Você está na página 1de 26

INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE

ENSINO MÉDIO INTEGRADO AO CURSO TÉCNICO EM EDIFICAÇÕES

Jéssica Freire Leal

Gabrielle da Silva Faria e Silva

Explorando Soluções Sustentáveis: Uma Proposta de Brise Vegetal para o


Instituto Federal Fluminense em Maricá

Maricá
2024
Jéssica Freire Leal
Gabrielle da Silva e Silva

Explorando Soluções Sustentáveis: Uma Proposta de Brise Vegetal para o


Instituto Federal Fluminense em Maricá

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado a coordenação do curso do
Ensino Médio Integrado ao Técnico em
Edificações para a obtenção do diploma
de Técnico em Edificações.

Orientadora: Daniela Cristina de Paula

Maricá

2024
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4
2. SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO................................................................. 5
2.1. ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA....................................................................... 6
2.1.1. Conforto Ambiental......................................................................................... 7
2.1.1.1. Conforto Térmico ........................................................................................ 7
2.1.1.2. Conforto Lumínico ....................................................................................... 8
3. BRISE VEGETAL ................................................................................................. 9
3.1. SISTEMA EXTENSIVO (DIRETO E INDIRETO) ............................................. 10
3.2. SISTEMA INTENSIVO (MODULAR E CONTÍNUO) ........................................ 14
4. PROPOSTA DE BRISE VEGETAL .................................................................... 17
4.1 FLORA EM BRISE VEGETAL: ESPÉCIES ADEQUADAS PARA A REGIÃO
DE MARICÁ .............................................................................................................. 21
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 23
6. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 25
1. INTRODUÇÃO

A urbanização acelerada, resultado do deslocamento da população do meio


rural para áreas urbanas após a Revolução Industrial, gerou diversas ramificações
sociais e efeitos ambientais adversos que repercutem em todo o ecossistema,
incluindo no bem-estar humano (VOGUEL, 2019 apud RODRIGUES, 2019). Esse
fenômeno tem se evidenciado com diversas consequências, sendo uma das mais
relevantes a degradação ambiental nas cidades, levando à diminuição da qualidade
de vida da população. A escassez progressiva de áreas verdes no meio urbano,
substituídas por edifícios e pavimentação, destaca-se como um dos aspectos mais
preocupantes.
Apesar do reconhecimento generalizado dos benefícios da vegetação na
promoção da qualidade ambiental e sustentabilidade nas edificações, observamos um
aumento desordenado na ocupação do solo urbano, muitas vezes guiado por critérios
econômicos, resultando na redução das áreas destinadas a espaços verdes
(SCHERER, 2018). Essa limitação não apenas prejudica o contato humano com a
natureza, mas também afeta o desempenho energético das edificações, contribuindo
para o fenômeno da "ilha de calor" nas cidades.
No contexto brasileiro, essa realidade se reflete nos edifícios de muitas escolas
públicas, como a sede provisória do IFF Maricá inaugurada em 2015 em uma antiga
escola de Ensino Fundamental. E também, como acontece no campus atual do
Instituto Federal Fluminense Campus Maricá (FIGURA 1), localizado em Ubatiba.
Enfrentando desafios construtivos e ambientais significativos, a instituição utilizou um
espaço cedido pela prefeitura para iniciar suas atividades, enquanto aguardava a
construção do campus permanente, negligenciando adaptações sustentáveis para
acomodar alunos e funcionários. O desconforto térmico e lumínico nas salas de aula
do bloco pedagógico, causado pelo excesso de luz solar e calor, é apenas uma das
questões que impactam diretamente o ambiente de aprendizado e convívio dos
estudantes.
Figura 1 - Imagem De Satélite Do IFF Maricá Orientado Para O Norte
Fonte: Google Earth (2023)

Diante desse cenário, a importância de buscar soluções sustentáveis torna-se


evidente, especialmente ao considerar as tendências de aumento no uso global de
sistemas de ar-condicionado, impulsionadas pelo desconforto térmico nas
construções inadequadas e pela previsão de aumento no consumo de energia elétrica
(International Energy Agency, 2018). Este artigo propõe uma abordagem inovadora
para enfrentar esses desafios, analisando os benefícios dos brises vegetais na
promoção do conforto ambiental, com uma ênfase prática no Instituto Federal
Fluminense, Campus Avançado Maricá. A busca por uma infraestrutura arquitetônica
mais sustentável é essencial para inserir a Instituição em um caminho consciente e
ecologicamente equilibrado, promovendo uma experiência educacional enriquecedora
para estudantes e colaboradores.

2. SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO

A busca crescente por práticas mais sustentáveis permeia diversos setores,


desde a construção civil até o design de ambientes. No âmbito das edificações
educacionais, a integração de construções e projetos sustentáveis ultrapassa a mera
demonstração de responsabilidade ambiental, representando uma contribuição
valiosa para a formação de ambientes saudáveis, eficientes e inovadores. O ambiente
escolar, nesse contexto, emerge como um cenário propício para o estímulo de
discussões, desenvolvimento e compartilhamento de ações relacionadas à temática
ambiental, dada a urgência e importância intrínseca a esse tema.
Conforme enfatizado por Reigota (1994, p. 25), a escola assume um papel
privilegiado na promoção da educação ambiental quando proporciona espaço para a
expressão da criatividade. No entanto, surge uma contradição quando, apesar da
abordagem de temas como conservação de água e energia, fontes sustentáveis de
energia, aproveitamento de alimentos e hortas comunitárias nas escolas, muitas
instituições educacionais enfrentam desafios práticos, como a presença limitada de
tipos de lixeiras no pátio, vazamentos nas torneiras dos banheiros, uso excessivo de
iluminação artificial e desperdício alimentar durante a merenda.
Diante desses desafios evidenciados, que englobam deficiências na
infraestrutura e a consequente falta de conforto ambiental, resultando em custos
energéticos elevados, entre outros. Essa preocupação central, do conforto ambiental
nas escolas, se destaca especialmente ao considerar a falta de engajamento dos
alunos tanto nas disciplinas que abordam questões ambientais quanto em suas
vivências diárias. Nesse contexto, torna-se relevante a proposição de um projeto que
atenda às questões físicas, ambiental e econômicas nas escolas públicas da cidade.

2.1. ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA

A arquitetura bioclimática interage com o clima local, com a edificação sempre


centralizada no conforto ambiental do usuário e quais repercussões ambientais
causará ao planeta, evitando o desperdício dos recursos naturais, poupando energia,
e contribuindo com a qualidade de vida do usuário (CORBELLA e YANNAS, 2009).
A implantação da edificação no terreno influência em três elementos: nas
perspectivas visuais, na incidência de luz solar e na ventilação natural (RUIZ e
BANDERA, 2014). Conforme argumentado por Shun (2010) os dois últimos são
responsáveis pelas variações de temperatura no interior dos ambientes, sendo
fortemente influenciados pela orientação da construção.
A utilização da arquitetura bioclimática, que incorpora elementos arquitetônicos
e tecnologias construtivas adaptadas ao clima e às condições naturais, apesar de ter
muita importância, não tem sido muito aplicada na prática. Segundo Lima (2010,
citado por NARDIN, 2019, p. 21), surgiram as soluções arquitetônicas
internacionalizadas, práticas padronizadas que visam ser aplicáveis em diferentes
edifícios ao redor do mundo, o que desconsidera a arquitetura bioclimática.

2.1.1. CONFORTO AMBIENTAL

Conforme Lamberts (2010), o conforto ambiental abrange as condições que


promovem o bem-estar térmico, acústico, visual e antropométrico do ser humano,
além de assegurar a qualidade do ar e o conforto olfativo. Embora as condições
climáticas possam variar de uma região para outra, a similaridade biológica humana
permite a adaptação a diferentes climas por meio de vestimenta, arquitetura e
tecnologia.
Lamberts (2010) também destaca a relevância, especialmente, das variáveis
relacionadas ao conforto térmico e visual devido à sua significativa correlação com o
consumo de energia. Assim, os autores definem a eficiência energética de uma
edificação como sua capacidade de proporcionar conforto térmico, visual e acústico
ao usuário, com baixo consumo energético. Pode-se afirmar que um edifício é mais
eficiente energeticamente do que outro quando oferece as mesmas condições
ambientais com menor consumo de energia (LAMBERTS, 2013).
Para Corbella e Yannas (2009), a sensação de conforto vinculada a um
fenômeno ocorre quando uma pessoa pode observá-lo sem preocupação ou
desconforto. Portanto, um ambiente físico é considerado confortável quando a pessoa
se sente neutra em relação a ele.

2.1.1.1. CONFORTO TÉRMICO

De acordo com Frota (2016) a arquitetura, como uma de suas funções, deve
oferecer condições térmicas compatíveis ao conforto térmico humano no interior dos
edifícios, sejam quais forem as condições climáticas externas.
Assim, podemos afirmar que conforto térmico se refere ao estado global de
uma pessoa em que ela não manifesta preferência por sentir nem mais calor, nem
mais frio. Em outras palavras, é um estado abrangente de bem-estar físico e mental
que denota satisfação com o ambiente térmico circundante. Esse estado pode variar
conforme a individualidade de cada pessoa, tornando um ambiente agradável para
alguns e desconfortável para outros. ( Laboratório de Eficiência Energética em
Edificações)
O aumento no uso de sistemas de ar-condicionado tem sido apontado como
uma das soluções para abordar o desconforto térmico nas edificações, especialmente
em ambientes urbanos. Isso, no entanto, tem sido associado ao aumento do consumo
de energia elétrica e, por conseguinte, ao esgotamento de recursos naturais (JESUS,
2016; NARDIN, 2019 apud VOGUEL, 2019). Como uma alternativa mais sustentável
para resolver esses desafios e lidar com outras questões ambientais, surgem as
construções sustentáveis e as edificações verdes (BROCANELI, 2010). Essas
abordagens são caracterizadas pelo emprego de tecnologias que visam a eficiência
energética, incluindo o uso de brise-soleils, telhados verdes e os jardins verticais.

2.1.1.2. CONFORTO LUMÍNICO

Conforto lumínico refere-se à presença de um conjunto específico de condições


em um ambiente determinado, que permite ao ser humano realizar suas tarefas
visuais com máxima acuidade e precisão, exigindo o mínimo de esforço, reduzindo o
risco de danos à visão e minimizando os perigos de acidentes. (DALVITE, OLIVEIRA,
NUNES, PERIUS E SHERER, 2016)
Segundo Iida (1990), diversos elementos impactam na habilidade de
discriminação visual, incluindo a faixa etária e as variações individuais. Contudo, ao
abordar projetos de ambientes de trabalho, podemos destacar três fatores
fundamentais e passíveis de controle: a intensidade luminosa, a duração da exposição
e o contraste entre figura e fundo.
Quando a intensidade luminosa do fundo supera a do objeto, ocorre o
fenômeno conhecido como ofuscamento. De acordo com Iida (1990), existem dois
tipos de ofuscamentos: um causado por uma fonte de luz intensa no campo visual,
resultando em "cegueira"; o outro originado por uma situação menos severa, gerando
desconforto, irritação e distração visual, comum em ambientes internos mal
iluminados que prejudicam as atividades realizadas. O ofuscamento predominante em
salas de aula é denominado reflexão veladora, criando a percepção de partes
apagadas no quadro-negro devido à radiação direta no objeto.
Além da necessidade de uma iluminação adequada para realizar tarefas,
existem necessidades biológicas intrínsecas ao ser humano que influenciam tanto a
percepção visual quanto a psicológica. Estudos nacionais sobre conforto visual
destacam a importância de uma iluminação apropriada para orientação espacial,
segurança física, delimitação do território pessoal e reconhecimento de atividades que
dependem da percepção da ordem no campo visual. A iluminação natural é
sublinhada como um fator crucial para estabelecer contato com elementos naturais e
orientação temporal, contribuindo para o ajuste do relógio biológico. Além disso, níveis
inadequados de iluminação para tarefas visuais específicas podem desencadear
problemas físicos, como dores de cabeça e deficiência visual (LABAKI & BUENO-
BARTHOLOMEI, 2021).

3. BRISE VEGETAL

Atualmente, são identificados diversos tipos de revestimentos vegetais


empregados em fachadas ao redor do mundo. Fabricantes e pesquisadores propõem
diversas classificações e termos, como jardins verticais, fachadas verdes, paredes
verdes, paredes vivas, biowall, brise vegetal, sistema de vegetação vertical, entre
outras denominações.
Nessa abordagem, respaldando-se na categorização apresentada por Costa
(2011, apud SCHERER, 2014), o termo "Brise Vegetal" foi adotado nesta pesquisa
como designação genérica para todos os tipos de sistemas de fachadas com
vegetação. Nessa perspectiva, considera-se o brise vegetal como uma construção
humana, configurando-se como um elemento de fachada deliberadamente planejado
para essa finalidade.
Ao examinar as capacidades dos brises vegetais em comparação com telhados
verdes ou vegetação convencional, observa-se que os brises vegetais podem ter um
impacto superior, especialmente em edifícios com múltiplos pavimentos.
Atualmente, diversas categorias de brises vegetais estão disponíveis,
apresentando inúmeros modelos com diferentes tecnologias envolvidas em sua
construção. Contudo, de maneira abrangente, o termo "brise vegetal" pode ser
consensualmente classificado por escritores em dois tipos principais: fachadas verdes
e paredes vivas, também conhecidas como living walls. Ao considerar o argumento
de Pérez (2011) a complexidade na construção e manutenção dessas categorias,
ambas se subdividem em sistema extensivo (de construção e manutenção mais
simples) e sistema intensivo (envolvendo construção e manutenção mais complexas).

3.1. SISTEMA EXTENSIVO (DIRETO E INDIRETO)

Os sistemas extensivos (FIGURA 2), considerados de construção e


manutenção simples, englobam as conhecidas fachadas verdes, que são uma
variedade de jardim vertical formado por espécies de trepadeiras ou plantas
pendentes. Esse sistema pode ser subdividido de duas maneiras: direto, quando as
plantas usam a própria fachada do edifício como suporte, crescendo diretamente na
parede de maneira autoaderente; ou indireto, quando crescem direcionadas por
estruturas adjacentes e independentes da parede, como treliças e cabos (BARBOSA;
FONTES, 2016; SCHERER; ALVES; REDIN, 2018). Importante destacar que, em
ambos os casos, as plantas podem ser cultivadas diretamente no solo ou em
jardineiras.
Figura 2 - Ordenação e implementação de coberturas vegetais em um sistema extensivo
Fonte: adaptado, SCHERER et al. (2018)

As fachadas verdes diretas representam a abordagem mais convencional de


jardins verticais. Nesse formato, uma vegetação trepadeira autoaderente se
desenvolve, cobrindo as alvenarias e fixando-se por meio de raízes adventícias ou
gavinhas ramificadas, criando um revestimento que lembra uma pele verde na
estrutura (FIGURA 3). No contexto desse sistema, a vegetação é geralmente plantada
diretamente no solo, demandando, portanto, pouca ou nenhuma adição de nutrientes
e irrigação. No entanto, é necessário realizar podas periódicas para evitar um
crescimento descontrolado. Algumas das espécies mais usuais incluem a Tricuspidata
(hera japonesa ou falsa-vinha), Hedera helix (hera-inglesa) e Ficus pumila (unha-de-
gato ou falsa-hera) (SCHERER; FEDRIZZI, 2014).
Figura 3 - Superfície vegetal de crescimento natural e integrada ao projeto arquitetônico
Fonte: adaptado, Scherer, Alves e Redin (2018)

As fachadas verdes indiretas, conhecidas também como cortinas verdes ou


dupla fachada verde, referem-se a sistemas nos quais a vegetação trepadeira
cresce com o suporte afastado das paredes (FIGURA 4 E 5). Conforme citado por
Scherer (2014):

Diferentemente de outros sistemas, estes podem ser instalados em frente às


aberturas do edifício, desempenhando um papel no controle solar. A
vegetação pode ser plantada diretamente no solo ou em floreiras, sendo
necessário maior cuidado com a nutrição e irrigação quando não plantada no
solo.
Figura 4 – Procedimentos de implementação de uma fachada verde indireta com estrutura de treliça
Fonte: adaptado, Scherer, Alves e Redin (2018)

Figura 5 - Procedimentos de implementação de uma fachada verde indireta com estrutura de cabos
Fonte: adaptado, Scherer, Alves e Redin (2018)

O sistema modular é composto por fileiras de jardineiras metálicas dispostas


ao longo da parede e em intervalos de altura uniformes. Dessas jardineiras, estendem-
se cabos de aço inoxidável presos a fixadores feitos do mesmo material, nos quais as
trepadeiras serão guiadas (FIGURA 6)
Figura 6 – Predendor de sistema indireto instalado pela empresa
EcoTelhado
Fonte:EcoTelhado

3.2. SISTEMA INTENSIVO (MODULAR E CONTÍNUO)

Os sistemas intensivos (FIGURA 7) recebem essa designação devido à


necessidade de uma construção mais complexa, demandando maiores cuidados e
custos tanto na execução quanto na manutenção. Geralmente, são considerados
elementos estéticos em fachadas ou ambientes internos, proporcionando um efeito
visual impressionante devido à combinação de diferentes espécies com variedades
de tons de folhagem e floração (SCHERER, 2014). As espécies apropriadas, embora
dependentes do clima regional, apresentam uma gama mais ampla em comparação
com outros sistemas. Costumam ser de porte reduzido, incluindo folhagens,
bromélias, samambaias, suculentas, entre outras. Essas paredes formam estruturas
com impacto visual considerável, muitas vezes sendo tratadas como obras de arte.
Atualmente, diversas empresas em nível global implementam diferentes sistemas de
paredes vivas (SCHERER; FEDRIZZI, 2014). Esse sistema pode ser implementado
de maneira contínua ou modular.
Figura 7 – Ordenação e implementação de coberturas vegetais em um sistema extensivo
Fonte: adaptado, SCHERER et al. (2018)

A parede viva contínua é comumente ajustada por meio de uma manta


geotêxtil, incluindo às alvenarias por uma estrutura metálica na qual a vegetação é
instalada em pequenas áreas acidentadas (FIGURA 8). As mudas apresentam
dimensões reduzidas e são cultivadas em substrato escasso ou inexistente, muitas
vezes utilizando um sistema hidropônico. Devido a essa característica, torna-se
imperativo fornecer de maneira constante nutrição e privacidade para as espécies em
questão (SCHERER; ALVES; REDIN, 2018).
Figura 8 – Diagrama de implementação de uma parede viva contínua
Fonte: adaptado, Scherer, Alves e Redin (2018)

Para as paredes vivas com sistemas modulares, utiliza-se módulos especiais,


como vasos, floreiras, cavidades ou módulos pré-fabricados. Esses módulos têm a
função de abrigar as plantas e sustentar seu crescimento, incorporando também o
elemento geotêxtil. Geralmente, esses módulos são fixados nas alvenarias com perfis
metálicos e podem ser confeccionados em diferentes materiais e tamanhos, como
vasos plásticos, blocos cerâmicos com cavidades (FIGURA 9) ou tabuleiros (FIGURA
10). A quantidade de substrato é determinada pelo tamanho do módulo ou cavidade,
evitando o contato da raiz da planta com o solo na base da estrutura. Assim como nas
paredes vivas contínuas, o sistema hidropônico, no qual não há uso de substrato,
apenas irrigação com fertilizantes solúveis, é frequentemente adotado (SCHERER;
ALVES; REDIN, 2018; SCHERER; FEDRIZZI, 2014).
Figura 9 - Diagrama de implementação de parede verde utilizando vasos plásticos e blocos
cerâmicos.
Fonte: adaptado, Scherer, Alves e Redin (2018)

Figura 10 - Diagrama de implementação de parede verde utilizando módulos tipo tabuleiro


Fonte: adaptado, Scherer, Alves e Redin (2018)

4. PROPOSTA DE BRISE VEGETAL

No contexto da promoção da sustentabilidade e da integração de um brise


vegetal no Campus Avançado de Maricá, a ênfase inicial está voltada para a análise
desse elemento, que representa um dos primeiros passos na concepção da proposta
que foi elaborada através de uma maquete. É de suma importância compreender as
diversas formas possíveis de integração em ambientes específicos, considerando as
opções estruturais relacionadas às necessidades e aos objetivos que a
implementação de um brise vegetal busca alcançar. Durante a revisão bibliográfica o
propósito foi examinar exemplos existentes, para analisar projetos já implementados
e os resultados obtidos, proporcionando uma compreensão realista do potencial e das
finalidades que a introdução desse elemento pode gerar em um ambiente acadêmico
A experiência acumulada durante a permanência no Instituto Federal
Fluminense (IFF), aliada aos relatos de outros alunos e docentes, revelou-se
fundamental na identificação de uma problemática relevante: a incidência excessiva
de luz solar nas salas de aula no bloco pedagógico. Este fenômeno tem gerado
inconvenientes, como o ofuscamento nos quadros e nos projetores, bem como o
aumento significativo da temperatura interna em dias particularmente quentes.
A observação direta das condições ambientais nas salas de aula do bloco
pedagógico permitiu uma compreensão mais aprofundada dos desafios enfrentados
diariamente pelos membros da comunidade acadêmica. A intensidade da luz solar,
associada à sua posição angular em determinados momentos do dia, contribui para o
desconforto visual e térmico, impactando diretamente na qualidade do ensino e no
bem-estar dos envolvidos.
Além disso, o compartilhamento de experiências por parte de colegas e
professores enriqueceu a análise, proporcionando uma visão abrangente das
diferentes percepções em relação ao problema. A coleta de dados qualitativos, e
experiência através de material bibliográfico, tem sido uma estratégia adotada para
aprofundar ainda mais a compreensão dos efeitos negativos dessa incidência solar e
identificar possíveis soluções.
Com base nos dados obtidos por meio da observação cotidiana, destaca-se a
necessidade de instaurar um sistema de brise vegetal. A principal lacuna identificada
refere-se à ausência de elementos capazes de atenuar a incidência solar excessiva
nas salas de aula bloco pedagógico. Nesse contexto, a pesquisa evidenciou a eficácia
do brise vegetal como uma solução sustentável e eficiente para regular a
luminosidade, proporcionando um ambiente mais propício ao ensino e à
aprendizagem. Considerando a análise direta das condições ambientais, a proposta
de incorporação de elementos vegetais no sistema brise visa oferecer uma
abordagem mais natural e harmoniosa ao ambiente, contribuindo para aprimorar o
conforto térmico e visual nas instalações acadêmicas.
Na elaboração da maquete (FIGURA 11), um cuidadoso processo de seleção
de materiais foi realizado para garantir a representação fiel do projeto. Os isopores,
escolhidos em diversas gramaturas, proporcionaram a base sólida e leve necessária
para construir os diferentes elementos arquitetônicos. A utilização de palitos de
madeira conferiu detalhes estruturais importantes, proporcionando uma reprodução
mais próxima da realidade.

Figura 11 - Representação da fachada Norte sem o Brise Vegetal do Bloco Pedagógico do


IFF Maricá.
Fonte: Própria

Para replicar fielmente o brise vegetal no modelo (FIGURA 12 e 13), optou-se


por empregar grama artificial e barbante. A escolha do barbante foi baseada em sua
semelhança com o sistema extensivo indireto com cabos, que foi especificado no
projeto para implementação no IFF Maricá. Essa atenção aos detalhes na escolha dos
materiais não apenas aprimorou a estética da maquete, mas também possibilitou uma
representação mais precisa e informativa do conceito de brise vegetal proposto para
a edificação.
Figura 12 - Representação da fachada Norte com o Brise Vegetal do Bloco Pedagógico do
IFF Maricá.
Fonte: Própria

Figura 13 - Representação da fachada Leste com Brise Vegetal do Bloco Pedagógico do IFF
Maricá.
Fonte: Própria

Além disso, a integração cuidadosa desses materiais permitiu não apenas uma
visualização tridimensional, mas também uma compreensão mais aprofundada das
soluções arquitetônicas apresentadas, destacando a importância da maquete como
ferramenta didática e de comunicação no processo de apresentação e análise do
projeto. (FIGURA 14)
Figura 14 – Representação da fachada Norte e Leste com o Brise Vegetal do Bloco
Pedagógico do IFF Maricá.
Fonte: Própria

4.1 FLORA EM BRISE VEGETAL: ESPÉCIES ADEQUADAS PARA A REGIÃO DE


MARICÁ

A seleção das espécies vegetais a serem utilizadas é influenciada por vários


fatores, incluindo as características do clima e da cultura local, o tipo de sistema
empregado, as dimensões dos edifícios e os objetivos paisagísticos e ambientais
almejados. A escolha apropriada das espécies desempenha um papel crucial na
eficácia térmica das fachadas verdes, uma vez que a consolidação da cobertura
vegetal e a densidade da folhagem afetam o grau de sombreamento (SCHERER;
ALVES; REDIN, 2018). Além disso, cada espécie tem sua própria influência no
desempenho térmico das fachadas verdes, determinada por suas propriedades
físicas.
Outro aspecto relevante reside na possibilidade de escolher uma espécie
inadequada em relação à sua resistência ao clima regional, o que pode resultar na
perda da vegetação, exigindo substituição e acarretando custos desnecessários,
colocando em risco toda a tecnologia empregada na construção do sistema. Portanto,
antes de avaliar as espécies mais adequadas para a região Sudeste do Brasil, é
fundamental compreender as características climáticas locais.
Maricá, que é um município litorâneo da região metropolitana do Rio de
Janeiro, localizado na região Sudeste do Brasil apresenta o clima litorâneo úmido pela
classificação de A. Strahler (FIGURA 15).

Figura 15 - Classificação dos climas no Brasil, classificação de A. Strahler


Fonte: adaptado Mundo Educação (2010)

Para a região de Maricá, em áreas caracterizadas por um clima litorâneo úmido,


é aconselhável escolher espécies atribuídas, como as Convolvulácea, exemplificadas
pela Stictocardia macalusoi, também conhecida como "ipomeia africana" (FIGURA
16). A decisão de usar essa trepadeira para o brise vegetal foi fundamentada em
critérios que levam em consideração a adaptação ao clima local e os efeitos desejados
no ambiente, incluindo características como alta densidade de folhagem, perda de
folhas em temperaturas frias, alcance em altura e crescimento vigoroso. A
configuração da fachada verde foi estrategicamente planejada para fornecer
atenuação térmica.
Figura 16 - “Ipomeia-Africana” atuando em fachada verde
Fonte: Agrotexas (2020)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar historicamente e considerar o contexto contemporâneo da vida


em sociedade, torna-se evidente a crescente busca por alternativas para enfrentar
desafios globais, como o consumo excessivo de energia. Nesse contexto, destaca-
se a importância do emprego de vegetação no ambiente urbano, com ênfase nos
brises vegetais como uma solução viável para integrar a natureza nas fachadas de
edifícios, superando as limitações impostas pela urbanização.
De maneira resumida, os brises vegetais, oferecem benefícios significativos
ao ambiente, incluindo a melhoria das condições térmicas, aumento da eficiência
energética, redução da poluição do ar e efeitos terapêuticos. Contudo, devido à
diversidade de termos atribuídos por fabricantes e pesquisadores, é fundamental
compreender a sistematização e classificação desses sistemas para escolher a
tecnologia mais apropriada em cada situação.
Além disso, é relevante considerar as características climáticas locais ao
selecionar espécies vegetais, sendo recomendável optar por aquelas adaptadas ao
clima litorâneo úmido da região de Maricá. A elaboração do brises vegetais em
instituições educacionais revela-se benéfica, estimulando a conscientização
ambiental e proporcionando oportunidades de aprendizado aos estudantes, não
apenas sobre questões ambientais, mas também incentivando possíveis carreiras na
área da construção civil.
Este trabalho não apenas revisou bibliograficamente pesquisas acadêmicas
para gerar impacto positivo na sociedade, mas acredita-se que também estimulará
futuros estudos que promova a conscientização ambiental. Em resumo, a
incorporação de vegetação nos ambientes urbanos é uma estratégia vital para
preservar a qualidade ambiental das cidades, sendo promovida por meio de
certificações sustentáveis e iniciativas locais com objetivos globais de
sustentabilidade.
6. REFERÊNCIAS

ABREU, L. V.; LABAKI, L. C. Conforto térmico propiciado por algumas espécies


arbóreas: avaliação do raio de influência através de diferentes índices de conforto.
Ambiente Construído, v. 10, p. 103-117, 2010.
BROCANELI, P. F. A contribuição das certificações verdes leed/gbc brasil, para a
construção da cidade sustentável. 2010.
CORBELLA, O.r; YANNAS, S. Em busca de uma Arquitetura sustentável para os
trópicos: conforto ambiental. Rio de Janeiro: Editora Revan Ltda, 2003. 287p.
DALVITE. B., OLIVEIRA. D., NUNES. G., PERIUS. M., SCHERER. M. J. Análise do
conforto acústico, térmico e lumínico em escolas da rede pública de Santa Maria, RS.,
2008
FROTA, A. B. e SCHIFFER, S. T. R. Manual de conforto térmico. São Paulo: Studio
Nobel., 1999.
IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Ed. Edgar Blucher Ltda, 1990.
International Energy Agency. The Future of Cooling: Opportunities for energy-efficient
air conditioning. OECD/IEA: home. Boulder, 2018. Acesso em 23 dez. 2024.
LAMBERTS, R. et. al. Desempenho térmico de edificações. Florianópolis, 1995. 82p.
LABEE. Conforto Térmico. Disponivel em: https://labeee.ufsc.br/pt-br/linhas-de-
pesquisa/conforto-termico. Acesso em 15 de jan de 2024.
NARDIN, A. C. D. Viabilidade do uso da energia geotérmica para condicionamento
térmico de habitações sociais. Santa Maria, f. 56, 2019.
PÉREZ, G. et al. Behaviour of green facades in mediterranean continental climate.
Energy conversion and management, Elsevier, v. 52, n. 4, p. 1861–1867, 2011.

RUIZ, R; BANDERA, F.Importance of orientation in building energy-savings. World


sbk 2014 barcelona,Espanha, p.327-334,out. 2014. Disponível em:
http://www.irbnet.de/daten/iconda/cib_dc28305.pdf
REIGOTA, Marcos. A Educação Ambiental frente aos desafios apresentados pelos
discursos contemporâneos sobre a natureza. Educação e Pesquisa, v. 36, n. 02, p.
539-553, 2010.
SCHERER, M. J. Cortinas verdes na arquitetura: desempenho no controle solar e na
eficiência energética de edificações. 2014.
SCHERER, M. J.; ALVES, T. S.; REDIN, J. Envoltórias vegetadas aplicadas em
edificações: benefícios e técnicas. Revista de Arquitetura IMED, v. 7, n. 1, p. 84–101,
2018.
SHUN, L. T. Effects of building orientation on the residential property price: an
empirical study in telford garden. 2010. 84p. Tese (Licenciatura em ciências) -The
University of Hong Kong. China, 2010. Disponível em:
http://hub.hku.hk/handle/10722/130982
VOGEL, Thaís. Projeto e aplicação de brise vegetal na escola, envolve conforto
térmico e conscientização ambiental. 2019.

Você também pode gostar