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Platão não escreve diretamente suas ideias, mas utiliza uma caracterização de Sócrates para dar voz a
elas, assim como em todos os seus diálogos. Acreditava, sobretudo, na transmissão indireta do
conhecimento e na compreensão pessoal do leitor. Nessa obra critica os filósofos naturalistas,
pré-socráticos e os filósofos sofistas.
O OBJETIVO DA FILOSOFIA
Teoria dos Contrários - A lei geral da natureza mostra que todo o contrário surge do seu contrário: o
feio do belo, o pequeno do grande, etc. Assim a morte nasce da vida e a vida desta, caso contrário, não
sendo desta maneira, haveria uma negação da lei geral da natureza. Se assim não fosse, o universo
imobilizar-se-ia. Então, os vivos nascem dos mortos, e vice e versa; e, para isso, as almas devem
preexistir em algum lugar antes de regressarem à vida. A alma é princípio de vida.
Teoria das Reminiscências – Pelos sentidos observa-se a existência de coisas, mas que, no entanto,
não são perfeitas como a noção que temos delas; As coisas não são perfeitas como suas ideias. A alma
como pensamento identifica-se com as ideias imutáveis e imperecíveis. Admite-se que a alma
contemplou as essências numa outra vida ideal, e que, depois de sua ligação ao corpo, é necessário
recordar o que se encontra num estado latente – Conhecer é recordar; Para lembrar-se de algo é
necessário que se tenha sabido no passado. A percepção sensível de um objeto nunca coincide com
uma ideia pura. A idéia é anterior, portanto, não deriva do objeto, e sim, esses apenas a despertam,
mas, não as geram; A realidade sensível desperta a realidades inteligíveis que foram contempladas no
mundo ideal, antes da ligação da alma com o corpo.
Teoria das Ideias e da Simplicidade da Alma, e sua Identidade com as Ideias – As ideias,
realidades inteligíveis, são eternas e isentas de composição; Em oposição ao sensível que é composto
e destrutível; A alma não é composta, é simples, indestrutível como as ideias são; As essências não
estando sujeitas a mudanças permanecem na identidade: o belo em si; Os seres chamados belos nunca
permanecem na identidade: O homem, o cavalo, etc. As essências são, somente, apreendidas pelo
pensamento. Os objetos, os seres belos, são apreendidos, somente, pelos sentidos. Há duas espécies de
seres: os visíveis, que não permanecem do mesmo modo, e os invisíveis, que são imutáveis. O corpo
identifica-se com o visível e a alma com o invisível; O espírito que conhece (alma ou pensamento) e
as ideias são semelhantes, pois que se identificam; O semelhante só pelo semelhante pode ser
Fédon (Sobre a Imortalidade da Alma)
conhecido. Se as ideias são eternas, a alma que as conhece também é eterna e como tal, imperecível.
A existência terrena consiste na união da alma com o corpo e a morte significa, apenas, a
decomposição do que é composto (corpo), e não do que é simples (alma). O corpo se identifica com o
mortal e a alma com o divino.
Símias, e Argumento da Lira: as almas são produto da matéria e deixam de existir quando a matéria
é destruída, tal como a destruição da lira implica necessariamente a destruição da harmonia, produzida
pela lira. A alma ou pensamento é um epifenômeno, um fenômeno originado de uma causa primária.
Sócrates, em resposta a Símias: A lira é anterior à harmonia, e por isso, a lira é o fundamento da
harmonia; a alma é anterior ao corpo, então, esta não poderia ser harmonia do corpo. A alma é
anterior ao corpo admitindo o argumento da reminiscência, portanto sendo anterior ao corpo a alma
não pode ser causada por ele, como a harmonia é o efeito da lira.
Cebes, e Sua objeção: A demonstração de que a alma é resistente e divina e de que preexiste ao
corpo não implica na sua imortalidade, mas, apenas a sua longa duração.
Sócrates, em resposta a Símias: Diz ter examinado as causas que dizem respeito à geração e
destruição para que pudesse demonstrar o lugar da alma na sucessão dos contrários; estudou durante
anos a natureza para descobrir o motivo do nascimento, a vida e a morte dos vários seres. No entanto,
as explicações e o método utilizado pelos físicos não o satisfizeram porque eles confundiam a causa
com o efeito. A filosofia de Anaxágoras ao se referir à ação do espírito ordenador e causa de tudo o
que existe, permitiu-lhe a superação das explicações dos físicos. Mas Anaxágoras desviou do caminho
que havia traçado, e acabou por cair nas explicações físicas tradicionais. A explicação da ordem do
universo tem de ser da mesma natureza do espírito, inteligível. Anaxágoras falseou a estrutura da
explicação inteligível quando passou do plano da causalidade inteligível ao plano da causalidade
física – da causa espiritual aos meios de execução. Portanto, o espírito é o ordenador da natureza; a
realidade sensível só pode ser explicada pela vinculação ao inteligível. É por causa do belo que as
coisas belas são belas; nada mais torna bela a coisa do que a presença ou participação daquele belo,
realizada de qualquer modo que seja.
Se a alma é imortal, que tipo de vida leva para além da morte? Nem a razão nem a experiência
poderão responder a esta dúvida. Segue, então, o recurso ao mito para explicar o destino das almas: se
a alma é imortal, exige da parte dos homens algum cuidado. A única possibilidade de fugir ao mal é
adquirir a sabedoria no mais alto grau e a preocupação permanente com a moral.