται, καί, εἰ βούλει,
διάνοια καὶ δόξα· ὁ δὲ νοῦς, [εἰ] τούτων γνῶσιν ἔχει ἢ μή, σκέψασθαι
προσήκει· ὅσα δὲ νοητά, νοῦς δηλονότι γνώσεται. Ἆρ᾽ οὖν αὐτὰ μόνον
ἢ καὶ ἑαυτόν, ὃς ταῦτα γνώσεται; Καὶ ἆρα οὕτω γνώσεται ἑαυτόν, ὅτι
γινώσκει ταῦτα μόνον, τίς δὲ ὢν οὐ γνώσεται, ἀλλ᾽ ἃ μὲν αὐτοῦ
γνώσεται ὅτι γιγνώσκει, τίς δὲ ὢν γινώσκει οὐκέτι; Ἢ καὶ τὰ ἑαυτοῦ
καὶ ἑαυτόν; Καὶ τίς ὁ τρόπος καὶ μέχρι τίνος σκεπτέον.

V, 3 (49)

DAS HIPÓSTASES CAPAZES


DE APRENDER E DO ALÉM

1. Por acaso o que pensa a si mesmo deve ser vário, para que com uma
única [parte] das em si [ele] olhando as outras assim se diga que ele
pensa a si mesmo, porque desse modo o que é absolutamente simples
não é capaz de voltar-se a si mesmo, [e isso será] também a depreensão
de si? Ou é possível o que não for composto ter pensamento de si
mesmo? Pois, porque é dito composto, pensa a si mesmo, porque com
uma única das [partes] em si [ele] pensa as outras, desse modo se pela
sensação acolhermos a figura delas e a diversa natureza do corpo, não
haveria de modo verdadeiro o pensar a si mesmo; pois o todo não terá
sido reconhecido em tal situação, a não ser que aquela parte que pensou
as outras que são com ela tenha também pensado a si mesma, e não
haverá o mesmo que busca a si mesmo, mas um que busca o outro. É
preciso então pôr a depreensão de si mesmo, sendo simples, e examinar
como é isso, se é possível, ou deve-se afastar dessa opinião de o mesmo
pensar a si, como algo real. No entanto afastar-se dessa opinião não é

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 57

totalmente possível, porque incidiriam numerosos absurdos; pois se não


concedêssemos isso à alma, como sendo totalmente absurdo, mas não
conceder à natureza da inteligência é completamente absurdo, se [ela]
tem conhecimento de outras coisas, e não se firmar em reconhecimento
e conhecimento de si mesma. Pois a sensação terá recepção das coisas
de fora, mas não a inteligência, e, se queres, razão discursiva e opinião;
e se a inteligência tem reconhecimento dessas coisas ou não, convém
examinar; e quantas coisas são inteligíveis, é claro, a inteligência
reconhecerá. Por acaso então [a inteligência] que reconhecer essas
coisas, reconhecerá apenas elas ou também a si mesma? E por acaso
assim reconhecerá a si mesma, porque conhece apenas essas coisas, e
não reconhecerá quem é, mas reconhecerá porque conhece as coisas de
si, e não mais reconhece quem é? Ou [reconhecerá] tanto as coisas de
si quanto a si mesma? Qual é o modo e até que ponto é preciso
examinar.

2. Πρότερον δὲ περὶ ψυχῆς ζητητέον, εἰ δοτέον αὐτῆι γνῶσιν ἑαυτῆς,


καὶ τί τὸ γινῶσκον ἐν αὐτῆι καὶ ὅπως. Τὸ μὲν οὖν αἰσθητικὸν αὐτῆς
αὐτόθεν ἂν φαῖμεν τοῦ ἔξω εἶναι μόνον· καὶ γὰρ εἰ τῶν ἔνδον ἐν τῶι
σώματι γινομένων συναίσθησις εἴη, ἀλλὰ τῶν ἔξω ἑαυτοῦ καὶ ἐνταῦθα
ἡ ἀντίληψις· τῶν γὰρ ἐν τῶι σώματι παθημάτων ὑφ᾽ ἑαυτοῦ αἰσθάνεται.
Τὸ δ᾽ ἐν αὐτῆι λογιζόμενον παρὰ τῶν ἐκ τῆς αἰσθήσεως φαντασμάτων
παρακειμένων τὴν ἐπίκρισιν ποιούμενον καὶ συνάγον καὶ διαιροῦν· ἢ
καὶ ἐπὶ τῶν ἐκ τοῦ νοῦ ἰόντων ἐφορᾶι οἷον τοὺς τύπους, καὶ ἔχει καὶ
περὶ τούτους τὴν αὐτὴν δύναμιν. Καὶ σύνεσιν ἔτι προσλαμβάνει ὥσπερ
ἐπιγινῶσκον καὶ ἐφαρμόζον τοῖς ἐν αὐτῶι ἐκ παλαιοῦ τύποις τοὺς νέους
καὶ ἄρτι ἥκοντας· ὃ δὴ καὶ ἀναμνήσεις φαῖμεν ἂν τῆς ψυχῆς εἶναι. Καὶ
νοῦς ὁ τῆς ψυχῆς μέχρι τοῦδε ἱστάμενος τῆι δυνάμει ἢ καὶ εἰς ἑαυτὸν
στρέφεται καὶ γιγνώσκει ἑαυτόν; Ἢ ἐπὶ τὸν νοῦν ἀνενεκτέον τοῦτο.
Γνῶσιν μὲν γὰρ ἑαυτοῦ τούτωι τῶι μέρει διδόντες – νοῦν γὰρ αὐτὸν
φήσομεν – καὶ ὅπηι διοίσει τοῦ ἐπάνω ζητήσομεν, μὴ δὲ διδόντες ἐπ᾽
ἐκεῖνον ἥξομεν τῶι λόγωι βαδίζοντες, καὶ τὸ αὐτὸ ἑαυτό ὅ τί ποτ᾽ ἐστὶ

SUMÁRIO
P l o t i n o | 58

σκεψόμεθα. Εἰ δὲ καὶ ἐνταῦθα ἐν τῶι κάτω δώσομεν, τίς ἡ διαφορὰ τοῦ


νοεῖν ἑαυτὸ σκεψόμεθα· εἰ γὰρ μηδεμία, ἤδη τοῦτο νοῦς ὁ ἄκρατος.
Τοῦτο τοίνυν τὸ διανοητικὸν τῆς ψυχῆς ἆρα ἐπιστρέφει ἐφ᾽ ἑαυτὸ καὶ
αὐτό; Ἢ οὔ· ἀλλὰ ὧν δέχεται τύπων ἐφ᾽ ἑκάτερα τὴν σύνεσιν ἴσχει. Καὶ
πῶς τὴν σύνεσιν ἴσχει, πρῶτον ζητητέον.

2. Antes deve-se buscar sobre a alma, se se deve conceder a ela


reconhecimento de si mesma, e o que é o que reconhece em si e de que
modo. Então a capacidade sensitiva dela, que é desde si mesma,
diríamos ser somente do que é de fora; pois mesmo se for sensação
conjunta do que vem a ser internamente no corpo, assim mesmo aqui a
recepção será das coisas de fora dela; pois [essa capacidade] toma
sensação das impressões no corpo por si mesma. E o que raciocina nela
é das aparições que restam desde a sensação, criando o ato de julgar
tanto ao reunir quanto ao separar; ou também sobre o que vem da
inteligência [ela] observa como que marcas, e tem acerca dessas a
mesma potência. E [isso] ainda acrescenta compreensão ao reconhecer
e assim harmonizar com as marcas em si de antigamente as novas que
chegaram ainda há pouco; o que na verdade diríamos ser reminiscências
da alma. E a inteligência que é da alma é a que se firma até aqui por sua
potência, ou volta-se a si mesma e reconhece a si mesma? Certamente
isso deve-se referir à inteligência. De fato, ao conceder o ato de
reconhecer a si mesma a essa parte – pois diremos ser isso inteligência
– buscaremos também por onde se diferenciará da [inteligência]
superior, e não concedendo, chegaremos àquela [inteligência],
caminhando pela razão, e examinaremos o que é então o ‘[reconhece] a
si mesmo’. E se o concedermos também aqui na [inteligência] inferior,
examinaremos qual é a diferença do ‘pensar a si mesmo’; pois se
nenhuma [diferença] houver, isso já é inteligência não misturada61.

61
Anaxágoras, 59 A 15: ἦν ὁ Κλαζομένιος, ὃν οἱ τότ’ ἄνθρωποι Νοῦν προσηγόρευον,
... ὅτι τοῖς ὅλοις πρῶτος οὐ τύχην οὐδ’ ἀνάγκην διακοσμήσεως ἀρχήν, ἀλλὰ νοῦν

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 59

Portanto essa capacidade da razão discursiva da alma por acaso volta-


se a si mesma e reconhece a si mesma? Certamente não; mas das marcas
de que recebe mantém a compreensão para uma e outra parte62. E como
[essa capacidade da razão discursiva da alma] mantém a compreensão,
primeiro deve-se buscar.

3. Ἡ μὲν γὰρ αἴσθησις εἶδεν ἄνθρωπον καὶ ἔδωκε τὸν τύπον τῆι
διανοίαι· ἡ δὲ τί φησιν; Ἢ οὔπω οὐδὲν ἐρεῖ, ἀλλ᾽ ἔγνω μόνον καὶ ἔστη·
εἰ μὴ ἄρα πρὸς ἑαυτὴν διαλογίζοιτο τίς οὗτος, εἰ πρότερον ἐνέτυχε
τούτωι, καὶ λέγοι προσχρωμένη τῆι μνήμηι, ὅτι Σωκράτης. Εἰ δὲ καὶ
ἐξελίττοι τὴν μορφήν, μερίζει ἃ ἡ φαντασία ἔδωκεν· εἰ δέ, εἰ ἀγαθός,
λέγοι, ἐξ ὧν μὲν ἔγνω διὰ τῆς αἰσθήσεως εἴρηκεν, ὃ δὲ εἴρηκεν ἐπ᾽
αὐτοῖς, ἤδη παρ᾽ αὐτῆς ἂν ἔχοι κανόνα ἔχουσα τοῦ ἀγαθοῦ παρ᾽ αὐτῆι.
Τὸ ἀγαθὸν πῶς ἔχει παρ᾽ αὐτῆι; Ἢ ἀγαθοειδής ἐστι, καὶ ἐπερρώσθη δὲ
εἰς τὴν αἴσθησιν τοῦ τοιούτου ἐπιλάμποντος αὐτῆι νοῦ· τὸ γὰρ καθαρὸν
τῆς ψυχῆς τοῦτο καὶ νοῦ δέχεται ἐπικείμενα ἴχνη. Διὰ τί δὲ οὐ τοῦτο
νοῦς, τὰ δὲ ἄλλα ψυχὴ ἀπὸ τοῦ αἰσθητικοῦ ἀρξάμενα; Ἢ ὅτι ψυχὴν δεῖ
ἐν λογισμοῖς εἶναι· ταῦτα δὲ πάντα λογιζομένης δυνάμεως ἔργα. Ἀλλὰ
διὰ τί οὐ τούτωι τῶι μέρει δόντες τὸ νοεῖν ἑαυτὸ ἀπαλλαξόμεθα; Ἢ ὅτι
ἔδομεν αὐτῶι τὰ ἔξω σκοπεῖσθαι καὶ πολυπραγμονεῖν, νῶι δὲ ἀξιοῦμεν
ὑπάρχειν τὰ αὐτοῦ καὶ τὰ ἐν αὐτῶι σκοπεῖσθαι. Ἀλλ᾽ εἴ τις φήσει τί οὖν
κωλύει τοῦτο ἄλληι δυνάμει σκοπεῖσθαι τὰ αὐτοῦ; οὐ τὸ διανοητικὸν
οὐδὲ τὸ λογιστικὸν ἐπιζητεῖ, ἀλλὰ νοῦν καθαρὸν λαμβάνει. Τί οὖν

ἐπέστησε καθαρὸν καὶ (15) ἄκρατον ... (era Anaxágoras de Clazomene, que os
homens de então chamavam Inteligência, ... porque aos inteiros, primeiro, estabeleceu
nem sorte nem necessidade, mas inteligência pura e não misturada ...); B 12: τὰ μὲν
ἄλλα παντὸς μοῖραν μετέχει, νοῦς δέ ἐστιν ἄπειρον καὶ αὐτοκρατὲς καὶ μέμεικται
οὐδενὶ χρήματι, ἀλλὰ (5) μόνος αὐτὸς ἐπ’ ἐωυτοῦ ἐστιν (as outras coisas participam
do todo pela sorte destinada, e a inteligência é infinita, autossuficiente e está misturada
a nenhuma coisa, mas é apenas ela mesma em si mesma).
62
Compreensão para a inteligência pura (νοῦς), que dá as formas (εἴδη), e para a razão
discursiva (διανοητικὸν), que as configura pelos sentidos.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 60

κωλύει ἐν ψυχῆι νοῦν καθαρὸν εἶναι; Οὐδέν, φήσομεν· ἀλλ᾽ ἔτι δεῖ
λέγειν ψυχῆς τοῦτο; Ἀλλ᾽ οὐ ψυχῆς μὲν φήσομεν, ἡμέτερον δὲ νοῦν
φήσομεν, ἄλλον μὲν ὄντα τοῦ διανοουμένου καὶ ἐπάνω βεβηκότα, ὅμως
δὲ ἡμέτερον, καὶ εἰ μὴ συναριθμοῖμεν τοῖς μέρεσι τῆς ψυχῆς. Ἢ
ἡμέτερον καὶ οὐχ ἡμέτερον· διὸ καὶ προσχρώμεθα αὐτῶι καὶ οὐ
προσχρώμεθα – διανοίαι δὲ ἀεί – καὶ ἡμέτερον μὲν χρωμένων, οὐ
προσχρωμένων δὲ οὐχ ἡμέτερον. Τὸ δὴ προσχρῆσθαι τί ἐστιν; Ἆρα
αὐτοὺς ἐκεῖνο γινομένους, καὶ φθεγγομένους ὡς ἐκεῖνος; Ἢ κατ᾽
ἐκεῖνον· οὐ γὰρ νοῦς ἡμεῖς· κατ᾽ ἐκεῖνο οὖν τῶι λογιστικῶι πρώτωι
δεχομένωι. Καὶ γὰρ αἰσθανόμεθα δι᾽ αἰσθήσεως καὶ ἡμεῖς [οὐχ] οἱ
αἰσθανόμενοι· ἆρ᾽ οὖν καὶ διανοούμεθα οὕτως [καὶ διὰ νοῦ μὲν οὕτως;]
Ἢ αὐτοὶ μὲν οἱ λογιζόμενοι καὶ νοοῦμεν τὰ ἐν τῆι διανοίαι νοήματα
αὐτοί· τοῦτο γὰρ ἡμεῖς. Τὰ δὲ τοῦ νοῦ ἐνεργήματα ἄνωθεν οὕτως, ὡς
τὰ ἐκ τῆς αἰσθήσεως κάτωθεν, τοῦτο ὄντες τὸ κύριον τῆς ψυχῆς, μέσον
δυνάμεως διττῆς, χείρονος καὶ βελτίονος, χείρονος μὲν τῆς αἰσθήσεως,
βελτίονος δὲ τοῦ νοῦ. Ἀλλ᾽ αἴσθησις μὲν αἰεὶ ἡμέτερον δοκεῖ
συγκεχωρημένον – ἀεὶ γὰρ αἰσθανόμεθα – νοῦς δὲ ἀμφισβητεῖται, καὶ
ὅτι μὴ αὐτῶι ἀεὶ καὶ ὅτι χωριστός· χωριστὸς δὲ τῶι μὴ προσνεύειν
αὐτόν, ἀλλ᾽ ἡμᾶς μᾶλλον πρὸς αὐτὸν εἰς τὸ ἄνω βλέποντας. Αἴσθησις
δὲ ἡμῖν ἄγγελος, βασιλεὺς δὲ πρὸς ἡμᾶς ἐκεῖνος.

3. Pois a sensação vê um homem e dá sua marca à razão discursiva; E


esta o que diz? Certamente ainda não dirá nada, mas reconhece apenas
e fica; senão talvez dialogue consigo mesma “quem é esse”, se antes se
tivesse encontrado com esse, servindo-se da memória, diria que é
Sócrates. E se ela descomplicar a figura, partilhará o que a fantasia deu;
e se disser “que ele é bom”, disse desde o que conhece pela sensação, e
o que disse sobre essas coisas já o teria de si mesma, porque tem norma
do bem junto a si. E como [a razão discursiva] tem o bem junto a si?

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 61

Certamente é uma forma de bem63, e se robusteceu na sensação, quando


uma inteligência tal a ilumina. Pois o puro da alma é isto: recebe da
inteligência os traços que jazem nela. E por que não é isso inteligência,
e alma [é] a que a partir do sensível iniciou as outras coisas? Certamente
porque é preciso alma ser em raciocínios; e todas essas coisas são
trabalhos de potência que raciocina. Mas por que atribuindo a essa parte
[da alma] o pensar a si mesma não nos liberaremos disso? Certamente
porque atribuímos a essa parte guardar as coisas externas e se ocupar
muito [delas], e à inteligência achamos justo ela dar início às coisas de
si mesma e 61oma61a-las em si. Mas se alguém disser: “O que impede
esse guardar as coisas de si ser por diversa potência?” [Esse] não mais
busca a capacidade da razão discursiva nem do raciocínio, mas toma
inteligência pura. Então o que impede a inteligência pura ser na alma?
Nada, diremos; mas ainda é preciso dizer que ela é da alma? Não
diremos que é da alma, mas diremos que é nossa inteligência, que é
diversa da nossa capacidade de racionalizar o discurso, porque andou
no mundo superior, contudo é nossa, mesmo se não a enumerarmos com
as partes da alma. Certamente é nossa e não é nossa; por isso tanto
podemos nos servir dela quanto podemos não nos servir – e sempre pela
capacidade da razão discursiva – é nossa quando nos servimos, quando
não nos servimos não é nossa. Então, o que é servir-se [dela]? Por acaso,
quando nós mesmos vimos a ser aquilo64, também falamos como aquela

63
Platão, Politeia 509a: ἐπιστήμην δὲ καὶ ἀλήθειαν, ὥσπερ ἐκεῖ φῶς τε καὶ ὄψιν
ἡλιοειδῆ μὲν νομίζειν ὀρθόν, ἥλιον δ’ ἡγεῖσθαι οὐκ ὀρθῶς ἔχει, οὕτω καὶ ἐνταῦθα
ἀγαθοειδῆ μὲν νομίζειν ταῦτ’ ἀμφότερα ὀρθόν,
ἀγαθὸν δὲ ἡγεῖσθαι ὁπότερον αὐτῶν οὐκ ὀρθόν, ἀλλ’ ἔτι μειζόνως τιμητέον τὴν τοῦ
ἀγαθοῦ ἕξιν (é correto considerar conhecimento e verdade formas do bem, como aqui
luz e visão como formas do sol, mas considerá-las sol não é correto, assim também
aqui considerar conhecimento e verdade formas do bem é correto, mas considerar
qualquer uma delas como bem não é correto, mas deve-se ter ainda maior
consideração com a condição do bem).
64
Enéda I 1, 1: o conjunto de corpo e alma.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 62

inteligência? Certamente falamos segundo aquela inteligência; pois não


somos inteligência; [servimo-nos dela] segundo aquilo: pela capacidade
racional primeira que é recebida. Pois também sentimos pela sensação,
e não somos nós65 que sentimos; então por acaso raciocinamos de um
modo, e pela inteligência66 é de outro? Certamente nós mesmos somos
os que raciocinamos e nós mesmos pensamos o produto do pensamento
na razão discursiva; pois isso somos nós. E as coisas da inteligência que
são em atividade são assim de cima, como aquelas desde a sensação são
de baixo, sendo nós isso que é o principal da alma, em meio a dupla
potência, uma pior e outra melhor, a sensação sendo a pior, a
inteligência, a melhor. Mas sensação parece ser tudo que sempre nos
percorre – pois sempre sentimos – e a inteligência vai em desacordo,
tanto porque não estejamos sempre com ela quanto porque é
separável67; e é separável por não se inclinar, mas nós nos inclinamos
antes para ela, ao olharmos para o alto. Sensação para nós é mensageiro,
e rei68 é aquela em relação a nós.

4. Βασιλεύομεν δὲ καὶ ἡμεῖς, ὅταν κατ᾽ ἐκεῖνον· κατ᾽ ἐκεῖνον δὲ διχῶς,


ἢ τοῖς οἷον γράμμασιν ὥσπερ νόμοις ἐν ἡμῖν γραφεῖσιν, ἢ οἷον
πληρωθέντες αὐτοῦ ἢ καὶ δυνηθέντες ἰδεῖν καὶ αἰσθάνεσθαι παρόντος.
Καὶ γινώσκομεν δὲ αὑτοὺς [τῶι] τῶι τοιούτωι ὁρατῶι τὰ ἄλλα μαθεῖν
[τῶι τοιούτωι] [ἢ] κατὰ τὴν δύναμιν τὴν γινώσκουσαν τὸ τοιοῦτον
μαθόντες αὐτῆι τῆι δυνάμει ἧι καὶ ἐκεῖνο γινόμενοι, ὡς τὸν γινώσκοντα
ἑαυτὸν διττὸν εἶναι, τὸ μὲν γινώσκοντα τῆς διανοίας τῆς ψυχικῆς φύσιν,

65
καὶ ἡμεῖς [οὐχ] οἱ αἰσθανόμενοι] em outras lições: κἂν <μὴ> ἡμεῖς οἱ αἰσθανόμενοι.
66
καὶ διὰ νοῦ μὲν οὕτως;] em outras lições: καὶ διὰ νοῦ νοοῦμεν οὕτως;
67
Aristóteles, De anima III 5, 453a 17: καὶ οὗτος ὁ νοῦς χωριστὸς καὶ ἀπαθὴς καὶ
ἀμιγής, τῇ οὐσίᾳ ὢν ἐνέργεια (essa inteligência é separável, impassível e não
misturada, sendo em atividade para a essência).
68
Platão, Filebo 28c: ὡς νοῦς ἐστι βασιλεὺς ἡμῖν οὐρανοῦ τε καὶ γῆς (que para nós
inteligência é rei do céu e da terra).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 63

τὸν δὲ ὑπεράνω τούτου, τὸν γινώσκοντα ἑαυτὸν κατὰ τὸν νοῦν ἐκεῖνον
γινόμενον· κἀκείνωι ἑαυτὸν νοεῖν αὖ οὐχ ὡς ἄνθρωπον ἔτι, ἀλλὰ
παντελῶς ἄλλον γενόμενον καὶ συναρπάσαντα ἑαυτὸν εἰς τὸ ἄνω μόνον
ἐφέλκοντα τὸ τῆς ψυχῆς ἄμεινον, ὃ καὶ δύναται μόνον πτεροῦσθαι πρὸς
νόησιν, ἵνα τις ἐκεῖ παρακαταθοῖτο ἃ εἶδε. Τὸ δὴ διανοητικὸν ὅτι
διανοητικὸν ἆρα οὐκ οἶδε, καὶ ὅτι σύνεσιν τῶν ἔξω λαμβάνει, καὶ ὅτι
κρίνει ἃ κρίνει, καὶ ὅτι τοῖς ἐν ἑαυτῶι κανόσιν, οὓς παρὰ τοῦ νοῦ ἔχει,
καὶ ὡς ἔστι τι βέλτιον αὐτοῦ, [ὃ] οὐ ζητεῖ, ἀλλ᾽ ἔχει πάντως δήπου;
Ἀλλ᾽ ἆρα τί ἐστιν αὐτὸ [ὃ] οὐκ οἶδεν ἐπιστάμενον οἷόν ἐστι καὶ οἷα τὰ
ἔργα αὐτοῦ; Εἰ οὖν λέγοι, ὅτι ἀπὸ νοῦ ἐστι καὶ δεύτερον μετὰ νοῦν καὶ
εἰκὼν νοῦ, ἔχον ἐν ἑαυτῶι τὰ πάντα οἷον γεγραμμένα, ὡς ἐκεῖ ὁ γράφων
καὶ ὁ γράψας, ἆρ᾽ οὖν στήσεται μέχρι τούτων ὁ οὕτως ἑαυτὸν ἐγνωκώς,
ἡμεῖς δὲ ἄλληι δυνάμει προσχρησάμενοι νοῦν αὖ γινώσκοντα ἑαυτὸν
κατοψόμεθα ἢ ἐκεῖνον μεταλαβόντες, ἐπείπερ κἀκεῖνος ἡμέτερος καὶ
ἡμεῖς ἐκείνου, οὕτω νοῦν καὶ αὑτοὺς γνωσόμεθα; Ἢ ἀναγκαῖον οὕτως,
εἴπερ γνωσόμεθα, ὅ τί ποτ᾽ ἐστὶ τὸ ἐν νῶι αὐτὸ ἑαυτό. Ἔστι δὴ νοῦς τις
αὐτὸς γεγονώς, ὅτε τὰ ἄλλα ἀφεὶς ἑαυτοῦ τούτωι καὶ τοῦτον βλέπει,
αὐτῶι δὲ ἑαυτόν. Ὡς δὴ οὖν νοῦς ἑαυτὸν ὁρᾶι.

4. E somos reis também nós, quando somos segundo aquela; e segundo


aquela de dois modos: ou com as cartas tal como leis que foram escritas
em nós, ou porque nos enchemos da mesma [inteligência] ou porque
somos capazes de vê-la e de senti-la, ela estando presente. E
reconhecemos a nós mesmos por aprender as outras coisas com o tal
[instrumento] visível, ou porque aprendemos segundo a capacidade que
reconhece tal [instrumento], ou porque pela mesma capacidade ali
viemos a ser também aquilo, assim o que reconhece a si mesmo é duplo,
por um lado reconhecendo a natureza da razão discursiva psíquica, e
por outro, o que é superior a isso: o que reconhece a si mesmo segundo
a inteligência, que vem a ser aquela. E com aquela inteligência pensar
a si mesmo não mais como homem, mas tendo vindo a ser totalmente
um diverso, porque arrebatou a si mesmo para o alto puxando apenas a

SUMÁRIO
P l o t i n o | 64

melhor parte da alma, que única também é capaz de alçar voo para o ato
de pensar69, para que ali alguém deposite o que viu. A razão discursiva
não sabe, por acaso, que é razão discursiva e que toma consciência das
coisas de fora e que julga o que julga e que tem as regras em si mesma,
as quais tem da parte da inteligência, e, assim há algo melhor do que ela
mesma, que [ela] não busca, mas o tem inteiramente com certeza? Mas,
por acaso, o que é isso mesmo <que> ela não sabe, tal que tem
conhecimento de quais sejam os trabalhos dela? Então se ela disser que
é a partir da inteligência, segunda depois da inteligência e imagem de
inteligência, tendo em si todas as coisas tal como estivessem escritas,
de modo que há ali o que escreve e o que escreveu, então por acaso o
que assim está em conhecimento de si ficará no limite dessas coisas, e
nós miraremos a inteligência, que por sua vez reconhece a si mesma,
servindo-nos de outra potência ou tomando parte dela, se é que ela é
mesmo nossa e nós somos dela, desse modo reconheceremos
inteligência e nós mesmos? Certamente é necessário assim, se é que
reconheceremos o que então é o que em inteligência reconhece a si
mesmo. E é inteligência alguém que está em conhecimento de si
mesmo, quando, tendo afastado de si as outras coisas, com essa
[inteligência] olha essa [inteligência], e com ela reconhece a si mesmo.
Então assim inteligência vê a si mesma.

5. Ἆρ᾽ οὖν ἄλλωι μέρει ἑαυτοῦ ἄλλο μέρος αὐτοῦ καθορᾶι; Ἀλλ᾽ οὕτω
τὸ μὲν ἔσται ὁρῶν, τὸ δὲ ὁρώμενον· τοῦτο δὲ οὐκ αὐτὸ ἑαυτό. Τί οὖν,
εἰ πᾶν τοιοῦτον οἷον ὁμοιομερὲς εἶναι, ὥστε τὸ ὁρῶν μηδὲν διαφέρειν
τοῦ ὁρωμένου; Οὕτω γὰρ ἰδὼν ἐκεῖνο τὸ μέρος αὐτοῦ ὂν ταὐτὸν αὐτῶι
εἶδεν ἑαυτόν· διαφέρει γὰρ οὐδὲν τὸ ὁρῶν πρὸς τὸ ὁρώμενον. Ἢ
πρῶτον μὲν ἄτοπος ὁ μερισμὸς ἑαυτοῦ· πῶς γὰρ καὶ μεριεῖ; οὐ γὰρ δὴ

69
Platão, Fedro 246d: Πέφυκεν ἡ πτεροῦ δύναμις τὸ ἐμβριθὲς ἄγειν ἄνω
μετεωρίζουσα ᾗ τὸ τῶν θεῶν γένος οἰκεῖ (é natural a capacidade da asa conduzir acima
o que é pesado, elevando-o, onde a raça dos deuses habita).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 65

κατὰ τύχην· καὶ ὁ μερίζων δὲ τίς; ὁ ἐν τῶι θεωρεῖν τάττων ἑαυτὸν ἢ ὁ


ἐν τῶι θεωρεῖσθαι; Εἶτα πῶς ἑαυτὸν γνώσεται ὁ θεωρῶν ἐν τῶι
θεωρουμένωι τάξας ἑαυτὸν κατὰ τὸ θεωρεῖν; οὐ γὰρ ἦν ἐν τῶι
θεωρουμένωι τὸ θεωρεῖν. Ἢ γνοὺς ἑαυτὸν οὕτω θεωρούμενον, ἀλλ᾽ οὐ
θεωροῦντα, νοήσει· ὥστε οὐ πάντα οὐδὲ ὅλον γνώσεται ἑαυτόν· ὃν γὰρ
εἶδε, θεωρούμενον, ἀλλ᾽ οὐ θεωροῦντα εἶδε· καὶ οὕτως ἔσται ἄλλον,
ἀλλ᾽ οὐχ ἑαυτὸν ἑωρακώς. Ἢ προσθήσει παρ᾽ αὐτοῦ καὶ τὸν
τεθεωρηκότα, ἵνα τέλεον αὐτὸν ἦι νενοηκώς. Ἀλλ᾽ εἰ καὶ τὸν
τεθεωρηκότα, ὁμοῦ καὶ τὰ ἑωραμένα. Εἰ οὖν ἐν τῆι θεωρίαι ὑπάρχει τὰ
τεθεωρημένα, εἰ μὲν τύποι αὐτῶν, οὐκ αὐτὰ ἔχει· εἰ δ᾽ αὐτὰ ἔχει, οὐκ
ἰδὼν αὐτὰ ἐκ τοῦ μερίσαι αὑτὸν ἔχει, ἀλλ᾽ ἦν πρὶν μερίσαι ἑαυτὸν καὶ
θεωρῶν καὶ ἔχων. Εἰ τοῦτο, δεῖ τὴν θεωρίαν ταὐτὸν εἶναι τῶι θεωρητῶι,
καὶ τὸν νοῦν ταὐτὸν εἶναι τῶι νοητῶι· καὶ γάρ, εἰ μὴ ταὐτόν, οὐκ
ἀλήθεια ἔσται· τύπον γὰρ ἕξει ὁ ἔχων τὰ ὄντα ἕτερον τῶν ὄντων, ὅπερ
οὐκ ἔστιν ἀλήθεια. Τὴν ἄρα ἀλήθειαν οὐχ ἑτέρου εἶναι δεῖ, ἀλλ᾽ ὃ λέγει,
τοῦτο καὶ εἶναι. Ἓν ἄρα οὕτω νοῦς καὶ τὸ νοητὸν καὶ τὸ ὂν καὶ πρῶτον
ὂν τοῦτο καὶ δὴ καὶ πρῶτος νοῦς τὰ ὄντα ἔχων, μᾶλλον δὲ ὁ αὐτὸς τοῖς
οὖσιν. Ἀλλ᾽ εἰ ἡ νόησις καὶ τὸ νοητὸν ἕν, πῶς διὰ τοῦτο τὸ νοοῦν νοήσει
ἑαυτό; Ἡ μὲν γὰρ νόησις οἷον περιέξει τὸ νοητόν, ἢ ταὐτὸν τῶι νοητῶι
ἔσται, οὔπω δὲ ὁ νοῦς δῆλος ἑαυτὸν νοῶν. Ἀλλ᾽ εἰ ἡ νόησις καὶ τὸ
νοητὸν ταὐτόν – ἐνέργεια γάρ τις τὸ νοητόν· οὐ γὰρ δὴ δύναμις οὐδέ γ᾽
ἀνόητον οὐδὲ ζωῆς χωρὶς οὐδ᾽ αὖ ἐπακτὸν τὸ ζῆν οὐδὲ τὸ νοεῖν ἄλλωι
ὄντι, οἷον λίθωι ἢ ἀψύχωι τινί – καὶ οὐσία ἡ πρώτη τὸ νοητόν· εἰ οὖν
ἐνέργεια καὶ ἡ πρώτη ἐνέργεια καὶ καλλίστη δή, νόησις ἂν εἴη καὶ
οὐσιώδης νόησις· καὶ γὰρ ἀληθεστάτη· νόησις δὴ τοιαύτη καὶ πρώτη
οὖσα καὶ πρώτως νοῦς ἂν εἴη ὁ πρῶτος· οὐδὲ γὰρ ὁ νοῦς οὗτος δυνάμει
οὐδ᾽ ἕτερος μὲν αὐτός, ἡ δὲ νόησις ἄλλο· οὕτω γὰρ ἂν πάλιν τὸ
οὐσιῶδες αὐτοῦ δυνάμει. Εἰ οὖν ἐνέργεια καὶ ἡ οὐσία αὐτοῦ ἐνέργεια,
ἓν καὶ ταὐτὸν τῆι ἐνεργείαι ἂν εἴη· ἓν δὲ τῆι ἐνεργείαι τὸ ὂν καὶ τὸ
νοητόν· ἓν ἅμα πάντα ἔσται, νοῦς, νόησις, τὸ νοητόν. Εἰ οὖν ἡ νόησις
αὐτοῦ τὸ νοητόν, τὸ δὲ νοητὸν αὐτός, αὐτὸς ἄρα ἑαυτὸν νοήσει· νοήσει
γὰρ τῆι νοήσει, ὅπερ ἦν αὐτός, καὶ νοήσει τὸ νοητόν, ὅπερ ἦν αὐτός.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 66

Καθ᾽ ἑκάτερον ἄρα ἑαυτὸν νοήσει, καθότι καὶ ἡ νόησις αὐτὸς ἦν, καὶ
καθότι τὸ νοητὸν αὐτός, ὅπερ ἐνόει τῆι νοήσει, ὃ ἦν αὐτός.

5. Por acaso com uma parte de si ela avista outra parte de si? Mas assim
de um lado haverá o que vê, e de outro, o que é visto; e isso não é
reconhecer a si mesmo. Então é o quê, se há um todo tal de modo a ser
de partes semelhantes, como o que vê em nada diferir do que é visto?
Assim vendo aquela parte de si que é igual a si mesma vê a si mesma;
pois em nada difere o que vê em relação ao que é visto. Primeiramente
é absurdo o efeito da partilha dela mesma; pois também como será
partilhada? Não pode ser segundo a sorte; e o que partilha é quem? O
que ordena a si mesmo no contemplar ou no ser contemplado? Depois
como reconhecerá a si mesmo o que contempla no que é contemplado,
tendo-se ordenado segundo o contemplar? Pois o contemplar não era no
que é contemplado. Certamente tendo reconhecido a si mesmo pensará
que assim é contemplado, mas não que contempla; desse modo nem
todas as coisas nem a si mesmo reconhecerá por inteiro; pois vê o que
é como o que é contemplado, mas não vê como o que contempla; e
assim será um diverso [que contempla], mas não o que viu a si mesmo.
Certamente acrescentará de si mesma o que foi contemplado, para que
possa pensar ser ela mesma perfeita. Mas se [acrescentar] também ela
mesma que foi contemplada, [acrescentará] igualmente também as
coisas que foram vistas. Então se na contemplação têm princípio as
coisas que foram vistas, caso haja marcas delas, ela não as tem; e se as
tiver, o que viu não as tem por partilhar a si mesmo, mas era antes de
partilhar a si mesmo que contemplava e tinha.

E se é isso, é preciso o contemplar ser o mesmo que o contemplável e a


inteligência ser o mesmo que o inteligível; pois também, se não for o
mesmo, nem a verdade haverá; pois o que tem as coisas que são terá
uma marca diferente das coisas que são, que realmente não é verdade.
Portanto não é preciso a verdade ser do diferente, mas é preciso ser isso

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 67

que diz. Portanto uma só coisa70 é assim inteligência, o inteligível e o


que é, sendo este primeiro e também primeira inteligência que tem as
coisas que são, ou melhor, a inteligência para as coisas que são. Mas se
o ato de pensar e o inteligível são uma só coisa, como através disso o
que pensa pensará a si mesmo? De fato, o ato de pensar abraçará o
inteligível, ou será igual ao inteligível, e a inteligência não mais será
clara ao pensar a si mesma. Mas se o ato de pensar é o mesmo inteligível
– pois alguma atividade é o inteligível; pois na verdade não é potência
nem ininteligível, nem separado de vida, nem por sua vez é importável
nem o viver nem o pensar para o que é diverso, tal que para uma pedra
ou para algo inanimado – também a primeira essência será o inteligível;
se é então atividade, é tanto a primeira atividade quanto na verdade a
mais bela, ato de pensar seria também em essência ato de pensar; pois
também é a mais verdadeira; na verdade tal é o ato de pensar, porque é
o primeiro, e primeiramente seria inteligência, a primeira; pois nem é
essa inteligência em potência, nem ela mesma é diferente, e o ato de
pensar é algo diverso; pois assim o que é em essência de si novamente
seria em potência. Então se é atividade a essência como atividade de si,
ela seria com atividade uma só e a mesma coisa; e uma só coisa com
atividade seria o que é e o inteligível. Portanto uma só será todas as
coisas: inteligência, ato de pensar e o inteligível. Se então o ato de
pensar é o inteligível de si mesmo, e o inteligível é a mesma
[inteligência], portanto esta pensará a si mesma. Pois pensará pelo ato
de pensar, o que realmente era ela mesma, e pensará o inteligível, o que

70
Referência a Aristóteles, Metafísica XII 7, 1074b 20-21: αὑτὸν δὲ νοεῖ ὁ νοῦς κατὰ
μετάληψιν τοῦ νοητοῦ· νοητὸς γὰρ γίγνεται θιγγάνων καὶ νοῶν, ὥστε ταὐτὸν νοῦς καὶ
νοητόν (a inteligência pensa a si mesma segundo participação do inteligível; pois
inteligível vem a ser percebendo e pensando, assim inteligência e inteligível são o
mesmo).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 68

realmente era ela mesma71. Portanto segundo cada um dos dois [ela]
pensará a si mesma, segundo o que também o ato de pensar era ela e
segundo o que o inteligível era ela, o que realmente pensava pelo ato de
pensar, isso era ela mesma72.

6. Ὁ μὲν δὴ λόγος ἀπέδειξεν εἶναί τι τὸ αὐτὸ ἑαυτὸ κυρίως νοεῖν. Νοεῖ


οὖν ἄλλως μὲν ἐπὶ ψυχῆς ὄν, ἐπὶ δὲ τοῦ νοῦ κυριώτερον. Ἡ μὲν γὰρ
ψυχὴ ἐνόει ἑαυτὴν ὅτι ἄλλου, ὁ δὲ νοῦς ὅτι αὐτὸς καὶ οἷος αὐτὸς καὶ
ὅστις καὶ ἐκ τῆς ἑαυτοῦ φύσεως καὶ ἐπιστρέφων εἰς αὑτόν. Τὰ γὰρ ὄντα
ὁρῶν ἑαυτὸν ἑώρα καὶ ὁρῶν ἐνεργείαι ἦν καὶ ἡ ἐνέργεια αὐτός· νοῦς
γὰρ καὶ νόησις ἕν· καὶ ὅλος ὅλωι, οὐ μέρει ἄλλο μέρος. Ἆρ᾽ οὖν
τοιοῦτον ὁ λόγος ἔδειξεν, οἷον καὶ ἐνέργειαν πιστικὴν ἔχειν; Ἢ
ἀνάγκην μὲν οὕτως, πειθὼ δὲ οὐκ ἔχει· καὶ γὰρ ἡ μὲν ἀνάγκη ἐν νῶι, ἡ
δὲ πειθὼ ἐν ψυχῆι. Ζητοῦμεν δή, ὡς ἔοικεν, ἡμεῖς πεισθῆναι μᾶλλον ἢ
νῶι καθαρῶι θεᾶσθαι τὸ ἀληθές. Καὶ γὰρ καὶ ἕως ἦμεν ἄνω ἐν νοῦ
φύσει, ἠρκούμεθα καὶ ἐνοοῦμεν καὶ εἰς ἓν πάντα συνάγοντες ἑωρῶμεν·
νοῦς γὰρ ἦν ὁ νοῶν καὶ περὶ αὐτοῦ λέγων, ἡ δὲ ψυχὴ ἡσυχίαν ἦγε
συγχωροῦσα τῶι ἐνεργήματι τοῦ νοῦ. Ἐπεὶ δὲ ἐνταῦθα γεγενήμεθα
πάλιν αὖ καὶ ἐν ψυχῆι, πειθώ τινα γενέσθαι ζητοῦμεν, οἷον ἐν εἰκόνι τὸ
ἀρχέτυπον θεωρεῖν ἐθέλοντες. Ἴσως οὖν χρὴ τὴν ψυχὴν ἡμῶν διδάξαι,
πῶς ποτε ὁ νοῦς θεωρεῖ ἑαυτόν, διδάξαι δὲ τοῦτο τῆς ψυχῆς, ὃ νοερόν
πως, διανοητικὸν αὐτὸ τιθέμενοι καὶ τῆι ὀνομασίαι ὑποσημαίνοντες
νοῦν τινα αὐτὸ εἶναι ἢ διὰ νοῦ τὴν δύναμιν καὶ παρὰ νοῦ αὐτὸ ἴσχειν.
Τούτωι τοίνυν γιγνώσκειν προσήκει, ὡς καὶ αὐτῶι ὅσα ὁρᾶι γινώσκει
καὶ οἶδεν ἃ λέγει. Καὶ εἰ αὐτὸ εἴη ἃ λέγει, γινώσκοι ἂν ἑαυτὸ οὕτω.
Ὄντων δὲ ἢ ἄνωθεν αὐτῶι γινομένων ἐκεῖθεν, ὅθεν περ᾽ καὶ αὐτό,

71
Referência a Aristóteles, Metafísica XII 7, 1074b 33: αὑτὸν ἄρα νοεῖ, εἴπερ ἐστὶ τὸ
κράτιστον, καὶ ἔστιν ἡ νόησις νοήσεως νόησις (portanto pensará a si mesma, se
realmente for o mais forte, e o ato de pensar é ato de pensar de ato de pensar).
72
Parmênides 28 B 3, Diels-Kranz: τὸ γὰρ αὐτὸ νοεῖν ἐστίν τε καὶ εἶναι (pois o mesmo
é pensar e ser).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 69

συμβαίνοι ἂν καὶ τούτωι λόγωι ὄντι καὶ συγγενῆ λαμβάνοντι καὶ τοῖς
ἐν αὐτῶι ἴχνεσιν ἐφαρμόττοντι οὕτω τοι γινώσκειν ἑαυτό. Μεταθέτω
τοίνυν καὶ ἐπὶ τὸν ἀληθῆ νοῦν τὴν εἰκόνα, ὃς ἦν ὁ αὐτὸς τοῖς
νοουμένοις ἀληθέσι καὶ ὄντως οὖσι καὶ πρώτοις, καὶ ὅτι μὴ οἷόν τε
τοῦτον τὸν τοιοῦτον ἐκτὸς ἑαυτοῦ εἶναι – ὥστε εἴπερ ἐν ἑαυτῶι ἐστι καὶ
σὺν ἑαυτῶι καὶ τοῦτο, ὅπερ ἐστί, νοῦς ἐστιν [ἀνόητος δὲ νοῦς οὐκ ἄν
ποτε εἴη] ἀνάγκη συνεῖναι αὐτῶι τὴν γνῶσιν ἑαυτοῦ – καὶ ὅτι ἐν αὐτῶι
οὗτος, καὶ οὐκ ἄλλο αὐτῶι τὸ ἔργον καὶ ἡ οὐσία ἢ τὸ νῶι μόνον εἶναι.
Οὐ γὰρ δὴ πρακτικός γε οὗτος· ὡς πρὸς τὸ ἔξω βλέποντι τῶι πρακτικῶι
καὶ μὴ ἐν αὐτῶι μένοντι εἴη ἂν τῶν μὲν ἔξω τις γνῶσις, ἀνάγκη δὲ οὐκ
ἔνεστιν, εἴπερ τὸ πᾶν πρακτικὸς εἴη, γινώσκειν ἑαυτόν. Ὧι δὲ μὴ πρᾶξις
– οὐδὲ γὰρ ὄρεξις τῶι καθαρῶι νῶι ἀπόντος – τούτωι ἡ ἐπιστροφὴ πρὸς
αὐτὸν οὖσα οὐ μόνον εὔλογον ὑποδείκνυσιν [τὴν ἑαυτοῦ], ἀλλὰ καὶ
ἀναγκαίαν [αὐτοῦ] τὴν [ἑαυτοῦ] γνῶσιν· τίς γὰρ ἂν καὶ ἡ ζωὴ αὐτοῦ εἴη
πράξεως ἀπηλλαγμένωι καὶ ἐν νῶι ὄντι;

6. O discurso demonstrou ser algo o pensar predominantemente a si


mesmo. Então pensa de modo diverso sendo na alma, sendo mais
predominante na inteligência. A alma pensava a si mesma porque é de
um diverso, a inteligência, porque é ela mesma tanto como ela mesma
quanto qualquer que seja, voltando-se a si mesma desde a própria
natureza. Pois vendo as coisas que são via a si mesma e vendo era em
atividade [era] também atividade ela mesma; pois inteligência e ato de
pensar são uma só coisa. Ela inteira vê com ela mesma inteira, não
diversa parte vê com uma parte. Então por acaso o discurso demostrou
tal coisa de modo a ter confiável atividade? Certamente de modo a ter
necessidade, mas não tem persuasão; pois a necessidade é na
inteligência, e a persuasão é na alma. Na verdade, buscamos, como
parece, sermos persuadidos mais do que com inteligência pura
contemplar o verdadeiro. Pois enquanto éramos acima na natureza de
inteligência, estávamos satisfeitos e pensávamos e víamos todas as
coisas conduzindo ao uno. Pois inteligência era o que pensava e que

SUMÁRIO
P l o t i n o | 70

dizia de si, e a alma era tranquila concorrendo com o que resulta da


atividade da inteligência. E depois, quando viemos a ser novamente
aqui e em alma, buscamos que certa persuasão venha a ser, tal que
querendo contemplar em imagem o seu arquétipo. Então talvez haja
necessidade de ensinarmos nossa alma como a inteligência contempla
a si mesma, e ensinar isso da alma, que de algum modo é inteligente,
pondo-o como potência da razão discursiva, assinalando por essa
denominação que isso é certa inteligência ou que isso se mantém pela
potência da inteligência e da parte da inteligência. Com isso convém
reconhecer que [a alma] reconhece por si mesma quantas coisas vê, e
ela sabe o que diz. E se o mesmo for as coisas que ele diz, reconhecerá
assim a si mesmo. E [essas coisas] sendo de cima ou vindo a ser de lá
para ele, de onde exatamente também é ele mesmo, aconteceria a essa
razão, que toma coisas congêneres harmonizando-as às marcas em si,
que reconheceria assim a si mesmo. Transfere então a imagem para a
verdadeira inteligência, que era ela mesma para as coisas pensadas que
realmente são verdadeiras e primeiras, porque não é possível essa tal
inteligência ser fora de si mesma – assim se também isso é o que
realmente é em si mesmo e consigo mesmo, é inteligência, [ininteligível
inteligência jamais seria], há necessidade seu autoconhecimento ser
junto a si – e porque essa [inteligência] é em si mesma, para ela o
trabalho e a essência não será outro que ser apenas para inteligência.
Pois ela não é relativa à prática; assim para o relativo à prática que olha
para o de fora e que não permanece em si seria algum ato de conhecer
[algo] das coisas de fora, e necessidade não haveria, se o todo fosse
relativo à prática, de [a inteligência] reconhecer a si mesma. E não
havendo práxis para ela – pois para a inteligência pura não há desejo do
que é ausente – para ela a conversão para si mesma não é apenas
indicação de boa razão, mas também necessidade de ter o
reconhecimento de si mesma; pois que vida seria a sua, estando afastada
da práxis e sendo em inteligência?

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 71

7. Ἀλλὰ τὸν θεὸν θεωρεῖ, εἴποιμεν ἄν. Ἀλλ᾽ εἰ τὸν θεὸν γινώσκειν αὐτόν
τις ὁμολογήσει, καὶ ταύτηι συγχωρεῖν ἀναγκασθήσεται καὶ ἑαυτὸν
γινώσκειν. Καὶ γὰρ ὅσα ἔχει παρ᾽ ἐκείνου γνώσεται, καὶ ἃ ἔδωκε, καὶ ἃ
δύναται ἐκεῖνος. Ταῦτα δὲ μαθὼν καὶ γνοὺς καὶ ταύτηι ἑαυτὸν
γνώσεται· καὶ γὰρ ἕν τι τῶν δοθέντων αὐτός, μᾶλλον δὲ πάντα τὰ
δοθέντα αὐτός. Εἰ μὲν οὖν κἀκεῖνο γνώσεται κατὰ τὰς δυνάμεις αὐτοῦ
μαθών, καὶ ἑαυτὸν γνώσεται ἐκεῖθεν γενόμενος καὶ ἃ δύναται
κομισάμενος· εἰ δὲ ἀδυνατήσει ἰδεῖν σαφῶς ἐκεῖνον, ἐπειδὴ τὸ ἰδεῖν
ἴσως αὐτό ἐστι τὸ ὁρώμενον, ταύτηι μάλιστα λείποιτ᾽ ἂν αὐτῶι ἰδεῖν
ἑαυτὸν καὶ εἰδέναι, εἰ τὸ ἰδεῖν τοῦτό ἐστι τὸ αὐτὸ εἶναι τὸ ὁρώμενον. Τί
γὰρ ἂν καὶ δοίημεν αὐτῶι ἄλλο; Ἡσυχίαν, νὴ Δία. Ἀλλὰ νῶι ἡσυχία οὐ
νοῦ ἐστιν ἔκστασις, ἀλλ᾽ ἔστιν ἡσυχία τοῦ νοῦ σχολὴν ἄγουσα ἀπὸ τῶν
ἄλλων ἐνέργεια· ἐπεὶ καὶ τοῖς ἄλλοις, οἷς ἐστιν ἡσυχία ἑτέρων,
καταλείπεται ἡ αὐτῶν οἰκεία ἐνέργεια καὶ μάλιστα, οἷς τὸ εἶναι οὐ
δυνάμει ἐστίν, ἀλλὰ ἐνεργείαι. Τὸ εἶναι οὖν ἐνέργεια, καὶ οὐδέν, πρὸς
ὃ ἡ ἐνέργεια· πρὸς αὑτῶι ἄρα. Ἑαυτὸν ἄρα νοῶν οὕτω πρὸς αὑτῶι καὶ
εἰς ἑαυτὸν τὴν ἐνέργειαν ἴσχει. Καὶ γὰρ εἴ τι ἐξ αὐτοῦ, τῶι εἰς αὐτὸν ἐν
ἑαυτῶι. Ἔδει γὰρ πρῶτον ἐν ἑαυτῶι, εἶτα καὶ εἰς ἄλλο, ἢ ἄλλο τι ἥκειν
ἀπ᾽ αὐτοῦ ὁμοιούμενον αὐτῶι, οἷον καὶ πυρὶ ἐν αὑτῶι πρότερον ὄντι
πυρὶ καὶ τὴν ἐνέργειαν ἔχοντι πυρὸς οὕτω τοι καὶ ἴχνος αὐτοῦ
δυνηθῆναι ποιῆσαι ἐν ἄλλωι. Καὶ γὰρ αὖ καὶ ἔστιν ὁ μὲν νοῦς ἐν αὑτῶι
ἐνέργεια, ἡ δὲ ψυχὴ τὸ μὲν ὅσον πρὸς νοῦν αὐτῆς οἷον εἴσω, τὸ δ᾽ ἔξω
νοῦ πρὸς τὸ ἔξω. Κατὰ θάτερα μὲν γὰρ ὡμοίωται ὅθεν ἥκει, κατὰ
θάτερα δὲ καίτοι ἀνομοιωθεῖσα ὅμως ὡμοίωται καὶ ἐνταῦθα, εἴτε
πράττοι, εἴτε ποιοῖ· καὶ γὰρ καὶ πράττουσα ὅμως θεωρεῖ καὶ ποιοῦσα
εἴδη ποιεῖ, οἷον νοήσεις ἀπηρτισμένας, ὥστε πάντα εἶναι ἴχνη νοήσεως
καὶ νοῦ κατὰ τὸ ἀρχέτυπον προιόντων καὶ μιμουμένων τῶν ἐγγὺς
μᾶλλον, τῶν δὲ ἐσχάτων ἀμυδρὰν ἀποσωιζόντων εἰκόνα.

7. Mas [a inteligência] contempla o deus, diríamos. Mas se alguém


concordar que ela reconhece o deus, nesse ponto será obrigado a
conceder que ela reconhece a si mesma. Pois ela também reconhecerá

SUMÁRIO
P l o t i n o | 72

quantas coisas tem da parte dele, tanto as que ele deu quanto as de que
ele é capaz. Quando ela tiver aprendido e reconhecido isso, nesse ponto
reconhecerá a si mesma; pois algo único das coisas que foram dadas é
ela mesma, ou melhor, todas as coisas que foram dadas é ela mesma.
Então se reconhecer mesmo aquele deus porque aprendeu segundo suas
potências, reconhecerá também a si mesma, porque de lá veio a ser e
trouxe aquilo de que é capaz; e se não for capaz de ver claramente
aquele deus, quando o ‘ver’ talvez seja o mesmo que ‘é visto’, sobre
tudo nesse ponto seria dito a ela que ela vê e conhece a si mesma, se
esse ‘ver’ for o mesmo que ‘é visto’73. Que outra coisa ainda
concederíamos a ela? Tranquilidade, por Zeus! Mas para inteligência
tranquilidade não é estar fora de inteligência, mas é tranquilidade
atividade da inteligência que traz ócio a partir de diversas coisas, uma
vez que também para essas, às quais há tranquilidade de diferentes
modos, resta a familiar atividade delas mesmas, sobretudo às que o ser
não é em potência, mas em atividade. Então o ser é atividade, e é nada
em relação a que é em atividade; é em relação a si mesmo, portanto.
Pensando, portanto, a si mesma, assim é em relação a si e mantém a
atividade para si mesma. Pois se algo é desde si mesmo, a esse há ‘para
si mesmo em si mesmo’. Pois era preciso primeiro ser em si mesmo,
depois também para um diverso, ou certa coisa diversa chegar a partir
dele assemelhando-se a ele mesmo, tal que se assemelhando ao fogo
que é fogo antes em si mesmo, tendo assim a atividade de fogo, de modo
a também ser capaz de criar sua marca em algo diverso. E por sua vez
também a inteligência é atividade em si, e a alma por um lado é tanto
em relação à inteligência dela, tal que para dentro, quanto por outro lado

73
Platão, Alcibíades Maior 133c: Τῷ θεῷ ἄρα τοῦτ’ ἔοικεν αὐτῆς, καί τις εἰς τοῦτο
βλέπων καὶ πᾶν τὸ θεῖον γνούς, θεόν τε καὶ φρόνησιν, οὕτω καὶ ἑαυτὸν ἂν γνοίη
μάλιστα (portanto isso da alma se assemelha a deus, e alguém olhando para isso e
reconhecendo todo o divino, deus e sensatez, desse modo principalmente reconheceria
a si mesmo).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 73

é de fora da inteligência, quando é em relação ao de fora. De fato, de


um modo tem semelhança com o lugar de onde chega, de outro modo
ainda que não se tenha assemelhado, contudo tem semelhança mesmo
aqui, seja quando pratica seja quando cria; contudo, ao praticar,
contempla e, ao criar, cria formas, como atos de pensar que estão
adaptados, de modo a todas as coisas ser marcas de ato de pensar e de
inteligência segundo o arquétipo, [marcas] que precedem e imitam,
umas mais de perto, outras, extremas, que salvam obscura imagem.

8. Ποῖον δέ τι ὁρᾶι τὸ νοητὸν ὁ νοῦς, καὶ ποῖόν τι ἑαυτόν; Ἢ τὸ μὲν


νοητὸν οὐδὲ δεῖ ζητεῖν, οἷον τὸ ἐπὶ τοῖς σώμασι χρῶμα ἢ σχῆμα· πρὶν
γὰρ ταῦτα εἶναι, ἔστιν ἐκεῖνα· καὶ ὁ λόγος δὲ ὁ ἐν τοῖς σπέρμασι τοῖς
ταῦτα ποιοῦσιν οὐ ταῦτα· ἀόρατα γὰρ τῆι φύσει καὶ ταῦτα, καὶ ἔτι
μᾶλλον ἐκεῖνα. Καὶ ἔστι φύσις ἡ αὐτὴ ἐκείνων καὶ τῶν ἐχόντων, οἷον ὁ
λόγος ὁ ἐν τῶι σπέρματι καὶ ἡ ἔχουσα ψυχὴ ταῦτα. Ἀλλ᾽ ἡ μὲν οὐχ ὁρᾶι
ἃ ἔχει· οὐδὲ γὰρ αὐτὴ ἐγέννησεν, ἀλλ᾽ ἔστι καὶ αὕτη εἴδωλον καὶ οἱ
λόγοι· ὅθεν δὲ ἦλθε, τὸ ἐναργὲς καὶ τὸ ἀληθινὸν καὶ τὸ πρώτως, ὅθεν
καὶ ἑαυτοῦ ἐστι καὶ αὑτῶι· τοῦτο δ᾽ ἐὰν μὴ ἄλλου γένηται καὶ ἐν ἄλλωι,
οὐδὲ μένει· εἰκόνι γὰρ προσήκει ἑτέρου οὖσαν ἐν ἑτέρωι γίγνεσθαι,
εἰ μὴ εἴη ἐκείνου ἐξηρτημένη· διὸ οὐδὲ βλέπει, ἅτε δὴ φῶς ἱκανὸν οὐκ
ἔχον, κἂν βλέπηι δέ, τελειωθὲν ἐν ἄλλωι ἄλλο καὶ οὐχ αὑτὸ βλέπει.
Ἀλλ᾽ οὖν τούτων ἐκεῖ οὐδέν, ἀλλ᾽ ὅρασις καὶ τὸ ὁρατὸν αὐτῆι ὁμοῦ καὶ
τοιοῦτον τὸ ὁρατὸν οἷον ἡ ὅρασις, καὶ ἡ ὅρασις οἷον τὸ ὁρατόν. Τίς οὖν
αὐτὸ ἐρεῖ οἷόν ἐστιν; Ὁ ἰδών· νοῦς δὲ ὁρᾶι. Ἐπεὶ καὶ ἐνταῦθα ἡ ὄψις
φῶς οὖσα, μᾶλλον δὲ ἑνωθεῖσα φωτί, φῶς ὁρᾶι· χρώματα γὰρ ὁρᾶι· ἐκεῖ
δὲ οὐ δι᾽ ἑτέρου, ἀλλὰ δι᾽ αὑτῆς, ὅτι μηδὲ ἔξω. Ἄλλωι οὖν φωτὶ ἄλλο
φῶς ὁρᾶι, οὐ δι᾽ ἄλλου. Φῶς ἄρα φῶς ἄλλο ὁρᾶι· αὐτὸ ἄρα αὑτὸ ὁρᾶι.
Τὸ δὲ φῶς τοῦτο ἐν ψυχῆι μὲν ἐλλάμψαν ἐφώτισε· τοῦτο δ᾽ ἐστὶ νοερὰν
ἐποίησε· τοῦτο δ᾽ ἐστὶν ὡμοίωσεν ἑαυτῶι τῶι ἄνω φωτί. Οἷον οὖν ἐστι
τὸ ἴχνος τὸ ἐγγενόμενον τοῦ φωτὸς ἐν ψυχῆι, τοιοῦτον καὶ ἔτι κάλλιον
καὶ μεῖζον αὐτὸ νομίζων καὶ ἐναργέστερον ἐγγὺς ἂν γένοιο φύσεως νοῦ
καὶ νοητοῦ. Καὶ γὰρ αὖ καὶ ἐπιλαμφθὲν τοῦτο ζωὴν ἔδωκε τῆι ψυχῆι

SUMÁRIO
P l o t i n o | 74

ἐναργεστέραν, ζωὴν δὲ οὐ γεννητικήν· τοὐναντίον γὰρ ἐπέστρεψε πρὸς


ἑαυτὴν τὴν ψυχήν, καὶ σκίδνασθαι οὐκ εἴασεν, ἀλλ᾽ ἀγαπᾶν ἐποίησε
τὴν ἐν αὐτῶι ἀγλαίαν· οὐ μὴν οὐδὲ αἰσθητικήν, αὕτη γὰρ ἔξω βλέπει
καὶ οὐ μᾶλλον αἰσθάνεται· ὁ δ᾽ ἐκεῖνο τὸ φῶς τῶν ἀληθῶν λαβὼν οἷον
βλέπει μᾶλλον τὰ ὁρατά, ἀλλὰ τοὐναντίον. Λείπεται τοίνυν ζωὴν
νοερὰν προσειληφέναι, ἴχνος νοῦ ζωῆς· ἐκεῖ γὰρ τὰ ἀληθῆ. Ἡ δὲ ἐν τῶι
νῶι ζωὴ καὶ ἐνέργεια τὸ πρῶτον φῶς ἑαυτῶι λάμπον πρώτως καὶ πρὸς
αὐτὸ λαμπηδών, λάμπον ὁμοῦ καὶ λαμπόμενον, τὸ ἀληθῶς νοητόν, καὶ
νοοῦν καὶ νοούμενον, καὶ ἑαυτῶι ὁρώμενον καὶ οὐ δεόμενον ἄλλου, ἵνα
ἴδηι, αὑτῶι αὔταρκες πρὸς τὸ ἰδεῖν – καὶ γὰρ ὃ ὁρᾶι αὐτό ἐστι –
γιγνωσκόμενον καὶ παρ᾽ ἡμῶν αὐτῶι ἐκείνωι, ὡς καὶ παρ᾽ ἡμῶν τὴν
γνῶσιν αὐτοῦ δι᾽ αὐτοῦ γίνεσθαι· ἢ πόθεν ἂν ἔσχομεν λέγειν περὶ
αὐτοῦ; Τοιοῦτόν ἐστιν, οἷον σαφέστερον μὲν ἀντιλαμβάνεσθαι αὐτοῦ,
ἡμᾶς δὲ δι᾽ αὐτοῦ· διὰ δὲ τῶν τοιούτων λογισμῶν ἀνάγεσθαι καὶ τὴν
ψυχὴν ἡμῶν εἰς αὐτὸ εἰκόνα θεμένην ἑαυτὴν εἶναι ἐκείνου, ὡς τὴν
αὐτῆς ζωὴν ἴνδαλμα καὶ ὁμοίωμα εἶναι ἐκείνου, καὶ ὅταν νοῆι, θεοειδῆ
καὶ νοοειδῆ γίγνεσθαι· καὶ ἐάν τις αὐτὴν ἀπαιτῆι ὁποῖον ὁ νοῦς ἐκεῖνός
ἐστιν ὁ τέλεος καὶ πᾶς, ὁ γινώσκων πρώτως ἑαυτόν, ἐν τῶι νῶι αὐτὴν
πρῶτον γενομένην ἢ παραχωρήσασαν τῶι νῶι τὴν ἐνέργειαν, ὧν ἔσχε
τὴν μνήμην ἐπ᾽ αὐτῆι, ταῦτα δὴ ἔχουσαν δεικνύναι ἑαυτήν, ὡς δι᾽ αὐτῆς
εἰκόνος οὔσης ὁρᾶν δύνασθαι ἀμηιγέπηι ἐκεῖνον, διὰ τῆς ἐκείνωι πρὸς
τὸ ἀκριβέστερον ὡμοιωμένης, ὅσον ψυχῆς μέρος εἰς ὁμοιότητα νῶι
δύναται ἐλθεῖν.

8. A inteligência vê o inteligível e a si mesma de que qualidade?


Certamente no inteligível nem é preciso buscar cor ou configuração
como nos corpos; pois antes destes haver, há aqueles [inteligíveis]; e
mesmo a razão que é nas sementes que as criam não são esses corpos;
pois invisíveis por natureza são também essas sementes, e ainda mais
aqueles. A natureza daquelas é a mesma das que as contêm, tal que a
razão que é na semente e a alma que a contém são em relação a esses
corpos. Mas a alma não vê as coisas que tem; pois ela mesma não as

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 75

gerou, mas ela mesma e as razões são como visagem; ela veio de onde
é claro, verdadeiro e primeiro, de onde tanto é de si quanto é para si
mesma; e essa [visagem], caso não venha a ser de outro e em outro, não
permanece; pois à imagem convém vir a ser sendo de um em outro74, a
menos que não esteja dependente daquele [primeiro]; por isso essa
visagem não vê, porque de fato não tem luz suficiente, e mesmo que
veja, veria um diverso que se completou em outro e não veria a si
mesma. Mas então nenhuma dessas coisas há lá [no inteligível], mas ato
de ver e o visível são ao mesmo tempo para o mesmo ato, e tal é o
visível qual é o ato de ver, e o ato de ver é tal que o visível. Então quem
dirá tal como o que é isso? O que vê; e inteligência vê. Uma vez que
aqui a visão é luz, ou melhor, porque se unificou à luz, vê luz; pois vê
cores; e lá [no inteligível] não é por causa de um diferente, mas por
causa do mesmo ato de ver, porque não é de fora. Então uma luz vê com
outra luz, não por causa de outra luz. Portanto uma luz vê outra luz;
então ela vê a si mesma. E essa luz, quando brilha na alma, ilumina; e
isso a faz inteligente; isto é, assemelha-se à luz superior. Então tal é a
marca que se gerou da luz na alma, tal que ao considerares essa marca
como ainda mais bela, maior e mais clara, virás a ser próximo da
natureza da inteligência e do inteligível. E por sua vez, quando a alma
é iluminada, essa [luz] lhe dá vida mais clara, e vida não relativa à
geração; pois [essa luz] volta-se ao contrário para a própria alma, e não
a permite dissipar-se, mas a faz amar o esplendor em si; não é, contudo,
nem um esplendor sensível, pois esse olha para fora e não tem melhor
percepção; mas o que toma aquela luz das coisas verdadeiras olha tal

74
Platão, Timeu 52c: ὡς εἰκόνι μέν, ἐπείπερ οὐδ’ αὐτὸ τοῦτο ἐφ’ ᾧ γέγονεν ἑαυτῆς
ἐστιν, ἑτέρου δέ τινος ἀεὶ φέρεται φάντασμα, διὰ ταῦτα ἐν ἑτέρῳ προσήκει τινὶ
γίγνεσθαι (assim à imagem, uma vez que nem é isso mesmo dela sobre que veio a ser,
mas sempre se leva como um fantasma de alguma outra coisa, por isso convém vir a
ser em algum outro). Note-se a diferença entre εἰκών (imagem) e εἴδωλον
(εἰδος+ὄλλυμι > visagem, visão da morte).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 76

que melhor as coisas visíveis, mas ao contrário. Resta, portanto, ao ter


tomado vida inteligente, marca de inteligência de vida; pois ali são as
coisas verdadeiras. E a vida e atividade na inteligência é a primeira luz
que primeiramente irradia a si mesma e é esplendor para si, irradiando
ao mesmo tempo e sendo irradiada, o verdadeiramente inteligível, tanto
o que pensa quanto o que é pensado, por si mesma sendo vista e não
precisando de coisa diversa para que veja, por si autossuficiente para o
ver – pois também o que vê é ela mesma – que é conhecida mesmo de
nossa parte por aquela mesma [inteligência], de modo a vir a ser através
dela o ato de conhecer a si mesmo, de nossa parte; ou de onde teríamos
a dizer sobre dela? Ela é tal como o que mais claramente se ocupa de si
mesmo, e isso para nós é através dela; e através de tais raciocínios nossa
alma é conduzida acima para isso mesmo, porque se propõe a ser a
própria imagem daquilo, de modo a sua própria vida ser aparência e
semelhança daquilo, para vir ser, quando pensar, forma divina75 e
forma inteligente; e caso alguém pergunte a ela de que qualidade é
aquela inteligência que é perfeita e toda, é a que conhece primeiro a si
mesma, porque a alma veio a ser na inteligência antes que tivesse cedido
à inteligência a atividade das coisas de que tinha lembrança nela
mesma, a indicar que ela mesma tem essas coisas, de modo a ela poder
ver de um modo ou de outro aquela [inteligência] através dela mesma
que é sua imagem, porque está mais exatamente assemelhada àquela
inteligência, quanto é possível parte da alma chegar à semelhança com
a inteligência.

9. Ψυχὴν οὖν, ὡς ἔοικε, καὶ τὸ ψυχῆς θειότατον κατιδεῖν δεῖ τὸν


μέλλοντα νοῦν εἴσεσθαι ὅ τι ἐστί. Γένοιτο δ᾽ ἂν τοῦτο ἴσως καὶ ταύτηι,
εἰ ἀφέλοις πρῶτον τὸ σῶμα ἀπὸ τοῦ ἀνθρώπου καὶ δηλονότι σαυτοῦ,

75
Platão, Fédon 95c: τὸ δὲ ἀποφαίνειν ὅτι ἰσχυρόν τί ἐστιν ἡ ψυχὴ καὶ θεοειδὲς καὶ
ἦν ἔτι (5) πρότερον, πρὶν ἡμᾶς ἀνθρώπους γενέσθαι, ... (demonstrar que a alma é algo
forte e de forma divina e que era anterior, antes de nós homens vir a ser, ...).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 77

εἶτα καὶ τὴν πλάττουσαν τοῦτο ψυχὴν καὶ τὴν αἴσθησιν δὲ εὖ μάλα,
ἐπιθυμίας δὲ καὶ θυμοὺς καὶ τὰς ἄλλας τὰς τοιαύτας φλυαρίας, ὡς πρὸς
τὸ θνητὸν νευούσας καὶ πάνυ. Τὸ δὴ λοιπὸν αὐτῆς τοῦτό ἐστιν, ὃ εἰκόνα
ἔφαμεν νοῦ σώιζουσάν τι φῶς ἐκείνου, οἷον ἡλίου μετὰ τὴν τοῦ
μεγέθους σφαῖραν τὸ περὶ αὐτὴν ἐξ αὐτῆς λάμπον. Ἡλίου μὲν οὖν τὸ
φῶς οὐκ ἄν τις συγχωρήσειεν ἐφ᾽ ἑαυτοῦ περὶ αὐτὸν ἥλιον εἶναι, ἐξ οὗ
ὡρμημένον καὶ περὶ αὐτὸν μεῖναν, ἄλλο δὲ ἐξ ἄλλου ἀεὶ προιὸν τοῦ πρὸ
αὐτοῦ, ἕως ἂν εἰς ἡμᾶς καὶ ἐπὶ γῆν ἥκηι· ἀλλὰ πᾶν καὶ τὸ περὶ αὐτὸν
ἥλιον θήσεται ἐν ἄλλωι, ἵνα μὴ διάστημα διδῶι κενὸν τὸ μετὰ τὸν ἥλιον
σώματος. Ἡ δὲ ψυχὴ ἐκ νοῦ φῶς τι περὶ αὐτὸν γενομένη ἐξήρτηταί τε
αὐτοῦ καὶ οὔτε ἐν ἄλλωι, ἀλλὰ περὶ ἐκεῖνον, οὔτε τόπος αὐτῆι· οὐδὲ
γὰρ ἐκείνωι. Ὅθεν τὸ μὲν τοῦ ἡλίου φῶς ἐν ἀέρι, αὐτὴ δὲ ἡ ψυχὴ ἡ
τοιαύτη καθαρά, ὥστε καὶ ἐφ᾽ αὑτῆς ὁρᾶσθαι ὑπό τε αὐτῆς καὶ ἄλλης
τοιαύτης. Καὶ αὐτῆι μὲν περὶ νοῦ συλλογιστέα οἷος ἀφ᾽ ἑαυτῆς
σκοπουμένηι, νοῦς δὲ αὐτὸς αὑτὸν οὐ συλλογιζόμενος περὶ αὑτοῦ·
πάρεστι γὰρ ἀεὶ αὑτῶι, ἡμεῖς δέ, ὅταν εἰς αὐτόν· μεμέρισται γὰρ ἡμῖν ἡ
ζωὴ καὶ πολλαὶ ζωαί, ἐκεῖνος δὲ οὐδὲν δεῖται ἄλλης ζωῆς ἢ ἄλλων, ἀλλ᾽
ἃς παρέχει ἄλλοις παρέχει, οὐχ ἑαυτῶι· οὐδὲ γὰρ δεῖται τῶν χειρόνων,
οὐδὲ αὑτῶι παρέχει τὸ ἔλαττον ἔχων τὸ πᾶν, οὐδὲ τὰ ἴχνη ἔχων τὰ
πρῶτα, μᾶλλον δὲ οὐκ ἔχων, ἀλλ᾽ αὐτὸς ὢν ταῦτα. Εἰ δέ τις ἀδυνατεῖ
[τὴν πρώτην] τὴν τοιαύτην ψυχὴν ἔχειν καθαρῶς νοοῦσαν, δοξαστικὴν
λαβέτω, εἶτα ἀπὸ ταύτης ἀναβαινέτω. Εἰ δὲ μηδὲ τοῦτο, αἴσθησιν
ἐμπλατύτερα τὰ εἴδη κομιζομένην, αἴσθησιν δὲ καὶ ἐφ᾽ ἑαυτῆς μεθ᾽ ὧν
δύναται καὶ ἤδη ἐν τοῖς εἴδεσιν οὖσαν. Εἰ δὲ βούλεταί τις, καταβαίνων
καὶ ἐπὶ τὴν γεννῶσαν ἴτω μέχρι καὶ ὧν ποιεῖ· εἶτα ἐντεῦθεν ἀναβαινέτω
ἀπὸ ἐσχάτων εἰδῶν εἰς τὰ ἔσχατα ἀνάπαλιν εἴδη, μᾶλλον δὲ εἰς τὰ
πρῶτα.

9. Quanto à alma, ao que parece, é preciso saber o que é a parte mais


divina dela, que há de ser inteligência. Talvez isso venha a ser mesmo
desse modo: se separares do homem primeiro o corpo, e é claro de ti
mesmo, depois também a alma que o modela e a sensação muito bem

SUMÁRIO
P l o t i n o | 78

[separada], desejos, estados de ânimo e as outras tolices76 tais, que


assim inclinam totalmente para o mortal. E o que resta dela é o que
dizíamos ser imagem de inteligência que salva alguma luz daquela
[inteligência], tal que [a luz] do sol que depois da esfera de sua grandeza
brilha em torno dela mesma e a partir dela. De fato, quanto à luz do sol
alguém não concordaria que ela é nele mesmo em torno do mesmo sol,
desde o qual é impulsionada e permanece em torno dele, mas
concordaria que uma luz sempre provém de outra que é antes dessa, até
chegar a nós na terra; mas toda [luz], mesmo aquela em torno do mesmo
sol, será posta em outro [corpo], para que não se dê depois do sol um
intervalo vazio de corpo. A alma é certa luz desde a inteligência que
veio a ser em torno dela e está dependente dela e não é em outro [corpo],
mas é em torno daquela inteligência, não em um lugar para ela mesma;
pois não há [lugar] para aquela inteligência. Daí a luz do sol é no ar, e
a alma é pura de tal modo que, mesmo em si mesma, é vista por ela
mesma e por outra desse tipo. As coisas sobre inteligência devem ser
racionalizadas pela alma, tal que sendo examinada por si mesma, mas
não é a inteligência que racionaliza a si mesma sobre si mesma; pois
sempre está presente para si mesma, quanto a nós, [ela é presente]
quando [nos voltamos] a ela; pois para nós a vida está partilhada e são
muitos modos de vida, e aquela [inteligência] em nada tem necessidade
de vida diversa ou de outros modos, mas os apresenta aos outros, não a
si mesma; pois nem tem necessidade das coisas piores, nem a si mesma
apresenta o menor tendo o todo, não tendo as marcas primeiras das
coisas, ou melhor, não tendo, mas ela mesma sendo essas coisas. E se
alguém for incapaz de ter como primeira a tal alma que pensa
puramente, tome a que é de opinião, depois a partir dessa se eleve. E se

76
Platão, Fédon 66b-c: μυρίας μὲν γὰρ ἡμῖν ἀσχολίας παρέχει τὸ σῶμα ... ἐρώτων δὲ
καὶ ἐπιθυμιῶν καὶ φόβων καὶ εἰδώλων παντοδαπῶν καὶ φλυαρίας ἐμπίμπλησιν ἡμᾶς
πολλῆς ... (o corpo nos apresenta infinitas ocupações ... [que] nos enchem de eros,
desejos, medos, visagens de toda parte e muita tolice ...).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 79

nem [for capaz] disso, [tome] a sensação que porta as mais estendidas
formas, e sensação em si mesma com as coisas de que é capaz, já sendo
nas formas. E se alguém quiser, descendo em direção à [alma] que gera,
vá até as coisas que ela cria. Depois suba daqui das formas extremas até
as últimas formas de novo, ou melhor, até as primeiras.

10. Ταῦτα μὲν οὖν ταύτηι. Οὐδὲ τὰ ποιηθέντα μόνον· οὐ γὰρ ἂν ἦν


ἔσχατα. Ἐκεῖ δὲ πρῶτα τὰ ποιοῦντα, ὅθεν καὶ πρῶτα. Δεῖ οὖν ἅμα καὶ
τὸ ποιοῦν εἶναι καὶ ἓν ἄμφω· εἰ δὲ μή, δεήσει πάλιν ἄλλου. Τί οὖν; οὐ
δεήσει πάλιν [ἄλλου] ἐπέκεινα τούτου; ἢ ὁ μὲν νοῦς τοῦτο; Τί οὖν; οὐχ
ὁρᾶι ἑαυτόν; Ἢ οὗτος οὐδὲν δεῖται ὁράσεως. Ἀλλὰ τοῦτο εἰς ὕστερον·
νῦν δὲ πάλιν λέγωμεν – οὐ γὰρ περὶ τοῦ ἐπιτυχόντος ἡ σκέψις –
λεκτέον δὲ πάλιν τοῦτον τὸν νοῦν δεηθῆναι τοῦ ὁρᾶν ἑαυτόν, μᾶλλον
δὲ ἔχειν τὸ ὁρᾶν ἑαυτόν, πρῶτον μὲν τῶι πολὺν εἶναι, εἶτα καὶ τῶι
ἑτέρου εἶναι, καὶ ἐξ ἀνάγκης ὁρατικὸν εἶναι, καὶ ὁρατικὸν ἐκείνου, καὶ
τὴν οὐσίαν αὐτοῦ ὅρασιν εἶναι· καὶ γὰρ ὄντος τινὸς ἄλλου ὅρασιν δεῖ
εἶναι, μὴ δὲ ὄντος μάτην ἐστί. Δεῖ τοίνυν πλείω ἑνὸς εἶναι, ἵνα ὅρασις
ἦι, καὶ συνεκπίπτειν τὴν ὅρασιν τῶι ὁρατῶι, καὶ τὸ ὁρώμενον τὸ ὑπ᾽
αὐτοῦ πλῆθος εἶναι ἐν παντί. Οὐδὲ γὰρ ἔχει τὸ ἓν πάντη εἰς τί ἐνεργήσει,
ἀλλὰ μόνον καὶ ἔρημον ὂν πάντη στήσεται. Ἧι γὰρ ἐνεργεῖ, ἄλλο καὶ
ἄλλο· εἰ δὲ μὴ εἴη ἄλλο, τὸ δὲ ἄλλο, τί καὶ ποιήσει; ἢ ποῦ προβήσεται;
Διὸ δεῖ τὸ ἐνεργοῦν ἢ περὶ ἄλλο ἐνεργεῖν, ἢ αὐτὸ πολύ τι εἶναι, εἰ μέλλοι
ἐνεργεῖν ἐν αὑτῶι. Εἰ δὲ μή τι προελεύσεται ἐπ᾽ ἄλλο, στήσεται· ὅταν
δὲ πᾶσαν στάσιν, οὐ νοήσει. Δεῖ τοίνυν τὸ νοοῦν, ὅταν νοῆι, ἐν δυςὶν
εἶναι, καὶ ἢ ἔξω θάτερον ἢ ἐν τῶι αὐτῶι ἄμφω, καὶ ἀεὶ ἐν ἑτερότητι τὴν
νόησιν εἶναι καὶ ἐν ταυτότητι δὲ ἐξ ἀνάγκης· καὶ εἶναι τὰ κυρίως
νοούμενα πρὸς τὸν νοῦν καὶ τὰ αὐτὰ καὶ ἕτερα. Καὶ πάλιν αὖ ἕκαστον
τῶν νοουμένων συνεκφέρει τὴν ταυτότητα ταύτην καὶ τὴν ἑτερότητα·
ἢ τί νοήσει, ὃ μὴ ἔχει ἄλλο καὶ ἄλλο; Καὶ γὰρ εἰ ἕκαστον λόγος, πολλά
ἐστι. Καταμανθάνει τοίνυν ἑαυτὸ τῶι ποικίλον ὀφθαλμὸν εἶναι ἢ
ποικίλων χρωμάτων. Εἰ γὰρ ἑνὶ καὶ ἀμερεῖ προσβάλλοι, ἠλογήθη· τί
γὰρ ἂν ἔχοι περὶ αὐτοῦ εἰπεῖν, ἢ τί συνεῖναι; Καὶ γὰρ εἰ τὸ ἀμερὲς πάντη

SUMÁRIO
P l o t i n o | 80

εἰπεῖν αὐτὸν δέοι, δεῖ πρότερον λέγειν ἃ μὴ ἔστιν· ὥστε καὶ οὕτως
πολλὰ ἂν εἶναι, ἵνα ἓν εἴη. Εἶθ᾽ ὅταν λέγηι εἰμὶ τόδε τὸ τόδε εἰ μὲν
ἕτερον τι αὐτοῦ ἐρεῖ, ψεύσεται· εἰ δὲ συμβεβηκὸς αὐτῶι, πολλὰ ἐρεῖ ἢ
τοῦτο ἐρεῖ εἰμὶ εἰμὶ καὶ ἐγὼ ἐγώ. Τί οὖν, εἰ δύο μόνα εἴη καὶ λέγοι ἐγὼ
καὶ τοῦτο; Ἢ ἀνάγκη πόλλ᾽ ἤδη εἶναι· καὶ γὰρ ὡς ἕτερα καὶ ὅπηι ἕτερα
καὶ ἀριθμὸς ἤδη καὶ πολλὰ ἄλλα. Δεῖ τοίνυν τὸ νοοῦν ἕτερον καὶ ἕτερον
λαβεῖν καὶ τὸ νοούμενον κατανοούμενον ὂν ποικίλον εἶναι· ἢ οὐκ ἔσται
νόησις αὐτοῦ, ἀλλὰ θίξις καὶ οἷον ἐπαφὴ μόνον ἄρρητος καὶ ἀνόητος,
προνοοῦσα οὔπω νοῦ γεγονότος καὶ τοῦ θιγγάνοντος οὐ νοοῦντος. Δεῖ
δὲ τὸ νοοῦν μηδὲ αὐτὸ μένειν ἁπλοῦν, καὶ ὅσωι ἂν μάλιστα αὐτὸ νοῆι·
διχάσει γὰρ αὐτὸ ἑαυτό, κἂν σύνεσιν δῶι τὴν σιωπήν. Εἶτα οὐδὲ
δεήσεται οἷον πολυπραγμονεῖν ἑαυτό· τί γὰρ καὶ μαθήσεται νοῆσαν;
Πρὸ γὰρ τοῦ νοῆσαι ὑπάρχει ὅπερ ἐστὶν ἑαυτῶι. Καὶ γὰρ αὖ πόθος τις
καὶ ἡ γνῶσίς ἐστι καὶ οἷον ζητήσαντος εὕρεσις. Τὸ τοίνυν διάφορον
πάντη αὐτὸ πρὸς αὐτὸ μένει, καὶ οὐδὲν ζητεῖ περὶ αὐτοῦ, ὃ δ᾽ ἐξελίττει
ἑαυτό, καὶ πολλὰ ἂν εἴη.

10. Portanto isso está nesse ponto. Não há apenas as coisas que foram
criadas, pois não seriam extremas. Lá [no inteligível] primeiras são as
que criam, daí são primeiras. É preciso então haver ao mesmo tempo
[com elas] o que cria, e ambos ser um só; senão, haverá necessidade
novamente de um diverso. Que será, então? Não haverá necessidade
novamente de algo diverso que é além desse [que cria]? Ou a
inteligência é isso? Que será, então, [além da inteligência]? Esse não vê
a si mesmo? Certamente esse em nada necessita de visão. Mas isso é
por último77; agora novamente digamos – pois a observação não é sobre
o que se dá por acaso78 – deve-se dizer novamente que essa inteligência

77
Capítulos 11 a 17.
78
Platão, Politeia 352d: οὐ γὰρ περὶ τοῦ ἐπιτυχόντος ὁ λόγος, ἀλλὰ περὶ τοῦ ὅντινα
τρόπον χρὴ ζῆν (pois o discurso não é sobre o que se dá por acaso, mas sobre de que
modo é preciso viver).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 81

tem necessidade de ver a si mesma, ou melhor, ela tem o ‘ver a si


mesma’, primeiro por ser múltipla, depois por ser de diferente, tanto por
ser de necessidade relativa à visão, e relativa à visão daquele [diferente],
quanto por ser essência dela mesma o ato de ver; pois também é preciso
o ato de ver ser de algo que é diverso, e não sendo, é em vão. Portanto
é preciso [a inteligência] ser mais do que um só, para que seja ato de
ver, por coincidir o ato de ver com o visível e por ser o que é visto por
si mesmo múltiplo em tudo. Pois não tem como um só ser em atividade
totalmente para algo, mas sendo único e isolado79 estará totalmente em
repouso; pois onde há atividade, há um e outro; e se não for um, o outro
criará o quê? Ou aonde avançará? Por isso é preciso o que é em
atividade ou ser em atividade acerca de outro ou ele mesmo ser algo
múltiplo, se houver de estar em atividade em si mesmo. E se algo não
avançar em direção a um diverso, estará em repouso; enquanto [estiver
em] repouso total, não pensará. Portanto é preciso o que pensa, quando
pensar, ser em dois modos: ou o diferente de fora ou ambos no mesmo,
e sempre o ato de pensar ser em alteridade e em identidade,
necessariamente80; e é preciso principalmente as coisas que são
pensadas ser, em relação à inteligência, tanto elas mesmas quanto
diferentes. E novamente cada uma das coisas que são pensadas leva em
conjunto para fora essa identidade e alteridade; ou o que pensará o que
não tem uma coisa e outra? Pois também se cada coisa [dessas] é razão,
são muitas. Portanto [cada coisa dessas] compreende a si mesma por ser
variado olho ou de variadas cores. Pois se [a inteligência] se dirigisse a
um só e sem parte, ficaria sem razão; pois o que teria a dizer sobre isso,

79
Platão, Filebo 63b: Τὸ μόνον καὶ ἔρημον εἰλικρινὲς εἶναί τι γένος οὔτε πάνυ τι
δυνατὸν οὔτ’ ὠφέλιμον (não é possível nem útil haver algum gênero genuíno único e
isolado ).
80
Platão, Sofista 254d: Οὐκοῦν αὐτῶν ἕκαστον τοῖν μὲν δυοῖν ἕτερόν ἐστιν, αὐτὸ δ’
ἑαυτῷ ταὐτόν (então cada um desses [três] é diferente dos [outros] dois, e igual a si
mesmo).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 82

ou o que compreender? Pois também se o que é sem parte em tudo


devesse dizer de si mesmo, é preciso antes dizer as coisas que [ele] não
é; de modo a ser assim muitas coisas, para que fosse um só. E se quando
disser “sou isto”, se disser o “isto” como algo diferente de si mesmo,
mentirá; e se disser que isso aconteceu a ele, dirá ser muitas coisas ou
dirá ser isso “sou sou” e “eu eu”. Que é, então? Se dois fosse um só e
disser “eu e isso”? Certamente é necessidade ser já muitas coisas; pois
assim são diferentes, e onde são diferentes, já são também números e
muitas coisas diversas. É preciso portanto o que pensa tomar um e
outro, e o que é pensado, sendo variado, ser o que se depreende; ou não
será ato de pensar dele mesmo; mas ato de tocar tal que contato apenas
indizível e ininteligível; e este é anterior ao pensar, porque a
inteligência ainda não veio a ser e o que toca ainda não pensa81. É
preciso o que pensa não permanecer ele mesmo simples, principalmente
enquanto ele mesmo pensar; pois ele mesmo se dividirá em dois, ainda
que dê como compreensão o silêncio. Depois nem precisará tal que se
ocupar muito de si mesmo; pois o que mesmo aprenderá ao pensar? Pois
antes do pensar tem princípio o que é para si mesmo. Pois por sua vez
o ato de conhecer é um certo desejo tal que um ato de descobrir daquele
que buscou. Portanto, o que difere de tudo permanece o mesmo em
relação a si e nada busca sobre si mesmo, mas o que desenvolve a si
mesmo seria também muitas coisas.

11. Διὸ καὶ ὁ νοῦς οὗτος ὁ πολύς, ὅταν τὸ ἐπέκεινα ἐθέληι νοεῖ, ἓν μὲν
οὖν αὐτὸ ἐκεῖνο, ἀλλ᾽ ἐπιβάλλειν θέλων ὡς ἁπλῶι ἔξεισιν ἄλλο ἀεὶ
λαμβάνων ἐν αὐτῶι πληθυνόμενον· ὥστε ὥρμησε μὲν ἐπ᾽ αὐτὸ οὐχ ὡς
νοῦς, ἀλλ᾽ ὡς ὄψις οὔπω ἰδοῦσα, ἐξῆλθε δὲ ἔχουσα ὅπερ αὐτὴ
ἐπλήθυνεν· ὥστε ἄλλου μὲν ἐπεθύμησεν ἀορίστως ἔχουσα ἐπ᾽ αὐτῆι

81
Quando a Inteligência parte do Uno, ela vai em direção ao diferente como que
buscando contato (θίξις/ ἐπαφή) e ainda não pensando, mas quando ela se volta ao
Uno, aí ela pensa.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 83

φάντασμά τι, ἐξῆλθε δὲ ἄλλο λαβοῦσα ἐν αὐτῆι αὐτὸ πολὺ ποιήσασα.


Καὶ γὰρ αὖ ἔχει τύπον τοῦ ὁράματος· ἢ οὐ παρεδέξατο ἐν αὐτῆι
γενέσθαι. Οὗτος δὲ πολὺς ἐξ ἑνὸς ἐγένετο, καὶ οὕτως γνοὺς εἶδεν αὐτό,
καὶ τότε ἐγένετο ἰδοῦσα ὄψις. Τοῦτο δὲ ἤδη νοῦς, ὅτε ἔχει, καὶ ὡς νοῦς
ἔχει· πρὸ δὲ τούτου ἔφεσις μόνον καὶ ἀτύπωτος ὄψις. Οὗτος οὖν ὁ νοῦς
ἐπέβαλε μὲν ἐκείνωι, λαβὼν δὲ ἐγένετο νοῦς, ἀεὶ δὲ ἐνδιάμενος καὶ
γενόμενος καὶ νοῦς καὶ οὐσία καὶ νόησις, ὅτε ἐνόησε· πρὸ γὰρ τούτου
οὐ νόησις ἦν τὸ νοητὸν οὐκ ἔχων οὐδὲ νοῦς οὔπω νοήσας. Τὸ δὲ πρὸ
τούτων ἡ ἀρχὴ τούτων, οὐχ ὡς ἐνυπάρχουσα· τὸ γὰρ ἀφ᾽ οὗ οὐκ
ἐνυπάρχει, ἀλλ᾽ ἐξ ὧν· ἀφ᾽ οὗ δὲ ἕκαστον, οὐχ ἕκαστον, ἀλλ᾽ ἕτερον
ἁπάντων. Οὐ τοίνυν ἕν τι τῶν πάντων, ἀλλὰ πρὸ πάντων, ὥστε καὶ πρὸ
νοῦ· καὶ γὰρ αὖ νοῦ ἐντὸς τὰ πάντα· ὥστε καὶ ταύτηι πρὸ νοῦ· καὶ εἰ τὰ
μετ᾽ αὐτὸν δὲ τὴν τάξιν ἔχει τὴν τῶν πάντων, καὶ ταύτηι πρὸ πάντων.
Οὐ δὴ δεῖ, πρὸ ὧν ἐστι, τούτων ἕν τι εἶναι, οὐδὲ νοῦν αὐτὸν προσερεῖς·
οὐδὲ τἀγαθὸν οὖν· εἰ σημαίνει ἕν τι τῶν πάντων τἀγαθόν, οὐδὲ τοῦτο·
εἰ δὲ τὸ πρὸ πάντων, ἔστω οὕτως ὠνομασμένον. Εἰ οὖν νοῦς, ὅτι πολύς
ἐστι, καὶ τὸ νοεῖν αὐτὸ οἷον παρεμπεσόν, κἂν ἐξ αὐτοῦ ἦι, πληθύει, δεῖ
τὸ πάντη ἁπλοῦν καὶ πρῶτον ἁπάντων ἐπέκεινα νοῦ εἶναι. Καὶ γὰρ εἰ
νοήσει, οὐκ ἐπέκεινα νοῦ, ἀλλὰ νοῦς ἔσται· ἀλλὰ εἰ νοῦς ἔσται, καὶ
αὐτὸ [τὸ] πλῆθος ἔσται.

11. Por isso mesmo essa inteligência que é múltipla, quando deseja,
pensa o que é além, e isso é aquele uno, mas querendo lançar-se assim
ao simples ela sai tomando sempre um diverso que se multiplica em si
mesma; assim tem impulso para esse [simples], não como inteligência,
mas como visão que ainda não vê, sai tendo o que ela mesma
multiplicava; assim [ela] deseja um diverso tendo indefinidamente em
si mesma uma certa fantasia, e sai ao tomar um diverso em si, fazendo-
o múltiplo. Pois ela ainda tem uma marca do produto da visão; ou não
aceitaria que esse múltiplo viesse a ser nela. E essa [inteligência]
múltipla veio a ser desde o uno, e assim o vê porque o reconhece, então
vem a ser visão que vê. E já é inteligência quando o tem, e o tem como

SUMÁRIO
P l o t i n o | 84

inteligência; antes disso era apenas aspiração e visão não marcável.


Então essa inteligência lança-se àquele [uno], e ao 84oma-lo vem a ser
inteligência, sempre sendo clara e vindo a ser inteligência, essência e
ato de pensar, quando pensa; pois antes disso não era ato de pensar
porque não tinha o inteligível, nem era inteligência porque ainda não
tinha pensado. O que é antes dessas coisas é princípio delas, não lhes
sendo imanente; pois o ‘a partir de que’ não é imanente a elas, mas é
imanente o que é desde elas; e cada ‘a partir de que’ não é cada coisa,
mas é diferente de todas as coisas. Portanto o uno não é algo de todas
as coisas, mas é antes de todas as coisas, desse modo também é antes
de inteligência; e por sua vez tudo é dentro de inteligência; de modo
que nesse ponto ele é antes de inteligência; e se as coisas depois dele
têm a posição que é de todas as coisas, nesse ponto também ele é antes
de tudo. Então não é preciso ele ser algo único dessas coisas de que ele
é anterior, nem anunciarás ser ele inteligência; nem mesmo o bem; se
algo único dessas coisas indicar ser o bem, não será isso; se [ele] é
aquilo antes de todas as coisas, esteja assim denominado. Então se
inteligência se completa, porque é múltipla, e o pensar é tal que o
mesmo que incidiu nela, ainda que seja desde ela, é preciso o totalmente
simples e o primeiro de todas as coisas ser além da inteligência. Pois se
pensar, não será além da inteligência82, mas será inteligência; mas se
for inteligência, também ele mesmo será a multiplicidade.

12. Καὶ τί κωλύει οὕτω πλῆθος εἶναι, ἕως ἐστὶν οὐσία μία; Τὸ γὰρ
πλῆθος οὐ συνθέσεις, ἀλλ᾽ αἱ ἐνέργειαι αὐτοῦ τὸ πλῆθος. Ἀλλ᾽ εἰ μὲν

82
Platão, Politeia 509b: Καὶ τοῖς γιγνωσκομένοις τοίνυν μὴ μόνον τὸ γιγνώσκεσθαι
φάναι ὑπὸ τοῦ ἀγαθοῦ παρεῖναι, ἀλλὰ καὶ τὸ εἶναί τε καὶ τὴν οὐσίαν ὑπ’ ἐκείνου
αὐτοῖς προσεῖναι, οὐκ οὐσίας ὄντος τοῦ ἀγαθοῦ, ἀλλ’ ἔτι ἐπέκεινα τῆς οὐσίας
πρεσβείᾳ καὶ δυνάμει ὑπερέχοντος (portanto às coisas que vêm a ser não apenas o vir
a ser diz ser presente por causa do bem, mas também o ser e a essência haver para elas
por causa dele, ele não sendo essência do bem, mas sendo ainda além da essência em
dignidade e potência).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 85

αἱ ἐνέργειαι αὐτοῦ μὴ οὐσίαι, ἀλλ᾽ ἐκ δυνάμεως εἰς ἐνέργειαν ἔρχεται,


οὐ πλῆθος μέν, ἀτελὲς δὲ πρὶν ἐνεργῆσαι τῆι οὐσίαι. Εἰ δὲ ἡ οὐσία
αὐτοῦ ἐνέργεια, ἡ δὲ ἐνέργεια αὐτοῦ τὸ πλῆθος, τοσαύτη ἔσται ἡ οὐσία
αὐτοῦ, ὅσον τὸ πλῆθος. Τοῦτο δὲ τῶι μὲν νῶι συγχωροῦμεν, ὧι καὶ τὸ
νοεῖν ἑαυτὸ ἀπεδίδομεν, τῆι δὲ ἀρχῆι πάντων οὐκέτι. Δεῖται δὲ πρὸ τοῦ
πολλοῦ τὸ ἓν εἶναι, ἀφ᾽ οὗ καὶ τὸ πολύ· ἐπ᾽ ἀριθμοῦ γὰρ παντὸς τὸ ἓν
πρῶτον. Ἀλλ᾽ ἐπ᾽ ἀριθμοῦ μὲν οὕτως φασί· σύνθεσις γὰρ τὰ ἑξῆς· ἐπὶ
δὲ τῶν ὄντων τίς ἀνάγκη ἤδη καὶ ἐνταῦθα ἕν τι εἶναι, ἀφ᾽ οὗ τὰ πολλά;
Ἢ διεσπασμένα ἔσται ἀπ᾽ ἀλλήλων τὰ πολλά, ἄλλο ἄλλοθεν ἐπὶ τὴν
σύνθεσιν κατὰ τύχην ἰόν. Ἀλλ᾽ ἐξ ἑνὸς τοῦ νοῦ ἁπλοῦ ὄντος φήσουσι
τὰς ἐνεργείας προελθεῖν· ἤδη μέν τι ἁπλοῦν τὸ πρὸ τῶν ἐνεργειῶν
τίθενται. Εἶτα τὰς ἐνεργείας μενούσας ἀεὶ καὶ ὑποστάσεις θήσονται·
ὑποστάσεις δὲ οὖσαι ἕτεραι ἐκείνου, ἀφ᾽ οὗ εἰσιν, ἔσονται, μένοντος
μὲν ἐκείνου ἁπλοῦ, τοῦ δὲ ἐξ αὐτοῦ ἐφ᾽ ἑαυτοῦ πλήθους ὄντος καὶ
ἐξηρτημένου ἀπ᾽ ἐκείνου. Εἰ μὲν γὰρ ἐκείνου ποθὲν ἐνεργήσαντος
αὗται ὑπέστησαν, κἀκεῖ πλῆθος ἔσται· εἰ δ᾽ αὐταί εἰσιν αἱ πρῶται
ἐνέργειαι, τὸ δεύτερον ποιήσασαι † ποιήσασαι δὲ ἐκεῖνο, ὃ πρὸ τούτων
τῶν ἐνεργειῶν, ὂν ἐφ᾽ ἑαυτοῦ, μένειν, τῶι δευτέρωι τῶι ἐκ τῶν
ἐνεργειῶν συστάντι τὰς ἐνεργείας ἃς παραχωρῆσαν· ἄλλο γὰρ αὐτό,
ἄλλο αἱ ἐνέργειαι αἱ ἀπ᾽ αὐτοῦ, ὅτι μὴ αὐτοῦ ἐνεργήσαντος. Εἰ δὲ μή,
οὐκ ἔσται ἡ πρώτη ἐνέργεια ὁ νοῦς· οὐ γὰρ οἷον προυθυμήθη νοῦν
γενέσθαι, εἶτα ἐγένετο νοῦς τῆς προθυμίας μεταξὺ αὐτοῦ τε καὶ τοῦ
γεννηθέντος νοῦ γενομένης· οὐδ᾽ αὖ ὅλως προυθυμήθη, οὕτω τε γὰρ ἦν
ἀτελὴς καὶ ἡ προθυμία οὐκ εἶχεν ὅ τι προθυμηθῆι· οὐδ᾽ αὖ τὸ μὲν εἶχε
τοῦ πράγματος, τὸ δὲ οὐκ εἶχεν· οὐδὲ γὰρ ἦν τι, πρὸς ὃ ἡ ἔκτασις. Ἀλλὰ
δῆλον, ὅτι, εἴ τι ὑπέστη μετ᾽ αὐτόν, μένοντος ἐκείνου ἐν τῶι αὐτῶι
ἤθει ὑπέστη. Δεῖ οὖν, ἵνα τι ἄλλο ὑποστῆι, ἡσυχίαν ἄγειν ἐφ᾽ ἑαυτοῦ
πανταχοῦ ἐκεῖνο· εἰ δὲ μή, ἢ πρὸ τοῦ κινηθῆναι κινήσεται, καὶ πρὸ τοῦ
νοῆσαι νοήσει, [ἢ] ἡ πρώτη ἐνέργεια αὐτοῦ ἀτελὴς ἔσται ὁρμὴ μόνον
οὖσα. Ἐπὶ τί οὖν ὡς ἀτυχοῦσά του ἐφορμᾶι; Εἰ κατὰ λόγον θησόμεθα,
τὴν μὲν ἀπ᾽ αὐτοῦ οἷον ῥυεῖσαν ἐνέργειαν ὡς ἀπὸ ἡλίου φῶς νοῦν
θησόμεθα καὶ πᾶσαν τὴν νοητὴν φύσιν, αὐτὸν δὲ ἐπ᾽ ἄκρωι τῶι νοητῶι

SUMÁRIO
P l o t i n o | 86

ἑστηκότα βασιλεύειν ἐπ᾽ αὐτοῦ οὐκ ἐξώσαντα ἀπ᾽ αὐτοῦ τὸ ἐκφανέν –


ἢ ἄλλο φῶς πρὸ φωτὸς ποιήσομεν – ἐπιλάμπειν δὲ ἀεὶ μένοντα ἐπὶ τοῦ
νοητοῦ. Οὐδὲ γὰρ ἀποτέτμηται τὸ ἀπ᾽ αὐτοῦ οὐδ᾽ αὖ ταὐτὸν αὐτῶι οὐδὲ
τοιοῦτον οἷον μὴ οὐσία εἶναι οὐδ᾽ αὖ οἷον τυφλὸν εἶναι, ἀλλ᾽ ὁρῶν καὶ
γινῶσκον ἑαυτὸ καὶ πρῶτον γινῶσκον. Τὸ δὲ ὥσπερ ἐπέκεινα νοῦ,
οὕτως καὶ ἐπέκεινα γνώσεως, οὐδὲν δεόμενον ὥσπερ οὐδενός, οὕτως
οὐδὲ τοῦ γινώσκειν· ἀλλ᾽ ἔστιν ἐν δευτέραι φύσει τὸ γινώσκειν. Ἓν γάρ
τι καὶ τὸ γινώσκειν· τὸ δέ ἐστιν ἄνευ τοῦ τὶ ἕν· εἰ γὰρ τὶ ἕν, οὐκ ἂν
αὐτοέν· τὸ γὰρ αὐτὸ πρὸ τοῦ τὶ.

12. E o que impede [o uno] ser assim multiplicidade, enquanto é


essência única? Pois a multiplicidade não será quanto a composições,
mas as atividades são a sua multiplicidade. Mas se as atividades dele
não forem essências – mas ele vai de potência para atividade – não seria
multiplicidade, e esta seria imperfeita antes de ser em atividade para a
essência. E se a essência dele é atividade, e a atividade é sua
multiplicidade, sua essência será tão grande quanto a multiplicidade. E
nisso concordamos para inteligência, à qual concedíamos também o
próprio pensar, mas para o princípio de todas as coisas ainda não. É
preciso antes do múltiplo haver o uno, a partir do qual há o múltiplo;
pois em todo número o uno é primeiro. Mas em número dizem assim;
pois há composição para os que são em sequência; mas nas coisas que
são que necessidade há então de haver aí algo único, desde o qual serão
as coisas múltiplas? Certamente as coisas múltiplas estarão dispersas
umas das outras, indo de uma parte a outra na composição, segundo a
sorte. Mas desde o simples da inteligência, que é uno, dirão83 provir as

83
Anaxágoras 59 A 55 Diels – Kranz: PLATO Cratyl. 413c εἶναι δὲ τὸ δίκαιον ὃ λέγει
Ἀ. νοῦν εἶναι τοῦτο· ... ARISTOT. de anima A 2. 405a 15 ἀρχήν γε τὸν νοῦν τίθεται
[Anaxag.] μάλιστα πάντων· μόνον γοῦν φησιν αὐτὸν τῶν ὄντων ἁπλοῦν εἶναι καὶ
ἀμιγῆ τε καὶ καθαρόν (que o justo é o que diz Anaxágoras, que isso é a inteligência;

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 87

atividades; pois já põem algo simples haver antes das atividades. Depois
porão as atividades que sempre permanecem como hipóstases; e sendo
hipóstases serão diferentes daquilo [simples] a partir de que são, aquilo
permanecendo simples, porque isso que é desde ele é multiplicidade em
si e está dependente dele. E se essas [atividades] se sustentam porque
aquilo [que é simples] de algum ponto entrou em atividade, também ali
haverá multiplicidade; e se elas forem as primeiras atividades, porque
criaram o que é segundo, † e ao criar, aquilo que é [simples], que é antes
dessas atividades, permanece em si, elas serão as atividades que
concorrem com o que é segundo, que consiste delas mesmas; pois uma
coisa é isso [que é simples], e outra, as atividades que são a partir dele,
porque são desse, mas ele não entrou em atividade. Senão, a inteligência
não será a primeira atividade; pois ele não será tal que tenha antes
desejado que a inteligência viesse a ser, depois veio a ser inteligência
entre o desejo dele e a inteligência que foi gerada; de modo algum ele
teve desejo antes, pois desse modo seria imperfeito e o desejo não teria
aquilo que ele tinha antes desejado; nem por sua vez, por um lado ele
tinha desejo de praticar algo, e por outro não tinha; pois nem havia algo
em relação a que [fosse] o deslocamento. Mas é claro que, se algo
subsiste com ele, subsiste porque aquele [que é simples] permanece em
seu próprio ethos84. É preciso então, para que algo diverso subsista,
aquele [que é simples] estar de todo modo em repouso em si mesmo;
senão, mover-se-á antes de ser movido e pensará antes de pensar,
[assim] sua primeira atividade será imperfeita sendo apenas impulso. A
quê, então, ele tem impulso, já que não lhe cabe por sorte algo? Se
pusermos segundo a razão, poremos a inteligência e toda natureza

... Aristóteles, ... Anaxágoras põe a inteligência como princípio maior de todas as
coisas; diz que das coisas que são ela é a única simples, sem mistura e pura).
84
Platão, Timeu 42e: Καὶ ὁ μὲν δὴ ἅπαντα ταῦτα διατάξας ἔμενεν ἐν τῷ ἑαυτοῦ κατὰ
τρόπον ἤθει (e o que ordenou tudo isso permaneceu em seu próprio ethos, em cada
modo).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 88

inteligível como atividade que corre a partir dele tal como luz escorre a
partir do sol, e ele estável no alto do inteligível, a reinar em si mesmo
não afastando de si o que se manifesta – ou criaremos diversa luz antes
de luz – a resplender sempre permanecendo no inteligível. Pois nem
está separado o que é a partir de dele nem por sua vez é o mesmo que
ele, nem tal que nem seja essência nem por sua vez tal que seja cego,
mas vendo e reconhecendo a si mesmo, sendo o primeiro que
reconhece. E como ele é além da inteligência, assim também é além de
reconhecimento, de modo que não precisa de nada, como não precisa
de reconhecer; mas é em segunda natureza o reconhecer. Pois o
reconhecer é um certo uno; e o que é um certo uno é sem algo; pois se
for um certo uno não será o próprio uno; pois o que é próprio é antes de
algo85.

13. Διὸ καὶ ἄρρητον τῆι ἀληθείαι· ὅ τι γὰρ ἂν εἴπηις, τὶ ἐρεῖς. Ἀλλὰ τὸ
ἐπέκεινα πάντων καὶ ἐπέκεινα τοῦ σεμνοτάτου νοῦ ἐν τοῖς πᾶσι μόνον
ἀληθὲς οὐκ ὄνομα ὂν αὐτοῦ ἀλλ᾽ ὅτι οὔτε τι τῶν πάντων οὔτε ὄνομα
αὐτοῦ, ὅτι μηδὲν κατ᾽ αὐτοῦ· ἀλλ᾽ ὡς ἐνδέχεται, ἡμῖν αὐτοῖς σημαίνειν
ἐπιχειροῦμεν περὶ αὐτοῦ. Ἀλλ᾽ ὅταν ἀπορῶμεν ἀναίσθητον οὖν ἑαυτοῦ
καὶ οὐδὲ παρακολουθοῦν ἑαυτῶι οὐδὲ οἶδεν αὐτό, ἐκεῖνο χρὴ
ἐνθυμεῖσθαι, ὅτι ταῦτα λέγοντες ἑαυτοὺς περιτρέπομεν ἐπὶ τἀναντία.
Πολὺ γὰρ αὐτὸ ποιοῦμεν γνωστὸν καὶ γνῶσιν ποιοῦντες καὶ διδόντες
νοεῖν δεῖσθαι τοῦ νοεῖν ποιοῦμεν· κἂν σὺν αὐτῶι τὸ νοεῖν ἦι, περιττὸν
ἔσται αὐτῶι τὸ νοεῖν. Κινδυνεύει γὰρ ὅλως τὸ νοεῖν πολλῶν εἰς ταὐτὸ
συνελθόντων συναίσθησις εἶναι τοῦ ὅλου, ὅταν αὐτό τι ἑαυτὸ νοῆι, ὃ
δὴ καὶ κυρίως ἐστὶ νοεῖν· ἓν δὲ ἕκαστον αὐτό τί ἐστι καὶ οὐδὲν ζητεῖ· εἰ
δὲ τοῦ ἔξω ἔσται ἡ νόησις, ἐνδεές τε ἔσται καὶ οὐ κυρίως τὸ νοεῖν. Τὸ
δὲ πάντη ἁπλοῦν καὶ αὔταρκες ὄντως οὐδὲν δεῖται· τὸ δὲ δευτέρως

85
O ‘reconhecer’ é uno particular, mas o que é primeiro é uno absoluto, e o absoluto
é antes do particular.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 89

αὔταρκες, δεόμενον δὲ ἑαυτοῦ, τοῦτο δεῖται τοῦ νοεῖν ἑαυτό· καὶ τὸ


ἐνδεὲς πρὸς αὐτὸ ὂν τῶι ὅλωι πεποίηκε τὸ αὔταρκες ἱκανὸν ἐξ ἁπάντων
γενόμενον, συνὸν ἑαυτῶι, καὶ εἰς αὐτὸ νεῦον. Ἐπεὶ καὶ ἡ συναίσθησις
πολλοῦ τινος αἴσθησίς ἐστι· καὶ μαρτυρεῖ καὶ τοὔνομα. Καὶ ἡ νόησις
προτέρα οὖσα εἴσω εἰς αὐτὸν ἐπιστρέφει δηλονότι πολὺν ὄντα· καὶ γὰρ
ἐὰν αὐτὸ τοῦτο μόνον εἴπηι ὄν εἰμι, ὡς ἐξευρὼν λέγει καὶ εἰκότως λέγει,
τὸ γὰρ ὂν πολύ ἐστιν· ἐπεί, ὅταν ὡς εἰς ἁπλοῦν ἐπιβάληι καὶ εἴπηι ὄν
εἰμι, οὐκ ἔτυχεν οὔτε αὐτοῦ οὔτε τοῦ ὄντος. Οὐ γὰρ ὡς λίθον λέγει τὸ
ὄν, ὅταν ἀληθεύηι, ἀλλ᾽ εἴρηκε μιᾶι ῥήσει πολλά. Τὸ γὰρ εἶναι τοῦτο,
ὅπερ ὄντως εἶναι καὶ μὴ ἴχνος ἔχον τοῦ ὄντος λέγεται, ὃ οὐδὲ ὂν διὰ
τοῦτο λέγοιτ᾽ ἄν, ὥσπερ εἰκὼν πρὸς ἀρχέτυπον, πολλὰ ἔχει. Τί οὖν;
Ἕκαστον αὐτῶν οὐ νοηθήσεται; Ἢ ἔρημον καὶ μόνον ἐὰν ἐθελήσηις
λαβεῖν, οὐ νοήσεις· ἀλλ᾽ αὐτὸ τὸ εἶναι ἐν αὐτῶι πολύ ἐστι, κἂν ἄλλο τι
εἴπηις, ἔχει τὸ εἶναι. Εἰ δὲ τοῦτο, εἴ τί ἐστιν ἁπλούστατον ἁπάντων, οὐχ
ἕξει νόησιν αὐτοῦ· εἰ γὰρ ἕξει, τῶι πολὺ εἶναι ἕξει. Οὔτ᾽ οὖν αὐτὸ νοεῖν
οὔτ᾽ ἔστι νόησις αὐτοῦ.

13. Por isso na verdade ele é inefável; pois o que disseres que ele é,
dirás algo. Mas o que é “além de todas as coisas e além da
venerabilíssima inteligência”86 em todas as coisas é apenas verdadeiro,
mas não é seu nome, porque nem é algo de todas as coisas nem é seu
nome87, porque nada é sob ele; mas assim aceita-se: empreendemos por

86
Platão, Politeia 509b: Καὶ τοῖς γιγνωσκομένοις τοίνυν μὴ μόνον τὸ γιγνώσκεσθαι
φάναι ὑπὸ τοῦ ἀγαθοῦ παρεῖναι, ἀλλὰ καὶ τὸ εἶναί τε καὶ τὴν οὐσίαν ὑπ’ ἐκείνου
αὐτοῖς προσεῖναι, οὐκ οὐσίας ὄντος τοῦ ἀγαθοῦ, ἀλλ’ ἔτι ἐπέκεινα τῆς οὐσίας
πρεσβείᾳ καὶ δυνάμει ὑπερέχοντος (portanto às coisas que vêm a ser não apenas o vir
a ser diz ser presente por causa do bem, mas também o ser e a essência haver para elas
por causa dele, ele não sendo essência do bem, mas sendo ainda além da essência em
dignidade e potência).
87
Platão, Parmênides 142a: Οὐδ’ ἄρα ὄνομα ἔστιν αὐτῷ οὐδὲ λόγος οὐδέ τις ἐπιστήμη
οὐδὲ αἴσθησις οὐδὲ δόξα (portanto para ele não há nome, nem palavra, nem algum
conhecimento, nem sensação, nem opinião).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 90

nós mesmos sinalizar sobre ele. Mas quando estejamos em dificuldade,


[em relação a ele dizemos]: “insensível de si mesmo, que não tem
consciência de si mesmo e nem vê a si mesmo”, é necessário considerar
que ao dizer isso nos voltamos às coisas contrárias. Pois o fazemos
múltiplo ao fazê-lo cognoscível e ato de reconhecer, e ao atribuir-lhe
ato de pensar o fazemos precisar do pensar; ainda que com ele seja o
pensar, supérfluo será para ele o pensar. Pois há inteiramente risco de o
pensar, muitas coisas convergindo para o mesmo, ser sensação conjunta
do inteiro, quando ele pense ele mesmo ser algo, que principalmente é
pensar; e cada coisa única é ele mesmo, e ele nada busca; se o ato de
pensar for de fora, será necessitado e principalmente não será o pensar.
O simples em tudo e autônomo realmente de nada precisa; e o
secundariamente autônomo, que precisa de si mesmo, esse precisa do
pensar a si mesmo; e o que é necessitado em relação a si mesmo, criou
para o inteiro o que é autônomo, porque veio a ser suficiente desde todas
as partes, sendo consigo mesmo e inclinando-se a si mesmo. Uma vez
que a sensação conjunta é sensação de algo múltiplo, também é
testemunha o nome. E o ato de pensar que é anterior volta-se
internamente a si mesmo, evidentemente porque é múltiplo; pois
quando ele apenas diga “sou o que é”, como se tivesse descoberto isso
mesmo, diz e convenientemente diz, pois o que é é múltiplo, uma vez
que, quando se lançar assim ao simples e disser “sou o que é”, não
alcançará nem a si mesmo nem o que é. Pois não diz ‘o que é’ como
[diz] pedra, quando disser a verdade, mas estão ditas por uma só
expressão múltiplas coisas. Pois esse ‘ser’, que é realmente ‘ser’ – e não
o que se diz que tem marca ‘do que é’, que por isso nem se diria ‘que
é’, como uma imagem em relação a um arquétipo – tem múltiplas
coisas. Então, o quê? Cada uma dessas coisas não será pensada?

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 91

Certamente se o quiseres tomar isolado e só88, não o pensarás; mas o


próprio ser é múltiplo em si mesmo, ainda que digas algo diverso, o ser
o tem. E se é isso, se for o que é mais simples de todas as coisas, [esse]
não terá ato de pensar de si mesmo; pois se tiver, terá por ser múltiplo.
Então ele nem é pensar nem ato de pensar de si.

14. Πῶς οὖν ἡμεῖς λέγομεν περὶ αὐτοῦ; Ἢ λέγομεν μέν τι περὶ αὐτοῦ,
οὐ μὴν αὐτὸ λέγομεν οὐδὲ γνῶσιν οὐδὲ νόησιν ἔχομεν αὐτοῦ. Πῶς οὖν
λέγομεν περὶ αὐτοῦ, εἰ μὴ αὐτὸ ἔχομεν; Ἤ, εἰ μὴ ἔχομεν τῆι γνώσει, καὶ
παντελῶς οὐκ ἔχομεν; Ἀλλ᾽ οὕτως ἔχομεν, ὥστε περὶ αὐτοῦ μὲν λέγειν,
αὐτὸ δὲ μὴ λέγειν. Καὶ γὰρ λέγομεν, ὃ μὴ ἔστιν· ὃ δέ ἐστιν, οὐ λέγομεν·
ὥστε ἐκ τῶν ὕστερον περὶ αὐτοῦ λέγομεν. Ἔχειν δὲ οὐ κωλυόμεθα, κἂν
μὴ λέγωμεν. Ἀλλ᾽ ὥσπερ οἱ ἐνθουσιῶντες καὶ κάτοχοι γενόμενοι ἐπὶ
τοσοῦτον κἂν εἰδεῖεν, ὅτι ἔχουσι μεῖζον ἐν αὐτοῖς, κἂν μὴ εἰδῶσιν ὅ τι,
ἐξ ὧν δὲ κεκίνηνται καὶ λέγουσιν, ἐκ τούτων αἴσθησίν τινα τοῦ
κινήσαντος λαμβάνουσιν ἑτέρων ὄντων τοῦ κινήσαντος, οὕτω καὶ
ἡμεῖς κινδυνεύομεν ἔχειν πρὸς ἐκεῖνο, ὅταν νοῦν καθαρὸν ἔχωμεν,
χρώμενοι, ὡς οὗτός ἐστιν ὁ ἔνδον νοῦς, ὁ δοὺς οὐσίαν καὶ τὰ ἄλλα, ὅσα
τούτου τοῦ στοίχου, αὐτὸς δὲ οἷος ἄρα, ὡς οὐ ταῦτα, ἀλλά τι κρεῖττον
τούτου, ὃ λέγομεν ὄν, ἀλλὰ καὶ πλέον καὶ μεῖζον ἢ λεγόμενον, ὅτι καὶ
αὐτὸς κρείττων λόγου καὶ νοῦ καὶ αἰσθήσεως, παρασχὼν ταῦτα, οὐκ
αὐτὸς ὢν ταῦτα.

14. Como então nós falamos sobre ele? Certamente falamos algo sobre
ele, contudo não o dizemos, nem temos o ato de reconhecer e de pensar
dele. Então como falamos sobre ele, se nem o temos? Ou, se nem o
temos pelo ato de pensar, também totalmente não o temos? Mas o temos
assim de modo a falar sobre ele, e não dizer ele mesmo. Pois dizemos o

88
Platão, Filebo 63b: Τὸ μόνον καὶ ἔρημον εἰλικρινὲς εἶναί τι γένος οὔτε πάνυ τι
δυνατὸν οὔτ’ ὠφέλιμον (que certo gênero único e isolado ser genuíno nem é
absolutamente possível nem útil).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 92

que não é; o que é, não dizemos; desse modo falamos sobre ele desde o
que é posterior. E não somos impedidos de falar, ainda que não o
digamos. Mas como os que são inspirados pela divindade, vindo a ser
mantidos em algo tamanho, mesmo que vissem que têm algo superior
em si mesmos, não saberiam o que é, e estando comovidos desde quais
coisas falam e tomam certa sensação do que comoveu desde essas
coisas que são diferentes do que comoveu, assim também nós nos
arriscamos a estar em relação àquele [uno], quando tenhamos
inteligência pura, servindo-nos [dela], assim esse [princípio] é a
inteligência interna, que dá essência em relação às outras coisas,
quantas são dessa linha, esse princípio, portanto, sendo tal qual não são
essas coisas, mas algo superior a isso, que dizemos que é, sendo mais e
maior do que é dito, porque esse princípio é superior à razão, à
inteligência e à sensação, ao oferecer essas coisas, não sendo ele mesmo
essas coisas.

15. Ἀλλὰ πῶς παρασχών; Ἢ τῶι ἔχειν [ἢ τῶι μὴ ἔχειν]. Ἀλλ᾽ ἃ μὴ ἔχει,
πῶς παρέσχεν; Ἀλλ᾽ εἰ μὲν ἔχων, οὐχ ἁπλοῦς· εἰ δὲ μὴ ἔχων, πῶς ἐξ
αὐτοῦ τὸ πλῆθος; Ἓν μὲν γὰρ ἐξ αὐτοῦ ἁπλοῦν τάχ᾽ ἄν τις δοίη – καίτοι
καὶ τοῦτο ζητηθείη ἄν, πῶς ἐκ τοῦ πάντη ἑνός· ἀλλ᾽ ὅμως δὲ ἔστιν
εἰπεῖν οἷον ἐκ φωτὸς τὴν ἐξ αὐτοῦ περίλαμψιν – πῶς δὲ πολλά; Ἢ οὐ
ταὐτὸν ἔμελλε τὸ ἐξ ἐκείνου ἐκείνωι. Εἰ οὖν μὴ ταὐτόν, οὐδέ γε βέλτιον·
τί γὰρ ἂν τοῦ ἑνὸς βέλτιον ἢ ἐπέκεινα ὅλως; Χεῖρον ἄρα· τοῦτο δέ ἐστιν
ἐνδεέστερον. Τί οὖν ἐνδεέστερον τοῦ ἑνός; Ἢ τὸ μὴ ἕν· πολλὰ ἄρα·
ἐφιέμενον δὲ ὅμως τοῦ ἑνός· ἓν ἄρα πολλά. Πᾶν γὰρ τὸ μὴ ἓν τῶι ἓν
σώιζεται καὶ ἔστιν, ὅπερ ἐστί, τούτωι· μὴ γὰρ ἓν γενόμενον, κἂν ἐκ
πολλῶν ἦι, οὔπω ἐστὶν ὄν εἴποι τις αὐτό· κἂν ἕκαστον ἔχηι λέγειν τις ὅ
ἐστι, τῶι ἓν ἕκαστον αὐτῶν εἶναι λέγει καὶ τὸ αὐτό· ἔτι δὲ τὸ μὴ πολλὰ
ἔχον ἐν ἑαυτῶι ἤδη οὐ μετουσίαι ἑνὸς ἕν, ἀλλὰ αὐτὸ ἕν, οὐ κατ᾽ ἄλλου,
ἀλλ᾽ ὅτι τοῦτο, παρ᾽ οὗ πως καὶ τὰ ἄλλα, τὰ μὲν τῶι ἐγγύς, τὰ [δὲ] τῶι
πόρρω. Ἐπεὶ δὲ τὸ μετ᾽ αὐτὸ καὶ ὅτι μετ᾽ αὐτὸ δῆλον ποιεῖ τῶι τὸ
πλῆθος αὐτοῦ ἓν πανταχοῦ εἶναι· καὶ γὰρ πλῆθος ὂν ὅμως ἐν τῶι αὐτῶι

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 93

καὶ διακρῖναι οὐκ ἂν ἔχοις, ὅτι ὁμοῦ πάντα· ἐπεὶ καὶ ἕκαστον τῶν ἐξ
αὐτοῦ, ἕως ζωῆς μετέχει, ἓν πολλά· ἀδυνατεῖ γὰρ δεῖξαι αὐτὸ ἓν πάντα.
Αὐτὸ δὲ ἐκεῖνο ἓν πάντα, ὅτι μεγάλην ἀρχήν· ἀρχὴ γὰρ ἓν ὄντως καὶ
ἀληθῶς ἕν· τὸ δὲ μετὰ τὴν ἀρχὴν ὧδέ πως ἐπιβρίσαντος τοῦ ἑνὸς πάντα
μετέχον τοῦ ἕν, καὶ ὁτιοῦν αὐτοῦ πάντα αὖ καὶ ἕν. Τίνα οὖν πάντα; Ἢ
ὧν ἀρχὴ ἐκεῖνο. Πῶς δὲ ἐκεῖνο ἀρχὴ τῶν πάντων; Ἆρα, ὅτι αὐτὰ σώιζει
ἓν ἕκαστον αὐτῶν ποιήσασα εἶναι; Ἢ καὶ ὅτι ὑπέστησεν αὐτά. Πῶς δή;
Ἢ τῶι πρότερον ἔχειν αὐτά. Ἀλλ᾽ εἴρηται, ὅτι πλῆθος οὕτως ἔσται.
Ἀλλ᾽ ἄρα οὕτως εἶχεν ὡς μὴ διακεκριμένα· τὰ δ᾽ ἐν τῶι δευτέρωι
διεκέκριτο τῶι λόγωι. Ἐνέργεια γὰρ ἤδη· τὸ δὲ δύναμις πάντων. Ἀλλὰ
τίς ὁ τρόπος τῆς δυνάμεως; Οὐ γὰρ ὡς ἡ ὕλη δυνάμει λέγεται, ὅτι
δέχεται· πάσχει γάρ· ἀλλ᾽ οὗτος ἀντιτεταγμένως τῶι ποιεῖν. Πῶς οὖν
ποιεῖ ἃ μὴ ἔχει; Οὐ γὰρ ὡς ἔτυχε· μηδ᾽ ἐνθυμηθεὶς ὃ ποιήσει, ποιήσει
ὅμως. Εἴρηται μὲν οὖν, ὅτι, εἴ τι ἐκ τοῦ ἑνός, ἄλλο δεῖ παρ᾽ αὐτό· ἄλλο
δὲ ὂν οὐχ ἕν· τοῦτο γὰρ ἦν ἐκεῖνο. Εἰ δὲ μὴ ἕν, δύο δέ, ἀνάγκη ἤδη καὶ
πλῆθος εἶναι· καὶ γὰρ ἕτερον καὶ ταὐτὸν ἤδη καὶ ποιὸν καὶ τὰ ἄλλα. Καὶ
ὅτι μὲν δὴ μὴ ἓν τὸ ἐκείνου, δεδειγμένον ἂν εἴη· ὅτι δὲ πλῆθος καὶ
πλῆθος τοιοῦτον, οἷον ἐν τῶι μετ᾽ αὐτὸ θεωρεῖται, ἀπορῆσαι ἄξιον· καὶ
ἡ ἀνάγκη δὲ τοῦ μετ᾽ αὐτὸ ἔτι ζητητέα.

15. Mas como [esse princípio] é o que as oferece? Ou é por as ter <ou
por não as ter>. Mas o que não tem, como oferece? Mas se ele é o que
tem, não é simples; e se é o que não tem, como desde ele mesmo há o
múltiplo? Pois alguém logo concederia que é desde ele mesmo algo
único que é simples – ainda que também isso se buscasse, como isso
seria desde o que é totalmente único; contudo, é possível dizer que o
esplendor desde ele mesmo é tal que desde uma luz – e como múltiplas
coisas serão [desde o uno]? Certamente o que é desde ele não estava
para ser o mesmo que ele. Então se não for o mesmo, nem será melhor;
pois o que seria melhor ou inteiramente além do uno? Será pior,
portanto; e isso é ser mais necessitado. O que é então mais necessitado
do que o uno? Certamente não é o uno; o múltiplo, portanto; e contudo

SUMÁRIO
P l o t i n o | 94

aspirando ao uno; portanto, sendo uno-múltiplo89. Pois tudo que não é


uno o uno salva e é em algo que é o que é por ele90. Pois não se tendo
tornado uno, ainda que seja desde múltiplas partes, alguém ainda não
diria que isso é o que é. Ainda que haja alguém para dizer o que é cada
coisa, diz por ser uno cada uma delas, e o próprio uno. O uno que ainda
não tem múltiplas coisas em si mesmo é já uno não por participação do
uno, mas é ele próprio, não sendo de um diverso, mas porque é isso da
parte de que de algum modo é também coisas diversas, umas por ser
perto, outras por ser longe. Uma vez que o [princípio] que é depois dele
cria, é claro, cria depois dele, por ser o múltiplo do mesmo uno em toda
parte; pois também sendo múltiplo é, contudo, uno em si mesmo, e não
terias [o que] distinguir, porque é tudo ao mesmo tempo91; uma vez que
cada coisa das que são desde ele, enquanto participe da vida, é uno-
múltiplo; pois é impossível mostrar-se uno-tudo. Aquele próprio é uno-
tudo, porque é [depois dele mesmo] como grande princípio; pois uno é
realmente princípio e verdadeiramente uno; e o que é depois do
princípio92, que deste modo participa do uno que de algum modo tem
peso em tudo, é uno de algo, e o quer que seja dele é tudo e ainda uno.
Que é então tudo? Certamente são as coisas de que aquele [uno-tudo] é
princípio. E como ele é princípio de todas as coisas? Por acaso é porque
[o princípio] as salva, tendo feito cada uma delas ser uno? Certamente

89
Platão, Parmênides 144e: Οὐ μόνον ἄρα τὸ ὂν ἓν πολλά ἐστιν, ἀλλὰ καὶ αὐτὸ τὸ ἓν
ὑπὸ τοῦ ὄντος διανενεμημένον πολλὰ ἀνάγκη εἶναι (portanto não apenas o que é uno-
múltiplo, mas também o próprio uno, estando distribuído pelo que é, necessidade é
ser múltiplo).
90
É pelo uno que o que não é uno se conserva e existe, sendo o que é; pois ele atua no
que cria, sendo fundamento do que é e da identidade.
91
Anaxágoras, 59 B 1 Diels – Kranz: ὁμοῦ πάντα χρήματα ἦν, ἄπειρα καὶ πλῆθος καὶ
σμικρότητα (todas as coisas eram ao mesmo tempo, tanto em quantidade quanto em
pequenez).
92
A Inteligência e sua múltipla criação.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 95

é também porque as suporta. E como? Certamente por as ter antes. Mas


está dito que assim será múltiplo. Mas por as ter, portanto, assim como
não estando distintas; e essas em segundo [princípio] tinham-se
distinguido com a razão. Pois [este princípio] já é atividade; [aquele] é
potência de todas as coisas. Mas qual é o modo da potência? Pois não é
porque recebe, como se diz a matéria em potência; pois ela sofre; mas
esse [modo] em ordem inversa é pelo criar. Como então cria o que não
tem? Pois não é como por acaso; nem é tendo refletido sobre o que
criará, criará, portanto. Está dito então que, se algo é desde o uno, é
preciso ser diverso dele; e sendo diverso não é uno; pois isso era aquilo.
E se não é uno, serão dois, há já também necessidade de ser múltiplo;
pois já haverá o diferente, o mesmo93, o de certa qualidade etc. Que na
verdade nem é uno o que é daquilo, estaria indicado; e que múltiplo é
múltiplo tal que se contempla no que é depois dele, é digno estar em
dúvida; também a necessidade de algo ser depois dele, ainda deve-se
buscar.

16. Ὅτι μὲν οὖν δεῖ τι εἶναι τὸ μετὰ τὸ πρῶτον, ἀλλαχοῦ εἴρηται, καὶ
ὅλως, ὅτι δύναμίς ἐστι καὶ ἀμήχανος δύναμις, καὶ τοῦτο, ὅτι ἐκ τῶν
ἄλλων ἁπάντων πιστωτέον, ὅτι μηδέν ἐστι μηδὲ τῶν ἐσχάτων, ὃ μὴ
δύναμιν εἰς τὸ γεννᾶν ἔχει. Ἐκεῖνα δὲ νῦν λεκτέον, ὡς, ἐπειδὴ ἐν τοῖς
γεννωμένοις οὐκ ἔστι πρὸς τὸ ἄνω, ἀλλὰ πρὸς τὸ κάτω χωρεῖν καὶ
μᾶλλον εἰς πλῆθος ἰέναι, καὶ ἡ ἀρχὴ ἑκάστων ἁπλουστέρα ἢ αὐτά.
Κόσμον τοίνυν τὸ ποιῆσαν αἰσθητὸν οὐκ ἂν εἴη κόσμος αἰσθητὸς αὐτό,
ἀλλὰ νοῦς καὶ κόσμος νοητός· καὶ τὸ πρὸ τούτου τοίνυν τὸ γεννῆσαν
αὐτὸ οὔτε νοῦς οὔτε κόσμος νοητός, ἁπλούστερον δὲ νοῦ καὶ
ἁπλούστερον κόσμου νοητοῦ. Οὐ γὰρ ἐκ πολλοῦ πολύ, ἀλλὰ τὸ πολὺ
τοῦτο ἐξ οὐ πολλοῦ· εἰ γὰρ καὶ αὐτὸ πολύ, οὐκ ἀρχὴ τοῦτο, ἀλλ᾽ ἄλλο

93
Platão, Sofista 255a: Ἀλλ’ οὔ τι μὴν κίνησίς γε καὶ στάσις οὔθ’ ἕτερον οὔτε ταὐτόν
ἐστι (mas nem movimento e repouso é algo como diferente e o mesmo).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 96

πρὸ τούτου. Συστῆναι οὖν δεῖ εἰς ἓν ὄντως παντὸς πλήθους ἔξω καὶ
ἁπλότητος ἡστινοσοῦν, εἴπερ ὄντως ἁπλοῦν. Ἀλλὰ πῶς τὸ γενόμενον
ἐξ αὐτοῦ λόγος πολὺς καὶ πᾶς, τὸ δὲ ἦν δηλονότι οὐ λόγος; Εἰ δὲ μὴ
τοῦτο ἦν, πῶς οὖν οὐκ ἐκ λόγου λόγος; Καὶ πῶς τὸ ἀγαθοειδὲς ἐξ
ἀγαθοῦ; Τί γὰρ ἔχον ἑαυτοῦ ἀγαθοειδὲς λέγεται; Ἆρ᾽ ἔχον τὸ κατὰ τὰ
αὐτὰ καὶ ὡσαύτως; Καὶ τί ταῦτα πρὸς τὸ ἀγαθόν; Τὸ γὰρ ὡσαύτως
ζητοῦμεν ὂν τῶν ἀγαθῶν. Ἢ πρότερον ἐκεῖνο, οὗ μὴ ἐξίστασθαι
δεήσει, ὅτι ἀγαθόν· εἰ δὲ μή, βέλτιον ἀποστῆναι. Ἆρ᾽ οὖν τὸ ζῆν
ὡσαύτως μένοντα ἐπὶ τούτου ἑκουσίως; Εἰ οὖν ἀγαπητὸν τούτωι τὸ ζῆν,
δῆλον ὅτι οὐδὲν ζητεῖ· ἔοικε τοίνυν διὰ τοῦτο τὸ ὡσαύτως, ὅτι ἀρκεῖ τὰ
παρόντα. Ἀλλὰ πάντων ἤδη παρόντων τούτωι ἀγαπητὸν τὸ ζῆν καὶ δὴ
οὕτω παρόντων, οὐχ ὡς ἄλλων ὄντων αὐτοῦ. Εἰ δ᾽ ἡ πᾶσα ζωὴ τούτωι
καὶ ζωὴ ἐναργής, καὶ τελεία πᾶσα ἐν τούτωι ψυχὴ καὶ πᾶς νοῦς, καὶ
οὐδὲν αὐτῶι οὔτε ζωῆς οὔτε νοῦ ἀποστατεῖ. Αὐτάρκης οὖν ἑαυτῶι καὶ
οὐδὲν ζητεῖ· εἰ δὲ μηδὲν ζητεῖ, ἔχει ἐν ἑαυτῶι ὃ ἐζήτησεν ἄν, εἰ μὴ
παρῆν. Ἔχει οὖν ἐν ἑαυτῶι τὸ ἀγαθὸν ἢ τοιοῦτον ὄν, ὃ δὴ ζωὴν καὶ
νοῦν εἴπομεν, ἢ ἄλλο τι συμβεβηκὸς τούτοις. Ἀλλ᾽ εἰ τοῦτο τὸ ἀγαθόν,
οὐδὲν ἂν εἴη ἐπέκεινα τούτων. Εἰ δὲ ἔστιν ἐκεῖνο, δηλονότι ζωὴ πρὸς
ἐκεῖνο τούτωι ἐξημμένη ἐκείνου καὶ τὴν ὑπόστασιν ἔχουσα ἐξ ἐκείνου
καὶ πρὸς ἐκεῖνο ζῶσα· ἐκεῖνο γὰρ αὐτοῦ ἀρχή. Δεῖ τοίνυν ἐκεῖνο ζωῆς
εἶναι κρεῖσσον καὶ νοῦ· οὕτω γὰρ ἐπιστρέψει πρὸς ἐκεῖνο καὶ τὴν ζωὴν
τὴν ἐν αὐτῶι, μίμημά τι τοῦ ἐν ἐκείνωι ὄντος, καθὸ τοῦτο ζῆι, καὶ τὸν
νοῦν τὸν ἐν τούτωι, μίμημά τι τοῦ ἐν ἐκείνωι ὄντος, ὅ τι δήποτέ ἐστι
τοῦτο.

16. Então que é preciso haver algo depois do primeiro, em outra parte
está dito94, e de modo geral que é potência, e intratável potência, e é
isso porque desde todas as coisas diversas deve-se crer que nem dentre
as últimas nada há que não tem potência para gerar. Agora deve-se falar

94
Enéada IV 8 6; V 2 1.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 97

daquelas coisas que, quando são entre as que são geradas, não é possível
avançar para o superior, mas para o inferior, e vão mais ao múltiplo, o
princípio de cada uma delas é mais simples do que elas mesmas.
Portanto, o mesmo que cria o cosmo sensível não seria cosmo sensível,
mas inteligência e cosmo inteligível; e o que gera antes disso nem é
inteligência nem cosmo inteligível, mas é mais simples do que
inteligência e mais simples do que cosmo inteligível. Pois múltiplo não
é desde múltiplo, mas esse múltiplo é desde não múltiplo; pois se
também esse fosse múltiplo, ele não seria princípio, mas algo diverso
antes dele. Então é preciso sustentar-se no uno que é realmente de fora
de todo múltiplo e de uma simplicidade qualquer, se é que realmente é
simples. Mas como o que vem a ser desde esse princípio é razão
múltipla e toda, mas ele, é claro, não era razão? Se não era isso, como
então o que não é desde razão é razão? E como o que tem forma do bem
é desde o bem? O que se diz que tem forma do bem de si mesmo? É o
que é segundo um só e o mesmo95? E por que essas coisas são em
relação ao bem? Pois buscamos o que é [sempre] o mesmo dentre os
bens. Certamente anterior é aquilo de que será preciso não se afastar,
porque é o bem; senão, é melhor estar longe; então, por acaso o viver
que nesse bem permanece é o viver de mesma forma e voluntariamente?
Então se a ele é amável o viver, é claro que nada busca; é conveniente,
portanto, por causa disso [viver] da mesma forma, porque bastam as
coisas presentes. Mas, todas as coisas já sendo presentes para a
inteligência, é amável o viver, se assim forem presentes, não como
sendo coisas diversas dela. E se toda a vida é para ela, a vida é ativa, e
é toda perfeita nela a alma e toda inteligência, e nada para ela está longe
nem de vida nem de inteligência. Então [a inteligência] é
autossuficiente por si mesma e nada busca; e se nada [ela] busca, tem

95
Platão, Timeu 28a: τὸ μὲν δὴ νοήσει μετὰ λόγου περιληπτόν, ἀεὶ κατὰ ταὐτὰ ὄν
(um é apreensível pelo ato de pensar com razão, que é sempre segundo um só e o
mesmo); expressão traduzida por Cícero desta forma: unum et idem.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 98

em si o que buscaria, se isso não fosse presente. Então [ela] tem em si


o bem ou o que é tal que dissemos que é vida e inteligência, ou algo
diverso teria acontecido a esses princípios. Mas se isso for o bem, nada
haveria além de vida e de inteligência. E se há aquele [bem], é claro que
a vida é em relação a ele estando pela inteligência dependente ele,
mantendo a hipóstase desde ele e vivendo em relação a ele; pois aquilo
é princípio disso96. Portanto é preciso aquilo ser superior à vida e à
inteligência; pois assim [quando isso] voltar-se para aquilo, [isso terá]
a vida que é em si, certa imitação do que é naquilo, segundo o que isso
possa viver, e [terá] a inteligência que é em si, certa imitação do que é
naquilo, o que quer que possa ser isso.

17. Τί οὖν ἐστι κρεῖττον ζωῆς ἐμφρονεστάτου καὶ ἀπταίστου καὶ


ἀναμαρτήτου καὶ νοῦ πάντα ἔχοντος καὶ ζωῆς πάσης καὶ νοῦ παντός;
Ἐὰν οὖν λέγωμεν τὸ ποιῆσαν ταῦτα, καὶ πῶς ποιῆσαν; Καί, μὴ φανῆι
τι κρεῖττον, οὐκ ἄπεισιν ὁ λογισμὸς ἐπ᾽ ἄλλο, ἀλλὰ στήσεται αὐτοῦ.
Ἀλλὰ δεῖ ἀναβῆναι διά γε ἄλλα πολλὰ καὶ ὅτι τούτωι τὸ αὔταρκες ἐκ
πάντων ἔξω ἐστίν· ἕκαστον δὲ αὐτῶν δηλονότι ἐνδεές· καὶ ὅτι ἕκαστον
[τοῦ αὐτοῦ ἑνὸς] μετείληφε καὶ μετέχει [τοῦ αὐτοῦ] ἑνός, οὐκ αὐτὸ ἕν.
Τί οὖν τὸ οὗ μετέχει, ὃ ποιεῖ αὐτὸ καὶ εἶναι καὶ ὁμοῦ τὰ πάντα; Ἀλλ᾽ εἰ
ποιεῖ ἕκαστον εἶναι καὶ τῆι ἑνὸς παρουσίαι αὔταρκες τὸ πλῆθος αὐτοῦ
καὶ αὐτός, δηλονότι ποιητικὸν οὐσίας καὶ αὐταρκείας ἐκεῖνο αὐτὸ οὐκ
ὂν οὐσία, ἀλλ᾽ ἐπέκεινα ταύτης καὶ ἐπέκεινα αὐταρκείας. Ἀρκεῖ οὖν
ταῦτα λέγοντας ἀπαλλαχθῆναι; Ἢ ἔτι ἡ ψυχὴ ὠδίνει καὶ μᾶλλον. Ἴσως
οὖν χρὴ αὐτὴν ἤδη γεννῆσαι ἀίξασαν πρὸς αὐτὸ πληρωθεῖσαν ὠδίνων.
Οὐ μὴν ἀλλὰ πάλιν ἐπαιστέον, εἴ ποθέν τινα πρὸς τὴν ὠδῖνα ἐπωιδὴν
εὕροιμεν. Τάχα δὲ καὶ ἐκ τῶν ἤδη λεχθέντων, εἰ πολλάκις τις ἐπάιδοι,

96
Fórmula sintética para ‘o bem é princípio da inteligência, e a inteligência é princípio
da alma, que é vida’, assim quando a alma volta-se para a inteligência (ἐκεῖνο αὐτοῦ
ἀρχή), tem a vida que é em si, e quando a inteligência volta-se para o bem (ἐκεῖνο
αὐτοῦ ἀρχή), tem a inteligência que é em si.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 99

γένοιτο. Τίς οὖν ὥσπερ καινὴ ἐπωιδὴ ἄλλη; Ἐπιθέουσα γὰρ πᾶσι τοῖς
ἀληθέσι καὶ ὧν μετέχομεν ἀληθῶν ὅμως ἐκφεύγει, εἴ τις βούλοιτο
εἰπεῖν καὶ διανοηθῆναι, ἐπείπερ δεῖ τὴν διάνοιαν, ἵνα τι εἴπηι, ἄλλο καὶ
ἄλλο λαβεῖν· οὕτω γὰρ καὶ διέξοδος· ἐν δὲ πάντη ἁπλῶι διέξοδος τίς
ἐστιν; Ἀλλ᾽ ἀρκεῖ κἂν νοερῶς ἐφάψασθαι· ἐφαψάμενον δέ, ὅτε
ἐφάπτεται, πάντη μηδὲν μήτε δύνασθαι μήτε σχολὴν ἄγειν λέγειν,
ὕστερον δὲ περὶ αὐτοῦ συλλογίζεσθαι. Τότε δὲ χρὴ ἑωρακέναι
πιστεύειν, ὅταν ἡ ψυχὴ ἐξαίφνης φῶς λάβηι· τοῦτο γάρ – [τοῦτο τὸ φῶς]
– παρ᾽ αὐτοῦ καὶ αὐτός· καὶ τότε χρὴ νομίζειν παρεῖναι, ὅταν ὥσπερ
θεὸς ἄλλος [ὅταν] εἰς οἶκον καλοῦντός τινος ἐλθὼν φωτίσηι· ἢ μηδ᾽
ἐλθὼν οὐκ ἐφώτισεν. Οὕτω τοι καὶ ψυχὴ ἀφώτιστος ἄθεος ἐκείνου·
φωτισθεῖσα δὲ ἔχει, ὃ ἐζήτει, καὶ τοῦτο τὸ τέλος τἀληθινὸν ψυχῆι,
ἐφάψασθαι φωτὸς ἐκείνου καὶ αὐτῶι αὐτὸ θεάσασθαι, οὐκ ἄλλου φωτί,
ἀλλ᾽ αὐτό, δι᾽ οὗ καὶ ὁρᾶι. Δι οὗ γὰρ ἐφωτίσθη, τοῦτό ἐστιν, ὃ δεῖ
θεάσασθαι· οὐδὲ γὰρ ἥλιον διὰ φωτὸς ἄλλου. Πῶς ἂν οὖν τοῦτο
γένοιτο; Ἄφελε πάντα.

17. Então o que é superior à vida consciente no mais alto grau, infalível
e irrepreensível, e à inteligência que tem tudo e a toda vida e a toda
inteligência? E caso digamos ser ‘o que cria isso’, como é o que cria?
E, [caso isso] não revele ser algo superior, o raciocínio não vai a parte
diversa, mas estará no mesmo ponto. Mas é preciso ir acima disso
através de múltiplas diversidades, porque para a inteligência o
autossuficiente é fora de todas as coisas; e cada uma delas, é claro, é
carente; e porque cada uma tomou parte [do uno da inteligência] e
participa [dele], não é o próprio uno. O que é, então, aquilo de que cada
coisa participa97, que cria o ‘mesmo’ e o ‘ser’ e ao mesmo tempo todas
as coisas? Mas se [o uno da inteligência] faz cada coisa ser e pela
presença do uno ela [faz] o múltiplo dela ser autossuficiente, isso

97
Cada coisa participa do uno pela inteligência.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 100

também é ela mesma, é claro que aquilo relativo a criar essência e


autossuficiência é aquilo mesmo que não é essência, mas é além dela98
e de autossuficiência.

Então basta afastar-se, tendo dito essas coisas? Certamente a alma sente
ainda mais dor de parto. Então talvez é necessidade ela, ao lançar-se a
ele, já gerar, tendo-se enchido de dores de parto. Ainda não, mas deve-
se lançar de novo, caso de algum lugar encontremos algum
encantamento para a dor de parto. Talvez isso seja desde as coisas já
ditas, se muitas vezes alguém o entoar, isso virá a ser. Então que
encantamento diverso haveria como novidade? Pois ao percorrer todas
as verdades de que participamos, das verdades, contudo, se desvia, se
alguém quiser dizer e desenvolver o raciocínio, uma vez que é preciso
o raciocínio, para que alguém diga, por tomar uma coisa e outra; pois
assim haverá uma saída; mas no totalmente simples que saída há? Mas
basta tocar99 de modo inteligente; e sendo tocado, quando é tocado,
nada há absolutamente: nem é capaz nem há tempo de dizer,
posteriormente [é possível] conjecturar sobre isso. Há necessidade
então de confiar ter visto, quando a alma subitamente100 tome uma luz;

98
Platão, Politeia 509b: Καὶ τοῖς γιγνωσκομένοις τοίνυν μὴ μόνον τὸ γιγνώσκεσθαι
φάναι ὑπὸ τοῦ ἀγαθοῦ παρεῖναι, ἀλλὰ καὶ τὸ εἶναί τε καὶ τὴν οὐσίαν ὑπ’ ἐκείνου
αὐτοῖς προσεῖναι, οὐκ οὐσίας ὄντος τοῦ ἀγαθοῦ, ἀλλ’ ἔτι ἐπέκεινα τῆς οὐσίας
πρεσβείᾳ καὶ δυνάμει ὑπερέχοντος (portanto às coisas que vêm a ser não apenas o vir
a ser diz ser presente por causa do bem, mas também o ser e a essência haver para elas
por causa dele, ele não sendo essência do bem, mas sendo ainda além da essência em
dignidade e potência).
99
Conforme se diz no livro 3, 10, esse contato é (θίξις/ἐπάφη), sem palavra nem
pensamento.
100
Platão, Simpósio 210e: θεώμενος ἐφεξῆς τε καὶ ὀρθῶς τὰ καλά, πρὸς τέλος ἤδη
ἰὼν τῶν ἐρωτικῶν ἐξαίφνης κατόψεταί τι θαυμαστὸν τὴν φύσιν καλόν (em seguida
contemplando corretamente as coisas belas, indo para o termo das coisas de eros,
subitamente observará algo admirável, belo de natureza). Carta VII 341c-d: ῥητὸν γὰρ
οὐδαμῶς ἐστιν ὡς ἄλλα μαθήματα, ἀλλ’ ἐκ πολλῆς συνουσίας γιγνομένης περὶ τὸ

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 101

pois isso [essa luz] é da parte dele mesmo e é ele mesmo. Há


necessidade então considerar que ele é presente, como quando um deus
diverso101 ilumine, tendo vindo à casa de alguém que o chama;
certamente não tendo vindo, não ilumina. Assim a alma não iluminada
é sem a divindade daquela [luz]; tendo sido iluminada, tem o que
buscava, e esse é o verdadeiro fim para a alma: ser tocada da luz daquele
[deus] e por essa mesma contemplá-lo, não por luz diversa. Mas é essa
mesma [luz] pela qual [a alma] também vê. Pois pelo que foi iluminada,
é isso que é preciso contemplar; pois nem [se contempla] o sol por luz
diversa. Como então isso viria a ser? Afasta-te de tudo102.

πρᾶγμα αὐτὸ καὶ τοῦ συζῆν ἐξαίφνης, οἷον ἀπὸ πυρὸς πηδήσαντος ἐξαφθὲν φῶς, ἐν
τῇ ψυχῇ γενόμενον αὐτὸ ἑαυτὸ ἤδη τρέφει (pois de modo algum se pode dizer como
diversos ensinamentos, mas quando desde muita proximidade vem a ser ao próprio
fato do súbito conviver, tal que uma luz, que se liga a um fogo que irrompe, que, vindo
a ser na alma, já nutre a si mesma).
101
Homero, Odisseia XIX 33: πάροιθε δὲ Παλλὰς Ἀθήνη χρύσεον λύχνον ἔχουσα
φάος περικαλλὲς ἐποίει (adiante, Palas Atena tendo áurea lâmpada, criava em torno
belo lume). Hino a Deméter 278-280: τῆλε δὲ φέγγος ἀπὸ χροὸς ἀθανάτοιο / λάμπε
θεᾶς, ξανθαὶ δὲ κόμαι κατενήνοθεν ὤμους, / αὐγῆς δ’ ἐπλήσθη πυκινὸς δόμος
ἀστεροπῆς ὥς (ao longe, brilhava um fulgor a partir do colorido imortal da deusa, os
louros cachos descendo aos ombros, e um clarão de fogo como de relâmpago encheu
a casa).
102
Ἄφελε πάντα, conceito formular que representa o meio de acesso ao uno, que se
pode entender como ‘afasta tudo’ ou ‘afasta-te de tudo’.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 102

ENÉADA V

Livro IV

Introdução

V 4 (7)

Sétimo tratado na ordem cronológica, que remete ao que se diz no


Timeu e no Parmênides sobre o primeiro princípio, ou seja, o Uno, que
necessariamente é o princípio de tudo. Para isso é preciso que algo
venha a ser a partir dele, do qual haverá tudo o que há; pois o criador
não cria o que não gera, porque este deve imitá-lo. Se ele for perfeito,
sua potência será primeira, e o que foi criado será honorável e criador
segundo de tudo que há, que o imita gerando a sua descendência. Assim,
há a primeira hipóstase, a que a segundo se reconduz, e a esta, a terceira.
O primeiro princípio é simples porque não precisa de nada, pois é
absolutamente autossuficiente e primeiro de todas as coisas, às quais
não se mistura, mesmo sendo sua fonte inesgotável; e como é além da
essência, é único, porque é impossível haver outro tal como ele. Aquém
dele há o diferente dele, que se reconduz a ele imitando-o, sendo uno-
múltiplo, porque gera em multiplicidade. Por essa multiplicidade são
gerados os inteligíveis, que sempre são, e as coisas sensíveis, que
sempre vêm a ser, conforme se diz no Timeu, 28a. Assim, toda natureza
cria e recria os seres olhando para a eternidade do criador. Desse modo,
a primeira hipóstase é potência de todas as coisas, a segunda é já todas
as coisas; aquele, portanto, é além de todas as coisas, inclusive da

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 103

essência. Esta é o que é (τὸ ὄν), e o que é também é da inteligência,


então o primeiro princípio é além da inteligência, porque ela é ao
mesmo tempo o que pensa e o que é pensado, diferente da sensação,
que é das coisas sensíveis, mas estas são anteriores àquela, ou seja,
sempre algo sensível, posterior, é reportado à sensação; nenhum
inteligível é reportado à inteligência, pois ela é ao mesmo tempo todos
os inteligíveis. A atividade da inteligência é o ato de pensar (νόησις)
que olha para o inteligível, e é este que o define, ou seja, o ato de pensar
se define quando a inteligência se volta para o uno. A inteligência
quando parte do uno é díade indefinível, porque busca como que às
cegas, e pelo ato de pensar concebe as formas e os números, formando
uma só coisas com estes, mas só os define ao se voltar ao uno. Por isso
ela não pode ser simples, sendo múltipla porque é composta, mas
composta pelos inteligíveis, então é dual: o que pensa e o que é pensado.
O uno cria a inteligência permanecendo em si mesmo, não necessitando
de nada, o que pensa, ao contrário, necessita do que lhe é anterior para
se definir. O uno se depreende tendo consciência de si mesmo, em
eterno repouso, diferente da consciência segundo o ato de pensar, que
busca sua definição, sendo atividade da inteligência. O ato de pensar
vem a ser do uno – que permanece – sendo e pensando, como imitação
do primeiro inteligível, o uno. A inteligência é ser e pensar porque a
essência própria é cada coisa, diferente da essência de algo, que se
restringe algo. Como o uno permanece em si mesmo, chega ao ser e à
essência, que é da inteligência, portanto ele é além da essência e da
própria inteligência.

δʹ

Πῶς ἀπὸ τοῦ πρώτου τὸ μετὰ τὸ πρῶτον καὶ περὶ τοῦ ἑνός

1. Εἴ τι ἔστι μετὰ τὸ πρῶτον, ἀνάγκη ἐξ ἐκείνου εἶναι ἢ εὐθὺς ἢ τὴν


ἀναγωγὴν ἐπ᾽ ἐκεῖνο διὰ τῶν μεταξὺ ἔχειν, καὶ τάξιν εἶναι δευτέρων καὶ
τρίτων, τοῦ μὲν ἐπὶ τὸ πρῶτον τοῦ δευτέρου ἀναγομένου, τοῦ δὲ τρίτου

SUMÁRIO
P l o t i n o | 104

ἐπὶ τὸ δεύτερον. Δεῖ μὲν γάρ τι πρὸ πάντων εἶναι – ἁπλοῦν τοῦτο – καὶ
πάντων ἕτερον τῶν μετ᾽ αὐτό, ἐφ᾽ ἑαυτοῦ ὄν, οὐ μεμιγμένον τοῖς ἀπ᾽
αὐτοῦ, καὶ πάλιν ἕτερον τρόπον τοῖς ἄλλοις παρεῖναι δυνάμενον, ὂν
ὄντως ἕν, οὐχ ἕτερον ὄν, εἶτα ἕν, καθ᾽ οὗ ψεῦδος καὶ τὸ ἓν εἶναι, οὗ μὴ
λόγος μηδὲ ἐπιστήμη, ὃ δὴ καὶ ἐπέκεινα λέγεται εἶναι οὐσίας – εἰ γὰρ
μὴ ἁπλοῦν ἔσται συμβάσεως ἔξω πάσης καὶ συνθέσεως καὶ ὄντως ἕν,
οὐκ ἂν ἀρχὴ εἴη – αὐταρκέστατόν τε τῶι ἁπλοῦν εἶναι καὶ πρῶτον
ἁπάντων· τὸ γὰρ τὸ μὴ πρῶτον ἐνδεὲς τοῦ πρὸ αὐτοῦ, τό τε μὴ ἁπλοῦν
τῶν ἐν αὐτῶι ἁπλῶν δεόμενον, ἵν᾽ ἦι ἐξ ἐκείνων. Τὸ δὴ τοιοῦτον ἓν
μόνον δεῖ εἶναι· ἄλλο γὰρ εἰ εἴη τοιοῦτον, ἓν ἂν εἴη τὰ ἄμφω. Οὐ γὰρ
δὴ σώματα λέγομεν δύο, ἢ τὸ ἓν πρῶτον σῶμα. Οὐδὲν γὰρ ἁπλοῦν
σῶμα, γινόμενόν τε τὸ σῶμα, ἀλλ᾽ οὐκ ἀρχή· ἡ δὲ ἀρχὴ ἀγένητος· μὴ
σωματικὴ δὲ οὖσα, ἀλλ᾽ ὄντως μία, ἐκεῖνο ἂν εἴη τὸ πρῶτον. Εἰ ἄρα
ἕτερόν τι μετὰ τὸ πρῶτον εἴη, οὐκ ἂν ἔτι ἁπλοῦν εἴη· ἓν ἄρα πολλὰ
ἔσται. Πόθεν οὖν τοῦτο; Ἀπὸ τοῦ πρώτου· οὐ γὰρ δὴ κατὰ συντυχίαν,
οὐδ᾽ ἂν ἔτι ἐκεῖνο πάντων ἀρχή. Πῶς οὖν ἀπὸ τοῦ πρώτου; Εἰ τέλεόν
ἐστι τὸ πρῶτον καὶ πάντων τελεώτατον καὶ δύναμις ἡ πρώτη, δεῖ
πάντων τῶν ὄντων δυνατώτατον εἶναι, καὶ τὰς ἄλλας δυνάμεις καθόσον
δύνανται μιμεῖσθαι ἐκεῖνο. Ὅ τι δ᾽ ἂν τῶν ἄλλων εἰς τελείωσιν ἴηι,
ὁρῶμεν γεννῶν καὶ οὐκ ἀνεχόμενον ἐφ᾽ ἑαυτοῦ μένειν, ἀλλ᾽ ἕτερον
ποιοῦν, οὐ μόνον ὅ τι ἂν προαίρεσιν ἔχηι, ἀλλὰ καὶ ὅσα φύει ἄνευ
προαιρέσεως, καὶ τὰ ἄψυχα δὲ μεταδιδόντα ἑαυτῶν καθόσον δύναται·
οἷον τὸ πῦρ θερμαίνει, καὶ ψύχει ἡ χιών, καὶ τὰ φάρμακα δὲ εἰς ἄλλο
ἐργάζεται οἷον αὐτά – πάντα τὴν ἀρχὴν κατὰ δύναμιν ἀπομιμούμενα
εἰς ἀιδιότητά τε καὶ ἀγαθότητα. Πῶς οὖν τὸ τελεώτατον καὶ τὸ πρῶτον
ἀγαθὸν ἐν αὑτῶι σταίη ὥσπερ φθονῆσαν ἑαυτοῦ ἢ ἀδυνατῆσαν, ἡ
πάντων δύναμις; Πῶς δ᾽ ἂν ἔτι ἀρχὴ εἴη; Δεῖ δή τι καὶ ἀπ᾽ αὐτοῦ
γενέσθαι, εἴπερ ἔσται τι καὶ τῶν ἄλλων παρ᾽ αὐτοῦ γε ὑποστάντων· ὅτι
μὲν γὰρ ἀπ᾽ αὐτοῦ, ἀνάγκη. Δεῖ δὴ καὶ τιμιώτατον εἶναι τὸ γεννῶν τὰ
ἐφεξῆς· δεῖ δὴ καὶ τιμιώτατον εἶναι τὸ γεννώμενον καὶ δεύτερον
ἐκείνου τῶν ἄλλων ἄμεινον εἶναι.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 105

V, 4 (7)

Como a partir do primeiro é o que vem depois do


primeiro, e sobre o Uno.

1. Se algo há depois do primeiro, necessidade é ou ser desde ele


diretamente ou haver a recondução a ele através de elementos
intermédios, e haver uma ordem segunda e terceira, o segundo sendo
reconduzido ao primeiro, e o terceiro ao segundo103. De fato é preciso
haver algo antes de todas as coisas – isso sendo simples – e diferente de
todas as coisas que são depois dele mesmo; sendo em si mesmo, porque
não está misturado às coisas a partir dele mesmo, sendo capaz de ser
presente novamente de um modo diferente às coisas diversas, porque é
realmente uno, não sendo diferente e depois uno, segundo o que é falso
ser o uno104, do qual não há razão nem conhecimento, que na verdade
se diz ser além da essência105 - pois se não for algo que é simples e

103
Platão, Carta II 312e: ὧδε γὰρ ἔχει. περὶ τὸν πάντων βασιλέα πάντ’ ἐστὶ καὶ ἐκείνου
ἕνεκα πάντα, καὶ ἐκεῖνο αἴτιον ἁπάντων τῶν καλῶν· δεύτερον δὲ πέρι τὰ δεύτερα, καὶ
τρίτον πέρι τὰ τρίτα (Pois assim está: em torno do rei de todas as coisas tudo está, e
por causa dele é tudo, ele é causador de todas as coisas belas; em torno do segundo é
a ordem segunda, e em torno do terceiro é a ordem terceira).
104
Platão, Parmênides 142a: Οὐδ’ ἄρα ὄνομα ἔστιν αὐτῷ οὐδὲ λόγος οὐδέ τις
ἐπιστήμη οὐδὲ αἴσθησις οὐδὲ δόξα (portanto não há nome para ele, nem razão, nem
algum conhecimento, nem sensação, nem opinião).
105
Platão, Politeia 509b: Καὶ τοῖς γιγνωσκομένοις τοίνυν μὴ μόνον τὸ γιγνώσκεσθαι
φάναι ὑπὸ τοῦ ἀγαθοῦ παρεῖναι, ἀλλὰ καὶ τὸ εἶναί τε καὶ τὴν οὐσίαν ὑπ’ ἐκείνου
αὐτοῖς προσεῖναι, οὐκ οὐσίας ὄντος τοῦ ἀγαθοῦ, ἀλλ’ ἔτι ἐπέκεινα τῆς οὐσίας
πρεσβείᾳ καὶ δυνάμει ὑπερέχοντος (portanto às coisas que vêm a ser não apenas o vir
a ser diz ser presente por causa do bem, mas também o ser e a essência haver para elas

SUMÁRIO
P l o t i n o | 106

realmente uno, fora de toda convenção e composição, não seria


princípio – por ser simples é absolutamente autossuficiente e primeiro
de todas as coisas; pois o que não é primeiro é necessitado daquilo que
é anterior a ele, e o que não é simples é o que necessita das coisas
simples em si mesmo, para que seja desde elas. Então é preciso apenas
o uno ser tal; pois se houvesse outro tal, ambos seriam uno. Pois na
verdade não dizemos ser dois corpos, ou o uno ser primeiro corpo. Pois
nenhum corpo é simples, porque veio a ser o corpo, mas princípio não
veio a ser; o princípio é não-gerável106, pois não é corpóreo, mas em
realidade uno, isso seria o primeiro. Portanto, se houver algo diferente
além do primeiro, não seria mais algo simples, será uno-múltiplo107. De
onde então [será] esse [uno-múltiplo]? É a partir do primeiro; na
verdade isso não é segundo circunstância, pois aquele [primeiro] nem
mais seria princípio de todas as coisas. Como então é a partir do
primeiro? Se perfeito é o primeiro, o mais perfeito de todas as coisas e
potência primeira, é preciso ser o mais potente de todas as coisas que
são, e [é preciso] as outras potências imitá-lo, quanto possam. E o que
dentre as coisas diversas chegar à perfeição, vemo-lo a gerar e a não
suportar permanecer em si mesmo, mas a criar um diferente; não apenas
o que tenha alguma escolha, mas também quantos gêneros são por
natureza sem escolha, e os gêneros inanimados que dão de si mesmos
quanto podem; tal que o fogo esquenta, a neve esfria, e os fármacos
elaboram tal que eles mesmos em um diverso, tudo tentando quanto
possível imitar o princípio para eternidade e bondade. Como, então, o

por causa dele, ele não sendo essência do bem, mas sendo ainda além da essência em
dignidade e potência).
106
Platão, Fedro 245d: ἀρχὴ δὲ ἀγένητον (o princípio é não gerável).
107
Platão, Parmênides 144e: Τὸ ἓν ἄρα αὐτὸ κεκερματισμένον ὑπὸ τῆς οὐσίας πολλά
τε καὶ ἄπειρα τὸ πλῆθός ἐστιν (portanto, o próprio uno que foi cunhado pela essência
é a multiplicidade das coisas múltiplas e infinitas).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 107

mais perfeito e o primeiro bem ficaria em si mesmo108, assim carecendo


de si mesmo ou sendo impotente, sendo a potência de todas as coisas?
Como seria ainda princípio? É preciso que algo venha a ser, e algo a
partir disso, se é que haverá algo dentre as coisas diversas que se
sustentam da parte dele; porque é necessidade ser a partir dele. Portanto,
o que é gerado é preciso ser o mais honorável e segundo, depois daquele
[primeiro], para ser melhor do que as coisas diversas.

2. Εἰ μὲν οὖν αὐτὸ νοῦς ἦν τὸ γεννῶν, νοῦ ἐνδεέστερον, προσεχέστερον


δὲ νῶι καὶ ὅμοιον δεῖ εἶναι· ἐπεὶ δὲ ἐπέκεινα νοῦ τὸ γεννῶν, νοῦν εἶναι
ἀνάγκη. Διὰ τί δὲ οὐ νοῦς, οὗ ἐνέργειά ἐστι νόησις; Νόησις δὲ τὸ νοητὸν
ὁρῶσα καὶ πρὸς τοῦτο ἐπιστραφεῖσα καὶ ἀπ᾽ ἐκείνου οἷον
ἀποτελουμένη καὶ τελειουμένη ἀόριστος μὲν αὐτὴ ὥσπερ ὄψις,
ὁριζομένη δὲ ὑπὸ τοῦ νοητοῦ. Διὸ καὶ εἴρηται· ἐκ τῆς ἀορίστου δυάδος
καὶ τοῦ ἑνὸς τὰ εἴδη καὶ οἱ ἀριθμοί· τοῦτο γὰρ ὁ νοῦς. Διὸ οὐχ ἁπλοῦς,
ἀλλὰ πολλά, σύνθεσίν τε ἐμφαίνων, νοητὴν μέντοι, καὶ πολλὰ ὁρῶν
ἤδη. Ἔστι μὲν οὖν καὶ αὐτὸς νοητόν, ἀλλὰ καὶ νοῶν· διὸ δύο ἤδη. Ἔστι
δὲ καὶ ἄλλο τῶι μετ᾽ αὐτὸ νοητόν. Ἀλλὰ πῶς ἀπὸ τοῦ νοητοῦ ὁ νοῦς
οὗτος; Τὸ νοητὸν ἐφ᾽ ἑαυτοῦ μένον καὶ οὐκ ὂν ἐνδεές, ὥσπερ τὸ ὁρῶν
καὶ τὸ νοοῦν – ἐνδεὲς δὲ λέγω τὸ νοοῦν ὡς πρὸς ἐκεῖνο – οὐκ ἔστιν οἷον
ἀναίσθητον, ἀλλ᾽ ἔστιν αὐτοῦ πάντα ἐν αὐτῶι καὶ σὺν αὐτῶι, πάντη
διακριτικὸν ἑαυτοῦ, ζωὴ ἐν αὐτῶι καὶ πάντα ἐν αὐτῶι, καὶ ἡ κατανόησις
αὐτοῦ αὐτὸ οἱονεὶ συναισθήσει οὖσα ἐν στάσει ἀιδίωι καὶ νοήσει
ἑτέρως ἢ κατὰ τὴν νοῦ νόησιν. Εἴ τι οὖν μένοντος αὐτοῦ ἐν αὐτῶι
γίνεται, ἀπ᾽ αὐτοῦ τοῦτο γίνεται, ὅταν ἐκεῖνο μάλιστα ἦι ὅ ἐστι.
Μένοντος οὖν αὐτοῦ ἐν τῶι οἰκείωι ἤθει ἐξ αὐτοῦ μὲν τὸ γινόμενον
γίνεται, μένοντος δὲ γίνεται. Ἐπεὶ οὖν ἐκεῖνο μένει νοητόν, τὸ
γινόμενον γίνεται νόησις· νόησις δὲ οὖσα καὶ νοοῦσα ἀφ᾽ οὗ ἐγένετο –

108
Platão, Timeu 29e: ἀγαθὸς ἦν, ἀγαθῷ δὲ οὐδεὶς περὶ οὐδενὸς οὐδέποτε ἐγγίγνεται
φθόνος (ele era o bem, e ao bem nenhuma carência vem a ser jamais de nada).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 108

ἄλλο γὰρ οὐκ ἔχει – νοῦς γίγνεται, ἄλλο οἷον νοητὸν καὶ οἷον ἐκεῖνο
καὶ μίμημα καὶ εἴδωλον ἐκείνου. Ἀλλὰ πῶς μένοντος ἐκείνου γίνεται;
Ἐνέργεια ἡ μέν ἐστι τῆς οὐσίας, ἡ δ᾽ ἐκ τῆς οὐσίας ἑκάστου· καὶ ἡ μὲν
τῆς οὐσίας αὐτό ἐστιν ἐνέργεια ἕκαστον, ἡ δὲ ἀπ᾽ ἐκείνης, ἣν δεῖ παντὶ
ἕπεσθαι ἐξ ἀνάγκης ἑτέραν οὖσαν αὐτοῦ· οἷον καὶ ἐπὶ τοῦ πυρὸς ἡ μέν
τίς ἐστι συμπληροῦσα τὴν οὐσίαν θερμότης, ἡ δὲ ἀπ᾽ ἐκείνης ἤδη
γινομένη ἐνεργοῦντος ἐκείνου τὴν σύμφυτον τῆι οὐσίαι ἐν τῶι μένειν
πῦρ. Οὕτω δὴ κἀκεῖ· καὶ πολὺ πρότερον ἐκεῖ μένοντος αὐτοῦ ἐν τῶι
οἰκείωι ἤθει ἐκ τῆς ἐν αὐτῶι τελειότητος καὶ συνούσης ἐνεργείας ἡ
γεννηθεῖσα ἐνέργεια ὑπόστασιν λαβοῦσα, ἅτε ἐκ μεγάλης δυνάμεως,
μεγίστης μὲν οὖν ἁπασῶν, εἰς τὸ εἶναι καὶ οὐσίαν ἦλθεν· ἐκεῖνο γὰρ
ἐπέκεινα οὐσίας ἦν. Καὶ ἐκεῖνο μὲν δύναμις πάντων, τὸ δὲ ἤδη τὰ
πάντα. Εἰ δὲ τοῦτο τὰ πάντα, ἐκεῖνο ἐπέκεινα τῶν πάντων· ἐπέκεινα ἄρα
οὐσίας· καὶ εἰ τὰ πάντα, πρὸ δὲ πάντων τὸ ἓν οὐ τὸ ἴσον ἔχον τοῖς πᾶσι,
καὶ ταύτηι δεῖ ἐπέκεινα εἶναι τῆς οὐσίας. Τοῦτο δὲ καὶ νοῦ· ἐπέκεινα
ἄρα τι νοῦ. Τὸ γὰρ ὂν οὐ νεκρὸν οὐδὲ οὐ ζωὴ οὐδὲ οὐ νοοῦν· νοῦς δὴ
καὶ ὂν ταὐτόν. Οὐ γὰρ τῶν πραγμάτων ὁ νοῦς – ὥσπερ ἡ αἴσθησις τῶν
αἰσθητῶν – προόντων, ἀλλ᾽ αὐτὸς νοῦς τὰ πράγματα, εἴπερ μὴ εἴδη
αὐτῶν κομίζεται. Πόθεν γάρ; Ἀλλ᾽ ἐνταῦθα μετὰ τῶν πραγμάτων καὶ
ταὐτὸν αὐτοῖς καὶ ἕν· καὶ ἡ ἐπιστήμη δὲ τῶν ἄνευ ὕλης τὰ πράγματα.

2. Se então inteligência fosse o próprio que gera, seria mais necessitado


de inteligência, é preciso ser mais próximo e semelhante à inteligência;
uma vez que o que gera é além da inteligência, é necessidade [o que é
gerado] ser inteligência. E por que não será inteligência [aquele
princípio] cuja atividade é o ato de pensar? É o ato de pensar que olha
o inteligível, porque se volta para ele, como que se aperfeiçoa a partir
dele, e sendo perfeito ele é como visão indefinível, porque é delimitado

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 109

pelo inteligível109. Por isso também está dito: desde a indefinível díade
e do uno são as formas e os números; pois isso é a inteligência110. Por
isso [ela] não é simples, mas múltipla, manifestando composição,
contudo inteligível, e vendo já muitas coisas. Então ela mesma é
inteligível, mas também ο que pensa111: por isso já é dual. E é também
um diverso inteligível por ser depois do próprio [inteligível-uno]. Mas
como a partir do inteligível é essa inteligência? Porque o inteligível
permanece em si mesmo e não é necessitado, como é o que vê e o que
pensa – digo ser necessitado o que pensa, assim em relação àquele [uno]
– não é tal que insensível, mas tudo de si é em si mesmo e consigo
mesmo, totalmente discernível de si mesmo, vida é nele, tudo é nele, e
a depreensão de si é ele mesmo, tal que por consciência112, sendo em
repouso eterno e em ato de pensar de modo diferente da consciência
segundo o ato de pensar da inteligência. E se algo, o uno permanecendo
em si, vem a ser nele, a partir dele isso vem a ser, quando aquele [uno]
seja o que é, no mais alto grau. Então, o uno permanecendo em seu
particular caráter113, desde ele vem a ser o que vem a ser, e isso vem a
ser, porque ele permanece. Uma vez que aquele [uno] permanece
inteligível, o que vem a ser vem a ser ato de pensar; sendo e pensando
o ato pensar veio a ser a partir daquele [uno] – pois não há outro –,

109
O ato de pensar (νόησις) está para o inteligível, assim como o inteligível está para
a Inteligência, e a Inteligência está para o Uno, ou seja, o ato de pensar só se define
quando se volta para o inteligível.
110
Díade indefinível (δυὰς ἀόριστος) é a Inteligência quando parte do Uno, mas ainda
não se voltou a ele.
111
A inteligência é ao mesmo tempo ‘objeto’ pensado e ‘sujeito’ pensante.
112
Espécie de metaconsciência em que há ao mesmo tempo sujeito pensante e objeto
pensado.
113
Platão, Timeu 42e: Καὶ ὁ μὲν δὴ ἅπαντα ταῦτα διατάξας ἔμενεν ἐν τῷ ἑαυτοῦ κατὰ
τρόπον ἤθει (e tendo ordenado todas essas coisas, ele permaneceu na característica de
seu modo próprio).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 110

inteligência vem a ser, um inteligível diverso em relação àquele [uno],


uma imitação e visagem dele. Mas como, permanecendo aquele [uno],
vem a ser [inteligência]? Há a atividade da essência e a que é desde a
essência de cada coisa; a da essência é atividade como cada coisa
propriamente, a que é a partir dessa, que é diferente da própria coisa, é
preciso seguir tudo por necessidade; tal que no fogo um é certo calor
que lhe complementa a essência, outro é o que já vem a ser a partir
daquele calor, no permanecer fogo pela essência conatural daquele fogo
em atividade. Assim é também aqui; e muito antes ali, permanecendo
ele em seu familiar caráter, a atividade que foi gerada desde a atividade
mais perfeita e em conjunto consigo mesmo, porque toma hipóstase,
enquanto é de grande potência, na verdade, a maior de todas, chega ao
ser e à essência; pois aquele [primeiro] era além da essência114. E aquele
[primeiro] é potência de todas as coisas, o outro [princípio] é já todas
as coisas. E se este é todas as coisas, aquele é além de todas as coisas:
portanto é além da essência; e se [este] é todas as coisas, o uno é antes
de todas as coisas, não sendo igual a todas as coisas, e aí é preciso ele
ser além da essência. Esse ‘que é’ sendo também de inteligência;
portanto, [o uno] é algo além da inteligência. Pois o ‘que é’ nem é
cadáver nem não-vida nem não pensante115; na verdade inteligência e o

114
Platão, Politeia 509b: Καὶ τοῖς γιγνωσκομένοις τοίνυν μὴ μόνον τὸ γιγνώσκεσθαι
φάναι ὑπὸ τοῦ ἀγαθοῦ παρεῖναι, ἀλλὰ καὶ τὸ εἶναί τε καὶ τὴν οὐσίαν ὑπ’ ἐκείνου
αὐτοῖς προσεῖναι, οὐκ οὐσίας ὄντος τοῦ ἀγαθοῦ, ἀλλ’ ἔτι ἐπέκεινα τῆς οὐσίας
πρεσβείᾳ καὶ δυνάμει ὑπερέχοντος (portanto às coisas que vêm a ser não apenas o vir
a ser diz ser presente por causa do bem, mas também o ser e a essência haver para elas
por causa dele, ele não sendo essência do bem, mas sendo ainda além da essência em
dignidade e potência).
115
Platão, Sofista 248e – 249a: τόδε γε, ὡς τὸ γιγνώσκειν εἴπερ ἔσται ποιεῖν τι, τὸ
γιγνωσκόμενον ἀναγκαῖον αὖ συμβαίνει πάσχειν. τὴν οὐσίαν δὴ κατὰ τὸν λόγον
τοῦτον γιγνωσκομένην ὑπὸ τῆς γνώσεως, καθ’ ὅσον γιγνώσκεται, κατὰ τοσοῦτον
κινεῖσθαι διὰ τὸ πάσχειν, ὃ δή φαμεν οὐκ ἂν γενέσθαι περὶ τὸ ἠρεμοῦν (Então é isto:
se o reconhecer for criar algo, o que é reconhecido por sua vez é forçado a incidir no
sofrer. Portanto, a essência segundo esse raciocínio é reconhecida pelo ato de

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 111

que é são o mesmo. Pois a inteligência não é das coisas feitas – como a
sensação é das coisas sensíveis – que são antes da sensação, mas a
própria inteligência é as coisas feitas, se é que as formas delas não são
reportadas a ela. Pois de onde [se reportariam a ela]? Mas [a
inteligência] ali é com as coisas feitas, igual a elas, sendo uma só coisa;
e o conhecimento das coisas sem matéria [são] as coisas feitas116.

reconhecer, e ela se reconhece tanto quanto se move pelo sofrer, que dizemos não vir
ser no que está quieto).
116
Aristóteles, De anima III 4, 430a 3-7: ἐπὶ μὲν γὰρ τῶν ἄνευ ὕλης τὸ αὐτό ἐστι τὸ
νοοῦν καὶ τὸ νοούμενον· ἡ γὰρ ἐπιστήμη ἡ θεωρητικὴ καὶ τὸ οὕτως ἐπιστητὸν τὸ αὐτό
ἐστιν (τοῦ δὲ μὴ ἀεὶ νοεῖν τὸ αἴτιον ἐπισκεπτέον)· ἐν δὲ τοῖς ἔχουσιν ὕλην δυνάμει
ἕκαστον ἔστι τῶν νοητῶν.( nas coisas sem matéria, o que pensa e o que é pensado é o
mesmo; pois o conhecimento contemplativo e o que realmente se pode conhecer é o
mesmo (deve-se examinar o causador de nem sempre pensar); cada um dos inteligíveis
é em potência nas coisas que têm matéria); De anima III 7, 430a 17: καὶ οὗτος ὁ νοῦς
χωριστὸς καὶ ἀπαθὴς καὶ ἀμιγής, τῇ οὐσίᾳ ὢν ἐνέργεια· ἀεὶ γὰρ τιμιώτερον τὸ ποιοῦν
τοῦ πάσχοντος καὶ ἡ ἀρχὴ τῆς ὕλης (essa inteligência é separável, impassível e sem
mistura, sendo em essência atividade; pois sempre é mais precioso o que cria do que
o que sofre, e o princípio, do que a matéria).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 112

ENÉADA V

Livro V

Introdução

V 5 (32)

Trigésimo segundo tratado na ordem cronológica, que segundo Porfírio,


na Vida de Plotino 18, teve origem da necessidade de prova, para
Porfírio mesmo e para todos que duvidavam, de que a doutrina de seu
mestre não era cópia daquela de Numênio de Apamea, que pensava
diferente com relação aos inteligíveis, porque seriam fora da
inteligência, conforme se lê na linha 10: Διὸ καὶ ἀντιγράψας
προσήγαγον δεικνύναι πειρώμενος ὅτι ἔξω τοῦ νοῦ ὑφέστηκε τὸ νόημα
(Por isso tendo respondido por escrito enviei a ele tentando demonstrar
que o produto do pensamento subsiste fora da inteligência). Portanto,
não haveria verdade na inteligência, porque teria de receber de fora
essência e forma dos inteligíveis, o que abriria outra questão difícil,
onde estaria a verdade? Em nenhum outro lugar poderia subsistir a
verdade, porque a inteligência seria como a sensação, que de fato recebe
tudo de fora, daí ser opinião o seu produto, não verdade. É preciso a
inteligência saber sempre tudo por si mesma, não recebendo nada de

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 113

fora, sem nenhuma dúvida ou hesitação, sem nenhuma demonstração,


que seria instrumento do saber e algo necessário para o processo de
saber, o que faria da inteligência algo necessitado de algo, o que não
pode ser porque novamente isso viria de algo diverso dela, tal como é a
opinião para a sensação. Por isso ela é sujeito e objeto do que ‘vê’, pois
os inteligíveis são nela e têm inteligência dela, o que os torna partícipes
do ser e da vida, podendo transmitir essa potência como luz ao mundo
sensível, onde o ato de pensar a tem como sensação externa. No
inteligível a multiplicidade tende ao uno, sendo cada conceito como
belo e justo uma só coisa quando convergem ao uno, e isso acontece
quando a inteligência contempla o uno, de modo que não há lugar para
o inteligível fora da inteligência, como adverte a alegoria de Hesíodo,
na Teogonia 459-462, quando Cronos engole seus filhos. Quem tenta
reprovar essa tese acaba trazendo argumentos para ela mesma, pois
quem pode reprovar a verdade? A verdade diz que os inteligíveis são
fora da inteligência e que esta não tem marcas deles, porque, mesmo
estando junto, todos são uma só coisa que se multiplicam nas coisas que
são, conformando-se segundo o raciocínio, reflexo da inteligência. Para
isso ela contempla o uno porque deriva dele, essa autoconsciência
proporciona potência para viver e pensar, com seus reflexos no mundo
sensível; não há necessidade de demonstração ou de crença, pois a
inteligência se apoia em si mesma, e não em algo diverso, pois ela é o
que diz e é o que é. O uno que a cria é um rei diverso dos reis daqui,
porque tudo depende dele, e ele não depende de nada; a inteligência
progride a partir dele, tomando consciência de si, e cria os inteligíveis
ao voltar-se a ele, então cria a alma, que cria o universo. O conceito de
Zeus é imitação desse princípio, porque ele não esquece de imitar seu
pai, contemplando-o, que por sua vez contempla seu criador. Assim se
completa a procissão divina que tem princípio no Uno e a ele retorna
por contemplação. O Uno nem é substancial (ὁ οὐσιώδης ἀριθμὸς) nem
de certa quantidade (ὁ τοῦ ποσοῦ), pois é anterior a tudo; o substancial
apresenta sempre o ser, ou seja, é em essência, o de certa quantidade

SUMÁRIO
P l o t i n o | 114

apresenta sempre certa quantidade com outros números ou sozinho. O


uno que há neles depende do princípio original, este se mantendo o
mesmo, nem se alterando nem se anulando. Mas para vir a ser a díade
é preciso haver a unidade antes, que nem é unidade na díade nem uma
é diferente da outra, pois a díade agora é unidade, não sendo nenhuma
das unidades que a compõem. O princípio que permaneceu é diverso,
pois é perfeito e não precisa de nada; este permanece em cada unidade
que a díade envolve. Assim a unidade participa do uno, e também a
díade, mas de forma diversa, pois ela é una dependendo de sua
continuidade, não de número nem de certa quantidade, por exemplo
exército e casa podem constituir uma díade. De fato, nos números o um
é princípio de todos os outros, que participam dele e criam diversamente
as quantidades, porque o um hipóstase permanece, e outro, como
imagem, ou melhor, visagem dele, cria a diferença de número na
quantidade. Com o uno dá-se algo aproximado, pois ele permanece, e
não é outro que cria, pois tudo tem princípio nele mesmo. O número um
garante a quantidade por diversidade da participação dele pelos outros,
o uno garante a essência, por identidade ele mesmo na participação dele
pelos outros. A Inteligência, criação do Uno, ao se voltar a si mesma,
se estabiliza e vem a ser essência (οὐσία) e morada (ἑστία) de todas as
coisas, imitando a potência que corre desde o Uno. Isso é o que Alma
vê e se comove até irromper-lhe a voz: “ὄν, τὸ εἶναι, οὐσίαν e ἑστίαν”
para representar pelos sons o que é maravilha de se ver. Mas o próprio
nome de ‘uno’ não pode esclarecer aquela divina natureza, por mais que
tenha sido bem aplicado, como ao nomear um deus como Apolo, que
nega o múltiplo, pois tudo que se alcança pelo sentido não é digno de
tal natureza, porque o que gera forma inteligível não pode ser revelado
pelo sentido. Por isso não se pode dizer que é isso ou aquilo, pois ele é
sempre além, e além da essência. O que busca a natureza inteligível vai
além do sensível, para contemplar; o que busca o que é além do
inteligível vai além do inteligível, deixando de lado o que é ‘isso’ e o
que é, pois essa natureza divina é além de todo modo de expressão

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 115

sensível. Pode-se considerar a visão da inteligência com a visão do olho,


que vê os objetos iluminados, mas não vê a luz em si, porque a forma
da luz só é visível quando for em algo, mas ao se isolar de tudo que é
sensível o olho vê muito mais, pois estará diante da forma que faz ver,
assim também é a inteligência, que se isolando dos inteligíveis
contempla o princípio que faz ver, como luz pura e autêntica por si
mesma. A inteligência não vê o causador porque tornou-se o duplo que
se multiplica e assim concentrou-se nos inteligíveis, mas quando ela
olha para ele, tendo-se voltado e se doado toda a ele, ela o vê e se torna
mais forte e esplêndida, mesmo ele não vindo até ela, como alguém
julgaria, mas não tendo vindo veio, de modo que não haja lugar onde
não seja, mesmo não sendo em lugar algum. Não é preciso buscar de
onde o primeiro princípio tenha vindo, pois não há o ‘de onde’, mas é
preciso ficar tranquilo em si mesmo, tendo-se preparado, como se
prepara o iniciante aos grandes mistérios, como o olho se prepara
naturalmente para ver, conforme o sol nasce. Isso que o sol imita
‘nasce’ vindo acima da inteligência, que passa então a contemplá-lo.
Esse é o bem de todas as coisas, que são diversas e melhores umas que
outras, em relação a ele. Pois tudo que veio a ser veio a ser por algo
diverso que é superior, de que necessita em tudo; assim as últimas
coisas são geradas nas que lhes são superiores, até as primeiras que
nascem de um princípio, e este não está em nada antes dele, pois antes
dele nada há. Por isso compreende todas depois dele, não se dispersando
nelas, mas as contendo e não sendo contido. Assim não há lugar onde
não seja. E como é em toda parte, mas não sendo envolvido por nada,
ele é e não é, porque não há algo afastado dele, já que ele é em toda
parte em si mesmo. Em toda parte ele é inteiro, mas nenhuma o contém,
sem deixar de participar dele. Então todas as coisas em sua diversidade
são nele e por causa dele, mesmo aquelas que nunca serão menos, como
ele próprio, pois sua potência tem o infinito. Por isso não se deve
procurar vê-lo através de algo diferente dele mesmo, pois assim só se
pode ver marcas e não ele mesmo. Só se pode tomá-lo por inteiro com

SUMÁRIO
P l o t i n o | 116

o pensamento, lembrando que ele é o bem, potência causadora de vida


sensata e inteligente, e da essência e do ser, porque é uno, simples e
primeiro princípio, a partir de que são todas as coisas. Como ele não
tem limite, não tem nem parte nem figura, assim não é visto pelos olhos,
o que faz alguns homens acreditar que ele não exista, como se apenas o
que se vê pelos olhos existisse, mas como ele é além da essência e do
ser vê-lo não é para todos, apenas os que são capazes de chegar a ele
pela inteligência podem contemplá-lo, vendo o que realmente é o
mesmo e sempre. Para os que não conseguem, a vida é sonho, enquanto
dormem profundamente, acreditando ser real o que sonham, para os
outros, a verdadeira vida é despertar dessa vida sensível e olhar para ele
e contemplar o inteligível. O bem é senhor da potência inteira de todas
as coisas, pois ao criar o que vem a ser não necessita dele, e se fosse
possível a outro criar algo de si mesmo, isso não o afetaria, mas nada
pode ser criado agora, pois tudo que veio a ser é inteiro, porque é
produto de sua potência. É preciso vê-lo com os olhos não-sensíveis da
razão, pois só assim se pode contemplá-lo. Não é possível ser sem a sua
potência, por isso sua percepção não é sensorial, como acontece com o
belo ou com eros, que causam estupor e maravilha aos que os percebem,
pois esses já têm seu princípio nos sentidos. Mas o bem desde sempre
é conatural à aspiração, mesmo aos que dormem, ou seja, mesmo aos
que nessa vida têm nos sentidos a preferência de tudo. E é sem estupor
ou admiração, porque ele se impõe como algo natural; o belo, ao
contrário, se impõe pelo sofrimento, porque ao ansiar por ele surgem as
dores. Por isso nosso impulso nos diz que o bem é força mais original e
anterior ao belo, de modo que, quando se alcança o bem, isso satisfaz a
todos, mas ninguém se satisfaz ao alcançar o belo, pois ele vale apenas
para quem o tem, e mesmo que não o tenham, fingem que o têm,
satisfazendo-se por aparência, o que não é possível com o bem. Por um
lado, o bem é agradável, suave e delicado (ἤπιον καὶ προσηνὲς καὶ
ἁβρότερον), sempre presente para quem o deseja, por outro, o belo
causa emoções violentas de prazer misturado a dor (ἔκπληξιν καὶ

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 117

συμμιγῆ τῶι ἀλγύνοντι τὴν ἡδονήν), porque o bem é mais velho e


venerável e tem sua potência inteira, mas o belo só tem a potência que
decorre daquele, de modo não inteiro. Por isso o bem é senhor de tudo
e não precisa de nada do que criou. E o que cria é mais perfeito do que
o que é criado, porque o que é superior não pode provir do que é
inferior; o bem é superior a tudo que criou, porque é acima de tudo, não
dependendo de nada, causador de tudo, não misturado a nada. Por isso
nem mesmo um bem ele poderia ter em si, pois não seria mais ele, e sim
ele e outro, o que exigiria obter de outro diverso, não sendo mais um
só, mas dois. Assim ele nada tem e é único e isolado de tudo, mas tudo
depende dele. Se alguém, querendo defini-lo, acrescentar algo, seja
essência, inteligência ou beleza, o impede de ser o bem.

εʹ
Ὅτι οὐκ ἔξω τοῦ νοῦ τὰ νοιητὰ καὶ περὶ τἀγαθοῦ

1. Τὸν νοῦν, τὸν ἀληθῆ νοῦν καὶ ὄντως, ἆρ᾽ ἄν τις φαίη ψεύσεσθαί ποτε
καὶ μὴ τὰ ὄντα δοξάσειν; Οὐδαμῶς. Πῶς γὰρ ἂν ἔτι νοῦς ἀνοηταίνων
εἴη; Δεῖ ἄρα αὐτὸν ἀεὶ εἰδέναι καὶ μηδὲν ἐπιλαθέσθαι ποτέ, τὴν δὲ
εἴδησιν αὐτῶι μήτε εἰκάζοντι εἶναι μήτε ἀμφίβολον μηδ᾽ αὖ παρ᾽ ἄλλου
οἷον ἀκούσαντι. Οὐ τοίνυν οὐδὲ δι᾽ ἀποδείξεως. Καὶ γὰρ εἴ τινά τις φαίη
δι᾽ ἀποδείξεως, ἀλλ᾽ οὖν αὐτόθεν αὐτῶι ἐναργῆ τιν᾿ εἶναι. Καίτοι ὁ
λόγος φησὶ πάντα· πῶς γὰρ καὶ διοριεῖ τις τά τε αὐτόθεν τά τε μή; Ἀλλ᾽
οὖν, ἃ συγχωροῦσιν αὐτόθεν, πόθεν φήσουσι τούτων τὸ ἐναργὲς αὐτῶι
παρεῖναι; Πόθεν δὲ αὐτῶι πίστιν, ὅτι οὕτως ἔχει, παρέξεται; Ἐπεὶ καὶ
τὰ ἐπὶ τῆς αἰσθήσεως, ἃ δὴ δοκεῖ πίστιν ἔχειν ἐναργεστάτην, ἀπιστεῖται,
μή ποτε οὐκ ἐν τοῖς ὑποκειμένοις, ἀλλ᾽ ἐν τοῖς πάθεσιν ἔχει τὴν
δοκοῦσαν ὑπόστασιν καὶ νοῦ δεῖ ἢ διανοίας τῶν κρινούντων· ἐπεὶ καὶ
συγκεχωρημένου ἐν τοῖς ὑποκειμένοις εἶναι αἰσθητοῖς, ὧν ἀντίληψιν ἡ
αἴσθησις ποιήσεται, τό τε γινωσκόμενον δι᾽ αἰσθήσεως τοῦ πράγματος
εἴδωλόν ἐστι καὶ οὐκ αὐτὸ τὸ πρᾶγμα ἡ αἴσθησις λαμβάνει· μένει γὰρ
ἐκεῖνο ἔξω. Ὁ δὴ νοῦς γινώσκων καὶ τὰ νοητὰ γινώσκων, εἰ μὲν ἕτερα

SUMÁRIO
P l o t i n o | 118

ὄντα γινώσκει, πῶς μὲν ἂν συντύχοι αὐτοῖς; Ἐνδέχεται γὰρ μή, ὥστε
ἐνδέχεται μὴ γινώσκειν ἢ τότε ὅτε συνέτυχε, καὶ οὐκ ἀεὶ ἕξει τὴν
γνῶσιν. Εἰ δὲ συνεζεῦχθαι φήσουσι, τί τὸ συνεζεῦχθαι τοῦτο; Ἔπειτα
καὶ αἱ νοήσεις τύποι ἔσονται· εἰ δὲ τοῦτο, καὶ ἐπακτοὶ καὶ πληγαί. Πῶς
δὲ καὶ τυπώσεται, ἢ τίς τῶν τοιούτων ἡ μορφή; Καὶ ἡ νόησις τοῦ ἔξω
ὥσπερ ἡ αἴσθησις. Καὶ τί διοίσει ἢ τῶι σμικροτέρων ἀντιλαμβάνεσθαι;
Πῶς δὲ καὶ γνώσεται, ὅτι ἀντελάβετο ὄντως; Πῶς δέ, ὅτι ἀγαθὸν τοῦτο
ἢ ὅτι καλὸν ἢ δίκαιον; Ἕκαστον γὰρ τούτων ἄλλο αὐτοῦ, καὶ οὐκ ἐν
αὐτῶι αἱ τῆς κρίσεως ἀρχαί, αἷς πιστεύσει, ἀλλὰ καὶ αὗται ἔξω, καὶ ἡ
ἀλήθεια ἐκεῖ. Εἶτα κἀκεῖνα ἀναίσθητα καὶ ἄμοιρα ζωῆς καὶ νοῦ, ἢ νοῦν
ἔχει. Καὶ εἰ νοῦν ἔχει, ἅμα ἐνταῦθα ἄμφω, καὶ τὸ ἀληθὲς ὡδί, καὶ ὁ
πρῶτος νοῦς οὗτος, καὶ ἐπὶ τούτου ζητήσομεν, πῶς ἔχει ἡ ἐνταῦθα
ἀλήθεια, καὶ τὸ νοητὸν καὶ ὁ νοῦς εἰ ἐν τῶι αὐτῶι μὲν καὶ ἅμα, δύο δὲ
καὶ ἕτερα, ἢ πῶς; Εἰ δ᾽ ἀνόητα καὶ ἄνευ ζωῆς, τί ὄντα; Οὐ γὰρ δὴ
προτάσεις οὐδὲ ἀξιώματα οὐδὲ λεκτά· ἤδη γὰρ ἂν καὶ αὐτὰ περὶ
ἑτέρων λέγοι, καὶ οὐκ αὐτὰ τὰ ὄντα εἴη, οἷον τὸ δίκαιον καλόν, ἄλλου
τοῦ δικαίου καὶ τοῦ καλοῦ ὄντος. Εἰ δ᾽ ἁπλᾶ φήσουσι, δίκαιον χωρὶς
καὶ καλόν, πρῶτον μὲν οὐχ ἕν τι οὐδ᾽ ἐν ἑνὶ τὸ νοητὸν ἔσται, ἀλλὰ
διεσπασμένον ἕκαστον. Καὶ ποῦ καὶ κατὰ τίνας διέσπασται τόπους;
Πῶς δὲ αὐτοῖς συντεύξεται ὁ νοῦς περιθέων; Πῶς δὲ μενεῖ; Ἢ ἐν τῶι
αὐτῶι πῶς μενεῖ; Τίνα δ᾽ ὅλως μορφὴν ἢ τύπον ἕξει; Εἰ μὴ ὥσπερ
ἀγάλματα ἐκκείμενα χρυσᾶ ἢ ἄλλης τινὸς ὕλης ὑπό τινος πλάστου ἢ
γραφέως πεποιημένα; Ἀλλ᾽ εἰ τοῦτο, ὁ θεωρῶν νοῦς αἴσθησις ἔσται.
Διὰ τί δὲ τὸ μέν ἐστι τῶν τοιούτων δικαιοσύνη, τὸ δ᾽ ἄλλο τι; Μέγιστον
δὲ πάντων ἐκεῖνο· εἰ γὰρ καὶ ὅτι μάλιστα δοίη τις ταῦτα ἔξω εἶναι καὶ
τὸν νοῦν αὐτὰ οὕτως ἔχοντα θεωρεῖν, ἀναγκαῖον αὐτῶι μήτε τὸ ἀληθὲς
αὐτῶν ἔχειν διεψεῦσθαί τε ἐν ἅπασιν οἷς θεωρεῖ. Τὰ μὲν γὰρ ἀληθινὰ
ἂν εἴη ἐκεῖνα· θεωρήσει τοίνυν αὐτὰ οὐκ ἔχων αὐτά, εἴδωλα δὲ αὐτῶν
ἐν τῆι γνώσει τῆι τοιαύτηι λαβών. Τὸ τοίνυν ἀληθινὸν οὐκ ἔχων, εἴδωλα
δὲ τοῦ ἀληθοῦς παρ᾽ αὐτῶι λαβὼν τὰ ψευδῆ ἕξει καὶ οὐδὲν ἀληθές. Εἰ
μὲν οὖν εἰδήσει, ὅτι τὰ ψευδῆ ἔχει, ὁμολογήσει ἄμοιρος ἀληθείας εἶναι·
εἰ δὲ καὶ τοῦτο ἀγνοήσει καὶ οἰήσεται τὸ ἀληθὲς ἔχειν οὐκ ἔχων,

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 119

διπλάσιον ἐν αὐτῶι τὸ ψεῦδος γενόμενον πολὺ τῆς ἀληθείας αὐτὸν


ἀποστήσει. Διὰ τοῦτο γὰρ καὶ ἐν ταῖς αἰσθήσεσιν, οἶμαι, οὐκ ἔνεστιν
ἀλήθεια, ἀλλὰ δόξα, ὅτι παραδεχομένη καὶ διὰ τοῦτο δόξα οὖσα ἄλλο
παραδέχεται ἄλλου ὄντος ἐκείνου, ἐξ οὗ τοῦτο ὃ παραδέχεται ἔχει. Εἰ
οὖν μὴ ἀλήθεια ἐν τῶι νῶι, οὗτος μὲν ὁ τοιοῦτος νοῦς οὔτε ἀλήθεια
ἔσται οὔτε ἀληθείαι νοῦς οὔτε ὅλως νοῦς ἔσται. Ἀλλ᾽ οὐδὲ ἄλλοθί που
ἡ ἀλήθεια ἔσται.

V 5 (32)

Porque os inteligíveis não são fora da


Inteligência, e sobre o Bem.

1. A inteligência, a verdadeira inteligência e que é realmente, por acaso


alguém diria que ela há de se enganar alguma vez e ter opinião acerca
das coisas que não são? De modo algum. Pois como ainda seria
inteligência sendo tola? É preciso, portanto, ela saber sempre e não se
esquecer jamais, e o seu saber nem ser por conjectura nem ambíguo
nem por sua vez por ter ouvido da parte de um diverso. Não é, portanto,
nem através de demonstração. Pois se alguém disser que algum saber é
através de demonstração, mas então por si mesmo isso é algo claro para
a inteligência117. No entanto, a razão diz ser tudo [assim]; pois como
alguém distinguirá o que é por si mesmo e o que não é? Mas então, os
que consentem haver o que é por si mesmo, de onde dirão ser presente
para a inteligência o que é claro disso? De onde se apresentará para ela

117
A inteligência não seria responsável pelo saber, pois deveria isso à demonstração.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 120

a crença de que assim é? Uma vez que sobre o que é da sensação, que
parece ter a mais clara confiança, se desconfia alguma vez de que não
nas coisas que subjazem, mas nas impressões118, há a aparente
hipóstase, é preciso inteligência ou raciocínio dos que julgam; uma vez
que, mesmo estando concedido haver [essa hipóstase] nos sensíveis que
subjazem, dos quais a sensação fará contrapartida, o que é reconhecido
pela sensação é visagem do fato, a sensação não toma o mesmo fato;
pois permanece fora dele119. Na verdade, a inteligência que reconhece,
reconhecendo os inteligíveis, se reconhecer que são diferentes, como se
encontraria por acaso com eles? Pois [se é] como os recebe e não recebe,
ela não reconhece senão quando alguma vez topar por acaso com eles,
e nem sempre terá o ato de conhecer. E se dissermos que estão
conjungidos [o inteligível e a inteligência], o que é esse estar
conjungido? Depois mesmo os atos de pensar seriam marcas; se for
isso, seriam tanto importáveis quanto golpes. E como [a inteligência]
será marcada e qual a figura de tais [marcas]? Também o ato de pensar
seria do que é externo, como é a sensação. E o que distinguirá [a
inteligência da sensação], senão por aquela ter a contraparte de coisas
mais sutis? E como reconhecerá que realmente tem a contraparte?
Como [reconhecerá] que isso é bom ou que é belo ou justo? Pois cada
um desses conceitos seria algo diverso dela, e não seriam nela os
princípios do ato de julgar, nos quais ela poderia confiar, mas tanto
esses [princípios] seriam de fora, quanto a verdade seria ali. Depois
mesmos aqueles [inteligíveis] seriam insensíveis, não partícipes de vida

118
Sextus Empiricus, Adversus Mathematicos VIII 9: ὁ δὲ Ἐπίκουρος τὰ μὲν αἰσθητὰ
πάντα ἔλεγεν ἀληθῆ καὶ ὄντα. οὐ διήνεγκε γὰρ ἀληθὲς εἶναί τι λέγειν ἢ ὑπάρχον
(Epicuro dizia ser verdadeiras todas as coisas sensíveis e as que são, pois não
importava dizer que algo era verdadeiro ou que tem princípio).
119
Mesmo nas coisas mais aparentes a sensação toma apenas uma pálida imagem,
como a inteligência teria algo não claro, em relação ao que é por si mesmo, pois isso
viria a ela de fora, o que é impossível.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 121

e de inteligência, ou têm inteligência. E se têm inteligência, ao mesmo


tempo ambos [inteligíveis e inteligência] serão ali, onde será também o
verdadeiro, e a primeira inteligência será essa, e nela buscaremos como
está ali a verdade, e buscaremos se o inteligível e a inteligência são na
própria inteligência em conjunto ou serão dois diferentes, ou como
serão? Se são ininteligíveis e sem vida, o que são? Pois na verdade não
serão proposições120 nem axiomas nem dizíveis; pois também essas
coisas já diriam sobre coisas diferentes, e não seriam as mesmas que
são, tal que o justo é belo, sendo diverso do justo e do belo. E se
disserem que são coisas simples, justo separadamente e belo, primeiro
o inteligível não será algo único nem em algo único, mas cada conceito
estará disperso. E onde estão dispersos, por alguns lugares? E como a
inteligência, recorrendo a eles, topará com eles? E como permanecerá
[neles]? Ou como eles permanecerão nela? Que figura ou marca terão
de modo geral? A não ser que sejam como objetos de culto de ouro ou
de alguma outra matéria, expostos, tendo sido feitos por algum escultor
ou pintor? Mas se for isso, a inteligência que contempla será sensação.
Mas por que uma coisa é sentimento de justiça de tais coisas, e outra é
algo diverso? E o mais importante de tudo: pois se alguém conceder
absolutamente que esses inteligíveis são fora dela e que a inteligência
contempla, tendo-os assim, necessário seria a ela nem ter o verdadeiro
deles e enganar-se em tudo que contempla. De fato, aqueles inteligíveis
seriam verdadeiros; portanto os contemplaria não os tendo, ao tomar
visagens deles em tal ato de reconhecer. Portanto não tendo o

120
Aristóteles, Analytica Priora et Posteriora I 1, 24a 16: Πρότασις μὲν οὖν ἐστὶ λόγος
καταφατικὸς ἢ ἀποφατικός τινος κατά τινος· οὗτος δὲ ἢ καθόλου ἢ ἐν μέρει ἢ
ἀδιόριστος (Proposição é razão que afirma ou que nega algo de algo; ou ela é universal
ou em parte ou indeterminada); 72a 7: ἀρχὴ δ’ ἐστὶν ἀποδείξεως πρότασις
ἄμεσος,ἄμεσος δὲ ἧς μὴ ἔστιν ἄλλη προτέρα. πρότασις δ’ ἐστὶν ἀποφάνσεως τὸ
ἕτερον μόριον, ἓν καθ’ ἑνός (Proposição é o princípio da demonstração não mediada,
e proposição não mediada é aquela a que não há uma diversa anterior. Proposição é a
parte diferente da enunciação, [que exprime] uma coisa única de outra única).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 122

verdadeiro, ao tomar visagens do verdadeiro junto a si, ela terá as coisas


falsas e nada verdadeiro. Então, se souber que tem as coisas falsas,
concordará ser não participante da verdade; e se tanto isso ignorar
quanto pensar ter o verdadeiro não o tendo, tendo vindo a ser nela duplo
o falso, isso mais a afastará da verdade. Por isso nas sensações, creio,
não há verdade, mas opinião, porque [esta] é recebida, por isso sendo
opinião recebe algo diverso, que é diferente daquilo desde que ela tem
isso que recebe121. Se então não há verdade na inteligência, essa tal
inteligência nem será verdadeira, nem inteligência com verdade, nem
será de modo geral inteligência. Mas nem onde é diversa parte haverá a
verdade.

2. Οὐ τοίνυν δεῖ οὔτε ἔξω τὰ νοητὰ ζητεῖν, οὔτε τύπους ἐν τῶι νῶι τῶν
ὄντων λέγειν εἶναι, οὔτε τῆς ἀληθείας ἀποστεροῦντας αὐτὸν ἀγνωσίαν
τε τῶν νοητῶν ποιεῖν καὶ ἀνυπαρξίαν καὶ ἔτι αὐτὸν τὸν νοῦν ἀναιρεῖν.
Ἀλλ᾽ εἴπερ καὶ γνῶσιν δεῖ καὶ ἀλήθειαν εἰσάγειν καὶ τὰ ὄντα τηρεῖν καὶ
γνῶσιν τοῦ τί ἕκαστόν ἐστιν, ἀλλὰ μὴ τοῦ ποῖόν τι ἕκαστον, ἅτε
εἴδωλον αὐτοῦ καὶ ἴχνος ἴσχοντας, ἀλλὰ μὴ αὐτὰ ἔχοντας καὶ συνόντας
καὶ συγκραθέντας αὐτοῖς, τῶι ἀληθινῶι νῶι δοτέον τὰ πάντα. Οὕτω γὰρ
ἂν καὶ εἰδείη, καὶ ἀληθινῶς εἰδείη, καὶ οὐδ᾽ ἂν ἐπιλάθοιτο οὐδ᾽ ἂν
περιέλθοι ζητῶν, καὶ ἡ ἀλήθεια ἐν αὐτῶι καὶ ἕδρα ἔσται τοῖς οὖσι καὶ
ζήσεται καὶ νοήσει. Ἃ δὴ πάντα περὶ τὴν μακαριωτάτην φύσιν δεῖ
ὑπάρχειν· ἢ ποῦ τὸ τίμιον καὶ σεμνὸν ἔσται; Καὶ γὰρ αὖ οὕτως οὐδ᾽
ἀποδείξεως δεῖ οὐδὲ πίστεως, ὅτι οὕτως – αὐτὸς γὰρ οὕτως καὶ ἐναργὴς
αὐτὸς αὑτῶι – καὶ εἴ τι πρὸ αὐτοῦ, ὅτι ἐξ αὐτοῦ, καὶ εἴ τι μετ᾽ ἐκεῖνο,
ὅτι αὐτός – καὶ οὐδεὶς πιστότερος αὐτῶι περὶ αὐτοῦ – καὶ ὅτι ἐκεῖ τοῦτο
καὶ ὄντως. Ὥστε καὶ ἡ ὄντως ἀλήθεια οὐ συμφωνοῦσα ἄλλωι ἀλλ᾽
ἑαυτῆι, καὶ οὐδὲν παρ᾽ αὑτήν, ἄλλο λέγει, [ἀλλ᾽ ὃ λέγει], καὶ ἔστι, καὶ

121
A opinião (δόξα) tem valência receptiva (παραδεχομένη), ou seja, se ela recebe
algo, é porque recebe de fora dela. O primeiro termo tem a mesma raiz etimológica
do segundo.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 123

ὅ ἐστι, τοῦτο καὶ λέγει. Τίς ἂν οὖν ἐλέγξειε; Καὶ πόθεν οἴσει τὸν
ἔλεγχον; Εἰς γὰρ ταὐτὸν ὁ φερόμενος ἔλεγχος τῶι προειπόντι, κἂν
κομίσηι ὡς ἄλλο, φέρεται εἰς τὸν ἐξαρχῆς εἰπόντα καὶ ἕν ἐστιν· οὐ γὰρ
ἄλλο ἀληθέστερον ἂν εὕροις τοῦ ἀληθοῦς.

2. Portanto, não é preciso nem buscar os inteligíveis fora [da


inteligência], nem dizer que nela há marcas das coisas que são, nem,
privando-a da verdade, criar ignorância e inexistência dos inteligíveis e
ainda apagar a mesma inteligência. Mas se é mesmo preciso introduzir
ato de reconhecer e verdade e guardar as coisas que são e ato de
reconhecer algo – o que é cada coisa – mas não [ato de reconhecer] algo
– de que qualidade é cada coisa – enquanto temos visagem e traço da
mesma, mas não as tendo, estando juntos e misturados a elas, deve-se
conceder tudo à verdadeira inteligência. Pois assim [ela] tanto saberia
quanto saberia verdadeiramente, nem esqueceria nem percorreria
buscando, e a verdade em si será assento às coisas que são, tanto viverá
quanto pensará. Tudo que na verdade é preciso ter princípio acerca da
natureza mais feliz; ou onde estará o que é honrado e venerável? Por
sua vez assim nem é preciso demonstração nem crença, porque é assim
– pois a mesma [inteligência] assim é também a mesma clara para si –
e se algo é antes dela, é porque ela é desde isso, e se algo é depois disso,
é porque é ela mesma – e ninguém é mais crível para ela sobre isso –
tanto porque isso é ali quanto porque é real. Assim a verdade realmente
não é concordante com algo diverso, mas é consigo mesma, e nada
diverso diz em relação a si, < mas o que diz > também é, e o que é, isso
também diz. Então quem a reprovaria? E de onde trará a reprovação?
Pois [cairia] no mesmo o que traz a reprovação ao que antes disse isso,
ainda que a conduzisse como algo diverso, seria levado ao que disse de
princípio: é uma só coisa; pois nada mais verdadeiro encontrarias do
que a verdade.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 124

3. Μία τοίνυν φύσις αὕτη ἡμῖν, νοῦς, τὰ ὄντα πάντα, ἡ ἀλήθεια· εἰ δέ,
θεός τις μέγας· μᾶλλον δὲ οὔ τις, ἀλλὰ πᾶς ἀξιοῖ ταῦτα εἶναι. Καὶ θεὸς
αὕτη ἡ φύσις, καὶ θεὸς δεύτερος προφαίνων ἑαυτὸν πρὶν ὁρᾶν ἑκεῖνον·
ὁ δὲ ὑπερκάθηται καὶ ὑπερίδρυται ἐπὶ καλῆς οὕτως οἷον κρηπῖδος, ἣ ἐξ
αὐτοῦ ἐξήρτηται. Ἔδει γὰρ ἐκεῖνον βαίνοντα μὴ ἐπ᾽ ἀψύχου τινὸς μηδ᾽
αὖ ἐπὶ ψυχῆς εὐθὺς βεβηκέναι, ἀλλ᾽ εἶναι αὐτῶι κάλλος ἀμήχανον πρὸ
αὐτοῦ προιόν, οἷον πρὸ μεγάλου βασιλέως πρόεισι μὲν πρῶτα ἐν ταῖς
προόδοις τὰ ἐλάττω, ἀεὶ δὲ τὰ μείζω καὶ τὰ σεμνότερα ἐπ᾽ αὐτοῖς, καὶ
τὰ περὶ βασιλέα ἤδη μᾶλλον βασιλικώτερα, εἶτα τὰ μετ᾽ αὐτὸν τίμια·
ἐφ᾽ ἅπασι δὲ τούτοις βασιλεὺς προφαίνεται ἐξαίφνης αὐτὸς ὁ μέγας, οἱ
δ᾽ εὔχονται καὶ προσκυνοῦσιν, ὅσοι μὴ προαπῆλθον ἀρκεσθέντες τοῖς
πρὸ τοῦ βασιλέως ὀφθεῖσιν. Ἐκεῖ μὲν οὖν ὁ βασιλεὺς ἄλλος, οἵ τε πρὸ
αὐτοῦ προιόντες ἄλλοι αὐτοῦ· ὁ δὲ ἐκεῖ βασιλεὺς οὐκ ἀλλοτρίων
ἄρχων, ἀλλ᾽ ἔχων τὴν δικαιοτάτην καὶ φύσει ἀρχὴν καὶ τὴν ἀληθῆ
βασιλείαν, ἅτε τῆς ἀληθείας βασιλεὺς καὶ ὢν κατὰ φύσιν κύριος τοῦ
αὐτοῦ ἀθρόου γεννήματος καὶ θείου συντάγματος, βασιλεὺς βασιλέως
καὶ βασιλέων καὶ πατὴρ δικαιότερον ἂν κληθεὶς θεῶν, ὃν ὁ Ζεὺς καὶ
ταύτηι ἐμιμήσατο τὴν τοῦ ἑαυτοῦ πατρὸς οὐκ ἀνασχόμενος θεωρίαν,
ἀλλὰ τὴν τοῦ προπάτορος οἷον ἐνέργειαν εἰς ὑπόστασιν οὐσίας.

3. Portanto, essa natureza para nós é única: inteligência, todas as coisas


que são e a verdade; e se é única, é um grande deus; ou melhor, não um
certo [deus], mas todo que é digno de ser essas coisas. E deus é essa
mesma natureza, deus segundo que se autorrevela antes de ver aquele
[uno]122; este acima se assenta e se fundamenta tal que sobre uma bela
base, que desde ele mesmo está dependente. Pois era preciso aquele
deus avançar, não por ter avançado logo até algo inanimado nem por
sua vez até a alma, mas [era preciso] haver para ele uma beleza

122
Platão, Carta II 312e: περὶ τὸν πάντων βασιλέα πάντ’ ἐστὶ καὶ ἐκείνου ἕνεκα πάντα,
καὶ ἐκεῖνο αἴτιον ἁπάντων τῶν καλῶν (tudo é acerca do rei de todas as coisas e tudo
é por causa dele, ele é causador de todas as coisas belas).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 125

extraordinária123 que vai adiante dele, tal que adiante de um grande rei
vão primeiro nas procissões os inferiores, e sempre os superiores e os
mais veneráveis depois deles, e em torno do rei os mais nobres, depois
os que são honrados depois dele; em todas essas [procissões] o rei se
apresenta súbito124 ele mesmo o grande, e fazem prece e se prostram
aqueles quantos não saíram antes contentando-se com os que foram
vistos antes do rei. E ali o rei é diverso, e os que vão antes dele são
diversos dele, mas, porque ele tem por natureza o mais justo princípio
e a verdade real, enquanto é rei da verdade, sendo por sua natureza
senhor de seu próprio ajuntamento e do cortejo divino, é rei de rei e de
reis e mais justamente denominado pai dos deuses125, que Zeus aqui
mesmo imita, não suspendendo a contemplação do seu próprio pai, mas
imita a contemplação do progenitor tal que em hipóstase de essência126.

4. Ὅτι μὲν οὖν δεῖ τὴν ἀναγωγὴν ποιήσασθαι εἰς ἓν καὶ ἀληθῶς ἕν, ἀλλὰ
μὴ ὥσπερ τὰ ἄλλα ἕν, ἃ πολλὰ ὄντα μετοχῆι ἑνὸς ἕν – δεῖ δὲ τὸ μὴ
μετοχῆι ἓν λαβεῖν μηδὲ τὸ οὐ μᾶλλον ἓν ἢ πολλά – καὶ ὅτι ὁ μὲν νοητὸς
κόσμος καὶ ὁ νοῦς μᾶλλον ἓν τῶν ἄλλων, καὶ οὐδὲν ἐγγυτέρω αὐτοῦ
τοῦ ἑνός, οὐ μὴν τὸ καθαρῶς ἕν, εἴρηται. Τί δὲ τὸ καθαρῶς ἓν καὶ ὄντως

123
Platão, Simpósio 218e: ἀμήχανόν τοι κάλλος ὁρῴης ἂν ἐν ἐμοὶ (verias
extraordinária beleza em mim); Politeia 509a: Ἀμήχανον κάλλος, ἔφη, λέγεις, εἰ
ἐπιστήμην μὲν καὶ ἀλήθειαν παρέχει, αὐτὸ δ’ ὑπὲρ ταῦτα κάλλει ἐστίν· οὐ γὰρ δήπου
σύ γε ἡδονὴν αὐτὸ λέγεις (Dizes extraordinária beleza, dizia ele, se ela apresenta
conhecimento e verdade, pois certamente tu não dizes que isso é o prazer).
124
Platão, Simpósio 210e: θεώμενος ἐφεξῆς τε καὶ ὀρθῶς τὰ καλά, πρὸς τέλος ἤδη
ἰὼν τῶν ἐρωτικῶν ἐξαίφνης κατόψεταί τι θαυμαστὸν τὴν φύσιν καλόν (ao contemplar
seguida e corretamente as coisas belas, indo para o final das coisas amatórias,
subitamente será visto algo admirável, belo de natureza).
125
Homero, Ilíada I 544: πατὴρ ἀνδρῶν τε θεῶν τε (pai dos homens e dos deuses).
126
Zeus, a alma do universo, imita o Uno ao gerar a Inteligência, Atena, que cria o
múltiplo, ou seja, os inteligíveis, e cada essência se volta a contemplar seu progenitor,
por imitação da Inteligência.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 126

καὶ οὐ κατ᾽ ἄλλο, νῦν θεάσασθαι ποθοῦμεν, εἴ πηι δυνατόν. Χρὴ τοίνυν
ἐνταῦθα ἆιξαι πρὸς ἕν, καὶ μηδὲν αὐτῶι ἔτι προσθεῖναι, ἀλλὰ στῆναι
παντελῶς δεδιότα αὐτοῦ ἀποστατῆσαι μηδὲ τοὐλάχιστον μηδὲ εἰς δύο
προελθεῖν. Εἰ δὲ μή, ἔσχες δύο, οὐκ ἐν οἷς τὸ ἕν, ἀλλὰ ἄμφω ὕστερα.
Οὐ γὰρ θέλει μετ᾽ ἄλλου οὔτε ἑνὸς οὔτε ὁποσουοῦν συναριθμεῖσθαι
οὐδ᾽ ὅλως ἀριθμεῖσθαι· μέτρον γὰρ αὐτὸ καὶ οὐ μετρούμενον, καὶ τοῖς
ἄλλοις δὲ οὐκ ἴσον, ἵνα σὺν αὐτοῖς· εἰ δὲ μή, κοινόν τι ἔσται ἐπ᾽ αὐτοῦ
καὶ τῶν συναριθμουμένων, κἀκεῖνο πρὸ αὐτοῦ· δεῖ δὲ μηδέν. Οὐδὲ γὰρ
οὐδ᾽ ὁ οὐσιώδης ἀριθμὸς κατ᾽ αὐτοῦ, οὐδέ γε ὁ ὕστερος τούτου, ὁ τοῦ
ποσοῦ· οὐσιώδης μὲν ὁ τὸ εἶναι ἀεὶ παρέχων, τοῦ δὲ ποσοῦ ὁ τὸ ποσὸν
μετ᾽ ἄλλων ἢ ἔτι μὴ μετ᾽ ἄλλων, εἴπερ ἀριθμὸς τοῦτο. Ἐπεὶ καὶ ἡ ἐν
τοῖς τοῦ ποσοῦ ἀριθμοῦ πρὸς τὸ ἓν τὴν ἀρχὴν αὐτῶν ἀπομιμουμένη τὴν
ἐν τοῖς προτέροις ἀριθμοῖς φύσις πρὸς τὸ ὄντως ἓν οὐκ ἀναλίσκουσα
τὸ ἓν οὐδὲ κερματίζουσα τὴν ὑπόστασιν ἔχει, ἀλλὰ δυάδος γενομένης
ἔστι μονὰς ἡ πρὸ τῆς δυάδος, καὶ οὐχ ἡ ἐν τῆι δυάδι μονὰς ἑκατέρα οὐδ᾽
ἑτέρα ἐκείνη. Τί γὰρ μᾶλλον ὁποτεραοῦν; Εἰ οὖν μηδετέρα αὐτῶν, ἄλλη
ἐκείνη καὶ μένουσα οὗ μένει. Πῶς οὖν ἕτεραι ἐκεῖναι; Καὶ πῶς ἡ δυὰς
ἕν; Καὶ εἰ ταὐτὸ ἕν, ὅπερ ἐν ἑκατέραι τῆι περιεχομένηι. Ἢ μετέχειν τῆς
πρώτης φατέον, ἄλλας δὲ ἧς μετέχουσι, καὶ τὴν δυάδα δέ, καθὸ ἕν,
μετέχειν, οὐχ ὡσαύτως δέ· ἐπεὶ οὐδὲ ὁμοίως στρατὸς ἓν καὶ οἰκία. Καὶ
αὕτη πρὸς τὸ συνεχὲς οὔτε κατὰ τὸ ὡς εἶναι ἕν, οὔτε κατὰ τὸ ποσὸν ἕν.
Ἆρ᾽ οὖν αἱ μὲν μονάδες ἄλλως αἱ ἐν πεντάδι καὶ δεκάδι, τὸ δὲ ἓν τὸ ἐν
τῆι πεντάδι πρὸς τὸ ἓν τὸ ἐπὶ τῆς δεκάδος τὸ αὐτό; Ἤ, εἰ ναῦς πᾶσα
πρὸς πᾶσαν, μικρὰ πρὸς μεγάλην, καὶ πόλις πρὸς πόλιν, καὶ στρατὸς
πρὸς στρατόν, ταὐτὸ ἓν καὶ ἐνταῦθα· εἰ δὲ μηδ᾽ ἐκεῖ, οὐδ᾽ ἐνταῦθα. Εἰ
γάρ τινες περὶ τούτων ἀπορίαι, ὕστερον.

4. Então, que é preciso fazer-se a recondução ao uno que é


verdadeiramente uno, mas não uno como as coisas diversas, que sendo
muitas participem do uno como uno – é preciso tomar o uno não por
participação, que não mais é uno do que múltiplo – e que o cosmo
inteligível e a inteligência são mais uno do que as coisas diversas, e que

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 127

nada é mais perto do mesmo uno, não sendo, contudo, o uno verdadeiro,
está dito. E o que é o uno pura e realmente, não segundo coisa diversa,
agora desejamos contemplar, se por algum modo for possível. Há
necessidade, portanto, aqui de tomar impulso ao uno, e nada mais
acrescentar a ele, mas estar totalmente em repouso com temor de
afastar-se dele nem o mínimo, nem avançar ao dois. Senão, tens dois,
nos quais não há o uno, mas ambos são posteriores. Pois não quer ser
enumerado junto com outro número, nem com o um nem com qualquer
que seja, nem de modo geral ser contado; pois ele mesmo é medida e
não é medido, e não é igual aos outros, para ser com eles; senão, haverá
algo comum em si mesmo e nas diversas coisas enumeradas junto, e
isso [seria] antes dele; e é preciso nada [ser antes dele]. Pois não é nele
nem o número substancial, nem o posterior a esse, o de certa
quantidade; substancial é o que apresenta sempre o ser, e de certa
quantidade é o [que apresenta] certa quantidade com outros, ou ainda
não apresenta com os outros, se é que esse é número. Uma vez que a
natureza nos números de certa quantidade em relação ao um imita o
princípio deles, que é nos números anteriores em relação ao que é
realmente uno, tem a hipóstase não eliminando nem retalhando o uno,
mas, porque veio a ser uma díade, há uma unidade antes da díade, e
cada uma das duas não é unidade na díade, nem essa é diferente
[daquela]127. Pois por que seria mais qualquer delas duas? Se [a díade]
é nenhuma dessas duas [unidades], diverso é aquele [princípio] que
permanece onde permanece. Como então aqueles princípios [das
unidades] são diferentes? E como a díade é uno? E [deve-se dizer] se é
o mesmo uno aquele em cada uma das duas [unidades] que [a díade]
envolve. Certamente deve-se dizer que [as unidades] participam do

127
Do um vem o dois, mas cada um destes não é único na díade, porque, não sendo
diferentes, um só ou unidade só pode ser na origem, antes de vir a ser dois, ou seja, o
uno, que é origem, não é nem um nem outro que compõe a díade, nem ambos em
conjunto.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 128

primeiro princípio, e que são diversas daquilo de que participam, e que


a díade, enquanto é uno, também participa, mas não da mesma forma;
uma vez que nem é [o mesmo], de modo semelhante em relação ao uno,
exército e casa128. Essa mesma díade é em relação ao contínuo, e não
segundo o que é para ser uno, nem segundo o que é uno em certa
quantidade129. Por acaso então serão unidades de modo diverso aquelas
na quina e na dezena, e o uno que é na quina em relação ao uno que é
sobre a dezena é o mesmo? Certamente, se toda nau for em relação a
ela toda, pequena em relação a grande, e cidade em relação a cidade, e
exército em relação a exército, é o mesmo uno também aqui; e se lá não
fosse, nem seria aqui. Pois se há algumas aporias sobre essas coisas, é
para depois130.

5. Ἀλλ᾽ ἐπ᾽ ἐκεῖνο ἐπανιτέον λέγουσιν, ὅτι μένει τὸ πρῶτον τὸ αὐτό,


κἂν ἐξ αὐτοῦ γίνηται ἕτερα. Ἐν μὲν οὖν τοῖς ἀριθμοῖς μένοντος μὲν τοῦ
ἕν, ποιοῦντος δὲ ἄλλου, ὁ ἀριθμὸς γίνεται κατ᾽ αὐτό· ἐν δὲ τῶι ὅ ἐστι
πρὸ τῶν ὄντων μένει μὲν πολὺ μᾶλλον ἐνταῦθα τὸ ἕν· μένοντος δὲ
αὐτοῦ οὐκ ἄλλο ποιεῖ, εἰ κατ᾽ αὐτὸ τὰ ὄντα, ἀλλ᾽ ἀρκεῖ αὐτὸ γεννῆσαι
τὰ ὄντα. Καὶ ὥσπερ ἐκεῖ ἐπὶ τῶν ἀριθμῶν ἦν τοῦ πρώτου – τῆς μονάδος
– ἐπὶ πᾶσιν εἶδος πρώτως καὶ δευτέρως, καὶ οὐκ ἐπίσης ἑκάστου
μεταλαμβάνοντος τῶν ὕστερον αὐτῆς, οὕτω καὶ ἐνταῦθα ἕκαστον μὲν
τῶν μετὰ τὸ πρῶτον ἔχει τι ἐκείνου οἷον εἶδος ἐν αὐτῶι. Κἀκεῖ μὲν ἡ
μετάληψις τὸ ποσὸν ὑπέστησεν αὐτῶν, ἐνταῦθα δὲ [τὸ ἴχνος τοῦ ἑνὸς]

128
SVF 366, Plutarco, Coniugalia Praecepta 143f: Τῶν σωμάτων οἱ φιλόσοφοι τὰ
μὲν ἐκ διεστώτων λέγουσιν εἶναι καθάπερ στόλον καὶ (F) στρατόπεδον, τὰ δ’ ἐκ
συναπτομένων ὡς οἰκίαν καὶ ναῦν (os filósofos [estoicos] dizem sobre os corpóreos
que uns são dos que se distanciam, como equipamento e acampamento, outros são dos
que convergem, como casa e nau).
129
A díade exército e casa depende de sua continuidade, e não de ser una numérica ou
quantitativamente.
130
Enéada VI 6, 5.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 129

τὴν οὐσίαν αὐτοῖς ὑπεστήσατο, ὥστ᾽ εἶναι τὸ εἶναι ἴχνος [τοῦ] ἑνός. Καὶ
τὸ εἶναι δὲ τοῦτο – ἡ τῆς οὐσίας δηλωτικὴ ὀνομασία – ἀπὸ τοῦ ἓν εἴ τις
λέγοι γεγονέναι, τάχ᾽ ἂν τύχοι τοῦ ἀληθοῦς. Τὸ γάρ τοι λεγόμενον ὂν
τοῦτο πρῶτον ἐκεῖθεν οἷον ὀλίγον προβεβηκὸς οὐκ ἠθέλησεν ἔτι πρόσω
ἐλθεῖν, μεταστραφὲν δὲ εἰς τὸ εἴσω ἔστη, καὶ ἐγένετο οὐσία καὶ ἑστία
ἁπάντων· οἷον ἐν φθόγγωι ἐναπερείσαντος αὐτὸν τοῦ φωνοῦντος
ὑφίσταται τὸ ἓν δηλοῦν τὸ ἀπὸ τοῦ ἑνὸς καὶ τὸ ὂν σημαῖνον τὸ
φθεγξάμενον, ὡς δύναται. Οὕτω τοι τὸ μὲν γενόμενον, ἡ οὐσία καὶ τὸ
εἶναι, μίμησιν ἔχοντα ἐκ τῆς δυνάμεως αὐτοῦ ῥυέντα· ἡ δὲ ἰδοῦσα καὶ
ἐπικινηθεῖσα τῶι θεάματι μιμουμένη ὃ εἶδεν ἔρρηξε φωνὴν τὴν ὄν καὶ
τὸ εἶναι καὶ οὐσίαν καὶ ἑστίαν. Οὗτοι γὰρ οἱ φθόγγοι θέλουσι σημῆναι
τὴν ὑπόστασιν γεννηθέντος ὠδῖνι τοῦ φθεγγομένου ἀπομιμούμενοι, ὡς
οἷόν τε αὐτοῖς, τὴν γένεσιν τοῦ ὄντος.

5. Mas deve-se retornar àquilo: dizem que o primeiro permanece o


mesmo, ainda que desde ele venham a ser os diferentes. De fato, nos
números, o um de algo permanecendo, o diverso de algo criando, vem
a ser o número segundo isso mesmo; e em algo que é antes das coisas
que são o uno permanece muito mais ali; e permanecendo ele mesmo,
um diverso não cria, se são segundo ele mesmo as coisas que são, mas
ele mesmo basta para gerar as coisas que são. E como ali nos números
havia de modo primário e secundário uma forma do primeiro número –
a unidade – em todos, não participante igualmente de cada um dos que
são depois dela, desse mesmo modo aqui cada coisa das que são depois
do primeiro princípio tem algo em si, tal que uma forma dele. Ali a
participação sustenta certa quantidade deles, aqui <a marca do uno> é
sustentada sob sua essência, de modo que o ser seja marca <do> uno.
Se alguém disser que esse ser – a denominação declarativa da essência
– veio a ser a partir do uno, logo toparia com a verdade. Pois isso que é
dito ser primeiro, quando se afastou tal que um pouco de lá, não desejou
mais ir adiante, e tendo-se voltado para o interior se estabilizou, e veio
a ser essência e morada de todas as coisas; tal que, quando se pronuncia

SUMÁRIO
P l o t i n o | 130

o ser (εἶναι) apoiando-se no som da voz, sustenta-se claramente que o


um (ἕν) é a partir do uno (ἑνός), significando, quanto possível, que o
que é (ὄν) é o som emitido. Assim é o que foi gerado, a essência e o ser,
que tem uma imitação que corre desde a potência do mesmo uno; e a
[alma], tendo visto e se comovido pelo espetáculo, imitando o que viu,
irrompe-lhe a voz: ὄν, τὸ εἶναι, οὐσίαν e ἑστίαν131. Pois esses sons
desejam significar a hipóstase do que foi gerado com esforço do que os
emitiu, imitando, como lhes é possível, a gênese do que é.

6. Ἀλλὰ ταῦτα μέν, ὥς τις ἐθέλει, λελέχθω. Τῆς δὲ γενομένης οὐσίας


εἴδους οὔσης – οὐ γὰρ δὴ ἄλλο τι ἄν τις εἴποι τὸ ἐκεῖθεν γενόμενον –
καὶ εἴδους οὐ τινός, ἀλλὰ παντός, ὡς μὴ ἂν ὑπολιπεῖν τι ἄλλο, ἀνάγκη
ἀνείδεον ἐκεῖνο εἶναι. Ἀνείδεον δὲ ὂν οὐκ οὐσία· τόδε γάρ τι δεῖ τὴν
οὐσίαν εἶναι· τοῦτο δὲ ὡρισμένον· τὸ δὲ οὐκ ἔστι λαβεῖν ὡς τόδε· ἤδη
γὰρ οὐκ ἀρχή, ἀλλ᾽ ἐκεῖνο μόνον, ὃ τόδε εἴρηκας εἶναι. Εἰ οὖν τὰ πάντα
ἐν τῶι γενομένωι, τί τῶν ἐν τούτωι ἐκεῖνο ἐρεῖς; Οὐδὲν δὲ τούτων ὂν
μόνον ἂν λέγοιτο ἐπέκεινα τούτων. Ταῦτα δὲ τὰ ὄντα καὶ τὸ ὄν·
ἐπέκεινα ἄρα ὄντος. Τὸ γὰρ ἐπέκεινα ὄντος οὐ τόδε λέγει – οὐ γὰρ
τίθησιν – οὐδὲ ὄνομα αὐτοῦ λέγει, ἀλλὰ φέρει μόνον τὸ οὐ τοῦτο.
Τοῦτο δὲ ποιοῦν οὐδαμοῦ αὐτὸ περιλαμβάνει· γελοῖον γὰρ ζητεῖν
ἐκείνην τὴν ἄπλετον φύσιν περιλαμβάνειν· ὁ γὰρ τοῦτο βουλόμενος
ποιεῖν ἀπέστησεν αὑτὸν καὶ τοῦ ὁπωσοῦν καὶ κατὰ βραχὺ εἰς ἴχνος
αὐτοῦ ἰέναι· ἀλλ᾽ ὥσπερ τὴν νοητὴν φύσιν βουλόμενος ἰδεῖν οὐδεμίαν
φαντασίαν αἰσθητοῦ ἔχων θεάσεται ὅ ἐστιν ἐπέκεινα τοῦ αἰσθητοῦ,
οὕτω καὶ ὁ θεάσασθαι θέλων τὸ ἐπέκεινα τοῦ νοητοῦ τὸ νοητὸν πᾶν

131
Platão, Crátilo 401c: πρῶτον μὲν οὖν κατὰ τὸ ἕτερον ὄνομα τούτων ἡ τῶν
πραγμάτων οὐσία “Ἑστία” (5) καλεῖσθαι ἔχει λόγον, καὶ ὅτι γε αὖ ἡμεῖς τὸ τῆς οὐσίας
μετέχον “ἔστιν” φαμέν, καὶ κατὰ τοῦτο ὀρθῶς ἂν καλοῖτο “Ἑστία” (primeiro, segundo
o nome diferente desses, a essência das coisas feitas chamar-se ‘morada’ tem uma
razão, tanto porque nós dizemos ‘é’ o que participa da essência, quanto segundo isso
corretamente se chamaria ‘morada’). A voz da alma: “que é” e “o ser” e “essência” e
“morada”.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 131

ἀφεὶς θεάσεται, ὅτι μὲν ἔστι διὰ τούτου μαθών, οἷον δ᾽ ἐστὶ τοῦτο ἀφείς.
Τὸ δὲ οἷον σημαίνοι ἂν τὸ οὐχ οἷον· οὐ γὰρ ἔνι οὐδὲ τὸ οἷον, ὅτωι μηδὲ
τὸ τι. Ἀλλὰ ἡμεῖς ταῖς ἡμετέραις ὠδῖσιν ἀποροῦμεν ὅ τι χρὴ λέγειν, καὶ
λέγομεν περὶ οὐ ῥητοῦ, καὶ ὀνομάζομεν σημαίνειν ἑαυτοῖς θέλοντες,
ὡς δυνάμεθα. Τάχα δὲ καὶ τὸ ἓν ὄνομα τοῦτο ἄρσιν ἔχει πρὸς τὰ πολλά.
Ὅθεν καὶ Ἀπόλλωνα οἱ Πυθαγορικοὶ συμβολικῶς πρὸς ἀλλήλους
ἐσήμαινον ἀποφάσει τῶν πολλῶν. Εἰ δὲ θέσις τις τὸ ἕν, τό τε ὄνομα τό
τε δηλούμενον, ἀσαφέστερον ἂν γίνοιτο τοῦ εἰ μή τις ὄνομα ἔλεγεν
αὐτοῦ· τάχα γὰρ τοῦτο ἐλέγετο, ἵνα ὁ ζητήσας, ἀρξάμενος ἀπ᾽ αὐτοῦ, ὃ
πάντως ἁπλότητός ἐστι σημαντικόν, ἀποφήσηι τελευτῶν καὶ τοῦτο, ὡς
τεθὲν μὲν ὅσον οἷόν τε καλῶς τῶι θεμένωι οὐκ ἄξιον μὴν οὐδὲ τοῦτο
εἰς δήλωσιν τῆς φύσεως ἐκείνης, ὅτι μηδὲ ἀκουστὸν ἐκεῖνο μηδὲ τῶι
ἀκούοντι δεῖ συνετὸν εἶναι, ἀλλ᾽ εἴπερ τινί, τῶι ὁρῶντι. Ἀλλ᾽ εἰ τὸ ὁρῶν
εἶδος ζητεῖ βλέπειν, οὐδὲ τοῦτο εἴσεται.

6. Mas essas coisas, como alguém deseja, estejam ditas. E a essência


que foi gerada sendo forma – pois algo não diverso alguém diria o que
dali foi gerado – e forma não de algo, mas de tudo, de modo a não deixar
para trás algo diverso, há necessidade aquele [uno] ser sem forma. E
[ele] sendo sem forma não é essência; pois é preciso isto ser essência;
porque está definido; e não é possível tomar [o uno] como ‘isto’; pois
já não é princípio, mas aquilo apenas, que disseste ser ‘isto’. Então se
todas as coisas são no que veio a ser, qual delas nisso [que veio a ser]
dirás ser aquele [uno]? Nenhuma dessas seria dita ser o que é além
delas. Essas são as coisas que são e o que é; portanto [o uno] é além do
que é. Pois ‘o além do que é’132 não diz ser ‘isto’ – pois não o põe –

132
Platão, Politeia 509b: Καὶ τοῖς γιγνωσκομένοις τοίνυν μὴ μόνον τὸ γιγνώσκεσθαι
φάναι ὑπὸ τοῦ ἀγαθοῦ παρεῖναι, ἀλλὰ καὶ τὸ εἶναί τε καὶ τὴν οὐσίαν ὑπ’ ἐκείνου
αὐτοῖς προσεῖναι, οὐκ οὐσίας ὄντος τοῦ ἀγαθοῦ, ἀλλ’ ἔτι ἐπέκεινα τῆς οὐσίας
πρεσβείᾳ καὶ δυνάμει ὑπερέχοντος (portanto às coisas que vêm a ser não apenas o vir
a ser diz ser presente por causa do bem, mas também o ser e a essência haver para elas

SUMÁRIO
P l o t i n o | 132

nem diz seu nome133, mas refere apenas o que não é isso. O que faz isso
de modo algum o envolve; pois é ridículo buscar envolver aquela
natureza incomensurável; pois o que pretende fazer isso afastou a si
mesmo de ir tanto de qualquer maneira quanto por breve tempo a
alguma marca dele; mas como o que deseja ver a natureza inteligível,
tendo nenhuma fantasia do sensível, contemplará o que é além do
sensível, assim também o que quer contemplar o ‘além do inteligível’
contemplará, tendo sido afastado todo o inteligível, porque aprendeu,
por causa disso, que ele é, tendo afastado o tal ‘que é isso’. O ‘tal’
significaria o que não é ‘tal’; pois não há ‘tal’ nem ‘algo’ para qualquer
que seja o uno. Mas nós ficamos em aporia com nossos esforços ao
dizer que é preciso ser algo, e dizemos sobre o não dizível, e o
nomeamos querendo dar significado a nós mesmos, como somos
capazes. Logo também esse nome ‘uno’ tem elevação em relação ao
múltiplo. Daí também os pitagóricos simbolicamente entre si
sinalizavam Apolo por uma negação do múltiplo134. E se é alguma tese
o uno, o nome e o que é mostrado, viria a ser mais obscuro do que se
ninguém dissesse seu nome; pois logo esse [nome] era dito para que o
que busca, que começou a partir dele que é totalmente mais simples de

por causa dele, ele não sendo essência do bem, mas sendo ainda além da essência em
dignidade e potência).
133
Platão, Parmênides 142a: Οὐδ’ ἄρα ὄνομα ἔστιν αὐτῷ οὐδὲ λόγος οὐδέ τις
ἐπιστήμη οὐδὲ αἴσθησις οὐδὲ δόξα (portanto não há nome para ele nem certo
conhecimento nem sensação nem opinião).
134
Plutarco, Ísis e Osíris 381 F: τὸ δ’ ἓν Ἀπόλλωνα πλήθους ἀποφάσει καὶ δι’
ἁπλότητα τῆς μονάδος (o ‘um’ [os pitagóricos denominam] Apolo, por negação da
multiplicidade e pela simplicidade da unidade). Platão, Crátilo 405a-e: ... Κατὰ μὲν
τοίνυν τὰς ἀπολύσεις τε καὶ ἀπολούσεις, (c) ὡς ἰατρὸς ὢν τῶν τοιούτων, “Ἀπολούων”
ἂν ὀρθῶς καλοῖτο ... (... portanto, segundo as soluções e abluções, como sendo médico
de tais coisas, seria chamado corretamente ‘deus das abluções’ ...); Politeia 509c: Καὶ
ὁ Γλαύκων μάλα γελοίως, Ἄπολλον, ἔφη, δαιμονίας ὑπερβολῆς (e Glauco com muito
sarcasmo dizia: “Apolo da hipérbole divina”).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 133

sentido, negue que mesmo esse [nome] seja perfeito, de modo que tendo
sido posto esse [nome], quanto é possível ao que foi belamente posto,
não é digno para demonstração daquela natureza, porque [o uno] não é
audível nem é preciso ser compreensível ao que ouve, mas se for
[compreensível] a algum, será ao que vê. Mas se o que vê busca olhar
uma forma, nem isso se mostrará.

7. Ἢ ἐπειδὴ διττὸν καὶ τὸ ἐνεργείαι βλέπειν, οἷον ἐπὶ ὀφθαλμοῦ – τὸ


μὲν γάρ ἐστιν ὅραμα αὐτῶι τὸ εἶδος τὸ τοῦ αἰσθητοῦ, τὸ δὲ δι᾽ οὗ ὁρᾶι
τὸ εἶδος αὐτοῦ, ὃ καὶ αὐτὸ αἰσθητόν ἐστιν αὐτῶι, ἕτερον ὂν τοῦ εἴδους,
αἴτιον δὲ τῶι εἴδει τοῦ ὁρᾶσθαι, ἐν μὲν τῶι εἴδει καὶ ἐπὶ τοῦ εἴδους
συνορώμενον· διὸ οὐκ ἐναργῆ τότε δίδωσι τὴν αἴσθησιν αὐτοῦ, ἅτε τοῦ
ὄμματος τετραμμένου πρὸς τὸ πεφωτισμένον· ὅταν δὲ μηδὲν ἄλλο ἦι
παρ᾽ αὐτό, ἀθρόαι εἶδε προσβολῆι, καίτοι καὶ τότε εἶδεν ἐπερειδόμενον
ἄλλωι, μόνον δὲ αὐτὸ γενόμενον, μὴ πρὸς ἑτέρωι, οὐ δύναται ἡ
αἴσθησις λαβεῖν. Ἐπεὶ καὶ τοῦ ἡλίου τὸ φῶς τὸ ἐν αὐτῶι τάχ᾽ ἂν τὴν
αἴσθησιν ἐξέφυγεν, εἰ μὴ ὄγκος ἐπέκειτο αὐτῶι στερεώτερος. Εἰ δέ τις
φῶς πᾶν εἶναι αὐτὸν λέγοι, τοῦτο ἄν τις λάβοι πρὸς δήλωσιν τοῦ
λεγομένου· ἔσται γὰρ φῶς ἐν οὐδενὶ εἴδει τῶν ἄλλων ὁρωμένων, καὶ
ἴσως ὁρατὸν μόνον· τὰ γὰρ ἄλλα ὁρατὰ οὐ φῶς μόνον. Οὕτω τοίνυν καὶ
ἡ τοῦ νοῦ ὄψις· ὁρᾶι μὲν καὶ αὕτη δι᾽ ἄλλου φωτὸς τὰ πεφωτισμένα
ἐκείνηι τῆι πρώτηι φύσει, καὶ ἐν ἐκείνοις ὄντος ὁρᾶι· νεύουσα μέντοι
πρὸς τὴν τῶν καταλαμπομένων φύσιν ἧττον αὐτὸ ὁρᾶι· εἰ δ᾽ ἀφήσει τὰ
ὁρώμενα καὶ δι᾽ οὗ εἶδεν εἰς αὐτὸ βλέποι, φῶς ἂν καὶ φωτὸς ἀρχὴν ἂν
βλέποι. Ἀλλ᾽ ἐπεὶ μὴ ὡς ἔξω ὂν δεῖ τὸν νοῦν τοῦτο τὸ φῶς βλέπειν,
πάλιν ἐπὶ τὸν ὀφθαλμὸν ἰτέον, ὅς ποτε καὶ αὐτὸς οὐ τὸ ἔξω φῶς οὐδὲ
τὸ ἀλλότριον εἴσεται, ἀλλὰ πρὸ τοῦ ἔξω οἰκεῖόν τι καὶ μᾶλλον
στιλπνότερον ἐν ἀκαρεῖ θεᾶται, ἢ νύκτωρ ἐν σκότωι [πρὸ αὐτοῦ] ἐξ
αὐτοῦ προπηδήσαντος, ἢ ὅταν μηδὲν ἐθελήσας τῶν ἄλλων βλέπειν
προβάλλοιτο πρὸ αὐτοῦ τὴν τῶν βλεφάρων φύσιν τὸ φῶς ὅμως
προφέρων, ἢ καὶ πιέσαντος τοῦ ἔχοντος τὸ ἐν αὐτῶι φῶς ἴδοι. Τότε γὰρ
οὐχ ὁρῶν ὁρᾶι καὶ μάλιστα τότε ὁρᾶι· φῶς γὰρ ὁρᾶι· τὰ δ᾽ ἄλλα

SUMÁRIO
P l o t i n o | 134

φωτοειδῆ μὲν ἦν, φῶς δὲ οὐκ ἦν. Οὕτω δὴ καὶ νοῦς αὑτὸν ἀπὸ τῶν
ἄλλων καλύψας καὶ συναγαγὼν εἰς τὸ εἴσω μηδὲν ὁρῶν θεάσεται οὐκ
ἄλλο ἐν ἄλλωι φῶς, ἀλλ᾽ αὐτὸ καθ᾽ ἑαυτὸ μόνον καθαρὸν ἐφ᾽ αὑτοῦ
ἐξαίφνης φανέν, ὥστε ἀπορεῖν ὅθεν ἐφάνη, ἔξωθεν ἢ ἔνδον, καὶ
ἀπελθόντος εἰπεῖν ἔνδον ἄρα ἦν καὶ οὐκ ἔνδον αὖ.

7. Uma vez que duplo é o olhar em atividade, tal que no olho, pois uma
coisa é a forma produto da visão para ele, a forma do sensível, e outra
coisa é pelo que ele vê sua própria forma, que também é o mesmo
sensível para ele, sendo diferente da forma [do que é visto] e causador
de ser visto por [sua] forma135, porque o que é visto em conjunto é na
forma [da luz] e [esta] sobre a forma [do que é visto]; por isso [a forma
da luz] não dá clara sensação de si, quando o olho está voltado para o
que está iluminado; e quando nada diverso seja contra ela, [o olho] vê
pelo impulso em conjunto, no entanto [só a] vê quando ela se apoia em
algo diverso, mas quando apenas ela veio a ser, não se apoiando em
algo diferente, não é possível a sensação a tomar. Uma vez que mesmo
a luz do sol que é nele logo evitaria a sensação, se não jazesse para ele
massa mais sólida. E se alguém disser ser o mesmo [sol] toda luz,
alguém tomaria isso para esclarecimento do que é dito; pois luz será em
nenhuma forma das diversas coisas vistas, e igualmente será única
visível; pois as diversas coisas visíveis não serão apenas luz. Assim,
portanto, é também a visão da inteligência: ela mesma também vê por
uma diversa luz as coisas que estão iluminadas por aquela primeira
natureza, e quando [esta luz] é naquelas coisas [ela] vê; inclinando-se,
no entanto, para a natureza das coisas que estão sob a luz, ela menos a
vê; mas se [a visão da inteligência] deixar as coisas vistas, e vir a causa
do ver, olharia para a própria luz, olharia luz e princípio da luz. Mas,

135
O olho em atividade vê de duas maneiras: vê sua forma sensível como produto da
visão e a vê pela forma da luz, que também é sensível e permite que ele veja o sensível.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 135

uma vez que é preciso a inteligência olhar essa luz não como sendo luz
exterior, deve-se ir novamente para o olho, que, quando ele mesmo vir
nem a luz de fora nem a alheia, mas anterior à de fora, ele contempla
em um instante uma luz familiar ainda mais esplendente, ou porque a
projetou de noite no escuro [adiante de si] desde si mesmo ou, quando
nenhuma das diversas coisas tenha desejado olhar, seja lançada adiante
de si a natureza das pálpebras, contudo a luz se leva adiante, ou a veria,
tendo comprimido o que tem a luz em si136. Pois quando [o olho] não
vê [as coisas vistas], ele vê, quando vê muito mais; pois vê luz. As
outras coisas eram formas de luz, e não eram luz. Assim também a
inteligência tendo-se escondido das coisas diversas, conduzindo-se ao
interior contemplará nada, vendo não uma luz diversa em algo diverso,
mas a própria luz que única súbito se mostrou por si mesma, pura de si
mesma, de modo a haver aporia de onde se mostrou, de fora ou de
dentro, e ela tendo-se afastado137, [a inteligência] diz: “portanto era de
dentro e por sua vez não era de dentro”.

8. Ἢ οὐ δεῖ ζητεῖν πόθεν· οὐ γάρ ἐστι τὸ πόθεν· οὔτε γὰρ ἔρχεται οὔτε
ἄπεισιν οὐδαμοῦ, ἀλλὰ φαίνεταί τε καὶ οὐ φαίνεται· διὸ οὐ χρὴ διώκειν,
ἀλλ᾽ ἡσυχῆι μένειν, ἕως ἂν φανῆι, παρασκευάσαντα ἑαυτὸν θεατὴν
εἶναι, ὥσπερ ὀφθαλμὸς ἀνατολὰς ἡλίου περιμένει· ὁ δὲ ὑπερφανεὶς τοῦ
ὁρίζοντος – ἐξ ὠκεανοῦ φασιν οἱ ποιηταί – ἔδωκεν ἑαυτὸν θεάσασθαι
τοῖς ὄμμασιν. Οὑτοσὶ δέ, ὃν μιμεῖται ὁ ἥλιος, ὑπερσχήσει πόθεν; Καὶ τί
ὑπερβαλὼν φανήσεται; Ἢ αὐτὸν ὑπερσχὼν τὸν νοῦν τὸν θεώμενον·
ἑστήξεται μὲν γὰρ ὁ νοῦς πρὸς τὴν θέαν εἰς οὐδὲν ἄλλο ἢ πρὸς τὸ καλὸν

136
Comparando-se com a visão da inteligência, o olho pode ver sua luz própria, que
é anterior à luz de fora e mais esplendente, ao deixar as coisas diversas, como se fosse
no escuro ou baixasse as pálpebras, pois a luz interna continuaria, como se alguém
tivesse esfregado as pálpebras com as mãos.
137
Se a inteligência se isolar dos inteligíveis poderá contemplar o princípio que
permite ver, que é interior e não é, pois o uno que é nela é absoluto.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 136

βλέπων, ἐκεῖ ἑαυτὸν πᾶς τρέπων καὶ διδούς, στὰς δὲ καὶ οἷον πληρωθεὶς
μένους εἶδε μὲν τὰ πρῶτα καλλίω γενόμενον ἑαυτὸν καὶ ἐπιστίλβοντα,
ὡς ἐγγὺς ὄντος αὐτοῦ. Ὁ δὲ οὐκ ἤιει, ὥς τις προσεδόκα, ἀλλ᾽ ἦλθεν ὡς
οὐκ ἐλθών· ὤφθη γὰρ ὡς οὐκ ἐλθών, ἀλλὰ πρὸ ἁπάντων παρών, πρὶν
καὶ τὸν νοῦν ἐλθεῖν. Εἶναι δὲ τὸν νοῦν τὸν ἐλθόντα καὶ τοῦτον εἶναι καὶ
τὸν ἀπιόντα, ὅτι μὴ οἶδε ποῦ δεῖ μένειν καὶ ποῦ ἐκεῖνος μένει, ὅτι ἐν
οὐδενί. Καὶ εἰ οἷόν τε ἦν καὶ αὐτῶι τῶι νῶι μένειν μηδαμοῦ – οὐχ ὅτι
ἐν τόπωι· οὐδὲ γὰρ οὐδ᾽ αὐτὸς ἐν τόπωι, ἀλλ᾽ ὅλως μηδαμοῦ – ἦν ἂν
ἀεὶ ἐκεῖνον βλέπων· καίτοι οὐδὲ βλέπων, ἀλλ᾽ ἓν ἐκείνωι ὢν καὶ οὐ δύο.
Νῦν δέ, ὅτι ἐστὶ νοῦς, οὕτω βλέπει, ὅτε βλέπει, τῶι ἑαυτοῦ μὴ νῶι.
Θαῦμα δή, πῶς οὐκ ἐλθὼν πάρεστι, καὶ πῶς οὐκ ὢν οὐδαμοῦ οὐδαμοῦ
οὐκ ἔστιν ὅπου μὴ ἔστιν. Ἔστι μὲν οὖν οὑτωσὶ αὐτόθεν θαυμάσαι, τῶι
δὲ γνόντι, τὸ ἐναντίον εἴπερ ἦν, θαυμάσαι· μᾶλλον δὲ οὐδὲ δυνατὸν
εἶναι, ἵνα τις καὶ θαυμάσηι. Ἔχει δὲ ὧδε·

8. Certamente não é preciso buscar de onde; pois não há o ‘de onde’;


pois nem vem nem vai de modo algum, mas se mostra e não se mostra;
por isso não há necessidade de perseguir, mas de permanecer em
tranquilidade, até que se mostre, tendo-se preparado138 para ser o
próprio espectador, como olho permanece cercando os ressurgimentos
do sol; ele tendo-se mostrado acima do horizonte – desde o oceano,
dizem os poetas139 – deu-se para ser contemplado pelos olhos. E isso aí
que o sol imita sobrevirá de onde140? E ultrapassando o quê, mostrar-

138
Παρασκευάσαντα: expressão dos ritos iniciáticos aos Mistérios: Enéada VI 7, 34
[10]; VI 9, 4 [26].
139
Homero, Ilíada VII, 421 – 423: Ἠέλιος μὲν ἔπειτα νέον προσέβαλλεν ἀρούρας / ἐξ
ἀκαλαρρείταο βαθυρρόου Ὠκεανοῖο / οὐρανὸν εἰσανιών (então o sol há pouco
lançava-se aos campos desde o plácido oceano profundo subindo ao céu).
140
Platão, Politeia 508b-c: Τοῦτον τοίνυν, ἦν δ’ ἐγώ, φάναι με λέγειν τὸν τοῦ ἀγαθοῦ
ἔκγονον, ὃν τἀγαθὸν ἐγέννησεν ἀνάλογον ἑαυτῷ, ὅτιπερ αὐτὸ (c) ἐν τῷ νοητῷ τόπῳ
πρός τε νοῦν καὶ τὰ νοούμενα, τοῦτο τοῦτον ἐν τῷ ὁρατῷ πρός τε ὄψιν καὶ τὰ ὁρώμενα
(portanto, dizia eu, ao mostrar esse [astro], digo que ele é nascido do bem, que o bem

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 137

se-á? Certamente mantendo-se acima da mesma inteligência que


contempla; de fato, a inteligência ter-se-á posto em relação à
contemplação, olhando para nada, senão para o belo, voltando-se e
dando-se toda para lá, estando firme tal que se tendo enchido de vigor,
vê as primeiras coisas mais belas, porque veio a ser ela mesma e mais
esplendente, como sendo próxima [dele]. Mas ele não vinha, como
alguém se juntou, mas veio como o que não veio; pois foi visto não
como que veio, mas [como] o que é presente antes de todas as coisas,
antes ainda de a inteligência chegar. E ser a inteligência, a que veio, é
também ser a que se afasta, porque ela nem sabe onde é preciso
permanecer e onde aquele [princípio] permanece, porque ele é em nada.
E se fosse possível também para a mesma inteligência permanecer em
nenhuma parte – não que ela seja em lugar; não, pois ela mesma não é
em lugar, mas é de modo geral em nenhuma parte – estaria sempre a
olhar aquele [princípio]; no entanto, nem estaria a olhar, mas sendo um
só com ele e não dois. Mas agora, porque é inteligência, assim olha,
quando olha, com o que não é inteligência de si mesma. É de fato
maravilha como não tendo vindo é presente, e como não sendo de modo
algum, de modo algum há lugar em que ele não seja. Então, desse modo
maravilhar-se a partir disso é para o que reconhece, se fosse o contrário,
seria de se admirar; ou melhor, nem é possível [o contrário], para que
alguém também admire. Isso é deste modo:

9. πᾶν τὸ γενόμενον ὑπ᾽ ἄλλου ἢ ἐν ἐκείνωι ἐστὶ τῶι πεποιηκότι ἢ ἐν


ἄλλωι, εἴπερ εἴη τι μετὰ τὸ ποιῆσαν αὐτό· ἅτε γὰρ γενόμενον ὑπ᾽ ἄλλου
καὶ πρὸς τὴν γένεσιν δεηθὲν ἄλλου, ἄλλου δεῖται πανταχοῦ· διόπερ καὶ
ἐν ἄλλωι. Πέφυκεν οὖν τὰ μὲν ὕστατα ἐν τοῖς πρὸ αὐτῶν ὑστάτοις, τὰ
δ᾽ [ἐν πρώτοις] ἐν τοῖς προτέροις καὶ ἄλλο ἐν ἄλλωι, ἕως εἰς τὸ πρῶτον

gerou análogo a si mesmo, e que esse mesmo [bem] que é no espaço inteligível, em
relação à inteligência e às coisas pensadas, é esse [sol] no espaço sensível, em relação
à visão e às coisas vistas).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 138

ἀρχὴν ὄν. Ἀρχὴ δέ, ἅτε μηδὲν ἔχουσα πρὸ αὐτῆς, οὐκ ἔχει ἐν ὅτωι
ἄλλωι· μὴ ἔχουσα δ᾽ ἐν ὅτωι αὕτη τῶν ἄλλων ὄντων ἐν τοῖς πρὸ αὐτῶν
τὰ ἄλλα περιείληφε πάντα αὐτή· περιλαβοῦσα δὲ οὔτ᾽ ἐσκεδάσθη εἰς
αὐτὰ καὶ ἔχει οὐκ ἐχομένη. Ἔχουσα δὴ καὶ αὐτὴ οὐκ ἐχομένη οὐκ ἔστιν
ὅπου μὴ ἔστιν· εἰ γὰρ μὴ ἔστιν, οὐκ ἔχει. Εἰ δὲ μὴ ἔχεται, οὐκ ἔστιν·
ὥστε ἔστι καὶ οὐκ ἔστι, τῶι μὲν μὴ περιέχεσθαι οὐκ οὖσα, τῶι δ᾽ εἶναι
παντὸς ἐλευθέρα οὐδαμοῦ κωλυομένη εἶναι. Εἰ γὰρ αὖ κεκώλυται,
ὥρισται ὑπ᾽ ἄλλου, καὶ τὰ ἐφεξῆς ἄμοιρα αὐτοῦ, καὶ μέχρι τούτου ὁ
θεός, καὶ οὐδ᾽ ἂν ἔτι ἐφ᾽ αὑτοῦ, ἀλλὰ δουλεύων τοῖς μετ᾽ αὐτόν. Τὰ μὲν
οὖν ἔν τινι ἐκεῖ ἐστιν, οὗ ἐστιν· ὅσα δὲ μὴ ποῦ, οὐκ ἔστιν ὅπου μή. Εἰ
γὰρ μὴ ἐνθαδί, δῆλον ὅτι ἄλλος αὐτὸν κατέχει τόπος, καὶ ἐνθαδὶ ἐν
ἄλλωι, ὥστε ψεῦδος τὸ οὐ ποῦ. Εἰ οὖν ἀληθὲς τὸ οὐ ποῦ καὶ ψεῦδος τὸ
ποῦ, ἵνα μὴ ἐν ἄλλωι, οὐδενὸς ἂν ἀποστατοῖ. Εἰ δὲ μηδενὸς ἀποστατεῖ
οὐ ποῦ ὤν, πανταχοῦ ἔσται ἐφ᾽ ἑαυτοῦ. Οὐδὲ γὰρ τὸ μέν τι αὐτοῦ ὡδί,
τὸ δὲ ὡδί· οὐ μὴν οὐδ᾽ ὅλον ὡδί· ὥστε ὅλον πανταχοῦ οὐδενὸς [ἑνὸς]
ἔχοντος αὐτὸ οὐδ᾽ αὖ μὴ ἔχοντος· ἐχομένου ἄρα ὁτουοῦν. Ὅρα δὲ καὶ
τὸν κόσμον, ὅτι, ἐπεὶ μηδεὶς κόσμος πρὸ αὐτοῦ, οὐκ ἐν κόσμωι αὐτὸς
οὐδ᾽ αὖ ἐν τόπωι· τίς γὰρ τόπος πρὶν κόσμον εἶναι; Τὰ δὲ μέρη
ἀνηρτημένα εἰς αὐτὸν καὶ ἐν ἐκείνωι. Ψυχὴ δὲ οὐκ ἐν ἐκείνωι, ἀλλ᾽
ἐκεῖνος ἐν αὐτῆι· οὐδὲ γὰρ τόπος τὸ σῶμα τῆι ψυχῆι, ἀλλὰ ψυχὴ μὲν ἐν
νῶι, σῶμα δὲ ἐν ψυχῆι, νοῦς δὲ ἐν ἄλλωι· τούτου δὲ οὐκέτι ἄλλο, ἵν᾽ ἂν
ἦν ἐν αὐτῶι· οὐκ ἐν ὁτωιοῦν ἄρα· ταύτηι οὖν οὐδαμῆι. Ποῦ οὖν τὰ
ἄλλα; ἐν αὐτῶι. Οὔτε ἄρα ἀφέστηκε τῶν ἄλλων οὔτε αὐτὸς ἐν αὐτοῖς
ἐστιν οὐδὲ ἔστιν οὐδὲν ἔχον αὐτό, ἀλλ᾽ αὐτὸ ἔχει τὰ πάντα. Διὸ καὶ
ταύτηι ἀγαθὸν τῶν πάντων, ὅτι καὶ ἔστι καὶ ἀνήρτηται πάντα εἰς αὐτὸ
ἄλλο ἄλλως. Διὸ καὶ ἀγαθώτερα ἕτερα ἑτέρων, ὅτι καὶ μᾶλλον ὄντα
ἕτερα ἑτέρων.

9. Tudo o que veio a ser por algo diverso ou é nesse que o criou ou em
um outro, se houver algo depois desse que o criou; pois o que veio a ser
por algo diverso, para a gênese, necessitou de algo diverso e necessita

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 139

de algo diverso em tudo; por isso mesmo também é em algo diverso141.


Então, as últimas coisas foram geradas nas últimas antes dessas
mesmas, e as [nas primeiras coisas] são nas anteriores, uma em outra
até [chegar] à primeira que é princípio. E o princípio, enquanto nada o
tem antes dele mesmo, não está em qualquer outra coisa; e esse
[princípio], não estando em alguma das outras coisas que são antes dele,
compreendeu ele mesmo todas as outras. Compreendendo-as, não se
dispersa nelas, contendo-as, não sendo contido. Portanto, contendo e
não sendo contido, não há lugar onde não é; pois caso não seja, não
contém. Caso não seja contido, não é; assim é e não é, não sendo por
não ser envolvido, e por ser livre de tudo, de modo algum é impedido
de ser. Pois se por sua vez fosse impedido, estaria delimitado por algo
diverso, e o que é em seguida seria sem parte dele, até esse ponto seria
deus, e não mais seria [deus] em si mesmo, mas seria escravo para o
que fosse depois dele. De fato, o que é em algo é ali de onde é; em
relação a quantas coisas não são em algum lugar, não há lugar onde não
sejam. Pois se ele não for aqui, é claro que outro lugar o mantém, e ali
será em parte diversa, de modo que será falso que não há ‘onde’. Se
então for verdadeiro que não há ‘onde’ e falso que há ‘onde’, para que
não seja em parte diversa, de nada estaria afastado. Se de nada estiver
afastado, não há ‘onde’, porque ele é e será em toda parte em si mesmo.
Pois nem há algo dele aqui, algo ali; nem é, portanto, não inteiro aqui;
assim é inteiro em toda parte, sem uma única parte o conter, nem por
sua vez não o conter; sendo, portanto, contido o que quer que seja142.
Vê também o cosmo, porque, uma vez que nenhum cosmo há antes dele,
nem ele mesmo é em cosmo nem por sua vez em lugar; pois que lugar
há para ser antes de cosmo? As partes, que estão dependentes dele,

141
Platão, Parmênides 145b: Ἆρ’ οὖν οὕτως ἔχον οὐκ αὐτό τε ἐν ἑαυτῷ ἔσται καὶ ἐν
ἄλλῳ; (por acaso isso sendo assim não será uno e será em algo diverso?).
142
Platão, Parmênides 138b: Οὐκ ἄρα ἐστίν που (5) τὸ ἕν, μήτε ἐν αὑτῷ μήτε ἐν ἄλλῳ
ἐνόν (portanto, o uno não é ‘onde’, porque nem é em si mesmo nem em algo diverso).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 140

também são naquele [cosmo]. E alma não é naquele [cosmo], mas


aquele é nela143; pois nem o corpo é lugar para a alma, mas alma é em
inteligência, e corpo é em alma, e inteligência é em algo diverso; e deste
não há mais algo diverso, para que fosse nele mesmo; não é em parte
alguma, portanto; então aí é em nenhuma parte. Então onde são as
coisas diversas? Nele. Portanto nem está separado das coisas diversas
nem ele mesmo é nelas, nem há nada que o tenha, mas ele tem todas as
coisas. Por isso mesmo aí é o bem de todas as coisas, porque todas as
coisas tanto são para ele quanto são dependentes dele, cada uma de
modo diverso. Por isso umas são melhores do que outras, porque umas
são mais diferentes do que outras.

10. Ἀλλὰ σὺ μή μοι δι᾽ ἑτέρων αὐτὸ ὅρα· εἰ δὲ μή, ἴχνος ἂν ἴδοις, οὐκ
αὐτό· ἀλλ᾽ ἐννόει, τί ἂν εἴη τοῦτο, ὃ ἔστι λαβεῖν ἐφ᾽ ἑαυτοῦ ὂν καθαρὸν
οὐδενὶ μιγνύμενον μετεχόντων ἁπάντων αὐτοῦ μηδενὸς ἔχοντος αὐτό·
ἄλλο μὲν γὰρ οὐδὲν τοιοῦτον, δεῖ δέ τι τοιοῦτον εἶναι. Τίς ἂν οὖν τὴν
δύναμιν αὐτοῦ ἕλοι ὁμοῦ πᾶσαν; Εἰ γὰρ ὁμοῦ πᾶσαν, τί ἄν τις αὐτοῦ
διαφέροι; Κατὰ μέρος ἄρα; Ἀλλὰ προσβαλεῖς μὲν ἀθρόως ὁ
προσβάλλων, ὅλον δὲ οὐκ ἀπαγγελεῖς· εἰ δὲ μή, νοῦς νοῶν ἔσηι, κἂν
τύχηις, ἐκεῖνός σε ἐκφεύξεται, μᾶλλον δὲ σὺ αὐτόν. Ἀλλ᾽ ὅταν μὲν
ὁρᾶις, ὅλον βλέπε· ὅταν δὲ νοῆις, ὅ τι ἂν μνημονεύσηις αὐτοῦ, νόει, ὅτι
τἀγαθόν – ζωῆς γὰρ ἔμφρονος καὶ νοερᾶς αἴτιος δύναμις ὤν, ἀφ᾽ οὗ
ζωὴ καὶ νοῦς ὅ τι [τε] οὐσίας καὶ τοῦ ὄντος – ὅτι ἕν – ἁπλοῦν γὰρ καὶ
πρῶτον – ὅτι ἀρχή – ἀπ᾽ αὐτοῦ γὰρ πάντα· ἀπ᾽ αὐτοῦ κίνησις ἡ πρώτη,
οὐκ ἐν αὐτῶι, ἀπ᾽ αὐτοῦ στάσις, ὅτι αὐτὸς μὴ ἐδεῖτο· οὐ γὰρ κινεῖται
οὐδ᾽ ἕστηκεν· οὐδὲ γὰρ εἶχεν οὔτε ἐν ὧι στήσεται οὔτε ἐν ὧι

143
Platão, Timeu 36d – e: Ἐπεὶ δὲ κατὰ νοῦν τῷ συνιστάντι πᾶσα ἡ τῆς ψυχῆς
σύστασις ἐγεγένητο, μετὰ τοῦτο πᾶν τὸ σωματοειδὲς ἐντὸς (e) αὐτῆς ἐτεκταίνετο καὶ
μέσον μέσῃ συναγαγὼν προσήρμοττεν (uma vez que veio a ser toda a constituição da
alma segundo a inteligência do que constitui, depois disso ele construiu todo o
corpóreo dentro dela e o harmonizava alinhando o meio [desse todo] com o dela).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 141

κινηθήσεται· περὶ τί γὰρ ἢ πρὸς τί ἢ ἐν τίνι; Πρῶτος γὰρ αὐτός. Ἀλλ᾽


οὐδὲ πεπερασμένος [εἶναι]· ὑπὸ τίνος γάρ; Ἀλλ᾽ οὐδ᾽ ἄπειρος ὡς
μέγεθος· ποῦ γὰρ ἔδει προελθεῖν αὐτὸν ἢ ἵνα τί γένηται αὐτῶι οὐδενὸς
δεομένωι; Τὸ δ᾽ ἄπειρον ἧι δύναμις ἔχει· οὐ γὰρ ἄλλως ποτὲ οὐδ᾽
ἐπιλείψει, ὅπου καὶ τὰ μὴ ἐπιλείποντα δι᾽ αὐτόν.

10. Mas tu, por mim, não o vejas através de coisas diferentes; senão,
marca verias, e não ele próprio; mas reflete: o que seria isso que é para
tomar sobre si mesmo que é puro com nada misturado, todas as coisas
participando dele, nenhuma o tendo; pois nada diverso é tal, e é preciso
haver algo desse tipo. Quem tomaria de uma vez toda sua potência?
Pois se a tomasse toda de uma vez, em que alguém diferiria dele?
[Tomaria] por parte, portanto? Mas tu, quando te projetares
intensamente a ele , projetarás e não o reportarás inteiro; senão, serás
inteligência que pensa, e se por acaso o encontres, ele fugirá de ti, ou
melhor, tu fugirás dele. Mas quando o vês, olha-o inteiro; e quando o
pensas, o que poderias lembrar dele, pensa que ele é o bem – pois sendo
potência causadora de vida sensata144 e inteligente, a partir da qual há
vida e inteligência, é potência causadora de essência e do que é – porque
é uno – pois sendo simples também é primeiro – porque é princípio –
pois a partir dele são todas as coisas; a partir dele é ato de mover, o
primeiro – pois não é nele mesmo – a partir dele é o ato de estar em
repouso, porque ele mesmo não tinha necessidade; pois não se move
nem esteve em repouso145; pois não tinha nem em que estaria em
repouso nem em que se moveria146; pois acerca do quê, ou em relação

144
Platão, Politeia 521a: ζωῆς ἀγαθῆς τε καὶ ἔμφρονος (uma vida boa e sensata).
145
Platão, Sofista 254d: Μέγιστα μὴν τῶν γενῶν ἃ νυνδὴ διῇμεν τό τε ὂν αὐτὸ καὶ
στάσις καὶ κίνησις (no entanto, os principais gêneros que agora mesmo passávamos
são o que é, o mesmo, e repouso e movimento).
146
Platão, Parmênides 139b: Τὸ ἓν ἄρα, ὡς ἔοικεν, οὔτε ἕστηκεν οὔτε κινεῖται
(portanto o uno, ao que parece, nem esteve em movimento nem se move).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 142

a quê, ou em quê? Pois ele mesmo é primeiro. Mas nem é o que foi
delimitado; pois pelo quê? Mas nem indefinido, como grandeza; pois a
onde era preciso ele avançar, ou para que venha a ser o quê, uma vez
que ele de nada precisa? Sua potência tem o infinito; pois jamais será
de modo diverso nem será menos, onde mesmo os que não são menos
são por causa dele.

11. Καὶ τὸ ἄπειρον τούτωι τῶι μὴ πλέον ἑνὸς εἶναι μηδὲ ἔχειν πρὸς ὃ
ὁριεῖ τι τῶν ἑαυτοῦ· τῶι γὰρ ἓν εἶναι οὐ μεμέτρηται οὐδ᾽ εἰς ἀριθμὸν
ἥκει. Οὔτ᾽ οὖν πρὸς ἄλλο οὔτε πρὸς αὑτὸ πεπέρανται· ἐπεὶ οὕτως ἂν
εἴη καὶ δύο. Οὐδὲ σχῆμα τοίνυν, ὅτι μηδὲ μέρη, οὐδὲ μορφή. Μὴ τοίνυν
ζήτει θνητοῖς ὄμμασι τοῦτο, οἷόν φησιν ὁ λόγος, μηδ᾽ ὅτι οὕτως ἐστὶν
ἰδεῖν, ὡς ἄν τις ἀξιώσειε πάντα αἰσθητὰ εἶναι ὑπολαμβάνων – τὸ
μάλιστα πάντων ἀναιρεῖ. Ἃ γὰρ ἡγεῖταί τις εἶναι μάλιστα, ταῦτα
μάλιστα οὐκ ἔστι· τὸ δὲ μέγα ἧττόν ἐστι. Τὸ δὲ πρῶτον ἀρχὴ τοῦ εἶναι
καὶ κυριώτερον αὖ τῆς οὐσίας· ὥστε ἀντιστρεπτέον τὴν δόξαν· εἰ δὲ μή,
καταλελείψηι ἔρημος θεοῦ, οἷον οἱ ἐν ταῖς ἑορταῖς ὑπὸ γαστριμαργίας
πλήσαντες ἑαυτούς, ὧν οὐ θέμις λαβεῖν τοὺς εἰσιόντας πρὸς τοὺς θεούς,
νομίσαντες μᾶλλον ἐκεῖνα ἐναργέστερα εἶναι τῆς θέας τοῦ θεοῦ, ὧι
ἑορτάζειν προσήκει, οὐ μετέσχον τῶν ἐκεῖ ἱερῶν. Καὶ γὰρ ἐν τούτοις
τοῖς ἱεροῖς ὁ θεὸς οὐχ ὁρώμενος ἀπιστεῖσθαι ποιεῖ ὡς οὐκ ὢν τοῖς
ἐναργὲς νομίζουσι μόνον, ὃ τῆι σαρκὶ μόνον ἴδοιεν· οἷον εἴ τινες διὰ
βίου κοιμώμενοι ταῦτα μὲν πιστὰ καὶ ἐναργῆ νομίζοιεν τὰ ἐν τοῖς
ὀνείρασιν, εἰ δέ τις αὐτοὺς ἐξεγείρειεν, ἀπιστήσαντες τοῖς διὰ τῶν
ὀφθαλμῶν ἀνεωιγότων ὀφθεῖσι πάλιν καταδαρθάνοιεν.

11. E ele tem o infinito por ser não mais do que um nem ter em relação
a que definirás alguma das suas partes; pois por ser um só não está
medido nem chega a número. Então nem em relação a outro nem em
relação a si mesmo ele tem limite; uma vez que assim seria também
dois. Não há conformação, portanto, porque não há partes, nem

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 143

figura147. Portanto não o busques com olhos mortais, tal como diz a
razão, porque não é para ver assim como alguém avaliaria ao supor que
todas as coisas são sensíveis – anularia o que é principal de todas. Pois
o que alguém considera ser muitíssimo, isso não é muitíssimo; e o
grande é menos. E o primeiro é princípio do ser e mais poderoso ainda
do que a essência; assim se deve mudar de opinião; senão, serás deixado
isolado do deus, como os que nas festas, por glutoneria, se enchem das
coisas de que não é lícito tomar aos que se dirigem aos deuses, por
considerar isso muito mais tangível do que a contemplação do deus, ao
qual convém festejar, aí não participam dos rituais. Pois o deus, não
sendo visto nesses rituais faz descrer, como se não existisse, aos que
consideram claro apenas o que veriam pela carne; como se alguns que
dormem durante a vida considerassem essas coisas nos sonhos críveis
e claras, se alguém os despertasse, ao não acreditar nas coisas vistas
pelos olhos abertos novamente cairiam no sono148.

12. Χρὴ δὲ βλέπειν ὧι ἕκαστα δεῖ αἰσθάνεσθαι, ὀφθαλμοῖς μὲν ἄλλα,


ὠσὶ δὲ ἕτερα, καὶ τὰ ἄλλα ὡσαύτως· καὶ τῶι νῶι πιστεύειν ἄλλα ὁρᾶν,

147
Platão, Parmênides 137d-e: Οὐκοῦν εἰ μηδὲν ἔχει μέρος, οὔτ’ ἂν ἀρχὴν οὔτε
τελευτὴν οὔτε μέσον ἔχοι· μέρη γὰρ ἂν ἤδη αὐτοῦ τὰ τοιαῦτα εἴη. — (5) Ὀρθῶς. —
Καὶ μὴν τελευτή γε καὶ ἀρχὴ πέρας ἑκάστου. —
Πῶς δ’ οὔ; — Ἄπειρον ἄρα τὸ ἕν, εἰ μήτε ἀρχὴν μήτε τελευτὴν ἔχει. — Ἄπειρον. —
Καὶ ἄνευ σχήματος ἄρα· οὔτε γὰρ (e) στρογγύλου οὔτε εὐθέος μετέχει (Então, se
nenhuma parte tem, nem teria princípio nem fim nem meio; pois essas já seriam suas
partes. – Está correto. – No entanto, fim e princípio é um limite de cada coisa. – Como
não? – Logo o uno é infinito, se nem tem princípio nem fim. – Infinito. – E sem
conformação, portanto; pois nem participa do redondo nem do reto).
148
Platão, Politeia 534c-d: καὶ τὸν νῦν βίον ὀνειροπολοῦντα καὶ ὑπνώττοντα, πρὶν
ἐνθάδ’ ἐξεγρέσθαι, εἰς Ἅιδου πρότερον (d) ἀφικόμενον τελέως ἐπικαταδαρθάνειν; (e
dormindo a sonhar com a vida de agora, antes de despertar aqui, chegando antes ao
Hades, para cair completamente no sono); Fédon 71c-d: Τί οὖν; ἔφη, τῷ ζῆν ἐστί τι
ἐναντίον, ὥσπερ τῷ ἐγρηγορέναι τὸ καθεύδειν; (Que é, então? Disse, é algo contrário
a viver, como ao estar desperto é o dormir?).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 144

καὶ μὴ τὸ νοεῖν ἀκούειν νομίζειν ἢ ὁρᾶν, ὥσπερ ἂν εἰ τοῖς ὠσὶν


ἐπιτάττοιεν βλέπειν, καὶ τὰς φωνὰς οὐκ εἶναι, ὅτι μὴ ὁρῶνται. Χρὴ δὲ
ἐννοεῖν, ὥς εἰσιν ἐπιλελησμένοι, οὗ καὶ ἐξ ἀρχῆς εἰς νῦν ποθοῦσι καὶ
ἐφίενται αὐτοῦ. Πάντα γὰρ ὀρέγεται ἐκείνου καὶ ἐφίεται αὐτοῦ φύσεως
ἀνάγκηι, ὥσπερ ἀπομεμαντευμένα, ὡς ἄνευ αὐτοῦ οὐ δύναται εἶναι.
Καὶ τοῦ μὲν καλοῦ ἤδη οἷον εἰδόσι καὶ ἐγρηγορόσιν ἡ ἀντίληψις καὶ τὸ
θάμβος, καὶ τοῦ ἔρωτος ἡ ἔγερσις· τὸ δ᾽ ἀγαθόν, ἅτε πάλαι παρὸν εἰς
ἔφεσιν σύμφυτον, καὶ κοιμωμένοις πάρεστι καὶ οὐ θαμβεῖ ποτε ἰδόντας,
ὅτι σύνεστιν ἀεὶ καὶ οὐ ποτὲ ἡ ἀνάμνησις· οὐ μὴν ὁρῶσιν αὐτό, ὅτι
κοιμωμένοις πάρεστι. Τοῦ δὲ καλοῦ ὁ ἔρως, ὅταν παρῆι, ὀδύνας
δίδωσιν, ὅτι δεῖ ἰδόντας ἐφίεσθαι. Δεύτερος ὢν οὗτος ὁ ἔρως καὶ ἤδη
συνιέντων μᾶλλον δεύτερον μηνύει τὸ καλὸν εἶναι· ἡ δὲ ἀρχαιοτέρα
τούτου καὶ ἀναίσθητος ἔφεσις ἀρχαιότερόν φησι καὶ τἀγαθὸν εἶναι καὶ
πρότερον τούτου. Καὶ οἴονται δὲ τἀγαθὸν λαβόντες ἀρκεῖν αὐτοῖς
ἅπαντες· εἰς γὰρ τὸ τέλος ἀφῖχθαι· τὸ δὲ καλὸν οὔτε πάντες εἶδον
γενόμενόν [τό] τε καλὸν αὐτῶι οἴονται εἶναι, ἀλλ᾽ οὐκ αὐτοῖς, οἷα καὶ
τὸ τῆιδε κάλλος· τοῦ γὰρ ἔχοντος τὸ κάλλος εἶναι. Καὶ καλοῖς εἶναι
δοκεῖν ἀρκεῖ, κἂν μὴ ὦσι· τὸ δ᾽ ἀγαθὸν οὐ δόξηι ἐθέλουσιν ἔχειν.
Ἀντιποιοῦνται γὰρ μάλιστα τοῦ πρώτου, καὶ φιλονεικοῦσι καὶ ἐρίζουσι
τῶι καλῶι, ὡς καὶ αὐτῶι γεγονότι ὥσπερ αὐτοί· οἷον εἴ τις ὕστερος ἀπὸ
βασιλέως τῶι μετὰ βασιλέα εἰς ἀξίωσιν ἴσην βούλοιτο ἰέναι, ὡς ἀφ᾽
ἑνὸς καὶ τοῦ αὐτοῦ ἐκείνωι γεγενημένος, ἀγνοῶν ὡς ἀνήρτηται μὲν καὶ
αὐτὸς εἰς βασιλέα, ἔστι δὲ ἐκεῖνος πρὸ αὐτοῦ. Ἀλλ᾽ οὖν ἡ τῆς πλάνης
αἰτία τὸ μετέχειν ἄμφω τοῦ αὐτοῦ καὶ πρότερον τὸ ἓν ἀμφοτέρων εἶναι,
καὶ ὅτι κἀκεῖ τὸ μὲν ἀγαθὸν αὐτὸ οὐ δεῖται τοῦ καλοῦ, τὸ δὲ καλὸν
ἐκείνου. Καὶ ἔστι δὲ τὸ μὲν ἤπιον καὶ προσηνὲς καὶ ἁβρότερον καί, ὡς
ἐθέλει τις, παρὸν αὐτῶι· τὸ δὲ θάμβος ἔχει καὶ ἔκπληξιν καὶ συμμιγῆ
τῶι ἀλγύνοντι τὴν ἡδονήν. Καὶ γὰρ αὖ καὶ ἕλκει ἀπὸ τοῦ ἀγαθοῦ τοὺς
οὐκ εἰδότας, ὥσπερ ἀπὸ πατρὸς τὸ ἐρώμενον· νεώτερον γάρ· τὸ δὲ
πρεσβύτερον οὐ χρόνωι, ἀλλὰ τῶι ἀληθεῖ, ὃ καὶ τὴν δύναμιν προτέραν
ἔχει· πᾶσαν γὰρ ἔχει· τὸ γὰρ μετ᾽ αὐτὸ οὐ πᾶσαν, ἀλλ᾽ ὅση μετ᾽ αὐτὸν
καὶ ἀπ᾽ αὐτοῦ. Ὥστε ἐκεῖνος καὶ ταύτης κύριος, οὐ δεηθεὶς οὗτος τῶν

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 145

ἐξ αὐτοῦ γενομένων, ἀλλὰ πᾶν καὶ ὅλον ἀφεὶς τὸ γενόμενον, ὅτι μὴ


ἐδεῖτο μηδὲν αὐτοῦ, ἀλλ᾽ ἔστιν ὁ αὐτός, οἷος καὶ πρὶν τοῦτο γεννῆσαι.
Ἐπεὶ οὐδ᾽ ἂν ἐμέλησεν αὐτῶι μὴ γενομένου· ἐπεὶ οὐδ᾽ εἰ ἄλλωι δυνατὸν
ἦν γενέσθαι ἐξ αὐτοῦ, ἐφθόνησεν ἄν· νῦν δὲ οὐκ ἔστιν οὐδὲν γενέσθαι·
οὐδὲν γάρ ἐστιν ὃ μὴ γέγονε γενομένων τῶν πάντων. Αὐτὸς δὲ οὐκ ἦν
τὰ πάντα, ἵν᾽ ἂν ἐδεήθη αὐτῶν, ὑπερβεβηκὼς δὲ τὰ πάντα οἷός τε ἦν
καὶ ποιεῖν αὐτὰ καὶ ἐφ᾽ ἑαυτῶν ἐᾶσαι εἶναι αὐτὸς ὑπὲρ αὐτῶν ὤν.

12. E é preciso olhar com que é preciso sentir cada coisa, com olhos
diversas coisas, com ouvidos coisas diferentes, e as outras do mesmo
modo; e com inteligência [é preciso] acreditar ver diversas coisas, e não
considerar que o pensar é ouvir ou ver, como se aos ouvidos ordenassem
ver, e [acreditar] que não há sons, porque não se veem. Há necessidade
de refletir como se esqueceram de que desde o princípio até agora
desejam e aspiram a isso mesmo. Pois tudo tende àquele princípio e
aspira por necessidade à natureza dele, como coisas vaticinadas de que
sem ele não é possível ser. Tanto a recepção do belo e seu estupor é
para os que já sabem e despertaram, quanto o despertar de eros. Mas o
bem, porque há tempos é presente, é conatural à aspiração, tanto aos
que dormem é presente quanto sem estupor quando o veem, porque está
sempre junto, jamais há reminiscência [dele]; mesmo sendo presente,
não o veem, porque dormem. E o desejo do belo, quando presente,
causa dores, porque é preciso os que o viram ansiar [por ele]. Sendo
segundo e mais dos que já o compreendem, esse desejo denuncia ser o
belo em segundo lugar; mas o impulso mais original do que esse desejo
e não-sensível diz que o bem é mais original e anterior a esse desejo. E
todos consideram que, tendo alcançado o bem, lhes é suficiente; por ter
chegado ao fim; mas o belo nem todos veem, quando ele vem a ser, e
consideram que o belo é para si, mas que não é para eles, tal que a beleza
aqui; por ser a beleza do que a tem. E aos belos basta parecer ser, mesmo

SUMÁRIO
P l o t i n o | 146

que não sejam149; mas desejam ter o bem, que não é por opinião150. Pois
contendem sobretudo pelo primeiro e querem vencer e litigam pelo
belo, porque como eles, também ele foi gerado; como se alguém
posterior na linhagem do rei quisesse ir em igual dignidade com alguém
depois do rei, porque foi gerado a partir do uno e do mesmo com aquele
[rei], ignorando que, mesmo ele estando ligado ao rei, aquele é antes
dele. Mas então a causa do erro é participar ambos do mesmo e por ser
o uno anterior a ambos, e porque também ali o bem em si não precisa
do belo, mas o belo [precisa] dele. Por um lado, o bem é agradável,
suave e delicado e, se alguém o deseja, é presente para ele; por outro, o
belo tem estupor, emoção violenta e o prazer misturado ao que causa
dor151. E ainda por sua vez arrasta para longe do bem os que não sabem,
como arrasta para longe do pai o que é desejado; pois [o belo] é mais
novo; e [o bem] é mais velho, não por tempo, mas pela verdade, este
que também tem a potência anterior; pois a tem toda; e o belo [a tem]
depois dele, não toda, mas quanta é depois ele e a partir ele. Desse modo
aquele [bem] é senhor também dessa potência, ele não necessitando das
coisas que vêm a ser desde si mesmo, mas deixando todo e inteiro o que
vem a ser, porque não carecia nada dele, mas é ele mesmo, tal que [era]

149
Platão, Fedro 279b-c: Ὦ φίλε Πάν τε καὶ ἄλλοι ὅσοι τῇδε θεοί, δοίητέ μοι καλῷ
γενέσθαι τἄνδοθεν· ἔξωθεν δὲ ὅσα ἔχω, τοῖς ἐντὸς (c) εἶναί μοι φίλια. πλούσιον δὲ
νομίζοιμι τὸν σοφόν· τὸ δὲ χρυσοῦ πλῆθος εἴη μοι ὅσον μήτε φέρειν μήτε ἄγειν
δύναιτο ἄλλος ἢ ὁ σώφρων (Querido Pã e outros deuses quantos são daqui, concedei-
me ser belo de interior, e quanto tenho de fora haver amizade com o que é de dentro.
Que eu considere rico o sábio; que a quantidade de ouro seja para mim quanto não
possa portar nem conduzir outro, senão o sensato).
150
Platão, Politeia 505d: τόδε οὐ φανερόν, ὡς δίκαια μὲν καὶ καλὰ πολλοὶ ἂν (5)
ἕλοιντο τὰ δοκοῦντα, κἂν <εἰ> μὴ εἴη ... ἀγαθὰ δὲ οὐδενὶ ἔτι ἀρκεῖ τὰ δοκοῦντα
κτᾶσθαι, ἀλλὰ τὰ ὄντα ζητοῦσιν, τὴν δὲ δόξαν ἐνταῦθα ἤδη πᾶς ἀτιμάζει; (não é claro
que muitos escolheriam as coisas justas e belas por aparência, mesmo que não fossem,
... mas as boas a ninguém basta as adquirir por aparência, mas as buscam por essência,
aí todo homem já despreza a opinião?).
151
Conforme se diz no Fedro e no Simpósio de Platão.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 147

antes mesmo de gerar isso. Depois nem importaria a ele que [isso] não
se gerasse; uma vez que, nem se fosse possível a algum diverso ter
vindo a ser desde ele mesmo, haveria carência para si; agora não é
possível nada vir a ser; pois nada há que não veio a ser, dentre todas as
coisas que vieram a ser. Ele mesmo não era todas as coisas, para que
necessitasse delas, e estando acima de todas as coisas era capaz de criá-
las e deixá-las ser por si mesmas, sendo ele mesmo acima delas.

13. Ἔδει δὲ καὶ τἀγαθὸν αὐτὸν ὄντα καὶ μὴ ἀγαθὸν μὴ ἔχειν ἐν αὐτῶι
μηδέν, ἐπεὶ μηδὲ ἀγαθόν. Ὃ γὰρ ἕξει, ἢ ἀγαθὸν ἔχει ἢ οὐκ ἀγαθόν· ἀλλ᾽
οὔτε ἐν τῶι ἀγαθῶι τῶι κυρίως καὶ πρώτως ἀγαθῶι τὸ μὴ ἀγαθόν, οὔτε
τὸ ἀγαθὸν ἔχει τὸ ἀγαθόν. Εἰ οὖν μήτε τὸ οὐκ ἀγαθὸν μήτε τὸ ἀγαθὸν
ἔχει, οὐδὲν ἔχει· εἰ οὖν οὐδὲν ἔχει, μόνον καὶ ἔρημον τῶν ἄλλων ἐστίν.
Εἰ οὖν τὰ ἄλλα ἢ ἀγαθά ἐστι καὶ οὐ τἀγαθὸν ἢ οὐκ ἀγαθά ἐστιν,
οὐδέτερα δὲ τούτων ἔχει, οὐδὲν ἔχων τῶι μηδὲν ἔχειν ἐστὶ τὸ ἀγαθόν.
Εἰ δ᾽ ἄρα τις ὁτιοῦν αὐτῶι προστίθησιν, ἢ οὐσίαν ἢ νοῦν ἢ καλόν, τῆι
προσθήκηι ἀφαιρεῖται αὐτοῦ τἀγαθὸν εἶναι. Πάντα ἄρα ἀφελὼν καὶ
οὐδὲν περὶ αὐτοῦ εἰπὼν οὐδέ τι ψευσάμενος, ὡς ἔστι παρ᾽ αὐτῶι, εἴασε
τὸ ἔστιν οὐδὲν καταμαρτυρήσας τῶν οὐ παρόντων, οἷον οἱ μὴ
ἐπιστήμηι τοὺς ἐπαίνους ποιούμενοι, οἳ ἐλαττοῦσι τὴν τῶν
ἐπαινουμένων δόξαν προστιθέντες αὐτοῖς ἃ τῆς ἀξίας αὐτῶν ἐστιν
ἐλάττω, ἀποροῦντες ἀληθεῖς εἰπεῖν περὶ τῶν ὑποκειμένων προσώπων
τοὺς λόγους. Καὶ οὖν καὶ ἡμεῖς μηδὲν τῶν ὑστέρων καὶ τῶν ἐλαττόνων
προστιθῶμεν, ἀλλ᾽ ὡς ὑπὲρ ταῦτα ἰὼν ἐκεῖνος τούτων αἴτιος ἦι, ἀλλὰ
μὴ αὐτὸς ταῦτα. Καὶ γὰρ αὖ φύσις ἀγαθοῦ οὐ πάντα εἶναι οὐδ᾽ αὖ ἕν τι
τῶν πάντων· εἴη γὰρ ἂν ὑπὸ ἓν καὶ ταὐτὸν τοῖς ἅπασιν, ὑπὸ δὲ ταὐτὸν
ὂν τοῖς πᾶσι διαφέροι ἂν τῶι ἰδίωι μόνον καὶ διαφορᾶι καὶ προσθήκηι.
Ἔσται τοίνυν δύο, οὐχ ἕν, ὧν τὸ μὲν οὐκ ἀγαθόν, τὸ κοινόν, τὸ δὲ
ἀγαθόν. Μικτὸν ἄρα ἔσται ἐξ ἀγαθοῦ καὶ οὐκ ἀγαθοῦ· οὐκ ἄρα
καθαρῶς ἀγαθὸν οὐδὲ πρώτως, ἀλλ᾽ ἐκεῖνο ἂν εἴη πρώτως, οὗ μετέχον
παρὰ τὸ κοινὸν γεγένηται ἀγαθόν. Μεταλήψει μὲν δὴ αὐτὸ ἀγαθόν· οὗ
δὲ μετέλαβεν, οὐδὲν τῶν πάντων. [Οὐδὲν ἄρα τῶν πάντων τὸ ἀγαθόν.]

SUMÁRIO
P l o t i n o | 148

Ἀλλ᾽ εἰ ἐν αὐτῶι τοῦτο τὸ ἀγαθόν – διαφορὰ γάρ, καθ᾽ ἣν τοῦτο τὸ


σύνθετον ἦν ἀγαθόν – δεῖ αὐτῶι παρ᾽ ἄλλου εἶναι. Ἦν δὲ αὐτὸ ἁπλοῦν
καὶ μόνον ἀγαθόν· πολλῶι ἄρα τὸ ἀφ᾽ οὗ μόνον ἀγαθόν. Τὸ ἄρα
πρώτως καὶ τἀγαθὸν ὑπέρ τε πάντα τὰ ὄντα ἀναπέφανται ἡμῖν καὶ
μόνον ἀγαθὸν καὶ οὐδὲν ἔχον ἐν ἑαυτῶι, ἀλλὰ ἀμιγὲς πάντων καὶ ὑπὲρ
πάντα καὶ αἴτιον τῶν πάντων. Οὐ γὰρ δὴ ἐκ κακοῦ τὸ καλὸν οὐδὲ τὰ
ὄντα οὐδ᾽ αὖ ἐξ ἀδιαφόρων. Κρεῖττον γὰρ τὸ ποιοῦν τοῦ ποιουμένου·
τελειότερον γάρ.

13. Era preciso o bem, sendo ele mesmo, não ter nenhum bem em si
mesmo, uma vez que nem seria bem. Pois o que ele tiver ou será um
bem ou não bem; mas nem no bem, que é principalmente e
primeiramente bem, há o não bem, nem o bem tem o bem. Então se ele
nem tem o não bem nem o bem, nada tem; se nada tem, é único e isolado
das coisas diversas152. Então se as coisas diversas ou são boas, e não há
o bem, ou não são boas, nenhuma dessas ele tem, e o que nada tem, por
nada ter, é o bem. Portanto se alguém acrescentar qualquer coisa a ele,
ou essência ou inteligência ou algo belo, pelo acréscimo afasta dele ser
o bem. E afastando todas as coisas, tendo dito que nada há acerca dele,
porque não se ilude de que algo é junto dele, resta o “é” que é
testemunha de nada das coisas não presentes, tal que os que fazem
elogios sem conhecimento, que diminuem a opinião dos que são
elogiados, atribuindo-lhes algo de menor valor, por ter dificuldade para
dizer discursos verdadeiros sobre os ditos personagens. Então também
nós nada acrescentemos das coisas posteriores e inferiores, mas como
o que vai acima dessas ele seja causador delas, mas ele mesmo não é
essas coisas. Pois por um lado a natureza do bem não é ser todas as
coisas, nem por outro uma só coisa dentre todas; pois subsistiria um só

152
Platão, Filebo 67b: Τὸ μόνον καὶ ἔρημον εἰλικρινὲς εἶναί τι γένος οὔτε πάνυ τι
δυνατὸν οὔτ’ (c) ὠφέλιμον (ser algum gênero genuinamente único e isolado nem é
absolutamente possível nem útil).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 149

e o mesmo gênero para todas as coisas, e subsistindo o mesmo gênero


para todas ele diferiria apenas por algo particular, por diferença e
acréscimo. De fato, ele seria dois, não um só, dos quais um seria o não
bem, o comum, e outro, o bem. Seria, portanto, misturável de bem e de
não bem; portanto, seria bem não puramente nem primeiramente, mas
seria primeiramente aquilo de que, ao participar, ele tenha vindo a ser
bem em contraste com o comum. Por participação, na verdade, esse
mesmo seria bem; e aquilo do qual participou nada é de todas as coisas
[nada, portanto, de todas as coisas é o bem]. Mas se esse bem fosse nele
mesmo – pois há uma diferença, segundo a qual esse composto seria o
bem – era preciso esse composto o ter da parte de algo diverso. E esse
diverso seria o bem simples e único, a partir do que somente um bem
haveria para a maioria. Portanto, o que é primeiramente também é o
bem e está demonstrado por nós ser acima de todas as coisas, sendo o
bem que nada tem em si mesmo, mas é sem mistura de todas as coisas,
acima de todas as coisas e causador de todas as coisas. De fato, o belo
não é desde o mau, nem por sua vez as coisas que são, desde
indiferentes. Pois o que cria é melhor do que o que é criado: pois é mais
perfeito.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 150

Livro VI

Introdução

V 6 (24)

Vigésimo quarto livro, em sequência de Enéada IV 4 e 5, que mostra


que a Inteligência, ao pensar, deve ser uno e múltiplo, simples e
composta, porque cria um de dois, ao contrário do que acontece desde
o Uno, que cria dois de um; assim é dois porque pensa, e porque pensa
a si mesma é um, tendo em si sujeito e objeto do pensar. Certamente, o
que pensa tem de si mesmo o que é pensado, pois ao contrário seria algo
diverso, e não ele mesmo. Se imaginarmos que a alma é luz que
contempla o inteligível, que também é luz, pensamos em duas, vendo
uma só. Mas o Uno, primeiro princípio, não pensa, é metapensamento,
pois se pensasse seria múltiplo, ainda que pensasse só em si mesmo.
Assim há o que não pensa, o que pensa primeiro e o que pensa segundo.
Para ser o que pensa é preciso ter o inteligível e para pensar primeiro é
preciso ter o inteligível em si, por isso o que pensa primeiro é a
Inteligência. O inteligível é para o diferente, por isso o pensar é
múltiplo, e a Inteligência é uno-múltiplo, diferente da Alma que é uno
e múltiplo. Como o primeiro princípio é perfeito antes de haver
pensamento, ele não precisa do inteligível e, portanto, não precisa do
pensar. Múltiplo é para o que pensa, então pensar e inteligência são
posteriores ao que é primeiro. De fato, a unidade é subjacente ao plural,

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 151

não sendo possível haver este sem aquela. O que subjaz a tudo não pode
estar com algo nem em algo, pois deve ser por si mesmo, sendo único
para que se veja nas coisas diversas. Tudo que é simples deve ser por si
mesmo, o que vem a ser hipóstase do múltiplo, porque se for com algo
ou em algo não haverá hipóstase, então não poderá existir, e todo
múltiplo também não existirá. Como tudo que vem a ser pressupõe uma
hipóstase, a unidade como conceito é princípio de tudo, pois o múltiplo
em seu conjunto é unidade, bem como cada um desse conjunto. Por isso
o Uno-Bem não precisa de nada, pois por que precisaria? E do quê? O
Bem é como a luz, a Inteligência é como o sol e a Alma é como a lua
que recebe do sol sua luz; a Inteligência recebe a luz pura e simples que
lhe dá potência de ser o que é, e essa luz ilumina a Alma, como se a
colorisse. Assim o pensar não está presente no primeiro princípio,
porque nada é presente nele. Mesmo não sendo presente nele, o ato de
pensar visa o Bem, porque toda atividade visa o Bem, pois quando o
que é diferente dele pensa, pensa porque veio a ser desejável a si
mesmo, como se tivesse uma fantasia do Bem, e mesmo que pense em
si mesmo, é por acidente, porque se vê como uma forma de Bem
(ἀγαθοειδὲς). Isso é o que ele proporciona a tudo que participa dele:
tocá-lo; pois mesmo não havendo a percepção dele, tudo tende a ele, e
ele não pensa nada em si nem fora de si, as coisas diversas. Então estas,
se puderem, terão o maior bem, que é tocá-lo, sem que haja consciência
dele. Ele é primeiro e de modo algum é duplo; é o segundo que pensa,
porque é duplo, pois tem o que pensa; e se torna múltiplo pelo pensar,
e isso com a essência da vida, porque o pensar é ao mesmo tempo ser.
E isso tudo é ao mesmo tempo na Inteligência, que de todo duplo faz
um só pela contemplação do Uno.

ςʹ

Περὶ τοῦ τὸ ἐπέκεινα τοῦ ὄντος μὴ νοεῖν

1. Τὸ μέν ἐστι νοεῖν ἄλλο ἄλλο, τὸ δὲ αὐτὸ αὐτό, ὃ ἤδη φεύγει μᾶλλον
τὸ δύο εἶναι. Τὸ δὲ πρότερον λεχθὲν βούλεται καὶ αὐτό, ἀλλ᾽ ἧττον

SUMÁRIO
P l o t i n o | 152

δύναται· παρ᾽ αὐτῶι μὲν γὰρ ἔχει ὃ ὁρᾶι, ἕτερόν γε μὴν ὂν ἐκείνου. Τὸ
δὲ οὐ κεχώρισται τῆι οὐσίαι, ἀλλὰ συνὸν αὐτῶι ὁρᾶι ἑαυτό. Ἄμφω οὖν
γίνεται ἓν ὄν. Μᾶλλον οὖν νοεῖ, ὅτι ἔχει, καὶ πρώτως νοεῖ, ὅτι τὸ νοοῦν
δεῖ ἓν καὶ δύο εἶναι. Εἴτε γὰρ μὴ ἕν, ἄλλο τὸ νοοῦν, ἄλλο τὸ νοούμενον
ἔσται – οὐκ ἂν οὖν πρώτως νοοῦν εἴη, ὅτι ἄλλου τὴν νόησιν λαμβάνον
οὐ τὸ πρώτως νοοῦν ἔσται, ὅτι ὃ νοεῖ οὐκ ἔχει ὡς αὑτοῦ, ὥστε οὐδ᾽
αὐτό· ἢ εἰ ἔχει ὡς αὐτό, ἵνα κυρίως νοῆι, τὰ δύο ἓν ἔσται· δεῖ ἄρα ἓν
εἶναι ἄμφω – εἴτε ἓν μέν, μὴ δύο δὲ αὖ ἔσται, ὅ τι νοήσει οὐχ ἕξει· ὥστε
οὐδὲ νοοῦν ἔσται. Ἁπλοῦν ἄρα καὶ οὐχ ἁπλοῦν δεῖ εἶναι. Μᾶλλον δ᾽ ἄν
τις αὐτὸ τοιοῦτον ὂν ἕλοι ἀπὸ τῆς ψυχῆς ἀναβαίνων· ἐνταῦθα γὰρ
διαιρεῖν ῥάιδιον, καὶ ῥᾶιον ἄν τις τὸ διπλοῦν ἴδοι. Εἰ οὖν τις διπλοῦν
φῶς ποιήσειε, τὴν μὲν ψυχὴν κατὰ τὸ ἧττον, τὸ δὲ νοητὸν αὐτῆς κατὰ
τὸ καθαρώτερον, εἶτα ποιήσειε καὶ τὸ ὁρῶν ἴσον εἶναι φῶς τῶι
ὁρωμένωι, οὐκ ἔχων ἔτι χωρίζειν τῆι διαφορᾶι ἓν τὰ δύο θήσεται νοῶν
μέν, ὅτι δύο ἦν, ὁρῶν δὲ ἤδη ἕν· οὕτω νοῦν καὶ νοητὸν αἱρήσει. Ἡμεῖς
μὲν οὖν τῶι λόγωι ἐκ δύο ἓν πεποιήκαμεν, τὸ δ᾽ ἀνάπαλιν ἐξ ἑνός ἐστι
δύο, ὅτι νοεῖ, ποιοῦν αὐτὸ δύο, μᾶλλον δὲ ὄν, ὅτι νοεῖ, δύο, καὶ ὅτι αὐτό,
ἕν.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 153

V, 6 (24)
SOBRE O QUE É ALÉM DO QUE É NÃO PENSAR E O
QUE É O QUE PENSA PRIMEIRO E SEGUNDO

1. Uma coisa é um pensar outro, e outra é um pensar a si mesmo153, o


que já evita melhor ser dois; o pensar que foi dito anterior busca também
a si mesmo, mas é menos capaz; pois tem junto a si o que ele vê, que
no entanto é diferente daquele [pensar]154. E o que não está separado
em essência, mas junto consigo mesmo, vê a si mesmo. Então ambos
vêm a ser o que é uno. Então ele pensa melhor porque tem [o que pensa],
e pensa primeiro porque o que pensa é preciso ser uno e duplo155. Pois
se não for uno, uma coisa será o que pensa, outra será o que é pensado
– então não seria o que pensa primeiro, porque tomando de outro o ato
de pensar não será o que pensa primeiro, porque o que pensa não tem
[o que é pensado] como de si mesmo, assim nem [tem] a si mesmo;
certamente se tivesse [o que é pensado] como ele mesmo, para que
pense do melhor modo, as duas coisas haverão de ser uma; portanto é
preciso uma só ser ambas – se for uma só, não haverá duas, o que pensar
algo, não o terá; assim nem o que pensa haverá. Portanto é preciso ser
simples e não simples. E alguém captaria mais isso que é tal, partindo
desde a alma; pois escolher aqui é fácil, e alguém veria mais facilmente

153
Referência à polêmica com Aristóteles, Metafísica XII 9, 1074b 34: αὑτὸν ἄρα
νοεῖ, εἴπερ ἐστὶ τὸ κράτιστον, καὶ ἔστιν ἡ νόησις νοήσεως νόησις (portanto, [o
primeiro princípio] pensa a si mesmo, se é o melhor, e o ato de pensar é ato de pensar
do pensar).
154
O pensamento primeiro busca identidade, mas ao pensar algo diverso vem a ser
dual e múltiplo.
155
Enéada V 3 6.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 154

que é duplo156. Então se alguém criasse dupla luz, para a alma segundo
a menor [luz], e para o inteligível da alma segundo a [luz] que é mais
pura157, depois criasse também a luz que vê para ser igual à que é vista,
não tendo mais como separar pela diferença, pôr-se-á que as duas serão
uma só [luz], pensando que eram duas, e vendo já uma só. Assim
captará o que pensa e [o que é] inteligível158. Então nós pelo raciocínio
criamos de dois um só, e isso é ao contrário: de um só há dois, porque
pensa, o mesmo criando dois, ou melhor, sendo dois, porque pensa,
sendo um só, porque [pensa] a si mesmo.

2. Εἰ δὴ τὸ μὲν πρώτως νοοῦν, τὸ δὲ ἤδη ἄλλως νοοῦν, τὸ ἐπέκεινα τοῦ


πρώτως νοοῦντος οὐκ ἂν ἔτι νοοῖ· νοῦν γὰρ δεῖ γενέσθαι, ἵνα νοῆι, ὄντα
δὲ νοῦν καὶ νοητὸν ἔχειν καὶ πρώτως νοοῦντα ἔχειν τὸ νοητὸν ἐν αὑτῶι.
Νοητὸν δὲ ὂν οὐκ ἀνάγκη πᾶν καὶ νοοῦν ἐν αὑτῶι ἔχειν καὶ νοεῖν· ἔσται
γὰρ οὐ μόνον νοητόν, ἀλλὰ καὶ νοοῦν, πρῶτόν τε οὐκ ἔσται δύο ὄν. Ὅ
τε νοῦς ὁ τὸ νοητὸν ἔχων οὐκ ἂν συσταίη μὴ οὔσης οὐσίας καθαρῶς
νοητοῦ, ὃ πρὸς μὲν τὸν νοῦν νοητὸν ἔσται, καθ᾽ ἑαυτὸ δὲ οὔτε νοοῦν
οὔτε νοητὸν κυρίως ἔσται· τό τε γὰρ νοητὸν ἑτέρωι ὅ τε νοῦς τὸ
ἐπιβάλλον τῆι νοήσει κενὸν ἔχει ἄνευ τοῦ λαβεῖν καὶ ἑλεῖν τὸ νοητὸν ὃ
νοεῖ· οὐ γὰρ ἔχει τὸ νοεῖν ἄνευ τοῦ νοητοῦ. Τότε οὖν τέλεον, ὅταν ἔχηι;
Ἔδει δὲ πρὸ τοῦ νοεῖν τέλεον εἶναι παρ᾽ αὐτοῦ τῆς οὐσίας. Ὧι ἄρα τὸ
τέλεον ὑπάρξει, πρὸ τοῦ νοεῖν τοῦτο ἔσται· οὐδὲν ἄρα δεῖ αὐτῶι τοῦ
νοεῖν· αὐτάρκης γὰρ πρὸ τούτου· οὐκ ἄρα νοήσει. Τὸ μὲν ἄρα οὐ νοεῖ,
τὸ δὲ πρώτως νοεῖ, τὸ δὲ νοήσει δευτέρως. Ἔτι εἰ νοήσει τὸ πρῶτον,
ὑπάρξει τι αὐτῶι· οὐκ ἄρα πρῶτον, ἀλλὰ καὶ δεύτερον καὶ οὐχ ἕν, ἀλλὰ

156
Sujeito e objeto da visão.
157
Enéada VI 7 37.
158
Passando da dualidade à unidade.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 155

πολλὰ ἤδη καὶ πάντα ὅσα νοήσει· καὶ γάρ, εἰ μόνον ἑαυτόν, πολλὰ
ἔσται.

2. Ora se um é o que pensa primeiro, e outro o que pensa de modo


diverso, o que é além do que pensa primeiro não mais pensaria159; pois
é preciso vir a ser o que pensa, para que pense, e sendo o que pensa [é
preciso] ter o inteligível, e pensando primeiro [é preciso] ter o
inteligível em si mesmo. E sendo inteligível não há necessidade de ter
em si mesmo tudo, tanto o que pensa quanto pensar; pois será não
apenas inteligível, mas também o que pensa, e não será primeiro sendo
dois. E a inteligência que tem o inteligível não subsistiria, se não
houvesse essência puramente de inteligível, que será inteligível em
relação ao que pensa, e principalmente em relação a si mesma nem será
o que pensa nem inteligível; pois o inteligível é para um diferente, e a
inteligência que se lança pelo ato de pensar tem um vazio, sem tomar e
captar o inteligível que pensa; pois não tem o pensar sem o inteligível.
Então será perfeito, quando tiver o inteligível? Mas antes do inteligível
pensar junto à essência da inteligência era preciso haver [o primeiro
princípio] perfeito. Portanto, isso com que o perfeito dará início será
antes do pensar; portanto para ele é preciso nada do pensar; pois ele é
autossuficiente antes disso; portanto não pensará. Portanto há o que não
pensa, o que primeiro pensa e o que segundo pensará. Se o primeiro
ainda pensar, algo terá início com ele; portanto não será primeiro, mas
será segundo e não um só, mas já será muitas coisas, tantas quantas
pensar; pois mesmo se [pensasse] apenas em si, seria muitas coisas.

3. Εἰ δὲ πολλὰ τὸ αὐτὸ οὐδὲν κωλύειν φήσουσιν, ἓν τούτοις


ὑποκείμενον ἔσται· οὐ δύναται γὰρ πολλὰ μὴ ἑνὸς ὄντος, ἀφ᾽ οὗ ἢ ἐν

159
O que pensa primeiro é a Inteligência, o que pensa de modo diverso é a Alma, o
que é além do que pensa primeiro é o Uno.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 156

ὧι, ἢ ὅλως ἑνὸς καὶ τούτου πρώτου τῶν ἄλλων ἀριθμουμένου, ὃ αὐτὸ
ἐφ᾽ ἑαυτοῦ δεῖ λαβεῖν μόνον. Εἰ δὲ ὁμοῦ εἴη μετὰ τῶν ἄλλων, δεῖ τοῦτο
συλλαβόντα αὐτὸ μετὰ τῶν ἄλλων, ὅμως δὲ ἕτερον τῶν ἄλλων ὄν, ἐᾶν
ὡς μετ᾽ ἄλλων, ζητεῖν δὲ τοῦτο τὸ ὑποκείμενον τοῖς ἄλλοις μηκέτι μετὰ
τῶν ἄλλων, ἀλλὰ αὐτὸ καθ᾽ ἑαυτό. Τὸ γὰρ ἐν τοῖς ἄλλοις αὐτὸ ὅμοιον
μὲν ἂν εἴη τούτωι, οὐκ ἂν δὲ εἴη τοῦτο. Ἀλλὰ δεῖ αὐτὸ μόνον εἶναι, εἰ
μέλλοι καὶ ἐν ἄλλοις ὁρᾶσθαι· εἰ μή τις αὐτοῦ λέγοι τὸ εἶναι σὺν τοῖς
ἄλλοις τὴν ὑπόστασιν ἔχειν· οὐκ ἄρα ἁπλοῦν αὐτὸ ἔσται, οὐδὲ τὸ
συγκείμενον ἐκ πολλῶν ἔσται· τό τε γὰρ οὐ δυνάμενον ἁπλοῦν εἶναι
ὑπόστασιν οὐχ ἕξει, τό τε συγκείμενον ἐκ πολλῶν ἁπλοῦ οὐκ ὄντος
οὐδ᾽ αὐτὸ ἔσται. Ἑκάστου γὰρ ἁπλοῦ οὐ δυναμένου εἶναι οὐδ᾽
ὑφεστηκότος τινὸς ἑνὸς ἁπλοῦ ὑφ᾽ ἑαυτοῦ τὸ συγκείμενον ἐκ πολλῶν,
οὐδενὸς αὐτῶν ὑπόστασιν ἔχειν καθ᾽ ἑαυτὸ [οὐ] δυναμένου οὐδὲ
παρέχειν αὐτὸ μετ᾽ ἄλλου εἶναι τῶι ὅλως μὴ εἶναι, πῶς ἂν τὸ ἐκ πάντων
εἴη σύνθετον ἐκ μὴ ὄντων γεγενημένον, οὐ τὶ μὴ ὄντων, ἀλλ᾽ ὅλως μὴ
ὄντων; Εἰ ἄρα πολλά τί ἐστι, δεῖ πρὸ τῶν πολλῶν ἓν εἶναι. Εἰ οὖν τῶι
νοοῦντι πλῆθος, δεῖ ἐν τῶι [μὴ] πλήθει τὸ νοεῖν μὴ εἶναι. Ἦν δὲ τοῦτο
τὸ πρῶτον. Ἐν τοῖς ὑστέροις ἄρα αὐτοῦ τὸ νοεῖν καὶ νοῦς ἔσται.

3. E se disserem que nada impede o mesmo ser muitas coisas, uma só


coisa haverá de subjazer a essas; pois não é possível haver muitas
coisas, não havendo uma só, ou a partir da qual ou na qual essa se
enumere de modo geral única e primeira dentre as diversas, a mesma
que unicamente é preciso tomar a partir de si. E se fosse ao mesmo
tempo com as coisas diversas, era preciso tomar essa mesma junto com
as coisas diversas, embora sendo diferente das outras coisas, é preciso
buscar isso que subjaz às coisas diversas, não mais com elas, mas isso
por si mesmo. Pois o mesmo nas coisas diversas seria semelhante a isso,
e não seria isso. Mas é preciso esse mesmo ser único, se for para se ver
também nas coisas diversas; a não ser que alguém diga que o seu ser
tem a hipóstase com as coisas diversas, portanto esse mesmo não será
simples, nem haverá o que subjaz desde muitas coisas; pois o que não

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 157

pode ser simples não terá hipóstase, e o que subjaz desde muitas coisas
não sendo simples, não haverá isso mesmo. Pois cada simples não sendo
capaz de ser, não subsistindo alguma unidade simples por si mesma, o
que subjaz de muitas coisas, por não ter nenhuma hipóstase por si
mesma delas, não sendo capaz de apresentar-se sendo com algo diverso
nem de modo geral ser, como seria composto do múltiplo o que veio a
ser do que não é, não algo do que não é, mas do que em geral não é?
Portanto, se algo é plural, é preciso haver unidade antes do plural. Então
se múltiplo é para o que pensa, é preciso não haver o pensar no que não
é múltiplo. E isso era o primeiro. Portanto nas coisas posteriores a ele
haverá o pensar e inteligência.

4. Ἔτι εἰ τὸ ἀγαθὸν ἁπλοῦν καὶ ἀνενδεὲς δεῖ εἶναι, οὐδ᾽ ἂν τοῦ νοεῖν
δέοιτο· οὗ δὲ μὴ δεῖ αὐτῶι, οὐ παρέσται αὐτῶι, ἐπεὶ καὶ ὅλως οὐδὲν
πάρεστιν αὐτῶι· οὐκ ἄρα πάρεστιν αὐτῶι τὸ νοεῖν. Καὶ νοεῖ οὐδέν, ὅτι
μηδὲ ἄλλο. Ἔτι ἄλλο νοῦς τοῦ ἀγαθοῦ· ἀγαθοειδὴς γὰρ τῶι τὸ ἀγαθὸν
νοεῖν. Ἔτι ὡς ἐν τοῖς δυσὶν ὄντος ἑνὸς καὶ ἄλλου οὐχ οἷόν τε τοῦτο τὸ
ἓν τὸ μετ᾽ ἄλλου τὸ ἓν εἶναι, ἀλλ᾽ ἔδει ἓν ἐφ᾽ ἑαυτοῦ πρὸ τοῦ μετ᾽ ἄλλου
εἶναι, οὕτω δεῖ καὶ ἐν ὧι μετ᾽ ἄλλου τὸ ἐνυπάρχον ἁπλοῦν, καθ᾽ αὑτὸ
τοῦτο ἁπλοῦν εἶναι, οὐκ ἔχον οὐδὲν ἐν ἑαυτῶι τῶν ὅσα ἐν τῶι μετ᾽
ἄλλων. Πόθεν γὰρ ἐν ἄλλωι ἄλλο, μὴ πρότερον χωρὶς ὄντος ἀφ᾽ οὗ τὸ
ἄλλο; Τὸ μὲν γὰρ ἁπλοῦν οὐκ ἂν παρ᾽ ἄλλου εἴη, ὃ δ᾽ ἂν πολὺ ἦι ἢ δύο,
δεῖ αὐτὸ ἀνηρτῆσθαι εἰς ἄλλο. Καὶ οὖν ἀπεικαστέον τὸ μὲν φωτί, τὸ δὲ
ἐφεξῆς ἡλίωι, τὸ δὲ τρίτον τῶι σελήνης ἄστρωι κομιζομένωι τὸ φῶς
παρ᾽ ἡλίου. Ψυχὴ μὲν γὰρ ἐπακτὸν νοῦν ἔχει ἐπιχρωννύντα αὐτὴν
νοερὰν οὖσαν, νοῦς δ᾽ ἐν αὐτῶι οἰκεῖον ἔχει οὐ φῶς ὢν μόνον, ἀλλ᾽ ὅ
ἐστι πεφωτισμένον ἐν τῆι αὐτοῦ οὐσίαι, τὸ δὲ παρέχον τούτωι τὸ φῶς
οὐκ ἄλλο ὂν φῶς ἐστιν ἁπλοῦν παρέχον τὴν δύναμιν ἐκείνωι τοῦ εἶναι
ὅ ἐστι. Τί ἂν οὖν αὐτὸ δέοιτό τινος; Οὐ γὰρ αὐτὸ τὸ αὐτὸ τῶι ἐν ἄλλωι·
ἄλλο γὰρ τὸ ἐν ἄλλωι ἐστὶ τοῦ αὐτὸ καθ᾽ αὑτὸ ὄντος.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 158

4. Se ainda é preciso o bem ser simples e não necessitado, não


necessitaria do pensar; e o que não é preciso para ele, não será presente
nele, uma vez que em geral nada é presente nele; portanto o pensar não
é presente nele. E nada pensa, porque não há algo diverso. Além disso
inteligência é algo diverso do bem; pois é forma do bem por pensar o
bem. Além do que como em dois há um só e outro, e não é possível esse
um que é com outro ser uno, mas era preciso uno ser em si mesmo antes
daquele com outro, assim é preciso também o um só simples, que dá
início ao que é com outro, por si mesmo ser esse simples, não tendo
nada em si das coisas quantas são no que é com outras. Pois de onde é
uma coisa em outra, não havendo anteriormente em separado ‘a partir
do que’ é a outra? De fato, o simples não seria da parte de outro, que
seria múltiplo ou dois, é preciso este mesmo estar ligado a outro. Então
deve-se comparar um à luz, em seguida outro ao sol, e o terceiro ao
astro da lua que obtém a luz da parte do sol. De fato alma tem
inteligência importável colorindo a si mesma, que é inteligente, e
inteligência tem algo familiar em si mesma que não é apenas luz, mas
o que está iluminado na sua essência, e a luz presente nisso, que não é
luz diversa, é simples porque apresenta a potência naquilo de ser o que
é. Então por que isso precisaria de algo? Pois isso não é o mesmo que é
em um diverso; pois diverso é o que é em um diverso do que é por si
mesmo.

5. Ἔτι τὸ πολὺ ζητοῖ ἂν ἑαυτὸ καὶ ἐθέλοι ἂν συννεύειν καὶ


συναισθάνεσθαι αὐτοῦ. Ὃ δ᾽ ἐστὶ πάντη ἕν, ποῦ χωρήσεται πρὸς αὐτό;
Ποῦ δ᾽ ἂν δέοιτο συναισθήσεως; Ἀλλ᾽ ἔστι τὸ αὐτὸ καὶ συναισθήσεως
καὶ πάσης κρεῖττον νοήσεως. Τὸ γὰρ νοεῖν οὐ πρῶτον οὔτε τῶι εἶναι
οὔτε τῶι τίμιον εἶναι, ἀλλὰ δεύτερον καὶ γενόμενον, ἐπειδὴ ὑπέστη τὸ
ἀγαθὸν καὶ [τὸ] γενόμενον ἐκίνησε πρὸς αὐτό, τὸ δ᾽ ἐκινήθη τε καὶ εἶδε.
Καὶ τοῦτό ἐστι νοεῖν, κίνησις πρὸς ἀγαθὸν ἐφιέμενον ἐκείνου· ἡ γὰρ
ἔφεσις τὴν νόησιν ἐγέννησε καὶ συνυπέστησεν αὐτῆι· ἔφεσις γὰρ ὄψεως
ὅρασις. Οὐδὲν οὖν δεῖ αὐτὸ τὸ ἀγαθὸν νοεῖν· οὐ γάρ ἐστιν ἄλλο αὐτοῦ

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 159

τὸ ἀγαθόν. Ἐπεὶ καὶ ὅταν τὸ ἕτερον παρὰ τὸ ἀγαθὸν αὐτὸ νοῆι, τῶι
ἀγαθοειδὲς εἶναι νοεῖ καὶ ὁμοίωμα ἔχειν πρὸς τὸ ἀγαθὸν καὶ ὡς ἀγαθὸν
καὶ ἐφετὸν αὐτῶι γενόμενον νοεῖ καὶ οἷον φαντασίαν τοῦ ἀγαθοῦ
λαμβάνον. Εἰ δ᾽ ἀεὶ οὕτως, ἀεὶ τοῦτο. Καὶ γὰρ αὖ ἐν τῆι νοήσει αὐτοῦ
κατὰ συμβεβηκὸς αὐτὸ νοεῖ· πρὸς γὰρ τὸ ἀγαθὸν βλέπων αὐτὸν νοεῖ.
Ἐνεργοῦντα γὰρ αὖ ἑαυτὸν νοεῖ· ἡ δ᾽ ἐνέργεια ἁπάντων πρὸς τὸ
ἀγαθόν.

5. O múltiplo ainda buscaria a si mesmo e desejaria inclinar-se e ter


consciência de si. Mas o que é absolutamente uno, por onde procederá
a si mesmo? Por onde precisaria de consciência? Mas o mesmo é mais
do que consciência e do que todo ato de pensar. Pois o pensar não é
primeiro nem pelo ser nem por ser precioso, mas é segundo porque veio
a ser, quando o bem o sustenta, o que veio a ser move-se para si, e
movendo-se também vê. E isso é pensar: movimento para o bem,
desejando aquele [bem]; pois o desejo gerou o pensar e com ele
subsistiu; pois visão é desejo de ver. Então é preciso o mesmo bem nada
pensar; pois o bem não é diverso de si mesmo. Uma vez que, quando o
que é diferente pensar a si mesmo em relação ao bem, pensa por ser
forma de bem160 e por ter semelhança com o bem, e pensa que é um
bem, porque veio a ser desejável a si mesmo, como que tomando
fantasia do bem. E se for sempre assim, sempre será isso. Pois [o que é
diferente] em seu ato de pensar pensa em si mesmo por acidente; pois

160
Platão, Politeia 509a: ὥσπερ ἐκεῖ φῶς τε καὶ ὄψιν ἡλιοειδῆ μὲν νομίζειν ὀρθόν,
ἥλιον δ’ ἡγεῖσθαι οὐκ ὀρθῶς ἔχει, οὕτω καὶ ἐνταῦθα ἀγαθοειδῆ μὲν νομίζειν ταῦτ’
ἀμφότερα [ἐπιστήμην καὶ ἀλήθειαν] ὀρθόν, ἀγαθὸν δὲ ἡγεῖσθαι ὁπότερον αὐτῶν οὐκ
ὀρθόν (como aqui é correto considerar a luz e a visão formas do sol, mas não é correto
considerá-las sol, assim também ali é correto considerar essas ambas [ciência e
verdade] formas do bem, mas considerar o bem qualquer uma delas não é correto).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 160

olhando para o bem, pensa em si mesmo. Pois sendo em atividade ele


pensa em si mesmo; e a atividade de todas as coisas é para o bem.

6. Εἰ δὴ ταῦτα ὀρθῶς λέγεται, οὐκ ἂν ἔχοι χώραν νοήσεως ἡντινοῦν τὸ


ἀγαθόν· ἄλλο γὰρ δεῖ τῶι νοοῦντι τὸ ἀγαθὸν εἶναι. Ἀνενέργητον οὖν.
Καὶ τί δεῖ ἐνεργεῖν τὴν ἐνέργειαν; Ὅλως μὲν γὰρ οὐδεμία ἐνέργεια ἔχει
αὖ πάλιν ἐνέργειαν. Εἰ δέ γε ταῖς ἄλλαις ταῖς εἰς ἄλλο ἔχουσιν
ἐπανενεγκεῖν, τήν γε πρώτην ἁπασῶν, εἰς ἣν αἱ ἄλλαι ἀνήρτηνται, αὐτὸ
ἐᾶν δεῖ τοῦτο ὅ ἐστιν, οὐδὲν αὐτῆι ἔτι προστιθέντας. Ἡ οὖν τοιαύτη
ἐνέργεια οὐ νόησις· οὐ γὰρ ἔχει ὃ νοήσει· αὐτὸ γὰρ πρῶτον. Ἔπειτα
οὐδ᾽ ἡ νόησις νοεῖ, ἀλλὰ τὸ ἔχον τὴν νόησιν· δύο οὖν πάλιν αὖ ἐν τῶι
νοοῦντι γίγνεται· τοῦτο δὲ οὐδαμῆι δύο. Ἔτι δὲ μᾶλλον ἴδοι ἄν τις
τοῦτο, εἰ λάβοι, πῶς ἐν παντὶ τὸ νοοῦν σαφέστερον ὑπάρχει, ἡ διπλῆ
φύσις αὕτη. Λέγομεν τὰ ὄντα ὡς ὄντα καὶ αὐτὸ ἕκαστον καὶ τὰ ἀληθῶς
ὄντα ἐν τῶι νοητῶι τόπωι εἶναι οὐ μόνον, ὅτι τὰ μὲν μένει ὡσαύτως
τῆι οὐσίαι, τὰ δὲ ῥεῖ καὶ οὐ μένει, ὅσα ἐν αἰσθήσει – τάχα γὰρ καὶ ἐν
τοῖς αἰσθητοῖς ἔστι τὰ μένοντα – ἀλλὰ μᾶλλον, ὅτι τὸ τέλεον τοῦ εἶναι
παρ᾽ αὐτῶν ἔχει. Δεῖ γὰρ τὴν πρώτως λεγομένην οὐσίαν οὐκ εἶναι τοῦ
εἶναι σκιάν, ἀλλ᾽ ἔχειν πλῆρες τὸ εἶναι. Πλῆρες δέ ἐστι τὸ εἶναι, ὅταν
εἶδος τοῦ νοεῖν καὶ ζῆν λάβηι. Ὁμοῦ ἄρα τὸ νοεῖν, τὸ ζῆν, τὸ εἶναι ἐν
τῶι ὄντι. Εἰ ἄρα ὄν, καὶ νοῦς, καὶ εἰ νοῦς, καὶ ὄν, καὶ τὸ νοεῖν ὁμοῦ μετὰ
τοῦ εἶναι. Πολλὰ ἄρα καὶ οὐχ ἓν τὸ νοεῖν. Ἀνάγκη τοίνυν τῶι μὴ
τοιούτωι μηδὲ τὸ νοεῖν εἶναι. Καὶ καθέκαστα δὲ ἐπιοῦσιν [ἀνθρώπου
νόησις καὶ] ἄνθρωπος καὶ νόησις ἵππου καὶ ἵππος καὶ δικαίου νόησις
καὶ δίκαιον. Διπλᾶ τοίνυν ἅπαντα καὶ τὸ ἓν δύο, καὶ αὖ τὰ δύο εἰς ἓν
ἔρχεται. Ὁ δὲ οὐκ ἔστι τούτων οὔθ᾽ ἓν ἕκαστον, οὐδὲ ἐκ πάντων τῶν
δύο οὐδ᾽ ὅλως δύο. Ὅπως δὲ τὰ δύο ἐκ τοῦ ἑνός, ἐν ἄλλοις. Ἀλλ᾽
ἐπέκεινα οὐσίας ὄν τι καὶ τοῦ νοεῖν ἐπέκεινα εἶναι· οὐ τοίνυν οὐδ᾽
ἐκεῖνο ἄτοπον, εἰ μὴ οἶδεν ἑαυτόν· οὐ γὰρ ἔχει παρ᾽ ἑαυτῶι, ὃ μάθηι,
εἷς ὤν. Ἀλλ᾽ οὐδὲ τὰ ἄλλα δεῖ αὐτὸν εἰδέναι· κρεῖττον γάρ τι καὶ μεῖζον
δίδωσιν αὐτοῖς τοῦ εἰδέναι αὐτά – ἦν τὸ ἀγαθὸν τῶν ἄλλων – ἀλλὰ
μᾶλλον ἐν τῶι αὐτῶι, καθόσον δύναται, ἐφάπτεσθαι ἐκείνου.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 161

6. Portanto se essas coisas se dizem corretamente, o bem não teria


qualquer região de pensar; pois ao que pensa é preciso o bem ser algo
diverso. É sem atividade, então. E por que é preciso a atividade ser
ativa? Pois em geral nenhuma atividade tem de novo atividade161. E se
acaso [essa atividade] se referir às outras [atividades] que estão para
algo diverso, é preciso deixar a primeira de todas, para a qual as outras
pendem, ser isso mesmo que é, porque em nada mais [essas outras] se
acrescentam a essa mesma [atividade]. Então tal atividade não é ato de
pensar; pois não tem o que há de pensar; pois isso é primeiro. Depois
nem o ato de pensar pensa, mas é o que tem o ato de pensar; então dois
novamente vêm a ser no que pensa; e isso [que é primeiro] de modo
algum é dois. E alguém ainda mais veria isso, se captasse como mais
claramente o que pensa tem início em tudo, a sua própria dupla
natureza. Dizemos que as coisas que são como são, tanto cada uma é
ela mesma, quanto as que são verdadeiramente, são no lugar
inteligível162, não só porque umas permanecem da mesma forma na
essência, e outras correm e não permanecem quantas são em sensação
– logo também há nos sensíveis as que permanecem – mas mais porque
elas têm o perfeito do ser junto delas. Pois é preciso a essência
primeiramente dita não ser sombra do ser, mas ter pleno o ser. E é pleno
o ser quando ele tomar a forma de pensar e viver. Portanto é ao mesmo
tempo pensar, viver e ser no que é. Portanto se há o que é, há também
inteligência, se há inteligência, há também o que é: o pensar é ao mesmo

161
Não se pode dizer que o ato age.
162
Platão, Politeia 508c: Τοῦτον τοίνυν, ἦν δ’ ἐγώ, φάναι με λέγειν τὸν τοῦ ἀγαθοῦ
ἔκγονον, ὃν τἀγαθὸν ἐγέννησεν ἀνάλογον ἑαυτῷ, ὅτιπερ αὐτὸ (c) ἐν τῷ νοητῷ τόπῳ
πρός τε νοῦν καὶ τὰ νοούμενα, τοῦτο τοῦτον ἐν τῷ ὁρατῷ πρός τε ὄψιν καὶ τὰ ὁρώμενα
(Portanto, dizia eu, falar isso é dizer que esse mesmo que nasceu do bem, que o bem
gerou análogo a si mesmo, no lugar inteligível é para a inteligência e para as coisas
pensadas, esse mesmo no lugar visível é para a visão e para as coisas vistas).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 162

tempo com o ser163. Portanto muitas coisas e não uma só é o pensar. De


fato, há necessidade para o que não é tal [como múltiplo] não ser o
pensar. Segundo cada coisa, restam [no mundo inteligível] noção de
homem e homem, noção de cavalo e cavalo, noção de justo e justo.
Tudo de fato é duplo, uno vai a dois, e por sua vez dois vão a uno. E o
que não é dessas coisas não é cada uma, nem é desde todas dentre as
que são dois, nem de modo geral é dois. De que modo dois são desde
um só, [explica-se] em outras partes164. Mas ser algo que é além da
essência165 é ser também além do pensar; portanto não é absurdo se ele
não conhece a si mesmo; pois não tem junto a si o que aprenda, sendo
uno. Mas nem as diversas coisas é preciso ele conhecer166; pois algo
maior e melhor ele dá a elas do que conhecê-las – era o bem dentre as
coisas diversas –, mas mais em si mesmo167, quanto for possível, tocá-
lo.

163
Parmênides, Diels-Kranz 28 B 3: Enéada V 1 8 (17): τὸ γὰρ αὐτὸ νοεῖν ἐστί τε καὶ
εἶναι (pensar e ser é o mesmo) e B 8 v. 34-36: ταὐτὸν δ’ ἐστὶ νοεῖν τε καὶ οὕνεκεν ἔστι
νόημα./ οὐ γὰρ ἄνευ τοῦ ἐόντος, ἐν ὧι πεφατισμένον ἐστιν,/ εὑρήσεις τὸ νοεῖν (o
mesmo é o pensar, por causa do qual há pensamento./ pois sem o que é, em que está
declarado, não encontrarás o pensar).
164
Enéada V 4 2.
165
Platão, Politeia 509b: οὐκ οὐσίας ὄντος τοῦ ἀγαθοῦ, ἀλλ’ ἔτι ἐπέκεινα τῆς οὐσίας
πρεσβείᾳ καὶ δυνάμει
ὑπερέχοντος (mesmo o bem não sendo essência, mas se eleva ainda além da essência
em dignidade e potência).
166
Enéada VI 9 6; VI 7 30.
167
Enéada V 1 11; VI 9 4.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 163

Livro VII

Introdução

V 7 (18)

Este breve tratado traz imensas dificuldades à crítica em geral.


Primeiro, Plotino parece aceitar o conceito estoico do ‘eterno retorno’,
ou seja, que a alma de certa pessoa possa voltar e ser outra pessoa, tal
como se Pitágoras voltasse em Sócrates ou em Platão, ou mesmo em
diferentes espécies de viventes. As formas sendo infinitas podem variar
indefinidamente, sem que isso cause aporia, pois o infinito se limita em
ciclos definidos do cosmo. Assim há um princípio de cada um no
mundo inteligível, e isso se vê no modo como Platão descreve a escolha
do dâimon devida a cada alma, na Politeia 617e, conhecido como ‘mito
de Er’: ᾿Ανάγκης θυγατρὸς κόρης Λαχέσεως λόγος. Ψυχαὶ ἐφήμεροι,
ἀρχὴ ἄλλης περιόδου θνητοῦ γένους θανατηφόρου. οὐχ ὑμᾶς δαίμων
λήξεται, ἀλλ' ὑμεῖς δαίμονα αἱρήσεσθε. πρῶτος δ' ὁ λαχὼν πρῶτος
αἱρείσθω βίον ᾧ συνέσται ἐξ ἀνάγκης. ἀρετὴ δὲ ἀδέσποτον, ἣν τιμῶν
καὶ ἀτιμάζων πλέον καὶ ἔλαττον αὐτῆς ἕκαστος ἕξει. αἰτία ἑλομένου·
θεὸς ἀναίτιος (Palavra da virgem Láquesis, filha da Necessidade:
Almas efêmeras, princípio de outro ciclo de gênero mortal que porta
morte. Não um dâimon vos caberá por sorte, mas vós escolhereis um
dâimon. Primeiro o que for sorteado escolha primeiro uma vida à que

SUMÁRIO
P l o t i n o | 164

estará conjunto por necessidade. Virtude é sem senhor, a qual honrando


e não honrando cada um terá mais e menos dela. Culpa do que escolheu;
divindade é não culpada). Assim, a alma do cosmo tem todas as razões
seminais que cada alma individual tem, o que leva a supor que a
variação das razões está no mundo inteligível, porque cada diferença
tem relevância em uma infinidade de razões, porque a criação diferente
é por razões diferentes, ou seja, quando o mesmo se repete é pela mesma
razão seminal. Num período cósmico pode haver infinitas variações
diferentes, que voltam a ser as mesmas em outro período, porque elas
se dão inteiras; mas há um predomínio de um ou outro componente, ou
do macho ou da fêmea, para cada característica que se revela
exteriormente, por isso algum indivíduo pode ter beleza diferente
porque não há uma só forma. Mesmo que as razões sejam perfeitas e
inteiras, há a contraparte da matéria, daí surge o não belo, ou a feiura.
Não é preciso haver o mesmo número de razões e de indivíduos em um
mesmo período, já que as diferenças se manifestam em um só de cada
vez. Mas as mesmas variações podem se repetir em outro período
cósmico. Desse modo haveria um infinito recomeço dessas razões, e se
a alma contém todas elas, também a inteligência as terá, mesmo que
haja viventes com infinita prole. Mas sempre haverá diferenças entre os
que nos parecem iguais, pois as formas são perfeitas, e a razão que as
configura as cria iguais com diferenças que às vezes não podemos
perceber, porque o que difere está atrelado à forma (εἶδος), e não à
figura (μορφή). E como a razão seminal está medida, o cosmo a tem
toda, de modo que as variações podem ser infinitas aos nossos sentidos.
Quando tudo se cumpre segundo o divino destino, há novo recomeço.

ζʹ

Περὶ τοῦ εἰ καὶ τῶν καθέκαστά ἐστιν εἴδη

1. Εἰ καὶ τοῦ καθέκαστόν ἐστιν ἰδέα; Ἢ εἰ ἐγὼ καὶ ἕκαστος τὴν


ἀναγωγὴν ἐπὶ τὸ νοητὸν ἔχει, καὶ ἑκάστου ἡ ἀρχὴ ἐκεῖ. Ἢ εἰ μὲν ἀεὶ

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 165

Σωκράτης καὶ ψυχὴ Σωκράτους, ἔσται Αὐτοσωκράτης, καθὸ ἧι ψυχὴ


καθέκαστα καὶ [ὡς λέγεται] ἐκεῖ [ὡς λέγεται ἐκεῖ]. Εἰ δ᾽ οὐκ ἀεί, ἀλλὰ
ἄλλοτε ἄλλη γίγνεται ὁ πρότερον Σωκράτης, οἷον Πυθαγόρας ἤ τις
ἄλλος, οὐκέτι ὁ καθέκαστα οὗτος κἀκεῖ. Ἀλλ᾽ εἰ ἡ ψυχὴ ἑκάστου ὧν
διεξέρχεται τοὺς λόγους ἔχει πάντων, πάντες αὖ ἐκεῖ· ἐπεὶ καὶ λέγομεν,
ὅσους ὁ κόσμος ἔχει λόγους, καὶ ἑκάστην ψυχὴν ἔχειν. Εἰ οὖν καὶ ὁ
κόσμος μὴ ἀνθρώπου μόνου, ἀλλὰ καὶ τῶν καθέκαστα ζώιων, καὶ ἡ
ψυχή· ἄπειρον οὖν τὸ τῶν λόγων ἔσται, εἰ μὴ ἀνακάμπτει περιόδοις, καὶ
οὕτως ἡ ἀπειρία ἔσται πεπερασμένη, ὅταν ταὐτὰ ἀποδιδῶται. Εἰ οὖν
ὅλως πλείω τὰ γινόμενα τοῦ παραδείγματος, τί δεῖ εἶναι τῶν ἐν μιᾶι
περιόδωι πάντων γινομένων λόγους καὶ παραδείγματα; Ἀρκεῖν γὰρ ἕνα
ἄνθρωπον εἰς πάντας ἀνθρώπους, ὥσπερ καὶ ψυχὰς ὡρισμένας
ἀνθρώπους ποιούσας ἀπείρους. Ἢ τῶν διαφόρων οὐκ ἔστιν εἶναι τὸν
αὐτὸν λόγον, οὐδὲ ἀρκεῖ ἄνθρωπος πρὸς παράδειγμα τῶν τινῶν
ἀνθρώπων διαφερόντων ἀλλήλων οὐ τῆι ὕληι μόνον, ἀλλὰ καὶ ἰδικαῖς
διαφοραῖς μυρίαις· οὐ γὰρ ὡς αἱ εἰκόνες Σωκράτους πρὸς τὸ ἀρχέτυπον,
ἀλλὰ δεῖ τὴν διάφορον ποίησιν ἐκ διαφόρων λόγων. Ἡ δὲ πᾶσα
περίοδος πάντας ἔχει τοὺς λόγους, αὖθις δὲ τὰ αὐτὰ πάλιν κατὰ τοὺς
αὐτοὺς λόγους. Τὴν δὲ ἐν τῶι νοητῶι ἀπειρίαν οὐ δεῖ δεδιέναι· πᾶσα
γὰρ ἐν ἀμερεῖ, καὶ οἷον πρόεισιν, ὅταν ἐνεργῆι.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 166

V, 7 (18)
Sobre se as ideias também são das
características em cada circunstância

1. Se também de cada característica circunstancial há ideia168?


Certamente, se eu e cada um tiver a recondução ao inteligível, o
princípio de cada um estaria lá. Certamente, se é sempre Sócrates e alma
de Sócrates, isso será o próprio Sócrates, segundo o que ali a alma é em
cada circunstância, como é dito aqui e como é dito ali. E se não é sempre
[Sócrates], mas uma [alma] diversa em outro tempo vem a ser o
Sócrates anterior, tal que Pitágoras ou algum outro, esse [indivíduo] não
mais seria ali em relação à circunstância. Mas se a alma de cada um
tiver as razões de todos daqueles por que passa, todos por sua vez
estariam ali; uma vez que também dizemos: quantas razões o cosmo
tem, cada alma também tem. Se então o cosmo não só tem as razões do
homem, mas também a dos viventes em cada circunstância, também a
alma tem. Então, o que é das razões será infinito, a menos que se volte
em períodos, e assim a infinitude terá sido levada a termo, quando as

168
Albinus vel Alcinous, Epitome doctrinae Platonicae sive Διδασκαλικός IX 2: Οὔτε
γὰρ τοῖς πλείστοις τῶν ἀπὸ Πλάτωνος ἀρέσκει τῶν τεχνικῶν εἶναι ἰδέας, οἷον ἀσπίδος
ἢ λύρας, οὔτε μὴν τῶν παρὰ φύσιν, οἷον πυρετοῦ καὶ χολέρας, οὔτε τῶν κατὰ μέρος,
οἷον Σωκράτους καὶ Πλάτωνος, ἀλλ’ οὐδὲ τῶν εὐτελῶν τινός, (5) οἷον ῥύπου καὶ
κάρφους, οὔτε τῶν πρός τι, οἷον μείζονος καὶ ὑπερέχοντος (Para a maioria dos que
seguem Platão, não satisfaz haver ideias dentre as artes, tal que um escudo ou uma
lira, nem dentre as coisas contra natureza, tal que febre e cólera, nem das que são
segundo parte, tal que Sócrates e Platão, nem mesmo das mesquinharias de algo, tal
que sujeira ou palha, nem das que são relativas, tal que ‘maior’ e ‘que ultrapassa’).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 167

mesmas coisas se dão169. Se em geral as coisas que vêm a ser são mais
numerosas do que o paradigma, por que é preciso haver razões e
paradigmas de todas as coisas que vêm a ser em um só período? Pois
[era preciso] bastar um só homem para todos os homens, como também
almas delimitadas que criam infinitos homens. Certamente dentre as
diferenças não é possível haver a mesma razão, nem basta um homem
perante o paradigma de alguns homens que diferem uns dos outros não
só em matéria, mas também nas específicas diferenças inumeráveis;
pois não é como as imagens de Sócrates perante o arquétipo, mas é
preciso que a criação diferente seja desde razões diferentes. Certamente
todo período tem todas as razões, e por sua vez as mesmas coisas são
novamente segundo as mesmas razões. E em relação à infinitude no
inteligível não é preciso temer; pois toda ela é sem parte170, e é tal como
se projeta, quando em atividade.

2. Ἀλλ᾽ εἰ αἱ μίξεις τῶν λόγων ἄρρενος καὶ θήλεος διαφόρους ποιοῦσιν,


οὐκέτι τοῦ γινομένου ἑκάστου λόγος τις ἔσται, ὅ τε ἑκάτερος γεννῶν,
οἷον ὁ ἄρρην, οὐ κατὰ διαφόρους λόγους ποιήσει, ἀλλὰ καθ᾽ ἕνα τὸν

169
Referência ao conceito estoico do ‘eterno retorno’.
170
A alma, que é sem parte, contém a infinidade de razões formais. Aristóteles, De
Anima 429a 10: Καὶ εὖ δὴ οἱ λέγοντες τὴν ψυχὴν εἶναι τόπον εἰδῶν (e dizem bem: a
alma é lugar das formas). Stoicorum Vetera Fragmenta II 395, Simplicius, In
Aristotelis libros de anima commentaria, 217, 34: ὑποβᾶσα οὖν εἰς τὸ ὁριζόμενόν τε
καὶ εἰδοποιούμενον μετέχει καὶ οὐσιωδῶς ἐξῆπται ὅρου καὶ εἴδους, καὶ ἰδίου ἑκάστη,
(35) εἴ γε καὶ ἐπὶ τῶν συνθέτων τὸ ἀτομωθὲν ὑπάρχει εἶδος, καθ’ ὃ ἰδίως παρὰ τοῖς ἐκ
τῆς Στοᾶς λέγεται ποιόν, ὃ καὶ ἀθρόως ἐπιγίνεται καὶ αὖ ἀπογίνεται (218) καὶ τὸ αὐτὸ
ἐν παντὶ τῷ τοῦ συνθέτου βίῳ διαμένει, καίτοι τῶν μορίων ἄλλων ἄλλοτε γινομένων
τε καὶ φθειρομένων (então cada [alma], tendo avançado ao que é limitado e que cria
forma participa do que é próprio e está ligada essencialmente a limite e a forma, (35)
se forma tem início nos compostos, porque foi separada, o que propriamente é dito
pelos estoicos certa qualidade, que de modo cerrado vem a ser e por sua vez não vem
a ser, (218) a mesma qualidade permanece em toda vida do composto, mesmo que as
partes diversas venham a ser e se destruam de modo diverso).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 168

αὐτοῦ ἢ πατρὸς αὐτοῦ. Ἢ οὐδὲν κωλύει καὶ κατὰ διαφόρους τῶι τοὺς
πάντας ἔχειν αὐτούς, ἄλλους δὲ ἀεὶ προχείρους. Ὅταν δὲ ἐκ τῶν αὐτῶν
γονέων διάφοροι; Ἢ διὰ τὴν οὐκ ἴσην ἐπικράτησιν. Ἀλλ᾽ ἐκεῖνο, ὅτι
οὐκ – εἰ ἐν τῶι φαίνεσθαι – ὁτὲ μὲν κατὰ τὸ ἄρρεν τὸ πλεῖστον, ὁτὲ δὲ
κατὰ τὸ θῆλυ, ἢ κατὰ τὸ ἴσον μέρος ἔδωκεν ἑκάτερος, ἀλλ᾽ ὅλον μὲν
ἔδωκε καὶ ἔγκειται, κρατεῖ δὲ τῆς ὕλης μέρος ἑκατέρου ἢ θάτερον. Οἱ
δὲ ἐν ἄλληι χώραι πῶς διάφοροι; Ἆρ᾽ οὖν ἡ ὕλη τὸ διάφορον οὐχ
ὁμοίως κρατουμένη; Πάντες ἄρα χωρὶς ἑνὸς παρὰ φύσιν. Εἰ δὲ τὸ
διάφορον πολλαχοῦ καλόν, οὐχ ἓν τὸ εἶδος. Ἀλλὰ τῶι αἴσχει μόνωι
ἀποδοτέον τὸ παρὰ τὴν ὕλην κἀκεῖ τῶν τελείων λόγων κεκρυμμένων
μέν, δοθέντων δὲ ὅλων. Ἀλλ᾽ ἔστωσαν διάφοροι οἱ λόγοι· τί δεῖ
τοσούτους, ὅσοι οἱ γινόμενοι ἐν μιᾶι περιόδωι, εἴπερ ἔνι τῶν αὐτῶν
διδομένων διαφόρους ἔξωθεν φαίνεσθαι; Ἢ συγκεχώρηται τῶν ὅλων
διδομένων, ζητεῖται δέ, εἰ τῶν αὐτῶν κρατούντων. Ἆρ᾽ οὖν, ὅτι τὸ
ταὐτὸν πάντη ἐν τῆι ἑτέραι περιόδωι, ἐν ταύτηι δὲ οὐδὲν πάντη ταὐτόν;

2. Mas se as uniões das razões de macho e de fêmea criam diferenças,


não mais de cada um que vem a ser será alguma razão, e cada um dos
dois gerando isso, tal como o macho, criará razões não segundo
diferenças, mas segundo uma só razão que é de si mesmo ou de seu pai.
Certamente nada impede [que crie] segundo diferenças, por ele as ter
todas como as mesmas, mas [tem] sempre outras preparadas, e quando
há diferenças desde os mesmos genitores? Certamente é por predomínio
não igual. Mas isso não é porque – mesmo que pela aparência – ora pelo
gênero masculino é a maior parte, ora pelo feminino, certamente cada
um dos dois contribui por igual parte, mas contribui e jaz [na matéria]
com sua razão inteira, e uma ou outra parte de cada um dos dois domina
a matéria. E os que estão em diversa região como são diferentes? Por
acaso a matéria é o que difere, por ser dominada não de forma
semelhante? Portanto todos [indivíduos] menos um é contra a natureza.
[Na verdade, não é assim]; se o que difere é diversamente belo, não é
uma só a forma. Mas somente à feiura deve-se atribuir a contraparte da

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 169

matéria, mesmo aí havendo as razões perfeitas, que estão ocultas, mas


que se atribuem inteiras. Mas sejam diferentes as razões; por que é
preciso [haver] tantas [razões] quantos são os [indivíduos] que vêm a
ser em um só período, se as diferenças de fora manifestam-se a um só
desses que se dão? Certamente está acordado quanto a elas serem dadas
inteiras, e busca-se, se [há acordo] quanto às mesmas dominarem. Por
acaso é porque há absolutamente o mesmo em diferente período, mas
nesse nada é absolutamente o mesmo?

3. Πῶς οὖν ἐπὶ πολλῶν διδύμων διαφόρους φήσομεν τοὺς λόγους; Εἰ


δὲ καὶ ἐπὶ τὰ ἄλλα ζῶιά τις ἴοι καὶ τὰ πολύτοκα μάλιστα; Ἤ, ἐφ᾽ ὧν
ἀπαράλλακτα, εἷς λόγος. Ἀλλ᾽ εἰ τοῦτο, οὐχ, ὅσα τὰ καθέκαστα,
τοσοῦτοι καὶ οἱ λόγοι. Ἢ ὅσα διάφορα τὰ καθέκαστα, καὶ διάφορα οὐ
τῶι ἐλλείπειν κατὰ τὸ εἶδος. Ἢ τί κωλύει καὶ ἐν οἷς ἀδιάφορα; Εἴπερ
τινὰ ὅλως ἐστὶ πάντη ἀδιάφορα. Ὡς γὰρ ὁ τεχνίτης, κἂν ἀδιάφορα ποιῆι,
δεῖ ὅμως τὸ ταὐτὸν διαφορᾶι λαμβάνειν λογικῆι, καθ᾽ ἣν ἄλλο ποιήσει
προσφέρων διάφορόν τι τῶι αὐτῶι· ἐν δὲ τῆι φύσει μὴ λογισμῶι
γινομένου τοῦ ἑτέρου, ἀλλὰ λόγοις μόνον, συνεζεῦχθαι δεῖ τῶι εἴδει τὸ
διάφορον· ἡμεῖς δὲ λαμβάνειν τὴν διαφορὰν ἀδυνατοῦμεν. Καὶ εἰ μὲν
ἡ ποίησις ἔχει τὸ εἰκῆ τοῦ ὁποσαοῦν, ἄλλος λόγος· εἰ δὲ μεμέτρηται,
ὁπόσα τινὰ εἴη, τὸ ποσὸν ὡρισμένον ἔσται τῆι τῶν λόγων ἁπάντων
ἐξελίξει καὶ ἀναπλώσει· ὥστε, ὅταν παύσηται πάντα, ἀρχὴ ἄλλη·
ὁπόσον γὰρ δεῖ τὸν κόσμον εἶναι, καὶ ὁπόσα ἐν τῶι ἑαυτοῦ βίωι
διεξελεύσεται, κεῖται ἐξ ἀρχῆς ἐν τῶι ἔχοντι τοὺς λόγους. Ἆρ᾽ οὖν καὶ
ἐπὶ τῶν ἄλλων ζώιων, ἐφ᾽ ὧν πλῆθος ἐκ μιᾶς γενέσεως, τοσούτους τοὺς
λόγους; Ἢ οὐ φοβητέον τὸ ἐν τοῖς σπέρμασι καὶ τοῖς λόγοις ἄπειρον
ψυχῆς τὰ πάντα ἐχούσης. Ἢ καὶ ἐν νῶι, ἧι ἐν ψυχῆι, τὸ ἄπειρον τούτων
ἀνάπαλιν τῶν ἐκεῖ προχείρων.

3. Então como em muitos gêmeos diremos ser as razões diferentes? E


se também para os outros viventes algum [gêmeo] viesse, sobretudo
quanto aos muito prolíficos? Certamente nos que há características

SUMÁRIO
P l o t i n o | 170

invariáveis, uma só é a razão. Mas se é isso, as características


circunstanciais não serão tantas quantas são as razões. Certamente,
quantas são diferenças das características circunstanciais, [essas]
também são diferenças, não por defeito da forma. Ou o que impede
[haver diferenças] também nos que são sem diferença? Se é que
algumas coisas de modo geral são totalmente sem diferença. Pois assim
o artesão, mesmo que faça [algo] sem diferença, é preciso no entanto
tomar o mesmo por diferença racional, segundo a qual criará algo
diverso aplicando certa diferença a isso mesmo; mas na natureza, tendo
vindo a ser o que é diferente não por raciocínio, mas por razões formais
apenas, é preciso o que difere estar atrelado à forma; mas nós não somos
capazes de captar a diferença. E se o ato de criar tem o acaso de quanto
for, diversa é a razão; mas se [a razão] está medida, haveria certa
quantidade, e essa quantidade estará delimitada pela revolução e
desenvolvimento de todas as razões; assim, quando tudo cessar,
[haverá] diverso princípio; é preciso o cosmo ser essa quantidade, e
tudo quanto passar em sua vida jaz desde o princípio no que tem as
razões171. Então, por acaso também nos diversos viventes, em que há
multiplicidade a partir de uma só origem, haverá tão numerosas razões?
Certamente não se deve temer o infinito nas sementes e nas razões,
porque a alma tem todas as coisas. Certamente também há na
inteligência, quando houver na alma: o infinito recomeço dessas coisas
que ali se dispõem.

171
Na alma universal.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 171

Livro VIII

Introdução

V 8 (31)

Retomando o tema da Enéada I 6, Plotino o aprofunda ao examinar a


beleza na arte, na natureza, na Alma e no inteligível, uma vez que o
Bem é acima de tudo. Para contemplar o cosmo inteligível é preciso
voltar-se a si mesmo e ver a beleza desse cosmo, seu criador e o que é
além dele. O criador é o demiurgo, ou a Alma, que olhando para o
paradigma do eterno, um só e o mesmo (κατὰ ταὐτά), dá à criação o que
tem de melhor, a criatura se completa recriando em si mesma ao imitar
o criador, daí se diz que a natureza imita quando cria. O homem olha
para uma imagem, que está dois pontos afastada da realidade, para criar,
como Fídias que cria o seu Zeus como se o tivesse visto com os próprios
olhos; mas essa imagem é na verdade uma visagem (εἴδωλον, composto
de -ἰδ- ‘ver/saber’ e de ὄλλυμι ‘perecer’), que a arte permite que se
represente. O escultor ou pintor tem a forma no pensamento porque ele
participou dela pela arte. A beleza imaginada é menor do que a original,
que permanece na arte; o resultado da obra humana é inferior à imagem
ou visagem da arte, e por sua vez esta é inferior àquela do paradigma
original. Assim temos os três níveis da realidade, conforme se diz na
Politeia 595a – 608b, onde Platão, iniciando o livro X dessa obra, faz

SUMÁRIO
P l o t i n o | 172

Sócrates fazer duras críticas às obras dos poetas, em aparente


contradição com a versão de Plotino ao falar da obra de Fídias, mas na
verdade ambos fazem menção ao mesmo: a degradação do conceito do
real, primeiro, segundo e terceiro. No texto da Politeia, Platão insiste na
cópia da cópia como produto do homem, já Plotino enfatiza a criação
humana pela participação da forma (εἶδος) através da arte, que se impõe
à matéria. Portanto o paradigma da Alma é na Inteligência, o da
Natureza é na Alma, assim como a visagem que o artista tem do que há
de criar. A beleza em si não é aparente, pois é interior, e nós não temos
o hábito de olhar para o interior, olhamos só para fora; e como alguém
poderia então contemplá-la? Se alguém se admirar ao ‘ver’ sensatez
(φρόνησις) em outro, também poderá ver em si mesmo, caso contrário
não poderá ver em si mesmo o que não vê em outro, pois estará
buscando tendo como parâmetro o feio e o impuro. Na verdade, o
criador fez vir a ser todos os viventes racionais e irracionais da forma
mais bela, porque dominou racionalmente a matéria, tal como
demonstra sua variação de cor e de configuração. Essa beleza aparente
de animais, homens e mulheres é a forma configurada pela razão do
criador, tal como nas artes a beleza que surge através do artífice. Mas
essa beleza não é bela em si, pois necessita da matéria para mostrar-se
bela, e nada do que é material, cor, aspecto ou grandeza, pode causar na
alma o que o belo em si causa, porque a forma (εἶδος) tem de ser
interior, na alma de cada um, caso contrário não haverá
reconhecimento, pois ela estará fora, e não poderemos ver a beleza, que
se insinua pelos olhos através da forma. Portanto, para ver a beleza é
preciso participar dela, tendo em si mesmo essa forma, só assim
podemos explicar a comoção da alma pela beleza em si. A beleza da
alma é arquétipo da que é na natureza, que é arquétipo da que é no
corpo; essa da alma faz brilhar a que é natural, porque ela mesma vem
de outra que é primeira e maior, que vem a ser em si mesma e cria a
primeira razão como matéria da alma, que só se pode entender como

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 173

padrão de inteligência. Por isso os deuses são belos de modo


imensurável, mesmo aqueles que não têm corpo, pois a sua beleza
provém da sua inteligência ativa, e são belos por onde são deuses. E os
deuses que habitam o céu contemplam o mundo inteligível, onde tudo
que conhecemos existe realmente, a terra, o céu, o mar e todos os
viventes; lá tudo é claro e diáfano, não há escuridão, só há luz em luz.
Por isso é preciso merecer alcançar tal conhecimento que se revela
sempre o mesmo, tal como diz Platão, no Fedro 247d, e não o que se
baseia em argumentos e questões; pois tudo ali é verdadeiro e claro, não
há obscuridade, tudo é manifestação de luz que produz luz, tudo é
inteiro, nada é parcial, tudo vê tudo em si mesmo no esplendor do
infinito; algo diverso se manifesta em cada um, mas tudo é no interior
de todos. O que se move é estável, bem como o que é em repouso,
ambos no mesmo. O espaço original se confunde com o de movimento
e de chegada, porque o tempo não há para eles, o ‘onde’ é o mesmo que
o ‘de onde’. Esse mesmo céu inteligível é sua própria inteligência,
porque cada coisa é única e inteira, mas para ver isso é preciso ter
acuidade da ‘visão’ da filosofia. Tudo ali é imperecível, não há
saciedade nem fadiga, pois no infinito não é imaginável saciedade do
que é pleno, tudo que se vê no infinito segue sua própria natureza.
Assim a vida pura não oferece resistência, não há fadiga, e vida é
sabedoria suficiente a todos sem necessidade de cálculos. O inteligível
não vem a ser para ser sábio depois, pois ele é ser e essência ao mesmo
tempo, pois o autoconhecimento se assenta junto à inteligência, tal
como a justiça com Zeus (τῶι Διὶ τὴν Δίκην), assim é espetáculo que
agrada a cada um que observa em felicidade, sua essência é sabedoria
que em sua grandeza e potência cria todas as coisas que a seguem, pois
tudo é ela mesma nessa procissão que mal compreendemos pela
limitação de nosso conhecimento sensível. Por isso os antigos diziam
que as coisas que são tanto são ideias quanto essências, que nós só
podemos observar pela razão, pois elas são do mundo inteligível e

SUMÁRIO
P l o t i n o | 174

vieram a ser pelo bem, que não é essência, mas está muito além da
essência em dignidade e potência. Se a sabedoria precede toda criação,
é justo pensar que o artífice segue a sabedoria natural, que por sua vez
tem origem no mundo inteligível e não é composta, é simples e se
resolve do uno ao múltiplo. Na natureza há a sabedoria de criar que é
de origem divina, porque ela é criação da inteligência, que das formas
de essências e ideias passam à razão que as modela na matéria, de modo
que aqui no mundo sensível a sabedoria é inteligência; por esse trajeto
a verdadeira sabedoria é essência verdadeira. Então, os deuses que
habitam aquele céu não veem os méritos referentes a este mundo, pois
sua essência se compara aos belos objetos de culto que contemplam em
seu estado de bem-aventurança a Inteligência e o Bem. Quando se
representa o belo, seja por símbolos ou grafado pintado ou por escrito,
sua sabedoria é admirada, de modo que essa representação significa sua
existência desde sempre, independentemente de ter sido representada,
porque sua representação nos faz lembrar do que sempre é, não pela
visão ou visagem daquilo que é objeto de culto, mas pela inteligência lá
contida, porque esses objetos sagrados representam um princípio que é
ao mesmo tempo fim, porque é sempre o mesmo, todo e contínuo ao
mesmo tempo. o próprio universo em sua unidade extensa é
representação dessa inteligência, de modo que se alguém pensasse que
sua criação fora de cálculo e projeto de pensamento estaria enganado,
pois tal criação é assim como é porque de nada depende, diferente dos
objetos de culto elaborados por artífices, com cálculo e projeto, que
apresentam uma imagem pálida como uma visagem (εἴδωλον) que
representa toda a sabedoria do criador em sua inteireza. O universo é
perfeito porque representa uma imagem mais nítida dessa força
criadora, pois sua alma natural está ligada a essa potência em um limite
que não tem parte, ou seja, não há espaço entre elas, de modo que a
alma do universo contempla diretamente seu demiurgo, sua hipóstase.
A criação está ligada ao belo porque as formas são perfeitas e,

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 175

racionalizadas na matéria, constituem este todo que na verdade é todo


forma e essência. A arte de criar se dá sem rumor e sem fadiga, pois
nada há contrário que possa impedir, mas em sua imitação há contrários,
já que o mundo sensível é em partes e nós não somos essência de nós
mesmos, assim sofremos ao criar. A potência criadora cria o homem
como um todo, forma e essência, mas quando vem a ser na matéria ele
passa a ser um todo daquele todo, ou seja, forma racionalizada na
matéria, visagem do que é, por isso precisamos nos servir da razão, da
demonstração e da crença. E a beleza do que é visto não deve sofrer
censura, a não ser que ela não é tão sublime quanto aquela do mundo
inteligível, pois o demiurgo maravilhou-se de sua obra e quis fazê-lo
ainda mais semelhante ao paradigma da beleza ‘ultrabela’. O belo em
si é inteiro e todo, por que é em cada parte sem deixar nada em que não
seja o belo, e este vem a ser primeiro por ser forma primeira, de fato
antes dele há somente o que não tem desejo, o Uno, então é primeira
forma porque contempla em primeiro lugar, e isso é espetáculo de
inteligência admirável de se ver, isto é, o paradigma e a ideia da
inteligência. Nós não temos essa via aberta para a beleza, pois a
buscamos pela figura (μορφή), e não pela forma (εἶδος), assim
desconhecemos a razão pela qual algo é belo. Se usarmos a razão
(λόγος) para a buscarmos, ainda mais nos aproximaremos da beleza do
paradigma. Por não sermos essência realmente, sofremos buscando o
belo em si, pois este somente é possível se houver essência, uma vez
que ambos são o mesmo, o belo e a essência; quanto mais houver
participação da essência verdadeira mais haverá a manifestação do belo.
Essa visão se assemelha à de uma cristalina esfera onde todos os seres
atuam, em estabilidade e em movimento, o conjunto de deuses que na
verdade está para um só, o Uno; nessa unidade fundamental a essência
e o belo são um só, porque dessa dualidade vem a ser a multiplicidade
característica da inteligência. Esse espetáculo da esfera é para nós uma
fantasia luminosa na alma, de que devemos abstrair espaço e matéria

SUMÁRIO
P l o t i n o | 176

para que possamos invocar o deus criador, que vem portando tudo e
todos em maravilhosa procissão, todos em conjunto no Uno, sendo
múltiplos por diversas potências, sem dimensão de tempo ou espaço,
porque não há matéria. Toda essa potência vai ao infinito sem se
fragmentar, porque é infinita. Nosso mundo seria tão grande se não
fosse pela potência corporificada, que tem figura, espaço e massa, assim
tudo aqui que parece imenso seria muitíssimo maior se fosse essência
sem matéria, pois tudo isso tem a aparência do ser que nos revela uma
visagem do belo; por isso essência e belo estão no fundamento da
inteligência como uma só coisa. Dessa mesma forma deve-se aprender
a contemplar, isto é, contemplar em si mesmo o que parece ser externo,
que assim passa a ser interior, como quem contempla deus em si
mesmo: objeto contemplado e contemplante em si mesmo. Alguém que
conseguir essa contemplação deve ter ‘visão’ aguçadíssima e por isso é
dito louco e delirante, mas na verdade ele está em posse de um deus.
Isso é a contemplação do belo que se mostra no mundo inteligível, e os
agentes dessa ‘visão’ têm neles mesmos aquilo que é contemplado,
como Zeus e seu séquito na procissão divina. Assim quem contempla
em si mesmo essa beleza vê a fonte natural da justiça ou da sensatez,
cuja imitação temos neste mundo como visagem daquela original e
verdadeira. Todos os deuses nesse desfile têm essa capacidade, sendo
cada um e todos em conjunto, e mesmo as almas, mas só aquelas que
alcançaram por seu mérito esse privilégio de contemplar com Zeus a
maravilha do mundo inteligível, cuja beleza irradia e enche tudo que
veio a ser, pois contemplar essa beleza é embriagar-se do néctar da
verdade. Mas para ver algo assim não é preciso visão sensível, ou seja,
olhos do corpo, pois a sensação não alcançaria algo tão sublime, pois
primeiro seria preciso ver a si mesma fora do corpo, o que não é possível
para a sensação; então é preciso projetar esse espetáculo para fora e ver
a si mesmo como exemplo de beleza, em seguida deve-se descartar a
imagem, porque a imagem não é essência, e sentir a presença daquele

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 177

deus, que sempre é presente, de modo a sentir-se dois, e quando se


voltar a ele com ele se unifica. Nesse ponto percebe-se que tem tudo
que contemplava de fora e que é um só com o deus. A simples
percepção disso é algo sublime, porque se passa a conhecer a si mesmo
como o lugar a que adentrou, de modo a ser, em lugar do que contempla,
o espetáculo. Essa é a verdadeira beleza, que não é vista com os olhos
do corpo, mas é percebida pela capacidade da alma. Então é preciso ser
sujeito e objeto da visão ao mesmo tempo, para compreender e ao
mesmo tempo perceber a si mesmo, não se afastando de si mesmo para
não se afastar do próprio belo. Nesse aspecto tudo que não nos é familiar
é desvio, e isso não nos faz ver, antes atrapalha a visão; por outro lado
o que é familiar é próprio de nós porque o sentimos como belo, ainda
que no mundo sensível não tenhamos acesso a ele, porque procuramos
com olhos sensíveis. O único modo de ver é unificar a nossa
compreensão a nós mesmos. A toda essa dificuldade se acrescenta a
necessidade de dizer com palavras que não abrangem todo o
significado, pois como poderíamos significar o inteligível? Só se pode
dizer que o que é desde o que sempre é será sempre, pois sua origem é
inesgotável e inexaurível. A manifestação de Zeus pode ser dita pelos
poetas de forma alegórica, e nós é que devemos compreender a alegoria
do belo inteligível, que não se pode expressar pelo sensível; então
Urano, Cronos e Zeus são as alegorias do Uno, Inteligência e Alma,
para se compreender por representações o que a nossa intuição não
alcança, daí a necessidade de alegoria, que no entanto pode não ser
compreendida ao sofrer a ação do tempo. A beleza tem sua origem no
pai do criador das ideias inteligíveis, que a irradia ao filho, que é criador
da alma do todo, que tem beleza como Afrodite, como dizem os poetas.
Mas a beleza dela é um reflexo daquela beleza original, criada pela
Inteligência, que se mantém em si mesma contendo suas crias; a ruptura
entre esta e o Uno se faz ver no golpe de Cronos em Urano, que se
voltam a unir em contemplação e criação do belo, para depois passar o

SUMÁRIO
P l o t i n o | 178

belo através do filho, a Alma criadora e nutriz do elemento sensível.


Assim quando reconhecemos o belo, não é por outra coisa senão por
nossa própria natureza, de modo que quando não o reconhecemos, é por
natureza diversa da nossa.

ηʹ

Περὶ τοῦ νοητοῦ κάλλους

1. Ἐπειδή φαμεν τὸν ἐν θέαι τοῦ νοητοῦ κόσμου γεγενημένον καὶ τὸ


τοῦ ἀληθινοῦ νοῦ κατανοήσαντα κάλλος τοῦτον δυνήσεσθαι καὶ τὸν
τούτου πατέρα καὶ τὸν ἐπέκεινα νοῦ εἰς ἔννοιαν βαλέσθαι, πειραθῶμεν
ἰδεῖν καὶ εἰπεῖν ἡμῖν αὐτοῖς, ὡς οἷόν τε τὰ τοιαῦτα εἰπεῖν, πῶς ἄν τις τὸ
κάλλος τοῦ νοῦ καὶ τοῦ κόσμου ἐκείνου θεάσαιτο. Κειμένων τοίνυν
ἀλλήλων ἐγγύς, ἔστω δέ, εἰ βούλει, [δύο] λίθων ἐν ὄγκωι, τοῦ μὲν
ἀρρυθμίστου καὶ τέχνης ἀμοίρου, τοῦ δὲ ἤδη τέχνηι κεκρατημένου εἰς
ἄγαλμα θεοῦ ἢ καί τινος ἀνθρώπου, θεοῦ μὲν Χάριτος ἤ τινος Μούσης,
ἀνθρώπου δὲ μή τινος, ἀλλ᾽ ὃν ἐκ πάντων καλῶν πεποίηκεν ἡ τέχνη,
φανείη μὲν ἂν ὁ ὑπὸ τῆς τέχνης γεγενημένος εἰς εἴδους κάλλος καλὸς
οὐ παρὰ τὸ εἶναι λίθος – ἦν γὰρ ἂν καὶ ὁ ἕτερος ὁμοίως καλός – ἀλλὰ
παρὰ τοῦ εἴδους, ὃ ἐνῆκεν ἡ τέχνη. Τοῦτο μὲν τοίνυν τὸ εἶδος οὐκ εἶχεν
ἡ ὕλη, ἀλλ᾽ ἦν ἐν τῶι ἐννοήσαντι καὶ πρὶν ἐλθεῖν εἰς τὸν λίθον· ἦν δ᾽ ἐν
τῶι δημιουργῶι οὐ καθόσον ὀφθαλμοὶ ἢ χεῖρες ἦσαν αὐτῶι, ἀλλ᾽ ὅτι
μετεῖχε τῆς τέχνης. Ἦν ἄρα ἐν τῆι τέχνηι τὸ κάλλος τοῦτο ἄμεινον
πολλῶι· οὐ γὰρ ἐκεῖνο ἦλθεν εἰς τὸν λίθον τὸ ἐν τῆι τέχνηι, ἀλλ᾽ ἐκεῖνο
μὲν μένει, ἄλλο δὲ ἀπ᾽ ἐκείνης ἔλαττον ἐκείνου· καὶ οὐδὲ τοῦτο ἔμεινε
καθαρὸν ἐν αὐτῶι, οὐδὲ οἷον ἐβούλετο, ἀλλ᾽ ὅσον εἶξεν ὁ λίθος τῆι
τέχνηι. Εἰ δ᾽ ἡ τέχνη ὅ ἐστι καὶ ἔχει τοιοῦτο ποιεῖ – καλὸν δὲ ποιεῖ κατὰ
λόγον οὗ ποιεῖ – μειζόνως καὶ ἀληθεστέρως καλή ἐστι τὸ κάλλος
ἔχουσα τὸ τέχνης μεῖζον μέντοι καὶ κάλλιον, ἢ ὅσον ἐστὶν ἐν τῶι ἔξω.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 179

Καὶ γὰρ ὅσωι ἰὸν εἰς τὴν ὕλην ἐκτέταται, τόσωι ἀσθενέστερον τοῦ ἐν
ἑνὶ μένοντος. Ἀφίσταται γὰρ ἑαυτοῦ πᾶν διιστάμενον, εἰ ἰσχύς, ἐν ἰσχύι,
εἰ θερμότης, ἐν θερμότητι, εἰ ὅλως δύναμις, ἐν δυνάμει, εἰ κάλλος, ἐν
κάλλει. Καὶ τὸ πρῶτον ποιοῦν πᾶν καθ᾽ αὑτὸ κρεῖττον εἶναι δεῖ τοῦ
ποιουμένου· οὐ γὰρ ἡ ἀμουσία μουσικόν, ἀλλ᾽ ἡ μουσική, καὶ τὴν ἐν
αἰσθητῶι ἡ πρὸ τούτου. Εἰ δέ τις τὰς τέχνας ἀτιμάζει, ὅτι μιμούμεναι
τὴν φύσιν ποιοῦσι, πρῶτον μὲν φατέον καὶ τὰς φύσεις μιμεῖσθαι ἄλλα.
Ἔπειτα δεῖ εἰδέναι, ὡς οὐχ ἁπλῶς τὸ ὁρώμενον μιμοῦνται, ἀλλ᾽
ἀνατρέχουσιν ἐπὶ τοὺς λόγους, ἐξ ὧν ἡ φύσις. Εἶτα καὶ ὅτι πολλὰ παρ᾽
αὑτῶν ποιοῦσι καὶ προστιθέασι δέ, ὅτωι τι ἐλλείπει, ὡς ἔχουσαι τὸ
κάλλος. Ἐπεὶ καὶ ὁ Φειδίας τὸν Δία πρὸς οὐδὲν αἰσθητὸν ποιήσας, ἀλλὰ
λαβὼν οἷος ἂν γένοιτο, εἰ ἡμῖν ὁ Ζεὺς δι᾽ ὀμμάτων ἐθέλοι φανῆναι.

V, 8 (31)

DA BELEZA INTELIGÍVEL

1. Quando falamos172 que o que veio a ser em contemplação do cosmo


inteligível, depreendendo essa beleza da verdadeira inteligência, será
capaz de lançar-se em reflexão, tanto em relação ao pai dessa beleza
quanto em relação ao que é além da inteligência, tentamos ver e dizer a
nós mesmos, quanto é possível dizer essas coisas, como alguém
contemplaria a beleza da inteligência e daquele cosmo. Jazendo um
próximo do outro, sejam, se queres, <dois> blocos de pedra, um
irregular e sem parte de arte, outro já reduzido pela arte a objeto de culto
de um certo deus ou mesmo de uma pessoa, de certa divindade, uma

172
Enéada III 8 11.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 180

Graça ou uma Musa, não de uma certa pessoa, mas [de uma] que a arte
criou desde todas as partes belas, o bloco que veio a ser [reduzido] pela
arte a beleza de forma pareceria belo, não por ser pedra – pois o outro
seria também semelhantemente belo – mas da parte da forma, que a arte
deixou vir. De fato, a matéria não tinha essa forma, mas [essa forma]
era no que pensava antes de vir à pedra; ela era no artesão não enquanto
ele tinha olhos ou mãos, mas porque ele participava da arte. Portanto
era na arte essa beleza muito melhor; pois aquela [beleza] que é na arte
não veio à pedra, ela permanece [na arte], mas veio outra a partir
daquela, uma de menor valor do que aquela; e nem essa [beleza]
permaneceu pura em si mesma, nem tal como queria, mas quanto a
pedra cede à arte173. E se a arte cria tal que o que é e tem – e cria [algo]
belo segundo razão do que cria – [ela] é bela de modo superior e mais
verdadeiro por ter a beleza que é da arte, e portanto é superior e melhor
do que quanto é no exterior. Pois [essa beleza] indo à matéria está tão
estendida quanto mais fraca do que a que permanece no uno. Pois tudo
que se estende se distancia de si mesmo, se é força, [se distancia de si
mesmo] em força, se é calor, em calor, se é potência em geral, em
potência, se é beleza, em beleza. E o primeiro que cria tudo segundo si
mesmo é preciso ser melhor do que o que é criado; pois a falta de
musicalidade não [cria] músico, mas a música, e a que é antes disso
[cria] a que é no sensível. E se alguém despreza as artes porque criam
ao imitar a natureza174, primeiro deve-se dizer que também as naturezas

173
Sêneca, Quaestiones Naturales I (praefatio 16): ... et a magno artifice praue
formentur multa, non quia cessat ars, sed quia id in quo exercetur, saepe inobsequens
arti est (... e de grande artífice formem-se muitas coisas defeituosas, não porque cessa
a arte, mas porque aquilo em que se exerce frequentemente não é obediente à arte).
174
O demiurgo cria a natureza ao olhar para o paradigma inteligível, a natureza cria
imitando o demirugo, mas o homem cria ao olhar para uma visagem (εἴδωλον) que é
apenas uma aparição que lembra o paradigma, por isso se diz que está a três pontos
distante da realidade, conforme se diz em Platão, Politeia 595a – 608b.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 181

imitam coisas diversas. Em seguida é preciso ver que não imitam


simplesmente o que é visto, mas recorrem às razões, desde as quais é a
natureza. Depois também [é preciso ver] que criam muitas coisas da
parte delas mesmas e acrescentam algo – a qualquer coisa a que falte
algo –, porque têm o belo. Uma vez que mesmo Fídias, tendo criado
Zeus perante nada sensível, mas tendo-o tomado tal que tivesse vindo a
ser, se a nós Zeus quisesse mostrar-se através de olhos.

2. Ἀλλ᾽ ἡμῖν ἀφείσθωσαν αἱ τέχναι· ὧν δὲ λέγονται τὰ ἔργα μιμεῖσθαι,


τὰ φύσει κάλλη γινόμενα καὶ λεγόμενα, θεωρῶμεν, λογικά τε ζῶια καὶ
ἄλογα πάντα καὶ μάλιστα ὅσα κατώρθωται αὐτῶν τοῦ πλάσαντος αὐτὰ
καὶ δημιουργήσαντος ἐπικρατήσαντος τῆς ὕλης καὶ εἶδος ὃ ἐβούλετο
παρασχόντος. Τί οὖν τὸ κάλλος ἐστὶν ἐν τούτοις; Οὐ γὰρ δὴ τὸ αἷμα καὶ
τὰ καταμήνια· ἀλλὰ καὶ χρόα ἄλλη τούτων καὶ σχῆμα ἢ οὐδὲν ἤ τι
ἄσχημον ἢ οἷον τὸ περιέχον ἁπλοῦν τι, οἷα ὕλη. Πόθεν δὴ ἐξέλαμψε τὸ
τῆς Ἑλένης τῆς περιμαχήτου κάλλος, ἢ ὅσαι γυναικῶν Ἀφροδίτης
ὅμοιαι κάλλει; Ἐπεὶ καὶ τὸ τῆς Ἀφροδίτης αὐτῆς πόθεν, ἢ εἴ τις ὅλως
καλὸς ἄνθρωπος ἢ θεὸς τῶν ἂν εἰς ὄψιν ἐλθόντων ἢ καὶ μὴ ἰόντων,
ἐχόντων δὲ ἐπ᾽ αὐτοῖς ὁραθὲν ἂν κάλλος; Ἆρ᾽ οὐκ εἶδος μὲν πανταχοῦ
τοῦτο, ἧκον δὲ ἐπὶ τὸ γενόμενον ἐκ τοῦ ποιήσαντος, ὥσπερ ἐν ταῖς
τέχναις ἐλέγετο ἐπὶ τὰ τεχνητὰ ἰέναι παρὰ τῶν τεχνῶν; Τί οὖν; Καλὰ
μὲν τὰ ποιήματα καὶ ὁ ἐπὶ τῆς ὕλης λόγος, ὁ δὲ μὴ ἐν ὕληι, ἀλλ᾽ ἐν τῶι
ποιοῦντι λόγος οὐ κάλλος, ὁ πρῶτος καὶ ἄυλος [ἀλλ᾽ εἰς ἓν] οὗτος; Ἀλλ᾽
εἰ μὲν ὁ ὄγκος ἦν καλός, καθόσον ὄγκος ἦν, ἐχρῆν τὸν λόγον, ὅτι μὴ ἦν
ὄγκος, τὸν ποιήσαντα μὴ καλὸν εἶναι· εἰ δέ, ἐάν τε ἐν σμικρῶι ἐάν τε ἐν
μεγάλωι τὸ αὐτὸ εἶδος ἦι, ὁμοίως κινεῖ καὶ διατίθησι τὴν ψυχὴν τὴν τοῦ
ὁρῶντος τῆι αὐτοῦ δυνάμει, τὸ κάλλος οὐ τῶι τοῦ ὄγκου μεγέθει
ἀποδοτέον. Τεκμήριον δὲ καὶ τόδε, ὅτι ἔξω μὲν ἕως ἐστίν, οὔπω
εἴδομεν, ὅταν δὲ εἴσω γένηται, διέθηκεν. Εἴσεισι δὲ δι᾽ ὀμμάτων εἶδος
ὂν μόνον· ἢ πῶς διὰ σμικροῦ; Συνεφέλκεται δὲ καὶ τὸ μέγεθος οὐ μέγα
ἐν ὄγκωι, ἀλλ᾽ εἴδει γενόμενον μέγα. Ἔπειτα ἢ αἰσχρὸν δεῖ τὸ ποιοῦν ἢ
ἀδιάφορον ἢ καλὸν εἶναι. Αἰσχρὸν μὲν οὖν ὂν οὐκ ἂν τὸ ἐναντίον

SUMÁRIO
P l o t i n o | 182

ποιήσειεν, ἀδιάφορον δὲ τί μᾶλλον καλὸν ἢ αἰσχρόν; Ἀλλὰ γάρ ἐστι καὶ


ἡ φύσις ἡ τὰ οὕτω καλὰ δημιουργοῦσα πολὺ πρότερον καλή, ἡμεῖς δὲ
τῶν ἔνδον οὐδὲν ὁρᾶν εἰθισμένοι οὐδ᾽ εἰδότες τὸ ἔξω διώκομεν
ἀγνοοῦντες, ὅτι τὸ ἔνδον κινεῖ· ὥσπερ ἂν εἴ τις τὸ εἴδωλον αὐτοῦ
βλέπων ἀγνοῶν ὅθεν ἥκει ἐκεῖνο διώκοι. Δηλοῖ δέ, ὅτι τὸ διωκόμενον
ἄλλο καὶ οὐκ ἐν μεγέθει τὸ κάλλος, καὶ τὸ ἐν τοῖς μαθήμασι κάλλος καὶ
τὸ ἐν τοῖς ἐπιτηδεύμασι καὶ ὅλως τὸ ἐν ταῖς ψυχαῖς· οὗ δὴ καὶ ἀληθείαι
μᾶλλον κάλλος, ὅταν τωι φρόνησιν ἐνίδηις καὶ ἀγασθῆις οὐκ εἰς τὸ
πρόσωπον ἀφορῶν – εἴη γὰρ ἂν τοῦτο αἶσχος – ἀλλὰ πᾶσαν μορφὴν
ἀφεὶς διώκηις τὸ εἴσω κάλλος αὐτοῦ. Εἰ δὲ μήπω σε κινεῖ, ὡς καλὸν
εἰπεῖν τὸν τοιοῦτον, οὐδὲ σαυτὸν εἰς τὸ εἴσω βλέψας ἡσθήσηι ὡς καλῶι.
Ὥστε μάτην ἂν οὕτως ἔχων ζητοῖς ἐκεῖνο· αἰσχρῶι γὰρ καὶ οὐ καθαρῶι
ζητήσεις· Διὸ οὐδὲ πρὸς πάντας οἱ περὶ τῶν τοιούτων λόγοι· εἰ δὲ καὶ
σὺ εἶδες σαυτὸν καλόν, ἀναμνήσθητι.

2. Mas por nós sejam deixadas as artes; e aqueles viventes que vêm a
ser e são ditos belos por natureza, cujas obras [as artes] imitam,
contemplemos, todos viventes racionais e irracionais e sobretudo
quantos deles estão bem dispostos, porque aquele que os formou e criou
dominou a matéria apresentando a forma que queria. Então o que é o
belo nesses viventes? Pois na verdade não é o sangue e as
menstruações175; mas é a cor diversa deles e a configuração, ou nada
seria ou algo deforme ou como o que envolve algo simples, tal que a
matéria. De onde resplende a beleza de Helena, que é objeto de disputa,
ou das mulheres, quantas são semelhantes à beleza de Afrodite? Uma
vez que mesmo a de Afrodite mesma de onde é, ou se algum homem de
modo geral é belo ou um deus dos que possam vir à visão ou mesmo
não vindo, que têm em si mesmos beleza que é vista? Por acaso não é
essa forma em toda parte, que chega ao que veio a ser desde o que cria,

175
Ou seja, o belo não deriva da matéria corporal de macho ou de fêmea.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 183

como nas artes era dito que vem às coisas artesanais da parte das artes?
Que é, então? São belos os produtos da criação e a razão sobre a matéria,
e a razão que não é em matéria, mas no que cria não é beleza176, [mesmo
sendo] essa primeira e imaterial [tendendo ao uno]? Mas se a massa,
enquanto massa, fosse bela, era necessário a razão que cria não ser bela,
porque não era massa; e se esta, quer em pequeno quer em grande seja
a mesma forma, semelhantemente comove e dispõe a alma que é do que
vê pela capacidade de si mesmo, deve-se conceder que a beleza não é
pela grandeza da massa. E a prova é esta: que, enquanto [a forma] é
exterior [à alma], nós ainda não vemos [a beleza], e quando venha a ser
interior, [a alma] tem [a forma] à disposição. E [a beleza] se insinua
pelos olhos sendo apenas forma177; ou como [insinuar-se-ia] por [algo
tão] pequeno? E junto é arrastada também a grandeza, que não vem a
ser grande em massa, mas pela forma. De consequência é preciso o que
cria ser ou feio ou indiferente ou belo. Então, sendo feio [ele] não criaria
o contrário, e sendo indiferente, por que [faria] antes o belo que o feio?
Mas também a natureza, que criou as coisas assim belas, é de muito
anteriormente bela, e nós, habituados a ver nada do que é interior, por
não saber perseguimos o exterior, ignorando que o interior nos comove;
como se alguém olhando a própria visagem ignorando de onde ela vem
a perseguisse178. É claro que o que é perseguido é algo diverso e que a
beleza não é em grandeza, tanto a beleza nos ensinamentos quanto

176
A razão seminal no inteligível é bela porque representa a própria beleza da forma
(εἶδος), mas a que é no criador, ou artífice, não é bela em si, pois necessita da matéria
para vir a ser.
177
Aristóteles, Da alma II 12, 424a 17: Καθόλου δὲ περὶ πάσης αἰσθήσεως δεῖ λαβεῖν
ὅτι ἡ μὲν αἴσθησίς ἐστι τὸ δεκτικὸν τῶν αἰσθητῶν εἰδῶν ἄνευ τῆς ὕλης ... (De modo
geral, sobre toda sensação é preciso admitir que a sensação é o receptivo das formas
sensíveis sem a matéria ...).
178
Referência ao mito de Narciso. Enéada I 6, 8.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 184

aquela nos usos habituais e em geral aquela nas almas179; ou seja, beleza
do que é em verdade, quando vejas em alguém sensatez e te admires,
não dirigindo olhar para o aspecto – pois esse poderia ser feio – mas
tendo deixado toda figura persigas a sua beleza interior. E se ainda não
te comove, de modo a dizer que esse tal é belo, nem a ti mesmo te
alegrarás assim com o belo, ao olhares em teu interior. De modo que
assim estando buscarias em vão aquela [beleza]; pois buscarás com o
feio e não puro; por isso não são para todos os discursos sobre tais
coisas; e se tu também vês a ti mesmo belo, relembra.

3. Ἔστιν οὖν καὶ ἐν τῆι φύσει λόγος κάλλους ἀρχέτυπος τοῦ ἐν σώματι,
τοῦ δ᾽ ἐν τῆι φύσει ὁ ἐν τῆι ψυχῆι καλλίων, παρ᾽ οὗ καὶ ὁ ἐν τῆι φύσει.
Ἐναργέστατός γε μὴν ὁ ἐν σπουδαίαι ψυχῆι καὶ ἤδη προιὼν κάλλει·
κοσμήσας γὰρ τὴν ψυχὴν καὶ φῶς παρασχὼν ἀπὸ φωτὸς μείζονος
πρώτως κάλλους ὄντος συλλογίζεσθαι ποιεῖ αὐτὸς ἐν ψυχῆι ὤν, οἷός
ἐστιν ὁ πρὸ αὐτοῦ ὁ οὐκέτι ἐγγιγνόμενος οὐδ᾽ ἐν ἄλλωι, ἀλλ᾽ ἐν αὐτῶι.
Διὸ οὐδὲ λόγος ἐστίν, ἀλλὰ ποιητὴς τοῦ πρώτου λόγου κάλλους ἐν ὕληι
ψυχικῆι ὄντος· νοῦς δὲ οὗτος, ὁ ἀεὶ νοῦς καὶ οὐ ποτὲ νοῦς, ὅτι μὴ
ἐπακτὸς αὐτῶι. Τίνα ἂν οὖν εἰκόνα τις αὐτοῦ λάβοι; Πᾶσα γὰρ ἔσται ἐκ
χείρονος. Ἀλλὰ γὰρ δεῖ τὴν εἰκόνα ἐκ νοῦ γενέσθαι, ὥστε μὴ δι᾽
εἰκόνος, ἀλλ᾽ οἷον χρυσοῦ παντὸς χρυσόν τινα δεῖγμα λαβεῖν, καὶ εἰ μὴ
καθαρὸς εἴη ὁ ληφθείς, καθαίρειν αὐτὸν ἢ ἔργωι ἢ λόγωι δεικνύντας,

179
Platão, Simpósio 210b-c: μετὰ δὲ ταῦτα τὸ ἐν ταῖς ψυχαῖς κάλλος τιμιώτερον
ἡγήσασθαι τοῦ ἐν τῷ σώματι ... (depois disso, é considerar a beleza nas almas mais
valiosa do que a no corpo ...); 211c: ἀπὸ ἑνὸς ἐπὶ δύο καὶ ἀπὸ δυοῖν ἐπὶ πάντα τὰ καλὰ
σώματα, καὶ ἀπὸ τῶν καλῶν σωμάτων ἐπὶ τὰ καλὰ ἐπιτηδεύματα, καὶ ἀπὸ τῶν
ἐπιτηδευ- (5) μάτων ἐπὶ τὰ καλὰ μαθήματα, καὶ ἀπὸ τῶν μαθημάτων ἐπ’ ἐκεῖνο τὸ
μάθημα τελευτῆσαι, ὅ ἐστιν οὐκ ἄλλου ἢ αὐτοῦ ἐκείνου τοῦ καλοῦ μάθημα, καὶ γνῷ
αὐτὸ τελευτῶν ὃ ἔστι (d) καλόν (de um a dois, de dois a todos os belos corpos, dos
belos corpos aos belos usos habituais, dos usos habituais aos belos ensinamentos, dos
ensinamentos àquele ensinamento, para terminar, que não é ensinamento de outra
coisa senão daquele próprio belo, e terminando reconheça o que é belo).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 185

ὡς οὐ πᾶν τοῦτό ἐστι χρυσός, ἀλλὰ τουτὶ τὸ ἐν τῶι ὄγκωι μόνον· οὕτω
καὶ ἐνταῦθα ἀπὸ νοῦ τοῦ ἐν ἡμῖν κεκαθαρμένου, εἰ δὲ βούλει, ἀπὸ τῶν
θεῶν, οἷός ἐστιν ὁ ἐν αὐτοῖς νοῦς. Σεμνοὶ μὲν γὰρ πάντες θεοὶ καὶ καλοὶ
καὶ τὸ κάλλος αὐτῶν ἀμήχανον· ἀλλὰ τί ἐστι δι᾽ ὃ τοιοῦτοί εἰσιν; Ἢ
νοῦς, καὶ ὅτι μᾶλλον νοῦς ἐνεργῶν ἐν αὐτοῖς, ὥστε ὁρᾶσθαι. Οὐ γὰρ
δή, ὅτι αὐτῶν καλὰ τὰ σώματα. Καὶ γὰρ οἷς ἔστι σώματα, οὐ τοῦτό
ἐστιν αὐτοῖς τὸ εἶναι θεοῖς, ἀλλὰ κατὰ τὸν νοῦν καὶ οὗτοι θεοί. Καλοὶ
δὴ ἧι θεοί. Οὐ γὰρ δὴ ποτὲ μὲν φρονοῦσι, ποτὲ δὲ ἀφραίνουσιν, ἀλλ᾽
ἀεὶ φρονοῦσιν ἐν ἀπαθεῖ τῶι νῶι καὶ στασίμωι καὶ καθαρῶι καὶ ἴσασι
πάντα καὶ γινώσκουσιν οὐ τὰ ἀνθρώπεια, ἀλλὰ τὰ ἑαυτῶν τὰ θεῖα, καὶ
ὅσα νοῦς ὁρᾶι. Τῶν δὲ θεῶν οἱ μὲν ἐν οὐρανῶι ὄντες – σχολὴ γὰρ
αὐτοῖς – θεῶνται ἀεί, οἷον δὲ πόρρωθεν, τὰ ἐν ἐκείνωι αὖ τῶι οὐρανῶι
ὑπεροχῆι τῆι ἑαυτῶν κεφαλῆι. Οἱ δὲ ἐν ἐκείνωι ὄντες, ὅσοις ἡ οἴκησις
ἐπ᾽ αὐτοῦ καὶ ἐν αὐτῶι, ἐν παντὶ οἰκοῦντες τῶι ἐκεῖ οὐρανῶι – πάντα
γὰρ ἐκεῖ οὐρανὸς καὶ ἡ γῆ οὐρανὸς καὶ θάλασσα καὶ ζῶια καὶ φυτὰ καὶ
ἄνθρωποι, πᾶν οὐράνιον ἐκείνου τοῦ οὐρανοῦ – οἱ δὲ θεοὶ οἱ ἐν αὐτῶι
οὐκ ἀπαξιοῦντες ἀνθρώπους οὐδ᾽ ἄλλο τι τῶν ἐκεῖ, ὅτι τῶν ἐκεῖ, πᾶσαν
μὲν διεξίασι τὴν ἐκεῖ χώραν καὶ τὸν τόπον ἀναπαυόμενοι

3. Então é também na natureza a razão de beleza, arquétipo da que é no


corpo, e do que aquela na natureza a que é na alma é melhor, da parte
da qual é também aquela na natureza180. Contudo claríssima é aquela
razão em alma zelosa, que já avança em beleza; pois tendo adornado a
alma e oferecido luz a partir de luz maior, que primeiramente é beleza,
ela sendo na alma faz considerar a si mesma tal qual a que é antes dela
que não vem a ser em algo diverso, mas em si mesma. Por isso ela nem
é razão, mas criadora da primeira razão de beleza que é em matéria
psíquica; e inteligência é isso, que é sempre inteligência e não alguma

180
Há a razão formal da beleza na Inteligência, que é superior a todas, daí passa à
Alma, que passa à natureza e ao corpo.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 186

vez inteligência, porque não é importável a si mesma. Então que


imagem alguém tomaria dela mesma? Pois toda imagem será desde um
inferior. Portanto é preciso a imagem vir a ser desde inteligência, não
como através de imagem, mas tal que de todo ouro tomar certa amostra
de ouro, e se não for puro o que foi tomado, [é preciso] purificá-lo ou
pelo trabalho ou pela razão, demonstrando que não tudo isso é ouro,
mas apenas isso aqui que é em massa181; assim é também aqui a partir
da inteligência que está purificada em nós, e, se queres, a partir dos
deuses, tal como é a inteligência neles. Pois veneráveis são todos os
deuses e belos, e a beleza deles impraticável182; mas o que é isso através
do que são tais? Certamente é inteligência, e tanto inteligência é ativa
neles, como ela é vista. Não é na verdade porque belos são os corpos
deles. Pois mesmo aos que há corpos, não é isso para eles o ser deuses,
mas segundo a inteligência também esses são deuses. São belos na
verdade por onde são deuses. De fato, não são sensatos uma vez, e outra
insensatos, mas são sempre sensatos em imperturbável inteligência,
tanto estável quanto pura, e veem tudo e conhecem não as coisas
humanas, mas as divinas que são de si mesmos, e quantas a inteligência
vê. E dentre os deuses os que são no céu – pois eles têm dedicação –
contemplam sempre, como que de longe, as coisas que por sua vez são
naquele céu, com a cabeça [de seus cocheiros] elevada183. E os que são

181
A amostra de ouro não é todo ouro, mas apenas seu valor em massa, ou seja, a
amostra de inteligência tem de ser purificada para demonstrar a pureza de sua origem.
182
Platão, Simpósio 218e: ἀμήχανόν τοι κάλλος ὁρῴης ἂν ἐν ἐμοὶ καὶ τῆς παρὰ σοὶ
εὐμορφίας πάμπολυ διαφέρον (verias em mim uma beleza impraticável que difere em
muito de tua boa figura); Politeia 509a: Ἀμήχανον κάλλος, ἔφη, λέγεις, εἰ ἐπιστήμην
μὲν καὶ ἀλήθειαν παρέχει ... (dizes impraticável beleza, dizia, se ela apresenta
conhecimento e verdade ...).
183
Platão, Fedro 246e: ὁ μὲν δὴ μέγας ἡγεμὼν ἐν οὐρανῷ Ζεύς, ἐλαύνων πτηνὸν ἅρμα,
πρῶτος πορεύεται ... (no céu Zeus, o grande condutor, dirigindo seu carro alado,
primeiro passa ...); 247a: τῶν δὲ ἄλλων ὅσοι ἐν τῷ τῶν δώδεκα ἀριθμῷ τεταγμένοι
θεοὶ ἄρχοντες ἡγοῦνται κατὰ τάξιν ἣν ἕκαστος ἐτάχθη (dentre os outros quantos são

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 187

naquele [céu], quantos têm a habitação sobre ele e nele, que habitam
em todo ponto ali no céu – pois o céu ali é tudo: a terra, céu, mar, e
animais, plantas e homens, tudo que é celeste é daquele céu 184 – e
os deuses que são ali não desprezando homens nem algo diverso das
coisas ali, porque são dentre os dali, percorrem ali toda a região, em
repouso no lugar185

4. - καὶ γὰρ τὸ ῥεῖα ζώειν ἐκεῖ – καὶ ἀλήθεια δὲ αὐτοῖς καὶ γενέτειρα
καὶ τροφὸς καὶ οὐσία καὶ τροφή, καὶ ὁρῶσι τὰ πάντα, οὐχ οἷς γένεσις
πρόσεστιν, ἀλλ᾽ οἷς οὐσία, καὶ ἑαυτοὺς ἐν ἄλλοις· διαφανῆ γὰρ πάντα
καὶ σκοτεινὸν οὐδὲ ἀντίτυπον οὐδέν, ἀλλὰ πᾶς παντὶ φανερὸς εἰς τὸ
εἴσω καὶ πάντα· φῶς γὰρ φωτί. Καὶ γὰρ ἔχει πᾶς πάντα ἐν αὑτῶι, καὶ αὖ
ὁρᾶι ἐν ἄλλωι πάντα, ὥστε πανταχοῦ πάντα καὶ πᾶν πᾶν καὶ ἕκαστον
πᾶν καὶ ἄπειρος ἡ αἴγλη· ἕκαστον γὰρ αὐτῶν μέγα, ἐπεὶ καὶ τὸ μικρὸν
μέγα· καὶ ἥλιος ἐκεῖ πάντα ἄστρα, καὶ ἕκαστον ἥλιος αὖ καὶ πάντα.
Ἐξέχει δ᾽ ἐν ἑκάστωι ἄλλο, ἐμφαίνει δὲ καὶ πάντα. Ἔστι δὲ καὶ κίνησις
καθαρά· οὐ γὰρ συγχεῖ αὐτὴν ἰοῦσαν ὃ κινεῖ ἕτερον αὐτῆς ὑπάρχον· καὶ
ἡ στάσις οὐ παρακινουμένη, ὅτι μὴ μέμικται τῶι μὴ στασίμωι· καὶ τὸ
καλὸν καλόν, ὅτι μὴ ἐν τῶι [μὴ] καλῶι. Βέβηκε δὲ ἕκαστος οὐκ ἐπ᾽

deuses dominantes ordenados no número de doze seguem na ordem em que cada um


foi posto); 248a: αἱ δὲ ἄλλαι ψυχαί, ἡ μὲν ἄριστα θεῷ ἑπομένη καὶ εἰκασμένη
ὑπερῆρεν εἰς τὸν ἔξω τόπον τὴν τοῦ ἡνιόχου κεφαλήν ... (as outras almas, a que
melhor segue e se assemelha ao deus elevava a cabeça do cocheiro ao lugar exterior
...); 249c: διὸ δὴ δικαίως μόνη πτεροῦται ἡ τοῦ φιλοσόφου διάνοια (por isso
justamente, somente a reflexão do filósofo tem asas).
184
Platão, Fédon 109e – 110a: ἐπεί, εἴ τις αὐτοῦ ἐπ’ ἄκρα ἔλθοι ἢ πτηνὸς γενόμενος
ἀνάπτοιτο, κατιδεῖν <ἂν> ἀνακύψαντα ... γνῶναι ἂν ὅτι ἐκεῖνός ἐστιν ὁ ἀληθῶς
οὐρανὸς καὶ τὸ ἀληθινὸν φῶς καὶ ἡ ὡς ἀληθῶς γῆ(uma vez que se alguém chegasse
ao alto dali, ou porque veio a ser alado voasse, veria, tendo erguido a cabeça ...
reconheceria que aquele é verdadeiramente o céu e a verdadeira luz e a terra de modo
verdadeiro).
185
Continua no capítulo 4.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 188

ἀλλοτρίας οἷον γῆς, ἀλλ᾽ ἔστιν ἑκάστωι ἐν ὧι ἐστιν αὐτὸ ὅ ἐστι, καὶ
συνθεῖ αὐτῶι οἷον πρὸς τὸ ἄνω ἰόντι τὸ ὅθεν ἐστί, καὶ οὐκ αὐτὸς μὲν
ἄλλο, ἡ χώρα δὲ αὐτοῦ ἄλλο. Καὶ γὰρ τὸ ὑποκείμενον νοῦς καὶ αὐτὸς
νοῦς· οἷον εἴ τις καὶ τοῦτον τὸν οὐρανὸν τὸν ὁρώμενον φωτοειδῆ ὄντα
τοῦτο τὸ φῶς τὸ ἐξ αὐτοῦ φῦναι νοήσειε τὰ ἄστρα. Ἐνταῦθα μὲν οὖν
οὐκ ἐκ μέρους ἄλλο ἄλλου γίνοιτο ἄν, καὶ εἴη ἂν μόνον ἕκαστον μέρος,
ἐκεῖ δὲ ἐξ ὅλου ἀεὶ ἕκαστον καὶ ἅμα ἕκαστον καὶ ὅλον· φαντάζεται μὲν
γὰρ μέρος, ἐνορᾶται δὲ τῶι ὀξεῖ τὴν ὄψιν ὅλον, οἷον εἴ τις γένοιτο τὴν
ὄψιν τοιοῦτος, οἷος ὁ Λυγκεὺς ἐλέγετο καὶ τὰ εἴσω τῆς γῆς ὁρᾶν τοῦ
μύθου τοὺς ἐκεῖ αἰνιττομένου ὀφθαλμούς. Τῆς δὲ ἐκεῖ θέας οὔτε
κάματός ἐστιν οὔτ᾽ ἐστὶ πλήρωσις εἰς τὸ παύσασθαι θεωμένωι· οὔτε
γὰρ κένωσις ἦν, ἵνα ἥκων εἰς πλήρωσιν καὶ τέλος ἀρκεσθῆι, οὔτε τὸ
μὲν ἄλλο, τὸ δ᾽ ἄλλο, ἵνα ἑτέρωι τῶν ἐν αὐτῶι τὰ τοῦ ἑτέρου μὴ
ἀρέσκοντα ἦι· ἄτρυτά τε τὰ ἐκεῖ. Ἀλλ᾽ ἔστι τὸ ἀπλήρωτον τῶι μὴ τὴν
πλήρωσιν καταφρονεῖν ποιεῖν τοῦ πεπληρωκότος· ὁρῶν γὰρ μᾶλλον
ὁρᾶι, καὶ καθορῶν ἄπειρον αὑτὸν καὶ τὰ ὁρώμενα τῆι ἑαυτοῦ συνέπεται
φύσει. Καὶ ἡ ζωὴ μὲν οὐδενὶ κάματον ἔχει, ὅταν ἦι καθαρά· τὸ δ᾽ ἄριστα
ζῶν τί ἂν κάμοι; Ἡ δὲ ζωὴ σοφία, σοφία δὲ οὐ πορισθεῖσα λογισμοῖς,
ὅτι ἀεὶ ἦν πᾶσα καὶ ἐλλείπουσα οὐδενί, ἵνα ζητήσεως δεηθῆι· ἀλλ᾽ ἔστιν
ἡ πρώτη καὶ οὐκ ἀπ᾽ ἄλλης· καὶ ἡ οὐσία αὐτὴ σοφία, ἀλλ᾽ οὐκ αὐτός,
εἶτα σοφός. Διὰ τοῦτο δὲ οὐδεμία μείζων, καὶ ἡ αὐτοεπιστήμη ἐνταῦθα
πάρεδρος τῶι νῶι τῶι συμπροφαίνεσθαι, οἷον λέγουσι κατὰ μίμησιν καὶ
τῶι Διὶ τὴν Δίκην. Πάντα γὰρ τὰ τοιαῦτα ἐκεῖ οἷον ἀγάλματα παρ᾽
αὐτῶν ἐνορώμενα, ὥστε θέαμα εἶναι ὑπερευδαιμόνων θεατῶν. Τῆς
μὲν οὖν σοφίας τὸ μέγεθος καὶ τὴν δύναμιν ἄν τις κατίδοι, ὅτι μετ᾽
αὐτῆς ἔχει καὶ πεποίηκε τὰ ὄντα, καὶ πάντα ἠκολούθησε, καὶ ἔστιν αὐτὴ
τὰ ὄντα, καὶ συνεγένετο αὐτῆι, καὶ ἓν ἄμφω, καὶ ἡ οὐσία ἡ ἐκεῖ σοφία.
Ἀλλ᾽ ἡμεῖς εἰς σύνεσιν οὐκ ἤλθομεν, ὅτι καὶ τὰς ἐπιστήμας θεωρήματα
καὶ συμφόρησιν νενομίκαμεν προτάσεων εἶναι· τὸ δὲ οὐδ᾽ ἐν ταῖς
ἐνταῦθα ἐπιστήμαις. Εἰ δέ τις περὶ τούτων ἀμφισβητεῖ, ἐατέον ταύτας
ἐν τῶι παρόντι. Περὶ δὲ τῆς ἐκεῖ ἐπιστήμης, ἣν δὴ καὶ ὁ Πλάτων
κατιδών φησιν· οὐδ᾽ ἥτις ἐστὶν ἄλλη ἐν ἄλλωι, ὅπως δέ, εἴασε ζητεῖν

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 189

καὶ ἀνευρίσκειν, εἴπερ ἄξιοι τῆς προσηγορίας φαμὲν εἶναι – ἴσως οὖν
βέλτιον ἐντεῦθεν τὴν ἀρχὴν ποιήσασθαι.

4. – pois mesmo ali há o viver facilmente186, e a verdade para eles é


genitora, nutriz, essência e alimento – e veem todas as coisas, não
aquelas para as quais a gênese é antes187, mas aquelas para as quais a
essência [é antes], e [veem] a si mesmos nas diversas coisas; pois todas
as coisas são diáfanas, algo obscuro não é obstáculo a nada, mas o todo
tem manifestado todo ser em seu interior188, e todas as coisas; pois luz
tem luz. Pois todo ser tem todas as coisas em si mesmo, e por sua vez
vê todas as coisas no outro, assim em toda parte são todas as coisas,
tudo é tudo e cada coisa é tudo, e infinito é o esplendor; pois cada um
desses é grande, uma vez que mesmo o pequeno é grande; e sol ali são
todos os astros, e por sua vez cada um é sol e todos os astros. Em cada
um desponta algo diverso, mas tudo se manifesta interiormente. E
também ato de mover é puro, pois o que o move, tendo princípio
diferente dele, não concorre, quando ele vai; e o estado de repouso não
se agitando, é porque não está misturado com o não estável; e o belo é
belo, porque não é no <não> belo. Tal como cada um andou não a uma
terra estranha, mas é para cada um ‘em que é’ o mesmo ‘que é’, tal que
corre com o que vai ao alto aquilo que é o seu lugar de origem, ele não
sendo uma coisa, e o espaço outra. Pois mesmo o que subjaz é
inteligência, e ele mesmo é inteligência; tal que se alguém pensasse esse
céu, que é visto em forma de luz, sendo essa luz que de si mesma produz

186
Homero, Ilíada VI 138: τῷ μὲν ἔπειτ’ ὀδύσαντο θεοὶ ῥεῖα ζώοντες (uma vez que
os deuses que vivem facilmente tiveram ódio a ele).
187
Platão, Fedro 247d: ἐν δὲ τῇ περιόδῳ καθορᾷ (5) μὲν αὐτὴν δικαιοσύνην, καθορᾷ
δὲ σωφροσύνην, καθορᾷ δὲ ἐπιστήμην, οὐχ ᾗ γένεσις πρόσεστιν ... (nesse período
contempla o próprio sentimento de justiça, contempla a temperança, contempla o
conhecimento, não aquele a que a gênese é antes ...).
188
Do mundo inteligível.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 190

os astros. Aqui, no entanto, não desde uma parte uma coisa viria a ser
de outra, e seria apenas cada parte, mas ali é sempre cada uma e ao
mesmo tempo cada uma e inteira; aparece de fato parte, e é vista inteira
pela acuidade em relação à visão, tal que se alguém viesse a ser tal de
visão como Linceu189 era dito e ver as coisas interiores da terra, o mito
falando por enigma dos olhos [de quem vê] ali. E da contemplação dali
nem há fadiga nem há saciedade para cessar ao que é visto; nem ato de
esvaziar havia, para que chegando à saciedade também um fim seja
suficiente, nem uma coisa, nem outra, para que a algum dos que são ali
as coisas do outro não sejam satisfatórias; imperecíveis são as coisas
dali. Mas há o insaciável por não fazer imaginar a saciedade do que está
pleno; pois vendo vê mais, e olhando para o próprio infinito e as coisas
vistas persegue a sua própria natureza. E a vida a ninguém tem fadiga,
quando for pura; o que vive bem por que haveria de se fadigar? A vida
é sabedoria, e sabedoria que não é provida de cálculos, porque sempre
era toda e que a nenhum faltava, para que necessitasse de busca; mas é
a primeira [sabedoria] e não a partir de outra; e sua própria essência é
sabedoria, mas não é [primeiro] ele mesmo, depois [vem a ser] sábio. E
por isso nenhuma é maior, e é o autoconhecimento aqui assentado junto
à inteligência por se mostrar antes em conjunto, tal como dizem por
imitação também Justiça com Zeus190. Pois todas as tais coisas ali são

189
Platão, Carta VII 344a: κακῶς δὲ ἂν φυῇ, ὡς ἡ τῶν πολλῶν ἕξις τῆς ψυχῆς εἴς τε
τὸ μαθεῖν εἴς τε τὰ λεγόμενα ἤθη (a) πέφυκεν, τὰ δὲ διέφθαρται, οὐδ’ ἂν ὁ Λυγκεὺς
ἰδεῖν ποιήσειεν τοὺς τοιούτους (e caso se produzisse mal, como é o hábito da alma da
maioria, para aprender e para as coisas já ditas que são naturais, elas se corrompem, e
nem Linceu poderia fazer esses tais ver); Aristóteles, Da geração e corrupção I 10,
328a 14: καὶ τὸ αὐτὸ τῷ μὲν μεμιγμένον, ἐὰν μὴ βλέπῃ ὀξύ, τῷ Λυγκεῖ δ’ οὐθὲν
μεμιγμένον (e o mesmo que para alguém está misturado, caso não olhe com acuidade,
para Linceu nada está misturado).
190
Sófocles, Édipo em Colono, 1381: εἴπερ ἐστὶν ἡ παλαίφατος / Δίκη ξύνεδρος Ζηνὸς
ἀρχαίοις νόμοις (se há a antiga professia: / Justiça assentada junto a Zeus, com leis
primordiais).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 191

tais que objetos de veneração que se observam por si mesmos, de modo


a ser espetáculo de superfelizes espectadores191. Então alguém
observaria da sabedoria a grandeza e a potência, porque é com ela que
criou as coisas que são, e todas a seguem, e é ela mesma as coisas que
são, porque vieram a ser com ela, uma só coisa sendo ambas, a essência
é a sabedoria ali. Mas nós à compreensão não chegamos, porque
consideramos ser os conhecimentos tanto argumentos quanto
aglomerado de questões propostas; e isso não há nos conhecimentos
daqui. E se alguém é em desacordo sobre essas coisas, [isso] deve ser
deixado em relação a esses [conhecimentos] no presente [momento]. E
sobre o conhecimento de lá, que na verdade Platão tendo observado diz:
“não é um certo [conhecimento] que é diverso em algo diverso”192, de
modo que deixa-nos buscar e redescobrir, se é que dizemos ser dignos
da denominação <de platônicos> – então talvez seja melhor daqui fazer
o princípio.

5. Πάντα δὴ τὰ γινόμενα, εἴτε τεχνητὰ εἴτε φυσικὰ εἴη, σοφία τις ποιεῖ,
καὶ ἡγεῖται τῆς ποιήσεως πανταχοῦ σοφία. Ἀλλ᾽ εἰ δή τις κατ᾽ αὐτὴν
τὴν σοφίαν ποιοῖ, ἔστωσαν μὲν αἱ τέχναι τοιαῦται. Ἀλλ᾽ ὁ τεχνίτης
πάλιν αὖ εἰς σοφίαν φυσικὴν ἔρχεται, καθ᾽ ἣν γεγένηται, οὐκέτι
συντεθεῖσαν ἐκ θεωρημάτων, ἀλλ᾽ ὅλην ἕν τι, οὐ τὴν συγκειμένην ἐκ
πολλῶν εἰς ἕν, ἀλλὰ μᾶλλον ἀναλυομένην εἰς πλῆθος ἐξ ἑνός. Εἰ μὲν

191
Platão, Fédon 111a: ἐκφανῆ γὰρ αὐτὰ πεφυκέναι, ὄντα πολλὰ πλήθει καὶ μεγάλα
καὶ πανταχοῦ τῆς γῆς, ὥστε αὐτὴν ἰδεῖν εἶναι θέαμα εὐδαιμόνων θεατῶν (essas coisas
são evidentes por natureza, porque são muitas em quantidade, grandes e por toda parte
da terra, de modo a vê-la ser espetáculo de felizes espectadores).
192
Platão, Fedro 247d: καθορᾷ δὲ ἐπιστήμην, οὐχ ᾗ γένεσις πρόσεστιν, οὐδ’ ἥ ἐστίν
που ἑτέρα (e) ἐν ἑτέρῳ οὖσα ὧν ἡμεῖς νῦν ὄντων καλοῦμεν, ἀλλὰ τὴν ἐν τῷ ὅ ἐστιν
ὂν ὄντως ἐπιστήμην οὖσαν (e observa o conhecimento, não aquele com que a gênese
é antes, nem o que é de certo modo diferente em algo diferente, dentre os quais nós
agora chamamos as coisas que são, mas que é o que em algo é realmente
conhecimento).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 192

οὖν ταύτην τις πρώτην θήσεται, ἀρκεῖ· οὐκέτι γὰρ ἐξ ἄλλου οὖσα οὐδ᾽
ἐν ἄλλωι. Εἰ δὲ τὸν μὲν λόγον ἐν τῆι φύσει, τούτου δὲ ἀρχὴν φήσουσι
τὴν φύσιν, πόθεν ἕξει φήσομεν καὶ εἰ ἐξ ἄλλου ἐκείνου. Εἰ μὲν ἐξ αὑτοῦ,
στησόμεθα· εἰ δὲ εἰς νοῦν ἥξουσιν, ἐνταῦθα ὀπτέον, εἰ ὁ νοῦς ἐγέννησε
τὴν σοφίαν· καὶ εἰ φήσουσι, πόθεν; Εἰ δὲ ἐξ αὑτοῦ, ἀδύνατον ἄλλως ἢ
αὐτὸν ὄντα σοφίαν. Ἡ ἄρα ἀληθινὴ σοφία οὐσία, καὶ ἡ ἀληθινὴ οὐσία
σοφία, καὶ ἡ ἀξία καὶ τῆι οὐσίαι παρὰ τῆς σοφίας, καί, ὅτι παρὰ τῆς
σοφίας, οὐσία ἀληθής. Διὸ καὶ ὅσαι οὐσίαι σοφίαν οὐκ ἔχουσι, τῶι μὲν
διὰ σοφίαν τινὰ γεγονέναι οὐσία, τῶι δὲ μὴ ἔχειν ἐν αὐταῖς σοφίαν, οὐκ
ἀληθιναὶ οὐσίαι. Οὐ τοίνυν δεῖ νομίζειν ἐκεῖ ἀξιώματα ὁρᾶν τοὺς θεοὺς
οὐδὲ τοὺς ἐκεῖ ὑπερευδαίμονας, ἀλλ᾽ ἕκαστα τῶν λεγομένων ἐκεῖ καλὰ
ἀγάλματα, οἷα ἐφαντάζετό τις ἐν τῆι σοφοῦ ἀνδρὸς ψυχῆι εἶναι,
ἀγάλματα δὲ οὐ γεγραμμένα, ἀλλὰ ὄντα. Διὸ καὶ τὰς ἰδέας ὄντα ἔλεγον
εἶναι οἱ παλαιοὶ καὶ οὐσίας.

5. Na verdade, todas as coisas que vêm a ser, sejam ou artificiais ou


naturais, uma certa sabedoria as cria, e sabedoria precede a criação em
toda parte. Mas se alguém segundo a própria sabedoria criar, sejam tais
as artes. Mas o artífice vai novamente à sabedoria natural, segundo a
qual [ele] veio a ser, não mais porque foi composta desde teoremas, mas
porque é inteira em relação a algo único, não a que jaz em conjunto
desde muitas coisas para uma só, mas antes a que se resolve em múltiplo
desde o uno. Então se alguém propuser essa [sabedoria] como primeira,
[isso] basta; pois [ela] não mais é a que é desde um nem em outro. E se
alguém propuser que a razão é na natureza, dirão que a natureza é
princípio dessa, daí a terá, diremos, mesmo se for desde aquele outro
[céu superior]. E se for desde este mesmo, nós nos deteremos; e se à
inteligência chegarem, aqui deve-se ver se a inteligência gerou a
sabedoria; e se disserem [isso], de onde? Se for desde a própria
inteligência, impossível [ser] de modo diverso de que ela mesma é
sabedoria. Portanto a verdadeira sabedoria é essência, e a verdadeira
essência é sabedoria, e o valor para a essência é da parte da sabedoria,

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 193

e, porque é da parte da sabedoria, é essência verdadeira. Por isso


também quantas essências não têm sabedoria, por ter vindo a ser
essência por uma certa sabedoria e por não ter sabedoria em si mesmas,
não são verdadeiras essências. Portanto, é preciso considerar que ali
nem os deuses nem os superfelizes veem méritos, mas cada coisa das
que são ditas ali são belos objetos de culto, tais que alguém imaginava
ser na alma de homem sábio193, e não objetos de culto que foram
grafados, mas que são. Por isso os antigos diziam ser coisas que são
tanto as ideias quanto essências194.

6. Δοκοῦσι δέ μοι καὶ οἱ Αἰγυπτίων σοφοί, εἴτε ἀκριβεῖ ἐπιστήμηι


λαβόντες εἴτε καὶ συμφύτωι, περὶ ὧν ἐβούλοντο διὰ σοφίας δεικνύναι,
μὴ τύποις γραμμάτων διεξοδεύουσι λόγους καὶ προτάσεις μηδὲ
μιμουμένοις φωνὰς καὶ προφορὰς ἀξιωμάτων κεχρῆσθαι, ἀγάλματα δὲ

193
Platão, Simpósio 215a-b: φημὶ (5) γὰρ δὴ ὁμοιότατον αὐτὸν εἶναι τοῖς σιληνοῖς
τούτοις τοῖς (b) ἐν τοῖς ἑρμογλυφείοις καθημένοις, οὕστινας ἐργάζονται οἱ δημιουργοὶ
σύριγγας ἢ αὐλοὺς ἔχοντας, οἳ διχάδε διοιχθέντες φαίνονται ἔνδοθεν ἀγάλματα
ἔχοντες θεῶν (pois digo que [Sócrates] é muitíssimo semelhante a esses silenos que
sse assentam nas oficinas, que os artífices elaboram uns tendo flautas de tubos ou
duplas, que ao abrir-se em dois mostram que dentro têm objetos de culto de deuses);
216d: ὁρᾶτε γὰρ ὅτι Σωκράτης ἐρωτικῶς διάκειται τῶν καλῶν καὶ ἀεὶ περὶ τούτους
ἐστὶ καὶ ἐκπέπληκται, καὶ αὖ ἀγνοεῖ πάντα καὶ οὐδὲν οἶδεν. ὡς τὸ σχῆμα αὐτοῦ τοῦτο
οὐ σιληνῶδες; ... ἔνδοθεν δὲ ἀνοιχθεὶς πόσης οἴεσθε γέμει, ὦ ἄνδρες συμπόται,
σωφροσύνης;( vede que Sócrates se dispõe com eros aos belos, estando sempre tocado
de amor por eles, e por sua vez ignora tudo e nada sabe. Como essa sua figura não é
de um sileno? ... mas de dentro tendo sido aberto, considerai, ó convivas, de quanta
sensatez está cheio?).
194
Platão, Politeia 507b: Πολλὰ καλά, ἦν δ’ ἐγώ, καὶ πολλὰ ἀγαθὰ καὶ ἕκαστα (1)
οὕτως εἶναί φαμέν τε καὶ διορίζομεν τῷ λόγῳ (muitas coisas belas, dizia eu, e muitas
boas e dizemos que cada uma é assim e as definimos pela razão); 509b: ἀλλὰ καὶ τὸ
εἶναί τε καὶ τὴν οὐσίαν ὑπ’ ἐκείνου αὐτοῖς προσεῖναι, οὐκ οὐσίας ὄντος τοῦ ἀγαθοῦ,
ἀλλ’ ἔτι ἐπέκεινα τῆς οὐσίας πρεσβείᾳ καὶ δυνάμει ὑπερέχοντος (... mas também que
o ser e a essência são juntos por aquele [bem] a essas coisas [reconhecidas], bem que
não é essência, mas está ainda além da essência em dignidae e potência).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 194

γράψαντες καὶ ἓν ἕκαστον ἑκάστου πράγματος ἄγαλμα ἐντυπώσαντες


ἐν τοῖς ἱεροῖς τὴν ἐκεῖ οὐ διέξοδον ἐμφῆναι, ὡς ἄρα τις καὶ ἐπιστήμη
καὶ σοφία ἕκαστόν ἐστιν ἄγαλμα καὶ ὑποκείμενον καὶ ἀθρόον καὶ οὐ
διανόησις οὐδὲ βούλευσις. Ὕστερον δὲ ἀπ᾽ αὐτῆς ἀθρόας οὔσης
εἴδωλον ἐν ἄλλωι ἐξειλιγμένον ἤδη καὶ λέγον αὐτὸ ἐν διεξόδωι καὶ τὰς
αἰτίας, δι᾽ ἃς οὕτω, ἐξευρίσκον, ὡς τὸ καλῶς οὕτως ἔχοντος τοῦ
γεγενημένου θαυμάσαι. Εἴ τις οἶδε, θαυμάσαι ἔφη τὴν σοφίαν, πῶς
αὐτὴ αἰτίας οὐκ ἔχουσα τῆς οὐσίας, δι᾽ ἃς οὕτω, παρέχει τοῖς
ποιουμένοις κατ᾽ αὐτήν. Τὸ καλῶς ἄρα οὕτως καὶ τὸ ἐκ ζητήσεως ἂν
μόλις ἢ οὐδ᾽ ὅλως φανέν, ὅτι δεῖ οὕτως, εἴπερ τις ἐξεύροι, πρὸ
ζητήσεως καὶ πρὸ λογισμοῦ ὑπάρχειν οὕτως· οἷον – λάβωμεν γὰρ ἐφ᾽
ἑνὸς μεγάλου ὃ λέγω, ὅπερ ἁρμόσει καὶ ἐπὶ πάντων –

6. Parecem-me [assim] também os sábios egípcios, ao tomar [essas


coisas] seja por conhecimento preciso seja mesmo por [conhecimento]
inato, sobre as quais queriam demonstrar através de sabedoria, não por
terem se servido de marcas de letras que desenvolvem discursos e
premissas nem que imitam vozes e pronúncias de proposições, tendo
grafado objetos de culto195 e imprimido cada um de cada coisa nos
rituais de mistério para manifestar não o percurso daquilo, de modo que
cada objeto de culto é tanto certo conhecimento quanto sabedoria, que
tanto subjaz quanto é conciso, e não é ato de pensar nem de querer. Por
último a partir dessa [sabedoria], que é concisa, um simulacro
convertertendo-se em outro196 já diz isso mesmo em percurso
[discursivo], e fazia descobrir as causas, pelas quais é assim, de modo
a causar admiração do que veio a ser assim belamente [representado].
Se alguém vê, dizia admirar a sabedoria, como ela mesma não tendo

195
São os hieróglifos, que representam os fatos dos rituais sem desenvolver os
enunciados que os descrevem com discursos.
196
Eram os caracteres hieráticos em que se escreviam os comentários às
representações dos hieróglifos.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 195

causas da essência, pelas quais é assim, apresenta-as às coisas que são


criadas segundo ela mesma. Portanto o que se mostra assim belo desde
sua busca a custo ou não inteiramente, se alguém o descobrir, é porque
é preciso ser de modo que [o belo] tenha início antes de busca e de
raciocínio; tal que – pois tomemos o que digo em um só grande
[exemplo], que também se aplicará em tudo –

7. τοῦτο δὴ τὸ πᾶν, ἐπείπερ συγχωροῦμεν παρ᾽ ἄλλου αὐτὸ εἶναι καὶ


τοιοῦτον εἶναι, ἆρα οἰόμεθα τὸν ποιητὴν αὐτοῦ ἐπινοῆσαι παρ᾽ αὑτῶι
γῆν καὶ ταύτην ἐν μέσωι δεῖν στῆναι, εἶτα ὕδωρ καὶ ἐπὶ τῆι γῆι τοῦτο,
καὶ τὰ ἄλλα ἐν τάξει μέχρι τοῦ οὐρανοῦ, εἶτα ζῶια πάντα καὶ τούτοις
μορφὰς τοιαύτας ἑκάστωι, ὅσαι νῦν εἰσι, καὶ τὰ ἔνδον ἑκάστοις
σπλάγχνα καὶ τὰ ἔξω μέρη, εἶτα διατεθέντα ἕκαστα παρ᾽ αὑτῶι οὕτως
ἐπιχειρεῖν τῶι ἔργωι; Ἀλλ᾽ οὔτε ἡ ἐπίνοια δυνατὴ ἡ τοιαύτη – πόθεν
γὰρ ἐπῆλθεν οὐπώποτε ἑωρακότι; – οὔτε ἐξ ἄλλου λαβόντι δυνατὸν ἦν
ἐργάσασθαι, ὅπως νῦν οἱ δημιουργοὶ ποιοῦσι χερσὶ καὶ ὀργάνοις
χρώμενοι· ὕστερον γὰρ καὶ χεῖρες καὶ πόδες. Λείπεται τοίνυν εἶναι μὲν
πάντα ἐν ἄλλωι, οὐδενὸς δὲ μεταξὺ ὄντος τῆι ἐν τῶι ὄντι πρὸς ἄλλο
γειτονείαι οἷον ἐξαίφνης ἀναφανῆναι ἴνδαλμα καὶ εἰκόνα ἐκείνου εἴτε
αὐτόθεν εἴτε ψυχῆς διακονησαμένης – διαφέρει γὰρ οὐδὲν ἐν τῶι
παρόντι – ἢ ψυχῆς τινος. Ἀλλ᾽ οὖν ἐκεῖθεν ἦν σύμπαντα ταῦτα, καὶ
καλλιόνως ἐκεῖ· τὰ γὰρ τῆιδε καὶ μέμικται, καὶ οὐκ ἐκεῖνα μέμικται.
Ἀλλ᾽ οὖν εἴδεσι κατέσχηται ἐξ ἀρχῆς εἰς τέλος, πρῶτον μὲν ἡ ὕλη τοῖς
τῶν στοιχείων εἴδεσιν, εἶτ᾽ ἐπὶ εἴδεσιν εἴδη ἄλλα, εἶτα πάλιν ἕτερα· ὅθεν
καὶ χαλεπὸν εὑρεῖν τὴν ὕλην ὑπὸ πολλοῖς εἴδεσι κρυφθεῖσαν. Ἐπεὶ δὲ
καὶ αὕτη εἶδός τι ἔσχατον, πᾶν εἶδος· τὸ δὲ καὶ πάντα εἴδη· τὸ γὰρ
παράδειγμα εἶδος ἦν· ἐποιεῖτο δὲ ἀψοφητί, ὅτι πᾶν τὸ ποιῆσαν καὶ
οὐσία καὶ εἶδος· διὸ καὶ ἄπονος [καὶ οὕτως] ἡ δημιουργία. Καὶ παντὸς
δὲ ἦν, ὡς ἂν πᾶν. Οὐ τοίνυν ἦν τὸ ἐμποδίζον, καὶ νῦν δὲ ἐπικρατεῖ
καίτοι ἄλλων ἄλλοις ἐμποδίων γινομένων· ἀλλ᾽ οὐκ αὐτῆι οὐδὲ νῦν·
μένει γὰρ ὡς πᾶν. Ἐδόκει δέ μοι, ὅτι καί, εἰ ἡμεῖς ἀρχέτυπα καὶ οὐσία
καὶ εἴδη ἅμα καὶ τὸ εἶδος τὸ ποιοῦν ἐνταῦθα ἦν ἡμῶν οὐσία, ἐκράτησεν

SUMÁRIO
P l o t i n o | 196

ἂν ἄνευ πόνων ἡ ἡμετέρα δημιουργία. Καίτοι καὶ ἄνθρωπος δημιουργεῖ


εἶδος αὐτοῦ ἄλλο ὅ ἐστι γενόμενος· ἀπέστη γὰρ τοῦ εἶναι τὸ πᾶν νῦν
ἄνθρωπος γενόμενος· παυσάμενος δὲ τοῦ ἄνθρωπος εἶναι
μετεωροπορεῖ φησι καὶ πάντα τὸν κόσμον διοικεῖ· γενόμενος γὰρ τοῦ
ὅλου τὸ ὅλον ποιεῖ. Ἀλλ᾽ οὗ χάριν ὁ λόγος, ὅτι ἔχεις μὲν σὺ αἰτίαν εἰπεῖν
δι᾽ ἣν ἐν μέσωι ἡ γῆ καὶ διὰ τί στρογγύλη καὶ ὁ λοξὸς διότι ὡδί· ἐκεῖ δὲ
οὔ, διότι οὕτως ἐχρῆν, διὰ τοῦτο οὕτω βεβούλευται, ἀλλ᾽ ὅτι οὕτως ἔχει
ὡς ἔστι, διὰ τοῦτο καὶ ταῦτα ἔχει καλῶς· οἷον εἰ πρὸ τοῦ συλλογισμοῦ
τῆς αἰτίας τὸ συμπέρασμα, οὐ παρὰ τῶν προτάσεων· οὐ γὰρ ἐξ
ἀκολουθίας οὐδ᾽ ἐξ ἐπινοίας, ἀλλὰ πρὸ ἀκολουθίας καὶ πρὸ ἐπινοίας·
ὕστερα γὰρ πάντα ταῦτα, καὶ λόγος καὶ ἀπόδειξις καὶ πίστις. Ἐπεὶ γὰρ
ἀρχή, αὐτόθεν πάντα ταῦτα καὶ ὧδε· καὶ τὸ μὴ ζητεῖν αἰτίας ἀρχῆς οὕτω
καλῶς λέγεται, καὶ τῆς τοιαύτης ἀρχῆς τῆς τελείας, ἥτις ταὐτὸν τῶι
τέλει· ἥτις δ᾽ ἀρχὴ καὶ τέλος, αὕτη τὸ πᾶν ὁμοῦ καὶ ἀνελλιπής.

7. na verdade em relação a esse todo, depois que concordamos que ele


é da parte de outro e é tal, por acaso achamos que o criador dele pensou
que junto dele a terra precisava estar no meio, depois [pensou] essa água
também sobre a terra e as outras coisas em ordem até o céu, depois todos
os viventes e a estes tais as figuras a cada um, quantas agora são, e as
vísceras internas em cada um e as partes de fora, depois tendo sido
dispostas cada coisa junto dele, assim empreender o trabalho? Mas nem
a capacidade de pensar é tal – pois de onde [ela] veio ao que jamais viu
[essas coisas]197? E nem ao que tendo tomado desde outro era possível
realizar, como agora os artesãos fazem servindo-se de mãos e de
instrumentos; pois é posterior tanto mãos quanto pés. Resta então tudo
ser em algo diverso198, e nenhum intermédio havendo pela vizinhança
no que é em relação a algo diverso, tal que de repente mostrar-se

197
Crítica ao criacionismo.
198
Mundo das Ideias.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 197

aparição e imagem daquilo, seja desde isso mesmo seja de alma que se
serve – pois nada difere no presente [momento] – ou de alma de
alguém199. Mas então de lá eram todas essas coisas, e de modo melhor
são ali; pois as coisas daqui estão misturadas, e aquelas não estão
misturadas. Mas então por formas estão mantidas do princípio ao fim,
primeiro há a matéria para as formas dos elementos, depois sobre as
formas há formas diversas, depois ainda umas diferentes; daí é difícil
encontrar a matéria que se oculta sob muitas formas. Uma vez que
também essa mesma forma é algo extremo, tudo é forma; e este [todo]
também são todas as formas; pois o modelo era forma; e era criado sem
rumor, porque tudo que cria é essência e forma; por isso também é sem
fadiga, <e desse modo> é a arte de criar. E era [arte de criar] de tudo,
de modo que seria tudo. Então nem havia o que impedia, e agora [a arte
de criar] domina as coisas que vêm a ser, mesmo que elas impeçam
umas às outras; mas nem aqui nem agora [há impedimento]; pois elas
permanecem como um todo. E ensinava-me que se nós fôssemos
arquétipos200, essência e forma ao mesmo tempo, também a forma que
aqui cria seria essência de nós, a nossa arte de criar dominaria sem
fadigas201. No entanto o homem produz uma forma diversa de si mesmo
que é [homem] que veio a ser; pois afastou do ser o todo, que agora veio
a ser homem; e tendo cessado de ser homem voa alto, diz [Platão], e
administra todo o cosmo202; pois cria porque do inteiro ele veio a ser o

199
A criação é obra da Alma, criador do todo, por isso pode aparecer uma imagem
dela ou da alma natural, ou mesmo de alguma alma individual em cada aspecto de sua
criação.
200
Ou seja, se não tivéssemos corpo, nossa essência seria forma universal.
201
Xenófanes, Fragmenta, 21 B 25 Diels – Kranz: ἀλλ’ ἀπάνευθε πόνοιο νόου φρενὶ
πάντα κραδαίνει (mas sem fadiga, pela mente [o deus] tudo agita).
202
Platão, Fedro 246c: τελέα (c) μὲν οὖν οὖσα καὶ ἐπτερωμένη μετεωροπορεῖ τε καὶ
πάντα τὸν κόσμον διοικεῖ (portanto, [a alma] sendo perfeita e alada passa nas alturas
e administra todo o cosmo).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 198

inteiro. Mas graças a que é o discurso é que tens tu como dizer a causa
pela qual a terra é no meio e através de que é redonda, e por qual motivo
a eclítica é desta forma; mas ali não, porque era necessário ser assim, é
por isso que está assim decidido, porque [ali] é assim como é, por isso
essas coisas [daqui] estão bem; tal como se antes do silogismo fosse o
resultado da causa, não [vindo] da parte das premissas; pois não é desde
consequência nem desde projeto, mas antes de consequência e antes de
projeto; pois todas essas coisas são posteriores, razão, demosntração e
crença. Uma vez que há um princípio, a partir dele são todas as coisas
e deste modo: “não buscar as causas do princípio”203 assim belamente
se diz, e sendo de tal princípio o fim, um certo princípio é o mesmo que
o fim; e um certo princípio é também fim, ele mesmo é o todo em
conjunto e contínuo.

8. Καλὸν οὖν πρώτως, καὶ ὅλον δὲ καὶ πανταχοῦ ὅλον, ἵνα μηδὲ μέρη
ἀπολείπηται τῶι καλῶι ἐλλείπειν, τίς οὖν οὐ φήσει καλόν; Οὐ γὰρ δὴ ὃ
μὴ ὅλον αὐτό, ἀλλ᾽ ὃ μέρος ἔχον ἢ μηδέ τι αὐτοῦ ἔχον. Ἢ εἰ μὴ ἐκεῖνο
καλόν, τί ἂν ἄλλο; Τὸ γὰρ πρὸ αὐτοῦ οὐδὲ καλὸν ἐθέλει εἶναι· τὸ γὰρ
πρώτως εἰς θέαν παρελθὸν τῶι εἶδος εἶναι καὶ θέαμα νοῦ τοῦτο καὶ
ἀγαστὸν ὀφθῆναι. Διὸ καὶ Πλάτων, τοῦτο σημῆναι θέλων εἴς τι τῶν
ἐνεργεστέρων ὡς πρὸς ἡμᾶς, ἀποδεξάμενον ποιεῖ τὸν δημιουργὸν τὸ
ἀποτελεσθέν, διὰ τούτου ἐνδείξασθαι θέλων τὸ τοῦ παραδείγματος καὶ
τῆς ἰδέας κάλλος ὡς ἀγαστόν. Πᾶν γὰρ τὸ κατὰ ἄλλο ποιηθὲν ὅταν τις
θαυμάσηι ἐπ᾽ ἐκεῖνο ἔχει τὸ θαῦμα, καθ᾽ ὅ ἐστι πεποιημένον. Εἰ δ᾽
ἀγνοεῖ ὃ πάσχει, θαῦμα οὐδέν· ἐπεὶ καὶ οἱ ἐρῶντες καὶ ὅλως οἱ τὸ τῆιδε

203
Aristóteles, Física I 5, 188a 27-30: δεῖ γὰρ τὰς ἀρχὰς μήτε ἐξ ἀλλήλων εἶναι μήτε
ἐξ ἄλλων, καὶ ἐκ τούτων πάντα· τοῖς δὲ ἐναντίοις τοῖς πρώτοις ὑπάρχει ταῦτα, διὰ μὲν
τὸ πρῶτα εἶναι μὴ ἐξ ἄλλων, διὰ δὲ τὸ ἐναντία μὴ ἐξ ἀλλήλων (pois é preciso que os
princípios nem sejam uns de outros, nem de outros, e que tudo seja desde eles; aos
contrários que são primeiros há essas propriedades: por ser primeiros não ser desde
outros, e por ser contrários não ser uns de outros).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 199

κάλλος τεθαυμακότες ἀγνοοῦσιν ὅτι δι᾽ ἐκεῖνο· δι᾽ ἐκεῖνο γάρ. Ὅτι δὲ
εἰς τὸ παράδειγμα ἀνάγει τὸ ἠγάσθη δῆλον ποιεῖ ἐπίτηδες τὸ ἑξῆς τῆς
λέξεως λαβών· εἶπε γάρ· ἠγάσθη τε καὶ ἔτι μᾶλλον πρὸς τὸ
παράδειγμα αὐτὸ ἐβουλήθη ἀφομοιῶσαι, τὸ κάλλος τοῦ
παραδείγματος οἷόν ἐστιν ἐνδεικνύμενος διὰ τὸ ἐκ τούτου τὸ γενόμενον
καλὸν καὶ αὐτὸ ὡς εἰκόνα ἐκείνου εἰπεῖν· ἐπεὶ καὶ εἰ μὴ ἐκεῖνο ἦν τὸ
ὑπέρκαλον κάλλει ἀμηχάνωι, τί ἂν τούτου τοῦ ὁρωμένου ἦν κάλλιον;
Ὅθεν οὐκ ὀρθῶς οἱ μεμφόμενοι τούτωι, εἰ μὴ ἄρα καθόσον μὴ ἐκεῖνό
ἐστι.

8. Então [esse princípio] é primeiramente belo, tanto inteiro quanto


inteiro de toda parte, para nem se deixar partes a faltar ao belo, quem
não o dirá belo? Pois na verdade não é [belo] o que não seja inteiro ele
mesmo, mas [não é] o que tem parte [do belo] ou nem tem alguma parte
dele. Na verdade se aquilo não é belo, que outra coisa seria? Pois o que
vem antes dele nem deseja ser belo204; pois [é belo] o que vem primeiro
à contemplação por ser forma, e esse espetáculo de inteligência é
também admirável de se ver. Por isso mesmo Platão, querendo assinalar
isso em algo dentre as coisas mais ativas assim para nós, faz o demiurgo
mostrar o que foi finalizado, querendo por isso indicar o belo do
paradigma e da ideia como admirável205. Pois de tudo que foi feito
segundo algo diverso, quando alguém se admira, tem admiração naquilo
segundo o que foi feito. E se desconhece aquilo de que tem impressão,
nenhuma admiração há, uma vez que mesmo os que amam eros e os que
em geral ficam admirados com a beleza daqui desconhecem que é por

204
O Uno é anterior à Inteligência, portanto é acima do belo.
205
Platão, Timeu 37c-d: Ὡς δὲ κινηθὲν αὐτὸ καὶ ζῶν ἐνόησεν τῶν ἀιδίων θεῶν
γεγονὸς ἄγαλμα ὁ γεννήσας πατήρ, ἠγάσθη τε καὶ εὐφρανθεὶς ἔτι δὴ μᾶλλον ὅμοιον
πρὸς τὸ παράδειγμα ἐπενόησεν ἀπεργάσασθαι (o pai que gerou [esse todo] pensou-o
como objeto de culto entre os deuses eternos, que se move e vive, maravilhou-se e
cogitou, tendo-se alegrado, concluí-lo ainda mais semelhante ao paradigma).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 200

aquilo, e de fato é por aquilo206. Que [Platão] reconduz ao paradigma o


“maravilhou-se”, é claro que o faz oportunamente ao tomar a sequência
da expressão, pois disse: “agradou-se e ainda mais ao paradigma ele
quis assemelhar”, indicando que a beleza do paradigma é tal como o
que veio a ser belo desde ela e diz que esta é como imagem daquela;
uma vez que, se aquela não fosse o ‘ultrabelo’ por extraordinária
beleza207, o que seria mais belo do que isso que é visto? Daí não estar
corretos os que fazem censura a isso [que é visto]208, a não ser ‘que não
é tanto quanto é aquele [ultrabelo]’.

9. Τοῦτον τοίνυν τὸν κόσμον, ἑκάστου τῶν μερῶν μένοντος ὅ ἐστι καὶ
μὴ συγχεομένου, λάβωμεν τῆι διανοίαι, εἰς ἓν ὁμοῦ πάντα, ὡς οἷόν τε,
ὥστε ἑνὸς ὁτουοῦν προφαινομένου, οἷον τῆς ἔξω σφαίρας οὔσης,
ἀκολουθεῖν εὐθὺς καὶ τὴν ἡλίου καὶ ὁμοῦ τῶν ἄλλων ἄστρων τὴν
φαντασίαν, καὶ γῆν καὶ θάλασσαν καὶ πάντα τὰ ζῶια ὁρᾶσθαι, οἷον ἐπὶ
σφαίρας διαφανοῦς καὶ ἔργωι ἂν γένοιτο πάντα ἐνορᾶσθαι. Ἔστω οὖν
ἐν τῆι ψυχῆι φωτεινή τις φαντασία σφαίρας ἔχουσα πάντα ἐν αὐτῆι, εἴτε
κινούμενα εἴτε ἑστηκότα, ἢ τὰ μὲν κινούμενα, τὰ δ᾽ ἑστηκότα.
Φυλάττων δὲ ταύτην ἄλλην παρὰ σαυτῶι ἀφελὼν τὸν ὄγκον λάβε·
ἄφελε δὲ καὶ τοὺς τόπους καὶ τὸ τῆς ὕλης ἐν σοὶ φάντασμα, καὶ μὴ
πειρῶ αὐτῆς ἄλλην σμικροτέραν λαβεῖν τῶι ὄγκωι, θεὸν δὲ καλέσας τὸν
πεποιηκότα ἧς ἔχεις τὸ φάντασμα εὖξαι ἐλθεῖν. Ὁ δὲ ἥκοι τὸν αὐτοῦ

206
Platão, Fedro 250a-b: αὗται δέ, ὅταν τι τῶν ἐκεῖ ὁμοίωμα ἴδωσιν, ἐκπλήττονται καὶ
οὐκέτ’ <ἐν> αὑτῶν γίγνονται, ὃ δ’ ἔστι τὸ πάθος ἀγνοοῦσι διὰ τὸ μὴ ἱκανῶς
διαισθάνεσθαι (e essa [almas], quando veem alguma semelhança das coisas dali, se
assustam e não mais vêm a ser em si, e ignoram o que é a impressão pelo que não
percebem suficientemente). Alusão à beleza do mundo inteligível.
207
Platão, Simpósio 218e: ἀμήχανόν τοι κάλλος ὁρῴης ἂν ἐν ἐμοὶ (então verias
extraordinária beleza em mim); Politeia 509a: Ἀμήχανον κάλλος, ἔφη, λέγεις (dizes
extraordinária beleza, dizia).
208
Referência aos gnósticos.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 201

κόσμον φέρων μετὰ πάντων τῶν ἐν αὐτῶι θεῶν εἷς ὢν καὶ πάντες, καὶ
ἕκαστος πάντες συνόντες εἰς ἕν, καὶ ταῖς μὲν δυνάμεσιν ἄλλοι, τῆι δὲ
μιᾶι ἐκείνηι τῆι πολλῆι πάντες εἷς· μᾶλλον δὲ ὁ εἷς πάντες· οὐ γὰρ
ἐπιλείπει αὐτός, ἢν πάντες ἐκεῖνοι γένωνται· ὁμοῦ δέ εἰσι καὶ ἕκαστος
χωρὶς αὖ ἐν στάσει ἀδιαστάτωι οὐ μορφὴν αἰσθητὴν οὐδεμίαν ἔχων –
ἤδη γὰρ ἂν ὁ μὲν ἄλλοθι, ὁ δέ που ἀλλαχόθι ἦν, καὶ ἕκαστος δὲ οὐ πᾶς
ἐν αὐτῶι – οὐδὲ μέρη ἄλλα ἔχων ἄλλοις ἢ αὐτῶι, οὐδὲ ἕκαστον οἷον
δύναμις κερματισθεῖσα καὶ τοσαύτη οὖσα, ὅσα τὰ μέρη μετρούμενα.
Τὸ δέ ἐστι [τὸ πᾶν] δύναμις πᾶσα, εἰς ἄπειρον μὲν ἰοῦσα, εἰς ἄπειρον
δὲ δυναμένη· καὶ οὕτως ἐστὶν ἐκεῖνος μέγας, ὡς καὶ τὰ μέρη αὐτοῦ
ἄπειρα γεγονέναι. Ποῦ γάρ τι ἔστιν εἰπεῖν, ὅπου μὴ φθάνει; Μέγας μὲν
οὖν καὶ ὅδε ὁ οὐρανὸς καὶ αἱ ἐν αὐτῶι πᾶσαι δυνάμεις ὁμοῦ, ἀλλὰ
μείζων ἂν ἦν καὶ ὁπόσος οὐδ᾽ ἂν ἦν εἰπεῖν, εἰ μή τις αὐτῶι συνῆν
σώματος δύναμις μικρά. Καίτοι μεγάλας ἄν τις φήσειε πυρὸς καὶ τῶν
ἄλλων σωμάτων τὰς δυνάμεις· ἀλλὰ ἤδη ἀπειρίαι δυνάμεως ἀληθινῆς
φαντάζονται καίουσαι καὶ φθείρουσαι καὶ θλίβουσαι καὶ πρὸς γένεσιν
τῶν ζώιων ὑπουργοῦσαι. Ἀλλὰ ταῦτα μὲν φθείρει, ὅτι καὶ φθείρεται,
καὶ συγγεννᾶι, ὅτι καὶ αὐτὰ γίνεται· ἡ δὲ δύναμις ἡ ἐκεῖ μόνον τὸ εἶναι
ἔχει καὶ μόνον τὸ καλὸν εἶναι. Ποῦ γὰρ ἂν εἴη τὸ καλὸν ἀποστερηθὲν
τοῦ εἶναι; Ποῦ δ᾽ ἂν ἡ οὐσία τοῦ καλὸν εἶναι ἐστερημένη; Ἐν τῶι γὰρ
ἀπολειφθῆναι τοῦ καλοῦ ἐλλείπει καὶ τῆι οὐσίαι. Διὸ καὶ τὸ εἶναι
ποθεινόν ἐστιν, ὅτι ταὐτὸν τῶι καλῶι, καὶ τὸ καλὸν ἐράσμιον, ὅτι τὸ
εἶναι. Πότερον δὲ ποτέρου αἴτιον τί χρὴ ζητεῖν οὔσης τῆς φύσεως μιᾶς;
Ἥδε μὲν γὰρ ἡ ψευδὴς οὐσία δεῖται ἐπακτοῦ εἰδώλου καλοῦ, ἵνα καὶ
καλὸν φαίνηται καὶ ὅλως ἦι, καὶ κατὰ τοσοῦτόν ἐστι, καθόσον
μετείληφε κάλλους τοῦ κατὰ τὸ εἶδος, καὶ λαβοῦσα, ὅσωι ἂν λάβηι,
μᾶλλον τελειοτέρα· μᾶλλον γὰρ οὐσία ἧι καλή.

9. Então tomemos por reflexão que esse cosmo, cada uma das partes
permanecendo o que é e não se confundindo, é todo ao mesmo tempo

SUMÁRIO
P l o t i n o | 202

no uno209, como é possível, qualquer parte aparecendo como uma só,


tal como a esfera que é exterior210, seguindo logo a fantasia do sol e em
conjunto a dos outros astros, para se ver a terra, o mar e todos os
viventes, tal que em diáfana esfera avistar em uma obra tudo que venha
a ser. Seja então na alma certa fantasia luminosa de esfera que tem tudo
em si, ou movendo-se ou em repouso, certamente umas coisas se
movem, e outras estão fixas. Estando atento, toma essa outra junto a ti
afastando a massa; e afasta também os espaços e o produto da fantasia
em ti da matéria, e não tenta tomar outra menor211 do que essa em
massa, e tendo invocado o deus que criou [a esfera] de que tens o
produto da fantasia, suplica que ele venha. E ele chegue portando o seu
cosmo com todos os deuses em si sendo um só e todos, e cada um sendo
em conjunto todos no uno, sendo diversos pelas potências, e todos
sendo um só por aquela multiplicidade; ou melhor, o que é um só é
todos; pois ele mesmo não diminui, caso todos aqueles venham a ser; e
em conjunto são também cada um separadamente, por sua vez em
estabilidade não dimensionável212, não tendo nenhuma figura sensível
– pois já um seria em um lugar, e outro em outro, e cada um não seria
todo em si mesmo – esse deus não tem partes diversas umas das outras

209
Anaxágoras 59 B1 Diels – Kranz: ὁμοῦ πάντα χρήματα ἦν, ἄπειρα καὶ πλῆθος καὶ
(5) σμικρότητα· καὶ γὰρ τὸ σμικρὸν ἄπειρον ἦν. καὶ πάντων ὁμοῦ ἐόντων οὐδὲν
ἔνδηλον ἦν ὑπὸ σμικρότητος (as coisas eram todas em conjunto, infinitas tanto em
número quanto em pequenez; pois o pequeno era infinito. Sendo tudo em conjunto
nada era evidente pela pequenez).
210
Platão, Timeu 36c: ταύτην οὖν τὴν σύστασιν πᾶσαν διπλῆν κατὰ μῆκος σχίσας,
μέσην πρὸς μέσην κατέραν ἀλλήλαις οἷον χεῖ προσβαλὼν κατέκαμψεν εἰς ἓν κύκλῳ
... τὴν μὲν οὖν ἔξω φορὰν ἐπεφήμισεν εἶναι τῆς ταὐτοῦ φύσεως (então tendo dividido
pelo comprimento toda essa composição e aplicado respectivamente uma metade à
outra tal que um X, curvou-a em círculo no uno ... e a órbita externa denominava para
ser da natureza do mesmo).
211
Enéada II 9, 17.
212
Estabilidade sem dimensão porque no mundo inteligível não há espaço nem figura.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 203

ou de si mesmo, nem cada uma é tal como potência que se fragmenta,


sendo tão grande quantas são as partes medidas. E isso tudo é toda
potência que vai ao infinito, porque tem capacidade ao infinito; e assim
é grande aquele deus, de modo a mesmo suas partes ter vindo a ser
infinitas. Pois é possível dizer algum ‘onde’, a que ele não se antecipa?
Grande de fato é também este céu e todas as potências em conjunto nele,
mas maior seria e quão grande não seria de dizer, se não fosse com ele
alguma pequena potência de corpo. No entanto grandes alguém diria as
potências de fogo e dos outros corpos; mas já é por inexperiência da
verdadeira potência que [os homens] têm a fantasia de queimar e
destruir e oprimir e prestar ajuda à gênese dos viventes. Mas essas
coisas destroem, porque também se destroem, e contribuem para gerar,
porque também elas vêm a ser; e apenas a potência de lá tem o ‘ser’, e
apenas o ‘ser belo’. Pois onde seria o belo, tendo-se privado do ser? E
onde a essência, sendo privada do ‘ser belo’? Pois restaria ficar afastada
do belo também à essência. Por isso também o ser é desejável, porque
é o mesmo que o belo, e o belo é amável, porque é o ser. E por que é
necessário buscar qual dos dois é o causador, sendo uma só a natureza
[deles]? Pois esta falsa essência precisa de visagem importável do bem,
para que pareça também algo belo e seja de modo inteiro, e tanto é
[essência] quanto tenha participado do belo que é segundo a forma, e
tendo tomado [o belo], quanto mais tomar será mais perfeita; pois onde
for mais essência será mais bela.

10. Διὰ τοῦτο καὶ ὁ Ζεὺς καίπερ ὢν πρεσβύτατος τῶν ἄλλων θεῶν, ὧν
αὐτὸς ἡγεῖται, πρῶτος πορεύεται ἐπὶ τὴν τούτου θέαν, οἱ δὲ ἕπονται
θεοὶ ἄλλοι καὶ δαίμονες καὶ ψυχαί, αἳ ταῦτα ὁρᾶν δύνανται. Ὁ δὲ
ἐκφαίνεται αὐτοῖς ἔκ τινος ἀοράτου τόπου καὶ ἀνατείλας ὑψοῦ ἐπ᾽
αὐτῶν κατέλαμψε μὲν πάντα καὶ ἔπλησεν αὐγῆς καὶ ἐξέπληξε μὲν τοὺς
κάτω, καὶ ἐστράφησαν ἰδεῖν οὐ δεδυνημένοι οἷα ἥλιον. Οἱ μὲν ἄρ αὐτοῦ
ἀνέχονταί τε καὶ βλέπουσιν, οἱ δὲ ταράττονται, ὅσωι ἂν ἀφεστήκωσιν
αὐτοῦ. Ὁρῶντες δὲ οἱ δυνηθέντες ἰδεῖν εἰς αὐτὸν μὲν πάντες βλέπουσι

SUMÁRIO
P l o t i n o | 204

καὶ εἰς τὸ αὐτοῦ· οὐ ταὐτὸν δὲ ἕκαστος ἀεὶ θέαμα κομίζεται, ἀλλ᾽ ὁ μὲν
ἀτενὲς ἰδὼν ἐκλάμπουσαν εἶδε τὴν τοῦ δικαίου πηγὴν καὶ φύσιν, ἄλλος
δὲ τῆς σωφροσύνης ἐπλήσθη τοῦ θεάματος, οὐχ οἵαν ἄνθρωποι παρ᾽
αὐτοῖς, ὅταν ἔχωσι· μιμεῖται γὰρ αὕτη ἀμηιγέπηι ἐκείνην· ἡ δὲ ἐπὶ πᾶσι
περὶ πᾶν τὸ οἷον μέγεθος αὐτοῦ ἐπιθέουσα τελευταία ὁρᾶται, οἷς πολλὰ
ἤδη ὤφθη ἐναργῆ θεάματα, οἱ θεοὶ καθ᾽ ἕνα καὶ πᾶς ὁμοῦ, αἱ ψυχαὶ αἱ
πάντα ἐκεῖ ὁρῶσαι καὶ ἐκ τῶν πάντων γενόμεναι, ὥστε πάντα περιέχειν
καὶ αὐταὶ ἐξ ἀρχῆς εἰς τέλος· καί εἰσιν ἐκεῖ καθόσον ἂν αὐτῶν πεφύκηι
εἶναι ἐκεῖ, πολλάκις δὲ αὐτῶν καὶ τὸ πᾶν ἐκεῖ, ὅταν μὴ ὦσι
διειλημμέναι. Ταῦτα οὖν ὁρῶν ὁ Ζεύς, καὶ εἴ τις ἡμῶν αὐτῶι
συνεραστής, τὸ τελευταῖον ὁρᾶι μένον ἐπὶ πᾶσιν ὅλον τὸ κάλλος, καὶ
κάλλους μετασχὼν τοῦ ἐκεῖ· ἀποστίλβει γὰρ πάντα καὶ πληροῖ τοὺς ἐκεῖ
γενομένους, ὡς καλοὺς καὶ αὐτοὺς γενέσθαι, ὁποῖοι πολλάκις ἄνθρωποι
εἰς ὑψηλοὺς ἀναβαίνοντες τόπους τὸ ξανθὸν χρῶμα ἐχούσης τῆς γῆς
τῆς ἐκεῖ ἐπλήσθησαν ἐκείνης τῆς χρόας ὁμοιωθέντες τῆι ἐφ᾽ ἧς
ἐβεβήκεσαν. Ἐκεῖ δὲ χρόα ἡ ἐπανθοῦσα κάλλος ἐστί, μᾶλλον δὲ πᾶν
χρόα καὶ κάλλος ἐκ βάθους· οὐ γὰρ ἄλλο τὸ καλὸν ὡς ἐπανθοῦν. Ἀλλὰ
τοῖς μὴ ὅλον ὁρῶσιν ἡ προσβολὴ μόνη ἐνομίσθη, τοῖς δὲ διὰ παντὸς
οἷον οἰνωθεῖσι καὶ πληρωθεῖσι τοῦ νέκταρος, ἅτε δι᾽ ὅλης τῆς ψυχῆς
τοῦ κάλλους ἐλθόντος, οὐ θεαταῖς μόνον ὑπάρχει γενέσθαι. Οὐ γὰρ ἔτι
τὸ μὲν ἔξω, τὸ δ᾽ αὖ τὸ θεώμενον ἔξω, ἀλλ᾽ ἔχει τὸ ὀξέως ὁρῶν ἐν αὐτῶι
τὸ ὁρώμενον, καὶ ἔχων τὰ πολλὰ ἀγνοεῖ ὅτι ἔχει καὶ ὡς ἔξω ὂν βλέπει,
ὅτι ὡς ὁρώμενον βλέπει καὶ ὅτι θέλει βλέπειν. Πᾶν δὲ ὅ τις ὡς θεατὸν
βλέπει ἔξω βλέπει. Ἀλλὰ χρὴ εἰς αὑτὸν ἤδη μεταφέρειν καὶ βλέπειν ὡς
ἓν καὶ βλέπειν ὡς αὑτόν, ὥσπερ εἴ τις ὑπὸ θεοῦ κατασχεθεὶς
φοιβόληπτος ἢ ὑπό τινος Μούσης ἐν αὑτῶι ἂν ποιοῖτο τοῦ θεοῦ τὴν
θέαν, εἰ δύναμιν ἔχοι ἐν αὑτῶι θεὸν βλέπειν.

10. Por isso também Zeus, porque é o mais antigo dos outros deuses,
que ele conduz, “primeiro passa” à contemplação desse [belo], e

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 205

seguem os outros deuses e dâimones213 e almas, as que são capazes de


ver essas coisas. E [o mundo inteligível] se lhes manifesta a partir de
algum invisível lugar e, tendo surgido no alto, ilumina todas as coisas,
enche de fulgor e atinge os debaixo, e eles desviaram o olhar, porque
não foram capazes de dirigir o olhar [para ele], tal qual [nós] para o
sol214. Uns logo suportam e olham; outros se perturbam, quanto estejam
afastados dele. E olhando, os que são capazes de ver, todos dirigem o
olhar para ele e para o que é dele; não sempre o mesmo espetáculo cada
um reporta, um tendo olhado fixamente vê resplendente a fonte e a
natureza da justiça, outro tendo-se enchido do espetáculo [vê a fonte e
a natureza] da sensatez, não tal qual os homens têm junto a si, quando
a tenham, pois esta de algum modo imita aquela; e aquela se vê perfeita
a correr a [este] todo e acerca de tudo [nele] tal qual a grandeza dele,
muitos espetáculos brilhantes já foram vistos por estes: os deuses, cada
um e todo [deus] ao mesmo tempo, as almas que são [capazes] de ver
todas as coisas ali, porque vieram a ser desde todas essas coisas [do
mundo inteligível], de modo a envolver todas as coisas também elas
mesmas do princípio ao fim215; e são ali quanto for natural delas ser ali,
e frequentemente delas também é o todo ali, quando não se tenham
afastado. E então Zeus olhando essas coisas, e se algum de nós
condivide o amor dele216, por fim vê a beleza que permanece inteira em

213
Platão, Fedro 246e: ὁ μὲν δὴ μέγας ἡγεμὼν ἐν οὐρανῷ Ζεύς, ἐλαύνων πτηνὸν ἅρμα,
πρῶτος πορεύεται, διακοσμῶν πάντα καὶ (5) ἐπιμελούμενος (Zeus, o grande guia no
céu, conduzindo um carro alado, passa primeiro, administrando e cuidando de tudo).
214
Platão, Politeia 516a: καὶ ἐπειδὴ πρὸς τὸ φῶς ἔλθοι, (1) αὐγῆς ἂν ἔχοντα τὰ ὄμματα
μεστὰ ὁρᾶν οὐδ’ ἂν ἓν δύνασθαι τῶν νῦν λεγομένων ἀληθῶν; (e quando ele chega à
luz, tendo os olhos cheios de fulgor, não seria capaz de ver uma só das coisas que
agora são ditas verdadeiras).
215
Platão, Fedro 250a: ὀλίγαι δὴ λείπονται αἷς τὸ τῆς μνήμης ἱκανῶς πάρεστιν (restam
poucas [almas] às quais o que é da memória se apresenta suficientemente).
216
Platão, Fedro 250b: κάλλος δὲ τότ’ ἦν ἰδεῖν (5) λαμπρόν, ὅτε σὺν εὐδαίμονι χορῷ
μακαρίαν ὄψιν τε καὶ

SUMÁRIO
P l o t i n o | 206

todas as coisas, participando também da beleza que é de lá; pois ela


resplende em tudo e enche os que ali vieram a ser, de modo a vir a ser
belos também eles mesmos, quantos homens muitas vezes tendo subido
a altos lugares, a terra dali tendo a coloração dourada, enchem-se
daquela coloração assemelhando-se à [terra] sobre que têm andado. Ali
a coloração que floresce é beleza, ou seja, toda coloração é também
beleza desde a profundeza, pois o belo não é diverso como o que
floresce. Mas aos que veem não inteiramente o acesso foi considerado
único, e aos que como que se embriagaram totalmente e se enchem do
néctar217, enquanto a beleza passa pela alma inteira, tem início o vir a
ser não apenas como espectadores. Pois não é mais algo de fora, e o que
o contempla de fora, mas o que agudamente vê218 tem em si mesmo o
que é visto, e tendo muitas coisas desconhece que as tem e as olha como
sendo de fora, porque olha como o que é visto e porque deseja olhar.
Tudo que alguém olha como contemplável, olha de fora. Mas há já
necessidade de transportar a si mesmo como uma só coisa: o olhar e
olhar como a si mesmo, como se alguém, tendo sido possuído por um
deus, tomado por Febo ou por alguma Musa219, criasse em si mesmo a
contemplação do deus, se tiver capacidade de olhar deus em si mesmo.

11. Εἰ δέ τις ἡμῶν ἀδυνατῶν ἑαυτὸν ὁρᾶν, ὑπ᾽ ἐκείνου τοῦ θεοῦ ἐπὰν
καταληφθεὶς εἰς τὸ ἰδεῖν προφέρηι τὸ θέαμα, ἑαυτὸν προφέρει καὶ
εἰκόνα αὐτοῦ καλλωπισθεῖσαν βλέπει, ἀφεὶς δὲ τὴν εἰκόνα καίπερ

θέαν, ἑπόμενοι μετὰ μὲν Διὸς ἡμεῖς ... (então havia beleza brilhante para ver, quando
nós junto ao coro bem-aventurado, em visão feliz e divina, seguindo junto com Zeus
...).
217
Platão, Simpósio 203b: ὁ οὖν Πόρος μεθυσθεὶς τοῦ νέκταρος— (5) οἶνος γὰρ οὔπω
ἦν — ... (então Poros, tendo-se embriagado do néctar – vinho ainda não havia – ... ).
218
Referência a Linceu, citado no capítulo 4.
219
Platão, Fedro 245a: τρίτη δὲ ἀπὸ Μουσῶν κατοκωχή τε καὶ μανία (a terceira forma
de inspiração e de loucura é a partir das Musas).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 207

καλὴν οὖσαν εἰς ἓν αὑτῶι ἐλθὼν καὶ μηκέτι σχίσας ἓν ὁμοῦ πάντα ἐστὶ
μετ᾽ ἐκείνου τοῦ θεοῦ ἀψοφητὶ παρόντος, καὶ ἔστι μετ᾽ αὐτοῦ ὅσον
δύναται καὶ θέλει, εἰ δ᾽ ἐπιστραφείη εἰς δύο, καθαρὸς μένων ἐφεξῆς
ἐστιν αὐτῶι, ὥστε αὐτῶι παρεῖναι ἐκείνως πάλιν, εἰ πάλιν ἐπ᾽ αὐτὸν
στρέφοι, ἐν δὲ τῆι ἐπιστροφῆι κέρδος τοῦτ᾽ ἔχει· ἀρχόμενος αἰσθάνεται
αὑτοῦ, ἕως ἕτερός ἐστι· δραμὼν δὲ εἰς τὸ εἴσω ἔχει πᾶν, καὶ ἀφεὶς τὴν
αἴσθησιν εἰς τοὐπίσω τοῦ ἕτερος εἶναι φόβωι εἷς ἐστιν ἐκεῖ· κἂν
ἐπιθυμήσηι ὡς ἕτερον ὂν ἰδεῖν, ἔξω αὑτὸν ποιεῖ. Δεῖ δὲ
καταμανθάνοντα μὲν ἔν τινι τύπωι αὐτοῦ μένοντα μετὰ τοῦ ζητεῖν
γνωματεύειν αὐτόν, εἰς οἷον δὲ εἴσεισιν, οὕτω μαθόντα κατὰ πίστιν, ὡς
ἐπὶ χρῆμα μακαριστὸν εἴσεισιν, ἤδη αὐτὸν δοῦναι εἰς τὸ εἴσω καὶ
γενέσθαι ἀντὶ ὁρῶντος ἤδη θέαμα ἑτέρου θεωμένου, οἵοις ἐκεῖθεν ἥκει
ἐκλάμποντα τοῖς νοήμασι. Πῶς οὖν ἔσται τις ἐν καλῶι μὴ ὁρῶν αὐτό;
Ἢ ὁρῶν αὐτὸ ὡς ἕτερον οὐδέπω ἐν καλῶι, γενόμενος δὲ αὐτὸ οὕτω
μάλιστα ἐν καλῶι. Εἰ οὖν ὅρασις τοῦ ἔξω, ὅρασιν μὲν οὐ δεῖ εἶναι ἢ
οὕτως, ὡς ταὐτὸν τῶι ὁρατῶι· τοῦτο δὲ οἷον σύνεσις καὶ συναίσθησις
αὐτοῦ εὐλαβουμένου μὴ τῶι μᾶλλον αἰσθάνεσθαι θέλειν ἑαυτοῦ
ἀποστῆναι. Δεῖ δὲ κἀκεῖνο ἐνθυμεῖσθαι, ὡς τῶν μὲν κακῶν αἱ αἰσθήσεις
τὰς πληγὰς ἔχουσι μείζους, ἥττους δὲ τὰς γνώσεις τῆι πληγῆι
ἐκκρουομένας· νόσος γὰρ μᾶλλον ἔκπληξιν, ὑγίεια δὲ ἠρέμα συνοῦσα
μᾶλλον ἂν σύνεσιν δοίη αὑτῆς· προσίζει γὰρ ἅτε οἰκεῖον καὶ ἑνοῦται· ἣ
δ᾽ ἔστιν ἀλλότριον καὶ οὐκ οἰκεῖον, καὶ ταύτηι διάδηλος τῶι σφόδρα
ἕτερον ἡμῶν εἶναι δοκεῖν. Τὰ δὲ ἡμῶν καὶ ἡμεῖς ἀναίσθητοι· οὕτω δ᾽
ὄντες μάλιστα πάντων ἐσμὲν αὑτοῖς συνετοὶ τὴν ἐπιστήμην ἡμῶν καὶ
ἡμᾶς ἓν πεποιηκότες. Κἀκεῖ τοίνυν, ὅτε μάλιστα ἴσμεν κατὰ νοῦν,
ἀγνοεῖν δοκοῦμεν, τῆς αἰσθήσεως ἀναμένοντες τὸ πάθος, ἥ φησι μὴ
ἑωρακέναι· οὐ γὰρ εἶδεν οὐδ᾽ ἂν τὰ τοιαῦτά ποτε ἴδοι. Τὸ οὖν ἀπιστοῦν
ἡ αἴσθησίς ἐστιν, ὁ δὲ ἄλλος ἐστὶν ὁ ἰδών· ἤ, εἰ ἀπιστοῖ κἀκεῖνος, οὐδ᾽
ἂν αὐτὸν πιστεύσειεν εἶναι· οὐδὲ γὰρ οὐδ᾽ αὐτὸς δύναται ἔξω θεὶς
ἑαυτὸν ὡς αἰσθητὸν ὄντα ὀφθαλμοῖς τοῖς τοῦ σώματος βλέπειν.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 208

11. Quando algum de nós, incapaz de olhar a si mesmo, porque foi


possuído por aquele deus, projetar o produto do espetáculo para o ver,
projetará a si mesmo e olhará imagem de si mesmo que se fez bela; e
tendo deixado a imagem, ainda que seja bela, tendo vindo ao uno
consigo mesmo, não se tendo mais dividido, é um só ao mesmo tempo
todas as coisas com aquele deus que sem ruído está presente, e é com
ele quanto é capaz e deseja, mas quando se voltar a ser dois,
permanecendo puro, em seguida é com ele, de modo a ser junto dele
novamente daquele modo, quando novamente se voltar a ele. Na volta
tem essa vantagem; iniciando percebe a si mesmo, enquanto é diferente;
mas quando vai ao seu interior, ele tem tudo, e tendo deixado a sensação
para trás por medo de ser diferente [de deus], é um só ali220; mas quando
ele desejar ver algo que é diferente, cria a si mesmo como de fora. É
preciso que o que aprende a permanecer em certa marca desse [deus],
depois de o buscar, formule um juízo221 dele e do lugar a que adentra,
de modo a aprender com confiança que adentra a felicíssima riqueza,
para já se dar ao interior [desse deus] e vir a ser já espetáculo, ao invés
de ser o que vê, que contempla algo diferente, com tais produtos de
pensamentos chega de lá brilhando. Então como será alguém no belo
não o vendo? Certamente vendo-o como diferente, jamais será no belo,
e tendo vindo a ser o próprio [belo], desse modo principalmente será no
belo. Se visão é de algo externo, não é preciso ser visão, a não ser deste
modo: que seja igual ao visível222; e isso é tal que compreensão e
percepção simultânea de si mesmo tomando cuidado de não se afastar
de si mesmo por querer mais perceber. É preciso ter em mente também

220
Conceito-base da doutrina de Agostinho.
221
Platão, Politeia 516e: Τὰς δὲ δὴ σκιὰς ἐκείνας πάλιν εἰ δέοι αὐτὸν γνωματεύοντα
διαμιλλᾶσθαι τοῖς ἀεὶ δεσμώταις ἐκείνοις ... (e se precisasse de novo formular um
juízo sobre aquelas sombras para disputar com aqueles que sempre foram prisioneiros
...).
222
Teorização da identificação de sujeito e objeto em conexão com a ideia de beleza.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 209

isto: que dos males as percepções têm as maiores feridas e os menores


atos de conhecer, porque se descartam com a ferida; pois doença é mais
perturbação, e saúde que tranquilamente é consigo mais daria
compreensão de si mesma; pois assenta-se como familiar e se unifica;
e a [doença] é algo estranho e não familiar, e por onde é manifesta é por
parecer ser algo absolutamente diferente de nós. Também somos
insensíveis ao que é próprio de nós; assim sendo principalmente com o
que nos é próprio somos capazes de compreender todas as coisas,
porque fizemos uma só coisa de nosso conhecimento e de nós mesmos.
De fato lá, quando principalmente sabemos por inteligência, parecemos
desconhecer, lembrando-nos da impressão da sensação, que diz não ter
visto; pois não viu nem jamais poderia ter visto tais coisas. Então o que
duvida é a sensação, e o outro é o que vê; na verdade, se duvidar
também esse, não confiaria ser ele mesmo; pois nem ele mesmo não é
capaz, tendo-se posto a si mesmo de fora, por ser sensível, de olhar com
olhos que são do corpo.

12. Ἀλλὰ εἴρηται, πῶς ὡς ἕτερος δύναται τοῦτο ποιεῖν, καὶ πῶς ὡς
αὐτός. Ἰδὼν δή, εἴτε ὡς ἕτερος, εἴτε ὡς μείνας αὐτός, τί ἀπαγγέλλει; Ἢ
θεὸν ἑωρακέναι τόκον ὠδίνοντα καλὸν καὶ πάντα δὴ ἐν αὑτῶι
γεγεννηκότα καὶ ἄλυπον ἔχοντα τὴν ὠδῖνα ἐν αὑτῶι· ἡσθεὶς γὰρ οἷς
ἐγέννα καὶ ἀγασθεὶς τῶν τόκων κατέσχε πάντα παρ᾽ αὐτῶι τὴν αὐτοῦ
καὶ τὴν αὐτῶν ἀγλαίαν ἀσμενίσας· ὁ δὲ καλῶν ὄντων καὶ καλλιόνων
τῶν εἰς τὸ εἴσω μεμενηκότων μόνος ἐκ τῶν ἄλλων [Ζεὺς] παῖς ἐξεφάνη
εἰς τὸ ἔξω. Ἀφ᾽ οὗ καὶ ὑστάτου παιδὸς ὄντος ἔστιν ἰδεῖν οἷον ἐξ εἰκόνος
τινὸς αὐτοῦ, ὅσος ὁ πατὴρ ἐκεῖνος καὶ οἱ μείναντες παρ᾽ αὐτῶι ἀδελφοί.
Ὁ δὲ οὔ φησι μάτην ἐλθεῖν παρὰ τοῦ πατρός· εἶναι γὰρ δεῖ αὐτοῦ ἄλλον
κόσμον γεγονότα καλόν, ὡς εἰκόνα καλοῦ· μηδὲ γὰρ εἶναι θεμιτὸν
εἰκόνα καλὴν μὴ εἶναι μήτε καλοῦ μήτε οὐσίας. Μιμεῖται δὴ τὸ
ἀρχέτυπον πανταχῆι· καὶ γὰρ ζωὴν ἔχει καὶ τὸ τῆς οὐσίας, ὡς μίμημα,
καὶ τὸ κάλλος εἶναι, ὡς ἐκεῖθεν· ἔχει δὲ καὶ τὸ ἀεὶ αὐτοῦ, ὡς εἰκών· ἢ
ποτὲ μὲν ἕξει εἰκόνα, ποτὲ δὲ οὔ, οὐ τέχνηι γενομένης τῆς εἰκόνος.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 210

Πᾶσα δὲ φύσει εἰκών ἐστιν, ὅσον ἂν τὸ ἀρχέτυπον μένηι. Διὸ οὐκ


ὀρθῶς, οἳ φθείρουσι τοῦ νοητοῦ μένοντος καὶ γεννῶσιν οὕτως, ὡς ποτὲ
βουλευσαμένου τοῦ ποιοῦντος ποιεῖν. Ὅστις γὰρ τρόπος ποιήσεως
τοιαύτης οὐκ ἐθέλουσι συνιέναι οὐδ᾽ ἴσασιν, ὅτι, ὅσον ἐκεῖνο ἐλλάμπει,
οὐ μήποτε τὰ ἄλλα ἐλλείπηι, ἀλλ᾽ ἐξ οὗ ἔστι καὶ ταῦτα ἔστιν· ἦν δ᾽ ἀεὶ
καὶ ἔσται. Χρηστέον γὰρ τούτοις τοῖς ὀνόμασι τῆι τοῦ σημαίνειν
ἐθέλειν ἀνάγκηι.

12. Mas está dito, como que sendo diferente é capaz de fazer isso, e
como que sendo ele mesmo223. Tendo visto de fato, seja como diferente
seja como tendo permanecido ele mesmo, o que anuncia? Certamente
[anuncia] ter visto um deus em trabalho de parto de um belo filho e que
na verdade gerou tudo em si mesmo, sem dor, tendo o trabalho de parto
em si mesmo; pois tendo-se alegrado com os que gerou e tendo-se
admirado dos filhos manteve tudo junto a si, satisfeito pelo esplendor
de si mesmo e pelo deles; e aquele [filho] dentre os que são belos e mais
belos que permaneceram para o interior, único dentre os outros, Zeus
criança revelou-se para o exterior. A partir do qual mesmo sendo último
filho224 é possível ver desde certa imagem sua quão grande é aquele pai
e os irmãos que permanecem junto a ele. O filho diz não ser em vão ir
para longe do pai; pois é preciso ser dele um cosmo diverso que veio a
ser belo, como imagem do belo; pois não pode ser lícito imagem bela
não ser nem do belo nem da essência225. De fato [essa imagem] imita o

223
Por alteridade e por identidade.
224
Hesíodo, Teogonia 478: ὁππότ’ ἄρ’ ὁπλότατον παίδων ἤμελλε τεκέσθαι, Ζῆνα
μέγαν (quando [Rea] ia parir o mais armado dos filhos, o grande Zeus).
225
Urano, Cronos e Zeus são interpretados como alegorias simbólicas das três
hipóstases: Uno, Inteligência e Alma. Portanto a mutilação de Urano por Cronos
simboliza a separação do Céu e da Terra, que se interpreta aqui como a transcendência
do Uno em relação à Inteligência; Cronos encadeado por Zeus simboliza a Inteligência
delimitada pela Alma. (Apud Reale, p. 1372, nota 60).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 211

arquétipo por toda parte; pois também tem vida e o que é da essência,
como produto de imitação, para haver também o belo como o de lá; e
tem também o que é sempre desse [arquétipo], como imagem; ou ora
terá imagem, ora não, porque não por arte veio a ser a imagem226. E
toda imagem é por natureza, quanto o arquétipo permanecer. Por isso
não estão corretos os que, o inteligível permanecendo, destroem e
geram [essa imagem] assim, de modo a fazê-lo em algum momento,
porque o criador decidiu. Pois qualquer que seja o modo dessa criação,
não querem compreender nem sabem227 que, enquanto aquele
[inteligível] brilha, jamais as coisas diversas se perdem, mas desde o
que é, também são essas coisas, e [ele] era sempre e será. Pois deve-se
se servir desses nomes por necessidade de querer significar.

13. Ὁ οὖν θεὸς ὁ εἰς τὸ μένειν ὡσαύτως δεδεμένος καὶ συγχωρήσας τῶι
παιδὶ τοῦδε τοῦ παντὸς ἄρχειν – οὐ γὰρ ἦν αὐτῶι πρὸς τρόπου τὴν ἐκεῖ
ἀρχὴν ἀφέντι νεωτέραν αὐτοῦ καὶ ὑστέραν μεθέπειν κόρον ἔχοντι τῶν
καλῶν – ταῦτ᾽ ἀφεὶς ἔστησέ τε τὸν αὐτοῦ πατέρα εἰς ἑαυτόν, καὶ μέχρις
αὐτοῦ πρὸς τὸ ἄνω· ἔστησε δ᾽ αὖ καὶ τὰ εἰς θάτερα ἀπὸ τοῦ παιδὸς
ἀρξάμενα εἶναι μετ᾽ αὐτόν, ὥστε μεταξὺ ἀμφοῖν γενέσθαι τῆι τε
ἑτερότητι τῆς πρὸς τὸ ἄνω ἀποτομῆς καὶ τῶι ἀνέχοντι ἀπὸ τοῦ μετ᾽
αὐτὸν πρὸς τὸ κάτω δεσμῶι, μεταξὺ ὢν πατρός τε ἀμείνονος καὶ
ἥττονος υἱέος. Ἀλλ᾽ ἐπειδὴ ὁ πατὴρ αὐτῶι μείζων ἢ κατὰ κάλλος ἦν,
πρώτως αὐτὸς ἔμεινε καλός, καίτοι καλῆς καὶ τῆς ψυχῆς οὔσης· ἀλλ᾽
ἔστι καλλίων καὶ ταύτης, ὅτι ἴχνος αὐτῆι αὐτοῦ, καὶ τούτωι ἐστὶ καλὴ
μὲν τὴν φύσιν, καλλίων δέ, ὅταν ἐκεῖ βλέπηι. Εἰ οὖν ἡ ψυχὴ ἡ τοῦ
παντός, ἵνα γνωριμώτερον λέγωμεν, καὶ ἡ Ἀφροδίτη αὐτὴ καλή, τίς
ἐκεῖνος; Εἰ μὲν γὰρ παρ᾽ αὐτῆς, πόσον ἂν εἴη ἐκεῖνο; Εἰ δὲ παρ᾽ ἄλλου,

226
Essa imitação do arquétipo tem vida e essência, o que a faz eterna, e isso não seria
possível através da arte.
227
Referência aos gnósticos.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 212

παρὰ τίνος ψυχὴ καὶ τὸ ἐπακτὸν καὶ τὸ συμφυὲς τῆι οὐσίαι αὐτῆς
κάλλος ἔχει; Ἐπεὶ καί, ὅταν καὶ αὐτοὶ καλοί, τῶι αὑτῶν εἶναι, αἰσχροὶ
δὲ ἐπ᾽ ἄλλην μεταβαίνοντες φύσιν· καὶ γινώσκοντες μὲν ἑαυτοὺς καλοί,
αἰσχροὶ δὲ ἀγνοοῦντες. Ἐκεῖ οὖν κἀκεῖθεν τὸ καλόν. Ἆρ᾽ οὖν ἀρκεῖ τὰ
εἰρημένα εἰς ἐναργῆ σύνεσιν ἀγαγεῖν τοῦ νοητοῦ τόπου, ἢ κατ᾽ ἄλλην
ὁδὸν πάλιν αὖ δεῖ ἐπελθεῖν ὧδε;

13. Então o deus, estando amarrado para permanecer dessa forma, tendo
concedido ao filho governar este todo – pois não era possível para ele,
em razão do modo, ao deixar o governo dali, perseguir um [governo]
mais jovem e posterior a ele, porque tem saciedade das coisas belas228
– tendo deixado essas coisas, estabeleceu seu o pai em si mesmo, [tendo
ido] até ele na parte superior; e estabeleceu por sua vez para as outras
que começam a partir do filho ser depois dele, de modo a vir a ser no
intervalo de ambos: entre a alteridade do corte na parte superior e o laço
que o mantém afastado do que é depois dele na parte inferior, sendo
entre um pai superior e um filho inferior. Mas enquanto o pai por si
mesmo era maior do que [algo] segundo a beleza, primeiramente ele
permaneceu belo, ainda que bela também fosse a alma; mas ele é mais
belo do que essa, porque há marca dele nela, e por isso é bela por
natureza, e mais bela, quando olhe para lá229. Então se a alma que é do
todo é bela, e para que digamos mais claramente, a própria Afrodite,
quem é aquele [pai]? Pois [a beleza] se for de sua própria parte, quão
grande seria aquela [beleza]? E se for de parte diversa, da parte de que
a alma tem beleza tanto importável quanto conatural à sua essência?
Uma vez que, quando nós mesmos sejamos belos, é por ser de nossa
natureza, e quando feios, é por termos mudado para natureza diversa;

228
O que tem saciedade do belo não admite administrar algo inferior.
229
Enéada III 5 2.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 213

ao nos reconhecer somos belos, e feios, quando nos desconhecemos230.


Então ali e dali é o belo. Por acaso então bastam as coisas ditas para
conduzir à clara compreensão do lugar inteligível231, ou novamente por
outra via ainda é preciso seguir deste modo?232

230
Platão, Fedro 279b: Ὦ φίλε Πάν τε καὶ ἄλλοι ὅσοι τῇδε θεοί, δοίητέ μοι καλῷ
γενέσθαι τἄνδοθεν· ἔξωθεν δὲ ὅσα ἔχω, τοῖς ἐντὸς (c) εἶναί μοι φίλια (Caro Pan e
outros deuses quantos sejam aqui, concedei-me ser belo quanto ao meu interior; e
quanto eu tenha externamente seja em consonância com o que me é interno).
231
Platão, Politeia 508c: ... ὃν τἀγαθὸν ἐγέννησεν ἀνάλογον ἑαυτῷ, ὅτιπερ αὐτὸ (c)
ἐν τῷ νοητῷ τόπῳ πρός τε νοῦν καὶ τὰ νοούμενα ... (... que o bem gerou análogo a si
mesmo, o que quer que seja isso no lugar inteligível em relação à inteligência e às
coisas inteligíveis ...); 517b: τὴν δὲ ἄνω ἀνάβασιν καὶ θέαν τῶν ἄνω τὴν εἰς τὸν νοητὸν
τόπον τῆς ψυχῆς ἄνοδον τιθεὶς οὐχ ἁμαρτήσῃ τῆς γ’ ἐμῆς (5) ἐλπίδος (tendo posto
que a subida ao mundo superior e a contemplação das coisas de lá como o caminho
de volta da alma para o lugar inteligível, não te desviarias de minha esperança).
232
Enéada V 5.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 214

Livro IX

Introdução

V 9 (5)

Este é o quinto tratado na ordem cronológica em que se nota certo


aspecto didático, como de aula; debate-se sobre a questão das Ideias em
Platão e Aristóteles. Como os homens têm primeiro a sensação para
depois usar a inteligência, há um percurso que se deve fazer até a
capacidade de contemplar o inteligível, uns se apoderam da razão de
modo diverso e acabam não podendo elevar-se, outros se elevam um
pouco, mas sem o necessário para assentar-se no melhor lugar para
contemplar e caem no lugar comum, chamando virtudes as coisas mais
simples deste mundo; os mais felizes são os que alcançam a capacidade
de contemplação dos deuses, estes são os que se dedicaram à filosofia
com inteligência e se assentam entre os deuses vendo a si mesmos
naquela procissão divina. Mas por onde a alma tem acesso ao belo em
si? Esse processo se dá pela moderação (φρόνησις), através da
inteligência verdadeira; aí estaremos no vestíbulo do bem, ou seja,
prontos para ter com ele e contemplá-lo. Para isso é preciso ser filósofo
por natureza e buscar o contato com o uno através do múltiplo, que é
como a inteligência se apresenta. Essa tendência pode ser comparada a
um eros que se desenvolve na alma aos poucos, como aquele nos

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 215

jovens, produzido pela natureza; mas esse eros não se presta à beleza
corpórea, pois ele é sublime, filho de Afrodite Urânia ou Celeste, e está
para a inteligência, como esta está para o bem. O que nos leva a ele é a
razão (λόγος) que se desenvolve na alma, criando figuras (μορφαί) belas
desde o fundamento das formas (εἴδη). Se transpusermos isso à criação
do cosmo, veremos que é realmente a Inteligência seu criador, mas
através da Alma, que usa inteligência como provedor de formas que irão
ser racionalizadas pela alma do cosmo nos elementos e pelas almas
individuais em suas criações, tal como um artista produz uma obra
racionalizando a forma em figura que já tem em si. A alma recebe luz
verdadeira e passa ao corpo do cosmo como simulacro e imitação
(εἴδωλα καὶ μιμήματα). Assim o que é realmente e a verdadeira essência
é a natureza da alma, que é simples; ao contrário disso são todas as
coisas criadas na natureza ou pela arte, porque se podem decompor em
seus elementos combinados. Mas a matéria se apresenta com uma
configuração, que não é dela, uma vez que ela não tem figura; então a
alma cria dando figura à matéria porque recebeu as formas da parte da
inteligência, que as fornece como quem supre uma necessidade; essas
formas recebidas do inteligível são racionalizadas pela alma natural do
cosmo e pelas almas individuais dos homens para dar figura à matéria
amorfa. Mas como a alma não é o primeiro princípio, é preciso
considerar que ela provém de algum lugar, criada por alguma
inteligência; de fato é a inteligência em si que a cria, e esta cria a alma
do cosmo segundo seu paradigma, portanto ela é fora do cosmo e cria
uma alma no cosmo, ou melhor, que contém e administra o cosmo e que
contém todas as razões seminais dos seres que habitam este todo. O
princípio que criou a alma primeira é o pai que cria o filho e o
aperfeiçoa, o filho imita o pai em contemplação e cria os seres mortais
e imortais na matéria, assim se completa o ciclo da vida. No mundo
sensível há figuras porque a alma racionaliza as formas inteligíveis, ou
seja, há necessidade de algo diverso para sua existência, por isso não é
o mundo do que é, mas do que vem a ser; a matéria toma forma através

SUMÁRIO
P l o t i n o | 216

de uma inteligência que participa da arte, e esta se mantém acima de


tudo, imutável, o que resulta é uma imagem pálida, como uma visagem,
do que realmente é, porque sua representação apenas aparenta ser, não
é realmente. As coisas que são se fundamentam em si mesmas, não
necessitando de lugar, pois não há grandeza. A inteligência cria e
guarda sua criação em si mesma, mas ela mesma não precisa de espaço
ou lugar, porque ela é sempre o que é, não em potência, mas em ato; o
que ela pensa não é importável, é por si mesma, por isso ela é o que
pensa. Sua essência é ela própria, se fosse algo diverso, ela seria
ininteligível e em potência, não em ato. Não se deve separar da
inteligência sua essência e seu produto, embora tenhamos essa
tendência no mundo sensível, porque nosso processo mental separa
sujeito e objeto. A diferença é que ela pensa as formas, seres
inteligíveis, e nós pensamos esses mesmos em matéria; ela não precisa
desse ‘suporte’, pois ela é a mesma em si mesma, assim não precisa de
‘onde’. Como o produto de seu pensar é perene e impassível, como
razões seminais, não há necessidade de um lugar além dela mesma, pois
ela é anterior a condição (ἕξις), natureza (φύσις) e alma (ψυχή), pois
não há nada antes ou depois dela, ela é o primeiro legislador e a primeira
lei, porque tudo é nela mesma por si mesma. Por isso anamnese é uma
espécie de lembrança não importável, porque é de si mesma, diferente
da lembrança sensível que é importável, pois pode se perder ou
recuperar, pois vem como que de fora. Assim tudo que conhecemos
neste todo participa dessa natureza partilhável e importável, que tem
configuração através da racionalização das formas inteligíveis. A
melhor imagem disso é a semente, que no mundo físico transforma-se
em todos os viventes, cada uma delas muito semelhante entre si, mas
tendo a sua própria razão seminal, ou seja, de olhos, de mãos etc. As
potências dessa semente têm no todo todas as partes, cada uma com sua
particularidade, seja nos animais, seja nas plantas. Assim a inteligência
envolve tudo em si mesma, mantendo a particularidade de cada coisa,
ou seja, é tudo em conjunto, e ao mesmo tempo não é em conjunto, pois

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 217

cada parte tem função específica, como mãos e pés; é como o gênero
que contém as espécies, ou o todo que contém as partes. Portanto todas
as razões possuem um só centro, com raios diferentes. Daí poder-se-ia
dizer que as formas inteligíveis são produtos do pensamento, mas isso
é errado, pois é preciso ser algo antes de algo ser pensado. As coisas
sensíveis estão para a opinião, as inteligíveis, para a inteligência, assim
as primeiras nessa ordem de cima para baixo são conhecimento
(ἐπιστήμη), depois reflexão (διάνοια); numa ordem secundária vem a fé
(πίστις) e a imaginação (εἰκασία), as duas primeiras estão para a
inteligência, as outras duas para a opinião. A inteligência não depende
nem de seu próprio pensamento para que tudo exista, pois isso são
impressões da alma. Quando pensamos precisamos partilhar tudo, como
se tudo pudesse ser partilhado, mas a natureza do inteligível é diferente
da natureza do sensível, pois nossa inteligência é partilhável e partilha
tudo para compreender, mas aquela do inteligível não é partilhável nem
precisa partilhar algo; de modo que, por ser inteligível, a forma (εἶδος)
é a própria ideia (ἰδέα), e isso tudo é inteligência, inteira no geral e
individual no particular; isso é um conceito-chave nas Enéadas. Nada
separa a inteligência, uma vez que ela não precisa de nada.
Intuitivamente pensamos que o ser deva ser anterior à inteligência, mas
se as coisas que são jazem no que pensa, a inteligência ao agir pensando
cumpre a geração das coisas que são, sendo atividade e ato de pensar a
mesma coisa. Assim o que é é em atividade, e atividade é ato de pensar;
tudo isso é inteligência que se apresenta como forma, produto do
pensar. A razão seminal que produz todas as coisas é na inteligência, e
nada se interpõe entre a racionalização da forma inteligível e sua
configuração na matéria, que não tem figura. Ao partilharmos a forma,
racionaliza-se homem, sol e tudo que podemos perceber. O modelo
ideal, o arquétipo, está na inteligência, por isso, nesse processo de
potência indefinível e inevitável, um único vivente vem a ser, que
contém todas as formas de vida. No inteligível tudo é em ato, nada é em
potência, o que significa que não há separações, assim a qualidade é em

SUMÁRIO
P l o t i n o | 218

essência; não há defeito, porque tal como na arte o defeito é a falta, a


privação, a necessidade, o que caracteriza a matéria. Tudo que aqui é
perfeito tem sua correspondência em sua forma inteligível, o que não é
perfeito não tem; tudo é em conjunto e ao mesmo tempo, ou melhor,
não há tempo, porque tudo é eterno, não há espaço, porque tudo é
centrado no uno, um em outro. No mundo sensível, as artes podem ser
miméticas, como escritura e pintura, que estão três níveis afastadas da
realidade porque se servem de um modelo sensível, como uma pintura
que representa uma criação natural ou artificial; a música daqui é
imagem da música de lá, portanto está no segundo nível; os que criam
obras de construção e de carpintaria se utilizam das simetrias do
inteligível, mas a ideia original não é daqui, há só no homem, ou seja,
na razão. Os que cultivam a terra ou a saúde humana em geral não se
utilizam de algo semelhante do mundo inteligível, por isso seus
resultados são por erro e acerto. As artes de comando em geral buscam
a perfeição no ‘belo’ de suas práticas, para um resultado satisfatório,
esse ‘belo’ está para o inteligível. A geometria trata do inteligível e leva
à sabedoria suprema que é acerca do que é sempre. Quanto às diferenças
dos seres, umas são da razão seminal, outras decorrentes da matéria e
do lugar, mas a forma inteligível de homem é universal, não individual.
Desse modo, o que houver no mundo sensível haverá em maior
profusão no inteligível, porque o que está compreendido no cosmo pela
alma, está também nela, e inevitavelmente estará no mundo inteligível,
uma vez que lá haverá o fundamento. Tudo isso se relaciona com o
tempo e o espaço, que aqui é definido na física natural, mas lá não há
nem um nem outro. Não há espaço porque não se pode definir o
indefinível, assim o inteligível habita nele mesmo, nem tempo, porque
este é uma imagem móvel da eternidade, carregada pelo movimento
celeste. A nossa alma é a própria alma inteligente que cria a alma do
cosmo e depois o corpo, portanto, quando ela se liberta do corpo daqui,
apresenta tudo quando aquela tem, de modo que ela é uma extensão
daquela, como um círculo que amplia seu raio. A arte em si está na

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 219

natureza do homem, isto é, a própria ideia de homem implica arte; o


feio, natural ou artificial, é corrupção do belo e não está para a arte, de
modo que não está para as ideias: nada que foi corrompido tem
correspondência no mundo inteligível. Assim temos a alma em si,
hipóstase, que vem a ser antes na inteligência, depois a alma universal;
as nossas almas vêm a ser naquela primeira, que antes veio a ser na
inteligência. O uno é princípio de tudo, dele vem a ser a inteligência,
que é múltipla. Quando se diz tudo, entende-se tudo em relação à
inteligência, natural ou artificial; não se pode considerar que algo podre
ou corrompido seja uma ideia, daí o mundo inteligível implica somente
ideia, ou seja, o que é conforme a natureza ou a arte.

θʹ

Περὶ νοῦ καὶ τῶν ἰδεῶν καὶ τοῦ ὄντος

1. Πάντες ἄνθρωποι ἐξ ἀρχῆς γενόμενοι αἰσθήσει πρὸ νοῦ χρησάμενοι


καὶ τοῖς αἰσθητοῖς προσβαλόντες πρώτοις ἐξ ἀνάγκης οἱ μὲν ἐνταυθοῖ
καταμείναντες διέζησαν ταῦτα πρῶτα καὶ ἔσχατα νομίσαντες, καὶ τὸ ἐν
αὐτοῖς λυπηρόν τε καὶ ἡδὺ τὸ μὲν κακόν, τὸ δὲ ἀγαθὸν ὑπολαβόντες
ἀρκεῖν ἐνόμισαν, καὶ τὸ μὲν διώκοντες, τὸ δ᾽ ἀποικονομούμενοι
διεγένοντο. Καὶ σοφίαν ταύτην οἵ γε λόγου μεταποιούμενοι αὐτῶν
ἔθεντο, οἷα οἱ βαρεῖς τῶν ὀρνίθων, οἳ πολλὰ ἐκ γῆς λαβόντες καὶ
βαρυνθέντες ὑψοῦ πτῆναι ἀδυνατοῦσι καίπερ πτερὰ παρὰ τῆς φύσεως
λαβόντες. Οἱ δὲ ἤρθησαν μὲν ὀλίγον ἐκ τῶν κάτω κινοῦντος αὐτοὺς
πρὸς τὸ κάλλιον ἀπὸ τοῦ ἡδέος τοῦ τῆς ψυχῆς κρείττονος,
ἀδυνατήσαντες δὲ ἰδεῖν τὸ ἄνω, ὡς οὐκ ἔχοντες ἄλλο, ὅπου στήσονται,
κατηνέχθησαν σὺν τῶι τῆς ἀρετῆς ὀνόματι ἐπὶ πράξεις καὶ ἐκλογὰς τῶν
κάτω, ἀφ᾽ ὧν ἐπεχείρησαν τὸ πρῶτον αἴρεσθαι. Τρίτον δὲ γένος θείων
ἀνθρώπων δυνάμει τε κρείττονι καὶ ὀξύτητι ὀμμάτων εἶδέ τε ὥσπερ ὑπὸ
ὀξυδορκίας τὴν ἄνω αἴγλην καὶ ἤρθη τε ἐκεῖ οἷον ὑπὲρ νεφῶν καὶ τῆς

SUMÁRIO
P l o t i n o | 220

ἐνταῦθα ἀχλύος καὶ ἔμεινεν ἐκεῖ τὰ τῆιδε ὑπεριδὸν πάντα ἡσθὲν τῶι
τόπωι ἀληθινῶι καὶ οἰκείωι ὄντι, ὥσπερ ἐκ πολλῆς πλάνης εἰς πατρίδα
εὔνομον ἀφικόμενος ἄνθρωπος.

V, 9 (5)
SOBRE A INTELIGÊNCIA E AS IDEIAS
E SOBRE O QUE É

1. Todos os homens desde o princípio tendo vindo a ser, se servem de


sensação antes de inteligência233 e se lançam às sensações primeiras de
necessidade, uns tendo aí permanecido vivem considerando-as
primeiras e últimas, o que é doloroso e doce nelas, o mal e o bem,
consideram ser suficiente que os assumam e passam o tempo ora a
persegui-las ora a evitá-las. E os que se apropriam da razão234 põem
essa sabedoria como deles, tal como os que são pesados dentre os
pássaros, que tendo tomado da terra muitas coisas e tendo ficado
pesados não são capazes de voar alto, mesmo tendo recebido penas da
natureza. E outros235 elevaram-se um pouco movendo-se a partir do que
é inferior para o mais belo pelo agradável que é o melhor da alma, mas
sendo incapazes de ver o que é superior, como não têm algo diverso em
que poderão estar, decaem com o nome de virtude para ações e escolhas

233
Platão, Fédon 81b: Ἐὰν δέ γε οἶμαι μεμιασμένη καὶ ἀκάθαρτος τοῦ σώματος
ἀπαλλάττηται ... (caso, creio, esteja contaminada e impura quando se liberar do corpo
...).
234
Epicuristas.
235
Estoicos.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 221

do que é inferior, a partir de que empreenderam primeiro elevar-se236.


E um terceiro gênero237 de homens divinos com capacidade melhor e
mais aguda dos olhos vê como que por vista aguda o esplendor acima e
eleva-se para ali tal que sobre nuvens da obscuridade daqui e permanece
ali vendo de cima todas as coisas daqui, gozando do lugar que é real e
familiar, como homem que desde muita errância chega à pátria238 de
boa lei.

2. Τίς οὖν οὗτος ὁ τόπος; Καὶ πῶς ἄν τις εἰς αὐτὸν ἀφίκοιτο; Ἀφίκοιτο
μὲν ἂν ὁ φύσει ἐρωτικὸς καὶ ὄντως τὴν διάθεσιν ἐξ ἀρχῆς φιλόσοφος,
ὠδίνων μέν, ἅτε ἐρωτικός, περὶ τὸ καλόν, οὐκ ἀνασχόμενος δὲ τοῦ ἐν
σώματι κάλλους, ἀλλ᾽ ἔνθεν ἀναφυγὼν ἐπὶ τὰ τῆς ψυχῆς κάλλη,
ἀρετὰς καὶ ἐπιστήμας καὶ ἐπιτηδεύματα καὶ νόμους, πάλιν αὖ
ἐπαναβαίνει ἐπὶ τὴν τῶν ἐν ψυχῆι καλῶν αἰτίαν, καὶ εἴ τι πάλιν αὖ πρὸ
τούτου, ἕως ἐπ᾽ ἔσχατον ἥκηι τὸ πρῶτον, ὃ παρ᾽ αὐτοῦ καλόν. Ἔνθα
καὶ ἐλθὼν ὠδῖνος παύσεται, πρότερον δὲ οὔ. Ἀλλὰ πῶς ἀναβήσεται, καὶ
πόθεν ἡ δύναμις αὐτῶι, καὶ τίς λόγος τοῦτον τὸν ἔρωτα
παιδαγωγήσεται; Ἢ ὅδε· τοῦτο τὸ κάλλος τὸ ἐπὶ τοῖς σώμασιν ἐπακτόν
ἐστι τοῖς σώμασι· μορφαὶ γὰρ αὗται σωμάτων ὡς ἐπὶ ὕληι αὐτοῖς.

236
Stoicorum Veterum Fragmenta III 23; 64; 118. Plutarchus, De Stoicorum
repugnantiis: τάχα γὰρ ἀγαθοῦ αὐτῆς ἀπολειπομένης τέλους δὲ μή, τῶν δὲ δι’ αὑτῶν
αἱρετῶν ὄντος καὶ τοῦ καλοῦ, σῴζοιμεν ἂν τὴν δικαιοσύνην ... (pois talvez o prazer
sendo deixado como um bem, mas não como um fim, sendo o belo dentre as coisas
que se podem escolher por si mesmas, salvaríamos o sentimento de justiça ...).
237
Platão, Fédon 82 a-b: Οὐκοῦν εὐδαιμονέστατοι, ἔφη, καὶ τούτων εἰσὶ καὶ εἰς (10)
βέλτιστον τόπον ἰόντες οἱ τὴν δημοτικὴν καὶ πολιτικὴν (b) ἀρετὴν ἐπιτετηδευκότες,
ἣν δὴ καλοῦσι σωφροσύνην τε καὶ δικαιοσύνην, ἐξ ἔθους τε καὶ μελέτης γεγονυῖαν
ἄνευ φιλοσοφίας τε καὶ νοῦ; (Então, dizia, os mais felizes dentre esses são os que vão
ao melhor lugar, que se ocuparam da virtude cívica e política, que chamam sensatez e
sentimento de justiça, desde hábito e esforço nascido sem filosofia e sem
inteligência?).
238
Homero, Odisseia V 37: πέμψουσιν δ’ ἐν νηῒ φίλην ἐς πατρίδα γαῖαν (e o enviarão
em nau à querida terra pátria).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 222

Μεταβάλλει γοῦν τὸ ὑποκείμενον καὶ ἐκ καλοῦ αἰσχρὸν γίνεται.


Μεθέξει ἄρα, φησὶν ὁ λόγος. Τί οὖν τὸ ποιῆσαν σῶμα καλόν; Ἄλλως
μὲν κάλλους παρουσία, ἄλλως δὲ ψυχή, ἣ ἔπλασέ τε καὶ μορφὴν
τοιάνδε ἐνῆκε. Τί οὖν; Ψυχὴ παρ᾽ αὑτῆς καλόν; Ἢ οὔ. Οὐ γὰρ ἡ μὲν ἦν
φρόνιμός τε καὶ καλή, ἡ δὲ ἄφρων τε καὶ αἰσχρά. Φρονήσει ἄρα τὸ
καλὸν περὶ ψυχήν. Καὶ τίς οὖν ὁ φρόνησιν δοὺς ψυχῆι; Ἢ νοῦς ἐξ
ἀνάγκης, νοῦς δὲ οὐ ποτὲ μὲν νοῦς, ποτὲ δὲ ἄνους, ὅ γε ἀληθινός. Παρ᾿
αὑτοῦ ἄρα καλός. Καὶ πότερον δὴ ἐνταῦθα δεῖ στῆναι ὡς πρῶτον, ἢ καὶ
νοῦ ἐπέκεινα δεῖ ἰέναι, νοῦς δὲ προέστηκε μὲν ἀρχῆς τῆς πρώτης ὡς
πρὸς ἡμᾶς, ὥσπερ ἐν προθύροις τἀγαθοῦ ἀπαγγέλλων ἐν αὐτῶι τὰ
πάντα, ὥσπερ ἐκείνου τύπος μᾶλλον ἐν πλήθει ἐκείνου πάντη μένοντος
ἐν ἑνί;

2. Então que lugar é esse? E como alguém chegaria a ele? Chegaria o


que tem eros por natureza e que realmente é filósofo por sua disposição
desde o princípio239, e tendo dores de parto, enquanto tem eros acerca
do belo, não se retém pela beleza em corpo, mas daí subindo em fuga
para as belezas da alma, como as virtudes e conhecimentos, com suas
aplicações e leis, novamente retorna às causas da beleza na alma, e se
novamente há algo que por sua vez é antes disso, até que ao fim chegue
ao que é primeiro, que de si mesmo é belo240. E aí tendo chegado a dor
de parto cessará, antes não. Mas como subirá e de onde há a capacidade
para ele, e que razão educará esse eros? Certamente é esta: essa beleza
que é importável aos corpos é para os corpos; pois essas figuras de

239
Enéada I 3, 1.
240
Enéada I 6. Platão, Fedro 248d: ἀλλὰ τὴν μὲν πλεῖστα ἰδοῦσαν εἰς γονὴν ἀνδρὸς
γενησομένου φιλοσόφου ἢ φιλοκάλου ἢ μουσικοῦ τινος καὶ ἐρωτικοῦ (mas a alma
que viu melhor [se implantará] na geração de homem que há de vir a ser filósofo ou
amante do belo ou algum músico e que tem eros); Simpósio 210b: μετὰ δὲ ταῦτα τὸ
ἐν ταῖς ψυχαῖς κάλλος τιμιώτερον ἡγήσασθαι τοῦ ἐν τῷ σώματι (depois disso a beleza
nas almas será considerada mais valiosa do que aquela no corpo).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 223

corpos são como em matéria para eles. Muda então o que subjaz e de
belo vem a ser feio. É por participação portanto, diz a razão. Então que
é que faz belo o corpo? Por um lado há presença da beleza, por outro há
alma, que modelou e lançou tal figura. Por quê, então? Alma de si
mesma é algo belo? Certamente não é. Pois não haveria uma moderada
e bela, e outra imoderada e feia. Por moderação portanto é o belo acerca
da alma. Mas quem é o que dá moderação à alma? Certamente é
inteligência necessariamente, e inteligência não uma vez inteligência, e
outra sem inteligência241, mas a que é verdadeira. Portanto de si mesma
é bela. E qual dos dois: é preciso pôr-se aqui como primeiro princípio,
ou é preciso ir além da inteligência, inteligência que em relação a nós
se pôs antes do primeiro princípio, como no vestíbulo do bem242
declarando todas as coisas em si mesma, como marca daquele bem mais
em múltiplo, ele permanecendo totalmente no uno243?

3. Ἐπισκεπτέον δὲ ταύτην τὴν νοῦ φύσιν, ἣν ἐπαγγέλλεται ὁ λόγος εἶναι


τὸ ὂν ὄντως καὶ τὴν ἀληθῆ οὐσίαν, πρότερον βεβαιωσαμένους κατ᾽

241
Aristóteles, Da alma III 5, 430a22: [τὸ δ’ αὐτό ἐστιν ἡ κατ’ ἐνέργειαν ἐπιστήμη τῷ
πράγματι· ἡ δὲ (20) κατὰ δύναμιν χρόνῳ προτέρα ἐν τῷ ἑνί, ὅλως δὲ οὐδὲ χρόνῳ, ἀλλ’
οὐχ ὁτὲ μὲν νοεῖ ὁτὲ δ’ οὐ νοεῖ.] χωρισθεὶς δ’ ἐστὶ μόνον τοῦθ’ ὅπερ ἐστί, καὶ τοῦτο
μόνον ἀθάνατον καὶ ἀΐδιον. (O conhecimento segundo atividade é o mesmo que a
coisa feita; o que é segundo potência é anterior em tempo no uno, mas de modo geral
não é em tempo: não é ora pensa, ora não pensa. Somente quando foi separado ele é
o que é, e apenas ele é imortal e eterno).
242
Platão, Filebo 64c: Ἆρ’ οὖν ἐπὶ μὲν τοῖς τοῦ ἀγαθοῦ νῦν ἤδη προθύροις [καὶ] τῆς
οἰκήσεως ἐφεστάναι [τῆς τοῦ τοιούτου] λέγοντες ἴσως ὀρθῶς ἄν τινα τρόπον φαῖμεν;
(Por acaso diríamos de certo modo estar diante do vestíbulo do bem e de sua habitação,
dizendo talvez de modo correto?).
243
Platão, Timeu 37d: εἰκὼ δ’ ἐπενόει κινητόν τινα αἰῶνος ποιῆσαι, καὶ διακοσμῶν
(5) ἅμα οὐρανὸν ποιεῖ μένοντος αἰῶνος ἐν ἑνὶ κατ’ ἀριθμὸν ἰοῦσαν αἰώνιον εἰκόνα,
τοῦτον ὃν δὴ χρόνον ὠνομάκαμεν (e pensava criar certa imagem móvel do eterno, e
ordenando o céu, enquanto permanece a eternidade, cria em conjunto uma imagem
eterna que vai segundo o número no uno).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 224

ἄλλην ὁδὸν ἰόντας, ὅτι δεῖ εἶναί τινα τοιαύτην. Ἴσως μὲν οὖν γελοῖον
ζητεῖν, εἰ νοῦς ἐστιν ἐν τοῖς οὖσι· τάχα δ᾽ ἄν τινες καὶ περὶ τούτου
διαμφισβητοῖεν. Μᾶλλον δέ, εἰ τοιοῦτος, οἷόν φαμεν, καὶ εἰ χωριστός
τις, καὶ εἰ οὗτος τὰ ὄντα καὶ ἡ τῶν εἰδῶν φύσις ἐνταῦθα, περὶ οὗ καὶ τὰ
νῦν εἰπεῖν πρόκειται. Ὁρῶμεν δὴ τὰ λεγόμενα εἶναι πάντα σύνθετα καὶ
ἁπλοῦν αὐτῶν οὐδὲ ἕν, ἅ τε τέχνη ἐργάζεται ἕκαστα, ἅ τε συνέστηκε
φύσει. Τά τε γὰρ τεχνητὰ ἔχει χαλκὸν ἢ ξύλον ἢ λίθον καὶ παρὰ τούτων
οὔπω τετέλεσται, πρὶν ἂν ἡ τέχνη ἑκάστη ἡ μὲν ἀνδριάντα, ἡ δὲ κλίνην,
ἡ δὲ οἰκίαν ἐργάσηται εἴδους τοῦ παρ᾽ αὑτῆι ἐνθέσει. Καὶ μὴν καὶ τὰ
φύσει συνεστῶτα τὰ μὲν πολυσύνθετα αὐτῶν καὶ συγκρίματα
καλούμενα ἀναλύσεις εἰς τὸ ἐπὶ πᾶσι τοῖς συγκριθεῖσιν εἶδος· οἷον
ἄνθρωπον εἰς ψυχὴν καὶ σῶμα, καὶ τὸ σῶμα εἰς τὰ τέσσαρα. Ἕκαστον
δὲ τούτων σύνθετον εὑρὼν ἐξ ὕλης καὶ τοῦ μορφοῦντος – ὕλη γὰρ παρ᾽
αὑτῆς ἡ τῶν στοιχείων ἄμορφος – ζητήσεις τὸ εἶδος ὅθεν τῆι ὕληι.
Ζητήσεις δ᾽ αὖ καὶ τὴν ψυχὴν πότερα τῶν ἁπλῶν ἤδη, ἢ ἔνι τι ἐν αὐτῆι
τὸ μὲν ὡς ὕλη, τὸ δὲ εἶδος, ὁ νοῦς ὁ ἐν αὐτῆι, ὁ μὲν ὡς ἡ ἐπὶ τῶι χαλκῶι
μορφή, ὁ δὲ οἷος ὁ τὴν μορφὴν ἐν τῶι χαλκῶι ποιήσας. Τὰ αὐτὰ δὲ
ταῦτα καὶ ἐπὶ τοῦ παντὸς μεταφέρων τις ἀναβήσεται καὶ ἐνταῦθα ἐπὶ
νοῦν ποιητὴν ὄντως καὶ δημιουργὸν τιθέμενος, καὶ φήσει τὸ
ὑποκείμενον δεξάμενον μορφὰς τὸ μὲν πῦρ, τὸ δὲ ὕδωρ, τὸ δὲ ἀέρα καὶ
γῆν γενέσθαι, τὰς δὲ μορφὰς ταύτας παρ᾽ ἄλλου ἥκειν· τοῦτο δὲ εἶναι
ψυχήν· ψυχὴν δὲ αὖ καὶ ἐπὶ τοῖς τέτρασι τὴν κόσμου μορφὴν δοῦναι·
ταύτηι δὲ νοῦν χορηγὸν τῶν λόγων γεγονέναι, ὥσπερ καὶ ταῖς τῶν
τεχνιτῶν ψυχαῖς παρὰ τῶν τεχνῶν τοὺς εἰς τὸ ἐνεργεῖν λόγους· νοῦν δὲ
τὸν μὲν ὡς εἶδος τῆς ψυχῆς, τὸν κατὰ τὴν μορφήν, τὸν δὲ τὸν τὴν
μορφὴν παρέχοντα ὡς τὸν ποιητὴν τοῦ ἀνδριάντος, ὧι πάντα
ἐνυπάρχει, ἃ δίδωσιν. Ἐγγὺς μὲν ἀληθείας, ἃ δίδωσι ψυχῆι· ἃ δὲ τὸ
σῶμα δέχεται, εἴδωλα ἤδη καὶ μιμήματα.

3. E deve-se examinar essa natureza da inteligência, que a razão anuncia


ser o que é realmente e a verdadeira essência, quando antes nos
asseguramos indo por uma via diversa de que é preciso haver certa via

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 225

desse tipo. Então talvez seja ridículo buscar se inteligência é nas coisas
que são; logo alguns também debateriam acerca disso. Ou melhor, se
ela é tal qual dizemos, se é algo separável, se ela e a natureza das formas
dali estão para as coisas que são, acerca de que se propõe dizer as coisas
agora244. Vemos de fato que todas as coisas ditas são compostas e
nenhuma só delas é simples, cada uma que a arte elabora e que se
constituiu por natureza; pois as artificiais têm bronze ou madeira ou
pedra e da parte dessas coisas de modo algum estão completas, antes
que cada arte elabore, uma uma estátua, outra uma cama, outra uma
casa, por imposição da forma que é da parte da arte. E além disso as que
estão por natureza compostas, as que se chamam compostas de muitas
delas e combinadas, decomporás até a forma em todos [os elementos]
que foram combinados; tal que homem [decomporás] até alma e corpo,
e o corpo, até os quatro elementos. E encontrando cada composto desses
desde a matéria e do que dá figura – pois de si mesma a matéria que é
dos elementos é sem figura – buscarás de onde é a forma para a matéria.
E ainda buscarás em relação à alma, se é já dos elementos simples, ou
há algo nela como matéria e como forma: a inteligência que é nela, que
é como a figura no bronze, e que é tal que o que cria a figura no
bronze245. Transportando essas mesmas coisas para [este] todo, alguém
subirá para lá, para a inteligência, que é realmente seu criador, pondo-a
como demiurgo, e dirá o que subjaz que recebe figuras que vêm a ser o
fogo, a água, o ar e terra, e que essas figuras chegam de princípio

244
Aristóteles, Da alma III 4, 429a10: Περὶ δὲ τοῦ μορίου τοῦ τῆς ψυχῆς ᾧ γινώσκει
τε ἡ ψυχὴ καὶ φρονεῖ, εἴτε χωριστοῦ ὄντος εἴτε μὴ χωριστοῦ κατὰ μέγεθος ἀλλὰ κατὰ
λόγον, σκεπτέον τίν’ ἔχει διαφοράν, καὶ πῶς ποτὲ γίνεται τὸ νοεῖν (acerca da parte da
alma com que a alma reconhece e é sensata, se ela é separável ou não separável em
grandeza, mas é em razão, deve-se examinar que diferença há e como então vem a ser
o pensar).
245
A matéria que se configura no bronze, e a forma que está no que cria a figura no
bronze.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 226

diverso, que é a alma; e que por sua vez a alma aplica a figura do cosmo
também sobre os quatro [elementos]; e que para essa alma a inteligência
veio a ser ‘corego’246 das razões, como também para as almas dos
artesãos, as razões para ser em atividade é da parte das artes; e
inteligência é como forma da alma: inteligência que é segundo a figura,
e inteligência que fornece a figura, como o criador da estátua, para o
qual é princípio tudo que ele dá247. E é perto da verdade o que [a
inteligência] dá à alma; o que o corpo recebe [da alma] são já simulacros
e imitações248.

4. Διὰ τί οὖν δεῖ ἐπὶ ψυχῆι ἀνιέναι, ἀλλ᾽ οὐκ αὐτὴν εἶναι τίθεσθαι τὸ
πρῶτον; Ἢ πρῶτον μὲν νοῦς ψυχῆς ἕτερον καὶ κρεῖττον· τὸ δὲ κρεῖττον
φύσει πρῶτον. Οὐ γὰρ δή, ὡς οἴονται, ψυχὴ νοῦν τελεωθεῖσα γεννᾶι·
πόθεν γὰρ τὸ δυνάμει ἐνεργείαι ἔσται, μὴ τοῦ εἰς ἐνέργειαν ἄγοντος
αἰτίου ὄντος; Εἰ γὰρ κατὰ τύχην, ἐνδέχεται μὴ ἐλθεῖν εἰς ἐνέργειαν. Διὸ
δεῖ τὰ πρῶτα ἐνεργείαι τίθεσθαι καὶ ἀπροσδεᾶ καὶ τέλεια· τὰ δὲ ἀτελῆ
ὕστερα ἀπ᾽ ἐκείνων, τελειούμενα δὲ παρ᾽ αὐτῶν τῶν γεγεννηκότων
δίκην πατέρων τελειούντων, ἃ κατ᾽ ἀρχὰς ἀτελῆ ἐγέννησαν· καὶ εἶναι
μὲν ὕλην πρὸς τὸ ποιῆσαν τὸ πρῶτον, εἶτ᾽ αὐτὴν ἔμμορφον
ἀποτελεῖσθαι. Εἰ δὲ δὴ καὶ ἐμπαθὲς ψυχή, δεῖ δέ τι ἀπαθὲς εἶναι – ἢ
πάντα τῶι χρόνωι ἀπολεῖται – δεῖ τι πρὸ ψυχῆς εἶναι. Καὶ εἰ ἐν κόσμωι
ψυχή, ἐκτὸς δὲ δεῖ τι κόσμου εἶναι, καὶ ταύτηι πρὸ ψυχῆς δεῖ τι εἶναι.
Εἰ γὰρ τὸ ἐν κόσμωι τὸ ἐν σώματι καὶ ὕληι, οὐδὲν ταὐτὸν μενεῖ· ὥστε
ἄνθρωπος καὶ πάντες λόγοι οὐκ ἀίδιοι οὐδὲ οἱ αὐτοί. Καὶ ὅτι μὲν νοῦν
πρὸ ψυχῆς εἶναι δεῖ, ἐκ τούτων καὶ ἐξ ἄλλων πολλῶν ἄν τις θεωρήσειε.

246
Corego é aquele que mantém e paga as despesas do coro no teatro grego, tal qual
é a inteligência em relação à alma e as artes em relação ao artesão.
247
Enéada IV 4, 10-12.
248
Enéada III 8, 3 e 7.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 227

4. Por que é preciso retornar à alma, mas estabelecer que ela não é o
primeiro princípio? Certamente inteligência é o primeiro princípio,
porque é diferente e melhor do que a alma; e o que é melhor é primeiro
por natureza. Pois na verdade não é como pensam [alguns]249: alma
tendo-se completado gera inteligência; pois de onde o que é em potência
será em atividade, não havendo o causador que conduz à atividade? Pois
se é por sorte, aceita-se que não venha à atividade. Por isso é preciso
pôr as primeiras coisas em atividade tanto não necessitadas quanto
perfeitas; e as imperfeitas por último a aprtir daquelas [primeiras], e que
se aperfeiçoam da parte das mesmas que as geraram, ao modo dos pais
que aperfeiçoam as coisas que geraram imperfeitas de princípio; e estas
são matéria em relação ao primeiro que as criou, depois a matéria se
aperfeiçoa em figura. Portanto se alma é passível, é preciso haver algo
impassível – ou com o tempo tudo se perde – é preciso haver algo antes
da alma. E se alma é em cosmo, é preciso haver algo fora do cosmo, e
aí haver algo antes da alma. Pois se o que é em cosmo é em corpo e
matéria, nada permanece o mesmo; assim homens e todas as razões não
são perenes e os mesmos. E que é preciso haver inteligência antes de
alma, desde essas e muitas outras coisas alguém poderia considerar.

5. Δεῖ δὲ νοῦν λαμβάνειν, εἴπερ ἐπαληθεύσομεν τῶι ὀνόματι, μὴ τὸν


δυνάμει μηδὲ τὸν ἐξ ἀφροσύνης εἰς νοῦν ἐλθόντα – εἰ δὲ μή, ἄλλον
πάλιν αὖ πρὸ αὐτοῦ ζητήσομεν – ἀλλὰ τὸν ἐνεργείαι καὶ ἀεὶ νοῦν ὄντα.
Εἰ δὲ μὴ ἐπακτὸν τὸ φρονεῖν ἔχει, εἴ τι νοεῖ, παρ᾽ αὑτοῦ νοεῖ, καὶ εἴ τι
ἔχει, παρ᾽ αὑτοῦ ἔχει. Εἰ δὲ παρ᾽ αὑτοῦ καὶ ἐξ αὑτοῦ νοεῖ, αὐτός ἐστιν

249
Stoicorum Veterum Fragmenta II 835: Jamblicus, De anima, apud Stobaeum, ecl.
I p. 327, 21 W. πάλιν τοίνυν περὶ τοῦ νοῦ καὶ πασῶν τῶν κρειτόνων δυνάμεων τῆς
ψυχῆς οἱ μὲν Στωϊκοὶ λέγουσι μὴ εὐθὺς ἐμφύεσθαι τὸν λόγον, ὕστερον δὲ
συναθροίζεσθαι ἀπὸ τῶν αἰσθήσεων καὶ φαντασιῶν περὶ δεκατέσσαρα ἔτη (portanto,
de novo acerca da inteligência e de todas as maiores potências da alma, os estoicos
dizem que a razão se implanta não diretamente, mas posteriormente se junta a partir
das sensações e fantasias, pelos catorze anos).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 228

ἃ νοεῖ. Εἰ γὰρ ἡ μὲν οὐσία αὐτοῦ ἄλλη, ἃ δὲ νοεῖ ἕτερα αὐτοῦ, αὐτὴ ἡ
οὐσία αὐτοῦ ἀνόητος ἔσται· καὶ δυνάμει, οὐκ ἐνεργείαι αὖ. Οὐ
χωριστέον οὖν οὐδέτερον ἀπὸ θατέρου. Ἔθος δὲ ἡμῖν ἀπὸ τῶν παρ᾽
ἡμῖν κἀκεῖνα ταῖς ἐπινοίαις χωρίζειν. Τί οὖν ἐνεργεῖ καὶ τί νοεῖ, ἵνα
ἐκεῖνα αὐτὸν ἃ νοεῖ θώμεθα; Ἢ δῆλον ὅτι νοῦς ὢν ὄντως νοεῖ τὰ ὄντα
καὶ ὑφίστησιν. Ἔστιν ἄρα τὰ ὄντα. Ἢ γὰρ ἑτέρωθι ὄντα αὐτὰ νοήσει,
ἢ ἐν αὑτῶι ὡς αὐτὸν ὄντα. Ἑτέρωθι μὲν οὖν ἀδύνατον· ποῦ γάρ; Αὑτὸν
ἄρα καὶ ἐν αὑτῶι. Οὐ γὰρ δὴ ἐν τοῖς αἰσθητοῖς, ὥσπερ οἴονται. Τὸ γὰρ
πρῶτον ἕκαστον οὐ τὸ αἰσθητόν· τὸ γὰρ ἐν αὐτοῖς εἶδος ἐπὶ ὕληι
εἴδωλον ὄντος, πᾶν τε εἶδος ἐν ἄλλωι παρ᾽ ἄλλου εἰς ἐκεῖνο ἔρχεται καί
ἐστιν εἰκὼν ἐκείνου. Εἰ δὲ καὶ ποιητὴν δεῖ εἶναι τοῦδε τοῦ παντός, οὐ
τὰ ἐν τῶι μήπω ὄντι οὗτος νοήσει, ἵνα αὐτὸ ποιῆι. Πρὸ τοῦ κόσμου ἄρα
δεῖ εἶναι ἐκεῖνα, οὐ τύπους ἀφ᾽ ἑτέρων, ἀλλὰ καὶ ἀρχέτυπα καὶ πρῶτα
καὶ νοῦ οὐσίαν. Εἰ δὲ λόγους φήσουσιν ἀρκεῖν, ἀιδίους δῆλον· εἰ δὲ
ἀιδίους καὶ ἀπαθεῖς, ἐν νῶι δεῖ εἶναι καὶ τοιούτωι καὶ προτέρωι ἕξεως
καὶ φύσεως καὶ ψυχῆς· δυνάμει γὰρ ταῦτα. Ὁ νοῦς ἄρα τὰ ὄντα ὄντως,
οὐχ οἷά ἐστιν ἄλλοθι νοῶν· οὐ γάρ ἐστιν οὔτε πρὸ αὐτοῦ οὔτε μετ᾽
αὐτόν· ἀλλὰ οἷον νομοθέτης πρῶτος, μᾶλλον δὲ νόμος αὐτὸς τοῦ εἶναι.
Ὀρθῶς ἄρα τὸ γὰρ αὐτὸ νοεῖν ἐστί τε καὶ εἶναι καὶ ἡ τῶν ἄνευ ὕλης
ἐπιστήμη ταὐτὸν τῶι πράγματι καὶ τὸ ἐμαυτὸν ἐδιζησάμην ὡς ἓν
τῶν ὄντων· καὶ αἱ ἀναμνήσεις δέ· οὐδὲν γὰρ ἔξω τῶν ὄντων οὐδ᾽ ἐν
τόπωι, μένει δὲ ἀεὶ ἐν αὐτοῖς μεταβολὴν οὐδὲ φθορὰν δεχόμενα· διὸ καὶ
ὄντως ὄντα. Ἢ γιγνόμενα καὶ ἀπολλύμενα ἐπακτῶι χρήσεται τῶι ὄντι,
καὶ οὐκέτ᾽ ἐκεῖνα ἀλλ᾽ ἐκεῖνο τὸ ὂν ἔσται. Τὰ μὲν δὴ αἰσθητὰ μεθέξει
ἐστὶν ἃ λέγεται τῆς ὑποκειμένης φύσεως μορφὴν ἰσχούσης ἄλλοθεν·
οἷον χαλκὸς παρὰ ἀνδριαντοποιικῆς καὶ ξύλον παρὰ τεκτονικῆς διὰ
εἰδώλου τῆς τέχνης εἰς αὐτὰ ἰούσης, τῆς δὲ τέχνης αὐτῆς ἔξω ὕλης ἐν
ταυτότητι μενούσης καὶ τὸν ἀληθῆ ἀνδριάντα καὶ κλίνην ἐχούσης.
Οὕτω δὴ καὶ ἐπὶ τῶν σωμάτων· καὶ τόδε πᾶν ἰνδαλμάτων μετέχον ἕτερα
αὐτῶν δείκνυσι τὰ ὄντα, ἄτρεπτα μὲν ὄντα ἐκεῖνα, αὐτὰ δὲ τρεπόμενα,
ἱδρυμένα τε ἐφ᾽ ἑαυτῶν, οὐ τόπου δεόμενα· οὐ γὰρ μεγέθη· νοερὰν δὲ
καὶ αὐτάρκη ἑαυτοῖς ὑπόστασιν ἔχοντα. Σωμάτων γὰρ φύσις σώιζεσθαι

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 229

παρ᾽ ἄλλου θέλει, νοῦς δὲ ἀνέχων θαυμαστῆι φύσει τὰ παρ᾽ αὑτῶν


πίπτοντα, ὅπου ἱδρυθῆι αὐτὸς οὐ ζητεῖ.

5. É preciso tomar inteligência, se formos afirmar a verdade pelo nome,


não a que é em potência, nem vem desde a insensatez à inteligência –
senão, novamente buscaremos ainda uma outra coisa antes dela – mas
a que é em atividade sendo sempre inteligência. Se ela não tem ‘ser
sensato’ como importável e se pensa algo, pensa por si mesma, e se tem
algo, tem por si mesma. E se por si e desde si pensa, ela mesma é o que
pensa. Pois se a essência for diversa dela, o que ela pensa seria diferente
dela, a própria essência dela seria ininteligível; e por sua vez seria em
potência, não em atividade. Então não se deve separar nenhum dos dois
a partir do outro250. É costume nosso, a partir das coisas junto a nós,
separar aquelas coisas pelos processos da mente251. Então o que ela
ativa e o que pensa, para que ponhamos aquelas coisas que ela pensa
como ela mesma? Certamente é claro que inteligência que é realmente
pensa e sustenta as coisas que são. Portanto ela é as coisas que são. Pois
certamente as pensará ou em outra parte ou em si mesma, como sendo
ela mesma as coisas que são. De fato, em outra parte é impossível; pois
onde? Portanto é ela mesma e em si mesma. Pois, de fato, não é nos
sensíveis, como creem252. Pois cada primeiro não é sensível; pois a
forma nesses [primeiros princípios] sobre matéria é visagem do que é,
e toda forma em um vem da parte de outro para aquele e é imagem

250
Não se deve separar da inteligência nem a sua essência nem o que ela pensa.
251
Em nossa mente se separam sujeito e objeto, ou seja, essência e objeto do
pensamento.
252
Stoicorum Veterum Fragmenta II 88, Sextus Empiricus, Adversus Mathematicos
VIII 56: πᾶσα γὰρ νόησις ἀπὸ αἰσθήσεως γίνεται ἢ οὐ χωρὶς αἰσθήσεως, καὶ ἢ ἀπὸ
περιπτώσεως ἢ οὐκ ἄνευ περιπτώσεως (pois todo ato de pensar vem a ser a partir de
sensação ou não separadamente de sensação, e ou a partir de experimentação ou não
sem esperimentação).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 230

daquele [primeiro]. E se é preciso haver também um criador deste


todo253, esse não pensará as coisas no que ainda não é, para que o crie.
Antes do cosmo, portanto, é preciso haver aquelas coisas, não marcas a
partir de outras diferentes, mas arquétipos, primeiras e essência de
inteligência. E se disserem que as razões bastam, [serão] perenes é
claro; e se perenes e impassíveis, é preciso haver em inteligência que é
tal que anterior a condição, natureza e alma; pois em potência são
essas254. A inteligência portanto são as coisas que realmente são, não
pensando que são tais que são em algum lugar; pois nem são nem antes
dela nem depois dela; mas ela é tal que legislador primeiro, ou melhor,
a própria lei do ser. Portanto, de modo correto [está dito]: “pois o
mesmo é pensar e ser”255 e “o conhecimento das coisas sem matéria é
igual ao resultado da ação” e “investigei a mim mesmo”256 como uma
só das coisas que são; e há também as anamneses257; pois de fora é

253
Platão, Timeu 28c: τὸν μὲν οὖν ποιητὴν καὶ πατέρα τοῦδε τοῦ παντὸς εὑρεῖν τε
ἔργον καὶ εὑρόντα εἰς πάντας ἀδύνατον λέγειν (achar o criador e pai deste todo dá
trabalho e, tendo achado, dizer a todos é impossível).
254
Stoicorum Veterum Fragmenta II 1013, Sextus Empiricus, Adversus Mathematicos
IX 81: ἡνωμένον τοίνυν ἐστὶ σῶμα καὶ ὁ κόσμος. ἀλλ’ ἐπεὶ τῶν ἡνωμένων σωμάτων
τὰ μὲν ὑπὸ ψιλῆς ἕξεως συνέχεται, τὰ δὲ ὑπὸ φύσεως, τὰ δὲ ὑπὸ ψυχῆς, καὶ ἕξεως μὲν
ὡς λίθοι καὶ ξύλα, φύσεως δὲ καθάπερ τὰ φυτά, ψυχῆς δὲ τὰ ζῷα, πάντως δὴ καὶ ὁ
κόσμος ὑπό τινος τούτων διακρατεῖται (Portanto o cosmo é uma soma unificada. Mas,
uma vez que as coisas se mantêm por pura condição dos corpos unificados, umas pela
natureza, outras pela alma, e mantidas por condição sejam pedras e madeira, por
natureza sejam como as plantas, por alma sejam os viventes, então no geral o cosmo
é dominado por alguma dessas).
255
Parmênides 28 B 3 Diels – Kranz: Ἀριστοφάνης ἔφη ‘δύναται γὰρ ἴσον τῶι δρᾶν
τὸ νοεῖν’ (Aristófanes dizia ‘é possível o pensar ser o mesmo que o agir’).
256
Heráclito 22 B 101 Diels – Kranz: ἐδιζησάμην ἐμεωυτόν (investiguei a mim
mesmo).
257
Platão, Mênon 81c: ὥστε οὐδὲν θαυμαστὸν καὶ περὶ ἀρετῆς καὶ περὶ ἄλλων οἷόν τ’
εἶναι αὐτὴν ἀναμνησθῆναι, ἅ γε καὶ πρότερον ἠπίστατο (assim não é nada admirável
que sobre virtude e outras coisas é possível ela ter anamnese, em relação a que
conhecia antes); Fédon 72e: εἰ ἀληθής ἐστιν, ὃν σὺ εἴωθας θαμὰ λέγειν, ὅτι ἡμῖν ἡ

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 231

nenhuma das coisas que são, nem em lugar, e permanecem sempre em


si mesmas, não recebendo mudança e corrupção; por isso mesmo são
realmente. Certamente as coisas que vêm a ser e que perecem se servem
do que é importável, e não mais serão aquelas [que sempre são], mas
isso que é [importável]. De fato as coisas sensíveis são o que se diz por
participação da natureza que subjaz, mantendo figura de outra parte258;
tal que bronze da parte do escultor e madeira da parte do carpinteiro259,
uma visagem da arte indo a essa matéria, a arte mesma permanecendo
fora da matéria em identidade, mantendo a verdadeira estátua e cama260.
De fato é assim também sobre os corpos; este todo participando das
coisas que aparentam indica que as coisas que são são diferentes dessas
[que aparentam], sendo imutáveis aquelas [que são], mudando-se essas
[que aparentam], [aquelas] são fundamentadas sobre si mesmas, não
necessitando de lugar; pois não há grandezas; e têm hipóstase
inteligente e autossuficiente a si mesmas. Pois natureza de corpos deseja
salvar-se da parte de algo diverso, e inteligência, que por sua admirável

μάθησις οὐκ ἄλλο τι ἢ ἀνάμνησις (5) τυγχάνει οὖσα (se é verdade o que tu costumas
dizer frequentemente, que que nosso aprendizado não é por acaso outra coisa que
anamnese); Fedro 249c: τοῦτο δ’ ἐστὶν ἀνάμνησις ἐκείνων ἅ ποτ’ εἶδεν ἡμῶν ἡ ψυχὴ
(isso é anamnese daquilo que antes nossa alma viu); Filebo 34b: Μνήμης δὲ
ἀνάμνησιν ἆρ’ οὐ διαφέρουσαν λέγομεν; (por acaso não dizemos que anamnese é
diferente de memória?).
258
O mundo sensível mantém uma figura pela racionalização da forma, que é de outra
parte, inteligível, com isso se dá a configuração na matéria, na natureza.
259
Aristóteles, Metafísica V 2, 1013b 6-9: οἷον τοῦ ἀνδριάντος καὶ ἡ
ἀνδριαντοποιητικὴ καὶ ὁ χαλκὸς οὐ καθ’ ἕτερόν τι ἀλλ’ ᾗ ἀνδριάς (tal que [causas] da
estátua é a arte de esculpir e o bronze, não segundo algo diferente, mas onde é estátua).
260
Platão, Politeia 597c: Ὁ μὲν δὴ θεός, εἴτε οὐκ ἐβούλετο, εἴτε τις ἀνάγκη ἐπῆν μὴ
(1) πλέον ἢ μίαν ἐν τῇ φύσει ἀπεργάσασθαι αὐτὸν κλίνην, οὕτως ἐποίησεν μίαν μόνον
αὐτὴν ἐκείνην ὅ ἐστιν κλίνη (de fato, deus, seja que não queria, seja que havia certa
necessidade de não haver mais do que uma na natureza, realizou uma cama, assim
criou uma só apenas, aquela mesma que é cama).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 232

natureza mantém as coisas que caem da parte de si mesmas, não busca


ela mesma lugar onde seja fundada.

6. Νοῦς μὲν δὴ ἔστω τὰ ὄντα, καὶ πάντα ἐν αὑτῶι οὐχ ὡς ἐν τόπωι ἔχων,
ἀλλ᾽ ὡς αὑτὸν ἔχων καὶ ἓν ὢν αὐτοῖς. Πάντα δὲ ὁμοῦ ἐκεῖ καὶ οὐδὲν
ἧττον διακεκριμένα. Ἐπεὶ καὶ ψυχὴ ὁμοῦ ἔχουσα πολλὰς ἐπιστήμας ἐν
ἑαυτῆι οὐδὲν ἔχει συγκεχυμένον, καὶ ἑκάστη πράττει τὸ αὑτῆς, ὅταν
δέηι, οὐ συνεφέλκουσα τὰς ἄλλας, νόημα δὲ ἕκαστον καθαρὸν ἐνεργεῖ
ἐκ τῶν ἔνδον αὖ νοημάτων κειμένων. Οὕτως οὖν καὶ πολὺ μᾶλλον ὁ
νοῦς ἐστιν ὁμοῦ πάντα καὶ αὖ οὐχ ὁμοῦ, ὅτι ἕκαστον δύναμις ἰδία. Ὁ
δὲ πᾶς νοῦς περιέχει ὥσπερ γένος εἴδη καὶ ὥσπερ ὅλον μέρη. Καὶ αἱ
τῶν σπερμάτων δὲ δυνάμεις εἰκόνα φέρουσι τοῦ λεγομένου· ἐν γὰρ τῶι
ὅλωι ἀδιάκριτα πάντα, καὶ οἱ λόγοι ὥσπερ ἐν ἑνὶ κέντρωι· καὶ ὧς ἐστιν
ἄλλος ὀφθαλμοῦ, ἄλλος δὲ χειρῶν λόγος τὸ ἕτερος εἶναι παρὰ τοῦ
γενομένου ὑπ᾽ αὐτοῦ αἰσθητοῦ γνωσθείς. Αἱ μὲν οὖν ἐν τοῖς σπέρμασι
δυνάμεις ἑκάστη αὐτῶν λόγος εἷς ὅλος μετὰ τῶν ἐν αὐτῶι
ἐμπεριεχομένων μερῶν τὸ μὲν σωματικὸν ὕλην ἔχει, οἷον ὅσον ὑγρόν,
αὐτὸς δὲ εἶδός ἐστι τὸ ὅλον καὶ λόγος ὁ αὐτὸς ὢν ψυχῆς εἴδει τῶι
γεννῶντι, ἥ ἐστιν ἴνδαλμα ψυχῆς ἄλλης κρείττονος. Φύσιν δέ τινες
αὐτὴν ὀνομάζουσιν τὴν ἐν τοῖς σπέρμασιν, ἣ ἐκεῖθεν ὁρμηθεῖσα ἀπὸ
τῶν πρὸ αὐτῆς, ὥσπερ ἐκ πυρὸς φῶς, ἤστραψέ τε καὶ ἐμόρφωσε τὴν
ὕλην οὐκ ὠθοῦσα οὐδὲ ταῖς πολυθρυλλήτοις μοχλείαις χρωμένη, δοῦσα
δὲ τῶν λόγων.

6. Inteligência seja, de fato, as coisas que são, e todas as coisas em si


não como estando em um lugar, mas como tendo a si mesma e sendo
uma só coisa para elas. E todas as coisas são em conjunto ali261, e em
nada menos distintas. Uma vez que a alma tendo em conjunto muitos

261
Anaxágoras 59 B 1 Diels – Kranz: ὁμοῦ πάντα χρήματα ἦν (todas as coisas eram
em conjunto).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 233

conhecimentos em si mesma nada tem que foi confundido, e cada uma


pratica o que é de si, quando seja preciso, não arrastando junto as outras,
e cada pensamento puro é em atividade desde os pensamentos que por
sua vez jazem no interior [da alma]. Assim muito mais a inteligência é
tudo em conjunto e por sua vez não em conjunto, porque há uma
potência própria em relação a cada coisa. A inteligência envolve tudo
como gênero [envolve] espécies, e o inteiro, as partes. As potências das
sementes portam imagens do que é dito; pois no inteiro todas [as
sementes] são indistinguíveis, e as razões são como em um só centro; e
assim há uma razão do olho, e outra das mãos para haver o diferente da
parte do que foi gerado, tendo sido reconhecida pelo próprio sensível.
Então as potências que são nas sementes são cada uma delas razão única
inteira com as partes que internamente são envolvidas nessa mesma
razão, e o corpóreo tem matéria, tal que quanto é úmido, e a razão como
forma é o inteiro, e a mesma razão que é da alma é por uma forma que
gera, [alma] que é aparência de outra alma superior. E alguns
denominam natureza262 essa potência que é nas sementes, certamente
tendo-se lançado de lá a partir das potências que são antes dela, como
desde fogo a luz, lampejou e deu forma à matéria, nem impulsionando
nem se servindo de notórias alavancas263, tendo dado [algo] das razões.

7. Αἱ δὲ ἐπιστῆμαι ἐν ψυχῆι λογικῆι οὖσαι αἱ μὲν τῶν αἰσθητῶν – εἰ δεῖ


ἐπιστήμας τούτων λέγειν, πρέπει δὲ αὐταῖς τὸ τῆς δόξης ὄνομα –
ὕστεραι τῶν πραγμάτων οὖσαι εἰκόνες εἰσὶ τούτων· τῶν δὲ νοητῶν, αἳ

262
Stoicorum Veterum Fragmenta II 745, Philo Judaeus, De opificio mundi 67, 5: τὸ
σπέρμα τῶν ζῴων γενέσεως (5) ἀρχὴν εἶναι συμβέβηκε ... ἀλλ’ ὅταν εἰς τὴν μήτραν
καταβληθὲν στηρίσῃ, κίνησιν εὐθὺς λαβὸν εἰς φύσιν τρέπεται (a semente dos viventes
é por acidente princípio da geração ... mas quando, tendo sido lançada, fixa-se no
útero, ao tomar logo movimento volta-se em natureza).
263
Aristóteles, Física VIII 6, 259b 20: μεταβάλλει γὰρ τὸν τόπον τὸ σῶμα, ὥστε καὶ
τὸ ἐν τῷ σώματι ὂν καὶ τῇ μοχλείᾳ κινοῦν ἑαυτό (pois o corpo muda de lugar, como
o que é no corpo que se move por alavanca).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 234

δὴ καὶ ὄντως ἐπιστῆμαι, παρὰ νοῦ εἰς λογικὴν ψυχὴν ἐλθοῦσαι


αἰσθητὸν μὲν οὐδὲν νοοῦσι· καθόσον δέ εἰσιν ἐπιστῆμαι, εἰσὶν αὐτὰ
ἕκαστα ἃ νοοῦσι, καὶ ἔνδοθεν τό τε νοητὸν τήν τε νόησιν ἔχουσιν, ὅτι
ὁ νοῦς ἔνδον – ὅ ἐστιν αὐτὰ τὰ πρῶτα – συνὼν αὐτῶι ἀεὶ καὶ ἐνεργείαι
ὑπάρχων καὶ οὐκ ἐπιβάλλων ὡς οὐκ ἔχων ἢ ἐπικτώμενος ἢ διεξοδεύων
οὐ προκεχειρισμένα – ψυχῆς γὰρ ταῦτα πάθη – ἀλλ᾽ ἕστηκεν ἐν αὑτῶι
ὁμοῦ πάντα ὤν, οὐ νοήσας, ἵν᾽ ὑποστήσηι ἕκαστα. Οὐ γάρ, ὅτ᾽ ἐνόησε
θεόν, θεὸς ἐγένετο, οὐδέ, ὅτε ἐνόησε κίνησιν, κίνησις ἐγένετο. Ὅθεν
καὶ τὸ λέγειν νοήσεις τὰ εἴδη, εἰ οὕτω λέγεται, ὡς, ἐπειδὴ ἐνόησε, τόδε
ἐγένετο ἢ ἔστι τόδε, οὐκ ὀρθῶς· ταύτης γὰρ τῆς νοήσεως πρότερον δεῖ
τὸ νοούμενον εἶναι. Ἢ πῶς ἂν ἔλθοι ἐπὶ τὸ νοεῖν αὐτό; Οὐ γὰρ δὴ κατὰ
συντυχίαν οὐδὲ ἐπέβαλεν εἰκῆι.

7. E os conhecimentos na alma racional sendo aqueles dos sensíveis –


se é preciso dizer conhecimentos das coisas sensíveis, convém a eles o
nome de opinião –, sendo posteriores às práticas, são imagens dessas; e
dos inteligíveis são os que na verdade são conhecimentos, tendo vindo
da parte de inteligência para alma racional, pensam nada sensível264;
enquanto são conhecimentos, são elas mesmas cada uma das coisas que
pensam, e de dentro têm o inteligível e o ato de pensar, porque a
inteligência é interior – que é as mesmas primeiras – sendo sempre
consigo mesma e tendo princípio em atividade, não se apropriando
como se não tivesse, nem buscando adquirir265 ou fazer surgir o que não

264
Platão, Politeia 533e – 534a: Ἀρέσκει οὖν, ἦν δ’ ἐγώ, ὥσπερ τὸ πρότερον, τὴν
μὲν πρώτην μοῖραν ἐπιστήμην καλεῖν, δευτέραν δὲ διάνοιαν, τρίτην δὲ πίστιν καὶ
εἰκασίαν τετάρτην· καὶ συναμφότερα μὲν ταῦτα δόξαν, συναμφότερα δ’ ἐκεῖνα
νόησιν (então, basta, dizia eu, como anterior chamar a primeira moira de
conhecimento, a segunda de reflexão, a terceira de fé e de imaginação a quarta; estas
duas estão para a opinião, aquelas duas para o ato de pensar).
265
Aristóteles, Metafísica XII 7, 1072b 20: αὑτὸν δὲ νοεῖ ὁ νοῦς κατὰ μετάληψιν τοῦ
νοητοῦ· νοητὸς γὰρ (20) γίγνεται θιγγάνων καὶ νοῶν, ὥστε ταὐτὸν νοῦς καὶ νοητόν

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 235

estivesse à sua mão – pois essas são impressões da alma – mas está
firme em si mesma sendo em conjunto todas as coisas, não porque
pensou, para que cada coisa tenha hipóstase. Pois não é: quando ela
pensou deus, deus veio a ser, e nem quando pensou movimento,
movimento veio a ser. Daí também dizer que atos de pensar são as
formas266, se assim se diz que, de modo não correto, quando ela pensou,
isso veio a ser ou isso é; pois antes desse ato de pensar é preciso haver
o que é pensado. Ou como ela chegaria ao próprio ato de pensar? Pois
na verdade ela não é por contingência nem incide por acaso.

8. Εἰ οὖν ἡ νόησις ἐνόντος, ἐκεῖνο τὸ εἶδος τὸ ἐνόν· καὶ ἡ ἰδέα αὕτη. Τί


οὖν τοῦτο; Νοῦς καὶ ἡ νοερὰ οὐσία, οὐχ ἑτέρα τοῦ νοῦ ἑκάστη ἰδέα,
ἀλλ᾽ ἑκάστη νοῦς. Καὶ ὅλος μὲν ὁ νοῦς τὰ πάντα εἴδη, ἕκαστον δὲ εἶδος
νοῦς ἕκαστος, ὡς ἡ ὅλη ἐπιστήμη τὰ πάντα θεωρήματα, ἕκαστον δὲ
μέρος τῆς ὅλης οὐχ ὡς διακεκριμένον τόπωι, ἔχον δὲ δύναμιν ἕκαστον
ἐν τῶι ὅλωι. Ἔστιν οὖν οὗτος ὁ νοῦς ἐν αὑτῶι καὶ ἔχων ἑαυτὸν ἐν
ἡσυχίαι κόρος ἀεί. Εἰ μὲν οὖν προεπενοεῖτο ὁ νοῦς πρότερος τοῦ ὄντος,
ἔδει τὸν νοῦν λέγειν ἐνεργήσαντα καὶ νοήσαντα ἀποτελέσαι καὶ
γεννῆσαι τὰ ὄντα· ἐπεὶ δὲ τὸ ὂν τοῦ νοῦ προεπινοεῖν ἀνάγκη, ἐγκεῖσθαι
δεῖ τίθεσθαι ἐν τῶι νοοῦντι τὰ ὄντα, τὴν δὲ ἐνέργειαν καὶ τὴν νόησιν
ἐπὶ τοῖς οὖσιν, οἷον ἐπὶ πῦρ ἤδη τὴν τοῦ πυρὸς ἐνέργειαν, ἵν᾽ ἓν ὄντα
τὸν νοῦν ἐφ᾽ ἑαυτοῖς ἔχηι ἐνέργειαν αὐτῶν. Ἔστι δὲ καὶ τὸ ὂν ἐνέργεια·
μία οὖν ἀμφοῖν ἐνέργεια, μᾶλλον δὲ τὰ ἄμφω ἕν. Μία μὲν οὖν φύσις τό
τε ὂν ὅ τε νοῦς· διὸ καὶ τὰ ὄντα καὶ ἡ τοῦ ὄντος ἐνέργεια καὶ ὁ νοῦς ὁ
τοιοῦτος· καὶ αἱ οὕτω νοήσεις τὸ εἶδος καὶ ἡ μορφὴ τοῦ ὄντος καὶ ἡ

(a inteligência pensa a si mesma segundo participação do inteligível; pois vem a ser


inteligível ao tocar e pensar, como sendo o mesmo inteligência e inteligível).
266
Platão, Parmênides 132b: μὴ τῶν εἰδῶν ἕκαστον ᾖ τούτων νόημα, καὶ οὐδαμοῦ
αὐτῷ προσήκῃ ἐγγίγνεσθαι ἄλλοθι ἢ ἐν ψυχαῖς (cada uma das formas não seria o
produto do pensamento delas, e de modo algum seria conveniente a ele vir a ser em
algum lugar senão nas almas).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 236

ἐνέργεια. Ἐπινοεῖταί γε μὴν μεριζομένων ὑφ᾽ ἡμῶν θάτερα πρὸ τῶν


ἑτέρων. Ἕτερος γὰρ ὁ μερίζων νοῦς, ὁ δὲ ἀμέριστος καὶ μὴ μερίζων τὸ
ὂν καὶ τὰ πάντα.

8. Então se o ato de pensar é interior, aquela forma é interior; ela é a


própria ideia267. Então que é isso? Inteligência e a essência inteligente:
cada ideia não é diferente da inteligência, mas é cada inteligência.
Inteligência inteira são todas as formas, e cada forma é cada
inteligência, assim o conhecimento inteiro são todos os teoremas, e cada
parte dele é do inteiro, não estando assim separada por espaço, e cada
uma tendo potência no inteiro. Então é essa inteligência em si, que tem
a si mesma, saciedade sempre em tranquilidade268. Então se a
inteligência fosse preconcebida como anterior ao que é, era preciso
dizer que a inteligência ao agir pensando cumpre a geração das coisas
que são; uma vez que há necessidade de preconceber o que é como
sendo antes da inteligência, é preciso ser posto que as coisas que são
jazem no que pensa, e a atividade e o ato de pensar são nas coisas que
são, tal que ao fogo [em essência vem] a atividade do fogo, para que
nessas coisas haja a inteligência, sendo única, como atividade delas. O
que é também é atividade; então uma só atividade é para ambos, ou seja,
ambos são uma só coisa. Então uma só natureza é o que é e a
inteligência; por isso a inteligência é deste tipo: as coisas que são e a
atividade do que é; assim estão para a forma tanto os atos de pensar
quanto a figura e a atividade do que é. Contudo, ao serem partilhadas
por nós, pensam-se umas coisas antes das outras. Pois diferente é a

267
A forma (εἶδος) é a própria ideia (ἰδέα).
268
Platão, Crátilo 396b: κόρον γὰρ σημαίνει οὐ παῖδα, ἀλλὰ τὸ καθαρὸν αὐτοῦ καὶ
ἀκήρατον τοῦ νοῦ (pois [Cronos] significa saciedade, não criança, mas é o que é puro
dele e não misturável da inteligência).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 237

inteligência que partilha, e a não-partilhável é a que não partilha o que


é e todas as coisas.

9. Τίνα οὖν ἐστι τὰ ἐν ἑνὶ νῶι, ἃ νοοῦντες μερίζομεν ἡμεῖς; Δεῖ γὰρ αὐτὰ
ἠρεμοῦντα προφέρειν, οἷον ἐξ ἐπιστήμης ἐν ἑνὶ οὔσης ἐπιθεωρεῖν τὰ
ἐνόντα. Κόσμου δὴ τοῦδε ὄντος ζώιου περιεκτικοῦ ζώιων ἁπάντων καὶ
παρ᾽ ἄλλου ἔχοντος τὸ εἶναι καὶ τοιῶιδε εἶναι, παρ᾽ οὗ δέ ἐστιν εἰς νοῦν
ἀναγομένου, ἀναγκαῖον καὶ ἐν νῶι τὸ ἀρχέτυπον πᾶν εἶναι, καὶ κόσμον
νοητὸν τοῦτον τὸν νοῦν εἶναι, ὅν φησιν ὁ Πλάτων ἐν τῶι ὅ ἐστι ζῶιον.
Ὡς γὰρ ὄντος λόγου ζώιου τινός, οὔσης δὲ καὶ ὕλης τῆς τὸν λόγον τὸν
σπερματικὸν δεξαμένης, ἀνάγκη ζῶιον γενέσθαι, τὸν αὐτὸν τρόπον καὶ
φύσεως νοερᾶς καὶ πανδυνάμου οὔσης καὶ οὐδενὸς διείργοντος,
μηδενὸς ὄντος μεταξὺ τούτου καὶ τοῦ δέξασθαι δυναμένου, ἀνάγκη τὸ
μὲν κοσμηθῆναι, τὸ δὲ κοσμῆσαι. Καὶ τὸ μὲν κοσμηθὲν ἔχει τὸ εἶδος
μεμερισμένον, ἀλλαχοῦ ἄνθρωπον καὶ ἀλλαχοῦ ἥλιον· τὸ δὲ ἐν ἑνὶ
πάντα.

9. Então quais são as coisas na inteligência única, que ao pensá-las


partilhamos? Pois é preciso proferir essas coisas que são em quietude,
tal que contemplar as que são nela desde o conhecimento que é no uno.
Este cosmo, na verdade, sendo vivente que compreende todos os
viventes, que tem o ser e o ser assim da parte de algo diverso269, da parte
do qual é, ao ser reconduzido à inteligência, sendo necessário haver em
inteligência todo arquétipo, e esse cosmo inteligível ser a inteligência,
que diz Platão ser “em algo que é vivente”270. Pois assim sendo a razão
de algum vivente, e sendo também matéria que recebe a razão

269
A essência e a matéria deste mundo são criações da Alma.
270
Platão, Timeu 33b: τῷ δὲ τὰ πάντα ἐν αὑτῷ ζῷα περιέχειν μέλλοντι ζῴῳ πρέπον
ἂν εἴη σχῆμα τὸ περιειληφὸς ἐν αὑτῷ πάντα ὁπόσα σχήματα (ao vivente que há de
envolver todos os viventes em si seria conveniente uma configuração que compreende
em si todas quantas são as configurações).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 238

seminal271, é necessidade um vivente vir a ser, do mesmo modo de


natureza inteligente, de essência toda potente, nada o isolando: nada
havendo entre esse vivente e o que é capaz de receber, é necessidade de
um lado ter sido ordenado, e de outro, ordenar. O que foi ordenado tem
a forma que está partilhada, em um lugar, homem, em outro, sol; tudo
é no uno.

10. Ὅσα μὲν οὖν ὡς εἴδη ἐν τῶι αἰσθητῶι ἐστι, ταῦτα ἐκεῖθεν· ὅσα δὲ
μή, οὔ. Διὸ τῶν παρὰ φύσιν οὐκ ἔστιν ἐκεῖ οὐδέν, ὥσπερ οὐδὲ τῶν παρὰ
τέχνην ἐστὶν ἐν ταῖς τέχναις, οὐδὲ ἐν τοῖς σπέρμασι χωλεία. Ποδῶν δὲ
χωλεία ἡ δὴ ἐν τῆι γενέσει οὐ κρατήσαντος λόγου, ἡ δὲ ἐκ τύχης λύμηι
τοῦ εἴδους. Καὶ ποιότητες δὴ σύμφωνοι καὶ ποσότητες, ἀριθμοί τε καὶ
μεγέθη καὶ σχέσεις, ποιήσεις τε καὶ πείσεις αἱ κατὰ φύσιν, κινήσεις τε
καὶ στάσεις καθόλου τε καὶ ἐν μέρει τῶν ἐκεῖ. Ἀντὶ δὲ χρόνου αἰών. Ὁ
δὲ τόπος ἐκεῖ νοερῶς τὸ ἄλλο ἐν ἄλλωι. Ἐκεῖ μὲν οὖν ὁμοῦ πάντων
ὄντων, ὅ τι ἂν λάβηις αὐτῶν, οὐσία καὶ νοερά, καὶ ζωῆς ἕκαστον
μετέχον, καὶ ταὐτὸν καὶ θάτερον, καὶ κίνησις καὶ στάσις, καὶ
κινούμενον καὶ ἑστώς, καὶ οὐσία καὶ ποιόν, καὶ πάντα οὐσία. Καὶ γὰρ
ἐνεργείαι, οὐ δυνάμει τὸ ὂν ἕκαστον· ὥστε οὐ κεχώρισται τὸ ποιὸν
ἑκάστης οὐσίας. Ἆρ᾽ οὖν μόνα τὰ ἐν τῶι αἰσθητῶι ἐκεῖ, ἢ καὶ ἄλλα
πλείω; Ἀλλὰ πρότερον περὶ τῶν κατὰ τέχνην σκεπτέον· κακοῦ γὰρ
οὐδενός· τὸ γὰρ κακὸν ἐνταῦθα ἐξ ἐνδείας καὶ στερήσεως καὶ
ἐλλείψεως, καὶ ὕλης ἀτυχούσης πάθος καὶ τοῦ ὕληι ὡμοιωμένου.

10. Assim quantas são as formas no mundo sensível, essas são de lá; e
quantas não são formas, não são de lá. Por isso das coisas contra a

271
Stoicorum Veterum Fragmenta II 103: Cícero, Academica Priora II 8, 26: ratio
omnis tollitur quasi quaedam lux lumenque vitae ... nam quaerendi initium ratio
attulit, quae perfecit virtutem (toda razão se eleva como certa luz e lume da vida ...
pois a razão, que aperfeiçou a virtude, trouxe o início de buscar).

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 239

natureza não há ali nenhuma272, como nem daquelas contra a arte há nas
artes, nem nas sementes o ‘claudicar’. O claudicar dos pés que é na
gênese, aquele por sorte, é porque a razão não dominou, com dano da
forma. Há qualidades harmônicas e quantidades, números, grandezas e
condições, atos de criar e de sofrer que são segundo a natureza,
movimentos e repousos do inteiro e em parte dos que são ali. E em vez
de tempo há eternidade. O espaço ali é de modo inteligente: um em
outro. Portanto ali sendo em conjunto todas as coisas, o que tomares
delas será essência e inteligência, e cada coisa participante da vida,
tanto o mesmo quanto o outro, tanto movimento quanto repouso, que se
move e que está em repouso, essência e qualidade, tudo é essência273.
Pois cada um sendo em atividade, não em potência, assim não está
separado o que é de certa qualidade de cada essência. Então, por acaso
há ali apenas as coisas que são no mundo sensível, ou também outras
mais? Mas antes deve-se examinar sobre as coisas segundo a arte;
nenhum mal havendo, pois o mal aqui é desde pobreza, privação,
insuficiência, impressão de desafortunada matéria e do que é
assemelhado à matéria.

11. Τὰ οὖν κατὰ τέχνην καὶ αἱ τέχναι; Τῶν δὴ τεχνῶν ὅσαι μιμητικαί,
γραφικὴ μὲν καὶ ἀνδριαντοποιία, ὄρχησίς τε καὶ χειρονομία, ἐνταῦθά
που τὴν σύστασιν λαβοῦσαι καὶ αἰσθητῶι προσχρώμεναι παραδείγματι

272
Platão, Parmênides 130c: Ἦ καὶ περὶ τῶνδε, ὦ Σώκρατες, ἃ καὶ γελοῖα δόξειεν
ἂν (5) εἶναι, οἷον θρὶξ καὶ πηλὸς καὶ ῥύπος ἢ ἄλλο τι ἀτιμότατόν τε καὶ φαυλότατον,
ἀπορεῖς εἴτε χρὴ φάναι καὶ τούτων ἑκάστου εἶδος εἶναι χωρίς (certamente sobre estas
coisas, Sócrates, que pareceriam ser ridículas, tal como cabelo, lama e lixo ou alguma
outra muitíssimo despresível e vil, tens dúvida se é necessário dizer que há em
separado uma forma de cada uma delas).
273
Platão, Sofista 254d – 255a: Μέγιστα μὴν τῶν γενῶν ἃ νυνδὴ διῇμεν τό τε ὂν αὐτὸ
καὶ στάσις καὶ κίνησις ... Τὸ δέ γε ὂν μεικτὸν ἀμφοῖν· ἐστὸν γὰρ ἄμφω που (contudo,
dentre os gêneros que agora dividimos, os maiores são o que é, o mesmo, e repouso e
movimento ... o que é é misturável aos dois [últimos]).

SUMÁRIO
P l o t i n o | 240

καὶ μιμούμεναι εἴδη τε καὶ κινήσεις τάς τε συμμετρίας ἃς ὁρῶσι


μετατιθεῖσαι οὐκ ἂν εἰκότως ἐκεῖ ἀνάγοιντο, εἰ μὴ τῶι ἀνθρώπου λόγωι.
Εἰ δέ τις ἕξις ἐκ τῆς περὶ τὰ ζῶια συμμετρίας ὅλων ζώιων ἐπισκοποῖτο,
μόριον ἂν εἴη δυνάμεως τῆς κἀκεῖ ἐπισκοπούσης καὶ θεωρούσης τὴν ἐν
τῶι νοητῶι περὶ πάντα συμμετρίαν. Καὶ μὴν καὶ μουσικὴ πᾶσα περὶ
ἁρμονίαν ἔχουσα καὶ ῥυθμόν – ἧι μὲν περὶ ῥυθμὸν καὶ ἁρμονίαν,
ἔχουσα τὰ νοήματα – τὸν αὐτὸν τρόπον ἂν εἴη, ὥσπερ καὶ ἡ περὶ τὸν
νοητὸν ἀριθμὸν ἔχουσα. Ὅσαι δὲ ποιητικαὶ αἰσθητῶν τῶν κατὰ τέχνην,
οἷον οἰκοδομικὴ καὶ τεκτονική, καθόσον συμμετρίαις προσχρῶνται,
ἀρχὰς ἂν ἐκεῖθεν ἔχοιεν καὶ τῶν ἐκεῖ φρονήσεων· τῶι δὲ αἰσθητῶι
ταῦτα συγκερασάμεναι τὸ ὅλον οὐκ ἂν εἶεν ἐκεῖ· ἢ ἐν τῶι ἀνθρώπωι.
Οὐ μὴν οὐδὲ γεωργία συλλαμβάνουσα αἰσθητῶι φυτῶι, ἰατρική τε τὴν
ἐνταῦθα ὑγίειαν θεωροῦσα ἥ τε περὶ ἰσχὺν τήνδε καὶ εὐεξίαν· ἄλλη γὰρ
ἐκεῖ δύναμις καὶ ὑγίεια, καθ᾽ ἣν ἀτρεμῆ πάντα καὶ ἱκανά, ὅσα ζῶια.
Ῥητορεία δὲ καὶ στρατηγία, οἰκονομία τε καὶ βασιλική, εἴ τινες αὐτῶν
τὸ καλὸν κοινωνοῦσι ταῖς πράξεσιν, εἰ ἐκεῖνο θεωροῖεν, μοῖραν ἐκεῖθεν
εἰς ἐπιστήμην ἔχουσιν ἐκ τῆς ἐπιστήμης τῆς ἐκεῖ. Γεωμετρία δὲ νοητῶν
οὖσα τακτέα ἐκεῖ, σοφία τε ἀνωτάτω περὶ τὸ ὂν οὖσα. Καὶ περὶ μὲν
τεχνῶν καὶ τῶν κατὰ τέχνας ταῦτα.

11. E as coisas segundo a arte e as artes? Das artes na verdade quantas


são miméticas, gráficas e de escultura, dança e ritmo das mãos, que de
certo modo tomaram daqui a composição, servindo-se de modelo
sensível e imitando formas, movimentos cujas simetrias veem mudar,
não seriam reconduzidas convenientemente para lá, senão pela razão do
homem. Se alguém examinasse a condição dos viventes inteiros desde
a simetria neles, seria uma partícula de potência que ali examina e que
contempla a simetria no inteligível em tudo. Além disso toda música
que está para harmonia e ritmo – com esta é a que tem os produtos do
pensar em ritmo e harmonia – seria do mesmo modo como a que tem o
número inteligível. E quantas são artes de criação dos sensíveis tais
como segundo a arte da construção e da carpintaria, enquanto se sirvam

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 241

de simetrias, teriam de lá princípios do bom senso dali; mas ao sensível


essas coisas tendo-se unido, o inteiro não seria ali, senão no homem.
Não há, no entanto, nem cultivo da terra que colabora para a planta
sensível, nem arte médica que aqui cuida da saúde, e a que [cuida] deste
vigor e boa condição [física]. Pois ali diversa é potência e saúde,
segundo a qual todos quantos são viventes são firmes e suficientes.
Oratória e comando militar, economia e arte de reinar, se algumas
dessas [artes] têm o belo em comum com suas práticas, se o
contemplarem, têm desde o conhecimento daqui a ‘moira’ para o
conhecimento de lá. Geometria que é dos inteligíveis deve ser
posicionada ali, e sabedoria é do o mais elevado, sendo acerca do que
é. E sobre as artes e as coisas segundo as artes é isso.

12. Εἰ δὲ ἀνθρώπου ἐκεῖ καὶ λογικοῦ ἐκεῖ καὶ τεχνικοῦ καὶ αἱ τέχναι νοῦ
γεννήματα οὖσαι, χρὴ δὲ καὶ τῶν καθόλου λέγειν τὰ εἴδη εἶναι, οὐ
Σωκράτους, ἀλλ᾽ ἀνθρώπου. Ἐπισκεπτέον δὲ περὶ ἀνθρώπου, εἰ καὶ ὃ
καθέκαστα· τὸ δὲ καθέκαστον, ὅτι [μὴ] τὸ αὐτὸ ἄλλο ἄλλωι· οἷον ὅτι ὁ
μὲν σιμός, ὁ δὲ γρυπός, γρυπότητα μὲν καὶ σιμότητα διαφορὰς ἐν εἴδει
θετέον ἀνθρώπου, ὥσπερ ζώιου διαφοραί εἰσιν· ἥκειν δὲ καὶ παρὰ τῆς
ὕλης τὸ τὸν μὲν τοιάνδε γρυπότητα, τὸν δὲ τοιάνδε. Καὶ χρωμάτων
διαφορὰς τὰς μὲν ἐν λόγωι οὔσας, τὰς δὲ καὶ ὕλην καὶ τόπον διάφορον
ὄντα ποιεῖν.

12. Se há ali [forma] de homem, é de homem racional e artista, sendo


as artes produto de geração de inteligência, há necessidade dizer que as
formas são das coisas por seu universo, não de Sócrates, mas de homem.
Deve-se examinar sobre homem se há também o que é de cada um: a
forma individual, porque um não é igual ao outro; tal que, porque um é
de nariz achatado, outro de nariz aquilino, “aquilinidade” e
“achatamento” devem-se pôr em uma forma de diferença humana,
assim são diferenças de vivente; e chega da parte da matéria isto: um
ser desta “aquilinidade”, outro daquela. Quanto às diferenças de cores,

SUMÁRIO
P l o t i n o | 242

umas porque são em razão [seminal], outras por criar o que é diferente
em matéria e lugar.

13. Λοιπὸν δὲ εἰπεῖν, εἰ μόνα τὰ ἐν αἰσθητῶι ἐκεῖ, ἢ καί, ὥσπερ


ἀνθρώπου ὁ αὐτοάνθρωπος ἕτερος, εἰ καὶ ψυχῆς αὐτοψυχὴ ἐκεῖ ἑτέρα
καὶ νοῦ αὐτονοῦς. Λεκτέον δὲ πρῶτον μέν, ὅτι οὐ πάντα δεῖ, ὅσα
ἐνταῦθα, εἴδωλα νομίζειν ἀρχετύπων, οὐδὲ ψυχὴν εἴδωλον εἶναι
αὐτοψυχῆς, τιμιότητι δὲ ἄλλην ἄλλης διαφέρειν, καὶ εἶναι καὶ ἐνταῦθα,
ἴσως δὲ οὐχ ὡς ἐνταῦθα, αὐτοψυχήν. Εἶναι δὲ ψυχῆς ὄντως οὔσης
ἑκάστης καὶ δικαιοσύνην δεῖ τινα καὶ σωφροσύνην, καὶ ἐν ταῖς παρ᾽
ἡμῖν ψυχαῖς ἐπιστήμην ἀληθινήν, οὐκ εἴδωλα οὐδὲ εἰκόνας ἐκείνων ὡς
ἐν αἰσθητῶι, ἀλλὰ ταὐτὰ ἐκεῖνα ἄλλον τρόπον ὄντα ἐνταῦθα· οὐ γὰρ ἔν
τινι τόπωι ἀφωρισμένα ἐκεῖνα· ὥστε, ὅπου ψυχὴ σώματος ἐξανέδυ, ἐκεῖ
κἀκεῖνα. Ὁ μὲν γὰρ αἰσθητὸς κόσμος μοναχοῦ, ὁ δὲ νοητὸς πανταχοῦ.
Ὅσα μὲν οὖν ψυχὴ ἐκεῖ ἡ τοιαύτη, ἐνταῦθα, ταῦτα ἐκεῖ· ὥστε, εἰ τὰ ἐν
τῶι αἰσθητῶι τὰ ἐν τοῖς ὁρωμένοις λαμβάνοιτο, οὐ μόνον τὰ ἐν τῶι
αἰσθητῶι ἐκεῖ, ἀλλὰ καὶ πλείω· εἰ δὲ τὰ ἐν τῶι κόσμωι λέγοιτο
συμπεριλαμβανομένων καὶ ψυχῆς καὶ τῶν ἐν ψυχῆι, πάντα ἐνταῦθα,
ὅσα κἀκεῖ.

13. Restando dizer se ali únicas são as [formas] no mundo sensível, ou


também se, como o homem em si é diferente de um homem, ali
diferente de uma alma é a alma em si e diferente de uma inteligência é
a inteligência em si. Deve-se dizer primeiro que não é preciso
considerar todas as coisas quantas são aqui visagens de arquétipos, nem
que uma alma seja visagem da alma em si, mas que por valor uma difere
de outra, e que há também aqui, talvez não como ali, a alma em si. Mas
é preciso haver de cada alma que é realmente um sentimento de justiça
e de sensatez, e nas nossas almas um conhecimento real, não visagens
nem imagens daquelas, como no sensível, mas sendo aquelas mesmas,
de outro modo aqui; pois aquelas não estão isoladas em algum lugar;
assim, onde alma emergiu saindo de corpo, ali também são aquelas

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 243

coisas. De fato o cosmo sensível é de um só lugar, mas o inteligível é


de todo lugar. Então, quantas coisas a tal alma ali [no inteligível] tem,
a daqui as terá também; assim, se fossem tomadas as coisas no sensível,
como as que são vistas, não apenas haveria lá as que são no sensível,
mas ainda mais; e se fosse dito que todas as coisas aqui no cosmo são
das que são compreendidas em conjunto pela alma e na alma, essas
tantas também serão ali [no inteligível].

14. Τὴν οὖν τὰ πάντα περιλαβοῦσαν ἐν τῶι νοητῶι φύσιν ταύτην ἀρχὴν
θετέον. Καὶ πῶς, τῆς μὲν ἀρχῆς τῆς ὄντως ἑνὸς καὶ ἁπλοῦ πάντη οὔσης,
πλήθους δὲ ἐν τοῖς οὖσιν ὄντος; Πῶς παρὰ τὸ ἕν, καὶ πῶς πλῆθος, καὶ
πῶς τὰ πάντα ταῦτα, καὶ διὰ τί νοῦς ταῦτα καὶ πόθεν, λεκτέον ἀπ᾽ ἄλλης
ἀρχῆς ἀρχομένοις.

Περὶ δὲ τῶν ἐκ σήψεως καὶ τῶν χαλεπῶν, εἰ κἀκεῖ εἶδος, καὶ εἰ ῥύπου
καὶ πηλοῦ, λεκτέον, ὡς, ὅσα κομίζεται νοῦς ἀπὸ τοῦ πρώτου, πάντα
ἄριστα· ἐν οἷς εἴδεσιν οὐ ταῦτα· οὐδ᾽ ἐκ τούτων νοῦς, ἀλλὰ ψυχὴ παρὰ
νοῦ, λαβοῦσα παρὰ ὕλης ἄλλα, ἐν οἷς ταῦτα.

Περὶ δὲ τούτων σαφέστερον λεχθήσεται ἐπανελθοῦσιν ἐπὶ τὴν ἀπορίαν,


πῶς ἐξ ἑνὸς πλῆθος.

Ὅτι δὲ τὰ σύνθετα εἰκῆι ὄντα, οὐ νῶι, ἀλλ᾽ ἐφ᾽ ἑαυτῶν αἰσθητὰ


συνελθόντα, οὐκ ἐν εἴδεσι· τά τε ἐκ σήψεως ψυχῆς ἄλλο τι ἴσως
ἀδυνατούσης· εἰ δὲ μή, ἐποίησεν ἄν τι τῶν φύσει· ποιεῖ γοῦν, ὅπου
δύναται.

Περὶ δὲ τῶν τεχνῶν, ὅτι ἐν αὐτοανθρώπωι περιέχονται, ὅσαι τέχναι


ἀναφέρονται πρὸς τὰ κατὰ φύσιν ἀνθρώπωι.

Πρότερον δὲ ἄλλην καθόλου, καὶ τῆς καθόλου αὐτοψυχὴν ἤτοι τὴν


ζωήν; ἢ ἐν νῶι πρὶν γενέσθαι ψυχήν, ἵνα καὶ γένηται, αὐτοψυχὴν
ἐκείνην λέγειν.

SUMÁRIO
P l o t i n o | 244

14. Então aquela natureza que compreende todas as coisas no inteligível


deve-se pôr como princípio. Mas como, se o princípio é realmente uno
e simples em tudo, e múltiplo nas coisas que são? Como ele é em
contraste com o uno? Como ele é múltiplo e como são todas essas
coisas? Pelo que é inteligência em relação a elas e de onde? Deve-se
dizer a partir de um princípio diverso para as coisas iniciadas.

Sobre coisas da putrefação e das perigosas, se também ali há uma forma


[para elas], e se há forma de sujeira e de lodo274, deve-se dizer que
quantas coisas a inteligência porta desde o primeiro princípio, todas são
as melhores, em cujas formas não há essas [da putrefação e das
perigosas]; nem desde essas há inteligência, mas da parte da inteligência
há a alma que da parte da matéria toma coisas diversas, nas quais há
essas [da putrefação e das perigosas].

Sobre essas será dito mais claramente por nós retornando à aporia de
como desde o uno há o múltiplo275.

Porque as coisas compostas que são ao acaso não são por inteligência,
mas são coisas sensíveis que convergem em si mesmas, não nas formas;
e o que é desde putrefação é da alma que é incapaz talvez de algo

274
Platão, Parmênides 130c: Ἦ καὶ περὶ τῶνδε, ὦ Σώκρατες, ἃ καὶ γελοῖα δόξειεν ἂν
(5) εἶναι, οἷον θρὶξ καὶ πηλὸς καὶ ῥύπος ἢ ἄλλο τι ἀτιμότατόν τε καὶ φαυλότατον,
ἀπορεῖς εἴτε χρὴ φάναι καὶ τούτων (d) ἑκάστου εἶδος εἶναι χωρίς, ὂν ἄλλο αὖ ἢ ὧν
<τι> ἡμεῖς μεταχειριζόμεθα, εἴτε καὶ μή; (Certamente, Sócrates, sobre estas coisas que
pareceriam ser ridículas, tais que cabelo, lodo e sujeira ou algo diverso muito
desprezível e vil, ficas em aporia se é necessário dizer que há uma forma em separado
de cada uma delas, que por sua vez é diversa daquelas com que lidamos, ou não é
necessário?).
275
Enéada V 4; VI 7.

SUMÁRIO
E n é a d a V – L i v r o I | 245

diverso; senão, teria criado algo daquelas coisas por natureza; cria então
do modo que pode.

Sobre as artes, porque se compreendem no homem em si, quantas se


reconduzem para as coisas segundo a natureza, são artes para o homem.

Primeiro, a alma diversa é do universo, e antes dessa há a alma em si,


ou seja, a vida? Certamente a alma [individual] vir a ser antes em
inteligência, para que também venha a ser, é dizer aquela alma em si.

SUMÁRIO

Você também pode gostar