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ASPEN ÍCARO RODRIGUES OLIVEIRA

KAIO LOPES NERES


MARCOS ANTONIO ROCHA FILHO

PURIFICAÇÃO DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS ORIUNDOS DE


LATICÍNIOS POR MEIO DA MICROALGA CHLORELLA VULGARIS

GURUPI/TO
2023
ASPEN ÍCARO RODRIGUES OLIVEIRA
KAIO LOPES NERES
MARCOS ANTONIO ROCHA FILHO

PURIFICAÇÃO DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS ORIUNDOS DE


LATICÍNIOS POR MEIO DA MICROALGA CHLORELLA VULGARIS

Projeto apresentado a Escola SESI de Gurupi-


TO na área de Itinerário de Ciências da
Natureza para conclusão do ensino médio.
Orientadores: Prof. Ms. Davi Texeira Reis
Profa. Eliane Moura de
Aguiar

GURUPI/TO
2023
RESUMO
A escassez de água é um problema global, inclusive no Brasil, devido ao desperdício e má
distribuição. A crise hídrica resulta da má administração, avanço industrial, poluição e
eventos ambientais. As indústrias estão adotando práticas sustentáveis para reduzir o impacto
ambiental. As estações de tratamento de esgoto industrial são essenciais para minimizar o
impacto dos resíduos no ecossistema, usando processos aeróbios e anaeróbios. O tratamento
biológico de esgoto envolve microrganismos que necessitam de oxigênio ou não para
decompor os resíduos. As microalgas desempenham um papel vital na purificação de
efluentes devido ao seu crescimento em ambientes ricos em CO 2 e nutrientes. Esses
microrganismos unicelulares e fotoautotróficos contribuem para uma abordagem sustentável
na purificação de efluentes. O projeto de pesquisa se concentra em demonstrar a eficácia das
microalgas na purificação de efluentes industriais de laticínios, destacando a importância de
práticas sustentáveis na indústria para proteger o meio ambiente.

Palavras chave: escassez de água, crise hídrica, sustentabilidade ambiental


ABSTRACT
Water scarcity is a global issue, including in Brazil, due to wastage and poor distribution. The
water crisis arises from mismanagement, industrial expansion, pollution, and environmental
events. Industries are embracing sustainable practices to mitigate environmental impact.
Industrial sewage treatment plants are essential to minimize the impact of waste on the
ecosystem, employing aerobic and anaerobic processes. Biological sewage treatment involves
microorganisms that either require or do not require oxygen to break down the waste.
Microalgae play a vital role in effluent purification due to their growth in environments rich in
CO2 and nutrients. These unicellular, photosynthetic microorganisms contribute to a
sustainable approach in effluent purification. The research project focuses on demonstrating
the efficacy of microalgae in purifying industrial dairy effluents, emphasizing the importance
of sustainable practices in the industry to safeguard the environment.

Keywords: water scarcity, water crisis, environmental sustainability.


ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Mapa das principais áreas industriais do mundo....................................................13
Figura 2: Mapa dos principais poluidores do planeta..............................................................13
Figura 3: Parâmetro global para estresse hídrico por província/estado/região........................14
Figura 4: Aquário com bomba para aeração............................................................................20
Figura 5: Pesagem das capsulas de Chlorella Vulgaris...........................................................21
Figura 6: Pesagem do fertilizante NPK...................................................................................22
Figura 7: Recipientes iguais contendo 1,5 litros de microalgas cada......................................23
Figura 8: Incrementarão do efluente ao mosto........................................................................24
Figura 9: Amostras com suas devidas proporções...................................................................25
Figura 10: Medição de pH e turbidez das amostras.................................................................25
Figura 11: Filtro com vela de carvão ativado..........................................................................26
Figura 12: Visualização microscópica da microalga...............................................................28
Figura 13: Em (a) Amostra 1 e em (b) Amostra dois ambos com fungos visíveis e diversos
microrganismos.........................................................................................................................29
Figura 14: Lâmina da amostra 2 em (a) e em (b) visualização no microscópio......................29
Figura 15: Visualização microscópica da amostra 1...............................................................30
Figura 16: Colagem dos resultados de pH...............................................................................31
Figura 17: Colagem dos resultados de turbidez.......................................................................32
Figura 18: Resultados de turbidez...........................................................................................33
Figura 19: Resultados de pH...................................................................................................33
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Referente as vantagens e desvantagens de se possuir a própria estação de


tratamento de esgoto industrial na fábrica................................................................................16
Tabela 2: Referente aos processos de tratamento e suas características..................................17
Tabela 3: Relações entre modo nutricional e tipo de cultivo...................................................19
Tabela 4: Parâmetros analisados e método empregado...........................................................27
Tabela 5: Resultados obtidos para análises realizadas nas amostras 1 e 4..............................35
Tabela 6: Resultados para análises realizadas nas amostras 2 e 3...........................................35
ÍNDICE DE EQUAÇÃO

Equação 1.................................................................................................................................21
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................9

2. OBJETIVOS....................................................................................................................11

2.1 Objetivo geral...........................................................................................................................11

2.2 Objetivos específicos................................................................................................................11

3. DESENVOLVIMENTO..................................................................................................12

4. METODOLOGIA............................................................................................................20

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................................28

5.1. Análise Laboratorial do efluente filtrado...........................................................................34

6. CONCLUSÃO..................................................................................................................37

7. REFERÊNCIAS...............................................................................................................38
9

1. INTRODUÇÃO
Um problema bastante comum é a escassez de água, que já foi considerada uma fonte
inesgotável em outros tempos. Mas hoje, a partir de vários estudos percebe-se que na verdade
é uma fonte esgotável. É observado a falta de água até mesmo no Brasil, considerado o maior
depositário hídrico doce, porém, presencia-se graves problemas sociais e econômicos
relacionados com a água, devido ao grande desperdício e pela má distribuição entre os povos,
causado pela desigualdade social (AUGUSTO, 2012).
De acordo com a opinião de alguns especialistas no assunto a crise hídrica é gerada da
má administração. Para outros, decorre de uma série de acontecimentos com o meio ambiente
e tem-se agravado pela crise econômica e também social. Dentre esses acontecimentos,
ressalta-se o avanço industrial, o qual vem deteriorando o ambiente natural em que vivemos
(TUNDISI, 2008).
Com o crescimento das fábricas presenciado nas últimas décadas, podemos
testemunhar também o aumento no índice de poluição causado por estas. Isso também eleva a
preocupação com questões ambientais e favorece a escassez de recursos naturais, degradando
a fonte desses recursos, tais como o solo, lençóis freáticos, florestas, rios e mares (KUMAR,
2018).
Tendo como foco o período do final do século XX até os dias atuais, vimos que as
indústrias estão se preocupando mais com questões de sustentabilidade, complementando com
práticas educativas e aumentando assim, o nível de conhecimento sobre o assunto.
Diferentemente do que víamos no início da segunda Revolução Industrial, em que a
demasiada utilização de recursos naturais no processo produtivo de praticamente tudo que se
encontrava no mercado, acarretava em uma elevada taxa de contaminação ambiental. O
impacto ambiental agravava-se cada dia mais por conta do descarte desordenado dos resíduos
gerados pela sociedade. Esse tipo de descarte irresponsável acabava por destruir a natureza, já
que grande parte desses resíduos eram e ainda são descartados em locais inapropriados e
acabam contaminando o meio ambiente. Uma das formas de remediar esse problema são as
estações de tratamento de esgoto (BARCELLOS, 2009).
As estações de tratamento de esgoto industrial têm por objetivo minimizar o impacto
dos resíduos (também chamados de efluentes) sobre o ecossistema, que por sua vez não
consegue decompô-los sem que haja a preparação adequada para que os corpos aquáticos
sejam capazes de receber esses efluentes industriais sem ocorrer uma degradação. Uma das
maneiras de realizar o preparo desses efluentes é através do tratamento de esgoto biológico,
10

que consiste em decomposição natural por meio de bactérias. Esse processo é dividido em
duas técnicas distintas: aeróbia e anaeróbia (AUGUSTO; GUERRINI; ENGEL; ROUSSEAU,
2007).
O método aeróbio é aquele em que se usa microrganismos que necessitam da presença
de oxigênio para sobreviverem e se reproduzirem, como por exemplo, as fábricas de celulose
e papel, que causam efluentes que podem ser tratados a partir dessa técnica. Já no processo
anaeróbio, os microrganismos atuam somente na ausência de oxigênio, ainda sendo divididos
em facultativos, aqueles que podem sobreviver na presença de oxigênio e na ausência do
mesmo realizam fermentação para a sobrevivência, e restritos, aqueles que se encapsulam na
presença de oxigênio, e na ausência vivem e se reproduzem (AUGUSTO; GUERRINI;
ENGEL; ROUSSEAU, 2007).
Dentro do processo aeróbio temos a utilização das microalgas para purificação de
efluentes em estações de tratamento de esgoto, já que este é um lugar propício para o
crescimento desses organismos, uma vez que estão na presença de CO 2 e nutrientes, como
potássio, nitrogênio e fósforo. As microalgas são microrganismos heterogêneos, geralmente
microscópicos, unicelulares, filamentosos, pigmentados e fotoautotróficos. Filogeneticamente,
podem ser procarióticos ou eucariontes (OLAIZOLA, 2003).
Dessa forma percebe-se que é necessária uma maneira sustentável de purificação dos
efluentes antes de despejá-los na natureza, amenizando assim, as consequências desses
resíduos sobre o meio ambiente.
Nesse sentido, o presente projeto de pesquisa tem como premissa se basear na
comprovação da eficácia das microalgas utilizadas no processo de purificação de efluentes
industrias oriundos do laticínio.
11

2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Investigar e analisar a eficácia da purificação de resíduos lácteos utilizando microalgas
como um método sustentável e viável.
2.2 Objetivos específicos
I. Estabelecer um protocolo de cultivo otimizado para a microalga Chlorella vulgaris;
II. Coletar o soro do leite como um subproduto da indústria de laticínio;
III. Preparar e avaliar amostras contendo diferentes proporções de efluentes industriais e
mosto;
IV. Acompanhar as variações de pH e turbidez das amostras;
V. Filtrar as amostras por meio de carvão ativado;
VI. Analisar parâmetros físicos, químicos e biológicos das amostras filtradas.
12

3. DESENVOLVIMENTO

Nosso planeta é composto primordialmente de água, no qual corresponde a 75% da


composição da superfície terrestre. Entretanto, apenas 3% de toda essa água é doce, própria
para o consumo humano, o que torna esse fato ainda mais preocupante, pois, dessa água doce
disponível, apenas 0,3% encontram-se em rios e lagos, 0,9% em outros reservatórios, 29,9%
são de águas subterrâneas e 68,9% correspondem a calotas e geleiras polares (LIBÂNIO,
2010).
A água é utilizada desde o desenvolvimento energético, agrícola e industrial até
valores culturais e religiosos percebidos em diversas sociedades. É um elemento essencial
para que haja vida em qualquer lugar do globo terrestre. O que antes era considerado um
recurso infinito e inesgotável, hoje se vê como um recurso esgotável e muito mais importante.
Para sobrevivência disso percebe-se que é primordial preservarmos nossos reservatórios
hídricos para que esse componente não renovável, não venha a se esgotar e acabarmos lidando
com a insuficiência hidrológica e consequentemente, o fim da vida na Terra (LOPES;
ARRUDA, 2011).
Um dos principais desafios para o combate da crise hídrica é a poluição,
principalmente por parte das indústrias, que desde o princípio de seu surgimento vem
degradando o ambiente de forma agressiva. É de conhecimento geral que a Revolução
Industrial foi um ato muito importante para a história do planeta, no qual seus impactos
afetaram toda a população. A revolução mudou o mundo, visto que modificou o processo
produtivo, o produto deixou de ser produzido de forma manual e passou a ser mais
mecanizado, por conta dessa evolução a população começou a ter um maior poder econômico
durante o tempo (VIEIRA, 2011).
Essas primeiras Revoluções Industriais trouxeram além de muitas mudanças
econômicas e sociais, um grande impacto ambiental. Isso ocorria decorrente do fato de que
muitas indústrias não tinham o conhecimento ou ignoravam e não se importavam com a
destruição que causavam ao meio ambiente, provocando a destruição da flora, a fauna, e
também dos reservatórios hídricos existentes perto da sua produção (HOBSBAWM, 2014).
Essa problemática se deve à falta de investimentos na questão ambiental por parte dos
governos da época e dos donos das indústrias, que só se importavam em lucrar e não
consideravam os males que ocasionavam ao meio ambiente por viés do despejo incorreto dos
resíduos gerados na produção industrial (LOPES; ARRUDA, 2011).
13

Além de todas as vantagens econômicas, as revoluções industriais trouxeram consigo


algumas desvantagens, como, o intangível impacto ambiental. Junto com o surgimento das
fábricas veio também o aumento da poluição de forma geral em todo a Terra. Se observarmos
os mapas abaixo veremos que os ambientes onde mais há poluição são os ambientes
considerados mais industrializados.

Figura 1: Mapa das principais áreas industriais do mundo.

Fonte: Blogpost (Regina Bolico)

De acordo com o mapa, vemos que os grandes polos industriais do mundo se


localizam nos Estados Unidos, e certos países da Europa e Ásia. Observamos também que
países em desenvolvimento ainda não possuem um avanço industrial notório, como por
exemplo a maioria dos países africanos.

Figura 2: Mapa dos principais poluidores do planeta


14

Fonte: Agência Brasil/Multimídia

A segunda figura se refere à poluição, principalmente pela emissão de CO 2 na


atmosfera, no entanto, os mesmos países e indústrias que emitem esse gás danoso a atmosfera
terrestre são os que muito provavelmente também poluem os rios e reservatórios aquosos mais
próximos. As indústrias fazem parte das principais fontes de poluição tanto atmosférica, do
solo, quanto da água. Esses sistemas fabris degradam os recursos hídricos por meio do
despejo irresponsável dos resíduos/efluentes industriais (ANTUNES; BARBOSA, 2013).
É perceptível que atualmente algumas indústrias se preocupam mais com a crise
hídrica e ambiental do que outras. Houve um grande avanço na sustentabilidade industrial se
comparada ao início das primeiras Revoluções Industriais. A maneira como estão sendo
poluídos os meios hídricos causam alerta sobre o risco de escassez de água, algo que já vem
acontecendo em certas partes do mundo, como mostra a figura 3.

Figura 3: Parâmetro global para estresse hídrico por província/estado/região


15

Fonte: WRI Aqueduct

Uma forma de contornar essa problemática é empregar a sustentabilidade nas grandes


indústrias (principais causadoras de poluição hídrica e desperdício). Esse processo pode ser
feito a partir de reuso ou até mesmo da purificação dos resíduos industriais, antes de serem
rejeitados em rios e mares. O tratamento eficiente dos efluentes industriais se torna uma etapa
fundamental para o desenvolvimento sustentável (LOPES; ARRUDA, 2011).
Com o avanço da quarta revolução, pode-se notar uma vasta contribuição das grandes
tecnologias para tornar a produção industrial mais eficiente, com a redução de recursos não
renováveis e com a utilização de recursos sustentáveis ao meio ambiente. Por meio da
inteligência artificial, algumas companhias identificaram nichos de mercado e formas para
contribuir com a sustentabilidade e com o consumo responsável dos recursos naturais.
Recentemente a empresa Microsoft criou o programa de inteligência artificial chamado AI
for Earth, que fornece recursos computacionais a partir da nuvem para organizações que
buscam transformar a forma de gerir os recursos naturais da terra. A ferramenta pode ser
utilizada para diagnosticar condições da água, ar e solo capturando dados e informações para
o desenvolvimento de soluções mais sustentáveis, tendo como frentes de atuação, a princípio,
quatro principais áreas: agricultura, água, biodiversidade e mudanças climáticas
(SOARES,2022).
A indústria pode utilizar a água em diversos setores e para diversos objetivos, desde a
incorporação ao produto até lavagem das máquinas e pisos, com isso, podem produzir
diversos tipos de efluentes líquidos que são desde água residual da limpeza, até resíduos da
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própria produção, como é o caso do soro residual resultante da produção nas indústrias de
laticínio, que muitas vezes não são reaproveitados e são jogados sem tratamento algum em
reservatórios hídricos (GIORDIANO, 2004).
Para despejar os efluentes industriais na natureza é necessário analisar critérios para
se certificar de que aquele efluente está apto para ser lançado ao meio ambiente. Dentre os
sistemas de medição para a qualidade de efluentes aquosos estão o pH e a turbidez, tendo
como base o pH e a turbidez ideal da água em seu estado natural, sem modificação. O pH é
uma escala numérica que diz o quão ácido ou básico/alcalino é uma solução aquosa, sendo de
1 a 6,9 considerado ácido, 7 é neutro e de 7,1 a 14 é alcalino. O pH da água encontrada na
natureza pode oscilar entre 6,5 e 8,5. Já a turbidez corresponde as partículas na água que
impedem a dispersão de raios luminosos, sejam sedimentos sólidos, outros líquidos, ou até
microrganismos. A turbidez varia muito dentro do meio ambiente e é um grande indicador
visível da poluição ou sujidade do corpo d’água, a qual deve se manter em baixos valores
numéricos para corresponder a uma água ou efluente visivelmente limpo (VIEIRA, 2019).
Uma das formas de remediar o despejo inapropriado de efluentes industriais é por
meio do saneamento básico que é considerado, segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), como: “Controle de todos os fatores do meio físicos do homem que podem exercer
efeito deletério sobre o seu bem-estar físico, mental e social” com objetivo de prevenir
doenças e melhorar a saúde da sociedade. Os principais benefícios resultantes do saneamento
básico são respaldados por evidências científicas, dais quais estão o aumento da produtividade
no trabalho, melhoria no bem-estar emocional e psicológico, além das vantagens econômicas
como, a redução das despesas relacionado a internações hospitalares e medicamentos
(BEZERRA,2007).
O saneamento básico abrange um conjunto de medidas que visam melhorar as
condições das pessoas e o sistema de esgoto desempenha um papel crucial nesse contexto
trabalhado. O objetivo do esgoto é a condução e o tratamento de resíduos de diferentes
concentrações habitantes. No entanto, no Brasil há uma enorme dificuldade quanto a liberação
do esgoto, o que se constitui um grande problema, visto que são lançados em corpos d’água.
Dentre esses que são lançados nos corpos está o mais prejudicial, que é o esgoto industrial.
Esse comportamento social contribui para deterioração ambiental e provoca vários desafios
para a saúde pública (TONETTI,2010).
Conforme Giordiano (2004), é de conhecimento geral que o esgoto industrial necessita
de um tratamento antes de ser despejado na natureza. Algumas fábricas terceirizam esse
serviço encaminhando seus efluentes para o saneamento básico, enquanto outras possuem
17

suas próprias estações de tratamento. Entretanto dentre aquelas que terceirizam o serviço
existem as que precisam de um tratamento prévio antes de serem mandadas para a estação de
tratamento de esgoto (ETE) delegada. Já as que possuem seus próprios postos de tratamento
para os resíduos nelas gerados visualizam algumas vantagens e desvantagens:

Tabela 1: Referente as vantagens e desvantagens de se possuir a própria estação de tratamento de


esgoto industrial na fábrica
VANTAGENS DESVANTAGENS
Controle sobre o processo de tratamento Custos iniciais elevados
Redução de gastos à longo prazo Custos operacionais e de manutenção
Conformidade com regulamentação Necessidade de espaço e infraestrutura
Responsabilidade ambiental -
Melhoria do ciclo de produção -
Redução do impacto ambiental -
Reutilização de materiais -
Fonte: Próprios autores, 2023

Dentre as atividades industriais, o setor de alimento se destaca em relação ao consumo


de água (RAMJEAWON, 2000). Dentro desse setor encontram-se as indústrias de laticínios,
que tendenciam em maior parte, a gerar resíduos líquidos, esses efluentes passam por certas
etapas de tratamento, sendo: processos físicos, químicos e biológicos (GIORDANO, 2004).

Tabela 2: Referente aos processos de tratamento e suas características.


PROCESSOS EXEMPLOS DESCRIÇÃO
Gradeamento; peneiramento; separação de São processos que removem
Físicos
óleos; sedimentação; flotação. os sólidos em suspensão.
Clarificação química; eletrocoagulação; São processos que utilizam
Químicos oxidação por ozônio; precipitação de fosfatos produtos químicos para
e outros sais; precipitação de metais tóxicos. remoção de poluentes.
Formam produtos mais
Lagoas anaeróbias e fotossintéticas;
Biológicos estáveis para despejo no
processos aeróbios; processos facultativos.
meio ambiente.
Fonte: Próprios autores, 2023

O Brasil é um dos principais produtores de leite e seus derivados do mundo, sendo


assim, as indústrias de laticínios possuem grande importância para a economia do país.
18

Entretanto, esse setor de produção também é responsável por grandes impactos gerados ao
meio ambiente, devido a quantidade elevada de água utilizada na fabricação de seus produtos
e limpeza das máquinas, gerando um enorme volume de efluentes. Para que esses efluentes,
compostos de ácidos graxos, lipídeos, carboidratos, fósforo, nitrogênio e compostos
inorgânicos, sejam descartados de forma apropriada é necessário que haja um tratamento
adequado para retirada desses compostos prejudiciais ao meio ambiente (SANTOS, 2018).
Dentre as indústrias alimentícias, as de laticínios são consideradas as mais poluentes,
pois apresentam um sistema com alta carga orgânica, consequência da grande quantidade de
lipídios, carboidratos e proteínas. Logo, quando despejados sem tratamento, colocam em risco
todo o ecossistema aquático. (BEGNINI, RIBEIRO, 2014; PEREIRA, FERNANDES, 2018).
O despejo sem tratamento pode acabar acarretando no fenômeno de eutrofização, que é
quando um corpo d’água recebe de maneira exagerada nutrientes e matéria orgânica, que
provoca o crescimento desequilibrado de algas e plantas aquáticas, podendo por sua vez
ocasionar em morte de outros animais existentes nessa região (OBAJA, 2003;
REYESAVILA; 2004).
Essas indústrias disponibilizam uma variedade de produtos, como por exemplo:
sorvete, iogurte, cremes, requeijão, leite em pó, leite condensado, manteiga, dentre outros. Por
esse motivo vale salientar a abundância na geração do soro do leite (efluente líquido
resultante do processo de produção do laticínio) como uma problemática, pois este é um
grande poluente se jogado sem tratamento em cursos d’água devido sua alta concentração de
lactose, gorduras, sais minerais e proteínas, provindo uma demanda de oxigênio
extremamente elevada para a curso d’água em que for rejeitado (SARKAR, 2006;
FRAPPART, 2006; FARIZOGLU, UZUNER, 2011; MARKOU, GEORGAKAKIS, 2011).
A carga orgânica do esgoto doméstico é 100 vezes menor que a gerada pelo soro do
leite. Segundo Boschi (2006), a carga proveniente de 470 pessoas equivale a 1000 litros de
soro não tratado. Estes constituintes podem ser sustentavelmente reciclados a partir das
microalgas, a utilização desses seres mediante tratamento dos efluentes líquidos e
principalmente soro do leite, apresenta várias vantagens, como: tratar efluentes, gerar
produtos celulares de interesse e disponibilizar o reaproveitamento de águas residuais.
O processo que utiliza as microalgas como tratamento se encaixa na etapa de um
tratamento biológico. O papel do processo de tratamento biológico é remover a matéria
orgânica do efluente industrial, passando pelo metabolismo oxidativo e síntese celular. Este é
um processo de ótima escolha para as indústrias de laticínios por conta da composição de seus
19

efluentes possuírem grandes taxas de matéria orgânica. Assim, na maioria dos casos os
efluentes lácteos são tratados por processos biológicos (BOSCHI, 2006).
O grupo em que as microalgas se encontram são predominantemente aquáticos e
geralmente microscópicos unicelulares (variando de 5 até 50 μm), podendo se agrupar em
colônias. Possuem uma coloração variada, característica da presença de pigmentos e
mecanismos fotoautotrófico. O grupo das microalgas é composto por espécies procarióticas e
eucarióticas (RAVEN et al., 2005). A nomenclatura “microalgas” não possui relevância
taxonômica, pois abrange micro-organismos que possuem clorofila e outros pigmentos
fotossintéticos capazes de realizar a fotossíntese oxigênica, sendo assim “microalga” é
adotado como um termo genérico. (PÉREZ, 2007).
As microalgas detêm grande importância ambiental, pois são responsáveis por
produzir pelo menos 60% de toda produção de oxigênio da Terra e estão presentes tanto na
natureza quanto em ambientes artificiais. O metabolismo das microalgas é extremamente
dinâmico, assim, conseguem ser bastantes versáteis sob diferentes condições de crescimento
(SANTOS, 2018). Seu crescimento está diretamente ligado a forma de cultivo, vários fatores
podem desfavorecer ou beneficiar sua proliferação. O local e o meio de cultivo adotado
também estão ligados ao resultado que se deseja obter, como por exemplo, a quantidade de
nitrogênio influencia na produção de lipídeos e proteínas feita pelas microalgas, outro fator é
a incidência de luz, que colabora com a produção de pigmentos microalgas. O próprio modo
nutricional também afeta seu desenvolvimento e o tipo de produção usada para o objetivo que
se almeja alcançar, como visto na Tabela 3: (CARDOSO et al., 2011).

Tabela 3: Relações entre modo nutricional e tipo de cultivo


Características
Modo
do modo Tipo de cultivo Características do tipo de cultivo
nutricional
nutricional
Organismos que
conseguem
energia por Desnecessário o uso de
Cultivo
Heterotrófico meio de luminosidade, a fim de consumir
Heterotrófico
alimentos compostos orgânicos.
capturados do
ambiente.
Organismos Necessita de intensa luminosidade. É
capazes de Cultivo a estratégia mais comum para
Autotrófico produzir seu Autotrófico cultivo de microalgas, entretanto
próprio possui limitações com o aumento na
alimento. produção de biomassa.
Heterotrofia +
Mixotrófico - -
Autotrofia
20

Fonte: LUÍSA e MEDEIROS (2013).

Cada tipo de cultivo objetifica um resultado, o cultivo autotrófico tem por objetivo
obtenção de matéria orgânica, visto que para seu crescimento necessita-se apenas de energia
solar e oxigênio, por outro lado, existem diversas microalgas que conseguem ser estimuladas
pela presença de carboidratos, proteínas e lipídios, assim podendo produzi-las pelo cultivo
heterotrófico. No cultivo heterotrófico, além de obter biomassa, também podemos utilizar as
microalgas de forma eficiente para consumir as concentrações de matérias indesejadas, como
o excesso de matéria orgânica (CHEN & JOHNS, 1994).
Contudo, em alguns estudos constatou-se que há duas limitações importantes na forma
de cultivo heterotrófico das microalgas: por conta da presença do substrato orgânico, o meio
de cultivo fica propício a contaminações por fungos, bactérias e leveduras; e o fato de que o
excesso ou a presença de certos compostos orgânicos podem inibir o crescimento, por conta
da incapacidade das microalgas de digerirem esses compostos, ou o excesso deles (CHEN&
JOHNS, 1994; CHEN& JOHNS, 1996).
Dentre as microalgas já testadas por Gladue e Maxey (1994) para obter conhecimento
sobre sua possibilidade de crescimento heterotrófico, está a Chlorella vulgaris, na pesquisa
foram usadas 121 cepas, mas apenas 57 constatou-se que possuíam a capacidade de
crescimento heterotrófico, dentre as 57 estava a Chlorella vulgaris.

4. METODOLOGIA
O projeto desenvolvido tem como propósito a confirmação da eficácia da utilização de
microalgas para purificação de efluentes industriais oriundos de laticínios, o qual foram
utilizados meios tecnológicos como: computadores e celulares e artigos acadêmicos para a
realização da pesquisa. Ademais o estudo foi dividido em etapas:

I. Cultivo microalgas;
Inicialmente foi realizado o cultivo das microalgas, para isso utilizou-se um aquário
(50 cm de comprimento, 35 de altura e 25 de largura), o qual foi abastecido com água e
equipado com uma bomba de aquário para fazer a aeração do mosto, deixando-o homogêneo,
como mostrado na Figura 4. A microalga utilizada foi Chlorella vulgaris obtida em farmácia.

Figura 4: Aquário com bomba para aeração


21

Fonte: Próprios autores, 2023


Foram abertas e inoculadas 6 capsulas de microalgas o equivalente a 2,406g, como é
possível observar na figura 5.

Figura 5: Pesagem das capsulas de Chlorella Vulgaris


22

Fonte: Próprios autores, 2023


Para a alimentação das microalgas foi utilizado o fertilizante de orquídea NPK. Foi
colocado NPK em uma proporção de 0,07 g.L -1 de acordo com a equação 1 foi calculado a
quantidade em massa e pesado em balança de precisão, como demostra a Figura 6.
¿m
Equação 1 C=
V

Onde: C – Concentração de NPK;


m – A massa de substância;
V – Volume de mosto.
23

Figura 6: Pesagem do fertilizante NPK.

Fonte: Próprios autores, 2023


Para saber a quantidade correta a ser atribuída ao recipiente foi efetuado um cálculo
com o objetivo de descobrir o volume no aquário tendo como referência à altura da água
acrescida.
Isto feito, ficou estabelecido a quantia de 2g de fertilizante a ser regularmente
incrementada. Tendo como base 1g de NPK para cada 15L de água. Para uma medição
precisa foi feito o uso de uma balança digital e um béquer, garantindo a regularidade das 2g
determinadas, como mostra a Figura 6.
Tendo em vista que a alga é uma planta e faz o processo de fotossíntese, foi
requisitado uma fita de led como fonte de luz. Ademais, o aquário foi selado com plástico
filme a fim de manter o CO2 armazenado em seu interior, o que favoreceu o processo de
24

fotossíntese. Em seguida foi estabelecido a necessidade de alimentar as microalgas até o


surgimento dos resultados especulados.
Para que houvesse um crescimento adequado das microalgas foi necessário alimenta-
las com o fertilizante NPK regularmente no período de 3 em 3 dias.

II. Coleta em uma indústria de laticínios o soro do leite (efluente);

Foi coletado o soro lácteo na indústria de derivados de leite Mara Rosa LTDA, com
nome fantasia de Maralac.

III. Amostras em diferentes proporções de microalgas junto ao efluente;

Para analisarmos em quais proporções as microalgas teriam um resultado efetivo


dividimos a mesma quantidade de microalgas em recipientes iguais e alteramos a
quantidade de soro a cada amostra.

Figura 7: Recipientes iguais contendo 1,5 litros de microalgas cada

Fonte: Próprios autores, 2023

Foi Dividido o mosto contendo as microalgas em 5 potes para a preparação das 5


amostras (Figuras 8 e 9) nas seguintes proporções:
25

Amostra 1: 500 ml de efluente para 1,5 litros de microalgas


Amostra 2: 400 ml de efluente para 1,5 litros de microalgas
Amostra 3: 300 ml de efluente para 1,5 litros de microalgas
Amostra 4: 200 ml de efluente para 1,5 litros de microalgas
Amostra 5: 100 ml de efluente para 1,5 litros de microalgas
Figura 8: Incrementarão do efluente ao mosto
26

Fonte: Próprios autores, 2023

Figura 9: Amostras com suas devidas proporções


27

Fonte: Laboratório de ciências da natureza, (2023)

IV. Coleta dos resultados de pH e turbidez das amostras uma vez por semana.
Para o desenvolvimento dos resultados foi utilizado o aparelho Labdisc Biochem, que
conta com até 15 sensores diferentes, dentre eles os de pH e turbidez. As medições foram
realizadas a cada 7 dias durante aproximadamente um mês e meio. Até a certeza da ausência
de atividade da microalga.
Figura 10: Medição de pH e turbidez das amostras

Fonte: Próprios autores, 2023


28

V. Filtragem das amostras utilizando filtro comum;


Após o tempo dedicado à coleta de dados de pH e turbidez passamos para a etapa de
filtragem utilizando um filtro com vela de carvão ativado, como mostrado na Figura 11.

Figura 11: Filtro com vela de carvão ativado

Fonte: o autor, 2023


29

VI. Encaminhamento das amostras filtradas para análise laboratorial.


As amostras filtradas foram encaminhadas para a Universidade Federal do Tocantins
(UFT) campos de Palmas para análise laboratorial dos parâmetros físicos, químicos e
biológicos. A metodologia utilizada pelo laboratório está listada na Tabela 4.

Tabela 4: Parâmetros analisados e método empregado.


30

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a confirmação de que o cultivo das microalgas dentro do aquário estava dando
certo, foi retirado uma amostra da água do aquário, preparado uma lâmina e posterior
visualização microscópica como pode ser observada na figura 12. A evidência da Chlorella
vulgaris em microscopia óptica com ampliação 10x.

Figura 12: Visualização microscópica da microalga

Fonte: Proprios autores, 2023

Observando com o auxílio do microscópio, foi encontrado a presença de microalgas e


pequenas colônias microalgais de Chlorella vulgaris. A análise microscópica de algumas das
amostras ocorreu nas semanas 2 e 5. Antes da visualização no microscópio foi possível
31

observar a proliferação de diversos microrganismos, quando cultivado em placa de petri.


Como observado na Figura 13:

Figura 13: Em (a) Amostra 1 e em (b) Amostra dois ambos com fungos visíveis e diversos
microrganismos.

(b)

Fonte: Próprios autores, 2023


A montagem da lâmina da amostra 2 contou com a adição da técnica de coloração
Gram com reagente azul de metileno, com isso no microscópio observou-se as seguintes
imagens:

Figura 14: Lâmina da amostra 2 em (a) e em (b) visualização no microscópio.

(a) (b)

Fonte: Próprios autores, 2023


32

Na observação da amostra 2 é possível perceber a presença de microrganismos, porém pelas


imagens não dá para reconhecer e afirmar com certeza quais são. Indicando que nesse período
talvez já não se tinha mais microalgas, apenas microrganismos selvagens. Resultado que será
confirmado mais adiante com as análises de turbidez e pH. Foram feitas laminas das amostras
3, 4 e 5, também, porém todas demonstravam o mesmo comportamento em análise no
microscópio. A seguir na Figura 15 temos a visualização microscópica da amostra 1
demonstrando o mesmo resultado da amostra 2 e dos demais.

Figura 15: Visualização microscópica da amostra 1.

Fonte: Próprios autores, 2023


33

Com essas imagens foi possível visualizar colônias de diversos microrganismos.


Nas figuras 16 e 17 observa-se imagens ilustrativas de como são obtidos os dados pelo
Labdisc, esses foram os dados coletados no último dia de coleta de informações.

Figura 16: Colagem dos resultados de pH.

Fonte: Próprios autores, 2023


34

Figura 17: Colagem dos resultados de turbidez

Fonte: Próprios autores, 2023


Com os dados obtidos do primeiro ao último dia de coleta, foi montado gráficos que
expressam o comportamento das amostras em relação a turbidez e pH. Nas Figuras 18 e 19
temos os dados expressos.
35

Figura 18: Resultados de turbidez.


4500

4000

3500

3000

2500

2000

1500

1000

500

0
n n n n n n n n ul ul ul ul ul ul ul ul ul ul ul ul ul ul ul g g
6-Ju 8-Ju 0-Ju 2-Ju 4-Ju 6-Ju 8-Ju 0-Ju 2-J 4-J 6-J 8-J 0-J 2-J 4-J 6-J 8-J 0-J 2-J 4-J 6-J 8-J 0-J -Au -Au
1 1 2 2 2 2 2 3 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 1 3

Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 Amostra 5

Fonte: Próprios autores, 2023

Figura 19: Resultados de pH.


10

6
1
5
2
3
pH

4
4
5
3

0
23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23
/ 20 /20 /20 /20 /20 /20 /20 /20 /20 /20 /20 /20 /20 /20 /20 /20 /20
16 /19 /22 /25 /28 7/1 7/4 7/7 /10 /13 /16 /19 /22 /25 /28 /31 8/3
6/ 6 6 6 6 7 7 7 7 7 7 7 7

Fonte: Próprios autores, 2023


36

Ao observarmos os gráficos, percebe-se que na primeira semana do experimento os


dados de turbidez em todas as amostras cresceram muito, simbolizando o resultado esperado,
já que esse crescimento representa a proliferação das microalgas mesmo em meio ácido
(Figura 20). Após a primeira semana, ficou evidente que a atividade microbiológica diminuiu,
indicativo de que a Chlorella vulgaris parara de se reproduzir e que também os sólidos totais
diminuíram, indicando que as microalgas se alimentaram da maior parte do efluente. Fazendo
um comparativo com o gráfico da Figura 21 podemos verificar que as amostras com menor
concentração de efluente (amostras 4 e 5) alcançaram o pH próximo de 7 no dia 30 de junho,
momento em que havia passado o pico de crescimento das microalgas e estas já indicavam
uma queda de acordo com a análise de turbidez. As outras amostras demoraram mais tempo
ainda para alcançar um pH próximo da neutralidade. Portanto quanto maior a concentração de
efluente mais tempo gasta a purificação da amostra.

5.1. Análise Laboratorial do efluente filtrado

Como mencionado anteriormente o efluente filtrado foi enviado para o laboratório de


análises de água da UFT em Palmas para verificar a viabilidade da água tratado e posterior
verificação de um possível fim para esta. Para os resultados obtidos no laboratório de
saneamento ambiental da UFT podemos observar que a turbidez da amostra 1 estava maior
que da amostra 4, assim como, o pH da amostra 4 estava maior que o da amostra 1, o que vai
de acordo com os resultados obtidos em laboratório com o auxílio do labdisc. Para os
parâmetros físico-químicos que possuem um intervalo dentro da legislação o cloro residual, o
cloreto, nitrato e nitrito estavam dentro do aceitável pela legislação, além de o pH estar entre
6 e 9 como permitido. Já para o ferro observamos um alto valor para as duas amostras
extrapolando o valor máximo permitido. Por fim, apesar da turbidez estar abaixo do valor
máximo permitido, a cor ainda estava fora dos padrões estabelecidos, para as duas amostras.
37

Tabela 5: Resultados obtidos para análises realizadas nas amostras 1 e 4.

Fonte: Laboratório de saneamento ambiental da UFT, 2023.

Para a análise microbiológica obtivemos respostas das amostras 2 e 3. A amostra 2


obteve um resultado mais satisfatório que a amostra 3, mostrando resultado de 2 unidades
formadoras de colônias por 100 ml de solução para coliformes totais e valor menor que 1 para
E. coli valor este que se repetiu para a amostra 3, porém quando falamos de coliformes totais
a amostra 3 extrapolou o resultado.
Tabela 6: Resultados para análises realizadas nas amostras 2 e 3.

Fonte: Laboratório de saneamento ambiental da UFT, 2023.


38

Vale lembrar que estes resultados poderiam ser melhores se tivesse ocorrido uma
maior rapidez na filtração das amostras, pois como foi feito com apenas um filtro e com uma
vela de carvão ativado, o processo demorou e as amostras continuaram por mais tempo dentro
do pote em atividade, isso pode ser observado claramente no resultado dos coliformes totais
das amostras 2 e 3, uma vez que a amostra 2 foi filtrada muito antes.
De forma geral o procedimento se mostrou promissor, com resultados satisfatórios
para diversos parâmetros estabelecidos em lei, para uma água de qualidade. No entanto, esta
água tratada pode ser reaproveitada na própria indústria, não para consumo humano, mas para
outras atividades de acordo com seus fins.
39

6. CONCLUSÃO

Foi demonstrado então que para o despejo inadequado por parte das indústrias lácteas
de grandes quantidades de efluente pode ser resolvido, uma das alternativas sustentáveis é o
tratamento biológico por meio de microalgas, e pode ser aplicado a partir de lagoas de
estabilização, para atender as fábricas em larga escala.
De acordo com os dados e resultados obtidos nas amostras feitas, concluímos que é
viável e sustentável a utilização da microalga Chlorella vulgaris na purificação de efluentes
industriais oriundos de laticínios. Podendo ser utilizada em diferentes proporções dependendo
da necessidade industrial.
40

7. REFERÊNCIAS

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com presença de ozônio, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo,
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