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A IDÉIA DE DEUS E A
PERGUNTA POR SUA VERDADE
1. A palavra nDeus"
1
Assim com razão I. U. DALFERTH, Existenz Gottcs und clzristlichcr Glrwhe. Skizzen
zu einer eschatologischen Ontologie, 1984, pp. 88s., em seguimento à tese de W.
V. O. QUINE, From a Logical Point of View, 1953, 2ª ed., 1961, pp. 12s. (HTB 566),
acerca de um "encontro ontológico" de afirmações.
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'Assim, p.ex., J. TRACK, Sprachlíche Untersuchungen zum christliche11 Rcdcn vu11 Gott,
1977, exige uma fundamentação do discurso a respeito de Deus "cm experiência
religiosa" (pp. 242, cf. 183s., 311, 314). Também I. U. DALFERTI 1, Religiiísc Rcden
von Gott, 1981, fala de uma "base de experiência do discurso cristão da fé" (p.
393-494). DALFERTH encontra essa base em uma "experiência da palavra de Deus
dirigida a nós" por Jesus Cristo (pp. 446, cf. 469ss., 489).
4
A respeito da tensa relação entre fé e experiência em LUTEI<O, vide P. J\Lnit\US,
Dic Theologie Martin Luthers, 1962, pp. 58-65, bem como U. KôPF cm TRE 10, 1982,
DD. 114<;.
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,; B. LAURET, Sclwlderfnhrung und Gottesfrage beí Nietzsche und Freud, 1977, demons
trou a importância fundamental da crítica psicológica contra a consciência de
culpa para o ateísmo em NIETZSCHE e FREUD.
"H. D. LEw1s, Our Experiencc of God, Londres, Allen and Unwin, 1959, Fontana ed.
21315, 1970, pp. 120.128.
;- l. T. RAMSEY, Religious Language. An Empírica/ Placing of Theological Phrases, Lon
dres, Macmillan, 1957, paperback ed., 1963, pp. 28s., cf. pp. 25s. Esta última pas
sagem mostra a orientação de RAMSEY segundo a psicologia gestáltica. Ao desafio
lançado pela análise lingüística filosófica refere-se a introdução �sp. p. 15).
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lb,. p. 41.
rn Assim em RAMSEY, Deus (God) é um termo-chave (key word, p. 51), no qual se
expressa a totalidade do engajamento associada à experiência religiosa, que,
por sua vez, não é derivável de percepções (p. 48). Em ScHLEJERMACHER, a idéia
de Deus faz parte da reflexão sobre a experiência religiosa. Na primeira versão
dos discursos Sobre a Religião, de 1799, a idéia de Deus serve como uma entre
várias interpretações possíveis do "universo", que o ser humano experimenta
como agente em sua experiência religiosa (p. 129). Na Glaubenslehre [Doutrina
da Fé] (1821, 2ª ed., 1830), a palavra "Deus" vale como expressão para a "refle
xão direta" sobre o sentimento de dependência, a saber, como aquilo "ao qual
remontamos nosso ser-assim" (§ 4,4).
11
Assim tb. I. U. DALFERTH, Religiose Rede von Gott, 1981, pp. 432s. com referência,
sobretudo, a R. W. HEPBURN, Christínnity and Paradoxy, 1958, e a J. I. CAMPBET.L, The
Lnnguage of Religion, 1971.
12 J H
. lcK, Religious Faith as Experiencing-As, in: G. N. A. VESEY (ed.), Talk of God,
Royal lnstitute of Philosophy Lectures lI, 1967 /68, Londres, 1969, pp. 20-35,25.
Também H1cK se reporta com suas exposições ao caráter de gestalt da percepção,
mas, por sua vez, vê a esta ligada a identificações do conteúdo da experiência
em forma de concepts, os quais pertencem a seu respectivo mundo lingüístico
como social products. A. JEFFNER, The Study of Religious Languagc, Londres (SCM),
1972, pp. 112ss. reune essa descrição de HrcK com a concepção de F. FERRÉ, Lnn
guage, Logic and God, Londres, 1961, acerca da importância de concepções con-
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Assim I. U. ÜALFERTI 1, Religíose Rede von Gott, 1981, pp. 454-466. Permane
ce incompreensível como DALFERTH pode encontrar "o plano da verdade" da
experiência cristã de interpelação pela palavra como estando "articulado em
afirmações históricas" (p. 467), a saber, em afirmações sobre Jesus e sua impor
tância (cf. pp. 486ss.). Tais afirmações históricas afinal não contêm apenas per
cepções, méls estágios bastante avançados de sua elaboração interpretadora. J.
TRACK diferencia mais rigorosamente entre a experiência religiosa na "situação
de exploração", à qual atribui o "caráter pessoal" do oposto transcendente, e o
enquadramento em contextos da orientação do existir e agir que possibilita a
compreensão de tais experiências (Zoe. cit., pp. 254s.). No entanto, tb. ele admite
que já na compreensão da "experiência direta" como experiência de Deus se
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Com isso a descrição da função da palavra "Deus" como expressão que qualifi
ca meramente determinada concepção de vida e orientação do agir se evidencia
como um mal-entendido na linguagem religiosa quando usado para designação
de um objeto. Cf. I. U. DALFERTH, Existenz Gottes und christlicher Glaube. Skizzen
zu einer eschatologischen Ontologie, Munique, 1984, pp. 89ss. a respeito das
contribuições de H. BRAUN, P. VAN BuREN e F. KAMBARTEL acerca deste tema. So
bre a proposta de F. KAMBARTEL no sentido de entender a palavra "Deus" como
expressão sincategorernática (ZEE 15,1971,pp. 32-35),vide esp. J. TRACI<,loc. cif.,
pp. 219ss., 224,229,252ss.
15
Quanto a isso, vide J. TRACK, pp. 175ss., esp. 185ss., bem corno I. U. DALFElffH,
Religidse Rede von Gott, 1981,pp. 571-583.
16
Assim M. DuRRANT, The Logical Status of 'God', Londres, 1973, pp. 15 e 49.
17
I. U. DALFERTH, Religiose Rede von Gott, 1981,pp. 574ss.
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Por isso certamente não é acaso que nas explanações de DALFERTH sobre a "ex
periência da palavra de Deus dirigida a nós" em Jesus Cristo é inteiramente
omitida a relação com o mundo dada com a palavra "Deus". DALFERTH faz a
objeção a si mesmo: "Para se experimentar Jesus como a interpelação de Deus,
"Deus" não pode ser uma expressão vazia para mim". Ele, contudo, denomina
essa objeção como "não consistente nesses termos", porque nisso a palavra
"Deus" estaria sendo compreendida como caracterização geral, e não como
"designativo rígido" que denomina apenas uma única pessoa (p. 600). Nisso
DALFERTH esquece que a compreensão da palavra "Deus" como designativo
rígido já pressupõe a singularidade de Deus (e a relação com o mundo nela
implícita). Sem essa implicação, porém, o próprio discurso sobre uma "expe
riência da palavra de Deus dirigida ao ser humano" em Jesus Cristo é vazio e
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I. T. RAMSEY, Religious Language, p. 53, cf. p. 83 (sobre idéia da criação) e p. 48
(sobre a relação de palavras-chave e percepção), e, por fim, a descrição do "en
contro religioso como um encontro total como o universo inteiro", o qual, por
causa de sua totalidade, está ligado a "palavras-chave" que fundamentam a
intelecção, da qual o engajamento resulta como resposta (p. 41).
23
Grundlcurs des Glaubens, 1976, p. 57. Cf. tb. T. RENDTORFF, Gott - cin Wort unsercr
Sprache? Ein theologischer Essay, 1972, pp. 18ss. Apesar de uma expressão mal
entendida na p. 28, em RENDTORFF, a palavra "Deus" não deve ser tornada como
"nome" para o todo da realidade (assim J. TRACK, loc. cit., p. 303, nota 64), mas,
como consta expressamente na p. 31, como o "sujeito" desse todo do mundo.
RENDTORFF se refere com essas exposições criticamente a E. JüNCEL, Gott - als
Wort unserer Sprache (Unterwegs zur Sache, Theologische Bermerkungen, 1972,
pp. 80-104), assumindo, por sua vez, a concepção de C. EBEUNG, Gott und Wort,
- ... .
1966, pp. 60s., contestada por JüNGEL (p. 84), segundo a qual Deus já é antes da
,
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Este é o ponto de vista que determina a argumentação de JONGEI. no artigo citado
(loc. cit., pp. 84s.). O próprio JüNGEL colocou sua abrangente análise da idéia de
Deus sob o título Gott ais Geheimnis der Welt [Deus como Mistério do Mundo]
(1977); nisso deu ao conceito de mistério a interpretação de que ele próprio deve